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UMA BUSCA INTERIOR

em psicologia e religião
JamesHillman

PAULUS
UMA BUSCA INTERIOR
EM PSICOLOGIA
E RELIGIÃO
James Uillman

PAULUS
Dados Internacionais de Catalogagdo na Publicagao (CIP)
(Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Hillman, James.
H547b Uma busca interior em psicologia e religião /James Hiilman, [Traducao
Araceli Martins El man; revisão Jose Joaquim Sobral],
— São Paulo: Paulus, 1984. — (Amor e psique)

Titulo original: Insearch — Psychology and Religion


ISBN 85-349-1269-6

1. Aconselhamento 2. Corpo e alma 3. Orientacdo pastoral 4.


Psicologia religiosa I. Titulo.

CDD-200.19
128.2-158.
-253.5

ín d ice s para c a ta lo g o siste m á tico : ,


1. Aconselhamento: Psicologia aplicada 158 •
Aconselhamento: Teologia pastoral: Cristianismo 253.5
3. Alma e corpo 128.2
4. Corpo e alma 128.2
5. Psicologia aplicada 200.19
6. Religião: Psicologia 200.19

Colecao AMOR E PSIQUE coordenada por


Dr. Leon Bonaventure, Pe. No Storniolo,
Dra. Maria Elci Spaccaquerche

Titulo original
Insearch — Psychology and Religion
°James Hillman

Traducao
Araceli M artins Elman

Impressão e acabamento
PAULUS

4a edição, 2004

©PAULUS —1985
Rua Francisco Cruz, 229 • 04117-091 São Paulo (Brasil)
Fax (11 ) 5579-3627 • Tel. (11) 5084-3066
vww. paulus.com. br • editorial pauius.com. br
ISBN 85-349-1269-6
INTRODUÇÃO A COLEÇÃO
AMOR E PSIQUE

N a b u s c a de s u a a lm a e do sen tid o de s u a vida, o


hom em descobriu novos cam in h o s que, o levam p a r a a
s u a interioridade: o se u próprio espaço interior to m a -se
u m lugar novo de experiência. Os viajantes d estes cam i­
n h o s nos revelam que som ente o am or é capaz de gerar a
alm a, m a s tam b ém o am o r p recisa d a alm a. Assim, em
lugar de b u s c a r cau sas, explicações psicopatológicas a s
n o ssa s feridas e aos n o sso s sofrimentos, precisam os, em
prim eiro lugar, a m a r a n o s s a alm a, a s s im com o ela é.
D este m odo é q u e p o d erem o s reconhecer que e s ta s feri­
d a s e estes sofrim entos n a sceram de u m a falta de am or.
Por o u tro lado, revelam -nos q u e a a lm a se o rien ta p a ra
u m centro pessoal e transpessoal, p a ra a n o ssa unidade e
p a ra a realização de n o ssa totalidade. Assim a n o ssa
própria vida carrega em si u m sentido, o de restau rar a n o ssa
u n id a d e prim eira.
Finalm ente, não é o espiritual que aparece prim eiro,
m a s o psíquico, e depois o espiritual. E a p a rtir do o lh ar
do imo espiritual interior que a alm a to m a se u sentido, o
q u e significa q ue a psicologia p o d e de novo e ste n d e r a
m ão, p a ra a teologia.
E s ta perspectiva psicológica nova é fruto do esforço
p a ra libertar a alm a d a dom inação d a psicopatologia, do
espírito an alítico e do psicologism o, p a r a q u e volte a si
m esm a, a s u a p ró p ria originalidade. E la n a sc e u de
reflexões d u ran te a p rática psicoterápica, e e sta
com eçando a ren o v ar o m odelo e a finalidade d a
psicoterapia. E u m a nova visão do hom em n a s u a
existência cotidiana, do seu tem po, e dentro de seu
contexto cultural, abrindo dim ensões diferentes de n o ssa
existência p a ra poderm os re e n c o n tra r a n o s s a alm a. E la
p o d e rá alim e n ta r to d o s aq u eles q u e são sensíveis a
n ecessid ad e de in serir m a is a lm a em to d a s a s atividades
h u m an as.
A finalidade d a p resen te coleção é p recisam ente re s­
titu ir a alm a a si m e sm a e "ver aparecer u m a geração de
sacerd o tes cap a zes de e n te n d e r n o v am en te a linguagem
d a alm a", com o C.G. J u n g o desejava.

Leon Bonaventure
Nota introdutória

São muitas as origens deste pequeno livro. Nos últimos anos,


através de m eu trabalho analítico e de amigos entre ministros
de varias denominações, estive cada vez mais em contato com
problem as de religião e psicologia. O núcleo destes
capítulos consiste de conferencias proferidas a convite de
ministros que trabalham em aconselhamento psicológico e
pastoral. Surgiram muitas questões devido ao debate a.
polemica causados p o r H o n est to G o d 1 e as repercussões de
sua nova moralidade e teologia no cam po psicológico.
Igualmente devem ser consideradas as implicações de
um a teologia, na verdade transform ada em teotanatologia
ou- no estudo de um Deus "morto", desmitologizadora da
religião, pois a psicologia analítica encaminha-se para um
efeito exatamente contrario a tudo isso. Ela se orienta no
sentido de "remitologizar" experiências que possam conter
envolvimentos religiosos, como tentaremos demonstrar nas
paginas seguintes. Idéias emocionais maiores, com o a idéia
e a imagem de D eus, podem "morrer" na vida psíquica,
mas não p o r m uito tem po. A energia que esta ligada a elas
e a sentim entos mais com plexos não desaparece assim,
simplesmente, p o r mais que o ser hum ano queira
desvencilhar-se da noção grave e pesada de u m Deus ao
escrever obituários teológicos. Para a psicologia o que
im porta não saber se "Deus está m orto", mas sob que
formas essa energia indestrutível esta reaparecendo agora
na psique. Q ue poderia a psique nos dizer quanto aos
rum o que a religião
1 J. A. T. R o binson , H o n e st to God, S.C .M .
estaria tom ando atualm ente? Sob que form as essa idéia
em ocional m aior de D eus vira a renascer?
N o que me concerne, entretanto, a preocupação cen­
tral foi m ostrar a percepção da experiência analítica em sua
relevância dentro do aconselhamento. Este depende tanto
da psicologia quanto da teologia do terapeuta. A analise
pode oferecer sua contribuição a essa psicologia.
Minha tentativa de colaboração pode escapar a linha
costumeira de aconselhamento psicológico profissional, pois
acabei p o r acreditar que o trabalho do pastor, ao invés de
tentar atingir a sofisticação clinica, poderia agir de m odo
mais amplo e profundo, atingindo mais pessoas, caso fosse
desenvolvido dentro de sua própria tradição. Isso nos leva
diretam ente ao problem a psicológico de nos religarmos a
essa tradição. Em bora se trate de um problem a psicológico,
ele é ao mesmo tempo, para cada um de nos e especialmente
para o ministro, um problem a religioso capital: a busca- da
alma e a capacidade de crer em sua realidade, o que signi­
fica encontrar um a relação viva com nossa realidade psico­
lógica individual. E onde entra a psicologia analítica com
sua possível ajuda.
O s conselheiros pastorais acabaram p o r sentir-se um
tanto perdidos devido ao m odo com que se agarraram a
psicologia. 0 term o "clínico" pode ter sido transform ado
em qualquer coisa, m enos em palavra num inosa; guando
u m ministro vai fazer um a visita, diz-se que ele foi atender
u m "chamado"; os paroquianos agora são "pacientes", e a
cura psicodinâmica tende a substituir o cuidado psicológico.
Mas, m esm o assim, a necessidade profunda do indivíduo
continua a mesma. E m b o ra a falta de saúde m ental seja
m enor que a de orientação espiritual, ele acaba procurando
no analista o que deveria estar recebendo do ministro,
sendo agora tão grande a confusão, que esses dois
orientadores parecem ter trocado suas funções entre si. 0
ministro deixou de assumir o m odelo de p asto r de almas
p o r sentir-se com o u m am ador que "não tinha psicologia
suficiente".
Entretanto ele tem a sua própria psique, de onde lhe
vem a vocação e a compreensão dos outros. N ão seria o
psicólogo am ador (definido, com muita propriedade, como
aquele que cultiva a alma com amor) em certo sentido o
verdadeiro especialista psicológico? Para ele; a
psicopatologia clinica e os programas de pesquisa dizem
muito m enos que sua busca interior individual.
Pelo seu enfoque, este livro se dirige não apenas ao
m inistro, já que a experiência viva da realidade psíquica
apenas mais um a m aneira de conceber a alma, e a vida
interior da psique não a assunto meramente profissional. 0
aconselhador ou orientador responsável p o r almas tem, por
sua vocação pastoral, que enfrentar diariamente as
provações próprias de sua atividade.
Por isso, a discussão ao longo deste livro é endereçada
especialmente a ele, em bora não lhe seja restrita, um a vez
que a psicologia e a religião não interessam apenas a teólo­
gos ou psicólogos profissionais.
A substituição gradual da "alma" pela "psique", veri­
ficada durante este século, e o consequente profissionalis­
m o no tratam ento dos seus problemas, começam a causar
tanto dano quanto os da ignorância e moralismo com
relação a psique no século passado. Se a psique não substitui
a alma, o profissionalismo não substitui a vocação. Eis
porque eu ficaria feliz se estas páginas ajudassem a nos
livrarmos do profissionalismo em relação a alma, no sentido
de devolvermos o seu cuidado ao orientador pastoral, ou a
qualquer leitor que tenha abertura e que caminhe nas
fronteiras da busca interior contemporânea.

J. H.
Setem bro de 1967.

9
"0 coração de um sábio o inclina para a direita,
mas o de um tolo o inclina para a esquerda".
Eclesiastes 10,2

deixe-o tomar-se tolo, que ele poderá tomar-se sábio".


Coríntios 3,18
10

Encontros humanos e conexão interior


Estar em um mundo humano é viver num mundo de
seres humanos e, na verdade, o que nos ocupa mais a vida
do que as pessoas? Desde o início emergirmos a consciência
numa teia de conexões humanas a nos comprometer inces­
santemente. Isso não se da só porque o ser humano englo­
ba tam bém um animal social, mas porque sua natureza
hum ana im plica uma vida de sentimentos e de encontros
com os outros. O trabalho, a arte, a natureza e as idéias
podem nos absorver por um m om ent0, mas logo estamos
de volta, mergulhados na "vida real" — e vida real signi­
fica simplesmente o ser humano, nos mesmos e os demais.
Nesses encontros conosco e com os outros, nos decepciona­
mos e somos decepcionados. Com o passar do tempo, a
tragédia crescente do que acontece na vida significa em
parte o que Deus, o destino e as circunstancias ocasionaram
e, de form a m ais acentuada, o que ocorre no
relacionam ento com outras pessoas. E onde nos sentimos
responsáveis. Tudo seria diferente se tivéssem os
entendido m elhor as coisas, se tivéssemos melhor
consciência e conhecido psicologia mais a fundo.
O analista e o orientador são cham ados a intervir
quando os relacionamentos humanos se tornam destrutivos
e insuportáveis. 0 nosso trabalho parece começar a partir
das sombras que caem entre as pessoas. Somos tom ados
como especialistas em problem as humanos. Entretanto,
esses problemas não são uma coisa que as pessoas tem, mas
que elas são. Em psicologia, o problema e o próprio
indivíduo, assim como eu sou o meu próprio problema. Em
nosso trabalho, o paciente é a doença, vendo-se, daí, que
curar

11
não significa livrar-se dela, mas importar-se com a pessoa
que esta a nossa frente.
O trabalho psicológico começa com o encontro humano.
Tudo o que sabemos ou lemos, nossos dons de inteligência e
caráter, tudo o que adquirimos através de treino e
experiência se encaminha para esse momento. Se o encontro
fracassa, tudo desmorona, a começar pelas duas pessoas que
estão sentadas conversando tentando encontrar alguma
coisa. Se este é o começo de todo o nosso trabalho, vamos então
iniciar pela tentativa de lançar alguma luz sobre as áreas de
escuridão que sempre existiram no confronto entre duas
pessoas e, especialmente, sobre as sombras que impedem o
aconselhamento.
Comunicação, diálogo e relações, interpessoais são termos
da moda. Já existe teoria demais; a proliferação acadêmica e
as tabulações de estatísticas são males da atualidade. Ao invés
de caminhar por aí a esmo, melhor é discutirmos as sombras
do aconselhamento que surgem no encontro real. Essas
sombras tem muito mais a ver com o interior de cada um do,
que propriamente com, o relacionamento entre duas pessoas.
Consequentemente se quisermos, alguma melhora em, nosso
trabalho, seremos forcados a olhar para dentro de nos
mesmos. A psicologia não pode evitar o fato de iniciar-se a
partir do interior do psicólogo.
Os analistas, orientadores a assistentes sociais são
eliminadores de encrencas e solucionadores de problemas
Estamos procurando problema mesmo antes de a pessoa
sentar-se na cadeira vazia a nossa frente. O que houve? O
que aconteceu de errado? ... O encontro começa não
apenas com as projeções da pessoa que vem em busca de
ajuda, mas também com as intenções treinadas e organizadas
do "ajudador" profissional. Diríamos que, na
contratransferência já se encontra ativada antes mesmo da
transferência chegar a iniciar-se. Minhas expectativas estão ao
m eu lado enquanto espero alguém b a te r à po rta.
12
De fato, a contratransferência é um dado inicial, visto que
uma vocação inconsciente leva-me a fazer esse trabalho.
Posso carregar, para o trabalho a necessidade de redim ir a
criança ferida, e de tal form a que toda pessoa que vier
procurar-me em busca de ajuda será minha própria infância
machucada, a necessitar que seus ferimentos sejam cuidados
por, uma atenção paternal carinhosa. Ou pode se dar
exatamente o contrário, posso ser, o filho maravilhoso que
tira o pai ou a mãe dos caminhos confusos de suas florestas
noturnas; trazendo-lhes, luz e renovação. O mesmo arquétipo
pai-filho também nos afeta, por exemplo, na vontade de
corrigir, ou mesmo de punir os pais, estendendo-se isso a toda
uma geração mais velha, bem como seus ideais e valores.
Minhas necessidades nunca se ausentam. Eu não poderia
exercer esse, trabalho se não precisasse fazê-lo. Minhas
necessidades não são só minhas; em nível mais profundo, elas
pertencem , refletem e falam de uma situação que também,
corresponde a necessidade do outro. Assim como quem me
procura vem em busca de ajuda, eu preciso dele para
expressar m inha capacidade de ajudar. Aquele que auxilia
e o que necessita o assistente social e o carente, o perdido e o
resgatado caminham sempre juntos.
Entretanto fomos educados para negar as nossas neces­
sidades. O ser humano ideal do protestantismo do Ocidente
demonstra a "força" de seu ego pela independência. Necessitar
significa ser dependente e fraco, implica submissão outrem.
No último capítulo discutiremos a respeito das consequências
que essa atitude pode causar ao lado mais frágil e m ais
fem inino personalidade. Entrementes, devemos notar que
necessidade e Vocação diferem muito pouco entre si. O
chamado ou vocação tende muito mais a ser experimentado
como coisa vinda de fora da personalidade, enquanto as
necessidades são mais encaradas como coisas minhas e vindas
de dentro. Seria muito perigoso negar a existência de uma
vocação, pois isto equivaleria negação da essência

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de uma pessoa que, na verdade, é transpessoal. Mas não seria
igualmente perigoso negar uma necessidade? Ela não é
somente uma coisa pessoal. H á um nível no qual ela é
objetiva: assim, por exemplo, o desejo que tenho de estar
com você não é apenas meu desejo pessoal, mas uma
exigência objetiva do relacionamento que mantemos uma voz
que pede que esse vínculo continue vivo. A necessidade nos
faz humanos; se não precisássemos uns dos outros, se não
pudéssemos preencher e satisfazer nossas carências, não haveria
sociedade humana. Embora eu não consiga responder aos
meus próprios desejos, sou capaz de responder aos seus.
Embora eu não consiga me compreender, posso auxiliá-lo a
compreender-se, e, você pode fazer o mesmo comigo. Essa
reciprocidade toma possível usufruir e doar-se mutuamente no
amor.
A necessidade não é prejudicial em si mesma. Mas,
quando não é reconhecida ela se junta as sombras do
aconselhamento e trabalha traiçoeiramente sob a forma de
exigências. Um terapeuta pode ter necessidade de instruir;
ensinar e educar, pois isso preenche uma dimensão que lhe é
essencial e que transforma sua vocação específica em ação.
Mesmo assim ele não pode exigir que cada pessoa, a cada
encontro, o procure apenas em busca de orientação. Essa
necessidade deverá encontrar outro preenchimento, caso
contrário tomar-se-á uma exigência inconsciente a recair sobre
quem vier procurá-lo. Se eu admitir que preciso trabalhar em
linha analítica, então exigirei menos daqueles que eu estiver
atendendo. Pelo fato de nossas necessidades não admitidas
levantarem-se sob a forma de exigências, o reconhecimento
objetivo desse dada como algo inerente a nossa hum anidade
condição de criatura ajudará a impedir que elas degenerem
em necessidades prementes de realização no mundo
objetivo. Exigências pedem satisfação, necessidades
precisam apenas de expressão.
Além dessa atração por problemas, um outro apelo, para o
nosso trabalho é o desejo de intimidade. Nem todo mundo

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tem predileção por conversas de cunho íntimo e revelador.
Caso eu não perceba esse desejo de intimidade e não o
considere dentro de outros contextos de m inha vida, ele
poderá transform ar-se numa exigência em relação as outras
pessoas, atingindo talvez inclusive a mim mesmo, tornando-
me ultra-revelador e extremamente pessoal, e a hora
terapêutica acabaria, assim, transformada em confissão mutua.
As imagens dominantes da cultura em que vivemos
poderá influenciar-nos o trabalho e, assim, todo aquele que
ensina ou cura, pertencendo ou não a igreja, sendo ou não
cristão, poderá identificar-se com aspectos da imagem
arquetípica de Cristo. Essa identificação transparece, por
exemplo, em quem prefere trabalhar com os marginais e
delinquentes mais difíceis das favelas; os leprosos oprimidos
de nossa sociedade. Mas também se revela naqueles que tem
uma missão, os que se optem ao materialismo e a tudo o que
corrompe, os antifariseus, os reformadores, os que sofrem e
se dedicam, os mártires traídos e os que pregam o amor. Ou
seja, em quase todos os que em nosso, trabalho se identificam
com o espírito de juventude do Cristo, pois sua imagem
proporciona o exemplo perfeito do homem jovem e de essência
divina.
Mas o meu trabalho também pode ser afetado por
outros aspectos e imagens da psique. Como a necessidade
de fama e poder que me levam a atender apenas as pessoas
importantes da comunidade, fazendo com que eu que me
transforme no que antigamente se denominava "doutor de alta
sociedade"; ou ainda a vocação para a atividade científica,
que me deixa fascinado pelo caso, pelos sonhos e sintomas,
levando-m e a esquecer a pessoa que os revela.
Num encontro terapêutico o outro poderá servir a
qualquer uma dessas necessidades. E por isso que a sua
terapia começa com a minha, com o despertar da minha
consciência, para as varias imagens arquetípicas que me
rondam e tentam encaixar o outro num papel qual ele
talvez não esteja destinado.’,Pois, se .eu for o pai, ele tem de
ser meu filho; se eu tiver de curar, ele tera de estar doer. de; e,
se por acaso, eu for um iluminado, se) poderei, enten-
cb-lOamoa^cwpatedo perdido na escuridão. Estas imagens
fazem cenário, constituind0 o pano de fundo onde
o outro entra em cena, como_ num tea tro. Evidentemente
não se trata de uma situagdo clara e aberta, e nem p o d s
ser aberta no sentido de vazio e ausência de innuendos
arquetas. M eus desejos e estilo de trabalho não podem
ser purificados através de uma pseudo-abertura e do não
envolvimento pessoal. Quanto menos eu ,for cons des-
S a g necessidades.p esso ais e . d e ^ fo rg a s q ug

atuam em mim, (tank) mais os ,arquétipos aparecerao sob


forma direta e impessoal. E entao, repentinamente, o con-
selhamento m ergulha em profundidades Sub"humanas, e
necessidades desumanas comegardo a surgit .de ambas as
partes. Ninguém po'de controlar a psi que e manter tudo isso fora
de agao, mas o que se. pode 6 conhecer .um pouco melhor esses
elementos mantendoos do lado humano ao admitirmos desde o
infcio as necessidades de nossa equagao pessoal. Isto as vezes
pode significar que n o s s a , ..
admitir tais
no do relacionamento.
fatos a outra pessoa, ajudarido assim a manter,o lado h r
das que emerge do fundo do cenário do incons­
ciente, certas innuendos também proven] diretamente por
meio da consciencia e que .queremos fazer deste encontro alguma
coisa eficaz. Nossa intengao 6 fazer o outro se abrir. Queremos
dar-lhe alguma boisa. Entretanto querer, fazer, conseguir,
tentar e dar sac) elementos,forgosamente ativos. 0 consciente,
como coisa centrada rio ego, e co m o
instru,
men to da vontade, 6 uma for extremamente.ativa..E próprio
da consciência do ego querer estender todos cis s o u s domfnios
E sua intengdo subjUgar todo f la n livre da libi, do que não
esteja submetido as s u s s regras .de raciocfio. D e a essa
ex p ansividade e fo e de dom inar o irracio 16
ou um rei. 0 próprio ato da consciênciaa 6, como dizem os
fenomenologistas, um ato intentional. Estamos sempre orga­
nizando o terreno a nossa frente, dando-lhe estrutura e
significado. NOs sempre pretendemos alguma coisa. Mesmo
com a mais nobre das intengoes, queremos é chegar a algum
ponto, não perder a hora terapeutica e nem desperdigar o
dia. Ha um objetivo a atingir: o aperfeigoamento, a clari-.
dade, a satide ou Deus, não importando como isso venha
acontecer. Entretanto, paradoxalmente, esse empenho em
conseguir é exatamente o primeiro bloqueio a realizagao de
nossas intengoes. Simultaneamente tentamos e impedimos o
desenvolvimento. A parabola do arqueiro Zen diz o seguin­
te: quanto mais to esforgas por atingir o alvo, m ais fora
dele to atiras. E como se o primeiro passo para o encontro
tivesse de ser a obliteragao da consciênciaa do meu ego,
como um eclipse do sol, mesmo, sendo esse sol a razao de
me terem procurado.
Como solugao, a arte de ouvir mantem a intencionali­
dade da consciênciaa, mesmo adiantando-se ao seu ímpeto
ativo. Talvez essa arte tenha entrado em declinio ju n ta ­
mente com a arte da conversagao. E provável que conversar,
enquanto arte, dependa inicialmente de ouvir. Como e o que
ouvir? Quando não se deve ouvir? Ouvir a si próprio en­
quanto se ouve o outro. Escutar sem ouvir, Falar apenas
quando o outro estiver ouvindo.
Ouvir talvez não seja um, problema tao 'grande para
ministros e teologos, ja que esta* a uma atitude própria da
meditagao e ,da oragao. A prece ja foi descrita como um
silencio ativo,, onde, se ouve de maneira penetrante uma
voz ainda fragil, como sea oragao não estivesse pedindo
e avangando para Deus, mas sim propiciando,uma fusão tao
grande que Ele caminhasse através de mim.
Muito antes de existir a psicologia ou o aconselhamento
como atualmente, muito antes de termos sido instrufdos a
"ouvir com um terceiro ouvido" ja existia o ouvir contem­
plativo, uma percepgao passiva daquilo que esta a nossa
nal, ele tem sido configurado como um lea°, como o sol

1415
frente. 0 cientista natural ou o pintor devotani-se ao objeto
que veem. Eles se dao ao objeto, inCorpOranda-o. Ele ouve
perdendo sua subjetividade intensa no objeto, tornando-se
um objeto entre 'varios, sem a intencao volitiva do ego a
registrar objetivamente o que se passa. Para sentir a natu­
reza da audicao, é preciso estabeleCer a difererica entre
ego e consciênciaa. Enquanto existir essa identificacao entre
os dois, enquarito toda a luz da psique estiver assim conden­
sada e dirigida, ela 'sera experimentada por qualquer Tes-
soa sobre a qUal venha incidir como uma fOrca ativa 'tal­
vez ate agressiva. E entao o outro acendera- a sua própria
luz, e as duas luzes se enfrentarao numa ofuscacao de brilho
e poder. Este tipo de encontro a bastante freqüente. Mas a
possível separar o ego da consciênciaa, da mesina forma que
os olhoS e as maos são orgaos que diferem do ouvido,
preenchendo cada um o seu papel darido sua colaboração
especifica a consciênciaa. 8 possível desenvolver uma
consciênciaa reCeptiva através do ouvido, assim 'como uma
consciênciaa ativa pode se desenvolver pOr meio 'das maos. 0
ouvido riao 1 pode it a lugar nenhum, não pode fazer nada,
tiem-magoar ininguem. Recebemos o outro como se fosse
musica; ouvindo o ritmo e a cadencia de sua hist& ria, suas
repetições tematicas e desarmonias.'Nessi atitude nos
transformambs em mitologos da psique, ou seja, em
estudiosos das narrativas da alma, pois mitologia, original­
mente, significa "narraOo de historias". Se 'a alma é uma
corda que vibra, somente o ouvido pódera revela-lo. 0 o f vil. do
é a parte feminina da cabeca. 8 a consciênciaa oferecendo a
maxima atencao com o minim° de intencao. ReCebe mos o
outro através do ouvido, através de nossa parte feminina,
concebendo e gestando uma solucao nova para o seu problema
somente depois de termos sido totalmente- gene= trados por ele
e sentido 6 seu impaCto, deixatido-o 'definir-se em silencio.
Este ouvir que perm ite ao outro revelar-se sua -na_
neira, este deixar, ao invés de tentar, também podera levar

18
ao que em analise junguiana denomina-se infeccao psíquica.
8 um dos riscos do encontro. Onde houver ligacao real e as
portas estiverem abertas, duas psiques estarao fluindo juntas.
Poder-se-a falar num "encontro de , almas", p nessa hora
que, confundindo o outro comigo, eu perderei o sentido de
quem é quem, do que e dele e do que a meu. E tudo pode,
entao, te rm in a r num a "folie a deux": um a boa razao
para nos apegarmos ao ego; sua' intencionalidade’dirigida é a
primeira defesa contra' essa infeccao, pois o ego' nos mantem
independentemente intactos, incontaminados e de lentes
limpas. Porem, apesar de todo o seu valor como protecao, o
ego não é um> terapeuta. A cura,vem- exatamente de nosso lado
desarmado, la onde somos bobos e vulneráveis. Isto e
expresso pela idéia, de alguem que esti ferido e con-segue
curar através de1 seus pp:Trios ferimentos, necessidades ou
vocacaa. 'A ferida é um rombo no muro, uma abertura por
onde 'podemos nos infeccionar e também afetar as outras
pessoas. As flechas do amor, enquanto ferem, conseguem
curar e transformar-se em apelos. A compaixao não vem do
ego.’ Entretanto, se as feridas abertas não forem diariamente
cuidadas, «poderão receber infeccoes alheias, vindo assim a
contaminar toda, uma personalidade. Se eu quiser ser (Ail a
mais «alguem, precisarei sempre prestar atencao aos meus
sofrimentos e necessidades.
Dentre os. obstáculos que surgem no desenrolar de
qualquer terapia ou encontro, a cutiosidade merece *uma
atencao especial. Não me ref iro a curiosidade marbida ou
pervertida da 'qua! todos nos temos um pouco, essa parte
do lado sombrio ou do pecado original, sem o que nossa
existência -não series imaginavel. Curiosidade .não é apenas
"scoptofilia" (ou "vóSieurismo"’- sublimados, a lubricidade
de viver vicariamente a sujeira ou as sensações dos outros.
Qualquer pessoa comprometida em Um trabalho que envolva
intim idade_tera que chegar a termos com esse lado de sua
própria pessoa. De fato*, a curiosidade pode ser meramente o
faro para, m exericos.-e escandalos que se explica

19
por uma vida mal vivida, ou, vivida,,através das
experiências d o s o u t r o s .
Mas essa curiosidade .também _podera ser uma falha
mais profunda. Para S. Bernardo de Clairvaux, que descreve
a disciplina ,do autoconhecimento em. Nosce to Ipsum,
conhece a ti mesmo, o primeiro passo .na direcao_ errada
não é o orgulho, nem a_preguiga,' nem a ,luxiiria, mas sim
a curiositas. São Bernardo,fala da destrutibilidade principal­
mente em relação ao individuo.que a curioso, do, prejuizo
que sua mente pode qausar a paz e a luz do espirito. 0 ego;
com o seu brilho ,característico, .tenta ,fisgar qausas ,nos
recessos ocultos da personalidade, busca lembrangas deta­
lhadas da infancia e promove sessões, suaves .e silenciosas
de introspecgao. Temos c,uriosidade de saber,como,somos,e
como chegamos ao, nosso, estado atual, _,embora a ,atitude
religiosa devesse reconhecer desde..o.inicio que_somos cria­
turas de Deus _ea que somos assim muito_ mais „devido a sua
vontade operando„em nossa.alma do .que devido .a. acidentes
de educagao ou a qualquer outra circunstancia. Interpreta­
da em termos de psicologia profunda, a precaugao de São
Bernardo significaria permitit,ao inconsciente seguir o seu
próprio caminho em um tempo ,que the 6, adequado, «sem
tentar montar através da curiosidade a.histOria ,de um.,caso
que venha a responder a um "porque" inicialmente,coloca7
do. A minha'curiosidade também, atica a ,da pessoa sentada
A minha frente. A. pessoa comega a ver-se Oomo um.objeto,
a julg ar-se boa ou d e sc O b rirc u lp a s e acusacoes para
essas culpas, a desenvolver mais ego..e superego, as. custas de
uma simples percepgao que comega a. despertar,.a consider
rar-se um simples caso com rOtulo extraido_ de. um livro .e a
imaginar-se muito mais como um. problema do
que.a’sentir-se como um espirito.
No trabalho pratico, a curiosidade, manifesta-se atra-
yes de perguntas. "Os seus outros pacientes_ também tem
sonhos como este?" Ou entao, o. cliente comega a, ler Klein;
Homey ou Fromm, para descobrir 'como ."outras escolas;
tratariam o mesmo problema. comurri encarar-se isso
como "intelectualizagao", mas na verdade, o que existe ai e
bem mais um problema de sentimento. A curiosidade nasce
de sentim entos de duvida e de incerteza. Q uando não
existe confianga em si m esm o; preciso encontrar nos
outros a confirmagao das suas' expero orientador por.meio
de comparagOes continuas, por tentativas de sair da’situagao
e julga-la, e de decidir sobre ela através de um ponto de vis­
ta su p o b je tiv o . E s te p o n to de v i s t a o b je tiv o é
lugar no top
de uma colina, onde a gente se
c o m o u m
nessa sentir fora do æcaerixts fed q, ot mercracfe d ra i smiMrtrBcnrtlK)
M a s a o b j e t i v i d a d e q
e a mesma que teremos ao qontem plar um objeto a partir
de alturas im ensas.

