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Estágio: Plantão Psicológico


Dia da semana: Terça-feira Horário: 19:30 às 22:00.
Nome: Jéssica Izumi Bueno Nishimori
RA: N2728b-0
Zanetti, S. A. S; Gomes, I. C. A “fragilização das funções parentais” na família
contemporânea: determinantes e consequências. Temas em Psicologia, São Paulo,
Vol. 19, n. 2, p. 491-502, dez. 2011.

Resenha: A “fragilização das funções parentais” na família contemporânea:


determinantes e consequências.

O artigo em questão aborda as diferenças entre os comportamentos das


crianças de antigamente em comparação com as crianças da dos “dias de hoje”, tais
diferenças são apontadas pela crescente fragilização das funções dos pais, dos
quais não sabem como educarem seus filhos, ocasionando crianças cada vez mais
desafiadoras, desobedientes e indisciplinadas. Um dos motivos centrais citados é
relacionado com a fragilidade dos pais em relação as responsabilidades e o
posicionamento de autoridade perante os filhos.
A fragilidade da parentalidade é resultante do desenvolvimento de sentimento
de culpa, dúvida e insegurança em relação ao seu desempenho como pais. Estudos
realizados apontam que pais excessivamente permissivos acabam desenvolvimento
sentimentos de incompetência que se correlaciona diretamente com sua forma de
agir. Tais sentimentos influenciam sua forma de agir e relacionam-se diretamente
com o desenvolvimento das práticas parentais desempenhadas, sendo que tais
fatores possuem total influência e correlação direta sobre o comportamento dos
filhos, podendo gerar sentimento de insegurança e agressividade nas crianças.
A noção de diferença entre crianças e adultos apenas se solidificou em
meados do século XV, com os avanços tecnológicos, caracterizado pelo surgimento
da prensa tipográfica e a impressão dos caracteres moveis. Essa diferença pautava-
se na separação dos que sabiam ou não ler, sendo assim, aprender a ler e a
escrever passou a ser necessário para conquistar o mundo dos adultos. Sendo
assim, a ideia de criança emerge ao mesmo tempo e atrelada a ideia de educação.
Com a posterior difusão da necessidade de instrução avançando por toda
Europa, tal sentido ligou-se diretamente ao conceito da necessidade de disciplina,
pois está seria extremamente imprescindível para que uma criança fosse educada,
instruída e se concentrasse no que deveria aprender. Surgem então um novo ideal
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de infância, pautado na necessidade de uma maior disciplina, princípios estritos e


com limites hierárquicos bem delimitados e definidos. Há o estabelecimento e
desenvolvimento de um sistema disciplinar extremante rigoroso, beirando a
humilhação.
Em conjunto com a solidificação do conceito de infância, o conceito de
modelo familiar moderno ganha forma, ocasionando uma reformulação nos
relacionamentos constituídos entre pais e filhos. Aos pais, caberia a necessidade de
assumirem papeis de educadores e teólogos, pois além de serem instruídas, as
crianças deveriam ser tementes a deus.
A partir do século XIX, a sociedade volta-se mais para seus mundos privados,
abandonando o mundo vivido apenas pelas aparências, as necessidades mudaram
novamente, sendo a família, a saúde e a educação a pauta de principal preocupação
aos pais. A ambição coletiva é deixada de lado em detrimento da promoção das
crianças.
Com os avanços atuais da tecnologia, segundo postula Postman, a noção
histórica e social de infância está se deteriorando e a diferenciação entre adultos e
crianças está se perdendo, influenciadas diretamente pela incontrolável divulgação
de informações. O principal componente que corroborou para isso ocorrer foi a
difusão de informações pela televisão, que de certa forma potencializou aquilo que o
telegrafo instaurou na sociedade há tempos.
Em relação as determinantes socioculturais, pode-se dizer que ao final do
século XX e início do XXI surgiu uma preocupação mais acentuada e crescente em
relação as formas de se tratar uma crianças, sendo assim as formas de
autoritarismo foram amplamente combatidas, pois neste momento a criança ocupava
o centro das atenções e preocupações.
A forma como se deve tratar e educar uma criança tornou-se a pauta principal
de pesquisas cientificas e discussões entre alguns especialistas, que por sua vez
passaram a dar indicações sobre as formas de agir dos pais diante de seus filhos.
Esse fato levou muitos pais a desconfiarem de suas competências para educar e
tais interferências acarretaram um grande desconforto.
Em contrapartida, alguns especialistas, buscavam sensibilizar os pais, de
forma que estes olhassem para as necessidades de cuidado, atenção, amor e as
demais necessidades que iam além de apenas educação e autoritarismo. Ao
confundirem autoritarismo e princípio da autoridade, em relação a promoção de
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relações mais igualitárias acabaram por igualar as duas terminologias, dessa forma
ambas passaram a ser amplamente atacados e questionados.
A ciência de certa forma tomou lugar de autoridade perante as famílias,
deslegitimando o poder de autoridade delegado ao pai ou a mãe, dessa forma surge
um medo cada vez mais crescente de dizer não aos filhos.
De certa forma, com a difusão das informações cada vez mais rápidas em
nossa sociedade e com a rapidez das mudanças, pais e mães acabam perdendo as
referencias claras de como deveriam agir em relação as questões do cotidiano, pois
as regras da educação não são claras para eles, o que os engessam e os tornam
inconsistentes diante dos filhos.
As mudanças que afetam as famílias ocorrem cada vez mais rápidas e fazem
com que o saber acumulado seja considerado inadequado e sem utilidade para as
novas situações, dessa forma, não é difícil ver um filho ensinar ao pai modelos de
novas condutas. Essas mudanças foram de suma importância para que os filhos
assimilassem que são detentoras de um direito, deixando em segundo plano seus
deveres.
As interferências econômicas na construção da subjetividade dos indivíduos,
são pautadas em diversos tipos de violências. Violência da economia e estrutural,
geradora da ganância, da exclusão social, da competição individualista, da
impotência individual, expondo o ser humano cada vez mais a solidão, levando ao
enclausuramento na destrutividade psíquica e uma redução narcísica perversa.
Vivemos m uma sociedade de supervaloriza as aquisições e as conquistas
pessoais, há um sentindo amplo de competição que gera uma expectativa
extremamente alta nos pais relacionada a alcançar um ideal de suas funções
parentais, muito incentivada pelos discursos especializados, tais exigências criam e
dão manutenção os mecanismos de culpabilização.
O sentimento de culpa manifesto interfere imensamente na dinâmica das
relações entre pais e filhos, pois elas paralisam. Esse engessamento ocorre diante
do medo de ressentimento dos filhos ou por se sentirem em dívidas com eles, assim
dificultando de se colocarem como figuras de autoridade.
Pode se considerar que a família moderna passou por uma grande
desestruturação e desestabilização, onde as relações perderam o seu valor,
consequentemente passaram a ser frágeis, neuróticas e conscientes de sua
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desordem, onde falta comprometimento com o próximo, gerando uma emergência


