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SEXUALIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA: A EXPERIÊNCIA DE MULHERES

EM RELACIONAMENTOS AFETIVO-SEXUAIS
SEXUALITY IN PANDEMIC TIMES: THE EXPERIENCE OF WOMEN IN AFFECTIVE-SEXUAL
RELATIONSHIPS

Caroline de Souza Camassola1


Luciane Marques Raupp2

Resumo: Considerando a sexualidade como um produto social que atravessa os sujeitos ao


longo da vida por meio de discursos e conflitos históricos e contemporâneos, esta pesquisa
qualitativa, de cunho descritivo, visou compreender as experiências referentes à sexualidade e
aos relacionamentos afetivos e sexuais de mulheres no contexto da pandemia da COVID-19.
Este contexto de emergência sanitária é o foco do estudo, dado que acarretou em medidas de
restrição e isolamento, na reorganização das prioridades do sistema de saúde, mudanças nas
dinâmicas familiares, laborais e nas relações afetivo-sexuais. Para compreender tais
implicações, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com cinco mulheres, analisadas pelo
método de Análise de Conteúdo. Os resultados apontaram que a pandemia modificou o
cotidiano das participantes, as quais consideraram que sua qualidade de vida melhorou por meio
da prática do home office, além de sentirem benefícios em seus relacionamentos decorrentes da
convivência prolongada. Contudo, a pandemia intensificou os desafios já existentes, como a
monotonia na relação, o estresse devido ao ambiente de trabalho e a sobrecarga de cuidados da
casa e dos filhos. No âmbito da sexualidade, houve uma diminuição na frequência e desejo das
experiências sexuais. Ainda assim, o vínculo estabelecido com os parceiros foi percebido como
motivador para buscar soluções e novas experiências.

Palavras-chave: Sexualidade. Mulheres. Relacionamentos afetivo-sexuais. Pandemia.

Abstract: Considering sexuality as a social product that crosses individuals through historical
and contemporary discourses and conflicts throughout their lives, this qualitative, descriptive
research sought to analyze and describe sexual-related experiences in both emotional and sexual
relationships during the COVID-19 pandemic. The health emergency context is the research
focus, as restriction and isolation measures resulted in the need to reorganize the health system,
and in changes within different relationship dynamics, such as families, work, and sexuality. In
order to comprehend the measures’ consequences, semistructured interviews were conducted
with five women, and the Content Analysis method was used to analyze the answers. The results
point out that the pandemic changed the participants’ routines, including life-quality
improvement due to the home office work model, as well as the increased amount of time that
couples spent together. However, the pandemic also intensified existing challenges, such as
relationship monotony, stress due to new work environment, and the overload of tasks related
to private life (i.e. home and family care). In regards to their sexuality, the interviewees
demonstrated that the bond created with their partners was perceived as the main motivation to
find solutions and new experiences.

Keywords: Sexuality. Women. Emotional-sexual relationships. Pandemic.

1
Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) da rede Ânima
Educação. E-mail: carolinecamassola@gmail.com. Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão
do curso de Graduação em Psicologia da UNISUL. Ano: 2022 Orientadora: Prof. Luciane Raupp, Dra.
2
Doutora em Saúde Pública, professora titular de Psicologia na Unisul.
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1 INTRODUÇÃO

Os estudos sobre sexualidade são atravessados por uma multiplicidade de fatores.


Tempo histórico, religião, classe, raça, etnia e gênero são algumas das questões que são
colocadas em pauta para compreender as várias possibilidades de viver os prazeres e desejos
do corpo (LOURO, 2000). Popularmente, a sexualidade pode ser vista como um evento da vida
privada, porém, mais do que uma questão pessoal, ela é política e social, sendo construída ao
longo de toda a vida e atravessada por conflitos contemporâneos. São em períodos históricos
de grande estresse social que a sexualidade é mais contestada, devendo ser tratada com atenção,
uma vez que “nesses períodos o domínio da vida erótica é, de fato, renegociado” (RUBIN,
1984, p.01). Dessa forma, diante de um cenário de crise pandêmica, esta pesquisa busca
compreender as implicações desse período na sexualidade de mulheres em relacionamentos
afetivos e sexuais.
Segundo Foucault (1988), a sexualidade é um dispositivo histórico “[...] em que a
estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos
conhecimentos, o reforço dos controles e das resistências, encadeiam-se uns aos outros,
segundo algumas grandes estratégias de saber e de poder.” (p. 99). Para o autor, as condutas em
torno da sexualidade podem ser compreendidas a partir dos dispositivos da sexualidade, que
são estratégias e formas de assujeitamento utilizadas pelo poder, que tem como função fazer
com que o sujeito do desejo desapareça a partir da reprodução de discursos e das regulações do
prazer e das práticas sexuais: “não te aproximes, não toques, não consumas, não tenhas prazer,
não fales, não apareças; em última instância não existirás, a não ser na sombra e no segredo”
(p. 81).
As práticas e estratégias dos discursos sobre sexualidade se moldam de acordo com cada
período histórico, pois o poder sempre encontra formas mais úteis e efetivas para continuar
operando (FOUCAULT, 1988). Para Núñez, Oliveira e Lago (2021), a monogamia, por
exemplo, é uma formação discursiva que opera através de uma importante rede de saberes e
poderes que foi difundida a partir da colonização, permanecendo até hoje como a norma para
as relações de parentesco, sexualidades e afetividades nas sociedades ocidentais. De acordo
com as autoras, nos projetos de colonização e catequização dos povos originários, havia a
reprodução de um saber da moralidade cristã sobre o selvagem (não-monogamia) e o civilizado
(monogamia). Apesar da monogamia ser caracterizada pela possibilidade de ter relações
afetivas e sexuais exclusivas com uma pessoa por vez, nas sociedades ocidentais ela já não faz
mais parte, necessariamente, das escolhas individuais dos sujeitos, mas segue sendo imposta de
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maneira normativa de modo a controlar e marginalizar o que não se enquadra neste ideal
(PORTO, 2017).
Entre os séculos XVI e XIX a sexualidade foi marcada pelo discurso da religião,
majoritariamente da Igreja Católica, que ditava as regras e as punições do que era considerado
correto ou pecaminoso. Uma época marcada por desigualdades nas relações de classe, gênero
e raça. Por exemplo, enquanto homens heterossexuais brancos podiam exercer livremente sua
sexualidade, controlando não apenas os seus, mas também os corpos das mulheres, as mulheres
brancas ocupavam um espaço de submissão e obediência à família, servindo para reprodução e
cuidados da casa, dos filhos e dos homens, sendo o seu dever agradar e servir (BORIS;
CESÍDIO, 2007). Já as mulheres negras tinham os seus corpos escravizados e abusados
sexualmente, destinados a dar prazer aos “seus” senhores (BORIS; CESÍDIO, 2007).
O discurso difundido pela igreja em relação ao sexo era caracterizado pela ausência do
desejo e do prazer, seguido pelas restrições do casamento monogâmico heterossexual, que
delimitavam onde e como deveriam ocorrer as atividades sexuais, que eram aceitas apenas
quando executadas dentro do casamento com o objetivo de reproduzir e desfrutando o mínimo
possível dos seus prazeres. Para as mulheres, o conhecimento sobre a sexualidade antes do
casamento não era permitido, consequentemente, as experiências sexuais eram passivas,
marcadas por pouco ou nenhum controle sobre o acontecimento, gerando medo, dor e
inseguranças (BORIS; CESÍDIO, 2007).
Com o avanço do sistema econômico capitalista, demarcou-se a diferença sexual
biológica entre homens e mulheres, existindo uma definição de gênero baseada no discurso da
existência de dois sexos (masculino dominante e feminino inferior). Mesmo que muitos
médicos já considerassem essa diferença anteriormente, o capitalismo reconfigurou esse olhar
para a anatomia e a elaboração biológica foi influenciada politicamente, pois nesse período
precisava-se do segundo sexo para fazer o trabalho disciplinar e de cuidado: a mulher que se
torna mãe para criar crianças socialmente disciplinadas (LAQUEUR, 2001). Dessa forma, os
homens ocuparam um lugar no mundo público, garantindo reconhecimento e remuneração,
enquanto as mulheres (majoritariamente brancas) estavam na esfera do mundo privado,
procriando e cuidando da casa, do homem e dos filhos. Concomitantemente, as mulheres negras
e de camadas populares já trabalhavam em condições precarizadas, sendo esperado delas uma
servidão voluntária (ZANELLO et al., 2022).
Os movimentos feministas foram fundamentais para iniciar uma ruptura, ainda em
curso, da condição de dominação patriarcal. A crise na família nuclear monogâmica e
heterossexual, a inserção das mulheres nas universidades e no mercado de trabalho, a separação
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da sexualidade da reprodução e as visibilidades da homossexualidade, lesbianidade e


