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2 REFERENCIAL TEÓRICO
A figura materna é essencial para a sobrevivência do bebê, visto que é ela, quem
remeterá os primeiros cuidados à criança, a qual se encontra em dependência absoluta, além
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de estabelecer com a criança, conforme aponta Brenner (1987), a primeira relação de objeto,
onde a mãe, para ambos os sexos, configura-se como esse primeiro objeto o qual o bebê
investe sua libido.
Para tanto, conforme aponta Alt e Benetti (2008), a maternidade envolve um processo
de identificação entre a mãe e a criança, englobando tanto vivências reais e subjetivas da mãe
e características da criança.
Ainda, conforme as autoras anteriormente citadas, para exercer a função materna de
forma “eficiente” é necessário que a mulher tenha internalizado experiências consideradas
boas com suas próprias figuras cuidadoras, e mais ainda, a sua própria experiência, quanto à
dissolução dos seus Complexos de Édipo e de Castração.
A função materna, além dos primeiros cuidados, e da identificação, também influencia
na saída do Narcisismo para o Édipo, sendo responsável pela mediação entre pai e filho,
podendo facilitar ou dificultar essa entrada de uma terceira pessoa para a instauração do
Complexo de Édipo (ROHDE apud SOUZA, 2007). Freud, em relação à Estruturação
Psíquica, enfatizou mais a função paterna, porém, não deixou de considerar a importância da
figura materna, no que concerne ao facilitar a entrada de uma terceira pessoa na relação, no
caso, o pai.
Contudo, distanciando do paradigma edípico proposto por Freud, alguns teóricos,
como Melanie Klein e Winnicott atribuíram à mãe a função central no desenvolvimento da
criança. Melanie Klein, em sua obra, dá grande ênfase à função materna, ou seja, uma
concepção, conforme aponta Zimerman (1999, p. 98) “seiocêntrica”, a qual atribui à mãe uma
função significamente maior na Estrutura Psíquica da criança. Deste modo, as relações
primitivas do bebê com a mãe, mais precisamente com o objeto parcial seio, é dividido em
“seio bom” e “seio mau”, e é de extrema importância para tal desenvolvimento.
Conforme Winnicott (apud Brum e Schermann, 2004), a mãe tem função primordial
no desenvolvimento emocional do bebê, de dependência para independência. Sendo que a
dependência é absoluta quando o bebê nasce, mas diminui ao longo da vida. A mãe
“suficientemente boa” propicia a integração do bebê, juntando as partes soltas em um mesmo
corpo, e identificando-se com ele numa mesma unidade.
Ainda, segundo Winnicott (1971), o rosto da mãe funciona como um espelho, o qual
auxilia no desenvolvimento emocional da criança, pois olhando para o bebê, “aquilo com o
que ela (mãe) se parece, se acha relacionado com o que ela vê ali”. (WINNICOTT, 1971, p.
154, grifo meu)
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Costa (1983), o pai é a segunda identificação parental da criança e vai servir para “puxar” a
criança do colo da mãe, evitando a prolongação da díade mãe-bebê.
Para tanto, conforme Rohde et al (1991), o pai pode agir de forma indireta nessa
relação, a partir do apoio que o mesmo dispensa à sua esposa, e também pode agir
diretamente, caracterizando-se pela interação direta do pai com seu filho.
Segundo Katz e Costa (1983), citando Freud, a figura paterna é responsável por: a)
proteger a dupla mãe-bebê; b) ajudar o filho a se separar da mãe; c) direcionar a criança ao
Princípio de Realidade; d) e por fim, se for um pai presente, permitirá à criança notar as
diferenças entre identidade, sexo e etc. Ainda conforme as palavras de Gomes e Resende
(2004), o pai tem função estruturante, a partir da instauração do Complexo de Édipo.
