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CURSO PREPARATÓRIO

SEXUALIDADE, GÊNERO E IDENTIDADE


Profª Daniela Murta

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ESTUDO DIRIGIDO PSI CURSO PREPARATÓRIO

PADRÕES DA SEXUALIDADE E GÊNERO NAS SOCIEDADES OCIDENTAIS

Para compreensão das noções de sexualidade, gênero e identidade é importante


retomar historicamente a construção do modelo binário dos sexos (a existência de apenas
dois sexos) na Modernidade e compreender criticamente a relação essencial que se
estabeleceu nesse momento entre sexo, gênero, sexualidade e identidade produzida a
partir de uma norma heterossexual e reprodutiva. Segundo Laqueur (2001), a construção
da diferença sexual e o “modelo de dois sexos” pode ser considerado fruto de um
imperativo moral de reinterpretação do corpo, o qual instaurou uma matriz binária e
hierárquica para fundamentar a diferença entre masculino e feminino. Desta forma, o
corpo tornou-se um ponto de ancoragem para o discurso cultural sobre o lugar dos homens
e mulheres na sociedade, os quais passaram a ser compreendidos como radicalmente
diferentes, mas complementares em função da sua suposta natureza.
Da Antiguidade até a Renascença o modelo vigente era do “sexo único” – o
masculino -, no qual se considerava que existiam estruturas comuns na anatomia de
homens e mulheres. Não se tratava de desconsiderar uma distinção entre os sexos, estes
não eram considerados iguais, mas os critérios para diferenciação sexual não eram
ancorados na biologia e na natureza. No mundo antigo, mais especificamente no
pensamento de Galeno (130 d.C – 210 d. C), existia uma diferença entre os sexos baseada
no calor vital do corpo, de modo que homens e mulheres possuiriam os mesmos órgãos
sexuais, sendo a mulher uma versão imperfeita do homem, isto é, com órgão sexuais
internos e invertidos. Além disso, era concebida a possibilidade de um indivíduo do sexo
feminino “evoluir” para o masculino de forma natural. Havia uma concepção de “graus
de perfeição metafísica” na qual se supunha uma continuidade entre ser homem e ser
mulher e onde a diferença estava calcada na perfeição representada pela exterioridade do
órgão masculino (Laqueur, 2001).
A partir do século XVII houve significativas mudanças na concepção da diferença
sexual. A ideia do homem como representante singular e perfeito das características
humanas caiu por terra e a mulher deixou de ser um equivalente inacabado do sexo
masculino passando a ter sua própria identidade sexual. Entretanto, a hierarquia entre os
sexos se manteve apesar de não haver mais referência a uma determinada perfeição
masculina. Em função da necessidade de redefinição de papéis para manutenção da ordem
social burguesa e para manutenção da mulher em seu lugar de inferioridade em relação
ao homem, os sexos feminino e masculino foram diferenciados social e culturalmente a
partir de argumentos anatômicos.
Em um contexto onde todos deveriam ter os mesmos direitos, de acordo com
Nunes (2000), a questão estava centrada em justificar a dominação da mulher pelo
homem, sua exclusão da esfera pública e as diferenças sociais. Sendo assim, o século
XVIII trouxe então novas ‘luzes’ sobre o problema; o dilema foi resolvido pela
ancoragem da diferença social e cultural dos sexos em uma biologia da
incomensurabilidade, a partir da qual homens e mulheres são tratados como radicalmente
diferentes. A consequência lógica desse percurso foi que, a partir da ideia de uma

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diferença biológica ‘natural’, passou-se a justificar e propor inserções sociais diferentes


para os dois sexos.” (Nunes, 2000).
Desde então, a natureza passou a servir de base para a fundamentação da
diferença, sendo que o prazer sexual, a anatomia dos ossos e posteriormente a tessitura
da vida nervosa passaram cada vez mais a constituir corpos materializados a partir de
características masculinas e femininas. Segundo Nunes (2000), surge aí a “diferença de
gênero acoplada à diferença sexual”, na qual compreende-se que cada indivíduo apresenta
especificidades que vão variar de acordo com seu sexo e que vão complementar essas
mesmas especificidades do sexo oposto.

Uma das diferenças mais significativamente demarcadas na materialização do


corpo feminino foi a valorização do útero, que passou de um órgão imperfeito para o
representante da nobre função da maternidade. A sexualidade feminina foi caracterizada
como absolutamente diferente da masculina, sendo atribuída a mulher uma essência
reprodutiva e negligenciado seu prazer sexual e destacadas partes específicas de sua
anatomia, como o crânio menor e a pelve mais larga, para legitimar a desigualdade social
e política entre os sexos. Deste modo, a mulher foi considerada um complemento do sexo
masculino por sua “vocação” para esfera doméstica devido ao seu menor nível intelectual
e sua característica “nervosa”, ou seja, o sexo feminino seria mais influenciado pelas
paixões e por conta disso não poderia assumir funções político-econômicas.