bissexualidade foram alguns dos fenômenos que trouxeram novas referências para a sociedade,
fundando diferentes maneiras de pensar e viver as sexualidades (ARÁN, 2003).
Para as mulheres, os dispositivos contemporâneos criaram um modelo de sexualidade
ocidental moderna dentro do casal heterossexual, em que a sexualidade feminina, por tanto
tempo reprimida, agora deve ser liberada. A mídia, o mercado erótico, a sexologia apresentam
a nova mulher: elegante, independente, ocidental, magra, branca, jovem, heterossexual,
especialista em prazer, dona de si, multiorgásmica, sensual, confiante, desejada, desejante,
livre. Uma liberdade mascarada por novos reguladores, que ao mesmo tempo que aumentam a
visibilidade da sexualidade das mulheres, difundem novas representações hegemônicas de
corpos e sexualidades (HERNÁNDEZ, 2016)3.
Em 2020, o surgimento de um vírus causador de uma doença infecciosa foi responsável
por uma crise sanitária e social a nível global, a pandemia da COVID-19. Uma das principais
estratégias para conter a COVID-19 foi a quarentena (também conhecida popularmente como
isolamento social) que refere-se a um período de restrição de circulação de indivíduos para
evitar contato e disseminação do agente infeccioso. No Brasil, o estado de quarentena foi
decretado em março. Locais como escolas, igrejas, bares, academias, etc. foram fechados por
tempo indeterminado, voltando a abrir de acordo com as determinações de estados e municípios
(VASCONCELOS et al., 2020). Uma pandemia que afetou e foi afetada pela sexualidade, dado
que sua propagação se deu na corporalidade: no toque, no abraço, no beijo, no convívio, na
proximidade (ALMEIDA, 2020).
Além disso, a pandemia da COVID-19 ocorreu no decurso de um governo de extrema
direita no Brasil, que utilizou da gestão da sexualidade e das relações de gênero para realizar
uma campanha baseada em uma política social repressiva, antidemocrática e crítica aos direitos
humanos (ALMEIDA, 2020). Ainda de acordo com o autor, esse movimento ocorreu com o
apoio de setores conservadores, que apoiados na mídia e na divulgação de fake news,
propagaram ideias deturpadas sobre educação sexual e gênero. A política sexual deste período
legitimou uma política sexual branca, sexista, heteronormativa e reprodutiva, ao passo que
ameaçou as outras formas de sexualidade. E foi nesse contexto que se alastrou um regime de
destruição das oportunidades de viver dignamente e constituiu-se privilégios para um grupo
seleto, deixando na história do Brasil uma crise potencializadora de desigualdades sociais.

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Tradução nossa.
5

A rápida progressão da pandemia, a mudança na forma como as relações sociais eram


estabelecidas, o aumento no número de mortes e o medo de contágio abalaram a estabilidade
emocional de toda a população, que sofreu consequências na saúde física e mental, sendo a
saúde sexual uma das mais afetadas (IBARRA et al., 2020)4. O período de quarentena limitou
o contato entre as pessoas, aquelas que não viviam com seus parceiros(as) tiveram que
redescobrir novas formas de satisfazer seus prazeres, enquanto outras arriscaram a própria
segurança em busca dessa satisfação, quebrando as regras de afastamento social. Já aqueles que
no início tiveram o privilégio de estar isolados com seus parceiros(as), com o passar do tempo
podem ter enfrentado as dificuldades da falta de privacidade e contato social com outras pessoas
(ALVES et al., 2020).
O modo de funcionamento das famílias e dos casais precisou ser adaptado para uma
nova realidade e a consequência desse curto período repleto de mudanças gerou um aumento
nos níveis de estresse das famílias (RELVAS; PORTUGAL; SOTERO, 2020). Apesar dessas
mudanças atingirem a todos no núcleo familiar, as mulheres foram as mais afetadas, entre as
principais consequências destacam-se:
[...] a alta incidência de desemprego, a precarização das condições de sobrevivência e
a insegurança alimentar de muitas famílias, levando a um empobrecimento ainda
maior de mulheres pobres.[...] a sobrecarga de trabalhos e tarefas domésticas e de
cuidado; o esgotamento físico e psíquico; a vulnerabilização psicológica e os prejuízos
à saúde mental das mulheres” (ZANELLO et al., 2022, p.04)

Uma parte da população, principalmente de classe média e alta, conseguiu manter e


exercer seus trabalhos na modalidade home office, que também trouxe outros desafios para os
sujeitos, principalmente para as trabalhadoras. Em uma sociedade capitalista que explora as
mulheres em condições “normais”, colocadas como responsáveis pela maior parte dos cuidados
da família, diante da crise sanitária houve um aumento nessa sobrecarga de trabalho dentro e
fora de casa, acarretando inclusive na perda de oportunidades econômicas. Em paralelo, as
trabalhadoras que em situação de vulnerabilidade não tinham a opção de aderir ao modelo home
office, precisaram arriscar sua saúde para garantir o sustento da família (LEMOS; BARBOSA;
MONZATO, 2020; ZANELLO et al., 2022).
De acordo com Zanello (et al., 2022), a construção da emocionalidade das mulheres
passa pelo heterocentramento, que são os discursos que operam desde cedo na criação das
meninas para ensiná-las a priorizar o cuidado do outro, em detrimento do cuidado de si. Esse
discurso, não se limita apenas à relação da mulher com a maternidade, mas se estende a todas
as suas relações sociais, inclusive aos relacionamentos afetivo-sexuais. As consequências desse

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Tradução nossa.
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papel de cuidado atribuído às mulheres ampliou-se, ainda mais, na pandemia. Dois estudos
internacionais apontam que, comparativamente aos homens, as mulheres sofreram um declínio
no bem-estar psíquico significativamente maior, além de apresentarem maior sofrimento
psíquico e sintomas de depressão, ansiedade e estresse (ETHERIDGE; LISA, 2020 apud
ZANELLO et al., 2022).
Como pôde ser observado, os períodos de isolamento causaram impactos na rotina e
saúde das mulheres e, mesmo com o fim das medidas de restrição e com o retorno à vida
“normal”, é fundamental que os reflexos e as consequências da pandemia sejam pesquisados e
analisados. Enfrentar o confinamento, o medo da exposição, a privação do ‘corpo a corpo’, as
relações virtuais, os problemas econômicos e as incertezas sobre o futuro fez parte da rotina de
grande parte da população e são condições que influenciam na subjetividade do sujeito e na sua
relação consigo e com o próximo. Enquanto era preciso usar máscaras, evitar o abraço, lavar as
mãos, preparar comida, trabalhar, cuidar dos filhos pequenos, aqueles anseios mais íntimos, o
toque ao próprio corpo e ao corpo do outro, por exemplo, foram relegados a um segundo plano
(ALVES et al., 2020).
Assim, torna-se importante olhar para a saúde da mulher durante a pandemia de maneira
holística e humanizada, sendo necessário um aprofundamento dos estudos relativos à
sexualidade, uma vez que os cuidados sobre os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres em
sua maioria são dirigidos apenas às condições fisiológicas (PONTES et al., 2021). Fleury e
Abdoi (2021) concluem que as consequências da COVID-19 na saúde mental da população
influenciam na saúde sexual e contribuem no desencadeamento ou agravamento de problemas
sexuais. Logo, faz-se fundamental o desenvolvimento de estudos e práticas que diagnostiquem
a situação e sugiram caminhos capazes de cuidar também da sexualidade em seus múltiplos
aspectos.
Considerando o compromisso social da Psicologia em atuar na promoção da saúde e na
qualidade dos coletivos, será relevante compreender a relação de mulheres com a sexualidade
em um contexto de riscos e dificuldades emocionais, que ressalta ainda mais desigualdades
diversas, como de gênero, classes e raças. Além disso, identificar o papel que essas mulheres e
seus parceiros assumem nos relacionamentos da contemporaneidade e como isso afeta sua
saúde física, mental e sexual. Dessa maneira, profissionais da saúde poderão atuar de maneira
mais efetiva nas intervenções que promovem saúde sexual, possibilitando espaços para uma
sexualidade vivida com bem-estar, segurança e distante de violências. Por ser um tema recente
e que ainda está em andamento, entende-se que muitos estudos ainda não foram produzidos ou
publicados e que muitos efeitos desse período ainda são desconhecidos.
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Compreendendo a importância de viver uma sexualidade segura e prazerosa, e de


aprofundar o conhecimento sobre os impactos que a pandemia trouxe para a saúde dos
indivíduos, especificamente das mulheres, essa pesquisa teve como objetivo central
compreender as possíveis implicações do período pandêmico na sexualidade de mulheres em
relacionamentos afetivo-sexuais. Para tanto, buscou-se: conhecer o significado de sexualidade
para as mulheres entrevistadas; identificar quais foram as consequências do período pandêmico
em seu cotidiano; descrever como as participantes perceberam os seus relacionamentos afetivo-
sexuais antes e durante a pandemia; e explorar as diferenças das experiências sexuais delas
antes e durante a pandemia da COVID-19.

