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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

PRÁTICAS PARENTAIS COERCITIVAS E POSSÍVEIS


IMPACTOS NO DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DAS
CRIANÇAS: UMA REVISÃO DA LITERATURA BRASILEIRA

AMANDA RODRIGUES

Orientador: Prof. João Josué da Silva Filho

Co-orientadora: Profa. Eloisa Helena Teixeira Fortkamp

Florianópolis, SC

2013

0
Agradecimentos

A todos que contribuíram para que meu trabalho fosse realizado.

Ao meu orientador professor João Josué da Silva Filho, que acreditou na importância
deste trabalho para área da Educação Infantil, por ter sempre me guiado quando parecia
estar perdida e foi me ensinando a ter o olhar sempre atento às crianças.

A minha co-orientadora professora Eloisa Helena Teixeira Fortkamp que, mesmo


distante, foi fundamental para meu trabalho, por ser tão atenciosa e paciente em me
ouvir quando não sabia mais o que fazer e por onde caminhar, por ter me enriquecido de
informações, por ter me ensinado o quanto é importante conhecermos as crianças, além
da aparência para entender a sua essência.

Ao meu namorado Eduardo que nos minutos no cansaço do trabalho, nunca deixou de
acreditar em mim até mesmo quando nem eu mais acreditava.

Ao meu padrasto e minha mãe que sempre acreditaram em cada passo que eu seguia na
minha vida.

Aos meus amigos que sempre estiveram presentes quando eu precisava e quando não
precisava também, mas apenas pelo prazer da companhia.

A todas as pessoas que passaram na minha vida e me ensinaram a ser o que sou hoje,
que me ensinaram bons valores, que me ensinaram a entender as minhas dores quando
estas pareciam insuportáveis e o mais importante, me ensinaram a olhar a dor do Outro
e saber que nada está perdido e que sempre podemos recomeçar.

Meu muito obrigada a todos que me tornaram a pessoa que sou hoje!

1
“Tratar biena un niño es también darle lós uitensilios para que desarrolle su
capacidade de amar, de hacer el bien y de apreciar ló que es bueno y placentero. Para
ello debemos ofrecerles la possibilidad de viivir en contextos no violentos, donde lós
buenos tratos, la verdad y la coherencia sean los pilares de su educación”.

Jorge Barudy (Los buenos tratos de la infância,2009,p.75)

2
Resumo

O presente trabalho é uma revisão bibliográfica da produção acadêmica brasileira


relacionada as práticas educativas coercitivas e o impacto destas no desenvolvimento
infantil. Realizou-se um levantamento bibliográfico por meio de palavras-chave em
bases de dados nacionais, sendo obtidos 11 artigos. Delineando a estruturação do
trabalho, primeiramente foi desenvolvido um breve histórico sobre a criança,
concepções prevalentes em cada época, por conseguinte foi discutido as práticas
parentais, compreendidas como estratégias dos pais para educar seus filhos, com um
intuito de aprofundar práticas indutivas e coercitivas. Em seguida, abordam-se os estilos
parentais, definidos como conjunto de atitudes que incluem práticas parentais e a
dimensão afetiva. Baumrind (1966, 1971) e Maccoby e Martin (1983) desenvolveram
quatro estilos parentais a partir de duas dimensões: controle e suporte surgindo um
modelo: autoritativo, autoritário e permissivo e negligente. Complementando as
práticas parentais positivas, Gomide (2003) divide em dois grupos: monitoria positiva e
comportamento moral e as negativas, divididas em cinco grupos: punição inconsistente,
monitoria negativa, disciplina relaxada, abuso físico e negligência.O texto fornece
elementos para explicitar como a violência contra as crianças no contexto familiar pode
ser a curto ou longo prazo, nocivo para o desenvolvimento emocional/psicológico, na
faixa etária de 0 a 6 anos. Neste sentido, pretende-se fornecer argumentos para a
orientação de pais que possam reconhecer as práticas educativas coercitivas como
nocivas para o desenvolvimento de seus filhos e, uma vez que as crianças são
socializadas cada vez mais precocemente em ambientes coletivos de socialização, no
caso, as creches e pré-escolas, os professores podem ter uma contribuição importante no
sentido de sinalizar às famílias sobre os efeitos positivos das práticas educativas
indutivas.

Palavras-chaves: Desenvolvimento da Criança. Práticas Educativas Coercitivas.


Punição Física. Estilos Parentais.

3
Abstract

The present work is a Brazilian review literature which discusses coercive parenting
practices and the impact on child development. We conducted a literature review using
keywords in national databases, it was found 11 articles. Outlining the structure of the
work, first we developed a brief history of the child, conceptions prevalent each season
therefore discussed parenting practices, understood as strategies of parents to educate
their children, with a view to enhancing inductive practices and coercive. Then covers
up parenting styles, defined as a set of attitudes that include parenting practices and
affective dimension. Baumrind (1966, 1971) and Maccoby and Martin (1983)
developed four parenting styles based on two dimensions: control and support an
emerging model: authoritative, authoritarian, permissive and neglectful.
Complementing the positive parenting Gomide (2003) divided into two groups: positive
monitoring and moral behavior and negative divided into five groups: inconsistent
punishment, negative monitoring, relaxed discipline, physical abuse and neglect. The
work provides elements to explain how violence against children within the family can
be short or long-term harmful to the emotional/psychological, aged 0-6 years. In this
way, we intend to provide arguments for the guidance of parents who can recognize the
coercive parenting practices as harmful to the development of their children and, since
children are socialized increasingly earlier in collective environments socialization, in
case, nurseries and pre-schools, the teachers may have an important contribution in
order to signal to families about the positive effects of educational practices inductive.

Keywords: Child Development. Educational Practice Coercive, Physical Punishment,


Parenting Styles.

4
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................6

2. PROBLEMATIZAÇÃO ...........................................................................................................8

3. OBJETIVOS ..........................................................................................................................11

5. ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS ......................................................................12

5.1. ACHADOS DA PESQUISA ...........................................................................................15


4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .........................................................................................20

6. ANÁLISE DA PESQUISA ....................................................................................................29

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................35

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................36

5
1. INTRODUÇÃO

A violência física e emocional dos pais contra as crianças é um tema de ampla


discussão quando situações de maus-tratos são noticiadas na mídia, especialmente a
partir da segunda metade do século XX, quando a violência intrafamiliar passa a ser
censurada, reconhecendo-se os maus-tratos como problema social. No entanto, para
muitas famílias os castigos e punições físicas são apenas formas de uma ‘boa educação’.
Na tentativa de compreender a seriedade e o agravamento da violência a que muitas
crianças são sujeitas na atualidade, procuro, com o presente trabalho, contribuir para
suscitar o debate em torno do fato de, em muitos casos ser aceito em nossa sociedade o
uso da punição como algo natural e até necessário para uma ‘boa’ educação. Passo a
relatar a história de uma criança que justifica a preocupação com a temática proposta.

