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Estágio: Psicodiagnóstico

Dia da semana: Sexta-Feira Horário: 19:10 às 22:00


Nome: Jéssica Izumi Bueno Nishimori
RA: N2728b-0
Aberastury, A. Psicanálise da criança: teoria e técnica. Porto Alegre: Artes Médicas,
1982. pp.81-96.
P. Citação Obs.
Embora seja sugerida a conveniência de ver Por meio desta entrevista inicial, torna-
pai e mãe, é frequente que compareça só a se possível conhecer o
mãe, excepcionalmente o pai e poucas vezes funcionamento, bem como a
os dois. Em alguns casos muito especiais, um organização familiar e como funciona
P. 81 familiar, amigo ou institutriz já vieram as relações no grupo familiar. Quando
representando os pais. Qualquer dessas um pai, ou os pais não estão
possíveis situações é, em si mesma, presentes nesse primeiro e importante
reveladora do funcionamento do grupo familiar passo temos um indício de algo a se
na relação com o filho (ABERASTURY, ed. 8, investigar/analisar. A entrevista foca-
1982, p. 81). se na história de vida da criança, bem
como a relação dos pais com ela, tal
critério não pode ser esquecido.
Para que formemos um juízo aproximado - É imprescindível que não se faça
sobre as relações do grupo familiar e em juízo de valores acerca do que os pais
especial do casal, apoiaremo-nos na apresentam nesta primeira etapa,
impressão deixada pela entrevista ao devemos acolhê-los em suas
reconsiderar todos os dados recolhidos. Essa angústias focando-se apenas nas
P. 81 entrevista não deve parecer um interrogatório, enfermidades da criança, sem deixar
com os pais sentindo-se julgados. Pelo de anotar dados importantes
contrário, deve tentar aliviar-lhes a angústia e relacionados aos comportamentos dos
a culpa que a enfermidade ou conflito do filho pais, que podem indicar traços da
despertam. Para isso devemos assumir desde organização familiar, hierarquia e de
o primeiro momento o papel de terapeuta do como se relacionam entre si.
filho, interessando-nos pelo problema ou - Torna-se relevante também não
sintoma (ABERASTURY, ed. 8, 1982, p. 81). apresentar preferência a um dos pais,
visando que algum deles pode se
expressar de forma mais clara com
relação a criança, evitando assim criar
um novo conflito.
Não consideramos conveniente finalizar essa São informações importantes que não
entrevista sem ter conseguido os seguintes devem ser deixadas de lado, por meio
dados básicos que necessitamos conhecer destas conseguimos criar uma visão
antes de ver a criança: a) motivo da consulta; de como transcorre a vida da criança e
P. 82 b) história da criança; c) como transcorre um como funciona suas relações com os
dia de sua vida atual, um domingo ou feriado e demais. Por conta disso e necessário
o dia do aniversário; d) como é a relação dos que essa entrevista seja dirigida, para
pais entre si, com os filhos e com o meio que não se perca na coleta de dados e
familiar imediato (ABERASTURY, ed. 8, 1982, não se deixe passar nenhuma
p. 82). informação importante para a
formulação do caso, evitando também
que os pais fujam dos temas ou
acabem mudando o foco para suas
próprias histórias.
Se resolvi interrogar primeiro sobre o motivo Deve se desmistificar a visão que
da consulta é porque o mais difícil para os somos juízes, prontos para julgar o
pais, no início, é falar sobre o que não está que os pais apresentam, procurando
bem no/e com o filho. Essa resistência não é assim acolhê-los de forma a auxiliá-los
P. 82 consciente, visto que já foi vencida quando a diminuir as angústias e ansiedades
decidiram pela consulta. Para ajudá-los, temos apresentadas em um primeiro
que tratar de diminuir a angústia inicial, e é o momento, para que eles se sintam
que se consegue ao enfrentarmos e confortáveis para falar.
encarregarmo-nos da enfermidade ou do
conflito, posicionando-nos como analistas do
filho (ABERASTURY, ed. 8, 1982, p. 82).
