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PSICOSE PUERPERAL

O que é?
A Psicose Pós-parto ou Psicose Puerperal é um transtorno psiquiátrico encontrado em
algumas mulheres após o parto. A doença gera diversos desfechos no período pós-
parto, ocasionando prejuízos tanto maternos como para o recém-nascido.

Um quadro de psicose puerperal é considerado uma emergência psiquiátrica de início


súbito e com potencial de se tornar grave rapidamente, podendo variar em relação a
intensidade de sintomas.

A prevalência global de psicose puerperal citada com mais frequência é de 1-2 por
1000 partos.

Principais Características:

A Psicose pós-parto é uma síndrome com características de ideação delirante,


depressão, alucinações e alterações de ordem cognitiva. Apresenta como característica
principal a rejeição ao bebê, no qual a mãe sente-se completamente aterrorizada e
ameaçada por ele, tratando-o como um inimigo em potencial.

A psicose puerperal é a manifestação mais grave de sintomas depressivos durante a


gestação ou até duas semanas após o parto, sendo considerada uma emergência
psiquiátrica de início repentino.

O início dos sintomas possui a presença de alucinações, angústia, insônia, delírios,


estado confusional e observação grave ou pensamentos delirantes relacionados ao
bebê. Além disso, trata-se de um transtorno mental com capacidade de rápido
agravamento, com variedade da intensidade dos sintomas, associado a uma incidência
elevada de suicídio e infanticídio.

ESTUDOS RECENTES ASSOCIARAM RISCO DE PSICOSE PÓS-PARTO À OCORRÊNCIA


PRÉVIA DE TRANSTORNOS MENTAIS.

Em mulheres primíparas (primeiro parto), um fator de risco a ser considerado é a


presença de transtorno bipolar, que indica risco alto de psicose puerperal (26%)
quando comparado a mulheres sadias (0,1 - 0,2%).

Na bipolaridade, o risco elevado de recidiva grave é selecionado ao transtorno bipolar


tipo 1, com sintomas psicóticos ao invés do tipo 2, com episódios não psicóticos ou
depressivos hipomaníacos.
Mulheres com bipolaridade anterior ou psicose puerperal apresentam igualdade na
recidiva pós-parto, entretanto, mulheres com psicose puerperal sofrem doenças mais
graves.

POR FIM, A PSICOSE PUERPERAL PODE, AINDA, EVOLUIR PARA DEPRESSÃO PÓS-
PARTO.

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM V a


psicose puerperal é uma forma de Transtorno Psicótico Breve que se manifesta durante
a gestação ou até 4 semanas após o parto, isso acontece em forma de delírios e
alucinações, podendo também se apresentar como discurso desorganizado ou
comportamento catatônico.

Considerando a Classificação Internacional de Doenças (CID.10, 2009), não há uma


especificação para a psicose puerperal, a não ser como diagnóstico de exclusão, no
caso dos Transtornos Mentais e de Comportamento Associado ao Puerpério (Código
F53).

Aspectos Jurídicos:

Dessa forma, fica evidente que o transtorno é capaz de dissuadir da mulher suas
capacidades de bom senso e autodeterminação, ao passo que “[...] os sintomas
característicos englobam alucinações, delírios e paranoias que idealizam uma falsa
realidade e podem desencadear ações totalmente desconexas e contrárias as normas
e aos bons costumes”, de acordo com Lopes (2017, f. 17).

A mãe que possui transtorno psicótico no período puerperal poderá ter sua capacidade
de maternagem afetada profundamente, e isso irá variar de acordo com a intensidade
do transtorno, impactando na relação mãe-bebê.

Tal fato dificulta que a mulher assuma o papel de uma mãe suficientemente boa, que
protege, cuida e é confiável, o que pode influenciar de forma a comprometer o
desenvolvimento psíquico do bebê (ARRUDA; ANDRIETTO, 2009).

Além disso, os delírios, ideias persecutórias e alucinações da mãe na maioria das vezes
envolvem o bebê. Esses sintomas podem aparecer em forma de pensamentos de
agressão a ele, de vozes que ordenem a mãe a matá-lo, da crença de que ele está
morto ou de que ambos estão sendo perseguidos e até da negação do nascimento da
criança. Assim, é possível a ocorrência de fatalidades, configurando a presença de
transtornos psiquiátricos, principalmente os psicóticos, como um importante fator de
risco para o infanticídio.

LEVANDO EM CONTA O CÓDIGO PENAL BRASILEIRO, O TERMO INFANTICÍDIO


SIGNIFICA “[...] MATAR, SOB A INFLUÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL, O PRÓPRIO
FILHO, DURANTE O PARTO OU LOGO APÓS” (BRASIL, 1940) E ESTÁ TIPIFICADO NO
ARTIGO 123 DO MESMO, PREVENDO UMA PENA DE DETENÇÃO DE DOIS A SEIS
ANOS.

Percebe-se aqui que o período do puerpério, sozinho, não é suficiente para


caracterizar o crime de infanticídio e que a legislação usa como circunstância especial o
estado puerperal, ao passo que este traz distúrbios à psique da parturiente.