2 PERCURSO METODOLÓGICO

Foi desenvolvido um estudo de campo, modalidade em que há o “[...] envolvimento


qualitativo do pesquisador no contexto da realidade pesquisada” (LEONEL, MOTTA, 2007, p.
134), com caráter exploratório, de natureza qualitativa e corte transversal. A pesquisa
qualitativa visa ao aprofundamento das relações, processos e fenômenos através de uma análise
subjetiva (MINAYO, 2001). A pesquisa exploratória busca proporcionar maior familiaridade
com o tema escolhido (GIL, 2002), aprimorando os conhecimentos referentes à problemática
da sexualidade feminina no contexto pandêmico. Por ser uma pesquisa realizada em um período
de tempo curto e determinado, é considerada uma pesquisa de estudo transversal (FONTELLES
et al., 2009).
A escolha das participantes se deu por meio do método Bola de Neve (Snow Ball),
definida como uma cadeia de referências, em que a pesquisadora deve acessar sua rede de
contatos e utilizar como informantes-chave, com o intuito de localizar algumas pessoas com o
perfil necessário para a pesquisa, que sucessivamente vão indicando outras pessoas até alcançar
o número de participantes definidos no percurso metodológico (VINUTO, 2014). O método foi
considerado por possuir critérios específicos de seleção e abordar uma temática particular para
os sujeitos, uma vez que adentra níveis da vida privada e informações sensíveis.
Foram selecionadas duas mulheres a partir da rede de contatos pessoal da pesquisadora,
nomeadas como sementes, que indicaram possíveis entrevistadas, até que as cinco mulheres
dentro do perfil definido foram alcançadas. Compreendendo que o uso da amostragem em bola
de neve pode acessar apenas argumentações semelhantes, já que os indivíduos indicam pessoas
de sua rede pessoal, as duas sementes foram selecionadas considerando narrativas plurais e
oriundas de redes diversas (VINUTO, 2014). Esse projeto foi aprovado sob número CAAE:
61393222.3.0000.5369.
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Para a seleção das participantes, os critérios foram: se reconhecer como mulher


cisgênero (se identifica com o gênero atribuído no nascimento); ter entre 25 e 40 anos; ter feito
a migração para o modelo de trabalho remoto durante a pandemia; estar em um relacionamento
afetivo-sexual heterossexual e monogâmico com a mesma pessoa por pelo menos um ano
anterior ao período pandêmico (fevereiro/2019) e ter vivido em coabitação com o parceiro
durante a pandemia.
Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, com duração média de 60 minutos cada,
compostas por questões abertas que buscaram permitir às entrevistadas falarem sobre sua
experiência de forma mais livre e espontânea, dentro do foco de estudo (LIMA; ALMEIDA;
LIMA, 1999). As entrevistas foram mediadas pela tecnologia (entrevistas virtuais) através da
plataforma Zoom, após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Os dados coletados foram transcritos no software Transkriptor e analisados por meio do
método de Análise de Conteúdo (BARDIN, 1977), uma técnica de análise das comunicações a
partir da observação do que foi dito nas entrevistas. Através da transcrição, buscou-se
categorizar o conteúdo das entrevistas em temas que auxiliam na compreensão dos discursos
(SILVA; FOSSÁ, 2015). As etapas técnicas utilizadas foram: a pré-análise, em que ocorreu a
organização dos materiais e a leitura flutuante, permitindo um primeiro contato com o conteúdo;
a definição das categorias de análise; e o tratamento e interpretação dos resultados, realizado a
partir do referencial teórico sobre sexualidade, relacionamentos afetivo-sexuais e pandemia
(BARDIN, 1977).

3 ANÁLISE E DISCUSSÕES

Os resultados decorrentes das entrevistas coletadas e analisadas com base nos objetivos
desta pesquisa serão apresentados a seguir, por meio das seguintes categorias: a) significado de
sexualidade; b) consequências da pandemia no cotidiano das mulheres e seus parceiros; c)
percepções sobre os relacionamentos afetivo-sexuais antes e durante a pandemia; d) diferenças
das experiências sexuais das participantes antes e durante a pandemia, as quais serão abordadas
a seguir.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DAS PARTICIPANTES

Considerando o método de escolha e o número de participantes, essa pesquisa não


intencionou falar das experiências das mulheres entrevistadas de uma forma universal, mas a
partir da parcela do público atingido, ou seja, predominantemente mulheres heterossexuais,
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brancas, da classe média, com curso superior completo, que fizeram isolamento social em casa
e atuaram no modelo de trabalho home office, com acesso à internet e equipamentos eletrônicos.
Dessa forma, existe um recorte social que deve ser levado em consideração e que busca
descrever a experiência destas mulheres, em específico.
Para garantir o anonimato das participantes, os nomes utilizados são fictícios, sua
atribuição foi baseada em um aglomerado de estrelas chamado Plêiades, cujas estrelas
principais são muito maiores e mais brilhantes que o nosso Sol, utilizadas por muito tempo
como referência nas grandes navegações e para testes de visão na Grécia antiga. A justificativa
para essa escolha ocorreu porque as principais estrelas da constelação, assim como as cinco
participantes, representam centenas de outras estrelas brilhantes que não puderam ser ouvidas
nesta pesquisa. Além disso, cada uma possui seu brilho e suas particularidades, mas juntas
compõem uma das mais belas constelações do sistema solar (SILVA-OLIVEIRA; SALES;
LAZO, 2020).
Alcyone, mulher branca, 27 anos, bissexual, sem filhos, ensino superior completo, em
um relacionamento de 10 anos e em coabitação com o parceiro desde janeiro de 2020. Afirma
já ter vivido diferentes histórias no seu relacionamento, como términos, traições das duas partes,
reconciliações e diferentes experiências sexuais juntos e envolvendo outras pessoas. Faz
questão de reforçar que se considera uma mulher feminista que inicia a luta por igualdade dentro
da própria casa e da relação.
Maia, mulher negra, 29 anos, heterossexual, sem filhos, ensino superior completo, está
com seu parceiro há mais de 3 anos e em coabitação desde o início da pandemia. Uma mulher
com vontade de viver sua sexualidade de forma ampla, conhecendo e explorando o seu corpo.
Asterope, mulher branca, 36 anos, heterossexual, sem filhos, pós graduação completa,
em um relacionamento de 15 anos e completando uma década de coabitação com seu parceiro.
Compartilha a experiência de um relacionamento de intimidade e companheirismo.
Merope, mulher branca, 28 anos, heterossexual, sem filhos, ensino superior completo,
em um relacionamento de 10 anos e em coabitação por 4 anos com seu marido, faz a entrevista
diretamente de Amsterdam, na Holanda, cidade em que vivem desde 2019. Traz com
transparência as dificuldades que enfrenta há anos com a mudança de país, busca por emprego,
problemas com sua saúde física e o desafio constante que é ser uma pessoa com ansiedade.
Atlas, mulher branca, 40 anos, heterossexual, mãe de duas meninas (de 8 e 3 anos), pós-
graduação completa, em um relacionamento de 4 anos com seu parceiro e morando juntos desde
os princípios da relação. Fala sobre os desafios da maternidade, contando sua experiência como
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mulher que é mãe e precisou enfrentar no período pandêmico o fechamento das instituições
escolares, o puerpério e uma demissão.

3.2 SIGNIFICADO DE SEXUALIDADE

Conforme discutido na introdução, o campo de estudos sobre sexualidades é amplo e


complexo, perpassado por determinações sociais e históricas que se impõe por meio de um
conjunto de discursos que não visam diretamente à repressão, em si, mas à produção de saberes
que se desdobram em relações de poder sobre os corpos, as pessoas e suas formas de viverem
suas sexualidades. Esses discursos produzem verdades e, assim, ditam normas que determinam
o que, como e onde pode ser dito, produzindo um controle para falar e viver as práticas sexuais
(FOUCAULT, 1988). Dessa forma, compreende-se que, para conhecer as experiências sobre
sexualidade durante o período pandêmico, é necessário recorrer à compreensão do significado
de sexualidade pelo viés das participantes, identificando como os dispositivos contemporâneos
que visam gerir esse campo as atravessam.
Das cinco participantes, três delas disseram que a sexualidade está associada com a
relação sexual que se tem com outra pessoa, porém apenas Atlas trouxe esse significado como
único: “É o relacionamento sexual que tu tem com alguém, não importa quem”. Logo, nota-se
na fala de Atlas que a relação sexual com o outro ainda pode ser vista como única forma de
exercer a sexualidade. Nesse sentido, compreende-se que a hegemonia heterossexual
centralizou a sexualidade na genitalidade, classificando a partir disso as ações sexuais e não
sexuais, partes públicas e privadas do corpo, o normal e o anormal, legitimando apenas as
expressões sexuais dominantes desse grupo (HERNÁNDEZ, 2016)5. No que se refere a
experiências sexuais de mulheres heterossexuais, Garcia (2007) aponta que nessas relações há
uma centralidade do sexo vaginal e que, muitas vezes, a sexualidade é colocada sob
responsabilidade do outro, desconsiderando a própria autonomia em vivenciá-la.
Asterope e Merope compartilham de uma concepção similar, percebendo a sexualidade
no campo das relações, tanto na relação estabelecida com o outro, como na relação com o
próprio corpo:
Tem a ver com o relacionamento de uma pessoa com outra e tudo mais, mas eu acho
que também tem muito a ver da gente com a gente mesmo, né? Vinculado ao prazer,
ao sexo de maneira geral, eu acho que tem essa relação nós com a gente mesmo e a
gente com outro, né? Envolve outras coisas, cumplicidade, parceria, companheirismo
e tudo mais. (Asterope)

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Tradução nossa.
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Para mim, é estar confortável em compartilhar, enfim, momentos com outras pessoas,
com o seu parceiro ou parceira, ou até sozinha no caso, enfim, se sentir confortável
com o próprio corpo. (Merope)

