CAPÍTULO V
1.1 Introdução
Os três primeiros anos de vida têm forte determinação nos valores; na própria
construção do ego da criança; como o ego se projeta no corpo, uma boa estruturação
nesta época é condição importante de saúde física, mental e espiritual. Esta época de
ficam inscritas as boas e as más histórias de vida. Lembrando que a grande jornada
tornam. Assim, as impressões deixadas pela mãe, refletidas pelo seu estado de espírito
Seguindo este raciocínio, os fatos ocorridos no parto são mais importantes do que
eventos nos dias seguintes a ele. Analogamente, os eventos ocorridos nos três primeiros
anos são capazes de determinar o sistema de crença que uma pessoa carregará por toda a
vida adiante. Até os sete anos pode-se dizer que as fundações da vida foram colocadas
e o edifício humano construído terá então saúde ou problemas para o resto da vida os
As primeiras impressões recebidas na vida são as mais fortes e as mais ricas em conseqüências,
mesmo sendo inconscientes, e talvez, justamente porque jamais se tornaram conscientes, ficando
assim inalteradas. Apenas na consciência algo pode ser corrigido. O que é inconsciente
permanece inalterado. (JUNG, 1981b, p. 158)
Odent, que diz que, logo após o nascimento, deve-se deixar a mulher em paz,
comunicação que existiam na vida fetal, o ductus arteirosus e o forâmen ovale. A partir
mais a mãe sentir-se pele a pele com seu bebê e olhar nos seus olhos, mais liberação de
mesmo, bastando colocá-lo sobre o peito da mãe; ele segue nesta direção até encontrar e
mamar, isto acontece se não nasceu sob efeito de anestesia. Quanto mais rápida a
leite se dá.
primeira hora de vida, vive uma adaptação metabólica para passar a dispor de uma
essencial para a manutenção da qualidade de vida - se dá nesta primeira hora e tem sido
observada em profundidade por M. Cornblath nos Estados Unidos e por Jane Hawdon,
mais tarde, milhões de bactérias cobrem suas mucosas. A questão é: quais germes vão
vencer a corrida serão os germes que primeiro chegarem às mucosas. É interessante que
1125
sejam os do corpo da mãe, pois mãe e bebê compartem a mesma IgG, os mesmos
anticorpos. Ou seja, desde que nasce, o bebê precisa urgentemente ter contato com uma
só pessoa, a própria mãe. Além disto, ao ingerir o colostro, vai receber ajuda para
aspecto; o organismo do bebê vai ter de ser capaz de manter sua termo-regulação e, para
vivida pelo feto, nessa primeira hora sobrecarrega subitamente o nervo vestibular que
conduz, a partir do ouvido, estímulo para o cérebro para que se desenvolva o equilíbrio.
afeta a interação protetora da mãe para com o filho, mais tarde. O que a farta literatura
hoje disponível aponta é que, quanto mais destrutiva é uma cultura, mais intrusivos são
protocolos que entendem que é necessário manter a mulher sob vigilância, no pós-parto,
sabem que isto assegura quantidade grande de oxitocina na circulação da mulher, o que
garante a expulsão da placenta, então elas aquecem o ambiente. Nesta fase as mulheres
não se queixam de sentir muito calor, criando um clima que permite um namoro mãe e
1126
filho sem distrações ou desconforto. Neste momento é importante que a mãe esteja com
o neocórtex relaxado e não ativo, para que mais instintiva seja a experiência.
prazo das intervenções separando mãe-bebê, resultam mais tarde em maiores índices de
autismo, etc. Portanto há que fazer intervenções em níveis políticos, para que mudanças
2 As Capacidades do Recém-nascido
e KLAUS, 1989)
Dois estados de sono: sono tranqüilo e sono ativo; três estados de alerta: inatividade
alerta, alerta ativo, e choro; e um sexto estado que é o de torpor, uma transição entre
brilhantes, neste estado os recém-nascidos conseguem brincar. Podem seguir uma bola
1127
vermelha, selecionar figuras e até imitar a face da mãe. Logo após o nascimento, os
bebês têm um período prolongado de inatividade alerta, durante os quais eles olham
diretamente para a face e para os olhos da mãe e do pai e podem responder a vozes.
Neste estado, a atividade motora está suprimida e toda a energia do bebê parece estar
canalizada para ver e ouvir. Durante a primeira semana de vida, o bebê normal passa
aproximadamente dez por cento de qualquer das 24 horas do dia neste estado, o que lhe
KLAUS, 1989)
Durante o estado de alerta ativo, ocorrem movimentos mais freqüentes dos olhos;
os olhos olham em torno e os bebês emitem alguns sons. Este estado aparece antes de se
alimentar ou quando ele está inquieto além de surgirem movimentos a cada um ou dois
braços e pernas movem-se vigorosamente. Muitas mães conseguem alterar este estado,
KLAUS, 1989)
apático, sem focalizar nada. As pálpebras pendem e antes de fechá-las os olhos podem
passado em sono ativo e a outra metade em sono tranqüilo; estes estados se alternam a
boca. Ele está em total repouso e a respiração é muito regular. (KLAUS e KLAUS,
1989)
movimento dos olhos sob as pálpebras. Este estado de sono REM já havia sido
observado dentro do útero por Jason Birnholz. No sono ativo aparece movimentação do
ligeiramente mais rápida do que no sono tranqüilo. Mesmo estando dormindo, fazem
Quanto aos movimentos no alerta, sem chorar, por um minuto e um quarto, ele não
ocorre continuamente a cada um ou dois minutos quando ele está em estado de alerta
vigésima semana de gestação. Ainda assim há uma diferença nas respostas de acordo
com a cultura, grupo racial e uma certa individualidade. (KLAUS e KLAUS, 1989)
2.2 Visão
No primeiro minuto de vida, mãe e filho devem começar sua interação, olho no
olho, pele na pele, toda a ligação que ali se estabelece. Se o pai está perto e se estão
perturbe este tempo; se o bebê for prematuro ou com problemas, o cuidado deste
1129
momento inicial é muito importante, assim como o tempo que se segue; se a mãe está
deprimida, deve ser-lhe dado suporte, pois suas emoções terão muito peso no
desenvolvimento de seu filho. (KLAUS et al. 1995, KENNELL et al. 1998, KLAUS,
olhos bem abertos. Isto é demonstrado em seus livros com inúmeras fotos. (KLAUS e
KLAUS, 2001)
método para documentar a visão que já havia utilizado em aves e macacos, porém com
uma adaptação para humanos. A observação baseia-se no fato de que, quando se fixa
pupila, ela é alinhada para se enquadrar no centro da retina. O bebê é colocado em alerta
sereno, em assento e num capuz são mostradas as figuras; para se ter certeza de que o
olhar é ou não casual, trocam-se as figuras a cada 10 segundos. Assim, Fantz mostrou
que os bebês são capazes de distinguir e mostrar preferências por formas e cores, que
preferidas são: figuras de círculos e faixas decoradas sobre superfícies lisas, são também
a retos. Quanto a formas de rosto, são atraídos pela face regular. Inicialmente, a atenção
é intensa, mas depois perdem o interesse. Alguns ficam atentos e olham por períodos de
distância de 20 a 25 cm, que costuma ser a mesma distância do peito à face da mãe.
diferenciar entre formas dos objetos, além de cores e normalmente preferem o vermelho
contato olho-a-olho da mãe com o filho. Por outro lado, se for colocada uma máscara no
rosto da mãe quando o bebê tem oito dias, ele perceberá a mudança e olhará para ela
freqüentemente durante a amamentação. Ele tomará menos leite e não vai conseguir
adormecer facilmente, pois está inquieto e dormirá por menos tempo que anteriormente.
culturais dela e a relação dela com o pai da criança, assim como suas experiências
naquele momento da vida assim como gravidezes passadas. Em contraste com outras
espécies animais, a criança humana não pode sobreviver, sem o apoio extenso e o
cuidado da mãe. Logo após o nascimento, a mãe está em um estado de prontidão que
lhe permite interagir com o bebê. É bem conhecido que o neonato tem habilidade para
interagir socialmente. Além disso, recentes estudos sugerem que o bebê recém-nascido
tenha uma maior gama de capacidades dantes não reconhecidas. Saigal et. em 1981,
termo, durante a primeira hora de vida. As crianças gastaram 60% da primeira hora
Estudos por Brazelton et al., em 1972 demonstraram que, durante o período de alerta
A criança humana tem um certo grau de acuidade visual: ela pode focalizar e
mostrará preferências por padrões que simulam faces humanas, segundo demonstrou
Hack et al. em 1976, Kornel e Thoman em 1970, Gregg et al. em 1976, Fantz et al. em
1975, Robson em 1967. Suas pesquisas sugeriram que o contato de olho a olho pode ser
responde preferencialmente à voz da mãe, como foi observado por Eisenberg em 1969.
dirigindo a cabeça em direção ao peito de sua mãe. Tais capacidades funcionam como
um atrativo para as mães, o que estimula a interação entre ambos, segundo MacFarlane
rostos e objetos até os seis meses. Se este reconhecimento não ocorrer, revela a
possibilidade de lesão cerebral, descrito por Bentin et al. em 1999, Ellis e Young em
2.3 Audição
também podem determinar a direção de onde vem o som. Preferem vozes agudas. Pais e
mães no mundo todo tendem a falar de maneira mais aguda como observou o lingüista
dispositivo que dava ao bebê a possibilidade de escolha do som. Percebeu-se que eles
são mais responsivos às vozes humanas. Anthony DeCasper julgou que, se os bebês têm
controle inato da boca, ao acoplar uma chupeta conectada a um computador, logo eles
acertariam o ritmo de sucção, para poderem fazer as escolhas. De fato, ao ouvirem por
1132
fones de ouvido, preferiram estórias contadas pela mãe durante a gestação, às estórias
a criança tem a experiência de ouvir a voz e ver o rosto da mãe, concomitantemente, ela
Foi feito um teste onde a voz da mãe vinha do rosto de uma outra mulher e isto
escutaram, ainda que filtrada pela parede abdominal. Também reconhecem a voz do pai
desde que este homem tenha falado perto do ventre ou se tenha feito presente para a
criança ainda no útero. Desde T.B. Brazelton, pioneiro no campo da pesquisa sobre
desacelera enquanto a mãe lhes fala. Outros usaram como medida o reflexo de sucção,
não provocado por fome, nas mesmas circunstâncias. Outros mediram freqüência da
resposta motora à fala da mãe. Com medidas diferentes, a conclusão foi a mesma: a
criança de poucos dias reage a estímulos de linguagem mais do que a outros tipos de
estímulos, apesar de supostamente não entender nenhuma palavra. Sabe-se também que
a criança aprendeu algo da estrutura de seu idioma quando dentro da barriga da mãe.
1133
Isto é tão forte, que acontece de crianças surdas, filhos de surdos, terem desenvolvido a
da atividade da criança surda, contra 10% dos controles. Este estudo foi feito por Petitto
dois bebês surdos e três outros normais, com idades de 10 a 14 meses. (SZEJER, 1999)
com a mãe. Os ritmos constituídos pelo bebê são seus recursos para descobrir o próprio
interação vocal precoce. A mãe e o bebê fabricam uma interação dinâmica e ambos
saudáveis, não-aflitas. Mães cantaram para suas crianças de seis meses durante 10
minutos, depois dos quais eles continuaram interagindo durante outros 10 minutos. Para
baixos níveis de linha base de cortisol aumentam-no após o cantar materno; os com
níveis de cortisol mais altos exibiram reduções modestas. Estes resultados são
menos, respiram mais profunda e regularmente e ganham peso mais rapidamente do que
Foi realizado estudo para determinar o efeito de sons que pudessem acalmar ou
mesmo reduzir a dor em 121 neonatos que sofrem circuncisão sem anestesia. Foram
controle, sem que nenhuma enfermeira apresentasse nenhum expediente para alívio da
passos da circuncisão. Observou-se aumentos de: 42% das taxas de coração, 78% das
pressões sanguíneas sistólica (SBP), 30% das pressões sanguíneas diastólica (DBP) e
81% das pressões de tcpO2, portanto, todos os índices eram anormais. Foram achadas
poucas diferenças significantes entre quaisquer dos passos. SBP e DBP diferiram
comparativamente aos que não receberam, durante seis dos passos do procedimento.
maiores variações na pressão sangüínea e aumento dos níveis de agitação. Por outro
lado, alguns tipos de músicas podem ter um efeito relaxante sobre os bebês, perceptível
estresse ocorre não apenas em recém-nascidos, mas também em bebês mais velhos e,
(COSTA, 2001)
sensoriais e motores são estreitamente associados uns com os outros. Contudo, parece
haver uma dissociação temporária logo após o nascimento, e uma recuperação por volta
sensoriais visuais e auditivas com os sistemas motores já está presente, segundo Vinter
Treinaram-se crianças com três meses de idade para mover os braços para cima
em berço móvel, enquanto uma de duas seleções musicais eram tocadas, com variações
do teste inicial. Aos sete dias, só foi verificado o aprendizado com relação à música
Um trabalho foi feito para fins de análise da atividade motora apresentada por um
bebê de quatro meses de idade, em seu próprio domicílio, durante a audição de duas
música Happy Nation do grupo Ace of the Base. Observou-se que a atividade motora do
relação à música dancing, existiria uma redução da atividade, porém, esta redução na
atividade motora do bebê produzida pela música dancing, é menor do que a redução na
Foi feito um trabalho de revisão dos escritos sobre música e o primeiro ano de
prévias sobre características musicais e memória a longo prazo para música. Depois
terapêuticos. Na terceira parte fez-se uma crítica da literatura prévia e atual, inclusive
Mind and Body, (As Origens de Música, Linguagem, Mente e Corpo) de Steven Mihen
cantando para o bebê ou a mãe falando para o bebê, ela tende a uma fala que exagera
nas vogais, aumenta as pausas e se repete, dando uma conotação musical à fala,
propiciando uma interação que acaba por criar uma mútua modulação de sons.
(BENZON, 2005)
observadas foram: os bebês preferem o som da voz humana a outros sons; o som da voz
da própria mãe ao som da voz de outras mulheres e estórias conhecidas contadas por
1137
SPENCE, 1986). Outros estudos mostram que eles podem distinguir entre sons de
consoante como p e b, e vogais. (CLARKSON. e BERG, 1983) Aos dois dias de vida
Tombeau de Couperin: de Maurice Ravel (1875-1937). Peça para piano com seis
bebês diferenciavam, aos oito meses, o Forlane do Prelude. (ILARI e POLKA, 2006)
(WHITWELL, 2006)
1138
que, durante o primeiro ano de vida, se uma criança ouve Mozart, Beethoven, Bach,
compositores barrocos e renascentistas, aos sete e oito anos, setênio em que deve ser
introduzida a plena educação musical, ele terá melhor capacidade de notação para os
fraseados musicais e poderá ter um ouvido bem mais perceptivo para as sutilezas
musicais. Do mesmo modo que, se no quarto do bebê houver quadros dos grandes
pintores, à idade dos sete e oito anos ele terá capacidade de notar nuances de cor num
leque maior que o usual. Ambos os sentidos ampliados falam de uma sensibilidade
pessoa por sua capacidade de descriminar tons de cores. Mas é importante que se diga
que, se os pais não gostam nem deste tipo de música, nem deste tipo de arte, isto não
será igual, pois dominantemente a criança é sensível à sensibilidade de sua mãe e pai,
portanto, se não houver um sabor por parte deles, isto tende a não ampliar tanto a
seja parte da vida dos pais antes da concepção. Que a música e a pintura tenham sido
partes do deleite de gestação da mãe. Então a música no quarto do bebê é uma natural
conseqüência, pois não se ensina o que não é verdadeiro para os pais. O alimento do
corpo é importante, tanto quanto o alimento da alma. Então, aos sete e oito anos, a
não é criar gênios da música ou pintura, mas é sabido que, quanto maior for a
sensibilidade de alguém para tons e sons, maior é sua consciência e sua percepção
pode procurar objeto com dias de nascido, se estiver em estado de inatividade alerta,
1139
desde que tenham sido massageados seus músculos do pescoço. (KLAUS e KLAUS,
1989)
2.5 Tato
Os lábios e as mãos têm maior número de receptores do tato. Isto explica o conhecer as
Tiffany Field, que trabalha com pesquisa sobre tato, em estudos, aplicava
em 15 minutos para cada massagem, num tratamento de 10 dias de duração. Após teste
de tempo, verificou-se que os bebês tinham aumentado de peso 47% a mais que o grupo
controle, que não teve massagem. Além disto, eles mantinham-se despertos e ativos e
também mais aptos para sair do hospital numa média de seis dias antes, em relação aos
que não passaram por este procedimento. (FIELD apud VERNY e WENTRAUB, 2004)
Em outro estudo, T. Field aplicou massagens em 40 bebês a termo, cujas mães, aos
três meses, estavam deprimidas. Observou-se que 15 minutos de massagens diária eram
mais eficientes que balançarem os bebês em dois dias por semana, durante seis semanas.
Frédérick Leboyer, obstetra francês, lançou uma grande luz sobre o nascimento
incansável, poeta, filósofo, observou nas ruas de Calcutá, uma mulher que emocionou o
cientista e o poeta. O nome da mulher era Shantala, e o que o obstetra viu foi quão
benéfica era aquela massagem amorosa no filho. Acabou por fotografar e publicar um
livro não só belo, como poético, um guia de cuidado para mães, descrevendo seu poder
2.6 Olfato
percebeu que eles são capazes de identificar o cheiro de suas mães com dois dias de
etólogo Konrad Lorenz investigou o sentido do olfato entre animais, René Spitz
da Segunda Guerra e Schaal provou experimentalmente no fim dos anos 80: os recém-
natos têm olfato particularmente desenvolvido, cuja acuidade perderão mais tarde. Eles
WENTRAUB, 2004)
2.7 Paladar
quinino a 12 crianças com 2 horas de idade. A base anatômica utilizada foi o Sistema de
Código de Ação Facial, adaptado para bebê. Foi usado, para obter descrições detalhadas
e objetivas, um video-tape com respostas faciais das crianças para cada solução.
face ao sabor azedo e abrir a boca com respeito a amargo. Não havia nenhuma
expressão facial distintiva para cloreto de sódio. Estes resultados demonstram que
faciais básicas para estímulos como doçura e gosto amargo são importantes para a
aptidão das espécies de se governarem através de regras simples. Até mesmo este nível
básico de respostas faciais tem valor comunicativo com outros da mesma espécie.
faciais são processos cognitivos e se dão em áreas subcorticais e áreas corticais. Emoção
não deveria ser divorciada de cognição, mesmo em se tratando de tão simples reações.
horas). Os gustativos utilizados eram soluções aquosas de sacarose, (25%) para o sabor
doce, também foi testado ácido cítrico, (2,5%) para sabor azedo e sulfato de quinino,
chocolate, mel, leite, manga, peixe, alho e cebola, apresentados, por aproximadamente
análise dos movimentos faciais com base nas categorias mais freqüentes de resposta a
modalidade de sabor. Esta análise mostrou que as expressões faciais a estes estímulos
não são tão estereotipadas como é usualmente sugerido na literatura, conforme descrito
por Rosenstein e Oster em 1988, Steiner em 1977 e 1979. Existe uma significativa
sobreposição de ações faciais discretas, assim como da configuração total da face para
diferentes sabores. Além disso, embora se possam identificar reações típicas para cada
sabor, são aparentes as diferenças individuais, como já havia sido descrito por
percebiam no rosto dos seus bebês. O resultado foi: alegria 95%, raiva 78%, estresse 65
%, surpresa 68%, tristeza 40% e medo 35%. Este é o espectro de emoções que um
recém-nato é capaz de demonstrar. Assim como a análise acústica dos sons emitidos por
eles mostrou que podiam ser de: continuidade de máximo prazer, parcial prazer, neutro,
parcial desprazer e máximo desprazer (choro). Esta documentação foi feita por Hanus e
faciais: alegria, tristeza e surpresa, como imitação à expressão da face da mãe. (FIELD
et al. 1982)
mulheres com rostos demonstrando emoções e feições com dentes grandes, sem dentes
e sorridentes. Em todas as idades, houve alguma reação para faces sorridentes, mesmo
que com dentadura protusa. O aspecto das faces algo estranhas não pareceu provocar
Dois estudos, um realizado quando os bebês tinham dois para três meses de idade
e outro com seis para oito meses de idade, onde foram avaliadas as reações infantis para
faces atraentes. Uma técnica de preferência visual era usada. Foram mostradas às
sua atratividade. Quando mostrados pares de faces atraentes ou sem atrativo, as crianças
mais velhas e mais jovens pareciam observar mais longamente as faces atraentes.
chupeta granulosa ou outra lisa, posta na boca; depois eles selecionam a imagem da
2.9 Sorriso
sono. Em geral, após seis semanas, a maioria dos bebês responde com sorriso ao sorriso
1999a, 1999e)
2.10 Choro
aleitamento materno ou quando não há contato físico. Muitas mulheres relatam que seus
filhos param de chorar quando elas retiram de suas dietas: cebola, alguns legumes, uva,
chocolate, café, álcool, ovos, nozes, alimentos cítricos, morangos, derivados de trigo.