A curiosidade'não so persegue e captura, como tarn-


bem morde e seiura como um buldogue. Quando certos
segredos afloram e são confessados, não é niais necessário
relembra-los a toda 'hora,.'erigindo-os em pedras angulares
de uma psicopatologia. A f inalidade da confissão é pu rif
car. A agua que lavou deve it embora, :carregada pelo rio
para um mar bem distante. 0 inconsciente tem o, dando a
dom de
a b s o rv e r os n o sso s p e c a d o si E le d e ix a d e sc a n sa r
sensagao do perdão concedido a si'inesmo. ’Mas a curiosi­
dade quer saber o clue Os pecados restao fazendo-agora: sera
que eles se foram, realmente? Não.teria sobrado ainda algu­
m a c o is irih a ? A ssim , e la n u in ,c o m p le x o m u rch a r.
Ao roves disso, tenta alimenta-lo, trazendo-lhe novas possi­
bilidades atimentando4he A 'culpa. N a d a consegue desvir­
tuar mais um encontro do que pessoa, presa pela necessiL
dade escrupulosa e premente, de Confessar, acabar caindo
nas maos-ae um orientador ae curiosidade írisacifiver, mese

mo que essa, Caracteristiea 'esteja M ascarada pela ilus para


ao d
estar fazendo.descoberías terapeuticas que contribuem
o seu desenvolvimento. Curiosidade 6 introvercosãornni^ÇStiVa
i n t r o s p e c g a O e s t r e i t a e i r i c a p a z de c o n t e m p l a r
21
20
e flexibilidade. E por isso que.A Nuvenz do Desconhecimxú)d3&oàs&
áimikjÇVccÇhAdI íi^ir/i7/f^(r)locaaaiicEjdadciX)\as na
, o tendo nada a v er com a vida
de contemplagao. Também Fenelon : (1651-1715), grand
orientador espiritual, declara,, em sua, Cartas Espirituais,
que a curiosidade ,.e atividade excesSiva.,«Nesse trabalho ele
descreve como se, da a conversa no encontro entre dual pes­
soas. 0 que ele acha, em resumo, é que «devemos procurar
alguem para converser de vez em quando (um confessor,
orientador ou analista); e ele diz: "Não, é necessário que
essa pessoa ja o tenha encontrado, ou tenha melhor coin que
tamento que o seu.lBasta que, converse c o m muita simplicidade,
com pessoas livres _de «qualquer intelectualizagao aiainosdadc"(( aias
.156). Essapessoa,ooiiaiaiy,^iitb,feidcri,/i39, pscisa ter um oomportamento
,partioularmente impecável, nem ser o mamodelo de boa moral.
Deve, isto sim, ter aquie t a d o s ua m o u e c u r i o s a e
inquisidora.
Na analise, as formal modemas de curiosidade apare­
cem muito hem, especialmente quando se,da.grande impor-
tancia a psicodinâmica. Analises desse tipo, quer tratem
do inicio da infancia* ou de relagoes de transferencia, aca­
bam efetuando-se por meio de pressão ou de interrogatOrio,
como se a tinica maneira de penetrar na.profundidade da
alma fosse através da_curiosidade. Al encontramos um rosa;
rio infindayel de associagoes e descobertas de mecanismos e
diagnosticos que levam o leigo a em re a linguagem cif, nica
como se fosse u m passatempo popular-(como os. epite/av
"neurotic0 ", 5'paranoico" ,e "maniac0 ", que .vivem na boca de
todo o mundo). Quem.conseguira, compreender real, mente uma
outra pessoa ? ,Quem-pode, definir a, si mesmo? Quem pode
acrescentar um covado a sua própria estatura recorrendo a
introspecgoes intranquilizadoras? Apenas Deus pode nos
conhecer, mas esseconhecimento certamente nab e o resultado
de Ele tentar nos decifrar corrio se fossemos 22
uma charada. Essa idéia de que co/etando. assiduamente os
detalhes de um caso poderemos juntar as peps e montar o
mistério de uma pessoa é especialmente enganadora. Os por­
menores dos acidentes de uma vida, a não ser que sejam
representativamente simbOlicos, nunca sera° essenciais para
a alma. Eles constituem apenas a sua confusão, coletiva e
t r i v i a l i d a d e não a sua e s s e n c i a i n d i vi dua l . Quem
procura o aconselhamento, o faz para livrar-se da opressão
de incidentes, para encontrar o que é verdadeiro, desvenci-
lhando-se de banalidades que ele próprio reconhece como
tais, mas das quais não consegue libertar-se por estar obses
sivamente preso numa armadilha interior. ,A proposta, neste
caso, é saltar qualitadvamente, para dentro do desconhecido,
ao invés de ficar desenterrando maise:mais minúcias por
meio de indagagoes e recolltendo pedagos com a justificadva
de estar, assim, estabelecendo uma configuragao de vida.
Quanto tempo os velhos dedicam as suas reffexoes e)em-
brangas, dai resultan,do pouca ,(as yezes nenhuma) confi­
guragao ao fim de suas longas vidas! Quanto melhor e mais
demoradamente, se conhece uma. Pessoa, como em uma and-
lise profunda que se estende ao longo dos anos„tanto maior
é a dificuldade de ,afirmar, com certeza, qual a raiz de seu
problema, ja que a verdadeira raiz é sempre a próprid p es­
soa, e a pessoa não e nem uma doenga nem um problema,
mas sim um mistério fundamentalmente insolOvel.
Na psicologia .atual, a curiosidade também se mostra
nos testes, psicológicos. Agora existem milhares de testes
padronizados e reproduzidos em serie, havendo profissio:
nais que ganham a. vida aplicando-os. Para eles, a curiosl
dade tornou-se uma técnica refinada, e uma boa fonte de
renda. A aplicagao de testes 6, um trabalho profissional; ha
doutores formados em curiosidade. Os testes tentam tratar
a psique ou a alm a como um quebra-cabegas, que pode
ser resolvido, separado, ajuntado, tabulado, rotulado e co-
nhecidO. Os testes nos tomam curiosos quanto as nossas
tendencias e tragos. Alem Ole nos tomar competitivos, des­
viam-nos para fora de nos mesmos, cindindo-nos em obser-
vador e objeto. Uma pergunta pede resposta, um sujeito
pede um objeto. A curiosidade não une. Ela levanta dtividas
e corrOi a nossa autoconfianca e fe. Quando estou sendo
testado por algueni, a mesa, as perguntas e- o blocci*de pa­
pel constituem uma barreira entre nos. Não ha conexão
n e m e n c o n t r o . • „
Os efeitos do teste psicológico nem sempre deixam de
afetar a orientacao pastoral, pois quando o m inistro se
ampara nesse tipO de psicologia' ao entrevistar uma pessoa,
quando pede dados de trabalho,— escola ou vida' sexual,
quando tenta enquadrar restiltados em tabelas ou fazer
escalas de pontos- para medir progressos, o seu parco co­
nhecimento psicológico transforma-se numa arma perigosa:
O teste p'sicologico e a analise psicodinâm ica são,
atualmente, apenas duas entre as varias'maneiras do' nosso
trabalho se ver afetado pela 'curiosidade. Aqui esta mais
uma delas: a - analise behaviorista ou microanalise da' co-
municacao.Esse método grava, ate- mesmo filma ou ve aira-
yes de espelhos falsos, o encontro entre duas pessoas, - com
a finalidade de analisar e descobrir o que-se passa e o que
vai mal. Todo gesto, postur'a, patisa, inflexão ou interrupção
é estudado porque encerra pistas e tracos reveladores Dessa
maneira, uma grande parte do inconsciente podera aflorar.
Se alguem me observa tentando Jocalizar minhas fraquezas
e ouvir mais o meu jeito de falar do que o que eu tenho a
dizer, podera descobrir evidencias'de hábitos para mim
ainda inconscientes, bem como mostrar o modo peld qual
expresso minha ansiedade e comunico insegurança as outras
pessoas. Talvez não conhecamos nossa tendencia de apertar o
polegar dentro da-mao fechada, de franzir a testa com
preocupagao, ou de sentar afundados na poltrona -em t o t a l
desinteresse. _ , 2
Todos os métodos atuais N4sando conhecer as pessoas;
e que empregam a curiosidade através- de analises psicodi=
namicas e testes projetivos, tem sido empurrados como aces-
sari° de trabalho aos que lidam com problemas humanosi
porem, sera que o conhecimento obtido as custas de dividir-se
aindamais observado e obscuidarervador ou, dnadi umdoar o aindi-
sua
video interiormente, ajudaria a c
alma? Que extensão desse conhecimento poderia ser cons­
cientizada e integrada pela personalidade que esta se desen­
volvendo, e cujo sofrimento fat parte do processo? Pode­
r í a mo s nos p e r g u n t a r p o r m é t o d o s a p a r e c e r a m , e se
eles não seriam bem mais ulna substituição para -a ligacao
humana im ediata e vulnerável, como se- tivessemos
resos
ficado tao isolados e p as armadilhas de nosso eg.o, que
. j . i • . íonagem- tivesse de serinventa-
toda uma tecnologia de esp °
da para a comunicacao entre os ,seg re dos de n08so si s castelose
interiores. A cidade e a nacao dividida contra m esm a um
simbolo de nossos dias,- e quando .na6 ha conexão humana
entre o leste e o oeste, entre o norte e sul separados por
muros, entao podem proliferar os sistemas de curiosidade
dos espiões. As palavras passam a ser "Veja o que esta
fazendo", "Cuidado, agora", ao invés de. "Escute tran­
qüilamente"
Todo metodo curiosidade mental bloqausar ueia o alarmes
encon­
tro de d u a s m e n t e s : E l e s a p e n a s , c o n s e g u e m c
que enrijecem ainda mais as defesas, quando o desejado
seria eliminar barreiras. Impedem-se a espontaneidade e as
historian contadis' liVremente que permitiriam ao paciente
falar sem preocuPagoes. QUalquer historia pessoal é sempre a
mesma came-de-vaca, pois o pacienie fica guardando as
emocoes,.com medo de se, entregar.,
Em outras palavras, o principal impedimento de conhecer
o oUtro a exatamente o desejo de conhece-lo. E 6 nesse ponto
que minhas necessidades' vem em meu auxin°. Se a
necessidade de ser analista ou brientador encontra-se ge­
nuinamente enraizada em meu ser como uma vocação ou

25
chamado para ser o que sou, constituindo parte da realizacao'
>da minha -própria personalidade, pos'so expressar essa
necessidade de completar-me sem exercer pressOes sobre o
domínio do outro, mesmo que essa pressão seja profissional.
Minhas perguntas não sera° causadas pela curiosidade, e 0
meu conhecimento também não sera o resultado de uma
observagao fria. Ao contrario, eles sera° parte de. minha
interrogagao sobre a natureza humana, na quay estou inclufdo.
Perguntas desse tipo não tem respostas, mas evocam cor­
respondência.. E essa correspondencia d um movimento es­
pontâneo partindo dos dois em diregao a essencia doassunto a
que se langam. A curiosidade por.fatos e detalhes desaparece
face â contemplagao aberta das coisas exatamente como elas se
apresentam. Deixando de lado as técnicas de interrogatario,
livramos o interlocutor de ser identificado com suas respostas, de
ser aprisionado a historie de seu caso ou de sentir-se culpado
pelo que disse. A entrevista, redimida_ do seu aspecto
inquisitorial, transform a-se em encontro.'
Prudens quaestio dimidattn scientiae: a pergunta caute­
losa ja e metade do conhecimento. A pergunta imprudente
que nasce da curiosidade não infringe somente aquilo que é
Intimo, o mundo e o valor interior de uma pessoa. Ela também
cava uma vala de distanciamento. Todos os animais tem um
senso inato de distancia. Quando Os passarinhos pousam nos
fios de eletricidade, ou as gaivotas no 'alambrado do cais,
semprefíOam a uma era distancia uns dos outros. Quando"
um gato errante rateja sobre o muro; enquanto eu passo 'na
calgada, ele para e fica observandO ate eu atingir um
determinado nab set ponto que exatamen te onde fica, e,
entao, 'sai em disparada: Os animais de circo, em seu
treinamento, sacs condicionadOs gaga a' distancia psíquica. Os-
leeies soltos na arena, uma* um, sentam-se em seus lugares, não
proximos demais. Se 0 domador se
aproxima com o chicote ou a cadeira (que são extensões de
seu corpo), ele desencadeia a reagao de ataque: ou fuga no
animal. Este devera sair do lugar, atacar com a pata ou
rugir. A diminuigao gradativa da distancia natural eviden­
cia que a fera esta sendo domada Ela demonstra confian-
ga ao perm itir que o domador, ou mesmo outro animal,
26
venga a sua "distancia critica", deixando-o aproximar-se
cada vez mais sem a reacao instintiva de ataque ou fuga.
Esses mesmos padrões animais se revelam no encontro
entre as pessoas. Com o decorrer da civilizagao, aprendemos
a distinguir a distancia fisica da distancia psíquica. Pode­
mos ficar em um elevador lotado ou. ser examinados quica
nus
por um m edico sem sentirm os que nossa dista ncia psi
esta sendo invadida. Temos defesas dispOniveis, para nos
proteger. Mas ainda existem profundas reagoes de distan­
cia natural que afetam o relacionam ento no encontro de
duas pessoas. Problemas de distanciamento e de aproxima-
cao aparecem a cada sessão. Algumas pessoas, que muitos
denominariam de histéricas, aparecem aproximar-se demais
em tempo excessivamente curto. Outras, com características
ditas esquizoides, parecem estar longe, mesmo ao descreve­
rem seus próprios sentimentos. Quando alguem penetra
muito rapidamente com a ajuda de testes, entrevistas ou
solicitacao de confissoes, a distancia natural podera ser
facilmente fraturada, liberando a reagao de ataque ou fuga.
Depois da primeira entrevista, a . pessoa não aParece mais.
Incapaz de lutar com voce,, ela acaba fugindo.
Cada um-de .nos tem o seu proyrio espago. E, eviden­
temente, não se pode esperar a exposigao de ,um problema
basic° ate se criar um espaco adecjuado Problemas desse
tipo constituent sempre uma confusão, dolorosa. Eles pare­
cem preencher a totalidade da vida; tem um peso enorme,
arrastando ramificagOes e* dependencias em seu desenvolvi­
mento. Não tem comego, nem fim, sendo impossível trata-
los a não ser que se- lhes conceda u gjande espago psico-
logic°. Esse tipo . de problema rnantem-se guardado dentro
de um espago peculiar, caracterizado por tensão atmosféri­
ca, &limo depressive .ou nervoso, por amargura ou insatis-
fagao., Ninguém pode assumir um problem a basic° sem
entrar e, viver dentro da atmosfera que o circunda.
Se alguem consegue, se* distanciar de seus problemas e
o demonstra ao descreve-ios claramente, empregando cate-
27
gorias de diagnostic0 'ao relatar livremente ' experiências
traumaticas, é regra 'infalivel que a parte esSentia4" eXata-
mente a chave da questaó,- fbi -omitida: Levando-se eni conta
que, em psicologia, problenias. não são coisas
soas tem, m as 'alga 'que elas são, n ã o ^ g cyapes-
com alguem durante • semanas, . as • vezes ate tra
r , . . durante um
ano, .sem conseguirm os nos aptaximat do que seria real
terapia. ,, , , . , ,
mente o problema e a verdadeira razdaCia pessoa buscar a P
Quando os grandes felinoi do- Cii°6 entrarri na jaula,
eles seguem uns aos outros' de aCordo com seritinientos de
simpatia ou antipatia. A lg u n s ledes não ficam""-perta 'de
certos companheiros, alguns ficam prOximos, mas brigarri;
outros identifieam-se com o mais forte; au en ao s
acompa­
nham o treinador. A importancia desse'fato e'evidente 'den=
tro de um grupb..O domadOr serriPie octipa a jaula em pri=
meiro lugar; trata-Se de seu eSPago; e a. lab sabeclisso:pa
mesma forMa, o orientador ou b analista ja se' encohtiaha
consultorio, que i e sua area, seir' espaga; Qhando o tigre
ocupa a jaula do zoalOkicó: ele 'urina" em' tOclaS Os cantos:
Essa e a sua maneira de deixar marbas nas franteiras "de seu
espago existericial. 0 analista :66166a Pequenos ci
, ' bietos a
sua volts, pendura nas
Paredes elementos que o identificam;
pinta as partes de m adeira com a sua cos 'Predileta.
Ao r e c e b e r u m a p e s s o a em n i i n h a Sala, 6 animal
da jaula ja Se faz sentir a flor da p;ele. A selya -6: modelo uma
infinidade de -territories deniarcados seguricio cheiros, risca=
dos por picadas e pistas 'arganizadas hlerarquicamente. So
havers espago para algueiri em mei'
conceder esse espago, se 66 deixar deacocun sultorio se eu t h e
^ &’ ar:lima -ar suri=
ciente para ele poder eritrat sem Ser;inasSacrado pOreminha
forga e autoridade, podendo'entao Sehtir-Se bem dentro de
sua própria atmosfera. Para qUe a outro possa falar e abrirl -
se, é necessário ao orientador 'fazer unia 'certa ' retirada:
Précis0 afastar-me para dar e8p ag b 'ao outro. Não seria sufi­
ciente cham ar isso de teraPia centrada no paciente poiS;'
25
uma vez que é ele, o cliente, que se, encontra em meu con­
sultório, ele jamais sera o centro, e sua's projegoes e trans­
ferencias com relagao ao terapeuta o mahtem numa certeza
de inferioridade. Essa retirada, mais d° que Bair ao enc007
tro do outro, significa um intenso ato de concentragao, cujo
modelo poderia ser ericontrado na ,doutrina m istica do
Titntsum judaico. Deus onipotente e onipresente estava em
todo lugar. Ele preenchia o universo com a seu ser. Como,
entao, seria possível o ato da criagao? Não por emariagao,
Deus brotando de si meSmo, pois não haveria eSpago, e_caso
houvesse, seria imperfeigao de Deus, um lugar vazio onde
Ele não existisse. Entao, para criar,' Deus _teve que se reti­
rar; criou o não-Ele, o outro por autocontragao, por auto-
concentragao. Muitas , especulagoes misticas originarath-se
dessa doutrina, no Clue diz _respeito ao esplendor oculto de
Deus e seus paralelos_com o homem nifstico que, por meio
da retirada e do ,afastamento do mundo exterior, ajuda a
criagao. A nível humano, minha, retirada, ajuda o outro a
v ir a ser .
São Jab ,da Cruz define o paradoxo da distancia sim­
plesmente como sendo "sin arrimo y.con arrimo", ou seja,
a p r o x i m a r - s e s e m se a p r o x i m a r . :
Numa epoca em .que apenas ,excepcionalmente o ana­
lista encontra o cliente fora do consultorio, e o medico rara­
mente atende chamados na casa dos pacientes, o. ministro
tem essa oportunidade Unica de entrar em,casa e' desempe­
nhar as fungOes paStorais, dentro do habitat natural de seu
encargo. Discussões quanta As, "visitas" do. ministro, se é
certo cm não telefonar a ,um, membro .da„ comuni dade ao
preocupar-se com ele, se deve visitar uma mulher quando
cia se encontra sozinha em casa, se seria ou não melhor
falar com ela na presenga das criangas — em sLitese, toda
a problematica de como manipular o problema espacial do
relacianamentahumano'e melhor considerada quando vista
mais como uma questa0 'de atitude que uma questa0 de
técnica. Devidci a inflirencia do modelo medico do analista

29
e da psicoterapia, os ministros tendem cada .vez mais a aten­
der os problemas de seus paroquianos no , escritorio (estti-
dios, retiros ou coisas assim): Isso so ,contribuiu, ara
tar ainda mais o ministro de suas fungdes, trarisfporma a fa s -
ndo
de fato os paroquianos .em pacientes, devido, a sua, ansiedade
de tratar..0 caso num cenário, ideal O ministro tein a
chance tinica de entrar em casa, no convivia da familia onde a
alm a se defronta com. seus torrri entos. A tradigao do
atendimento pastoral m ostra que o ministro não so pode;
como deve fazer, visita s. 0 p astr é aquelee_ tom. conta
do rebanho. 0 'seu cao.,busca_oso desgarrado^ , u tem a grelha
levantada para captari problemas, e enfie o nariz .em todos
os cantos. Isto so se to rn a _ passive' quando: o pastor sente
realmente .o significado da .distancia,,e vnão se sente dimi-
fluid° ou vencido ao entrar no espago. do outro.
M anter distancia.coca .a natureza das coisas que são
segredo e do_ respeito exigido por essa area. A a
apenas exige, coma e um segredo em, si mesma ou Ima-, ditonâo de
outra forma, a reagdo de ataque ou fuga no ser. .humano
protege a »sua verdade psicologica mais -vital .2 Sua_ alma
sente-se tao-encurralacla_como um animal ameagado. Evi­
dentemente, segredos que não. deveriam ser guardados aem
como venenoS, e. a psique quer purga-los através .da g
conf is-
são. Mas isto não significa-que todo segredo seja de origem
patolOgica, ou que—toda vergonha _ou ’timidez_ seja conse-
qiiencia de pecado. Segredos compartilhados-constroenr a
confianca e a confianga doma a reaP de ataque-ou fuga no
problema da distancia. N A ° é de admirar que nenhuma—psi
coterapia seja curta quando a-alma esta plenamente envol-
v i d a .
A distancia e freqüentemente confundida -com frieza,
assim como para muitos a proximidade e a intimidade po-
2 0 leitor podera recorrer aos paragrafos esclarecedores de C. G.
Jung sobre a questão da reserva e do segredo 'em sua ' autobiografia M el
m ories D rea m s R eflections, N e w York, 1963, pp. 315s e também em
"M e d ic a l S e c re c y an d A n a ly ti c a l M y s te r y " , o u lt im o ca do , meu
dem assemelhar se a calor humanO. Todos' nos -queremos
tanto ser pessoas abertas, temas e amorosa! A acusagao de
frieza é uma das mais difíceis de suportar, sendo na verda­
de uma das mais comuns que existem. Freqüentemente, con­
tudo, não se trata do caso de o orientador ou o terapeuta
serem frios, mas sim de guardarem seus espagos e. de esta­
rem contidos em si mesmos. Isso afeta as pessoas de varias
maneiras. Prim eiram ente, constela como "outro", coma
diferente, separado, com a dor de- ser ele mesmo e sozinho.
Se o outro for do sexo °pasta,- minha distancia' enfatiza a
diferenga entre nos, o que é sintholizado mais basicamente
pela polaridade sexual. 'A distancia nos faz homem-e
lher; a fusão pode nos confirmar barrio 'cluas pessoas, ou
entao nos anular. Entao, é claro, a polaridade é experimen­
tada como atragao ou repulsa e Samos apanhadoS pelos fe-
nomenos da transferencia.* Surge' a emcigaa e irticia-se
aconselhamento proftindo. Alem disso; minha distancia clá
ao outro uma chance de abrir-se langando-lhe um& polite;
fazendo entrar em agao 'seus próprios sentimentos e tato-
goes extrovertidos, mesmo que isso acohtega apenas no ni-
vel mudo do prantd. A ’’distancia ainda constela dignidade
e respeito pelos problemaS. Nada oferece maioreS'probabi-
l i d a d e s a a l m a 4t i e e l a - n ab p o d e f a z e r - s e o u v i r
em meio ao ruido. Isto pode parecer solene e excelente e
qualquer atitude que Se tome' como o einprega de um 'aven­
tal de medico, :colOrinho'Clerical ou cavanhaq'ue de' analis­
ta, tem a chance de ser mal compreendida. Contudo, o que
importa verdadeiramente 'e não querermos catisar medo, e
existe sempre- um medo enorme = ataque - fuga — em
tudo, quando a alma esta envolvida. Medo de perde-la, de
ve-la mal conduzida; mal aconselhada, julgada de maneira
errada ou colocada'.em desgraga: Tudo isso esta presente
durante a sesSão terapeutica; e antes de> mais nada, é com
medo e porcauS a do medo que as pessoas nos procuram.
Pode ser 'que o medo se projete sabre nos com tal forga, que
venhaMos a representai o inconsciente enquanto inimigo e

31
Üyro S u ic id e a n d the Soul, N ew York, 1965:

32
ameaga. Sabendo que "apenas o amor que é perfeito dissi­
pa o medo", este medo deye ser retirado de cena pelo m e­
nos ate que o amor possa igualar-lhe a forca. Enquanto o
medo estiver presente,, o espago, da terapia sera melhor
encarado quando vistocomo um templo de preservagao, ou
temenos, um santuario libertador que, da protecao. 0 amor,
em sua forma ativa, não redime o m e d o ; entretanto a, tran­
qüilidade, a brandura, a penum bra e a paciencia-podem set
a gruta de reffig io ate a noite passar. Em primeiro lugar, o
abrigo; so depois vird o fogo que aquece e ilumina. 0 Amor
ativo não pode redimir omedo, no que concordam tanto os
observadores religiosos quanto os Fisicalogos, pois o centro
mais profundo, do medo a exatamente o medo do amor. As
im perfeições, do am or sofridas ha tanto tem po, desde a
infancia, levaram a esse medo, no qual o amor se esconde,
e que constitui um com plex0, de sepsibilidade cruciante.
Tocar, esse complexo, mesmo por meio de um aconselha­
mento cheio’de afeto, ,s6 sera terapeutico quando,o medo
se dissipar e quando_ iss,o,_ for feito por alguem cujo amor
seja "perfeito". Entretanto, esse é um ponto que deve ser
muito beg' compreendido. Apenas um amor assim desfaz o
medo, mas, ele não depende nem de 'nos, e nem da nossa
vontade. Ele esta alOn do toque direto da terapia, pois; a
terapia situa-se exatam ente na som bra desse amor, como
se todo encontro hum _ano morasse em um segredo, com se
a som bra de, todo , aconselham ento fosse a escuridão do
a m o r .
Os teologos nunca,perdem a oportunidade de afirmar
que Deus é amor. Os analistas_ dedicam a maior parte de
seus ensaios ,aos aspectos do amor familiar, Sexual e, do
expresso na transferencia. Por que precisam os pregar e
escrever tanto sobre o amor se estamos sempre im'ersos
nele, ora sob uma form a, ora sob outra? P o r que é tao
necessário afirmar que ele e a maior das virtudes? Por que
é necessário afirmar que as neuroses são imperfeições e
vicissitudes do amor?. Se ele a tao ontologicamente funda;
32
mental para a teologia e a psicologia, por que não conse­
gUimos deixar que ele simplesmente aconteca?:Por,que não
percebemos sua simplicidade essencialmente descomplica-,
da, se somos capazes de perceber, a simplicidade de putroc.
fundamentos ontologicos que acontecemsem ma_ iores corn
plicagoes? Se o amor. é a essencia de Deus e do homem, de
onde vem tantos, impedimentos?, Por, que tanta _ sombra?
P o r que e x i s t e m d i f i c u l d a d e s tao g r a n d e s ? ,
Não ha resposta para esse tipo de pergunta; não obstan­
te, a experiência analitica nos ,mostra algumas razoes pelas
quais é tao difícil amar,, e porque a distancia, o segredo e
uma certa frieza podeniser necessários. E que eles oferecem
protecao contra o amor e o seu sofrimento. Os mitos dizem
que o amore experimentado por meio das flechas de Eros.
Em Plata°. ele é uma, loucura diving, uma mania. 0 amor
de Jesus o crucificou. ,
0 encontro. human°, é dificit porque conduz a essa
experiência sofrida, essa loucura, esse esgotamento do ape­
nas humano. A distancia, e separadospor técnicas de entre­
vista, somos tocados e, atingidos com m enos facilidade
desse modo as flechas não rios acertam. A curiosidade exclui
o coracao. Não seremos, individualizados, escolhidos e en­
contrados tao, rapidamente, dentro de um, grupo.,, Se eu esti-,
ver sozinho, não havera olhos que encontrem,os, meus. Mas
no encontro humano de, duas pessoas_ sentadas frente a
frente, temos a situacao, prim aria ,do ,amor. Sozinhos em
uma sala, defrontandoznos ,em, segredo, a alma, despojada e
o futuro em perigo:,.isto, por acaso, não configura a,
experiência -arquetipica do Amor humano? Não
desenvolveremos em nada a nossa
compreensão_aoslenominarmos>pejorativarnente
essa__.experincia de, ':projecao", ou, ao denegri-la conic)."
transferencia", quando duas.pessoas se envolvem, e esse
envolvimento se, processa através dos„sofrimentos da
psique, ambas,são imediatainerite atingidas pela forga argue-
tipica do amor. E,isso fica aindam ais forte se elas esperam,
durante encontros, criar_ ju n tas um a v id a nova. como
33
resultado de sua uniao. Desde o inicio„temos. de_estar bem
conscientes dessa realidade, como um dada da situacao, ou entao
seremos atacados pelas costas, caindo na armadilha. Poderemos
nos apaixonar, independentemente de -sexo, idade ou qualquer
outra ’coridicao. Al. item 'bem a propósito lembrar 0 Cântico dos
Cânticos: "Eu to ordeno qUe não
toques nem despertes -o amor ate que ele possa ser agradavel"
0 amor não agtada" ate -que nos posSamos deftontar
com ele, e nab' -podemos faze-lo enquanto ele- for apenas
uma emocao forte, ao ..invés- de um estado de espírito. 0
amor, enquanto, estado -de espiritcy, .enquanto, estado de
ser, como a deScrito por Tillich, talvez pertença aos
da teblogia.’ Na analise normalmente, - o -encontramos
como emocao, como uma tremenda- confusão emocional. E
no aconselhamento pastoral, ele se parece bem mais .com a
emocao da analise, que com o estado descrito por sac) Paulo,
Nygren e Tillich na linha- teologica.
Opostos tom° desejo e recolhimento, agdo e-ser,
tem-se em duas •tradigoes também, opostas que, a -titulo- de
odem.ser Chamadas de Oriental e Ocidental.
Ficar apenas na profundidade e recolhimento do amor, é
quietismo. Revela algo de desumano e nega a realidade viva do
objeto desejado ao alimentar-se dele -como. imagem que leva
ao amor, para, «entao, sepultar-se com ele. Por outro lado, a
caridade ocidental, com: sua busca de contato, seu programas
por um Cristo em agao, e' a Igreja, a serviço, da comunidade, os
mciiimentos' e as missOes, logo acabam -por esvaziar-se nuni
gesto -sein -significado; que_ não faz mais que agitar o ar. Se
profundidade sem nab a coisa desumana, e se agdo sem
profundidades loucuta, entao a-sohicao para a ruptura entre
essas dual antigas nogoes de amor .(sob a forma de desejo ou;
entao,- de-estado de ser) poderLdepender do analista ou do
orientadot-pastoral: a que o n to ele consegue fazer fluir
hannonicarriente-dentro de si o im= pulso para a acao
extrovettida e o mundo de sua profundi’ 31
estabelecido esse eixo„poderei estarpresente com' meus.sen-
dade que busca o interior. Num enfoque psicológico,_ esses
dois opostos formam a cruz individual do amor. Tempora­
riamente, uma ou outra direcao devera ser sacrificada para
chegar-se ao centro, possível que eu apenas consiga atin ­
gir o amor, de modo profundo, seguindo meu impulso para
a agao, vivendo o mais plenamente possível o seu aspecto
emocional, sacrificando toda e qualquer nocao anterior­
mente aprendida quanto a sua irrealidade e loucura; entran­
do, assim, em seu aspecto de mania e desordem..Ou talvez,
eu tenha que renunciar a um relacionamento mais forte, e
recolher o amor que sinto, mesmo sabendo que essa retira­
d a acabara por trair um envolvimento pessoal.
No aconselhamento e .na analise, ha quase sempre o
perigo de termos um eixo interior muito pequeno para sus­
tentar a amplitude e a ,extensão desses envolvimentos. Na
verdade, eu posso .amar dando plena for-9a, em nivel exte­
rior, ao meu sentimento, mas se por acaso a ligacao vertical
com a base de minha existência interior e com o amor por
mim mesmo ainda não estiver formada, eu terei, entao, des­
pertado um amor que- não pode agradar. Todos os pontos
que discutimos ate aqui acabam voltando a essa questa(); o
encontro humano depende de uma conexão interior. Para
estar em contato com voce, é necessário que eu esteja em
contato comigo hmesmo..
Se eu não estiver ligado a minha interioridade e voce
se aproximar para cobrir distancia entre nos por meio de
uma ponte, pode ser que -eu Nenha a' atravessa-la, levado
pela for-9a de atracao_ (atracao que a ampliada ainda mais
pela- minha, falta de solidez intema) e caia em seus bravos,
perdendo'minha identidade; ou, entao, pode ser que a inva­
são me .apavore, evidente que*ligacao hum ana é um
encontro que_se_da pela ex troversão, e que a- ligacao entre
as pessoas acontece quando cbnversando e estabelecendo
relacoes interpessoais .compartilhamos o que somos. Mas
também existe uma relação intrapessoal,.essa conexão ver­
tical que _dpsce ao_interior de cada. indivíduo. Se eu tiver

35
timentos, interiormente "aberto ao, que vier, ancorado e fixo
como um eixo que, ao mesmo tempo, consegue girar e que
não podera ser arrebatadopor nenhuma luz distante e fan-
tastica. Visto de fora,Asso, podera parecer distanciainento
e ate mesmo incorhunicabilidade 6, desinteresse.-Mas, na.ver­
dade, trata-se .apenas, do contrapeso_ necessário Tara a atra-
gab horizontal, do encontro. E alem _do.mais;_eu desgo orne
retiro, deixo uin espag_o m aior para ,voce se expressar:-
Antes de qualquer outra coisa, deve-se.pensar qUe duas
pessoas ligalzlas ,interiormehte • tambem estao comungando
entre si. ElaS pod_em ocupar o mesmo 'espago psicológico,
cohstelado pelo mesmo estado de espírito, estar em comu­
nhão sem .precisar demonstra-lo. Comunhão .não é apenas
comunicagao. A ligagao mais interior O o contato,que duas
pessoas rem apartir do dentrO de sua profunclidade indivi-
dual, pois se eu estiver ligado a este _moment°, agora, assim
como ele se apresenta realmente, 'estarei’ tambem aberto e
ligado a voce.. A base da.existência em um nivel profundo
não é apenas- a ,minha,base pessoal; o ,apoio universal de
cada um, ao qual todos encontram acesso_pela conexao inte,
rior. Encontramo-nos um ao outro tanto ao refletirm os ,o
inconsciente coletivb-quanto ao expressarmos exteriormente
nossa com unicagao pessoal. A cura acontece do memo
modo, não dependendo tanto do ,seu efeito sObre ,rnim, ou
do meu sobre,’,voce, quanto dos momentos críticos;; dos
fatos arqueripicos .que brotam, de dentro e se refletem no
nosso encOntrb. A cada um,deSses momentos, alguma hecesr
sidade comum .da" alma humana esta sendo ekpressa e as
minhas e as suas necessidades refletem-se e' se encontram
sem nenhumar troca ruidosa em .nível pessoal., Assim,- as
crises atuam como fatores de cura pOr nos. conduzirem para
baixo, para _alem da comunicagao e 'das comiseragOes. pes­
soais em diregab ao acontecimento arquetipibamente
ficativo. Surpreendentemente, .acabamos por no encontrar
num paralelo biblico: 'cooperando, secretamente para que se
36
efetive um direito de nascimento, send(); atirados em- um
pogo por irmaos invejosos, erguendo a filha contra a própria
mae; ou uma baleia esperando nos engolir puma 'noite de
profunda depressão e Rahab e a mulher de Putifar vem nos
chamar. Mergulhando em tal nivel_ de momento imp essoal
sempre recorrente, mas que se apresenta como coisa "Vivida
um a so vez (que é, na verdade, a liora de escolha em
uma encruzilhada), as duas pessoas se mantem juntas en­
quanto vivem o fato e buscam a sua "significagao.

