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PSICOLOGIA GERAL

A ORIGEM DA PSICOLOGIA

A humanidade desde sempre colocou inúmeras questões acerca do mundo que a rodeia,
procurando respostas que lhe atenuassem a angústia e a inquietação. Contudo, a Natureza não foi
o único objecto destas interrogações. Este também passou a reflectir sobre si mesmo e sobre a
vida humana, nomeadamente sobre as suas emoções, inquietações, sentimentos, o porquê da
existência, do nascimento, da morte… É deste modo que nasce o conceito de alma, onde reside a
raiz etimológica da psicologia: psiché (alma) + logos (razão, estudo). Todavia, o termo
psicologia só aparece no século XVI com Rodolfo Goclénio.

Tem-se afirmado que a Psicologia é uma ciência com um longo passado, mas com uma curta
história. Tal frase lança luz sobre o facto de os povos de todos os tempos e de todas as culturas se
terem ocupado dos problemas da alma e da vida humanas. A partir dos testemunhos escritos que
nos ficaram das antigas culturas da Índia, China, Ásia Anterior, do Delta e do Nilo, a partir de
mitos e contos populares bem como de obras eruditas, podemos depreender que os homens
sempre reflectiram sobre a alma, sobre a morte e sobre a imortalidade, sobre o bem e o mal e
sobre as causas dos seus medos e preocupações.

A nossa ciência ocidental, assim como a psicologia, remontam à Grécia Antiga, pelo que o
antigo escrito do filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) “Acerca da Alma”, é designado
muitas vezes como o primeiro manual de Psicologia. De facto, este grande mestre da ciência
antiga tratou de quase todos os problemas que ainda hoje nos ocupam; interessou-se de modo
muito especial pela questão dos fundamentos biológicos da vida anímica e do desenvolvimento
anímico. É sua a tese de que o todo vem antes das partes e é, portanto, mais do que o somatório
das suas partes. Por exemplo: cada floresta é mais do que o somatório das suas árvores, arbustos
e ervas que a constituem e dos animais que nela habitam, é uma totalidade própria com
características especiais que pertencem à totalidade. Porém, tais totalidades existem igualmente
no domínio psíquico. Esta concepção opõe-se à de Wilhelm

Wundt (1832-1920), de que o todo da mente é constituído a partir de processos elementares, a


qual dominou, a princípio, a moderna Psicologia Científica, orientada pelo pensamento atomista
da Física. Os Gregos consideravam a alma como o sopro da vida, como o que vivificava a vida.
Como, porém, se realizava essa vivificação foi problema que permaneceu tão discutido quanto
insolúvel. Tales de Mileto, muito antes de Aristóteles, considerou o movimento como o essencial
para a vivificação; alguns filósofos da Antiga Grécia pensavam que a alma era “ar”, outros, que
eram os odores os elementos vivificantes. Platão (427-347 a.C.) qualifica alma de ser espiritual;
o seu discípulo Aristóteles considerava-a como uma força, aliás, incorpórea mas que movia e
dominava os corpos.

A par de tais concepções, adquiridas exclusivamente pela especulação, existiam, contudo


também já na Antiguidade, estudos amplos sobre processos cerebrais, sobre as funções dos
órgãos sensoriais e sobre perturbações destas funções em caso de lesões cerebrais. Ao grande
médico grego Hipócrates (cerca de 400 a.C.) remonta a doutrina dos quatro temperamentos,
retomada e desenvolvida pelo médico romano Galeno (131 até 201 a.C.). Segundo ele, existem
quatro temperamentos, determinados pela predominância de um dos quatro “humores”: o
sanguíneo (sangue: folgazão e superficial), o colérico (bílis amarela: vontade forte e iras
repentinas), o melancólico (bílis negra: pensativo e triste) e o fleumático (muco: sossegado e
inactivo). Apesar do seu funcionamento pseudocientífico, a doutrina dos quatro temperamentos
afirmou-se na prática; os quatro tipos foram finalmente introduzidos como noções da nossa
linguagem do dia-a-dia. De interesse para a Psicologia actual é o Doutor da Igreja Santo
Agostinho (354-430) pelo facto de ter descoberto dois métodos importantes: o da auto-
observação e o da descrição da experiência interior.

