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em psicologia e religião
JamesHillman
PAULUS
UMA BUSCA INTERIOR
EM PSICOLOGIA
E RELIGIÃO
James Uillman
PAULUS
Dados Internacionais de Catalogagdo na Publicagao (CIP)
(Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Hillman, James.
H547b Uma busca interior em psicologia e religião /James Hiilman, [Traducao
Araceli Martins El man; revisão Jose Joaquim Sobral],
— São Paulo: Paulus, 1984. — (Amor e psique)
CDD-200.19
128.2-158.
-253.5
Titulo original
Insearch — Psychology and Religion
°James Hillman
Traducao
Araceli M artins Elman
Impressão e acabamento
PAULUS
4a edição, 2004
©PAULUS —1985
Rua Francisco Cruz, 229 • 04117-091 São Paulo (Brasil)
Fax (11 ) 5579-3627 • Tel. (11) 5084-3066
vww. paulus.com. br • editorial pauius.com. br
ISBN 85-349-1269-6
INTRODUÇÃO A COLEÇÃO
AMOR E PSIQUE
Leon Bonaventure
Nota introdutória
J. H.
Setem bro de 1967.
9
"0 coração de um sábio o inclina para a direita,
mas o de um tolo o inclina para a esquerda".
Eclesiastes 10,2
11
não significa livrar-se dela, mas importar-se com a pessoa
que esta a nossa frente.
O trabalho psicológico começa com o encontro humano.
Tudo o que sabemos ou lemos, nossos dons de inteligência e
caráter, tudo o que adquirimos através de treino e
experiência se encaminha para esse momento. Se o encontro
fracassa, tudo desmorona, a começar pelas duas pessoas que
estão sentadas conversando tentando encontrar alguma
coisa. Se este é o começo de todo o nosso trabalho, vamos então
iniciar pela tentativa de lançar alguma luz sobre as áreas de
escuridão que sempre existiram no confronto entre duas
pessoas e, especialmente, sobre as sombras que impedem o
aconselhamento.
Comunicação, diálogo e relações, interpessoais são termos
da moda. Já existe teoria demais; a proliferação acadêmica e
as tabulações de estatísticas são males da atualidade. Ao invés
de caminhar por aí a esmo, melhor é discutirmos as sombras
do aconselhamento que surgem no encontro real. Essas
sombras tem muito mais a ver com o interior de cada um do,
que propriamente com, o relacionamento entre duas pessoas.
Consequentemente se quisermos, alguma melhora em, nosso
trabalho, seremos forcados a olhar para dentro de nos
mesmos. A psicologia não pode evitar o fato de iniciar-se a
partir do interior do psicólogo.
Os analistas, orientadores a assistentes sociais são
eliminadores de encrencas e solucionadores de problemas
Estamos procurando problema mesmo antes de a pessoa
sentar-se na cadeira vazia a nossa frente. O que houve? O
que aconteceu de errado? ... O encontro começa não
apenas com as projeções da pessoa que vem em busca de
ajuda, mas também com as intenções treinadas e organizadas
do "ajudador" profissional. Diríamos que, na
contratransferência já se encontra ativada antes mesmo da
transferência chegar a iniciar-se. Minhas expectativas estão ao
m eu lado enquanto espero alguém b a te r à po rta.
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De fato, a contratransferência é um dado inicial, visto que
uma vocação inconsciente leva-me a fazer esse trabalho.
Posso carregar, para o trabalho a necessidade de redim ir a
criança ferida, e de tal form a que toda pessoa que vier
procurar-me em busca de ajuda será minha própria infância
machucada, a necessitar que seus ferimentos sejam cuidados
por, uma atenção paternal carinhosa. Ou pode se dar
exatamente o contrário, posso ser, o filho maravilhoso que
tira o pai ou a mãe dos caminhos confusos de suas florestas
noturnas; trazendo-lhes, luz e renovação. O mesmo arquétipo
pai-filho também nos afeta, por exemplo, na vontade de
corrigir, ou mesmo de punir os pais, estendendo-se isso a toda
uma geração mais velha, bem como seus ideais e valores.
Minhas necessidades nunca se ausentam. Eu não poderia
exercer esse, trabalho se não precisasse fazê-lo. Minhas
necessidades não são só minhas; em nível mais profundo, elas
pertencem , refletem e falam de uma situação que também,
corresponde a necessidade do outro. Assim como quem me
procura vem em busca de ajuda, eu preciso dele para
expressar m inha capacidade de ajudar. Aquele que auxilia
e o que necessita o assistente social e o carente, o perdido e o
resgatado caminham sempre juntos.
Entretanto fomos educados para negar as nossas neces
sidades. O ser humano ideal do protestantismo do Ocidente
demonstra a "força" de seu ego pela independência. Necessitar
significa ser dependente e fraco, implica submissão outrem.
No último capítulo discutiremos a respeito das consequências
que essa atitude pode causar ao lado mais frágil e m ais
fem inino personalidade. Entrementes, devemos notar que
necessidade e Vocação diferem muito pouco entre si. O
chamado ou vocação tende muito mais a ser experimentado
como coisa vinda de fora da personalidade, enquanto as
necessidades são mais encaradas como coisas minhas e vindas
de dentro. Seria muito perigoso negar a existência de uma
vocação, pois isto equivaleria negação da essência
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de uma pessoa que, na verdade, é transpessoal. Mas não seria
igualmente perigoso negar uma necessidade? Ela não é
somente uma coisa pessoal. H á um nível no qual ela é
objetiva: assim, por exemplo, o desejo que tenho de estar
com você não é apenas meu desejo pessoal, mas uma
exigência objetiva do relacionamento que mantemos uma voz
que pede que esse vínculo continue vivo. A necessidade nos
faz humanos; se não precisássemos uns dos outros, se não
pudéssemos preencher e satisfazer nossas carências, não haveria
sociedade humana. Embora eu não consiga responder aos
meus próprios desejos, sou capaz de responder aos seus.
Embora eu não consiga me compreender, posso auxiliá-lo a
compreender-se, e, você pode fazer o mesmo comigo. Essa
reciprocidade toma possível usufruir e doar-se mutuamente no
amor.
A necessidade não é prejudicial em si mesma. Mas,
quando não é reconhecida ela se junta as sombras do
aconselhamento e trabalha traiçoeiramente sob a forma de
exigências. Um terapeuta pode ter necessidade de instruir;
ensinar e educar, pois isso preenche uma dimensão que lhe é
essencial e que transforma sua vocação específica em ação.
Mesmo assim ele não pode exigir que cada pessoa, a cada
encontro, o procure apenas em busca de orientação. Essa
necessidade deverá encontrar outro preenchimento, caso
contrário tomar-se-á uma exigência inconsciente a recair sobre
quem vier procurá-lo. Se eu admitir que preciso trabalhar em
linha analítica, então exigirei menos daqueles que eu estiver
atendendo. Pelo fato de nossas necessidades não admitidas
levantarem-se sob a forma de exigências, o reconhecimento
objetivo desse dada como algo inerente a nossa hum anidade
condição de criatura ajudará a impedir que elas degenerem
em necessidades prementes de realização no mundo
objetivo. Exigências pedem satisfação, necessidades
precisam apenas de expressão.
Além dessa atração por problemas, um outro apelo, para o
nosso trabalho é o desejo de intimidade. Nem todo mundo
1415
tem predileção por conversas de cunho íntimo e revelador.
Caso eu não perceba esse desejo de intimidade e não o
considere dentro de outros contextos de m inha vida, ele
poderá transform ar-se numa exigência em relação as outras
pessoas, atingindo talvez inclusive a mim mesmo, tornando-
me ultra-revelador e extremamente pessoal, e a hora
terapêutica acabaria, assim, transformada em confissão mutua.
As imagens dominantes da cultura em que vivemos
poderá influenciar-nos o trabalho e, assim, todo aquele que
ensina ou cura, pertencendo ou não a igreja, sendo ou não
cristão, poderá identificar-se com aspectos da imagem
arquetípica de Cristo. Essa identificação transparece, por
exemplo, em quem prefere trabalhar com os marginais e
delinquentes mais difíceis das favelas; os leprosos oprimidos
de nossa sociedade. Mas também se revela naqueles que tem
uma missão, os que se optem ao materialismo e a tudo o que
corrompe, os antifariseus, os reformadores, os que sofrem e
se dedicam, os mártires traídos e os que pregam o amor. Ou
seja, em quase todos os que em nosso, trabalho se identificam
com o espírito de juventude do Cristo, pois sua imagem
proporciona o exemplo perfeito do homem jovem e de essência
divina.
Mas o meu trabalho também pode ser afetado por
outros aspectos e imagens da psique. Como a necessidade
de fama e poder que me levam a atender apenas as pessoas
importantes da comunidade, fazendo com que eu que me
transforme no que antigamente se denominava "doutor de alta
sociedade"; ou ainda a vocação para a atividade científica,
que me deixa fascinado pelo caso, pelos sonhos e sintomas,
levando-m e a esquecer a pessoa que os revela.
Num encontro terapêutico o outro poderá servir a
qualquer uma dessas necessidades. E por isso que a sua
terapia começa com a minha, com o despertar da minha
consciência, para as varias imagens arquetípicas que me
rondam e tentam encaixar o outro num papel qual ele
talvez não esteja destinado.’,Pois, se .eu for o pai, ele tem de
ser meu filho; se eu tiver de curar, ele tera de estar doer. de; e,
se por acaso, eu for um iluminado, se) poderei, enten-
cb-lOamoa^cwpatedo perdido na escuridão. Estas imagens
fazem cenário, constituind0 o pano de fundo onde
o outro entra em cena, como_ num tea tro. Evidentemente
não se trata de uma situagdo clara e aberta, e nem p o d s
ser aberta no sentido de vazio e ausência de innuendos
arquetas. M eus desejos e estilo de trabalho não podem
ser purificados através de uma pseudo-abertura e do não
envolvimento pessoal. Quanto menos eu ,for cons des-
S a g necessidades.p esso ais e . d e ^ fo rg a s q ug
1415
frente. 0 cientista natural ou o pintor devotani-se ao objeto
que veem. Eles se dao ao objeto, inCorpOranda-o. Ele ouve
perdendo sua subjetividade intensa no objeto, tornando-se
um objeto entre 'varios, sem a intencao volitiva do ego a
registrar objetivamente o que se passa. Para sentir a natu
reza da audicao, é preciso estabeleCer a difererica entre
ego e consciênciaa. Enquanto existir essa identificacao entre
os dois, enquarito toda a luz da psique estiver assim conden
sada e dirigida, ela 'sera experimentada por qualquer Tes-
soa sobre a qUal venha incidir como uma fOrca ativa 'tal
vez ate agressiva. E entao o outro acendera- a sua própria
luz, e as duas luzes se enfrentarao numa ofuscacao de brilho
e poder. Este tipo de encontro a bastante freqüente. Mas a
possível separar o ego da consciênciaa, da mesina forma que
os olhoS e as maos são orgaos que diferem do ouvido,
preenchendo cada um o seu papel darido sua colaboração
especifica a consciênciaa. 8 possível desenvolver uma
consciênciaa reCeptiva através do ouvido, assim 'como uma
consciênciaa ativa pode se desenvolver pOr meio 'das maos. 0
ouvido riao 1 pode it a lugar nenhum, não pode fazer nada,
tiem-magoar ininguem. Recebemos o outro como se fosse
musica; ouvindo o ritmo e a cadencia de sua hist& ria, suas
repetições tematicas e desarmonias.'Nessi atitude nos
transformambs em mitologos da psique, ou seja, em
estudiosos das narrativas da alma, pois mitologia, original
mente, significa "narraOo de historias". Se 'a alma é uma
corda que vibra, somente o ouvido pódera revela-lo. 0 o f vil. do
é a parte feminina da cabeca. 8 a consciênciaa oferecendo a
maxima atencao com o minim° de intencao. ReCebe mos o
outro através do ouvido, através de nossa parte feminina,
concebendo e gestando uma solucao nova para o seu problema
somente depois de termos sido totalmente- gene= trados por ele
e sentido 6 seu impaCto, deixatido-o 'definir-se em silencio.
Este ouvir que perm ite ao outro revelar-se sua -na_
neira, este deixar, ao invés de tentar, também podera levar
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ao que em analise junguiana denomina-se infeccao psíquica.
8 um dos riscos do encontro. Onde houver ligacao real e as
portas estiverem abertas, duas psiques estarao fluindo juntas.
Poder-se-a falar num "encontro de , almas", p nessa hora
que, confundindo o outro comigo, eu perderei o sentido de
quem é quem, do que e dele e do que a meu. E tudo pode,
entao, te rm in a r num a "folie a deux": um a boa razao
para nos apegarmos ao ego; sua' intencionalidade’dirigida é a
primeira defesa contra' essa infeccao, pois o ego' nos mantem
independentemente intactos, incontaminados e de lentes
limpas. Porem, apesar de todo o seu valor como protecao, o
ego não é um> terapeuta. A cura,vem- exatamente de nosso lado
desarmado, la onde somos bobos e vulneráveis. Isto e
expresso pela idéia, de alguem que esti ferido e con-segue
curar através de1 seus pp:Trios ferimentos, necessidades ou
vocacaa. 'A ferida é um rombo no muro, uma abertura por
onde 'podemos nos infeccionar e também afetar as outras
pessoas. As flechas do amor, enquanto ferem, conseguem
curar e transformar-se em apelos. A compaixao não vem do
ego.’ Entretanto, se as feridas abertas não forem diariamente
cuidadas, «poderão receber infeccoes alheias, vindo assim a
contaminar toda, uma personalidade. Se eu quiser ser (Ail a
mais «alguem, precisarei sempre prestar atencao aos meus
sofrimentos e necessidades.
Dentre os. obstáculos que surgem no desenrolar de
qualquer terapia ou encontro, a cutiosidade merece *uma
atencao especial. Não me ref iro a curiosidade marbida ou
pervertida da 'qua! todos nos temos um pouco, essa parte
do lado sombrio ou do pecado original, sem o que nossa
existência -não series imaginavel. Curiosidade .não é apenas
"scoptofilia" (ou "vóSieurismo"’- sublimados, a lubricidade
de viver vicariamente a sujeira ou as sensações dos outros.
Qualquer pessoa comprometida em Um trabalho que envolva
intim idade_tera que chegar a termos com esse lado de sua
própria pessoa. De fato*, a curiosidade pode ser meramente o
faro para, m exericos.-e escandalos que se explica
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por uma vida mal vivida, ou, vivida,,através das
experiências d o s o u t r o s .
Mas essa curiosidade .também _podera ser uma falha
mais profunda. Para S. Bernardo de Clairvaux, que descreve
a disciplina ,do autoconhecimento em. Nosce to Ipsum,
conhece a ti mesmo, o primeiro passo .na direcao_ errada
não é o orgulho, nem a_preguiga,' nem a ,luxiiria, mas sim
a curiositas. São Bernardo,fala da destrutibilidade principal
mente em relação ao individuo.que a curioso, do, prejuizo
que sua mente pode qausar a paz e a luz do espirito. 0 ego;
com o seu brilho ,característico, .tenta ,fisgar qausas ,nos
recessos ocultos da personalidade, busca lembrangas deta
lhadas da infancia e promove sessões, suaves .e silenciosas
de introspecgao. Temos c,uriosidade de saber,como,somos,e
como chegamos ao, nosso, estado atual, _,embora a ,atitude
religiosa devesse reconhecer desde..o.inicio que_somos cria
turas de Deus _ea que somos assim muito_ mais „devido a sua
vontade operando„em nossa.alma do .que devido .a. acidentes
de educagao ou a qualquer outra circunstancia. Interpreta
da em termos de psicologia profunda, a precaugao de São
Bernardo significaria permitit,ao inconsciente seguir o seu
próprio caminho em um tempo ,que the 6, adequado, «sem
tentar montar através da curiosidade a.histOria ,de um.,caso
que venha a responder a um "porque" inicialmente,coloca7
do. A minha'curiosidade também, atica a ,da pessoa sentada
A minha frente. A. pessoa comega a ver-se Oomo um.objeto,
a julg ar-se boa ou d e sc O b rirc u lp a s e acusacoes para
essas culpas, a desenvolver mais ego..e superego, as. custas de
uma simples percepgao que comega a. despertar,.a consider
rar-se um simples caso com rOtulo extraido_ de. um livro .e a
imaginar-se muito mais como um. problema do
que.a’sentir-se como um espirito.
