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Pelotas
2022
JULIA BARCELOS GOULART
Pelotas
2022
“Liberdade é uma palavra que o sonho humano
alimenta, não há ninguém que explique e ninguém
que não entenda.”
(Cecília Meireles)
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UMA TRADUÇÃO DA PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NA PERSPECTIVA FEMININA
RESUMO
A privação de liberdade consiste em um processo de construção social, histórica e cultural que se
constitui de distintas formas ao longo dos anos, principalmente quando se trata de mulheres que
vivem ou viveram essa experiência. Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo entender,
pela perspectiva da própria participante, sua experiência de privação de liberdade. Como
metodologia foi utilizado o método de História de Vida, de abordagem qualitativa, levando em
consideração o dialógo entre pesquisadora e pesquisada, realizando conexões entre o individual e
o social e a história contada pela perspectiva da própria participante. A coleta foi realizada por
meio de duas entrevistas, contendo informações de sua vida antes, durante e depois do cárcere. A
participante da pesquisa foi uma mulher que viveu a experiência de privação de liberdade. Nesse
processo emergiram três eixos temáticos: “Gramática da Desigualdade”, “Regras de Sobrevivência:
do lado de dentro” e “Ecos da Privação de Liberdade”.
ABSTRACT
The deprivation of liberty consists of a process of social, historical and cultural construction that is
constituted in different ways over the years, especially when it comes to women who live or have lived
this experience. Therefore, the present study aimed to understand, from the point of view of the
participant herself, her experience of deprivation of liberty. As a methodology, the Life History
method was used, with a qualitative approach, where the link between researcher and researched was
taken into account, creating a bridge between the individual and the social and with the story told from
the perspective of the subject himself. The collection was carried out through two interviews,
containing information about his life before, during and after prison. The research participant was a
woman who lived the experience of deprivation of liberty. In this process, three thematic axes
emerged: “Grammar of Inequality”, “Rules of Survival: from the inside” and “Echoes of the
Deprivation of Liberty”.
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1 INTRODUÇÃO
A saúde mental das mulheres, uma vez que foram ou estão privadas de liberdade, é
configurada por experiências, muitas vezes de dor e traumas, tendo em vista a violência que as
cerca desde muito cedo nos relacionamentos, dinâmica familiar, na vulnerabilidade que a
pobreza impõe e no abandono dos vínculos, visto que foram consideradas criminosas e,
portanto, afastadas de seu papel imposto pelo gênero (RODRIGUES, 2017).
Para a mulher, ainda existe, mesmo que atualmente de forma sutil, a expectativa para o
cumprimento de atividades referentes ao gênero, como a maternidade, casamento, vaidade e o
estereótipo de personalidades doces e afetuosas. Há desde sempre, uma cobrança social para
que mulheres sigam esses comportamentos e façam jus ao papel de gênero enraizado
socialmente. Para mulheres privadas de liberdade, essa realidade é ainda mais insensível, visto
que já foram rejeitadas por esse sistema de representação de gênero e estão sujeitas a
vulnerabilidades em nossas instituições precárias e ao mesmo tempo, resistentes a mudanças.
Considerando esses fatores e a história construída por cada mulher nesse cenário, surge o
questionamento de como foi vivida e enfrentada a experiência de privação de liberdade e suas
decorrências pela perspectiva da história de vida.
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mudanças. Portanto, a maneira de atuar dessas opressões pode suceder em sofrimento psicológico,
que é resultado de uma organização que pressupõe a exclusão das mulheres que não cumprem o
seu “papel” por não exercerem os lugares esperados a elas.
Muitos estudos mostram que grande parte das mulheres privadas de liberdade possuem
trajetórias de violência e vulnerabilidade e, por isso, apresentam sofrimento psicológico
clinicamente significativos, para os quais tem sido destinada a prática habitual do uso de
medicações (ZANELLO, 2011; DOS SANTOS, 2009; PAZ, 2009; BARCINSKI, 2015).
Ademais, um estudo recente, realizado nos presídios do estado do Rio de Janeiro, nos mostra
também grandes índices de sofrimento psicológico e, por consequência disso, uso de medicação.
