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APOSTILA CONCURSO

PMBA & CBMBA - 2022

SOLDADO - PMBA
SOLDADO - CBMBA

Teoria e Questões

(34) 9868-1113
PROTAGONISTA CONCURSOS
(34) 9684-1313
Apresentação
Fazer parte do serviço público é o objetivo de muitas pessoas.
Nesse sentido, esta apostila reúne os conteúdos cobrado no edital de abertura do concurso.
A Tutoria tem o cuidado de selecionar as informações do conteúdo programático das disciplinas
abordadas. Toda essa disposição de assuntos foi pensada para auxiliar em uma melhor
compreensão e fixação do conteúdo de forma clara e eficaz.
A apostila que você tem em mãos é resultado da experiência e da competência da Tutoria, que
conta com especialistas em cada uma das disciplinas.
Ressaltamos a importância de fazer uma preparação focada e organizada para obter o
desempenho desejado. A apostila da Tutoria será o diferencial para o seu sucesso e na
realização do seu sonho.

Diretor Editorial
Pedro Henrique Rezende Freitas

Revisão de Texto
Wilza Rezende Lima

Diretor de Arte
Pedro Henrique Rezende Freitas
Importante
O conteúdo desta apostila tem por objetivo atender às exigências do edital. Assim, recomendamos
ampliar seus conhecimentos em livros, sites, jornais, revistas, entre outros meios, para sua melhor
preparação.
Atualizações legislativas poderão ser encontradas nos sites governamentais.
A presente apostila não está vinculada à instituição pública e à empresa organizadora do concurso
público a que se destina, a sua aquisição não inclui a inscrição do candidato no concurso público e
também não garante a sua aprovação no concurso público.

Proteção de direitos
Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos pela Lei nº 9.610/98. É proibida
a reprodução de qualquer parte deste material didático, sem autorização prévia expressa por
escrito pela Protagonista.
Como montar um cronograma de estudos para concurso

Todo estudante sabe que o sucesso começa bem antes da prova e, sendo assim, é preciso ter
um cronogra- ma de estudos para ajudar a manter o foco, organização e rendimento. Confira
as dicas.
Prestar um concurso exige muita dedicação, foco e tempo de estudos. Para conseguir ser bem-
sucedido na caminha- da, é preciso criar um cronograma de estudos para concurso eficaz que se
encaixe na sua rotina e nos compromissos que você tem.
Montar um plano vai te ajudar a se concentrar melhor nos seus afazeres e pode te deixar motivado
para cumprir seu objetivo de passar num concurso público.

Entender a rotina
O primeiro passo para montar um cronograma de estudos para concurso é compreender a sua
rotina. É preciso entender como você gasta as horas dos seus dias, quais atividades tomam mais
tempo, quais são indispensáveis e quando você realiza cada uma. Então, é hora do papel e caneta:
anote!
Escreva detalhadamente o que você faz em cada dia da semana:
• Quando acorda;
• Horário de trabalho;
• Seus intervalos;
• Todas as refeições.

Definir horas de estudo


Agora que você já consegue ver sua rotina detalhada, calcule quantas horas você tem de sobra em
cada dia.
Vale também calcular o tempo que pode ser retirado de atividades não tão importantes. Por exemplo,
15 minutos da hora do almoço para estudar, mesmo que pareça pouco tempo, pode ser aproveitado
com a técnica correta.
Outra dica é utilizar algum tempo à noite, talvez após o jantar para estudar mais. Mas faça isso
apenas se você achar que é possível! Dormir bem é imprescindível para manter o cérebro aguçado.
Existe uma técnica que consiste em focar 25 minutos seguidos em uma única atividade e tirar um
intervalo de 5 a 15 minutos até a próxima tarefa. Se você conseguir deixar isso definido, seu
cronograma de estudos para concurso ficará ainda melhor. No entanto, é necessário lembrar que
eventualmente acontecerão imprevistos e seus horários precisa- rão ser reorganizados.

Definir o que estudar


Você já definiu os horários que terá para estudar, mas o que exatamente você pretende estudar?
Para definir isso, é preciso saber qual concurso você quer prestar. Coloque o nome da seleção como
título da planilha.
Existem alguns fatores que precisam ser analisados na hora de priorizar disciplinas:
• Disciplinas que tem maior peso;
• Matérias que você tem mais dificuldade;
• Assuntos que você tem menos conhecimento;
• Recorrência dos temas.
Montar o cronograma de estudos para concurso
Com as disciplinas listadas por nível de prioridade e sabendo quanto tempo terá para estudar, você já
pode montar seu plano diário. Para isso, use um planner ou crie uma planilha no computador. Se o
concurso já está marcado, veja quanto tempo você tem até a data das provas. Novamente: você vai
dividir cada disciplina, dessa vez com hora marcada:
• Começo dos estudos;
• Intervalos;
• Hora de revisar;
• Fechar os cadernos.

Ter comprometimento e regularidade


Independentemente de como foi montado seu cronograma de estudos, é necessário ter
comprometimento e regulari- dade. Estudar todos os dias e intercalar as disciplinas sempre relembrando
o que já foi estudado fazem parte de uma metodologia eficaz. São pontos importantes:
• Não ficar muito tempo sem estudar determinada disciplina;
• Colocar mais tempo às disciplinas que tem mais dificuldade;
• Priorizar também as matérias de maior peso ou que se repetem nas provas;
• Revisar conteúdo de outro dia para não cair no esquecimento.

Conhecer técnicas de estudo


Existem algumas técnicas que você pode adotar no seu cronograma de estudo para aproveitar melhor o
seu tempo, como a criação de resumos e mapas mentais. Na primeira, você anota os pontos
importantes que você compreendeu sobre o assunto. A segunda técnica é quase como um resumo, mas
ela é ainda mais simplificada: selecione a ideia principal/geral e, a partir dela, puxe ramificações para
assuntos mais específicos. Você pode também:
• Fazer marcações em textos: isso ajuda nos resumos e mapas mentais, bem como na revisão;
• Intercalar os estudos: num período de quatro horas, você estuda 45 minutos acerca de uma disciplina.
Então, faz um intervalo de 15 minutos e depois estuda mais 45 minutos de outra disciplina;
• Responder questões de provas anteriores e simulados: coloque seus conhecimentos em prática e veja o
quanto você consegue acertar.
Na questão de distribuição de tempo, uma técnica bacana é a de ciclo. Ela funciona da seguinte
maneira: vamos supor que você tenha 20 horas semanais disponíveis para estudar. Distribua este
tempo de acordo com a prioridade das disciplinas e siga seu cronograma normalmente. Caso algum
imprevisto aconteça, como precisar ir ao médico, e isso atrapalhar seu momento de estudo, na próxima
oportunidade que tiver para estudar siga de onde você parou. Não fique fixo ao sistema de escola: hoje
é português, amanhã é matemática e toda sexta é Direito Administrativo.
Esse formato pode prejudicar seus estudos, porque se você simplesmente deixar de estudar uma
disciplina na sema- na, na próxima vez ficará atrasado. Já na técnica de ciclo, você pode se recuperar o
conteúdo e flexibilizar o cronogra- ma de estudos para concursos públicos.
Com o tempo, você vai ganhar confiança e internalizará os conteúdos mais rápido. Sendo assim, poderá
acrescentar outras disciplinas complementares ao seu calendário de estudos, bem como fazer outros
ajustes possíveis e neces- sários.

Cuidar com o físico e o psicológico


Estudar para concurso em pouco tempo pode ser um pouco complicado e talvez você até pense em
usar seu tempo de lazer para se focar. Bom, você pode até diminuir esse tempo e utilizar um pouco dele
para estudar, mas não redu- za seus momentos de prazer a zero. Seu corpo e seu cérebro precisam de
descanso para conseguir assimilar tudo que você estudou.
Você também pode assistir a um filme, ver uma série, ligar para um amigo, testar uma receita nova.
Qualquer coisa que te dê prazer e relaxe a mente.
Cronograma de estudos

Horário Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo


ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Compreensão e interpretação de textos. Tipologia textual e gêneros textuais................................................................. 7
2. Ortografia oficial................................................................................................................................................................. 16
3. Acentuação gráfica............................................................................................................................................................. 17
4. Classes de palavras............................................................................................................................................................. 17
5. Uso do sinal indicativo de crase.......................................................................................................................................... 24
6. Sintaxe da oração e do período......................................................................................................................................... 24
7. Pontuação........................................................................................................................................................................... 26
8. Concordância nominal e verbal........................................................................................................................................... 27
9. Regência nominal e verbal................................................................................................................................................. 29
10. Significação das palavras................................................................................................................................................... 30

História do Brasil
1. Descobrimento do Brasil (1500). Brasil Colônia (1530–1815): Capitanias Hereditárias, Economia, Extrativismo Vegetal,
Extrativismo Mineral, Pecuária, Escravidão, Organização Político-Administrativa, Expansão Territorial.......................... 53
2. Independência do Brasil (1822): a Nomeação do Príncipe Regente D. Pedro I, Dia do Fico, Reconhecimento da
Independência do Brasil.................................................................................................................................................... 59
3. Primeiro Reinado (1822-1831).......................................................................................................................................... 59
4. Segundo Reinado (1831-1840) ............................................................................................................................................ 63
5. Primeira República (1889-1930): o Primeiro Governo Provisório, Assembleia Constituinte, Presidência de Deodoro da
Fonseca, a Política dos Governadores, o Coronelismo, Movimentos Tenentistas, Coluna Prestes, Revolta da Armada............ 66
6. Revolução de 1930. Era Vargas (1930-1945)......................................................................................................................... 71
7. Os Presidentes do Brasil de 1964 à atualidade..................................................................................................................... 73
8. História da Bahia.Independência da Bahia.Revolta de Canudos. Revolta dos Malês. Conjuração Baiana. Sabinada........ 79

Geografia do Brasil
1. Relevo brasileiro. ................................................................................................................................................................ 89
2. Urbanização: crescimento urbano, problemas estruturais, contingente populacional brasileiro..................................... 91
3. Tipos de fontes de energia que participam da matriz energética brasileira: eólica, hidráulica, biomassa, solar e a das
marés................................................................................................................................................................................. 92
4. Problemas Ambientais......................................................................................................................................................... 92
5. Clima: pressão atmosférica, umidade, temperatura, fatores que determinam o clima, mudanças climáticas e as suas
consequências................................................................................................................................................................... 101
6. Geografia da Bahia: aspectos políticos, físicos, econômicos, sociais e culturais............................................................... 101
ÍNDICE

Matemática
1. Conjuntos numéricos: Números Naturais, Inteiros, Racionais, Reais e Complexos (forma algébrica e forma trigonométrica).
Operações, propriedades e aplicações. ............................................................................................................................... 115
2. Sequências numéricas, progressão aritmética e progressão geométrica. ............................................................................. 124
3. Álgebra: Expressões algébricas. .......................................................................................................................................... 129
4. Polinômios: operações e propriedades. .............................................................................................................................. 131
5. Equações polinomiais e inequações relacionadas................................................................................................................. 135
6. Funções: generalidades. Funções elementares: 1º grau, 2º grau, modular, exponencial e logarítmica, gráficos.
Propriedades. .................................................................................................................................................................... 138
7. Sistemas lineares, Matrizes e Determinantes: Propriedades, aplicações. ............................................................................... 152
8. Análise Combinatória: Arranjos, Permutações e Combinações simples, Binômio de Newton e Probabilidade em espaços
amostrais finitos.................................................................................................................................................................. 162
9. Geometria e Medidas: Geometria plana: figuras geométricas, congruência, semelhança, perímetro e área. Geometria
espacial: paralelismo, perpendicularismo entre retas e planos, áreas e volumes dos sólidos geométricos: prisma, pirâmide,
cilindro, cone e esfera. Geometria analítica no plano: retas, circunferência e distâncias. ...................................................... 168
10. Trigonometria: razões trigonométricas, funções, fórmulas de transformações trigonométricas, equações e triângulos........... 180

Atualidades (Digital)
1. Globalização: conceitos, efeitos e implicações sociais, econômicas, políticas e culturais........................................................ 187
2. Multiculturalidade, Pluralidade e Diversidade Cultural......................................................................................................... 193
3. Tecnologias de Informação e Comunicação: conceitos, efeitos e implicações sociais, econômicas, políticas e culturais.......... 194

Informática
1. Conceitos e modos de utilização de aplicativos para edição de textos (Word, Writer), planilhas (Excel, Calc), apresentações
(PowerPoint, Impress); Microsoft Office (versão 2007 e superiores), LibreOffice (versão 5.0 e superiores). .............................. 217
2. Sistemas operacionais Windows 7, Windows 10 e Linux. Atalhos de teclado, ícones, área de trabalho e lixeira. .................... 226
3. Organização e gerenciamento de informações, arquivos, pastas e programas. ...................................................................... 235
4. Conceitos básicos e modos de utilização de tecnologias, ferramentas, aplicativos e procedimentos associados à Internet
e intranet. .......................................................................................................................................................................... 238
5. Correio eletrônico. .............................................................................................................................................................. 246
6. Computação em nuvem....................................................................................................................................................... 249

Direito Constitucional
1. Constituição da República Federativa do Brasil: Dos princípios fundamentais. ....................................................................... 255
2. Dos Direitos e garantias fundamentais. ................................................................................................................................ 256
3. Da organização do Estado. .................................................................................................................................................. 264
4. Da Administração Pública. Dos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios....................................................... 271
5. Da Segurança Pública........................................................................................................................................................... 277
6. Constituição do Estado da Bahia. Dos princípios fundamentais. Direitos e garantias fundamentais. Dos Servidores Públicos
Militares. Da Segurança Pública............................................................................................................................................ 280
ÍNDICE

Direitos Humanos
1. A Declaração Universal dos Direitos Humanos/1948............................................................................................................. 287
2. Convenção Americana sobre Direitos Humanos/1969 (Pacto de São José da Costa Rica) (art. 1° ao 32). ................................ 289
3. Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (art. 1° ao 15). ................................................................... 293
4. Declaração de Pequim Adotada pela Quarta Conferência Mundial sobre as Mulheres: Ação para Igualdade, Desenvolvimento
e Paz................................................................................................................................................................................... 296

Direito Administrativo
1. Administração Pública. ........................................................................................................................................................ 303
2. Princípios fundamentais da administração pública. .............................................................................................................. 305
3. Poderes e deveres dos administradores públicos: uso e abuso do poder, poderes vinculado, discricionário, hierárquico,
disciplinar e regulamentar, poder de polícia, deveres dos administradores públicos.............................................................. 308
4. Servidores públicos: cargo, emprego e função públicos. ...................................................................................................... 310
5. Regime jurídico do militar estadual: Estatuto dos Policiais Militares do Estado da Bahia (Lei estadual nº 7.990, de 27 de
dezembro de 2001 - arts 1º ao 59)...................................................................................................................................... 321

Direito Penal
1. Do crime. Elementos.. Consumação e tentativa. Desistência voluntária e arrependimento eficaz. Arrependimento posterior..
Crime impossível. Causas de exclusão de ilicitude e culpabilidade.Contravenção.................................................................. 341
2. Dos crimes contra a vida (homicídio, lesão corporal, rixa). Dos crimes contra a liberdade pessoal (constrangimento ilegal,
ameaça, perseguição, sequestro e cárcere privado). ............................................................................................................ 348
3. Dos crimes contra o patrimônio (furto, roubo, extorsão, apropriação indébita, receptação)................................................... 355
4. Dos crimes contra a dignidade sexual (estupro, importunação sexual, assédio sexual). ........................................................ 358
5. Corrupção ativa. Corrupção passiva. .................................................................................................................................... 360
6. Lei n° 9.455, de 07 de abril de 1997 (Crimes de tortura)....................................................................................................... 364

Igualdade Racial e de Gênero


1. Constituição da República Federativa do Brasil (art. 1°, 3°, 4° e 5°)........................................................................................ 373
2. Constituição do Estado da Bahia, (Cap. XXIII “Do Negro”)..................................................................................................... 373
3. Lei n° 12.288, de 20 de julho de 2010 (Estatuto da Igualdade Racial).................................................................................... 373
4. Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 (Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor)................................. 379
5. Lei n° 9.459, de 13 de maio de 1997 (Tipificação dos crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor). ........................ 380
6. Decreto n° 65.810, de 08 de dezembro de 1969 (Convenção internacional sobre a eliminação de todas as formas de
discriminação racial). ......................................................................................................................................................... 380
7. Decreto n° 4.377, de 13 de setembro de 2002 (Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra
a mulher). .......................................................................................................................................................................... 385
8. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha). ............................................................................................... 390
9. Código Penal Brasileiro (art. 140). ....................................................................................................................................... 396
10. Lei n° 9.455, de 7 de abril de 1997 (Crime de Tortura). ........................................................................................................ 396
11. Lei nº 7.437, de 20 de dezembro de 1985 (Lei Caó)............................................................................................................... 397
12. Lei Estadual n° 10.549, de 28 de dezembro de 2006 (Secretaria de Promoção da Igualdade Racial). ..................................... 397
13. Lei nº 10.678, de 23 de maio de 2003 (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República)........... 400
ÍNDICE

Direito Penal Militar


1. Dos crimes contra a autoridade ou disciplina militar: motim, revolta, conspiração, aliciação para motim ou revolta. Da
violência contra superior ou militar de serviço. Desrespeito a superior. Recusa de obediência. Reunião ilícita. Publicação
ou crítica indevida. Resistência mediante ameaça ou violência.......................................................................................... 405
2. Dos crimes contra o serviço militar e o dever militar: deserção, abandono de posto, descumprimento de missão, embriaguez
em serviço, dormir em serviço.............................................................................................................................................. 408
3. Crimes contra a Administração Militar: desacato a superior, desacato a militar, desobediência, peculato, peculato-furto,
concussão............................................................................................................................................................................ 410
4. Dos crimes contra o dever funcional: prevaricaçã.................................................................................................................. 415
LÍNGUA PORTUGUESA

Tipos textuais
COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS. TIPO- A tipologia textual se classifica a partir da estrutura e da finali-
LOGIA TEXTUAL E GÊNEROS TEXTUAIS dade do texto, ou seja, está relacionada ao modo como o texto se
apresenta. A partir de sua função, é possível estabelecer um padrão
Compreender e interpretar textos é essencial para que o obje- específico para se fazer a enunciação.
tivo de comunicação seja alcançado satisfatoriamente. Com isso, é Veja, no quadro abaixo, os principais tipos e suas característi-
importante saber diferenciar os dois conceitos. Vale lembrar que o cas:
texto pode ser verbal ou não-verbal, desde que tenha um sentido
completo. Apresenta um enredo, com ações e
A compreensão se relaciona ao entendimento de um texto e relações entre personagens, que ocorre
de sua proposta comunicativa, decodificando a mensagem explíci- em determinados espaço e tempo. É
ta. Só depois de compreender o texto que é possível fazer a sua TEXTO NARRATIVO
contado por um narrador, e se estrutura
interpretação. da seguinte maneira: apresentação >
A interpretação são as conclusões que chegamos a partir do desenvolvimento > clímax > desfecho
conteúdo do texto, isto é, ela se encontra para além daquilo que
está escrito ou mostrado. Assim, podemos dizer que a interpreta- Tem o objetivo de defender determinado
ção é subjetiva, contando com o conhecimento prévio e do reper- TEXTO ponto de vista, persuadindo o leitor a
tório do leitor. DISSERTATIVO partir do uso de argumentos sólidos.
Dessa maneira, para compreender e interpretar bem um texto, ARGUMENTATIVO Sua estrutura comum é: introdução >
é necessário fazer a decodificação de códigos linguísticos e/ou vi- desenvolvimento > conclusão.
suais, isto é, identificar figuras de linguagem, reconhecer o sentido Procura expor ideias, sem a necessidade
de conjunções e preposições, por exemplo, bem como identificar de defender algum ponto de vista. Para
expressões, gestos e cores quando se trata de imagens. isso, usa-se comparações, informações,
TEXTO EXPOSITIVO
definições, conceitualizações etc. A
Dicas práticas estrutura segue a do texto dissertativo-
1. Faça um resumo (pode ser uma palavra, uma frase, um con- argumentativo.
ceito) sobre o assunto e os argumentos apresentados em cada pa-
Expõe acontecimentos, lugares, pessoas,
rágrafo, tentando traçar a linha de raciocínio do texto. Se possível,
de modo que sua finalidade é descrever,
adicione também pensamentos e inferências próprias às anotações.
TEXTO DESCRITIVO ou seja, caracterizar algo ou alguém.
2. Tenha sempre um dicionário ou uma ferramenta de busca
Com isso, é um texto rico em adjetivos e
por perto, para poder procurar o significado de palavras desconhe-
em verbos de ligação.
cidas.
3. Fique atento aos detalhes oferecidos pelo texto: dados, fon- Oferece instruções, com o objetivo de
te de referências e datas. TEXTO INJUNTIVO orientar o leitor. Sua maior característica
4. Sublinhe as informações importantes, separando fatos de são os verbos no modo imperativo.
opiniões.
5. Perceba o enunciado das questões. De um modo geral, ques-
tões que esperam compreensão do texto aparecem com as seguin- Gêneros textuais
tes expressões: o autor afirma/sugere que...; segundo o texto...; de A classificação dos gêneros textuais se dá a partir do reconhe-
acordo com o autor... Já as questões que esperam interpretação do cimento de certos padrões estruturais que se constituem a partir
texto aparecem com as seguintes expressões: conclui-se do texto da função social do texto. No entanto, sua estrutura e seu estilo
que...; o texto permite deduzir que...; qual é a intenção do autor não são tão limitados e definidos como ocorre na tipologia textual,
quando afirma que... podendo se apresentar com uma grande diversidade. Além disso, o
padrão também pode sofrer modificações ao longo do tempo, as-
Tipologia Textual sim como a própria língua e a comunicação, no geral.
A partir da estrutura linguística, da função social e da finali- Alguns exemplos de gêneros textuais:
dade de um texto, é possível identificar a qual tipo e gênero ele • Artigo
pertence. Antes, é preciso entender a diferença entre essas duas • Bilhete
classificações. • Bula
• Carta
• Conto
• Crônica
• E-mail
• Lista
• Manual

7
LÍNGUA PORTUGUESA
• Notícia Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente,
• Poema que C é igual a A.
• Propaganda Outro exemplo:
• Receita culinária
• Resenha Todo ruminante é um mamífero.
• Seminário A vaca é um ruminante.
Logo, a vaca é um mamífero.
Vale lembrar que é comum enquadrar os gêneros textuais em
determinados tipos textuais. No entanto, nada impede que um tex- Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão
to literário seja feito com a estruturação de uma receita culinária, também será verdadeira.
por exemplo. Então, fique atento quanto às características, à finali- No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
dade e à função social de cada texto analisado. a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se
mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau-
ARGUMENTAÇÃO sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais
O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa- confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada
ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um
de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente, banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con-
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
propõe. que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo outro fundado há dois ou três anos.
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de der bem como eles funcionam.
vista defendidos. Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu- expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi-
que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur- positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência
sos de linguagem. associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos,
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori-
escolher entre duas ou mais coisas”. zado numa dada cultura.
Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des-
vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar. Tipos de Argumento
Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa-
coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre- zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu-
cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu- mento. Exemplo:
mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna
uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no Argumento de Autoridade
domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas
que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos- pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para
sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra. servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur-
O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor
um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a
enunciador está propondo. garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto
Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação. um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver-
O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende dadeira. Exemplo:
demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-
missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados “A imaginação é mais importante do que o conhecimento.”
admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de
crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea- Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para
mento de premissas e conclusões. ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe-
Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento: cimento. Nunca o inverso.

A é igual a B. Alex José Periscinoto.


A é igual a C. In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2
Então: C é igual a A.

8
LÍNGUA PORTUGUESA
A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor- Argumento do Atributo
tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela, É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi-
o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais
um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o
acreditar que é verdade. que é mais grosseiro, etc.
Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce-
Argumento de Quantidade lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza,
É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú- alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor
mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior tende a associar o produto anunciado com atributos da celebrida-
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento de.
desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz Uma variante do argumento de atributo é o argumento da
largo uso do argumento de quantidade. competência linguística. A utilização da variante culta e formal da
língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social-
Argumento do Consenso mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto
É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de
em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como dizer dá confiabilidade ao que se diz.
verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde
objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei-
que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu- ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade-
tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa
desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico:
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao - Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu- conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases por bem determinar o internamento do governador pelo período de
carentes de qualquer base científica. três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001.
- Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
Argumento de Existência guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar tal por três dias.
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar- Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen-
gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser
do que dois voando”. ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação
Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um
(fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre- texto tem sempre uma orientação argumentativa.
tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante
a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci- traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um
to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo
afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza.
vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto
comparação do número de canhões, de carros de combate, de na- dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó-
vios, etc., ganhava credibilidade. dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não
outras, etc. Veja:
Argumento quase lógico
É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa “O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca-
e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são vam abraços afetuosos.”
chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi- O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras
cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse
elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí- fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até,
veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en- que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada.
tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica. Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra-
Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo” tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros:
não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável. - Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am-
Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá-
aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con- rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser
correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor
tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas
fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente,
com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações injustiça, corrupção).
indevidas. - Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas
por um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são
ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir
o argumento.

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LÍNGUA PORTUGUESA
- Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con- - contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os
texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta-
atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por ria contra a argumentação proposta;
exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite - refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos-
que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido, ta.
uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir
outros à sua dependência política e econômica”. A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar-
gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões
A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa- válidas, como se procede no método dialético. O método dialético
ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi- não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas.
dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação, Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de
o assunto, etc). sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques-
Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani- tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.
festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men- Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé-
tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do
(como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente, simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes-
afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto, ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões
sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co-
construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali- meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio
dades não se prometem, manifestam-se na ação. de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana,
A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos
que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz. e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a
ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro
a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar- regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma
gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che- série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo da verdade:
de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se - evidência;
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu - divisão ou análise;
comportamento. - ordem ou dedução;
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli- - enumeração.
da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro-
posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão
empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o
argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen- encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí- A forma de argumentação mais empregada na redação acadê-
mica e até o choro. mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que
Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades, contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con-
expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa- clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con-
vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen- clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa
ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não
dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma caracteriza a universalidade. Há dois métodos fundamentais de ra-
“tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta- ciocínio: a dedução (silogística), que parte do geral para o particular,
ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse e a indução, que vai do particular para o geral. A expressão formal
ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de- do método dedutivo é o silogismo. A dedução é o caminho das con-
bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a sequências, baseia-se em uma conexão descendente (do geral para
possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade o particular) que leva à conclusão. Segundo esse método, partin-
de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar do-se de teorias gerais, de verdades universais, pode-se chegar à
um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun- previsão ou determinação de fenômenos particulares. O percurso
damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista. do raciocínio vai da causa para o efeito. Exemplo:
Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu- Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal)
mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis- Fulano é homem (premissa menor = particular)
curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia. Logo, Fulano é mortal (conclusão)
Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições,
é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia-
seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve- se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse
zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre, caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par-
essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci-
aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol- dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo:
ver as seguintes habilidades: O calor dilata o ferro (particular)
- argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma O calor dilata o bronze (particular)
ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total- O calor dilata o cobre (particular)
mente contrária; O ferro, o bronze, o cobre são metais

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LÍNGUA PORTUGUESA
Logo, o calor dilata metais (geral, universal) Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por
meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con-
Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise,
e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo-
também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos, sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As
pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu- operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim
são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata, relacionadas:
uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção Análise: penetrar, decompor, separar, dividir.
deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir.
essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de
argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias
de sofisma no seguinte diálogo: a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação
de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco-
- Você concorda que possui uma coisa que não perdeu? lha dos elementos que farão parte do texto.
- Lógico, concordo. Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in-
- Você perdeu um brilhante de 40 quilates? formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca-
- Claro que não! racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen-
- Então você possui um brilhante de 40 quilates... tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
Exemplos de sofismas: um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe-
Dedução lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
Todo professor tem um diploma (geral, universal) partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
Fulano tem um diploma (particular) confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos:
Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa) análise é decomposição e classificação é hierarquisação.
Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme-
Indução nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a
O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (particu- classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me-
lar) Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular) nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades. empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação,
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e
– conclusão falsa) espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís-
ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens
Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial.
pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são pro- Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão,
fessores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Reden- canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio,
tor. Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou sabiá, torradeira.
infundadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise
superficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, base- Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá.
ados nos sentimentos não ditados pela razão. Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo.
Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen- Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira.
tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda- Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus.
de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem
outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé-
processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par- tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de
ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é
demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de
classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por- uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais
que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro
pesquisa. o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é
Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados; indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração
a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou
todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de- seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização.
pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a (Garcia, 1973, p. 302304.)
síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém, Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in-
que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres-
reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio-
o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam.
todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina- É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição
das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então, adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos
o relógio estaria reconstruído. de vista sobre ele.

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LÍNGUA PORTUGUESA
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua- Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás-
gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento
ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco-
espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen- nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes,
cia dos outros elementos dessa mesma espécie. as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu-
Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a
é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis-
definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa- sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos
lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está
metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus
tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos: elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro-
- o termo a ser definido; cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que
- o gênero ou espécie; raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe-
- a diferença específica. cífico de relação entre as premissas e a conclusão.

O que distingue o termo definido de outros elementos da mes- Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimen-
ma espécie. Exemplo: tos argumentativos mais empregados para comprovar uma afirma-
ção: exemplificação, explicitação, enumeração, comparação.
Na frase: O homem é um animal racional classifica-se:
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio
de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes-
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa-
Elemento especie diferença nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados
a ser definido específica apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de
É muito comum formular definições de maneira defeituosa, causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por-
por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par- que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em
tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é virtude de, em vista de, por motivo de.
advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é
forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan- Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli-
te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973, car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar
p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”. esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta-
Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos: ção. Na explicitação por definição, empregam-se expressões como:
- o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista,
que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme,
realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no
ou instalação”; entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece,
os exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito assim, desse ponto de vista.
para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade;
- deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade, Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de
definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”; elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são
definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem” frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de-
não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem); pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de-
- deve ser breve (contida num só período). Quando a definição, pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente,
ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos ou respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de
de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan- espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí,
dida;d além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no
- deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) + interior, nas grandes cidades, no sul, no leste...
cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de
diferenças). se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma
ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma
As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta-
paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos
consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala- que, melhor que, pior que.
vra e seus significados.
A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem- Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar
pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se:
necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada
com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade
mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda- reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir-
mentação coerente e adequada. mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi-
bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no

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LÍNGUA PORTUGUESA
corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para
uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li- desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao
nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui-
justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a
caráter confirmatório que comprobatório. elaboração de um Plano de Redação.

Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli- Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução
cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por tecnológica
consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse
caso, incluem-se - Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder
- A declaração que expressa uma verdade universal (o homem, a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos-
mortal, aspira à imortalidade); ta, justificar, criando um argumento básico;
- A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula- - Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e
dos e axiomas); construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação
- Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature- que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la
za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão (rever tipos de argumentação);
desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se - Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias
discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po-
parece absurdo). dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e consequ-
ência);
Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de - Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o
um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con- argumento básico;
cretos, estatísticos ou documentais. - Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que
poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em
Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu-
realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau- mento básico;
sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência. - Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se-
quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às
Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações, partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou
julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opini- menos a seguinte:
ões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprovada,
e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que ex- Introdução
presse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na
evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade - função social da ciência e da tecnologia;
dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra- - definições de ciência e tecnologia;
-argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar- - indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico.
gumentação:
Desenvolvimento
Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demons-
trando o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraar- - apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol-
gumentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”; vimento tecnológico;
- como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as
condições de vida no mundo atual;
Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses
- a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica-
para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver-
mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub-
dadeira;
desenvolvidos;
- enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social;
Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi-
- comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas-
nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali-
sado; apontar semelhanças e diferenças;
dade da afirmação;
- analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur-
banos;
Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: con- - como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar
siste em refutar um argumento empregando os testemunhos de mais a sociedade.
autoridade que contrariam a afirmação apresentada;
Conclusão
Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de- - a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/consequ-
sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se ências maléficas;
em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes. - síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos
Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados apresentados.
estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda-
uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para contraar- ção: é um dos possíveis.
gumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento é que
gera o controle demográfico”.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Texto: Na leitura, é muito importante detectar os pressupostos, pois
eles são um recurso argumentativo que visa a levar o receptor a
“Neto ainda está longe de se igualar a qualquer um desses cra- aceitar a orientação argumentativa do emissor. Ao introduzir uma
ques (Rivelino, Ademir da Guia, Pedro Rocha e Pelé), mas ainda tem ideia sob a forma de pressuposto, o enunciador pretende transfor-
um longo caminho a trilhar (...).” mar seu interlocutor em cúmplice, pois a ideia implícita não é posta
Veja São Paulo, 26/12/1990, p. 15. em discussão, e todos os argumentos explícitos só contribuem para
confirmála. O pressusposto aprisiona o receptor no sistema de pen-
Esse texto diz explicitamente que: samento montado pelo enunciador.
- Rivelino, Ademir da Guia, Pedro Rocha e Pelé são craques; A demonstração disso pode ser feita com as “verdades incon-
- Neto não tem o mesmo nível desses craques; testáveis” que estão na base de muitos discursos políticos, como o
- Neto tem muito tempo de carreira pela frente. que segue:
O texto deixa implícito que:
- Existe a possibilidade de Neto um dia aproximar-se dos cra- “Quando o curso do rio São Francisco for mudado, será resolvi-
ques citados; do o problema da seca no Nordeste.”
- Esses craques são referência de alto nível em sua especialida- O enunciador estabelece o pressuposto de que é certa a mu-
de esportiva; dança do curso do São Francisco e, por consequência, a solução do
- Há uma oposição entre Neto e esses craques no que diz res- problema da seca no Nordeste. O diálogo não teria continuidade se
peito ao tempo disponível para evoluir. um interlocutor não admitisse ou colocasse sob suspeita essa cer-
Todos os textos transmitem explicitamente certas informações, teza. Em outros termos, haveria quebra da continuidade do diálogo
enquanto deixam outras implícitas. Por exemplo, o texto acima não se alguém interviesse com uma pergunta deste tipo:
explicita que existe a possibilidade de Neto se equiparar aos qua-
tro futebolistas, mas a inclusão do advérbio ainda estabelece esse “Mas quem disse que é certa a mudança do curso do rio?”
implícito. Não diz também com explicitude que há oposição entre
Neto e os outros jogadores, sob o ponto de vista de contar com A aceitação do pressuposto estabelecido pelo emissor permite
tempo para evoluir. A escolha do conector “mas” entre a segunda e levar adiante o debate; sua negação compromete o diálogo, uma
a primeira oração só é possível levando em conta esse dado implíci- vez que destrói a base sobre a qual se constrói a argumentação, e
to. Como se vê, há mais significados num texto do que aqueles que daí nenhum argumento tem mais importância ou razão de ser. Com
aparecem explícitos na sua superfície. Leitura proficiente é aquela pressupostos distintos, o diálogo não é possível ou não tem sentido.
capaz de depreender tanto um tipo de significado quanto o outro, A mesma pergunta, feita para pessoas diferentes, pode ser em-
o que, em outras palavras, significa ler nas entrelinhas. Sem essa baraçosa ou não, dependendo do que está pressuposto em cada
habilidade, o leitor passará por cima de significados importantes situação. Para alguém que não faz segredo sobre a mudança de
ou, o que é bem pior, concordará com ideias e pontos de vista que emprego, não causa o menor embaraço uma pergunta como esta:
rejeitaria se os percebesse.
Os significados implícitos costumam ser classificados em duas “Como vai você no seu novo emprego?”
categorias: os pressupostos e os subentendidos.
Pressupostos: são ideias implícitas que estão implicadas logica- O efeito da mesma pergunta seria catastrófico se ela se diri-
mente no sentido de certas palavras ou expressões explicitadas na gisse a uma pessoa que conseguiu um segundo emprego e quer
superfície da frase. Exemplo: manter sigilo até decidir se abandona o anterior. O adjetivo novo
estabelece o pressuposto de que o interrogado tem um emprego
“André tornou-se um antitabagista convicto.” diferente do anterior.
A informação explícita é que hoje André é um antitabagista
Marcadores de Pressupostos
convicto. Do sentido do verbo tornar-se, que significa “vir a ser”,
- Adjetivos ou palavras similares modificadoras do substantivo
decorre logicamente que antes André não era antitabagista convic-
Julinha foi minha primeira filha.
to. Essa informação está pressuposta. Ninguém se torna algo que
“Primeira” pressupõe que tenho outras filhas e que as outras
já era antes. Seria muito estranho dizer que a palmeira tornou-se
nasceram depois de Julinha.
um vegetal.
Destruíram a outra igreja do povoado.
“Eu ainda não conheço a Europa.”
“Outra” pressupõe a existência de pelo menos uma igreja além
A informação explícita é que o enunciador não tem conheci-
mento do continente europeu. O advérbio ainda deixa pressuposta da usada como referência.
a possibilidade de ele um dia conhecê-la.
As informações explícitas podem ser questionadas pelo recep- - Certos verbos
tor, que pode ou não concordar com elas. Os pressupostos, porém,
devem ser verdadeiros ou, pelo menos, admitidos como tais, por- Renato continua doente.
que esta é uma condição para garantir a continuidade do diálogo O verbo “continua” indica que Renato já estava doente no mo-
e também para fornecer fundamento às afirmações explícitas. Isso mento anterior ao presente.
significa que, se o pressuposto é falso, a informação explícita não
tem cabimento. Assim, por exemplo, se Maria não falta nunca a Nossos dicionários já aportuguesaram a palavrea copydesk.
aula nenhuma, não tem o menor sentido dizer “Até Maria compa- O verbo “aportuguesar” estabelece o pressuposto de que copi-
receu à aula de hoje”. Até estabelece o pressuposto da inclusão de desque não existia em português.
um elemento inesperado.

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LÍNGUA PORTUGUESA
- Certos advérbios Ora, o funcionário preterido, tendo recorrido a um subentendi-
do, poderia responder:
A produção automobilística brasileira está totalmente nas “Absolutamente! Estou falando em termos gerais.”
mãos das multinacionais.
O advérbio totalmente pressupõe que não há no Brasil indús- ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁ-
tria automobilística nacional. GRAFOS

- Você conferiu o resultado da loteria? São três os elementos essenciais para a composição de um tex-
- Hoje não. to: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. Vamos estudar
A negação precedida de um advérbio de tempo de âmbito limi- cada uma de forma isolada a seguir:
tado estabelece o pressuposto de que apenas nesse intervalo (hoje)
é que o interrogado não praticou o ato de conferir o resultado da Introdução
loteria.
É a apresentação direta e objetiva da ideia central do texto. A
- Orações adjetivas introdução é caracterizada por ser o parágrafo inicial.

Os brasileiros, que não se importam com a coletividade, só se Desenvolvimento


preocupam com seu bemestar e, por isso, jogam lixo na rua, fecham
os cruzamentos, etc. Quando tratamos de estrutura, é a maior parte do texto. O
O pressuposto é que “todos” os brasileiros não se importam desenvolvimento estabelece uma conexão entre a introdução e a
com a coletividade. conclusão, pois é nesta parte que as ideias, argumentos e posicio-
namento do autor vão sendo formados e desenvolvidos com a fina-
Os brasileiros que não se importam com a coletividade só se lidade de dirigir a atenção do leitor para a conclusão.
preocupam com seu bemestar e, por isso, jogam lixo na rua, fecham Em um bom desenvolvimento as ideias devem ser claras e ap-
os cruzamentos, etc. tas a fazer com que o leitor anteceda qual será a conclusão.
Nesse caso, o pressuposto é outro: “alguns” brasileiros não se
importam com a coletividade. São três principais erros que podem ser cometidos na elabora-
ção do desenvolvimento:
No primeiro caso, a oração é explicativa; no segundo, é restriti- - Distanciar-se do texto em relação ao tema inicial.
va. As explicativas pressupõem que o que elas expressam se refere à - Focar em apenas um tópico do tema e esquecer dos outros.
totalidade dos elementos de um conjunto; as restritivas, que o que - Falar sobre muitas informações e não conseguir organizá-las,
elas dizem concerne apenas a parte dos elementos de um conjun- dificultando a linha de compreensão do leitor.
to. O produtor do texto escreverá uma restritiva ou uma explicativa
segundo o pressuposto que quiser comunicar. Conclusão

Subentendidos: são insinuações contidas em uma frase ou um Ponto final de todas as argumentações discorridas no desen-
grupo de frases. Suponhamos que uma pessoa estivesse em visita volvimento, ou seja, o encerramento do texto e dos questionamen-
à casa de outra num dia de frio glacial e que uma janela, por onde tos levantados pelo autor.
entravam rajadas de vento, estivesse aberta. Se o visitante dissesse Ao fazermos a conclusão devemos evitar expressões como:
“Que frio terrível”, poderia estar insinuando que a janela deveria “Concluindo...”, “Em conclusão, ...”, “Como já dissemos antes...”.
ser fechada.
Há uma diferença capital entre o pressuposto e o subentendi- Parágrafo
do. O primeiro é uma informação estabelecida como indiscutível
tanto para o emissor quanto para o receptor, uma vez que decorre Se caracteriza como um pequeno recuo em relação à margem
necessariamente do sentido de algum elemento linguístico coloca- esquerda da folha. Conceitualmente, o parágrafo completo deve
do na frase. Ele pode ser negado, mas o emissor coloca o implici- conter introdução, desenvolvimento e conclusão.
tamente para que não o seja. Já o subentendido é de responsabi- - Introdução – apresentação da ideia principal, feita de maneira
lidade do receptor. O emissor pode esconder-se atrás do sentido sintética de acordo com os objetivos do autor.
literal das palavras e negar que tenha dito o que o receptor depre- - Desenvolvimento – ampliação do tópico frasal (introdução),
endeu de suas palavras. Assim, no exemplo dado acima, se o dono atribuído pelas ideias secundárias, a fim de reforçar e dar credibili-
da casa disser que é muito pouco higiênico fechar todas as janelas, dade na discussão.
o visitante pode dizer que também acha e que apenas constatou a - Conclusão – retomada da ideia central ligada aos pressupos-
intensidade do frio. tos citados no desenvolvimento, procurando arrematá-los.
O subentendido serve, muitas vezes, para o emissor proteger-
se, para transmitir a informação que deseja dar a conhecer sem se Exemplo de um parágrafo bem estruturado (com introdução,
comprometer. Imaginemos, por exemplo, que um funcionário re- desenvolvimento e conclusão):
cémpromovido numa empresa ouvisse de um colega o seguinte:
“Nesse contexto, é um grave erro a liberação da maconha.
“Competência e mérito continuam não valendo nada como cri- Provocará de imediato violenta elevação do consumo. O Estado
tério de promoção nesta empresa...” perderá o precário controle que ainda exerce sobre as drogas psico-
trópicas e nossas instituições de recuperação de viciados não terão
Esse comentário talvez suscitasse esta suspeita: estrutura suficiente para atender à demanda. Enfim, viveremos o
caos. ”
“Você está querendo dizer que eu não merecia a promoção?” (Alberto Corazza, Isto É, com adaptações)

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LÍNGUA PORTUGUESA
Elemento relacionador: Nesse contexto.
Tópico frasal: é um grave erro a liberação da maconha.
Desenvolvimento: Provocará de imediato violenta elevação do consumo. O Estado perderá o precário controle que ainda exerce sobre
as drogas psicotrópicas e nossas instituições de recuperação de viciados não terão estrutura suficiente para atender à demanda.
Conclusão: Enfim, viveremos o caos.

ORTOGRAFIA OFICIAL

A ortografia oficial diz respeito às regras gramaticais referentes à escrita correta das palavras. Para melhor entendê-las, é preciso ana-
lisar caso a caso. Lembre-se de que a melhor maneira de memorizar a ortografia correta de uma língua é por meio da leitura, que também
faz aumentar o vocabulário do leitor.
Neste capítulo serão abordadas regras para dúvidas frequentes entre os falantes do português. No entanto, é importante ressaltar que
existem inúmeras exceções para essas regras, portanto, fique atento!

Alfabeto
O primeiro passo para compreender a ortografia oficial é conhecer o alfabeto (os sinais gráficos e seus sons). No português, o alfabeto
se constitui 26 letras, divididas entre vogais (a, e, i, o, u) e consoantes (restante das letras).
Com o Novo Acordo Ortográfico, as consoantes K, W e Y foram reintroduzidas ao alfabeto oficial da língua portuguesa, de modo que
elas são usadas apenas em duas ocorrências: transcrição de nomes próprios e abreviaturas e símbolos de uso internacional.

Uso do “X”
Algumas dicas são relevantes para saber o momento de usar o X no lugar do CH:
• Depois das sílabas iniciais “me” e “en” (ex: mexerica; enxergar)
• Depois de ditongos (ex: caixa)
• Palavras de origem indígena ou africana (ex: abacaxi; orixá)

Uso do “S” ou “Z”


Algumas regras do uso do “S” com som de “Z” podem ser observadas:
• Depois de ditongos (ex: coisa)
• Em palavras derivadas cuja palavra primitiva já se usa o “S” (ex: casa > casinha)
• Nos sufixos “ês” e “esa”, ao indicarem nacionalidade, título ou origem. (ex: portuguesa)
• Nos sufixos formadores de adjetivos “ense”, “oso” e “osa” (ex: populoso)

Uso do “S”, “SS”, “Ç”


• “S” costuma aparecer entre uma vogal e uma consoante (ex: diversão)
• “SS” costuma aparecer entre duas vogais (ex: processo)
• “Ç” costuma aparecer em palavras estrangeiras que passaram pelo processo de aportuguesamento (ex: muçarela)

Os diferentes porquês

Usado para fazer perguntas. Pode ser


POR QUE
substituído por “por qual motivo”
Usado em respostas e explicações. Pode
PORQUE
ser substituído por “pois”
O “que” é acentuado quando aparece
como a última palavra da frase, antes da
POR QUÊ
pontuação final (interrogação, exclamação,
ponto final)
É um substantivo, portanto costuma vir
PORQUÊ acompanhado de um artigo, numeral, adjetivo
ou pronome

Parônimos e homônimos
As palavras parônimas são aquelas que possuem grafia e pronúncia semelhantes, porém com significados distintos.
Ex: cumprimento (saudação) X comprimento (extensão); tráfego (trânsito) X tráfico (comércio ilegal).
Já as palavras homônimas são aquelas que possuem a mesma grafia e pronúncia, porém têm significados diferentes. Ex: rio (verbo
“rir”) X rio (curso d’água); manga (blusa) X manga (fruta).

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LÍNGUA PORTUGUESA

ACENTUAÇÃO GRÁFICA

A acentuação é uma das principais questões relacionadas à Ortografia Oficial, que merece um capítulo a parte. Os acentos utilizados
no português são: acento agudo (´); acento grave (`); acento circunflexo (^); cedilha (¸) e til (~).
Depois da reforma do Acordo Ortográfico, a trema foi excluída, de modo que ela só é utilizada na grafia de nomes e suas derivações
(ex: Müller, mülleriano).
Esses são sinais gráficos que servem para modificar o som de alguma letra, sendo importantes para marcar a sonoridade e a intensi-
dade das sílabas, e para diferenciar palavras que possuem a escrita semelhante.
A sílaba mais intensa da palavra é denominada sílaba tônica. A palavra pode ser classificada a partir da localização da sílaba tônica,
como mostrado abaixo:
• OXÍTONA: a última sílaba da palavra é a mais intensa. (Ex: café)
• PAROXÍTONA: a penúltima sílaba da palavra é a mais intensa. (Ex: automóvel)
• PROPAROXÍTONA: a antepenúltima sílaba da palavra é a mais intensa. (Ex: lâmpada)
As demais sílabas, pronunciadas de maneira mais sutil, são denominadas sílabas átonas.

Regras fundamentais

CLASSIFICAÇÃO REGRAS EXEMPLOS


• terminadas em A, E, O, EM, seguidas ou não do
cipó(s), pé(s), armazém
OXÍTONAS plural
respeitá-la, compô-lo, comprometê-los
• seguidas de -LO, -LA, -LOS, -LAS
• terminadas em I, IS, US, UM, UNS, L, N, X, PS, Ã,
ÃS, ÃO, ÃOS
táxi, lápis, vírus, fórum, cadáver, tórax, bíceps,
• ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido
PAROXÍTONAS ímã, órfão, órgãos, água, mágoa, pônei, ideia, geleia,
ou não do plural
paranoico, heroico
(OBS: Os ditongos “EI” e “OI” perderam o
acento com o Novo Acordo Ortográfico)
PROPAROXÍTONAS • todas são acentuadas cólica, analítico, jurídico, hipérbole, último, álibi

Regras especiais

REGRA EXEMPLOS
Acentua-se quando “I” e “U” tônicos formarem hiato com a vogal anterior, acompanhados ou não de saída, faísca, baú, país
“S”, desde que não sejam seguidos por “NH” feiura, Bocaiuva,
OBS: Não serão mais acentuados “I” e “U” tônicos formando hiato quando vierem depois de ditongo Sauipe
têm, obtêm, contêm,
Acentua-se a 3ª pessoa do plural do presente do indicativo dos verbos “TER” e “VIR” e seus compostos
vêm
Não são acentuados hiatos “OO” e “EE” leem, voo, enjoo
Não são acentuadas palavras homógrafas
pelo, pera, para
OBS: A forma verbal “PÔDE” é uma exceção

CLASSES DE PALAVRAS

Classes de Palavras
Para entender sobre a estrutura das funções sintáticas, é preciso conhecer as classes de palavras, também conhecidas por classes
morfológicas. A gramática tradicional pressupõe 10 classes gramaticais de palavras, sendo elas: adjetivo, advérbio, artigo, conjunção, in-
terjeição, numeral, pronome, preposição, substantivo e verbo.
Veja, a seguir, as características principais de cada uma delas.

CLASSE CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS


Menina inteligente...
Expressar características, qualidades ou estado dos
Roupa azul-marinho...
ADJETIVO seres
Brincadeira de criança...
Sofre variação em número, gênero e grau
Povo brasileiro...
A ajuda chegou tarde.
Indica circunstância em que ocorre o fato verbal
ADVÉRBIO A mulher trabalha muito.
Não sofre variação
Ele dirigia mal.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Determina os substantivos (de modo definido ou inde- A galinha botou um ovo.


ARTIGO finido) Uma menina deixou a mochila no ôni-
Varia em gênero e número bus.
Liga ideias e sentenças (conhecida também como co- Não gosto de refrigerante nem de pizza.
CONJUNÇÃO nectivos) Eu vou para a praia ou para a cachoei-
Não sofre variação ra?
Exprime reações emotivas e sentimentos Ah! Que calor...
INTERJEIÇÃO
Não sofre variação Escapei por pouco, ufa!
Atribui quantidade e indica posição em alguma sequên-
Gostei muito do primeiro dia de aula.
NUMERAL cia
Três é a metade de seis.
Varia em gênero e número
Posso ajudar, senhora?
Ela me ajudou muito com o meu tra-
Acompanha, substitui ou faz referência ao substantivo
PRONOME balho.
Varia em gênero e número
Esta é a casa onde eu moro.
Que dia é hoje?
Relaciona dois termos de uma mesma oração Espero por você essa noite.
PREPOSIÇÃO
Não sofre variação Lucas gosta de tocar violão.
Nomeia objetos, pessoas, animais, alimentos, lugares
A menina jogou sua boneca no rio.
SUBSTANTIVO etc.
A matilha tinha muita coragem.
Flexionam em gênero, número e grau.
Indica ação, estado ou fenômenos da natureza Ana se exercita pela manhã.
Sofre variação de acordo com suas flexões de modo, Todos parecem meio bobos.
VERBO tempo, número, pessoa e voz. Chove muito em Manaus.
Verbos não significativos são chamados verbos de liga- A cidade é muito bonita quando vista
ção do alto.

Substantivo

Tipos de substantivos
Os substantivos podem ter diferentes classificações, de acordo com os conceitos apresentados abaixo:
• Comum: usado para nomear seres e objetos generalizados. Ex: mulher; gato; cidade...
• Próprio: geralmente escrito com letra maiúscula, serve para especificar e particularizar. Ex: Maria; Garfield; Belo Horizonte...
• Coletivo: é um nome no singular que expressa ideia de plural, para designar grupos e conjuntos de seres ou objetos de uma mesma
espécie. Ex: matilha; enxame; cardume...
• Concreto: nomeia algo que existe de modo independente de outro ser (objetos, pessoas, animais, lugares etc.). Ex: menina; cachor-
ro; praça...
• Abstrato: depende de um ser concreto para existir, designando sentimentos, estados, qualidades, ações etc. Ex: saudade; sede;
imaginação...
• Primitivo: substantivo que dá origem a outras palavras. Ex: livro; água; noite...
• Derivado: formado a partir de outra(s) palavra(s). Ex: pedreiro; livraria; noturno...
• Simples: nomes formados por apenas uma palavra (um radical). Ex: casa; pessoa; cheiro...
• Composto: nomes formados por mais de uma palavra (mais de um radical). Ex: passatempo; guarda-roupa; girassol...

Flexão de gênero
Na língua portuguesa, todo substantivo é flexionado em um dos dois gêneros possíveis: feminino e masculino.
O substantivo biforme é aquele que flexiona entre masculino e feminino, mudando a desinência de gênero, isto é, geralmente o final
da palavra sendo -o ou -a, respectivamente (Ex: menino / menina). Há, ainda, os que se diferenciam por meio da pronúncia / acentuação
(Ex: avô / avó), e aqueles em que há ausência ou presença de desinência (Ex: irmão / irmã; cantor / cantora).
O substantivo uniforme é aquele que possui apenas uma forma, independente do gênero, podendo ser diferenciados quanto ao gêne-
ro a partir da flexão de gênero no artigo ou adjetivo que o acompanha (Ex: a cadeira / o poste). Pode ser classificado em epiceno (refere-se
aos animais), sobrecomum (refere-se a pessoas) e comum de dois gêneros (identificado por meio do artigo).
É preciso ficar atento à mudança semântica que ocorre com alguns substantivos quando usados no masculino ou no feminino, trazen-
do alguma especificidade em relação a ele. No exemplo o fruto X a fruta temos significados diferentes: o primeiro diz respeito ao órgão
que protege a semente dos alimentos, enquanto o segundo é o termo popular para um tipo específico de fruto.

Flexão de número
No português, é possível que o substantivo esteja no singular, usado para designar apenas uma única coisa, pessoa, lugar (Ex: bola;
escada; casa) ou no plural, usado para designar maiores quantidades (Ex: bolas; escadas; casas) — sendo este último representado, geral-
mente, com o acréscimo da letra S ao final da palavra.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Há, também, casos em que o substantivo não se altera, de modo que o plural ou singular devem estar marcados a partir do contexto,
pelo uso do artigo adequado (Ex: o lápis / os lápis).

Variação de grau
Usada para marcar diferença na grandeza de um determinado substantivo, a variação de grau pode ser classificada em aumentativo
e diminutivo.
Quando acompanhados de um substantivo que indica grandeza ou pequenez, é considerado analítico (Ex: menino grande / menino
pequeno).
Quando acrescentados sufixos indicadores de aumento ou diminuição, é considerado sintético (Ex: meninão / menininho).

Novo Acordo Ortográfico


De acordo com o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, as letras maiúsculas devem ser usadas em nomes próprios de
pessoas, lugares (cidades, estados, países, rios), animais, acidentes geográficos, instituições, entidades, nomes astronômicos, de festas e
festividades, em títulos de periódicos e em siglas, símbolos ou abreviaturas.
Já as letras minúsculas podem ser usadas em dias de semana, meses, estações do ano e em pontos cardeais.
Existem, ainda, casos em que o uso de maiúscula ou minúscula é facultativo, como em título de livros, nomes de áreas do saber,
disciplinas e matérias, palavras ligadas a alguma religião e em palavras de categorização.

Adjetivo
Os adjetivos podem ser simples (vermelho) ou compostos (mal-educado); primitivos (alegre) ou derivados (tristonho). Eles podem
flexionar entre o feminino (estudiosa) e o masculino (engraçado), e o singular (bonito) e o plural (bonitos).
Há, também, os adjetivos pátrios ou gentílicos, sendo aqueles que indicam o local de origem de uma pessoa, ou seja, sua nacionali-
dade (brasileiro; mineiro).
É possível, ainda, que existam locuções adjetivas, isto é, conjunto de duas ou mais palavras usadas para caracterizar o substantivo. São
formadas, em sua maioria, pela preposição DE + substantivo:
• de criança = infantil
• de mãe = maternal
• de cabelo = capilar

Variação de grau
Os adjetivos podem se encontrar em grau normal (sem ênfases), ou com intensidade, classificando-se entre comparativo e superlativo.
• Normal: A Bruna é inteligente.
• Comparativo de superioridade: A Bruna é mais inteligente que o Lucas.
• Comparativo de inferioridade: O Gustavo é menos inteligente que a Bruna.
• Comparativo de igualdade: A Bruna é tão inteligente quanto a Maria.
• Superlativo relativo de superioridade: A Bruna é a mais inteligente da turma.
• Superlativo relativo de inferioridade: O Gustavo é o menos inteligente da turma.
• Superlativo absoluto analítico: A Bruna é muito inteligente.
• Superlativo absoluto sintético: A Bruna é inteligentíssima.

Adjetivos de relação
São chamados adjetivos de relação aqueles que não podem sofrer variação de grau, uma vez que possui valor semântico objetivo, isto
é, não depende de uma impressão pessoal (subjetiva). Além disso, eles aparecem após o substantivo, sendo formados por sufixação de um
substantivo (Ex: vinho do Chile = vinho chileno).

Advérbio
Os advérbios são palavras que modificam um verbo, um adjetivo ou um outro advérbio. Eles se classificam de acordo com a tabela
abaixo:
CLASSIFICAÇÃO ADVÉRBIOS LOCUÇÕES ADVERBIAIS
DE MODO bem; mal; assim; melhor; depressa ao contrário; em detalhes
ontem; sempre; afinal; já; agora; doravante; logo mais; em breve; mais tarde, nunca mais,
DE TEMPO
primeiramente de noite
Ao redor de; em frente a; à esquerda; por
DE LUGAR aqui; acima; embaixo; longe; fora; embaixo; ali
perto
DE INTENSIDADE muito; tão; demasiado; imenso; tanto; nada em excesso; de todos; muito menos
DE AFIRMAÇÃO sim, indubitavelmente; certo; decerto; deveras com certeza; de fato; sem dúvidas
nunca mais; de modo algum; de jeito ne-
DE NEGAÇÃO não; nunca; jamais; tampouco; nem
nhum
DE DÚVIDA Possivelmente; acaso; será; talvez; quiçá Quem sabe

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LÍNGUA PORTUGUESA
Advérbios interrogativos Inscreveu-se no concurso para tentar realizar um sonho.
São os advérbios ou locuções adverbiais utilizadas para intro-
duzir perguntas, podendo expressar circunstâncias de: • Mesóclise: verbo no futuro iniciando uma oração.
• Lugar: onde, aonde, de onde Orgulhar-me-ei de meus alunos.
• Tempo: quando
• Modo: como DICA: o pronome não deve aparecer no início de frases ou ora-
• Causa: por que, por quê ções, nem após ponto-e-vírgula.

Grau do advérbio Verbos


Os advérbios podem ser comparativos ou superlativos. Os verbos podem ser flexionados em três tempos: pretérito
• Comparativo de igualdade: tão/tanto + advérbio + quanto (passado), presente e futuro, de maneira que o pretérito e o futuro
• Comparativo de superioridade: mais + advérbio + (do) que possuem subdivisões.
• Comparativo de inferioridade: menos + advérbio + (do) que Eles também se dividem em três flexões de modo: indicativo
• Superlativo analítico: muito cedo (certeza sobre o que é passado), subjuntivo (incerteza sobre o que é
• Superlativo sintético: cedíssimo passado) e imperativo (expressar ordem, pedido, comando).
• Tempos simples do modo indicativo: presente, pretérito per-
Curiosidades feito, pretérito imperfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do
Na linguagem coloquial, algumas variações do superlativo são presente, futuro do pretérito.
aceitas, como o diminutivo (cedinho), o aumentativo (cedão) e o • Tempos simples do modo subjuntivo: presente, pretérito im-
uso de alguns prefixos (supercedo). perfeito, futuro.
Existem advérbios que exprimem ideia de exclusão (somente;
salvo; exclusivamente; apenas), inclusão (também; ainda; mesmo) Os tempos verbais compostos são formados por um verbo
e ordem (ultimamente; depois; primeiramente). auxiliar e um verbo principal, de modo que o verbo auxiliar sofre
Alguns advérbios, além de algumas preposições, aparecem flexão em tempo e pessoa, e o verbo principal permanece no parti-
sendo usados como uma palavra denotativa, acrescentando um cípio. Os verbos auxiliares mais utilizados são “ter” e “haver”.
sentido próprio ao enunciado, podendo ser elas de inclusão (até, • Tempos compostos do modo indicativo: pretérito perfeito,
mesmo, inclusive); de exclusão (apenas, senão, salvo); de designa- pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente, futuro do preté-
ção (eis); de realce (cá, lá, só, é que); de retificação (aliás, ou me- rito.
lhor, isto é) e de situação (afinal, agora, então, e aí). • Tempos compostos do modo subjuntivo: pretérito perfeito,
pretérito mais-que-perfeito, futuro.
Pronomes As formas nominais do verbo são o infinitivo (dar, fazerem,
Os pronomes são palavras que fazem referência aos nomes, aprender), o particípio (dado, feito, aprendido) e o gerúndio (dando,
isto é, aos substantivos. Assim, dependendo de sua função no fazendo, aprendendo). Eles podem ter função de verbo ou função
enunciado, ele pode ser classificado da seguinte maneira: de nome, atuando como substantivo (infinitivo), adjetivo (particí-
• Pronomes pessoais: indicam as 3 pessoas do discurso, e po- pio) ou advérbio (gerúndio).
dem ser retos (eu, tu, ele...) ou oblíquos (mim, me, te, nos, si...).
• Pronomes possessivos: indicam posse (meu, minha, sua, teu, Tipos de verbos
nossos...) Os verbos se classificam de acordo com a sua flexão verbal.
• Pronomes demonstrativos: indicam localização de seres no Desse modo, os verbos se dividem em:
tempo ou no espaço. (este, isso, essa, aquela, aquilo...) Regulares: possuem regras fixas para a flexão (cantar, amar,
• Pronomes interrogativos: auxiliam na formação de questio- vender, abrir...)
namentos (qual, quem, onde, quando, que, quantas...) • Irregulares: possuem alterações nos radicais e nas termina-
• Pronomes relativos: retomam o substantivo, substituindo-o ções quando conjugados (medir, fazer, poder, haver...)
na oração seguinte (que, quem, onde, cujo, o qual...) • Anômalos: possuem diferentes radicais quando conjugados
• Pronomes indefinidos: substituem o substantivo de maneira (ser, ir...)
imprecisa (alguma, nenhum, certa, vários, qualquer...) • Defectivos: não são conjugados em todas as pessoas verbais
• Pronomes de tratamento: empregados, geralmente, em situ- (falir, banir, colorir, adequar...)
ações formais (senhor, Vossa Majestade, Vossa Excelência, você...) • Impessoais: não apresentam sujeitos, sendo conjugados sem-
pre na 3ª pessoa do singular (chover, nevar, escurecer, anoitecer...)
Colocação pronominal • Unipessoais: apesar de apresentarem sujeitos, são sempre
Diz respeito ao conjunto de regras que indicam a posição do conjugados na 3ª pessoa do singular ou do plural (latir, miar, custar,
pronome oblíquo átono (me, te, se, nos, vos, lhe, lhes, o, a, os, as, lo, acontecer...)
la, no, na...) em relação ao verbo, podendo haver próclise (antes do • Abundantes: possuem duas formas no particípio, uma regular
verbo), ênclise (depois do verbo) ou mesóclise (no meio do verbo). e outra irregular (aceitar = aceito, aceitado)
Veja, então, quais as principais situações para cada um deles: • Pronominais: verbos conjugados com pronomes oblíquos
• Próclise: expressões negativas; conjunções subordinativas; átonos, indicando ação reflexiva (suicidar-se, queixar-se, sentar-se,
advérbios sem vírgula; pronomes indefinidos, relativos ou demons- pentear-se...)
trativos; frases exclamativas ou que exprimem desejo; verbos no • Auxiliares: usados em tempos compostos ou em locuções
gerúndio antecedidos por “em”. verbais (ser, estar, ter, haver, ir...)
Nada me faria mais feliz. • Principais: transmitem totalidade da ação verbal por si pró-
prios (comer, dançar, nascer, morrer, sorrir...)
• Ênclise: verbo no imperativo afirmativo; verbo no início da • De ligação: indicam um estado, ligando uma característica ao
frase (não estando no futuro e nem no pretérito); verbo no gerún- sujeito (ser, estar, parecer, ficar, continuar...)
dio não acompanhado por “em”; verbo no infinitivo pessoal.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Vozes verbais
As vozes verbais indicam se o sujeito pratica ou recebe a ação, podendo ser três tipos diferentes:
• Voz ativa: sujeito é o agente da ação (Vi o pássaro)
• Voz passiva: sujeito sofre a ação (O pássaro foi visto)
• Voz reflexiva: sujeito pratica e sofre a ação (Vi-me no reflexo do lago)
Ao passar um discurso para a voz passiva, é comum utilizar a partícula apassivadora “se”, fazendo com o que o pronome seja equiva-
lente ao verbo “ser”.
Conjugação de verbos
Os tempos verbais são primitivos quando não derivam de outros tempos da língua portuguesa. Já os tempos verbais derivados são
aqueles que se originam a partir de verbos primitivos, de modo que suas conjugações seguem o mesmo padrão do verbo de origem.
• 1ª conjugação: verbos terminados em “-ar” (aproveitar, imaginar, jogar...)
• 2ª conjugação: verbos terminados em “-er” (beber, correr, erguer...)
• 3ª conjugação: verbos terminados em “-ir” (dormir, agir, ouvir...)

Confira os exemplos de conjugação apresentados abaixo:

Fonte: www.conjugação.com.br/verbo-lutar

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LÍNGUA PORTUGUESA

Fonte: www.conjugação.com.br/verbo-impor

Preposições
As preposições são palavras invariáveis que servem para ligar dois termos da oração numa relação subordinada, e são divididas entre
essenciais (só funcionam como preposição) e acidentais (palavras de outras classes gramaticais que passam a funcionar como preposição
em determinadas sentenças).

Preposições essenciais: a, ante, após, de, com, em, contra, para, per, perante, por, até, desde, sobre, sobre, trás, sob, sem, entre.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Preposições acidentais: afora, como, conforme, consoante, du- Formação de Palavras
rante, exceto, mediante, menos, salvo, segundo, visto etc. A formação de palavras se dá a partir de processos morfológi-
Locuções prepositivas: abaixo de, afim de, além de, à custa de, cos, de modo que as palavras se dividem entre:
defronte a, a par de, perto de, por causa de, em que pese a etc. • Palavras primitivas: são aquelas que não provêm de outra
palavra. Ex: flor; pedra
Ao conectar os termos das orações, as preposições estabele- • Palavras derivadas: são originadas a partir de outras pala-
cem uma relação semântica entre eles, podendo passar ideia de: vras. Ex: floricultura; pedrada
• Causa: Morreu de câncer. • Palavra simples: são aquelas que possuem apenas um radi-
• Distância: Retorno a 3 quilômetros. cal (morfema que contém significado básico da palavra). Ex: cabelo;
• Finalidade: A filha retornou para o enterro. azeite
• Instrumento: Ele cortou a foto com uma tesoura. • Palavra composta: são aquelas que possuem dois ou mais
• Modo: Os rebeldes eram colocados em fila. radicais. Ex: guarda-roupa; couve-flor
• Lugar: O vírus veio de Portugal.
Entenda como ocorrem os principais processos de formação de
• Companhia: Ela saiu com a amiga.
palavras:
• Posse: O carro de Maria é novo.
• Meio: Viajou de trem.
Derivação
Combinações e contrações A formação se dá por derivação quando ocorre a partir de uma
Algumas preposições podem aparecer combinadas a outras pa- palavra simples ou de um único radical, juntando-se afixos.
lavras de duas maneiras: sem haver perda fonética (combinação) e • Derivação prefixal: adiciona-se um afixo anteriormente à pa-
havendo perda fonética (contração). lavra ou radical. Ex: antebraço (ante + braço) / infeliz (in + feliz)
• Combinação: ao, aos, aonde • Derivação sufixal: adiciona-se um afixo ao final da palavra ou
• Contração: de, dum, desta, neste, nisso radical. Ex: friorento (frio + ento) / guloso (gula + oso)
• Derivação parassintética: adiciona-se um afixo antes e outro
Conjunção depois da palavra ou radical. Ex: esfriar (es + frio + ar) / desgoverna-
As conjunções se subdividem de acordo com a relação estabe- do (des + governar + ado)
lecida entre as ideias e as orações. Por ter esse papel importante • Derivação regressiva (formação deverbal): reduz-se a pala-
de conexão, é uma classe de palavras que merece destaque, pois vra primitiva. Ex: boteco (botequim) / ataque (verbo “atacar”)
reconhecer o sentido de cada conjunção ajuda na compreensão e • Derivação imprópria (conversão): ocorre mudança na classe
interpretação de textos, além de ser um grande diferencial no mo- gramatical, logo, de sentido, da palavra primitiva. Ex: jantar (verbo
mento de redigir um texto. para substantivo) / Oliveira (substantivo comum para substantivo
Elas se dividem em duas opções: conjunções coordenativas e próprio – sobrenomes).
conjunções subordinativas.
Composição
Conjunções coordenativas A formação por composição ocorre quando uma nova palavra
As orações coordenadas não apresentam dependência sintáti- se origina da junção de duas ou mais palavras simples ou radicais.
ca entre si, servindo também para ligar termos que têm a mesma • Aglutinação: fusão de duas ou mais palavras simples, de
função gramatical. As conjunções coordenativas se subdividem em modo que ocorre supressão de fonemas, de modo que os elemen-
cinco grupos: tos formadores perdem sua identidade ortográfica e fonológica. Ex:
• Aditivas: e, nem, bem como. aguardente (água + ardente) / planalto (plano + alto)
• Adversativas: mas, porém, contudo. • Justaposição: fusão de duas ou mais palavras simples, man-
• Alternativas: ou, ora…ora, quer…quer.
tendo a ortografia e a acentuação presente nos elementos forma-
• Conclusivas: logo, portanto, assim.
dores. Em sua maioria, aparecem conectadas com hífen. Ex: beija-
• Explicativas: que, porque, porquanto.
-flor / passatempo.
Conjunções subordinativas
Abreviação
As orações subordinadas são aquelas em que há uma relação
Quando a palavra é reduzida para apenas uma parte de sua
de dependência entre a oração principal e a oração subordinada.
totalidade, passando a existir como uma palavra autônoma. Ex: foto
Desse modo, a conexão entre elas (bem como o efeito de sentido)
(fotografia) / PUC (Pontifícia Universidade Católica).
se dá pelo uso da conjunção subordinada adequada.
Elas podem se classificar de dez maneiras diferentes:
Hibridismo
• Integrantes: usadas para introduzir as orações subordinadas
Quando há junção de palavras simples ou radicais advindos de
substantivas, definidas pelas palavras que e se.
línguas distintas. Ex: sociologia (socio – latim + logia – grego) / binó-
• Causais: porque, que, como. culo (bi – grego + oculus – latim).
• Concessivas: embora, ainda que, se bem que.
• Condicionais: e, caso, desde que. Combinação
• Conformativas: conforme, segundo, consoante. Quando ocorre junção de partes de outras palavras simples ou
• Comparativas: como, tal como, assim como. radicais. Ex: portunhol (português + espanhol) / aborrecente (abor-
• Consecutivas: de forma que, de modo que, de sorte que. recer + adolescente).
• Finais: a fim de que, para que.
• Proporcionais: à medida que, ao passo que, à proporção que.
• Temporais: quando, enquanto, agora.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Intensificação DICA: Como a crase só ocorre em palavras no feminino, em
Quando há a criação de uma nova palavra a partir do alarga- caso de dúvida, basta substituir por uma palavra equivalente no
mento do sufixo de uma palavra existente. Normalmente é feita masculino. Se aparecer “ao”, deve-se usar a crase: Amanhã iremos
adicionando o sufixo -izar. Ex: inicializar (em vez de iniciar) / proto- à escola / Amanhã iremos ao colégio.
colizar (em vez de protocolar).
SINTAXE DA ORAÇÃO E DO PERÍODO
Neologismo
Quando novas palavras surgem devido à necessidade do falan-
te em contextos específicos, podendo ser temporárias ou perma- A sintaxe estuda o conjunto das relações que as palavras esta-
nentes. Existem três tipos principais de neologismos: belecem entre si. Dessa maneira, é preciso ficar atento aos enuncia-
• Neologismo semântico: atribui-se novo significado a uma pa- dos e suas unidades: frase, oração e período.
lavra já existente. Ex: amarelar (desistir) / mico (vergonha) Frase é qualquer palavra ou conjunto de palavras ordenadas
• Neologismo sintático: ocorre a combinação de elementos já que apresenta sentido completo em um contexto de comunicação
existentes no léxico da língua. Ex: dar um bolo (não comparecer ao e interação verbal. A frase nominal é aquela que não contém verbo.
compromisso) / dar a volta por cima (superar). Já a frase verbal apresenta um ou mais verbos (locução verbal).
• Neologismo lexical: criação de uma nova palavra, que tem Oração é um enunciado organizado em torno de um único ver-
um novo conceito. Ex: deletar (apagar) / escanear (digitalizar) bo ou locução verbal, de modo que estes passam a ser o núcleo
da oração. Assim, o predicativo é obrigatório, enquanto o sujeito é
Onomatopeia opcional.
Quando uma palavra é formada a partir da reprodução aproxi- Período é uma unidade sintática, de modo que seu enuncia-
mada do seu som. Ex: atchim; zum-zum; tique-taque. do é organizado por uma oração (período simples) ou mais orações
(período composto). Eles são iniciados com letras maiúsculas e fina-
lizados com a pontuação adequada.
USO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE
Análise sintática
Crase é o nome dado à contração de duas letras “A” em uma A análise sintática serve para estudar a estrutura de um perío-
só: preposição “a” + artigo “a” em palavras femininas. Ela é de- do e de suas orações. Os termos da oração se dividem entre:
marcada com o uso do acento grave (à), de modo que crase não • Essenciais (ou fundamentais): sujeito e predicado
é considerada um acento em si, mas sim o fenômeno dessa fusão. • Integrantes: completam o sentido (complementos verbais e
Veja, abaixo, as principais situações em que será correto o em- nominais, agentes da passiva)
prego da crase: • Acessórios: função secundária (adjuntos adnominais e adver-
• Palavras femininas: Peça o material emprestado àquela alu- biais, apostos)
na.
• Indicação de horas, em casos de horas definidas e especifica- Termos essenciais da oração
das: Chegaremos em Belo Horizonte às 7 horas. Os termos essenciais da oração são o sujeito e o predicado.
• Locuções prepositivas: A aluna foi aprovada à custa de muito O sujeito é aquele sobre quem diz o resto da oração, enquanto o
estresse. predicado é a parte que dá alguma informação sobre o sujeito, logo,
• Locuções conjuntivas: À medida que crescemos vamos dei- onde o verbo está presente.
xando de lado a capacidade de imaginar.
• Locuções adverbiais de tempo, modo e lugar: Vire na próxima O sujeito é classificado em determinado (facilmente identificá-
à esquerda. vel, podendo ser simples, composto ou implícito) e indeterminado,
podendo, ainda, haver a oração sem sujeito (a mensagem se con-
Veja, agora, as principais situações em que não se aplica a cra- centra no verbo impessoal):
se: Lúcio dormiu cedo.
• Palavras masculinas: Ela prefere passear a pé. Aluga-se casa para réveillon.
• Palavras repetidas (mesmo quando no feminino): Melhor ter- Choveu bastante em janeiro.
mos uma reunião frente a frente.
• Antes de verbo: Gostaria de aprender a pintar. Quando o sujeito aparece no início da oração, dá-se o nome de
• Expressões que sugerem distância ou futuro: A médica vai te sujeito direto. Se aparecer depois do predicado, é o caso de sujeito
atender daqui a pouco. inverso. Há, ainda, a possibilidade de o sujeito aparecer no meio
• Dia de semana (a menos que seja um dia definido): De terça da oração:
a sexta. / Fecharemos às segundas-feiras. Lívia se esqueceu da reunião pela manhã.
• Antes de numeral (exceto horas definidas): A casa da vizinha Esqueceu-se da reunião pela manhã, Lívia.
fica a 50 metros da esquina. Da reunião pela manhã, Lívia se esqueceu.

Há, ainda, situações em que o uso da crase é facultativo Os predicados se classificam em: predicado verbal (núcleo do
• Pronomes possessivos femininos: Dei um picolé a minha filha. predicado é um verbo que indica ação, podendo ser transitivo, in-
/ Dei um picolé à minha filha. transitivo ou de ligação); predicado nominal (núcleo da oração é
• Depois da palavra “até”: Levei minha avó até a feira. / Levei um nome, isto é, substantivo ou adjetivo); predicado verbo-nomi-
minha avó até à feira. nal (apresenta um predicativo do sujeito, além de uma ação mais
• Nomes próprios femininos (desde que não seja especificado): uma qualidade sua)
Enviei o convite a Ana. / Enviei o convite à Ana. / Enviei o convite à As crianças brincaram no salão de festas.
Ana da faculdade. Mariana é inteligente.
Os jogadores venceram a partida. Por isso, estavam felizes.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Termos integrantes da oração
Os complementos verbais são classificados em objetos diretos (não preposicionados) e objetos indiretos (preposicionado).
A menina que possui bolsa vermelha me cumprimentou.
O cão precisa de carinho.

Os complementos nominais podem ser substantivos, adjetivos ou advérbios.


A mãe estava orgulhosa de seus filhos.
Carlos tem inveja de Eduardo.
Bárbara caminhou vagarosamente pelo bosque.

Os agentes da passiva são os termos que tem a função de praticar a ação expressa pelo verbo, quando este se encontra na voz passiva.
Costumam estar acompanhados pelas preposições “por” e “de”.
Os filhos foram motivo de orgulho da mãe.
Eduardo foi alvo de inveja de Carlos.
O bosque foi caminhado vagarosamente por Bárbara.

Termos acessórios da oração


Os termos acessórios não são necessários para dar sentido à oração, funcionando como complementação da informação. Desse
modo, eles têm a função de caracterizar o sujeito, de determinar o substantivo ou de exprimir circunstância, podendo ser adjunto adver-
bial (modificam o verbo, adjetivo ou advérbio), adjunto adnominal (especifica o substantivo, com função de adjetivo) e aposto (caracteriza
o sujeito, especificando-o).
Os irmãos brigam muito.
A brilhante aluna apresentou uma bela pesquisa à banca.
Pelé, o rei do futebol, começou sua carreira no Santos.

Tipos de Orações
Levando em consideração o que foi aprendido anteriormente sobre oração, vamos aprender sobre os dois tipos de oração que existem
na língua portuguesa: oração coordenada e oração subordinada.

Orações coordenadas
São aquelas que não dependem sintaticamente uma da outra, ligando-se apenas pelo sentido. Elas aparecem quando há um período
composto, sendo conectadas por meio do uso de conjunções (sindéticas), ou por meio da vírgula (assindéticas).
No caso das orações coordenadas sindéticas, a classificação depende do sentido entre as orações, representado por um grupo de
conjunções adequadas:

CLASSIFICAÇÃO CARACTERÍSTICAS CONJUNÇÕES


e, nem, também, bem como, não só, tan-
ADITIVAS Adição da ideia apresentada na oração anterior
to...
Oposição à ideia apresentada na oração anterior
ADVERSATIVAS mas, porém, todavia, entretanto, contudo...
(inicia com vírgula)
Opção / alternância em relação à ideia apresenta-
ALTERNATIVAS ou, já, ora, quer, seja...
da na oração anterior
logo, pois, portanto, assim, por isso, com
CONCLUSIVAS Conclusão da ideia apresentada na oração anterior
isso...
EXPLICATIVAS Explicação da ideia apresentada na oração anterior que, porque, porquanto, pois, ou seja...

Orações subordinadas
São aquelas que dependem sintaticamente em relação à oração principal. Elas aparecem quando o período é composto por duas ou
mais orações.
A classificação das orações subordinadas se dá por meio de sua função: orações subordinadas substantivas, quando fazem o papel
de substantivo da oração; orações subordinadas adjetivas, quando modificam o substantivo, exercendo a função do adjetivo; orações
subordinadas adverbiais, quando modificam o advérbio.
Cada uma dessas sofre uma segunda classificação, como pode ser observado nos quadros abaixo.

SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS FUNÇÃO EXEMPLOS


Esse era meu receio: que ela não discursasse outra
APOSITIVA aposto
vez.
COMPLETIVA NOMINAL complemento nominal Tenho medo de que ela não discurse novamente.
OBJETIVA DIRETA objeto direto Ele me perguntou se ela discursaria outra vez.

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LÍNGUA PORTUGUESA

OBJETIVA INDIRETA objeto indireto Necessito de que você discurse de novo.


PREDICATIVA predicativo Meu medo é que ela não discurse novamente.
SUBJETIVA sujeito É possível que ela discurse outra vez.

SUBORDINADAS
CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS
ADJETIVAS
Esclarece algum detalhe, adicionando uma
O candidato, que é do partido socialista,
EXPLICATIVAS informação.
está sendo atacado.
Aparece sempre separado por vírgulas.
Restringe e define o sujeito a que se refere.
As pessoas que são racistas precisam rever
RESTRITIVAS Não deve ser retirado sem alterar o sentido.
seus valores.
Não pode ser separado por vírgula.
Introduzidas por conjunções, pronomes e locu-
ções conjuntivas. Ele foi o primeiro presidente que se preocu-
DESENVOLVIDAS
Apresentam verbo nos modos indicativo ou pou com a fome no país.
subjuntivo.
Não são introduzidas por pronomes, conjun-
ções sou locuções conjuntivas. Assisti ao documentário denunciando a
REDUZIDAS
Apresentam o verbo nos modos particípio, corrupção.
gerúndio ou infinitivo

SUBORDINADAS ADVERBIAIS FUNÇÃO PRINCIPAIS CONJUNÇÕES


Ideia de causa, motivo, razão de
CAUSAIS porque, visto que, já que, como...
efeito
como, tanto quanto, (mais / menos) que, do
COMPARATIVAS Ideia de comparação
que...
CONCESSIVAS Ideia de contradição embora, ainda que, se bem que, mesmo...
caso, se, desde que, contanto que, a menos
CONDICIONAIS Ideia de condição
que...
CONFORMATIVAS Ideia de conformidade como, conforme, segundo...
CONSECUTIVAS Ideia de consequência De modo que, (tal / tão / tanto) que...
FINAIS Ideia de finalidade que, para que, a fim de que...
quanto mais / menos... mais /menos, à me-
PROPORCIONAIS Ideia de proporção
dida que, na medida em que, à proporção que...
TEMPORAIS Ideia de momento quando, depois que, logo que, antes que...

PONTUAÇÃO

Os sinais de pontuação são recursos gráficos que se encontram na linguagem escrita, e suas funções são demarcar unidades e sinalizar
limites de estruturas sintáticas. É também usado como um recurso estilístico, contribuindo para a coerência e a coesão dos textos.
São eles: o ponto (.), a vírgula (,), o ponto e vírgula (;), os dois pontos (:), o ponto de exclamação (!), o ponto de interrogação (?), as
reticências (...), as aspas (“”), os parênteses ( ( ) ), o travessão (—), a meia-risca (–), o apóstrofo (‘), o asterisco (*), o hífen (-), o colchetes
([]) e a barra (/).
Confira, no quadro a seguir, os principais sinais de pontuação e suas regras de uso.

SINAL NOME USO EXEMPLOS


Indicar final da frase declarativa Meu nome é Pedro.
. Ponto Separar períodos Fica mais. Ainda está cedo
Abreviar palavras Sra.
A princesa disse:
Iniciar fala de personagem - Eu consigo sozinha.
Antes de aposto ou orações apositivas, enumerações Esse é o problema da pandemia:
: Dois-pontos ou sequência de palavras para resumir / explicar ideias as pessoas não respeitam a
apresentadas anteriormente quarentena.
Antes de citação direta Como diz o ditado: “olho por olho,
dente por dente”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Indicar hesitação
Sabe... não está sendo fácil...
... Reticências Interromper uma frase
Quem sabe depois...
Concluir com a intenção de estender a reflexão
Isolar palavras e datas A Semana de Arte Moderna (1922)
() Parênteses Frases intercaladas na função explicativa (podem Eu estava cansada (trabalhar e
substituir vírgula e travessão) estudar é puxado).
Indicar expressão de emoção Que absurdo!
Ponto de
! Final de frase imperativa Estude para a prova!
Exclamação
Após interjeição Ufa!
Ponto de
? Em perguntas diretas Que horas ela volta?
Interrogação
A professora disse:
Iniciar fala do personagem do discurso direto e indicar — Boas férias!
— Travessão mudança de interloculor no diálogo — Obrigado, professora.
Substituir vírgula em expressões ou frases explicativas O corona vírus — Covid-19 —
ainda está sendo estudado.

Vírgula
A vírgula é um sinal de pontuação com muitas funções, usada para marcar uma pausa no enunciado. Veja, a seguir, as principais regras
de uso obrigatório da vírgula.
• Separar termos coordenados: Fui à feira e comprei abacate, mamão, manga, morango e abacaxi.
• Separar aposto (termo explicativo): Belo Horizonte, capital mineira, só tem uma linha de metrô.
• Isolar vocativo: Boa tarde, Maria.
• Isolar expressões que indicam circunstâncias adverbiais (modo, lugar, tempo etc): Todos os moradores, calmamente, deixaram o
prédio.
• Isolar termos explicativos: A educação, a meu ver, é a solução de vários problemas sociais.
• Separar conjunções intercaladas, e antes dos conectivos “mas”, “porém”, “pois”, “contudo”, “logo”: A menina acordou cedo, mas não
conseguiu chegar a tempo na escola. Não explicou, porém, o motivo para a professora.
• Separar o conteúdo pleonástico: A ela, nada mais abala.

No caso da vírgula, é importante saber que, em alguns casos, ela não deve ser usada. Assim, não há vírgula para separar:

• Sujeito de predicado.
• Objeto de verbo.
• Adjunto adnominal de nome.
• Complemento nominal de nome.
• Predicativo do objeto do objeto.
• Oração principal da subordinada substantiva.
• Termos coordenados ligados por “e”, “ou”, “nem”.

CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL

Concordância é o efeito gramatical causado por uma relação harmônica entre dois ou mais termos. Desse modo, ela pode ser verbal
— refere-se ao verbo em relação ao sujeito — ou nominal — refere-se ao substantivo e suas formas relacionadas.
• Concordância em gênero: flexão em masculino e feminino
• Concordância em número: flexão em singular e plural
• Concordância em pessoa: 1ª, 2ª e 3ª pessoa

Concordância nominal
Para que a concordância nominal esteja adequada, adjetivos, artigos, pronomes e numerais devem flexionar em número e gênero,
de acordo com o substantivo. Há algumas regras principais que ajudam na hora de empregar a concordância, mas é preciso estar atento,
também, aos casos específicos.
Quando há dois ou mais adjetivos para apenas um substantivo, o substantivo permanece no singular se houver um artigo entre os
adjetivos. Caso contrário, o substantivo deve estar no plural:
• A comida mexicana e a japonesa. / As comidas mexicana e japonesa.

Quando há dois ou mais substantivos para apenas um adjetivo, a concordância depende da posição de cada um deles. Se o adjetivo
vem antes dos substantivos, o adjetivo deve concordar com o substantivo mais próximo:
• Linda casa e bairro.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Se o adjetivo vem depois dos substantivos, ele pode concordar tanto com o substantivo mais próximo, ou com todos os substantivos
(sendo usado no plural):
• Casa e apartamento arrumado. / Apartamento e casa arrumada.
• Casa e apartamento arrumados. / Apartamento e casa arrumados.

Quando há a modificação de dois ou mais nomes próprios ou de parentesco, os adjetivos devem ser flexionados no plural:
• As talentosas Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles estão entre os melhores escritores brasileiros.

Quando o adjetivo assume função de predicativo de um sujeito ou objeto, ele deve ser flexionado no plural caso o sujeito ou objeto
seja ocupado por dois substantivos ou mais:
• O operário e sua família estavam preocupados com as consequências do acidente.

CASOS ESPECÍFICOS REGRA EXEMPLO


Deve concordar com o substantivo quando
É PROIBIDO
há presença de um artigo. Se não houver essa É proibida a entrada.
É PERMITIDO
determinação, deve permanecer no singular e no É proibido entrada.
É NECESSÁRIO
masculino.
Mulheres dizem “obrigada” Homens
OBRIGADO / OBRIGADA Deve concordar com a pessoa que fala.
dizem “obrigado”.
As bastantes crianças ficaram doentes
Quando tem função de adjetivo para um com a volta às aulas.
substantivo, concorda em número com o substantivo. Bastante criança ficou doente com a
BASTANTE
Quando tem função de advérbio, permanece volta às aulas.
invariável. O prefeito considerou bastante a
respeito da suspensão das aulas.
É sempre invariável, ou seja, a palavra “menas” Havia menos mulheres que homens na
MENOS
não existe na língua portuguesa. fila para a festa.
As crianças mesmas limparam a sala
MESMO Devem concordar em gênero e número com a depois da aula.
PRÓPRIO pessoa a que fazem referência. Eles próprios sugeriram o tema da
formatura.
Quando tem função de numeral adjetivo, deve
Adicione meia xícara de leite.
concordar com o substantivo.
MEIO / MEIA Manuela é meio artista, além de ser
Quando tem função de advérbio, modificando um
engenheira.
adjetivo, o termo é invariável.
Segue anexo o orçamento.
Seguem anexas as informações
Devem concordar com o substantivo a que se adicionais
ANEXO INCLUSO
referem. As professoras estão inclusas na greve.
O material está incluso no valor da
mensalidade.

Concordância verbal
Para que a concordância verbal esteja adequada, é preciso haver flexão do verbo em número e pessoa, a depender do sujeito com o
qual ele se relaciona.

Quando o sujeito composto é colocado anterior ao verbo, o verbo ficará no plural:


• A menina e seu irmão viajaram para a praia nas férias escolares.

Mas, se o sujeito composto aparece depois do verbo, o verbo pode tanto ficar no plural quanto concordar com o sujeito mais próximo:
• Discutiram marido e mulher. / Discutiu marido e mulher.

Se o sujeito composto for formado por pessoas gramaticais diferentes, o verbo deve ficar no plural e concordando com a pessoa que
tem prioridade, a nível gramatical — 1ª pessoa (eu, nós) tem prioridade em relação à 2ª (tu, vós); a 2ª tem prioridade em relação à 3ª (ele,
eles):
• Eu e vós vamos à festa.

Quando o sujeito apresenta uma expressão partitiva (sugere “parte de algo”), seguida de substantivo ou pronome no plural, o verbo
pode ficar tanto no singular quanto no plural:
• A maioria dos alunos não se preparou para o simulado. / A maioria dos alunos não se prepararam para o simulado.

28
LÍNGUA PORTUGUESA
Quando o sujeito apresenta uma porcentagem, deve concordar com o valor da expressão. No entanto, quanto seguida de um substan-
tivo (expressão partitiva), o verbo poderá concordar tanto com o numeral quanto com o substantivo:
• 27% deixaram de ir às urnas ano passado. / 1% dos eleitores votou nulo / 1% dos eleitores votaram nulo.

Quando o sujeito apresenta alguma expressão que indique quantidade aproximada, o verbo concorda com o substantivo que segue
a expressão:
• Cerca de duzentas mil pessoas compareceram à manifestação. / Mais de um aluno ficou abaixo da média na prova.

Quando o sujeito é indeterminado, o verbo deve estar sempre na terceira pessoa do singular:
• Precisa-se de balconistas. / Precisa-se de balconista.

Quando o sujeito é coletivo, o verbo permanece no singular, concordando com o coletivo partitivo:
• A multidão delirou com a entrada triunfal dos artistas. / A matilha cansou depois de tanto puxar o trenó.

Quando não existe sujeito na oração, o verbo fica na terceira pessoa do singular (impessoal):
• Faz chuva hoje

Quando o pronome relativo “que” atua como sujeito, o verbo deverá concordar em número e pessoa com o termo da oração principal
ao qual o pronome faz referência:
• Foi Maria que arrumou a casa.

Quando o sujeito da oração é o pronome relativo “quem”, o verbo pode concordar tanto com o antecedente do pronome quanto com
o próprio nome, na 3ª pessoa do singular:
• Fui eu quem arrumei a casa. / Fui eu quem arrumou a casa.

Quando o pronome indefinido ou interrogativo, atuando como sujeito, estiver no singular, o verbo deve ficar na 3ª pessoa do singular:
• Nenhum de nós merece adoecer.

Quando houver um substantivo que apresenta forma plural, porém com sentido singular, o verbo deve permanecer no singular. Ex-
ceto caso o substantivo vier precedido por determinante:
• Férias é indispensável para qualquer pessoa. / Meus óculos sumiram.

REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL

A regência estuda as relações de concordâncias entre os termos que completam o sentido tanto dos verbos quanto dos nomes. Dessa
maneira, há uma relação entre o termo regente (principal) e o termo regido (complemento).
A regência está relacionada à transitividade do verbo ou do nome, isto é, sua complementação necessária, de modo que essa relação
é sempre intermediada com o uso adequado de alguma preposição.
Regência nominal
Na regência nominal, o termo regente é o nome, podendo ser um substantivo, um adjetivo ou um advérbio, e o termo regido é o
complemento nominal, que pode ser um substantivo, um pronome ou um numeral.
Vale lembrar que alguns nomes permitem mais de uma preposição. Veja no quadro abaixo as principais preposições e as palavras que
pedem seu complemento:
PREPOSIÇÃO NOMES
acessível; acostumado; adaptado; adequado; agradável; alusão; análogo; anterior; atento; benefício;
comum; contrário; desfavorável; devoto; equivalente; fiel; grato; horror; idêntico; imune; indiferente; inferior;
A
leal; necessário; nocivo; obediente; paralelo; posterior; preferência; propenso; próximo; semelhante; sensível; útil;
visível...
amante; amigo; capaz; certo; contemporâneo; convicto; cúmplice; descendente; destituído; devoto; diferente;
DE dotado; escasso; fácil; feliz; imbuído; impossível; incapaz; indigno; inimigo; inseparável; isento; junto; longe; medo;
natural; orgulhoso; passível; possível; seguro; suspeito; temeroso...
opinião; discurso; discussão; dúvida; insistência; influência; informação; preponderante; proeminência;
SOBRE
triunfo...
acostumado; amoroso; analogia; compatível; cuidadoso; descontente; generoso; impaciente; ingrato;
COM
intolerante; mal; misericordioso; ocupado; parecido; relacionado; satisfeito; severo; solícito; triste...
abundante; bacharel; constante; doutor; erudito; firme; hábil; incansável; inconstante; indeciso; morador;
EM
negligente; perito; prático; residente; versado...
atentado; blasfêmia; combate; conspiração; declaração; fúria; impotência; litígio; luta; protesto; reclamação;
CONTRA
representação...
PARA bom; mau; odioso; próprio; útil...

29
LÍNGUA PORTUGUESA
Regência verbal Polissemia e monossemia
Na regência verbal, o termo regente é o verbo, e o termo regi- As palavras polissêmicas são aquelas que podem apresentar
do poderá ser tanto um objeto direto (não preposicionado) quanto mais de um significado, a depender do contexto em que ocorre a
um objeto indireto (preposicionado), podendo ser caracterizado frase. Ex: cabeça (parte do corpo humano; líder de um grupo).
também por adjuntos adverbiais. Já as palavras monossêmicas são aquelas apresentam apenas
Com isso, temos que os verbos podem se classificar entre tran- um significado. Ex: eneágono (polígono de nove ângulos).
sitivos e intransitivos. É importante ressaltar que a transitividade do
verbo vai depender do seu contexto. Denotação e conotação
Palavras com sentido denotativo são aquelas que apresentam
Verbos intransitivos: não exigem complemento, de modo que um sentido objetivo e literal. Ex:Está fazendo frio. / Pé da mulher.
fazem sentido por si só. Em alguns casos, pode estar acompanhado Palavras com sentido conotativo são aquelas que apresentam
de um adjunto adverbial (modifica o verbo, indicando tempo, lugar, um sentido simbólico, figurado. Ex: Você me olha com frieza. / Pé
modo, intensidade etc.), que, por ser um termo acessório, pode ser da cadeira.
retirado da frase sem alterar sua estrutura sintática:
• Viajou para São Paulo. / Choveu forte ontem. Hiperonímia e hiponímia
Esta classificação diz respeito às relações hierárquicas de signi-
Verbos transitivos diretos: exigem complemento (objeto dire- ficado entre as palavras.
to), sem preposição, para que o sentido do verbo esteja completo: Desse modo, um hiperônimo é a palavra superior, isto é, que
• A aluna entregou o trabalho. / A criança quer bolo. tem um sentido mais abrangente. Ex: Fruta é hiperônimo de limão.
Já o hipônimo é a palavra que tem o sentido mais restrito, por-
Verbos transitivos indiretos: exigem complemento (objeto in- tanto, inferior, de modo que o hiperônimo engloba o hipônimo. Ex:
direto), de modo que uma preposição é necessária para estabelecer Limão é hipônimo de fruta.
o sentido completo:
• Gostamos da viagem de férias. / O cidadão duvidou da cam- Formas variantes
panha eleitoral. São as palavras que permitem mais de uma grafia correta, sem
que ocorra mudança no significado. Ex: loiro – louro / enfarte – in-
Verbos transitivos diretos e indiretos: em algumas situações, o farto / gatinhar – engatinhar.
verbo precisa ser acompanhado de um objeto direto (sem preposi-
ção) e de um objeto indireto (com preposição): Arcaísmo
• Apresentou a dissertação à banca. / O menino ofereceu ajuda São palavras antigas, que perderam o uso frequente ao longo
à senhora. do tempo, sendo substituídas por outras mais modernas, mas que
ainda podem ser utilizadas. No entanto, ainda podem ser bastante
encontradas em livros antigos, principalmente. Ex: botica <—> far-
SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS mácia / franquia <—> sinceridade.

Este é um estudo da semântica, que pretende classificar os


sentidos das palavras, as suas relações de sentido entre si. Conheça QUESTÕES
as principais relações e suas características:

Sinonímia e antonímia 1.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 3ª REGIÃO)/APOIO ESPE-


As palavras sinônimas são aquelas que apresentam significado CIALIZADO/CONTABILIDADE/2015 (E MAIS 2 CONCURSOS)
semelhante, estabelecendo relação de proximidade. Ex: inteligente Está redigida corretamente, quanto à ortografia e à acentuação
<—> esperto gráfica, a frase:
Já as palavras antônimas são aquelas que apresentam signifi- (A) A louza tradicional foi substituída por uma exposição em
cados opostos, estabelecendo uma relação de contrariedade. Ex: PowerPoint na aula que teve como expectadores uma equipe
forte <—> fraco de insígnes cientistas chineses.
(B) O intuito da aula de Xiaomei consistiu em exibir as habilida-
Parônimos e homônimos des da robô, que, além de dispor de um notável repertório de
As palavras parônimas são aquelas que possuem grafia e pro- informações, traz funções de interação.
núncia semelhantes, porém com significados distintos. (C) O evento ocorrido na Universidade Jiujiang deve sucitar não
Ex: cumprimento (saudação) X comprimento (extensão); tráfe- apenas a curiosidade dos sinólogos, estudiosos da cultura chi-
go (trânsito) X tráfico (comércio ilegal). nesa, mas do publico de um modo geral.
As palavras homônimas são aquelas que possuem a mesma (D) Xiaomei concluiu sua aula de maneira exitosa e os cientistas
grafia e pronúncia, porém têm significados diferentes. Ex: rio (verbo julgaram que a robô não teve um mal desempenho, embora
“rir”) X rio (curso d’água); manga (blusa) X manga (fruta). ainda existam alguns ítens a ser aprimorados.
As palavras homófonas são aquelas que possuem a mesma (E) O juri de cientistas que examinaram a atuação de Xiaomei
pronúncia, mas com escrita e significado diferentes. Ex: cem (nu- era restrito, mas, graças às redes sociais, a notícia da robô se
meral) X sem (falta); conserto (arrumar) X concerto (musical). extendeu rapidamente pelo mundo todo.
As palavras homógrafas são aquelas que possuem escrita igual,
porém som e significado diferentes. Ex: colher (talher) X colher (ver-
bo); acerto (substantivo) X acerto (verbo).

30
LÍNGUA PORTUGUESA
2.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 19ª REGIÃO)/APOIO ES- “O tempo anda louco”, eis a frase leiga e padrão que mais se
PECIALIZADO/TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO/2011 (E MAIS 1 fala e mais se ouve nas queixas em relação às radicais discrepâncias
CONCURSO) climáticas. Vale para o Norte e Nordeste do país, vale para a região
Quanto à ortografia, há INCORREÇÕES na frase: Sul também. A mais nova e polêmica explicação para tais fenôme-
(A) O crescimento da classe C tem tido uma importância inco- nos é uma revolucionária teoria sobre as chuvas, chamada “bomba
mensurável para o comércio, mas vem ocasionando também biótica”, e pode mudar os conceitos da meteorologia tradicional.
uma elevação na taxa de inadimplência, o que é perturbador. Olhemos, agora, por exemplo, não para a loucura do tempo em
(B) Milhões de pessoas têm sido beneficiadas com o crescimen- um único país, mas sim para a “loucura a dois”. Por que chove tanto
to econômico que se vê no país, saltando da classe D para a C, em algumas regiões distantes da costa, como no interior da Amazô-
algo que há poucos anos não pareceria factível. nia, enquanto países como a Austrália se transformam em deserto?
(C) Alguns especialistas vêm disseminando a teoria de que, a Dois cientistas russos sustentam, embasados na metodologia da
partir da distribuição de riqueza por meio da geração de mi- bomba biótica, que as florestas são responsáveis pela criação dos
lhões de novos empregos, a classe E deixe de existir. ventos e a distribuição da chuva ao redor do planeta – como uma
(D) Os “consumidores emergentes”, como vêm sendo chama- espécie de coração que bombeia a umidade. Esse modelo questio-
dos os novos integrantes da classe C, ainda têm dificuldade em na a meteorologia convencional, que explica a movimentação do
poupar e adquirem grande parcela de produtos a crédito. ar sobretudo pela diferença de temperatura entre os oceanos e a
(E) Sabe-se que a ascenção da classe D tem proporcionado um terra. Ao falarem de chuva aqui e de seca acolá, eles acabam falan-
aumento expresivo do consumo de bens duráveis, o que pode do de um dos mais atuais e globalizados temas: a devastação das
acelerar sobremaneira esse mercado. matas.
Para o biogeoquímico Donato Nobre, do Instituto Nacional de
3.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 19ª REGIÃO)/APOIO ES- Pesquisas da Amazônia e principal proponente da linha da bomba
PECIALIZADO/TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO/2011) biótica no Brasil, somente ela é que explica com clareza a contra-
Atenção: Para responder à questão, considere o texto seguinte. dição entre a seca e a aridez que estão minguando as lavouras na
região Sul e as chuvas intensas que transbordam o Norte e o Nor-
Começamos a nos dar conta de que, no que se refere ao mes- deste.
mo serviço, a oferta online é preferida pelos consumidores à oferta De acordo, porém, com o professor americano David Adams,
local, e isso em todos os domínios. Tudo o que está online conhe- da Universidade do Estado do Amazonas, os físicos russos estão su-
cerá um desenvolvimento rápido, geralmente em detrimento das pervalorizando a força da bomba biótica.
ofertas puramente locais, e pela simples razão de que o ciberespaço (Adaptado de Maíra Magro. Istoé, 6/5/2009, p. 98-99)
oferece globalmente mais escolhas, por um preço melhor. A menos
que reinventem radicalmente os serviços que oferecem, as peque- A frase em que há palavras escritas de modo INCORRETO é:
nas lojas tenderão a desaparecer, salvo aquelas que prestam um (A) Alguns estudiosos reagem com sensatez às recentes expli-
serviço original ou difícil de virtualizar. cações, considerando se o papel da bomba biótica é realmente
(Adaptado de: Pierre Lévy. A conexão planetária. crucial na circulação do ar.
Trad. Maria Lúcia Homem e Ronaldo Entler. São Paulo, Ed. 34, (B) Se for comprovada a correção da nova teoria, a preservação
2003, p. 52) das florestas torna-se essencial para garantir a qualidade de
vida em todo o planeta.
Estão grafadas corretamente todas as palavras da frase: (C) O desmatamento indescriminado, que reduz os índices de
(A) O mercado mais atraente é necessáriamente aquele que chuvas e altera o ciclo das águas, pode transformar um conti-
possue mais produtos disponíveis. nente em um estenso e inabitável deserto.
(B) Com o adivento da internet, deparamos com uma imença (D) Com ventos mais próximos ao mar, o ar úmido resultante
cidade virtual, onde há os melhores preços do mercado. da evaporação da água do oceano é puxado para o continente,
(C) A escacês de mercadorias no campo foi determinante para distribuindo a chuva ao redor do planeta.
explicar o porque dos homens se agruparem nas cidades. (E) A aridez que sempre caracterizou as paisagens do Nordes-
(D) As empresas virtuais vêm se tornando concorrentes desle- te brasileiro aparece agora, para assombro de todos, na região
ais das que se encontram no mundo físico. Sul, comprometendo as safras de grãos.
(E) O mercado de relacionamentos virtuais assistiu a um avanço
discomunal com a consolidassão da internet. 5.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 23ª REGIÃO)/JUDICIÁ-
RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2007 (E MAIS 12 CONCURSOS)
4.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 16ª REGIÃO)/ADMINIS- Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.
TRATIVA/2009 (E MAIS 2 CONCURSOS)
Atenção: A questão baseia-se no texto apresentado abaixo. Da ação dos justos
O país é o mesmo. O dia, mês e ano também. Brasil, 28 de abril Em recente entrevista na TV, uma conhecida e combativa juíza
de 2009. No Rio Grande do Sul, o índice de chuvas está 96% abaixo brasileira citou esta frase de Disraeli*: “É preciso que os homens de
do que seria normal neste período. A taxa de umidade despencou bem tenham a audácia dos canalhas”. Para a juíza, o sentido da frase
para menos de 20%, enquanto o saudável é praticamente o dobro. é atualíssimo: diz respeito à freqüente omissão das pessoas justas e
Tudo é seca e insolação. Brasil, 28 de abril de 2009. No Piauí os honestas diante das manifestações de violência e de corrupção que
moradores enfrentam as piores cheias dos últimos 25 anos. Chove se multiplicam em nossos dias e que, felizmente, têm chegado ao
sem parar. Cidades estão ilhadas. Cerca de 100 mil pessoas ficaram conhecimento público e vêm sendo investigadas e punidas. A frase
desabrigadas. propõe uma ética atuante, cujos valores se materializem em reação
efetiva, em gestos de repúdio e medidas de combate à barbárie mo-
ral. Em outras palavras: que a desesperança e o silêncio não tomem
conta daqueles que pautam sua vida por princípios de dignidade.

31
LÍNGUA PORTUGUESA
Como não concordar com a oportunidade da frase? Normal- Estes são aspectos importantes na avaliação do problema da
mente, a indignação se reduz a conversas privadas, a comentários violência entre as torcidas, como também na fixação de políticas de
pessoais, não indo além de um mero discurso ético. Se não trans- prevenção e repressão, nos estádios e arredores. O vandalismo tem
põe o limite da queixa, a indignação é impotente, e seu efeito é sido notícia freqüente. Não se pode ter paternalismo nesses casos.
nenhum; mas se ela se converte em gesto público, objetivamente Legislação e ação enérgicas! O problema, porém, é complexo de-
dirigido contra a arrogância acanalhada, alcança a dimensão da prá- mais para ser reduzido à repressão. Acabar com as uniformizadas?
tica social e política, e gera conseqüências. Não adianta proibi-las, sob a alegação de que muitas descambaram
para a marginalidade. A experiência internacional e nacional indica
A frase lembra-nos que não costuma haver qualquer hesitação as medidas para que a violência não vença o futebol. Iniciativas de
entre aqueles que se decidem pela desonestidade e pelo egoísmo. caráter educativo, preventivo e repressivo, a longo, médio e curto
Seus atos revelam iniciativa e astúcia, facilitadas pela total ausên- prazos, integradas, permanentes e atentas à cultura local, à criativi-
cia de compromisso com o interesse público. Realmente, a falta de dade e ao fator surpresa, itens essenciais em projetos de segurança
escrúpulo aplaina o caminho de quem não confronta o justo e o pública.
injusto; por outro lado, muitas vezes faltam coragem e iniciativa aos
homens que conhecem e mantêm viva a diferença entre um e ou- (Adaptado de Mauricio Murad, O Estado de S. Paulo, Esportes,E8,
tro. Pois que estes a deixem clara, e não abram mão de reagir contra 6 de agosto de 2006)
quem a ignore.
Há palavras escritas de modo INCORRETO na frase:
A inação dos justos é tudo o que os contraventores e crimino- (A) A exaltação de torcidas organizadas, com graves conse-
sos precisam para continuar operando. A cada vez que se propagam qüências entre os espectadores, deve ser controlada dentro e
frases como “Os políticos são todos iguais”, “Brasileiro é assim mes- fora dos estádios.
mo” ou “Este país não tem jeito”, promove-se a resignação diante (B) A irresponsabilidade e a ausência de limites de alguns tor-
dos descalabros. Quem vê a barbárie como uma fatalidade torna- cedores dão origem a cenas desagradáveis durante os jogos.
-se, ainda que não o queira, seu cúmplice silencioso. (C) A sensação de impunidade constitui uma das razões para
atos de violência desenfreada que ocorrem nos campos de fu-
* Benjamin Disraeli, escritor e político britânico do século XIX. tebol.
(Aristides Villamar) (D) Exemplos ressentes de ações de vandalismo em jogos de fu-
tebol levaram a propostas severas de combate a esses abuzos.
Estão corretos o emprego e a grafia de todas as palavras da (E) A Comissão encarregada das mudanças no Estatuto do Tor-
frase: cedor aprovou projeto que penaliza as atitudes violentas.
(A) A corrupção só se extingue ou diminue quando os justos
intervêm para que as boas causas prevalesçam. 7.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 6ª REGIÃO)/ADMINIS-
(B) Os homens que usufruem de vantagens a que não fazem jus TRATIVA/2006)
cultivam a hipocrisia de propalar discursos moralizantes. Há palavras escritas de modo INCORRETO na frase:
(C) Contra tantos canalhas audases há que haver a reação dos (A) Altos índices de inadimplência refletem o descompasso en-
que têm a probidade como um valor inerente ao exercício da tre os rendimentos do trabalho assalariado e a grande oferta
cidadania. de financiamentos.
(D) Há uma inestricável correlação entre a apatia dos bons cida- (B) A expanção do mercado de trabalho esbarra nas crises em
dãos e a desenvoltura com que agem os foras-da-lei. setores regionais, como o da agricultura no Sul, decorrente da
(E) Deprende-se que houve êxito das iniciativas dos homens de escassês de chuvas.
bem quando os prevaricadores sentiram cerceada sua área de (C) Segmentos produtivos que se voltaram exclusivamente para
atuação. a exportação ampliaram as demissões, devido a perdas no mer-
cado internacional.
6.(FCC - AUXILIAR JUDICIÁRIO (TRT 6ª REGIÃO)/SERVIÇOS (D) A frustração de não conseguir uma vaga leva pessoas a op-
GERAIS/2006) tarem pelo estudo, no intuito de melhorar a capacitação e am-
Atenção: A questão baseia-se no texto apresentado abaixo. pliar oportunidades.
Vandalismo no futebol (E) Apesar da expectativa de aumento na oferta de crédito, as
instituições financeiras estão sendo mais rigorosas na conces-
Violência × futebol. são de empréstimos.
Este é um jogo duro, que já completou a maioridade. De me-
ados dos anos 80 até hoje, parte dos torcedores freqüenta o noti- 8.(FCC - AUXILIAR JUDICIÁRIO (TRT 4ª REGIÃO)/SERVIÇOS
ciário policial. A violência é o grande adversário do futebol e pode GERAIS/2006)
comprometer sua dimensão de aproximação social e interação de Atenção: A questão refere-se ao texto apresentado abaixo.
culturas. Coisa séria, portanto. A Festa Nacional da Uva, realizada a cada dois anos, é uma
As torcidas nasceram na década de 40 do século passado. An- oportunidade para a comunidade contar a história da imigração e
tes carnavalizadas, sua atuação era com cânticos e alegorias. Havia “manter vivas as raízes da terra que cresceu com muito trabalho,
conflitos, mas localizados; a sociabilidade predominava. Os grupos persistência, religiosidade, e se destacou na plantação de videiras,
violentos são do início de 1970 e foram se institucionalizando, até o tornando a uva e seu vinho uma tradição”, como explica uma das
meio dos 80, quando passaram a agredir nossas consciências com diretoras. Durante o evento, a trajetória dos imigrantes europeus
práticas constantes de violência. Nos anos 90, multiplicaram-se e que escolheram a região sul do país para tentar uma nova vida é
agravaram-se as ocorrências. Apesar de minoritários, os vândalos revisitada por meio de atividades recreativas, sociais e culturais,
são treinados em lutas marciais, armados e estruturados militar- que acontecem no centro de Exposições de Caxias do Sul, na Serra
mente, em linhas de combate e tropas-de-choque, o que os faz mui- Gaúcha.
to perigosos.

32
LÍNGUA PORTUGUESA
Segundo os organizadores, a expectativa é de que haja sempre (Adaptado de José Eduardo Barella, Veja, 14 de setembro de 2005,
maior número de visitantes, que podem divertir-se com as ativida- p. 100)
des artísticas e provar os pratos mais que saborosos servidos na
maior festa comunitária do Sul. Há palavras escritas do modo INCORRETO na frase:
“A alegria de estarmos juntos” foi o tema escolhido para a últi- (A) Gozar a vida com qualidade é objetivo de muitos profis-
ma edição da festa, entre fevereiro e março deste ano, e expressa sionais que não hesitam em deixar seu país de origem, para
bem o espírito do evento. “Caxias do Sul foi construída por imigran- trabalhar no exterior.
tes italianos e de outras etnias. Queremos mostrar que dessa união (B) Países emergentes têm apresentado desenvolvimento con-
surgiu um povo que canta a sua alegria e encanta pela sua história”, sistente em produção científica, indicador seguro dos benefí-
acrescenta a diretora. cios trazidos pela globalização.
Além disso, a organização acredita que o consumo de uvas au- (C) Produção científica está deixando de ser previlégio dos pa-
mente 20% em relação a 2004. “Calculamos que cada pessoa deve- íses mais ricos, pois dados rescentes apontam salto qualitativo
rá consumir, em média, 300 gramas de uva”, aposta um diretor da em ciência e tecnologia na Ásia.
festa. “A estimativa é que, no total, sejam consumidas cerca de 300 (D) Observa-se um aspecto reverso em relação ao fenômeno
toneladas da fruta”, finaliza. de migração: profissionais altamente habilitados e capazes
emigram do primeiro mundo, atualmente.
(Adaptado de TAM Magazine, ano 2, n. 23, janeiro 2006, p. 56) (E) A capacidade de um país de produzir sua própria tecnologia
torna-se excelente instrumento de percepção da solidez de seu
Há palavras escritas de modo INCORRETO na frase: desenvolvimento.
(A) A plantação de videiras na Serra Gaúcha teve impulso com 10.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 3ª REGIÃO)/ADMINIS-
a chegada dos imigrantes italianos, que buscavam melhores TRATIVA/2005 (E MAIS 7 CONCURSOS)
condições de vida. Há palavras escritas de modo INCORRETO na frase:
(B) A Festa da Uva propissia a confraternização entre os mora- (A) Para garantir a segurança dos trabalhadores e dos usuários,
dores e os visitantes, anciosos por desfrutar também as belezas os responsáveis tomaram a decisão de paralizar, por algumas
da região. horas, os trabalhos na uzina.
(C) O sucesso na produção de vinhos é um dos motivos para a (B) A intensa afluência de pessoas em áreas que possam pro-
realização da festa, que constitui atração até mesmo para es- duzir riqueza imediata pode gerar conflitos e degradação do
trangeiros. meio ambiente.
(D) A realização de festividades para celebrar colheitas, como a (C) Boas intenções, que norteiam programas assistenciais, nem
Festa Nacional da Uva, é hábito que herdamos de comunidades sempre são garantia de sucesso dos empreendimentos desen-
ancestrais. volvidos.
(E) A preservação das tradições originárias dos vários povos (D) A exploração dos recursos naturais de uma determinada re-
que vieram para o Brasil é a marca das festividades regionais, gião e a necessária preservação do meio ambiente mobilizam
como a Festa da Uva. defensores, tanto de uma quanto de outra.
(E) Embora estejam muito próximos de imensas riquezas, os
9.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 20ª REGIÃO)/ADMINIS- garimpeiros dificilmente têm acesso a bens de consumo, pois
TRATIVA/2006) vivem em extrema pobreza.
Atenção: A questão baseia-se no texto apresentado abaixo.
Em todo o mundo, há 175 milhões de pessoas vivendo e tra- 11.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 3ª REGIÃO)/JUDICIÁ-
balhando fora do país em que nasceram. A maior parte desse con- RIA/2005 (E MAIS 6 CONCURSOS)
tingente é de imigrantes de países pobres em busca de melhores Instruções: A questão refere-se ao texto que segue.
empregos no Primeiro Mundo. Outro êxodo, mais discreto mas
igualmente intenso, percorre um caminho diferente. É formado por A tribo que mais cresce entre nós
cidadãos do mundo próspero que vão viver em outros países. Em- A nova tribo dos micreiros* cresceu tanto que talvez já não seja
prego e qualidade de vida estão no topo dessa migração. apenas mais uma tribo, mas uma nação, embora a linguagem fecha-
da e o fanatismo com que se dedicam ao seu objeto de culto sejam
Uma semelhança entre os dois fluxos é a de que ambos se di- quase de uma seita. São adoradores que têm com o computador
rigem sobretudo aos países ricos. O número de americanos que uma relação semelhante à do homem primitivo com o totem e o
vivem fora dos Estados Unidos cresceu; a cada ano aumenta o nú- fogo. Passam horas sentados, com o olhar fixo num espaço lumino-
mero de franceses que moram no exterior; Inglaterra e Alemanha, so de algumas polegadas, trocando não só o dia pela noite, como o
que nas últimas décadas foram inundadas por levas de imigrantes, mundo pela realidade virtual.
bateram recentemente o recorde histórico em emigração. Desde a Sua linguagem lembra a dos funkeiros** em quantidade de im-
II Guerra não se viam tantos alemães de mudança para o exterior. portações vocabulares adulteradas, porém é mais ágil e rica, talvez
No ano passado, a quantidade foi equivalente à que saía do país a mais rápida das tribos urbanas modernas. Dança quem não sou-
no fim do século XIX − época das grandes migrações, quando 44 ber o que é BBS, modem, interface, configuração, acessar e assim
milhões de pessoas fugiram da pobreza na Europa, em busca de por diante. Alguns termos são neologismos e, outros, recriações
oportunidades no Novo Mundo. semânticas de velhos significados, como janela, sistema, ícone, ma-
ximizar.
Um dos tipos que caracteriza os novos migrantes, que saem de No começo da informatização das redações de jornal, houve
países ricos, é o de profissionais que encontram no exterior oportu- um divertido mal-entendido quando uma jovem repórter disse pela
nidade de investir na carreira, se possível conciliando trabalho com primeira vez: “Eu abortei!”. Ela acabava de rejeitar não um filho,
qualidade de vida. A globalização da economia é o principal catali- mas uma matéria. Hoje, ninguém mais associa essa palavra ao ato
sador dessa tendência. pecaminoso. Aborta-se tão impune e freqüentemente quanto se
acessa.

33
LÍNGUA PORTUGUESA
Nada mais tem forma e sim “formatação”. Foi-se o tempo em 13.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 8ª REGIÃO)/JUDICIÁ-
que “fazer um programa” era uma aventura amorosa. O “vírus” que RIA/2004)
apavora os micreiros não é o HIV, mas uma intromissão indevida Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.
no “sistema”, outra palavra cujo sentido atual nada tem a ver com O primeiro efeito dessa lei antifumo, radical e cheia de furos,
os significados anteriores. A geração de 68 lutou para derrubar o não foi apagar os cigarros, mas acender uma grande polêmica. (...)
sistema; hoje o sistema cai a toda hora. Um fumante furioso escreveu acusando o jornal de “fúria anti-
tabagista” e de estar querendo proibir, por exemplo, o suicídio por
Alguns velhos homens de letras olham com preconceito essa lei. “Onde fica a liberdade dos indivíduos?”, perguntava, sem admi-
tribo, como se ela fosse composta apenas de jovens, e ainda por tir no seu protesto a premissa democrática de que a liberdade de
cima iletrados. É um engano, porque há entre os micreiros respeitá- um termina quando sua fumaça começa a incomodar o outro.
veis senhoras e brilhantes intelectuais. Falar mal do computador é
tão inútil e reacionário quanto foi quebrar máquinas no começo da (Zuenir Ventura, Crônicas de um fim de século)
primeira Revolução Industrial. Ele veio para ficar, como se diz, e seu
sucesso é avassalador. Basta ver o entusiasmo das adesões. Está correta a grafia de todas as palavras na frase:
(A) Nem situações vexatórias, nem repreensões, nem as mais
(Zuenir Ventura, Crônicas de um fim de século) diferentes sanções têm evitado que os fumantes dêem vazão
ao seu vício.
* micreiros = usuários de microcomputador. (B) A admissão de que há o direito do fumante não exclui, pro-
** funkeiros = criadores ou entusiastas da música funk. põe o autor, direitos outros, sem a excessão dos direitos de
quem não fuma.
Estão corretos o emprego e a grafia de todas as palavras da (C) Se é certo que há intranzigência por parte de muitos anti-
frase: tabagistas, também é certo que muitos fumantes não recuam
(A) É costume discriminar-se os jovens, e a razão maior está em em suas obcessões.
serem jovens, e não em alguns de seus hábitos que fossem em (D) A vemência dos que se insurgem contra o cigarro é às vezes
si mesmos pernisciosos. tão intensa que os torna mais incômodos, onde estejam, que
(B) A encorporação de um novo léxico é uma das conseqüên- os próprios tabagistas.
cias de todo amplo avanço tecnológico, já que este indus à cria- (E) Tempos atraz, o ato de fumar não estigmatisava: empresta-
ção ou recriação de palavras para nomear novos referentes. va ao sujeito uma aura de elegante compenetração, de nobre
(C) Um pequeno glossário, capaz de elucidar a nova termino- austeridade.
logia da informática, contribui muito para afastar os percalços
do caminho dos usuários iniciantes, aturdidos com tanta novi- 14.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 8ª REGIÃO)/ADMINIS-
dade. TRATIVA/2004)
(D) Os maus-entendidos são fatais quando ainda não se tem Há palavras escritas de maneira INCORRETA na frase:
destreza numa nova linguagem, quando ainda não se está fa- (A) Recursos científicos e tecnológicos devem oferecer possi-
miliarizado com um novo vocabulario. bilidade de inserção social à população carente e desassistida
(E) Muita gente letrada e idosa aderiu ao uso do computador, das grandes cidades.
considerando-o não um sinal do apocalípse, mas uma ferra- (B) Um regime de crescente colaboração entre governo, ins-
menta revolucionária na execução de tarefas, um instrumento tituições privadas e sociedade garantirá o hêsito de diversos
útil para qualquer pesquizador. programas direcionados a adolecentes mais pobres.
(C) Ao atribuir excessivo valor ao consumo de bens supérflu-
12.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 11ª REGIÃO)/ADMINIS- os, a sociedade passa a exigir que as pessoas aparentem poder
TRATIVA/2005 (E MAIS 5 CONCURSOS) econômico, mesmo falso.
Todas as palavras estão escritas corretamente na frase: (D) Em várias regiões, o inchaço urbano, resultante do intenso
(A) Há uma crescente apreenção na economia mundial, como êxodo rural, é responsável pelo crescimento desmedido do nú-
conseqüência da retração nos Estados Unidos e o aumento do mero de favelados.
desemprego na União Européia. (E) Extensas áreas, em todo o mundo, encontram-se ocupadas
(B) Economistas reconhecem que o movimento de espanção por populações que vivem em situação de miséria, destituídas
do crédito, como o consignado, contradis o esforço de conter dos direitos básicos da cidadania.
a inflação.
(C) A espectativa de crescimento nas exportações de calçados 15.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 9ª REGIÃO)/ADMINIS-
foi afetada pelo comportamento do dólar, mudando o cenário TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2004 (E MAIS 9 CONCURSOS)
otimista do pólo atacadista do setor. Há palavras escritas de modo INCORRETO na frase:
(D) Algumas medidas governamentais tentam regulamentar a (A) Muitos programas de planejamento familiar fracassaram ao
bioprospecção, que viza o desenvolvimento de produtos apar- esbarrar em preconceitos e em certos aspectos culturais exis-
tir de recursos genéticos de plantas e de animais. tentes na população.
(E) A quantidade e a variedade de opções oferecidas pela re- (B) O intenso processo de urbanização originou insegurança
gião amazônica permitem atender aos interesses diversificados para a população, apesar de facilitar o acesso a inúmeros be-
de viajantes, estrangeiros ou não. nefícios.
(C) O contingente populacional excessivo em algumas regiões
do país favorece a disseminação da pobreza e da miséria.
(D) Especialistas exitam em definir as causas maiores da po-
breza, embora pesquisas previlegiem o número de filhos como
uma de suas causas.

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LÍNGUA PORTUGUESA
(E) Constitui um desafio para as autoridades a transmissão de 18.(FCC - AUXILIAR JUDICIÁRIO (TRT 5ª REGIÃO)/SERVIÇOS
informações que visam ao planejamento familiar, para a popu- GERAIS/2003)
lação inculta. Atenção: A questão baseia-se no texto apresentado abaixo.
Texto I
16.(FCC - AUXILIAR JUDICIÁRIO (TRT 9ª REGIÃO)/SERVIÇOS De volta à real
GERAIS/APOIO/2004) Relutantemente, lembro que está na hora de deixar Itaparica.
O Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, assinou porta- Neste domingo, já deverei encontrar-me de volta ao batente de
ria que muda as regras de classificação indicativa para cinema, fitas sempre. Há uma melancolia irônica nisso, porque o paraíso terres-
de vídeo e DVDs. A portaria permite que crianças e adolescentes tre só se alcança por tempo limitado. Como o casamento, de que
tenham acesso a salas de cinema cujo filme tenha recebido clas- já se disse ser igual a uma gaiola: o passarinho que está fora quer
sificação imediatamente superior à faixa etária da criança, desde entrar, o que está dentro quer sair. É verdade e suponho que tem
que acompanhada por seus pais. O principal objetivo das mudanças mesmo a ver com a natureza humana. Meu truque, em relação à
propostas pelo Ministério da Justiça seria a divisão da responsabili- ilha, é demorar o bastante para, ao deixá-la, ainda querer ficar. As-
dade pelo conteúdo a que assistem crianças e adolescentes entre o sim preservo as saudades e o encanto do que revivi, nesses dias tão
Estado, a família e a sociedade. breves que acabo de passar. Não posso permanecer o resto da vida
apenas assistindo às festas que, nesta época do ano, aqui parecem
Sem dúvida, situa-se nesse tripé a rede protetora que toda acontecer todos os dias, conversando e espiando os passarinhos,
criança deveria ter, e isso está expressamente dito em nossa Cons- batendo papo com meus fantasmas e sendo docemente irresponsá-
tituição, no artigo 227. No entanto, considerando ser esse um tema vel, como se nada mais no mundo tivesse importância.
com alto grau de subjetividade e delicadeza, já que diz respeito ao
acesso a conteúdos que poderiam, em tese, afetar o desenvolvi- E o fato é que a Itaparica que lhes apresento não existe, não é
mento psicológico e emocional da criança e do adolescente, uma possível que exista. Meus conterrâneos, apesar de talvez pitorescos
mudança dessa ordem deveria ter sido mais discutida com a socie- para o olhos forasteiros, são gente como outra qualquer, com os
dade. defeitos e qualidades que se vêem em gente de qualquer parte. E
(Rubens Naves, Folha de S. Paulo, 3 de julho de 2004, A3) claro, não estão num mundo e num país à parte, têm problemas
e angústias como todos os outros, embora amenizados por estes
Atenção: Para responder à questão, assinale a alternativa que ares gentis, este sossego acolhedor, estas águas verdes e azuladas
preenche corretamente as lacunas das frases apresentadas. do mar da Bahia, estes bancos de areia sem fim, a Natureza des-
pertando o poeta de meiatigela que mora em tantos de nós. Para
Uma discussão de grande ...... deveria ser ...... entre vários seto- mim, em especial, há ainda umas sugestões fugidias da infância e da
res da sociedade, para chegar-se a um ...... a respeito desse assunto. juventude cada vez mais remotas e mais romantizadas, uns cheiros,
(A) alcanse - realizada - concenso uns relances de paisagem, uns sentimentos que, de tão longínquos,
(B) alcanse - realizada - consenço já pareciam mortos.
(C) alcanse - realisada - consenso
(D) alcance - realisada - consenço Não, minha sina é outra e assim regresso a nosso universo de
(E) alcance - realizada - consenso cidade grande e cheia de ameaças, de jornais atemorizantes com
suas notícias de arrepiar. Sou obrigado a voltar a ler, todos os dias,
17.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 23ª REGIÃO)/ADMINIS- a respeito de crimes inimagináveis em sua crueldade e requinte
TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2004 (E MAIS 3 CONCURSOS) perverso, desabamentos, calamidades, guerras, corrupção fora de
Há erro de ortografia na frase: todos os limites, o Rio transmudado numa espécie de faroeste, o
(A) O contingente humano que se deslocou para a Amazônia medo abrindo suas asas pegajosas sobre todos nós, que nem den-
superou as expectativas dos programas de incentivo à ocupa- tro de casa estamos mais seguros, a ponto de às vezes parecer incrí-
ção da área. vel que ainda possamos sorrir e celebrar alguma coisa. Não deveria
(B) Ambientalistas defendem a implantação de corredores de ser, mas é assim que transcorre nossa vida e, mesmo diante desses
conservação e de áreas protegidas, como barreira para a es- fatos, temos de prosseguir, agradecendo a Deus pela graça de cada
panção da agroindustria. novo dia. (...)
(C) Inchaço urbano, especialmente numa região tão extensa
como a amazônica, não significa atendimento aos projetos de (João Ubaldo Ribeiro)
vida da população.
(D) É possível mapear a difusão de diversos e diferenciados va- * para os olhos forasteiros (2º parágrafo) para aqueles que são
lores, surgidos a partir da disseminação e da organização das de fora.
cidades.
(E) A despeito da aversão gerada por grandes empreendimen- Atenção: Para responder à questão assinale, na folha de res-
tos anteriores malsucedidos, estes devem coexistir com a pe- postas, a alternativa que preenche corretamente as lacunas da fra-
quena produção familiar. se apresentada.

O calor daqueles dias era ...... pela ...... que soprava do mar,
trazendo uma agradável ...... de bem-estar.
(A) suavisado - briza - sensação
(B) suavizado - brisa - sençassão
(C) suavizado - briza - sençassão
(D) suavizado - brisa - sensação
(E) suavisado - brisa - sensassão

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LÍNGUA PORTUGUESA
19.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 5ª REGIÃO)/ADMINIS- (E) A virtude jornalística não está em previlegiar a face sensa-
TRATIVA/2003 (E MAIS 3 CONCURSOS) cionalista de um fato, mas em abranjê-lo em toda a sua com-
Atenção: A questão refere-se ao texto que segue. plexidade.
STF, Previdência e manchetes
As declarações do presidente do Supremo Tribunal Federal ao 20.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 21ª REGIÃO)/JUDICIÁ-
jornal O Estado de S. Paulo, publicadas com grande destaque no RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2003 (E MAIS 4 CONCURSOS)
dia 15 de janeiro deste ano, abalaram os mercados financeiros, o Ganhamos a guerra, não a paz
governo, os juristas, os bacharéis, o Legislativo, os aposentados de Os físicos se encontram numa posição não muito diferente da
todas as categorias. O país tremeu nas bases: de Alfred Nobel. Ele inventou o mais poderoso explosivo jamais co-
nhecido até sua época, um meio de destruição por excelência. Para
“Previdência só muda com revolução, diz Mello” (1a página, reparar isso, para aplacar sua consciência humana, instituiu seus
oito colunas) prêmios à promoção da paze às realizações pacíficas. Hoje(*), os
“Para Marco Aurélio, reforma só com revolução” (página A8, físicos que participaram da fabricação da mais aterradora e peri-
oito colunas) gosa arma de todos os tempos sentem-se atormentados por igual
Dia seguinte, o jornalão mandou brasa na fala do presidente do sentimento de responsabilidade, para não dizer culpa. E não pode-
Supremo com um daqueles famosos petardos da página de opinião: mos desistir de advertir e de voltar a advertir, não podemos e não
“Fora dos autos e à margem da ética”. devemos relaxar em nossos esforços para despertar nas nações do
Uma semana depois, no mesmo Estadão, manchete na página mundo, e especialmente nos seus governos, a consciência do ino-
5, igualmente em oito colunas: minável desastre que eles certamente irão provocar, a menos que
“Menos polêmico, Mello pede fim dos privilégios” mudem sua atitude em relação uns aos outros e em relação à tarefa
O que aconteceu? Alguém falou o que não devia ou alguém de moldar o futuro.
reproduziu mal o que ouviu?
Nem uma coisa nem outra. O ministro-presidente disse duas Ajudamos a criar essa nova arma, no intuito de impedir que os
coisas registradas com igual precisão no corpo da matéria: que os inimigos da humanidade a obtivessem antes de nós, o que, dada a
direitos adquiridos, cláusula pétrea da Constituição, só podem ser mentalidade dos nazistas, teria significado uma inconcebível des-
alterados por uma Assembléia Constituinte ou por um estado de truição e escravização do resto do mundo. Entregamos essa arma
exceção; que ele é favorável ao regime único de aposentadorias, nas mãos dos povos norte-americano e britânico, vendo neles fiéis
desde que respeitados os direitos adquiridos. depositários de toda a humanidade, que lutavam pela paz e pela li-
berdade. Até agora, porém, não conseguimos ver nenhuma garantia
O problema é que a manchete apoiou-se apenas nos elemen- das liberdades que foram prometidas às nações no Pacto do Atlânti-
tos potencialmente mais explosivos (reforma da Previdência só com co. Ganhamos a guerra, não a paz. As grandes potências, unidas na
uma revolução), deixando de lado a opinião do declarante contra a luta, estão agora divididas quanto aos acordos de paz. Prometeu-se
manutenção dos privilégios. ao mundo que ele ficaria livre do medo, mas, na verdade, o medo
aumentou enormemente desde o fim da guerra. Prometeu-se ao
Está na hora de nós, jornalistas, reexaminarmos procedimentos mundo que ele ficaria livre da penúria, mas grandes partes dele se
e padrões para a formulação de títulos, sobretudo as grandes man- defrontam com a fome, enquanto outras vivem na abundância. (...)
chetes. Partindo do pressuposto reacionário de que o leitor brasi-
leiro não tem condições de compreender um título que contenha Possa o espírito que motivou Alfred Nobel a criar sua notável
dois fatos ou afirmações divergentes, adotamos o princípio do falso instituição, o espírito de fé e confiança, de generosidade e fraterni-
impacto: “uma sentença, uma idéia”. dade entre os homens, prevalecer na mente daqueles de cujas deci-
sões dependem nossos destinos. Do contrário, a civilização humana
Acontece que no jornalismo moderno, editores preocupados estará condenada.
com os perigos do simplismo recorrem a manchetes com duas
idéias: usam ponto-e-vírgula para separálas e confrontá-las, ou (Albert Einstein, Escritos da maturidade.
recorrem à complicada conjunção mas para justapô-las. Evita-se, Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Nova
assim, oferecer apenas um ângulo da questão ou, no caso de confli- Fronteira, 1994)
tos, exibir preferências.
(*) Este texto foi escrito em 1945, logo depois do fim da II Guer-
(Alberto Dines, Revista Consultor jurídico, Jan/2003) ra Mundial.
Estão corretamente grafadas todas as palavras da frase:
(A) Um jornalista deve abster-se de julgar o que noticia, afim de Está correta a grafia de todas as palavras da frase:
que seu público possa ter assesso às várias posições e emitir, (A) A dissuazão do inimigo poderoso, do qual se teme a força
ele sim, seu próprio julgamento. da obsessão irracional, pode ocorrer por meio de uma arma de
(B) Alberto Dines é um notório crítico da imprensa; o fato de potência inescedível.
ser jornalista não o impede de polemisar com vários colegas, (B) Se as armas não discriminam suas vítimas, não há por que
quando cometem algum deslise. não possam voltar-se contra os que as manejem, alheias aos
(C) A dúvida suscitada por uma manchete poderia ser evitada supostos privilégios de quem as aciona.
caso o redator não se eximisse da responsabilidade de mostrar (C) A cisânia imposta pelos nazistas aqueles que não foram ex-
os dois lados de um mesmo fato. terminados está na raiz de alguns conflitos que até hoje preva-
(D) A repercusção das primeiras manchetes deveu-se ao fato lescem no Oriente Médio.
de que elas destorceram a declaração do Ministro, reproduzin- (D) Em textos suscintos, Einstein promoveu a discussão de te-
do-a apenas parcialmente. mas melindrosos, condenando a todos os que infrinjem as nor-
mas democráticas.

