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ALCANCE DA VITIMOLOGIA
A Vitimologia é traduzida pela maioria dos doutrinadores como sendo
um ramo da Criminologia, não chegando a caracterizar uma ciência. Ela teria o
caráter específico de “diagnosticar” a vítima do fenômeno delitivo, através da
experiência psicológica, biológica e social. Ter dominação de ciência ou não,
não implica em maiores importâncias causais, a relevância dos objetivos
explicativos sobre a vítima e seus entrelaçamentos é que indicam sua
magnitude.
Desde o surgimento da Vitimologia, em relação a aspectos múltiplos,
pretendia-se estudar a personalidade da vítima, buscando entender por que
certas pessoas tendem a este destino; ademais, buscava explicar a relação
entre delinquente/vítima, esta como sendo a possível fonte de
desencadeamento do crime. No entanto, podemos sintetizar em seis os
aspectos mais atuais, importantes e contributivos da Vitimologia para com a
sociedade:
[...] 1. Uma nova imagem da vítima. Diversas variáveis
relacionadas com a pessoa da vítima (físicas, psíquicas,
situacionais etc) condicionam o sucesso do crime e o
próprio risco de suceder ser vítima dele. Não se pode,
pois, prescindir da vítima no momento de explicar
cientificamente o delito e seu concreto modo de ocorrer;
2. Vítima e prevenção do delito. Os programas de
prevenção da criminalidade devem contar, também, com
a vítima, operando sobre aqueles grupos que exibam
mais elevados riscos de vitimização; 3. Vítima como
informadora. A vítima pode auxiliar o Poder Público e os
cientistas no estudo da criminalidade oculta pela “cifra
negra”, como demonstram as “pesquisas de vitimização”;
4. Vítima e efetividade do sistema legal. A alienação da
vítima provoca o perigoso incremento da “cifra negra” e,
com ele, o desprestígio do sistema mesmo, a
deterioração de sua capacidade dissuasória e sua
imprescindível credibilidade; 5. Vítima e medo de delito.
O medo do crime – o temor de converter-se em vítima de
crime – é um problema real, tanto quando dito medo tem
uma base crítica, objetiva, como quando se trata de um
temor imaginário, difuso e sem fundamento. Em qualquer
caso, altera os hábitos da população, fomenta
comportamentos não solidários em face de outras
vítimas, desencadeia inevitavelmente uma política
criminal passional, e, em momentos de crise, se volta
contra certas minorias as quais os formadores de opinião
pública culpam como os responsáveis dos males sociais;
6. Vítima e política social. A vítima não reclama
compaixão, mas sim respeito de seus direitos. A efetiva
“ressocialização” da vítima exige intervenção positiva dos
particulares e do Poder Público, dirigida a satisfazer
solidariamente as necessidades e expectativas reais
daquela. (MOLINA apud CALHAU, 2003, p.40).
Desse modo, é plausível a contribuição da Vitimologia no âmbito
criminológico, político-criminal, político-social e no estudo da gênese do crime.