“Ao recordar de minha infância, lembro com certa indignação de uma criança
chamada Bruna1 que vivia em uma família monoparental2, ou seja, composta apenas
pela mãe que a ‘educava’, pois seu pai ela nunca soube quem era ou onde estava
enquanto crescia. Durante muito tempo de sua infância, Bruna era alvo de muita raiva
por parte de sua mãe; qualquer comportamento considerado inadequado que essa
criança tivesse, era motivo para ser surrada, independente de onde estivesse ou com
quem estivesse. Mas o pior que presenciei ocorrer com Bruna aconteceu em uma certa
tarde de novembro em que ela saiu para passear pelo bairro (bastante tranquilo naquela
época) com seu cachorro. Envolvida pelo prazer daquele passeio Bruna perdeu a noção
das horas. Quando estava voltando para casa encontrou sua mãe em estado colérico. A
mãe correu em direção a Bruna, arrancou o cachorro do colo dela, agarrou-a pelo braço
e arrastou correndo para o quarto. Do lado de fora da casa era possível ouvir-se os
ruídos de surra, soluços e choro. O que mais marcou minha memória é que estes
arroubos de violência e fúria contra Bruna repetiram-se por alguns anos de sua vida!”

Baseio minha reflexão em torno de como os castigos e punições físicas


perpetuadas por muitos pais contra as crianças são banalizados e aceitos como formas
de controle e educação válidas. Ainda que intuitivamente, percebo que as crianças
expostas a castigos e punições, como o caso de Bruna, têm consequências sérias em seu

1
. Nome verdadeiro foi modificado para preservar a identidade da criança.
2
. Composta apenas pela mãe ou pelo pai.

6
desenvolvimento e, neste sentido, busco no presente trabalho, subsídios para sustentar
teoricamente minha preocupação. As práticas punitivas utilizadas para extinguir o
comportamento inadequado podem funcionar de imediato, enquanto mantêm-se
presentes, entretanto parecem não resolver a questão a longo prazo. Em geral, frente a
essas disciplinas coercitivas a criança evita repetir as mesmas ações apenas para se
‘livrar’ das punições físicas e não porque realmente compreendeu o que estaria errado
ou inadequado.

Na direção de melhor elaborar e compreender estas preocupações elegi como


aspectos norteadores deste trabalho aqueles relacionados com o exame das possíveis
consequências do uso da punição como prática mais largamente utilizada na “educação”
das crianças pequenas (0 a 6 anos). Como as práticas educativas coercitivas podem
interferir no desenvolvimento psicossocial da criança?

7
2. PROBLEMATIZAÇÃO

O objetivo deste trabalho é evidenciar como as práticas parentais coercitivas


podem interferir no desenvolvimento íntegro da criança. Os pais ao utilizarem de
punições físicas e verbais para disciplinar seus filhos, tentam impor uma educação
autoritária e controladora e muitas vezes não compreendem o efeito nocivo destas para
o desenvolvimento das crianças. Para muitas famílias, as punições são formas culturais
de impor respeito, ordem e obediência aos filhos e são adquiridas intergeracionalmente.

A literatura específica da área da psicologia refere-se a família como um espaço


de segurança, afeto, bem-estar e apoio para a criança (DESSEN, POLONIA, 2007;
GOMES,1992), um espaço privilegiado para aprender a interagir e colocar em prática as
aprendizagens, revelando-se uma importante base na vida social de cada pessoa. A
despeito da definição de família como ambiente de proteção e segurança, muitas
crianças são criadas em ambientes hostis onde seus progenitores lhes aplicam severas
punições o que pode lhe causar riscos ao seu desenvolvimento. Até mesmo nas famílias
onde os filhos não são afetados diretamente pela agressão física ou verbal, mas aonde
ocorre a violência conjugal, a criança é afetada de alguma forma pelo clima emocional
do ambiente familiar. Sani (2003) identifica que a violência interparental que as
crianças estão expostas desencadeiam a longo prazo problemas de comportamento e
dificuldades no desenvolvimento das crianças. A esses fatores, ainda há uma
variabilidade de como às crianças reagem diante da violência interparental. Diversos
aspectos influenciam no impacto a exposição a violência, como o baixo nível
socioeconômico, desemprego dos pais, psicopatologia na família, ausência de uma rede
de apoio e também a definição de violência nas diferentes culturas interfere nas práticas
educativas parentais.

Para além da compreensão das práticas educativas coercitivas e as


consequências do desenvolvimento da criança, primeiramente o trabalho pretende
conhecer e compreender a realidade de muitas crianças, que são vítimas ‘silenciosas’ de
maus-tratos constantes pelos seus pais, qual a intenção que os progenitores têm ao punir
as crianças de forma severamente autoritária, e qual motivo para que eles inflijam às
crianças? Para avançarmos na resposta, é preciso investigar questões como esta para se
compreender como os maus-tratos cometidos contra as crianças podem interferir na sua
formação psicológica e moral.
8
Em segundo aspecto, objetivamos contribuir para formação de professoras que
trabalham com crianças, na identificação de situações de abuso contra criança, como
agir em casos que os maus-tratos são aparentes e aqueles em que são identificados pelo
comportamento de externalização3 e de internalização4 da criança, como conversar com
os pais nas situações em que a violência é identificada. O trabalho pretende contribuir
na formação de professores da educação infantil, para que as elas possam reconhecer
quando uma criança (os bebês, principalmente) é vítima de abuso em casa, para que
possam compreender os maus-tratos contra as crianças e também possam interferir no
ciclo da violência.

Em terceiro momento, pretende-se orientar os pais que utilizam das práticas


punitivas como forma de educação sobre o risco e prejuízo para o desenvolvimento da
criança. Muitos pais usam da autoridade para controlar os filhos e a maneira encontrada
por eles para corrigir comportamentos indesejados é a punição física. No entanto,
muitos pais não compreendem outra forma de educação senão a punição e, ainda outros
reproduzem as mesmas práticas educativas de seus pais. Para que essa violência não
seja continuada é preciso orientar os pais sobre outras formas de educação, além das
punições físicas e agressões verbais, como as práticas educativas indutivas que são
chamadas por Gomide (2003) de práticas educativas positivas, assim destacando duas: a
monitoria positiva e o comportamento moral.

Concluindo, pretende-se compreender que as práticas educativas negativas


nomeadas por Gomide (2003) como negligência, punição inconsistente, monitoria
negativa, disciplina relaxada e por último o abuso físico e psicológico5 podem ter
consequências sérias para o desenvolvimento saudável da criança, pois tais práticas
podem causar danos que se prolongam até a vida adulta.

Como explicita a bibliografia pesquisada, a punição física como forma de


educação traz consequências negativas para o comportamento da criança. Marques
(2010), cita dois autores que evidenciaram as consequências negativas da punição física
para o desenvolvimento da criança, especialmente, a criança pequena. Para Gerdoff
(apud Marques, 2010) as consequências para as crianças vão desde abusos futuros dos
companheiros ou dos filhos a aumento de comportamentos antissociais e agressividade

3
Agressão verbal ou física, destruição de objetos, mentira, roubo, habilidades sociais inadequadas.
4
Retração Social, ansiedade, depressão, baixa autoestima.
5
SALVO; SILVARIS; TONI, apud GOMIDE, 2004.

9
e desgaste das relações pais e filhos. Citando Smith (apud Marques, 2010), Marques
enfatiza a associação entre o castigo físico e problemas de comportamento na escola, de
falta de integração com grupos de pares e até mesmo de crime e delinquência.
Contrariando o desenvolvimento da internalização moral, de atitudes e valores que os
pais pretendem transmitir aos seus descendentes.

10
3. OBJETIVOS

Geral:

Identificar na produção científica brasileira artigos que discutam a relação entre


práticas parentais coercitivas e o desenvolvimento das crianças.