Pode haver choro como instrumento de liberação de tensão. Há choro devido ao parto
ter sido traumático, há choro por agitação e excesso de estimulação, como há choro por
choro de suas crianças durante as primeiras 12 semanas. Vinte e oito bebês eram
primogênitos na família. Uma tentativa foi feita para eliminar a tensão ambiental
excessiva como um fator adicional. Também foram retirados da amostra os bebês com
patologia subjacente. Havia uma média de chorar duas horas nas primeiras sete
semanas, diminuindo a cada semana depois disso. Bebês que choraram durante um
é que um certo tempo de choro é necessário, na saúde do bebê, pois tem função de
Em estudo de 193 primogênitos, foi observado que nos casos em que as mães
achavam que o choro de seus filhos era normal, as crianças tendiam a terem freqüência
de choro normal, no entanto, as mães que entendiam que o choro de seus filhos era
ou sem dano no cérebro, foram observados um total de 125 bebês de baixo peso ao
Bebê) foi usado para avaliar choro em comportamento de crianças a termo, com seis
crianças controles, a termo, foi avaliado por cinco meses. Danos de cérebro severos em
crianças de peso muito baixo ao nascimento não afetaram a duração do choro. Aos
cinco meses de idade corrigidos, turnos de choro eram mais freqüentes em crianças de
muito baixo peso ao nascimento, comparadas com crianças de controle a termo (6.4 por
dia vs 4.5 por dia) e foram seguidas muito mais que as crianças a termo (169 minutos,
solicitando que a mãe use sua intuição e seu ouvido para diferenciar os tipos de
diferentes de choro. Em geral, se ela fica calma, seu ouvido e sua intuição serão capazes
ouvido do bebê. Muitas vezes, a recorrência da cólica do bebê que está recebendo
homem ou na linhagem familiar. Os sonhos da mãe e do pai são as melhores pistas para
1146
mesma idade em que se encontra o filho, pois o choro e a reação de desespero do bebê
pode revelar a dor não vivida pelos pais. É importante cuidar disto com carinho e
aprendizado.
não eram afetados pelo frio, calor, dor e toque. Foram 2.000 observações, porém estas
não levaram em consideração que todos estavam sob efeito de anestesia dada às suas
mães durante o parto. No entanto, apesar deste grave erro de observação, esta pesquisa
até hoje segue sendo uma crença médica. A nova fronteira da neonatologia foi
tratar a dor dos neonatos e suas conseqüências adversas, compararam-se crianças mais
velhas, adultos e neonatos. Estes são mais sensíveis à dor e vulneráveis a seus efeitos a
longo prazo. Apesar da importância clínica de dor no neonato, práticas médicas atuais
síntese de dados e discussão aberta para desenvolver consensos em práticas clínicas que
(ANAND, 2001, 1988, McCLAIN e KAIN, 2005, SIMONS et. 2003, BERRY e
menstruação da mãe. Os estímulos dolorosos eram feitos com agulha, para a retirada de
sangue em provas rotineiras; nenhum exame de sangue foi executado somente com a
finalidade do estudo. Excitação dolorosa produziu uma resposta cortical clara, medida
nascido. Foi um estudo transversal que incluiu 104 pediatras (de um total de 110) que
trabalhavam entre 1999 a 2001 nas sete unidades de terapia intensiva e nos 14 berçários
da dor no recém-nascido. Cem por cento dos médicos referiram acreditar que o recém-
nascido sente dor, porém apenas um terço deles conhecia alguma escala para avaliar a
dor nessa faixa etária. A maioria dos entrevistados referia perceber a presença de dor no
avaliar a dor do bebê a termo; a mímica facial no prematuro e a freqüência cardíaca para
analgesia para punções venosas e capilares; 30 a 40% referiam empregar analgesia para
Menos da metade dos entrevistados referiram aplicar medidas para o alívio da dor no
citado para a analgesia (60%), seguido pelo midazolam (30%). (CHERMONT et al.
2003)
através de 59 pares de mãe-criança no hospital. Cada par foi observado durante quatro
considerando-se duas variáveis logo após cirurgia: o toque - a criança ficava retraída- e
1149
descrita em tumbas egípcias há 5.000 anos atrás. Segundo Gairdner em 1949, esta se
originou na pré-história há 15.000 anos atrás. Bem antes de adquirir suas implicações
religiosas, era um ritual claramente sacrificatório, pois exigia a perda de algo de grande
valor. Nas palavras do Rabino Maimonides do século XII, que apóia a visão das perdas:
"A respeito da circuncisão, eu penso que seu objeto é limitar relações sexuais e debilitar
o órgão de geração até onde possível. Assim o homem fica moderado... Esta ordem não
foi um mandamento devido a uma criação física deficiente, mas um meio para
exatamente o que é desejado; não interrompe nenhuma função vital, nem destrói o poder
No século XIX era praticada nos países de língua inglesa como preventivo para a
masturbação e era vista como “higiênica”. Tal crença ainda persiste. Depois disso se
tornou um procedimento creditado com uma gama extensa de benefícios supostos. Até
mesmo hoje, o prepúcio é visto popularmente apenas como um pedaço de pele vestigial,
sem função e que sua remoção não causa nenhuma real dor, envolve pouco ou nenhum
risco e não produz nenhum dano a curto ou a longo prazo. A prática ainda é difundida
no EUA onde atualmente 60% (abaixo de 90% dos anos setenta) de neonatos
por razões de fé. Nos Estados Unidos é dado o poder aos pais para a autorização de uma
operação não terapêutica, embora contrária aos interesses da criança. Sem controvérsias,
1150
os fatos são que a circuncisão: inflige dor severa e os anestésicos, se usados, levam a
dano a curto e a longo prazo, no nível emocional e diminui a função sexual e não tem
Comitê sobre Feto e Neonato) em seus sucessivos relatórios diz em 1971, que não há
validade médica que indique circuncisão para o período neonatal. Prossegue então que
com verdadeira fimose tem a vantagem de não ter risco anestésico. Esta só deveria ser
executada quando é menos provável que o trauma na genitália não cause tantos
problemas psicológicos, ou seja, quanto mais tarde possível, orientação desde 1975,
Quanto à higiene, deveria ser discutida a necessidade de orientação aos pais antes
do nascimento da criança de como proceder para realizar a higiene, pois esta é a melhor
profilaxia do câncer de pênis. Não há evidência que indique que a circuncisão previne o
câncer de próstata. Extensa revisão de literatura indica que a circuncisão masculina não
previne o câncer de colo de útero nas suas parceiras, pois não é sua etiologia, como
Desde 1977, a AAP informa que a pele é um órgão protetor e qualquer ferimento
1999)
1151
nascimento, 15% aos seis meses e 50% com um ano; antes de três anos, o prepúcio pode
ser retrátil em 80% a 90% dos meninos. Fimose é uma estenose do prepúcio com
urinária foram feitos. Em 1982 um destes estudos, realizado em hospitais militares que
até hoje é referência devido à sua grande casuística, teve erros metodológicos. (AAP,
1999)
1999)
incluem infecção local que pode progredir para septicemia, hemorragia significativa e
que sugerem que elas estão experimentando dor que incluem mudanças de
Desde 1977 a AAP informa que circuncisão neonatal predispõe à meatite que pode
(AAP, 1999)
Exército dos EUA. Revisão da literatura durante os últimos 25 anos documentou duas
na pele seguidos de necrose. No entanto, até mesmo uma dose pequena de lidocaína
pode resultar em níveis de sangue altos o bastante para produzir respostas sistêmicas
prudente, obter mais dados de séries controladas de grande porte antes de defender
1999)
indicação médica absoluta para a circuncisão, portanto, não deve ser um procedimento
causa da falta de dados científicos claros, não foi provida uma recomendação firme para
Em 1989, a AAP orientou que, ao considerar circuncisão dos seus filhos, os pais
os pais têm dos direitos sobre suas crianças está incorreta e insustentável: os direitos
residem nas crianças e os pais devem ser agentes destes direitos delas. Até mesmo a
de cuidados médicos pediátricos. Tais provedores têm deveres legais e éticos com seus
seus pacientes, não o que outra pessoa expressa... as responsabilidades do pediatra para
também usa a desculpa de estar praticando o que lhe foi solicitado pela autoridade. Eles
também poderiam explicar por que o comportamento abusivo para com uma criança é
deverão tomar medidas efetivas e apropriadas com uma visão para abolir práticas
tradicionais prejudiciais para a saúde das crianças." Alguns buscaram discutir que esta
provisão só era direcionada à circuncisão feminina, mas este argumento não se sustenta
Ainda assim, 6% dos meninos nos Estados Unidos fazem circuncisão cosmética.
As autoridades médicas alegam razões não muito claras para tal prática, como curar
masturbação. Estas foram razões que os médicos nos Estados Unidos recentemente
mudaram para: previne doenças sexuais, câncer, infecções urinárias e até AIDS.
(CHAMBERLAIN, 1998)
dois dias de nascidos e com três semanas. Cada bebê foi examinado três vezes, usando a
Escala Brazelton de Avaliação Neonatal (NBAS), na qual o examinador não sabe que
ou hiperativo atingiu a 90% do grupo que sofreu o procedimento nas últimas 4 horas,
comparado com os controles. Nos Estados Unidos 80% das crianças, ou seja, 1.600.000
homens que nascem a cada ano são circuncidados, segundo Kaplan em 1977 e Grimes
1155
em 1978. Embora amplamente usada nos EUA, tal prática não ocorre na Europa. Há
muito poucos estudos que justifiquem sua realização, segundo Emde, Harmon, Metcalf,
têm menor tolerância à dor. Foi realizado estudo para verificar se havia alteração da dor
aos quatro e seis meses, por ocasião de vacinação. Este estudo envolveu 87 meninos
divididos em três grupos. Utilizou-se vídeo - tape para medir expressão facial, choro,
usando polígrafo para averiguar a qualidade das fases de sono REM, e não REM, que
normalmente se alternam, para que o sono tenha sua natural função reparadora de
energia. O outro estudo, feito por Anders e Roffwarg em 1973, já haviam descrito
alteração no ciclo de sono entre os circuncidados, que ficam com o sistema supra-renal
aumento de cortisol nos níveis plasmáticos, assim como alteração do ciclo de sono.
literatura feita, concluiu que a circuncisão não deve ser praticada como rotina em
the cervix, publicado no Am J Obstet Gynecol em 1973 e que justificou a idéia de que a
circuncisão prevenia contra câncer do colo de útero, está incorreto. Supondo que o
trabalho estivesse correto, ainda assim, a idéia de submeter todos os bebês a este
procedimento tão doloroso, sem anestesia, para evitar algo que só poderá acontecer na
coberta com pele. Esta pele é firmemente presa na glande como o é a pele da mão. Na
futuro e a glande iniciam o processo de criar o espaço prepucial (isto é, o espaço entre a
incluem camadas múltiplas de células. À medida que elas aumentam, os nutrientes que
vão para as células do centro são cortados e então morrem, criando um espaço. Estes
completado por volta dos três anos de idade em 90% dos meninos, mas pode levar até
(DENNISTON, 1992)
interfere no seu desenvolvimento, mas também ocorre que, na cirurgia, a pele da glande
coberta de uma pele por cima da outra, pois durante a ereção, a cabeça do pênis se
1157
capaz de tal aumento. Além disso, o prepúcio é uma das partes mais sensíveis do pênis e
pode aumentar a qualidade das relações sexuais. Estudos anatômicos demonstram que o
Aos pais cabe a proteção de seus filhos, mas Jeannine Parvati Baker dirige-se
especialmente às mães, pois, como já visto, seus filhos vão tomar menos leite delas, vão
confiar menos nelas, nos dias que se seguem à circuncisão. Na verdade, a elas cabe
proteger a integridade física de seus filhos, e ela afirma: “Basta dizer não à
Circuncisão”. Como mãe, diz ela, esta é a “Sagrada Obrigação”. Diante de tão poderosa
e dolorosa mutilação, que criança se ligará de fato num deus interior? O trabalho de
Rima Laibow em 1991, conclui que homens que passaram por este nível de dor,
carregam uma profunda mágoa, pois suas mães os traíram. A conseqüência de abandono
pela mãe é violência contra mulher, e há estudos que relacionam circuncisão e estupro.
Marilyn Milos, diretora do NOCIRC, grupo de proteção contra violência, explica que a
circuncisão é quando o primeiro encontro com a sexualidade foi marcado por violência.
(BAKER, 2005)
prática que ocorre em 28 países africanos. De 100 milhões a 140 milhões de mulheres
estima-se que dois milhões de mulheres passam por isto a cada ano, e 6.000 correm tal
1158
retenção urinária, fístula vaginal com injúria a outros tecidos, ulceração da região
prazo, que são infecção urinária recorrente, abscessos, infecções pélvicas e infecção
terminação nervosa causando dor permanente e infecção crônica por obstrução do fluxo
menstrual, dispareunia (dor durante o coito), frigidez, conflito conjugal, infertilidade por
infecção da pelve crônica, trauma ao dar à luz, com laceração vaginal e fistula vaginal,
hemorragia se inicia durante o trabalho de parto, e não na fase expulsiva, a criança pode
morrer por falta de oxigênio. Na Somália, onde 90% a 98% das mulheres são
infibuladas, uma em cada 100 morrem no parto devido a este procedimento. No Reino
Unido, entre as que foram exiladas para lá ou entraram como refugiadas, 86.000
exêrese da parte retrátil da pele que cobre o clitóris, com ou sem excisão de parte ou de
todo o clitóris; Tipo 2 - excisão do clitóris parcial ou total e dos pequenos lábios; Tipo 3
1159
ervas para dentro da vagina, que causam sangramento, ou com o propósito de estreitá-la.
1994, entendeu que seu alvo para a redução de tal prática já começou a ser atingido,
pois verificou-se que 20.000 mulheres foram poupadas do procedimento. Outro ganho
Qena, Minya, Cairo e Alexandria entre meninas 5 a 10 anos de idade de 95% para 70%.
1991, 95% das meninas nas áreas rurais do Egito e 80% das áreas urbanas eram
Protocolo da Carta Africana (União Africana de 2003) onde estão tais compromissos.
Mais tarde, Andrew Meltzoff estudou esta capacidade em grande detalhe: protundindo a
1160
língua, abrindo a boca, franzindo os lábios, o recém-nato, imita a careta para a pessoa
Décadas de pesquisa têm confirmado que os bebês emitem sinais para as mães,
para o bebê. Hoje já existem estudos em animais e estudos endocrinológicos que dão
extensa linha de pesquisas sobre imitação em recém-nascidos. A hipótese deles era que
modelos: três faciais (colocar a língua para fora, estender o lábio, abrir a boca) e um
MOORE, 1983a)
A habilidade de crianças de nove meses para imitar ações simples com objetos foi
imediata e também mediata. Estes resultados mostram que esta habilidade está a serviço
podem ser armazenados pela criança e repetidos no próximo dia. (MELTZOFF, 1988b)
ações, cada uma usando um objeto diferente. Uma das seis ações era um
Mais tarde, após algum tempo depois da execução do movimento pelo adulto, eles
MOORE, 1989)
A partir de estudos com bebês de seis semanas e de dois a três meses, atribuiu-se
movimentos, tanto de estranhos como das respectivas mães, eram imitados; portanto, os
apresentado em bebês de seis semanas de idade continuava presente aos dois e três
meses. Para os autores, a imitação inicial tem uma função comunicativa e os bebês a
utilizam nos encontros com outros para enriquecer seu conhecimento de pessoas e de
suas ações e também para identificar essas pessoas. O que este pesquisador percebeu é
adulto como um espelho que se comunica com ela, portanto é fundamental como
três autores, a imitação é uma resposta social que tem implicações para o
2002)
A idéia de imitar está conectada com a idéia de se inserir no contexto social. Mas,
Nos pacientes com Síndrome de Down e com autismo, esta capacidade de imitar está
alterada. Por outro lado, padrões de imitação são observados em muitas culturas, como
descrito nos Estados Unidos, por Abravanel e Sigafoos em 1984, e por Field et al. em
1982 no Canadá por Legertee em 1991, na França por Foutaine em 1984, na Suíça por
Vinter em 1986, na Suécia por Helmann e Schaller em 1985 e por Heinann et al. em
1989, em Israel por Kaitz et al. em 1988, no Nepal, em área rural por Reissland em
bebês com uma hora de vida de uma região rural do Nepal, para quem o experimentador
era a primeira pessoa com quem interagiam após o nascimento. (REISSLAND apud
de gestos imitados. A imitação de ações novas, portanto não pode ser resposta. A
Foi feito um estudo para testar a imitação imediata e a memória (com intervalo de
imitação imediata, e imitação após um intervalo de tempo. Esse último resultado indica
que memória de evocação em bebês de seis semanas pode gerar ações com base em
1164
imitação, investigada pela micro análise das respostas, revelou que os bebês se
Neste caso, Meltzoff (1995) relata um estudo com crianças de 18 meses, no qual o
modelo tentava realizar uma determinada ação com um objeto, mas falhava. A conduta
imitativa observada levava em conta o que os adultos haviam tentado fazer, e não o que
eles de fato haviam feito. É com base nesse tipo de dado que os autores ressaltam que
estas crianças de 18 meses não estavam apenas imitando o que elas haviam visto, mas
bebês relacionam partes de seus próprios corpos aos correspondentes nos adultos. Ao
mesmo tempo, realizam movimentos espontâneos que são como "balbucios" e que lhes
Finalmente, estabelecem relações entre órgãos que lhes permitem perceber e emparelhar
complexa mente funcionando nos bebês de 18 meses. O cérebro é uma estrutura inata e
base em sua experiência com pessoas e eventos de sua cultura. (MELTZOFF, 1999)
1165
iguais aos ratos de laboratório, pois sua psicologia é mais complexa. E em terceiro lugar
como Decety em 2002, Prinz, 2002, Rizzolatti, Fadiga, Fogassi e Gallese em 2002.
(MELTZOFF, 2002a)
sendo “Como eu” e o passo dois, “Compreensão do outro”. De algum modo a direção
jogo que o adulto pretende desenvolver, sem que antes tenha sido feito. Isto ocorre com
a criança humana, pois há uma interação lúdica que a faz antecipar no jogo à ação a ser
realizada e, quando percebe que isto de algum modo era o que se esperava, ela fica
Crianças que dão respostas corretas é que estão confiando no modelo. Não há fixidez
neste aspecto; e crianças imitam por memória, não por reflexo. (MELTZOFF, 2005)
achados sobre imitação e serão apresentadas a seguir. A literatura sobre esse tema é
muito extensa e optou-se por citar somente alguns estudos básicos. A capacidade de
centrais que se podem vincular às evidências que vêm sendo descritas. Trevarthen e
interpessoal, geral e altamente complexa, que se manifesta muito cedo de uma forma
semanas de vida, com o prazer do contato visual entre a mãe e o bebê (ao qual se
da pré-história.
No curso das primeiras semanas, os bebês apresentam uma ligação estreita entre
Esta é caracterizada como uma forma de interação que tem como aspectos essenciais o
interesse que o bebê demonstra pela fala da mãe e sua capacidade de orientar a atenção
também no sistema olfativo. Tem sido verificado que, desde o terceiro dia de vida,
conseguem distinguir sua mãe de uma estranha com base no odor (Engen, Lipsitt &
condições normais, os bebês buscam estabelecer contato visual com os adultos que
bebê. Em geral, não tem sido confirmada a concepção piagetiana de que estas são
autor, os resultados das pesquisas recentes desafiam "crenças antigas" que viam os
Além disso, evidenciam que a capacidade de representação pode estar presente desde o
de que diferentes inputs sensoriais convergem numa representação única que precede o
duas rotas funcionalmente dissociáveis. Uma dessas rotas trata do controle perceptivo e
1168
eventos. Diferentes fatores contribuem para mudanças evolutivas nos dois sistemas.