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LÍNGUA PORTUGUESA
(E) Einstein admitia dissenções em discussões científicas, mas (E) É com muita espontaniedade que passamos a gosar dos
era intransijente quanto aos valores éticos que devem nortear benefícios do progresso, sem nos preocuparmos com as suas
nossa vida. conseqüências.
22.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 21ª REGIÃO)/SERVIÇOS
21.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 21ª REGIÃO)/SERVIÇOS GERAIS/SEGURANÇA E TRANSPORTE/2003 (E MAIS 3 CONCUR-
GERAIS/SEGURANÇA E TRANSPORTE/2003 (E MAIS 3 CONCUR- SOS)
SOS) Urbanização abala a saúde de moradores do interior da
Urbanização abala a saúde de moradores do interior da Amazônia
Amazônia Mesmo que aumente o conforto, as conseqüências do ingres-
Mesmo que aumente o conforto, as conseqüências do ingres- so na vida moderna – com alimentos prontos, televisão, telefone
so na vida moderna – com alimentos prontos, televisão, telefone e máquina de lavar roupa – não são nada boas para a saúde. Hil-
e máquina de lavar roupa – não são nada boas para a saúde. Hil- ton Pereira da Silva, médico e antropólogo do Museu Nacional, en-
ton Pereira da Silva, médico e antropólogo do Museu Nacional, en- controu uma taxa elevada de hipertensão arterial na população de
controu uma taxa elevada de hipertensão arterial na população de três comunidades rurais do Pará que gradativamente deixaram o
três comunidades rurais do Pará que gradativamente deixaram o extrativismo (*) e começaram a usar bens de consumo tipicamente
extrativismo (*) e começaram a usar bens de consumo tipicamente urbanos.
urbanos.
Aracampina, a maior comunidade estudada, localizada na ilha
Aracampina, a maior comunidade estudada, localizada na ilha de Ituqui, às margens do rio Amazonas, tem cerca de 600 habitan-
de Ituqui, às margens do rio Amazonas, tem cerca de 600 habitan- tes. Eram 460 há sete anos, quando Hilton Silva chegou lá pela pri-
tes. Eram 460 há sete anos, quando Hilton Silva chegou lá pela pri- meira vez e notou que a vida mudava rapidamente – conseqüência
meira vez e notou que a vida mudava rapidamente – conseqüência da proximidade com Santarém, a quatro horas de barco. “Quando
da proximidade com Santarém, a quatro horas de barco. “Quando ocorre a transição para o estilo de vida moderno e urbano, a pri-
ocorre a transição para o estilo de vida moderno e urbano, a pri- meira mudança é a dieta”, diz ele. “Aumenta o consumo de sal, de
meira mudança é a dieta”, diz ele. “Aumenta o consumo de sal, de enlatados e de comida industrializada, cheia de aditivos químicos.”
enlatados e de comida industrializada, cheia de aditivos químicos.”
Nas primeiras vezes em que esteve lá, o pesquisador notou que
Nas primeiras vezes em que esteve lá, o pesquisador notou que os caboclos pescavam intensamente. Completavam a alimentação
os caboclos pescavam intensamente. Completavam a alimentação com farinha de mandioca, frutas, feijão e milho. “Hoje, os caboclos
com farinha de mandioca, frutas, feijão e milho. “Hoje, os caboclos deixaram o extrativismo, trabalham na pesca industrial, para as ma-
deixaram o extrativismo, trabalham na pesca industrial, para as ma- deireiras ou em fazendas e compram carne em conserva, açúcar,
deireiras ou em fazendas e compram carne em conserva, açúcar, café e biscoitos”, relata. “As mudanças na dieta estão causando uma
café e biscoitos”, relata. “As mudanças na dieta estão causando uma mudança gradual na fisiologia do organismo, que leva à hiperten-
mudança gradual na fisiologia do organismo, que leva à hiperten- são.”
são.”
Ainda não há água encanada em Aracampina, mas os caboclos
Ainda não há água encanada em Aracampina, mas os caboclos agora têm luz elétrica, graças ao gerador a diesel, fogão a gás, te-
agora têm luz elétrica, graças ao gerador a diesel, fogão a gás, te- levisão ligada a bateria de carro e telefone que funciona por meio
levisão ligada a bateria de carro e telefone que funciona por meio de rádio. Em conseqüência, houve uma redução da atividade física
de rádio. Em conseqüência, houve uma redução da atividade física que ajuda a equilibrar a pressão arterial. “Por terem acesso a fogão
que ajuda a equilibrar a pressão arterial. “Por terem acesso a fogão a gás, não buscam mais lenha na mata”, exemplifica Hilton Silva. “E
a gás, não buscam mais lenha na mata”, exemplifica Hilton Silva. “E já usam fralda descartável, que também reduz o trabalho das mu-
já usam fralda descartável, que também reduz o trabalho das mu- lheres”. Mas surgem outras fontes de estresse, como a necessidade
lheres”. Mas surgem outras fontes de estresse, como a necessidade de ganhar mais dinheiro para comprar comida, relógios, bicicletas
de ganhar mais dinheiro para comprar comida, relógios, bicicletas e aparelhos de som.
e aparelhos de som.
(Pesquisa. São Paulo: Fapesp, abril 2003.)
(Pesquisa. São Paulo: Fapesp, abril 2003.)
(*) extrativismo = atividade que consiste em extrair da natureza
(*) extrativismo = atividade que consiste em extrair da natureza quaisquer produtos que possam ser cultivados para fins comerciais
quaisquer produtos que possam ser cultivados para fins comerciais ou industriais.
ou industriais. Está correto o emprego do elemento sublinhado na frase:
(A) Quase todas as novidades à que os moradores tiveram
Está correta a grafia de todas as palavras da frase: acesso são produtos da moderna tecnologia.
(A) Quem imagina que o progresso só trás vantagens ficará (B) O gerador a diesel é o meio pelo qual os moradores de Ara-
frustado quando perceber os dezajustes que ele pode provocar. campinas têm acesso à luz elétrica.
(B) O que mais influe no aumento da pressão arterial é a vida (C) A hipertensão na qual foram acometidos muitos moradores
cedentária que os caboclos passam a levar. tem suas causas na mudança de estilo de vida.
(C) As pesquizas que o antropólogo emprendeu são conclusi- (D)O extrativismo, em cujo os caboclos tanto se empenhavam,
vas, quando se consideram os dados que foram comparados. foi substituído por outras atividades econômicas.
(D) A obsessão pelo progresso leva os mais ingênuos a acharem (E) Biscoitos e carne em conserva são alguns dos alimentos dos
que toda novidade constitui, em si mesma, uma vantagem. quais o antropólogo exemplifica a mudança dos hábitos ali-
mentares dos caboclos.

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LÍNGUA PORTUGUESA
23.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 20ª REGIÃO)/ADMINIS- (ANDRADE, Carlos Drummond de. Essas coisas. As impurezas do
TRATIVA/2002 branco. Rio de Janeiro: José Olympio, 3. ed., 1976, p.30)
Há palavras escritas de modo INCORRETO na frase:
(A) O anseio geral por uma sociedade mais justa e igualitária é porque estou morto
transformou a luta trabalhista num dos mais expressivos mo-
delos que caracteriza a sociedade contemporânea. O elemento sublinhado acima também pode ser corretamente
(B) De início, as idéias trabalhistas, fenômeno quase excluzi- empregado na lacuna da frase:
vamente inglês, tiveram pouca ou nenhuma repercursão nos (A) Não entendi o ...... da sua atitude na reunião.
sindicatos. (B) Percebi logo ...... ele demorou para chegar.
(C) O trabalho é sempre uma atividade que depende da habili- (C) ...... você não confia nas suas ideias?
dade manual e da inteligência de quem o desempenha, e exige (D) Esclareça o ...... da necessidade desse procedimento.
o dispêndio de certa energia física e mental. (E) Os jovens às vezes erram ...... são muito ansiosos.
(D) O trabalho, de início coleta ou extrativismo, diversificou- se
com a caça, a pesca e a utilização do fogo, possibilitando o pro- 26.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 4ª REGIÃO)/APOIO ES-
gresso, pelo uso de objetos como o arco e a flecha. PECIALIZADO/ENFERMAGEM/2011 (E MAIS 1 CONCURSO)
(E) Os alicerces da produção social deslocaram-se da agricultu- Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.
ra para a indústria quando o comércio se sobrepôs ao trabalho
agrícola e ampliou suas atividades. I − Errata
(ed, dc) 1. Lista de retificação de erros que saíram impressos
24.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 20ª REGIÃO)/ADMI- em uma publicação. A errata é geralmente impressa em página se-
NISTRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2002 (E MAIS 1 CONCURSO) parada (colada no início ou no fim do exemplar, ou simplesmente
Há palavras escritas de modo INCORRETO na alternativa: encartada solta) e em papel diferente do que foi usado na publi-
(A) Investimentos maciços em educação, saúde e reforma agrá- cação. Traz a indicação de erros, o número das páginas onde se
ria constituíram a fórmula utilizada por países mais atrasados encontram e as formas corrigidas. Alguns profissionais distinguem
do que o Brasil, para reduzir os índices de pobreza. errata de corrigenda: este último termo, no caso, é aplicado para
(B) O problema da miséria no Brasil apresenta componentes erros redacionais ou de conteúdo, ao passo que errata diz respeito
bem mais perversos do que a simples escassez de recursos, que principalmente a erros de composição ou de montagem, que esca-
caracteriza o problema em outros países, como no continente param aos revisores e saíram impressos na publicação. 2. Cada um
africano. dos erros relacionados nessa lista.
(C) Os recursos gastos na área social acabam sendo insuficien- (Carlos Alberto Rabaça e Gustavo Guimarães Barbosa. Dicionário
tes, como por exemplo, a parcela mínima destinada ao sanea- de comunicação. 2. ed. rev. e atualizada. Rio de Janeiro: Elsevier,
mento básico, importante para aumentar a expectativa de vida 2001, p. 276)
da população.
(D) A desnutrição, resultado da falta de ingestão de proteínas II − O dicionário de onde foi extraído o verbete acima contém
e de outras substâncias, degenera em má-formação do sistema uma página com o título CONVENÇÕES UTILIZADAS NESTA OBRA, e
neurológico, com danos irreversíveis, na maioria das vezes. nela se lê:
(E) Vários estudos afirmam que a taxa de miséria só baixará
quando houver crecimento da economia, assossiado a um mo- 1. Áreas e acepções
delo mais justo de distribuição de renda para a população. Este dicionário inclui definições em 23 áreas, indicadas da se-
guinte forma:
25.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 15ª REGIÃO)/APOIO ES- (av) recursos audiovisuais
PECIALIZADO/ENFERMAGEM/2015 (E MAIS 1 CONCURSO) (cn) cinema
Atenção: Para responder à questão, considere o poema abaixo. (co) teoria da comunicação
(dc) documentação
“Você não está mais na idade (ed) editoração, artes gráficas
de sofrer por essas coisas”’ etc.

Há então a idade de sofrer Traz a indicação de erros, o número das páginas onde se encon-
e a de não sofrer mais tram e as formas corrigidas.
por essas, essas coisas?
No período acima, onde está empregado em conformidade
As coisas só deviam acontecer com o padrão culto escrito, o que NÃO ocorre na frase:
para fazer sofrer (A) Já no primeiro capítulo, onde a heroína foi caracterizada,
na idade própria de sofrer? pressentia-se seu destino.
(B) O colégio onde recebeu os primeiros ensinamentos é este
Ou não se devia sofrer que se vê na foto.
pelas coisas que causam sofrimento (C) Não sabia onde poderia buscar auxílio, mas tinha certeza
pois vieram fora de hora, e a hora é calma? de consegui-lo.
(D) Moro hoje onde sempre quis morar.
E se não estou mais na idade de sofrer (E) Ele é sempre hostil, é onde perde a razão.
é porque estou morto, e morto
é a idade de não sentir as coisas, essas coisas?

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LÍNGUA PORTUGUESA
27.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 6ª REGIÃO)/JUDICIÁ- Tal tipo de escrita visava à universalização e tinha pretensões
RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2006 (E MAIS 3 CONCURSOS) de neutralidade, além do que a busca maior era a produção de leis
Atenção: A questão refere-se ao texto que segue. tão claras que dispensassem interpretação.
Individuação
O processo de se tornar de fato um indivíduo é muito custoso, Resultou, no entanto, quimérica a possível clareza – idéia de
tão custoso que preferimos investir todos os recursos disponíveis que algo apreendido seria claro, quando fosse possível reconhe-
em evitar enfrentar essa batalha penosa, que é de todos nós. cê-lo em qualquer situação e não confundi-lo com qualquer outra
coisa. O avanço das legislações redundou em uso de termos especí-
Salvo engano, é por essa razão que gastamos tanto tempo in- ficos em demasia, promovendo uma constante industrialização da
vestindo num egocentrismo que é, paradoxalmente, autodestruti- escrita jurídica.
vo. Quando nos fixamos apenas na satisfação dos nossos desejos,
na glorificação da nossa imagem pessoal ou no atendimento de to- (FRANCHI, Carlos. Linguagem – atividade construtiva. São Paulo:
dos os apetites, acabamos sendo privados do prazer maior, que é Brasiliense, 1977)
descobrir quem de fato somos.
Busca-se ...... muito tempo uma linguagem adequada ...... ex-
A farsa mais poderosa do egocentrismo está em que ele acena pressão das leis e ...... outras questões sociais.
com a ilusão de que estamos pensando em nós mesmos e encon-
trando uma satisfação inteiramente legítima e pessoal, quando na As lacunas da frase acima serão corretamente preenchidas por
verdade estamos nos tornando prisioneiros dos outros, dos valores (A) a - à - à
que os outros nos impõem como verdadeiros. (B) há - a - a
(C) a - a - à
O grave equívoco está, pois, em que atendamos aos instin- (D) a - à - a
tos que brotam das regiões mais sombrias do nosso ser sem nos (E) há - à - a
darmos conta de que isso pode nos afastar de um conhecimento
mais profundo de nós mesmos. O que a individuação requer é que 29.(FCC - AUXILIAR JUDICIÁRIO (TRT 6ª REGIÃO)/SERVIÇOS
deixemos de lado o conforto fácil e os subterfúgios ilusórios para GERAIS/2006
encararmos de modo corajoso as nossas fraquezas, o nosso vazio. Atenção: A questão baseia-se no texto apresentado abaixo.
Qualquer coisa que se interponha nesse processo de auto-análise Desde a pré-história já tínhamos o hábito de adorar coisas ou
faz-nos desviar nossos olhos de nós mesmos, levando-nos a admi- pessoas – os deuses da Antigüidade, o Deus da Idade Média ou os
rar a imagem que gostamos de construir no espelho artificial do reis da monarquia absolutista. Mas, com o passar do tempo, as en-
egocentrismo. tidades adoradas foram ficando cada vez mais terrenas.

(Adaptado de texto extraído do site A bacia das almas) Coube aos famosos sentarem-se nos tronos outrora ocupados
por reis e deuses. Com uma vantagem: tudo o que fazem ou falam
Está correto o emprego do elemento sublinhado em: alcança um número infinitamente maior de pessoas. Apoiada na
(A) Muita gente se agarra à imagem artificial de si mesma sem mídia, a indústria das celebridades despontou para a fama com as
saber porquê. primeiras estrelas de Hollywood, nos anos 30. E daí cresceu com a
(B) Não é fácil explicar o porquê do prestígio que alcança a ima- velocidade de uma boa fofoca, até despertar a atenção dos acadê-
gem ilusória das pessoas. micos nos anos 60. Foi nessa época que um historiador americano
(C) Não sei porque razão os outros querem nos impor a ima- cunhou uma das mais preciosas definições da fama nos dias atuais:
gem que têm de nós. “O herói é distinguido por seu conhecimento; a celebridade, por
(D) Se a ela aderimos, é por que nossa imagem ilusória traz suaimagem. A celebridade é a pessoa notória por sua notoriedade.”
alguma compensação.
(E) Queremos perguntar, diante do espelho artificial, por quê Ao mundanizar a fama, transformamos o ídolo. Hoje ele não
nossa imagem não está lá. precisa ter virtudes, nem talento. O sucesso dos participantes de
reality shows comprova isso – eles são conhecidos por serem al-
guém e não por terem feito algo. É impossível, porém, acreditar
28.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 23ª REGIÃO)/JUDICIÁ- que a condição básica para ser ídolo tivesse se transformado tanto
RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2004 (E MAIS 6 CONCURSOS) sem a ajuda daqueles que sustentam todo esse esquema: nós, aqui
Instrução: A questão refere-se ao texto que segue. do outro lado da tela. As celebridades tornam-se pessoas familiares
A manifestação mais representativa do final da Idade Média que vemos sempre na televisão, na revista, no cinema. Elas passam
e início da Idade Moderna, percebida através da linguagem jurídi- a representar uma nova comunidade de pessoas sobre as quais
ca escrita, foi a primeira codificação de leis realizada na França em sabemos tudo, embora nem ao menos as conheçamos.
1804 – o Código Civil Francês, o Código Napoleônico.
(Adaptado de Cláudia de Castro Lima, Bianca Grassetti eNe-
No início do século XIX, quando ascendia a burguesia, procu- greiros. Superinteressante, março 2005, p.49)
rou-se criar uma linguagem para expressão das leis e atos normati-
vos pautada na abstração e na técnica. As palavras que recebem acento gráfico pela mesma razão gra-
matical estão transcritas em:
A escrita das leis e atos normativos, segundo vários autores, (A) hábito, herói, acadêmicos.
retiraria elementos da escrita usual e procuraria eximi-los de suas (B) época, ídolo, impossível.
ambigüidades, vaguezas, através da criação de uma semântica arti- (C) média, indústria, notória.
ficial, em muito ajudada por termos técnicos derivados de línguas (D) alguém, possível, número.
clássicas como o Latim e o Grego. (E) básica, porém, mídia.

39
LÍNGUA PORTUGUESA
30.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 8ª REGIÃO)/ADMINIS- A escrita das leis e atos normativos, segundo vários autores,
TRATIVA/2004) retiraria elementos da escrita usual e procuraria eximi-los de suas
Atenção: A questão baseia-se no texto apresentado abaixo. ambigüidades, vaguezas, através da criação de uma semântica arti-
O crescimento explosivo das favelas nas últimas décadas, espe- ficial, em muito ajudada por termos técnicos derivados de línguas
cialmente nas megalópoles do Terceiro Mundo, desde a Cidade do clássicas como o Latim e o Grego.
México e outras capitais latino-americanas até a África (Lagos) e Ín-
dia, China, Filipinas e Indonésia, talvez constitua o fato geopolítico Tal tipo de escrita visava à universalização e tinha pretensões
crucial de nossos tempos. O caso de Lagos, no corredor de favelas, de neutralidade, além do que a busca maior era a produção de leis
com 70 milhões de habitantes, que se estende de Abidjan [capital tão claras que dispensassem interpretação.
da Costa do Marfim] até Ibadan [na Nigéria], é exemplar: ninguém
nem sequer sabe o tamanho de sua população. Resultou, no entanto, quimérica a possível clareza – idéia de
que algo apreendido seria claro, quando fosse possível reconhe-
Como em algum momento muito próximo a população urba- cê-lo em qualquer situação e não confundi-lo com qualquer outra
na do mundo vai superar a população rural (é possível que, dada a coisa. O avanço das legislações redundou em uso de termos especí-
imprecisão dos censos realizados no Terceiro Mundo, isso já tenha ficos em demasia, promovendo uma constante industrialização da
acontecido) e como os favelados vão compor a maioria da popula- escrita jurídica.
ção urbana, não estamos tratando de um fenômeno marginal, de
maneira nenhuma. Estamos assistindo ao crescimento acelerado da (FRANCHI, Carlos. Linguagem – atividade construtiva. São Paulo:
população fora do controle estatal, grande parte vivendo fora da Brasiliense, 1977)
lei, terrivelmente carente de formas mínimas de auto-organização.
A mesma regra que justifica a acentuação no vocábulo início
Embora sua população seja composta de trabalhadores margi- aplica-se em
nalizados, desempregados e ex-camponeses, as favelas não formam (A) técnica.
um simples excedente: elas são incorporadas à economia global (B) idéia.
de diversas maneiras, com alguns de seus moradores trabalhando (C) possível.
como assalariados informais ou autônomos, sem acesso à saúde ou (D) jurídica.
à previdência (a principal fonte de aumento das favelas é a inclusão (E) vários.
dos países de Terceiro Mundo na economia global, com importa-
ções alimentares baratas dos países do Primeiro Mundo, devastan- 32.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 23ª REGIÃO)/ADMINIS-
do as agriculturas locais). TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2004 (E MAIS 3 CONCURSOS)
Identifique a palavra que recebe acento por razão diferente da-
Embora, é claro, devamos resistir à tentação fácil de elevar e quela que o justifica na palavra Amazônia.
idealizar os favelados, enxergando-os como nova classe revolucio-
nária, também devemos, como propõe [o filósofo Alain] Badiou, Para conciliar a preservação e o desenvolvimento da Amazônia,
enxergar as favelas como um dos poucos “lugares eventuais” da é necessário utilizar a biodiversidade dessa vasta área do território
sociedade contemporânea - pois os favelados são literalmente uma brasileiro. Produtos exportados para outros países são resultado de
coleção daqueles que formam a “parte de parte alguma”, o elemen- experiências vitoriosas, implantadas na região.
to “excedente” da sociedade, a parte excluída dos benefícios da ci- (A) necessário
dadania, os desenraizados e despossuídos, aqueles que, de fato, (B) área
“não têm nada a perder, exceto as correntes que os prendem”. (C) território
(D) países
(Adaptado de Slavoj Zizek, com tradução de Clara Allain, (E) experiências
Mais!, 5 de setembro de 2004, p.11)
33.(FCC - AUXILIAR JUDICIÁRIO (TRT 5ª REGIÃO)/SERVIÇOS
As palavras do texto que recebem acento pela mesma razão GERAIS/2003)
que o justifica em funcionários e excluída são, respectivamente, Atenção: A questão baseia-se no texto apresentado abaixo.
(A) décadas e possível. Texto I
(B) revolucionária e benefícios.
(C) países e fenômeno. De volta à real
(D) mínimas e públicos. Relutantemente, lembro que está na hora de deixar Itaparica.
(E) previdência e saúde. Neste domingo, já deverei encontrar-me de volta ao batente de
sempre. Há uma melancolia irônica nisso, porque o paraíso terres-
31.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 23ª REGIÃO)/JUDICIÁ- tre só se alcança por tempo limitado. Como o casamento, de que
RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2004 (E MAIS 6 CONCURSOS) já se disse ser igual a uma gaiola: o passarinho que está fora quer
Instrução: A questão refere-se ao texto que segue. entrar, o que está dentro quer sair. É verdade e suponho que tem
A manifestação mais representativa do final da Idade Média e mesmo a ver com a natureza humana. Meu truque, em relação à
início da Idade Moderna, percebida através da linguagem jurídica ilha, é demorar o bastante para, ao deixá-la, ainda querer ficar. As-
escrita, foi a primeira codificação de leis realizada na França em sim preservo as saudades e o encanto do que revivi, nesses dias tão
1804 – o Código Civil Francês, o Código Napoleônico. breves que acabo de passar. Não posso permanecer o resto da vida
apenas assistindo às festas que, nesta época do ano, aqui parecem
No início do século XIX, quando ascendia a burguesia, procu- acontecer todos os dias, conversando e espiando os passarinhos,
rou-se criar uma linguagem para expressão das leis e atos normati- batendo papo com meus fantasmas e sendo docemente irresponsá-
vos pautada na abstração e na técnica. vel, como se nada mais no mundo tivesse importância.

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LÍNGUA PORTUGUESA
E o fato é que a Itaparica que lhes apresento não existe, não é É importante, pois, para todo cidadão, ter consciência de que,
possível que exista. Meus conterrâneos, apesar de talvez pitorescos em uma sociedade, a coexistência entre os diferentes é necessária,
para o olhos forasteiros, são gente como outra qualquer, com os não obstante essa diferença não dever gerar desigualdade de opor-
defeitos e qualidades que se vêem em gente de qualquer parte. E tunidade. Assim, brancos e negros relacionam-se necessariamente
claro, não estão num mundo e num país à parte, têm problemas uns com os outros, podem conviver com suas diferenças concretas,
e angústias como todos os outros, embora amenizados por estes e os direitos devem ser proporcionalmente iguais.
ares gentis, este sossego acolhedor, estas águas verdes e azuladas
do mar da Bahia, estes bancos de areia sem fim, a Natureza des- Hoje, essa afirmação é utópica, pois a sociedade ainda não con-
pertando o poeta de meiatigela que mora em tantos de nós. Para seguiu distinguir as diferenças e articulá-las, sem conceder privilé-
mim, em especial, há ainda umas sugestões fugidias da infância e da gios a uns e restrições a outros. A diferença precisa ser concebida
juventude cada vez mais remotas e mais romantizadas, uns cheiros, assim: algo produtivo, complementar. Essa é uma visão relativiza-
uns relances de paisagem, uns sentimentos que, de tão longínquos, dora, contrária ao etnocentrismo, que supervaloriza um em detri-
já pareciam mortos. mento de outro.

Não, minha sina é outra e assim regresso a nosso universo de Trata-se de uma questão que tem por princípio o respeito ao
cidade grande e cheia de ameaças, de jornais atemorizantes com indivíduo.
suas notícias de arrepiar. Sou obrigado a voltar a ler, todos os dias,
a respeito de crimes inimagináveis em sua crueldade e requinte A partir desse pensamento é possível conceber as relações so-
perverso, desabamentos, calamidades, guerras, corrupção fora de ciais como despidas de preconceitos e fundamentadas na aceitação
todos os limites, o Rio transmudado numa espécie de faroeste, o do outro.
medo abrindo suas asas pegajosas sobre todos nós, que nem den-
tro de casa estamos mais seguros, a ponto de às vezes parecer incrí- (FERNANDES, F. A integração do negro na sociedade de classes.
vel que ainda possamos sorrir e celebrar alguma coisa. Não deveria São Paulo: EDUSP, 1976).
ser, mas é assim que transcorre nossa vida e, mesmo diante desses
fatos, temos de prosseguir, agradecendo a Deus pela graça de cada O elemento assinalado em coexistência traduz idéia de
novo dia. (...) (A) união.
(João Ubaldo Ribeiro) (B) extensão.
(C) embate.
* para os olhos forasteiros (2º parágrafo) para aqueles que são (D) distanciamento.
de fora. (E) divergência.

A mesma razão gramatical justifica o acento gráfico nas pala- 36.(FCC - AUXILIAR JUDICIÁRIO (TRT 5ª REGIÃO)/SERVIÇOS
vras: GERAIS/2003)
(A) irônica e época. Atenção: A questão baseia-se no texto apresentado abaixo.
(B) paraíso e possível. Meia-tigela
(C) incrível e notícias.
(D) angústias e país. (...)
(E) irresponsável e infância.
Na época da monarquia portuguesa, o povo da corte (criados,
34.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 14ª REGIÃO)/ADMINIS- pajens, oficiais...) que não habitava o palácio nem contava ainda
TRATIVA/2011 (E MAIS 1 CONCURSO) com o vale-refeição, era alimentado no local de trabalho. A comida
Das frases abaixo só NÃO há erros de ortografia em: era servida de acordo com as rações prescritas no Livro da Cozinha
(A) Carbohidratos ricos em fibras são importantes aliados para del Rei e a porção de cada um variava conforme a importância do
manter estável o nivel de energia do organismo. serviço prestado. E assim havia gente de tigela inteira e gente de
(B) Sabe-se que uma substancia encontrada no guaraná pode meia-tigela.
estimular a função cerebral e auxiliar na concentrasão.
(C) Consumir alimentos ricos em vitaminas e minerais pode aju- (Reinaldo Pimenta, A casa da mãe Joana)
dar a reduzir os efeitos negativos do estresse.
(D) O consumo de proteínas e gorduras em exceço pode ser Na época em que alguns trabalhadores recebiam suas ...... não
nossivo para o processo digestivo. existiam os ...... .
(E) Manter o organismo mau hidratado pode prejudicar a elimi- (A) meia-tigelas - vale-refeições
nação de toxínas e provocar sérios problemas de saúde. (B) meia-tigelas - valem-refeição
(C) meias-tigelas - vales-refeições
35.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 23ª REGIÃO)/JUDICIÁ- (D) meias-tigelas - valem-refeições
RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2004 (E MAIS 6 CONCURSOS) (E) meias-tigela - vales-refeição
Instrução: A questão refere-se ao texto que segue.
A sociedade avalia a existência da diferença como negativa.
O ideal é ser igual, o diferente é discriminado e, a fim de evitar o
preconceito, é necessário compreender o outro nos seus próprios
valores e não ter como base os nossos próprios. Aceitar o diferente
impede a transformação da diferença em uma hierarquia, e a viabi-
liza como uma complementação do outro.

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LÍNGUA PORTUGUESA
37.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 20ª REGIÃO)/ADMINIS- Pertenço a uma geração que não se conformava com as debi-
TRATIVA/2002) lidades do relato jornalístico. O objetivo daquela geração, realizado
Acaba de ser concluído um dos maiores estudos sobre o stress apenas em parte, era estabelecer que o jornalismo, apesar de suas
no trabalho. Um batalhão de pesquisadores ouviu 1 000 executi- severas limitações, é uma forma legítima de conhecimento sobre o
vos de vários países, inclusive do Brasil. Uma das conclusões é que nível mais imediato da realidade.
os brasileiros estão entre os que mais sofrem com as pressões do O que nos remete à questão do início; sendo um mal, por que
dia-a-dia no escritório. E sofrimento, aqui, não é simplesmente um necessário? Por dois motivos. Ao disseminar notícias e opiniões, a
lugar-comum. Segundo o estudo, eles estão à beira da exaustão se- prática jornalística municia seus leitores de ferramentas para um
vera – no jargão médico, o estado mais devastador de esgotamento exercício mais consciente da cidadania. Thomas Jefferson pretendia
físico e mental. “Aquela velha idéia de que o brasileiro é natural- que o bom jornalismo fosse a escola na qual os eleitores haveriam
mente um sujeito relaxado, cuca-fresca, foi por água abaixo com de aprender a exercer a democracia.
esse estudo”, afirma uma das organizadoras do levantamento. Os O outro motivo é que os veículos, desde que comprometi-
nossos executivos, lideram o ranking dos que dedicam mais horas dos com o debate dos problemas públicos, servem como arena de
ao trabalho (54 horas semanais contra a média mundial de 41). Mas ideias e soluções. O livre funcionamento das várias formas de im-
esse não é o fator determinante para deixá-los tão nervosos. O que prensa, mesmo as sectárias e as de má qualidade, corresponde em
falta aos brasileiros, revela a pesquisa, é principalmente confiança seu conjunto à respiração mental da sociedade.
em si próprios – só alemães e franceses são mais inseguros. Esse Entretanto, o jornalismo dito de qualidade sempre foi objeto
é um ponto-chave. A autoconfiança no trabalho é uma espécie de de uma minoria. A maioria das pessoas está de tal maneira consu-
colete salva-vidas contra os principais fatores de stress. Sem ela, mida por seus dramas e divertimentos pessoais que sobra pouca
o executivo (e qualquer outro tipo de profissional, acrescente-se) atenção para o que é público. Desde quando os tabloides eram o
pode naufragar do ponto de vista psicológico. principal veículo de massas, passando pela televisão e pela inter-
net, vastas porções de jornalismo recreativo vêm sendo servidas à
Não importa o país, o trabalho é naturalmente um ambiente de maioria.
stress. Hoje, no entanto, a pressão é muito maior do que há vinte O jornalismo de verdade, que apura, investiga e debate, é
anos. Da década de 80 para cá, as grandes empresas sofreram cirur- sempre elitista. Está voltado não a uma elite econômica, mas a uma
gias profundas em sua estrutura. Elas estão menos verticais, dividi- aristocracia do espírito. São líderes comunitários, professores, em-
das em unidades operacionais. Com isso, surgiram vários chefes no presários, políticos, sindicalistas, cientistas, artistas. Pessoas volta-
lugar de um só, o todo-poderoso a quem todos deviam reportar-se. das ao coletivo.
Nesse tipo de organização, de hierarquia pulverizada, é comum o A influência desse tipo de jornalismo sempre foi, assim, me-
executivo receber ordens de pessoas diferentes, muitas vezes con- diada. Desde que se tornou hegemônico, nos anos 1960-70, o jor-
traditórias. Freqüentemente ele também não sabe a quem se diri- nalismo televisivo se faz pautar pela imprensa. Algo parecido ocorre
gir primeiro – se ao diretor dessa ou daquela área confluentes. E,
agora com as redes sociais.
o que é pior, tornou-se difícil descobrir a origem de determinadas
A imprensa, que vive de cobrir crises, sempre esteve em crise.
decisões.
O paradoxo deste período é que, no mesmo passo em que as bases
materiais do jornalismo profissional deslizam, sua capacidade de
(Adaptado de Veja, abril/2002)
atingir mais leitores se multiplica na internet, conforme se torna
visível a perspectiva de universalizar o ensino superior.
A frase em que o plural do substantivo composto está INCOR-
RETO é:
(Adaptado de: FILHO, Otavio Frias. Disponível em: www.folha.
(A) Os brasileiros não são cucas-frescas, como se pensa.
(B) Esses são pontos-chave para evitar o nervosismo. uol.com.br)
(C) São coletes salvam-vidas contra os fatores de stress.
(D) Os chefes são geralmente todo-poderosos no serviço. Thomas Jefferson pretendia que o bom jornalismo...
(E) As causas de sofrimento não são simples lugares- comuns. O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo do sublinhado
acima está também sublinhado em:
38.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 6ª REGIÃO)/ADMINIS- (A) ... as bases materiais do jornalismo profissional deslizam...
TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2018) (B) ... os eleitores haveriam de aprender a exercer a democra-
A questão baseia no texto apresentado abaixo. cia.
(C) Algo parecido ocorre agora com as redes sociais...
O jornalismo pode ser qualificado, embora com certo exagero, (D) ... mais raro ainda que sejam reconhecidos como tais.
como um mal necessário. É um mal porque todo relato jornalísti- (E) Desde quando os tabloides eram o principal veículo de mas-
co tende ao provisório. Mesmo quando estamos preparados para sas...
abordar os assuntos sobre os quais escrevemos, é próprio do jorna-
lismo apreender os fatos às pressas. A chance de erro, sobretudo de 39.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 6ª REGIÃO)/ADMINIS-
imprecisões, é grande. TRATIVA/SEGURANÇA/2018)
O próprio instrumento utilizado é suspeito. Diferente da nota- A questão baseia no texto apresentado abaixo.
ção matemática, que é neutra e exata, a linguagem se presta a vie- O carnaval do Recife deve ao Galo da Madrugada sua reper-
ses de todo tipo, na maior parte inconscientes, que refletem visões cussão nacional. O bloco foi num crescendo ano a ano e virou o
de mundo de quem escreve. Eles interagem com os vieses de quem espetáculo grandioso que é. Tem futuro promissor. Mas precisa ser
lê, de forma que, se são incomuns textos de fato isentos, mais raro encarado como um negócio a ser tocado cada vez mais profissio-
ainda que sejam reconhecidos como tais. nalmente.
O potencial do carnaval do Recife para crescer como um “ne-
gócio” poderá ser estimulado a beneficiar mais a cidade, gerando
incremento de emprego, trabalho e renda nos hotéis, restaurantes,

42
LÍNGUA PORTUGUESA
lanchonetes, oficinas de madeira e ferro, shoppings, meios de hos- simétrico. Na física moderna, o imperfeito ocupa um lugar de hon-
pedagem em residências, segurança... entre outros segmentos liga- ra. De fato, se a Natureza fosse perfeita, o Universo seria um lugar
dos à cadeia produtiva do evento. extremamente sem graça. Do microcosmo das partículas elementa-
Para ampliar a dimensão desse carnaval, há que se explorar res da matéria ao macrocosmo das galáxias e mesmo no Universo
ainda mais o potencial do Recife Antigo e o de Olinda. Uma cida- como um todo, a imperfeição é fundamental. A estrutura hexagonal
de que dispõe, a seu lado, de uma festa tão singular, alegre e ir- dos flocos de neve é uma manifestação de simetrias que existem no
reverente como a da vizinha cidade já é por si só um produto co- nível molecular, mas, ao mesmo tempo, dois flocos de neve jamais
mercializável e lucrativo. Nossa proposta pontual é fundir os dois serão perfeitamente iguais. Não faltam razões, enfim, para que nos
carnavais e transformá-los na marca “Carnaval Recife-Olinda”. Isto aceitemos como seres imperfeitos. Por que não?
vai “pegar” e potencializará uma maior atratividade nacional para
a festa pernambucana. Que estado no Brasil dispõe de um conjun- (Adaptado de: GLEISER, Marcelo. Retalhos cósmicos. São Paulo:
to de atrativos em uma única festa como o “Galo” estrondoso, o Companhia das Letras, 1999, p. 189-190)
frevo, os blocos antigos, maracatus, bonecos gigantes, caboclinhos,
tambores silenciosos, virgens de Olinda, escolas de samba, prévias Numa reelaboração de um segmento do texto, mantêm-se a
tradicionais e até espaço poprock para os mais alternativos? correção da frase e uma adequada correlação entre os tempos e
Qual caminho a seguir? Primeiro, institucionalizar a aliança modos verbais em:
entre Olinda e Recife. Em seguida, buscar os patrocínios e parcerias (A) Em algumas religiões, tomávamos consciência de que o
com as associações de bares e restaurantes, indústrias de bebidas, nosso objetivo era chegar ao paraíso, visto como um espaço de
empresas de cartões de crédito, redes sociais e sites estratégicos. plenitude e perfeição.
O estímulo para se conhecer o “Carnaval Recife-Olinda” já deverá (B) Algumas teses de que iriam revolucionar a produção artís-
estar em anúncios publicitários nesses sites ao menos três meses tica têm a haver com a incorporação, das formas imperfeitas.
antes da festa. Isso despertará o interesse do público de diferentes (C) Muitos casos de ruptura com a sede de perfeição verifica-se
localidades. É este o caminho para transformar Pernambuco num na exploração de novos modelos artísticos, aonde predominas-
destino ainda mais procurado a partir de 2019. se a imperfeição.
(Adaptado de: LIMA, Mauro Ferreira. “Carnaval do Recife, pro- (D) Se numa relação afetiva entre duas pessoas poderiam ocor-
posta para crescer”. Disponível em: www.diariodepernambuco. rer discensões, o que de fato se pretendia eram uma troca de
com.br. 17.02.2018) afetos harmoniosos.
(E) Não apenas na arte, como assim também na física, o lugar
Primeiro, institucionalizar a aliança entre Olinda e Recife. (4° do imperfeito existiria como um fator que proporcione o equi-
parágrafo) líbrio de uma determinada estrutura.
Se essa frase for iniciada com Primeiro, será necessário que, a
forma verbal destacada deve ser substituída por 41.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 2ª REGIÃO)/JUDICIÁ-
(A) se institucionalizarão. RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2018 (E MAIS 2 CONCURSOS)
(B) se institucionaliza. Em torno do bem e do mal
(C) se institucionalizavam. Quando nos referimos ao Bem e ao Mal, devemos considerar
(D) se institucionalize. que há uma série de pequenos satélites desses grandes planetas,
(E) se institucionalizara. e que são a pequena bondade, a pequena maldade, a pequena
inveja, a pequena dedicação... No fundo é disso que se faz a vida
40.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 2ª REGIÃO)/JUDICIÁ- das pessoas, ou seja, de fraquezas e virtudes minúsculas. Por outro
RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2018 (E MAIS 2 CONCURSOS) lado, para as pessoas que se importam com a ética, há uma regra
A importância do imperfeito simples e fundamental: não fazer mal a outrem. A partir do mo-
O conceito de perfeição guia muitas aspirações nossas, seja em mento em que tenhamos a preocupação de respeitar essa simples
nossas vidas privadas, seja nos diversos espaços profissionais. Fa- regra de convivência humana, não será preciso perdermo-nos em
lamos ou ouvimos falar de “relações perfeitas” entre duas pessoas grandes filosofias especulativas sobre o que seja o Bem e o Mal.
como modelos a serem seguidos, ou de almejar sempre a realização “Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti” pa-
perfeita de um trabalho. Em algumas religiões, aprendemos que rece um ponto de vista egoísta, mas é uma diretriz básica pela qual
nosso objetivo é chegar ao paraíso, lar da perfeição absoluta, final deve o comportamento humano se orientar para afastar o egoísmo
de jornada para aqueles que, se não conseguiram atingir a perfei- e cultivar verdadeiramente o que se precisa entender por relação
ção em vida, pelo menos a perseguiram com determinação. humana. Pensando bem, a formulação dessa diretriz bem pode ter
uma versão mais positiva: “Faz aos outros o que quiseres que façam
Historicamente, o perfeito está relacionado com a estética, an- a ti”. Não é apenas mais simpático, é mais otimista, e dissolve de vez
dando de mãos dadas com o belo, conforme rezam os preceitos da a suspeita fácil de uma providência egoísta.
arte clássica. Muito da criatividade humana, tanto nas artes como
nas ciências, é inspirado por esse ideal de perfeição. Mas nem tudo. (A partir de José Saramago. As palavras de Saramago. São
Pelo contrário, várias das ideias que revolucionaram nossa produ- Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 111-112, passim)
ção artística e científica vieram justamente da exaltação do imper-
feito, ou pelo menos da percepção de sua importância. Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti.
A frase acima permanecerá correta caso se substituam os ele-
Nas artes, exemplos de rompimento com a busca da perfeição mentos sublinhados, respectivamente, por
são fáceis de encontrar. De certa forma, toda a pintura moderna é (A) fazei − queireis − vos façam a vós
ou foi baseada nesse esforço de explorar o imperfeito. Romper com (B) faça − queiras − a ti te façam
o perfeito passou a ser uma outra possibilidade de ser belo, como (C) façais − queirais − vos façam a vós
ocorre na música atonal ou na escultura abstrata, em que se en- (D) faça − quiseres − que a você lhe façam
contram novas perspectivas de avaliação do que seja harmônico ou (E) faze − queirais − que se lhe faça

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LÍNGUA PORTUGUESA
42.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 24ª REGIÃO)/ADMINIS- Necessário distinguir assinatura digital da assinatura digitaliza-
TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2017 (E MAIS 3 CONCURSOS) da. A assinatura digitalizada é a reprodução da assinatura autógrafa
Instituições financeiras reconhecem que é cada vez mais difícil como imagem por um equipamento tipo scanner. Ela não garante
detectar a autoria e integridade do documento eletrônico, porquanto não
se uma transação é fraudulenta ou verdadeira existe uma associação inequívoca entre o subscritor e o texto digi-
Os bancos e as empresas que efetuam pagamentos têm dificul- talizado, uma vez que ela pode ser facilmente copiada e inserida em
dades de controlar as fraudes financeiras on-line no atual cenário outro documento.
tecnológico conectado e complexo. Mais de um terço (38%) das or-
ganizações reconhece que é cada vez mais difícil detectar se uma (Disponível em: http://portal.trt23.jus.br/ecmdemo/public/trt23/
transação é fraudulenta ou verdadeira, revela pesquisa realizada Informese/ assinaturaDigital. Acesso em: 02.12.2015)
por instituições renomadas.
Empregam-se todas as formas verbais de acordo com a norma
O estudo revela que o índice de fraudes on-line acompanha o culta na seguinte frase redigida a partir do texto:
aumento do número de transações on-line, e 50% das organizações (A) Para que se mantesse sua autenticidade, o documento não
de serviços financeiros pesquisadas acreditam que há um cresci- poderia receber qualquer tipo de retificação.
mento das fraudes financeiras eletrônicas. Esse avanço, juntamente (B) Os documentos com assinatura digital disporam de algorit-
com o crescimento massivo dos pagamentos eletrônicos combina- mos de criptografia que os protegeram.
do aos novos avanços tecnológicos e às mudanças nas demandas (C) Arquivados eletronicamente, os documentos poderam con-
corporativas, tem forçado, nos últimos anos, muitas delas a melho- tar com a proteção de uma assinatura digital.
rar a eficiência de seus processos de negócios. (D) Quem se propor a alterar um documento criptografado
deve saber que comprometerá sua integridade.
De acordo com os resultados, cerca de metade das organiza- (E) Não é possível fazer as alterações que convierem sem com-
ções que atuam no campo de pagamentos eletrônicos usa soluções prometer a integridade dos documentos.
não especializadas que, segundo as estatísticas, não são confiáveis
contra fraude e apresentam uma grande porcentagem de falsos po- 44.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 23ª REGIÃO)/ADMI-
sitivos. O uso incorreto dos sistemas de segurança também pode NISTRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2016 (E MAIS 5 CONCUR-
acarretar o bloqueio de transações. Também vale notar que o des- SOS)
vio de pagamentos pode causar perda de clientes e, em última ins- Atenção: Para responder à questão. considere o texto abaixo.
tância, uma redução nos lucros. Quase meio século separa a estreia de Manoel de Barros na li-
teratura − em 1937, com a publicação de “Poemas Concebidos sem
Conclui-se que a fraude não é o único obstáculo a ser superado: Pecado” em tiragem artesanal de 21 exemplares − da circulação
as instituições financeiras precisam também reduzir o número de mais ampla de sua obra, na segunda metade dos anos 1980, graças
alarmes falsos em seus sistemas a fim de fornecer o melhor atendi- ao voluntário trabalho de divulgação feito por jornalistas, escritores
mento possível ao cliente. e intelectuais que passaram a admirá-lo.

(Adaptado de: computerworld.com.br. Disponível em: Entre eles, Millôr Fernandes e Antonio Houaiss, para quem Ma-
http://computerworld.com.br/quase-40-dos-bancos-nao-sao-capa- noel de Barros era comparável a São Francisco de Assis “na humil-
zes-de-diferenciar- um-ataque-de-atividades-normais-de-clientes) dade diante das coisas”.

No texto, as formas verbais flexionadas no presente do indicati- Nascido em 1916, em Cuiabá, Manoel de Barros escreveu 18
vo “têm, “acompanha” e “apresentam” indicam eventos que livros de poesia, além de obras infantis e relatos autobiográficos. Na
(A) já aconteceram e certamente não acontecerão mais. juventude, apaixonou-se por Arthur Rimbaud e Charles Baudelaire.
(B) ocorrem em condições hipotéticas. Os poetas do cinema também o encantaram, com destaque para
(C) se repetem com os passar dos dias. Federico Fellini, Akira Kurosawa e Luis Buñuel. Dizia-se um “vedor
(D) não se repetirão num futuro próximo. de cinema”, mas sempre “numa tela grande, sala escura e gente
(E) raramente aconteceram ou acontecem. quieta do meu lado”.

43.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 23ª REGIÃO)/ADMINIS- “Acho que um poeta usa a palavra para se inventar”, disse em
TRATIVA/2016 (E MAIS 2 CONCURSOS) entrevista a um jornal. “E inventa para encher sua ausência no mun-
Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo. do. (...) O poeta escreve por alguma deformação na alma. Porque
O que é assinatura digital? não seria certo ficar pregando moscas no espaço para dar banho
A assinatura digital é uma modalidade de assinatura eletrônica, nelas. Ou mesmo: pregar contiguidades verbais e substantivas para
resultado de uma operação matemática que utiliza algoritmos de depois casá-las.”
criptografia assimétrica e permite aferir, com segurança, a origem e
a integridade do documento. (Disponível em: www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/11/-
-1547550-manoel-de-barros-foi-revelado-por-millor-ehouaiss-re-
A assinatura digital fica de tal modo vinculada ao documento lembre-trajetoria.shtml)
eletrônico “subscrito” que, ante a menor alteração neste, a assina-
tura se torna inválida. A técnica permite não só verificar a autoria
do documento, como estabelece também uma “imutabilidade lógi- ... para quem Manoel de Barros era comparável a São Francisco
ca” de seu conteúdo, pois qualquer alteração do documento, como de Assis...
por exemplo a inserção de mais um espaço entre duas palavras, in-
valida a assinatura.

44
LÍNGUA PORTUGUESA
O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o da frase Hoje há algo novo nesse cenário. Vivemos a era dos adultos
acima está em: infantilizados. Não é por acaso que proliferaram os coaches. Coach,
(A) Dizia-se um “vedor de cinema”... em inglês, significa treinador. Originalmente, treinador de esportis-
(B) Porque não seria certo ficar pregando moscas no espaço... tas. Nesse conceito importado dos Estados Unidos, país que trans-
(C) Na juventude, apaixonou-se por Arthur Rimbaud e Charles formou a infância numa bilionária indústria de consumo, a ideia é
Baudelaire. a de que, embora estejamos na idade adulta, não sabemos lidar
(D) Quase meio século separa a estreia de Manoel de Barros com a vida sozinhos. Precisamos de um treinador que nos ajude a
na literatura... comer, conseguir amigos e emprego, lidar com conflitos matrimo-
(E) ... para depois casá-las... niais e profissionais, arrumar as finanças e até mesmo organizar os
armários. Uma espécie de infância permanente do indivíduo.
45.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 20ª REGIÃO)/ADMI-
NISTRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2016 (E MAIS 8 CONCUR- Os adultos infantilizados desse início de milênio encarnam a
SOS) geração do “eu mereço”. Alcançar sonhos, ideais ou mesmo objeti-
Atenção: Leia o texto abaixo para responder à questão. vos parece ser compreendido como uma consequência natural do
próprio existir, de preferência imediata. Quando essa crença fracas-
Em junho de 2013, o Presidente Robert Mugabe, do Zimbábue, sa, é hora de buscar o treinador de felicidade, o treinador de saúde.
afirmou durante uma entrevista: “Nelson Mandela é santificado de- É estarrecedor verificar como as gerações que estão aí parecem não
mais. Foi bom demais com os brancos à custa dos negros em seu perceber que dá trabalho conquistar o que se deseja. E, mesmo que
próprio país”. Alguns concordaram, outros protestaram. Até certo se esforcem muito, haverá sempre o que não foi possível alcançar.
ponto acredito que ele tenha levantado uma questão. Suas atitu-
des podiam ser percebidas dessa maneira. Ainda assim, em uma (Adaptado de: BRUM, ELIANE. Disponível em: http://revistaepoca.
conversa com Richard Stengel, o próprio Madiba* havia dito, mui- globo.com/Revista/Epoca)
to tempo antes: “As pessoas sentirão que vejo demais o bem nas
pessoas. Então, é uma crítica que tenho de suportar e à qual tento Precisamos de um treinador que nos ajude a comer...
me ajustar, pois, seja isso verdade ou não, é algo que penso ser
proveitoso. É uma coisa boa de assumir, agir com base no fato de O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o sublinha-
que... os outros são homens de integridade e honra... porque você do acima está também sublinhado em:
tende a atrair integridade e honra, se é dessa maneira que olha para (A) ... assim que conseguissem se virar sem as mães ou as
aqueles com quem trabalha”. amas...
(B) Não é por acaso que proliferaram os coaches.
*um dos nomes pelos quais Nelson Mandela era chamado; re- (C) ... país que transformou a infância numa bilionária indústria
fere-se a seu clã e denota afeto e respeito. de consumo...
(D) E, mesmo que se esforcem muito...
(Adaptado de: LA GRANGE, Zelda. Bom dia, Sr. Mandela. Trad. (E) Hoje há algo novo nesse cenário.
Felipe José Lindoso. Ribeirão Preto: Novo Conceito, 2015, p. 9)
47.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 15ª REGIÃO)/APOIO ES-
... o próprio Madiba havia dito, muito tempo antes... PECIALIZADO/ENFERMAGEM/2015 (E MAIS 1 CONCURSO)
Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.
A expressão destacada está corretamente substituída, preser-
vando-se o tempo, o modo e o aspecto verbais, por O termo saudade, monopólio sentimental da língua portugue-
(A) disse. sa, geralmente se traduz em alemão pela palavra “sehnsucht”. No
(B) dissera. entanto, as duas palavras têm uma história e uma carga sentimental
(C) dizia. diferentes. A saudade é um sentimento geralmente voltado para
(D) diria. o passado e para os conteúdos perdidos que o passado abrigava.
(E) dissesse. Embora M. Rodrigues Lapa, referindo-se ao sentimento da saudade
nos povos célticos, empregue esse termo como “ânsia do infinito”,
46.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 20ª REGIÃO)/ADMINIS- não é esse o uso mais generalizado. Emprega-se a palavra, tanto na
TRATIVA/2016 (E MAIS 2 CONCURSOS) linguagem corrente como na poesia, principalmente com referência
Atenção: Leia o texto abaixo para responder à questão. a objetos conhecidos e amados, mas que foram levados pela vora-
gem do tempo ou afastados pela distância.
O conceito de infância, como o conhecemos, consolidou-se no
Ocidente a partir do século XVIII. Até o século XVI, pelo menos, as- A “sehnsucht” alemã abrange ao contrário tanto o passado
sim que conseguissem se virar sem as mães ou as amas, as crianças como o futuro. Quando usada com relação ao passado, é mais ou
eram integradas ao mundo dos adultos. A infância, como idade da menos equivalente ao termo português, sem que, contudo, lhe seja
brincadeira e da formação escolar, ao mesmo tempo com direito à inerente toda a escala cromática de valores elaborados durante
proteção dos pais e depois à do Estado, é algo relativamente novo. uma longa história de ausências e surgidos em consequência do
temperamento amoroso e sentimental do português. Falta à pala-
A infância não é um conceito determinado apenas pela biolo- vra alemã a riqueza etimológica, o eco múltiplo que ainda hoje vibra
gia. Como tudo, é também um fenômeno histórico implicado nas na palavra portuguesa.
transformações econômicas e sociais do mundo, em permanente
mudança e construção.

45
LÍNGUA PORTUGUESA
A expressão “sehnsucht”, todavia, tem a sua aplicação principal encadernados em pano, álbuns de família, que se acumulavam em
precisamente para significar aquela “ânsia do infinito” que Rodri- baús ou velhos armários. São monumentos remotos, de um tempo
gues Lapa atribuiu à saudade. No uso popular e poético emprega- em que a memória ia longe, chegava aos avós e aos bisavós.
-se o termo com frequência para exprimir a aspiração a estados ou
objetos desconhecidos e apenas pressentidos ou vislumbrados, os Pergunto-me se não é a qualidade mesma da nossa memória,
quais, no entanto, se julgam mais perfeitos que os conhecidos e os do nosso interesse pelas recordações, se não é o valor mesmo da
quais se espera alcançar ou obter no futuro. memória que está mudando de forma radical. Parece estar havendo
um crescente desprestígio de tudo o que se refere ao passado, ain-
Assim, a saudade parece ser, antes de tudo, um sentimento da quando esse passado seja recente. Com isso, o tempo se reduz
do coração envelhecido que relembra os tempos idos, ao passo ao instante que está passando e ao aguardado amanhã, do qual se
que a “sehnsucht” seria a expressão da adolescência que, cheia de exigem novas revelações, novos milagres. Um álbum de fotografias,
esperanças e ilusões, vive com o olhar firmado num futuro incer- nessa velocidade, é um objeto de museu, testemunha de tempos
to, mas supostamente prometedor. Ambas as palavras têm certa mais ingênuos e de imagens paralisadas.
equivalência no tocante ao seu sentido intermediário, ou seja, à
sua ambivalência doce-amarga, ao seu oscilar entre a satisfação e a Enquanto não morrem de vez, ainda me detenho em alguns
insatisfação. Mas, como algumas de suas janelas dão para o futuro, desses álbuns. Quase sempre são de gosto duvidoso, com capas
a palavra alemã é portadora de um acento menos lânguido e a in- pretensiosas, ilustradas com flores coloridas, gatinhos meigos, pai-
satisfação nela contida transforma-se com mais facilidade em mola sagens poéticas e outros mimos. Dentro deles surpreendo a vida
de ação. que já foi, os olhares que nos apanham em nossa vez de ser mo-
dernos. Aí me ocorre que nossas imagens não irão parar em álbuns
(Adaptado de: ROSENFELD, Anatol. Doze estudos. São Paulo, Im- caprichosos, talvez nem mesmo em arquivos digitais: não estarão
prensa oficial do Estado, 1959, p. 25-27) em lugar nenhum. É o preço que se paga pelo desapego à memória.

(Vitório Damásio, inédito)


Embora M. Rodrigues Lapa [...] empregue esse termo como
“ânsia do infinito”... (1º parágrafo)
Os tempos e modos verbais encontram-se adequadamente ar-
ticulados na frase:
O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o grifado
(A) Se alguém me perguntasse a respeito da necessidade de se
acima está empregado em:
preservar em álbuns as fotos familiares, não hesitarei em lhe
(A) ... que Rodrigues Lapa atribuiu à saudade. (3º parágrafo)
dizer que eu alimentasse grande simpatia por esse hábito.
(B) ... e para os conteúdos perdidos que o passado abrigava.
(B) A cada vez que alguém me perguntar se estou entusiasma-
(1º parágrafo)
do com as novas técnicas digitais, eu teria dito que não, que
(C) ... sem que, contudo, lhe seja inerente toda a escala cromá- tenho preferência pelas velhas fotos em papel.
tica de valores... (2º parágrafo) (C) Quando eu me punha a examinar os velhos álbuns de foto-
(D) ... que relembra os tempos idos... (4º parágrafo) grafia, era tomado por uma grande nostalgia, e passava a re-
(E) ... ao passo que a “sehnsucht” seria a expressão da adoles- constituir histórias até então esquecidas.
cência... (4º parágrafo) (D) Caso todos prefiram aderir aos arquivos de computador, as
velhas fotografias teriam sido relegadas a um cruel desapare-
48.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 15ª REGIÃO)/APOIO ES- cimento.
PECIALIZADO/ENFERMAGEM/2015) (E) Talvez ainda venha a ocorrer a revalorização das velhas fo-
Ninguém ignora a enorme influência que simples palavras ...... tografias, caso as pessoas percebessem que estas contam uma
na história do pensamento e do sentimento dos povos. história preciosa.

Preenche corretamente a lacuna da frase acima: 50.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 3ª REGIÃO)/JUDICIÁ-
(A) exercem RIA/OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR FEDERAL/2015 (E MAIS 1
(B) a transmitam CONCURSO)
(C) possuíssem Considerando a norma-padrão da língua e o emprego de forma
(D) sejam desempenhadas verbal, é correta a seguinte frase:
(E) apresentem-se (A) Embora não apoiemos, não nos opomos a que gaste tanto
tempo com assuntos supérfluos, contanto que não interrompe
49.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 3ª REGIÃO)/ADMINIS- a faculdade.
TRATIVA/2015) (B) Independentemente de onde provierem os recursos, con-
Atenção: A questão refere-se ao texto que segue. virjam ou não os pareceres dos técnicos consultados, eles,
O fim dos álbuns de fotografias sempre destemidos, iniciarão a obra.
Quando me pergunto o que deverá desaparecer nos próximos (C) Eles proveem de uma região em que a destruição de bens
anos, por conta dos avanços tecnológicos que mudam ou suprimem naturais ou culturais de importância reconhecida é considera-
hábitos e valores tradicionais, incluo os álbuns de fotografias. Na da crime de lesa-pátria.
verdade, são as fotografias mesmas, aquelas reveladas em papel, (D) Os jogadores pleitearam que os juízes não intervissem a
que estão desaparecendo para dar lugar às imagens arquivadas cada pequena confusão provocada por um choque de corpos
num celular ou num computador. Não é mais o tempo que as tor- ou por discussão banal.
na apagadas ou amareladas; é o nosso súbito desinteresse que as (E) Enquanto aquela norma vigiu, não houve como solucionar
remove de vez ao toque de um “delete”. Nem pensar em armaze- o impasse e retirar o depósito que a justiça reteve em prol dos
ná-las naqueles álbuns de capa dura e folhas de papelão, alguns menores de idade.

46
LÍNGUA PORTUGUESA
51.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 3ª REGIÃO)/JUDICIÁ- Antes mesmo que tu lhe saibas o misterioso sentido:
RIA/OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR FEDERAL/2015 (E MAIS 1
CONCURSO) O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo em que se en-
Considere o trecho abaixo, extraído da Nova gramática do por- contra o verbo sublinhado acima está em:
tuguês contemporâneo, de Celso Cunha e Luís F. Lindley Cintra. (A) Cujas palavras sumarentas escorram
(B) Não se metem com ninguém.
...o gerúndio apresenta duas formas: uma simples [...], outra (C) Bastam-se.
composta [...]. (D) João vem!
(E) Morre, João...
A forma composta é de caráter perfeito e indica uma ação con-
cluída anteriormente à que exprime o verbo da oração principal 53.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 2ª REGIÃO)/ADMINIS-
[...]. TRATIVA/SEGURANÇA/2014 (E MAIS 2 CONCURSOS)
Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.
O que está exposto acima justifica o emprego do gerúndio na
frase: No dia 9 de janeiro de 1921, um sortido grupo reuniu-se no sa-
(A) Sendo considerada em plena posse de seu juízo no momen- lão de festas do badalado restaurante Trianon, no alto da aprazível
to de depor, pôde falar a favor da sobrinha. avenida Paulista, para um banquete em homenagem a Menotti Del
(B) Combinamos que, no horário das 13 às 15h, estarei aten- Picchia, que lançava uma edição do poema Máscaras.
dendo aos fornecedores de laticínios.
(C) Os alunos estão indo para o laboratório porque já vai come- Situado na área hoje ocupada pelo MASP, o Trianon era uma es-
çar a aula de Biologia. pécie de restaurante-pavilhão, com salão de chá e de festas. Inaugu-
(D) Tendo já se consumido em lágrimas, despediu-se de todos rado em 1916, tornara-se um dos centros da vida social paulistana,
e partiu. com seus bailes, concertos, aniversários, casamentos e banquetes.
(E) A professora lia sorrindo a narrativa do aluno espirituoso.
Naquele domingo de verão, ilustres integrantes do mundo cul-
52.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 4ª REGIÃO)/APOIO ES- tural e político foram prestigiar o escritor e redator político do Cor-
PECIALIZADO/TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO/2015) reio Paulistano, homem de amplo arco de amizades.
Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.
De gramática e de linguagem Mário de Andrade, que estava presente, escreveu sobre a festa
na edição da Ilustração Brasileira. Impressionou-se com a diversida-
E havia uma gramática que dizia assim: de dos convidados, um séquito de homens das finanças, poetas e
“Substantivo (concreto) é tudo quanto indica escritores da velha e da jovem guarda.
Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta.”
Eu gosto é das cousas. As cousas, sim!... Figurões revezaram-se na tribuna, até chegar a vez de Oswald
As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multiplicam-se de Andrade, que faria soar, nas palavras de Mário de Andrade, “o
em excesso. clarim dos futuristas” − aquela gente “do domínio da patologia”,
As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém. como gostavam de escrever “certos críticos passadistas, num afa-
Uma pedra. Um armário. Um ovo. (Ovo, nem sempre, noso rancor pelas auroras”.
Ovo pode estar choco: é inquietante...)
As cousas vivem metidas com as suas cousas. O tribuno foi logo avisando que não gostaria de confundir sua
E não exigem nada. voz com o cantochão dos conservadores. Juntava-se à louvação a
Apenas que não as tirem do lugar onde estão. Menotti, mas “numa tecla de sonoridade diferente”, em nome “de
E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta. um grupo de orgulhosos cultores da extremada arte de nosso tem-
Para quê? não importa: João vem! po”. Para selar o pertencimento de Menotti ao clã dos modernos, a
E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão, máscara de seu rosto, esculpida por Victor Brecheret, lhe era oferta-
Amigo ou adverso ... João só será definitivo da. Disse Oswald: “Examina a máscara que te trazemos em bronze.
Quando esticar a canela. Morre, João... Produziu-a de ti a mão elucidadora de Victor Brecheret que, com Di
Mas o bom, mesmo, são os adjetivos, Cavalcanti e Anita Malfatti, afirmou que a nossa terra contém uma
Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto. das mais fortes, expressivas e orgulhosas gerações de criadores”.
Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. Luminoso.
Sonoro. Lento. Eu sonho Não poderia faltar ao discurso a exaltação do dinamismo pau-
Com uma linguagem composta unicamente de adjetivos lista, pano de fundo da inquietação dos novos artistas e escritores.
Como decerto é a linguagem das plantas e dos animais. Num mundo − dizia o orador futurista − em que o pensamento e
Ainda mais: a ação se deslocavam da Europa para os “países descobertos pela
Eu sonho com um poema súplica das velas europeias”, São Paulo surgia como uma espécie de
Cujas palavras sumarentas escorram terra prometida da modernidade. Com suas chaminés e seus bair-
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca, ros em veloz expansão, a cidade agitava as “profundas revoluções
Um poema que te mate de amor criadoras de imortalidades”.
Antes mesmo que tu lhe saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto... E, se a capital bandeirante podia promover aquela festa e nela
ofertar uma “obra-prima” de Brecheret ao homenageado, isso sig-
(QUINTANA, M. Prosa e verso. Porto Alegre: Globo, 1978, p. 94) nificava que uma etapa do processo de arejamento das mentalida-
des já estava vencida.

47
LÍNGUA PORTUGUESA
Na avaliação de Mário da Silva Brito, o que se viu no Trianon foi Com sorte, os livros continuarão “físicos”.
o lançamento oficial do movimento modernista em território hos-
til − um “ataque de surpresa no campo do adversário distraído”. Mas os leitores correm o risco de ser reduzidos a um número
Ao que parece, entretanto, a distração do respeitável público foi de cartão de crédito e um clique.
mais funda − a ponto de poucos terem notado que as palavras ali
proferidas representavam um “ataque”. Oswald foi aplaudido por (CASTRO, Ruy, Folha de S.Paulo, opinião, 7 de ag. de 2013. p. A2)
passadistas, futuristas e demais presentes. “Todos estavam satisfei-
tos porque se julgavam incorporados à ‘meia dúzia’ de que falara o Observações:
audaz”, ironizou Mário de Andrade. 1. brontossauro / espécie de dinossauro;
2. Colombo / tradicional confeitaria do Rio de Janeiro, com sua
(Adaptado de GONÇALVES, Marcos Augusto. 1922: A semana que refinada arquitetura e mobiliário, seus requintados cristais e jogos
não terminou. São Paulo, Cia. das Letras, 2012, formato ebook) de porcelana, hoje patrimônio cultural e artístico da cidade;
3. incunábulo / livro impresso que data dos primeiros tempos
...que lançava uma edição do poema Máscaras. da imprensa (até o ano de 1500).

O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o grifado A construção destacada que, devido ao tempo e modo verbais
acima está em: empregados, expressa fato iniciado no passado e que se prolonga
(A) ... que não gostaria de confundir sua voz... até o momento em que se fala é:
(B) ... tornara-se um dos centros da vida social paulistana... (A) ...todos entendiam um objeto de peso e volume, composto
(C) Figurões revezaram-se na tribuna... de folhas encadernadas, protegidas por papelão ou couro. (3º
(D) ...São Paulo surgia como uma espécie de terra prometida parágrafo)
da modernidade. (B) Foi nelas que leitores e escritores aprenderam a se encon-
(E) Produziu-a de ti a mão elucidadora de Victor Brecheret... trar e trocar ideias. (4º parágrafo)
(C) ...leitores e escritores aprenderam a se encontrar. (4º pa-
54.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 2ª REGIÃO)/ADMINIS- rágrafo)
TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2014) (D) Pelos últimos mil anos, dos manuscritos aos incunábulos
Instrução: Para responder à questão, considere o texto a seguir. e aos impressos a laser, os livros têm sido chamados de livros.
Reduzido a um clique (3º parágrafo)
(E) Com sorte, os livros continuarão “físicos”. (último parágrafo)
RIO DE JANEIRO − A notícia é alarmante: “Amazon se prepara
para vender livros físicos no Brasil”. O alarme não se limita à iminen- 55.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 19ª REGIÃO)/ADMINIS-
te entrada da Amazon no mercado brasileiro de livros − algo que TRATIVA/2014)
lembrará o passeio de um brontossauro pela Colombo. Atenção: Para responder à questão, considere os textos III e IV.
A ameaça começa pela expressão “livros físicos”. É o que, a par-
tir de agora, o diferenciará dos livros digitais. Texto III
Este caderno de Jorge de Lima bem que se poderia chamar “as
Pelos últimos mil anos, dos manuscritos aos incunábulos e aos impressões dum homem que esteve no cárcere”. E são estes poe-
impressos a laser, os livros têm sido chamados de livros. Nunca pre- mas mesmo um canto comovido à terra de que ele esteve segre-
cisaram de adjetivos para distingui-los dos astrolábios, das guilhoti- gado. E há neles qualquer coisa das surpresas e dos espantos que
nas ou das cenouras. Quando se dizia “livro”, todos entendiam um sofre um homem que tudo via em névoa, ao sair de uma operação
objeto de peso e volume, composto de folhas encadernadas, prote- de catarata. As cores como que vivem com outra intensidade.
gidas por papelão ou couro, nas quais se gravavam a tinta palavras
ou imagens. Tudo isso nos versos de Jorge de Lima está contado com muita
força e comoção. Da boa e legítima comoção que é a que vem da
Há 200 anos, os livros deixaram de ser privilégio das bibliotecas simplicidade, que é a que sai das fontes mais preciosas do coração.
públicas ou particulares e passaram a ser vendidos em lojas espe- [...]
cializadas, chamadas livrarias. Desde sempre, as livrarias se caracte-
rizaram por estantes altas, vendedores atenciosos, uma atmosfera É vinda de dentro da terra, da vida sentimental do Nordeste,
de paz e a ocasional presença de um gato. Foi nelas que leitores e a maior parte dos poemas desse caderno. Quem os escreveu fez
escritores aprenderam a se encontrar e trocar ideias, gerando uma como um desterrado que a saudade conduziu ao retorno. E que
emulação com a qual a cultura teve muito a ganhar. voltasse com todos os sentidos atacados de fome. E se encontra o
Nordeste por toda a parte em seus poemas. [...] É ainda no caráter
A Amazon dispensa tudo isso. Ela vende livros “físicos”, mas a puramente regionalista de sua poesia que se distingue o Sr. Jorge
partir de um endereço imaterial − nada físico −, acessível apenas de Lima. Porque o seu regionalismo não é um limite à sua emoção
pela internet. Dispensa as livrarias. Se você se interessar por um e não tem por outra parte o caráter de partido político daquele que
livro (certamente recomendado por uma lista de best-sellers), basta rapazes de S.Paulo oferecem ao país com as insistências de anún-
o número do seu cartão de crédito e um clique. Em dois dias, ele es- cios de remédio. O regionalismo do jovem poeta nordestino é a sua
tará em suas mãos − e a um preço mais em conta, porque a Amazon emoção mais que a sua ideologia. O Nordeste não vem em sua po-
não tem gastos com aluguel, escritório, luz, funcionários humanos esia como um tema ou uma imposição doutrinária, vem como a
e nem mesmo a ração do gato. expressão lírica de um nordestino evocar a sua terra.

(Nota preliminar a Poemas escolhidos. REGO, José Lins do. in:


LIMA, Jorge de. Poesias completas. Rio de Janeiro: José Aguilar
Editora, 1974, vol. I, p. 140-142)

48
LÍNGUA PORTUGUESA
Texto IV O trem segue mais ou menos o mesmo percurso da lendária
Já uma vez me afoitei a sugerir esta ideia: a necessidade de Rota da Seda, antigo caminho que ligava a China à Europa e era
reconhecer-se um movimento distintamente nordestino de reno- usado para o transporte de especiarias, pedras preciosas e, eviden-
vação das letras, das artes, da cultura brasileira − movimento dos temente, seda, até cair em desuso, seis séculos atrás.
nossos dias que, tendo se confundido com a expansão do muito
mais opulento “modernismo” paulista-carioca, teve, entretanto, Hoje, a rota está sendo retomada para transportar uma carga
condições próprias − “ecológicas”, poderia dizer-se com algum pe- igualmente preciosa: laptops e acessórios de informática fabricados
dantismo − de formação, aparecimento e vida. na China e enviados por trem expresso para Londres, Paris, Berlim
Desse “movimento do Nordeste” pode-se acrescentar que foi e Roma.
uma espécie de parente pobre, capaz de dar ao rico valores já quase
despercebidos de outras partes do Brasil e necessitados apenas dos A Rota da Seda nunca foi uma rota única, mas sim uma teia de
novos estímulos vindos do Sul e do estrangeiro para se integrarem caminhos trilhados por caravanas de camelos e cavalos a partir de
no conjunto de riqueza circulante e viva constituída por elementos 120 a.C., quando Xi’an − cidade do centro-oeste chinês, mais conhe-
genuinamente brasileiros, essenciais ao desenvolvimento da nossa cida por seus guerreiros de terracota − era a capital da China.
cultura em expressão honesta do nosso ethos, da nossa história e
da nossa paisagem e em instrumento de nossas aspirações e ten- As caravanas começavam cruzando os desertos do oeste da
dências sociais como povo tanto quanto possível autônomo e cria- China, viajavam por cordilheiras que acompanham as fronteiras
dor. [...] ocidentais chinesas e então percorriam as pouco povoadas estepes
da Ásia Central até o mar Cáspio e além.
Experiência brasileira não falta a Jorge de Lima: ele é bem do
Nordeste. Não lhe falta o contato com a realidade afro-nordesti- Esses caminhos floresceram durante os primórdios da Idade
na. E há poemas seus em que os nossos olhos, os nossos ouvidos, Média. Mas, à medida que a navegação marítima se expandiu e que
o nosso olfato, o nosso paladar se juntam para saborear gostos e o centro político da China se deslocou para Pequim, a atividade eco-
cheiros de carne de mulata, de massapê, de resina, de muqueca, de nômica do país migrou na direção da costa.
maresia, de sargaço; para sentir cores e formas regionais que dão
presença e vida, e não apenas encanto literário, às sugestões das Hoje, a geografia econômica está mudando outra vez. Os cus-
palavras: que parecem lhes dar outras condições de vida além da tos trabalhistas nas cidades do leste da China dispararam na última
tecnicamente literária. [...] década. Por isso as indústrias estão transferindo sua produção para
o interior do país.
Jorge de Lima, um dos maiores poetas brasileiros de todos os
tempos, [...] põe o estrangeiro que se aproxima da poesia brasileira O envio de produtos por caminhão das fábricas do interior para
em contato com uma das nossas maiores riquezas: a interpretação os portos de Shenzhen ou Xangai − e de lá por navios que contor-
de culturas, entre nós tão livre, ao lado do cruzamento de raças. nam a Índia e cruzam o canal de Suez − é algo que leva cinco sema-
Dois processos através dos quais o Brasil vai-se adoçando numa das nas. O trem da Rota da Seda reduz esse tempo para três semanas.
comunidades mais genuinamente democráticas e cristãs do nosso A rota marítima ainda é mais barata do que o trem, mas o custo do
tempo. tempo agregado por mar é considerável.

(Nota preliminar a Poemas negros. FREYRE, Gilberto in: LIMA, Inicialmente, a experiência foi realizada nos meses de verão,
Jorge de. Poesias completas. Rio de Janeiro: José Aguilar Editora, mas agora algumas empresas planejam usar o frete ferroviário no
1974, v. I, p. 157 e 158) próximo inverno boreal. Para isso adotam complexas providências
para proteger a carga das temperaturas que podem atingir 40 °C
O Nordeste não vem em sua poesia como um tema ou uma negativos.
imposição doutrinária... (Texto III, 3o parágrafo)
(Adaptado de: www1.folhauol.com.br/FSP/newyorktimes/122473
Nos segmentos transcritos do Texto III, o verbo flexionado nos
mesmos tempo e modo em que se encontra o grifado acima está ... e então percorriam as pouco povoadas estepes da Ásia Cen-
em: tral até o mar Cáspio e além. (5o parágrafo)
(A) ... fez como um desterrado...
(B) ... “as impressões dum homem que esteve no cárcere”. O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o grifado
(C) ... que tudo via em névoa... acima está em:
(D) ... a que sai das fontes mais preciosas do coração. (A) ... e de lá por navios que contornam a Índia...
(E) E que voltasse com todos os sentidos atacados de fome. (B) ... era a capital da China.
(C) A Rota da Seda nunca foi uma rota única...
(D) ... dispararam na última década.
(E) ... que acompanham as fronteiras ocidentais chinesas...

56.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 19ª REGIÃO)/JUDICIÁ-


RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2014
Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

O MAQUINISTA empurra a manopla do acelerador. O trem car-


gueiro começa a avançar pelos vastos e desertos prados do Caza-
quistão, deixando para trás a fronteira com a China.

49
LÍNGUA PORTUGUESA
57.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 16ª REGIÃO)/ADMINIS- Preenchem corretamente as lacunas da frase acima, na ordem
TRATIVA/2014 (E MAIS 2 CONCURSOS) dada:
Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo. (A) durou - permanece - terminasse
(B) durava - permanecia - termina
Introduzido no Brasil nos primeiros anos de vida republicana, o (C) durara - permanecera - terminaria
velho e bretão football foi apropriado por toda a sociedade e, sendo (D) durava - permanece - terminara
rebatizado no Brasil como “futebol”, virou uma paixão nacional e (E) durou - permanecesse - terminava
um acontecimento festejado e amado pelo povo.
58.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 1ª REGIÃO)/APOIO ES-
Embora tivesse a chancela colonial de tudo o que vinha de fora, PECIALIZADO/TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO/2014 (E MAIS 1
o futebol sofreu muitos ataques em nome de um nacionalismo que CONCURSO)
se pensava frágil como porcelana. E, no entanto, canibalizamos e Atenção: A questão refere-se ao texto seguinte.
digerimos o “football”, roubando-o dos ingleses. Hoje, há um es- Novas fronteiras do mundo globalizado
tilo brasileiro de jogar e produzir esse esporte. De elemento capaz
de desvirtuar, ao lado da música e do cinema americanos, o estilo Apesar do desenvolvimento espetacular das tecnologias, não
de vida e a língua pátria, o futebol acabou servindo como um ins- devemos imaginar que vivemos em um mundo sem fronteiras,
trumento básico de reflexão sobre o Brasil. O sucesso futebolístico como se o espaço estivesse definitivamente superado pela veloci-
foi o nosso primeiro instrumento de autoestima diante dos países dade do tempo. Seria mais correto dizer que a modernidade, ao
“adiantados” e inatingíveis. romper com a geografia tradicional, cria novos limites. Se a diferen-
ça entre o “Primeiro” e o “Terceiro” mundo é diluída, outras surgem
Como prova do imprevisível destino das coisas sociais, o fute- no interior deste último, agrupando ou excluindo as pessoas.
bol não veio confirmar a dominação colonial. Pelo contrário, ele nos
fez colonizadores. Nossa contemporaneidade faz do próximo o distante, separan-
do-nos daquilo que nos cerca, ao nos avizinhar de lugares remotos.
A relação entre povo e futebol tem sido tão profunda e produti- Neste caso, não seria o outro aquilo que o “nós” gostaria de excluir?
va por aqui, que muitos brasileiros se esquecem de que o futebol foi Como o islamismo (associado à noção de irracionalidade), ou os es-
inventado na Inglaterra e pensam que ele é, como o samba e a fei- paços de pobreza (África, setores de países em desenvolvimento),
joada, um produto brasileiro. Provavelmente, conforme muitos têm que apesar de muitas vezes próximos se afastam dos ideais cultiva-
acentuado, porque é uma atividade que indubitavelmente promove dos pela modernidade.
sentimentos básicos de identidade individual e coletiva entre nós.
(Adaptado de: ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo:
Talvez o futebol possa ser tudo isso porque ele é um esporte Brasiliense, 1994, p. 220)
dotado de uma vocação complexa que permite entendê- lo e vivê-lo
simultaneamente de muitos pontos de vista. Assim, embora o fute- Todas as formas verbais estão adequadamente empregadas
bol seja uma atividade moderna, um espetáculo pago, produzido e quanto ao sentido e corretamente flexionadas na frase:
realizado por profissionais da indústria cultural, ele, não obstante, (A) Muitas pessoas já se contraporam, no passado, aos abusos
também orquestra componentes cívicos básicos, identidades so- que adviram com as novidades tecnológicas.
ciais importantes, valores culturais profundos e gostos individuais (B) O que sobrevier à globalização proverá ou não de razão os
singulares. O seu maior papel foi o de ensinar democracia. Foi o argumentos utilizados pelo autor do texto.
de revelar com todas as letras que não se ganha sempre e que o (C) Se alguém se dispor a concordar com suas opiniões, satisfa-
mundo é instável como uma bola. Perder e vencer, ensina o futebol, zer-se-á em se manter passivo diante da globalização?
fazem parte de uma mesma moeda. (D) Ainda ontem nos contemos diante do seu entusiasmo, de-
sistindo de o dissuadir de que nós é que está vamos certos.
(Adaptado de DAMATTA, Roberto. Trechos dos ensaios “O futebol (E) O que contribue para a globalização não diminui os abismos
como filosofia” e “ que sempre se interporam entre as classes sociais.

Antropologia do óbvio”. Disponíveis em estadao.com.br e usp. 59.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 1ª REGIÃO)/APOIO ES-
br/revistausp. Acesso em 10/05/2014) PECIALIZADO/TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO/2014)
Atenção: A questão refere-se ao texto seguinte.
Antigamente, a forma de jogar de um time ...... uma década. Sobre a educação
Vários jogadores entravam e saíam, mas alguma coisa ......, uma A escola deve desenvolver nos indivíduos as qualidades e ca-
verdade de fundo, parecida com aquela que num artista podemos pacidades que são valiosas para o bem-estar da comunidade. Isso
chamar de “estilo”. Isso ...... definitivamente nos anos 90. não significa, porém, que a individualidade deva ser destruída e que
o indivíduo deva tornar-se um mero instrumento da comunidade
(Adaptado de DAMATTA, Roberto. Trechos dos ensaios “O como uma abelha ou uma formiga. Pois uma comunidade de indiví-
futebol como filosofia” e duos padronizados, sem originalidade pessoal e objetivos pessoais,
seria uma comunidade medíocre, sem possibilidade de desenvolvi-
“Antropologia do óbvio”. Disponíveis em estadao.com.br e usp. mento. Ao contrário, o objetivo deve ser a formação de indivíduos
br/revistausp. Acesso em 10/05/2014) capazes de ação e pensamento independentes, que, no entanto, ve-
jam no serviço à comunidade seu mais importante problema vital.

50
LÍNGUA PORTUGUESA
Antes de mais nada, é preciso definir bem o papel do educa- Assim pensava o maior arquiteto e mais invocado sonhador do
dor. Ponha-se nas mãos do professor o menor número possível de Brasil.
medidas coercitivas, de tal modo que suas qualidades humanas e
intelectuais sejam a única fonte de respeito que ele possa inspirar O verbo empregado nos mesmos tempo e modo que o verbo
no aluno. grifado acima está em:
(A) Houve um sonho monumental...
(Adaptado de: EINSTEIN, Albert. Escritos da maturidade. Rio de (B) ... descolara-se dela, na companhia de seu líder, em 1990.
Janeiro: Nova Fronteira, 1994, p. 38) (C) ... com que a vida seja mais justa.
(D) ... Niemeyer tinha “as montanhas do Rio dentro dos olhos”...
Todas as formas verbais estão corretamente flexionadas na fra- (E) ... este continua desprotegido, entregue à sorte que o des-
se: tino...
(A) Se não se compor bem o desenvolvimento individual com o
papel social, a educação falhará.
(B) Aqueles professores nunca se deteram para refletir melhor
sobre o seu papel de educadores. GABARITO
(C) Se a escola moderna não reaver a dignidade que já a mar-
cou, ficará longe dos ideais de Einstein.
1 B
(D) Se a escola falhar e não obter a integração entre o indivíduo
e a comunidade, terá esvaziado o seu pa pel social. 2 E
(E) Einstein não se conteve nos domínios da física, nem se abs- 3 D
teve de tratar os temas mais árduos da política.
4 C
60.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 1ª REGIÃO)/ADMINIS- 5 B
TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2013)
6 D
Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.
Visão monumental 7 B
8 B
Nada superará a beleza, nem todos os ângulos retos da razão.
Assim pensava o maior arquiteto e mais invocado sonhador do Bra- 9 C
sil. Morto em 5 de dezembro de insuficiência respiratória, a dez dias 10 A
de completar com uma festa, no Rio de Janeiro onde morava, 105
anos de idade, Oscar Niemeyer propusera sua própria revolução 11 C
arquitetônica baseado em uma interpretação do corpo da mulher. 12 E
13 A
Filho de fazendeiros, fora o único ateu e comunista da família,
tendo ingressado no partido por inspiração de Luiz Carlos Prestes, 14 B
em 1945. Como a agremiação partidária não correspondera a seu 15 D
sonho, descolara-se dela, na companhia de seu líder, em 1990. “O
comunismo resolve o problema da vida”, acreditou até o fim. “Ele 16 E
faz com que a vida seja mais justa. E isso é fundamental. Mas o ser 17 B
humano, este continua desprotegido, entregue à sorte que o desti-
no lhe impõe.” 18 D
19 C
E desprotegido talvez pudesse se sentir um observador diante
20 B
da monumentalidade que ele próprio idealizara para Brasília a par-
tir do plano-piloto de Lucio Costa. Quem sabe seus museus, prédios 21 D
governamentais e catedrais não tivessem mesmo sido construídos 22 B
para ilustrar essa perplexidade? Ele acreditava incutir o ardor em
quem experimentava suas construções. 23 B
24 E
Bem disse Le Corbusier que Niemeyer tinha “as montanhas do
25 E
Rio dentro dos olhos”, aquelas que um observador pode vislumbrar
a partir do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, um entre cer- 26 E
ca de 500 projetos seus. Brasília, em que pese o sonho necessário, 27 B
resultara em alguma decepção. Niemeyer vira a possibilidade de
construir ali a imagem moderna do País. E como dizer que a cida- 28 E
de, ao fim, deixara de corresponder à modernidade empenhada? 29 C
Houve um sonho monumental, e ele foi devidamente traduzido por
Niemeyer. No Planalto Central, construíra a identidade escultural 30 E
do Brasil. 31 E
32 D
(Adaptado de Rosane Pavam. CartaCapital, 07/12/2012, www.
cartacapital.com.br/sociedade/a-visao-monumental-2/) 33 A

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LÍNGUA PORTUGUESA
______________________________________________________
34 C
35 A ______________________________________________________
36 C ______________________________________________________
37 C
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38 E
39 D ______________________________________________________
40 A ______________________________________________________
41 C
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42 C
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43 E
44 A ______________________________________________________
45 B ______________________________________________________
46 D
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47 C
48 A ______________________________________________________

49 C ______________________________________________________
50 B
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51 D
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52 A
53 D ______________________________________________________
54 D ______________________________________________________
55 D
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56 B
57 B ______________________________________________________

58 B ______________________________________________________
59 E ______________________________________________________
60 D
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ANOTAÇÕES ______________________________________________________
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HISTÓRIA DO BRASIL

Capitanias Hereditárias
DESCOBRIMENTO DO BRASIL (1500). BRASIL COLÔNIA Para preservar a segurança da rota oriental, os portugueses or-
(1530–1815): CAPITANIAS HEREDITÁRIAS, ECONOMIA, ganizaram a colonização do Brasil. A solução adorada por D. João III,
EXTRATIVISMO VEGETAL, EXTRATIVISMO MINERAL, em 1532, foi o sistema de capitanias hereditárias, que já havia sido
PECUÁRIA, ESCRAVIDÃO, ORGANIZAÇÃO POLÍTICO- utilizado na colonização do arquipélago da Madeira.
-ADMINISTRATIVA, EXPANSÃO TERRITORIAL O litoral foi dividido em capitanias, concedidas, em geral, a ca-
valeiros da pequena nobreza que se destacaram na expansão para
BRASIL COLÔNIA a África e para a Índia. Em suas respectivas capitanias, os donatários
ficavam incumbidos de representar o rei no que se referia à defesa
Brasil: Primeiros Tempos militar do território, ao governo dos colonos, à aplicação da justiça
Entre 1500 e 1530, além de enviarem algumas expedições e à arrecadação dos impostos, recebendo, em contrapartida, privi-
de reconhecimento do litoral (guarda-costas), os portugueses es- légios particulares.
tabeleceram algumas feitorias no litoral do Brasil, onde adquiram Os direitos e deveres dos donatários eram fixados na carta de
pau-brasil dos indígenas em troca de mercadorias como espelhos, doação, complementada pelos forais. Em recompensa por arcar
facas, tesouras e agulhas1. com os custos da colonização, os donatários recebiam vasta exten-
Tratava-se, portanto, de uma troca muito simples: o escambo, são de terras para sua própria exploração, incluindo o direito de
isto é, troca direta de mercadorias, envolvendo portugueses e indí- transmitir os benefícios e o cargo a seus herdeiros.
genas. Os indígenas davam muito valor às mercadorias oferecidas Além disso, eram autorizados a receber parte dos impostos de-
pelos portugueses, a exemplo de tesouras ou facas, que eram rapi- vidos ao rei, em especial 10% de todas as rendas arrecadadas na
damente aproveitadas em seus trabalhos. capitania e 5% dos lucros derivados da exploração do pau-brasil.
Mas, em termos de valor de mercado, o escambo era mais van- Outra atribuição dos capitães era a distribuição de terras aos
tajoso para os portugueses, pois ofereciam mercadorias baratas, colonos que as pudessem cultivar, o que se fez por meio da conces-
são de sesmarias, cujos beneficiários ficavam obrigados a cultivar a
enquanto o pau-brasil alcançava excelente preço na Europa. Além
terra em certo período ou a arrendá-la. No caso das terras conce-
disso, os indígenas faziam todo o trabalho de abater as árvores, ar-
didas permanecerem incultas, a lei estabelecia que estas deveriam
rumar os troncos e carregá-los até as feitorias. Não por acaso, os
ser confiscadas e retornar ao domínio da Coroa. Mas não foi raro,
portugueses incluíam machados de ferro entre as ofertas, pois faci-
no Brasil, burlar-se essa exigência da lei, de modo que muitos co-
litavam imensamente a derrubada das árvores.
lonos se assenhoravam de vastas terras, mas só exploravam parte
A exploração do pau-brasil, madeira valiosa para o fabrico de
delas.
tintura vermelha para tecidos, foi reservada corno monopólio ex-
O regime de capitanias hereditárias inaugurou no Brasil um sis-
clusivo do rei, sendo, portanto, um produto sob regime de estanco. tema de tremenda confusão entre os interesses públicos e particu-
Mas o rei arrendava esse privilégio a particulares, como o comer- lares, o que, aliás, era típico da monarquia portuguesa e de muitas
ciante Fernando de Noronha, primeiro contratante desse negócio, outras desse período.
em 1501. D. João III estabeleceu o sistema de capitanias hereditárias com
o objetivo específico de povoar e colonizar o Brasil. Com exceção de
Capitanias Hereditárias e o Governo Geral São Vicente e Pernambuco, as demais capitanias não prosperaram.
No início do século XVI, cerca de 65% da renda do Estado por- Em 1548, o rei decidiu criar o Governo-geral, na Bahia, com vistas a
tuguês provinha do comércio ultramarino. O monarca português centralizar a administração colonial.
transformou-se em um autêntico empresário, agraciando nobres e
mercadores com a concessão de monopólios de rotas comerciais e Governo Geral
de terras na Ásia, na África e na América.
Foi por meio das sesmarias que se iniciou a economia açuca-
Apesar da rentabilidade do pau-brasil, nas primeiras décadas
reira no Brasil, difundindo-se as lavouras de cana-de-açúcar e os
do século XVI a importância do litoral brasileiro para Portugal era
engenhos. Embora tenha começado em São Vicente, ela logo se de-
sobretudo estratégica. A frota da Índia, que concentrava os negó-
senvolveu em Pernambuco, capitania mais próspera no século XVI.
cios portugueses, contava com escalas no Brasil para reparos de na-
As demais fracassaram ou mal foram povoadas. Várias delas
vios de reabastecimento de alimentos e água. A presença crescente
de navegadores franceses no litoral, também interessados no pau- não resistiram ao cerco indígena, como a do Espírito Santo. Na
-brasil, foi vista pela Coroa portuguesa como uma ameaça. Bahia, o donatário Francisco Pereira Coutinho foi devorado pelos
Na prática, disputavam o território com os portugueses, igno- tupinambás. Em Porto Seguro, o capitão Pero do Campo Tourinho
rando o Tratado de Tordesilhas (1494), pois julgavam um abuso acabou se indispondo com os colonos e enviado preso a Lisboa.
esse acordo, fosse ele reconhecido ou não pelo papa. Tornou-se A Coroa portuguesa percebeu as deficiências desse sistema
célebre a frase do rei francês Francisco I, dizendo desconhecer o ainda no século XVI e reincorporou diversas capitanias ao patrimô-
“testamento de Adão” que dividia o mundo entre os dois reinos nio real, como capitanias da Coroa. Constatou também que mui-
ibéricos. tos donatários não tinham recursos nem interesse para desbravar
o território, atrair colonos e vencer a resistência indígena. Assim,
1 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São Paulo. Saraiva.

53
HISTÓRIA DO BRASIL
a partir da segunda metade do século XVI, a Coroa preferiu criar Conflitos Internos
capitanias reais, como a do Rio de Janeiro. Algumas delas foram A colônia francesa era carente de recursos e logo se viu ator-
mantidas como particulares e hereditárias, como a de Pernambuco. mentada pelos conflitos religiosos herdados da metrópole. Os
Porém, a maior inovação foi a criação do Governo-geral, em colonos chegavam a se matar por discussões sobre o valor dos
1548, com o objetivo de centralizar o governo da colônia, coorde- sacramentos e do culto aos santos, gerando revoltas e punições
nando o esforço de defesa, fosse contra os indígenas rebeldes, fosse exemplares.
contra os navegadores e piratas estrangeiros, sobretudo franceses, Do lado português, Mem de Sá, terceiro governador-geral des-
que acossavam vários pontos do litoral. A capitania escolhida para de 1557, foi incumbido de expulsar os franceses da baía da Guana-
sediar o governo foi a Bahia, transformada em capitania real. bara, região considerada estratégica para o controle do Atlântico
Tomé de Souza, primeiro governador do Brasil, chegou à Bahia Sul. Em 1560, as tropas de Mem de Sá tomaram o Forte Coligny,
em 1549 e montou o aparelho de governo com funcionários previs- mas a resistência francesa foi intensa, apoiada pela coalizão indíge-
tos no Regimento do Governo-geral: o capitão-mor, encarregado na chamada Confederação dos Tamoios.
As guerras pelo território prosseguiram até que Estácio de Sá,
da defesa militar, o ouvidor-mor, encarregado da justiça; o prove-
sobrinho do governador, passou a comandar a guerra de conquista
dor-mor, encarregado das finanças; e o alcaide-mor, incumbido da
contra a aliança franco-tamoia. Aliou-se aos temiminós, liderados
administração de Salvador, capital do então chamado Estado do
por Arariboia, inimigos mortais dos tamoios. A guerra luso-francesa
Brasil.
na Guanabara foi também uma guerra entre temiminós e tamoios,
No mesmo ano, chegaram os primeiros jesuítas, iniciando-se razão pela qual cada grupo escolheu alianças com os oponentes eu-
o processo de evangelização dos indígenas, sendo criado, ainda, o ropeus.
primeiro bispado da colônia, na Bahia, com a nomeação do bispo D. Em 12 de março de 1565, em meio a constantes combates, foi
Pero Fernandes Sardinha. fundada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Seu governo
A implantação do Governo-geral, a criação do bispado baiano e foi confiado a Estácio de Sá, morto por uma flecha envenenada em
a chegada dos missionários jesuítas foram, assim, processos articu- 20 de janeiro de 1567, mesmo ano em que os portugueses expulsa-
lados e simultâneos. Por outro lado, a Bahia passou a ser importan- ram os franceses do Rio de Janeiro. Os tamoios, por sua vez, foram
te foco de povoamento, tornando-se, ao lado de Pernambuco, uma massacrados pelos temiminós, cujo chefe, Arariboia, foi presentea-
das principais áreas açucareiras da América portuguesa. do com terras e títulos por seus serviços ao rei de Portugal.

Disputas Coloniais França Equinocial


Nos primeiros trinta anos do século XVI, os grupos indígenas do Derrotados na Guanabara, os franceses tentaram ocupar outra
litoral não sofreram grande impacto com a presença dos europeus parte do Brasil, no início do século XVII. Desta vez o alvo foi a capita-
no litoral, limitados a buscar o pau-brasil. E certo que franceses e nia do Maranhão. Confiou-se a tarefa a Daniel de Ia Touche, senhor
portugueses introduziram elementos até então estranhos à cultura de La Ravardiére, que foi acompanhado de dois frades capuchinhos
dos tupis, como machados e facas, entre outros. Mas isso não alte- que se tornaram famosos: Claude d’Abbeville e Yves d’Evreux, auto-
rou substancialmente as identidades culturais nativas. res de crónicas importantes sobre o Maranhão.
A partir dos anos 1530, franceses e portugueses passaram a Em 1612, os franceses fundaram a França Equinocial e nela
disputar o território e tudo mudou. A implantação do Governo-ge- construíram o Forte de São Luís. Mas também ali houve disputas
ral português na Bahia, em 1549, não inibiu tais iniciativas. Mas foi internas e falta de recursos para manter a conquista. Os portugue-
na segunda metade do século XVI que ocorreu a mais importan- ses tiraram proveito dessa situação, liderados por Jerônimo de Al-
te iniciativa de ocupação francesa, do que resultou a fundação da buquerque. À frente de milhares de soldados, incluindo indígenas,
França Antártica, na baía da Guanabara. ele moveu campanha contra os franceses em 1613 e finalmente os
derrotou em 1615, tomando o Forte de São Luís.
França Antártica
Os Jesuítas
Por volta de I1550, o cavaleiro francês Nicolau Durand de Ville-
A catequese dos indígenas foi um dos objetivos da coloniza-
gagnon concebeu o plano de estabelecer uma colônia francesa na
ção portuguesa, embora menos importante do que os interesses
baía da Guanabara, com o objetivo de criar ali um refúgio para os comerciais. No entanto, a crescente resistência indígena ao avanço
huguenotes (como eram chamados os protestantes), além de dar dos portugueses e a aliança que muitos grupos estabeleceram com
uma base estável para o comércio de pau-brasil. O lugar ainda não os franceses fizeram a Coroa perceber que, sem a “pacificação” dos
tinha sido povoado pelos portugueses. nativos, o projeto colonizador estaria ameaçado.
Vlllegagnon recebeu o apoio do huguenote Gaspard de Coligny, Assim, em 1549, desembarcaram os primeiros jesuítas, lidera-
almirante que gozava de forte prestígio na corte francesa. A ideia dos por Manoel da Nóbrega, incumbidos de transformar os “gen-
de conquistar um pedaço do Brasil animou também o cardeal de tios” em cristãos. A Companhia de Jesus era a ordem religiosa com
Lorena, um dos maiores defensores da Contrarreforma na França e maior vocação para essa tarefa, pois seu grande objetivo era expan-
conselheiro do rei Henrique II. dir o catolicismo nas mais remotas partes do mundo. Desde o início,
O projeto de colonização francesa nasceu, portanto, marca- os jesuítas perceberam que a tarefa seria dificílima, pois os padres
do por sérias contradições de uma França dilacerada por conflitos tinham de lidar com povos desconhecidos e culturas diversas.
políticos e religiosos. Uns desejavam associar a futura colônia ao A solução foi adaptar o catolicismo às tradições nativas, come-
calvinismo, enquanto outros eram católicos convictos. Henrique II, çando pelo aprendizado das línguas, procedimento que os jesuítas
da França, apoiou a iniciativa e financiou duas naus armadas com também utilizaram na China, na Índia e no Japão. Com esse apren-
recursos para o estabelecimento dos colonos. Villegagnon aportou dizado, os padres chegaram a elaborar uma gramática que prepara-
na Guanabara em novembro de ISSS e fundou o Forte Coligny para va os missionários para a tarefa de evangelização. José de Anchieta
repelir qualquer retaliação portuguesa. O fator para o êxito inicial compôs, por volta de 1555, uma gramática da língua tupi, que era a
foi o apoio recebido dos tamoios, sobretudo porque os franceses língua mais falada pelos indígenas do litoral. Por essa razão, o tupi
não escravizavam os indígenas nem lhes tomavam as terras. acabou designado como “língua geral “.

54
HISTÓRIA DO BRASIL
As Missões Muitas vezes negociavam com os chefes das aldeias a troca de
Havia a necessidade de definir onde e como realizar a cateque- prisioneiros por armas, cavalos e pólvora. Outras vezes capturavam
se. De início, os padres iam às aldeias, onde se expunham a enor- escravos nas aldeias ou nos próprios aldeamentos dirigidos pelos
mes perigos. Nessa tentativa, alguns até morreram devorados pelos missionários. Esses mamelucos integravam as expedições chama-
indígenas. das de bandeiras. Alguns historiadores diferenciam as bandeiras,
Em Outros casos, eles tinham de enfrentar os pajés, aos quais expedições de iniciativas particulares, das entradas, patrocinadas
chamavam feiticeiros, guardiões das crenças nativas. Para contor- pela Coroa ou pelos governadores.
nar tais dificuldades, os jesuítas elaboraram um “plano de aldea- Entretanto, os dois tipos de expedição se confundiam, seja nos
mento”, em 1558, cujo primeiro passo era trazer os nativos de suas objetivos, seja na composição de seus membros, embora o termo
malocas para os aldeamentos da Companhia de Jesus dirigidos pe- entrada fosse mais utilizado nos casos de repressão de rebeliões e
los padres. Os jesuítas entendiam que, para os indígenas deixarem de exploração territorial. Desde o século XVI, o objetivo principal
de ser gentios e se transformarem em cristãos, era preciso deslo- das entradas e bandeiras era procurar riquezas no interior, chama-
cá-los no espaço: levá-los da aldeia tradicional para o aldeamento do na época de sertões, e escravizar indígenas.
colonial. Os participantes dessas expedições eram, em geral, chamados
Foi esse o procedimento que deu maiores resultados. Esta foi de bandeirantes. Ao longo do século XVII, as expedições bandei-
urna alteração radical no método da catequese, com grande impac- rantes alargaram os domínios portugueses na América, que ultra-
to na cultura indígena. Os aldeamentos foram concebidos pelos je- passaram a linha divisória estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas.
suítas para substituir as aldeias tradicionais. Os padres realizaram o No final do século XVII, os bandeirantes acabaram encontrando o
grande esforço de traduzir a doutrina cristã para a cultura indígena, tão cobiçado ouro na região depois conhecida como Minas Gerais.
estabelecendo correspondências entre o catolicismo e as tradições
nativas. União Ibérica e Brasil Holandês
Foi assim, por exemplo, que o deus cristão passou a ser cha- Em 1578, o jovem rei português D. Sebastião partiu à frente de
mado de Tupã (trovão, divinizado pelos indígenas). A doutrinação numeroso exército para enfrentar o xarife do Marrocos na famosa
colheu melhores resultados com as crianças, já que ainda não co- Batalha de Alcácer-Quibir. Perdeu a batalha e a vida. Como era sol-
nheciam bem as tradições tupis. A encenação de peças teatrais para
teiro e não tinha filhos, a Coroa passou para seu tio-avô, o cardeal
a exaltação da religião cristã - os autos jesuíticos - foi importante
D. Henrique, que morreu dois anos depois.
instrumento pedagógico. Os autos mobilizavam as crianças como
Felipe II, rei da Espanha, cuja mãe era tia-avó de D. Sebastião,
atores ou membros do coro.
reivindicou a Coroa e mandou invadir Portugal, sendo aclamado rei
Mas os indígenas resistiram muito à mudança de hábitos. Os
com o título de Felipe I. Portugal foi unido à Espanha sob o governo
colonos, por sua vez, queriam-nos como escravos para trabalhar
da dinastia dos Habsburgos, iniciando-se a União Ibérica, que dura-
nas lavouras. Os jesuítas lutaram, desde cedo, contra a escravização
ria 60 anos (1580-1640).
dos indígenas pelos colonos portugueses, alegando que o funda-
mental era doutriná-los, e assim conseguiram do rei várias leis proi- Durante esse período de dominação filipina, ocorreram modifi-
bindo o cativeiro indígena. cações importantes na colônia. Em 1609, foi criado o Tribunal da Re-
lação da Bahia, o primeiro tribunal de justiça no Brasil. No mesmo
Sociedade Colonial X Jesuítas ano, uma lei reafirmou a proibição do cativeiro indígena. Em 1621,
No século XVI, os jesuítas perderam a luta contra os interesses houve a divisão do território em dois Estados: o Estado do Brasil e o
escravistas. No século XVII, porém, organizaram melhor as missões, Estado do Maranhão, este último mais tarde chamado de Estado do
sobretudo no Maranhão e no Pará, e afastaram os aldeamentos dos Grão-Pará e Maranhão, subordinado diretamente a Lisboa.
núcleos coloniais para dificultar a ação dos apresadores. Outra inovação foram as visitações da Inquisição, realizadas
Defenderam com mais vigor a “liberdade dos indígenas”, no para averiguar a fé dos colonos, sobretudo a dos cristãos-novos,
que se destacou António Vieira, principal jesuíta português atuante descendentes de judeus e suspeitos de conservar as antigas cren-
no Brasil e autor de inúmeros sermões contra a cobiça dos senhores ças em segredo.
coloniais. Embora condenassem a escravização indígena, os jesuítas Nesse período, da União Ibérica, as fronteiras estabelecidas
sempre defenderam a escravidão africana, desde que os senhores pelo Tratado de Tordesilhas foram atenuadas, uma vez que Portugal
tratassem os negros com brandura e cuidassem de prover sua Ins- passou a pertencer à Espanha. Por meio dos avanços dos bandei-
trução no cristianismo. rantes, os limites do Brasil se expandiram para oeste, norte e sul.
Assim os jesuítas conseguiram conciliar os objetivos missioná- Mas com essa união Portugal acabou herdando vários inimigos dos
rios com os interesses mercantis da colonização. Expandiram seus espanhóis, dentre eles os holandeses. E não tardou muito para que
aldeamentos por todo o Brasil, desde o sul até a região amazônica. a atenção deles se voltasse para as prósperas capitanias açucareiras
Na segunda metade do século XVIII, a Companhia de Jesus era uma do Brasil.
das mais poderosas e ricas instituições da América portuguesa.
Um Governo Holandês
A Ação dos Bandeirantes A investida dos holandeses contra o Brasil era previsível. Ams-
Na América portuguesa, desde o século XVI os colonos foram terdã tinha se tornado o centro comercial e financeiro da Europa
os maiores adversários dos jesuítas. Preferiam, sempre que pos- e se preparava para atingir o Atlântico e o Indico. Antes da União
sível, obter escravos indígenas, mais baratos do que os africanos. Ibérica, os portugueses haviam se associado aos holandeses no co-
No entanto, eram os chamados mamelucos, geralmente filhos de mércio do açúcar. O Brasil produzia o açúcar, Portugal o comprava
portugueses com índias, os oponentes mais diretos dos nativos. Os em regime de monopólio, vendendo-o à Holanda, que o revendia
mamelucos eram homens que dominavam muito bem a língua na- na Europa.
tiva, chamada de “língua geral” , conheciam os segredos das matas, A Espanha, inimiga da Holanda, jamais permitiria a continuida-
sabiam como enfrentar os animais ferozes e, por isso, eram contra- de desse negócio. Em 1602, os holandeses fundaram a Companhia
tados para “caçar indígenas”. das Índias Orientais, que conquistaria diversos territórios hispano-
-portugueses no oceano Índico. Em 1621, fundaram a Companhia
das Índias Ocidentais para atuar no Atlântico, cuja missão principal

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HISTÓRIA DO BRASIL
era conquistar o Brasil. Em 1624, os holandeses atacaram a Bahia, Restauração Pernambucana
sede do governo do Brasil. Conquistaram Salvador, mas não conse- Em 1640, durante a ocupação de Pernambuco pelos holande-
guiram derrotar a resistência baiana, sendo expulsos da cidade no ses, Portugal conseguiu se livrar do domínio espanhol com a ascen-
ano seguinte. são ao trono de D. João IV, da dinastia de Bragança. O rei tentou ne-
Em 1630, foi a vez de Pernambuco, a capitania mais rica na pro- gociar com os holandeses a devolução dos territórios conquistados
dução de açúcar. Os holandeses conquistaram Olinda e Recife sem no tempo em que Portugal estava submetido aos espanhóis, mas os
dificuldade, obrigando o governador a retirar sua milícia. Tomaram holandeses não cederam.
Itamaracá, em 1632, o Rio Grande do Norte, em 1633, e a Paraíba, Em 1644, após Nassau voltar à Holanda, os colonos do Brasil
no final de 1634. Mais tarde, eles ainda tomariam o Ceará e parte resolveram enfrentar os holandeses. Motivo: os preços do açúcar
do Maranhão, estabelecendo o controle sobre a maior parte do li- vinham declinando desde 1643, e os senhores de engenho e os la-
toral nordestino. Na medida em que avançavam, muitos luso-brasi- vradores de cana estavam cada vez mais endividados com a Com-
leiros desertavam ou passavam para o lado holandês. panhia das Índias Ocidentais. Em 13 de junho de 1645, iniciou-se a
O mais célebre deles foi Domingos Fernandes Calabar, que chamada Insurreição Pernambucana.
atuou como guia dos holandeses, em 1632, pois conhecia bem os João Fernandes Vieira era o líder dos rebeldes e um dos maio-
caminhos de Pernambuco. Caiu prisioneiro dos portugueses, em res devedores dos holandeses. André Vidal de Negreiros era o se-
1635, e foi condenado à morte - estrangulado e depois esquarte- gundo no comando dos rebeldes. Os indígenas potiguares, lidera-
jado, como exemplo de traidor. Muitos outros, porém, fizeram o dos por Felipe Camarão, e a milícia de negros forros, liderada por
mesmo e saíram ilesos. Henrique Dias, uniram esforços contra os holandeses. Essa aliança
As primeiras ações da Holanda foram violentas, incluindo sa- produziu o mito de que a guerra contra o invasor holandês “uniu
que de igrejas e destruição das imagens de santos. Afinal, os holan- as três raças formadoras da nação brasileira”, sobretudo entre os
deses eram calvinistas e repudiavam o catolicismo. historiadores do século XIX.
Em 1635, com a conquista consolidada, os holandeses perce- No entanto, houve indígenas lutando nos dois lados. Entre os
beram que, sem o apoio da população local, a dominação seria invi- potiguares, por exemplo, Pedro Poti - primo de Filipe Carnarão - lu-
ável. Assim, a primeira medida foi a de estabelecer a tolerância reli- tou do lado holandês. Entre os africanos, nunca houve tantas fugas
giosa, admitindo-se os cultos católicos e a permanência dos padres,
em Pernambuco corno nesse período, o que encorpou a popula-
com a exceção dos jesuítas, que foram expulsos.
ção dos quilombos de Palmares. Nessa ocasião, partindo do Rio
A segunda medida foi oferecer empréstimos aos senhores lo-
de Janeiro, Salvador Correia de Sá reconquistou Angola, em 1648,
cais ou leiloar os engenhos cujos donos tinham fugido. Em 1637,
rompendo o controle holandês sobre o tráfico africano. A economia
com a chegada do conde João Maurício de Nassau, nomeado pela
pernambucana sob domínio da Holanda viu-se em crescente dificul-
Companhia das Índias Ocidentais, inaugurou-se uma nova fase na
dade para obter escravos.
história da dominação holandesa. Ele chegou ao Recife e determi-
Em 1649, os rebeldes pernambucanos alcançaram vitória deci-
nou a realização de inúmeras obras, como a construção da Cidade
Maurícia, na outra banda do rio Capibaribe, onde foi erguido um siva na segunda Batalha dos Guararapes. Em 1654, tornaram o Re-
palácio e criado um jardim botânico. cife e expulsaram de vez os holandeses do Brasil. Em 1661, Portugal
Patrocinou a vinda de artistas holandeses, que retrataram a e Países Baixos assinaram um tratado de paz, em Haia, pelo qual os
paisagem e a vida colonial como nunca até então se havia feito no portugueses se comprometeram a pagar uma pesada indenização
Brasil. Mas o governo de Nassau não deixou de ampliar as conquis- aos holandeses em dinheiro, açúcar, tabaco e sal.
tas territoriais da Companhia das Índias. Logo em 1637 ordenou a
captura da feitoria africana de São Jorge da Mina, no golfo de Benin, A Guerra de Palmares
e anexou o Sergipe. Durante o domínio holandês em Pernambuco, começaram a se
Em 1638, lançou-se à conquista da Bahia, que resistiu nova- formar os quilombos de Palmares, núcleo da maior revolta de escra-
mente com bravura e não caiu. Em 1641, tomou o Maranhão e, no vos da história do Brasil. Palavra de origem banto - tronco linguístico
mesmo ano, invadiu a cidade de Luanda, em Angola. Os holandeses do idioma falado em Angola - kilombo significa acampamento ou
passaram, então, a controlar o tráfico atlântico de escravos. fortaleza.
Foi o termo que os portugueses utilizaram para designar as
Tolerância Religiosa comunidades de africanos fugidos da escravidão. O incremento do
Foi no chamado período nassoviano que os judeus portugue- tráfico africano para a região, a partir da conquista holandesa de
ses residentes em Amsterdã (ali estabelecidos para escapar às per- Angola, em 1641, foi o principal fator para o aumento das fugas e
seguições da Inquisição) foram autorizados a imigrar para Pernam- o crescimento quilombos. Localizado na serra da Barriga, no estado
buco. Um grupo estimado em, no mínimo, 1500 judeus fixou-se em de Alagoas (na época pertencia a Pernambuco), Palmares cresceu
Pernambuco e na Paraíba entre 1637 e 1644. muito na segunda metade do século XVII. Estima-se que chegou a
Fundaram uma sinagoga no Recife a primeira Sinagoga das possuir dez fortes ou mocambos, com cerca de 20 mil quilombolas.
Américas - e fizeram campanha junto aos cristãos-novos da Colônia Eles viviam da caça, coleta e agricultura de milho e feijão, realizada
para que abandonassem o catolicismo, regressando à religião de em roçados familiares utilizando um sistema de trabalho coopera-
seus antepassados. Muitos atenderam a esse apelo; outros preferi- tivo.
ram permanecer cristãos. Os excedentes agrícolas eram vendidos nas vilas próximas. Fre-
Os judeus portugueses foram muito importantes para a domi- quentemente atacavam os engenhos e roubavam escravos, em es-
nação holandesa no nordeste açucareiro, sobretudo na distribuição pecial mulheres. Por vezes, assaltavam aldeias indígenas em busca
de mercadorias importadas e de escravos. Também se destacaram de mulheres e alimentos. Alguns historiadores viram em Palmares
como corretores, intermediando negócios em troca de um percen- um autêntico Estado africano recriado no Brasil para combater a
tual sobre o valor das transações. O fato de os judeus do Recife fa- sociedade escravista dominante. Mas há exagero nessa ideia, em-
larem português e holandês foi decisivo para que alcançassem esse bora seja inegável a organização política dos quilombos, inspirada
importante papel na economia regional. no modelo das fortalezas africanas. Exatamente por serem naturais

56
HISTÓRIA DO BRASIL
de sociedades africanas em que a escravidão era generalizada, os bém avaliavam que somente com eles não era possível organizar
principais dirigentes do quilombo possuíam escravos, reeditando a estabelecimentos fortes e duradouros. Logo que se esgotava uma
escravidão praticada na África. mina, saíam em busca de novos veios. Assim, os paulistas foram
Os líderes de Palmares lutavam pela própria liberdade, mas não obrigados a compartilhar a exploração do ouro com os emboabas.
pelo fim da escravidão. De todo modo, o crescimento de Palmares Mas mantiveram suas andanças exploratórias, descobrindo campos
levou as autoridades coloniais a multiplicar expedições repressivas. auríferos ainda em Goiás e Mato Grosso.
Todas fracassaram, repelidas por Ganga Zumba, grande chefe dos
quilombolas. Em 1678, o governador de Pernambuco propôs um Exploração das minas
acordo ao chefe dos palmarinos. Em troca da paz, Ganga Zumba ob- O governo tomou diversas e duras medidas para controlar a
teve a alforria para os negros de Palmares, a concessão de terras em região aurífera. Criou em 1702 a Intendência das Minas, órgão que
Cucaú (norte de Alagoas) e a garantia de prosseguirem o comércio tinha entre suas funções zelar pela cobrança do quinto real, repri-
com os vizinhos. mir o contrabando e repartir os lotes de terras minerais - denomi-
Comprometeu-se, porém, a devolver todos os escravos que
nados datas.
dali em diante fugissem para o quilombo.
Quando da descoberta de algum veio aurífero, o descobridor
O acordo dividiu os quilombolas, e Ganga Zumba foi assassina-
deveria comunicar o fato às autoridades. Em tese, todas as jazidas
do pelo grupo que rejeitou os termos desse acordo, desconfiando
eram propriedade do rei, que poderia conceder a particulares o
das intenções do governo colonial. Prosseguiu, assim, a guerra dos
palmarinos, agora liderada por Zumbi. A resistência quilombola foi direito de explorá-las. O intendente, então, repartia as datas, sor-
grande, mas acabou sucumbindo em 1695, derrotada pelas tropas teando-as aos solicitantes. O descobridor escolheria as duas datas
do bandeirante Domingos Jorge Velho. Em 20 de novembro de que mais lhe interessassem, livrando-se do sorteio. O Guarda-Mor
1695, Zumbi foi degolado e sua cabeça, enviada como troféu para da In- tendência escolhia, em nome da Fazenda Real, a data do rei,
Recife - o maior triunfo da sociedade escravista no Brasil colonial. que era leiloada e arrematada por particulares, os contratadores,
em troca de um pagamento.
Economia Mineradora Só podiam solicitar datas os proprietários de escravos. Cada es-
O fim da União Ibérica em 1640 e a consequente ascensão ao cravo representava, em medidas da época, o equivalente a 5,5 me-
poder da dinastia de Bragança criaram mais problemas do que so- tros de terreno, e um proprietário poderia ter no máximo 66 metros
luções para Portugal. Além de enfrentar uma longa guerra contra a em quadra, denominada data inteira. Para explorar as jazidas das
Espanha, que se prolongou, com enorme custo, até 1668, os portu- datas, organizavam-se as lavras, forma de exploração em grande es-
gueses foram obrigados a pagar indenizações à Holanda depois da cala com aparelhamento para a lavagem do ouro.
vitória na Insurreição Pernambucana, em 1654, sob o risco de suas O ouro encontrado fora das datas, em locais franqueados a
colônias e navios serem atacados pela poderosa marinha flamenga. todos, era minerado pelos faiscadores, homens que utilizavam so-
A situação se agravou na segunda metade do século XVII. Ape- mente alguns instrumentos de fabricação simples, como a bateia e
sar da recuperação das capitanias açucareiras do Brasil, os portu- o cotumbê, trabalhando por conta própria.
gueses tiveram de conviver com a concorrência do açúcar produ- Foram criadas ainda as Casas de Fundição, vinculadas às Inten-
zido nas Antilhas inglesas, francesas e holandesas. Os mercadores dências. Elas deviam recolher, fundir e retirar o quinto da Coroa,
holandeses, por exemplo, eram os maiores distribuidores do açúcar transformando-o em barra, única forma autorizada para a circula-
na Europa e, obviamente, priorizaram a mercadoria de suas ilhas ção do metal fora da capitania.
caribenhas depois de expulsos do Brasil. Na década de 1690, um Desde o início, a mineração exigiu maior centralização adminis-
fato espetacular mudou totalmente esse quadro de penúria: a des- trativa, o que diferenciava as Minas de outras regiões exportadoras
coberta de uma quantidade até então nunca vista de ouro de alu- da Colônia. As Intendências, por exemplo, eram subordinadas dire-
vião no interior do Brasil, numa região que passou a ser conhecida
tamente à metrópole, e não às autoridades coloniais. A descoberta
como Minas Gerais.
de diamantes, em 1729, no que então passou a chamar-se Distrito
Uma onda impressionante de aventureiros do Brasil e de Por-
Diamantino, com sede no Arraial do Tejuco, provocou medida ainda
tugal se dirigiu para o lugar em busca do metal precioso que, de tão
mais drástica: o ir e vir de pessoas ficou condicionado à autorização
abundante, parecia inesgotável. Os bandeirantes paulistas estavam
acostumados, desde o século XVI, a armar expedições ao interior do intendente.
do território para escravizar indígenas, e foram eles os responsáveis Na época da descoberta do ouro, havia dois caminhos que le-
pela descoberta do ouro. Os paulistas solicitaram o monopólio das vavam às Gerais: um que partia de São Paulo (que ficou conhecido
explorações, não sendo atendidos. Não puderam controlar a entra- como Caminho Velho das Gerais) e outro do porto de Parati; eles
da dos emboabas (estrangeiros), como eram denominados pelos se encontravam na serra da Mantiqueira. Para ir do Rio de Janeiro
paulistas os portugueses vindos do reino e os que chegavam de ou- às Minas, o viajante tinha de ir de barco até Parati e, de lá, após
tras capitanias. atravessar a serra do Mar, encontrar o caminho de São Paulo.
Em 1707, estourou a chamada Guerra dos Emboabas, que du-
rou até 1709, com a derrota dos paulistas. Para melhorar a arreca- A Chegada da Família Real ao Brasil
dação dos impostos e submeter a população, em 1709 foi criada a Em 1806, Portugal foi afetado pelo Bloqueio Continental da
França contra a Inglaterra, que ocorreu graças à impossibilidade
capitania de São Paulo e Minas do Ouro separada da capitania do
das tropas de Napoleão de anexar a Inglaterra por meios militares.
Rio de Janeiro. Surgiram vilas e outros núcleos urbanos para rece-
Caso não aderisse ao Bloqueio, as tropas de Napoleão invadiriam o
ber a burocracia administrativa e o aparelho fiscal. território português. Entretanto, Portugal decidiu não seguir esse
Apesar de vencidos e, num primeiro momento, expulsos das caminho porque tinha fortes ligações comerciais com a Inglaterra2.
áreas de conflito (vales do rio das Velhas e do rio das Mortes), o
fato era que somente os paulistas tinham experiência em encontrar
jazidas de ouro.
Foram formalmente perdoados pelo governador da nova capi-
tania, o Conde de Assumar, em 1717. Os dirigentes metropolitanos 2 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Azevedo, Reinaldo
não só reconheciam sua competência nas explorações, mas tam- Seriacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática.

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HISTÓRIA DO BRASIL
Em novembro de 1807, dom João, príncipe regente de Portugal insatisfação da população, que começou a questionar os privilégios
desde 1799 - a rainha dona Maria, sua mãe, sofria de distúrbios concedidos aos portugueses, detentores dos principais cargos buro-
mentais -, diante da ameaça de invasão, decidiu transferir a família cráticos e dos mais altos postos da Academia Real Militar.
real e a Corte lusa para a colônia na América, deixando os súditos Começaram a ocorrer agitações de rua que culminavam em
expostos ao ataque francês. ações violentas da polícia principalmente (mas não exclusivamente)
Os ingleses garantiram a proteção da mudança da monarquia no Rio de Janeiro. A situação em Portugal também era de descon-
para o Brasil. Nobres da Corte e familiares do príncipe recolheram tentamento popular. Com a queda de Napoleão em 1815, os portu-
às pressas tudo o que podiam carregar - joias, obras de arte, milha- gueses passaram a exigir o retorno imediato de dom João a Portu-
res de livros, móveis, roupas, baixelas de prata, animais domésticos, gal. Ele, entretanto, assinou um decreto criando o Reino Unido de
alimentos, etc. - e zarparam em 29 de novembro rumo ao Rio de Portugal, Brasil e Algarves. Com isso, o Brasil deixava de ser colônia
Janeiro. e ganhava o mesmo status político de Portugal.
Além da família real e dos nobres, viajaram altos funcionários, E o Reino passava a ter dois centros políticos: Lisboa, em Por-
magistrados, sacerdotes, militares de alta patente, etc. Estima-se tugal, e Rio de Janeiro, no Brasil, onde dom João exercia o governo.
que nos 36 navios viajaram entre 4,5 mil e 15 mil pessoas. Parte Para muitos historiadores, a elevação do Brasil a Reino Unido foi o
da esquadra, incluindo o navio ocupado por dom João, atracou em marco inicial do processo de emancipação política e administrativa
Salvador no dia 22 de janeiro de 1808, seguindo semanas depois do Brasil.
para o Rio de Janeiro, onde já se encontrava o restante da frota, e lá
chegando em 8 de março de 1808. Revolução Pernambucana
Na província de Pernambuco, no início de 1817, o debate de
Sede do Governo Português ideias emancipacionistas e republicanas deu origem a um movi-
Agora que boa parte da elite lusa encontrava-se em terras bra- mento conspiratório, que ficou conhecido como Insurreição Per-
sileiras, o desenvolvimento da colônia não poderia continuar cerce- nambucana ou Revolução de 1817.
ado. Como afirma a historiadora Maria Odila Silva Dias, pela primei- Inspirados na Revolução Francesa, os líderes redigiram o esbo-
ra vez iria se configurar “nos trópicos portugueses preocupações ço de uma Constituição que garantia a igualdade de direitos entre
de uma colônia de povoamento e não apenas de exploração ou de os indivíduos, a liberdade de imprensa e a tolerância religiosa. No
feitoria comercial”. Assim, seis dias depois de desembarcar em Sal- entanto, o movimento enfraqueceu-se com as divergências entre
vador, o príncipe regente dom João decretou a abertura dos portos os proprietários de escravos e os rebeldes abolicionistas. Em maio,
brasileiros às nações amigas, ou seja, às nações com as quais Por- tropas enviadas da Bahia e do Rio de Janeiro cercaram o Recife.
tugal mantinha relações diplomáticas amigáveis. Alguns líderes foram executados e muitos outros, encarcera- dos
em Salvador.
O Governo de D. João no Brasil
Dom João — cuja gestão é conhecida como governo joanino Revolução do Porto
- adotou medidas que afetaram diretamente a vida econômica, po- Por volta de 1818, alguns monarquistas liberais da cidade do
lítica, administrativa e cultural do Brasil. No plano administrativo, Porto defendiam a ideia de que o monarca deveria governar obe-
dom João procurou reproduzir na colônia a estrutura burocrática do decendo a uma Constituição. Em agosto de 1820 uma guarnição do
reino. Foram criados órgãos públicos, como o Conselho de Estado Exército do Porto se rebelou e deu início a uma revolução liberal e
e o Erário Régio (que depois se tornou Ministério da Fazenda), que anti-absolutista conhecida como Revolução do Porto. Rapidamen-
garantiam o funcionamento burocrático do Estado e proporciona- te, o movimento se espalhou pelas demais cidades portuguesas.
vam emprego para muitos portugueses. Em Lisboa, uma junta provisória assumiu o poder e convocou
Ainda em 1808, foram criados o Banco do Brasil, o Real Hos- as Cortes, que não se reuniam desde 1689, para elaborar uma Cons-
pital Militar e o Jardim Botânico. Dom João autorizou também o tituição. A junta exigia também o retorno da família real e da Corte
funcionamento de tipografias e a publicação de jornais. Com os li- a Portugal e a restauração do monopólio comercial com o Brasil.
vros da Biblioteca Real trazidos de Lisboa foi organizada a Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro. A volta da família real a Portugal
Para interligar a capital com as demais regiões da colônia e po- Nesse período irromperam no Pará, na Bahia e em Pernambu-
voar o interior, o governo doou sesmarias e autorizou o Banco do co várias revoltas apoiando o movimento constitucional de Portu-
Brasil a oferecer créditos aos colonos para que pudessem plantar gal. Em fevereiro de 1821, o rei dom João VI concordou em jurar
e criar gado. Essa política de povoamento estimulou a imigração. fidelidade à Constituição que estava ainda para ser elaborada e em
Em 1815, um grupo de 45 colonos oriundo de Macau e Cantão, na convocar eleições para a escolha dos deputados que iriam repre-
China, estabeleceu-se na cidade do Rio de Janeiro. sentar o Brasil nas Cortes de Lisboa.
Em 1818, cerca de dois mil suíços fundaram Nova Friburgo, na Temendo perder o trono, dom João VI anunciou também seu
província do Rio de Janeiro (as capitanias passaram a se chamar retorno a Portugal. No dia 26 de abril, a família real e mais quatro
províncias a partir de 1815). Na política externa, o governo joanino mil pessoas (nobres e funcionários) zarparam rumo a Portugal. Em
adotou uma linha de ação franca- mente expansionista, ocupando a seu lugar, o rei deixou o filho, dom Pedro, que assumiu o poder no
Guiana Francesa, em 1809, e anexando a Banda Oriental (atual Uru- Brasil como príncipe regente.
guai), em 1816. Em 1818, dois anos após a morte da rainha dona
Maria, o príncipe regente foi coroado rei com o título de dom João Vl. As Cortes de Lisboa
Após o embarque de dom João VI, foram realizadas eleições
A Promoção à Reino Unido para a escolha dos 71 representantes do Brasil nas Cortes de Lisboa.
Para gerar recursos para a administração, o governo joanino Embora a maior parte dos eleitos fosse a favor da independência do
teve de aumentar a carga tributária. O dinheiro dos impostos foi Brasil, apenas 56 viajaram para Lisboa, onde começaram a chegar
utilizado para cobrir os gastos da Corte, custear as obras de urbani- em agosto de 1821, oito meses depois do início dos trabalhos.
zação do Rio de Janeiro e financiar intervenções militares. Essa si-
tuação, somada à carestia e ao aumento dos preços, gerou enorme

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HISTÓRIA DO BRASIL
Eles enfrentaram uma forte oposição dos parlamentares lusos,
que já tinham adotado diversas medidas desfavoráveis ao Brasil PRIMEIRO REINADO (1822-1831)
com a intenção de reduzir o Brasil à sua antiga condição de colônia.
Para os parlamentares lusos, Brasil e Portugal deveriam se subme- PRIMEIRO REINADO
ter a uma mesma autoridade: as Cortes de Lisboa. Ao final de 1821, No dia 12 de outubro de 1822, dom Pedro - que naquela data
as Cortes ordenaram que Dom Pedro, príncipe regente do Brasil, completava 24 anos - foi proclamado imperador constitucional e
retornasse a Portugal. defensor perpétuo do Brasil. Dom Pedro I herdou um governo sem
recursos e extremamente endividado. Faltava dinheiro para aten-
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL (1822): A NOMEAÇÃO DO der às principais necessidades da população, principalmente no
PRÍNCIPE REGENTE D. PEDRO I, DIA DO FICO, RECO- que dizia respeito à saúde e à educação. Segundo algumas estima-
NHECIMENTO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL tivas, aproximadamente cinco milhões de pessoas viviam no Brasil.
Desse total, 1,5 milhão de pessoas eram escravizadas. Mais de
90% da população habitava a zona rural, onde os grandes proprietá-
A Independência do Brasil rios de terra exerciam “governos” informais. A mortalidade infantil
Enquanto a determinação das Cortes de Lisboa não chegava, era muito alta. Da mesma maneira, o índice de analfabetismo girava
dom Pedro era apoiado, no Brasil, por pessoas da elite político-e- em torno de 85%. A cultura erudita, por sua vez, concentrava-se
conômica, com experiência administrativa, como José Bonifácio nas grandes cidades, onde também circulavam jornais e revistas, a
de Andrada e Silva (1763-1838). Na opinião de José Bonifácio e de maioria de vida curta e periodicidade incerta.
outros políticos do período, o Brasil deveria manter-se unido a Por-
tugal, mas com um governo próprio e autônomo. Havia também A Constituinte
quem defendesse o rompimento completo com Portugal. Antes da independência, em junho de 1822, dom Pedro tinha
Ambas as correntes, contudo, concordavam que dom Pedro de- aprovado a convocação de uma Assembleia Constituinte destinada
veria resistir às pressões das Cortes de Lisboa e recursar-se a voltar a elaborar a primeira Carta Magna do Brasil. A escolha dos consti-
a Portugal. No final de 1821, José Bonifácio organizou um abaixo- tuintes foi feita por meio de eleições após o Sete de Setembro, nas
-assinado subscrito por oito mil assinaturas, que foi entregue a Dom quais votaram os proprietários do sexo masculino e maiores de 25
Pedro, no qual era pedido que o príncipe permanecesse no Brasil. anos. Mulheres, homens sem terras e escravos não podiam votar.
Em 9 de janeiro de 1822, o príncipe anunciou sua decisão de ficar Na sessão inaugural da Assembleia, em maio de 1823, dom
no Brasil. O episódio, conhecido como Dia do Fico, foi o primeiro Pedro I jurou defender a nova Constituição desde que ela mere-
de uma série de atos que levariam à ruptura definitiva entre Brasil cesse sua imperial aceitação. Com essa ressalva, o imperador dei-
e Portugal. xava claro que a palavra final a respeito das decisões aprovadas lhe
Em maio de 1822, o príncipe regente determinou que todos pertencia, e não aos constituintes. Ou seja, era ele o detentor da
os decretos vindos das Cortes de Lisboa deveriam passar por sua soberania, não o povo representado na Assembleia.
aprovação. Em junho, dom Pedro aprovou a convocação de uma Em setembro de 1823, o deputado Antônio Carlos de Andrada
Assembleia Constituinte no Brasil. No começo de setembro, des- e Silva, irmão de José Bonifácio, apresentou um projeto de Consti-
pachos vindos de Lisboa desautorizavam a convocação da Assem- tuição elaborado por uma comissão de constituintes. Dois artigos
bleia Constituinte e ordenavam o imediato retorno de dom Pedro do projeto eram conflitantes com as intenções de dom Pedro I: um
a Portugal. José Bonifácio enviou os despachos ao príncipe, que se deles proibia que o imperador fosse governante de outro reino
encontrava em São Paulo, aconselhando-o a romper com Portugal, (dom Pedro era herdeiro do trono português); outro artigo impedia
pois já não considerava mais possível uma conciliação. o imperador de dissolver o Parlamento.
No dia 7 de setembro, o mensageiro alcançou dom Pedro nas
proximidades do riacho do Ipiranga. Ao receber os decretos, o prín- A Constituição de 1824
cipe proclamou a independência do Brasil, declarando a ruptura Rejeitado pelo imperador, o projeto teve vida curta. Em no-
dos laços com Portugal. No dia 12 de outubro, já de volta ao Rio de vembro de 1823, dom Pedro decidiu dissolver a Assembleia e criou
Janeiro, foi aclamado com grande pompa imperador constitucional um Conselho de Estado que elaborou outra Constituição. Em 25 de
com o título de dom Pedro I. março de 1824 o imperador outorgou aquela que seria a primeira
Carta Magna brasileira.
Guerras de Independência A Constituição outorgada apresentava algumas poucas dife-
Proclamada a independência, teve início a luta por sua conso- renças significativas em comparação com a elaborada pelo depu-
lidação, que envolveria conflitos e derramamento de sangue em tado Antônio Carlos, principalmente em relação à divisão dos po-
diversas regiões do novo país. deres. Além do Legislativo, do Executivo e do Judiciário, a Carta de
Em fevereiro de 1822, ainda antes da declaração de indepen- 1824 criava um quarto Poder: o Moderador, a ser exercido pelo
dência, houve na Bahia um longo conflito armado entre as forças imperador.
brasileiras que lutavam pela independência e queriam manter um Com o Moderador, dom Pedro podia dissolver a Câmara dos
brasileiro no cargo de governador - no lugar de um general portu- Deputados quando quisesse e convocar novas eleições; nomear se-
guês. A guerra entre as duas facções se prolongaria até 2 de julho nadores; aprovar ou vetar as decisões da Câmara e do Senado, etc.
de 1823, com destaque para a figura de Maria Quitéria de Jesus Além disso, cabia ao imperador nomear e destituir os presidentes
Medeiros, que se alistou ao lado das tropas brasileiras. de província, interferindo nos assuntos regionais.
No Maranhão, no Ceará, no Pará, na Província Cisplatina e no
Piauí houve revoltas de portugueses, que viviam nessas regiões,
contra a independência. Para derrotar os revoltosos, dom Pedro
recrutou mercenários estrangeiros. A vitória das tropas brasileiras
nessas regiões, além da obtida na Bahia, impediu a fragmentação
do Brasil em diversas províncias autônomas e garantiu a unidade
territorial da jovem nação.