Conforme Rohde et al (1991, p.129), além da função de terceiro, no rompimento da
díade mãe-bebê, salienta, ainda, a função do pai como “sustentáculo” para a mãe, dando
suporte na área emocional, ajuda com os cuidados com o bebê, suporte financeiro, e a
condição para que a mulher fique segura e livre para envolver-se nas suas funções maternas,
não necessitando ocupar de seu tempo para outros afazeres “dispensáveis” em tal momento.
Para Freud (apud KATZ e COSTA, 1983) o pai logo após o nascimento do filho, é
dispensável à sobrevivência da criança, sendo somente mais tarde alvo de interesse dessa
criança, justamente quando esse pai aparece na relação como o Outro, configurando a
Triangulação Edípica.
Porém há situações em que esse pai não aparece, pelo menos de forma adequada,
nessa relação. Por isso, Katz e Costa (1983, p.210), definiram de “privação paterna a
ausência, debilidade ou inadequação das funções paternas no desenvolvimento emocional da
criança”. Ou seja, se o pai não é ativo em suas funções, mostra-se silencioso diante da
simbiose mãe-bebê, consequentemente não realiza-se o “corte” necessário, acarretando
complicações quanto à organização subjetiva que essa criança desenvolverá, após a resolução
dos Complexos de Édipo e o de Castração. As mesmas autoras caracterizam cinco tipos de
pais, que apesar de sua presença, não desempenham suas funções de forma satisfatória, a
conhecer: “pais autoritários”; “pais perfeitos”; “pais que negam as diferenças”; “pais
maternizados” ; e os pais de personalidade “como se”.
No que concerne as consequências de tal privação, as mesmas autoras, argumentam
que pode causar uma série de transtornos emocionais, incluindo psicoses; problemas
comportamentais; e a “pseudomaturidade”.
E as causas da privação paterna, apresentadas por Katz e cols. (1989), sugere a “má”
resolução do pai, dos seus próprios Conflitos Edipianos. Assim, podemos afirmar que, do
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mesmo modo como a identificação mãe-bebê, passa pela experiência da própria mãe, quanto a
sua infância, o pai também carrega uma história de vínculos do seu desenvolvimento e
Estruturação Psíquica. Conforme aponta Zimerman (1999 p.107):
É útil saber como foi o vínculo dele com seu respectivo pai, e até que ponto ele está
repetindo com seu filho; qual é a representação interna que ele tem da esposa (mãe
da criança) e que influirá bastante naquela que o filho terá da mãe, e também qual o
‘lugar’ que o pai ocupa no desejo e na representação que a esposa tem dele.
De acordo com o mesmo autor anteriormente citado, a figura paterna também exerce a
importante função de colocação e reconhecimento de limites e a aceitação das diferenças.
Desta forma, o pai auxilia o filho na passagem do Princípio do Prazer para o de Realidade,
condição necessária para o desenvolvimento emocional, pois a criança, volta-se agora para o
social, ou seja, para o pai, irmãos e amigos. Porém, quando a função paterna falha, esta
passagem do Narcisismo ao Édipo não é bem sucedida e acarreta consequências à criança.
Uma das consequências, segundo Jerusalinsky (apud Kupfer, 2000), é a psicose.
Ainda conforme Lacan (2003), fatores culturais determinam o Complexo, sendo que o
mesmo é compreendido conforme a sua referência com o objeto, porém com uma
representação inconsciente.
O Complexo de Édipo, segundo Freud (1924) constitui-se como um fenômeno central
e decisivo no desenvolvimento sexual da primeira infância. Conforme Laplanche e Pontalis
(1998, p. 77), “Complexo de Édipo é o conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que
a criança sente em relação aos pais”. Conforme Reis (1984), o Complexo de Édipo é um
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drama vivenciado pela criança, por volta do terceiro ao quinto ano de idade, e constitui-se
como a noção central da personalidade, na teoria freudiana.
