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Inveja

(SEGAL, 1975)

Melanie Klein estabelece distinção entre inveja e ciúme:


Ciúme: baseia-se no amor (objetal) e visa à posse do objeto amado e à
remoção do rival.
Pertence a uma relação triangular e, portanto, a um período da vida em
que os objetos são claramente reconhecidos e diferenciados uns dos
outros.

A Inveja é uma relação de duas partes, na qual o sujeito inveja (admira) o


objeto por alguma posse ou qualidade;
Voracidade: visa à posse de toda a bondade que possa ser extraída do
objeto, sem qualquer consideração das consequências.

Isso pode resultar na destruição do objeto e na danificação de sua


bondade.
A inveja visa a que se seja tão bom quanto o objeto; na voracidade,
quando isso é sentido como impossível, visa a danificar a bondade do
objeto, para remover a fonte de sentimentos invejosos.

É esse aspecto danificador da inveja que é tão destrutivo para o


desenvolvimento, visto que a própria fonte de bondade da qual o bebê
depende é tornada má, e, portanto, introjeções boas não podem ser
alcançadas.

A inveja surge logo que o bebê se dá conta do seio como fonte de vida e
de experiência boa. (Assim como, em condições de prejuízo mental, o
sujeito passa a sabotar (inconscientemente) seu relacionamento amoroso
por inveja do amor que recebe do outro, demonstrando constante
insatisfação nesta relação).

A gratificação real que o bebê experimenta no seio reforçada pela


idealização, faz com que sinta que o seio é a fonte de todos os confortos,
físicos e mentais, reservatório inesgotável de alimento e calor, amor,
compreensão e sabedoria.
A experiência de satisfação que esse maravilhoso objeto pode dar,
aumentará o seu amor e o seu desejo de possuí-lo, preservá-lo e protege-
lo.
A mesma experiência, porém, também desperta no bebê o desejo de ele
próprio ser a fonte de tal perfeição. (Assim, é preciso superarmos nossa
ambivalência infantil para conseguirmos desfrutar de uma relação
amorosa satisfatória na vida adulto, pois do contrário, poderemos atacar
invejosamente o amor que recebemos do outro)

Ele então experimenta penosos sentimentos de inveja os quais acarretam


o desejo de danificar as qualidades do objeto que lhe pode dar esses
sentimentos penosos. (Quando o sujeito passa a apontar somente os
defeitos do cônjuge ou par amoroso).
A inveja pode fundir-se com a voracidade, conduzindo a um desejo de
esgotar inteiramente o objeto, esvaziando-o, para que não tenha nada de
invejável.

Em fantasia, o bebê ataca o seio cuspindo, urinando, defecando, soltando


flatos, e pelo olhar projetivo e penetrante (o mau-olhado).
À medida que prossegue o desenvolvimento, continuam esses ataques em
relação ao corpo da mãe e seus bebês e ao relacionamento dos pais.

Em casos de desenvolvimento patológico do complexo de édipo a inveja


do relacionamento dos pais desempenha um papel mais importante do
que os verdadeiros sentimentos de ciúme.

Se a inveja primitiva é muito intensa interfere na ação normal dos


mecanismos esquizoides.
O processo de divisão em um objeto ideal e outro perseguidor, tão
importante na posição esquizo-paranóide, não pode ser mantido, tendo-
se em vista que é o objeto ideal que dá origem à inveja e que é atacado e
danificado.

Isso conduz à confusão entre o bom e o mau, interferindo na divisão.


Como esta não pode ser mantida e como um objeto ideal não pode ser
preservado, ocorre uma grave interferência na introjeção de um objeto
ideal e na identificação com este.
Fortes sentimentos de inveja induzem ao desespero um objeto ideal não
pode ser encontrado e, portanto, não há esperança de amor ou de
qualquer ajuda. (Origem da Síndrome Depressiva).
Os objetos destruídos são fonte de perseguição interminável e,
posteriormente, de culpa.

Se a inveja impede a introjeção do objeto ideal isso por sua vez aumenta a
inveja, em razão da percepção de ser alguém dotado apenas de aspectos
destrutivos e destruídos.

Na raiz de reações terapêuticas negativas e de tratamentos intermináveis,


encontra-se muitas vezes uma poderosa inveja inconsciente.
Trata-se de algo que pode ser observado em pacientes que têm uma longa
história de tratamentos anteriores fracassados.

Como a inveja forte em relação ao objeto primário dá origem a sofrimento


e falta de esperança tão agudos, poderosas defesas são mobilizadas
contra ela. Uma delas é a danificação: um objeto danificado não suscita
inveja.
Outra defesa – a Desvalorização: para proteger o objeto de uma
danificação total, simplesmente diminuo o seu valor.

Uma rígida idealização pode ser usada numa tentativa de preservar algum
objeto ideal.
Contudo, tal idealização é precária pois, quanto mais ideal o objeto, mais
intensa é a inveja.
Todas estas defesas contribuem para incapacitar o Ego.

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