Existe uma construção histórica de representações ideais sobre sexualidade no ocidente,


construída a partir de normas de gênero que reproduziam a sexualidade masculina como ativa,
forte e estimulada por imagens e fantasias, ao passo que a feminina é representada como
passiva, disciplinada e reprodutiva. Esta tendência pode ser observada já na educação sexual na
adolescência, em que há um discurso diferenciado para homens e mulheres, geralmente
responsabilizando-as pela prevenção da contracepção, ignorando assim a responsabilidade
mútua que deveria haver entre os parceiros (HERNÁNDEZ, 2016)6.
As falas de Asterope e Merope, no entanto, apontam uma nova forma de olhar para as
relações afetivas e sexuais e para o prazer feminino, ressaltando a influência e importância da
intimidade e cumplicidade nos relacionamentos para uma sexualidade prazerosa, logo,
entendendo que a sexualidade é atravessada pela qualidade das relações. Nesse contexto, Weeks
(2000) explica que mesmo que a dominação masculina ainda permaneça como uma
característica central da sociedade moderna, esse privilégio não é imutável, uma vez que as
mulheres têm conquistado espaços para determinarem suas próprias necessidades, incluindo
não apenas o prazer, mas também formas respeitáveis de se viver um relacionamento.
Na mesma direção, Maia fala sobre a importância da relação com o próprio corpo no
exercício da sexualidade, explorando experiências sexuais e diferentes formas de se obter
prazer:
[...]é meio que uma forma de autoconhecimento e liberação também de energia[...] é
uma coisa que é muito importante para mim. Tipo, dou muito valor, sabe? Sempre foi
uma coisa que teve presente, que tá presente há muito tempo assim na minha vida,
até como pensamento, coisa que eu reflito sobre. [...] acho que é uma forma de me
conhecer, de explorar o resto do meu corpo, conhecer meus prazeres.
Eu penso muito no que ainda dá para descobrir. E no que que dá para melhorar,
sabe? [...] Eu sempre fui uma pessoa que experimentou muitas coisas, tipo, hoje eu
digo que sou heterossexual e tal, estou numa relação monogâmica, mas eu já
experimentei muitas coisas. E eu tenho muita curiosidade de descobrir, de
experimentar, de conhecer o que dá para fazer, sabe, saber qual é a sensação. Então
eu acho que eu me pergunto muito nesse sentido assim, de: Dá para ser mais gostoso?
Sabe, dá para ter mais prazer? E também me questiono muito qual os meus limites?
Tipo, até onde eu quero, até onde eu não quero.

Maia evidencia em suas falas como a sexualidade é mutável e passível de transformação,


corroborando com Louro (1997) de que as identidades sexuais e de gênero, assim como todas
as identidades sociais, não são únicas e permanentes, mas plurais. De acordo com a autora, a
cultura ensina a viver o gênero e a sexualidade através dos seus discursos, das suas leis, da sua

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Tradução nossa.
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ciência e dos dispositivos da contemporaneidade. É ensinado como se deve amar, experimentar


prazeres, realizar desejos e receber afetos. À vista disso, são múltiplas as formas de ser e estar
no mundo, os corpos e suas expressões de gênero, sexualidade e prazeres ampliaram-se e
questionam sistemas normativos, binários e universais (LOURO, 2008).
Além disso, Maia traz à tona a autonomia no campo sexual e dos relacionamentos,
buscando através de diferentes experiências encontrar aquelas que lhe satisfazem e dão mais
prazer. Analisando historicamente, no ocidente, sob grande influência do cristianismo, o sexo
foi associado ao objetivo de reprodução, sendo o prazer considerado um pecado, principalmente
quando relacionado às mulheres (GOZZO, et al., 2000). Foi principalmente a partir da década
de 1960, com as conquistas dos movimentos feministas e da revolução sexual, que houve uma
propagação dos prazeres do corpo feminino. Nesse período, no Brasil, popularizaram-se
conteúdos pouco divulgados e estudados, como o fato das mulheres terem orgasmos, sobretudo
clitoriano e não apenas vaginal. A revista Nova publicou artigos sobre a “nova mulher
ocidental” (independente, profissional, livre), divulgou saberes sexuais para hábitos pessoais e
nos relacionamentos e explicou a fisiologia do corpo feminino e masculino, evidenciando o
clitóris como órgão fundamental do prazer sexual. Se nas décadas anteriores o corpo feminino
era meramente reprodutivo, um corpo que não habitava prazer e desejos, apenas o instinto
materno, o aparecimento do clitóris nos períodos de explosão feminista foi fundamental para
dar à mulher um lugar de ser desejante (RAGO, 2002).
Já para a participante Alcyone, a sexualidade se encontra no âmbito político e nas
relações de gênero:
Como eu sou uma mulher que me declaro feminista, eu penso muito na sexualidade
como política também, inclusive dentro de casa. E vivo muito esse dilema. Ser
tolerante é uma característica que eu preciso desenvolver em mim, mas eu, como
mulher, num relacionamento monogâmico com o homem hétero, preciso também
mensurar minha tolerância, tipo, não quero ser tolerante demais. Então, para mim, a
sexualidade tem muito a ver com esse posicionamento político. Além da questão de
vida sexual mesmo.

A fala da participante revela o alcance dos movimentos feministas em uma parcela


significativa da subjetividade das mulheres contemporâneas. Conforme explicado por Rubin
(1984) “Devido a sexualidade ser um elo entre relações entre os gêneros, muito da opressão das
mulheres é suportada por, mediada através de, e constituída dentro, da sexualidade” (p.40).
Logo, quando Alcyone fala que precisa mensurar sua tolerância dentro de uma relação
heterossexual monogâmica, existe uma compreensão de que, assim como o gênero, a
sexualidade é política. A mulher feminista muitas vezes é caracterizada como intolerante,
porém, essa especificação de intolerância normalmente é a reprodução de discursos machistas
13

em cima de comportamentos que não devem ser tolerados e que devem ser modificados numa
esfera relacional.
Os sistemas de poder que organizam a sexualidade impõe normas e padrões que
recompensam os indivíduos que os seguem enquanto punem e excluem aqueles que se
expressam de outras maneiras. Todos os corpos são atravessados pelo controle e pela disciplina
dos dispositivos, porém, a depender de quem e para quem se remete, esse controle permite o
exercício das diferentes formas de violência (RUBIN, 1984).
A sociedade ocidental se organiza de forma hierárquica ao avaliar os atos sexuais, onde
no topo da pirâmide encontram-se os maridos heterossexuais, seguido de mulheres
heterossexuais. Ainda, os casais homossexuais estão no limite do aceitável, logo abaixo estão
os homossexuais “promíscuos”, seguidos daqueles mais desprezados nas castas sexuais, como
travestis, transexuais, fetichistas, trabalhadores do sexo, sadomasoquistas e outros com
comportamentos sexuais considerados anormais. Quanto mais abaixo da pirâmide, mais esses
corpos são reconhecidos como doentes, criminais, indignos de acesso a mobilidade, saúde e
suporte institucional. Muitas pessoas não compreendem que existem diferentes formas de
acessar os prazeres do corpo, que aquilo que um repudia sexualmente, pode trazer prazeres
inimagináveis ao outro, logo, preferências sexuais não deveriam ser colocadas como
universalizantes (RUBIN, 1984).
Constata-se nas falas das participantes que existe um saber sobre sexualidade que se
opõe aos discursos tradicionais da Igreja Católica e do Estado, pois elas se apropriam do direito
de viver uma sexualidade mais igualitária e autônoma, superando a lógica da reprodução e
centrada apenas no relacionamento. Esses novos discursos são produtos da modernidade, que
apresenta e divulga a possibilidade de um corpo que pode ser explorado e desfrutado, além da
possibilidade de viver relações afetivas e sexuais com igualdade e respeito.

3.3 CONSEQUÊNCIAS DA PANDEMIA NO COTIDIANO

A seguir serão apresentadas as consequências que o período pandêmico e as estratégias


de contenção do vírus, como a quarentena, trouxeram para o cotidiano das entrevistadas e dos
seus companheiros.
Cabe destacar aqui que, das cinco entrevistadas, todas estavam em modelo de trabalho
presencial antes da pandemia e quatro delas (Alcyone, Asterope, Maia e Merope) passaram a
trabalhar no modelo home office quando foi decretada a quarentena, seguindo nesse modelo até
14

o dia de realização das entrevistas. Uma delas, Atlas, estava em licença maternidade durante a
pandemia e, ao retornar ao mercado de trabalho, seguiu com o modelo remoto.
Ao serem questionadas sobre a percepção em relação a esse modelo de trabalho, Maia,
Asterope, Merope e Atlas relataram que, antes dele, perdiam muito tempo de deslocamento até
o local de trabalho. Asterope, Merope e Atlas demonstraram satisfação com esse formato:“Bem
no comecinho, assim, sinceramente, eu gostei muito de começar a trabalhar em casa, por causa
dessa distância que eu tinha que percorrer” (Merope).
Para Asterope, além da quarentena, houve uma mudança de local de moradia (de São
Paulo para Florianópolis). Ressalta como essa mudança, juntamente com a de aderir ao modelo
de home office, trouxeram aumento de sua qualidade de vida, pois já não gastava tempo de
deslocamento e conseguia incluir outras atividades no seu dia a dia que antes não era possível:
“Eu estou de home office até hoje, né? Embora vá algumas vezes para o escritório, a minha
rotina é home office. Agora estou super adaptada com isso [...] e até agora eu prefiro assim,
faz muita diferença trabalhar de casa e tudo mais.”
Em relação aos parceiros das participantes, apenas um tinha a opção de trabalho híbrido
(pode escolher entre trabalhar em casa ou no escritório), enquanto os outros também
trabalhavam de maneira presencial. Depois, quatro deles passaram a trabalhar em casa e apenas
o companheiro de Atlas permaneceu com a mesma rotina, pois seu trabalho como autônomo
era inviável de ser realizado em casa.
Quando questionadas sobre quais foram as principais mudanças de rotina durante esse
período, além de começar a trabalhar em casa, todas citaram o fato de não poderem mais sair
para lugares externos, como bares, cafés, festas, etc. Contam também que, para substituir esses
momentos de lazer, passaram a adaptá-los a atividades dentro de casa, sozinhas ou com os
parceiros.
Tais mudanças positivas relatadas em relação às vantagens do home office, somadas à
percepção de aumento de qualidade de vida, proporcionada pelo trabalho remoto, devem ser
compreendidas levando em consideração o recorte de classe social que perpassa este estudo, o
qual possui privilégios em comparação a outros grupos. A oportunidade de trabalhar em casa,
de ter acesso a um local confortável e espaçoso, com computador e internet é, infelizmente,
algo que ainda não é acessível a todas as pessoas.
Segundo Albuquerque e Ribeiro (2020), a pandemia intensificou um dos fundamentos
do capitalismo, ao socializar os riscos entre a população, mas privatizar as recompensas,
riquezas e oportunidades apenas para alguns. Os autores explicam que os agravos à saúde (não
somente durante a pandemia) estão relacionados às situações de desigualdades impostas aos
15