Ao sentirem-se aliviados, recordam mais Vale lembrar que as informações
corretamente os acontecimentos sobre os apresentadas podem aparecer
quais os interrogaremos na segunda parte. deformadas ou superficiais, uma vez
Mesmo assim, devemos aceitar que ocorram que os pais se apresentam
esquecimentos totais ou parciais de fatos angustiados, ansiosos ou nervosos
importantes, dos quais podemos tomar com o procedimento. Uma vez que
conhecimento meses depois, pela criança, estes se sentem mais confortáveis e
estando ela já em tratamento. Também os pais visualizam as melhoras inerentes no
- sempre que a melhora do filho diminua filho as resistências antes inseridas
P. 82 suficientemente a angústia que motivou o vão rompendo-se permitindo que
esquecimento - poderão lembrar-se das informações antes reprimidas em um
circunstâncias desencadeadoras, reprimidas primeiro momento surjam.
na entrevista (ABERASTURY, ed. 8, 1982, p. É importante ressaltar que as
82). informações incialmente coletadas são
valiosas, tanto para o estudo do caso,
quanto para a compreensão da
etiologia das neuroses infantis
estipulando assim métodos de
melhorar, prevenção e enfrentamento
o acometimento de “doenças”.
Pergunto-lhes depois como evoluíram seus Ressaltamos aqui que o emocional da
sentimentos, se a aceitaram, se se sentiram mãe e importante desde o início da
felizes ou se iludiram, porque tudo o que vida uterina, bem como o que a notícia
acontece desde a concepção é importante da gravidez causou aos pais, essas
para a evolução posterior. Todos os estudos informações indicam como foi o início
atuais enfatizam a relação da mãe com o filho de vida da criança.
e é um fato comprovado que o rechaço Tais informações posteriormente
P. 83 emocional da mãe, seja ao sexo como à ideia serão confrontadas com o material
de tê-lo, deixa marcas profundas no psiquismo oferecido pela criança, criando assim
da criança. Por exemplo, um filho que nasce uma comparação de dados, tornando-
com a missão de unir o casal em vias de se possível avaliar as relações dos
separação leva o selo deste esforço. O pais com o filho.
fracasso determinará nele uma grande Pode se observar que em alguns
desconfiança de si mesmo e de sua casos há ocultamento consciente de
capacidade para realizar-se na vida fatos importantes, na maioria das
(ABERASTURY, ed. 8, 1982, p. 83). vezes estes apresentam-se ocultados
por conflitos inconscientes.
Na maioria dos casos as crianças são
desejadas no momento da concepção,
quando há alguma rejeição essas são
atribuídas ao cônjuge, tais dificuldades
apresentam-se no interrogatório sobre
gravidez e parto.
Os pais dificilmente lembram-se
conscientemente da importância dos
dados referente a gravidez e parto,
mas em seu inconsciente estes
permanecem gravados, por isso a
importância de perguntas especificas
referente a esses dois fatos, ir mais a
fundo nas informações, pois por meio
destas podem se abrir caminhos na
memória, em conjunto com o auxilio
do terapeuta, que valoriza e auxilia os
pais a elaborarem.
Conhecemos bastante sobre a importância do Informações referente a lactância
trauma de nascimento na vida do indivíduo; a materna são imprescindíveis, uma vez
observação de lactantes e a análise de que por essa constitui-se o primeiro
crianças pequenas nos ensinaram muito sobre vínculo materno depois da vida
a forma de ajudá-los a elaborar este trauma. uterina. Vale-se ressaltar a
Um dos elementos primordiais para isto é importância de uma hora e intervalo
facilitar ao bebê suficiente contato físico com a determinados para a amamentação.