talvez não seja exatamente o que Piaget propôs e, é necessário levar em conta algumas
físico e social através da percepção. Deste modo, é preciso repensar o estágio sensório-
motor tal como apresentado e explicado por Piaget. (MOURA e RIBAS, 2002)
É necessário adotar uma posição que inclua as novas evidências sobre o estado
tenha maior complexidade, ou seja, passe por uma construção gradual. Essa é a proposta
de Meltzoff e Moore. Num modelo mais geral, isto é o que propõe também Karmiloff-
Smith em 1995. Márcia L.S. Moura e Adriana F.P. Ribas admitem tais capacidades
predisposições inatas podem ser especificadas em detalhe ou ter apenas uma direção
meio de redescrição, para outras partes do sistema cognitivo. Para elas, é necessário
RIBAS, 2002)
3 O Vínculo e a Vida
Bowlby analisou o processo de estabelecimento de apego com a mãe nos primeiros seis
uma relação mutuamente satisfatória entre a mãe e criança. (SCHORE, 2001) A autora
O primeiro trabalho sobre a Teoria do Vínculo foi escrito no livro “The Nature of
the Child’s Tie to his Mother” (A Natureza da Ligação da Criança com sua Mãe) em
1957, calcado em conceitos etológicos. Foram escritos três artigos para a Sociedade
Psicanalítica de Londres, dos quais o primeiro foi este: Bowlby propunha que o vínculo
entre crianças de um a dois meses com suas mães tinha um forte componente instintual,
mantido na figura materna dos seis primeiros meses de vida. (BOWLBY, 2002)
A teoria do vínculo foi desenvolvida pelo psiquiatra John Bowlby que foi em
privadas de contato com mãe, vivendo em suas próprias casas, eram mais passíveis de
1170
infecção e corriam maior risco de contrair difteria. Na verdade, foram feitos filmes, e
até um documentário em 1952, A Two-Year Old Goes to the Hospital, (Uma Criança de
Dois anos vai para o Hospital) onde ele observou o que ocorria na separação de curta
duração de uma criança nesta idade. Outro filme da Tavistock registrou crianças que
entre eles aumentou. Ele introduziu na pesquisa duas mães substitutas inanimadas, uma
bebê ia até esta apenas para o tempo de mamar, mas ficava com a acolchoada o maior
nas primeiras horas depois de nascidos. O que mostram as pesquisas sobre vínculo, com
que nenhuma criança está pronta física e emocionalmente para suportar a separação da
mãe logo após o nascimento. O que ocorre é que se sucedem o pânico, o desespero, a
Separação) que foi apresentado em 1959, onde ele explicava as fases que ocorriam em
negação. Esta descrição é crucial até hoje, para entender os movimentos emocionais
por que passa a criança deixada, ainda que por pouco tempo. Neste trabalho, ele já
repetem o abandono e a rejeição dos pais que pode acabar parecendo doença e morte
nos pais, que é vivida pela criança como sendo de sua responsabilidade. O terceiro
trabalho foi “Grief and Mourning in Infancy and Early Childhood” (Luto e Pesar na
Infância e em Idade Precoce), onde ele contesta a visão prevalente de narcisismo infantil
e fala da importância da questão da perda do objeto amado. Ele entende que a criança
pequena não tem condições de elaborar perda, tendo em vista que não tem ego
início dos anos 40, onde fez cursos com William Blatz que a tinha apresentado à teoria
jovens precisam desenvolver uma dependência segura em relação aos pais antes de se
(BRETHERTON, 1992)
Em 1951, Bowlby pôde desenvolver e publicar seu trabalho a respeito dos efeitos
Saúde sobre as condições mentais das crianças sem lar, no pós-guerra. Este trabalho foi
1172
escrito em seis meses, foi traduzido para 14 idiomas e o título era: “Maternal Care and
Mental Health pela WHO” (Cuidados Maternos e Saúde Mental pela OMS). Na sua
segunda edição: Child Care and Growth of Love, (Cuidado Materno e Desenvolvimento
de 26 famílias com bebês que ainda não desmamaram entre um e 24 meses. Estes eram
observados a cada duas semanas, por duas horas, e visitados por nove meses. Ela estava
publica o projeto de Uganda em 1962 e 1967; ele reformula algumas coisas sobre sua
própria teoria em 1969, com idéias partilhadas por ambos. Uma delas é que a
Hoje, a teoria do Vínculo tem-se desenvolvido muito com trabalhos como: Sroufe
em 1985; em estudo sobre famílias onde há maus tratos como observaram Cicchetti e
Cicchetti em 1985; estudos sobre intervenções clínicas em família com baixo suporte
Bronfenbrenner em 1979; vínculo e pai, por: Belsky, Gilstrap, Rovine em 1984, Lamb
em 1978, e Parke e Tinsley em 1987; vínculo e irmãos: por Stewart e Marvin em 1984,
O vínculo, ou apego, pode ser visto como um laço afetivo que a criança tem com
entram em cena o ajuste postural, o olhar nos olhos e o choro, pois isso tudo tem a
então são capazes de viverem em sincronia mãe com filho, e vice-versa. A falta desta
sintonia segundo Brazelton, é interpretada pelo bebê como uma violação da sua
insatisfatórios ocorridos com ela, mesmo que seja, no caso de ela esperar ter o filho em
parto normal e, no lugar disso, ter sido submetida a uma cesárea, uma parcela de
sentimento de frustração no bebê, carrega, pois no útero o que frustra a mãe, tende a ser
vivido como responsabilidade pelo bebê. Mas mesmo diante de tudo isto o poder do
Do feto para o bebê há uma continuidade, ou seja, continua a existir uma fusão
entre mãe e filho: além do contato áudio-tátil, há o contato olho a olho e uma gama de
1174
Na mente adulta:
Quanto à criança:
quando elas ocorrem; geralmente chora com separação, prefere parentes a estranhos,
não tem muito contato ou proximidade, doente, não estressada, não tem raiva, resposta
c) Pode ser muito aflita, angustiada, pouco exploradora, preocupada, parece conter
exploração. Ambivalente – C
(SIEGEL, 2004)
tempo mais breve possível, para não abalar a base emocional da criança.
como alegrias e excitação, são lançados os alicerces de uma atitude positiva. A conexão,
existindo nos momentos de emoções negativas, ensina e garante à criança que ela não
será abandonada no momento de dor. Estas experiências são chaves para modelar
Foi desenvolvida uma Escala Materna de Vínculo (MFAS), por Cranley em 1981,
mas mesmo a melhor das escalas tem insuficiências para avaliar uma interação com
É importante notar que, quando uma criança chega ao mundo, como diz Jung
(JUNG, 2000a), ela não é uma tabula rasa; existem os olhos da mãe para a criança, que
passam pelos filtros da própria criança interior da mãe. Do mesmo modo que a criança
já vem com suas lentes para enxergar os pais. Assim, a criança, quando chega ao
algo moldada a possuir uma melhor constelação arquetípica, se tenha ocorrido uma
humanos, desde o início da vida. Assim é o rosto, a voz, que vão comunicar a carga
arquetípica dos pais. Por outro lado, os filhos ativarão comportamentos arquetípicos nos
pais; se estes forem atentos, as situações poderão ser breves, e portanto pouco danosas,
materno está o que será posto no inconsciente do filho: em seu hemisfério direito, onde
residem suas emoções. Nos primeiros meses, as comunicações mais importantes se dão
emocionais. O tom da voz da mãe reflete seu estado interior. Tudo o que ameaça a mãe,
ameaça e desorganiza a criança. O odor da mãe percebido por uma criança de seis dias,
pode identificar que a mãe está com medo. Da segunda à sétima semana, a criança se
Daniel J. Siegel e Mary Hartzell perceberam que um vínculo seguro gera uma
vai moldar um padrão de resposta que pode seguir mais adiante na vida. Estes cientistas
afirmam que mais importante do que a estimulação sensorial nos primeiros anos de
vida, são os padrões de interação entre a criança e a pessoa que cuida dela. (SIEGEL e
HARTZELL, 2003)
socialização e empatia, e quando uma mãe olha com amor para seu filho, eles
toda a sua vida. Um processo de sintonização defeituoso poderia trazer danos às redes
pesquisas sabe-se que, quando uma mãe acaricia seu filho e um pai brinca com ele, tais
Em 1976, a idéia de criar vínculos com o bebê, foi descrita por Marshall Klaus e
observação daqueles cientistas, ainda há pais e mães que não conseguem estabelecer
vínculo com seus filhos, ou sentem-se desvinculados deste, mesmo não sabendo o
motivo. Muitas vezes ocorre que a conexão no início da vida ficou falha, resultando em
1178
afastamento emocional por longos anos: “Quando não se pode estabelecer um vínculo
afetivo paira uma obscuridade sobre a relação, falta intimidade, como uma sombra
inexplicável.” Klaus e Kennel perceberam que mães separadas de seus filhos por muito
tempo, ficam incrédulas, e até mesmo surge a dúvida de terem tido um filho. Nas mães
em raiva e a raiva, em abuso. Um estudo, em 1994, sobre 8.000 mulheres mostrava que
os bebês não desejados tinham um risco 2,5 vezes maior de vir a falecer nos primeiros
28 dias de vida. “Os bebês sabem telepaticamente se são desejados ou não”. Os bebês
doentes. Durante as duas últimas décadas na Califórnia, foram feitas séries de estudos
(CHAMBERLAIN, 2007)
filhos asmáticos e não asmáticos. Os dois grupos foram avaliados pela M.I.B.S.
freqüência de eventos de não vínculo na história de vida das crianças. 86% das crianças
asmáticas tinham problemas de vínculo comparado com 26% das não asmáticas.
(MADRID e SCHARTZ, 1991) Ao tratar das mães para que melhorassem os vínculos,
vínculos afetivos apareceram nos anos 70, o controle médico sobre o nascimento estava
em seu apogeu, o parto estava quase destituído de seu valor humano, violavam-se as
“científico de nascer”: esta mesma ciência levou mais de 16 anos para aceitar que o
recém-nascido sentia dor, e que justificou milhares de cirurgias sem anestesia. Neste
período, o entendimento de que o bebê não era capaz de reconhecer seus pais tão logo
gerando danos a muitos. Não se pensava, então, que houvesse diferença entre
casa para o hospital violaram-se as necessidades psicológicas tanto dos pais como dos
bebês”. Atualmente a Associação Americana considera que o bebê deve ser deixado
com a mãe durante os seus primeiros 10 minutos de vida, que é o tempo que os médicos
hoje acham suficiente para que se crie o vínculo após o nascimento. (CHAMBERLAIN,
2007)
mãe com o filho excede a necessidade inversa de contato. Os Harlows já haviam notado
humana esta necessidade prolonga-se mais do que nos outros mamíferos, pois está
2001)
O bebê humano nasce com uma imaturidade que não tem semelhança a nenhuma
outra espécie animal, pois ele só consegue engatinhar aos oito meses, leva dez meses e
12 meses ou mais para andar e 14 meses para conseguir começar a falar. Leva anos até
que não dependa mais de outros para sobreviver. Ao nascer, tem imaturidade
permanecem próximas aos filhotes até que estejam aptos. O fato é que o bebê humano
nasce prematuro, por total impossibilidade de permanecer no útero mais tempo, devido
1180
a razões anatômicas. O bebê humano tem uma gestação intra-útero e uma externo-
evolutiva mostra que os mamíferos nascem com 80% de seus cérebros prontos, contra
25% do cérebro humano, que alcança os 80% no seu primeiro ano de vida, aos 21 meses
tal banco de dados, faz diferença na percepção tátil direta e proprioceptiva e contribui
criança tem noção de sua própria existência, podendo dizer sobre si “eu”. Por outro
lado, para muitos veterinários, o tempo de entender um ser como sendo filhote, é o
tempo em que ele é capaz de sobreviver sem os pais. Jamais se teve notícia de uma
criança até três anos de idade que sobreviveu sozinha por dias após um cataclismo onde
perdeu os pais.
Quando, entre dois e três anos, a criança começa a falar, é possível que, durante
este estado de relaxamento, possa fazer perguntas sobre as coisas que se passavam no
útero e mesmo sobre seu nascimento. Podem descrever detalhes como as pessoas de
máscara na sala de cirurgia, luz, etc. Logo que a criança começa a falar, muitas vezes a
(CHAMBERLAIN, 1990)
ser sintetizado na observação de um provérbio Maia: “No bebê está o futuro do mundo.
A mãe deve segurá-lo apertado; assim ele saberá que o mundo é seu. O pai deve levá-lo
1181
à montanha mais alta; assim ele poderá ver com o que seu mundo se parece” (KLAUS
peso, e que conseqüências isso tem para seu desenvolvimento, numa amostra de 114
as interações mãe-bebê. A adaptação social e emocional foi avaliada dois anos depois.
O que se viu é que as crianças cujas mães se relacionaram com seus filhos,
(WEISS et a. 2001)
Por muitos anos, se pensava que o bebê prematuro não deveria ser acariciado, pois
não sobreviveria, hoje sabe-se que o amor é que os faz sobreviver. Os prematuros
Héctor Martinez no final dos anos 70, consiste em: “calor, amor e leite materno”. Nas
cérebro infantil “é projetado para ser moldado pelo ambiente que encontra”, segundo
domínios sem limites do que está sendo chamado de o “cérebro social” por Brothres em
1990 e o papel central das emoções na comunicação social, segundo Adolphus em 2000.
início da vida, as quais colocam as crianças em risco de desenvolver menos que o seu
seqüente com dados interdisciplinares faz ligações teóricas mais profundas entre
saúde mental infantil. O conceito de John Bowlby de 1969 sobre o vínculo como sendo
um processo que se desenvolve por interação única dada pela condição genética e
1183
autor chamou atenção para explorações mais profundas de como um organismo imaturo
é moldado criticamente por sua relação primordial com um membro maduro de sua
espécie, isto quer dizer, que se trata de estudos mais extensos de como formas de
interação do bebê com a figura principal nesse ambiente, que é a mãe, como assinalou
Bowlby em 1969. Assim, a criança emerge da reunião social, e não se podem entender
2001b)
pelos quais a criança forma um laço seguro de comunicação emocional com a mãe, e
como este laço sócio-emocional, faz com que aprenda cedo e interiorize este laço em
Fez-se em Baltimore um estudo sobre interação face a face com bebês e suas mães
e entre bebês e com estranhos. Foram 732 episódios em vídeo - tape em sessões de 6 a
meses mostravam uma interação face a face mais harmoniosa com a criança eram as que
despendiam mais tempo olhando e brincando com elas. Crianças que interagiam bem
com suas mães tendiam a ser responsivas com estranhos. (BLEHAR et al. 1977)
adultos. Os que tiveram alto nível de estresse e eram seguros na infância, tornaram-se
inseguros na vida adulta. Situações estressantes na vida não eram relatadas pelos que
organismos complexos, como descrito por Damásio em 1998. Vínculo pode ser
definido como uma díade regulatória de emoção, segundo Sroufe em 1996. Como
criança amplia sua adaptatividade, que lhe servirá de base para mudanças em momentos
(SCHORE, 2001b)
criança com o seu cuidador primário, segundo Schore, em 1994, 1997, 2000. Em defesa
e seu bem-estar físico”, como observado por Champoux, Byrne, DeLizio, Suomi em
1992. Variações no cuidado materno podem servir como base para uma transmissão não
estados afetivos internos nas crianças, segundo Scander em 1997. Ele que afirma que o
pai expressa um comportamento que catalisa uma troca, dentro do estado da criança.
acontece no contexto de uma relação afetiva positiva. Mas à luz dos novos fatos de que
ano e meio de vida, e de que isto é dominante para os primeiros três anos de vida,
é mediada por orientação olho para olho, gestos de mãos, movimentos dos braços e
cabeça; todas essas ações são coordenadas para expressar um conhecimento inter-
emocional. Ou seja, através da relação olho no olho, o hemisfério direito da mãe plasma
mãe afinada “devolvendo ao bebê o próprio ego do bebê.” Winnicott afirmava que
como resultado de suas transações com a mãe, a criança, por identificação, cria
et al. em 1997; Kennan, Wheeler, Gallup, Pascual Leone em 2000. (SCHORE, 2001b)
1187
O contato que a OMS tem enfatizado sobre alojamento conjunto, já mostrou seus
criança logo após o nascimento e com amamentação o mais cedo possível e alojamento
conjunto. Este local foi escolhido para este estudo porque suas práticas de cuidado na
possível e o contato cedo, bem como alojamento conjunto. Este serviço atende a uma
comunidade proletária urbana, sendo que a maioria com mães com tratamento pré-natal.
Foram estudados todos os partos neste hospital entre 1987 a 1998, com foco no
a 1998, 6 anos antes e seis anos depois das mudanças implementadas de contato de
nascimentos nos primeiros seis anos, para 27.8 ± 8.7 por 10.000 após as medidas da
que crianças que nasceram com peso entre 1.500 gr. e 2.499 gr, tiveram 29 vezes mais
com peso maior que 3.500 gr. ao nascer. (MOTTA et al. 2005)
1188
A Organização Mundial de Saúde orienta que um casal deve esperar pelo menos
dois a três anos para ter outro filho, a fim de evitar problemas adversos para a saúde da
mãe e do filho. Estudos recentes, implementados pela United States Agency for
International Development (USAID), sugerem que o intervalo de três a cinco anos seria
ainda mais eficaz ainda na redução de riscos. Estes relatórios foram examinados pela
baixo peso e crianças pequenas para a idade gestacional (WHO, 2005, 2006a,)
Muitas vezes pode ocorrer algo como um prematuro pesar 1.000 gramas. Alguns
sobrevivem com os recursos das Unidades Neonatais, como a história de Adrien que
pesava 795 gramas, um exemplo do sofrimento demorado que estes bebês têm e o
quanto será preciso muito para que venham a ter um desenvolvimento emocional para
que superem a cólera gerada por tanto tempo em UTI neonatal. (RELIER, 2002)
bebês de baixo peso também foram separados. Com pouco tempo, as mães que foram
separadas dos seus bebês mostravam maior preocupação com eles. Ansiedade e
depressão da mãe estavam relacionadas com menor vínculo com seus filhos.
A depressão puerperal é importante de ser atalhada, pois causa dano para a relação
e para a criança. A terapia floral, pode ser um valioso recurso para estas situações. Um
dos florais que pode ser de grande auxílio é Bálsamo do Repertório de Filhas de Gaia.
(MACHADO, 2007)
nos braços das mães. Foram feitas medidas repetidas, num berçário com 40 berços em
crianças foram protegidas dos fatores que interfeririam com manutenção de sua
enquanto nos braços das suas mães, sem evidência de atividade metabólica aumentada,
Mães que experenciaram contato adicional com seus filhos logo após o
nascimento, foram observadas e constatou-se que falam de modo diferente com eles,
quando estes estão com dois anos. (RINGLER apud BUCKLEY, 2005)
28 mães das quais, um grupo podia ficar com seus bebês na primeira hora de nascidos e
por cinco horas por dia, nos próximos cinco dias; o outro grupo teve curto contato na
primeira hora, e contato de meia hora para amamentação só depois de 12 horas. No fim
menor contato. E, quando as crianças foram testadas, depois de dois anos e com cinco
anos, os que tiveram contato com a mãe mais tempo tinham melhores índices de QI,
Em um estudo 32 crianças foram observadas com suas mães até a idade de seis
exame, e existência de depressão materna. A Emoção Expressa (EE) pela mãe aumenta
padrão de vínculo desorganizado aos seis anos de idade. Este padrão foi associado com
tinha um, quatro, e 11 anos de idade. Mães, professores e crianças fizeram a reportagem
criança foi prevista até mesmo pela depressão pós-natal da mãe, quando da depressão
eram muito violentas se as mães tivessem estado deprimidas aos três meses ou pelo
21 mães foi impedida de interagir fisicamente com seus bebês, nas primeiras duas
berçário. Resultou que as mães primíparas ficaram muito inseguras perante seus filhos,
as multíparas nem tanto, mas mesmo estas também tinham baixa confiança. Um ano
depois as que não haviam sido separadas tocavam muito mais seus filhos. E o
comportamento de afastamento e pouco toque ainda era mais acentuado se o filho era
tiveram contato com suas crianças cedo e este foi estendido (uma hora de contato extra
com suas crianças por 3 horas após o nascimento, e cinco horas de contato extra
mulheres que seguiram rotinas de hospital. É interessante notar que esta diferença ainda
era evidente no acompanhamento feito um ano depois. Era mais comum despenderem
tempo brincando com suas crianças, e quando estas tinham dois anos, havia uma
diferença significativa nos padrões de fala das mães para com suas crianças. As mães no
grupo de contato extra usavam poucos imperativos e havia uma comunicação idiomática
mães de renda mediana. Delas, 22 mães primíparas receberam suas crianças 15 minutos
grupos, as crianças ficaram com suas mães e pais no pós-parto e num período que se
1192
estendeu a duas horas. Depois deste período de tempo, todos os grupos receberam
cuidados de acordo com rotina de hospital. Durante os primeiros três dias, as mães a
quem se permitiu somente contato com suas crianças só para alimentações. Durante a
seus bebês. Foram feitas observações 36 horas depois do parto. As mães primíparas com
comparadas com mães primíparas sob regime de cuidado de rotina, as mães no grupo de
freqüentemente suas crianças e seus bebês choravam menos. A diferença era mais
pronunciada nas mães de crianças masculinas. Visitadas após três meses, a diferença no
SOSA, 1980) Na experiência de contato extra de mães de classe média, realizado por
Svejda et al. em 1980, a observação de que as mães eram mais afetuosas com as filhas
O'Connor et al. em 1980, nos Estados Unidos, num estudo que incluiu de 301
mães, notou que, aumentando o tempo de contato entre mãe e bebê depois do
Os Harlow, na experiência que fizeram com cinco macacas, que nunca tinham tido
uma mãe de verdade, imediatamente após o nascimento foram separadas de suas mães e
postas em jaulas com instrumentos substitutos. Quando as macacas tiveram seus filhos,
imediatamente após o nascimento, mas de não continuarem a fazê-lo por muito mais
(MONTAGU, 1986)
Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano, acredita que uma das
mais importantes causas da violência humana provém de uma falta de prazer corporal
durante o período formativo da vida. Pesquisas em animais mostram que, quando eles
primeiros anos de vida, a presença de amor inibe a ira. (PRESCOTT apud MONTAGU,
1986)
1986)
ósseo de uma criança de três anos era no experimento, metade do que o observado numa
ao colocar a mãe, a criança e o pai, em contato físico, que permitisse à mãe olhar da
criança. A terapeuta não coloca a criança no colo: a dificuldade inicial da criança acaba
dando lugar a melhora. A terapia teve sucesso em outros países onde foi praticada, não
(MONTAGU, 1986)
pelo tato. A falta de exposição tátil no primeiro ano de vida, resulta em alheamento,
MONTAGU, 1986)
O terapeuta húngaro Istvan Hollos fez uma descrição clínica de agressão sofrida
por bebê prematuro, que se dizia prematuro, e na verdade para ele isto tinha uma
Marie Louise von Franz, escreveu o livro “O Trauma de Descartes”. Nele ela
declara que Descartes nunca confiou nele mesmo, nos outros ou na vida, pois a morte de
sua mãe tão cedo tirou dele o otimismo, a confiança na vida, e nos seus próprios
No século XIX, nos Estados Unidos, havia uma “doença” que atacava os bebês em
doença era intitulada marasmos, palavra grega que significa definhar. Até 1920, a
mortalidade chegava perto de 100%, até que J. Brennemann, pediatra, criou a regra que,
em seu hospital as crianças deveriam ser colocadas no colo, postas nos braços e
aconchegadas, e recebessem cuidados como se fosse da mãe, várias vezes ao dia. Então
(MONTAGU, 1986)
programada, de conexões sinápticas a que se segue uma interação com o meio ambiente,
que tenta buscar qual a interação mais eficaz para aquele meio, para desenvolvê-la. Esta
1994. É importante enfatizar, porém, que a experiência ambiental tanto pode habilitar,
adaptáveis. Isto mostra que há uma relação direta com o ambiente sócio-emocional,
pelo pai, no vínculo. O que a criança sente é que sua sobrevivência está continuamente
em risco, esta é a realidade do abuso por parte do pai, que é o primeiro objeto que
mereceria sua confiança, desafia sua capacidade de confiar, e ainda por outro lado, a
seu funcionamento normal, se for vivido por um longo período. Altera sua psicobiologia
e a deixa à mercê de estratégias imaturas de relação. Ela precisa usar todos os seus
recursos para auto-regular sua homeostase, de modo que não lhe resta energia para fazer
muito mais coisas, como descreveram Tronick e Weinberg em 1997. (SCHORE, 2001a)
criança que tinha sofrido trauma no primeiro ano de vida. Esta descoberta levou à
cardíacos mais alta além de mais intensa reação de alarme na reação ante uma situação
estranha. Elas também mostram níveis de cortisol mais altos que todas as outras
(SCHORE, 2001a)
que as crianças, em vez de achar um porto seguro na relação, estão alarmadas por causa
do pai. Eles notaram que, devido ao fato de a criança inevitavelmente buscar o pai
criança deve colocá-la frente a um paradoxo insolúvel: não pode aproximar-se e ter a
face da mãe é o estímulo visual mais potente no mundo para a criança. Sabe-se que é
para a face da mãe que a criança instintivamente dirige o olhar para receber mensagens,
que, se forem agressivas terão grande poder traumatizante para a criança. A imagem da
face agressiva, gera alterações corporais caóticas na criança. Tal estado fica associado,
materna de medo-terror. Main e Solomon notaram que quando a mãe retira da criança o
comportamento medroso que é observado dentro do vínculo dos pais de crianças tipo
(SCHORE, 2001a)
1198
Alan Shore sugere que, durante estes episódios, a criança esteja espelhando as
2001a)
deprimidas, fora de controle. Em geral, têm alto risco de serem abusivas, comparadas às
mães sem estas queixas. Elas também têm diferentes tipos de percepções, atribuições,
comunicam menos com as suas crianças e usam técnicas disciplinares mais adversas,
sofreram trauma não resolvido, segundo Famularo, Kinscherff, Fenton, em 1992, este
cérebro da criança está relacionada com a qualidade de interação com seu cuidador nos
precoces de crianças femininas com suas mães (ou ausência destas experiências)
influenciam como elas responderão às suas próprias crianças quando elas se tornarem
O'Day, Kraemer em 1999. Este princípio psicobiológico tem evoluído nas muito
de cuidadores, tem uma base instintual, expressa através de um filtro padrão, que está
ligada ao senso desenvolvido ao ser cuidado ou protegido pelos seus próprios pais.
