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Aspectos Fundamentais sobre
o Desenvolvimento da Afetividade
Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Adrielly Camila de Oliveira Rodrigues Vital
Aspectos Fundamentais sobre o
Desenvolvimento da Afetividade
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Adquirir conhecimentos sobre os conceitos e definições dos diferentes tipos de deficiência;
• Conhecer os aspectos fundamentais das abordagens teóricas sobre a afetividade e o desen-
volvimento da sexualidade humana;
• Reconhecer as implicações socioculturais envolvidas no estigma e preconceito frente à
vivência da sexualidade das pessoas com deficiência.
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Almeida (2011) afirma que é durante o desenvolvimento humano que, invaria-
velmente, ocorre no contexto familiar, se encontra a base da futura saúde mental
da criança, na qual é esperada que receba toda gama de cuidados de seus pais.
Esses cuidados dispensados à criança irão influenciar profundamente na formação
das relações e no aprendizado, na regulação das emoções e, consequentemente, nos
comportamentos futuros.
Bowlby (1988) afirma que ao longo do primeiro ano de vida ocorre um tipo de
relação afetiva especial que se desenvolve entre o bebê humano e seus cuidadores
primários, estabelecendo o apego (attachment), que diz respeito ao desenvolvimento
de laços afetivos entre a criança e o seus pais e, posteriormente, nas relações adultas.
O apego ocorre pela resposta inata dos pais à dependência absoluta do bebê, e
pela tendência também inata do bebê de se relacionar com os pais (BOLWBY, 1988).
A criança passa por fases para que se estabeleça o comportamento de apego, que tem
como objetivo manter a sobrevivência do indivíduo, assim como a proteção e o cuidado.
A forma como se dá esse comportamento de apego na organização da perso-
nalidade de cada um depende do tipo de laço afetivo realizado ao longo da vida
(WELLICHAN; ADURENS, 2018). Para os autores, a evolução positiva do apego
será a base do desenvolvimento do sentimento de segurança da criança, de explorar
autonomamente o mundo, assim como de sua capacidade de regular pensamentos e
emoções, de manter a autoestima e se relacionar afetivamente com outras pessoas.
Winnicott (2006) valoriza a ideia de que o desenvolvimento emocional de um
bebê está intimamente ligado ao ambiente facilitador, no qual a mãe será o agente
de cuidado, ou seja, tudo o que envolve os cuidados que englobam essa relação díade
mãe-filho. Quando a mãe se encontra saudável, do ponto de vista psíquico, vive um
estado que Winnicott (2006) chamou de preocupação materna primária: as mães se
tornam aptas a se colocar na posição do bebê, ou seja, uma capacidade de identifi-
cação que favorece o reconhecimento das necessidades do bebê.
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Várias situações podem comprometer a capacidade dos pais de oferecer cuidados
suficientemente bons para seus filhos. Almeida (2011) afirma que diante da fragilidade
e do desamparo do bebê, revivem vivências traumáticas de sua própria infância, fa-
zendo ressurgir memórias emocionais, que perturbam sua capacidade de atender de
forma apropriada às necessidades do bebê. Reações emocionais de desamparo, de
distanciamento emocional ou de raiva também podem ocorrer.
Em outras famílias, os pais podem reforçar e manter a dependência dos filhos,
impedindo o desenvolvimento da autonomia. Outro fator que pode acarretar prejuízo
para a criança é ser filho de pais que apresentem doenças mentais como depressão,
esquizofrenia ou transtorno de personalidade, o que cria situações de caos emocio-
nal familiar. Além disto, pais com dificuldades de dar limites podem criar uma inca-
pacidade de lidar com frustrações. Alternativamente, pais que frustram intensamente
os filhos criam situações emocionais que podem desorganizar a mente da criança
(ALMEIDA, 2011).
A maternidade e a paternidade ocorrem num contexto social que pode apoiar ou
comprometer a capacidade de cuidado dos pais, as condições de isolamento social, po-
breza extrema, os conflitos familiares graves entre os membros, a violência doméstica,
a ausência de cuidados adequados aos filhos, transtornos mentais ou uso de drogas em
um dos pais, famílias com número muito grande de membros, separação, ausência ou
afastamento prolongado de um dos cuidadores primários impedem que os pais cuidem
adequadamente dos filhos, prejudicando o desenvolvimento afetivo da criança.
