John A. Sandford
Edições Paulinas
Créditos
Título original:
Evil, the shadow side of reality
The Crossroad Publishing Co. New York
© John A. Sanford, 1981
Capa:
Dois sátiros, de Rubens (detalhe)
4345-1 ― ISBN 55-06-00834-0
ISBN 85-05-00834-0
ISBN 0-8245-0526-3 (Ed. original)
Impressão—1988:
Gráfica de Edições Paulinas
Via Raposo Tavares, km 18,5
0550 São Paulo SP
Catalogação na Publicação Internacional (CIP)
Câmara Brasileira do Livro SP Brasil
Para mim, a praga que destruiu minhas abóboras era um mal, tanto
quanto o esquilo — que foi neutralizado justamente por essa razão. Não sei
como a praga se sentiu. Mas não resta dúvida de que, para o esquilo, a
destruição dos meus pés-de-tomate era um gesto bom. Eu e minhas
armadilhas éramos, para ele, o mal. Ou seja, o que para mim era ruim, era
bom para ele — e vice-versa.
Não é nova a ideia de que o bem e o mal são conceitos relativos. Por
exemplo, o antigo filósofo chinês Chu Hsi — cujas reflexões ocorreram há
tanto tempo que ninguém sabe ao certo quando ele viveu — ensinava que o
bem e o mal não existem em si mesmos; ao contrário, eles são conceitos
aplicados às coisas de acordo com os benefícios ou prejuízos que trazem para
quem as manipula ou para o ser humano em geral. Dizia Chu Hsi que “em si
mesma, a natureza está além do bem e do mal, e ignora a nossa terminologia
egoísta”{5}. O mesmo pensamento aparece nas palavras de Hamlet, quando ele
diz a Rosencrantz: “Não existe nada que seja bom ou mau. É o pensamento
que o torna assim”{6}.
Quando se diz que as coisas não são boas nem más, mas o pensamento
é que as torna assim, trata-se aí de um raciocínio a partir da ótica do ego. Se é
verdade que existe apenas um ponto de vista relativo sobre o mal, a pessoa
egocêntrica pode justificar, com base em suas próprias certezas, toda e
qualquer ação, que será avaliada conforme sua capacidade de satisfazer
ambições, anseios e desejos egocêntricos do seu autor. Grandes safadezas
podem ser justificadas dessa maneira. Ao contrário, existindo, a respeito do
mal, uma perspectiva divina, seja a partir do si-mesmo ou de Deus, então o
relativismo do ego pode ser demonstrado como aquilo que ele realmente é:
um exemplo a mais do egoísmo humano.
Como saber se existe uma perspectiva divina sobre o mal que seja
diferente da perspectiva do ego? A história de Moisés e do anjo-guia Khidr,
contada no Sura 18 do Corão, pode sugerir uma resposta.
Jung diz ter ficado muito impressionado com tal otimismo. Mas, “às
seis da tarde, esse otimismo tinha repentinamente desaparecido… Após o
pôr-do-sol, o mundo ficava diferente: tratava-se do mundo escuro do ayik —
do mal, do perigo, do medo. A filosofia otimista cedia lugar ao medo dos
fantasmas, enquanto as práticas mágicas tentavam oferecer proteção contra o
mal. E, no entanto, sem que houvesse qualquer contradição interior, o
otimismo retomava ao amanhecer”{10}.
Era assim que esse povo primitivo personificava as forças malignas
que, no seu entender, circundavam-no por todos os lados. Apesar de parecer
primitiva, essa perspectiva mitológica sobre o mal é mais acurada que a de
nossa visão moderna, a qual, por ser materialista e racionalista, nega a
existência de deuses e demônios, ignora a realidade da psique e,
consequentemente, tende a negligenciar o poder do mal. A coincidência entre
certas doenças e problemas psicológicos, as violentas explosões de forças
destrutivas na guerra, a postura de exploração do homem pelo homem e a alta
incidência de crimes — isso tudo leva à comprovação de que, via de regra, o
homem se comporta exatamente como se estivesse possuído pelo diabo. Os
homens antigos personificavam esses poderes do mal como seres ou espíritos
mitológicos. A psicologia moderna prefere chamá-los de arquétipos ou
complexos autônomos. Na verdade, a mitologia primitiva e a psicologia
analítica concordam em que a sorte e o destino do homem são, em medida
surpreendentemente larga, controlados por fatores psíquicos autônomos que
ultrapassam seu controle consciente.
Em seu excelente livro Myth, History and Faith, Morton T. Kelsey diz
o seguinte sobre a relutância em se encarar as origens do mal e a realidade do
princípio destrutivo: “Antes de mais nada, o homem leigo deste século tem
sofrido lavagem cerebral por parte do pensamento materialista. Num mundo
racionalista e materialista, não há lugar para coisas como o princípio da
destrutividade, cuja existência não pode ser admitida porque não se trata de
algo nem racional nem material. Ante a necessidade de considerar o mal
como algo possivelmente mais substancial do que a mera ausência do bem,
as pessoas são obrigadas a rever toda sua visão de mundo, o que é uma
tarefa muito dolorosa e bastante difícil. O melhor é simplesmente negar a
realidade de um princípio assim tão acabado”{11}.