No trabalho pratico, a curiosidade, manifesta-se atra-
yes de perguntas. "Os seus outros pacientes_ também tem
sonhos como este?" Ou entao, o. cliente comega a, ler Klein;
Homey ou Fromm, para descobrir 'como ."outras escolas;
tratariam o mesmo problema. comurri encarar-se isso
como "intelectualizagao", mas na verdade, o que existe ai e
bem mais um problema de sentimento. A curiosidade nasce
de sentim entos de duvida e de incerteza. Q uando não
existe confianga em si m esm o; preciso encontrar nos
outros a confirmagao das suas' expero orientador por.meio
de comparagOes continuas, por tentativas de sair da’situagao
e julga-la, e de decidir sobre ela através de um ponto de vis
ta su p o b je tiv o . E s te p o n to de v i s t a o b je tiv o é
lugar no top
de uma colina, onde a gente se
c o m o u m
nessa sentir fora do æcaerixts fed q, ot mercracfe d ra i smiMrtrBcnrtlK)
M a s a o b j e t i v i d a d e q
e a mesma que teremos ao qontem plar um objeto a partir
de alturas im ensas.
25
chamado para ser o que sou, constituindo parte da realizacao'
>da minha -própria personalidade, pos'so expressar essa
necessidade de completar-me sem exercer pressOes sobre o
domínio do outro, mesmo que essa pressão seja profissional.
Minhas perguntas não sera° causadas pela curiosidade, e 0
meu conhecimento também não sera o resultado de uma
observagao fria. Ao contrario, eles sera° parte de. minha
interrogagao sobre a natureza humana, na quay estou inclufdo.
Perguntas desse tipo não tem respostas, mas evocam cor
respondência.. E essa correspondencia d um movimento es
pontâneo partindo dos dois em diregao a essencia doassunto a
que se langam. A curiosidade por.fatos e detalhes desaparece
face â contemplagao aberta das coisas exatamente como elas se
apresentam. Deixando de lado as técnicas de interrogatario,
livramos o interlocutor de ser identificado com suas respostas, de
ser aprisionado a historie de seu caso ou de sentir-se culpado
pelo que disse. A entrevista, redimida_ do seu aspecto
inquisitorial, transform a-se em encontro.'
Prudens quaestio dimidattn scientiae: a pergunta caute
losa ja e metade do conhecimento. A pergunta imprudente
que nasce da curiosidade não infringe somente aquilo que é
Intimo, o mundo e o valor interior de uma pessoa. Ela também
cava uma vala de distanciamento. Todos os animais tem um
senso inato de distancia. Quando Os passarinhos pousam nos
fios de eletricidade, ou as gaivotas no 'alambrado do cais,
semprefíOam a uma era distancia uns dos outros. Quando"
um gato errante rateja sobre o muro; enquanto eu passo 'na
calgada, ele para e fica observandO ate eu atingir um
determinado nab set ponto que exatamen te onde fica, e,
entao, 'sai em disparada: Os animais de circo, em seu
treinamento, sacs condicionadOs gaga a' distancia psíquica. Os-
leeies soltos na arena, uma* um, sentam-se em seus lugares, não
proximos demais. Se 0 domador se
aproxima com o chicote ou a cadeira (que são extensões de
seu corpo), ele desencadeia a reagao de ataque: ou fuga no
animal. Este devera sair do lugar, atacar com a pata ou
rugir. A diminuigao gradativa da distancia natural eviden
cia que a fera esta sendo domada Ela demonstra confian-
ga ao perm itir que o domador, ou mesmo outro animal,
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venga a sua "distancia critica", deixando-o aproximar-se
cada vez mais sem a reacao instintiva de ataque ou fuga.
Esses mesmos padrões animais se revelam no encontro
entre as pessoas. Com o decorrer da civilizagao, aprendemos
a distinguir a distancia fisica da distancia psíquica. Pode
mos ficar em um elevador lotado ou. ser examinados quica
nus
por um m edico sem sentirm os que nossa dista ncia psi
esta sendo invadida. Temos defesas dispOniveis, para nos
proteger. Mas ainda existem profundas reagoes de distan
cia natural que afetam o relacionam ento no encontro de
duas pessoas. Problemas de distanciamento e de aproxima-
cao aparecem a cada sessão. Algumas pessoas, que muitos
denominariam de histéricas, aparecem aproximar-se demais
em tempo excessivamente curto. Outras, com características
ditas esquizoides, parecem estar longe, mesmo ao descreve
rem seus próprios sentimentos. Quando alguem penetra
muito rapidamente com a ajuda de testes, entrevistas ou
solicitacao de confissoes, a distancia natural podera ser
facilmente fraturada, liberando a reagao de ataque ou fuga.
Depois da primeira entrevista, a . pessoa não aParece mais.
Incapaz de lutar com voce,, ela acaba fugindo.
Cada um-de .nos tem o seu proyrio espago. E, eviden
temente, não se pode esperar a exposigao de ,um problema
basic° ate se criar um espaco adecjuado Problemas desse
tipo constituent sempre uma confusão, dolorosa. Eles pare
cem preencher a totalidade da vida; tem um peso enorme,
arrastando ramificagOes e* dependencias em seu desenvolvi
mento. Não tem comego, nem fim, sendo impossível trata-
los a não ser que se- lhes conceda u gjande espago psico-
logic°. Esse tipo . de problema rnantem-se guardado dentro
de um espago peculiar, caracterizado por tensão atmosféri
ca, &limo depressive .ou nervoso, por amargura ou insatis-
fagao., Ninguém pode assumir um problem a basic° sem
entrar e, viver dentro da atmosfera que o circunda.
Se alguem consegue, se* distanciar de seus problemas e
o demonstra ao descreve-ios claramente, empregando cate-
27
gorias de diagnostic0 'ao relatar livremente ' experiências
traumaticas, é regra 'infalivel que a parte esSentia4" eXata-
mente a chave da questaó,- fbi -omitida: Levando-se eni conta
que, em psicologia, problenias. não são coisas
soas tem, m as 'alga 'que elas são, n ã o ^ g cyapes-
com alguem durante • semanas, . as • vezes ate tra
r , . . durante um
ano, .sem conseguirm os nos aptaximat do que seria real
terapia. ,, , , . , ,
mente o problema e a verdadeira razdaCia pessoa buscar a P
Quando os grandes felinoi do- Cii°6 entrarri na jaula,
eles seguem uns aos outros' de aCordo com seritinientos de
simpatia ou antipatia. A lg u n s ledes não ficam""-perta 'de
certos companheiros, alguns ficam prOximos, mas brigarri;
outros identifieam-se com o mais forte; au en ao s
acompa
nham o treinador. A importancia desse'fato e'evidente 'den=
tro de um grupb..O domadOr serriPie octipa a jaula em pri=
meiro lugar; trata-Se de seu eSPago; e a. lab sabeclisso:pa
mesma forMa, o orientador ou b analista ja se' encohtiaha
consultorio, que i e sua area, seir' espaga; Qhando o tigre
ocupa a jaula do zoalOkicó: ele 'urina" em' tOclaS Os cantos:
Essa e a sua maneira de deixar marbas nas franteiras "de seu
espago existericial. 0 analista :66166a Pequenos ci
, ' bietos a
sua volts, pendura nas
Paredes elementos que o identificam;
pinta as partes de m adeira com a sua cos 'Predileta.
Ao r e c e b e r u m a p e s s o a em n i i n h a Sala, 6 animal
da jaula ja Se faz sentir a flor da p;ele. A selya -6: modelo uma
infinidade de -territories deniarcados seguricio cheiros, risca=
dos por picadas e pistas 'arganizadas hlerarquicamente. So
havers espago para algueiri em mei'
conceder esse espago, se 66 deixar deacocun sultorio se eu t h e
^ &’ ar:lima -ar suri=
ciente para ele poder eritrat sem Ser;inasSacrado pOreminha
forga e autoridade, podendo'entao Sehtir-Se bem dentro de
sua própria atmosfera. Para qUe a outro possa falar e abrirl -
se, é necessário ao orientador 'fazer unia 'certa ' retirada:
Précis0 afastar-me para dar e8p ag b 'ao outro. Não seria sufi
ciente cham ar isso de teraPia centrada no paciente poiS;'
25
uma vez que é ele, o cliente, que se, encontra em meu con
sultório, ele jamais sera o centro, e sua's projegoes e trans
ferencias com relagao ao terapeuta o mahtem numa certeza
de inferioridade. Essa retirada, mais d° que Bair ao enc007
tro do outro, significa um intenso ato de concentragao, cujo
modelo poderia ser ericontrado na ,doutrina m istica do
Titntsum judaico. Deus onipotente e onipresente estava em
todo lugar. Ele preenchia o universo com a seu ser. Como,
entao, seria possível o ato da criagao? Não por emariagao,
Deus brotando de si meSmo, pois não haveria eSpago, e_caso
houvesse, seria imperfeigao de Deus, um lugar vazio onde
Ele não existisse. Entao, para criar,' Deus _teve que se reti
rar; criou o não-Ele, o outro por autocontragao, por auto-
concentragao. Muitas , especulagoes misticas originarath-se
dessa doutrina, no Clue diz _respeito ao esplendor oculto de
Deus e seus paralelos_com o homem nifstico que, por meio
da retirada e do ,afastamento do mundo exterior, ajuda a
criagao. A nível humano, minha, retirada, ajuda o outro a
v ir a ser .
São Jab ,da Cruz define o paradoxo da distancia sim
plesmente como sendo "sin arrimo y.con arrimo", ou seja,
a p r o x i m a r - s e s e m se a p r o x i m a r . :
Numa epoca em .que apenas ,excepcionalmente o ana
lista encontra o cliente fora do consultorio, e o medico rara
mente atende chamados na casa dos pacientes, o. ministro
tem essa oportunidade Unica de entrar em,casa e' desempe
nhar as fungOes paStorais, dentro do habitat natural de seu
encargo. Discussões quanta As, "visitas" do. ministro, se é
certo cm não telefonar a ,um, membro .da„ comuni dade ao
preocupar-se com ele, se deve visitar uma mulher quando
cia se encontra sozinha em casa, se seria ou não melhor
falar com ela na presenga das criangas — em sLitese, toda
a problematica de como manipular o problema espacial do
relacianamentahumano'e melhor considerada quando vista
mais como uma questa0 'de atitude que uma questa0 de
técnica. Devidci a inflirencia do modelo medico do analista
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e da psicoterapia, os ministros tendem cada .vez mais a aten
der os problemas de seus paroquianos no , escritorio (estti-
dios, retiros ou coisas assim): Isso so ,contribuiu, ara
tar ainda mais o ministro de suas fungdes, trarisfporma a fa s -
ndo
de fato os paroquianos .em pacientes, devido, a sua, ansiedade
de tratar..0 caso num cenário, ideal O ministro tein a
chance tinica de entrar em casa, no convivia da familia onde a
alm a se defronta com. seus torrri entos. A tradigao do
atendimento pastoral m ostra que o ministro não so pode;
como deve fazer, visita s. 0 p astr é aquelee_ tom. conta
do rebanho. 0 'seu cao.,busca_oso desgarrado^ , u tem a grelha
levantada para captari problemas, e enfie o nariz .em todos
os cantos. Isto so se to rn a _ passive' quando: o pastor sente
realmente .o significado da .distancia,,e vnão se sente dimi-
fluid° ou vencido ao entrar no espago. do outro.
M anter distancia.coca .a natureza das coisas que são
segredo e do_ respeito exigido por essa area. A a
apenas exige, coma e um segredo em, si mesma ou Ima-, ditonâo de
outra forma, a reagdo de ataque ou fuga no ser. .humano
protege a »sua verdade psicologica mais -vital .2 Sua_ alma
sente-se tao-encurralacla_como um animal ameagado. Evi
dentemente, segredos que não. deveriam ser guardados aem
como venenoS, e. a psique quer purga-los através .da g
conf is-
são. Mas isto não significa-que todo segredo seja de origem
patolOgica, ou que—toda vergonha _ou ’timidez_ seja conse-
qiiencia de pecado. Segredos compartilhados-constroenr a
confianca e a confianga doma a reaP de ataque-ou fuga no
problema da distancia. N A ° é de admirar que nenhuma—psi
coterapia seja curta quando a-alma esta plenamente envol-
v i d a .
A distancia e freqüentemente confundida -com frieza,
assim como para muitos a proximidade e a intimidade po-
2 0 leitor podera recorrer aos paragrafos esclarecedores de C. G.
Jung sobre a questão da reserva e do segredo 'em sua ' autobiografia M el
m ories D rea m s R eflections, N e w York, 1963, pp. 315s e também em
"M e d ic a l S e c re c y an d A n a ly ti c a l M y s te r y " , o u lt im o ca do , meu
dem assemelhar se a calor humanO. Todos' nos -queremos
tanto ser pessoas abertas, temas e amorosa! A acusagao de
frieza é uma das mais difíceis de suportar, sendo na verda
de uma das mais comuns que existem. Freqüentemente, con
tudo, não se trata do caso de o orientador ou o terapeuta
serem frios, mas sim de guardarem seus espagos e. de esta
rem contidos em si mesmos. Isso afeta as pessoas de varias
maneiras. Prim eiram ente, constela como "outro", coma
diferente, separado, com a dor de- ser ele mesmo e sozinho.
Se o outro for do sexo °pasta,- minha distancia' enfatiza a
diferenga entre nos, o que é sintholizado mais basicamente
pela polaridade sexual. 'A distancia nos faz homem-e
lher; a fusão pode nos confirmar barrio 'cluas pessoas, ou
entao nos anular. Entao, é claro, a polaridade é experimen
tada como atragao ou repulsa e Samos apanhadoS pelos fe-
nomenos da transferencia.* Surge' a emcigaa e irticia-se
aconselhamento proftindo. Alem disso; minha distancia clá
ao outro uma chance de abrir-se langando-lhe um& polite;
fazendo entrar em agao 'seus próprios sentimentos e tato-
goes extrovertidos, mesmo que isso acohtega apenas no ni-
vel mudo do prantd. A ’’distancia ainda constela dignidade
e respeito pelos problemaS. Nada oferece maioreS'probabi-
l i d a d e s a a l m a 4t i e e l a - n ab p o d e f a z e r - s e o u v i r
em meio ao ruido. Isto pode parecer solene e excelente e
qualquer atitude que Se tome' como o einprega de um 'aven
tal de medico, :colOrinho'Clerical ou cavanhaq'ue de' analis
ta, tem a chance de ser mal compreendida. Contudo, o que
importa verdadeiramente 'e não querermos catisar medo, e
existe sempre- um medo enorme = ataque - fuga — em
tudo, quando a alma esta envolvida. Medo de perde-la, de
ve-la mal conduzida; mal aconselhada, julgada de maneira
errada ou colocada'.em desgraga: Tudo isso esta presente
durante a sesSão terapeutica; e antes de> mais nada, é com
medo e porcauS a do medo que as pessoas nos procuram.
Pode ser 'que o medo se projete sabre nos com tal forga, que
venhaMos a representai o inconsciente enquanto inimigo e
31
Üyro S u ic id e a n d the Soul, N ew York, 1965:
32
ameaga. Sabendo que "apenas o amor que é perfeito dissi
pa o medo", este medo deye ser retirado de cena pelo m e
nos ate que o amor possa igualar-lhe a forca. Enquanto o
medo estiver presente,, o espago, da terapia sera melhor
encarado quando vistocomo um templo de preservagao, ou
temenos, um santuario libertador que, da protecao. 0 amor,
em sua forma ativa, não redime o m e d o ; entretanto a, tran
qüilidade, a brandura, a penum bra e a paciencia-podem set
a gruta de reffig io ate a noite passar. Em primeiro lugar, o
abrigo; so depois vird o fogo que aquece e ilumina. 0 Amor
ativo não pode redimir omedo, no que concordam tanto os
observadores religiosos quanto os Fisicalogos, pois o centro
mais profundo, do medo a exatamente o medo do amor. As
im perfeições, do am or sofridas ha tanto tem po, desde a
infancia, levaram a esse medo, no qual o amor se esconde,
e que constitui um com plex0, de sepsibilidade cruciante.
Tocar, esse complexo, mesmo por meio de um aconselha
mento cheio’de afeto, ,s6 sera terapeutico quando,o medo
se dissipar e quando_ iss,o,_ for feito por alguem cujo amor
seja "perfeito". Entretanto, esse é um ponto que deve ser
muito beg' compreendido. Apenas um amor assim desfaz o
medo, mas, ele não depende nem de 'nos, e nem da nossa
vontade. Ele esta alOn do toque direto da terapia, pois; a
terapia situa-se exatam ente na som bra desse amor, como
se todo encontro hum _ano morasse em um segredo, com se
a som bra de, todo , aconselham ento fosse a escuridão do
a m o r .