mãe depois do nascimento. Este contato Por meio dessas informações torna-se
deveria aproximar-se o mais possível da possível estabelecer uma visão da
situação intrauterina e estabelecer-se o quanto relação da mãe com o filho, torna-se
antes; pois assim será mútua ajuda. Para a importante para os desenvolvimentos
criança, porque recupera parte do que perdeu; posteriores da criança a forma que
P. 85 a demora excessiva aumenta a frustração e o essa relação e construída e
desamparo, incrementa as tendências estabelecida, principalmente na
destrutivas, dificultando sua relação com a primeira relação pôs natal.
mãe. Para a mãe é de ajuda, porque o Para mãe, dar torna-se uma
nascimento do filho é um desprendimento que renovação constante do que ela
lhe repete seu próprio nascimento mesma recebeu, quando mais se da e
(ABERASTURY, ed. 8, 1982, p. 85). quanto melhor forem as condições
mais o vínculo com sua mãe interna
se enriquece.
Todos sabemos que é fácil para a criança Deve-se ressaltar que as informações
adotar um ritmo que lhe convenha. Por isso, e o ritmo de lactação influenciam em
depois das primeiras tentativas, que flutuam vários fatores importantes, tais como
em intervalos de duas horas e meia a três auxiliar o bebê a lidar e dominar a
horas e meia, escolhe-se o ritmo adequado, ansiedade, a gerar estabilidade por o
P. 85 respeitando-o posteriormente. Conhecer as objeto ser sempre o mesmo e em
horas livres do dia não só é útil para a mãe condições semelhantes, incluindo os
que trabalha, mas também para aquela cuja do ambiente e ritual para sua
única exigência - sem considerar o seja cuidar realização em intervalos regulares.
de si mesma (ABERASTURY, ed. 8, 1982, p.
85).
(...) é comum que o bebê esteja chorando A relação que a criança constitui com
porque revive uma má experiência, que lhe o seio e a amamentação é de
produz alucinação, e que seja suficiente a voz importante valor para a análise, pois
afetuosa da mãe, um olhar sorridente, o por meio destas podemos analisar se
contato físico com ela, que o embale ou cante, foi instaurado um seio bom e como a
para afastar, com uma experiência atual de mãe foi instaurada, como sendo a mãe
prazer, a má imagem interna que produziu a que nutre representando a pulsão de
alucinação. Ao contrário, é provável que uma vida, tornando uma relação boa com a
criança que esteja revivendo uma má mãe. Caso contrário cria-se uma visão
experiência com o peito, talvez porque neste de seio mau, uma mãe
P. 86 momento tenha dores ou cólica, sinta como insuficientemente boa, que devora e
perigosa uma nova oferta de alimento, violenta a criança com seu seio
rejeitando-a ou tomando-a com temor. Se é maligno, uma vez que esse se
obrigado, e ele não se pode defender, ingere, apresenta em mentos inapropriados
reforçando a imagem terrifica (ABERASTURY, que a criança não necessita, gerando
ed. 8, 1982, p. 86). um trauma, um terror.
Além de informações sobre a
alimentação, devemos perguntar
sobre como ela costumava acalmá-lo,
essas informações nos mostram muito
sobre as primeiras experiencias da
criança.
Deve-se atentar também ao material
da criança, que pode dar luz a
detalhes que não conseguimos obter
da mãe.
Seguindo a história, perguntaremos como o Por meio da aceitação dessa primeira
bebê aceitou a mudança do peito à grande perda (seio materno) que
mamadeira, do leite a outros alimentos, de podemos entender como em sua vida
líquidos a sólidos, como papinhas a carne. futura lidará e enfrentará as
Saberemos assim muito sobre a criança, sobre sucessivas perdas, que irão necessitar
a mãe e sobre possibilidades dos dois se sua adaptação a realidade.
P. 87 desprenderem de velhos objetos. A passagem A frustração nesse período pode gerar
do peito a outras fontes de gratificação oral amargura o que resulta em dificuldade
exige um trabalho de elaboração psicológica, em lidar com frustrações posteriores.
que Melanie Klein descobriu, comparável ao O bom seio e a mãe suficientemente
esforço do adulto por elaborar um luto por um boa introjetado geram menos
ser amado (ABERASTURY, ed. 8, 1982, p. ansiedades, frustrações na criança,
87). auxiliando no fortalecimento do seu
ego.
