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HELENA VIEIRA
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Diálogos do Sul (//dialogosdosul.operamundi.uol.com.br)
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26/05/2022 21:20 Diálogos do Sul: Afinal, o que é a Teoria Queer? O que fala Judith Butler?
(https://bit.ly/YTDialogos)
O nome: Queer
Queer é uma palavra inglesa, usada por anglófonos há quase 400 anos. Na Inglaterra
havia até uma “Queer Street (http://en.wikipedia.org/wiki/Queer_street)”, onde
viviam, em Londres, os vagabundos, os endividados, as prostitutas e todos os tipos de
pervertidos e devassos que aquela sociedade poderia permitir. O termo ganhou o
sentido de “viadinho, sapatão, mariconha, mari-macho” com a prisão de Oscar Wilde,
o primeiro ilustre a ser chamado de “queer”.Desde então, o termo passou a ser usado
como ofensa, tanto para homossexuais, quanto para travestis, transexuais e todas as
pessoas que desviavam da norma cis-heterossexual. Queer era o termo para os
“desviantes”. Não há em português um sinônimo claro, talvez, como propõe a
professora Berenice Bento, possamos pensar o queer como “transviado”.
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A Teoria Queer
Primeira pessoa no mundo a
conseguir registro civil como
gênero neutro. Nem homem
e nem mulher. Isso ocorreu
na Austrália e seu nome é
Norrie | Fonte: Wikicommons
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a Teoria Queer”? Acho importante fazer uma pausa para historicizar o conceito de
“Gênero” , pois a Teoria Queer é sobre tudo aquilo que escapa a nossas formulações
habituais. Às formulações do senso comum.
(http://www.catarse.me/dialogosdosul)
Gênero
Não é possível falar em Teoria Queer sem pensarmos na categoria de “Gênero” como
sendo algo fluido, socialmente construído, performado e sistémico. Parafraseando
Teresa de Lauretis: um sistema sexo-semiótico, de interpretação dos dados biológicos
como produtores de diferenças, que não são per si, mas produtos da interpretação
arbitrária dos “marcadores biológicos”. Existem, ainda segundo a autora “Tecnologias
de Gênero”, ou seja, construção de técnicas de viver que determinam como um
sujeito pode se inserir na sociedade segundo normas específicas de “ser homem” ou
“ser mulher”.
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26/05/2022 21:20 Diálogos do Sul: Afinal, o que é a Teoria Queer? O que fala Judith Butler?
É neste momento que “Gênero” passa a ser concebido em sua fluidez e a afirmação
de Simone de Beauvoir é ampliada, a partir de um questionamento simples: “Se existe
um devir mulher, porque não poderia existir um ‘devir gênero’?”. Entretanto, apesar
deste questionamento, os estudos e movimentos gays e lésbicos se tornaram
higienizados, defendendo um corpo gay desejável, belo, e sobretudo,
heteronormativo. É criado, como diria Guacira Lopes Louro em seu texto “Teoria
Queer- Uma política pós-identitária para a educação”, uma identidade gay “positiva”,
e, obviamente, essa identidade positiva, subentende a construção de uma identidade
“negativa”, geralmente associada ao gay afeminado, à travesti, e às lésbicas
masculinizadas e homens trans.Neste momento ainda não havia uma distinção
teórica clara entre Identidade de Gênero e Sexualidade, tal distinção se produz apenas
com o trabalho teórico da antropóloga feminista Gayle Rubin, em seu artigo “The
Traffic in Women: Notes on the ‘Political Economy’ of Sex”. Artigo no qual ela afirma
ser necessário pensar como categorias radicalmente distintas a sexualidade e o
gênero, mesmo que, em determinados momentos, como posteriormente nos mostra
Judith Butler (em seu livro, “Gender Trouble”), tais categorias se amparam em
sustentação mútua da cis-heteronorma.
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É neste sentido que a vivência das mulheres trans, das travestis e das pessoas não-
binárias que se identificam com a feminilidade podem ser compreendidas como
vivências femininas, e que devem ser respeitadas como tal. Obviamente, há
diferenças na vivência de uma mulher cisgênero e de uma mulher trans. Disso não há
dúvidas, entretanto, ambas possuem vivências de suas feminilidades, das opressões
diárias, dos enfrentamentos a partir de uma perspectiva do feminimismo.
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relação de mediação cultural dos marcadores biológicos. A teoria queer, como diria
meu querido Paul Preciado, é uma teoria de empoderamento dos corpos subalternos,
e não o empoderamento assimilacionista. O empoderamento que nos faz fortes em
nossas margens e ocupar os espaços com nossos corpos transviados.
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26/05/2022 21:20 Diálogos do Sul: Afinal, o que é a Teoria Queer? O que fala Judith Butler?
A tensão reside quando alguns ativistas querem negar tudo que é acadêmico. Não é
possível fazer isso! As pessoas trans, precisam adentrar a academia, que é uma
instituição produtora de conhecimentos lidos como verdade, e narrar suas próprias
vivências. É necessário ocuparmos os espaços que sempre nos foram historicamente
negados. A academia é instrumento. Assim como o saber o é. A primeira travesti
brasileira a obter o título de doutora foi minha muito amiga Luma Nogueira de
Andrade. Ela sempre frisou que o caminho dela para a emancipação estava na
educação, no acesso ao saber e ao conhecimento.
