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O Grupo Familiar: Normalidade de Patologia da Função Materna

O grupo familiar exerce uma importante função na estruturação do psiquismo


da vida da criança e na formação de sua personalidade até virar adulto. Pode ser
formado por: pai, mãe, irmãos, avós e também pelas pessoas que interagem
diretamente com a criança.
A configuração desses grupos, ao longo dos anos, vem sofrendo uma
constante transformação em sua configuração, trazendo significativas repercussões
na vida do bebe, da criança, do adolesente e futuro adulto com relação a sua
identidade individual, grupal e social.
Desde o nascimento, a criança sofre influência dos outros e também é um
importante agente de mudanças na estrutura da família.
Um fator importante que devemos citar é a transgeracionalidade, ou seja,
cada um de seus genitores mantém a internalização de suas respectivas famílias
com os correspondentes valores,estereótipos e conflitos. Não somente os conflitos
neuróticos das gerações precedentes da família nuclear que se reeditam nos
próprios pais, e daí para os filhos, em uma combinação que exige no mínimo três
gerações, num contínuo jogo de mútuas projeções. O grupo familiar está sempre
sofrendo alterações comportamentais em seu campo dinâmico grupal e podemos
destacar três aspectos essenciais: a) As características pessoais do pai e da mãe
separadamente, da relação entre eles, é essencialmente relevante a imagem e
valoração que cada um tem em relação ao outro, pois constituirá as representações
internas que o filho terá de cada um dos pais e de si mesmo. b) Este fenômeno está
diretamente ligado com o aspecto das identificações, muito importante na formação
do sentimento de identidade e auto-estima. c) A designação e a definição de papéis
a serem cumpridos dentro da família e fora dela.
Uma família bem estruturada exige algumas condições básicas como por
exemplo a necessidade de que exista uma hierarquia na contribuição de papéis,
lugares, posições e atribuições, com a supervisão de um clima de liberdade e
respeito entre os membros.
Uma adequada maternagem requer uma série de atributos e função de mãe,
que tanto pode pautar por uma normalidade, mas também podem adquirir
características patogênicas. Segundo Winnicott, uma "mãe suficientemente boa”
deve preencher as seguintes condições: ser provedora das necessidades básicas do
filho, exercer a função de para-excitação dos estímulos que o ego da criança não
consegue processar devido a sua imaturidade neurofisiológica, possibilitar uma
simbiose adequada, compreender e decodificar a linguagem corporal do bebe. Uma
maternagem adequada implica na presença da mãe, mas também em saber estar
ausente, promovendo uma progressiva e necessária “desilusão das ilusões",
arremetendo a função de frustrar adequadamente que é indispensável para o
crescimento emocional e cognitivo da criança. A mãe deve estar disponível para
acolher as necessidades e angústias do filho, decodificá-las, transformá-las dando
um sentido e significados e daí uma devolução para o filho da compreensão das
angústias mas agora devidamente desintoxicação, ela deve saber intuir o que se
passa com seu filho, suas demandas, angústias, assim como ela deve emprestar
suas "funções do ego”, como a capacidade de perceber, pensar, juízo crítico, etc, de
modo a organizar e processar essas funções do ego do seu filho que ainda não as
tem desenvolvidas. A mãe é representada como um espelho, e ela deve ter bem
claro para si o quão modelo de identificação ela é para seu filho.
Atualmente a psicanálise está resgatando a importância do lugar do pai e
também suas funções, dentre elas podemos dar um maior destaque: a segurança e
a estabilidade que ele dá de bem educar e promover o crescimento do filho. Sua
presença física e afetiva são importantes no processo de separação- individuação
(Mahler, 1986) referente a diade mãe e filho, que fazendo o papel de terceiro,
interpõe-se como uma cunha normatizadora e delimitadora entre a mãe e o bebe. As
frustrações adequadas impostas pela função paterna, colocando limites,
reconhecendo as limitações e aceitando as diferenças, proporcionam a necessária
passagem do princípio do “prazer-desprazer” para o da “realidade”, promovendo um
estímulo às funções do ego da criança particularmente a formação da capacidade de
pensar.
Uma vez superada a ligação simbiótica com a mãe, e resolvido o conflito
edípico, a criança mais segura em sua identidade, poderá abdicar da mãe como
exclusividade e se abrirá para uma socialização com o pai, irmãos e amizades.
O papel dos irmãos também são importantes na estruturação do indivíduo e
do grupo familiar e sua relação interfere totalmente na vida adulta.
Também costuma ocorrer falhas na função materna, que acarreta na
desestruturação do psiquismo da criança e do futuro adulto. Dentre alguns fatores
patogênicos podemos citar o da simbiose e qual o tipo de amor que a mãe devota a
criança, sendo ele objetal ou narcísico, quando é possível que ela sinta o filho como
uma posse sua, por meio da construção de uma atitude hipocondríaca que obriga a
criança a sentir os mesmos sintomas e angústias que a mãe. A função de “prover”,
implica considerar as coordenadas de espaço e tempo. As frustrações, podem ser
adequadas ou inadequadas e desestruturantes.
Existem três tipos principais de métodos patogênicos de educação: a
severidade excessiva, a indulgência excessiva e a incoerência das atitudes dos
educadores, ou entre eles, uma indiferença pela criança.
Do discurso existem três aspectos em relação ao filho: o das significações
(quando a mãe sistematicamente condena a experiência afetiva do filho, ou a nega,
ou a substitui por um discurso que esteja em relação com os problemas
inconscientes dos pais); o outro refere-se a construção das predições e expectativas
do ideal do ego (uma mãe de características narciso-simbiotizadoras, catequizara
seu filho no sentido de quem ele e, como ele deve ser, o que e quem ele será
quando crescer e como deverá sentir, agir e amar, excluindo o pai do campo afetivo
do filho); e o terceiro aspecto indica ao duplo vínculo composto de duplas
mensagens, que de acordo com Bateson e colaboradores (1955), deixam a criança
no papel de perdedora e num estado de confusão e desqualificação, por exemplo
quando a mãe manda a criança parar de gritar, gritando com ela. O uso do duplo
vínculo visa manter uma dependência eternamente simbiótica.
A ação patogênica da figura paterna consiste nas condições em que o pai
seja excessivamente ausente, física ou afetivamente. Nesses casos, ocorre uma
falha na necessidade de que haja a presença de uma terceira pessoa, uma figura de
pai forte e respeitado, que imponha a “lei” de modo a desfazer a "díade nascisistica”
com a mãe e instituir o "triângulo edípico", e a presença de um pai sedutor ou tirano
impedirá uma boa e necessária simbiose transitória com a mãe o que dificultara a
resolução edípica.

REFERÊNCIA
ZIMERMAN, D. E. Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, técnica e clínica. Porto
Alegre: Artmed, 1999.

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