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Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais

PJe - Processo Judicial Eletrônico

28/02/2023

Número: 5011532-05.2020.8.13.0079
Classe: [CÍVEL] PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 6ª Vara Cível da Comarca de Contagem
Última distribuição : 04/11/2020
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Administração
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
CONDOMINIO RESIDENCIAL PARQUE FONTANA DE
MERIDE (AUTOR)
MENACLIA CARDOSO DE SA (ADVOGADO)
CRISTIANO DE OLIVEIRA FERREIRA (ADVOGADO)
VANIA LUCIA DE FATIMA LEITE PESSOA (RÉU/RÉ)
JOSE WANDERLEI DE MORAES (ADVOGADO)

Documentos
Id. Data da Assinatura Documento Tipo
9737277692 27/02/2023 17:08 Sentença Sentença
1

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Justiça de Primeira Instância

Comarca de CONTAGEM / 6ª Vara Cível da Comarca de Contagem

PROCESSO Nº: 5011532-05.2020.8.13.0079

CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7)

ASSUNTO: [Administração]

AUTOR: CONDOMINIO RESIDENCIAL PARQUE FONTANA DE MERIDE

RÉU/RÉ: VANIA LUCIA DE FATIMA LEITE PESSOA

SENTENÇA

Vistos, etc.

CONDOMINIO RESIDENCIAL PARQUE FONTANA DE MERIDE ajuizou ação de


ressarcimento de valores, em desfavor de VÂNIA LÚCIA DE FÁTIMA LEITE PESSOA,
alegando, em síntese:

que a empresa contratada pelo condomínio para a realização de cobranças informou,


acerca da expedição de carta de quitação de débitos condominiais para a unidade 101,
bloco 14, na data de 10/01/2018, embora a referida unidade contenha débitos referente
aos meses de janeiro a junho de 2013 e fevereiro de 2016;

Número do documento: 23022717084906300009733370861


https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23022717084906300009733370861
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que o apartamento possuía débitos no importe de R$3.316,37 e diante da carta de
quitação expedida pela ré, já não era possível promover a cobrança do valor, tampouco a
ajuizar ação correspondente;

que o condomínio arcou com o pagamento efetivo desses débitos, repassando o prejuízo
aos demais condôminos;

que apesar de tentar obter a solução do impasse na via administrativa, não obteve êxito;

que faz jus ao ressarcimento dos prejuízos.

Ao final, postulou a condenação da parte ré no pagamento de R$3.316,37, acrescido de juros e


correção monetária.

A inicial veio acompanhada de documentos.

Custas inicias recolhidas.

Devidamente citada, a parte ré apresentou contestação, acompanhada de documentos,


alegando, em síntese:

preliminarmente:

concessão ao benefício da gratuidade da justiça;

incompetência do juízo, por ser o Juizado Especial Cível a Unidade Judiciária


competente para processar e julgar o feito;

denunciação da lide;

no mérito:

que a parte autora não trouxe provas de suas alegações;

que a carta de quitação foi expedida com a finalidade de informar que as inquilinas do
imóvel estavam em dia com o pagamento das taxas de condomínio;

que se o documento foi utilizado com outra finalidade, a síndica/ré teria sido induzida a
erro;

que a certidão de quitação não é válida porque foi assinada por pessoa incompetente e
sem o respeito das devidas formalidades.

A parte autora impugnou a contestação.

Número do documento: 23022717084906300009733370861


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Decisão de saneamento proferida, ocasião em que foram rejeitadas as preliminares, indeferido
o pedido de denunciação da lide, delimitada a questão controversa, deferido o benefício da
gratuidade da justiça e indeferido o pedido de produção de provas.

Decisão estabilizada, nos termos do artigo 357, §1º do Código de Processo Civil.

Não foram produzidas outras provas.

Autos conclusos para julgamento.

É o relatório. Decido.

As partes são legítimas e se encontram devidamente representadas nos autos.

Inexistindo preliminares a serem apreciadas ou vícios a serem sanados, procedo ao julgamento


do mérito.

Cinge-se a controvérsia na pretensão da parte autora no ressarcimento pelo prejuízo advindo


do pagamento das despesas condominiais referentes ao imóvel descrito na peça exordial.

Conforme registrado na decisão saneadora estabilizada, não há controvérsia fática


estabelecida nestes autos. O autor alegou que a ré emitiu certidão negativa de unidade com
débitos pendentes e a ré reconheceu tal fato.

O dever de pagamento das despesas condominiais se encontra previsto no artigo 1.336, inciso
I do Código Civil.

Por sua vez, o artigo 1.348 elenca as atribuições e responsabilidades do síndico:

Art. 1.348. Compete ao síndico:

I - convocar a assembleia dos condôminos;

II - representar, ativa e passivamente, o condomínio, praticando, em


juízo ou fora dele, os atos necessários à defesa dos interesses
comuns;

III - dar imediato conhecimento à assembleia da existência de


procedimento judicial ou administrativo, de interesse do condomínio;

IV - cumprir e fazer cumprir a convenção, o regimento interno e


as determinações da assembleia;

V - diligenciar a conservação e a guarda das partes comuns e zelar


pela prestação dos serviços que interessem aos possuidores;

VI - elaborar o orçamento da receita e da despesa relativa a cada ano;

Número do documento: 23022717084906300009733370861


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VII - cobrar dos condôminos as suas contribuições, bem como
impor e cobrar as multas devidas;

VIII - prestar contas à assembleia, anualmente e quando exigidas;

IX - realizar o seguro da edificação.

