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Fases do Desenvolvimento da Personalidade

Teorias de Sigmund Freud e Erik Erikson

DURANTE A GESTAÇÃO

O mundo se resume às sensações experimentadas no ventre materno, sensações estas


diretamente relacionadas às sensações e vivências da mãe.

A PRINCÍPIO a percepção que o bebê tem da experiência intrauterina, é de estar protegido,


ainda que experimente corporalmente as inevitáveis tensões que a mãe vivencia no seu dia-a-
dia e que se expressam no seu corpo em forma de ansiedade.

A PERCEPÇÃO DO NASCIMENTO

Nascer é um fenômeno traumático, por isso é importante que ele seja algo natural,
espontâneo, iniciado pela criança.

POR QUE NASCER É ALGO TRAUMÁTICO?

O bebê “abandona” ou é “retirado” de um ambiente que ele conhece e no qual se sente


protegido, para entrar em contato com sensações nunca antes experimentadas.

QUE SENSAÇÕES?

Ruído (vozes da equipe médica);

Luminosidade (lâmpadas do centro cirúrgico);

Respiração pelas vias olfativas (odores do centro cirúrgico);

OUTRAS SENSAÇÕES...
• Sensações táteis relacionadas a procedimentos invasivos como injeção, limpeza da cavidade
nasal, oral e esôfago, “tapinhas” nas nádegas, banho, ...

AO NASCER...
Duas forças passam a atuar no psiquismo humano:
A pulsão de vida e a pulsão de morte.

PULSÃO DE VIDA: Eros (FREUD, 1920)

Pulsão amorosa;
Libido (impulso sexual) força que impulsiona para a ação construtiva.

PULSÃO DE MORTE: Tânatos (FREUD,1920)

Pulsão agressiva; força destrutiva

A FIM DE MINIMIZAR OS EFEITOS DA PULSÃO DE MORTE NO PSIQUISMO:


O bebê deve ser levado à mãe o quanto antes após o parto.
QUANDO A PULSÃO DE VIDA PREVALECE NA PERCEPÇÃO DO BEBÊ:
Assim que entra em contato com o calor do corpo da mãe, sua voz, seu cheiro, toda a
experiência traumática é superada com mais facilidade, e o bebê consegue restaurar seu
equilíbrio.

MAS QUANDO A PULSÃO DE MORTE PREVALECE...

O bebê demonstra grande dificuldade para acalmar-se, recompor-se e aconchegar-se no colo


da mãe, o que se agrava quando esta também se encontra em um estado de “caos
psicológico”, angustiada e insegura.

O desenvolvimento da personalidade conforme Sigmund Freud:

Freud propôs que o desenvolvimento da personalidade acontece em fases que ele denominou
Fases do desenvolvimento psicossexual, em razão do “caminho percorrido pela libido” ao
longo desse desenvolvimento, ou seja, as mudanças de investimento da libido no corpo ao
longo desse processo de estruturação do psiquismo.

O Primeiro Ano de vida


Freud (1917): Fase Oral (libido investida na região da boca – fase de dependência da mãe)

1- Fase Oral de Sucção (0 – 4 meses aprox.)

2- Fase Oral Canibalesca (a partir de 4 meses de vida)

Fase Oral de Sucção (0 -4 meses)


A percepção dos estímulos ou informações sensoriais nas primeiras semanas de vida, é muito
confusa. Porque diante de cada som, sensação tátil, olfativa ou visual, o bebê compara com
aquilo que ele já conhece e com o qual já está acostumado, que é o ambiente constituído pela
mãe e tudo o que faz parte dele, como objetos (a mamadeira, a toalha, o “talquinho”, o cheiro
da casa, a chupeta), a voz do pai/babá/avós, o berço....

TUDO O QUE FOR DIFERENTE DESSE AMBIENTE Exige do bebê, adaptação, tarefa bastante
complexa e sofrida nesta fase.
Dessa forma, quanto mais estável, portanto, for o ambiente proporcionado ao bebê nesta fase,
menos esforço ele vai precisar fazer para recuperar seu equilíbrio.

O bebê de até 4 meses de vida...


Vivencia uma simbiose com a figura materna e com o mundo, ou seja, ele não se percebe
sendo uma pessoa e a mãe sendo outra pessoa, assim como não percebe que a chupeta e
outros objetos não são parte dele. Assim, para o bebê dessa fase, tudo é ele.

