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escrito, do autor ou editor, exceto pelo uso de citações
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Primeira Edição, 2022


NATHALIA D'ALMEIDA
Casada com Ulisses D'Almeida e mãe do Giovanni e da Vivian.
Pedagoga, mãe homeschooler e, sabendo dos grandes
ataques que as famílias estão sofrendo, luta em defesa da
família, incentivando e ajudando pais a buscarem a educação
integral de seus filhos, mostrando que não há ninguém melhor
do que a própria família para educar as crianças e jovens.

Formada pela Universidade Federal de São Paulo, acredita ser


uma das poucas pedagogas que conseguiu se desvincular da
doutrinação ideológica imposta pelas universidades. Por isso,
fala com propriedade sobre a formação oferecida ao
professor. Sempre se dedicou ao campo da educação. Entrou
em sala de aula como professora pela primeira vez aos 17 anos
e teve a oportunidade de ensinar crianças, adolescentes,
jovens e adultos.

Atualmente, desenvolve pesquisas no campo da educação,


para trazer a realidade sobre o sistema educacional e
despertar nos pais a urgência de se tornarem protagonistas
na educação dos próprios filhos.

@nathydalmeida
nathalia@ensinodomiciliar.com.br
Índice
Introdução ............................................................... 3
Capítulo 1 – A Socialização de Faz de Conta .......... 10
Capítulo 2 – A verdadeira socialização escolar ...... 14
2.1- Educação PELO Estado e PARA o Estado ...... 14
2.2 – A socialização escolar como forma de manipulação 18
2.3 – A tão estimada socialização de pares ......... 26
2.4 – A socialização escolar e o enfraquecimento da família 30
2.5 – A socialização escolar e o papel do professor35
Capítulo 3 – O que ninguém te fala sobre a socialização escolar
.............................................................................. 41
3.1 – Efeitos diretos da socialização escolar nos pais 41
3.2 – Efeitos diretos da socialização escolar nas crianças e
jovens .................................................................. 42
Capítulo 4 – E agora, o que devemos fazer? ......... 49
4.1 – A família como principal instituição socializadora 50
4.2 – Socializar é viver! ........................................ 52
Capítulo 5 – Falácias sobre a socialização ............. 56
Conclusão .............................................................. 59
Referências Bibliográficas...................................... 62
Introdução
Há pouco mais de três séculos, o primeiro sistema de
escolarização obrigatória foi implantado. Após uma série de
acontecimentos, temos hoje, muitos pais que foram
condicionados a acreditar que a socialização de seus filhos é um
dever da escola. E não para por aí. Muitos ainda entendem que
a socialização provida pela escola é a melhor, ou até mesmo a
única forma de socializar uma criança.
A escola, por sua vez, apresenta um método de socialização
que promete solucionar a suposta incapacidade das famílias de
socializarem suas crianças: a socialização escolar.
Eu chamo essa socialização de Socialização de Faz de Conta.
A Socialização de Faz de Conta promete preparar as
crianças, os adolescentes e os jovens para serem membros
atuantes na sociedade. Será através dela que o indivíduo irá
interagir com outras crianças da mesma faixa etária e adultos,
adaptando-se ao convívio social. A criança irá aprender a
respeitar diferentes culturas e modos de vida, além de usar
estratégias pautadas no respeito mútuo para lidar com
conflitos. Em geral, a Socialização de Faz de Conta dará todas as
ferramentas para o convívio em sociedade.
A Socialização de Faz de Conta se tornou ainda mais
relevante quando a escola deixou de se preocupar apenas com
o desenvolvimento intelectual da criança, e passou a se
preocupar também com o “desenvolvimento humano global,
em suas dimensões intelectual, física, social, ética, moral e
simbólica” (BRASIL, 2018, p. 16). Em poucas palavras, a
Socialização de Faz de Conta é parte do processo de formação
humana integral e útil para a construção de uma sociedade
justa, democrática e inclusiva.
Parece bom demais para ser verdade?
Sim, é!
Durante minha vida acadêmica e profissional, tenho
encontrado inúmeras famílias enfraquecidas e frustradas.
Frequentemente, me deparo com pais que sofrem por falta de
comunicação com os filhos, insegurança, perda de autoridade e
sentimento de culpa. Da mesma forma, encontrei crianças com
traumas, falta de personalidade, valores invertidos em relação
aos valores da família, baixa autoestima, baixa autoconfiança,
baixo autocontrole, graus de felicidade abaixo do esperado pela
família, pessimismo, insatisfação com a vida e falta de
estabilidade emocional.
No decorrer do livro, você entenderá que muitos desses
problemas, provavelmente, estão relacionados a socialização
negativa. Esses casos acontecem com frequência em famílias
que acreditam que a Socialização de Faz de Conta seria mesmo
capaz de preparar seus filhos para a sociedade. Na maior parte
das vezes, as famílias detectam esses problemas quando eles já
prejudicaram grande parte da educação das crianças. Essas
famílias descobrem o quanto isso será desastroso a longo prazo
e lutam, buscando alternativas para trazer de volta a paz e a
felicidade que tão desesperadamente anseiam e acreditam que
merecem. Essa frustração se dá pelo fato de que aqueles que
confiam na socialização escolar acreditaram em um mito.
Este mito é a essência do que chamo de Socialização de Faz
de Conta. A Síndrome da Socialização de Faz de Conta
representa uma crença de que entregar a socialização nas mãos
da escola vai garantir que os indivíduos estejam totalmente
prontos para a vida em sociedade. Quando esta estratégia não
consegue atingir os objetivos desejados, como costuma
acontecer, os pais que acreditam na Socialização de Faz de
Conta, geralmente, deduzem que a solução deve ser trazida
pela escola, e não pela própria família. Como esses pais foram
convencidos de que a escola é o melhor ou único ambiente de
socialização, ao sentir uma sensação de impotência e
ressentimento provocados pela Socialização de Faz de Conta,
conversam com diretores, coordenadores e professores,
cobrando resultados.
O conceito da Síndrome da Socialização de Faz de Conta
cresceu a partir da minha própria frustração de tentar fazer
tudo "certo", mandando meu primeiro filho para a escola com
três anos de idade e acreditando que ele seria bem socializado.
Para isso, o matriculei numa escola particular e cristã. Agi como
a típica "mãe esperançosa" e tinha orgulho disso. Eu acreditava
que essa era a melhor opção para socializar meu filho com
outras crianças, mas eu não fui feliz nessa escolha.
Na primeira semana de aula, uma criança mordeu o meu
filho. Só percebi a mordida quando vi marcas de dentes no
braço dele. Meu filho não sabia dizer o nome da criança que o
mordeu e, quando questionei a professora, ela não sabia quem
tinha mordido ou o que causou o incentivo para a mordida e,
como poderia saber? Provavelmente ela supervisionava
dezenas de crianças simultaneamente. Concluindo: como não
foi algo grave, nada foi feito. Não sei se, no momento do
ataque, houve direcionamento para que o meu filho aprendesse
a lidar com a situação e, se houve, como eu poderia saber se
esse direcionamento estava de acordo com os meus princípios e
valores?
Uma semana depois, por incrível que pareça, meu filho
chegou com o braço arranhado. Ao questionar a escola, fui
informada de que o pai do aluno agressor foi comunicado por
escrito, mas não revelou quem foi. Mais uma vez não obtive
respostas sobre qual foi o direcionamento dado ao meu filho.
Depois pensei: E se meu filho também criar o hábito de agredir
outras crianças? Eu gostaria de tratar isso com os meus
princípios e valores também! Será que a escola me avisaria
mesmo? Será que alguém realmente o estaria supervisionando
entre dezenas de crianças “brincando” durante o recreio? Não
sei.
Esse foi apenas um pequeno exemplo dos muitos
problemas relacionados a socialização que vivi com a escola.
Apenas deixo o resumo do que aconteceu em seguida: três
meses depois desses ocorridos (e de vários outros que não citei
aqui), iniciei a educação domiciliar com o meu filho. E, após o
nascimento da minha segunda filha, prossegui com o
homeschooling. Além disso, comecei a desenvolver o conteúdo
que vai abrir os olhos daqueles que ainda acreditam na
Socialização de Faz de Conta. Documentei esse conteúdo neste
livro que irá ajudar pais que enviam seus filhos para a escola, a
integrar excelentes práticas de socialização, evitando que seus
filhos cresçam com uma socialização negativa, assim como,
ajudará pais que praticam a educação domiciliar a se
tranquilizarem, sabendo que a socialização de seus filhos será
completa sem a presença da escola, se seguirem as práticas de
socialização documentadas aqui. Em ambos os casos, é
necessário que a família fuja das armadilhas de manipulação
que pretendem uniformizar o comportamento de indivíduos em
prol do Estado.
Até agora, pouquíssimos pais levam o problema da
Síndrome da Socialização de Faz de Conta a sério. É por isso que
eu escrevi o livro Socialização Escolar: A Socialização de Faz de
Conta.
As informações apresentadas neste livro representam um
plano comprovado para ajudar os pais a se libertarem das
falácias da Socialização de Faz de Conta. Este livro é baseado em
uma série de estudos e pesquisas, além da minha própria
experiência como mãe educadora, pedagoga e professora de
crianças, adolescentes, jovens e adultos.
As informações e ferramentas apresentadas no livro
Socialização Escolar: A Socialização de Faz de Conta podem
salvar crianças que sofreriam no decorrer de toda a sua vida,
por consequência da má socialização. Se você ainda acredita na
socialização escolar ou já percebeu que ela é uma Socialização
de Faz de Conta, os princípios apresentados nas páginas
seguintes irão mudar a sua vida. Neste livro, de forma clara e
objetiva, você irá entender:

• O discurso que é feito pelo Estado a respeito da


socialização escolar;
• Como surgiu a escola no formato que conhecemos hoje;
• O poder do Estado sobre a educação;
• A socialização escolar como forma de manipulação;
• Os problemas da socialização de pares;
• Como a socialização escolar enfraquece a família;
• O papel do professor na socialização escolar;
• Como a socialização escolar contribuiu para que as famílias
não se vissem mais como sendo totalmente responsáveis
pela educação dos próprios filhos;
• Os efeitos da socialização escolar nas crianças,
adolescentes, jovens e adultos;
• Como solucionar o problema da socialização escolar;
• A urgência de vermos a família como principal instituição
socializadora;
• Práticas saudáveis de socialização de crianças, adolescentes
e jovens;
• Como rebater falácias sobre a socialização escolar;

É hora de parar de terceirizar a socialização dos seus filhos


e começar a ter o controle sobre a forma como eles serão
inseridos na sociedade.
Capítulo 1 – A Socialização de Faz de Conta
Tenho certeza que você consegue se lembrar do seu tempo
de escola! Talvez não se lembre perfeitamente, com muitos
detalhes, mas algumas lembranças surgem quando você escuta:
colegas de sala, provas, trabalhos em grupos, hora do intervalo,
professores, etc. Talvez, muitas dessas lembranças não estejam
diretamente ligadas a você, podem ser de pessoas que
frequentaram a escola com você e até mesmo histórias
contadas por amigos, familiares e colegas de trabalho.
Por isso, enquanto eu descrevo o tão sonhado e idealizado
papel socializador da escola, eu quero que você o analise tendo
como base tudo que você e as pessoas ao seu redor viveram!
De acordo com o que é proposto por documentos que
norteiam a educação no país, como a BNCC (Base Nacional
Comum Curricular), as crianças que frequentam a escola têm a
grande oportunidade de conviver com “o diferente”. Ou seja,
pessoas de idades, culturas, classes sociais e crenças diferentes.
Ainda é dito que, na escola, a criança não irá só conviver, como
também aprender a respeitar as diferenças e limitações de cada
indivíduo. É dito que esse aprendizado se dará por meio da
interação entre elas. Afinal, também é dito que no ambiente
escolar será possível conversar, conhecer o próximo, saber e
entender suas diferenças, vontades, gostos, além de poder
trabalhar em grupo e aprender a lidar com as falhas e
qualidades de cada um.
Já que nós não nascemos naturalmente prontos para esse
tipo de relação, precisamos de alguém que nos mostre como
devemos agir em determinadas circunstâncias e como devemos
enfrentar cada situação da forma correta. Pois, como
saberemos o que é respeitar as diferenças, se não nos
mostrarem? Para essa tarefa fundamental, na socialização
escolar, temos os professores.
Émile Durkheim, um dos criadores da sociologia da
educação, e que trouxe a obrigatoriedade escolar para crianças
de 6 a 13 anos na França, atribuía aos professores a função de
construir nos estudantes a conformidade moral. De acordo com
Durkheim, os professores seriam responsáveis por guiar todo o
tipo de relação dos alunos dentro da escola, e não só guiar, mas
também construir nos estudantes os valores e a moral que
precisam para conviver em sociedade. Eles também seriam
vistos como exemplos morais, contribuindo diretamente para a
formação do aluno sobre o que constitui um bom
comportamento.
Uma das consequências de uma boa socialização é a
capacidade do indivíduo de se adequar as normas e regras de
um determinado lugar e, de acordo com os defensores da
socialização escolar, isso acontece quando a criança aprende
que precisa levantar a mão para fazer perguntas, quando deve
permanecer sentada durante as aulas, quando precisa pedir
permissão para ir ao banheiro, ou quando precisa ficar em filas
para beber água. Essas regras e códigos de conduta da escola,
segundo alguns adeptos da socialização escolar, estruturam os
comportamentos de maneira a produzir obediência à
autoridade e também preparam as crianças para a vida adulta
dentro das burocracias que existem.
A proposta da socialização escolar é de que a criança sairá
preparada para a vida em sociedade! Ela ainda diz que a criança
saberá respeitar e também será respeitada, saberá se
comportar em ambientes diferentes, conseguirá se comunicar
muito bem com pessoas de todas as idades, respeitará as
crenças e diferenças do próximo e terá, como base, os valores e
a moral ideal para que a sociedade progrida e se desenvolva
cada vez mais!
Você acha que acabou? Acredite você ou não, ainda dizem
que a socialização escolar também é responsável por
desenvolver inteligência emocional, senso de coletividade e
empatia.
Agora, vamos recapitular: no começo deste capítulo, eu
pedi para que você analisasse tudo que foi dito, tendo como
base as suas experiências e as experiências de amigos e
familiares.
Pense comigo. As crianças conseguem ter tempo de
qualidade com outras pessoas de idades, crenças e classes
sociais diferentes no período escolar? Quantos programas
escolares com foco na interação social você conhece? Você, que
já passou por muitas experiências sociais diferentes, acha que a
escola é capaz de preparar a criança para todas elas, ou pelo
menos para a grande maioria, como é a proposta da
socialização escolar? Você já parou para pensar quais eram os
objetivos dos sociólogos, educadores e até mesmo do Estado,
quando colocaram um papel tão importante, como o da
socialização dos seus filhos, sob responsabilidade da escola?
Será que eram pessoas envolvidas na luta a favor da família? Ou
será que existiam interesses políticos e/ou financeiros?
Você já deve ter percebido que existe um discurso lindo e
bem elaborado que escutamos a respeito da socialização
escolar. Talvez no “mundo ideal” possa acontecer dessa forma,
mas como já sabemos, o “mundo ideal” é um faz de conta, e
essa socialização descrita acima, também é!
Capítulo 2 – A verdadeira socialização escolar
Neste capítulo, irei responder as questões colocadas acima
e muitas outras que irão provar para você que a socialização
escolar, como se espera que aconteça, é uma socialização de
FAZ DE CONTA!
Vamos falar sobre a realidade? Agora, deixaremos de lado o
discurso que já conhecemos e iremos entender o que de fato
acontece nas escolas.
2.1- Educação PELO Estado e PARA o Estado
Precisaremos saber como surgiu a escola no formato que
conhecemos hoje. Afinal, diferente do que a maioria imagina,
na maior parte da História Mundial, as escolas não existiam e,
quando começaram a surgir, não eram obrigatórias e muito
menos controladas totalmente pelo Estado.
A educação na antiguidade está muito distante do que
entendemos como educação hoje. Em Atenas, por exemplo,
não havia escola. Existiam espaços para conversação, reflexão e
experimentação livre. As pessoas iam até esses lugares em seu
tempo livre para aprender, por livre e espontânea vontade. O
ensino era prazeroso e útil.
Por outro lado, a educação em Esparta, outra cidade da
Grécia, era mais parecida com uma instrução militar. As crianças
eram apreendidas pelo Estado e educadas nos quartéis com o
ideal de obediência a ele mesmo. Uma educação PELO Estado e
PARA o Estado.
Infelizmente, o modelo educacional que se seguiu na maior
parte do mundo foi o de Esparta, com algumas mudanças.
Mudanças que continuaram priorizando o governo e deixando
de lado as famílias, crianças e jovens.
Estudando a história da educação mundial, nos deparamos
com alguns personagens que foram fundamentais para que
chegássemos ao atual cenário de educação. Pessoas que
trabalharam para que seus próprios interesses e para que o
poder estivesse em suas mãos. Mesmo que tentassem
demonstrar o oposto em seus discursos.
Um desses personagens é Horace Mann, um dos grandes
idealizadores da escola pública e obrigatória nos Estados Unidos
da América e grande influente na educação ocidental. Em 1837,
ele presidiu o recém-criado Conselho de Educação do Estado de
Massachusetts. Foi nessa época que Horace Mann saiu em
busca de um modelo de ensino que o interessasse. Viajou por
vários países até encontrar o modelo Prussiano de ensino. Esse
modelo foi um sucesso para atingir os objetivos do Governo da
Prússia, que via a necessidade de uma força de guerra e
trabalho padronizada. Mann ficou impressionado com a
capacidade alemã de padronização científica para os jovens.
Com a industrialização e o crescimento do império, os
prussianos precisavam de algo para manter as pessoas
trabalhando em prol dos objetivos do Estado. Para filósofos
como Johann Gottlieb Fichte, a educação universal coagida pelo
Estado era a resposta e solução para esse problema. Assim, o
Estado prussiano tinha o controle efetivo das novas gerações e
podia assegurar-se de que nada que ofendesse seus princípios
fosse ensinado. Na base desse sistema educacional estava a
ideia de que a unificação nacional seria impossível sem uma
educação para todos.
Horace Mann trouxe para Massachussetts esse sistema de
ensino unificado e obrigatório, mesmo tendo 80% da população
resistido com armas. Sim, você leu corretamente, e vou repetir:
80% da população resistiu à escolarização obrigatória com
armas. A cidade de Barnstable On Cap Cod foi obrigada a
entregar os filhos e, enquanto estava sendo assediada pelo
exército, as crianças marchavam escoltadas para a escola
(GATTO, 1990, p.2).
Não vou descrever a História da Educação aqui, talvez esse
possa ser o assunto de um próximo livro, mas explicar uma
pequena parte de como se iniciou a educação universal e
obrigatória foi necessário para que você entenda uma coisa:
Como no passado, a escola, ainda hoje, continua sendo
controlada PELO Estado e PARA os objetivos e benefício dele
mesmo.
Assim como vimos a escolarização obrigatória sendo uma
forma de manipulação do Estado para alcançar seus próprios
fins e benefícios até os dias de hoje, a SOCIALIZAÇÃO ESCOLAR,
nada mais é do que uma falácia para convencer que a escola é
imprescindível na vida da criança, ou seja, um discurso de
manipulação usado pelos poderosos a fim de beneficiá-los.
Se nos lembrarmos da educação que se tinha até cerca de
três séculos, que hoje em dia é conhecida como Educação
Clássica, baseada nos currículos da Antiguidade (especialmente
Atenas e Roma), veremos que a missão principal da escola
consistia na formação intelectual. As crianças e jovens eram
munidos de ferramentas que permitiam autonomia intelectual e
crescimento integral. Infelizmente, o que encontramos na
pedagogia moderna é o discurso da “formação social da
criança”. Ao invés de se fornecer ferramentas para o
desenvolvimento intelectual, é IMPOSTO, de forma mascarada,
valores, atitudes e comportamentos para que os objetivos
daqueles que estão no poder sejam alcançados, dando lugar a
falácias como a da socialização.
Não é de se espantar que o nível educacional dos nossos
jovens esteja tão baixo. Segundo o PISA 2018 (Programa
Internacional de Avaliação de Estudantes), apenas 0,2% dos
alunos alcançaram nível máximo de proficiência na leitura e
apenas 2% desses jovens são capazes de diferenciar fatos de
opiniões enquanto lêem. Ou seja, aquilo que antes era papel
primordial da escola (ensinar os conteúdos), deixa de ser
prioridade e a socialização entra como substituta nesse
contexto.
Podemos dizer, então, que a escola passou de um
instrumento de desenvolvimento intelectual para um
instrumento de construção de uma ordem social favorável ao
governo.
Em diferentes lugares do mundo, escolas foram criadas
para beneficiar o próprio sistema local. Cada lugar com um
objetivo específico, mas todos visando o fortalecimento do
Estado. A socialização escolar é mais uma forma de atingir essa
meta.