Ponto de vista com que concordam outros autores como Bruce Perry em 1995 e
Maestripieri em 1999. Este último notou que em humanos, há uma maior sensibilidade
a ser mais danoso para seu desenvolvimento ulterior como pais. A mãe que expressa um
mostra uma grande vulnerabilidade a estresse. Desordem emocional é comum entre pais
A mãe que tem um histórico de abuso pode entrar em pânico no final de sua
gravidez, e vir a entrar em depressão no pós-parto, e esta condição vai preparar o início
da situação de ela negligenciar seu filho, que irá chorar e desesperá-la, fazendo-a viver
mesma vir a abusar do seu filho, segundo Frodi e Cordeiro em 1980. Episódios de
choro persistente segundo Papousek e von Hofackerem em 1998, podem ser um potente
Harry Chugani vem estudando mapeamento cerebral e suas relações com as bases
um metabolismo anormal na área dos lóbulos temporais do cérebro, área que se acredita
com sua própria família. Isto mostra as conseqüências do abandono materno, numa fase
Após uma conexão por nove meses, onde houve interação de emoções, em que a
criança esteve por baixo da pele e do sangue da mãe, de seus pensamentos e emoções,
representa uma perda de importância capital. E a psicologia pré e perinatal veio dar uma
objetivo é auxiliar os pais a compreenderem seus filhos adotivos, perceberam que estas
desagrado na mãe afetiva, buscando criar uma situação para novamente se sentirem
perda e rejeição que os adotados relatam, mesmo na vida adulta, além dos medos e
situações conflitivas que existem com os pais adotivos que isso tende a se estender a
outras relações pela vida. Este autor constatou que, sistematicamente, eles falam de uma
perda da sua sensação do eu. Muitos acham que ocultam um eu real, e projetam um
falso eu, pois o tempo todo estão temerosos de receber rejeição das pessoas. (VERRIER
Revelado ou não, para o adotado que ele é adotado, por tudo que hoje se sabe de
psicologia pré-natal, ele já sabe que é adotado e entende que há um segredo em torno do
seu nascimento. Freqüentemente não se sente encaixado no ambiente que o rodeia. Ele
carrega um sistema de crença, de que, se a própria mãe o deixou, o que não faria
Ser mandado embora, é uma questão que permeia a vida do adotado, e lidar com
isto é um desafio, que pode demorar muitos anos, tocando suas mentes e corações.
(AXNESS, 2007)
Em sua tese de doutorado Marcy Axness fala sobre a questão do vínculo partido e
Ela enfoca também a falta de confiança e a depressão que marcam a trajetória de suas
com grupo controle, de não adotadas. No Texas, em estudo que comparou 42 crianças
adotadas com 2.991 crianças não adotadas, as primeiras apresentavam mais problemas
adotadas e não adotadas, que haviam sido encaminhadas para tratamento psiquiátrico,
depressão. Mas após tratamento, tanto adotados, quanto não adotados, haviam
Dos bebês encaminhados para adoção, as mães foram agrupadas em dois tipos: as
que entregaram para adoção, pois se viram despreparadas para a gravidez, e aquelas que
decidiram ou porque foram forçadas por seus pais a agirem deste modo. Uma vez
decidido o caso, desconectaram-se de seus filhos. No futuro eles não têm vontade de
conhecê-las. Já há um segundo tipo: que são as mães que, mais estáveis, amam seus
futuros filhos, e são capazes de quase tudo para lhes assegurar um futuro melhor, e
optam pela adoção privada combinada, sempre que possível, e com os anos, quando a
situação se estabiliza, contatam seus filhos, que, por seu turno terão vontade de
da gestação que a mãe decide que vai entregá-la à adoção. Em que condições foi
gestada. Por exemplo, importa saber se foi concebida com amor, se foi uma relação que
terminou, no meio da gravidez, e gerou a condição de adoção: neste caso houve, uma
base inicial mais sólida. Também faz diferença quando a mãe perde as condições de
amparo e não se vê tendo um bebê sozinha, como esta mãe vive seu luto do parceiro? E
como foi seu luto em relação à própria criança? Tudo isto terá importantes
mudança que ocorreu para a criança que agora está sob a tutela de pais adotivos.
W. Prescott empreender sua busca pelo entendimento das origens do amor humano e
também da violência humana. Nos anos 50, grupos de pesquisa desta instituição de
sensorial e isolamento social em primatas, foram feitos pelos psicólogos Austin Riesen,
Institutos Nacionais de Saúde (NIH). Outros trabalhos foram realizados por Meizack e
Thompson, em 1956; por Thompson e Scott, em 1956; por Meizack e Scott, em 1957;
por Hebb, em 1958; por Harlow, em 1958; por Riesen, em 1961 e 1966; por Meizack e
Burns, em 1965; por Mitchell, em 1968; por Mason, em 1968; por Sackett, em 1970; e
1968; Levine, em 1974; MacLean, em 1962 e 1973; Mark e Ervin, em 1970; Money,
1967; Bowlby, em 1952, 1969 e 1973; Cairns, em 1966; Casler, em 1961; Spitz, em
1965; Textor, em 1967; Whiting e Child, em 1953; Yarrow, em 1961; Zubek, em 1969;
programas de pesquisas básicas para avaliar esta teoria e, como outros cientistas,
Tanto Harry Harlow, em 1964, quanto Rene Spitz, em 1965, negaram que a
1968, e para Mason e Berkson, em 1975, que demonstraram que o isolamento produz
de “mãe oscilante”, podem ser vistos no documentário da Time Life Rock a Bye Baby,
comportamento e uma gestalt do cérebro emocional, que pode ser chamado “amor”.
Portanto, antes que a criança possa entender a palavra falada ou escrita, mediada pelos
quando está sendo amada ou quando está sendo rejeitada e isto é particularmente
criança, - como por exemplo, pelo fracasso para amamentar, - não somente remove a
base neuropsicológica primária para “intimidade” (no caso do cheiro, o olfato primitivo
no cérebro sexual), mas também impede a formação da gestalt do cérebro que só pode
ser formada quando todos os elementos sensórios estão presentes. Através da analogia
com a imagem de um triângulo, este não pode se formar só com duas linhas. Tal figura
não só precisa de três linhas, como também de uma combinação de relações específicas
entre elas para formar a gestalt perceptual do “triângulo”. Precott usa esta analogia para
“Gestalt Cerebral” na qual, realmente, o todo é maior que a soma de suas partes.
(PRESCOTT, 2007)
genital espinhal, processada em nível límbico e não gera danos lesivos na agressividade,
pois são os níveis mais baixos do cérebro que processam o prazer sexual, onde o sado-
hemisfério direito, é influenciada pela relação de vínculo mãe-filho, visto por SCHORE,
em 1997. Este cientista tem demonstrado que, nos dois primeiros anos de vida, a
que se mostra mais receptiva, com o modelo, determina a arquitetura cerebral de modo
sinais não verbais, intenso em emoções, tem conhecimento e regulação do corpo, assim
1208
hemisfério esquerdo amadurece até o final do segundo ano de vida, e seu processamento
definições, certo versus errado. Uma ligação de vínculo mãe-filho desenvolve e ajuda a
A amídala, que, vem do grego e significa amêndoa, é um feixe com esta forma, de
estruturas interligadas. Este órgão se situa acima do tronco cerebral, próximo à parte
que na evolução, deu origem ao córtex e depois ao neocórtex. Estas estruturas límbicas
Os animais que têm a amídala cortada não sentem medo nem raiva, perdem o
ordem social de sua espécie. As lágrimas são provocadas pela amídala e uma estrutura
função cerebral, LeDoux publica, em 1986, dois artigos reveladores: Sensory Systems
and Emotions (Sistemas Sensórios e Emoções) e Emotion and the Limbic System
1209
abaixo o que se tinha como verdadeiro, até então, sobre neurofunção emocional. Ele
explica que a amídala pode assumir o controle do que fazemos, enquanto o neocórtex
“seqüestrar” o cérebro. Os sinais sensoriais provindos dos órgãos dos sentidos dirigem-
responder antes do néocortex. Desta forma o hipocampo, que era considerado estrutura
chave do sistema límbico, na verdade, está mais envolvido com o registro e a atribuição
de sentidos aos padrões perceptivos do que com as respostas emocionais. É ele que
Estudos de LeDoux, em 1989, mostraram que, num rato, a rota da percepção até o
neocórtex pode durar duas vezes o tempo de o órgão do sentido perceber e executar
amídala cerebral emite sinais, que ultrapassam a intermediação cortical, como uma
ameaça, ocorrerá uma resposta eficaz de defesa. (LeDOUX apud MORSE e WILEY,
1997)
prepara a resposta impulsiva, enquanto que o neocórtex tem respostas mais lentas.
Porém, sem o funcionamento dos lobos pré-frontais, grande parte da vida emocional
desapareceria, pois não haveria o que pudesse avaliar aquilo que merece resposta
amídala e a não ativação dos processos neocorticais que, em geral, mantêm o equilíbrio
ativação enviados pela amídala e outros centros límbicos. A chave que desliga a emoção
aflitiva parece estar no lobo frontal esquerdo, o qual age como um termostato regulando
neurologista entende que isto ocorre porque estas pessoas perderam acesso ao seu
para o repositório das preferências e aversões que adquirimos durante a vida. Desligado
da memória emocional da amídala, qualquer coisa que o córtex pense não dispara as
reações a ele associadas no passado, tudo fica numa neutralidade cinzenta, e algo que,
no passado, foi objeto de afeto, mais adiante não desperta nem atração nem aversão.
O caminho provindo, não somente da visão, mas também da audição, passa pelo
circuito amídala mais rápido do que pelo do córtex. (LeDOUX et al., 1990)
foi escrita em 1860 por Ambroise Tardieu, um médico forense francês. Mais tarde, seu
artigo foi publicado em Annales d’hygiene publique et médecine légale (Anais de Saúde
Pública e Medicina Legal), com o título Étude médico-légale sur les sérvices et mauvais
traitements exercés sur des enfants (Estudo Médico Legal sobre Serviços e Maus Tratos
é descrita por Robin Karr-Morse e por Meredith S. Wiley, em 1997, duas sociólogas
1212
que escreveram o livro Ghosts from the Nursery – Tracing the Roots of Violence
que participou com outros dois (um rapaz e uma moça) de agressão com morte. Um dos
à prisão perpétua. Elas levantaram que as raízes do comportamento violento devem ser
procuradas no que acontece durante os 33 meses do início da vida (nove meses intra-
uterinos, e os dois primeiros anos de vida). No caso do rapaz, houve uso de drogas e má
e da ciência pré-natal para analisar o que se passou com o rapaz, desde seu nascimento
até a indiferença com que foi tratado quando era bebê. Elas mostram que ele é uma
uma haste existente na parte inferior do cérebro ligando-o com a coluna vertebral),
cérebro intermediário, sistema límbico, cuja parte central é amídala cerebral, e córtex.
controla apetite e sono, entre outras coisas. Depois vem o sistema límbico que é a sede
particularmente violento. Quando o ser humano está sob condições de lutar ou fugir, os
comando e estas pessoas agem antes de pensar. Quando uma criança tem uma super-
estimulação por situação de ameaça constante à vida, ela desenvolve mais o sistema
límbico do que seu córtex e, se isto é crônico, o sistema vai desenvolver-se de forma
Uma vez que os bebês de menos de dois anos não possuem uma linguagem
Doux, atingem a amídala, o hipocampo e o sistema límbico. Isto explica como os fatos
permanecem por tanto tempo na vida adulta, pois formam um corpo de memórias não
racionais, até mesmo não verbais, atuantes na vida da pessoa. Segundo LeDoux, as
1214
o indivíduo não tem consciência associativa sobre o evento. (LeDOUX apud KARR-
em jovens que praticam suicídio violento, envolvem-se com gangues violentas, usam
quando uma está presente, a outra baixa. A serotonina é alta durante o sono e baixa na
exposições tóxicas, durante a gestação, estão envolvidos na lesão dos genes implicados
luta, ou em quem sofre violência doméstica, antes dos dois anos de idade, o que gera a
espancada por seu pai alcoólatra. Então, além da existência da memória celular, descrita
por David Chamberlain, em 1987, na qual específicas partes do corpo retêm informação
um complexo processo de migração neuronal que se atém à forma e ao tempo para que
Quando Jeffrey nasceu, com circular de cordão e cianótico, levou alguns segundos
para começar a respirar e foi deixado num hospital por seis dias, sem contato com a mãe
Bebês que sofrem estresse gestacional, com ou sem complicações obstétricas, têm
(RAINE, 2002; RAINE et al., 1994, 1997; BARBER et al., 1999; HODGINS et al.,
2001; KEMPPAINEN et al., 2002; AXINN et al., 1998, 1999; WAKSCHLAG et al.,
McGLOIN et al., 2006; PRATT et al., 2006; RÄSÄNEN et al., 1999; KEMPPAINEN et
al., 2001; RANTAKALLIO et al., 1992; DAVID et al., 2003; KUBIČKA et al., 1995a)
Jeffrey tinha cólicas em bebê e foi de saúde frágil, na primeira infância. A escola
prescreveram-lhe ritalina (anfetamina). Toda a sua história é contada através da sua avó,
Jeffrey segue com uma mãe de comportamento instável e um pai ausente. Ele era
cuidado pela avó, numa situação familiar pobre, em muitos sentidos. Mas Jeffrey não
está sozinho em sua situação, pois o quadro social de “Jeffreys” é grande. (KARR-
Por outro lado, ocorre um padrão desorganizado de vínculo na criança que foi
Lyons-Ruth, Repacholi, McLeod e Silva, em 1991. Isto foi associado com dificuldades
relações para o resto das vidas. Por exemplo, o uso de opiáceos na mãe e no bebê pode
não afetar a vida da criança, mas afetará suas relações na vida adulta. (SCHORE,
2001a)
pares, como foi descrito por Schore, em 1996 e em 1997. (SCHORE, 2001a)
em 1995. O abuso na infância é a principal ameaça à saúde mental delas, segundo Hart e
1217
cedo, serve como uma matriz para a criança ser mal adaptada, o que segue acontecendo
mais severas de perturbações de vínculo e reatividade, como descreveu Boris & Zeanah,
neurobiológicos que estão por baixo das psicopatologias precoces, segundo Hinshaw-
(SCHORE, 2001a)
Smart em, 1974, existe o conceito de tendência para aquelas desordens psiquiátricas
Zoeller, em 2000. Outros estudos revelam que altos níveis de corticotrofina liberados
Dados indicam que certos estímulos maternos que provocam impacto negativo no
que a exposição, a álcool, descrito por Streissguth et al., em 1994, à droga, segundo
Espy, Kaufman e Glisky, em 1999 e Jacobson et al., em 1996, e a tabaco, como descrito
1996, pois isto não se expressa apenas na pré-maturidade e baixo peso ao nascimento,
mas também em pobre capacidade interativa infantil, como visto por Aitken e
com a evitação parental ou rejeição, como observado por Field, em 1977, e até mesmo
com o abuso físico da criança prematura, como descrito por Hunter et al., em 1978.
(SCHORE, 2001a)
que está amadurecendo. A tensão que regula sistemas que integram mente e corpo é
1219
(SCHORE, 2001a)
cérebro da criança é uma experiência dependente do vínculo com seu cuidador, como já
demonstrado por Schore, 1994, 1999, 2000. A segurança primária é uma defesa
desenvolverá nos dois primeiros anos de vida, caso, ao invés de vínculo, ocorra ameaça
à segurança pessoal da criança. Isto não tem sido objeto de informação pela mídia, nem
em desenvolvimento de cérebro foram bem atestados, por exemplo, por Bruer, em 1999,
Freud já havia notado que a dor física é uma experiência que esvazia o ego,
entendido por ele como parte da organização superior do aparelho mental, que tem
como função ser mediador entre o id (impulsos instintivos) e a realidade. Ele também
acreditava que os perigos internos modificam-se com os períodos da vida, mas possuem
amor deste ser pelo indivíduo. Experiências traumáticas nos primeiros anos de vida são
anos de vida, que alteram a maturação contínua de cérebro, mente e corpo, como
vínculo inseguro e ativa uma caótica alteração da emoção, processada pelo sistema
acelerado crescimento nos primeiros dois anos de vida, segundo Schore descreveu, em
funções de vínculo – como descrito por Henry, em 1993, e por Schore, em 1994 e em
durante o período do desenvolvimento deste sistema seria expresso por uma severa
famílias que abusaram fisicamente de seus filhos. Eles concluíram que os pais que
abusaram dos filhos tinham sido invariavelmente privados do afeto físico, durante sua
infância e a afetividade da vida sexual adulta era extremamente pobre. Steele notou que,
quase sem exceção, as mulheres que abusaram de seus filhos nunca haviam
pesquisas cujo objetivo era subsidiar seis projetos relacionados à violência, na tentativa
1222
de prevenir o abuso infantil, que pode afetar desde o abuso contra grávidas, como contra
se, nos primeiros meses de vida, o bebê estiver: isolado, deprimido, pedindo ajuda.
Muitas vezes, neste caso, as visitas de enfermeiras e assistentes sociais demonstram ter
impacto positivo; se a mãe está perdendo a paciência com a criança, neste caso, ajudá-la
vai melhorar, pois a mãe que se sente apoiada torna-se mais paciente – o suporte do
grupo social é muito importante para evitar depressão ou irritação maternas. (VERNY e
WEINTRAUB, 2004)
um a seis anos. No ano de 2003, o último ano de que se tem notícia, pelo Sistema de
correspondiam a 21,11% das causas de morte de crianças entre um e seis anos, no país.
E, se forem consideradas as idades menores de sete anos, este índice chega a 32,5%.
milhões de crianças e adolescentes, 23,1 milhões têm idade de zero a seis anos, segundo
Segundo dados das estimativas do UNICEF: 600 mil crianças no Brasil, em 2000
169.590.693 habitantes. Isto faz o país ocupar o primeiro lugar, não somente em
lista dantesca. Ao Brasil se segue a Índia com 450 mil crianças, país que, em 2000,
tinha 1,013 bilhões de habitantes, depois os Estados Unidos, que possuíam, naquele ano,
300 mil crianças entre 281.421.906 habitantes, e em seguida a Tailândia que, na mesma
época, tinha 61,4 milhões de habitantes e 200 mil crianças e, nas Filipinas são 100 mil e
82.841.518 de habitantes. Os demais países de uma longa lista estão abaixo de 100 mil
Uma análise do nível dos custos dos estados associados, gastos com abuso de
criança e suas conseqüências foi feita por Robert A. Caldweel, com auxílio do Michigan
Children’s Trust Fund (Fundo de Proteção para as Crianças de Michigan). Estes custos
foram comparados com os custos que provêem prevenção de abuso de criança com
ficaram em torno de US$ 823 milhões. Estes custos incluem os associados a bebês de
baixo peso, mortalidade infantil, educação especial, serviço protetor, cuidado adotivo,
1224
em programas para estes aspectos, os quais ficaram orçados em anuais US$ 43 milhões.
(CALDWELL, 1992)
cuidado para não confundir o relatado com o absolutamente preciso, pois ocorrem
fatores imprecisos como os que envolvem os pais, fatores como a filosofia do Serviço
tratados pelo departamento, o fato de não haver clareza sobre o incidente familiar
Wilson, Thomas, Schutte, em 1983. Na realidade, a estimativa provida por tais contas
de hospital para tratamento médico de danos como resultado de abuso físico e os custos
de cuidados adicionais, como as remoções de crianças das casas onde sofreram o abuso.