Específicos:

 Identificar e analisar em bancos de dados brasileiros, artigos científicos que


revelem a produção relacionada às práticas parentais coercitivas e os problemas
de comportamento das crianças;

 Ressaltar as práticas educativas negativas como negligência, punição


inconsistente, monitoria negativa, disciplina relaxada e por último o abuso
físico e psicológico podem comprometer o desenvolvimento da criança;

 Elaborar reflexão teórica evidenciando aspectos relacionados às práticas


parentais coercitivas e o processo de desenvolvimento das crianças.

11
5. ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

A pesquisa sobre as práticas educativas coercitivas refere-se a uma revisão


bibliográfica abordando a temática relacionada as consequências da punição para o
desenvolvimento da criança de 0 a 6 anos. A abordagem do referido tema relaciona-se
por um lado, a escassez de produção científica especifica na faixa etária de 0 a 6 anos e,
por outro, pelo interesse da pesquisadora em aprofundar a temática, numa tentativa de
suscitar a discussão em torno do tema, nomeadamente dirigindo-se a pais e educadores.

Para atingir o objetivo do trabalho foram pesquisados em bancos de dados


brasileiros, artigos e dissertações referentes ao assunto, nas áreas de educação,
psicologia, antropologia, história e ciências sociais com as seguintes palavras-chaves
criança, práticas parentais, punição física, abuso físico infantil, práticas parentais
coercitivas. A busca nas bases de dados ocorreu no mês de agosto e abrangeu pesquisas
realizadas sem restrição de data, uma vez que o assunto é pouco abordado. A partir das
palavras-chave foram encontrados 12 artigos em bancos de dados brasileiros e
estrangeiros: Scielo (Scientific Eletronic Library Online), Universidade de Coimbra e
do Minho e no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de
Santa Catarina. A estruturação da revisão que se segue, obedeceu a uma lógica
cronológica de desenvolvimento das pesquisas, iniciando por três pesquisas teóricas e
cinco pesquisas empíricas desenvolvidas no Brasil. A faixa etária das pesquisas foi
ampliada quando da observância de poucos artigos que pesquisam as práticas parentais
coercitivas de crianças de 0 a 6 anos.

12
TÍTULO AUTOR ANO PALAVRAS- PUBLICAÇÃO PESQUISADO
CHAVES
Buenos Tratos a Jorge Barudy 2009 Resiliencia, Buenos Gedisa
La Infancia: tratos, infância. Editorial,
Parentalidad, Barcelona
apego y
resiliencia.
Definições, Ricardo 2010 Parentalidade, Psychologica, Universidade
dimensões e Barroso e Práticas Parentais, 52, vol. 1 de Coimbra.
deterinantes da Carla Desenvolvimento da
parentalidade. Machado Criança.
Práticas Alessandra 2003 Práticas educativas, Psicologia em ScieLo
Educativas, Marques Estilos Parentais, Estudo,
Estilos Parentais Cecconello, Abuso físico. Maringá, v. 8.
e abuso físico no Clarissa De
contexto Antoni,
familiar. Sílvia Helena
Koller.
As crenças, o Ana Isabel 2003 Violência Tese de Universidade
discurso e a Martins Sani. Interparental. Doutorado. do Minho.
ação: as
construções de
crianças
expostas à
violência
interparental.
Crenças Ana Cristina 2010 Crenças sobre Dissertação de Universidade
Parentais sobre a Tomé punição física, Mestrado. de Coimbra.
punição física e Marques. comportamentos de
a identificaçõ externalização,
dos problemas comportamentos de
de internalização.
comportamentais

13
e de adaptação
psicossocial das
crianças em
idade pré-
escolar.
Bater não educa Naiana 2012 Educação, família, Educ. Pesqui., ScieLo
ninguém! Dapieve escola, prática São Paulo, v.
Práticas Patias, Aline coercitiva. 38, n. 4.
educativas Cardoso
parentais Siqueira e
coercitivas e Ana Cristina
suas Garcia Dias.
repercussões no
contexto escolar.
O uso das Lidia Natalia 2004 Punição corporal, Estudo de ScieLo
palmadas e Dobrianskyj práticas educativas, Psicologia
surras como Weber, Ana violência contra a
práticas Paula criança.
educativas. Viezzer e
Olivia Justen
Brandenburg.
Práticas Angela 2012 Práticas educativas, Estudos de ScieLo
educativas Helena competência social, Psicologia
parentais, Marin, Cesar idade pré-escolar. 17(1).
problemas de Augusto
comportamento Piccinini,
e competência Jonathan R.
social de H. Tudge.
crianças em
idade pré-
escolar.
Ética disciplinar Cristiano da 2005 Educação infantil, Instituto de ScieLo.
e punições Silveira relação pais- Psicologia da

14
corporais na Longo. crianças, punição, USP, 16(9).
infância. terapia familiar.
Experiências Lilian Paula 2010 Relações familiares, Psicologia: ScieLo.
infantis e risco Degobbi disciplina da criança, Reflexão e
de abuso físico: Bérgamo e abuso infantil, Crítica, 24(4).
mecanismos Marina transmissão
envolvidos na Rezende geracional,
repetição da Bazon. aprendizagem/apego.
violência.
Práticas Caroline 2005 Práticas educativas, Estudos de ScieLo.
educativas como Guisantes de habilidades sociais, Psicologia,
forma de Salvo, problemas de Campinas.
predição de Edwiges comportamento.
problemas de Ferreira de
comportamento Matos
e competência Silvares,
social. Plinio Marco
de Toni.
Relações entre Frnacieli 2008 Estilos parentais, Dissertação de Programa de
práticas Hennig. práticas educativas Mestrado, Pós-graduação
educativas parentais, memórias em Psicologia,
parentais e de cuidados na UFSC.
memórias de infância, transmissão
cuidados na intergeracional.
infância.

5.1. ACHADOS DA PESQUISA

Longo (2005) desenvolveu uma pesquisa teórica de análise das punições


corporais na infância desde a época dos jesuítas e análise de livros para orientação aos
pais na educação dos filhos. Em relação a faixa etária o artigo não delimita, sendo
citadas crianças e adolescentes. O autor afirma que a maioria dos escritores dos livros
pesquisados se posiciona contrária a punição corporal, entretanto a minoria favorável

15
parece ter grande influência para os pais e educadores e os que se posicionam
contrários, em algum momento concordam com algum tipo de punição ou castigo, são
poucos os autores que se posicionam totalmente contrários a essa prática.

Discorrendo sobre as práticas educativas, estilos parentais e abuso físico no


contexto familiar Cecconello, Antoni e Koller (2003) trouxeram uma importante
contribuição para o contexto brasileiro quando apresentaram uma pesquisa teórica sobre
as práticas educativas parentais, destacando as consequências de tais práticas para o
desenvolvimento da criança, visando à esfera familiar, pessoal e social. Embora não se
perceba no trabalho qual a especificidade etária da pesquisa, as autoras referem aspectos
que podem contribuir para o rompimento do ciclo da violência familiar, por meio de
uma rede de apoio social, a manutenção de um relacionamento estável e saudável. As
pesquisadoras observaram que as práticas educativas coercitivas estão intimamente
relacionadas às características individuais dos pais, as características dos filhos, como
temperamento e o ambiente social onde a família vive. Percebe-se que mesmo a
violência sendo no microssistema familiar, reflete as demandas sociais que a família
vivencia no cotidiano, em questões de ordem financeira, o desemprego e uso de álcool e
drogas e doenças psicopatológicas. O artigo nos traz o primeiro relato médico de abuso
físico infantil em 1868, que ocorreu na França quando um patologista publicou um
artigo sobre 32 crianças que haviam sido sacudidas até a morte, no ano de 1946, um
radiologista americano John Caffey descreveu a síndrome ocorrida em 6 crianças que
tiveram fraturas múltiplas, atraso no desenvolvimento, desnutrição, hemorragia na retina
e sugeriu que talvez fosse por negligência dos pais. Foi somente em 1962 que Kempe e
cls relataram através de um artigo que as crianças eram abusadas fisicamente pelos pais,
eram sacudidas até a morte devido a seu choro contínuo, por isso nomearam a Síndrome
do Bebê Sacudido que ocorria em crianças menores de 6 meses. O artigo conclui que
programas de intervenção familiar por parte do governo podem proporcionar uma rede
de apoio a essas famílias abusivas, assim promovendo a resiliência das crianças e
adolescentes.