Fase Oral Canibalesca (4 meses aprox.)


O termo canibalesco refere-se à necessidade do bebê dessa fase em apropriar-se física e
psicologicamente da mãe para não a perder, em razão da aquisição da percepção da existência
da mãe. Nesta fase inicia-se um processo gradativo de superação da simbiose psíquica entre o
bebê e a mãe.

Essa fantasia de incorporação do seio materno acontece em razão de dois motivos:


- A percepção da dependência da mãe para sua sobrevivência e a consequente ansiedade de
separação em relação à figura materna;
- A inveja experimentada pela primeira vez pelo ser humano, que acreditava até então ser
único e autossuficiente.

Para o autor Erik Erikson (1950)


Durante o primeiro ano de vida o bebê vivencia o Estágio da Confiança X Desconfiança, cujo
papel materno é fundamental para o asseguramento à criança de que ela está protegida e será
atendida em suas necessidades fisiológicas e de afeto, o que se assemelha à teoria freudiana.

Erik Erikson compreende o desenvolvimento da personalidade como um fenômeno


caracterizado por ciclos, constituídos por sua vez de experiências de conflitos que devem ser
superados ao longo de toda a vida, que ele denomina ciclo vital.

Assim, a cada etapa do desenvolvimento que Erikson denomina Estágios Psicossociais, o


sujeito vivencia um conflito que ao ser superado favorece o desenvolvimento de uma virtude
ou conquista do Ego.

No primeiro ano de vida o conflito é entre a confiança e a desconfiança, e a virtude que deve
ser conquistada a partir do vínculo de segurança estabelecido com mãe – a esperança.

O Segundo Ano de vida Fase Anal (FREUD, 1923 apud RAPPAPORT, FIORI e
DAVIS, 1981)
A libido da criança e todo o seu interesse estão em torno do funcionamento de seus intestinos.
A criança observa os efeitos que a evacuação e a retenção dos intestinos, tem sobre o
ambiente, buscando controlar o mesmo a partir desses comportamentos.

Significado das fezes para a criança:


Seu primeiro produto que é apresentado ao mundo;
Um presente oferecido aos pais;
Seus filhos imaginários;
Bomba ou veneno (algo que pode ser potencialmente destrutivo).

O aprendizado do controle dos esfíncteres deve ocorrer de modo gradativo, cujo papel dos
pais e cuidadores é o de promover um ambiente seguro para que ele aconteça.

Isso significa: a criança tem a atenção que ela precisa, sente-se amada e respeitada em suas
necessidades e ansiedades desse momento.

Segundo Erik Erikson (1950)


A criança de 2 anos vivencia o Estágio da Autonomia X Vergonha e Dúvida: tem necessidades
de atos independentes mas experimenta dúvida sobre suas capacidades e vergonha em
relação às suas limitações, de modo que os pais e cuidadores devem estar atentos a atitudes
adotadas na educação da criança, buscando reagir com delicadeza e respeito frente as suas
dificuldades e nos momentos de estabelecer os devidos limites.

A criança de 2 anos tem diante de si quatro importantes desafios:


1- Desenvolver a linguagem;
2- A Aprendizagem do controle dos esfíncteres;
3- A Socialização;
4- A Internalização de regras e normas de conduta.
Quando se sente amada, respeitada e segura em relação à sua capacidade de amar, certa de
que o amor que sente pelos pais supera o ódio que muitas vezes sente por eles, estabelece-se
a virtude ou qualidade do Ego denominada por Erikson como VONTADE.

A criança de 3 a 5 anos:
Fase Fálica ou Edipiana (FREUD, 1923)
A libido da criança e seus interesses estão principalmente em torno de seus órgãos genitais,
cujos comportamentos comuns são: curiosidade, exibicionismo, masturbação infantil,
voyeurismo.
Nesta fase também, a libido da criança sofre um considerável deslocamento no seu
investimento, que antes era dirigido maciçamente para a figura materna, e agora desloca-se
para uma terceira pessoa, que pode ser o pai ou outra pessoa que, além da mãe, também
desperte o afeto e a admiração da criança.