2. VITIMIZAÇÃO
2.1. Risco de vitimização
Um dos aspectos estudados pela Vitimologia é a vitimização, que é o
processo ou o meio que percorre um indivíduo até se transformar em vítima –
por meio de conduta alheia, fato da natureza ou até mesmo por conduta
própria. Nesse sentido:
Iter Victimae é o caminho, interno e externo, que segue
um indivíduo para se converter em vítima, o conjunto de
etapas que se operam cronologicamente no
desenvolvimento de vitimização. (OLIVEIRA apud
NOGUEIRA, 2004).
Estudar os processos que levam um indivíduo a se tornar vítima é de
suma importância, pois o atual quadro da vítima como sendo um personagem
dinâmico gera a necessidade de analisar melhor o seu papel nas diversas
fases do delito: cogitação, preparação, execução e consumação. A cogitação é
aquela onde o agente idealiza no seu íntimo o fato criminoso; a preparação é
aquela onde se busca os meios e instrumentos necessários para realização da
conduta delitiva; concluídos os atos preparatórios passa-se a execução, fase
que o vitimizador realiza a conduta almejando o resultado esperado; ao final, a
consumação, aquela que indica a realização da ação delituosa.
Como mencionado acima, umas das fases do iter criminis (caminho do
crime) é a preparação, e é nesta etapa que o agente escolhe a vítima e passa
a execução. Logo, se pudéssemos interromper ou pelo menos dificultar a
escolha do delinquente, poderíamos diminuir, substancialmente, o número de
crimes na sociedade. Deságua daí a necessidade suprema da prevenção
vitimal, substrato de uma realidade contemporânea de não apenas criar
programas de prevenção diante o infrator potencial, mas preencher tais
políticas criminais observando, também, à vítima potencial. Devendo entender,
assim, como forma eficaz de neutralização do crime, buscando proteger as
possíveis vítimas; afinal, o delito é algo baseado na seletividade, onde se
buscam o momento, o lugar e a vítima certa. Portanto, esse questionamento
não pode ser deixado de lado como foi na Criminologia Clássica, onde todas as
políticas criminais voltavam-se ao criminoso, como sendo a única forma de
evitar a criminalidade. Todavia, a Criminologia moderna corrigiu este
pensamento, afirmando a possibilidade de prevenir a criminalidade objetivando
programas voltados para a vítima; não tendo um caráter substitutivo, mas
complementar. Segue a lição:
[...] Se o risco de vitimização se configura, segundo as
estatísticas, como um risco diferenciado (isto é, risco que
se distribui não de forma igual e uniforme – nem
caprichosa – senão de forma muito discriminatória e
seletiva, tendo em vista as variáveis), parece, então,
razoável a possibilidade de evitar com eficácia muitos
delitos dirigindo específicos programas de prevenção aos
grupos ou subgrupos humanos que possuem maiores
riscos de vitimização. Detectados os indicadores que
convertem certas pessoas ou grupos de pessoas em
candidatos qualificados ou propícios ao status de vítima,
um meticuloso programa, cientificamente desenhado, de
conscientização, informação e tutela orientado para os
mesmos, pode e deve ser mais positivo em termos de
prevenção que o clássico recurso à ameaça da pena ou
a mensagem indiscriminada e abstrata a um hipotético
infrator potencial [...]. (MOLINA, 2006, p.77).
Dessa forma, devemos apagar a imagem completamente passiva da
vítima, como figura atípica no iter criminis e totalmente indiferente ao
delinquente.
Bom, para continuarmos vejamos a exposição de Molina:
[...] Pouco a pouco, a Vitimologia foi ampliando seu
objeto de investigação. E, do estudo dos protagonistas
do fato criminoso (autor e vítima) ou dos fenômenos de
interação assinalados, passou a se ocupar de outros
temas, sobre os quais, começa a subministrar uma
valiosa informação, por exemplo: atitudes e propensão
dos sujeitos para se converterem em vítimas de delito
(“risco de vitimização”), variáveis (sexo, idade, raça etc.)
que intervêm no processo de vitimização e classes
especiais de vítimas (tipologias), danos que sofrem a
vítima como conseqüência do delito (vitimização
primária), [...] comportamento da vítima (que dá notícia
ao fato criminoso) como agente de controle social penal,
programas de prevenção do delito por meio dos grupos
de pessoas com elevado risco de vitimização, programas
de reparação do dano e de assistência às vítimas do
delito, autoproteção, iter victimae [...]. (2006, p.69).
De todos estes aspectos relativos à vitimização, um deles é a
vulnerabilidade da vítima, fator que ocasiona um risco real para si próprio. Os
vários fatores de vulnerabilidade de um indivíduo (físicos, psíquicos,
socioeconômicos etc.) têm função ativa na averiguação do risco de vitimização;
pois, na fase preparatória do crime o agente busca a pessoa certa (vítima fácil),
sendo que vulnerabilidade do sujeito passivo pode caracterizar o surgimento do
crime. Todavia, é bom deixar claro que estes fatores têm um risco diferencial
que varia de crime e de pessoa.
Através deste entendimento – da vítima como “ente ativo” em relação
ao evento criminoso – são realizadas de tempos em tempos, no mundo todo,
as denominadas “pesquisas de vitimização”; são entrevistas realizadas a uma
massa da população, objetivando saber dos indivíduos da sociedade se já
foram vítimas de crimes, se foram, quais crimes, quantas vezes e quais foram
os lugares; pesquisam, também, a classe socioeconômica do vitimado, a
escolaridade, os hábitos, a idade, o sexo, os prejuízos gerados etc. Essas