Uma mãe que solucionou bem esses
problemas em sua própria infância, ou
elaborou em auxílio da terapia, lidará
melhor com essas primeiras
dificuldades, sabendo sanar as
dificuldades.
Estas conclusões, resultado de observação de Podemos interrelacionar os problemas
lactantes e de tratamentos analíticos de de dependência entre mãe e filho, e
crianças que sofriam transtornos da palavra, como está lida com as novas
fazem com que esta parte do interrogatório necessidades da criança, bem como
seja de muita importância para avaliar o grau com sua crescente necessidade de
P. 88 de adaptação da criança à realidade e o experimentação e posterior caminhada
vínculo que se estabeleceu entre ela e os pais. a independência. A mãe pode frustrar
O atraso na linguagem e a inibição no seu ou satisfazer essas necessidades,
desenvolvimento são índices de uma séria auxiliando no desenvolvimento ou
dificuldade na adaptação ao mundo atrasando-o na forma que não deixa a
(ABERASTURY, ed. 8, 1982, p. 88). criança experimentar o mundo.
A criança que pode assim identificar-se com o Podemos considerar que para a
caminhar da mãe incorpora no seu ego a criança o caminhar equivale ao
habilidade para caminhar. Seu significado de separar-se da mãe, uma
desenvolvimento se fará por um crescimento mãe suficientemente boa deixa seu
gradual de possibilidade, de tal forma que filho andar sem interferir ou podá-lo,
busque comer, dormir, falar e caminhar com dessa forma o desprendimento torna-
P. 88 seus pais. De acordo com o que a criança, na se agradável, essa experiência
sua fantasia inconsciente, está recebendo também guiara seus passos no
deles, o ensinamento se incorpora como êxito mundo.
do ego ou passará a fazer parte um superego Ao indagar sobre essa fase temos
censurador, que o freará, ou poderá cair e acesso ao como a mãe reagiu a essa
machucar-se quando queira caminhar e não nova demanda. A mãe deve ajudar a
se sinta permitido amplamente a partir de seu caminhar, oferecendo-se assim como
interior (ABERASTURY, ed. 8, 1982, p. 88). uma continuação da criança para que
essa possa ter suas primeiras
experienciar com mundo.
Interrogamos logo sobre o dormir e suas As crianças na segunda metade do
características, porque estão muito primeiro ano costumam apresentar
relacionadas. No caso de haver transtornos do formas de aliviar as tensões
sono, perguntamos qual é a conduta com a denominadas projeção e expulsão,
criança e quais são os sentimentos que os caso um desses mecanismos trave ou
P. 89 sintomas despertam nos pais. E importante a os dois as cargas emocionais
descrição do quarto onde dorme o bebê, se acumulam-se e isso provoca sintomas,
está só ou se necessita da presença de um deles é a insônia, está por sua
alguém ou alguma condição especial para vez, também se correlaciona com o
conciliar o sono. Durante a dentição podem início da dentição.
aparecer transtornos transitórios do sono, que É comum perceber que a insônia é um
se agravam ou desaparecem conforme o meio dos problemas que os pais
ambiente maneje a situação (ABERASTURY, consideram mais perturbadores a vida
ed. 8, 1982, p. 89). emocional e botam a prova sua
maternidade.
Entender como foi o enfrentamento
desses problemas possibilita saber se
de certa forma os pais auxiliaram na
implantação do problema, como no
caso de oferecer o peito para conciliar
o sono, que favorece a insônia. Isso
nos mostra que não é uma dificuldade
na criança e sim dos pais, que criam
situações que dificultam a resolução
do problema.