2.2 – A socialização escolar como forma de manipulação


Está claro o tipo de socialização programada para acontecer
na escola: uma socialização que visa o interesse e o
fortalecimento do Estado. Sabendo disso, a partir de agora,
iremos fazer uma análise do discurso em contraste com o que
realmente acontece.
É muito comum escutarmos sobre os incontáveis benefícios
da socialização entre crianças da mesma idade. O discurso de
que é imprescindível que a criança vá para a escola para poder
conviver com outras crianças, aprender e se desenvolver com
elas, convivendo com outras visões de mundo, está tão
enraizado que, para alguns, é impossível pensar na possibilidade
de uma criança não frequentar a escola.
É claro que uma criança precisa conviver com outras
crianças, assim como precisa conviver com adolescentes,
jovens, adultos e idosos. Essa convivência não precisa acontecer
na escola. Há muitas formas de se socializar com outras
crianças, que não envolvem o ambiente escolar. Falaremos
dessas formas mais para frente.
O que eu vou mostrar nos parágrafos a seguir é: a
socialização escolar não é saudável, não ensina a conviver com
as diferentes formas de pensamento e não beneficia a criança e
o jovem, muito pelo contrário, acaba servindo apenas como
forma de uniformizar ao máximo o comportamento dos alunos,
e é usada como instrumento na modificação de conduta a fim
de criar novos padrões de vida e valores.
Devemos lembrar que, desde que o Estado começou a
controlar a educação, sua tendência tem sido a de, cada vez
mais, destruir o pensamento independente. O foco tem sido a
coação para a igualdade forçada ao nível mais baixo, para o
enfraquecimento de conteúdos e, até mesmo, o abandono de
todo ensino formal, para o inculcamento de valores e
obediência ao Estado (ROTHBOARD, 2013). Ficou claro que a
transmissão de conteúdo não estava sendo eficaz para a
mudança de comportamento, visto que o aluno absorvia as
informações e ajustava à sua visão de mundo. Para que o aluno
fosse educado por inteiro, era preciso que toda a sua
personalidade se envolvesse no processo de aprendizado e que
ele sentisse ter escolhido livremente os valores que eram
apresentados. Como vimos, o objetivo da educação, agora, é
moldar a personalidade em vista de comportamentos
socialmente desejáveis (ZAMBONI, 2011).
Pascal Bernardin, em seu livro Maquiavel Pedagogo ou o
Ministério da Reforma Psicológica, nos mostra que toda essa
mudança no conceito de educação e na função da escola, se dá
por meio de uma revolução pedagógica, que se concretiza por
meio da modificação do comportamento através de técnicas de
manipulação psicológica. Ele mostra que essas técnicas de
manipulação estão inseridas nos métodos de ensino, trazendo
documentos importantes de agências internacionais como a
UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura), que tem grande influência na educação do
Brasil e do mundo.
Não vou tratar de todas as técnicas de manipulação
discutidas na obra de Bernardin, mas falarei daquelas que se
apoiam e que dependem da convivência e da dinâmica de grupo
para ter o resultado esperado que, no caso, é a mudança de
comportamento para criação de valores. Assim como já assume
a UNESCO, “[...] Na medida em que o grupo de pares representa
para a criança um quadro de referência, ele contribui em larga
medida para a modificação das atitudes sociais” (UNESCO,
1964, p. 45, apud BERNARDIN, 1995, p. 42).
Podemos começar falando sobre a tendência ao
conformismo, que foi estudada pelo psicólogo Solomon Asch,
num teste de acuidade visual. O teste era o seguinte: foi
apresentado ao sujeito que estava sendo avaliado, uma linha
padrão desenhada sobre uma folha. Junto à linha padrão, havia
outras três linhas de tamanhos diferentes (Exemplo - Figura 1).

Em seguida, foi pedido que o sujeito apontasse, entre essas


três linhas, aquela que teria o mesmo tamanho da primeira
linha padrão apresentada na folha. Junto àquele que estava
sendo avaliado, estavam outros indivíduos associados ao
pesquisador, e a tarefa desses consistia em responder a mesma
questão, mas errando propositalmente, ou seja, apontando
para a linha que não era do mesmo tamanho que a linha
padrão. Obviamente, o sujeito que estava sendo avaliado não
sabia que as outras pessoas eram colaboradoras da pesquisa.
Nessa situação, o sujeito testado tinha duas alternativas: ou ele
diria a resposta certa (que era fácil de ser respondida), se
opondo, assim, à opinião unânime do grupo; ou ele diria a
resposta errada, se conformando, então, com os demais. Esse
teste foi feito diversas vezes, com diferentes linhas-padrão e
linhas para comparar. Os pesquisadores se surpreenderam com
o resultado.
No total dos 123 participantes, 75% responderam de forma
incorreta pelo menos uma vez, para não desagradar ao grupo, e
37% dos voluntários erraram a maioria das respostas
(BERNARDIN, 1995; ARAÚJO, 2009 apud ZAMBONI, 2011, p. 53).
Já na ausência de pressões do grupo, as respostas corretas
chegaram aos 92%. Os indivíduos entrevistados, depois da
experiência, diziam ter depositado uma confiança na maioria,
afinal, todos diziam que tal linha era a igual, e apenas ele dizia
que não (apesar de ser evidente que a maioria estava errada).
Tal experimento demonstrou que o indivíduo ignora a sua
percepção e entendimento por causa da adesão da maioria a
uma resposta. Outros afirmaram conformar-se com a opinião
do grupo para não parecerem inferiores ou diferentes. Com
esse experimento, demonstrou-se ser possível mudar a
percepção de um grupo minoritário de pessoas. Nessa
experiência, ao aderirem as respostas erradas, os indivíduos se
sentiam libertos da pressão psicológica do grupo.
O que deixa essa experiência mais surpreendente é o fato
de que os sujeitos que estavam sendo testados eram
totalmente desconhecidos. Não havia vínculo de autoridade ou
relação de convivência que pudesse implicar rejeição social.
Outra experiência que deixa claro o poder que o grupo
pode ter sobre a formação de normas e atitudes de seus
membros, é a de Muzafer Sherif, um dos fundadores da
psicologia social. Sherif colocou um indivíduo, sozinho, em uma
sala escura, e pediu que descrevesse os movimentos de uma
pequena fonte luminosa, que na verdade, estava imóvel. O
sujeito não encontrou nenhum ponto de referência, e logo
começou a descrever movimentos errados (resultado do efeito
autocinético. Um fenômeno que ocorre quando o olho fixa uma
luz estacionária e brilhante no escuro por um longo tempo.
Após um período de tempo, a luz parece se mover, mas
realmente não se move). Depois de um tempo, o indivíduo que
estava sendo testado começa a considerar que a amplitude dos
movimentos oscila em torno de um valor médio, que varia de
indivíduo para indivíduo. No entanto, quando a experiência foi
realizada com vários indivíduos observando a mesma fonte
luminosa, e partilhando entre si suas observações, surge logo
uma norma de grupo à qual TODOS se conformam. Mesmo se
depois o indivíduo é deixado sozinho, ele ainda continua
conformado à mesma norma que foi estipulada pelo grupo
(BERNARDIN, 1995).
Ou seja, se um grupo de pessoas começa a discutir um
fenômeno, elas tenderão a adotar um consenso. Esse consenso
não precisa ser verdadeiro. Ele pode ser influenciado de
diversos modos. O mais simples é a inserção de uma figura de
autoridade no grupo. As pesquisas mostram que, em
praticamente todos os casos, a figura de autoridade determina
o resultado da “discussão” e, ainda assim, permanece o efeito
de “consenso”. Podemos comparar esse caso com uma sala de
aula, certo? Os alunos como sendo parte de um grupo no qual o
professor é a figura de autoridade.
A criação de uma “dissonância cognitiva” em um indivíduo
é outra técnica psicológica utilizada. Uma dissonância cognitiva
é uma contradição entre dois elementos do psiquismo de um
indivíduo, sejam eles: valor, sentimento, opinião, recordação de
um ato, conhecimento, etc. (BERNARDIN, 1995). As pesquisas
mostram que um indivíduo, em uma situação de dissonância
cognitiva, tem a forte tendência de reorganizar seu psiquismo
com o objetivo de reduzir essa dissonância, isto é, o
desconforto e o estresse que isso gera. Se um indivíduo é
levado a cometer publicamente, na sala de aula, por exemplo,
ou frequentemente (ao longo do curso) um ato que está em
contradição com seus valores, a tendência é que ele modifique
seus próprios valores, para diminuir a tensão que lhe oprime.
Ou seja, se um indivíduo foi induzido a um certo tipo de
comportamento, é muito provável que ele venha a racionalizá-
lo. Dispõe-se, assim, de uma técnica extremamente poderosa e
de fácil aplicação, que permite que se modifiquem os valores, as
opiniões e os comportamentos e capacita a produzir uma
interiorização dos valores que se pretende inculcar. Tais
técnicas requerem a participação ativa do sujeito, que deve
realizar atos aliciadores, os quais, por sua vez, os levarão a
outros, contrários às suas convicções. (BERNARDIN, 1995, p. 24)
Essas duas técnicas de manipulação, conhecidas como
“normas de grupo” e “dissonância cognitiva”, já deixam bem
claro o quão importante e valioso é a dinâmica de grupo para
alteração de comportamento e valores. Foi com base em
estudos e experiências como essas, que grandes agências
internacionais resolveram modificar o sistema de ensino e
trazer um novo conceito de educação, dando ênfase e
declarando a importância de se considerar a educação como um
processo de grupo e tornando o aluno um sujeito ativo.
Podemos comprovar isso em um dos documentos publicados
pela UNESCO, em 1964, intitulado A Modificação das Atitudes:

Os teóricos modernos da educação compreenderam que a


transmissão de informações, por si só, não é suficiente para
que se atinjam os objetivos da educação, mas que a
totalidade da personalidade e, particularmente, a situação de
grupo inerente ao processo de aprendizagem possuem uma
importância capital. Kurt Lewin, um dos grandes pioneiros da
pesquisa e da ação combinadas no campo da dinâmica de
grupos, contribuiu muito, junto com seus colaboradores, para
dar à pedagogia essa nova orientação. Ele salientou a
necessidade de se considerar a educação como um processo
de grupo: o sentimento, experimentado pelo indivíduo, de
participar da vida de um grupo é, segundo Lewin, de uma
importância fundamental para a aquisição de ideias novas.
(UNESCO, 1964, p.47 apud BERNARDIN, 1995, p. 44).

Então, não podemos dizer que as crianças na escola


aprendem a conviver com pensamentos diferentes. Elas são
coagidas a reformular a sua forma de pensar e agir, por
sofrerem a pressão do grupo. Não foram poucas as vezes que
eu, como professora, observei alunos fazendo ou falando coisas
que iam totalmente contra aquilo que pensavam ser correto, só
para não sofrerem consequências como rejeição.
Ou seja, o Estado precisa que você acredite que a
socialização escolar é a melhor e única forma do seu filho
participar e se tornar um membro ativo na sociedade. No
entanto, sabemos que, se depender apenas da escola, seu filho
não será um indivíduo com personalidade e opiniões próprias,
pelo contrário, será apenas mais um que, através da pressão do
grupo, submissão a autoridade, discussões de grupos e outras
técnicas utilizadas, acabará caindo na tendência ao
conformismo e se adaptando a opinião da maioria.
No mesmo documento citado, publicado pela UNESCO, é
declarado que “Um grande número de pesquisas demonstraram
que, para colegiais e universitários, o fato de pertencer a grupos
de pares pode ter um efeito cada vez maior sobre a modificação
de suas atitudes à medida que, para eles, esses grupos se
tornam mais importantes como grupos de referência” (UNESCO,
1965, p. 25 apud BERNARDIN, 1995, p. 43). Sabendo disso,
como podemos aceitar que uma criança seja referência para
outra, sendo as duas da mesma idade? Ambas precisam de
direção, pois não sabem muito ou quase nada sobre a vida em
sociedade. Crianças pequenas não são adultos pequenos. Elas
não pensam, agem e reagem como adultos. Seus processos
mentais, emocionais e sociais são bem diferentes.

2.3 – A tão estimada socialização de pares

“Uma das fábulas mais intrigantes e perigosas do século XX


insiste que seus filhos devem ser estimulados academicamente
e socializados desde cedo. Para fazer isso, é dito que você deve
jogá-los no meio da pré-escola ou envolvê-los com muitos de
seus colegas – quanto mais, melhor”. (MOORE, 1976) Essa frase
foi dita por um dos mais conhecidos autores sobre
desenvolvimento humano, Raymond Moore. Depois de várias
pesquisas, ele chegou a concluir que o mito da socialização
pode ser uma grande ameaça.
Em 1902, o Ladies’ Home Journal foi pioneiro em uma
coluna de resposta dos leitores, uma ideia que se tornou muito
comum nos dias de hoje. Acontece que esse jornal começou a
receber várias cartas de pais citando problemas de saúde física
e mental, que foram decorrentes da escolarização precoce.
Houve, inclusive, um experimento feito por vários pais, que
convidavam 20 ou 30 crianças para uma festa de aniversário, o
que deixava as crianças animadas demais para dormir naquela
noite e irritadas no dia seguinte. Porém, quando convidavam
apenas quatro ou cinco crianças, não havia problema. James
Hymes, especialista em primeira infância, aponta que as
crianças pequenas se dão bem em pequenos grupos de dois,
três ou quatro, mas quando o "iniciante social" é colocado em
um grupo maior, geralmente ocorre ansiedade ou tensão. Isso
pode parecer uma animação exagerada, mas para a criança não
é necessariamente alegria (MOORE, 1976).
A sociabilidade de uma criança não depende da quantidade
de crianças com quem ela brinca, mas de sua estabilidade
emocional, seu senso de valor próprio e altruísmo. Geralmente,
esses são fruto da qualidade do exemplo dos pais e da força de
seu apego a pais calorosos e consistentes.
Moore alerta que as crianças podem, de fato, se socializar
na escola, mas que não devemos nos surpreender caso eles
acabem desenvolvendo uma sociabilidade negativa, o que
acontece na grande maioria dos casos. Ele alega que esse tipo
de sociabilidade nasce pelo maior contato e convívio com os
pares e menos contato com os pais.
A influência precoce de crianças da mesma idade,
geralmente, traz uma indiferença aos valores familiares que
desafiam a correção dos pais. Muitas vezes, as crianças
pequenas não entendem o motivo de algumas exigências e
buscam essas respostas em seus pares, já que se tornaram um
grupo de referência para elas, como vimos no resultado do
experimento feito por Sherif.
Na maioria dos casos, a criança deixa seu relacionamento
com os pais para competir com muitos colegas pela atenção do
professor. Assim, acabam se envolvendo tanto com seus pares a
ponto de se tornarem dependentes, buscando sempre pela
aprovação do grupo, na maioria dos casos, pela vida toda.
Essa dependência de pares faz com que a criança perca
auto-estima, otimismo e respeito pelos pais. Na medida em que
a criança é insegura ou dependente de seus pares, ela não terá
um senso de valor próprio. Durante seu crescimento, a
experiência de tomar decisões por conta própria, sem
aprovação do grupo, torna-se traumática. Ou seja, são crianças
que se tornaram ótimos soldados, prontos para cumprir ordens
sem questionar, se adaptar e seguir o caminho da maioria.
O efeito do grupo de pares é catastrófico sobre a criança
cujos valores ainda não estão firmados, e que ainda não se
sente verdadeiramente desejada e necessária. Se não tiver
tempo de desenvolver a independência, ela irá, rapidamente,
imitar as atitudes de seus pares.
Por outro lado, a sociabilidade positiva não é complicada de
se buscar. Ela está fortemente ligada à família. Ou seja, a
criança precisa viver e compartilhar experiências com os pais.
Em outras palavras, a criança que ajuda os pais nas tarefas de
casa, come, brinca, descansa e conversa mais com seus pais do
que com seus pares, sente que faz parte da corporação familiar,
se sentindo necessária, desejada e dependente. Ela terá auto-
estima e será independente em seus valores e habilidades.
Dessa forma, o lar é o melhor lugar para socializar uma criança.
O Dr. Harold McCurdy, da Universidade da Carolina do
Norte, estudou os padrões infantis de 20 gênios selecionados.
Ele concluiu que havia três fatores comuns a esses grandes
homens da história, sendo eles: amor abundante, isolamento de
outras crianças, especialmente das de fora da família e uma rica
formação do imaginário. Infelizmente, McCurdy também
concluiu que o nosso sistema educacional, como funciona hoje,
tem reduzido drasticamente todos esses três fatores citados
acima.
O psicólogo infantil Dr. Urie Bronfenbrenner observa, com
base em suas pesquisas, que as crianças abaixo do quinto ano,
que passam mais tempo com seus colegas da mesma idade do
que com seus pais e com outros adultos, têm uma visão obscura
de seus colegas, pais, de si mesmas e de seu futuro, e são
prováveis candidatas ao fracasso de aprendizagem e à
delinquência. Ele ainda aponta que a retirada da família de suas
funções de criação dos filhos é “um fator importante que
ameaça o colapso do processo de socialização de um país”
(BRONFENBRENNER, 1974, p. 152).
Depois que paramos para analisar esses pontos, é difícil
entender como que um dia nos levaram a acreditar que era
necessário que os nossos filhos fossem para escola com o
objetivo de desenvolver habilidades sociais com outras crianças,
que também estão lá para desenvolver essas mesmas
habilidades sociais. Como podemos ensinar aquilo que não
sabemos? É o que esperamos que aconteça na escola.
Esperamos que as crianças aprendam umas com outras coisas
que nenhuma delas sabe.
Dessa forma, um lar caloroso é, de longe, a melhor escola
de socialização que existe! O vínculo que se cria entre pais e
filhos faz com que as crianças não dependam de seus pares,
mas que aprendam e confiem nas pessoas que mais querem
vê-las felizes. Embora a maioria não saiba, os pais são os
melhores professores que uma criança pode ter.