de cuidados.
A família ocupa lugar principal na constituição, transmissão e inserção da
criança na cultura e no universo simbólico, por intermédio das funções parentais.
Porém em nome da educação ideal, que muitos pais idealizam ocorre uma renúncia
dos adultos em educar as crianças.
Dentro da cultura do narcisismo que cada vez mais crescente, podemos ver a
figura do amor narcísico de Freud designada para a criança que assumem o lugar
de um ser ideal para os, capaz de suprir todas as frustrações destes, cujo ser jamais
deverá ser que nunca podem ser frustrados. Tal fato ofusca o poder de autoridade
paterna e interfere nas relações entre os membros da família.
O medo da separação aparece nos modelos de relação regredidos,
particulares das condições narcísicas, onde há uma tentativa de se suprir todas as
necessidades, evitando que esses filhos se deparem com limites, o que apenas os
tornam incapazes de lidar com as frustrações. De certo modo, alguns pais parecem
querer uma reparação às custas dos filhos, baseada na imagem de um ideal de
criança, capaz de ser o adulto que o pai/mãe jamais conseguiu ser, ao qual nada
deveria faltar.
Ainda segundo o artigo, Freud postula que a primeira tarefa em relação a
educação de uma criança, consiste no dever de oportunizar que a mesma aprenda a
controlar seus instintos, pontua ainda ser impossível conceder liberdade e por seus
impulsos sem a adequada restrição. Sendo assim, a educação deve proibir, suprir
ou inibir os impulsos da criança. Utilizando como explicação comparação a função
do superego, constituído por meio da interiorização das interdições parentais,
oriundo da resolução eficaz do complexo de édipo.
Da mesma forma, Winnicott defende a necessidade de a criança viver em um
círculo de amor e força, para que possa desenvolver-se emocionalmente. Caso seus
pais não sejam capazes de suprir essa necessidade, corre o risco de sentir
excessivo medo dos produtos de sua imaginação o que acarretaria danos a sua
psique.
Sendo assim, analisando o proposto pelos autores em referência aos
impulsos e instintos o comportamentos agressivos, desafiadores, tirânicos e
indisciplinados, seriam uma resposta frente ao fenômeno da fragilização das funções
parentais que refletem na dificuldade de a criança lidar com essas pulsões, em
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detrimento dos pais que não conseguiram propiciar o adequado suporte a elas. O
princípio da autoridade torna-se assim necessário, pois sua ausência acarretaria
diversas consequências serias ao desenvolvimento psíquico infantil.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

FREUD, S. Sobre o narcisismo: uma introdução. Ed. Standart Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago; 1976.

Winnicott, D. W. (2000). A tendência anti-social. In: Da Pediatria à Psicanálise:


obras escolhidas. Rio de Janeiro: Imago; 2000.

WINNICOTT, D. W. O Ambiente e os processos de maturação. 2 ed. Porto


Alegre, Artmed, 1983-2007.

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