O desmame, que habitualmente ocorre no final Por meio da aceitação dessa primeira
do primeiro ano de vida, significa muito mais grande perda (seio materno) que
que dar ao menino um novo alimento; é a podemos entender como em sua vida
elaboração de uma perda definitiva, e depende futura lidará e enfrentará as
P. 89 dos pais que se realize com menos dor, mas sucessivas perdas, que irão necessitar
isto só podem fazê-lo se eles mesmos a sua adaptação a realidade. Uma mãe
elaboraram bem (ABERASTURY, ed. 8, 1982, que solucionou bem esses problemas
p. 89). em sua própria infância, ou elaborou
em auxílio da terapia, lidará melhor
com essas dificuldades, sabendo fazer
com que a criança não sofra nesse
processo.

Quando sabemos com que idade e de que Ou fator importante é as informações


forma se realizou o controle de esfíncteres, relacionas ao controle de esfíncter,
amplia-se nosso conhecimento sobre a mãe. E aconselha-se a iniciar quando a
temos encontrado que se a aprendizagem do criança já tem mais controle motriz.
controle de esfíncteres é muito cedo, muito Outro ponto importante é que esse
severo, ou está ligado a outros passo não pode iniciar-se cedo, pois
acontecimentos traumáticos, conduz a graves segundo a psicanálise as matérias
transtornos, em especial à enurese. Por isso o fecais constituem importantes
terapeuta deve perguntar sobre a idade em símbolos para o inconsciente,
que começou a aprendizagem, a forma como cumprindo a função de tranquilizar as
P. 90 se realizou e a atitude da mãe frente à limpeza angústias em relação ao
e à sujeira (ABERASTURY, ed. 8, 1982, p. esvaziamento, bem como o prazer que
90). este sente com relação as fezes
comuns da fase anal.
Quando ocorre a aprendizagem
prematura, a criança sofre, pois não
possui os substitutos que adquire pela
elaboração e aquisição, processos
vinculados ao ato de caminhar e com
a linguagem.

Se a aprendizagem, além de ser precoce, é Torna-se imprescindível atentar-se as


severa, é vivida como um ataque da mãe ao respostas da mãe orientam em
seu interior, como retaliação a suas fantasias, relação a análise das neuroses da
que neste período estão centradas no casal criança, bem como entender o vínculo
parental em coito e trará como consequência a que um tem com o outro.
inibição de suas fantasias, com transtornos no Importante também atentar-se as
P. 90 desenvolvimento das funções do ego produções da criança, pois estas
(ABERASTURY, ed. 8, 1982, p. 90). podem complementar o que fora dito
pelos pais, e os conteúdos que os pais
esquecem ou não mencionam por
barreiras inconscientes e que pode ser
lembrado posteriormente.
A atitude consciente e inconsciente dos pais É importante ressaltar que é normal
frente à vida sexual de seus filhos tem existir “vida sexual” na infância,
influência decisiva na aceitação ou rejeição podemos ver por estudos que isso
que a criança terá de suas necessidades ocorre desde os tenros anos de idade
instintivas. O que hoje conhecemos sobre a e precisa não sofrer represaria, pois
vida instintiva da criança e sobre suas ele pode causar sérios problemas
manifestações precoces causa assombro aos futuros.
adultos. Freud também causou assombro e A fase fálica ocorre em todas as
P. 92 rejeição quando descobriu que a criança ao crianças e quando é bem resolvida a
mamar não só se alimenta, como também criança sente-se amada, valorizada e
goza. Afirmar hoje que uma criança de um ano sabe que possui um lugar no mundo,
se masturba ou tem ereções e que a menina sentindo-se aceita. Torna-se capaz de
conhece sua vagina e que ambos sentem introjetar, compreender e seguir as
desejos de união genital opõe-se a tudo o que regras. Caso contrário à criança e
até hoje se aceitava sobre a vida de um bebê prejudicada ocorrendo falhas que
e também desperta rechaço (ABERASTURY, prejudicam sua vida adulta, causando
ed. 8, 1982, p. 92). insegurança, sensação de
insegurança, timidez.