Mas existem outros custos, pois as vítimas têm maior chance de dificuldades na escola,
1983. Embora nem todos os abusados externem estes problemas, ainda assim, ignorar
estes custos seria uma omissão séria da análise do custo de abuso de criança. Contudo,
deve ser tomado o cuidado para não superestimar os custos envolvidos. (CALDWELL,
1992)
maior parte das despesas com prevenção e o número de pessoas alcançadas por estas
estimativa de efetividade dela. A maioria das intervenções preventivas não são avaliadas
e, de certo modo, isso permitiria uma declaração definitiva sobre quantos exemplos de
abuso de criança foram prevenidos, de fato. Até mesmo quando programas são
dólares, como mostra Deborah Daro, em seu livro Confronting Child Abuse
tipos mais populares de abuso infantil levam a certas conseqüências. Por exemplo,
que trabalham com segmentos da população que estão em desvantagem salarial (por
de custo benefício provê. Pois é necessário levantar custos de programas para que
possam ser implementados e a responsabilidade que a sociedade tem com estas crianças
faz com que tais programas sejam logo postos em prática. No caso do estado do
Michigan, assim como outros nos Estados Unidos, tais custos são de competência dos
neles.(CALDWELL, 1992)
criança. Nos 10 anos de sua existência, o MCTF gastou mais de US$ 7 milhões em
abuso, segundo relatório do Michigan Children’s Trust Fund (Fundo de Proteção das
Daro e McCurdy, em 1991. Os mais recentes números indicam que mais de 2,5 milhões
de crianças sofreram abuso nos EUA em 1990, segundo Daro e McCurdy. Durante o
ano fiscal de 1991, havia 15.940 casos de abuso de criança no estado do Michigan,
segundo o Centro de Dados de Saúde e Bem-Estar. Cada caso representa uma família e,
dois tipos de vítimas infantis: crianças para quem abuso foi substanciado e as outras
crianças da casa. Durante 1991, havia 39.452 crianças envolvidas nos Serviços
Protetores (PS) que trabalharam com a questão direta do abuso. Neste mesmo ano,
1227
foram abusadas 26.366 destas crianças sendo vítimas de abuso ou negligência. Com a
exceção do cálculo para os custos médicos com danos dos que sofreram abuso, a maior
estado mais saudável. Então, também serão incluídos custos apropriados de prevenção
do baixo peso e de mortalidade de criança nos custos de abuso de criança. Além destes
custos, serão apresentados dados para custos associados com várias conseqüências, a
curto prazo, de abuso de criança (por exemplo, tratamento médico, serviços protetores
Bebês de baixo peso são os que pesam menos de 2.500 g., segundo o Fundo de
Defesa de Crianças, em 1990. O custo de um bebê de baixo peso está entre US$14 mil e
Tecnologia, em 1988. Durante 1989 (o mais recente ano disponível), 7,6% de todos os
que 11.634 destes bebês fossem de baixo peso. Considerando o ponto mediano da gama
de custo (isto é, US$ 22 mil), estes bebês de baixo peso despenderam US$ 255,9
são mais difíceis de calcular, pois como se mede o valor de uma vida humana? Avaliou-
se segundo a média de valor levantado em vida no estado. Em 1989, a renda per capita
no estado de Michigan era de US$ 17, 745, segundo Hoffman, em 1990. A participação
1988. Usando estes números, o residente comum de Michigan teria US$ 585,585 em
salários vitalícios. Podemos dizer, seguramente, que cada fatalidade de criança, durante
este ano, resultou em uma pessoa que não ganha acima de meio milhão de dólares, em
1992. Isto representa uma perda para a economia e por habitante, estado e renda de
No curso de toda vida, Michigan perderia US$ 26,937 por pessoa, em renda em
Em 1989, a taxa de mortalidade infantil em Michigan era de 11,1 mortes por 1.000
primeiro ano de vida. A contribuição deles para os cofres estatais teria sido de US$ 45,8
cada ano, pelos seus próprios cuidadores. O Comitê Nacional para a Prevenção de
Abuso de Criança (NCPCA) administra uma pesquisa anual para determinar o número
mortes eram diretamente atribuíveis a abuso infantil, durante 1990, segundo Daro e
hospitalização por danos sérios, como fraturas de crânio, ossos quebrados, danos
milhões. Os custos médicos totais devido a abuso de criança seriam então, anualmente,
abusadas têm algum tipo de prejuízo cognitivo, como de fala, 50% de crianças abusadas
Serviço de Proteção Total, na área de abuso de criança, foi de US$ 37,9 milhões.
Durante 1991, eles receberam mais de 100 mil relatórios de abuso de criança e
substanciou quase 16 mil casos de abuso de criança, o que envolve 39.452 crianças.
(CALDWELL, 1992)
Uma estratégia usada é a colocação destas crianças em casas adotivas. São cerca
de 7.101 crianças que ficam em cuidado adotivo, em média, por 7,68 meses, a um custo
1230
mensal de US$ 1,357 por criança. Michigan gastou US$ 74 milhões em colocação de
cuidado adotivo para crianças afetadas por abuso, durante 1990. (CALDWELL, 1992)
sério. Lewis et al., em 1989, também concluiu que 20% era um número razoável, depois
pelo menos três sistemas diferentes envolvidos com crime juvenil: a polícia, os tribunais
instalações residenciais juvenis era de 15 meses. O estado de Michigan gasta US$ 207
Durante o ano de 1970, vários estudos foram feitos para examinar a relação entre a
39.452 crianças do Michigan de casas abusivas virão a se tornar adultos que vão para o
Embora haja ampla documentação de que abuso de criança é associado com níveis
formal do sistema de saúde mental, entre vítimas de abuso. Por exemplo, um estudo
feito por Scott, em 1992, verificou que as vítimas de abuso sexual na infância têm quase
não sofrem abusos. Se as suposições sobre o uso destes serviços são corretas, o
em Michigan, mais de US$ 823 milhões foram gastos nas conseqüências, a curto prazo,
de fundos pessoais. Este dinheiro poderia ser economizado ou ser colocado em outros
intervenções para deixar a criança menos vulneráveis ao abuso. Tais programas devem
criança para que seja menos vulnerável a abuso. Programas de prevenção de abuso
sexuais que ensinam às crianças habilidades auto-protetoras são o tipo mais popular de
(US$ 324 por família, entre 1990 e 1991, pelo MCTF), seguidos do programa de
educação de pai (US$ 253 por família, entre 1990 e 1991, pelo MCTF) e intervenção
em prol da criança (prevenção de abuso sexual baseada na escola) (US$ 2,14 por
criança, entre 1987 e 1988, pelo MCTF). Estes números representam somente parte do
custo destes serviços. Os custos totais para estes programas eram de US$ 950 para
O mais detalhado estudo sobre as causas de mudanças no cérebro tem sido feito no
“incontrolável”. Se as pessoas sentem que podem fazer algo na situação, ela é menos
Psicofarmacologia do Centro. Quando a pessoa percebe que nada pode fazer para
escapar de uma ameaça, neste momento, o cérebro começa a mudar. (KRYSTAK apud
GOLEMAN, 1995)
1233
O medo que aparece na PTSD ocorre por mudanças nos circuitos límbicos que se
mudanças chaves se dão no locus cerulus, uma estrutura que regula a secreção no
gravam lembranças com uma força especial. No PTSD este sistema torna-se hiper-
que, aparentemente, não representam qualquer ameaça à vida, mas que, de algum modo,
estendem-se até o córtex. Mudanças nestes circuitos estão na base biológica dos
pituitária, que regula a liberação de CRF, o principal hormônio de tensão que o corpo
no locus ceruleus, alterando o corpo para uma emergência que, na verdade, não existe.
endorfinas para amortecer a sensação de dor. Também este sistema fica hiperativo. Este
circuito neuronal também envolve a amídala, desta vez em combinação com o córtex
como o ópio, seu parente, segundo Pitman, em 1990. Em conseqüência, surgem alguns
ou do interesse pelos sentimentos dos outros. Ocorre também uma dissociação que
traumático, além do quê eles ficam mais susceptíveis a outras traumatizações. Ocorre
que a amídala está preparada para funcionar como um alarme, porém no PTSD, ela
trauma; em terceiro, lamentar a perda que ele trouxe à pessoa e, finalmente, restabelecer
Bruce Perry e Maia Szalavitz, escreveram o livro The Boy who was raised as a
dog (O menino que foi educado como um cão). Neste livro, eles relatam vários casos de
PTSD e esta entidade nosológica só foi introduzida em psiquiatria nos anos 80. Em
2004, em uma estimativa isolada, três milhões de crianças foram abusadas, segundo
proteção à criança e, em torno de 872 mil destes casos foram confirmados. Mas o
verdadeiro número é muito superior a estimativa de três mil, visto que a maioria dos
casos nunca são reportados. Além do mais, acredita-se que 10 milhões de crianças
idade de 15 anos, perdem seus pais a cada ano. Cada ano, 800 mil crianças estão em
orfanatos e milhões mais são vítimas de desastres de automóvel. O que quer dizer que,
mais de oito milhões de crianças, na América, sofrem de sérios traumas e milhões mais
1235
SZALAVITZ, 2006)
A autora desta tese escolheu três casos deste livro por sua importância e síntese,
casos esses que retratam o que milhões de crianças passam hoje, seja pela violência, seja
pela não competência dos Estados, ou a não presteza no cuidado que precisaria ser
uma situação epidêmica. A autora vê que muitas destas jovens que têm filhos
adolescentes são da geração em que as mães saíam para trabalhar, ou seja, elas já
viveram a privação de contato e, inconscientemente, têm um filho para que a mãe, desta
vez, cuide da “criança dela”. Neste momento, a mãe já está aposentada e, se assume a
responsabilidade do neto como se fosse mãe, de certo modo, acaba por piorar a ferida da
filha e deixa o neto emocionalmente órfão, pois a relação que se estabelece com a mãe
verdadeira é de irmã mais velha implicante, enciumada daquele ser. A jovem mãe pensa
que seu filho está recebendo amor de mãe, amor este que ela própria acha que não teve,
e isto acaba por deflagrar uma situação onde acontece o abandono, seja em nome do
estudo, ou de moradia em outro estado, ou como for. Mas a história se repete: a jovem
abandona o bebê com a própria mãe, que, na maioria das vezes, pensa que assim a filha
não será prejudicada. Quando a avó está presente na mesma casa, a criança,
necessariamente, perde a mãe. Pois, enquanto mãe e filha (o) habitam o mesmo espaço,
a velha hierarquia permanece, portanto, a criança não tem experiência de ter mãe. Na
grave.
Este primeiro caso relatado em The Boy who was raised as a dog é um exemplo da
distância de entendimento que a cultura tem sobre sofrimento infantil. Quanto mais
que a criança suporta traumas melhor do que adultos, são idéias comuns vigentes, e não
necessário mais cuidado e criatividade para se conseguir que a criança revele e elabore o
trauma. O caso abaixo estava sendo passado a Perry e, a maneira como foi passado, se
Sim, deixe-me entender isto novamente, eu disse, Uma criança de três anos
foi testemunha de morte. Ela ficou sozinha com sua mãe morta, por 11 horas,
em seu apartamento. Depois foi levada para o hospital, onde trataram do
ferimento no pescoço. No hospital, os médicos recomendaram que ela fosse
levada para uma avaliação mental e tratamento. Mas, depois ela foi liberada e
colocada em um orfanato, como uma custódia do estado. Seu assistente social
não achava que ela precisava ver uma profissional de saúde mental. Assim,
apesar das recomendações médicas, ela não teve nenhuma ajuda. Por nove
meses, esta criança tem sido mudada de orfanato para orfanato, sem
psicólogo ou psiquiatra, ou seja o que for. E os detalhes da experiência da
criança nunca foram compartilhados com a família adotiva, porque ela está se
escondendo, Certo?
- Sim, eu acho que tudo é verdade. (PERRY e SZALAVITZ, 2006, p. 6)
mãe queria matá-la e ela precisava ser preparada para ir para ao tribunal depor. (PERRY
e SZALAVITZ, 2006, p. 6)
Em 1992, o fanático religioso David Koresh, da seita Davidiana, foi cercado por agentes
1237
do FBI, num demorado cerco, no Texas, que terminou em uma grande tragédia. Muitas
crianças, que já eram tratadas de modo abusivo durante a existência da seita, após a
invasão ficaram órfãs, pois quando o cerco teve fim, eram 80 mortos da seita, incluindo
B. Perry foi chamado para dar suporte às crianças sobreviventes que estavam sob
O menino que deu nome ao livro foi uma criança cuja mãe tinha 15 anos, quando
o deixou com sua mãe, permanentemente, com dois meses de idade. A avó, obesa, tinha
muitos problemas de saúde e, quando ele tinha 11 meses, faleceu, depois de ter ficado
internada por muitas semanas. O parceiro da avó tinha 60 anos e estava vivendo seu
luto, e não conseguia dar suporte para aquela criança que tanto chorava. Ele chamou um
serviço de proteção para crianças. Como não foi atendido, por total ignorância, entendeu
Assim, o bebê precisava só ser trocado e alimentado, raramente o homem falava com o
bebê. Aos dois anos, o menino tinha o diagnóstico de “encefalite estática”, o que
deteriorava-se, não era capaz de andar ou de dizer qualquer palavra. A história não foi
1238
bem colhida e ele fez testes com alimentos. Seu cérebro foi escaneado, apresentou
para sua idade. Os médicos acharam que o problema era de alguma lesão pré-natal ou
defeito genético. Embora crianças institucionalizadas, que não são estimuladas, também
tenham cabeça e cérebros pequenos, ele foi visto por muitos médicos, escaneado muitas
vezes, e escaneado duas vezes, cromossomialmente. Aos cinco anos, o menino mostrava
não ter feito nenhum progresso motor, comportamental, cognitivo ou de fala. Devido ao
pessimismo dos médicos, nunca foi submetido a uma terapia de fala, fisioterapia ou
terapia ocupacional e nenhum serviço social domiciliar foi oferecido ao idoso cuidador,
pois ele nunca tinha tido um filho ou cuidado de uma criança em toda a sua vida, além
de ter algum retardo mental. Finalmente, ele foi ter com Perry, que foi o primeiro a
escutar sua história e acabou por internar a criança para um cuidado de vários
profissionais e, duas semanas depois, ele foi encaminhado para uma família adotiva.
Esta foi a maior recuperação de severa negligência acompanhada por Perry. Seis meses
depois, a criança foi transferida do hospital para a casa dos pais adotivos. Dois anos,
depois Perry recebeu uma carta dos pais adotivos: aos oito anos, Justin começara a
SZALAVITZ, 2006, p. 6)
1999, Bruce D. Perry, em 2000 e 2002, Alan Shore, em 2002, utilizando técnicas de
Tem sido relatado que trauma sexual e abuso na infância podem ser as formas
1998. Trauma nos primeiros dois anos, como em qualquer período de vida, pode ser
infligido no indivíduo pelo ambiente físico ou interpessoal. Porém, tem sido entendido
que os estressores da capacidade social são mais prejudiciais, como descrito por Sgoifo
compreendidos e podem ser relacionados tanto para abuso em idade precoce, como
(GLASER, 2000)
Foi realizado um estudo com ratos para ver o efeito na bioquímica cerebral, diante
imune. Especificamente, ratos adultos masculinos, previamente isolados por seis horas,
sistema de resposta para tensões críticas no mamífero, foi associado com respostas
inibição de resposta. Foi feita uma revisão que examina a evidência sobre a
SCARPA, 2004)
1241
fundamentais para a memória declarativa. Esta estrutura não se torna madura antes dos
três ou quatro anos de idade. Os traumas experimentados por crianças pequenas serão
motivo pelo qual as crianças pequenas, e mesmo sobreviventes adultos (33%), não têm
(SANDERSON, 2005)
porque o sistema requer palavras para funcionar de maneira eficaz. Se uma criança é
incapaz de dar um nome a algo, como ocorre no caso do abuso sexual, fica difícil
experiência, pelo fato de ainda estar na fase pré-verbal, então, tanto a experiência, como
descreveu, em 1994. Isto pode exigir, nas terapias, uma verdadeira reprogramação para
da criança com outras pessoas. Os efeitos cognitivos se fazem notar, assim como o
O abuso sexual infantil tem sido visto como distúrbio de estresse pós-traumático
(SANDERSON, 2005)
momento da vida pode ser reencenado. Quando a ansiedade interna se combina com a
Não foram poucos os autores, como Andersen e Phelps, em 2000; Burgess et al.,
Teicher et al., em 2002, que afirmaram que o estresse intenso ativa o sistema supra-
(SANDERSON, 2005)
parte média do cerebelo, proporcionando um quadro neurobiológico que faz com que
abusos sexuais e outros, sofridos nos três primeiros anos de vida, aumentem o risco de
A exposição ao estresse grave nos três primeiros anos de vida gera efeitos
que cria condições de adaptação para que aquela criança venha a sobreviver e se
regulatório emocional seja afetado, o que pode ser responsável por efeitos de longo
Forrest, em 2001, o estresse nos três primeiros anos de vida afeta a interação entre
abuso sexual nas crianças está sendo visto cada vez mais como seguindo o modelo do
de efeitos das duas nosologias, como Benedek, em 1985; Courtois, em 1988; Danaldson
funções de vínculo, empatia, cuja regulação fica afetada. Estas e muitas outras funções
são mediadas pelas áreas fronto-límbicas do córtex e, por causa da deficiência orgânica
fornece relatos de que as crianças que sofreram abuso físico e sexual cedo apresentam
conclui que aquela tensão altera o desenvolvimento do córtex pré-frontal e impede que
Mas não somente o abuso causa isto. A simples colocação de crianças nos centros
de cuidado, durante o dia, como creches, na faixa etária precoce, tem o mesmo efeito. O
inicial de sinapses. Isto é seguido por um processo dirigido pelo meio que mantém a
energia, segundo Schore, em 1994, 1997 e 2000, e pode ser alterado, especialmente
1247
desenvolvimento, descrita por Moller e Fralde, em 1997, tem sido invocada para
exemplo as mutações e efeitos ambientais de toxinas. Alan Schore sugere o que chama
Sabe-se que a tensão do estresse causa oxidação que danifica estruturas lipídicas,
protéicas e de ADN, segundo Liu et al., em 1996, inclusive o ADN mitocondrial, como
foi observado por Bowling, Mutisua, Walker, Price, Cork e Beal, em 1993, por
Schinder, Olson, Spitzer e Montal, em 1996, e por Schore, em 1997. O estresse aumenta
7 – Dados de Psico-História
O que esta nova ciência vem ensinando abre um novo entendimento da trajetória
do ser humano. Na verdade, o que a Ciência do Início da Vida propõe é que as crianças
permaneceram não vistas. Assim, crianças eram escravas sexuais, em larga escala, no
Em antigas culturas, mesmo antes da Idade do Gelo, nas sociedades primitivas era
infanticídio realizada em Papua, da Nova Guiné, era praticada pelas próprias mães. (De
MAUSE, 1999).
Grécia ou Roma Antigas; entre árabes pré-islâmicos isso era comum; na China, na
dinastia do século XVIII, era direito do pai matar a “filha desonrada”, assim como na
Roma Antiga; em terras germânicas, até o século VIII, crianças ilegítimas eram mortas
intervenção da Igreja que proibiu as práticas de abandono e abuso sexual nas crianças,
O filicídio, ainda hoje, é praticado. Considera-se mais provável que seja um filho
primogênito, prematuro, e nos primeiros dias de vida. Overpeck et al., em 1998 e 1999,
estudando filicídio nos Estados Unidos, atribuem a esta causa 1/3 das mortes dos bebês.
2005)
nativos da América do Norte; entre Judeus, até hoje; no Antigo Egito, a castração de
meninos não era rara; na Idade Média, na Itália e, até mais tarde, os castrados usados em
1249
canto lírico até pouco mais de um século; na China; Índia; entre os Astecas, que
Grécia Antiga, onde mesmo Platão e Aristóteles advogavam tal prática em pré-púberes.
casamento entre crianças só foi proibida por lei em 1929, mas ainda se pratica. Em
muitas ilhas do Pacífico, tanto incesto materno como paterno não eram raros. Na
Europa, até o século XV, a violência sexual contra crianças não era caso para tribunais.
Hoje, entre molestados sexualmente no mundo, as cifras são de uma a cada quatro
crianças, sendo 60% meninas e 45% meninos. Ainda há milhões que são escravos ou
Até o século XVIII, em Paris, 20% a 25 % das crianças eram abandonadas, sendo
que 1/3 ocorria na classe média. Tal prática também ocorria em outras cidades
Sobre as amas de leite. Desde tempos imemoriais, mulheres rejeitavam esta forma
de intimidade e, desde muito, as amas de leite pagas existem, como já diz citação
por Dan Raphael, em 1992, viu-se que apenas em nove sociedades as mães
observar que as crianças amamentadas por suas mães eram mais saudáveis, começou a
Factory Act (Ato das Fábricas) que limitava o trabalho infantil a 12 horas por dia, e
Uma prática universal era a de enfaixar as crianças, como múmias. Isto aconteceu
imobilização em animais, duas horas por dia, é suficiente para causar-lhes lesões
cerebrais. Tal prática aumenta medo, raiva e violência. Em crianças, mantê-la atada por
2005)
No século XIV, na Europa, a criança era vista como um ser diabólico que
precisava ser adestrado para adquirir a forma humana. Nesta época, surgem os manuais
pequenos eram imobilizados, com freqüência, e isto continuou por muitos séculos.
