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INFANTICÍDIO NO DIREITO PENAL: A CULPABILIDADE E A INFLUÊNCIA DO

ESTADOPUERPERAL.

Amanda Kelly, Ana Karolina e Cristiane Evaristo.

RESUMO

A ação criminosa consiste em causar a mãe a morte do próprio filho, durante ou logo após o
parto , sob a influência do estado puerperal a morte pode ser causada de forma livre, por ação
ou omissão (faltar com a amamentação), por meios diretos ou indiretos.

A circunstância de tempo (durante o parto ou logo após), como bem explica FRAGOSO ;
elemento normativo constitutivo do tipo. Antes do parto, a morte do feto será aborto, e se não
se verificar, pelo menos, logo após, será homicídio.

Reconhecemos, certa dificuldade na conceituação do que seja "logo após". Entende a maioria
que esse intervalo de tempo compreende todo o período do estado puerperal, circunstância a
ser analisada pelos peritos médicos no caso concreto .

Alertamos, entretanto, que para a caracterização do infanticídio não basta que a mãe mate o
filho durante ou logo após o parto, sob a influencia do estado puerperal: é preciso, também,
que haja uma relação de causa e efeito entre tal estado e o crime, pois nem sempre ele produz
perturbações psíquicas na parturiente .

Palavras-chave: Estado puerperal, Infanticídio ,Parturiente.


ABSTRACT

The criminal action consists of causing the mother to kill her own child, during or shortly after
childbirth, under the influence of the puerperal state, death can be caused freely, by action or
omission (lack of breastfeeding), by direct means. or indirect.

The circumstance of time (during childbirth or shortly after), as FRAGOSO explains; normative
element constituting the type. Before delivery, the death of the fetus will be abortion, and if it
does not occur, at least soon after, it will be homicide.

We recognize some difficulty in conceptualizing what "soon after" is. The majority understands
that this time interval comprises the entire period of the puerperal state, a circumstance to be
analyzed by medical experts in the specific case .

We warn, however, that for the characterization of infanticide it is not enough for the mother
to kill the child during or shortly after childbirth, under the influence of the puerperal state: it is
also necessary that there is a cause and effect relationship between such state and the crime,
as it does not always produce psychic disturbances in the parturient.

Keywords: Puerperal state, Infanticide, Parturient.