Os teologos nunca,perdem a oportunidade de afirmar
que Deus é amor. Os analistas_ dedicam a maior parte de
seus ensaios ,aos aspectos do amor familiar, Sexual e, do
expresso na transferencia. Por que precisam os pregar e
escrever tanto sobre o amor se estamos sempre im'ersos
nele, ora sob uma form a, ora sob outra? P o r que é tao
necessário afirmar que ele e a maior das virtudes? Por que
é necessário afirmar que as neuroses são imperfeições e
vicissitudes do amor?. Se ele a tao ontologicamente funda;
32
mental para a teologia e a psicologia, por que não conse
gUimos deixar que ele simplesmente aconteca?:Por,que não
percebemos sua simplicidade essencialmente descomplica-,
da, se somos capazes de perceber, a simplicidade de putroc.
fundamentos ontologicos que acontecemsem ma_ iores corn
plicagoes? Se o amor. é a essencia de Deus e do homem, de
onde vem tantos, impedimentos?, Por, que tanta _ sombra?
P o r que e x i s t e m d i f i c u l d a d e s tao g r a n d e s ? ,
Não ha resposta para esse tipo de pergunta; não obstan
te, a experiência analitica nos ,mostra algumas razoes pelas
quais é tao difícil amar,, e porque a distancia, o segredo e
uma certa frieza podeniser necessários. E que eles oferecem
protecao contra o amor e o seu sofrimento. Os mitos dizem
que o amore experimentado por meio das flechas de Eros.
Em Plata°. ele é uma, loucura diving, uma mania. 0 amor
de Jesus o crucificou. ,
0 encontro. human°, é dificit porque conduz a essa
experiência sofrida, essa loucura, esse esgotamento do ape
nas humano. A distancia, e separadospor técnicas de entre
vista, somos tocados e, atingidos com m enos facilidade
desse modo as flechas não rios acertam. A curiosidade exclui
o coracao. Não seremos, individualizados, escolhidos e en
contrados tao, rapidamente, dentro de um, grupo.,, Se eu esti-,
ver sozinho, não havera olhos que encontrem,os, meus. Mas
no encontro humano de, duas pessoas_ sentadas frente a
frente, temos a situacao, prim aria ,do ,amor. Sozinhos em
uma sala, defrontandoznos ,em, segredo, a alma, despojada e
o futuro em perigo:,.isto, por acaso, não configura a,
experiência -arquetipica do Amor humano? Não
desenvolveremos em nada a nossa
compreensão_aoslenominarmos>pejorativarnente
essa__.experincia de, ':projecao", ou, ao denegri-la conic)."
transferencia", quando duas.pessoas se envolvem, e esse
envolvimento se, processa através dos„sofrimentos da
psique, ambas,são imediatainerite atingidas pela forga argue-
tipica do amor. E,isso fica aindam ais forte se elas esperam,
durante encontros, criar_ ju n tas um a v id a nova. como
33
resultado de sua uniao. Desde o inicio„temos. de_estar bem
conscientes dessa realidade, como um dada da situacao, ou entao
seremos atacados pelas costas, caindo na armadilha. Poderemos
nos apaixonar, independentemente de -sexo, idade ou qualquer
outra ’coridicao. Al. item 'bem a propósito lembrar 0 Cântico dos
Cânticos: "Eu to ordeno qUe não
toques nem despertes -o amor ate que ele possa ser agradavel"
0 amor não agtada" ate -que nos posSamos deftontar
com ele, e nab' -podemos faze-lo enquanto ele- for apenas
uma emocao forte, ao ..invés- de um estado de espírito. 0
amor, enquanto, estado -de espiritcy, .enquanto, estado de
ser, como a deScrito por Tillich, talvez pertença aos
da teblogia.’ Na analise normalmente, - o -encontramos
como emocao, como uma tremenda- confusão emocional. E
no aconselhamento pastoral, ele se parece bem mais .com a
emocao da analise, que com o estado descrito por sac) Paulo,
Nygren e Tillich na linha- teologica.
Opostos tom° desejo e recolhimento, agdo e-ser,
tem-se em duas •tradigoes também, opostas que, a -titulo- de
odem.ser Chamadas de Oriental e Ocidental.
Ficar apenas na profundidade e recolhimento do amor, é
quietismo. Revela algo de desumano e nega a realidade viva do
objeto desejado ao alimentar-se dele -como. imagem que leva
ao amor, para, «entao, sepultar-se com ele. Por outro lado, a
caridade ocidental, com: sua busca de contato, seu programas
por um Cristo em agao, e' a Igreja, a serviço, da comunidade, os
mciiimentos' e as missOes, logo acabam -por esvaziar-se nuni
gesto -sein -significado; que_ não faz mais que agitar o ar. Se
profundidade sem nab a coisa desumana, e se agdo sem
profundidades loucuta, entao a-sohicao para a ruptura entre
essas dual antigas nogoes de amor .(sob a forma de desejo ou;
entao,- de-estado de ser) poderLdepender do analista ou do
orientadot-pastoral: a que o n to ele consegue fazer fluir
hannonicarriente-dentro de si o im= pulso para a acao
extrovettida e o mundo de sua profundi’ 31
estabelecido esse eixo„poderei estarpresente com' meus.sen-
dade que busca o interior. Num enfoque psicológico,_ esses
dois opostos formam a cruz individual do amor. Tempora
riamente, uma ou outra direcao devera ser sacrificada para
chegar-se ao centro, possível que eu apenas consiga atin
gir o amor, de modo profundo, seguindo meu impulso para
a agao, vivendo o mais plenamente possível o seu aspecto
emocional, sacrificando toda e qualquer nocao anterior
mente aprendida quanto a sua irrealidade e loucura; entran
do, assim, em seu aspecto de mania e desordem..Ou talvez,
eu tenha que renunciar a um relacionamento mais forte, e
recolher o amor que sinto, mesmo sabendo que essa retira
d a acabara por trair um envolvimento pessoal.
No aconselhamento e .na analise, ha quase sempre o
perigo de termos um eixo interior muito pequeno para sus
tentar a amplitude e a ,extensão desses envolvimentos. Na
verdade, eu posso .amar dando plena for-9a, em nivel exte
rior, ao meu sentimento, mas se por acaso a ligacao vertical
com a base de minha existência interior e com o amor por
mim mesmo ainda não estiver formada, eu terei, entao, des
pertado um amor que- não pode agradar. Todos os pontos
que discutimos ate aqui acabam voltando a essa questa(); o
encontro humano depende de uma conexão interior. Para
estar em contato com voce, é necessário que eu esteja em
contato comigo hmesmo..
Se eu não estiver ligado a minha interioridade e voce
se aproximar para cobrir distancia entre nos por meio de
uma ponte, pode ser que -eu Nenha a' atravessa-la, levado
pela for-9a de atracao_ (atracao que a ampliada ainda mais
pela- minha, falta de solidez intema) e caia em seus bravos,
perdendo'minha identidade; ou, entao, pode ser que a inva
são me .apavore, evidente que*ligacao hum ana é um
encontro que_se_da pela ex troversão, e que a- ligacao entre
as pessoas acontece quando cbnversando e estabelecendo
relacoes interpessoais .compartilhamos o que somos. Mas
também existe uma relação intrapessoal,.essa conexão ver
tical que _dpsce ao_interior de cada. indivíduo. Se eu tiver
35
timentos, interiormente "aberto ao, que vier, ancorado e fixo
como um eixo que, ao mesmo tempo, consegue girar e que
não podera ser arrebatadopor nenhuma luz distante e fan-
tastica. Visto de fora,Asso, podera parecer distanciainento
e ate mesmo incorhunicabilidade 6, desinteresse.-Mas, na.ver
dade, trata-se .apenas, do contrapeso_ necessário Tara a atra-
gab horizontal, do encontro. E alem _do.mais;_eu desgo orne
retiro, deixo uin espag_o m aior para ,voce se expressar:-
Antes de qualquer outra coisa, deve-se.pensar qUe duas
pessoas ligalzlas ,interiormehte • tambem estao comungando
entre si. ElaS pod_em ocupar o mesmo 'espago psicológico,
cohstelado pelo mesmo estado de espírito, estar em comu
nhão sem .precisar demonstra-lo. Comunhão .não é apenas
comunicagao. A ligagao mais interior O o contato,que duas
pessoas rem apartir do dentrO de sua profunclidade indivi-
dual, pois se eu estiver ligado a este _moment°, agora, assim
como ele se apresenta realmente, 'estarei’ tambem aberto e
ligado a voce.. A base da.existência em um nivel profundo
não é apenas- a ,minha,base pessoal; o ,apoio universal de
cada um, ao qual todos encontram acesso_pela conexao inte,
rior. Encontramo-nos um ao outro tanto ao refletirm os ,o
inconsciente coletivb-quanto ao expressarmos exteriormente
nossa com unicagao pessoal. A cura acontece do memo
modo, não dependendo tanto do ,seu efeito sObre ,rnim, ou
do meu sobre,’,voce, quanto dos momentos críticos;; dos
fatos arqueripicos .que brotam, de dentro e se refletem no
nosso encOntrb. A cada um,deSses momentos, alguma hecesr
sidade comum .da" alma humana esta sendo ekpressa e as
minhas e as suas necessidades refletem-se e' se encontram
sem nenhumar troca ruidosa em .nível pessoal., Assim,- as
crises atuam como fatores de cura pOr nos. conduzirem para
baixo, para _alem da comunicagao e 'das comiseragOes. pes
soais em diregab ao acontecimento arquetipibamente
ficativo. Surpreendentemente, .acabamos por no encontrar
num paralelo biblico: 'cooperando, secretamente para que se
36
efetive um direito de nascimento, send(); atirados em- um
pogo por irmaos invejosos, erguendo a filha contra a própria
mae; ou uma baleia esperando nos engolir puma 'noite de
profunda depressão e Rahab e a mulher de Putifar vem nos
chamar. Mergulhando em tal nivel_ de momento imp essoal
sempre recorrente, mas que se apresenta como coisa "Vivida
um a so vez (que é, na verdade, a liora de escolha em
uma encruzilhada), as duas pessoas se mantem juntas en
quanto vivem o fato e buscam a sua "significagao.
36
vimento vertical é uma;ramificagao do "relacionamento entre
as pessoas. A intimidade forgada em grupo, por: exemplo,
normalmente, leva ao ocultamento ainda mais profundo da.
quelas partes do espirito que so podem ser compartilhadas
quando duas ou tres pessoas se aproximam, e nunca uma
multidão.
Se> o encontro humano despertar o amor enquanto forga
arquetipica, o orientador devera alegrar-se pelas barreiras que
surgem naturalmente entre as pessoas,' pois elas São defesas
espontaneas. Essas defesas não são fabricadas 'pelo ego;
são a maneira que o desabrochar do crescimento da psique
tem de proteger-se eni timidez e segredo;>distancia e frieza,
reserva e dignidade*ate que se- estabelega o eixo,vertical
interior; a' conexão humana que devera' equilibrar' o
desenvolvimento.das relagoes em nivel extern entre as pes-
sbas.' So quando isso tivei-acoritecido, quando o .acesso ao
amor' por mim mesmo como sou me inundar de fe e espe-
ranga em mesmb tat 'como sou, podera entao haver um
encontro, no sentido numinoso'da'palavra.'Somente ai exis=
tira'alguem com acesso'a sua vitalidade'individual; alguem
em quem ressoam reagoes e respondem sentimentos vivos,
numa presenga >plena que 'não precisa mais atacar, nem
f u g i r o u v a l e r - s e d a c u r i o s i d a d e . 0' e
0 movimento, em diregao a profundidade e a interior
zagao nos ocupara 'de maneira especial no capitulo segnin-
te, que tem a realidade do inconsciente'como terra. Enquan=
to primeiro nivel do Irabalho de aconselhamento', o encontro
humano leva a conexão interior .do, terapeuta e a do
cliente. 0 que por sua vez faz parte do problem a 'geral
do*que vem a ser a "coisa interior"; ou seja; a natureza, do
inconsciente. Esse espago sera explorado nas paginas;
37
Vida interior:
onscien
J t . i ■■
o incte enquanto . - -
experiência
•
para, outra.
amente
duo, diferindo ainda larg á a W im r a i
As variedades de experiências do
rag5es psicologicas que, por sua vez, podem levaritar
testes dos dos ,teologos quanto, autenticidade op distorcao de
certas imagens._As vexes a experiência, não existe, ou entao
é uma abstragao.conceitual., ou ainda o_divino é deslocado
39
para imagens e experiências que via de regra não sac) consi.
deradas sagradas. Com freqiiencia, e istO ,em:ipteresse psi.
colOgico considerável,o gran de perturbaOO,ps.kolOgiCa de
uma p'essoa e'o fator' deterininadar 'da'distOrgao on' deslo-
cacao correspondente da imagem de Deus. Conseqüentemente,
a experiência e também a imagem de Deus aparecem ao
psicólogo como continuando a revelar-se dentro e através da
alma, sem nenhuma limitagao, e para alem dos confinamentos
de .qUalqruer dogma. 'T ais" .imagens 'e ex'periencias sac)
representagoe's coletiVas compartilhadas pela inente de todos
nos na— sociedade em que VivemOS: E é eSte Deffs que esta
desagradaricky o bispo de Woolwich (John RObinson) — aquele
Deus sentado la em'cima, Um. Papai Noel de criangas, 'um velho
Papai Dharma morando numa nuVeln, constantemente
ame4adO'por 'explosoeS Supersônicas e por viajantes e'spaciais
em • armaddras .resplandecerites. d e ix e
mos contudO _para défiais alguns clOs -problemas levahtados
por John Robinson e pO r HOtiest. to ~God.
Por estranho que patega, -"alnia" é uma e Xperiencia e
imagem ainda' Mais difícil de' esclarecer. - Enquanto tenni-
nologia, aconteceu-lhe, tudo, ate quase desaparecer da psi=
cOlogia contemporanea; -esse term° "apresenta lima aura - de
coisa antiquada, traz ecos de campOneses das fronteiras telL
ticas ou de teosofiStas que se reencarriam.. Talvet ela seja
uma no ao mantida' coin() Orgao decadente por '.vigatios' de
aldeiaou em algumas 'diScussdede 'seminários cl.e filosofia
patrística. E inclusi-ve o 'termo cai Inuit0 mar ein canoes
Populaces atualmente: q-uein ainda 'cleseja alguem *de corpo e
alma? Quem- ainda pOe toda sua ahila eth algUM a coisa?
Quem diz, ainda, que lima' garota tem 'olhos espirituaiS", ou
que fulano e uma "grande alma. Altria é a Tlltima* pa-
J -lavra de quatro letras a':ser thericlohada'-entre 'as coisa:
m o d a-Em-Suicide-” '...... V ,r -í" - , J ■r,.
and’the’SOW; Pp: 43:á. 47,= ha: Ulna :amplia-:
cao do que entendo por 'esse térmd:-A, titillo de' orientagao,
talvez seja Util re por
uma Ou. chias-de'SStis 'afierria05es:',:: :„
"A primeira coisa que o paciente procura no ana
lista, é faze-lo consciente de tudo o que o faz Softer,
levando-o ao seu mundo de experiências: EXperien,
cia e sofrimento sac) palavras de 114 muito associadas
â alma. "Alma", entretanto, não a um termo cientifi
co, sendo hoje em dia muitO raramente utilizado em
psicologia... Os term Os "alma" e: "psique" podem
ser utilizados alternadamente,'embora tencleticia 'seja
escapar a ambigüidade dO termo ." alma % recbrrendo-
se a "psique" por ser mais modemo e biolO gico.
"Psique" é empregado como um fato natural concomi
tante a vida fisica,- sehdo talvez a. ela redutivel:
"Alma", por outro 'ado, .apresenta sobietons rom ân
ticos e m etafísicos, com partilhando suas fronteiras
com a r e l i g i ã o . . _
A exploragao’ da palavra mostra não estarmos
tratando de alguma, coisa que se possa definir, e na
verdade a alma não é um conceito, mas um simbolo.