Nas entrevistas que foram feitas, 73,1% das mulheres privadas de liberdade e 52,2% dos homens
contam ter sofrido “pelo menos um problema do sistema nervoso” (MINAYO E
CONSTANTINO, 2015, p. 175). Esses dados nos mostram que existe uma prevalência maior de
problemas psicológicos em mulheres do que em homens em situação de privação de liberdade,
muitas vezes, pela história de vida pregressa, como a violência doméstica e cenários de
vulnerabilidade, bem como as problemáticas que o próprio cárcere causa, como por exemplo, a
superlotação, a falta de acesso a produtos essenciais como absorventes íntimos e a privação dos
direitos sexuais (visita íntima) permitidos nas penitenciárias masculinas.
Além de todas essas problemáticas existentes no sistema prisional, e que afetam diretamente a
saúde física e mental de pessoas que vivem nele, a recusa de amparo jurídico e assistência médica,
odontológica e psicológica, o ambiente propenso a ocorrência de violências, a alta utilização de
substâncias psicoativas e os impactos biopsicossociais que o contexto prisional proporciona,
aumenta mais a necessidade de assistência à saúde física e mental que amparem essas questões
(DOURADO, 2019; MACHADO, 2014). Além disso, segundo Shultz, Dias e Dotta (2020), o
ambiente carcerário pode desenvolver ou acentuar os problemas de saúde das mulheres privadas
de liberdade. A escassa oferta de serviços sociais direcionados à educação, ao esporte, ao lazer e
à área ocupacional impactam nas condições de vida nos presídios. Uma vez que são atividades
essenciais para amenizar os danos provenientes do confinamento, protegendo e promovendo a
saúde física e emocional dessas mulheres.
Furtado Andreza et. al. (2021), em seu artigo de abordagem qualitativa, entrevistou oito
mulheres, com faixa etária entre 21 e 59 anos, que estavam em situação de privação de liberdade
em um Presídio Regional de uma cidade do sul do Rio Grande do Sul. Os resultados obtidos
mostraram que, durante esse período, essas mulheres vivenciaram sentimentos como a saudade,
solidão, choro, angústia, preocupação, desânimo, agitação, irritação, isolamento e medo, o que
pode acarretar um evento traumatizante e sofrido. Apresentaram também, sintomas depressivos
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como desanimo e tristeza, além de relatarem pensamentos e atos suicidas, que são atitudes
relacionadas aos sintomas depressivos. Em relação a convivência dessas mulheres no cotidiano
da privação de liberdade, relatam ter uma relação saudável entre elas, proporcionando a criação
de apoio mútuo em momentos de vulnerabilidade e estresse, promovendo assim, um convívio
mais tranquilo que preza pelo bem-estar de todas.
No contexto da privação de liberdade, a família é o principal vínculo para manter o apoio,
socialização e organização para as mulheres. Porém existem muitos obstáculos para que a visita
possa ocorrer, desde a questão socioeconômica dos familiares que se deslocam até a prisão,
desconforto por conta da vistoria que ocorre de forma invasiva, questões em que os cônjuges não
se sentem na obrigação de visitá-las na prisão, além dos problemas de locomoção dos abrigos
onde os filhos residiam. Quando as mulheres não recebem visitas, além dos efeitos emocionais
que isso pode causar, os materiais básicos, como de higiene e comida, que seriam trazidos pelos
familiares, ficam de responsabilidade da rede social da prisão, como funcionários ou religiosos,
pois muitas vezes o governo acaba não disponibilizando (BARSINSKI et al 2014; SILVA &
MELO, 2019; MEDEIROS, 2010). Portanto, para essas mulheres, manter o contato com os
familiares e demais relações afetivas, fortalece o vínculo entre eles e cria uma rede de apoio de
acolhimento, empatia e garantindo o necessário de conforto a essa população.
Sendo assim, é possível entender que o contexto carcerário do Brasil é configurado por uma
série de problemas de ordem política e social, principalmente em relação as mulheres, que
vivenciam essa realidade de forma dura, muitas vezes sem o suporte de suas famílias e relações
afetivas, além de sofrerem com a ausência de recursos básicos de saúde e reeducação dentro das
penitenciárias.
3 DELINEAMENTO METODOLÓGICO
A opção metodológica feita neste estudo é pelo método de História de Vida, de abordagem
qualitativa. No método de História de Vida deve-se levar em consideração o diálogo entre
pesquisadora e pesquisada, e além disso, deve ter uma produção de sentido para ambas, realizando
uma ponte entre o individual e o social, onde a história será contada pela perspectiva própria da
participante (SILVA et al.,2007).