2.4 – A socialização escolar e o enfraquecimento da família

Vamos voltar um pouco no tempo. Entre o final do século


XVIII e início do XIX, o espírito nacionalista na Alemanha foi
despertado após a derrota sofrida por Napoleão, em 1806.
Fichte atribuiu a derrota alemã ao enfraquecimento da
identidade nacional. Sua crítica foi que a Alemanha tinha se
tornado individualista e perdido o senso de comunidade, que
antes fazia com que seus compatriotas sacrificassem o próprio
bem-estar por amor à nação. Para ele, o pensamento livre do
indivíduo e a sua liberdade de escolher de que modo conduziria
sua formação foram as grandes falhas da educação tradicional.
Como disse Fichte: “Devo responder que esse reconhecimento
e confiança no livre-arbítrio do aluno são os primeiros erros do
antigo sistema”. Esse modelo não atendia aos ideais de uma
nação soberana. Foi quando o governo passou a decidir o que
era melhor para o indivíduo, pois possuía a prerrogativa de lutar
pelo bem comum (HICKS, 2004).
É importante lembrar que, de acordo com Fichte, o lugar
que hoje é considerado o “lugar ideal para socialização” foi
criado, nessa época, para que as crianças fossem separadas da
comunidade e impedidas de entrar em contato com ela.
O ensino tradicional fortalecia a identidade familiar e
cultural a ponto de levar Fichte a dizer que a família atrapalhava
os ideais do Estado. A família se tornou vilã, perpetuando
tradições e valores individualistas que enfraqueciam o poder do
Estado. A escola e a socialização em massa entraram como
forma de impor uma visão de mundo única e totalitária. Vale
lembrar que essa forma de pensar aparece no Manifesto do
Partido Comunista, em 1848: “O comunismo quer abolir as
verdades eternas, suprimir a religião e a moral... [Os
Comunistas] declaram abertamente que seus fins só podem ser
alcançados pela derrubada violenta de todas as condições
sociais existentes”.
É fácil de entender que o estado natural das coisas é que os
pais sejam os responsáveis pela educação dos próprios filhos.
Afinal, são eles que estão interessados na criança como
indivíduo, familiarizados com suas dificuldades, facilidades e
personalidades. Eles realmente querem ver seus filhos felizes.
Desde o surgimento das escolas prussianas, vemos que o
interesse do Estado está em assumir o controle total da
educação das crianças, fazendo com que elas deixem sua
espontaneidade, diversidade e independência, se tornando
homens passivos e ovelhas seguidoras do Estado.
Não pense que isso não acontece hoje. Podemos encontrar
em documentos importantíssimos o desprezo pela família e a
supervalorização da escola. Do ponto de vista de instituições
que controlam a educação mundial, as famílias se tornaram
apenas uma pedra no caminho daqueles que querem educar a
criança para o “bem da sociedade”.
O interessante é que isso está claramente declarado. Basta
analisarmos, mais uma vez, documentos da UNESCO que dizem:

“No que concerne às relações entre pais e filhos,


encontramo-nos diante do seguinte problema: para conduzir
as crianças de modo a aperfeiçoar as relações entre grupos,
necessário seria começar pela modificação de seus pais”.
(UNESCO, 1964, p. 45 apud BERNARDIN p. 43)

“Frequentemente, faz-se necessário sustentar a ação dos pais


e da comunidade através de uma informação permanente e
de atividades de formação, pois a intervenção das famílias
num âmbito que elas não dominam pode se revelar nefasta”.
(UNESCO, 1994, p. 41 apud BERNARDIN p. 55)

“Em resumo, para superar esse modo pouco seguro de


transmissão, para seguir rumo a uma tomada de consciência
pessoal e a uma escolha de valores universalmente válidos, é
necessária uma educação formal que explicite esses valores.
Essa explicitação pode e deve ser feita pela escola. O espírito
crítico [das crianças], tendo por objeto os valores morais, e a
reflexão ética são, portanto, os objetivos da educação formal
nas instituições escolares, a fim de que cada criança, cada
jovem possa, livremente, formar uma consciência ética, a
qual lhe permita discernir o justo do injusto e desenvolver
atitudes e comportamentos fundados sobre o respeito ao
outro, sobre a compreensão do bem comum à humanidade:
os direitos humanos e a paz”. (UNESCO, sem data, p.2 apud
BERNARDIN p. 62)

Em resumo, a família é vista pelo Estado como sendo


incapaz de cuidar e suprir as necessidades dos próprios filhos,
não passando de uma forma, pouco segura, de transmissão de
valores tradicionais que precisam ser extintos. Sendo assim, é
necessário que haja um tratamento especial para os pais, pois
se eles resolverem intervir na educação dos próprios filhos, o
efeito pode ser terrível. Além disso, é preciso ter uma fonte de
transmissão de valores universais, que compactue com os
objetos do governo e, claro, essa fonte é a escola.
Reconheço que, em muitos casos, a família abriu mão do
seu dever e terceirizou a educação de seus filhos. Muitos pais e
mães começaram a colocar em primeiro lugar a realização
profissional e pessoal, deixando de lado um dos seus bens mais
preciosos, a família.
Apesar de saber disso, também percebo que não são
poucas as famílias que se acham incapazes de criar seus filhos
por conta própria. Muitos pais perderam a confiança em sua
capacidade de criar e educar seus filhos por acreditarem que
não têm informações e aptidões necessárias para desempenhar
essa tarefa. Isso está muito claro nos dias de hoje: muitos não
conseguem aceitar a ideia de não enviar o filho para a escola,
como se ela fosse essencial e a única fonte de formação
acadêmica e, ainda, buscam por profissionais especializados em
todas as outras áreas da vida da criança, por acharem que esses
especialistas sabem o que é melhor para seus próprios filhos.
Como complemento do que foi dito neste parágrafo, aqui está
uma citação interessante:

“Psicólogos, assistentes sociais, conselheiros, professores e


outros representantes de um ponto de vista institucional
invadem grandes áreas de autoridade parental, as mais das
vezes a convite. Isto significa que há uma perda da
intimidade, dependência e lealdade que tradicionalmente
caracterizam a relação entre pais e filhos. Realmente, alguns
acreditam agora que a relação pais e filhos é essencialmente
neurótica, e que as crianças são melhor atendidas por
instituições do que por suas famílias”.
(POSTMAN, 2006)

De um lado, o Estado toma para si a responsabilidade de


educar as crianças desde pequenas de acordo com seus valores
e princípios. Por outro lado, vemos pais que permitem que isso
aconteça e, na maioria das vezes, ainda se sentem beneficiados.
A educação familiar foi decaindo e perdendo seu valor diante da
sociedade. O lar, como centro da educação e socialização, foi
transferido para os enormes prédios, mais parecidos com
prisões do que com ambientes saudáveis de convivência
(POSTAMAN, 2006).
Os pais deixaram de ser referência para as crianças, dando
lugar aos seus colegas de sala de aula. Além disso, outro
personagem assumiu um papel de extrema importância nessa
socialização. O papel que deveria ser dos pais acaba passando
para o professor.

2.5 – A socialização escolar e o papel do professor

Eles [os professores] deveriam compreender que seus


papéis e suas funções não são fixos e imutáveis, mas que
evoluem sob influência das mudanças que se produzem
na sociedade e no próprio sistema educacional.
(UNESCO, 1988, p. 13 apud BERNARDIN, 1995, p. 52)

A escola teve o seu papel redefinido. Antes, ela se


preocupava com o desenvolvimento intelectual da criança.
Agora, de forma dissimulada e totalitária, se tornou responsável
por prepará-las para seus papéis parentais, profissionais,
relações sexuais e responsabilidades cívicas. O que antes era de
responsabilidade dos pais e de acordo com o que eles
acreditavam, passou a ser do Estado. Isso está bem claro para o
governo e deveria estar para os pais também, já que tudo está
registrado em documentos de simpósios e reuniões realizadas
pelos líderes mundiais na área da educação.
É claro que alguém iria assumir o papel do pai e da mãe
nesse contexto. Esse cargo foi ocupado por alguém escolhido
pelo governo, para seguir à risca aquilo que ele (o governo)
determinasse como correto.
Leia atentamente o que é proposto pela UNESCO, que tem
influência direta na educação mundial:
“Cabe aos professores tanto transmitir os saberes quanto
compreender seus alunos, bem como as atitudes destes para
com a educação, as atividades recreativas, o trabalho e as
relações sexuais. O professor deve estar aberto ao diálogo
com os jovens e lhes falar das relações humanas, da ética,
dos valores, das atitudes e das modificações de atitudes, das
ideologias, das menoridades étnicas, das enfermidades, dos
ideais e das visões do futuro. [...] Os conteúdos educacionais
devem preparar os jovens para seus papéis futuros (relações
sexuais, papéis parentais e profissionais, responsabilidades
cívicas)”.
(UNESCO, 1889, p. 12 e 13 apud BERNARDIN, 1995, p.49)

O professor se tornou responsável por socializar os nossos


filhos. Socializar nos moldes que vimos nos capítulos anteriores.
Ou seja, o professor começou a ir além da instrução formal,
passando a ser um guia em todas as outras áreas da vida da
criança.
Cursei Pedagogia em uma Universidade Federal e posso
afirmar que esse curso está cheio de doutrinação e técnicas de
lavagem cerebral citadas por Pascal Bernardin, mas esse não é
um assunto para agora. Basta saber que os professores, ou a
maior parte deles, estão educando crianças com os valores e
princípios colocados pelo governo. Temos visto salas de aula,
bibliotecas públicas, e outros ambientes educacionais cheios de
ideologias. Não se engane pensando que um professor não é
capaz de moldar um aluno, muito pelo contrário. Já é
comprovado por pesquisas, que mostrei aqui, a influência e o
poder que uma figura de autoridade pode causar em um grupo
que ainda está em fase de formar sua personalidade, valores e
princípios.
Não pensem também que me refiro apenas às escolas
públicas. Tudo o que falei, e ainda vou falar, se encaixa
perfeitamente em escolas particulares, com algumas raríssimas
exceções.
Além de tudo o que disse acima, a relação artificial entre
professor-aluno faz com que a criança acabe criando uma
definição de autoridade totalmente equivocada. Os professores
não são vistos como uma autoridade legítima (aquela que é
conquistada).
John Taylor Gatto, passou mais de 30 anos em sala de aula,
ganhou o prêmio de professor do ano da cidade Nova York em
1989, 1990 e 1991, e de todo o estado de Nova York em 1991.
Nesse mesmo ano, anunciou que deixaria as classes por não
querer mais “ganhar a vida machucando crianças” e passou a se
dedicar integralmente a escrever e dar palestras contra a escola
obrigatória. Em um de seus livros ele diz o seguinte:

“Através de estrelinhas, riscos de caneta vermelha, sorrisos,


testas franzidas, prêmios, honras e desgraças, ensino as
crianças a cederem sua vontade à cadeia hierárquica
adequada. Direitos podem ser cedidos ou negados por
qualquer autoridade sem possibilidade de apelação, porque
os direitos não existem dentro de uma escola – sequer o
direito à liberdade de expressão, como decidiu a Suprema
Corte – a menos que as autoridades da escola digam que
existem. Como professor, eu intervenho em muitas decisões
pessoais, emitindo um passe livre para aquelas que julgo
legítimas e iniciando um confronto disciplinar para o caso de
comportamentos que ameacem o meu controle. A
individualidade está sempre tentando se auto-afirmar entre
crianças e jovens, então faço meus julgamentos grosseira e
abruptamente. A individualidade é uma contradição da teoria
de classes, uma maldição a todos os sistemas de
classificação”. (GATTO, 2019, p. 46)

A citação acima deixou bem claro o tipo de autoridade que


as nossas crianças veem em sala de aula. É assim que o governo
prefere que as crianças aprendam. Das escolas sairão jovens
formados com os valores e princípios do Estado, e obedecendo
cegamente a um governo que está em busca do seu próprio
benefício.