pesquisas surgiram nos Estados Unidos nos anos 60 como maneira de calcular
a quantidade de delitos sofridos por determinada população e não
comunicadas aos órgãos públicos. Elas não vieram substituir os dados oficiais
das entidades públicas governamentais, apareceram como um complemento
que buscava estimar a chamada “cifra negra”. No entanto, hoje, as pesquisas
têm por fim dar substrato as políticas criminais.
Essas investigações demonstram claramente os grupos sociais e os
lugares mais visados pelos delinquentes; vejamos: os que fazem parte de
profissão visada; pessoas do sexo frágil; as que têm limitação física (baixa
capacidade de defesa, sensibilização) ou psíquica (indecisão, imagem de
perdedor ou de fraqueza); fatores ligados a escolhas sexuais da pessoa
humana (enseja provocação e irritação em alguns delinquentes); o maior
potencial econômico, a idade crítica e/ou a baixa inteligência; pessoas que
costumam atribuir os acontecimentos a forças como o destino e/ou a fatalidade,
pois andam sempre desatentas; etc.
A título de exemplo temos a pesquisa de vitimização realizada no Brasil
em 2002, através de uma parceria entre Ilanud (Instituto Latino Americano das
Nações Unidas Para a Prevenção do Delito e o Tratamento do Delinqüente), o
Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e a
Fundação Instituto de Administração da USP (FIA-USP). A pesquisa foi
realizada no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Vitória, com 2800 pessoas,
sendo 700 em cada cidade. Nela pode ser constatada, dentre outros, que nos
crimes contra o patrimônio a classe mais visada é a que tem uma renda familiar
superior a R$ 1.600,00 (um mil e seiscentos reais), ou seja, tendem a
acontecer com maior incidência em determinados bairros de uma cidade e com
pessoas que preencham tal “requisito”. Ademais, a pesquisa mostrou que
escolaridade segue o mesmo patamar da renda, uma vez que se percebe que
quanto maior a escolaridade, maior a renda; consecutivamente, maior o nível
de risco. Evidenciou-se, também, que a idade da vítima é uma importante
variável, pois nos crimes em geral a faixa etária mais vitimada é a intermediária
(de vinte e seis a trinta e cinco anos). Quanto ao sexo da vítima, observaram
que as mulheres são sempre mais suscetíveis a se tornarem vítimas. Outro
fator de risco é a ostentação dos indivíduos, pessoas de alto poder aquisitivo
adoram, com exceções, mostrar tal potencial ao mundo. Como é bem passível
de averiguação em nossa sociedade, existe um desejo imensurável de ostentar
tudo que se tem, consubstanciado no prazer de ir além do mero usufruto dos
seus bens. Tal ostentação, como sinônimo de vantagem e superioridade, gera
certa provocação, principalmente nas classes menos favorecidas – por não
terem o poder de compra compatível. Assim, surge a fantasia de outrem em ter
o mesmo bem ou vantagem iguais do ostentador, e às vezes reputa-se na
necessidade de possuir os mesmos, acarretando, portanto, no risco iminente
de vitimização.
Repercute em risco, também, o chamado medo de delito; afinal,
atualmente, existe no nosso meio social uma insegurança coletiva acerca da
criminalidade, em razão da angústia de um dia se converter em vítima. Tal
insegurança é causada, dentre outros fatores, pela desconfiança das pessoas
em relação à efetividade dos órgãos públicos.
O medo, o temor, é uma resposta individual típica
psicologicamente condicionada de quem foi vitimizado. A
experiência vitimária explica uma angústia que, por certo,
determinados processos psicopatológicos podem
atualizar, reviver e, inclusive, perpetuar. Mas, o medo,
que aqui e agora interessa (enfoque político-criminal)
transcende essa dimensão clínica e individual: refiro-me
ao medo de se converter em vítima do delito como
vivência ou estado de ânimo coletivo, e não
necessariamente associado a uma prévia vitimização.
(MOLINA, 2006, p.80-81).
O medo do delito é muitas vezes algo real, ou seja, o problema que faz
emergir a insegurança existe; mas, em muitos casos não, pois é causada por
uma visão errônea da realidade, puramente emocional. Tal percepção falsa
pode ter nascido dos meios de comunicação ou, até mesmo, por grupos
manipuladores (grupos interessados), exemplo: empresas de armas de fogo.
Surge daí o medo causado pelo imaginário. Entretanto, ambas as situações
produzem consequências reais ao vitimado, alterando seu cotidiano e/ou lhe
causando transtornos psíquicos.
No Brasil há uma grande manipulação da mídia quanto à criminalidade,
impedindo que através de um diagnóstico científico e sem interesses difusos
sejam divulgados os dados reais sobre esse fator. A mídia gera falsas opiniões
na população acerca de quem são os delinquentes, quais são os crimes mais
comuns, quais são as pessoas que têm maior chance de se tornarem vítimas,
etc.
Assim, os que mais temem o delito (terceira idade) não
são, em termos estatísticos, as pessoas mais
vitimizadas; nem delinqüem mais (fatos mais graves e
com mais freqüência) os indivíduos mais temidos pela
sociedade: os jovens; tampouco são estatisticamente
mais previsíveis os delitos que, de fato, suscitam mais
alarme (os violentos). (MOLINA, 2006, p.81).
Portanto, as pesquisas de vitimização são de fato um aparato confiável e
veraz a cerca da criminalidade real versus a criminalidade “registrada”, capaz
de ceder um diagnóstico empírico para futuros programas de prevenção. Logo,
não podendo ser descartada pelas autoridades públicas.