59
HISTÓRIA DO BRASIL
A Confederação do Equador Era o dia 7 de abril de 1831. Uma semana de pois, o ex-impera-
Insatisfeitos com a dissolução da Constituinte e com o autori- dor partiu rumo a Portugal. Deixava no Brasil dom Pedro de Alcân-
tarismo do imperador, revoltosos de Recife se armaram novamente tara, sob a tutela de José Bonifácio de Andrada e Silva. No Brasil,
e, no dia 2 de julho de 1824, deram início a uma rebelião que logo tal como previa a Constituição, ainda em abril de 1831 formou -se
se alastrou para as províncias da Paraíba, do Rio Grande do Norte, uma Regência Trina Provisória para governar o país. Pela primeira
do Ceará e do Piauí. vez, a elite nacional assumia plenamente o controle da nação. Por
Na capital revolucionária, os rebeldes proclamaram a Confede- esse motivo, muitos historiadores entendem que o processo de in-
ração do Equador, uma República Federativa semelhante a estadu- dependência do Brasil só se encerrou em 1831, com a abdicação de
nidense. A insurreição contou com a participação tanto de proprie- dom Pedro.
tários de terras quanto de grupos das camadas populares urbanas e
foi marcada por um forte sentimento antilusitano. Período Regencial
Em novembro de 1824, a resistência pernambucana foi sufo- Estava previsto na Constituição de 1824 que, em caso de morte
cada. O frade carmelita Joaquim do Amor Divino (1779-1825), mais ou abdicação do imperador, e seu herdeiro não pudesse assumir o
conhecido como frei Caneca - que havia lançado o jornal de oposi- trono devido à menoridade, o Governo seria entregue a uma jun-
ção ao governo Typhis Pernambucano em 1823 - foi acusado de ser ta de três regentes indicados pela Assembleia Geral (formada pela
o líder da rebelião e fuzilado no Recife, em janeiro de 1825. Outros Câmara dos Deputados e pelo Senado), até que o jovem príncipe se
com acusações semelhantes também foram executados. tornasse maior de idade, ao completar 18 anos.

D. Pedro I Abdica A Regência Trina


As críticas ao imperador e ao governo não cessaram. Em diver- Assim, logo após a abdicação de dom Pedro I, em 7 de abril
sas partes do Brasil motins contra os altos preços dos gêneros de de 1831, formou-se uma Regência Trina Provisória que governou
primeira necessidade se tornaram comuns. A guerra entre o Brasil e até 17 de junho de 1831. Nessa data, a Assembleia Geral elegeu a
a Argentina pelo domínio da Província Cisplatina, iniciada em 1825, Regência Trina Permanente, encarregada de governar o Brasil até a
também fortaleceu um movimento pró-emancipação da região Sul. maioridade do príncipe.
A Regência Trina preocupou-se em manter a paz interna. Foram
O conflito só terminou em 1828, quando os governos dos dois
proibidos os ajuntamentos noturnos em locais públicos e suspensas
países concordaram com a independência da Província Cisplatina
algumas garantias constitucionais. As guardas municipais foram ex-
(antiga Banda Oriental, atual Uruguai). Para os brasileiros, o ânus
tintas e criou-se a Guarda Nacional, organização paramilitar cons-
da guerra foi extremamente elevado - aumento da inflação, que já
tituída por milícias civis, encarregada de defender a Constituição e
estava alta, e falência do Banco do Brasil. Essas consequências au-
garantir a ordem interna.
mentaram ainda mais o descontentamento popular com o governo
A criação da Guarda Nacional foi um dos primeiros atos que in-
de dom Pedro I.
dicavam uma tendência à descentralização do poder. Outros even-
A impopularidade do imperador piorou quando ele se envolveu
tos ajudaram a consolidar esse processo, por exemplo:
na crise de sucessão da Coroa portuguesa, iniciada com a morte de - a aprovação do novo Código de Processo Criminal em 1832
dom João VI, em 1826. Dom Pedro se tornou o herdeiro legítimo do que atribuía mais poderes aos juízes de paz, agora com o papel de
trono de Portugal. Dom Pedro renunciou à Coroa portuguesa em polícia e de juiz local (podiam prender, julgar, convocar a Guarda
favor de sua filha, a princesa Maria da Glória, de apenas 7 anos. Nacional, etc.);
Dom Miguel, irmão de dom Pedro, governaria Portugal como - a extinção do Conselho de Estado e a criação das Assembleias
príncipe regente até que a princesa chegasse à maioridade, quando Legislativas provinciais, que podiam elaborar as leis de interesse lo-
se casaria com a sobrinha. Em 1828, entretanto, dom Miguel se au- cal e nomear funcionários públicos. A autonomia das Assembleias
toproclamou rei absoluto de Portugal. continuava limitada, pois suas decisões podiam ser vetadas pelos
Preocupado em intervir nos acontecimentos de Portugal, dom presidentes das províncias que, por sua vez, eram nomeados pelo
Pedro perdeu cada vez mais apoio na política interna do Brasil. Teve imperador.
início uma guerra civil contra seus aliados. Acusado de autoritário
no Brasil, dom Pedro era considerado liberal pelos portugueses. Em Vale lembrar que tanto os juízes de paz quanto os membros das
1830, o imperador foi considerado o responsável pelo assassinato Assembleias Provinciais eram eleitos pela população, ou seja, por
do jornalista liberal Líbero Badaró, oposicionista. indivíduos livres do sexo masculino que possuíam bens. Assim, as
Em março de 1831, depois de uma viagem a Minas Gerais, os pessoas escolhidas para os cargos representavam os interesses da
residentes portugueses do Rio de Janeiro acenderam fogueiras nas elite e dos grandes proprietários de terras e de escravos.
ruas para homenagear dom Pedro, mas os brasileiros apagaram- Um dos passos mais importantes para a descentralização do
-nas, gritando vivas à Constituição. poder foi o Ato Adicional de 1834, criado pela Assembleia Geral.
Na noite seguinte, 13 de março, brasileiros e portugueses en- Trata-se de uma reforma na Constituição pela qual foi extinto o
traram em choque nas ruas do Rio de Janeiro. O episódio, conhe- Conselho de Estado - cujos membros haviam sido nomeados por
cido como Noite das Garrafadas, marcou o início de uma série de dom Pedro I - e criadas as Assembleias Legislativas provinciais , que
conflitos entre oposicionistas e partidários do imperador. passaram a ter poder para elaborar leis e nomear funcionários pú-
No dia 6 de abril, dom Pedro destituiu seu ministério composto blicos, conquistando assim maior autonomia em relação ao poder
apenas de brasileiros e o substituiu por outro, formado por defen- central. Esse ato adicional criou também a Regência Una, que subs-
sores do absolutismo. Em resposta, a população do Rio de Janeiro, tituiria a Regência Trina Permanente, determinando a eleição do re-
com tropas do Exército, concentrou-se no Campo de Santana e exi- gente por meio do voto popular para um mandato de quatro anos.
giu a volta do ministério deposto. Enfraquecido e sem apoio militar,
o imperador abdicou do trono em favor do filho, o príncipe Pedro
de Alcântara, de apenas 5 anos.

60
HISTÓRIA DO BRASIL
A Regência Una engenhos e se refugiavam rapidamente no interior das matas, que
Realizadas em abril de 1835, as eleições para Regente conta- conheciam muito bem, onde os soldados governistas não conse-
ram com uma pequena participação de cerca de 6 mil eleitores, guiam encontrá-los.
pouco mais de 0,1% da população, estimada em 5 milhões de pes- Aos poucos, o movimento perdeu força, principalmente após
soas naquela época. a morte de dom Pedro I, em 1834. Seus integrantes sofreram com
O eleito foi o ex-ministro da Justiça, Padre Diogo Antônio Feijó. epidemias e escassez de alimentos. No início de 1835, a maior parte
Feijó assumiu a Regência Una em outubro de 1835, em meio a uma dos cabanos havia morrido nos confrontos ou encontrava-se pre-
crise de grandes proporções, com rebeliões em várias províncias. sa. O principal líder dos rebeldes cabanos, o ex-soldado Vicente de
A Cabanagem (1835-1840) no Pará e a Guerra dos Farrapos Paula, e um grupo de ex-escravos continuaram a luta.
(1835-1845) no Rio Grande do Sul foram duas delas. Em 1837, sem Refugiaram-se nas matas do Jacuípe e por quinze anos perma-
apoio dos parlamentares, Feijó renunciou à Regência e foi substi- neceram atacando engenhos e libertando escravos no interior de
tuído pelo Ministro do Interior, Pedro de Araújo Lima, referendado Pernambuco e Alagoas. Em 1850, o líder foi preso em uma embos-
como Regente na eleição do ano seguinte. cada e enviado para o presídio de Fernando de Noronha.
Durante a regência de Araújo Lima, diversas medidas foram
adotadas para devolver ao governo central o controle de todo o Cabanagem
aparelho administrativo e judiciário. Uma dessas medidas foi a Lei A província do Grão-Pará viveu, na primeira metade do sécu-
de Interpretação do Ato Adicional, de 1840, que restringiu os po- lo XIX, grandes conturbações internas. Em 1822, houve um levante
deres das Assembleias Provinciais. A ela se seguiram o restabeleci- contra a Independência que foi apaziguado apenas em 1823. Nos
mento do Conselho de Estado e a reforma do Código do Processo anos seguintes, ocorreram disputas constantes pelo poder envol-
Criminal, que limitou a autoridade dos juízes de paz e fortaleceu a vendo as elites regionais contra o governo imperial.
dos juízes municipais, subordinados ao poder Judiciário central. Tais Em 1833, a Regência nomeou Bernardo Lobo de Souza para o
medidas - assim como o período em que foram tomadas - ficaram cargo, mas ele teve que enfrentar um clima hostil. Em novembro de
conhecidas como Regresso. 1834, ele mandou prender diversos opositores e um deles, o pe-
queno proprietário rural Manuel Vinagre, foi assassinado pelas tro-
A Maioridade de D. Pedro II pas governamentais. A província, já instável, entrou em convulsão.
No início de 1840, além das rebeliões que continuavam ocor- Em janeiro de 1835, o irmão de Manuel, Francisco Pedro Vinagre,
rendo em várias províncias na capital do país, os embates entre re- liderou um grupo de sertanejos, negros e indígenas armados, em
gressistas e progressistas se intensificavam. Os progressistas - que uma invasão a Belém, capital do Grão-Pará.
passaram a ser chamados de Partido Liberal - começaram a exigir a Os revoltosos mataram Lobo de Souza e seu comandante de
antecipação da maioridade do Príncipe Pedro de Alcântara que, de armas e libertaram os presos políticos. Como grande parte dessas
acordo com a Constituição, só poderia assumir o trono em 1844. pessoas era pobre e morava em cabanas, o movimento ficou co-
Segundo os liberais, essa seria a única forma de fazer o país vol- nhecido como Cabanagem e seus integrantes como cabanos (não
tar à normalidade e garantir a unidade do império. Os regressistas confundir com os cabanos de Pernambuco e Alagoas).
- reunidos agora no Partido Conservador - opunham-se à medida, Em maio de 1836, o regente Diogo Feijó enviou a Belém uma
pois temiam ser afastados do poder com a antecipação da maiori- esquadra com o objetivo de retomar o poder local e reintegrar o
dade. Para eles, a solução para a crise estava na maior concentração Pará ao Império. Os revoltosos retiraram-se da capital, mas con-
de poderes nas mãos do governo regencial. Depois de muitos de- tinuaram controlando boa parte do interior por quase três anos.
bates, no dia 23 de julho de 1840, a Câmara e o Senado aprovaram Somente em meados de 1840 foram dominados e a província foi
o projeto liberal, concedendo a maioridade a dom Pedro de Alcân- reintegrada ao Império. Cerca de 30 mil pessoas morreram durante
tara, então com 14 anos de idade, e declarando-o imperador do o conflito.
Brasil, com o título de dom Pedro II. Para o historiador Caio Prado Júnior, a Cabanagem foi uma das
O episódio ficaria conhecido como Golpe da Maioridade. No revoltas mais importantes de nossa história, pois foi a primeira em
dia seguinte, o soberano organizou seu ministério, composto de re- que a população pobre conseguiu, de fato, ocupar o poder em uma
presentantes do Partido Liberal. Era o início de um reinado que iria província.
se estender pelos 49 anos seguintes.
Revolta dos Malês
Revoltas do Período Regencial No começo do século XIX, negros e pardos livres e escravos re-
presentavam 72% (segundo cálculos do historiador João José Reis)
Guerra dos Cabanos da população de Salvador, capital da Bahia, que tinha aproximada-
Entre 1832 e 1835, ocorreu a Cabanada ou Guerra dos Caba- mente 65 500 habitantes.
nos, guerra rural que ganhou esse nome porque a maioria de seus Vítimas constantes do preconceito racial e da opressão social,
participantes vivia em habitações rústicas (não confundir com a Ca- eles se tornaram a parte mais frágil da sociedade. Em 1835, muitos
banagem), em uma região entre o sul de Pernambuco e o norte de deles se rebelaram em Salvador. Foi a Revolta dos Malês, cujo ob-
Alagoas. jetivo declarado era destruir a dominação branca na região e cons-
Participaram do levante indígenas aldeados, brancos e mesti- truir uma Bahia só de africanos.
ços que residiam nas periferias dos engenhos, negros forros e cati- Fizeram parte do movimento principalmente os malês, nome
vos fugidos, chamados de papa-méis, que residiam em quilombos. dado aos escravos seguidores do islamismo. Eles pertenciam a di-
Alguns proprietários rurais também integraram o movimento. Os ferentes etnias - como a dos haussás, jejês e nagôs - e muitos eram
cabanos lutavam pelo direito de permanecer em suas terras; prega- alfabetizados. Também participaram do movi mento nagôs seguido-
vam a alforria dos escravizados e o retorno de dom Pedro I ao Brasil. res do candomblé.
O governo regencial enviou tropas para combater os revoltosos A revolta começou no dia 24 de janeiro, quando cerca de 600
na região. Nos combates, os rebeldes conseguiram diversas vitórias, negros (segundo a historiadora Magali Gouveia Engel), armados
utilizando táticas de guerrilha: faziam ataques surpresa a fazendas e principalmente de espadas, ocuparam de surpresa o centro de Sal-
vador. Após intensos combates, os rebeldes foram derrotados pelas
forças policiais, que dispunham de armas de fogo.

61
HISTÓRIA DO BRASIL
Centenas de participantes da revolta morreram ou ficaram feri- Com o governo regressista de Pedro de Araújo Lima, que assu-
dos. Após a rebelião, desencadeou-se violenta repressão contra os miu a regência em setembro de 1837, temia-se que a autonomia
africanos e afro-brasileiros. Muitos foram condenados ao açoite, à das províncias fosse ainda mais reduzida. Em Salvador, o descon-
prisão ou à deportação. Três escravos e um liberto foram condena- tentamento contra o novo regente aumentou quando ele convocou
dos à morte e fuzilados. tropas baianas para lutar ao lado do governo, contra os farrapos, no
Rio Grande do Sul.
Guerra dos Farrapos No dia 7 de novembro de 1837, tropas do Forte de São Pedro se
Nas primeiras décadas do século XIX, estancieiros e charque- sublevaram. Os rebeldes constituíram um governo autônomo, pro-
adores contestavam os altos impostos aplicados sobre o gado, clamaram a independência da Bahia, declararam nulas as ordens
a terra, o sal e principalmente o charque. Na política, sentiam-se vindas do Rio de Janeiro e convocaram uma Assembleia Constituin-
desprestigiados pelo governo regencial, pois, apesar de serem fre- te. Os revoltosos também decretaram o fim da Guarda Nacional,
quentemente convocados a lutar contra os castelhanos na defesa elevaram os soldos dos militares e criaram batalhões de soldados
das fronteiras ao sul do Brasil, não recebiam postos de comando para garantir a defesa do governo recém-instalado.
durante as batalhas. Para conquistar o apoio da elite baiana, os líderes do movimen-
Em 1834, o presidente da província nomeado pelo governo da to pregavam a manutenção da ordem, a preservação da proprieda-
Regência, Antônio Rodrigues Fernandes Braga, criou impostos - in- de privada e a permanência da escravidão. Mas essas garantias não
clusive sobre as propriedades rurais - e começou a organizar uma foram suficientes e, sem recursos, o movimento não sobreviveu por
força militar para fazer frente às milícias dos chefes locais. muito tempo. Com o auxílio de fazendeiros do Recôncavo Baiano e
Em 19 de setembro de 1835, o estancieiro Bento Gonçalves, de soldados vindos de Pernambuco, Sergipe e Rio de Janeiro, as tro-
comandante da Guarda Nacional gaúcha e ligado aos liberais (cha- pas governistas cercaram Salvador por terra e por mar e derrotaram
mados farroupilhas), invadiu Porto Alegre, expulsou o presidente os revoltosos em março de 1838.
da província e deu posse ao vice-presidente, o liberal Marciano Pe- Cerca de 2 mil pessoas morreram nos confrontos, a maioria ne-
reira Ribeiro. gros e pobres. Quase 3 mil foram presas e outras 1500 deportadas
Iniciava-se, assim, a mais longa revolta do período regencial, a para o Sul e alistadas no Exército para enfrentar os farrapos. Os 780
rebeldes considerados mais perigosos foram trancafiados no porão
Guerra dos Farrapos. Em setembro de 1836, os revoltosos procla-
de um navio-prisão.
maram a República Rio-Grandense. Dois meses depois, os farrapos
Dezoito deles, entre os quais Francisco Sabino, foram conde-
ratificaram sua independência do restante do Brasil e escolheram
nados à morte. Com a maioridade de dom Pedro, em 1840, todos
Bento Gonçalves para presidente da República recém-criada.
os rebeldes foram anistiados. Mesmo perdoado, porém, Sabino foi
Em seguida, comandados por Davi Canabarro e pelo italiano
enviado para Goiás para permanecer longe de Salvador.
Giuseppe Garibaldi, os farrapos conseguiram conquistar Laguna,
em Santa Catarina, em julho de 1839. Ali, proclamaram a República
Balaiada
Catarinense. No entanto, em novembro, tropas imperiais expulsa-
Em 1838, Vicente Camargo, do Partido Conservador, era presi-
ram os revolucionários da região e teve início o declínio da Repúbli- dente da província do Maranhão. Em junho daquele ano, Camargo
ca Rio-Grandense. distribuiu nas comarcas do Maranhão os cargos de prefeito e comis-
Em novembro de 1842, dom Pedro II nomeou o marechal Luís sário de polícia apenas aos seus correligionários, que passaram a
Alves de Lima e Silva para a presidência da província e para o co- perseguir os políticos do Partido Liberal (chama dos de bem-te-vis)
mando das tropas imperiais no Rio Grande do Sul. e a exercer maior controle sobre a população pobre e livre.
Lima e Silva, que ficaria conhecido como Duque de Caxias, ti- Um dos meios usados para esse controle se dava com o recru-
nha por missão debelar a Revolução Farroupilha. Em 1845, ele con- tamento compulsório, como o que ocorreu em 1838 para o Exérci-
seguiu chegar a um acordo com os rebeldes e pôr fim ao conflito. to, de alguns vaqueiros que trabalhavam para Raimundo Gomes,
Interessado em atrair o apoio das elites gaúchas para o governo um fazendeiro simpático à causa liberal, que, apoiado por alguns
imperial, Caxias satisfez boa parte de suas reivindicações. Assim, o companheiros, invadiu a cadeia e libertou os vaqueiros recrutados
charque estrangeiro foi tributado em 25%, os estancieiros envolvi- à força e mantidos na prisão.
dos na revolta foram anistiados e os oficiais republicanos reincorpo- Em janeiro de 1839, Raimundo Gomes conseguiu o apoio de
rados ao Exército imperial. Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, pequeno agricultor e fabrican-
Também foi aprovada a alforria dos escravizados que participa- te de cestos, cujo apelido de Balaio daria nome à revolta que abala-
ram da revolta, os prisioneiros de guerra foram soltos e os rebeldes ria o Maranhão nos anos seguintes: a Balaiada. Raimundo Gomes,
que se encontravam refugiados fora da província puderam voltar Manuel Ferreira e seus seguidores começaram a percorrer o inte-
ao Rio Grande do Sul. Além disso, os rio-grandenses conquistaram rior do Maranhão, protestando não apenas contra o recrutamento
o direito de indicar o presidente da província. O escolhido foi o pró- compulsório, mas também contra a discriminação e a desigualdade
prio Caxias. social reinantes na província.
Os liberais apoiaram os rebeldes, fornecendo-lhes armas e mu-
Sabinada nições. Em 1839, eles dominaram Caxias, a segunda maior cidade
A população de Salvador ainda não havia esquecido a Revolta maranhense, e prosseguiram invadindo fazendas e libertando a
dos Malês quando, no primeiro semestre de 1837, novas agitações população escravizada. Em 1840, sob a liderança do cativo Cosme
envolveram a cidade. O médico e jornalista Francisco Sabino criti- Bento das Chagas, o Preto Cosme, mais de 3 mil escravizados tam-
cava em seu jornal, Novo Diário da Bahia, o uso dos impostos para bém se rebelaram.
sustentar a Corte, condenava a tirania das autoridades e o domínio No início de 1840, Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de
da sociedade por uma pequena elite. Caxias, foi nomeado para a presidência da província e combateu os
Essa lista de insatisfações era reforçada pelos militares que re- revoltosos duramente: reconquistou a cidade de Caxias, obteve a
clamavam da recém-criada Guarda Nacional - com funções que de- rendição de Raimundo Gomes logo depois de Balaio ter sido morto
veriam ser do Exército - e protestavam contra a redução do efetivo em um dos confrontos e perseguiu os escravos liderados por Preto
militar, responsável pelo aumento do desemprego na categoria. Cosme.

62
HISTÓRIA DO BRASIL
Os combates se estenderam até 1842, quando o líder dos es- -se espontaneamente homens entre 18 e 50 anos. Para aumentar
cravizados foi capturado e enforcado. Saldo da revolta: cerca de 6 ainda mais o número de combatentes, o governo oferecia em troca
mil mortos, entre cativos e sertanejos pobres. do alistamento uma quantia em dinheiro e um pedaço de terra aos
homens livres, assim como a alforria aos escravizados.
SEGUNDO REINADO (1831-1840) Assim, o corpo de voluntários reuniu indivíduos livres das ca-
madas médias e pobres. Os membros da elite não se interessavam
pelo voluntariado e, quando convocados, preferiam pagar para que
O Segundo Reinado pessoas livres fossem no lugar deles ou enviavam escravizados para
O período compreendido entre 1840 e 1889, no qual o Brasil substituí-los. O governo pagava uma indenização aos senhores de
esteve sob o comando - altamente centralizado - do imperador dom escravos que enviavam seus cativos à batalha, prática que ficou co-
Pedro II, é chamado de Segundo Reinado. Para manter a centrali- nhecida como “compra de substituídos”.
zação, dom Pedro II utilizou as prerrogativas asseguradas ao Poder Muitas mulheres também participaram da guerra indiretamen-
Moderador - órgão que se sobrepunha ao Executivo, ao Legislativo te na retaguarda, com o fabrico de munição, na venda de artigos
e ao Judiciário - sistematicamente. de primeira necessidade, no preparo de alimentos e no socorro aos
Assim, nomeou e demitiu ministros, dissolveu a Câmara dos feridos ou diretamente, quando elas pegavam em armas e partiam
Deputados repetidas vezes, convocou eleições, escolheu senado- para as frentes de batalha.
res, suspendeu magistrados, etc. Interessado em consolidar a or-
dem interna e manter a unidade territorial, durante seu governo, Saldo do Conflito
dom Pedro II construiu um sólido aparato administrativo, jurídico A guerra se alastrou rapidamente. Em um primeiro momento,
e burocrático e debelou as revoltas provinciais, como a Guerra dos os paraguaios tiveram vitórias significativas. Aos poucos, porém, as
Farrapos (1835-1845) e a Balaiada (1838-1842), que ameaçavam a tropas aliadas se organizaram e passaram à ofensiva. Os combates
integridade territorial brasileira. corpo a corpo foram sangrentos, marcados por atrocidades de am-
Ao longo dos 49 anos de seu governo, o imperador conseguiu bos os lados.
conciliar as forças, oferecendo apoio intermitente ao Partido Liberal A guerra só terminou em 1870, com a morte de Solano López. O
e ao Partido Conservador. Embora as diferenças entre os dois parti- Paraguai saiu arrasado do confronto. A população masculina adulta
dos fossem pequenas ambos representavam setores diferentes dos foi dizimada, a economia foi destruída e o país perdeu 40% do ter-
grandes comerciantes e dos grandes proprietários de terra, sempre ritório para seus adversários. No que se refere ao Brasil, o conflito
que um gabinete liberal dava lugar a um conservador, e vice-versa, fortaleceu o Exército e o sentimento de identidade nacional.
toda a estrutura administrativa do Império era substituída. Entretanto, 30 mil combatentes, de 139 mil enviados à fren-
Fazendo largo uso do clientelismo, os novos integrantes do po- te de batalha, morreram. Para compensar as perdas financeiras, o
der substituíam os presidentes de província, prefeitos, delegados, governo brasileiro contraiu empréstimos no exterior, aumentando
coletores de impostos e demais funcionários públicos. Nas relações a dívida externa. O fim dos combates também contribuiu para pôr
internacionais, dom Pedro II procurou apresentar a imagem do em xeque o governo de dom Pedro II: as críticas à escravidão se
Brasil como um país jovem, moderno e com grande potencial de intensificaram e a ideia de substituir a monarquia pela república
desenvolvimento. Para reforçar essa ideia, ele financiava o estudo começou a ganhar força.
de artistas no exterior e estimulava a vinda de missões científicas
estrangeiras ao Brasil. Mudança do Eixo Econômico
Planta nativa da Etiópia, na África, o café chegou à Europa no
A Guerra do Paraguai século XVII e, de lá, à América. Em 1727, as primeiras sementes e
As origens da Guerra do Paraguai estão ligadas à consolidação mudas de café foram trazidas da Guiana Francesa e plantadas em
dos Estados nacionais na região do Prata e à preocupação do Impé- Belém, no atual estado do Pará.
rio em evitar a formação de uma grande nação platina que ocupas- Por volta de 1760, já havia cafeeiros (para consumo) na cidade
se o território do antigo Vice-Reino do Prata. do Rio de Janeiro. Posteriormente, a planta foi levada ao litoral flu-
Em agosto de 1864, tropas brasileiras invadiram o Uruguai - in- minense e, depois, para o vale do rio Paraíba do Sul. Ali, o café pas-
dependente desde 1828 - e derrubaram o presidente uruguaio Ata- sou a ser plantado como produto agrícola, para consumo e comér-
násio Aguirre, do Partido Blanco, acusado de ter posto em prática cio, e se espalhou rapidamente, chegando a cidades como Resende
medidas antibrasileiras. Seu opositor, Venâncio Flores, do Partido e Vassouras, no Rio de Janeiro; Areias , Guaratinguetá e Taubaté,
Colorado, tornou-se presidente. em São Paulo. Mudas e sementes de café também foram levadas
Interpretando a invasão do Uruguai como uma ameaça aos in- para o Espírito Santo e para o sul de Minas Gerais.
teresses de seu país, em novembro de 1864. o presidente do Para- Nesse processo de expansão, muitos quilômetros da mata
guai, Solano López, aliado de Aguirre, apreendeu um navio mercan- Atlântica foram derrubados para que fazendas de café pudessem
te brasileiro no rio Paraná e, em dezembro, ordenou a invasão da se estabelecer e os indígenas que ali viviam foram dizimados ou ex-
província do Mato Grosso. pulsos. Os pequenos posseiros que se encontravam na região com
Em seguida, declarou guerra à Argentina, já que o governo do suas lavouras de subsistência tiveram um destino similar. Dessa ma-
país não permitiria que o Exército paraguaio cruzasse o território neira, no início do Segundo Reinado, o café já era o principal artigo
argentino em direção ao Rio Grande do Sul e ao Uruguai. Em maio de exportação brasileiro e o Brasil era o maior exportador mundial
de 1865, Brasil, Argentina e Uruguai (já presidido por Flores) firma- do produto.
ram o Tratado da Tríplice Aliança, um acordo político, econômico e No sudeste, as principais cidades cafeicultoras enriqueceram.
militar contra o Paraguai. Assim como nos engenhos do nordeste, a riqueza extraída dos ca-
fezais era produzida, primordialmente, pela mão de obra escravi-
Os Voluntários da Pátria zada. Os cativos eram responsáveis por todo o trabalho no campo:
O governo brasileiro não possuía contingente para uma guer- preparavam o terreno, plantavam e colhiam. Na época da colheita,
ra desse porte e por isso, em janeiro de 1865, assinou um decreto cabia a eles entregar ao administrador da fazenda uma quantidade
criando o corpo de Voluntários da Pátria. Neste poderiam alistar- específica de grãos.

63
HISTÓRIA DO BRASIL
No começo, os escravizados também tinham por obrigação Lei Eusébio de Queirós
conduzir carros de bois com sacas de café até os portos do Rio de Em 1850, a pressão internacional, somada ao medo de novas
Janeiro e de Santos, no litoral do estado de São Paulo, de onde a rebeliões de escravos e ao clamor dos que se opunham à escravi-
produção era embarcada para o exterior. A partir de 1850, com a dão, levou à aprovação da Lei Eusébio de Queirós.
construção das primeiras ferrovias, esse transporte passou a ser Ela proibia definitivamente o tráfico de africanos para o Brasil.
feito de trem, o que estimulou a construção de muitas ferrovias. Importantes fazendeiros que tentaram desrespeitar a nova lei fo-
Mas as ferrovias não impactaram apenas o transporte do café. ram presos e capitães de navios negreiros que continuaram a trafi-
Elas integraram também o comércio do Triângulo Mineiro ao mer- car es cravos sofreram duras penas.
cado paulista, transformaram a paisagem natural dos locais em que
foram implantadas e colocaram a população em contato com as A imigração europeia e a Lei de Terras
inovações técnicas do capitalismo. As cidades onde foram constru- Antes de 1850, alguns fazendeiros do Oeste paulista já tenta-
ídas se transformaram, e novos municípios surgiram em função de- vam substituir a mão de obra escravizada pela de imigrantes euro-
las. Com o enriquecimento, muitos fazendeiros do Vale do Paraíba peus. Em 1847, cerca de mil colonos de origem germânica e suíça
foram agraciados com títulos de nobreza pelo imperador, originan- foram trazidos e empregados, em regime de parceria, em uma fa-
do se daí a expressão barões do café para designá-los. zenda no interior de São Paulo.
De modo geral, apesar do título, não faziam parte da corte im- No entanto, o regime de parceria não funcionou, pois era pou-
perial. Embora a presença masculina no gerenciamento das fazen- co vantajoso para os imigrantes, que arcavam com muitas despesas,
das fosse predominante, algumas mulheres também comandavam as quais reduziam muito seus lucros. Temendo que os imigrantes
as fazendas de café. Esse foi o caso de Maria Joaquina Sampaio de abandonassem o trabalho nas fazendas e ocupassem as terras de-
Almeida (1803-1882), que, após a morte do marido, passou a dirigir volutas, o governo e a Assembleia Geral instituíram a Lei de Terras,
a fazenda Boa Vista, em Bananal, responsável por uma das maiores que restringia o acesso da população à terra.
produções individuais de café no período: 700 mil. A legislação em vigor até então permitia a qualquer pessoa se
instalar em uma área de terras devolutas e posteriormente reque-
Oeste Paulista rer um título de propriedade sobre ela. Com a Lei de Terras, aprova-
Os fazendeiros do Vale do Paraíba empregavam técnicas agrí- da em 1850, quem quisesse se tornar proprietário deveria comprar
colas rudimentares, como a queimada para limpar o terreno. Além o lote do governo. Para dificultar o acesso, a lei fixou dimensões
disso, não utilizavam arados nem adubos. Por causa dessas práticas, mínimas para os lotes a serem comprados e proibiu a compra a pra-
o solo da região empobreceu e, por volta de 1870, a produção de- zo. Impediu-se assim o surgimento de uma camada de pequenos
clinou. proprietários rurais e o desenvolvimento de uma agricultura fami-
Cafeicultores faliram, fazendas foram abandonadas e as cida- liar economicamente expressiva no Brasil.
des que viviam do café ficaram à míngua. Em busca de novas ter- A lei beneficiou a população mais rica e com mais recursos, que
ras, os fazendeiros expandiram as plantações de café em direção ao comprava grandes lotes diretamente do governo, e possibilitou que
Oeste paulista na segunda metade do século XIX. Eles expulsaram o os grandes proprietários rurais concentrassem ainda mais porções
povo Kaingang da região, derrubaram matas e ocuparam as terras de terras em suas mãos.
férteis das atuais cidades de Campinas, Jundiaí e São Carlos. Em
seguida avançaram para Ribeirão Preto, Bauru e, mais tarde, para A Caminho da Abolição
o norte do Paraná e outras regiões, onde o solo de terra vermelha, Quando a Lei Eusébio de Queirós foi aprovada em 1850, a pro-
mais conheci da como terra roxa, era ideal para o cultivo da planta. dução cafeicultora do Sudeste estava no auge e a necessidade de
Nesses lugares, surgiu um novo tipo de cafeicultor que, embora mão de obra era crescente. Impedidos de recorrer ao tráfico negrei-
utilizasse mão de obra escrava, passou também a empregar o traba- ro, os cafeicultores passaram a comprar es cravos dos fazendeiros
lho assalariado de trabalhadores livres de origem europeia. do Nordeste que, naquele momento, atravessavam um período de
Retirantes cearenses que fugiram da seca no final da década dificuldades por causa da forte concorrência externa à produção
de 1870 e se deslocaram para o sudeste também foram emprega- nordestina de açúcar e algodão.
dos nos cafezais. Com os lucros das exportações de café, os cafei- Em 1865, a notícia de que os Estados Unidos haviam abolido a
cultores aprimoraram as técnicas agrícolas a fim de multiplicar os escravidão reacendeu os debates abolicionistas no Brasil. Ao mes-
rendimentos. Alguns começaram a diversificar seus investimentos, mo tempo, aumentou o número de escravizados que reivindicavam
aplicando parte do capital em atividades industriais e comerciais. junto à Justiça o direito de não separar-se de suas famílias e de jun-
Em 1872, ano em que foi realizado o primeiro censo no Brasil, 80% tar dinheiro para comprar a liberdade. Não raro, eles venciam esses
da população em atividade no país se dedicava ao setor agrícola, processos.
13% ao de serviços e apenas 7% à indústria. Com o fim da Guerra do Paraguai, em 1870, a Campanha Abo-
licionista começou a se difundir pelo país e conquistou adeptos no
Fim do Tráfico Negreiro Exército - os negros e miscigenados representavam a maior parte
No começo do século XIX, o Brasil e várias colônias e nações dos soldados brasileiros no conflito. O convívio entre negros e bran-
sofriam forte pressão do governo inglês para acabar com o tráfico cos durante a guerra contribuiu para diminuir o preconceito e mui-
negreiro e com a escravização dos povos africanos. Por isso, a In- tos militares ou ex-combatentes mudaram de opinião a respeito da
glaterra só reconheceu a legitimidade da independência brasileira escravidão.
em 1825, depois que dom Pedro I se comprometeu a acabar com
o tráfico. Lei do Ventre Livre
As pressões inglesas aumentaram e, em 1831, o governo re- Pressionado, o governo procurou conciliar os interesses con-
gencial decretou o fim do tráfico negreiro. Mas a lei não alcançou flitantes e extinguir a escravidão sem prejudicar os negócios dos
seu objetivo imediato e africanos escravizados continuaram sendo fazendeiros. Para tanto, propôs um plano de abolição gradual, ga-
contrabandeados para o Brasil, apesar de o tráfico ter sofrido uma rantindo indenizações aos donos de escravizados. No dia 28 de se-
queda acentuada. tembro de 1871, a Assembleia Geral aprovou a Lei do Ventre Livre.
Ela estabelecia que os filhos de escravizados nascidos a partir da-

64
HISTÓRIA DO BRASIL
quela data seriam considerados livres, mas deveriam permanecer No dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel - filha de dom
sob os cuidados de seus senhores até completarem oito anos de Pedro II que estava à frente do governo, substituindo o imperador,
idade. que viajara ao exterior - assinou a Lei Áurea, libertando os 723 mil
A partir de então, o proprietário tinha duas opções: entregar a escravos que ainda restavam no país. Esse número representava 5%
criança ao governo, que lhe pagaria uma indenização, ou mantê-la da população afrodescendente que vivia no Brasil.
sob o regime de trabalho compulsório em sua propriedade, como Os afro-brasileiros tiveram seus direitos formalmente reconhe-
forma de compensação pela alforria, até ela completar 21 anos. A cidos. A emancipação, contudo, não foi acompanhada de medidas
lei também garantia ao escravizado o direito de formar um pecúlio de reparação ou de integração dos libertos na sociedade, como
com o qual pudesse comprar sua alforria. propunham muitos abolicionistas. Entre essas propostas estavam a
Esse recurso seria bastante utilizado pelos cativos. Embora ofe- distribuição de terras aos libertos e a criação de mecanismos para
recesse garantias de compensação aos senhores de escravos, a lei que os ex-escravos e seus filhos tivessem acesso à educação. Na
foi vista como um sinal de que a escravidão estava próxima do fim. verdade, os ex-escravos não receberam nenhum tipo de amparo e
Para os fazendeiros do Oeste paulista, isso significava que seria ne- se tornaram vítimas de um novo tipo de desigualdade social e étni-
cessário promover a imigração europeia em grande escala. A esco-
ca cujos reflexos ainda podem ser sentidos na sociedade brasileira.
lha pela mão de obra europeia foi estimulada por teorias raciais vi-
gentes na época. Racistas, essas teorias (genericamente conhecidas
O Brasil no Final do Século XIX
como darwinismo social) defendiam que negros e mestiços, assim
A partir da segunda metade do século XIX, o Brasil passou por
como indígenas e asiáticos seriam inferiores aos europeus.
Os negros, que durante quase quatro séculos construíram pra- transformações socioeconômicas que mudaram o perfil da socie-
ticamente tudo que o existia no Brasil, eram agora taxados de pre- dade. O trabalho escravo, por exemplo, começou a ser substituído
guiçosos, incapazes e incultos. Para políticos e fazendeiros racistas, pelo trabalho livre e assalariado. A indústria tomou impulso a partir
os negros deveriam ser substituídos por brancos “mais capacita- de 1880 e aumentou a contratação de mão de obra assalariada: em
dos”. Para eles, o sucesso da modernização do país só seria possível 1881, havia cerca de três mil trabalhadores industriais; em 1890 já
por meio da mão de obra europeia. eram 54 mil, principalmente imigrantes.
Aproveitando-se da situação de crise de alguns países da Europa, As cidades cresceram e aumentou o número de pessoas das ca-
iniciou-se amplo processo de incentivo à emigração para o Brasil. madas médias urbanas - profissionais liberais, pequenos e médios
comerciantes, funcionários públicos, etc. A vida cultural se intensi-
A Campanha Abolicionista ficou. Formou-se uma opinião pública capaz de se mobilizar con-
A partir de 1880, a mobilização pelo fim da escravidão no Brasil tra a escravidão e contra o caráter opressivo da monarquia. Nesse
envolvia homens e mulheres de setores sociais variados, nos princi- mesmo momento, o Brasil atravessava uma grave crise econômica.
pais centros urbanos. A Campanha Abolicionista, como foi chama- A guerra contra o Paraguai (1864-1870) consumira as divisas do
da, teve como polos de aglutinação associações emancipacionistas país, e a população sofria com o aumento do custo de vida. Os fa-
e órgãos da imprensa. zendeiros do Centro-Sul mostravam-se insatisfeitos com a composi-
Personalidades como Joaquim Nabuco (1849-1910), André Re- ção política do império, que não refletia o poder econômico e social
bouças (1838-1898) e Antônio Bento (1843-1898) escreviam nos das regiões: o Nordeste tinha um número maior de representantes
jornais abolicionistas. O caricaturista Ângelo Agostini (1843-1910) no Senado e no ministério do que o Sudeste.
desmoralizava os defensores da escravidão com seus desenhos, e Os cafeicultores, sobretudo os do Vale do Paraíba, também es-
José do Patrocínio (1854-1905) costumava terminar seus editoriais tavam in satisfeitos com a extinção do trabalho escravo. Embora
com a frase: “A escravidão é um roubo e todo dono de escravo, um isso tivesse ocorrido por meio da criação de sucessivas leis - como a
ladrão.”. do Ventre Livre (1871) e a dos Sexagenários (1885) -, a insatisfação
No Pará, Manoel Moraes Bittencourt fundou em 1882 o Club se transformou em revolta em 1888, com a assinatura da Lei Áurea.
Abolicionista Patroni, que, junto a outras organizações - que foram
Os militares também davam sinais de descontentamento. Os
aparecendo em praticamente todas as províncias brasileiras -, reco-
soldos estavam baixos e as promoções dos oficiais ocorriam mais
lhia recursos para a compra de alforrias. Em 1883, essas associações
por apadrinhamento do que por mérito. Como não podiam mani-
se unificaram e formaram a Confederação Abolicionista.
festar livremente suas opiniões políticas, entre 1883 e 1887 os mili-
No Recife, integrantes da sociedade secreta Clube do Cupim,
liderada por José Mariano, retiravam es- cravos do cativeiro e os tares demonstraram sua insatisfação por meio de atos de insubor-
enviavam de barcaças ao Ceará, onde a escravidão foi extinta em dinação e desobediência que, em seu conjunto, ficaram conhecidos
1884. A essa altura, a Campanha Abolicionista se configurava como como a Questão Militar.
um movimento irreprimível e de grande apelo popular. As relações entre a Igreja e o Estado se desgastaram com a cha-
mada Questão Religiosa, em 1871, quando bispos de Olinda e de
O Fim da Escravidão Belém fecharam algumas irmandades religiosas ligadas à maçona-
Em 1884, as províncias do Ceará e do Amazonas aboliram a es- ria. Dom Pedro II ordenou que essas irmandades fossem reabertas.
cravidão em seus territórios. No ano seguinte, a Assembleia Geral Os bispos se recusaram a obedecer, foram presos e condena-
aprovou a Lei Saraiva-Cotegipe, também conhecida como Lei dos dos a trabalhos forçados. Mesmo sendo anistiados pelo imperador
Sexagenários, que libertava os escravos com mais de 60 anos. A em 1875, essa situação desgastou a relação entre parte do clero e o
alforria para esse grupo, entretanto, só ocorria depois de três anos Estado. Esse evento é apontado como um dos fatores que levaram
de trabalho a título de indenização. ao desgaste e à queda da monarquia no Brasil.
Em São Paulo, em 1886, o abolicionista Antônio Bento criou
um grupo conhecido como Caifazes, que organizava deserções em A Campanha pela República
massa de escravos. A partir de então, as fugas se tornaram cada Em 1870, políticos liberais radicais, cafeicultores e representan-
vez mais frequentes. Em 1887, o Exército anunciou sua recusa em tes das camadas médias do Rio de Janeiro e de São Paulo criaram o
continuar capturando escravos fugitivos. Clube Republicano, cujo porta-voz era o jornal carioca A República.

65
HISTÓRIA DO BRASIL
Nos dois anos seguintes, novos clubes e jornais republicanos
surgiram pelo país. Mas a Campanha Republicana ganhou mais for- PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930): O PRIMEIRO GO-
ça a partir de 1873, quando grupos políticos ligados aos cafeiculto- VERNO PROVISÓRIO, ASSEMBLEIA CONSTITUINTE,
res paulistas fundaram, em São Paulo, o Partido Republicano. PRESIDÊNCIA DE DEODORO DA FONSECA, A POLÍTICA
DOS GOVERNADORES, O CORONELISMO, MOVIMEN-
Moderados, radicais e positivistas TOS TENENTISTAS, COLUNA PRESTES, REVOLTA DA
Unidos contra a monarquia, os republicanos divergiam quanto ARMADA
aos métodos propostos.
Os moderados, vinculados aos grandes proprietários rurais, REPÚBLICA VELHA
eram contrários ao fim da escravidão. Os radicais, ou revolucioná-
rios, eram membros das camadas médias urbanas e apoiavam uma Consolidação da República
revolução com grande participação popular, como a que ocorrera Em 15 de novembro de 1889, o marechal Deodoro da Fonseca
na França em 1789. A facção formada pelos militares adeptos do proclamou a República. Apesar das divergências que existiam sobre
positivismo apoiava-se na confiança na ciência e na razão. Na po- o tipo de república a ser construída no país, as elites que domina-
lítica, o positivismo defendia a instauração de uma ditadura repu- vam a política em São Paulo, Minas Gerais e no Rio Grande do Sul
blicana. defendiam o federalismo, em oposição à centralização imperial3.
Paulistas e mineiros defendiam propostas inspiradas no libe-
O Fim do Império ralismo e tinham, sobretudo os paulistas, o modelo estadunidense
No decorrer de 1889, Quintino Bocaiuva, chefe nacional do como referência, em relação à autonomia dos estados e às liberda-
movimento republicano, procurou se aproximar dos militares em des individuais.
busca de apoio na luta contra a monarquia. No dia 11 de novembro, No Rio Grande do Sul, havia um importante grupo de políticos
um grupo conseguiu convencer o marechal Deodoro da Fonseca a liderado por Júlio de Castilhos. Esse grupo defendia, com base nos
apoiar a causa republicana. ideais positivistas, a instauração de uma ditadura republicana que,
Ao mesmo tempo, os militares republicanos do Rio de Janeiro ao garantir a ordem, levaria o país ao progresso. Já no Rio de Janei-
estabeleceram contatos com líderes civis de São Paulo, que apoia- ro, a capital da República, existia um grupo de republicanos radicais,
ram a ideia de um golpe para proclamar a República. Marcado para chamados de jacobinos. Eram civis e militares, alguns deles positi-
o dia 20 de novembro, ele foi antecipado porque, no dia 14, um vistas, que defendiam de maneira exaltada o regime republicano e
major espalhou o boato de que o governo decretara a prisão de opunham-se de ma-neira contundente à volta da monarquia.
Deodoro da Fonseca e de Benjamin Constant. Havia também os monarquistas, que desejavam o retorno do
Na manhã do dia 15, o próprio marechal Deodoro seguiu à antigo sistema. Entre os militares, predominavam os republicanos.
frente de um batalhão em direção ao prédio do Ministério da Guer- E, mesmo entre estes, havia divergências: enquanto alguns oficiais
ra, onde os ministros encontravam-se reunidos. Sem enfrentar ne-
seguiam a liderança de Deodoro, outros preferiam a de Floriano
nhuma resistência, Deodoro depôs o gabinete e voltou para casa.
Peixoto. Mas havia também os positivistas, que tinham Benjamin
Os republicanos ficaram sem saber se o marechal havia derrubado
Constant como líder, e alguns monarquistas, sobretudo na Marinha,
a monarquia ou apenas o ministério.
que tinham fortes ligações com o Império.
Para dirimir qualquer dúvida, o jornalista José do Patrocínio e
Nesse emaranhado de projetos políticos, no início de 1890 o
outras lideranças dirigiram-se à Câmara dos Vereadores do Rio de
Governo Provisório convocou uma Assembleia Nacional Constituin-
Janeiro e anunciaram o fim da monarquia no Brasil.
te para institucionalizar o novo regime e elaborar o conjunto de leis
Ao ser informado dos acontecimentos, em seu palácio de Pe-
que o regeriam.
trópolis, dom Pedro II ainda tentou organizar um novo ministério,
mas acabou desistindo. Na madrugada de 17 de novembro de 1889, Assim, em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a primeira
embarcou com a família para Portugal. Dois anos mais tarde, mor- Constituição republicana do país, a Constituição dos Estados Uni-
reu em Paris, vítima de pneumonia aguda, aos 66 anos. dos do Brasil. Inspirada no modelo vigente nos Estados Unidos, ela
A Proclamação da República foi um movimento do qual a po- era liberal e federativa, concedendo aos estados prerrogativas de
pulação praticamente não participou. Nele estiveram envolvidos constituir forças militares e estabelecer impostos.
alguns militares, intelectuais e políticos. Um dos líderes republica- Além disso, ela instaurou o presidencialismo como regime po-
nos, Aristides Lobo, chegou a afirmar que o povo assistiu a tudo lítico, com a separação dos poderes Executivo, Legislativo e Judici-
bestializado, achando que a movimentação das tropas conduzidas ário, e oficializou a separação entre Estado e Igreja. Os deputados
por Deodoro da Fonseca na manhã do dia 15 de novembro fosse constituintes também elegeram o marechal Deodoro da Fonseca
simplesmente uma parada militar. para a presidência e o marechal Floriano Peixoto para a vice-pre-
sidência da República. Mas o novo regime republicano enfrentaria
crises muito sérias até se consolidar definitivamente.

República de Espadas
Na área econômica, comandada por Rui Barbosa, então minis-
tro da Fazenda, a República começou com grande euforia. Com o
objetivo de estimular o crescimento econômico e a industrialização
do país, o governo autorizou que os bancos concedessem crédito a
qualquer cidadão que desejasse abrir uma empresa. E, para cobrir
esses empréstimos, permitiu a impressão de uma imensa quantida-
de de papel-moeda.

3 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São Paulo. Saraiva.

66
HISTÓRIA DO BRASIL
Como a moeda brasileira tinha como referência a libra inglesa, sul do país. Somente no Rio Grande do Sul, que contava com cerca
as emissões de dinheiro sem lastro (sem garantia em ouro) provo- de 900 mil habitantes, morreram de 10 a 12 mil pessoas, muitas
caram o aumento acelerado da inflação. Muitos dos empréstimos delas degoladas.
concedidos foram usados para abrir empresas que existiam apenas Passados cinco anos da proclamação da República, chegava ao
no papel, mas cujas ações, ainda assim, eram negociadas na Bolsa fim o governo de Floriano Peixoto. No dia 15 de novembro de 1894,
de Valores. Como resultado, muitos investidores perderam seu di- o marechal passou a faixa presidencial ao paulista Prudente de Mo-
nheiro e a inflação aumentou, atingindo toda a sociedade brasileira. rais, conferindo novos ares à República. Pela primeira vez, um civil
Essa medida, que visava estimular a economia, mas resultou em ligado às elites agrárias, em especial aos cafeicultores, assumia o
desvalorização da moeda e especulação financeira, recebeu o nome poder. Com a eleição de Prudente de Morais, encerrava-se o perío-
de Encilhamento. do conhecido como República da Espada.
Na área política, assistia-se a graves conflitos envolvendo o
presidente e os militares que o apoiavam, de um lado, e políticos Modelo Político
liberais e a imprensa, do outro. Oito meses após ser eleito, em no- A Constituição de 1891 estabeleceu eleições diretas para todos
vembro de 1891, Deodoro da Fonseca determinou o fechamento do os cargos dos poderes Legislativo e Executivo. Também determinou
Congresso Nacional e decretou estado de sítio no país. Os oficiais que, excetuando os mendigos, os analfabetos, os praças de pré, os
que seguiam a liderança de Floriano Peixoto não apoiaram o golpe religiosos, as mulheres e os menores de 21 anos, todos os cidadãos
de Estado; assim como a Marinha, que considerou autoritária a ati- brasileiros eram eleitores e elegíveis.
tude do presidente, e diversas lideranças civis. Sem apoio político, o Apesar de suprimir a exigência de renda mínima constante da
presidente renunciou no dia 23. Constituição imperial, a primeira Constituição da República tam-
Nesse mesmo dia, Floriano Peixoto, seu vice, assumiu a presi- bém excluía a maioria da população brasileira do direito de votar. O
dência da República. voto foi decretado aberto, mas, como não havia Justiça Eleitoral, na
A posse do novo presidente foi muito questionada. De acordo prática as eleições eram caracterizadas pela fraude. A organização
com a Constituição, o vice assumiria somente se o presidente hou- da eleição dos municípios, bem como a redação da ata da seção
vesse cumprido metade de seu mandato, ou seja, dois anos. Caso
eleitoral, ficava a cargo dos chefes políticos locais, os chamados co-
contrário, ela previa a realização de uma nova eleição. Mas Floriano
ronéis.
estava decidido a permanecer no poder, com o apoio dos florianis-
Isso lhes permitia registrar o que bem quisessem nas atas - daí
tas, que alegavam que o dispositivo constitucional só valeria para o
o nome “eleições a bico de pena” - e também controlar as escolhas
próximo mandato presidencial.
Treze generais do Exército contestaram sua posse e, por meio dos eleitores, por meio da violência ou do suborno. Era comum, por
de um manifesto, exigiram eleições presidenciais. Floriano ignorou exemplo, que nas atas das seções eleitorais constassem votos de
o protesto e mandou prender os generais. Receosas com a instabi- eleitores já mortos para o candidato dos coronéis.
lidade da República, as elites políticas de São Paulo, representadas Ou então que os coronéis reunissem os eleitores em um de-
pelo Partido Republicano Paulista (PRP), apoiaram o novo presiden- terminado lugar para receber as cédulas eleitorais já preenchidas.
te. Floriano, por sua vez, percebeu que o suporte do PRP era fun- Esses locais eram chamados de “curral eleitoral”. De modo geral, os
damental. eleitores votavam no candidato do coronel por vários motivos: obe-
Ele também contou com o apoio de importantes setores do diência, lealdade ou gratidão, ou em busca de algum favor, como
Exército e da população do Rio de Janeiro. Oficiais da Marinha de dinheiro, serviços médicos e até mesmo proteção. Afinal, sem a ga-
Guerra (Armada) tornaram-se a sua principal oposição. Em 6 de rantia dos direitos civis e políticos, grande parte da população rural
setembro de 1893, posicionaram os navios de guerra na baía de - vale lembrar que a imensa maioria dos brasileiros então vivia no
Guanabara, apontaram os canhões para o Rio de Janeiro e Niterói e campo - buscava a proteção de um coronel e acabava se inserindo
dispararam tiros contra as duas cidades - era o início da Revolta da em uma rede de favores e proteção pessoal.
Armada. Em março do ano seguinte a situação tornou-se insusten-
tável nos navios - não havia munição, alimentos, água nem o apoio O Poder dos Coronéis
da população. Parte dos revoltosos pediu asilo político a Portugal, Também conhecida como coronelismo, a chamada “República
a outra foi para o Rio Grande do Sul participar de um conflito que dos coronéis” era um sistema político que resultou da Constituição
eclodira um ano antes: a Revolução Federalista. de 1891 e marcou a Primeira República. Se no Império os presiden-
tes de estado (hoje denominados governadores) eram nomeados
Revolução Federalista pelo poder central, com a República eles passaram a ser eleitos pe-
A instalação da República alterou a política do Rio Grande do los coronéis. Nos municípios, eram os coronéis que, por meio da
Sul. Com ela, o Partido Republicano Rio-Grandense alcançara o po- violência e da fraude eleitoral, controlavam os votos que elegiam o
der. Apoiada por Floriano Peixoto e liderada por Júlio de Castilhos, presidente de estado, e também os deputados estaduais e federais,
a agremiação de orientação positivista tornou-se dominante no es-
os senadores e até mesmo o presidente da República.
tado em que passou a governar de maneira autoritária.
Por outro lado, eles dependiam do governante estadual para
A principal força de oposição ao Partido Republicano era o Par-
nomear parentes e protegidos a cargos públicos ou liberar verbas
tido Federalista, liderado por Gaspar Silveira Martins, que defendia
para obras nos municípios. Assim, criava-se uma ampla rede de
o parlamentarismo e a predominância da União Federativa sobre
o poder estadual - enquanto os republicanos pregavam o sistema alianças e favores, em que coronéis, presidentes de estado, parla-
presidencialista e a autonomia dos estados. mentares e o próprio presidente da República estavam atados por
Diante da violência e das fraudes eleitorais, os federalistas uni- fortes laços de interesses. Esse esquema se consolidou na presi-
ram-se a outras forças de oposição, dando origem a uma sangren- dência de Campos Sanes (1898-1902), idealizador do que veio a ser
ta guerra civil, que ficou conhecida como Revolução Federalista chamado de política dos governadores Ou dos esta- dos.
(1893-1895). Os conflitos não se limitaram ao estado do Rio Grande Nela, o governo federal apoiava as oligarquias dominantes nos
do Sul, estendendo-se aos de Santa Catarina e do Paraná, e só ter- estados, que em troca sustentavam politicamente o presidente da
minaram em junho de 1895 com a vitória dos republicanos sobre os República no Congresso Nacional, controlando a eleição de senado-
federalistas. A Revolução Federalista causou muito sofrimento ao res e deputados federais - e evitando, dessa forma, que os candida-

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HISTÓRIA DO BRASIL
tos da oposição se elegessem. Ainda assim, caso isso acontecesse, a circulação de jornais e livros. A cidade que mais cresceu foi a de São
Comissão de Verificação de Poderes da Câmara Federal, responsá- Paulo, principalmente a partir de 1886, com a chegada de milhares
vel por aprovar e confirmar a vitória dos candidatos eleitos, impug- de imigrantes.
nava a posse, sob a alegação de fraude.
Apesar das fraudes eleitorais, as eleições periódicas foram Crise do Café
importantes para a configuração do sistema político brasileiro. Pri- Na década de 1920, o café, que era então responsável por mais
meiro, porque exigiam o mínimo de competição no jogo eleitoral, da metade das exportações brasileiras, sustentava a economia do
permitindo a renovação das elites dirigentes. Segundo, porque, país. Por consequência, a oligarquia paulista tornara-se dominante
mesmo com o controle do voto, havia alguma mobilização do elei- na política brasileira - dos 12 presidentes eleitos entre 1894 e 1930,
torado - com o qual as elites, mesmo dispondo de grande poder seis eram filiados ao Partido Republicano Paulista.
político, precisavam manter alguma interlocução. A crescente produção cafeeira, contudo, acabou provocando
graves problemas. O consumo do café brasileiro, que nesse período
Política do Café com Leite atendia a 70% da demanda mundial, estabilizou-se, mas os fazen-
A política dos governadores inaugurada por Campos Salles fun- deiros continuaram expandindo suas plantações. Com uma produ-
damentou a chamada República Oligárquica. Ela reforçou os pode- ção maior do que a capacidade de consumo, os preços internacio-
res das oligarquias - sobretudo as dos estados de São Paulo e Minas nais caíram, causando prejuízos e gerando dívidas.
Gerais. Como o número de representantes por estado no Congresso A primeira crise de superprodução ocorreu em 1893. Ao as-
era proporcional à sua população, São Paulo e Minas Gerais, que sumir a presidência em 1894, Prudente de Morais teve de lidar
eram os estados mais populosos e ricos - da federação, elegiam as com grave crise econômica. Campos Salles, que o sucedeu na pre-
maiores bancadas na Câmara dos Deputados. sidência em 1898, fez um acordo com os credores internacionais
Vale lembrar que, à época, os partidos políticos eram estadu- conhecido como funding loan. Pelo acordo, que transformou todas
ais e proliferavam siglas como Partido Republicano Mineiro, Partido as dívidas brasileiras em uma única, cujo credor era a casa bancária
Republicano Paulista, Partido Republicano Rio-Grandense etc. Ex- britânica dos Rothschild, o Brasil recebeu como empréstimo 10 mi-
pressão simbólica da aliança entre o Partido Republicano Paulista e lhões de libras esterlinas. Além de oferecer as rendas da alfândega
o Partido Republicano Mineiro foi a chamada política do café com do Rio de Janeiro como garantia, o governo se comprometeu a rea-
leite, que funcionava no momento da escolha do sucessor presi- lizar uma política econômica deflacionária, retirando papel-moeda
dencial. do mercado, o que gerou recessão, falências e desemprego e não
As oligarquias dos dois estados escolhiam um nome comum resolveu os problemas da superprodução de café e da queda dos
para presidente, ora filiado ao partido paulista, ora ao mineiro. A preços no mercado internacional.
cada sucessão presidencial, a aliança entre Minas Gerais e São Pau- Para evitar maiores prejuízos, representantes das oligarquias
lo precisava ser renovada, muitas vezes com conflitos e interesses cafeeiras dos estados de São Paulo, Minas Gerais e do Rio de Janeiro
divergentes. Por serem fortes em termos políticos e econômicos, reuniram-se na cidade paulista de Taubaté e elaboraram, em 1906,
formaram-se duas oligarquias dominantes no país: a de São Paulo e um plano para a defesa do produto, que, a princípio, não contou
a de Minas Gerais. Embora em posição inferior à aliança entre pau- com o apoio do governo federal.
listas e mineiros, destacavam-se também a do Rio Grande do Sul, a Pelo Convênio de Taubaté - como ficou conhecido esse encon-
da Bahia e a do estado do Rio de Janeiro. tro - estabeleceu-se a política de valorização do café, pela qual os
Houve eleições em que os vitoriosos não estavam comprometi- governos dos estados conveniados recorreriam a empréstimos ex-
dos com a política do café com leite, caso de Hermes da Fonseca em ternos para comprar e estocar o excedente da produção de café, até
1910 e de Epitácio Pessoa em 1919. O importante é considerar que que seu preço se estabilizasse no mercado internacional, de modo
as oligarquias dos estados que se encontravam fora da política do a garantir o lucro dos cafeicultores. Para o pagamento dos juros da
café com leite passaram a questionar o sistema político na década dívida, seria cobrado um imposto sobre as exportações de café.
de 1920. Dois anos depois, na presidência de Afonso Pena, o governo
federal deu garantias aos empréstimos. A política de valorização do
Aspectos Econômicos café foi benéfica apenas para os cafeicultores, em especial os pau-
Por volta de 1830, o café tornou-se o principal produto de ex- listas, em detrimento dos produtores de açúcar, algodão, charque,
portação do Brasil, superando o açúcar. Com a expansão das lavou- cacau etc. Além de acentuar as desigualdades regionais, grande
ras cafeeiras para o Oeste Paulista, a partir da década de 1870, a parte dos custos dessa política acabou recaindo sobre a sociedade
cafeicultura estimulou a economia do país, cujo dinamismo atraiu brasileira, que teve de arcar com os prejuízos.
investidores estrangeiros, sobretudo britânicos.
Ela propiciou a construção e o reaparelhamento de ferrovias, Economia da Borracha
estradas, portos e o surgimento de bancos, casas de câmbio e de No começo da República, outro importante produto de expor-
exportação. Também foram criados estaleiros, empresas de nave- tação era a borracha da Amazônia, que alcançou seu auge entre
gação e moinhos. O café mudou o país, inclusive incentivando a sua 1890 e 1910. Em meados do século XIX, desenvolveu-se o processo
industrialização. Surgiram, por exemplo, fábricas de tecidos, cha- de vulcanização da borracha, por meio do qual ela se tornava en-
péus, calçados, velas, alimentos, utensílios domésticos etc. Trata- durecida, porém flexível, perfeita para ser usada em instrumentos
va-se de um tipo de indústria, a de bens de consumo não duráveis, cirúrgicos e de laboratório. O sucesso do produto aconteceu mes-
que não exigia grande tecnologia ou altos investimentos de capital, mo ao ser empregado na fabricação de pneus tanto de bicicletas
mas que empregava grande quantidade de mão de obra. como de automóveis. Em 1852, o Brasil exportava 1 600 toneladas
A riqueza gerada pelas exportações de café possibilitou, ainda, de borracha (2,3% das exportações nacionais). Em 1900, já ultra-
o aumento das importações e a expansão das cidades, com a ins- passava os 24 milhões de toneladas, o que equivalia a quase 30%
talação de serviços públicos (como iluminação a gás e sistema de das exportações.
transporte urbano), novas práticas de diversão e até mesmo maior Além de empregar cerca de 1 10 mil pessoas que trabalhavam
nos seringais, a extração do látex na região Norte fez com que as
cidades de Belém e Manaus passassem por grandes transforma-

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HISTÓRIA DO BRASIL
ções: expansão urbana, instalação de serviços (iluminação pública, Havia também razões morais contra a vacinação obrigatória. À
bondes elétricos, serviços de telefonia e de distribuição de água). época, os homens não admitiam que, em sua ausência, suas resi-
A partir de 1910, contudo, a entrada da borracha de origem asi- dências fossem invadidas por estranhos que tocassem no corpo de
ática no mercado internacional provocou um drástico declínio na suas esposas e filhas para aplicar vacinas. Como a maioria das mu-
produção amazônica. Extraída em colônias inglesas e holandesas, lheres partilhava desses mesmos valores, quando a lei da vacinação
a borracha asiática tinha maior produtividade, melhor qualidade e obrigatória foi publicada nos jornais, estourou uma revolta no Rio
menor preço. de Janeiro.
Inicialmente, militares tentaram depor Rodrigues Alves, mas
Disputas por Território logo foram dominados por tropas fiéis ao governo. A maior reação,
Os primeiros governos republicanos enfrentaram problemas de entretanto, ficou por conta da população mais pobre. Entre os dias
disputas territoriais com os vizinhos latino-americanos. 10 e 13 de novembro de 1904, a cidade foi tomada por manifes-
O primeiro deles foi sobre a região oeste dos atuais estados tantes populares: as estreitas ruas do centro foram bloqueadas por
de Santa Catarina e Paraná. que era reclamada pelos argentinos. barricadas e os policiais, atacados com pedradas.
A questão foi resolvida pela arbitragem internacional dos EUA em A repressão policial foi violenta. Qualquer suspeito de haver
1895, confirmando a posse brasileira. participado da revolta foi jogado em porões de navios e manda-
Outra pendência foi com a França, sobre a demarcação das do para o Acre. A vacinação obrigatória acabou sendo suspensa, e,
fronteiras do Brasil com a Guiana Francesa. Com arbitragem in- quatro anos depois, uma epidemia de varíola matou mais de 6 mil
ternacional do governo suíço, o Brasil venceu a disputa em 1900, pessoas no Rio de Janeiro. Foram necessários muitos anos para que
impondo sua soberania sobre as terras que hoje integram o estado os governantes reconhecessem que nada conseguiam com Imposi-
do Amapá. ções e práticas autoritárias sobre a população. Nos anos 1960, com
No ano seguinte, o Brasil entrou em disputa com a Grã-Breta- campanhas de esclarecimento, a vacinação em massa tornou-se co-
nha sobre os limites territoriais entre a Guiana Britânica (ou Inglesa) mum no país. Em 1971, ocorreu o último caso de varíola no Brasil.
e o norte do então estado do Amazonas - que hoje corresponde ao
estado de Roraima. Revolta da Chibata
O rei da Itália. Vítor Emanuel II, foi convocado como árbitro Os marujos da Marinha de Guerra brasileira viviam sob péssi-
internacional, e em 1904 ele decidiu a favor dos britânicos. Desse mas condições de trabalho: soldos miseráveis, má alimentação, tra-
modo, o Brasil perdeu parte do território conhecido como Pirara, e balhos excessivos e opressão da oficialidade. Mas os castigos físicos
a Grã-Bretanha obteve acesso à bacia Amazônica por meio de al- aos quais eram submetidos, principalmente com o uso da chibata,
eram ainda mais graves.
guns de seus afluentes.
Em 22 de novembro de 1910, marinheiros do encouraçado
Outra disputa, bem mais complexa. foi travada em torno da
Minas Gerais se revoltaram contra a punição de um colega conde-
região onde hoje se localiza o Acre. que então pertencia à Bolívia
nado a receber 250 chibatadas. Liderados por João Cândido, eles
e ao Peru. Muitos nordestinos, em particular cearenses, que so-
tomaram a embarcação, prenderam e mataram alguns oficiais e
friam com a seca. haviam se estabelecido ali para explorar o látex,
apontaram os canhões para a cidade do Rio de Janeiro. Os marujos
gerando conflitos armados com tropas bolivianas. Os brasileiros
do encouraçado São Paulo e de outras seis embarcações, também
chegaram a declarar a independência política do Acre. Em 1903, a
ancoradas na baía de Guanabara, aderiram à revolta. Os revoltosos
diplomacia brasileira conseguiu uma vitória com o Tratado de Pe- exigiam melhores condições de trabalho e o fim dos castigos cor-
trópolis, que incorporava o Acre ao território brasileiro em troca de porais.
indenizações à Bolívia e ao Peru. O Congresso negociou com os revoltosos e, somente após sua
Cabe destacar a relevante atuação de José Maria da Silva Para- rendição, concedeu-lhes anistia. Mas o ambiente na Armada con-
nhos Júnior, o barão do Rio Branco. responsável pelas relações in- tinuou tenso. Em 4 de dezembro, diante de novas punições, outra
ternacionais do Brasil entre 1902 e 1912. Ele não só esteve à frente revolta eclodiu na ilha das Cobras. Os oficiais reagiram de maneira
das negociações que envolviam disputas territoriais do país como dura e bombardearam a ilha.
fez do Ministério das Relações Exteriores uma instituição profissio- Depois, prenderam 600 marinheiros, inclusive os que participa-
nalizada e aproximou o Brasil dos EUA. ram da primeira revolta, entre eles João Cândido, apelidado de “al-
mirante negro”. Jogados em prisões solitárias por vários dias, mui-
Movimentos e Revoltas tos deles morreram. Os demais foram detidos em porões de navios
e mandados para a Amazônia - ou executados durante a viagem.
Revolta da Vacina
Além de modernizar a cidade, era necessário erradicar as do- Revolta em Juazeiro do Norte
enças epidêmicas da capital da República. Com base nas então Em 1889, no povoado de Juazeiro do Norte, no sul do estado
recentes descobertas sobre os microrganismos e a capacidade de do Ceará, durante uma missa celebrada pelo padre Cícero Romão
mosquitos, moscas e pulgas transmitirem doenças, o médico sani- Batista, uma beata teria sangrado pela boca logo após receber a
tarista Oswaldo Cruz, a quem coube essa tarefa, estava decidido a hóstia. A notícia do suposto milagre - da hóstia que teria se transfor-
erradicar a febre amarela, com o combate aos mosquitos, a varíola, mado em sangue - espalhou-se, aumentando o prestígio do padre,
com a vacinação, e a peste bubônica, com a caça aos ratos, cujas que passou a ser idolatrado na região. Além das funções de padre,
pulgas transmitiam a doença. ele desempenhava as de juiz e conselheiro, ensinava práticas de hi-
Em junho de 1904, Rodrigues Alves enviou um projeto de lei ao giene, acolhia doentes e criminosos arrependidos.
Congresso que propunha a obrigatoriedade da vacinação contra a Seu prestígio era tamanho que a alta hierarquia da Igreja che-
varíola. Havia grande insatisfação popular contra as reformas urba- gou a ficar incomodada e temerosa de que essa veneração estimu-
nas do prefeito Pereira Passos. Mas a obrigatoriedade de introduzir lasse práticas religiosas fora de seu controle - o que, de fato, aconte-
líquidos desconhecidos no corpo, imposta de maneira autoritária ceu. Em 1892, o padre foi impedido de pregar e ouvir em confissão.
pelo governo e sem esclarecimentos à população, que à época des- Dois anos depois, a Congregação para a Doutrina da Fé decretou a
conhecia os benefícios da vacinação, gerou forte resistência. falsidade do milagre em Juazeiro do Norte, provocando a reação da
população. Movimentos de solidariedade se formaram e irmanda-

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HISTÓRIA DO BRASIL
des se mobilizaram a favor do padre Cícero. Imensas romarias pas- José Maria organizou uma comunidade formada por milhares de
saram a se dirigir à cidade. Beatas diziam ter visões que anunciavam homens e mulheres em Taquaruçu, nas proximidades do município
a proximidade do fim do mundo e o retorno de Cristo. Surgia um catarinense de Curitibanos. Armados e sob a liderança de José Ma-
movimento que desafiava as autoridades eclesiásticas da região. ria, eles criticavam a República.
Em 1911, inserido na política oligárquica local, padre Cícero foi Muitos homens e mulheres que participavam desse movimen-
eleito prefeito de Juazeiro do Norte e se tornou o principal articula- to conhecido como Contestado, por ter ocorrido em uma área dis-
dor de um pacto entre os coronéis da região do vale do Cariri. Padre putada entre os estados do Paraná e de Santa Catarina, eram pe-
Cícero lutou em vão até o ano de sua morte, 1934, para provar que quenos proprietários expulsos de suas terras devido à construção
o milagre em Juazeiro do Norte havia ocorrido. Apenas em 2016, a de uma ferrovia, a Brazil Railway Company, que ligaria os estados
Igreja Católica se reconciliou com o padre, suspendendo todas as de São Paulo e do Rio Grande do Sul. A empresa pertencia a um dos
punições que havia lhe imposto. homens mais ricos do mundo, o estadunidense Percival Farquhar.
Como parte do pagamento à empresa construtora, o governo
Guerra de Canudos estadual doou 15 quilômetros de terras de cada lado da linha, pre-
Antônio Vicente Mendes Maciel andava pelos sertões nordes- judicando os camponeses que ali viviam. A situação era agravada
tinos pregando a fé católica. Tornou-se um beato conhecido como pela presença de madeireiras. Atacados pela polícia, em 1912, des-
Antônio Conselheiro e passou a ser seguido por muitas pessoas. locaram-se para Palmas, no Paraná.
Em 1877, fixou-se com centenas delas no arraial de Canudos, um O governo do estado, que considerou se tratar de uma inva-
lugarejo abandonado no interior da Bahia, às margens do rio Vaza- são dos catarinenses, atacou a comunidade e matou José Maria,
-Barris, ao qual renomearam Belo Monte. A comunidade cresceu dispersando a multidão de homens e mulheres que o seguia. Um
rapidamente. Famílias, que fugiam da exploração dos latifundiários ano depois, cerca de 12 mil fiéis se reagruparam em Taquaruçu. A
da região ou abandonavam suas terras de origem devido à seca, liderança do movimento ficou a cargo de um conselho de chefes,
foram para Canudos. que difundiu a crença de que José Maria regressaria à frente de
Também foi o caso de jagunços, que serviam aos coronéis, mas um exército encantado para vencer as forças do mal e implantar o
haviam caído em desgraça. Estima-se que em poucos anos o arraial paraíso na Terra. Em fins de 1916, forças do Exército e das polícias
recebeu entre 20 e 30 mil pessoas pobres, em sua grande maioria, estaduais, com o apoio de aviões, reprimiram o movimento, matan-
mas que em Canudos tinham ao menos uma casa para morar e ter- do milhares de rebeldes.
ra para plantar.
Canudos tinha uma rígida organização social. No comando es- O Modernismo
tava António Conselheiro, também chamado de chefe, pastor ou No Brasil, como em grande parte do mundo ocidental, a vida
pai. Doze homens, denominados apóstolos, assumiram as chefias cultural era fortemente influenciada pelos europeus. No vestuário,
dos setores de guerra, economia, vida civil, vida religiosa etc. O
na culinária, na literatura, na pintura, no teatro e em outras mani-
arraial contava com uma guarda especial formada pelos jagunços,
festações artístico-culturais, adorava-se, sobretudo, o padrão fran-
chamada Companhia do Bom Jesus ou Guarda Católica. Havia tam-
cês como modelo.
bém comerciantes.
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, isso começou
Em 1896, um incidente alterou a paz do arraial. Comerciantes
a mudar. A guerra resultou no declínio econômico e político dos
de Juazeiro não entregaram madeiras compradas por Conselheiro
países envolvidos no conflito e suscitou, ao menos nas Américas, a
para a construção de uma nova igreja. Os jagunços se vingaram sa-
dúvida quanto à superioridade da cultura europeia. Nos anos 1920,
queando a cidade. Em resposta, o governador baiano enviou duas
expedições punitivas a Canudos, ambas derrotadas pelos conselhei- em diversas cidades do Brasil, principalmente em São Paulo e no
ristas. Rio de Janeiro, surgiram jornais, revistas e manifestos publicados
Denúncias de que Canudos e António Conselheiro faziam parte por artistas e intelectuais que, preocupados com a modernização
de um amplo movimento que visava restaurar a monarquia no país do país, discutiam o que era ser brasileiro. Recusavam-se a copiar
chegavam nas capitais dos estados. A imprensa do Rio de Janeiro e padrões europeus e propunham uma nova maneira de pensar e de-
de São Paulo, sobretudo, insistia na existência de um complô mo- finir o Brasil, valorizando a memória nacional e a pesquisa das raízes
narquista. Na capital da República, estudantes, militares, escritores, culturais dos brasileiros.
jornalistas, entre outros grupos sociais, responsabilizavam o presi- Era o movimento modernista, que se manifestou com grande
dente Prudente de Morais por não reprimir Canudos. impacto em São Paulo. Entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, o
Nesse contexto foi então organizada uma terceira expedição, Teatro Municipal de São Paulo abrigou a Semana de Arte Moderna.
chefiada pelo coronel Moreira César, veterano na luta contra os Em três noites de apresentação, artistas e intelectuais exibiram suas
federalistas gaúchos. Formada por 1.300 homens do Exército bra- obras: houve música, poesia, pintura, escultura, palestras e deba-
sileiro e seis canhões, ela foi derrotada pelos conselheiristas, que tes.
mataram o coronel. O fato tomou proporções nacionais, e Canudos Nas artes plásticas, destacaram-se Anita Malfatti, Di Cavalcanti
passou a ser visto como uma real ameaça à República. Formou-se, - responsável pela arte da capa do catálogo da exposição - e Lasar
assim, uma quarta expedição, que contava com 10 mil homens. Em Segall (pintura); Vitor Brecheret (escultura); e Oswaldo Goeldi (gra-
outubro de 1897, o arraial foi destruído e sua população, massacra- vura). Oswald de Andrade apresentou as revistas Papel e Tinta e
da - mesmo aqueles que se renderam foram degolados. Pirralho, leu textos e poemas.
Mário de Andrade, Ronald de Carvalho e Graça Aranha tam-
Guerra do Contestado bém leram seus trabalhos. O maestro Villa-Lobos impressionou o
Em 1911, um pregador itinerante de nome José Maria apa- público quando, na orquestra que regia, incluiu instrumentos de
receu na região central de Santa Catarina. Ele afirmava que tinha congada, tambores e uma folha de zinco. O público vaiou.
sido enviado pelo monge João Maria, morto alguns anos antes. Acostumada ao padrão europeu de música, a audiência rejei-
Na região Sul do país, monge tinha o mesmo significado que be- tava os instrumentos musicais das culturas africanas e indígenas.
ato no Nordeste. João Maria, quando vivo, fora contra a instaura- Para os modernistas, era preciso mostrar às elites que essas cultu-
ção da República e acreditava que somente a lei da monarquia era ras também eram formadoras da cultura nacional.
verdadeira. Apresentando-se como um continuador de suas ideias,

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HISTÓRIA DO BRASIL
O Tenentismo dentes do PRP fundaram o Partido Democrático (PD), em São Paulo.
Enquanto isso, setores da média oficialidade do Exército - como O novo partido defendia a adoção do voto secreto e obrigatório, a
tenentes e capitães - atacavam o governo com armas, em um movi- criação da Justiça Eleitoral e a independência dos três pode
mento conhecido como tenentismo. Alguns criticavam o liberalismo O sucessor de Arthur Bernardes, Washington Luís, suspendeu o
e defendiam um Estado forte e centralizado, expressando um nacio- estado de sítio e as perseguições ao movimento sindical. No entan-
nalismo não muito bem definido. Exigiam a moralização da política to, não concedeu a anistia política aos tenentes, como exigiam as
e das eleições e defendiam a adoção do voto secreto. Muitos se oposições. Em 1929, começaram as articulações para a nova suces-
mostravam ressentidos com os políticos, pelo papel secundário do são presidencial. O presidente Washington Luís, do Partido Repu-
Exército na política nacional. A primeira revolta tenentista ocorreu blicano Paulista, indicou para sucedê-lo o presidente do estado de
no Rio de Janeiro, em 1922. Após os rebelados tomarem o Forte de São Paulo, Júlio Prestes. Inconformadas, as oligarquias mineiras se
Copacabana, canhões foram disparados contra alvos considerados aliaram aos gaúchos e aos paraibanos, lançando o nome do gaúcho
estratégicos. O objetivo era impedir posse do presidente eleito Ar- Getúlio Vargas para a presidência e do paraibano João Pessoa para
thur Bernardes e, no limite, derrubar o governo. a vice-presidência.
O presidente Epitácio Pessoa, com o apoio do Exército e da O Partido Democrático, de São Paulo, apoiou a candidatura de
Marinha, ordenou o bombardeamento do forte. Muitos desistiram Vargas. Os dissidentes então formaram a Aliança Liberal, cuja pla-
da luta, mas 17 deles decidiram resistir. Com fuzis nas mãos, mar- taforma política defendia o voto secreto, a criação de uma Justiça
charam pela avenida Atlântica. Um civil se juntou a eles. Ao final, Eleitoral, a moralização da prática política, a anistia para os militares
sobraram apenas os militares Siqueira Campos e Eduardo Gomes. revoltosos dos anos 1920 e o estabelecimento de leis trabalhistas.
A rebelião ficou conhecida como a Revolta dos 18 do Forte. Nas eleições ocorridas em março de 1930, Júlio Prestes venceu,
Em 1924, eclodiu outra revolta tenentista, dessa vez em São mas os políticos da Aliança Liberal não aceitaram a derrota, alegan-
Paulo. Os revoltosos tomaram o poder na capital paulista. O objeti- do fraudes eleitorais. Mineiros e gaúchos conseguiram o apoio dos
vo era incentivar revoltas todo o país até a derrubada do presiden- tenentes na luta contra o governo. No exilio argentino, Luís Carlos
te Arthur Bernardes. A reação do governo federal foi bombardear Prestes tinha aderido ao comunismo e recusou-se a participar das
a cidade. Acuados, os revoltosos resolveram marchar para Foz do conversações. A crise eclodiu com o assassinato de João Pessoa,
Iguaçu. em julho de 1930. Apesar de se tratar de um crime que misturava
razões políticas locais e passionais, os políticos da Aliança Liberal
A Coluna Prestes transformaram o episódio em questão nacional e deflagraram uma
Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, o jovem capitão Luís revolução.
Carlos Prestes liderava uma coluna militar que, partindo de Santo Iniciada em 3 de outubro de 1930, em Minas Gerais e no Rio
Ângelo, marchava ao encontro dos rebelados paulistas em Foz do Grande do Sul, ela se alastrou rapidamente pelo Nordeste. Diante
Iguaçu. Quando se encontraram, em abril de 1925, formaram a da possibilidade de uma guerra civil, altos oficiais do Exército e da
Coluna Prestes-Miguel Costa e partiram em direção ao interior do Marinha depuseram o presidente Washington Luís e formaram uma
país, para mobilizar a população contra o governo e as oligarquias. Junta Militar. Com a chegada das tropas rebeldes ao Rio de Janeiro,
Com cerca de 1500 homens, atravessaram 13 estados. Perse- entregaram o poder a Getúlio Vargas. O movimento político-militar
guido pelo Exército, Prestes, com táticas militares inteligentes, im- conhecido como Revolução de 1930 saía vitorioso. Era o início da
pôs várias derrotas às tropas governistas - que nunca o derrotaram. Era Vargas.
Após marcharem 25 mil quilômetros, cansados e sem perspectivas,
em 1927 os soldados da coluna entraram no território boliviano, REVOLUÇÃO DE 1930. ERA VARGAS (1930-1945).
onde conseguiram asilo político. Por sua luta e capacidade de co-
mando, Luís Carlos Prestes passou a ser considerado um herói e
conhecido como “Cavaleiro da Esperança “. A ERA VARGAS

A Revolução de 1930 Governo Provisório


No início da década de 1920, o sistema político da Primeira Re- Ao assumir a chefia do governo provisório em 1930, apoiado
pública começava a apresentar sinais de esgotamento. A realização pelos militares, Getúlio Vargas aboliu a Constituição de 1891, dis-
da Semana de Arte Moderna, a fundação do Partido Comunista do solveu o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas estaduais
Brasil e a eclosão da Revolta dos 18 do Forte eram indícios desse e as Câmaras municipais e instituiu um regime de emergência. Com
esgotamento. A própria sucessão presidencial, também no ano de exceção do governador Olegário Maciel, de Minas Gerais, todos os
1922, foi marcada por uma forte disputa entre os grupos políticos demais (na época, chamados de presidentes de estado) foram subs-
estaduais. tituídos por interventores, pessoas da confiança do presidente, es-
Paulistas e mineiros haviam concordado em apoiar o mineiro colhidos por ele entre os egressos do movimento tenentista4.
Arthur Bernardes. Mas as lideranças políticas do Rio de Janeiro, do Em São Paulo, a nomeação do tenentista pernambucano João
Rio Grande do Sul, da Bahia e de Pernambuco optaram por lançar Alberto Lins de Barros para interventor provocou descontentamen-
Nilo Peçanha como candidato. O movimento, conhecido como Rea- to entre as elites, que passaram a exigir um interventor civil e pau-
ção Republicana, não propunha romper com o sistema oligárquico, lista. Os desdobramentos do descontentamento da população em
mas abrir espaço para os grupos dominantes de outros estados, de- relação a Vargas levaram à deflagração da Revolução Constituciona-
safiando o domínio de paulistas e mineiros. No entanto, os resulta- lista, em julho de 1932.
dos das eleições eram previsíveis e Arthur Bernardes saiu vitorioso. Devido à debilidade de suas convicções ideológicas, o tenentis-
Os líderes da Reação Republicana não aceitaram a derrota e mo perdeu muito de sua influência junto ao governo Vargas. Vários
apelaram para os militares - o que fez eclodir a revolta tenentista de seus representantes voltaram para os quartéis, outros se aliaram
no Forte de Copacabana, em 5 de julho de 1922. Arthur Bernardes ao comunismo ou a grupos simpatizantes do fascismo. Os que con-
governou sob estado de sítio, perseguiu o movimento operário e tinuaram no governo permaneceram subordinados ao presidente.
atuou de maneira bastante impopular nas cidades. Em 1926, dissi-
4 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Azevedo, Reinaldo
Seriacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática.

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HISTÓRIA DO BRASIL
Legislação Trabalhista A exemplo do que acontecia na Europa, onde a população geral
A obra pela qual o governo de Getúlio Vargas é mais lembra- estava desacreditada da democracia liberal - o que favorecia o sur-
do é a legislação trabalhista, iniciada com a criação do Ministério gimento de regimes totalitários em diversos países -, surgiram no
do Trabalho, Indústria e Comércio, em novembro de 1930. As leis Brasil grupos que reivindicavam a implantação de uma ditadura de
de proteção ao trabalhador regularam o trabalho de mulheres e direita, semelhante à de Mussolini na Itália.
crianças, estabeleceram jornada máxima de oito horas diárias de Em 1932, foi formada a Ação Integralista Brasileira, de inspi-
trabalho, criaram o descanso semanal remunerado e garantiram o ração fascista, liderada pelo escritor Plínio Salgado e composta de
direito a férias (já concedido anteriormente, em 1923, porém nunca intelectuais, religiosos, alguns ex-tenentistas e setores das classes
colocado em prática) e à aposentadoria, entre outras novidades. médias e da burguesia. Tendo como lema “Deus, Pátria e Família”, o
Esse conjunto de leis seria sistematizado em 1943, com a Con- integralismo era um movimento de caráter nacionalista, antiliberal,
solidação das Leis do Trabalho (CLT). Ao mesmo tempo, em 1931 anticomunista e contrário ao capitalismo financeiro internacional.
0 governo aprovou a Lei de Sindicalização, que estabelecia o con- Os integralistas defendiam o controle do Estado sobre a eco-
trole do Ministério do Trabalho sobre a ação sindical. Os sindica- nomia e o fim de instrumentos democráticos, como a pluralidade
tos passaram a ser órgãos consultivos do poder público; só podiam partidária e a democracia representativa. Nas eleições municipais
funcionar com autorização do Ministério do Trabalho, que, por sua de 1936, os integralistas elegeram vereadores em diversos municí-
vez, tinha poderes de intervenção tão importantes nas atividades pios brasileiros e conquistaram várias prefeituras, entre elas as de
sindicais que podia até afastar diretores. Blumenau (SC) e Presidente Prudente (SP).
Assim, anarquistas e comunistas foram afastados do movimen- A Aliança Nacional Libertadora surgiu em março de 1935, e
to sindical pelo governo e reagiram à lei, considerada autoritária, tinha como presidente de honra o líder comunista Luís Carlos Pres-
por meio de greves e manifestações. Aos poucos, porém, diversos tes. O Partido Comunista do Brasil (PC do B) tinha grande ascendên-
setores sindicais passaram a acatá-la. cia sobre a ANL, mas o movimento reunia em suas fileiras grupos
A legislação trabalhista - apresentada à população como uma de variadas tendências: socialistas, liberais, anti-integralistas, inte-
“dádiva do governo” - e a aproximação em relação aos sindicatos lectuais independentes, estudantes e ex-tenentistas descontentes
faziam parte de um tipo de política que seria caracterizado como com o autoritarismo do governo Vargas. Seu programa político era
populista, anos mais tarde. Apresentado como autor magnânimo nacionalista e anti-imperialista. Entre suas principais bandeiras es-
das leis trabalhistas, Getúlio era chamado de “pai dos pobres”, uma tavam a suspensão do pagamento da dívida externa, a nacionaliza-
espécie de protetor da classe trabalhadora, desconsiderando as ção de empresas estrangeiras e a reforma agrária.
conquistas como resultado das lutas dos trabalhadores. A ANL cresceu rapidamente, chegando a reunir entre 70 mil e
100 mil filiados, segundo estimativas do historiador Robert Levine.
A Constituição de 1934 Quatro meses depois de fundada, foi declarada ilegal pelo presi-
Em 1932, Getúlio Vargas ainda governava sob um regime de dente Vargas.
exceção. Em fevereiro do mesmo ano, o governo aprovou um novo A partir de então, seus militantes passaram a agir na clandes-
Código Eleitoral que trazia algumas novidades: tinidade. Em novembro de 1935, setores da ANL ligados ao PC do
- criava a Justiça Eleitoral, para coibir as fraudes eleitorais; B lideraram, sob orientação da Internacional Comunista, insurrei-
- instituía o voto secreto, principalmente para minar a influên- ções mi- litares nas cidades de Natal, Recife e Rio de Janeiro, com
cia dos coronéis sobre os eleitores (releia o Capítulo 3); o intuito de tomar o poder e implantar o comunismo no Brasil. Mal
- reduzia de 21 anos para 18 a idade mínima do eleitor; articulados, os levantes fracassaram e a Intentona Comunista, como
- garantia o direito de voto às mulheres, antiga reivindicação ficou conhecido o episódio, levou o presidente a decretar estado de
dos grupos feministas, que tinham entre suas principais militantes a sítio e determinar a prisão de mais de 6 mil pessoas - entre as quais
enfermeira Bertha Lutz (1894-1976). um senador e quatro deputados.
Entre os detidos encontravam-se Luís Carlos Prestes (posterior-
Pressionado por diversos setores da sociedade, juntamente mente condenado a dezesseis anos de reclusão) e sua mulher, a
com a divulgação do novo Código Eleitoral, o governo convocou judia alemã Olga Benário. Ela, grávida de sete meses, foi deportada
eleições para maio de 1933, visando à formação de uma Assembleia para a Alemanha nazista em setembro de 1936, onde morreu em
Constituinte. Entre os 254 constituintes eleitos encontrava-se a mé- um campo de concentração em 1942.
dica Carlota Pereira de Queirós, candidata por São Paulo e primeira
deputada do Brasil. Eleições Canceladas
Promulgada em julho de 1934, a nova Constituição incorporou Em meio a esse clima de repressão à esquerda, teve início, em
a legislação trabalhista em vigor, acrescentando a ela a instituição 1937, a campanha eleitoral para a escolha do sucessor de Getúlio
do salário mínimo (que seria criado somente em 1940) e criou o Vargas. O presidente, contudo, articulava sua permanência no po-
Tribunal do Trabalho. Pela nova Carta, analfabetos e soldados conti- der junto às Forças Arma das e aos governadores. No final de 1937,
nuavam proibidos de votar. o capitão integralista Olímpio Mourão Filho elaborou um plano de
Ainda em julho de 1934 os constituintes elegeram Getúlio Var- uma conspiração comunista para a tomada do poder e o entregou à
gas para a Presidência da República, pondo fim ao governo provisó- cúpula das Forças Armadas.
rio. De acordo com a Constituição, o mandato presidencial se esten- Era o Plano Cohen, nome de seu suposto autor. O documen-
deria até 1938, quando um novo presidente escolhido por voto livre to era falso, mas serviu de pretexto para um golpe de Estado. No
e direto assumiria o cargo. dia 10 de novembro de 1937, o presidente ordenou o fechamento
do Congresso por tropas do Exército. Pelo rádio, Vargas declarou
Governo Constitucional de Vargas canceladas as eleições presidenciais e anunciou a instauração do
Os anos 1930 foram marcados por uma forte polarização po- Estado Novo, que ele definiu como “um regime forte, de paz, justiça
lítica, com o surgimento de dois movimentos antagônicos: a Ação e trabalho”.
Integralista Brasileira (AIB), de direita, e a Aliança Nacional Liber- A seguir, foi outorgada uma nova Constituição, que logo pas-
tadora (ANL), de esquerda. saria a ser chamada de Polaca, em alusão a suas semelhanças com
a Constituição polonesa, de inspiração fascista. As garantias indivi-

72
HISTÓRIA DO BRASIL
duais foram suspensas e o direito de reunião, abolido. A população Surgiram então diversos partidos políticos, entre os quais a
ficou proibida de se organizar, reivindicar seus direitos e de ma- União Democrática Nacional (UDN), formada por setores das clas-
nifestar livremente suas opiniões. Sem reação popular, começava ses médias e altas, o Partido Social Democrático (PSD), composto de
uma nova fase do governo getulista: a de uma ditadura declarada, antigos coronéis e interventores nos estados e o Partido Trabalhista
centralizada em torno da figura de Getúlio Vargas. Brasileiro (PTB), constituído por líderes sindicais ligados ao Ministé-
rio do Trabalho, além do Partido Comunista do Brasil (PC do B), que
O Estado Novo voltou a ser legalizado.
Vargas passou a governar por meio de decretos-lei. Todos os Durante a campanha eleitoral, líderes do PTB e de alguns sin-
partidos políticos foram extintos, incluindo a Ação Integralista, que dicatos, com o apoio do Partido Comunista e com o aval do presi-
apoiara o golpe. A ideologia do Estado Novo enfatizava principal- dente, passaram a defender a permanência de Getúlio Vargas na
mente a ideia de reconstrução da nação - pautada na ordem, na Presidência. A expressão “Queremos Getúlio!”, repetida em coro
obediência à autoridade e na aceitação das desigualdades sociais pelos partidários desse grupo, deu nome ao movimento: queremis-
- e a de tutela do Estado sobre a nacionalidade brasileira. mo. Para evitar a permanência de Vargas no poder, os generais Góis
Monteiro e Eurico Gaspar Dutra exigiram sua renúncia.
Departamento de Imprensa e Propaganda Com o afastamento de Getúlio em Outubro de 1945, o Estado
Em 1939, foi criado o Departamento de Imprensa e Propagan- Novo chegava ao fim.
da (DIP), inspirado no serviço de comunicação da Alemanha nazista.
Os agentes do DIP controlavam os meios de comunicação por meio OS PRESIDENTES DO BRASIL DE 1964 À ATUALIDADE
da censura a jornais, revistas, livros, rádio e cinema. Eles também
elaboravam a propaganda oficial do Estado Novo, produzindo peças
publicitárias que mostravam o presidente como uma figura pater- DITADURA MILITAR
nal, bondosa, severa e exigente a fim de agradar à opinião pública.
O DIP elaborava também cine documentários, como o Cine- O Governo Militar de 1964
jornal Brasileiro - exibido obrigatoriamente em todos os cinemas, Desde o início de 1964, as propostas de reformas de base in-
antes do início dos filmes -, livros e cartilhas escolares enaltecendo tensificaram as manifestações de apoio e de repulsa ao governo de
a figura de Vargas e transmitindo noções de patriotismo e civismo. João Goulart. Disseminou-se o medo das reformas5.
Em meio ao ambiente de controle e repressão, a Polícia Espe- Em 31 de marco, o alto escalão de oficiais do Exército, com
cial de Getúlio Vargas ganhou força. Comandada pelo ex-tenentista apoio de vários governadores, como Magalhães Pinto (1909-1996),
Filinto Müller, ela ficou conhecida por suas prisões arbitrárias e pela de Minas Gerais, Carlos Lacerda (1914-1977), da Guanabara, e
prática de tortura contra os presos. Adhemar de Barros (1901-1969), de São Paulo, rebelou-se contra
o governo de Jango.
O Brasil e a Segunda Guerra Mundial
O primeiro passo coube ao general Olímpio Morão Filho, que
Em 1940, Vargas fez um discurso elogiando o sucesso das tropas
mobilizou o exército de Belo Horizonte, o mesmo que, 27 anos
nazistas na Europa. Entretanto, embora se aproximasse dos países
antes, ainda capitão e integralista, havia forjado o famoso Plano
do Eixo por suas posturas autoritárias, o governo de Getúlio Vargas
Cohen. Segundo o pesquisador e historiador Carlos Fico, os revolto-
manteve uma postura ambígua sobre a Segunda Guerra Mundial,
pois mantinha relações econômicas com os Estados Unidos. sos contavam com a Operação Brother Sam, que incluía a possível
Para impedir a influência europeia sobre o Brasil, o governo intervenção planejada pelo embaixador estadunidense Lincoln Gor-
estadunidense pôs em prática a política de boa vizinhança, que se don, associado às elites econômicas, políticas e militares.
manifestou por meio do fim do intervencionismo político e da cola- A operação contava com uma forca tarefa naval estadunidense
boração econômica e militar. O rompimento definitivo com o bloco (porta-aviões, porta-helicópteros, contratorpedeiros) que atuaria
nazifascista ocorreu em 1942, quando navios mercantes brasileiros nas costas brasileiras e incluía a entrega de armas, munições e com-
foram afundados por submarinos alemães. bustível (quatro navios-petroleiros). O plano entraria em ação em
Em agosto daquele ano, após manifestações populares e es- marco.
tudantis exigindo que o governo entrasse no conflito ao lado das Entretanto, o golpe teve um desfecho rápido e sem lutas. Cul-
democracias, Getúlio declarou guerra aos países do Eixo. Em julho minou com a deposição do presidente João Goulart, que deixou
de 1944, aproximadamente 25 mil soldados, integrantes da Força Brasília, dirigiu-se para o Rio Grande do Sul e em seguida para o
Expedicionária Brasileira (FEB) desembarcaram na Itália. Uruguai, onde pediu asilo. Já no dia 12 de abril, o embaixador Lin-
coln Gordon foi avisado de que não era mais necessário o apoio
O Fim do Estado Novo logístico estadunidense. Era o fim de uma experiência republicana
Em 1942, as manifestações estudantis e populares lideradas reformista e o início da ditadura comandada pelos militares.
pela União Nacional dos Estudantes (UNE), a favor da participação Após a deposição do presidente João Goulart, uma junta mili-
do Brasil na guerra contra o nazifascismo, deram início a um lento tar, formada pelo general Artur da Costa e Silva (1899-1969), pelo
processo de distensão no clima sufocante do Estado Novo. Outras brigadeiro Francisco Correia de Melo (1903-1971) e pelo almirante
manifestações ocorreram, agora pelo fim do Estado Novo e pela Augusto Rademaker (1905-1985) foi instalada no poder. A primeira
volta da democracia. medida tomada por essa junta foi a decretação do Ato Institucional
Em 1943, houve o Manifesto dos Mineiros, de um grupo de po- nº 1 (Al-1).
líticos e intelectuais de Minas Gerais durante um congresso da Or- O decreto garantia amplos poderes ao Executivo, como cassar
dem dos Advogados do Brasil (OAB). No início de 1945, foi a vez dos mandatos, suspender direitos políticos, aposentar funcionários ci-
participantes do Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores. Ainda vis e militares e decretar estado de sítio sem autorização do Con-
em 1945, Getúlio pôs fim à censura da imprensa, anistiou presos
gresso. Milhares de brasileiros foram atingidos pelos expurgos, civis
políticos - entre eles, Luís Carlos Prestes - e convocou eleições para
e militares.
uma Assembleia Constituinte.
5 Vicentino, Cláudio. Olhares da História Brasil e Mundo. Cláudio Vicentino. José
Bruno Vicentino. Savério Lavorato Júnior. 1ª ed. São Paulo. Scipione.

73
HISTÓRIA DO BRASIL
Em seguida, o Alto Comando das Forças Armadas indicou para No mesmo dia, foi decretado o fechamento do Congresso por
a Presidência o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco tempo indeterminado. Com a instauração do Al-5, houve o perío-
(1897-1967). Com o golpe de 1964, teve início uma série de gover- do de repressão mais intensa no país. Com os canais democráticos
nos militares que permaneceu no poder até 1985. Nesse período, fechados, uma parcela da oposição partiu para o enfrentamento
as liberdades democráticas foram anuladas e os poderes Legislativo armado, com assaltos a bancos, sequestros e atentados. Nessas
e Judiciário foram submetidos. Também foi uma época em que es- ações, exigia-se a libertação de presos políticos e procurava-se arre-
tados e municípios perderam sua autonomia, passando a ser sim- cadar fundos para o movimento. O esforço pouco adiantou. Alguns
ples executores das decisões federais. anos de- pois, os grupos de luta armada estavam derrotados, com
muitos militantes mortos ou exilados. Quase todos os presos foram
Governo Castelo Branco torturados.
Castelo Branco autorizou inúmeras prisões, interveio em sin- Em agosto de 1969, o presidente Costa e Silva sofreu um der-
dicatos e organizações populares e cassou direitos políticos de rame e ficou impossibilitado de exercer suas funções. O vice-presi-
opositores. Também fechou o Congresso Nacional e criou o Servi- dente, o civil Pedro Aleixo, foi proibido pelos ministros militares de
ço Nacional de Informações (SNI). Decretou o Ato Institucional nº assumira Presidência, que foi ocupada por uma junta militar. A junta
2 (Al-2), que estabeleceu eleições indiretas para a Presidência da permaneceu no poder até outubro do mesmo ano, quando eleições
República e extinguiu os partidos políticos existentes, que foram indiretas foram convocadas para escolher o novo presidente. O
reunidos em duas novas legendas: a Arena (Aliança Renovadora nome do general Emílio Garrastazu Médici (1905-1985), apresen-
Nacional), aliada ao governo, e o MDB (Movimento Democrático tado pelos chefes militares, foi aprovado pelo Congresso, reaberto
Brasileiro), supostamente de oposição. para essa finalidade.
Decretou também o Al-3, que determinou a eleição indireta
dos governadores dos Estados, e o Al-4, que orientou a elabora- O Governo Médici
ção da nova Constituição, outorgada em janeiro de 1967. A Carta Durante o governo Médici, houve um elevado crescimento da
incorporava os atos institucionais e atribuía hegemonia política ao economia, do denominado “milagre econômico”. Antônio Delfim
Executivo. Em 1967, a Lei de Imprensa instaurou a censura aos veí- Netto, então ministro da Fazenda, afirmava que era preciso “fazer
culos de comunicação no país. Na área econômica, o Brasil alinhou- crescer o bolo para depois dividi-lo”. Era a justificativa para estabe-
-se completamente com os Estados Unidos e criou facilidades para lecer políticas de favorecimento e concentração da renda. O desen-
a entrada do capital estrangeiro. volvimento econômico e a propaganda governamental reforçaram
Um exemplo desse alinhamento foi o envio de tropas brasilei- o apoio da classe média ao governo, setor beneficiado pela política
ras à República Dominicana, juntando-se à intervenção militar es- econômica.
tadunidense. No entanto, foi também um período caracterizado pela repres-
são e pela tortura, com forte censura aos meios de comunicação. A
Governo Costa e Silva repressão era justificada peIo crescimento da luta armada contra
o regime. Entre as realizações do governo Médici, destacam-se a
Para a sucessão de Castelo Branco, o Alto Comando Militar in-
construção da rodovia Transamazônica, a conclusão de várias hi-
dicou o ministro da Guerra, marechal Artur da Costa e Silva (1899-
drelétricas e a criação da Telecomunicações Brasileiras (Telebrás) e
1969). Com a economia em crescimento e a manutenção do conge-
do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Em
lamento dos salários dos trabalhadores, surgiram greves, como a de
seu governo também foi aprovada uma emenda constitucional que
Contagem (MG) e a de Osasco (SP). Esta foi reprimida brutalmente,
ampliava os poderes do presidente, cujo mandato se estendeu de
com cerco policial, seguido da atuação dos soldados com metralha-
quatro para cinco anos.
doras e blindados.
Desde antes do completo endurecimento do regime, com o Al-
Ainda no início de seu governo, os protestos de rua contra o 5, opositores de esquerda se preparavam para enfrentar a ditadura
regime ditatorial se intensificaram. Políticos cassados pela ditadu- com a guerrilha. Alguns focos guerrilheiros foram formados: o do
ra, estudantes e trabalhadores de diversas categorias aliaram-se. Araguaia, no Pará, que foi descoberto em 1972 e destruído pelo
A Frente Ampla, por exemplo, nasceu de uma aliança entre Carlos Exército em 1975; o da Serra do Caparaó, em Minas Gerais, e o do
Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart, que buscavam reunir Vale do Ribeira, em São Paulo, que foram derrotados rapidamente.
a oposição contra a ditadura. Este último era chefiado pelo capitão Carlos Lamarca (1937-
Costa e Silva decretou sua ilegalidade e proibiu suas atividades. 1971), que conseguiu fugir da repressão militar e acabou morto no
Em 1968, foram constantes as manifestações estudantis exigindo sertão da Bahia.
a redemocratização do Brasil. O governo respondia aos protestos Outra figura que se destacou nessa forma de atuação arma-
com repressão policial. Em marco de 1968, o estudante Edson Luís da foi Carlos Marighella (1911-1969), líder da Aliança Libertadora
de Lima e Souto foi assassinado durante a invasão militar de um Nacional (ALN). Ele agia na região das grandes capitais e foi morto
restaurante universitário. Cerca de 50 mil pessoas acompanharam numa tocaia por policiais em São Paulo.
o trajeto até o cemitério, transformando o enterro em um ato polí-
tico. Em outubro, foram presos centenas de estudantes e as lideran- Governo Geisel
ças do movimento universitário que participavam do XXX Congres- O presidente eleito indiretamente para substituir Médici foi o
so da UNE em Ibiúna, SP. general Ernesto Geisel (1907-1996). Em seu governo a economia
Nesse quadro, o regime acentuou o processo de fechamento nacional começou a mostrar sinais de dificuldades, associadas ao
político com a edição, em 13 de dezembro de 1968, do Ato Insti- crescimento obtido à custa do capital estrangeiro.
tucional nº 5 (Al-5), pelo qual, entre outras medidas de exceção, o Entre essas dificuldades estava a desigualdade social com ex-
presidente poderia decretar o recesso do Congresso Nacional. Foi a trema concentração de renda e o aumento da dívida externa, que
mais implacável de todas as leis da ditadura: suspendeu a conces- obrigou o pagamento de juros altíssimos, inviabilizando o cresci-
são de habeas corpus e todas e quaisquer garantias constitucionais, mento do pais.
dando ao presidente militar o controle absoluto sobre o destino da
nação.

74
HISTÓRIA DO BRASIL
Assim, enquanto o país conquistava a décima posição na eco- Essa reação foi expressa por meio da violência, com ataques a
nomia mundial, a qualidade de vida de boa parte da população bancas de jornais que vendiam publicações de oposição e atenta-
brasileira continuava em níveis baixíssimos. Parte desse quadro foi dos a entidades civis, entre elas a Ordem dos Advogados do Brasil
agravada pela crise internacional provocada pela alta dos preços do (OAB). O mais sério desses atentados aconteceu em 30 de abril de
petróleo nos países produtores, ocorrida em 1972. 1981, quando militares da linha dura visavam explodir bombas no
Essa crise provocou sérios problemas no Brasil, que importa- Rio- centro, um espaço de convenções da capital carioca, onde se
va, aproximadamente, 80% do petróleo que consumia. A situação realizava um grande festival de música em homenagem ao dia do
continuou se agravando em 1974, primeiro ano do governo Geisel É trabalhador. Uma das bombas explodiu no pátio da miniestação elé-
importante destacar que 1974 foi, também, o ano em que o conser- trica, sem interromper o evento.
vadorismo sofreu derrotas, como a renúncia do presidente Nixon, A outra explodiu acidentalmente dentro de um carro, matando
nos EUA (provocada pelo caso Watergate), e a Revolução dos Cra- o sargento Guilherme Pereira do Rosário (1946-1981) e ferindo gra-
vos, em Portugal, que depôs a ditadura no país. vemente Wilson Dias Machado, um oficial do Exército.
Para contornar a situação econômica, o governo Geisel estimu- O atentado do Riocentro marcou o fim dos embates dos mi-
lou o desenvolvimento do Programa Nacional do Álcool (Pró-Alco- litares da linha dura contra o processo de abertura em curso. No
ol), cujo objetivo era promover ver a utilização de uma fonte de final de 1983, os partidos de oposição começaram uma campanha
energia alternativa ao petróleo. pela eleição direta para presidente da República. O movimento, co-
Foi também durante seu governo que teve início a construção nhecido como Diretas Já, mobilizou o país em manifestações que
de duas das maiores usinas hidrelétricas do mundo: Itaipu e Tu- chegaram a envolver centenas de milhares de pessoas.
curuí. Os impasses criados pelo modelo econômico dos militares O objetivo do movimento era pressionar o Congresso a aprovar
deu margem para o crescimento da oposição e para o início de um uma emenda constitucional que reinstituía as eleições diretas para
processo de abertura política, lenta e gradual, que levaria à rede- presidente. A emenda, porém, foi derrotada por apenas 22 votos,
mocratização do país. numa sessão em que vários parlamentares não compareceram.
Para iniciar a abertura política, o presidente precisou afastar os A escolha do novo presidente seria realizada, mais uma vez,
militares que se opunham a isso, considerados de linha dura e em indiretamente. Formou-se então uma aliança de políticos modera-
posições de comando. A reação da sociedade às mortes por tortura dos favoráveis à abertura. Dois civis concorreram à sucessão presi-
do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, e do operário dencial: Tancredo Neves, da Aliança Democrática, que reunia tanto
Manuel Fiel Filho, em janeiro de 1976, foi decisiva para o processo opositores como colaboradores da ditadura, e Paulo Maluf, do PDS
de abertura política. (antiga Arena). Tancredo Neves venceu, mas não tomou posse.
Em 1978, uma grande greve de metalúrgicos, liderada pelo lí-
Às vésperas da cerimónia, o presidente eleito foi hospitalizado
der sindical Luiz Inácio da Silva, o Lula, teve início na região do ABC,
e faleceu em 21 de abril de 1985. A Presidência, então, foi assumida
em São Paulo. Entre as reivindicações estavam melhores salários
por seu vice, José Sarney, um dos fiéis aliados do regime militar.
e a abertura política. Apesar da forte repressão, outras categorias
O final do governo Figueiredo e a posse de José Sarney marcaram
profissionais aderiram ao movimento, demonstrando o desgaste do
o fim do regime militar. Iniciava-se uma nova fase na vida política
poder autoritário do governo. Antes do término de seu mandato,
brasileira, denominada Nova República.
Geisel revogou o Al-5 e determinou a extinção da censura no Brasil.
A NOVA REPÚBLICA
Governo Figueiredo
O general João Batista Figueiredo (1918-1999) foi escolhido
para a sucessão de Geisel. A divida externa brasileira ultrapassava Transição para a Democracia
os 100 bilhões de dólares e a inflação era mais de 250% ao ano. Gre- O fim da ditadura militar veio acompanhado por um desejo de
ves e agitações políticas apareciam por toda a parte e a imprensa mudança: os brasileiros desejavam a construção de um novo país -
trazia à tona sucessivos escândalos financeiros envolvendo mem- sem autoritarismo, sem corrupção, sem inflação, sem concentração
bros do governo. Dando sequência ao processo de abertura políti- de renda, sem arrocho salarial, sem Injustiças sociais. Em um país
ca, o governo Figueiredo aprovou, em 1979, a Lei de Anistia. ansioso por mudanças, José Sarney, o vice-presidente eleito em
A partir de então, muitos presos políticos foram libertados e 1985, assumiu a presidência, em decorrência da morte de Tancre-
vários brasileiros exilados começaram a retornar ao país. Outra do Neves, com a tarefa de conduzir a transição da ditadura para o
medida de seu governo foi a reforma partidária, que extinguiu a regime democrático6.
Arena e o MDB e autorizou a formação de novos partidos políticos. O Congresso Nacional revogou leis criadas durante o regime
A maioria dos integrantes da Arena passou a compor o Partido De- militar, acabou com a censura aos meios de comunicação e restituiu
mocrático Social (PDS). O MDB deu lugar ao Partido do Movimento aos cidadãos brasileiros o livre exercício de expressão e pensamen-
Democrático Brasileiro (PMDB) e diversas legendas surgiram, como to. O movimento sindical também adquiriu liberdade de acuação,
o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Democrático Trabalhista o que levou à criação de centrais sindicais. Foi instituída, ainda, a
(PDT) e o Par- tido Trabalhista Brasileiro (PTB), entre outros. liberdade de organização partidária, incluindo a legalização dos par-
O fim do bipartidarismo representou a ampliação das liberda- tidos comunistas. Em termos de transição democrática, o governo
des democráticas. Sarney cumpria suas obrigações.
Foram ainda autorizadas eleições diretas para governadores, as Na política externa, o Brasil reatou relações diplomáticas com
primeiras desde 1967. Nas eleições realizadas em 1982, o PDS ven- Cuba e tomou a iniciativa de formar com a Argentina um mercado
ceu em 12 estados, com um total de 18 milhões de votos, e a oposi- comum latino-americano, que, com a adesão do Uruguai e do Para-
ção venceu em dez estados, com 25 milhões de votos. O avanço da guai, daria origem ao Mercado Comum do Sul (Mercosul), em 1991.
oposição também se confirmou no Legislativo: o governo deixou de
ter a maioria na Câmara dos Deputados. Entretanto, ainda estava
previsto que, em 1985, fosse realizada eleição indireta para o cargo
de presidente da República. Vários setores sociais e militares liga-
dos à ditadura reagiram ao processo de abertura política.
6 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São Paulo. Saraiva.

75
HISTÓRIA DO BRASIL
Economia da Nova República direitos civis, políticos e sociais a todos os brasileiros. Com o fim da
A Nova República se deparou com uma pesada herança do regi- ditadura militar, cidadania havia se tornado uma palavra recorrente
me militar: uma enorme dívida externa de cerca de 100 bilhões de no vocabulário brasileiro.
dólares. Sem alternativas, em 1987, o governo decretou moratória; Não por acaso, ao promulgar a nova Constituição, Ulysses Gui-
ou seja, tomou a decisão unilateral de não pagar a dívida. No ano marães a chamou de “Constituicão Cidadã”. De todas as Consti-
seguinte, ela foi renegociada com o Fundo Monetário Internacio- tuições da história do país, ela é a mais avançada no tocante aos
nal (FMI). Outro grave problema era a inflação. Em março de 1985, direitos de cidadania. No âmbito dos direitos políticos, ela garantiu
quando Sarney tomou posse, ela era de 12,7% ao mês. Os traba- eleições diretas em todos os níveis, estendendo o direito ao voto a
lhadores eram os mais prejudicados, pois o salário recebido perdia analfabetos e a maiores de 16 anos, e ampla liberdade de organi-
parte de seu poder aquisitivo já no dia seguinte. zação partidária.
Para enfrentá-la, o governo recorreu a planos de estabilização, A nova Constituição também garantiu os direitos sociais exis-
chamados de choques econômicos. O primeiro foi o Plano Cruzado. tentes até então e incluiu outros, como a licença-paternidade. Na
Adorado em 1986, ele “congelava” os preços de mercadorias, alu- questão dos direitos civis, houve muitos avanços, como o direito
guéis, salários, tarifas públicas e passagens pelo prazo de um ano, à liberdade de expressão, de reunião e de organização. A impren-
além de substituir a moeda do país, que era então o cruzeiro, pelo sa tornou-se livre de qualquer censura, e as liberdades individuais
cruzado. O efeito imediato foi o desejado: uma brusca queda da in- também foram garantidas no texto constitucional.
flação. Com isso os índices de popularidade de Sarney se elevaram. O racismo e a tortura tornaram-se crimes inafiançáveis. A Lei
Aproveitando-se do enorme apoio social, o presidente chegou de Defesa do Consumidor, de 1990, transformou-se em importan-
a convocar os brasileiros pela televisão para ajudar na fiscalização te instrumento de defesa dos cidadãos. Outra importante inovação
do congelamento dos preços. foi a criação dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, facilitando o
Em poucos meses, contudo, o Plano Cruzado começou a des- acesso da população à justiça, também foram ampliados os poderes
moronar. Primeiro, houve o desabastecimento (ausência de ofer- de instituições, como a Defensoria Pública e o Ministério Público.
ta de mercadorias nas lojas), depois, o chamado ágio (a cobrança
de um preço maior do que o tabelado por mercadorias vendidas O Caçador de Marajás
Para a consolidação da transição democrática, restava ainda
clandestinamente). No segundo semestre de 1986, o plano chegou
a tão aguardada eleição presidencial: os brasileiros não elegiam
ao limite. Ainda assim, dada a proximidade das eleições legislativas
presidente da República pelo voto direto havia quase 30 anos. As
e estaduais, marcadas para novembro, Sarney manteve o congela-
esquerdas apresentaram seus candidatos. O do Partido dos Traba-
mento dos preços.
lhadores (PT), na época identificado com um projeto socialista, era
Apostando no sucesso do Plano Cruzado e apoiando Sarney, os
Luiz Inácio Lula da Silva.
brasileiros votaram em peso no PMDB, o partido do governo, que
O Partido Democrático Trabalhista (PDT) apresentou a candi-
elegeu a maioria dos governadores, deputados e senadores. Passa-
datura de Leonel Brizola, herdeiro do projeto trabalhista anterior
dos apenas cinco dias das eleições, Sarney autorizou o reajuste dos
a 1964. Outros candidatos, mais ao centro, foram: Ulysses Guima-
preços e dos impostos. Temendo novos congelamentos, os empre-
rães, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), e
sários aumentaram os preços das mercadorias. Mário Covas, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Os combustíveis, por exemplo, chegaram a ficar 60% mais ca- Partidos de direita e conservadores também concorreram nas
ros. Os índices de popularidade do presidente despencaram. A in- eleições. Contudo, as pesquisas foram rapidamente lideradas por
flação voltou, e os salários novamente perderam parte de seu po- um candidato quase desconhecido: Fernando Collor de Mello, do
der aquisitivo. Greves e manifestações de protesto ocorreram em inexpressivo Partido da Reconstrução Nacional (PRN). Collor havia
várias cidades. Em uma delas, na Companhia Siderúrgica Nacional, feito carreira política no partido da ditadura e ganhara visibilidade
o enfrentamento entre operários e soldados do Exército resultou na no governo de Alagoas, especialmente após o corte de altos salários
morte de três grevistas. Em meio à crise econômica, intensificavam- na máquina administrativa do estado, o que o fez ficar conhecido
-se os conflitos sociais. como “caçador de marajás”.
No campo, os enfrentamentos entre proprietários rurais e tra- Collor recebeu o apoio de grupos econômicos poderosos e
balhadores sem-terra aumentaram. Latifundiários se organizaram também da mídia quando subiu nas pesquisas e se mostrou capaz
na União Democrática Ruralista (UDR), enquanto trabalhadores de derrotar Lula e Brizola nas eleições. Em suas campanhas, Lula de-
rurais formaram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra fendia a anulação da dívida externa e a reforma agrária; Brizola, por
(MST). Atentados - a mando ou não de latifundiários - contra líderes sua vez, ressaltava a necessidade de preservar as empresas estatais
camponeses, padres e sindicalistas tornaram-se comuns. e realizar amplos investimentos em educação; já Collor pregava a
No final da década de 1980, o problema da inflação tornou-se modernização do país e a sua entrada no Primeiro Mundo.
crônico. Em maio de 1987, ela atingiu 23,2%; no final do ano, al- Collor soube aproveitar o desejo de mudança que tomara a
cançou o índice acumulado de 366%. No ano seguinte, a inflação sociedade brasileira logo após o fim da ditadura. Como resultado,
chegou ao nível estratosférico de 933%. O país vivia a hiperinflação. ele obteve 28,52% dos votos, contra 16,08% alcançados por Lula no
Os preços eram reajustados diariamente. De fevereiro de 1989 a primeiro turno das eleições - o que os levou para o segundo turno,
fevereiro de 1990, a inflação atingiu 2751%. Sem ter como controlar como determinava a nova Constituição.
a disparada dos preços, o governo Sarney se limitou a cumprir a Contando com o apoio de amplos setores da sociedade, sobre-
tarefa da transição democrática. tudo dos conservadores, Collor venceu as eleições com dos votos.
Lula, em torno do qual se uniram as esquerdas e as forças conside-
A Constituição de 1988 radas progressistas, recebeu 37,86% dos votos.
Apesar do descontrole da economia. a sociedade brasileira
continuava no caminho da democracia. Em 1988, o então deputado
Ulysses Guimarães. do PMDB. presidiu a sessão em que o Congres-
so Nacional promulgou a nova Constituição, que garantia amplos

76
HISTÓRIA DO BRASIL
A Democracia Resistiu O Plano Real
Na América Latina, o Brasil não era o único país com dificulda- Itamar Franco assumiu a presidência com amplo apoio político
des de pagar sua dívida externa. Em decorrência dessa situação, em no Congresso Nacional. Fernando Henrique Cardoso foi nomeado
fins de 1989, técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI), do ministro da Fazenda em março de 1993. Com um grupo de econo-
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Banco Mun- mistas, ele começou a elaborar um plano para estabilizar a econo-
dial (Bird) reuniram-se em um seminário com economistas latino-a- mia do país. Seguindo as indicações do Consenso de Washington,
mericanos com o objetivo de reorganizar a economia desses países. FHC e sua equipe concluíram que, para alcançar a estabilidade da
As medidas sugeridas ao final do encontro, que aconteceu moeda, era preciso reformar o Estado, reduzir os gastos do governo
em Washington, foram: não interferência do Estado na economia; e privatizar as empresas estatais.
abertura dos mercados nacionais para importações e entrada de Em fevereiro do ano seguinte, o governo criou a Unidade Real
capital estrangeiro; privatização de empresas estatais; equilíbrio do de Valor (URV), atrelando-a ao dólar. Se a arrecadação de impostos
orçamento do Estado, com a diminuição de investimentos na área se mantivesse alta, os gastos na área social fossem reduzidos e as
social, como saúde e educação; e combate à inflação. Esse conjunto grandes reservas em dólar, preservadas, a URV se manteria estável.
de diretrizes ficou conhecido como Consenso de Washington. Em julho de 1994, o governo transformou a URV em uma nova mo-
Fernando Collor assumiu a presidência em 15 de março de eda, o real. Em apenas 15 dias, a inflação caiu drasticamente.
1990, mostrando-se de pleno acordo com o Consenso de Washin- O real equiparou-se ao dólar, obtendo estabilidade. Era o fim
gton e determinado a aplicar o conjunto de diretrizes. Já no dia se- da alta constante e acelerada dos preços, beneficiando os assala-
guinte, anunciou um novo plano de estabilização econômica para riados. Com o sucesso do Plano Real, que conseguiu derrubar a
o país, cuja inflação atingia então 80% ao mês. O Plano Collor, ou inflação, Fernando Henrique Cardoso foi lançado candidato à presi-
Plano Brasil Novo, abrangia uma série de medidas para controlar a dência pela coligação PSDB/PFL. Seu principal adversário era Lula,
inflação e reestruturar o Estado: reforma administrativa com demis- novamente candidato pelo PT.
são de funcionários públicos; abertura comercial ao exterior e ao Exausta da inflação, a sociedade brasileira apoiou a estabiliza-
capital estrangeiro; eliminação dos incentivos fiscais às indústrias; ção monetária e o Plano Real, elegendo FHC já no primeiro turno
liberalização da taxa do dólar; e um programa de privatização das com 54,27% dos votos.
empresas estatais.
O plano também recorria a métodos já conhecidos dos brasi-
Governo FHC
leiros, como o congelamento de preços e salários e a adoção de
Fernando Henrique Cardoso foi eleito e assumiu a presidên-
uma nova moeda. Saía o cruzado novo, voltava o cruzeiro. Havia
cia com o projeto de reduzir o tamanho do Estado e seu papel na
um item no plano, contudo, que ninguém esperava: o confisco dos
economia. Adorando políticas neoliberais, o presidente extinguiu o
depósitos bancários em contas-correntes, aplicações financeiras e
monopólio estatal da exploração e do refino do petróleo pela Petro-
cadernetas de poupança por 18 meses.
bras, eliminou as restrições à entrada de capital estrangeiro no país
O objetivo era estabilizar a economia por meio da retirada de
e implementou reformas administrativas. Era o fim da Era Vargas,
dinheiro do mercado. A medida causou tremendo impacto. Sem di-
nheiro no mercado, os preços desabaram. E a recessão foi quase segundo o próprio FHC.
imediata: falências, brusca queda no consumo e nas vendas, perda Além disso, o governo estabeleceu acordos com o FMI e deu
do poder aquisitivo dos salários, demissões, desemprego. início a um programa de privatização das estatais. Foram leiloadas
Apesar do elevado custo social e econômico que impôs ao país, empresas dos setores siderúrgico, elétrico, químico, petroquímico e
o plano não extinguiu a inflação. Ao contrário do que se previa, a de fertilizantes. O mesmo ocorreu com portos, rodovias e ferrovias.
inflação retornou - e com ferocidade. O Plano Collor foi um total Bancos estaduais e empresas como a Embraer e a Companhia Vale
fracasso. Um ano depois, o governo Collor estava mergulhado na do Rio Doce também foram privatizados.
crise. Ao fracasso do Plano Collor somavam-se denúncias de corrup- Segundo dados do BNDES, entre 1991 e 2002, o governo fe-
ção, abalando ainda mais o governo. O ex-tesoureiro da campanha deral arrecadou cerca de 30 bilhões de dólares com todas essas
presidencial de Collor, Paulo César Farias, mais conhecido como PC vendas - 22 bilhões de dólares somente com a do Sistema Telebras
Farias, foi acusado de chefiar um esquema de corrupção. de Telecomunicações. Com o Plano Real, a inflação estava sob con-
PC Farias arrecadava dinheiro de empresas, facilitava contratos trole. Mas havia um problema: manter o real equivalente ao dólar.
mediante elevadas comissões e, com elas, financiava as despesas A alternativa foi aumentar as taxas de juros e atrair investimen-
pessoais do presidente. As denúncias eram muito graves. Tanto que tos especulativos em dólares. Os juros altos, no entanto, resultaram
foi instituída no Congresso Nacional uma Comissão Parlamentar de em recessão econômica e desemprego. E os recursos arrecadados
Inquérito (CPI) para investigar as acusações. Nas ruas setores orga- com a venda das empresas estatais acabaram sendo utilizados para
nizados da sociedade exigiam o impeachment do presidente. pagar as altas taxas de juros. Foi também no governo FHC que a
Milhares de jovens estudantes com o rosto pintado de verde e emenda à Constituição que dispunha sobre a reeleição para cargos
amarelo, que ficaram conhecidos como caras-pintadas, foram para do Poder Executivo foi aprovada.
as ruas protestar. Além do impeachment do presidente, exigiam o Isso permitiu que o presidente concorresse a um novo manda-
fim da corrupção e a ética na política. Em 29 de setembro de 1992, to nas eleições presidenciais de 1998.
a Câmara dos Deputados aprovou o afastamento de Collor da pre- Nas eleições de 1998, Lula foi novamente o maior adversário
sidência: foram 441 votos a favor e 38 contra. Três meses depois, de Fernando Henrique. Mesmo com a aliança de duas lideranças de
julgado pelo Senado, Collor teve seu mandato e seus direitos po- esquerda - o vice de Lula era Leonel Brizola -, FHC foi reeleito com
líticos cassados por oito anos. Vaga, a presidência da República foi 53% dos votos. Em seu segundo mandato, Fernando Henrique deu
assumida pelo vice, Itamar Franco. continuidade ao Plano Real, preservando a estabilidade da econo-
mia.
A manutenção das taxas de juros altas e a sobrevalorização do
real aumentaram ainda mais a dívida pública nesses quatro anos.
Em 2001, o presidente, que gozava de boa popularidade, teve sua
imagem afetada pelo chamado “apagão”.