A criança então passa a vivenciar uma relação triangular com estas duas figuras de seu afeto,
estabelecendo com uma delas, uma relação de enamoramento, nutrindo fantasias de ser o (a)
seu namorado (a), enquanto que com o outro, estabelece uma relação de disputa pelo amor
daquele, rivalizando e experimentando ciúmes e inveja por seus atributos e por ser o (a)
namorado (a) de seu suposto (a) namorado (a) em fantasia (PETTENGILL, 2022).

A criança experimenta uma relação ambivalente com seu “rival” pois, ao mesmo tempo que
sente essa rivalidade e inveja, o (a) admira profundamente e deseja se parecer com ele (a), de
modo que possa então conquistar o amor de seu suposto namorado (a) (em fantasia).

Nesta fase, a criança inicia o desenvolvimento de sua identidade de gênero, a partir de


processos de identificação com as principais figuras de seu afeto (FREUD, 1923).

O termo falo, escolhido por Freud na construção de sua teoria se deve às condições da
sociedade daquela época, cujas possibilidades para os homens eram muito maiores em termos
de realização profissional e social (em todos os sentidos) do que para as mulheres, de modo
que o poder, no sentido de alcance para efetivar conquistas e gozar de liberdade para tal, era
algo destinado a eles e não a elas (PETTENGILL, 2022).

Assim, fase fálica refere-se também à uma fase de busca de afirmação do poder, da
autonomia, da liberdade, de modo que talvez pela primeira vez a criança passa a se incomodar
profundamente com o fato de ser criança, o que significa possuir autonomia bastante limitada
(vivência da castração). Este aspecto da teoria de Freud vem ao encontro das elaborações de
Erikson em sua teoria sobre esta fase (PETTENGILL, 2022).

O herdeiro do Complexo de Édipo, conforme Freud é o Superego, a partir da assimilação por


parte da criança, deste importante impedimento – proibição do incesto - favorecendo à
criança maior controle sobre sua agressividade e auxiliando na superação progressiva de
Seu egocentrismo a partir da atenção crescente às normas e regras de conduta.

Para Erik Erikson (1950), a criança de 3 a 5 anos vivencia o Estágio da Iniciativa X Culpa
(PETTENGILL,2023):

A criança tem necessidade de explorar o ambiente, conhecer e experimentar suas próprias


capacidades, mobilizando-se cada vez mais em direção ao que lhe desperta interessa:
brincadeiras, conhecimentos, construção de teorias sobre a vida, a criança encontra-se em
plena identificação com os adultos que representam modelos de comportamento para ela e a
quem investe o seu afeto e admiração, de modo que jogos de imitação das experiências dos
adultos é algo muito comum nesta fase (PAPALIA et al, 2013).

Sua curiosidade e necessidade de se exibir devem ser bem administradas por seus pais e
cuidadores, que devem equilibrar atenção e “aplausos” com a necessidade de estabelecer
limites a determinados comportamentos, em especial aqueles que possam oferecer risco a sua
integridade (PETTENGILL, 2023).

No entanto, é preciso muito cuidado e habilidade para que a criança não interprete a
necessidade dos pais em protegê-la e orientá-la em seu processo educativo, como tentativas
de humilhá-la por ela não possuir ainda a autonomia que deseja ter e certas capacidades que
uma criança ainda não conquistou, como altura, força, habilidade motora, entre outras
aquisições (PETTENGILL, 2023).

Quando atitudes de iniciativa manifestadas pela criança nesta fase são adequadamente
atendidas (com respeito, atenção e proteção-limites) pelos pais e cuidadores, ela desenvolve a
virtude do Propósito, conforme Erikson (1950).

A criança em fase escolar (6 – 11 anos):


Vivencia a Fase da Latência (FREUD, 1914):
O termo latência refere-se ao que acontece com a libido e impulsos agressivos da criança nesta
fase.

É como se estas energias ficassem “adormecidas” nesta fase...

Mediante emprego da Sublimação (mecanismo de defesa do Ego), os impulsos sexuais e


agressivos da criança são transformados em desejo de aprender, de ser elogiada por bom
comportamento, de ser aceita e valorizada socialmente em razão de conduta adequada e
esperada pelos adultos.

Esta é a idade da razão, do desenvolvimento intenso da intelectualidade das habilidades


motoras, da criatividade e aprendizagem das habilidades sociais fundamentais para a
participação na sociedade ao longo da vida (PETTENGILL, 2023).

