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Os atravessamentos da homoafetividade e sua liquidez dentro das dinâmicas familiares e

sociais: a construção da psique na comunidade LGBTQQICAPF2K+ e a psicanálise


enquanto ferramenta de autocuidado diante desse paradigma.

Silas de Santana Vitória1

Resumo:

Palavras-chave:

Abstract:
Keywords:

Introdução
1
Bacharelando em Direito pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB e Estudante em Psicanálise pela
Imaginar Educação e Treinamento.
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O que vão dizer de nós?


Seus pais, Deus e coisas tais
Quando virem rumores
Do nosso amor
Baby, eu já cansei de me esconder.
Entre olhares, sussurros com você.
Somos dois homens
E nada mais
Flutua - Johnny Hooker

A busca pela aceitação familiar é uma constante em todos os indivíduos e


essa necessidade de ser aceito, ou aceita se amplia quando esta transita pela
construção de afetividades ao longo da vida adulta. A arquitetura afetiva, enquanto
pressuposto para o enlace matrimonial de dois indivíduos ultrapassa a
correspondência das expectativas entre os envolvidos na relação e se torna uma
contingência também no seio sócio familiar.
O paradoxo formado entre a dicotomia social, pautada em valores religiosos,
de cunho judaico-cristão, e a ampliação do debate de gênero na pós-modernidade
corrobora para o robustecimento de afasias conflituosas na formação psíquica da
mente de pessoas LGBTQQICAPF2K+; sobretudo, quando esse mesmo paradigma
supracitado, se estende sobre a expectativa e aceitação da sociedade e da família
sobre relações homoafetivas, todavia essa esperança de aceitação familiar, em sua
maioria, não é uma realidade nas relações entre pessoas integrantes da
comunidade LGBTQQICAPF2K+.
Dessa forma, acolhimento dado pela família às conjunções homoafetivas é
distinto do acolhimento dado às relações heteroafetivas e isso repercute diretamente
em como a sociedade passará a aceitar essas relações; sobretudo, porque
conjunturalmente, elas já são muito estigmatizadas.
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1. A visão de Melanie Klein, Donald Winnicott, Jacques Lacan e Bauman da


construção do sentimento de amor e de angústia.

Tortura do pensar! Triste lamento! Quem nos dera calar a tua voz!
Poema Angústia – Florbela Espanca.

Para Klein a busca pelo objeto inicial de desejo encontra-se na transição da fase
esquizoparanóide para a posição depressiva, implicando na mudança de uma percepção
sensorial e simplória do mundo em volta, para uma construção mais complexa do mundo e
dos objetos, desse modo à constituição do indivíduo passava em ele reconhecer a coexistência
ambivalente de sentimentos, resultando então em uma fantasia inconsciente do objeto externo
e interno em eternos conflitos entre si, ou seja, o amor começa com o ideal de bom e ruim
oriundo do seio materno que alimenta e que também faz falta. Em fase adulta, com as
percepções de mundo readequadas à nova realidade, o sujeito passa então a perceber o amor
não materno dentro dessa mesma lógica de desejo a ser suprido e da ausência causadora de
angústia profunda, logo essa ausência é insaciável.
A relação com o objeto de desejo na infância revela, para Klein, a sinopse de como
será a relação amorosa do adulto com o amor e a angústia, que é a transferência desse objeto
de desejo, para outra pessoa. Para Klein, 1983:

Tanto a capacidade de amar como o sentido de perseguição têm raízes profundas nos
processos mentais mais primitivos da criancinha. Primeiramente eles se dirigem para
a mãe. Os impulsos destrutivos e seus concomitantes — tais como o ressentimento
por frustração, o ódio que ela desperta, a incapacidade para se reconciliar, e a inveja
do objeto todo poderoso, a mãe, de quem dependem sua vida e seu bem-estar —
essas várias emoções despertam ansiedade persecutória na criancinha. Mwtatis
mutandis, tais emoções estão ainda operantes na vida ulterior. Os impulsos
destrutivos, por conseguinte, em relação a qualquer pessoa estão sempre fadados a
dar origem ao sentimento de que essa pessoa também se tornará hostil e retaliadora.
A agressividade inata inegavelmente aumentará pelas circunstâncias externas
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desfavoráveis e, inversamente, será mitigada pelo amor e compreensão que a


