Você está na página 1de 20

ORIENTAÇÃO

PROFISSIONAL

0 Temor da Escolha Errada em Filhos de


Pais Separados
Diversas pesquisas tem-se ocupado em estudar a repercussão da separação
dos pais sobre o psiquismo dos filhos. Esse tema tern suscitado muita
polêmica, inclusive na area científica, como veremos a seguir:

Mas sera que a separação dos pais Para tanto, foram


repercute de alguma forma sobre reunidos em um grupo
de OP apenas jo­vens
adolescen­te no momenta da escolha filhos de pais
profissional? Buscamos, com essa separados. Importante
pergunta, simplesmente pesquisar se ressaltar que todos eles
se inscreveram para
essa questão familiar confere a esses participar da OP por
jovens alguma forma caracterfstica demandas próprias e
ou alguma demanda especffica - não sabiam, no
início das tarefas,
sem querer avalia-Ia como positiva que estavam em um
ou negativa - frente a questão da grupo homogeneo
escolha profissional. (filhos de pais
separados).
Salientamos que nao estamos falando de qualquer jovem filho de pais
separados frente ao momenta da escolha profissional e sim,
especificamente, daqueles que buscaram ajuda por nao estarem
conseguindo solucionar suas demandas vocacionais.

1. 0 conteudo da 2. Abordaremos alguns


conversação exposta tópicos relativos a questão
por esse grupo se geral da reper­cussao da
assemelha e tambem separacão dos pais sobre o
difere em varios psiquismo dos filhos, para,
aspectos do conteúdo mais adiante, focali­zarmos
das questões essa questão em torno do
discutidas em outros momento da escolha
grupos pesquisados profissional.
A separação dos pais: 2 - Mesmo quando as
crises conjugais sãrias
não são abertamente
1 - Muita coisa muda, a faladas, as crian­ças mais
rearrumação é extensa: há a sensíveis apresentam
perda do convívio com o pai e a sintomas e alterações de
mãe na mesma casa, a conduta, funcionando
possibilidade de perda do como caixa de
convívio cotidiano com os ressonancia dos conflitos
irmãos, a modificação de hábitos do casal.
e rotinas, a modificação do
padrão de vida. (Maldonado,
1991, p. 134

"Nao e raro o aumento de sintomas tais como dor de cabeça, febre, diarreia, vômitos, perda ou
excesso de apetite" (Maldonado, 1991, p. 135). Para a autora, esses sintomas, por vezes, podem
ser reveladores das reações de angustia no período inicial da adaptaçãos após a separação.
3 - Algumas crianc;as se isolam, passam horas no quarto, quase nao falam; outras solicitam
mais os pais ou adoecem. E importante que a crianc;a tenha uma noção de continuidade de
vínculos afetivos e possa dispor de pessoas que a apoiem com sensa­cão de estabilidade e
segurança em um momento da vida tão cheio de perdas e impac­tos (Maldonado, 1991; Riera,
1998; Wallerstein e Kelly, 1998).

A ADAPTAÇAO:
 
Essa pesquisadora considera que a separação dos pais e uma
marca, um estig­ma, que as criançaas carregarão para toda a vida . A
maioria dos filhos do divórcio atribui a separação dos pais parte de
seus insucessos nos relacionamentos. A imagem negativa do
casamento leva muitos a fazer mas escolhas de parceiros ou a fugir de
compromissos . Ela também coloca que e um mito imaginar que a
separação é uma crise temporaria, cujos efeitos são mais danosos na
hora da separação. Trata-se de uma crise de longo prazo e, em
alguns casos, interminavel. Wallerstein (2000)
 Esta autora observa que a adaptação a separação e mais
prolongada quando os filhos tern uma relação boa e agradável
com ambos os pais. Nesses casos, a perda da convivência diária
com os mesmos e mais difícil de aceitar.

 Quando o relacionamento e cheio de atritos, conflitos e tensões, e


o filho é ex­cessivamente cobrado, exigido, perseguido ou
relegado a segundo plano, a perda da convivencia diaria pode vir
a ser um grande alívio. "Isto, evidentemente, nao quer dizer que
nao haja dor nem perda: ninguem se separa sem dor e impossível
que os filhos passem por esse período a salvo, inteiramente
resguardados dos acontecimen­tos" (Maldonado , 1991 , p. 138).
AUTOCONCEITO
Em famílias cujos pais vivem juntos, o adolescente apre­senta:
 
• alto índice de autocontrole;
• alto índice de segurança pessoal;
• autoconceito elevado.
 
Em famflias cujos pais vivem separados, o adolescente apresenta:
 
• prejuízo da segurança pessoal;
• baixo autocontrole;
• baixo rendimento escolar;
• mais frequencia no uso de drogas;
• índice de autoconceito baixo ou medio-baixo

Magagnin e colegas (1997


• Sendo a adolescência um período crítico, com características próprias, sujeito a crises
de identidade relacionadas com as influências socioculturais, quanto melhor sucedidas
forem as experiências e vivencias do adolescente, mais positivo parece ser o conjunto
de percepções a respeito de si mesmo. " O autoconceito do adolescente se torna
significativo para o desenvolvimento adequado ao longo das etapas que ele percorre
no ciclo vital familiar" (Magagnin e cols., 1997, p. 15).