O bom Osíris cai numa armadilha preparada por seu irmão mau. De
fato, Set constrói um lindo baú do tamanho exato de Osíris, convida o irmão
para uma grande festa e oferece o baú àquele que couber nele. Sem suspeitar
de nada, Osíris entra no baú. Set e seus cúmplices correm, fecham o baú com
pregos e atiram-no ao mar. Isis, mãe e esposa de Osíris, consegue encontrar e
resgatar o corpo de seu filho e amante. Mas Set também descobre os restos
mortais de Osíris e, para garantir sua destruição eterna, divide o corpo do
irmão em quatorze pedaços que são espalhados sobre a terra. No entanto, Isis
recupera o corpo desmembrado de Osíris, exceto seu falo, que Oxirrinco, o
grande caranguejo, tinha avidamente devorado, merecendo a maldição eterna
por gesto tão deplorável.
Depois disso, como não pode voltar a governar o mundo dos vivos,
Osíris passa a reinar sobre os Infernos, onde se toma juiz dos mortos. Seu
lugar entre os vivos é então ocupado por seu filho Horo que, tendo chegado à
maturidade, retoma a luta contra Set e derrama sobre a humanidade as
mesmas bênçãos que Osíris antes costumava espalhar.
Pode-se dizer que o ponto de vista sobre o mal, tal como expresso em
boa parte da mitologia indígena, situava-se mais ou menos entre a ideia do
mal, exemplificada nas mitologias dualistas dos escandinavos, egípcios e
persas, e a sintetizada mitologia dos gregos. É verdade que, no pensamento
indígena americano, não existe a representação específica de uma divindade
do mal opondo-se ao Grande Espírito, tal como Arimã opunha-se a Aura-
Mazda. No entanto, nela existem muitos mitos onde constam espíritos
menores que têm intenções indiscutivelmente maléficas e perturbam os
espíritos que ajudam o homem. Mas em todos esses mitos podemos notar
duas mensagens. Primeiro, existe um poder maligno autônomo que está
acima do controle do homem; segundo, na vida existe um equilíbrio de
opostos: a luz é sempre antagonizada pela treva. Quanto mais a luz (aspecto
positivo) é enfatizada e personificada pela figura de uma divindade benéfica,
tanto mais inevitável torna-se a encarnação do lado escuro num deus (ou
deusa) que é tão ruim e malevolente quanto a divindade da luz é boa e
benevolente.
Balaão pôde impedir a tempo que tal fato ocorresse, ao ver o anjo de
Iahweh no seu caminho e tendo conseguido travar um diálogo com ele. A
conversa que se deu nessa estória é análoga ao diálogo que ocorre entre o ego
e o si-mesmo quando uma pessoa começa a se lembrar dos seus sonhos,
tentando entendê-los, ou quando se aplica a técnica para estabelecimento de
uma relação viva com o inconsciente, a qual C. G. Jung chamou de
“imaginação ativa”{21}.
Podemos considerar os sonhos como procedentes do mesmo centro
psíquico, tendo a função psicológica de expressar a vontade de Deus em
nossas vidas. Recordá-los, reagir frente a eles e dialogar com eles é como
estabelecer uma conversa com o poder que se fixou em nosso caminho. O
resultado disso é um entrosamento gradual do ego com os propósitos do si-
mesmo.
Isso tudo certamente nos leva a uma visão paradoxal de Deus que chega
a ofender nossa sofisticada sensibilidade religiosa, ao acharmos que, em
certas situações, Deus poderia ser tão cegamente destrutivo como a própria
natureza, atingindo, ele próprio, pessoas que, como Balaão, são estúpidas o
suficiente para tornarem-se vítimas do seu lado satânico. Mas é precisamente
essa visão paradoxal a força da imagem de Deus no AT. Ela poderia levar um
estudioso a concluir que Satã “demonstra ser um princípio demoníaco-
destrutivo firmemente embasado no plano da salvação”{22}. De onde teria
vindo a salvação de Balaão se ele não tivesse entrado em contato com o
perigoso e escuro aspecto do anjo de Iahweh?
A realidade da vida é que a luz e as trevas não estão sempre
dissociadas, e às vezes nem sempre sabemos onde se encontra o bem e onde
se encontra o mal. Desse modo, Nikos Kazantzakis declara: “Alguém veio.
Decerto foi Deus, Deus… ou foi o diabo? Quem pode separá-los? Eles
trocam suas faces; Deus às vezes se torna escuridão total, o diabo, luz total, e
a mente do homem se torna confusa”{23}.
4.
O papel do diabo e do mal no Novo Testamento
Temos, ao invés disso, uma espécie de dualismo, que está sob a capa de
um monoteísmo abrangente. Em outros termos, é como se na terra houvesse
um sistema de trabalho dualista, sendo os propósitos de Deus trapaceados,
quando possível, pelos propósitos de Satã. Mas, num sentido mais amplo, há
somente um grande projeto divino e um Deus acima de tudo. Sob esse ponto
de vista, teríamos Deus permitindo que o mal opere, evidentemente porque o
mal desempenha um papel essencial na economia divina. Podemos chamar
isso de “concepção monística do mal”{27}.
Podemos observar que este ponto de vista sobre o mal já se refletia nas
ideias de um dos primeiros filósofos cristãos, Orígenes, que dizia que a
criação como um todo estava lutando pela perfeição, e quando todas as
criaturas vivas alcançassem suas metas e se tornassem parte do plano eterno
de Deus, o diabo salvar-se-ia e o mal cessaria de existir. Isso implica que
Deus, através de seus próprios princípios e metas, estaria permitindo a
existência do mal e do diabo, e quando seus propósitos fossem atingidos e a
necessidade de um diabo fosse eliminada, o lado do bem venceria o mal.