A pesquisa de Weber, Viezzer e Brandenburg (2004) trouxe uma inovação ao


questionar as crianças sobre a coerção que sofrem, quais objetos os pais utilizam para
aplicar a punição, em qual lugar do corpo apanham, assim foi respondido pelas próprias
crianças, as que já haviam apanhado e recebido castigo (60,2%), somente apanhou
(28%), somente recebeu castigo (7,2%) e nunca apanhou e recebeu castigo (4,7%), em

16
seguida o agente punidor mais frequente é a mãe com 86,1% diferentemente do pai com
58,6%, os irmãos 23,6%, em seguida avôs 9,4%, tios 7,4% e outros 5,3% ; a mão
(62,3%) é o meio mais utilizado para aplicar a punição seguido do cinto (43%), depois o
chinelo (42,3%) e por último a vara (13,5%) e o local do corpo das crianças que é mais
punido são as nádegas (64,7%) e o segundo lugar foi a perna (36,5%), depois os braços
(27,6%) e costas, em último lugar com (19,5%).

Ao destacar as práticas educativas como forma de predição de problemas de


comportamento e competência social, Salvo, Silvares e Toni (2005) realizaram uma
pesquisa empírica focada nos estudos e práticas educativas preditoras de
comportamento antissocial e competência social. O estudo abrangeu a faixa etária de 11
a 13 anos (3ª infância e adolescência) e um dos pais (o pai ou a mãe). Essa pesquisa
pretendeu identificar as práticas preditoras dos comportamentos infantis e as
possibilidades de prevenção e intervenção familiar sobre as práticas educativas
utilizadas pelos pais. Concluiu que um desenvolvimento infantil adequado é de extrema
importância pra o desenvolvimento emocional das crianças e os pais são os principais e
mais importantes educadores.

Em relação as práticas educativas parentais e as memórias dos pais em relação


aos cuidados na infância, Hennig (2008) desenvolveu uma pesquisa empírica sobre a
relação entre memória de cuidados dos pais na infância e as práticas educativas
perpetuadas por eles com seus filhos. Para concluir, as práticas educativas utilizadas
pelos pais são bastante influenciadas pela memória de infância, a forma como esses pais
foram educados pelos seus pais. A pesquisadora constatou que as práticas educativas
também sofreram influências relacionadas ao sexo do genitor, como por exemplo, mães
que tiveram a presença do pai estavam relacionados com práticas positivas e mães que
foram educados sem a presença do pai estava relacionada com práticas negativas (abuso
físico). Neste sentido, a relação pai-filho(a) interfere no desenvolvimento infantil e
também nas lembranças e práticas utilizadas hoje pelos pais e mães, como a relação
mãe-filho(a) também interfere no desenvolvimento, como por exemplo, pais que
tiveram mães super protetoras utilizam práticas negativas como a disciplina relaxada
com seus filhos(as).

Ao discorrer sobre experiências infantis e risco de abuso físico: mecanismos


envolvidos na repetição da violência, Bérgamo e Bazo (2010) realizaram uma pesquisa

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empírica comparativa com os pais e cuidadores que sofreram abuso físico na infância e
outros que não sofreram e a repetição da violência como forma de educação. Pais que
foram abusados fisicamente e emocionalmente apresentam maior chance de
comportamentos para educação punitiva. Nesta pesquisa foi abordado a Teoria da
Aprendizagem Social que as crianças aprendem através de imitação e observação, sendo
assim pais que foram abusados teriam mais propensão a educar coercitivamente seus
filhos, porém quando os pais sabem dos fatores e consequências negativas das punições
para crianças, isso se torna um fator de proteção para seus filhos. A Teoria do Apego
são as relações interpessoais que as crianças tem capacidade de estabelecer, crianças
que são maltratadas, tornam as respostas a essas relações fragilizadas. Participaram da
pesquisa 30 pais abusados e 30 não abusados e crianças até 15 anos. Os pesquisadores
finalizam sua pesquisa fazendo a relação da infância do cuidador com as práticas
abusivas usadas por eles para educar os filhos, já que os abusos que os adultos sofreram
quando crianças são lembrados e reproduzidos, tornando assim a prática educativa
coercitiva um ciclo, mas não podendo ser generalizado.

Em artigo recente, Marin, Gonçalves e Tudge, (2012) relatam uma pesquisa


empírica desenvolvida com mães e pais que tinham filho primogênito de 6 anos de
idade. Os autores enfatizam as práticas educativas parentais, os problemas de
comportamento e a competência social de crianças em idade pré-escolar. A pesquisa
trata de práticas educativas coercitivas, as que são praticadas só pela mãe ou só pelo pai
e suas consequências, respectivamente. As contribuições da pesquisa se situam nas
práticas parentais indutivas como preditoras de competências sociais positivas enquanto
que as práticas coercitivas desenvolvem problemas de comportamento nas crianças. As
mães que utilizam práticas educativas coercitivas perceberam mais problemas de
comportamento em seus filhos, principalmente relacionados à agressividade, uso da
violência para a resolução de problemas, enquanto que os pais que utilizam essa prática
também constataram problemas de comportamento, entretanto diferente das mães,
perceberam problemas de comportamento de internalização, em especial, depressão e
ansiedade.

Outro artigo recente das autoras Patias, Siqueira e Dias (2012) é uma pesquisa teórica
que reflete sobre os efeitos das práticas punitivas para o desenvolvimento das crianças,
não há delimitação de faixa etária, discute a questão da violência como forma de
educação, a aceitação ainda hoje da nossa sociedade dessa forma de ‘educação’ e as

18
consequências negativas e o desenvolvimento de comportamentos agressivos em
crianças, já que a família é o primeiro espaço social da criança, todos os
comportamentos aprendidos no contexto familiar são reproduzidos pelas crianças com
outras pessoas e em outros espaços, principalmente na escola.

19
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para compreendermos a pesquisa referenciada neste trabalho, voltaremos a


alguns séculos para entendermos a infância ao longo da história da humanidade. A
descoberta da infância iniciou a partir do século XIII, com os retratos de crianças, como
homens em miniatura, onde não existia uma expressão própria para retratar a criança.
Ariès (1981) afirma:

Até por volta do século XII, a arte medieval desconhecia a infância ou não
tentava representa-la. É difícil crer que essa ausência se devesse a
incompetência ou à falta de habilidade. É mais provável que não houvesse
lugar para a infância nesse mundo. (p. 50)

Na sociedade medieval do século XVI, o sentimento de infância não existia.


Entretanto, iniciando o século XVII, a criança era ainda tratada e vestida como um
adulto em miniatura, fazia parte do mundo dos adultos, das festas, das reuniões, dos
trabalhos e das brincadeiras sexuais. Com os pensadores românticos, especialmente
Jean-Jacques Rousseau, no século XVIII, a concepção de infância começa a se alterar.
A criança passa a ser o centro das preocupações e atenções dos adultos, não mais
considerada como um adulto em miniatura, é considerado um ser puro, inocente e que
precisa ser cuidado.