Para a realização do estudo foi entrevistada uma mulher de 35 anos que viveu a experiência de
privação de liberdade. Desta maneira, atendeu aos critérios de inclusão ao demonstrar
disponibilidade e capacidades linguísticas preservadas, devido a isso ser de grande relevância para
a narração das experiências vivenciadas. No primeiro contato com a participante, essa foi
informada sobre os objetivos e o sigilo implicado no estudo, sobre as gravações das entrevistas e
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de que teria o direito de desistir da participação em qualquer etapa da pesquisa. Após, foi
combinado com a mesma a data e hora da realização das entrevistas respeitando sua
disponibilidade.
A coleta e análise sistemática de materiais foi obtida por meio de duas entrevistas realizadas
com a participante, a primeira para entender seu contexto e vivências durante a infância e
adolescência e a segunda para compreender sua experiência de privação de liberdade e sua vida
após a experiência. As entrevistas foram adequadas, conforme Ofício Circular Nº
2/2021/CONEP/SECNS/MS, da Secretaria-Executiva do Conselho Nacional de Saúde de 24 de
fevereiro de 2021, por preferência da participante, foram realizadas de forma remota em ambiente
virtual (Google Meet). Foram dois encontros e os mesmos levaram em torno de quatro horas, no
total. O armazenamento do conteúdo ocorreu por meio de gravações e posterior transcrição das
mesmas. Assim, buscou-se captar tudo o que foi dito para analisar e interpretar, bem como,
acompanhar o processo de coleta de dados (MERRIAM, 1998).
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética na Pesquisa em Seres Humanos da Universidade
Católica de Pelotas, sob o número 5.507.821 em 04 de Julho de 2022.
5 EIXOS TEMÁTICOS
5.1 GRAMÁTICA DA DESIGUALDADE
Anita tem 35 anos e reside em um município do Rio Grande do Sul. Tem um filho e seus pais se
separaram quando era muito jovem. Descreve sua infância como sendo “muito divertida”, dizia que
brincava todos os dias com seus 3 irmãos e se identificava muito com eles, como relata: “Quando eu era
criança eu gostava muito de brincadeira de menino, tudo que meus irmãos faziam eu fazia também
porque eu era a única menina e mais três meninos e então o que eles faziam eu acabava gostando de fazer
também”. Por isso, muitas vezes sua mãe dizia que ao invés de ter três meninos e uma menina, ela tinha
4 meninos, pois Anita estava sempre na rua brincando de futebol, bicicleta e sujava-se bastante durante
as brincadeiras.
Durante sua adolescência, se afastou de seus irmãos, pois “como eles já estavam maiores e eu
ficando mocinha já não nos identificávamos tanto”. Nesse período, sua matéria preferida na escola era
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português e seu principal hobbie era escrever poesias “eu chegava em casa depois do colégio, almoçava
e de tarde se eu não tinha nada pra fazer eu gostava de fazer versos, poesias”.
Além disso, dizia que “agora ninguém me mandava” e faria o que fosse possível para conquistar
sua independência para ter uma casa própria. Com 16 anos acabou fugindo de casa para ir morar com o
seu primeiro namorado. Durante esse tempo, acabou se afastando de sua mãe, pois ela não aceitava o
namoro por achar a filha muito nova. O relacionamento acabou durando 7 anos, e segundo ela “ele não
deixava eu ter amigas, aí eu tinha só as minhas colegas mesmo, porque como a gente estudava no mesmo
colégio, a gente se encontrava no intervalo e era sempre só com ele e a mãe dele contava para ele a hora
que eu saía, o horário que eu chegava, que hora eu saía pra escola, com que roupa eu tava, se eu tava
sozinha, se eu tava com alguém”. De acordo com Silva (2015) as vulnerabilidades de mulheres que foram
privadas de liberdade são anteriores à detenção, muitas vezes, pela dificuldade de acesso a informações
de todas as ordens e pela fragilidade dos vínculos nas relações familiares e conjugais.