corpos, que colocam de um lado, a riqueza e conforto, e de outro, escassez, pobreza e


vulnerabilidade. As diferenças do acesso às condições de moradia, trabalho, consumo,
mobilidade, saneamento básico, oportunidades de renda e acesso a serviços de saúde
acentuaram o adoecimento e letalidade das populações mais vulneráveis.
Em comparação às outras participantes, percebe-se um impacto diferente no cotidiano
de Atlas, que passou a alfabetizar a filha mais velha em casa, enquanto cuidava da filha recém
nascida. Ainda, ao retornar da licença maternidade, foi demitida e passou meses desempregada:
“Quando eu fui demitida, foi um choque para mim, né? Eu fiquei bem arrasada, até com medo
de secar o meu leite [...] mas eu consegui pensar direito [...] Eu não sabia como eu ia fazer
para cuidar da M., da B., mais do trabalho”. A situação apresentada por Atlas revela como a
maternidade, e os benefícios laborais decorrentes dela, impactam negativamente na
permanência das mulheres nos postos de trabalho após o período de licença maternidade. A
esse respeito, uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV, 2016) concluiu que,
após 2 anos, quase metade das mulheres que usufruíram de licença-maternidade estão fora do
mercado de trabalho - dados ainda maiores entre mulheres com nível educacional mais baixo.
Essa realidade se reflete nos dados oficiais, como na pesquisa nacional por amostra de
domicílios contínua (PNADC) de 2020 que apontou que, já no início da pandemia, no mês de
março, eram sete milhões de mulheres desempregadas, 25% a mais em relação aos homens.
Esses dados revelam que os cuidados da casa e da família recaíram predominantemente
sobre as mulheres durante a pandemia, incluindo o acompanhamento escolar das crianças, após
perderem as redes de apoio, como escolas e creches. A sobrecarga dessa dupla jornada de
trabalho traz consequências para a saúde dessas mulheres, além de afetar o acesso e a
manutenção das oportunidades de renda. Como apontado por Zanello (et al., 2022), os maiores
beneficiados dos dispositivos que colocam a mulher no papel de cuidadora são os homens que,
ao ter alguém para executar essa função, podem investir e priorizar seus próprios projetos,
desejos e interesses pessoais.
Ainda assim, Atlas diz que após um tempo entendeu que seria bom para que pudesse
cuidar das filhas e da casa e que alguns meses depois, conseguiu um emprego no modelo home
office e isso trouxe alguns benefícios: “Eu ganhei tempo de ir até o trabalho, de voltar do
trabalho. Tempo a mais com as minhas filhas [...] Não pude estar tão presente no crescimento
da M., assim, que nem acompanhei o da B. Então, estar mais próxima delas também foi o lado
positivo, sabe?”.
No tocante às responsabilidades da casa, as participantes falaram sobre uma divisão
equivalente das tarefas domésticas com seus parceiros, tanto antes quanto durante a pandemia.
16

Já Atlas diz que assumiu mais as tarefas durante a quarentena, por estar em casa enquanto o
parceiro saia para trabalhar, ainda assim, quando retornou ao trabalho, voltaram a dividir e ele
se responsabilizou mais pela casa.
Embora as participantes Alcyone e Merope tenham afirmado que os parceiros acabaram
assumindo mais tarefas domésticas do que elas, afirmavam também sentirem uma
responsabilidade em coordenar tais tarefas. Segundo Merope: "Eu sinto que a mulher em geral,
ela tem mais coisas na cabeça. Eu posso não estar fazendo, mas eu vou delegar, então, tipo ‘Tu
fez isso? Fez aquilo? Não fez nada?’. Enquanto que ele, eu acho que não pensa nisso.” Na
mesma direção, Alcyone diz: “Eu brinco que eu sou CEO [Presidente da empresa] aqui em
casa, né, que eu tenho que coordenar ele para ele executar. E faço ele entender que isso é uma
carga mental num relacionamento como um todo.” Tais afirmações corroboram com a pesquisa
de Zanello (et al., 2022) em que 76,7% das mulheres afirmaram serem responsáveis pela gestão
do trabalho doméstico e pela carga mental de planejar, cobrar e supervisionar estas tarefas.
Essa afirmação das participantes revela uma possível mudança na dinâmica das relações
contemporâneas acerca da divisão de tarefas, em que as mulheres já não aceitam ser colocadas
como únicas responsáveis pelos papéis de cuidado do lar. Contudo, como apontado por Picanço,
Araújo e Sussai (2021), o nível de escolaridade e número de filhos são fatores que influenciam
nos dados observados. Quanto maior a escolaridade e menor o número de filhos, mais é
observada uma divisão igualitária. Mesmo que o presente estudo não tenha optado por um
recorte interseccional que destacasse o papel da variável raça nas mulheres estudadas, ainda de
acordo com os autores, as mulheres negras realizam mais afazeres domésticos do que as
mulheres brancas e são elas que declararam maior cansaço referente aos papéis de gênero em
casa (PICANÇO; ARAÚJO; SUSSAI, 2021).

3.4 PERCEPÇÕES SOBRE OS RELACIONAMENTOS AFETIVO-SEXUAIS ANTES E


DURANTE A PANDEMIA

Nesta categoria, busca-se descrever a percepção das participantes sobre a influência do


período pandêmico nos seus relacionamentos afetivo-sexuais, explorando aspectos como
convivência, rotina e momentos de lazer.
De acordo com Bozon (2003), as relações conjugais passaram por grandes modificações
nos últimos séculos. Se por um longo período os casamentos foram motivados pela situação
econômica e os cônjuges escolhidos pelas famílias, foi a partir do século XX que se predominou
o casamento por amor, onde o afeto e os sentimentos amorosos se tornaram a principal razão
17

para a união entre pessoas. Nas últimas décadas, a instituição do casamento foi enfraquecendo
e dando lugar ao casal por amor (BOZON, 2003).
Esses arranjos contemporâneos nos relacionamentos afetivo-sexuais podem ser
observados nas relações das participantes: dentre as cinco, apenas Merope é casada, enquanto
Asterope e Atlas reconhecem seu estado civil como união estável, Maia é divorciada e Alcyone
se considera solteira, mesmo coabitando com o parceiro há alguns anos. A decisão por coabitar
com os parceiros ultrapassa as exigências tradicionais de casamento e são consideradas a partir
dos sentimentos e interesses individuais de cada um para contribuir na relação, sem exigir o
acordo matrimonial jurídico (BOZON, 2003).
Alcyone e seu parceiro decidiram morar juntos dois meses antes de iniciar a quarentena.
Já haviam tentado outras vezes, mas desistiram após enfrentarem dificuldades de convivência.
Ela acredita que o isolamento social foi um dos motivos para que continuassem morando juntos,
pois estimulou um amadurecimento das duas partes:
Talvez a gente tivesse de novo falado, não, não rola morar junto, mas aí o isolamento
acho que nos obrigou a levar isso por mais tempo, ser mais paciente um com o outro
e falar que tem que fazer dar certo, porque trancado dentro de casa, inevitavelmente
vai ficar na casa do outro. Então acredito que esse ficar morando junto foi um reflexo
do isolamento [...] Ter que conviver e relevar, ser mais paciente, entender que
relacionamento é isso, vai ter as tretas, vai ficar de cara virada, vai voltar a se falar,
faz parte. Acho que antes do isolamento, como cada um tinha sua casa, era muito
cômodo, né?

Para Maia, a decisão de morar com o parceiro decorreu da quarentena, pois, como
passavam grande parte do tempo juntos, decidiram que seria melhor estarem na mesma casa
nesse período. Ela reforça que a convivência diária trouxe mais intimidade:
Foi um tipo de convivência diferente para a gente. Foi uma novidade. Acho que foi
quando a gente começou a se conhecer mais nos defeitinhos assim, sabe, tipo o jeito
de cada um, coisas que a gente faz diferente. É, acho que intimidade mesmo. E aí é
engraçado que agora não tem mais quarentena, mas a gente continua vivendo o dia
inteiro juntos. Então nada mudou.