1251
Mesmo no século XVIII, a prática dominante na Europa era o brutal espancamento. (DE
MAUSE, 2006a)
amor nos lares, e as crianças, nascidas a partir daí, eram tratadas com mais cuidado.
Houve uma queda no abandono de crianças. Por outro lado, começou-se a notar crianças
era Vitoriana, começa a falar contra a prática de castigos tão fortes. Rousseau seguiu
acompanhando esta linha, observando que as crianças que não eram atadas cresciam
mais robustas. Cadogan escreveu um artigo que era um ensaio de cuidados das crianças,
desde o nascimento até os seus três anos de vida. Apesar dos enemas terem virado uma
prática em muitos países, uma outra visão começava a surgir e Rousseau, em seus
criança tinha parte com o demônio, que era um ser essencialmente mau, e que precisava
ser purificado e posto sob rígidas condições de disciplina. Rousseau começa a dizer que
as crianças são boas, uma idéia nova a surgir no século XIX. (GRILLE, 2005)
O trabalho escravo foi erradicado pelo Factory Act (Ato das Fábricas) de 1874, na
Inglaterra, mas só foi implementado em 1880 e, mesmo assim ainda havia um milhão de
jovens, entre 10 e 15 anos, trabalhando, até 1880. Nos Estados Unidos o trabalho
genitália infantil. Muitas crianças morreram de tais práticas na Europa e nos Estado
Unidos, onde as proibições sobre masturbação só caíram nos anos 50. Claro que tanta
preocupação tinha uma contrapartida que era a prática de abuso sexual em crianças
pequenas, muito disseminadas, pois era entendido que uma criança de até cinco anos
não podia se lembrar de nada, portanto, podia ser molestada sem problemas. A
prostituição infantil, em cada grande centro europeu era comum, por exemplo, em
média, um prostíbulo tinha 60 crianças em Viena, mais de 50% das prostitutas não
educação dos filhos, escrito por Gustave Droz, na França, Monsieur, Madame et Bébé
Suprema Corte Americana declarou que a criança era uma “pessoa”, perante a
Constituição Americana, pois, até então, os pais tinham direito de proprietários sobre
documento reconhece que toda criança é livre para pensar e falar e os estados
econômica na infância. O documento também estipula que crianças não podem ser
condenadas a pena de morte ou prisão perpétua, por ofensa imputada a adulto, e isto
ocorre em alguns estados dos Estados Unidos, um dos cinco países onde este tipo de lei
O Dr. Spock, que foi, por mais de uma década, o grande orientador de diretrizes
materna era necessária, embora o leite materno, segundo ele, fosse “fraco”. Spock
orientava que não se deveria dormir junto da criança, que não fazia mal uma criança
chorar por 20 minutos, e que o medo e a dependência deveriam ser combatidos. Vínculo
não era questão discutida, e esta visão influenciou gerações, até hoje. (GRILLE, 2005)
Em 1956, surge a La Leche League (A Liga do Leite), uma organização, sem fins
Num relatório da OMS, em 2004, a instituição informa que um milhão de bebês morrem
2 – Cada povo pode ser guerreiro ou pacífico, e isto não é genético, mas tem base
ou cultura. Isto só pode ser feito através da educação das crianças. (GRILLE, 2005)
mais violenta era a cultura. Estudo feito por Prescott, também intercultural, confirmou
os mesmo achados. Esta família de fortes papéis definidos é também a que tem mais
guerra dos anos 90, foi também criada em família de rígida estrutura patriarcal, e que
casas, segundo a linhagem paterna, como casa de cômodo. As mulheres não tinham
como contendo algo do “mal” existia e baniu-se a aceitação de que qualquer criança
pudesse ser espancada, e o parto era ignorado e esperava-se que a mãe, logo após parir,
leis que proibiam o espancamento de crianças por seus pais, na Croácia. Esta história foi
levantada por uma jornalista que entrevistou famílias em 300 cidades da Yugoslávia e
levou seu material para uma psicanalista, Vera Stein Erlich, que escreveu livro Family
Cidades Yugoslavas). Uma nova geração surgiu naquele país e, em apenas uma geração,
este grupo lidou com o conflito de deposição de seu ditador de forma pacífica. Padrões
1255
2005)
Europa era a da Alemanha e lá havia uma distinta preferência por meninos. As meninas
eram maltratadas, as amas de leite ainda eram uma prática que havia sido abandonada
na França, há 200 anos, aquela geração que foi os braços e pernas de Napoleão. Na
Alemanha, um pediatra que virou conselheiro dos pais, tal como o Dr. Spock, chamava-
se Dr. Daniel Gottieb Moritz Schreber, que segundo a historiadora Maria Piers, era um
consumado sádico e foi o formador da geração “Gestapo”. Ele aconselhava não somente
a atar as crianças, mas também a amarrar-lhes nas bocas pano contendo sopa e, de
preferência, não tocá-las. Quando elas estivessem ainda maiores, ele sugeria que os pais
deveriam comer e beber algo de que a criança gostasse na frente delas, mas negar-lhes
sistematicamente, pois a privação fortalecia o caráter. Este tratado foi a Bíblia dos pais
por um bom tempo, chegou a ter 40 edições. Outro livro que teve peso foi um de
orientação pedagógica The German Mother and Her First Child (A Mãe Alemã e sua
Primeira Criança), escrito pela médica Johanna Haarer, que cultuava a obsessão por
obediência, pois as crianças eram sujas por natureza e o sistema de purificação deveria
ser estabelecido logo após o nascimento. Ela advogava que os bebês deveriam ser
separados de suas mães, tão logo nascessem, e assim, por 24 horas. Por volta da virada
do século XX, o índice de suicídio na Alemanha era três vezes maior do que no resto da
Europa e a causa mais comum era pavor de castigo dos pais. Esta geração estava
Um estudo escrito por Samuel e Perl Olinder que entrevistaram 400 indivíduos do
mesmo nível socioeconômico e cultural, que tinham, durante a guerra, posto suas vidas
em risco para ajudar famílias judias, e compararam com um grupo que, mesmo não
1256
sendo nazista, não conseguiu este altruísmo. Depois de questionários onde nada diferia,
quando bebês, nada mais distinguia estes dois grupos. Todo genocídio é conseqüência
direta de uma sociedade em guerra contra crianças. No ano 2000, o parlamento alemão
proibiu castigos corporais como forma de punição às crianças. A Alemanha é uma das
Sobre nas histórias pessoais dos ditadores. Hitler, que era diariamente espancado
por seus pais até mais de 200 vezes ao dia a ponto de entrar em coma muitas vezes,
desenvolveu uma técnica para suportar a violência, pela qual contava as pancadas ao
invés de sentir as dores. Mão Tse-Tng, outro que foi vítima de extrema brutalidade
paterna, acabou que, mais tarde, perpetuou a morte de 30 milhões de chineses. Saddam
Hussein havia sido concebido desejado, mas durante a gestação a mãe perdeu o marido
e o filho. Ela tentou suicídio e, depois tentou abortá-lo, batendo com uma porta contra a
própria barriga. Acabou por rejeitar sua criança depois de nascida e Saddam Hussein foi
criado por um tio. Voltou para a mãe com três anos, foi física e mentalmente abusado
por seu padrasto e, quando fica um pouco mais velho, volta para a casa do tio, um
O castigo corporal nas escolas permaneceu por muito tempo. Foi banido no
Uruguai, em 1876, que foi também o primeiro país da América do Sul a promulgar o
Ainda hoje, 22 estados nos Estados Unidos permitem punição corporal em escolas.
Um estudo verificou que entre 57% e 90% dos pais americanos espancam seus
perpetuação do ciclo de violência que se repete como uma imagem de espelho que,
A Suécia foi o primeiro país do mundo a ter a lei que igualou salários femininos e
masculinos. Há muito tempo este país adotou hábitos de cuidado com crianças, há 200
anos tem um dos mais baixos índices de homicídios do mundo. A escola fundamental
iniciou, em 1842, ano da mais baixa taxa de mortalidade infantil, em 1979, promulgou o
Código para Crianças, segundo o qual, elas não podem sofrer castigos físicos ou passar
por atos de humilhação. A morte de crianças por homicídio é zero, há 15 anos. Desde
1979, o crime juvenil começou a cair, assim como álcool na juventude e drogas
Outros estão em vias de colocar tal proibição: Canadá, Reino Unido, Irlanda,
Bélgica, Itália, Espanha, Suíça, Coréia, Nova Zelândia, Ilhas Fidji e Haiti. (GRILLE,
2005)
Carl Gustav Jung entendeu a importância dos primeiros anos de vida, e hoje mais
verdade este é o tempo de filhote do ser humano. Todas as espécies que habitam este
1258
planeta têm suas vidas calculadas por fatores aplicáveis, seja pelo tempo de
alguma diferença entre um cálculo ou outro, mas, no menor dos cálculos, o ser humano
deveria viver 120 anos. Ele é a única espécie que não cumpre seu ciclo biológico
natural, bem provavelmente, porque é o único que tem tal descuido para as necessidades
de seus filhotes, além de atrapalhar bastante seu modo de nascer. O tempo de filhote de
uma espécie é percebido pelo tempo que um ser é capaz de sobreviver sem ajuda dos
de catástrofes, com quatro anos de idade. No entanto, de três anos para baixo, isso não
ocorre. Então, o filhote humano é o único dos filhotes mamíferos abandonado, devido a
sociedade nunca viveu o tempo que deveria como espécie, nunca também cuidou de
seus filhotes como eles precisavam ser cuidados. Agora, a ciência alerta sobre o que se
deve fazer para ter saúde, o que necessita ser feito pelas crianças até, no mínimo, os três
primeiros anos de vida. Agora urge informar e escolher um melhor destino para a
na História. Pode-se dizer que, da década de 40 para cá, o ser humano começou a
muito vendidos, refletem um interesse cada vez maior de o cidadão comum querer
literatura sobre a criança, ainda que quase restrita ao meio científico. Não se pode deixar
de considerar que, neste momento, o ser humano está sendo capaz de descobrir sua
criança interior, está sendo capaz de visualizá-la fora. Esta tese serve ao propósito de
desde sua concepção, suas necessidades, pois ela é o alicerce da saúde física, mental e
provindo da mãe e do pai. Na verdade mãe e pai são uma díade que corresponde, na
mente da criança, a deus. Ambos têm papel importante e a quebra desta díade, antes dos
três anos, é catastrófica, lesa a própria fé na vida. Toda separação é vista pela criança
como abandono, que a leva a estabelecer um julgamento ruim a seu próprio respeito, o
A autora viu o que Jung falava sobre “a fé de ver os pais como deus” – juntos
formam a imagem de deus - e o sistema de crença que a criança define para si, em tenra
pais, o que implica em perda maior, além da perda da convivência. O modo como isto
se dá revela que ela não tem a organização de ego completa, tanto que fala de si na
terceira pessoa do singular, pois, de certo modo, está fundida aos pais, irmãos, e
também porque projeta na díade pai-mãe a figura de deus. E, se “deus” fez algo como ir
embora, é porque ela não foi boa, não é essencialmente digna de amor, afinal, deus não
pode estar errado. Se ele decidiu ir embora, ou maltratar, ou o que for de negativo
vivido pela criança, pode ser que a dissolução desta crença demore muito a se dar,
“Ser bom é ser amado pela própria mãe; como sua mãe não ama você é mau”.
Uma relação primal negativa numa fase precoce da infância causa um
distúrbio não apenas parcial mas total: uma criança expulsa da relação primal
1260
As questões de saúde da criança têm suas origens nas angústias dos pais. É
importante lembrar que tudo o que um pai e uma mãe viveram com a mesma idade pode
voltar sob a forma de sintoma. Hoje, isto fica evidente com as modernas descobertas
sobre memória celular, corporal, por Candice Pert, em 1999, que descobriu que as
compreensão de que, por exemplo, um dado traumático ocorrido em algo que um pai
escutou aos dois anos de idade, pode, na mesma época de dois anos do filho homem,
causar uma otite. Hoje a Terapia Sistêmica (HELLINGER, 2001, 2004, 2006) já
energia da criança é cinética, ela expressa no corpo o que não pode elaborar de outro
modo, seja adoecendo, seja tornado-se agitada. A agitação de uma criança, antes dos
sempre o mesmo: abandono da mãe ou do pai ou a quebra desta dupla que deveria ser
um só bloco.
Um dado importante foi que 80% das 49 tribos estudadas, nas quais cometia-se
de vida, eram precários. Tais estudos foram publicados em 1975, 1979 e 1996. Outros
mãe-filho até os dois anos e meio e este vínculo era frágil ou disfuncional em 77% das
2004)
1261
sobre a Criança. No sumário das conclusões entendia-se que era preciso haver quatro
igualitárias e pacíficas: a primeira, era que a sociedade deveria apoiar a mulher e seu
filho para o aleitamento ou permanência juntos, até que seu filho tivesse dois anos e
meio; a segunda, era que a sociedade deveria apoiar mães e pais, para que as crianças
pudessem ter todo afeto destes, no primeiro ano de vida; o terceiro tópico era que
deveriam ser eliminadas da sociedade todas as formas de causar dor a uma criança como
forma de punição, seja física ou emocional, o que começa em muitas crianças pela
Em 1956, Marcele Geber, subvencionada pelo Fundo das Nações Unidas para a
descobriu que, naquela região, os bebês e as crianças as mais precoces que já vira.
Observou 300 bebês. Eles sorriam contínua e intensamente até o quarto dia de nascidos.
relaciona-se com o outro. Suas mães haviam dado à luz sozinhas, seguravam-nos e os
tipóia, próximos ao peito. Elas dormiam com eles e os alimentavam no ritmo deles. Os
bebês ficavam acordados por um longo período, quase nunca choravam, sentiam suas
necessidades antes pela sensibilidade tátil. A mãe reagia a qualquer vontade do bebê,
que logo alcançava sua intenção. Entre seis e sete semanas, todas as 300 crianças
engatinharam, podiam sentar-se sozinhas e olhar-se por horas no espelho. Nas crianças
1262
do ocidente, esta capacidade é esperada aos seis meses. Testes sensórios motores com
resultado pleno eram alcançados pelos ugandenses entre seis e sete meses, o que nos
ocidentais são alcançados no 15° e 18° meses. Com dois dias, as crianças sentavam-se
retas, com equilíbrio na cabeça e olhando para as mães, sorridentes. Quando, na região,
mãe abandona o filho, sem aviso. Quando ele tem cerca de quatro anos é enviado para
outra aldeia, onde será criado por parentes. O choque e a depressão que sobrevêm são
tamanhos, que alguns não sobrevivem. Neste caso, a criança é preparada para ter
Só nos Estados Unidos 22 milhões de menores são cuidados, em parte do dia, pelo
menos, por pessoas que não suas mães, nem pais. Até o início da década de 1990,
mais da metade das mães com filhos menores de um ano passam boa parte do dia sem
contato com seus filhos. Sabendo hoje que o cérebro se estrutura de forma importante
no primeiro ano de vida, a partir de contato olho a olho e do vínculo com os pais, é
emocional de uma pessoa. Os estudos do NICHD apontaram para o fato de que bastam
constataram que entre 12% e 14% das crianças americanas encontram-se em situação
que promove crescimento e aprendizagem, e, entre 12% e 21% está em creche que põe
crianças entre um e dois anos, as conclusões são alarmantes: entre 35% e 40% estavam
de orientação com pais, costuma explicar que não se pode ver criança como se fosse um
ser com uma anômala capacidade de coletar, reter e propagar bactérias, pois, atrás disto,
que existe, como mostraram os filmes feitos por Bowlby, há 50 anos, é que, quando
ainda é um filhote mamífero, a criança que é privada do essencial, ou seja, sua mãe, em
desaba. Ela fica imunodeprimida. Então é preciso rever o conceito de creche como
“foco de infecção”, pois isto é o mesmo que dizer que criança é foco de infecção. A
criança vai para a creche e os fatos se repetem: ela adoece, primeiro, de doença do trato
respiratório, depois, com o passar do tempo, as infecções chegam à pele. Nos últimos 20
anos, a autora, não ouviu uma única história de criança que, antes de dois anos, tenha
ido para creche e não tenha feito este périplo de patologias nesta ordem. Alguns
adoecem com infecção intestinal e, tão graves, que morrem de infecções de repetição. É
fundamental lembrar que a criança adoece porque não há outro modo de expressão da
dor da alma senão a expressão física. Cabe ao adulto ler e não seguir julgando a criança
como os antepassados faziam, como se ela fosse portadora do mal, ou como se fosse um
adulto em miniatura. A criança expressa no corpo seu processo e dor. Se está ansiosa,
Quando a autora orienta pais em relação a não colocar seus filhos em creche,
costuma usar uma analogia. Já se sabe que a criança antes dos três anos não tem
orientação de tempo, que seu nexo afetivo primordial se dá com mãe. Ao longo do
primeiro ano de vida, ocorre uma aproximação maior com o pai, e irmãos e as outras
pessoas da família precisam ser muito presentes e voltadas para a criança para terem
uma conexão maior com ela. A conexão não se dá de maneira uniforme, ou seja, se a
criança está em sua casa, ela mantém referencial do espaço conhecido que ela
“domina”, o que é diferente do filhote exilado do seu ninho, pois a criança vive uma
gama de emoções e tem alguma memória. Então, a experiência de uma criança, que é
deixada antes de um ano, e mesmo até os três anos na creche, seria semelhante à que
passaria um adulto que fosse abduzido à revelia, para outro planeta. Ninguém e nada faz
sentido para ela: tudo o que ela sabe é que não tem mãe, não tem pai, nem irmão. É
outro mundo, onde ela está indefesa e realmente não importa quão bonita seja a creche,
este não é um mundo conhecido. Há medo real quando um filhote sai de perto da mãe,
seja pingüim ou leão ou o que for. Eles sabem que podem voltar para a mãe, que em
geral está nas cercanias, mas se está prolongadamente longe do contato visual, o animal
pode perceber, se prestar atenção. E o que podemos ver é o seguinte: quando a criança
reconhece alguém ou alguma coisa, sentimos que ela tem consciência. (JUNG, 1984, p.
407)
Num relatório feito por Claudio Violatio e Clare Russel, analisando 88 relatórios
âmbito emocional, social e de comportamento, eram atingidos por crianças cuidadas por
suas próprias mães, e não por algum outro cuidador, mesmo que familiar. Os resultados
dos meninos eram inferiores aos das meninas, em todos os âmbitos. (VERNY e
WENTRAUB, 2004)
Para formar a mente de uma criança, faz falta o modelo de outra mente, e as
crianças que estão expostas a muitos cuidadores têm mais probabilidade de acabar sem
WENTRAUB, 2004)
e, por isso, defende que até os três anos de idade elas possam usufruir da conivência da
aumentando-a para mais próxima de dois anos, isto porque já estiveram contabilizando
os prejuízos para a nação de uma geração de jovens que não sabe o que quer, que não
consegue se estruturar para deixar o lar paterno e começar a fazer seu próprio ninho;
que se coloca na vida como filhote eterno, assume fraco compromisso com o trabalho e
prefere utilizar suas energias em diversões supérfluas e, muitas vezes, daninhas. Para os
Estados, são altos os custos dos seguros desempregos de jovens que, na verdade, não se
cedo, por acidente ou fraude. Este fenômeno se vem tornando comum em vários países
e tem sido motivo de estudos sociológicos. Hoje as raízes deste comportamento são
muito bem mapeadas, como o que está documentado nesta tese. Os Estados precisam
um cientista que tenha contabilizado as lágrimas de pessoas que perdem filhos jovens
para droga ou criminalidade, ou dos jovens que não conseguem encontrar um lugar no
mundo para eles, e isto é hoje cada vez mais comum como queixa em consultório: os
pais que se queixam de que seus filhos estão deixando, distraidamente, esvaírem-se as
próprias vidas.
Hoje há pais que já sabem quão rápido correm os anos e quão rapidamente se
mesmo família de filhos adultos, pois estes filhos, “puer eternos”, não podem ou não
conseguem enxergar. (VON FRANZ, 1992) Portanto, o custo disto tudo justifica,
Tchecoslováquia 69%, em 28 semanas; e a Itália cobre 80% do salário por cinco meses.
Nos Estados Unidos, nos últimos 20 anos, tem aumentado a licença maternidade
paga e não paga. Entre 1981 e 1985 e até o período de 1991 a 1995, a proporção de
mães que usaram a licença maternidade paga foi de 32% para 36%, e, no mesmo
período, as que usaram a licença não paga variou de 30% a 37%. As mães que usam
licença maternidade paga costumam ser mais velhas e com grau de escolaridade maior.
Naquele país, em 1900, 19% das mulheres trabalhavam fora; em 2007, 65% de todas as
1267
mulheres trabalham fora. E 52,9%, em 2004, eram as que tinham filho com menos de
seis meses. A proposta foi encaminhada por Busato para análise de quatro comissões da
(OAB, 2005)
organizar e, depois do nascimento, o cérebro não pára de fabricar sinapses até os três
anos. Até os três anos o cérebro do bebê terá formado bilhões de sinapses, duas vezes
mais que um adulto, no mesmo período. Uma única célula pode conectar-se a 15.000
outras. Quanto mais sinapses possuir uma pessoa, mas complexas e variadas serão suas
redes neuronais e, deste modo, mais brilhante e criativa será. (VERNY e WENTRAUB,
2004)
cérebro. Tal tarefa usa 70% da energia do metabolismo basal no primeiro ano de vida,
quando o cérebro atinge 70% da sua massa final, ganhando 600 gramas, sendo que, ao
continua, só que mais lento, e no terceiro ano o crescimento prossegue dando ao cérebro
90% do peso que terá na vida adulta. O que faz o cérebro crescer é objeto de estudo na
à capacidade de adequação emocional, são regiões que muito expressivamente têm seu
desenvolvimento aumentado pela relação mãe-filho nos três primeiros anos de vida.