Para explicar a origem do Complexo de Édipo, as quais nasceram as restrições morais,
organização social e a religião, Freud (1913) descreve um mito, “Totem e Tabu”, o qual, um
pai detinha o poder e todas as mulheres do grupo, e por inveja e temor, os filhos o mataram e
o devoraram. Porém, depois de tal fato, sem a proteção do pai e com o sentimento de culpa,
instaurou-se uma nova ordem social, com a proibição do incesto e assassinato e instituindo a
exogamia.
Assim, a questão Edípica está vinculada com a interdição do incesto, ou ainda, com a
introjeção da lei, a partir do qual o sujeito percebe que não é possível realizar ou fazer tudo
que deseja, de modo que ele necessita organizar-se a partir das leis.
Desta forma, segundo Brenner (1987), as experiências e acontecimentos dessa fase
edípica têm significado e influência na vida da maior parte das pessoas, visto que os desejos
incestuosos existentes na infância e os conflitos oriundos destes são uma experiência comum
a toda humanidade, assim dando ao Complexo Edípico um caráter de universalidade.
É durante a fase fálica do desenvolvimento psicossexual, que o Complexo de Édipo se
desenvolve. Tal Complexo configura-se como um agrupamento das relações de objetos, a
qual, de maneira inconsciente, o indivíduo apresenta fantasias de incesto com o genitor do
sexo oposto aliando os intensos sentimentos de ódio e ciúme ao genitor do mesmo sexo,
configurando-se como um verdadeiro caso de amor (BRENNER, 1987).
Conforme o mesmo autor, no início de tal Complexo, para ambos os sexos, a relação
de objeto com a mãe, é mais forte, seguido do desejo de possuir o amor e admiração da mãe
com exclusividade e de dar bebês à mãe assim como fez o pai. Porém, concomitantemente
com esse desejo incestuoso pela mãe e de ser o único objeto de amor para ela, vem os desejos
de destruição e desaparecimento dos possíveis rivais, que seriam o pai e irmãos, despertando
na criança, conflitos graves. Estes conflitos são principalmente, pelo temor tanto da retaliação
(castração), quanto pela perda do amor do genitor, devido seus desejos ciumentos.
Com o desenvolvimento emocional, a instância “Superego” ou “Ideal do Ego”,
instaura-se e segundo Freud (1923, p.48) ele é “o herdeiro do Complexo de Édipo”, pois
herdará as leis, como a proibição do incesto, e desta forma, constitui um método de obter
controle sobre o Id.
Porém, conforme Freud (1924), o Complexo Edipiano, apresenta-se diferente para
meninos e meninas. Nos meninos, após a visão dos órgãos femininos, o caso de perder o seu
pênis, torna-se um fato possível e a ameaça de castração já ganha efeito antecipado. Desta
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forma, se o preço que o mesmo terá que pagar pelo amor a esse objeto parental custar-lhe-á o
pênis, origina-se o conflito entre seu interesse narcísico (permanecer com o órgão) e a catexia
libidinal nas figuras parentais, normalmente, prevalecendo a escolha do manter seu pênis
intacto e recusar esse amor, sendo as catexias desses objetos abandonadas e substituídas por
identificações. A partir daí, a autoridade e as proibições dos pais são internalizadas,
constituindo o núcleo do superego. Porém todo esse processo ocasionou a perda da função do
órgão genital, deixando-o sem sua função e assim marcando a entrada do menino no período
de latência. Desta forma, o “ideal” seria uma verdadeira abolição e destruição do Complexo,
contudo, pode haver somente uma repressão, o que Freud (1924) adverte que o mesmo
continuará persistente mesmo que no estado inconsciente no Id, e poderá manifestar mais
tarde seu efeito patológico.
O desenvolvimento do Complexo Edipiano nas meninas apresenta-se de forma
diferente dos meninos, no que concerne à organização fálica e no Complexo de Castração.