Diante desses fatos, é possível observar que a construção da ordem burguesa ao


determinar a necessidade de uma redefinição de papéis na qual a divisão das atividades
se baseava em características dos sexos e, consequentemente, determinava uma essência,
uma identidade para cada um – para o homem a esfera pública e para a mulher a esfera
privada -, homens e mulheres passaram a ser diferenciados pelo corpo e por aspectos
morais que atribuiu a eles uma maior ligação ao sexo e a elas uma forte tendência ao
afeto. Tendo a anatomia como ponto de ancoragem para o discurso social, a natureza
passou a ser a justificativa da diferença sexual e o fundamento da ordem social por
fornecer argumentos sobre o papel de cada sexo.

Vale ressaltar que essa construção política e social da modernidade que resultou
no “modelo de dois sexos” e, consequente, nas noções de sexo e gênero, além de
configurar uma diferença ontológica entre o masculino e feminino, também fundamentou
a imposição de um modelo de sexualidade e identitário. É nessa mesma perspectiva de
uma necessidade de ordenação social que Foucault (1988) vai pensar uma biopolítica que
exerce seu poder através do dispositivo de sexualidade determinando modelos
identitários.
Em História da Sexualidade I – A Vontade de Saber (1988), Foucault demonstra
como nos séculos XVII e XVIII surgiu um dispositivo de saber e poder, a forma científica
assumida pela sexualidade na tradição ocidental moderna que tinha como objetivo uma
busca da verdade sobre o sexo, deu origem a uma produção discursiva sobre o sexo,
estabelecendo normas e padrões de identidade. Nesse sentido, o autor argumenta que a
sexualidade não é um fenômeno natural e o sexo não é um atributo do corpo, mas sim um
produto histórico, resultado de regulações sociais que tem como consequências o

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estabelecimento de parâmetros de normalidade e a instituição de categorias tais como a


da homossexualidade. Nessa medida, para Foucault (1988), sexualidade é o nome dado a
um dispositivo histórico, resultado de algumas grandes estratégias de saber e poder.
Fato é que o discurso da sociedade ocidental moderna que fixou um lugar para
cada sexo e determinou a identidade dos indivíduos, delimitou também um caráter de
anormalidade aos casos que não se adequam ao padrão, como é o caso da homossexualidade.
Com base no discurso científico, normas sexuais foram delimitadas e como consequência
comportamentos denominados perversos foram apropriados pela medicina e seu
significado serviu para designar aquilo que fugia a uma determinada norma na atividade
sexual (Peixoto Jr., 1999).
Inicialmente, o interesse sobre as questões relacionadas aos comportamentos
sexuais pertenciam ao campo jurídico, sendo que o parecer médico somente era solicitado
em situações esporádicas. Nesse período, a preocupação com a sexualidade não estava
relacionada com sua psicopatologia, mas sim com as consequências dos comportamentos
perversos. Com o surgimento da sexologia, a sexualidade perversa tornou-se objeto de
intervenção do médico-psiquiátrica, a quem coube, a partir de então, definir como
patologia o que era interpretado como depravação e deslocar o que era da ordem da
punição para o tratamento. Conforme Lanteri-Laura (1994), se em um primeiro momento
a medicina não tinha muito como contribuir nesses casos sendo a perícia menos para
sustentar um discurso psicopatológico sobre o réu do que para descrever ao tribunal os
danos sofridos pela vítima, passou a se deter mais na análise clínica do acusado que no
estudo dos danos da vítima (membrana himenal intacta ou rompida, presença de esperma
em tal ou qual cavidade anatômica etc.).

Nesse momento, os dispositivos de saber consideravam que a sexualidade era


governada por um instinto, que se fosse desviado era indicador de alguma espécie de
alienação mental, de uma degeneração. Contudo, foi somente no final do século XIX que
a diversidade do comportamento sexual foi agregada de fato ao discurso médico deixando
de lado pressupostos morais e preconceitos em favor de uma cientificidade (Lanteri-
Laura,1994). A partir disso, houve um maior interesse da psiquiatria pelas singularidades
da vida sexual, o que foi determinante na construção de uma semiologia dos
comportamentos definidos como anormais.

Diante disso, verifica-se que o discurso positivista da psiquiatria e sexologia do


século XIX teve uma função ideológica para além de sua função racional como um novo
campo de saber (Lanteri-Laura, 1994). A medicina, munida de seu conhecimento, ocupou
o lugar normativo que anteriormente pertencia a Igreja e definiu os limites da
normalidade no que se refere ao sexo. Consequentemente, demarcou a fronteira entre o
lícito e o ilícito na vida sexual que, sob a ótica de um modelo binário heterossexual
reprodutivo, significou que tudo aquilo que estava no registro da reprodução e era
desprovido de prazer seria lícito e normal, e tudo o que desviasse do objetivo final do
instinto sexual seria ilícito e anormal.
A partir de então, surge a noção de perversão como denominação científica da
corrupção do instinto sexual. Este termo foi tomado pela Medicina para definir os casos