Para que seja caracterizado o crime de infanticídio, é necessária a presença de quatro


elementos:

 O bebê ser um feto nascente ou recém-nascido;


 Que ele tenha tido vida extrauterina;
 Que a parturiente (mãe) tenha intenção de matar;
 E que ela, no momento do crime, esteja com a psique comprovadamente
abalada por conta do estado puerperal.

O delito, então, é configurado como homicídio privilegiado ao passo que a autora do


crime recebe tratamento brando diante das circunstâncias especiais relativas ao
estado puerperal, tendo uma pena reduzida se comparada ao crime de homicídio o
qual prevê pena de seis a vinte anos de reclusão (ZIOMKOWSKI; LEVANDOWSKI, 2017).

Essa diferença de tratamento entre os crimes se dá, pois, a mulher não pode ser
inteiramente responsabilizada por seu ato, uma vez que as perturbações advindas do
estado puerperal não a permitem ter discernimento pleno de suas ações.

A legislação brasileira, de acordo com o Artigo 26 do Código Penal, considera que o


agente de qualquer crime que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, seja inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito da
ação é isento de penalidade.

Ou seja, este será considerado inimputável. No caso do crime de infanticídio, existe


redução da pena e não livramento dela, uma vez que a autora será enquadrada
como semi-imputável.

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
Redução de pena Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o
agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental
incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento (BRASIL, 1940).
Nos casos de parturientes acometidas pela psicose puerperal no momento do crime,
considera-se que ela não tem capacidade de entender a ilicitude dos fatos,
principalmente aquelas que sofrem de delírios e alucinações. Como visto, essas
mulheres têm seu bom-senso e sua autodeterminação extremamente prejudicados em
razão da patologia, logo não deverão ser passíveis de penalização.

Segundo Camacho e colaboradores (2006), existem estudos neurocientíficos que


defendem mais o tratamento e reabilitação dessas mulheres portadoras de psicose
puerperal que cometem o infanticídio, do que a punição legal. Dessa forma, é possível
evitar outras fatalidades que podem ocorrer por conta do quadro.

De acordo com o Código Penal (BRASIL, 1940), os inimputáveis, devido a transtorno


mental que incapacite o sujeito a compreender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com este entendimento, são absolvidos, por faltar o
elemento da culpabilidade, e receberão uma medida de segurança. A medida de
segurança, prevista nos artigos 96 e 97 da referida legislação, poderá ser cumprida
por meio da internação ou tratamento ambulatorial.

Relato de Caso:

Mulher de 30 anos, morena, com ensino fundamental completo, artesã, sem história
prévia de transtorno psiquiátrico ou problemas clínicos. Casada e mãe de uma criança
de cinco anos. Natural de Recife-PE, atualmente residindo em outro estado do Brasil.
Durante a gravidez de seu 2º filho mudou-se para cidade de pequeno porte e teve pré-
natal sem intercorrências. Devido a trabalho de parto prolongado, necessitou ser
transferida para cidade de porte médio.
Quatro dias após o parto, passou a sentir-se inquieta e irritada e a ficar desconfiada do
vizinho, pensando que ele pretendia fazer mal aos seus filhos. Relata que durante o dia
passou a andar pelas ruas sem rumo com os filhos no colo e à noite não conseguia
dormir. Pensava que as pessoas daquela cidade pretendiam matá-la e matar seus
filhos e que os evangélicos a julgavam e seguiam-na. Estas ideias tinham características
delirantes e não condiziam com a realidade. Dizia que a programação da TV ou a
música que tocava no rádio se referia a ela e ouvia que iriam matá-la. Passou dias sem
se alimentar e sem dormir. Durante uma noite, por acreditar que era certo que iriam
maltratá-la e os filhos, saiu correndo pela rua com o filho recém-nascido nos braços e
se jogou no rio, na tentativa de “aliviar o sofrimento que estava vivendo”, ela foi
encontrada pelo esposo algumas horas depois, mas o bebê não sobreviveu.
Foi internada por 30 dias e medicada com haloperidol, levomepromazina e biperideno.
Após a alta retornou para Recife. Aos quatro meses após o parto, procurou
atendimento no ambulatório de Saúde mental da Mulher do Hospital das Clínicas da
UFPE. Esta paciente encontrava-se em remissão total do quadro. Função tireoideana e
exames bioquímicos normais. Devido a sintomas extrapiramidais foi feito troca da
medicação para 4mg risperidona ao dia. Houve melhora dos sintomas motores e
paciente manteve-se assintomática. Após quatro meses de acompanhamento retornou
para o estado onde morava anteriormente.

Discussão:

Esta paciente cometeu o infanticídio e teve uma tentativa de suicídio devido a um


quadro psicótico compatível com PP. Tinha ideias persecutórias faziam acreditar que
algum mal aconteceria a ela e a sua filha o que resultou na tentativa de suicídio e o
infanticídio. Segundo o Código Penal Brasileiro ela é considerada inimputável, pois
durante um quadro psicótico agudo o indivíduo está “inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento”.

É provável que o diagnóstico e tratamento precoce pudessem vir a prevenir e evitar


este caso de infanticídio e tentativa de suicídio. Esta paciente deverá permanecer em
acompanhamento, pois a recorrência da PP é frequente. Uma em cada sete das
pacientes com história prévia de PP tem outro episódio, além disto, ela tem maior
risco de apresentar algum transtorno afetivo ou psicótico fora do pós-parto.

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