Neste ponto há uma contribuição da psicologia analítica. A mais
profunda necessidade ou instinto que habita toda criatura viva, segundo Jung,
é a totalização de si mesmo. Na vida humana esse empuxo para a plenitude
não vem de nossas mentes conscientes, mas do centro inconsciente do nosso
ser, o si-mesmo. Essa necessidade de plenitude nasce em nós mesmos. Nosso
ser requer a presença de uma personalidade unificada, onde a mente
consciente e a mente inconsciente estejam unidas e não em oposição, e é por
isso que Jung define como “individuação” esse processo ao longo da vida que
almeja a plenitude, já que neste processo a meta é uma personalidade
indivisível e íntegra.
Ele diz que sem ele nada aconteceria no mundo e ainda assim as
pessoas não gostam dele! Por esta razão, quando Fausto lhe pergunta quem é,
Mefistófeles responde que é “parte da força do mal, ainda que produza o
bem”{28}.
Os sábios cristãos logo reconheceram a necessidade do mal num mundo
que procura um significado moral. Pode existir uma única vida no mundo
onde não haja injustiça? Pode existir liberdade humana verdadeira num
mundo em que as pessoas não sejam tentadas pelo poder maléfico para se
afastarem de Deus? Pode Deus trazer seus filhos para junto de si se não há
nenhum adversário que tenta atraí-los, desviando-os de Deus? Em suma,
pode haver crescimento da alma, afloramento da consciência, fibra moral,
personalidades vigorosas, sem que haja escuridão, pecado e destrutividade no
mundo de almas que lidam com forças opostas?
Essa visão sobre o mal tem um grande mérito. Uma das coisas é que ela
condiz com a visão do mal nos evangelhos e explica por que Jesus não fez
mais a respeito do mal, não tentou explicá-lo ou acabar com ele. Mas há
também um perigo nesse ponto de vista, pois pode tornar-se uma resposta
demasiadamente otimista e confiável. É quase como afirmar que o mal não é
realmente mal, mas outra forma de mascarar e dissimular o bem, já que, em
última análise, ele promove o bem. Ninguém, que de fato tenha sido tocado
pelo mal, poderá aceitar qualquer atitude de complacência para com ele. O
mal realmente é mal, ou pelo menos o experienciamos assim. Nem sempre a
presença do mal garante a individuação e o desenvolvimento da vida. É
verdade que não se alcança a mais elevada plenitude sem a luta com o mal,
mas este, quando é demasiadamente frequente, acaba vencendo ou
destruindo, ou faz com que a fibra moral do homem se desgaste muito. A
atitude de aceitação do mal comentada acima pode estar correta, mas se ela
nos leva a ter uma forma complacente de lidar com o mal, nossa atitude é
errônea.
Por esta razão Jesus estava certo ao dizer: “Ai do mundo por causa dos
escândalos! É necessário que haja escândalos, mas ai do homem pelo qual o
escândalo vem! ” É um aviso oportuno de que, apesar do mal ser necessário a
fim de que o plano espiritual de Deus seja levado adiante e para que haja uma
individuação, ainda permanece o fato de haver, a nível humano, experiências
da presença de um mal acirrado, simplesmente por se achar que ele é de
alguma forma necessário. Fiquemos, ao menos, em alerta para o perigo de
cair numa solução intelectual estéril do problema, o que nos faria evitar o
significado profundo da resposta ao mal, que por si só nos dá uma apreciação
da sua realidade.
No entanto, essa mensagem sobre o mal que encontramos nos
evangelhos e em Orígenes não é o único ponto de vista no NT. Na igreja
primitiva cedo se desenvolveu um pensamento diferente sobre o mal, que
mais tarde se manifestou nos ensinamentos sobre o Anticristo, tendo como
resultado o que podemos chamar de dualismo, qualquer que seja o ponto de
vista.
Victor Maag, no artigo mencionado acima, aponta para a doutrina do
Anticristo como não constando nos ensinamentos de Jesus, nem mesmo nos
de Paulo. Seu primeiro aparecimento, segundo ele, está na segunda epístola
aos Tessalonicenses (que ele presume não ser da autoria de Paulo). O mais
antigo cristão leigo, diz ele, não demonstrava saber nada a respeito do
Anticristo. Certamente Jesus nunca mencionou tal ideia; mas, na segunda
epístola aos Tessalonicenses encontramos um ensinamento bem
fundamentado de que quando vier o fim do mundo, um certo “filho da
perdição” aparecerá, e se oporá a Deus aqui na terra, o que precipitará uma
luta final, apocalíptica, resultando no fim do mundo, na vitória de Cristo e na
destruição do mal. Não encontramos ainda o termo “Anticristo” na segunda
epístola aos Tessalonicenses, mas todo o seu conteúdo dá os ingredientes
para a ideia, que florescerá nas epístolas de João e no livro do Apocalipse, de
que, no último dia, Cristo e um Anticristo travarão uma luta final pela
supremacia.