Na hipótese em apreço em que houve a emissão de declaração pela parte ré, na qualidade de
síndica, na qual registrou a ausência de dívidas da unidade imobiliária descrita na peça
exordial, quando, na verdade, havia expressa comprovação de inadimplemento no pagamento
das despesas condominiais (ID113092458), resta patente a sua responsabilidade em ressarcir o
condomínio pelas despesas suportadas, na medida em que houve a falha na prestação de seus
serviços, na função exercida.

Assim, ainda que na modalidade culposa, o síndico responde pelos atos cometidos e
declarações firmadas, enquanto administrador do condomínio, nos termos dos artigos 186 c/c
927 e 1.348, incisos IV e VII do Código Civil, consoante jurisprudência pacífica do E.
Tribunal de Justiça de Minas Gerais:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA.


DANOS MATERIAIS. INFILTRAÇÃO EM APARTAMENTO.
DANOS CAUSADOS A CONDÔMINO. RESPONSABILIDADE
DO CONDOMÍNIO. FALTA DE MANUTENÇÃO ADEQUADA.
De acordo com art. 1.348, V do CC o condomínio deve, na pessoa do
sindico "diligenciar a conservação e a guarda das partes comuns e
zelar pela prestação dos serviços que interessem aos possuidores".
(TJMG - Apelação Cível 1.0000.17.091589-6/002, Relator(a):
Des.(a) Marco Aurélio Ferrara Marcolino , 13ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 30/06/2022, publicação da súmula em 01/07/2022)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - IMPUGNAÇÃO À


GRATUIDADE DE JUSTIÇA - AÇÃO INDENIZATÓRIA -
CONDOMÍNIO - AUSÊNCIA DE PAGAMENTO DOS
SERVIÇOS ESSENCIAIS AO CONDOMÍNIO - APROPRIAÇÃO
INDEVIDA DAS VERBAS CONDOMINIAIS -
RESPONSABILIDADE DO SÍNDICO À ÉPOCA - RESTITUIÇÃO
- MULTA POR LIGAÇÃO CLANDESTINA DE ÁGUA - DANOS
MATERIAIS CONFIGURADOS - RECONVENÇÃO - DANOS
MORAIS - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. - Não havendo
elementos de prova suficientes nos autos para desconstituir a
declaração de hipossuficiência financeira, deve ser mantida a
sentença que rejeitou a impugnação à justiça gratuita. - Restando
incontroverso que a ex-síndica recebeu os valores arrecadados das
taxas condominiais para efetuar os pagamentos das contas do
Condomínio réu e, não tendo esta adimplido com as obrigações do

Número do documento: 23022717084906300009733370861


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Condomínio, deve restituir as quantias recebidas. - Restando
incontroverso que a ex-síndica anuiu com a ligação fraudulenta do
fornecimento de água, esta deverá ser responsabilizada pelo
pagamento da multa gerada pelo ilícito. - Inexistindo provas da
suposta calúnia cometida pela parte reconvinda contra a parte
reconvinte, não há o dever de indenizar por danos morais. (TJMG -
Apelação Cível 1.0000.22.110046-4/001, Relator(a): Des.(a)
Joemilson Donizetti Lopes , 15ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
11/08/2022, publicação da súmula em 17/08/2022)

Por outro lado, em estrita observância ao princípio da boa-fé processual, não cabe à parte
arguir a invalidade de um termo por ela confeccionado e assinado, quando a declaração nele
aposta não condiz com a verdade, uma vez que o ordenamento jurídico veda, de forma
veemente, o comportamento contraditório, também conhecido como venire contra factum
proprium.

Logo, não serve de defesa para afastar a respectiva responsabilidade, o argumento de


invalidade de um documento, quando deduzido pela própria parte que o assinou, mormente
quando a declaração nele contida não corresponde à realidade.

Em síntese, consoante a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, "o princípio da boa-fé


objetiva proíbe que a parte assuma comportamentos contraditórios no desenvolvimento da
relação processual, o que resulta na vedação do venire contra factum proprium, aplicável
também ao direito processual". (AgRg no REsp 1280482/SC, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/02/2012, DJe 13/04/2012).

Por conseguinte, uma vez que o condomínio arcou com o pagamento das dívidas
condominiais do apartamento 101, bloco 14 (ID113092454), faz jus ao ressarcimento por
parte da antiga síndica que emitiu declaração de “nada consta”, apesar da existência do débito
pela referida unidade imobiliária.

Saliento que a correção monetária e os juros de mora deverão incidir, desde a data do efetivo
prejuízo, nos termos da súmula 43 do Superior Tribunal de Justiça, o que, no presente caso,
consiste com a data do desembolso pelo condomínio autor.

Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido inicial, nos termos do artigo 487,
inciso I do Código de Processo Civil, para condenar a parte ré ao pagamento de R$3.316,37,
em favor do condomínio autor, corrigidos monetariamente pela Tabela da Corregedoria Geral
de Justiça do TJ/MG e juros de mora de 1% ao mês, desde a data do desembolso, no termos da
Súmulas 43, do Superior Tribunal de Justiça.

Condeno a parte ré no pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios de


sucumbência, os quais fixo em 10% sobre o valor condenação, com fulcro no artigo 85,§2º, do
Código de Processo Civil. Suspensa a exigibilidade em razão da concessão do benefício da

Número do documento: 23022717084906300009733370861


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gratuidade da justiça.

P. I, arquivando-se oportunamente, com baixa.

CONTAGEM, data da assinatura eletrônica.

MARCOS ALBERTO FERREIRA

Juiz(íza) de Direito

6ª Vara Cível da Comarca de Contagem

Avenida Maria da Glória Rocha, 425, Bitácula ou 40 Alqueires, CONTAGEM - MG - CEP:


32010-375

Número do documento: 23022717084906300009733370861


https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23022717084906300009733370861
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