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Este guia é uma tomada de posição. Se for criticado (como sei que será),
já adianto que preferi propor um plano realista a me abster de apontar
soluções sob o pretexto de que não existe um método que serve para
todos, que cada pessoa é um mundo e que não há Santo Graal ou fórmula
mágica para o CACD. Se a fórmula apresentada aqui funcionar e você
conquistar a aprovação, ela terá sido, de fato, mágica, não é? Por isso, a
melhor maneira de criticar este guia é produzir um melhor.
Por fim, há outros guias excelentes que tratam dos mesmos e de outros
aspectos relacionados à preparação e à bibliografia que não tratei aqui,
dos quais se destaca o de meu brilhante colega diplomata Bruno Rezende.
Princípios para a elaboração de
um plano de estudos
Não importa se você está começando hoje ou já carrega algumas
reprovações nas costas, você quer e precisa de um plano de estudos —
que prefiro chamar de projeto de aprovação — que seja abrangente,
coerente, factível, adaptado aos seus condicionantes pessoais e orientado
às especificidades de cada etapa do CACD.
● Você tem que ser exposto a todo o conteúdo do edital das matérias o
mais rápido possível, com a profundidade que o tempo que resta até
a prova permitir. Seja generalista antes de ser especialista nos
temas;
● Você precisa desenvolver as competências linguísticas específicas
cobradas nas diferentes fases do concurso: elas serão
imprescindíveis nas etapas decisivas;
● Você deve ter o treinamento mecânico de realização das provas,
normalmente engendrado na reta final que sucede a publicação do
edital;
● Você deve desenvolver a disciplina no cumprimento de seu
cronograma e aumentar gradualmente sua tolerância às longas
horas de estudo.
Por princípio, todo projeto complexo tem maiores chances de dar certo se
dividido em partes menores, mais digeríveis, quando se consegue reduzir
a quantidade de itens de controle (isto é, elementos de preocupação e
acompanhamento). A periodização dos estudos em ciclos, que é o método
que adoto quando construo projetos individuais de aprovação no CACD,
tem fulcro nesse pressuposto.
Destaco, ainda, que a abordagem por ciclos permite que você trate o
CACD mais como uma série de sprints de estudos de macrotemas do que
como uma longa maratona com objetivos vagos. A abordagem pede que
você estude tudo que puder de um determinado macrotema (como a
Guerra Fria ou a Revolução Industrial) por duas semanas, por exemplo, e
depois parta para o tema seguinte. Ficar mais tempo do que o planejado
em determinado tema significa espremer o conteúdo futuro e correr o risco
de não ter tempo de vê-lo antes da prova; ou pior, sacrificar o treinamento
de simulados, essencial na reta final. Não faça isso! Resista à tentação e
avance.
Faço apenas uma ressalva para duas situações em que acredito que o
estudo concomitante de todas as matérias seja eficiente: no imediato pós-
edital, em que o candidato entra em modo de revisão geral e treinamento
de resolução de questões; e nos planos de estudos de candidatos muito
avançados, que já dominam com profundidade tanto o conteúdo das
matérias no tocante às competências linguísticas exigidas nas diferentes
fases do concurso.
Suponho que você quer montar um plano de estudos hoje. Se for mesmo o
caso, considere que seu primeiro macrociclo de estudos vai de (1) hoje
até (2) a data aproximada da prova em que você realmente acredita estar
competitivo ou poderia ter alguma chance de passar. Diante de uma
reprovação, você reinicia um novo macrociclo de estudos, que terá
características distintas do primeiro, uma vez que você já terá coberto boa
parte do conteúdo e internalizado bem ou mal as principais competências
linguísticas do concurso. Caso você tenha plena consciência de que um
ano é pouco para estar competitivo para a prova, considere a criação de
um macrociclo de dois ou até três anos.
Não se engane: você não vai conseguir dominar com profundidade todos
os temas do edital nem conseguir consumir e digerir todas as obras que
relaciono aqui em um primeiro giro. Receba a bibliografia proposta como
uma esteira de leitura. Estude as obras na sequência sugerida, partindo
das mais genéricas para as mais específicas em relação aos temas.
Comece pelos manuais que abordam o maior número de tópicos do edital
para depois aprofundar-se prioritariamente, por meio das leituras
subsequentes, naqueles temas em que você cometeu mais erros ou com
os quais se sente mais inseguro.
Os mesociclos
Seu macrociclo será dividido em mesociclos, de duração média de 3 a 5
meses, cada um com objetivos pedagógicos bem definidos. Em cada um
deles, você estudará apenas um conjunto de 3 a 5 matérias. A ordem em
que se estudam as matérias também é de extrema relevância, podendo
variar um pouco em função de sua formação acadêmica e bagagem de
conhecimentos prévios em uma ou outra matéria.
Geografia é uma matéria móvel, por ser a que tem menor relevância em
termos de pontos na primeira fase; pela sua semelhança com Política
Internacional (as partes referentes a economia, desenvolvimento, clima,
energia, etc.) e História do Brasil (formação do território, população, etc.) e
por ser a matéria de maior média global na terceira fase, mais fácil,
portanto.
Não se espera que em apenas quatro meses você atinja o nível esperado
de conhecimento para a prova em todas essas três matérias. Aliás, é
impossível, em apenas um ano de estudos, chegar a um elevado nível de
domínio de todas as matérias. A meta é ir tornando-se mais competitivo a
cada dia que passa, até que esteja em condições de superar a
concorrência e as exigências da prova.