Sabe-se que o sentimento de vergonha, experimentado com freqüência por criança por
WENTRAUB, 2004)
Uma criança de menos de três anos está formando seus sistemas de convicção para
o resto de suas vidas. Primeiro, as certezas sobre si mesmas, depois, em sua visão de
mundo. Portanto, ao educarem, os pais devem ter em mente que é neste tempo que
valores estão sendo transmitidos para a criança. E entender como é que ela aprende. O
grito, a falta de paciência e a violência, como já foi visto, causam apenas destruição de
um sistema nervoso. Por outro lado, deixar uma criança fazer o que bem lhe apraz
porque não se quer dizer “não”, é outro grave erro, pois não é natural no mundo a não
ocorrência de frustração. Então, o modo de fazer, envolve a consciência dos pais, e seus
maneira de a criança aprender é por animismo, que é sua capacidade natural. Por
exemplo: se uma mãe vê sua criança jogando um objeto no chão, ela pode recolher,
aconchegar o objeto ao colo dela, e falar, como se fosse o objeto ferido. A criança em
aprende, com aquele objeto específico e com muitos outros, que deve ter cuidado com
linguagens naturais da criança antes dos três anos. Neste caso, o que a autora está
citando é apenas um exemplo elucidativo de educação pela via do animismo, não tem
1269
intenção de ser manual de como fazer. Isto é justo o que não existe. Cada criança e seus
pais são um complexo. Os pais, desde antes da concepção, já devem ter discutidos os
valores que querem que seus filhos desenvolvam. É na realidade do cotidiano que se
vão criar situações, que levarão a criatividade dos pais a saber qual é o melhor método
A voz alta é um expediente, como diz Jung, que tira o ego de cena e então já são
os arquétipos que dominam: definitivamente isto não é consciência. A voz baixa, o olho
sensibilidade daquela criança específica, funcionam muito bem, pois isto é cuidado e
Uma outra questão é sobre o sacrifício pelo filho. Os casais que conceberem e
planejarem ter um filho, deverão estar conscientes dos sacrifícios financeiros que
precisarão fazer, enquanto os Estados não criam as licenças devidas; pode levar alguns
anos, portanto, para que um casal esteja em condições financeiras e de maturidade para
porta seria a própria consciência, mas a chave, são as escolhas. Não há exercício de
consciência sem escolhas. Então, se um casal acha que ainda precisa viver viagens e
mais outros planos, que os viva e os esgote, e, quando escolher ter um filho, saiba que
haverá neste grande projeto – Vida – muita demanda de tempo, criatividade, energia e
dinheiro. E Vida vale a pena, sobretudo quando tenham sido feitas as melhores
escolhas. Jovens na adolescência não precisam ser problemáticos. O que vem à tona são
adolescente que agride verbal e fisicamente. O que se droga, o que se alcooliza, o que se
envolve em delito é sempre uma criança ferida explodindo. Os que não se cansam de
1270
dizer que não se sentem compreendidos estão desconectados, em geral, com a percepção
de seus pais sobre eles mesmos durante a primeira infância. É uma questão de projeto:
uma vez escolhido o projeto, que ele seja motivante, para ser vivido. Com tudo o que se
sabe hoje, educar é uma grande escolha que implica em postergar as coisas ou desistir
delas.
Quando uma criança nasce, ela traz consigo uma bagagem arquetípica que recebeu
no psiquismo herdado, assim como recebeu a herança de traços físicos. Ela pode ter
uma lente que a faça olhar os pais de um modo particular, e isto é observável entre
vários irmãos, também o modo de percepção dos mesmos pais é diferente, e assim
poderá ocorrer uma integração específica, de mútua ativação arquetípica, a que os pais
devem estar atentos. (JUNG, 1984, 2000, 1981b, 1964, HARDING, 1975, KNOX,
nascem, fez por milhares de anos, na Índia, com que os pais procurassem astrólogos
para que pudessem orientá-los sobre como melhor educar aquela criança, com tais
particularidades. Hoje muitos pais buscam o mesmo recurso e acoplam a esta prática o
os pais devem pensar em que arquétipo estarão ativando nos filhos e isto pode ser
mitologia.
Se, por causa de sua própria insegurança, os pais não conseguem aceitar
suficientemente a natureza básica de seu filho, então a personalidade da
criança será então apartada do cerne de seu ser e se sentirá forçada a
abandonar seu padrão natural de desenvolvimento. (ABRAMS, 1994, p.189)
Os quadros abaixo mostram como é percebida a psique da criança e como ela olha
os pais por uma lente, e estimula neles comportamentos inconscientes, e isto à mercê de
linguagem de arquétipos para arquétipos entre pais e filhos e isto pode ser menos
das do adulto, cujos dois outros quadros representativos seguem abaixo. O primeiro,
Superior. O segundo esquema demonstra o estado em que uma pessoa fica com seu ego
Figura 119: Esquema 1(LUZES, 2003) Figura 120: Esquema 2 (LUZES, 2003)
Figura 121: Esquema 3 (LUZES, 2003) Figura 122: Esquema 4 (LUZES, 2003)
1272
da Grande-Mãe que tem seus dois aspectos: o nutridor e o transformador. Uma mulher,
na sua relação pessoal com seu filho, pode ter dentro de si um arquétipo de figura da
grande Mãe ou então mais inclinada para a atitude de eterna nutridora, ou eterna
transformadora. A nutridora é aquela que vai lidar muito bem com o filho bebê, dele
dependente, mas tem dificuldade de deixá-lo ser independente, podendo viver cada ciclo
de transformação do filho como uma perda para si. Já a mulher que tem constelado em
consegue achar mais agradável a relação mãe filho, quando este é adolescente. Claro
está que há culturas cujo arquétipo de grande-mãe constelado vai para um ou outro
modo. Há as figuras dos panteões míticos que encarnam um ou outro modo de relação.
Da mesma forma que existe a questão da grande mãe destruidora, também bastante
exemplificado nas mitologias. Na vida pessoal, se uma mulher tem constelado em si,
olha para o aspecto independência como a meta constante a ser atingida pelo filho pode
tempo de criação, caracterizado pelo que Jung chama de brincar como atividade séria,
comparada à que o adulto vive quando medita: a regularidade desta atividade permite o
criança o tempo em que ela fica “sem fazer nada”. Naquele momento ela está fazendo
1273
A criança que não tem este espaço, tem antes, uma agenda cheia, apresentará problemas
ficar, especialmente até os três anos, livre fisicamente, para o seu desenvolvimento
Portanto, a mãe que tem uma meta determinada de transformar, implementar mudanças,
criar agendas para seus filhos pequenos, está, sem perceber, tomada pelo arquétipo da
grande mãe transformadora que, no momento de a criança crescer, está fora do tempo e
por atrapalhar o desenvolvimento de seus filhos e justo a cognição que tanto almeja ver
desenvolvida será a que ficará prejudicada. A criança pequena, com agenda cheia de
tarefas, converte-se no adulto incapaz de lidar com mínimos compromissos. Por toda a
natureza um fato se repete: quando um animal vai desenvolver uma habilidade, ele faz,
antes, um recuo para poder avançar, por simples mecanismo de contenção de energia,
para gerar propulsão, bem descrito por Jung, em uma das obras mais importantes como
criança vai crescer alguns centímetros ou quando lhe vão aparecer dentes, ela dias antes
pode ficar muito mais necessitada de colo, chorando, precisando estar grudada na mãe
por todo o tempo. E a mulher que está tomada pela grande-mãe transformadora vai
preocupar-se muito com estas “regressões” e ver aí um episódio de “virose”, que muitas
HARDING, 1975)
É preciso lembrar que as mães têm uma enorme capacidade curativa. Uma prática
sugerida por Aïvanhov, o pedagogo que nos anos 30 formulou a ciência pré-natal e foi o
estudos, é que mães e pais acariciem a cabeça de seus filhos enquanto eles dormem e
lhes digam o quanto são amados e lhes desejem os melhores valores, pois isto atingiria a
saúde. Do mesmo modo, ele afirmava que, quando uma mãe ou pai vão repreender um
filho não pode existir raiva. Eles devem olhar nos olhos do filho, e só falar quando não
estiverem possuídos pela raiva. Pouca coisa podem ser tão destrutiva quanto um olhar
de raiva vindo de pai ou mãe, penetrando na alma da criança. Isto não educa, isto fere.
(AЇVANHOV, 1996) Claro que existe também o poder da prece, nunca descartável. O
diálogo quando a criança está acordada também pode ser fonte de auxílio, e a mãe falar
de modo claro, olhando nos olhos da criança. Isto também foi amplamente confirmado
É importante prestar atenção para as palavras e o peso que elas têm para os
pequeninos. Mais tarde eles podem povoar os consultórios terapêuticos para ajudá-los a
Por outro lado, a mãe que pretende nutrir eternamente o filho, tem dificuldade de
comemorar os pequenos ganhos de cada dia, pois vê como perdas do poder que tem
sobre a criança. Aqui, esta palavra é chave para o desenvolvimento da criança, poder ou
amor. Na verdade, no plano das relações, estes dois substantivos são antagônicos. Ou
ações são pautadas por um, e aí já se pode esperar que são inspiradas por arquétipos, ou
por amor, que traz a marca da consciência. A criança que nota que a mãe não a quer
adulta, vive um conflito tenso ante seu próprio desenvolvimento. (JUNG, 2000,
HARDING, 1975)
como se ela fosse por si responsável por todas as doenças que lhe acometem, como por
instituições como creches e ainda podem ser vistas pessoas que abusam
passado era feito. Deste modo, quando uma criança se sente angustiada por privação
materna, ela tem pouco recurso, como já foi demonstrado, para agir, então esta angústia
migra para o plano onde a energia psíquica corre melhor, que é o corpo. É para lá que
vai toda a tensão, todo o desespero e desamparo, e é a isto que se dá nome e que se
medica. Na verdade, em sua clínica, a autora tem visto casos de agitação infantil
procura uma Pedagogia Curativa ou Waldorf, que olha a criança em muitas dimensões e
que tem conhecimento da complexidade do que pode ser o psiquismo infantil – a única
pedagogia que dá conta de trabalhar a integralidade criativa do ser humano, sem perder
1276
a noção de praticidade, vida em conjunto, conexão. A autora entende que uma escola
que não tem espaço para ensinar a criança a brincar (que é sua prática dominante do
refletir), não prepara para uma vida interior saudável. A autora, assim como
profissionais de psicologia pré e perinatal, nota o mesmo fato no Brasil e fora dele, que
é: os pais que concebem conscientemente, e também assim vão vivendo cada passo do
mundo, simplesmente porque querem que seus filhos desenvolvam seu potencial pleno,
e é uma escola voltada para a educação integral do ser que faz toda a diferença.
da mãe é quem ajuda a constelar o complexo. Segundo ele, a mãe desempenha sempre
um papel ativo. Segundo Jung, em 1928: “Os pais devem sempre estar cientes do fato
de que eles são a principal causa da neurose dos filhos”. (ABRAMS, 1994, p.188) Nos
casos de neuroses que atingem a mais tenra infância, a mãe desempenha papel ativo na
consegue viver sua dimensão de procriação. Acaba depois por tornar-se dependente dos
próprios filhos, cuja vida é a única razão da própria existência. Existe um lado amoroso,
erótico ausente na mãe e isto pode fazer com que a filha fique presa incestuosamente na
relação com o pai. Muitas vezes, as filhas procuram relações com homens casados,
repetindo uma busca que não é pela felicidade, mas pela necessidade de transtornar um
casamento. Quando consegue a relação, já não se interessa mais por ela. De todo modo,
continuamente um antagonismo à mãe. Deste modo se define, sabendo bem o que não
quer, mas não tem muita idéia do seu próprio destino. Tanto o eros não vai bem, como o
materno também não. E isto pode desencadear problemas tanto durante a gravidez,
como a própria vida menstrual. Podem se dirigir para o intelecto, que não é identificado
como o universo da mãe, e ter problemas com coisas do mundo material (matéria –
mater). A inteligência dirige as portadoras de tal complexo que são mais propensas ao
ligação com a mãe, tendo-a como única na vida. As outras são descartáveis.
Em regra, a vida que os pais podiam ter vivido, mas que foi impedida por
motivos artificiais, é herdada pelos filhos, sob uma forma oposta. Isto
significa que os filhos são forçados inconscientemente a tomar um rumo na
vida que compense o que os pais não realizaram na própria vida. (JUNG,
1981b, p. 196)
O assunto é vasto, pois existem, entre estes tipos, nuances que vão envolver o
modo como esta menina um dia será mãe e este homem será pai. Portanto, o auto-
importantes que podem causar problemas enormes. Outro aspecto que é preciso
Um exemplo disto aconteceu no Brasil, em Recife num projeto que atendeu a uma
Tadeu, Recife em Pernambuco, coordenado pela assistente social Mavis Cerqueira, que
Filhas de Gaia. O Centro Infantil foi criado pela Associação de Moradores da Ilha de
Santa Terezinha, uma favela próxima do centro de Recife, para tentar reverter o alto
de uma comunidade com cerca de 600 casas e mais de 4.800 moradores. Ela iniciou
suas atividades em abril de 1990 com recursos de ONG’s Européias. Apesar dos
apresentavam doenças recorrentes como asma, diarréia, pneumonia, etc. Este quadro
levou Mavis Cerqueira a procurar medidas complementares que pudessem alterar este
1991 uma diminuição significativa destas doenças recorrentes. No final de 1991, foi
melhor a desnutrição e percebeu que ela era muito mais que uma doença da fome, era
desnutrição era uma ausência não somente de alimentos, mas também de afeto,
ser em todos os seus corpos (físico, emocional, mental e espiritual), levou-a a considerar
em todos os níveis. Ao entrevistar suas mães em 1993, já com este novo foco,
das crianças se desnutriram antes dos dois anos e meio. (uma faixa etária onde a
crianças já nasceram desnutridas. 63,3 % das mães admitiram que tentaram aborto até o
quinto mês sem sucesso. Entre estas estão as de quadros de desnutrição mais grave ou
informações: 64% não queriam o filho, 35% não fizeram o pré-natal, 24% foram recém
nascidos prematuros. Mais da metade delas fumou e usou bebida alcoólica durante a
gravidez. Diante deste perfil, Mavis ampliou sua visão da desnutrição. Começou a
na vida e ausência de amor, que estavam na base da história de vida de cada uma delas
como tão importantes quanto seus sintomas físicos, para sua recuperação. Foi quando
então começaram a utilizar os florais com uma nova abordagem, buscando a nutrição,
amor e proteção da Grande Mãe para refazer o tecido básico da vida e reavivar o desejo
das crianças. Em fevereiro de 1995 começaram a utilizar os Florais Filhas de Gaia, que
se tornaram a base dos compostos utilizados com as crianças, exatamente por trazerem
a todas as crianças, e que eram ministradas quatro gotas quatro vezes ao dia e em spray
crianças passaram a receber, fórmulas florais idênticas que eram definidas para
pequenos grupos segundo suas faixas etárias. Em 1997 e 1998 utilizaram-se somente as
fórmulas compostas para os grupos, segundo suas faixas etárias. No período de 1994/98
foi notável o ganho de peso das crianças e seu desenvolvimento psicomotor ficou mais
dados:
Assim, constatou-se também o efeito preventivo dos florais. Houve uma redução
Sorriso: Para dissolver a dor gerada pelo abandono ou rejeição. Borboleta: para
habilidade de criar vínculos amorosos e nutridores, necessário para que estas pudessem
exercer com maior qualidade seu papel de mães substitutas. No final de 1998, devido à
falta de recursos oficiais, o Centro Infantil encerrou suas atividades mais cedo. No
início de 1999, Mavis foi à Europa tentar conseguir novos recursos para dar
seus pais mudaram não apenas de modo de vida, mas inclusive de lugar de habitação
para um lugar melhor, e deixou de existir aquele grupo de pessoas como habitantes de
Muitos são os recursos hoje disponíveis para limpar matrizes interiores com
parto, primeira infância com a vantagem de poder tratar mãe e filho, em uma mesma
No adulto está oculta uma criança eterna, algo ainda em formação e que jamais
cada vez mais onipresente, aparelho de TV. Em estudos realizados nos Estados Unidos
contabilizou-se que, em média, uma criança chega aos cinco anos já tendo assistido a
seis mil horas de televisão. Ao terminar o ensino médio, um adolescente terá sido
exposto a 18 mil assassinatos e 800 suicídios a cada ano. A criança americana assiste,
em média, a 12 mil atos de violência, 14 mil referências a sexo, e mil violações. Quando
tiverem chegado aos 70 anos, terão passado sete anos de sua vida na frente da TV, além
que crimes violentos são marcados por uma capacidade limitada para a fantasia, ao
mesmo tempo em que são conectados com material de TV. (VERNY e WENTRAUB,
2004)
agregava. Possivelmente, esta é uma das muitas dimensões da descoberta do fogo, como
1283
do cérebro de uma criança; diante da TV, não há o que imaginar, a imagem é pronta, os
formação de valores que precisam ser transmitidos as seus filhos, as redes de TV não
podem ser “responsáveis” por decidir por quais valores seus filhos serão guiados.
São os pais que precisam dar as linhas de orientação para os filhos. Delegar as
Os pais não devem cuidar apenas das necessidades básicas e primárias. A eles também é
a criança, mas sim o adulto quem pode atingir a personalidade como o fruto
amadurecido pelo esforço da vida orientada para esse fim.” (JUNG, 1981, p. 177)
artísticas, e o diálogo, e abandonem o uso mecânico da TV. Ela tem falado com pais,
orientando-os para ter atenção com um processo que vem ocorrendo, especialmente nos
últimos cinco anos, que ela nomeou de “síndrome do escravo feliz”. Descreve a
1284
seguinte situação: pai ou mãe saem de casa às sete ou 8 da manhã e pouco vêem o filho.
Em muitos casos, as conduções contratadas é que levam as crianças para a escola. Por
outro lado, estes pais trabalham sobre grandes tensões de prazos e fazem parte de
para que seus filhos não os perturbem. Nestas famílias não há refeições à mesa, nenhum
ritual de aconchego. No fim de semana, estes pais enviam os filhos para casa dos avós,
pois estão exaustos e as crianças “não dão sossego”. No entanto, ele e ela recebem
novo, uma TV nova, um bom carro (para, dominantemente, levá-los ao trabalho) e mais
máquinas eletrônicas etc. O resto do dinheiro é para pagar a creche e toda sorte de
terapias para a criança que fica com uma agenda cheia de atividades, pois os pais
escolhem escolas de perfil competitivo, na certeza de que, deste modo, seus filhos serão
vencedores como eles, os “escravos felizes”, que a toda hora recebem convites das
empresas para viajar, embora o tempo seja curto para apreciar. Mal sabem eles que tais
viagens são vividas, pelas crianças pequenas, como abandono. A angústia na espera do
aeroporto faz lembrar os filhos e, aí entram nas lojas com brinquedos muito pouco
educativos que compram o consolo dos pais. Na volta da viagem, os filhos estão
distantes, esquivos. O tempo passa e a empresa oferece máquinas que mantêm este
situação. No entanto, ele ou ela se sente “prestigiado”, enquanto seus filhos adoecem
numa estranha orfandade. Um dia esses pais descobrem que não existem mais crianças
desagradável de adolescência, que vem a ser o primeiro de uma série. Um outro dia vem
a depressão como resultado da fraca vida interior, que ainda não sabe comunicar-se
não usufruiu nada com os filhos, nem os viu crescerem, ainda que morando na mesma
casa. Um dia mais adiante, às vezes por um drama, às vezes por uma tragédia, eles
descobrem que a máscara cai e que, atrás do “escravo feliz”, está uma vida vazia. A
autora, conversando com pessoas aposentadas com este histórico de vida, observou que
“escravo feliz” não pode deixar de acordar no primeiro choro do filho sem partilha, na
robotizados, que usam o coração como bússolas e não esfarinham suas vidas e a dos
seus filhos.
disseram que os pais passavam muito pouco tempo com eles. (HONORÉ, 2005)
anos sua formação pré-escolar e o aprendizado formal aos sete anos. E este país se tem
Rudolf Steiner se opunha à alfabetização antes dos sete anos. Segundo ele, as crianças
matérias que fazem os alunos roboticamente irem de um lugar para outro na escola, sem
conexão com um sentido fluente, de fato. Hoje existem mais de 800 escolas Steiner no
mundo, e outras novas estão sendo abertas, mais e mais. Durante estes 80 anos de
1286
ensino, com eficiência comprovada. A educação é vital, a procura cada vez maior por
escolas Steiner no mundo reflete uma evolução, pois segundo Roland Meighan,
sobre a educação, começam também a fazer perguntas sobre tudo mais – política, meio
Depois que a criança completa os três anos, os pais precisam continuar atentos aos
valores que querem para seus filhos e isto é determinante para a escolha da escola onde
vão matricular os filhos. Para isto, antes de olhar fisicamente uma escola, é interessante
conhecer a linha pedagógica que esta segue, pois ela pressupõe uma cosmovisão. A autora
fará um brevíssimo sumário das mais conhecidas linhas existentes, pois já externou que, na
verdade, só entende uma pedagogia para prover uma educação integral. Porém, ela entende
também que as pessoas devem buscar escolhas, que reflitam os valores de suas aspirações.
não se fechem em teorias únicas, até porque o conhecimento se constrói todos os dias.