77
HISTÓRIA DO BRASIL
Uma seca inesperada esvaziou os reservatórios das hidrelétri- Apesar dos juros altos praticados pelo Banco Central e do con-
cas, resultando em falta de energia elétrica no país. Sem planeja- trole das contas públicas pelo governo, necessários para garantir a
mento e sem investimentos no setor, foi necessário impor racio- estabilidade econômica do país, os investimentos na área de educa-
namento de energia à população. Nos oito anos de governo FHC, ção triplicaram. O governo também investiu em energia e transpor-
medidas importantes foram tomadas, como o Código de Trânsito te; apoiou as indústrias de exportação, obtendo saldos comerciais
Brasileiro ( 1997), a venda de medicamentos genéricos ( 1999), a Lei positivos; e incentivou a internacionalização de muitas empresas.
de Responsabilidade Fiscal (2000), a quebra de patentes de remé- O bom desempenho da agricultura e o aumento do preço de pro-
dios contra a Aids (2001), o Bolsa-escola (2001), o Vale-Gás (2001), dutos primários no mercado internacional beneficiaram o conjunto
entre outras. da economia.
No plano social, o governo deu continuidade ao combate à po-
Mudança de Rumos breza. Além disso, propiciou um aumento real do poder de compra
Com o Plano Real, a sociedade brasileira conheceu a importân- dos trabalhadores, com a oferta de crédito à população e outras
cia da estabilidade da moeda. As políticas neoliberais adoradas por medidas. O resultado foi a criação de 15 milhões de novos empre-
Fernando Henrique resultaram no controle da inflação, mas tam- gos, a ascensão social de milhões de pessoas, o crescimento acen-
bém na alta do desemprego e na perda de diversos direitos sociais. tuado da chamada classe C e o fortalecimento do mercado interno
Ao final de seu segundo mandato havia um novo desejo de mudan- brasileiro.
ça entre os brasileiros. Foi devido ao fortalecimento de seu mercado interno que o
Nas eleições presidenciais de 2002, Lula foi novamente candi- Brasil demonstrou capacidade de resistir à crise mundial que teve
dato pelo PT. Em sua quarta disputa pela presidência, ele deixava origem nos Estados Unidos em fins de 2007. Em meados de 2009,
de lado o discurso socialista dos anos anteriores e apresentava um o país voltou a crescer. Em 2010, o crescimento econômico foi de
programa moderado, buscando o apoio das classes médias e dos 7%. Ao deixar o governo, em 1º de janeiro de 2011, Lula contava
empresários. Contando com amplo apoio político, Lula recebeu com 87% de aprovação entre os brasileiros, segundo pesquisa de
46,4% dos votos no primeiro turno das eleições de 2002, e 61,2% opinião encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes
no segundo turno. (CNT).
O governo Lula optou por dar continuidade à política econômi-
ca de FHC, mantendo a estabilidade da moeda por meio do equilí- Governo Dilma Rousseff
brio fiscal e do controle dos gastos públicos. Como os números mos- Para concorrer à presidência da República nas eleições de 2010,
travam-se bastante favoráveis, a credibilidade do país no mercado o Partido dos Trabalhadores (PT) lançou o nome de Dilma Rousseff,
financeiro internacional cresceu. Apesar dessas semelhanças, ao re- então ministra da Casa Civil do governo Lula. A eleição foi decidida
tomar o nacional-desenvolvimentismo característico da Era Vargas, no segundo turno, com a vitória de Dilma com 56,05% dos votos.
o novo governo mostrou que tinha um projeto político diferente do Dilma, quando jovem, fora presa e torturada pela ditadura
de seu antecessor. militar. Sua vitória representou um grande avanço para a demo-
Nesse sentido, as privatizações foram suspensas e o papel cracia brasileira. Pela primeira vez, uma mulher e ex-integrante da
do Estado, reforçado. A pesquisa científica, por exemplo, recebeu luta armada contra a ditadura assumia o cargo de presidente da
apoio e incentivos financeiros. Na política externa, o governo Lula República. O governo Dilma deu continuidade às políticas sociais
ampliou as relações comerciais e diplomáticas do Brasil com os pa- e desenvolvimentistas do governo Lula, como o programa Minha
íses da União Europeia, da África, da Ásia e da América Latina. O Casa, Minha Vida, e promoveu outros, como o Programa Nacional
reforço do Mercosul também foi uma iniciativa nesse sentido. de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).
No plano social, o governo dedicou-se ao combate da pobreza, No final de 2011, os jornais noticiaram que o Brasil havia se
retirando milhões de pessoas da miséria. Além da criação do Pro- tornado a 6ª maior economia do mundo, ultrapassando a Grã-Bre-
grama Bolsa Família, em que há transferência direta de renda às tanha, então na 7ª posição.
famílias em situação de pobreza, o governo diminuiu os impostos No governo Dilma foi aprovado o Marco Civil da Internet
sobre produtos da cesta básica e materiais de construção e reajus- (2014), foram leiloados campos de petróleo do pré-sal (2013) e foi
tou o salário mínimo acima dos índices de inflação, beneficiando os instituída a Comissão Nacional da Verdade (2012). Sua popularida-
trabalhadores e as camadas mais pobres da população. de manteve-se em alta, mas foi abalada pelos pro- testos que toma-
ram o país em junho de 2013. Ela sofreu críticas pelo baixo cresci
Crise e Reeleição mento do Produto Interno Bruto do país, pela alta da inflação e pe-
Em 2005, no terceiro ano do mandato de Lula, vieram a públi- los gastos com a Copa do Mundo de Futebol realizada no Brasil em
co denúncias de que o governo pagava regularmente a deputados 2014. Ao final de seu primeiro mandato, Dilma Rousseff concorreu
e senadores para que matérias de interesse do Executivo fossem à reeleição. Com dos votos, sua vitória sobre o candidato do PSDB
aprovadas pelo Congresso. O “mensalão”, como o esquema de ar- foi apertada no segundo turno.
recadação de dinheiro ficou conhecido, envolvia empresários, mi- Como no seu primeiro mandato, os gastos públicos aumenta-
nistros de Estado e parlamentares. Em fins de 2012, muitos foram ram demasiadamente, e a ameaça da inflação voltou. O governo,
condenados em julgamento pelo Supremo Tribunal Federal. Mesmo então, adorou política recessiva, cortando drasticamente os gastos
com a queda dos índices de popularidade do governo durante a cri- públicos, o que gerou recessão econômica e perda do poder aqui-
se política, o presidente continuou a contar com o apoio de amplos sitivo da população.
setores da população. A popularidade do PT e do governo Dilma diminuiu e as oposi-
Em 2006, Lula lançou-se à reeleição e foi eleito para um novo ções aumentaram. Inicialmente, grupos radicais de direita pediam
mandato, com a maioria dos votos dos trabalhadores, dos setores a volta da ditadura militar. Depois, passeatas tomaram as grandes
mais pobres da população e de parte significativa das classes mé- cidades, criticando o governo e exigindo a saída de Dilma da presi-
dias. Ao ser novamente empossado presidente, em 2007, Lula tam- dência da República. As investigações da Operação Lava Jato pre-
bém contava com uma ampla coalização de partidos políticos no judicaram a imagem do PT e de Dilma. As denúncias de corrupção
Congresso Nacional. na Petrobras serviram de combustível para aumentar ainda mais os
protestos contra a presidente.

78
HISTÓRIA DO BRASIL
No início de 2016, a sociedade brasileira se encontrava muito Aos 63 anos, capitão reformado do Exército, deputado federal
dividida. No Congresso Nacional, a oposição entrou com pedido de desde 1991 e dono de uma extensa lista de declarações polêmicas,
impeachment, cuja instauração foi aprovada pelo Senado no dia Jair Bolsonaro materializou em votos o apoio que cultivou e am-
12 de maio. Com a decisão, Dilma foi afastada da presidência para pliou a partir das redes sociais e em viagens pelo Brasil para obter o
aguardar o julgamento final pelo Senado. O vice Michel Temer, do mandato de presidente de 2019 a 2022.
PMDB, assumiu como presidente em exercício. Na campanha, por meio das redes sociais e do aplicativo de
Muitos, porém, interpretaram o movimento oposicionista a mensagens WhatsApp, apostou em um discurso conservador nos
Dilma como um golpe contra a democracia e também foram para costumes, de aceno liberal na economia, de linha dura no combate
as ruas protestar. O clima se radicalizou, inviabilizando o diálogo e à corrupção e à violência urbana e opositor do PT e da esquerda.
colocando em risco a capacidade da sociedade de resolver suas di-
ferenças por meio de acordos e negociações políticas.
HISTÓRIA DA BAHIA.INDEPENDÊNCIA DA BAHIA.RE-
VOLTA DE CANUDOS. REVOLTA DOS MALÊS. CONJURA-
Governo Temer
ÇÃO BAIANA. SABINADA
A crise no governo Dilma e o impeachment
Devido à crise política e econômica que se instalou no país, A história da Bahia se confunde com a história do Brasil, pois foi
com a corrução generalizada denunciada pela “Operação Lava-Ja- nessa região que, em 22 de abril de 1500, o português Pedro Álva-
to”, em agosto de 2015, Temer comunicou o seu afastamento da res Cabral avistou as terras, onde hoje se encontra a cidade de Porto
articulação política7. Seguro, dando inicio a colonização europeia na América do Sul.
No dia 2 de dezembro, o presidente da Câmara aceitou a aber- Em 1534 a região começou a ser povoada. A presença dos je-
tura do processo de impeachment da presidente Dilma. suítas foi marcante na história da região. A cidade de Salvador foi
Em março de 2016, o PMDB deixou a base do governo para fundada em 1549, pelo governador geral Tomé de Souza. Salvador
apoiar o processo de impeachment que tramitava na Câmara dos foi a primeira capital do Brasil. A partir de 1573, dividiu esse título
Deputados. com a cidade de Rio de Janeiro, pois a coroa portuguesa resolveu
No dia 17 de abril de 2016, com 367 votos favoráveis e 137 con- estabelecer dois governos no país: o do Norte, cuja capital era Sal-
trários, a Câmara dos Deputados aprovou o relatório do impeach- vador, e o do Sul, cuja capital era o Rio de Janeiro. Essa divisão per-
ment e autorizou o Senado Federal a julgar a presidente por crime maneceu até 1763, quando o Rio de Janeiro passou a ser a única
de responsabilidade. capital do país.
O Senado determinou, em sessão iniciada no dia 11 de maio de Em 1587 a cidade de Salvador foi atacada por piratas ingleses,
2016 e concluída na madrugada do dia 12 de maio, o afastamento sem sucesso. Em 1612 foi a vez dos corsários franceses tentarem a
de Dilma. Na sessão que durou 22 horas, o resultado foi de 55 votos invasão, também sem sucesso.
a favor do afastamento e 22 contra. Nos últimos dias de 1599 foi a vez dos holandeses atentarem
contra a região. As defesas conseguiram impedir o desembarque
A tomada de posse dos holandeses, enquanto foram levantados Fortes para aumentar
No dia 12 de maio de 2016, Michel Temer assumiu interina- a segurança. Porém, em 14 de abril de 1624, as defesas sucumbi-
mente a Presidência do Brasil, se tornando o 37º mandatário da ram, e a esquadra holandesa, formada por aproximadamente 3600
República. Ainda sem receber a faixa presidencial, Temer aguardou homens, saqueou a cidade de Salvador.
até que o Congresso realizasse o julgamento que afastaria definiti- Em 22 de março de 1625 chegou a região uma esquadra por-
vamente a presidente. tuguesa, composta por 52 navios de guerra, entre outras embar-
No dia 31 de agosto de 2016, após a aprovação do impeach- cações, trazendo um exército de mais de 12 mil homens. Em 30
ment da presidente Dilma, Michel Temer tomou posse como Pre- de abril do mesmo ano os holandeses concordam em desocupar
sidente da República, se tornando o 14º a assumir o cargo sem ter a região. Os holandeses voltaram a ameaçar a região por diversas
sido eleito diretamente pelo povo. vezes: em 1640, 1647 e 1654.
Michel Temer foi Presidente do Brasil de 31 de agosto de 2016 A Bahia também foi cenário de outras disputas, como a Conju-
a 31 de dezembro de 2018. ração Baiana, ou Revolta dos Alfaiates (que propôs a formação da
Republica Bahiense, em 1798), a Revolta dos Malês (uma revolta de
Governo Bolsonaro escravos africanos islâmicos, em 1834), a Guerra de Canudos (con-
Jair Messias Bolsonaro, do PSL, foi eleito o 38º presidente da fronto entre o exército republicano e os sertanejos comandados por
República ao derrotar em segundo turno o petista Fernando Ha- Antonio Conselheiro, em 1897-1897).
ddad, interrompendo um ciclo de vitórias do PT que vinha desde Atualmente, a Bahia é o sexto estado mais rico do Brasil. Sua
20028. cultura (música, ritmos, culinária, etc.) carrega muito de sua histó-
A vitória foi confirmada às 19h18, quando, com 94,44% das se- ria.
ções apuradas, Bolsonaro alcançou 55.205.640 votos (55,54% dos
válidos) e não podia mais ser ultrapassado por Haddad, que naque- INDEPENDÊNCIA DA BAHIA
le momento somava 44.193.523 (44,46%). Com 100% das seções A declaração de independência feita por Dom Pedro I, em sete
apuradas, Bolsonaro recebeu 57.797.847 votos (55,13%) e Haddad, de setembro de 1822, deu início a uma série de conflitos entre go-
47.040.906 (44,87%). vernos e tropas locais ainda fiéis ao governo português e as forças
No discurso da vitória, Bolsonaro afirmou que o novo governo que apoiavam nosso novo imperador. Na Bahia, o fim do domínio
será um “defensor da Constituição, da democracia e da liberdade”. lusitano já se fez presente no ano de 1798, ano em que acontece-
ram as lutas da Conjuração Baiana.
No ano de 1821, as notícias da Revolução do Porto reavivaram
7 Dilva Frazão. E-Biografias. https://www.ebiografia.com/michel_temer/. as esperanças autonomistas em Salvador. Os grupos favoráveis ao
8 Guilherme Mazui. G1 Política. https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/ fim da colonização enxergavam na transformação liberal lusitana
noticia/2018/10/28/jair-bolsonaro-e-eleito-presidente-e-interrompe-serie-de-
-vitorias-do-pt.ghtml.

79
HISTÓRIA DO BRASIL
um importante passo para que o Brasil atingisse sua independência. Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/independencia-bahia.
No entanto, os liberais de Portugal restringiam a onda mudancista htm
ao Estado português, defendendo a reafirmação dos laços coloniais.
As relações entre portugueses e brasileiros começaram a se REVOLTA DE CANUDOS
acirrar, promovendo uma verdadeira cisão entre esses dois grupos
presentes em Salvador. Meses antes da independência, grupos po- Guerra dos Canudos
líticos se articulavam pró e contra essa mesma questão. No dia 11 A chamadaGuerra de Canudos,revolução de Canudosouinsur-
de fevereiro de 1822, uma nova junta de governo administrada pelo reição de Canudos, foi o confronto entre um movimento popular de
Brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo deu vazão às disputas, já fundo sócio-religioso e o Exército da República, que durou de 1896
que o novo governador da cidade se declarava fiel a Portugal. a 1897, na então comunidade de Canudos, no interior do estado da
Utilizando autoritariamente as tropas a seu dispor, Madeira de Bahia, no Brasil.
Melo resolveu inspecionar as infantarias, de maioria brasileira, no O episódio foi fruto de uma série de fatores como a grave crise
intuito de reafirmar sua autoridade. A atitude tomada deu início econômica e social em que encontrava a região à época, histori-
aos primeiros conflitos, que se iniciaram no dia 19 de fevereiro de camente caracterizada pela presença de latifúndios improdutivos,
1822, nas proximidades do Forte de São Pedro. Em pouco tempo, as situação essa agravada pela ocorrência de secas cíclicas, de desem-
lutas se alastraram para as imediações da cidade de Salvador. Mer- prego crônico; pela crença numa salvação milagrosa que pouparia
cês, Praça da Piedade e Campo da Pólvora se tornaram os principais os humildes habitantes do sertão dos flagelos do clima e da exclu-
palcos da guerra. são econômica e social.
Nessa primeira onda de confrontos, as tropas lusitanas não só
enfrentaram militares nativos, bem como invadiram casas e ataca-
ram civis. O mais marcante episódio de desmando ocorreu quan-
do um grupo português invadiu o Convento da Lapa e assassinou
a abadessa Sóror Joana Angélica, considerada a primeira mártir do
levante baiano. Mesmo com a derrota nativista, a oposição ao go-
verno de Madeira de Melo aumentava.
Durante as festividades ocorridas na procissão de São José, de
21 de março de 1822, grupos nativistas atiraram pedras contra os
representantes do poderio português. Além disso, um jornal cha-
mado “Constitucional” pregava oposição sistemática ao pacto co-
lonial e defendia a total soberania política local. Em contrapartida,
novas forças subordinadas a Madeira de Melo chegavam a Salvador,
instigando a debandada de parte da população local.
Tomando outros centros urbanos do interior, o movimento
separatista ganhou força nas vilas de São Francisco e Cachoeira.
Ciente destes outros focos de resistência, Madeiro de Melo enviou
tropas para Cachoeira. A chegada das tropas incentivou os líderes
políticos locais a mobilizarem a população a favor do reconheci-
mento do príncipe regente Dom Pedro I. Tal medida verificaria qual
a postura dos populares em relação às autoridades lusitanas recém-
-chegadas.
O apoio popular a Dom Pedro I significou uma afronta à autori-
dade de Madeira de Melo, que mais uma vez respondeu com armas
ao desejo da população local. Os brasileiros, inconformados com
a violência do governador, proclamaram a formação de uma Junta
Conciliatória e de Defesa instituída com o objetivo de lutar contra o
poderio lusitano. Os conflitos se iniciaram em Cachoeira, tomaram
outras cidades do Recôncavo Baiano e também atingiram a capital
Salvador. Inicialmente, em Canudos, os sertanejos não contestavam o
As ações dos revoltosos ganharam maior articulação com a regime republicano recém-adotado no país; houve apenas mobi-
criação de um novo governo comandado por Miguel Calmon do Pin lizações esporádicas contra a municipalização da cobrança de im-
e Almeida. Enquanto as forças pró-independência se organizavam postos. A imprensa, o clero e os latifundiários da região incomo-
pelo interior e na cidade de Salvador, a Corte Portuguesa enviou daram-se com uma nova cidade independente e com a constante
cerca de 750 soldados sob a lideranaça do general francês Pedro La- migração de pessoas e valores para aquele novo local passaram a
batut. As principais lutas se engendraram na região de Pirajá, onde acusá-los disso, ganhando, desse modo, o apoio da opinião pública
independentes e metropolitanos abriram fogo uns contra os outros. do país para justificar a guerra movida contra o arraial de Canudos
Devido à eficaz resistência organizada pelos defensores da in- e os seus habitantes.
dependência e o apoio das tropas lideradas pelo militar britânico Aos poucos, construiu-se em torno de Antônio Conselheiro e
Thomas Cochrane, as tropas fiéis a Portugal acabaram sendo derro- seus adeptos uma imagem equivocada de que todos eram “perigo-
tadas em 2 de julho de 1823. O episódio, além de marcar as lutas de sos monarquistas” a serviço de potências estrangeiras, querendo
independência do Brasil, motivou a criação de um feriado onde se restaurar no país o regime imperial, devido, entre outros ao fato de
comemora a chamada Independência da Bahia. o Exército Brasileiro sair derrotado em três expedições, incluindo
Por Rainer Sousa uma comandada pelo Coronel Antônio Moreira César, também co-
Graduado em História

80
HISTÓRIA DO BRASIL
nhecido como “corta-cabeças” pela fama de ter mandado executar O governo da República, recém-instalado, queria dinheiro para
mais de cem pessoas na repressão à Revolução Federalista em San- materializar seus planos, e só se fazia presente pela cobrança de
ta Catarina, expedição que contou com mais de mil homens. impostos. Para Conselheiro e para a maioria das pessoas que viviam
A derrota das tropas do Exército nas primeiras expedições con- nesta área, o mundo estava próximo do fim. Com estas ideias em
tra o povoado apavorou o país, e deu legitimidade para a perpetra- mente, Conselheiro reunia em torno de si um grande número de
ção deste massacre que culminou com a morte de mais de seis mil seguidores que acreditavam que ele realmente poderia libertá-los
sertanejos. Todas as casas foram queimadas e destruídas. da situação de extrema pobreza ou garantir-lhes a salvação eterna
Canudos era uma pequena aldeia que surgiu durante o século na outra vida.
18 às margens do rio Vaza-Barris. Com a chegada de Antônio Conse-
lheiro em 1893 passou a crescer vertiginosamente, em poucos anos Campanha militar
chegando a contar por volta de 25 000 habitantes. Antônio Conse- A primeira reação oficial do governo da Bahia deu-se em ou-
lheiro rebatizou o local de Belo Monte, apesar de estar situado num tubro de 1896, quando as autoridades de Juazeiro apelaram para
vale, entre colinas. o governo estadual baiano em busca de uma solução. Este, em no-
A situação na região, à época, era muito precária devido às vembro, mandou contra o arraial um destacamento policial de cem
secas, à fome, à pobreza e à violência social. Esse quadro, soma- praças, sob o comando do tenente Manuel da Silva Pires Ferreira.
do à elevada religiosidade dos sertanejos, deflagrou uma série de Os conselheiristas, vindo ao encontro dos atacantes, surpreende-
distúrbios sociais, os quais, diante da incapacidade dos poderes ram a tropa em Uauá, em 21 de novembro, obrigando-a a se retirar
constituídos em debelá-los, conduziram a um conflito de maiores com vários mortos. Enquanto aguardavam uma nova investida do
proporções. governo, os jagunços fortificavam os acessos ao arraial.
Comandada pelo major Febrônio de Brito, em janeiro de 1897,
depois de atravessar a serra de Cambaio, uma segunda expedição
militar contra Canudos foi atacada no dia 18 e repelida com pesadas
baixas pelos jagunços, que se abasteciam com as armas abandona-
das ou tomadas à tropa. Os sertanejos mostravam grande coragem
e habilidade militar, enquanto Antônio Conselheiro ocupava-se da
esfera civil e religiosa.
Na capital do país, o governo federal ante este fato e a pres-
são de políticos florianistas que viam em Canudos um perigoso foco
monarquista, assumiu a repressão, preparando a primeira expe-
dição regular, cujo comando confiou ao coronel Antônio Moreira
César. A notícia da chegada de tropas militares à região atraiu para
lá grande número de pessoas, que partiam de várias áreas do Nor-
deste e iam em defesa do “homem Santo”. Em 2 de março, depois
de ter sofrido pesadas baixas, causadas pela guerra de guerrilhas
na travessia das serras, a força, que inicialmente se compunha de
1.300 homens, assaltou o arraial. Moreira César foi mortalmente
Povoação de Canudos, Bahia, Brasil. ferido e passou o comando para o coronel Pedro Nunes Batista Fer-
reira Tamarindo. Abalada, a expedição foi obrigada a retroceder.
A figura de Antônio Conselheiro Entre os chefes militares sertanejos destacaram-se Pajeú, Pedrão,
Antônio Vicente Mendes Maciel, apelidado de “Antônio Con- que depois comandou os conselheiristas na travessia de Cocorobó,
selheiro”, nascido em Quixeramobim (CE) a 13 de março de 1830, Joaquim Macambira e João Abade, braço direito de Antônio Conse-
de tradicional família que vivia nos sertões entre Quixeramobim e lheiro, que comandou os jagunços em Uauá.
Boa Viagem, fora comerciante, professor e advogado prático nos No Rio de Janeiro, a repercussão da derrota foi enorme, prin-
sertões de Ipu e Sobral. cipalmente porque se atribuía ao Conselheiro a intenção de res-
Após a sua esposa tê-lo abandonado em favor de um sargento taurar a monarquia. Jornais monarquistas foram empastelados e
da força pública, passou a vagar pelos sertões em uma andança de Gentil José de Castro, gerente de dois deles, assassinado. Em abril
vinte e cinco anos. Chegou a Canudos em 1893, tornando-se líder de 1897 então, providenciou-se a quarta e última expedição, sob o
do arraial e atraindo milhares de pessoas. Acreditava que era um comando do general Artur Oscar de Andrade Guimarães, composta
enviado de Deus para acabar com as diferenças sociais e com a co- de duas colunas, comandadas pelos generais João da Silva Barbosa
brança de tributos. e Cláudio do Amaral Savaget, ambas com mais de quatro mil solda-
Acreditava ainda que a “República” (então recém-implantada dos equipados com as mais modernas armas da época. No decorrer
no país) era a materialização do reino do “Anti-Cristo” na Terra, uma da luta, o próprio ministro da Guerra, marechal Carlos Machado
vez que o governo laico seria uma profanação da autoridade da Bittencourt, seguiu para o sertão baiano e se instalou em Monte
Igreja Católica para legitimar os governantes. A cobrança de impos- Santo, base das operações.
tos efetuada de forma violenta, a celebração do casamento civil, a O primeiro combate verificou-se em Cocorobó, em 25 de ju-
separação entre Igreja e Estado eram provas cabais da proximidade nho, com a coluna Savaget. No dia 27, depois de sofrerem perdas
do “fim do mundo”. consideráveis, os atacantes chegaram a Canudos. Após várias ba-
A escravidão havia acabado poucos anos antes no país, e pelas talhas, a tropa conseguiu dominar os jagunços, apertando o cerco
estradas e sertões, grupos de ex-escravos vagavam, excluídos do sobre o arraial. Depois da morte de Conselheiro (supõe-se que em
acesso à terra e com reduzidas oportunidades de trabalho. Assim decorrência da desinteria), em 22 de setembro, parte da população
como os caboclos sertanejos, essa gente paupérrima agrupou-se de mulheres, crianças e idosos foi colocada à disposição das tropas
em torno do discurso do peregrino “Bom Jesus” (outro apelido de federais, enquanto um último reduto resistia na praça central do
Conselheiro), que sobrevivia de esmolas, e viajava pelo Sertão. povoado.

81
HISTÓRIA DO BRASIL
Em tal momento de rendição, há relatos de que foi instituída, REVOLTA DOS MALÉS
suspeitadamente por oficiais de baixa patente do exército, o que se
denominou de pena da “gravata vermelha” - execução sumária de Introdução
prisioneiros já subjugados, que eram posicionados de joelhos e de- A Revolta dos Malês foi um movimento que ocorreu na cidade
golados. Estima-se que parte da população civil rendida, que ainda de Salvador (província da Bahia) entre os dias 25 e 27 de janeiro de
não havia sido dizimada pela fome e pelas doenças no arraial, e não 1835. Os principais personagens desta revolta foram os negros islâ-
somente os prisioneiros combatentes, tenha sido executada dessa micos que exerciam atividades livres, conhecidos como negros de
forma por tropas federais, o que constituiu num dos maiores crimes ganho (alfaiates, pequenos comerciantes, artesãos e carpinteiros).
já praticados em território brasileiro. Apesar de livres, sofriam muita discriminação por serem ne-
O arraial resistiu até 5 de outubro de 1897, quando morreram gros e seguidores do islamismo. Em função destas condições, en-
os quatro derradeiros defensores. O cadáver de Antônio Conselhei- contravam muitas dificuldades para ascender socialmente.
ro foi exumado e sua cabeça decepada a faca. No dia 6, quando o
arraial foi arrasado e incendiado, o Exército registrou ter contado Causas e objetivos da revolta
5.200 casebres. Os revoltosos, cerca de 1500, estavam muito insatisfeitos com
a escravidão africana, a imposição do catolicismo e com a precon-
Consequências da Guerra dos Canudos ceito contra os negros. Portanto, tinham como objetivo principal
à libertação dos escravos. Queriam também acabar com o catoli-
cismo (religião imposta aos africanos desde o momento em que
chegavam ao Brasil), o confisco dos bens dos brancos e mulatos e a
implantação de uma república islâmica.

Desenvolvimento da revolta
De acordo com o plano, os revoltosos sairiam do bairro de Vi-
tória (Salvador) e se reuniriam com outros malês vindos de outras
regiões da cidade. Invadiriam os engenhos de açúcar e libertariam
os escravos. Arrecadaram dinheiro e compraram armas para os
combates. O plano do movimento foi todo escrito em árabe.

Fim da revolta
Uma mulher contou o plano da revolta para um Juiz de Paz de
Salvador. Os soldados das forças oficiais conseguiram reprimir a
revolta. Bem preparados e armados, os soldados cercaram os re-
Antônio Conselheiro morto, em sua única foto conhecida. voltosos na região da Água dos Meninos. Violentos combates acon-
teceram. No conflito morreram sete soldados e setenta revoltosos.
O conflito de Canudos mobilizou aproximadamente doze mil Cerca de 200 integrantes da revolta foram presos pelas forças ofi-
soldados oriundos de dezessete estados brasileiros, distribuídos em ciais. Todos foram julgados pelos tribunais. Os líderes foram conde-
quatro expedições militares. Em 1897, na quarta incursão, os mili- nados a pena de morte. Os outros revoltosos foram condenados a
tares incendiaram o arraial, mataram grande parte da população trabalhos forçados, açoites e degredo (enviados para a África).
e degolaram centenas de prisioneiros. Estima-se que morreram ao O governo local, para evitar outras revoltas do tipo, decretou
todo por volta de 25 mil pessoas, culminando com a destruição to- leis proibindo a circulação de muçulmanos no período da noite bem
tal da povoação. como a prática de suas cerimônias religiosas.

Curiosidade:
- O termo “malê” é de origem africana (ioruba) e significa “o
muçulmano”.
Fonte: https://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/revolta_dos_
males.htm

População sobrevivente do conflito em Canudos

Dica de filme e livro: A Guerra de Canudos foi imortalizada por


Euclides da Cunha na sua obra Os Sertões, publicada em 1902, e
que inspirou Mario Vargas Llosa a escrever seu romance “A Guerra
do Fim do Mundo”, 1980. Além disso, a guerra inspirou muitos fil-
mes, entre eles o de longa-metragem Guerra de Canudos, de Sérgio
Rezende, 1997.
Fonte: https://www.sohistoria.com.br/ef2/canudos/p1.php

82
HISTÓRIA DO BRASIL
CONJURAÇÃO BAIANA. As ideias
Conjuração Baiana - 1798 - Bahia Os revoltosos pregavam a libertação dos escravos, a instaura-
ção de um governo igualitário, onde as pessoas fossem vistas de
A Conjuração Baiana, também denominada como Revolta dos acordo com a capacidade e merecimento individuais, além da ins-
Alfaiates (uma vez que seus líderes exerciam este ofício), foi um mo- talação de uma República na Bahia e da liberdade de comércio e
vimento de caráter emancipacionista, ocorrido no ocaso do século o aumento dos salários dos soldados. Tais ideias eram divulgadas,
XVIII, na então Capitania da Bahia, no Estado do Brasil. Diferente- sobretudo pelos escritos do soldado Luiz Gonzaga das Virgens e
mente da Inconfidência Mineira (1789), se reveste de caráter po- panfletos de Cipriano Barata, médico e filósofo.
pular.
A revolta
Em 12 de Agosto de 1798, o movimento precipitou-se quan-
do alguns de seus membros, distribuindo os panfletos na porta das
igrejas e colando-os nas esquinas da cidade, alertaram as autorida-
des que, de pronto, reagiram, detendo-os. Tal como na Conjuração
Mineira, interrogados, acabaram delatando os demais envolvidos.
Um desses panfletos declarava:
“Animai-vos Povo baiense que está para chegar o tempo feliz
da nossa Liberdade: o tempo em que todos seremos irmãos: o tem-
po em que todos seremos iguais.” (in: RUY, Afonso.A primeira revo-
lução social do Brasil. p. 68.)

Líderes da Conjuração Baiana


Entre as lideranças do movimento, destacaram-se os alfaiates
João de Deus do Nascimento e Manuel Faustino dos Santos Lira
Praça da Piedade, local da execução dos conjurados (este com apenas 18 anos de idade), além dos soldados Lucas Dan-
tas e Luiz Gonzaga das Virgens.
As ruas de Salvador foram tomadas pelos revolucionários Luiz
Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas que iniciaram a panfletagem
como forma de obter mais apoio popular e incitar à rebelião. Os
panfletos difundiam pequenos textos e palavras de ordem, com
base naquilo que as autoridades coloniais chamavam de “abomi-
náveis princípios franceses”. A Revolta dos Alfaiates foi fortemente
influenciada pela fase popular da Revolução Francesa.

A repressão
A violenta repressão metropolitana conseguiu estagnar o movi-
mento, que apenas iniciava-se, detendo e torturando os primeiros
suspeitos. Governava a Bahia nessa época (1788-1801) D. Fernando
José de Portugal e Castro, que encarregou o coronel Alexandre Te-
otônio de Souza de surpreender os revoltosos. Com as delações, os
Reunião dos Cavaleiros da Luz discutindo o fim da opressão co- principais líderes foram presos e o movimento, que não chegou a se
lonial. concretizar, foi totalmente desarticulado.
Durante a fase de repressão, centenas de pessoas foram de-
Para compreender a deflagração do movimento, devemos nos nunciadas - militares, clérigos, funcionários públicos e pessoas de
reportar à transferência da capital para o Rio de Janeiro, em 1763. todas as classes sociais. Destas, quarenta e nove foram detidas, a
Com tal mudança, Salvador (antiga capital) sofreu com a perda dos maioria tendo procurado abjurar a sua participação, buscando de-
privilégios e a redução dos recursos destinados à cidade. Somado monstrar inocência.
a tal fator, o aumento dos impostos e exigências colônias vieram a Após o processo de julgamento, os mais pobres como Manuel
piorar sensivelmente as condições de vida da população local. Faustino e João de Deus do Nascimento, Luiz Gonzaga e Lucas Dan-
A população pobre sofria com o aumento do custo de vida, com tas foram condenados à morte por enforcamento, sendo executa-
a escassez de alimentos e com o preconceito racial. As agitações dos no Largo da Piedade a 8 de novembro de 1799. Outros, como
eram constantes. Entre 1797 e 1798 ocorreram vários saques aos Cipriano Barata, o tenente Hernógenes d’Aguilar e o professor Fran-
armazéns do comércio de Salvador, e até os escravos que levavam cisco Moniz foram absolvidos. Os pobres Inácio da Silva Pimentel,
a carne para o general-comandante foram assaltados. A população Romão Pinheiro, José Félix, Inácio Pires, Manuel José e Luiz de Fran-
faminta roubava carne e farinha. Em inícios de 1798, a forca, sím- ça Pires foram acusados de envolvimento “grave”, recebendo pena
bolo do poder colonial, foi incendiada. O descontentamento crescia de prisão perpétua ou degredo na África. Já os elementos perten-
também nos quartéis, onde incidentes envolvendo soldados e ofi- centes à loja maçônica “Cavaleiros da Luz” foram absolvidos dei-
ciais tornavam-se frequentes. Havia, portanto, nesse clima tenso, xando clara que a pena pela condenação, correspondia à condição
condições favoráveis para a circulação das ideias de Igualdade, Li- sócio-econômica e à origem racial dos condenados. A extrema du-
berdade e Fraternidade. reza na condenação aos mais pobres, que eram negros e mulatos,
é atribuída ao temor de que se repetissem no Brasil as rebeliões de
negros e mulatos que, na mesma época, atingiam as Antilhas.

83
HISTÓRIA DO BRASIL
Conclusão A Bahia, o maior e mais populoso estado do Nordeste brasilei-
A Conjuração Baiana não conseguiu atingir seus objetivos, mas ro, tem uma história longa e estritamente atrelada com a história
podemos mostrar, através dela, que naquela época a população já do Brasil, desde seus primórdios. Foi o primeiro local de chegada
buscava tornar-se uma sociedade justa e ter seus direitos de cida- dos portugueses em 1500 e seguiu com grande importância política
dãos. e econômica pelos próximos séculos e cada nova era do país.
Pedro Álvares Cabral chegou com sua esquadra no dia 22 de
O movimento envolveu indivíduos de setores urbanos e margi- abril de 1500 ao litoral sul da Bahia, em uma região atualmente
nalizados na produção da riqueza colonial, que se revoltaram contra conhecida como Porto Seguro. Desse período até o período repu-
o sistema que lhes impedia perspectivas de ascensão social. O seu blicano, após a Independência do Brasil, a Bahia passou por grandes
descontentamento voltava-se contra a elevada carga de impostos mudanças, justificadas de acordo com o progresso do país.
cobrada pela Coroa portuguesa e contra o sistema escravista co-
lonial, o que tornava as suas reivindicações particularmente per- Colonização e capitanias hereditárias
turbadoras para as elites. A revolta resultou em um dos projetos Na primeira metade do século XVI a região passou a ser povoa-
mais radicais do período colonial, propondo idealmente uma nova da, ao mesmo tempo em que as capitanias hereditárias foram cria-
sociedade igualitária e democrática. Foi barbaramente punida pela das e implantadas. As capitanias eram um sistema de administração
Coroa de Portugal. Este movimento, entretanto, deixou profundas de Portugal, que dispunha de recursos limitados e se restringia a um
marcas na sociedade soteropolitana, a ponto tal que o movimen- dirigente, nomeado pela Coroa Portuguesa. Entre 1534 e 1566, fo-
to emancipacionista eclodiu novamente, em 1821, culminando na ram formadas capitanias nos territórios da Bahia, de Porto Seguro e
guerra pela Independência da Bahia, concretizada em 2 de julho de de Ilhéus. A capitania da Bahia, cujo donatário era Francisco Pereira
1823, formando parte da nação que se emancipara a 7 de setembro Coutinho, veio a ser vendida para a Coroa após a morte do mesmo,
do ano anterior, sob império de D. Pedro I. em 1549. Então foi fundada a cidade de Salvador, para servir de
Fonte: https://www.sohistoria.com.br/ef2/conjuracao/ primeira capital do Brasil e sede do governo-geral.
As outras capitanias foram, aos poucos durante os próximos
SABINADA séculos, unindo-se para formar o que hoje conhecemos como o
estado da Bahia. A de Porto Seguro seguiu sendo transferida de
Introdução herdeiro a herdeiro até o último, enquanto que a de Ilhéus teve
A Sabinada foi uma revolta feita por militares, integrantes da de ser unificada por meios judiciais. Outras capitanias, como as de
classe média (profissionais liberais, comerciantes, etc) e rica da Paraguaçu e das Ilhas de Itaparica e Tamarandiva, uniram-se através
Bahia. A revolta se estendeu entre os anos de 1837 e 1838. Ganhou da compra pela Coroa Portuguesa.
este nome, pois seu líder foi o jornalista e médico Francisco Sabino Além das capitanias, a região da Bahia também foi explorada
Álvares da Rocha Vieira. devido a grande quantidade de pau-brasil e cada vez mais expedi-
ções aconteciam para descobrir o interior e outros locais (que se
Causas da Sabinada tornariam os estados vizinhos do Nordeste). Essas expedições eram
Os revoltosos eram contrários às imposições políticas e admi- chamadas de Entradas e tinham como maior objetivo o reconheci-
nistrativas impostas pelo governo regencial. Estavam profundamen- mento e povoamento da região, o que ajudou também a demarcar
te insatisfeitos com as nomeações de autoridades para o governo o território da Bahia em contrapartida com o de outros estados.
da Bahia, realizadas pelo governo regencial. Durante esse período, a economia da Bahia era principalmen-
O estopim da revolta ocorreu quando o governo regencial de- te focada no pau-brasil, devido a suas possibilidades de uso como
cretou recrutamento militar obrigatório para combater a Guerra pau de tinta na Europa, mas também teve um impacto significativo
dos Farrapos, que ocorria no sul do país. da venda de madeiras para construção civil. Ao mesmo tempo, as
missões jesuíticas que pretendiam atingir os índios de todos os ter-
Objetivos ritórios, seguiram em frente até seu impedimento pela Carta Régia
Os revoltosos queriam mais autonomia política e defendiam a de 1755, por meio da criação de vilas para separar os índios dos
instituição do federalismo republicano, sistema que daria mais au- padres.
tonomia política e administrativa às províncias. Durante o século XVII, a Bahia sofreu algumas invasões. Ingle-
ses e holandeses tentaram conquistar e manter controle da região,
República Bahiense por vezes conseguindo durante até um ano, como foi o caso da Ho-
Com o apoio de vários integrantes do exército, os revoltosos landa. Para amenizar as invasões, que chegavam por Porto Seguro,
foram para as ruas e tomaram vários quartéis militares. No dia 7 o então governador Diogo Luís de Oliveira ordenou a construção de
de novembro de 1837, tomaram o poder em Salvador (capital). De- um forte no Morro de São Paulo em 1631. Depois da construção de
cretaram a República Bahiense, que, de acordo com os líderes da outro forte, a Bahia se tornou uma referência no que diz respeito à
revolta, deveria durar até D. Pedro II atingir a maioridade. resistência a invasões na época colonial.

Repressão e como terminou Independência, era imperial e era republicana


O governo central, sob a regência de regente Feijó, enviou tro- Salvador continuou sendo a capital do país até 1763, quando
pas para a região e reprimiu o movimento com força total. A cidade o título foi transferido para o Rio de Janeiro. Ainda assim, a Bahia
de Salvador foi cercada e retomada. Muita violência foi usada na teve grande peso nas lutas e decisões futuras, tendo começado a
repressão. Centenas de casas de revoltosos foram queimadas pelas formar um governo provisório ao mesmo tempo em que lutas e
forças militares do governo. motins ocorriam em diversos territórios nacionais. Esse governo
Entre revoltosos e integrantes das forças do governo, ocorre- foi comandado pelo Marquês de Abrantes e polvilhado de batalhas
ram mais de 2 mil mortes durante a revolta. Mais de 3 mil revolto- contra tropas portuguesas, contando, inclusive, com a participação
sos foram presos. Assim, em março de 1838, terminava mais uma de voluntários baianos e dos arredores do estado.
rebelião do período regencial.
Fonte: https://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/sabinada.htm

84
HISTÓRIA DO BRASIL
Durante o período imperial, o território original da Bahia foi 2. FCC - Defensor Público do Estado da Bahia/2016
sendo renomeado conforme a povoação e refugiados de conflitos Considere os dois excertos a seguir:
aumentava ou diminuía, transformando algumas vilas em cidades e
outras em junção territorial. I. (...) as sociedades de estamentos, em geral, apresentam uma
Após a Proclamação da República, em 1889, a Bahia seguiu par- mobilidade mínima, tanto horizontal quanto vertical. A sociedade
ticipando ativamente da vida política do Brasil. Foi lá que ocorreu colonial, ao contrário, configura uma sociedade estamental com
um dos maiores e mais sangrentos conflitos da História brasileira, a grande mobilidade, e é essa conjunção surpreendente e mesmo
Guerra de Canudos. O confronto entre o movimento popular de An- paradoxal de clivagem com movimentação que marca a sua origi-
tônio Conselheiro e o Exército Brasileiro se desenrolou entre 1896 e nalidade.
1897 e culminou na morte de mais de 20 mil sertanejos e até cinco
mil militares. (NOVAIS, Fernando. “Condições da privacidade na colônia”. In:
Outros grandes momentos históricos continuaram a acontecer MELLO e SOUZA, Laura (org). História da vida privada no Brasil, v. I:
na Bahia, como o bombardeio de Salvador de 1912 e a fundação do cotidiano e vida privada na América Portuguesa. São Paulo: Compa-
Partido Republicano Baiano em 1927. nhia das Letras, 1997. p. 30)

Atualmente, a Bahia possui as seguintes características: II. (...) cristalizaram-se na América Portuguesa múltiplas ma-
nifestações de religiosidade privada. A abundante diversidade (...)
• Quarta maior população do Brasil (15.276.566); explica-se antes de mais nada, pela multiplicidade dos estoques cul-
• Sétimo maior PIB do Brasil (R$204.265.000); turais presentes desde os primórdios da conquista e ocupação do
• Quinta maior área territorial do Brasil (564.733.177 km²); Novo Mundo, onde centenas de etnias indígenas e africanas presta-
• A capital do estado, Salvador, tem quase três milhões de ha- vam culto a panteões os mais diversos.
bitantes;
• Os municípios baianos totalizam 417; (MOTT, Luiz. Cotidiano e vivência religiosa: entre a capela e o
• A economia da Bahia tem base nas indústrias, na agropecuá- calundu. In: MELLO e SOUZA, Laura (org.) História da vida privada
ria, na mineração e no turismo; no Brasil, v. I: cotidiano e vida privada na América Portuguesa. São
• A religião dominante na Bahia é o catolicismo, mas há grande Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 220)
variantes cristãs misturadas com o Candomblé e outras religiões de
origem africana. A sociedade baiana no período colonial compartilha as caracte-
rísticas enfatizadas nos trechos acima. Os trechos I e II, referem- se,
respectivamente, a
QUESTÕES (A) relativa mobilidade social; e a densa formação de estoque
cultural por meio da conquista.
(B) grande clivagem cultural; e a forte religiosidade no âmbito
1. FCC - Aprendiz (SABESP)/Assistente Administrativo/2017 da vida privada.
Em relação á colonização do Brasil, na década de 1530, é cor- (C) configuração estamental horizontal e vertical; e a singular
reto afirmar que unidade identitária.
(A) o crescimento demográfico no Brasil e na Europa e a indus- (D) combinação ambígua de clivagem e mobilidade sociais; e a
trialização inglesa estimularam a diversificação da economia na diversidade de cultos e crenças.
colônia portuguesa. (E) equilibrada democracia social; e a cristalização de manifes-
(B) o governo português criou o Conselho Ultramarino para tações étnico-religiosas.
aplicar os rígidos mecanismos mercantilistas para fazer a explo-
ração da terra no Brasil. 3. FCC - Professor (Campinas)/Adjunto II/História/2016
(C) a integração econômica do Brasil, a formação do mercado Considere os itens abaixo:
interno e a urbanização foram as principais consequências da
economia açucareira. I. O objetivo essencial da metrópole era transferir a renda da
(D) o açúcar, cultivado pelos portugueses nas ilhas do Atlântico, colônia para a metrópole. Parte da renda dos senhores de engenho
foi introduzido no Brasil como fator de povoamento e valoriza- era despendida na compra de escravos, indo, portanto, engrossar
ção econômica da terra. os lucros do setor mercantil português.
(E) a economia açucareira atraiu o interesse de todas as partes II. A empresa açucareira empregou mão de obra escrava em
do Brasil e fez com que as populações entrassem em contato e massa para garantir a produção exigida pelo mercado europeu. Os
criassem o mercado interno. índios foram escravizados como solução mais imediata desse em-
preendimento capitalista. No entanto, a exploração do trabalho es-
cravo dos índios continuou, mas em pequena escala e em regiões
da colônia onde a empresa açucareira não se instalou efetivamente.

(In: LIMA, Antonio Pedro L. S. História da civilização ocidental.


São Paulo: FTD, 2005, p. 196-197)

85
HISTÓRIA DO BRASIL
Pode ser associada corretamente às afirmações dos textos: (C) os escravos traficados para Bahia foram classificados a par-
(A) A pouca utilização dos indígenas nas lavouras de cana de tir de uma visão homogeneizadora, que desprezava a multipli-
açúcar, no Brasil colonial, deveu-se às formas de resistências da cidade dos povos africanos.
população nativa à presença do homem branco e ao contínuo (D) o “gentio da Guiné” era o escravizado, que ao chegar em
deslocamento dessa população. solo baiano, passava a ser identificado por seus traços cultu-
(B) Na implantação da empresa açucareira, do Brasil colonial, rais, preservando-se o nome original do povo africano ao qual
os índios foram menos utilizados como mão de obra intensiva pertencia.
não propiciavam lucros para os traficantes portugueses, des- (E) as designações “Negro da Guiné” e “gentio da Guiné” iden-
cumprindo a lógica do mercantilismo. tificavam os crioulos trazidos para os engenhos de cana do Re-
(C) No início, boa parte dos colonos portugueses vinha para côncavo, região de maior rentabilidade comercial para os lusos.
instalar pequenas fazendas e trabalhar com suas famílias, ob-
jetivando a sobrevivência, fator que reduziu a necessidade de 6. FCC - Aprendiz (SABESP)/Assistente Administrativo/2019
utilizar mão de obra indígena na lavoura. A destruição do Quilombo dos Palmares, no século XVII, após
(D) Diante da necessidade de realizar a atividade com muito os ataques empreendidos pelas forças comandadas pelo bandei-
baixo custo, os traficantes portugueses organizaram a empresa rante paulista Domingos Jorge Velho
açucareira com base no escambo, utilizando a mão de obra in- (A) ocorreu após várias investidas armadas no local, situado
dígena na produção de subsistência. na atual região do Nordeste, e que abrigava, sob o nome “Pal-
(E) No período colonial brasileiro a não utilização do trabalho mares”, uma grande confederação de quilombos, nos quais vi-
escravo indígena deveu-se à belicosidade dos grupos indíge- viam, além de negros, mestiços, brancos pobres e indígenas.
nas, à abundância de terras e à não aceitação por parte dos (B) resultou na morte do líder Zumbi, nascido em Palmares,
jesuítas do trabalho compulsório dos índios. logo sucedido por Ganga Zumba, responsável por fundar um
novo quilombo similar na região serrana de Minas Gerais, em
4. FCC - Aprendiz (METRO SP)/2016 um lugar de mais difícil acesso.
Com a decadência da economia açucareira no Brasil, Portugal (C) representou um marco histórico na repressão aos quilom-
passou a estimular a procura de ouro. O precioso metal foi final- bos, uma vez que, após essa derrota, os quilombos deixaram
mente encontrado na última década do século XVII, e sua explo- de ser organizados no meio rural, dando lugar a revoltas urba-
ração nas planejadas por irmandades e sociedades de ajuda mútua
(A) possibilitou a ocupação, o povoamento e a exploração da constituídas por alforriados.
região mineira. (D) fortaleceu o bandeirantismo em São Paulo, particularmen-
(B) favoreceu o aumento das atividades urbanas e industriais te as bandeiras de apresamento, destinadas à captura e ao
na cidade do Rio de Janeiro. comércio de negros escravizados fugidos, em um contexto de
(C) introduziu o tráfico de escravos e facilitou a integração do crise do tráfico negreiro com implicações no fornecimento de
índio na sociedade mineira. mão de obra escrava para as colônias portuguesas.
(D) desarticulou as relações com a Inglaterra e a produção algo- (E) desencadeou, nas fazendas de cana-de-açúcar, o imedia-
doeira na região nordestina. to afrouxamento das penalidades e castigos aplicados aos
(E) dizimou a população indígena e destruiu as estruturas agrá- escravos, na perspectiva de se evitarem as fugas e a possível
rias concentradas no Rio de Janeiro. formação de novos quilombos, ao se constatar a dimensão de
Palmares, com mais de 20 mil pessoas, e a resistência dos qui-
5. FCC - Defensor Público do Estado da Bahia/2021 lombolas aos ataques.
Considere o texto abaixo:
7. FCC - Professor (SEC BA)/Padrão P/Ciências Humanas: Histó-
Negro da Guiné e gentio da Guiné foram as primeiras designa- ria/2018
ções utilizadas para marcar a origem dos escravos africanos chega- São características da atuação dos Jesuítas no Brasil colonial:
dos à Bahia no século XVI. Mais do que um registro de procedência, (A) a vida em mosteiros com rígida disciplina interna; o em-
estas expressões queriam significar a condição mesma de escravo penho na educação cristã, abarcando a alfabetização de indí-
na linguagem corrente da época. Seu uso se generalizara em Portu- genas e africanos; a criação e administração de Universidades
gal, desde o final do século, quando o tráfico de escravos começou católicas.
a se transformar na mais potente empresa comercial daquele país. (B) o estabelecimento de missões em regiões com potencial de
A multiplicidade cultural da África passava a ser ignorada pelos por- exploração econômica, como as drogas do sertão; a defesa dos
tugueses na razão direta em que o caráter de mercadoria se incor- indígenas ante os ataques dos bandeirantes; a formação da eli-
porava ao conjunto da população. te colonial segundo princípios iluministas.
(C) a expansão das fronteiras do território português; a con-
(OLIVEIRA, Maria Inês Côrtes de. Quem eram os “Negros da versão de judeus ao cristianismo segundo as leis inquisitoriais;
Guiné”? A origem dos africanos na Bahia. a pacificação dos conflitos intertribais, sob a justificativa da
Guerra Justa.
Salvador, Revista Afro/Ásia, 19/20, 1997, p. 37) (D) a mobilidade dentro do território; a preocupação com a
conversão dos indígenas ao catolicismo; o estabelecimento
De acordo com a autora, de colégios em várias cidades da Colônia, como o Colégio da
(A) os primeiros escravizados que desembarcaram na Bahia Bahia.
após o sequestro no continente africano foram oriundos da (E) a pregação e a manutenção da fé cristã entre os colonizado-
Costa Oriental da África, onde havia homogeneidade de povos. res; o combate à escravidão, sobretudo a de negros; e o cultivo
(B) o termo “Negro da Guiné” representa uma visão pluralista, e exportação da cana de açúcar nas missões.
usada pelos comerciantes de escravos para identificar os nati-
vos africanos.

86
HISTÓRIA DO BRASIL
8. FCC - Professor (Pref Macapá)/Anos Iniciais/Educação Infan- (B) as ideias democrático-burguesas defendidas pelos “homens
til, Ensino Fundamental I/2018 de consideração”, em apoio ao catolicismo e à monarquia, fica-
Ao longo do período colonial brasileiro, uma parte das crianças ram conhecidas neste contexto baiano como as “francesias”.
abandonadas era deixada (C) o cirurgião prático e lavrador, Cipriano José Barata de Al-
(A) sob a tutela do Estado, que as entregava a orfanatos públi- meida, foi um legítimo representante do grupo que protago-
cos presentes nas grandes cidades brasileiras. nizou a segunda fase do movimento rebelde baiano de 1798.
(B) em creches especialmente criadas para crianças de até 7 (D) a condição social e racial influenciou a condenação dos ho-
anos, o que seguia um inovador modelo francês. mens que foram mortos na Praça da Piedade, em 8 de novem-
(C) nas portas das Santas Casas de Misericórdia, onde eram bro de 1799, após a segunda fase do levante.
deixadas nas rodas dos expostos. (E) o mestre alfaiate, João de Deus do Nascimento, foi um re-
(D) em Fundações de Bem-Estar do Menor, especialmente cria- belde que representou os grupos identificados às duas fases do
das pela Coroa portuguesa. movimento, pois era pardo, letrado e com uma posição social
(E) nas Câmaras municipais, que as encaminhavam para serem de destaque nos fins do século XVIII.
adotadas e educadas pelas famílias ricas da cidade.
11. FCC - Aprendiz (SABESP)/Assistente Administrativo/2019
9. FCC - Professor B (SEDU ES)/História/2016 Por um lado, Napoleão representou o fim do processo revo-
Tanto na América espanhola como na portuguesa, a pregação lucionário iniciado em 1789, impondo a unidade das facções e um
da fé cristã aos nativos contribuiu para a dominação das populações governo autoritário e personalista que nada tinha que ver com as
indígenas por parte das metrópoles, uma vez que aspirações dos revolucionários republicanos radicais de 1789. Por
(A) os indígenas endossaram coletivamente a concepção di- outro lado, transformou alguns princípios revolucionários em ins-
fundida pela Igreja de que subordinar-se ao rei, tornar-se um tituições e leis estáveis, como o Código Civil − que regulamentou a
súdito da Coroa, era um privilégio divino. relação entre pessoas livres e iguais −, além de espalhar seus ideais
(B) os jesuítas e demais missionários atuaram conjuntamente por toda a Europa, com a força de seus exércitos.
a serviço do Papa e do Rei, empenhando-se na dupla tarefa da
conversão espiritual e submissão ideológica. (Adaptado de: NAPOLITANO, Marcos et al. História para o Ensi-
(C) os colonizadores lançaram mão da Guerra Justa, política no Médio. São Paulo: Atual Editora, 2013, p. 374)
deliberada de extermínio indígena virando o seguro branquea-
mento e a cristianização das populações mestiças. Os “princípios revolucionários” da Revolução Francesa men-
(D) as autoridades coloniais reprimiram a proposta tolerante cionados no texto influenciaram diretamente os defensores da luta
e libertária das Missões, e convenceram os padres de que o contra o domínio português. O movimento ocorrido no século XVIII,
trabalho forçado imposto aos indígenas os tornariam mais hu- composto por distintos setores sociais, incluindo homens livres e
mildes e devotos. libertos, que se enquadrou nesse perfil foi a
(E) os cristãos novos que se instalaram nas colônias, bem como (A) Cabanagem.
os líderes indígenas convertidos foram responsáveis pela difu- (B) Conjuração Baiana.
são da imagem positiva do rei, garantindo a brusca diminuição (C) Revolta dos Malês.
de revoltas. (D) Balaiada.
(E) Revolução Praieira.
10. FCC - Defensor Público do Estado da Bahia/2021
Considere os seguintes trechos: 12. FCC - Professor (SEC BA)/Padrão P/Ciências Humanas: His-
tória/2018
Considere abaixo o trecho do Hino da Inconfidência Baiana.
[…] dos fins de 1793 para começo de 1794, até julho, agosto-se-
Igualdade e liberdade / No sacrário da Razão / ao lado da Sã
tembro de 1797, atuou na Cidade do Salvador um pequeno grupo
Justiça / Preenchem meu coração / (...) Se este dogma for seguido
de “homens de consideração”, brasileiros que repudiavam a explo-
(...) e assim que florescido / tem na América a Nação / Assim flutue
ração colonial e sentiam atração pela França das ideias democráti-
o pendão dos franceses / que a imitaram / depois que afoitos, en-
co-burguesas […].
traram / no sacrário da Razão.
[…] homens livres, mas socialmente discriminados, mulatos,
(Apud MOURA, Clóvis. Dicionário da Escravidão Negra no Bra-
soldados, artesãos, ex-escravos e descendentes de escravos, conce- sil. Edusp, 2004, p. 205)
beram a ideia de uma república que garantisse igualdade. São eles O trecho revela as seguintes influências da chamada Inconfi-
que estão falando em levante em 1798. dência Baiana (1798), também conhecida como Conjuração Baiana
e Revolta dos Búzios:
(TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Sedição Intentada na (A) o Império Napoleônico e o positivismo, escola que cultua-
Bahia em 1798: A Conspiração dos Alfaiates. va a ciência como Razão universal.
(B) a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, e a Jus-
São Paulo, Pioneira; Brasília, INL, 1975, p. 95-96) tiça praticada pela Maçonaria, como exemplos da defesa da
igualdade em nome da Razão.
O autor faz uma análise da Conjuração Baiana de 1798, tam- (C) a Revolução Francesa e o iluminismo, corrente que cultuava
bém conhecida como Revolta dos Búzios, indicando que existiram a Razão como valor universal.
duas fases do movimento. Nesse sentido, (D) a Revolução Pernambucana e o nacionalismo como exem-
(A) os “homens de consideração” eram brancos letrados que plos de libertação racional dos povos contra a escravidão e o
protagonizaram a primeira fase do movimento rebelde, encam- colonialismo.
pando uma luta explícita pela liberdade e igualdade social na (E) o liberalismo e a religião calvinista, crença que considerava
Bahia. Deus como símbolo da Justiça e da Razão.

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HISTÓRIA DO BRASIL
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GABARITO
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1 D
2 D ______________________________________________________

3 B ______________________________________________________
4 A ______________________________________________________
5 C
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6 A
7 D ______________________________________________________
8 C ______________________________________________________
9 B
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10 D
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11 B
12 C ______________________________________________________

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ANOTAÇÕES ______________________________________________________
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GEOGRAFIA DO BRASIL

RELEVO BRASILEIRO

Relevo
O relevo do Brasil tem formação antiga e atualmente existem várias classificações para o mesmo. Entre elas, destacam-se as dos se-
guintes professores:
Aroldo de Azevedo - esta classificação data de 1940, sendo a mais tradicional. Ela considera principalmente o nível altimétrico para
determinar o que é um planalto ou uma planície.
Aziz Nacib Ab’Saber - criada em 1958, esta classificação despreza o nível altimétrico, priorizando os processos geomorfológicos, ou
seja, a erosão e a sedimentação. Assim, o professor considera planalto como uma superfície na qual predomina o processo de desgaste,
enquanto planície é considerada uma área de sedimentação.
Jurandyr Ross - é a classificação mais recente, criada em 1995. Baseia-se no projeto Radambrasil, um levantamento feito entre 1970 e
1985, onde foram tiradas fotos aéreas da superfície do território brasileiro, por meio de um sofisticado radar. Jurandyr também utiliza os
processos geomorfológicos para elaborar sua classificação, destacando três formas principais de relevo:
1) Planaltos
2) Planícies
3) Depressões

Sendo que:
- Planalto é uma superfície irregular, com altitude acima de 300 metros e produto de erosão.
- Planície é uma área plana, formada pelo acúmulo recente de sedimentos.
- Depressão é uma superfície entre 100 e 500 metros de altitude, com inclinação suave, mais plana que o planalto e formada por pro-
cesso de erosão.

O território brasileiro é constituído, basicamente, por grandes maciços cristalinos (36%) e grandes bacias sedimentares (64%). Apro-
ximadamente 93% do território brasileiro apresenta altitudes inferiores a 900 m. Em grande parte as estruturas geológicas são muito
antigas, datando da Era Paleozóica à Mesozóica, no caso das bacias sedimentares, e da Era Pré-Cambriana, caso dos maciços cristalinos.
As bacias sedimentares formam-se pelo acúmulo de sedimentos em depressão. É um terreno rico em combustíveis fósseis, como car-
vão, petróleo, gás natural e xisto betuminoso. Os maciços são mais antigos e rígidos e se caracterizam pela presença de rochas cristalinas,
como granitos e gnaisses, e são ricos em riquezas minerais metálicas, como ferro e manganês.
O relevo brasileiro não sofre mais a ação de vulcões e terremotos, agentes internos, porém, os agentes externos, como chuvas, ventos,
rios, marés, calor e frio, continuam sua obra de esculpir as formas do relevo. Eventualmente, em determinados pontos do território brasi-
leiro podem-se sentir os reflexos dos tremores de terra ocorridos em alguns pontos distantes, como no Chile e Peru.
As unidades do relevo brasileiro são:
a) Planaltos: das Guianas e Brasileiro (formado pelo Planalto Central, Atlântico e Meridional).
Planalto das Guianas
Ocupando a porção extremo setentrional do país, tem sua maior parte fora do território brasileiro, em terras da Venezuela, Guiana,
Suriname e Guiana Francesa. Constituído por rochas cristalinas pré-cambrianas, pode ser dividido em duas porções:
- Planalto Norte-Amazônico: também chamado de Baixo Platô, apresenta pequenas elevações levemente onduladas, formando uma
espécie de continuação das terras baixas da Planície Amazônica.
- Região Serrana: situada na porção Norte do Planalto, acompanha de perto as fronteiras do Brasil com as Guianas e com a Venezuela.
Dominada por dois arcos de escarpas (o Maciço Oriental e o Maciço Ocidental), separados por uma área deprimida e aplainada no noro-
este de Roraima. O Maciço Oriental é caracterizado por pequenas altitudes que raramente superam os 600 m, onde se encontram serras
como as de Tumucumaque e Açari, enquanto no Maciço Ocidental encontram-se as maiores altitudes absolutas do Brasil, destacando-se
na serra do Imeri ou Tapirapecó o pico da Neblina, com 3.014 m de altitude (ponto culminante do país); na fronteira do estado do Amazo-
nas com a Venezuela, o pico 31 de Março, com 2.992 m; e na serra de Pacaraima o monte Roraima, com 2.727 m.

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GEOGRAFIA DO BRASIL

Planalto das Guianas (Fonte: www.sogeografia.com.br)

Planalto Brasileiro
Uma das mais vastas regiões planálticas do mundo, estendendo- se do sul da Amazônia ao Rio Grande do Sul e de Roraima ao litoral
Atlântico. É dominado por terrenos cristalinos amplamente recobertos por sedimentos. Por motivos didáticos e pelas diferenças morfoló-
gicas que apresenta, pode-se dividi-lo em três subunidades:
- Planalto Central: Abrange uma extensa região do Brasil Central, englobando partes do Norte, Nordeste, Sudeste e principalmente
do Centro-Oeste. Apresenta terrenos cristalinos antigos fortemente erodidos e amplamente recobertos por sedimentos paleozóicos e
mesozóicos. Além de planaltos cristalinos, destacam-se as chapadas recobertas por sedimentos, como dos Parecis, entre Roraima e Mato
Grosso.
- Planalto Atlântico ou Planalto Oriental: Estende-se do Nordeste, onde é bastante largo, ao nordeste do Rio Grande do Sul. Pode-se
também o dividir em duas subunidades distintas:
i) Região das Chapadas no Nordeste
ii) Região Serrana

- Planalto Meridional ou Arenito Basáltico: Abrange grande parte das terras da região Sul, o centro-oeste de São Paulo, o sul de Minas
Gerais e o Triângulo Mineiro, o sul de Goiás e parte leste do Mato Grosso do Sul, correspondendo às terras drenadas pela bacia do rio
Paraná. Predominam terrenos sedimentares, assentados sobre o embasamento cristalino, sendo os terrenos mesozóicos associados a
rochas vulcânicas, provenientes do derrame de lavas ocorrido nessa era. Essas rochas vulcânicas, em especial o basalto e o diabásio, com
o passar do tempo sofreram desagregação pela ação dos agentes erosivos, dando origem a um dos solos mais férteis do Brasil, a chamada
“terra roxa”. As áreas onde predominam sedimentos paleozoicos e mesozóicos (arenitos), associados às rochas vulcânicas, constituem uma
subunidade do planalto Meridional. Outra subunidade é a Depressão Periférica, uma estreita faixa de terrenos relativamente baixos que
predominam arenitos, que se estende de São Paulo a Santa Catarina e parte do Rio Grande do Sul. É no planalto Meridional que aparece
com destaque o relevo de “Cuestas”, costas (escarpas) sucessivas de leste para oeste.

b) Planícies: Amazônica, do Pantanal, Costeira e Gaúcha.


Planície Amazônica
Vasta área de terras baixas e planas que corresponde à Bacia Sedimentar Amazônica, onde se distinguem alongadas faixas de sedi-
mentos paleozóicos que afloram na sua porção centro-oriental, além de predominar arenitos, argilitos e areias terciárias e quaternárias.
Localizada entre o planalto das Guianas ao norte e o Brasileiro ao sul, a planície é estreita a leste, próximo ao litoral do Pará, e alarga-se
bastante para o interior na Amazônia Ocidental.

Planície do Pantanal
Ocupando quase toda metade oeste do Mato Grosso do Sul e o sudeste do Mato Grosso, a planície do Pantanal se estende para além
do território brasileiro, em áreas do Paraguai, Bolívia e extremo norte da Argentina, recebendo nesses países a denominação de “Chaco”.
Com terras muito planas e baixas (altitude média de 100 m), o Pantanal se constitui numa grande depressão interior do continente que
se inunda largamente no verão. Os pontos mais elevados da planície, que ficam a salvo das cheias, levam o nome de “cordilheiras”, e as
partes mais baixas, “baías” ou “lagos”.

90
GEOGRAFIA DO BRASIL
Planície Costeira
Estendendo-se por quase todo o litoral brasileiro, do Pará ao Rio Grande do Sul, é uma área de sedimentos recentes: terciários e qua-
ternários. Em alguns trechos, principalmente no Sul e Sudeste, a planície é interrompida pela proximidade do planalto Atlântico, dando
origem às falésias; em alguns pontos surgem as baixadas litorâneas, destacando-se a baixada Capixaba no Espírito Santo, a baixada Flu-
minense no Rio de Janeiro, as baixadas Santista e de Iguape em São Paulo, a de Paranaguá no Paraná e a de Laguna em Santa Catarina.

Planície Gaúcha ou dos Pampas


Ocupa, esquematicamente, a metade sul do Rio Grande do Sul, constituída por sedimentos recentes; apresenta-se plana e suavemente
ondulada, recebendo a denominação de Coxilhas.

Pontos mais altos


Os relevos brasileiros caracterizam-se por baixas altitudes. Os maiores picos brasileiros, assim como sua localização e altitude, são:

Fonte: www.sogeografia.com.br

URBANIZAÇÃO: CRESCIMENTO URBANO, PROBLEMAS ESTRUTURAIS, CONTINGENTE POPULACIONAL BRASILEIRO

— Definição e função.
Cidade: área industrializada e povoada com zonas residenciais e comerciais. A cidade é uma zona urbana, o contrário de zona rural,
ou seja, é a parte do município em que há uma grande concentração de pessoas e estruturas industriais.
As zonas rurais, também denominadas de campo, são partes de um município em que são utilizadas para atividades da agricultura e
agropecuária, onde há pouquíssima industrialização, e são áreas que abrigam paisagens naturais.
As zonas urbanas e rurais coexistem, são dependentes umas das outras, pois a zona urbana utiliza produtos produzidos nas zonas
rurais e as zonas rurais comercializam com as zonas urbanas.

— Industrialização e Urbanização.
Os processos de industrialização e urbanização são interligados, desde a revolução industrial as cidades começaram a se desenvolver
de forma que o movimento de pessoas aumentou e consequentemente, a urbanização se desenvolveu. Quanto maior o número de pesso-
as, mais consumiam e produziam, movimentando assim, a indústria e ocasionando também deu rápido desenvolvimento.
O crescimento da Indústria em todos os países do mundo, mas principalmente na Inglaterra, proporcionou diversas transformações no
espaço geográfico. Além de um maior movimento de pessoas, estruturas relacionadas ao transporte, como trens, metrô, veículos em geral,
ruas asfaltadas, grandes centros comerciais, entre outros, foram criadas e desenvolvidas. Isso, mas principalmente o fator de empregos na
área industrial, acabou causando o êxodo rural, que é quando as pessoas que residem nas zonas rurais se mudam para a zona urbana a fim
de encontrar empregos e condições melhores de vida, o que ocorreu bastante no processo da revolução Industrial.

— Urbanização Brasileira e Regiões Metropolitanas.


A urbanização brasileira iniciou-se no século XX, com o desenvolvimento da indústria o êxodo rural começou a acontecer, em meados
de 1950, e portanto, a urbanização a se desenvolver principalmente no Sudeste do país. Algo que influenciou bastante esse desenvolvi-
mento foi a política de desenvolvimento dos governos Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek que prometiam “50 anos em 5”. Nos anos 60, a
urbanização começa a se desenvolver no centro-oeste do país. Hoje, mais de 70% da população do Brasil reside em áreas urbanas, portan-
to as regiões diferem bastante em relação a infraestruturas. As regiões do Sudeste e do Sul são mais desenvolvidas, enquanto o Nordeste
ainda tem uma grande carência. Assim, a urbanização junto da industrialização causou buracos na sociedade, como a desigualdade social
e falta de oportunidades para as pessoas.

— A Questão Agrária e Conflitos no Campo no Brasil.


A questão agrária diz respeito a conflitos que ocorrem no meio rural, nos meios de produção agrícolas e a relação entre o capitalismo
e o trabalho rural. Com a modernização deste espaço rural, problemas como a desigualdade, concentração de terras e êxodo rural acaba-
ram se intensificando. A urbanização causou um aumento na demanda de produtos agrícolas, e como consequência, meios de acelerar
essa produção, como o uso de agrotóxicos. Isso diminui o preço dos produtos enquanto produtos industrializados tem seu preço elevado.

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GEOGRAFIA DO BRASIL
— Rede e Hierarquia Urbana Brasileira. - Bacia Hidrográfica do Uruguai: encontra-se nos estados
Hierarquia Urbana é a organização de cidades em níveis hie- de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e o rio principal é o Rio Uru-
rárquicos de subordinação, ou seja, cidades médias têm influência guai, com grande potencial hidrelétrico.
sobre as menores. Dizemos maior em relação a produtividade, bens - Bacia Hidrográfica do Paraguai: encontra-se nos estados
e serviços oferecidos, e não em relação a seu tamanho físico. A hie- do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com área de drenagem de
rarquia também integra as cidades em uma rede urbana, uma rede cerca de 360 quilômetros quadrados. O rio principal é o Paraguai.
que as conecta econômica, social e culturalmente. Pode ser cate- - Bacia Hidrográfica do Atlântico Nordeste Oriental: tem
gorizada em: área de drenagem de cerca de 288 quilômetros quadrados e encon-
- Metrópole: cidade de grande porte que exerce influência tra-se nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba, Pernam-
sobre outras cidades. Uma metrópole pode ser nacional (grande buco e Alagoas. os rios principais são Beberibe e Capibaribe.
centro urbano) ou regional (uma cidade em que habitam mais de - Bacia Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental: com
um milhão de habitantes e exerce influência em todo o estado). área de drenagem de cerca de 254 quilômetros quadrados, encon-
- Centros Regionais: cidades de médio porte, exercem in- tra-se nos estados do Maranhão e do Pará e os principais rios são o
fluência na região e produzem bens para outras cidades. Mearim, Itapecuru e Turiaçu.
- Cidade local: cidades de porte pequeno que dependem - Bacia Hidrográfica Atlântico Leste: com área de drenagem
de cidades maiores. de cerca de 374 quilômetros quadrados, encontra-se nos estados
- Vilas: pequena concentração urbana que não atinge crité- de Sergipe, Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo. O principal rio é o
rios para se considerar uma cidade, e depende muito das grandes Jequitinhonha.
metrópoles. - Bacia Hidrográfica Atlântico Sudeste: com área de drena-
gem de cerca de 230 quilômetros quadrados, encontra-se nos es-
— Concentração e Desconcentração das Indústrias no Brasil. tados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e
Concentração e Desconcentração Industrial é o processo de Paraná. Seus principais rios são os Doce, Itapemirim, São Mateus,
migração das indústrias dentro de um certo país. No Brasil, a indus- Iguape, Paraíba do Sul, etc.
trialização ocorreu tarde, mas não demorou muito para se solidifi- - Bacia Hidrográfica Atlântico Sul: de menor porte, sua
car, nos anos 70, a região do Sudeste já estava bem industrializada área de drenagem tem cerca de 185 quilômetros quadrados.
e com boa infraestrutura urbana. Há muito tempo, o Sudeste lidera
o processo industrial no Brasil, porém atualmente tem acontecido — Uso dos Recursos Hídricos e Impactos Ambientais.
uma mudança nessa concentração, a partir de planejamentos go- A existência de água potável sofre ameaças por conta da po-
vernamentais de democratizar a indústria pelas regiões do país. São luição de rios, lagos e oceanos. A poluição hídrica é causada prin-
Paulo continua sendo o estado de maior concentração industrial, cipalmente pelo despejamento de lixo e substâncias químicas das
porém o desenvolvimento desse setor nas outras regiões tem cres- indústrias. Isso traz diversas consequências, pois influencia nega-
cido e possivelmente causará em breve uma desconcentração das tivamente as bacias hidrográficas, além de contaminar água que
Indústrias no Brasil. poderia ser utilizada para o consumo e outras atividades.

As fontes de energia são de grande importância para o desen-


TIPOS DE FONTES DE ENERGIA QUE PARTICIPAM DA volvimento de um país. No Brasil, as principais fontes de energia são
MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA: EÓLICA, HIDRÁULI- a energia hidrelétrica, petróleo, biocombustíveis e carvão mineral.
CA, BIOMASSA, SOLAR E A DAS MARÉS. - Hidrelétrica: utiliza usinas hidrelétricas para a produção
de eletricidade.
- Petróleo: utilizado para produzir combustíveis como a ga-
Uma Bacia Hidrográfica é definida como uma área alimentada solina e óleo diesel e abastecer usinas termelétricas.
por um rio e seus afluentes. Sua delimitação se dá pelo relevo que a - Carvão Mineral: utilizado para produzir energia termelé-
contorna e/ou a vegetação em volta. trica e é a matéria prima para as indústrias siderúrgicas.
O Brasil se encontra em uma área privilegiada, pois possui cer- - Biocombustíveis: são combustíveis alternativos origina-
ca de 12% da água potável do planeta. Existem 12 bacias ao todo dos de produtos vegetais e renováveis.
no país: — Fontes de Energia Renováveis e não renováveis.
- Bacia Hidrográfica amazônica: é a maior bacia do planeta, As fontes de energia não renováveis são aquelas que podem se
com área de drenagem de cerca de 7 milhões de quilômetros qua- esgotar do planeta, por não terem regeneração. As renováveis po-
drados, onde 3 milhões estão só no Brasil. Tem enorme potencial dem se regenerar e portanto, não agridem tanto o meio ambiente.
em questões de gerar energia hidrelétrica e transportes fluviais. - Fontes de Energia não Renováveis: petróleo, carvão mi-
- Bacia Hidrográfica do São Francisco: com cerca de 640 neral, energia nuclear e gás natural.
quilômetros quadrados, ela liga as regiões Nordeste e Sudeste. - Fontes de Energia Renováveis: energia solar, energia eóli-
- Bacia Hidrográfica do Tocantins-Araguaia: sua área de ca, biocombustíveis, energia hidráulica e energia geotérmica.
drenagem é de 967.059 quilômetros quadrados, sendo a maior ba-
cia exclusiva do Brasil. PROBLEMAS AMBIENTAIS
- Bacia Hidrográfica do Paraná: é encontrada em vários pa-
íses da América do Sul: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Com
grande potencial hidrelétrico, existem diversas usinas que utilizam A questão ambiental
desta bacia, como a usina Ilha Solteira, Itaipu, Capivari, entre ou- O Brasil é famoso por seu território continental e por seus
tras. diversos ecossistemas. O país é também conhecido por possuir a
- Bacia Hidrográfica do Parnaíba: área de drenagem de cer- maior diversidade biológica do planeta. O gigantesco patrimônio
ca de 340 mil quilômetros quadrados, encontra-se nos estados do ambiental do Brasil inclui cerca de 13% das espécies de plantas e
Piauí, Maranhão e Ceará e os rios principais são Balsas, Uruçuí-Pre- animais existentes no mundo.
to, Gurguéia, entre outros.

92
GEOGRAFIA DO BRASIL

A Floresta Amazônica e o desflorestamento

O Brasil possui também as maiores reservas de água doce da Desflorestamento da Floresta Amazônica
Terra e um terço das florestas tropicais. Quase um terço de todas as O desflorestamento e a degradação produzem mais de 10% das
espécies vegetais do mundo se concentram no Brasil. A Amazônia emissões mundiais de carbono.
por si só abriga aproximadamente um terço das florestas tropicais A Floresta Amazônica é a maior floresta tropical do mundo.
do mundo e um terço da biodiversidade global, além da maior bacia Abrange 6,9 milhões de quilômetros quadrados em nove países sul-
de água doce da Terra. Cabe ressaltar que 63,7% da região amazôni- -americanos (Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Equador, Venezuela,
ca se encontra em território brasileiro. Guiana, Suriname e Guiana Francesa). No Brasil, cobre 49% do ter-
A conservação do meio ambiente brasileiro é um desafio, pois ritório nacional e faz parte de nove estados brasileiros: Amazonas,
o crescimento econômico do país aumenta a demanda por recursos Pará, Mato Grosso, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Tocantins e
naturais. Utiliza-se mais a terra, extraem-se mais minerais e torna- Maranhão.
-se necessário expandir a infraestrutura. Evidentemente, a agricul- A Floresta Amazônica compreende a maior biodiversidade do
tura, a mineração e a realização de novas obras impactam o meio mundo, que inclui mais de cinco mil espécies de árvores, três mil
ambiente. de peixes, 300 de mamíferos e 1,300 de pássaros. Além disso, conta
Nas conferências internacionais sobre o Meio Ambiente, há um com um quinto da disponibilidade de água potável do mundo - a
embate ideológico entre o mundo desenvolvido e o subdesenvol- maior bacia hidrográfica do planeta. No território brasileiro da Flo-
vido. Se torna inviável preservar a natureza em espaços habitados resta Amazônica habitam 20 milhões de pessoas, entre elas, 220 mil
por uma população miserável. Alguém que encontra dificuldades indígenas de inúmeras tribos.
para se alimentar não vai se preocupar com as consequências das Na Floresta Amazônica, há muitas espécies em perigo de ex-
queimadas nas lavouras e do desmatamento nas florestas; ações tinção. A Amazônia sofre um ritmo acelerado de destruição. Na dé-
que resultam na emissão de gases estufa. cada de 1970, o governo brasileiro, com o objetivo de desenvolver
Por outro lado, as mudanças climáticas agravam ainda mais a essa região e integrá-la ao restante do país, criou inúmeros incenti-
miséria. Na maioria dos casos, as pessoas que mais sofrem as con- vos para que milhões de brasileiros passassem a habitá-la. Contudo,
sequências dos desastres naturais e dos eventos climáticos extre- os limites de propriedades não foram claramente delineados e o
mos – inundações, furacões, deslizamentos, etc. – são os pobres. caos fundiário passou a ser uma realidade na região.
Mesmo quando sobrevivem à tragédia, muitas vezes acabam per- A Floresta Amazônica contém uma das maiores reservas de
dendo todos seus bens materiais: o pouco que se acumulou após madeira tropical do mundo. A extração dessa madeira e a amplia-
anos de trabalho pode ser perdido algumas horas. ção de áreas usadas para o gado e o plantio da soja resultam em
As mudanças climáticas dificultam a redução da pobreza no desmatamento. O garimpo e as grandes hidroelétricas também são
mundo e ameaçam a sobrevivência física de milhões de pessoas. nocivos para os rios da região.
Em outras palavras, é praticamente impossível dissociar a preser- O governo brasileiro precisa conter o desmatamento, demarcar
vação ambiental da péssima qualidade de vida de milhões de seres as propriedades privadas e implementar leis que protejam as áreas
humanos. de conservação.
A riqueza material também pode causar mudanças climáticas, É importante não confundir a Amazônia Legal com a Floresta
pois uma pesada pegada ecológica e de carbono exerce pressão so- Amazônica. A Amazônia Legal é uma área geoeconômica, delimita-
bre o ambiente e o clima. da em 1966 pelo Governo Federal, por meio da Superintendência
O Brasil vem apresentando melhorarias em alguns indicadores de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Inclui a Floresta Amazô-
ambientais. Apesar de tal progresso, ainda há grandes desafios que nica, os cerrados e o Pantanal. A taxa anual de desflorestamento na
o país precisa superar. Amazônia Legal (Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá,
Tocantins, Maranhão e Mato Grosso) foi reduzida significativamen-
te nos últimos anos. A quantidade de árvores desflorestadas em
2011 foi a menor desde 1988. Contudo, por mais que o número
tenha diminuído, ainda é elevado: em 2009, 14,6% da Amazônia
Legal já havia sido desflorestada.
As queimadas e o desflorestamento são os principais respon-
sáveis pelas emissões de gases do efeito estufa no Brasil. Outros
países pressionam o Brasil a tomar medidas eficazes para preser-
var a Floresta Amazônica, por esta ser considerada “o pulmão do
mundo”.

93
GEOGRAFIA DO BRASIL
Desmatamento dos outros ecossistemas - Assoreamento: O assoreamento acontece com o acúmulo de
Depois da Mata Atlântica, o Cerrado é o ecossistema brasileiro sedimentos em ambientes aquáticos. Seus impactos para o meio
que foi mais alterado pela ocupação humana. O Cerrado, que é o ambiente são grandes, como a obstrução de cursos de água, des-
segundo maior bioma brasileiro e que abrange as savanas do centro truição de habitats aquáticos, prejuízos na água destinada ao con-
do país, teve sua cobertura vegetal reduzida pela metade. O per- sumo e veiculação de poluentes.
centual de área desmatada nesse bioma é maior que o verificado
na Floresta Amazônica. Apesar de esses serem os mais relatados, não significa que se-
Um dos impactos ambientais mais graves na região foi causado jam os únicos problemas ambientais enfrentados em nosso país.
por garimpos: os rios foram contaminados com mercúrio e houve o Podemos citar ainda como ameaças ao meio ambiente: a poluição
assoreamento dos cursos de água. das águas, que causam doenças e prejuízo no abastecimento, a
Nos últimos anos, porém, a maior fator de risco para o Cerrado poluição atmosférica, responsável por uma grande incidência de
tem sido a expansão da agricultura, principalmente do cultivo da doenças respiratórias, e a poluição do solo, desencadeada princi-
soja, e da pecuária. Graças ao desenvolvimento de tecnologia que palmente pelo acúmulo de lixo e pelo uso de agrotóxicos.
permitiu corrigir o problema da baixa fertilidade de seus solos, o Todos essas questões que afetam e ameaçam os ecossistemas
Cerrado se tornou área de expansão da plantação de grãos, como e a saúde humana devem ser combatidas. Para isso, necessitamos
a soja, para exportação. As atividades agropecuárias, por meio do de urgente criação de políticas mais eficientes a fim de evitar crimes
desmatamento e das queimadas, estão devastando a formação ve- ambientais, assim como precisamos de programas voltados à cons-
getal dos cerrados, causando processos erosivos e levando à com- cientização da população acerca de como diminuir os problemas
pactação do solo. ambientais em nosso país. Se todos fizerem sua parte, poderemos
A Mata Atlântica continua a ser desflorestada. É um dos biomas deixar um Brasil com muito mais qualidade de vida para nossos
mais ameaçados do mundo. No presente, há apenas 133.010 km² descendentes.
de área remanescente – menos de 10% do que havia originalmente.
A Mata Atlântica é um conjunto de formações florestais que Degradação Ambiental
possui uma enorme biodiversidade e que se estende por uma faixa Os problemas ambientais de âmbito nacional (no território bra-
do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, passando por 17 es- sileiro) ocorrem desde a época da colonização, estendendo-se aos
tados brasileiros. Originalmente, a Mata Atlântica se estendia por subsequentes ciclos econômicos (cana, ouro, café etc.).
toda a costa nordeste, sudeste e sul do Brasil, com faixa de largura
variável. Na tentativa de preservar o que restou dessa incalculável Atualmente, os principais problemas estão relacionados com
riqueza, foram criadas Unidades de Conservação. A maior delas é o as práticas agropecuárias predatórias, o extrativismo vegetal (ativi-
Parque Estadual da Serra do Mar, que contém 315 mil hectares. Não dade madeireira) e a má gestão dos resíduos urbanos.
obstante, a Mata Atlântica continua a ser ameaçada pelo constante Os principais agravantes de ordem rural e urbana são:
aumento das cidades e pela poluição que muito dificultam as tenta- - perda da biodiversidade em razão do desmatamento e das
tivas de preservá-la. Na Mata Atlântica, há várias espécies em risco queimadas;
de extinção, como a onça pintada e o mico-leão dourado. - degradação e esgotamento dos solos por causa das técnicas
As frentes humanas contra o desmatamento são chamadas de: de produção;
empates. A “política dos empates” foi a forma encontrada pelo gru- - escassez da água pelo mau uso e gerenciamento das bacias
po de Chico Mendes para impedir que madeireiros e fazendeiros do hidrográficas;
Acre praticassem o desmatamento ilegal. Já que o grupo não possui - contaminação dos corpos hídricos por esgoto sanitário;
os recursos para enfrentar seus adversários, adotaram a estratégia - poluição do ar nos grandes centros urbanos.
de formar uma corrente humana, com as mãos de pessoas dadas,
para impedir que os tratores passassem. Impactos Ambientais

Vamos aqui falar dos principais problemas ambientais brasi- Efeito estufa
leiros Efeito estufa é um fenômeno atmosférico natural responsável
O Brasil, assim como qualquer país do mundo, enfrenta amea- pela manutenção da vida na Terra. Sem a presença desse fenôme-
ças ao meio ambiente. De acordo com uma pesquisa realizada pelo no, a temperatura na Terra seria muito baixa, em torno de -18ºC, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 90% dos mu- que impossibilitaria o desenvolvimento de seres vivos.
nicípios brasileiros apresentam problemas ambientais, e entre os Existem, na atmosfera, diversos gases de efeito estufa capazes
mais relatados estão as queimadas, desmatamento e assoreamen- de absorver a radiação solar irradiada pela superfície terrestre, im-
to. A seguir, falaremos um pouco a respeito de cada um deles: pedindo que todo o calor retorne ao espaço.
- Queimadas: As queimadas são geralmente utilizadas para Parte da energia emitida pelo Sol à Terra é refletida para o es-
limpar uma determinada área, renovar as pastagens e facilitar a paço, outra parte é absorvida pela superfície terrestre e pelos oce-
colheita de produtos como a cana-de-açúcar. Essa prática pode ser anos. Uma parcela do calor irradiado de volta ao espaço é retida
prejudicial para o ecossistema, pois aumenta os riscos de erosão, pelos gases de efeito estufa, presentes na atmosfera. Dessa forma,
mata micro-organismos que vivem no solo, retira nutrientes e causa o equilíbrio energético é mantido, fazendo com que não haja gran-
poluição atmosférica. des amplitudes térmicas e as temperaturas fiquem estáveis.
- Desmatamentos: Os desmatamentos acontecem por vários Para entender melhor, podemos comparar o efeito estufa ao
motivos. Entre eles, podemos citar a ampliação da agropecuária, que acontece em um carro parado sob a luz solar. Os raios solares
extração da madeira para uso comercial, criação de hidrelétricas, passam pelos vidros e aquecem o interior do veículo. O calor, então,
mineração e expansão das cidades. O desmatamento prejudica o tende a sair pelo vidro, porém encontra dificuldades. Portanto, par-
ecossistema de diferentes maneiras, provocando erosões, agrava- te do calor fica retido no interior do carro, aquecendo-o. Os gases
mento dos processos de desertificação, alterações no regime de de efeito estufa, presentes na atmosfera, funcionam como o vidro
chuvas, redução da biodiversidade, assoreamento dos rios, etc. do carro, permitindo a entrada da radiação ultravioleta, mas dificul-
tando que toda ela seja irradiada de volta ao espaço.

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GEOGRAFIA DO BRASIL
Contudo, a grande concentração desses gases na atmosfera di- Causas do efeito estufa
ficulta ainda mais a dispersão do calor para o espaço, aumentando Nos últimos anos, houve um considerável aumento da concen-
as temperaturas do planeta. O efeito estufa tem-se agravado em tração de gases de efeito estufa na atmosfera. As atividades huma-
virtude da emissão cada vez maior de gases de efeito estufa à at- nas ligadas à indústria, as atividades agrícolas, o desmatamento e o
mosfera. aumento do uso dos transportes são os principais responsáveis pela
emissão desses gases.
Essa emissão é provocada por atividades antrópicas, como É válido ressaltar que o efeito estufa é um fenômeno natural
queima de combustíveis fósseis, gases emitidos por escapamentos essencial para manutenção da vida na Terra, já que mantém as tem-
de carros, tratamento de dejetos, uso de fertilizantes, atividades peraturas médias, evitando grandes amplitudes térmicas e o esfria-
agropecuárias e diversos outros processos industriais. mento extremo do planeta. Contudo, a intensificação de atividades
industriais e agrícolas, que demandam áreas para produção e, con-
Quais são os gases de efeito estufa? sequentemente, geram desmatamento, e o uso dos transportes au-
Existem quatros principais de gases de efeito estufa. mentaram a emissão de gases de efeito estufa à atmosfera.
1. Dióxido de carbono: é o mais abundante entre os gases de A queima de combustíveis fósseis é uma das atividades que
efeito estufa, visto que pode ser emitido a partir de diversas ativida- mais produzem gases de efeito estufa. A concentração desses gases
des humanas. O uso de combustíveis fósseis, como carvão mineral e na atmosfera impede que o calor seja irradiado, aquecendo ainda
petróleo, é uma das atividades que mais emitem esses gases. Desde mais a superfície terrestre, aumentando, portanto, as temperatu-
a Era Industrial, houve um aumento de 35% da quantidade de dió- ras. Esse aumento das temperaturas decorrente da intensificação
xido de carbono na atmosfera. do efeito estufa é conhecido como aquecimento global.
2. Gás metano: é o segundo maior contribuinte para o aumen-
to das temperaturas da Terra, com poder 21 vezes maior que o di-
óxido de carbono. Provém de atividades humanas ligadas a aterros
sanitários, lixões e pecuária. Além disso, pode ser produzido por
meio da digestão de ruminantes e eliminado por eructação (arroto)
ou por fontes naturais. Cerca de 60% da emissão de metano provém
de ações antrópicas.
3. Óxido nitroso: pode ser emitido por bactérias no solo ou no
oceano. As práticas agrícolas são as principais fontes de óxido nitro-
so advindo da ação humana. Exemplos dessas atividades são cultivo
do solo, uso de fertilizantes nitrogenados e tratamento de dejetos.
O poder do óxido nitroso de aumentar as temperaturas é 298 vezes
maior que o do dióxido de carbono.
4. Gases fluoretados: são produzidos pelo homem a fim de
atender às necessidades industriais. Como exemplos desses gases,
podemos citar os hidrofluorocarbonetos, usados em sistemas de
arrefecimento e refrigeração; hexafluoreto de enxofre, usado na
indústria eletrônica; perfluorocarbono, emitido na produção de
alumínio; e clorofluorcarbono (CFC), responsável pela destruição
da camada de ozônio. O efeito estufa é um fenômeno natural que, apesar de ser essencial
para a manutenção da vida, tem sido agravado pela emissão de
gases decorrente da ação antrópica.

Aquecimento global e efeito estufa


O efeito estufa é um fenômeno atmosférico de ordem natural
capaz de garantir que a Terra seja habitável. Esse efeito é respon-
sável por manter a temperatura média do planeta, de forma que o
calor não seja totalmente irradiado de volta ao espaço, mantendo,
portanto, a Terra aquecida e evitando que a temperatura não baixe
drasticamente.
A concentração dos gases de efeito estufa, como o dióxido de
carbono e o óxido nitroso, elevou-se significativamente nas últimas
décadas. Segundo diversos estudiosos, essa concentração tem pro-
vocado mudanças na dinâmica climática do planeta, provocando o
aumento das temperaturas da Terra.
A emissão de gases de efeito estufa é proveniente, principalmente, Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climá-
de atividades industriais. ticas, a temperatura do planeta aumentou aproximadamente 0,85º
C nos continentes e 0,55º C nos oceanos em um período de cem
Além desses gases, há também o vapor d’água, um dos princi- anos. Com esse aumento, foi possível constatar o derretimento das
pais responsáveis pelo efeito estufa. O vapor d’água capta o calor ir- calotas polares e a elevação do nível do mar.
radiado pela Terra, distribuindo-o novamente em diversas direções, A comunidade científica relaciona, portanto, o aumento dos
aquecendo, dessa forma, a superfície terrestre. gases de efeito estufa ao aumento das temperaturas médias glo-
bais. A concentração desses gases impede cada vez mais que o ca-
lor irradiado pela superfície seja disperso no espaço, aumentando
a temperatura e reafirmando a questão do aquecimento global.

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GEOGRAFIA DO BRASIL
Contudo, é válido ressaltar que essa relação entre efeito estufa e É preciso investir no uso de fontes de energia renováveis e al-
aquecimento global, bem como a existência do aquecimento global ternativas, abandonando o uso dos combustíveis fósseis, cuja quei-
não são unanimidades entre os estudiosos. Muitos pesquisadores ma libera diversos gases de efeito estufa. Outras ações cotidianas
desacreditam que a concentração dos gases tem agravado o au- também podem ser adotadas, como redução do uso de transportes
mento das temperaturas do planeta. Para eles, esse aquecimento em trajetos pequenos, optando por ir a pé ou de bicicleta, preferên-
elevado constitui apenas uma fase de variação da dinâmica climá- cia pelo uso de transporte coletivo e de produtos biodegradáveis e
tica da Terra. incentivo à coleta seletiva.

Resumo

Fenômeno
Efeito Estufa
atmosférico
Fenômeno de ordem natural
responsável por manter as
temperaturas médias globais,
possibilitando a existência de vida na
Principais Terra. É agravado pela ação humana
características por meio da emissão de gases de efeito
estufa à atmosfera, que impedem a
dispersão da radiação solar irradiada
O aquecimento global representa o aumento das temperaturas pela superfície terrestre, aumentando a
médias do planeta. temperatura do planeta.
Dióxido de carbono
Consequências do efeito estufa Gás metano
Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climá- Gases de efeito estufa
Óxido nitroso
ticas, o sistema climático pode ser alterado trazendo danos irrever- Gases fluoretados
síveis, como:
É um fenômeno natural que tem-
→ Derretimento das calotas polares e aumento do nível do mar.
se intensificado em decorrência de
→ Agravamento da segurança alimentar, prejudicando as co-
Causas atividades humanas ligadas à indústria,
lheitas e a pesca.
atividades agropecuárias, uso de
→ Extinção de espécies e danos a diversos ecossistemas.
transportes e desmatamento.
→ Perdas de terras em decorrência do aumento do nível do
mar, que provocará também ondas migratórias. Derretimento das calotas polares.
→ Escassez de água em algumas regiões. Aumento do nível do mar.
→ Inundações nas latitudes do norte e no Pacífico Equatorial. Agravamento da segurança alimentar.
Consequências
→ Riscos de conflitos em virtude da escassez de recursos na- Aumento dos períodos de seca.
turais. Escassez de água.
→ Problemas de saúde provocados pelo aumento do calor. Aumento das temperaturas.
→ Previsão de aumento da temperatura em até 2º C até 2100
em comparação ao período pré-industrial (1850 a 1900). El Niño e La Niña
O fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS) é caracterizado por
anomalias, positivas (El Niño) ou negativas (La Niña), de tempera-
tura da superfície do mar (TSM) no Pacífico equatorial, e sua carac-
terização é feita através de índices, como o Índice de Oscilação Sul
(IOS – calculado através da diferença de pressão entre duas regiões
distintas: Taiti e Darwin) e os índices nomeados Niño [(Niño 1+2,
Niño 3, Niño 3.4 e Niño 4), que nada mais são do que as anomalias
de TSM médias em diferentes regiões do Pacífico equatorial].
As previsões da anomalia da TSM para Dezembro-Janeiro-Fe-
vereiro de 2019 (DJF-2019) dos modelos numéricos de previsão
climática analisados indicam que as águas sobre o Pacífico Equato-
rial devem manter-se mais quentes que o normal, indicando a per-
manência do fenômeno El Niño. A previsão da ocorrência de ENOS
O derretimento das calotas polares e o consequente aumento do realizada pelo IRI/CPC no início de novembro aponta que a maior
nível do mar são consequências do efeito estufa. probabilidade (80%) é de que o próximo trimestre (DJF) ainda tenha
a influência do fenômeno El Niño, e assim segue até Abril-Maio-Ju-
Como evitar o efeito estufa? nho de 2019 (AMJ-2019) (49%). Para o último trimestre da previsão
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas sina- (Junho-Julho-Agosto de 2019) a maior probabilidade (51%) é de que
liza que a emissão de gases de efeito estufa deve ser reduzida de retorne a neutralidade, ou seja, sem a ocorrência do El Niño ou da
40% a 70% entre os anos 2010 e 2050. Os países precisam estabe- La Niña.
lecer metas de redução de emissão desses gases a fim de conter o
aumento das temperaturas.

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GEOGRAFIA DO BRASIL
El NiÑo
El Niño é um fenômeno atmosférico-oceânico caracterizado
por um aquecimento anormal das águas superficiais no oceano Pa-
cífico Tropical, e que pode afetar o clima regional e global, mudando
os padrões de vento a nível mundial, e afetando assim, os regimes
de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias.

La NiÑa
La Niña representa um fenômeno oceânico-atmosférico com
características opostas ao EL Niño, e que caracteriza-se por um es-
friamento anormal nas águas superficiais do Oceano Pacífico Tropi- O CO2 (dióxido de carbono) seria o grande vilão do aquecimento
cal. Alguns dos impactos de La Niña tendem a ser opostos aos de El global
Niño, mas nem sempre uma região afetada pelo El Niño apresenta
impactos significativos no tempo e clima devido à La Niña. Outra causa para o aquecimento global seria o desmatamen-
to das florestas, que teriam a função de amenizar as temperaturas
Aquecimento Global através do controle da umidade. Anteriormente, acreditava-se que
O aquecimento global pode ser definido como o processo de elas também teriam a função de absorver o dióxido de carbono e
elevação média das temperaturas da Terra ao longo do tempo. Se- emitir oxigênio para a atmosfera, no entanto, o oxigênio produzido
gundo a maioria dos estudos científicos e dos relatórios de painéis é utilizado pela própria vegetação, que também emite dióxido de
climáticos, sua ocorrência estaria sendo acelerada pelas atividades carbono na decomposição de suas matérias orgânicas.
humanas, provocando problemas atmosféricos e no nível dos ocea- As algas e fitoplânctons presentes nos oceanos são quem, de
nos, graças ao derretimento das calotas polares. fato, contribuem para a diminuição de dióxido de carbono e a emis-
O principal órgão responsável pela divulgação de dados e in- são de oxigênio na atmosfera. Por esse motivo, a poluição dos ma-
formações sobre o Aquecimento Global é o Painel Internacional res e oceanos pode ser, assim, apontada como mais uma causa do
sobre Mudanças Climáticas (IPCC), um órgão ligado à Organização aquecimento global.
das Nações Unidas (ONU). Segundo o IPCC, o século XX foi o mais
quente dos últimos tempos, com um crescimento médio de 0,7ºC Consequências do Aquecimento Global
das temperaturas de todo o globo terrestre. A estimativa, segundo Entre as consequências do aquecimento global, temos as trans-
o mesmo órgão, é que as temperaturas continuem elevando-se ao formações estruturais e sociais do planeta provocadas pelo aumen-
longo do século XXI caso ações de contenção do problema não se- to das temperaturas, das quais podemos enumerar:
jam adotadas em larga escala. - aumento das temperaturas dos oceanos e derretimento das
O IPCC trabalha basicamente com dois cenários: um otimista calotas polares;
e outro pessimista. No primeiro, considerando que o ser humano - eventuais inundações de áreas costeiras e cidades litorâneas,
consiga diminuir a emissão de poluentes na atmosfera e contenha em função da elevação do nível dos oceanos;
ações de desmatamento, as temperaturas elevar-se-iam em 1ºC até - aumento da insolação e radiação solar, em virtude do aumen-
2100. No segundo cenário, as temperaturas poderiam elevar-se de to do buraco da Camada de Ozônio;
1,8 até 4ºC durante esse mesmo período, o que comprometeria boa - intensificação de catástrofes climáticas, tais como furacões e
parte das atividades humanas. tornados, secas, chuvas irregulares, entre outros fenômenos mete-
Em um relatório de grande repercussão, publicado em março orológicos de difícil controle e previsão;
de 2014, o IPCC afirma que o aquecimento global seria muito grave - extinção de espécies, em razão das condições ambientais ad-
e irreversível, provocando a elevação dos oceanos, perdas agríco- versas para a maioria delas.
las, entre outras inúmeras catástrofes geradas pelas alterações no
clima e na disposição dos elementos e recursos naturais. Como combater o aquecimento global?
A primeira grande atitude, segundo apontamentos oficiais e
Causas do Aquecimento Global científicos, para combater o aquecimento global seria a escolha de
A principal entre as causas do aquecimento global, segundo fontes renováveis e não poluentes de energia, diminuindo ou até
boa parte dos especialistas, seria a intensificação do efeito estufa, abandonado a utilização de combustíveis fósseis, tais como o gás
um fenômeno natural responsável pela manutenção do calor na su- natural, o carvão mineral e, principalmente, o petróleo. Por parte
perfície terrestre, mas que estaria sendo intensificado de forma a das indústrias, a diminuição das emissões de poluentes na atmosfe-
causar prejuízos. Com isso, a emissão dos chamados gases-estufa ra também é uma ação necessária.
seria o principal problema em questão. Outra forma de combater o aquecimento global seria diminuir
Os gases-estufa mais conhecidos são o dióxido de carbono e o a produção de lixo, através da conscientização social e do estímulo
gás metano. Além desses, citam-se o óxido nitroso, o hexafluoreto de medida de reciclagem, pois a diminuição na produção de lixo
de enxofre, o CFC (clorofluorcarboneto) e os PFC (perfluorcarbone- diminuiria também a poluição e a emissão de gás metano, muito
tos). comum em áreas de aterros sanitários.
Essa listagem foi estabelecida pelo Protocolo de Kyoto, e sua Soma-se a essas medidas a preservação da vegetação, tanto
presença na atmosfera estaria sendo intensificada por práticas hu- dos grandes biomas e domínios morfoclimáticos, tais como a Ama-
manas, como a emissão de poluentes pelas indústrias, pelos veícu- zônia, como o cultivo de áreas verdes no espaço agrário e urbano.
los, pela queima de combustíveis fósseis e até pela pecuária. Assim, as consequências do efeito estufa na sociedade seriam ate-
nuadas.

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GEOGRAFIA DO BRASIL
As posições céticas quanto ao aquecimento global A agropecuária e os problemas ambientais
Há, no meio científico, um grande debate sobre a existência
e as possíveis causas do aquecimento global, de forma que a sua
ocorrência não estaria totalmente provada e nem seria consenso
por parte dos especialistas nas áreas que estudam o comportamen-
to da atmosfera.
Existem grupos que afirmam que o aquecimento global seria
um evento natural, que não seria influenciado pelas ações humanas
e que, tampouco, seria gravemente sentido em um período curto
de tempo. Outras posições afirmam até mesmo que o aquecimen-
to global não existe, utilizando-se de dados que comprovam que o
ozônio da atmosfera não está diminuindo, que o dióxido de carbono
não seria danoso ao clima e que as geleiras estariam, na verdade,
expandindo-se, e não diminuindo.

O desmatamento é um dos grandes problemas ambientais provo-


cados pela agropecuária

A agropecuária é o conjunto das atividades ligadas à agricultura


e à pecuária. Apresenta grande importância para a humanidade e
para a economia, visto que sua produção é destinada ao consumo
humano e para a venda dos produtos obtidos.
No entanto, vários problemas ambientais estão sendo desenca-
deados em virtude da expansão da agropecuária e da utilização de
métodos para o cultivo e criação de animais.
O desmatamento é uma prática muito comum para a realização
Para alguns analistas, as calotas polares no sul e no norte estariam da agropecuária. A retirada da cobertura vegetal provoca a redução
expandindo-se da biodiversidade, extinção de espécies animais e vegetais, deser-
tificação, erosão, redução dos nutrientes do solo, contribui para o
Essas posições mais céticas consideram que as posições sobre o aquecimento global, entre outros danos.
Aquecimento Global teriam um caráter mais político do que verda- As queimadas, método muito utilizado para a retirada da vege-
deiramente científico e acusam o IPCC de distorcer dados ou apre- tação original, intensificam a poluição atmosférica, além de reduzi-
sentar informações equivocadas sobre o funcionamento do meio rem os nutrientes do solo, sendo necessário usar uma quantidade
ambiente e da atmosfera. Tais cientistas não consideram o painel da maior de produtos químicos (fertilizantes) durante o cultivo de de-
ONU como uma fonte confiável para estudos sobre o tema. terminados alimentos, fato que provoca a poluição do solo.
Divergências à parte, é importante considerar que o aqueci- Outro agravante é a utilização de agrotóxicos (inseticidas e her-
mento global não é a única consequência das agressões ao meio bicidas), que contaminam o solo, o lençol freático e os rios. Esses
ambiente. Diante disso, mesmo os críticos ao aquecimento global produtos, destinados à eliminação de insetos nas plantações, infil-
admitem a importância de conservar os recursos naturais e, princi- tram-se no solo e atingem as águas subterrâneas. As águas das chu-
palmente, os elementos da biosfera, vitais para a qualidade de vida vas, ao escoarem nessas plantações, podem transportar os agrotó-
das sociedades. xicos para os rios, causando a contaminação da água.
Na pecuária, além da substituição da cobertura vegetal pelas
Impactos ambientais pastagens, outro problema ambiental é a compactação do solo ge-
A principal ênfase dos estudos ambientais na Geografia refe- rada pelo deslocamento dos rebanhos. O solo compactado dificulta
re-se aos temas concernentes à degradação e aos impactos am- a infiltração da água e aumenta o escoamento superficial, podendo
bientais, além do conjunto de medidas possíveis para conservar os gerar erosões. Esses animais, através da liberação de gás metano,
elementos da natureza, mantendo uma interdisciplinaridade com também contribuem para a intensificação do aquecimento global.
outras áreas do conhecimento, como a Biologia, a Geologia, a Eco- Portanto, diante da necessidade de produzir alimentos para
nomia, a História e muitas outras. atender a demanda global e ao mesmo tempo preservar a natureza,
Nesse sentido, o principal cerne de estudos é o meio ambiente é necessário que métodos sustentáveis sejam implantados na agro-
e as suas formas de preservação. Entende-se por meio ambiente pecuária, de forma a reduzir os problemas ambientais provocados
o espaço que reúne todas as coisas vivas e não vivas, possuindo por essa atividade. O pousio, por exemplo, é uma técnica que visa
relações diretas com os ecossistemas e também com as sociedades. o “descanso” do solo até que haja a recuperação da sua fertilidade.
Com isso, fala-se que existe o ambiente natural, aquele constituído O solo, quando não recebe tratamento apropriado, pode per-
sem a intervenção humana, e o ambiente antropizado, aquele que der suas propriedades naturais e se tornar infértil. Para a conserva-
é gerido no âmbito das práticas sociais. ção do solo, algumas medidas podem ser adotadas:
De um modo geral, é possível crer que o mundo e os fenôme-
nos que nele se manifestam são resultados do equilíbrio entre os • Conservação da vegetação nativa: uma das mais importantes
mais diversos eventos. Desse modo, alterar o equilíbrio pode trazer medidas para conservar o solo é não praticar o desmatamento. A
consequências severas para o meio ambiente, de forma que se tor- vegetação natural possui características que conservam o solo.
nam preocupantes determinadas ações humanas, como o desma-
tamento, a poluição e a alteração da dinâmica dos ecossistemas.

98
GEOGRAFIA DO BRASIL

Conservação de vegetação nativa Rotação de cultura

• Combate à erosão: feito através do sistema de curvas de Em busca de seu próprio conforto e de aperfeiçoamento da
nível. Valas em sentido circular são feitas no solo de regiões altas tecnologia, há muito tempo o homem vem promovendo modifi-
(montanhas, morros, serras). Estas valas absorvem a água, evitando cações no ambiente, prejudicando o ecossistema do qual ele faz
assim as enxurradas que levam as terras. parte. O aperfeiçoamento tecnológico, industrial e científico, nos
últimos tempos, tem provocado drásticas alterações na atmosfera,
na água de mares, lagos, rios, e no solo. Além do mais, provocou
desequilíbrio nas cadeias alimentares. Levando a extinção de certos
componentes da cadeia alimentar, com isso provocou o aumento
numérico de espécies de níveis tróficos mais inferiores produzindo
efeitos muito desagradáveis.

*Poluição ambiental
Nem todo desequilíbrio ecológico é produzido pelo homem,
como por exemplo, os incêndios acidentais provocados por raios
devastando áreas florestais, no entanto, o homem é o maior causa-
dor de tais desequilíbrios. Dentre eles, o de importância maior, que
é a poluição do ambiente.

*Poluição da água
Os principais poluentes da água são: lançamento de esgoto, de-
tergentes, resíduos industriais e agrícolas e petróleo nos rios.
Combate à erosão
*Poluição atmosférica
• Reflorestamento: a falta de vegetação pode provocar a ocor- Os poluentes encontrados no ar, principalmente das cidades
rência da erosão. Com a plantação de árvores em regiões que industrializadas, são: monóxidos de carbono (CO), dióxido de car-
passaram por desmatamentos, evita-se a erosão. O eucalipto e o bono (CO2), fração particulada, óxido de nitrogênio (NO2) e óxido
pinheiro são as árvores mais utilizadas neste processo, pois suas de enxofre (SO2).
raízes “seguram” a terra e absorvem parte da água.
*Inversão térmica
A camada de ar próxima à superfície do globo terrestre é mais
quente. Sendo menos densa ela sobe e à medida que atinge alturas
maiores vai esfriando. Com o movimento do ar as partículas sofrem
dispersão. No inverno pode ocorrer inversão térmica, ou seja, nas
camadas próximas ao solo fica o ar frio e acima dessa camada, o ar
quente. Os poluentes liberados na camada de ar frio estacionam.

*Poluição radioativa
A poluição radioativa aumenta a taxa de mutação, uma de suas
Antes e depois do Reflorestamento maiores consequências é o surgimento de variados tipos de câncer,
alguns com cura desconhecida.1
• Rotação de cultura: a área de plantações pode ser dividida
em partes, de forma que uma delas ficará sempre em repouso. As Poluição do Ar
outras partes recebem o plantio de culturas diversas. Após a co- O desenvolvimento dos grandes centros urbanos e o consumo
lheita, ocorre uma rotação, sendo que a parte que havia ficado em cada vez mais exagerado dos humanos são os grandes responsáveis
repouso recebe o plantio, e uma que foi usada vai para o descanso. por tornar o mundo cada dia mais poluído. A poluição é um proble-
Desta maneira, evita-se o desgaste da terra (perda de nutrientes), ma real que atinge o ar, a água e o solo, tornando-se cada vez mais
dificultando sua infertilidade. acentuada graças às nossas atitudes.
1 Fonte: www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br

99
GEOGRAFIA DO BRASIL
A poluição do ar pode ser definida como a presença de subs- sanguíneos e podem aumentar o risco de câncer de pulmão. Pesso-
tâncias provenientes de atividades humanas ou da própria natureza as que vivem em áreas com tráfego intenso estão particularmente
que podem colocar em risco a qualidade de vida dos seres vivos. em risco.
O ar poluído pode causar sérios problemas ao homem e a outros A maioria dos poluentes atmosféricos causam a contração dos
seres, portanto, ele é impróprio e nocivo. músculos das vias aéreas, estreitando as vias aéreas (hiperreativi-
A poluição do ar tem se intensificado desde a primeira metade dade das vias aéreas).
do século XX com o aumento crescente de indústrias e carros, que Dentre os membros da população geral, especialmente crian-
lançam diversos poluentes na atmosfera. Vale destacar, no entanto, ças, a exposição em longo prazo à poluição do ar pode aumentar a
que também existem fontes naturais de poluição atmosférica, tais ocorrência de infecções respiratórias e sintomas de distúrbios res-
como a poeira da terra e vulcões. piratórios (como tosse e dificuldade respiratória) e uma diminuição
Os poluentes atmosféricos podem ser divididos em dois gran- da função pulmonar.
des grupos: os poluentes primários e os poluentes secundários. Os O ozônio, o principal componente da poluição, é um forte irri-
poluentes primários são aqueles emitidos diretamente por uma tante pulmonar. Os níveis tendem a ser mais elevados no verão em
fonte de poluição, como um carro. Já os poluentes secundários são comparação com outras estações e relativamente mais elevados no
aqueles que sofrem reações químicas na atmosfera, ou seja, são final da manhã e início da tarde em comparação com outros mo-
formados a partir da interação do meio com o poluente primário. mentos do dia. Exposições em curto prazo podem causar dificulda-
Dentre os principais poluentes do ar, podemos citar a fumaça, des respiratórias, dores torácicas e hiperreatividade das vias aéreas.
partículas inaláveis, dióxido de enxofre, ozônio, dióxido de nitrogê- As crianças que praticam atividades ao ar livre em dias em que a
nio e monóxido de carbono. Essas substâncias podem causar sérios poluição por ozônio é elevada estão mais propensas a desenvolver
danos à saúde de homem. O monóxido de carbono, por exemplo, asma. A exposição prolongada ao ozônio causa uma pequena, po-
diminui a capacidade do sangue de transportar oxigênio pelo corpo, rém permanente, redução da função pulmonar.
podendo causar hipóxia tecidual. Já o ozônio possui papel oxidante
e citotóxico, podendo causar irritação nos olhos e diminuição da ca- A combustão de combustíveis fósseis ricos em enxofre pode
pacidade pulmonar, por exemplo. O dióxido de enxofre relaciona-se criar partículas ácidas que se depositam facilmente nas vias aéreas
com irritações nas vias aéreas superiores, assim como o dióxido de superiores. Essas partículas, chamadas óxidos de enxofre, podem
nitrogênio. Esse último também pode provocar danos graves aos causar a inflamação e constrição das vias aéreas, causando sinto-
pulmões. mas como dificuldade respiratória e aumento do risco de bronquite
Além desses problemas, a poluição do ar desencadeia diversas crônica.
outras consequências para nosso corpo. Ela está relacionada com A poluição do ar por partículas derivadas da queima de com-
a diminuição da eficácia do sistema mucociliar das nossas narinas, bustíveis fósseis (principalmente óleo diesel) é uma mistura com-
aumento dos sintomas da asma, infecções das vias aéreas superio- plexa. As partículas podem causar inflamação das vias aéreas ou
res e incidência de câncer de pulmão e doenças cardiovasculares. podem afetar outras partes do corpo, como o coração. Os dados
É importante frisar que crianças e idosos são os mais vulneráveis, de alguns estudos sugerem que a poluição do ar por partículas au-
sendo frequentemente internados, principalmente com doenças menta as taxas de mortalidade por todas as causas, principalmente
respiratórias. mortalidade por causas cardíacas e pulmonares.
A qualidade do ar pode melhorar ou piorar de acordo com as As partículas que afetam os pulmões o fazem de maneira dife-
condições do tempo de uma cidade. Quando há períodos com bai- rente dependendo das substâncias que as compõe. As partículas do
xa umidade e pouco vento, é comum vermos cidades com maior mesmo material também podem ter efeitos diferentes, dependen-
concentração de poluentes. Isso se deve ao fato de que a dispersão do do seu tamanho e forma. A indústria de nanotecnologia cria par-
dessas substâncias ocorre lentamente. Sendo assim, é fundamental tículas extremamente pequenas de diferentes substâncias, como o
atenção redobrada nessas épocas do ano.2 carbono, para várias utilizações. Nanopartículas têm um tamanho
inferior a 100 nanômetros. Partículas ultrafinas são ainda menores.
Doenças relacionadas à poluição do ar Para efeitos de comparação, um fio de cabelo humano tem cerca de
As doenças relacionadas à poluição do ar são consideradas do- 100.000 nanômetros de diâmetro, de modo que seriam necessárias
enças pulmonares ambientais. (Consulte também Considerações 1000 nanopartículas para se chegar à espessura de um fio cabelo.
gerais sobre doenças pulmonares ambientais.) Testes em animais e testes laboratoriais mostram que altas concen-
Os principais componentes da poluição do ar em países desen- trações de nanopartículas ou de partículas ultrafinas podem ser
volvidos são perigosas. Alguns trabalhadores acidentalmente expostos a quan-
- Dióxido de nitrogênio (proveniente da queima de combustí- tidades muito altas desenvolveram líquido ao redor dos pulmões
veis fósseis como carvão, petróleo e gás natural) ou lesão nas pequenas vias aéreas pulmonares. Porém, os médicos
- Ozônio (devido ao efeito da luz solar sobre o dióxido de nitro- não sabem ao certo os efeitos sobre os profissionais do setor de
gênio e hidrocarbonetos) nanotecnologia das quantidades e tipos de nanopartículas às quais
- Partículas sólidas ou líquidas suspensas eles estão expostos. Estudos estão em andamento para avaliar os
riscos e garantir a proteção dos profissionais.
A queima de combustível de biomassa (como madeira, resídu- Os níveis de poluentes no ar variam com base na localização e
os animais e colheitas) é uma fonte importante de partículas em nas condições ambientais. Por exemplo, o ozônio tende a perma-
ambientes internos em países em desenvolvimento. O fumo passi- necer no ar em dias quentes e úmidos, particularmente à tarde e
vo é também uma importante fonte de poluição do ar em ambiente início da noite. O monóxido de carbono tende a estar mais elevado
interno. durante períodos de alto fluxo de veículos indo ou voltando do tra-
Altos níveis de poluição do ar podem desencadear crises (exa- balho. O Índice de qualidade do ar é usado para comunicar o nível
cerbações) em pessoas com asma ou doença pulmonar obstruti- de poluição do ar em um dado ponto no tempo. As pessoas, espe-
va crônica. As doenças pulmonares relacionadas à poluição do ar cialmente aquelas com distúrbios cardíacos ou pulmonares, podem
também aumentam o risco de distúrbios do coração e dos vasos
2 Fonte: www.mundoeducacao.bol.uol.com.br

100
GEOGRAFIA DO BRASIL
usar o Índice de qualidade do ar para orientar suas escolhas de ati- - Cerrado: de relevo caracterizado por planaltos e chapa-
vidades ao ar livre em dias em que os níveis de poluição estiverem dões, o clima desse domínio é tropical sazonal. A sua temperatura
elevados. média é de 22ºC, mas pode variar bastante, tendo secas no inverno.
É o domínio que abriga 8 de 12 bacias hidrográficas no Brasil, com
Diagnóstico rios importantes como o Rio Tocantins e o Rio Araguaia. O solo é
avermelhado e argiloso.
Histórico de exposição - Araucárias: o relevo desse domínio é caracterizado por
O médico baseia o diagnóstico no histórico de exposição e sin- ondulações e montanhas. Seu clima é subtropical, e apresenta as
tomas da pessoa, nos testes de função pulmonar e na exposição a estações do ano bem definidas. A temperatura varia de 14ºC a
altas concentrações de poluentes conhecidos no ar em casa e no 30ºC. O domínio abriga usinas hidrelétricas importantes para o país.
trabalho. O médico pergunta a pessoas com doenças pulmonares, Apresenta solo de bastante umidade e bem fértil.
como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica, se seus sintomas - Pradarias (ou Pampas): situado no Sul do Brasil, o relevo
pioram quando expostos a poluição do ar. desse domínio apresenta características de baixa latitude e algumas
É frequente que os testes não ajudem a diferenciar as doen- ondulações. Possui dois tipos de clima, as temperadas, com clima
ças relacionadas à poluição do ar de outras doenças pulmonares. de estações bem definido (verão com temperaturas altas e chuva e
O diagnóstico pode ficar claro se muitos trabalhadores do mesmo inverno frio e seco), e pradarias tropicais, com clima quente e seco
setor, e com exposições semelhantes, desenvolverem a mesma do- em todos os meses do ano. Abrange rios como o Ibicuí e o Rio Uru-
ença pulmonar, ainda mais após exposições súbitas muito elevadas. guai. Solo fértil e profundo, bastante utilizado para a agricultura.
— Mudança Climática e Poluição Atmosférica.
Prevenção Mudanças climáticas são transformações que o clima e a tem-
Trabalhadores com exposições a poluição do ar devem seguir peratura sofrem ao longo do tempo. Elas são naturais, porém os
as recomendações feitas pelas principais agências governamentais seres humanos vem interferindo no ciclo natural desde o século
que limitam a exposição a gases, poeiras e vapores no ar. Crianças, XVIII, principalmente após a Revolução Industrial. A queima
idosos e pessoas com asma, doença pulmonar obstrutiva crônica de combustíveis como petróleo e carvão polui a atmosfera Terres-
e outras doenças pulmonares devem evitar exercícios ao ar livre tre com gases de efeito estufa, retendo o calor na Terra e gerando
quando o ar apresentar níveis elevados de poluentes. mudanças climáticas intensas. O principal gás liberado pelos com-
bustíveis fósseis utilizados em carros, motos e indústrias é o dióxido
Tratamento de carbono. Além de causar mudanças climáticas e o aquecimento
global, a poluição atmosférica afeta a vida de todos os seres vivos
Tratamento de sintomas do planeta, inclusive os seres humanos. Diversas doenças respira-
Os tratamentos são administrados para aliviar os sintomas. Por tórias e pulmonares, por exemplo, se intensificaram ao longo dos
exemplo, medicamentos usados para tratar asma (como broncodi- anos com o aumento do aquecimento global.
latadores, que abrem as vias aéreas) podem aliviar alguns sintomas.
Se os sintomas forem graves, as pessoas podem precisar de oxigê-
nio suplementar ou ventilação mecânica. GEOGRAFIA DA BAHIA: ASPECTOS POLÍTICOS, FÍSICOS,
ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS

CLIMA: PRESSÃO ATMOSFÉRICA, UMIDADE, TEMPE- GEOGRAFIA DA BAHIA


RATURA, FATORES QUE DETERMINAM O CLIMA, MU-
DANÇAS CLIMÁTICAS E AS SUAS CONSEQUÊNCIAS Formação do território
A história da formação do território baiano permeia a história
— Domínios Morfoclimáticos Brasileiros do Brasil. Isso porque em 22 de abril de 1500, quando os explora-
Domínios Morfoclimáticos são classificação que divide o espa- dores portugueses chegaram ao país, liderados por Pedro Álvares
ço geográfico baseado nas características climáticas, vegetativas, Cabral, o primeiro local onde eles aportaram foi onde hoje está a
do solo e a hidrografia. Os domínios morfoclimáticos do Brasil são cidade de Porto Seguro.
definidos como seis: Entretanto, a povoação da região só começou alguns anos de-
- Amazônico: é o maior entre eles. Localizado no Norte do pois, em 1534, juntamente com outras partes do litoral brasileiro.
país, possui relevo de terras de baixa latitude e grandes depressões. Salvador, que foi a primeira capital do Brasil, foi fundada em 1549,
Seu clima é quente e úmido (equatorial), com chuvas em todos os pelo governador-geral, Tomé de Souza.
meses do ano. A temperatura nesse domínio varia entre 24ºC e 27 Ainda que durante um longo período a título tenha sido di-
ºC, e nele está a maior bacia hidrográfica do Brasil. O solo da Ama- vidido com o Rio de Janeiro, quando o Brasil foi dividido em dois
zônia não é muito fértil. estados pela Coroa, a cidade permaneceu com o título até 1763,
- Caatinga: situado na região do Nordeste do país, apre- quando o Rio de Janeiro passou a ser a única capital.
senta características de um relevo com grandes depressões e clima A povoação do estado só se intensificou a partir de 1549, quan-
semiárido, ocorrendo diversas secas. Sua hidrografia é instável, pois do o território foi dividido em cinco capitanias hereditárias: Bahia
os rios secam uma vez por ano, por conta da temperatura alta pa- de Todos os Santos, Porto Seguro, Ilhéus, Itaparica e Recôncavo.
drão desse domínio. O solo da Caatinga tem má permeabilidade. Cada uma delas foi doada a um donatário, e estes ficaram encar-
- Mares de Morros: domínio situado no litoral do país, de regados do desenvolvimento, povoamento e proteção de seu res-
relevo caracterizado por morros arredondados e serras. Apresenta pectivo território.
clima tropical úmido, com alto índice de chuvas. Esse domínio pos- A maioria dos ataques de países estrangeiros feitos ao Brasil
sui duas bacias hidrográficas importantes: a Bacia do Rio Paraná e a foram no estado da Bahia. Entre eles, o ataque feito pelos piratas
Bacia do Rio São Francisco. O solo é fértil. ingleses e franceses em 1587 e 1612, respectivamente.

101
GEOGRAFIA DO BRASIL
Um dos maiores ataques foi o dos holandeses, que tentaram em 564 733,1 quilômetros quadrados resultando em 24,82 habi-
pela primeira vez em 1599, sem obter sucesso. Porém, em 1624 os tantes por quilômetro quadrado nos seus 417 municípios. Segundo
mais de 3600 invasores conseguiram passar pela defesa e tomaram o mesmo censo, 6 880 368 habitantes eram homens e 7 141 064
a cidade de Salvador. Eles ficaram instalados na cidade até 1625, habitantes eram mulheres.[48] Ainda segundo o mesmo censo, 10
quando tropas enviadas por portugal conseguiram reassumir o do- 105 218 habitantes viviam na zona urbana e 3 916 214 viviam na
mínio do território. zona rural. Se fosse um país, a Bahia seria o 65.º em população,
Ao longo da história do Brasil o estado foi palco de diversos entre o Camboja (64.º: 14 132 398 habitantes) e o Equador (65.º: 13
conflitos, a exemplo da Guerra de Canudos e da Conjuração Baiana. 752 593 habitantes), 149.º em densidade demográfica, entre a Re-
pública Democrática do Congo (148.º: 25 habitantes por quilômetro
Principais características do estado da Bahia quadrado) e o Moçambique (149.º: 24 habitantes por quilômetro
A Bahia (BA) é um estado que pertence a região nordeste do quadrado) e à frente do Brasil (150.º: 21 habitantes por quilômetro
Brasil. Com uma área de 564.733.080 km², é considerado o quinto quadrado) e 7.º mais rico da América Latina.
maior em extensão territorial. O getílico é o baiano.
Ao norte, o estado faz divisa com Alagoas, Piauí, Sergipe e Per- Etnias
nambuco. A oeste a divisa é com os estados de Goiás e Tocantins.
Minas Gerais e Espírito Santo estão ao Sul e o Oceano Atlântico a Cor/Raça Porcentagem
leste.
O estado é dividido em 417 municípios e estes, por sua vez, Pardos 59.8%
dividido em sete mesorregiões e 32 microrregiões. Brancos 23.0%
População Negros 16.8%
Com uma população estimada de 15.344.447 habitantes, a Amarelos ou indígenas 0,3%
Bahia é o estado mais populoso da região nordeste, e o quarto de
todo o Brasil. A densidade demográfica é de 27,17 habitantes por Um estudo genético realizado no Recôncavo baiano confirmou
km², ocupando a décima quinta posição do ranking brasileiro. A o alto grau de ancestralidade africana na região. Foram analisadas
maioria da população é constituída por mulheres. pessoas da área urbana dos municípios de Cachoeira e Maragojipe,
Mais de 72% dos habitantes estão concentrados em áreas ur- além de quilombolas da área rural de Cachoeira. A ancestralidade
banas, ou seja, são mais de 10 milhões de baianos vivendo nas ci- africana foi de 80,4%, a europeia 10,8% e a indígena 8,8%.
dades. Um estudo genético realizado na população de Salvador con-
A expectativa de vida média é de 73,2 anos, enquanto o Índice firmou que a maior contribuição genética da cidade é a africana
de Desenvolvimento Humano (IDH) em 2010 era de 0,660, o que é (49,2%), seguida pela europeia (36,3%) e indígena (14,5%). Outro
considerado médio, mas coloca o estado na vigésima segunda posi- estudo ainda revela que, em relação aos ciganos, a Bahia é o estado
ção em relação aos demais estados brasileiros. brasileiro onde há a maior quantidade de grupos vivendo, segundo
pesquisa inédita do IBGE.
Demografia Um estudo genético autossômico de 2015 encontrou a seguin-
te composição para Salvador: 50,5% de ancestralidade africana,
Crescimento populacional 42,4% de ancestralidade europeia e 5,8% de ancestralidade indíge-
na Os pesquisadores explicaram que eles coletaram mais amostras
Censo Pop. de indivíduos que vivem em ambientes mais pobres.
Outro estudo do mesmo ano (2015) encontrou níveis seme-
1872 1.379 616 lhantes em Salvador: 50,8% de ancestralidade africana, 42,9% de
1890 1919 802 ancestralidade europeia e 6,4% de ancestralidade indígena.
Um outro estudo genético de 2015 encontrou a seguinte com-
1900 2 117 956
posição em Salvador: 50,8% de contribuição europeia, 40,5% de
1920 3 334 465 contribuição africana e 8,7% de contribuição indígena.
1940 3 918 112
Em Ilhéus, um estudo genético de 2011 encontrou a seguinte
1950 4 834 575 composição: 60,6% de contribuição europeia, 30,3% de contribui-
1960 5 990 605 ção africana e 9,1% de contribuição indígena. Outro estudo recente
demostra a crescente importância de conceitos de herança Africa-
1970 7 583 140 na, do reconhecimento de ligações genealógicas e a ancestralidade,
1980 9 597 393 da memória coletiva, e do patrimônio cultural às políticas raciais
baianas.
1991 11 855 157
2000 13 066 910 Populações indígenas
2010 14 016 906 Etnias indígenas Pessoas
2019 14 873 064 Atikum 249
2020 14.930.634 Kaimbé 903
Fonte: IBGE
Kantaruré 332
Segundo o censo demográfico de 2010 realizado pelo IBGE, a Kiriri 2 167
Bahia é o quarto estado brasileiro mais populoso e o 15.º mais po- Pankararé 1 304
voado, com uma população de 14 016 906 habitantes distribuída

102
GEOGRAFIA DO BRASIL

Pankaru 107 Política


Integrante da federação brasileira, é uma unidade federativa
Pataxó 11 084 autônoma, sob os limites da constituição federal, com os três pode-
Tupinambá 4 083 res próprios (executivo, judiciário e legislativo), além do Ministério
Público do Estado da Bahia (MPBA), eleições diretas periódicas para
Pataxó-Hã-Hã-Hãe 2 388 cargos do executivo e legislativo, símbolos oficiais e data magna es-
Truká 131 tabelecidas na Constituição estadual de 1989.[64] A capital estadual
é o município de Salvador,[64] e Cachoeira é a segunda capital do
Tumbalalá 1 090
estado, de acordo com a Lei Estadual 10.695 de 2007, que estabe-
Tuxá 1 568 leceu que todos os anos, no dia 25 de junho, o governo estadual é
Xukuru-Kariri 55 transferido para a cidade, em reconhecimento histórico pelas lutas
na Independência da Bahia.
Total 25 816 A história da política no estado brasileiro da Bahia confunde-
-se, muitas vezes, com a política do país - e boa parte dela equivale
As populações indígenas localizados na Bahia pertencem, em à mesma, uma vez que Salvador, por muitos anos, foi a capital da
grande maioria, ao tronco linguístico macro-jê. Dentre elas, estão Colônia. Contando sempre com expoentes no cenário político na-
os grupos indígenas de pataxós, pataxós-hã-hã-hãe, quiriris e os ex- cional, a Bahia é um dos mais representativos estados da federação.
tintos camacãs. Grande parte dos índios vem perdendo o hábito do Durante o período imperial, contou com diversos primeiros-
idioma materno, passando a falar a língua portuguesa. As tribos e -ministros; na fase republicana, estiveram à frente de vários movi-
aldeias indígenas estão bastante distribuídas pela Bahia em terras mentos nacionais baianos como Rui Barbosa, Cezar Zama, Aristides
e reservas indígenas. Spínola e outros. Na República Velha, dominou o cenário estadual
De acordo com informações da ANAÍ-Bahia e da Fundação Na- José Joaquim Seabra; durante a Era Vargas surgiu a figura de Juracy
cional do Índio (FUNAI), os pataxós vivem, principalmente, na costa Magalhães e em contraposição, com a redemocratização do pós-
do Atlântico Sul, no municípios de Porto Seguro, Santa Cruz de Ca- -guerra, o socialista Octávio Mangabeira. Durante o regime militar,
brália, Prado e Itamaraju; os pataxós-hã-hã-hães vivem no sudeste surgiu a figura de Antônio Carlos Magalhães, que dominou o cená-
baiano nas Áreas Indígenas Fazenda Baiana e Caramuru/Paraguas- rio político estadual por três décadas, com breve derrota para Wal-
su; os ribeirinhos tuxás vivem nas margens do rio São Francisco no dir Pires, na década de 1980, ocupando o cargo de senador, quan-
norte de Bahia, nas Áreas Indígenas Ibotirama (município de Iboti- do de sua morte. Tal fenômeno político ganhou a denominação de
rama), Rodelas e Nova Rodelas (município de Rodelas), e também “Carlismo”.[carece de fontes]
em Pernambuco; os pancararés (Pankararé) que vivem nas Áreas In- Tratando-se sobre partidos políticos, todos os 35 partidos po-
dígenas Brejo do Burgo e Pankararé, localizadas ao norte da Estação líticos brasileiros possuem representação no estado.[66] Conforme
Ecológica Raso da Catarina, nos municípios de Nova Glória e Glória; informações divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com
os índios quiriris (Kiriri) moram na Terra Indígena Kiriri, entre os mu- base em dados de abril de 2016, o partido político com maior nú-
nicípios de Ribeira do Pombal e Banzaê, e na Área Indígena Barra à mero de filiados na Bahia é o Partido do Movimento Democrático
margem esquerda do São Francisco, no município de Muquém de Brasileiro (PMDB), com 94 518 membros, seguido do Democratas
São Francisco; vizinhos a estes, os caimbés (Kaimbé) estão espa- (DEM), com 90 106 membros e do Partido dos Trabalhadores (PT),
lhados pela Área Indígena Massacará e pelas localidades de Muriti com 84 525 filiados. Completando a lista dos cinco maiores partidos
e Tocas, todas dentro do município de Euclides da Cunha; já os ín- políticos no estado, por número de membros, estão o Partido Pro-
dios tumbalalás vivem no antigo aldeamento do Pambu, também gressista (PP), com 73 386 membros; e o Partido Trabalhista Brasi-
às margens do São Francisco entre os municípios de Abaré e Cura- leiro (PTB), com 64 477 membros. Ainda de acordo com o Tribunal
çá; os cantarurés (Kantaruré) habitando a Terra Indígena Kantaruré Superior Eleitoral, o Partido Novo (NOVO) e o Partido Socialista dos
da Batida, no município de Glória; a pequena etnia dos pancarus Trabalhadores Unificado (PSTU) são os partidos políticos com me-
(Pankaru) que habitam a Reserva Indígena Vargem Alegre, locali- nor representatividade na unidade federativa, com 24 e 275 filia-
zada ao norte da serra do Ramalho, no município de Bom Jesus da dos, respectivamente
Lapa.[carece de fontes]
Poder executivo
Há também a presença dos tupinambás de Olivença em Ilhéus, O Poder Executivo baiano é exercido pelo governador do esta-
Una e Buerarema, geréns, trucás (Truká ou Tur-Ká), aticuns-umãs do, que é eleito em sufrágio universal e voto direto e secreto pela
(Aticum ou Atikim-Umã) e Xukuru-Kariris. O território baiano foi ha- população para mandatos de até quatro anos de duração, podendo
bitado ainda pelos sapuiás e camacãs. ser reeleito para mais um mandato. A atual sede é o Palácio de On-
É no sul da Bahia que está localizada a Aldeia da Pedra Branca, dina, situado no bairro de Ondina, desde 1967.[67] Antigamente, a
à qual pertencia o índio Galdino, que foi queimado vivo por jovens sede do governo baiano era o Palácio Rio Branco, localizado na Pra-
de classe média-alta num ponto de ônibus de Brasília, em 1997. ça Municipal, e foi construída em 1549 (ano da fundação da cidade
de Salvador, em 1549) tornando-se sede do governo e residência
Municípios mais populosos
oficial do primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Sousa.[68]
O município mais populoso da Bahia é Salvador (capital do es-
Em janeiro de 1908, foi transformada em residência oficial dos go-
tado, com quase três milhões de habitantes), que também é o ter-
vernadores do estado.[69] Depois do Palácio Rio Branco, a sede do
ceiro mais populoso do Brasil, sendo seguida por Feira de Santana,
governo baiano foi o Palácio da Aclamação, localizado no bairro do
Vitória da Conquista, Camaçari, Itabuna, Juazeiro, Lauro de Freitas,
Campo Grande, até ser estabelecida a atual sede.
Ilhéus, Jequié, Teixeira de Freitas, Barreiras e Alagoinhas. A região
metropolitana da capital conta com cerca de quatro milhões habi-
tantes, sendo a mais populosa da região Nordeste e a sexta mais
populosa do Brasil.