A IMPORTÂNCIA DE JOHN LOCKE NA PSICOLOGIA

Podemos agora passar por sobre vários séculos até chegarmos ao próximo pensador que voltou a
influenciar a Psicologia de modo decisivo: trata-se de John Locke (1632-1704), ao sublinhar o
papel que desempenham as impressões sensoriais para o desenvolvimento da nossa experiência.
Imaginou o espírito da criança como uma folha de papel em branco (tabula rasa) na qual são
“registadas” as experiências.

Já Aristóteles se ocupara das associações, da combinação de duas ou mais representações ou


vivências parciais. O facto de David Hume (1711-1776) ter retomado e aperfeiçoado a teoria
aristotélica das associações demonstrou ser de extraordinária importância, também para a actual
Psicologia. Hume ensinou que as representações eram imagens de impressões sensoriais e se
encontravam ligadas umas às outras com base em leis mecanicamente funcionais. Continuando o
pensamento de Aristóteles, formulou as leis da associação do contacto espaço-tempo, da
semelhança, do contraste e da casualidade.

A INFLUÊNCIA DE DARWIN

Toda a Psicologia fora praticada até aos meados do século XX de modo predominantemente
especulativo: julgava-se poder solucionar todos os problemas pensando. O principal impulso
para o procedimento empírico na psicologia -para o método de observação e experiência -
proveio, como Ernest Hilgard, entre outros, acentuou, de Charles Darwin (1809-1882), o
fundador da moderna doutrina genética e da hereditariedade. A obra monumental de Darwin,

“A Origem das Espécies” (1859), influenciou de modo revolucionário quase todos os domínios
da ciência; Charles Darwin, porém, a par das suas investigações biológicas ocupou-se igualmente
de uma série de problemas que hoje denominaríamos de psicológicos. Hilgard aponta estas
relações num estudo sugestivo “A Psicologia após Darwin”.

Frisa como as ideias de Darwin deram um novo impulso à investigação psicológica e


constituíram o fundamento para muitos campos da moderna Psicologia: a Psicologia do
Desenvolvimento e a Psicologia Animal, o estudo da expressão dos movimentos afectivos, a
investigação das diferenças entre os diversos indivíduos, o problema da influência da
hereditariedade em comparação com a do meio ambiente, o problema do papel da consciência e,
logo a seguir, o estudo experimental das funções anímicas e a introdução do princípio
quantitativo da investigação.
O historiador Boring, cuja formação académica remonta a Wilhelm Wundt passando por Edward
E. Titchener, afirma, em determinado passo, acerca da psicologia americana: “herdou o corpo da
investigação experimental alemã; o espírito, porém, provém de Darwin”. Refere-se assim à
tradição americana fundada com base em William James (1842-1910) e John Dewey (1859-
1952) que diferentemente da tradição alemã criada por Wundt -transfere para primeiro plano as
questões da Biologia, do Desenvolvimento e da Actividade Anímica.

Historicamente é interessante verificar que as primeiras publicações de Fechner e Wundt sobre


as Percepções Sensoriais surgiram ao mesmo tempo que a “Origem das Espécies” de Charles
Darwin: os “Elementos de Psicofísica” de Fechner apareceram em 1860 e os “Contributos para
uma Teoria das Percepções Sensoriais” de Wundt, no ano de 1862.

WUNDT: DA PSICOLOGIA EXPERIMENTAL FISIOLÓGICA À PSICOLOGIA DOS


POVOS

O lugar de primazia que Wundt ocupa entre os psicólogos e a sua influência internacional,
absolutamente espantosa, têm fundamento numa série de circunstâncias Wundt não se limitou a
criar em 1879, em Leipzig, o primeiro laboratório destinado à investigação experimental dos
fenómenos da consciência, facto que muitos consideraram o início da Psicologia como ciência
independente. Desenvolveu, além disso, um sistema amplo da nova ciência, desde a Psicologia
Experimental Fisiológica até à Psicologia dos Povos. E, finalmente, possuía invulgar capacidade
e fecundidade de trabalho. A concepção da Psicologia de Wundt era orientada pela Física. Tal
como o físico, ele pretendia encontrar elementos e processos elementares; a partir deles pensava
poder construir a alma como um todo. No entanto, também ele próprio, no fundo, não estava
absolutamente convencido desta ideia, como demonstra o facto de ter esperado que a Psicologia
dos Povos fornecesse de qualquer modo conhecimento para os fenómenos mais complicados da
alma. Contudo -como Karl Bühler apontou mais tarde na sua “Crise da Psicologia” -Wundt
nunca desenvolveu nas suas meditações o seu conceito da alma dos povos até às últimas
consequências.