Já para Asterope, que coabita com o parceiro há 10 anos, o período de quarentena e o


home office trouxeram ainda mais qualidade para o relacionamento, pois puderam passar mais
tempo juntos, reforçando algo que sempre fez parte do casal: “Então, a gente sempre teve uma
rotina muito, muito juntos, assim, de trabalhar juntos, voltar juntos. Obviamente que,
esporadicamente sair separados assim, mas a nossa rotina sempre, desde sempre assim foi
muito uma rotina muito a dois assim, sempre foi”.
Em contrapartida, para Merope, que na época estava enfrentando problemas de saúde e
no trabalho, o isolamento social fez com que aumentasse a vontade de passar mais tempo
sozinha e de interagir com outras pessoas além do parceiro: “Eu estava muito mal com meu
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trabalho [...] tinha o período de trabalho e tinha um período meu, e aí o período de tempo livre
eu queria focar em mim e queria ficar quieta no meu canto”. E complementa: “Eu percebo que
para mim, eu precisava de mais interação social, tipo, ‘às vezes eu só preciso falar com alguém
que não seja que você’ [o parceiro]”
Atlas diz não perceber impactos da quarentena na convivência com seu marido, porém,
reforça ter sido um período que trouxe maiores consequências para ela: “Ele saia cedo, daí
vinha para almoçar, daí voltava só no final da tarde. Então, tipo, a gente não ficava o dia
inteiro juntos. E agora quem está em casa sou eu, não é? Daí eu fico meio estressada porque
eu fico muito em casa”.
As participantes Alcyone, Maia e Asterope ressaltaram como o período de quarentena
influenciou positivamente nos seus relacionamentos. Para Alcyone, a convivência diária
auxiliou na resolução dos conflitos que aconteciam dentro de casa, pois sem a opção de se
afastar do mesmo ambiente, precisaram adaptar a maneira como lidavam com os problemas e
encontrar soluções. Maia também destacou que a coabitação trouxe a necessidade de encarar
os defeitos alheios, e que isto foi benéfico para os dois, que através do conhecimento e respeito
diante do outro, puderam se fortalecer como casal. Asterope, mesmo dizendo que não percebe
influência direta da quarentena no relacionamento, reforça como foi importante poderem passar
mais tempo juntos.
Já para Merope e Atlas, mesmo passando por situações de estresse individual, os
relacionamentos não foram apontados como propulsores da situação, mas como algo que era
afetado por outros estressores. No caso de Merope, não interagir com terceiros e estar em uma
situação difícil no trabalho influenciavam diretamente na forma como se relacionava: “Com
certeza o meu estado emocional por causa do trabalho afetava muito as coisas que a gente
fazia junto, porque eu não queria fazer nada." Já para Atlas, os estressores estavam
relacionados à sobrecarga de tarefas em casa e à impossibilidade de sair. Essas situações
corroboram com um estudo realizado por Relvas (et al, 2020) com famílias de Portugal, que
encontrou um nível significativo no aumento de estresse durante os períodos de isolamento,
principalmente para as pessoas que viviam com parceiros(as). Para os autores, a impossibilidade
dos casais manterem seus hábitos individuais com outras pessoas e a convivência inevitável são
questões que causaram instabilidade na díade, principalmente quando somada à maior
responsabilidade com os filhos, o auxílio da educação escolar, a falta de rede de apoio familiar
e momentos de lazer escassos.
Contudo, como colocado por Almeida (2020), ainda que na quarentena tenham sido
explicitadas as relações desprazerosas, também foi possível observar o sucesso de
19

relacionamentos afetivo-sexuais, que quando baseados no respeito à autonomia dos


parceiros(as) e suporte econômico e emocional, encontraram formas de passar por esses
conflitos, como pode ser observado no caso das participantes desta pesquisa.
Uma outra mudança decorrente do período de quarentena para os relacionamentos
afetivo-sexuais foram os momentos de lazer. Se antes da pandemia esses momentos eram
alternados entre atividades dentro e fora de casa, como festas, bares, viagens, exercícios físicos
e sair com outros amigos, durante a quarentena eles precisaram se adaptar e buscar outras
possibilidades para entreter-se.
Alcyone diz: "A gente tentou manter atividade física em primeiro lugar, né? Que é uma
característica muito nossa como casal [...] a gente começou a cozinhar em casa. A gente
aprendeu a fazer várias comidas que não sabia”. Para Maia: “No início, foi um pouco
entediante, de tipo, meu, nada para fazer nada para fazer, e acho que foi essa época até que a
gente começou a assistir filmes, muitos filmes, um filme atrás do outro e a gente nunca mais
parou de assistir filmes. Assim virou uma obsessão nossa de casal”. Asterope: “A gente é muito
caseiro assim, assiste muitos filmes, séries e afins, então vai, passou a ser essa rotina e de
coisas dentro de casa e fora de casa, embora só eu e ele ali”. Merope: “A gente ainda continuou
fazendo as mesmas coisas que a gente fazia juntos, tipo cozinhar. A gente começou a testar
drinks em casa. Acho que aquelas coisas que a maioria das pessoas que ficou em quarentena
começaram a fazer”. Atlas: “A gente ficava fazendo um churrasquinho ali [na sacada] [...]
Conversando, ouvindo música”.
Além dos momentos de lazer da díade, as participantes Alcyone e Merope apontaram
que foi um período importante para estabelecer uma rotina individual dentro de casa, passando
a ter mais os momentos de lazer sozinhas: “Eu gosto de ficar sozinha um tempo, ficar quieta,
então a gente tenta estabelecer isso na rotina e quando veio esse isolamento foi mais difícil
fazer isso no início, mas depois a gente foi vendo que tem como fazer isso sim” (Alcyone). “É,
eu fiz muitas coisas sozinha, eu diria. Às vezes ele gosta de jogar, então às vezes ele ficava
jogando videogame e eu gosto muito de ler, então eu ficava lendo. Eu diria que principalmente
a leitura para mim foi uma coisa meio zona de conforto” (Merope)
Entretanto, observa-se que o tempo dedicado a si mesmas é influenciado pela
maternidade, pois as demandas da casa e dos cuidados aumentam neste caso, o que apareceu na
fala de Atlas, para quem não ter tempo para si foi citado como o principal responsável pelos
níveis de estresse que sentia:
É, não é fácil cuidar de 2 crianças, a B. ela acorda muito à noite, não é? E eu estou
sempre cansada, porque daí no outro dia eu tenho que trabalhar o dia inteiro. Às
vezes tem que parar o meu trabalho para fazer almoço ou para estender uma roupa
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ou botar uma roupa lavar ou porque está começando a chover e eu tenho que ir lá
tirar a roupa. Ou tem que parar às vezes durante a manhã para dar mamar para B.
ou as duas estão brigando e eu tenho que ir lá resolver o BO [...]

A situação vivida por Atlas pode ser observada em uma pesquisa realizada por Zanello
(et al.,2022) com outras mulheres com filhos, em que 79.7% concordaram estar mais cansadas
do que o normal no momento da pandemia, e que mesmo estando em casa, 77,1% delas
disseram não ter tempo para si e para fazer as coisas que gostavam.
A experiência das participantes e dos seus relacionamentos afetivo-sexuais são
subjetivas e variam de acordo com os aspectos que compõe essas famílias, como o arranjo
familiar, fatores econômicos, temporalidade, imprevistos, e o período pandêmico foi um evento
que trouxe novos estressores e necessidade de adaptação. No caso das relações aqui observadas,
o vínculo estabelecido entre as pessoas possibilitou o encontro de novas dinâmicas e
alternativas para suportar as mudanças, o que não significa que tenha sido fácil ou sem
dificuldades, mas revela a importância de uma relação de companheirismo para enfrentar as
adversidades.

3.5 DIFERENÇA DAS EXPERIÊNCIAS SEXUAIS DAS PARTICIPANTES ANTES E


DURANTE A PANDEMIA

Esta categoria tem como objetivo relacionar as experiências sexuais das participantes
antes e durante a pandemia, identificando as possíveis implicações desse período na sexualidade
dessas mulheres – o qual era o principal foco deste estudo.
No caso das participantes Alcyone, Maia e Merope, as três apontaram que sofreram uma
diminuição na frequência de relações e no desejo sexual nesse período e refletem sobre suas
possíveis causas:
Primeiro que a convivência diária na mesma casa o dia inteiro, eu acho que afeta,
porque perde aquele fator surpresa, né? Tipo, hoje eu vou ver a pessoa, eu tenho
certeza que isso é um fator que faz, que ocasiona a redução da libido. O estresse que
eu tenho no trabalho, principalmente o trabalho, que é o que ocupa mais na minha
vida, também influencia muito, com certeza, até de forma química inclusive no meu
corpo. (Alcyone)

Eu acho que é coisa do tempo de relacionamento mesmo, sabe? De encontrar um


equilíbrio entre, tipo, o que dá vontade de fazer e o que a gente tem que fazer [...]. E
sei lá, a gente encontrou nosso ritmo que funciona, sabe? Está bom para os dois, mas
é menor do que era antes. Acho que é natural. (Maia)

[...] foi no momento que eu comecei a ficar com ansiedade, é, eu tenho bastante
ansiedade [...] geralmente me tira o foco de muita coisa. E na época que eu tava
quase com burnout no trabalho, tipo, eu tava muito focada nisso.[...] E um terceiro
fator, eu tenho uma doença crônica e ela vai piorando [...] Então quando a gente
chegou aqui, ela ainda estava ok. E durante a pandemia, fiquei muito tempo parada,
muito tempo em casa, eu percebi que eu acho que isso com certeza teve um impacto
21