Almeida (2011) coloca que outros fatores, pelo ponto de vista das crianças e dos
adolescentes, a presença de doença crônica, o mau desempenho escolar, a desnutri-
ção, os problemas perinatais, tais como: infecções, doenças congênitas, exposição
ao álcool, dentre outros, e o temperamento difícil, devem ser considerados sinais de
alerta. O autor acrescenta também as más condições de moradia, o desemprego dos
pais, a exposição à violência e à delinquência, ausência de escolas ou de serviços de
saúde adequados como potenciais fatores de risco.
No entanto, a detecção precoce de situações de risco para problemas no desen-
volvimento emocional torna-se essencial para a prevenir o surgimento de futuros
transtornos mentais.
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Mas, afinal o que significa a palavra “afeto”? O que significa relacionar-se afetiva-
mente?
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motivação para a vida, tendo em vista que a afetividade atua e contribui para que as
crianças se sintam confiantes e seguras.
Wallon (2006) tem uma concepção mais ampla, envolvendo uma gama maior de
manifestações, englobando sentimentos (origem psicológica) e emoções (origem bio-
lógica). Para ele, a afetividade corresponde a um período mais tardio na evolução da
criança, quando surgem os elementos simbólicos. Ainda segundo Wallon (2006), é
com o aparecimento desses elementos que ocorre a transformação das emoções em
sentimentos, a possibilidade de representação, que, consequentemente, implica na
transferência para o plano mental, confere aos sentimentos uma certa durabilidade
e moderação.
Para Piaget (1975), a criança quando sente que é aceita, compreendida, valori-
zada e respeitada tem grandes possibilidades de se desenvolver bem em todas as
esferas da vida, que envolvem aspectos orgânicos, corporais, afetivos, emocionais e
cognitivos. As relações da criança com o mundo exterior são, desde o início, relações
de sociabilidade, visto que, ao nascer, não tem:
Meios de ação sobre as coisas circundantes, razão porque a satisfação das
suas necessidades e desejos tem de ser realizada por intermédio das pes-
soas adultas que a rodeiam. Por isso, os primeiros sistemas de reação que
se organizam sob a influência do ambiente, as emoções, tendem a realizar,
por meio de manifestações consoantes e contagiosas, uma fusão de sen-
sibilidade entre o indivíduo e o seu entourage. (WALLON, 1971, p. 262)
A relação do indivíduo com o mundo está sempre medida pelo outro (BOCK,
1999), neste sentido, observa-se que Wallon (1971) e Vygotsky (1998) têm muitos
pontos em comum ao se tratar da afetividade. Ambos assumem o seu caráter so-
cial e têm uma abordagem de desenvolvimento para ela, demonstrando, cada um à
sua maneira, que as manifestações emocionais, portanto de caráter orgânico, vão
ganhando complexidade, passando a atuar no universo do simbólico. Dessa ma-
neira, ampliam-se as formas de manifestações, constituindo os fenômenos afetivos.
Da mesma forma, defendem a íntima relação que há entre o ambiente cultural/social
e os processos afetivos e cognitivos, além de afirmarem que ambos inter-relacionam-
-se e influenciam-se mutuamente.
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Machado (1996) afirma, ainda, que o conhecimento do mundo objetivo ocorre quan-
do desejos, interesses e motivações aliam-se à percepção, memória, pensamento, ima-
ginação e vontade, em uma atividade cotidiana dinâmica entre parceiros. Neste sentido,
a afetividade constitui, assim, um fator muito importante no processo de desenvolvi-
mento humano, e é justamente na relação com o outro que o indivíduo poderá se deli-
mitar como pessoa e manter o processo em permanente construção (FREIRE, 1997).
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Figura 6 – Afetividade na relação professor-aluno
Fonte: Getty images
Assim, para Freitas e Miguel (2019), o convívio na sala de aula é construído por
meio de um conjunto de variadas formas de interpretação, que se estabelecem entre
as partes envolvidas (alunos e professores), e por intermédio deste último, todo o tra-
balho pedagógico, a relação existente com os alunos, tudo é parte do papel do profes-
sor. A tradicional visão dualista do homem enquanto corpo/mente, matéria/espírito,
afeto/cognição, que tem permeado a trajetória do pensamento e do conhecimento
humano há muitos séculos, tem se manifestado em estudos sobre o comportamento a
partir de uma visão cindida entre racional e emocional, pressupondo-se, geralmente,
que o primeiro deveria dominar o segundo, impedindo uma compreensão da totalida-
de do ser humano (LEITE; TASSONI, 2017).