Uma comunhão desse tipb difere de comunicagao na


mesma m edida em que intimidade difere de comunidade.
A tentativa de restabelecer a comunidade crista através de
grupos, independente de todas as suas conquistas que não
me cabe discutir, talvez falhe no que diZ,respeito a intimi­
dade. E aqui também a analise abre um caminho. Pela inti­
midade tomo-me,intimo de, mim mesmo em primeiro lugar,
perm itindo-m e sentir o, que realm ente sinto, fantasiando
o que de fato é a minha, fantasia e ouvindo minha, voz com
fidelidade. Por meio da conexab interior, posso experimen­
tar vergonha, sofrimento, bem como novos prazeres. E por
meio dessa revelagao que posso chegar a conhecer-me. Não
e tanto a ligagao horizontal_que faz crescer a intimidade
entre duas pessoas_durante a analise, quanto as conexoes
verticais paralelas,lque.,:existem" dentro, dos .individuos. Ou­
vem-se tanto_os efeitos:do, outro dentro:da, gente e as tea;-
goes surgidas em nivel . intemo: quarito o próprio outro.
Trata-se de:um acolhimento nitituO—A outra' pessoa apare­
ce em nossos sonhos e' fantasias e nos também aparecemos
nos dela. A comunidade pode, brotar dessa-intimidade e co­
nhecimento,.e 6.:comum,Ver-se analistas expandirem os seus
relacionamentos de analise em grupos e em amizades. Mas
o macleo de tudo sera sempre a intimidade que foi desenvol­
vida durante a analise. Se o ministro quiser programa-la,
esperando que ela surja como resultado de vida em comum
e de participagao em grupos, estard presumindo que o m o ­

36
vimento vertical é uma;ramificagao do "relacionamento entre
as pessoas. A intimidade forgada em grupo, por: exemplo,
normalmente, leva ao ocultamento ainda mais profundo da.
quelas partes do espirito que so podem ser compartilhadas
quando duas ou tres pessoas se aproximam, e nunca uma
multidão.
Se> o encontro humano despertar o amor enquanto forga
arquetipica, o orientador devera alegrar-se pelas barreiras que
surgem naturalmente entre as pessoas,' pois elas São defesas
espontaneas. Essas defesas não são fabricadas 'pelo ego;
são a maneira que o desabrochar do crescimento da psique
tem de proteger-se eni timidez e segredo;>distancia e frieza,
reserva e dignidade*ate que se- estabelega o eixo,vertical
interior; a' conexão humana que devera' equilibrar' o
desenvolvimento.das relagoes em nivel extern entre as pes-
sbas.' So quando isso tivei-acoritecido, quando o .acesso ao
amor' por mim mesmo como sou me inundar de fe e espe-
ranga em mesmb tat 'como sou, podera entao haver um
encontro, no sentido numinoso'da'palavra.'Somente ai exis=
tira'alguem com acesso'a sua vitalidade'individual; alguem
em quem ressoam reagoes e respondem sentimentos vivos,
numa presenga >plena que 'não precisa mais atacar, nem
f u g i r o u v a l e r - s e d a c u r i o s i d a d e . 0' e
0 movimento, em diregao a profundidade e a interior
zagao nos ocupara 'de maneira especial no capitulo segnin-
te, que tem a realidade do inconsciente'como terra. Enquan=
to primeiro nivel do Irabalho de aconselhamento', o encontro
humano leva a conexão interior .do, terapeuta e a do
cliente. 0 que por sua vez faz parte do problem a 'geral
do*que vem a ser a "coisa interior"; ou seja; a natureza, do
inconsciente. Esse espago sera explorado nas paginas;

37
Vida interior:
onscien
J t . i ■■

o incte enquanto . - -
experiência

0 lugar que a psicologia e a teologia, tem em contum


a alma; porem a alma &um ",não lugar ", pois não é con­
siderada preocupagao princiPal_nem_pela teologia, nem pela
p sico terap ia dinâm ica, estu d a D eus e su,as intenOes*
e a outra estuda o homem e tudo aquilo que o induz a sen­
tir, expressar-se e agir comp o faz,ao passo, que o espago
entre ambas é freqUentemente, deixado livre. Esse vacuo,
onde tradicionalmente se espera que Deus e o homem pos-
os
sam se encontrar acabon,sendo a terra de ninguém onde
analistas e.os religiosos se confrontam.
^ s prim eira?nuvens_ja comegam a aparecer no pro-
camp semântico:, palayras_como " "Deus" e
"ho são usadas de forma .igenua pelos psicólogos,
sem todo aquele imenso aparato critico, que os tOlogos bem
treinados usam com tanto .efeito, fatal' do encontro de
Deus com o homenvdentxo da ,altna^irefiro-rne irnagein,
que a psique tem de Deus, d resêntada
imagem e Deus. enquanto coisa
co n h ecid a, ex p erim en tad a;, sen tid a, intuida, rep ou
formulada por uma pessoa. Esse Deus é inicialmente uma
experiência, ,e s5.a seguir u_m, conceito.. Essa. imagem ou
experiência não 6. a iinica,.,e nem sempre a, mesma. Ela sofre
transformac-cies_ ao Longo dayida. de .qualquer indivi

para, outra.
amente
duo, diferindo ainda larg á a W im r a i
As variedades de experiências do
rag5es psicologicas que, por sua vez, podem levaritar
testes dos dos ,teologos quanto, autenticidade op distorcao de
certas imagens._As vexes a experiência, não existe, ou entao
é uma abstragao.conceitual., ou ainda o_divino é deslocado
39
para imagens e experiências que via de regra não sac) consi.
deradas sagradas. Com freqiiencia, e istO ,em:ipteresse psi.
colOgico considerável,o gran de perturbaOO,ps.kolOgiCa de
uma p'essoa e'o fator' deterininadar 'da'distOrgao on' deslo-
cacao correspondente da imagem de Deus. Conseqüentemente,
a experiência e também a imagem de Deus aparecem ao
psicólogo como continuando a revelar-se dentro e através da
alma, sem nenhuma limitagao, e para alem dos confinamentos
de .qUalqruer dogma. 'T ais" .imagens 'e ex'periencias sac)
representagoe's coletiVas compartilhadas pela inente de todos
nos na— sociedade em que VivemOS: E é eSte Deffs que esta
desagradaricky o bispo de Woolwich (John RObinson) — aquele
Deus sentado la em'cima, Um. Papai Noel de criangas, 'um velho
Papai Dharma morando numa nuVeln, constantemente
ame4adO'por 'explosoeS Supersônicas e por viajantes e'spaciais
em • armaddras .resplandecerites. d e ix e ­
mos contudO _para défiais alguns clOs -problemas levahtados
por John Robinson e pO r HOtiest. to ~God.
Por estranho que patega, -"alnia" é uma e Xperiencia e
imagem ainda' Mais difícil de' esclarecer. - Enquanto tenni-
nologia, aconteceu-lhe, tudo, ate quase desaparecer da psi=
cOlogia contemporanea; -esse term° "apresenta lima aura - de
coisa antiquada, traz ecos de campOneses das fronteiras telL
ticas ou de teosofiStas que se reencarriam.. Talvet ela seja
uma no ao mantida' coin() Orgao decadente por '.vigatios' de
aldeiaou em algumas 'diScussdede 'seminários cl.e filosofia
patrística. E inclusi-ve o 'termo cai Inuit0 mar ein canoes
Populaces atualmente: q-uein ainda 'cleseja alguem *de corpo e
alma? Quem- ainda pOe toda sua ahila eth algUM a coisa?
Quem diz, ainda, que lima' garota tem 'olhos espirituaiS", ou
que fulano e uma "grande alma. Altria é a Tlltima* pa-
J -lavra de quatro letras a':ser thericlohada'-entre 'as coisa:
m o d a-Em-Suicide-” '...... V ,r -í" - , J ■r,.
and’the’SOW; Pp: 43:á. 47,= ha: Ulna :amplia-:
cao do que entendo por 'esse térmd:-A, titillo de' orientagao,
talvez seja Util re por
uma Ou. chias-de'SStis 'afierria05es:',:: :„
"A primeira coisa que o paciente procura no ana­
lista, é faze-lo consciente de tudo o que o faz Softer,
levando-o ao seu mundo de experiências: EXperien,
cia e sofrimento sac) palavras de 114 muito associadas
â alma. "Alma", entretanto, não a um termo cientifi­
co, sendo hoje em dia muitO raramente utilizado em
psicologia... Os term Os "alma" e: "psique" podem
ser utilizados alternadamente,'embora tencleticia 'seja
escapar a ambigüidade dO termo ." alma % recbrrendo-
se a "psique" por ser mais modemo e biolO gico.
"Psique" é empregado como um fato natural concomi­
tante a vida fisica,- sehdo talvez a. ela redutivel:
"Alma", por outro 'ado, .apresenta sobietons rom ân­
ticos e m etafísicos, com partilhando suas fronteiras
com a r e l i g i ã o . . _
A exploragao’ da palavra mostra não estarmos
tratando de alguma, coisa que se possa definir, e na
verdade a alma não é um conceito, mas um simbolo.
Os simbolos, como:sabemos, não estao totalmente sob
nosso controle,_e conseqüentemente não conseguim os
usar a palavra 'de inaneira não ambigua, mesmo .ao
emprega-la .com referencia aquele fator humano desco­
nhecido que faz possi-vela existência significado,
que transformalfatos em .experiericias e que se comu­
nica’ através do amor. AlMa é um conceito delibera-
damentel ambiguo, que_resiste' a toda e cju- alquer defi­
nição; exatamente.como*acontece coin todos_os simbo-
1 o s

Hoje eu adicionaria 'a isso-niais-um atributo qualifica­


tivo c o n f e r e . , s e n t i d o , : t r a n s f o r m a " l a c o n t e c i -
mentosT em- experiericias,'comunica"=st pelo amore tem) Lima.
. " *v.
Esperondemonstrar;"a6.-longo deSte trabalho, de que
forma a analise'.profunda concluz. a alma, e como esta por
sua 'vez;_envolve':irievitavelmenie a analise coin a faigiao
e mesmo com a teologia, visto que a religiao vivid a como so um
fenomeno psigologico.
Não havia mais o que dizer. Como o primitivo que perde a
experiência nasce da psiqUe humana, sendo .por causa dis. alma, ela perdera a ligagao corajosa e quente com a vida, e
Os an d escrev em um a co n d ig ao que é deno minada este 6 o coragao verdadeiro, não o marca-passo que pode
"perda da alma" pelos .povos primitives: Quando isso acontece a muito bem pulsar isolado dentro de um frasco de vidro.
pessoa fica fora de si, incapaz de encontrar tanto a conexao interior uma visão da realidade que difere muito da que se
1 consigo p ró p ria quanto a exterior cam a humanidade. Ela não tem geralmente. E tae radicalmente diversa que faz parte
consegue, mais fazer parte da sociedade, nem partigipar dos ritu a is e da sindrome da insanidade. Mas tanto a mulher em sua des-
das tradigOes. As coisas estao mortas para ela, e ela para' as coisas. personalizagao psicatica quanto o homem que tentava con-
Deiaparecem as vinculagOes 'co a fam ilia , .os totens T a natureza. Ela vence-la de que o coragao ainda estava la podem ser enca­
não sera mais um .verdadeiro ser huniano ate conseguir rados da mesma maneira. Apesar dos sistemas elaborados,
recuperar a alma. Ela não esta mais nas coisas t como se cheios de dinheiro e de sofisticagao da pesquisa,medica e
nunca tivesse side iniciada da propaganda das indtistrias de 'satide e recreagao,no sen­
nome, ou chegado realmente, nunca the tivessem d a d o um tido de provar que o real é o fisico, e que a perda do cora­
a existir. Pode também ser que
sua alma não esteja apenas' perdida, mas possuida, doente, gao ou da alma são apenas elaboragoes mentais, eu creio
enfeitigada ou mesmo transferida para um objeto (que pode mesmo é no "primitivo", e na mulher que estava no hospi­
ser um animal, 11111 lugar e ate outra pessoa). E, entao, ela perde o tal: podemos perder, e realmente perdemos a alma. Creio,
sehso d e pertencer e de estar ,em comunhao com os poderes e os juntamente com Jung, que cada um de nos es"o homem
deuses. Nada disso a atinge mais, e ela, ja não consegue rezar, nem modemo em busca da sua alma".
E por ela estar perdida, ou pelo menos tem poraria­
fazer os sacriffcios, nem dangar,0 seu mite pessoal e a ligagao com
mente desviada ou confusa, que os ministros tem sido for-
o mito maior de seu povo enquanto razdo de ser encontram-se
gados, ao defrontarem-se com certos problemas pastorais, a
perdidos. Entretanto, o que ela tem ilk) e uma doenca, e também
LI baterem na porta do vizinho que surge como a coisa mais
não esta forao, aproximada da ,alma: a mente. E assim as igrejas voltam-se
de para a psicologia clinica e, academica, para psicodinâmica,
seu jufzo. Essa pessoa simplesmente perdeu a alma. E pode ate
morrer. Tornaino-nos solitarios- E não e necessario tracar a psicopatologia e a psiquiatria, tentando entender como é a
o u tro s p a ra le lo s re le v a n te s com o n o sso tem p o . mente e qual o •seu fungionamento. Isto leva .os ministros a
Um dia, emBurgholzli, o famoso institute onde.nasceram as encararem problemas da alma _como esgotamentos nervosos,
palavras "complexo" e "esquizofrenia", fiquei observando uma acreditando que a cura esta na psicoterapia. Mas o dominio
m ulher que estava sendo ,entrevistada. Estava numa cadeira de da mente (percepgao, memoria ou doengas mentais) forma
territorio pr6prio, casa que ja tem Bono, pouco podendo
rodas porque se sentia 'fraca e era idosa. Ela disse que estava n-
dizer a respeito da pessoa que o ministro realmente deseja
torta porque tinha perdido o coragao. Al o psiquiatra pediu-lhe
conhecer: 'a alma.
que pusesse a mao no peito e sentisse o coragdo bater: se ainda
Talvez haja alguma justificativa para esses dogmaticos
batia, era porque ainda estava vivo. "Este não é o meu coracao fora- de moda que não querem nem ouvir falar de incursoes
verdadeiro" — foi em tratamentos clinicos e aconselhamento pastoral. Talvez
42 eles simplesmente estejam dizendo: "0 ministro não preci-
a resposta que ela deu, olhando o psiquiatra nos olhos.

44
sa do clinico para encontrar" aahri
sofre, o logos de sua a 'ou' estUdar o.que eta
psicOpatologia. A paraqUia e 0 próprio mundo
são a sua clinica. NoSsabctipagdo'nào 6 co a- mente, seu mecanismb
e,dindmiSMo, repressOes motivaOes ou recordacoes da infanda! rb
que.8" intereSsa 6. a 'alma humana e seu relacionamento-c-
Orii:Detis.P.' - -
^ No &.nianic', o.trej.úameirth pasibta/ Se Confunde*cada vez mais
ü m - o Olihicb; na thedida — cads
'ovens -past°-
res cufsam Pos-giaduagoes'preenchendo pastes 'dos cróditos
coin leitura psicanalitica e trab'alhos'em .elihicas pSiOnia
cas. IstO esta ,betn!de'ac6rdb comas_idéiaS:danOva teologia,
a qual'oUvi certa vei b ReV: Harry Williams .definir como
sendo '_ 'a reblogia que se passa dentrd de nos", De suns obset-
vagOes, deduzi qtie- o que ocorre coin duas iie-SSods ha sala
de jantar ou no quarto d'e..dbriiiir tein; tam.° aver Com'reli-
gfiqBlidqjspElîkbiDc^jaEblfJ^^

sobre Deus são, em Ultima analise, afirinaCOeSlsObre'-relaCio-


namentos pessbais: Isto é -uma ameaCa abs pSiccilagoi, pots
o que se passa eni-nOSso interior foi hatempOS denominadO
psicologia ou JisiOlbgia, e.probleinds d-e relaeibnamentO-Pes-
soal, de cama e mesa,- 'senrpre 'foram a'-"came-de=vada" .db
trabalho analitieo: Ha niiiitas'de.cadas,-apartir.db momerito
em que Nietzsdhe "declarciu que D d tis" e ia ita thortde que
Freud .achon quo- 'a' religido; 6.-timaqUeStao iltikir' iar7a psico­
logia vem cada Vez mais,eStendendo* 6s. sous 'dbirlinios em
detriment0 da tedlogia, 'f&claffiandb:mai- e "indis partes'-'dcf
alma como pertencentes' aos Sens, territoribs. Agbra-, n'a luta pela
alma, de - repente - a ofensiVa- passa "para Ps -teólogOs: Entretanto
esse desalio hao's'e reduz aperiaS'-a ulna .quetao de v e r
quem f a la m a is ' a lto . ' : . - ' , ' -----!-:
Quando o absoluto se transforma na ji&S'soa interior-6-(i
transcendence na imanericia total, OrriiiiiiStr& se- Ve jOrgado a
descer as profundidades da psiqtie: Como cOriseqiiencia:' teraue
voltar-se para apsiooldgia. A do ith isão de sua pa 44 roquia e
a da nova teologia-apOritani- hessa- direao: Mas
tudo vai depender muito do modo dos orientadores paro­
quiais encararem a psicologia profurida que, como prova o
próprio treinamento do analista, é um encontro necessaria:
mente pessoal com o inconsciente, e so depois disto, um
estudo academic0 ou um tra balho clinic0 envolvendo outras
pessoas.
A proliferacao de Centros: de sande mental com pes­
soas competentemente treinadas, programas, movimentados,
salas silenciosas para aconselhamento, meios de instrucdo,
grupos de encontro e, catalogos bem imaginados a espalha­
rem a psicologia coin o entusiasmo mortalmente seri° de
uma nova religião (que ate»j a. recebe fundos estatais) de ma­
neira alguma ajudara a» encontrar a alma perdida. Se a alma
não estiver incluida, desde: o inicip, ela,nTao podera surgir
no final. Por mais saudaveis que_ yenhamps a ser mental­
mente, ainda asSim precisaremos da alma. E, de fato, pode­
ríamos muito bem perguntar: Ser & que alguem pode real­
mente ter sande mental se esta não estiver edificada sobre
um senso de .alma? _
Todos nos. som os, afetados 'pela perda sontemporanea
da alma. 0 ,pastbr .não a uma excecao. Na verdade, hoje
em dia, o problema de muitos religiosos é encontrar a co­
nexão interior-coin a.vocação, e depois m ante-la viva. A
ligacao 'profunda e vertical, em nivel interior «da raiz argue;
tipica, parePe estar, truncada- ou'.torcida _e, naturalmente, o
ministro-busCa fora 'dai> a solucap que .p.arece funcionar tao
bem para os,outros, imitando e. tomando-lhes emprestados
os métodos. Mas a missão„do orientador pastoral difere fun­
damentalmente daquela do analista e dos psicólogoS clinicos
e acadêmicos. E. a sua ,tradicaP retnonta a Jesus, que curava
e cuidaya:_das ahrias de muitasmaneiras: pregando,.andando
por ai, fazendo visitas,:contando historias, • tocando com a
mao,,orando, comPartilhando, chorando, sofrendo, morren­
do ;7— enfiin, vivendo a plenitude de seu próprio destino e
perinanecendbfiel, a sua Vida. Que o pastor siga a imitatio
Christi. ao,invs, de. im itar a psicologia. Se a imitatio Christi
e negligenciada ela cai no ‘nconsciente e trabalha por trós

sob a forma de- uma identificatio Christi: Deparamo-nos af


com um orientadOr que em nivel consciente segue a rnita.
gab de uma psicologia medica sendo porem inconsciente,
mente motivado por uma ou varies das imagens de Cristo
de que falamos no primeiro capitulo. Em situagao como
essa, o paroquiano-não sabe mais".onde -se -colocar, sentin
do-se a um so tempo doente e pecador. E enquan<i/ag-
nosticado racionalmente sofre exigencias irracionais' de um
orientadmesmo tem or que é tao be informado em,nivel cientifico e, ao po,
se mostra tao dogma ticamente irredutível.
Outras são as expectativas.que levam o paroquiano ao ministro;
alas 'ndo são -as. mesmas que o. fariam buscar um analista. A
incumbência do_ ministro não é ,uma tarefa me dic& Ele não esta
16 para curar, no. sentido medico do termo. M ao Se trata
também de uma tarefa patemal; nab lhe compete der amor patemo.
Nem é espiritual, no sentido de precisat saber-e ser sempre um
model° de perfeição e sabedoria. Como um pastor que
encam inha almas p ara Deus, sua missão central .6 a dedicagdo
_a-alma,a comegar
dera ‘ransmiti-la aos outros. '
pela sua própria, so. o homem -convicto dessa realidade'pO-
Sci quem foi envolvido pela 'realidade psíquica podera

um senso de alma, yisto que o problems ‘da ,orientacaci


pastoral de nossos diascomeca com o ministro e o relacionamento
com sua própria realidade de alma:
Muitos ja perceberam- isso: 0 ntimero de ministros-e
respectivas.famílias que ja estiveram em analise esta aumentando,
bem como a pressão junto a “ mpanheiros de vOcagao no sentido
de também se rem analisados ou—de. recebereni algum "apoio
psicológico"- Atualmente, e imagino que ist° sempre tenha
acontecido com o .homem de religião em luta com sua fe,
yerifica-se com o ministro aquela Perplexidade 46
Niincao ministro ,fo i,ta q ,tv; e n dad, piramcntc l i

^mcstdraomretronphe0;dcilins quanto o pastor. A t e o r i a


tada e desvirtuada por uma crise de fe que ja se prolonga
h cem anos, esta redescobrindo a alma, tendo a psicologia
dado uma grande forca a esse processo de reconexao. Qual­
quer problem a contemporâneo pode também ser encon­
trado dentro das igrejas: alcoolismo, adultério, homossexua­
lidade, psicopatia, sonegacao de impostos, suicidios. Nada
mais ha que consiga proteger o ministro de suas cluvidas
corrosivas. Nab é mais possível oculta-las. Mas é exatamente
esse abalo de estruturas que o forcou a coragem de ser e de
encontrar-se. 0 verdadeiro encontro entre psicologia e
religião não esta no dogma, .nos concílios ecumenicos ou na
acao. Ele esta acontecendo na alma, na individualidade do
ministro em luta com a vocação. ^ difícil não se espantar
com a seriedade dessa luta; cujo testemunho sugere alguma
coisa se constelando alum de um problema pessoal. Algum
fato com características de importancia • histórica esta se
desenvolvendo na, alma do pastor.

E e nesse ponto que a 'psicologia profunda se vincula


a nova teologia. Ao nosso trabalho como analistas concerne
o domínio do espirito, do homem e do mito, do process0 de
individuacao em seu desenvolvimento historie0. E o ministro
se situarbem aqui.
Devido as reviravoltas ocorridas na teologia e' em sua
vida vocacional, ele se encontra atualmerite muito mais
aberto que o 'psicólogo,- pois 'este esta amarrado ao_catecis-
mo de uma,semantica dogmatica, imobilizado pela gordura
que criou dentrb’ de cubículos preiva de som no centro das
grandes cidades. A nova teologia, "a nova moral e a nova
reforma, apesar de toda a psicologia -questionável que
possam encerrar (o que sera discutido mais adiante), pelo
menos são novas: ^ pena .que a psicologia do inconsciente
demonstre:certos sinais de enrijecimento são. entrar em sua
com de quem busca manter-se emicontatu coma voca)

48
octave decade, contada, a partir de seu mascimento etn , ,
consultorio de Viena. Atualmente, .a -figura antiqUada, bar,
buds e comita retrata- ° Tanalista; e não 101 pastor, por to
este ultimo deSaparecido da vida ptiblica, a nab -ser quando
promove campanhas- e m cruiadas p°pularcsv—c -partcrsc
tomado, o "homiem,"-invisivel!', coma foi 6 negro ha temp
atras — poderitos-eSperar,que:a lei da compensacao preva.
leca, e que uma aparicao tiansfigurada do ininistro e do
os
religioso- esteja em gestacao. A .antiga figUra cie .'home de
Deus" esta sendo:transformada pelas imagens do c a l n ã o
.de sua'hiapria. conftthad interior. 'Par continuer fiel aos
problemas de sua.alnia ao 'long° de tantas difiCuldades, não é
apenas a leologia que esta se transfOrmando; mss sim uma
nova maneira de' cuidar da alma 6 que esta imergindo.
E este o nova atendimento pistoral baseado no cantata
do orientador cOm sua. interioridade. Submeter-:se as 'mu­
danças psicologiOas que the aconteeem interiormente é tare­
fa tae heróica „quanta as. campanhas .da 'igreja 'contempora-
nea em acao. A inissão individual esta 8 e m p r e abalada por
incertezas, o seu caminho se: faz as escUras e r a recompensa
não aparece (do cedo.,Assim, p problema do reencontro da
alma talvez ieja de nova mais polemiao que 'iqualqUer outro.
0 lugar de Deus, os’SÍgriifiCados' do am:it. o Papel do orien
tador pastoral genera- da comunidade, e tudo o mais que
nos possa ocorrer, e'rao aspectas . dele,,' deriVados. , quem
perdeu sua alma, ira encontrar Deus 'em qualqUer Tugai
la em cima, la em ,baixa, exatamethe'aqui •onde nes ehcon-
tramos ou perdido na distancia infinita; essapesSoa_agarrar=
-se-a a qualquer vestígio de_ amar que,o'vento The soprar.a
porta, e assim o fa re p°r encOntrar4e a espera de LIM sisal:
S em WTI certo sentido de alina havers, logicamente, e n o r­
mes confusdes de ordem moral, incertezas na ,a9do.e deci;
saes que se apresentam_ perfeitas em nivel racional; trias
não validas no enfoque p sico lo g iw o rtan to , antes de> a
psicologia e a religido com ecarem ir_aA iscutir sabre seas
„„ A deduzir das afirmações de certa teologia, a alma não
se,encontra nos Sacramentos, nem na, Liturgia ou no Ritual.
Naa 6 possível encontra-la nas igrejas, nem nas sinagogas,
Estes locais transformaram-se em- centros ,comunitários *que
captam quase todas as necessidades, menos as :da alma. Os
iugares que ela tradicionalmente ocupava, pelo que afirma
a mencionada teologia, estao desertos; e mesmo Deus, nas
afirmacOes de Schweitzer, Bultmann e Barth, não se encon,
tra de fato entre as coisas existentes, tendo sido ,retirado dos
templos e levado para algum outro, lugar; vivendo em seu
praprio redil.
A medida, porem, que as igrejas jam ficando yams, as
clinicas comecavam a ficar lotadas e os psicólogos das pro­
fundezas — especialmente Jung — „ pareciam encontrar a
alma e uma imagem viva de Deus em meio ao seu material
de trabalho. Assim, a teologia esta, se, voltando para uma
nova direcao, onde ja existe uma longa tradicao religiosa.
Ela esta se voltando para ,d,entro, e descendo ao ,"chao da
existência". Se é esta a nova orientacao, entao o primeiro
lugar onde se deve -comecar a procurar-6 no inconsciente, ja
que sua localizacao feno.nenologica 6,dentro da profundida­
de. Talvez seja esse o caminho certo, e ja existem outros que
seguem por ele: a psicologia-profunda, o existêncialismo e
nova teologia sugerem que se, des9a, A ,novadnistica 6 dcs:
cendente, como observou o Rev. ,Otis Maxfield. Mao se trata
mais de galga* a montanha dos sete patamares na direcao
do Monte Carmelo ou,de Siao Ou talvez, seguindo a colo-
cacao de Jung, o caminho que conduz ao alto 6 4o, de, b,aixo,
e o que conduz para baixo é o de ,cima.
Não confundamos as ,coisas, contudo, a ponto de. não
fazer a-minima- diferença se:a jornada ,conduz para, cima
ou para baixo. Se descobrimos ser a localizacao da alma —
e da experiênciade Deus— sombriamente interior e de sen­
tido descendente, devemos estar preparados -para uma via­
gem perigosa. As posicoes inferiores (o escuro, o baixo e o
profundo) são os domínios do Diabo e de seu séquito de de-
4 8

direitos a posse da alma, vamos primeiro busca-la. juntos,

50
j mOnios. Descer significa caminhar por um labirinto, e /lies, mo
!a tradicao teologica reconhece que esse caminho leva 4
confrontacao com tudo aquilo que foi rebaixado ao longQ , de séculos:
a matéria a physis, a femea, o mal, o pecado, ' a parte inferior do
corpo, a paixao. Esta, evidentemente, e „ orients classica do processo
de - analise: o retomo a0 mundo das coisas reprimidas. 0 de . ,
1 descendente pode
ocasionar o 'encontro com a base da existência", mas quan­
do Dante passou por ali tambem se deparou,com outras coi­
sas. Por -essa.razao, não conseguiremos chegar a alma e a
experiência de Deus a não ser que o façamos via inconscien­
te, o que significa, nada mais nada menos„que nos defrontarmos com
pecados e males, e-com todo o turbilhão de possibilidades que foram
mantidas fora dO alcance da civilizagab consciente. São estas as
sombras do aconselhamento: A c a p i t u l o s .

especificidade da - descida -sera abordada nos doii altimos


0 inconsciente-e, portant0, a-porta através da qual nos
passamos para"encontrar a alma. E por meio dele que os
fatos comuns se tornam* experiências que repentinamente
adquirem alma, e a significagdo adquire contornos vividos
quando as emocoes sac) despertadas. Foi pelo inconsciente
que muitas pessoas encontraram um caminho para o amor, a
religido, e adquiriram um certo senso de alma. Isto se con­
firma repetidamente na pratica analitica. Masse se formos
procurar a alm a no inconsciente, prim eiro sera Precis0
encontrar o inconsciente. Visto que.encontrar significa reco nhecer, 1
precisaremos recorret : a simples base empirica de como é
possível reconhecer a existência de -lima "coise como essa. Não
devemos estabelecer a sua existência, nem tampouco a da alma
através de discussOes, existência,
ou qual­
quer outra prova direta. Nos tropecamos*em sua realidade;
quando menos se espera, tropeca-se na psique inconsciente.
As demonstracOes classicas :do inconsciente sac) todas
dessa especie. Ele não pode- ser provado. A idéia de sua 50
existência era tida como contradicao logica, pois o que
sena° a própria Conscientia? Assitn, a prova
iliacieaalemveievnaut.me'Passcmos em revista' algumas"'demonStiacdes
do inconsciente tem que se dar sobre uma base >de experien-
uma dechicaO dcriVada* da -expe-
c!a; hipótese,
classicas de sua existência. Valoapcria reexaininar* esse rer=
reno, pois tem-se feito uso' tao intenso da -palaVta incons
ciente em publicacoes contemporantas, que. ASVeZes o leitor
se lig conta da existência de ‘uma pergunta'veemente .no*
e s e n t e t e r e m os o c u l t a r e m l a n t a S m a s e
deuses — inventado uma ficcao' hipostatica. E veremos que
não se trata de ficcao. -• •. -
0 esquecer e lembrar -mostra-nos • que a mente «peide
esquecer determinada coisa, mas não completamente. 0 que
a mente faz é guards-la em algum lugar, para depois traze-
la de volta. Fora do que se encontra a vista na sala de
visitas, ainda existe um sotacr e* um pordo de fatos actimu
lados que permanecem inais' ou menos disponiveis, sendo
pelo menos potencialmente conscientes, mesmo que agora,
neste momento, isto, não'.aconteca.’1 0. heibito também é
outra prova na qual esbarramos.. Dirigimos, fintamos ou
usamos uma faca *de cortat. pao, «desempenhando essas fun
toes em parte conscienter em pait& inconscientemente. So
descobrimos ate 'que pOrito tim habito é incorisciente quando
tropeçam os, quando cai a cinza do cigarro., a cfacaseia, e
nos damos' coma, dO’'que eStamos- fazendo.. AIOs fa lh o s (ou,
com o-forain'denom inados Freud; a psiccpatologia do
cotidiano).demeinstram melhor ainda qu e nãoestamos
sozinhos dentrol de nos thesmos,' gue a personalidade do
ego ilk’ pode controlar tudo e- que, :para nossa* vergonha,
podemos dizer 'exatamente a:palavra errada -ou distorce-la,
dando-lhe um sentido completamente diferente. Esse é um
medo que- seinpre assalta quem vai fazer uma conferencia ou
um sermao. Sem nenhum- aviso, tropeçamos no
inconsciente." • °
a 1
--------------------------- ------ ------------------- , — --------------------------------------------------------- / ____________
jovem psiquiatra em Burgholzli, ele _ efetuou , experiências
com associagao de palavras,rnetodo, ja utilizado anterior,
mente num es,tudo relativamente detalhado por, Wundt, na
Alemanha. Contudo, ao emprega-lo em, seus, pacientes, Jung
descobriu alguns fatos notAveis, spbre„a pique. ;Quando se
pedia para- alguOn dizer,,:,no menor ,espago de: tempo dis­
ponível, 4 primeira,palavra queThe yiesse kcobega, enquan.
to se lie em, alta ,um a lista de c,em palayras, a,pessoa
tropegava, ,e acab,ava,, se ,atrapalharkdo.,. Algumas palavras
levavam vários segundos, outraslperseyeravam,e.efam repe­
tid as e nin g u ém co n seg u ia p asS ar por ,to d as' e m ram
problem a 0 Joco.de atengao e ’,o,contrai e do assunto pelo
ego cafarm por terra. Algo acabaya rinterferindo. Ao exami­
nar as palavras ,que causavam perturbagao, Jun verificou
que elas pareciamestar cuidadosamente associadas, entre si.
Forrnavarn,.,uma “omplexidade, de significagks, como por
exemplo:nOiva, branco; medo, mae, morte Foi,quando
ele cunhou a palavra 'complexo7 para, definir esses feixes
de,idéias carregadas de sentimento que fazem_parte de,,nos;
so constituigao ’psicologica e que,não se„encontram sob_,„p
controle absoluto da consciência.,Ele, tropegara , no :incons;
ciente através :de" sua própria pesguisa e, pomo conseqqn-,
cia, foi um, dos! primeiros a abragar, as hipziteses„de 'Freud
quarto a existência da mente inconsciene., , _
Os complexos podem tomar;se.tao dissociados, da per­
sonalidade do ego, bem como uns dos outros, cos’
englobar
tanta ever id e formas, que, acabam, por tomarrse persora=
lidades independentes. Terms af, outra, prova classica_ do
'nconsciente: o ,caso da,personalidack m ulti la.
H a casos
famosos, coma p de «Morton Prince, as tres,faces cleae a
q u e b r a de M o r t o n P r i n c e , e m e sa d o d e
transe. Sera
a l ma que, uma.yez ,mais, não poderíamos vex. aqui a
disfargada no 'nconsciente2, Se existem personalida,
ra dentro do peito? A 'disSociagao dos: complexos e sua
extrema inconsciênciaa leva a_crenga em espiritos e a expe­
rimenter partes de si mesmo como-projetadas exterior-men­
te sob a forma de fantasmas ou de personalidades:pardial-
mente reais. Nesse sentido, é -possível -falar 'numa alma
assombrada devido a sua inconsciênciaa.
Os complexos, pbrem, erfcitianto leites de idéias tona-
lizadas por sentimentos, podem sefdetectades sem o auxi­
lio do experimento de-askiciagaO,-sem-o'teste de-detecgao de
mentiras cuja base Se-j'apoia na :.assOciagao Tcle' Palavras.
Esbarramos diariamente' em ”110§§ds complekos. -0 incons­
ciente encontra-se sempre e'a .toclo'mOmenta'a nossa frente.
Ao entrar numa sala,"'vemos’ um hortiemThue tememos,
alguem a quem deveinciS 'dirtheirb'ou litha'ffulher a quem ja
amamos; entao, a l'i oSsa*pbStuura, atitudes e exptessão facial
mudam. Acabarrios blbOtkeando norrie, ,00ramos ou tre­
memos. A voz 'pode'dair para um -stiSSUrro,' ou elevar-se,
anasalando-se.'Dizerhos 'cOisis qte* nab tinhanko a intengao
de dizer, tikdo' issb'Oeofitecendo 'sem;noSsO :minima inten­
gao consciente. Em» sbciedade, eneOntranio=nos freqtiente-
mente a merce' do iriConstientee' de 'Sells 'complexoS, quando
nos esforcanios pOtainiPtessionar'Os'outros;.'em nossas ten­
tativas de distanciamento ou ao fazermos exigencias tolas:
Os complekos gbVeriiam,, geaticle- parte de' nossas reagoes,
principalmerite-as ccirhpen§atorias etas inadequadaS.
Inclusive' riao preciSatriOs ’Sreqber eStar 'Com oUtras pes­
soas para qtie" OrineoriSdiente Se d6ie percebei. Esbarramos
nele tOda.*VeZ'qUe tirri'estado de' animb"nOs 'domina. E esses
estados' ,aparecem Tser' chamados', mudando e tecendo
complexid'ades. Um sina*de-quenhOuve ativagad do incons
ciente são as mudangas e os altos e baixos dos estados de
animo.'Não "São apenas os 'repentes; os acessos de raiva, a
intratabilidade e os e§totirOS permitimos 'frente a
riossOS' filhos e"-eSpOsas’1(nias- não permitimOs a eles),
mss' tambem OS'6stadds"-de fi‘riirrio regem as invasões mais
profUndai- de mudang'as';'de ritrrio;' de periodos de inflagao
des multiples, não estarfamos, em linguagem tradicional;
falando de uma multiplicidade de, almas, n a alma possuida
52
por demOnios ou dividida,em varios fragment e em g uer-