Os simbolos, como:sabemos, não estao totalmente sob
nosso controle,_e conseqüentemente não conseguim os
usar a palavra 'de inaneira não ambigua, mesmo .ao
emprega-la .com referencia aquele fator humano desco
nhecido que faz possi-vela existência significado,
que transformalfatos em .experiericias e que se comu
nica’ através do amor. AlMa é um conceito delibera-
damentel ambiguo, que_resiste' a toda e cju- alquer defi
nição; exatamente.como*acontece coin todos_os simbo-
1 o s
44
sa do clinico para encontrar" aahri
sofre, o logos de sua a 'ou' estUdar o.que eta
psicOpatologia. A paraqUia e 0 próprio mundo
são a sua clinica. NoSsabctipagdo'nào 6 co a- mente, seu mecanismb
e,dindmiSMo, repressOes motivaOes ou recordacoes da infanda! rb
que.8" intereSsa 6. a 'alma humana e seu relacionamento-c-
Orii:Detis.P.' - -
^ No &.nianic', o.trej.úameirth pasibta/ Se Confunde*cada vez mais
ü m - o Olihicb; na thedida — cads
'ovens -past°-
res cufsam Pos-giaduagoes'preenchendo pastes 'dos cróditos
coin leitura psicanalitica e trab'alhos'em .elihicas pSiOnia
cas. IstO esta ,betn!de'ac6rdb comas_idéiaS:danOva teologia,
a qual'oUvi certa vei b ReV: Harry Williams .definir como
sendo '_ 'a reblogia que se passa dentrd de nos", De suns obset-
vagOes, deduzi qtie- o que ocorre coin duas iie-SSods ha sala
de jantar ou no quarto d'e..dbriiiir tein; tam.° aver Com'reli-
gfiqBlidqjspElîkbiDc^jaEblfJ^^
48
octave decade, contada, a partir de seu mascimento etn , ,
consultorio de Viena. Atualmente, .a -figura antiqUada, bar,
buds e comita retrata- ° Tanalista; e não 101 pastor, por to
este ultimo deSaparecido da vida ptiblica, a nab -ser quando
promove campanhas- e m cruiadas p°pularcsv—c -partcrsc
tomado, o "homiem,"-invisivel!', coma foi 6 negro ha temp
atras — poderitos-eSperar,que:a lei da compensacao preva.
leca, e que uma aparicao tiansfigurada do ininistro e do
os
religioso- esteja em gestacao. A .antiga figUra cie .'home de
Deus" esta sendo:transformada pelas imagens do c a l n ã o
.de sua'hiapria. conftthad interior. 'Par continuer fiel aos
problemas de sua.alnia ao 'long° de tantas difiCuldades, não é
apenas a leologia que esta se transfOrmando; mss sim uma
nova maneira de' cuidar da alma 6 que esta imergindo.
E este o nova atendimento pistoral baseado no cantata
do orientador cOm sua. interioridade. Submeter-:se as 'mu
danças psicologiOas que the aconteeem interiormente é tare
fa tae heróica „quanta as. campanhas .da 'igreja 'contempora-
nea em acao. A inissão individual esta 8 e m p r e abalada por
incertezas, o seu caminho se: faz as escUras e r a recompensa
não aparece (do cedo.,Assim, p problema do reencontro da
alma talvez ieja de nova mais polemiao que 'iqualqUer outro.
0 lugar de Deus, os’SÍgriifiCados' do am:it. o Papel do orien
tador pastoral genera- da comunidade, e tudo o mais que
nos possa ocorrer, e'rao aspectas . dele,,' deriVados. , quem
perdeu sua alma, ira encontrar Deus 'em qualqUer Tugai
la em cima, la em ,baixa, exatamethe'aqui •onde nes ehcon-
tramos ou perdido na distancia infinita; essapesSoa_agarrar=
-se-a a qualquer vestígio de_ amar que,o'vento The soprar.a
porta, e assim o fa re p°r encOntrar4e a espera de LIM sisal:
S em WTI certo sentido de alina havers, logicamente, e n o r
mes confusdes de ordem moral, incertezas na ,a9do.e deci;
saes que se apresentam_ perfeitas em nivel racional; trias
não validas no enfoque p sico lo g iw o rtan to , antes de> a
psicologia e a religido com ecarem ir_aA iscutir sabre seas
„„ A deduzir das afirmações de certa teologia, a alma não
se,encontra nos Sacramentos, nem na, Liturgia ou no Ritual.
Naa 6 possível encontra-la nas igrejas, nem nas sinagogas,
Estes locais transformaram-se em- centros ,comunitários *que
captam quase todas as necessidades, menos as :da alma. Os
iugares que ela tradicionalmente ocupava, pelo que afirma
a mencionada teologia, estao desertos; e mesmo Deus, nas
afirmacOes de Schweitzer, Bultmann e Barth, não se encon,
tra de fato entre as coisas existentes, tendo sido ,retirado dos
templos e levado para algum outro, lugar; vivendo em seu
praprio redil.
A medida, porem, que as igrejas jam ficando yams, as
clinicas comecavam a ficar lotadas e os psicólogos das pro
fundezas — especialmente Jung — „ pareciam encontrar a
alma e uma imagem viva de Deus em meio ao seu material
de trabalho. Assim, a teologia esta, se, voltando para uma
nova direcao, onde ja existe uma longa tradicao religiosa.
Ela esta se voltando para ,d,entro, e descendo ao ,"chao da
existência". Se é esta a nova orientacao, entao o primeiro
lugar onde se deve -comecar a procurar-6 no inconsciente, ja
que sua localizacao feno.nenologica 6,dentro da profundida
de. Talvez seja esse o caminho certo, e ja existem outros que
seguem por ele: a psicologia-profunda, o existêncialismo e
nova teologia sugerem que se, des9a, A ,novadnistica 6 dcs:
cendente, como observou o Rev. ,Otis Maxfield. Mao se trata
mais de galga* a montanha dos sete patamares na direcao
do Monte Carmelo ou,de Siao Ou talvez, seguindo a colo-
cacao de Jung, o caminho que conduz ao alto 6 4o, de, b,aixo,
e o que conduz para baixo é o de ,cima.
Não confundamos as ,coisas, contudo, a ponto de. não
fazer a-minima- diferença se:a jornada ,conduz para, cima
ou para baixo. Se descobrimos ser a localizacao da alma —
e da experiênciade Deus— sombriamente interior e de sen
tido descendente, devemos estar preparados -para uma via
gem perigosa. As posicoes inferiores (o escuro, o baixo e o
profundo) são os domínios do Diabo e de seu séquito de de-
4 8
50
j mOnios. Descer significa caminhar por um labirinto, e /lies, mo
!a tradicao teologica reconhece que esse caminho leva 4
confrontacao com tudo aquilo que foi rebaixado ao longQ , de séculos:
a matéria a physis, a femea, o mal, o pecado, ' a parte inferior do
corpo, a paixao. Esta, evidentemente, e „ orients classica do processo
de - analise: o retomo a0 mundo das coisas reprimidas. 0 de . ,
1 descendente pode
ocasionar o 'encontro com a base da existência", mas quan
do Dante passou por ali tambem se deparou,com outras coi
sas. Por -essa.razao, não conseguiremos chegar a alma e a
experiência de Deus a não ser que o façamos via inconscien
te, o que significa, nada mais nada menos„que nos defrontarmos com
pecados e males, e-com todo o turbilhão de possibilidades que foram
mantidas fora dO alcance da civilizagab consciente. São estas as
sombras do aconselhamento: A c a p i t u l o s .
54
de criatividade, de tristeza e apatia prolongada, de aborreci,
mento, tedio e melancolia. .E quando tentamos diferenciar
conceito de amino e emocao do de inconsciente, e ainda d0 conceit0;
de alma, deparamo-nos com grandes ' dificuldades, pois desde o
mundo antigo :essas nogOes sempre estiveram muito ligadas, como
ainda, estao. Pesquisas quanto a locaii, zacao da alma dentro do
corps sempre foram confundidas com a busca da sede do
emogOes. _Por ,que as emogoes e a
alma se encontram ;t5o, estreitamente ligadas? Antes d e mais
nda, porque a experiência da, alma e a ;das..emogOes sac)
idênticas. E. pela emock que temos, o sentido exagerado de
alma: honra, magoa; .ansiedade e o de .nossa própria pessoa.
Pela. emocao temos a percepgao, de não estar sozinhos em
nosso interior de não nos controlar totalmente, de
que existe uma sutra pessoa , (mesmo que seta apenas um
complex0 consciente) que .também tem alguma coisa (e fre-
quentemene não pouca) a diner quanto ao,nosso com por
tamento. Assim, o encontro da alma por memo do incons
ciente também é mais, uma descoberta na, qual tropegamos.
Cahnos em emogOes, humpres, paixões e descobrimos uma
nova dimensão:que, por mais que, tentemos fugir,,,acaba nos
levando para baixo, em direclao aormundo de nossas profun-
Quanto mais se penetra, nesse, mundo essencial de si
mesmo, ,mais se sente que os pro- blemas. pessoais adquirem
uma dimensk) humana, e que as verdades essenciais, e próprias
de nossa individualjdade_se tomam"uniersais exatamente coos
as Tmnagofics da teologia., .8 come se:a analise profunda
conduzisse a um centro estran,ho e escuro, analise
se
de Deus.
tom a diffcil distinguir o inconsciente da- alma e da imagem
.8 por essa razao, e não por interesses religiosos disfar-
gados, que o analista.acaba se,envolvendo tanto com pro;
blemas de religião. Não somos padres fracassados.que nab
seguiram a vocagao certa. A, alma e o inconsciente estao tau 54
alma, que somos levados, queiramos ou não, a afirmacOes
sobre Deus simplesmente porque as descobertas mais des
concertantes a seu respeito acabam surgindo, no desenrolar
de uma analise. Quando Jung alerta para o fato de a psique
ter uma funcao religiosa natural, ele não esti fazendo pro
selitismo a favor de uma religião.natural ou de algum inte
resse religioso disfarçado, embora hoje em ,dia ,muita gente
esteja se valendo de Jung para escorar conviccoes pouco
firmes.
A funcao religiosa natural é inerente ao processo da
analise. 0 modo peculiar que, a analise tem de modificar
uma pessoa e a evidencia dessa" mudança (sob a forma de
"cura") é surpreendentemente semelhante aos modelos da
religião. Caracterizando, o processo de maneira mais breve.:
a analise comeca com o recolhimento e a purificacao: Esse
trabalho prolongado e com características de labirinto leva
a revelacao de uma verdade e a uma nova visdo de si m es
mo, com mudanças de atitude que se expressam por meio de
uma linguagem de renovacao, conversão ou renascimento.
Finalmente, tudo isso a confirmado pelo testemunho, d e
monstrado de maneira vivida no dia-a-dia. Conseqüente
mente, o analista acaba voltando-se para a religião em bus
ca de entendimento adequado para os fenomenos que pre
sencia em seu próprio trabalho.
0 inconsciente também transparece nos sintomas; não
apenas sob a forma de afetos, personalidade dividida, esque
cimentos ou atos falhos, não apenas nos sintomas,
psicológicos, mas nos sintomas ffsicos, quando não existe
causa de origem organica,. nenhum dado, nenhum traco ou
razao logica para eles. Ainda mais: ha sintomas que são
organica; mente demonstráveis, a que mesmo assim são
classificados como psicogenicos. 8 evidente que, eles não
são causados pela personalidade consciente ou pela vontade,
mas sita. pelo
inconsCiente. „
_ _ ? _
Ndoe mais de causar surpresa que esses ,sintomas pos;
interligados, e os problemas da religiao são ;CO vitals para- a
56
milagres do tipo Selec5es do Reader's Digest; ptiblicados en'
artigos como "Por queminhas-^dores de cab4a melevarait
a Deus". Contudo, 6 convívio "prolongado com o SOfrirrien.
to, com a encainacao de algueni eni "'uni* corPo que 6 ator
mentado sem nenhuma razaci aparentei-sofrer a aflicao de
JO mesmo permanecendo fiel a 'Deus com ci 'Maximo empe
nho — esta,'0" lima experi8ncia humilhante quepode des
pertar a ali na. Os sintomas hum ilham ; Ele relativizam o
ego, rebaixando-o. A simples curados sintomas pode;-qtian-
do muitci; restituir b ego a sua'posigacranterior de doinfnio. A
humilha'cao dos sintomas* é ilina'das maneiras de nos- tor
narmos humildes, e "essa é a- característica traditional "cia
alma. Falamos "muitCr dess& virtudeorem 'sabemos pouco a
respeito' de suas manifeStagOes.' Não 'se pode 'sintoniza-la 'a
um simpleS' toque de b'otao,'pois a humildade naci"e •COni.
petencia' do egO. Entretanto existe algo "assim c o m a 6 im a
humilhaOo‘Positiva, qUe'nâo é nem rejeicao; nem masOquismo
ou ruptura,- e qtfe se encontra bem mais perfoda humil-
ar dentro da fami>
lia. A mesa do cafe da manha, assim como se conversa sobre
o que vai haver hose na escola, ou vai-se telefonar ou fica-
se simplesmente lendo, o. que_esta ,escrito ,na caixa de ce
reais, pode-se também mencionar uma imagem ou fragmento
de um sonho, da com isso ao inconsciente um lugar
dentro da familia. ,Isto. pode ser feito abertamente e com
simplicidade. Não 6, necessário interpretar o sonho de uma
crianca, nee mesmo explicar a todo mundo por que alguem
f
sonhou isso ou aquilo» Sera suficiente colocar o sonho em
contato com a vida difiria, e que, sua realidade subjetiva
seja admitida, permitida e valorizadca o mundo da familia.
Freqüentem ente, interpretar e expl_ 6 uma racionaliza-
cao. E porque haveríamos de fazer um crianca ficar enver
gonhada de seus sonhos„ou mesmo sentir que são mein ma-
lucos, esquisitos ou im p ró p rio s ?
Os significados das imagens dos sonhos, não podem ser
os que a mentalidade do ego lhes confere. Se ,isso aconteces
se não haveria mais, crescimento, haveria apenas a dilata
n d o do ego, uma nova p a x ro m a n d ,a qual todo e qualquer
element0 estranho ou,alienigena teria de se submeter. Em
nenhuma outra situacao o velho aforismo: "o conhecimento
deficiente é uma arina .perigosa" «se faz mais pertinente do
que em relação a interpretacao de sonhos. Parece que os
orientadores pastorais reconhecem isso instintivamente quan-
do afirm am com freqiiencia que "deixam os ,sonhos em
paz", como se estes fossem pordemais profundos e dificeis,
sendo necessario conhecimento e.treino especiais para a sus
interpretacao. N inguem nega essa verdade, mas,. mesmo
assim, se o ministro.deve serum pastor de almas, com° the ^
6 possível ignorer essa vciz 'essential-da alma; e Considera-la
uma mensagem adequada-somente para 0 entehdiniento de
freudianos oU'especialistas Junguianos? Apesar
fMPjJjdes dificuldades, -devembS nos 'aproximar dr:is Sonhos, nia«
i'!;i 'íiUffl
I; jf i
de uma outra forma, de uma maneira que não seja.especifij
I camente a dbs espeCialistas,-mas.qUe tenha inn. enfoque sim-
no traballib paroqbial.