1-CONCEITO E HISTORIA SOBRE O INFANTICÍDIO

O infanticídio é classificado como crime próprio, sujeito ativo do crime é a mãe


matar seu próprio filho nascente ou neonato/ recém-nascido, sob a influência
do estado puerperal. Material a consumação com ação de morte do feto ou
recém-nascido. O dolo direto: o agente, sob a influência do estado puerperal,
agindo durante ou logo após o parto, quer a produção do resultado morte. A
conduta está tipificada no art. 123 do Código Penal, crime de infanticídio
pressupõe que o núcleo do tipo seja praticado exclusivamente pela genitora,
antes ou logo após o parto, e que esteja no estado puerperal. O infanticídio
seria na realidade, um homicídio privilegiado, cometido pela mãe contra o filho
em condições especiais. Entendendo o legislador, porém, que é fato menos
grave que incluídos no art. 121 §1º, no pensamento de Beccaria e Feuerbach. O
crime de infanticídio não responde pelo crime de homicídio doloso, mas
responderá por tipo penal menos gravoso, e terá uma pena menor, onde se
equipara à pena do homicídio privilegiado, o artigo 121, caput do Código Penal
brasileiro. Sendo importante destacado artigo 124 do Código Penal crime de
aborto onde se caracteriza a morte do feto ocorre ainda no ventre materno ou
a destruição do produção da concepção, com a expulsão do feto, e libertou do
claustro materno, mesmo que ainda não se tenha cortado o cordão umbilical),
será considerado crime de infanticídio, uma vez que apresente circulação
sanguínea, se faz necessário verificar se a criança nasceu com vida, para tal, em
termos médicos, tem supra importância a distinção entre viabilidade e
vitalidade , é a capacidade, possibilidade por parte do recém-nascido de viver
fora do ventre materno, a sua capacidade de adaptação às condições de vida
extrauterina por um lapso de tempo. Esses batimentos cardíacos durante o
período de vida apneica é comprovada mediante a verificação da existência do
que os médicos chamam debossa seró – sanguínea ou tumor departo. A
conduta está tipificada no art. 123 do Código Penal, crime de infanticídio
pressupõe que o núcleo do tipo seja praticado exclusivamente pela genitora,
antes ou logo após o parto, e que esteja no estado puerperal. Em decorrência
desse fato a perícia médico legal disporia de elementos para a comprovação
material do estado puerperal. A mudança no conceito do crime de infanticídio
no contexto da comprovação material desse delito. O Código Penal de 1940
transferiu à perícia médico-legal a 9 responsabilidade pela comprovação
material do delito. A doutrina médico-legal tradicional, não é consensual. Tem
um caminho paralelo à Psiquiatria, a parturiente desencadeia uma súbita queda
em níveis hormonais e alterações no sistema nervoso, são esses alguns
sintomas nas autoras de infanticídio. No transtorno ocorre uma alteração na
percepção de si mesmo, a um grau em que o senso da própria realidade é
temporariamente perdido. Em decorrência desse fato a perícia médico-legal
disporia de elementos para a comprovação material do estado puerperal. O
caráter transitório dessa perturbação, e a ausência de distúrbio mental prévio,
fazem desse diagnóstico pericial um verdadeiro desafio, pois muitas vezes, ao
realizar o exame, os sintomas já desvaneceram. O legista nem sempre disporá
de elementos para concluir pela realidade deum estado puerperal.
Capez (2008, p. 109-110) explica que: “Beccaria e Feuerbach foram os primeiros
a conceber o homicídio como tal em um diploma legislativo, o Código Penal
austríaco de 1803. No Brasil, o Código de 1830 foi o primeiro diploma
legislativo a abrandar a pena do infanticídio. O Código Criminal de 1830, em seu
art. 198, determinava: “Se a própria mãe matar o filho recém-nascido para
ocultar a sua desonra: Pena — prisão com trabalho por um a três anos...”.
O Código Penal de 1890 definia o crime com a seguinte sugestão : “Matar
recém nascido, isto é, infante, nos sete primeiros dias de seu nascimento, quer
empregando meios diretos e ativos, quer recusando à vítima os cuidados
necessários à manutenção da vida e a 5 impedir sua morte” (art. 298, caput). O
parágrafo único cominava pena mais branda: “Se o crime for perpetrado pela
mãe, para ocultar a desonra própria: Pena — de prisão celular por três a nove
anos”. Alcântara Machado estendia o privilégio a outras pessoas além da mãe
da vítima: “Matar Infante durante o parto ou logo depois deste para ocultar a
desonra própria ou do ascendente, descendente, irmã ou mulher”.
O Código Penal de 1940 adotou critério diverso, acatando o de natureza
psicofisiológica da influência do estado puerperal. A conduta que se encerra no
tipo legal do infanticídio vem contida no preceito primário do art. 123: “Matar,
sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo
após: Pena — detenção, de dois a seis anos”.
Até o início do século XIX, unia-se severamente em toda a Europa este crime.
Quando o infanticídio passou a receber o tratamento privilegiado, levava-se em
conta, primordialmente, a intenção da mãe de ocultar a própria desonra, tanto
assim que o Código Penal de Portugal, no tipo penal de infanticídio, até 1995
incluía a finalidade especifica para ocultar a desonra, que foi abolido na atual
descrição típica. Até o início do século XVIII não havia diferença, o infanticídio
do homicídio, o infanticídio era um dos crimes mais apenados na idade média.
Já o Direto romano não distinguia o homicídio do infanticídio e era um crime
bárbaro, era feito um cozimento da mulher que cometia uma atrocidade dessa
natureza, e era lançada ao mar. No século XVIII a pena foi abrandada através
dosfilósofos adeptos do Direito Natural.
De acordo com o art. 123 do Código Penal Brasileiro, o Infanticídio caracteriza-
se com a seguinte conduta: “Matar, sob a influência do estado puerperal, o
próprio filho, durante o parto ou logo após”. Está, portanto, é a descrição legal
do mencionado crime. De acordo com Fernando Capez (2010, p. 134): Trata-se
de uma espécie de homicídio doloso privilegiado, cujo privilegium é concedido
em virtude da “influência do estado puerperal” sob o qual se encontra a
parturiente.
É que o estado puerperal, por vezes, pode acarretar distúrbios psíquicos na
genitora, os quais diminuem a sua capacidade de entendimento ou auto
inibição, levando-a a eliminar a vida do infante. [...] O privilégio constante dessa
figura típica é um componente essencial, pois sem ele o delito será outro
(homicídio, aborto). Assim é que o delito de infanticídio é composto pelos
seguintes elementos: matar o próprio filho; durante o parto ou logo após; sob
influência do estado puerperal. “Excluído algum dos dados constantes nessa
figura típica, esta deixará de existir, passando a ser outro crime (atipicidade
relativa).
De acordo com Guilherme de Souza Nucci (2010; p. 141):
“Trata-se do homicídio cometido pela mãe contra seu filho, nascente ou recém
- nascido, sob a influência do estado puerperal. É uma hipótese de homicídio
privilegiado em que, por circunstâncias particulares e especiais, houve por bem
o legislador conferir tratamento mais brando à autora do delito, diminuindo a
faixa de fixação da pena (mínimo e máximo). Embora formalmente tenha o
legislador eleito a figura do infanticídio como crime autônomo, na essência não
passa de um homicídio privilegiado, como já observam.