Anita repensou seu casamento, e depois de 7 anos, acabaram se separando. Alugou uma casa, foi
morar sozinha e nesse tempo abandonou os estudos, conheceu o pai do seu filho, engravidou e trabalhou
como cuidadora, que segundo ela, é o trabalho que mais gosta de fazer. Sete anos depois, seu
relacionamento acaba e ela aluga outra casa para morar sozinha com o filho. Foi nesse período que
adquire um terreno, porém, não tinha dinheiro suficiente para fazer a casa e acaba conhecendo a vida do
tráfico, por meio de seu irmão:
“quando eu via o meu irmão movimentar essas coisas, pensei que talvez pudesse
dar certo pra mim, mesmo sabendo que ele já tinha sido preso três vezes, sei lá,
um momento de bobeira e eu fui...mas a minha vida sempre foi a de uma pessoa
normal, eu cai na asneira de entrar pra isso sem necessidade”.
De acordo com Dutra, o contexto familiar em alguns casos pode ser o fator desencadeante para que
o sujeito desenvolva comportamentos delituosos, e, por isso, podemos perceber que o tráfico de drogas já
estava inserido anteriormente no contexto familiar de Anita, por conta do irmão.
Além disso, durante esse período sua vida estava “normal”, estava trabalhando, morando com o
filho e conseguindo comprar aos poucos os materiais para a casa, “achei que se eu fizesse isso daí (vender
drogas) eu ia conseguir construir a minha casa mais rápido, porque até então eu só tinha comprado o
terreno e não tinha feito a casa”.
De acordo com o estudo Perfil de Mulheres Privadas de Liberdade no Interior do Paraná (2013),
as características mais prevalentes encontradas foram, frequentemente, mulheres de baixa escolaridade,
mães, solteiras e/ou separadas, com famílias desfragmentadas, instabilidade financeira e com empregos
prévios simples. O que podemos perceber que vem ao encontro com o perfil de Anita, visto que seu grau
de escolaridade é fundamental incompleto, mãe solteira e com histórico de empregos prévios simples.
Ainda neste estudo, foi constatado que o tráfico de entorpecentes no Brasil foi apontado como a
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causa de detenção de 59% das mulheres detidas, sendo esse também o motivo pelo qual a participante
foi privada de liberdade. Tendo isso em vista, esse perfil é decisivo para a análise do contexto da história
de vida de Anita, pelo fato de que são condicionantes para o acesso ao mundo do crime e pela ampliação
da vulnerabilidade a que esteva exposta.
Anita morava em uma casa que era ponto de tráfico, e segundo ela “fiquei pouco tempo nessa
loucura toda, a casa que eu fui morar já era um ponto de tráfico, porque aí eu recebi essa proposta que eu
teria essa casa, a droga pra trabalhar e eu ia ganhar por aquilo que eu tava fazendo”. Assim, se recorda
nitidamente do dia em que aconteceu o mandato de prisão:
“Estava eu, o meu filho e mais 4 pessoas em casa. Aí bateram no portão e
conforme eu abri a janelinha de alumínio da cozinha já tinha um policial dentro
do pátio, ele já tinha pulado e tinha outro na peça dos fundos e outro no portão
pelo lado de fora”.
Anita revela, que, segundo os policiais, foi feita uma denúncia e que os mesmos estavam a vigiando há
alguns meses. Por fim, acabou sendo detida naquela mesma noite.
Anita foi levada para a penitenciária acompanhada dos policiais naquela mesma semana, e
segundo ela os primeiros meses lá “não foi um bicho de 7 cabeças, não tanto quanto eu imaginava, as
pessoas descrevem a cadeia de uma tal maneira que antes da pessoa ir já imagina que tá indo pro inferno”
porém, mostra ambivalência quando relata que “é horrível, é ruim, mas também não é algo que não dê pra
aguentar, até porque não tem o que fazer, tem que conseguir ter convívio com aquelas pessoas que tão ali
contigo”.