i f f j f p l e s e pratiab;:ValidO tantO a'nieSa do café 'Clam'aril quanto Deixembs
'tlaro, cc:610 Tonto de partik: 611 :le não se
ii
denbis haver ego. Coriferir •aos*-s'onhcis,'ds' -significadOs. da
mente»racidnal—6 simplesmente substituirAd POI' ego: Desse
modo, a interpretagdo a c a b a r a ^ e ^ ^ ^
e transporter conteridos de um lado para o ouo da Poste:
E a atitude de querer arrancar algrima ceisa do inconscienie,
usandO-o-Para gashes infOrmaCoes, forCa-e energia — exPlo ragab'que
e'ltotalmentefavoravel ao egO:' isto ' tem que 'ser their, e'so meurE
'uma atitucie fragrneritadord do simbolo, o qual. "6 justafhenteb
'pont° . d e juricao 'dostdois lados da psiqUe. E' isto leVaria':'a trachizit;
o sonho par algtima 'coisa conhecida aSsirir corto' um Sinai’ ou Um '
rotulo: rat Coisa 6 um substituto matemo aquele biCho 6.'o «Seu
iinprilscisekrial; aquelaS colinas d vales São o . Cenário do lar .da stra
infancia e‘ dos. seus desejos infantiS. Interpr'etaCOeS. tab -raeibna
lizantes e que tentarr substitUir o id pelo ego, trabalhatri, ha
verdade-nO sentido'de drenar o inconsciente, acabain por reduzir- a sue
extensão 6 por esvazia-IO'—ein'sumi,-Constituem nutria Serie' de
'atitudes "hostis' que estao niuitotlOngi
de procurer fazes sonho -um-, anrigo., Quand& o'Sorrh°
dividido em conterido .iriacional-e-SignificaCao racibnalila-
dora, ocorre a fragrhentagab da psique. 0 'swill0 Gibe a cede
manha oferece a oportUnidade de curar a nossa Casa diVi-
dida, acaba sendo Violado, :deikando .nOsSaS feridas abertaif,
que deve ser trabalhado ou aPiaPado com técnicas analiti-, cas,
observado e espreitado de pontosestrat4icos. 0: mais grave,
porin, é ter de encara-lo como realidgde cuja
cia tera de ser destrufda, ^ y erd ad e que existem situações
nas quais os sonhos reftetem um:Par1Ono se avolumando,
um estouro de gado, uma, tempestade marinha; ou uma
n h a em c o m p l e t e e n t a o , f e z - : s e i n e c e s s a r i o t r a, ,
zer esclarecimentos racionais que ponham a cabeca no lugar,
Mas o mais importante ,sera sempre a atitude mantida na
relação com o sonho.,,
Uma amizade procura sempre manter a ligacao fluindo
abertamente. A pijmeira _coisa nesse enfoque não,interpre-
tativo sera dar,lhe tempo, sem saltar para nenhum tipo de
conclusão que possa seriixada como resposta. A amizade
pelo sonho comeca com a tentativa simples de ouvi-lo. e
colocar num papel ou .caderno apropriado suas palavras
exatamente como. aparesem. Para isso, toma-se um cuidado
especial conn cr, tom dos seus sentimentos, com o nosso esta
do de anirno: a° acordan e as reacOes emocionais durante
o sonho;„prazer, medo, ,surpresa. Ser .amigo é aproximar-se
do sonho pot: meipdo,sentimento. E, assim, cuida-se dele,
recebendo seus_sentimentos como se fossem os de uma pes
soa real„com,.a qual,iniciamos umcontato.Prestamos aten,
cao ao que o amigo esta dizendo„sobre quem ele ,nos fala,
ao local em que a hisOria sepassa,,Normalmente a cena do
sonho reiane poucas pessoas, qua_se_ sempre umas quatro e,
conseqirentemente, a apenas essa a_mensagem especifica que,
nos esta_send°,transmitida. Se„durante algumas noitesape-
nashomens aparecem em «meus, sonhos,_ sei que algo esta
acontecendo com meu lado masculino, que todas essas figuras
representam yarias maneiras, de ser homem, tendo cada uma
delas u m a q d rid especial de características, num macleo corm
plexo 'que representa um fator saliente de minha personali
dade. U m h o m e m é particularmente ambicioso, outro é um
astro ,de futelpol 4gil,.esperto e_ manhoso, o terceiro é indis
tinto e tem o,olhar., tugidio. Todos são possibilidades que se
numa desordem rimida e sempre fenoVada em nivel inferior;
62
abrem;partes de m ire mesmo, complexos da minha natureza
65
transformarmos num ser que experimenta...Os deslumbra,
mentos, as grandes sensações e a ansiedade por esse tipo de
coisa acabam por desaparecer_Ao desenvolver-se a capaci
dade de experimentar e amar a vida tal como ela e, precisa
mos de menos acontecimentos porque temos mais
experiências. Esse crescimento é o crescimento da
alma,.exatamente como a descrevi anteriormente, ou seja: ela
toma possível a existência de um sentido, transforma fatos em
experiências, comunica-se através, do amor e tem uma
implicagao ou interesse religioso..
0 interesse religioso difere do teoldgico ou dogmatics,
pois este. toma as experiências em posicoes ja estabelecidas
na vida mental ou exterior, colocando a alma no centro da
profissão. 0 interesse religioso da psique aparece mais sob
a forma, de simbolos espontâneos que tem representações
similares na religião, assim como a cruz dos adversarios, a
crianca em perigo, o jardim, a montanha,, a 'passagem e o
guardiao, a fonte, o vento, .o deserto e _o_ bosque de arvores
sagradas — imagens freqUentes nos sonhos. Ou, entao, essa
implicacao surge através .de,motivos expressamente
sos: a importkcia do amor, a luta contra o mal, o exterm í
nio do dragao, a conversão ou cura milagiosa. Ou ainda sob
a forma de insinuações ou percepcOes referentes a imortali
dade, eternidade, metempsicose e questões sobre a morte, o
apos-vida, o julgam ento da alma, o que é certo para ela,
onde ela se encontra e para onde ira depois. Em outras
lavras, a preocupacao_religiosa, toma-se uma manifestacao
espontanea de cada um ,de .nos, quando a alma é reencon,
trada.
0 dogma e a teologia tamLiem assumem significack
nova, pois, de um lado, as, interrogagoes e imagens da alma
podem nutrir-se do acervo da religião tradicional e, de outro,
um senso de experiência redescoberta traz juventude a tra,
dick, conferindo-lhe novos significados como prolongamento
de uma religião que esta se revelando continuamente.
Equivale a dizer que a revelacao cessa quando se perde a
66
alma, e esta não pode mais of erecer experiência e signif i-
c e
aos mitos, simbolos, fbrma e proyas basicas. Para a
psicologia, o que vem primeiro és a alma; depois a religido.
Marro assim, a alma nab_atinge a plerlificacao sem concre-
5
67
A16m do mundo conhecido de minha realidade mental
7879
A 'cura da sombra se apresenta, por um lado, como
problema moral, ou seja, o reconhecimento daquilo que foi
reprimido, no rriodo como exercemos essas repressões e nos
enganamos por meio de racionalismos. Trata-se de descobrir
quais os nossos objetivos, e o que ferimos e ate mesmo mu
tilamos em nome deles. Por outro lado, a cura da sombra é
um problema de amor. Ate onde ira esse amor por nossos
mundos partidos e em minas, por tudo aquilo que é desa-
gradavel e perverso dentro de nos? Quanta caridade dedica
mos a nossas fraquezas e doenças? Ate que ponto nos per
mitiremos, construir internamente uma sociedade baseada no
amor, onde exista vez e lugar para todos? E' se use aqui a
expressão "cura da sombra", é para enfatizar a importancia
do amor. Se, na tentativa de curar, coloco a "mim" como
centro, frequentemente da-se um desvio de objetivo, que se,
apresentara como cura do ego, ou seja, como uma maneira
de toma-lo melhor, maior e mais forte de acordo com suas
aspiragoes que, geralmente, não passam de copias mecani-
cas das aspiracOes da sociedade. Mas se estivermos, tentando
curar aquelas nossas fraquezas congénital, fixas e intrataveis
de teimosia e cegueira, mesquinhez e crueldade, arrogancia e
hipocrisia nos defrontaremos com uma nova necessidade de
convivência onde o ego precisa escutar e servir, ccoperando
com uma horda de figuras desagradaveis e sombrias e, ao
mesmo tempo, precisando descobrir a habilidade de amar ate
mesmo a mais insignificante dentre elas.
Amar a si mesmo não a coisa facil exatamente porque sig
nifica amar tudo dentro de.si. inclusive a sombra, onde somos
tao inferiores e socialmente não aceitos. 0 cuidado que se
presta a essa parte humilhante também e cura. E mais: pelo
fato da cura depender de cuidados, cuidar as vezes não sig
nifica nada mais que carregar. 0 fator de importancia p ri
mordial na redencao da sombra e a habilidade de carrega-la
consigo, como o faziam os antigos puritanos, ou' os judeus
em seu exilio interminável, dia apos dia, conscientes de seus
pecados, espreitando o Demonio e em guarda contra um
escorregão numa longa peregrinagao existential com uma
carga de pedras as costas, sem ter ninguém em quem desear-
rega-las, e sem destino c e rto onde chegar. Entretanto, nada
disso pode ser programado para se desenvolver levar a
inferioridade a estar enicomplacencia 'com os objetivos do
ego, pois em tal atitude não existiria amor 'algum.
Amar a sombra pOdera comegar pelo fato de carrega-
la, mas mesmo isso não sera suficiente. A um dado momento
uma outra coisa.devera' irrOmper: aquela compreensão que
ri do paradoxo de nossa própria loucura, que também é
igual a de todos os homens. Ai, entao, podera surgir a
compreensão de tudO aquilo que é rejeitado e inferior, um
caminhar junto e mesmo uma vivericia partial desse m un
do. Esse amor podera mesmo precipitar a identificagao e o
agir de acordo com a sombra; levando-nos a cair' em seu
fascinio. Ai esta a razao'de- nunca podermos abandonar a
dimensão Moral. Conseqüentemente, a cura é um paradoxo
que requer dois incomenuraveis: o reconhecimento moral
de que essas partes em'mim são pesadas e intoleráveis, pre
cisando mudar justamente com a aceitagao amorosa e riso
nha ,que as receba exatamente como são, com alegria e
para sempre. A um so tempo lutamos arduamente e deixa
mos o barco correr, julgamos com severidade e aderimos de
bom grado. Moralismo ocidental e abandono oriental: cada
um se atem apenas a um lado da verdade.
Creio que a atitude paradoxal da conseiencia com
relagao a sombra encontra um exemplo arquetipico no mis
ticismo religioso judaico, onde Deus tem dois lados: um de
retidão moral e justiga, e outro de MisericOrdia, perdão e
amor. Os chassidim stistentavam o'paradoxo e suas narra
tivas mostram uma profunda devogao moral associada a um
surpreendente sentido de prazer pela vida.
A descrigao de Freud do mundo-sombrio por ele desco
berto não fez justiça a psique. Era uma descrigao por demais
racional. Ele não dominava bem a linguagem paradoxal
falada pela psique, e não conseguia ver com clareza que
cada imagem e'experiência contóm um aspecto prospectivo
8081
e um redutivo, tanto um lado positivo quanto um negativo.
Ele não conseguia distinguir, suficientemente o paradoxo do
lixo em decomposigao ser também fertilizante, da infantili-
dade*ser também espontaneidade infantil, da perversidade
polimOrfica ter um lado de alegria e libertagao física, e de
poder o'mais feio dos homens ser o redentor dentro de um
disfarce.
Em outras palavras, as descricoes de Freud e de Jung
não são duas posigoes conflitantes e distintas. Ao invés dis
so, a visa0 de Jung deveria ser sobreposta a de Freud, am
pliando-a por adicionar-lhe uma nova dimensão que toma
os mesmos fatos, as mesmas descobertas mostrando-as, entre
tanto, como simbolos paradoxais.
A mesma complementaridade a verdadeira com rela-
gao as Concepgoes junguiana e freudiana de analise. As re
gras de. Freud eram rigorosas e os freudianos de agora con
tinuam a guiar-se por regras estritas quanto ao metodo da
analise, ao relacionamento entre o analista e o paciente, e
quanto ao comportamento que este paciente devera ter no
mundo 'durante o period0 de analise. Tais.regras passam a
constituir um novo codigo moral, uma nova orientagao do
superego bastante assentada nos padrões de comportamento
e atitudes do analista. E o seu objetivo é garantir que,
desta forma, havers o minimo possível de manifestagoes
concretas do material que surge durante a analise 'sob a for
ma de awes, expressas.
Devido ao, fato de as foigas da sombra,poderem, por
um lado, ser tao dinâmicas e, por outro, tao anti-sociais, a
contengaomoral se faz necessaria porque o material que
esta sendo trabalhado apresenta essa qualidade primitiva e
infantil própria da-sombra. Contudo, do ponto de vista jun-
guiano, existe uma outra justificativa para a moralidade
analítica, bem como um outro enfoque para a sombra. A
moralidade reforga o receptáculo onde a personalidade po
derá desenvolver-se. Vamos- considerar isso mais,de perto.
A sexualidade, em particular, 6 constelada pela som
bra, tomando a partir dal uma vida nova. Elajcomeca a in
corporar significados de liberdade e prazer, de idade adulta,
potência e criatividade. 0 'mundo se tom a sexualizado, e a
sexualidade parece confirmarse enquanto existência, como
se fosse Uma verdade basica em si mesma. A vivência desse
aspecto do inconsciente, nos da a' impressaa. de que Freud
estava certo do comeco ao fim. >~ óbvio serem imensos, os
perigos: de uma expressaó indiscriminadamente concreta do
material. Eclode, entao, um conflito hem dificil entre. a.
nova libido e a:velha moralidade. Parece que_esse estagio -
de penetracao- no mundo da sombra esta envolvendo a nossa
scciedade como um •todo, principalmente se nos .debruçar-,
m o s s o b r e os ú l t i m o s v i n t e a n o s . •.
Outros aspectos morais como agressão, ódio, orgulho
e poder, preguiça, desonestidade e falsidade de atitudesjam-,
bem pertencem a sombra do sentimento e merecem consf,
deracao dentro dos aspectos de.uma nova moral. No traba-,
lho analitico, esses aspectos não são menos„iirgentes que a
sexualidade. Entretanto, porque a nova moral parece se
exprimir em termos de amor e. sexo, e porque amor .sexo
são estandartes contemporâneos sob os quais se.travam ba-,
talhas ate mesmo de ordem educacional, legal é politica,
somos tambem obrigados a considerar essa, questão. Entre,
tanto a verdadeira revolução, que esta se operand(); na alma
individual não é tao .sexual quanto psíquica e simbólica, e
uma luta por uma experiência totalmente nova .de realida
de (experiência que no. fundo é a mais_ antiga religiosa
possível). E esse desejo, de yansformacao só em suas
gens se apresenta, pela fantasia sexual dessa realidade
quica.
Detenhamo-nos inicialmente sobre as respostas aos pro-.
blemas de amor e sexo que nos: Oa a nova moralidade. Ela
parece sustentar que a luxuria e o adultério não poderão
ser moralmente condenáveis, desde que se deem entre adul
tos conscientes e no exercicio de suas vontades, contanto
82
que ,não ocorxam em, pilblico, que isejam profundos, signifi-
c a t i v o s e n a b q u e se b a s e i e m n o a m o r , o u
seja,.no reconhecimento, da pessoa do outro. Na verdade, o
bispo Robinson diz:,,;,
assercoes sobre Deus são, ultima anali
84
as o psicólogo das profundezas,tem :alguma coisa a dizer
sobre o que, Mora la no fundo._-As imagens dos sonhos, os
contos de fada a os mitos nos .falam com. suficiente .ab,un-
dancia do mundo inferior habitada por. imagens maternais,
feral, incêndios,, falsas noivas monstros com. os quais o
herOi tem que se:defrontar inicialmente antgs de conseguir
tin
ag it o seu. bispo, reino e chegar .ao estado de e ornem, antes 1:
Woo de
t o r n a r - s e h u m a n o e p o d e r e n t e n d e r o q u o de
with quer dizer, quando laia de amor. 0 amor romantico é
apenas uma doce'_resposta_ eng adanor a endereçada a um
mundo arid° e tecnologizadO; esse amor. 6:_apenas. o. reverso,,
a enantiodrom ia que parte da realidade de eficiencia do
menino FaustO el se volta para os anseios is do gina .tant1"1" psic O-
que
f i c o u p a r a A r d s . Co e n o r m e f r e q a (e t a o
Com
logos quanto orientadOres. s. abem muito ben) na nobre inten
ção de um .amor pessoal e prof undo, ao entregarmo,s'a forca
suprema de nosso .amor,. nA, vArdade o que, acabamios por
entregar e nosso m onstro ..mais inferior, para alguem
tom ar canta.