Sendo que a menina explica o fato de não possuir um órgão grande como o menino,
presumindo que anteriormente possuía-o, porém o perdera porque foi castrada. Desta forma,
Freud (1924, p. 223) aponta-nos que: “Dá-se assim a diferença essencial de que a menina
aceita a castração como um fato consumado, ao passo que o menino teme a possibilidade de
sua ocorrência”. Porém no Complexo Edípico na menina, a renúncia do pênis vai surgir,
seguida por uma tentativa de compensação, ou seja, na menina o desejo “desliza” de um pênis
para um bebê. Desta maneira, ela volta-se para o pai com o desejo de dar-lhe um filho.
Para Lacan, conforme Dor (1989) anuncia em sua obra, a metáfora do Nome-do-Pai,
que articula a função fálica1 à ocorrência do Complexo de Castração, é o significante que irá
estruturar e delimitar toda a trajetória Edipiana. Assim:
Segundo Dor (1989, p. 81), conforme sua obra de introdução à teoria Lacaniana, o
Complexo de Édipo é composto por três momentos. No primeiro momento, a criança ainda
apresenta-se numa relação quase fusional com a mãe, pois se identifica como sendo o objeto
que faltava à mãe. No segundo momento, aparece a oscilação dessa identificação, pois a
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Segundo Nasio (2007), o Falo não é o pênis enquanto órgão, ele é um pênis fantasiado, idealizado, símbolo
de onipotência, ou seja, de poder absoluto.
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criança é introduzida no registro da Castração e a questão entre “ser ou não o falo” aparece.
Desta forma, nesse segundo momento, o pai já desempenha função fundamental na relação
mãe-criança. E o terceiro e último momento condiz com o declínio do Complexo de Édipo e a
simbolização da lei.
Outro ponto que difere entre os sexos é a questão do Complexo de Castração, sendo
pertinente anunciá-lo no presente trabalho, visto que se apresenta muito relacionado com o
Complexo de Édipo. De acordo com Laplanche e Pontalis (1998, p.73) Complexo de
Castração caracteriza-se como: “Complexo centrado na fantasia de castração, que proporciona
uma resposta ao enigma que a diferença anatômica dos sexos (presença ou ausência de pênis)
coloca para a criança. Essa diferença é atribuída à amputação do pênis na menina.”
Conforme Reis (1984) o Complexo de Castração constitui o âmago do Complexo de
Édipo. Desta forma, no menino, segundo Nasio (1995), o Complexo de Castração organiza-se
de maneira muito diferente a da menina. Contudo apresenta certas semelhanças no que se
refere à universalidade do pênis, o que é precondição para a constituição do Complexo de
Édipo; e quanto à importância do papel da mãe, ocorre a separação da díade mãe-filho, depois
de a criança descobrir-se castrada, o qual o menino separa-se com angústia e a menina com
ódio.
Conforme Nasio (1995) há duas diferenças quanto à Castração masculina e feminina.
A primeira refere-se que no menino o Complexo de Castração termina numa renúncia ao
amor pela mãe, sendo que a menina abre-se para o amor Edipiano pelo pai. Assim, o autor
afirma: “o Édipo do menino nasce e se encerra com a Castração. O Édipo da menina nasce,
mas não termina com a Castração”. (NASIO, 1995, p. 18).
A segunda diferença, conforme o mesmo autor está no fato de a separação do
Complexo de Castração ser a repetição de uma separação anterior vivenciada pela menina.
Sendo essa primeira separação, a perda do seio materno. Desta forma, na menina reaparece,
por ocasião do Complexo de Castração, o ressentimento e ódio anteriormente recalcados de
forma “inexorável”. Assim, ressurge na filha o ódio, sob a forma de hostilidade e rancor, até
pelo fato de tê-la feito menina. Essa atualização de “sentimentos negativos” em relação à mãe
marca o fim do Complexo de Castração. Logo, a mãe está presente no início e no término do
Complexo de Castração da menina.