criancinha receber; e tais fatores continuam operantes durante todo o
desenvolvimento. Embora a importância de circunstâncias externas, no entanto, seja
agora reconhecida em escala crescente, a importância dos fatores internos ainda é
subestimada. Os impulsos destrutivos, que variam de indivíduo para indivíduo,
constituem parte integrante da vida mental, mesmo em circunstâncias favoráveis, e,
portanto, temos que considerar o desenvolvimento da criança e as atitudes dos
adultos como resultantes da interação entre as influências internas e externas. A luta
entre o amor e o ódio — agora que nossa capacidade de compreender os bebês
aumentou — pode, até certo ponto, ser reconhecida através de cuidadosa
observação. Alguns bebês experimentam intenso ressentimento por qualquer
frustração e demonstram isso pela incapacidade de aceitar a gratificação quando ela
se segue à privação. Diria que tais crianças têm uma agressividade inata e
voracidade mais intensas do que aquelas criancinhas cujas explosões ocasionais de
raiva logo se dissipam. Se um bebê indicar que é capaz de aceitar alimento e amor,
isto significa que pode superar o ressentimento pela frustração com relativa rapidez
e, quando a gratificação for novamente proporcionada, readquirir seus sentimentos
de amor. (KLEIN, 1983. P. 4 e 5)

Já para Winnicott o equilíbrio entre o Falso Self e o Verdadeiro Self, passava pela fase
da dependência absoluta (do seio familiar), para a relativa e só então se chegava no que ele
entendia como independência e daí, partia para fazer a transição do objeto inicial de desejo
(que causa ao indivíduo uma pulsão destrutiva do objeto de desejo) a fim de se construir
internamente um espaço potencial que o encoraje para viver a transição para a vida adulta (de
maneira emancipatória a esse objeto inicial de desejo) e daí construir a capacidade de ser
sozinho e se desenvolver enquanto ente subjetivo capaz de criar as habilidades de sonhar e de
imaginar, ou seja, é criando a habilidade de ser pleno sozinho que a pessoa cria a capacidade
de amar outro objeto de desejo, que não o inicial, só assim é que o indivíduo consegue amar
de fato. Para Winnicott, 1999:

Nesse caminho (por causa da segurança ambiental, da mãe sendo


apoiada pelo pai, etc.), a criança torna-se capaz de fazer uma coisa
muito complexa, ou seja, integrar seus impulsos destrutivos com os
amorosos, e o resultado, quando tudo corre bem, é que a criança
reconhece a realidade das ideias destrutivas que são inerentes, na vida,
ao viver e ao amor, e encontra modos e maneiras de proteger de si
mesma pessoas e objetos valorizados. Na verdade, a criança organiza
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sua vida de modo construtivo, a fim de não se sentir muito mal em


relação à destrutividade real que passa por sua mente. (WINNICOTT,
1999. P.7)

Ambos, tanto Melanie Klein, quanto Winnicott encontravam na angústia da transição


objetal da criança, que coisifica a figura maternal como desejo, para a fase adulta, onde o
indivíduo desenvolve, na simbolização de si e do fora de si, à relação siamesa do amor e da
angústia em suas relações. Esse “amor adulto” tem suas raízes firmadas no desenvolvimento
emocional constituído nas fases iniciais da vida infantil, ou seja, até que os traumas da
infância sejam tratados, a forma de lidar com a projeção amorosa na vida adulta, tem relação
íntima e direta com a maneira com que o ser humano foi ensinado a lidar com o seu instinto
primitivo quando criança, sobretudo, como ele foi educado para conviver com a realização do
desejo, ou com a frustração por não o realizar.
Essas abstrações e concretudes das afasias do amor e da angústia encontraram uma
musculatura ainda mais complexa quando Lacan divide a mente do sujeito entre “Real,
simbólico e imaginário” e identifica que é, a partir da relação com essa tripartição mental, que
o sujeito adentra no estádio de espelhamento do outro, para criar então uma experiência
unívoca de si, contudo, o sujeito segue fragmentado e descentrado como resultado de uma
linguagem simbólica pouco clara, fomentada por uma cultura que contribui para que esse
“ser” siga dividido em seu processo de construção subjetiva, é um processo análogo à
construções mosaicas. Dessa forma Lacan, 2016 afirma:

Que nós o interpretemos! Interpretar o desejo é restituir isto a que o sujeito não pode
aceder sozinho, ou seja o afeto que designa, ao nível desse desejo que e o seu -eu
falo do desejo precise que intervém em tal ou tal incidente da vida do sujeito, do
desejo masoquista, do desejo-suicida, eventual mente do desejo oblativo. Trata-se de
que isto, que se produz sob esta forma fechada para o sujeito, ao retomar seu lugar,
seu sentido relativamente ao discurso mascarado que esta implicado nesse desejo,
retome seu sentido relativamente ao ser, confronte o sujeito relativamente ao ser,
retome seu sentido verdadeiro, aquele que e, por exemplo, definido pelo que eu
chamarei os afetos posicionais relativamente ao ser. E isto que chamamos amor,
ódio ou ignorância essencialmente, e muitos outros termos ainda que precisaremos
examinar e catalogar. Na medida em que o que se chama afeto não e esse algo de
pura e simplesmente opaco e fechado que seria uma espécie de para além do
discurso, uma espécie de conjunto, de no vivido de que não saberíamos de que céu
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ele nos cai, mas na medida em que 0 afeto e muito precisamente e sempre algo que
se conota numa certa posição do sujeito relativamente ao ser. Quero dizer
relativamente ao ser na medida em que 0 que se prop5e a ele na sua dimensão
fundamental e simbólico, ou então que, pelo contrario, no interior desse simbólico,
ele representa uma erupção do real, esta vez muito perturbadora. (LACAN, 2016.
P.157)
Essa constante incompletude ele denominava de “objeto a”, uma vez que, para Lacan
só há consciente a partir da linguagem, esse estudo semiótico parte do pressuposto de que
toda palavra é ensinada por alguém a outro alguém, sendo a assim a introjeção de
pensamentos do indivíduo é fruto da linguagem simbólica imposta por outrem, assim como os
desejos, o amor e a angústia, ou seja, a pessoa é ensinada como amar e esse “objeto a” é o
objeto de desejo nunca correspondente. Logo o amor nunca de fato é conquistado é, portanto,
uma eterna angústia por esperar que esse “objeto a” seja correspondido de alguma maneira.
Para Lacan, 1973:

No nível da dimensão escópica, na medida em que a pulsão ai esteja em jogo, se


reencontra a mesma função do objeto a que e discernível em todas as outras
dimensões. O objeto a é algo de que o sujeito, para se constituir, se separou como
órgão. Isso vale como símbolo da falta, quer dizer, do falo, não como tal, mas como
fazendo falta. E então preciso que isso seja um objeto - primeiramente, separável - e
depois, tendo alguma relação com a falta. Vou já encarnar para vocês o que quero
dizer. (LACAN, 1973. P.101)

Em Lacan a simbiose entre o desejo e a falta traz nuances importantes e ambivalentes


entre o amor e a angústia, para resolver esse dilema bipartite, Lacan afirma que a estrutura
psíquica do ser humano cria a representação da lei, enquanto autoridade, para delimitar seus
desejos e impulsos e, só então, inserem-no nessa agnição. Essa intermediação da percepção
sesmasiológica entre o “eu”, o “outro” e o papel da lei e da cultura, para a construção do
sujeito tripartite (real, simbólico e imaginário) é demasiadamente complexo, a tal ponto de
culminar em um processo, ambiguamente, relativizado entre amar e angustiar-se, esse sentido
de autoridade para a regulação do desejo primitivo é definido por Lacan como o “nome do
pai”. É preciso saber seguir as regras, para amar e em troca amado ser, embora não haja nunca
a saciedade dessa “coisa” que sempre faltará. Lacan, 1999 afirma o seguinte:

Não creio, de maneira alguma, que seja dessa maneira que podemos formulá-lo.
Essa referência personalista, não a creio psicologicamente fundamentada, a não ser
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no sentido de que não podemos deixar de sentir e pressentir que as significações


criam esse impasse supostamente desencadeador do profundo desconserto do sujeito
quando ele é esquizofrênico. Mas também não podemos deixar de sentir e pressentir
que deve haver alguma coisa no princípio desse déficit e que ela não é simplesmente
a experiencia impressa dos impasses das significações, porém a falta de alguma
coisa que funda a própria significação, e que e o significante - e mais alguma coisa,
que é justamente o que vou abordar hoje. Não se trata de algo que simplesmente se
coloque como personalidade, como aquilo que funda a fala como ato, como dizia
ontem it noite a sra. Pankow, mas de alguma coisa que se coloca como conferindo
autoridade à lei. Aqui chamamos de lei aquilo que se articula propriamente no nível
do significante, ou seja, o texto da lei. Não é a mesma coisa dizer que uma pessoa
deve estar presente para sustentar a autenticidade da fala e dizer que há alguma coisa
que autoriza o texto da lei. Com efeito, o que autoriza o texto da lei se basta por
estar, ele mesmo, no nível do significante. Trata-se do que chamo de Nome-do-Pai,
isto e, o pai simbólico. Esse é um termo que subsiste no nível do significante, que,
no outro como sede da lei, representa o outro. É o significante que dá esteio à lei,
que promulga a lei. Esse é o Outro no Outro. (LACAN, 1999. P.152)

Distinguir o amar alhures, na sematologia lacaniana, pode passar pelo amar em algures
e nenhures primeiro, para só então equilibrar esse indivíduo dotado de construções extrínsecas
do seu próprio eu. Tudo isso gera angústia, mas somente com a tripartição mental equilibrada
é que o ser humano pode tomar ciência de si e de outrem, enquanto objetos de transferências
mútuas do amor. O amor e a angústia andam de braços dados! Para Lacan, 1995:

É alhures, no país dos sonhos, no Jardim das Hespérides, lá onde, como todos
sabem, a mãe leva sempre a criança nas costas. De fato, a noção de um amor tão
estritamente complementar, e como que destinado por si mesmo a encontrar sua
reciprocidade, constitui uma evasão tão pouco compatível com uma teorização
correta que os autores acabam por confessar que esta é uma posição ideal, senão
ideativa. (LACAN, 1995. P. 64)

É, no entanto, importante compreender que Lacan trazia o amor o e o gozo como


partes complementares de um fenômeno subjetivo de desejo extrínseco. O gozo não no
sentido pejorativo, mas o gozo subjetivo. Sendo assim, ambos gozos fazem parte do amor, por
isso que o capitalismo conseguiu fracionar as concepções amorosas fundamentais em
compartimentos menores e comercializá-los. O principio fundamental do desejo, aclamado
pelo pai da psicanálise, se ver aqui exposto em um grande leilão de valores humanos. O amor
em sua essência não se perdeu, mas é possível comprar “frações de amor”, através de gozos
momentâneos, subjetivos ou não, desde que haja disponibilidade de fazer comércio. É tudo
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uma questão de poder pagar o preço simbólico, ou factível para ter para si, ainda que
momentaneamente, aquilo que se deseja. Pra Lacan, 1973:

O sujeito se aperceberá de que seu desejo é apenas vão contorno da pesca, do


fisgamento do gozo do outro - tanto que, o outro intervindo, ele se apercebera de que
ha um gozo mais além do principio do prazer. o acossamento do principio do prazer
pela incidência da pulsão parcial, aí está por onde podemos conceber que as pulsões
parciais, ambíguas, estão instaladas no limite de uma Erhaltungstrieb, da
manutenção de uma homeostase, de sua captura pelo rosto velado que é o da
sexualidade. (LACAN, 1973. P. 1974)

Ao encontro das correntes psicanalíticas, até o momento apresentadas e reiterando o


que fora supracitado por toda introdução deste artigo é que Zygmunt Bauman, 2007, afirma o
seguinte:

Dado desgaste dos quadros institucionais que impunha a observância das obrigações
assumidas e na virtual ausência de critérios incontestados, universalmente
reconhecidos (ou impostos), suspeitamos e alimentamos a expectativa de que uma
componente de violência venha misturar-se às relações humanas mais íntimas, que
se presumia serem governadas prioritariamente pelo amor e a admiração mútuos —
ao mesmo tempo que o grau outrora tolerado de compromisso acarretado por todas
as formas de coexistência negociada tende a ser cada vez mais frequentemente
experimentado nos termos de uma violência excessiva e insuportável exercida sobre
os direitos de autoafirmação de cada um. Uma das consequências da transição da
sociedade do produtor/soldado para uma sociedade de consumidores recoletores de
sensações foi o esgotamento gradual dos vasos capilares do sistema panóptico de
manutenção da ordem. Os casamentos, as famílias, as relações de parentesco, os
locais de trabalho perderam boa parte do seu papel de postos fronteiriços avançados
da fábrica da ordem societalmente gerida. A coerção aí aplicada quotidiana e
rotineiramente perdeu a sua função como veículo da «lei e da ordem», e pode ser
hoje contestada como violência gratuita e crueldade imperdoável. As hierarquias
outrora incontestadas podem voltar a ser postas em causa, os critérios organizadores
das relações renegociados, os antigos direitos de impor e exigir disciplina
clamorosamente denunciados e violentamente repelidos — o que leva a que se crie a
impressão de conjunto de que os montantes totais de violência aumentam ao mesmo
tempo que o exercício de um poder hierarquicamente superior outrora reconhecido
ou nem sequer percebido tende a ser considerado como violência ilegítima. A
ambivalência manifesta da «manutenção da ordem» e da «violência» é uma vez mais
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posta a nu pelos novos conflitos em torno do seu sentido (BAUMAN, 2007. P. 162,
163)

A partir de então é que o ato de amar fica marcado na a criança, na maneira como ela
lida com o seu objeto de desejo primitivo e de como ela é inserida, primeiramente no contexto
familiar e logo então em sociedade, construindo assim o fato de posteriores relações. O que
anteriormente era feito, sobremaneira, de forma paulatina e perene, hoje se percebe uma
flexibilização excessiva, promovida pelos valores do capitalismo, que tem tornado, até os
sentimentos mais puros, como o amor, disformes e líquidos, contudo, não impossíveis.
O fato é que, ou se ensina as crianças como amar e lidar com angústia, ou quando estas
crescerem, não serão felizes em seus relacionamentos e nem consigo mesmas. Na pós-
modernidade precisa-se de um pouco mais de esforço para garantir que essas relações sejam
saudáveis, uma vez que a lógica de consumo é introjetada na criança desde a sua primeira
infância, levando-os a desejar inserir-se, precocemente, em uma sociedade capitalista
planejada para criar consumidores e não produtores de relações.

Considerações Finais

Por fim, depreende-se que na teoria psicanalítica, em termos gerais, o amor e a


angústia são concebidos como sentimentos intrinsecamente correlatos e que, desempenham
papéis complexos na mente humana. A origem desses sentimentos remonta à infância, onde as
primeiras experiências de amor e angústia são forjadas nas relações com os cuidadores,
principalmente na relação mãe-filho. As teorias dos autores, até aqui abordados aprofundam
essa compreensão, ainda que em perspectivas distintas, mas ressaltando que a ambivalência
afetiva, envolvendo amor e angústia, é uma característica inerente às relações humanas.
E importante compreender que ao longo do desenvolvimento psicológico, o amor pode
evoluir para uma expressão mais madura, capaz de enfrentar a angústia de maneira
construtiva. Compreender a intrincada relação entre o amor e a angústia é essencial para a
compreensão das dinâmicas emocionais e das complexidades da experiência humana na
perspectiva psicanalítica e, sobretudo, humana, afinal, a psicanálise é uma ferramenta útil,
para humanizar cada vez mais os seres humanos e suas relações.
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Referências

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Jorge Zahar Ed., 2004.
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Lacan, Jacques, 1901 -1981. O Seminário, livro 10: a angústia/Jacques Lacan; texto
estabelecido por Jacques-Alain Miller; versão final Angelina Harari e preparação de texto
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Winnicott, Donald Woods. TUDO COMEÇA EM CASA. Tradução PAULO SANDLER. São
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