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26/05/2022 21:20 Diálogos do Sul: Afinal, o que é a Teoria Queer? O que fala Judith Butler?

(https://www.uol.com.br/)

(//operamundi.uol.com.br)

Wikicommons

CULTURA (/CULTURA)

Afinal, o que é a Teoria Queer? O


que fala Judith Butler?
Autorizado pela autora Helena Vieira, publicamos aqui
seu texto explicativo sobre o que é a Teoria Queer de
Judith Butler. Excelente explicação!

HELENA VIEIRA
(HTTPS://DIALOGOSDOSUL.OPERAMUNDI.UOL.COM.BR/AUTORES/5216/H
ELENA-VIEIRA)
Diálogos do Sul (//dialogosdosul.operamundi.uol.com.br)
 São Paulo (SP) (Brasil) (/news?city_id=28)

 25 de set de 2015 às 03:46

Tornou-se consideravelmente comum vermos ativistas, sobretudo transfeminitas


(como eu), falarem de Teoria Queer. Esses dias, fui interpelada por uma amiga que me
perguntava: “Diabéisso de Teoria Queer?”De fato, é uma forma de saber que a
Universidade não tende a ensinar aos estudantes de graduação, e, apesar de existir
muito material na internet sobre o assunto, é raro que paremos nossas vidas para
procurar um texto que responda: O que é teoria Queer? Antes, contudo, é importante
entendermos o que é “queer”. Que termo é esse?

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(https://bit.ly/YTDialogos)

O nome: Queer
Queer é uma palavra inglesa, usada por anglófonos há quase 400 anos. Na Inglaterra
havia até uma “Queer Street (http://en.wikipedia.org/wiki/Queer_street)”, onde
viviam, em Londres, os vagabundos, os endividados, as prostitutas e todos os tipos de
pervertidos e devassos que aquela sociedade poderia permitir. O termo ganhou o
sentido de “viadinho, sapatão, mariconha, mari-macho” com a prisão de Oscar Wilde,
o primeiro ilustre a ser chamado de “queer”.Desde então, o termo passou a ser usado
como ofensa, tanto para homossexuais, quanto para travestis, transexuais e todas as
pessoas que desviavam da norma cis-heterossexual. Queer era o termo para os
“desviantes”. Não há em português um sinônimo claro, talvez, como propõe a
professora Berenice Bento, possamos pensar o queer como “transviado”.

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Ativistas queer durante Marcha do Orgulho LBGT em Dublin, Irlanda, em 2016

A Teoria Queer
Primeira pessoa no mundo a
conseguir registro civil como
gênero neutro. Nem homem
e nem mulher. Isso ocorreu
na Austrália e seu nome é
Norrie | Fonte: Wikicommons

A Teoria Queer começa a se


consolidar por volta dos anos
90, com a publicação do livro
“Problemas de Gênero”
(Gender Troube) da Judith
Butler. Fruto de uma
trajetória que ela já vinha
acompanhando desde um
seminário, que carregava o
nome “queer”, feito nos anos
80, por Teresa de Lauretis
(http://en.wikipedia.org/wiki
/Teresa_de_Lauretis). De
Lauretis, foi a primeira a
pensar em “Tecnologias de Gênero”, aqui entendidas como as técnicas de ser homem
ou ser mulher que aprendemos desde cedo.Nos anos 70, as universidades
americanas, são tomadas (ainda bem), por movimentos populares, e começam a criar
os chamados “Estudos Culturais” como forma de dar conta da compreensão do
crescente Movimento Negro – marcadamente os Panteras Negras – e para dar conta
de outros movimentos como o “Free Speech” (Liberdade de Expressão), e do
movimento feminista – com a criação dos Women Studies. Assim como outros
movimentos, como os movimentos gay e lésbicos. Antes de prosseguir sobre “O que é

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a Teoria Queer”? Acho importante fazer uma pausa para historicizar o conceito de
“Gênero” , pois a Teoria Queer é sobre tudo aquilo que escapa a nossas formulações
habituais. Às formulações do senso comum.

(http://www.catarse.me/dialogosdosul)

Gênero
Não é possível falar em Teoria Queer sem pensarmos na categoria de “Gênero” como
sendo algo fluido, socialmente construído, performado e sistémico. Parafraseando
Teresa de Lauretis: um sistema sexo-semiótico, de interpretação dos dados biológicos
como produtores de diferenças, que não são per si, mas produtos da interpretação
arbitrária dos “marcadores biológicos”. Existem, ainda segundo a autora “Tecnologias
de Gênero”, ou seja, construção de técnicas de viver que determinam como um
sujeito pode se inserir na sociedade segundo normas específicas de “ser homem” ou
“ser mulher”.