Se descreve como “muito comunicativa” e por isso, não teve dificuldades de convívio lá dentro,
se “dava bem” com a guarda, com as colegas de cela e com os funcionários. Sua mãe só soube que ela
estava trabalhando no tráfico na noite em que foi presa, e que o primeiro contato que teve com ela foi
depois de 20 dias que estava em privação de liberdade, porque precisou ficar em isolamento por conta da
COVID-19 “Acredito que ela tava um pouco magoada comigo por eu ter saído da casa dela e ter ido morar
em outro lugar que eu nem sabia que casa era e nem ela sabia também…mas quando falei ela tava normal,
ela só não queria que eu tivesse saído da casa dela né porque eu saí mas não justifiquei o motivo”. Em
nenhum momento recebeu visitas, pois naquele período era proibido devido ao grande número de casos
de COVID no ano de 2020. Devido as condições das unidades prisionais, dos agravos de casos registrados
em 2020 e tendo em vista a falta de recursos básicos, o sistema prisional foi classificado como sendo grupo
de risco para o progresso fatal da COVID-19 (MEPCT/RJ, 2018; INFOPEN, 2018). Além dos efeitos que
trouxe à saúde física, precisamos destacar suas consequências na saúde mental dos internos, pelo fato de
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que, vivenciando esse cenário, foi relatado um nível maior de estresse, medo e preocupações tanto nos
detentos quanto em funcionários que, no final do dia, precisavam voltar para casa e temiam o contágio em
sua família. Tendo isso em vista, em nosso país, no ano de 2020, foram registradas duas rebeliões, a
primeira em uma unidade socioeducativa de internação do Rio de Janeiro e a outra em uma penitenciária
no Rio Grande do Sul, ambas ocorreram pelo mesmo motivo: o cancelamento das visitas e das atividades
educativas e recreativas, em razão das medidas de segurança para conter a contaminação pela COVID-19
(GLOBO, 2020; AGÊNCIA BRASIL, 2020).
Por isso, destaca-se que devido à pandemia, o sistema prisional agravou os níveis de adoecimento
mental, com aumento da demanda de atendimento, sofrimento psíquico devido aos impactos sociais da
doença e fragilização dos vínculos familiares (LAURINDO et al).
“Não podia visita por conta da pandemia, a gente tinha que sair pra conferência
de manhã e de tarde de máscara, atendimento lá pra frente ou enfermaria tinha
que usar máscara também mas na cela não precisava usar máscara. Eu não tive
COVID lá, e não era tão frequente ter, porque quando tu chega já faz o teste e tu
fica 15 dias no isolamento, então depois daqueles 15 dias vai pra cela”.
Assim, Anita tinha contato pessoalmente apenas com a advogada, e falava com a família por meio
de ligações que precisavam ser agendadas anteriormente
“no início eu não tinha tanto contato com eles porque eu não conseguia falar, eu
chorava muito e eu dizia pra minha mãe que eu não queria falar com o meu filho
pra ele não se surpreender que eu tava chorando né, mas aí depois eu falava com
ele”.
Seu filho não ficou sabendo que estava presa, pelo fato de ele ser pequeno quando aconteceu, ela
optou por não contar, então durante as ligações, dizia que estava trabalhando fora e que não poderia voltar
devido a pandemia “e como ele tava junto comigo quando aconteceu isso, eu nunca quis falar pra ele até
pelo modo de não forçar a lembrança dele do que tinha acontecido”.
Por mais que só pudesse ter contato com a família por ligações durante esse período, quando Anita
começa a ter os primeiros contatos com a mãe, revela que tentou suicídio
“eu tentei suicídio quando eu comecei a ter contato com a minha mãe, que aí
uma vez por semana um familiar ligava e agendava uma ligação, aí quando eu
comecei a falar com ela, que meu irmão tava morando em outro estado e veio
embora pra cá pra ficar com ela, e meu filho tava começando a trocar os
dentinhos, aquilo começou a perturbar a minha mente e eu tentei me matar, tomei
vários remédios e me joguei da terceira cama”.
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filho, que estava “começando a ficar rebelde” e, pelo fato de estar longe, temia que “depois fosse difícil de
fortalecer o vínculo com ele”. Ainda segundo Silva (2015) o vínculo familiar dessas mulheres implica em
algo doloroso, principalmente em relação aos filhos que ao se sentirem abandonados pela figura materna
se desestruturam e ficam mais vulneráveis à marginalização.
Depois de ter sido socorrida, ficado internada por uma semana e ter voltado para a penitenciária,
Anita relata que “ainda era difícil, aí eu fiquei 3 meses sem sair pra rua, eu não ia pro pátio, eu ficava só
dentro da cela, quando eu saí eu só ia pros atendimentos e voltava, não colocava roupa na corda nem nada,
só em cima da cama”. No estudo “Prevalência e fatores associados a sintomas ansiosos e depressivos em
mulheres privadas de liberdade em Juiz de Fora-MG” realizado em 2021, mostra que quando em
comparação com a população em geral, a população privada de liberdade tem pior qualidade da saúde
mental e piores indicadores referentes a presença de transtornos mentais. Dentre os mais prevalentes no
público feminino em cumprimento de pena, estão os transtornos ansiosos e os transtornos depressivos.