A partir da Revolução Industrial, começaram a surgir movimentos de atenção e


sensibilização à infância, pois com os pais operários, o meio familiar, social e
econômico empobrecido, as crianças ficavam na marginalidade, neste contexto surge: a
criança delinquente; nesse mesmo período entre século XVIII e XIX, com as
preocupações médicas e psicológicas do desenvolvimento infantil surge uma nova
concepção de criança: a criança médico-psicológico. (FERNANDES, 2012, p. 78, 79 e
80)

No fim do século XVIII, com o desenvolvimento das escolas pública surge: a


criança-aluna em contraposição com a criança delinquente, a escola surge para
moralizar e evitar comportamentos desviantes das crianças. Com início do século XX,
os estudos e pesquisas de diversas áreas sobre o desenvolvimento infantil, organizavam-
se serviços de atendimentos para crianças e de seu desenvolvimento psicológico, surge
então: a criança psicológica. Logo após, no período compreendido entre as Guerras
surge uma dupla concepção: a criança família e a criança pública, essa concepção vem

20
pelas informações relacionadas com as contingências sociais e econômicas direcionada
às crianças e também a importância do meio familiar para o desenvolvimento desta.

Somente a partir da segunda metade do século XX, a criança se tornou um


sujeito de direitos, por meio da promulgação da Declaração dos Direitos da Criança
(1989). Citando Weber (2004):

A conscientização sobre a particularidade infantil levou muitos estudiosos a


pesquisarem e conhecerem melhor todo o processo de desenvolvimento
infantil, as práticas educativas usadas pelos pais e suas relações com o
comportamento dos filhos.

Nesse mesmo período no século XX, a Constituição de 1988, no Artigo 227,


cita:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.

Na década de 90, foi sancionada o Estatuto da Criança e do Adolescente, pela Lei nº


8.069 de 13 de julho de 1990, que para essa pesquisa cito 3 artigos:

Art. 5º. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de


negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos fundamentais.

Art. 13º. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança


ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da
respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais.

Art. 18º. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente,


pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante,
vexatório ou constrangedor.

21
O breve histórico relatado acima possibilita a percepção da criança no momento atual
em que vive a sociedade, entre um sujeito de direitos e também, um sujeito sem direitos,
submetidos ao poder adulto. Neste sentido, pretende-se enfatizar nas questões
relacionadas às práticas parentais educativas e as consequências para o desenvolvimento
infantil e por último as formas de violência física e emocional contra as crianças.

No contexto familiar, as relações entre pais e filhos vêm sofrendo modificações,


antes práticas punitivas como educação dos filhos eram aceitáveis, atualmente muitos
países estabeleceram punições para pais ou responsáveis de crianças vítimas de maus
tratos. Embora legalmente se tenha avançado na proteção as crianças, essas continuam a
ser vítimas “silenciosas” de práticas, consideradas “normais”, quando os progenitores
ou responsáveis utilizam da coerção para castigá-los e modificar o comportamento dos
filhos.

Entretanto, os estudos indicam que as práticas educativas coercitivas tem um


efeito danoso para o desenvolvimento da criança. É importante evidenciar que as
práticas educativas correspondem a comportamentos definidos por conteúdos
específicos e por objetivos de socialização. Tem como objetivo suprimir
comportamentos considerados inadequados e incentivar a ocorrência de
comportamentos considerados adequados (WEBER, PRADO, VIEZZER, ET
AL.,2004). Por seu turno, os estilos parentais consistem em um conjunto de atitudes
manifestadas por pais ou responsáveis que criam um clima emocional revelando os
comportamentos dos pais. Estes incluem as práticas parentais e outros aspectos da
interação pais-filhos, tais como tom de voz, expressão corporal e emocional.

Influenciados pelos estilos e práticas parentais surgem os comportamentos


disciplinares dos pais com a intenção de suprimir comportamentos inadequados das
crianças que incluem técnicas de afirmação de poder, de retirada de afeto. Hoffman
(1960) divide as práticas educativas dos pais em dois conjuntos distintos: práticas
indutivas e práticas coercitivas. No caso das práticas indutivas, os pais chamam a
atenção das crianças para as consequências do seu comportamento para as outras
pessoas, possibilitando autonomia e maior controle do comportamento infantil. Por
outro lado, a utilização de práticas coercitivas implica em aplicação direta da força,
incluindo a física, ameaças e retirada de afeto e privilégios. Entre outros aspectos, esse

22
tipo de prática provoca na criança medo, raiva e ansiedade e o controle do seu
comportamento depende de controle externo, não favorecendo a interiorização das
regras sociais e dos padrões normais. As técnicas de retirada do afeto são igualmente
nocivas para a criança que se vê muitas vezes isolada, ridicularizada e psicologicamente
afetada.

Os estudos sobre a influência exercida pelas práticas educativas no


desenvolvimento psicossocial das crianças iniciou na década de 1930, quando questões
relacionadas “a melhor forma de educar os filhos? E “quais as influências dos estilos
parentais no desenvolvimento das crianças? inquietavam os pais
(DARLING;STEINBERG,1993). No entanto, somente a partir da década de 1960, surge
um marco importante para o estudo da parentalidade, o modelo teórico de Baumrind
sobre os tipos de controlo parental (WEBER, PRADO, VIEZZER, ET AL.,2004).
Primeiramente os estilos parentais foram descritos por Baumrind (1966, 1971 apud
Cecconello; Antoni; Koller, 2003) como: autoritativo, autoritário e permissivo. A autora
constatou que cada um deles produzia consequências diferentes no desenvolvimento
psicossocial das crianças. Maccoby e Martin (1983 apud Cecconello; Antoni; Koller,
2003) reformularam esses estilos parentais e dividiram o modelo permissivo em dois:
indulgente e o negligente. “Essa separação permitiu distinguir nas famílias que fazem
poucas demandas de controle e uma variação no nível de responsividade” (Cecconello;
Antoni; Koller, 2003, p. 47 e 48).

Primeiramente, o modelo autoritativo é apresentada como nível alto de exigência


e responsividade, as regras de comportamento são esclarecidas a todo momento, dessa
forma o comportamento negativo é corrigido, ou seja, de forma indutiva, esclarecendo
as consequências das suas ações, assim os pais transmitem seus valores, como respeito,
empatia, honestidade e os comportamentos positivos são recompensados, a base dessa
relação é o respeito mútuo e a comunicação é aberta. Por exemplo, os pais ou
responsáveis autoritativos são definidos como os que tentar direcionar as atividades da
criança de forma racional e orientada, buscam incentivar o diálogo e tentam perceber as
contestações das crianças de forma respeitosa. As conclusões dos estudos de Baurimd
são que os filhos de pais autoritativos apresentam como características a perseverança, a
independência e são orientados para o sucesso mais do que os filhos dos progenitores
autoritários e permissivos.