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que apresentavam alguma alteração de função, se tornando o modo habitual para definir
os comportamentos sexuais singulares. Compreendido como um distúrbio que não estava
relacionado com o excesso ou com a falta, tinha em seu significado um conceito
pejorativo confundido com a depravação, que passou a ser utilizado também pelo senso
comum. Para Lanteri-Laura (2004), a conotação de disfunção qualitativa atribuída à
perversão seria uma metáfora moralista que deu a este conceito os atributos de uma
alienação mental, uma degeneração, tal como a loucura moral.
Nesse panorama, diante de uma norma heterossexual e reprodutiva a qual atribuía
ao prazer perverso um caráter patológico, organizou-se toda uma semiologia em torno da
homossexualidade e podemos verificar que este conceito foi um dos eixos primários para
as explorações da sexologia do século XIX, passando por diversas teorizações (Lanteri-
Laura, 2004).
Em princípio, as discussões sobre a homossexualidade não estavam relacionadas
à devassidão, com teorias sobre uma origem congênita da mesma, aproximando-a da
natureza; explicações psicológicas que destacavam a importância das experiências
infantis, acreditando que elas podiam explicar a aquisição do comportamento
homossexual e possibilitar seu tratamento; e a valorização dos aspectos sociais e no qual
a inversão sexual é distanciada do hermafroditismo.
Fato é que ao apropriar-se do campo das perversões a medicina tornou-se a maior
referência no assunto. Desenhando uma fronteira entre o normal e o patológico no campo
da sexualidade e possibilitando a instauração de uma normatividade sexual, a sexologia
e psiquiatria do século XIX permitiu a construção de uma psicopatologia que determinou
o caráter de anormalidade dos casos que não se adequavam à norma sexual e acabou
influenciando a organização da ideia de “identidade de gênero”, isto é, uma concepção de
identidade sexual que supõe um coerência entre sexo biológico, gênero e comportamento
sexual, que culminaram no surgimento das primeiras referências sobre as vivências trans,
na época nomeada como “transexualismo”, tendo como eixo comum de construção de
uma semiologia a incoerência entre sexo biológico e gênero, isto é, a referência na noção
de que a identidade de gênero deve ser compatível com a anatomia.
Fato é que a partir desses dispositivos de poder e saber, a homossexualidade, a
transexualidade e demais condições que não estão em conformidade com as práticas
discursivas do século XIX – que pressupõe a coerência essencial entre sexo biológico,
gênero e práticas sexuais (heterossexuais) - foram interpretadas como anormalidades e
patologias, o que teve consequências sobre as práticas médicas e jurídicas.

Teoria queer – O Sexo como elemento pré-discursivo em função do contexto


sociocultural

Considerando que nosso sistema classificatório de sexo e gênero delimita espaços


entre o normal e o anormal no campo identitário e da sexualidade e que tal fato está
relacionado a normatividade constituída na modernidade, alguns autores tem colocado
em discussão a suposta coerência natural entre sexo, gênero, identidade e práticas sexuais
e, consequentemente estes padrões normativos.

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Nesse campo, tem destaque a teoria queer que começou a ser desenvolvida a partir
do final dos anos 80 por uma série de pesquisadores e ativistas bastante diversificados,
especialmente nos Estados Unidos. A utilização desse nome tem o propósito de positivar
o conceito pejorativo do termo “queer”, que pode ser traduzido por estranho, ridículo,
excêntrico, raro, extraordinário (Louro, 2004), para insultar homossexuais. A proposta é
dar um novo significado ao termo, de modo que queer seja entendido como uma prática
de vida que se coloca contra as normas socialmente aceitas, com destaque a crítica à
heteronormatividade homofóbica, que define o modelo heterossexual como o único
correto e saudável. Em outras palavras, os que pesquisadores e ativistas queer pretendem
é desconstruir o argumento de que sexualidade segue um curso natural e está relacionada
a reprodução defendendo que o modelo heteronormativo foi construído para normatizar
as relações sexuais.
Judith Butler, filósofa estadunidense, é uma das pioneiras dessa corrente de
pensamento e destaca-se pelo que nomeou de teoria da performatividade, segundo a qual
o gênero seria performativo, isto é, regulado por normas que se reiteram ao longo do
tempo e produzem sujeitos que vão encarnar, na maioria das vezes, os ideias de
masculinidade e feminilidade (Butler, 2002). Nessa referência, para Butler, a
inteligibilidade de um indivíduo, o corpo que importa, está relacionada a definição por
um gênero que seja reconhecido pelos padrões determinados pelas práticas reguladoras,
isto é, aquele que mantém a coerência normativa entre sexo biológico, gênero e suas
práticas sexuais.
Vale destacar que Butler (1993) parte de uma crítica aos binarismos e à hierarquia
entre corpo/natureza/sexo e discurso/cultura/gênero na tentativa de desconstruir as
concepções de que o físico é anterior ao cultural e de que há uma separação entre natureza
e cultura. Além disso, apresenta uma visão crítica ao construtivismo baseando sua
argumentação na incompatibilidade entre a materialidade do corpo e a concepção de que
tudo é construído. Tendo em vista que na abordagem da materialidade do sexo há, em
geral, um raciocínio comum de que esta é natural, biológica e valorizando a discussão
sobre a necessidade de se opor sexo e gênero, a autora se debruça sobre o assunto
pensando o sexo não como um dado corporal sobre o qual se constrói artificialmente o
gênero, mas sim como resultado de uma norma cultural. Em outras palavras, o sexo/corpo
não é pré discursivo, mas produto de uma prática reguladora, o imperativo sexual do
discurso, que produz os corpos e que os controla (o poder que regula é o que produz e
materializa através da repetição destas normas).