Ainda de acordo com esse estudo, os autores descrevem que o o sofrimento mental e o desenvolvimento
de transtornos mentais dentro do sistema prisional são questões de saúde pública reconhecidas a nível
mundial, porém, nos ambientes de privação de liberdade a prevalência de depressão pode chegar a ser seis
vezes maior que na população em geral em países de baixa e média renda. Evidências mostram que o
cenário é pior para mulheres em comparação aos homens, sendo assim, a prevalência de transtornos
depressivos em mulheres privadas de liberdade varia de 21% a 59,4%.
Depois desse acontecido, Anita passou a consultar com a psicóloga e com o psiquiatra do presídio
toda a semana
“a psicóloga sabia entender o motivo de eu ter errado, o que aconteceu comigo e
me dava força e esperança que aquilo ali ia acabar, agora os psiquiatra…no início
eles eram tranquilos mas aí depois quando eu tentei o suicídio aí eles me tratavam
como uma louca, diziam que eu não tinha motivo pra eu fazer o que fiz”.
Anita relata que o ambiente do presídio “era horrível” que não tinha colchão e não tinha alimento,
“a comida parecia que eles comeram o que quiseram, pegaram o resto e jogaram lá pra ver quem ia querer
comer, e aí ficavam várias pessoas na cela comigo, 11 pessoas e tinha só 3 camas, aí a gente dormia no
chão, mais de uma nas camas, o banheiro, que lá chama de boi, era um quadrado e nesse quadrado era
dividido um espacinho com parede, de um lado era um buraco no chão e um chuveiro e aí na frente tem
um tanque pra lavar louça, roupa, escovar dente, tudo ali naquele tanque”. Segundo Resende (2013), a
palavra “boi” utilizada por Anita pode ser entendida como uma linguagem particular desenvolvida no
ambiente da prisão. Dessa maneira, palavras que apresentam um significado original são atribuídas de um
sentido diferente, e é nesse movimento de trocas de sentido que o dialeto prisional constitui a própria
subjetividade dos detentos, sendo assim, a linguagem criada dentro dos muros dos presídios reconhece e
da voz a um saber local específico, que reflete as dinâmicas e as relações estabelecidas dentro dessas
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instituições.
Anita teve dificuldade em se adaptar com as colegas da cela em que “morava” nos primeiros
meses “eu morei em duas celas quando tive lá, primeiro na 15 e depois na 7, a 15 era um pesadelo, não
podia chorar porque tava pesando a cadeia da tua amiga, e tinha uma menina que amedrontava as primária,
ela oprimia as primária, que ela já tava há mais tempo na cadeia”. Como isso estava afetando sua saúde
mental, Anita, com a ajuda de outras detentas, pediu para trocar de cela “as gurias me ajudaram muito,
elas já vem puxando cadeia há 10 anos, só pra tu ter uma base, elas bateram de frente com a guarda e não
deixaram eu voltar pra 15”. Então ela conseguiu finalmente ir “morar” na cela 7 onde nitidamente se
adaptou bem e se identificou, como se houvesse maior pertencimento
“e aí então eu fui pra uma outra cela, e Deus que me perdoe, era como se eu
tivesse ido embora, sabe, aquele peso saiu. Me adaptei melhor, diminuiu meus
remédios, já não dormia tanto, ia pro pátio, passava batom, pintava as unhas, foi
como se tivessem me tirado da cadeia e aí fiquei bem amiga das gurias que
moravam comigo, elas eram super legais, quem não tinha filho tinha sobrinho
que morava junto na mesma casa...ali tu podia to teu momento, se tu tava a fim
de chorar tu chorava, se quisesse dormir o dia inteiro dormia…foi bem melhor
pra mim”.
“Comigo nunca aconteceu nada, sempre foi tranquilo… mas uma vez uma
detenta colocou fogo na cela dela e aí infestou toda a galeria de fumaça, eu
inclusive fazia uso da bombinha e desmaiei por causa da fumaça...”.
Sempre quando acontecia alguma situação do tipo, ela só pensava que queria ir embora logo dali
“tudo que eu pensava era eles gritar o meu nome no portão dizendo que era pra
eu ir embora, eu dormia e pedia pra Deus me tirar daquele lugar que é horrível.