Presumir que, toda experiência de amor emana daun Base
D ivina do' Ser, im aginar que uma significacao profda-
mente pessoal se .sobreponha ao fosso e as barrecriterio ra _paris dos
i n t r i n c a m e n t o s do . a m o r e q u e I s s o . p o s s a s e r
justificacao. de 'um ..am or não santificado, ba ser ci
re g lig n ÊJsanerfe
l e v a d o ao a m o r p o r A l m a f i l o s o f i a q u e , a c a ado
o .seu lado perigoso, (pois se Deus 6 amor, entao, o come-co
da,sabedoria e a m e d o do amor) e eom inar essa ignarancia
ingênua ."Honesto para coin Deuds"n. (Honest to God), vem.
apenas' .testemunhar toda extensão desse amor que ainda
vive som bra..M elhor seriadenom inar a nava m o 7 ralidade
do amor com.° " Ingenuo_ para. com Deus,".„Um psicólogo, ,não
.obstante. leigo em assuritas de Aeologia, espera
mais de um a "nova reforma" do que a merarsubstituição
da imagem de um Deus "nas alturas" por timoonceito igual
mente ingenuo do amor " aqui e agora": Embora e.steja esque
to 'q u e 'que tudo e m Deus .6 amor, sera clue isso significa
85
85
todp amor é Deus? Quando *o' amor é adorado como 'Deus
— não importando que forma esse afeto venha a ter, quem
venha a da-lo,.em que alturas ou profundezas Se encontre
— não estaríamos' erigindo- um idolo, infringindo de' uma
so vez o primeiro e o*segundo mandamentos? E esses man
damentos não pesarn mais sobre a moral teologica que o
sexto e o nono, que hoje em dia parecem exercer ,estranho
fascinio sobre nossos ministros? .0 psicólogo teria que per
guntar a seus colegas ministros: Por, que .voces se
xam prender-por esses sofismas e simplificacoes? Por que
voces obscurecem as hierarquias .da transcendencia e dos
illtimos fins, negligenciando os mundos de diferenças (tra
dicionalmente expressos por pianos de existência e classes
de anjos) entre os niveis e 'os .tipos de 'amor? Por que
voces traficam alucinagenos, achando que eles ocasionam
visoes beatificas? Pot que voces confundem as «vozes de
complexos' autonomos com o dom Pentecostal de falar em
linguas? .Como .voces'conseguem,equacionar o ,mergulho de
cabeca numa paixao com o encontro do olhar de Deus?
- 0 amor' e mais complexo que suas emocOes, da mesma
forma que Deus 'e mistério e_não entusiasmo:Diferericiai
as suas complexidades-e uma longa iniciacao que' apenas
no ponto de partida é cair de cabeca e ser acendido por seu
fogo, envolvido por. sua fumaca. 0 amor deveria ser eluci
dado: levado a luz (igualmente, a teologia, enquanto estudo
de Deus, é um longo processo de elucidacao,- um caminho
em labirinto). Tornamo-nos .desamparados ao e*tremo ante
a experiência arquetipica do amor; e quase 'nada entendemos
do, que se passa; mesmo suas epifanias'são apenas aberturas
para 'ainda' maiOres possibilidadm de .amor. Ninguém esta
ria louco a. ponto .de acreditar-se teologo-da noite para o
dia,,embora muitos aleguem o.equivalente a isso depois 'de
uma noite de amor. E o:que seria daqueles que não tiveram
a forca .nermagloria .de'entregar o maxirho de si mesmos no
amor? Estariam banidos do Reino? E como se na m oralida
de da nova reforma houvesse uma velha doutrina de predes
86
tinacao, de atualizados',' e: "Ailtrapassados", ou.seja; apai-
xone-se ou deixemos! esar ^ sua ousadia de
R esum indo, a nova moral, ap
dar a mensagem de amor de Jesus, uma interpretacao vital
mente modema, não, é_ psicologicam ente valida, porque
oferece uma respostageneralizadora. E nap, ha resposta geral
eficiente em conflitos..morais; em nivel psicológico,.os con
flitos morais são sofridos individualinente por :meio de
ses que.não são atingidas nem por _pregacoes, nem por cosec
NUm verdadeiro conflito moral, que .6 a, foija da per
sonalidade e da intensificacao d carate, o individuo esta
sozinho para martelar a resposta0 ein seur.coracao. 0 código
moral iiincionacomo martelo. 0 quc-intep
uma bigorna e a crise individual como
um r e s s a a r a o c u l t i v o p s i c o l ó g i c o é q u e
tais conflitos existam. A moralidade que remover a fonte
do conflito e atenuar o papel da culpa, diminuindo a impor;
tancia de= sermos dilacerados na cruz dos opostos,.não sera
mais.moralidader mas um novo tranquilizante teologico, ao
qual se resolveu denominar Amor.
eles e$ W § d P °rclue
primeiro, intensificam o
conflito, sem a.co n sciên cia não ex istiria e,,segundo,
favorecem a interiorizacao. A analse não _defèdade exteimoialnde o codigL
o
- s i m p l e s m e n t e l p a r a f a v o r e c e r ‘u m a m o r a l i um
formalism0 ou. uma.etica social. A.,analise preocupa-se
nom .desenvolvimento anfor,. doeros„e_ d a ,sexualidade
to nivel interior do próprio,, individuo. este desenvolvi-
nento não é favorecido por se levar amor as vias de fato.
Repressão e desregramento são os dois.las de.,umaden mesma
moeda. Um terceiro.caminhopoderia ser cdo hamadQ ter7
nalizacao .ou_Nivencia do -imlx,lta'lvcz Eroasmaisti e. cltivado agtodas
aves
de um a i n t e m a l i z a c a o intensa, as
atividades, viSto que eros, .por definição é. imptilso,„nos
lanca_ao .mundo e ao efivolvimento com pessoas coricretas.
Vivenciar eros internamente 6,.na verdade, Aim op u s contra
naturam. (um ,trabalho Contra a natureza). 0 próprio
87
87
so amoroso guarda em si as sementes culturais da intemali-
zacao e da vida simbólica, que não sac) sublimacoesimpostas
de cima pela Vontade, razao ou etica social. Tais sementes
são a regulagao autogovemadora, auto inibidora_ do. pi 6- pH°
instinto através da consciência. Poemas„cartas, presen
tes de amor são gestos não redutfveis-a sexualidade fun
nal que, entretanto, mesmo entre os animais sob a formacl°
de
corte e rituais de acasalamento são _a própria danca e o colo
rido do amor. 0 jo g o liberador e imaginativo que acom pa
nha os enamorados 6 parte integrante de eros e demonsira
de que forma o op
au s' contra naturam tam bém 6, al-
mente, naturl e instintivo. paradox
Toda disciplina mistica reconhecia a importancia da
mtemalizaCao'para o cultivo de eros,-e impunha fortes restrigoes
a vida 'erotica. Não 'estou aqui querendo prescrever p r a t i c a s
de a s c e t i s mo , nem
é atu alm en te, vivido no ndo. A ' intemalizacao não
en p r o s c r e v e r o a mo r como
6 o - tinico caminho em sem pre é .a eit E,
contudo, hora de criar condicoes discutir a resposolucao., pois
ela não desapareceu, apesar de ter sido esquecida pela d e
nominada revolugao sexual contemporanea, sem falarmos
do fato de a interiorizacao estar colodada entre as doisas
mais. urgentes da pratica analitica. Assim, aponr a rele,
vancia psicologica das disciplinas asaticas poderá" ser Can,
apesar de não constituirem em si mesmas nosso campo de
estudo e trabalho. Estudando-as, defrontamo-nos com per-
cepcoes e ensinamentoS arquetipicos que mostram que o ser
humano, devido a uma distincdo de sua própria humanidade,
precisa ser iniciado nos mistérios do amor. E se Deus é amor,
isto não devera nos' causar estranheza.
As disciplinas tradicionais, entre as quais se encontra
a ao alquimia, preocupavam-se principalmente com a transfor;
m da c o n s c i ê n c i a , ou c om o que
rar o desenvolvimento da personalidade em seu poderfamos conside-
sen tido ma is
profundo. A redengdo da personalidade subjacente e, prin.
cipalmente, de um eros subjacente.(desamor,-egofsmo, apego
sem envolvimento, iaidade e vida superficial, primitivismo
da sexualidade e sexualizacao dos ,sentimentos, precipita-
cao e compulsividade, desperdicio de energia em fantasias
erOticas repetitivas) tambem constitui preocupacao central
da analise. Portanto, pode-se aprender muito sobre o de
senvolvimento da personalidade a partir de disciplinas mis-
ticas, como a alquimia.
Na alquimia chifiesa e na ocidental, antes de se come=
car o grande opus, ou seja, o experimenlo com a natureza
propriamente dita de quem o pratica, era necessário voltar-
se para o próprio coracao e examinar suas atitudes morais,
salientando-se a importancia das virtudes cardeais: forca,
humildade, paciência, castidade, amor, santidade, fe, espe
rança, bondade, oracao, equilibrio, e assim por diante. De
um modo ou de outro essas virtudes entravam a todo m o
mento na alquimia. Era um assunto intensamente moral.
Moralidades igualmente intensas podem ser encontradas na
yoga, nas disciplinas católicas, no sufismo,'no shamanismo,
no zen e ()Wm.
Havia um idealismo espiritual fdefinido e forte mora
lidade. E o caso de 'perguntar porque. issO se fazia neces
sari°. 0 alquimista •rccOnhccia a escuridab interior e o lado
sombrio da personalidade que se liberavam durante a trans-
formacao de eros. A m oralidade oferecia uma protecao
redentora quanto ao lado corrosivo, sulfurico e passivel de
explosoes da natureza: ou seja, as emocoes fortes e os dese
jos reprimidos. Os principios morais eram guias práticos
para se lidar com o violento Deus interior. Ele, enquanto
Solniger ou Deus absconditus, poderia destruir a criacao de
baixo para cima; da mesma forma que o Altissimo manda
para baixo as pragas de gafanhotos, os raios e os
A moralidade como algo imposto de cima deriva-se do
modelo de teologia de um Deus-nas-alturas. Esse mesmo
modelo teolOgico, p,orem, baseia-se riuma idéia arquetipica;
uma afirmacao da pgiquc quanto a existência de algo acima
e alem dela. A alma não é tudo; existe 'alguma coisa_mais
BB
alem. Se todas as afirmag8es foremfundamentalmente refle-
xties da psique, as reivindicacoes da teologia quanto a per_
feicao ser ascencional e o espírito ser superior a psique e ao
corpo são advertencias* da alm a a si mesm a, dizendo:
"— Olhe para o alto!!! A localizacao de Deus nas profunde
zas talvei possa implicar uma nova moralidade, dirigida au
imanente transcendente, ou seja, o interiormente profundo lo
calizado aomcsmo tempo mais alem. Essa interioridade que
esta alem e concebida imaginicamente pela alquimia como
os olhos luminosos dos_ peixes dos mares profundos que sa6,
ao mesmo tempo, as estrelas distantes das ,alturas. Esse pro
fundamente' interior que se encontra alem é o aspecto suksma
na linguagem_ oriental, o fator que se encontra alem do nivel
Material exoteric0 das coisas.'>0 alem interior é o ultimo
alvo da conexão interior._ Um auto-relacionamento, que se
estende a tudo o qUe se encontra alem do ego. Esse domi-
nio da realidade psíquica sempre aponta' para alem de si
mesmo, transcendendo-se e, assim; impondo uma moralida
de que exige um processo de transcendencia. Processo de
transcendencia quese aprofunde cada vez mais, que va mais
e mais longe. Poderíamos denomina-lo impulso 'moral do
process0 xle individuacao. Mas, cinde quer que se «coloque
o valor final; 'esteja DetiS no, interior 'ou acima de nos,
_e esse aspecto de "alem" que orienta o impulso moral. Conse
qüentemente, as virtudes morais petmanecem como imper,a7
tivos psicoldgicos, como apelos de- algo alem do ego, não
importando a localizacao do Deus teologico.
Concomitantemetite, p d rta n to , a necessidade do tonfli-
to moral, temos agora a. segunda justificativa psicolOgica
para a moralidade. 0 próprio desenvolvimento da personali:
dade impOe normas ao ego. A personalidade, como um todo,
pede a ele que faca- sacrifícios, por ser ,uma ,de spas partes
i nt e gr a nt e s . 0. ego é, p o r va l o r e s e p r i n c i p i o s que
são "super" ego, na medida em que estao acima do mesmo
e o transcendem. 0 processo de tratisformacao impOe, tais
limitações, a fim'cle que o ego possa servir a' esse dcscnyolj
vitnento de forma adequada. Sob esse enfoque, tais atitudes
e conceitos da moral tradicional são:valores transcendentes,
assim como as filosofias idealista e kantiana sempre afirma
ram que as virtudes cardeais são fatores de transcendencia
E do ponto de vista analitico elas também são psicologica
mente transcendentais: Elas não são virtudes hipostaticas,
flutuando pelo ceu, nu universo platonico:ou num empire0
metafísico germânico. São antes limitacoes:e imperatiVos co
locados pela inteireza* de si-mesmo 'sobre 6 ego, para forca-
lo, a interioriza4ao: Como Ws, elasAranscendem o ego, são
desta forma por ele experitnentadas, e a transgressão dessas
limitacOes despertara .sempre culpabilidade. Essa 'culpa sur
ge em relação a poS'sibilidade de auto-realizacao e de auto-
redencao do individuo., 0 impulso moral da consciência de
sempenha assim um papel significativo no processo do d e
senvolvimento pessoal. ' - . , .
0 ensaio de Tung sobre a consciência foi escrito ja pro
ximo ao'fim da 'sua vida e:teve recentemente, sua primeira
publicacao em' ingles no 109 vol. d e suas Obras Completas.
Ai são descritos_ Bois : 'tip' consciência. • Uma 6, a
adquirida atraVes da apiendizagem,-da inculcacao dos vato l
res de riossos pai'S'e de nossos colegas, dos dogmas, tradicio
nais das religiões* quanto'ao certo Cap errado, e que pode
ria ser chamado.de Superego. Ha, entretanto, dm outro tipo
de consciência, pois como o proptio Jung diz: "0 fenome-
no da iconsciência em si mesmo não coincide com o codigo
m oral, sendo-lhe anterior e tanscendendo-lhe . o conteú
do. . . " 0 superego, o primeiro tipo de consciência, 6, na
verda-cle .secundário. 0 que quero dizer com isso é que so
podeinos assinfilar Certos principios e Seguir um codigo mo
ral, obedecer;os ensinamentos de.nossos pais e das religiOes
devid° a ,faculdade psicolOgica da consciência, ou seja, .a
capacidade inata de. sentir Culpa. A consciência 6" uma fun:
são psicologica.sui-gerteris. Ela é a. Voz da auto-orientasão
A atividade auto-reguladora e autodinarnizadora da psique
confere a consciência a sua autoridade, peculiar: Podemos
91
9G
92
alterar os códigos morais ou mesmo nos desfazer„deles, mas
impossfvel descartarmos o fenomeno psicolOgica da
consciênciaa. -
A consciênciaa, enquanto aspecto de autodiregao 6 a
voz do si-m esm o que e realm en te c o n flitu a com os
conteddos de uma donsciencia nascida do superego. E quan
do o homem é levado ao dilema de seus próprios: valores de
indivfcluo face ao código da moral coletiva, entre
consciênciaa Or se e avaliagao de seus conteddos. Essa é a
matéria de muita literatura e do dia-a-dia no trabalho de
aconselhamento. A religião organizada de ha muito
reconheceu esse conflitó de vozes interiores e com muito
acert° o denominou conflito entre luz e sombra, entre bem
e mal.
Infelizmente essa mesma, religião .teve seguranga de
mais ao decidir o que era sombra e o que era luz, e foi m ui
to rapida ao identificar a sua etica com a etica certa.
Digo." infelizmente", pois nos..conflitoS ~ morais, o bem
esta amitide dividido contra si:mesmo; a vot de Velho Rei
do superego e a voz do si-mesmo prestes fa nascer, falando
através da Crianga M aravilhosa estao, igualmente certas.