Você já observou como as crianças e os jovens que


frequentam as escolas interagem com os adultos? Na grande
maioria dos casos, eles não conseguem desenvolver uma
conversa agradável, suas respostas são absurdamente curtas,
quase como apenas “SIM”, “NÃO” ou “TALVEZ”, são frios e, para
ser sincera, são bem estranhos quando o assunto é socializar,
expressar ideias, opiniões, gostos, etc. Os poucos que
conseguem se comunicar de uma forma agradável e natural são
conhecidos como extraordinários. E eles realmente são! Afinal,
são raros e difíceis de encontrar. Tenho certeza que quando
você consegue manter uma conversa com um deles, você logo
pensa “ele parece tão maduro”. Não é comum vermos crianças
conversando com adultos, e muitos acham que isso é normal e
aceitável, afinal, “Criança é criança e adulto é adulto. São
mundos diferentes!”. Você pode até dizer que é por estarem
em outra fase da vida, mas eu te digo que não é essa a razão.
Eles veem os adultos como figuras que não são para se
relacionar ou manter uma conversa como seres humanos
normais. Afinal, na escola, eles passam a ver adultos focados em
planilhas, matérias e cronogramas que precisam ser seguidos.
Esses mesmos adultos, que não têm nenhum vínculo
significativo e espontâneo com eles, lhes dão trabalho para
fazer, lições e provas. Eles mesmos julgam e dão nota. Se você,
por algum motivo, não entrega a tarefa completa, recebe uma
punição que varia entre passar vergonha na frente dos colegas,
notas baixas ou até mesmo expulsão do único “espaço de
socialização”.
O adulto em sala de aula (o professor) está trabalhando ali
em função das crianças, para cumprir seu trabalho. Isso faz com
que eles se tornem pessoas distantes, que não foram feitas para
se relacionar e manter conversas. Em alguns casos, quando a
criança ou o jovem tenta um contato mais próximo, acaba
sendo visto como o “queridinho do professor” e, de imediato, é
envergonhado pelos colegas de classe (HOLT, 2005).
O pouco tempo que passam em casa, onde seria o outro
lugar para se ter contato com adultos, é dividido entre
refeições, dormir, lição de casa e outras tarefas também
imposta pelos seus pais. Não é surpresa que as crianças e jovens
em idade escolar sejam péssimas em se socializar com adultos.
O contato significativo com pessoas mais velhas é raro ou
inexistente.
Zak Slayback, que é o autor do artigo The End of School:
Reclaiming Education from the Classroom (2015), diz que é fácil
de entender a razão da dificuldade que as crianças têm de se
relacionar com os adultos:
“Elas gastaram 15.000 horas de suas vidas jovens
aprendendo que os adultos são pessoas para impor o
trabalho penoso. O pouco tempo que elas poderiam
gastar construindo relacionamentos com adultos é
dedicado a fazer esse trabalho penoso, para que não
sejam deixados para trás. [...] As escolas estão repletas
de bullying, abuso de drogas, fofocas e panelinhas. As
escolas são locais de reprodução para o pior da
socialização”. (SLAYBACK, 2015)

O resultado de tudo isso é: relações familiares abaladas e


autoridade dos pais usurpada por modelos insuficientes e
incompletos. Nem os professores, nem os pais exercem a
autoridade que a criança precisa, pois, a divisão cria um conflito
de poderes natural por se tratar de realidades, valores e
personalidades diferentes.
Sendo assim, percebemos que a ideia de que a criança vai
para a escola para socializar com adultos e crianças de outras
idades não passa de mais uma mentira contada sobre a
socialização escolar.
Capítulo 3 – O que ninguém te fala sobre a
socialização escolar

Você ainda acha que ficar sentado durante horas em uma


sala fechada, sendo forçado a aprender coisas que você não
quer, sabendo que a maioria delas não será realmente útil na
sua vida e convivendo com pessoas que você não conhece, é a
melhor maneira de socializar alguém?
Neste capítulo, vou falar sobre algumas consequências da
socialização escolar que a maioria das pessoas têm medo de
assumir.

3.1 – Efeitos diretos da socialização escolar nos pais

A socialização escolar molda a criança de acordo com os


valores e o querer do Estado, separa os filhos dos pais e dos
irmãos, desgasta relacionamentos familiares, destrói interesses
e quebra vínculos emocionais. Como consequência, muitos pais
e mães perderam a confiança em sua capacidade de educar e
criar seus filhos. Para esses pais, a escola é indispensável na
formação educacional das crianças e, para as demais áreas da
vida, precisam de especialistas para lhe dizerem o que devem
fazer.
Isso só tem formado pais inseguros, que criam filhos ainda
mais inseguros. Vemos pais deixando de lado seus valores e
princípios para seguir “especialistas” em determinados
assuntos.

3.2 – Efeitos diretos da socialização escolar nas crianças e


jovens

Vamos começar com um estudo feito pela Universidade de


Harvard com 10.000 estudantes do ensino fundamental e
médio, o qual revelou que 80% dos jovens acreditam que seus
pais estão mais preocupados com as realizações e conquistas
escolares do que com o cuidado com o próximo. Não é de se
estranhar. Vamos lembrar dos testes aplicados nas escolas.
Aqueles alunos que se saem bem são elogiados e admirados,
enquanto os que mostram notas inferiores ou insuficientes são
ignorados, recebem rótulos não agradáveis e, em alguns casos,
são ignorados ou expostos ao ridículo. A maioria desses testes
nos mostra que o interesse verdadeiro não está em descobrir o
que o aluno sabe, mas descobrir o que o aluno NÃO sabe.
Nesse contexto, surge a disputa e competição entre os
alunos. De um lado a escola valoriza os alunos com as melhores
notas, já aproveitando para fazer sua propaganda. Quantas e
quantas escolas estão por aí estampando em suas portas o
rosto dos “melhores alunos” que entraram em universidades
renomadas. Deixando de lado e ignorando alunos que tiveram
conquistas diferentes, mas não menos importantes (ingressar
em um curso técnico, começar seu próprio negócio, viajar para
aprender culturas de outros países, começar a trabalhar para
ajudar no sustento de sua família, etc.). Do outro lado, os pais
fazem de tudo para que seus filhos alcancem esses primeiros
lugares, sem nem ao menos saber se essa é realmente a melhor
opção para seu filho. Apenas seguem o que a sociedade diz ser
o correto.
Competição, pressão e comparação é o plano de fundo
para o desenvolvimento das crianças. A teoria de que a escola
forma bons cidadãos empáticos é linda, mas na prática não é
isso que vemos. Acabamos descobrindo que, na verdade, a
mensagem transmitida é a de que valorizamos mais a conquista
de boas notas do que a formação de uma personalidade
altruísta.
Como foi dito por Moore (1976), a qualidade da
sociabilidade de uma criança não depende da quantidade de
crianças com quem ela brinca, mas da sua estabilidade
emocional, seu senso de valor próprio e altruísmo. Esses três
fatores contribuirão para o desenvolvimento e desempenho
social e cognitivo. Uma criança bem socializada terá a
consciência e o raciocínio moral estruturados, reduzindo o
preconceito, racismo, bullying, agressão e será capaz de sentir
satisfação no seu relacionamento com o próximo. Não é isso
que encontramos nas escolas.
Brigas, bullying, automutilação, drogas, fofoca, panelinhas
e suicídio são alguns dos resultados da socialização escolar nos
dias de hoje. Tudo isso é responsável por desenvolver seres
humanos fracos emocionalmente, inseguros, sem empatia, com
valores morais, no mínimo, distorcidos pelo Estado, que não
sabem seguir regras, que não respeitam e que não sabem se
relacionar com pessoas diferentes deles. Os professores, diante
de um cenário como esse, ficam de mãos atadas, como vemos
em um caso que aconteceu na Escola Estadual Darcy Pacheco,
em São José do Rio Preto, onde um aluno ateou fogo nos
cabelos da professora e:

“...sob os risos de toda a classe, só uma aluna correu para


ajudar a professora, impedindo-a de sofrer queimaduras
desfigurantes. A Secretaria Estadual de Educação anunciou
que o menino não será punido, porque seu delito “não foi
grave” (sic) e aconselhou seu pai a não transferi-lo para outro
estabelecimento, porque isso poderia trazer dano à sua
carreira escolar. A aluna que socorreu a professora, no
entanto, não tem comparecido às aulas, por medo da
represália de seus colegas. Nenhuma medida para protegê-la
foi anunciada pela Secretaria ou pela diretoria da escola. A
professora, humilhada três vezes – agredida pelo aluno,
ridicularizada pela classe e frustrada em seu pedido de
punição para o agressor – está desesperada e não sabe a
quem recorrer”. (CARVALHO, 2007 apud ZAMBONI, 2011, p.
71).