54
de criatividade, de tristeza e apatia prolongada, de aborreci,
mento, tedio e melancolia. .E quando tentamos diferenciar
conceito de amino e emocao do de inconsciente, e ainda d0 conceit0;
de alma, deparamo-nos com grandes ' dificuldades, pois desde o
mundo antigo :essas nogOes sempre estiveram muito ligadas, como
ainda, estao. Pesquisas quanto a locaii, zacao da alma dentro do
corps sempre foram confundidas com a busca da sede do
emogOes. _Por ,que as emogoes e a
alma se encontram ;t5o, estreitamente ligadas? Antes d e mais
nda, porque a experiência da, alma e a ;das..emogOes sac)
idênticas. E. pela emock que temos, o sentido exagerado de
alma: honra, magoa; .ansiedade e o de .nossa própria pessoa.
Pela. emocao temos a percepgao, de não estar sozinhos em
nosso interior de não nos controlar totalmente, de
que existe uma sutra pessoa , (mesmo que seta apenas um
complex0 consciente) que .também tem alguma coisa (e fre-
quentemene não pouca) a diner quanto ao,nosso com por­
tamento. Assim, o encontro da alma por memo do incons­
ciente também é mais, uma descoberta na, qual tropegamos.
Cahnos em emogOes, humpres, paixões e descobrimos uma
nova dimensão:que, por mais que, tentemos fugir,,,acaba nos
levando para baixo, em direclao aormundo de nossas profun-
Quanto mais se penetra, nesse, mundo essencial de si
mesmo, ,mais se sente que os pro- blemas. pessoais adquirem
uma dimensk) humana, e que as verdades essenciais, e próprias
de nossa individualjdade_se tomam"uniersais exatamente coos
as Tmnagofics da teologia., .8 come se:a analise profunda
conduzisse a um centro estran,ho e escuro, analise
se
de Deus.
tom a diffcil distinguir o inconsciente da- alma e da imagem
.8 por essa razao, e não por interesses religiosos disfar-
gados, que o analista.acaba se,envolvendo tanto com pro;
blemas de religião. Não somos padres fracassados.que nab
seguiram a vocagao certa. A, alma e o inconsciente estao tau 54
alma, que somos levados, queiramos ou não, a afirmacOes
sobre Deus simplesmente porque as descobertas mais des­
concertantes a seu respeito acabam surgindo, no desenrolar
de uma analise. Quando Jung alerta para o fato de a psique
ter uma funcao religiosa natural, ele não esti fazendo pro­
selitismo a favor de uma religião.natural ou de algum inte­
resse religioso disfarçado, embora hoje em ,dia ,muita gente
esteja se valendo de Jung para escorar conviccoes pouco
firmes.
A funcao religiosa natural é inerente ao processo da
analise. 0 modo peculiar que, a analise tem de modificar
uma pessoa e a evidencia dessa" mudança (sob a forma de
"cura") é surpreendentemente semelhante aos modelos da
religião. Caracterizando, o processo de maneira mais breve.:
a analise comeca com o recolhimento e a purificacao: Esse
trabalho prolongado e com características de labirinto leva
a revelacao de uma verdade e a uma nova visdo de si m es­
mo, com mudanças de atitude que se expressam por meio de
uma linguagem de renovacao, conversão ou renascimento.
Finalmente, tudo isso a confirmado pelo testemunho, d e­
monstrado de maneira vivida no dia-a-dia. Conseqüente­
mente, o analista acaba voltando-se para a religião em bus­
ca de entendimento adequado para os fenomenos que pre­
sencia em seu próprio trabalho.
0 inconsciente também transparece nos sintomas; não
apenas sob a forma de afetos, personalidade dividida, esque­
cimentos ou atos falhos, não apenas nos sintomas,
psicológicos, mas nos sintomas ffsicos, quando não existe
causa de origem organica,. nenhum dado, nenhum traco ou
razao logica para eles. Ainda mais: ha sintomas que são
organica; mente demonstráveis, a que mesmo assim são
classificados como psicogenicos. 8 evidente que, eles não
são causados pela personalidade consciente ou pela vontade,
mas sita. pelo
inconsCiente. „
_ _ ? _
Ndoe mais de causar surpresa que esses ,sintomas pos;
interligados, e os problemas da religiao são ;CO vitals para- a

56
milagres do tipo Selec5es do Reader's Digest; ptiblicados en'
artigos como "Por queminhas-^dores de cab4a melevarait
a Deus". Contudo, 6 convívio "prolongado com o SOfrirrien.
to, com a encainacao de algueni eni "'uni* corPo que 6 ator­
mentado sem nenhuma razaci aparentei-sofrer a aflicao de
JO mesmo permanecendo fiel a 'Deus com ci 'Maximo empe­
nho — esta,'0" lima experi8ncia humilhante quepode des­
pertar a ali na. Os sintomas hum ilham ; Ele relativizam o
ego, rebaixando-o. A simples curados sintomas pode;-qtian-
do muitci; restituir b ego a sua'posigacranterior de doinfnio. A
humilha'cao dos sintomas* é ilina'das maneiras de nos- tor­
narmos humildes, e "essa é a- característica traditional "cia
alma. Falamos "muitCr dess& virtudeorem 'sabemos pouco a
respeito' de suas manifeStagOes.' Não 'se pode 'sintoniza-la 'a
um simpleS' toque de b'otao,'pois a humildade naci"e •COni.
petencia' do egO. Entretanto existe algo "assim c o m a 6 im a
humilhaOo‘Positiva, qUe'nâo é nem rejeicao; nem masOquismo
ou ruptura,- e qtfe se encontra bem mais perfoda humil-

- Se os sintomas' conduierm a alma- a "cura" 'deles tam


bém pode "cura4a", livrando-a do -que esta..cbrnec:and0 a
surgir, inicialmente" de 'fOrma"tortUrada e chorando em.busi.
ca*de ajuda, COnsolo e anior; inas.'qUe é a alma deritro da
neurose tentando fazer-se 0uVir "tentando'impreSsionar- a
mente estdpida eleimosi L- ess'a mula impotenterque insis­
te em seguir o-seu Caminhabbstinado'e sem mudanças. A
reacao a um ••sintoma poderia 'ser bem mais de boaswindas
do que de lamentacdes'e Tiedidos de reinediosc* pois o sinto­
m a 8 o p rim eiro escudo «da' psique q u & d esp erta;,o
quer mais tolerai nenhuin abuso. A e 'qtie n pSiqUe recao
por meio deles. E- atencao SignifiCa atender,cLlamatenderatenpara; um
certo cuidado term,: e signifita igualmente esperar; parar
e ouvir. Istb 'nos custa' um=bom terripó 'e'exige uma grande
dose .de paci8ncia. 0 que todo sintoma-necessiti exatamente
cuidado e atencaó catirihosa.' E .6 'essa mesa e
ma
atitude que a alma precisa Para ser sentida e Otivida. Nat) é
de espantar que Cluase'Seinpre seja necessário 6.-SUrgimentci
de uma depressão ou uma doenca verdadeira para alguem
chegar, por exempla, a relatar as experiericias mais extra-
0rdinarias de um novo sentido de‘ tempo,' de paciericia e de
espera, e -em linguagem 'de viiferibia religiosa,* de chegada
ao centro, de encontro consign mesm o, de abandono e
entrega.
Os alquimiStas tinham °Uma" imagem excelente p a fa
expressar a transformdcao do sofrithento'e do sintoina em
valor espiritual. Um dos 'Objetivos' do 'prcicessCi-'alquimico
era a obtencao da perola de raro valor. A perola tem inicici
com um fragmento durb; um siritOma_ neurótico ou uma
queixa, um 'agente incothOdo e- irritante no ponto mais secre­
to de dentro da came, do qual nenhuma couraca pode nos
defender. Ele é recoberto e trabalhado dia apps dia, ate que
o fragmento acaba se transformando numa perola. Mas m es­
mo assim ela ainda.precisa ser buscada »nas profundezas e
depois aberta para libertar-se. Quando, entao, o 'fragment0
ja se encontra redimido, pod& ser'utilizado conk) joia. Deve
ser conservado junto ao calor da- pele para manter o seu
brilho: o complexo-redimido,"e-’ que antes causava sofrimen­
to, surge agora :aos blhOs de •todose'cmo uma -virtude. 0 te-
sotiro eXoterico, cOnsegUidori atraVes - do trabalho oculto,
transformOu-se emesplendors eXoterico. Livrar-se db-sintoma
significa desperdiçaria- chance dCconsegiiir acjuild que-uth
dia podera ter um grande valor, mesmo que de— inicio" se
apresente sob uma-forma inSuportavel; irrifante é como alga
b a i x o , d i S f a r c a d o . — •-• • - - -
Ma's a principal-_ inaneira de o' inc6nsciente=tolocar-Se
em nosso caminho, a via regia, COnforme a denOminacao de
Freud, é 0'sonho.- 0 sonhoó um simbdlo 'em si -mesmo,-iStO
é, ele reune o cOnsciente e-o'inconscientejuntando'inco-1
mensuráveis e opostos.- De' um lado eSta .a .nafureza: con,
teticlos e processds' psíquicos 'naturais, esPOntaneos-e, objeti­
vos que independem da 'Vontade. De cititro lado, mente:
palavras, imagens,- sentimentos, padrOes e estruturas. Tra­
to-se de uma ordem sem sentido ou de uma desordem estru.
turada. Todas as noites o lado inconsciente da psique lanca
uma ponte. Todas as manhas, quando por um momento
da estamos no sonho, vivemos o simbolo e ficamos imersos
nele, unidos em uma realidade existêncial, como se rude
estivesse realmente acontecendo naquele momento. E sse
estado, contudo, é difícil de ser mantido. A pressão do dia
impulsiona o ego. 0 polo consciente da, psique solta o seu
lado da ponte, Tropeçamos em nossos sonhos, e com bas.
tante freqiiencia o fazemos apenas para chuta-los pap um
c a n t o .
A atitude junguiana classica em relação ao sonho
muito bem expressa por um termo que eu tomaria empres­
tado a analise existêncial (os existêncialistas tem um jeito
todo especial 'com as palavras e freqüentemente conseguem
atingir com simplicidade o que os analistas vem fazendo ha
décadas com floreios e curvaturas que podem sugerir emo-
cao de uma grande descoberta). A expressão 6: "tomar-se
amigo" do sonho, (to "befriend' th e dream ), ou seja, parti­
cipar dele, entrar em.suas imagens e animo, querer conhe-
ce-lo melhor, entende'-lo, brincar com ele, vive-lo, carrega-
lo, familiarizar-se com ele, enfim tudo o que se faz com um
amigo. Familiarizando-me com meus sonhos, conhego me­
lhor o meu mundo interior. Quem vive em mim? Por que,
de repente, me afasto assim das coisas? 0 que 6 recorrente,
e portanto, vive voltando para permanecer? São animais,
pessoas e lugares, preocupacoes que 'me piedem atengao,
querendo tomar-me seu conhecido e amigo. Pedem-me para
cuidar deles e dar-lhes importancia. Essa familiaridade, de­
pois de algum tempo, produz a sensagao de estar a vontade
e em casa com uma familia interior, o que nada mais é que
a vida em comum e a comunidade comigo mesmo, um nivel
profundo do que também pode ser chamado de "espirito
consangiiineo". Em resumo, a conexão interior com o incons­
ciente conduz novamente a um ,senso de alma, a uma expe-,
riencia de interioridade, um local para onde os significados
58
aa^rafiiÉrBciaaipaató
le itigar habitavel e de ampla movimentacao para a expe-
pXãmmtí^icidlLErBsrn^
Ebjna^
0 habit° de valorizar os sonhos, que tom a o mundo
riencia religiosa, de que falamos anteriormente, comeca a
vivianís
s e
o r r n a r
• ?
interior habitavel, pode muito bem comet

ar dentro da fami>
lia. A mesa do cafe da manha, assim como se conversa sobre
o que vai haver hose na escola, ou vai-se telefonar ou fica-
se simplesmente lendo, o. que_esta ,escrito ,na caixa de ce­
reais, pode-se também mencionar uma imagem ou fragmento
de um sonho, da com isso ao inconsciente um lugar
dentro da familia. ,Isto. pode ser feito abertamente e com
simplicidade. Não 6, necessário interpretar o sonho de uma
crianca, nee mesmo explicar a todo mundo por que alguem
f
sonhou isso ou aquilo» Sera suficiente colocar o sonho em
contato com a vida difiria, e que, sua realidade subjetiva
seja admitida, permitida e valorizadca o mundo da familia.
Freqüentem ente, interpretar e expl_ 6 uma racionaliza-
cao. E porque haveríamos de fazer um crianca ficar enver­
gonhada de seus sonhos„ou mesmo sentir que são mein ma-
lucos, esquisitos ou im p ró p rio s ?
Os significados das imagens dos sonhos, não podem ser
os que a mentalidade do ego lhes confere. Se ,isso aconteces
se não haveria mais, crescimento, haveria apenas a dilata­
n d o do ego, uma nova p a x ro m a n d ,a qual todo e qualquer
element0 estranho ou,alienigena teria de se submeter. Em
nenhuma outra situacao o velho aforismo: "o conhecimento
deficiente é uma arina .perigosa" «se faz mais pertinente do
que em relação a interpretacao de sonhos. Parece que os
orientadores pastorais reconhecem isso instintivamente quan-
do afirm am com freqiiencia que "deixam os ,sonhos em
paz", como se estes fossem pordemais profundos e dificeis,
sendo necessario conhecimento e.treino especiais para a sus
interpretacao. N inguem nega essa verdade, mas,. mesmo
assim, se o ministro.deve serum pastor de almas, com° the ^
6 possível ignorer essa vciz 'essential-da alma; e Considera-la
uma mensagem adequada-somente para 0 entehdiniento de
freudianos oU'especialistas Junguianos? Apesar
fMPjJjdes dificuldades, -devembS nos 'aproximar dr:is Sonhos, nia«
i'!;i 'íiUffl
I; jf i
de uma outra forma, de uma maneira que não seja.especifij
I camente a dbs espeCialistas,-mas.qUe tenha inn. enfoque sim-
no traballib paroqbial.
i f f j f p l e s e pratiab;:ValidO tantO a'nieSa do café 'Clam'aril quanto Deixembs
'tlaro, cc:610 Tonto de partik: 611 :le não se

trata' deseguir-o Vito de Freud; onde 'antes havia id, deVera

ii
denbis haver ego. Coriferir •aos*-s'onhcis,'ds' -significadOs. da
mente»racidnal—6 simplesmente substituirAd POI' ego: Desse
modo, a interpretagdo a c a b a r a ^ e ^ ^ ^
e transporter conteridos de um lado para o ouo da Poste:
E a atitude de querer arrancar algrima ceisa do inconscienie,
usandO-o-Para gashes infOrmaCoes, forCa-e energia — exPlo ragab'que
e'ltotalmentefavoravel ao egO:' isto ' tem que 'ser their, e'so meurE
'uma atitucie fragrneritadord do simbolo, o qual. "6 justafhenteb
'pont° . d e juricao 'dostdois lados da psiqUe. E' isto leVaria':'a trachizit;
o sonho par algtima 'coisa conhecida aSsirir corto' um Sinai’ ou Um '
rotulo: rat Coisa 6 um substituto matemo aquele biCho 6.'o «Seu
iinprilscisekrial; aquelaS colinas d vales São o . Cenário do lar .da stra
infancia e‘ dos. seus desejos infantiS. Interpr'etaCOeS. tab -raeibna
lizantes e que tentarr substitUir o id pelo ego, trabalhatri, ha
verdade-nO sentido'de drenar o inconsciente, acabain por reduzir- a sue
extensão 6 por esvazia-IO'—ein'sumi,-Constituem nutria Serie' de
'atitudes "hostis' que estao niuitotlOngi
de procurer fazes sonho -um-, anrigo., Quand& o'Sorrh°
dividido em conterido .iriacional-e-SignificaCao racibnalila-
dora, ocorre a fragrhentagab da psique. 0 'swill0 Gibe a cede
manha oferece a oportUnidade de curar a nossa Casa diVi-
dida, acaba sendo Violado, :deikando .nOsSaS feridas abertaif,
que deve ser trabalhado ou aPiaPado com técnicas analiti-, cas,
observado e espreitado de pontosestrat4icos. 0: mais grave,
porin, é ter de encara-lo como realidgde cuja
cia tera de ser destrufda, ^ y erd ad e que existem situações
nas quais os sonhos reftetem um:Par1Ono se avolumando,
um estouro de gado, uma, tempestade marinha; ou uma
n h a em c o m p l e t e e n t a o , f e z - : s e i n e c e s s a r i o t r a, ,
zer esclarecimentos racionais que ponham a cabeca no lugar,
Mas o mais importante ,sera sempre a atitude mantida na
relação com o sonho.,,
Uma amizade procura sempre manter a ligacao fluindo
abertamente. A pijmeira _coisa nesse enfoque não,interpre-
tativo sera dar,lhe tempo, sem saltar para nenhum tipo de
conclusão que possa seriixada como resposta. A amizade
pelo sonho comeca com a tentativa simples de ouvi-lo. e
colocar num papel ou .caderno apropriado suas palavras
exatamente como. aparesem. Para isso, toma-se um cuidado
especial conn cr, tom dos seus sentimentos, com o nosso esta­
do de anirno: a° acordan e as reacOes emocionais durante
o sonho;„prazer, medo, ,surpresa. Ser .amigo é aproximar-se
do sonho pot: meipdo,sentimento. E, assim, cuida-se dele,
recebendo seus_sentimentos como se fossem os de uma pes­
soa real„com,.a qual,iniciamos umcontato.Prestamos aten,
cao ao que o amigo esta dizendo„sobre quem ele ,nos fala,
ao local em que a hisOria sepassa,,Normalmente a cena do
sonho reiane poucas pessoas, qua_se_ sempre umas quatro e,
conseqirentemente, a apenas essa a_mensagem especifica que,
nos esta_send°,transmitida. Se„durante algumas noitesape-
nashomens aparecem em «meus, sonhos,_ sei que algo esta
acontecendo com meu lado masculino, que todas essas figuras
representam yarias maneiras, de ser homem, tendo cada uma
delas u m a q d rid especial de características, num macleo corm
plexo 'que representa um fator saliente de minha personali­
dade. U m h o m e m é particularmente ambicioso, outro é um
astro ,de futelpol 4gil,.esperto e_ manhoso, o terceiro é indis­
tinto e tem o,olhar., tugidio. Todos são possibilidades que se
numa desordem rimida e sempre fenoVada em nivel inferior;

e coberta p o r uma ordem sempre nova é seCa na .superficie


60
E quando o inconsciente.se tranSforma em inimigo afluente,

62
abrem;partes de m ire mesmo, complexos da minha natureza

I que influenciam o meu comportamento. Os sonhos podem elevar-me


jas companhias 'ritais -nobres;' deixar-me em aeroportos pronto para voar
je desaparecer a qualquer moment0. Também poderri colocar-me 'em
! .quartos iinpessoais de hoe que não- pertencem a lugar -nenhum de
que me lembre ou deixar-me deslizando por escarpas inclinadas,
luminosas e geladas em 'meus. caminhos, recobertos de. metal.. 0 -sonho
esta sempre dizendo:—"Olhe onde voce se coloca, veja quem esta com

A historia que-um amigo nos corita co mega em algum


lugar, tem comego, meio e fim , t , como todas as .historias e
dramas. Eu ouzo onde o sonhb come ga porque isto estabe­
lece a afirmagdo- initial' de stia preocupagao; e como o ho­
rário e o lugar impressos -em um programa de teatro: -manha de
um die de infancia, uma rioite no escritatio depois que todos
foram embora e so eu acabei ficando, ou entao o meu quarto' de
casado.-Também devo-prestar atengao a maneira que de cotem de
construito seu,enVolvithento para atingir cy climax, as vezes
£ S o ° C e S P i t A f W Õ - I t e b r a s c o , -ou vai sea
Embora scjàm-ncccssarios-
gdo para conseguir interpretar -bcmmr/o.s anos de familiarize_
um sonho (ja que, se
trata realmente de um trabalho de especialista, envolvendo
periciae arte ao mesmo tempo), ndod preciso grande habilidade
nem conhecimento especial para tomar-me seu ami„0l Não ha
dificuldade em permitir que o amigo caminhe eni devaneios,
tecendo as tramas do sonho e, a essa altura,, o o b s e r v a d o r
to as
pode- perambular, fazendo associagdes,
ampliando ou relembrando incidentes,-, jogos de palavras;
paralelos biblicos, mitologicos ou- fatos semelhantes já ‘vis­
tos em filmes Deixo-o falar e converso t om ele, ao invés de 62
partir para analises e interpretagOes.'Ao fazer isso, nos diri-
girrlos as suas imagens e estados de animo, encorajandb-o a
continuer a narrativa. Aqui é necessário tomar cuidado no
sentido de respeitar* e considerar a dignidade e6 valor de
sua atm osfera e im agens, e a m elhor m atieira de chegar
a isso é através das mesmas reatoeS corajosas que São'.a 'alma
de qualquer amizade. Encorajando o 'sonho; a,coritar a sua
historia, dou-lhe oportunidade de apresentar a sua v e rd a ­
deira mensagem, sett tema iiiitico,aproXiMando-ine, dessa
forma, dos mitos que atuam em mini, de minha "verdadeira
historia vista por dentro, .ao_invés de anotar, a historia de
um caso visto de fora. Tomo me'-meu próprio niitologb, o
que. originalment& .significa " contador" de historias"
Desta -forma o orientador paStoral podera; certamente,
comecar a ouvir Os sonhoS juntamente com as outras 'histf5-
rias que surgem eni seu trabalho. A narrativa onirica não e
nada mais que 0 aspecto interior da historia exterior. A m e­
dida que o orientaCior pastoral 'vai ouvindo os sonhos, sua
audigao vai se -desenvolvendo, tomando-se mais agugada;
assim como acontece t om o contador de histotias ou de pia­
das. Foi assim que' Jose a Daniel ouviram. E o orientador
podera ouvir ainda melhor, '.caso adiante a identificagao
como esses analistas' biblicos, coisa quo na verdade significa
não cair na tentagdo de dar interpfetagoes autoritarias. Nab
se pode considerar esse enfoque comb amadorismo
psicológico, pois os sonhoS;riaO são p.ropriedade eXtlusiva da
psicologia. .Houve um tempo 'em que eles eram levadcis aos
homens mais santos para; serem interpretados. Os sonhos
pertencem tanto ao religiosO- quanto ao psicólogo pot serem
"A Linguagem. Esquecida , de Deus" • (afirmacao do Rev.
John Sanfordem livro do 'memo titulo). Amadorismo seria
abordar os sonhos*tdm instrumentoS*psicolOgitos ainda não
suficientemente dominados. Seria proptio de amadores ten­
tar interpretagOes •anal iti Cas sem aquela •devogao e respon­
sabilidade com o‘inconsciente, sem aquele'conhecimento_ do
material objetivo simbolico, Os quais -tecem o contexto da
formagao^onirica e toda a Ciência da sua arte. 0 sonho sem-
pre foi universalmente considerado umamensagem de kn «
portancia e, as vezes, de procedencia divina. Por isso mesmo o
interprete,tinha que ser um,homem_a parte a fim de Con.
seguir,manipular asforcas:que se libertavam,durante a reve.
lack). Isto não sofreu nenhuma, mudança fundamental, ape.
sar de todos os estudos,cientificos a_respeito...E o simples at
de tomar-se amigo dos sonhos não podera resolver-lhes a
perplexidade e nem a linguagem o_ bscura. 0 destino continua
a fazer-seanunciar por ;pejo_ dos sonhos, e as', vezes o que se
pressagia;e me.smodesgraca, sendo que na*realidade, com
freqUencia,,p,puca „coismpodeser. decifrada. Mas apesar de
todos os intrincamentos e menos‘ amador, menos diletante ser
amigo, brincar e fantasiar, o seu prolongamento», pois este
Opo ,de exploracao vai encontrar, o sonho, em seu próprio
terreno, imaginativo, permitindo-lhe, revelar-se mail
extensamente. As manifestacioes oniricas fazem parte da hn-
manidade, com um ,_e melhor„aborda4as por meio dessa
humanidade .do ,que tentar estrategias. e _tecnicas especiais.
Quando o ministro de hoje comeca a ouyi-las, ele assume
noyamente.uma parte de: sua missão pastoral no c,uidado
das almas. H o j e e m . dia, cuidar,de almas significa dedicar-
se ao inconsciente. 0, ,yrrinistro peide faze-lo de acordo.com
o seu ipróprio,funclo arquetipicos a sua própria maneira,
sem ter que. recorrer ao.emprestimo de, metodo clinico ou a
linguagem psicoparolOgica da psicologia:
Caso_;se, imponha ao orientador, a escolha entre -,ser,
amador de sonhos ou encaminhar a pessoa a nii.psiquiatra
para receber "ajuda profissional", deixe-se, entao, que ele
seja.suficientemente ousado a pont() de representar e Ibriri-
car. A representacao podera manta, a alma -viva. 0 amador
que tem consciênciaa de estar. ,briricando e rrepresentando,
que conhece a sua própria ignorancia e confia no .Sonho
como um guia, podera, causar muito menos dano que esse
tipo, de profissional que tende_ a desconsiderar o sOnhdlem
favor da psicodinâmica e das drops. Aci ouvir >os sonhos,'o
orientador estard, pelo menos 'atento,a alma das pessoas;
mestrio que não sea cap de relatar em linguagem profis-
ue esta acontecendo. 0 orientador pastoral que se
sente amador
sional ° q
H°dricnualotu,reexziagindo de quem tenta entender o seu significado rola
ingenuidade altamente improfissional; 0_ amador, em psicolgia,
ou "amante da psique", exatamente devido a sua atitude
humilde e aberta em relação ao sonho, tem a chance de afirmar-
lhe o valor e de reconhecer-lhe a importancia sem depender do
conteirclo* S6 pela atitude ele ja consegue valorizar e
reconhecer esse produto da alma, fazendo o mesmo com a
própria alma em sua fun* criadora, simbólica e
cade surpresas. Não seria isto abençoar a alma, pois não e uma
grande bendo para apsiqueeseas sonhos inclusive para o sonhador
— receber tais reconhecimento Nos sonhos inquietantes de
terror, repletos de ima-
e confirmacao?
gens feias e de crueldade, é freqüente esquecermos que o
inconsciente nos devolve o que the demos. Como num espe­
lho. Se eu fujo, ele me persegue. Se eu me coloco muito
acima, ele é um abismo a meus pes Se sou nobre demais,

ele me manda sonhos indecentes. E se eu lhe voltar as costas,


ele me atrai e tenta fazer-me olhar de novo, valendo-se de
imagers sedutoras. 0 golf o entre o consciente e o inconsciente
estreita-se na medida em que conseguimos,sentir em seu
favor, dando-lhe algo de nos mesmos chegando a viver com o
inconsciente da mesma forma que com um amigo.
A absorcao. continua com o nosso mundo interior .leva a
experiências com esse mundo interior, experiências que lhe
são sempre favoraveis. Elas podem ter pouca ou nenhuma
ligacao com o mundo de fora, ou com o encontro de solu-
goes. Isto é, podem não conduzir imediatamente a uma idéia
ou projeto novo, ou mesmo a solucao de um problema con­
jugal on de trabalho. Trata-se mais de experiências de fates
de nossa própria vida. Estas experiências são, na verdade, a
renovacao_. da • capacidade de termos experiências, de nos_

65
transformarmos num ser que experimenta...Os deslumbra,
mentos, as grandes sensações e a ansiedade por esse tipo de
coisa acabam por desaparecer_Ao desenvolver-se a capaci­
dade de experimentar e amar a vida tal como ela e, precisa­
mos de menos acontecimentos porque temos mais
experiências. Esse crescimento é o crescimento da
alma,.exatamente como a descrevi anteriormente, ou seja: ela
toma possível a existência de um sentido, transforma fatos em
experiências, comunica-se através, do amor e tem uma
implicagao ou interesse religioso..
0 interesse religioso difere do teoldgico ou dogmatics,
pois este. toma as experiências em posicoes ja estabelecidas
na vida mental ou exterior, colocando a alma no centro da
profissão. 0 interesse religioso da psique aparece mais sob
a forma, de simbolos espontâneos que tem representações
similares na religião, assim como a cruz dos adversarios, a
crianca em perigo, o jardim, a montanha,, a 'passagem e o
guardiao, a fonte, o vento, .o deserto e _o_ bosque de arvores
sagradas — imagens freqUentes nos sonhos. Ou, entao, essa
implicacao surge através .de,motivos expressamente
sos: a importkcia do amor, a luta contra o mal, o exterm í­
nio do dragao, a conversão ou cura milagiosa. Ou ainda sob
a forma de insinuações ou percepcOes referentes a imortali­
dade, eternidade, metempsicose e questões sobre a morte, o
apos-vida, o julgam ento da alma, o que é certo para ela,
onde ela se encontra e para onde ira depois. Em outras
lavras, a preocupacao_religiosa, toma-se uma manifestacao
espontanea de cada um ,de .nos, quando a alma é reencon,
trada.
0 dogma e a teologia tamLiem assumem significack
nova, pois, de um lado, as, interrogagoes e imagens da alma
podem nutrir-se do acervo da religião tradicional e, de outro,
um senso de experiência redescoberta traz juventude a tra,
dick, conferindo-lhe novos significados como prolongamento
de uma religião que esta se revelando continuamente.
Equivale a dizer que a revelacao cessa quando se perde a

66
alma, e esta não pode mais of erecer experiência e signif i-
c e
aos mitos, simbolos, fbrma e proyas basicas. Para a
psicologia, o que vem primeiro és a alma; depois a religido.
Marro assim, a alma nab_atinge a plerlificacao sem concre-
5

tiz a r o seu envol vi ment o rel i gi oso. _


Talvez não se possa dizer se .e psicologia ou religião o
que vem "primeiro"..A atitude simbólica da psicologia, que se
origins na experiência, da alma leva ao sentido da_, pre senca
oculta e numinosa do divino, enquanto a fe em Deus conduz a
visas simbólica da vida, na qual o mundo 6 pleno de signif
icacao e de "sinais". E como se a almconduo a na esco-
5

lhesse entre psicologia e religiaq,porque uma z natu


r a N<i présente câpitlilocrclembrei as ^ “ “SmeW&alSfirclas-
sicas do inconsciente, para construir o embas
mental, empiric0 ou fenomenologico para o use correto da
palavra "inconsciente". Evidentemente, pretendi fazer mais
doque isso. Quis deixar ver que, por meio do inconsciente’
tambem nos deparamos com a alma. .Por ele emergem con-
figuracoese significados sãodescobdo individual. ertos: sente-seo daftmi uma liga-.
cao viva com o passado — .o passa
lia e o do povp. 0 mito peculiar a nossa indivjdualidade (pai,
herói, discipulo ou mestre; aquele,que cura, guia, serve ou
engana) funde-se,as imagens miticas e simbPlicas de toda a
raga humana e, através da emocao, somos levados a experiênciat
que, as coisas importam, e importam muito! Entao sentimos que
toda escolha tem ,seu peso. E, o que ,fizermos de nos mesmos,
de nossos corpos,,coracoes,e mentes,impor tara tanto que "o meu
valor e dignidade, e a importancia de minha própria
individualidade e pessoa crescerão k cada nano embate com
o inconsciente. Em outras palavras,,eu ganho, alma ao
vimenciar o inconsciente. Principalmente,por
meio aos sonhos, _ao_ fantasiar e minnam1
acoer mundo interior, a
alma scups mais espiaco em inha vida0 , tends mais peso em
61,
minhas decisi5es; ou ,seja, ela, adquire mais realidade
c o n c r e t a . -

67
A16m do mundo conhecido de minha realidade mental

(introspeccoes, fatoS que me preocupam, pianos, observa,


goes, projetos e pensamentos) 'e da realidade dos objetos a
minha volta, podera desenvolver-se um terceiro dominio que
é uma especie de inconsciente conscientizado: E assim com0 I
uma realidade de tipo não exatamente concreto, não dirigi,
da, não comandada, não objeto, e não Sujeito. Elatam W m
não é totalmente eu. E, antes, alguma coisa que acontece
corm o, Ela não me preocupa como um projefo ou um a
introspeccao, nem'a relaciono imediatamente"com o mundo
conosco e com podemos senor a conexão
natureza. Podemos chorar, explodir ou
deixar dancar a sensualidade, discutir com Deus, examinar
imponderabilidades, e encontrar, sem meditacao que se guie
por uma compulsão ativa ou rigores extremos, sem LSD ou
"experiências com drogas", uma vida interior chegayido a luz.
Não me ocorre maneira melhor de descrever a entrada nesse
terceiro dominio - de_ realidade psíquica que reside entre a
mente e-a materia (e que talvez-govere ambas de uma forma
que ainda desconhecemos) do 'que relembtar Jung. Ele diz
que na pratica freqüentemente a solugdo não é analisar, mas
entrar no sonho junto com o paciente e

Somos levados a conclusão que a redescoberta da alma


através do inconsciente resulta num_interesse ao mesmo tempo
teologico e religioso. 0 primeiro surge quando procuramos
formular essa vida interior religiosa com todas as suas
complexidades contraditorias e relaciona-la aos 'dogmas oficiais
sobre a natureza de Deus. 0 segundo aparece na presença
redesperta do mito interior e de um sentido de desti®
no o sentido de que, de alguma forma, estariamos p re­
destinados. Estar destinado implica a existência de uma for­
ca transcendente que chama, escolhe ou expressa alguma
coisa através de nos, uma forca ,que dasignificacao. A co­
nexão interior com nossas vidas enquanto ritual, existente
em n õ s como um simbolo da humanidade comum a todos os
homens, remitologiza o curso dos acontecimentos, devol­
vendo numinosidade as coisas do mundo.
A conexão interior também constrói a ponte de ligacao
com a interioridade de calla homem que venhamos a encon­
trar no aconselhamento. 0 mundo interior do sonho, das
emocoes fortes e do sofrimento é sempre humano demais e
tragicamente o mesmo para todos nos. Isso não depende de
nivel educacional, de cor ou nacao. A morte de um filho,
o chime no amor, o pavor da escuridão da noite, o envelhe­
cimento, o pecado e o remorso: todas as imagens e
experiências de m inha alma são as mesmas da tua alma.
Esse campo de realidade psíquica imanente a cada um
transcende as diferenças individuais que existem entre nos,
dando-nos uma linguagem comum, baseada em nossos mes­
mos tipos de experiências. Através do inconsciente nos re­
encontramos todos a experimentar a parte de imagens e
emocoes que nos foram dadas coletivamente.
Observações como estas, colhidas na pratica, forcam -
nos a concluir, quanto a teologia, o seguinte: o movimento
no sentido de desmitologizar a religido, de ajusta-la aos nos­
sos aridos esquemas racionais, é comprovadamente equivo­
cado. Assim considerado, Deus esta realmente morto. 0
Deus morto é um Deus desmitologizado e desentranhado de
emocoes. Ele é uma invencionice mental sem realidade
psíquica. I possível que uma religião assim possa
convencer a mente de um modo mais racional — embora eu
tarnbem duvide disso. Contudo, de qualquer forma esta
sera uma religião que não conseguira prender a alma
exatamente por abandonar o inconsciente onde a alma
necessa'rio deSmitol°gizar a religiao para it ao encontro d0
homem modemo? Não poderíam os eScolher alternativa
do envolvimento com o inconsciente' e, a partir daf, religar,
mos o homem modem0 aos seus mitOs? Talvez dessa mane
interesse religioso" natural,
ra venhamos novamente a nos deparar com a alma e o seu
III
A escuridão interior:
o inconsciente enquanto problema moral