Ainda, Zimerman (1999), destaca a importância de outro Complexo, o Fraterno, no
desenvolvimento emocional da criança. Este Complexo, segundo o autor, também se trata de
um conjunto de sentimentos, tanto hostis quanto amorosos, mas experimentados em relação
aos irmãos. Os irmãos são objetos de duplos investimentos, onde o primeiro investimento
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refere-se aos duplos sentimentos, a ambivalência entre amor e ódio, ciúme e inveja para com
os irmãos. O segundo investimento é o deslocamento para os irmãos de pulsões libidinais, ou
agressivas, que seriam enviadas aos pais.
Diante dessas experiências no desenvolvimento psicossexual infantil, principalmente
dos Complexos de Édipo e o de Castração, têm-se a formação das Estruturas Clínicas, ou seja,
uma organização psíquica subjetiva. Conforme Lacan (1966), toda Estrutura se define por um
conjunto de elementos e de leis de composição interna aplicadas a esses elementos. Ainda,
Dias (2004), em sua tese de Doutorado, citando Lacan, explicita que Estrutura Clínica é a
estruturação de uma questão, sendo tal questão relacionada à posição do sujeito frente ao
Édipo e à sua própria sexualidade.
Dias (2004, p.103) ainda acrescenta: “A organização destas estruturas psíquicas
decorre das dificuldades relacionadas à Castração, dos amores Edipianos, da interferência dos
desejos recíprocos da mãe, do pai e da criança em relação ao objeto fálico.”
Contudo, segundo Bergeret (1998), não é possível estabelecer se determinada
Estrutura é patológica ou “normal”. O que pode ser feito refere-se a:
Estabelecer uma hierarquia das maturações sexuais, dos níveis de elaboração dos
processos mentais, dos graus atingidos pela força do ego, dos níveis de constituição
de superego, das possibilidades de relação ou de independência objetal, etc.
Desta forma temos três grandes Estruturas, a saber: Neurose, Psicose e Perversão. O
sujeito neurótico é aquele que reconhece a Castração, e recalca-a, internalizando regras e
obedecendo-as, pois se transgredí-las tem em seguida culpa e sofrimento. O perverso, por sua
vez, reconhece a Castração, porém a denega, e não receia em transgredir regras e normas. Por
fim, o psicótico é aquele que não reconhece a Castração, o ego rompe com a realidade, sendo
que o sujeito vive conforme o Princípio de Prazer e do Processo Primário.
tocam-se, sobem um em cima do outro, roçam-se, porém tanto para essas crianças quanto para
os adultos que presenciam tal brincadeira, é normal e próprio da idade. A isso Freud (1923)
chama de perversão3 polimorfa, para designar a sexualidade infantil, e que segundo
Laplanche e Pontalis (2001, p. 342), ocorre quando essa “sexualidade infantil está
estreitamente ligada à diversidade das zonas erógenas, e na medida em que se desenvolve
antes do estabelecimento das funções genitais, propriamente ditas” .
Desta forma, conforme expõe Delouya (2003, p.208): “A Bissexualidade Originária
forma uma espécie de substrato sobre o qual se trabalha e se processa o Édipo”. Ainda de
acordo com o mesmo autor, a elaboração dessa Bissexualidade Originária é um ponto crucial
e determinante para o destino do Édipo, quanto sua dissolução e formação do seu herdeiro, o
Superego. Assim, a resposta perante a Castração, seja negando-a, desmentindo-a ou
rejeitando-a, implica em uma transformação da Bissexualidade Originária (DELOUYA,
2003).
A transmissão tanto da Bissexualidade Originária quanto do programa Edípico é de
ordem hereditária e cultural. Ou seja, essa transmissão é do inconsciente dos pais para criança,
visto que em sua infância, os pais já viveram, presenciam e elaboraram essas mesmas etapas.