Para que isso aconteça, a alma precisa estar purificada e esta é a função
do carma. A vida de todo ser acumula um certo carma, que é, grosseiramente
falando, a “justa sobremesa” de uma pessoa em suas diversas vidas. Os
acontecimentos aos quais estamos fadados na vida, o sofrimento ou a alegria
pelos quais passamos não são outra coisa senão o carma que trazemos
conosco como consequência de nossa ignorância ou maldade em existências
prévias. Este carma precisa ser vivido; sua demanda faz com que devamos
segui-lo para que progridamos e purifiquemos nossas almas. Mas o
preenchimento do carma, e isto deve ser sublinhado, não é para que sejamos
punidos pelos pecados, mas para que limpemos nossas almas, equilibrando a
balança da vida. Na realidade, ao se alcançar a conscientização correta, pode-
se deixar o carma de lado, mas este é o caminho que só os iogues conseguem
traçar. A pessoa comum deve corresponder ao seu carma de uma forma
correta, na expectativa de que o carma da sua próxima existência seja mais
ameno.
Já que as condições negativas na vida não são outras que aquelas do
carma, não há qualquer mérito em tentar superar o mal. O doente, o sofredor
e o pobre estão cumprindo o caminho do seu carma de uma vida prévia e
nada se pode fazer para ajudá-los porque isto poderia desviar o cumprimento
da missão divina. A tarefa própria do homem não é se opor ao mal, lutar
contra o pecado humano ou buscar amenizar o sofrimento, mas trabalhar para
permitir que a consciência das pessoas abrace a vontade de Deus através da
renúncia ao ego pessoal, à vontade e aos desejos.
Edward C. Whitmont aponta muito bem esta ideia quando diz que “o
termo ‘sombra’ se refere à parte da personalidade que foi reprimida por causa
do ego ideal”{33}. O “ego ideal” é formado pelos ideais ou padrões que
modelam o desenvolvimento do ego ou a personalidade consciente. Esses
ideais do ego podem ser frutos da sociedade, da família, dos grupos com os
quais se convive ou as regras religiosas. Podemos selecioná-los de forma
consciente e deliberada, ou então esses ideais podem operar de modo mais ou
menos inconsciente no desenvolvimento do ego.
Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a resposta
Cai a sombra{35}.
São Paulo tem um ideal para si mesmo, mas descobre que alguma coisa
a mais, no seu interior, está barrando sua capacidade de realizar esse ideal.
Algum elemento inserido em sua personalidade contradiz seu ego ideal e o
induz a atuar por caminhos que o afligem, criando nele um despertar para a
necessidade de salvação. Este outro alguém contido nele, que chama de
pecado, é a sombra. Como são Paulo lidou com este seu lado é um assunto do
qual trataremos no próximo capítulo. No entanto, é evidente que a existência
da personalidade da sombra coloca um grande problema para a consciência
judaico-cristã.
É por isso que o meio mais eficaz para que vislumbremos a natureza da
nossa sombra é trabalhando nossas relações humanas. Outras pessoas terão
objeções quanto à nossa sombra e nos apontarão o que estamos fazendo a
elas. Ouviremos o que os outros têm a nos dizer e, acatando suas objeções de
coração, quando válidas, chegaremos a um reconhecimento da nossa sombra.
Nos capítulos anteriores fiz o comentário de que a Igreja não nos foi de
grande ajuda para lidarmos com a sombra. Agora examinaremos as razões
disso com mais detalhes, e proponho que o façamos, contrastando a atitude
de Jesus com a de Paulo, no tocante ao problema da sombra.
Primeiramente faz-se necessária a introdução de outro conceito
psicológico: a persona. A palavra “persona” significa “máscara”, e deriva de
“persona” ou máscara, usada por atores dramáticos da Grécia e da Roma
antiga para representar as personagens. A psicologia compreende a persona
como a máscara que usamos quando saímos para o confronto com o mundo e
as outras pessoas. Seria como a capa externa da nossa personalidade de ego.
A persona é a primeira parte em nós que as outras pessoas veem, e a nossa
parte que queremos que elas vejam.
A persona tem uma função social e psicológica útil. Por exemplo, você
pode estar se sentindo horrível e vulnerável num certo dia, mas, como você
deve desempenhar suas várias atividades e se encontrar com outras pessoas,
você não pode permitir que sua vulnerabilidade seja vista por todos. Seu
estado interno às vezes deve ser ocultado, e você precisa fazer uso da sua
persona a fim de exercer certas funções. Assim, uma persona adequada é
uma parte necessária da habilidade do ego para se relacionar com a vida e as
pessoas. Thayer Greene, um analista junguiano de Nova forque, apontou em
seu artigo “Confessions of an Extrovert” (Quadrant, Winter 1975, Vol. 8, § 2,
pp. 21-32) que a persona tem um papel ainda mais positivo do que a criação
da aparência. Como ele sugeriu, a antiga máscara ou persona que os gregos e
romanos usavam não pretendia identificar os atores, mas servia como objeto
de melhor expressão das personalidades que eles representavam. Deste modo,
a persona também pode ser o órgão da personalidade através do qual
expressamos certas coisas a respeito de nós mesmos para os outros.
Por exemplo, se você for a uma festa e cuidadosamente vestir suas
melhores roupas, adotando maneiras graciosas e charmosas, não significa que
você está tentando esconder seu verdadeiro si-mesmo para os outros. Pode ser
que, através da persona das roupas e da maneira adotada, você esteja
expressando melhor um lado seu, e se relacionando melhor com os outros de
uma forma particular. É por isso que a vestimenta e a moda em geral são tão
populares e até necessárias, pois a vestimenta adequada nos ajuda a expressar
a persona correta para uma determinada situação.