Uma grande dificuldade do trabalho pastoral, no to ;


cante a imaginacao do leigo, é a .discrepfincia natural que
se origina entre a moralidade que se prega e a que se p ra­
tica. Supoe-se que o ministro seja um paradigma da ruptura
entre predica e pratica. A "nova moralidade" da nova refor­
ma trouxe este conflito a tona e buscou uma solucao atual.
Entretanto, as mesmas sombras estao surgindo também
no trabalho analitico,. Do mesmo modo que, se, discute a
etia das profissoes juridicas, medicas ou dos servicos
publicos, agora, pelo fato de a nova analise separar-se de
seu contexto psiquiatrico, vindo a formar seu próprio
campo, comeca-se a assumir a realidade da etica analitica.
Os problemas morais constelados nos setores dedicados ao
servico de finalidades mais elevadas são mais espinhosos,
sendo aqui a divisão entre o bem e o mal particularmente
estranha. Parece que enquanto tentamos iluminar, buscar
a verdade e fazer o bem, um lado oposto cresce com a
mesma intensidade. um fenOmeno tao independente da
intencao de nossa consciência, tao dificil de ser enfrentado
com firmeza e igualdade, que, gradualmente, uma
dissociacao acaba por nos dividir. Na melhor das .hipoteses
aguentamos a tensão, sofrendo a dor moral. Na pior,
reprimimos a rutpura e o mundo se ressente dela como
hipocrisia e, traicao. Muito dificilmente se resolvers, a
divisgo entre predica e pratica, consciência e sombra, forca
da loucura e forca da sabedoria, escolhendo-se um em
detrimento do outro. Forcar a pratica aos molcles da
predica, comp fazia a velha moral, ou perrnitir clue a
pregagao seja levada e, delimitada pelos fatos da pratica,
como o quer a nova moralidade, apenas sufocard o
conflito, sem resolve-1o. Ambas as ceisas es0o enrai-
zadas na psique humana, tendo sua autenticidade pi-6pda.
São dois campos de acao, e talvez a mao esquerda e a mao
direita não devam revelar seus segredos uma ,outra. Tal­
vez exista uma SOlugao hielher que 'favorecerinn lado esque­
cendo o outro: poderia ser o desenvolvimento do meio, o
lugar intemo e obscuro onde fica o coracao. Uma das inten-
cOes deste capitulo '6 «fOcalizar eSse 'desenvolvitnento.
thentalidade popular, quem- esta no pt. l lpito deve
identificar-se com. -a moral," e querri ^senta* na cadeita do
analista deve apoiar ide o desejo desenfreado, sendó por ­
tanto' contra'a moral. COnsequentemente 'espera-Se que os
conflitos de religiao epsicologia se coloquem não apenas
em termos de quem teria direito mss' tambem de
quem defenderia a moral, '6 quem*' dada um jeitd de nos
desfaiermos dela •-'por da analise., Olhandb inaiS de
perto, verembs ' que eSseS papóis,* hOje,'curiosamente se in-'
verterani." Na' Moralidade, atual, como se. fez 'apregoar em
certos pólpitos, transpareee' in •tom notavelmente —liberal
de abertura para a vida e para o amor, que era bem próprio
do seculó- XVIII. Para escapar a Mao asfixiante"-do' vitória-
nismo de uma certa moral e no esforço 'de av an çar, essa
nova moralidade parece ter saltado ainda mais- para tras,
para o terreno anterior a epoca da rainhaV itaria..'
Quanda se garante que Deus se ,ericontra tanto ha-sala
de jantar quanto na Igreja, tank:) nas 'relagoeS „ humanas
quanto- na rel4ao de DeuS com os «homenS, quandó a
justificative doS" atos aeaba basear-se na -profundidade
do amor entre as peSsoas', o '. que realmente acOntece é uma
surpreendente' distorção •contemPoranea - de dois preceitOS
agostinianos: "Ama efaze =o que quiseres", e "Ulna coisa
somente ê ordenada-aoS cristaoS, ou seja: o athor".1 Todas
as questões morais deveni Set; decididas so 'em Telagao ao
amor. "Pois n a d a m a is revels 'seuina coisa é certa 6u erra­
d a " ^ Pergunta-se quem eStaria, ncissoS dias, liderando o
1 A. Nygren, A g ap e a n d Eros, Philadelphia, 1953,
2 J. A. T. R o b i n s o n , H o n e s t to God, S . C . M. p. 454.
ataque a antiga moralidade. seria, talvez, exatamente
a nova
N es

altíssimas de nossos dias, o Sr. Mundo


Frio aparece sob a forma de Faustos :rapazes, de cabelos
curtos e caras barbeadas, perainbulandO ao lOngo dos eor-
redores do Poder. Eles são Os indicadOs para os altos postos
governamentais. São os que desembolsam os reeursos *das
Fundações e dirigem as grarideS Empresas. Esse modelo natur
ral do pensampnto cientifico afeta a psicologia,e' a teologia
do mesmo modo que o modeló techicomedico,afeta o psico
logo e o pastor. rNinguem mais q:uer estar desatualizado. Isso
era coisa do passado. Agora, chega! Creio ser a nova mora­
lidade, sobre a qual escreve 6 bispo Robinson, uma tenta­
tiva de acompanhar a atualidade possível de ser racionalizada
como uma "evolucao de acordo com os tempos". As igrejas
querem estar dentro da vida, ter .atitudes adequadas A
egunda ,metade do século XX,seus ministros não querent
mais assumir atitudes morais que contradigam o seu próprio
tempo. Assim, a nova moralidade deste século 6, uma rou
pagem teologica para as tendóncias mod,emas. Pod6-se ler
em H onest to God:
"Não é mais necessário, porem, pro,var a neces-
. sidade de uma revolução na moral. Essa revolução ja
irrompeu ha muito tempo, e não se trata de uma 'trans­
form ação relutante'. Poi: 'aqui OS ventOs' inudanca
ja forniarain um poderosO vendaval" (p. 1'05).

TrafO-se de uma jUstificacao 'ex p o st facto, o recOnheei-


mento de uma 'revolução e de um novo regime não d e jure,
mas d e factO : E preferível navegar em mein ao yendayal que
ser derrubado como uma rigida torre cujas pedras, enne-
tanto,:estao" se desfazendo. Supoe-se que â nova realidade
teriha surgidó a partir do trabalhO de Freud. As descobertas
da psicológia profunda são o cenário de fundo "ciehtifico"
p: 119.
72 da nova libertacao. Eu gostaria, porem, de, salientar que a
73
analise é um procedimento moral 'que pode ate apontar a
salda para o dilem a entre a velha e a nova etica.
A confrontacao com o mundo interior, dentro das ca­
racterísticas que ja nos referimos, pode, no inicio, ser uma
experiência einocionante e inflar a personalidade. Abre-se
uma porta reveladora de um mundo. De repente coisas ha
muito esquecidas ou consideradas sem importancia adqui­
rem uma forte sensibilizacao. A infancia 6 revisitada e ja
se pode voltar ao lar. Veridades enterradas transformam-se
em verdades florescentes, passando a ter novo sentido inclu­
sive aquilo que sempre foi pregado aos outros. IssO tende a
ocorrer frequentemente na terapia. No ,comego não se con­
segue esperar para contar o próxim o sonho, a próxim a
revelacao do inconsciente ou a sessão ,seguinte da analise.
Por fim as coisas acabam se ajustando e ha energia para
levar o processo adiante. 0 contato inicial com incons­
ciente é uma experiência vitalizadora, como se uma fonte
de ha muito estagnada pela indiferença passasse a fluir n o ­
vamente. E o que se encontra são exatamente essas imagens
energeticas: o leito de um riacho se enche de agua, uma
lagoa parada comeca a fluir, surge uma manada de animais,
um cavalo vigoroso em um campo verde, uma geleira que se
derrete, dinamos, turbinas mecanicas ou docas de partida de
transatlanticos, estacões rodoviarias, aeroportos e fronteiras.

Uma longa jom aela esta para comecar; mas o entusias­


mo e a inflacao próprios do inicio, e sem os qirais ele difi­
cilmente poderia ser empreendido, acabam invertendo-se —
assim que o navio deixa o porto, ou o trem sai.da estacao,
a jornada transforma-se numa odissdia perigosa, numa aven­
tura no mar notumo ou no deserto, onde se é possuído pela
total forca fantasmagórica do desconhecido.
Ou entao aparece um bebado que mal consegue segu­
rar o copo, ou o nouveau riche, o grande perdulário, o milio=
nario grosseiro, o maquinista de um trem, ou todos os Ude,
res arrogantes da politicke da comunidade. A nova energia
se desviou, sendo assimiladk pelo ego sob a forma de rom­
pantes, ostentacao e poder:
Freud foi o primeiro a descrever o que se pode encon­
trar quando a porta do inconsciente e aberta: nos descemos
e realmente damos- de cara com a escuridão interior, mer­
gulhando nela. E como é escuro ai dentro! 0 inconsciente,
como vimos no capitulo anterior, não pode ser consciente;
a lua tem um ladotoculto, o sol se poe e não pode brilhar
em toda a parte a um so tempo. E mesmo Deus tem duas
maos. Para haver atencao e foco é necessário que outras
coisas fiquem fora do campo da visa°, permanecendo no
escuro, pois não se pode olhar para dois lugares sim ulta­
neamente. Entretanto, a escuridão a assim por duas razoes:
primeiro, por ser riecessariamente reprimida (o mundo tao
cuidadosam ente estudado por Freud) e, segundo, por não
ter tido nem tempo, nem Lugar para vir a luz. Essa é
também a escuridão interior, o chao ou a terra de um,novo ser,
a parte que, se encontra "in poten tia " e que vem a ser culti­
vada pela psicologia junguiana. Ai se encontram o Passado
e o Futuro. Por tras da escuridão reprimida e da, sombra
pessoal — daquilo que ja era e que esta apodtecendci, e da­
quilo que ainda não e e esta germ inando encontra-se a
escuridão arquetipica, o principio do não-ser, que foi de­
nominado e descrito como o Demonio, o Mal, o Pecado Ori­
ginal, a Morte, o Nada Existêncial, a prim a matéria. Volta­
remos em breve a esse'assunto: ,
A, experiência da escuridão.interior que Freud descre­
ve e a confrontacao viva com a nossa própria natureza re­
primida. A besta emerge da gruta onde esteve deitada longo
tempo adormecida, e temos terrores notumos, acordando
molhados de suor. Um cadaver ou mumia ancestral ressus­
cita. Surge um vasto.pantano anis da igreja ou da casa pa­
terna,- e dali se arrasta um monstro pre-histOrico com um
longo pescoco falico vermelho, e quem nega a sua própria
animalidade fica imaginando como podera ter sonhado uma
coisa dessas. Um criminoso, uma crianca retardada, fezes
74 75
vez que o ego menospreza suas próprias yirtudes e talentos,
estes passam a incorporar-se a figuras onfricas que se apre­
sentam sob a forma de ,marginais, ou seja,-seres que foram
marginalizados pelas duras leis com que edificamos nossa
sociedade interior. Assim,.estes potenciais deverão aparecer
como uns fora-da-lei,'desajustados e ate mesmo aleijados e
lunáticos. Curar os cegos e leprosos, tessuscitar os mortos
tom a-se uma necessidade intema, quando se quer trazer
sande a personalidade.

A experiência dos simbolos da escuridão pode se dar


não apenas em niyel dos fatos relacionados aos pecados e
crimes da Vida de c a d a um, mas também dentro de uma
visa° mais am pla do desenvolvim ento humano. Hercules
teve que, limpar a imundfcie dos estábulos de Augias; teve
que canalizar verdadeiros rios de energia para realizaresse
trabalho impossível.•Também teve, que dominar o leao das
am bicoes e da sede de poder pessoal e estar pronto para
sujar-se nos, estábulos. ,Ulisses precisou, defrontar-se com o
gigante do olho faminto, o demOnio unilateral da co m p u l­
são, antes de prosseguir em sua jornada,, Em algum lugar
ha sempre um monstro a ser enfrentado, um ser horrendo a
exterminar, um impulso a ser ultrapassado. Em algum lugar
um anjo nos espera para uma luta corpo-a-corpo antes de
podermos atravessar o rio. E quando se esta sozinho no d e­
serto, que tanto pode ser o subtirbio de, nossos dias e,o pre"-
dio de escritOrios, quanto, o que mencionavam os primeiros
padres da igreja, ,demonros de todas as especies, se aproxi­
mam: os que tentam, seduzem, pervertem, provocam pro-
jecoes e os que nos iludem._Ha sempre uma, base de apoio
para cada queixa que, surge e, quanto mais devastadora
fascinante ela for, tanto mais certos poderemos estar de que
existe um embasamento arquetipico empregando um sinto­
ma como simbolo, o qual, se melhor compreendido, é não
apenas um sofrimento patolOgico, mas a chance de trans­
formar-se numa experiência religiosa.

7879
A 'cura da sombra se apresenta, por um lado, como
problema moral, ou seja, o reconhecimento daquilo que foi
reprimido, no rriodo como exercemos essas repressões e nos
enganamos por meio de racionalismos. Trata-se de descobrir
quais os nossos objetivos, e o que ferimos e ate mesmo mu­
tilamos em nome deles. Por outro lado, a cura da sombra é
um problema de amor. Ate onde ira esse amor por nossos
mundos partidos e em minas, por tudo aquilo que é desa-
gradavel e perverso dentro de nos? Quanta caridade dedica­
mos a nossas fraquezas e doenças? Ate que ponto nos per­
mitiremos, construir internamente uma sociedade baseada no
amor, onde exista vez e lugar para todos? E' se use aqui a
expressão "cura da sombra", é para enfatizar a importancia
do amor. Se, na tentativa de curar, coloco a "mim" como
centro, frequentemente da-se um desvio de objetivo, que se,
apresentara como cura do ego, ou seja, como uma maneira
de toma-lo melhor, maior e mais forte de acordo com suas
aspiragoes que, geralmente, não passam de copias mecani-
cas das aspiracOes da sociedade. Mas se estivermos, tentando
curar aquelas nossas fraquezas congénital, fixas e intrataveis
de teimosia e cegueira, mesquinhez e crueldade, arrogancia e
hipocrisia nos defrontaremos com uma nova necessidade de
convivência onde o ego precisa escutar e servir, ccoperando
com uma horda de figuras desagradaveis e sombrias e, ao
mesmo tempo, precisando descobrir a habilidade de amar ate
mesmo a mais insignificante dentre elas.
Amar a si mesmo não a coisa facil exatamente porque sig­
nifica amar tudo dentro de.si. inclusive a sombra, onde somos
tao inferiores e socialmente não aceitos. 0 cuidado que se
presta a essa parte humilhante também e cura. E mais: pelo
fato da cura depender de cuidados, cuidar as vezes não sig­
nifica nada mais que carregar. 0 fator de importancia p ri­
mordial na redencao da sombra e a habilidade de carrega-la
consigo, como o faziam os antigos puritanos, ou' os judeus
em seu exilio interminável, dia apos dia, conscientes de seus
pecados, espreitando o Demonio e em guarda contra um
escorregão numa longa peregrinagao existential com uma
carga de pedras as costas, sem ter ninguém em quem desear-
rega-las, e sem destino c e rto onde chegar. Entretanto, nada
disso pode ser programado para se desenvolver levar a
inferioridade a estar enicomplacencia 'com os objetivos do
ego, pois em tal atitude não existiria amor 'algum.
Amar a sombra pOdera comegar pelo fato de carrega-
la, mas mesmo isso não sera suficiente. A um dado momento
uma outra coisa.devera' irrOmper: aquela compreensão que
ri do paradoxo de nossa própria loucura, que também é
igual a de todos os homens. Ai, entao, podera surgir a
compreensão de tudO aquilo que é rejeitado e inferior, um
caminhar junto e mesmo uma vivericia partial desse m un­
do. Esse amor podera mesmo precipitar a identificagao e o
agir de acordo com a sombra; levando-nos a cair' em seu
fascinio. Ai esta a razao'de- nunca podermos abandonar a
dimensão Moral. Conseqüentemente, a cura é um paradoxo
que requer dois incomenuraveis: o reconhecimento moral
de que essas partes em'mim são pesadas e intoleráveis, pre­
cisando mudar justamente com a aceitagao amorosa e riso­
nha ,que as receba exatamente como são, com alegria e
para sempre. A um so tempo lutamos arduamente e deixa­
mos o barco correr, julgamos com severidade e aderimos de
bom grado. Moralismo ocidental e abandono oriental: cada
um se atem apenas a um lado da verdade.
Creio que a atitude paradoxal da conseiencia com
relagao a sombra encontra um exemplo arquetipico no mis­
ticismo religioso judaico, onde Deus tem dois lados: um de
retidão moral e justiga, e outro de MisericOrdia, perdão e
amor. Os chassidim stistentavam o'paradoxo e suas narra­
tivas mostram uma profunda devogao moral associada a um
surpreendente sentido de prazer pela vida.
A descrigao de Freud do mundo-sombrio por ele desco­
berto não fez justiça a psique. Era uma descrigao por demais
racional. Ele não dominava bem a linguagem paradoxal
falada pela psique, e não conseguia ver com clareza que
cada imagem e'experiência contóm um aspecto prospectivo
8081
e um redutivo, tanto um lado positivo quanto um negativo.
Ele não conseguia distinguir, suficientemente o paradoxo do
lixo em decomposigao ser também fertilizante, da infantili-
dade*ser também espontaneidade infantil, da perversidade
polimOrfica ter um lado de alegria e libertagao física, e de
poder o'mais feio dos homens ser o redentor dentro de um
disfarce.
Em outras palavras, as descricoes de Freud e de Jung
não são duas posigoes conflitantes e distintas. Ao invés dis­
so, a visa0 de Jung deveria ser sobreposta a de Freud, am­
pliando-a por adicionar-lhe uma nova dimensão que toma
os mesmos fatos, as mesmas descobertas mostrando-as, entre­
tanto, como simbolos paradoxais.
A mesma complementaridade a verdadeira com rela-
gao as Concepgoes junguiana e freudiana de analise. As re­
gras de. Freud eram rigorosas e os freudianos de agora con­
tinuam a guiar-se por regras estritas quanto ao metodo da
analise, ao relacionamento entre o analista e o paciente, e
quanto ao comportamento que este paciente devera ter no
mundo 'durante o period0 de analise. Tais.regras passam a
constituir um novo codigo moral, uma nova orientagao do
superego bastante assentada nos padrões de comportamento
e atitudes do analista. E o seu objetivo é garantir que,
desta forma, havers o minimo possível de manifestagoes
concretas do material que surge durante a analise 'sob a for­
ma de awes, expressas.
Devido ao, fato de as foigas da sombra,poderem, por
um lado, ser tao dinâmicas e, por outro, tao anti-sociais, a
contengaomoral se faz necessaria porque o material que
esta sendo trabalhado apresenta essa qualidade primitiva e
infantil própria da-sombra. Contudo, do ponto de vista jun-
guiano, existe uma outra justificativa para a moralidade
analítica, bem como um outro enfoque para a sombra. A
moralidade reforga o receptáculo onde a personalidade po­
derá desenvolver-se. Vamos- considerar isso mais,de perto.
A sexualidade, em particular, 6 constelada pela som­
bra, tomando a partir dal uma vida nova. Elajcomeca a in ­
corporar significados de liberdade e prazer, de idade adulta,
potência e criatividade. 0 'mundo se tom a sexualizado, e a
sexualidade parece confirmarse enquanto existência, como
se fosse Uma verdade basica em si mesma. A vivência desse
aspecto do inconsciente, nos da a' impressaa. de que Freud
estava certo do comeco ao fim. >~ óbvio serem imensos, os
perigos: de uma expressaó indiscriminadamente concreta do
material. Eclode, entao, um conflito hem dificil entre. a.
nova libido e a:velha moralidade. Parece que_esse estagio -
de penetracao- no mundo da sombra esta envolvendo a nossa
scciedade como um •todo, principalmente se nos .debruçar-,
m o s s o b r e os ú l t i m o s v i n t e a n o s . •.
Outros aspectos morais como agressão, ódio, orgulho
e poder, preguiça, desonestidade e falsidade de atitudesjam-,
bem pertencem a sombra do sentimento e merecem consf,
deracao dentro dos aspectos de.uma nova moral. No traba-,
lho analitico, esses aspectos não são menos„iirgentes que a
sexualidade. Entretanto, porque a nova moral parece se
exprimir em termos de amor e. sexo, e porque amor .sexo
são estandartes contemporâneos sob os quais se.travam ba-,
talhas ate mesmo de ordem educacional, legal é politica,
somos tambem obrigados a considerar essa, questão. Entre,
tanto a verdadeira revolução, que esta se operand(); na alma
individual não é tao .sexual quanto psíquica e simbólica, e
uma luta por uma experiência totalmente nova .de realida­
de (experiência que no. fundo é a mais_ antiga religiosa
possível). E esse desejo, de yansformacao só em suas
gens se apresenta, pela fantasia sexual dessa realidade
quica.
Detenhamo-nos inicialmente sobre as respostas aos pro-.
blemas de amor e sexo que nos: Oa a nova moralidade. Ela
parece sustentar que a luxuria e o adultério não poderão
ser moralmente condenáveis, desde que se deem entre adul­
tos conscientes e no exercicio de suas vontades, contanto
82
que ,não ocorxam em, pilblico, que isejam profundos, signifi-
c a t i v o s e n a b q u e se b a s e i e m n o a m o r , o u
seja,.no reconhecimento, da pessoa do outro. Na verdade, o
bispo Robinson diz:,,;,
assercoes sobre Deus são, ultima anali­

se,"asserções sobre o Arrior — a base e a significacao


exiremas do telaCionamento Fieskoal.3
A'fe- em Deus é 'a "eonfianca, a quase inacreditavel
confianca e'certeza de que ridsrsa cloaca0 extrema no
amor signifiCa apenas não set- cOnfundido, "Inas
'aceito',,que o am or e :baSe essencial de nOsso ser, a
qual' retornainds" ,
Sera _que. " significacao ", "transcendencia ", "profundi­
dade" e "inocuidade" são critérios adequados para o amor
de alguem quando através dele se justificam, a luxiiria e o
adultério? Ou mais,.quando através desses critérios 6 a Deus
que se esta reconhecendo? Não haveria gradações de trans,
cendencia para evitar que tudo o que fica.do. outro lado da
fronteira do meu ego não venha: a ,ser classificado como
absoluto e •divino?-Seriar possível a existência de: um' amor
sem envolvimento e de envolvimento sem magoa? 0 .que
nos dizem os,mitos de Cupido e. das> Guerras Troianas, dos
grande s. amantes: da historia, e .os amores' que tivemos em
nossas 'vidas? .Mesmo que o amottraga ’Significacao
ele vai. abrindo, novas feridas enquanto cicatriza as outras
mais antigas não 'oferece protecao alguma contra o 'seu
despertar; por. vezes destrutivo.
._ O amor pode se dar em muitos.niveis, e. o .consultorio
do analiSta e do oricntador-pastoral ,6 alugar onde desem­
bocam muitos ambres, nos quais as pessoas deram o maxima
de’si mesmas e chegaram ao seu extremo com intenções
bres e sentimentos profundos, tendo certeza que o.amor era a
base de suas: vidas, o sentido do reencontro .e ate mesmo a
' H o n 'e s t to God, p. 105.
• 4 Idem ; p. 49.. •
83
experiência de Deus e de transcendericia, e tudo deu errado
— horrível, assustadora e, as vezes, suiCidamente errado.
A 'questa0 a' ser levantada 'quanta a- nova moralidade
não é sabermos se ela 6 moral ou mesmo teologicamente
inatacavel„mas, sim, verificarmos se*ela é psicologicam en­
te valida. Estara W riest to God em harmonia com a vida?
Quando deslocamos Deus 14 de cirria,„ou de um lugar fora
de nos mesmos ,e o colocamos,nas prafundezas, a imagem
mais ,cheia de taro e n u m in o sid ad e; passa de subito a
ocupar os do,mInios que anteriormente,eram do Demohio.
Como, entao,,' paderemo,s, julgar :a origem, dos impulsos de
amor que nos chamam dessas profundezas?, Como p o d ere­
mos identificar os espiritos que acordam la em baiio?
Pois, não. nos deixemos enganar, «enfase. avassaladora
da nova moral sabre, os relacionamentos pessoais (sobre, a
sua totalidade, profundidadee envolvimento) conduz inevi­
tavelmente a 'questão do relacionamento sexual., t ..raro ,um
ocorrer .sem a outro, a não_ ser que, se -tenha conSeguido um
grande desenvolvimento ,psicológico. Pela; menos .a. nova
moralidade e corajosa ao defender as implicacoes, sexuais
de um .envolvimento total.. Mas,,, novamentek seria mes­
ma psicologicamente valida? -
A sexualidade não a apenas uma dadiva criativa que
entregam os ao, outro, tam bém , uma Jorca dem onfaca.
Mitos que, mostram o cultivo da .consciênciaa, como os de
Hercules, e Ulisses, o epico de Gilgamesh e os rituais pri;
mitivos de iniciagao atestam,que o aspecto demoniac0 deve
ser domado ou evitado, sacrificada, o u __encontrar resistên­
cia. Precisamos ro n h eceru m pouco da escuridão, intema
que cantamina,o nosso amor. 0 aspecto sonibrio da sexua­
lidade, especialmente em nossa: cultura milenarmente repri=
mida, precisa.ser liberado de seus componentes incestu67
sos, tornando-se, ligado_ ao amor ao •elacionamento, ou
seja, esse aspecto tem que ser primeiramente desenvolvido
e cultivado. A nova moralidade faz distinções insuficientes
e apoia-se num criteria basica que é o da p ro fu n d id a d e .

84
as o psicólogo das profundezas,tem :alguma coisa a dizer
sobre o que, Mora la no fundo._-As imagens dos sonhos, os
contos de fada a os mitos nos .falam com. suficiente .ab,un-
dancia do mundo inferior habitada por. imagens maternais,
feral, incêndios,, falsas noivas monstros com. os quais o
herOi tem que se:defrontar inicialmente antgs de conseguir
tin
ag it o seu. bispo, reino e chegar .ao estado de e ornem, antes 1:
Woo de
t o r n a r - s e h u m a n o e p o d e r e n t e n d e r o q u o de
with quer dizer, quando laia de amor. 0 amor romantico é
apenas uma doce'_resposta_ eng adanor a endereçada a um
mundo arid° e tecnologizadO; esse amor. 6:_apenas. o. reverso,,
a enantiodrom ia que parte da realidade de eficiencia do
menino FaustO el se volta para os anseios is do gina .tant1"1" psic O-

que
f i c o u p a r a A r d s . Co e n o r m e f r e q a (e t a o
Com
logos quanto orientadOres. s. abem muito ben) na nobre inten­
ção de um .amor pessoal e prof undo, ao entregarmo,s'a forca
suprema de nosso .amor,. nA, vArdade o que, acabamios por
entregar e nosso m onstro ..mais inferior, para alguem
tom ar canta.
Presumir que, toda experiência de amor emana daun Base
D ivina do' Ser, im aginar que uma significacao profda-
mente pessoal se .sobreponha ao fosso e as barrecriterio ra _paris dos
i n t r i n c a m e n t o s do . a m o r e q u e I s s o . p o s s a s e r
justificacao. de 'um ..am or não santificado, ba ser ci
re g lig n ÊJsanerfe
l e v a d o ao a m o r p o r A l m a f i l o s o f i a q u e , a c a ado
o .seu lado perigoso, (pois se Deus 6 amor, entao, o come-co
da,sabedoria e a m e d o do amor) e eom inar essa ignarancia
ingênua ."Honesto para coin Deuds"n. (Honest to God), vem.
apenas' .testemunhar toda extensão desse amor que ainda
vive som bra..M elhor seriadenom inar a nava m o 7 ralidade
do amor com.° " Ingenuo_ para. com Deus,".„Um psicólogo, ,não
.obstante. leigo em assuritas de Aeologia, espera
mais de um a "nova reforma" do que a merarsubstituição
da imagem de um Deus "nas alturas" por timoonceito igual­
mente ingenuo do amor " aqui e agora": Embora e.steja esque
to 'q u e 'que tudo e m Deus .6 amor, sera clue isso significa
85

85
todp amor é Deus? Quando *o' amor é adorado como 'Deus
— não importando que forma esse afeto venha a ter, quem
venha a da-lo,.em que alturas ou profundezas Se encontre
— não estaríamos' erigindo- um idolo, infringindo de' uma
so vez o primeiro e o*segundo mandamentos? E esses man­
damentos não pesarn mais sobre a moral teologica que o
sexto e o nono, que hoje em dia parecem exercer ,estranho
fascinio sobre nossos ministros? .0 psicólogo teria que per
guntar a seus colegas ministros: Por, que .voces se
xam prender-por esses sofismas e simplificacoes? Por que
voces obscurecem as hierarquias .da transcendencia e dos
illtimos fins, negligenciando os mundos de diferenças (tra­
dicionalmente expressos por pianos de existência e classes
de anjos) entre os niveis e 'os .tipos de 'amor? Por que
voces traficam alucinagenos, achando que eles ocasionam
visoes beatificas? Pot que voces confundem as «vozes de
complexos' autonomos com o dom Pentecostal de falar em
linguas? .Como .voces'conseguem,equacionar o ,mergulho de
cabeca numa paixao com o encontro do olhar de Deus?
- 0 amor' e mais complexo que suas emocOes, da mesma
forma que Deus 'e mistério e_não entusiasmo:Diferericiai
as suas complexidades-e uma longa iniciacao que' apenas
no ponto de partida é cair de cabeca e ser acendido por seu
fogo, envolvido por. sua fumaca. 0 amor deveria ser eluci­
dado: levado a luz (igualmente, a teologia, enquanto estudo
de Deus, é um longo processo de elucidacao,- um caminho
em labirinto). Tornamo-nos .desamparados ao e*tremo ante
a experiência arquetipica do amor; e quase 'nada entendemos
do, que se passa; mesmo suas epifanias'são apenas aberturas
para 'ainda' maiOres possibilidadm de .amor. Ninguém esta­
ria louco a. ponto .de acreditar-se teologo-da noite para o
dia,,embora muitos aleguem o.equivalente a isso depois 'de
uma noite de amor. E o:que seria daqueles que não tiveram
a forca .nermagloria .de'entregar o maxirho de si mesmos no
amor? Estariam banidos do Reino? E como se na m oralida­
de da nova reforma houvesse uma velha doutrina de predes

86
tinacao, de atualizados',' e: "Ailtrapassados", ou.seja; apai-
xone-se ou deixemos! esar ^ sua ousadia de
R esum indo, a nova moral, ap
dar a mensagem de amor de Jesus, uma interpretacao vital­
mente modema, não, é_ psicologicam ente valida, porque
oferece uma respostageneralizadora. E nap, ha resposta geral
eficiente em conflitos..morais; em nivel psicológico,.os con­
flitos morais são sofridos individualinente por :meio de
ses que.não são atingidas nem por _pregacoes, nem por cosec
NUm verdadeiro conflito moral, que .6 a, foija da per­
sonalidade e da intensificacao d carate, o individuo esta
sozinho para martelar a resposta0 ein seur.coracao. 0 código
moral iiincionacomo martelo. 0 quc-intep
uma bigorna e a crise individual como
um r e s s a a r a o c u l t i v o p s i c o l ó g i c o é q u e
tais conflitos existam. A moralidade que remover a fonte
do conflito e atenuar o papel da culpa, diminuindo a impor;
tancia de= sermos dilacerados na cruz dos opostos,.não sera
mais.moralidader mas um novo tranquilizante teologico, ao
qual se resolveu denominar Amor.
eles e$ W § d P °rclue
primeiro, intensificam o
conflito, sem a.co n sciên cia não ex istiria e,,segundo,
favorecem a interiorizacao. A analse não _defèdade exteimoialnde o codigL
o
- s i m p l e s m e n t e l p a r a f a v o r e c e r ‘u m a m o r a l i um
formalism0 ou. uma.etica social. A.,analise preocupa-se
nom .desenvolvimento anfor,. doeros„e_ d a ,sexualidade
to nivel interior do próprio,, individuo. este desenvolvi-
nento não é favorecido por se levar amor as vias de fato.
Repressão e desregramento são os dois.las de.,umaden mesma
moeda. Um terceiro.caminhopoderia ser cdo hamadQ ter7
nalizacao .ou_Nivencia do -imlx,lta'lvcz Eroasmaisti e. cltivado agtodas
aves
de um a i n t e m a l i z a c a o intensa, as
atividades, viSto que eros, .por definição é. imptilso,„nos
lanca_ao .mundo e ao efivolvimento com pessoas coricretas.
Vivenciar eros internamente 6,.na verdade, Aim op u s contra
naturam. (um ,trabalho Contra a natureza). 0 próprio
87

