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FRANCA
2023
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SUMÁRIO
1.1. Donald
Winnicott.............................................................................3
Soifer..................................................4
2.0. O Perfume.................................................................................................5
5.0. Referências...............................................................................................8
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criança é sentida como algo perigoso que podem ameaçar e causar danos à
mãe; são fantasias hostis em relação à própria mãe grávida. Pode aparecer
medo da própria morte com a sensação de estar cedendo a vida ao filho, que
se passa por um desconhecido.
Por outro lado, podem ocorrer manifestações maníacas de
intensa idealização. A partir disso, ocorre também o medo da criança disforme
a partir de uma fantasia terrorífica e monstruosa que também tem a ver com
temor da incapacidade de criar e educar bem o filho. Ademais, a percepção dos
primeiros movimentos do bebê, concomitante ao medo do filho disforme, pode
acarretar temores de morrer no parto, corpo disforme e medo de permanecer
assim. Os sonhos dessa fase têm a ver com bebês que falam, que indica
presença de conflitos edipianos. Em outras dimensões, o pai, por sentir na mãe
uma união íntima com o filho e invejá-la, pode enxergar a mulher como única e
pura e rejeita relações sexuais, podendo até procurar em relações
extraconjugais.
Na esteira desse raciocínio, a partir do quinto mês, a mãe sente
os movimentos como mais bruscos, e a sensação de que algo estranho está
presente promove a impressão de que algo está empurrando os órgãos. O
parto prematuro a partir disso, tem relação com a percepção e o nível de
ansiedade, temor da incapacidade de criar bem o filho e negação persistente.
No final da gestação, a incerteza de quando será o parto, como
será o bebê e como será sua criação invadem o psiquismo materno; o temor à
morte no parto também é presente. Às vezes, a defesa é tão grande que a mãe
acaba com as incertezas por meio do parto prematuro e, quando a ansiedade
se torna intolerável, transtornos psicossomáticos aparecem, ou até psicoses e
depressões pós-parto.
2.0. O PERFUME
Para Winnicott, o bebê não existe, o que existe é a relação mãe-
bebê, assim, o senso de eu e de existência não ocorre no momento do
nascimento, mas sim é construído por um ambiente facilitador que apresente o
mundo, um outro e constrói a pele psíquica do bebê aos poucos. O que ocorre
quando não há esse ambiente facilitador, ou um objeto primário que frustra e
gratifica o bebê? Há diversos Jean Baptiste no mundo, ou em momentos da
vida de alguém.
Nas primeiras cenas do filme, deparamos com o desconforto do
parto de um bebê no meio de um lixão, deixado para morrer, o cordão umbilical
sendo cortado com um facão de peixe, um bebê chutado e escondido como se
fosse algo escrupuloso ou digno de vergonha. Todos seus irmãos foram
abortados, somente ele viveu por conta de sua característica mais marcante- o
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alma e se torna um serial killer justamente pelo anseio de algo que não viria
somente de fora em um estado tão primitivo.
Como Grenuille nem sequer experimentava o Princípio do Prazer,
estando em um estado mais primitivo, pode-se concluir que estava na posição
autística-contígua, pois não reconhece a existência de um outro, nem sequer a
dele mesmo. Não possui nem um objeto transicional, pois não teve uma
“primeira” parte para poder transitar para uma segunda, sua pele psíquica não
foi formada pois não foi tocado, cuidado – foi um estado mais primitivo que uma
manipulação grosseira da mãe, foi ausente, e grosseira do mundo. A partir
disso, é possível ver como um ambiente afetivo seria algo primordial para o
nascimento psíquico, e como a ausência deste pode acarretar consequências
não cinematográficas, mas do dia a dia, principalmente em uma clínica de
psicologia.
3. REFLEXÕES PESSOAIS
Durante o filme, fui tomada diversas vezes pelo sentimento de
torcer para que Jean Baptiste fosse reconhecido por si próprio, mas não
ocorreu. Me veio a pensar o porquê disso. A partir das leituras e associações
teóricas, pude perceber que seu estado era tão primitivo que necessitaria
realmente de um outro tradutor, assim como todos nós precisamos. Uma cena
que me marcou foi o nervosismo quando fica indignado que não consegue
sentir o cheiro do vidro, nem o perfumeiro; foi somente naquela cena que
percebi que sua angústia não era somente “ter que ser o homem que sente
tudo”, mas sim uma angústia de cunho existencial.
Fui tomada diversas vezes por entender o porquê de ele cortar o
cabelo das mulheres quando as matavam (já havia percebido que matava sem
saber o que estava fazendo, inclusive ainda acho que se as mulheres o
deixassem passar a gordura e fazer a raspagem, não as mataria). Com o
tempo, pensei na possibilidade de que sua mãe não existiu para ele, não teve
os cuidados principais, nem sequer o tocou e, principalmente para a época do
filme, o cabelo longo seria a característica mais marcante de uma mulher,
portanto penso se o cortar o cabelo também não seria uma forma de projetar
nas mulheres sua relação com a figura feminina, a mãe: cortada, cindida.
Outra questão foi que percebi que quando ele foi tomado pela
primeira vez pela sensação de objeto bom (moça de Paris), entra em um
estado obsessivo de ter, o que também acontece com os bebês, eles têm
vontade de possuir aquele objeto bom e somente o experimentá-lo, além de o
idealizar. Mas no caso do filme, essa una experiência não é suficiente para
nem chegar a uma posição esquizoparanóide, tamanha desintegração do ego.
Confesso que na hora do filme eu ficava confusa, pensando nessa posição,
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REFERÊNCIAS
MEDEIROS, C.; AIELLO-VAISBERG, T. M. J.. Reflexões sobre holding e
sustentação como gestos psicoterapêuticos. Psicologia Clínica, v. 26, n. 2, p.
49–62, jul. 2014. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pc/a/wLtHmFGfDBWy4vR5Mwdt9Nb/?lang=pt#. Acesso
em 13 de maio de 2023.
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