Conceitos e definições relacionados ao sexo e ao gênero:

 Sexo biológico - Se refere ao sexo com o qual somos identificados ao nascimento


a partir de nossas características físicas (prevalência da identificação de genitais);
 Orientação sexual - Se refere a que objeto o interesse afetivo sexual se direciona;
 Identidade de gênero - Se refere a experiência, sentimento pessoal e
identificação em relação ao gênero.

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 Expressão de gênero - Forma como a pessoa se apresenta, sua aparência e seu


comportamento, de acordo com expectativas sociais de aparência e
comportamento de um determinado gênero (depende da cultura);
 Papel de gênero - Modo de agir em determinadas situações conforme o gênero
atribuído, ensinado às pessoas desde o nascimento (algo que delimitaria
socialmente – não biológico - a diferença entre homens e mulheres).

Conceitos e definições relacionados à orientação sexual:

 Lésbicas – Mulheres que se atraem afetivo-sexualmente por outras mulheres


 Gays – Homens que se atraem afetivo sexualmente por outros homens
 Bissexuais – Pessoas que se atraem afetivo sexualmente por membros de ambos
os sexos
 Heterossexuais – Homens/mulheres que se atraem afetivo-sexualmente por
pessoas identificadas com o gênero oposto com o qual se identificam.
 Queer – Pessoas que possuem identidades de gênero e/ou orientações sexuais que
não se baseiam sobre os moldes binários; uma expressão de gênero não normativa
 Intersex – Pessoas que nasceram com anatomia sexual e/ou reprodutiva ambígua
ou diversa à definição típica de sexo feminino ou masculino
 Assexual – Pessoas que não tem interesse em prática sexual ou não experiência
atração sexual. Difere de celibato e não se trata de transtorno sexual

Conceitos relacionados à identidade de gênero:

 Cisgêneros - Pessoas cuja identidade de gênero é a mesma que a designada em


seu nascimento, configurando uma concordância entre a identidade de gênero de
um indivíduo ao seu sexo biológico e/ou designação social.
 Pessoas trans - Pessoas que se identificam como membros do gênero diferente
ao qual lhes foi atribuído ao nascimento;

- De modo geral são agrupadas sob o termo “transgênero”;

- A vivência trans é autodefinida pelo próprio sujeito;

- Como as construções de si não são fixas ou estáveis, há uma


diversidade da experiência trans e, portanto, existem denominações diferentes
para identificar algumas delas, o que nem sempre vai contemplar as múltiplas
experiências possíveis.

- Denominações compartilhadas por especialistas e pelo


movimento social que fazem parte deste “guarda chuva”:

 Travestis (MtF) - Pessoas identificadas com membros do sexo masculino ao


nascimento, mas que se identificam e vivem como mulheres e realizam

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modificações corporais para adquirir características femininas. Em geral, não


demanda pela cirurgia de transgenitalização.
 Mulher Transexual (MtF) - Pessoas identificadas com membros do sexo
masculino ao nascimento, mas que identificam-se e vivem como mulheres e
realizam modificações corporais para adquirir características femininas. Pode
demandar pela cirurgia de transgenitalização ou não.
 Homem Trans (FtM) - Pessoas identificadas com membros do sexo feminino ao
nascimento, mas que identificam-se e vivem como homens e realizam
modificações corporais para adquirir características masculinas. Pode demandar
pela cirurgia de transgenitalização ou não.

 Drag Queen/Drag King/Transformistas - Artistas que fazem inversão de gênero


usando da feminilidade ou da masculinidade, respectivamente, estereotipada e
exacerbada em apresentações. Não se trata de uma identidade e sim uma
funcionalidade do gênero.
 Crossdressers – Pessoas designadas como do sexo masculino ao nascimento e
que sentem como homens, em geral, heterossexuais, que não buscam
reconhecimento e tratamento como mulheres, mas por prazer de se vestir como
tal vivenciam diferentes papéis de gênero. Não se consideram travestis.

LGBTfobia - preconceitos, discriminações e vulnerabilidades às pessoas


LGBTQIA+

Embora o Art. 5 da Constituição Federal de 1988 afirme que somos todos iguais
perante a lei sem distinção de qualquer natureza e que gozamos igualmente de direitos e
deveres independentemente de nossas características ou condições, a população
LGBTQIA+ além de não exercer sua cidadania de forma plena é cotidianamente vítima
das mais diversas formas de violência em função da discriminação e do preconceito. Por
estar em desacordo com a normatividade sexual e de gênero, isto é, por não ter práticas
afetivos sexuais heterossexuais e/ou não apresentar coerência entre seu sexo identificado
ao nascimento e sua identidade, este segmento está mais vulnerável a violações de direitos
sendo necessário a formulação de estratégias e políticas para sua proteção e
enfrentamento desta condição.