2.2. Alguns “processos vitimizadores” e suas consequências


Estabelecidas às propensões, variáveis e atitudes que pode levar uma
pessoa de encontro ao vitimário; é importante aduzir agora alguns processos
vitimizadores propriamente ditos, assim como as consequências geradas pelo
fato delituoso.
Antes de mencionar alguns crimes e suas consequências primárias ao
vitimado, necessário fazer um apanhado geral acerca das lesões comuns
causadas por eles; que por sua vez são caminhos que levam a pessoa a se
tornar vítima (vitimização). Deixando de lado as lesões físicas e econômicas
(óbvias por demais) que são geradas por crimes múltiplos e distintos uns dos
outros; devemos inclinar aquela que é a lesão comum de todos eles: as lesões
psíquicas.
As lesões psíquicas mais frequentes são os quadros
mistos ansioso-depressivos, o transtorno por estresse
pós-traumático (TEPT), o transtorno por estresse agudo,
os transtornos adaptativos mistos e desestabilização
própria dos transtornos da personalidade base.
(MOLINA, 2006, p.73).
Nos delitos violentos a vitimização psíquica é de todo drástica, levando a
vítima a sofrer uma culpabilização de si própria; um sentimento de vergonha,
humilhação e impotência; perda da sua autoconfiança; perda da motivação
pela vida; depressão e ansiedade; perda da autoestima; disfunções e
transtornos de todos os tipos possíveis. Já nos crimes de média gravidade é
comum a percepção da transformação permanente da personalidade do
paciente, caracterizada por mudanças anormais nas suas atividades rotineiras.
Passemos, então, a elucidar alguns crimes – “em espécie” – e suas
consequências. Desta maneira, citemos os delitos contra a propriedade, que
causam as suas vítimas danos psicológicos sérios. Como exemplo, temos os
vitimados por crime de roubo a banco, onde de 10 a 30% dos funcionários que
passaram por esta situação desenvolveram um transtorno de estresse pós-
traumático (TEPT). Estudos empíricos mostram que nos crimes contra a
propriedade, exercida através de violência, os pacientes tendem a ter lesões
psíquicas bastantes duradouras.
Tocante aos crimes de trânsito percebe-se nas vítimas transtornos
psicológicos agudos, subagudos e de longo prazo; em razão do traumatismo
sofrido. Estas consequências ocasionam no vitimado sintomas como:
agressividade, depressão, ansiedade, pânico, fragilidade emocional,
desassossego, insônia, humor depressivo etc.
Já os delitos de abuso sexual de menores trazem a tona diversos danos
psicológicos, além, é claro, dos sérios danos físicos. Em tais crimes percebe-se
que na maioria das vezes, o que tem um caráter relevante, que o vitimário é
alguém próximo afetivamente do vitimado: pai, tio, responsável direto etc.
Quando ocorre o abuso dentro no núcleo familiar, os psicólogos afirmam que
gera na vítima uma síndrome de medo. Este fenômeno leva a criança a não
dizer a verdade sobre os fatos ou simplesmente a calar-se diante dele; isto, por
motivos evidentemente claros: culpa/vergonha de ter participado do fenômeno
delituoso (acreditam serem corresponsáveis) e o medo das consequências da
divulgação do crime na sociedade. Em síntese, tendem os menores a sofrer
medo, a tentar suicídio, a ter depressão profunda e, quando na vida adulta, 20
a 30% se tornam pessoas violentas.
Por fim, em crimes de lesão corporal fica condicionado, antes de
qualquer coisa, que a idade e sexo da vítima têm caráter caracterizador no
impacto psicológico sofrido. Assim, a população feminina tem mais estresse
pós-traumático que os homens; já os idosos revivem a experiência com
particular frequência e dramatização. No geral, os sintomas são: medo,
angústia, depressão, insônia, estresse, fúria, perturbações pessoais constantes
etc.