Gênero é um conceito que surge fora da gramática e da linguística,


aproximadamente nos anos 1950, quando o Dr. John Money
(http://en.wikipedia.org/wiki/John_Money), da Universidade John Hopkins, o utiliza
no estudo da redesignação sexual de pessoas intersexuais. Neste caso, John se
pergunta: Se estas pessoas nasceram com genitália ambígua, como é possível que o
genital seja fator decisivo na constituição do gênero? Não pode ser. Então, utiliza-se
de tal conceito, para designar o resultado de seu tratamento de “reorientação do
gênero” das pessoas intersexo. No entanto, o modelo de compreensão do Gênero

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proposto por ele se mostrou falho, e hoje existem movimentos e demandas de


pessoas intersexo para que elas tenham autonomia na decisão do gênero ao qual se
identificam, e não fiquem a mercê de uma decisão médico-familiar. Entretanto, não
podemos desconsiderar que John Money avançou no descolamento do gênero e do
genital. Uma relação direta e não arbitrária, para compreendê-los, como distintos ,
possibilitando, apesar de seus erros, desdobramentos teóricos
importantes.Paralelamente aos estudos de John Money, começaram a surgir, dentro
das universidades, demandas para que existam estudos e disciplinas, até então
consideradas não acadêmicas, como os estudos negros, latinos, feministas,…
Demandas que surgem, não no seio das universidades, mas a partir de vários
movimentos sociais nos EUA. Dando origem, assim, aos estudos culturais, negros, e ao
campo conhecido como Women Studies. É no âmbito dos “Estudos das Mulheres”
que o conceito de Gênero passa a figurar de forma semelhante (cof) ao que
conhecemos hoje.

A partir da afirmação já famosa de Simone de Beauvoir em seu livro “O Segundo


Sexo” – ” Não se nasce mulher, se chega a sê-lo” – que inicio um parênteses. Essa
afirmação de Simone, não é uma afirmação diretamente sobre “Gênero”, mas sobre a
mulher,  que para Beauvoir, não era compreendida como um “outro”, mas como uma
subalternidade que só podia se constituir em relação ao sujeito “homem”, em sua
dependência. O devir mulher, não poderia, na ótica de Beauvoir, caber em um
entendimento do “devir homem”, de modo que, os primeiros estudos feministas, nos
trazem uma ótica ainda essencialista de “diferença de gênero”, diferença essa que
continua a se constituir a partir de novas interpretações dos dados biológicos.Os
Estudos Feministas, até então, se centravam em um determinado sujeito, em uma
determinada mulher, até que surgem, com Angela Davis
(http://en.wikipedia.org/wiki/Angela_Davis), e outras feministas negras, latinas,
operárias, lésbicas (com grande enfoque no “continuum lésbico” de Monique Wittig,
em seu livro “O pensamento heterossexual”), a crítica a este sujeito do “feminismo
clássico”, ou seja, a crítica a um feminismo que havia se mostrado branco, de classe
média, acadêmico e elitista. Ainda neste período surgem também, os “Estudos de
Gênero” que constroem uma crítica ao feminismo, ao pensar as “masculinidades”,
aliadas aos estudos Gays e Lésbicos, oriundos das demandas sociais que surgiram
após a Revolta de Stonewall.

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É neste momento que “Gênero” passa a ser concebido em sua fluidez e a afirmação
de Simone de Beauvoir é ampliada, a partir de um questionamento simples: “Se existe
um devir mulher, porque não poderia existir um ‘devir gênero’?”. Entretanto, apesar
deste questionamento, os estudos e movimentos gays e lésbicos se tornaram
higienizados, defendendo um corpo gay desejável, belo, e sobretudo,
heteronormativo. É criado, como diria Guacira Lopes Louro em seu texto “Teoria
Queer- Uma política pós-identitária para a educação”, uma identidade gay “positiva”,
e, obviamente, essa identidade positiva, subentende a construção de uma identidade
“negativa”, geralmente associada ao gay afeminado, à travesti, e às lésbicas
masculinizadas e homens trans.Neste momento ainda não havia uma distinção
teórica clara entre Identidade de Gênero e Sexualidade, tal distinção se produz apenas
com o trabalho teórico da antropóloga feminista Gayle Rubin, em seu artigo “The
Traffic in Women: Notes on the ‘Political Economy’ of Sex”. Artigo no qual ela afirma
ser necessário pensar como categorias radicalmente distintas a sexualidade e o
gênero, mesmo que, em determinados momentos, como posteriormente nos mostra
Judith Butler (em seu livro, “Gender Trouble”), tais categorias se amparam em
sustentação mútua da cis-heteronorma.