87
so amoroso guarda em si as sementes culturais da intemali-
zacao e da vida simbólica, que não sac) sublimacoesimpostas
de cima pela Vontade, razao ou etica social. Tais sementes
são a regulagao autogovemadora, auto inibidora_ do. pi 6- pH°
instinto através da consciência. Poemas„cartas, presen­
tes de amor são gestos não redutfveis-a sexualidade fun
nal que, entretanto, mesmo entre os animais sob a formacl°
de
corte e rituais de acasalamento são _a própria danca e o colo­
rido do amor. 0 jo g o liberador e imaginativo que acom pa­
nha os enamorados 6 parte integrante de eros e demonsira
de que forma o op
au s' contra naturam tam bém 6, al-
mente, naturl e instintivo. paradox
Toda disciplina mistica reconhecia a importancia da
mtemalizaCao'para o cultivo de eros,-e impunha fortes restrigoes
a vida 'erotica. Não 'estou aqui querendo prescrever p r a t i c a s
de a s c e t i s mo , nem
é atu alm en te, vivido no ndo. A ' intemalizacao não
en p r o s c r e v e r o a mo r como
6 o - tinico caminho em sem pre é .a eit E,
contudo, hora de criar condicoes discutir a resposolucao., pois
ela não desapareceu, apesar de ter sido esquecida pela d e­
nominada revolugao sexual contemporanea, sem falarmos
do fato de a interiorizacao estar colodada entre as doisas
mais. urgentes da pratica analitica. Assim, aponr a rele,
vancia psicologica das disciplinas asaticas poderá" ser Can,
apesar de não constituirem em si mesmas nosso campo de
estudo e trabalho. Estudando-as, defrontamo-nos com per-
cepcoes e ensinamentoS arquetipicos que mostram que o ser
humano, devido a uma distincdo de sua própria humanidade,
precisa ser iniciado nos mistérios do amor. E se Deus é amor,
isto não devera nos' causar estranheza.
As disciplinas tradicionais, entre as quais se encontra
a ao alquimia, preocupavam-se principalmente com a transfor;
m da c o n s c i ê n c i a , ou c om o que
rar o desenvolvimento da personalidade em seu poderfamos conside-
sen tido ma is
profundo. A redengdo da personalidade subjacente e, prin.
cipalmente, de um eros subjacente.(desamor,-egofsmo, apego
sem envolvimento, iaidade e vida superficial, primitivismo
da sexualidade e sexualizacao dos ,sentimentos, precipita-
cao e compulsividade, desperdicio de energia em fantasias
erOticas repetitivas) tambem constitui preocupacao central
da analise. Portanto, pode-se aprender muito sobre o de­
senvolvimento da personalidade a partir de disciplinas mis-
ticas, como a alquimia.
Na alquimia chifiesa e na ocidental, antes de se come=
car o grande opus, ou seja, o experimenlo com a natureza
propriamente dita de quem o pratica, era necessário voltar-
se para o próprio coracao e examinar suas atitudes morais,
salientando-se a importancia das virtudes cardeais: forca,
humildade, paciência, castidade, amor, santidade, fe, espe­
rança, bondade, oracao, equilibrio, e assim por diante. De
um modo ou de outro essas virtudes entravam a todo m o­
mento na alquimia. Era um assunto intensamente moral.
Moralidades igualmente intensas podem ser encontradas na
yoga, nas disciplinas católicas, no sufismo,'no shamanismo,
no zen e ()Wm.
Havia um idealismo espiritual fdefinido e forte mora­
lidade. E o caso de 'perguntar porque. issO se fazia neces
sari°. 0 alquimista •rccOnhccia a escuridab interior e o lado
sombrio da personalidade que se liberavam durante a trans-
formacao de eros. A m oralidade oferecia uma protecao
redentora quanto ao lado corrosivo, sulfurico e passivel de
explosoes da natureza: ou seja, as emocoes fortes e os dese­
jos reprimidos. Os principios morais eram guias práticos
para se lidar com o violento Deus interior. Ele, enquanto
Solniger ou Deus absconditus, poderia destruir a criacao de
baixo para cima; da mesma forma que o Altissimo manda
para baixo as pragas de gafanhotos, os raios e os
A moralidade como algo imposto de cima deriva-se do
modelo de teologia de um Deus-nas-alturas. Esse mesmo
modelo teolOgico, p,orem, baseia-se riuma idéia arquetipica;
uma afirmacao da pgiquc quanto a existência de algo acima
e alem dela. A alma não é tudo; existe 'alguma coisa_mais
BB
alem. Se todas as afirmag8es foremfundamentalmente refle-
xties da psique, as reivindicacoes da teologia quanto a per_
feicao ser ascencional e o espírito ser superior a psique e ao
corpo são advertencias* da alm a a si mesm a, dizendo:
"— Olhe para o alto!!! A localizacao de Deus nas profunde­
zas talvei possa implicar uma nova moralidade, dirigida au
imanente transcendente, ou seja, o interiormente profundo lo­
calizado aomcsmo tempo mais alem. Essa interioridade que
esta alem e concebida imaginicamente pela alquimia como
os olhos luminosos dos_ peixes dos mares profundos que sa6,
ao mesmo tempo, as estrelas distantes das ,alturas. Esse pro­
fundamente' interior que se encontra alem é o aspecto suksma
na linguagem_ oriental, o fator que se encontra alem do nivel
Material exoteric0 das coisas.'>0 alem interior é o ultimo
alvo da conexão interior._ Um auto-relacionamento, que se
estende a tudo o qUe se encontra alem do ego. Esse domi-
nio da realidade psíquica sempre aponta' para alem de si
mesmo, transcendendo-se e, assim; impondo uma moralida­
de que exige um processo de transcendencia. Processo de
transcendencia quese aprofunde cada vez mais, que va mais
e mais longe. Poderíamos denomina-lo impulso 'moral do
process0 xle individuacao. Mas, cinde quer que se «coloque
o valor final; 'esteja DetiS no, interior 'ou acima de nos,
_e esse aspecto de "alem" que orienta o impulso moral. Conse­
qüentemente, as virtudes morais petmanecem como imper,a7
tivos psicoldgicos, como apelos de- algo alem do ego, não
importando a localizacao do Deus teologico.
Concomitantemetite, p d rta n to , a necessidade do tonfli-
to moral, temos agora a. segunda justificativa psicolOgica
para a moralidade. 0 próprio desenvolvimento da personali:
dade impOe normas ao ego. A personalidade, como um todo,
pede a ele que faca- sacrifícios, por ser ,uma ,de spas partes
i nt e gr a nt e s . 0. ego é, p o r va l o r e s e p r i n c i p i o s que
são "super" ego, na medida em que estao acima do mesmo
e o transcendem. 0 processo de tratisformacao impOe, tais
limitações, a fim'cle que o ego possa servir a' esse dcscnyolj
vitnento de forma adequada. Sob esse enfoque, tais atitudes
e conceitos da moral tradicional são:valores transcendentes,
assim como as filosofias idealista e kantiana sempre afirma­
ram que as virtudes cardeais são fatores de transcendencia
E do ponto de vista analitico elas também são psicologica­
mente transcendentais: Elas não são virtudes hipostaticas,
flutuando pelo ceu, nu universo platonico:ou num empire0
metafísico germânico. São antes limitacoes:e imperatiVos co­
locados pela inteireza* de si-mesmo 'sobre 6 ego, para forca-
lo, a interioriza4ao: Como Ws, elasAranscendem o ego, são
desta forma por ele experitnentadas, e a transgressão dessas
limitacOes despertara .sempre culpabilidade. Essa 'culpa sur­
ge em relação a poS'sibilidade de auto-realizacao e de auto-
redencao do individuo., 0 impulso moral da consciência de­
sempenha assim um papel significativo no processo do d e­
senvolvimento pessoal. ' - . , .
0 ensaio de Tung sobre a consciência foi escrito ja pro­
ximo ao'fim da 'sua vida e:teve recentemente, sua primeira
publicacao em' ingles no 109 vol. d e suas Obras Completas.
Ai são descritos_ Bois : 'tip' consciência. • Uma 6, a
adquirida atraVes da apiendizagem,-da inculcacao dos vato l
res de riossos pai'S'e de nossos colegas, dos dogmas, tradicio­
nais das religiões* quanto'ao certo Cap errado, e que pode­
ria ser chamado.de Superego. Ha, entretanto, dm outro tipo
de consciência, pois como o proptio Jung diz: "0 fenome-
no da iconsciência em si mesmo não coincide com o codigo
m oral, sendo-lhe anterior e tanscendendo-lhe . o conteú­
do. . . " 0 superego, o primeiro tipo de consciência, 6, na
verda-cle .secundário. 0 que quero dizer com isso é que so
podeinos assinfilar Certos principios e Seguir um codigo mo­
ral, obedecer;os ensinamentos de.nossos pais e das religiOes
devid° a ,faculdade psicolOgica da consciência, ou seja, .a
capacidade inata de. sentir Culpa. A consciência 6" uma fun:
são psicologica.sui-gerteris. Ela é a. Voz da auto-orientasão
A atividade auto-reguladora e autodinarnizadora da psique
confere a consciência a sua autoridade, peculiar: Podemos
91
9G

92
alterar os códigos morais ou mesmo nos desfazer„deles, mas
impossfvel descartarmos o fenomeno psicolOgica da
consciênciaa. -
A consciênciaa, enquanto aspecto de autodiregao 6 a
voz do si-m esm o que e realm en te c o n flitu a com os
conteddos de uma donsciencia nascida do superego. E quan­
do o homem é levado ao dilema de seus próprios: valores de
indivfcluo face ao código da moral coletiva, entre
consciênciaa Or se e avaliagao de seus conteddos. Essa é a
matéria de muita literatura e do dia-a-dia no trabalho de
aconselhamento. A religião organizada de ha muito
reconheceu esse conflitó de vozes interiores e com muito
acert° o denominou conflito entre luz e sombra, entre bem
e mal.
Infelizmente essa mesma, religião .teve seguranga de­
mais ao decidir o que era sombra e o que era luz, e foi m ui­
to rapida ao identificar a sua etica com a etica certa.
Digo." infelizmente", pois nos..conflitoS ~ morais, o bem
esta amitide dividido contra si:mesmo; a vot de Velho Rei
do superego e a voz do si-mesmo prestes fa nascer, falando
através da Crianga M aravilhosa estao, igualmente certas.
Um novo ponto psicológico podera surgir desses conflitos,
vindo talvez a constituir uma nova moralidade. E istQ sera
ulna mudanga na posigao da moralidade, afastando-a, entao,
da unilateralidade e caminhando em diregao a uma verda­
de mais central: Essa verdade admite, e a tempo introduz na
vida consciente filamentos da sombra que ate. aqui estive=
ram banidos. Os impulsos de poder transform ain-se em
big óes de trabalho, as fraudes em mentiras sociais, o medo
do fracasso aparecera como fraqueza declarada e as fanta­
sias sexuais como relacionamentos vividos. A integragao da
sombra transforma a sombra. Conseqüentemente, essas qua-,
lidades não são mais tao obscuras quando 'se tem a cora­
gem de dar-lhes vazao e mante-las em .cheque ao mesmo
tempo. Do ponto de vista psicológico,.a repressão naa 6 so
o Mal, enquanto a integragao a «o Bem; .a repressão é uma
o Velho Rei a alterar
A n e c e s s i d a d e i nt e r i or -que f or ga
suns posigOes f ala inicialinente com a' voz ainda fraca da cons
i ndi vi dual : E m so n h o s, as v e z e s, ela é um a crianga em
perigo; oti enferina; ferida, afogando;se, perdida... ou um
crittinoso aprisionado, um paria social, um inimigo estrangeiro,,
um. homem, de outra raga ou religião- um animal que não
conseguimos exterminar depois de incansavelmente perseguido,
como o Cao do Inferno'. Entao sen-
te-sea sets0 de resPonSabilidade'e necessidade de fazer
alga culp, ma coisa Erin alum canto exiSte uma necessidade pre­
mente, e não estamos f azenda 0 que devemos. Este "deve
mos", em clue pe'se toda a sua forma autoritaria, .doentia,
infantile grotesca,' constitui-se na nossa dimensão de, cres­
cimento: é aquilo que esta perdido sem nossa ajuda, ovem
o suficiente Para desafiar 'a generosidade de nosso coragao,
doente a ponto :de configurar em nos a figura do medico,
perseguidor porque fugimos dele; prisioneiro por sere o
seu juiz, sombrici porque nao'perrriitimos que viesse a luz:
Esse " deviamos" e o comando da fungao auto-orientadora
da personaidade, e a todo niotnento somos pressionados, a
concretizar"um de' seus ndcleos centrais, lung denominou
arquétipos a esses dentros dinamizadores. E o arquetipa mais
intensamente envolvido no'periodo de escuridão é o argue->
tipo da sombra, d u seja, nada mais, nada menos que o
Defrontar-nos com a escuridão leva a aspectos intensa-
Demoriio.
mente morais que 'sac); a um so tempo, experiências etemas e
arquetipicas de creSdimento e de destruigao. A taref a hu-
mana,quando se lida- com a sombra, 6 separar seus f ilamentos
atraVes de uma diferenciagao cuidadosa, por- meld do
raciocinio e do sentiment0, das imagens exatamente como
nos surgem; a fifri de libertarmos o redentor oculto, ao mes­
mo tempo qUe -vigiamos o destruidor disfargado. Devido as
trarrias encontrarerri-se quase sempre muito enredadas, nab
podemos encOrajat o element0 salvador sem ficartnos per
93
manenterriente, de olho no Derrionio.
Isto leva a terceira.e ultima razao para a
moralidade: a luta contra, o mal. Do pont°, de vista da p ra ;
tica analitica, talvez essa ,terceira baseseja mesmo mais
importante que as duas anteriormente,expostas (a necessÍ7
d a d e de, c o n f l i t o s • m o r a i s e de i n t e r i o r i z a c a b ) .
0 nivel, niais profundo da escuridão intema e. da som7
bra, estehde-se para alem dos meus e dos_seus pecados,, cri­
mes, ,negligencias-,e omissoes. , As gNperi4cips do mal em
nivel subjacente ,sa_o , imp,ossiveis; de ser, humanizadas, e
tal ponto*que ao Ingo dos tempos sempre,foram_ represen-*
tadas como forcas, demoniacas pelas,yarias religiOes,do mun-,
do. A travessam os periodos na Europa _dos anos 30 e
(prosseguindo ainda, na A rgélia, no Tibet, e no, Sudeste
Asiático e no sudeste dos EUA), que sab reveladores do po 7
der dessas, forgas. Te.ologicamente o mal pode mesmo ser
a privacao:do.berri, mas.ate esse bem voltar a cena, ate a sua
privacao ser restaurada, a experiência do mal possui uma
verdade psicolOgica agudamente yerdadeira. E a pessoa atin­
gida sofre ,,nab_ tanto de uma priyacab, "como da. presença
p e n e t r a n t e e e f e t i v a d e s s e m a l . „,
Ele é uma coisa absoluta, e:presente de maneiracruel.
0 mal arquetipico no pode ser curado,integrado, ou huma­
nizado.- SO ,resta,, portant0, "Vigia-Jo. Esse porito, fOi "reitera
damente repetido pelo Dr. Adolf Guggenbilhl-Craig nas suas
"Cutting Lectures", na Escola Teologica de Andover-New-
ton. A experiência do :mal sob a forma de perseguicAoLcons-
ciente, crime de vinganga,:, sofrimento, destruidor, explora -
cao, dor, tortura física, encerra alguma coisa alemdo demo-,
niaco. Esse "algo alem",cio demoniac0 soLpode ser o humano,
E o elemento humano no Demonio,que confere ao mal a sup
plena realidade.
Em si mesmo, 6 demoniaco, ou diabOlico é arbitrarib,
maligno e quase sempre uma questão,de sorte on.de,destino.
Assim como chega, ele vai, parecendo nap ter sentido algum.
Quanto mais arquetipico ele for, tanto mais sera experimen­
tado como coisa im pessoal, algo incom preensivel e que
94

92
riao merecemos (as mesmas palavras sac). utilizadas por
quem recebe a Goo D ivina: N ão sou digno", "U ltra­
passa o meu .entendimento" etc.). Em certa medida o mal
toma-se mais _compreensivel. e.aceitavel quando é possível
liga-lo a algum contexto humano, como os pecados de gera-
cOes ancestrais ou os motivos pessoais de um inimigo. Quan-,
do assume formas de qualquer divindade (Loki, H erm es-
Merctirio, o Enganador), ele apresenta uma dupla-natureza,
podendo como o espírito tanto soprar .para o lado do bem
quanto do mal. Apenas atinge a monstruosidade quando ê
semi-humano. Ao juntar-se ao ego humano, a vontade, razao
e desejo com os quais um homem pode escolher o curso de
uma acao e perseguir, um.objetivo, ê que o meramente de­
moníaco toma-se verdadeiramente mau. Isso significa que a
sombra arquetipica não atinge realidade concreta ate con­
seguir unir-se ao human° .por meio. de um pacto. Dessa for­
ma, somos levados a concluir, que ,o Dem8nio também se
encarnaria no homem, vindo a expressar-se por meio dele.
S6_a moral pode defender-me deste pacto: o da encar-
nacab das intenções, 'do Diabo em minha vida, conforme a
minha vontade,' razao..e ,desejo. Isso nos le'va, portanto, a
rever o valor da moralidade, pois com que. outra protecao
contaria a _psique "para defender-se,:de forcas desse tipo?
Nesse sentido, .toda moralidade vem realmente do Demonio.
Ela ê a 'resposta _da psique as suas potencialidades. Ou, tal,
vez, no nivel da 'forga inumana, dificilmente poderíamos
estabelecer com certeza diferengas entre as fontes do mal e
as da" moralidade. Do .ponto de vista .humano, que é como
se akesenta na sessão analitica_a origem de ambos parece
ser a mesma: transcendente. _ • ,
Acontecimentos arbitrarios do destinó procedem de um
mundo fora de nosso alcance, o mesmo se dando com o im­
pulso moral. Os eventos do destino podem ser hum aniza­
dos positiva ou negativamente, quer sob a, forma de tragé­
dias que'nos,enobrecem,.ou de crueldades futuras que espa­
lham sementes destrutivas no mundo das geragoes vindou-
95
ras. Pode Ser • que a moral humana não consiga alterar os
fatos do destino, mas pode, ao menos, impedir a encamacao
direta da sombra arquetipica., A moralidade humana pode
e- consegue proteger contra a_ vivência ativa do mal exata­
mente como a bondade consegue -suavizar os golpes do
d e s t i n o . _ _
Não é em nossa sombra que cresce forca do Demo-
nio, mas em nossa .luz. Ele.vence quando nos desligamos de
nossa escuridão, quando deixamos de envergar_ a nossa des-
trutividade e engano .em relaçào'ao que somos.
A teologia- diz que:o orgulho leva. direto ao caminho
diabOlico e a psicologia o confirma, ja que o orgulho e, ana­
liticamente considerado, a negacao da sombra pessoal e o
fascinio pelo ofuscamento da luz da individualidade.
Assim,, a melhor protecao não é o reforço do bem e da luz,
mas a familiarilacAo com a nossasom bra .e aspecto
diabOlico.
A dosagem homeopatica de males menores, como pílu­
las amargas de dor moral, pode agir de maneira profilatica
contra o mal major. Errar é humano. Ter sombra e estar nela
e humano. Não ter sombra so e possível ao divino ou ao
demoniaco. 0 humano s» não projeta sombra ao meio-dia,
a' hora* do brilh° ofusdante d6 zenite de seu orgulho. 0
meio-dia e também a hora de Pan, e assim, em nosso ponto
mais alto', nos encontramos proximos do perigo da major
de todas as quedas, Pan desencaminha a. moralidade civili­
zada para o panic°> das revoltas, para a intoxicacao e a
sexualidade deSenfreadas. E ele não esta nada morto, mas
sim ressurgindo agora como herdeiro de Lidcifer,-originário
das entranhas niais profundas, Como o ambivalente "princi­
pe deste mundo", trazendo um axoifusão de vitalidade .e
escuridão simultaneas. Uma mistura monstruosa em nome
de uma renovack, dionisica. Nossas obsessoes' com o extase
e o renascimento através do Inconsciente (quer1 se processe
pela nrasica, LSD, orgasmo ou revoltas)_deixam em eviden­
cia as patas e os cascOs de Pan-Dioniso. A psicologia ou

96
reconhecer Pan e-sua inflancia, lane aeonsapartirdessas
me profundezas sobre 6-floss° amor e o nosso medo.
Finalmente, a realidade da sombra no aConselhamento
significa que a honestidade' é uma graca que flacl podemos
esperar de quem nos procura, riem'de'nOs em relação a eles,
e nem de W ing em relação a DeuS: 0 Derrionio e aquilo
em que nos assemelharrios a ele significam traicao; mesmo
quando nos amparamos em nossOs melhbres1 ProPOsitoS.
Essa é a realidade do 'mal. 'A escuridão jamais sera diSperi
sada, visto serinos' humanos e Caminhartnos a sombra do
p e c a d o , ct i j o f il ho 6 t i g i n a l ‘e»Iti cifer: -
M entira e engariO esiardó.sentpre presentes, podendo
ate a própria honestidade de' DeuS- - ser posta em dilvida.
Pois no caso de JO, Ele detr Ouvidos a Sata: Enfrentar a rea­
lidade do mal, Poierrysiaosignifica'ser .cinico. Significa sim­
plesm ente que :0 'O tirriisM 6-'da honestidade em' rel4ao
Deus deve Coiner laivos:' de pessirnno. de nossa realidade,
psicologica. Para sermos hOrieStoScom pens deveríamos, eni
primeiro lugai,.c6nhecer triuitO'inais obie,a V erdade — e o
que é a verdade?-Unta pisfa na'clirecao d o cOnheciniento da .
verdade Plena Poderia-' ser encimtrada na, reavaliacao dos
enigmáticos - ladriSes'-gue ladeaVam Jesus em suas taltimas
h o r a s h u m a n a s . ' -' - - -

A r e a l i d a c l e da s o m b r a i m p (Boknttpr
parte do' orientador, pastoral da vastidao de seu próprio
inconsciente'Coletiv6,'das' Sombras da sua alma, pois é exa­
tamente a ignorAnCia.'detudo isso a responsável pelo Longo
declinfo de sua vocacAó eqambehi'de nossa fL A maior som-,
bra nessas p rofundezas' é a de seiiine: o 'p ecad o 'do orgulho',
a identifiCacao com a figura de Cristo" (ie pod& vir a' cena
especialmente agora, amparando a missão pastoral. Hoje em.
dia O s efeiiOS’ dessaidentificacAo sera° ainda piores, exata-
mentepóe Se tratat 'de -inn"Deus morto", tim Deus tie nab
deu certó, deComPordo-se em Mei° aos fermenios' da desin­
tegração e da Jessurreicao, podendo a ,qualquer, moment0
agarrar l c ). ministro pelas: costas.. E de. tatforma xlue: este .110-;
mem não podera mais discriminanespíritos para descobrir
quem esta com, quem, ou atras de quem: Cristo, o Demó­
nio, ou os seus próprios complexos. Nos contornos difusos
e suaves do quadro contemporâneo, cristianismo e crimina­
lidade podem interperietrar-se, e muita coisa podera ser
justificada partir do com plex0 de rnartir do servo sofre­
dor e pelo complexo' de, heroi do sold ado de Cristo. Quando
nosso tempo mergulha ria confusão do ,Golgota, é necessa-,
rio o desvio de apenas um ou dois graus fora do curso para
acabarm os, ajo elh ad o s- aos pes de um ladrao. . ,
0 instrumento ao ,alcance',da consciência para pod,er
discriminar eater-se a_v,alores morais„Para reconhecer que
é humano e pessoal, no melhor sentido que isso possa ter,
para manter, as conexOes 'fluindo ativamente e dar Lugar
dignidade, a.decencia e ,a .bondade é a funcao do sentimen7
to. Contudo,, quando o sentimento >da o .tOque humano e
redentor, o maior perigo, .o aprisionimento dessa funcao
pelo Demonio (por mein dos caprichos de Mercúrio, d a frie-
ze. satanica e das violentas emocoes de Pan). Ha longo tem­
po o senso moral, tem Sido considerado atributo da funcao
do sentimento. Os codigos morais p'rotegem contra as defi-'
ciências do sentimento através da enfase conferida as, m a­
neiras e aos costumes. Os codigos morais preferem julgar os
erros cometidos a luz da intengdo do agente e do context0
sentimental das situagoes dO que referir-se a erros logicos ou
empiricos. Do mesmo modo a psicopatia ou 'comportamento
sociopatico, geralmente considerado cruel e' intrinSecamente
mau, sendo antigamente cansiderado, insanidade moral,, pro,
va-se, de fato, ser deticiencia do sentimento ,de culpa e inca­
pacidade de. partiCipacao afetnosa. dentro da humanidade
c o m u m . - -
Assim, os dileMas da sombra 5 que abordei no ultimo
trecho deste- capitulo .(a separagao entre, consciência indi-,
vidual auto-regpladora e consciência revelada ou coletiva do
5
5 Para m ajor aprofundamento sobre OS "d'ilertias som bra" n a m i
tologia, teologia e pSicologia, cf. 'Evil;. NorthW esterh:Uitisi.- Pfess. 1967..

98
superego, alem da diferenciacao entre os filamentos da sombra
que podem ser vividos e integrados e os que pertencem
irremediavelmente ao infemo) são trabalhos que levam ao
dominio mais amplo do sentimento. A educacao ou o culti­
vo do sentiment0 leva, por sua vez, a nossa feminilidade
interior, a quai' a seguir, dedicaremos o ultimo capitulo deste
livro.

99
IV
A feminilidade interior:
a realidade da "anima" e a religião

Muitos foram os caminhos que nos conduziram a dis­


cussão da mulher, interior: .a amizadd com a sonho, a relação
de sentimento'com o mundo interior, as atitudes passivas de
silencio, quietude, aceitacao e escuta, o cultivo do eros e o
aperfeiçoamento do anion Ate mesmo as palavras que
significam alma (psique e,anima) são femininas na conotacao
e origem. Sera, assim; o feminino o nosso tema, mas as
pessoas das quais nos ocuparemos serao as 'mulheres de
nosso interior, as. imagens e impulsos femininos que
passam pelo correclorda psique sendo frequentemente negli­
genciados, as vezes diminuidos e'certatnente incompreendi­
dos. Não podemos aprofundar a abordagem da experiência
do inconsciente, nem a ,conexão do' mesmo com a religião,
sem nos familiarizarmos com a feminilidade interior.
Costumain circular, em sonhos de homens, grande
quantidade de personagens femininos que são muito ricos.
Seria rejeicao do feminino procurar reduzir essas imagens a
"substitutos da figura materna" e outras imagens de amor
incestuoso. E necessário ampliar essa idéia corrente de que
as mulheres nos sonhos dos homens refletem sempre figuras
familiares. Essa ampliacao deve englobar toda a variedade
do feminino, que "a homem encontra no & caner 'da sua
v i d a .
Vamos comecar a •consideracao de algumas das ima;
guns mais conhecidas,,por aquela mulher mais velha, com
ares de professora critica e perfeccionista. A seus olhos nin­
guém jamais >esta certo, ou suficientemente certo. Por sua
causa, no dia-a-dia, somos continuamente pressionados a
fazer as coisas cada vez melhor, a atacar o que ja foi feito,
ou entao a viver queixando-nos, dayida; Ela querque faça­
mos tudo cada vez mais,aprimoradamente; embora na ansia
de perfeick ela destrua pela raiz as coisas bOas’ que conse­
guimos criar. Em nome de ideais elevados, ela acaba por
nos convencer de nossa inutilidade. Perdemos a iniciativa,
ficando preguiçosos. Que desgraça, quando essa mulher inte­
rior projeta-se em alguem com quem convivemos, numa
esposa, poi\ eXemploque com eca a. desem penhar papel
que the atribuimos e fica ate, mesmo parecida com a ima,
gem: «acusadora pressioriadora dentro do , inconsciente do
5

„Essa .mulher, sempre aparentemente= mais velha, que' o


hom em , t a mb ó m ;ter q u alid ad es b en eficas: E x istem
figuras (tias, ’colegas _de ,trabalho e- .ainigas .mais .velhas)
encorajadoras, .boas.ouvintes.e dotadas ,,de uma experiência
geradora de sabedoria, tomandoLpossível o relacionamento
sem envolvimento -sexual. Mantem, posicao superior, ate
mesmo, de autoridade e poder; mas-parecem conduzir as
coisas mais por mein ,de.*contericao e cautela que, por' acao
direta., Seria insuficiente_rotular _essa imagem 'cbmo,:Yinae
positive': Ela 'continua a aparecer de tempos em tempos nos
sonhos, do homem, indicando a chance dela vir a desenvol­
ver seus, próprios caminhos 'de sabedoria e orientagab, bem»
como de atingir "conhecimentos, e_possibilidades, de 'dirigir,
a vida. Existe nela carinho e generosidade,mas mesmo assiM
ela não aceita envolvim entos_nem negligencias. • °'
Outra'figura semelhante a anterior, a terceira;6lambem
positiva;, so, qUe excesso. D ia e,noite ela fica mUmiu-'
rando simplicidades’.encoraj adoras, «atei o'homem ficar acre=
ditando que a realmente um sujeito notável, mas essa .mu­
lher esta na verdad& apaixonada: por ele , ou. seja, ele
simplesmente se ami..NOs a encontramos'nos'sonhos,como
uma pessoa ligeiramente 'vulgar e, quase' sempre'ambieiosa;
esbanjadora e Hail; elayentretanto, as vezeS,6,o!Oposto des-j
sas coisas: uma pessoa sim plória e burra, ma's. dotada
102
bom Goracao. Em qualquer dos casos,, ela L\a n s íra m a -o r^ io
a pai x on ad a pelo sonhador. El a tem o domde f
num lean, num f alador desmedido, dado a grandiosidades e
a _ Qu e _ n o f u n d o . e s t a mergulhado
a t i t u d e s d o m i n a d o r a s , . ma s
aspecto do homem, .o
numa grande preguiCa Ai so existe orgulho e femini Vaidade, posi-
sede
de poder e fatuidade. Esse tipas. uo de,m imagem na,
tiva e encorajadora infla , apen
exterior, a p e r s o n a e a vulgaridade. Mesmo repesentando a
anima, ou seja, a imagem da alma, ela acaba, r .na verdade,
conduzindo o homem para longe das profundidades e valo'
valo­
res animicos. E a falsa noiva que .sass o homem 'com
Os valores e ,profundidades da alma são, as vezes,
re s e r r a d o s : _ , .
representados por uma..figura feminina.sem muita persona'
lidade, um rosto indistinto, uma figura do passado que nem
chegamos a .notar e clue, mesmo assim,reaparece em sonhos
sob varios disfarces, a espera de atencao. Ou, o que ainda
é pior, surge
-nos doente, em perigo ou mesmo a morte. E que
compete a mim fazer alguma coisa pelos valores, e pro­
fundidades. negligenciados, delinear, personalidades ,através
de um interesse, e atencao .interligadbs, discernir exatamente
o que se encoritra encoberto em mim e confiar em valores
que ate aqui.me,pareceram ter pouca importances: Antes de
mais nada, a figura doentia e solitariw, pobre e indesejada
que esta em perigo é uma imagem da alma que pressagia
depressão; pobreza psicologica e ate mesmo _a perda da
a ^ m .etsu.a,cjtirencia Y un constelar*os.esforços.heroicos do
r n e t
Normalmente essa figura 6 apresentada pelol _incons'
ciente como alguemmais jovem, evidenciando uma parte de
nos que ainda,não amadurec,eu.,No aspecto,positivo signi-_ f
ica um potencial que p ode crescer e .mudar, portador de
coisas ndvas e. cheias .de esperanças. E. a sus contraPartida
negativa series' juv.entude _em excesso, uma vida a . ainda nab a
desperta e a atracao por um __passado quelev de volta
adolescencia. Viver uma,tal discrepancia entre idade interior
108
e idade exterior „causa uma,tensão tao grande sobre, a psique
quanto aquela .causada sobre um quarentao ' que surge .em
ptiblico namorando uma garota de ginásio.
. . Ainda existe uma • outra fig u ra muito.,bem cotada_ que