Eu sabia que o meu filho tava bem cuidado, que ele tava com a minha mãe, então
a única coisa que eu tinha que fazer era pedir por mim, e o que eu mais queria era
sair daquele lugar”. Durante os últimos 3 meses de privação, já tinha diminuído
significativamente as medicações e os atendimentos com a psicóloga e psiquiatra
“eu tava fazendo mais oficina, tipo pintar, ler, costura, bordado, pra distrair um
pouco a cabeça”.
As oficinas de costura e bordado foram muito benéficas para Anita, porém, não podemos deixar
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de perceber que os esteriótipos associados a feminilidade se mostram presentes nesses aspectos,
frequentemente delimitadas a aulas de culinária, artesanato, jardinagem, costura ou outra atividade que
seja considerada de “natureza feminina” (MIYAMOTO & KROHLING).
Quando perguntei se ela se recordava do dia da sua saída, com um sorriso no rosto relata “no dia que
eu saí a guarda chegou na portinhola e eu e as gurias ficamos se olhando, porque quando a guarda vai
assim ou é alvará ou é alguma coisa que ela não fala no geral. Quando ela abriu o cadeado e abriu a porta
pra trás e disse: vamo embora, Anita? eu parei na cela, parei, eu só chorava e as gurias: vai tia, vai tia, vai
embora aí eu dei tchau pras gurias, peguei minha bolsa e um pote que eu tinha com os meus remédio e
minhas receita, com as coisa tudo que eu fazia uso e saí gritando todos os nome que eu lembrava, de
pessoas que foram minha amiga, que me ajudaram eu gritava assim, sabe”. Após sua saída, Anita pegou
o ônibus para sua cidade e da rodoviária pegou um táxi para a casa da mãe “já era umas 17 horas, era em
dezembro, faltava poucos dias pro Natal e Ano Novo. O meu filho tava em casa quando eu cheguei, eu
cheguei de táxi, desci e cheguei no portão, tinha mudado muita coisa assim, a garagem tava diferente e aí
eu só gritei ela e ela saiu chorando e me disse: minha filha tu voltou pra casa. E aí o meu filho já veio do
quarto correndo e gritando: mamãe, mamãe, onde você estava?”
Anita afirma que em pouco tempo sua vida já havia “voltado ao normal”, porém “estranhou”
bastante “eu me acordava bastante naqueles horários que tinha que tá acordada, a função do barulho
também, lá eu já tava acostumada com aquele barulho e em casa era aquele silêncio, então eu sempre
achava que eu tava sozinha, que não tinha mais ninguém em casa, mas não, todo mundo tava em casa,
aí eu demorei um pouco pra me acostumar”. Nas primeiras semanas após sua saída, aproveitou para estar
com sua família e levar seu filho no dentista, e além disso, relata que não buscou trabalho
imediantamente, porém, já trabalhou como cuidadora de idosos em um hospital e em uma clínica, depois
que saiu da penitenciária “eu custei um pouquinho pra buscar trabalho depois, mas logo depois voltei a
trabalhar como cuidadora, que era o que eu gostava de fazer. Foi tranquilo de buscar trabalho até o ponto
das pessoas não me perguntarem do meu passado, no momento que tocava nessa parte aí eu já me sentia
discriminada...”. Segundo Garcia (2019), a deterioração da identidade vivenciada na prisão influencia os
caminhos da vida pós-privação de liberdade, impondo novos manejos afetivos e profissionais. O fato de
serem ex-presidiários é um novo elemento de identidade, assim, os processos de deterioração da
identidade ultrapassam os muros dos presídios.
Além disso, muitas pessoas afirmam que se surpreenderam com o acontecido “tem pessoas que
depois que eu fui presa que disseram que nunca imaginaram que eu ia fazer isso, porque eu sempre fui
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uma pessoa tri pra frente, calma, tranquila, corria atrás das coisas pra mim…todo mundo se apavorou
depois quando eu voltei, porque eu nunca deixei nenhum vestígio de que eu tava fazendo isso”. Para
Garcia, a mudança de comportamento de pessoas próximas a mulher que esteve encarcerada, se relaciona
ao estigma por terem sido presas e também porque são mulheres que tiveram envolvimento com o crime,
diferente do que se espera sobre o “comportamento feminino” em uma sociedade de desigualdade de
gênero.