Pode se ver que existem quatro correntes pedagógicas enunciadas por Allet em 1998:
1 – A corrente magistro-centrista, que tem por finalidade a transmissão, pelo professor, de um saber
constituído;
2 – A corrente puero-centrista, que tem por finalidade ‘o desenvolvimento, a formação e o desabrochar do
aluno-pessoa’;
3 – A corrente sociocentrista, que ‘ tem por finalidade formar um homem social’, ‘membro da comunidade e
sujeito social’;
4 – A corrente tecnocentrista, que ‘tem por finalidade adaptar o aluno à sociedade técnica e industrial’
(LIBÂNO et al. 2005, p.153)
Formação do Símbolo na Criança afirma: “a criança não reflete”, afora isto a genética
em que se baseou a maior parte do seu arcabouço teórico ruiu, hoje, com as descobertas
da Nova Biologia. Assim como também ruiu a visão de psicologia que não emprestava
valor ao conhecimento antes dos dois anos e meio. Além disto, as inúmeras pesquisas
entendido como meio físico, tem na vida, grande peso. Na verdade, a relação entre
dominante no mundo – ou ela, ou algo que dela derive, como foi o caso da pedagogia
que deve haver materiais pedagógicos específicos para crianças entre seis e 11 anos.
Homem, Para Educar o Potencial Humano e O que você precisa Saber sobre Seu Filho.
(PINTO, 2005d)
1288
a abrir uma editora. Em 1922, acontece a Criação da União das Repúblicas Socialistas
Moscou e, no mesmo ano, casa-se, e tem duas filhas. Em 1925, escreve sobre Psicologia
(PINTO, 2005c) Vygotsky buscava resposta para três questões fundamentais: primeiro,
compreender o ser humano e seu ambiente físico e social; segundo, identificar as novas
Outro autor, Gardner, tenta uma aproximação pedagógica mais voltada para o ser,
mas consegue não usar a palavra “sentimento” em toda a sua obra, lida pela autora. Ele
Paulo Freire nasceu em 1921, e estuda Direito. Em 1947, passa a lecionar no Setor
1968, escreve A Pedagogia do Oprimido. Em 1969, vai viver nos Estados Unidos onde
dimensão social tem forte matiz na pedagogia de Freire. (PINTO, 2005e) Por 30 anos
O educador deve sempre ter em mente que pouco adianta falar e dar ordens: o
função da emoção, Wallon defende que as emoções são reações organizadas e que se
exercem sob o comando do sistema nervoso central e que é na ação sobre o meio
humano, e não sobre o meio físico, que deve ser buscado o significado das emoções.
Rudof Steiner entendia que o professor moderno deveria ter, como fundamento do
Jean Paul, escritor, escreveu: “Nos três primeiros anos o homem aprende muito
mais para a vida do que nos três anos acadêmicos” (STEINER, 2005, p. 10)
1291
A criança começa a andar por volta de um ano, a falar por volta de dois anos, e a
pensar por volta de três anos. Nesta mesma seqüência, diz Steiner (2005), há uma certa
100% de substantivos, entre 1,8 anos: 78% de substantivos, e 22% de adjetivos, e aos 1,11
memória está formada e é a partir daí que se dá um continuum para as experiências diárias.
(KÖNIG, 2002)
A criança percebe a cor complementar e reage a ela. Assim, se uma criança está
agitada e for exposta à cor vermelha, ela produz intimamente a imagem complementar
verde. E a produção desta cor tem efeito calmante. (STEINER, 1996, 1992)
Se alguém quer educar, que primeiro seja educado. (JUNG, 1981b, p. 174)
Na pedagogia e no ensino futuro, Steiner dizia que se deveria dar ênfase ao cultivo
da vontade e da vida emocional. Mesmo para aqueles que não cogitam uma reforma do
CLÖCKER, 1993)
escola todas as atividades devem estar bem estruturadas na direção de pensar, sentir e
criança dentro do seu contexto familiar. A atividade criativa e constante, porém rítmica,
O que a autora vem percebendo nestes anos é que os pais que tiveram filhos com
estas cinco condições de que se fala na tese, não pensam em colocar os filhos numa
escola que não dará seguimento a este trabalho que fizeram com seus filhos. Deste
modo, a pedagogia que mais se expande hoje no mundo consciente é a Waldorf, pois é
As crianças que irradiam felicidade são também líderes natos para as outras
A criança que necessita de proteção de forças malignas foi algo que se verificou
em muitas culturas.
duas tribos na Nova Guiné: os Arapesh e os Mundugumor, sendo os primeiros uma tribo
marcadamente terna. Ela descreve que eles têm uma atividade sexual diferenciada,
entendendo dois modos de sexo: o que é para divertimento e o que é para procriação.
Assim sendo, quando há intenção de procriar, a atividade sexual passa a ser intensa,
pois eles entendem que no primeiro momento o feto é formado pelo sangue da mãe e o
a gravidez, diz-se então que a criança “está terminada, isto é, um ovo perfeito, e agora
A mulher que deseja conceber deve ser tão passiva quanto possível” (MEAD, 1979, p.
56) Desde então fica interditada toda relação sexual pois é entendido que a criança
precisa dormir tranquilamente, podendo alimentar-se com a comida que lhe faz bem.
Isto implica também várias restrições dietéticas, que poderiam afetar ou o bebê ou o
trabalho de parto. O enjôo matinal é desconhecido por esta tribo. (MEAD, 1979)
No momento do parto, o pai não pode estar presente. Depois ele se travará
primeiros meses até as crianças darem, seus primeiros passos. A mãe a amamenta até
três ou quatro anos. Mesmo que o pai tenha outra esposa, a atividade sexual é
sexual é recomeçada, o pai pode dormir com outra esposa se quiser, não é mais
necessário permanecer dormindo com a esposa e a criança. Eles acreditam que não é
bom nascerem crianças com idade próxima, pois a mãe é sacrificada e as crianças
dieta, para a criança ter um lugar onde possa estar para combater o medo ou a dor. O pai
cuida bastante do bebê, tanto cuidados higiênicos, quanto de alimentação e é com ela
A educação da criança Arapesh faz com que ela tenha comportamentos como
competitiva e receptiva, cordial, dócil e confiante” (MEAD, 1979, p. 63). Nos seus
primeiros anos a criança nunca está longe dos braços de alguém fica, em geral, com a
mãe, colocada numa cestinha que ela apóia na testa, de acordo com o temperamento da
criança é visto como algo urgente de ser acolhido, outras mulheres podem dar-lhe de
mamar, e ela dorme em contato íntimo com a mãe, nunca é deixada sozinha.
Com o tempo outras brincadeiras com outras crianças passam a interessar mais do
que o relaxado aleitamento. Ela desenvolve relação afetiva com animais e pessoas. Os
pais vão apresentando os seres à criança com voz calma e sempre assegurando que se
trata de um alimento bom, de um animal bom, de uma pessoa boa, a mãe explica à
1295
criança que outra mulher é “outra mãe”, e a criança pode entender que uma outra
mulher de outro grupo racial, que assim lhe foi apresentada, é também alguém em quem
pode confiar. “Não há ninguém a quem não chame tio, irmão ou primo, ou nomes
semelhantes para as mulheres. E como estes termos são empregados em larga extensão e
com total indiferença quanto às gerações, até mesmo as gradações de idade nelas
É uma sociedade que não conhece violência sexual, onde há um forte senso de
amizade entre os pares, a ponto de ser difícil saber exatamente quem são os parentes.
(MEAD, 1979)
Por outro lado, na tribo dos Mundugumor, quando a mulher conta ao esposo que
está grávida ele fica insatisfeito. Automaticamente ele fica excluído de atividades de
que gostava, o que agrava o afastamento entre marido e esposa. As relações sexuais são
nesta região é superior à de qualquer outra na Nova Guiné. A adoção é prática freqüente
nestes casos. E a adoção nesta tribo pode ocorrer por mulheres que nunca conceberam, e
se alimentam de água de coco e levam o bebê ao seio, sem muita delonga quando ocorre
a descida do leite. A privação sexual é vivida pela mulher como odiosa. Fica
constantemente preocupada que ele tome outra mulher por esposa durante o período da
efetivamente começou novo relacionamento, quando a criança nasce a mãe estará ainda
criança é motivo de mobilização de todos por contato físico com a criança, e calor, aqui,
as pessoas sem sequer olhar para elas, arranham os cestos onde estão, e o som
desagradável acaba sendo entendido pelo bebê, como resposta possível a seu choro, e só
tem nada de afeto e carícia corporal mútuas que se observam entre os Arapesh; não há
cesto. Assim sendo, as crianças desenvolvem uma atitude de luta para mamar,
Esta atitude para com os filhos condiz com o individualismo desumano, com
peculiar sexualidade agressiva, com a hostilidade intra-sexual dos
Mundugumor. Um sistema que tornasse o filho valioso como herdeiro, como
extensão da sua própria personalidade do pai, poderia combinar o tipo de
personalidade do Mundugumor com um interesse na paternidade, mas sob o
sistema de casamento Mundugumor, um homem não tem herdeiro, apenas
filhos que são rivais hostis por definição e filhas que, por mais que as
defenda, lhe serão finalmente arrebatadas. Para o homem a única esperança
de força e prestígio reside no número de esposas, que hão de trabalhar para
ele e dar-lhe os meios de adquirir poder. (MEAD, 1979, p. 190-191).
A primeira criança é a mais mal recebida. Com o tempo, outros filhos vão sendo
melhor aceitos. E uma vez nascido um menino, é imperioso que nasça uma menina para
ocorre quando a mãe avalia real necessidade de alimento; por dor ou medo isto não
ocorre. Logo que aprende a andar a criança é largada a maior parte do tempo: não lhe é
permitido andar longe, por medo de afogamento, uma vez que onde o afogamento
(MEAD, 1979)
1297
Ora, um traço notável das sociedades que praticam o canibalismo parece ser
que, com relação a esse uso, as mulheres ocupam sempre posição fortemente
marcada... Em face do canibalismo, por conseguinte, a posição atribuída às
mulheres raramente é neutra. Quando a sociedade não as exclui, dir-se-ia que
se espera das mulheres (se nos permitem a expressão) que “tomem parte”. A
própria mitologia faz freqüentemente remontar a uma mulher a origem
primeira dos costumes canibais. (LÉVI-STRAUSS, 1986, p. 143-144)
defronta com um urso polar enfurecido com a mesma frieza e serenidade com que se
resposta homeostática emocional não implica que estas respostas sejam estereotipadas;
pelo contrário, a homeostase implica uma força vital dinâmica. Do ponto de vista
Todavia, é incomum que o bebê esquimó urine ou defeque enquanto está dentro da
bolsa – amauti – da parka de sua mãe. Quando o Dr. Otto Schaeffer perguntou a uma
mãe esquimó como é que ela sabia quando seu bebê queria urinar, e sempre recebia a
mensagem a tempo, tal mãe ficou muito espantada pela implicação da pergunta: que
poderia haver mães tão “estúpidas” que não conseguissem sabê-lo. (MONTAGU, 1986)
criança esquimó uma visão do mundo a partir de um amplo ângulo; com base nesta
visão, amadurecerão suas habilidades espaciais que serão reforçadas por experiências
detalhado das práticas de criação de filhos junto aos Ganda, da África Oriental. Seu
amamentação natural que durava um ano ou mais. Lá os bebês passam a maior parte de
suas horas de vigília no colo de alguém. Enquanto segura o bebê nos braços, a mãe lhe
sensório-motor era acelerado na maioria dos bebês. Eles se sentavam, ficavam em pé,
engatinhavam e andavam muito antes do eu, que é a média constatada em bebês das
sociedades ocidentais. Ainsworh atribui isto ao tipo de atendimento recebido pelo bebê.
1299
Os dados levantados pela Dra. Marcelle Géber, que estudou 308 crianças de
Kampala, endossam também essa última possibilidade, pois constatou que os recém-
contato pele-pele, para onde for; ela dorme com ele, e alimenta-o. Ele também é o
centro do interesse para vizinhos visitantes, para quem é oferecido, assim que foram
dezoito meses e até os dois anos de idade, criança é tirada da mãe e dada a uma outra
mulher de outra aldeia para ser disciplinada e “socializada”. A mãe natural não vai
“treiná-lo”. Essa é a tarefa para a mãe substituta. A Dra. Géber descobriu que essas
delas mostravam menos capacidades que antes, presumivelmente porque tinham perdido
Lorna Marshall, que passou muitos anos morando com os Kung, num período que
se estendeu de 1950 a 1961, observou que eles vivem uma sensação de pertinência e
contato tátil. Os bebês Kung são carregados pelas mães a maior parte do tempo, atados à
lateral de seu corpo por sacolinhas de couro macio de onde podem facilmente alcançar o
1300
seio materno. Mamam quando e quanto querem. Eles não usam roupas e estão em
contato direto de pele com suas mães. À noite, dormem nos braços da mãe. Quando não
estão nos braços da mãe nem atados à lateral de seu corpo, estão no colo de alguma
outra pessoa; ou quando são colocados no chão para brincar, amontoam-se em cima dos
mais velhos, que ficam deitados conversando, ou então brincam ao alcance da mãe.
(MONTAGU, 1986)
Talvez um mito que se pode dizer que não foi superado por nossa civilização é o
mito de Moisés, este arquétipo da criança abandonada que é colocada num rio, pois um
poder assim o determina. Na Bíblia, foi a ordem do Faraó, o poder que comanda. Nos
dias atuais, são mulheres de todo mundo que deixam seus filhos em creches, pois assim
lhes é imposto pelo desamparo de seguridade social. Mulheres que não vão sequer
poder ter a chance do contato com o filho, prolongadamente como a mãe de Moisés.
Êxodo: 1: “Todo filho recém-nascido deveis lançar no Nilo, mas toda filha deveis
Nesta passagem fica claro que grande reino pode existir na terra, vindo do cuidado
aos bebês, pois é deles que vai surgir uma nova humanidade mais harmônica.
A orientação que aí se vê é que é importante que os pais controlem sua raiva, pois
Clara Codd no livro Thought: The Creator, fala daquilo que na prática
influências, para o bem ou para o mal, que se evidencia quando se cuida de crianças é
pensamentos e os humores das pessoas crescidas à sua volta. Então bebês devem ser, o
máximo possível protegidos de tudo o que for feio, desarmônico, imoral, pois a criança
adquire nos primeiros anos de vida uma estrutura de ego que nunca a abandona
1302
amor. A criança que não teve suficiente amor, nos seus primeiros anos de vida, sofrerá
devido a esta falta pelo resto da encarnação, e não alcançará sua plena maturidade física,
1999)
Muitos hoje acham que a educação é algo que deve vir do exterior, isto é um grave
erro, que o livre arbítrio a fará desenvolver. É fato que nelas habitam as boas e mais
tendências, que não estiver preparado para inspirar o melhor, que aguarde o pior.
(AÏVANHOV, O. 1999)
Por outro lado não há declaração mais cristalinamente clara e verdadeira que:
“A primeira violação, o pior que pode ocorrer a qualquer criatura recém nascida é
a separação de sua mãe, de seu habitat natural”. (Nils Bergman apud GARCIA, 2006, p.
53)
Amor de Mãe:
Uma anedota popular árabe conta que uma mãe, a quem perguntaram a qual
dos filhos mais amava, respondeu:
- Ao pequenino, até que cresça; ao enfermo, até que se cure; ao ausente, até
que volte. (Al-Asbahami) (O Alcorão, 1967, p. 239)
Na História da pintura, a família quase nunca é retratada com esta interação que
Figura 123: Lady Cockburn e seus Filhos, Joshua Reynolds, 1774. Tela 14,5 X
113 cm Londres, National Gallery. (VALSECCHI, 1972b, p. 490)
Londres, em 1792. Teve esmerada educação, era filho de um clérico, reitor de uma
pelos clássicos: Van Dyck, Tiziano, Tintoretto e o Veronês. Voltando de uma longa
viagem, começa em Londres a pintar clientes ricos, acaba, através da influência deles, a
ser indicado para a Royal Academy. Depois de ir para a Holanda e se inspirar nas obras
de Rubens, pinta sua grande obra Máster Hare, e um ano depois fica cego, os discípulos
terminaram uma longa galeria de retratos. Pintou mais de 2.400 retratos, um documento
A autora acredita que, ainda hoje, a sociedade não resolveu o mito do abandono de
Moisés. Naquele tempo, por ordem do Faraó, a mãe teve que deixar seu filho no rio.
obrigam as mulheres a deixarem seus filhos nas creches, é preciso que a sociedade
1305
resgate os Moisés que ela abandona, e os entregue as suas mãe e pais e irmãos, isto é
Figura 124: O Abandono de Moisés, Nicolas Poussin, 1645, tela 150 X 204 cm.
Museu de Ashmolean em Oxford. (HINDLEY, 1982, p. 185)
Figura 125: Moisés salvo das águas. Paolo Calliari dito o Veronese. Tela 56 X
43 cm,
Madrid, Museu do Prado. (VALSECCHI, 1972b, p. 220, VICENS, 1978c)
1306
Figura 126: Moisés salvo das Águas, Charles de La Fosse (1636 – 1716), Paris
Mouseu do Louvre. (THUILLIER e CHÃTELET, 1964, p.117)
Figura 127: Moisés Salvo das Águas, Nicolas Poussin, 85 X 121cm (GIBELLI,
1967i, p.49)
em Veneza. Para ele Veneza era uma terra sem outonos ou invernos, o pai trabalhava
com mármore. Aos 14 anos foi aprendiz do pintor Antonio Badile, que com o tempo
seria seu sogro. Depois de sair da tutela do mestre, começa a trabalhar com afrescos.
Tiziano e Sansovino. Começa então a pintar motivos bíblicos. Morreu aos 70 anos, de
Uma das razões que tornava difícil para os pais, olharem seus filhos, eram os
trabalhos que tomavam tempo: eram pesados, e demorados. Estes são alguns retratos de
cenas domésticas, das poucas que existem na história, pois a família, não era muito
resultado era não exatamente união, mas sim cada qual vivendo sua história particular
Figura 129: A Lavadeira, Pissarro, 1878, tela 54,5cm X 46 cm, Estados Unidos,
coleção particular. (KUNSTLER, 1973, p.41)
Figura 130: O Milagre do Poço, Alonso Cano, 1645, Óleo sobre tela 216 X 149
cm, Museu do Prado. (LOPERA e ANDRADE, 1995c, p. 84)
1309
pintor foi um dos melhores retratistas da história da pintura, exatamente do povo, e não
de mecenas.
Este é outro retrato de como o ser humano ainda não percebeu como é sagrado o
corpo de uma criança, e com tudo o que se sabe, é cada vez mais inaceitável, tal prática
mutilatória. Como se observa no quadro abaixo que retrata uma circuncisão, um pintor
em tal cena.
Figura 133: A Circuncisão, Luca Signorelli, 258 X 180 cm, Galeria Nacional de
Londres, (GIBELLI, 1967m, p. 49)
Estes quadros são depoimentos pictóricos deste fato que durou tanto tempo, a se
Figura 135: A Adoração dos Pastores, Georges de la Tour, tela 107 X 137 cm em
1640, Museu do Louvre. (HINDLEY, 1982, p. 186)
1312
Figura 137: O recém-nascido, Georges de la Tour (1593 -1652), tela 0,76 X 0, 91,
Museu de Rennes. (MATHEY, 1951, p. 35)
1313
Antropologia, em algumas culturas as mães carregam seus filhos colados pele a pele.
Chama a atenção que a ilustração abaixo não seja européia, mas oriental. Como
no capítulo anterior, está a figura de Mãe e Filho, da Nigéria Yoruba. A seguir, a alegre
gravura japonesa.
Figura 138: Mulher com Kintoki às Costas, Kitagawa Utamaro, 1806. Museu
Este é um quadro que retrata uma rara cena, a família e o lazer, Mesmo nos dias
“Gênesis: 2. E ao sétimo dia, Deus havia acabado a sua obra que fizera e passou a
repousar no sétimo dia de toda a obra que fizera, 3. E Deus passou a abençoar o sétimo
dia e fazê-lo sagrado” (BÍBLIA, 1983, p. 10) Ao ler esta passagem no mito, o que este
1314
arquétipo do sétimo dia comunica é que neste dia, Deus que havia criado em todos os
outros dias, parou. E mais que parou, usufruiu, degustou, apreciou sua criação. Isto
ensina o caminho da consciência: e é no dia livre onde mais se pode exercer a escolha, o
que a estrutura desta passagem mostra. São dois aspectos, um é o ritmo, e hoje cada vez
mais se sabe em medicina que o ritmo é fundamental para a saúde. Porém ainda mais,
que é preciso criar, e desfrutar, saborear, e isto pode ser melhor feito quando se faz com
quem se ama. O fato de serem raras as famílias retratadas em descanso, faz pensar sobre
o quanto é preciso ainda que o ser humano se esforce para sair de automatismos.
Figura 139: Banho em Asnières, Georges Seurat, 201 X 302 cm, (HINDLEY,
1982, p. 239, GIBELLI, 1967n, p. 79)
1315
Figura 140: O Descanso Durante a Fuga para o Egito, Lucas Cranach, 1550.
(VICENS, 1978c, p. 310)
simbolizado com as madonas apresentando livros aos bebês que têm ao colo.
Figura 142: Madona do Livro. Sandro Botticelli, Museu Poldi Pezzoli, Milão
(BERNARD, 1989, p. 127, VICENS, 1978b, p. 248)
Figura 143: A Virgem e o Menino com Dois Santos (detalhe), Rafael de Urbino,
215x148 cm. (GIBELLI, 1967m, p.70)
1317
como foi representada na figura 129. No nosso mito cristão, a família retratada tem sido
a de Jesus.
Figura 145: A Sagrada Família, Frans Floris de Vriendt, 1,25 x 0,93m. Musée
Royal dês Beaux – Arts Bruxelas. (BERNARD, 1989, p. 59)
1318
79)
Figura 147: A Sagrada Família com Anjos, Rembrandt, 1645, óleo sobre tela.
(MANNERING, 1994, p. 37)
1319
para que a humanidade viva uma nova realidade, onde todas as famílias sejam sagradas.