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Vivemos atualmente em uma sociedade completamente diversa daquela em


que as bases doutrinárias do Direito Penal foram firmadas. Estamos
vivenciando e experimentando o que se convencionou chamar de sociedade de
risco e devemos olhar para a dogmática penal a partir desse contexto hodierno.

No tocante à vítima, afirma Alessandra Orcesi Pedro GRECO (2004) que a


vítima deve ser reinterpretada como

“aquela pessoa que sofre as consequências do crime, exatamente pela postura

da vítima em face do crime, ou seja, pela sua capacidade de se relacionar

tanto com o criminoso como com o meio. Já que se entende que a vítima tem
um comportamentodinâmico perante um fato delitivo, precisamos buscar

mecanismos jurídicos que sustentem juridicamente este fato”.

O estudo sistemático da vítima e a sua relação com o criminoso somente se


iniciam em 1940, com VON HENTIG, em um ensaio onde o autor procurou
estabelecer diferenciações nas relações delinquente-vítima, discriminando os
diversos grupos de vítimas, aparecendo, na Criminologia, a partir dai, a ideia de
que a vítima poderia representar um elemento criminógeno; não obstante isso,
somente com Benjamim MENDELSOHN, em 1947, é que se funda a doutrina
da vítima, que além de examinar causas e efeitos da relação da vítima com o
criminoso, sistematizou tais estudos e pesquisas de forma a defender a
existência de uma ciência unida à Criminologia, qual seja, a Vitimologia que,
com o assentamento de suas bases possibilitou a introdução de uma
perspectiva vitimológica na dogmática penal, denominada, então, de
Vitimodogmática.

Assim, resumidamente, a Vitimologia, como explica SILVA SANCHEZ (2001,


pp. 163-194),

“constata a existência de certas vítimas que contribuem para a produção do

fato delitivo”, ao passo que a Vitimodogmática, por sua vez, “trata de examinar

até que ponto (e em que termos) o reconhecimento da existência de vítimas

que contribuem ao fato delitivo pode conduzir a se afirmar que estas são

corresponsáveis do mesmo (por haverem contribuído a ele com atos dolosos

ou imprudentes) e, seguidamente, influir – em sentido atenuatório ou inclusive

eximente – na responsabilidade criminal do autor”.

A despeito de como a vitimização ocorra no ambiente físico, também no


ambiente virtual o autor do delito não escolhe a vítima ao mero acaso; muitos
fatores[1] são determinantes no momento da escolha de quem será a
vítima. Spencer Toth SYDOW (2013) destaca que

“a vítima é um sujeito de foco adequado, um alvo que se mostra preferencial

seja por quem é, por como se porta, por o que possui ou por onde está”.

Ainda na concepção de SYDOW (2013), a soma destes fatores faz com que a
vítima, no ambiente informático, tenha um papel diferenciado das demais
vítimas de delitos praticados em outros ambientes, pelo que, a conduta das
vítimas no ambiente informático tem especial relevância não só para a
consecução do delito como para sua prevenção. Assim, a imaginada
passividade da vítima é substituída, no ambiente virtual, por um
comportamento dinâmico e complexo, caracterizador de determinado papel
social que, frente às suas peculiaridades, gera expectativas sociais e pode
aumentar ou mesmo implementar, por si só, o risco ao bem jurídico da própria
vítima.

Como lembra Marcelo CRESPO (2013, p. 107),

“a sociedade de risco exige maior conscientização por parte de seus

integrantes, sendo este o preço da modernidade e dos avanços tecnológicos”.

Nesse aspecto, ressalta que

“o computador está cada vez mais presente na vida das pessoas, de modo a

inclusive se pensar em uma Licença Internacional para manejo de computador,

sendo verdadeira alfabetização que, uma vez certificada, tem validade em mais

de uma centena de países”.

Também Fernando Miró LLINARES (2012) aponta o papel da vítima no


ambiente do ciberespaço como relevante para a prática do fato criminoso e
mesmo para a prevenção do cibercrime. Nas palavras do autor

“o elemento central para a visão e compreensão do crime é o agressor, dado

que em sua motivação está também definido o objetivo sobre o que se

produzirá o ataque e as condições de defesa que tem o mesmo”.