Um novo ponto psicológico podera surgir desses conflitos,
vindo talvez a constituir uma nova moralidade. E istQ sera
ulna mudanga na posigao da moralidade, afastando-a, entao,
da unilateralidade e caminhando em diregao a uma verda
de mais central: Essa verdade admite, e a tempo introduz na
vida consciente filamentos da sombra que ate. aqui estive=
ram banidos. Os impulsos de poder transform ain-se em
big óes de trabalho, as fraudes em mentiras sociais, o medo
do fracasso aparecera como fraqueza declarada e as fanta
sias sexuais como relacionamentos vividos. A integragao da
sombra transforma a sombra. Conseqüentemente, essas qua-,
lidades não são mais tao obscuras quando 'se tem a cora
gem de dar-lhes vazao e mante-las em .cheque ao mesmo
tempo. Do ponto de vista psicológico,.a repressão naa 6 so
o Mal, enquanto a integragao a «o Bem; .a repressão é uma
o Velho Rei a alterar
A n e c e s s i d a d e i nt e r i or -que f or ga
suns posigOes f ala inicialinente com a' voz ainda fraca da cons
i ndi vi dual : E m so n h o s, as v e z e s, ela é um a crianga em
perigo; oti enferina; ferida, afogando;se, perdida... ou um
crittinoso aprisionado, um paria social, um inimigo estrangeiro,,
um. homem, de outra raga ou religião- um animal que não
conseguimos exterminar depois de incansavelmente perseguido,
como o Cao do Inferno'. Entao sen-
te-sea sets0 de resPonSabilidade'e necessidade de fazer
alga culp, ma coisa Erin alum canto exiSte uma necessidade pre
mente, e não estamos f azenda 0 que devemos. Este "deve
mos", em clue pe'se toda a sua forma autoritaria, .doentia,
infantile grotesca,' constitui-se na nossa dimensão de, cres
cimento: é aquilo que esta perdido sem nossa ajuda, ovem
o suficiente Para desafiar 'a generosidade de nosso coragao,
doente a ponto :de configurar em nos a figura do medico,
perseguidor porque fugimos dele; prisioneiro por sere o
seu juiz, sombrici porque nao'perrriitimos que viesse a luz:
Esse " deviamos" e o comando da fungao auto-orientadora
da personaidade, e a todo niotnento somos pressionados, a
concretizar"um de' seus ndcleos centrais, lung denominou
arquétipos a esses dentros dinamizadores. E o arquetipa mais
intensamente envolvido no'periodo de escuridão é o argue->
tipo da sombra, d u seja, nada mais, nada menos que o
Defrontar-nos com a escuridão leva a aspectos intensa-
Demoriio.
mente morais que 'sac); a um so tempo, experiências etemas e
arquetipicas de creSdimento e de destruigao. A taref a hu-
mana,quando se lida- com a sombra, 6 separar seus f ilamentos
atraVes de uma diferenciagao cuidadosa, por- meld do
raciocinio e do sentiment0, das imagens exatamente como
nos surgem; a fifri de libertarmos o redentor oculto, ao mes
mo tempo qUe -vigiamos o destruidor disfargado. Devido as
trarrias encontrarerri-se quase sempre muito enredadas, nab
podemos encOrajat o element0 salvador sem ficartnos per
93
manenterriente, de olho no Derrionio.
Isto leva a terceira.e ultima razao para a
moralidade: a luta contra, o mal. Do pont°, de vista da p ra ;
tica analitica, talvez essa ,terceira baseseja mesmo mais
importante que as duas anteriormente,expostas (a necessÍ7
d a d e de, c o n f l i t o s • m o r a i s e de i n t e r i o r i z a c a b ) .
0 nivel, niais profundo da escuridão intema e. da som7
bra, estehde-se para alem dos meus e dos_seus pecados,, cri
mes, ,negligencias-,e omissoes. , As gNperi4cips do mal em
nivel subjacente ,sa_o , imp,ossiveis; de ser, humanizadas, e
tal ponto*que ao Ingo dos tempos sempre,foram_ represen-*
tadas como forcas, demoniacas pelas,yarias religiOes,do mun-,
do. A travessam os periodos na Europa _dos anos 30 e
(prosseguindo ainda, na A rgélia, no Tibet, e no, Sudeste
Asiático e no sudeste dos EUA), que sab reveladores do po 7
der dessas, forgas. Te.ologicamente o mal pode mesmo ser
a privacao:do.berri, mas.ate esse bem voltar a cena, ate a sua
privacao ser restaurada, a experiência do mal possui uma
verdade psicolOgica agudamente yerdadeira. E a pessoa atin
gida sofre ,,nab_ tanto de uma priyacab, "como da. presença
p e n e t r a n t e e e f e t i v a d e s s e m a l . „,
Ele é uma coisa absoluta, e:presente de maneiracruel.
0 mal arquetipico no pode ser curado,integrado, ou huma
nizado.- SO ,resta,, portant0, "Vigia-Jo. Esse porito, fOi "reitera
damente repetido pelo Dr. Adolf Guggenbilhl-Craig nas suas
"Cutting Lectures", na Escola Teologica de Andover-New-
ton. A experiência do :mal sob a forma de perseguicAoLcons-
ciente, crime de vinganga,:, sofrimento, destruidor, explora -
cao, dor, tortura física, encerra alguma coisa alemdo demo-,
niaco. Esse "algo alem",cio demoniac0 soLpode ser o humano,
E o elemento humano no Demonio,que confere ao mal a sup
plena realidade.
Em si mesmo, 6 demoniaco, ou diabOlico é arbitrarib,
maligno e quase sempre uma questão,de sorte on.de,destino.
Assim como chega, ele vai, parecendo nap ter sentido algum.
Quanto mais arquetipico ele for, tanto mais sera experimen
tado como coisa im pessoal, algo incom preensivel e que
94
92
riao merecemos (as mesmas palavras sac). utilizadas por
quem recebe a Goo D ivina: N ão sou digno", "U ltra
passa o meu .entendimento" etc.). Em certa medida o mal
toma-se mais _compreensivel. e.aceitavel quando é possível
liga-lo a algum contexto humano, como os pecados de gera-
cOes ancestrais ou os motivos pessoais de um inimigo. Quan-,
do assume formas de qualquer divindade (Loki, H erm es-
Merctirio, o Enganador), ele apresenta uma dupla-natureza,
podendo como o espírito tanto soprar .para o lado do bem
quanto do mal. Apenas atinge a monstruosidade quando ê
semi-humano. Ao juntar-se ao ego humano, a vontade, razao
e desejo com os quais um homem pode escolher o curso de
uma acao e perseguir, um.objetivo, ê que o meramente de
moníaco toma-se verdadeiramente mau. Isso significa que a
sombra arquetipica não atinge realidade concreta ate con
seguir unir-se ao human° .por meio. de um pacto. Dessa for
ma, somos levados a concluir, que ,o Dem8nio também se
encarnaria no homem, vindo a expressar-se por meio dele.
S6_a moral pode defender-me deste pacto: o da encar-
nacab das intenções, 'do Diabo em minha vida, conforme a
minha vontade,' razao..e ,desejo. Isso nos le'va, portanto, a
rever o valor da moralidade, pois com que. outra protecao
contaria a _psique "para defender-se,:de forcas desse tipo?
Nesse sentido, .toda moralidade vem realmente do Demonio.
Ela ê a 'resposta _da psique as suas potencialidades. Ou, tal,
vez, no nivel da 'forga inumana, dificilmente poderíamos
estabelecer com certeza diferengas entre as fontes do mal e
as da" moralidade. Do .ponto de vista .humano, que é como
se akesenta na sessão analitica_a origem de ambos parece
ser a mesma: transcendente. _ • ,
Acontecimentos arbitrarios do destinó procedem de um
mundo fora de nosso alcance, o mesmo se dando com o im
pulso moral. Os eventos do destino podem ser hum aniza
dos positiva ou negativamente, quer sob a, forma de tragé
dias que'nos,enobrecem,.ou de crueldades futuras que espa
lham sementes destrutivas no mundo das geragoes vindou-
95
ras. Pode Ser • que a moral humana não consiga alterar os
fatos do destino, mas pode, ao menos, impedir a encamacao
direta da sombra arquetipica., A moralidade humana pode
e- consegue proteger contra a_ vivência ativa do mal exata
mente como a bondade consegue -suavizar os golpes do
d e s t i n o . _ _
Não é em nossa sombra que cresce forca do Demo-
nio, mas em nossa .luz. Ele.vence quando nos desligamos de
nossa escuridão, quando deixamos de envergar_ a nossa des-
trutividade e engano .em relaçào'ao que somos.
A teologia- diz que:o orgulho leva. direto ao caminho
diabOlico e a psicologia o confirma, ja que o orgulho e, ana
liticamente considerado, a negacao da sombra pessoal e o
fascinio pelo ofuscamento da luz da individualidade.
Assim,, a melhor protecao não é o reforço do bem e da luz,
mas a familiarilacAo com a nossasom bra .e aspecto
diabOlico.
A dosagem homeopatica de males menores, como pílu
las amargas de dor moral, pode agir de maneira profilatica
contra o mal major. Errar é humano. Ter sombra e estar nela
e humano. Não ter sombra so e possível ao divino ou ao
demoniaco. 0 humano s» não projeta sombra ao meio-dia,
a' hora* do brilh° ofusdante d6 zenite de seu orgulho. 0
meio-dia e também a hora de Pan, e assim, em nosso ponto
mais alto', nos encontramos proximos do perigo da major
de todas as quedas, Pan desencaminha a. moralidade civili
zada para o panic°> das revoltas, para a intoxicacao e a
sexualidade deSenfreadas. E ele não esta nada morto, mas
sim ressurgindo agora como herdeiro de Lidcifer,-originário
das entranhas niais profundas, Como o ambivalente "princi
pe deste mundo", trazendo um axoifusão de vitalidade .e
escuridão simultaneas. Uma mistura monstruosa em nome
de uma renovack, dionisica. Nossas obsessoes' com o extase
e o renascimento através do Inconsciente (quer1 se processe
pela nrasica, LSD, orgasmo ou revoltas)_deixam em eviden
cia as patas e os cascOs de Pan-Dioniso. A psicologia ou
96
reconhecer Pan e-sua inflancia, lane aeonsapartirdessas
me profundezas sobre 6-floss° amor e o nosso medo.
Finalmente, a realidade da sombra no aConselhamento
significa que a honestidade' é uma graca que flacl podemos
esperar de quem nos procura, riem'de'nOs em relação a eles,
e nem de W ing em relação a DeuS: 0 Derrionio e aquilo
em que nos assemelharrios a ele significam traicao; mesmo
quando nos amparamos em nossOs melhbres1 ProPOsitoS.
Essa é a realidade do 'mal. 'A escuridão jamais sera diSperi
sada, visto serinos' humanos e Caminhartnos a sombra do
p e c a d o , ct i j o f il ho 6 t i g i n a l ‘e»Iti cifer: -
M entira e engariO esiardó.sentpre presentes, podendo
ate a própria honestidade de' DeuS- - ser posta em dilvida.
Pois no caso de JO, Ele detr Ouvidos a Sata: Enfrentar a rea
lidade do mal, Poierrysiaosignifica'ser .cinico. Significa sim
plesm ente que :0 'O tirriisM 6-'da honestidade em' rel4ao
Deus deve Coiner laivos:' de pessirnno. de nossa realidade,
psicologica. Para sermos hOrieStoScom pens deveríamos, eni
primeiro lugai,.c6nhecer triuitO'inais obie,a V erdade — e o
que é a verdade?-Unta pisfa na'clirecao d o cOnheciniento da .
verdade Plena Poderia-' ser encimtrada na, reavaliacao dos
enigmáticos - ladriSes'-gue ladeaVam Jesus em suas taltimas
h o r a s h u m a n a s . ' -' - - -
A r e a l i d a c l e da s o m b r a i m p (Boknttpr
parte do' orientador, pastoral da vastidao de seu próprio
inconsciente'Coletiv6,'das' Sombras da sua alma, pois é exa
tamente a ignorAnCia.'detudo isso a responsável pelo Longo
declinfo de sua vocacAó eqambehi'de nossa fL A maior som-,
bra nessas p rofundezas' é a de seiiine: o 'p ecad o 'do orgulho',
a identifiCacao com a figura de Cristo" (ie pod& vir a' cena
especialmente agora, amparando a missão pastoral. Hoje em.
dia O s efeiiOS’ dessaidentificacAo sera° ainda piores, exata-
mentepóe Se tratat 'de -inn"Deus morto", tim Deus tie nab
deu certó, deComPordo-se em Mei° aos fermenios' da desin
tegração e da Jessurreicao, podendo a ,qualquer, moment0
agarrar l c ). ministro pelas: costas.. E de. tatforma xlue: este .110-;
mem não podera mais discriminanespíritos para descobrir
quem esta com, quem, ou atras de quem: Cristo, o Demó
nio, ou os seus próprios complexos. Nos contornos difusos
e suaves do quadro contemporâneo, cristianismo e crimina
lidade podem interperietrar-se, e muita coisa podera ser
justificada partir do com plex0 de rnartir do servo sofre
dor e pelo complexo' de, heroi do sold ado de Cristo. Quando
nosso tempo mergulha ria confusão do ,Golgota, é necessa-,
rio o desvio de apenas um ou dois graus fora do curso para
acabarm os, ajo elh ad o s- aos pes de um ladrao. . ,
0 instrumento ao ,alcance',da consciência para pod,er
discriminar eater-se a_v,alores morais„Para reconhecer que
é humano e pessoal, no melhor sentido que isso possa ter,
para manter, as conexOes 'fluindo ativamente e dar Lugar
dignidade, a.decencia e ,a .bondade é a funcao do sentimen7
to. Contudo,, quando o sentimento >da o .tOque humano e
redentor, o maior perigo, .o aprisionimento dessa funcao
pelo Demonio (por mein dos caprichos de Mercúrio, d a frie-
ze. satanica e das violentas emocoes de Pan). Ha longo tem
po o senso moral, tem Sido considerado atributo da funcao
do sentimento. Os codigos morais p'rotegem contra as defi-'
ciências do sentimento através da enfase conferida as, m a
neiras e aos costumes. Os codigos morais preferem julgar os
erros cometidos a luz da intengdo do agente e do context0
sentimental das situagoes dO que referir-se a erros logicos ou
empiricos. Do mesmo modo a psicopatia ou 'comportamento
sociopatico, geralmente considerado cruel e' intrinSecamente
mau, sendo antigamente cansiderado, insanidade moral,, pro,
va-se, de fato, ser deticiencia do sentimento ,de culpa e inca
pacidade de. partiCipacao afetnosa. dentro da humanidade
c o m u m . - -
Assim, os dileMas da sombra 5 que abordei no ultimo
trecho deste- capitulo .(a separagao entre, consciência indi-,
vidual auto-regpladora e consciência revelada ou coletiva do
5
5 Para m ajor aprofundamento sobre OS "d'ilertias som bra" n a m i
tologia, teologia e pSicologia, cf. 'Evil;. NorthW esterh:Uitisi.- Pfess. 1967..
98
superego, alem da diferenciacao entre os filamentos da sombra
que podem ser vividos e integrados e os que pertencem
irremediavelmente ao infemo) são trabalhos que levam ao
dominio mais amplo do sentimento. A educacao ou o culti
vo do sentiment0 leva, por sua vez, a nossa feminilidade
interior, a quai' a seguir, dedicaremos o ultimo capitulo deste
livro.
99
IV
A feminilidade interior:
a realidade da "anima" e a religião
114
116
dera crescer. E conduzira por fim. a nossa própria reden-
gdo, ao encaminhamento, de um lado feminino em diredao
figura de sabedoria e com paixdo em que seA ransform ou
Maria ao- final de sua histOria. No comeco, porem, sO_existe
pavor e choque, pois em .algum lugar todos nos somos v ir
gens, sensíveis, tfinidos, psicologicamente ingênuos e inex
plorados na vida emocional, ariscos_ a envolvimentos. Em
algum lugar somos adormecidos ao aspecto terrfvel da vet—
dade, somos resistentes ao desafio maior, preferindo a segu
rança, a casa, as coisas familiares e tudo aquilo que signifi
ca protedao, como nossos livros .ou pequenos trabalhos m a
nuais. Existe um lugar em que somos bonzinhos, caridOsos,
obedientes e bem intencionados. Entretanto, bem pouco p o
derá resultande toda essa bondade, a não ser clue o ventre
da psique receba a semente de fogo de nossa essencia
que plenifique seu desejo criativo a partir do qual a
experiência interior impulsiona a experiência de renovacao.
Esta -descricao condensada teve por objetivo, mostrar
porque o-cultivo de' nosso mundo de imagens e estados de
animo, de sentim ento e fantasia, ou seja, de nosso
próprio jard im _ interior é essential Tara que -poderia ser
chamado de 'momento._ religioso. E porque, esse momento
religioso requer um animo passivo as intenções de.Deus, um
estado receptivo, A Vontade Divina e- a experiência de um
ferimento-que nos possa abrir, a que ele 6 ’feminino em >sua
natureza. Entretanto ainda, resta saber: como_se chega a um
ajuste com esse lado feminino?