103
GEOGRAFIA DO BRASIL
Poder legislativo O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divide as
O Poder Legislativo da Bahia é unicameral, exercido pela As- unidades federativas do Brasil em regiões geográficas intermediá-
sembleia Legislativa da Bahia, localizado no Palácio Luís Eduardo rias e regiões geográficas imediatas para fins estatísticos de estudo,
Magalhães. É constituída pelos representantes do povo (deputa- agrupando os municípios conforme aspectos socioeconômicos. As
dos estaduais) eleitos em votação direta para o mandato de quatro regiões geográficas intermediárias foram apresentadas em 2017,
anos. Ela possui 63 deputados estaduais. No Congresso Nacional, com a atualização da divisão regional do Brasil, e correspondem a
a representação baiana é de 3 senadores e 39 deputados federais. uma revisão das antigas mesorregiões, que estavam em vigor desde
Cabe, à Assembleia Legislativa, com a sanção (aprovação) do a divisão de 1989. As regiões geográficas imediatas, por sua vez,
governador do estado, dispor sobre todas as matérias de compe- substituíram as microrregiões. A divisão de 2017 teve o objetivo
tência do estado e especificamente sobre: de abranger as transformações relativas à rede urbana e sua hie-
-Tributos, arrecadação e distribuição de rendas rarquia ocorridas desde as divisões passadas, devendo ser usada
-Planos e programas estaduais, regionais e setoriais de desen- para ações de planejamento e gestão de políticas públicas e para
volvimento a divulgação de estatísticas e estudos do IBGE. Deste modo, há 10
-Criação, transformação, extinção de cargos, empregos e fun- regiões geográficas intermediárias e 35 regiões geográficas imedia-
ções públicas na administração direta, autárquica e fundacional e tas no estado.
fixação da remuneração, observados os parâmetros estabelecidos Uma outra divisão, desta vez para fins de coordenação de ações
na lei de diretrizes orçamentárias de promoção turística, o Programa de Desenvolvimento do Turismo
-Organização judiciária do Ministério Público, da Procurado- (PRODETUR) subdividiu o território baiano em zonas turísticas, as
ria-Geral do Estado, da Defensoria Pública, do Tribunal de Contas, quais são Baía de Todos os Santos, Costa dos Coqueiros, Costa do
da Polícia Militar, da Polícia Civil e demais órgãos da administração Dendê, Costa do Cacau, Costa das Baleias, Costa do Descobrimento,
pública Caminhos do Oeste, Caminhos do Sertão, Caminhos do Sudoeste,
-Normas suplementares de direito urbanístico, bem como de Chapada Diamantina, Lagos e cânions do São Francisco, Vale do Ji-
planejamento e execução de políticas urbanas quiriçá e Vale do São Francisco.
Até meados da década de 2000, o Governo da Bahia agrupava
os municípios baianos segundo características econômicas, forman-
O Tribunal de Contas, através de seus conselheiros, auxilia a
do as regiões Metropolitana de Salvador, Extremo Sul, Oeste, Serra
Assembleia Legislativa na apreciação das contas prestadas anual-
Geral, Litoral Norte, Sudoeste, Litoral Sul, Médio São Francisco, Bai-
mente pelo governador do estado, no julgamento das contas dos
xo-médio São Francisco, Irecê, Chapada Diamantina, Recôncavo Sul,
administradores e demais responsáveis (fundações, empresas etc.)
Piemonte da Diamantina, Paraguaçu e Nordeste. Atualmente, essa
por dinheiro, bens e valores públicos da administração direta e in-
divisão foi substituída pelos 26 Territórios de Identidade, a saber:
direta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas
Irecê, Velho Chico, Chapada Diamantina, Sisal, Litoral Sul, Baixo Sul,
pelo poder público estadual e as contas que derem causa a perda,
Extremo Sul, Itapetinga, Vale do Jiquiriçá, Sertão do São Francisco,
extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário
Oeste Baiano, Bacia do Paramirim, Sertão Produtivo, Piemonte do
público. Paraguaçu, Bacia do Jacuípe, Piemonte da Diamantina, Semiárido
Além deste, possui o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), Nordeste II, Agreste de Alagoinhas/Litoral Norte, Portal do Sertão,
que auxilia as Câmaras municipais na apreciação das contas dos res- Vitória da Conquista, Recôncavo, Médio Rio de Contas, Bacia do Rio
pectivos executivos. Corrente, Itaparica, Piemonte Norte do Itapicuru, Metropolitana de
Salvador.
Poder judiciário A Bahia também é repartida em 26 partes pelo Conselho Es-
A maior corte do Poder Judiciário estadual é o Tribunal de Justi- tadual de Recursos Hídricos (Conerh), que, para gestão das bacias
ça do Estado da Bahia, localizado em prédio denominado Palácio da hidrográficas e dos recursos hídricos, criou as 26 regiões hidrográ-
Justiça, situado no Centro Administrativo da Bahia. A Justiça do Tra- ficas, chamadas de Regiões de Planejamento e Gestão das Águas
balho está ligada à Quinta região, que compreende todo o estado (RPGA).[
e possui sede na capital. A Justiça Federal está vinculada à primeira
região com sede em Brasília.[carece de fontes]

Eleições
O sistema eleitoral na Bahia repete o nacional. Os mandatos
eletivos duram quatro anos, e as eleições estaduais e federais al-
ternam com as municipais a cada dois anos. O eleitorado baiano é
composto por 10.110.100 votantes, segundo dados referentes às
eleições de 2012, o que representa o quarto maior colégio eleitoral
do país. Sua capital, Salvador, é o município com maior número de
eleitores (1.881.544), seguido de Feira de Santana (373.753) e Vi- Salvador e principais cidades
tória da Conquista (215.299). O município com menor número de A capital da Bahia é a cidade de Salvador, que foi fundada em
eleitores é Lajedinho, com 3.027. 1549, e por muito tempo foi a capital do Brasil. A cidade conta com
uma população de 2,6 milhões de habitantes, número que corres-
Subdivisões ponde a 19% da população baiana.
A Bahia, assim como todos os outros estados brasileiros, está A cidade é considerada uma metrópole regional para quase
politicamente dividida em municípios. Ao total, existem 417 muni- todo o estado, e também para estados vizinhos, como Sergipe. Ou
cípios baianos, o que torna a Bahia o quarto maior estado segundo seja, ela influencia quase toda essa região em diversos aspectos,
a quantidade de municípios. principalmente no econômico.

104
GEOGRAFIA DO BRASIL
Além da capital abaixo, estão algumas das cidades mais impor- Cultivo de cacau em Ilhéus
tantes da Bahia. Todas elas na região metropolitana de Salvador ou A Bahia é o primeiro produtor nacional de cacau, sisal, mamona,
do Recôncavo Baiano. coco, feijão e mandioca, sendo os dois últimos mais voltados para
-Feira de Santana a subsistência do que para a comercialização. A região de Ilhéus-I-
-Itabuna tabuna é uma das mais propícias áreas para o cultivo do cacau em
-Ilhéus toda a Bahia. Além de ser o principal produtor de cacau, é também
-Vitória da Conquista o principal exportador de cacau no Brasil, porém a produção decli-
-Jequié nou nos últimos anos vítima de pragas como a vassoura-de-bruxa.
-Bom Jesus da Lapa Tem bons índices também na produção de milho e cana-de-açúcar.
-Camaçari Outra região do estado que merece a devida atenção é aquela com-
preendida pelo Rio São Francisco, conhecida também como Vale do
Economia São Francisco, compreendendo as cidades de Juazeiro, Curaçá, Casa
A Bahia tem uma economia bastante diversificada. Há forte
Nova, Sobradinho, dentre outras. A região é a maior produtora de
atuação tanto nas indústrias, quanto na agropecuária, turismo, mi-
frutas tropicais do país: essa fruticultura é irrigada, tem crescido e
neração e serviços.
exporta para os mercados europeu, asiático e estadunidense. Re-
No que diz respeito a agropecuária, a Bahia se destaca na pro-
centemente, o cultivo da soja, milho, arroz, café e algodão aumen-
dução de cacau, algodão, sisal, feijão, mamona, mandioca, coco,
milho e cana-de-açúcar. Além disso, tem um dos maiores rebanhos tou substancialmente no oeste do estado, principalmente na área
de caprinos do Brasil, estabelecendo-se como o um dos maiores do cerrado, que apresenta terreno plano e propício à mecanização,
estados pecuaristas. com perfil produtivo intensivo.
A Bahia também apresenta importantes atividades extrativis- Também importante elemento da economia baiana, a pecuária
tas, principalmente mineral. Entre aqueles que se destacam, pode- bovina ocupa, hoje, o sexto lugar nacional, enquanto a caprina re-
mos citar ouro, cobre, sal-gema, barita, magnesita, chumbo, talco gistra, atualmente, os maiores números do setor em todo o Brasil,
e manganês. mas também se destacando os rebanhos de ovinos.
Na indústria, também muito presente no território, sobressa- Já as atividades extrativas vegetais têm pequena participação
em a agroindústria, setor petroquímico, químico, automobilístico e na economia baiana. Entretanto, tem reservas consideráveis de mi-
informática. nérios e de petróleo. A mineração baseia-se essencialmente na pro-
Além de todas essas, o turismo exerce uma grande importância dução de ouro, cobre, magnesita, cromita, sal-gema, barita, manga-
na economia baiana. Todos os anos milhares de brasileiros e estran- nês, chumbo, urânio, ferro, talco, columbita, prata, cristal de rocha
geiros visitam as praias e cidades históricas. Estima-se que somente e zinco.[carece de fontes] As minas de magnesita a céu aberto em
essa atividade seja responsável pela geração de mais de 85 mil em- Brumado são a terceira maior do mundo e dão condição para ser
pregos diretos. a maior produção deste minério no Brasil. O mesmo município é,
Apesar das praias altamente visitadas, Salvador é responsável também, o segundo produtor de talco no país
por receber a maioria dos turistas, tanto por conta do carnaval, que
é um dos mais famosos do Brasil, quanto pelo acerto arquitetônico, Setor secundário
museus e entidades culturais. A indústria é relativamente bem distribuída, abrigando os mais
Na cidade, entre os locais mais visitados pelos turistas estão: variados segmentos desse setor. Representa uma grande força eco-
-Igreja do Nosso Senhor do Bonfim nômica no estado. Está voltado para os setores da química e pe-
-Elevador Lacerda troquímica, agroindústria, informática, automobilística e suas pe-
-Farol da Barra ças, alimentos, mineração, borracha e plástico, metalurgia, couro e
-Pelourinho calçados, higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, energia eólica,
-Fundação Casa de Jorge Amado
celulose e papel e bebidas Na região Metropolitana de Salvador,
-Mercado Modelo
estão concentradas a maioria das indústrias no Polo Industrial de
Camaçari, maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul
A Chapada Diamantina é outro, entre os locais mais procura-
e que já nasceu planejado na década de 1970, cujo foco inicial era
dos. Repleta de cavernas e grutas, é um excelente local para quem
o setor petroquímico e com o passar dos anos diversificou sua pro-
procura por ecoturismo. dução.[96] Em relação ao valor de transformação industrial, a Bahia
saltou da nona para a sexta posição no ranqueamento nacional em
Setor primário 2005. Há municípios do interior que se destacam por ser um grande
No setor primário, a agricultura está dividida em grande lavou- polo produtivo, como de bebidas em Alagoinhas; papel e celulose
ra comercial, a pequena lavoura comercial e a agricultura de subsis- em Eunápolis e Mucuri; calçados em Itapetinga, Serrinha e Amargo-
tência. A grande lavoura está baseada nas culturas da cana-de-açú- sa; agroindústria em Juazeiro etc.
car e cacau, e é integrada com modernas usinas. Entre as pequenas Para fomentar a pesquisa e desenvolvimento tecnológico, foi
culturas comerciais, a mandioca, o coco-da-baía, o fumo, o café, o lançado o projeto de um grande parque tecnológico em Salvador.
agave, a cebola, dendê (e consequente azeite de dendê) são as pro- Chamado de Parque Tecnológico da Bahia, tem, como prioridades, a
duções em destaque. As culturas de subsistência estão em todo o tecnologia da informação e comunicação (TIC), a robótica e a ener-
território, sendo que a cultura da mandioca é a mais importante, gia. A primeira área do complexo foi inaugurada em 2012. Outro
seguida pelo feijão, o milho, o café e a banana. O estado é conhe- ponto de desenvolvimento tecnológico, a primeira biofábrica do
cido por ter uma baixa qualidade nas condições de trabalho e por país se encontra na cidade sertaneja de Juazeiro, no vale do Rio São
explorar excessivamente a mão de obra. Francisco.
A indústria, o comércio e os domicílios baianos contam com
abundante suprimento de energia elétrica, fornecido principalmen-
te pelo Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso e pelas hidrelétricas

105
GEOGRAFIA DO BRASIL
de Sobradinho e Itapebi, que, juntas, produzem quase seis mil me- país inteiro, e na frente da Universidade Estadual do Maranhão. Em
gawatts de energia. No campo da energia a partir dos hidrocarbone- outro ranqueamento publicado no mesmo ano, feito pelo Ministé-
tos, o estado é dos maiores produtores nacionais de petróleo e gás rio da Educação (MEC) a partir do Exame Nacional de Desempenho
natural. Há um importante polo de refino de petróleo e biocombus- de Estudantes (ENADE), a Universidade Estadual de Feira de Santa-
tíveis em São Francisco do Conde, na região metropolitana de Sal- na foi classificada como a melhor universidade das regiões norte e
vador, onde está localizada a Refinaria Landulpho Alves, a primeira nordeste e a 15.º do país em cursos com a nota cinco.
construída no Brasil e que foi responsável por manter a Bahia como
o maior produtor de petróleo por décadas, e vários oleodutos e ter- Saúde
minais em seu entorno para a chegada e escoamento da produção. A saúde na Bahia não é das melhores do país: problemas típicos
da saúde brasileira ocorrem no estado. Algumas doenças têm altos
Setor terciário índices de doentes, como o câncer de mama,que, de acordo com a
O turismo é uma destacada atividade econômica baiana, uma Sociedade Brasileira de Mastologia, atinge cerca de dois mil novos
vez que o setor é responsável por 7,5% do produto interno bruto casos anualmente. Apesar disso, certas práticas que poderiam sal-
(PIB) estadual e emprega uma cadeia gigantesca que engloba os var muitas vidas não são comuns no estado, a exemplo da doação
estabelecimentos do setor do turismo, como hotéis, bares, restau- de órgãos. 60% das famílias baianas se recusam a doar órgãos de
rantes e agências de viagem. No cenário nacional, o turismo baia- parentes, índice bem maior do que a média nacional, que é de 25%.
no tem a fatia de 13,2% do PIB turístico nacional, a segunda maior Entre as doenças mais comuns, estão a dengue e a meningite,
porcentagem. Foram 5,29 milhões de turistas brasileiros e 558 mil as quais estão alastrando-se por todo o território baiano e não ape-
turistas estrangeiros que visitaram o estado em 2011. A diversida- nas infectam os baianos, mas também provocam a morte.
de de atrativos no estado incitou o planejamento governamental, Na parte da estrutura, destacam-se, na capital: o Hospital Geral
que estabeleceu zonas turísticas para definições necessárias ao do Estado (HGE); Hospital Geral Roberto Santos (HGRS); Hospital
desenvolvimento do ramo turístico e para identificação das poten- do Subúrbio, que funciona sob gestão de parceria público-privada,
cialidades por meio do Programa de Desenvolvimento do Turismo conceito inédito no Brasil; Hospital Santo Antônio (fundado por
(PRODETUR). Em 2002, eram sete zonas: Costa dos Coqueiros, Baía Irmã Dulce); Hospital Sarah Kubitschek; Hospital Manoel Victorino;
Hospital Santa Izabel; Hospital Ana Nery, referência nas áreas de
de Todos-os-Santos, Costa do Dendê, Costa do Cacau, Costa do Des-
cardiologia, cirurgia vascular, hemodiálise e transplante de órgãos;
cobrimento, Costa das Baleias e Chapada Diamantina.[38] Isso mos-
Hospital Couto Maia, referência em doenças infecciosas e parasi-
tra o destaque para o turismo no litoral, mas também aponta um
tárias, Hospital São Rafael; Hospital da Bahia; Hospital Especiali-
importante polo no interior, a Chapada Diamantina. Formação geo-
zado Octávio Mangabeira (HEOM); Hospital Martagão Gesteira,
gráfica em que chegam anualmente 500 mil visitantes, que gastam
referência no atendimento às mais diversas especialidades pediá-
meio bilhão de reais ao conhecer as cidades de Lençóis, Andaraí,
tricas; Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos
Rio de Contas, Mucugê e Palmeiras. Mais tarde, foram criadas novas
(COMHUPES, mantido pela Universidade Federal da Bahia através
zonas, interiorizando o planejamento turístico, a saber: Caminhos
do Sistema Universitário de Saúde); Hospital Aristides Maltez, insti-
do Oeste, Caminhos do Sertão, Caminhos do Sudoeste, Lagos e câ- tuição referência no diagnóstico e tratamento do câncer no Brasil e
nions do São Francisco, Vale do Jiquiriçá e Vale do São Francisco. que atende, prioritariamente, pacientes do Sistema Único de Saúde
(SUS); entre outros. O Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), em
Educação Feira de Santana, destaca-se por ser o maior hospital público, porta
A Bahia possui um longo histórico na área de educação, desde aberta, do interior do estado no atendimento de média e alta com-
os primeiros jesuítas que já no século XVI instalaram escolas em plexidade.
Salvador, então a capital da Colônia. Educadores de renome como As sociedades científicas Academia de Medicina da Bahia e
Abílio Cezar Borges, Ernesto Carneiro Ribeiro e Anísio Teixeira capi- Academia de Medicina de Feira de Santana desenvolvem e publi-
tanearam o proscênio educacional do país. cam as pesquisas médicas dos especialistas baianos.
Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal da
Bahia. As atividades na UFBA se iniciaram com a fundação da Fa- Relevo
culdade de Medicina da Bahia, a escola de medicina mais antiga do Em relação a morfologia do relevo baiano, destacam se o pla-
Brasil, fundada em 1808 sob o nome de Escola de Cirurgia da Bahia, nalto, rebordo do planalto e a baixada litorânea. Estima-se que
logo após a chegada de Dom João VI ao país. aproximadamente 70% do território possui altitudes entre 300 e
A escola pública na Bahia é basicamente estadual e municipal, 900m, e os outros 23% esteja abaixo dos 300m.
sendo que o município tem uma preocupação maior com a ensino A maior parte do estado é formada pelos planaltos. Estes, por
fundamental (primeira à quarta série) e o governo estadual com a sua vez, possuem cinco divisões: depressão são-franciscana, pedi-
educação fundamental também, mas só da quinta à oitava série, plano, planalto sul-baiano, espinhaço e planalto ocidental. Essas va-
além do ensino médio. O governo federal tem pouca participação riações do planalto, conferem ao relevo baiano uma ampla diversi-
na formação direta da população, porém, muitos recursos utiliza- dade, principalmente no que diz respeito às altitudes e composição
dos por estas instituições escolares são provenientes dos fundos do solo.
federais. Já o rebordo do planalto formam uma faixa onde os terrenos
Atualmente, a Bahia conta com doze universidades, sendo são bem acidentados, ascendentes da baixada ao planalto, justa-
quatro públicas estaduais (UNEB, UEFS, UESB e UESC), seis públi- mente por se erguerem a oeste dos morros e colinas da baixada
cas federais (UFBA, UFRB, UNIVASF, UNILAB, UFSB e UFOB) e duas litorânea.
privadas (UCSal e UNIFACS). Sem falar os institutos federais, IFBA e A faixa litorânea compreende o conjunto de locais em que a
IF-BAIANO.
altitude não ultrapassa os 200m. Nas praias e terrenos de areia da
De acordo com um ranking realizado e divulgado pela Folha de
fímbria litorânea, erguem-se os terrenos de feição tabular, ou tabu-
S.Paulo, em 2012, a Universidade Federal da Bahia aparece como a
leiros areníticos. Adentrando ao interior do estado, principalmente
segunda melhor pontuação entre as universidades públicas do nor-
te e nordeste, atrás da federal pernambucana, e em 12.º lugar no

106
GEOGRAFIA DO BRASIL
no Recôncavo Baiano, este tipo de terreno dá lugar a uma faixa de Os afluentes da margem esquerda desse rio também formam
morros e colinas. Ambos são cortados transversalmente pelos rios uma importante rede hidrográfica do estado. Os rios Carinhanha,
advindos dos planaltos. Correntes, Grande e Preto nascem no planalto ocidental baiano. Há,
ainda, aqueles que correm diretamente para o Atlântico, onde se
Clima destacam o Jequitinhonha, Paraguaçu, Itapicuru, Vaza Barris, Mu-
Em função da extensão do território, é possível encontrar três curi, Pardo e Contas.
tipos de climas distintos na Bahia. O primeiro deles é o quente e Na região semi-árida é alta a incidência dos rios intermitentes,
úmido, porém, sem estação seca, o segundo, também quente e inclusos nos dois grupos citados acima.
úmido, mas com presença de inverno seco, e por fim, o semi-árido
quente. Fauna
O primeiro tem incidência maior no litoral do estado, onde as A Bahia tem uma fauna muito diversificada, incluindo muitas
temperaturas médias ficam nos 23ºC e os índices pluviométricos ul- aves e mamíferos. Entre as principais espécies, listamos algumas:
-Onça parda
trapassam os 1.500mm. O segundo engloba todo o interior, a exce-
-Preguiça-coleira
ção do vale do São Francisco e a parte setentrional. A temperatura
-Ararinha-azul
pode variar entre 18ºC e 22ºC, e os índices pluviométricos ficam na
-Pomba-avoante
casa dos 1.000mm.
-Sagui
Já o clima semi-árido está presente principalmente no Vale do -Macuco
São Francisco e no norte do estado. As temperaturas médias podem -Gavião real
ultrapassar os 26ºC, enquanto os índices pluviométricos ficam por -Mutum do sudeste
volta de apenas 700mm. -Anta
-Onça pintada
Vegetação -Sussuarana
Na Bahia, o bioma presente com maior intensidade é a caatin-
ga. Cerca de 64% do território possui essa característica vegetativa. Além destas, na Bahia há um projeto muito importante de pre-
Em seguida, vem as florestas, com 18% e o cerrado, com 16%. Em servação de tartarugas. O Projeto Tamar, na Praia do Forte, atua
menor quantidade, estão os campos, com apenas 2%. com muito empenho na preservação de espécies ameaçadas de
Apesar de já bastante modificados pela ação humana, as flores- extinção.
tas estão presentes na maior parte do litoral, com faixas que podem
variar entre 100 e 250 km. Elas podem variar, ainda, conforme a Comidas típicas da Bahia
localidade. No lado oriental a presença é preponderante das matas A culinária baiana, apesar de ter algumas influência portugue-
perenes, enquanto no lado ocidental são as decíduas agrestes que sa e indígena, tem raízes muito fortes na cultura africana. Peixes e
se destacam. No centro, as florestas semidecíduas predominam. frutos do mar, milho, coco e mandioca estão entre os ingredientes
O cerrado pode ser encontrado em maior quantidade no terri- mais marcantes.
tório que compreende o planalto ocidental, com algumas manchas Sem dúvidas, o acarajé figura como um dos protagonistas
menos representativas nas áreas de caatinga. Neste local, aparece- quando este é o assunto. Mas além dele, outros pratos famosos são
ram também os campos, porém, eles pouco de destacam, forman- a moqueca de peixe com pirão, acaçá, camarão à baiana, rabada,
do uma diminuta mancha encontrada no sentido norte-sul. bobó de camarão, xinxim de galinha, arroz de coco, tapioca, caruru
Todo o restante do território baiano é formado pela caatinga, de peixe e vatapá.
principalmente na parte interior. Aqui, é importante destacar que
este é um bioma tipicamente brasileiro e ocupa aproximadamente Principais problemas da Bahia
Os problemas atuais da Bahia são bastante semelhantes aos
10% de todo o país. Apesar de características muito próprias, a ve-
dos demais estados brasileiros. Entre aqueles que mais preocupam,
getação não é uniforme em todo o território, apresentando varia-
estão a violência urbana, principalmente no que toca ao crescimen-
ções de acordo com a pluviosidade e tipo de solo.
to de homicídios.
Um dos aspectos a ser levado em consideração, é forma como
Em relação aos indicadores socioeconômicos, de acordos com
as plantas da caatinga estão adaptadas para os solos áridos, típicos dado do IBGE, em 2017 o estado ocupava o décimo nono lugar no
do interior da Bahia. Entre as plantas mais presentes, podemos ci- ranking da alfabetização, entre todos os estados brasileiros.
tar: Além disso, outro ponto preocupante é que a Bahia ocupa o
-Aroeira sétimo lugar em mortalidade infantil. Depois de 26 anos, o estado
-Cacto voltou a registrar aumento neste sentido. Em 2016, a cada mil crian-
-Caroá ças nascidas vivas, 18 não completaram o primeiro ano de vida.
-Juazeiro
-Mandacaru Museus
-Palma Alguns museus da Bahia são: Museu Afro-Brasileiro, Museu
-Umbuzeiro de Arte da Bahia, Museu de Arte Moderna da Bahia, Memorial dos
-Xiquexique Governadores Bahia, Museu Carlos Costa Pinto, Museu Henriqueta
Catharino, Fundação Casa de Jorge Amado e Museu Geológico da
Hidrografia Bahia. No interior do estado, destacam-se: o Museu Histórico de
O território baiano é cortado por um dos rios mais importantes Jequié, com um importante acervo sobre a história e cultura da re-
do país, o São Francisco. Ele nasce em Minas Gerais, passa pelo es- gião sudoeste; o Museu do Recolhimento dos Humildes em Santo
tado, e vai até a divisa de Sergipe e Alagoas. Amaro, de arte sacra; a Fundação Hansen Bahia, em Cachoeira; e o
centro cultural Dannemann, em São Félix, com sua Bienal do livro
do Recôncavo.

107
GEOGRAFIA DO BRASIL
Festas Gilberto, Astrud Gilberto, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa,
Na Bahia, ocorrem várias festas durante o ano todo. As prin- Maria Bethânia, Tom Zé, Novos Baianos, Raul Seixas, Marcelo Nova,
cipais são a Lavagem do Senhor de Bonfim, o Carnaval da Bahia e Pitty, Bira (do Sexteto do Jô), Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Ive-
as diversas micaretas que ocorrem no ano todo sendo este evento te Sangalo, Luiz Caldas, Margareth Menezes, Dinho (do Mamonas
momesco fora de época uma criação baiana. Há também a Festa ju- Assassinas) etc.
nina São João com destaque para a cidade de Cruz das Almas (onde
acontece a tradicional guerra de espadas) e Irecê que todos os anos Carnaval
trazem grandes atrações da música brasileira. Ainda tem a tradicio- A história começou em 1950, quando Dodô e Osmar inventa-
nal Vaquejada de Serrinha, que acontece sempre junto ao feriado ram o trio elétrico.
de 7 de setembro.[carece de fontes] O negro reconquista sua identidade e ganha força nos Filhos
Em Salvador, acontece sempre, no começo do ano, o Festival de Gandhi, o Olodum, e blocos como o Ilê Aiyê, que une música ao
de Verão de Salvador. Em Vitória da Conquista, durante o inverno, trabalho social. O Carnaval de Salvador, considerado o maior carna-
acontece o Festival de Inverno Bahia.[carece de fontes]
val de rua do mundo, atrai anualmente 2 milhões de foliões em seis
dias de festa. Durante o período do carnaval de Salvador, dezenas
Literatura
dos cantores mais famosos do Brasil desfilam nos trios elétricos,
Escritores baianos possuem relevância história ao aparecerem
como Ivete Sangalo, Daniela Mercury e muitos outros.
como representantes maiores do Barroco no Brasil: Gregório de
Matos, Botelho de Oliveira e Frei Itaparica. Na Bahia, apareceram, Mas também há as festas de momo no interior, com destaque
também, as primeiras academias literárias no país: a Academia para Barreiras, Canavieiras, Palmeiras e Porto Seguro.
dos Esquecidos (1724-1725) e a Academia Brasílica dos Renascidos
(1759). Cabe salientar que, na época, havia os cronistas-mor nome- Cinema
ados pelo rei de Portugal e que as academias eram tidas como se- O cinema na Bahia é promovido e incentivado pela Diretoria de
guidoras da moda das academias em Portugal mas também repre- Artes Visuais e Multimeios (DIMAS), além da Associação Baiana de
sentariam algum tipo de sentimento nativista do meio intelectual, Cinema e Vídeo (ABCV / ABD-BA), membro da Associação Brasileira
já bastante desenvolvido em território baiano. de Documentaristas e Curta-metragistas.
No período mais recente, temos uma Bahia pródiga de autores Na Bahia, ocorrem vários festivais e encontros de cinema e ci-
imortais, como Castro Alves, Adonias Filho, Jorge Amado, e João neclubismo, entre eles:
Ubaldo Ribeiro. Os dois últimos são autores excepcionais, de litera- Bahia Afro Film Festival, em Salvador;[160]
tura fácil e rica de detalhes sobre a Bahia. São, ao mesmo tempo, Encontro Baiano de Animação, em Salvador.[161]
radiografias da vida no estado. No entanto, ao se falar em roman- Feira Mostra Filmes, em Feira de Santana;[162]
ces, a “produção” está reduzida, restringe-se a pequenos versos e Festival Brasilidades, em Feira de Santana;[163]
passagens que remontam o estilo medieval e a famosos romances, Festival Nacional de Vídeo - A Imagem em 5 Minutos, em Sal-
como o Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado, publicado em vador;
1958. A obra é um retorno ao Ciclo do Cacau, entrando no universo FIM! - Festival da Imagem em Movimento, em Salvador;
de coronéis, jagunços e prostitutas que desenham o horizonte da Jornada Internacional de Cinema da Bahia, em Salvador;
sociedade cacaueira da época. Na década de 1920, na então rica e Mostra Cinema Conquista, em Vitória da Conquista;
pacata Ilhéus, ansiando por progressos, com intensa vida noturna Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, em Salvador;
litorânea, entre bares e bordéis, desenrola-se o drama, que acaba Vale Curtas - Festival Nacional de Curtas-Metragens do Vale do
por tornar-se uma explosão de folia e luz, cor, som, sexo e riso Pa- São Francisco, em Juazeiro e Petrolina.
ralelamente, a literatura de cordel persiste principalmente no ser- Também há várias produções cinematográficas nacionais que
tão, onde violeiros transmitem a tradição cordelista por meio de possuem como tema a Bahia ou algo a ela relacionado, a exemplo
sua cantoria.
de Cidade Baixa e Ó Paí, Ó.
O estado também é berço de grandes nomes do cinema nacio-
Artesanato
nal, como os atores Lázaro Ramos, Wagner Moura, Luís Miranda,
No campo do artesanato da Bahia, destacam-se a cerâmica de-
Priscila Fantin, João Miguel, Othon Bastos, Antonio Pitanga (pai dos
corativa, marca da influência indígena, a renda de bilros e outros
tipos de bordados, bonecas de pano, os santeiros e carrancas, obje- também atores Rocco e Camila Pitanga) e Emanuelle Araújo e os
tos feitos de couro, metal, pedras e os destinados à cozinha, como cineastas Glauber Rocha e Roberto Pires.
Valorizando o cinema baiano, a TVE Bahia exibe às sextas-fei-
o pilão e gamela.
ras, a sessão de filmes Sextas Baianas. E a DIMAS exibe a sessão
Quartas Baianas, especialmente dedicada ao resgate e à valorização
Música
da produção local, com entrada franca, na Sala Walter da Silveira, às
Nas últimas décadas, a Bahia tem sido um verdadeiro celeiro
quartas-feiras, às 8h da noite.
musical. Surgiram muitos artistas (músicos, instrumentistas, can-
tores, compositores e intérpretes) de grande influência no cenário Pontos turísticos
musical nacional e internacional. Tendo a maior cidade das Améri- Outra importante indústria no estado é o a do turismo, princi-
cas durante muitos séculos, sua capital foi local dos nascimentos, a palmente ao longo da costa da Bahia. A Bahia é o estado brasileiro
partir da influência africana, do samba de roda, seu filho samba, o com o maior litoral. As bonitas praias e os tesouros culturais tor-
lundu e outros tantos ritmos, movidos por atabaques, berimbaus, nam, o estado, um dos principais destinos turísticos do Brasil, sendo
marimbas - espalhando-se pelo resto do Brasil, e ganhando o mun- o estado que mais recebe turistas na região Nordeste, com um fluxo
do. de 11 milhões de visitantes em 2011, segundo estudo realizado pela
Na Bahia nasceram expoentes brasileiros do samba, do pago- Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Além da ilha de
de, do tropicalismo, do rock brasileiro, da bossa nova, axé e sam- Itaparica e Morro de São Paulo, há um grande número de praias
ba-reggae. Alguns dos principais nomes são Dorival Caymmi, João entre Ilhéus e Porto Seguro, na costa sul. O litoral norte, na área de

108
GEOGRAFIA DO BRASIL
Salvador, esticando para a beira com Sergipe, transformou-se num
destino turístico importante, o qual ficou conhecido como Linha QUESTÕES
Verde. A Costa do Sauípe se destaca como o maior complexo de
hotéis-resorts do Brasil. 1. Sobre o território brasileiro, assinale a alternativa INCORRE-
No ecoturismo, se destaca a Chapada Diamantina. Na região, TA:
está o melhor roteiro turístico do país, localizado no Vale do Pati Sobre o território brasileiro, assinale a alternativa INCORRETA:
(Lençóis), segundo apontou o Ministério do Turismo em 2010. Nele, (A) o Brasil é um país com dimensões continentais.
cerca de 500 mil turistas, brasileiros e estrangeiros, passam anual- (B) a extensão do território brasileiro denuncia a grande distân-
mente. cia de seus pontos extremos.
Segundo a pesquisa Hábitos de Consumo do Turismo Brasileiro (C) a localização do Brasil indica-se por longitudes negativas, no
2009, realizada pelo Vox Populi em novembro de 2009, a Bahia é o hemisfério ocidental.
destino turístico preferido dos brasileiros, já que 21,4% dos turistas (D) a grande variação de latitudes explica a homogeneidade
que pretendiam viajar nos dois anos seguintes optariam pelo esta- climática do país.
do. A vantagem é grande em relação aos concorrentes: Pernambu-
co, com 11,9%, e São Paulo, com 10,9%, estavam, respectivamen- 2. “Moro num país tropical, abençoado por Deus
te, em segundo e terceiro lugares nas categorias pesquisadas. Já E bonito por natureza, mas que beleza
em 2010, foi escolhida pelo jornal americano The New York Times Em fevereiro (em fevereiro)
como um dos 31 destinos que merecem ser visitados em 2010. O Tem carnaval (tem carnaval)”.
estado foi o único do Brasil a integrar o ranking. (JOR, J. B. ; SIMONAL, W. País Tropical. Intérprete: Jorge Ben
Jor).
Religião
O catolicismo é a religião dominante no estado. Em Salvador, Ao dizer que o Brasil é um “país tropical”, o trecho acima está,
foi erguida a primeira igreja católica em solo brasileiro, graças a Ca- em uma perspectiva geográfica,
tarina Paraguaçu, onde hoje é o bairro da Graça. A capital baiana (A)correto, pois o território brasileiro é cortado por ambos os
possui centenas de templos católicos, sendo, a cidade, a sede do trópicos da Terra.
governo católico no país, morada do Arcebispo Primaz. A padro- (B) incorreto, pois nenhum trópico, de fato, corta a área do país.
eira do estado é Nossa Senhora da Conceição da Praia, cujo tem- (C) correto, pois a maior parte do país encontra-se em uma
plo é alvo de culto. Apesar disso, o mais famoso culto no estado zona intertropical.
é o culto ao Senhor do Bonfim, que é considerado popularmente (D) incorreto, pois não existe o “clima tropical” na classificação
como padroeiro. Possui, ainda, o centro de peregrinação de Bom climática do Brasil.
Jesus da Lapa, alvo de romarias anuais, além das igrejas seculares
do Recôncavo, com suas novenas. Possui a Arquidiocese de Vitória 3. As fronteiras brasileiras, todas elas posicionadas na América
da Conquista, Arquidiocese de Feira de Santana, entre outras arqui- do Sul, totalizam 23.102 quilômetros de extensão. Desse total, mais
dioceses. Ressaltam, dentro do catolicismo baiano, as figuras das de 15 mil quilômetros encontram-se em terras emersas, fazendo
freiras Joana Angélica, Irmã Dulce e Irmã Lindalva. fronteira com todos os países sul-americanos, exceto:
O sincretismo com as religiões de origem africana, que na Bahia (A)Venezuela e Colômbia
mais que em qualquer outra parte do país se mantiveram vivas, (B) Chile e Equador
veio a misturar o candomblé com o catolicismo (como nos casos (C) Uruguai e Guiana Francesa
da Irmandade da Boa Morte e da Irmandade dos Homens Pretos) (D) Panamá e Peru
e outras variantes cristãs. Surgiram, então, religiões mistas, como a
cabula e a umbanda. Sobressaem, neste campo, a figura cultuada 4. (Faculdade Trevisan) Em síntese, o Brasil é um país inteira-
de Mãe Menininha do Gantois, e terreiros como o Opo Afonjá, além mente ocidental, predominantemente do Hemisfério Sul e da Zona
de toda uma cultura que permeia as crenças do povo baiano. Intertropical.
Desde o início do século XX, a Bahia é palco de missões evan- Considere as afirmações:
gélicas protestantes, que redundaram na capital na fundação do I) O Brasil situa-se a oeste do Meridiano de Greenwich.
Colégio Dois de Julho e na presença de missionários como Henry II) O Brasil é cortado ao norte pela Linha do Equador.
John McCall. Hoje, todo o estado testemunha o crescimento das III) Ao sul, é cortado pelo Trópico de Câncer.
múltiplas denominações cristãs. IV) Ao sul, é cortado pelo Trópico de Capricórnio, apresentando
92% do seu território na Zona Intertropical, entre os Trópicos de
Referências Bibliográficas: Câncer e de Capricórnio.
Geografia Geral prática / Carlos Alberto Schneeberger, Luiz Antonio V) Os 8% restantes estão na Zona Temperada do Sul.
Farago. — 1. ed. — São Paulo: Rideel
Minimanual compacto de geografia do Brasil: teoria e prática / Carlos (A)Apenas I, II e IV são verdadeiras.
Alberto Schneeberger, Luiz Antonio Farago. — 1. ed. — São Paulo: (B) Apenas I e II são verdadeiras.
Rideel, 2003. (C)Apenas IV e V são verdadeiras.
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/nova-ordem-mun- (D) Apenas I, II, IV e V são verdadeiras.
dial-o-fim-da-geopolitica-bipolar.htm e) Apenas I, II, III e V são verdadeiras.
https://www.sogeografia.com.br
https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/geografia/o-que-e-neolibera-
lismo.htm
https://www.proenem.com.br/enem

109
GEOGRAFIA DO BRASIL
5. A rede hidrográfica brasileira apresenta, dentre outras, as 9. A Amazônia é uma área em evidência, seja pela questão
seguintes características: ecológica ou pela riqueza de seus recursos minerais. A expansão
(A)grande potencial hidráulico, predomínio de rios perenes e e a crescente valorização dessa área provocam uma infinidade de
predomínio de foz do tipo delta. suposições a respeito do seu quadro natural. Sobre a Amazônia são
(B)drenagem exorréica, predomínio de rios de planalto e pre- feitas as afirmações a seguir:
domínio de foz do tipo estuário. I - As queimadas podem alterar o clima do planeta e a destrui-
(C) predomínio de rios temporários, drenagem endorréica e ção da floresta pode influenciar o aumento da temperatura;
grande potencial hidráulico. II - A floresta Amazônica funciona como “pulmão do mundo”,
(D) regime de alimentação pluvial, baixo potencial hidráulico e sendo a principal fonte produtora de oxigênio;
predomínio de rios de planície. III - A bacia hidrográfica do Amazonas é a maior do mundo, dre-
(E)drenagem endorreica, predomínio de rios perenes e regime nando em torno de 20% da água doce dos rios para os oceanos;
de alimentação pluvial. IV - Os solos amazônicos são de alta fertilidade, a qual é fa-
cilmente explicada pela concentração de matéria orgânica e pelo
6. (IFCE – com adaptações) Sobre as características da hidrogra- tempo de formação.
fia brasileira, são feitas as seguintes afirmações:
I. Considerando-se os rios de maior porte, só é encontrado regi- As afirmações corretas são:
me temporário no sertão nordestino, onde o clima é semiárido, no (A)somente I e III.
restante do país, os grandes rios são perenes. (B) somente II e III.
II. Predominam os rios de planalto em áreas de elevado índice (C) somente I, II e III.
pluviométrico. A existência de muitos desníveis no relevo e o gran- (D)somente II, III e IV.
de volume de água possibilitam a produção de hidroeletricidade. (E)somente I, II e IV
III. Na região Amazônica, os rios são muito utilizados como vias
de transporte, e o potencial hidrelétrico é amplamente aproveita- 10. Muitas espécies de plantas lenhosas são encontradas no
do. cerrado brasileiro. Para a sobrevivência nas condições de longos
períodos de seca e queimadas periódicas, próprias desse ecossis-
Está correto o que se afirma em: tema, essas plantas desenvolveram estruturas muito peculiares. As
(A)I apenas. estruturas adaptativas mais apropriadas para a sobrevivência desse
(B)I e II apenas. grupo de plantas nas condições ambientais do referido ecossistema
(C) I e III apenas. são:
(D) II e III apenas. (A) Cascas finas e sem sulco ou fendas.
(E)I, II e III. (B) Caules estreitos e retilíneos.
(C) Folhas estreitas e membranosas.
7.Leia as afirmativas abaixo sobre a hidrografia brasileira: (D)Gemas apicais com densa pilosidade.
I. É a maior das três bacias que formam a Bacia Platina, pois (E) Raízes superficiais, em geral, aéreas.
possui 891.309 km2, o que corresponde a 10,4%da área do territó-
rio brasileiro. 11. O Brasil enfrenta diversos problemas ambientais que pre-
II. Possui a maior potência instalada de energia elétrica, desta- judicam as diferentes espécies que aqui vivem. De acordo com o
cando-se algumas grandes usinas. IBGE, três problemas ambientais são os mais relatados no Brasil.
III. Em virtude de suas quedas d’água, a navegação é difícil. En- Marque a alternativa que indica esses problemas:
tretanto, com a instalação de usinas hidrelétricas, muitas delas já (A)Poluição do solo, poluição atmosférica e contaminação por
possuem eclusas para permitir a navegação. metais pesados.
(B) Contaminação por metais pesados, desmatamento e caça.
Estas características referem-se à bacia do: (C) Poluição atmosférica, queimadas e caça.
(A)Uruguai (D) Assoreamento, desmatamento e queimadas.
(B) São Francisco (E)Queimadas, poluição do solo e contaminação por metais
(C) Paraná pesados.
(D)Paraguai
(E)Amazonas 12. Um dos principais problemas ambientais que acontecem no
Brasil são decorrentes do acúmulo de sedimentos nos ambientes
8. Sobre os mangues, assinale a alternativa INCORRETA: aquáticos, desencadeando obstrução dos fluxos de água e destrui-
(A) São encontrados em ambientes alagados; ção desses habitats. Esse problema é conhecido como:
(B) São adaptados a cursos d’água com alta concentração de (A)Desertificação
sal, em razão da proximidade com o mar; (B) Poluição marinha
(C) No Brasil, são encontrados em regiões litorâneas; (C) Assoreamento
(D) A extração de caranguejo é a principal atividade econômica (D) Desmatamento
nesse ambiente; (E)Degradação do solo
(E) É uma vegetação do tipo homogênea.
13. Entre os impactos ambientais causados nos ecossistemas
pelo homem, podemos citar:
I. Destruição da biodiversidade.
II. Erosão e empobrecimento dos solos.
III. Enchentes e assoreamento dos rios.
IV. Desertificação.
V. Proliferação de pragas e doenças.

110
GEOGRAFIA DO BRASIL
Assinale a alternativa que melhor representa os impactos con- (C) Crescimento populacional: função entre duas variáveis: o
sequentes do desmatamento: saldo entre o número de imigrantes e o número de emigran-
(A) Apenas I tes; e, o saldo entre o número de nascimentos e o número de
(B) Apenas V mortos.
(C) Apenas III, IV e V (D) Taxa de fecundidade: número médio de filhos por mulher
(D) Apenas I, II, III e V em uma determinada população. Para obter essa taxa, divide‐
(E) I, II, III, IV e V se o total dos nascimentos pelo número de mulheres em idade
reprodutiva da população considerada.
14. As queimadas são um problema ambiental grave enfrenta-
do em nosso país. Analise as alternativas e marque aquela que não 17. Sobre o território brasileiro, assinale a alternativa INCOR-
indica uma consequência das queimadas: RETA:
(A)Morte dos micro-organismos que vivem no solo. (A) o Brasil é um país com dimensões continentais.
(B) Aumento da poluição atmosférica. (B) a extensão do território brasileiro denuncia a grande distân-
(C) Diminuição dos nutrientes do solo. cia de seus pontos extremos.
(D) Aumento dos riscos de erosão. (C) a localização do Brasil indica-se por longitudes negativas, no
(E)Redução do aquecimento global. hemisfério ocidental.
(D) a grande variação de latitudes explica a homogeneidade
15. Os animais da Amazônia estão sofrendo com o desmata- climática do país.
mento e com as queimadas, provocados pela ação humana. A der-
rubada das árvores pode fazer com que a fina camada de matéria 18. As fronteiras brasileiras, todas elas posicionadas na Amé-
orgânica em decomposição (húmus) seja lavada pelas águas das rica do Sul, totalizam 23.102 quilômetros de extensão. Desse total,
constantes chuvas que caem na região. mais de 15 mil quilômetros encontram-se em terras emersas, fazen-
(J. Laurence, Biologia.) do fronteira com todos os países sul-americanos, exceto:
(A) Venezuela e Colômbia
O contido no texto justifica-se, uma vez que: (B) Chile e Equador
(A)a reciclagem da matéria orgânica no solo amazônico é muito (C) Uruguai e Guiana Francesa
lenta e necessita do sombreamento da floresta para ocorrer. (D) Panamá e Peru
(B) o solo da Amazônia é pobre, sendo que a maior parte dos
nutrientes que sustenta a floresta é trazida pela água da chuva. 19. No Brasil, a agropecuária é um dos principais setores da
(C) as queimadas, além de destruírem os animais e as plantas, economia, sendo uma das mais importantes atividades a impulsio-
destroem, também, a fertilidade do solo amazônico, original- nar o crescimento do PIB nacional. Nesse contexto, o tipo de prática
mente rico em nutrientes e minerais. predominante é:
(D) mesmo com a elevada fertilidade do solo amazônico, pró- (A) a agricultura familiar, com elevado emprego de tecnologias.
prio para a prática agrícola, as queimadas destroem a maior (B) o agronegócio, com predomínio de latifúndios.
riqueza da Amazônia, sua biodiversidade. (C) a agricultura sustentável, com práticas extrativistas.
(E)o que torna o solo da Amazônia fértil é a decomposição da (D) a agricultura itinerante, com técnicas avançadas de cultivo.
matéria orgânica proveniente da própria floresta, feita por mui-
tos decompositores existentes no solo. 20. O processo de concentração fundiária caminha junto à in-
dustrialização da agropecuária com predomínio de capitais. Sobre
16. “O conceito de transição demográfica foi introduzido por esse tema, assinale o que for incorreto:
Frank Notestein, em 1929, e é a contestação factual da lógica mal- (A) O discurso de modernidade das elites tem contribuído para
thusiana. Foi elaborada a partir da interpretação das transforma- que a terra esteja concentrada nas mãos da grande maioria dos
ções demográficas sofridas pelos países que participaram da Revo- agricultores brasileiros.
lução Industrial nos séculos 18 e 19, até os dias atuais. A partir da (B) Os pequenos agricultores não conseguem competir e são
análise destas mudanças demográficas foi estabelecido um padrão forçados a abandonar suas lavouras de subsistência e vender
que, segundo alguns demógrafos, pode ser aplicado aos demais pa- suas terras.
íses do mundo, embora em momentos históricos e contextos eco- (C) A intensa mecanização leva à redução do trabalho humano
nômicos diferentes.” e à mudança nas relações de trabalho, com a especialização
(Cláudio Mendonça. Demografia: transição demográfica e cresci- de funções e o aumento do trabalho assalariado e de diaristas.
mento populacional. UOL Educação. 2005. Disponível em: http:// (D) As modificações na estrutura fundiária provocam desem-
educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/demografia‐transicao‐ prego no campo, intenso êxodo rural, além de aumentar o con-
demografica‐e‐crescimento‐populacional.htm. Acesso em: março tingente de trabalhadores sem direito à terra e sua exclusão
de 2014.) social.

Sobre a dinâmica de crescimento vegetativo da população bra-


sileira com base no conceito de transição demográfica, deve‐se con-
siderar os seguintes conceitos, EXCETO:
(A) Crescimento vegetativo: crescimento populacional menos
o número de óbitos.
(B) Taxa de mortalidade: expressa a proporção entre o número
de óbitos e a população absoluta de um lugar, em um determi-
nado intervalo de tempo.

111
GEOGRAFIA DO BRASIL
21. (IFB/2017 – IFB) Nas últimas décadas, as questões ambien- 23. Considerando-se os estudos populacionais, demográficos e
tais vêm ganhando peso nas preocupações mundiais. As relações econômicos elaborados sob enfoque do planejamento, é INCORRE-
entre o modelo de desenvolvimento econômico e o meio ambiente TO afirmar que
vêm sendo profundamente questionadas. Julgue abaixo os questio- (A) a geografia da população é tão importante quanto é o estu-
namentos a este respeito, assinalando (V) para os VERDADEIROS e do da demografia naqueles trabalhos voltados para o planeja-
(F) para os FALSOS. mento estratégico, uma vez que a primeira investiga e explica
( ) As ideias associadas ao modelo de desenvolvimento eco- as leis de crescimento e mudança na estrutura da população;
nômico hegemônico são a da modernização e progresso, que ao passo que a segunda investiga e explica os fatores das suas
creem e professam um caminho evolutivo a seguir, tendo como diferentes formas de distribuição espacial.
referencial de sociedade “desenvolvida” aquela que está no (B) as diferentes sociedades contemporâneas passaram a se
centro do sistema capitalista. preocupar com o conhecimento sistemático do seu efetivo po-
( ) Os diferentes espaços urbano e rural direcionam-se para a pulacional (estoque populacional disponível), tanto em nível
formação das sociedades modernas, mercadologizadas tanto quantitativo como qualitativo, notadamente entre os países
em escala regional, quanto em escalas nacional e global, im- desenvolvidos, em razão da prática do planejamento como ins-
pulsionados por um modelo desenvolvimentista, com caracte- trumento para o desenvolvimento.
rísticas inerentes de preservação ambiental. (C) o conhecimento da taxa de crescimento demográfico e da
( ) O modelo de desenvolvimento econômico hegemônico pri- distribuição da população em suas diferentes faixas de idade é
ma pelos interesses privados (econômicos) frente aos bens co- condição necessária para qualquer política de empregos e de
letivos (meio ambiente). educação, assim como para os programas habitacionais e de
( ) A ideia de desenvolvimento econômico hegemônico con- saneamentos básicos.
substancia-se em uma visão antropocêntrica de mundo, gera- (D) os estudos econômicos que se seguiram a Malthus incorpo-
dor de fortes impactos socioambientais. raram as pesquisas demográficas como segmento importante
( ) A crítica mais comum à sociedade de consumo, represen- de seu campo científico, apesar da teoria dos rendimentos de-
tante e representada pelo modelo de desenvolvimento hege- crescentes por ele proposta não ter previsto o desenvolvimen-
mônico, é que essa sociedade está imersa em um processo de to das técnicas de produção que surgiram a partir do século
massificação cultural. seguinte à publicação de sua obra.

A sequência dos questionamentos é: 24. A partir da década de 60, começam a surgir inúmeras críti-
(A) F, F, V, V, F cas à Geografia Tradicional, dentre as quais o fato dessa geografia
(B) V, F, F, V, F NÃO
(C) V, V, F, F, V (A) valorizar o processo de urbanização mundial que passava
(D)V, F, V, V, V a ocorrer a partir daquela década.
(E) F, V, F, V, V (B) desenvolver estudos abrangentes sobre as regiões uma
vez que estava mais interessada em análises globalizantes.
22. A fase atual (...) é o momento no qual se constitui, sobre (C) estimular quaisquer explicações que envolvessem subjeti-
territórios cada vez mais vastos, o que estamos chamando de meio vidade nas relações do homem com o meio.
técnico-científico (...) melhor será chamá-lo de meio técnico cientí- (D) conseguir aprender a complexidade do espaço, utilizando-
fico informacional... (Santos, M., 2005) -se de teorias e métodos descritivos.
(E) promover o cientificismo necessário para o avanço da Geo-
O autor refere-se ao momento histórico no qual: grafia, enquanto componente das ciências humanas.

(A) as remodelações na composição técnico - científica e infor- 25. Geografia, no sentido etimológico, significa descrição da
macional do território desenvolvem-se de forma hegemônica e Terra. E, com um consenso geral, da Terra, com tudo o que contém
pouco hierarquizada por todo o Planeta. e do que é inseparável, de tudo o que vive na superfície e a anima,
(B) o meio natural, já com algumas modificações técnicas, da humanidade que a transforma e enriquece com traços novos.
constitui a base material da existência dos grupos humanos em Pensando nesta última, os gregos falavam do ecúmeno. A Geografia
todo o Planeta. Humana é a descrição do ecúmeno.
(C) a construção do espaço se dá com a disseminação de no-
vas técnicas e de novos conhecimentos científicos tendo como (Adaptado de: Max Sorre. A geografia humana)
maior objetivo a regionalização de espaços anteriormente iso-
lados. A definição do conceito do ecúmeno é
(D) a construção do espaço se dá por meio de um crescente (A) a área habitável ou permanentemente habitada da Terra.
conteúdo de ciência, de técnica e de informação redefinindo- (B) o fenômeno que se origina na região onde é encontrado
-se, com isso, relações e funções espaciais. ou na qual se manifesta.
(E) a configuração territorial é definida por sistemas de enge- (C) a paisagem que teve sua gênese em um tempo anterior
nharia, os quais envolvem desenvolvimento técnico e científico ao atual.
basicamente relacionados às telecomunicações. (D) o espaço ordenado em leis e regularidades, organizado de
maneira regular e integrada.
(E) a totalidade das realidades geográficas existentes ou ima-
ginadas.

112
GEOGRAFIA DO BRASIL
26. “O conceito de transição demográfica foi introduzido por
21 D
Frank Notestein, em 1929, e é a contestação factual da lógica mal-
thusiana. Foi elaborada a partir da interpretação das transforma- 22 D
ções demográficas sofridas pelos países que participaram da Revo- 23 A
lução Industrial nos séculos 18 e 19, até os dias atuais. A partir da
análise destas mudanças demográficas foi estabelecido um padrão 24 E
que, segundo alguns demógrafos, pode ser aplicado aos demais pa- 25 A
íses do mundo, embora em momentos históricos e contextos eco-
26 A
nômicos diferentes.”
(Cláudio Mendonça. Demografia: transição demográfica e cres-
cimento populacional. UOL Educação. 2005. Disponível em: http://
educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/demografia‐transicao‐ ANOTAÇÕES
demografica‐e‐crescimento‐populacional.htm. Acesso em: março ______________________________________________________
de 2014.)
______________________________________________________
Sobre a dinâmica de crescimento vegetativo da população bra-
sileira com base no conceito de transição demográfica, deve‐se con- ______________________________________________________
siderar os seguintes conceitos, EXCETO:
(A) Crescimento vegetativo: crescimento populacional menos ______________________________________________________
o número de óbitos.
(B) Taxa de mortalidade: expressa a proporção entre o número ______________________________________________________
de óbitos e a população absoluta de um lugar, em um determi-
______________________________________________________
nado intervalo de tempo.
(C) Crescimento populacional: função entre duas variáveis: o ______________________________________________________
saldo entre o número de imigrantes e o número de emigran-
tes; e, o saldo entre o número de nascimentos e o número de ______________________________________________________
mortos.
(D) Taxa de fecundidade: número médio de filhos por mulher ______________________________________________________
em uma determinada população. Para obter essa taxa, divide‐
se o total dos nascimentos pelo número de mulheres em idade ______________________________________________________
reprodutiva da população considerada.
______________________________________________________

GABARITO ______________________________________________________

______________________________________________________
1 D
______________________________________________________
2 C
3 B ______________________________________________________

4 D ______________________________________________________
5 B ______________________________________________________
6 B
______________________________________________________
7 C
8 E ______________________________________________________
9 A ______________________________________________________
10 D
______________________________________________________
11 D
______________________________________________________
12 C
13 E ______________________________________________________
14 E _____________________________________________________
15 E
_____________________________________________________
16 A
17 D ______________________________________________________
18 B ______________________________________________________
19 B
______________________________________________________
20 A
______________________________________________________

113
GEOGRAFIA DO BRASIL
______________________________________________________ ______________________________________________________

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114
MATEMÁTICA

CONJUNTOS NUMÉRICOS: NÚMEROS NATURAIS, INTEIROS, RACIONAIS, REAIS E COMPLEXOS (FORMA ALGÉBRICA E FOR-
MA TRIGONOMÉTRICA). OPERAÇÕES, PROPRIEDADES E APLICAÇÕES

Conjunto dos números inteiros - z


O conjunto dos números inteiros é a reunião do conjunto dos números naturais N = {0, 1, 2, 3, 4,..., n,...},(N C Z); o conjunto dos opos-
tos dos números naturais e o zero. Representamos pela letra Z.

N C Z (N está contido em Z)

Subconjuntos:

SÍMBOLO REPRESENTAÇÃO DESCRIÇÃO


* Z* Conjunto dos números inteiros não nulos
+ Z+ Conjunto dos números inteiros não negativos
*e+ Z*+ Conjunto dos números inteiros positivos
- Z_ Conjunto dos números inteiros não positivos
*e- Z*_ Conjunto dos números inteiros negativos

Observamos nos números inteiros algumas características:


• Módulo: distância ou afastamento desse número até o zero, na reta numérica inteira. Representa-se o módulo por | |. O módulo de
qualquer número inteiro, diferente de zero, é sempre positivo.
• Números Opostos: dois números são opostos quando sua soma é zero. Isto significa que eles estão a mesma distância da origem
(zero).

Somando-se temos: (+4) + (-4) = (-4) + (+4) = 0

115
MATEMÁTICA
Operações Na multiplicação e divisão de números inteiros é muito impor-
• Soma ou Adição: Associamos aos números inteiros positivos tante a REGRA DE SINAIS:
a ideia de ganhar e aos números inteiros negativos a ideia de perder.
Sinais iguais (+) (+); (-) (-) = resultado sempre positivo.
ATENÇÃO: O sinal (+) antes do número positivo pode ser dis-
pensado, mas o sinal (–) antes do número negativo nunca pode Sinais diferentes (+) (-); (-) (+) = resultado sempre
ser dispensado. negativo.

• Subtração: empregamos quando precisamos tirar uma quan- Exemplo:


tidade de outra quantidade; temos duas quantidades e queremos (PREF.DE NITERÓI) Um estudante empilhou seus livros, obten-
saber quanto uma delas tem a mais que a outra; temos duas quan- do uma única pilha 52cm de altura. Sabendo que 8 desses livros
tidades e queremos saber quanto falta a uma delas para atingir a possui uma espessura de 2cm, e que os livros restantes possuem
outra. A subtração é a operação inversa da adição. O sinal sempre espessura de 3cm, o número de livros na pilha é:
será do maior número. (A) 10
(B) 15
ATENÇÃO: todos parênteses, colchetes, chaves, números, ..., (C) 18
entre outros, precedidos de sinal negativo, tem o seu sinal inverti- (D) 20
do, ou seja, é dado o seu oposto. (E) 22
Exemplo:
(FUNDAÇÃO CASA – AGENTE EDUCACIONAL – VUNESP) Para Resolução:
zelar pelos jovens internados e orientá-los a respeito do uso ade- São 8 livros de 2 cm: 8.2 = 16 cm
quado dos materiais em geral e dos recursos utilizados em ativida- Como eu tenho 52 cm ao todo e os demais livros tem 3 cm,
des educativas, bem como da preservação predial, realizou-se uma temos:
dinâmica elencando “atitudes positivas” e “atitudes negativas”, no 52 - 16 = 36 cm de altura de livros de 3 cm
entendimento dos elementos do grupo. Solicitou-se que cada um 36 : 3 = 12 livros de 3 cm
classificasse suas atitudes como positiva ou negativa, atribuindo O total de livros da pilha: 8 + 12 = 20 livros ao todo.
(+4) pontos a cada atitude positiva e (-1) a cada atitude negativa. Resposta: D
Se um jovem classificou como positiva apenas 20 das 50 atitudes
anotadas, o total de pontos atribuídos foi • Potenciação: A potência an do número inteiro a, é definida
(A) 50. como um produto de n fatores iguais. O número a é denominado a
(B) 45. base e o número n é o expoente.an = a x a x a x a x ... x a , a é multi-
(C) 42. plicado por a n vezes. Tenha em mente que:
(D) 36. – Toda potência de base positiva é um número inteiro positivo.
(E) 32. – Toda potência de base negativa e expoente par é um número
inteiro positivo.
Resolução: – Toda potência de base negativa e expoente ímpar é um nú-
50-20=30 atitudes negativas mero inteiro negativo.
20.4=80
30.(-1)=-30 Propriedades da Potenciação
80-30=50 1) Produtos de Potências com bases iguais: Conserva-se a base
Resposta: A e somam-se os expoentes. (–a)3 . (–a)6 = (–a)3+6 = (–a)9
2) Quocientes de Potências com bases iguais: Conserva-se a
• Multiplicação: é uma adição de números/ fatores repetidos. base e subtraem-se os expoentes. (-a)8 : (-a)6 = (-a)8 – 6 = (-a)2
Na multiplicação o produto dos números a e b, pode ser indicado 3) Potência de Potência: Conserva-se a base e multiplicam-se
por a x b, a . b ou ainda ab sem nenhum sinal entre as letras. os expoentes. [(-a)5]2 = (-a)5 . 2 = (-a)10
4) Potência de expoente 1: É sempre igual à base. (-a)1 = -a e
• Divisão: a divisão exata de um número inteiro por outro nú- (+a) = +a
1

mero inteiro, diferente de zero, dividimos o módulo do dividendo 5) Potência de expoente zero e base diferente de zero: É igual
pelo módulo do divisor. a 1. (+a)0 = 1 e (–b)0 = 1

ATENÇÃO:
1) No conjunto Z, a divisão não é comutativa, não é associativa
e não tem a propriedade da existência do elemento neutro.
2) Não existe divisão por zero.
3) Zero dividido por qualquer número inteiro, diferente de zero,
é zero, pois o produto de qualquer número inteiro por zero é igual
a zero.

116
MATEMÁTICA
Conjunto dos números racionais – Q m
Um número racional é o que pode ser escrito na forma n , onde m e n são números inteiros, sendo que n deve ser diferente de zero.
Frequentemente usamos m/n para significar a divisão de m por n.

N C Z C Q (N está contido em Z que está contido em Q)

Subconjuntos:

SÍMBOLO REPRESENTAÇÃO DESCRIÇÃO


* Q* Conjunto dos números racionais não nulos
+ Q+ Conjunto dos números racionais não negativos
*e+ Q*+ Conjunto dos números racionais positivos
- Q_ Conjunto dos números racionais não positivos
*e- Q*_ Conjunto dos números racionais negativos

Representação decimal
Podemos representar um número racional, escrito na forma de fração, em número decimal. Para isso temos duas maneiras possíveis:
1º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, um número finito de algarismos. Decimais Exatos:

2
= 0,4
5

2º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, infinitos algarismos (nem todos nulos), repetindo-se periodicamente Decimais
Periódicos ou Dízimas Periódicas:

1
= 0,333...
3

Representação Fracionária
É a operação inversa da anterior. Aqui temos duas maneiras possíveis:

1) Transformando o número decimal em uma fração numerador é o número decimal sem a vírgula e o denominador é composto pelo
numeral 1, seguido de tantos zeros quantas forem as casas decimais do número decimal dado. Ex.:
0,035 = 35/1000

2) Através da fração geratriz. Aí temos o caso das dízimas periódicas que podem ser simples ou compostas.
– Simples: o seu período é composto por um mesmo número ou conjunto de números que se repeti infinitamente. Exemplos:

117
MATEMÁTICA
Procedimento: para transformarmos uma dízima periódica simples em fração basta utilizarmos o dígito 9 no denominador para cada
quantos dígitos tiver o período da dízima.

– Composta: quando a mesma apresenta um ante período que não se repete.

a)

Procedimento: para cada algarismo do período ainda se coloca um algarismo 9 no denominador. Mas, agora, para cada algarismo do
antiperíodo se coloca um algarismo zero, também no denominador.

b)

Procedimento: é o mesmo aplicado ao item “a”, acrescido na frente da parte inteira (fração mista), ao qual transformamos e obtemos
a fração geratriz.

Exemplo:
(PREF. NITERÓI) Simplificando a expressão abaixo

Obtém-se :

(A) ½
(B) 1
(C) 3/2
(D) 2
(E) 3

118
MATEMÁTICA
Resolução: Exemplo:
(PREF. JUNDIAI/SP – AGENTE DE SERVIÇOS OPERACIONAIS
– MAKIYAMA) Na escola onde estudo, ¼ dos alunos tem a língua
portuguesa como disciplina favorita, 9/20 têm a matemática como
favorita e os demais têm ciências como favorita. Sendo assim, qual
fração representa os alunos que têm ciências como disciplina favo-
rita?
(A) 1/4
(B) 3/10
(C) 2/9
Resposta: B (D) 4/5
(E) 3/2
Caraterísticas dos números racionais
O módulo e o número oposto são as mesmas dos números in- Resolução:
teiros. Somando português e matemática:

Inverso: dado um número racional a/b o inverso desse número


(a/b)–n, é a fração onde o numerador vira denominador e o denomi-
nador numerador (b/a)n.

O que resta gosta de ciências:

Representação geométrica Resposta: B

• Multiplicação: como todo número racional é uma fração ou


pode ser escrito na forma de uma fração, definimos o produto de
dois números racionais a e c , da mesma forma que o produto de
b d
frações, através de:

Observa-se que entre dois inteiros consecutivos existem infini-


tos números racionais.

Operações
• Soma ou adição: como todo número racional é uma fração • Divisão: a divisão de dois números racionais p e q é a própria
ou pode ser escrito na forma de uma fração, definimos a adição operação de multiplicação do número p pelo inverso de q, isto é: p
entre os números racionais a e c , da mesma forma que a soma ÷ q = p × q-1
de frações, através de: b d

Exemplo:
• Subtração: a subtração de dois números racionais p e q é a (PM/SE – SOLDADO 3ªCLASSE – FUNCAB) Numa operação
própria operação de adição do número p com o oposto de q, isto é: policial de rotina, que abordou 800 pessoas, verificou-se que 3/4
p – q = p + (–q) dessas pessoas eram homens e 1/5 deles foram detidos. Já entre as
mulheres abordadas, 1/8 foram detidas.
Qual o total de pessoas detidas nessa operação policial?
(A) 145
(B) 185
(C) 220
(D) 260
ATENÇÃO: Na adição/subtração se o denominador for igual, (E) 120
conserva-se os denominadores e efetua-se a operação apresen-
tada.

119
MATEMÁTICA
Resolução: - Por último as adições e/ou subtrações na ordem que apare-
cem.

2) Símbolos:
- Primeiro, resolvemos os parênteses ( ), até acabarem os cál-
culos dentro dos parênteses,
-Depois os colchetes [ ];
- E por último as chaves { }.

ATENÇÃO:
– Quando o sinal de adição (+) anteceder um parêntese, col-
chetes ou chaves, deveremos eliminar o parêntese, o colchete ou
chaves, na ordem de resolução, reescrevendo os números internos
com os seus sinais originais.
– Quando o sinal de subtração (-) anteceder um parêntese, col-
chetes ou chaves, deveremos eliminar o parêntese, o colchete ou
chaves, na ordem de resolução, reescrevendo os números internos
Resposta: A com os seus sinais invertidos.

• Potenciação: é válido as propriedades aplicadas aos núme- Exemplo:


ros inteiros. Aqui destacaremos apenas as que se aplicam aos nú- (MANAUSPREV – ANALISTA PREVIDENCIÁRIO – ADMINISTRATI-
meros racionais. VA – FCC) Considere as expressões numéricas, abaixo.
A = 1/2 + 1/4+ 1/8 + 1/16 + 1/32 e
A) Toda potência com expoente negativo de um número racio- B = 1/3 + 1/9 + 1/27 + 1/81 + 1/243
nal diferente de zero é igual a outra potência que tem a base igual
ao inverso da base anterior e o expoente igual ao oposto do expo- O valor, aproximado, da soma entre A e B é
ente anterior. (A) 2
(B) 3
(C) 1
(D) 2,5
(E) 1,5

Resolução:
Vamos resolver cada expressão separadamente:
B) Toda potência com expoente ímpar tem o mesmo sinal da
base.

C) Toda potência com expoente par é um número positivo.

Resposta: E
Expressões numéricas
São todas sentenças matemáticas formadas por números, suas Múltiplos
operações (adições, subtrações, multiplicações, divisões, potencia- Dizemos que um número é múltiplo de outro quando o primei-
ções e radiciações) e também por símbolos chamados de sinais de ro é resultado da multiplicação entre o segundo e algum número
associação, que podem aparecer em uma única expressão. natural e o segundo, nesse caso, é divisor do primeiro. O que sig-
nifica que existem dois números, x e y, tal que x é múltiplo de y se
Procedimentos existir algum número natural n tal que:
1) Operações: x = y·n
- Resolvermos primeiros as potenciações e/ou radiciações na
ordem que aparecem; Se esse número existir, podemos dizer que y é um divisor de x e
- Depois as multiplicações e/ou divisões; podemos escrever: x = n/y

120
MATEMÁTICA
Observações: Fatoração numérica
1) Todo número natural é múltiplo de si mesmo. Trata-se de decompor o número em fatores primos. Para de-
2) Todo número natural é múltiplo de 1. compormos este número natural em fatores primos, dividimos o
3) Todo número natural, diferente de zero, tem infinitos múl- mesmo pelo seu menor divisor primo, após pegamos o quociente
tiplos. e dividimos o pelo seu menor divisor, e assim sucessivamente até
4) O zero é múltiplo de qualquer número natural. obtermos o quociente 1. O produto de todos os fatores primos re-
5) Os múltiplos do número 2 são chamados de números pares, presenta o número fatorado. Exemplo:
e a fórmula geral desses números é 2k (k ∈ N). Os demais são cha-
mados de números ímpares, e a fórmula geral desses números é 2k
+ 1 (k ∈ N).
6) O mesmo se aplica para os números inteiros, tendo k ∈ Z.

Critérios de divisibilidade
São regras práticas que nos possibilitam dizer se um número
é ou não divisível por outro, sem que seja necessário efetuarmos
a divisão.
No quadro abaixo temos um resumo de alguns dos critérios:

Divisores
Os divisores de um número n, é o conjunto formado por todos
os números que o dividem exatamente. Tomemos como exemplo o
número 12.

Um método para descobrimos os divisores é através da fato-


ração numérica. O número de divisores naturais é igual ao produto
dos expoentes dos fatores primos acrescidos de 1.
Logo o número de divisores de 12 são:

Para sabermos quais são esses 6 divisores basta pegarmos cada


fator da decomposição e seu respectivo expoente natural que varia
de zero até o expoente com o qual o fator se apresenta na decom-
(Fonte: https://www.guiadamatematica.com.br/criterios-de-divisi- posição do número natural.
bilidade/ - reeditado) 12 = 22 . 31 =
22 = 20,21 e 22 ; 31 = 30 e 31, teremos:
Vale ressaltar a divisibilidade por 7: Um número é divisível por 20 . 30=1
7 quando o último algarismo do número, multiplicado por 2, subtra- 20 . 31=3
ído do número sem o algarismo, resulta em um número múltiplo de 21 . 30=2
7. Neste, o processo será repetido a fim de diminuir a quantidade 21 . 31=2.3=6
de algarismos a serem analisados quanto à divisibilidade por 7. 22 . 31=4.3=12
22 . 30=4
Outros critérios
Divisibilidade por 12: Um número é divisível por 12 quando é O conjunto de divisores de 12 são: D (12)={1, 2, 3, 4, 6, 12}
divisível por 3 e por 4 ao mesmo tempo. A soma dos divisores é dada por: 1 + 2 + 3 + 4 + 6 + 12 = 28
Divisibilidade por 15: Um número é divisível por 15 quando é
divisível por 3 e por 5 ao mesmo tempo. Máximo divisor comum (MDC)
É o maior número que é divisor comum de todos os números
dados. Para o cálculo do MDC usamos a decomposição em fatores
primos. Procedemos da seguinte maneira:
Após decompor em fatores primos, o MDC é o produto dos FA-
TORES COMUNS obtidos, cada um deles elevado ao seu MENOR
EXPOENTE.

121
MATEMÁTICA
Exemplo:
MDC (18,24,42) =

Observe que os fatores comuns entre eles são: 2 e 3, então pegamos os de menores expoentes: 2x3 = 6. Logo o Máximo Divisor Co-
mum entre 18,24 e 42 é 6.

Mínimo múltiplo comum (MMC)


É o menor número positivo que é múltiplo comum de todos os números dados. A técnica para acharmos é a mesma do MDC, apenas
com a seguinte ressalva:
O MMC é o produto dos FATORES COMUNS E NÃO-COMUNS, cada um deles elevado ao SEU MAIOR EXPOENTE.
Pegando o exemplo anterior, teríamos:
MMC (18,24,42) =
Fatores comuns e não-comuns= 2,3 e 7
Com maiores expoentes: 2³x3²x7 = 8x9x7 = 504. Logo o Mínimo Múltiplo Comum entre 18,24 e 42 é 504.

Temos ainda que o produto do MDC e MMC é dado por: MDC (A,B). MMC (A,B)= A.B

Os cálculos desse tipo de problemas, envolvem adições e subtrações, posteriormente as multiplicações e divisões. Depois os pro-
blemas são resolvidos com a utilização dos fundamentos algébricos, isto é, criamos equações matemáticas com valores desconhecidos
(letras). Observe algumas situações que podem ser descritas com utilização da álgebra.
É bom ter mente algumas situações que podemos encontrar:

Exemplos:
(PREF. GUARUJÁ/SP – SEDUC – PROFESSOR DE MATEMÁTICA – CAIPIMES) Sobre 4 amigos, sabe-se que Clodoaldo é 5 centímetros
mais alto que Mônica e 10 centímetros mais baixo que Andreia. Sabe-se também que Andreia é 3 centímetros mais alta que Doralice e que
Doralice não é mais baixa que Clodoaldo. Se Doralice tem 1,70 metros, então é verdade que Mônica tem, de altura:
(A) 1,52 metros.
(B) 1,58 metros.
(C) 1,54 metros.
(D) 1,56 metros.

Resolução:
Escrevendo em forma de equações, temos:
C = M + 0,05 ( I )
C = A – 0,10 ( II )
A = D + 0,03 ( III )
D não é mais baixa que C
Se D = 1,70 , então:

122
MATEMÁTICA
( III ) A = 1,70 + 0,03 = 1,73 Fração é todo número que pode ser escrito da seguinte forma
( II ) C = 1,73 – 0,10 = 1,63 a/b, com b≠0. Sendo a o numerador e b o denominador. Uma fra-
( I ) 1,63 = M + 0,05 ção é uma divisão em partes iguais. Observe a figura:
M = 1,63 – 0,05 = 1,58 m
Resposta: B

(CEFET – AUXILIAR EM ADMINISTRAÇÃO – CESGRANRIO) Em


três meses, Fernando depositou, ao todo, R$ 1.176,00 em sua ca-
derneta de poupança. Se, no segundo mês, ele depositou R$ 126,00
a mais do que no primeiro e, no terceiro mês, R$ 48,00 a menos do
que no segundo, qual foi o valor depositado no segundo mês? O numerador indica quantas partes tomamos do total que foi
(A) R$ 498,00 dividida a unidade.
(B) R$ 450,00 O denominador indica quantas partes iguais foi dividida a uni-
(C) R$ 402,00 dade.
(D) R$ 334,00 Lê-se: um quarto.
(E) R$ 324,00
Atenção:
Resolução: • Frações com denominadores de 1 a 10: meios, terços, quar-
Primeiro mês = x tos, quintos, sextos, sétimos, oitavos, nonos e décimos.
Segundo mês = x + 126 • Frações com denominadores potências de 10: décimos, cen-
Terceiro mês = x + 126 – 48 = x + 78 tésimos, milésimos, décimos de milésimos, centésimos de milési-
Total = x + x + 126 + x + 78 = 1176 mos etc.
3.x = 1176 – 204 • Denominadores diferentes dos citados anteriormente:
x = 972 / 3 Enuncia-se o numerador e, em seguida, o denominador seguido da
x = R$ 324,00 (1º mês) palavra “avos”.
* No 2º mês: 324 + 126 = R$ 450,00
Resposta: B Tipos de frações
– Frações Próprias: Numerador é menor que o denominador.
(PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO/SP – AGENTE Ex.: 7/15
DE ADMINISTRAÇÃO – VUNESP) Uma loja de materiais elétricos – Frações Impróprias: Numerador é maior ou igual ao denomi-
testou um lote com 360 lâmpadas e constatou que a razão entre o nador. Ex.: 6/7
número de lâmpadas queimadas e o número de lâmpadas boas era – Frações aparentes: Numerador é múltiplo do denominador.
2 / 7. Sabendo-se que, acidentalmente, 10 lâmpadas boas quebra- As mesmas pertencem também ao grupo das frações impróprias.
ram e que lâmpadas queimadas ou quebradas não podem ser ven- Ex.: 6/3
didas, então a razão entre o número de lâmpadas que não podem – Frações mistas: Números compostos de uma parte inteira e
ser vendidas e o número de lâmpadas boas passou a ser de outra fracionária. Podemos transformar uma fração imprópria na
(A) 1 / 4. forma mista e vice e versa. Ex.: 1 1/12 (um inteiro e um doze avos)
(B) 1 / 3. – Frações equivalentes: Duas ou mais frações que apresentam
(C) 2 / 5. a mesma parte da unidade. Ex.: 2/4 = 1/2
(D) 1 / 2. – Frações irredutíveis: Frações onde o numerador e o denomi-
(E) 2 / 3. nador são primos entre si. Ex.: 5/11 ;

Resolução: Operações com frações


Chamemos o número de lâmpadas queimadas de ( Q ) e o nú-
mero de lâmpadas boas de ( B ). Assim: • Adição e Subtração
B + Q = 360 , ou seja, B = 360 – Q ( I ) Com mesmo denominador: Conserva-se o denominador e so-
ma-se ou subtrai-se os numeradores.

, ou seja, 7.Q = 2.B ( II )

Substituindo a equação ( I ) na equação ( II ), temos:


7.Q = 2. (360 – Q)
7.Q = 720 – 2.Q Com denominadores diferentes: é necessário reduzir ao mes-
7.Q + 2.Q = 720 mo denominador através do MMC entre os denominadores. Usa-
9.Q = 720 mos tanto na adição quanto na subtração.
Q = 720 / 9
Q = 80 (queimadas)
Como 10 lâmpadas boas quebraram, temos:
Q’ = 80 + 10 = 90 e B’ = 360 – 90 = 270

O MMC entre os denominadores (3,2) = 6


Resposta: B

123
MATEMÁTICA
• Multiplicação e Divisão
Multiplicação: É produto dos numerados pelos denominadores dados. Ex.:

– Divisão: É igual a primeira fração multiplicada pelo inverso da segunda fração. Ex.:

Obs.: Sempre que possível podemos simplificar o resultado da fração resultante de forma a torna-la irredutível.

Exemplo:
(EBSERH/HUPES – UFBA – TÉCNICO EM INFORMÁTICA – IADES) O suco de três garrafas iguais foi dividido igualmente entre 5 pessoas.
Cada uma recebeu

(A)

(B)

(C)

(D)

(E)

Resolução:
Se cada garrafa contém X litros de suco, e eu tenho 3 garrafas, então o total será de 3X litros de suco. Precisamos dividir essa quanti-
dade de suco (em litros) para 5 pessoas, logo teremos:

Onde x é litros de suco, assim a fração que cada um recebeu de suco é de 3/5 de suco da garrafa.
Resposta: B

SEQUÊNCIAS NUMÉRICAS, PROGRESSÃO ARITMÉTICA E PROGRESSÃO GEOMÉTRICA

Progressão aritmética (P.A.)


É toda sequência numérica em que cada um de seus termos, a partir do segundo, é igual ao anterior somado a uma constante r, deno-
minada razão da progressão aritmética. Como em qualquer sequência os termos são chamados de a1, a2, a3, a4,.......,an,....

124
MATEMÁTICA

• Cálculo da razão
A razão de uma P.A. é dada pela diferença de um termo qualquer pelo termo imediatamente anterior a ele.
r = a2 – a1 = a3 – a2 = a4 – a3 = a5 – a4 = .......... = an – an – 1

Exemplos:
- (5, 9, 13, 17, 21, 25,......) é uma P.A. onde a1 = 5 e razão r = 4
- (2, 9, 16, 23, 30,.....) é uma P.A. onde a1 = 2 e razão r = 7
- (23, 21, 19, 17, 15,....) é uma P.A. onde a1 = 23 e razão r = - 2.

• Classificação
Uma P.A. é classificada de acordo com a razão.

Se r > 0 ⇒ CRESCENTE. Se r < 0 ⇒ DECRESCENTE. Se r = 0 ⇒ CONSTANTE.

• Fórmula do Termo Geral


Em toda P.A., cada termo é o anterior somado com a razão, então temos:
1° termo: a1
2° termo: a2 = a1 + r
3° termo: a3 = a2 + r = a1 + r + r = a1 + 2r
4° termo: a4 = a3 + r = a1 + 2r + r = a1 + 3r
5° termo: a5 = a4 + r = a1 + 3r + r = a1 + 4r
6° termo: a6 = a5 + r = a1 + 4r + r = a1 + 5r
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
n° termo é:

Exemplo:
(PREF. AMPARO/SP – AGENTE ESCOLAR – CONRIO) Descubra o 99º termo da P.A. (45, 48, 51,...)
(A) 339
(B) 337
(C) 333
(D) 331

Resolução:

Resposta: A

125
MATEMÁTICA
Propriedades
1) Numa P.A. a soma dos termos equidistantes dos extremos é igual à soma dos extremos.
2) Numa P.A. com número ímpar de termos, o termo médio é igual à média aritmética entre os extremos.

Exemplo:

3) A sequência (a, b, c) é P.A. se, e somente se, o termo médio é igual à média aritmética entre a e c, isto é:

Soma dos n primeiros termos

Progressão geométrica (P.G.)


É uma sequência onde cada termo é obtido multiplicando o anterior por uma constante. Essa constante é chamada de razão da P.G.
e simbolizada pela letra q.

Cálculo da razão
A razão da P.G. é obtida dividindo um termo por seu antecessor. Assim: (a1, a2, a3, ..., an - 1, an, ...) é P.G. ⇔ an = (an - 1) q, n ≥ 2

126
MATEMÁTICA
Exemplos:

Classificação
Uma P.G. é classificada de acordo com o primeiro termo e a razão.

CRESCENTE DECRESCENTE ALTERNANTE CONSTANTE SINGULAR


a1 > 0 e q > 1 a1 > 0 e 0 < q < 1 Cada termo apresenta sinal contrário q = 1. a1 = 0
ou quando ou quando ao do anterior. Isto ocorre quando. (também é chamada de Esta- ou
a1 < 0 e 0 < q < 1. a1 < 0 e q > 1. q<0 cionária) q = 0.

Fórmula do termo geral


Em toda P.G. cada termo é o anterior multiplicado pela razão, então temos:
1° termo: a1
2° termo: a2 = a1.q
3° termo: a3 = a2.q = a1.q.q = a1q2
4° termo: a4 = a3.q = a1.q2.q = a1.q3
5° termo: a5 = a4.q = a1.q3.q = a1.q4
. . . . .
. . . . .
. . . . .

n° termo é:

Exemplo:
(TRF 3ª – ANALISTA JUDICIÁRIO - INFORMÁTICA – FCC) Um tabuleiro de xadrez possui 64 casas. Se fosse possível colocar 1 grão de
arroz na primeira casa, 4 grãos na segunda, 16 grãos na terceira, 64 grãos na quarta, 256 na quinta, e assim sucessivamente, o total de
grãos de arroz que deveria ser colocado na 64ª casa desse tabuleiro seria igual a
(A) 264.
(B) 2126.
(C) 266.
(D) 2128.
(E) 2256.

Resolução:
Pelos valores apresentados, é uma PG de razão 4
a64 = ?
a1 = 1
q=4
n = 64

Resposta: B

127
MATEMÁTICA
Propriedades
1) Em qualquer P.G., cada termo, exceto os extremos, é a média geométrica entre o precedente e o consequente.
2) Em toda P.G. finita, o produto dos termos equidistantes dos extremos é igual ao produto dos extremos.

3) Em uma P.G. de número ímpar de termos, o termo médio é a média geométrica entre os extremos.
Em síntese temos:

4) Em uma PG, tomando-se três termos consecutivos, o termo central é a média geométrica dos seus vizinhos.

Soma dos n primeiros termos


A fórmula para calcular a soma de todos os seus termos é dada por:

Produto dos n termos

Temos as seguintes regras para o produto:


1) O produto de n números positivos é sempre positivo.
2) No produto de n números negativos:
a) se n é par: o produto é positivo.
b) se n é ímpar: o produto é negativo.

Soma dos infinitos termos


A soma dos infinitos termos de uma P.G de razão q, com -1 < q < 1, é dada por:

Exemplo:
A soma dos elementos da sequência numérica infinita (3; 0,9; 0,09; 0,009; …) é
(A) 3,1
(B) 3,9
(C) 3,99
(D) 3, 999
(E) 4

128
MATEMÁTICA
Resolução: Simplificação de expressões algébricas
Sejam S as somas dos elementos da sequência e S1 a soma da Podemos escrever as expressões algébricas de forma mais
PG infinita (0,9; 0,09; 0,009;…) de razão q = 0,09/0,9 = 0,1. Assim: simples somando seus termos semelhantes (mesma parte literal).
S = 3 + S1 Basta somar ou subtrair os coeficientes dos termos semelhantes e
Como -1 < q < 1 podemos aplicar a fórmula da soma de uma PG repetir a parte literal. Exemplos:
infinita para obter S1: a) 3xy + 7xy4 - 6x3y + 2xy - 10xy4 = (3xy + 2xy) + (7xy4 - 10xy4)
S1 = 0,9/(1 - 0,1) = 0,9/0,9 = 1 → S = 3 + 1 = 4 - 6x3y = 5xy - 3xy4 - 6x3y
Resposta: E b) ab - 3cd + 2ab - ab + 3cd + 5ab = (ab + 2ab - ab + 5ab) + (- 3cd
+ 3cd) = 7ab

Fatoração de expressões algébricas


ÁLGEBRA: EXPRESSÕES ALGÉBRICAS. Fatorar significa escrever uma expressão como produto de ter-
mos. Para fatorar uma expressão algébrica podemos usar os seguin-
Expressões algébricas são expressões matemáticas que apre- tes casos:
sentam números, letras e operações. As expressões desse tipo são • Fator comum em evidência: ax + bx = x . (a + b)
usadas com frequência em fórmulas e equações. • Agrupamento: ax + bx + ay + by = x . (a + b) + y . (a + b) = (x +
As letras que aparecem em uma expressão algébrica são cha- y) . (a + b)
madas de variáveis e representam um valor desconhecido. • Trinômio Quadrado Perfeito (Adição): a2 + 2ab + b2 = (a + b)2
Os números escritos na frente das letras são chamados de co- • Trinômio Quadrado Perfeito (Diferença): a2 – 2ab + b2 = (a –
eficientes e deverão ser multiplicados pelos valores atribuídos as b)2
letras. • Diferença de dois quadrados: (a + b) . (a – b) = a2 – b2
• Cubo Perfeito (Soma): a3 + 3a2b + 3ab2 + b3 = (a + b)3
Exemplo: • Cubo Perfeito (Diferença): a3 - 3a2b + 3ab2 - b3 = (a - b)3
(PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO/SP – AGENTE DE
ADMINISTRAÇÃO – VUNESP) Uma loja de materiais elétricos testou Exemplo:
um lote com 360 lâmpadas e constatou que a razão entre o número (PREF. MOGEIRO/PB - PROFESSOR – MATEMÁTICA – EXAMES)
de lâmpadas queimadas e o número de lâmpadas boas era 2 / 7. Sa- Simplificando a expressão,
bendo-se que, acidentalmente, 10 lâmpadas boas quebraram e que
lâmpadas queimadas ou quebradas não podem ser vendidas, então
a razão entre o número de lâmpadas que não podem ser vendidas
e o número de lâmpadas boas passou a ser de
(A) 1 / 4.
(B) 1 / 3.
(C) 2 / 5. Obtemos:
(D) 1 / 2. (A) a + b.
(E) 2 / 3. (B) a² + b².
(C) ab.
Resolução: (D) a² + ab + b².
Chamemos o número de lâmpadas queimadas de ( Q ) e o nú- (E) b – a.
mero de lâmpadas boas de ( B ). Assim:
B + Q = 360 , ou seja, B = 360 – Q ( I ) Resolução:

Substituindo a equação ( I ) na equação ( II ), temos:


7.Q = 2. (360 – Q)
7.Q = 720 – 2.Q
7.Q + 2.Q = 720
9.Q = 720
Q = 720 / 9
Q = 80 (queimadas)
Como 10 lâmpadas boas quebraram, temos:
Q’ = 80 + 10 = 90 e B’ = 360 – 90 = 270

Resposta: D
Resposta: B

129
MATEMÁTICA
Monômios
Quando uma expressão algébrica apresenta apenas multiplicações entre o coeficiente e as letras (parte literal), ela é chamada de
monômio. Exemplos: 3ab ; 15xyz3

Propriedades importantes
– Toda equação algébrica de grau n possui exatamente n raízes.
– Se b for raiz de P(x) = 0 , então P(x) é divisível por (x – b) . Esta propriedade é muito importante para abaixar o grau de uma equação,
o que se consegue dividindo P(x) por x - b, aplicando Briot-Ruffini.
– Se o número complexo (a + bi) for raiz de P(x) = 0 , então o conjugado (a – bi) também será raiz .
– Se a equação P(x) = 0 possuir k raízes iguais a m então dizemos que m é uma raiz de grau de multiplicidade k.
– Se a soma dos coeficientes de uma equação algébrica P(x) = 0 for nula, então a unidade é raiz da
– Toda equação de termo independente nulo, admite um número de raízes nulas igual ao menor expoente da variável.

Relações de Girard
São as relações existentes entre os coeficientes e as raízes de uma equação algébrica.
Sendo V= {r1, r2, r3,...,rn-1,rn} o conjunto verdade da equação P(x) = a0xn + a1xn-1 +a2xn-2+ ... + an-1x+an=0, com a0≠ 0, valem as seguintes
relações entre os coeficientes e as raízes:

Atenção
As relações de Girard só são úteis na resolução de equações quando temos alguma informação sobre as raízes. Sozinhas, elas não
são suficientes para resolver as equações.

Exemplo:
(UFSCAR-SP) Sabendo-se que a soma de duas das raízes da equação x3 – 7x2 + 14x – 8 = 0 é igual a 5, pode-se afirmar a respeito das
raízes que:
(A) são todas iguais e não nulas.
(B) somente uma raiz é nula.
(C) as raízes constituem uma progressão geométrica.
(D) as raízes constituem uma progressão aritmética.
(E) nenhuma raiz é real.

Resolução:
x3 – 7x2 + 14x – 8 = 0
Raízes: x1, x2 e x3
Informação: x1 + x2 = 5
Girard: x1 + x2 + x3 = 7 ➱ 5 + x3 = 7 ➱ x3 = 2
Como 2 é raiz, por Briot-Ruffini, temos

x2 – 5x + 4 = 0
x = 1 ou x = 4
S = {1, 2, 4}
Resposta: C

Teorema das Raízes Racionais


É um recurso para a determinação de raízes de equações algébricas. Segundo o teorema, se o número racional, com e primos entre si
(ou seja, é uma fração irredutível), é uma raiz da equação polinomial com coeficientes inteiros então é divisor de e é divisor de.

130
MATEMÁTICA
Exemplo:
Verifique se a equação x3 – x2 + x – 6 = 0 possui raízes racionais.

Resolução:
p deve ser divisor de 6, portanto: ±6, ±3, ±2, ±1; q deve ser divisor de 1, portanto: ±1; Portanto, os possíveis valores da fração são p/q:
±6, ±3, ±2 e ±1. Substituindo-se esses valores na equação, descobrimos que 2 é uma de suas raízes. Como esse polinômio é de grau 3 (x3 )
é necessário descobrir apenas uma raiz para determinar as demais. Se fosse de grau 4 (x4 ) precisaríamos descobrir duas raízes. As demais
raízes podem facilmente ser encontradas utilizando-se o dispositivo prático de Briot-Ruffini e a fórmula de Bhaskara.

POLINÔMIOS: OPERAÇÕES E PROPRIEDADES.

POLINÔMIOS
Polinômio é uma expressão algébrica com todos os termos semelhantes reduzidos.
Como os monômios, os polinômios também possuem grau e é assim que eles são separados. Para identificar o seu grau, basta obser-
var o grau do maior monômio, esse será o grau do polinômio.

Função polinomial
Chamamos de função polinomial ou polinômio a toda função P: R⇒R, definida por uma equação do tipo:

Princípio de identidade de polinômios


Dois polinômios são iguais quando seus coeficientes são iguais, ou seja, os polinômios

serão iguais se, e somente se:

Polinômio identicamente nulo


Dizemos que um polinômio é identicamente nulo, quando todos os seus coeficientes são iguais a zero, e indicamos por P(x) ≡ 0.

Operações com Polinômios


- Adição: somar dois ou mais polinômios é obter um polinômio onde os coeficientes são dados pela adição dos coeficientes dos ter-
mos semelhantes. Reduzindo os termos semelhantes numa só linha

- Subtração: a diferença de dois polinômios A(x) e B(x) é o polinômio obtido pela soma de A(x) com o oposto de B(x).

Exemplo: (UF/AL) Seja o polinômio do 3° grau p = ax³ + bx² + cx + d cujos coeficientes são todos positivos. O n° real k é solução da
equação p(x) = p(- x) se, e somente se, k é igual a:
(A) 0
(B) 0 ou 1
(C) - 1 ou 1
(D) ± √c/a
(E) 0 ou ± √-c/a

Resolução:
p(x) = p(- x)
ax³ + bx² + cx + d = - ax³ + bx² - cx + d
2ax³ + 2cx = 0

131
MATEMÁTICA
2(ax³ + cx) = 0 Resolução:
ax³+cx=0
Como k é solução da equação ax³ + cx = 0, teremos
p(k) = ak³ + ck = 0
ak³ + ck = 0
k(ak² + c) = 0
k = 0 ou
ak² + c = 0
k² = - c/a

k=±
Resposta: D.
Resposta: E.
- Multiplicação: obter o produto de dois polinômios A(x) e B(x) Dispositivo de Briot-Ruffini  
é aplicar a propriedade distributiva do polinômio A(x) em B(x). Utiliza-se para efetuar a divisão de um polinômio P(x) por um
binômio da forma (ax + b).
Fique Atento!!!
As multiplicações serão efetuadas utilizando as seguintes pro-
priedades:
- Propriedade da base igual e expoente diferente: an . am = a
n+m
- Monômio multiplicado por monômio é o mesmo que multi-
plicar parte literal com parte literal e coeficiente com coeficiente.

Exemplos:

Exemplo: Determinar o quociente e o resto da divisão do poli-


nômio P(x) = 3x3 – 5x2 + x – 2 por (x – 2).

Resolução:

- Divisão: sejam dois polinômios A(x) e B(x), onde A(x) é o divi-


dendo e B(x) é o divisor, com B(x) ≠ 0. Dizemos que existe um único
par de polinômios Q(x) e R(x) em que Q(x) é o quociente e R(x) é o
resto, tal que:
A(x) = B(x). Q(x) + R(x) ⇒ gr (R) < gr (B) ou R(x) ≡ 0
E se R(x) ≡ 0, dizemos que a divisão é exata ou então que A(x)
é divisível por B(x).
Veja que:
Esquematicamente, temos: O termo constante do divisor h(x) igual a –2, ele com sinal tro-
cado será 2;
Os coeficientes de x do dividendo p(x) são 3, -5 e 1;
O termo constante do dividendo p(x) = -2.

Para resolvermos este problema, vamos seguir o passo a passo


abaixo:
1) Vamos achar a raiz do divisor: x – 2 = 0 ⇒ x = 2;
2) Colocamos a raiz do divisor e os coeficientes do dividendo
ordenadamente na parte de cima da reta, como mostra a figura
acima;
3) O primeiro coeficiente do dividendo é repetido abaixo;
4) Multiplicamos a raiz do divisor por esse coeficiente repeti-
do abaixo e somamos o produto com o 2º coeficiente do dividen-
Exemplo: (Guarda Civil SP) O resto da divisão do polinômio x³ do, colocando o resultado abaixo deste;
+ 3x² – 5x + 1 por x – 2 é: 5) Multiplicamos a raiz do divisor pelo número colocado abai-
xo do 2º coeficiente e somamos o produto com o 3º coeficiente,
(A)1 colocando o resultado abaixo deste, e assim sucessivamente;
(B)2 6) Separamos o último número formado, que é igual ao resto
(C)10 da divisão, e os números que ficam à esquerda deste serão os co-
(D)11 eficientes do quociente.
(E) 12

132
MATEMÁTICA

Observe que o grau de Q(x) é uma unidade inferior ao de P(x), pois o divisor é de grau 1.
Resposta: Q(x) = 3x2 + x + 3 e R(x) = 4.
Máximo divisor comum de um polinômio
Um máximo divisor comum de um grupo de dois ou mais polinômios não nulos, de coeficientes racionais, P1(x), P2(x), ... , Pm(x) é um
polinômio de maior grau M(x) que divide todos os polinômios P1(x), P2(x), ... , Pm(x) .

M(x) também deve só conter coeficientes racionais.

Um polinômio D(x) divide um polinômio A(x) - não nulo - se existe um polinômio Q(x) tal que

A(x) ≡ Q(x)D(x)

Cardica
O MDC entre polinômios não é único, mas se P é um mdc entre os polinômios considerados, todo mdc entre eles pode ser escrito
como a·P (a é uma constante não nula).
Não se esqueça que para ser mdc é OBRIGATÓRIO que ele seja o produto de TODOS os divisores dos polinômios dados (desconside-
rando as constantes multiplicativas). O grau do mdc é único.

EQUAÇÕES POLINOMIAIS
Denominamos equações polinomiais, ou algébricas, às equações da forma: P(x) = 0, onde P(x) é um polinômio de grau n > 0.
Resolver uma equação algébrica é obter o seu conjunto-verdade, que é o conjunto de todas as suas raízes, isto é, os valores de x que
tornam verdadeira a igualdade:

Teorema fundamental da álgebra


Toda equação algébrica P(x) = 0, de grau n > 0, admite pelo menos uma raiz real ou complexa.

Teorema da decomposição
Todo polinômio P(x) = anxn + an-1xn-1 + an-2xn-2 + ... + a2x2 + ax + a0 de grau n > 0, pode ser decomposto em um produto de n fatores do
tipo (x - α), onde α é raiz de P(x):

Logo:
Todo polinômio de grau n tem exatamente n raízes reais e complexas.

Multiplicidade de uma raiz


Uma equação algébrica pode apresentar todas as suas raízes distintas ou não. Quando uma raiz ocorre mais de uma vez na forma fa-
torada de P(x), denominamos esta raiz de raiz múltipla de P(x). Assim, se uma equação algébrica tiver duas raízes iguais, diremos que essa
raiz terá multiplicidade 2 (raiz dupla), se houver três raízes iguais, a multiplicidade será 3 (raiz tripla), e assim por diante. Caso contrário, a
raiz será denominada simples.

Teorema das raízes complexas


Se uma equação P(x) = 0, de coeficientes reais, apresentar uma raiz complexa (a + bi), então o complexo deste número também será
raiz de P(x), ambos com a mesma multiplicidade. Em um polinômio P(x) com coeficientes reais e grau ímpar há, no mínimo, uma raiz real.

133
MATEMÁTICA
Exemplo: Uma equação algébrica com coeficientes reais admite como raízes os números complexos 2 + i, 1 – i e 0. Podemos afirmar
que o grau dessa equação é, necessariamente:
(A) par.
(B) ímpar.
(C) igual a três.
(D) menor ou igual a seis.
(E) maior ou igual a cinco.

Resolução:
Como a equação tem coeficientes reais, além das raízes 2 + i, 1 – i e zero, ela admite também 2 – i e 1 + i como raízes. Logo, o menor
grau possível para essa equação é 5.
Resposta: E.

Relações de Girard
São as relações estabelecidas entre as raízes e os coeficientes de uma equação algébrica, P(x) = 0. Se a equação for do 2º grau, ax2 +
bx + c = 0, com raízes x1 e x2, então:

Se a equação for do 3º grau, ax3 + bx2 + cx + d = 0, com raízes x1,x2 e x3, teremos as seguintes relações:

Exemplo: (Fuvest-SP) Sabe-se que o produto de duas raízes da equação algébrica 2x3 – x2 + kx + 4 = 0 é igual a 1. Então, o valor de k é:
(A) – 8
(B) – 4
(C) 0
(D) 4
(E) 8

Resolução:

Resposta: A.

134
MATEMÁTICA
Resolução:
EQUAÇÕES POLINOMIAIS E INEQUAÇÕES RELACIONADAS Vamos chamar de ( x ) o valor para cada motorista. Assim:
16 . x = Total
Equação é toda sentença matemática aberta que exprime uma Total = 10 . (x + 57) (pois 6 desistiram)
relação de igualdade e uma incógnita ou variável (x, y, z,...). Combinando as duas equações, temos:
16.x = 10.x + 570
Equação do 1º grau 16.x – 10.x = 570
As equações do primeiro grau são aquelas que podem ser re- 6.x = 570
presentadas sob a forma ax + b = 0, em que a e b são constantes x = 570 / 6
reais, com a diferente de 0, e x é a variável. A resolução desse tipo x = 95
de equação é fundamentada nas propriedades da igualdade descri- O valor total é: 16 . 95 = R$ 1520,00.
tas a seguir. Resposta: E
Adicionando um mesmo número a ambos os membros de uma
equação, ou subtraindo um mesmo número de ambos os membros, Equação do 2º grau
a igualdade se mantém. As equações do segundo grau são aquelas que podem ser
Dividindo ou multiplicando ambos os membros de uma equa- representadas sob a forma ax² + bx +c = 0, em que a, b e c são
ção por um mesmo número não-nulo, a igualdade se mantém. constantes reais, com a diferente de 0, e x é a variável.

• Membros de uma equação • Equação completa e incompleta


Numa equação a expressão situada à esquerda da igualdade é 1) Quando b ≠ 0 e c ≠ 0, a equação do 2º grau se diz completa.
chamada de 1º membro da equação, e a expressão situada à direita Ex.: x2 - 7x + 11 = 0= 0 é uma equação completa (a = 1, b = – 7,
da igualdade, de 2º membro da equação. c = 11).

2) Quando b = 0 ou c = 0 ou b = c = 0, a equação do 2º grau se


diz incompleta.
Exs.:
x² - 81 = 0 é uma equação incompleta (b=0).
• Resolução de uma equação x² +6x = 0 é uma equação incompleta (c = 0).
Colocamos no primeiro membro os termos que apresentam 2x² = 0 é uma equação incompleta (b = c = 0).
variável, e no segundo membro os termos que não apresentam va-
riável. Os termos que mudam de membro têm os sinais trocados. • Resolução da equação
5x – 8 = 12 + x 1º) A equação é da forma ax2 + bx = 0 (incompleta)
5x – x = 12 + 8 x2 – 16x = 0 colocamos x em evidência
4x = 20 x . (x – 16) = 0,
X = 20/4 x=0
X=5 x – 16 = 0
x = 16
Ao substituirmos o valor encontrado de x na equação obtemos Logo, S = {0, 16} e os números 0 e 16 são as raízes da equação.
o seguinte:
5x – 8 = 12 + x 2º) A equação é da forma ax2 + c = 0 (incompleta)
5.5 – 8 = 12 + 5 x2 – 49= 0 Fatoramos o primeiro membro, que é uma diferen-
25 – 8 = 17 ça de dois quadrados.
17 = 17 ( V) (x + 7) . (x – 7) = 0,

Quando se passa de um membro para o outro se usa a ope- x+7=0 x–7=0


ração inversa, ou seja, o que está multiplicando passa dividindo e
o que está dividindo passa multiplicando. O que está adicionando x=–7 x=7
passa subtraindo e o que está subtraindo passa adicionando.
ou
Exemplo:
(PRODAM/AM – AUXILIAR DE MOTORISTA – FUNCAB) Um gru- x2 – 49 = 0
po formado por 16 motoristas organizou um churrasco para suas x2 = 49
famílias. Na semana do evento, seis deles desistiram de participar. x2 = 49
Para manter o churrasco, cada um dos motoristas restantes pagou x = 7, (aplicando a segunda propriedade).
R$ 57,00 a mais. Logo, S = {–7, 7}.
O valor total pago por eles, pelo churrasco, foi:
(A) R$ 570,00 3º) A equação é da forma ax² + bx + c = 0 (completa)
(B) R$ 980,50 Para resolvê-la usaremos a formula de Bháskara.
(C) R$ 1.350,00
(D) R$ 1.480,00
(E) R$ 1.520,00

135
MATEMÁTICA
Conforme o valor do discriminante Δ existem três possibilidades quanto á natureza da equação dada.

Quando ocorre a última possibilidade é costume dizer-se que não existem raízes reais, pois, de fato, elas não são reais já que não
existe, no conjunto dos números reais, √a quando a < 0.

• Relações entre raízes e coeficientes

Exemplo:
(CÂMARA DE CANITAR/SP – RECEPCIONISTA – INDEC) Qual a equação do 2º grau cujas raízes são 1 e 3/2?
(A) x²-3x+4=0
(B) -3x²-5x+1=0
(C) 3x²+5x+2=0
(D) 2x²-5x+3=0

Resolução:
Como as raízes foram dadas, para saber qual a equação:
x² - Sx +P=0, usando o método da soma e produto; S= duas raízes somadas resultam no valor numérico de b; e P= duas raízes multi-
plicadas resultam no valor de c.

Resposta: D

Inequação do 1º grau
Uma inequação do 1° grau na incógnita x é qualquer expressão do 1° grau que pode ser escrita numa das seguintes formas:
ax + b > 0
ax + b < 0
ax + b ≥ 0
ax + b ≤ 0
Onde a, b são números reais com a ≠ 0

• Resolvendo uma inequação de 1° grau


Uma maneira simples de resolver uma equação do 1° grau é isolarmos a incógnita x em um dos membros da igualdade. O método é
bem parecido com o das equações. Ex.:

136
MATEMÁTICA
Resolva a inequação -2x + 7 > 0. Inequação do 2º grau
Solução: Chamamos de inequação da 2º toda desigualdade pode ser re-
-2x > -7 presentada da seguinte forma:
Multiplicando por (-1) ax2 + bx + c > 0
2x < 7 ax2 + bx + c < 0
x < 7/2 ax2 + bx + c ≥ 0
Portanto a solução da inequação é x < 7/2. ax2 + bx + c ≤ 0
Onde a, b e c são números reais com a ≠ 0
Atenção:
Toda vez que “x” tiver valor negativo, devemos multiplicar por Resolução da inequação
(-1), isso faz com que o símbolo da desigualdade tenha o seu sen- Para resolvermos uma inequação do 2o grau, utilizamos o estu-
tido invertido. do do sinal. As inequações são representadas pelas desigualdades:
Pode-se resolver qualquer inequação do 1° grau por meio do > , ≥ , < , ≤.
estudo do sinal de uma função do 1° grau, com o seguinte proce- Ex.: x2 -3x + 2 > 0
dimento:
1. Iguala-se a expressão ax + b a zero; Resolução:
2. Localiza-se a raiz no eixo x; x2 -3x + 2 > 0
3. Estuda-se o sinal conforme o caso. x ‘ =1, x ‘’ = 2
Como desejamos os valores para os quais a função é maior que
Pegando o exemplo anterior temos: zero devemos fazer um esboço do gráfico e ver para quais valores
-2x + 7 > 0 de x isso ocorre.
-2x + 7 = 0
x = 7/2

Vemos, que as regiões que tornam positivas a função são: x<1


e x>2. Resposta: { x|R| x<1 ou x>2}

Exemplo:
Exemplo: (VUNESP) O conjunto solução da inequação 9x2 – 6x + 1 ≤ 0,
(SEE/AC – PROFESSOR DE CIÊNCIAS DA NATUREZA MATEMÁ- no universo dos números reais é:
TICA E SUAS TECNOLOGIAS – FUNCAB) Determine os valores de (A) ∅
que satisfazem a seguinte inequação: (B) R

(C)

(D)
(A) x > 2
(B) x - 5
(C) x > - 5 (E)
(D) x < 2
(E) x 2
Resolução:
Resolução: Resolvendo por Bháskara:

Fazendo o gráfico, a > 0 parábola voltada para cima:


Resposta: B

137
MATEMÁTICA

Mas, se a = -1 e b = 0, temos então y = -x. A reta determinada


por esta função é a bissetriz dos quadrantes pares, conforme mos-
Resposta: C tra o gráfico ao lado. x e y têm valores iguais em módulo, porém
com sinais contrários.
FUNÇÕES: GENERALIDADES. FUNÇÕES ELEMENTARES: 1º
GRAU, 2º GRAU, MODULAR, EXPONENCIAL E LOGARÍT-
MICA, GRÁFICOS. PROPRIEDADES

Funções lineares
Chama-se função do 1º grau ou afim a função f: R  R definida
por y = ax + b, com a e b números reais e a 0. a é o coeficiente an-
gular da reta e determina sua inclinação, b é o coeficiente linear da
reta e determina a intersecção da reta com o eixo y.

• Função linear
É a função do 1º grau quando b = 0, a ≠ 0 e a ≠ 1, a e b ∈ R.

• Função afim
É a função do 1º grau quando a ≠ 0, b ≠ 0, a e b ∈ R.

• Função Injetora
Com a ϵ R* e b ϵ R. É a função cujo domínio apresenta elementos distintos e tam-
bém imagens distintas.
Atenção
Usualmente chamamos as funções polinomiais de: 1º grau, 2º
etc, mas o correto seria Função de grau 1,2 etc. Pois o classifica a
função é o seu grau do seu polinômio.

A função do 1º grau pode ser classificada de acordo com seus


gráficos. Considere sempre a forma genérica y = ax + b.

• Função constante
Se a = 0, então y = b, b ∈ R. Desta maneira, por exemplo, se y
= 4 é função constante, pois, para qualquer valor de x, o valor de y
ou f(x) será sempre 4.
• Função Sobrejetora
É quando todos os elementos do domínio forem imagens de
PELO MENOS UM elemento do domínio.

• Função identidade
Se a = 1 e b = 0, então y = x. Nesta função, x e y têm sempre
os mesmos valores. Graficamente temos: A reta y = x ou f(x) = x é
denominada bissetriz dos quadrantes ímpares.

138
MATEMÁTICA
• Função Bijetora
É uma função que é ao mesmo tempo injetora e sobrejetora.

1º) Igualamos y a zero, então ax + b = 0 ⇒ x = - b/a, no eixo x


• Função Par encontramos o ponto (-b/a, 0).
Quando para todo elemento x pertencente ao domínio temos 2º) Igualamos x a zero, então f(x) = a. 0 + b ⇒ f(x) = b, no eixo y
f(x)=f(-x), ∀ x ∈ D(f). Ou seja, os valores simétricos devem possuir encontramos o ponto (0, b).
a mesma imagem. • f(x) é crescente se a é um número positivo (a > 0);
• f(x) é decrescente se a é um número negativo (a < 0).

• Função ímpar
Quando para todo elemento x pertencente ao domínio, temos Raiz ou zero da função do 1º grau
f(-x) = -f(x) ∀ x є D(f). Ou seja, os elementos simétricos do domínio A raiz ou zero da função do 1º grau é o valor de x para o qual y =
terão imagens simétricas. f(x) = 0. Graficamente, é o ponto em que a reta “corta” o eixo x. Por-
tanto, para determinar a raiz da função, basta a igualarmos a zero:

Estudo de sinal da função do 1º grau


Estudar o sinal de uma função do 1º grau é determinar os valo-
res de x para que y seja positivo, negativo ou zero.
1º) Determinamos a raiz da função, igualando-a a zero: (raiz:
x =- b/a)
2º) Verificamos se a função é crescente (a>0) ou decrescente (a
< 0); temos duas possibilidades:

Gráfico da função do 1º grau


A representação geométrica da função do 1º grau é uma reta,
portanto, para determinar o gráfico, é necessário obter dois pontos.
Em particular, procuraremos os pontos em que a reta corta os eixos
x e y.
De modo geral, dada a função f(x) = ax + b, para determinarmos
a intersecção da reta com os eixos, procedemos do seguinte modo:

139
MATEMÁTICA
Exemplos: Equações lineares
(PM/SP – CABO – CETRO) O gráfico abaixo representa o salário As equações do tipo a1x1 + a2x2 + a3x3 + .....+ anxn = b, são equa-
bruto (S) de um policial militar em função das horas (h) trabalhadas ções lineares, onde a1, a2, a3, ... são os coeficientes; x1, x2, x3,... as
em certa cidade. Portanto, o valor que este policial receberá por incógnitas e b o termo independente.
186 horas é Por exemplo, a equação 4x – 3y + 5z = 31 é uma equação line-
ar. Os coeficientes são 4, –3 e 5; x, y e z as incógnitas e 31 o termo
independente.
Para x = 2, y = 4 e z = 7, temos 4.2 – 3.4 + 5.7 = 31, concluímos
que o terno ordenado (2,4,7) é solução da equação linear
4x – 3y + 5z = 31.

Funções quadráticas
Chama-se função do 2º grau ou função quadrática, de domínio
R e contradomínio R, a função:

Com a, b e c reais e a ≠ 0.
(A) R$ 3.487,50.
(B) R$ 3.506,25.
(C) R$ 3.534,00. Onde:
(D) R$ 3.553,00. a é o coeficiente de x2
b é o coeficiente de x
Resolução: c é o termo independente

Atenção:
Chama-se função completa aquela em que a, b e c não são nu-
los, e função incompleta aquela em que b ou c são nulos.

Raízes da função do 2ºgrau


Analogamente à função do 1º grau, para encontrar as raízes
da função quadrática, devemos igualar f(x) a zero. Teremos então:
ax2 + bx + c = 0
Resposta: A
A expressão assim obtida denomina-se equação do 2º grau.
(CBTU/RJ - ASSISTENTE OPERACIONAL - CONDUÇÃO DE VEÍ- As raízes da equação são determinadas utilizando-se a fórmula de
CULOS METROFERROVIÁRIOS – CONSULPLAN) Qual dos pares de Bhaskara:
pontos a seguir pertencem a uma função do 1º grau decrescente?
(A) Q(3, 3) e R(5, 5).
(B) N(0, –2) e P(2, 0).
(C) S(–1, 1) e T(1, –1).
(D) L(–2, –3) e M(2, 3).
Δ (letra grega: delta) é chamado de discriminante da equação.
Resolução: Observe que o discriminante terá um valor numérico, do qual te-
Para pertencer a uma função polinomial do 1º grau decrescen- mos de extrair a raiz quadrada. Neste caso, temos três casos a con-
te, o primeiro ponto deve estar em uma posição “mais alta” do que siderar:
o 2º ponto. Δ > 0 ⇒ duas raízes reais e distintas;
Vamos analisar as alternativas: Δ = 0 ⇒ duas raízes reais e iguais;
( A ) os pontos Q e R estão no 1º quadrante, mas Q está em uma Δ < 0 ⇒ não existem raízes reais (∄ x ∈ R).
posição mais baixa que o ponto R, e, assim, a função é crescente.
( B ) o ponto N está no eixo y abaixo do zero, e o ponto P está no Gráfico da função do 2º grau
eixo x à direita do zero, mas N está em uma posição mais baixa que
o ponto P, e, assim, a função é crescente. • Concavidade da parábola
( D ) o ponto L está no 3º quadrante e o ponto M está no 1º Graficamente, a função do 2º grau, de domínio r, é representa-
quadrante, e L está em uma posição mais baixa do que o ponto M, da por uma curva denominada parábola. Dada a função y = ax2 + bx
sendo, assim, crescente. + c, cujo gráfico é uma parábola, se:
( C ) o ponto S está no 2º quadrante e o ponto T está no 4º qua-
drante, e S está em uma posição mais alta do que o ponto T, sendo,
assim, decrescente.
Resposta: C

140
MATEMÁTICA

• O termo independente
Na função y = ax2 + bx + c, se x = 0 temos y = c. Os pontos em que x = 0 estão no eixo y, isto significa que o ponto (0, c) é onde a pará-
bola “corta” o eixo y.

• Raízes da função
Considerando os sinais do discriminante (Δ) e do coeficiente de x2, teremos os gráficos que seguem para a função y = ax2 + bx + c.

Vértice da parábola – Máximos e mínimos da função


Observe os vértices nos gráficos:

O vértice da parábola será:


• o ponto mínimo se a concavidade estiver voltada para cima (a > 0);
• o ponto máximo se a concavidade estiver voltada para baixo (a < 0).
A reta paralela ao eixo y que passa pelo vértice da parábola é chamada de eixo de simetria.

141
MATEMÁTICA
Coordenadas do vértice
As coordenadas do vértice da parábola são dadas por:

Estudo do sinal da função do 2º grau


Estudar o sinal da função quadrática é determinar os valores de x para que y seja: positivo, negativo ou zero. Dada a função f(x) = y =
ax2 + bx + c, para saber os sinais de y, determinamos as raízes (se existirem) e analisamos o valor do discriminante.

Exemplos:
(CBM/MG – OFICIAL BOMBEIRO MILITAR – FUMARC) Duas cidades A e B estão separadas por uma distância d. Considere um ciclista
que parte da cidade A em direção à cidade B. A distância d, em quilômetros, que o ciclista ainda precisa percorrer para chegar ao seu des-
tino em função do tempo t, em horas, é dada pela função . Sendo assim, a velocidade média desenvolvida pelo ciclista
em todo o percurso da cidade A até a cidade B é igual a
(A) 10 Km/h
(B) 20 Km/h
(C) 90 Km/h
(D) 100 Km/h

Resolução:
Vamos calcular a distância total, fazendo t = 0:

Agora, vamos substituir na função:

100 – t² = 0
– t² = – 100 . (– 1)
t² = 100
t= √100=10km/h
Resposta: A

142
MATEMÁTICA
(IPEM – TÉCNICO EM METROLOGIA E QUALIDADE – VUNESP) A figura ilustra um arco decorativo de parábola AB sobre a porta da
entrada de um salão:

Considere um sistema de coordenadas cartesianas com centro em O, de modo que o eixo vertical (y) passe pelo ponto mais alto do
arco (V), e o horizontal (x) passe pelos dois pontos de apoio desse arco sobre a porta (A e B).
Sabendo-se que a função quadrática que descreve esse arco é f(x) = – x²+ c, e que V = (0; 0,81), pode-se afirmar que a distância , em
metros, é igual a
(A) 2,1.
(B) 1,8.
(C) 1,6.
(D) 1,9.
(E) 1,4.

Resolução:
C=0,81, pois é exatamente a distância de V
F(x)=-x²+0,81
0=-x²+0,81
X²=0,81
X=±0,9
A distância AB é 0,9+0,9=1,8
Resposta: B

(TRANSPETRO – TÉCNICO DE ADMINISTRAÇÃO E CONTROLE JÚNIOR – CESGRANRIO) A raiz da função f(x) = 2x − 8 é também raiz da
função quadrática g(x) = ax²+ bx + c. Se o vértice da parábola, gráfico da função g(x), é o ponto V(−1, −25), a soma a + b + c é igual a:
(A) − 25
(B) − 24
(C) − 23
(D) − 22
(E) – 21
Resolução:
2x-8=0
2x=8
X=4

Lembrando que para encontrar a equação, temos:


(x - 4)(x + 6) = x² + 6x - 4x - 24 = x² + 2x - 24
a=1
b=2
c=-24
a + b + c = 1 + 2 – 24 = -21
Resposta: E

143
MATEMÁTICA
Função exponencial
Antes seria bom revisarmos algumas noções de potencialização e radiciação.
Sejam a e b bases reais e diferentes de zero e m e n expoentes inteiros, temos:

Equação exponencial
A equação exponencial caracteriza-se pela presença da incógnita no expoente. Exemplos:

Para resolver estas equações, além das propriedades de potências, utilizamos a seguinte propriedade:
Se duas potências são iguais, tendo as bases iguais, então os expoentes são iguais: am = an ⇔ m = n, sendo a > 0 e a ≠ 1.

Gráficos da função exponencial


A função exponencial f, de domínio R e contradomínio R, é definida por y = ax, onde a > 0 e a ≠1.

Exemplos:
01. Considere a função y = 3x.
Vamos atribuir valores a x, calcular y e a seguir construir o gráfico:

02. Considerando a função, encontre a função: y = (1/3)x

144
MATEMÁTICA
Observando as funções anteriores, podemos concluir que para y = ax:
• se a > 1, a função exponencial é crescente;
• se 0 < a < 1, a função é decrescente.

Graficamente temos:

Inequação exponencial
A inequação exponencial caracteriza-se pela presença da incógnita no expoente e de um dos sinais de desigualdade: >, <, ≥ ou ≤.
Analisando seus gráficos, temos:

Observando o gráfico, temos que:


• na função crescente, conservamos o sinal da desigualdade para comparar os expoentes:

• na função decrescente, “invertemos” o sinal da desigualdade para comparar os expoentes:

Desde que as bases sejam iguais.

Exemplos:
(CORPO DE BOMBEIROS MILITAR/MT – OFICIAL BOMBEIRO MILITAR – COVEST – UNEMAT) As funções exponenciais são muito usa-
das para modelar o crescimento ou o decaimento populacional de uma determinada região em um determinado período de tempo. A fun-
ção P(t) = 234(1,023)t modela o comportamento de uma determinada cidade quanto ao seu crescimento populacional em um determinado
período de tempo, em que P é a população em milhares de habitantes e t é o número de anos desde 1980.
Qual a taxa média de crescimento populacional anual dessa cidade?
(A) 1,023%
(B) 1,23%
(C) 2,3%
(D) 0,023%
(E) 0,23%

145
MATEMÁTICA
Resolução:

Primeiramente, vamos calcular a população inicial, fazendo t = 0:

Agora, vamos calcular a população após 1 ano, fazendo t = 1:

Por fim, vamos utilizar a Regra de Três Simples:


População----------%
234 --------------- 100
239,382 ------------ x

234.x = 239,382 . 100


x = 23938,2 / 234
x = 102,3%
102,3% = 100% (população já existente) + 2,3% (crescimento)
Resposta: C

(POLÍCIA CIVIL/SP – DESENHISTA TÉCNICO-PERICIAL – VUNESP) Uma população P cresce em função do tempo t (em anos), segundo a
sentença P = 2000.50,1t. Hoje, no instante t = 0, a população é de 2 000 indivíduos. A população será de 50 000 indivíduos daqui a
(A) 20 anos.
(B) 25 anos.
(C) 50 anos.
(D) 15 anos.
(E) 10 anos.

Resolução:

Vamos simplificar as bases (5), sobrando somente os expoentes. Assim:


0,1 . t = 2
t = 2 / 0,1
t = 20 anos
Resposta: A

Função logarítmica
• Logaritmo
O logaritmo de um número b, na base a, onde a e b são positivos e a é diferente de um, é um número x, tal que x é o expoente de a
para se obter b, então:

Onde:
b é chamado de logaritmando
a é chamado de base
x é o logaritmo

OBSERVAÇÕES
– loga a = 1, sendo a > 0 e a ≠ 1
– Nos logaritmos decimais, ou seja, aqueles em que a base é 10, está frequentemente é omitida. Por exemplo: logaritmo de 2 na
base 10; notação: log 2

146
MATEMÁTICA
Propriedades decorrentes da definição

• Domínio (condição de existência)


Segundo a definição, o logaritmando e a base devem ser positivos, e a base deve ser diferente de 1. Portanto, sempre que encontra-
mos incógnitas no logaritmando ou na base devemos garantir a existência do logaritmo.

– Propriedades

Logaritmo decimal - característica e mantissa


Normalmente eles são calculados fazendo-se o uso da calculadora e da tabela de logaritmos. Mas fique tranquilo em sua prova as
bancas fornecem os valores dos logaritmos.

Exemplo: Determine log 341.

Resolução:
Sabemos que 341 está entre 100 e 1.000:
102 < 341 < 103
Como a característica é o expoente de menor potência de 10, temos que c = 2.
Consultando a tabela para 341, encontramos m = 0,53275. Logo: log 341 = 2 + 0,53275  log 341 = 2,53275.

Propriedades operatórias dos logaritmos

Cologaritmo
cologa b = - loga b, sendo b> 0, a > 0 e a ≠ 1

Mudança de base
Para resolver questões que envolvam logaritmo com bases diferentes, utilizamos a seguinte expressão:

Função logarítmica
Função logarítmica é a função f, de domínio R*+ e contradomínio R, que associa cada número real e positivo x ao logaritmo de x na
base a, onde a é um número real, positivo e diferente de 1.

147
MATEMÁTICA
Gráfico da função logarítmica
Vamos construir o gráfico de duas funções logarítmicas como exemplo:
A) y = log3 x
Atribuímos valores convenientes a x, calculamos y, conforme mostra a tabela. Localizamos os pontos no plano cartesiano obtendo a
curva que representa a função.

B) y = log1/3 x
Vamos tabelar valores convenientes de x, calculando y. Localizamos os pontos no plano cartesiano, determinando a curva correspon-
dente à função.

Observando as funções anteriores, podemos concluir que para y = logax:


• se a > 1, a função é crescente;
• se 0 < a < 1, a função é decrescente.

Equações logarítmicas
A equação logarítmica caracteriza-se pela presença do sinal de igualdade e da incógnita no logaritmando.
Para resolver uma equação, antes de mais nada devemos estabelecer a condição de existência do logaritmo, determinando os valores
da incógnita para que o logaritmando e a base sejam positivos, e a base diferente de 1.
Inequações logarítmicas
Identificamos as inequações logarítmicas pela presença da incógnita no logaritmando e de um dos sinais de desigualdade: >, <, ≥ ou ≤.
Assim como nas equações, devemos garantir a existência do logaritmo impondo as seguintes condições: o logaritmando e a base
devem ser positivos e a base deve ser diferente de 1.
Na resolução de inequações logarítmicas, procuramos obter logaritmos de bases iguais nos dois membros da inequação, para poder
comparar os logaritmandos. Porém, para que não ocorram distorções, devemos verificar se as funções envolvidas são crescentes ou de-
crescentes. A justificativa será feita por meio da análise gráfica de duas funções:

148
MATEMÁTICA

Na função crescente, os sinais coincidem na comparação dos logaritmandos e, posteriormente, dos respectivos logaritmos; porém,
o mesmo não ocorre na função decrescente. De modo geral, quando resolvemos uma inequação logarítmica, temos de observar o valor
numérico da base pois, sendo os dois membros da inequação compostos por logaritmos de mesma base, para comparar os respectivos
logaritmandos temos dois casos a considerar:
• se a base é um número maior que 1 (função crescente), utilizamos o mesmo sinal da inequação;
• se a base é um número entre zero e 1 (função decrescente), utilizamos o “sinal inverso” da inequação.

Concluindo, dada a função y = loga x e dois números reais x1 e x2:

Exemplos:
(PETROBRAS-GEOFISICO JUNIOR – CESGRANRIO) Se log x representa o logaritmo na base 10 de x, então o valor de n tal que log n =
3 - log 2 é:
(A) 2000
(B) 1000
(C) 500
(D) 100
(E) 10

Resolução:
log n = 3 - log 2
log n + log 2 = 3 * 1
onde 1 = log 10 então:
log (n * 2) = 3 * log 10
log(n*2) = log 10 ^3
2n = 10^3
2n = 1000
n = 1000 / 2
n = 500
Resposta: C

149
MATEMÁTICA
(MF – ASSISTENTE TÉCNICO ADMINISTRATIVO – ESAF) Sabendo-se que log x representa o logaritmo de x na base 10, calcule o valor
da expressão log 20 + log 5.
(A) 5
(B) 4
(C) 1
(D) 2
(E) 3

Resolução:
E = log20 + log5
E = log(2 x 10) + log5
E = log2 + log10 + log5
E = log10 + log (2 x 5)
E = log10 + log10
E = 2 log10
E=2
Resposta: D

Funções trigonométricas
Podemos generalizar e escrever todos os arcos com essa característica na seguinte forma: π/2 + 2kπ, onde k Є Z. E de uma forma geral
abrangendo todos os arcos com mais de uma volta, x + 2kπ.
Estes arcos são representados no plano cartesiano através de funções circulares como: função seno, função cosseno e função tangen-
te.

• Função Seno
É uma função f : R → R que associa a cada número real x o seu seno, então f(x) = sem x. O sinal da função f(x) = sem x é positivo no 1º
e 2º quadrantes, e é negativo quando x pertence ao 3º e 4º quadrantes.

150
MATEMÁTICA
• Função Cosseno
É uma função f : R → R que associa a cada número real x o seu cosseno, então f(x) = cos x. O sinal da função f(x) = cos x é positivo no
1º e 4º quadrantes, e é negativo quando x pertence ao 2º e 3º quadrantes.

• Função Tangente
É uma função f : R → R que associa a cada número real x a sua tangente, então f(x) = tg x.
Sinais da função tangente:
- Valores positivos nos quadrantes ímpares.
- Valores negativos nos quadrantes pares.
- Crescente em cada valor.

151
MATEMÁTICA

SISTEMAS LINEARES, MATRIZES E DETERMINANTES: PROPRIEDADES, APLICAÇÕES

Matriz
Uma matriz é uma tabela de números reais dispostos segundo linhas horizontais e colunas verticais.
O conjunto ordenado dos números que formam a tabela, é denominado matriz, e cada número pertencente a ela é chamado de ele-
mento da matriz.

• Tipo ou ordem de uma matriz


As matrizes são classificadas de acordo com o seu número de linhas e de colunas. Assim, a matriz representada a seguir é denominada
matriz do tipo, ou ordem, 3 x 4 (lê-se três por quatro), pois tem três linhas e quatro colunas. Exemplo:

• Representação genérica de uma matriz


Costumamos representar uma matriz por uma letra maiúscula (A, B, C...), indicando sua ordem no lado inferior direito da letra. Quan-
do desejamos indicar a ordem de modo genérico, fazemos uso de letras minúsculas. Exemplo: Am x n.
Da mesma maneira, indicamos os elementos de uma matriz pela mesma letra que a denomina, mas em minúscula. A linha e a coluna
em que se encontra tal elemento é indicada também no lado inferior direito do elemento. Exemplo: a11.

152
MATEMÁTICA
Exemplo:
(PM/SE – SOLDADO 3ª CLASSE – FUNCAB) A matriz abaixo registra as ocorrências policiais em uma das regiões da cidade durante uma
semana.

Sendo M=(aij)3x7 com cada elemento aij representando o número de ocorrência no turno i do dia j da semana.
O número total de ocorrências no 2º turno do 2º dia, somando como 3º turno do 6º dia e com o 1º turno do 7º dia será:
(A) 61
(B) 59
(C) 58
(D) 60
(E) 62

Resolução:
Turno i –linha da matriz
Turno j- coluna da matriz
2º turno do 2º dia – a22=18
3º turno do 6º dia-a36=25
1º turno do 7º dia-a17=19
Somando:18+25+19=62
Resposta: E

• Igualdade de matrizes
Duas matrizes A e B são iguais quando apresentam a mesma ordem e seus elementos correspondentes forem iguais.

• Operações com matrizes


– Adição: somamos os elementos correspondentes das matrizes, por isso, é necessário que as matrizes sejam de mesma ordem.
A=[aij]m x n; B = [bij]m x n, portanto C = A + B ⇔ cij = aij + bij.

Exemplo:
(PM/SP – SARGENTO CFS – CETRO) Considere a seguinte sentença envolvendo matrizes:

Diante do exposto, assinale a alternativa que apresenta o valor de y que torna a sentença verdadeira.
(A) 4.
(B) 6.
(C) 8.
(D) 10.

Resolução:

y=10
Resposta: D

153
MATEMÁTICA
– Multiplicação por um número real: sendo k ∈ R e A uma matriz de ordem m x n, a matriz k . A é obtida multiplicando-se todos os
elementos de A por k.

– Subtração: a diferença entre duas matrizes A e B (de mesma ordem) é obtida por meio da soma da matriz A com a oposta de B.

– Multiplicação entre matrizes: consideremos o produto A . B = C. Para efetuarmos a multiplicação entre A e B, é necessário, antes de
mais nada, determinar se a multiplicação é possível, isto é, se o número de colunas de A é igual ao número de linhas de B, determinando
a ordem de C: Am x n x Bn x p = Cm x p, como o número de colunas de A coincide com o de linhas de B(n) então torna-se possível o produto, e a
matriz C terá o número de linhas de A(m) e o número de colunas de B(p)

De modo geral, temos:

Exemplo:
(CPTM – ALMOXARIFE – MAKIYAMA) Assinale a alternativa que apresente o resultado da multiplicação das matrizes A e B abaixo:

(A)

(B)

(C)

(D)

(E)

154
MATEMÁTICA
Resolução:

Resposta: B
• Casos particulares
– Matriz identidade ou unidade: é a matriz quadrada que possui os elementos de sua diagonal principal iguais a 1 e os demais ele-
mentos iguais a 0. Indicamos a matriz identidade de Ιn, onde n é a ordem da matriz.