Entendendo que o ciberespaço é um ambiente de criminalidade novo e distinto


do físico, já que possui uma dimensão comunicativa vasta e imensa, sem
barreiras ou limites físicos, no qual o contato depende iminentemente da
vontade e da interação das partes, de forma que, sem a referida interação não
há sequer contato e consequentemente risco, defende LLINARES (2012) que,
por vezes, não é a vontade do criminoso que irá direcionar a atividade
criminosa e objetivizar a conduta, mas sim a interação concreta com a
vítima que acaba por proporcionar a lesão ao bem jurídico, destacando
que o papel da vítima torna-se muito mais expressivo no ambiente das novas
tecnologias da informação e comunicação pelo fato de que, embora o
criminoso atue com vontade criminosa, a conduta só será dirigida – e frutífera –
àqueles objetos que estejam no ciberespaço, que gerem interação com ele,
autor e, por fim, que não estejam protegidos, pois a explicação e a prevenção
do delito no ambiente das NTIC’s[2] passam pela observação dessa especial
condição da vítima, já que é ela, vítima, que submete ao ambiente
cibernético seus bens jurídicos; é também a vítima quem define seu grau
de interação e da exposição de seus bens no ambiente virtual e, por fim, é
a vítima a única que pode incorporar instrumentos de autoproteção aos
seus bens jurídicos, já que, no ciberespaço os instrumentais formais e
institucionalizados de proteção praticamente não existem.

Finaliza referido autor trazendo a relevância da educação das pessoas para os


usos e ferramentas de segurança da informação, entendendo que,

“se a conduta da vítima passa a ser um determinante especialmente

significativo do delito, também será por isso uma importante condicionante para

sua prevenção. A educação da vítima em segurança informática, sua

conscientização para a adoção de software de proteção e de rotinas seguras

em seu atuar cotidiano no ciberespaço, assim como a informação real sobre os

riscos no ciberespaço, seriam os primeiros passos a adotar para a prevenção

do cibercrime”.

Com isso, considerando-se a ideia inicial aqui esboçada em torno do papel da


vítima e, especialmente a questão da educação digital, vale destacar que,
independentemente de se adotar o princípio da responsabilidade da vítima e a
ideia de autoproteção, deve-se ter em mente que a autocolocação da vítima em
risco e a concepção de papel social da vítima são elementos essenciais na
análise dos casos concretos, pois o dinamismo da criminalidade por meio das
novas tecnologias da informação e comunicação, bem como a constante
atualização (e desatualização) das ferramentas técnicas de proteção e
segurança digital tornam imprescindíveis à casuística a verificação das
condições, das possibilidades e demais dados presentes no caso concreto sob
análise, pois como destaca HASSEMER (1990), “a norma jurídico-penal só tem
oportunidade de ter vigência prática se encontra uma vítima atenta e disposta à
proteção” e, neste sentido, não se deve necessariamente buscar a
modificação das normas penais, mas sim direcionar as reflexões sobre a vítima
do delito para a observação e correção dos impactos que tal pensamento
vitimodogmático gera na concepção de vigência da norma.

REFERÊNCIAS
CRESPO, Marcelo Xavier de Freitas. Crimes Digitais. São Paulo, Saraiva,
2011.
GRECO, Alessandra Orcesi Pedro. A autocolocação da vítima em risco. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
HASSEMER, Winfried. Consideraciones sobre la víctima del delito. Anuario de
Derecho Penal y Ciencias Penales. Madrid, v. 43, n. 1, p. 241-259, jan./abr.
1990.
LLINARES, Fernando Miró. El Cibercrimen: Fenomenología y criminologia de la
delincuencia en el ciberespacio. Madrid: Marcial Pons, 2012.
SILVA SANCHEZ, Jesus-Maria. La consideracion del comportamiento de la
victima em la teoria jurídica del delito: observaciones doctrinales y
jurisprudenciales sobre la “victimo-dogmática”. Revista Brasileira de Ciências
Criminais, n. 34, ano 9, abr-jun/2001. Editora Revista dos Tribunais.
SYDOW, Spencer Toth. Crimes informáticos e suas vítimas. São Paulo:
Saraiva, 2013.

NOTAS
[1] Perfil psicológico, social e cultura; locais de frequência da pretensa vítima;
nível de escolaridade e educação; perfil de autoproteção ou descuido entre
outros.

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