23
Além disso, são afetuosos nas relações com eles, responsivos às suas
necessidades e, frequentemente, solicitam sua opinião quando conveniente,
encorajando a toma de decisões e proporcionando oportunidades para o
desenvolvimento de suas habilidades. (BAUMRIND, 1966; GLASGOW,
DORNBUSCH, TROYLER, STEINBERG & RITTER, 1997 apud
CECCONELLO; ANTONI; KOLLER, 2003)

Contrariamente o estilo autoritário é extremamente rígido às regras de


comportamento e a obediência é uma imposição. As punições físicas são utilizadas para
controlar o comportamento, ou seja, nesse modelo o nível de controle é alto e a
responsividade às necessidades das crianças é muito baixa. Estabelecem limites firmes,
controlam excessivamente e mantém pouco diálogo com os filhos. O estilo autoritário
se associa à agressividade infantil e problemas de conduta na adolescência e pode ser
mais prejudicial aos meninos do que às meninas. “Não valorizam o diálogo e a
autonomia, reagindo com rejeição e baixa responsividade aos questionamentos e
opiniões da criança.” (BAUMRIND, 1966; GLASGOW, DORNBUSCH, TROYLER,
STEINBERG & RITTER, 1997 apud CECCONELLO; ANTONI; KOLLER, 2003, p.
48).

O terceiro modelo, descrito por Maccoby e Martin (1983) é o permissivo


indulgente. Contrariando o estilo autoritário, pais indulgentes são os que embora
calorosos são os que estabelecem poucas regras, permitem que o comportamento seja
monitorado pela própria criança, não estabelecem limites para o comportamento da
criança, é um modelo com baixo nível de controle e muita responsividade. As crianças
tendem a revelar menos competências sociais, sendo caracterizadas como imaturas e
pouco autônomas.“São afetivos, comunicativos e receptivos com seus filhos, tendendo a
satisfazer qualquer demanda que a criança apresente” (BAUMRIND, 1966;
GLASGOW, DORNBUSCH, TROYLER, STEINBERG & RITTER, 1997 apud
CECCONELLO; ANTONI; KOLLER, 2003, p. 48).

Por último, o modelo negligente, os pais não são nem amorosos e nem exigentes,
só respondem às necessidades básicas das crianças, não monitoram o comportamento da
criança e não se importam com o processo de socialização da criança. São
frequentemente inconsistentes nos seus afetos, emocionalmente pouco disponíveis ou
pouco atentos as necessidades desenvolvimentais dos filhos. Tanto podem negligenciar

24
o uso da disciplina quanto podem utilizar eventualmente práticas severas. Os filhos
tendem a manifestar maiores dificuldades a nível das competências sociais e cognitivas ,
no desempenho escolar e no bem estar psicológico, podendo apresentar problemas de
conduta . “Enquanto os pais indulgentes estão envolvidos com seus filhos, os pais
negligentes estão, frequentemente, centrados em seus próprios interesses” (GLASGOW,
DORNBUSCH, TROYLER, STEINBERG & RITTER, 1997 apud CECCONELLO;
ANTONI; KOLLER, 2003, p. 48).

Ao avaliar os quatro estilos parentais, pode-se perceber que o autoritativo é de


influência positiva para o desenvolvimento da criança, pois os pais não utilizam da
agressão física ou emocional para educar os filhos, e sim do diálogo aberto e
explicações sobre as consequências dos comportamentos produzidos por eles. “Este
estilo está relacionado com competência social, assertividade e comportamento
independente de crianças” (Baumrind, 1966).

Os três últimos estilos parentais, autoritário, indulgente e negligente tem grande


influência nas consequências negativas para o desenvolvimento da criança, cada um tem
uma ‘característica’ para a educação da criança, como o autoritário que utiliza a punição
física como forma de controle para o comportamento dos filhos; o indulgente que utiliza
pouco controle do comportamento, os pais são afetivos, mas não estabelecem regras e
são excessivamente tolerantes; o negligente que utiliza de pouca ou nenhuma monitoria
no comportamento dos filhos, os pais não são afetivos, só respondem às necessidades
básicas da criança, mas o que prevalece é o próprio interesse.
Como afirma Lamborn e cols., (1991); Steinberg e cols., (1994):

“Estilos autoritário, indulgente e negligente parecem estar relacionados com


uma maior incidência de resultados negativos no desenvolvimento, como
problemas de comportamento, abuso de substâncias, fracasso escolar e baixa
auto-estima.”

Para finalizar, a última parte será discutida as formas de violência física e


emocional contra as crianças, as práticas parentais positivas e negativas compostas por
Gomide (2003). Iniciando pelas práticas parentais positivas que são duas: monitoria
positiva e comportamento moral. Na monitoria positiva, os pais tem conhecimento de
onde seus filhos estão, quais atividades estão sendo desenvolvida, a base para essa

25
prática e o apoio e o amor, sendo assim, a demonstração de afeto é muito importante,
principalmente nos momentos de maior necessidade da criança. No comportamento
moral é o modo como são transmitidos os valores dos pais para os filhos, através do
próprio comportamento (dos pais), dos diálogos, referentes aos termas como justiça,
empatia, respeito, honestidade e outros.

Nas práticas educativas negativas, podem-se encontrar cinco, como negligência,


punição inconsistente, monitoria negativa, disciplina relaxada e abuso físico.
Começando pela negligência, como explicado anteriormente, é a falta de controle e
responsividade com a criança, deixando os próprios interesses (dos pais) prevalecerem.
É o principal fato para a criança desenvolver comportamentos antissociais.

A punição inconsistente é quando as agressões físicas e/ou verbais dependem do


humor dos pais e não do comportamento dos filhos, sendo assim, a criança aprende a
discriminar o humor dos pais e não a agir de forma correta.

No terceiro, a monitoria negativa é uma forma de controle excessivo por parte


dos pais na vida dos filhos, assim podendo a criança reagir de forma agressiva para
proteger sua privacidade. Assim, afirma Salvo, Silvares, Toni, (2005):

“A monitoria negativa está intimamente ligada também ao controle


psicológico. Segundo Pettit, Laird, Dodge, Bates e Criss (2001), o controle
psicológico refere-se às tentativas de controle que inibem ou interferem no
desenvolvimento de independência e autodirecionamento da criança pelo fato
de manter a dependência emocional dos pais. Dessa forma, o uso extensivo
do controle psicológico comportamental (indução de culpa, retirada de amor)
impediria a emergência da autonomia psicológica, contribuindo ainda para
sentimentos de angústia e inadequação.”

Na disciplina relaxada, as regras estabelecidas pelos pais não são cumpridas,


porque quando os pais se confrontam com o comportamento agressivo dos filhos, se
omitem, não colocando em prática as regras estabelecidas. Sendo assim, Salvo, Silvares,
Toni, 2005, nos informam que

crianças expostas constantemente a práticas educativas de disciplina relaxada


estarão em potencial situação de risco para o desenvolvimento de
comportamentos delinqüentes, uma vez que os comportamentos de
agressividade e de oposição encontram em tais práticas campos propícios
para o seu desenvolvimento (Patterson et al., 1992; Simons, Wu, Lin, Gordon
& Conger, 2000).

26
Na prática educativa, o abuso físico é uma forma de violência contra as crianças
com a finalidade de educá-las, assim os pais usam da força física para corrigir
comportamentos inadequados. Como essa prática está sempre vinculada às demais e
também a que causa efeito mais danoso para a criança.