• Na adolescência, as areas do desenvolvimento, como aspirações profissionais, valores


do papel sexual, autoconceito, sentimentos de competência e realização, podem ser
influenciadas pela ruptura familiar (Barber e Eccles, 1992, citados por Magagnin e
cols., 1997). Esses mesmos autores destacam que famílias sem o pai são consideradas
incompletas e contribuem para uma auto-estima baixa, delinquência, abandono.
 Em sua pesquisa, Andrade (1997) observou que uma família bem-estruturada,
na qual o indivíduo recebeu uma carga adequada de energia grupal e pode
desenvol­ver-se harmoniosamente dentro de uma dinamica grupal saudável,
na qual o indivíduo pode amadurecer sendo respeitado como tal e respeitando
os demais, na qual os limites de cada um foram observados e os potenciais
individuais adequadamente otimizados e promovidos , gerara , certamente,
indivíduos mais seguros e altivos, ca­pazes de estabelecer com a vida de
trabalho uma relação construtiva e prazerosa. Por outro lado, uma famflia na
qual o indivíduo se desenvolveu de forma deficitária ou destrutiva, gerara
sujeitos inseguros e limitados nos seus potenciais ocupacionais.
 Vários estudos chegaram a conclusão de que a separação dos pais denota um
impacto negativo no autoconceito dos filhos, uma vez que a percepção dos
conflitos familiares e/ou a infelicidade do casal aumenta as dificuldades ao
ajustamento social e pessoal do adolescente (Magagnin e cols., 1997, p. 15).

ASPECTOS REFERIDOS POR FILHOS DE PAIS SEPARADOS QUE


BUSCARAM ORIENTA(:AO PARA ESCOLHA DA PROFISSAO
 

1 - Eles apontam as magoas vividas em função da separação e o sentimento de que antes er


melhor.
2 - Essa tônica confere ao tema da escolha profissional algumas singu­laridades descritas a seguir:
• 0 grupo formado somente por filhos de pais separados, se comparado aos de­mais
grupos pesquisados, e o que mais nomeia as profissões de que gosta e o que
menos aponta desejos ocupacionais da infância, apresentando um engajamento
alto na tarefa da escolha futura sem muito resgate de lembranças das escolhas
infantis.

• Isso remete a questao da elaboração dos lutos pelas escolhas infantis. Escolher
implica a perda dos outros objetos que serao deixados. A medida que a
decisão pro­fissional vai-se integrando a história do adolescente, a elaboraãao do
luto fica facili­tada. E comum que o adolescente expresse sentimentos de tristeza,
solido, ambiva­lência e culpa no processo de elaboração. Observa-se, também
comumente , que nesse processo o adolescente recorde e recupere
acontecimentos antigos, projetos abando­nados, lembranças passadas , inte
grando-os e vincul ando -os a decisões atuais (Bohoslavsky, 1982; Neiva, 1995;
Levenfus, 1997a). 0 fato de quase nada disso ocorrer nesse grupo faz pensar que
esses jovens, oriundos de casamentos desfeitos, podem apresentar dificuldades na
elaboração de lutos, preferindo negar o passado.
• A forma com que os jovens pesquisados perceberam apenas positivamente o mundo
ocupacional aponta para uma tendencia a relacionar-se de forma dissociada com
o objeto. Nao estando preparados para defrontar-se com ansiedades depressivas,
alguns jovens tendem a mantê-lo idealizado a fim de conservá-lo, ja que deparar-se
com todos os seus aspectos pode levá-lo a desvalorizarizão completa, ao abandono e
ao sentimento de que nada resta, como ocorreu na categoria em que referiram o pai.
E como se estivessem se defendendo do trabalho de luto que ocorre no processo de
desidealização frente as carreiras (Levenfus, 1997a; 1997b).
COMPORTAMENTO EVITATIVO FRENTE A TOMADA DE DECISAO
1 - Uma das maiores ansiedades que acomete os filhos de pais separados
pesquisados no momenta da escolha profissional diz respeito a tomada de decisao.

2 - Eles apresen­tam um comportamento evitativo referindo não estarem preparados


ainda, sendo cedo para fazê-lo.