– Matriz transposta: é a matriz obtida pela troca ordenada de linhas por colunas de uma matriz. Dada uma matriz A de ordem m x n,
obtém-se uma outra matriz de ordem n x m, chamada de transposta de A. Indica-se por At.

Exemplo:
(CPTM – ANALISTA DE COMUNICAÇÃO JÚNIOR – MAKIYAMA) Para que a soma de uma matriz e sua respectiva matriz transposta At
em uma matriz identidade, são condições a serem cumpridas:
(A) a=0 e d=0
(B) c=1 e b=1
(C) a=1/c e b=1/d
(D) a²-b²=1 e c²-d²=1
(E) b=-c e a=d=1/2

Resolução:

2a=1
a=1/2
b+c=0
b=-c
2d=1
D=1/2
Resposta: E

– Matriz inversa: dizemos que uma matriz quadrada A, de ordem n, admite inversa se existe uma matriz A-1, tal que:

155
MATEMÁTICA
Determinantes
Determinante é um número real associado a uma matriz quadrada. Para indicar o determinante, usamos barras. Seja A uma matriz
quadrada de ordem n, indicamos o determinante de A por:

• Determinante de uma matriz de 1ª- ordem


A matriz de ordem 1 só possui um elemento. Por isso, o determinante de uma matriz de 1ª ordem é o próprio elemento.

• Determinante de uma matriz de 2ª- ordem


Em uma matriz de 2ª ordem, obtém-se o determinante por meio da diferença do produto dos elementos da diagonal principal pelo
produto dos elementos da diagonal secundária.

Exemplo:
(PM/SP – SARGENTO CFS – CETRO) É correto afirmar que o determinante é igual a zero para x igual a
(A) 1.
(B) 2.
(C) -2.
(D) -1.

Resolução:
D = 4 - (-2x)
0 = 4 + 2x
x=-2

Resposta: C

• Regra de Sarrus
Esta técnica é utilizada para obtermos o determinante de matrizes de 3ª ordem. Utilizaremos um exemplo para mostrar como aplicar
a regra de Sarrus. A regra de Sarrus consiste em:
a) Repetir as duas primeiras colunas à direita do determinante.
b) Multiplicar os elementos da diagonal principal e os elementos que estiverem nas duas paralelas a essa diagonal, conservando os
sinais desses produtos.
c) Efetuar o produto dos elementos da diagonal secundária e dos elementos que estiverem nas duas paralelas à diagonal e multipli-
cá-los por -1.
d) Somar os resultados dos itens b e c. E assim encontraremos o resultado do determinante.

Simplificando temos:

156
MATEMÁTICA
Exemplo:
(PREF. ARARAQUARA/SP – AGENTE DA ADMINISTRAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SANEAMENTO – CETRO) Dada a matriz

, assinale a alternativa que apresenta o valor do determinante de A é

(A) -9.
(B) -8.
(C) 0.
(D) 4.

Resolução:

detA = - 1 – 4 + 2 - (2 + 2 + 2) = - 9

Resposta: A

• Teorema de Laplace
Para matrizes quadradas de ordem n ≥ 2, o teorema de Laplace oferece uma solução prática no cálculo dos determinantes. Pelo
teorema, o determinante de uma matriz quadrada A de ordem n (n ≥ 2) é igual à soma dos produtos dos elementos de uma linha ou de
uma coluna qualquer, pelos respectivos co-fatores. Exemplo:

Dada a matriz quadrada de ordem 3, , vamos calcular det A usando o teorema de Laplace.
Podemos calcular o determinante da matriz A, escolhendo qualquer linha ou coluna. Por exemplo, escolhendo a 1ª linha, teremos:
det A = a11. A11 + a12. A12 + a13. A13

Portanto, temos que:


det A = 3. (-21) + 2. 6 + 1. (-12) ⇒ det A = -63 + 12 – 12 ⇒ det A = -63

Exemplo:
(TRANSPETRO – ENGENHEIRO JÚNIOR – AUTOMAÇÃO – CESGRANRIO) Um sistema dinâmico, utilizado para controle de uma rede
automatizada, forneceu dados processados ao longo do tempo e que permitiram a construção do quadro abaixo.

1 3 2 0
3 1 0 2
2 3 0 1
0 2 1 3

157
MATEMÁTICA
A partir dos dados assinalados, mantendo-se a mesma disposição, construiu-se uma matriz M. O valor do determinante associado à
matriz M é
(A) 42
(B) 44
(C) 46
(D) 48
(E) 50

Resolução:

Como é uma matriz 4x4 vamos achar o determinante através do teorema de Laplace. Para isso precisamos, calcular os cofatores. Dica:
pela fileira que possua mais zero. O cofator é dado pela fórmula: . Para o determinante é usado os números que
sobraram tirando a linha e a coluna.

Resposta: D

• Determinante de uma matriz de ordem n > 3


Para obtermos o determinante de matrizes de ordem n > 3, utilizamos o teorema de Laplace e a regra de Sarrus.

Exemplo:

Escolhendo a 1ª linha para o desenvolvimento do teorema de Laplace. Temos então:


det A = a11. A11 + a12. A12 + a13. A13 + a14. A14

158
MATEMÁTICA
Como os determinantes são, agora, de 3ª ordem, podemos • Solução de uma equação linear
aplicar a regra de Sarrus em cada um deles. Assim: Dada uma equação linear com n incógnitas:
det A= 3. (188) - 1. (121) + 2. (61) ⇒ det A = 564 - 121 + 122 a1x1 + a2x2 + ... + anxn = b, temos que sua solução é a sequência
⇒ det A = 565 de números reais (k1, k2, ..., kn) que, colocados correspondentemen-
te no lugar de x1, x2, ..., xn, tornam verdadeira a igualdade.
• Propriedades dos determinantes Quando a equação linear for homogênea, então ela admitirá
a) Se todos os elementos de uma linha ou de uma coluna são pelo menos a solução (0, 0, ..., 0), chamada de solução trivial.
nulos, o determinante é nulo.
• Representação genérica de um sistema linear
Um sistema linear de m equações nas n incógnitas x1, x2, ..., xn
é da forma:

b) Se uma matriz A possui duas linhas ou duas colunas iguais,


então o determinante é nulo.

onde a11, a12 , ..., an e b1, b2 , ..., bn são números reais.

Se o conjunto de números reais (k1, k2, ..., kn) torna verdadeiras


todas as equações do sistema, dizemos que esse conjunto é solu-
ção do sistema linear. Como as equações lineares são homogêneas
c) Em uma matriz cuja linha ou coluna foi multiplicada por um quando b = 0, então, consequentemente, um sistema linear será
número k real, o determinante também fica multiplicado pelo mes- homogêneo quando b1 = b2 = ... = bn = 0. Assim, o sistema admitirá
mo número k. a solução trivial, (0, 0, ... 0).

Exemplo:
Na equação 4x – y = 2, o par ordenado (3,10) é uma solução,
pois ao substituirmos esses valores na equação obtemos uma igual-
dade.
4. 3 – 10 → 12 – 10 = 2
Já o par (3,0) não é a solução, pois 4.3 – 0 = 2 → 12 ≠ 2

• Representação de um sistema linear por meio de matrizes


Um sistema linear de m equações com n incógnitas pode ser
escrito sob a forma de matrizes, bastando separar seus componen-
d) Para duas matrizes quadradas de mesma ordem, vale a se- tes por matriz.
guinte propriedade: Sejam:
Amn ⇒ a matriz dos coeficientes das incógnitas;
det (A. B) = det A + det B. Xn1 ⇒ a matriz das incógnitas;
Bn1 ⇒ a matriz dos termos independentes.
e) Uma matriz quadrada A será inversível se, e somente se, seu
determinante for diferente de zero.

Sistemas lineares
Entendemos por sistema linear um conjunto de equações li-
neares reunidas com o objetivo de se obterem soluções comuns a
todas essas equações.

• Equação linear
Chamamos de equações lineares as equações do 1º grau que Portanto, podemos escrever o sistema sob a forma matricial:
apresentam a forma:
a1x1 + a2x2 + a3x3+...anxn = b,

onde a1, a2, a3,.., an e b são números reais


x1, x2, x3,.., xn são as incógnitas.
Os números reais a1, a2, a3..., an são chamados de coeficientes e
b é o termo independente.

ATENÇÃO: TODOS os expoentes de todas as variáveis são


SEMPRE iguais a 1.

159
MATEMÁTICA
• Sistema normal
É o sistema em que o número de equações é igual ao número de incógnitas (m = n) e o determinante da matriz dos coeficientes é
diferente de zero.

Exemplo:
Dado o sistema S: , temos

Logo, o sistema linear S é normal.

• Classificação de um sistema linear


Classificar um sistema linear é considerá-lo em relação ao número de soluções que ele apresenta. Assim, os sistemas lineares podem
ser:
a) Sistema impossível ou incompatível: quando não admite solução. O sistema não admite solução quando o det A for nulo, e pelo
menos um dos determinantes relativos às incógnitas for diferente de zero, isto é: det A 1 0 ou det A2 0 ou ... ou det An 0.
b) Sistema possível ou compatível: quando admite pelo menos uma solução. Este sistema pode ser:
– Determinado: quando admitir uma única solução. ‘O sistema é determinado quando det A 0.
Em resumo temos:

• Regra de Cramer
Para a resolução de sistemas normais, utilizaremos a regra de Cramer.

Consideramos os sistemas .

Suponhamos que a ≠ 0. Observamos que a matriz incompleta desse sistema é

, cujo determinante é indicado por D = ad – bc.

Escalonando o sistema, obtemos:

Se substituirmos em M a 2ª coluna (dos coeficientes de y) pela coluna dos coeficientes independentes, obteremos , cujo de-
terminante é indicado por Dy = af – ce.
Assim, em (*), na 2ª equação, obtemos D. y = Dy. Se D ≠ 0, segue que

Substituindo esse valor de y na 1ª equação de (*) e considerando a matriz , cujo determinante é indicado por Dx = ed – bf,
obtemos , D ≠ 0.

160
MATEMÁTICA
Em síntese, temos:

O sistema é possível e determinado quando , e a solução desse sistema é dada por:

Esta regra é um importante recurso na resolução de sistemas lineares possíveis e determinados, especialmente quando o escalona-
mento se torna trabalhoso (por causa dos coeficientes das equações) ou quando o sistema é literal.

Exemplo:
Aplicando a Regra de Cramer para resolver os sistemas

Temos que , dessa forma, SPD.

Uma alternativa para encontrar o valor de z seria substituir x por -2 e y por 3 em qualquer uma das equações do sistema.
Assim, S = {(-2,3-1)}.

Exemplos:
(UNIOESTE – ANALISTA DE INFORMÁTICA – UNIOESTE) Considere o seguinte sistema de equações lineares

Assinale a alternativa correta.


(A) O determinante da matriz dos coeficientes do sistema é um número estritamente positivo.
(B) O sistema possui uma única solução (1, 1, -1).
(C) O sistema possui infinitas soluções.
(D) O posto da matriz ampliada associada ao sistema é igual a 3.
(E) Os vetores linha (1, 2, 3/2) e (2, 4, 3) não são colineares.

Resolução:

161
MATEMÁTICA
O sistema pode ser SI(sistema impossível) ou SPI(sistema possível indeterminado)
Para ser SI Dx = 0 e SPI Dx ≠ 0

Dx ≠ 0, portanto o sistema tem infinitas soluções.


Resposta: C

(SEDUC/RJ - PROFESSOR – MATEMÁTICA – CEPERJ) Sabendo-se que 2a + 3b + 4c = 17 e que 4a + b - 2c = 9, o valor de a + b + c é:


(A) 3.
(B) 4.
(C) 5.
(D) 6.
(E) 7.

Resolução:
(I) 2a + 3b + 4c = 17 x(-2)
(II) 4a + b – 2c = 9
Multiplicamos a primeira equação por – 2 e somamos com a segunda, cancelando a variável a:
(I) 2a + 3b + 4c = 17
(II) – 5b – 10c = - 25 : (- 5)

Então:
(I) 2a + 3b + 4c = 17
(II) b +2c = 5
Um sistema com três variáveis e duas equações é possível e indeterminado (tem infinitas soluções), então fazendo a variável c = α
(qualquer letra grega).
Substituímos c em (II):
b + 2α = 5
Reposta: D

ANÁLISE COMBINATÓRIA: ARRANJOS, PERMUTAÇÕES E COMBINAÇÕES SIMPLES, BINÔMIO DE NEWTON E PROBABILIDA-


DE EM ESPAÇOS AMOSTRAIS FINITOS

A Análise Combinatória é a parte da Matemática que desenvolve meios para trabalharmos com problemas de contagem. Vejamos
eles:

Princípio fundamental de contagem (PFC)


É o total de possibilidades de o evento ocorrer.

• Princípio multiplicativo: P1. P2. P3. ... .Pn.(regra do “e”). É um princípio utilizado em sucessão de escolha, como ordem.
• Princípio aditivo: P1 + P2 + P3 + ... + Pn. (regra do “ou”). É o princípio utilizado quando podemos escolher uma coisa ou outra.

Exemplos:
(BNB) Apesar de todos os caminhos levarem a Roma, eles passam por diversos lugares antes. Considerando-se que existem três cami-
nhos a seguir quando se deseja ir da cidade A para a cidade B, e que existem mais cinco opções da cidade B para Roma, qual a quantidade
de caminhos que se pode tomar para ir de A até Roma, passando necessariamente por B?
(A) Oito.
(B) Dez.
(C) Quinze.
(D) Dezesseis.
(E) Vinte.

Resolução:
Observe que temos uma sucessão de escolhas:
Primeiro, de A para B e depois de B para Roma.
1ª possibilidade: 3 (A para B).
Obs.: o número 3 representa a quantidade de escolhas para a primeira opção.

162
MATEMÁTICA
2ª possibilidade: 5 (B para Roma). n = 18 (professores)
Temos duas possibilidades: A para B depois B para Roma, logo, p = 3 (cargos de diretor, vice-diretor e coordenador pedagógi-
uma sucessão de escolhas. co)
Resultado: 3 . 5 = 15 possibilidades.
Resposta: C.

(PREF. CHAPECÓ/SC – ENGENHEIRO DE TRÂNSITO – IOBV) Em


um restaurante os clientes têm a sua disposição, 6 tipos de carnes,
4 tipos de cereais, 4 tipos de sobremesas e 5 tipos de sucos. Se o • Com repetição
cliente quiser pedir 1 tipo carne, 1 tipo de cereal, 1 tipo de sobre- Os elementos que compõem o conjunto podem aparecer re-
mesa e 1 tipo de suco, então o número de opções diferentes com petidos em um agrupamento, ou seja, ocorre a repetição de um
que ele poderia fazer o seu pedido, é: mesmo elemento em um agrupamento.
(A) 19 A fórmula geral para o arranjo com repetição é representada
(B) 480 por:
(C) 420
(D) 90

Resolução:
A questão trata-se de princípio fundamental da contagem, logo
vamos enumerar todas as possibilidades de fazermos o pedido: Exemplo: Seja P um conjunto com elementos: P = {A,B,C,D},
6 x 4 x 4 x 5 = 480 maneiras. tomando os agrupamentos de dois em dois, considerando o arranjo
Resposta: B. com repetição quantos agrupamentos podemos obter em relação
ao conjunto P.
Fatorial
Sendo n um número natural, chama-se de n! (lê-se: n fatorial) Resolução:
a expressão: P = {A, B, C, D}
n! = n (n - 1) (n - 2) (n - 3). ... .2 . 1, como n ≥ 2. n=4
p=2
Exemplos: A(n,p)=np
5! = 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 120. A(4,2)=42=16
7! = 7 . 6 . 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 5.040.
Permutação
ATENÇÃO É a TROCA DE POSIÇÃO de elementos de uma sequência. Utili-
zamos todos os elementos.
0! = 1
1! = 1 • Sem repetição
Tenha cuidado 2! = 2, pois 2 . 1 = 2. E 3!
Não é igual a 3, pois 3 . 2 . 1 = 6.

Arranjo simples
Arranjo simples de n elementos tomados p a p, onde n>=1 e p Atenção: Todas as questões de permutação simples podem ser
é um número natural, é qualquer ordenação de p elementos dentre resolvidas pelo princípio fundamental de contagem (PFC).
os n elementos, em que cada maneira de tomar os elementos se
diferenciam pela ordem e natureza dos elementos. Exemplo:
(PREF. LAGOA DA CONFUSÃO/TO – ORIENTADOR SOCIAL –
Atenção: Observe que no grupo dos elementos: {1,2,3} um dos IDECAN) Renato é mais velho que Jorge de forma que a razão entre
arranjos formados, com três elementos, 123 é DIFERENTE de 321, e o número de anagramas de seus nomes representa a diferença en-
assim sucessivamente. tre suas idades. Se Jorge tem 20 anos, a idade de Renato é
(A) 24.
• Sem repetição (B) 25.
A fórmula para cálculo de arranjo simples é dada por: (C) 26.
(D) 27.
(E) 28.

Resolução:
Anagramas de RENATO
______
Onde: 6.5.4.3.2.1=720
n = Quantidade total de elementos no conjunto.
P =Quantidade de elementos por arranjo Anagramas de JORGE
Exemplo: Uma escola possui 18 professores. Entre eles, serão _____
escolhidos: um diretor, um vice-diretor e um coordenador pedagó- 5.4.3.2.1=120
gico. Quantas as possibilidades de escolha?

163
MATEMÁTICA
Razão dos anagramas: 720/120=6
Se Jorge tem 20 anos, Renato tem 20+6=26 anos.
Resposta: C.

• Com repetição
Na permutação com elementos repetidos ocorrem permutações que não mudam o elemento, pois existe troca de elementos iguais.
Por isso, o uso da fórmula é fundamental.

Exemplo:
(CESPE) Considere que um decorador deva usar 7 faixas coloridas de dimensões iguais, pendurando-as verticalmente na vitrine de
uma loja para produzir diversas formas. Nessa situação, se 3 faixas são verdes e indistinguíveis, 3 faixas são amarelas e indistinguíveis e 1
faixa é branca, esse decorador conseguirá produzir, no máximo, 140 formas diferentes com essas faixas.
( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
Total: 7 faixas, sendo 3 verdes e 3 amarelas.

Resposta: Certo.

• Circular
A permutação circular é formada por pessoas em um formato circular. A fórmula é necessária, pois existem algumas permutações
realizadas que são iguais. Usamos sempre quando:
a) Pessoas estão em um formato circular.
b) Pessoas estão sentadas em uma mesa quadrada (retangular) de 4 lugares.

Exemplo:
(CESPE) Uma mesa circular tem seus 6 lugares, que serão ocupados pelos 6 participantes de uma reunião. Nessa situação, o número
de formas diferentes para se ocupar esses lugares com os participantes da reunião é superior a 102.
( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
É um caso clássico de permutação circular.
Pc = (6 - 1) ! = 5! = 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 120 possibilidades.
Resposta: CERTO.

Combinação
Combinação é uma escolha de um grupo, SEM LEVAR EM CONSIDERAÇÃO a ordem dos elementos envolvidos.

• Sem repetição
Dados n elementos distintos, chama-se de combinação simples desses n elementos, tomados p a p, a qualquer agrupamento de p
elementos distintos, escolhidos entre os n elementos dados e que diferem entre si pela natureza de seus elementos.

Fórmula:

164
MATEMÁTICA
Exemplo:
(CRQ 2ª REGIÃO/MG – AUXILIAR ADMINISTRATIVO – FUNDEP) Com 12 fiscais, deve-se fazer um grupo de trabalho com 3 deles. Como
esse grupo deverá ter um coordenador, que pode ser qualquer um deles, o número de maneiras distintas possíveis de se fazer esse grupo é:
(A) 4
(B) 660
(C) 1 320
(D) 3 960

Resolução:
Como trata-se de Combinação, usamos a fórmula:

Onde n = 12 e p = 3

Como cada um deles pode ser o coordenado, e no grupo tem 3 pessoas, logo temos 220 x 3 = 660.
Resposta: B.

As questões que envolvem combinação estão relacionadas a duas coisas:


– Escolha de um grupo ou comissões.
– Escolha de grupo de elementos, sem ordem, ou seja, escolha de grupo de pessoas, coisas, objetos ou frutas.

• Com repetição
É uma escolha de grupos, sem ordem, porém, podemos repetir elementos na hora de escolher.

Exemplo:
Em uma combinação com repetição classe 2 do conjunto {a, b, c}, quantas combinações obtemos?
Utilizando a fórmula da combinação com repetição, verificamos o mesmo resultado sem necessidade de enumerar todas as possibi-
lidades:
n=3ep=2

PROBABILIDADES
A teoria da probabilidade permite que se calcule a chance de ocorrência de um número em um experimento aleatório.

Elementos da teoria das probabilidades


• Experimentos aleatórios: fenômenos que apresentam resultados imprevisíveis quando repetidos, mesmo que as condições sejam
semelhantes.
• Espaço amostral: é o conjunto U, de todos os resultados possíveis de um experimento aleatório.
• Evento: qualquer subconjunto de um espaço amostral, ou seja, qualquer que seja E Ì U, onde E é o evento e U, o espaço amostral.

165
MATEMÁTICA

Experimento composto
Quando temos dois ou mais experimentos realizados simultaneamente, dizemos que o experimento é composto. Nesse caso, o nú-
mero de elementos do espaço amostral é dado pelo produto dos números de elementos dos espaços amostrais de cada experimento.
n(U) = n(U1).n(U2)

Probabilidade de um evento
Em um espaço amostral U, equiprobabilístico (com elementos que têm chances iguais de ocorrer), com n(U) elementos, o evento E,
com n(E) elementos, onde E Ì U, a probabilidade de ocorrer o evento E, denotado por p(E), é o número real, tal que:

Onde,
n(E) = número de elementos do evento E.
n(S) = número de elementos do espaço amostral S.

Sendo 0 ≤ P(E) ≤ 1 e S um conjunto equiprovável, ou seja, todos os elementos têm a mesma “chance de acontecer.

ATENÇÃO:
As probabilidades podem ser escritas na forma decimal ou representadas em porcentagem.
Assim: 0 ≤ p(E) ≤ 1, onde:
p(∅) = 0 ou p(∅) = 0%
p(U) = 1 ou p(U) = 100%

Exemplo:
(PREF. NITERÓI – AGENTE FAZENDÁRIO – FGV) O quadro a seguir mostra a distribuição das idades dos funcionários de certa reparti-
ção pública:

FAIXA DE IDADES (ANOS) NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS


20 ou menos 2
De 21 a 30 8
De 31 a 40 12
De 41 a 50 14
Mais de 50 4

Escolhendo ao acaso um desses funcionários, a probabilidade de que ele tenha mais de 40 anos é:
(A) 30%;
(B) 35%;
(C) 40%;
(D) 45%;
(E) 55%.

166
MATEMÁTICA
Resolução:
O espaço amostral é a soma de todos os funcionário:
2 + 8 + 12 + 14 + 4 = 40
O número de funcionário que tem mais de 40 anos é: 14 + 4 = 18
Logo a probabilidade é:

Resposta: D

Probabilidade da união de eventos


Para obtermos a probabilidade da união de eventos utilizamos a seguinte expressão:

Quando os eventos forem mutuamente exclusivos, tendo A ∩ B = Ø, utilizamos a seguinte equação:

Probabilidade de um evento complementar


É quando a soma das probabilidades de ocorrer o evento E, e de não ocorrer o evento E (seu complementar, Ē) é 1.

Probabilidade condicional
Quando se impõe uma condição que reduz o espaço amostral, dizemos que se trata de uma probabilidade condicional.
Sejam A e B dois eventos de um espaço amostral U, com p(B) ≠ 0. Chama-se probabilidade de A condicionada a B a probabilidade de
ocorrência do evento A, sabendo-se que já ocorreu ou que vai ocorrer o evento B, ou seja:

Podemos também ler como: a probabilidade de A “dado que” ou “sabendo que” a probabilidade de B.

– Caso forem dois eventos simultâneos (ou sucessivos): para se avaliar a probabilidade de ocorrem dois eventos simultâneos (ou
sucessivos), que é P (A ∩ B), é preciso multiplicar a probabilidade de ocorrer um deles P(B) pela probabilidade de ocorrer o outro, sabendo
que o primeiro já ocorreu P (A | B). Sendo:

167
MATEMÁTICA
– Se dois eventos forem independentes: dois eventos A e B de um espaço amostral S são independentes quando P(A|B) = P(A) ou
P(B|A) = P(B). Sendo os eventos A e B independentes, temos:

P (A ∩ B) = P(A). P(B)

Lei Binomial de probabilidade


A lei binominal das probabilidades é dada pela fórmula:

Sendo:
n: número de tentativas independentes;
p: probabilidade de ocorrer o evento em cada experimento (sucesso);
q: probabilidade de não ocorrer o evento (fracasso); q = 1 - p
k: número de sucessos.

ATENÇÃO:
A lei binomial deve ser aplicada nas seguintes condições:
– O experimento deve ser repetido nas mesmas condições as n vezes.
– Em cada experimento devem ocorrer os eventos E e .
– A probabilidade do E deve ser constante em todas as n vezes.
– Cada experimento é independente dos demais.

Exemplo:
Lançando-se um dado 5 vezes, qual a probabilidade de ocorrerem três faces 6?

Resolução:
n: número de tentativas ⇒ n = 5
k: número de sucessos ⇒ k = 3
p: probabilidade de ocorrer face 6 ⇒ p = 1/6
q: probabilidade de não ocorrer face 6 ⇒ q = 1- p ⇒ q = 5/6

GEOMETRIA E MEDIDAS: GEOMETRIA PLANA: FIGURAS GEOMÉTRICAS, CONGRUÊNCIA, SEMELHANÇA, PERÍMETRO E


ÁREA. GEOMETRIA ESPACIAL: PARALELISMO, PERPENDICULARISMO ENTRE RETAS E PLANOS, ÁREAS E VOLUMES DOS
SÓLIDOS GEOMÉTRICOS: PRISMA, PIRÂMIDE, CILINDRO, CONE E ESFERA. GEOMETRIA ANALÍTICA NO PLANO: RETAS, CIR-
CUNFERÊNCIA E DISTÂNCIAS

Geometria plana
Aqui nos deteremos a conceitos mais cobrados como perímetro e área das principais figuras planas. O que caracteriza a geometria
plana é o estudo em duas dimensões.

Perímetro
É a soma dos lados de uma figura plana e pode ser representado por P ou 2p, inclusive existem umas fórmulas de geometria que apa-
rece p que é o semiperímetro (metade do perímetro). Basta observamos a imagem:

Observe que a planta baixa tem a forma de um retângulo.

168
MATEMÁTICA
Exemplo:
(CPTM - Médico do trabalho – MAKIYAMA) Um terreno retangular de perímetro 200m está à venda em uma imobiliária. Sabe-se que
sua largura tem 28m a menos que o seu comprimento. Se o metro quadrado cobrado nesta região é de R$ 50,00, qual será o valor pago
por este terreno?
(A) R$ 10.000,00.
(B) R$ 100.000,00.
(C) R$ 125.000,00.
(D) R$ 115.200,00.
(E) R$ 100.500,00.

Resolução:
O perímetro do retângulo é dado por = 2(b+h);
Pelo enunciado temos que: sua largura tem 28m a menos que o seu comprimento, logo 2 (x + (x-28)) = 2 (2x -28) = 4x – 56. Como ele
já dá o perímetro que é 200, então
200 = 4x -56  4x = 200+56  4x = 256  x = 64
Comprimento = 64, largura = 64 – 28 = 36
Área do retângulo = b.h = 64.36 = 2304 m2
Logo o valor da área é: 2304.50 = 115200
Resposta: D

• Área
É a medida de uma superfície. Usualmente a unidade básica de área é o m2 (metro quadrado). Que equivale à área de um quadrado
de 1 m de lado.

Quando calculamos que a área de uma determinada figura é, por exemplo, 12 m2; isso quer dizer que na superfície desta figura ca-
bem 12 quadrados iguais ao que está acima.

Planta baixa de uma casa com a área total

169
MATEMÁTICA
Para efetuar o cálculo de áreas é necessário sabermos qual a figura plana e sua respectiva fórmula. Vejamos:

(Fonte: https://static.todamateria.com.br/upload/57/97/5797a651dfb37-areas-de-figuras-planas.jpg)

Geometria espacial
Aqui trataremos tanto das figuras tridimensionais e dos sólidos geométricos. O importante é termos em mente todas as figuras pla-
nas, pois a construção espacial se dá através da junção dessas figuras. Vejamos:
Diedros
Sendo dois planos secantes (planos que se cruzam) π e π’, o espaço entre eles é chamado de diedro. A medida de um diedro é feita
em graus, dependendo do ângulo formado entre os planos.

Poliedros
São sólidos geométricos ou figuras geométricas espaciais formadas por três elementos básicos: faces, arestas e vértices. Chamamos
de poliedro o sólido limitado por quatro ou mais polígonos planos, pertencentes a planos diferentes e que têm dois a dois somente uma
aresta em comum. Veja alguns exemplos:

Os polígonos são as faces do poliedro; os lados e os vértices dos polígonos são as arestas e os vértices do poliedro.
Um poliedro é convexo se qualquer reta (não paralela a nenhuma de suas faces) o corta em, no máximo, dois pontos. Ele não possuí
“reentrâncias”. E caso contrário é dito não convexo.

Relação de Euler
Em todo poliedro convexo sendo V o número de vértices, A o número de arestas e F o número de faces, valem as seguintes relações
de Euler:
Poliedro Fechado: V – A + F = 2
Poliedro Aberto: V – A + F = 1

170
MATEMÁTICA
Para calcular o número de arestas de um poliedro temos que Não Poliedros
multiplicar o número de faces F pelo número de lados de cada face
n e dividir por dois. Quando temos mais de um tipo de face, basta
somar os resultados.
A = n.F/2

Poliedros de Platão
Eles satisfazem as seguintes condições:
- todas as faces têm o mesmo número n de arestas;
- todos os ângulos poliédricos têm o mesmo número m de ares-
tas;
- for válida a relação de Euler (V – A + F = 2).

Os sólidos acima são. São considerados não planos pois pos-


suem suas superfícies curvas.
Cilindro: tem duas bases geometricamente iguais definidas por
curvas fechadas em superfície lateral curva.
Cone: tem uma só base definida por uma linha curva fechada e
uma superfície lateral curva.
Esfera: é formada por uma única superfície curva.

Planificações de alguns Sólidos Geométricos

Poliedros Regulares
Um poliedro e dito regular quando:
- suas faces são polígonos regulares congruentes;
- seus ângulos poliédricos são congruentes;

Por essas condições e observações podemos afirmar que todos


os poliedros de Platão são ditos Poliedros Regulares.

Exemplo:
(PUC/RS) Um poliedro convexo tem cinco faces triangulares e
três pentagonais. O número de arestas e o número de vértices des-
te poliedro são, respectivamente:
(A) 30 e 40
(B) 30 e 24
(C) 30 e 8
(D) 15 e 25
(E) 15 e 9

Resolução:
O poliedro tem 5 faces triangulares e 3 faces pentagonais, logo,
tem um total de 8 faces (F = 8). Como cada triângulo tem 3 lados e
o pentágono 5 lados. Temos:

Fonte: https://1.bp.blogspot.com/-WWDbQ-Gh5zU/Wb7iCjR42BI/
AAAAAAAAIR0/kfRXIcIYLu4Iqf7ueIYKl39DU-9Zw24lgCLcBGAs/
s1600/revis%25C3%25A3o%2Bfiguras%2Bgeom%25C3%25A9tri-
cas-page-001.jpg

Resposta: E

171
MATEMÁTICA
Sólidos geométricos Resposta: B
O cálculo do volume de figuras geométricas, podemos pedir
que visualizem a seguinte figura: PIRÂMIDE: é um sólido geométrico que tem uma base e um
vértice superior.

a) A figura representa a planificação de um prisma reto;


b) O volume de um prisma reto é igual ao produto da área da
base pela altura do sólido, isto é:
V = Ab. a
Onde a é igual a h (altura do sólido)

c) O cubo e o paralelepípedo retângulo são prismas;


d) O volume do cilindro também se pode calcular da mesma
forma que o volume de um prisma reto.

Área e Volume dos sólidos geométricos


Exemplo:
PRISMA: é um sólido geométrico que possui duas bases iguais Uma pirâmide triangular regular tem aresta da base igual a 8
e paralelas. cm e altura 15 cm. O volume dessa pirâmide, em cm3, é igual a:
(A) 60
(B) 60
(C) 80
(D) 80
(E) 90

Resolução:
Do enunciado a base é um triângulo equilátero. E a fórmula
da área do triângulo equilátero é . A aresta da base é a = 8 cm e h
= 15 cm.
Cálculo da área da base:

Exemplo:
(PREF. JUCÁS/CE – PROFESSOR DE MATEMÁTICA – INSTITUTO
NEO EXITUS) O número de faces de um prisma, em que a base é Cálculo do volume:
um polígono de n lados é:
(A) n + 1.
(B) n + 2.
(C) n.
(D) n – 1.
(E) 2n + 1.

Resolução:
Se a base tem n lados, significa que de cada lado sairá uma face.
Assim, teremos n faces, mais a base inferior, e mais a base su-
perior.
Portanto, n + 2

172
MATEMÁTICA
Resposta: D Resolução:
Em um cone equilátero temos que g = 2r. Do enunciado o raio
CILINDRO: é um sólido geométrico que tem duas bases iguais, é 8 cm, então a geratriz é g = 2.8 = 16 cm.
paralelas e circulares. g2 = h2 + r2
162 = h2 + 82
256 = h2 + 64
256 – 64 = h2
h2 = 192

Resposta: D

ESFERA: superfície curva, possui formato de uma bola.

CONE: é um sólido geométrico que tem uma base circular e


vértice superior.

TRONCOS: são cortes feitos nas superfícies de alguns dos sóli-


dos geométricos. São eles:

Exemplo:
Um cone equilátero tem raio igual a 8 cm. A altura desse cone,
em cm, é:

(A)

(B)

(C)

(D)

(E) 8

173
MATEMÁTICA
Exemplo:
(ESCOLA DE SARGENTO DAS ARMAS – COMBATENTE/LOGÍSTICA – TÉCNICA/AVIAÇÃO – EXÉRCITO BRASILEIRO) O volume de um
tronco de pirâmide de 4 dm de altura e cujas áreas das bases são iguais a 36 dm² e 144 dm² vale:
(A) 330 cm³
(B) 720 dm³
(C) 330 m³
(D) 360 dm³
(E) 336 dm³

Resolução:

AB=144 dm²
Ab=36 dm²

Resposta: E

Geometria analítica
Um dos objetivos da Geometria Analítica é determinar a reta que representa uma certa equação ou obter a equação de uma reta
dada, estabelecendo uma relação entre a geometria e a álgebra.

Sistema cartesiano ortogonal (PONTO)


Para representar graficamente um par ordenado de números reais, fixamos um referencial cartesiano ortogonal no plano. A reta x
é o eixo das abscissas e a reta y é o eixo das ordenadas. Como se pode verificar na imagem é o Sistema cartesiano e suas propriedades.

Para determinarmos as coordenadas de um ponto P, traçamos linhas perpendiculares aos eixos x e y.


• xp é a abscissa do ponto P;
• yp é a ordenada do ponto P;
• xp e yp constituem as coordenadas do ponto P.

Mediante a esse conhecimento podemos destacar as formulas que serão uteis ao cálculo.

174
MATEMÁTICA
Distância entre dois pontos de um plano Condição de alinhamento de três pontos
Por meio das coordenadas de dois pontos A e B, podemos lo- Consideremos três pontos de uma mesma reta (colineares),
calizar esses pontos em um sistema cartesiano ortogonal e, com A(x1, y1), B(x2, y2) e C(x3, y3).
isso, determinar a distância d(A, B) entre eles. O triângulo formado
é retângulo, então aplicamos o Teorema de Pitágoras.

Estes pontos estarão alinhados se, e somente se:

Ponto médio de um segmento

Por outro lado, se D ≠ 0, então os pontos A, B e C serão vértices


de um triângulo cuja área é:

onde o valor do determinante é sempre dado em módulo, pois


a área não pode ser um número negativo.

Inclinação de uma reta e Coeficiente angular de uma reta (ou


declividade)
À medida do ângulo α, onde α é o menor ângulo que uma reta
forma com o eixo x, tomado no sentido anti-horário, chamamos de
inclinação da reta r do plano cartesiano.

Baricentro
O baricentro (G) de um triângulo é o ponto de intersecção das
medianas do triângulo. O baricentro divide as medianas na razão
de 2:1.

Já a declividade é dada por: m = tgα

175
MATEMÁTICA
Cálculo do coeficiente angular Com o coeficiente angular, podemos utilizar qualquer um dos
Se a inclinação α nos for desconhecida, podemos calcular o co- dois pontos para determinamos a equação da reta. Temos A(1, 4),
eficiente angular m por meio das coordenadas de dois pontos da m = -3 e Q(x, y)
reta, como podemos verificar na imagem. y - y1 = m.(x - x1) ⇒ y - 4 = -3. (x - 1) ⇒ y - 4 = -3x + 3 ⇒ 3x +
y - 4 - 3 = 0 ⇒ 3x + y - 7 = 0

Equação reduzida da reta


A equação reduzida é obtida quando isolamos y na equação da
reta y - b = mx

Reta

Equação da reta
A equação da reta é determinada pela relação entre as abscis-
sas e as ordenadas. Todos os pontos desta reta obedecem a uma
mesma lei. Temos duas maneiras de determinar esta equação:
– Equação segmentária da reta
1) Um ponto e o coeficiente angular É a equação da reta determinada pelos pontos da reta que in-
terceptam os eixos x e y nos pontos A (a, 0) e B (0,b).
Exemplo:
Consideremos um ponto P(1, 3) e o coeficiente angular m = 2.
Dados P(x1, y1) e Q(x, y), com P ∈ r, Q ∈ r e m a declividade da
reta r, a equação da reta r será:

Equação geral da reta


Toda equação de uma reta pode ser escrita na forma:
ax + by + c = 0
2) Dois pontos: A(x1, y1) e B(x2, y2)
Consideremos os pontos A(1, 4) e B(2, 1). Com essas informa- onde a, b e c são números reais constantes com a e b não si-
ções, podemos determinar o coeficiente angular da reta: multaneamente nulos.

Posições relativas de duas retas


Em relação a sua posição elas podem ser:

A) Retas concorrentes: Se r1 e r2 são concorrentes, então seus


ângulos formados com o eixo x são diferentes e, como consequên-
cia, seus coeficientes angulares são diferentes.

176
MATEMÁTICA
C) Retas coincidentes: Se r1 e r2 são coincidentes, as retas cor-
tam o eixo y no mesmo ponto; portanto, além de terem seus coe-
ficientes angulares iguais, seus coeficientes lineares também serão
iguais.

B) Retas paralelas: Se r1 e r2 são paralelas, seus ângulos com o


eixo x são iguais e, em consequência, seus coeficientes angulares
são iguais (m1 = m2). Entretanto, para que sejam paralelas, é neces- Intersecção de retas
sário que seus coeficientes lineares n1 e n2 sejam diferentes Duas retas concorrentes, apresentam um ponto de intersecção
P(a, b), em que as coordenadas (a, b) devem satisfazer as equações
de ambas as retas. Para determinarmos as coordenadas de P, basta
resolvermos o sistema constituído pelas equações dessas retas.

Condição de perpendicularismo
Se duas retas, r1 e r2, são perpendiculares entre si, a seguinte
relação deverá ser verdadeira.

onde m1 e m2 são os coeficientes angulares das retas r1 e r2,


respectivamente.

177
MATEMÁTICA
Distância entre um ponto e uma reta Equação reduzida da circunferência
A distância de um ponto a uma reta é a medida do segmento Dados um ponto P(x, y) qualquer, pertencente a uma circunfe-
perpendicular que liga o ponto à reta. Utilizamos a fórmula a seguir rência de centro O(a,b) e raio r, sabemos que: d(O,P) = r.
para obtermos esta distância.

onde d(P, r) é a distância entre o ponto P(xP, yP) e a reta r .


Equação Geral da circunferência
Exemplo: A equação geral de uma circunferência é obtida através do de-
(UEPA) O comandante de um barco resolveu acompanhar a senvolvimento da equação reduzida.
procissão fluvial do Círio-2002, fazendo o percurso em linha reta.
Para tanto, fez uso do sistema de eixos cartesianos para melhor
orientação. O barco seguiu a direção que forma 45° com o sentido
positivo do eixo x, passando pelo ponto de coordenadas (3, 5). Este
trajeto ficou bem definido através da equação:
(A) y = 2x – 1 Exemplo:
(B) y = - 3x + 14 (VUNESP) A equação da circunferência, com centro no ponto
(C) y = x + 2 C(2, 1) e que passa pelo ponto P(0, 3), é:
(D) y = - x + 8 (A) x2 + (y – 3)2 = 0
(E) y = 3x – 4 (B) (x – 2)2 + (y – 1)2 = 4
(C) (x – 2)2 + (y – 1)2 = 8
Resolução: (D) (x – 2)2 + (y – 1)2 = 16
xo = 3, yo = 5 e = 1. As alternativas estão na forma de equação (E) x2 + (y – 3)2 = 8
reduzida, então:
y – yo = m(x – xo) Resolução:
y – 5 = 1.(x – 3) Temos que C(2, 1), então a = 2 e b = 1. O raio não foi dado no
y–5=x–3 enunciado.
y=x–3+5 (x – a)2 + (y – b)2 = r2
y=x+2 (x – 2)2 + (y – 1)2 = r2 (como a circunferência passa pelo ponto P,
Resposta: C basta substituir o x por 0 e o y por 3 para achar a raio.
(0 – 2)2 + (3 – 1)2 = r2
Circunferência (- 2)2 + 22 = r2
É o conjunto dos pontos do plano equidistantes de um ponto 4 + 4 = r2
fixo O, denominado centro da circunferência. r2 = 8
A medida da distância de qualquer ponto da circunferência ao (x – 2)2 + (y – 1)2 = 8
centro O é sempre constante e é denominada raio. Resposta: C

178
MATEMÁTICA
Elipse TEOREMA DE PITÁGORAS
É o conjunto dos pontos de um plano cuja soma das distâncias Em todo triângulo retângulo, o maior lado é chamado de hipo-
a dois pontos fixos do plano é constante. Onde F1 e F2 são focos: tenusa e os outros dois lados são os catetos. Deste triângulo tira-
mos a seguinte relação:

“Em todo triângulo retângulo o quadrado da hipotenusa é igual


à soma dos quadrados dos catetos”.
a2 = b2 + c2

Exemplo:
Um barco partiu de um ponto A e navegou 10 milhas para o
Mesmo que mudemos o eixo maior da elipse do eixo x para oeste chegando a um ponto B, depois 5 milhas para o sul chegando
o eixo y, a relação de Pitágoras (a2 =b2 + c2) continua sendo válida. a um ponto C, depois 13 milhas para o leste chagando a um ponto D
e finalmente 9 milhas para o norte chegando a um ponto E. Onde o
barco parou relativamente ao ponto de partida?
(A) 3 milhas a sudoeste.
(B) 3 milhas a sudeste.
(C) 4 milhas ao sul.
(D) 5 milhas ao norte.
(E) 5 milhas a nordeste.

Resolução:

Equações da elipse
a) Centrada na origem e com o eixo maior na horizontal.

x 2 = 32 + 42
x2 = 9 + 16
b) Centrada na origem e com o eixo maior na vertical. x2 = 25
Resposta: E

179
MATEMÁTICA
Resolução:
TRIGONOMETRIA: RAZÕES TRIGONOMÉTRICAS, FUN- Observando a figura, nós temos um triângulo retângulo, vamos
ÇÕES, FÓRMULAS DE TRANSFORMAÇÕES TRIGONOMÉ- chamar os vértices de A, B e C.
TRICAS, EQUAÇÕES E TRIÂNGULOS.

Trigonometria é a parte da matemática que estuda as relações


existentes entre os lados e os ângulos dos triângulos.

No triângulo retângulo
Em todo triângulo retângulo os lados recebem nomes espe-
ciais. O maior lado (oposto do ângulo de 90°) é chamado de Hipo-
tenusa e os outros dois lados menores (opostos aos dois ângulos
agudos) são chamados de Catetos. Deles podemos tirar as seguin-
tes relações: seno (sen); cosseno (cos) e tangente.

Como podemos ver h e 40 m são catetos, a relação a ser usada


é a tangente. Porém no enunciado foram dados o sen e o cos. Então,
para calcular a tangente, temos que usar a relação fundamental:

Resposta: A

Valores Notáveis
Como podemos notar, . Considere um triângulo retângulo BAC. Em resumo temos:

Em todo triângulo a soma dos ângulos internos é igual a 180°.


No triângulo retângulo um ângulo mede 90°, então:
90° + α + β = 180°
α + β = 180° - 90°
α + β = 90°

Quando a soma de dois ângulos é igual a 90°, eles são chama-


dos de Ângulos Complementares. E, neste caso, sempre o seno de
um será igual ao cosseno do outro.

Exemplo:
(FUVEST) A uma distância de 40 m, uma torre é vista sob um
ângulo , como mostra a figura.

Se dois ângulos são complementares, então o seno de um de-


Sabendo que sen20° = 0,342 e cos20° = 0,940, a altura da les é igual ao cosseno do complementar. As tangentes de ângulos
torre, em metros, será aproximadamente: complementares são inversas.
(A) 14,552
(B) 14,391 No triângulo qualquer
(C) 12,552 As relações trigonométricas se restringem somente a situações
(D) 12,391 que envolvem triângulos retângulos. Essas relações também ocor-
(E) 16,552 rem nos triângulos obtusos e agudos. Importante sabermos que:
sen x = sen (180º - x)
cos x = - cos (180º - x)

180
MATEMÁTICA
Lei (ou teorema) dos senos Observe que:
A lei dos senos estabelece relações entre as medidas dos la- O cosseno está associado ao eixo A (origem).
dos com os senos dos ângulos opostos aos lados. O seno está associado ao ângulo de 90º (ângulo reto).

Cada um dos semiplanos situados no círculo trigonométrico é


chamado de quadrante. Os sinais do seno e cosseno variam con-
forme os quadrantes da seguinte forma:

Lei (ou teorema) dos cossenos


Nos casos em que não podemos aplicar a lei dos senos, temos
o recurso da lei dos cossenos. Ela nos permite trabalhar com a
medida de dois segmentos e a medida de um ângulo. Dessa forma, O círculo trigonométrico pode ser medido em radianos ou em
se dado um triângulo ABC de lados medindo a, b e c, temos: graus. Veja os dois círculos em graus e radianos.
a² = b² + c² - 2.b.c.cosA
b² = a² + c² - 2.a.c.cosB
c² = a² + b² - 2.a.b.cosC

Exemplo:
Determine o valor do lado oposto ao ângulo de 60º. Observe
figura a seguir:

Resolução:
Pela lei dos cossenos
x² = 6² + 8² - 2 * 6 * 8 * cos 60º
x² = 36 + 64 – 96 * 1/2
x² = 100 – 48
x² = 52
√x² = √52
x = 2√13

Círculo trigonométrico
O ciclo trigonométrico é uma circunferência orientada de raio
1. A orientação é:

181
MATEMÁTICA
Arcos côngruos (ou congruentes) ATENÇÃO:
Dois arcos são côngruos (ou congruentes) quando têm a mes-
ma extremidade e diferem entre si apenas pelo número de voltas
inteiras.

Cosseno
Observando a figura temos:

1º quadrante: abscissa positiva e ordenada positiva → 0º < α


< 90º.
2º quadrante: abscissa negativa e ordenada positiva → 90º <
α < 180º.
3º quadrante: abscissa negativa e ordenada negativa → 180º
< α < 270º.
4º quadrante: abscissa positiva e ordenada negativa → 270º <
α < 360º. O ângulo α está associado ao arco AB. No triângulo retângulo
OMB, calculamos o cosseno de α:
Seno
Observando a figura temos:

Como o ciclo trigonométrico tem raio 1, para qualquer arco α,


temos que:
-1≤ cos α ≤ 1

ATENÇÃO:

Ao arco AB está associado o ângulo α; sendo o triângulo OBC


retângulo, podemos determinar o seno de α:

Tangente
Na figura, traçamos, no ciclo trigonométrico, uma reta parale-
la ao eixo dos senos, tangente ao ciclo no ponto A.

Observe que BC = OM, portanto podemos substituir BC por


OM, obtendo assim:

Como o ciclo trigonométrico tem raio 1, para qualquer arco α,


temos que:
1≤ sen α ≤ 1

182
MATEMÁTICA
No triângulo retângulo OAT, temos:

Como o raio é 1, então OA = 1


tg α = AT

Essa reta é chamada de eixo das tangentes. Observe que a tangente de α é obtida prolongando-se o raio OP até interceptar o eixo
das tangentes.

ATENÇÃO:

Relações Fundamentais da Trigonometria

Nestas relações, além do senx e cosx, temos: tg (tangente), cotg (cotangente), sec (secante) e cossec (cossecante).

183
MATEMÁTICA
Relações derivadas
Utilizando as definições de cotangente, secante e cossecante associadas à relação fundamental da trigonometria, extraímos formulas
que auxiliam na simplificação de expressões trigonométricas. São elas:

tg² α + 1 = sec² α , sendo α ≠ π/2 + kπ, K Z


1+ cotg² α = cossec² α , sendo α ≠ k.π, K Z

Redução para o primeiro quadrante

sen (90º - x) = cos x sen (90º + x) = cos x


cos (90º - x) = sen x cos (90º + x) = - sen x
tg (90º - x) = cotg x tg (90º -x) = - cotg x
sen (180º - x) = cos x sen (180º + x) = -sem x
cos (180º - x) = - cos x cos (180º + x) = - cos x
tg (180º - x) = - tg x tg (180º + x) = tg x
sen (270º - x) = - cos x sen (270º + x) = - cos x
cos (270º - x) = - sen x cos (270º + x) = sen x
tg (270º - x) = cotg x tg (270º + x) = - cotg x
sen (360º - x) = sen x
cos (360º - x) = cos x
tg (360º - x) = - tg x

Transformações trigonométricas
As fórmulas a seguir permitem calcular o cosseno, o a tangente da soma e da diferença de dois ângulos.

Exemplo:
(SANEAR – FISCAL - FUNCAB) Sendo cos x =1/2 com 0° < x < 90°, determine o valor da expressão E = sen² x + tg² x.
(A) 9/4
(B) 11/4
(C) 13/4
(D) 15/4
(E) 17/4

184
MATEMÁTICA
Resolução:

Resposta: D

Arcos Duplos
Utilizado quando as fórmulas do seno, cosseno e tangente do arco (a + b), fazemos b = a.

Arco Metade
Encontramos os valores que mede a/2, conhecendo os valores das funções trigonométricas do arco que mede a.

Funções trigonométricas de arco que mede a, em função da tangente do arco metade

185
MATEMÁTICA
Transformação da soma em produto Resolução:
As fórmulas a seguir nos permitirão transformar somas em
produtos.

R(t) = 3000 + 1500.cos(30°.t)


No mês de fevereiro: t = 2
R(2) = 3000 + 1500.cos(30°.2)
R(2) = 3000 + 1500. cos60°
R(2) = 3000 + 1500.1/2
R(2) = 3000 + 750 = 3.750

No mês de março: t = 3
R(3) = 3000 + 1500.cos(30°.3)
R(3) = 3000 + 1500.cos90°
R(3) = 3000 + 1500.0
R(3) = 3.000
Logo, a receita em março foi menor em: 3.750 – 3.000 = 750.
Equações e inequações trigonométricas No enunciado foi dito que a fórmulas está em milhares de reais,
Equação é onde a incógnita é uma função trigonométrica; po- portanto, R$ 750.000,0
rém nem todos os arcos satisfazem essas equações. Para determi- Resposta: D
nar esses arcos, recorremos ao ciclo trigonométrico sempre que
necessário. (PC/ES - PERITO CRIMINAL ESPECIAL – CESPE/UNB) Consideran-
do a função f(x) = senx - √3 cosx, em que o ângulo x é medido em
As inequações se caracterizam pela presença de algum dos si- graus, julgue o item seguinte:
nais de desigualdade. Como existem infinitos arcos com essas extre- f(x) = 0 para algum valor de x tal que 230º < x < 250º.
midades e no enunciado não é dado um intervalo para x, temos de (certo) (errado)
dar a solução utilizando uma expressão geral. Assim:
S = {x R | x = π/4 + k.2π ou x = 3π/4 + k.2π, K Z} Resolução:

O processo para se obter os arcos por simetria, que estão no Sendo , então para f(x) = 0, temos:
2º, 3º ou 4º quadrantes a partir de um arco α do 1º quadrante é o
seguinte:
• no 2º quadrante, subtraímos de π, ou seja, o arco será π - α;
• no 3º quadrante, somamos a π e o arco será π + α;
• no 4º quadrante, subtraímos de 2 π e o arco será 2 π - α.

Grande parte das equações trigonométricas é escrita na forma


de equações trigonométricas elementares ou equações trigonomé-
tricas fundamentais, representadas da seguinte forma: Verificando no ciclo quais ângulos tem este valor de tangente:
sen x = sen α
cos x = cos α
tg x = tg α

Já as inequações, temos 6 tipos de relações fundamentais:


- sen x > n (sen x ≥ n)
- sen x < n (sen x ≤ n)
- cos x > n (cos x ≥ n)
- cos x < n (cos x ≤ n)
- tg x > n (tg x ≥ n)
- tg x < n (tg x ≤ n)

Exemplos:
(FGV) Estima-se que, em 2009, a receita mensal de um hotel te-
nha sido dada (em milhares de reais) por R(t)=3000+1500.cos(πt/6),
em que t = 1 representa o mês de janeiro, t = 2 o mês de fevereiro e x = 60° ou x = 240°
assim por diante. A receita de março foi inferior à de fevereiro em: Resposta: Certo
(A) R$ 850.000,00
(B) R$ 800.000,00
(C) R$ 700.000,00
(D) R$ 750.000,00
(E) R$ 650.000,00

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ATUALIDADES (DIGITAL)

e mercadorias disponibilizados em praticamente todas as partes do


GLOBALIZAÇÃO: CONCEITOS, EFEITOS E IMPLICAÇÕES planeta. As fábricas, em muitos casos, migram das sociedades in-
SOCIAIS, ECONÔMICAS, POLÍTICAS E CULTURAIS dustrializadas para os países periféricos em busca de mão de obra
barata, matérias-primas acessíveis e, claro, maior mercado consu-
Quando falamos em geografia politica e econômica, pensamos midor, isso sem falar na redução ou isenção de impostos.
em globalização. Outro efeito da Globalização foi a formação dos mercados re-
Uma das características da globalização é a crescente integra- gionais, por meio dos blocos econômicos. Esses acordos entre os
ção econômica em escala planetária, devido ao aumento das trocas países facilitaram os processos de negociação para aberturas eco-
comerciais e financeiras, que consolida a formação de um mercado nômicas e entrada de pessoas e bens para consumo.
mundial influenciado pelas empresas transnacionais.
Nesse contexto, ganhou notoriedade a Organização Mundial Apesar de amplamente difundida, há muitos protestos e críti-
do Comércio (OMC), instituição internacional que visa fiscalizar e cas à globalização, sobretudo ressaltando os seus pontos negativos.
regulamentar o comércio mundial. As principais posições defendem que esse processo não é democrá-
A globalização é o processo de interligação e interdependência tico, haja vista que os produtos, lucros e desenvolvimentos ocorrem
entre as diferentes sociedades e resulta em uma intensificação das predominantemente nos países desenvolvidos e nas elites das so-
relações comerciais, econômicas, políticas, sociais e culturais entre ciedades, gerando margens de exclusão em todo o mundo. Críticas
países, empresas e pessoas. Esse fenômeno é possibilitado pelo também são direcionadas à padronização cultural ou hegemoniza-
avanço das técnicas, com destaque para os campos das telecomuni- ção de valores, em que o modo de vida eurocêntrico difunde-se no
cações e dos transportes. cerne do pensamento das sociedades.
A expressão “globalização” foi criada na década de 1980. No De toda forma, a Globalização está cada vez mais consolidada
entanto, não podemos dizer que ela seja um processo recente, uma no mundo atual, embora existam teóricos que, frequentemente, re-
vez que teria se iniciado ao longo dos séculos XV e XVI, com a ex- afirmam a sua reversibilidade, sobretudo em ocasiões envolvendo
pansão ultramarina europeia, que iniciava uma era de integração revoltas contra o seu funcionamento ou o próprio colapso do sis-
plena entre o continente europeu e as demais partes do planeta. tema financeiro. O seu futuro, no entanto, ainda está à mercê não
Por outro lado, foi apenas na segunda metade do século XX que tão somente das técnicas e da economia, mas também dos eventos
esse fenômeno encontrou a sua forma mais consolidada. políticos que vão marcar o mundo nas próximas décadas.
Podemos dizer que o mundo só alcançou o nível atual de inte- O Enem apresenta uma tendência de abordar temas que pos-
gração graças aos desenvolvimentos realizados, como já dissemos, suam certa atualidade, ou seja, que se relacionem com eventos ou
no âmbito dos transportes e das comunicações. Esses meios são acontecimentos que sejam de relevância para o contexto atual da
importantes por facilitarem o deslocamento e a rápida obtenção de sociedade. Por esse motivo, além de estudar os temas básicos da
informações entre pontos remotos entre si. Tais avanços, por sua Geografia, é preciso sempre estar informado através do acompa-
vez, ocorreram graças à III Revolução Industrial, também chamada nhamento de notícias tanto na mídia televisiva quanto na impressa
de Revolução técnico-científica informacional, que propiciou o de- e, também, na internet.
senvolvimento de novas tecnologias, como a computação eletrôni- Nesse sentido, a Globalização emerge como um dos principais
ca, a biotecnologia e inúmeras outras formas produtivas. temas a serem abordados pela banca examinadora, haja vista que
Outro fator que também pode ser tido como uma das causas todos os seus conceitos e efeitos podem ser visualizados direta ou
da Globalização é o desenvolvimento do Capitalismo Financeiro, a indiretamente nas sociedades do mundo contemporâneo. Portan-
fase do sistema econômico marcada pela fusão entre empresas e to, a globalização no Enem é uma oportunidade de compreender as
bancos e pela divisão das instituições privadas em ações. Hoje em relações geopolíticas e sociais à luz dos estudos da Geografia.
dia, o mercado financeiro, por meio das bolsas de valores, operam A globalização é, de modo geral, vista como o processo de
em redes internacionais, com empresas de um país investindo em integração e inter-relação mundial envolvendo a economia, a cul-
vários lugares, alavancando o nível de interdependência econômi- tura, a informação e, claro, os fluxos de pessoas. Esse fenômeno
ca. instrumentaliza-se pela difusão e avanço dos meios de transporte
A título de comparação, a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei e comunicação, haja vista que regiões distantes, antes tidas como
de Portugal sobre o descobrimento do Brasil levou alguns meses isoladas umas das outras, integram-se plenamente.
para chegar ao seu destino. Em 1865, o assassinato do presidente O termo Globalização, apesar de ser considerado por muitos
dos Estados Unidos, Abraham Lincon, foi informado duas semanas um processo gradativo que se iniciou com a expansão marítima eu-
depois na Europa. Já em 11 de setembro de 2001, os atentados ter- ropeia, difundiu-se no meio intelectual apenas a partir da década
roristas às torres gêmeas do World Trade Center foram acompanha- de 1980. Assim, a sua consolidação ocorreu na segunda metade do
dos em tempo real, com o mundo vendo ao vivo o desabamento século XX em diante, com a difusão do neoliberalismo, a propaga-
dos prédios. ção de tecnologias, a integração econômica e comercial entre os
Um dos mais notáveis efeitos da Globalização é, sem dúvidas, países, a formação e expansão dos blocos econômicos e o fortale-
a formação e expansão das multinacionais, também conhecidas cimento das instituições internacionais, tais como a OTAN e a ONU.
como empresas globais. Essas instituições possuem seus serviços

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ATUALIDADES (DIGITAL)
Além disso, os principais agentes da globalização são, sem dúvidas, No entanto, os deslocamento de pessoas pode gerar o ódio ao
as empresas transnacionais, também conhecidas como multinacio- estrangeiro, a xenofobia. Do mesmo modo, narcotraficantes e ter-
nais ou globais. roristas têm o acesso à tecnologia e a utilizam para cometer seus
crimes.
Globalização e Economia
Agropecuária

Sistemas Agrícolas
Sistemas agrícolas são classificações utilizadas para a produção
agrícola e pecuária. Há dois sistemas, o intensivo e o extensivo.
Para definir se o sistema agrícola é intensivo ou extensivo são
considerados os pontos da produção em qualquer tamanho de pro-
priedade.
O sistema é revelado por resultados como a produtividade por
hectare e o investimento na produção.

Sistema Intensivo
No modelo da agricultura brasileira, o sistema intensivo é o
mais praticado. Por ele, são aplicadas técnicas modernas de previ-
são que englobam o preparo do solo, a forma de cultivo e a colheita.
A produtividade não está somente no rendimento obtido dire-
Os países dominam as grandes empresas ou as grandes empresas to do solo, mas do seu redimensionamento para resultar na maior
dominam os países? produção possível por metro quadrado (a chamada produtividade
média por hectare).
As empresas transacionais que comercializam no mundo todo No período de colheita, as perdas são equacionadas para que
são os principais agentes da globalização econômica. atinjam o mínimo. O mesmo vale para o armazenamento.
É certo que ainda falamos de governo e nação, no entanto, es- Esse sistema é criticado porque agride o meio ambiente por
tes deixaram de representar o interesse da população. Agora, os conta de fatos como: desmatamento para implantação de mono-
Estados defendem, sobretudo, as empresas e bancos. culturas ou pasto, uso de agrotóxicos, erosão e empobrecimento do
Na maior parte das vezes são as empresas americanas, euro- solo após sucessivos plantios.
peias e grandes conglomerados asiáticos que dominam este pro-
cesso. Sistema Extensivo
O sistema extensivo é o que menos agride o meio ambiente. É
Globalização e Neoliberalismo o sistema tradicional em que são utilizadas técnicas rudimentares
A globalização econômica só foi possível com o neoliberalis- que garantem a recuperação do solo e a produção em baixa escala.
mo adotado nos anos 80 pela Grã-Bretanha governada por Mar- Em geral, o sistema extensivo é usado pelo modelo denomina-
garet Thatcher (1925-2013) e os Estados Unidos, de Ronald Reagan do agricultura familiar e, ainda, pela agricultura orgânica.
(1911-2004). No primeiro, a produção é destinada à subsistência e somen-
O neoliberalismo defende que o Estado deve ser apenas um te o excedente é vendido. Há o uso de agrotóxicos, mas em baixa
regulador e não um impulsor da economia. Igualmente aponta a escala.
flexibilidade das leis trabalhistas como uma das medidas que é pre- Já o modelo de agricultura orgânica dispensa o uso de agrotóxi-
ciso tomar a fim de fortalecer a economia de um país. cos, privilegia alimentos saudáveis e permite a exploração racional
Isto gera uma economia extremamente desigual onde somente do solo.
os gigantes comerciais tem mais adaptação neste mercado. Assim,
muita gente fica para trás neste processo. Agricultura moderna
A agricultura moderna faz uso de várias tecnologias, como os
Globalização e Exclusão tratores, colhedeiras, ceifadeiras, adubo, fertilizantes, etc. Além
Uma das faces mais perversas da globalização econômica é a disso, também seleciona sementes modificadas geneticamente. No
exclusão. Isto porque a globalização é um fenômeno assimétrico e entanto, ela não se limita ao uso de máquinas; há também uso de
nem todos os países ganharam da mesma forma. biotecnologia.
Um dos grandes problemas atuais é a exclusão digital. Aqueles Ela se baseia no aumento da sua produção à medida em que
que não têm acesso às novas tecnologias (smartphones, computa- incrementa tecnologia. Isso nos leva ao importante conceito de pro-
dores) estão condenados a ficarem cada vez mais isolados. dutividade agrícola, que se diferencia de produtividade industrial. O
primeiro é a relação entre a produção realizada e a área cultivada.
Globalização Cultural Quando falamos de geografia agrária, podemos aumentar a produ-
Toda essa movimentação populacional e também financeira tividade sem aumentar a área plantada.
acaba provocando mudanças culturais. Uma delas é a aproximação Esse tipo de agricultura é capitalizada, baseada em grandes
entre culturas distintas, o que chamamos de hibridismo cultural. investimentos. Por isso, a forma mais concreta de se falar em geo-
Agora, através da internet, se pode conhecer em tempo real grafia agrária moderna é através dos famosos complexos agroindus-
costumes tão diferentes e culturas tão distantes sem precisar sair triais. Existe uma troca constante entre a indústria tecnológica e a
de casa. agropecuária, na qual a primeira oferece tecnologia e a outra ajuda
com capital. Por fim, ainda temos o sistema financeiro, responsável
por bancar toda essa cadeia produtiva.

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ATUALIDADES (DIGITAL)
Agricultura tradicional Os maiores rebanhos de suínos no planeta estão na China, Es-
Ao contrário da agricultura moderna, a agricultura tradicional tados Unidos, Rússia e Brasil.
faz uso de métodos ultrapassados e de mão de obra em larga esca-
la. No entanto, há um caso particular, cujo o uso extenso de mão Tipos de criação caprina
de obra na versão moderna é necessário, que é a fruticultura. Se ti- - Extensiva - criação de cabras para a produção de carne, mais
vermos uma produção agrícola de fruticultura, nos dois casos serão comum em regiões de relevo acidentados e de climas semiáridos
empregadas muita mão de obra, uma vez que certas partes dessa ou áridos.
produção não podem ser mecanizadas, por exemplo, a colheita das - Intensiva - produção estabulada de cabritos para o aproveita-
frutas. mento da pele e da carne e de cabras fornecedoras de leite.
Outra diferença em relação à agricultura moderna, é que na A China, a Índia e a Itália são os grandes produtores.
tradicional é necessário incorporar terras para aumentar a produ-
ção. Então, tal tipo de é considerada de baixa produtividade e capaz Tipos de criação asinina
de gerar tantos impactos ambientais quanto a moderna. A agricul- - Extensiva - jumentos e jegues destinados para corte ou para o
tura tradicional é típica dos países em desenvolvimento, o que não uso na tração animal (carroças puxadas por jumentos são um exem-
significa que não seja praticada na geografia agrária dos países de- plo de tração animal).
senvolvidos. O mesmo ocorre com a moderna; embora seja pratica- - Intensiva - para selecionar reprodutores.
da mais amplamente nos países desenvolvidos, também é praticada
em menor escala em alguns países em desenvolvimento. Tipos de criação equina
- Extensiva - criação de éguas e cavalos para tração, montaria
Pecuária ou corte.
Na pecuária, o rendimento também é avaliado para definir o - Intensiva - estabulada e com o propósito de selecionar e pre-
sistema aplicado. Da mesma maneira que ocorre com a agricultura, parar éguas e cavalos para atividades esportivas (“corrida de cava-
o modo de produção intensivo é direcionado para resultados ele- lo” e “partidas de polo”).
vados.
A produção de gado pode ser a pasto ou em sistema de confi- Muares
namento e a densidade de cabeças deve ser a maior possível. Burros e bestas ou mulas originadas pelo cruzamento entre
Para melhor desempenho da produção pecuária são avaliados equinos e asininos.
os investimentos em: qualidade do solo, rendimento do pasto, con-
formação de carcaça (quando o gado de corte oferece maior quan- Avicultura
tidade de carne), oferta de leite e genética de qualidade. É a criação de aves para o corte e para a produção de ovos.
Nas áreas rurais de quase todos os países do globo são criados gali-
Tipos de pecuária nhas e frangos, gansos, marrecos, codornas, perus e patos. O mais
Denomina-se de pecuária a criação e reprodução de animais importante rebanho de aves, quantitativamente e quanto ao valor
com finalidades econômicas. Os animais assim criados e reproduzi- econômico, consiste nos galináceos (frangos e galinhas).
dos são conhecidos como gado.
Diversos são os tipos de gado: os bovinos, os ovinos, os suínos, Tipos de criação galinácea
os caprinos, os asininos, os equinos e os muares. - Extensiva - destinada ao corte sendo a carne consumida pelo
próprio produtor ou enviada para frigoríficos com a objetivo de
Tipos de criação bovina aproveitamento econômico.
- Extensiva - gado solto nas pastagens onde são criados novi- - Intensiva - criação feita em granjas e fundamentalmente vol-
lhos e engordados o “gado de corte”, bois que servem para a produ- tada para a produção de ovos.
ção de carnes para mercado.
- Intensiva - gado criado em estábulos, normalmente vacas Outras atividades
para a produção de leite. Na criação intensiva, a utilização de rações Piscicultura - criação e reprodução de peixes e crustáceos em
adequadas e os cuidados veterinários possibilitam a inseminação cativeiro (no Chile, destaca-se a criação de salmão; no Brasil está
artificial e a seleção de touros e de raças. bastante difundida a criação de trutas).
Os maiores rebanhos bovinos do mundo estão localizados na Sericicultura - criação de casulos de bichos-da-seda, ampla-
Índia, nos Estados Unidos, na Rússia, no Brasil, na Austrália e na mente praticada na Ásia (China, Japão, República da Coreia ou Co-
Argentina. reia do Sul e na República Democrática da Coreia ou Coreia do Nor-
Um tipo de gado bovino muito produzido hoje é o búfalo, prin- te, os maiores produtores mundiais de seda).
cipalmente na Índia, na China, no Paquistão e nos Estados Unidos.
Estrutura agrária
Tipos de criação ovina A expressão estrutura agrária é usada em sentido amplo, signi-
- Intensiva - criação de ovelhas para a produção de lã, principal- ficando a forma de acesso à propriedade da terra e à exploração da
mente na Austrália, na Nova Zelândia e na Rússia. mesma, indicando as relações entre os proprietários e os não pro-
- Extensiva - ovelhas de corte para a produção de carne. prietários, a forma como as culturas se distribuem pela superfície
da Terra (morfologia agrária) e como a população se distribui e se
Tipos de criação suína relaciona aos meios de transportes e comunicações (habitat rural).
- Extensiva - criação de porcos para a produção de banha e de A estrutura agrária são as características do espaço que são:
carnes para consumo do próprio produtor. Nesse tipo de criação, Estrutura fundiária- concentração de terras(muitas terras pouco uti-
pouco são os cuidados técnicos e com a higiene. lizada) Produção agrícola- exportação no caso do Brasil Relações de
- Intensiva - porcos estabulados com cuidados científicos e mui- trabalho- mão de obra , máquinas fazendo o trabalho que um dia
ta higiene; destinados a produção de couro e carnes para indústrias foi feito pelo homem
e frigoríficos.

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ATUALIDADES (DIGITAL)
A Fome no mundo – Produção, distribuição e consumo volução Industrial, mas - e sobretudo - ao imperativo dos negócios.
de alimentos A tremenda crise de 1929 teve tamanha amplitude justamente por
Em várias partes do mundo persistem os problemas de saúde ser resultado de um mundo globalizado, ou seja, ocidentalizado,
ligados à falta de alimentos. Segundo a Organização Mundial de face à expansão do Capitalismo. E o papel da informação mundia-
Saúde (OMS) a subnutrição ainda é causa indireta de cerca de 30% lizada foi decisivo na mundialização do pânico. Ao entrarmos nos
das mortes de crianças no mundo. Afetando o desenvolvimento fí- anos 80/90, o Capitalismo, definitivamente hegemônico com a ru-
sico e mental de milhões de crianças, a subalimentação também ína do chamado Socialismo Real, ingressou na etapa de sua total
compromete seu desenvolvimento intelectual e profissional, dimi- euforia triunfalista, sob o rótulo de Neo-Liberalismo. Tais são os
nuindo o número de cidadãos preparados para contribuir com o nossos tempos de palavras perfumadas: reengenharia, privatização,
desenvolvimento de seus países. economia de mercado, modernidade e - metáfora do imperialismo
Este é o ciclo vicioso a que são condenadas regiões pobres em - globalização.
todo o mundo: falta de acesso a alimentos gera subnutrição. Esta A classe trabalhadora, debilitada por causa do desemprego,
prejudica o desenvolvimento intelectual e profissional de parte resultante do maciço investimento tecnológico, ou está jogada no
da população. Na falta de cidadãos preparados, o crescimento da desamparo , ou foi absorvida pelo setor de serviços, uma econo-
economia fica comprometido e desta forma não geram-se menos mia fluida e que não permite a formação de uma consciência de
recursos para produzir ou comprar alimentos para toda a população classe. O desemprego e o sucateamento das conquistas sociais de
– principalmente aquela mais necessitada. Por isso, é preciso que os outros tempos, duramente obtidas, geram a insegurança coletiva
países detentores de tecnologia agrícola desenvolvida atuem nes- com todas as suas mazelas, em particular, o sentimento de impo-
tes países na transferência de conhecimentos. tência, a violência, a tribalização e as alienações de fundo místico
A fome ainda presente no século XXI não é por falta de alimen- ou similares. No momento presente, inexistem abordagens racio-
tos. A produção mundial de comida é suficiente para abastecer os nais e projetos alternativos para as misérias sociais, o que alimenta
atuais 7,3 bilhões de habitantes da Terra. Se parte da população irracionalismos à solta.
dos países menos desenvolvidos não tem acesso a quantidades su- A informação mundializada de nossos dias não é exatamente
ficientes de comida, isto se deve a fatores como insuficiente pro- troca: é a sutil imposição da hegemonia ideológica das elites. Cria
dução local; falta de recursos do país para adquirir alimentos no a aparência de semelhança num mundo heterogêneo - em qual-
mercado internacional; e elevação dos preços internacionais devido quer lugar, vemos o mesmo McDonald`s, o mesmo Ford Motors, a
a ações especulativas, entre outros. mesma Mitsubishi, a mesma Shell, a mesma Siemens. A mesma in-
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricul- formação para fabricar os mesmos informados. Massificação da in-
tura (FAO) alerta que a população mundial deverá atingir 9 bilhões formação na era do consumo seletivo. Via informação, as elites (por
em 2050, o que incrementará a procura por alimentos. Segundo os que não dizer: classes dominantes?) controlam os negócios, fixam
especialistas, para fazer frente a esta demanda, o mundo deverá regras civilizadas para suas competições e concorrências e vendem
atacar este problema em três frentes principais. Primeiro, aumentar a imagem de um mundo antisséptico, eficiente e envernizado.
a produção de produtos agrícolas, sem comprometer os recursos A alta tecnologia, que deveria servir à felicidade coletiva, está
naturais, não avançando sobre áreas de vegetação natural. Isto sig- servindo a exclusão da maioria. Assim, não adianta muito exaltar as
nifica que o Brasil, por exemplo, precisará investir muito mais em conquistas tecnológicas crescentes - importa questionar a que - e a
pesquisa e tecnologia – o que em parte já vem fazendo – para obter quem - elas servem. A informação global é a manipulação da infor-
uma melhor produtividade das áreas agrícolas já existentes. mação para servir aos que controlam a economia global. E controle
O segundo aspecto a ser considerado é a melhoria dos sistemas é dominação. Paralelamente à exclusão social, temos o individualis-
de armazenagem e distribuição das colheitas. Dados apontam que mo narcisístico, a ideologia da humanidade descartável, o que favo-
cerca de 30% dos produtos agrícolas mundiais são perdidos entre o rece a cultura do efêmero, do transitório - da moda.
campo e o ponto de venda do produto. Será necessário, na maioria De resto, se o trabalho foi tornado desimportante no imagi-
dos países produtores, construir mais silos e armazéns, ampliar a nário social, ofuscado pelo brilho da tecnologia e das propagandas
rede rodoviária, ferroviária e ampliar e modernizar as instalações que escondem o trabalho social detrás de um produto lustroso,
portuárias. pronto para ser consumido, nada mais lógico que desvalorizar o
A última providência sugerida pelos estudiosos é reduzir a trabalhador - e, por extensão, a própria condição humana. Ou será
perda de alimentos nos pontos de venda e entre os consumidores. possível desligar trabalho e humanidade? É a serviço do interesse
Segundo um relatório elaborado pela FAO, depois de comprados, de minorias que está a globalização da informação.
aproximadamente 50% dos alimentos são jogados fora, tanto na Eu- Ela difunde modas e beneficia o consumo rápido do descartá-
ropa quanto nos Estados Unidos. No Brasil aproxima 70.000 tonela- vel - e o modismo frenético e desenfreado é imperativo às grandes
das (aproximadamente 2.800 carretas) de alimentos acabam no lixo empresas, nesta época pós- keynesiana, em que, ao consumo de
a cada ano no Brasil. Compra de produtos em excesso, mal acon- massas, sucedeu a ênfase no consumo seletivo de bens descartá-
dicionamento são fatores que fazem com que milhões de famílias veis. Cumpre à informação globalizada vender a legitimidade de
descartem quantidade imensas de alimentos, sem reaproveitá-las. tudo isso, impondo padrões uniformes de cultura, valores e com-
No futuro serão necessárias campanhas em todos os países – prin- portamentos - até no ser “diferente” (diferente na aparência para
cipalmente os ricos – incentivando e ensinando o reaproveitamento continuar igual no fundo). Por suposto, os padrões de consumo e
de alimentos. Se os alimentos forem melhor manuseados e aprovei- alienação, devidamente estandartizados, servem ao tédio do urba-
tados, haverá comida para todos. nóide pós-moderno.
Nunca fomos tão informados. Mas nunca a informação foi tão
Globalização e sua influencia na economia direcionada e controlada. A multiplicidade estonteante de informa-
Acima já falamos um pouco sobre o conceito da globalização, ções oculta a realidade de sua monotonia essencial - a democrati-
então aqui, falaremos sobre o papel da globalização na economia. zação da informação é aparente, tal como a variedade. No fundo,
Ao longo do século XX, a globalização do capital foi conduzindo tudo igual. Estamos - e tal é a pergunta principal - melhor informa-
à globalização da informação e dos padrões culturais e de consumo. dos? Controlada pelas elites que conhecemos, a informação globa-
Isso deveu-se não apenas ao progresso tecnológico, intrínseco à Re- lizada é instrumento de domesticação social.

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Principais tendências da globalização nais e pelos governos dos seus países de origem. A partir de 1985
A crescente hegemonia do capital financeiro esses investimentos praticamente triplicaram e vêm crescendo em
O crescimento do sistema financeiro internacional constitui ritmos mais acelerados do que o comércio e a economia mundial.
uma das principais características da globalização. Um volume cres- Por meio desses investimentos as transnacionais operam pro-
cente de capital acumulado é destinado à especulação propiciada cessos de aquisição, fusão e terceirização segundo suas estratégias
pela desregulamentação dos mercados financeiros. de controle do mercado e da produção. A maior parte desses fluxos
Nos últimos quinze anos o crescimento da esfera financeira foi de investimentos permanece concentrada nos países avançados,
superior aos índices de crescimento dos investimentos, do PIB e do embora venha crescendo a participação dos países em desenvolvi-
comércio exterior dos países desenvolvidos. Isto significa que, num mento nos últimos cinco anos. A China e outros países asiáticos, são
contexto de desemprego crescente, miséria e exclusão social, um os principais receptores dos investimentos direitos.
volume cada vez maior do capital produtivo é destinado à especu- O Brasil ocupa o segundo lugar dessa lista, onde destacam-se
lação. os investimentos para aquisição de empresas privadas brasileiras
O setor financeiro passou a gozar de grande autonomia em re- (COFAP, Metal Leve etc.) e nos programas de privatização, em parti-
lação aos bancos centrais e instituições oficiais, ampliando o seu cular nos setores de infraestrutura.
controle sobre o setor produtivo. Fundos de pensão e de seguros
passaram a operar nesses mercados sem a intermediação das insti- Liberalização e Regionalização do Comércio
tuições financeiras oficiais. O perfil altamente concentrado do comércio internacional tam-
O avanço das telecomunicações e da informática aumentou a bém é indicativo do caráter excludente da globalização econômica.
capacidade dos investidores realizarem transações em nível global. Cerca de 1/3 do comércio mundial é realizado entre as matrizes e
Cerca de 1,5 trilhões de dólares percorre as principais praças finan- filiais das empresas transnacionais e 1/3 entre as próprias trans-
ceiras do planeta nas 24 horas do dia. Isso corresponde ao volume nacionais. Os acordos concluídos na Rodada Uruguai do GATT e a
do comércio internacional em um ano. criação da OMC mostraram que a liberação do comércio não resul-
Da noite para o dia esses capitais voláteis podem fugir de um tou no seu equilíbrio, estando cada vez mais concentrado entre os
país para outro, produzindo imensos desequilíbrios financeiros e países desenvolvidos.
instabilidade política. A crise mexicana de 94/95 revelou as conse- A dinâmica do comércio no Mercosul traduz essa tendência. Na
qüências da desregulamentação financeira para os chamados mer- realidade a integração do comércio nessa região, a exemplo do que
cados emergentes. Foram necessários empréstimos da ordem de ocorre com o Nafta e do que se planeja para a Alca em escala conti-
38 bilhões de dólares para que os EUA e o FMI evitassem a falência nental, tem favorecido, sobretudo a atuação das empresas transna-
do Estado mexicano e o início de uma crise em cadeia do sistema cionais, que constituem o carro chefe da regionalização.
financeiro internacional. O aumento do comércio entre os países do Mercosul nos últi-
Ao sair em socorro dos especuladores, o governo dos Estados mos cinco anos foi da ordem de mais de 10 bilhões de dólares. Isto
Unidos demonstrou quem são os seus verdadeiros parceiros no se deve em grande parte às facilidades que os produtos e as empre-
Nafta. Sob a forma da recessão, do desemprego e do arrocho dos sas transnacionais passaram a gozar com a eliminação das barreiras
salários, os trabalhadores mexicanos prosseguem pagando a conta tarifárias no regime de união aduaneira incompleta que caracteriza
dessa aventura. Nos períodos “normais” a transferência de riquezas o atual estágio do Mercosul.
para o setor financeiro se dá por meio do serviço da dívida públi- No mesmo período, o Mercosul acumulou um déficit de mais
ca, através da qual uma parte substancial dos orçamentos públicos de 5 bilhões de dólares no seu comércio exterior. Este resultado re-
são destinados para o pagamento das dívidas contraídas junto aos flete as consequências negativas das políticas nacionais de estabili-
especuladores. O governo FHC destinou para o pagamento de juros zação monetária ancoradas na valorização do câmbio e na abertura
da dívida pública um pouco mais de 20 bilhões de dólares em 96. indiscriminada do comércio externo praticadas pelos governos FHC
e Menem.
Novo Papel das Empresas Transnacionais O empenho das centrais sindicais para garantir os direitos
As empresas transnacionais constituem o carro chefe da glo- sociais no interior desses mercados tem encontrado enormes re-
balização. Essas empresas possuem atualmente um grau de liber- sistências. As propostas do sindicalismo de adoção de uma Carta
dade inédito, que se manifesta na mobilidade do capital industrial, Social do Mercosul, de democratização dos fóruns de decisão, de
nos deslocamentos, na terceirização e nas operações de aquisições fundos de reconversão produtiva e de qualificação profissional têm
e fusões. A globalização remove as barreiras à livre circulação do sido rechaçadas pelos governos e empresas transnacionais.
capital, que hoje se encontra em condições de definir estratégias A liberalização do comércio e a abertura dos mercados nacio-
globais para a sua acumulação. nais têm produzido o acirramento da concorrência. A super explo-
Essas estratégias são na verdade cada vez mais excludentes. O ração do trabalho é cada vez mais um instrumento dessa disputa. O
raio de ação das transnacionais se concentra na órbita dos países trabalho infantil e o trabalho escravo são utilizados como vantagens
desenvolvidos e alguns poucos países periféricos que alcançaram comparativas na guerra comercial.
certo estágio de desenvolvimento. No entanto, o caráter setorial e Essa prática, conhecida como dumping (rebaixamento) social,
diferenciado dessa inserção tem implicado, por um lado, na consti- consiste precisamente na violação de direitos fundamentais, utili-
tuição de ilhas de excelência conectadas às empresas transnacio- zando a superexploração dos trabalhadores como vantagem com-
nais e, por outro lado, na desindustrialização e o sucateamento de parativa na luta pela conquista de melhores posições no mercado
grande parte do parque industrial constituído no período anterior mundial. Nesse contexto, as conquistas sindicais são apresentadas
por meio da substituição de importações. pelas empresas como um custo adicional que precisa ser eliminado
As estratégias globais das transnacionais estão sustentadas no (“custo Brasil”, “custo Alemanha” etc.).
aumento de produtividade possibilitado pelas novas tecnologias e
métodos de gestão da produção. Tais estratégias envolvem igual- Blocos econômicos e comércio mundial.
mente investimentos externos diretos realizados pelas transnacio- As transformações econômicas mundiais ocorridas nas últimas
décadas, sobretudo no pós segunda guerra mundial, são funda-
mentais para entendermos as dinâmicas de poder estabelecidas

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ATUALIDADES (DIGITAL)
pelo grande capital e, também, pelas grandes corporações trans- comércio mundiais. Mas, a formação destas organizações suprana-
nacionais. Além delas, não podemos deixar de mencionar a impor- cionais fez com que o estado passasse a garantir a paz e o cresci-
tância crescente das instituições supranacionais, que atuam como mento em períodos de grave crise econômica. Assim, a iniciativa
verdadeiros agentes neste jogo de interesses, como por exemplo, o de maior sucesso até hoje foi a experiência vivida pelos europeus.
Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, entre ou- A União Europeia iniciou-se como uma simples entidade eco-
tros. nômica setorial, a chamada CECA (Comunidade Europeia do Carvão
e do Aço, surgida em 1951) e depois, expandiu-se por toda a econo-
mia como “Comunidade Econômica Europeia” até atingir a confor-
mação atual, que extrapola as questões econômicas perpassando
por aspectos políticos e culturais.
Além da União Europeia, podemos citar o NAFTA (North Ameri-
can Free Trade Agreement, surgido em 1993); o Mercosul (Mercado
Comum do Sul, surgido em 1991); o Pacto Andino; a SADC (Comu-
nidade de Desenvolvimento da África Austral, surgida em 1992),
entre outros. A busca pela ampliação destes blocos econômicos
mostra que o jogo de poder exercido pelas nações tenta garantir as
áreas de influência das mesmas, controlando mercados e estabele-
cendo parcerias com nações que despertem o interesse dos blocos
econômicos.
Além disso, o jogo de poder também está presente interna-
Nova York, uma das cidades mais globalizadas do mundo (Foto: Wi- mente aos blocos, ou seja, existem países líderes dentro do bloco,
kimedia Commons) que acabam submetendo os outros países do acordo aos seus inte-
resses. Assim, nem sempre a constituição de um bloco econômico é
O cenário que se afigura com a chegada destes novos agentes benéfica a todos os membros; por exemplo, a constituição do NAF-
econômicos é imprescindível para compreendermos o significado TA (México, Canadá e EUA) fez com que a frágil economia mexicana
da chamada globalização econômica. Esta tem como características: aumentasse ainda mais sua dependência em relação aos EUA, o Ca-
-A ruptura de fronteiras, ou seja, tal ruptura é atribuída à dinâ- nadá, por sua vez, passou a ser considerado uma extensão dos EUA,
mica do capital, que circula livremente pelo globo, sem respeitar a dada sua subordinação à economia de seu vizinho.
delimitação de fronteiras territoriais;
-Perda da soberania local, ou seja, países, estados e cidades Divisão internacional de Trabalho
tem que se submeter à lógica do capital para conseguir gerar lucro Recebe o nome de Divisão internacional de Trabalho (DIT), a
em seus orçamentos; prática de repartir as atividades e serviços entre os inúmeros países
-Expansão da dinâmica do capital, fato que se relaciona à rup- do mundo. Trata-se de uma divisão produtiva em âmbito interna-
tura de fronteiras, ou seja, o capital se dirige agora também à pe- cional, onde os países emergentes ou em desenvolvimento, expor-
riferia do capitalismo, uma vez que as transnacionais compreende- tadores de matéria-prima, com mão-de-obra barata e de industria-
ram que a exploração (no sentido de explorar a força de trabalho lização quase sempre tardia, oferecem aos países industrializados,
diretamente) dos países subdesenvolvidos promoveria grandes economicamente mais fortes, um leque de benefícios e incentivos
lucros para estes. para a instalação de indústrias, tais como a isenção parcial ou total
Com o crescimento expressivo da atuação do capital em nível de impostos, mão-de-obra abundante, leis ambientais frágeis, entre
mundial, chegou-se a questionar o papel do Estado, isto é, o Esta- outras facilidades.
do seria de fato um agente importante neste processo ou atuaria Um dos principais conceitos da DIT é que nenhum país conse-
como um impeditivo para a livre circulação do capital, uma vez que gue ser competitivo em todos os setores, e de fato, acabam por se
poderia criar regras ou leis que inviabilizariam a livre circulação do direcionar suas economias. No fundo, o objetivo é o mesmo da divi-
capital? Segundo este raciocínio, as transnacionais estariam coman- são de tarefas numa fábrica, o de gerar um elevado grau de especia-
dando a dinâmica econômica mundial em detrimento dos Estados. lização para que a produção seja mais eficiente, exatamente como
Vale destacar que muitas empresas transnacionais passaram a de- Adam Smith em sua Riqueza das Nações já afirmava no século XVIII.
sempenhar papéis que antes eram oferecidos pelo Estado, como O processo de DIT se expandiu na mesma proporção do capi-
serviços ligados à infraestrutura básica (exemplo: transporte e sa- talismo no mundo moderno, expressando as diferentes fases da
neamento básico). evolução histórica do capitalismo, desde a ligação entre metrópo-
No entanto, as sucessivas crises geradas pelo capitalismo mos- les e colônias, chegando às relações em que países desenvolvidos
traram que o papel do Estado não se apagou, como pensavam al- se agregam aos subdesenvolvidos. A é geralmente dividida em três
guns, pelo contrário, em momentos de crise financeira, o Estado é fases, obedecendo à dinâmica econômica e política do período his-
chamado a ajudar as empresas em dificuldade econômica. Portan- tórico em que elas existiram.
to, o papel do Estado no contexto de globalização reestruturou-se, A primeira DIT corresponde ao final do século XV e ao longo do
passando este a atuar como um salvador dos excessos e econômi- século XVI, no qual o capitalismo estava em fase inicial, chamada
cos promovidos pelas empresas nacionais ou internacionais, con- de capitalismo comercial. Era caracterizado pela produção manual
trolando taxas de juros, câmbios, manutenção de subsídios em se- a partir da extração de matérias-primas e acúmulo de minérios e
tores estratégicos, bem como fiscalizando, direta e indiretamente, metais preciosos por parte das nações (metalismo).
os recursos energéticos. A segunda DIT ocorre no século XVI, mas principalmente a par-
tir do século XVII, com a Primeira e a Segunda Revolução Indus-
A Formação dos Blocos Econômicos trial. As colônias e os países subdesenvolvidos passaram a fornecer
O surgimento dos blocos econômicos coincide com a mudança também produtos agrícolas, assim como vários tipos de minerais e
exercida pelo Estado. Em um primeiro momento, a ideia dos blocos especiarias.
econômicos era de diminuir a influência do Estado na economia e

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ATUALIDADES (DIGITAL)
Finalmente, a terceira DIT ou “Nova DIT” surge no século XX, seguição de minorias culturais são práticas oficiais. Muitas vezes,
com a revolução técnico-científica-informacional e a consolidação ainda que exista uma política multiculturalista oficial, a perseguição
do capitalismo financeiro, que permite a expansão das grandes é praticada por pessoas comuns, inflamadas por um sentimento de
multinacionais pelo mundo. Nesse período, os países subdesenvol- nacionalismo e rejeição ao outro. Os ataques violentos organizados
vidos iniciam seus processos tardios de industrialização, entre eles o por civis aos abrigos de refugiados de origem árabe na Alemanha
Brasil. Tal acontecimento foi possível graças à abertura do mercado são um exemplo disso.
financeiro desses países e pela instalação de empresas multinacio- O multiculturalismo emerge a partir das reivindicações de mi-
nais ou globais, oriundas, quase sempre, de países desenvolvidos. norias étnicas que sofrem de opressão histórica em seus territó-
Uma das críticas à DIT é que seu processo se dá de maneira rios, como os negros e as populações indígenas por todo continen-
desigual, onde os países industrializados costumam levar vanta- te americano, incluindo o Brasil. O debate em torno desse tema é
gem no comércio global. Além disso, as empresas transnacionais muito importante e traz à tona a forma como lidamos, enquanto
buscam seus próprios interesses, sem considerar as consequências sociedade, com as diferenças étnicas, culturais e religiosas que nos
sociais, econômicas e ambientais nos países onde suas filiais estão cercam.
instaladas.
Como acontece esta diversidade cultural?
A diversidade cultural num certo local acontece quando pes-
MULTICULTURALIDADE, PLURALIDADE E DIVERSIDA- soas de culturas distintas são obrigadas a relacionar-se e a convi-
DE CULTURAL verem. Este fenômeno deve-se à imigração, que leva à criação de
grupos sociais distintos nos países acolhedores. Estes grupos são
Entende-se por multiculturalismo tanto os estudos acadêmicos muitas vezes marginalizados pelos habitantes do país acolhedor, o
quanto as políticas institucionais que se desenvolvem em torno das que leva os imigrantes a isolarem-se, o que geralmente origina o
questões trazidas pela emergência das sociedades multiculturais. racismo e outras formas de recusa.
Uma sociedade multicultural é aquela que, em um mesmo territó-
rio, abriga povos de origens culturais distintas entre si. As relações Aspectos positivos e negativos da Multiculturalidade
entre esses grupos podem ser aceitação e tolerância ou de conflito Aspectos positivos: a Multiculturalidade leva à relação de vá-
e rejeição. Isso vai depender da história da sociedade em questão, rias pessoas diferentes, ou seja, ao contato de várias culturas dife-
das políticas públicas propostas pelo Estado e, principalmente, do rentes e isso pode ser tomado como um aspecto positivo na medida
modo específico como a cultura dominante do território é imposta do enriquecimento pessoal de cada pessoa.
ou se impõem para todas as outras. A convivência entre culturas Aspectos negativos: existem culturas preconceituosas relativa-
diferentes não é uma questão nova, mas que se se intensificou nos mente a outros tipos de culturas o que pode gerar conflitos entre
últimos anos devido a acontecimentos marcantes. os povos.
Não é possível entender o multiculturalismo fora do contexto
do fenômeno da globalização. O desenvolvimento acelerado dos O que é Pluralidade:
meios de transporte e das tecnologias de comunicação aproxima- Pluralidade é um substantivo feminino da língua portuguesa
ram diferentes regiões do mundo, criando redes industriais e finan- que significa algo que possui em grande quantidade, o mais amplo,
ceiras complexas e uma economia multinacional, interdependente geral e múltiplo.
e insubmissa às fronteiras nacionais. Com o fim da Guerra Fria, os A pluralidade está relacionada com a diversidade de coisas ou
Estados Unidos passam a hegemonizar culturalmente todo o plane- pessoas reunidas em um mesmo espaço físico. Também pode signi-
ta. Seus produtos, filmes, músicas e formas de ver as coisas se es- ficar as diversas hipóteses disponíveis para solucionar determinada
palham globalmente gerando o que se chama de “americanização” situação (pluralidade de alternativas).
do mundo. Frente a esse fenômeno de hegemonização dos padrões O termo é usado para demonstrar algo que estar em maior
culturais globais, as culturas tradicionais se fortaleceram, reagindo quantidade, quando são muitos ou vários. Exemplo: pluralidade de
contra a massificação dos modos de ser. Por outro lado, apesar da votos, pluralidade de moedas e etc.
massificação, vemos que essas comunidades culturais locais são ca-
pazes de se apropriar de partes da cultura americana, transforman- Pluralidade cultural
do-as em uma algo novo e diferente do original. No Brasil, o funk e A pluralidade cultural está relacionada com a multiculturalida-
rap são um exemplo claro dessa possibilidade. de de uma nação, ou seja, quando encontram-se reunidos em um
Outros processos importantes que influenciam no surgimento mesmo espaço vários tipos de manifestações culturas e tradições
das sociedades multiculturais, são as lutas pela independência que diferentes.
ocorrem nas colônias europeias da segunda metade do século XX, No Brasil, devido a sua “multi-colonização”, formou-se uma
especialmente na África e na Ásia. O cenário pós-colonizal gera um pluralidade de culturas vindas de praticamente todas as partes do
processo de resgate das culturas tradicionais locais e, ao mesmo mundo.
tempo, pela ligação histórica, desencadeia um movimento migra- A pluralidade cultural de um país é caracterizada pela aceitação
tório para os países colonizadores. Também os conflitos de ordem da sua diversidade cultural. Em um país monocultural, por exemplo,
étnica, religiosa e política, além das deficiências econômicas, são existem restrições quanto a liberdade de expressão das culturas e
fatores que aumentam o fluxo migratório. Incentivado por tudo isso tradições estrangeiras, sendo até mesmo consideradas alvos de
e pelo próprio cenário criado pela globalização, esse movimento perseguições.
migratório transforma de modo profundo as nações que receberam
os imigrantes, colocando em cheque a capacidade dos estados mo- Diversidade cultural
dernos de gerirem sua nova configuração multicultural. A diversidade cultural refere-se aos diferentes costumes de
Alguns países democráticos têm buscado promover a aceitação uma sociedade, entre os quais podemos citar: vestimenta, culiná-
e incorporação de culturas diferentes em seus territórios, valorizan- ria, manifestações religiosas, tradições, entre outros aspectos. O
do a possibilidade de se constituírem enquanto nações pluriétnicas. Brasil, por conter um extenso território, apresenta diferenças climá-
No entanto, em outros países, a negação de direitos sociais e a per- ticas, econômicas, sociais e culturais entre as suas regiões.

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ATUALIDADES (DIGITAL)
Os principais disseminadores da cultura brasileira são os colo- vara. Na culinária estão presentes: churrasco, chimarrão, camarão,
nizadores europeus, a população indígena e os escravos africanos. pirão de peixe, marreco assado, barreado (cozido de carne em uma
Posteriormente, os imigrantes italianos, japoneses, alemães, polo- panela de barro), vinho.
neses, árabes, entre outros, contribuíram para a pluralidade cultu-
ral do Brasil.
Nesse contexto, alguns aspectos culturais das regiões brasilei- TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO:
ras serão abordados. CONCEITOS, EFEITOS E IMPLICAÇÕES SOCIAIS, ECO-
NÔMICAS, POLÍTICAS E CULTURAIS
Região Nordeste
Entre as manifestações culturais da região estão danças e fes- Tecnologia da informação e comunicação (TIC) pode ser defi-
tas como o bumba meu boi, maracatu, caboclinhos, carnaval, ciran- nida como um conjunto de recursos tecnológicos, utilizados de for-
da, coco, terno de zabumba, marujada, reisado, frevo, cavalhada e ma integrada, com um objetivo comum. As TICs são utilizadas das
capoeira. Algumas manifestações religiosas são a festa de Iemanjá e mais diversas formas, na indústria (no processo de automação), no
a lavagem das escadarias do Bonfim. A literatura de Cordel é outro comércio (no gerenciamento, nas diversas formas de publicidade),
elemento forte da cultura nordestina. O artesanato é representa- no setor de investimentos (informação simultânea, comunicação
do pelos trabalhos de rendas. Os pratos típicos são: carne de sol, imediata) e na educação (no processo de ensino aprendizagem, na
peixes, frutos do mar, buchada de bode, sarapatel, acarajé, vatapá, Educação a Distância).
cururu, feijão-verde, canjica, arroz-doce, bolo de fubá cozido, bolo O desenvolvimento de hardwares e softwares garante a ope-
de massa de mandioca, broa de milho verde, pamonha, cocada, ta- racionalização da comunicação e dos processos decorrentes em
pioca, pé de moleque, entre tantos outros. meios virtuais. No entanto, foi a popularização da internet que po-
tencializou o uso das TICs em diversos campos.
Região Norte Através da internet, novos sistemas de comunicação e informa-
A quantidade de eventos culturais do Norte é imensa. As duas ção foram criados, formando uma verdadeira rede. Criações como
maiores festas populares do Norte são o Círio de Nazaré, em Belém o e-mail, o chat, os fóruns, a agenda de grupo online, comunidades
(PA); e o Festival de Parintins, a mais conhecida festa do boi-bumbá virtuais, web cam, entre outros, revolucionaram os relacionamen-
do país, que ocorre em junho, no Amazonas. Outros elementos cul- tos humanos.
turais da região Norte são: o carimbó, o congo ou congada, a folia Através do trabalho colaborativo, profissionais distantes geo-
de reis e a festa do divino. graficamente trabalham em equipe. O intercâmbio de informações
A influência indígena é fortíssima na culinária do Norte, base- gera novos conhecimentos e competências entre os profissionais.
ada na mandioca e em peixes. Outros alimentos típicos do povo Novas formas de integração das TICs são criadas. Uma das áre-
nortista são: carne de sol, tucupi (caldo da mandioca cozida), tacacá as mais favorecidas com as TICs é a educacional. Na educação pre-
(espécie de sopa quente feita com tucupi), jambu (um tipo de erva), sencial, as TICs são vistas como potencializadoras dos processos de
camarão seco e pimenta-de-cheiro. ensino – aprendizagem. Além disso, a tecnologia traz a possibilida-
de de maior desenvolvimento – aprendizagem - comunicação entre
Região Centro-Oeste as pessoas com necessidades educacionais especiais.
A cultura do Centro-Oeste brasileiro é bem diversificada, re- As TICs representam ainda um avanço na educação a distância.
cebendo contribuições principalmente dos indígenas, paulistas, Com a criação de ambientes virtuais de aprendizagem, os alunos
mineiros, gaúchos, bolivianos e paraguaios. São manifestações cul- têm a possibilidade de se relacionar, trocando informações e expe-
turais típicas da região: a cavalhada e o fogaréu, no estado de Goi- riências. Os professores e/ou tutores tem a possibilidade de realizar
ás; e o cururu, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A culinária trabalhos em grupos, debates, fóruns, dentre outras formas de tor-
regional é composta por arroz com pequi, sopa paraguaia, arroz car- nar a aprendizagem mais significativa. Nesse sentido, a gestão do
reteiro, arroz boliviano, maria-isabel, empadão goiano, pamonha, próprio conhecimento depende da infraestrutura e da vontade de
angu, cural, os peixes do Pantanal - como o pintado, pacu, dourado, cada indivíduo.
entre outros. A democratização da informação, aliada a inclusão digital, pode
se tornar um marco dessa civilização. Contudo, é necessário que se
Região Sudeste diferencie informação de conhecimento. Sem dúvida, vivemos na
Os principais elementos da cultura regional são: festa do divi- Era da Informação.
no, festejos da páscoa e dos santos padroeiros, congada, cavalha-
das, bumba meu boi, carnaval, peão de boiadeiro, dança de velhos, Por que ela é tão importante nos dias atuais?
batuque, samba de lenço, festa de Iemanjá, folia de reis, caiapó. Não é novidade que a internet revolucionou a maneira como o
A culinária do Sudeste é bem diversificada e apresenta forte homem lida com diversos aspectos de seu cotidiano, exercendo um
influência do índio, do escravo e dos diversos imigrantes europeus forte impacto sobre os meios de comunicação. Antes dela, a comu-
e asiáticos. Entre os pratos típicos se destacam a moqueca capixaba, nicação — seja empresarial, seja pessoal — era feita basicamente
pão de queijo, feijão-tropeiro, carne de porco, feijoada, aipim frito, pelo telefone, telegrama e cartas.
bolinho de bacalhau, picadinho, virado à paulista, cuscuz paulista, Com a popularização da internet, potencializou-se o uso das
farofa, pizza, etc. TICs em diversas áreas. Diversos recursos e ferramentas foram cria-
dos e isso transformou-se em uma grande rede mundial. Afinal, não
Região Sul restam dúvidas de que o e-mail, chats, fóruns, redes sociais, mensa-
O Sul apresenta aspectos culturais dos imigrantes portugueses, gens instantâneas e webcam modificaram profundamente o nosso
espanhóis e, principalmente, alemães e italianos. As festas típicas modo de interagir com o mundo.
são: a Festa da Uva (italiana) e a Oktoberfest (alemã). Também in-
tegram a cultura sulista: o fandango de influência portuguesa, a ti-
rana e o anuo de origem espanhola, a festa de Nossa Senhora dos
Navegantes, a congada, o boi-de-mamão, a dança de fitas, boi na

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ATUALIDADES (DIGITAL)
Portanto, a tecnologia da informação e comunicação é, de fato, A TIC entrega aos indivíduos uma série de recursos que permi-
um grande avanço. Trata-se de uma tendência que desempenha um tem uma melhor comunicação entre as pessoas, diminuindo bar-
papel fundamental para o desenvolvimento empresarial, permitin- reiras geográficas e levando mais informação e interação a diversos
do que pessoas trabalhem remotamente e troquem informações cantos do planeta.
mesmo estando geograficamente separadas. Dessa forma, é possível concluir que a tecnologia da informa-
ção e comunicação gera impactos econômicos e sociais positivos
Quais são as vantagens proporcionadas pela TIC? ao transformar o modo como a comunicação é desenvolvida, com
Conforme dissemos, inúmeros setores da sociedade podem a utilização constante de tecnologias e recursos cada vez mais mo-
desfrutar os avanços proporcionados pela TIC. Mas é preciso enfa- dernos e eficientes.
tizar o quanto ela contribui para a melhoria das empresas e da área Como você pode perceber ao longo desse post, a tecnologia da
de educação. informação e comunicação, apesar de ser um conceito ainda pou-
co difundido, já faz parte de nosso cotidiano. É possível desfrutar
Proporciona mais integração no cotidiano corporativo de seus benefícios dentro do ambiente empresarial e também em
Uma das vantagens mais expressivas da tecnologia da informa- nosso dia a dia, seja em nossas relações sociais, seja no processo de
ção e comunicação é, sem dúvidas, a maior integração que ela traz aprendizagem.
ao ambiente corporativo.
Ferramentas como a videoconferência e as mensagens instan- Transformações sociais na contemporaneidade
tâneas proporcionaram mais mobilidade corporativa, transforma-
ram a comunicação empresarial e permitiram que diversos funcio- Cidadania como elemento de mudança social
nários troquem ideias e informações, mesmo estando em locais A luta por direitos pode ser considerada uma das principais
diferentes. engrenagens da história, no decorrer das civilizações os detentores
e os desprovidos vivem em relações complexas geralmente ligadas
Aprimora os processos de aprendizagem a questões de poder. Liberdade, democracia, propriedade, muitos
No que diz respeito à educação, resta claro que a inclusão de são os objetivos de cada grupo, que invariavelmente se chocam,
computadores e diversos aplicativos voltados para esse segmento dando início a mudanças históricas profundas e alterando com
aprimoram o processo de aprendizagem e facilitam que a educação maior ou menor impacto diversos aspectos da vida humana.
chegue a todos os indivíduos, inclusive por meio da inclusão digital. A cidadania pode então ser percebida como a busca do indiví-
Nesse cenário, as videoaulas e os cursos a distância (EAD) duo e da sociedade pelos direitos que outros grupos já gozam ou
foram um grande avanço para a educação, levando informação a por reivindicações em dissonância com a tradição vigente. De acor-
qualquer lugar que tenha acesso à internet. do com a percepção mais comum ela também é vista sob o clássico
aspecto de direitos e deveres do cidadão para com o Estado. Essa
Contribui para a redução de custos empresariais percepção apesar de reducionista é válida, pois é justamente a polí-
A tecnologia é, sem dúvidas, uma grande aliada do empreende- tica o instrumento mais comum e eficaz para a mudança social. Não
dor contemporâneo. Seja qual for o seu porte e ramo de atuação, é atoa essas mudanças virão no bojo de grandes revoluções.
possível reduzir custos operacionais com o uso de recursos trazidos O conceito moderno de cidadania foi forjado entre os séculos
pelas TICs. XVII e XIX, no decorrer da Revolução Gloriosa (1688-1689), da Re-
Podemos citar como exemplo as alternativas ao uso do telefo- volução Americana (1776) e da Revolução Francesa (1789-1799). Os
ne. A tecnologia conhecida como VoIP utiliza a internet para realizar três acontecimentos foram movidos por uma classe em ascensão
as chamadas e, assim, reduz consideravelmente o custo da conta de no Ocidente, a burguesia, que dentro da sociedade capitalista pos-
telefone empresarial. suía aquilo de mais importante, a propriedade privada dos meios
Além disso, softwares de auditoria e gestão telefônica são fru- de produção. Em todos os casos o alvo fora a nobreza (interna
tos de um trabalho conjunto entre a tecnologia da informação e o ou externa como no caso americano), a casta social mais elevada
setor de telecomunicações e trazem bons resultados às empresas, e com maior número de privilégios, sem contar as animosidades
especialmente no que diz respeito a um controle maior do uso do existentes também com o clero, que em determinados momentos e
telefone em ambientes corporativos. lugares, como a França pré-revolucionária, mantinha grande poder
Quais são os impactos econômicos e sociais dessa tendência e influência nas decisões políticas.
de mercado? Ao alijar a classe burguesa de direitos políticos os nobres ti-
Para finalizar o post de hoje, não podemos deixar de abordar veram decisivos reveses, amargando o início da crise política do
os impactos positivos que a tecnologia da informação e comunica- Antigo Regime. Não é coincidência que o primeiro monarca a cair
ção gera. É possível perceber que a sociedade de modo geral evolui foi justamente o da Inglaterra, local onde a classe em ascensão en-
bastante com a utilização dessas ferramentas. frentara a monarquia e vencera, impondo aos nobres um papel de
Do ponto de vista econômico, ressalta-se que os lucros empre- menor importância frente ao parlamento, foi também o primeiro
sariais se ampliam e o mercado como um todo tende a evoluir. Com país onde aconteceu a Revolução Industrial (XVIII – XIX), evento que
tantos recursos sendo aplicados, é natural que as empresas cres- possibilitou a burguesia a se tornar a classe social dominante.
çam de maneira saudável. A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, foi
Ademais, tais tecnologias contribuem para o estabelecimento a resposta da burguesia francesa para com a estrutura social de seu
de uma concorrência mais qualificada. Os empreendimentos con- país, sendo impregnada de ideais iluministas e influenciada pela Re-
seguem modernizar seus produtos e serviços, sendo, portanto, o volução Americana.
consumidor final um dos maiores beneficiários. Como esperado a classe privilegiada reagiu à altura dos acon-
Os impactos sociais também são evidentes. Afinal, não há como tecimentos, criando a chamada Santa Aliança durante o Congresso
negar que a sociedade passa a ter acesso a ferramentas que têm a de Viena, um grupo internacional que reuniu monarquias europeias
capacidade de tornarem o seu dia a dia mais eficiente e confortável. comprometidas na defesa do Antigo Regime, logo após a queda de
Napoleão.

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ATUALIDADES (DIGITAL)
A disputa entre as classes dominantes continuaria ao longo do parte do mundo. O Parlamento brasileiro na atualidade é fortemen-
XIX, porém, a ideia de igualdade e liberdade também se mostrava te influenciado por grupos que defendem interesses privados, que
tentadora para as classes ainda desfavorecidas, camponeses e pro- parecem não estar preocupados em legislar em prol de um coletivo.
letários logo também entrariam para os livros de história, buscan- Frentes parlamentares como a bancada evangélica, a bancada do
do eles mesmos o reconhecimento e a influência que a burguesia agronegócio e a bancada que reúne o setor armamentista e defen-
alcançara. sores da chamada “linha dura”, conhecidas respectivamente como
Entender o sentido da cidadania na contemporaneidade e as bancadas da bíblia, do boi e da bala são quase dominantes e com
fortes implicações causadas pelas novas tecnologias de informa- grande peso para a aprovação de qualquer projeto, desse modo
ção e comunicação, se apresentam como objetivos difíceis, mas ampliando sua influência também sobre o executivo que precisa
importantes. Como uma condição em constante transformação, a negociar para continuar governando.
cidadania é apropriada por diversos atores sociais, cada qual com A cidadania no mundo contemporâneo pode ser percebida en-
suas próprias expectativas e modus operandi. Na atualidade são as tão como uma luta por direitos frente aos interesses do Estado e
minorias que se apresentam como principais porta-vozes da cida- das elites econômicas, sendo que as minorias têm como principais
dania e de sua possibilidade de mudança, uma vez que são esses norteadores os movimentos sociais. A participação nas decisões
determinados grupos os mais atingidos pela violência, intolerância políticas seria a característica principal, tendo grupos obtendo con-
e falta de políticas públicas adequadas. quistas em várias áreas, como as cotas para negros nas instituições
Negros, homossexuais, mulheres, idosos, pobres e outros gru- públicas de ensino superior, que procuram corrigir erros históricos
pos sociais são minorias em direitos, muitas vezes tratados como como a escravidão e minimizar suas sequelas sociais.
cidadãos de segunda classe, num comportamento que se sucede Castells (1999) falou sobre a “inércia conservadora do poder”
ao longo do tempo pelo Estado e pelas elites. Uma das principais e as estruturas que sustentam o status quo. O Estado é então per-
características em tal comportamento está na ação de calar o in- cebido como estrutura de manutenção do poder e propagador de
divíduo, esvaziando seu discurso e negando-lhe a voz na busca por narrativas elitistas, tendo no conservadorismo, sob a bandeira da
mais direitos, mas na Era da Informação as vozes descontentes se tradição, um guia diante das mudanças propagadas largamente
fazem ouvir pelos diversos mecanismos possibilitados pela revolu- graças a revolução informacional. De tal forma, certos direitos são
ção digital, sobretudo a internet, a principal e mais impactante das negados pois entram em choque direto com uma política pública
ferramentas eletrônicas. A participação social na política é hoje um baseada em moralismo religioso e fundamentalismo econômico. Às
requisito das sociedades verdadeiramente democráticas, canais de mulheres, é negado o direito ao aborto, tratado como uma questão
diálogo e denúncias são criados no intuito de democratizar a cida- de ética ao invés de uma questão de saúde pública, enquanto o Bol-
dania, num embate entre avanço social e tradicionalismo. sa Família é discutido num sentido moralizador sobre o trabalho ao
invés da discussão ser em torno de sua eficácia econômica e social.
A mudança civilizacional corresponderá também a uma muta- A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, é um
ção sociológica. Na opinião de Léo Scheer, o conceito de democracia marco nas lutas por direitos em todo o mundo, servindo de base
terá sentidos diferentes, de acordo com as ferramentas tecnológicas para documentos posteriores e contribui para uma visão global de
que estaremos a utilizar como o televisor, o computador e o telefo- justiça social. Desde então diversos países e organismos internacio-
ne. Do cruzamento desta “arquitectura” entre sociedades da comu- nais zelam pelo respeito à dignidade humana, tais como o Sistema
nicação, informação e comutação nascerá uma outra sociedade, a Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos, integrado por
virtual, onde as configurações e os mecanismos políticos terão ne- órgãos especiais da Organização dos Estados Americanos, o Conse-
cessariamente que ser diferentes. Mutatis Mutandis, com as novas lho da Europa e o Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
tecnologias passar-se-á do modelo de democracia clássica onde as Maria Benevides atenta para a importância da educação sobre
noções de espaço e tempo tiveram uma relevância singular, para os direitos humanos, mostrando que esses estão intrinsecamente
uma nova ordem mediática em que o “espaço público” será domi- ligados a cidadania e a democracia e que seus valores foram mais
nado por uma realidade simbólica e virtual, em que à desconven- facilmente assimilados nos países desenvolvidos, sofrendo maior
cionalização das fronteiras dos antigos Estados -Nação se associará resistência em países periféricos, possuidores de sistemas educa-
a desvinculação do indivíduo à comunidade social tradicional. Se- cionais deficientes e fortemente influenciados pelo sensacionalis-
gundo Scheer, a nova democracia já não necessitará da afirmação mo midiático. Ainda para a pesquisadora, a especificidade brasileira
do voto eleitoral para exprimir a sua vontade política, mas apenas marcada pela extrema desigualdade é terreno propício para discur-
da ‘enunciação por parte de cada um das narrativas das quais é sos de ódio e segregação.
portador, sem necessidade de canalização ou de conformação dos
sinais postos assim em circulação’. (SCHEER, 1997, p.44 apud GAR- O tema dos DH, hoje, permanece prejudicado pela manipula-
CIA, 2004, p. 121) ção da opinião pública, no sentido de associar direitos humanos
com a bandidagem, com a criminalidade. É uma deturpação. Por-
Segundo os autores, a percepção sobre democracia provavel- tanto, é voluntária, ou seja, há interesses poderosos por trás des-
mente estará diretamente ligada ao tipo de tecnologia em voga e sa associação deturpadora. Somos uma sociedade profundamente
as alterações que essa trará nas relações sociais. Com as novidades marcada pelas desigualdades sociais de toda sorte, e além disso,
tecnológicas sendo alteradas constantemente é de se esperar que somos a sociedade que tem a maior distância entre os extremos,
os conceitos de democracia e cidadania, além da habitual caracte- a base e o topo da pirâmide sócio-econômica. Nosso país é cam-
rística fluída, passem por mudanças de maneira mais constante e peão na desigualdade e distribuição de renda. As classes populares
acelerada. Os processos de virtualização da informação e da opi- são geralmente vistas como “classes perigosas”. São ameaçadoras
nião afetam diretamente os alicerces das relações de poder entre pela feiúra da miséria, são ameaçadoras pelo grande número, pelo
Estado, elite e minorias, possibilitando novas formas de romper medo atávico das “massas”. Assim, de certa maneira, parece ne-
com a tradição e conquistar direitos há muito negados. cessário às classes dominantes criminalizar as classes populares
A desassociação entre democracia e voto preconizada por associando-as ao banditismo, à violência e à criminalidade; porque
Scheer, e hoje visível, é um sintoma da crise política de represen- esta é uma maneira de circunscrever a violência, que existe em toda
tatividade da qual não apenas o Brasil sofre, mas também grande

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ATUALIDADES (DIGITAL)
a sociedade, apenas aos “desclassificados”, que, portanto, merece- as grandes forças econômicas globais não possuem interesse em
riam todo o rigor da polícia, da suspeita permanente, da indiferença indivíduos que não possam gerar lucro, dessa forma a globalização
diante de seus legítimos anseios. (BENEVIDES, 2013, p. 40) supervaloriza o Capital em detrimento do homem.
A Guerra Civil Síria é um conflito iniciado em 2011 e que cha-
Pode se afirmar que a deturpação das informações é um mal mou a atenção de todo o mundo devido as especificidades de seu
que grassa na contemporaneidade, uma vez que os fatos deixam caso. Em uma região onde conflitos são quase constantes a mídia
de ser provas e as estatísticas perdem relevância diante do senso internacional tende a dar ênfase apenas as notícias que envolvem o
comum, em uma realidade onde a informação é controlada por Estado de Israel, porém, a questão síria superou a barreira comum
poucos grandes grupos midiáticos, que representam o pensamento de tolerância a violência a que o Ocidente possui, gerando reações
de apenas pequena parte da população, perpetuando uma narra- que vão desde a crítica retórica até ações mais invasivas. A impre-
tiva injusta sobre os negros e os pobres, segregando-os a cidadãos visibilidade da história se faz mais visível e cruel nesse caso, entre
de segunda classe, com menos direitos e em constante estado de os antecedentes da guerra civil está a já afamada Primavera Árabe,
vigilância. movimento que começou em 2010 na Tunísia e se alastrou por di-
A ideia vigente e popular na sociedade brasileira atual quanto a versas regiões das África e da Ásia, tendo como objetivo a queda
questão dos crimes vai direto para a parte punitiva, sem considerar de ditaduras em países islâmicos que cerceavam os direitos de suas
tanto os fatos sociais que influenciam nas altas taxas de crimina- populações, fazendo uso de técnicas tradicionais como greves e
lidade, como a má educação, o desrespeito sistemático aos direi- inovadoras como o engajamento online massivo.
tos humanos e a cultura de segregação que persiste ao tempo. O Conquistas duradouras como as da Tunísia e pontuais como
foco na punição logo cede lugar à normalização, tal como explicou as do Egito perderam seu clamor midiático diante dos novos fatos
Foucault em “Vigiar e Punir” ao se debruçar sobre a questão da vindos da Síria por meio de grandes veículos de comunicação, an-
disciplinarização dos corpos, marcados pela arquitetura panóptica corado por Moscou, o presidente sírio Basshar al-Assad se sentiu
da sociedade moderna. confortável para massacrar os ecos de contestação em seu país, de-
sencadeando uma feroz resistência da população e de desertores,
“Então, é por isso que se dá, nos meios de comunicação de mas- que formaram o Conselho Nacional Sírio. Longe de estarem apenas
sa, ênfase especial à violência associada à pobreza, à ignorância e seguindo uma tendência o povo sírio tinha motivos para se revoltar,
à miséria. É o medo dos de baixo - que, um dia, podem se revoltar tendo seus direitos civis sido retirados em 1962 e desde então fica-
- que motiva os de cima a manterem o estigma sobre a ideia de do sob a tutela de um tirano.
direitos humanos. ” (BENEVIDES, 2013, p. 40) A Guerra Civil Síria mudou drasticamente de panorama a partir
de 2013, com o envolvimento do Estado Islâmico (EI) no conflito.
A autora ao discorrer sobre as diferenças fundamentais entre Somando-se a isso estão também a crise migratória na Europa e a
direitos humanos e cidadania, afirma que essa última é uma ideia expansão da extrema direita pelo velho continente, sendo impor-
política intimamente ligada ao Estado Nação que apresenta carac- tante refletir sobre estas questões sob o prisma dos direitos huma-
terísticas próprias em cada lugar e cultura. Os direitos humanos por nos, da globalização e das novas tecnologias.
sua vez teriam como característica principal uma universalidade O EI revolucionou o modo de fazer terrorismo graças ao intenso
que ultrapassa tempo e fronteiras, estando intimamente conecta- uso de ferramentas digitais para cooptar membros em todo o mun-
dos à dignidade humana, uma moral universal que independe de do, tática tão bem-sucedida que se tornou um assunto de extrema
julgamento cultural e que se posta à frente de ideologias e quais- importância em diversos países, tendo entre as nacionalidades dos
quer diferenças de hábitos ou pensamentos. Ela também os identi- interessados em integrar o grupo, um brasileiro. Além da propagan-
fica como “naturais”, pois se baseiam no respeito pelo ser humano, da o grupo jihadista também é notório pela extrema violência utili-
sem necessitar de documentos escritos para sua vigência. zada contra seus adversários e a população civil de seus territórios
É comum que em tempos de globalização os Direitos humanos dominados, cometendo crimes de guerra sistemáticos e levando o
sejam vistos por muitos como uma moral única e universal que deve pânico a região.
ser protegida, também é natural que muitos os vejam com descon- A crise migratória na Europa começa antes mesmo do início
fiança, já tão acostumados a diminuir a vida humana em estatísticas da Primavera Árabe, porém, se tornou mais grave em 2013, com
e narrativas incompletas. Na contemporaneidade, onde um jovem o incidente na costa da Ilha de Lampedusa que resultou em 360
de Islamabad pode conversar livremente com outra jovem em Tel mortos e uma ampla cobertura da mídia mundial, atentando para
Aviv pela internet, fica muito difícil para qualquer Estado justificar a crise humanitária que estava em andamento. Aqui vale lembrar
porque certas leis se aplicam em seu território e ao mesmo tempo que esses seres humanos fugiam de seus países de origem devido
são consideradas injustas em outros. As mulheres sauditas, proi- as terríveis condições a que eram impostos, despojados dos direi-
bidas de dirigir, sabem que em todo o Ocidente e em regiões mais tos de cidadãos eles só podem contar com os direitos humanos e
tolerantes do mundo muçulmano outras pessoas de seu gênero a “benevolência” europeia em busca de um futuro. Se faz necessá-
possuem muito mais do que o direito de dirigir e se esforçam para rio entender os direitos humanos como os direitos dos cidadãos do
alcançar tais direitos em um país onde a modernização se restringe mundo, que apesar das imensas diferenças possuem em comum a
a construção de arranha-céus e outras edificações suntuosas. humanidade, sendo essa o suficiente para que sejam tratados com
Para entender o sentido contemporâneo de cidadania é preciso dignidade. Se o capital tem passe-livre pelo globo, os direitos deve-
entender sua relação com os direitos humanos. Num mundo onde riam também ignorar fronteiras, sendo nonsense o fato de que um
as fronteiras são cada vez menos decisivas, o ser humano adquire container pode viajar mais livremente pelo mundo do que um ser
a possibilidade e a capacidade de pensar sobre diversas questões humano. A globalização dos direitos, pautada no multiculturalismo,
a partir de pontos de vistas de outras culturas, a globalização pos- é uma exigência para que pessoas em condições desumanas como
sibilitou acima de tudo o enfraquecimento das linhas imaginárias os imigrantes possam ter alguma esperança.
para o Capital, sobretudo na forma de serviços e mercadoria, po- Diante de graves crises globais, a extrema direita tem avança-
rém, o ser humano não pode desfrutar dessa realidade por inteiro, do de maneira alarmante pelo Ocidente. O discurso fascista possui
grande público nos Estados Unidos, onde o candidato pelo Partido
Republicano pela presidência dos Estados Unidos, Donald Trump,

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ATUALIDADES (DIGITAL)
tem conseguido alcançar uma receptividade imensa com o eleito- escalada democrática mundial, hoje se encontra como um estado
rado conservador, dando voz à “América profunda” que se ressente de mudança permanente do sistema político, atualmente em des-
do governo do presidente Barack Obama. O discurso do ódio tam- crédito nas mais variadas regiões.
bém foi capaz de inflamar o Brasil, tão conhecido até antes de 2013 A democracia representativa ainda é o melhor modelo de go-
como um país apático politicamente, o ataque as minorias e ao Es- vernança criado pelo ser humano, mas as críticas ao modelo se
tado Laico se tornaram frequentes e o ódio irracional à esquerda é acumulam cada vez mais ao passar do tempo. Na realidade con-
financiado por partidos políticos e por uma Grande mídia altamente temporânea, os alicerces democráticos forjados no passado já não
engajada. comportam as demandas da Sociedade da Informação, o cidadão
Mas é na Europa onde o discurso fascista mais assusta, pela não se sente representado pelos políticos eleitos, configurando
especificidade local, tendo grandes concentrações de muçulmanos uma crise maior, a do Estado Nacional, cujas consequências ainda
em diversos países, como na França, e pelo risco sempre presente são imprevisíveis. Tais alicerces foram sedimentados sob a lógica do
de ataques terroristas por parte de grupos jihadistas. O desprezo capitalismo industrial, engessada sob demandas populares que já
aos direitos humanos e a xenofobia levam os líderes extremistas não representam os anseios de uma sociedade em constante trans-
a ganhar cada vez mais poder e influência, fazendo largo uso da formação.
xenofobia e de nacionalismo, fechando o espaço para o diálogo e O avanço das novas Tecnologias de Informação e Comunica-
aumentando a tensão sobre a coesão social. ção influenciam a presente realidade política tanto quanto os mais
Na esteira de tais acontecimentos se destacam principalmen- variados aspectos da vida humana, o cidadão conectado não se
te, os grandes líderes internacionais que reconhecem os problemas satisfaz em apenas receber a informação, ele a analisa, transmite,
já discutidos e procuram soluções moderadas, tais como Barack cria e em alguns casos até a distorce. O termo massa não consegue
Obama e a chanceler alemã Angela Merkel e também organismos abranger esse novo e importante ator social, pessoas conectadas
internacionais de proteção aos direitos humanos, como o Comitê à internet que comentam nos mais variados canais disponíveis, in-
Internacional da Cruz Vermelha, a Anistia Internacional e o Human fluenciando e sendo influenciados, são a Multidão. As massas se ca-
Rights Watch. racterizam pela anulação das diferenças, abre-se mão do intrínseco
Não é de se espantar que a inclusão digital seja hoje conside- em favor do coletivo, evitando-se uma aproximação profunda e real
rada um direito, se o corpo ainda está cercado de fronteiras que para que o grupo tenha a coesão necessária. O termo Multidão de
limitam sua vida ao determinismo de seu nascimento geográfico, Antônio Negri e Michael Hardt é mais eficaz para se classificar essa
o ser virtual pode estar em contato com as mais diversas culturas parcela da população, num cenário que deixou a sociedade mais
e ampliar seu pensamento baseado em diferentes modos de viver, complexa e difícil de ser analisada.
rompendo as limitações políticas e territoriais pautadas em interes- A multidão designa um sujeito social ativo, que age com base
se econômico e intolerância ao “outro”. naquilo que as singularidades têm em comum. A multidão é um
A globalização do indivíduo ainda é uma realidade distante, sujeito social internamente diferente e múltiplo cuja constituição
mas a percepção sobre as diferentes culturas é hoje real e presente. e ação não se baseiam na identidade ou na unidade (nem muito
Governos ao redor do mundo procuram responder ou esmagar os menos na indiferença), mas naquilo que tem em comum. (NEGRI;
anseios sociais de várias formas, a maior parte do Ocidente aposta HARDT. 2005, p. 140)
na democracia institucional, com um modelo de representatividade Diante dos atuais desafios o Estado e seu aparato institucional,
que dá sinais de esgotamento, as ditaduras por sua vez procuram a sociedade, os movimentos sociais e a Multidão conectada, seu
responder aos novos tempos como podem, Estados mais precários estrato que mais cresce em importância devido ao número cada
apostam em uma maior rigidez, outros como a China procuram vez maior de pessoas com acesso à internet, se reconfiguram para
uma resposta mais sofisticada para o controle civil, usando da tec- atingir seus objetivos de modo mais eficaz. Nesse contexto a demo-
nologia para vigiar seus cidadãos e limitar sua liberdade. Nesse con- cracia deve ser vista de modo fluído, em constante reconstrução,
texto, aparecem condições para que o indivíduo não mais se veja com o intuito de se adaptar as diferentes exigências e expectativas
representado pois ele procura uma realidade que percebe nas telas dos atores envolvidos.
de seus dispositivos eletrônicos, que lhe parece mais humana. No As transformações pelas quais as sociedades contemporâneas
turbilhão de culturas, códigos e ideologias que o mundo globalizado têm passado afetam diretamente o modelo político comum no Oci-
conectou, a cidadania, muitas vezes apenas teórica, de seus lares dente, as relações entre Estado e sociedade nunca sofreram tantas
soa provinciana diante de inúmeras possibilidades, para as culturas mudanças desde a Revolução Francesa. A informação ganhou uma
que se chocam em seus hábitos e pensamentos só resta se guiar relevância jamais vista, agora não apenas mais um mecanismo de
pelos direitos universais, aqueles ao qual o próprio inimigo possui poder nas mãos de apenas alguns grandes grupos midiáticos (ape-
e devem ser respeitados por valorizarem o humano acima do inte- sar destes possuírem ainda uma enorme influência), mas um bem à
resse. disposição dos indivíduos conectados.

Democracia na contemporaneidade Sobre tais transformações, ANTOUN (2003, p. 15-16) afirma:


A democracia goza de grande popularidade desde o fim da Se- O entendimento das redes nos permite, hoje, devolver ao
gunda Guerra Mundial em 1945, após a derrota dos regimes totali- pensamento a realidade do espaço, sua cidadania real no seio do
tários europeus, o modelo democrático tornou-se o regime político mundo, afirmando que o assim chamado ‘espaço real’ é apenas um
hegemônico no Ocidente. No Oriente, porém, apenas com o fim da caso do ciberespaço, e que o espaço virtual é aquele que de fato
Guerra Fria os valores democráticos foram assimilados e, ainda as- nós sempre habitamos. Neste mundo a renovação da democracia
sim, em apenas uma parte da região. O desmonte da União Soviéti- torna-se possível porque a multidão armada com as TIC e a CMC1
ca seguido do sucesso dos Tigres asiáticos somaram-se ao processo faz o problema da cidadania pós-moderna e da segurança pública
globalizador cada vez mais veloz e tudo indicava que a democracia convergirem na direção da organização das comunidades virtuais,
seria um rumo natural para a civilização. Mas o legado ateniense apontando para seus novos modos de se auto organizar e garantir
sofreria com as desilusões de uma nova era, as críticas vieram de a ampla discussão e participação na resolução dos próprios proble-
dentro para fora e o que antes se configurava como uma utópica mas.