Frente a vulnerabilidade da população LGBTQIA+ e em consonância com os


Princípios de Yogyakarta - princípios sobre a aplicação da legislação internacional de
direitos humanos em relação à orientação sexual e a identidade de gênero -, nos últimos
anos o governo brasileiro vem elaborando algumas políticas em diversos setores no
sentido de enfrentá-la como o Programa Brasil sem Homofobia (2004), a criação do
Comitê Técnico de Saúde GLTB (2004), Processo Transexualizador no SUS
(2008/2013), Política Nacional de Saúde Integral LGBT (2011), reconhecimento nas três
esferas de gestão do direito ao uso do nome social por pessoas trans em diversos espaços
entre outros dispositivos. Apesar da importância destas estratégias de proteção e

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enfrentamento da vulnerabilidade da população LGBTQIA+, é possível observar que a


LGBTfobia ainda é uma questão presente e grave em nossa sociedade, sendo o Brasil
líder nos índices de violência contra pessoas LGBTQIA+ no mundo.

A LGBTfobia pode ser definida como o preconceito ou discriminação e demais


violência daí decorrentes contra pessoas em razão da orientação sexual e/ou identidade
de gênero afirmada ou presumida, expressada através de sentimentos hostis, muitas vezes
agressivos, àqueles que possuem ou aparentam ter desejo por pessoas do mesmo sexo, se
comportam como membro do sexo oposto ao que foram designados ao nascimento ou se
relacionam com pessoas com estas características. Podendo ser dirigida a qualquer
pessoa, LGBTQIA+ ou não, esta reação aversiva e/ou de ódio pode se manifestar de
forma violenta ou sútil, seja através de agressões físicas (forma em tese mais evidente
devido as lesões corporais), violência psicológica (modalidade silenciosa de violência -
ameaças, constrangimentos, insultos, bullying, coação), tortura e maus tratos e violência
institucional (cometida em âmbitos institucionais, inclusive, por órgãos ou agentes
públicos, motivada por preconceito por orientação sexual e/ou identidade de gênero tanto
através de ato discriminatório ou por negligência).

Patologização das Vivências Trans - Autodeterminação de gênero, autonomia,


dispor do corpo

A partir da consolidação do modelo binário e heterocisnormativo estabelecido na


Modernidade e de sua apropriação pela medicina, especialmente no século XX a partir
do avanço das tecnologias médicas, a transexualidade e a travestilidade foram
interpretadas como patologias psiquiátricas a serem tratadas e corrigidas. Ainda que
tenham ocorrido transformações significativas nos conceitos de sexo e gênero que
justificam a diversidade de comportamentos e identificações de gênero cruzadas e até
mesmo viabilizaram a realização de modificações corporais do sexo, até recentemente as
vivências trans foram definidas como transtornos psiquiátricos cujo tratamento seria a
intervenção corporal com base na concepção normativa de que deve haver uma coerência
entre o corpo e a identidade de gênero.
Como mencionado anteriormente, essa compreensão naturalizada de uma
continuidade imediata entre sexo e gênero vem sendo largamente problematizada por
alguns autores, como Judith Butler, a partir de uma crítica a esse modelo binário
heterossexual e à concepção de uma identidade estável. Para esta autora (2003), as
identidades que conservam relações de coerência e continuidade entre sexo, gênero,
prática sexual e desejo são resultado da incidência de determinadas normas de gênero que
acabam por viabilizar a ideia de que há um “verdadeiro sexo”, como afirma Foucault
(2004), e delimita uma fronteira entre o normal e o anormal.
Diante disso, é possível considerar que o diagnóstico de transexualismo deve ser
discutido sob perspectivas diferenciadas, que levem em consideração a forma singular
como essa experiência é vivenciada por cada indivíduo. Uma vez deslocado deste
território normativo, no qual a identidade de gênero deve corresponder à anatomia, talvez

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seja possível repensar a significação da vivência trans como uma desordem e ampliar o
campo de discussão sobre a função prática do diagnóstico na formalização da assistência
destas pessoas e seu reconhecimento social.
Fato é que, embora as vivências trans tenham se consolidado como condição
médica no final dos anos 1970, um novo cenário vem se configurando para a compreensão
dessas experiências. Nos últimos anos, diversos autores, atores e ativistas se posicionaram
criticamente à compreensão patologizada dessas vivências, impulsionando a
problematização das implicações de se tratar as variações do gênero como anormalidade
ou doença mental e um movimento de defesa pelo direito à autodeterminação do gênero
e pela despatologização desta experiência. Segundo este movimento, a psiquiatrização
das vivências trans reflete uma confusão entre identidades e corpos não normativos com
uma condição patológica dos mesmos, sendo sua classificação médica a reprodução do
paradigma binário dos sexos que pressupõe um sofrimento mental em função do
desacordo entre sexo e gênero. Além disso, consideram que esta definição ao mesmo
tempo que patologiza a identidade de gênero de pessoas trans torna invisível a violência
social a que estão submetidos aqueles que não estão adequados às normas de gênero e,
consequentemente, vela a transfobia inerente a esse diagnóstico.

Outra questão levantada por esta mobilização refere-se ao caráter de controle e


normalização dos procedimentos atuais de atenção aos sujeitos que vivenciam a
transexualidade e a travestilidade. De acordo com ativistas, a necessidade de uma
avaliação psiquiátrica e o acompanhamento regular de candidatos a modificação corporal
do sexo impõe uma adaptação a modelos tradicionais de masculinidade e feminilidade, o
que além de excluir a diversidade dessa experiência, revela uma obstrução ao direito à
autodeterminação. Nesse sentido, reivindica-se o direito de acesso aos serviços de saúde
independente de qualquer avaliação médica ou alteração das características sexuais e a
reformulação dos programas assistenciais destinados a essa população.