Erik Erikson chamou esta fase de Estágio da Produtividade X Inferioridade:


A criança precisa perceber o reconhecimento sobre suas capacidades e aptidões.

É necessário que os pais e educadores oportunizem à criança a aprendizagem de atividades


que permitam a ela sentir que acreditam em suas capacidades, de que pode ser útil nos
ambientes dos quais faz parte. Ex: preparar um bolo (cozinhar), lavar a louça, limpar o
banheiro, organizar um armário; arrumar a própria cama, levar o lixo para as lixeiras, entre
outros.
Os pais devem incentivar atividades motoras e observar habilidades para a prática de
esportes. Porém: devem cuidar para não expressarem exacerbada rigidez e exigência por
perfeição, com expectativas muito altas em relação ao seu desempenho nos estudos ou
esporte.
Fase de intensa socialização que deve ser incentivada e oportunizada pelos pais e educadores.
Quando a criança se sente atendida em sua necessidade de afirmação e valorização por suas
capacidades e participação produtiva (colaboração) nos ambientes dos quais faz parte, a
virtude ou qualidade do Ego que se estabelece é a habilidade.
Adolescência
Para Freud: Fase Genital
A libido passa a ser investida para fins sexuais (amorosos) e reprodutivos, pois o sujeito
conquistou sua maturidade biológica para estes objetivos.

A libido “adormecida” e em estado de latência, nesta fase, reinveste os órgãos genitais, e


então o sujeito novamente demonstra os interesses e muitos comportamentos da fase fálica:
exibicionismo, voyeurismo, masturbação, necessidade de afirmação do falo (poder),
comportamentos de oposição.
Sentimentos antigos de frustração e castração da infância podem retornar com certa
intensidade, configurando-se em atitudes de demasiada arrogância e necessidade de
afirmação e oposição.

Conforme Arminda Aberastury:


O adolescente vivencia 3 lutos:
1- Pelo corpo infantil perdido;
2- Pela identidade infantil perdida;
3- Pelos pais da infância perdidos.

O adolescente reexperimenta os conflitos e ansiedades edipianas: ciúmes,


Inveja, rivalidade, apego excessivo, necessidade de conquista, de sentir-se potente e capaz de
conquistar a quem ama.

Novamente busca modelos de identificação.

Para Erik Erikson, o adolescente vivencia o Estágio da Identidade X Difusão da


Identidade:
Sente necessidade de espaço para afirmar a própria identidade – fazer escolhas próprias,
desidealizar os pais, sentir-se respeitado e compreendido nesse processo.
É fator de risco ao desenvolvimento do adolescente dificultar o seu processo de individuação,
impondo escolhas, gostos e hábitos que não são os dele. Não respeitar o distanciamento físico
que tanto ele necessita para se individualizar e construir sua própria identidade.

Outros Fatores de risco ao desenvolvimento na adolescência:


Violência sexual/abuso; violência física e psicológica; exigência de obediência passiva, sem
contestação.
Pais excessivamente rígidos e intrusivos, que não respeitam a privacidade do jovem.

Outros fatores de risco nessa fase:


Oferecer ambiente excessivamente permissivo, sem regras e limites.
Os pais serem “amigos e confidentes” do filho e não pais, que devem ser.
Pais excessivamente vaidosos, orgulhosos, “adolescentes” e que estão profundamente
incomodados com as conquistas e juventude do filho.

Quando o adolescente consegue sentir que pode ser ele próprio, pensar “com a própria
cabeça” e fazer suas próprias escolhas, sem que isto represente risco à saúde mental e bem-
estar psicológico dos pais, ele pode estabelecer a virtude desta fase, conforme Erikson: a
Fidelidade.

De acordo com Freud, sempre que o sujeito experimenta dificuldades importantes para lidar
com os desafios e as ansiedades próprias de cada uma das fases do seu desenvolvimento
infantil, seja por excesso de frustração (vivências objetivas ou subjetivas) ou excesso de
gratificação (ausência de limites ou impedimentos aos seus desejos primitivos ou ainda, por
dificuldades do próprio sujeito para abandonar as gratificações da fase em que se encontra),
ele pode ficar fixado nesta fase.

Segundo Freud todas as pessoas apresentam em algum grau, fixação em uma ou mais fases do
desenvolvimento da libido, e isto vai se manifestar por meio dos traços de personalidade que
cada pessoa possui.

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