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ATUALIDADES (DIGITAL)
As NTIC surgem a partir da chamada Terceira Revolução Indus- Ainda que alguns argumentem afirmando que a informação
trial, um fenômeno que tem início da década de setenta também sempre existiu, publicada em Diário Oficial e etc, em tempo algum
conhecida como Revolução informacional, pois torna a informa- se tem notícia do alcance de um meio de comunicação como a In-
ção um elemento imprescindível para as relações humanas. Novas ternet. O cidadão que tem mais informações é mais capaz de emitir
tecnologias como a internet, a telefonia móvel e o acesso remoto juízos de valor e opiniões sobre as questões da sociedade. A divulga-
tornaram o cidadão um ator social com poder além do voto, sua ção de informações governamentais via governo eletrônico permite
opinião agora se faz ouvir cotidianamente e no tempo real, mas a geração de conhecimento. E conhecimento é poder. Disseminar
sempre que um determinado tema ganha atenção suficiente de um conhecimento implica disseminar o poder político, descentralizar o
grande número de indivíduos, dando a essa multidão uma oportu- poder decisório. (GARCIA et al., 2004, p. 08-09)
nidade de exprimir sua vontade. “A ‘revolução eletrônica’ transfor-
mou a informação em uma arma e o Estado, global ou local, está Apesar do interesse estatal em disseminar mecanismos de im-
sempre envolto, pós-modernamente, nas guerras da informação. portância para a transparência, uma verdadeira democracia eletrô-
[...] ” (ANTOUN, 2002, p. 14). nica esbarra no problema da inclusão digital. Se o acesso ao ciberes-
paço é hoje uma forma indispensável para o exercício da cidadania
Diante de tal cenário e a baixa expectativa quanto a democracia e o fazer democrático, aqueles que estão à margem, possivelmente
representativa, o Estado tem procurado ferramentas para atender devido a questões de ordem econômica ou mesmo simples desinte-
as demandas do presente, tendo duas iniciativas principais nesse resse, ficarão ainda mais distantes da gestão pública, aumentando
contexto, tornando o acesso a informações sobre a gerência pública ainda mais a exclusão. Num país como o Brasil, onde a desigualdade
mais acessível e procurando uma maior inserção da população no possui índices elevados, torna-se uma realidade o aumento do fos-
meio eletrônico, através de programas (principalmente educacio- so entre os diferentes extratos sociais.
nais) voltados para a inclusão digital.
No Brasil a Lei de Acesso à informação (LAI)2, em vigor desde A inclusão digital se torna fator determinante rumo a uma de-
2012, foi um importante passo rumo aos direitos do cidadão, ga- mocracia plena e inclusiva, os mais variados países têm adotado
rantindo o direito de aquisição de informações públicas com maior medidas para levar o conhecimento e a utilização das novas tecno-
agilidade e menos burocracia. A participação da população na ges- logias para o maior número de pessoas. “A construção de uma nova
tão pública é fundamental para uma democracia saudável, o Estado civilização sobre os escombros da velha envolve o projeto de novas
não deve ser entendido como uma grande máquina kafkiana que estruturas políticas mais apropriadas em muitas nações ao mesmo
se apresenta de forma indiferente aos anseios sociais. Tais inicia- tempo” (TOFFLER, 1992, p. 410).
tivas evidenciam os esforços, sobretudo, do Poder Executivo, para
responder as demandas atuais, entendendo a coisa pública como No Brasil não é diferente, o Governo Federal vem implantan-
uma estrutura que precisa encaixar o cidadão para além das obri- do diversos programas com esse intuito, geralmente ligados à área
gações. O direito à informação passa a ser realmente sentido como educacional, visando as novas gerações e aumentando o número de
um direito humano legítimo e atua para tornar a relação Estado e nativos digitais. Como um direito humano a informação não pode
sociedade mais justa. mais ser encarada apenas num aspecto econômico, assim como a
Somam-se a Lei de acesso à Informação iniciativas como os saúde ou a segurança, ela é um bem imprescindível e o Estado deve
portais de transparência, que atualmente não se restringem apenas estar preparado para assegurar esse direito das mais diversas for-
ao Poder Executivo, como por exemplo o e-Cidadania do Senado mas.
Federal, a Câmara Aberta da Câmara dos Deputados do Brasil, além Analisando questões relativas a Democracia digital é pertinen-
do Portal de transparência do Poder Judiciário. Tais propostas vão te levar em consideração o pensamento de Sabbatini. Para ele, o
além de cumprir a LAI, elas procuram remodelar o próprio modo fator emocional pode se tornar um grave problema, uma vez que
de governar e estão diretamente ligadas a ideias como o Governo decisões individualistas atrapalham no diálogo e trazem estragos ao
eletrônico e a Democracia eletrônica. tecido social. Apenas uma parte da população teria voz no meio ele-
O Governo eletrônico é o resultado atual das discussões acerca trônico e esse grupo tenderia a relevar os assuntos de seu interesse
da governança pública, é a aplicação das NTIC, para prestar servi- e tratá-los com parcialidade. Tais questões não possuem respostas
ços ao cidadão da maneira mais eficiente possível. Sua proposta é fáceis e como um processo em andamento, só resta aprender com
importante, pois a acessibilidade a informações de gerenciamento os erros e procurar melhorias para um melhor desempenho na
governamental sempre foi nebulosa ao longo do tempo e o simples construção do projeto de governança digital.
fato de existir tal iniciativa já demonstra que o Estado percebeu que Cabe nesse ponto refletir sobre o papel do Estado no mundo
seu funcionamento necessita estar diretamente ligado à opinião atual, em meio aos dilemas políticos, que muitas vezes são resumi-
pública. dos na questão acerca de um Estado diminuto ou grande. Como em
tantas outras coisas o Estado também está em constante transfor-
Governo Eletrônico – e-gov, sob forma abreviada – [...] É rein- mação, ele já se configurou na forma de grandes Impérios territo-
terpretação e revolução da gestão do poder público, ora sustentado riais e em monarquias absolutistas, no mundo Ocidental do século
por tecnologias informacionais, cujo intuito é dar suporte para que XXI essa entidade geralmente se apresenta na forma de Repúblicas
o Governo acompanhe a evolução dos tempos. (GARCIA et al., 2004, democráticas, excetuando-se algumas monarquias europeias. É
p. 03) quase impossível pensar na civilização sem a figura do Estado, em
uma época de descrença na política é interessante notar que desde
A Democracia eletrônica é o produto final das medidas des- sua criação o anarquismo nunca foi tão impopular, talvez fruto de
centralizadoras, a maior facilidade de acesso à informação somado uma noção coletiva sobre a certeza da necessidade de um poder
às iniciativas públicas de transparência oferecem ao indivíduo um central que, intervencionista ou não, é ainda responsável por as-
status único na história do Estado moderno. O cidadão tem ao seu pectos imprescindíveis sobre a sociedade e que uma transformação
dispor a ferramenta mais poderosa da atualidade, a informação. e não uma ruptura completa deve ser o intuito de nações demo-
cráticas.

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É tendo em mente os novos avanços da emancipação humana rativas. É como se fosse um êxodo da soberania. Esse conjunto de
que devemos tentar pensar, não ‘o fim do Estado’, mas ‘outro Esta- dispositivos cooperativos de redes torna-se potência democrática e
do’, um que admita plenamente os seus outros, um que emerja da limite da soberania imperial. (SILVESTRIN, 2014, p. 50)
sociedade, embora esteja ao seu serviço, em vez de estar sobrancei-
ra a ela, como se transcendência autoritária e burocrática. Podemos A democracia ainda é a melhor forma de acesso ao poder para
apostar que, no futuro, o Estado, que já assumiu tanta forma (teo- a coletividade, a única forma do poder emanar do povo, além das
cracia faraônica, império do meio, democracia ateniense, república elites. As transformações sociais são impulsionadas pelo debate e o
romana, monarquia europeia, califado, Estado-nação, fascismo, embate entre as partes envolvidas, as novas tecnologias impulsio-
sovietismo, Estado islâmico, federalismo, Estados Unidos, união Eu- nam e agilizam essas transformações, criando um ambiente propí-
ropeia...), continuará a metamorfosear-se. (LEVY, 2003, p. 174-175) cio para a mudança, uma vez que possibilitam ao indivíduo meca-
nismos para desafiar as estruturas de poder vigentes.
Talvez a forma mais comum de se atacar o Estado atualmen- As mesmas tecnologias também podem ajudar a fomentar a
te seja através da democracia direta, apesar de possuir elementos intolerância e a violência, seja no uso das redes sociais pelo Estado
pontualmente louváveis, fica claro que tal forma de governança Islâmico para cooptar membros, ou mesmo de indivíduos em so-
pode desembocar em uma ditadura da maioria. Tal instrumento é ciedades plenamente democráticas exprimirem pensamentos pre-
geralmente apresentado como uma forma de minimizar a falta de conceituosos ou mesmo fascistas. A internet potencializa tanto o
interação entre governos e população, além de paliativo para o sen- discurso de ódio quanto o progressista, sendo uma ferramenta que
timento de pouca representatividade dos políticos eleitos. insere os mais diversos pensamentos e ideologias no ciberespaço,
A democracia direta se faz impossível pelos canais políticos aumentando as chances de diálogo e de competição, seu impac-
tradicionais, mesmo com a expansão das potencialidades surgidas to mal pode ser medido no presente e seu legado é já tão vasto
com as novas tecnologias, os malefícios que ela pode causar são que conjecturas tornam-se insuficientes. A única certeza é que a
muito altos. O debate político deve ser pautado na razão e corrobo- mudança chegará, cada vez mais rápida, tornando o limiar entre
rado por fatos, a entrega das decisões a um espaço que privilegia presente e futuro cada vez mais sutil.
debates rasos e pouca reflexão pode ser catastrófico, em primeiro
lugar para as minorias e, em segundo, para a sociedade em geral, A Multidão na sociedade de controle
pois o minguar da tolerância é o primeiro sinal de que a democracia Entre as diversas mudanças causadas pelo advento das NTICs,
corre riscos. aquelas relativas as relações de poder são particularmente as mais
Seria impossível pensar em tantas questões se não fosse o impactantes, uma vez que alteram toda a estrutura de uma socie-
avanço avassalador da internet na vida humana, sem dúvida a tec- dade. Se faz importante discutir os novos mecanismos de controle,
nologia mais revolucionária da Terceira Revolução Industrial. As ao qual Deleuze já alertava, entendendo tanto o Estado quanto o
noções de tempo e espaço se tornaram fluídas e quase todos os Mercado como entidades invasivas em diversos momentos da vida.
aspectos da vida humana estão ligadas a essa tecnologia, mesmo Também entendendo o povo segundo a categoria de Multidão,
questões tão íntimas como o sexo e a morte são diretamente afeta- numa relação complexa com as forças externas que com ele atuam,
das por tal ferramenta. Não é surpresa que também a política seja onde em dado momento é manipulável e em outros se torna um
fortemente influenciada, a internet possibilita a construção de uma mecanismo de ruptura, seja com a tradição ou com os mecanismos
nova democracia, baseada na interação. do poder.

Oferecendo a Internet ao mundo, a comunidade cientifica lhe A literatura de ficção científica, há muito tempo vêm espe-
ofertou a infraestrutura técnica de uma inteligência coletiva que é, culando sobre um “futuro” onde o Estado se torna uma entidade
sem dúvida, sua mais bela descoberta. Ela transmitiu assim para o opressora de direitos, cerceando os indivíduos das mais diversas for-
resto da humanidade sua melhor invenção, aquela de seu próprio mas, desde o clássico 1984 de George Orwell, a obras como Fahre-
modo de sociabilidade, de seu tipo humano e de sua comunicação. nheit 451 de Ray Bradbury e o antes cult e agora afamado V de
Essa inteligência coletiva refinada há séculos é perfeitamente en- Vingança de Alan Moore. O ponto em comum em todos é a figura
carnada pelo caráter livre, sem fronteiras, interconectado, coopera- estatal no comando da vigilância permanente, a escolha pode ser
tivo e competitivo da Web e das comunidades virtuais. (LÉVY, 2001, entendida devido a ação histórica de repressão ao ser humano tal
p. 79.) como estudada por Michel Foucault em sua análise das sociedades
disciplinares, tendo surgido entre os séculos XVII e XVIII e chegan-
É no ciberespaço que as notícias mais disseminadas serão es- do ao auge no século XX, e posteriormente por Gilles Deleuze, que
colhidas e comentadas, seu poder desafia até grandes conglomera- ficaram conhecidas como sociedades de controle. “O indivíduo não
dos midiáticos, oferecendo canais com uma visão distinta das tra- cessa de passar de um espaço fechado a outro, cada um com suas
dicionais ferramentas informacionais. O poder sobre a informação leis: primeiro a família, depois a escola [...], depois a fábrica [...], de
oferece a chance dá Multidão impor pautas políticas e reverberar vez em quando o hospital, eventualmente a prisão, que é o meio de
sua vontade em tempo real, impactando o centro do poder, uma confinamento por excelência” (Deleuze, 1990, p. 219).
vez que barreiras geográficas não são mais um empecilho e o meio
virtual um espaço cada vez mais comum de se informar e ser infor- Nas sociedades disciplinares o poder disciplinador, simbolizado
mado. pela arquitetura do panóptico, presentifica-se no interior das insti-
tuições, como as prisões, os hospitais, as escolas, os quartéis, com o
A multidão, conjunto de singularidades, pela cooperação, tor- objetivo de instaurar a disciplina e, consequentemente, um padrão
na-se altamente produtora de subjetividade. Uma subjetividade comportamental rotineiro. No modelo social de Deleuze, o controle
nova, livre de qualquer representação, que acaba com a relação de passa do âmbito local – restrito à extensão dos olhos e dos ouvidos
biopoder ou dominação-representação e se torna potência, potên- humanos – para um âmbito supra-local, estendendo-se para todos
cia constituinte de um novo porvir. Elimina-se, com isso, a relação os espaços da vida pública. Não há mais espaço restrito para que o
soberana, baseada no poder e na corrupção das relações coope- poder se faça sentir, pelo contrário, ele se faz presente em todos os
lugares. Por conseguinte, é mais perverso, mais controlador, porque

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ATUALIDADES (DIGITAL)
se sustenta no aparato das novas tecnologias de informação. O sím- detrimento da ação individual na história. Segundo José Carlos Reis
bolo do controle agora não é mais o panóptico, mas a web, a rede (2013), Bloch deu preferência ao estudo do tempo, das estruturas
digital de comunicação mundial, que concentra toda a informação e do coletivo.
dos indivíduos em bancos de dados. O princípio da docilidade conti-
nua, no entanto, o mesmo, pois os indivíduos entregam voluntaria- Como Durkheim, e diferente de Febvre, o ponto de partida da
mente seus dados a vigilância. (AGUERO, 2008, p. 35 – 36) história blochiana era a sociedade e não o indivíduo. Seu realismo
social, continua Rhodes, insistia em aprender o todo social antes de
O “futuro” imaginado pela especulação literária se faz presente querer aprender as partes. Este todo, composto de interações indi-
na sociedade da informação, porém, com características diferentes viduais, era concebido como não redutível à vontade dos indivídu-
da ficção. Para Foucault as sociedades disciplinares serviram para os-membros. O indivíduo é que é reduzido à mera expressão da vida
manter o controle sobre a mente e o corpo. Posteriormente surgem coletiva. Assim como Durkheim, Bloch considerava que a estrutura
mecanismos que transformam a arquitetura de dominação discipli- social, a solidariedade, a ordem ou coesão social são as realidades
nar, dando origem as sociedades de controle, um novo modelo de básicas onde se encontram os princípios explicadores da sociedade.
exercer o poder que se aprofunda a partir do fim da 2º Guerra Mun- [...] O específico desta ‘consciência coletiva’ é a sua lentidão na mu-
dial e se encontra em andamento. “Encontramo-nos numa crise dança. Ela é um consenso, que envolve todos os membros da socie-
generalizada de todos os meios de confinamento, prisão, hospital, dade, oferecendo-lhes valores e normas da vida. É uma consciência
fábrica, escola, família. ” (Deleuze, 1990, p 220). pré-fabricada pronta para o uso individual e que aparece ao indiví-
duo como algo dado e natural. Mas trata-se de uma construção de
[...] a sociedade disciplinar é aquela na qual o comando social longa duração. (RHODES, 1978 apud REIS, 2013, p. 265)
é construído mediante uma rede difusa de dispositivos ou apare-
lhos que produzem e regulam os costumes, os hábitos e as práticas A sociologia e a história procuraram romper com a tradição
produtivas. [Na sociedade de controle] os mecanismos de comando do ídolo, dando voz a coletividade na história, seja na sociedade
[são] distribuídos por corpos e cérebros dos cidadãos. Os comporta- de corpos medieval ou na sociedade de massas do século XX, tão
mentos de integração e de exclusão próprios do mando são, assim, influenciável ideologicamente que muitas vezes foi capaz de se ali-
cada vez mais interiorizados nos próprios súditos. O poder agora é nhar aos discursos totalitaristas da época. A historiografia continua-
exercido mediante máquinas que organizam diretamente o cérebro ria avançado nos estudos sobre o indivíduo e o coletivo, sendo que
(em sistemas de bem-estar, atividades monitoradas, etc.) no obje- se na primeira geração do movimento francês houve uma grande
tivo de um estado de alienação independente do sentido da vida e recusa aos modelos biográficos que se fechavam em torno da vida
do desejo de criatividade. (NEGRI; HARDT, 2001, p. 42 – 43, apud do biografado, novos autores por sua vez foram abrindo o caminho
AGUERO, 2008, p. 36) para uma redescoberta da escrita biográfica, tendo já na terceira
geração dos Annales algumas obras importantes de Georges Duby e
O primeiro e principal ponto de ruptura entre ficção e reali- Jacques Le Goff indo nesse sentido.
dade se dá no protagonismo dos atores envolvidos na sociedade A redescoberta do indivíduo na história procurava usar da vida
de controle. Apesar de ainda possuir grande poder, o Estado perde de um personagem histórico para se contar ou descrever uma es-
seu protagonismo diante do Mercado, que no seu modo natural de trutura maior, desarticulando a visão romântica de um “herói” que
ação consegue convencer de maneira muito mais fácil os indivíduos há muito já se tornara ineficiente para a historiografia. Essa ten-
de abrirem mão de seus direitos. A coerção estatal caracterizada dência passa a ser seguida por historiadores europeus, como Chris-
pelo poder judiciário e pelo monopólio da força se encontra em cri- topher Hill e Carlo Ginzbourg, que têm em sua obra de micro histó-
se e não dispõe de legitimidade suficiente para impor mecanismos ria “O queijo e os vermes”, um exemplo perfeito do que a história
de controle tão vastos, como é o caso da NSA, uma iniciativa que biográfica é capaz de fazer quando escrita para a conscientização de
seguiu adiante pelo fato de alerta constante quanto a ataques ter- processos e estruturas maiores.
roristas.
O segundo ponto é relativo ao protagonismo do indivíduo, an- Fiel à concepção de história-problema da Escola dos Annales,
tes um ser que se difere e se afasta da massa, carregando em seu minha primeira dificuldade consistiu em definir uma problemática
pensamento uma forte carga humanista ou mesmo anárquica. Seja que me permitisse apreender o indivíduo São Luís em interação com
Winston Smith, Guy Montag ou V, o indivíduo carrega em si o peso a sociedade do século XIII, evitando o que o sociólogo Pierre Bour-
de uma luta solitária, sempre ao lado de uma figura feminina que dieu chamou de a “ilusão biográfica”, que pretende que se consi-
os inspiram a lutar. Mais uma vez é olhando para a história que se dere a vida de um grande homem como alguém com um destino
compreende tais escolhas, as grandes personalidades que reuniram já traçado, excluindo as eventualidades da vida. Eu, ao contrário,
em si uma grande carga de simbolismo devido ao que fizeram ou o limitei-me a mostrar as hesitações, as decisões e os momentos cru-
que representavam foram decisivas na construção da história dos ciais da vida de São Luís, a partir da sua infância de rei. Porque se
ídolos individuais, tão criticada pelo movimento dos Annales e que o homem constrói sua vida, ele também é construí- do por ela. (LE
deixou sequelas na mentalidade coletiva. GOFF, entrevista, 1996).
Além da ficção, a historiografia influenciou fortemente na visão
que se têm sobre a liderança, exaltando tanto uma única figura que Com a visão do herói histórico superada, a atenção acadêmica
termina anulando todos os indivíduos reunidos em um determina- voltou-se para o coletivo, ganhando roupagens novas de diferentes
do processo histórico. Essa tendência persistiu até o aparecimento intelectuais. Destaca-se no presente trabalho a categoria de Multi-
de uma nova geração de historiadores franceses que mudariam os dão, que seria um “conjunto de singularidades” estando “sempre
parâmetros historiográficos dominantes, eclipsados nas figuras de em movimento” (Negri, 2004), como um ator social ela é politica-
Lucien Febvre e Marc Bloch, esse último um dos fundadores da Es- mente engajada, assimilando ideias diversas que representam as
cola dos Annales, que influenciado por Émile Durkheim, deixou sua mais distintas camadas sociais e mantendo uma complexa relação
marca na historiografia ao dar maior importância aos grupos em com o Mercado e o Estado.

201
ATUALIDADES (DIGITAL)
A consciência da força coletiva não é uma novidade para os in- com os Estados Nacionais, sindicatos locais e mesmo entusiastas
divíduos, essa força é exercida historicamente desde a antiguidade, da liberdade, que veem na iniciativa um cerceamento do direito de
a diferença está nos mecanismos disponíveis a população, as NTICs privacidade de ir e vir.
possibilitam as ferramentas de alienação e dominação tanto quanto As querelas entre justiça e empresas tecnológicas não se res-
as de lucidez e liberdade. “Do ponto de vista sociológico, o poder tringiram apenas ao Uber, no Brasil o aplicativo WhatsApp, per-
constituinte da multidão aparece como cooperação e comunicação tencente ao Facebook, dispõe de grande número de usuários que
em redes, trabalho social formado pelo comum. ” (Andreotti, 2008, fazem dele o principal canal para se comunicar e até mesmo trans-
p. 02-03). mitir e receber notícias em tempo real. O aplicativo foi suspenso por
algumas horas, através de decisão judicial em 2015 e 2016, devido
Mercado, Estado e Multidão se configuram então como as a recusa em cooperar em investigações sobre pedofilia no Brasil. A
grandes forças nas relações de poder na sociedade da informação. reação dos usuários foi da indignação ao escárnio, traduzidas nos
Usando os mecanismos a sua disposição cada ator procura atingir já comuns memes de internet, que inundaram as principais redes
seus objetivos, o Mercado usa o marketing para convencer, o Estado sociais mostrando o descontentamento popular com as decisões.
usa o monopólio da força e a justiça legitimada para a coerção e a Cabe aqui discutir os principais pontos levantados em tais epi-
Multidão usa a seu favor o número de indivíduos para transformar sódios, a questão da privacidade, que vai desde o direito individual
a sua realidade, esse “monstro revolucionário chamado Multidão” até o uso de dados dos clientes e também a questão judicial, que
(Negri, 2004), tem a capacidade de influir nas decisões políticas e na envolve o poder de ação do Estado e suas limitações, que vão desde
direção econômica das empresas. questões técnicas até os problemas das fronteiras nacionais.
Em plena sociedade de controle se faz necessário pensar sobre A venda de dados dos usuários é uma prática comum entre
as relações estabelecidas por tais forças, entendendo que mesmo as gigantes tecnológicas, o Facebook também faz uso da prática,
em uma aparente situação de desvantagem a Multidão procura for- garantindo o lucro necessário para sustentar sua gigantesca plata-
mas de resistência diante da invasiva ação de controle imposta a forma online. O uso recorrente dessas vendas expõe os usuários
ela. a variados tipos de marketing eletrônicos invasivos, tornando-os
meros consumidores que pretendesse atingir através de dados. O
É verdade que os Estados mais poderosos podem agir de forma WhatsApp, por sua vez, depende fortemente da confiança de seus
marginal sobre as condições, favoráveis ou desfavoráveis, do desen- usuários no tocante as informações pessoais, criando criptografias
volvimento do ciberespaço. Mas são notoriamente impotentes para avançadas para burlar não apenas pessoas com interesses ilegais
orientar de forma precisa o desenvolvimento de um dispositivo de como também a polícia. Se por um lado a multinacional de Zucke-
comunicação que já se encontra hoje inextricavelmente ligado ao berg está pronta para oferecer dados de seus clientes, de outro
funcionamento da economia e da tecnociência planetárias. (LEVY, nega o acesso da justiça a informações importantes em investiga-
1999, p.227) ções. Para cada ramo do negócio existe um conjunto de regras di-
ferentes, adaptando-se as necessidades e exigências de seus usu-
No Brasil a presente (e justificável) preocupação sobre o con- ários. A maleabilidade é mais um atributo do Mercado, sendo que
trole do Estado evita uma maior atenção sobre as forças do Mer- os mecanismos tradicionais do Estado ainda não estão adaptados o
cado, atuantes sobre a vida pessoal e transformando as ideias es- suficiente para resolver tais questões.
tabelecidas sobre liberdade individual. Lévy mostra a dificuldade A jornalista Naomi Klein (2002), mostrou que as transnacionais
do poder estatal para exercer de forma direta sobre o ciberespaço, procuram evitar o peso das justiças locais através da vantajosa es-
como já dito falta legitimidade, que só se faz presente nos casos trutura que possuem no mundo pós-fordismo. Em sua obra, “Sem
que envolvem o poder judiciário. É preciso refletir sobre a atuação Logo”, a canadense disserta sobre o poder das grandes transnacio-
do capital privado, que desestabiliza fronteiras e Estados, mudan- nais num mundo sem barreiras para o capital e analisa o estado
do até mesmo o pensamento sobre a privacidade. A privacidade se atual dos empregos na era de dominação do pensamento econô-
tornou uma mercadoria e para entender o poder quase onipresente mico neoliberal. Dando atenção a toda a cadeia produtiva, desde o
das empresas na vida do homem é preciso atentar para a realidade trabalho manual do sistema fabril em países de terceiro mundo, até
tecnológica. o setor varejista do mundo desenvolvido.
O crescimento espantoso da telefonia móvel convergiu com o O discurso de Klein se mescla ao de Luciano Gallino ao enten-
aparecimento de novos aparelhos para a conexão com a internet, der o pensamento neoliberal como hegemônico na sociedade da
como o tablet, essa nova realidade tecnológica permitiu um gran- informação, o “Estado minimalista” é a consequência direta disso,
de avanço para a conexão sem fio, “Com a internet acessível pelo deixando sequelas graves para a sociedade (Klein, 2002).
celular, a rede e todos seus serviços tornam-se móveis. [...], os apa- Para manter a competitividade as multinacionais procuram
relhos se tornaram também possibilidades de estado de conexão realocar a sua produção fabril para países onde a mão de obra ex-
permanente [...]” (Rodrigues, 2010, p. 78). Essas mudanças inega- cedente e barata esteja menos organizada em sindicatos e prote-
velmente trouxeram grandes avanços, como canais diretos para o gida por leis, desse modo podem tirar o maior proveito da força
compartilhamento de informações, geralmente pelo aplicativo de de trabalho local, garantindo altos lucros. A autora é perspicaz ao
mensagens instantâneas WhatsApp e a possibilidade do acesso de analisar as multinacionais através do prisma da marca. As empresas
inúmeras fontes de notícias. Mas também trouxeram o problema entenderam que antes de vender um produto elas vendem uma
da superinformação e do controle dos indivíduos, desde a sua loca- ideia, basta ver as imensas filas nas lojas da APPLE ao redor do mun-
lização espacial até as suas afinidades para entretenimento, consu- do sempre que alguma novidade tecnológica é lançada. A sede do
mo e relações pessoais. consumidor por marcas não tem fim, pois elas não representam a
A empresa transnacional, Uber, sediada em São Francisco, é compra de um item necessário e sim um desejo de posse, desejo
um notório exemplo das mudanças trazidas pelo uso das NTICs nos esse tão bem analisado por Erich Fromm em “Psicanálise da socie-
mais variados campos. Oferecendo transporte privado alternativo dade contemporânea”. O que os membros da Escola de Frankfurt
aos táxis, através de um aplicativo chamado E-hailing, a empresa não poderiam supor é o quão longe as engrenagens máximas do
se expande globalmente e ao mesmo tempo em que gera atritos

202
ATUALIDADES (DIGITAL)
capitalismo seriam capazes de ir pelo lucro, desafiando Estados e Para Charles Maier, a consciência de classe só faz enfraquecer
modificando leis, passando por cima até do sentimento ideológico num mundo onde os sindicatos são perseguidos e o trabalhador
máximo do século XX, o nacionalismo. alvejado de seus direitos. Mas na porção desenvolvida do mundo
é necessário maquiar a exploração, pois não está se falando mais
[...]estamos rodeados de coisas de cuja natureza e origem não do “outro”, do distante asiático que pode viver com tão pouco. O
sabemos. O telefone, o rádio, o toca-discos e todas as outras máqui- trabalho temporário então aparece como uma alternativa para se
nas complicadas são quase tão misteriosas para nós quanto o se- extrair dos jovens sua força de trabalho e não o remunerar decente-
riam ´para um homem de uma cultura primitiva; sabemos usá-los, mente, nesse sentido os setores midiáticos também se despontam,
isto é, sabemos que botão apertar, porém não sabemos segundo mostrando que não é somente a lógica fabril a que é controlada
que princípio funcionam, salvo nos termos vagos de algo que em pelo pensamento neoliberal. As promessas de que o trabalho o co-
outro tempo aprendemos na escola. E as coisas que não se baseiam locará na classe média e que não fará de você um simples trabalha-
em princípios científicos difíceis nos são igualmente estranhas. Não dor necessitado atrai muitos em busca de melhorar sua vida, mas a
sabemos como se faz o pão, como se tecem as fazendas, como se Starbucks e o Wal-Mart são tão comprometidas com a eficiência e o
constrói uma mesa, como se faz o vidro. Consumimos como produ- lucro quanto a fabricante de roupas próxima a Manila.
zimos, sem uma relação concreta com os objetos que manejamos; Naomi Klein demostra a relação dialética entre as empresas e
vivemos em um mundo de coisas, e nossa única relação com elas seus empregados, o mercado consumidor é indispensável, mas os
consiste em saber manejá-las e consumi-las. (FROMM, 1970, p. 136) trabalhadores não podem ser um peso nos gastos financeiros. A li-
gação com a indústria tecnológica do Vale do Silício e Seattle mostra
As marcas possuem um significado, investir no fortalecimen- que mesmo altamente especializada a mão de obra pode e vai ser
to e difusão dessa não é barato, cabe as empresas então arrochar submetida a lógica neoliberal do Just in time.
ainda mais os salários e tomar medidas gerenciais para que o inves- A globalização levou a disputa comercial a um nível mundial,
timento seja direcionado ao marketing, setor no qual o nome do não importa se esteja em Vancouver ou Jacarta, as leis do merca-
produto pode crescer, sem estar ligado ao “sujo” trabalho fabril. É do irão influir sobre sua vida, seu nascimento apenas incidirá no
importante lembrar que a fábrica foi classificada por Foucault como grau de exploração usado sobre você. Klein consegue demonstrar
um dos espaços fechados, um símbolo da sociedade disciplinar que com exatidão que as multinacionais sofreram transformações im-
não se encaixa mais no mundo do capitalismo informacional. Longe portantes ao longo do tempo, criando entidades transnacionais que
de seus países de origem, as fábricas podem se aproveitar de leis impactam a vida humana de diversas maneiras, sem se preocupar
locais, como as das Filipinas e da Indonésia, pagando um rendimen- com fronteiras, direitos trabalhistas ou mesmo em muitos casos a
to bem abaixo do exigido na Europa ou nos Estados Unidos. Sobra dignidade humana.
a esses lugares a sede empresarial, que agrega os valores da nova A mudança no pensamento dos dirigentes empresariais alte-
sociedade, tendo como características a “flexibilidade” e a “capa- rou fortemente a realidade dos trabalhadores fabris. As zonas de
cidade de adaptação” (Rodrigues, 2010). A terceirização permitiu exportação são os locais onde a competitividade no século XXI che-
as grandes marcas se distanciar desse modelo fabril altamente ex- ga ao seu máximo, lá os trabalhadores são submetidos a jornadas
ploratório, não importa que as condições de trabalho nas Filipinas intermináveis de trabalho e direitos humanos são desrespeitados
sejam vergonhosas, a Nike e a Reebok não têm nada a ver com isso, sistematicamente em prol da produção. As alegações futuristas
essas fábricas estão sob o comando de asiáticos, mas diferentes dos alarmantes de autores como Rifkin estavam erradas, os trabalhado-
antigos tigres asiáticos, que em sua época puderam aproveitar do res assalariados não foram trocados por robôs, eles foram trocados
grande número de indústrias, aumento o salário de seu povo e co- por outros trabalhadores que não possuem a mínima proteção tra-
brando impostos para investir no país. balhista, eles são mais eficientes do que robôs, se derem “proble-
Com o intuito de baratear seus produtos as grandes multina- ma” podem ser despedidos, um robô precisaria de manutenção e
cionais procuraram realocar seu setor fabril em países de terceiro acima de tudo seres humanos dependendo do local do globo onde
mundo, onde as condições sociais permitem uma exploração lucra- nasceram, são baratos. Hobsbawn indicou que para o empresário o
tiva do trabalhador. Diferente do ocorrido nos antigos tigres asiáti- ser humano é o problema na linha de produção, as tentativas cons-
cos, Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong, os novos alvos tantes e bem-sucedidas de limitar o trabalhador mostram que o
não recebem troca de tecnologia e nem aumentam os impostos marxista estava correto.
cobrados, deixando de tirar seus trabalhadores da pobreza e nem A terceirização permitiu as grandes marcas se distanciar desse
dando ao Estado rendimentos suficientes para investir em infraes- modelo fabril altamente exploratório, não importa que as condi-
trutura. Para Kindleberger, as multinacionais não devem lealdade a ções de trabalho nas Filipinas sejam vergonhosas, a Nike e a Reebok
nenhuma nação, este pensamento indica que o mundo inteiro se não têm nada a ver com isso, essas fábricas estão sob o comando de
tornou seu quintal de negócios, são “Estados apátridas” como diz asiáticos e sob a jurisdição, muitas vezes especial, desses territórios.
Naomi Klein (2002). A autora se detém longamente sobre as condições de trabalho
Para a Sociedade da informação uma marca deve representar nas ZPE, sobretudo analisando o caso nas Filipinas, os testemunhos
algo, ela deve ser atraente e ter conceito. O produto em si é joga- só comprovam a lógica do capitalismo selvagem exercido sobre os
do para segundo plano, aqueles mesmos consumidores nas filas da povos subdesenvolvidos. Porém, a cadeia produtiva apenas começa
APPLE não estão lá porque o novo IPHONE traz muitas novidades na fábrica, é preciso ainda vender o produto e a marca e para isso é
e, sim, porque querem continuar se sentindo ligados aquela mar- necessária mão de obra local nos países com maior renda. Os encar-
ca que representa algo a eles. “Bebemos rótulos: com uma garrafa regados de vender o produto também são explorados, preferindo
de Coca-Cola, bebemos o desenho das belas jovens que a bebem os jovens em detrimento dos mais velhos e arrochando salários.
no anúncio [...] Com o que menos bebemos é com nosso paladar” As zonas de processo e exportação ganharam força sobretudo
(Fromm, 1970, p. 135 - 136). Nesse panorama para se manter com- na China, uma gigantesca fábrica mundial que vende seu povo para
petitivo é preciso de publicidade, a parte fabril do negócio se torna atrair as multinacionais, o caso da China pode ser visto como em-
então a parte no qual os cortes devem ser realizados, é nessa etapa blemático, sem dúvidas o tamanho da população tem um impacto
então onde ocorrem os maiores cortes de gastos. gigantesco para que o cenário chegasse a tal ponto, porém foi um
Estado forte capaz de calar os anseios do trabalhador que gerou

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ATUALIDADES (DIGITAL)
um ambiente tão propício para as ZPE. O Estado abre uma exceção Informação e poder: O papel da Grande mídia na atualidade
nessas regiões, tornando-as “ilhas” onde a lei normalmente esta- A informação no século XXI tornou-se tão fundamental que
belecida não se aplica. Na China onde a liberdade de expressão é ela já é percebida como um direito e também como um requisito
controlada esse tipo de negócio só tende a prosperar, pelo menos para a vida em sociedade, a ponto de muitas vezes ser confundida
até Pequim decidir que seu povo merece uma remuneração huma- equivocadamente com o conhecimento. Além da influência que as
namente descente. mídias, em especial as digitais, possuem junto à sociedade e gover-
As forças do Mercado operam de forma internacional, driblan- nos, ela também tem impacto gigantesco sobre a cultura. A mídia
do barreiras impostas pelo Estado e as questões relativas a justiça. tradicional ainda é o principal canal de informações para a socieda-
Se a força das empresas frente aos governos é evidente, o poder de de, jornais, revistas e TV dominam a pauta de notícias, impondo os
atração sobre a Multidão muitas vezes é sutil, através do marketing assuntos que determinam serem os mais importantes no momen-
o público é rebaixado a mero consumidor, um replicador do estilo to. Grandes conglomerados midiáticos pelo mundo possuem tanto
de vida do capitalismo informacional (Rodrigues, 2002), conectado poder que uma grande parcela das mídias mainstream pertencem a
ao emprego em tempo integral graças aos dispositivos móveis e lu- algum deles. No Brasil, a chamada mídia tradicional ainda é o princi-
dibriado pelo excesso de informação geradas nas redes. pal canal de informações para a sociedade, jornais, revistas e TV do-
A compulsão pelo consumo é cada vez maior, pois, por um lado minam a pauta de notícias, impondo muitas vezes os assuntos que
consumir se tornou um fim em si mesmo, apenas para satisfazer um determinam serem os mais importantes no momento. Entretanto,
desejo interno incutido pela propaganda, que é onipresente na vida a nova realidade tecnológica digital ao possibilitar que qualquer
contemporânea. Por outro lado, em países onde existem grandes indivíduo seja igualmente um produtor e repassador de informa-
desigualdades sociais o ato de consumir é relacionado com a pró- ção, forneceu mecanismos acessíveis contrários a hegemonia dos
pria cidadania, como é o caso do Brasil. grandes grupos midiáticos, o que tem contribuído para a grave crise
financeira e identitária do jornalismo tradicional, por exemplo, e a
O homem moderno, caso ousasse falar claramente de sua con- problematização da produção cultural advinda e veiculada somente
cepção do céu descreveria uma visão que pareceria a maior loja de por estes grupos.
departamentos do mundo, apresentando coisas e engenhocas no- Como a informação sempre esteve intimamente ligada às rela-
vas, e êle entre elas com dinheiro bastante para compra-las. Anda- ções de poder, a mídia mainstream junto a escola tem sido os dois
ria boquiaberto por esse céu de engenhocas e mercadorias, sendo principais difusores do pensamento dominante. Nesse sentido é
condição apenas a de que existisse número cada vez maior de coisas mais do que natural que a imprensa represente os anseios das elites
novas para êle comprar, e talvez também a de os seus vizinhos se- nacionais. Grupos como Bertlsmann, News Corporation, The Walt
rem um pouco menos privilegiados do que êle...[...] (FROMM, 1970, Disney Company, Vivendi, CBS Corporation, Viacom, Time Warner,
p.137) Sony Corporation e NBCUniversal controlam um número significa-
tivo de alguns dos mais respeitados e famosos meios de comunica-
Felizes em distribuir seus dados para as grandes corporações, ção, pertencem a algum deles, por exemplo, as redes CNN, RTL, FOX
os usuários de aplicativos e redes sociais não se sentem, em sua News e ABC além dos jornais The New York Times, New York Post,
maioria, invadidos em sua privacidade. Falta o entendimento que The Daily Telegraph, The Sun e The Times.
na atualidade, dados pessoais são quase tão relevantes quanto a No Brasil a concentração de mídia também é uma realidade,
força de trabalho, eles geram altos lucros e poucos problemas com a tendo como maiores exemplos o Grupo GLOBO, o Grupo ABRIL,
opinião pública. A grande mobilização internacional para condenar o Grupo Folha e o Grupo RBS. Juntas elas concentram os maiores
as atividades de espionagem da NSA se deu principalmente, pela difusores de informação e opinião do país, possuindo emissoras,
magnitude em que era feita, pelos poderosos líderes internacionais rádios, jornais, revistas, gravadoras, sites de notícias e estúdios ci-
que atingiu e por ter vindo do Estado, em um país onde grande nematográficos, como a Rede Globo, Globo News, a Rádio CBN, Jor-
parte da população sente o poder estatal de maneira desconfiada, nal O Globo, Extra, Valor Econômico, Zero Hora, Folha de S. Paulo,
vendo apenas uma grande máquina que cobra impostos e controle. Época, Veja, Exame, UOL, G1, além de institutos de pesquisa como
Na sociedade de controle atual do Ocidente, é o Mercado a o Datafolha. Conforme Altamiro Borges, em seu livro A ditadura da
força que mais invade a liberdade e a privacidade, enquanto o Es- mídia (2009), para a construção do modelo midiático vigente no
tado é pressionado na direção de abrir seus dados para a consulta Brasil, não foi privilegiado o investimento em um sistema público
popular e em criar uma estrutura eletrônica organizada capaz de de radiodifusão. Ao contrário foi copiado
lidar com essas questões, as megaempresas convocam o indivíduo
a abrir sua vida e deixar suas informações no ciberespaço, para no [...] o modelo privado dos EUA, mas sem as ressalvas legais
fim gerarem lucro. vigentes neste país de 1943, que coibiram os monopólios que só
A Multidão, porém, não se mostra completamente apática a foram atacados no reinado neoliberal de Bush. A ausência de legis-
tais atitudes. Resistências aos novos modelos de cerceamento se lações reguladoras e a relação promíscua com o Estado permitiram
fazem presentes pelo mundo. Em 2014 a União Europeia sancionou um tipo sui generis de concentração com a chamada propriedade
a lei do direito ao esquecimento, ampliando direitos sobre a priva- cruzada, na qual os “donos da mídia” garantem a posse de diferen-
cidade e atingindo diretamente gigantes da internet como Google, tes meios – jornais, revistas, rádios, televisões, internet. No Brasil,
Microsoft e Yahoo. O uso de bancos de dados de usuários para a o modelo privado e a propriedade cruzada resultaram numa mí-
venda é um tema ainda pouco discutido, mas a decisão da Corte de dia extremamente concentrada e historicamente antidemocrática.
Justiça Europeia abre caminhos para a criação de eventuais meca- (BORGES, 2009, p. 56)
nismos para a proteção de informações pessoais. Além da justiça A concentração midiática, que está na mão de poucas famílias
os usuários procuram maneiras próprias de lidar com a superexpo- brasileiras, teve seu acabamento no período da ditadura de 64. Na-
sição, a criação do Tor para navegação anônima e a luta pela pre- quele contexto, o projeto de integração nacional visado pelos mili-
servação da neutralidade da rede são outros exemplos do que a tares, conforme o Relatório do Instituto de Estudos e Pesquisas em
articulação dos usuários é capaz de fazer. Comunicação,

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ATUALIDADES (DIGITAL)
[...] adquiriu materialidade e encontrou sua melhor tradução para Kucinski a mesma imprensa, liderada pela Rede Globo e a Re-
no modelo constituído pela Rede Globo. Ao longo de quase quatro vista Veja, derrubou Collor ao promover a campanha pelo Impea-
décadas, enquanto expandiam-se país adentro [...] as redes de TV chment.
aberta forjaram um mapa do Brasil baseado nos interesses políticos
e comerciais privados de seus proprietários [...] Células desses in- O resultado duradouro e nefasto do episódio não foi a autocrí-
teresses foram disseminadas em cada recanto do País sob a forma tica. Ao contrário, foi a percepção pelos principais grupos de mídia
de grupos afiliados às redes. O resultado foi a criação de um Brasil de massa do país de seu poder de eleger ou derrubar presidentes.
refém das grandes empresas da mídia, imunes a qualquer forma de Desde então, nossa mídia de massa não se limita a reportar a nossa
controle público, comandadas de forma vertical e sustentadas em história – quer determinar os rumos de nossa história. (Observató-
alianças regionais que reproduzem e amplificam ideias, concepções rio da Imprensa, 2011).
e valores para 170 milhões de habitantes. (Carta Capital, 2012, p. 1)
É fácil compreender o atual desinteresse e desconfiança de
Após a falência das famílias Bloch (Manchete,) Levy (Gazeta, parte da sociedade pela mídia. De um lado as NTICs tornaram o
Nascimento (Jornal do Brasil), outrora proprietárias das mídias, a processo de produção e recepção de informações muito mais di-
situação da concentração familiar é a seguinte: Marinho (Globo), nâmico e democrático, e de outro a percepção da falta de impar-
Abravanel (SBT), Saad (Bandeirantes), Civita (Abril), Frias (Folha), cialidade tem contribuído para a ruína da confiança dos leitores e
Mesquita (Estado) - que está em crise -, e também recentemen- telespectadores.
te despontou a emissora Record, ligada à família Macedo, dona da Para Carla Rodrigues (2013) a tradicional indústria da informa-
Igreja Universal. Neste quadro, as Organizações Globo predomi- ção não foi capaz de se adaptar as novas demandas da sociedade
nam. As seis principais redes de TV aberta (Globo, Record, SBT, Ban- pós-fordismo. Os mecanismos intrínsecos de funcionamento do
deirantes, Rede TV! e CNT) compõem o principal veículo brasileiro jornalismo são opostos a exigências (novos valores) como “descen-
de comunicação e respondem por cerca de 56% das verbas publici- tralização, flexibilidade e mobilidade”. Através de um documento3
tárias públicas; a essas redes estão associadas gerado pelo Centro de Jornalismo Digital da Universidade de Co-
lúmbia, a autora reflete sobre problemas atuais do jornalismo. So-
140 grupos afiliados, os principais de cada região, e abrangem bre o jornalismo pós-industrial, a autora afirma
um total de 667 veículos, entre emissoras de tevê, rádio e jornais.
Os grupos cabeças-de-rede, que geram a programação de televi- [...] um dos muitos motivos da crise do jornalismo pós-indus-
são, buscam nos afiliados sustentação nas regiões e amplitude de trial é a impossibilidade da indústria de a informação tradicional
presença no mercado. Em troca, dão fôlego econômico e uma face funcionar a partir desses novos valores, já que uma de suas princi-
institucional a projetos empresariais e políticos regionais. (Carta Ca- pais características é uma estrutura fortemente hierarquizada, cen-
pital, 2012, p. 1) tralizada, que pretenda garantir o controle dos processos internos
e, sobretudo, o controle daquilo que será veiculado. No vocabulário
Praticamente esses grupos afiliados pertencem, por sua vez, industrial, as relações funcionam no modelo fordista, reproduzindo
às grandes famílias oligárquicas políticas regionais. Esta é uma das rotinas e processos industriais necessários para a realização de pro-
facetas da relação informação-poder na sociedade brasileira, pois dutos de informação. (Rodrigues, 2013, p. 138)
estes “667 veículos ligados às seis redes privadas nacionais são a
base de um sistema de poder econômico e político que se ramifica O modelo antiquado da estrutura jornalística está levando a
por todo o Brasil e se enraíza fortemente nas regiões. ” (Carta Capi- mídia tradicional a perder cada vez mais espaço diante de novas ini-
tal, 2012) Por exemplo, a família do senador José Sarney comanda ciativas pela internet, o que ameaça a hegemonia de grupos tradi-
o Sistema Mirante de Comunicação, afiliada à Globo, no Maranhão; cionais sobre a informação. Diante desse quadro grandes jornais co-
a família do senador/Pará Jader Barbalho comanda a Rede Brasil meçaram a investir pesadamente em versões online, que cada vez
Amazônia, afiliada à Bandeirantes; a família de Antonio Carlos Ma- mais adquirem importância e ajudam na manutenção dos lucros,
galhães comanda a Rede Bahia de Comunicação, afiliada à Globo, mesmo as emissoras de TV também procuram uma maior dinâmica
na Bahia; a família do deputado federal Albano Franco comanda a com as redes sociais, ao perceberem que atualmente a multidão de
Rádio Televisão Sergipe e Sistema Atalaia de Comunicação, afiliadas conectados é capaz de indicar pautas do dia, além de possuir voz
à Globo e SBT; a família do senador Fernando Collor comanda a Or- para questionar o comportamento e as decisões da grande mídia.
ganização Arnon de Mello, afiliada à Globo, nas Alagoas. Para Rodrigues (2013) outro fator fundamental é a perda por
parte dos profissionais da informação do “privilégio de produzir in-
O cientista político Bernardo Kucinski crê na mídia como uma formações”, uma vez que as NTICs possibilitam a qualquer um com
das grandes forças do tempo presente, retendo poder suficiente acesso à internet a produção, disseminação e a capacidade de opi-
para derrubar governos e alterar a opinião pública das mais diver- nar sobre informações, muitas vezes num ritmo mais veloz do que
sas formas. O autor cita três exemplos históricos de tais poderes, a uma redação de jornal.
campanha liderada pelo jornalista Carlos Lacerda que pôs fim a Era A conclusão diante desses novos fatos por parte do documento
Vargas em 1954, A renúncia de Richard Nixon em 1974 devido ao de Colúmbia foi “[...] uma redução da qualidade das notícias [...]”
escândalo Watergate, denunciado pelos jornalistas Bob Woodward (Rodrigues, 2013, p. 139). Analisar esse quadro é de extrema im-
e Carl Bernstein do Washington Post, além de em 1973 a imprensa portância para a compreensão não apenas da crise jornalística,
chilena ter participado da derrubada do presidente Salvador Allen- mas também das políticas nacionais, pois entre os muitos impac-
de e ajudado na ascensão do ditador Augusto Pinochet (Kucinski, tos dessa baixa qualidade está o posicionamento e a influência da
2011). grande mídia familiar brasileira em programas de cunho conserva-
dor e mesmo de claro reacionarismo. Tomando o Brasil atual como
No Brasil a imprensa foi decisiva para a estrutura de manuten- exemplo é possível identificar essa baixa qualidade nas matérias
ção do regime militar, além de ter participado decisivamente na jornalísticas, porém, além dos problemas já citados um outro fator
eleição do presidente Fernando Collor de Mello em 1989. Ainda se apresenta, a intenção deliberada de confundir o leitor e leva-lo

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ATUALIDADES (DIGITAL)
a um conhecimento truncado, que pode ser mais nefasto do que a de de objetivos também está associada ao próprio mecanismo da
ignorância, o que contradiz qualquer bom senso ditado pela ética Multidão, que abriga diferentes visões de mundo e os mais distintos
jornalística. anseios sociais.
No intuito de garantir uma parcela de leitores assíduos, gran-
des veículos de comunicação procuram exaltar alguns posiciona- “O poder é um fenômeno social no qual uma vontade, individu-
mentos reacionários sobre certas parcelas da sociedade, muitas al ou coletiva, se manifesta com capacidade de estabelecer uma re-
vezes relacionando a pobreza com a violência e o estupro a uma lação da qual resulta a produção de efeitos desejados, que de outra
suposta conduta sexual feminina que incitaria esse tipo de crime. maneira não ocorreriam espontaneamente. ” (Moreira, 1996 apud
Também apoiam de modo nem sempre sutil, iniciativas econômicas Silveira, 2000)
e políticas visivelmente negativas para a maior parte da população,
como redução dos direitos trabalhistas, redução da maioridade pe- A visão sobre as manifestações de 2013 por parte da grande
nal e liberação do porte de armas. Num processo de fidelização das mídia brasileira foi em geral negativa, o lado contestatório foi igno-
massas, veículos da mídia familiar como O Globo, Época, Veja, Esta- rado em detrimento de uma grande visibilidade das ações dos Bla-
do de S. Paulo e Folha de S. Paulo, procuram dar mais espaço para ck Blocks, tentando associar as manifestações ao vandalismo. Não
pautas que atendam os anseios de grupos mais conservadores, ao sem motivos grandes veículos de informação como a Rede Globo e
mesmo tempo que reafirmam uma suposta neutralidade política, a revista Veja foram largamente hostilizados nos eventos, demons-
mesmo que isso implique na redução da qualidade das notícias. trando o descontentamento na forma com a qual a mídia retrata
Um tipo de jornalismo que, para ter vendagem, não se pauta pela certos assuntos.
ética jornalística na construção da informação: capas vergonhosas, As eleições presidenciais de 2014 também foram polêmicas, o
manchetes que induzem uma dada interpretação do fato que não é espírito de junho ainda estava vivo, mas foi trabalhado pelas for-
dito e mesmo contradito pelo texto que se segue. Por exemplo, na ças do poder, tendo perdido muito de sua força diante da falta de
história recente da cobertura jornalística da política nacional apare- comprometimento do Estado em alterar a realidade nacional. Se
cem fatos noticiados em grandes manchetes que induzem o leitor a em muitos momentos a onda contestatória gritava contra o siste-
certa interpretação que, por vezes, não condiz e mesmo contradiz ma partidário, em 2014 esse sentimento se encaminhou para uma
o dito pelo texto que segue a manchete, numa clara intenção de irrefreável polarização, trazendo novamente os velhos partidos na
manipulação. Como ilustração basta recordar a história do cientista disputa pelo poder.
político ligados aos direitos humanos, Leonardo Sakamoto, destro- A mídia brasileira apoiou o candidato do PSDB Aécio Neves,
çado por leitores a parti de notícia falsa em jornal mineiro (http:// para tal iniciou uma campanha contra o PT, o ex presidente Luís
blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2016/02/03/dez-impac- Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Roussef. A Veja foi acusada
tos-imediatos-causados-por-uma-mentira-difundida-pela-rede/) de conspirar abertamente, tendo levado as bancas uma edição que
ou inverdades publicadas pelo jornal o Globo contra Lula em 2015 atacava ferozmente o PT pouco tempo antes da eleição que decidi-
(http://www.institutolula.org/as-cinco-vezes-em-que-o-globo-ten- ria o segundo turno, no fim Roussef saiu vencedora com o resultado
tou-enganar-seu-leitor-em-2015) ou sobre o prefeito de São Paulo apertado de 51, 64%, correspondendo a 54.501.118 votos.
Fernando Haddad (http://jornalggn.com.br/fora-pauta/a-menti- O saldo da eleição foi de um Partido dos Trabalhadores4 enfra-
ra-pela-edicao-esperta-de-manchetes) ou a errata publicada pelo quecido, uma direita que não aceitava a derrota nas urnas e uma
jornal o Globo, por obrigação judicial, em relação a um dos filhos de esquerda fragmentada, com alta desconfiança da mídia. A partir de
Lula (http://www.ocafezinho.com/2015/11/08/globo-publica-erra- 2015 a grande imprensa passou a fomentar uma campanha contra
ta-admitindo-que-mentiu-sobre-filho-de-lula/). os dois principais líderes do PT, apoiados pelo empresariado e por
O processo político singular no qual o Brasil se encontra desde uma classe média com tendências cada vez mais fascistas. O resul-
2013 envolve as crises do Estado Nacional, das instituições, de re- tado dessa campanha desembocaria no processo de impeachment,
presentatividade e do jornalismo, além da nova realidade com as com graves repercussões políticas e um grande impacto na imagem
NTICs. Três eventos marcantes foram decisivos para demonstrar do Brasil dentro e fora de suas fronteiras.
esses problemas, as manifestações em junho de 2013, as eleições Em 2016 o clima de polarização política era alarmante, os gritos
presidenciais de 2014 e o processo de impeachment em 2016. de 2013 contra os partidos se transformaram em ecos distantes,
As Jornadas de junho foram um movimento espontâneo da pois a partidarização (muitas vezes velada) se tornou uma espécie
população desencadeado a partir dos aumentos das passagens de de obrigatoriedade frente aos acontecimentos. As bolhas ideológi-
ônibus em vários locais do país, no qual a Multidão em toda sua plu- cas formadas pelo Facebook agravaram ainda mais um debate que
ralidade mostrou sua veia contestatória ao ir para as ruas para con- não acontecia, pois ambos os lados não estavam mais dispostos a
testar não apenas sobre o transporte público, mas também sobre o argumentar com sensatez, logo as inciativas contra Roussef e seu
estado da saúde, da educação, da corrupção generalizada e outros partido se transformaram em uma campanha anti-esquerda fomen-
temas. A população conectada observava de longe a Primavera Ára- tada sobretudo pela mídia. Um levantamento5 realizado pelo Gru-
be, num contexto mundial de críticas sobre diversos governos. po de Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso à Informação da USP
A informação se tornou elemento fundamental para desafiar as (GPOPAI USP), mostrou que a guerra pela narrativa havia se insta-
relações de poder estabelecidas, as NTICs possibilitaram um novo lado, os discursos contra e pró impeachment6 dominavam as redes
olhar sobre a cidadania e aumentaram os anseios de mudanças so- sociais e as páginas de revistas e jornais, num monitoramento que
ciais (Silveira, 2000). As jornadas receberam críticas parecidas com havia se iniciado quatro dias antes da votação pelo impeachment
as do movimento Occupy Wall St., devido à falta de lideranças e na Câmara dos deputados. O levantamento apontou que parte das
objetivos claros. Os movimentos atuais que tem sua irrupção pela notícias mais compartilhadas no Facebook entre os dias terça-feira
internet contam sobretudo com a espontaneidade, a lógica do in- (12/4) e sábado (16/4) eram falsas. Foram verificadas 6,1 milhões
divíduo a frente dos outros, o líder/herói já não faz mais sentido de compartilhamentos na rede social e segundo o grupo mais de
para essas pessoas, numa realidade onde todos podem expor suas 200 mil pessoas visualizaram tais conteúdos.
opiniões e atingir um grande número de pessoas. Já a multiplicida- Para aqueles que se identificam pelo espectro da esquerda po-
lítica ou simplesmente enxergavam as ações pela remoção da presi-
dente como um golpe coube apenas tentar encontrar novas fontes

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ATUALIDADES (DIGITAL)
de notícias, alguns buscando a narrativa que privilegiava o seu lado, ao propor algumas reformas da pauta política vencida nas últimas
outros buscando independência e ética jornalística. Nesse sentido a quatro eleições presidenciais, que diminuiriam ou prejudicariam a
blogosfera foi um refúgio para os progressistas, onde espaços como saúde, a educação os direitos humanos, por exemplo, que não se-
blog do Sakamoto e Socialista morena, jornais eletrônicos como riam populares, mesmo em um Brasil mais conservador. Para tal,
Diário do Centro do Mundo (http://www.diariodocentrodomundo. está sendo preciso usar os meios à disposição para convencer a po-
com.br/), Jornal GGN (http://jornalggn.com.br/), Revista Fórum pulação sobre a necessidade e legalidade do impeachment da pre-
(http://www.revistaforum.com.br/), jornal 24/7 (http://www.bra- sidenta Dilma Roussef, em 2016, fato que, para crescente parcela da
sil247.com/) que, dentre outros, cresceram e passaram a ser locais população, está tornando evidente que os interesses do Mercado e
onde uma narrativa distinta pode se consolidar em detrimento das da grande mídia prevaleceram sobre os votos da democracia.
narrativas da grande mídia familiar brasileira sobre o poder. A mídia brasileira, diferente da americana, possui grande de-
Em consequência, para uma parte da população o jornalismo pendência de dinheiro público para sua sustentação. Grande parte
tradicional da grande mídia familiar brasileira já não os representa, dos políticos possui rádios, jornais e canais de TV, como a dinastia
mas sim uma camada social ligada ao poder e aos setores populares Magalhães na Bahia e os Sarney no Maranhão. Além do trio religião,
usados como massa de manobra. TV e política, cada vez mais popular no país, numa afronta gritante
As sistemáticas crises que abateram o Brasil desde 2013 já exis- a constituição.
tiam há algum tempo, porém foi a partir do momento onde a Mul-
tidão mostrou sua força que essas crises se tornaram mais agudas. [...] a ligação entre mídia e poder, resultado de uma política de
Com o status quo sendo constantemente desafiado por parcelas concessões oligárquica, centralizada e nem um pouco democrática.
não caladas da população brasileira, coube às forças reacionárias
criar um discurso que centrava os problemas do País na administra- De fato, a indústria da informação no Brasil é tão dependente
ção petista, que se apresentou como o partido o maior, mais forte e de verbas públicas que chega a ser difícil chama-la de indústria. Os
estruturado grupo de esquerda nacional e que liderou o presiden- dados mais recentes mostram que apenas 10 veículos de comuni-
cialismo de coalizão nas últimas quatro eleições. Um exemplo im- cação concentravam 70% dos R$ 161 milhões que o atual governo
portante do reacionarismo que marca o governo interino contrário repassou aos veículos [...] a mídia mantém uma relação quase in-
à presidente Dilma Roussef é o Projeto Escola Sem Partido8, que cestuosa com os centros do poder, característica de um sistema que
supostamente visaria combater a catequização ideológica por parte nunca foi realmente questionado desde o fim da ditadura militar.
dos professores de esquerda sobre os estudantes, se a mídia já es- (Rodrigues, 2013, p. 141)
tava entregue ao poder desde seu nascimento, a escola, porém, é
um ambiente de multiplicidade e mais difícil de ser controlado, que É possível afirmar que o desencantamento do processo político
abarca ideologias distintas e nela existe um importante ator social, e a desconfiança sobre grande parte dos veículos midiáticos estão
o professor, que se distingue dos demais por possuir em geral uma acelerando a crise da indústria da informação no Brasil. Fontes de
ampla consciência de classe. informação alternativas têm adquirido cada vez mais espaço para
muitos brasileiros, sendo cada vez mais compartilhadas nas redes
Para o exercício continuado do poder, faz-se fundamental dis- sociais, o que ajuda na construção de um pensamento/narrativa em
por dos meios de comunicação de massa comprometidos com a ma- contraposição ao formulado e disseminado pelos grandes grupos
nutenção do “sistema” e de um sistema educacional que perpetue o midiáticos brasileiros.
pensamento dominante, de forma que o condicionamento seja cada Mesmo com a quase hegemonia da indústria da informação
vez mais implícito que explícito. O poder da imprensa, do rádio e da tradicional existe certa negação ao stablishment que perpassa vi-
televisão deriva, como o da religião, da organização; seu principal sões ideológicas, as organizações GLOBO, por exemplo, sofrem
instrumento de imposição, como o da religião, é a crença – o condi- grande resistência da esquerda pela defesa do Estado mínimo e por
cionamento social. (Silveira, 2000, p. 04) apoiar medidas repressivas que atinjam diretamente a população
mais carente. Uma parte da direita, de cunho mais religioso, a críti-
Outro exemplo são as políticas liberais que, muitas vezes de tão ca por ser mais aberta em questões sociais que envolvem gênero e
impopulares necessitam um engodo para que a população aceite mesmo os direitos humanos. Essas questões até o presente nunca
retrocessos, como por exemplo, os acontecimentos políticos como foram o suficiente para gerar algo mais concreto, mas a resistência
o 11 de setembro foram usados em favor do discurso neoliberal, ao maior símbolo da oligarquia midiática do país começa a alterar a
somando-se a isso o “estado de choque” que está sempre pondo a disputa pelo poder na mídia, tendo a audiência televisiva mudado
democracia e os direitos humanos em cheque (Klein, 2008). A crí- muito nos últimos anos, abrindo espaço para novos concorrentes.
tica de Naomi Klein é dirigida ao economista Milton Friedman, no- Não é possível afirmar sobre uma futura recusa a mídia tradi-
tório membro da Escola de Chicago, disseminadora do pensamento cional no mesmo modo como acontece hoje com os partidos, uma
neoliberal. Em contrapartida a esse modelo econômico diversos vez que a capacidade e flexibilidade da mídia de se reinventar são
economistas como Joseph Stiglitz, Armatya Sem e Paul Krugman superiores à dos partidos políticos. O jornalismo profissional ainda
dedicaram seus estudos a um modelo keynesiano. Na situação atu- é e continuará sendo por muito tempo a principal fonte de infor-
al do Brasil, no contexto do governo interino de Michel Temer, a mações, e a maneira pela qual a notícia é construída ganhará cada
disputa entre as duas visões de gerenciamento econômico está no vez mais relevância numa realidade onde a superabundância de in-
centro da disputa pelo poder político, de um lado o neoliberalis- formações já se faz presente e tem sido cada vez mais criticada e
mo que prevê cortes de gastos em áreas como a seguridade social, observada.
educação e saúde, além de pouca ou nenhuma regulamentação so- A liberdade jornalística está diretamente relacionada à demo-
bre o mercado e do outro um Estado mais atuante na economia, cracia, sendo que a sua existência ou não serve de termômetro
que deseja certo grau de regulação do mercado, cria programas de para medir a qualidade democrática de vários países. Ramos como
assistência social e favorece ações afirmativas. O governo interino, o jornalismo investigativo são imprescindíveis para o bom funcio-
mesmo em sua interinidade, modificou profundamente a estrutura namento de uma nação, sendo visto por muitos como uma arma
do governo da presidenta Dilma Roussef, ao mudar ministros, ex- diretamente contra os abusos e ilicitudes do Estado e em alguns
tinguir ministérios e secretarias, fundir ministérios e, sobretudo,

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casos do Mercado. A partir do documento da Universidade de Co- dificaram o comportamento humano, Chomsky percebe essas mu-
lumbia citado anteriormente, Rodrigues discute a importância do danças e a influência delas sobre a direção dos Estados, sua visão
jornalismo no presente. sobre o “Terrorismo de Estado” converge com a ideia de “Estado de
choque” de Klein, onde discursos que possibilitem a violência do
[...] eles querem dizer que nem todo jornalismo importa, e que Estado sobre a população civil ou outras nações são construídos e
muito do que é produzido hoje é simples entretenimento ou diver- difundidos pela indústria da informação, sendo mais um exemplo
são. Por isso, para definir jornalismo adotam a famosa frase: ‘No- da real ligação entre o informar e o poder estabelecido. Para Klein
tícia é alguma coisa que alguém em algum lugar não quer que seja o modelo neoliberal abre uma exceção para o Estado mínimo na
impresso. O resto é publicidade’. (Rodrigues, 2013, p. 141) área da segurança, parte da imprensa parte então a construir uma
A mudança na indústria da informação já afeta de modos sin- narrativa que legitime um Estado policial, preparado para coibir as
gulares os leitores, hoje já existe uma exigência relativa a análise reivindicações da população em geral e mais fortemente aquelas
da informação, já não basta saber que algo aconteceu, é preciso parcelas ligadas aos movimentos sociais, realidade que pode ser
interpretar o fato, apresentar suas fontes e ser capaz de argumentar vista atualmente com a excessiva brutalidade das forças de segu-
com o ponto de vista diretamente contrário. Se as cidades são es- rança de São Paulo sobre estudantes que decidiram ocupar os es-
paços de separação, onde os indivíduos convivem em determinados paços escolares na cidade.
nichos caracterizados por condição econômica e outros fatores, no Ainda é impossível responder sobre o futuro da mídia tradicio-
espaço online essas divisões se tornam mais fluídas, possibilitando nal ao que já é conhecido como Quarta Revolução Industrial, uma
uma maior interação entre os indivíduos, pois mesmo nas bolhas vez que a lógica pós-fordista tende a se tornar a nova visão hege-
ideológicas das redes sociais o pluralismo de visões políticas se faz mônica no Mercado. Ao longo da história moderna, o capitalismo
presente. O confronto inevitável leva os internautas aos debates, ensinou que é mais fácil assimilar o inimigo do que derrotá-lo, desse
“armados” da melhor maneira possível para tentar convencer o modo é possível que novas estruturas de poder sejam tecidas no
“outro” com seu pensamento distinto. ciberespaço, de modo que os mesmos privilegiados continuem a
O processo de fidelização das massas como recurso para man- determinar o fazer jornalístico e informacional. Neste sentido, é im-
ter ou aumentar a audiência também tem causado impactos, cons- portante atentar para a grande consciência de classe que as elites
truindo uma sociedade anti-intelectual, mediante a superficialida- possuem, a qual permite a construção de reações eficazes a curto
de do que é veiculado. O resultado, a longo prazo, poderá ser o prazo sobre as mudanças do presente, vislumbrando possibilidades
aparecimento de uma sociedade incapaz de sustentar o debate de- na resolução da crise jornalística que privilegiam a questão dos lu-
mocrático, a negação do conhecimento acadêmico e uma rejeição cros sobre a da ética, investindo cada vez mais no setor digital e
nociva aos direitos humanos. acelerando o processo de fidelização das massas, alimentando a
As análises de Rodrigues sobre as mudanças no pensamento polarização política e aumentando o desgaste sobre a democracia.
e no comportamento humano podem ser comparadas ao pensa-
mento de Karl Polanyi, para quem uma natureza pré-moderna foi O Estado na Era da Informação: O espaço público na revolu-
modificada no decurso da construção da economia de mercado. As ção digital
relações entre economia e sociedade são mais estreitas do que se
normalmente supõe, a partir da década de setenta a Europa e os Cidades: Os desafios do espaço urbano em tempos globali-
Estados Unidos passaram a aplicar uma forma de economia contrá- zados
ria aos princípios Keynesianos, que caracterizaria a sociedade pós- O espaço urbano tem estado em constante transformação ao
-industrial. As mudanças não se restringiram apenas ao Mercado, longo da história, adaptando-se ou moldando as relações sociais e
a mentalidade coletiva foi afetada diretamente, sendo facilmente econômicas. Mesmo estando à sombra dos Estados Nacionais, as
observável o gerenciamento das forças econômicas sobre a política cidades sempre conseguiram influir de maneira decisiva nos acon-
e a cultura, (Polanyi, 1944). tecimentos, promovendo mudanças profundas nas sociedades e se
Se o modelo econômico é capaz de alterar de maneira tão tornando o centro principal da vida humana.
acentuada as estruturas sociais como defendem Rodrigues, Polanyi Se a municipalidade é diminuta e dependente das demais re-
e Fromm, é de se esperar que seus instrumentos de ação sejam efi- des estadual e federal, sobre as quais não possui quase nenhum po-
cazes em seu objetivo de moldar a mentalidade para uma adapta- der de controle, as cidades também se apresentam como o cosmos
ção no comportamento que seja mais útil para o modelo vigente e perfeito para a interação do indivíduo com o poder público, tendo
prepará-las para mudanças que normalmente seriam consideradas esse espaço autonomia suficiente para planejar e direcionar o seu
inaceitáveis sem um completo e elaborado exercício de convenci- futuro. Já o poder central apresenta-se como distante e excessiva-
mento e distorção da realidade. mente burocrático, o que dificulta a aproximação do cidadão.
A indústria da informação então se coloca como instrumento Entender a cidade contemporânea como um ator essencial na
de manutenção das estruturas sociais vigentes, defendendo o dis- dinâmica entre o indivíduo e o Estado se faz cada vez mais neces-
curso neoliberal e influenciando as decisões políticas que poderiam sário, tendo em vista a evolução histórica desses espaços e suas
resultar em uma mudança drástica na realidade. Como vários ou- estratégias atuais para promover o desenvolvimento das mais di-
tros aspectos da vida humana esse ramo industrial se encontra em versas formas. Como polo de excelência do fazer democrático e da
uma grave crise que já altera de maneira indubitável seu posicio- cidadania a cidade pode ser problematizada em seus aspectos eco-
namento dentro das complexas redes de relações de poder tecidas nômicos, culturais e sociais, pois é nela onde o indivíduo goza de
desde a crise do petróleo na década de setenta. seus direitos e procura mudar as estruturas de dominação erigidas
Para Noam Chomsky os anos sessenta foram um momento sin- para o conter.
gular nas lutas pelos direitos sociais, com forte posicionamento dos Para o arquiteto e historiador Guilherme Wisnik (2009), a cida-
movimentos sociais nos mais diversos fronts. Sendo ainda estrutu- de é um lugar de conflitos, pois a harmonia total no espaço público
rada pelo Estado de bem-estar social, o mito do sonho americano é uma ideia utópica. Sendo o espaço urbano o local propício para as
pode prosperar com força, pois existiam mecanismos capazes de novas disputas e táticas de resistência na era da informação.
gerar modificações reais na vida da população. A mudança econô-
mica para o neoliberalismo desencadeou já citadas forças que mo-

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ATUALIDADES (DIGITAL)
O choque direto entre cidadãos e o Estado é classicamente re- Rudolph Giuliani foi prefeito de Nova York de 1994 a 2001,
presentado pelas lutas nas ruas da cidade, a transformação de Paris nesse período procurou combater a grande violência presente na
realizada pelo arquiteto Georges-Eugène Haussmann no século XIX cidade desde a década de oitenta, empregando novas táticas de
possuía claros fins estratégicos em limitar o sucesso de levantes po- combate à violência e procurando revitalizar a economia local. O
pulares. político republicano teve sucesso em sua empreitada, modelando
a imagem da cidade como moderna e globalizada, servindo de re-
A haussmanização (...) é uma resposta: ela se enraíza nas pres- ferência para a gestão pública local. Nova York continuaria ditando
sões múltiplas que agitam a cidade no início do século, pressão de- tendências, em 2013 Michael Bloomberg iniciaria o primeiro de três
mográfica e pressão econômica que impulsionam o jogo dos valores mandatos como prefeito da cidade, dando continuidade às políti-
urbanos, o preço do solo ou dos imóveis. A doença e o medo social, cas de segurança pública de seu antecessor e aplicando medidas
a cólera e a revolta não são senão a parte mais visível de uma cida- de saúde pública polêmicas, que incluíam restrições ao fumo e co-
de que crepitava por todos os lados. (RONCAYOLO, La Production, midas transgênicas, a proibição do cigarro em estabelecimentos de
p.74 apud PESAVENTO, 1999, p. 89) alimentação foi amplamente imitada ao redor do mundo.
Em 2014 os democratas conseguiram eleger Bill de Blasio como
Para Pesavento (1999), a transformação da capital francesa prefeito, trazendo críticas ao modelo de segurança das gestões an-
possui ecos das cidades barrocas, como Roma do século XVI, sendo teriores, prometendo aumentar os impostos dos mais ricos e com-
que ideias parecidas já tinham sido adotadas por Luís XVI no século bater a desigualdade, estando atento às demandas dos novos tem-
XVIII. O modelo parisiense foi imitado e reinventado em diversas pos e deixando Nova York à frente das grandes discussões políticas
partes do mundo, adaptando-se as necessidades dos governantes para as cidades.
locais. O sucesso de Nova York sobre a alta criminalidade e mesmo
Há muito tempo as cidades já possuem uma ligação direta ba- sobre as sequelas dos atentados terroristas de 11 de setembro,
seada na influência, a Paris de Napoleão III representava um modelo advém da capacidade de seus gestores criar mecanismos de res-
civilizatório a ser seguido e as demais metrópoles estavam atentas posta aos problemas urbanos contemporâneos, além da força de
tanto as questões sobre segurança e higiene como o embelezamen- vontade política para a manutenção do status de grande metrópole
to artificial do espaço, influenciado pelo Darwinismo social9, um global ao qual Nova York goza. A criação de políticas próprias para
sistema de pensamento que subverteu as ideias de Charles Darwin os problemas comuns das grandes cidades se faz extremamente
procurando justificar o controle de indivíduos por outros. necessária numa realidade onde as NTIC deixaram o cidadão mais
Como exemplo do intercâmbio de ideias e da influência da Pa- preparado para exigir da gestão pública o compromisso no comba-
ris de Hausmann sobre outras cidades pode-se destacar o Rio de Ja- te as mazelas sociais. Estar atento as mudanças e ser capaz de se
neiro do início de século XX. O engenheiro Pereira Passos foi o pre- reinventar sem perder o lado positivo de sua tradição é o grande
feito da cidade entre 1902 e 1906, altura em que realizou mudanças desafio das metrópoles mundiais que desejam um lugar no seleto
profundas no Rio, deixando um legado ambíguo para a cidade. grupo de cidades influentes sobre o planeta.
A ideia de civilização presente no ideário de Pereira Passos era O caso de Nova York é exemplar, mas não único. Tóquio pos-
atinente a uma série de valores desenvolvidos pela sociedade eu- sui um sistema administrativo singular, atento a realidade da região
ropeia ao longo da modernidade. Consistia fundamentalmente na metropolitana mais populosa do mundo. Lideranças municipais
manutenção de uma civilidade urbana burguesa – na qual a ideia possuem certo grau de autonomia, principalmente no que se re-
de individualidade e de uso regulamentado do espaço público pelos fere aos serviços públicos, já questões legislativas ficam a cargo do
agentes privados da cidade jogavam um papel fundamental; no fo- poder provincial. Londres por sua vez ocupa um lugar de destaque
mento à atividade estética e cultural, na reverência a um passado e nas finanças internacionais, além de possuir uma grande e eficiente
no respeito à lei e à ordem pública estabelecidas pelo Estado atra- infraestrutura urbana, sobretudo em relação ao sistema de metrô e
vés de uma elite política ilustrada. (AZEVEDO, 2003, p. 23) aviação civil. Além de ter ao seu dispor o eficiente sistema de saúde
pública inglesa a cidade também é conhecida pelo perfil multicul-
As modificações ocorridas no Rio de Janeiro buscavam redefinir tural, tendo eleito em 2016 Sadiq Khan, um muçulmano de origem
a cidade nos moldes das grandes metrópoles europeias, mais pró- paquistanesa, para o cargo de prefeito.
ximas do ideal de civilização vigente na época. A ideia de cidades As características citadinas ajudam a compor os perfis particu-
como modelo de desenvolvimento a ser seguido é recorrente na lares de cada região, fornecendo uma “personalidade” as cidades,
história, porque algumas urbes privilegiadas que influenciam na ar- destacando-as das demais e dando a elas um status que em inúme-
quitetura e na gestão pública de diversas regiões. ros casos supera o de diversas nações. Poder-se-ia dizer que Paris é
Na atualidade grandes metrópoles como Nova York, Londres e mais famosa do que a França, seus boulevares são mais conhecidos
Tóquio são os exemplos máximos de cidades modernas e globaliza- que as províncias francesas, seus museus e monumentos históricos
das, possuindo bolsas de valores de impacto internacional, grande ajudam a convergir o forte movimento turístico tão característico
número de transações financeiras, mão de obra altamente qualifi- da cidade. O perfil do cidadão parisiense é usado como simplifica-
cada e a presença de multinacionais. Essas cidades se destacam não ção para se entender todos os franceses, uma vitrine nacional tão
apenas pela sua infraestrutura para os negócios, mas também pelo influente que aglutina toda a atenção para si.
seu caráter multicultural e por criarem políticas públicas diretamen- A construção da ideia do espaço urbano como um centro autô-
te voltadas para a realidade local da municipalidade. nomo é antiga, o exemplo clássico é a cidade-Estado grega, um mo-
A cidade de Nova York mantém há muitos anos o título de delo administrativo da Grécia antiga em que cidades como Atenas,
maior cidade do mundo, sua influência é vasta e se pode compará- Esparta, Corinto, Tebas e etc., conviviam como autênticos microes-
-la com a de Paris do século XIX. Para chegar a se tornar o modelo tados, cada qual com seu próprio governo e leis. As cidades da Liga
de referência de cidade global teve que através de sucessivas admi- Hanseática também se destacaram, sendo que no período medieval
nistrações traçar planos para driblar os desafios urbanos modernos, controlavam uma extensa rede comercial que só entraria em declí-
tendo alguns de seus líderes políticos se destacado nesse processo. nio com o início das Grandes Navegações. A partir do surgimento

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ATUALIDADES (DIGITAL)
dos Estados nacionais as cidades passaram a ter um papel coadju- Castells mostra que o desenvolvimento das metrópoles asiáti-
vante na política, com raras exceções como as cidades da península cas se deu de forma diferente daquela das cidades europeias, de-
itálica e de algumas regiões do Sacro Império Romano-Germânico. monstrando a existência de uma competição tão acirrada quanto a
Se a realidade da Idade Moderna favoreceu os Estados centra- existente entre os países e que existem diversas formas para alcan-
lizados, a globalização parece favorecer as dinâmicas flexíveis das çar um patamar mais elevado entre as cidades globais. O sucesso
cidades contemporâneas. Num mundo de fronteiras enfraquecidas asiático também se deve ao alinhamento entre o governo central
a rigidez das nações se torna um empecilho para as forças do Mer- em determinadas regiões para impulsionar o desenvolvimento vi-
cado, as grandes multinacionais procuram a flexibilidade necessária sando também o favorecimento do país. Dubai é um exemplo do
para maximizar os lucros, e entendem as cidades como plataformas que o alinhamento entre tais poderes é capaz de realizar, colocando
perfeitas para sua instalação, garantindo competitividade e uma a cidade em disputa direta com os mais influentes centros econô-
área de negócios mais abrangente. micos do mundo, atraindo a atenção internacional para todos os
Diante do ressurgimento do protagonismo das cidades é na- Emirados Árabes Unidos. A Arábia Saudita tem se esforçado para re-
tural que o número de estudos sobre elas tenha aumentado e se modelar sua capital Riad, tentando atrair para si uma imagem mais
desenvolvido das últimas décadas, demonstrando que esse antigo moderna, em franca dissonância com a realidade do país, servindo
ator social e político volta ao centro das discussões de poder, servin- como um produto de marketing, de maneira artificial e exagerada-
do muitas vezes como um termômetro da riqueza, desenvolvimen- mente grandiosa.
to e cultura de um país. A “personalidade” de uma cidade não pode ser erigida de ma-
O estudo mais abrangente sobre as regiões metropolitanas e neira artificial, ela é construída através da história pelos seus ha-
a criação do termo megacidades são exemplos de um aumento na bitantes, fazendo da memória e da experiência do modo de vida
visibilidade do poder municipal. Porém foi o termo cidade global, urbano particular seus arcabouços principais. A Revolução dos
originado do pensamento de Patrick Geddes, já no início do século Guarda-chuvas, como ficou conhecido uma série de protestos em
XX, que se tornaria o mais afamado. A releitura da socióloga Saskia Hong Kong no ano de 2014, foi uma tentativa por parte da popu-
Sassen na década de 1990 se tornou influente no cenário interna- lação Honconguêsa de impedir reformas eleitorais por parte do
cional, definindo as características que tais cidades deveriam pos- governo em Pequim, que visavam atingir as eleições locais, dimi-
suir para almejar o título de global. nuindo consideravelmente a liberdade da região. Hong Kong é
uma cidade singular na China, sendo uma das duas únicas regiões
“[...] um dos setores em crescimento de relevância na economia administrativas especiais no país, exemplo da ideia de “um país,
global, os serviços, passa a ser o ponto de concentração e compe- dois sistemas”, idealizado por Den Xiaoping, naquela altura secre-
tição nos termos de Sassen– firmas jurídicas, propaganda, relações tário-geral do Partido Comunista Chinês. Hong Kong esteve sob o
públicas, imobiliárias, turismo e entretenimento, [...]. ” (SASSEN, domínio imperial britânico desde a Guerra do Ópio, no século XIX,
2001 apud MALTA, 2008, p. 02). No século XVIII Manchester era tendo sido devolvida à China em 1997, sob condições especiais. A
capaz de rivalizar em importância com Londres, devido ao seu par- autonomia política da região demonstra a existência de um enclave
que industrial em desenvolvimento durante a Revolução Industrial. democrático dentro do território chinês, muito menos tolerante a
No século XXI as grandes indústrias mudaram-se para regiões mais interferência direta de Pequim, daí a reação revolucionária diante
afastadas dos grandes centros, sendo que cidades como a capital in- de propostas restritivas a liberdade.
glesa preferem atrair escritórios de grandes empresas e instituições A gerência de uma cidade não raramente entra em conflito
financeiras. A nova dinâmica econômica faria vítimas como Detroit, com a posição do poder central, Castells (1996) observa que as ci-
nos Estados Unidos, que perderia sua favorável posição diante da dades americanas tiveram um protagonismo na área econômica a
flexibilidade de novos mercados como o japonês. partir da década de setenta, com o neoliberalismo sob o coman-
do de Ronald Reagan, indo até a era de George W. Bush. Naquele
Em outros continentes, o protagonismo econômico das cidades contexto, programas de assistência social foram sendo extintos e a
é ainda mais evidente, especialmente na Ásia: Seul, Taipei, Hong- desindustrialização, já citada no caso de Detroit, acabou por afetar
-Kong, Cingapura, Bangcoc, Shangai, Hanói etc. Difundem-se as fortemente os empregos. O autor chama a atenção para a reação
estatísticas econômicas das cidades e nelas se dá uma forte com- de certas cidades diante desse quadro, dando destaque para as
plementaridade entre o governo da cidade e o conjunto dos agentes cidades de Los Angeles, São Francisco, Seattle e a própria Detroit,
econômicos, todos orientados para os mercados externos. As cida- além de estados como a Flórida e o Wisconsin. As reações dessas
des asiáticas demonstraram que, no mundo da economia global, a regiões diante de políticas neoliberais iam desde ações econômicas
velocidade da informação sobre os mercados internacionais e de até soluções para os problemas urbanos como extrema violência e
adaptação aos mesmos, a flexibilidade das estruturas produtivas infraestrutura deficiente.
e comerciais e a capacidade de inserir-se em redes, determinam o
sucesso ou o fracasso, muito mais do que as posições adquiridas no Cidades como Los Angeles, São Francisco, Detroit, Seattle etc.
passado, o capital acumulado, as riquezas naturais ou a situação — assim como os estados da Flórida e Wisconsin — demonstraram,
geográfica. O segredo reside na velocidade de inovação do conjunto simultaneamente, mediante planificação estratégica e cooperação
das pequenas e médias empresas articuladas com as grandes em público-privada, o potencial negativo da aberrante política neolibe-
rede com o exterior e com poder político no interior. Este último as- ral e a capacidade de resposta das cidades. A grande manifestação
segura importantes funções de informação e promoção, e dá ga- convocada pelos prefeitos, que reuniu em Washington meio milhão
rantias de ordenamento e prestação de serviços do sistema cidade, de pessoas, anunciou, em 1992, o declínio de Bush e o início de no-
visto que, logicamente, o tecido econômico e o tecido urbano se vas políticas para as cidades: novas infra-estruturas, “enterprises
confundem. O poder político urbano, no caso das cidades asiáticas, zones”, relançamento de programas sociais baseados na geração
desenvolveu, ao contrário da Europa, um modelo com baixos custos de emprego, na educação, na assistência sanitária pública, na pro-
gerais, porém com altos custos sociais, o que parece não poder ser teção do meio ambiente urbano etc. (CASTELLS, 1996, p. 03)
suportável por muito tempo, pois sua persistência introduz fatores
de dissuasão para a atratividade da cidade e não qualifica suficien-
temente os recursos humanos. (CASTELLS, 1996, p. 02)

210
ATUALIDADES (DIGITAL)
Somando-se aos exemplos citados é importante incluir o es- beleza local. Porém, também aumentam as chances para que o lado
tado da Califórnia como região que, diferente dos estados brasilei- negativo da cidade seja exposto de modo global, como já acontece
ros, goza de grande dose de autonomia para gerir seu território. em torno da questão do surto de Zica, a alta taxa de criminalidade e
Também afetada pela diminuição do Estado na década de seten- os problemas relativos a estrutura urbana.
ta, a Califórnia procurou se reinventar para driblar os problemas Os projetos municipais de desenvolvimento atualmente se de-
econômicos, atraindo grandes empresas de tecnologia, apostando frontam com a questão em torno da revolução informacional, com
fortemente em energia renovável e na educação, simbolizada pela novas demandas para a integração e uso das redes.
Universidade do Estado da Califórnia, uma instituição pública que é
recordista de Prêmios Nobel. A cidade é constituída por redes, sejam elas intangíveis, como
as redes sociais, econômicas ou políticas, ou físicas e materiais,
[...] a sensação de crise que provocou, em algumas cidades, como as redes viárias, ferroviárias, de água ou de luz. A sociedade
uma reação conjunta do governo local e dos principais agentes contemporânea viu o nascimento de uma nova grande rede, que
econômicos na realização de uma transformação da infraestrutura excedeu os limites urbanos e até mesmo as barreiras nacionais:
urbana para facilitar a passagem do modelo industrial tradicional a Internet. Observa-se na cidade informacional a digitalização de
para o de centro terciário qualificado. muitas dessas redes, transconfigurando-as de materiais para bits
e bytes. Em seu conjunto compõem uma grande rede virtual, po-
Este é o caso de Birmingham: mediante um Plano Estratégico tencializando assim o fluxo do que vem sendo considerado o mais
que obteve um importante apoio da Comunidade Européia, Birmin- importante insumo desta era: a informação. (JAMBEIRO; SOUZA,
gham renovou o seu centro urbano e converteu-se na mais dinâmica 2005, p. 12)
cidade inglesa. Outras cidades, como Amsterdã ou Lyon, se adian-
taram à crise e, mediante vastos planos estratégicos, promoveram Os autores apontam para a realidade contemporânea, onde di-
as mudanças de infra-estrutura e imagem para se adequarem às versas redes se entrecruzam para formar a cidade contemporânea,
novas demandas da economia global e da competitividade interna- de fato o uso da internet já é tão disseminado que não é mais pos-
cional. Em outros casos, a impotência do governo local impediu a sível se referir ao espaço virtual como o oposto da realidade. Para
conversão das propostas estratégicas em linhas de atuação, como o Egler as redes virtuais se compõem ao lado, não do real, mas do vi-
“Projetto Milano”. (CASTELLS, 1996, p. 04) tal, assegurando a existência das redes como uma realidade irrever-
sível e inseparável da rede vital, complementando-se na construção
Momentos de crise não são os únicos a inspirar cidades rumo do espaço urbano atual.
a um planejamento de longo prazo, pois eventos internacionais são
de grande impacto para o desenvolvimento urbano. Dois eventos A metáfora da rede é muito oportuna, porque representa uma
principais podem ser destacados como os mais relevantes para a articulação de nós, conectando elementos singulares que se arti-
mudança estrutural de uma cidade ou mesmo para a tentativa de culam para formar uma totalidade. Os fluxos de comunicação for-
um país de criar em torno de si uma imagem positiva, são eles a Ex- mam um tecido atemporal e aterritorial que define novas formas de
posição Universal e os Jogos Olímpicos de Verão. Esse último gran- aglomeração de objetos e pessoas. Por isso o espaço na sociedade
de impacto na imagem de suas anfitriãs, fortemente usado ao longo informatizada deve ser percebido como uma sobreposição de redes
da história por diversos líderes e países em busca de repercussão vitais e virtuais que tem objetos compartilhados de ação para o de-
internacional e símbolo de disputa durante a Guerra Fria. senvolvimento de objetivos econômicos, políticos e culturais. Pode-
As cidades, como verdadeiras protagonistas dos jogos olím- mos ver, então, que a rede virtual forma um novo tecido social que
picos, recebem grande destaque, esse momento foi largamente se sobrepõe à rede vital, transformando-o. Está claro que existem
aproveitado em algumas ocasiões, um exemplo paradigmático é redes que se formam e funcionam dentro da Internet, mas apenas
Barcelona, nas Olimpíadas de Verão de 1992. O forte investimento dentro delas; para nós interessa observar as diferentes origens que
em infra-estrutura combinado com o marketing certeiro, que focava conformam as redes. O fato é que não é possível separar uma da
na historicidade e cultura local, deixaram legados duradouros na outra e esse é um ponto indubitável para sustentar nossa posição
região. A cidade espanhola ganhou projeção internacional, seus no debate. (EGLER, 2009, p. 02)
monumentos passaram a ser admirados mundialmente e alcançou
uma posição de destaque capaz de rivalizar com a capital Madri. A mesma autora ainda analisa a diversidade das redes, aten-
Outros exemplos notáveis são, Los Angeles, 1984; Seul, 1988; tando para a conexão entre o público e o privado, formando inicia-
Atlante, 1996; Sidney, 2000. Todas essas cidades se beneficiaram tivas comuns para o sucesso do desenvolvimento regional, fazendo
amplamente das olimpíadas, sendo o evento um catalizador para o também do capital um investidor importante para a cidade. “[...]as
desenvolvimento regional. novas tecnologias permitem uma mediação interativa entre Esta-
A cidade do Rio de Janeiro também procura obter saldos po- do, capital e sociedade; e permite a realização de políticas urbanas,
sitivos do evento, apesar do ceticismo quanto o legado da infraes- tanto para o exercício da dominação como da libertação. ” (EGLER,
trutura, possivelmente a cidade conseguirá elevar o seu soft power, 2009, p.11)
característica que faz da cidade a mais conhecida do Brasil pelo
mundo e um chamariz turístico para o país. Para Castells (1992) a cidade informacional é o espaço privile-
Assim como na era de Pereira Passos, o Rio de Janeiro se pre- giado onde os cidadãos passam a interagir com o poder político de
para para mudanças estruturais importantes. É possível perceber modo diferenciado, graças as NTIC e os grandes avanços nos canais
semelhanças com o passado ao notar que as áreas mais destacadas de comunicação entre o Estado e a população. Transformações de
para os jogos são já regiões nobres com alto índice de desenvolvi- cunho social, político, econômico e cultural se tornam realidade
mento, além disso mais uma vez a região portuária se destaca como frente a liquidez contemporânea, que afeta hierarquias e altera a
o local central para a mudança estética da cidade. burocracia.
Um evento internacional da magnitude dos jogos olímpicos
possibilita a continuação do projeto de construção de uma identida-
de municipal que inclui uma ideia de multiculturalismo e de brande

211
ATUALIDADES (DIGITAL)
O cerne da questão é refletir sobre a perda de centralidade vin- As novas tecnologias de comunicação e informação têm trans-
culada à emergência das tecnologias que, ao criarem formas alter- formado vários segmentos da sociedade contemporânea, fazendo
nativas de ação, comunicação e mobilização social, promovem um com que diversos analistas tenham sugerido classificar a época
reordenamento da forma de organização hierárquica, verticalizada como sociedade pós-industrial, sociedade pós-moderna, sociedade
e autoritária do Estado. Trata-se, pois, de conhecer o modo como da informação ou informacional, cibercultura, sociedade em rede
se transformam as relações de interação entre Estado e socieda- etc. Embora a compreensão da condição contemporânea não seja
de pela mediação de tecnologias de comunicação e informação. unânime, podemos dizer com alguma coerência que o que está em
(EGLER, 2009, p.15) jogo são modificações espaço-temporais profundas que alteram,
As mudanças sociais hoje têm como seu epicentro as cidades, remodelam e inovam a dinâmica social. Trata-se do surgimento da-
essas se reconfiguram procurando adaptar-se com sucesso as exi- quilo que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman chamou de “mo-
gências de um mundo globalizado e de uma Multidão conectada, dernidade líquida”. (LEMOS, 2007, p. 130)
capaz de expressar por diversos canais seus desejos e frustrações
sobre a administração pública. As transformações se dão principalmente da mescla dos espa-
Segundo Lemos (2001) a cidade digital é um complemento a ços vital e virtual, produzindo uma cidade atrelada a cibercultura
estrutura física urbana, garantindo redes que permitem o fluxo da e mostrando de maneira mais incisiva as modificações nas noções
informação e da realidade sociopolítica. Vital e Virtual se confluem de tempo e espaço geradas pelas novas tecnologias. As transfor-
garantindo espaços de ação para as pessoas, fazendo da cidade con- mações sociais em curso estão diretamente ligadas a essa nova re-
temporânea o espaço central para as mudanças sociais. alidade, “[...] questões como cidades virtuais, governo eletrônico,
cibercidadania, exclusão e inclusão digital, ciberdemocracia, ques-
Cidades: A cidade contemporânea como o território da Mul- tões essas urgentes para a compreensão da cibercultura do século
tidão XXI.” (LEMOS, 2007, p.132)
A cidade digital é mais um termo para se compreender as nu-
merosas e profundas transformações que ocorrem no espaço urba- É a realidade pós-industrial que forja a nova dinâmica urbana, a
no, diversas questões se apresentam diante de um cenário globali- informação se torna um elemento privilegiado, bem como as novas
zado, que vê na tecnologia uma oportunidade para superar velhos formas de comunicação que possibilitam ao indivíduo acompanhar
problemas e encontrar soluções adequadas para uma adaptação a liquidez contemporânea.
inevitável acerca dos novos modos de gerenciamento do território. A conectividade é um tema recente no debate sobre o urba-
Mobilidade urbana, segurança pública, conectividade e reno- no, mas demais tópicos são tradicionais para o entendimento da
vação da cidadania são alguns pontos que fazem da cidade um qua- dinâmica urbana, a segurança, por exemplo, é um tema comum as
dro menor das questões políticas que atualmente dominam a pauta cidades, ela também tem o seu papel na modificação do espaço e
de notícias. É nessa cidade digital onde a contestação as estruturas agir do indivíduo.
de poder se dá de modo mais enfático, também é nesse espaço
onde o indivíduo se articula procurando exercer seus direitos e sua A cidade tornou-se tão violenta que as pessoas preferem perder
vontade. É importante então entender como a cidade digital afeta a liberdade, em troca da pretensa garantia de segurança. A escolha
o cotidiano da população e qual o seu papel diante das transforma- perversa é a de que preferimos não ser cidadãos livres, mas estar-
ções sociais em curso. mos protegidos. Os territórios-fortaleza nas cidades transformam
O presente tecnológico que modifica a cidade tem sido muito espaços públicos e privados em lugares de aprisionamento. Muitas
estudado, gerando diversas interpretações e nomes para o fenôme- iniciativas vigilantes criam o quadro geral de aprisionamento coleti-
no, cidades digitais, cidade informacional, cidade-ciborgue, ciberci- vo no qual os habitantes das cidades não só se acostumaram, como
dade, muitos são os termos para compreendê-las. Para Lemos esse passaram a julgar racionalmente desejável, face ao sentimento de
novo tipo de cidade se baseia no entrecruzamento de tecnologias segurança proporcionado. Nas cidades violentamente protegidas
fundamentais. e vigiadas, o próprio corpo tende a tornar-se também hermético
e impermeável a outros corpos. Considerando que as cidades são
[...] é a cidade da cibercultura, preenchida e complementada feitas das relações que as constituem, torna-se coerente pensar na
por novas redes telemáticas — e as tecnologias daí derivadas, in- metáfora da cidade como um corpo que se esquarteja, buscando
ternet fixa, wireless, celular, satélites etc. — que se somam às re- tornar-se imune a si mesmo. (CARRANO, 2002, p. 05 – 06)
des de transporte, de energia, de saneamento, de iluminação e de
comunicação. Devemos compreender a cidade-ciborgue como um A violência urbana é hoje um elemento fundamental para se
híbrido, composto de redes sociais, infra-estruturas físicas, redes compreender a dinâmica da cidade contemporânea. É na metró-
imaginárias (Westwood e Williams 1997), constituindo um orga- pole onde os mais variados tipos de indivíduos são compelidos a
nismo complexo, cuja dinâmica está atrelada às novas tecnologias interagir, numa convergência de comportamentos, pensamentos
da cibercultura, próximo da metáfora do ciborgue (Lemos 1999). A políticos, ideologias e expressões culturais, que por um lado trazem
cidade sempre foi um artifício e hoje essa artificialidade está presa diversidade a cidade e por outro afloram a desconfiança em relação
nas garras do digital. (LEMOS, 2007, p. 130 – 131) ao “diferente”.
A hierarquização social inerente ao capitalismo se revela de
É impossível desassociar o espaço urbano da realidade digital, modo brutal na cidade, os excluídos andam ao mesmo lado dos me-
as transformações pelas quais as cidades estão passando são o re- nos afortunados e dos mais abastados. Espaços se tornam símbolos
flexo de uma nova realidade, que se sedimenta de forma contrária do status de seus habitantes, áreas nobres e carentes vão sendo
as visões sociais e econômicas do passado. Se os mais diversos as- constituídas e geram uma parte importante da identidade urbana.
pectos da vida humana sofrem influência das NTIC é natural que o O local onde se habita ou se trabalha passa então a se tornar um
espaço onde se dá a vivência humana também seja alterado. indício da posição social do indivíduo, em muitos casos é levado em
consideração para se estabelecer a conduta moral de alguém.

212
ATUALIDADES (DIGITAL)
Dentro de dinâmicas tão complexas a sociedade ergue aparatos de venda em toda espécie de estratégia de marketing. O lema “lei e
físicos para segregar seus habitantes, desde as tentativas de afastar ordem”, cada vez mais reduzido à promessa de segurança pessoal
os mendigos até a implantação do estado de sítio permanente em (mais exatamente corporal), se tornou uma grande, talvez a maior,
comunidades carentes. A implantação de sistemas de segurança ba- bandeira nos manifestos políticos e nas campanhas eleitorais, en-
seados no controle por câmeras é cada vez mais comum, chegando quanto a exibição de ameaças à segurança pessoal se tornou um
a seu ápice na cidade de Londres, que possui a alcunha de “mais grande, talvez o maior, trunfo na guerra de audiência dos meios de
vigiada” do planeta. comunicação de massa, reabastecendo constantemente o capital
A mídia tem papel fundamental para a percepção cotidiana da do medo e ampliando ainda mais o sucesso tanto de seu marketing
violência, dedicando grande parte da programação sobre o assun- quanto de seu uso político. (BAUMAN, 2007, p. 18 – 19)
to, muitas vezes de modo duvidoso, como o “programa do Datena”
e similares de menor audiência. A violência se torna espetáculo Diante de tais fatos fica claro que o espaço urbano é o terreno
como no 11 de setembro e nos frequentes assassinatos em massa onde os setores populares vivem o dilema acerca da aproximação
da sociedade americana, onde políticos oportunistas passam a ter do “outro”. Se o “outro” representa uma possível ameaça de violên-
a oportunidade de ganhar um espaço no “show”, desqualificando cia ou choque de visões, ele também pode representar a oportu-
os debates sobre os fatos e procurando capitalizar em votos sobre nidade a fraternidade e a necessária interação entre os indivíduos.
tragédias.
[...]os sujeitos sociais se articulam a atores que adquirem visibi-
Os medos nos estimulam a assumir uma ação defensiva. Quan- lidade nas conjunturas políticas. Os sujeitos sociais, porém, corres-
do isso ocorre, a ação defensiva confere proximidade e tangibilida- pondem a longos e amplos processos de estruturação das relações
de ao medo. São nossas respostas que reclassificam as premonições societárias. Existem laços vividos entre sujeitos e atores sociais e
sombrias como realidade diária, dando corpo à palavra. O medo políticos, construídos por experiências compartilhadas que não se
agora se estabeleceu, saturando nossas rotinas cotidianas; pratica- esgotam nos atos imediatos. Daí a resistência demonstrada por mo-
mente não precisa de outros estímulos exteriores, já que as ações vimentos que possuem raízes profundas na experiência social e na
que estimula, dia após dia, fornecem toda a motivação e toda a memória de um povo. (RIBEIRO, 2012, p. 203)
energia de que ele necessita para se reproduzir. Entre os mecanis-
mos que buscam aproximar-se do modelo de sonhos do moto-per- A interação surge então como o elemento principal na cons-
pétuo, a auto-reprodução do emaranhado do medo e das ações ins- tituição da Multidão na cidade contemporânea, sendo perseguida
piradas por esse sentimento está perto de reclamar uma posição de pelos atores sociais mesmo em meio aos desafios cotidianos do
destaque. (BAUMAN, 2007, p. 15) território. O desejo de mudanças reais e profundas acirram as co-
alizações urbanas, pressionando o poder público e impactando a o
É preciso então compreender as forças que aglutinam e as que espaço público, respostas naturais para as demandas sociais da atu-
segregam os habitantes dentro da metrópole. A cidade é o nicho alidade, que encontra no engajamento social sua expressão mais
da Multidão, como já dito é nela que se dá a convergência com o emblemática.
“outro”, possibilitando a união dos indivíduos em torno de diferen- A ação gerida e administrada e, portanto, articulada à repro-
tes causas, na cidade digital esses indivíduos têm maior acesso as dução da sociedade de consumo (pós-industrial, de massa) e a ação
NTIC, como a internet e a telefonia móvel, além de uma considerá- espontânea ou fluidamente organizada de reivindicação e protesto
vel infraestrutura urbana em relação as regiões mais afastadas dos constituem dois grandes cenários traçados por análises dirigidas à
centros. Essas possibilidades tecnológicas auxiliam na organização compreensão dos desafios representados pela grande cidade, pela
dos indivíduos, dando a Multidão os elementos necessários para metrópole moderna. A partir destes dois veios, podemos reconhecer
cobrar do Estado suas reivindicações a elaboração de expectativas, pelo pensamento crítico, em direção
Se as NTIC são o elemento aglutinador, o medo se apresenta à revitalização da esfera pública, à ampliação da democracia, ao
como o elemento segregador. A violência estigmatiza o cidadão, in- resgate da cidadania ou, em sentido inverso, na declaração de um
fluindo na hierarquização social e evidenciando as dicotomias do crescente temor de que o futuro se apresente na forma de um mer-
pensamento. Um exemplo dessa evidenciação pode ser vista na re- gulho irreversível no cotidiano alienado ou, na barbárie [...] (RIBEI-
percussão sobre o caso do estupro coletivo cometido a uma jovem RO, 2012, p. 138)
de uma menina de 16 anos na cidade do Rio de Janeiro em 21 de
maio de 2016. Nesse caso as opiniões divergentes sobre a conduta Para que a cidade contemporânea possa proporcionar os me-
feminina e sua relação com o estupro dividiram a opinião pública, canismos necessários para a possibilidade de mudanças sociais é
mostrando também que até mesmo os profissionais de segurança preciso que ela esteja inserida na nova realidade tecnológica do
baseiam seu trabalho sobre pressupostos preconceituosos como presente. Nesse sentido questões como a inclusão digital se tornam
ficou claro na conduta do delegado Alessandro Thiers, da Delega- extremamente importantes, pois possibilitam a ação da Multidão
cia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), que durante os dentro de seu território por excelência, a cidade digital.
depoimentos fez perguntas relativas a vida sexual da jovem, ques-
tões que não são pertinentes ao processo de investigação, sendo
afastado do caso.
A violência também é apropriada pela Mídia, pelo Estado e por
seguimentos do mercado que veem oportunidade de lucro em tal
realidade. A guerra pela audiência televisiva, o uso excessivo da
violência policial e o segmentado de vendas de artigos relativos à
segurança pessoal ganham terreno fértil em tal realidade.
Tal como o dinheiro vivo pronto para qualquer tipo de investi-
mento, o capital do medo pode ser usado para se obter qualquer es-
pécie de lucro, comercial ou político. E é. Isso acontece também com
a segurança pessoal que se tornou um grande, talvez o maior, ponto

213
ATUALIDADES (DIGITAL)
Os textos 1 e 2 fazem referência à União Europeia, que dentre
EXERCÍCIOS os desafios apresentados atualmente, destaca-se
(A) a disputa diplomática com os EUA, que sob o governo de
1. Atualmente, muitos fatos têm ocorrido de maneira expres- Donald Trump, tem pressionado a Europa a se fechar para os
siva e dinâmica: pessoas migram de um país para outro em busca mercados asiáticos.
de empregos e melhores condições de vida, empresas de países de- (B) a complicada relação de dependência dos recursos ener-
senvolvidos instalam-se em países subdesenvolvidos em busca de géticos provenientes da Ucrânia, problema este que teve seu
espaços maiores e mais baratos e também de mão de obra barata, ápice na anexação da Crimeia pela Rússia.
indústrias distribuem as etapas de produção em vários países a fim (C) a eleição de governos nacionais que tem se revelado contrá-
de baratear os custos. Tudo isso acontece devido a um fenômeno rios aos ideais formulados décadas atrás, colocando em risco a
que ocorre há muitos anos e recebe o nome de: permanência do bloco.
(A) Blocos Econômicos (D) a questão da xenofobia e a crescente resistência quanto à
(B0 Regionalização livre circulação de pessoas entre os países membros, fatores
(C) Capitalização que, inclusive, motivaram a ocorrência do Brexit.
(D) Colonização
(E) Globalização 4. Começando pelos mais conservadores – e/ ou otimistas –
em relação aos processos de globalização, podemos destacar Keni-
2. Ao refletir sobre o território de um país e seu papel num chi Ohmae, verdadeiro guru dos globalistas, consultor de grandes
espaço globalizado, Santos e Silveira (2006) afirmam que há algu- empresas e governos nacionais. Para Ohmae (1996), a região vê-se
mas áreas nos territórios nacionais que possuem uma presença revigorada com a perda de poder dos Estados-nações e a consolida-
mais plena da globalização, caracterizadas pela sua inserção numa ção de um mundo global.
cadeia produtiva global, pelas relações distantes e, frequentemen-
HAESBAERT, R. Regional-Global: dilemas da região e da regionalização
te, estrangeiras que criam e, também, pela sua lógica extravertida.
na geografia contemporânea. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
Todavia, a base desse processo é o espaço nacional cuja regulação
(Adaptado).
continua sendo nacional, ainda que guiada em função dos interes-
ses de empresas globais.
Assinale a alternativa que contemple corretamente a crítica
SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do
que Haesbaert faz do debate regional-global:
século XXI. 9ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2006.
(A) Pensar em região e nos processos de regionalização é um
importante fator de análise para dinâmicas efetivamente vivi-
Levando em consideração as afirmações de Santos e Silveira das e produzidas por grupos sociais. Mas com a globalização, as
(2006), pode-se definir essas áreas mais globalizadas do território estratégias de planejamento dos territórios deveriam ter parti-
de um país como? cipação de grupos hegemônicos.
(A) A região globalizada. (B) A trajetória do conceito de “região”, além da amplitude que
(B) O espaço regional de um espaço globalizado. adquire no senso comum, é de grande polissemia e confusão.
(C) O espaço nacional da economia internacional. Entretanto, mesmo considerando a maior difusão do conceito
(D) O espaço nacional centralizado. de território, qualquer proposta de “recorte regional” deve ser
compreendida como um ato de poder.
3. TEXTO 1 (C) Para o autor, o debate contemporâneo sobre região não
A mundialização da economia capitalista gerou a segmentação deveria ignorar os clássicos da Geografia Francesa, como Paul
do espaço econômico mundial. Essa característica geográfica se ex- Vidal de La Blache, que criaram duas concepções distintas de
pressa no final do século XX na formação de blocos econômicos em região: físico-natural e região-econômica.
todo o mundo. (D) O autor reitera que os processos da globalização extingui-
A Comunidade Econômica Europeia (CEE) constitui-se no exem- ram as fronteiras nacionais, dotando os “espaços regionais”
plo mais avançado desse processo de formação e unificação eco- com papeis definitivos ante o Estado-nação.
nômica. Desde o ano de 1993 a CEE forma um espaço econômico,
financeiro e monetário único. Portanto, constitui-se em um espaço 5. Leia o fragmento a seguir.
onde as suas fronteiras nacionais não são obstáculos à livre circula- “Segundo as Nações Unidas, em 2017, pelo menos 1,8 milhão
ção das mercadorias e das pessoas. de sírios foram forçados a fugir de onde viviam, muitas vezes por
causa de conflitos.
OLIVEIRA, A. U. A mundialização do capitalismo e a geopolítica mun-
Esse processo de deslocamento pode ser explicado a partir do
dial no final do século XX. In: ROSS, J. L. S. (Org.). Geografia do Brasil.
conceito de __________, ou seja, um desenraizamento no sentido
6. ed. São Paulo: Edusp, 2014.
de uma destruição tanto no sentido físico e político quanto em um
sentido econômico e __________.
TEXTO 2 Um dos exemplos mais contundentes é o dos __________, es-
A poucos dias da comemoração do centenário do final da Pri- ses “novos nômades” cada vez mais numerosos, onde efetivamente
meira Guerra Mundial, o presidente da França, Emmanuel Macron, só resta como alento, em meio à total insegurança e fragilidade, a
alertou que a Europa vive o risco de um desmembramento devido luta pela sobrevivência física cotidiana.”
ao nacionalismo, assim como no período entre guerras.
Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ ultimas-noticias/
efe/2018/11/01/macron-alertapara-risco-de-nacionalismo-simi-
lar-ao-do-periodoentreguerras.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em:
25/11/2018.

214
ATUALIDADES (DIGITAL)
Assinale a opção cujos termos completam corretamente as la- É correto o que se afirma em
cunas do fragmento acima. (A) I e II apenas.
(A) diáspora – geográfico – povos isolados (B) I, II e III.
(B) globalização – cultural – acampamentos de refugiados (C) I e III apenas.
(C) desterritorialização – social – povos isolados (D) II e III apenas.
(D) desterritorialização – cultural – acampamentos de refugia-
dos 9. “O mundo estaria se ‘desterritorializando’? Sob o impacto
(E) diáspora – cultural – grupos separatistas dos processos de globalização que ‘comprimiram’ o espaço e o tem-
po, (...) o que restaria de nossos ‘territórios’, de nossa ‘geografia’?
6. Leia o fragmento a seguir.
“Os mercados de capitais são globalmente interdependentes. Fonte: HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização – do fim dos
O capital é gerenciado vinte e quatro horas por dia em mercados territórios à multiterritorialidade. 2ª edição. Rio de Janeiro: Bertrand
financeiros globalmente integrados, funcionando em tempo real Brasil, 2006. pp. 19 e 20.
pela primeira vez na história. As novas tecnologias permitem que o
capital seja transportado de um lado para o outro entre economias Na geografia, o debate contemporâneo sobre territorialização,
em curtíssimo prazo”. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. desterritorialização e reterritorialização conclui acerca
São Paulo: Paz & Terra. 1999. (A) de uma tendência ao enfraquecimento dos controles terri-
Com relação à circulação de capitais, mercadorias e informa- toriais, em consequência de uma rearticulação das velocidades
ções, analise as afirmativas a seguir. na sociedade do movimento.
I. O fluxo de investimento externo direto encontra-se distribuí- (B) do predomínio da fluidez sobre a estabilidade, resultando
do entre países desenvolvidos e emergentes de forma equilibrada. numa sociedade de fluxos sem necessidade de base material.
II. O fluxo de capitais especulativos e as principais bolsas de va- (C) do aumento da hibridização cultural e, portanto, de uma
lores se concentram nos países desenvolvidos e em alguns poucos multiplicidade de identidades que esvazia o território.
países emergentes. (D) da formação de uma multiplicidade de territorialidades,
III. O fluxo mundial de mercadorias se concentra nos países de- que vai dos limites fixos do gueto aos mais flexíveis territórios
senvolvidos, especialmente entre os países que compõem o G-8. rede.

Está correto o que se afirma em 10. No que diz respeito ao real sentido da globalização e da
(A) I, apenas. ordem mundial contemporânea, é correto afirmar que
(B) II, apenas. (A) o extraordinário progresso das ciências e das técnicas, que
(C) I e II, apenas. permite tornar o mundo socialmente mais justo e igualitário, é
(D) II e III, apenas. uma grande conquista da globalização.
(E) I, II e III. (B) a globalização é o estágio supremo da internacionalização
da economia e seu maior destaque é a garantia de que a maior
7. O processo da Globalização não possuí uma data exata de parte dos países do mundo participe dessa dinâmica de manei-
início, mas, para muitos autores, a década de 90 do século XX seria ra proporcional.
um momento importante na sua consolidação. Entre as alternativas (C) a produção globalizada e a informação globalizada permi-
a seguir, assinale a que apresenta a melhor característica sobre a tem às firmas globais obterem um lucro em escala mundial e
Globalização. isso constitui o verdadeiro motor da atividade econômica con-
(A) Surgimento de uma divisão bélica entre Estados Unidos e temporânea.
Rússia. (D) com a consolidação do processo de globalização, pode-se
(B) Aumento da integração econômica entre os países. viver em um espaço sem fronteiras, isto é, uma aldeia global
(C) Perda significativa do mercado financeiro mundial. onde todos podem conhecer extensivamente e profundamen-
(D) Fim do uso da língua inglesa como comunicação interna- te o planeta.
cional.
(E) Diminuição das trocas comerciais internacionais
GABARITO
8. O agronegócio globalizado é uma variável chave para com-
preender as contradições materializadas no campo brasileiro no
1 E
início do século XXI. Atente para o que se diz a seguir sobre essa
temática. 2 C
I. É cada vez mais presente na agricultura brasileira um sistema 3 D
produtivo “empresarial”, que envolve aquisição e arrendamento de
terras para a produção de agrocombustíveis, grãos e florestas plan- 4 B
tadas. 5 D
II. O arranjo territorial da reestruturação produtiva da agricul-
6 D
tura no Brasil vai se organizar de maneira seletiva, privilegiando de-
terminadas “manchas” de expansão agroindustrial. 7 B
III. Quanto mais desenvolvida for a atividade agrícola na qual 8 A
são implementados os pacotes tecnológicos direcionados ao au-
mento da produção, maior será sua dependência das condições 9 D
climáticas. 10 C

215
ATUALIDADES (DIGITAL)

ANOTAÇÕES

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216
INFORMÁTICA

• Iniciando um novo documento


CONCEITOS E MODOS DE UTILIZAÇÃO DE APLICA-
TIVOS PARA EDIÇÃO DE TEXTOS (WORD, WRITER),
PLANILHAS (EXCEL, CALC) E APRESENTAÇÕES (POWER-
POINT, IMPRESS); MICROSOFT OFFICE (VERSÃO 2007 E
SUPERIORES) E LIBREOFFICE (VERSÃO 5.0 E SUPERIO-
RES)

Microsoft Office

A partir deste botão retornamos para a área de trabalho do


Word, onde podemos digitar nossos textos e aplicar as formatações
desejadas.

• Alinhamentos
Ao digitar um texto, frequentemente temos que alinhá-lo para
atender às necessidades. Na tabela a seguir, verificamos os alinha-
mentos automáticos disponíveis na plataforma do Word.

GUIA PÁGINA TECLA DE


ALINHAMENTO
INICIAL ATALHO
O Microsoft Office é um conjunto de aplicativos essenciais para
uso pessoal e comercial, ele conta com diversas ferramentas, mas Justificar (arruma a
em geral são utilizadas e cobradas em provas o Editor de Textos – direito e a esquerda de Ctrl + J
Word, o Editor de Planilhas – Excel, e o Editor de Apresentações – acordo com a margem
PowerPoint. A seguir verificamos sua utilização mais comum:
Alinhamento à direita Ctrl + G
Word
O Word é um editor de textos amplamente utilizado. Com ele Centralizar o texto Ctrl + E
podemos redigir cartas, comunicações, livros, apostilas, etc. Vamos
Alinhamento à es-
então apresentar suas principais funcionalidades. Ctrl + Q
querda
• Área de trabalho do Word
• Formatação de letras (Tipos e Tamanho)
Nesta área podemos digitar nosso texto e formata-lo de acordo
Presente em Fonte, na área de ferramentas no topo da área de
com a necessidade.
trabalho, é neste menu que podemos formatar os aspectos básicos
de nosso texto. Bem como: tipo de fonte, tamanho (ou pontuação),
se será maiúscula ou minúscula e outros itens nos recursos auto-
máticos.

217
INFORMÁTICA

GUIA PÁGINA INICIAL FUNÇÃO Excel


O Excel é um editor que permite a criação de tabelas para cál-
Tipo de letra culos automáticos, análise de dados, gráficos, totais automáticos,
dentre outras funcionalidades importantes, que fazem parte do dia
a dia do uso pessoal e empresarial.
Tamanho São exemplos de planilhas:
– Planilha de vendas;
– Planilha de custos.
Aumenta / diminui tamanho
Desta forma ao inserirmos dados, os valores são calculados au-
Recursos automáticos de caixa- tomaticamente.
-altas e baixas
• Mas como é uma planilha de cálculo?
Limpa a formatação – Quando inseridos em alguma célula da planilha, os dados são
calculados automaticamente mediante a aplicação de fórmulas es-
pecíficas do aplicativo.
• Marcadores – A unidade central do Excel nada mais é que o cruzamento
Muitas vezes queremos organizar um texto em tópicos da se- entre a linha e a coluna. No exemplo coluna A, linha 2 ( A2 )
guinte forma:

Podemos então utilizar na página inicial os botões para operar


diferentes tipos de marcadores automáticos:

• Outros Recursos interessantes:

GUIA ÍCONE FUNÇÃO – Podemos também ter o intervalo A1..B3

- Mudar
Forma
Página - Mudar cor
inicial de Fundo
- Mudar cor
do texto

- Inserir
Tabelas
Inserir
- Inserir
Imagens

– Para inserirmos dados, basta posicionarmos o cursor na cé-


Verificação e lula, selecionarmos e digitarmos. Assim se dá a iniciação básica de
Revisão correção ortográ- uma planilha.
fica

Arquivo Salvar

218
INFORMÁTICA
• Formatação células Nesta tela já podemos aproveitar a área interna para escre-
ver conteúdos, redimensionar, mover as áreas delimitadas ou até
mesmo excluí-las. No exemplo a seguir, perceba que já movemos as
caixas, colocando um título na superior e um texto na caixa inferior,
também alinhamos cada caixa para ajustá-las melhor.

• Fórmulas básicas

ADIÇÃO =SOMA(célulaX;célulaY) Perceba que a formatação dos textos é padronizada. O mesmo


tipo de padrão é encontrado para utilizarmos entre o PowerPoint,
SUBTRAÇÃO =(célulaX-célulaY) o Word e o Excel, o que faz deles programas bastante parecidos,
MULTIPLICAÇÃO =(célulaX*célulaY) no que diz respeito à formatação básica de textos. Confira no tópi-
co referente ao Word, itens de formatação básica de texto como:
DIVISÃO =(célulaX/célulaY)
alinhamentos, tipos e tamanhos de letras, guias de marcadores e
recursos gerais.
• Fórmulas de comum interesse Especificamente sobre o PowerPoint, um recurso amplamente
utilizado a guia Design. Nela podemos escolher temas que mudam
MÉDIA (em um interva- a aparência básica de nossos slides, melhorando a experiência no
=MEDIA(célula X:célulaY)
lo de células) trabalho com o programa.
MÁXIMA (em um inter-
=MAX(célula X:célulaY)
valo de células)
MÍNIMA (em um inter-
=MIN(célula X:célulaY)
valo de células)

PowerPoint
O PowerPoint é um editor que permite a criação de apresenta-
ções personalizadas para os mais diversos fins. Existem uma série
de recursos avançados para a formatação das apresentações, aqui
veremos os princípios para a utilização do aplicativo.

• Área de Trabalho do PowerPoint

Com o primeiro slide pronto basta duplicá-lo, obtendo vários


no mesmo formato. Assim liberamos uma série de miniaturas, pe-
las quais podemos navegador, alternando entre áreas de trabalho.
A edição em cada uma delas, é feita da mesma maneira, como já
apresentado anteriormente.

219
INFORMÁTICA
O Office 2013 conta com uma grande integração com a nuvem,
desta forma documentos, configurações pessoais e aplicativos po-
dem ser gravados no Skydrive, permitindo acesso através de smar-
tfones diversos.

• Atualizações no Word
– O visual foi totalmente aprimorado para permitir usuários
trabalhar com o toque na tela (TouchScreen);
– As imagens podem ser editadas dentro do documento;
– O modo leitura foi aprimorado de modo que textos extensos
agora ficam disponíveis em colunas, em caso de pausa na leitura;
– Pode-se iniciar do mesmo ponto parado anteriormente;
– Podemos visualizar vídeos dentro do documento, bem como
editar PDF(s).

• Atualizações no Excel
– Além de ter uma navegação simplificada, um novo conjunto
de gráficos e tabelas dinâmicas estão disponíveis, dando ao usuário
melhores formas de apresentar dados.
– Também está totalmente integrado à nuvem Microsoft.

• Atualizações no PowerPoint
Percebemos agora que temos uma apresentação com quatro – O visual teve melhorias significativas, o PowerPoint do Offi-
slides padronizados, bastando agora editá-lo com os textos que se ce2013 tem um grande número de templates para uso de criação
fizerem necessários. Além de copiar podemos mover cada slide de de apresentações profissionais;
uma posição para outra utilizando o mouse. – O recurso de uso de múltiplos monitores foi aprimorado;
As Transições são recursos de apresentação bastante utilizados – Um recurso de zoom de slide foi incorporado, permitindo o
no PowerPoint. Servem para criar breves animações automáticas destaque de uma determinada área durante a apresentação;
para passagem entre elementos das apresentações. – No modo apresentador é possível visualizar o próximo slide
antecipadamente;
– Estão disponíveis também o recurso de edição colaborativa
de apresentações.

Office 2016
O Office 2016 foi um sistema concebido para trabalhar junta-
mente com o Windows 10. A grande novidade foi o recurso que
permite que várias pessoas trabalhem simultaneamente em um
mesmo projeto. Além disso, tivemos a integração com outras fer-
ramentas, tais como Skype. O pacote Office 2016 também roda em
smartfones de forma geral.
Tendo passado pelos aspectos básicos da criação de uma apre-
sentação, e tendo a nossa pronta, podemos apresentá-la bastando • Atualizações no Word
clicar no ícone correspondente no canto inferior direito. – No Word 2016 vários usuários podem trabalhar ao mesmo
tempo, a edição colaborativa já está presente em outros produtos,
mas no Word agora é real, de modo que é possível até acompanhar
quando outro usuário está digitando;
– Integração à nuvem da Microsoft, onde se pode acessar os
documentos em tablets e smartfones;
– É possível interagir diretamente com o Bing (mecanismo de
pesquisa da Microsoft, semelhante ao Google), para utilizar a pes-
quisa inteligente;
– É possível escrever equações como o mouse, caneta de to-
que, ou com o dedo em dispositivos touchscreen, facilitando assim
Um último recurso para chamarmos atenção é a possibilidade a digitação de equações.
de acrescentar efeitos sonoros e interativos às apresentações, le-
vando a experiência dos usuários a outro nível. • Atualizações no Excel
– O Excel do Office 2016 manteve as funcionalidades dos ante-
Office 2013 riores, mas agora com uma maior integração com dispositivos mó-
A grande novidade do Office 2013 foi o recurso para explorar veis, além de ter aumentado o número de gráficos e melhorado a
a navegação sensível ao toque (TouchScreen), que está disponível questão do compartilhamento dos arquivos.
nas versões 32 e 64. Em equipamentos com telas sensíveis ao toque
(TouchScreen) pode-se explorar este recurso, mas em equipamen-
tos com telas simples funciona normalmente.

220
INFORMÁTICA
• Atualizações no PowerPoint • Atualizações no Excel
– O PowerPoint 2016 manteve as funcionalidades dos ante- – Foram adicionadas novas fórmulas e gráficos. Tendo como
riores, agora com uma maior integração com dispositivos moveis, destaque o gráfico de mapas que permite criar uma visualização de
além de ter aumentado o número de templates melhorado a ques- algum mapa que deseja construir.
tão do compartilhamento dos arquivos;
– O PowerPoint 2016 também permite a inserção de objetos
3D na apresentação.

Office 2019
O OFFICE 2019 manteve a mesma linha da Microsoft, não hou-
ve uma mudança tão significativa. Agora temos mais modelos em
3D, todos os aplicativos estão integrados como dispositivos sensí-
veis ao toque, o que permite que se faça destaque em documentos.

• Atualizações no Word
– Houve o acréscimo de ícones, permitindo assim um melhor
desenvolvimento de documentos;

• Atualizações no PowerPoint
– Foram adicionadas a ferramenta transformar e a ferramenta
de zoom facilitando assim o desenvolvimento de apresentações;
– Inclusão de imagens 3D na apresentação.

– Outro recurso que foi implementado foi o “Ler em voz alta”.


Ao clicar no botão o Word vai ler o texto para você.

221
INFORMÁTICA
Office 365 Área de trabalho do Writer
O Office 365 é uma versão que funciona como uma assinatura Nesta área podemos digitar nosso texto e formatá-lo de acordo
semelhante ao Netflix e Spotif. Desta forma não se faz necessário com a necessidade. Suas configurações são bastante semelhantes
sua instalação, basta ter uma conexão com a internet e utilizar o às do conhecido Word, e é nessa área de trabalho que criaremos
Word, Excel e PowerPoint. nossos documentos.

Observações importantes:
– Ele é o mais atualizado dos OFFICE(s), portanto todas as me-
lhorias citadas constam nele;
– Sua atualização é frequente, pois a própria Microsoft é res-
ponsável por isso;
– No nosso caso o Word, Excel e PowerPoint estão sempre atu-
alizados.

LIBREOFFICE OU BROFFICE
Iniciando um novo documento

LibreOffice é uma suíte de aplicativos voltados para atividades Conhecendo a Barra de Ferramentas
de escritório semelhantes aos do Microsoft Office (Word, Excel,
PowerPoint ...). Vamos verificar então os aplicativos do LibreOffice: Alinhamentos
Writer, Calc e o Impress). Ao digitar um texto frequentemente temos que alinhá-lo para
O LibreOffice está disponível para Windows, Unix, Solaris, Linux atender as necessidades do documento em que estamos trabalha-
e Mac OS X, mas é amplamente utilizado por usuários não Win- mos, vamos tratar um pouco disso a seguir:
dows, visto a sua concorrência com o OFFICE.
Abaixo detalharemos seus aplicativos:

LibreOffice Writer
O Writer é um editor de texto semelhante ao Word embutido
na suíte LibreOffice, com ele podemos redigir cartas, livros, aposti- GUIA PÁGINA
las e comunicações em geral. ALINHAMENTO TECLA DE ATALHO
INCIAL
Vamos então detalhar as principais funcionalidades.
Alinhamento a
Control + L
esquerda
Centralizar o texto Control + E

Alinhamento a direita Control + R

Justificar (isto é
arruma os dois lados,
direita e esquerda Control + J
de acordo com as
margens.

222
INFORMÁTICA
Formatação de letras (Tipos e Tamanho) Área de trabalho do CALC
Nesta área podemos digitar nossos dados e formatá-los de
acordo com a necessidade, utilizando ferramentas bastante seme-
lhantes às já conhecidas do Office.

GUIA PÁGINA INICIAL FUNÇÃO

Tipo de letra

Tamanho da letra

Aumenta / diminui tamanho

Itálico

Sublinhado

Taxado

Sobrescrito

Subescrito

Marcadores e listas numeradas Vamos à algumas funcionalidades


Muitas vezes queremos organizar um texto em tópicos da se- — Formatação de letras (Tipos e Tamanho)
guinte forma:

OU GUIA PÁGINA INICIAL FUNÇÃO

Tipo de letra
Nesse caso podemos utilizar marcadores ou a lista numerada
na barra de ferramentas, escolhendo um ou outro, segundo a nossa Tamanho da letra
necessidade e estilo que ser aplicado no documento.
Aumenta / diminui
tamanho

Itálico

Outros Recursos interessantes: Cor da Fonte

Cor Plano de Fundo


ÍCONE FUNÇÃO
Mudar cor de Fundo Outros Recursos interessantes
Mudar cor do texto
Inserir Tabelas ÍCONE FUNÇÃO
Inserir Imagens
Inserir Gráficos Ordenar
Inserir Caixa de Texto Ordenar em ordem
crescente
Verificação e correção ortográfica Auto Filtro
Inserir Caixa de Texto
Inserir imagem
Salvar
Inserir gráfico

LibreOffice Calc Verificação e correção


O Calc é um editor de planilhas semelhante ao Excel embutido ortográfica
na suíte LibreOffice, e com ele podemos redigir tabelas para cálcu-
los, gráficos e estabelecer planilhas para os mais diversos fins. Salvar

223
INFORMÁTICA
Cálculos automáticos Formatação células
Além das organizações básicas de planilha, o Calc permite a
criação de tabelas para cálculos automáticos e análise de dados e
gráficos totais.
São exemplos de planilhas CALC.
— Planilha para cálculos financeiros.
— Planilha de vendas
— Planilha de custos

Desta forma ao inserirmos dados, os valores são calculados au-


tomaticamente. Mas como funciona uma planilha de cálculo? Veja:

Fórmulas básicas
— SOMA
A função SOMA faz uma soma de um intervalo de células. Por
exemplo, para somar números de B2 até B6 temos
=SOMA(B2;B6)

A unidade central de uma planilha eletrônica é a célula que — MÉDIA


nada mais é que o cruzamento entre a linha e a coluna. Neste exem- A função média faz uma média de um intervalo de células. Por
plo coluna A, linha 2 ( Célula A2 ) exemplo, para calcular a média de B2 até B6 temos
Podemos também ter o intervalo A1..B3 =MÉDIA(B2;B6)

LibreOffice impress
O IMPRESS é o editor de apresentações semelhante ao Power-
Point na suíte LibreOffice, com ele podemos redigir apresentações
para diversas finalidades.
São exemplos de apresentações IMPRESS.
— Apresentação para uma reunião;
— Apresentação para uma aula;
— Apresentação para uma palestra.

A apresentação é uma excelente forma de abordagem de um


tema, pois podemos resumir e ressaltar os principais assuntos abor-
dados de forma explicativa. As ferramentas que veremos a seguir
facilitam o processo de trabalho com a aplicação. Confira:

Para inserirmos dados basta posicionarmos o cursor na célula e


digitarmos, a partir daí iniciamos a criação da planilha.

224
INFORMÁTICA
Área de trabalho Itens demarcados na figura acima:
Ao clicarmos para entrar no LibreOffice Impress vamos nos de- — Texto: Largura, altura, espaçamento, efeitos.
parar com a tela abaixo. Nesta tela podemos selecionar um modelo — Caractere: Letra, estilo, tamanho.
para iniciar a apresentação. O modelo é uma opção interessante — Parágrafo: Antes, depois, alinhamento.
visto que já possui uma formatação prévia facilitando o início e de- — Marcadores e numerações: Organização dos elementos e
senvolvimento do trabalho. tópicos.

Outros Recursos interessantes:

ÍCONE FUNÇÃO
Inserir Tabelas
Inserir Imagens
Inserir Gráficos
Inserir Caixa de Texto
Verificação e correção
ortográfica

Neste momento já podemos aproveitar a área interna para es- Salvar


crever conteúdos, redimensionar, mover as áreas delimitadas, ou
até mesmo excluí-las.
Com o primeiro slide pronto basta duplicá-lo obtendo vários no
No exemplo a seguir perceba que já escrevi um título na caixa
mesmo formato, e podemos apenas alterar o texto e imagens para
superior e um texto na caixa inferior, também movi com o mouse os
criar os próximos.
quadrados delimitados para adequá-los melhor.

Formatação dos textos:

225
INFORMÁTICA

SISTEMAS OPERACIONAIS WINDOWS 7, WINDOWS


10 E LINUX. ATALHOS DE TECLADO, ÍCONES, ÁREA DE
Percebemos agora que temos uma apresentação com dois sli- TRABALHO E LIXEIRA
des padronizados, bastando agora alterá-los com os textos corre-
tos. Além de copiar podemos movê-los de uma posição para outra,
trocando a ordem dos slides ou mesmo excluindo quando se fizer WINDOWS 7
necessário.

Transições
Um recurso amplamente utilizado é o de inserir as transições,
que é a maneira como os itens dos slides vão surgir na apresenta-
ção. No canto direito, conforme indicado a seguir, podemos selecio-
nar a transição desejada:

Conceito de pastas e diretórios


Pasta algumas vezes é chamada de diretório, mas o nome “pas-
ta” ilustra melhor o conceito. Pastas servem para organizar, armaze-
nar e organizar os arquivos. Estes arquivos podem ser documentos
de forma geral (textos, fotos, vídeos, aplicativos diversos).
Lembrando sempre que o Windows possui uma pasta com o
nome do usuário onde são armazenados dados pessoais.
Dentro deste contexto temos uma hierarquia de pastas.

A partir daí estamos com a apresentação pronta, bastando cli-


car em F5 para exibirmos o trabalho em tela cheia, também aces-
sível no menu “Apresentação”, conforme indicado na figura abaixo.

226
INFORMÁTICA
Área de trabalho do Windows 7

No caso da figura acima, temos quatro pastas e quatro arqui-


vos.

Arquivos e atalhos
Como vimos anteriormente: pastas servem para organização,
vimos que uma pasta pode conter outras pastas, arquivos e atalhos.
• Arquivo é um item único que contém um determinado dado.
Estes arquivos podem ser documentos de forma geral (textos, fotos, Área de transferência
vídeos e etc..), aplicativos diversos, etc. A área de transferência é muito importante e funciona em se-
• Atalho é um item que permite fácil acesso a uma determina- gundo plano. Ela funciona de forma temporária guardando vários
da pasta ou arquivo propriamente dito. tipos de itens, tais como arquivos, informações etc.
– Quando executamos comandos como “Copiar” ou “Ctrl + C”,
estamos copiando dados para esta área intermediária.

– Quando executamos comandos como “Colar” ou “Ctrl + V”,


estamos colando, isto é, estamos pegando o que está gravado na
área de transferência.

Manipulação de arquivos e pastas


A caminho mais rápido para acessar e manipular arquivos e
pastas e outros objetos é através do “Meu Computador”. Podemos
executar tarefas tais como: copiar, colar, mover arquivos, criar pas-
tas, criar atalhos etc.

227
INFORMÁTICA
Uso dos menus Música e Vídeo
Temos o Media Player como player nativo para ouvir músicas
e assistir vídeos. O Windows Media Player é uma excelente expe-
riência de entretenimento, nele pode-se administrar bibliotecas
de música, fotografia, vídeos no seu computador, copiar CDs, criar
playlists e etc., isso também é válido para o media center.

Ferramentas do sistema
• A limpeza de disco é uma ferramenta importante, pois o pró-
prio Windows sugere arquivos inúteis e podemos simplesmente
confirmar sua exclusão.
Programas e aplicativos
• Media Player
• Media Center
• Limpeza de disco
• Desfragmentador de disco
• Os jogos do Windows.
• Ferramenta de captura
• Backup e Restore

Interação com o conjunto de aplicativos


Vamos separar esta interação do usuário por categoria para en-
tendermos melhor as funções categorizadas.

Facilidades

O Windows possui um recurso muito interessante que é o Cap-


turador de Tela , simplesmente podemos, com o mouse, recortar a
parte desejada e colar em outro lugar.