Vale destacar que nessa discussão relativa ao direito à autodeterminação, também


estão presentes as reflexões produzidas no campo dos direitos humanos que reafirma o
direito à livre expressão das identidades de gênero e defende a despatologização das
vivências trans. Como demonstra Suess (2010, p. 38), em consonância com declarações
como os Princípios de Yogyakarta (2007) e o Informe Direitos Humanos e Identidade de
Gênero de Thomas Hammarberg (2009), entre outros, a definição destas experiências
como um transtorno mental é identificada como um obstáculo ao exercício dos direitos
humanos; destacando, ademais, o direito de acesso a saúde sem discriminação por
identidade de gênero ou orientação sexual. Nessa referência, a identidade de gênero é
concebida como um direito humano, de modo que avaliações psiquiátricas ou a realização
de procedimentos cirúrgicos para alteração do sexo como condições de acesso a saúde e
para o reconhecimento legal da identidade de gênero, em muitos países ainda, são
consideradas violações ao direito a integridade corporal e a dignidade pessoal. Em outras
palavras, o que está em pauta nesse debate são os problemas de violações a direitos
fundamentais, como o livre acesso à saúde, e o prejuízo a autonomia de pessoas trans no
direitos de dispor de seus corpos e serem reconhecidas como membro do gênero com o
qual se identificam.

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Considerando este debate pela despatologização, nos últimos anos as vivências


trans foram excluídas (ainda que de forma parcial) das novas versões dos manuais
diagnósticos psiquiátricos DSM V e CID XI. No caso do DSM V, publicado em 2013
pela a Associação Psiquiátrica Americana (APA), a transexualidade retornou a categoria
de Disforia de Gênero, primeira categorização psiquiátrica do transexualismo, atendendo
às críticas sobre o potencial estigmatizante do diagnóstico de Transtorno de Identidade
de Gênero. Embora tal mudança venha sendo reconhecida como uma conquista na luta
pela despatologização da transexualidade é importante ressaltar que a necessidade de
avaliação profissional e autorização médica permaneceram como requisitos para a
realização de procedimentos de modificação corporal. No CID 11, a modificação foi uma
decisão da Organização Mundial de Saúde (OMS) que, em 2018, anunciou a retirada da
transexualidade do segmento de doenças mentais, passando a ser denominada como
incongruência de gênero, dentro da categoria de condições relativas à saúde sexual. Essa
categorização ao mesmo tempo que retira o caráter patologizado das vivências trans
assegura que as demandas específicas de saúde deste grupo sejam atendidas.

No que se refere a retificação de registro civil para nome e sexo de pessoas trans,
no Brasil até recentemente era exigido que o sujeito se submetesse a avaliações
psicológicas e procedimentos de modificação corporal para que pudesse realiza-lo.
Contudo em 2018, o Supremo Tribunal Federal decidiu que esta modificação pode ser
realizada sem estes procedimentos considerando o princípio do respeito à dignidade
humana, da autodeterminação, da autoafirmação entre outros. Deste modo, atualmente
pessoas trans podem alterar seu nome e sexo no registro civil sem a necessidade de
decisão judicial ou comprovação de sua identidade psicossocial, sendo possível apenas
se dirigir a um cartório para solicitar a mudança que deverá ser atestada por
autodeclaração.

No que se refere ao direito ao uso do nome social existem legislações municipais


e estaduais que vão variar de acordo com a legislação local. No caso do Rio de Janeiro
este é um direito assegurado na administração pública direta e indireta nas três esferas de
gestão, sendo também um direito de pessoas trans adotar o nome social em identificações
não oficiais, como crachás, matrículas escolares e na inscrição do Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem), registros de alguns órgãos de classe entre outros.

Papel do Psicólogo na atenção a temas relacionados a diversidade sexual e de gênero


- Resolução CFP nº /2018 e Resolução CFP 01/99

Nesse cenário de renúncia da lógica que impõe um controle psiquiátrico


psicológico e procura assegurar os direitos conquistados por pessoas trans em diversos
setores, é possível observar também o posicionamento formal de órgãos de classe
profissional em relação à despatologização como é o caso do Conselho Federal de
Psicologia que tem demarcado sua posição de forma bastante clara em relação ao tema
da diversidade sexual.

