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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


Departamento de Serviço social

1. IDENTIFICAÇÃO
Nome do (a) orientador (a): Raquel Soares
Nomes dos (as) alunos (as): Breno Cruz Albino Silva; Fernanda Maria de Paula da Silva;
Hávila Isabely Chagas do Espirito Santo; Maria Leticia Figueira da Silva; Nelita Mikaela Dos
Santos; Pollyana barbosa da Silva; Roselany Maria da Silva do Nascimento.
Título do projeto dos (as) alunos (as): A Maternidade no sistema prisional
2. INTRODUÇÃO
A priori, entendendo a importância de deliberar a temática da Maternidade no sistema
prisional de maneira completa, é imprescindível destacar as relações dialéticas da
historicidade no Brasil, elucidando de que maneira tais dinâmicas sociais, históricas e
econômicas influenciaram e ainda influenciam na realidade das mulheres privadas de
liberdade, assim como no desrespeito às legislações de proteção à esse público.
Consequentemente, as mais diversas expressões da questão social - pauperismo,
patriarcalismo e racismo - afetam diretamente o processo de formulação, estruturação
das prisões no país e o público que majoritariamente adentra nesses espaços, sendo no
caso da presente pesquisa referente às mulheres apenadas, em sua maioria negras. Assim,
conforme as estatísticas apresentadas pelo INFOPEN (Levantamento Nacional de
Informações Penitenciárias), o perfil do cárcere feminino é composto por 50% de
mulheres com idade entre 18 e 29 anos, sendo apenas 11% concluintes do ensino médio,
além de 68% dessa população ser de afrodescendentes.
Portanto, é notório como a desigualdade racial, aliada ao aumento da precária condição
imposta às famílias de baixa renda, demonstra o quanto a problemática penal não
manifesta-se apenas em colapsos institucionais - estruturação dos presídios e desmonte
de políticas direcionadas -, mas também é resultado e agravado pela dimensão cultural de
uma sociedade racista, sexista e patriarcal, condição que está atrelada tanto aos processos
que culminam na prisão, como no tratamento recebido dentro delas. Com base nisso, os
itens discutidos acima são enfatizados ao levar em consideração a realidade das apenadas
gestantes e/ou lactantes, visto que direitos básicos e previstos na legislação - incluindo a
Constituição Federal de 1988, que assegura repúdio ao tratamento degradante e
desumano - são corriqueiramente negados à essas mulheres em condições de suspensão
de liberdade, como por exemplo, o direito à higiene pessoal, atendimentos e
acompanhamentos médicos - como ginecologistas e pré-natal - , viabilização da saúde
mental de qualidade, direito a acompanhante durante o parto e derivados. Ainda nesse
aspecto, o Art. 5º, LXXIV da Constituição Federal explana a obrigação Estatal em
oferecer assistência, preservação dos direitos humanos, dignidade, integridade e defesa,
direitos constantemente feridos no cotidiano das vidas das futuras mães em cumprimento
de pena. Sucessivamente, é imprescindível deliberar as determinações sociais que
direcionam as mulheres ao sistema prisional, e consequentemente as adversidades
enfrentadas dentro do cárcere, sempre enviesando as categorias de análise pela
maternidade, a fim de explicitar o porquê desta ser uma forte expressão da questão
social. Deste modo, diante dos dados publicados pelo Ministério da Justiça, juntamente
com o DEPEN, percebe-se um aumento de aproximadamente 567,4%, nos anos de 2000
a 2014, de mulheres presas - em maioria negras - e em 58% dos casos motivadas pelo
tráfico de drogas, decorrente de uma forte interferência emocional de seus parceiros, e
que também é agravada pela ausência de uma política educacional adequada que chegue
à essas outrora meninas de classes economicamente fragilizadas. Logo, em consequência
do até aqui exposto, é fato as diversas problemáticas inerentes ao sistema penitenciário
brasileiro, em ênfase as vivenciadas no cárcere feminino, atravessado pela maternidade,
enfrentando severas formas de violações dos direitos humanos que enfatizam um
ambiente insalubre, punitivo e repressivo posto pelo Estado como única alternativa aos
delitos cometidos. Em razão dos presídios lotados, extrema violência em suas
multiplicidades - física, sexual, psicológica e obstétrica-, da omissão por parte do sistema
judiciário no real processo de juízo, além do falho projeto de ressocialização dessas
mulheres encarceradas e a inaplicabilidade das leis protetivas, essa pesquisa em
andamento objetiva abordar em sua totalidade, historicidade e contradição, as bases que
estruturam essa vivência desprovida de garantia básica de direitos, a fim de
desnaturalizar a desumanização dessas mulheres.

3. JUSTIFICATIVA
A posteriori, ao discutir brevemente as incongruências estruturais, sociais, políticas,
históricas e legislativas da temática, identifica-se que a principal problemática que
retroalimenta a situação marginalizada e insustentável de gestantes e lactantes encarceradas é
a imprecisão, inaplicabilidade, descumprimento e descuidada formulação das leis que, a
princípio, visam proteger mães e seus filhos em situações de privação de liberdade.
A exemplo disso, pode-se citar a Legislação Federal que permite a permanência dos filhos
com suas mães durante o período de amamentação, assim como o complemento dessa ordem
descrito na Lei 7.210/84, que exige a viabilização de locais adequados para o alojamento e
alimentação desses bebês, sendo a realidade - segundo documentário produzido pelo
Ministério da Saúde em parceria com a Fiocruz - repleta de ambientes insalubres, abafados e
infecciosos, expondo ao risco mulheres no pós-parto e crianças recém nascidas. Outra
divergência entre realidade e dever estatal, refere-se ao Art. 89 dessa mesma Lei, em que
torna-se obrigatória a construção e creches nas penitenciárias femininas, possibilitando que
essas mães em período de ressocialização tenham participação ativa na criação dos seus
filhos, o que infelizmente não efetiva-se na realidade, na qual muitas vezes esses bebês são
levados à adoção pela ausência de condições dentro do cárcere e de familiares capazes -
principalmente em dimensões financeiras - de cuidar desses pequenos indivíduos. Ademais,
outra recente formulação jurídica, que em tese promoveria a humanização desse processo de
maternidade em condições tão delicadas, concedendo prisão domiciliar quando a mulher for
gestante ou mãe de uma ou mais crianças menores de 12 anos e/ou PCDs, entretanto, não é
comumente solicitada e nem aprovada, tornando-se mais um “elefante branco” na escassa
realidade de mulheres abandonadas pela esfera pública.
Dessa forma, a decisão de estudar e pesquisar sobre o presente objeto foi dada pela grande
necessidade de trabalhar as dimensões estruturais das determinações sociais que levaram
essas mulheres a serem presas, e dos desafios relacionados à proteção e conquista dos direitos
constantemente desrespeitados dessas mulheres, bem como a deficiência da criação de
políticas públicas para com a população carcerária feminina. Acredita-se, também, que o
presente objeto é extremamente contributivo para a literatura brasileira acerca da temática,
pois demonstra interesse e preocupação referente à saúde da mulher e da criança, como locus
de estudo no Brasil, assim como a organização e catalogação de dados e formulações já
existentes no âmbito referido, em sua maioria de cunho documental.
Além disso, ao ser uma pesquisa produzida por acadêmicos de Serviço Social, é
imprescindível analisarmos e conhecermos essa discussão, pois trata-se de uma forte e
negligenciada faceta das questões sociais que norteiam o trabalho do Assistente social, a
partir do compromisso com a justiça social, a garantia aos direitos sociais e políticas públicas
de qualidade em todas as suas dimensões.

4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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