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ART.

122, CP - INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO OU A


AUTOMUTILAÇÃO

A Lei nº 13.968/2019 alterou o Código Penal para modificar o crime de


incitação ao suicídio e incluir as condutas de “induzir ou instigar a
automutilação, bem como a de prestar auxílio a quem a pratique”.

Um “jogo” difundido pela internet, conhecido como “baleia azul”, instigava


pessoas, no Brasil, a realizarem automutilação. Essa Lei nº 13.968/2019
nasceu com o objetivo de criminalizar os instigadores, que atuavam por
intermédio de grupos pela internet e redes sociais. Trata-se de inegável ato de
direito penal de emergência.

Vale a pena ressaltar, ainda, que a Lei nº 13.968/2019 deu novos parágrafos ao
art. 122 do Código Penal, trazendo diversas situações de causas de aumento
de pena (portanto, a incidir na terceira fase da dosimetria da pena), senão
vejamos:

§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da


rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real.

§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de


grupo ou de rede virtual.
Considerando a mudança no paradigma social, em que pessoas instigam
outras a cometerem suicídio ou automutilação pela internet, o legislador decidiu
trazer um aumento de pena para responsáveis por grupo.

Não há mais exigência dos resultados lesões graves ou morte para que haja o
crime e a pena. Atualmente o induzimento, a instigação e o auxílio material ao
suicídio ou à automutilação configuraram o crime, com ou sem tais resultados.
De crime eminentemente material, se converteu, por força da Lei nº 13.968/19,
em crime formal.

Trata-se de crime contra a vida e, portanto, seu julgamento deverá ser


mediante o Tribunal do Júri?

Quanto ao induzimento, instigação ou auxílio a suicídio, em todas as suas


modalidades (simples, majoradas e qualificadas) é crime doloso contra a vida,
sendo, portanto, de competência do Tribunal do Júri.

Porém, quanto ao induzimento, instigação ou auxílio a automutilação, por não


ser crime doloso contra a vida, a competência será do juiz togado

ART. 123, CP – INFANTICÍDIO

O art. 123 do Código Penal traz outro crime contra a vida, chamado infanticídio:
matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou
logo após: pena - detenção, de dois a seis anos.

Sobre a classificação do crime de infanticídio, anota Masson (2018, p. 104): (...)


O infanticídio é crime próprio (deve ser praticado pela mãe, mas permite o
concurso de pessoas); de forma livre (admite qualquer meio de execução);
comissivo ou omissivo; material (somente se consuma com a morte);
instantâneo (consuma-se em momento determinado, sem continuidade no
tempo); de dano (o bem jurídico deve ser lesado); unissubjetivo, unilateral ou
de concurso eventual (pode ser cometido por uma única pessoa, mas admite o
concurso); plurissubsistente (conduta divisível em vários atos); e progressivo
(antes de alcançar a morte, a vítima necessariamente suporta ferimentos).

Além disso, no tocante ao conceito de “estado puerperal”, este pode ser


entendido, para a doutrina: (....) como o conjunto de alterações físicas e
psíquicas que acometem a mulher em decorrência das circunstâncias
relacionadas ao parto, tais como convulsões e emoções provocadas pelo
choque corporal, as quais afetam sua saúde mental. Prevalece o entendimento
no sentido de ser desnecessária perícia para constatação do estado puerperal,
por se tratar de efeito normal e inerente a todo e qualquer parto. Não basta,
porém, seja o crime cometido durante o período do estado puerperal. Exige-se
relação de causalidade subjetiva entre a morte do nascente ou recém-nascido
e o estado puerperal, pois a conduta deve ser criminosa sob sua influência. É o
que se extrai da leitura do art. 123 do Código Penal. Ausente essa elementar
(“influência do estado puerperal), o crime será de homicídio.

ABORTO
ESPÉCIES DE ABORTO
1.1 ABORTO PROVOCADO PELA GESTANTE OU COM SEU
CONSENTIMENTO: Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que
outrem lho provoque:
1.2 ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO: Art. 125 - Provocar aborto, sem
o consentimento da gestante; Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento
da gestante:

Em regra, nosso ordenamento jurídico adota a teoria monista, em que tanto o


autor quanto coautores e partícipes respondem pelo mesmo crime, na medida
da sua culpabilidade (art. 29, CP). Porém, no caso do aborto, adota-se a teoria
pluralista, em que os envolvidos respondem cada qual, com base em suas
condutas, por um crime específico: a mãe, pelo crime do art. 124, CP; aquele
que provoca o aborto, pelo crime do art. 125 (se for SEM consentimento da
gestante) ou pelo crime do art. 126 (se for COM consentimento da gestante).

Art. 127, CP. As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas
de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para
provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são
duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.

HIPÓTESES EM QUE NÃO SE PUNE O ABORTO


ABORTO NECESSÁRIO: Se não há outro meio de salvar a vida da gestante. É
o chamado aborto “necessário” ou “terapêutico”, previsto no inciso I.

GRAVIDEZ RESULTANTE DE ESTUPRO (ABORTO HUMANITÁRIO): no caso


de gravidez resultante de estupro. Trata-se do aborto “humanitário”,
“sentimental”, “ético” ou “piedoso”, elencado no inciso II.

FETOS ANENCÉFALOS: Interrupção da gravidez de feto anencéfalo. O STF,


no julgamento da ADPF 54/DF, criou uma nova exceção e decidiu que a
interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta atípica (Plenário. ADPF
54/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 11 e 12/4/2012). Assim, por força de
interpretação jurisprudencial, realizar aborto de feto anencéfalo também não é
crime.

ATÉ O TERCEIRO MÊS DE GESTAÇÃO: A 1ª Turma do STF, no julgamento


do HC 124306, mencionou a possibilidade de se admitir uma quarta exceção: a
interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação provocado pela
própria gestante (art. 124) ou com o seu consentimento (art. 126) também não
seria crime (HC 124306/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Roberto Barroso, julgado em 29/11/2016. Info 849).

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