3 - Isso se contradiz com seus constantes apontamentos a respeito das pro­fissões


que lhes interessam. Pois o grupo que mais nomeou as profissões de seu inte­resse
atual com alto engajamento na tarefa da escolha futura e o que mais referiu
ansiedade relacionada ao temor de escolher errado

4 - o sujeito a recorrer a velhos e conhecidos padrões mesmo quando manifestam


conscientemente o desejo de resolução

5 - E possível que este grupo possa estar fazendo manobras de adiamento,


mantendo a crise adolescente em aberto, como refe­re Blos (1996), em vista da crise
mal resolvida da separação dos pais
0 medo de escolher errado:
 
 Verbalizações apontando um grande medo de escolher errado aparecem com
enfase bem maior nesse grupo pesquisado (filhos de pais separados) do que nos
de­mais. Como formularam várias verbalizações com conteúdos específicos a esse
tema, foi possível dividí-las em três itens:
 
 Ter que mudar: tenho medo de abraçar uma profissao e depois ver que esco­lhi errado;
 Relacionar com casamento falido: para que que a gente vai atropelar os passos se a
gente ja viu.. Em casa foi uma escolha que não deu certo; a escolha de uma profissão
nao deixa de ser como em um casamento.
 Pensar muito: é bom organizar as ideias e pensar muito bem antes; eu posso olhar de
todos os ângulos, de repente, nao precisa errar.
 Sabemos que a consolidação da identidade profissional e uma das últimas tare­fas da
adolescência, e a clientela que busca OP nem sempre esta em fase adiantada de
conclusão do processo adolescente (Osorio, 1986; Outeiral, 1994, e Levenfus 1997c).
Veêm-se empurrados por uma cultura que dita, em nosso país, que a escolha por uma
profissão deve ocorrer ao término do ensino médio, mo­mento esse que nem sempre
coincide com a maturidade necessária a essa tarefa.

 Apesar de pensar que esse tema seja justificado pelas circunstancias citadas, e
importante lembrar que essa temática foi discutida somente pelos membros do grupo
formado por filhos de pais separados. Por isso, podemos observar que, alem dos te­
mores naturais ocasionados pela necessidade de decidir, esses jovens apresentam medo
exacerbado de errar na escolha, com base nos acontecimentos familiares.
Há uma direta a relação que o grupo faz entre o medo de ter que mudar sua escolha
profissional e a vivência do casamento falido que, segundo eles, constituiu-se em uma
ma escolha conjugal por parte dos pais

Relação casamento-profissão
1 - É o unico grupo pesquisado que faz relações entre escolha conjugal e escolha
profissional, entre casamento e profissão.
2 - Filhos de pais separados pensam que, assim como no casamento, na profissão é
preciso que a pessoa aprenda a se relacionar bem com as demais sob o risco de não
conseguir se estabilizar. Acreditam que o casamento, assim como a profissão, deveria ser
escolha para a vida toda e que uma escolha profissional mal feita afetará o resto da vida
do sujeito.
3 - De um lado, manifestam-se verbalizações diretas no sentido dessa relação; de
outro, sao encontradas preocupações quanto a garantir o futuro de forma independen­te
de uma relação conjugal:
• Relação direta: o casamento é uma troca, bem como a escolha da profissão, você vai
escolher uma profissao, vai ter que lidar com pessoas; o casamento é para a vida
toda, a escolha (da profissão) vai afetar o resto da minha vida.

• Quero poder sustentar os meus filhos: quero poder pagar os estudos dos meus filhos;
que eu consiga ter a minha casa pr6pria.

 A questão da escolha conjugal, que remete a temas tais como o amor deve estar presente,
teve seu representante na questao da escolha profissional com as aborda­gens de que e
imprescindível gostar do que se faz. Esse conteudo foi explicitado de forma imperativa para
a ideia de que, para realizar determinada escolha, e preciso gostar do objeto. Refere se a
escolha profissional com termos que relacionam paixão pela profissao à felicidade e a má
escolha a estados de infelicidade
Pai desvalorizado versus mãe competente

0 pai e um tema de discussao somente nesse grupo. E muito significativa a representação


desvalorizada que esse grupo tern da figura paterna . Na grande maioria das falas, os jovens
descrevem o pai como sendo cheio de problemas psiquiatricos, alcoolista, jogador
compulsivo, desempregado, sem capacidade de se sustentar e de ajudar os filhos, ausente,
despreocupado com os filhos e mentiroso, dentre outras. Em uma quantidade bem menor são
feitas referencias a um pai que contribui com alguma coisa (pensao), que e trabalhador, que
gosta do que faz e que pensa nos filhos
A ausencia de um modelo paterno, segundo algumas pesquisas,
contribui para o aparecimento de dificuldades na consecução de tarefas
desenvolvimentais no ambito vocacional (Young, Friesen e Pearson, 1988).

Bastante diversa da imagem do pai esta a imagem da mãe. Esta e tida como
uma mulher batalhadora, trabalhadora, concursada, independente, que ganha
bem e que gosta do que faz, "minha mae pagou a faculdade dela"; "passou no
concurso do Ma­gisterio em primeiro lugar"; "ela ganha bem lá.

Os filhos de pais separados parecem apresentar uma inversão nesses


valores identificatórios
Prof kele Cristina Pasqualini

Você também pode gostar