São essas práticas que podem desencadear comportamentos delinquentes,


distúrbios psiquiátricos etc. (Haapasalo & Pokelaa, 1999). Além dessas
possíveis consequências, Silvares (2004) afirma que crianças que sofrem
abuso físico dos pais têm mais probabilidade de sofrerem problemas de
saúde, problemas de comportamentos e déficits cognitivos e
socioemocionais. (Salvo; Silvaris; Toni, 2005)

Para finalizar a discussão, pretende-se refletir a partir dos estilos parentais e das
práticas educativas um novo olhar sobre a educação das crianças e a orientação dos pais
que utilizam-se das punições físicas e emocionais para controlar e modificar o
comportamento dos filhos. É preciso conscientizar os pais que a violência como
disciplina só tem efeitos nocivos para o desenvolvimento da criança. Assim, “um
adequado desenvolvimento infantil é um somatório de diversos fatores, porém, os pais
estão entre os mais importantes.” (SALVO; SILVARIS; TONI, 2005)

Recentemente Barroso e Machado (2010) ao discorrerem sobre definições,


dimensões e determinantes da parentalidade alertaram para os determinantes da
parentalidade que podem interferir e até mesmo comprometer o desenvolvimento das
crianças. Se por um lado o artigo tenha evidenciado apenas as práticas educativas
parentais de famílias nucleares, ou seja, de pais, mães e filhos, não considerando no
estudo, outros modelos familiares como monoparentais, homoparentais, de avôs que
criam seus netos, famílias adotivas, entre outras, por outro lado, destacou os
comportamentos parentais como, em grande parte, decorrentes de fatores ambientais.
Assim, assinalam que fatores individuais dos pais (personalidade e psicopatologia),
características individuais da criança (temperamento) e fatores do contexto social
(relações maritais, ocupação profissional parental, rede de apoio social) influenciam na
escolha das práticas educativas para os filhos.

Destacando as crenças parentais sobre a punição física e a identificação dos


problemas comportamentais e de adaptação psicossocial das crianças em idade pré-
escolar, Marques (2010) aponta que as crenças parentais, as punições físicas e os

27
problemas de comportamento estão identificadas em famílias com menor nível
socioeconômico. Enquanto alguns pais reprovam e não legitimam a prática punitiva na
educação dos filhos, outros pais são favoráveis ao uso da punição e foram os que mais
reportaram um maior número de problemas de comportamento nos filhos.

28
6. ANÁLISE DA PESQUISA

A questão central deste trabalho é refletir sobre o efeito das práticas educativas
coercitivas para o desenvolvimento das crianças, enfatizando a faixa etária de zero a 6
anos. A busca na literatura brasileira indicou poucas pesquisas científicas em relação a
essa temática, principalmente relacionada a faixa etária pretendida inicialmente. A
despeito do pequeno número de artigos encontrados, relacionados a temática, a
contribuição em termos de compreensão do fenômeno possibilitou a percepção em
relação as práticas escolhidas pelos pais para educação dos filhos, que podem ou não ser
prejudiciais para o desenvolvimento íntegro da criança.

As práticas educativas foram denominadas por Hoffman (1960) como indutivas


e coercitivas. As práticas indutivas, escolhidas pelos pais para modificar o
comportamento dos filhos acontece por meio das explicações das suas ações das
crianças e as consequências de tal comportamento, tanto para criança quanto para os
outros. Por outro lado, as práticas coercitivas fazem uso da força física, da punição e
privação de privilégios e afetos, desencadeando sentimentos como a raiva, choro e
ansiedade. Estas práticas desenvolvem comportamentos antissociais e delinquentes
enquanto aquelas desenvolvem as competências sociais.

Dessa forma, crianças expostas à violência dos pais são prejudicadas


emocionalmente, psicologicamente e socialmente, pois ao serem submetidas a uma
disciplina coercitiva apresentam comportamentos de externalização como, agressão
verbal ou física, roubo, mentira, destruição de objetos e de internalização como,
ansiedade, retração social, depressão, baixa autoestima. A punição pode ter um efeito
imediato no comportamento uma vez que a criança não tem a capacidade de internalizar
as normas sociais adequadas, pois não há explicação do mau comportamento e sim, a
solução imediata.

A punição enfoca o erro e não ensina o certo; então, tal comportamento pode
deixar de ser emitido por algum tempo, mas não necessariamente há a
aprendizagem de qual deve ser o comportamento adequado. (BETTNER &
LEW, 2000; SIDMAN, 1995; SKINNER, 1953/1976 apud WEBER,
VIEZZER, BRANDENBURG, 2004, p. 229)

Assim, a violência como prática educativa na primeira infância produz


comportamentos que serão utilizados e reproduzidos em qualquer outra situação que a

29
criança se depara, principalmente na escola, por isso a escola tem um papel importante
para identificação da violência cometida pela família e assim, podendo orientar os pais
sobre as graves consequências que as práticas educativas têm para as crianças.

Na década de 1960, Diana Baumrind apresentou uma importante contribuição


para o estudo das práticas parentais, quando desenvolveu três estilos parentais como
prevalentes na educação dos filhos, quais sejam: autoritário, autoritativo e permissivo.
Maccoby & Martin (1983) reformularam os estilos, dividindo o estilo permissivo em
indulgente e negligente. O estilo autoritário destaca o controle absoluto dos pais que
impõem aos filhos regras estritas, altos níveis de exigência, não permitindo a
participação das crianças em decisões compreensíveis para elas e utiliza dos castigos,
das punições físicas, da privação de privilégios, da ameaça de perda do amor dos pais. O
estilo autoritativo ou democrático é uma prática educativa indutiva que estabelece
regras de comportamento que são lembrados a todo momento, monitoramento da
conduta do filho, correção dos comportamentos inadequados e gratificação dos
comportamentos positivos, os filhos são chamados a todo momento para opinar nas
decisões, a comunicação entre pais e filhos é objetiva e aberta.

Contrariamente, o estilo indulgente não impõe limites e nem estabelecem regras,


o monitoramento do comportamento é feito pela própria criança, os pais são totalmente
tolerantes e satisfazem qualquer demanda da criança. Se caracteriza pelo não
estabelecimento de regras por parte dos pais, não há monitoramento do comportamento.
O modelo denominado de negligente há pouco interesse dos pais em relação ao suporte
e ao controle não se preocupando com o processo de socialização, apenas respondem as
necessidades básicas da criança.

Relacionando os estilos parentais com as práticas educativas positivas e


negativas Gomide (2003) destaca que podemos perceber que pais autoritários usam da
punição inconsistente e do abuso físico para modificar o comportamento das crianças; o
autoritativo, ao contrário utiliza das práticas educativas positivas como monitoria
positiva e comportamento moral, os pais utilizam da explicação para modificar
voluntariamente o comportamento inadequado dos filhos; o estilo indulgente se
relaciona com a disciplina relaxada, pois os pais não estabelecem regras e limites,
atendendo todas as vontades da criança; e por último o estilo negligente se relaciona

30
com a monitoria negativa e a negligência, os pais não se interessam pelo processo de
socialização e atendem somente necessidades básicas da criança.

Atualmente, as práticas educativas coercitivas são aceitas e permitidas pela


sociedade, porém essas práticas são extremamente nocivas ao desenvolvimento da
criança e as consequências muitas vezes podem ser até irreversíveis, entretanto é preciso
uma intervenção familiar para quebrar o ciclo da violência e uma orientação aos
professores da educação infantil para identificarem crianças em situação de abuso físico,
já que muitas ainda não se expressam verbalmente.

Esse trabalho pretendeu explicitar os impactos da punição no desenvolvimento


da criança na faixa etária de zero a 6 anos, porém os trabalhos encontrados não
delimitava idade ou com crianças maiores entre 8 a 15 anos, isso permitiu compreender
que os estudos das práticas coercitivas de crianças pequenas é pouco investigado,
possibilitando assim novas pesquisas no campo do desenvolvimento infantil.