Esta transmissão faz parte do desenvolvimento dos indivíduos e da espécie (FREUD, 1923).
Melanie Klein (1996) menciona em sua obra a importância de certas experiências
infantis no desenvolvimento da sexualidade. A primeira delas está ligada à observação do
coito. Klein afirma que quando essa observação se dá após o período de desenvolvimento, ela
poderá caracterizar um trauma na criança. Porém, ao contrário, se essa observação ocorrer em
idade precoce, a criança também sofre alguns riscos, como ficar fixada em uma fase do
desenvolvimento psicossexual. O outro tipo de experiência que Klein (1996, p. 226) refere-se
é as:
Relações sexuais que as crianças pequenas têm entre si, ou entre irmãos e irmãs ou
amiguinhos, que consistem nos atos mais diversos: olhar, tocar, defecar juntos,
felação, cunilíngua e muitas vezes tentativas diretas de realizar o coito.
Assim, conforme a mesma autora, tais experiências são cruciais para a formação do
Complexo de Édipo, a resolução de tal Complexo e para suas relações sexuais posteriores.
Ainda, conforme a obra de Aberastury (1996), Klein descreve que no menino, há um
período de homossexualidade logo no início do Complexo de Édipo, que segundo a mesma
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Na psicanálise, a perversão é vista somente no âmbito da sexualidade e de uma forma geral, pode ser
determinada como comportamentos psicossexuais atípicos para a obtenção do prazer sexual (LAPLANCHE
& PONTALIS, 2001). Ainda, de acordo com Pajazckowska (2005), psicanaliticamente, perversão é uma
atitude sexual, mas não necessariamente uma atitude genital (tendo em vista, que o conceito de sexualidade,
para a psicanálise, é mais abrangente que a simples relação genital).
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teórica, começa bem mais cedo (por volta de um ano de idade) em relação à descrição feita
por Freud.
Quanto à Bissexualidade, como uma opção sexual, Jorge (2007), em seu artigo a
cerca do centenário da obra de Freud, relata que embora alguns psicanalistas (como Fliess)
acreditassem que a Bissexualidade era uma predisposição biológica, para Freud, a
Bissexualidade caracteriza-se como uma disposição psicológica, mas precisamente na escolha
do objeto – homossexual ou heterossexual.
Segundo Laplanche e Pontalis (2001, p. 55) a Bissexualidade é:
Noção que Freud introduziu na psicanálise por influência de Wilhem Fleiss: todo ser
humano teria constitucionalmente disposições sexuais simultaneamente masculinas
e femininas que surgem nos conflitos que o sujeito enfrenta para assumir o seu
próprio sexo.
A criança pequena é criatura instintiva [...], cheia de uma sexualidade total ainda
indiferenciada. [...] Toda ordem de excitação que se produz na criança pode tornar-
se fonte de excitação sexual: estímulos mecânicos e musculares, afetos, atividade
intelectual e até a dor. Na sexualidade infantil, a excitação e a satisfação não estão
nitidamente diferenciadas.
Contudo, devido ao desenvolvimento sexual infantil, esse período dará lugar a outro
caracterizado pelo funcionamento dos órgãos genitais como a principal zona erógena. Desta
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forma, Fenichel (1981, p. 56) enfatiza que a “sexualidade pré-adulta” pode ser dividida em
três principais períodos: o período infantil, o período de latência e a puberdade. Assim, como
expõe Zimerman (2001, p. 55) “a bissexualidade, tanto a biológica quanto a psicológica, até
um determinado grau é uma característica normal e universal.”
Conforme vimos anteriormente e de acordo com Person et. al. (2007) o papel materno
e o paterno exercem grande influência no desenvolvimento psíquico da criança, sendo que a
criança internalizará alguns aspectos destes primeiros relacionamentos em sua vida. Ainda
conforme o mesmo, além destas influências parentais, a criança também está sujeita a
influenciar-se pelos relacionamentos com irmãos (até os “meio-irmãos”), avós, membros da
família extensa (tio, tia, primos), parentes pelo segundo casamento, pessoas que não fazem
parte da família, animais (estimação, animados ou inanimados) e alguma representação divina
que a criança venha acreditar.