Mas a maior dificuldade com a atitude tomada por Paulo é que não só
as ações, como também as emoções e fantasias são encaradas como mal. Para
Paulo, ter emoções e fantasias “ruins”, ainda que não expressas, é próprio de
uma pessoa má. Assim, o ruim não é justamente a expressão da raiva, mas a
raiva em si; não exatamente uma vida sexual promíscua, mas as próprias
fantasias sexuais, que provêm de Satã.
Entretanto, nossas emoções e fantasias são incontroláveis. São o que
são e vêm de fontes inconscientes. Todas as pessoas, inclusive Paulo, têm
fantasias obscuras de tempos em tempos, e enquanto pudermos negá-las,
reprimi-las ou utilizá-las como acusação a algum poder demoníaco ou a outra
pessoa, não há como nos livrarmos delas. As nossas fantasias e emoções que
nos amedrontam pertencem ao fundo obscuro e sombrio do inconsciente. Se
não podemos encará-las e aceitá-las, tornamo-nos pessoas divididas. Ao dizer
que não é a ação, mas o pensamento em si mesmo que consiste em pecado, a
ética de Paulo coloca o homem numa posição intolerável.
Vimos que Jesus sabia sobre a persona e que ele denunciou o perigo
espiritual da identificação com a máscara. Na citação de Mateus que já
consideramos, vimos que Jesus comparou as pessoas identificadas com a
persona com um sepulcro caiado, que por fora parece bonito, mas por dentro
está cheio de ossos de mortos e de toda imundície. Como pudemos observar,
esta corrupção interna é como a personalidade da sombra quando vista em
contraste com a persona. A questão é como entrar em contato com a sombra.
Vimos que reprimi-la não é uma solução, tampouco identificarmo-nos com
ela e dar vazão plena a nossos impulsos e obscuridade. Isso não seria uma
integração ou solução para o problema, mas simplesmente uma mudança de
um oposto para outro. A divisão interna ainda permaneceria. Felizmente
Jesus nos deu algumas sugestões de como lidar com o problema.
Consideremos este versículo de Mateus: “Assume logo uma atitude
conciliadora com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho, para
não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de
justiça e, assim, sejas lançado na prisão. Em verdade te digo: dali não sairás,
enquanto não pagares o último centavo”{52}. Naquela época era costume que
os adversários num caso judicial viajassem juntos para a corte, na esperança
de que resolvessem a disputa e não precisassem enfrentar o julgamento.
Assim, teríamos que acatar esta fala de Jesus como um aviso para que esse
costume fosse seguido. A dificuldade da sua interpretação está na dureza das
palavras quanto ao seu valor; poderia ter sido um aviso comum que qualquer
poderia ter dado. Há também a dificuldade da última sentença: se não
fizermos isto, diz Jesus, o árbitro nos enviará à prisão.
“Um homem tinha dois filhos. O mais jovem disse ao pai: ‘Pai,
dá-me a parte da herança que me cabe’.
E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, ajuntando
seus haveres, o mais jovem partiu para uma região longínqua,
dissipando sua herança numa vida devassa. E gastou tudo. Sobreveio à
região uma grande fome e ele começou a passar privações. Foi, então,
empregar-se com um dos homens da região, que o mandou para os
campos cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com as bolotas que
os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. E caindo em si, disse:
‘Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui,
morrendo de fome! Vou-me embora, procurar meu pai e dizer-lhe: Pai,
pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu
filho. Trata-me como um dos teus empregados’. Partiu, então, e foi ter
com o pai. Ele estava ainda ao longe, quando o pai viu-o, encheu-se de
compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. O
filho, então, disse: ‘Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou
digno de ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos servos: ‘Ide
depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel
no dedo e sandálias nos pés. Trazei o novilho cevado e matai-o;
comamos e festejemos, pois, este meu filho estava morto e tornou a
viver; estava perdido e foi reencontrado! ‘ E começaram a festejar.
O filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de
casa ouviu músicas e danças. Chamando um servo, perguntou-lhe o
que estava acontecendo. Este lhe disse: ‘É teu irmão que voltou e teu
pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde’. Então ele
ficou com muita raiva, e não queria entrar. O pai saiu para suplicar-
lhe. Ele, porém, respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que te sirvo, e
jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um
cabrito para festejar com os meus amigos. Contudo, veio este teu filho,
que devorou teus bens com prostitutas, e para ele matas o novilho
cevado! ‘ Mas o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o
que é meu é teu. Era preciso que festejássemos e nos alegrássemos,
pois o teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi
reencontrado!’ “
Uma razão pela qual o problema da sombra tem sido ignorado pela
Igreja é que ele nos leva a situações paradoxais e nos confronta com a
necessidade de uma ética paradoxal. Não gostamos de paradoxos, e a
tradicional consciência cristã em particular prefere que as coisas sejam
traduzidas em preto ou branco. Infelizmente, a aceitação do nosso lado
sombrio não permite isso, pois a sombra, com todo o seu potencial para o
mal, também contém o que é necessário para o bem mais elevado: a
santidade. Eis a razão pela qual a discussão sobre a sombra sempre leva a um
paradoxo.