[...] e aí isso impacta muito a vida sexual tipo, muito. A gente costuma fazer muito
mais coisas, é muito mais flexível, tipo com o local, posição e tal, e agora é assim
[limitado]. (Merope)

Para Alcyone, o fato de não conviver com outras pessoas durante a quarentena
intensificou essa diminuição do desejo sexual mas, segundo ela, era um movimento que já
estava acontecendo em seu relacionamento, com o passar dos anos: “Acho que o fato da gente
muito antes do isolamento, estar em lugares com outras pessoas [...] instigava mais essa vida
sexual mais ativa, essa libido. E tipo, é o mesmo T. e a mesma Alcyone, só que o fato da gente
estar entre outras pessoas instigava mais”. Complementa que agora: “Apesar de termos
voltado a conviver com outras pessoas, não voltamos ao normal. Talvez seja esse o novo
normal”.
Merope compartilha que há alguns anos percebe essa mudança na sua relação com a
própria sexualidade: “Eu sempre fui uma pessoa muito sexualmente ativa. É, até nos primeiros
anos, assim no meu relacionamento com o L. nunca tive pudor nem nada, mas de uns anos para
cá, tipo o ritmo diminuiu. Eu faço menos coisas, tipo pra eu mesma também”.
Já Atlas diz que a pandemia não influenciou sua sexualidade e experiências sexuais com
o parceiro, mas que o nascimento da segunda filha foi o fator principal na diminuição da
frequência das relações sexuais. Para ela, o fato de ter uma rotina com muitas tarefas de cuidado
da casa e das filhas teve maior impacto nessa vivência, pois os dois estão sempre cansados: “É
uma rotina pesada, bem puxada, pesada e chega fim de semana, toma uma cervejinha, o corpo
já relaxa, já ploft”. Quando questionada se isso influencia de alguma maneira no
relacionamento, diz: “Eu acho que não, porque não é só isso que faz um casal, né? Não é o
sexo. É companheirismo, é carinho, é ajuda e apoio. É pensar junto, é crescer junto e pessoas,
não é só isso, né? Não é só sexo.”
Como pode ser observado, a pandemia não foi considerada pelas participantes como
causa principal na maneira como experienciaram a sexualidade nesse período. Porém, nota-se
que o isolamento, a falta de contato com outras pessoas, a saúde física, o trabalho e o
fechamento das escolas foram diretamente influenciados e intensificaram os conflitos já
existentes.
Em suma, as participantes Alcyone, Maia e Merope reconhecem que houve uma
diminuição na frequência e no desejo sexual pelo parceiro nessa época. Atlas diz que a
frequência também diminuiu e apesar de não reconhecer a pandemia como causa, e sim a
sobrecarga que estava enfrentando, compreende-se que há uma influência pelo contexto ao qual
ela estava inserida, sem uma rede de apoio de creches, escolas ou terceiros e sendo a única
responsável pelo cuidado da casa e da família no cotidiano, uma vez que o parceiro passava o
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dia trabalhando. Essas afirmações vão ao encontro dos achados de uma pesquisa realizada por
Fleury e Abdoi (2021) que apontou que a maioria dos casais pesquisados diminuiu a atividade
sexual durante a pandemia, principalmente pela falta de privacidade. Concluíram também que
as mulheres foram as mais afetadas, apresentando maior diminuição na frequência de atos
sexuais e um aumento nos níveis de estresse e ansiedade. Em uma pesquisa mais recente no
Brasil, Zanello (et al., 2022) identificou que 66,1% das mulheres também apontaram queda da
libido nesse período, além de mais de 80% dizerem sentir a falta de ter contato físico com outras
pessoas.
Na opinião da Asterope, a pandemia não teve nenhuma influência na sexualidade dela
e nas experiências sexuais com o parceiro, principalmente porque moraram em cidades
separadas durante os meses que antecederam a quarentena e encontraram nesse momento a
oportunidade de estar mais próximos:
Eu não vejo nenhum impacto na sexualidade em si, o que eu acho que acabou
influenciando é que, de certa forma, com a pandemia a gente ficou ainda mais
próximo do ponto de vista de rotina [...] Eu acho que isso a gente se aproximou mais,
mas na sexualidade em si [...] eu acho que não teve tanto impacto. Acho que o impacto
anterior desse distanciamento acabou sendo maior, né? Da saudade de ficar
separado e tal.

Além dos pontos acima, Maia diz que a pandemia trouxe para ela uma visão de
sexualidade como um campo aberto de possibilidades. Se antes era apenas voltada para o sexo,
hoje ela explora a relação com o próprio corpo e acredita que isso influencia diretamente na
maneira como o parceiro a percebe:
Eu tenho tido esse anseio de talvez trazer coisa nova para a relação, sabe, tipo isso
de ficar comprando lingerie, fazendo coisas diferentes e tal. Então acho que depois
que passou a pandemia, eu tive muito esse movimento comigo mesma, sabe? De
explorar, de me divertir na real, [...] depois da pandemia, me deu um gás assim, de
energia para, sei lá, quero viver e viver loucamente.

É possível observar na movimentação de Maia que a privação encontrada no isolamento


foi propulsora para buscar nos componentes da vida erótica uma nova forma de estar no mundo.
De acordo com Almeida (2020) os recursos de autoconfiança e prazer são importantes para
auxiliar nos períodos de crise, não sendo a sexualidade restrita apenas para os momentos
agradáveis da vida.
No que se refere a outros aspectos que influenciam na sexualidade, Alcyone, Maia,
Asterope e Merope apontaram a falta de novas experiências e novidades no relacionamento:
[...] as pessoas falam, né? Você fica muito tempo em um relacionamento, você vai
virar, vocês vão virando grandes amigos e eu fico: não é possível, tem que ter uma
saída! Não é possível que seja esse o fim, acabou. Agora vai ser sempre assim. E é
disso também que vem às nossas experimentações sexuais juntos, né? Procurar
também coisas que diversifiquem a rotina. (Alcyone)
23

Então eu fico me perguntando, como manter essa excitação dentro da rotina, como
que equilibra a rotina que é gostosa mas com o tesão do início do relacionamento?
(Maia)

Talvez com a questão da monogamia em si ou do relacionamento muito longo e tal


que não é mais aquela relação com a paixão, com aquela experiência diferente com
a sexualidade quando você está com um parceiro pela primeira vez, ou numa situação
que talvez acabou de conhecer. Estar num relacionamento novo é muito diferente e
eu sinto um pouco falta disso às vezes, mas isso é cíclico. (Asterope)

Uma coisa que eu sinto falta também, que não estou muito satisfeita é que antes era
um pouco mais espontânea. Hoje em dia a gente brinca até assim, tipo, a gente
trabalhando um do lado do outro na mesa e às vezes ele fala assim "7 horas, hoje?"
eu falo "beleza". Tipo, é piada, mas é meio que assim, sabe, tipo, está com vontade
hoje? "Há talvez" e me pergunta que horas. (Merope)

De acordo com Garcia (2007), estar em um relacionamento pode fazer com que o desejo
seja difícil de ser sustentando, pois a rotina e intimidade fazem com que ocorra a diminuição
do desejo e da noção de indivíduo dentro da relação: “a rotina, a falta de mistério, brigas e a
obrigação da atividade sexual, afetam o desejo e a atração sexual; o sexo está diretamente
relacionado com a afetividade” (p.157).
As mesmas participantes também mencionaram a monogamia como um dos fatores que
influenciam no sentimento de monotonia. Alcyone e Merope dizem que já consideraram abrir
o relacionamento algumas vezes, mas que não sabem se isso resolveria a diminuição do desejo.
Para Pilão (2015) existe um discurso poliamoroso que coloca a monogamia como algo a ser
combatido e o poliamor como solução, porém, o problema não está na monogamia enquanto
expressão da afetividade, sexualidade ou formato das relações, mas como obrigatoriedade
social. Portanto, o poliamor desafia a monogamia na medida em que pode colocar os sujeitos e
seus desejos à frente do que é considerado natural (relações cisgêneras monogâmicas
heterossexuais), desafiando os discursos normativos (PILÃO, 2015).
Outro fator comum citado por todas as participantes foi o impacto do trabalho sobre a
sexualidade, tanto delas quanto dos parceiros, principalmente em momentos de estresse,
sobrecarga e cansaço:
Porque parece que isso (sexualidade) se tornou um pedacinho muito pequeno da vida
toda, né? Acho que o trabalho tomou um espaço muito grande na minha vida e é isso
gera consequências, estresse, tudo mais, né? (Alcyone)

Ele [o sexo] começou a entrar numa categoria tipo desperdício de tempo. Nunca foi
para mim, antes de começar a trabalhar. Tipo, a partir do momento que eu tinha
aquele bloco de horas bloqueada, o sexo virou um extra que se pá, eu consigo colocar
no meu dia, é, então realmente deixou de ser prioridade. (Merope)