Ai Koyanagi, que realiza pesquisas na área de transtornos


de saúde mental, em um estudo publicado em 2019 no Reino
Unido, mostrou que na faixa de 11 a 16 anos, pelo menos 17%
dos adolescentes vítimas de bullying consideram tirar a própria
vida para fugir da perseguição. Além disso, 78% afirmaram que
o problema causa ansiedade e 56% afirmam que o problema
pode fazê-los perder noites de sono. Os dados ainda mostram
que 57% das crianças já sofreram bullying em algum momento
da vida escolar e que 74% testemunharam alguém sendo
intimidado. Das crianças que sofrem bullying, 35% começam a
faltar na escola e 20% precisam mudar de escola.
“A influência do grupo determina a conduta aceitável entre
jovens, que são frequentemente cruéis e impiedosos, rindo das
debilidades, e desprezando quem demonstra necessidade de
ajuda”. (ZAMBONI, 2011)

“Dentro de um grupo, diz [Hannah] Arendt (2000), a situação


da criança é pior do que diante de um adulto, pois a
autoridade coletiva – ainda que seja de crianças – é muito
mais forte e tirânica do que a de um indivíduo, por mais
severo que seja. Mesmo os adultos dificilmente são capazes
de suportar o simples fato de ser a minoria de um diante da
maioria absoluta dos outros, mas têm, ao menos, a
capacidade de discutir racionalmente. Exposta à pressão do
grupo, sem experiência da vida e desprovida de mecanismos
de defesa, a criança tende a desenvolver uma reação quase
patológica, entre o conformismo passivo e a delinquência. De
que forma um ambiente conturbado, como a escola, pode
induzir os alunos a assumir comportamentos nocivos pelo
simples desejo de aceitação? Muitos começam a beber e a
usar drogas, praticam vandalismo ou iniciam uma vida sexual
precoce movidos pelo desejo de aprovação”. (ZAMBONI,
2011)
A escola, portanto, pode, por meio de uma péssima e
degradante convivência em grupo, ser extremamente danosa à
formação da personalidade de uma criança, adolescente ou
jovem. Nos dias atuais, com a fragmentação e enfraquecimento
da família, a influência prejudicial da escola é um tanto pior, já
que as crianças não têm o apoio e cuidado dos pais, ficando a
mercê dos diversos grupos sociais que frequentam. Esse era um
dos objetivos de muitos educadores, pois limitando a influência
da família na educação dos filhos, poderiam tornar mais eficaz a
educação desejada pelo Estado.
A socialização escolar não possibilita cultivar a diversidade,
como é dito na teoria. Muito pelo contrário. A escola,
controlada pelo Estado, é capaz de eliminar as diferenças e
simplesmente uniformizar crenças, valores, pensamentos e
atitudes de crianças que ainda estão se desenvolvendo.
E nos casos em que a criança não se ajusta a esse padrão
social da escola? Para essas, na maioria das vezes, o que resta é
um diagnóstico totalmente equivocado.
Você sabe o que é Ritalina? É um remédio que serve como
estimulante cerebral, ou seja, é uma substância que tem a
capacidade de elevar as atividades cerebrais, melhorando o
desempenho cognitivo, concentração e memória. A Ritalina
também modifica ou corrige a transmissão neuroquímica em
áreas do Sistema Nervoso que regulam o estado do humor (o
nível da vitalidade, energia, emoções e a variação entre alegria
e tristeza) (MORGAN, 2016). Esse remédio é usado para o
tratamento de casos diagnosticados como Transtorno do Déficit
de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Nos últimos anos, uma pesquisa do Instituto de Medicina
Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)
mostrou um aumento de mais 775% do uso da Ritalina. Esse
aumento, segundo alguns psicólogos, está diretamente ligado a
“medicalização da educação”, já que houve também o aumento
de crianças e adolescentes sendo excessivamente medicados
para aumentar o rendimento escolar e para se adequar aos
padrões de produção e comportamento. O fato de a criança não
aprender ou não se comportar da forma esperada no ambiente
escolar é relacionado a uma doença. Sem sombra de dúvidas,
diagnósticos como esse, quando são dados erroneamente, são
nocivos para o desenvolvimento de uma criança.

“Se você quer influenciar [o aluno] de alguma forma, você


deve fazer mais do que simplesmente falar com ele; você
deve moldá-lo, e moldá-lo de tal maneira que ele
simplesmente não possa querer outra coisa além do que você
deseja que ele queira”. (FICHTE, 1807)

Essa frase foi dita por Fichte, o idealizador da escola


obrigatória. Podemos ver que ele teve uma grande influência no
sistema educacional da forma como temos hoje.
A socialização escolar é mais um dos instrumentos usados
para uniformizar, suprindo diferenças e vozes discordantes. Por
meio dela, a escola pode alcançar o seu objetivo de moldar a
mente e o comportamento do cidadão.
John Dewey, patrono da educação moderna, e com grande
influência no Brasil, acreditava que uma das grandes virtudes da
escola era sufocar a possibilidade de pensamento
independente, porque “as crianças que sabem pensar por si
mesmas estragam a harmonia da sociedade coletiva que está
por vir, onde todos deveriam ser interdependentes” (DEWEY,
apud ALLIANCE, 2008 apud ZAMBONI,2011).
Capítulo 4 – E agora, o que devemos fazer?

Nós somos os responsáveis pela educação e formação dos


nossos filhos. Não devemos transferir essa responsabilidade
para mais ninguém! Não há uma pessoa, no mundo todo, mais
capaz de educar o seu filho do que você mesmo. Então faça
isso!
Não estou dizendo que os pais não devam colocar seus
filhos na escola, mas, sem sombra de dúvidas, eles precisam
abrir os olhos e enxergar as falhas do atual sistema de ensino,
para que consigam reparar os danos que ele mesmo causa. Não
caia em todas as promessas feitas sem ao menos analisar a
realidade. Ouça, observe e tire a sua própria conclusão.
O fato de você ter chegado até aqui na leitura deste livro,
mostra o comprometimento e preocupação que você tem com
a formação do seu filho. Há muito o que se fazer para que
nossos filhos tenham uma educação íntegra e de valor.
A partir de agora, quero te mostrar que é possível
repararmos esses danos e que não somos obrigados a fazer com
que nossos filhos se enquadrem nesse molde da socialização
escolar.
Com certeza uma das melhores opções que alguns de nós
temos para sair do modelo escolar é a Educação Domiciliar. Já
que ela permite que você eduque seus filhos integralmente,
levando em consideração seus princípios e valores, sem se
deixar ser dominado pelo sistema escolar e seu conteúdo.
Porém, como eu disse, apenas alguns têm essa opção. Por isso,
as dicas e soluções que trarei aqui serão para famílias que
optaram pela Educação Domiciliar, e também para famílias que
escolheram o sistema escolar por ser a melhor opção para sua
família.
O primeiro passo é entender que é nossa a
responsabilidade de educar os nossos filhos, e não devemos
transferi-la. Aqui, me refiro a qualquer área de formação, seja
ela intelectual, emocional, espiritual, social ou física. A escola
pode ser uma das ferramentas que usamos para a educação dos
nossos filhos, mas a responsabilidade é inteiramente dos pais
ou responsável. Se a ferramenta escolhida não está
funcionando como você espera ou como deveria, cabe a você
exigir ou promover uma mudança.
Sabendo que a socialização faz parte da educação integral
dos filhos e é responsabilidade dos pais, o segundo passo é
buscar meios de suprir o que está faltando e, muitas vezes,
buscar meios de reparar os danos que foram e que podem ser
causados. Para isso, você precisa observar seu filho. Observar o
que tem sido ensinado em suas escolas sobre atitudes,
comportamento e valores. Assim, você conseguirá ver o que
precisa melhorar e o que vai precisar ensinar de outra forma.
Se você conseguir cumprir os dois primeiros passos citados
acima, o restante será mais fácil do que imagina.

4.1 – A família como principal instituição socializadora


Como foi dito por Moore, a socialização nunca é neutra. Ela
tende a ser positiva ou negativa. Com provas, vimos como a
socialização escolar é negativa e queremos fugir dela. A
socialização positiva está totalmente ligada à família, como já
foi dito, é fruto da estabilidade emocional, senso de valor
próprio e altruísmo. Nós, como pais, somos responsáveis por
desenvolver essas três qualidades em nossos filhos.
Podemos começar com o exemplo de uma mãe que mostra
e convida seu filho a participar das tarefas domésticas.
Enquanto a criança é pequena, ela está apenas “brincando de
casinha”. Quando começa a andar, já pode aprender a guardar
seus brinquedos, ajudar a arrumar as camas, puxando a colcha
ou alisando os lençóis. É claro que não será uma tarefa fácil no
início, mas com paciência e perseverança essa mãe estará
plantando uma sementinha de ordem e responsabilidade. Logo,
a criança se sentirá necessária, desejada, dependente e parte
de uma corporação familiar. Aquelas sementinhas plantadas
florescerão em autoconfiança e altruísmo.
O trabalho conjunto entre pais e filhos cria um vínculo de
reciprocidade. Uma criança encontra um pedaço de galho de
uma árvore, rapidamente esse galho se transforma em um
avião, então, o pai ajuda a construir um cenário imaginário e
eles começam a brincar juntos. A criatividade estimulada e
companheirismo que a criança encontra no pai constroem uma
independência desejável. Essas experiências são os tijolos, a
argamassa e o reforço da auto-estima e de uma sociabilidade
positiva.
Em outras palavras, a criança que é ativa nas atividades de
casa, brinca com os pais e irmãos, come, descansa e passa mais
tempo com seus pais do que com seus pares, acaba se tornando
produtiva, autodirigida, capaz de evitar armadilhas como a
dependência de pares e independente em suas habilidades e
valores.
Não se preocupe com uma educação sofisticada ou com um
número alto de crianças para brincar com seu filho. Ele precisa
de um lar acolhedor, receptivo, consistente e de bons exemplos
em quem possa se espelhar. A família é a esfera educacional
fundamental para a criança. De forma natural, há uma ligação
profunda e um vínculo concreto. Não podemos deixar que esse
vínculo seja quebrado. Também não podemos permitir que
alguém tente nos convencer de que não somos capazes de
educar os nossos filhos.