Um exemplo disso pode ser encontrado em Lc 7,36-50, uma estória que
já comentamos brevemente. Nesta envolvente estória Jesus está jantando com
um dos fariseus, quando uma mulher de má reputação chega até ele, chora e
banha seus pés com lágrimas. O fariseu observa a cena com espanto e diz a si
mesmo que se Jesus soubesse quem era essa mulher ele nada faria por ela.
Jesus intui o que o fariseu está pensando e o desafia. “Suponha que haja duas
pessoas”, diz ele, “cada qual devendo uma soma de dinheiro a um credor, um
devendo o dobro que o outro devia. Agora suponha que o credor tenha
perdoado a ambos. Qual deles seria mais agradecido? ” Resta ao fariseu
responder que o que mais foi perdoado amaria mais o credor. “Este, diz
Jesus, é o caso dessa mulher. Ele ainda acrescenta que quando chegou à casa
do fariseu ninguém banhou seus pés, mas aquela mulher os lavou com as
próprias lágrimas por causa do seu amor e gratidão. Então ele faz esta
afirmativa paradoxal: ‘Por esta razão, eu te digo, seus numerosos pecados lhe
estão perdoados, porque ela demonstrou muito amor’ ”.
“O Médico e o Monstro”
***
Podemos começar comparando a descrição de Henry Jekyll com a de
Edward Hyde. Vimos que Jekyll era um “homem de meia-idade, alto, bem-
apessoado, com uma expressão de dissimulação talvez, mas com todos os
sinais de capacidade e gentileza”. Então não há razão para supormos que
Jekyll não tivesse boas qualidades. Apenas a alusão a uma “expressão de
dissimulação” denuncia o fato de que por trás da bondade de Henry Jekyll
escondia-se uma pessoa de caráter mais dúbio. Mais tarde Jekyll se descreve
em maiores detalhes como um homem que “sempre procurou ser respeitado
pelos homens sábios e bons”. Isso nos mostra que, além da sua reserva
natural de bondade e gentileza, Henry Jekyll tinha uma necessidade de ser
aprovado pelos seus amigos e assim assumia a postura perante a humanidade,
ou seja, adotava uma persona agradável que o faria aprovado e respeitado
pelos outros.
Jekyll apontou outro lado da sua personalidade que, no entanto,
contrasta com sua persona: “uma certa vivacidade voraz”. Isso acabou
levando-o a procurar alguns prazeres na vida, os quais achava difícil de
conciliar com o “desejo imperioso” de andar de cabeça erguida. Aí então,
observa Jekyll, ele adotou “mais do que um ar grave e contido perante as
pessoas”. Em outras palavras, a maneira como Jekyll se continha em público
representava uma máscara para ocultar dos outros um lado da sua
personalidade que ele não queria que ninguém visse, o qual ele encarava com
“uma sensação mórbida de vergonha”. Como consequência, Jekyll escreveu:
no folclore pós-bíblicos
A lenda deixa claro que não nos atrevamos a ter muita confiança na
humanidade, tampouco que sejamos ingênuos demais sobre as soluções para
o problema do mal. Por exemplo, se o mal é um poder arquetípico na psique
humana, como sugere nossa lenda, então nem o melhor ambiente possível em
que as pessoas cresçam e vivam evitará a presença do mal. Pode-se até
afirmar que as personalidades criminosas incorrigíveis constituem uma
representação viva desse poder arquetípico. Tampouco podemos assegurar
que todo comportamento maléfico na humanidade desapareceria se toda
criança recebesse pais ideais, com muito amor e afeto. Embora isso, sem
dúvida, pudesse ajudar, o fato é que muitas crianças não recebem esse tipo de
pais, e o fato de isso não acontecer e elas estarem rodeadas de forças obscuras
atesta o poder do arquétipo em romper a vida humana. E até na criança
abençoada com uma educação através de pais positivos há sempre a
possibilidade de um desvio fatal para que o mal se aloje. Tal é o poder do
arquétipo.
A lenda também nos relata qual é o âmago do arquétipo do mal: a busca
do poder. O pecado de Lúcifer foi tentar tomar o lugar de Deus no trono do
céu. Foi a sede de poder que o derrubou e levou a espécie humana a tal
situação. A nível psicológico esse poder destrutivo pode ser visto como uma
qualidade arquetípica do ego humano que quer se impor ao si-mesmo. Trata-
se da tendência obscura formada em nossa estrutura de ego para tentar
estabelecer a dominação deste sobre toda a psique, ao invés de permitir que o
centro divino da psique dite as leis. Nessa perspectiva, o egocentrismo
humano está na essência do problema do mal moral. Por isso o grande
esforço das religiões, como o cristianismo, é o de superar essa busca de poder
e ajudar o homem a se relacionar humilde e corretamente com Deus como
seu centro.
É muito significativo que a primeira coisa que aconteceu a Jesus depois
de ter recebido o Espírito Santo, depois do batismo, foi seu encontro com
Satã no deserto, um Satã que é claramente uma personificação do poder, pois
ele diz a Jesus: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem
em pães”. E “Se és Filho de Deus, atira-te para baixo”. E finalmente, depois
de ter mostrado a Jesus todos os reinos do mundo, “tudo isto te darei, se,
prostrado, me adorares”{66}.