é a loira palida .e:fria.%Ela ,vem ,de'-regides .remotas, coma a


5

Noruega: ou o Alasca, ad ostenta uma qualidade invema


que a toma. gelida, distante.,e.silenciosa.' E. reservada e ofe-
1
rece desprendimento e alguma coisa de espiritual e sublime.
E uma,mulher que pode ser.excitante,. pais sua fiie z a e, dis­
tancia, levam o homem a ,esforgos. sobre-humanos para 'con-
qUistar calor ,e, relacionamento.,Esse tipo de anima pode ser
sentido pelos "outros como frieza na vida emocional,, coma se a
homem, se .afastasse para.' um outro lugar;:.tomando-se
uma_pessoa de cantata_ difícil q.ue-não S 6 , importa com o Tie
acontece â sua_volta, apesar das. aparenciaS e das coisas, que
ele'_diz _contradizerem tudo isso.. Ele. da a impressão de_ it
desaparecendo,'perdendo o contorno em regides,remotas .—
sendo exatamente a frustracao :causada por. isso o fator que
vaLexercer o. maior fascfnio sobre as pessoas. Ele .6..difícil cbæ
(nrom^eác&jíè- m(aimmfaÉ(±BffiBapmaæpsuqfito
fosse:alga muita rarefeito"e tenUe,.semelhante .aos a, es nOrdicos
ou . a. esses . cabelos, finos, e belos,- wino. figs -de seda.. Sua "vida.
emocional -6, reserVada e secreta e, ao .fines
mo
tempo, intensamerite apaixonada, pois 2 paixdo não é. calor.-
E bem mais aquela chama*azul constelada pelo geld...
As .vezes surge_uma. prostituta nos sonhog. e mostra, "ao
homem que ele se entrega com muita facilidade a qualquer
influericia com :que .se depare. Suas emogoes_ nab reagem de
modo verdadeiro, podendo „ser
Isso se manifesta nos sonhos como a imagem de um ser de­
primido, solitário e.usado.* Por se.relacionar tao erradamente
consigo mesmo, ele é usado pelos outros e também age
assim com todo mundo. Os relacionamentos acabam por ba­
sear-se unicamente em principios interesseiros. Por. outro
lado, a velha prostituta, pode apresentar um significado mais
positivo: ela revela uma certa impessoalidade" em assuntos
humanos, ja tendo passado por tudo que uma pessoa possa
imaginar e tendo visto tanta coisa pela vida afora que n e­
nhuma perversidade mais podera surpre.ende-la. Ela é uma
imagem que mostra. ao homem a sua própria dose de per-
missividade, bom humor e compaixao.
Entretanto, o que mais. verdadeiramente representa as
vulgaridades de eros *e. da alma masculina não a tanto a pros­
tituta quanto .as imagens populares de diversão e publicida;
de. Como as deusas da antiguidade, elas tainbem tem suas
epifanias mundiais simultaneas, agora aparecendo projeta­
das em centenas de milhares de templos escurecidos que
são as salas de cinema, ou no brilho tremulo irradiado por
esses milhões de altares ,domésticos, as telas de TV. Elas
perambulam _pelos contirientes ao'lado de seus consortes
com cabecas de animais e se fazem seguir por uma procissão
de devotos castradoS.. Tudo O que é proibido aos mortais a
elas é permitido. Os. sacerdotes _de seu culto preservam sua.
imagem por meio de. cosméticos, relfquias e lendas pre-fabri,
cadas. Seu amplo.sucesso,comercial acaba tapando o fracas­
so interior de: .um homem. Quanto m ais’ a mulher interior
for representada por„imagens de indtistria cinematografica
ou da ma i or sera a evi denci a _. de que a al ma desse
homem é coletivamente rcomum e. igual’ a de todo -m undo.
Quanto .mais engraçadinha a anima, menos bonita a alma.:
Quanto mais popular a imagem, menos individual sera a
maneira’ de relacionar-se com os o.utros; quanto mais atra-
tivoS sexuais tiver a deusa cOletiva, menos chance tera o
homerri.de livrar-se da compulsão animal própria da, Ishtar,
de desvincular_ a alm a da cam e.... , •
atingidas, por uma .ou . duas
horas, desaparecendo logo a.seguir; Seus sentimeritos encon,
tram-se a vends, ou a disposicao de qualquer
to um teleforiema. Alem..disso, ele não da valor median.;
A. interiori-:
dade de seus sentimentos a não_ ser pelosjmpactos que, eles’
possam causar. A_ promiscuidade .emocional mantem-no.-sol-.;
teiro e sem envolvimento com: seu .próprio .Mundo .interior.
104
A menina-passarO também é outra figura familiar den,:
tro da mitologia do feminino interior. Ela pode "surgir rosa>,
da e cheia de capriehos, num Belo vestido' de baile, ou uma
camisolinha macia de nene, mas, seja" qual for o seu inv&
lucro vaporoso; ,trata-se de 'uma criatura eterea, flutuando
no ar. Ela pode levar o homem a voos mágicos de fantasia;
coloca-lo no brilho Tose°, cl6 otimismo e deixar-lhe a Cabe:,
ca cheia de pensamentos sem- peso,'própria de uma pseudo.'
filosofia e de.esquemas nada 'práticos, desprovidos de *ubs::
tancia e que são levados pelo vento de qualquer «corrente
de opinião. 'Esse homem term dificuldade. em,firmar-se e ser,
criativo; ele esta sempre ouvindo as sereias .cantando mais
aleml Esta imagem sentimental e'romanrica pode projetar-Se
numa mulher concreta que entaacomega a viver Com°* uma
boneca, que sempre' panda- para o fantastic0 com seu aere-,
b ro de P a s s a r i n h o . ,
O seir oposto tem 'Os de barro ,e e a própria A~
reducao da anima a~ simples materia ou a uma mulher do
mato' tanibem costuma aparecer em nossos sonhos. A cam-,
ponesa de coxas:grossas e seios, volumosos, lenta e mein cre-,
tina reflete a posicao 'inferior relegada ao feminino pelo
intelectual urbano. Seu Lugar é a cozinha,- ou la, anis do
estabuloonde ele pode 'contar-lhe piadinhas obscenas é fa=
zer-lhe observacoes insultuosas contando com sua aprova-,
ea° grosseira. Mulher ou anima, frente ou 'costas,. mae.:ou
esposa, nada disso 'tem 'importancia. Uma r tal imagem::da
alma arcaica e telUrica .6.0 reflex0 'feio, material e não cria­
tivo do homem modem0 que viva nas estruturas altas e:
rfgidas deuma sofisticaOo Cfnica, crftica e tecniCa.
Uma contrapartida mais positiva da corisciencia mo4
dema centrada no ego é representada pela mop que 'venv
de uma culturam ais'antiga. Pode ser egfpcia, judia,
terranea ou chinesa e indica uma camada de tempo ante­
rior a ruptura 'entre sensualidade ,e' espírito. Ela tambem
estabelece a conexão com 'a 'terra, com' uma base solida
tradicao de cujo interior coisas novas poderão brotar. Sua
em faz:se' acompanhar da experientia 'de uma profun-
i m a g - E l a ',6 u m r e p o s i t o r i o de • c a l or h u m a n 0,
d i d a d e h i s t ó r i c a .
Traz o sentido de significagOes, antigas, o sentido de termos
um longo passa, do interior, uma alma enraizada na antigui­
dade que„caso ,l,he p.ermitamos ultrapassar .os umbrais do
tempo, encerra uma sabedoria de ha muito»cultivada. E essa
sabedoria é capaz de intuir configuragoes -,subjacent atores jes de
m odo m uito m ais cria tiv o que o ego form ado p o r fa
a t u a l i d a d e . .
'OUtra figure que surge 'com bastante freqUencia é A
m oca jovem'eatraerite," rive bronzeada, as* ye-
zeS nua, qUase sempre dançando ou nadando, quer dizer,,
associada a eleinentoa como cor; musiea, cOrpo e agua. 0
cabal0 e"uni,-trago marcante, podendo ser, a Unica coisa de
que nos ree,Oidamos elarainenie ao acordar: Ela potle;utiliL
zar-se de ProVocaao agressiva Ou simplesinente exercer um
fascinio tran q u il0. Porem , consegue m o b iliz a r a libido
aparicao 8empit «se1constifui inn apelo. E ssa firO ca akl
os segredos do' jog() t traz vinetilos'pagaos ou'atelis come
outras religiOes Ou sistemas morais. As vezes aparece presa
numa' illia ou. simplesmerite- "incapaz, de sair" dela. Ou
entao não se consegue falar-lhe por telef one por ter caido a
linha. -Eld pode ester associada a animais, ou a sna natu-
reia' ser..'maid animal. :Quase sempre essa figura tem 'um
pai inieresSante(como nas -lendas em que existe as to
uma

princesaa um rei poderoso) e atualmente ela se repete em'


nos quan-
nosSoa sanhos come o reap to de uma garota de.m
colegiociue talvez não rcle aParte twit° interesse e
to o seu 'pal, que ficou em mossa lembrança de modo signi-:
ficativO." - ..................... 'm b m
c - ' E s s a ' i r n a O m p o r s i s o j e l a é o'
que Jung denominafigura tipica de anima. Ela se 0aSsocia co
a> v id a de anim ais a com a agua, ou seja-, com s ins
com o fluxo des emogoes, de tudo title e liquido, com «ritmos,
1C6
capacidade de responder ede. interiorizar, elas também mos­
tram formes de desdobramento de minha vida religiosa. Se a
imager-a de minha- alma for joveM demais,«n entao MiltO
frja ou materialists, Ou-ainda muito,ctitica, é certo'que ba­
de
distorcOes. cOrresPondentes. em minha' vida teligiosa.
Segundo a tradicao, a ‘alina era crista-(ahima n a tu r a lite r
c h ristra n a ),.m a s no,homem modemo,a aniMa pode ser qual­
q u e r sutra coisa. Sem a cOnfrOritacao com o feminino inte­
rior, ate mesmo: a- filiacao confessional' do ministro -podera
a confirmar o Seu- 'enVolVimento ineramente em nivel do
VI ego. Interiorm ente e nU m a se pais profunda, muitas
outras coisas poderao-estar se desenvolvendo.
H a sutra forma de nos aproxitharmos da feminilidade
interior. Trata-se de procure-la através das emocoes e est&
dos de animo. Como ja.virtios, tropeçamos no inconsciente
através de sonlios.e fantasias e tambem de emocOes. Algu-
Inas emocOes são de =natureza- particularmente feminina;
conic), por exempl», a-autopiedade, a sensibilidade, o sena
mentalismO; uma 'certa,corisciencia de ftaqueza; desan im» e
depresses. Não..que-tudo isso pertença, especificamente as
mulheres (ao:contrario;‘i as emocoes-das.mulheres são geral­
mente mais .makulinas: causes, opinioes, principios, discus-
sties as mais variadas por seu. animus advogado/vendedort
policial/pregador ou - estadista. Esse a n im u s as vezes sim­
plesmente, atrasa at scoisas, batendo- portas e 1 2 ‘roporciona""
do outras exibiceres,do -tip° tourtirbtarremessador de disco/
ciclistaLde maratonas ou_ trapezista). Autopiedade, depress
são, sentimentalisma e .sensacao de -desesperança são,ferai=
ninon pelo fato-de os hOmens os sentireni com° ta il. Nessas
emocoes não ,exisie nenhuma s'aida do tipo 'bola' .pra fren­
te" . Elas realmente, diminuem a- eficiencia de um homem,
assim-como discirtir-e* brigar vase sempre diminni a -capa-
cidade" feminina de ,criar relacionamentos:- Assim , a f amnia-
rizacao com n o ssa feminilidade po,dera tamer co curso da
jornada: que..percorrera alguns:dos lugares -visitados, pelo
Peregrino, no P ilg r im 's P r o g r e s s , de jo h n Bunyan.,
109
108
Apenas, em situações,, intimas . Os., homens conseguem
revelar 'essa feminilidade,, esse,aspecto: ellsivel,_delicado e
at ,mesmo . suscetivel.,E a autopiedade d ,particularmente
difícil. Quando as pessoas pos_procuram,elas se encontram
quase sempre, na: desesperança, e.talvezestejam excessiva.,- .
mentelacrimosas,, com a autopiedade a mAo:,7 6 ; alguem que . é
acusado injustamente, numa briga conjugal, ou o ,,pal ,que
trabalha como • louco .e • acaba , tendo um • filho ingrato etc.
Entretanto ainda existe- a autopiedade que talvez,seja.:a mais
difícil de perceber,, exatamente «por. termos grande , difiCtil:
dade de admitir sua existência ermnos. Ela difere das outras
que sac) mais aulojustificagoes e defesas, e eu creio que não
seja' faciladmitÍ 7 la devido a ,uma velha.,-tradicao. mantida
pelas ,igrejas. •• - - ,. • ' -
0 clero .sempre, insistiu que é preciso amar o proximci;

r n a s quase sempre, esse mot. seid O em detrimentodo,.amor


que e u :deveria.sentit pot mim mesmo, especialmente por­
que, descle'muito cedo a minha pessoajnterior..estkmancha;
da pela, idéia >de,pecado.-,O, amor sera re :me. foi colocado
como: uma exigencia,, uma:.exortacaoa ,amar o proximo.e
mesmo meus inim igos, a .amar quando nAp sonsigo-je nem
sink) am o r.M esm o quando o =or nap flui,..soutom pelido a
forcar-o amor a converter-se em agoTe.s..Mas o cultivo do
sentiment0 na personalidade quase*sempre se, iniciamnde .se
supoe _,que ele, não exista: >fora do relacionam ento coin
outras pessoas. Para ,sermos malsexatos„..ele frequentemen, to
se inicia, na; sombra; pa. autocompoixao , e, no sentiment0
p a ra co n sig o m e sm o .., D a ille c e s s id a d e r de" s .e n ta :,
do e tratado com, ternura, de ser considerado„oUvido acaric, e cui,
dado 6 - que: surge a verdadeira capacidade.de cuidar, de si
mesmo. A autopiedade. 6 .comego. desse. Quidado A nivel - pro.
fundo. Atrayds dela, posso*ser levado.a,,I-edescobrit„dentro
de mim uma multidão de ,valores , desprezados, q u e r.estao
esperando ,por um inergulliP erri anseios de reenc5, Pin
ta, de auto-reVelOcao: eta desvenda o meu anseio por mim
mesmo. E é o:.que realmente, importa para a minha parte
mais vulne.ravel- e hipersensivel. assim que comeca a se
estender ,a> conexão vertical em direcao a minha interio-
ridade. - • ,
0 sentimentalism 0 e os dramalhoes que nos assaltam

levam-nos- de -volta a: certos dias do passado, a letras de


cancOes: dos :tempos de colégio,‘ a .garota que nunca conse: 7
guimosconquistar, ajejeicao, magoas e traiciies. A menos
que se- reabram a sejam sentidos de novo, esses substrates
reprimidos constituirão as verdadeiras barreiras que irao
separar os adultos de seus filhos adolescentes. 0 impulso
incestuoso acaba se intensificando devido aos desejos irre-
dimidos de um-adolescente.em participar novamente de um
mundo que '6 . dissociado e carregado ho inconsciente atra-
yes da imagem de uma. moca muito jovem. Ir ao encontro
dos filhos- adolescentes é menos problematic 0 quando não
se 6 mais .aineacado pelo filho adolescente que ficou den­
tro de nos:
Talvez tristeza seja rtima palavra melhor que desespe­
rança; por ser mais familiar e simples. A desesperança tem
um antidoto: mais coragem", mais espirito, 1' 6 e esforço. Ma s
a tristeza 6 um subtom crescente, é a sombra que se alonga
no relogio solar quando o dia caminha em>direcao a noite.
Essa tristeza parece ser uma queixa e uma afirmacao :do
lado feminino dos homens, que;_ vac) envelhecendo. E como
se as mulheres, carregassem a tristeza conscientemente como
parte de seu senso, feminino 'de realidade pdlo fatO .de elas
serem geralmente mais conscientes do .fato,de estarerríenve-
lhecendo. belo dia, contU do, o hom em chega aos trinta
e cinco.ou quarenta anos, ou .mesmo mais tarde, aos cin­
qüenta, e entao a tristeza bate a porta. Fica um peso no
coracao; e faca que fizer essa sensacao não vai erhbora.
a expressão tipica' de um estado' causado pela, anima, o
séquito fine da alma. que se: transformou tium fardo- por
não the ter sido dado tudp aquilo de que necessitava, esse
aspiracoes perdidas e.em_arrependimentos.por escdolhOso erra7
das. Pois a .autocomiseraCao. 6 uma, forma de autode'scobet
1 1 0
o momento em que se estard mais vulneraVel 'a um caso de
amor que poderi ou não resolver 'g'8 ituagdo;' e mesmo que
resolva o-subtom permanente da tristeia; isto 'acabara sendo
um alivio de curta duraOo,-a menos que o Telacionamento
faca algo em favor de seu lado feminino, cultivando-o, dei_
xanda-o expressar-se é, -o que é mais importante, reorien-
tando o seu.ponto de vista masculino habitual’ e rotineiro
face aos valores.femininos1’ da vida. Pois é exatamente essa
reorientacao do panto' de' vista masculino que' parece ser o
propósito das emocoes femininas que nos deprimem e enfra­
quecem. Elas nos arrancam a couraga;nos amolecem o cora-
cao e secam-nos o braco direito em favor do esquerdo, com
o qual somos desajeitados e incapazes de movimento. Se to­
dos os fatos psicológicos são dotados de intencionalidade;
entao eles se encaminham para algum significado. A pertur-
bac'do de uma consciênciaa masculina a:respeito do feminino
teria, consequentemente, por significado o abrandamento e
feminizacao do ponto . de vista cOstumeiro: Isto* im plica
que, depois da meia-idade, levando-se em conta a fato de a
vida at ai’ atingir o .ponto media de seu curso junta com
certo desenvolvimento; o caminha a prosseguir não seria
mais a continuacao da mesma linha ("outra vez a mesma
histOria"), e ,sint a extensão da personalidade através de seu
oposto. No. capitulo anterior, vimos’ um aspecto oposto ao
ego: o lado .escuro da, sombra. Agora, defrontamo-nos 'com
outro aspecto: a feminilidade.rinterior.
Vamos, relacionar essas observac,Oes psidologicas do
desenvolvimeritOL da. personalidade com 'os simbolos e, mode­
los do aspect0, feminino, conforme, aparecem na.
experiência religiose. A seguir nos estenderemos sobre
aspectos do lado feminino como aparecem em exemplos da
religião comp a r a d a . •

0 xama, sobte 'quem Eliade 11• escreveu um' livro mara­


vilhoso, desempenha .em' algumas culturas uma mudança
seoalidade e a vivência coma esposa de outro homem no
s mistérios do sacerdocio. Nessa
c u r s ° de s u a i n i c i a c a o no
ocasiao, o individuo é chamado ,de "homem suave" ou " ho-
mein semelhante as mulheres". A integracao do lado femi­
nino, vivido de fato sob forma ritual, também pode ser en
Wino, na Sibéria, Patagônia e Indonésia, bem como entre
os

go, Hercules, o hamem entre os -homens, o herói entre os


heroes, depois, de cumprir, os • seus doze trabalhos, acabou
servindo a rainha Onfal. Depois de term inar ' a processo
que o levaria a tom a r-se,e um homem consciente, conseguido
através do esforço de ou luta apos Aconte luta, ce 1 Icque ele enlou-
rcules não se
lancou a maiores alturas glorias.
queceu e, o que importa mais para o nosso tema, tomou-se
servo de uma 'mulher. Ha vasos com imagens que o mos­
tram vestindo roupas femininas. Variações tardias desse mi-
tologema ostentam a figura de Hercules executando taref as
femininas, fiarido sal) as ordens da rain.
Ou entao 'vejamos Ulisses, em sua viagem de dez anos
ao regresar da guerra, novamente um heroi de estatura so-
b r e - h u m a n a , o m a r i d o f i e l e de s u a
lider poderoso: passom u um ano
in te iro n a 'ilh a de C irc e, 'a b a n d o n a n d o a u rg en c
viagem ,e o objetivo de comando em troca das, alegrias po * r
m esa e’»da cam a dessa rainha; ai, vestido e enfe itado
mks femininas, .ele dem orava e reorientava a seu curso,
o
ganhando assim .previsão, apoio, far e sabedoria para
enfrentar asproximas fases 'da jornada de volta ao lar.
que
U m a am plificacao inversa pode& ja ser a de Orfeu, é talvez a
afirmacao mais antiga da cultura recompenses ocidental 4
e
u m a r e l i g i ã o n ã o p r o f a n a , p a r a a q u a l as
encontram em outra vida e outro mundo. Apos, a morte da
esposa ele .pass a evitar todas,as mulheres, recusando-se a
inicia-las nos misteTios ou mesmo a permitir aos seu§ segui­
dores tom arem parte nas celebracoes ,dionisicas, q ap
u e re
2 K. Kerenyi, The H eroes o f th e Greeks, Londres, 1959.
1 M. Eliade, Sham anism ;' Londres e Nova -York,' 1964.
115
’Sentavam uma 'componente marcadamente feminina. A re.
compensaspelo . misogenismo de Orfeu foi sua morte p or
maos femininas. Elas o espanCaram brutalmente ate" a 'none, e
depois_o esquartejaram.. 0 lado feminino, caso, a natureza
e a danga da vida representada pelas imagens das bacantes)
retomou, coma o reprimido sempre retoma, e matou-o numa
paixao delirante. Contra, forgas femininas dessa especie nem. a
mUsica de Orfeu, nem . sua religião ascetic
a
de um outro mundo .puderam defende-lo. 3
N a estatuaria hindu
.dade ou Shakti, e representado por uma' imagem distinta e
de atributos próprios. Quem .adora Shiva (ou Krishna, ou Vishnu)
também reverencia as varias deusas relacionadas a encamagaa
Besse . deus. A contemplagao . e adoragao do feminino' se fazem
acompanhar de alegria e amor pela vida, pois sua beleza
mutante e ritm ica faz pane da essencia, embora parega
paradoxal, do Shaivismo ascético. ,
As características' femininas de Buda são evidentes: a
receptividade pesada e.silenciosa sugerida pela barriga gran­
de e o peito macio, as. orelhas grandes e abertas que absor-
a. compaixao..
vein,, a arvore, sob a qual .esta sentado, a postura_ de lOtus e
As amPlificagoes da feminilidade: integradas na relf-
giao judaico-crista são ,bem conhecidas. Vamos, entretanto,
reyer alguns temas' apenas como e indicagOes.:.Pela
tradigao judaica o shabbat é feminino. ' Ele 6 saudado ao
anoitecer da .sexta-feira como uma convidada,- ,uma rainha
que traz alegria. E um: tempo, de consolagao e calma,ao,fim do
trabalho, tempo ; dos sentidos, dos relacionamentos (o lado
feminino) e dal toma-se a tempo da, familia. Na Cabala, um
dos- lados da arvore dos- dez Sephirot, o lado da misericardia .ou
do amor, de Deus, e leminino, bem .como o Sechinah .0 Corpo
Mistico
nificagao longamente desejadas e ainda não atingidas._Pois
e enquanto mulher (a psique, em sua forma feminina), que
a alma recebe e reconhece a Deus.
A importancia das mulheres no Novo Testamento e por
demais conhecida para nos ocuparmos dela,, como também
6 enorme a significagab das mulheres e do feminino na pai-

xao de Jesus. Mesmo assim, yamos rever, alguns temas como


indicagao e encaminhamento
Dentre todos os poderes de Jesus_sobre toda a forga
de sua fraqueza, - destaca-se a'sua simpatia e, compreensão
pela fraqueza humana, "JesuS’Chorou".,Não ha tambe'm ne­
cessidade de entrar no campo da Mariologia, na Litania ou
no simbolismo .das rosas,, jardins, Pogos, palmeiras e linos
associados a imagem arquetipica de Maria. Contudo, vale a
pena recordar que o Espirito Santo, atualmente concebido
como outro aspecto masculino .da. Trindade, tem por im a­
gem, mesmo en4uanto espirito de Deus, uma pomba, sim-
bolo anteriorinente_ relacionado com Afrodite, significando
ao longo de todo a mi i n d o antigo o A m or e a deusa que
o inspira.
Durante a Renascenga, muitos aspectos da histaria de
Jesus foram focalizados pela pintura. Uma imagem, em par­
ticular parece atrair a atengao,de um pintor apos outro ao
longo dos séculos: _ trata-se da Anunciagao. Ai, M aria
retratada como; uma jovem ainda infantil e inocente, cui­
dadosamente vestida e colocada entre quatro paredes. Nada
alem de uma jovem que se encontra em casa, em seu quarto,
freqüentemente bor'dando ou entregue aos estudos e que, de
r e p e n t e , se ve f a c e a f a c e c o m o A n j o . "
A redengao vai se fazer preparar em' seu corpo. Ela esta
sob choque, assustada. E em seu rosto o horror e a rejeigao
se m isturam a atitude de acblhim ento: - •
Esse'motivo ocorre 'entre os homens e* as mulheres de
nossos dias. Da imagem da estudante, que, aparece em nos­
sos sonhos, em nossas emogoes por , demais jovens (inge-
nuas„inocentes e excessivamente autocentradas),' algo p o ­
de . Israel, o Povo enquanto unidade, o Povo enquanto a noiva
escolhida de Deus, aprostituta andarilha, a terra de Siao, e
todas as imagens de,
3 K. K e r e n y i , The H e r o e s . , o f t he G r e e k s p7
, 'Londres, 1959.

114

116
dera crescer. E conduzira por fim. a nossa própria reden-
gdo, ao encaminhamento, de um lado feminino em diredao
figura de sabedoria e com paixdo em que seA ransform ou
Maria ao- final de sua histOria. No comeco, porem, sO_existe
pavor e choque, pois em .algum lugar todos nos somos v ir­
gens, sensíveis, tfinidos, psicologicamente ingênuos e inex­
plorados na vida emocional, ariscos_ a envolvimentos. Em
algum lugar somos adormecidos ao aspecto terrfvel da vet—
dade, somos resistentes ao desafio maior, preferindo a segu­
rança, a casa, as coisas familiares e tudo aquilo que signifi­
ca protedao, como nossos livros .ou pequenos trabalhos m a­
nuais. Existe um lugar em que somos bonzinhos, caridOsos,
obedientes e bem intencionados. Entretanto, bem pouco p o ­
derá resultande toda essa bondade, a não ser clue o ventre
da psique receba a semente de fogo de nossa essencia
que plenifique seu desejo criativo a partir do qual a
experiência interior impulsiona a experiência de renovacao.
Esta -descricao condensada teve por objetivo, mostrar
porque o-cultivo de' nosso mundo de imagens e estados de
animo, de sentim ento e fantasia, ou seja, de nosso
próprio jard im _ interior é essential Tara que -poderia ser
chamado de 'momento._ religioso. E porque, esse momento
religioso requer um animo passivo as intenções de.Deus, um
estado receptivo, A Vontade Divina e- a experiência de um
ferimento-que nos possa abrir, a que ele 6 ’feminino em >sua
natureza. Entretanto ainda, resta saber: como_se chega a um
ajuste com esse lado feminino?
Como fecundar a,esterilidadCom o é possfyel cultiva-lo?
e que não imagina um domed°
novo, a virgindade da estudante que brinca com a vida, bem
como a solteirona fria ou a prostituta impaciente? A resposta
mais simples, a -solucao mais geral e que acontece, com mais
freqiiencia é: com as mulheres.e através delas, na sua
intimidade e relacionamento. Infelizmente essa afirmacao é
sempre tom ada de maneira ingênua, em seu sentido literal:
Se a conexdo humana entre duas _pessoas depende em defto.
sentido da conexão interior entre as pessoas, entao isso tam-
bem vale com Edna° ao desenvolvimento d° lado fem ini­
no. Ser direito pode significar'hOnestidade, mas certamente
"honesto para com Deus!' não é a mesma coisa que ser direito
no relaciOnainento com ele: Isto é ser ingênuo, tao ingênuo
quanto 'acreditar que uma sbludao promistha levara a
diferenciar a feminilidade da psique.
a intimidade e a reladao sexual. se tomam

compulsivas quando todas as outras formas de intimidade e


relacionamento,falharam. Da mesma forma, .quando se ne-,
gligencia o interesse.pelo lado feminino, quando não se de­
monstra interesse em aprender ou mudar os estados de espi­
rito, as emocoes e gostos causados pela anima, entao a m u­
lher exterior acaba sendo a Unica maneira de aprender. Não
se pode, definir, o amor com precisão, e as razaes pelas
quais duas pessoas se encontram e se apaixonam ainda estao
por ser catalogadas (apesar de toda a literatura dedicada ao,
terra, e dos estudos psicológicos que the comentam os de­
talhes). Porem podemos ter certeza de .uma coisa: quando
duas pessoas são levadas uma a outra, ha sempre uma que­
da, um chamado ou impulso para -a uniao com o desconhe­
cido, que tanto pode ser celestial quanto demonfaco e que
se tom a conhecido e intimo através dessa uniao. Mas exis­
tem outras maneiras," alem da sexual, de se familiarizar e
atingir a intimidade com o desconhecido. Minha intencao'
naa a discUtir contra ou a favor das reladoes sexuais indi­
vidualmente determinadas.-Para um psicólogo isso tem pouca
importancia, ja que as pessoas .vivem -suas vidas de acorda
com tipos 'de' raciocinios'os mais obsctiros e individuais
(deve-Se considerar que sistema-'que -regula as rein óes
entre os sexos, &yid° a ser a eXpreSsão fundamental que
rege as relacoes entre os opóstOs; esta;sbjeit° a infinitas va-
riacoes;que vao desde a abstiriendia e a. excluSão ate o inces-
t° legalizad 6 ,'a poligainia e 'existência de cônjuges ainda
criandas, sendo que qualqueiniodelo,prof)orciona justifi-
cacao para quage todo tipo de comportamento).
116

118
Inclusive,se com bastante freqiiencia, as Taisagens bu.
cOlicas de um "caso"são uma das maneiras de evitar a este­
rilidade opressiva . 00 casamento. Atualmente, ,se pudesse-
mos descobrir onde .o amor é mais dilacerante e cheio de tor.
mentos, acabaríamos :verificando que é no casamento rn0.
demo ocidental. E isto equivaleria a dizer qu je a crucifica-
gao do amor, do Cristo, encontra-se exatamente dentro de
nossos ;fares; na situagao intolerável de casam ento em
que tanta "gente 'esta imobilizada. 0 um caSamento 'modem0
carrega um fardo imenio sem o "suporte vivo do sacramento,
ou o apoio da tradigao. Se isto for um Getsemani, entao, ir
dormir fazendo de conta cfue ele é um jardim tranqüilo ou
abandona-lo na agonia impossível do casamento (de fato
experimentado como a própria rnorte do amor- por tantos

que v*em embusca de- orientagdo) seria fugir, s'eparar-se ou


divorciar-se do lugar onde Cristo realmente esta enquanto
amor. Suportado através da noite escura,- ele pode,- na verdade,
leVar a uma dor ainda "n raior. Por
que am or não pode ressu§citar:> - " - - outro lado, sera _ .

No casamento temos a chance de viver a uniao dos,


opostos e de cultivar eros todos os dias. Um bom casamento
significaria um a boa uniao. Mas isto esta especialm ente
reservado pars aqueles casais nos quais cada _membro se
encaixa perfeitamente,nas partes falhas do outro. Um "bom"
c a s a m e n t o se da, e. l a g d o do c r e s c i m e n t o t o t a l
ntao, pe l a anu
do individuo. Esse tipo de uniao'impede o des,envolvime
pois _ o parceiro, não deixa o outro ncher nt°..
por seu próprio; crescimento individupreeal. ("El suss lacunasajia'esra la,
a minha frente, como„de habito demonstrando a suata com-

petencia").No casamento,, duas, metades não fazem um


inteiro. Assim, muito dificilmente
0 casamento, enquanto santificagao do mistério do
casal, não tem manual de -instrugoes. Mesmo assim, alguns
de seus problemas (nunca-porem- seu mistério) podem ser
relacionados ao modelo da cruz do amor descrito no capi­
tulo I. E frequente que um dos pratos da balanga fique
sobrecarregado,- relacionando-se assim a crise no casamento
aos reajustes de- proporgoes entre o amor enquanto co-
municagao ativa' e -enquanto profundidade, interior. As ve-'
zes o amor; enquanto estado de ser, acaba' crescendo nos
acres estereis e ,abandonados onde o amor, enquanto dese­
jo, ja se consumiu: Outras vezes é totalm ente impossível.
A (mica coisa segura seria -dizer que o casamento pode ser
um milagre em meio ao dia-a-dia -se dermos menos atengao*
ao outro ou- ao "nosso problema conjugal" e mais as qua­
lidades femininas de nosso interior seja eu homem ou mu­
lher. Costuma-se dizer que no casamento 3/4 da responsa­
bilidade pertence a - mulher.* Costuma-se dizer isso signi­
ficando que-a parte feminina engloba a maior parte- do ca-,
sarnento.. Mas o- feminino- encontra-se tanto no homem
quanto nam ulher. A perda da anima do hoinem e os seus
lagos matemos ultracompensatorios, beni como o "fato de a
mulher esconder-se da feminilidade no envelhecimento, são
os fatores.que rapidamente ressecam a congelam o casal em
maridos e mulheres pre-fabricados, tao arquetipicamente
iguais em todos os cantos do mundo. Tao ásperos, amargos
e sem gostoespecifico, ansiando pela agua da vida que cada
um espera encontrar dentro de uma nova experiência.
Existem, contudo, outras maneiras de chegar ao co ­
nhecimento do feminino, de descobrir.o-nosso lado oposto.,
E por essa verdade interior encontrar-se perdida que se faz
necessário, dar-lhe enfase .hoje em dia. 0 feminino não é
apenas uma _coisa extema; ele esta la, dentro’ de nos, pois.
o que determina que sejamos homem é apenas uma peque­
na preponderancia.de cromossomos . . . 0 homem timido que.,
foi D.. H. Lawrence_ descobriu as mulheres como elas «são,,
de maneira Intima e valida, sem ter que primeiro assaltar, e,
spodera existir, um "bom". casamento,, se antes não existir um
casamento ,"ruim", isto 6 , uma uniao onde
o,processo,indiyidual em diregao, a totalidade frequentemente
produza rnecessidades contrarias,, a, imagem costumeira ; de
um ," born " casamento..
118

120
conquistar a populacAo feminina do pais a titulo de pesqui­
sa pessoal. Apenas um aspecto do cultivo da sensibilidade e
sentimento é sexual, e ainda assim esse aspecto é um dos
rlltimos. Esse desenvolvimento parece ser principalmente
uma,questão de tempo.
- 8 curioso que quando se vive temporatjamente a se­

xualidade sob a forma de, fantasia, ,ao invés de exprimi-la


concretamente, da-sea vida a oportunidade, de passar por
uma remitologizacao ou ressacralizacao. Ela tende a se con­
sagrar novamente através da retencao pela psique., Quarido
seprende o calor, a psique pode ser acendida em imagina-,
cao, ao mesmo tempo que, enquanto anima ou alma, a p si­
que também confere o seu toque humano. Ela, da forma ao
feminino e diferenciagao ao,sentimento,ampliando,necessi­
dades prementes em amor. As .vezes essa dinamizacao, ,essa_
ressacralizacao da sexualidade irrompe porta a dentro com
a sua W elt-Schm ertz ,cO sm ica, com sensagoes físicas dentro
do peito, com mulheres, oniricas tristes, com olhos, femini-,
nos, como fascinio pela. M ulher em si:, todo- esse mundo,
,que deu origem 6 se diferenciou*por meio do culto da deusa
do Amor, como também pelas teorias do eros,cosmogoni7, co,
dalarmonia das esferas e da espiritualizacao op divinizacao
do amor. A origem arquetipica desse conjunto parece ser a
auto,inibicao de eros, a ,qual não é nem -proibicacY moralista.
Não se trata, aqui, de condenar, expressar concretamente- ou
-sublimar a seXualidade_ sob qualquer outra: forma. Os
sentimentos ,e as ;fantasias -sexuais vividosJ
intensamente'dentro da 'pessoa e, assim, por meio de uma
imagem feminina, eles ,podem se abrir comb luz >ou aroma:
(dal os simbolos -religiosos clássicos da flor celestial do_:
amor divino") em.direcao a todo o universo. 0 amante ama:
o mundo todo, assim como o mundo também (Lama.»
Uma vez porem consagradO por esses dominios eleva­
dos, o amor volta a casa, descendo A. região.do meio, que ..e
simplesmente a psique humana; e que, necessita de alguma'
coisa igualmente humana para a sua plenificagao. Cair.fora.
121
da paixao é ca'rr ria humanidade. Tanto os dorainios Trials
altos de eros, quanto os mais baixos sad profundamente iridi
ferentes a pessoa e, ao- amor humano. A .sexualidade, quando
considerada em si mesma, e.impeSsoal. 0 eros sexual te m a
brutalidade de um demOnio; podendo também apresentar-
se como UM deus alado -a nOs:empurrar para fora do
humano, caso não esteja unido e C ontido_pela psique. Para
trazer alegria-cosMica novamente ao : mundo, p ‘ermitindo-,
the tomar-Se humano a ponto de reconsagra-slo, pode ou não-
ser necessário o encontro concreto com: uma _outra_pessoa„
vas esse proCessO de t psiquiiacao sempre levara bastante
t e m p o . ,

O utra pO sSibilidade de cultivar eros interiorm ente,


requer que. se esteja- aberto ao_ine'onsciente, como ja vimos,
paginas atra. 82 Sera 'que tenho vontade 'de it onde esbarro
nele, especiairriente la -onde sou atraido, não tanto por uma
pessoa em. particular, mas pela imagem dessa pessoa? Al
esta a intemalizacao radical .de eros — tratar o exterior,
como se fosse coisa intema, ou nada mais que um so n h o ".
Deixar-se ser sonhado, embora retendo a consciência den­
tro desse niovimento..E toode acompanhar os sonhos, as pon­
tes espbritateas e _naturals que se_ estendem todas as noites
entre -a consciência e o outro lado. Quanto mais distantes
nos encontrarmos d it ais escurci for o abismo entre a noite,
e o dia,-Mais sedUtoras e encantatorias serao as itnagens a
nos -chamar. A psique valese da seducao quando, o ego não
se que mover. 0 guerreiro orgulhoso,. de coracao duro e que
não otive ninguém, é atraido_por_fantasias sexuaiS. Com fre-
qUenCia. estas São as unicas maneiras do inconsciente f azer-
-s e o u v i r e s e n t i r . _
A abertura para o- sonho implica abertura a .todos os.
sonhos, a todos os seus'fragmentos e imagens, t uma co n -
p;
do ego decidir, pela manha, que sonhos sac. ott
não uteis, quais os que felizmente podem_ser esquecidos e
quaffs os que realmente vao importar. Quase sempre a de­
Cisão .do ego_neSse setor serve apenas a si mesmo
e a sua

121

122
importancia,* ao passo: que a. finicao maior do sonho seria
a de tornar o ego -relativo dentro da totalidade da psique.
0 ego quase sempre sente nisso uma humilhacao negative,