2- ESTADO PUERPERAL
De acordo com o Nucci (2014), o puerpério é o período que se estende do
início do parto até a volta da mulher às condições de pré-gravidez, enquanto
estado puerperal é o período que envolve a parturiente durante a expulsão da
criança do ventre materno, com profundas alterações psíquicas e físicas, que
chegam a transformar a mãe, retirando-lhe a plena consciência de seus atos.
O Artigo 123 do Código Penal diz que: Estado puerperal é a alteração psíquica
impulsionada pelo parto, capaz de mover a mulher a matar o próprio filho. É o
estado rodeado de profundas alterações psíquicase físicas que envolvem a
parturiente durante a expulsão da criança de seu ventre, subtraindo- lhe a
plena condição de entender o que está fazendo.
Segundo a doutrinadora Michelle Oliveira de Abreu, o pós-parto é uma das
fases mais críticas da mulher. Além das alterações naturais e consequenciais de
uma gravidez, o estado físico e psíquico da mulher pode ser prejudicado em
razão das modificações hormonais que esse período provoca.
Sendo assim, a parturiente que sofre de puerpério pode apresentar duas
formas na manifestação de distúrbio psiquiátrico: psicose ou neurose aguda. A
psicose puerperal assemelha -se às psicoses de curta duração. Ultrapassado o
período correspondente ao puerpério, as psicoses manifestadas recebem
diagnóstico diverso, não podendo ser consideradas como puerperais. Uma vez
diagnosticada a psicose puerperal, a portadora deve receber tratamento igual
ao conferido às demais psicoses.
(ABREU, 2014) Ainda de acordo com Abreu (2014), em sua atuação mais
gravosa, o estado puerperal pode manifestar-se como uma forma a
parturiente, que no momento sofre com 7 alucinações e delírios relacionados
ao recém-nascido ou neonato, tem grande possibilidade de provocar a morte
do objeto dos seus delírios.
Para Delton Croce (1998), a psicose puerperal: Via de regra, pode ocorrer com
gestante aparentemente normais, física e mentalmente, que, estressadas pelos
desajustamentos socias, dificuldades da vida conjugal e econômica, recusam de
forma neurótica a maternidade, normalmente indesejada por viúvas e nas
casadas com homens estéreis, ou por se sentirem aviltadas por serem mães
solteiras, enfim, vários fatores psicológicos de adaptação à natalidade, que
determinam o enfraquecimento da vontade, perda da consciência, podendo os
sofrimentos físicos e morais leva -las a ocisar o próprio filho.
Marcé (1972) afirma: O estado puerperal é uma forma fugaz e transitória de
alienação mental, é um estado psíquico patológico que, durante o parto, leva a
gestante à prática de condutas furiosas e incontroláveis, mas, após o puerpério,
a saúde mental reaparece.
Conforme a pesquisa realizada constata-se que o estado puerperal se refere ao
período pós-parto ocorrido entre a expulsão da placenta e a volta do organismo
da mãe para o estado anterior a gravidez. Alguns dos doutrinadores
pesquisados entendem que este período dura somente de 3 a 7 dias após o
parto, por outro lado, outros entendem que poderia perdurar por um mês ou
por algumas horas; ou, seja, não há consenso sobre a duração desse período.
No que se refere ao concurso de pessoas no infanticídio, verifica-se que o
julgamento de terceiros no crime de infanticídio é bastante polêmico, pois na
verdade o delito de infanticídio é um homicídio especializado por vários
elementos, sendo um deles a influência do estado puerperal, o que é exclusivo
da mãe e não se estende aos demais partícipes. São diversos os argumentos em
geral, todos estão voltados a corrigir uma injustiça promovida pela própria lei
penal, que deveria ter criado uma exceção pluralística à teoria monística, como
não fez, alguns doutrinadores preferem aplicação do art. 29, § 2º, dizendo que
se o executor matar o recém-nascido, com ajuda da mãe, esta teria querido
participar de crime menos grave, isto é, aquele teria desejado cometer
homicídio.

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