Jung diz que primariamente, no mundo, o diabo deve ser incluído como
o quarto elemento para que emerja a totalidade. Jung contrasta muitas vezes
o aspecto trinitário da teologia cristã com os símbolos quaternários da
totalidade que são produzidos pelo inconsciente. Ou seja, enquanto o
cristianismo representa Deus como tendo uma natureza triuna, Pai, Filho e
Espírito Santo, o inconsciente, através dos sonhos, mitos e visões, representa
espontaneamente a totalidade como uma estrutura quaternária. Jung sente
que, se nossa imagem de Deus é uma representação da totalidade, o símbolo
cristão está incompleto. Falta alguma coisa à sua trilogia, e um quarto
elemento deve ser acrescentado para que se torne completo. Esse quarto é o
diabo. Isso significa que, para que haja uma totalidade, o inconsciente, que
contém tudo o que foi reprimido e tem um sentido maligno, precisa ser
também incluído na nossa perspectiva. Somente quando os três se tornarem
quatro, nós nos tornaremos completos.
Finalmente, vimos que o diabo pode ser uma figura que personifica o
que foi reprimido por não se encaixar nos ideais e crenças da consciência
dominante. Nesse caso o diabo se torna uma espécie de figuração da sombra
coletiva, uma personagem cuja obscuridade compensa uma atitude consciente
por demais unilateral e rígida. Apesar das temíveis e maliciosas artimanhas
que tal poder cindido e alienado pode realizar, a obscuridade que envolve a
figura do diabo deve ser considerada como um mal relativo, uma vez que ele
se transforma quando é integrado.
Um mal relativo pode ser definido como mal aparente que, em certas
circunstâncias, pode ser mudado para melhor, ou ser considerado necessário
para o propósito de um bem maior. O que é intrinsecamente um mal, por
outro lado, é um poder que funciona para uma destrutividade absoluta e é
incapaz de ser alterado do seu estado maligno. Assim, nossa investigação
sobre o mal nos mostrou que boa parte do mal que encontramos é, em última
análise, um mal relativo. Contudo, a estória de O Médico e o Monstro sugere
que há um mal intrínseco ou arquetípico, desde que a personalidade de Hyde,
tendo absorvido a de Jekyll, demonstrou a mais absoluta destrutividade. Fica
clara a necessidade de considerarmos mais a fundo a ontologia do mal, e é o
assunto que desenvolveremos no próximo capítulo.
9.
A ontologia do mal
O fato de que Jung não acreditava que Deus fosse uma combinação do
bem e do mal absoluto é demonstrado, acredito, em sua biografia, onde
discute Deus como amor{102}. Como muitos outros que o antecederam, Jung é
incapaz de explicar o mistério do amor, mas diz que o reino de eros escapa à
nossa compreensão racional e moldes racionais de representação. Ele acha
que as palavras de São Paulo, em 1Cor 13, “dizei tudo o que deve ser dito;
nada pode ser acrescentado”. Jung constata que “somos, no sentido mais
profundo, vítimas e instrumentos do ‘amor’ cosmogônico” e que na “frase
‘Deus é amor’, as palavras afirmam a complexio oppositorum da divindade”.
Além do mais, isso não difere muito da posição cristã expressa na privatio
boni. Dizer que Deus é o Summum Bonum ou que Deus é um amor
cosmogônico é dizer a mesma coisa. Jung também não sente que ao se
afirmar que Deus é amor faz-se necessário também afirmar o oposto, que
Deus também deve ser odiado. Neste caso, evidentemente Jung não tem
nenhuma dificuldade em considerar o amor sem ao mesmo tempo colocar o
ódio como oposto lógico, com existência igualmente substancial.
O fato é que, às vezes, Jung é frustrantemente inconsistente em seus
argumentos ao confrontar o mal e Deus. Sua inconsistência não seria
dificultosa se ele não fosse tão inflexível em sua posição a cada ponto dessa
inconsistência.
Citei Jung por extenso porque esse texto mostra que ele realmente está
muito próximo ao pensamento cristão original no que diz respeito ao mal.
Seria difícil, por exemplo, diferenciar entre o que Jung diz aqui e o que Irineu
disse sobre a bem-aventurança da queda do homem, já que em prol dessa
discussão teríamos que levar em conta a redenção de Cristo.
Por exemplo, quando Jung diz que nossa imagem da totalidade deve ser
desdobrada de três para quatro, ele está psicologicamente correto, à medida
que isso significa que deve haver um deslocamento de uma atitude baseada
puramente na posição da consciência para uma atitude que inclua da mesma
forma o inconsciente. Isso significa o reconhecimento e a inclusão do diabo.
Como já vimos, isso não quer dizer que o mal intrínseco seja aceito ou
“entronizado”, como Philp colocou, mas que a necessidade do mal seja aceita
e se faça uma tentativa de transformá-lo. A nível operacional isso significa
uma tentativa de incluir e integrar à nossa atitude consciente tudo aquilo que
pertence à nossa totalidade essencial que foi rejeitada, cindida e reprimida no
inconsciente.
Esse processo de integração não acontece quando a atitude consciente
permanece rígida, unilateral e apenas baseada no lado luminoso das coisas.
Tal processo só é possível se for aceito o lado obscuro da vida e do si-mesmo.