É frequente que a entrada no jardim-de- Nota-se que a ida ao jardim de
infância coincida com o nascimento de um infância cedo pode causar alguns
irmão e, neste caso, longe de favorecer a prejuízos na criança, um pensamento
elaboração deste acontecimento, constitui um de que querem livrar-se delas, caso
P. 93 novo elemento de perturbação; de fato, a coincida com o nascimento de um
criança nestas circunstâncias vive mais novo irmão, isso ajudará a favorecer a
penosamente o fato de que lhe tiraram o lugar elaboração de uma perturbação, uma
que habitualmente ocupava na casa vez que este pode sentir-se
(ABERASTURY, ed. 8, 1982, p. 93). defenestrado do lugar que ocupava na
casa.

Durante a análise de crianças, comprovou-se A permanência em casa, participação


que as inibições de aprendizagem escolar e as em atividades diárias e ter um espaço
dificuldades para ir à escola têm suas raízes adequado para brincar livremente são
nos primeiros anos e que uma criança que não condições que favorecem o
brincou bem tampouco aprende bem. Não desenvolvimento.
podemos avaliar a gravidade das dificuldades Ir à escola significa não apenas
de aprendizagem através do que os pais nos despender-se da mãe, mas também
P. 93 relatam. É frequente que uma criança em encarar novos aprendizados que
aparência muito bom escolar seja uma criança começam a despertar novas
muito neurótica, com inibições parciais, que ansiedades.
nem sequer são percebidas pelos pais É importante não se basear apenas
(ABERASTURY, ed. 8, 1982, p. 93). nos relatos dos pais para criar-se um
caso, deve-se analisar a criança,
principalmente o seu brincar.
Muitas vezes os pais consideram o
quadro mais grave do que realmente
é, pode ser uma breve dificuldade ou
causada pelos próprios pais.
P. 93- A reconstrução de um dia de vida da criança Por se tratar de um relato detalhado
94 deve ser feita mediante perguntas concretas, sobre o dia da criança, possibilitará
que nos orientam sobre experiências básicas obter uma visão mais completa da
de dependência e independência, liberdade ou vida familiar e será de grande ajuda,
coação externas, instabilidade ou estabilidade ao ser comparado com a história da
das normas educativas, do dar e do receber. criança será de grande ajuda. Dessa
Saberemos assim se as exigências são forma torna-se mais fácil e fidedigno
adequadas ou não a sua idade, se há bater os dados, evitando assim
precocidade ou atraso no desenvolvimento, as inexatidões, omissões, bem como
formas de castigo e prêmio, quais são suas analisar a causa de quando isso
capacidades e fontes de gozo e suas reações ocorre.
frente às proibições (ABERASTURY, ed. 8, Por meio deste relato, podemos ver
1982, p. 93-94). informações que foram esquecidas ou
não consideradas relevantes pelos
pais vindo à tona, dessa forma
complementamos as lacunas.
Tudo isto é de um valor inegável, porque nos Está descrição torna-se importante,
dá uma visão certa da vida da criança. Podem pois por meio dela conseguimos saber
pensar que seu filho é independente, porque dados oriundos e causadores de
mantém uma certa rebeldia, e nós certos comportamento, como
encontramos que, paralelamente a isto, lhes independência ou dependência,
dão de comer na boca, os vestem e os atitude frente aos pais. Precocidade
P. 94 banham tendo sete ou oito anos. E maior o ou atraso no desenvolvimento e
conflito quando, em oposição a esta aprendizagem.
dependência patológica, o deixam sair só ou o Os domingos e dias de festa e
levam a atividades típicas de crianças com aniversários são importantes para
mais idade (ABERASTURY, ed. 8, 1982, p. conhecer o grau de neurose familiar
94). que se correlaciona diretamente com a
da criança, isso nos orienta no
diagnóstico e prognostico.

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