Compreendendo a sexualidade como um dispositivo que penetra os corpos para


controlar e disciplinar, a prioridade do poder é reproduzir as forças de trabalho e direcionar a
24

sexualidade para que seja economicamente reprodutiva (FOUCAULT, 1988). Segundo Schild
(2017), as aspirações das mulheres que anteriormente assumiram uma função emancipadora,
adquiriram na era neoliberal um significado ambíguo. As práticas de empoderamento feminino,
apesar de estabelecerem novos espaços para as mulheres, também as prenderam em novas
relações de opressão e, muitas vezes, de exploração. A autonomia proporcionada por esse
modelo mascara uma realidade de trabalhos de cuidados não remunerados, majoritariamente
assumidos pelas mulheres. Respaldando tal afirmação, uma pesquisa realizada com mulheres
polonesas entre 18 e 40 anos, antes e durante a quarentena, identificou que aquelas
profissionalmente ativas tiveram uma diminuição dos escores totais das funções sexuais
(desejo, excitação, lubrificação, orgasmo, satisfação e dor) quando comparadas àquelas que não
trabalhavam (FLEURY; ABDOI, 2021).
Quanto a outras insatisfações com a sexualidade, Atlas e Alcyone também falam sobre
a relação com o próprio corpo: “[...] Eu me sinto meio flácida, meio feia. Barriga está meio
estranha por causa do pós parto. Me dói até se eu fico muito tempo sentada e levanto, me dói
minhas costas, me dói. Então, com meu corpo, eu não estou satisfeita” (Atlas). “A gente é
mulher num mundo horrível para ser mulher e eu tenho muitas questões, insatisfação com o
meu corpo, por exemplo. Menos do que no geral, as mulheres ao meu redor, mas tem[...]”
(Alcyone).
Conforme exposto por Louro (2000), os corpos são investidos de acordo com as diversas
imposições culturais que colocam critérios estéticos, higiênicos e morais, impondo que corpos
saudáveis são jovens, magros e fortes, que fazem exercícios físicos, usam determinadas roupas
e aromas e usufruem de processos estéticos. Logo, aprende-se a classificar os sujeitos e a si
mesmos a partir desses aspectos, que quando não são cumpridos trazem o sofrimento decorrente
de não estar dentro na "normalidade''.
Quando questionadas se existe comunicação com o parceiro no campo da sexualidade,
percebe-se que são poucos ou inexistentes os diálogos sobre o tema e que quando ocorrem, as
mulheres são as responsáveis por iniciar essas conversas: “Eu busco muito estabelecer esse
diálogo, falar T., eu ando com a libido muito baixa até para ele não pensar que sei lá o
problema é ele ou qualquer coisa [...] Ele nunca puxa o assunto. Não sei se tem vergonha ou
receio. É um diálogo mais da minha parte.” (Alcyone) “[...] 15 anos com uma pessoa você já
tem uma percepção de como ela está naquele dia ou não [...] Eu acho que o diálogo sempre é
importante, mas eu acho que nesse momento a gente não tem isso como pauta de assunto
efetivamente.” (Asterope). “[...] a gente não, a gente não para para conversar, porque não dá
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tempo, acho. Para a gente é sempre em função das meninas das meninas, da casa, das meninas,
das meninas, da casa” (Atlas).
Por fim, as participantes falaram sobre as suas satisfações no âmbito da sexualidade.
Todas elas se mostraram satisfeitas com a relação estabelecida com os parceiros, citando
intimidade, companheirismo e conexão: “Me sinto muito satisfeita, porque ele entende que eu
tenho que me posicionar. Ele entende que eu tenho que trabalhar questões comigo, como a
tolerância, por exemplo, paciência [...]” (Alcyone). “Eu acho que a gente tem uma
cumplicidade de maneira geral, uma parceria e isso contribui para uma satisfação” (Asterope).
“Eu me sinto muito confortável assim com o L., ainda mais que quase 10 anos juntos.”
(Merope). “Mas com o V., quando a gente se encontra, é sempre bom na verdade, eu e ele. O
problema é a gente se encontrar” (Atlas)
Alcyone também traz uma segurança relacionada à cobrança existente sobre
performance sexual: “Então eu sempre fui muito segura assim, no sentido de se for legal, foi
legal, se não foi, paciência, nem sempre vai ser, e vida que segue”. Para Maia, ter vivido
diferentes experiências sexuais e permitido explorar o próprio corpo “[...] permite ter essa
liberdade na hora do sexo, assim de me sentir, de fica à vontade”. Merope acredita que a
intimidade e a boa relação com o parceiro torna a vivência da sexualidade do casal mais leve:
“Por exemplo, a gente tem uma coleção de brinquedos, e eu falo ah, ninguém precisa ficar
sofrendo, traz, pode trazer. Vamos, enfim, vamos deixar isso mais fácil. Eu acho que a gente
nossa relação é bem confortável assim nesse sentido."
De forma resumida, acerca da experiência com a sexualidade nesse período, as
participantes apresentaram dificuldades para associar as suas questões apenas com a pandemia,
uma vez que os dilemas vividos por elas desenrolam-se a partir de outros aspectos da vida e do
relacionamento. Contudo, é possível relacionar que as experiências sexuais antes e durante a
pandemia intensificaram questões que já estavam em evidência nos relacionamentos, como
diminuição da frequência, desejo e falta de novidades. Além disso, nota-se que as relações com
o trabalho, incluindo aqui os cuidados com casa e filhos, tomam um espaço considerável na
vida das mulheres, sendo motivadores de estresses e ansiedades. Ainda assim, as participantes
acreditam encontrar com seus parceiros formas de lidar com essas demandas, encontrando nos
relacionamentos espaços seguros para criarem novas vias e práticas de prazer.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa produziu resultados a partir do recorte social de mulheres


pertencentes a classes socioeconômicas privilegiadas que puderam vivenciar o período
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pandêmico em suas casas, em um ambiente de conforto, com acesso a recursos básicos e


equipamentos eletrônicos. As participantes foram, em sua maioria, mulheres feministas,
brancas, sem filhos, com alto nível de escolaridade, que vivenciam os privilégios de relações
amorosas saudáveis. A despeito do recorte racial de uma das participantes, esse não foi
identificado como um diferenciador, pois entende-se que o agravante de classe nesse contexto
foi maior do que a questão racial. Portanto, as análises e discussões realizadas concernem
especificamente a esse grupo, não tendo como objetivo falar pelas outras realidades do povo
brasileiro.
Com relação ao significado de sexualidade para as participantes, as falas indicaram que
os discursos produtos da modernidade olham para a sexualidade como um campo aberto de
possibilidades. Neste sentido, esta pode ser experienciada através da relação estabelecida com
os parceiros, do conhecer e explorar o próprio corpo, de relacionamentos com respeito e
igualdade entre gêneros e do viver diferentes práticas sexuais, buscando identificar aquelas mais
satisfatórias.
No que se refere às consequências da pandemia no cotidiano das mulheres e seus
parceiros, identificou-se, paradoxalmente, um aumento de qualidade de vida proveniente do
modelo de trabalho remoto, e a adaptação dos momentos de lazer, que antes da quarentena
estavam relacionados à interação social com outras pessoas. Esses resultados devem ser
analisados a partir da posição de privilégio dessas mulheres que, além de ter os recursos
necessários para trabalharem em casa, tiveram a oportunidade de viver uma crise sanitária em
um local seguro. Ademais, identifica-se uma diferença no cotidiano de quem tem filhos e
precisou assumir um processo de alfabetização e cuidado sem rede de apoio. Em relação à
divisão das tarefas domésticas, as participantes disseram dividir de forma igualitária com os
seus parceiros, porém, ainda recai sobre algumas a carga mental de planejar, delegar e cobrar
essas tarefas.
Acerca da percepção das participantes sobre os relacionamentos afetivo-sexuais antes e
durante a pandemia, a maioria delas disseram ter sido benéfico para o relacionamento, pois a
convivência diária fez com que precisassem lidar com os conflitos que foram surgindo e
aprenderam a conviver melhor com as falhas dos parceiros. Mesmo para as participantes que
alegaram passar por situações de estresse e ansiedade, os relacionamentos não foram apontados
como motivadores dessa situação – ao contrário, foram avaliados como um lugar de segurança
e conforto.
Por último, sobre as experiências sexuais antes e durante a pandemia, não houve uma
relação direta desta como causadora de implicações maiores no âmbito da sexualidade. No
27

entanto, entende-se que os conflitos já vividos nessa área se intensificaram durante o período
de isolamento, principalmente pelos estressores decorrentes das mudanças estabelecidas pelas
estratégias de contenção do vírus. Percebe-se, também, que fatores como trabalho, presença de
filhos, falta de interação social e convivência diária com os parceiros são aspectos que
influenciaram diretamente na vivência da sexualidade.
Em síntese, embora essa pesquisa tenha buscado investigar a correlação da sexualidade
com a pandemia, o que mais se evidenciou foi que a rotina, a sobrecarga de tarefas, a
maternidade, a relação com o corpo e o trabalho acabam tendo maior impacto nas relações
afetivo-sexuais e sexualidade dessas mulheres. Além disso, nota-se uma diferença significativa
nos discursos da participante que é mãe quando comparada às outras, uma vez que a participante
demonstra maiores níveis de cansaço e insatisfações.
No que se refere às limitações deste estudo, destaca-se o recorte sócio econômico, assim
como o número de participantes. Além disso, o foco em mulheres cisgênero em
relacionamentos monogâmicos heterossexuais que aderiram ao trabalho remoto também
apresentam uma realidade de privilégios diante de outras formas de viver a sexualidade que
sofrem constante opressão e marginalização. Diante desse cenário, faz-se importante estudos
que contemplem a pluralidade de sujeitos e suas sexualidades, focando em outros gêneros,
orientação sexual, estruturas familiares, raças e classes a fim de compreender como a pandemia
afetou a sexualidade de pessoas que não se encontram em âmbitos mais privilegiados.

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