Judith Butler | Fonte: Wikicommons

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É neste contexto da higienização das identidades “gays e lésbicas” e do


questionamento da identidade do “ser mulher” e do ” ser homem” que surge um
movimento pautado nas diferenças, portanto não-assimilacionista, como ferramenta
de crítica. Tal movimento é teórico e também social, a “Teoria Queer”, termo agora
ressignificado como forma de empoderamento.

É neste momento, a partir de uma associação teórica com os estudos pós-


estruturalistas de Deleuze, Derrida e Foucault, que se começa a pensar o próprio
Gênero como “ficção política encarnada”, termo cunhado por Paul. B. Preciado em
palestra dada no “Hay Festival”, em Cartagena.

No bojo destas discussões surge também a reflexão sobre a travestilidade e a


transexualidade como experiências de gênero – a transfeminilidade como uma forma
de mulheridade. Essa compreensão é importante, quando nos deparamos com
discursos essencializadores do ser mulher. Judith Butler, em seu livro “Gender
Trouble”, inicia com um questionamento que considero vital: “Quem é o sujeito do
feminismo?”, ” É possível, pensar de forma categórica e universalizante em ‘mulher’?”.
A resposta, obviamente é “não”, é possível pensar em “mulheres”, em “mulheridades”,
em vivências femininas, mas não é possível universalizá-las na produção de um
conceito identitário imutável.

É neste sentido que a vivência das mulheres trans, das travestis e das pessoas não-
binárias que se identificam com a feminilidade podem ser compreendidas como
vivências femininas, e que devem ser respeitadas como tal. Obviamente, há
diferenças na vivência de uma mulher cisgênero e de uma mulher trans. Disso não há
dúvidas, entretanto, ambas possuem vivências de suas feminilidades, das opressões
diárias, dos enfrentamentos a partir de uma perspectiva do feminimismo.

Afinal, o que é a Teoria Queer?


É importante notar que a Teoria Queer não propõe um modelo “queer” de mundo. O
queer é justamente o estranho. É aquele que se narra ou é narrado fora das normas. A
Teoria Queer propõe o questionamento às epistemes (pressupostos de saber), ao  que
entendemos como verdade, às noções de uma essência do masculino, de uma
essência do feminino, de uma essência do desejo. Para a Teoria Queer é preciso olhar
para esses conceitos e tentar perceber que não se tratam, de forma alguma de uma
essência, ou mesmo, que não há uma ontologia do todo, mas, no máximo, uma

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relação de mediação cultural dos marcadores biológicos. A teoria queer, como diria
meu querido Paul Preciado, é uma teoria de empoderamento dos corpos subalternos,
e não o empoderamento assimilacionista. O empoderamento que nos faz fortes em
nossas margens e ocupar os espaços com nossos corpos transviados.

A Teoria Queer e o Brasil


Queer não é um termo inteligível no Brasil. As pessoas não se descrevem como queer
por aqui. Ao menos, não as pessoas que não tem acesso a essa teoria. Mas no Brasil,
os mesmos processos de normatização e subalternização dos corpos estão presentes.
Aqui não há o queer, mas há “o traveco”. Não há o queer, mas há “o viadinho”. Não
falam queer, mas falam “a sapatona”. Acredito, que a Teoria Queer, possa nos ajudar a
construir uma teoria transviada nossa. Que empodere nossos corpos
subalternos.Como bem ressalta a transfeminista Daniela Andrade, os termos
“transviada ou transviado” não englobam pessoas trans, pois supõe uma mistura, até
conceitual de identidade de gênero e sexualidade, coisa que nós, homens trans,
mulheres trans, travestis e pessoas trans de uma forma geral, temos lutado
imensamente pra distinguir uma da outra.