Desta forma, a seguir passar-se-á ao estudo das Estruturas Clínicas, focando o papel
do complexo de Édipo e as funções materna e paterna na formação de cada uma delas.
2.4.1 Neurose
Não vejo razão para negar o nome de ‘repressão’ ao afastamento do ego diante do
complexo de Édipo [...]. O processo que descrevemos é, porém, mais que uma
repressão. Equivale, se for idealmente levado a cabo, a uma destruição e abolição do
complexo. Plausivelmente podemos supor que chegamos aqui à linha fronteiriça –
nunca bem nitidamente traçada – entre o normal e o patológico. Se o ego na
realidade não conseguiu muito mais que uma repressão do complexo, este persiste
em estado inconsciente no id e manifestará mais tarde seu efeito patogênico.
Freud no seu texto ‘O sentido dos sintomas’ (1917, p. 265) afirma que “os sintomas
têm um sentido e se relacionam com as experiências do paciente”. No texto ‘Fixação em
Traumas’ (1917, p. 287), Freud ainda acrescenta que não só o sentido do sintoma é
inconsciente, “mas também existe uma relação inseparável entre este fato de os sintomas
serem inconscientes e a possibilidade de eles existirem”. Ou seja, tal sentido deve ser
inconsciente, sendo que o sintoma não se forma a partir de processos mentais conscientes.
Desta forma, Freud conclui que “os sintomas neuróticos têm, portanto, um sentido, como as
parapraxias e os sonhos, e, como estes, têm uma conexão com a vida de quem os produz”
(FREUD, 1917, p. 265).
Em “análise terminável e interminável”, Freud (1937) lembra-nos que o
desaparecimento de tal sintoma só se concretiza quando os processos mentais inconscientes
envolvidos tornam-se conscientes, ou seja, quando o reprimido torna-se consciente, sendo este
um dos objetivos da análise.
O complexo de Édipo para Lacan (1957) configura-se em três tempos: sendo o
primeiro tempo, quando o filho situa-se com o falo materno, como sendo o único a satisfazer
completamente a mãe. O pai neste primeiro tempo ainda não tem participação como terceiro,
nesta relação; O segundo tempo caracteriza-se com a intervenção de um terceiro, ou seja, a
figura paterna, fazendo com que a criança se depare com a questão da falta; e finalmente o
terceiro tempo que é marcado pela posição da criança de ter ou não ter o falo, e não mais pela
ser ou não ser. Desta forma, a criança, através da falta, passa a ser um sujeito desejante.
Desta forma, para Lacan (1957), a neurose é a Estrutura Clínica caracterizada pela
presença do recalque e do efeito patogênico que o mesmo causa no inconsciente, surgindo
assim os sintomas. Desta maneira, a neurose configura-se como a estrutura de uma questão,
sendo que a discussão do sujeito gira em torno da indagação “Quem eu Sou?” (LACAN,
1957)
Esta pergunta, conforme Faria (2003), citando Lacan, nos leva a entender que a
relação entre o Complexo de Édipo e a Neurose, se refere à falta do Outro e a queda da
posição fálica que o sujeito enfrenta frente à Castração. Ou seja, é somente quando a criança
percebe que ela não é o falo da mãe, e desta maneira busca entender, através de indagações,
de quem é ela, ou então “o que este Outro quer de mim”?