Você sofrerá a tentação de esticar o ciclo até sentir que domina totalmente
aquelas matérias. O prejuízo disso é que as matérias futuras receberão a
fatura e pagarão o preço. No fim do ano, os ciclos finais ficarão
espremidos, e aquele equilíbrio no nível de conhecimento entre todas as
matérias de que falei no começo do artigo fica seriamente comprometido.
Você tirará boas notas em HB e HM, mas tenderá a ser medíocre em
Economia e Direito Internacional, por exemplo.
Uma excelente sequência de fontes para História do Brasil, que podem ser
combinadas com aulas específicas sobre cada tema, seria a seguinte:
História do Brasil (Boris Fausto); coleção História do Brasil Nação (Lilia
Schwarcz); História Geral do Brasil (Maria Yedda Linhares); História da
Política Exterior do Brasil (Cervo & Bueno); A Diplomacia na Construção do
Brasil (Rubens Ricupero). Recomendo, portanto, sempre dar uma folheada
em cada obra que tem disponível para ter noção de onde estão localizados
os conteúdos referentes a cada tema.
Por fim, um debate que nunca teve fim foi o da inclusão ou não das Eras
de Eric Hobsbawm em um plano de estudos de HM. Do ponto de vista
pragmático, não convém inclui-las em uma primeira rodada de estudos, já
que há obras mais sucintas (como as que citei) que abarcam todo o
assunto de maneira mais factual e menos ensaística do que as do
historiador britânico. Considere, portanto, incluir as Eras em um momento
de aprofundamento intelectual, uma vez internalizada a bibliografia básica
da matéria.
Língua Portuguesa
Recomendo dividir o estudo da Língua Portuguesa em três (ou seis)
sessões por semana: uma primeira voltada para os conhecimentos de
gramática, uma segunda para as leituras brasileiras e as noções de
literatura, e uma terceira para as técnicas de redação e estilo:
Geografia Urbana: The New Urban Agenda Illustrated (UN HABITAT); The
Global City: Introducing a Concept (Saskia Sassen); The World's Cities
(relatórios da ONU); World Urbanization Prospects, Highlights (ONU);
World Cities Report: The Value of Sustainable Urbanization, Key Findings
and Messages (UN HABITAT); Regiões de Influência das Cidades (IBGE).
Não se costuma estudar Geografia como uma matéria una, que tem
começo, meio e fim, em que tudo se entrelaça, mas por tópicos. Pelo
menos é assim que a matéria é cobrada nas provas do CACD e que as
fontes de estudos são construídas.
Mais uma vez, a FUNAG traz obras que tratam de relações bilaterais bem
particulares do Brasil (Brasil–Líbano; Brasil–Índia, Brasil–Turquia, etc.),
além de volumes dedicados à análise das políticas externas dos principais
países e interlocutores do Brasil.
4) O edital não é exaustivo, isto é, ele não relaciona tudo que você deve
aprender sobre cada idioma, mas faz referência apenas às competências
linguísticas. Não há uma lista de palavras a ser memorizada ou de regras
de gramática a dominar. O conhecimento nas línguas, portanto, não tem
fim. Não há uma linha de chegada, diferentemente das matérias de
conteúdo. Você nunca vai saber tanto inglês, francês ou espanhol a ponto
de prescindir do contato permanente com essas línguas;
Por essa razão, defendo que os idiomas façam parte de seus estudos em
caráter permanente, ou seja, você estudará as línguas em todos os
mesociclos, desde o começo de sua preparação. Use o bom senso e
considere seu nível de conhecimento prévio em cada língua para saber
quando introduzi-las no seu projeto. O ideal é que todas elas façam parte
de sua rotina de estudos o mais rápido possível. Se achar que é demais
estudar os três idiomas estrangeiros no primeiro mesociclo, além de
História do Brasil, Português e História Mundial, deixe uma ou duas
línguas para o segundo ciclo.
Por fim, há dois métodos excelentes para garantir que sua gramática
progredirá paulatinamente e seu vocabulário será cada vez mais rico e
preciso: escreva sua própria gramática, baseado nos erros que cometeu e
no aprendizado que extraiu depois de estudá-los; mantenha um dicionário
pessoal, segmentado por áreas temáticas, em que você registra todas as
palavras, expressões idiomáticas e construções sintáticas interessantes.
Elas serão seu repertório para a prova. Enriqueça essa lista pouco a pouco
e garanta que consegue usar ativamente todos os termos incluídos nela.
Por outro lado, usar questões apenas para saber seu grau de
competitividade é inútil se você não aprende nada com a experiência.
Tive alunos que, não obstante terem tido nota altíssima na primeira fase,
foram reprovados na prova de Língua Inglesa, na segunda fase. Não
tiveram, portanto, a chance de testar seus conhecimentos nas provas
discursivas das matérias de conteúdo temático. Faz sentido, nesse caso,
que os estudos de Língua Inglesa ganhem protagonismo no macrociclo
seguinte.
Por fim, quero que este artigo seja vivo, dinâmico, passível de
atualizações, modificações e retratações. Não garanto, portanto, que
estará intocado da próxima vez que você o acessar.