E o sucesso final desse processo só pode acontecer se a consciência estiver
disposta a aceitar uma visão paradoxal da totalidade, disposta a elaborar uma
solução mais a nível individual que coletivo para os problemas da vida e da
personalidade. Em suma, nunca podemos ser “perfeitos”, ou seja, sem
mácula, culpa ou imperfeição, mas podemos nos mover em direção à
totalidade que é, como diz Jung, um estado altamente paradoxal.
Créditos
Agradecimentos
Introdução
5. A Sombra
6. Jesus, Paulo e a sombra
7. O problema da sombra e do mal no estranho caso de “O médico e o
monstro”
9. A ontologia do mal
A doutrina da Privatio boni
Críticas de Jung à Privatio boni
Uma crítica à visão de Jung da Privatio boni
Uma reformulação do problema do mal
Uma revisão das objeções de Jung
Outra visão da posição cristã
Sumário
Sinopse
O Autor
NOTAS
Sinopse
{69}
Stewart Farrar, What Witches Do, New York, N. Y.: Coward, McCann & Geogliagan, Inc., 1971,
p. 31
{70}
Algumas autoridades dizem que esta condenação foi feita no ano 553 no Quinto Concilio de
Constantinopla, mas outros dizem que ocorreu no ano 543 num concilio local daquela cidade. Cf.
Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. II, p. 791. (Grand Rapids, Mic.: Wm. B.
Eerdmans Publishing Co., 1963. Reproduzido por um acordo especial com o editor original, Chas.
Scribners Sons, 1910)
{71}
Cf. A Cidade de Deus, Livro XIV, capítulos 16-17 e 23-24, e Livro XVI, cap. 25.
{72}
Bernard, Moralia XXXIII-7; Peter Lombard, Liber Sententiarum III, Dist., XIX, 1.
{73}
Cf. Comentário sobre João, de Orígenes, cap. 37
{74}
Para um mandamento de exorcismo interessante, expresso nesses termos, veja Lactantius, The
Divine Institutes, cap. L
{75}
Hamack, História do Dogma, vol. 2, p. 271. Veja especificamente Against Heresies, de Irineu. L.
4, cap. 37-39. e L. 3. can. 20, de Ante-Nicene Fathers, Wm. B. Eerdman Publishing Co, vol. I,
1885.
{76}
Lactantius, Divine Institutes, L. 5, cap. 7.
{77}
Clementine Homelies, Homilia 20, cap. 3, cf. VIII, 130, 179, 180, 183, 184. Cf.
Reconhecimentos, vl. 8, 140.
{78}
Citado por Jung em Aion CW 9,2. Pantheon Books, N. Y., 1959, p. 55.
{79}
Hexaemeron, II. 5. Citado por Tung, Ibid, op. 46-47.
{80}
Agostinho, Confissões, Livro III, cap. VIII — Eerdmann Series
{81}
C. G. Jung, Aion, p. 41
{82}
Ibid., p. 41
{83}
Ibid., p. 42
{84}
Ibid., p. 43
{85}
C. G. Jung, CW 12, Psicologia e Alquimia, Princeton, N. J. Princeton University Press, 1953, p.
21.
{86}
Jung, Aion, p. 42
{87}
Ibid., p. 46. Esta é uma asserção estranha de Jung, uma vez que a teologia cristã é extremamente
paradoxal. Cristo é totalmente humano e totalmente divino, a ideia de um Deus que morre mas
ressuscita, o pensamento de que o poder celeste se encarna na carne — são pensamentos altamente
paradoxais
{88}
C. G. Jung, CW 12, Psicologia e Alquimia, Princeton, N. J. Princeton University Press, 1953, p.
19.
{89}
Jung, Aion, p. 54
{90}
Ibid, p. 47
{91}
C. G. Jung, Letters 2, Princeton University Press, Princeton, N. J., 1975, p. 61.
{92}
Jung, Psicologia e Alquimia, p. 192.
{93}
H. L. Philp. Jung and the problem of evil, New York, N. Y.: Robert M. McBride Co., 1959. p.
43.
{94}
Em aulas e conferências particulares.
{95}
Jung, Aion, p. 53 (destaques meus).
{96}
Ibid, p. 69
{97}
Ibid, p. 46
{98}
C. G. Jung CW 14, Mysterium Comvictionis, Princeton University Press, Princeton, N. J., 1963,
p. 79.
{99}
Jung, Aion, par. 19 (itálicos meus).
{100}
R. F. C. Hull e William McGuire, eds. C. G. Jung Speaking, Princeton University Press, N. J..
1977, p. 227.
{101}
Jung, Letters 2, p. 401 (destaques meus).
{102}
C. G. Jung, Memories, Dreams, Reflections, New York, N. Y.: Pantheon Books, 1961, Sec. 3,
cap. 12, “Late Thoughts”. Sou grato ao amigo Morton T. Kelsey por me recordar essa passagem
relevante
{103}
Richard Wilhelm, Tr„ The I Ching, Pantheon Books, New York, N. Y., 1953, 3rd. printing, pp.
153 e 102-103 (itálicos meus)
{104}
Contra adversarium legis et prophetarum, I, 4s, citado por Jung em Aion, p. 50.
{105}
Nicholas Berdyaev, Meaning of the Creative Act, Collier Books Edition, 1962, p. 138
{106}
C. G. Jung, CW 11, (“Psicologia e Religião”) A psychological approach to the Trinity, par. 290,
Pantheon Books, New York, N. Y., second printing, 1963.