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O primeiro marco a ser apontado é a Resolução 01/99 do Conselho Federal de


Psicologia que normatiza a atuação do psicólogo em questões relacionadas à orientação
sexual. Segundo sua redação, ao profissional de psicologia é vedado o desenvolvimento
de qualquer prática que favoreça a coerção, tratamento ou cura das homossexualidades
bem como a colaboração em ações que reforcem o preconceito e a discriminação por
orientação sexual. Nesse sentido, psicólogos que se propõe a curar pessoas que se definem
como homossexuais ou propagam qualquer informação que sugira que a
homossexualidade é uma condição anormal estão cometendo infração ética estando
sujeitos a sanções éticas pelo CFP.
Considerada pioneira no Brasil por demarcar pela primeira vez o posicionamento
formal de um conselho profissional sobre a homossexualidade e, consequentemente,
afirmar a legitimidade das diferentes orientações sexuais, a importância desta Resolução
vai além das fronteiras da Psicologia. Se inicialmente, seu efeito parece apenas o
alinhamento deste campo de saber a compreensão internacional de que a
homossexualidade não se trata de uma doença, distúrbio ou perversão e sua aplicabilidade
restrita à categoria profissional que regula, a partir de um escopo mais ampliado, é
possível observar que esta normativa se tornou uma importante referência para a
construção de políticas públicas para a população LGBT se consolidando como uma
ferramenta importante na defesa de direitos deste segmento, inclusive em casos de
decisões judiciais.
Segundo Kahhale (2011), com referência na noção de que a homossexualidade
não é uma desordem mental, mas sim uma das múltiplas possibilidades de expressão da
sexualidade humana, no processo de elaboração da resolução foi considerado
fundamental esclarecer que a interpretação patologizada desta orientação sexual está
atrelada a uma normatividade sexual e reafirmar o compromisso da psicologia em
contribuir com a superação de preconceitos. Nos norteamentos para a atuação dos
psicólogos em questões relacionadas à sexualidade claramente foram definidas as
atividades que são vedadas a estes profissionais dentre as quais se destaca a proibição de
realizar terapia para conversão de orientação sexual ou divulgação de qualquer atividade
nesse sentido. Desde então, o Brasil tornou-se o primeiro país a ter um documento de
orientação aos psicólogos na direção dos direitos humanos e da não patologização da
homossexualidade.
Em 2017, foi concedida uma liminar pela Justiça Federal do Distrito Federal
suspendendo parcialmente os efeitos da Resolução 01/99 sob alegação de que a proibição
de atuar em favor da “cura gay” atentaria contra a liberdade profissional dos psicólogos,
além de ressuscitar um discurso patologizante sobre as sexualidades não normativas,
constituiu um atentado contra os Direitos Humanos e princípios éticos profissionais da
profissão de psicólogo. Tal decisão, que foi prontamente questionada pelo Conselho
Federal de Psicologia a partir de evidências jurídicas, científicas e técnicas, dando
destaque aos efeitos nocivos que tais terapias podem promover, aos impactos positivos
que a mesmo produz no enfrentamento aos preconceitos e na proteção dos direitos da
população LGBT, e por não caracterizar cerceamento, manteve a integralidade do texto
da norma, mas determina que a interpretação do CFP sobre a mesma não implique na
proibição do atendimento por psicólogos de pessoas em busca por reorientação sexual.

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ESTUDO DIRIGIDO PSI CURSO PREPARATÓRIO

Em 2018, o Conselho Federal de Psicologia solicitou ao Supremo Tribunal


Federal a concessão de liminar para suspender os efeitos desta última sentença, dado que
o judiciário está interferindo na competência do CFP de normatizar o exercício
profissional dos psicólogos conforme a Lei nº 5.766/71, que cria o CFP e os Conselhos
Regionais de Psicologia (CRPs) e pelo fato da Resolução 01/99 estar correta do ponto de
vista técnico-científico e ser compatível com a Constituição Federal no que se refere aos
princípios da dignidade da pessoa humana, da igualdade e da proibição de discriminações.
Outro marco significativo neste campo é a Resolução 01/2018 do CFP que
estabelece normas de atuação para as psicólogas e os psicólogos em relação às pessoas
transexuais e travestis. Antecedida por uma “nota técnica sobre processo transexualizador
e demais formas de assistência às pessoas trans” publicada pelo CFP em 2013, que
demonstrou o posicionamento favorável do CFP à despatologização das vivências trans
e a preocupação com o respeito à dignidade destas pessoas, esta Resolução 01/2018
determina que psicólogos devem atuar de forma a contribuir para a eliminação da
transfobia e orienta que não favoreçam qualquer ação de preconceito e nem se omitam
frente à discriminação de pessoas transexuais e travestis. Se constituindo como uma
complementação da Resolução 01/99, apesar de terem objetos diferentes, esta resolução,
que afirma o direito à autodeterminação do gênero bem como traz em suas considerações
a problematização da cisnormatividade e seu potencial patologizador e excludente, reitera
que é vedado ao psicólogo qualquer prática que coopere com a violação da dignidade a
partir da ideia de reversão, readequação ou reorientação, no caso agora, da identidade de
gênero.
A partir deste posicionamento, mais uma vez o Conselho Federal de Psicologia
foi alvo de uma ação pública contrária esta normativa sua, sob o argumento de que a
mesma cria limitações à atividade do profissional psicólogo, extrapola os limites do
dever-poder do CFP em regulamentar a profissão e, fere a liberdade do exercício
profissional e de expressão intelectual, científica e comunicativa
do profissional de Psicologia que se disponha a aplicar técnicas e procedimentos para
pessoas que procuram suporte psicológico no enfrentamento das questões e sofrimentos
relacionados ao “transexualismo”, o procurador afirma que a Resolução atenta contra o
direito fundamental do livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, sendo
“autoritária, arbitrária, ilegal, inconstitucional”. Após entendimento da inadequação da
ação civil pública o processo foi extinto.