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2.4.2 Perversão
Conforme relembra Person et. al. (2007, p. 121) “a perversão carrega três significados:
o de doença, o de sanção moral e o da própria sexualidade humana”. Porém na psicanálise, o
objetivo não é “condenar” ninguém, seja pelo mesmo burlar alguma regra socialmente aceita
ou por se tratar de uma ‘anormalidade’ perante a sociedade. Por sua vez, homossexuais e/ou
bissexuais são reconhecidos como pervertidos, perversos pela sociedade em geral, contudo, a
escolha sexual não é sinônima de doença ou transtorno mental. Deste modo, acrescenta-se que
“a sexualidade não tem nada intrinsecamente a ver com saúde ou doença mental” (PERSON
et. al., 2007, p. 122).
Na psicanálise, conforme enfatizado anteriormente, segundo Laplanche e Pontalis
(2001), a perversão é vista somente no âmbito da sexualidade e de forma geral, pode ser
determinada como comportamentos psicossexuais atípicos para a obtenção do prazer sexual.
Zimerman (2001) lembra que a perversão quanto Estrutura Clínica, se organiza como defesa
contra angústias.
Deste modo, de acordo com Dias (2004), citando Freud, na perversão, o indivíduo
reconhece a falta, porém a denega. Assim, para o perverso não importa leis, pois o que lhe
importa é somente seu desejo e não o do outro, além de não querer perceber-se como
incompleto, com falta, e por conseqüência a não-castração. Além disso, o autor complementa:
Que existe perversão, quando o orgasmo é obtido com outros objetos sexuais
(homossexualismo, pedofilia, bestialidade, etc.), ou por outras zonas corporais (coito
anal, por exemplo) e quando o orgasmo é subordinado de forma imperiosa a certas
condições extrínsecas (fetichismo, travestismo, voyeurismo e exibicionismo,
sadomasoquismo); estas podem mesmo proporcionar, por si sós, o prazer sexual.
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Estas categorias apresentadas por Laplanche & Pontalis (2001), que são:
homossexualidade, pedofilia, bestilidade, fetichismo, travestismo, voyeurismo, exibicionismo,
masoquismo e sadomasoquismo, não serão trabalhados por não se tratarem do foco do
presente trabalho.
2.4.3 Psicose
O termo Psicose foi criado no século XIX como substituto do termo ‘loucura’. Freud,
em 1911, através da publicação “Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um
caso de paranóia”, o conhecido ‘Caso Schreber’, analisou tal Estrutura (ZIMERMAN, 2001).
De acordo com Faria (apud Lacan, 2004), a psicose ocorre porque a operação de
introdução da Lei paterna fracassa. Assim, para explicar teoricamente a origem do mecanismo
psíquico psicótico, tem-se o conceito de Foraclusão, que segundo Nasio (1995, p. 149) é:
e do automatismo mental”.
Conforme aponta Quinet (1997, p. 24), cada Estrutura Clínica tem uma forma
particular quanto à forma de negação da Castração e como tal fenômeno se apresenta na vida
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do indivíduo. Para tal compreensão, o mesmo autor, apresenta um quadro ilustrativo (Tabela
1) :
Quadro 1: Estruturas Clínicas e suas respectivas formas de negação da Castração, local de retorno e o fenômeno
pelo qual retorna a representação psíquica recalcada.
ESTRUTURA FORMA DE
LOCAL DE RETORNO FENÔMENO
CLÍNICA NEGAÇÃO
Recalque
Neurose Simbólico Sintoma
(Verdrãngung)
Desmentido
Perversão Simbólico Fetiche
(Verleugnung)
Foraclusão
Psicose Real Alucinação
(Verwerfung)
Fonte: QUINET, 1997, p. 24.
homófono a glance que, em inglês, significa olhar. O segredo desse fetiche residia
no fato deste sujeito ter vivido os primeiros anos de sua infância num país de língua
inglesa. Eis a pista da constituição desse fetiche que demonstra sua determinação
pelas coordenadas simbólicas da história do sujeito, denotando, como todo fetiche, o
objeto pulsional em questão (o olhar) (QUINET apud FREUD, 1997, p. 25).