As identidades não binárias como a minha e muitas outras são de difícil intelecção
pra quem não é da academia. Isso porque não há trabalhos acadêmicos sobre o tema,
e porque não há critérios visuais de identificação do “não binário”, e sabemos que,
para o olhar da norma, a leitura, ou seja, a capacidade de intelecção, é vital para o
processo de taxonomização. Ano que vem sairá um artigo meu, em uma revista
americana sobre o universo “não binário”. Mas devemos lembrar que é importante
reconhecer que a academia e a Teoria Queer são ferramentas que podemos usar para
materializar o discurso sobre nossas identidades.
Austin dizia que falar é fazer. Que a linguagem e os atos de fala, tornam as coisas reais
no mundo porque constrangem seu entorno. A academia, marcadamente a Teoria
Queer e a desconstrução de Derrida trouxeram a ideia dos binários e dos não binários
a serem rompidos e desconstruídos. Por que, então, não usar as ferramentas e
construir um saber que emerge das nossas vivências?Paulo Freire sempre dizia, que o
saber popular precisa manter com o saber acadêmico uma relação de mão dupla,
dialógica. A teoria não constrói nossa identidade, mas nos ajuda a enunciá-la e as
vezes, a afirmá-la politicamente. É errado, portanto, exigir de travestis e pessoas trans
que aceitem a teoria queer. Ou que saibam dela. Principalmente quando muitas, a
maioria de nós na verdade, está fora da escola e da universidade. Enquanto nos
prostituimos, não temos tempo pra pensar o “pronome” mais apropriado a ser usado.
Mas isso não implica na negação de todo e qualquer saber acadêmico. É preciso
conciliar as vivências com a academia, e na fusão delas, produzir um pensar e uma
política identitária marcadamente brasileira.
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26/05/2022 21:20 Diálogos do Sul: Afinal, o que é a Teoria Queer? O que fala Judith Butler?
Um apelo final
Precisamos imensamente construir um saber nosso, um saber dos corpos
subalternizados brasileiros. Não somos os mesmos corpos norte-americanos. Somos
corpos com nossas próprias marcas e precisamos, a partir delas, constituir uma teoria
que nos empodere para, a partir daí, podermos começar a pensar numa política das
identidades. Há de se convir que o termo “queer” está na moda. Muitos se narram
como queer, porém, é uma pós-modernidade que sai com água, e cujo emprego
sugere privilégios. Queer não é arrasar na balada. É uma narrativa de si, uma narrativa
constante.É comum muitas pessoas rejeitarem o termo queer dizendo que “isso é
academicismo”. Ora, tudo bem, mas enquanto as pessoas trans não lutarem por si e
pelas suas companheiras, não seremos capaz de produzir um saber formal a partir de
nossas vivências. Um saber próprio para a experiência brasileira da não conformidade
as normas de gênero. Contudo, a simples negação do termo nos conduz ao risco do
colonialismo. De deixarmos espaço para que nossas identidades sejam vistas apenas
com o olhar colonizador de um termo e teoria estrangeiros. Por esse motivo, se faz
necessário que levemos esse debate para além da academia e dar voz às diferentes
maneiras com que pessoas trangêneros brasileiras narram suas histórias.
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Veja também
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Ricardo Stuckert
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26/05/2022 21:20 Diálogos do Sul: Afinal, o que é a Teoria Queer? O que fala Judith Butler?
Nasci há quase 65 anos. Com seis anos, vi meu pai, que jamais havia desempenhado
uma tarefa doméstica, chegar com provisões que, na cabeça dele, não deixariam
morrer de fome a mulher e os cinco filhos durante o golpe militar que se prenunciava.
Era março de 1964. Carlos Lacerda ladrava como um cão. Os militares conspiravam. E
eu senti, pela primeira vez, o cheiro de História no ar. No dia seguinte o golpe era
oficializado. O Brasil caía no escuro. Foram 21 anos até se acender a luz.
Lembro de depois ter ouvido, intrigada, a história em linha direta. Era 1973. O general
Ernesto Geisel, o duro, era o candidato dos militares a presidente da ditadura que
seria referendado pelo Colégio Eleitoral, no ano seguinte, e viria com a promessa de
fazer uma abertura “lenta, gradual e segura”.
Ouvi a conversa de meu irmão com um ex-guerrilheiro que havia sido preso e
condenado à morte, acusado de matar uma criança numa “expropriação” de um
banco, mas foi salvo pelo pai da vítima, que provou que o tiro partira da polícia.
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26/05/2022 21:20 Diálogos do Sul: Afinal, o que é a Teoria Queer? O que fala Judith Butler?
Seu rosto era crispado, era possível antever a raiva na boca sem sorriso e nos olhos
sem brilho. Mas em momentos de ruptura, na ausência dos personagens certos,
talvez prevaleça apenas o rumo inexorável da História.
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26/05/2022 21:20 Diálogos do Sul: Afinal, o que é a Teoria Queer? O que fala Judith Butler?
Ricardo Stuckert
Se ainda assim minha geração não puder legar a democracia, vai deixar pelo menos a
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