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A relação que caracteriza o ensinar e o aprender transcorre a partir de vínculos
entre as pessoas e inicia-se no âmbito familiar. A base desta relação vincular é afeti-
va, pois é por meio de uma forma de comunicação emocional que o bebê mobiliza
o adulto, garantindo assim os cuidados de que necessita. Portanto, é o vínculo afe-
tivo estabelecido entre o adulto e a criança que sustenta a etapa inicial do processo
de aprendizagem, sendo fundamental nos primeiros meses de vida, determinando a
sobrevivência emocional da criança. Da mesma forma, é a partir da relação com o
outro, por meio do vínculo afetivo que, nos anos iniciais, a criança vai tendo acesso ao
mundo simbólico e, assim, conquistando avanços significativos no âmbito cognitivo
(DANTAS, 1993; ALMEIDA, 1999). Nesse sentido, para a criança, torna-se funda-
mental o papel do vínculo afetivo, que vai ampliando-se, e a figura do professor surge
com grande importância na relação de ensino e aprendizagem na época escolar.
O aluno deve ser incentivado em suas habilidades, para isso o professor deve compre-
ender que ensinar é uma particularidade humana. Segundo Freitas e Miguel (2019), não
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Assim, podemos entender que não há como pensar no ato de ensinar desvincu-
lado do afeto. Ao oferecer ao aluno uma diversidade de situações e espaços, perce-
bemos que a criança tem o “desejo e necessita ser amada aceita, acolhida e ouvida
para que possa despertar para a vida da curiosidade e do aprendizado” (SALTINI,
2008, p. 100). Neste sentido, cabe aí a sensibilidade do educador, que deve buscar
conhecer o aluno, o modo de funcionamento de sua emoção para aprender a lidar
adequadamente com suas expressões.
Entender o que é emoção, como ela funciona, para poder administrá-la tanto em
si como no outro é o grande desafio, afirmam Freitas, Silva e Santos (2019), tendo
em vista que os progressos oriundos do desenvolvimento da inteligência, que são
responsabilidade do professor, dependem, em grande parte, do desenvolvimento
da afetividade.
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Figura 11 – Relação professor-aluno mediada pela afetividade
Fonte: Getty Images
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Para Almeida (1999) e Wallon (1978), é por meio das interações sociais que as
manifestações posturais vão ganhando significado e, com a aquisição da linguagem,
a afetividade adquire novas formas de manifestação, além de ocorrer também uma
transformação nos próprios níveis de exigência afetiva.
A inclusão de crianças com deficiência no âmbito educacional é algo complexo,
importante e necessário, neste processo o papel do professor é fundamental, pois
ele poderá lidar diretamente com as circunstâncias emocionais envolvidas na sala de
aula, no estabelecimento das relações afetivas entre professor-aluno e alunos–alunos.
Assim, estas circunstâncias emocionais poderão ter repercussões significativas para
o desenvolvimento afetivo da criança com deficiência, aspecto que será determinante
para manter a permanência da criança na escola
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Atualmente, a legislação vigente não permite nenhum tipo de discriminação ou
preconceito em relação às pessoas com deficiência, apregoa a valorização e o tra-
balho respeitando-se as diferenças. No entanto, sabemos que esta população sofreu
e ainda sofre toda gama de preconceito e discriminação e que as desigualdades são
mantidas de forma bastante perversa.
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Estilos de Apego Precoce (vínculo da criança e mãe “Jonh Bowlby”)
https://youtu.be/ExXgaIaiIqc
Os filhos imitam os pais
https://youtu.be/6JxvGbIwud4
Privação Afetiva Precoce
https://youtu.be/P-AYsbashPE
Leitura
A afetividade em sala de aula: as condições de ensino e a mediação do professor
LEITE, S. A. S.; TASSONI, E. C. M. A afetividade em sala de aula: as condições de
ensino e a mediação do professor. Cultura e Humanização: Grupo de Pesquisa da
Universidade Federal de Alfenas/MG, 2017.
https://bit.ly/33uhFIx
SILVEIRA, E. A. A importância da afetividade na aprendizagem escolar: o afeto na
relação aluno-professor. Psicologado, 2014.
https://bit.ly/2Xt5847
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Referências
ALMEIDA, A. R. S. A emoção na sala de aula. Campinas: Papirus, 1999.
BOWLBY, J. Cuidados maternos e saúde mental. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
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