A tensão Teoria Queer e Identidades Não


binárias
É fato que ninguém é transexual simplesmente por ter “aprendido com a Teoria
Queer” ou qualquer outra teoria. Muito antes dessas teorias já existiam as pessoas
trans. Eu escrevo desde um lugar muito específico: travesti, gorda, pobre, acadêmica
e não binária. A Teoria Queer enfatiza que o gênero não é uma verdade biológica, mas
um sistema de captura social das subjetividades. Isso significa que não somos nada
ontologicamente? Não. Significa que existe uma percepção, por vezes disruptiva,
entre como me sinto e como a norma diz que devo me sentir.A percepção subjetiva
que tenho de mim, é minha e não cabe a nenhuma teoria definí-la. Entretanto, a
enunciação disso, ou seja, a capacidade de dizer, enquanto ato de fala (como nos diz
Austin), e performance, passa pelo conhecer.Eu nasci e cresci na periferia de São
Paulo, e agora vivo na periferia de Caucaia, no Ceará. Na periferia, não existem, aos
olhos da norma, pessoas não binárias. Eu mesma, ao longo de toda a minha vida
nunca me percebi como homem, nem como mulher. Eu era “o gayzinho” e “o

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viadinho”, depois que descobri a transgeneridade é que percebi que eu podia


enunciar o que sou: sou travesti não reivindico ser mulher, não reivindico ser homem,
mas essa é uma posição minha. Eu reivindico sim a feminilidade.

A tensão reside quando alguns ativistas querem negar tudo que é acadêmico. Não é
possível fazer isso! As pessoas trans, precisam adentrar a academia, que é uma
instituição produtora de conhecimentos lidos como verdade, e narrar suas próprias
vivências. É necessário ocuparmos os espaços que sempre nos foram historicamente
negados. A academia é instrumento. Assim como o saber o é. A primeira travesti
brasileira a obter o título de doutora foi minha muito amiga Luma Nogueira de
Andrade. Ela sempre frisou que o caminho dela para a emancipação estava na
educação, no acesso ao saber e ao conhecimento.

As identidades não binárias como a minha e muitas outras são de difícil intelecção
pra quem não é da academia. Isso porque não há trabalhos acadêmicos sobre o tema,
e porque não há critérios visuais de identificação do “não binário”, e sabemos que,
para o olhar da norma, a leitura, ou seja, a capacidade de intelecção, é vital para o
processo de taxonomização. Ano que vem sairá um artigo meu, em uma revista
americana sobre o universo “não binário”. Mas devemos lembrar que é importante
reconhecer que a academia e a Teoria Queer são ferramentas que podemos usar para
materializar o discurso sobre nossas identidades.

Austin dizia que falar é fazer. Que a linguagem e os atos de fala, tornam as coisas reais
no mundo porque constrangem seu entorno. A academia, marcadamente a Teoria
Queer e a desconstrução de Derrida trouxeram a ideia dos binários e dos não binários
a serem rompidos e desconstruídos. Por que, então, não usar as ferramentas e
construir um saber que emerge das nossas vivências?Paulo Freire sempre dizia, que o
saber popular precisa manter com o saber acadêmico uma relação de mão dupla,
dialógica. A teoria não constrói nossa identidade, mas nos ajuda a enunciá-la e as
vezes, a afirmá-la politicamente. É errado, portanto, exigir de travestis e pessoas trans
que aceitem a teoria queer. Ou que saibam dela. Principalmente quando muitas, a
maioria de nós na verdade, está fora da escola e da universidade. Enquanto nos
prostituimos, não temos tempo pra pensar o “pronome” mais apropriado a ser usado.
Mas isso não implica na negação de todo e qualquer saber acadêmico. É preciso
conciliar as vivências com a academia, e na fusão delas, produzir um pensar e uma
política identitária marcadamente brasileira.

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Um apelo final
Precisamos imensamente construir um saber nosso, um saber dos corpos
subalternizados brasileiros. Não somos os mesmos corpos norte-americanos. Somos
corpos com nossas próprias marcas e precisamos, a partir delas, constituir uma teoria
que nos empodere para, a partir daí, podermos começar a pensar numa política das
identidades. Há de se convir que o termo “queer” está na moda. Muitos se narram
como queer, porém, é uma pós-modernidade que sai com água, e cujo emprego
sugere privilégios. Queer não é arrasar na balada. É uma narrativa de si, uma narrativa
constante.É comum muitas pessoas rejeitarem o termo queer dizendo que “isso é
academicismo”. Ora, tudo bem, mas enquanto as pessoas trans não lutarem por si e
pelas suas companheiras, não seremos capaz de produzir um saber formal a partir de
nossas vivências. Um saber próprio para a experiência brasileira da não conformidade
as normas de gênero. Contudo, a simples negação do termo nos conduz ao risco do
colonialismo. De deixarmos espaço para que nossas identidades sejam vistas apenas
com o olhar colonizador de um termo e teoria estrangeiros. Por esse motivo, se faz
necessário que levemos esse debate para além da academia e dar voz às diferentes
maneiras com que pessoas trangêneros brasileiras narram suas histórias.  