Apesar da grandiosa concepção fundamental, a Psicologia dos Povos de Wundt não levou a
quaisquer resultados duradouros precisamente no que se refere à compreensão dos fenómenos
mais complicados e muito menos do desenvolvimento humano. Enquanto Wundt se agarrava
teimosamente à ideia da sua Psicologia dos Povos, outros estudavam os fenómenos de maturação
por meio da observação de animais e de crianças. Este ramo da Psicologia, que incide
exclusivamente sobre a observação do comportamento animal e humano e dos processos de
maturação de tal comportamento, foi, de início, prosseguido principalmente pelo círculo de
investigação anglo-saxónico.

De Francis Galton, Lloyd Morgan, William McDougall a Thorndike, Yerkes e John B. Watson,
encontramos uma série de investigações brilhantes que se ocupam das questões da
hereditariedade, do comportamento animal, dos instintos, do comportamento infantil. John B.
Watson é verdadeiro fundador do Behaviorismo como doutrina que pretendia basear
exclusivamente no estudo do comportamento observado todas as conclusões acerca do
desenvolvimento infantil.

Hoje em dia a Psicologia Animal e a Psicologia Infantil constituem dois ramos espantosamente
vastos e significativos da investigação psicológica. A tradição das observações realizadas em
animais foi continuada em muitos países; e, pela comparação sagaz do comportamento animal e
humano, levada a efeito nas investigações de Wolfgang Köhler, Howard Liddel, Nikolaas
Tinbergen, Konrad Lorenz e Otto Koehler, permitiu que se obtivessem conhecimentos
fundamentais sobre as funções psíquicas em diferentes fases do desenvolvimento.

É do conhecimento geral o grande incremento sofrido pela Psicologia da Criança e do


Adolescente; amplificadas ao âmbito da investigação experimental, desde Karl Bühler e David
Katz até Arnold Gesell e Jean Piaget. Mas não só na Psicologia Evolutiva como também no
próprio círculo dos continuadores de Wundt, entre os investigadores experimentais das funções
psíquicas, se deu uma insurreição contra a sua Psicologia Atomista e Associativa.

PSICOLOGIA DA INTELIGÊNCIA E DA FORMA

Devemos referir-nos primeiramente aos psicólogos da inteligência e da forma, que seguiram a


doutrina de Franz Brentano (1838-1917), Christian von Ehrenfels (1859-1932) e Edmund
Husserl (1859-1938). Estes dois grupos, que costumam normalmente ser designados por Escola
de Würzburg e a de Berlim, insistiam em que a compreensão de relações de sentido e a
percepção de formas, ou seja, de formas e totalidades, são processos de uma espécie própria e
não se podem explicar como sendo formados por elementos. Apresentavam, além disso, a
comprovação experimental para exactidão da sua tese. Não são as representações, mas sim as
suas relações que decidem do sentido de um pensamento, assim respondeu corajosamente Karl
Bühler, um dos mais jovens representantes da Escola de Würzburg, a uma crítica severa por
parte do grande mestre Wundt.

Tal como Oswald Külpe, Narziss Ach, Karl Bühler e Otto Selz demonstraram o princípio da
atribuição de sentido no pensamento, assim mostraram Max Wertheimer, Wolfgang Köhler, Kurt
Koffka, Kurt Goldstein, e mais tarde Kurt Lewin, os fenómenos estruturais na percepção. Estas
são operações específicas, por meio das quais se constroem as nossas percepções: é que acontece
que as impressões sensoriais não são simplesmente reflectidas e ligadas umas com as outras, mas
dá-se a partir de diferentes centros cerebrais uma projecção das impressões sensoriais em
diferentes direcções.

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