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QUESTÕES

1. (FGV - SMADH Niterói – Tipo 1) A Resolução CFP nº 1, de 29 de janeiro de 2018,


que estabelece normas de atuação para as psicólogas e os psicólogos em relação às
pessoas transexuais e travestis, possui em seu texto algumas considerações importantes.
Dentre as considerações a seguir, aquela que NÃO se relaciona à Resolução CFP nº 1 é:

(A) a expressão de gênero refere-se à forma como cada sujeito apresenta-se a partir do
que a cultura estabelece como sendo da ordem do feminino, do masculino ou de outros
gêneros;

(B) a identidade de gênero refere-se à experiência interna e individual do gênero de cada


pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo o senso
pessoal do corpo e outras expressões de gênero;

(C) a identidade de gênero surge desde o nascimento, com o sexo biológico, mas pode ser
modificada a qualquer momento na vida de cada sujeito, podendo gerar sofrimento para
o qual é indicado o tratamento psicológico;

(D) a estrutura das sociedades ocidentais estabelece padrões de sexualidade e gênero que
permitem preconceitos, discriminações e vulnerabilidades às pessoas transexuais,
travestis e pessoas com outras expressões e identidades de gênero não cisnormativas;

(E) a autodeterminação constitui-se em um processo que garante a autonomia de cada


sujeito para determinar sua identidade de gênero.

2. (FGV - SMADH Niterói – Tipo 1) A Teoria Queer surgiu nos Estados Unidos com a
proposta de mudança de foco dos estudos sobre identidade de gênero e de sexo que
caracterizavam até então a maioria dos empreendimentos no campo da sociologia e das
ciências humanas em geral. Nesse contexto de discussão, Judith Butler é uma referência
teórica importante, segundo a qual:

(A) o sexo é um dado invariável, ao passo que o gênero varia de acordo com o contexto
sociocultural;

(B) a produção do sexo como elemento pré-discursivo é efeito da construção cultural de


gênero;

(C) a identidade de gênero depende da resolução do complexo de Édipo


independentemente da anatomia;

(D) o corpo biológico é o que gera a formação de identidades de gênero;

(E) a repressão social para que o gênero esteja adequado ao sexo biológico ocorre desde
a Idade Média.

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3.(DPE/SP 2015 – FCC) 58. Sobre as ações da equipe multidisciplinar nos Centros de
Atendimento Multidisciplinar, no contexto da Educação, considere o relato a seguir. “A
senhora Paula procura o CAM e pede assessoria jurídica para processar a escola em que
estuda seu filho de sete anos, dizendo que ela não está cumprindo seu papel na educação
das crianças e quer desvirtuar e desmoralizar tudo com uma conversa de que meninos e
meninas são iguais, que meninos podem brincar de boneca, pois, se continuar assim, eles
vão virar gays; diz que está até com medo que o ex-marido queira tomar a guarda do filho.
Acrescenta que está ciente de que tem direito à escola pública de qualidade e sabe bem
que a escola não pode infiltrar essas ideias na cabeça das crianças como se elas não
tivessem família.” Diante da hipotética situação relatada,

(A) a triagem deve encaminhar Paula para atendimento pela Secretaria de Educação por
não se tratar de um caso para a Defensoria Pública.

(B) verifica-se a falta de esclarecimento e o preconceito da mãe, não se tratando de uma


demanda para o CAM e para a Defensoria Pública.

(C) é preciso que seja feita a convocação da direção da escola para realização de
mediação.

(D) conclui-se que há demanda para uma escuta psicossocial qualificada e orientação
sobre as diretrizes do Programa Nacional de Direitos Humanos acerca da diversidade,
diferenças e gênero para a Educação.

(E) verifica-se demanda para escuta psicossocial qualificada e assessoria jurídica, em


função da violação dos direitos da mãe por parte da escola e da necessidade de orientação
sobre a guarda do filho.

59. A respeito das áreas de atuação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo e
das populações que recebem assistência jurídica integral e gratuita, é correto
asseverar:

A) Pessoas em situação de imigração, refugiadas no Brasil, que necessitam de


regularização de documentação e de situação migratória, não estão inclusas nas áreas e
populações assistidas pela Defensoria Pública.

(B) Pessoas que apresentem problemas referentes à perda de moradia em função de


desastres ambientais devem ser orientadas a procurar a Defesa Civil, por não
corresponderem a populações e áreas assistidas pela Defensoria Pública.

(C) Pessoas que querem fazer mudança de nome social e de gênero podem ser
acompanhadas pelo Núcleo Especializado de Combate à Discriminação, Racismo e
Preconceito da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, para solicitação de ação
judicial.

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(D) No CAM, em casos de violência sexual contra pessoas adultas, os profissionais de


psicologia prestam assistência psicológica somente à pessoa considerada vítima, não
podendo prestar assistência psicológica à pessoa agressora.

(E) Pessoas discriminadas por diagnóstico de HIV positivo devem ser encaminhadas aos
setores da Saúde, por não se tratar do tipo de discriminação para a assessoria jurídica
oferecida pela Defensoria Pública e para atendimento pela equipe do CAM.

GABARITO

1C 2B 3D 59 C

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