4.2 – Socializar é viver!

Devemos lembrar que a socialização acontece desde o


nascimento até o final da vida. Todos nós ainda estamos em um
processo de socialização, e esse processo envolve outras
pessoas também. Como falamos no início, é muito importante
que a criança tenha contato com outras crianças, jovens,
adultos e idosos, mas é importante lembrar que os pais são
responsáveis e devem, portanto, estarem atentos aos grupos de
convivência que inserem a criança.
Abaixo estão algumas formas e ambientes diferentes para
se desenvolver uma socialização saudável e produtiva:

- Frequente parques, brinquedotecas, praças, clubes, etc. -


Nesses ambientes as crianças poderão ter contato com outras
crianças de idades diferentes, e você poderá guiar essa
interação sempre que necessário;

- Proporcione ao seu filho a prática de esportes e atividades


coletivas (teatro, música, artes, idiomas, etc.) – Em algumas
cidades, essas atividades são oferecidas gratuitamente pela
prefeitura;

- Deixe que a criança participe com você das suas atividades


fora de casa (ida ao mercado, ao shopping, abastecer o carro,
andar de ônibus, metrô, etc.) – São ótimas oportunidades para
fortalecer o vínculo e fazer com que a criança se sinta
necessária ao te ajudar;

- Procure oportunidades e espaços de convivência com outras


faixas etárias (visitas a casas de repouso, orfanatos, etc.) -
Ensine seu filho como se portar em cada lugar, respeitando as
diferenças e necessidades de cada um;

- Faça trabalhos voluntários – Atividades como essa ajudam a


desenvolver o altruísmo e fazer a criança se sentir útil, além de
interagir com pessoas de diferentes realidades;
- Convide familiares e amigos para momentos de lazer em sua
casa;

- Convide colegas e amigos dos seus filhos para passar um


tempo em casa com vocês – É uma ótima forma de conhecer as
pessoas com quem seus filhos estão andando;

- Use os acontecimentos da vida para ensinar seu filho - O


nascimento, a morte, a perda de um emprego, a realização de
um sonho e uma gravidez são exemplos de momentos que
podem trazer lições para a vida de uma criança. Não podemos
simplesmente deixar que elas aprendam sozinhas ou que outras
pessoas ensinem como elas devem reagir a cada uma dessas e
outras situações.

Enquanto você participa de cada um desses momentos com


o seu filho, ensine como deve ser o comportamento em cada
um desses lugares e em cada momento específico. Ensine como
ele deve tratar cada um e como ele deve esperar ser tratado.
Enquanto socializamos os nossos filhos, também estamos
ensinando valores que moldarão o caráter e a personalidade
deles. Esse é o papel dos pais. Nós somos responsáveis pela
educação integral dos nossos filhos. Não delegamos essa
responsabilidade a ninguém. Usamos ferramentas que nos
ajudam a alcançar o objetivo que temos para eles, mas sempre
observando e analisando se essas ferramentas estão ajudando e
realmente nos fazendo avançar sem que desviemos do nosso
alvo.
Capítulo 5 – Falácias sobre a socialização

Existem alguns argumentos que sempre aparecem quando


o assunto é socialização. Argumentos que enaltecem a
socialização escolar, mas que são criados com base em
mentiras, deduções ou afirmações que são falhas em seu
raciocínio. Irei colocá-los aqui e, logo em seguida, apresentar
alguns dos motivos que tornam esses argumentos inválidos ou
falsos. Isso pode te ajudar na hora de explicar ou expor seu
ponto de vista para outra pessoa.

“A criança precisa aprender com outras crianças da sua idade”.


A criança precisa de outras crianças, desde que estejam em
um ambiente saudável, em grupos pequenos e com adultos que
possam guiar as relações de uma forma saudável. Caso
contrário, as relações entre crianças da mesma idade podem se
tornar catastróficas. O efeito do grupo de pares é fortíssimo
sobre a criança que ainda não tem seus valores estabilizados e
que não se tornou independente. Nesses casos, a criança tende
a imitar rapidamente as atitudes e atividades de seus pares.

“Os conflitos entre as crianças são necessários para que elas


aprendam a resolver problemas”.
A capacidade de julgamento da criança ainda está em
desenvolvimento. Ou seja, elas precisam de um adulto que as
instrua diante das questões reais da vida, que acontecem no
mundo real, e não na escola. Educação é um discipulado em
que o aluno aprende com o mais experiente através das
circunstâncias que se interpõem na caminhada da vida. É um
ensino oral e prático.

“O professor servirá como mediador dos conflitos”.


As crianças não precisam de alguém para mediar conflitos.
Elas precisam de adultos que irão ensiná-las e guiá-las no
caminho que devem seguir e na decisão que devem tomar
durante cada conflito. Esse não é o papel do professor, mas dos
pais. Essas orientações devem ser feitas com base nos valores e
princípios de cada família.

“A criança precisa ter contato com outras visões de mundo.


Precisa aprender a lidar com o diferente e saber cultivar a
diversidade”.
O próprio sistema escolar faz com que o ambiente deixe de
ser diversificado. A escola, controlada pelo Estado, elimina as
diferenças, uniformizando o comportamento e a forma de
pensar das crianças. Ou seja, como vimos, a escola está mais
para eliminar as diferenças do que para cultivá-las.
“A socialização escolar faz com que a criança aprenda a viver
em sociedade”.
Para que uma criança aprenda a viver em sociedade é
preciso que ela participe da sociedade. A ideia de que para
ensinar uma criança sobre o mundo você precisa tirá-las dele e
trancá-las em uma sala durante 6 horas por dia é
incompreensível. A socialização verdadeira se dá nos mesmos
lugares de qualquer outra pessoa: no mundo.
“A socialização escolar faz com que as crianças aprendam a
trabalhar em grupo”.
As escolas estão cheias de bullying, fofoca e panelinhas. O
sentimento que prevalece não é o de trabalho em grupo. Pelo
contrário, as avaliações que medem o desempenho dos alunos
acabam gerando grande competitividade entre eles.
Conclusão

O controle educacional foi tirado dos pais. O Estado se


tornou o educador. Aqueles que estavam no poder perceberam
o valor de monopolizar a educação e fazer com que ela fosse de
controle exclusivo do Estado. As crianças eram tiradas cada vez
mais cedo de seus pais para que as ligações com o passado
fossem quebradas e, assim, a reforma social aconteceria
rapidamente.
No livro Princípios do Comunismo, publicado em 1847,
Friedrich Engels (coautor do Manifesto Comunista, junto com
Karl Marx) defende a ideia de que as crianças, assim que não
precisassem mais dos cuidados da mãe, deveriam ser entregues
a instituições nacionais e à custa da nação. Engels deixa bem
claro o que pensa a respeito do papel da família:

Em resumo, estamos cumprindo seriamente a demanda


do nosso programa para a transferência da função
econômica e educacional da família em si para a
sociedade. (...) As crianças são criadas sob condições
mais favoráveis que em casa. (ENGELS, 1847 apud LEE,
1974, p. 350)

Nesse contexto, a socialização, que é parte fundamental da


educação de uma criança, passa a se tornar também uma
responsabilidade do Estado. A escola surge como única forma
de educação e convívio social possível. Ambientes que mais
parecem, como afirmou Gatto (2008), “enormes laboratórios de
psicologia comportamental”.
A socialização escolar tão sonhada e perfeita não existe. É
uma Socialização de Faz de Conta! Na realidade, vemos crianças
forçadas a estarem durante horas trancadas entre quatro
paredes com pessoas que provavelmente nunca mais verão na
vida.
A escola, da forma como conhecemos hoje, segue um
padrão que foi desenvolvido a partir de uma necessidade de
força de guerra e trabalho, e tem servido ao Estado como forma
de controle social, seguindo padronizações que são necessárias
para finalidades específicas e, como foi apresentado neste livro,
nenhuma dessas finalidades é a felicidade e desenvolvimento
do seu filho.
A socialização escolar vem sendo apenas uma desculpa
para que as crianças sejam tiradas tão prematuramente de suas
casas e de suas famílias. A função principal da escola, que é a
instrução intelectual, passou a ser segundo plano. A grande
maioria aceitou a ideia de que a escola deve assumir o papel de
formar seres aptos a participar da vida em sociedade, e
simplesmente excluiu o papel da família nesse processo.
O que temos visto acontecer é uma completa distorção do
significado de “socialização”. Deixaram-nos acreditar que a
socialização longe da família é o melhor e único caminho para a
vida adulta, porém, temos visto que o resultado disso tem sido
terrível. Nos dias de hoje, a criança está muito perto de se
tornar alguém isolada no seu mundo, mesmo em meio aos
inúmeros ambientes sociais nos quais está inserida.
Não devemos nos conformar com essa realidade. Durante a
maior parte da história, a socialização ocorreu na família
nuclear (mãe, pai e filhos) e ampliada (avós, tios, primos, etc.).
As crianças são muito bem socializadas pelos seus pais, não
por outras crianças. Um lar caloroso faz com que as crianças
saibam que são parte de uma unidade familiar que precisa e
depende dela. Ela não precisa seguir a multidão ou ser
comparada continuamente a seus pares. A interação com seus
pais e irmãos faz com que a criança tenha uma oportunidade
maior de desenvolver estabilidade emocional, senso de valor
próprio e altruísmo. Essas qualidades são indispensáveis para se
tornar um pensador independente, que não é influenciado
pelos colegas e é responsável em suas ações e pensamentos.
A socialização, como o aprendizado e a vida, acontece
todos os dias. Como você interage com seus filhos, como eles
observam você interagir com o mundo exterior e como você os
guia em suas interações com o próximo, deve ensinar a eles
todas as habilidades sociais que eles precisam saber.
Se você agir agora, os seus filhos verão a família como um
refúgio. Esse ambiente, repleto de intimidade e segurança, será
a base para a formação de sua personalidade.
Nós, pais, somos as pessoas mais capacitadas para educar
integralmente os nossos filhos, e precisamos fazer isso!
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