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As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da


Diálogos do Sul

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Ricardo Stuckert

ELEIÇÕES 2022 (/ELEICOES-2022)

Maria Inês Nassif | Lula é prova de


que luta pela democracia é sempre
o melhor caminho

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2002 foi um ano em que a História se fez, plena, sem


subterfúgios. De repente, a política passara a ter alma. E
a alma tinha compromisso. Lula era a História

MARIA INÊS NASSIF


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ARIA-INES-NASSIF)
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 26 de mai de 2022 às 16:41

Nasci há quase 65 anos. Com seis anos, vi meu pai, que jamais havia desempenhado
uma tarefa doméstica, chegar com provisões que, na cabeça dele, não deixariam
morrer de fome a mulher e os cinco filhos durante o golpe militar que se prenunciava.

Era março de 1964. Carlos Lacerda ladrava como um cão. Os militares conspiravam. E
eu senti, pela primeira vez, o cheiro de História no ar. No dia seguinte o golpe era
oficializado. O Brasil caía no escuro. Foram 21 anos até se acender a luz.

Lembro de depois ter ouvido, intrigada, a história em linha direta. Era 1973. O general
Ernesto Geisel, o duro, era o candidato dos militares a presidente da ditadura que
seria referendado pelo Colégio Eleitoral, no ano seguinte, e viria com a promessa de
fazer uma abertura “lenta, gradual e segura”.

Ouvi a conversa de meu irmão com um ex-guerrilheiro que havia sido preso e
condenado à morte, acusado de matar uma criança numa “expropriação” de um
banco, mas foi salvo pelo pai da vítima, que provou que o tiro partira da polícia.

Eleições 2022: Como esquerda pode contribuir com temas ainda


não abordados por Lula
(https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/eleicoes-2022/74572/eleicoes-2022-
como-esquerda-pode-contribuir-com-temas-ainda-nao-abordados-por-lula)

Recém-saído da prisão, desfilava informações trazidas do cárcere e concluía que


Geisel poderia ser a porta de saída daqueles tempos sombrios. Achei que ele tinha
uma crença excessiva e injustificada num homem que, além de general, era duro,

https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/cultura/51728/afinal-o-que-e-a-teoria-queer-o-que-fala-judith-butler 13/16
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inflexível – era esta a sua imagem filmada, fotografada.

Seu rosto era crispado, era possível antever a raiva na boca sem sorriso e nos olhos
sem brilho. Mas em momentos de ruptura, na ausência dos personagens certos,
talvez prevaleça apenas o rumo inexorável da História.

(https://bit.ly/newsletterds)

Mais tarde, pesquisando sobre a Guerrilha do Araguaia com a minha amiga e


companheira de missões impossíveis, Paula Simas (temos gravações várias sobre o
tema), chegamos à conclusão de que ele era duro mesmo.

Ao longo de nossas pesquisas, não sobraria em nós nenhuma sombra de dúvida de


que Geisel era parte de um projeto militar (como Bolsonaro é hoje parte de um
projeto de golpe militar), jamais alguém que, dentro da corporação, se opusesse ao
regime ditatorial.

https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/cultura/51728/afinal-o-que-e-a-teoria-queer-o-que-fala-judith-butler 14/16
26/05/2022 21:20 Diálogos do Sul: Afinal, o que é a Teoria Queer? O que fala Judith Butler?

Ricardo Stuckert

Se ainda assim minha geração não puder legar a democracia, vai deixar pelo menos a

convicção de que esta luta será sempre a luta justa.

“Democracia lenta, gradual e segura”


Geisel não impôs aos militares a “democracia lenta, gradual e segura”. Era apenas
parte de um projeto gestado lá dentro. Essa abertura concedida tinha um
pressuposto: a eliminação física da luta armada.
Continuar lendo este texto 

O ministro do Exército de Médici, Orlando Geisel, irmão de Ernesto, começou a


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