Um dos aspectos a destacar sobre a temática que parece privilegiar mais a faixa
etária dos adolescentes porque esses já expressam na linguagem oral e escrita em
relação às práticas educativas exercidas sobre eles, podem ter contato direto com os
pesquisadores e os próprios responderem aos questionários sobre as práticas parentais.
Com crianças menores de 6 anos já ocorre uma dificuldade porque muitas não se
expressam verbalmente e por ser um tema de pesquisa de extrema complexidade para a
faixa etária.

Para realizarem as pesquisas nos artigos encontrados os pesquisadores utilizaram


diversos instrumentos, como por exemplo, Inventário dos Estilos Parentais (Gomide,
2003) que foi aplicada aos adolescentes, Child Behavior CheckList 6 respondido pelos
pais em relação ao comportamento dos filhos, questionário de caracterização sócio-
demográfica, questionário da “História da Infância do Adulto” 7, onde o adulto responde
sobre as práticas educativas que seus pais utilizavam, Escala de Crenças da Criança
sobre a Violência (E.C.C.V)8, Sinalização do Ambiente Natural Infantil (S.A.N.I) 9,

6
Achenbach, 1991
7
Rodrigues, Figueiredo, Pacheco, Costa, Cabeleira & Magarinho, 2004
8
Sani, 2003

31
Children Perception of Interparental Conflict (C.P.I.C) 10, Escala de Crenças sobre a
Punição Física (E.C.P.F) 11, questionário de adaptação psicossocial da criança
(A.P.S.E)12.
Esses instrumentos foram utilizados pelos pesquisadores para identificar as
práticas parentais, os comportamentos das crianças, como os pais agem em situações
diversas com os filhos, como quando a criança faz birra, não quer comer/dormir, bate
em alguém, como as crianças percebem a violência interparental, como por exemplo a
associação do álcool e drogas com a violência.

Sabe-se que os comportamentos aprendidos na primeira infância serão


estabelecidos nas futuras relações, assim as práticas educativas utilizadas pelos pais para
educação dos filhos serão reproduzidas pelas crianças para resolução de conflitos com
seus pares. Por isso, as práticas educativas coercitivas são extremamente nocivas para o
desenvolvimento da criança, tais práticas desenvolvem comportamentos antissociais e
delinquentes em adolescentes. Como afirma Straus (1991):

A punição corporal pode ser eficaz no instante em que é aplicada, mas ela traz
muitos prejuízos a longo prazo, não somente para o indivíduo como também
para os outros com quem convive, devido ao risco de delinquência, de
criminalidade violenta, de violência contra o cônjuge. (STRAUS, 1991;
STRAUS & MCCORD, 1998 apud WEBER, VIEZZER, BRANDENBURG,
2004, p. 229 ).

Os efeitos da coerção provocam emoções extremas como hostilidade, ansiedade,


medo, depressão, dependendo da intensidade e frequência, as consequências punitivas
podem ter efeitos irreversíveis, pois muitas crianças são vítimas ‘silenciosas’ e
continuam a sofrer os abusos durante muito tempo, algumas durante anos. Neste
sentido, os pais tem um dos papéis mais importantes na vida da criança e no seu
processo de socialização e de internalização dos valores, sendo as práticas parentais
decisivas para o desenvolvimento de comportamentos e habilidades adequados na
criança.

9
Sani, 2003
10
Elaborado por Grych, Seid & Fincham e traduzido e adaptado por Sani, 2001
11
Machado, Gonçalves & Matos, 2000
12
Stayer & Nöel, 1990 e traduzido e adaptado por Silva, Veríssimo & Santos, 2004

32
Diante de diversas questões em relação as práticas parentais e o
desenvolvimento da criança, focamos apenas na violência dos pais contra as crianças,
por isso para finalizar trago a questão dos bons tratos na relação pais-filhos. De acordo
com Barudy (2009) as capacidades parentais fundamentais são um conjunto de
capacidades biológicas e hereditárias que são moduladas pela experiências vitais e
influenciadas pela cultura e pelos contextos sociais. Na perspectiva do autor as
capacidades parentais fundamentais são divididas em quatro tópicos, primeiro a
capacidade de apegar-se ao seu filho, são os recursos emotivos, cognitivos e de conduta
para apegar-se a criança; a empatia, capacidade de perceber vivências internas dos seus
filhos, através das manifestações emocionais e gestuais; modelo de criança, respostas as
necessidades dos seus filhos, assim como protege-los e educa-los e por último a
capacidade de participar de rede social de apoio e dos recursos comunitários,
capacidade de pedir e receber ajuda dos familiares ou de redes de apoio.
Barudy (2009) ainda evidencia as redes de apoio que as crianças que são vítimas
de violência podem contar, como por exemplo, no contexto escolar os professores, o
diretor, a merendeira, podem ser um bom exemplo para as crianças e muitas vezes a
escola é a única fonte de bons tratos que a criança reconhece, por isso, a creche e as
escolas deveriam ter orientações psicológicas para saber reconhecer e enfrentar
situações de abuso infantil, já que as crianças são vítimas ‘silenciosas’ dessa forma de
violência na nossa sociedade.
Concluindo, os estudos apontam que questões condicionantes das práticas
educativas parentais coercitivas, são multidimensionais, ou seja, são influenciados por
fatores de dentro e de fora do sistema familiar. No âmbito das questões relacionadas ao
contexto externo a família, são imprescindíveis políticas voltadas para a saúde,
emprego, educação e lazer, a curto, médio e longo prazo que fortaleçam os laços entre
cada um dos membros das famílias e qualifiquem melhor o ambiente em que cresce a
criança. No que diz respeito ao contexto interno, as redes de apoio social informal e
formal podem capacitar melhor os pais para o enfrentamento de situações complexas na
educação dos filhos. As redes informais como família ampliada, avós, tias, madrinhas,
podem auxiliar na educação das crianças. As redes formais como escolas, centros de
saúde, centros comunitários, igrejas, entre outros, podem oferecer suporte e formação
para os pais exercerem com mais competência a sua parentalidade.

33
34
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho desenvolveu os efeitos das práticas parentais coercitivas para o


desenvolvimento da criança pequena e salientou que a maneira que os pais escolhem
para educar seus filhos podem trazer consequências que podem ou não prejudicar a
criança física e emocionalmente. Entre os aspectos a considerar nas práticas educativas
coercitivas são problemas de ordem psicológicas que podem ser reversíveis se pais e
crianças forem orientados para a prática de outra forma disciplinar que não a coerção.

Nessa direção pretende-se entre os pesquisadores é explicitar o motivo que mães


e pais ainda hoje punem os filhos, muitas vezes de forma violenta, física e
psicologicamente; sendo a segunda considerada a mais nociva para o desenvolvimento
da criança. Nesses casos, muitas vezes os pais ou responsáveis desconhecem as
consequências das punições para seus filhos e reproduzem o ciclo familiar violento em
que viveram.

Em todos os trabalhos pesquisados, os autores ressaltaram as consequências


negativas das punições, como comportamento antissocial, além de possíveis problemas
psicológicos, problemas de aprendizagem e déficits sócio-emocionais (Salvo; Silvares;
Toni, 2003).

Para concluir espera-se que este trabalho possa servir de orientação para pais e
principalmente para os profissionais da área da educação infantil, terem um olhar mais
atento para as crianças na pré-escola, identificando situações de risco e assim trabalhar
para intervenção de possíveis problemas no desenvolvimento de crianças pequenas.

35
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Científicos Editora S.A. 2ª Edição, Rio de Janeiro, RJ, 1981.

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