Por mais que sua vida esteja “tranquila” não podemos deixar de perceber que nutre preocupações,
muitas delas desencadeadas pela experiência da privação “as vezes eu não consigo dormir por pensar em
muitas coisas, ter que manter uma casa, um filho, ter que botar sustento para dentro de casa”, também há
o medo e a insegurança que sente em relação a polícia “agora depois que eu saí quando eu passo por uma
blitz o meu coração parece que vai sair pela boca e é como se fosse comigo, como se eles tivessem me
procurando”. Segundo Reif (2016), em seu estudo onde entrevistou mulheres que foram privadas de
liberdade em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o período de prisão serviu como aprendizado e
modificou a forma de se comportarem. Todas essas mulheres falaram sobre medos, desconfortos e
reconhecem o quanto o cárcere era “horrível”. Além disso, outro aprendizado era que não compensava
cometer crimes para retornar a este lugar, ainda mais porque as submetem o rótulo de criminosas, algo
que não querem estar relacionadas.
As principais atividades que teve a possibilidade de realizar nos primeiros dias em que saiu foram
coisas que “sonhava em ter novamente” como comer bem e tomar banho com privacidade “comer bem
de novo bah, foi uma maravilha, tomar banho também, ter mais privacidade, sentar num vaso então,
guria de deus… o prato de vidro e talher também porque lá era tudo de plástico, então imagina tomar um
café no copo de plástico”
Em relação a rede de apoio, sua família sempre foi um suporte presente e esteve ali em todos os
momentos que foram necessários “a gente é muito família, eu minha mãe e meus irmãos, a gente se liga
todos os dias, pergunto como tá, se precisam de alguma coisa... Minha mãe nunca disse nada, ela só dizia
sempre que o erro sirva pra gente não errar de novo, e nunca abandonou, apontou o dedo ou discriminou,
pelo contrário, sempre abraçou a causa. Muita coisa que aconteceu nos aproximou mais uma da outra, o
que tinha de distância nesse período hoje a gente é bem amiga”. Além disso, mantém contato direto com
suas amigas, tanto as mais antigas quanto as que conheceu durante a experiência de privação, porém,
opta por manter o vínculo apenas pelas redes sociais “mas as minhas amizades são pelo telefone ou na
rua, não na minha casa, devido aos problemas que eu tive, hoje eu optei por ver bem as pessoas que eu
vou colocar dentro da minha casa...algumas gurias da 7 que já saíram eu mantenho contato por telefone,
outras me ligam pra avisar que tão passando lá na frente de casa pra tomar um mate...”. Mesmo quando
acontece algo bom em sua vida, reage não contando para ninguém e mantendo discrição “pras situações
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boas eu lido não contando pros outros, guardo só pra mim, eu não tenho costume de dizer minhas
conquistas, eu não fico me expondo, as vezes eu fico pensando em conversar com certas pessoas mas ao
mesmo tempo eu já penso que talvez aquela pessoa possa me apunhalar pelas costas ou possa me falar
coisas que eu não quero ouvir, ou sugere pra mim fazer coisas e eu não sei se aquilo ali vai ser certo ou
errado”.
No momento atual, Anita não está trabalhando, dedica-se inteiramente aos cuidados da casa e do
filho “agora eu não trabalho fixo porque não tem, mas quando aparece uma ligação eu vou, uma faxina,
não tem problema”. Para Costa (2011), a ausência de políticas públicas para as mulheres egressas
complexifica o resgate de vínculos sociais nas relações afetivas, familiares e profissionais que podem
modificar suas vidas. Além disso, afirma que seu maior arrependimento foi ter “experimentado” a vida
do crime “nenhum valor vai pagar a tua liberdade de volta, nenhum valor vai pagar tu tá com o teu
filho…às vezes eu pergunto pra mãe a função dos dentes dele, se ela lembra, porque hoje eu não sei se
aquele dente que ele tem é o permanente ou é o dentinho de leite”.
E por fim, sua principal motivação é terminar a casa, que foi o fator desencadeante que dá origem
a toda essa história “agora eu quero terminar a minha casa…que eu ainda não consegui terminar como eu
queria, é a casa que eu tõ morando agora, a meta é terminar a tal da casa (risos) do jeito que tava e do jeito
que já tá vai ser em um passo”.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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