Como fecundar a,esterilidadCom o é possfyel cultiva-lo?
e que não imagina um domed°
novo, a virgindade da estudante que brinca com a vida, bem
como a solteirona fria ou a prostituta impaciente? A resposta
mais simples, a -solucao mais geral e que acontece, com mais
freqiiencia é: com as mulheres.e através delas, na sua
intimidade e relacionamento. Infelizmente essa afirmacao é
sempre tom ada de maneira ingênua, em seu sentido literal:
Se a conexdo humana entre duas _pessoas depende em defto.
sentido da conexão interior entre as pessoas, entao isso tam-
bem vale com Edna° ao desenvolvimento d° lado fem ini
no. Ser direito pode significar'hOnestidade, mas certamente
"honesto para com Deus!' não é a mesma coisa que ser direito
no relaciOnainento com ele: Isto é ser ingênuo, tao ingênuo
quanto 'acreditar que uma sbludao promistha levara a
diferenciar a feminilidade da psique.
a intimidade e a reladao sexual. se tomam
118
Inclusive,se com bastante freqiiencia, as Taisagens bu.
cOlicas de um "caso"são uma das maneiras de evitar a este
rilidade opressiva . 00 casamento. Atualmente, ,se pudesse-
mos descobrir onde .o amor é mais dilacerante e cheio de tor.
mentos, acabaríamos :verificando que é no casamento rn0.
demo ocidental. E isto equivaleria a dizer qu je a crucifica-
gao do amor, do Cristo, encontra-se exatamente dentro de
nossos ;fares; na situagao intolerável de casam ento em
que tanta "gente 'esta imobilizada. 0 um caSamento 'modem0
carrega um fardo imenio sem o "suporte vivo do sacramento,
ou o apoio da tradigao. Se isto for um Getsemani, entao, ir
dormir fazendo de conta cfue ele é um jardim tranqüilo ou
abandona-lo na agonia impossível do casamento (de fato
experimentado como a própria rnorte do amor- por tantos
120
conquistar a populacAo feminina do pais a titulo de pesqui
sa pessoal. Apenas um aspecto do cultivo da sensibilidade e
sentimento é sexual, e ainda assim esse aspecto é um dos
rlltimos. Esse desenvolvimento parece ser principalmente
uma,questão de tempo.
- 8 curioso que quando se vive temporatjamente a se
121
122
importancia,* ao passo: que a. finicao maior do sonho seria
a de tornar o ego -relativo dentro da totalidade da psique.
0 ego quase sempre sente nisso uma humilhacao negative,
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ciência a qual me refiro é fhais o aprofundainentO do sentido
vertical da conexão consigO mesmo. A luz é dotada de mobi
lidade e ondulagOes. 0 seu ponto de partida tanto pode ser
o mundo quanto- nos mesmos, o que importa a que ela não
se move nO.sentidb das decisties, do estreitamehto do ego.,
A medida qtie esse mundo interior, de fantasias se intensi
fica atraVes. do .sacrifício, da .compulsão animal que o ego
tem pela agao, desenvolve-se um espaco interior contido;
que é. o dominio ja deserito: no capitulo Em sintese, a
primeira fase é a inibicao da-atividade do ego em favor, da-
fantasia 'consciente. 'Devido.a isso a ,pesSoa sente-se' fracas
regredida; dependente; indecisa e infantil.
Depois de aceitar as fantasias com seus impulsos e re=
gressoes ao mesmo tempo que iefreia a sua realizacao no
mundo concreto, a segunda fase .e canaliiar novamente ener
gia para as fantasias e 'dota-las de libido, interesse, atencau,
e.,amot suficientes, fim. de que elas assuinam uma vida,
própria espontanea*e pessoal.
0 cultivo da fantasia, mesmo quando impelido porao-
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exigencia.,Se ,a fantasia tem que ser eyitada pela referencia:
a sua relação com' omundo. evxteria saua rea e ao critério on de
" t e s t e n a r e a l i d a d e " ( q u e p o d e l e ar . l i z a c a o c-
creta), entao ai.ja não ha nada a ver com 0 nom e e a natu
reza da.,fantasia. A fantasia não se relaciona diretamente a
nada do mundo concreto ; ,Ela não é redutiVel ,a ele na,
orgem,. e :nem: the é dirigida enquanto fini* A fantasia pode
ter suas ,inStigagoes em fatos exteriores, .manipulando-os. a
seguir dentro da mente, mas o seu cameo de . existência é
meramente, imaginario; assim como a..,cobica e a e luxuria
também_ são. Trata,se de dinamiSnios psíquicos, d impul
sos da alma que Seriam.simplesmente arrasados pelo grotes
co, caso entrassem no ,mundo ’de forma direta. Não é tanto
para serein_saciados pela acao, enquanto :apetites,.que esses
impulsos aparecetn, como para criarem o mundo interior,
para, iluininare Thes
last
pretasidade e, _ _ buir
c cr e s u a s , p
para aprofundar e enriquecer a sualmeta.de experiência.
' Como ja foi dito no .capitulo III, 'a.:verdadeiralrevolu-
.cao da alma.inão é sexual em si mesma. 0 instinto sexual
humano é amplamente plastic 0 e prove energias para mu
danças na, consciência ao longo de toda, a histOria'. psicoló
gica. Se fosse possível ler. os encam inham entos dos fatos -
coletivoS através das experiências particulares dos indiví
duos, seria possivet obserVar que a profunda mudanCa que
agbra esta se processando é cap,tada _por :fantasias sexuais
meramente ,enquanto 'dinamismo, psíquica, cujaintencao
final; na verdade, ..e reviviticar e.expandirra realidade psi.7
quica:Vivenciar interiormente ao invés de, apenas exprimir
tudo, isso coricretamente leva. uma ithensa energia instintiya
ao mundo interior. 0 desejo e a cobica levam im pulso ao
impeto de descobrito.'espaco interior, da mesma forma que
e..necessaria ' a existência de dinamismos iisiquicos fortes
,como,curibSidade, ,competicao e fantasia de ficcao cientifi-
ca para levar-nos a Lua,Marte ou Venus.no espaco exterior.
125
Quando alguem reage com. medo Ou vergonha diante
de suas- fantasias'; mostra .que ainda não. existe separacao
suficiente entre .a experiência . subjetiva ;.de_ si _mesmo e a
acao objetiva. Omedo e a vergonha são .protecocs,_são emo,
toes que evitam _expressão concreta, e realizacao dessas
paixoes_fantasticasLno mundo, objetivo. 0, medo e ^„vergo
nha tainbem tonferem, realidade ao mundo, interior, que
não surge mais como .se fosse apenas "mera fantasia" ou
" d e v a n e i o " , .
O interesse, pela fantasia . 6 uma earaCteristica de quase
todas as disciplinas espirituais, 'quer seja, no metodo
soh._a forma de.,"imaginocao .ative :junguiana, quer
nas teCnicas descritas.no misticismo alquimico ou:ainda em
textos-cristaos, hindus, persas etc.: Mas a fantasia passiva
nunca, e suficiente, pois . ela ,6> interminável e.-.vai .tecendo
veus que confundem .imageme acao. A fase posterior al fan
tasia e. a imaginacao, isto 6 ,.o .trabalho de.transformar deva-
neio's e fantasiai_em..espacos_ cenidos- interiores, Onde se
pode entrar, e que. estao povoados de figuras vividas, com
as quais sepode falare conversar,-sentinda e tocando-lhes
a presença. Isto, entao, é o que seria a pesquisa ou busca
interior. Essa imaginacao requer um..esfor90 muito grande.
0 trabalho de converter fantasia em imaginacao. é. a base de
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progressivamente de si mesmo, produzindo crises e resol-
vendo-as no interior da sua própria transformacao; ele tam-
,em de voce, das ex ig en cias e co n flito s de seu ego.
t a Shakti feminina da índia em um nivel ela culfuaisra e altocriativi-
são
também as nove musas responsáveis p
dade. Sentimo-nos vividas pela imaginacao.
Os mitologemas nos dao outro indicio de les comcultuaa a femi-
n i . l i d a d e i n t . e ma p o d e s e r . c u l t i v a d a . - H e r c u
princípios femininos. Ista implica deixar-se, as vezes, envol ver
por elementos como alua, anoite, sol a reeflexasuaco,ons a leacaci enci oa
?
a c o r u j a e o f e l i n o , ao i n v é s de p e l o
Clara, direta e honesta e sua acao "%s vezes negta. enua A consdênáaE p-
lunar flutua; as vezes é ampla e clara,
riOdica, reativa e no homem mostra-se 'corm variações de
h u m ^ p f g ^ ^ j s Q y est e m undo a e
o rcusar o corpo. Este
seria uma armadilha, uma jaula para a alma. Contudo, foi
através do corpo que sua feminilidade emociona a dodel o spe
dacou. Isto quer dizer, p arcialm en te, que a vid corpo
131
afastamos dela, mais "ela Texetce sobre nos seu fascinio,
auto-eroticamente chamaridO nossa atencao de Volta para
si. A alma natural, essa nadadora trigueira, jocosa e seme
lhante a um gato e aos estadds deAnirrio e fantasias que ela
constroi, 'nos conduz em sentida descendente a tepidez ani
mal, a disposição e sensacties fisicas: Os sintomas bl o
queados,^ preocupacao'com a came como um objeto e tudo
o 'que possa atontecer de errado com' "ela" tem finalmente
uma chance de diminuir.
0 desejo de tom ar-se Integro novamente, curado na -
came e ressuscitado,no corpo;'não.tem de ser satisfeito atra-
yes de uma' igacao sexual extem a proibida, considerando-
se qire quase sempre esse* . 6 o caminhoT que o homem segue
ao procurar sua redencao; o retorno de* seu 'corpo a si
m e s m o . •
De fato, a intimidade mais profunda cony os sentimen-
tOs físicos de um hoinem. a expressa pela psique thasculina
através da' imagem da"irma com quem uma uniao sexual
extema esta proibida.' Contudo; tom ) acompanhamento des
sas emOcOeS cruciais, a 'psique insiste na iinagetri da. irma.
Atras da’ atracao pela ,mulher proibida encontra-se a faSci-
nacao pel a Tomar este aspecto s i mpl esment e em seu
carater redutivo aos .desejos infantis incestuosos, distorce
seu significado mais profundo: Novamente, que a proibido
no mundo exterior toina-se uma necessidade imperiosa para
o interior. lung 'diz: "Sempre que else instinto de totalida,
de aparece, ele com qa’ por diSfarcar-se soh o'sim bolism o
do inceSto. .. " 4 Minha irma abrange"metupai e minha Mae;
minha formacao.'Compartilhamos os mesmos segredos.-Mi=
nha irma sou eu — porem" feminino. Unir-me a 'ela a com
pletar a mim mesmo; fertilizar-me, pois "-incesto é uniao
entre iguais. . " 5 Ela evoca, em mims a familiaridade e a
uniao com meu prôprio'sangue. Assimcomo minha polaris
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dade sexual é estimulada pela distancia, constelando minha
masculinidade ,na virilidade sexual, a fusão com a irma
devolve-me a identidade feminina. Ela evoca a imagem ori 7
ginal de inteireza anterior as primeiras feridas da infancia
que separam o bem do mal, o ego do si-mesmo, o corpo da
came, o macho da femea. Através dela posso ser reconciliado
com o amor pela minha própria natureza fisica. A irma
6 o amor primordial, não mais regressivo ate a Ink, já que
133
cologicamente testemunhada, é o sentimento da vida na
carne, a ressurrei gao des t a carne, sob o pr i s ma
ps i col ógi co, refere-se a t r ans f or magao da carne em
corpo, p a r a l e l a me n t e t r a n s f o r ma g a o de des ej os
egoi st as e da raci onali dade em consciência, psíquica.
E sta transformagao diz respeito, portanto, ao amadurecimento
do corpo dentro da came que vai envelhecendo. Mesmo
quando submetido ao processo irreversivel da velhice, o-
individuo continua- a desenvolver-se com as transformagoes
do amadurecimento. Apesar do aspecto feio do
envelhecimen— to sentimo-nos mais agradecidos e em estado
de graga, o que também significa que o corpo e o local da
gragac Ela ê uma virtude fem iriina novamente, o
recebimento dessa grata depende de que antes se desga a
feminilidade da carne e a sua redengao sob a forma de
corpo.,
Ao servir ao feminino, ao deixar que ele goveme deve
haver um cuidado especial. Hercules passa, a servir Onfale
somente alp& .a realizagao dos Doze Trabalhos e Ulisses vai
viver ao lado de Circe somente depois de passar dez anos em
.batalhas. Isso , demonstra -a necessidade da exisiencia
anterior de uma certa posigao, masculina. Não significaria
isto a necessidade de que antes exista um ego que ja tenha
realizado alguma coisa?, - se assim é, deduz-se que é m e
lhor acontecer isso apos'a .meia,idade, caso contrario a p es
soa tera pouca percepgao, das coisas e também pouca forga,
podendo o ego, abandonar suas posigoes muito, facilmente.
De outra forma o reenfoque não sera nenhum sacrifiCio ou
reorientagao verdadeira. Sera um mero servigo regressivo
a mae, quando separar-,se dela era .o. objetivo de todos os
trabalhos e batalhas.
Eu não creio,que possa hayer alguma, diferenga entre
o moment0 religioso e o que estivemos desenvolvendo ao
longo deste, capitulo: .pu o que vimos, no ciesenrolar .deste
livro. Não importa ,para onde, mudemos a localizagao de
Deus, seja Ele o Deus interior, ou o Deus absolutamente
to base do ser, ou o Deus compartilhado onde dois ou tees
estiverem reunidos, ou se estamos todos em Deus e não po
demos nuncaestar perdidos para Ele apesar de nossos esfor-
gos freneticos — seja qual for o lugar que Lhe d esignar
m os, o m om ent° religioso sempre sera um a experiência e
esta experiência acontecera na psique. Talvez a nossa ta re
F a m enos a p ro cu ra e localizacao de D eus e m uito m a is
a preparagao do solo para que Ele possa descer das alturas
ou levantar-se das profundezas, ou ser revelado atraves do
am or pessoal.
Este solo e preparado pela busca interior quando re i
vindicam os corajosam ente as areas perdidas da alm a, onde
ela caiu em, desuso ou em doenga. E a preparagao se apro
funda pela , separagao dos filam entos da som bra, quando
incorporam os a consciência as tensties das perplexidades
morais, de tal form_a que nossas agOes se assemelhem menos
a reagoes e m ais a atos verdadeiros. A personalidade que
não pode conter:se, que,cai aos pedagos caso o ego tenha
que ser abandonado, que não tem outra luz a não ser aquela
sustentada pela vontade, muito dificilmente sera a base para
um m om ento religioso. M esm o que Deus seja am or, esse
am or podera nos destrogar caso as feridas de nossos p r i
meiros amores humanos tenham sido fragilmente suturadas.
Sera que a personalidade que não levou- de algum modo
devidam ente em conta o inconsciente, a som bra e a anim a
p o d era ser o calice que contem a g rata div in a? E la não
sucum bira rapid° dem ais a desum anidade dem oniaca do
m undo coletivo exterior ou ao inconsciente coletivo?
De acordo com relatos da tradigao, o m omento religioso
é descrito como um acontecim ento intensam ente vivido que
transcende o ego enquanto revela a verdade. E é exatamente
esse o objetivo da analise. A verdade ali experim entada vai
alem da verdade causal de um a pessoa: as banalidades do
tipo "com o fiquei assim ", "quem é o culpado" e "o que devo
fazer agora". A analise se encam inha para a verdade m aior
da coerencia, para insinuacoes de im ortalidade e
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para descobrir comb minha pessoa Cabe no esquema trials
amplo do detino. Quando estas* revelagoes abrem a porta
para o ineu centro emocional,, iluminam, ao mesmo tempo,
uma parte da escuridão. Esta verdad e tambeni a amor, uma
vez que causa o envOlvimento na própria base do ser e tamIDem
(IA o 'seniido de pertencer:
Se a principal soinbra do aconselhamento e o amor, e
se é nessa sombra que' o aconselhamento acontece, entao
nosso trabalho dependera da perfeigao do amor.: Amor
enquanto agape significa receber, acolher, abraçar. Talveza
perfeigao do amor se inicie pela fe e pelo tfabalho no
feminino' dentro' de nos, quer sejamos homem ou. mulher,
pois 'a. base. feminina é o receptáculo abrangente que nos
acolhe; ampara e earrega. Ele nos dá a luz, nos mitre e encoraja
a 'acreditar. Ele nos acolhe de volta a nos meSmOs'exatamente
como somos. Não sei de' que melhbr forma ou de que outro -
modo podemog nos preparar para 6 momento religiosó alem
de cultivarmos, darmos cultura iritericir a nossa feminilidade
inconsciente. Para que o momento Teligioso nos toque, o seu
terreno, tielO menos, pode ser aberto e trabalhado dentro das
fronteiras de nossa limitagao humana
individual:
Zurique e Moscia
1965/66
'SUMARIO