Quando se permite a ele escolher, esta iniciada uma forma


sutil de autotraicao, conduzindo a unilateralidade e, final­
mente, a inflacao e,a estados depressivos.
A energia não estara equilibrada,. Levar o inconsciente
a seri° significa ouvir tudo o que ele tem a dizer ate o limite
que possamo s agiientar. Não se trata de escolher apenas a s
coisas agradaveis. ,
M em de toda a seriedade, para assimilar os sonhos,
dependemos, como ja vimos em relagao a sombra, de uma
certa aceitagao bem-humor,ada do seu aspecto incompreen-
sivel. Novamente nos defrontamos com 'o paradoxo: uma
analise ardua, conjugada a uma tola submissão aos sonhos.
Em bora seja necessário o meu esforço em recapture-los
muito pouco podera ser assimilado sem a leveza inobjetiva
e a> indecisão paciente ,própria do feminino._ A integracao
entre sonho e consciênciaa requer algo alem de-esforco. •
A qecnica .pela qual o mundo interior do sonho e da
imagem e cultivado,(a intemalizacao de eros,'para »denomi­
na-la de outra.fornia ) - 6 rapidamente descrita em tres fases:
de inicio a uma atitude .da consciênciaa, a de aceitar tudo 0
que vier; embora isso >não se realize.com facilidade, facil
entender como- isso atimentara o «campo da -realidade-
quica ja do ponto de vista- eriergetico, pois muita coisa esta-
rd fluindo para dentro, enquanto nada tera vazao para o
exterior.' Claro esta-queltOdas as fantasias que fluent para*
dentro (com° sonhos, projetos a impulsos) .tem ,premencia*
de acao. Separar a fantasia de suas raizes dinâmicas e, do
impulso Tara a acao é uma taref a realmente difícil. Tende­
mos a reprimir tudo porque-não pode ser trazido a vida, ou,
ao darmos redeas a fantasia, desejamos vive-la imediata­
mente de forma concreta.
Tal metodo inibe o ego enquanto c'executor!'. Contudo,
a consciênciaa pode ser estendida enquanto se contraria o
epp. Ela pode atemesmo crescer as custas dei anto e, seef
r nos p e e
garinos a diferença entre c o n s c i ê n c i a e n q u l e x a o

uiquanto acao. Aqui podemos lembrar como se cia otlesenvolvimen-


to do ego. Ele» aumenta o seu foco a partir da infancia, jun­
tando para si a luz mais difusa da consciência, geral. Ela
cresce em detriment0 da Aotalidade- do ser, do si-mesmo.
Por um lado esse crescimento .confere ao. ego sua capacida­
de para atencao 8 acao especializadas.e direiás.. Em contra­
partida, contudo, isso. rouba a cofisciencia da psique contra-'
to globalidade, deixando uma grande parte dela naescuri:
dao (as figuras arquetipicas que demonstram como o com-
plex° do ego adquire sua consciência, quase sempre repre­
sentam ladroes: Eva, laco, Hermes, Prometeu etc.) A inten-
sificacao continua, da consciência para o ego e pelo ego cau­
sa cada vez,mais escuridao'e inConsciência em outros domi-
ios. A consciência difusa de um territorio intermediário
vai-se estreitando as especificacoes do ego, ou entao acaba
caindo r. o abismo. Perde-se-a habilidade de enxergar na
penumbr; ficando tarribem. perdido o senso de tnaravilhar-
se, próprio da crianca:.',Assim, a funcao simbOlica entra em
declinio o_ mundo se torna desmitologizado. A religião
desmitologizada simplesmente reflete a consciência,modema.
que foi estreitada:unicamente em favor do ego. Tornar-se
igual a 1 uma crianca e ser guiado por uma crianca, signi-,
fica a reversed de todd um p ro cess 0 e ajuda a abandonar
o foco de consciência do ego. ,
A diferença,entre consciência enquanto capacidade de
refletir e 'enquanto forma de acao não é a mestna que ha
ent re c o mp e x t r o v e r t i d o e i n t r ove r s ã o . A acao do>
ego _pode, tanto ester voltada para dentro quanto para o
exterior. Podemos serintrovertidamente,ego-ativoS quando
não..deixamos passar nada e ficarrios preocupados, pesqui-
sand° nossa vida Interior guiados pela curiosidade. Da mes­
ma forma a vida»extrovertida pode ser reflexiva,.como a de
um told perambulando pelo 'm undo' A extensão da cons->
123

123
ciência a qual me refiro é fhais o aprofundainentO do sentido
vertical da conexão consigO mesmo. A luz é dotada de mobi­
lidade e ondulagOes. 0 seu ponto de partida tanto pode ser
o mundo quanto- nos mesmos, o que importa a que ela não
se move nO.sentidb das decisties, do estreitamehto do ego.,
A medida qtie esse mundo interior, de fantasias se intensi
fica atraVes. do .sacrifício, da .compulsão animal que o ego
tem pela agao, desenvolve-se um espaco interior contido;
que é. o dominio ja deserito: no capitulo Em sintese, a
primeira fase é a inibicao da-atividade do ego em favor, da-
fantasia 'consciente. 'Devido.a isso a ,pesSoa sente-se' fracas
regredida; dependente; indecisa e infantil.
Depois de aceitar as fantasias com seus impulsos e re=
gressoes ao mesmo tempo que iefreia a sua realizacao no
mundo concreto, a segunda fase .e canaliiar novamente ener
gia para as fantasias e 'dota-las de libido, interesse, atencau,
e.,amot suficientes, fim. de que elas assuinam uma vida,
própria espontanea*e pessoal.
0 cultivo da fantasia, mesmo quando impelido porao-

biga e*desejo, ao invés de uma contradicao' de Exodo'2037


e Mateus 5,28 é talVez a sua amplificacao exegetica. Na
verdade eu posso olhar com desejo para um objeto e cultivar
esse desejo, observando-o e sentindo-o,' deixando spas 'possi
bilidades imaginativas'correrem em minha mente, distrairi
do-me com prazer sem realiza-las7concretamente. E possi
vel fazer a separagao entre o interior e o exterior; desejei
contido no sujeito e desejo expresso' no objeto, entre a mac»
esquerda de 'ima'gens e carências carregadas: de sentiinento
e a mao direita dos desejos'exigentes..Na verdade, o :olho:
direito e a niao direita sac Os que. ofendem devem -Ser
sacrificadOs (Mateus'5,29), pois lado direitb é o lado da-
nab. A fantasia leva diretamente a agdo quando não existe
espago suficiente entre idéia'e impulso, quando -o dominia
interior se encontra tao' enrijecido que nada pode.ser conti
do por muito tempo. 0 que 'eu 'vejo, eu quero, e o' que eu,
quero preciso obter: Toda necessidade' é transformada em

124
exigencia.,Se ,a fantasia tem que ser eyitada pela referencia:
a sua relação com' omundo. evxteria saua rea e ao critério on de
" t e s t e n a r e a l i d a d e " ( q u e p o d e l e ar . l i z a c a o c-
creta), entao ai.ja não ha nada a ver com 0 nom e e a natu­
reza da.,fantasia. A fantasia não se relaciona diretamente a
nada do mundo concreto ; ,Ela não é redutiVel ,a ele na,
orgem,. e :nem: the é dirigida enquanto fini* A fantasia pode
ter suas ,inStigagoes em fatos exteriores, .manipulando-os. a
seguir dentro da mente, mas o seu cameo de . existência é
meramente, imaginario; assim como a..,cobica e a e luxuria
também_ são. Trata,se de dinamiSnios psíquicos, d impul­
sos da alma que Seriam.simplesmente arrasados pelo grotes­
co, caso entrassem no ,mundo ’de forma direta. Não é tanto
para serein_saciados pela acao, enquanto :apetites,.que esses
impulsos aparecetn, como para criarem o mundo interior,
para, iluininare Thes
last
pretasidade e, _ _ buir
c cr e s u a s , p
para aprofundar e enriquecer a sualmeta.de experiência.
' Como ja foi dito no .capitulo III, 'a.:verdadeiralrevolu-
.cao da alma.inão é sexual em si mesma. 0 instinto sexual
humano é amplamente plastic 0 e prove energias para mu­
danças na, consciência ao longo de toda, a histOria'. psicoló­
gica. Se fosse possível ler. os encam inham entos dos fatos -
coletivoS através das experiências particulares dos indiví­
duos, seria possivet obserVar que a profunda mudanCa que
agbra esta se processando é cap,tada _por :fantasias sexuais
meramente ,enquanto 'dinamismo, psíquica, cujaintencao
final; na verdade, ..e reviviticar e.expandirra realidade psi.7
quica:Vivenciar interiormente ao invés de, apenas exprimir
tudo, isso coricretamente leva. uma ithensa energia instintiya
ao mundo interior. 0 desejo e a cobica levam im pulso ao
impeto de descobrito.'espaco interior, da mesma forma que
e..necessaria ' a existência de dinamismos iisiquicos fortes
,como,curibSidade, ,competicao e fantasia de ficcao cientifi-
ca para levar-nos a Lua,Marte ou Venus.no espaco exterior.
125
Quando alguem reage com. medo Ou vergonha diante
de suas- fantasias'; mostra .que ainda não. existe separacao
suficiente entre .a experiência . subjetiva ;.de_ si _mesmo e a
acao objetiva. Omedo e a vergonha são .protecocs,_são emo,
toes que evitam _expressão concreta, e realizacao dessas
paixoes_fantasticasLno mundo, objetivo. 0, medo e ^„vergo­
nha tainbem tonferem, realidade ao mundo, interior, que
não surge mais como .se fosse apenas "mera fantasia" ou
" d e v a n e i o " , .
O interesse, pela fantasia . 6 uma earaCteristica de quase
todas as disciplinas espirituais, 'quer seja, no metodo
soh._a forma de.,"imaginocao .ative :junguiana, quer
nas teCnicas descritas.no misticismo alquimico ou:ainda em
textos-cristaos, hindus, persas etc.: Mas a fantasia passiva
nunca, e suficiente, pois . ela ,6> interminável e.-.vai .tecendo
veus que confundem .imageme acao. A fase posterior al fan­
tasia e. a imaginacao, isto 6 ,.o .trabalho de.transformar deva-
neio's e fantasiai_em..espacos_ cenidos- interiores, Onde se
pode entrar, e que. estao povoados de figuras vividas, com
as quais sepode falare conversar,-sentinda e tocando-lhes
a presença. Isto, entao, é o que seria a pesquisa ou busca
interior. Essa imaginacao requer um..esfor90 muito grande.
0 trabalho de converter fantasia em imaginacao. é. a base de

todas as artes..Também .a base para os novos passos-,_que


damos na vida, ,considerando=se que as visa es., de_nossos
futuros pessoais ,vem primeiro .sob a forina de fantasias; E,
no inicio, ha minta razao,para guard&lasem nosso interior,
imaginando-as com riqueza ,de detalhes.e..em esquemas, em
grande escala,:antes de decidirmos, se elas podem ser tenta­
das no mundo ou,seguidas mais extensamente no. nivel da
interiorizacao, ou _se devem ser. vividas objetiva subje­
tivamente.
ue ela seja "real",
r n e n t o p e r i m a r i o d e n e r g i a q u e f az c o m q A
vida interior é palida'e efemera (como o mundo em deter-mina
dos estados . depresivos) enquanto o ego não se volta para
ela,.acreditando .e _datando-a de realidade. Esse invéstimento,
esSe envolvimento com a vida interior f az com que ela se
'tome cada v_ez mais importante, dando-lhe essencia. 0
interesse que manifestarmos' sera o mesmo que receberemos
de volta: As forcas assustadoras tornam-se hers
e faceis de m anipular, ao pass que a m ulher interior
se humaniza mais, captando mais facilmente a nossa con-
f ianca. Ela agora não 6 mais somente aquele ser sedutor e
cheio .de exigencias: ela comet
a revelar o mundo ao qual
nos atrai e ate mesmo- a dar um 1 relato sobre si mesma, suas
funções e propositos. Tornando-se mais humana, os estados a
que estamos sujeitos tomam-se menos dificeis e pessoais,
sendo sirbstituidos _por um subtom emocional mais firme,
uma sintonia com. os ,sentimentos, uma corda que sabemos
quando vibra. Não estando ,mais em.conflito com ela, mais
energia encontra-se a disposição da consciência, provando
que a energia , despendida nessa direr

ao retorna sob uma


forma .nova. Entretanto, como ein qu.alquer. sistema-fisico,
não podera setornar nada alerri do que ,foi dado., Somente
a atencao e. o devotamento ,fiel poderão transformar a fan-
t a s i . a e m i m a g i n a , cao.. .
A atencao fiel ao mundo imagetico.~cramor que trans-
simples imagens em preSencas,,dando:lhes um ser,
ou'melhor, revelando o, ser vivo que elas naturalmente con­
dem,. não é nada mais, do que a remitologizack de. qiie
falamos no_f inal do.capitulo II. Conteildos psíquicos, .trans;-
formarn,se em, "poderes",, "espíritos" .ou "deuses". Senti­
mos a presença deles, como faziam todos os _povos prim iti­
vos que ainda tinham alma. Essas presenças, e poderes são
126

Talvez a imaginacao.e o seu desenvolvimento consti­


tuam um problema religioso;- pois a religiao so pode tomar-
se real através da crenca. Como a te o lo g ia .a: crenca
é um ato de fe. Ou entao, e a própria :fe enquanto invésti-
a nossa cOntraPartida modem.a dos antigos paindOes, de se-
-res vivos, departes animadas da, alma, dos. deUses p ro jeto ­
res .domésticos e .dos demonios. assustadores. Eses- seres
eramJniticos .por_ participarem de , lima "historia", - on dra-
127
ma psíquico. "Nos ,representamos 'os mesmos dramas, e eles
também se fazem representar .em nos; através ,de nossa pes.
soa e em nosso beneficio,.quando damos.atencao ao aspecto
imagetico de nossas vidas individuais ,e_ ao .da própria vida
em- si mesma. A atericao _é a ,virtude psicologica cardeal.
Dela dependem, talvez, .as outras virtudes, levando-se em
conta a impossibilidade' de haver fe, esperança e amor em
relação a qualquer .coisa sem o recebimento anterior de
a t e n c a o . ' •
Ha ainda outras, conseqiiencias da confianca dedicada
as imagens-da, alma. Um sentimento novo..de_auto-absolvi-
gab, de auto-aceitacao*comeca a circular, a fluir. E 'como se
o coracao .e o. lado esquerdoestivessem ampliando .os seus
4:lominios. Os aspectos sombrios.da personalidade continuam
.a' desempenhar seus papeis opressivos» Inas eles agora se
encontram no. interior de uma fabula..maior: o mito de si
mesmo. Sentimo-nos em ressonancia com a no&sa...significa-
cao verdadeira. M eu .mito torna-se minha verdade, 'minha
v i d a s i m b ó l i c a e. d a a u t o - a b s o l v i c a o , a u t o -
aceitagao-e amor por si mesmo, o indivíduo continua per-
.cebendo que e um' _pecador,_porem-não um delinqüente,
sendo-grato aos seus pecados; e .não ao fato de os outros
cometerem pecados.,Ama o seb.destino a ponto de desejar
permanecer sempre nessa conexão intema vivida com seu
próprio, legado, individual. Essas experiências intensas de
emocao religiosa parecem fluir como dadivas da alma. Desta
vez ela possui, uma qualidade especial, que seria inelhor
denominada como crista. Esta' anima naturaliter christiana
apenas comeca a. revelar-se depois da_ dedicacao, do cuida­
do atento, e prolongado .aos. aspectos da psique que pode­
riam não. ser cristão.
A terceira etapa e gratuidade, 'devido 'a aparência
livre e criativa da imaginacao, como se o. mundo interior
recem-surgido comecasse, espontaneamente, a atuar por con­
ta própria, sem estar soba direcao.e a atencao
da.consciênciaa do ego. 0 mundo.interior não apenas

12
progressivamente de si mesmo, produzindo crises e resol-
vendo-as no interior da sua própria transformacao; ele tam-
,em de voce, das ex ig en cias e co n flito s de seu ego.
t a Shakti feminina da índia em um nivel ela culfuaisra e altocriativi-
são
também as nove musas responsáveis p
dade. Sentimo-nos vividas pela imaginacao.
Os mitologemas nos dao outro indicio de les comcultuaa a femi-
n i . l i d a d e i n t . e ma p o d e s e r . c u l t i v a d a . - H e r c u
princípios femininos. Ista implica deixar-se, as vezes, envol ver
por elementos como alua, anoite, sol a reeflexasuaco,ons a leacaci enci oa
?
a c o r u j a e o f e l i n o , ao i n v é s de p e l o
Clara, direta e honesta e sua acao "%s vezes negta. enua A consdênáaE p-
lunar flutua; as vezes é ampla e clara,
riOdica, reativa e no homem mostra-se 'corm variações de
h u m ^ p f g ^ ^ j s Q y est e m undo a e
o rcusar o corpo. Este
seria uma armadilha, uma jaula para a alma. Contudo, foi
através do corpo que sua feminilidade emociona a dodel o spe
dacou. Isto quer dizer, p arcialm en te, que a vid corpo

e rincipio feminino. A alma vegetativa, natural,


|XJ,,u'uapresenta s ao p us figuracao — na experiência analitica — como _
sendo intimamente conectada com o sistema nervoso vegetativo
involuntário, seus humores, flutuações e reacoes, sua
inacessibilidade ab controle direta pela vontade, pelo sistem a
nervoso voluntário. ,
E obvio que o desenvolvimento do corpo nab fosse signifuicam
c u l t u r a mu s c u l a r , o u t r a t a - l o e cur t i - l o c o mo se
objeto, aperfeod-lo em técn icas' de ju d o , carate ou em
i , c
habilidades sexuais..Deyemos salientar uma diferença —
sempre esquecida - .7 - existente entre corpo e carne. A came é
ao mesmo tempo o op e com panheiro secreto do ego.
Atitudes 129
mentais quanto a carne produzem sexo ' mental, e ó rfs x ip ro ra
eamiemiatCSmísmD^piSíieaia^tsiioiErtianajbaeTicuíiovitaminas.
O ego e a mente desprezam figurativamente a came,
assim como nos literalmente olhamos_nosso corpo de cima
parabaixo.
0 corpo pode ser considerado como o paralelo ffsico

da psique, da mesma forma que a carne o é para a mente.


Em tomb do relacionamento enigmatic 0 entre corpo e car­
ne giram questões como os inisterios da imaculada concei-
cao, a encamacao, atos milagrosos, a crucificacao e a res­
surreição. E, também os problemas da medicina psicossoma-
tica. Nossos sintomas contemporâneos, nos forcam a admitir
a came de forma nova, ratraves da psique, interna e simbo­
licamente. por seu intermedio que, transformamos algo
meramente organic 0 no expressivo sistema do corpo vivendo
no interior da came. Enquanto lugar de, fantasias, o corpo
pode exceder de longe a capacidade da came e conduzi-la
ao colapso, uma vez que e imenso o potencial de apetites do
corpo. Podemos ser insaciaveis nas fantasias do corpo. De
outro lado, aparecem também discrepancias entre corpo e
came, por exem plo, erii peSsoas jovens e inibidas que
tenham complexes de tip° neurastenico. A came esti em
ordem, sadia e forte, contudo a fantasia do corpo esfa b la
queada. São incapazes de sair e resolver seus problemas
pelas ruas. Tentativas de resolver esses prohlemas na
própria came resultam freqüentemente em fracassos,
dolorosos. 0 corpo pode, entreianto,' ser estimulado e
educado para a vida através de seu despertar e atraves'doS
hurrores, fantas i a s ' e i magens
f emi ni nas .
Nos' disttirbios psicossomáticos a came parece não estar
sendo dirigida por suas leis fisiologicas especificas, mas por
algo ainda- m ais mais acessiv el a co n sciên ciaa através
da compreensão psicolOgica intema do que pela observa-
cao extema. A medicina p sico ssO rn atica a _o .feliz ressurgi­
mento da antiga doutrina religiosa do "corpo sutil" e dds
"espfritos anitnais". Essa doutrina foi a base da' psicologia
e da medicina oriental, oCiderital e arabica ate o século XIX:
vico dos espfritos da alma (espíritos animais), princfpio
que constituía uma, uniao de incomensuráveis, ou seja, o
"corpo sutil". Compreendendo tanto uma espiritualidade
imaterial quanto uma realidade ffsica, a concepcao é sim i­
lar aos paradoxos que encontramos hoje em dia nas expla-
nacOes parapsfquicas e paraffsicas da medicina psicossoma-
tica, referentes a "dinamismos inconscientes", "esgotamento
emocional" ou ainda a linguagem que eu próprio utilizei
nesta obra, "a imaginacao do corpo".
N a medida em que a consciênciaa se afasta da identi-
ficacao com a merite e o ego, ela se tom a mais am pla e
mais feminina em sua receptividade e intimidade próprias,
e a came consoantemente se transforma em consciênciaa do
corpo (sentimo-nos mais contrários* a um tratamento exclu­
sivamente medico e mais sensíveis aos agentes farmacolo-
gicos). A consciênciaa do, corpo inicia-se com a experiência
intem a da carne, a encarnacao real de nossa humanidade
em tem ura e alegria, bem -estar e ritmo presentes aqui e
agora, fisicamente próxima de nos; de,nossos sintomas e sen­
sações e da realidade 'física dos outros. De dentro do está­
bulo de _nossa came. perseguida e exausta, do nosso ser
fisico rejeitado, asinino e inexpressivo como um boi; nasce
o novo corpo e o f vem os reis oferecendo dadivas.
Essa descida a came e sua transformacao em corpo,
esse movimento intemo rumo ao mistério sagrado e vincula­
do ao feminino, poeticamente descrito em D. H . Lawren-
ce ou pictoricamente em ,Rubens, onde o fascfnio pela car­
ne decorre em beneficio do corpo. Mencione-se ainda outra
imagem, a de são. Paulo: "Teu corpo é um templo... G lo­
rifica entao a DeuS no teu corpo!"
0 caminho do corpo se faz m uito mais p ela mente

inconsciente; do que, pelo consciente, que quase sempre ten


de a permanecer_de*lado, Observando o.corpo como se fosse
um objeto, embora precioso: sim, sempre "meu", mas desa­
fortunadamente não o "Eu" real. Entao a came e sua vida
tomam-se compulsivas, de tal forma que, quanto mais nos

131
afastamos dela, mais "ela Texetce sobre nos seu fascinio,
auto-eroticamente chamaridO nossa atencao de Volta para
si. A alma natural, essa nadadora trigueira, jocosa e seme­
lhante a um gato e aos estadds deAnirrio e fantasias que ela
constroi, 'nos conduz em sentida descendente a tepidez ani­
mal, a disposição e sensacties fisicas: Os sintomas bl o­
queados,^ preocupacao'com a came como um objeto e tudo
o 'que possa atontecer de errado com' "ela" tem finalmente
uma chance de diminuir.
0 desejo de tom ar-se Integro novamente, curado na -
came e ressuscitado,no corpo;'não.tem de ser satisfeito atra-
yes de uma' igacao sexual extem a proibida, considerando-
se qire quase sempre esse* . 6 o caminhoT que o homem segue
ao procurar sua redencao; o retorno de* seu 'corpo a si
m e s m o . •
De fato, a intimidade mais profunda cony os sentimen-
tOs físicos de um hoinem. a expressa pela psique thasculina
através da' imagem da"irma com quem uma uniao sexual
extema esta proibida.' Contudo; tom ) acompanhamento des­
sas emOcOeS cruciais, a 'psique insiste na iinagetri da. irma.
Atras da’ atracao pela ,mulher proibida encontra-se a faSci-
nacao pel a Tomar este aspecto s i mpl esment e em seu
carater redutivo aos .desejos infantis incestuosos, distorce
seu significado mais profundo: Novamente, que a proibido
no mundo exterior toina-se uma necessidade imperiosa para
o interior. lung 'diz: "Sempre que else instinto de totalida,
de aparece, ele com qa’ por diSfarcar-se soh o'sim bolism o
do inceSto. .. " 4 Minha irma abrange"metupai e minha Mae;
minha formacao.'Compartilhamos os mesmos segredos.-Mi=
nha irma sou eu — porem" feminino. Unir-me a 'ela a com­
pletar a mim mesmo; fertilizar-me, pois "-incesto é uniao
entre iguais. . " 5 Ela evoca, em mims a familiaridade e a
uniao com meu prôprio'sangue. Assimcomo minha polaris

4 The P sych o lo g y o f T rotsferen ce, .’L o n d res e Nova York, 1954;


p. 262.
5 Idem,p. 218.'

132
dade sexual é estimulada pela distancia, constelando minha
masculinidade ,na virilidade sexual, a fusão com a irma
devolve-me a identidade feminina. Ela evoca a imagem ori 7
ginal de inteireza anterior as primeiras feridas da infancia
que separam o bem do mal, o ego do si-mesmo, o corpo da
came, o macho da femea. Através dela posso ser reconciliado
com o amor pela minha própria natureza fisica. A irma
6 o amor primordial, não mais regressivo ate a Ink, já que

se encontra em m inha própria geracao. A irm a é m inha


igual, que sente o mesmo em relação a mim, seu irmao.
"Como é doce o_teu amor, minha irma, minha noiva!" "Ah,
se fosses meu irmao " "Abre a porta, minha irma, minha
amada, minha pomba sem defeitos. Tenho a cabeca orvalha­
da de sereno " . 6
0 enfoque do corpo deve ser igual ao do sonho. Ambos
proporcionamineios' de desenvOlvimento da conexão inte­
rior e expandem-lhe a realidade psíquica. Posso tomar-me
amigo tantO' do corpo quanto do sonhb, dando valor, con-
fianca e compreensão a seus impulsos e necessidades. Assim
como so um especialista pode interpretar um sonho, so um
medico pode diagnosticar a came. Mas Podemos nos tomar
amigos tantO d^um como "de outro; o" vintulo afetivo com
o sonho confira a sua iealidade psiquiea p o r entregar-lhe
o nosso sentimento. A considericao afetiva 'pelo corpo é
um sim dado a vida' fisica etiquanto templo ou receptáculo
de algo transfisico. Esta intimidade e familiaridade com o
corpo, deslizando ao seu interior, é o contrapeso necessário
a ativacao do inconsciente na fantasia e no sonho. Se ambos
não estiverem em" conjunto de modo permanente, com faci­
lidade cairemos no velho equivoco kantiano da supe'tvalo-
rizaOo' dos conteúdos mentais, tomando-os":eomo as (micas
expressoeS da psique, que na filosofia idealista não pode ser
tocada. Sempre qUe o físico e desValbriiado, algum mal esta
sendo feito contra a dimensão feminina. A encamagao, psi-
ó Cantico dos Canticos:

133
cologicamente testemunhada, é o sentimento da vida na
carne, a ressurrei gao des t a carne, sob o pr i s ma
ps i col ógi co, refere-se a t r ans f or magao da carne em
corpo, p a r a l e l a me n t e t r a n s f o r ma g a o de des ej os
egoi st as e da raci onali dade em consciência, psíquica.
E sta transformagao diz respeito, portanto, ao amadurecimento
do corpo dentro da came que vai envelhecendo. Mesmo
quando submetido ao processo irreversivel da velhice, o-
individuo continua- a desenvolver-se com as transformagoes
do amadurecimento. Apesar do aspecto feio do
envelhecimen— to sentimo-nos mais agradecidos e em estado
de graga, o que também significa que o corpo e o local da
gragac Ela ê uma virtude fem iriina novamente, o
recebimento dessa grata depende de que antes se desga a
feminilidade da carne e a sua redengao sob a forma de
corpo.,
Ao servir ao feminino, ao deixar que ele goveme deve
haver um cuidado especial. Hercules passa, a servir Onfale
somente alp& .a realizagao dos Doze Trabalhos e Ulisses vai
viver ao lado de Circe somente depois de passar dez anos em
.batalhas. Isso , demonstra -a necessidade da exisiencia
anterior de uma certa posigao, masculina. Não significaria
isto a necessidade de que antes exista um ego que ja tenha
realizado alguma coisa?, - se assim é, deduz-se que é m e­
lhor acontecer isso apos'a .meia,idade, caso contrario a p es­
soa tera pouca percepgao, das coisas e também pouca forga,
podendo o ego, abandonar suas posigoes muito, facilmente.
De outra forma o reenfoque não sera nenhum sacrifiCio ou
reorientagao verdadeira. Sera um mero servigo regressivo
a mae, quando separar-,se dela era .o. objetivo de todos os
trabalhos e batalhas.
Eu não creio,que possa hayer alguma, diferenga entre
o moment0 religioso e o que estivemos desenvolvendo ao
longo deste, capitulo: .pu o que vimos, no ciesenrolar .deste
livro. Não importa ,para onde, mudemos a localizagao de
Deus, seja Ele o Deus interior, ou o Deus absolutamente
to base do ser, ou o Deus compartilhado onde dois ou tees
estiverem reunidos, ou se estamos todos em Deus e não po­
demos nuncaestar perdidos para Ele apesar de nossos esfor-
gos freneticos — seja qual for o lugar que Lhe d esignar­
m os, o m om ent° religioso sempre sera um a experiência e
esta experiência acontecera na psique. Talvez a nossa ta re ­
F a m enos a p ro cu ra e localizacao de D eus e m uito m a is
a preparagao do solo para que Ele possa descer das alturas
ou levantar-se das profundezas, ou ser revelado atraves do
am or pessoal.
Este solo e preparado pela busca interior quando re i­
vindicam os corajosam ente as areas perdidas da alm a, onde
ela caiu em, desuso ou em doenga. E a preparagao se apro­
funda pela , separagao dos filam entos da som bra, quando
incorporam os a consciência as tensties das perplexidades
morais, de tal form_a que nossas agOes se assemelhem menos
a reagoes e m ais a atos verdadeiros. A personalidade que
não pode conter:se, que,cai aos pedagos caso o ego tenha
que ser abandonado, que não tem outra luz a não ser aquela
sustentada pela vontade, muito dificilmente sera a base para
um m om ento religioso. M esm o que Deus seja am or, esse
am or podera nos destrogar caso as feridas de nossos p r i­
meiros amores humanos tenham sido fragilmente suturadas.
Sera que a personalidade que não levou- de algum modo
devidam ente em conta o inconsciente, a som bra e a anim a
p o d era ser o calice que contem a g rata div in a? E la não
sucum bira rapid° dem ais a desum anidade dem oniaca do
m undo coletivo exterior ou ao inconsciente coletivo?
De acordo com relatos da tradigao, o m omento religioso
é descrito como um acontecim ento intensam ente vivido que
transcende o ego enquanto revela a verdade. E é exatamente
esse o objetivo da analise. A verdade ali experim entada vai
alem da verdade causal de um a pessoa: as banalidades do
tipo "com o fiquei assim ", "quem é o culpado" e "o que devo
fazer agora". A analise se encam inha para a verdade m aior
da coerencia, para insinuacoes de im ortalidade e

135
para descobrir comb minha pessoa Cabe no esquema trials
amplo do detino. Quando estas* revelagoes abrem a porta
para o ineu centro emocional,, iluminam, ao mesmo tempo,
uma parte da escuridão. Esta verdad e tambeni a amor, uma
vez que causa o envOlvimento na própria base do ser e tamIDem
(IA o 'seniido de pertencer:
Se a principal soinbra do aconselhamento e o amor, e
se é nessa sombra que' o aconselhamento acontece, entao
nosso trabalho dependera da perfeigao do amor.: Amor
enquanto agape significa receber, acolher, abraçar. Talveza
perfeigao do amor se inicie pela fe e pelo tfabalho no
feminino' dentro' de nos, quer sejamos homem ou. mulher,
pois 'a. base. feminina é o receptáculo abrangente que nos
acolhe; ampara e earrega. Ele nos dá a luz, nos mitre e encoraja
a 'acreditar. Ele nos acolhe de volta a nos meSmOs'exatamente
como somos. Não sei de' que melhbr forma ou de que outro -
modo podemog nos preparar para 6 momento religiosó alem
de cultivarmos, darmos cultura iritericir a nossa feminilidade
inconsciente. Para que o momento Teligioso nos toque, o seu
terreno, tielO menos, pode ser aberto e trabalhado dentro das
fronteiras de nossa limitagao humana
individual:

Zurique e Moscia
1965/66
'SUMARIO

Nota IntrodutOria . .................................... .. 7

I— Encontros humanos e conexão interior

Trabalho psicológico. Expectativas, necessidades e exigencias.


Intengoes' do Ego do orientador. Ouvir. 0 ouvido como orgao
da consciência. A curiosidade. Confissão. 0 teste psicológico
como forma de curiosidade. Segredo e distancia natural. 0
espago psicológico dentro do encontro. 0 encontro humano
constelando o arquétipo do amor. Amor enquanto atividade e
enquanto estado de ser. 0 encontro humano e a ligagao
'interior. A conexão vertical interior equilibrando as relagoes
interiores. Intimidade e comunidade.

II — Vida interior: o inconsciente enquantaexperiência 39

A analise e a teologia tem' um :encontra na alma. "Alma"


en q u a n t o ' Conc e i t o. A " p e r d a da A - a l m a não é a
mente; aconselhainento Pastoral não e.psicoteraPia. A alma
e a vocagao do orientador. A teologia e psicologia profunda
colocando.a alma .como interiorizagao e prOfundidade. A
alma e o inconsciente. 'Trovas." do inconsciente. Com­
plexos. Estados de espírito. 0 despertar da vida interior. A
importancia religiosa da alma. A realidade do mundo inte­
rior. A redescoberta do mito interior e da religião.

III A escuridão interior: o inconsciente enquanto


pro b lem a m o r a l ........................................................ 71

Rupturas entre predica e pratica, entre púlpito e cadeira de


analista. A m oralidade da analise. A escuridão interior
enquanto coisa reprimida e esquecida, e enquanto potencia­
lidade e fator de fecundacao. Imagens da sombra. As lutas
morais. A "cura" da sombra. 0 paradoxo de amar e julgar.
0 código moral da analise como suporte para. 6 desenvolvi­

mento da personalidade. 0 bispo Robinson e a "nova m o­


ralidade". Visa°, ingenua do amor retratada em H o n e s t to
God. A moralidade analitica e a intensificagdo do conflito.
A intemalizacao de eros. _O idealismo espiritual e as disci­
plinas psicologicas. A base transcendente do impulso moral.
A consciericia. A capacidade de autodominio. 0 Demó- nio e
o, mal arquetipico. A Sombra e o orientador. Morali= dade e
sentimento.

IV fe m in ilid a d e in terio r: A r e a lid a d e d a "a n im a "


e a religiao..................................................................101

I magens femininas na psique masculina. As representagoes


da anima 'e seus efeitos. Emocoes e estados de animo: auto-
piedade, sentimentalismo e tristeza. 0 lado feminino nas
religioes comparadas: o xama, os herois gregos, o hinduis-
mo, Buda, a tradicao judaico-crista. M aria e a Anunciacao.
0 cultivo eros interior. Os,problemas do amor sexual. 0
casamento. Fantasia, reflexao, imaginagao e o-sacrificio da
atividade do ego.'Came e:corpo..Uniao com o corpo e com
a 'irm a". A base feminina do momento religioso.

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