228
INFORMÁTICA

WINDOWS 8

• O desfragmentador de disco é uma ferramenta muito impor-


tante, pois conforme vamos utilizando o computador os arquivos
ficam internamente desorganizados, isto faz que o computador fi-
que lento. Utilizando o desfragmentador o Windows se reorganiza
internamente tornando o computador mais rápido e fazendo com
que o Windows acesse os arquivos com maior rapidez.

Conceito de pastas e diretórios


Pasta algumas vezes é chamada de diretório, mas o nome “pas-
ta” ilustra melhor o conceito. Pastas servem para organizar, armaze-
nar e organizar os arquivos. Estes arquivos podem ser documentos
de forma geral (textos, fotos, vídeos, aplicativos diversos).
Lembrando sempre que o Windows possui uma pasta com o
nome do usuário onde são armazenados dados pessoais.
Dentro deste contexto temos uma hierarquia de pastas.

• O recurso de backup e restauração do Windows é muito im-


portante pois pode ajudar na recuperação do sistema, ou até mes-
mo escolher seus arquivos para serem salvos, tendo assim uma có-
pia de segurança.

229
INFORMÁTICA
No caso da figura acima temos quatro pastas e quatro arquivos. – Quando executamos comandos como “Colar” ou “Ctrl + V”,
estamos colando, isto é, estamos pegando o que está gravado na
Arquivos e atalhos área de transferência.
Como vimos anteriormente: pastas servem para organização,
vimos que uma pasta pode conter outras pastas, arquivos e atalhos. Manipulação de arquivos e pastas
• Arquivo é um item único que contém um determinado dado. A caminho mais rápido para acessar e manipular arquivos e
Estes arquivos podem ser documentos de forma geral (textos, fotos, pastas e outros objetos é através do “Meu Computador”. Podemos
vídeos e etc..), aplicativos diversos, etc. executar tarefas tais como: copiar, colar, mover arquivos, criar pas-
• Atalho é um item que permite fácil acesso a uma determina- tas, criar atalhos etc.
da pasta ou arquivo propriamente dito.

Uso dos menus

Área de trabalho do Windows 8


Programas e aplicativos

Área de transferência
A área de transferência é muito importante e funciona em se-
gundo plano. Ela funciona de forma temporária guardando vários Interação com o conjunto de aplicativos
tipos de itens, tais como arquivos, informações etc. Vamos separar esta interação do usuário por categoria para en-
– Quando executamos comandos como “Copiar” ou “Ctrl + C”, tendermos melhor as funções categorizadas.
estamos copiando dados para esta área intermediária.

230
INFORMÁTICA
Facilidades Transferência
O recurso de transferência fácil do Windows 8 é muito impor-
tante, pois pode ajudar na escolha de seus arquivos para serem sal-
vos, tendo assim uma cópia de segurança.

O Windows possui um recurso muito interessante que é o Cap-


turador de Tela, simplesmente podemos, com o mouse, recortar a
parte desejada e colar em outro lugar.

Música e Vídeo
Temos o Media Player como player nativo para ouvir músicas
e assistir vídeos. O Windows Media Player é uma excelente expe-
riência de entretenimento, nele pode-se administrar bibliotecas
de música, fotografia, vídeos no seu computador, copiar CDs, criar
playlists e etc., isso também é válido para o media center.

A lista de aplicativos é bem intuitiva, talvez somente o Skydrive


mereça uma definição:
• Skydrive é o armazenamento em nuvem da Microsoft, hoje
portanto a Microsoft usa o termo OneDrive para referenciar o ar-
mazenamento na nuvem (As informações podem ficar gravadas na
internet).

WINDOWS 10

Conceito de pastas e diretórios


Pasta algumas vezes é chamada de diretório, mas o nome “pas-
ta” ilustra melhor o conceito. Pastas servem para organizar, armaze-
nar e organizar os arquivos. Estes arquivos podem ser documentos
de forma geral (textos, fotos, vídeos, aplicativos diversos).
Lembrando sempre que o Windows possui uma pasta com o
Jogos nome do usuário onde são armazenados dados pessoais.
Temos também jogos anexados ao Windows 8. Dentro deste contexto temos uma hierarquia de pastas.

No caso da figura acima temos quatro pastas e quatro arquivos.

Arquivos e atalhos
Como vimos anteriormente: pastas servem para organização,
vimos que uma pasta pode conter outras pastas, arquivos e atalhos.

231
INFORMÁTICA
• Arquivo é um item único que contém um determinado dado. Manipulação de arquivos e pastas
Estes arquivos podem ser documentos de forma geral (textos, fotos, A caminho mais rápido para acessar e manipular arquivos e
vídeos e etc..), aplicativos diversos, etc. pastas e outros objetos é através do “Meu Computador”. Podemos
• Atalho é um item que permite fácil acesso a uma determina- executar tarefas tais como: copiar, colar, mover arquivos, criar pas-
da pasta ou arquivo propriamente dito. tas, criar atalhos etc.

Área de trabalho

Uso dos menus

Área de transferência
A área de transferência é muito importante e funciona em se-
gundo plano. Ela funciona de forma temporária guardando vários
tipos de itens, tais como arquivos, informações etc.
– Quando executamos comandos como “Copiar” ou “Ctrl + C”,
estamos copiando dados para esta área intermediária.
– Quando executamos comandos como “Colar” ou “Ctrl + V”,
estamos colando, isto é, estamos pegando o que está gravado na Programas e aplicativos e interação com o usuário
área de transferência. Vamos separar esta interação do usuário por categoria para en-
tendermos melhor as funções categorizadas.
– Música e Vídeo: Temos o Media Player como player nativo
para ouvir músicas e assistir vídeos. O Windows Media Player é uma
excelente experiência de entretenimento, nele pode-se administrar
bibliotecas de música, fotografia, vídeos no seu computador, copiar
CDs, criar playlists e etc., isso também é válido para o media center.

232
INFORMÁTICA

Inicialização e finalização

– Ferramentas do sistema
• A limpeza de disco é uma ferramenta importante, pois o pró-
prio Windows sugere arquivos inúteis e podemos simplesmente
confirmar sua exclusão.

Quando fizermos login no sistema, entraremos direto no Win-


dows, porém para desligá-lo devemos recorrer ao e:

• O desfragmentador de disco é uma ferramenta muito impor-


tante, pois conforme vamos utilizando o computador os arquivos LINUX
ficam internamente desorganizados, isto faz que o computador fi- O Linux não é um ambiente gráfico como o Windows, mas po-
que lento. Utilizando o desfragmentador o Windows se reorganiza demos carregar um pacote para torná-lo gráfico assumindo assim
internamente tornando o computador mais rápido e fazendo com uma interface semelhante ao Windows. Neste caso vamos carregar
que o Windows acesse os arquivos com maior rapidez. o pacote Gnome no Linux. Além disso estaremos também usando a
distribuição Linux Ubuntu para demonstração, pois sabemos que o
Linux possui várias distribuições para uso.

Vamos olhar abaixo o

Linux Ubuntu em modo texto:

• O recurso de backup e restauração do Windows é muito im-


portante pois pode ajudar na recuperação do sistema, ou até mes-
mo escolher seus arquivos para serem salvos, tendo assim uma có-
pia de segurança.

233
INFORMÁTICA
Linux Ubuntu em modo gráfico (Área de trabalho):

Perceba que usamos um comando para criar um lançador, mas


nosso objetivo aqui não é detalhar comandos, então a forma mais
rápida de pesquisa de aplicativos, pastas e arquivos é através do
Conceito de pastas e diretórios botão:
Pasta algumas vezes é chamada de diretório, mas o nome “pas-
ta” ilustra melhor o conceito. Pastas servem para organizar, armaze-
nar e organizar os arquivos. Estes arquivos podem ser documentos
de forma geral (textos, fotos, vídeos, aplicativos diversos).

Dentro deste contexto temos uma hierarquia de pastas.

Desta forma já vamos direto ao item desejado

Área de transferência
Perceba que usando a interface gráfica funciona da mesma for-
ma que o Windows.
A área de transferência é muito importante e funciona em se-
gundo plano. Ela funciona de forma temporária guardando vários
tipos de itens, tais como arquivos, informações etc.
– Quando executamos comandos como “Copiar” ou “Ctrl + C”,
No caso da figura acima temos quatro pastas e quatro arquivos. estamos copiando dados para esta área intermediária.
– Quando executamos comandos como “Colar” ou “Ctrl + V”,
Arquivos e atalhos estamos colando, isto é, estamos pegando o que está gravado na
Como vimos anteriormente: pastas servem para organização, área de transferência.
vimos que uma pasta pode conter outras pastas, arquivos e atalhos.
• Arquivo é um item único que contém um determinado dado. Manipulação de arquivos e pastas
Estes arquivos podem ser documentos de forma geral (textos, fotos, No caso da interface gráfica as funcionalidades são semelhan-
vídeos e etc..), aplicativos diversos, etc. tes ao Windows como foi dito no tópico acima. Entretanto, pode-
• Atalho é um item que permite fácil acesso a uma determina- mos usar linha de comando, pois já vimos que o Linux originalmen-
da pasta ou arquivo propriamente dito. te não foi concebido com interface gráfica.

No caso do Linux temos que criar um lançador que funciona


como um atalho, isto é, ele vai chamar o item indicado.

Na figura acima utilizamos o comando ls e são listadas as pastas


na cor azul e os arquivos na cor branca.

234
INFORMÁTICA
Uso dos menus
Como estamos vendo, para se ter acesso aos itens do Linux são necessários diversos comandos. Porém, se utilizarmos uma interface
gráfica a ação fica mais intuitiva, visto que podemos utilizar o mouse como no Windows. Estamos utilizando para fins de aprendizado a
interface gráfica “GNOME”, mas existem diversas disponíveis para serem utilizadas.

Programas e aplicativos
Dependendo da distribuição Linux escolhida, esta já vem com alguns aplicativos embutidos, por isso que cada distribuição tem um
público alvo. O Linux em si é puro, mas podemos destacar duas bem comuns:
• Firefox (Navegador para internet);
• Pacote LibreOffice (Pacote de aplicativos semelhante ao Microsoft Office).

ORGANIZAÇÃO E GERENCIAMENTO DE INFORMAÇÕES, ARQUIVOS, PASTAS E PROGRAMAS

Pasta
São estruturas que dividem o disco em várias partes de tamanhos variados as quais podem pode armazenar arquivos e outras pastas
(subpastas)1.

1 https://docente.ifrn.edu.br/elieziosoares/disciplinas/informatica/aula-05-manipulacao-de-arquivos-e-pastas

235
INFORMÁTICA
Arquivo
É a representação de dados/informações no computador os quais ficam dentro das pastas e possuem uma extensão que identifica o
tipo de dado que ele representa.

Extensões de arquivos

Existem vários tipos de arquivos como arquivos de textos, arquivos de som, imagem, planilhas, etc. Alguns arquivos são universais
podendo ser aberto em qualquer sistema. Mas temos outros que dependem de um programa específico como os arquivos do Corel Draw
que necessita o programa para visualizar. Nós identificamos um arquivo através de sua extensão. A extensão são aquelas letras que ficam
no final do nome do arquivo.
Exemplos:
.txt: arquivo de texto sem formatação.
.html: texto da internet.
.rtf: arquivo do WordPad.
.doc e .docx: arquivo do editor de texto Word com formatação.

É possível alterar vários tipos de arquivos, como um documento do Word (.docx) para o PDF (.pdf) como para o editor de texto do
LibreOffice (.odt). Mas atenção, tem algumas extensões que não são possíveis e caso você tente poderá deixar o arquivo inutilizável.

Nomenclatura dos arquivos e pastas


Os arquivos e pastas devem ter um nome o qual é dado no momento da criação. Os nomes podem conter até 255 caracteres (letras,
números, espaço em branco, símbolos), com exceção de / \ | > < * : “ que são reservados pelo sistema operacional.

Bibliotecas
Criadas para facilitar o gerenciamento de arquivos e pastas, são um local virtual que agregam conteúdo de múltiplos locais em um só.
Estão divididas inicialmente em 4 categorias:
– Documentos;
– Imagens;
– Músicas;
– Vídeos.

236
INFORMÁTICA

Windows Explorer
O Windows Explorer é um gerenciador de informações, arquivos, pastas e programas do sistema operacional Windows da Microsoft2.
Todo e qualquer arquivo que esteja gravado no seu computador e toda pasta que exista nele pode ser vista pelo Windows Explorer.
Possui uma interface fácil e intuitiva.
Na versão em português ele é chamado de Gerenciador de arquivo ou Explorador de arquivos.
O seu arquivo é chamado de Explorer.exe
Normalmente você o encontra na barra de tarefas ou no botão Iniciar > Programas > Acessórios.

Na parte de cima do Windows Explorer você terá acesso a muitas funções de gerenciamento como criar pastas, excluir, renomear, ex-
cluir históricos, ter acesso ao prompt de comando entre outras funcionalidades que aparecem sempre que você selecionar algum arquivo.
A coluna do lado esquerdo te dá acesso direto para tudo que você quer encontrar no computador. As pastas mais utilizadas são as de
Download, documentos e imagens.

Operações básicas com arquivos do Windows Explorer


• Criar pasta: clicar no local que quer criar a pasta e clicar com o botão direito do mouse e ir em novo > criar pasta e nomear ela. Você
pode criar uma pasta dentro de outra pasta para organizar melhor seus arquivos. Caso você queira salvar dentro de uma mesma pasta um
arquivo com o mesmo nome, só será possível se tiver extensão diferente. Ex.: maravilha.png e maravilha.doc
Independente de uma pasta estar vazia ou não, ela permanecerá no sistema mesmo que o computador seja reiniciado
• Copiar: selecione o arquivo com o mouse e clique Ctrl + C e vá para a pasta que quer colar a cópia e clique Ctrl +V. Pode também
clicar com o botão direito do mouse selecionar copiar e ir para o local que quer copiar e clicar novamente como o botão direito do mouse
e selecionar colar.
• Excluir: pode selecionar o arquivo e apertar a tecla delete ou clicar no botão direito do mouse e selecionar excluir
• Organizar: você pode organizar do jeito que quiser como, por exemplo, ícones grandes, ícones pequenos, listas, conteúdos, lista com
detalhes. Estas funções estão na barra de cima em exibir ou na mesma barra do lado direito.
• Movimentar: você pode movimentar arquivos e pastas clicando Ctrl + X no arquivo ou pasta e ir para onde você quer colar o arquivo
e Clicar Ctrl + V ou clicar com o botão direito do mouse e selecionar recortar e ir para o local de destino e clicar novamente no botão direito
do mouse e selecionar colar.

2 https://centraldefavoritos.com.br/2019/06/05/conceitos-de-organizacao-e-de-gerenciamento-de-informacoes-arquivos-pastas-e-programas/

237
INFORMÁTICA
Localizando Arquivos e Pastas
No Windows Explorer tem duas:
Tem uma barra de pesquisa acima na qual você digita o arquivo ou pasta que procura ou na mesma barra tem uma opção de Pesquisar.
Clicando nesta opção terão mais opções para você refinar a sua busca.

Arquivos ocultos
São arquivos que normalmente são relacionados ao sistema. Eles ficam ocultos (invisíveis) por que se o usuário fizer alguma alteração,
poderá danificar o Sistema Operacional.
Apesar de estarem ocultos e não serem exibido pelo Windows Explorer na sua configuração padrão, eles ocupam espaço no disco

CONCEITOS BÁSICOS E MODOS DE UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS, FERRAMENTAS, APLICATIVOS E PROCEDIMENTOS


ASSOCIADOS À INTERNET E INTRANET

Tipos de rede de computadores


• LAN: Rele Local, abrange somente um perímetro definido. Exemplos: casa, escritório, etc.

238
INFORMÁTICA
• MAN: Rede Metropolitana, abrange uma cidade, por exem- • Sites
plo. Uma coleção de páginas associadas a um endereço www. é
chamada web site. Através de navegadores, conseguimos acessar
web sites para operações diversas.

• Links
O link nada mais é que uma referência a um documento, onde
o usuário pode clicar. No caso da internet, o Link geralmente aponta
para uma determinada página, pode apontar para um documento
qualquer para se fazer o download ou simplesmente abrir.

Dentro deste contexto vamos relatar funcionalidades de alguns


dos principais navegadores de internet: Microsoft Internet Explorer,
Mozilla Firefox e Google Chrome.

Internet Explorer 11

• WAN: É uma rede com grande abrangência física, maior que


a MAN, Estado, País; podemos citar até a INTERNET para entender-
mos o conceito.

• Identificar o ambiente

O Internet Explorer é um navegador desenvolvido pela Micro-


soft, no qual podemos acessar sites variados. É um navegador sim-
plificado com muitos recursos novos.
Dentro deste ambiente temos:
– Funções de controle de privacidade: Trata-se de funções que
Navegação e navegadores da Internet protegem e controlam seus dados pessoais coletados por sites;
– Barra de pesquisas: Esta barra permite que digitemos um en-
• Internet dereço do site desejado. Na figura temos como exemplo: https://
É conhecida como a rede das redes. A internet é uma coleção www.gov.br/pt-br/
global de computadores, celulares e outros dispositivos que se co- – Guias de navegação: São guias separadas por sites aberto. No
municam. exemplo temos duas guias sendo que a do site https://www.gov.br/
pt-br/ está aberta.
• Procedimentos de Internet e intranet – Favoritos: São pastas onde guardamos nossos sites favoritos
Através desta conexão, usuários podem ter acesso a diversas – Ferramentas: Permitem realizar diversas funções tais como:
informações, para trabalho, laser, bem como para trocar mensa- imprimir, acessar o histórico de navegação, configurações, dentre
gens, compartilhar dados, programas, baixar documentos (down- outras.
load), etc.
Desta forma o Internet Explorer 11, torna a navegação da inter-
net muito mais agradável, com textos, elementos gráficos e vídeos
que possibilitam ricas experiências para os usuários.

239
INFORMÁTICA
• Características e componentes da janela principal do Internet Explorer

À primeira vista notamos uma grande área disponível para visualização, além de percebemos que a barra de ferramentas fica automa-
ticamente desativada, possibilitando uma maior área de exibição.

Vamos destacar alguns pontos segundo as indicações da figura:


1. Voltar/Avançar página
Como o próprio nome diz, clicando neste botão voltamos página visitada anteriormente;

2. Barra de Endereços
Esta é a área principal, onde digitamos o endereço da página procurada;

3. Ícones para manipulação do endereço da URL


Estes ícones são pesquisar, atualizar ou fechar, dependendo da situação pode aparecer fechar ou atualizar.

4. Abas de Conteúdo
São mostradas as abas das páginas carregadas.

5. Página Inicial, favoritos, ferramentas, comentários

6. Adicionar à barra de favoritos

Mozila Firefox

Vamos falar agora do funcionamento geral do Firefox, objeto de nosso estudo:

240
INFORMÁTICA
A barra de endereços é o local em que se digita o link da página
visitada. Uma outra função desta barra é a de busca, sendo que ao
digitar palavras-chave na barra, o mecanismo de busca do Google é
acionado e exibe os resultados.

Vejamos de acordo com os símbolos da imagem:

1 Botão Voltar uma página

2 Botão avançar uma página

3 Botão atualizar a página

4 Voltar para a página inicial do Firefox Vejamos de acordo com os símbolos da imagem:

5 Barra de Endereços
1 Botão Voltar uma página
6 Ver históricos e favoritos
2 Botão avançar uma página
Mostra um painel sobre os favoritos
7 3 Botão atualizar a página
(Barra, Menu e outros)
Sincronização com a conta FireFox (Va- 4 Barra de Endereço.
8
mos detalhar adiante)
Mostra menu de contexto com várias 5 Adicionar Favoritos
9
opções
6 Usuário Atual
– Sincronização Firefox: Ato de guardar seus dados pessoais na Exibe um menu de contexto que iremos
internet, ficando assim disponíveis em qualquer lugar. Seus dados 7
relatar seguir.
como: Favoritos, históricos, Endereços, senhas armazenadas, etc.,
sempre estarão disponíveis em qualquer lugar, basta estar logado O que vimos até aqui, são opções que já estamos acostuma-
com o seu e-mail de cadastro. E lembre-se: ao utilizar um computa- dos ao navegar na Internet, mesmo estando no Ubuntu, percebe-
dor público sempre desative a sincronização para manter seus da- mos que o Chrome é o mesmo navegador, apenas está instalado
dos seguros após o uso. em outro sistema operacional. Como o Chrome é o mais comum
atualmente, a seguir conferimos um pouco mais sobre suas funcio-
Google Chrome nalidades.

• Favoritos
No Chrome é possível adicionar sites aos favoritos. Para adi-
cionar uma página aos favoritos, clique na estrela que fica à direita
da barra de endereços, digite um nome ou mantenha o sugerido, e
pronto.
Por padrão, o Chrome salva seus sites favoritos na Barra de Fa-
voritos, mas você pode criar pastas para organizar melhor sua lista.
Para removê-lo, basta clicar em excluir.
O Chrome é o navegador mais popular atualmente e disponi-
biliza inúmeras funções que, por serem ótimas, foram implementa-
das por concorrentes.
Vejamos:

• Sobre as abas
No Chrome temos o conceito de abas que são conhecidas tam-
bém como guias. No exemplo abaixo temos uma aba aberta, se qui-
sermos abrir outra para digitar ou localizar outro site, temos o sinal
(+).

241
INFORMÁTICA

• Histórico
O Histórico no Chrome funciona de maneira semelhante ao
Firefox. Ele armazena os endereços dos sites visitados e, para aces-
sá-lo, podemos clicar em Histórico no menu, ou utilizar atalho do
teclado Ctrl + H. Neste caso o histórico irá abrir em uma nova aba, • Sincronização
onde podemos pesquisá-lo por parte do nome do site ou mesmo Uma nota importante sobre este tema: A sincronização é im-
dia a dia se preferir. portante para manter atualizadas nossas operações, desta forma,
se por algum motivo trocarmos de computador, nossos dados esta-
rão disponíveis na sua conta Google.
Por exemplo:
– Favoritos, histórico, senhas e outras configurações estarão
disponíveis.
– Informações do seu perfil são salvas na sua Conta do Google.

No canto superior direito, onde está a imagem com a foto do


usuário, podemos clicar no 1º item abaixo para ativar e desativar.

• Pesquisar palavras
Muitas vezes ao acessar um determinado site, estamos em
busca de uma palavra ou frase específica. Neste caso, utilizamos
o atalho do teclado Ctrl + F para abrir uma caixa de texto na qual
podemos digitar parte do que procuramos, e será localizado. Safari

• Salvando Textos e Imagens da Internet


Vamos navegar até a imagem desejada e clicar com o botão
direito do mouse, em seguida salvá-la em uma pasta.

• Downloads
Fazer um download é quando se copia um arquivo de algum
site direto para o seu computador (texto, músicas, filmes etc.). Nes-
te caso, o Chrome possui um item no menu, onde podemos ver o
progresso e os downloads concluídos.

O Safari é o navegador da Apple, e disponibiliza inúmeras fun-


ções implementadas.

242
INFORMÁTICA
Vejamos:

• Guias

– Para abrirmos outras guias podemos simplesmente teclar CTRL + T ou

Vejamos os comandos principais de acordo com os símbolos da imagem:

1 Botão Voltar uma página

2 Botão avançar uma página

3 Botão atualizar a página

4 Barra de Endereço.

5 Adicionar Favoritos

6 Ajustes Gerais

7 Menus para a página atual.

8 Lista de Leitura

243
INFORMÁTICA
Perceba que o Safari, como os outros, oferece ferramentas bas- • Pesquisar palavras
tante comuns. Muitas vezes, ao acessar um determinado site, estamos em
Vejamos algumas de suas funcionalidades: busca de uma palavra ou frase específica. Neste caso utilizamos o
atalho do teclado Ctrl + F, para abrir uma caixa de texto na qual po-
• Lista de Leitura e Favoritos demos digitar parte do que procuramos, e será localizado.
No Safari é possível adicionar sites à lista de leitura para pos-
terior consulta, ou aos favoritos, caso deseje salvar seus endere- • Salvando Textos e Imagens da Internet
ços. Para adicionar uma página, clique no “+” a que fica à esquerda Vamos navegar até a imagem desejada e clicar com o botão
da barra de endereços, digite um nome ou mantenha o sugerido e direito do mouse, em seguida salvá-la em uma pasta.
pronto.
Por padrão, o Safari salva seus sites na lista de leitura, mas você • Downloads
pode criar pastas para organizar melhor seus favoritos. Para remo- Fazer um download é quando se copia um arquivo de um al-
vê-lo, basta clicar em excluir. gum site direto para o seu computador (texto, músicas, filmes etc.).
Neste caso, o Safari possui um item no menu onde podemos ver o
progresso e os downloads concluídos.

Correio Eletrônico
O correio eletrônico, também conhecido como e-mail, é um
serviço utilizado para envio e recebimento de mensagens de texto
• Histórico e Favoritos e outras funções adicionais como anexos junto com a mensagem.
Para envio de mensagens externas o usuário deverá estar co-
nectado a internet, caso contrário ele ficará limitado a sua rede lo-
cal.
Abaixo vamos relatar algumas características básicas sobre o
e-mail
– Nome do Usuário: é o nome de login escolhido pelo usuário
na hora de fazer seu e-mail. Exemplo: joaodasilva, no caso este é
nome do usuário;
– @ : Símbolo padronizado para uso em correios eletrônicos;
– Nome do domínio a que o e-mail pertence, isto é, na maioria
das vezes, a empresa;

Vejamos um exemplo: joaodasilva@gmail.com.br / @hotmail.


com.br / @editora.com.br
– Caixa de Entrada: Onde ficam armazenadas as mensagens
recebidas;
– Caixa de Saída: Onde ficam armazenadas as mensagens ainda
não enviadas;

244
INFORMÁTICA
– E-mails Enviados: Como o próprio nome diz, é onde ficam os • Anexação de arquivos
e-mails que foram enviados;
– Rascunho: Guarda as mensagens que você ainda não termi-
nou de redigir;
– Lixeira: Armazena as mensagens excluídas.

Ao escrever mensagens, temos os seguintes campos:


– Para: é o campo onde será inserido o endereço do destinatá-
rio do e-mail;
– CC: este campo é usado para mandar cópias da mesma men-
sagem. Ao usar esse campo os endereços aparecerão para todos os
destinatários envolvidos;
– CCO: sua funcionalidade é semelhante ao campo anterior, no
entanto os endereços só aparecerão para os respectivos donos da
mensagem; Uma função adicional quando criamos mensagens é de ane-
– Assunto: campo destinado ao assunto da mensagem; xar um documento à mensagem, enviando assim juntamente com
o texto.
– Anexos: são dados que são anexados à mensagem (imagens,
programas, música, textos e outros); • Boas práticas para anexar arquivos à mensagem
– Corpo da Mensagem: espaço onde será escrita a mensagem. – E-mails tem limites de tamanho, não podemos enviar coisas
que excedem o tamanho, estas mensagens irão retornar;
• Uso do correio eletrônico – Deveremos evitar arquivos grandes pois além do limite do
– Inicialmente o usuário deverá ter uma conta de e-mail; e-mail, estes demoram em excesso para serem carregados.
– Esta conta poderá ser fornecida pela empresa ou criada atra- Computação de nuvem (Cloud Computing)
vés de sites que fornecem o serviço. As diretrizes gerais sobre a cria-
ção de contas estão no tópico acima; • Conceito de Nuvem (Cloud)
– Uma vez criada a conta, o usuário poderá utilizar um cliente
de e-mail na internet ou um gerenciador de e-mail disponível;
– Atualmente existem vários gerenciadores disponíveis no
mercado, tais como: Microsoft Outlook, Mozila Thunderbird, Opera
Mail, Gmail, etc.;
– O Microsoft outlook é talvez o mais conhecido gerenciador
de e-mail, dentro deste contexto vamos usá-lo como exemplo nos
tópicos adiante, lembrando que todos funcionam de formas bas-
tante parecidas.

• Preparo e envio de mensagens

A “Nuvem”, também referenciada como “Cloud”, são os servi-


ços distribuídos pela INTERNET que atendem as mais variadas de-
mandas de usuários e empresas.

• Boas práticas para criação de mensagens


– Uma mensagem deverá ter um assunto. É possível enviar
mensagem sem o Assunto, porém não é o adequado;
– A mensagem deverá ser clara, evite mensagens grandes ao
extremo dando muitas voltas;
– Verificar com cuidado os destinatários para o envio correto
de e-mails, evitando assim problemas de envios equivocados.

245
INFORMÁTICA
A internet é a base da computação em nuvem, os servidores remotos detêm os aplicativos e serviços para distribuí-los aos usuários
e às empresas.
A computação em nuvem permite que os consumidores aluguem uma infraestrutura física de um data center (provedor de serviços
em nuvem). Com acesso à Internet, os usuários e as empresas usam aplicativos e a infraestrutura alugada para acessarem seus arquivos,
aplicações, etc., a partir de qualquer computador conectado no mundo.
Desta forma todos os dados e aplicações estão localizadas em um local chamado Data Center dentro do provedor.
A computação em nuvem tem inúmeros produtos, e esses produtos são subdivididos de acordo com todos os serviços em nuvem,
mas os principais aplicativos da computação em nuvem estão nas áreas de: Negócios, Indústria, Saúde, Educação, Bancos, Empresas de
TI, Telecomunicações.
• Armazenamento de dados da nuvem (Cloud Storage)

A ideia de armazenamento na nuvem ( Cloud Storage ) é simples. É, basicamente, a gravação de dados na Internet.
Este envio de dados pode ser manual ou automático, e uma vez que os dados estão armazenados na nuvem, eles podem ser acessados
em qualquer lugar do mundo por você ou por outras pessoas que tiverem acesso.
São exemplos de Cloud Storage: DropBox, Google Drive, OneDrive.
As informações são mantidas em grandes Data Centers das empresas que hospedam e são supervisionadas por técnicos responsáveis
por seu funcionamento. Estes Data Centers oferecem relatórios, gráficos e outras formas para seus clientes gerenciarem seus dados e
recursos, podendo modificar conforme a necessidade.
O armazenamento em nuvem tem as mesmas características que a computação em nuvem que vimos anteriormente, em termos de
praticidade, agilidade, escalabilidade e flexibilidade.
Além dos exemplos citados acima, grandes empresas, tais como a IBM, Amazon, Microsoft e Google possuem serviços de nuvem que
podem ser contratados.

CORREIO ELETRÔNICO

O Microsoft Outlook é um gerenciador de e-mail usado principalmente para enviar e receber e-mails. O Microsoft Outlook também
pode ser usado para administrar vários tipos de dados pessoais, incluindo compromissos de calendário e entradas, tarefas, contatos e
anotações.

246
INFORMÁTICA
Funcionalidades mais comuns:

PARA FAZER ISTO ATALHO CAMINHOS PARA EXECUÇÃO


1 Entrar na mensagem Enter na mensagem fechada ou click Verificar coluna atalho
2 Fechar Esc na mensagem aberta Verificar coluna atalho
3 Ir para a guia Página Inicial Alt+H Menu página inicial
4 Nova mensagem Ctrl+Shift+M Menu página inicial => Novo e-mail
5 Enviar Alt+S Botão enviar
6 Delete Excluir (quando na mensagem fechada) Verificar coluna atalho
7 Pesquisar Ctrl+E Barra de pesquisa
Barra superior do painel da mensa-
8 Responder Ctrl+R
gem
Barra superior do painel da mensa-
9 Encaminhar Ctrl+F
gem
Barra superior do painel da mensa-
10 Responder a todos Ctrl+Shift+R
gem
11 Copiar Ctrl+C Click direito copiar
12 Colar Ctrl+V Click direito colar
13 Recortar Ctrl+X Click direito recortar
14 Enviar/Receber Ctrl+M Enviar/Receber (Reatualiza tudo)
15 Acessar o calendário Ctrl+2 Canto inferior direito ícone calendário
16 Anexar arquivo ALT+T AX Menu inserir ou painel superior
Mostrar campo cco (cópia
17 ALT +S + B Menu opções CCO
oculta)

Endereços de e-mail
• Nome do Usuário – é o nome de login escolhido pelo usuário na hora de fazer seu e-mail. Exemplo: joaodasilva, no caso este é nome
do usuário;
• @ – Símbolo padronizado para uso;
• Nome do domínio – domínio a que o e-mail pertence, isto é, na maioria das vezes, a empresa. Vejamos um exemplo real: joaodasil-
va@solucao.com.br;
• Caixa de Entrada – Onde ficam armazenadas as mensagens recebidas;
• Caixa de Saída – Onde ficam armazenadas as mensagens ainda não enviadas;
• E-mails Enviados – Como próprio nome diz, e aonde ficam os e-mails que foram enviados;
• Rascunho – Guarda as mensagens que ainda não terminadas;
• Lixeira – Armazena as mensagens excluídas;

Escrevendo e-mails
Ao escrever uma mensagem, temos os seguintes campos:
• Para – é o campo onde será inserido o endereço do destinatário do e-mail;
• CC – este campo é usado para mandar cópias da mesma mensagem. Ao usar este campo os endereços aparecerão para todos os
destinatários envolvidos.
• CCO – sua funcionalidade é semelhante ao campo anterior, no entanto os endereços só aparecerão para os respectivos donos;
• Assunto – campo destinado ao assunto da mensagem.
• Anexos – são dados que são anexados à mensagem (imagens, programas, música, textos e outros.)
• Corpo da Mensagem – espaço onde será escrita a mensagem.

247
INFORMÁTICA
Contas de e-mail
É um endereço de e-mail vinculado a um domínio, que está
apto a receber e enviar mensagens, ou até mesmo guarda-las con-
forme a necessidade.

Adicionar conta de e-mail


Siga os passos de acordo com as imagens:

Enviar
De acordo com a imagem a seguir, o botão Enviar fica em evi-
dência para o envio de e-mails.

Encaminhar e responder e-mails


A partir daí devemos seguir as diretrizes sobre nomes de e-mail, Funcionalidades importantes no uso diário, você responde a
referida no item “Endereços de e-mail”. e-mail e os encaminha para outros endereços, utilizando os botões
indicados. Quando clicados, tais botões ativam o quadros de texto,
Criar nova mensagem de e-mail para a indicação de endereços e digitação do corpo do e-mail de
resposta ou encaminhamento.

Ao clicar em novo e-mail é aberto uma outra janela para digita-


ção do texto e colocar o destinatário, podemos preencher também
os campos CC (cópia), e o campo CCO (cópia oculta), porém esta
outra pessoa não estará visível aos outros destinatários.

248
INFORMÁTICA
Adicionar, abrir ou salvar anexos
A melhor maneira de anexar e colar o objeto desejado no corpo
do e-mail, para salvar ou abrir, basta clicar no botão corresponden-
te, segundo a figura abaixo:

Adicionar assinatura de e-mail à mensagem


Um recurso interessante, é a possibilidade de adicionarmos
assinaturas personalizadas aos e-mails, deixando assim definida a Imprimir uma mensagem de e-mail
nossa marca ou de nossa empresa, de forma automática em cada Por fim, um recurso importante de ressaltar, é o que nos pos-
mensagem. sibilita imprimir e-mails, integrando-os com a impressora ligada ao
computador. Um recurso que se assemelha aos apresentados pelo
pacote Office e seus aplicativos.

COMPUTAÇÃO EM NUVEM

Quando se fala em computação nas nuvens, fala-se na possibi-


lidade de acessar arquivos e executar diferentes tarefas pela inter-
net3. Ou seja, não é preciso instalar aplicativos no seu computador
para tudo, pois pode acessar diferentes serviços on-line para fazer o
que precisa, já que os dados não se encontram em um computador
específico, mas sim em uma rede.
Uma vez devidamente conectado ao serviço on-line, é possível
desfrutar suas ferramentas e salvar todo o trabalho que for feito
para acessá-lo depois de qualquer lugar — é justamente por isso
que o seu computador estará nas nuvens, pois você poderá acessar
os aplicativos a partir de qualquer computador que tenha acesso à
internet.
Basta pensar que, a partir de uma conexão com a internet, você
pode acessar um servidor capaz de executar o aplicativo desejado,
que pode ser desde um processador de textos até mesmo um jogo
ou um pesado editor de vídeos. Enquanto os servidores executam
um programa ou acessam uma determinada informação, o seu
computador precisa apenas do monitor e dos periféricos para que
você interaja.
3 https://www.tecmundo.com.br/computacao-em-nuvem/738-o-que-e-com-
putacao-em-nuvens-.htm

249
INFORMÁTICA
Vantagens: Para quem gosta de editar documentos como Word, Excel e
– Não necessidade de ter uma máquina potente, uma vez que PowerPoint diretamente do gerenciador de arquivos do serviço,
tudo é executado em servidores remotos. o OneDrive disponibiliza esse recurso na nuvem para que seja dis-
– Possibilidade de acessar dados, arquivos e aplicativos a partir pensada a necessidade de realizar o download para só então poder
de qualquer lugar, bastando uma conexão com a internet para tal modificar o conteúdo do arquivo.
— ou seja, não é necessário manter conteúdos importantes em um
único computador. iCloud
O iCloud, serviço de armazenamento da Apple, possuía em um
Desvantagens: passado recente a ideia principal de sincronizar contatos, e-mails,
– Gera desconfiança, principalmente no que se refere à segu- dados e informações de dispositivos iOS. No entanto, recentemente
rança. Afinal, a proposta é manter informações importantes em a empresa também adotou para o iCloud a estratégia de utilizá-lo
um ambiente virtual, e não são todas as pessoas que se sentem à como um serviço de armazenamento na nuvem para usuários iOS.
vontade com isso.– Como há a necessidade de acessar servidores De início, o usuário recebe 5 GB de espaço de maneira gratuita.
remotos, é primordial que a conexão com a internet seja estável e Existem planos pagos para maior capacidade de armazena-
rápida, principalmente quando se trata de streaming e jogos. mento também.

Exemplos de computação em nuvem


Dropbox
O Dropbox é um serviço de hospedagem de arquivos em nu-
vem que pode ser usado de forma gratuita, desde que respeitado o
limite de 2 GB de conteúdo. Assim, o usuário poderá guardar com
segurança suas fotos, documentos, vídeos, e outros formatos, libe-
rando espaço no PC ou smartphone.

No entanto, a grande vantagem do iCloud é que ele possui um


sistema muito bem integrado aos seus aparelhos, como o iPhone.
A ferramenta “buscar meu iPhone”, por exemplo, possibilita que
o usuário encontre e bloqueie o aparelho remotamente, além de
poder contar com os contatos e outras informações do dispositivo
caso você o tenha perdido.

Google Drive
Apesar de não disponibilizar gratuitamente o aumento da ca-
pacidade de armazenamento, o Google Drive fornece para os usuá-
rios mais espaço do que os concorrentes ao lado do OneDrive. São
Além de servir como ferramenta de backup, o Dropbox tam- 15 GB de espaço para fazer upload de arquivos, documentos, ima-
bém é uma forma eficiente de ter os arquivos importantes sempre gens, etc.
acessíveis. Deste modo, o usuário consegue abrir suas mídias e do-
cumentos onde quer que esteja, desde que tenha acesso à Internet.

OneDrive
O OneDrive, que já foi chamado de SkyDrive, é o serviço de ar-
mazenamento na nuvem da Microsoft e oferece inicialmente 15 GB
de espaço para os usuários4. Mas é possível conseguir ainda mais
espaço gratuitamente indicando amigos e aproveitando diversas
promoções que a empresa lança regularmente.
Para conseguir espaço ainda maior, o aplicativo oferece planos
pagos com capacidades variadas também. Uma funcionalidade interessante do Google Drive é o seu ser-
viço de pesquisa e busca de arquivos que promete até mesmo re-
conhecer objetos dentro de imagens e textos escaneados. Mesmo
que o arquivo seja um bloco de notas ou um texto e você queira
encontrar algo que esteja dentro dele, é possível utilizar a busca
para procurar palavras e expressões.
Além disso, o serviço do Google disponibiliza que sejam feitas
edições de documentos diretamente do browser, sem precisar fazer
o download do documento e abri-lo em outro aplicativo.

4 https://canaltech.com.br/computacao-na-nuvem/comparativo-os-principais-
-servicos-de-armazenamento-na-nuvem-22996/

250
INFORMÁTICA
Tipos de implantação de nuvem O provedor em nuvem cuida de toda a configuração, planeja-
Primeiramente, é preciso determinar o tipo de implantação de mento de capacidade e gerenciamento de servidores para você e
nuvem, ou a arquitetura de computação em nuvem, na qual os ser- sua equipe.
viços cloud contratados serão implementados pela sua gestão de As arquiteturas sem servidor são altamente escalonáveis e
TI5. controladas por eventos: utilizando recursos apenas quando ocorre
Há três diferentes maneiras de implantar serviços de nuvem: uma função ou um evento que desencadeia tal necessidade.
– Nuvem pública: pertence a um provedor de serviços cloud
terceirizado pelo qual é administrada. Esse provedor fornece recur- SaaS (software como serviço)
sos de computação em nuvem, como servidores e armazenamento O SaaS é um método para a distribuição de aplicativos de sof-
via web, ou seja, todo o hardware, software e infraestruturas de su- tware pela Internet sob demanda e, normalmente, baseado em as-
porte utilizados são de propriedade e gerenciamento do provedor sinaturas.
de nuvem contratado pela organização. Com o SaaS, os provedores de computação em nuvem hospe-
– Nuvem privada: se refere aos recursos de computação em dam e gerenciam o aplicativo de software e a infraestrutura subja-
nuvem usados exclusivamente por uma única empresa, podendo cente.
estar localizada fisicamente no datacenter local da empresa, ou Além de realizarem manutenções, como atualizações de sof-
seja, uma nuvem privada é aquela em que os serviços e a infra- tware e aplicação de patch de segurança.
estrutura de computação em nuvem utilizados pela empresa são Com o software como serviço, os usuários da sua equipe po-
mantidos em uma rede privada. dem conectar o aplicativo pela Internet, normalmente com um na-
– Nuvem híbrida: trata-se da combinação entre a nuvem públi- vegador da web em seu telefone, tablet ou PC.
ca e a privada, que estão ligadas por uma tecnologia que permite o
compartilhamento de dados e aplicativos entre elas. O uso de nu-
vens híbridas na computação em nuvem ajuda também a otimizar QUESTÕES
a infraestrutura, segurança e conformidade existentes dentro da
empresa.
1. FCC - ESTAG (SABESP)/SABESP/ENSINO SUPERIOR/2019
Tipos de serviços de nuvem Em um pen drive de 16 GB um Estagiário conseguirá arma-
A maioria dos serviços de computação em nuvem se enquadra zenar
em quatro categorias amplas: (A) 18 arquivos de 999 MB.
– IaaS (infraestrutura como serviço); (B) 4 arquivos de 5194304 KB.
– PaaS (plataforma como serviço); (C) 8 arquivos de 3097152 KB.
– Sem servidor; (D) 6 arquivos de 1532 MB.
– SaaS (software como serviço). (E) 20 arquivos de 958993459 bytes.

Esses serviços podem ser chamados algumas vezes de pilha 2. FCC - ESTAG (SABESP)/SABESP/ENSINO MÉDIO TÉCNI-
da computação em nuvem por um se basear teoricamente sobre CO/2019
o outro. Um Estagiário sugeriu a aquisição de um computador com
processador Intel Core I7, com clock de
IaaS (infraestrutura como serviço) (A) 1024 MB/s.
A IaaS é a categoria mais básica de computação em nuvem. (B) 1.2 TB.
Com ela, você aluga a infraestrutura de TI de um provedor de servi- (C) 3.7 GHz.
ços cloud, pagando somente pelo seu uso. (D) 540 petaFLOPS.
A contratação dos serviços de computação em nuvem IaaS (E) 128 GHz.
(infraestrutura como serviço) envolve a aquisição de servidores e
máquinas virtuais, armazenamento (VMs), redes e sistemas opera- 3. FCC - ESTAG (SABESP)/SABESP/ENSINO MÉDIO REGU-
cionais. LAR/2019
Os dispositivos multicore possuem mais de um núcleo em
PaaS (plataforma como serviço) um único chip. Um exemplo de multicore é o Intel Core i9-9900K
PaaS refere-se aos serviços de computação em nuvem que for- de 9ª geração com 8 núcleos. Intel Core i9- 9900K é um tipo de
necem um ambiente sob demanda para desenvolvimento, teste, (A) HD.
fornecimento e gerenciamento de aplicativos de software. (B) ROM.
A plataforma como serviço foi criada para facilitar aos desen- (C) SSD.
volvedores a criação de aplicativos móveis ou web, tornando-a mui- (D) RAM.
to mais rápida. (E) processador.
Além de acabar com a preocupação quanto à configuração ou
ao gerenciamento de infraestrutura subjacente de servidores, ar-
mazenamento, rede e bancos de dados necessários para desenvol-
vimento.

Computação sem servidor


A computação sem servidor, assim como a PaaS, concentra-se
na criação de aplicativos, sem perder tempo com o gerenciamento
contínuo dos servidores e da infraestrutura necessários para isso.

5 https://ecoit.com.br/computacao-em-nuvem/

251
INFORMÁTICA
4. FCC - AFTM (MANAUS)/PREF MANAUS/2019 7. FCC - ASSGP (PREF RECIFE)/PREF RECIFE/2019
Um técnico de manutenção de microcomputadores de uma Um Assistente de Gestão Pública entrou em contato com o
empresa precisa substituir o seu disco rígido (H(D) com padrão suporte de informática afirmando que seu computador da linha
SATA e capacidade de armazenamento de 1 TB, que apresenta PC não inicializava o Windows ao ser ligado. O técnico de su-
defeito. O computador faz o uso intenso desse disco e permane- porte o orientou a reiniciar o computador por meio de Sistema
ce em operação continuamente (24 horas, todos os dias). Esse Operacional contido em um pen drive. Para que isso fosse possí-
técnico cogita substituir esse HD por uma unidade de estado só- vel, solicitou ao Assistente para desligar o computador, plugar o
lido (SS(D) com a mesma capacidade de armazenamento. Sobre pen drive na entrada USB e ligar o computador novamente. Para
essa substituição, é correto afirmar que o SSD entrar no Setup, onde poderá mudar a ordem de inicialização do
(A) apresenta um consumo de energia superior ao do HD, computador, o Assistente sabe que, na maioria dos computado-
podendo exigir a substituição da fonte de alimentação por res da linha PC, terá que pressionar a tecla
uma de maior capacidade. (A) F11.
(B) apresentará como desvantagem, em relação ao HD, uma (B) Ins ou Insert.
vida útil inferior, pois o número de gravações em cada célula (C) Del ou Delete.
é limitado. (D) Tab.
(C) apresenta, atualmente, um custo para a capacidade re- (E) Ctrl + Enter.
querida equivalente ao dos HDs convencionais.
(D) exigirá cuidados especiais na instalação, como blinda- 8. FCC - TGP (SPPREV)/SPPREV/2019
gem da unidade SSD, que é mais sensível a interferências No Windows 10, em português, para acessar a janela onde
magnéticas do que os HDs. será possível mapear uma unidade de rede, para acessá-la pos-
(E) não pode ser utilizado, pois as unidades SSD possuem teriormente por meio do Explorador de Arquivos, deve-se pres-
apenas conexão padrão IDE. sionar a tecla de logo do Windows + E e selecionar
(A) Rede e Internet > Localizar unidades de rede.
5. FCC - AG PREV (RP PREV)/RIO PRETO PREV/2019 (B) Rede > Central de rede e compartilhamento > Mapear
Para editar as configurações da placa-mãe em computado- unidades de rede.
res da linha PC, o BIOS possui uma interface chamada Setup, que (C) Este computador > Mapear unidade de rede, na guia
normalmente é acessada, após ligar o computador, pressionan- Computador.
do-se a tecla (D) Rede e Internet > Mapear unidade de rede, na guia Exi-
(A) F11. bir.
(B) Home. (E) Este computador > Propriedades > Configurar unidade
(C) Del ou Delete. de rede.
(D) F12.
(E) F4. 9. FCC - ANA PREV (RP PREV)/RIO PRETO PREV/ASSISTENTE
SOCIAL/2019
6. FCC - ASS TF (MANAUS)/PREF MANAUS/”SEM ÁREA»/2019 Em um computador com o sistema operacional Windows 10,
Foi especificada a aquisição de um microcomputador com em português, para alternar entre janelas que estão abertas na
uma porta USB-C. Essa porta apresenta como uma de suas ca- memória e para fechar a janela ativa utilizam-se, respectivamen-
racterísticas te, as combinações de teclas
(A) a transferência de dados de até 1 Gbps, insuficiente para (A) [Alt][F4] e [Ctrl][Alt][Del]
a transmissão de vídeos de padrão 4K para monitores exter- (B) [Ctrl][F1] e [Ctrl][F4]
nos ao computador. (C) [Alt][tab] e [Alt][F4]
(B) compatibilidade mecânica com as portas USB 3.1. (D) [Shift][tab] e [Shift][F4]
(C) permitir que a carga de dispositivos, como smartphones, (E) [Ctrl][tab] e [Ctrl][F12]
seja mais lenta, pois esse padrão fornece menos potência do
que portas USB 3.1. 10. FCC - TJ (TJ MA)/TJ MA/TÉCNICO EM INFORMÁTICA/HAR-
(D) possuir encaixe simétrico sem polarização, podendo ser DWARE/2019
encaixado de qualquer um de seus lados. À procura de um malware no computador com o Windows
(E) suportar cargas de até 10 W. 10, em português, um Técnico entrou no Explorador de arquivos
e, para exibir os arquivos ocultos, clicou em:
(A) Exibir > Itens ocultos.
(B) Arquivo > Opções de pasta > Mostrar itens ocultos.
(C) Exibir > Arquivos e Pastas > Itens Ocultos.
(D) Ferramentas > Opções de Pasta > Mostrar itens ocultos.
(E) Arquivo > Opções > Arquivos e pastas > Itens Ocultos.

252
INFORMÁTICA
11. FCC - ASS TF (MANAUS)/PREF MANAUS/”SEM 15. FCC - PROC (SANASA)/SANASA/JURÍDICO/2019
ÁREA»/2019 Um Procurador solicitou ajuda ao suporte técnico para resol-
Um assistente pretende localizar uma imagem específica para ver um problema de conexão com a Internet em um computador
acrescentá-la em um relatório, em um computador com o sistema que usa o sistema operacional Linux. O atendente do suporte so-
operacional Microsoft Windows 10, em sua configuração padrão licitou a ele para informar o endereço IP do computador na rede.
para a língua portuguesa. Porém, a imagem se encontra em uma Para obter este endereço, em linha de comando, ele utilizou
pasta juntamente com muitas outras, e o seu nome possui apenas a instrução
letras e números, dificultando a sua localização. Uma maneira de (A) getip -a
localizar com mais facilidade essa imagem é configurar e utilizar um (B) ifconfig
recurso do Explorador de Arquivos, que se chama (C) ipaddress
(A) Detalhes. (D) netsh -a
(B) Ícones Grandes. (E) ipconfig
(C) Painel de Detalhes.
(D) Painel de Visualização. 16. FCC - TP (MANAUSPREV)/MANAUSPREV/INFORMÁTI-
(E) Visualizador de Arquivos. CA/2021
O Microsoft Word, em português, possui um recurso que
12. FCC - AG FISCP (PREF SJRP)/PREF SJRP/2019 permite a geração automática de sumário no início do documen-
Um usuário, ao ligar o computador com o Windows 10, em to após o documento ser escrito. O sumário pode ser gerado na
português, faz rotineiramente login no sistema, por meio do seu posição em que se localiza o cursor, acionando-se opção Sumário
usuário e senha, para seu perfil de usuário ser carregado no com- que se encontra no menu Referências. Para que o sumário seja
putador. Toda vez que se ausenta do computador, por questões corretamente gerado, todos os títulos do documento devem ter
de segurança, bloqueia sua área de trabalho e, quando retorna, sido
digita a senha para desbloqueá-la. A tela que possui opções para (A) formatados como itens de lista numerada ou marcado-
bloquear a área de trabalho, trocar o usuário do computador, res.
alterar senha, entre outras, pode ser acessada (B) incluídos na tabela de hierarquia criada por meio da op-
(A) clicando-se no botão Iniciar e na opção Gerenciar Usuários. ção Inserir > Estrutura.
(B) pressionando-se simultaneamente a tecla com o símbolo (C) colocados entre colchetes na forma [Título 1], [Título 2],
do Windows e a letra R. [Título 3] etc.
(C) clicando-se no botão Iniciar e na opção Painel de Controle e, (D) associados ao sumário por meio da opção Inserir > Nível
em seguida, na opção Gerenciador de Tarefas. de Título.
(D) pressionando-se CTRL + Alt + Delete ou Ctrl + Alt + Del. (E) marcados (ou formatados) com estilos Título 1, Título 2,
(E) clicando-se no botão Iniciar e na opção Permissões. Título 3 etc.

13. FCC - ESC (BANRISUL)/BANRISUL/2019 17. FCC - TP (MANAUSPREV)/MANAUSPREV/INFORMÁTI-


No Linux e no prompt de comandos do Windows, para mos- CA/2021
trar a lista de arquivos e diretórios presentes na unidade de ar- Um técnico criou um documento no Microsoft Word, em
mazenamento atual, por exemplo, um pen drive, utilizam-se, português, com 100 páginas e numerou as páginas no seu roda-
respectivamente, os comandos pé, somente a partir da página 3, de forma que tal numeração
(A) ls e dir. se refletisse automaticamente no sumário. Ao realizar este tra-
(B) list e mkdir. balho, o técnico
(C) cat e rmdir. (A) posicionou o cursor no rodapé da página 3 e inseriu
(D) ps e dir. a numeração de página, já que tal numeração se aplica por
(E) ls e files. padrão apenas da página atual em diante.
(B) acionou as opções Layout > Configurar Página e na guia
14. FCC - ANA ADM (SANASA)/SANASA/CONTABILIDA- Configurações de Página marcou a opção Numerar Página e
DE/2019 definiu o intervalo de páginas onde a numeração deverá ser
Um Analista de TI deseja: inserida.
I. Mostrar arquivos que estão na pasta em que o usuário está (C) colocou o número de página manualmente no roda-
naquele momento, com informações detalhadas dos arquivos. pé de todas as páginas a partir da página 3.
II. Mostrar a pasta atual que o usuário está no momento, (D) dividiu o documento em duas seções, uma com as pági-
para auxiliar quando for salvar ou criar arquivos. nas 1 e 2 e outra a partir da página 3, aplicando a numeração
III. Mostrar o conteúdo do arquivo. de páginas apenas na segunda seção, sem vincular à seção
anterior.
No Linux, para executar as ações I, II e III devem ser usados, (E) quebrou página no final da página 2, inseriu rodapé so-
correta e respectivamente, os comandos mente a partir da página 3 e inseriu o número de página
(A) rm mv cd estático no rodapé.
(B) ls -l pwd cat
(C) cp cal cd
(D) cat -s cd -l cal
(E) ls rm -s pwd

253
INFORMÁTICA
18. FCC - ANA TI (SANASA)/SANASA/ANÁLISE E DESENVOL- (C) 64 caracteres e começar com espaços à esquerda.
VIMENTO/2019 (D) 64 caracteres e não podem começar com espaços à es-
Considere a planilha abaixo, elaborada no Microsoft Excel querda.
2016, em Português. (E) 32 caracteres e não podem começar com espaços à es-
querda.

GABARITO

1 D
2 C
3 E
4 B
Os requisitos que orientaram a elaboração dessa planilha
foram:
5 C
- Os valores de consumo de cada linha são o resultado da 6 D
multiplicação do consumo de água pelo valor por litro constante
na célula C3, invariavelmente. 7 C
- O fator de ajuste deve considerar o consumo, onde: 8 C
- Se o consumo for menor que 50 litros, então o fator é 1.
- Se o consumo for maior ou igual a 67 litros, então o fator 9 C
é 1,20. 10 A
- Caso contrário, o fator é 1,15.
- O valor final é o resultado da multiplicação do valor de 11 D
consumo pelo fator de ajuste. 12 D
- As fórmulas constantes das células C5 e D5 devem ser pro-
pagadas cada uma nas respectivas colunas pela alça de preen- 13 A
chimento. 14 B
Para atender corretamente os requisitos, as fórmulas inseri- 15 B
das nas células C5 e D5 foram, respectivamente, 16 E
(A) =B5*$C$3 e =SE($B$5<50.1.SE($B$5>=67.1,2.1,15)).
(B) =B5*C3 e =SE(B$5<50;1;SE(B$5>=67;1,2;1,15)). 17 D
(C) =B5*C$3 e =SE(B5<50;1;SE(B5>=67;1,2;1,15)). 18 C
(D) =B5*C3 e =SE($B5<50;1;SE($B5>=67;1,2;1,15)).
(E) =B5*$C$3 e =SE(B5<50;SE(B5> OR =67;1,15;1,2);1). 19 C
20 C
19. FCC - ANA TI (SANASA)/SANASA/ANÁLISE E DESENVOL-
VIMENTO/2019
Um Analista de TI pretende capturar um pedaço de uma foto
que está na tela do seu computador para colocá-lo em um slide
do Microsoft PowerPoint 2016, em Português, de uma apresen-
tação que está elaborando. Para isso, ele deve escolher Recorte
de Tela, que se encontra
(A) na Barra de Ferramentas de Acesso Rápido, guia
Imagens, no grupo Inserir Instantâneo.
(B) no Menu Ferramentas, guia Imagens Online.
(C) na Faixa de Opções , guia Inserir, Instantâneo.
(D) no Menu Inserir, guia Imagens.
(E) na Faixa de Opções, guia Imagens, Instantâneo.

20. FCC - ANA TI (SANASA)/SANASA/ANÁLISE E DESENVOL-


VIMENTO/2019
Ao criar uma tabela na ferramenta Microsoft Access 2016,
em Português, um Analista de TI precisou descrever os nomes
dos campos e suas características. Os nomes, controles e objetos
nessa ferramenta podem ter até
(A) 32 caracteres e começar com espaços à esquerda.
(B) 128 caracteres e não podem começar com espaços à es-
querda.

254
DIREITO CONSTITUCIONAL

II - a cidadania
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL: III - a dignidade da pessoa humana;
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Forma, Sistema e Fundamentos da República Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
• Papel dos Princípios e o Neoconstitucionalismo Constituição.
Os princípios abandonam sua função meramente subsidiária Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos en-
na aplicação do Direito, quando serviam tão somente de meio de tre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
integração da ordem jurídica (na hipótese de eventual lacuna) e ve-
tor interpretativo, e passam a ser dotados de elevada e reconhecida Objetivos Fundamentais da República
normatividade. Os Objetivos Fundamentais da República estão elencados no
Artigo 3º da CF/88. Vejamos:
• Princípio Federativo Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Fede-
Significa que a União, os Estados-membros, o Distrito Federal rativa do Brasil:
e os Municípios possuem autonomia, caracteriza por um determi- I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
nado grau de liberdade referente à sua organização, à sua adminis- II - garantir o desenvolvimento nacional;
tração, à sua normatização e ao seu Governo, porém limitada por III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desi-
certos princípios consagrados pela Constituição Federal. gualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
• Princípio Republicano raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
É uma forma de Governo fundada na igualdade formal entre as
pessoas, em que os detentores do poder político exercem o coman- Princípios de Direito Constitucional Internacional
do do Estado em caráter eletivo, representativo, temporário e com Os Princípios de Direito Constitucional Internacional estão
responsabilidade. elencados no Artigo 4º da CF/88. Vejamos:
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas rela-
• Princípio do Estado Democrático de Direito ções internacionais pelos seguintes princípios:
O Estado de Direito é aquele que se submete ao império da lei. I - independência nacional;
Por sua vez, o Estado democrático caracteriza-se pelo respeito ao II - prevalência dos direitos humanos;
princípio fundamental da soberania popular, vale dizer, funda-se na III - autodeterminação dos povos;
noção de Governo do povo, pelo povo e para o povo. IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
• Princípio da Soberania Popular VI - defesa da paz;
O parágrafo único do Artigo 1º da Constituição Federal reve- VII - solução pacífica dos conflitos;
la a adoção da soberania popular como princípio fundamental ao VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
prever que “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio IX - cooperação entre os povos para o progresso da humani-
de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Cons- dade;
tituição”. X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a in-
• Princípio da Separação dos Poderes tegração econômica, política, social e cultural dos povos da América
A visão moderna da separação dos Poderes não impede que Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana
cada um deles exerça atipicamente (de forma secundária), além de de nações.
sua função típica (preponderante), funções atribuídas a outro Po-
der. Referências Bibliográficas:
Vejamos abaixo, os dispositivos constitucionais corresponden- DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
tes ao tema supracitado: Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.

TÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, consti-
tui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;

255
DIREITO CONSTITUCIONAL
d) correspondem ao direito de preservação do meio ambiente,
DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS. de autodeterminação dos povos, da paz, do progresso da humani-
dade, do patrimônio histórico e cultural, etc.
Distinção entre Direitos e Garantias Fundamentais
Pode-se dizer que os direitos fundamentais são os bens jurídi- • Direitos Fundamentais de Quarta Geração
cos em si mesmos considerados, de cunho declaratório, narrados Segundo Paulo Bonavides, a globalização política é o fator his-
no texto constitucional. Por sua vez, as garantias fundamentais são tórico que deu origem aos direitos fundamentais de quarta gera-
estabelecidas na mesma Constituição Federal como instrumento de ção. Eles estão ligados à democracia, à informação e ao pluralismo.
proteção dos direitos fundamentais e, como tais, de cunho assecu- Também são transindividuais.
ratório.
Direitos Fundamentais de Quinta Geração
Evolução dos Direitos e Garantias Fundamentais Paulo Bonavides defende, ainda, que o direito à paz represen-
taria o direito fundamental de quinta geração.
• Direitos Fundamentais de Primeira Geração
Possuem as seguintes características: Características dos Direitos e Garantias Fundamentais
a) surgiram no final do século XVIII, no contexto da Revolução São características dos Direitos e Garantias Fundamentais:
Francesa, fase inaugural do constitucionalismo moderno, e domina- a) Historicidade: não nasceram de uma só vez, revelando sua
ram todo o século XIX; índole evolutiva;
b) ganharam relevo no contexto do Estado Liberal, em oposição b) Universalidade: destinam-se a todos os indivíduos, indepen-
ao Estado Absoluto; dentemente de características pessoais;
c) estão ligados ao ideal de liberdade; c) Relatividade: não são absolutos, mas sim relativos;
d) são direitos negativos, que exigem uma abstenção do Estado d) Irrenunciabilidade: não podem ser objeto de renúncia;
em favor das liberdades públicas; e) Inalienabilidade: são indisponíveis e inalienáveis por não
e) possuíam como destinatários os súditos como forma de pro- possuírem conteúdo econômico-patrimonial;
teção em face da ação opressora do Estado; f) Imprescritibilidade: são sempre exercíveis, não desparecen-
f) são os direitos civis e políticos. do pelo decurso do tempo.

• Direitos Fundamentais de Segunda Geração Destinatários dos Direitos e Garantias Fundamentais


Possuem as seguintes características: Todas as pessoas físicas, sem exceção, jurídicas e estatais, são
a) surgiram no início do século XX; destinatárias dos direitos e garantias fundamentais, desde que
b) apareceram no contexto do Estado Social, em oposição ao compatíveis com a sua natureza.
Estado Liberal;
c) estão ligados ao ideal de igualdade; Eficácia Horizontal dos Direitos e Garantias Fundamentais
d) são direitos positivos, que passaram a exigir uma atuação Muito embora criados para regular as relações verticais, de su-
positiva do Estado; bordinação, entre o Estado e seus súditos, passam a ser emprega-
e) correspondem aos direitos sociais, culturais e econômicos. dos nas relações provadas, horizontais, de coordenação, envolven-
do pessoas físicas e jurídicas de Direito Privado.
• Direitos Fundamentais de Terceira Geração
Em um próximo momento histórico, foi despertada a preocu- Natureza Relativa dos Direitos e Garantias Fundamentais
pação com os bens jurídicos da coletividade, com os denominados Encontram limites nos demais direitos constitucionalmente
interesses metaindividuais (difusos, coletivos e individuais homogê- consagrados, bem como são limitados pela intervenção legislativa
neos), nascendo os direitos fundamentais de terceira geração. ordinária, nos casos expressamente autorizados pela própria Cons-
tituição (princípio da reserva legal).
Direitos Metaindividuais
Colisão entre os Direitos e Garantias Fundamentais
Natureza Destinatários O princípio da proporcionalidade sob o seu triplo aspecto (ade-
Difusos Indivisível Indeterminados quação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito) é a
ferramenta apta a resolver choques entre os princípios esculpidos
Determináveis na Carta Política, sopesando a incidência de cada um no caso con-
Coletivos Indivisível ligados por uma creto, preservando ao máximo os direitos e garantias fundamentais
relação jurídica constitucionalmente consagrados.
Determinados
Individuais Os quatro status de Jellinek
Divisível ligados por uma
Homogêneos a) status passivo ou subjectionis: quando o indivíduo se encon-
situação fática
tra em posição de subordinação aos poderes públicos, caracterizan-
Os Direitos Fundamentais de Terceira Geração possuem as se- do-se como detentor de deveres para com o Estado;
guintes características: b) status negativo: caracterizado por um espaço de liberdade
a) surgiram no século XX; de atuação dos indivíduos sem ingerências dos poderes públicos;
b) estão ligados ao ideal de fraternidade (ou solidariedade), c) status positivo ou status civitatis: posição que coloca o indi-
que deve nortear o convívio dos diferentes povos, em defesa dos víduo em situação de exigir do Estado que atue positivamente em
bens da coletividade; seu favor;
c) são direitos positivos, a exigir do Estado e dos diferentes d) status ativo: situação em que o indivíduo pode influir na for-
povos uma firme atuação no tocante à preservação dos bens de mação da vontade estatal, correspondendo ao exercício dos direi-
interesse coletivo; tos políticos, manifestados principalmente por meio do voto.

256
DIREITO CONSTITUCIONAL
Referências Bibliográficas: Do mesmo modo, é no direito de propriedade que se assegu-
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e ram a inviolabilidade do domicílio, os direitos autorais (propriedade
Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. intelectual) e os direitos reativos à herança.
Destes direitos, emanam todos os incisos do Art. 5º, da CF/88,
Os direitos individuais estão elencados no caput do Artigo 5º conforme veremos abaixo:
da CF. São eles:
TÍTULO II
Direito à Vida DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
O direito à vida deve ser observado por dois prismas: o direito
de permanecer vivo e o direito de uma vida digna. CAPÍTULO I
O direito de permanecer vivo pode ser observado, por exem- DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
plo, na vedação à pena de morte (salvo em caso de guerra decla-
rada). Artigo 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
Já o direito à uma vida digna, garante as necessidades vitais qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
básicas, proibindo qualquer tratamento desumano como a tortura, residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
penas de caráter perpétuo, trabalhos forçados, cruéis, etc. igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I- homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
Direito à Liberdade termos desta Constituição;
O direito à liberdade consiste na afirmação de que ninguém II- ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em vir- coisa senão em virtude de lei;
tude de lei. Tal dispositivo representa a consagração da autonomia III- ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desu-
privada. mano ou degradante;
Trata-se a liberdade, de direito amplo, já que compreende, IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o ano-
dentre outros, as liberdades: de opinião, de pensamento, de loco- nimato;
moção, de consciência, de crença, de reunião, de associação e de V- é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
expressão. além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
VI- é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
Direito à Igualdade assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na for-
A igualdade, princípio fundamental proclamado pela Constitui- ma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
ção Federal e base do princípio republicano e da democracia, deve VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência
ser encarada sob duas óticas, a igualdade material e a igualdade religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;
formal. VIII- ninguém será privado de direitos por motivo de crença reli-
A igualdade formal é a identidade de direitos e deveres conce- giosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para
didos aos membros da coletividade por meio da norma. eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir
Por sua vez, a igualdade material tem por finalidade a busca prestação alternativa, fixada em lei;
da equiparação dos cidadãos sob todos os aspectos, inclusive o IX - é livre a expressão de atividade intelectual, artística, cientí-
jurídico. É a consagração da máxima de Aristóteles, para quem o fica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
princípio da igualdade consistia em tratar igualmente os iguais e X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a ima-
desigualmente os desiguais na medida em que eles se desigualam. gem das pessoas, assegurado o direito à indenização por dano ma-
Sob o pálio da igualdade material, caberia ao Estado promover terial ou moral decorrente de sua violação;
a igualdade de oportunidades por meio de políticas públicas e leis XI- a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
que, atentos às características dos grupos menos favorecidos, com- penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagran-
pensassem as desigualdades decorrentes do processo histórico da te delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
formação social. determinação judicial;
XII- é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
Direito à Privacidade telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no úl-
Para o estudo do Direito Constitucional, a privacidade é gênero, timo caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei
do qual são espécies a intimidade, a honra, a vida privada e a ima- estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução proces-
gem. De maneira que, os mesmos são invioláveis e a eles assegura- sual penal;
-se o direito à indenização pelo dano moral ou material decorrente XIII- é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
de sua violação. atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
XIV- é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado
Direito à Honra o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;
O direito à honra almeja tutelar o conjunto de atributos perti- XV- é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz,
nentes à reputação do cidadão sujeito de direitos, exatamente por podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permane-
tal motivo, são previstos no Código Penal. cer ou dele sair com seus bens;
XVI- todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em lo-
Direito de Propriedade cais abertos ao público, independentemente de autorização, desde
É assegurado o direito de propriedade, contudo, com restri- que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o
ções, como por exemplo, de que se atenda à função social da pro- mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade com-
priedade. Também se enquadram como espécies de restrição do petente;
direito de propriedade, a requisição, a desapropriação, o confisco XVII- é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada
e o usucapião. a de caráter paramilitar;

257
DIREITO CONSTITUCIONAL
XVIII- a criação de associações e, na forma da lei, a de coope- a) a plenitude da defesa;
rativas independem de autorização, sendo vedada a interferência b) o sigilo das votações;
estatal em seu funcionamento; c) a soberania dos veredictos;
XIX- as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvi- d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra
das ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo- a vida;
-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; XXXIX- não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena
XX- ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a perma- sem prévia cominação legal;
necer associado; XL- a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
XXI- as entidades associativas, quando expressamente autori- XLI- a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos
zadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou e liberdades fundamentais;
extrajudicialmente; XLII- a prática do racismo constitui crime inafiançável e impres-
XXII- é garantido o direito de propriedade; critível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
XXIII- a propriedade atenderá a sua função social; XLIII- a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de
XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecen-
por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, me- tes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hedion-
diante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos dos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
previstos nesta Constituição; podendo evitá-los, se omitirem;
XXV- no caso de iminente perigo público, a autoridade compe- XLIV- constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de gru-
tente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao pro- pos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o
prietário indenização ulterior, se houver dano; Estado Democrático;
XXVI- a pequena propriedade rural, assim definida em lei, des- XLV- nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo
de que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de
pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dis- bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
pondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento; executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, XLVI- a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre
publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdei- outras, as seguintes:
ros pelo tempo que a lei fixar; a) privação ou restrição de liberdade;
XXVIII- são assegurados, nos termos da lei: b) perda de bens;
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e c) multa;
à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades d) prestação social alternativa;
desportivas; e) suspensão ou interdição de direitos;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das XLVII- não haverá penas:
obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intér- a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do
pretes e às respectivas representações sindicais e associativas; artigo 84, XIX;
XXIX- a lei assegurará aos autores de inventos industriais privi- b) de caráter perpétuo;
légio temporário para sua utilização, bem como às criações indus- c) de trabalhos forçados;
triais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros d) de banimento;
signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvi- e) cruéis;
mento tecnológico e econômico do País; XLVIII- a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de
XXX- é garantido o direito de herança; acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
XXXI- a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será XLIX- é assegurado aos presos o respeito à integridade física e
regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos moral;
brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável à lei pessoal L- às presidiárias serão asseguradas condições para que pos-
do de cujus; sam permanecer com seus filhos durante o período de amamenta-
XXXII- o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do con- ção;
sumidor; LI- nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado,
XXXIII- todos têm direito a receber dos órgãos públicos informa- em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de
ções de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, gas afins, na forma da lei;
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da LII- não será concedida extradição de estrangeiro por crime po-
sociedade e do Estado; lítico ou de opinião;
XXXIV- são a todos assegurados, independentemente do paga- LIII- ninguém será processado nem sentenciado senão por au-
mento de taxas: toridade competente;
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direi- LIV- ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
tos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; devido processo legal;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa LV- aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
XXXV- a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão com os meios e recursos a ela inerentes;
ou ameaça a direito; LVI- são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
XXXVI- a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico ilícitos;
perfeito e a coisa julgada; LVII- ninguém será considerado culpado até o trânsito em julga-
XXXVII- não haverá juízo ou tribunal de exceção; do da sentença penal condenatória;
XXXVIII- é reconhecida a instituição do júri, com a organização LVIII- o civilmente identificado não será submetido à identifica-
que lhe der a lei, assegurados: ção criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;

258
DIREITO CONSTITUCIONAL
LIX- será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se LXXVIII- a todos, no âmbito judicial e administrativo, são asse-
esta não for intentada no prazo legal; gurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
LX- a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais celeridade de sua tramitação.
quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos
LXI- ninguém será preso senão em flagrante delito ou por or- dados pessoais, inclusive nos meios digitais. (Incluído pela Emenda
dem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, Constitucional nº 115, de 2022)
salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente mi- §1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamen-
litar, definidos em lei; tais têm aplicação imediata.
LXII- a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre §2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não ex-
serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família cluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adota-
ou à pessoa por ele indicada; dos, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa
LXIII- o preso será informado de seus direitos, entre os quais o do Brasil seja parte.
de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da famí- §3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos hu-
lia e de advogado; manos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional,
LXIV- o preso tem direito a identificação dos responsáveis por em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
sua prisão ou por seu interrogatório policial; §4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Interna-
LXV- a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autori- cional a cuja criação tenha manifestado adesão.
dade judiciária;
LXVI- ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a O tratado foi equiparado no ordenamento jurídico brasileiro às
leis ordinárias. Em que pese tenha adquirido este caráter, o men-
lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;
cionado tratado diz respeito a direitos humanos, porém não possui
LXVII- não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável
característica de emenda constitucional, pois entrou em vigor em
pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimen-
nosso ordenamento jurídico antes da edição da Emenda Constitu-
tícia e a do depositário infiel;
cional nº 45/04. Para que tal tratado seja equiparado às emendas
LXVIII- conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer constitucionais deverá passar pelo mesmo rito de aprovação destas.
ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberda-
de de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; Referências Bibliográficas:
LXIX- conceder-se-á mandado de segurança para proteger di- DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
reito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atri- Os direitos sociais são prestações positivas proporcionadas
buições de Poder Público; pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas cons-
LXX- o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: titucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais
a) partido político com representação no Congresso Nacional; fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações so-
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legal- ciais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito de
mente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em igualdade. Estão previstos na CF nos artigos 6 a 11. Vejamos:
defesa dos interesses de seus membros ou associados;
LXXI- conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta CAPÍTULO II
de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e DOS DIREITOS SOCIAIS
liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à naciona-
lidade, à soberania e à cidadania; Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação,
LXXII- conceder-se-á habeas data: o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previ-
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à dência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada
de entidades governamentais ou de caráter público; pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015)
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo Parágrafo único. Todo brasileiro em situação de vulnerabilida-
por processo sigiloso, judicial ou administrativo; de social terá direito a uma renda básica familiar, garantida pelo
LXXIII- qualquer cidadão é parte legítima para propor ação poder público em programa permanente de transferência de renda,
cujas normas e requisitos de acesso serão determinados em lei, ob-
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
servada a legislação fiscal e orçamentária. (Incluído pela Emenda
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,
Constitucional nº 114, de 2021)
ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de
autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
outros que visem à melhoria de sua condição social:
da sucumbência; I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária
LXXIV- o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá
aos que comprovarem insuficiência de recursos; indenização compensatória, dentre outros direitos;
LXXV- o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, as- II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
sim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença; III - fundo de garantia do tempo de serviço;
LXXVI- são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na for- IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado,
ma da lei: capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua fa-
a) o registro civil de nascimento; mília com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário,
b) a certidão de óbito. higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos
LXXVII- são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação
e, na forma da lei, os atos necessário ao exercício da cidadania; para qualquer fim;

259
DIREITO CONSTITUCIONAL
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo
trabalho; empregatício permanente e o trabalhador avulso.
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhado-
ou acordo coletivo; res domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII,
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e,
percebem remuneração variável; atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplifi-
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral cação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e aces-
ou no valor da aposentadoria; sórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os
IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua integração à previdência social.
retenção dolosa; Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado
XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da re- o seguinte:
muneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empre- I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a funda-
sa, conforme definido em lei; ção de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, veda-
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalha- das ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização
dor de baixa renda nos termos da lei; sindical;
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas di- II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical,
árias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de
em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou eco-
horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção
nômica, na mesma base territorial, que será definida pelos traba-
coletiva de trabalho;
lhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à
XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos
área de um Município;
ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos do- III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coleti-
mingos; vos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no míni- administrativas;
mo, em cinquenta por cento à do normal; IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratan-
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um do de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio
terço a mais do que o salário normal; do sistema confederativo da representação sindical respectiva, in-
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, dependentemente da contribuição prevista em lei;
com a duração de cento e vinte dias; V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei; sindicato;
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante in- VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações
centivos específicos, nos termos da lei; coletivas de trabalho;
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas
mínimo de trinta dias, nos termos da lei; organizações sindicais;
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de nor- VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a par-
mas de saúde, higiene e segurança; tir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação
XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do
insalubres ou perigosas, na forma da lei; mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.
XXIV - aposentadoria; Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à orga-
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nas- nização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas
cimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas; as condições que a lei estabelecer.
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos traba-
trabalho; lhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os inte-
XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei; resses que devam por meio dele defender.
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empre- § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá
gador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando
sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
incorrer em dolo ou culpa;
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de
da lei.
trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalha-
Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e em-
dores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do
contrato de trabalho; pregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus inte-
a) (Revogada). resses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e
b) (Revogada). deliberação.
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é as-
e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado segurada a eleição de um representante destes com a finalidade
civil; exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empre-
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário gadores.
e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e Os direitos sociais regem-se pelos princípios abaixo:
intelectual ou entre os profissionais respectivos; • Princípio da proibição do retrocesso: qualifica-se pela impos-
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a sibilidade de redução do grau de concretização dos direitos sociais
menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis já implementados pelo Estado. Ou seja, uma vez alcançado deter-
anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; minado grau de concretização de um direito social, fica o legislador

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DIREITO CONSTITUCIONAL
proibido de suprimir ou reduzir essa concretização sem que haja II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
a criação de mecanismos equivalentes chamados de medias com- III - de Presidente do Senado Federal;
pensatórias. IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
• Princípio da reserva do possível: a implementação dos di- V - da carreira diplomática;
reitos e garantias fundamentais de segunda geração esbarram no VI - de oficial das Forças Armadas.
óbice do financeiramente possível. VII - de Ministro de Estado da Defesa.
• Princípio do mínimo existencial: é um conjunto de bens e di- § 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro
reitos vitais básicos indispensáveis a uma vida humana digna, intrin- que:
secamente ligado ao fundamento da dignidade da pessoa humana I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em
previsto no Artigo 1º, III, CF. A efetivação do mínimo existencial não virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
se sujeita à reserva do possível, pois tais direitos se encontram na II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
estrutura dos serviços púbicos essenciais. a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei es-
trangeira;
Os direitos sociais são divididos em: b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao
brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para
Direitos relativos aos trabalhadores permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.
Direitos relativos ao salário, às condições de trabalho, à liber- Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Fe-
dade de instituição sindical, o direito de greve, entre outros (CF, ar- derativa do Brasil.
tigos 7º a 11). § 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira,
o hino, as armas e o selo nacionais.
Direitos relativos ao homem consumidor § 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter
Direito à saúde, à educação, à segurança social, ao desenvolvi- símbolos próprios.
mento intelectual, o igual acesso das crianças e adultos à instrução,
à cultura e garantia ao desenvolvimento da família, que estariam no A Nacionalidade é o vínculo jurídico-político de Direito Público
título da ordem social. interno, que faz da pessoa um dos elementos componentes da di-
mensão pessoal do Estado (o seu povo).
Referências Bibliográficas:
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Considera-se povo o conjunto de nacionais, ou seja, os brasilei-
Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. ros natos e naturalizados.

Os direitos referentes à nacionalidade estão previstos dos Arti- Espécies de Nacionalidade


gos 12 a 13 da CF. Vejamos: São duas as espécies de nacionalidade:
a) Nacionalidade primária, originária, de 1º grau, involuntá-
CAPÍTULO III ria ou nata: é aquela resultante de um fato natural, o nascimento.
DA NACIONALIDADE Trata-se de aquisição involuntária de nacionalidade, decorrente do
simples nascimento ligado a um critério estabelecido pelo Estado
Art. 12. São brasileiros: na sua Constituição Federal. Descrita no Artigo 12, I, CF/88.
I - natos: b) Nacionalidade secundária, adquirida, por aquisição, de 2º
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de grau, voluntária ou naturalização: é a que se adquire por ato voliti-
pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; vo, depois do nascimento, somado ao cumprimento dos requisitos
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasilei- constitucionais. Descrita no Artigo 12, II, CF/88.
ra, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federa-
tiva do Brasil; O quadro abaixo auxilia na memorização das diferenças entre
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe bra- as duas:
sileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira com-
petente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e Nacionalidade
optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira; Primária Secundária
II - naturalizados: Nascimento + Requisitos Ato de vontade + Requisitos
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, constitucionais constitucionais
exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas resi-
dência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; Brasileiro Nato Brasileiros Naturalizado
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na
República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterrup- • Critérios para Adoção de Nacionalidade Primária
tos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade O Estado pode adotar dois critérios para a concessão da nacio-
brasileira. nalidade originária: o de origem sanguínea (ius sanguinis) e o de
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se origem territorial (ius solis).
houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os O critério ius sanguinis tem por base questões de hereditarie-
direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Cons- dade, um vínculo sanguíneo com os ascendentes.
tituição. O critério ius solis concede a nacionalidade originária aos nas-
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros cidos no território de um determinado Estado, sendo irrelevante a
natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. nacionalidade dos genitores.
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;

261
DIREITO CONSTITUCIONAL
A CF/88 adotou o critério ius solis como regra geral, possibili- II - facultativos para:
tando em alguns casos, a atribuição de nacionalidade primária pau- a) os analfabetos;
tada no ius sanguinis. b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
Portugueses Residentes no Brasil § 2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, du-
O §1º do Artigo 12 da CF confere tratamento diferenciado aos rante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.
portugueses residentes no Brasil. Não se trata de hipótese de natu- § 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
ralização, mas tão somente forma de atribuição de direitos. I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
Portugueses Equiparados III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
Igual os Direitos Se houver 1) Residência
V - a filiação partidária;
dos Brasileiros permanente no
Naturalizados Brasil; VI - a idade mínima de:
2) Reciprocidade a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da Re-
aos brasileiros em pública e Senador;
Portugal. b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e
do Distrito Federal;
Distinção entre Brasileiros Natos e Naturalizados c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual
A CF/88 em seu Artigo 12, §2º, prevê que a lei não poderá fa- ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
zer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, com exceção às d) dezoito anos para Vereador.
seguintes hipóteses: § 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.
Cargos privativos de brasileiros natos → Artigo 12, §3º, CF; § 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do
Função no Conselho da República → Artigo 89, VII, CF; Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substi-
Extradição → Artigo 5º, LI, CF; e tuído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único
Direito de propriedade → Artigo 222, CF. período subsequente.
§ 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da Repú-
Perda da Nacionalidade blica, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos
O Artigo 12, §4º da CF refere-se à perda da nacionalidade, que devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do
apenas poderá ocorrer nas duas hipóteses taxativamente elencadas pleito.
na CF, sob pena de manifesta inconstitucionalidade. § 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o côn-
juge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou
Dupla Nacionalidade por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado
O Artigo 12, §4º, II da CF traz duas hipóteses em que a opção ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja
por outra nacionalidade não ocasiona a perda da brasileira, passan- substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já
do o nacional a possuir dupla nacionalidade (polipátrida). titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes con-
Polipátrida → aquele que possui mais de uma nacionalidade. dições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se
Heimatlos ou Apátrida → aquele que não possui nenhuma na-
da atividade;
cionalidade.
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela
autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato
Idioma Oficial e Símbolos Nacionais
Por fim, o Artigo 13 da CF elenca o Idioma Oficial e os Símbolos da diplomação, para a inatividade.
Nacionais do Brasil. § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibi-
lidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade
Referências Bibliográficas: administrativa, a moralidade para exercício de mandato conside-
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e rada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade
Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou
Os Direitos Políticos têm previsão legal na CF/88, em seus Arti- indireta.
gos 14 a 16. Seguem abaixo: § 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça
Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruí-
CAPÍTULO IV da a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou
DOS DIREITOS POLÍTICOS fraude.
§ 11. A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio univer- de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de
sal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos manifesta má-fé.
termos da lei, mediante: § 12. Serão realizadas concomitantemente às eleições munici-
I - plebiscito; pais as consultas populares sobre questões locais aprovadas pelas
II - referendo; Câmaras Municipais e encaminhadas à Justiça Eleitoral até 90 (no-
III - iniciativa popular. venta) dias antes da data das eleições, observados os limites ope-
§ 1º O alistamento eleitoral e o voto são: racionais relativos ao número de quesitos. (Incluído pela Emenda
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; Constitucional nº 111, de 2021)

262
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 13. As manifestações favoráveis e contrárias às questões Inelegibilidades
submetidas às consultas populares nos termos do § 12 ocorrerão A inelegibilidade afasta a capacidade eleitoral passiva (direito
durante as campanhas eleitorais, sem a utilização de propaganda de ser votado), constituindo-se impedimento à candidatura a man-
gratuita no rádio e na televisão. (Incluído pela Emenda Constitucio- datos eletivos nos Poderes Executivo e Legislativo.
nal nº 111, de 2021)
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou • Inelegibilidade Absoluta
suspensão só se dará nos casos de: Com previsão legal no Artigo 14, §4º da CF, a inelegibilidade ab-
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em soluta impede que o cidadão concorra a qualquer mandato eletivo
julgado; e, em virtude de natureza excepcional, somente pode ser estabele-
II - incapacidade civil absoluta; cida na Constituição Federal.
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto du- Refere-se aos Inalistáveis e aos Analfabetos.
rarem seus efeitos;
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação • Inelegibilidade Relativa
alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; Consiste em restrições que recaem à candidatura a determi-
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. nados cargos eletivos, em virtude de situações próprias em que se
Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor encontra o cidadão no momento do pleito eleitoral. São elas:
na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra → Vedação ao terceiro mandato sucessivo para os Chefes do
até um ano da data de sua vigência. Poder Executivo (Artigo 14, §5º, CF);
→ Desincompatibilização para concorrer a outros cargos, apli-
De acordo com José Afonso da Silva, os direitos políticos, rela- cada apenas aos Chefes do Poder Executivo (Artigo 14, §6º, CF);
cionados à primeira geração dos direitos e garantias fundamentais, → Inelegibilidade reflexa, ou seja, inelegibilidade relativa por
consistem no conjunto de normas que asseguram o direito subjetivo motivos de casamento, parentesco ou afinidade, uma vez que não
de participação no processo político e nos órgãos governamentais. incide sobre o mandatário, mas sim perante terceiros (Artigo 14,
São instrumentos previstos na Constituição e em normas infra- §7º, CF).
constitucionais que permitem o exercício concreto da participação
do povo nos negócios políticos do Estado. Condição de Militar
O militar alistável é elegível, desde que atenda as exigências
Capacidade Eleitoral Ativa previstas no §8º do Artigo 14, da CF, a saber:
Segundo o Artigo 14, §1º da CF, a capacidade eleitoral ativa é I – se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se
o direito de votar nas eleições, nos plebiscitos ou nos referendos, da atividade;
cuja aquisição se dá com o alistamento eleitoral, que atribui ao na- II – se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela
cional a condição de cidadão (aptidão para o exercício de direitos autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato
políticos). da diplomação, para a inatividade.

Observa-se que a norma restringe a elegibilidade aos militares


Alistamento Eleitoral e Voto
alistáveis, logo, os conscritos, que são inalistáveis, são inelegíveis. O
Obrigatório Facultativo Inalistável – Artigo 14, §2º quadro abaixo serve como exemplo:
Maiores de 18 e Maiores de 16 Estrangeiros (com
menores de 70 e menores de exceção aos portugueses Militares – Exceto os Conscritos
anos 18 anos equiparados, constantes no
Menos de 10 anos Registro da candidatura →
Maiores de 70 Artigo 12, §1º da CF)
Inatividade
anos Conscritos (aqueles
Analfabetos convocados para o serviço Mais de 10 anos Registro da candidatura →
militar obrigatório) Agregado
Na diplomação → Inatividade
• Características do Voto
O voto no Brasil é direito (como regra), secreto, universal, com Privação dos Direitos Políticos
valor igual para todos, periódico, personalíssimo, obrigatório e livre. De acordo com o Artigo 15 da CF, o cidadão pode ser privado
Capacidade Eleitoral Passiva dos seus direitos políticos por prazo indeterminado (perda), sendo
Também chamada de Elegibilidade, a capacidade eleitoral pas- que, neste caso, o restabelecimento dos direitos políticos depende-
siva diz respeito ao direito de ser votado, ou seja, de eleger-se para rá do exercício de ato de vontade do indivíduo, de um novo alista-
cargos políticos. Tem previsão legal no Artigo 14, §3º da CF. mento eleitoral.
O quadro abaixo facilita a memorização da diferença entre as Da mesma forma, a privação dos direitos políticos pode se dar
duas espécies de capacidade eleitoral. Vejamos: por prazo determinado (suspensão), em que o restabelecimento se
dará automaticamente, ou seja, independentemente de manifesta-
ção do suspenso, desde que ultrapassado as razões da suspensão.
Capacidade Eleitoral Ativa Capacidade Eleitoral Passiva
Vejamos:
Alistabilidade Elegibilidade
Direito de votar Direito de ser votado

263
DIREITO CONSTITUCIONAL

Privação dos Direitos Políticos § 6º Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Depu-


tados Distritais e os Vereadores que se desligarem do partido pelo
Perda Suspensão qual tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos de
Privação por prazo Privação por prazo anuência do partido ou de outras hipóteses de justa causa estabele-
indeterminado determinado cidas em lei, não computada, em qualquer caso, a migração de par-
tido para fins de distribuição de recursos do fundo partidário ou de
Restabelecimento dos direitos Restabelecimento dos outros fundos públicos e de acesso gratuito ao rádio e à televisão.
políticos depende de um novo direitos políticos se dá (Incluído pela Emenda Constitucional nº 111, de 2021)
alistamento eleitoral automaticamente § 7º Os partidos políticos devem aplicar no mínimo 5% (cinco
por cento) dos recursos do fundo partidário na criação e na manu-
Referências Bibliográficas: tenção de programas de promoção e difusão da participação po-
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e lítica das mulheres, de acordo com os interesses intrapartidários.
Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 117, de 2022)
§ 8º O montante do Fundo Especial de Financiamento de Cam-
A previsão legal dos Partidos Políticos de dá no Artigo 17 da CF. panha e da parcela do fundo partidário destinada a campanhas
Vejamos: eleitorais, bem como o tempo de propaganda gratuita no rádio e na
televisão a ser distribuído pelos partidos às respectivas candidatas,
CAPÍTULO V deverão ser de no mínimo 30% (trinta por cento), proporcional ao
DOS PARTIDOS POLÍTICOS número de candidatas, e a distribuição deverá ser realizada confor-
me critérios definidos pelos respectivos órgãos de direção e pelas
Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de normas estatutárias, considerados a autonomia e o interesse parti-
partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime de- dário. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 117, de 2022)
mocrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa
humana e observados os seguintes preceitos: De acordo com os ensinamentos de José Afonso da Silva, o par-
I - caráter nacional; tido político é uma forma de agremiação de um grupo social que
II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entida- se propõe a organizar, coordenar e instrumentar a vontade popular
de ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes; com o fim de assumir o poder para realizar seu programa de go-
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; verno.
IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei. Os partidos são a base do sistema político brasileiro, pois a filia-
§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir ção a partido político é uma das condições de elegibilidade.
sua estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação Trata-se de um privilégio aos ideais políticos, que devem estar
e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua acima das características pessoais do candidato.
organização e funcionamento e para adotar os critérios de esco- Segundo Dirley da Cunha Júnior, entende-se por partido polí-
lha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada tico uma pessoa jurídica de Direito Privado que consiste na união
a sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade ou agremiação voluntária de cidadãos com afinidades ideológicas e
de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, políticas, organizada segundo princípios de disciplina e fidelidade.
distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas Tal conceito vai ao encontro das disposições acerca dos parti-
de disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada pela Emenda dos políticos trazidas pelo Artigo 1º da Lei nº 9296/1995, para quem
Constitucional nº 97, de 2017) o partido político, pessoa jurídica de Direito Privado, destina-se a
§ 2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade ju- assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do
rídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal sistema representativo e a defender os direitos fundamentais defi-
Superior Eleitoral. nidos na Constituição Federal.
§ 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e A Constituição confere ampla liberdade aos partidos políticos,
acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos uma vez que são instituições indispensáveis para concretização do
políticos que alternativamente: (Redação dada pela Emenda Consti- Estado democrático de direito, muito embora restrinja a utilização
tucional nº 97, de 2017) de organização paramilitar.
I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no
mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo Referências Bibliográficas:
menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo de 2% BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Cons-
(dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou (Incluído titucional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU.
pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) Salvador: Editora JusPODIVM.
II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais dis- DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
tribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação. (In- Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
cluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)
§ 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organiza-
ção paramilitar. DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
§ 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos pre-
vistos no § 3º deste artigo é assegurado o mandato e facultada a fi- Formas de Estado - Estado Unitário, Confederação e Federa-
liação, sem perda do mandato, a outro partido que os tenha atingi- ção
do, não sendo essa filiação considerada para fins de distribuição dos A forma de Estado relaciona-se com o modo de exercício do po-
recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio der político em função do território do Estado. Verifica-se no caso
e de televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) concreto se há, ou não, repartição regional do exercício de poderes
autônomos, podendo ser criados, a partir dessa lógica, um modelo
de Estado unitário ou um Estado Federado.

264
DIREITO CONSTITUCIONAL
• Estado Unitário O Federalismo Brasileiro
Também chamado de Estado Simples, é aquele dotado de um Observe a disposição legal do Artigo 18 da CF:
único centro com capacidade legislativa, administrativa e judiciá-
ria, do qual emanam todos os comandos normativos e no qual se TÍTULO III
concentram todas as competências constitucionais (exemplos: Uru- DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
guai, e Brasil Colônia, com a Constituição de 1824, até a Proclama-
ção da República, com a Constituição de 1891). CAPÍTULO I
O Estado Unitário pode ser classificado em: DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
a) Estado unitário puro ou centralizado: casos em que haverá
somente um Poder Executivo, um Poder Legislativo e um Poder Ju- Art. 18. A organização político-administrativa da República Fe-
diciário, exercido de forma central; derativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Fede-
b) Estado unitário descentralizado: casos em que haverá a for- ral e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constitui-
mação de entes regionais com autonomia para exercer questões ção.
administrativas ou judiciárias fruto de delegação, mas não se con- § 1º Brasília é a Capital Federal.
cede a autonomia legislativa que continua pertencendo exclusiva- § 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação,
mente ao poder central. transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem se-
rão reguladas em lei complementar.
• Estado Federativo – Federação § 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou
Também chamados de federados, complexos ou compostos, desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos
são aqueles em que as capacidades judiciária, legislativa e admi- Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população
nistrativa são atribuídas constitucionalmente a entes regionais, que diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Na-
passam a gozar de autonomias próprias (e não soberanias). cional, por lei complementar.
Nesse caso, as autonomias regionais não são fruto de delega- § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento
ção voluntária, como ocorre nos Estados unitários descentralizados, de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período deter-
mas se originam na própria Constituição, o que impede a retirada minado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta
de competências por ato voluntário do poder central. prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvi-
O quadro abaixo facilita este entendimento. Vejamos: dos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apre-
sentados e publicados na forma da lei.
Formas de Estado
Nos termos do supracitado Artigo 18, a organização político-
Unitário
-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a
Único centro de onde emana o poder estatal União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autô-
Puro Descentralizado nomos (não soberanos). Trata-se de norma que reflete a forma fe-
derativa de Estado.
Não há delegação de Há delegação de competências Ser ente autônomo dentro de um federalismo significa a pos-
competências sibilidade de implementar uma gestão particularizada, mas sempre
Federado respeitando os limites impostos pelos princípios e regras do Estado
federal. Daí, têm-se os seguintes elementos:
O exercício do poder estatal é atribuído constitucionalmente a
→ Auto-organização: permite aos Estados-membros criarem
entes regionais autônomos
as Constituições Estaduais (Artigo 25 da CF) e aos Municípios firma-
rem suas Leis Orgânicas (Artigo 29 da CF);
• Confederação
→ Auto legislação: os entes da federação podem estabelecer
Se caracteriza por uma reunião dissolúvel de Estados sobera-
nos, que se unem por meio de um tratado internacional. Aqui, per- normas gerais e abstratas próprias, a exemplos das leis estaduais e
cebe-se o traço marcante da Confederação, ou seja, a dissolubilida- municipais (Artigos 22 e 24 da CF);
de do pacto internacional pelos Estados soberanos que o integram, → Auto governo: os Estados membros terão seus Governado-
a partir de um juízo interno de conveniência. res e Deputados estaduais, enquanto os Municípios possuirão Pre-
Observe a ilustração das diferenças entre uma Federação e feitos e Vereadores, nos termos dos Artigos 27 a 29 da CF;
uma Confederação: → Auto administração: os membros da federação podem pres-
tar e manter serviços próprios, atendendo às competências admi-
nistrativas da CF, notadamente de seu Artigo 23.
Federação Confederação
Formada por uma Constituição Formada por um trato • Vedação aos Entes Federados
internacional Consoante ao Artigo 19 da CF, destaca-se que a autonomia dos
entes da federação não é limitada, e sofre as seguintes vedações:
Os entes regionais gozam de Os Estados que o integram
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e
autonomia mantêm sua soberania
aos Municípios:
Indissolubilidade do pacto Dissolubilidade do pacto I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, em-
federativo internacional baraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus repre-
sentantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma
da lei, a colaboração de interesse público;
II - recusar fé aos documentos públicos;
III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.

265
DIREITO CONSTITUCIONAL
Repartição de Competências Constitucionais X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos
A Repartição de competências é a técnica de distribuição de e pré-históricos;
competências administrativas, legislativas e tributárias aos entes XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
federativos para que não haja conflitos de atribuições dentro do § 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos Estados, ao
território nacional. Distrito Federal e aos Municípios a participação no resultado da ex-
Competência é a capacidade para emitir decisões dentro de um ploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins
campo específico. de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no res-
A Constituição trabalha com três naturezas de competência, a pectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona
administrativa, legislativa e a tributária. econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa explora-
→ Competência administrativa ou material: refere-se à execu- ção. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 102, de 2019)
ção de alguma atividade estatal, ou seja, é a capacidade para atuar § 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao
concretamente sobre a matéria; longo das fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira,
→ Competência legislativa: atribui iniciativa para legislar sobre é considerada fundamental para defesa do território nacional, e sua
determinada matéria, ou seja, é a capacidade para estabelecer nor- ocupação e utilização serão reguladas em lei.
mas gerais e abstratas sobre determinado campo; Art. 21. Compete à União:
→ Competência tributária: refere-se ao poder de instituir tri- I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de
butos. organizações internacionais;
II - declarar a guerra e celebrar a paz;
• Técnica da Repartição de Competência III - assegurar a defesa nacional;
Trata-se da predominância do interesse, segundo a qual, à IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que for-
União caberão as matérias de interesse nacional (Artigos 21 e 22 da ças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele perma-
CF), aos Estados-membros, o interesse regional, e aos municípios, neçam temporariamente;
as questões de predominante interesse local (Artigo 30 da CF). V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a interven-
Para tanto, a Constituição enumerou expressamente as com- ção federal;
petências da União e dos municípios, resguardando aos Estados- VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material
-membros a chamada competência residual, remanescente, não bélico;
enumerada ou não expressa (Artigo 25, §1º da CF). VII - emitir moeda;
Acresça-se que, para o Distrito Federal, a Constituição atribuiu VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as
as competências previstas para os estados e os municípios, denomi- operações de natureza financeira, especialmente as de crédito,
nada de competência cumulativa (Artigo 32, § 1º da CF). câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência
privada;
Organização do Estado – União IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordena-
A União é a pessoa jurídica de Direito Público interno, parte ção do território e de desenvolvimento econômico e social;
integrante da Federação brasileira dotada de autonomia. Possui ca- X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
pacidade de auto-organização (Constituição Federal), autogoverno, XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão
ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei,
auto legislação (Artigo 22 da CF) e autoadministração (Artigo 20 da
que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um ór-
CF).
gão regulador e outros aspectos institucionais;
A União tem previsão legal na CF, dos Artigos 20 a 24. Vejamos:
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão
ou permissão:
CAPÍTULO II
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
DA UNIÃO
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveita-
mento energético dos cursos de água, em articulação com os Esta-
Art. 20. São bens da União:
dos onde se situam os potenciais hidro energéticos;
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeropor-
atribuídos; tuária;
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre por-
das fortificações e construções militares, das vias federais de comu- tos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites
nicação e à preservação ambiental, definidas em lei; de Estado ou Território;
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e interna-
seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites cional de passageiros;
com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais; XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Públi-
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros co do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos
países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluí- Territórios;
das, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a polícia
áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como
as referidas no art. 26, II; prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona serviços públicos, por meio de fundo próprio; (Redação dada pela
econômica exclusiva; Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
VI - o mar territorial; XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geo-
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; grafia, geologia e cartografia de âmbito nacional;
VIII - os potenciais de energia hidráulica; XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; públicas e de programas de rádio e televisão;

266
DIREITO CONSTITUCIONAL
XVII - conceder anistia; XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as cala- nacionais;
midades públicas, especialmente as secas e as inundações; XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos popular;
hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; XX - sistemas de consórcios e sorteios;
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusi- XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico,
ve habitação, saneamento básico e transportes urbanos; garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões das po-
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional lícias militares e dos corpos de bombeiros militares; (Redação dada
de viação; pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e
de fronteiras; ferroviária federais;
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer XXIII - seguridade social;
natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;
enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio XXV - registros públicos;
de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes prin- XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
cípios e condições: XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas as
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas
admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
Nacional; obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercializa- e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;
ção e a utilização de radioisótopos para pesquisa e uso agrícolas e XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa maríti-
industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de ma, defesa civil e mobilização nacional;
2022) XXIX - propaganda comercial.
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, a co- XXX - proteção e tratamento de dados pessoais. (Incluído pela
mercialização e a utilização de radioisótopos para pesquisa e uso Emenda Constitucional nº 115, de 2022)
médicos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Esta-
2022) dos a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da neste artigo.
existência de culpa; Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distri-
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho; to Federal e dos Municípios:
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições
atividade de garimpagem, em forma associativa. democráticas e conservar o patrimônio público;
XXVI - organizar e fiscalizar a proteção e o tratamento de dados II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garan-
pessoais, nos termos da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional tia das pessoas portadoras de deficiência;
nº 115, de 2022) III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, notáveis e os sítios arqueológicos;
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de
II - desapropriação; obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cul-
III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e tural;
em tempo de guerra; V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodi- ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; (Redação dada pela
fusão; Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
V - serviço postal; VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qual-
VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos quer de suas formas;
metais; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de va- VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abaste-
lores; cimento alimentar;
VIII - comércio exterior e interestadual; IX - promover programas de construção de moradias e a melho-
IX - diretrizes da política nacional de transportes; ria das condições habitacionais e de saneamento básico;
X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginali-
aérea e aeroespacial; zação, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos;
XI - trânsito e transporte; XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia; de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus
XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização; territórios;
XIV - populações indígenas; XII - estabelecer e implantar política de educação para a segu-
XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de rança do trânsito.
estrangeiros; Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a
XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Muni-
para o exercício de profissões; cípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-es-
XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito tar em âmbito nacional.
Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal le-
bem como organização administrativa destes; gislar concorrentemente sobre:

267
DIREITO CONSTITUCIONAL
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e ur- § 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir
banístico; (Vide Lei nº 13.874, de 2019) regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões,
II - orçamento; constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para inte-
III - juntas comerciais; grar a organização, o planejamento e a execução de funções públi-
IV - custas dos serviços forenses; cas de interesse comum.
V - produção e consumo; Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, de- I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes
fesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorren-
controle da poluição; tes de obras da União;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turís- II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no
tico e paisagístico; seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consu- ou terceiros;
midor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
e paisagístico; IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa cor-
pesquisa, desenvolvimento e inovação; (Redação dada pela Emenda responderá ao triplo da representação do Estado na Câmara dos
Constitucional nº 85, de 2015) Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido de
X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas tantos quantos forem os Deputados Federais acima de doze.
causas; § 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais,
XI - procedimentos em matéria processual; aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleito-
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; ral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato,
XIII - assistência jurídica e Defensoria pública; licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas.
XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de § 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei de
deficiência; iniciativa da Assembleia Legislativa, na razão de, no máximo, se-
XV - proteção à infância e à juventude; tenta e cinco por cento daquele estabelecido, em espécie, para os
XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias ci- Deputados Federais, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57,
vis. § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da
§ 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre seu regi-
União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. (Vide Lei nº 13.874,
mento interno, polícia e serviços administrativos de sua secretaria,
de 2019)
e prover os respectivos cargos.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas ge-
§ 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legis-
rais não exclui a competência suplementar dos Estados. (Vide Lei nº
13.874, de 2019) lativo estadual.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de Es-
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas pe- tado, para mandato de 4 (quatro) anos, realizar-se-á no primeiro
culiaridades. (Vide Lei nº 13.874, de 2019) domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais sus- outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do tér-
pende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. (Vide Lei mino do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em 6 de
nº 13.874, de 2019) janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, o disposto
no art. 77 desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Consti-
Organização do Estado – Estados tucional nº 111, de 2021)
Os Estados-membros são pessoas jurídicas de Direito Público § 1º Perderá o mandato o Governador que assumir outro cargo
interno, dotados de autonomia, em razão da capacidade de auto- ou função na administração pública direta ou indireta, ressalvada
-organização (Artigo 25 da CF), autoadministração (Artigo 26 da CF), a posse em virtude de concurso público e observado o disposto no
autogoverno (Artigos 27 e 28 da CF) e auto legislação (Artigo 25 e art. 38, I, IV e V.
parágrafos da CF). § 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governador e dos Se-
Os dispositivos constitucionais referentes ao tema vão dos Ar- cretários de Estado serão fixados por lei de iniciativa da Assembleia
tigos 25 a 28: Legislativa, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150,
II, 153, III, e 153, § 2º, I.
CAPÍTULO III
DOS ESTADOS FEDERADOS Organização do Estado – Municípios
Sobre os Municípios, prevalece o entendimento de que são en-
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constitui- tes federativos, uma vez que os artigos 1º e 18 da CF, são expressos
ções e leis que adotarem, observados os princípios desta Constitui- ao elencar a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
ção. como integrantes da Federação brasileira.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes Como pessoa política também dotada de autonomia, possuem
sejam vedadas por esta Constituição.
auto-organização (Artigo 29 da CF), auto legislação (Artigo 30 da
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante con-
CF), autogoverno (Incisos do Artigo 29 da CF) e autoadministração
cessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada
(Artigo 30 da CF).
a edição de medida provisória para a sua regulamentação.
A previsão legal sobre os Municípios está prevista na CF, dos
Artigos 29 a 31. Vejamos:

268
DIREITO CONSTITUCIONAL
CAPÍTULO IV q) 41 (quarenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais
DOS MUNICÍPIOS de 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes e de até
2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes;
Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois r) 43 (quarenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de
turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes e de até
terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, aten- 3.000.000 (três milhões) de habitantes;
didos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição s) 45 (quarenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de
do respectivo Estado e os seguintes preceitos: 3.000.000 (três milhões) de habitantes e de até 4.000.000 (quatro
I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para milhões) de habitantes;
mandato de quatro anos, mediante pleito direto e simultâneo reali- t) 47 (quarenta e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de
zado em todo o País; 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes e de até 5.000.000 (cinco
II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro milhões) de habitantes;
domingo de outubro do ano anterior ao término do mandato dos u) 49 (quarenta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais
que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77, no caso de Mu- de 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes e de até 6.000.000 (seis
nicípios com mais de duzentos mil eleitores; milhões) de habitantes;
III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de janeiro do v) 51 (cinquenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de
ano subsequente ao da eleição; 6.000.000 (seis milhões) de habitantes e de até 7.000.000 (sete mi-
IV - para a composição das Câmaras Municipais, será observa- lhões) de habitantes;
do o limite máximo de: w) 53 (cinquenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais
a) 9 (nove) Vereadores, nos Municípios de até 15.000 (quinze de 7.000.000 (sete milhões) de habitantes e de até 8.000.000 (oito
mil) habitantes; milhões) de habitantes; e
b) 11 (onze) Vereadores, nos Municípios de mais de 15.000 x) 55 (cinquenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de
(quinze mil) habitantes e de até 30.000 (trinta mil) habitantes; 8.000.000 (oito milhões) de habitantes;
c) 13 (treze) Vereadores, nos Municípios com mais de 30.000 V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários Mu-
(trinta mil) habitantes e de até 50.000 (cinquenta mil) habitantes; nicipais fixados por lei de iniciativa da Câmara Municipal, observado
d) 15 (quinze) Vereadores, nos Municípios de mais de 50.000 o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
(cinquenta mil) habitantes e de até 80.000 (oitenta mil) habitantes; VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respectivas Câ-
e) 17 (dezessete) Vereadores, nos Municípios de mais de 80.000 maras Municipais em cada legislatura para a subsequente, obser-
(oitenta mil) habitantes e de até 120.000 (cento e vinte mil) habi- vado o que dispõe esta Constituição, observados os critérios estabe-
tantes; lecidos na respectiva Lei Orgânica e os seguintes limites máximos:
f) 19 (dezenove) Vereadores, nos Municípios de mais de 120.000 a) em Municípios de até dez mil habitantes, o subsídio máximo
(cento e vinte mil) habitantes e de até 160.000 (cento sessenta mil) dos Vereadores corresponderá a vinte por cento do subsídio dos De-
habitantes; putados Estaduais;
g) 21 (vinte e um) Vereadores, nos Municípios de mais de b) em Municípios de dez mil e um a cinquenta mil habitantes, o
160.000 (cento e sessenta mil) habitantes e de até 300.000 (trezen- subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a trinta por cento
tos mil) habitantes; do subsídio dos Deputados Estaduais;
h) 23 (vinte e três) Vereadores, nos Municípios de mais de c) em Municípios de cinquenta mil e um a cem mil habitantes,
300.000 (trezentos mil) habitantes e de até 450.000 (quatrocentos e o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a quarenta por
cinquenta mil) habitantes; cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
i) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de
d) em Municípios de cem mil e um a trezentos mil habitantes,
450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes e de até 600.000
o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a cinquenta por
(seiscentos mil) habitantes;
cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
j) 27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de
e) em Municípios de trezentos mil e um a quinhentos mil habi-
600.000 (seiscentos mil) habitantes e de até 750.000 (setecentos
tantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a sessenta
cinquenta mil) habitantes;
por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
k) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de
f) em Municípios de mais de quinhentos mil habitantes, o sub-
750.000 (setecentos e cinquenta mil) habitantes e de até 900.000
sídio máximo dos Vereadores corresponderá a setenta e cinco por
(novecentos mil) habitantes;
cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
l) 31 (trinta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de
900.000 (novecentos mil) habitantes e de até 1.050.000 (um milhão VII - o total da despesa com a remuneração dos Vereadores
e cinquenta mil) habitantes; não poderá ultrapassar o montante de cinco por cento da receita
m) 33 (trinta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de do Município;
1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes e de até 1.200.000 VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras
(um milhão e duzentos mil) habitantes; e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município;
n) 35 (trinta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de IX - proibições e incompatibilidades, no exercício da vereança,
1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes e de até 1.350.000 similares, no que couber, ao disposto nesta Constituição para os
(um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes; membros do Congresso Nacional e na Constituição do respectivo
o) 37 (trinta e sete) Vereadores, nos Municípios de 1.350.000 Estado para os membros da Assembleia Legislativa;
(um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes e de até X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;
1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes; XI - organização das funções legislativas e fiscalizadoras da Câ-
p) 39 (trinta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais mara Municipal;
de 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes e de até XII - cooperação das associações representativas no planeja-
1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes; mento municipal;

269
DIREITO CONSTITUCIONAL
XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico § 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as
do Município, da cidade ou de bairros, através de manifestação de, contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de preva-
pelo menos, cinco por cento do eleitorado; lecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal.
XIV - perda do mandato do Prefeito, nos termos do art. 28, pa- § 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias,
rágrafo único. anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e
Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo Municipal, apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos ter-
incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos com ina- mos da lei.
tivos, não poderá ultrapassar os seguintes percentuais, relativos ao § 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de
somatório da receita tributária e das transferências previstas no § Contas Municipais.
5o do art. 153 e nos arts. 158 e 159, efetivamente realizado no exer-
cício anterior: Organização do Estado - Distrito Federal e Territórios
I - 7% (sete por cento) para Municípios com população de até
100.000 (cem mil) habitantes; • Distrito Federal
II - 6% (seis por cento) para Municípios com população entre O Distrito Federal é o ente federativo com competências par-
100.000 (cem mil) e 300.000 (trezentos mil) habitantes; cialmente tuteladas pela União, conforme se extrai dos Artigos 21,
III - 5% (cinco por cento) para Municípios com população entre XIII e XIV, e 22, VII da CF.
300.001 (trezentos mil e um) e 500.000 (quinhentos mil) habitantes; Por ser considerado um ente político dotado de autonomia,
IV - 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos por cento) para possui capacidade de auto-organização (Artigo 32 da CF), autogo-
Municípios com população entre 500.001 (quinhentos mil e um) e verno (Artigo 32, §§ 2º e 3º da CF), autoadministração (Artigo 32, §§
3.000.000 (três milhões) de habitantes; 1º e 4º da CF) e auto legislação (Artigo 32, § 1º da CF).
V - 4% (quatro por cento) para Municípios com população entre
3.000.001 (três milhões e um) e 8.000.000 (oito milhões) de habi- CAPÍTULO V
tantes; DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS
VI - 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) para Muni-
cípios com população acima de 8.000.001 (oito milhões e um) ha- SEÇÃO I
bitantes. DO DISTRITO FEDERAL
§ 1º A Câmara Municipal não gastará mais de setenta por cen-
to de sua receita com folha de pagamento, incluído o gasto com o Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios,
subsídio de seus Vereadores.
reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício
§ 2º Constitui crime de responsabilidade do Prefeito Municipal:
mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legisla-
I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste artigo;
tiva, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta
II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou
Constituição.
III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei Or-
§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legisla-
çamentária.
tivas reservadas aos Estados e Municípios.
§ 3º Constitui crime de responsabilidade do Presidente da Câ-
§ 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador, observa-
mara Municipal o desrespeito ao § 1o deste artigo.
das as regras do art. 77, e dos Deputados Distritais coincidirá com
Art. 30. Compete aos Municípios:
a dos Governadores e Deputados Estaduais, para mandato de igual
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; duração.
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem § 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se
como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de pres- o disposto no art. 27.
tar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; § 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do Dis-
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação trito Federal, da polícia civil, da polícia penal, da polícia militar e do
estadual; corpo de bombeiros militar. (Redação dada pela Emenda Constitu-
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de conces- cional nº 104, de 2019)
são ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o
de transporte coletivo, que tem caráter essencial; • Territórios
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e Os Territórios possuem natureza jurídica de autarquias territo-
do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamen- riais integrantes da Administração indireta da União. Por isso, não
tal; são dotados de autonomia política.
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e
do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; SEÇÃO II
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territo- DOS TERRITÓRIOS
rial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e
da ocupação do solo urbano; Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa e judi-
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, ciária dos Territórios.
observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. § 1º Os Territórios poderão ser divididos em Municípios, aos
Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder quais se aplicará, no que couber, o disposto no Capítulo IV deste
Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas Título.
de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. § 2º As contas do Governo do Território serão submetidas ao
§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido com Congresso Nacional, com parecer prévio do Tribunal de Contas da
o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou União.
dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver.

270
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil habitantes, § 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o
além do Governador nomeado na forma desta Constituição, haverá prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará o inter-
órgãos judiciários de primeira e segunda instância, membros do Mi- ventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da
nistério Público e defensores públicos federais; a lei disporá sobre as Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas.
eleições para a Câmara Territorial e sua competência deliberativa.
Intervenção Federal e Estadual § 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou a As-
É uma excepcional possibilidade de supressão temporária da sembleia Legislativa, far-se-á convocação extraordinária, no mesmo
autonomia política de um ente federativo. Suas hipóteses integram prazo de vinte e quatro horas.
um rol taxativo previsto na Constituição Federal. § 3º Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a
apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa,
CAPÍTULO VI o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se
DA INTERVENÇÃO essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade.
§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afas-
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Fe- tadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal.
deral, exceto para:
I - manter a integridade nacional; Referências Bibliográficas:
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Cons-
em outra; titucional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU.
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública; Salvador: Editora JusPODIVM.
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas uni- DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
dades da Federação; Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. DOS MILITARES DOS ES-
anos consecutivos, salvo motivo de força maior; TADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas
nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
Disposições gerais e servidores públicos
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitu-
A expressão Administração Pública em sentido objetivo traduz
cionais:
a ideia de atividade, tarefa, ação ou função de atendimento ao inte-
a) forma republicana, sistema representativo e regime demo-
resse coletivo. Já em sentido subjetivo, indica o universo dos órgãos
crático;
e pessoas que desempenham função pública.
b) direitos da pessoa humana;
Conjugando os dois sentidos, pode-se conceituar a Administra-
c) autonomia municipal;
ção Pública como sendo o conjunto de pessoas e órgãos que de-
d) prestação de contas da administração pública, direta e in- sempenham uma função de atendimento ao interesse público, ou
direta. seja, que estão a serviço da coletividade.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impos-
tos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na Princípios da Administração Pública
manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços Nos termos do caput do Artigo 37 da CF, a administração públi-
públicos de saúde. ca direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos As provas de Direito Constitucional exigem com frequência a
consecutivos, a dívida fundada; memorização de tais princípios. Assim, para facilitar essa memori-
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei; zação, já é de praxe valer-se da clássica expressão mnemônica “LIM-
III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita muni- PE”. Observe o quadro abaixo:
cipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e
serviços públicos de saúde;
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para Princípios da Administração Pública
assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Es- L Legalidade
tadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão I Impessoalidade
judicial.
Art. 36. A decretação da intervenção dependerá: M Moralidade
I - no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legislativo ou P Publicidade
do Poder Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do Supre-
E Eficiência
mo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judi-
ciário; LIMPE
II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de
requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Passemos ao conceito de cada um deles:
Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral;
III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de represen- • Princípio da Legalidade
tação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, De acordo com este princípio, o administrador não pode agir
e no caso de recusa à execução de lei federal. ou deixar de agir, senão de acordo com a lei, na forma determinada.
IV - (Revogado). O quadro abaixo demonstra suas divisões.

271
DIREITO CONSTITUCIONAL

Princípio da Legalidade Disposições Gerais na Administração Pública


O esquema abaixo sintetiza a definição de Administração Pú-
A Administração Pública blica:
Em relação à Administração somente pode fazer o que a
Pública lei permite → Princípio da
Estrita Legalidade Administração Pública

O Particular pode fazer tudo Direta Indireta


Em relação ao Particular
que a lei não proíbe Autarquias (podem ser
qualificadas como agências
• Princípio da Impessoalidade reguladoras)
Federal
Em decorrência deste princípio, a Administração Pública deve Fundações (autarquias
Estadual
servir a todos, sem preferências ou aversões pessoais ou partidá- e fundações podem ser
Distrital
rias, não podendo atuar com vistas a beneficiar ou prejudicar de- qualificadas como agências
Municipal
terminadas pessoas, uma vez que o fundamento para o exercício de executivas)
sua função é sempre o interesse público. Sociedades de economia mista
Empresas públicas
• Princípio da Moralidade Entes Cooperados
Tal princípio caracteriza-se por exigir do administrador público
um comportamento ético de conduta, ligando-se aos conceitos de Não integram a Administração Pública, mas prestam serviços de
probidade, honestidade, lealdade, decoro e boa-fé. interesse público. Exemplos: SESI, SENAC, SENAI, ONG’s
A moralidade se extrai do senso geral da coletividade represen-
tada e não se confunde com a moralidade íntima do administrador As disposições gerais sobre a Administração Pública estão elen-
(moral comum) e sim com a profissional (ética profissional). cadas nos Artigos 37 e 38 da CF. Vejamos:
O Artigo 37, § 4º da CF elenca as consequências possíveis, devi-
do a atos de improbidade administrativa:
CAPÍTULO VII
DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Sanções ao cometimento de atos de improbidade
administrativa
SEÇÃO I
Suspensão dos direitos políticos (responsabilidade política) DISPOSIÇÕES GERAIS
Perda da função pública (responsabilidade disciplinar)
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer
Indisponibilidade dos bens (responsabilidade patrimonial) dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
Ressarcimento ao erário (responsabilidade patrimonial) pios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, mora-
lidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
• Princípio da Publicidade I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos
O princípio da publicidade determina que a Administração Pú- brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim
blica tem a obrigação de dar ampla divulgação dos atos que pratica, como aos estrangeiros, na forma da lei;
salvo a hipótese de sigilo necessário. II - a investidura em cargo ou emprego público depende de apro-
A publicidade é a condição de eficácia do ato administrativo e vação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos,
tem por finalidade propiciar seu conhecimento pelo cidadão e pos- de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego,
sibilitar o controle por todos os interessados. na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em
comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;
• Princípio da Eficiência III - o prazo de validade do concurso público será de até dois
Segundo o princípio da eficiência, a atividade administrativa anos, prorrogável uma vez, por igual período;
deve ser exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional, IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convo-
evitando atuações amadorísticas. cação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de pro-
Este princípio impõe à Administração Pública o dever de agir vas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursa-
com eficiência real e concreta, aplicando, em cada caso concreto, a dos para assumir cargo ou emprego, na carreira;
medida, dentre as previstas e autorizadas em lei, que mais satisfaça V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servi-
o interesse público com o menor ônus possível (dever jurídico de dores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem
boa administração). preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e per-
Em decorrência disso, a administração pública está obrigada a centuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribui-
desenvolver mecanismos capazes de propiciar os melhores resul- ções de direção, chefia e assessoramento;
tados possíveis para os administrados. Portanto, a Administração VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre asso-
Pública será considerada eficiente sempre que o melhor resultado ciação sindical;
for atingido. VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites
definidos em lei específica;
VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos
para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de
sua admissão;
IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo de-
terminado para atender a necessidade temporária de excepcional
interesse público;

272
DIREITO CONSTITUCIONAL
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do
trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funciona-
lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, asse- mento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas,
gurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção terão recursos prioritários para a realização de suas atividades e
de índices; atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento de
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, fun- cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio.
ções e empregos públicos da administração direta, autárquica e § 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e cam-
fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos panhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, infor-
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes,
mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pen- símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de auto-
sões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ridades ou servidores públicos.
ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra na- § 2º A não observância do disposto nos incisos II e III implicará a
tureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos
Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite,
da lei.
nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na
Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Exe-
administração pública direta e indireta, regulando especialmente:
cutivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos
Poder Legislativo e o subsidio dos Desembargadores do Tribunal de
Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento
cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade
Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite dos serviços;
aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defen- II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a infor-
sores Públicos; mações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X
XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder e XXXIII;
Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Execu- III - a disciplina da representação contra o exercício negligente
tivo; ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública.
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer es- § 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a sus-
pécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do pensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponi-
serviço público; bilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação
XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
não serão computados nem acumulados para fins de concessão de § 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos pra-
acréscimos ulteriores; ticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos
XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e em- ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.
pregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos incisos XI § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito pri-
e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; vado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
qualquer caso o disposto no inciso XI: § 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocupante
a) a de dois cargos de professor; de cargo ou emprego da administração direta e indireta que possi-
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico; bilite o acesso a informações privilegiadas.
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de § 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos
saúde, com profissões regulamentadas; órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser
XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e funções
ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administra-
e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de
dores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de
economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta
desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre:
ou indiretamente, pelo poder público;
I - o prazo de duração do contrato;
XVIII - a administração fazendária e seus servidores fiscais te-
rão, dentro de suas áreas de competência e jurisdição, precedência II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direi-
sobre os demais setores administrativos, na forma da lei; tos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes;
XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e III - a remuneração do pessoal.”
autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de econo- § 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas e às
mia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem
caso, definir as áreas de sua atuação; recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Muni-
XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a cria- cípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em
ção de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, geral.
assim como a participação de qualquer delas em empresa privada; § 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de apo-
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, sentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a re-
serviços, compras e alienações serão contratados mediante pro- muneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os
cesso de licitação pública que assegure igualdade de condições a cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos
todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exo-
de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos ter- neração.
mos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação § 11. Não serão computadas, para efeito dos limites remunera-
técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das tórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, as parcelas de
obrigações. caráter indenizatório previstas em lei.

273
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo, SEÇÃO II
fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu âmbito, DOS SERVIDORES PÚBLICOS
mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgânica, como
limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do respecti- Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
vo Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e
centésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros do Supremo planos de carreira para os servidores da administração pública dire-
Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo aos ta, das autarquias e das fundações públicas.
subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores. Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
§ 13. O servidor público titular de cargo efetivo poderá ser re- instituirão conselho de política de administração e remuneração de
adaptado para exercício de cargo cujas atribuições e responsabili- pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Po-
dades sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua deres.
capacidade física ou mental, enquanto permanecer nesta condição, § 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais compo-
desde que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos nentes do sistema remuneratório observará:
para o cargo de destino, mantida a remuneração do cargo de ori- I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos
gem. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) cargos componentes de cada carreira;
§ 14. A aposentadoria concedida com a utilização de tempo II - os requisitos para a investidura;
de contribuição decorrente de cargo, emprego ou função pública, III - as peculiaridades dos cargos.
inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o rom- § 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas
pimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição. (In- de governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores
cluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos requisi-
§ 15. É vedada a complementação de aposentadorias de ser- tos para a promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração
vidores públicos e de pensões por morte a seus dependentes que de convênios ou contratos entre os entes federados.
não seja decorrente do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40 ou que § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o dis-
não seja prevista em lei que extinga regime próprio de previdência posto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX,
social. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de ad-
missão quando a natureza do cargo o exigir.
§ 16. Os órgãos e entidades da administração pública, indi- § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os
vidual ou conjuntamente, devem realizar avaliação das políticas Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão
públicas, inclusive com divulgação do objeto a ser avaliado e dos remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única,
resultados alcançados, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Cons- vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prê-
titucional nº 109, de 2021) mio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obe-
Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica decido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as se- § 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
guintes disposições: nicípios poderá estabelecer a relação entre a maior e a menor re-
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, muneração dos servidores públicos, obedecido, em qualquer caso,
ficará afastado de seu cargo, emprego ou função; o disposto no art. 37, XI.
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, § 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário publicarão
emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remunera- anualmente os valores do subsídio e da remuneração dos cargos e
ção; empregos públicos.
III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibili- § 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
dade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego pios disciplinará a aplicação de recursos orçamentários provenien-
ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não tes da economia com despesas correntes em cada órgão, autarquia
havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior; e fundação, para aplicação no desenvolvimento de programas de
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício qualidade e produtividade, treinamento e desenvolvimento, moder-
de mandato eletivo, seu tempo de serviço será contado para todos nização, reaparelhamento e racionalização do serviço público, inclu-
os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento; sive sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade.
V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previ- § 8º A remuneração dos servidores públicos organizados em
dência social, permanecerá filiado a esse regime, no ente federativo carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º.
de origem. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de § 9º É vedada a incorporação de vantagens de caráter tempo-
2019) rário ou vinculadas ao exercício de função de confiança ou de cargo
em comissão à remuneração do cargo efetivo. (Incluído pela Emen-
Servidores Públicos da Constitucional nº 103, de 2019)
Os servidores públicos são pessoas físicas que prestam serviços Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores
à administração pública direta, às autarquias ou fundações públi- titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidário,
cas, gerando entre as partes um vínculo empregatício ou estatutá- mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores
rio. Esses serviços são prestados à União, aos Estados-membros, ao ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que
Distrito Federal ou aos Municípios. preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (Redação dada pela
As disposições sobre os Servidores Públicos estão elencadas Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
dos Artigos 39 a 41 da CF. Vejamos: § 1º O servidor abrangido por regime próprio de previdência
social será aposentado: (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 103, de 2019)
I - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em
que estiver investido, quando insuscetível de readaptação, hipótese
em que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para

274
DIREITO CONSTITUCIONAL
verificação da continuidade das condições que ensejaram a conces- respectivo ente federativo, a qual tratará de forma diferenciada a
são da aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federativo; hipótese de morte dos servidores de que trata o § 4º-B decorrente
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) de agressão sofrida no exercício ou em razão da função. (Redação
II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta § 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preser-
e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar; var-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios
III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos de idade, estabelecidos em lei.
se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, § 9º O tempo de contribuição federal, estadual, distrital ou
e, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na municipal será contado para fins de aposentadoria, observado o
idade mínima estabelecida mediante emenda às respectivas Cons- disposto nos §§ 9º e 9º-A do art. 201, e o tempo de serviço corres-
tituições e Leis Orgânicas, observados o tempo de contribuição e os pondente será contado para fins de disponibilidade. (Redação dada
demais requisitos estabelecidos em lei complementar do respectivo pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
ente federativo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, § 10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de conta-
de 2019) gem de tempo de contribuição fictício.
§ 2º Os proventos de aposentadoria não poderão ser inferiores § 11 - Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma total dos
ao valor mínimo a que se refere o § 2º do art. 201 ou superiores proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes da acumu-
ao limite máximo estabelecido para o Regime Geral de Previdência lação de cargos ou empregos públicos, bem como de outras ativi-
Social, observado o disposto nos §§ 14 a 16. (Redação dada pela dades sujeitas a contribuição para o regime geral de previdência
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) social, e ao montante resultante da adição de proventos de inativi-
§ 3º As regras para cálculo de proventos de aposentadoria dade com remuneração de cargo acumulável na forma desta Cons-
serão disciplinadas em lei do respectivo ente federativo. (Redação tituição, cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) exoneração, e de cargo eletivo.
§ 4º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados § 12. Além do disposto neste artigo, serão observados, em regi-
para concessão de benefícios em regime próprio de previdência so- me próprio de previdência social, no que couber, os requisitos e cri-
cial, ressalvado o disposto nos §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º. (Redação térios fixados para o Regime Geral de Previdência Social. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 4º-A. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do res- § 13. Aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, de
pectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferencia- cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exonera-
dos para aposentadoria de servidores com deficiência, previamente ção, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, ou de
submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por equipe multi- emprego público, o Regime Geral de Previdência Social. (Redação
profissional e interdisciplinar. (Incluído pela Emenda Constitucional dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
nº 103, de 2019) § 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios ins-
§ 4º-B. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do res- tituirão, por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, regime
pectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferenciados de previdência complementar para servidores públicos ocupantes
para aposentadoria de ocupantes do cargo de agente penitenciário, de cargo efetivo, observado o limite máximo dos benefícios do Re-
de agente socioeducativo ou de policial dos órgãos de que tratam gime Geral de Previdência Social para o valor das aposentadorias
o inciso IV do caput do art. 51, o inciso XIII do caput do art. 52 e os e das pensões em regime próprio de previdência social, ressalvado
o disposto no § 16. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
incisos I a IV do caput do art. 144. (Incluído pela Emenda Constitu-
103, de 2019)
cional nº 103, de 2019)
§ 15. O regime de previdência complementar de que trata o §
§ 4º-C. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do res-
14 oferecerá plano de benefícios somente na modalidade contribui-
pectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferenciados
ção definida, observará o disposto no art. 202 e será efetivado por
para aposentadoria de servidores cujas atividades sejam exercidas
intermédio de entidade fechada de previdência complementar ou
com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos preju-
de entidade aberta de previdência complementar. (Redação dada
diciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracteriza-
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
ção por categoria profissional ou ocupação. (Incluído pela Emenda
§ 16 - Somente mediante sua prévia e expressa opção, o dispos-
Constitucional nº 103, de 2019) to nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver ingressa-
§ 5º Os ocupantes do cargo de professor terão idade mínima re- do no serviço público até a data da publicação do ato de instituição
duzida em 5 (cinco) anos em relação às idades decorrentes da apli- do correspondente regime de previdência complementar.
cação do disposto no inciso III do § 1º, desde que comprovem tempo § 17. Todos os valores de remuneração considerados para o cál-
de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e culo do benefício previsto no § 3° serão devidamente atualizados,
no ensino fundamental e médio fixado em lei complementar do res- na forma da lei.
pectivo ente federativo. (Redação dada pela Emenda Constitucional § 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentado-
nº 103, de 2019) rias e pensões concedidas pelo regime de que trata este artigo que
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime
acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada a percepção de geral de previdência social de que trata o art. 201, com percentual
mais de uma aposentadoria à conta de regime próprio de previdên- igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos.
cia social, aplicando-se outras vedações, regras e condições para a § 19. Observados critérios a serem estabelecidos em lei do res-
acumulação de benefícios previdenciários estabelecidas no Regime pectivo ente federativo, o servidor titular de cargo efetivo que tenha
Geral de Previdência Social. (Redação dada pela Emenda Constitu- completado as exigências para a aposentadoria voluntária e que
cional nº 103, de 2019) opte por permanecer em atividade poderá fazer jus a um abono de
§ 7º Observado o disposto no § 2º do art. 201, quando se tra- permanência equivalente, no máximo, ao valor da sua contribuição
tar da única fonte de renda formal auferida pelo dependente, o be- previdenciária, até completar a idade para aposentadoria compul-
nefício de pensão por morte será concedido nos termos de lei do sória. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)

275
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 20. É vedada a existência de mais de um regime próprio de • Estabilidade
previdência social e de mais de um órgão ou entidade gestora des- A estabilidade é a garantia que o servidor público possui de
se regime em cada ente federativo, abrangidos todos os poderes, permanecer no cargo ou emprego público depois de ter sido apro-
órgãos e entidades autárquicas e fundacionais, que serão responsá- vado em estágio probatório.
veis pelo seu financiamento, observados os critérios, os parâmetros De acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello, a estabilidade
e a natureza jurídica definidos na lei complementar de que trata o poder ser definida como a garantia constitucional de permanência
§ 22. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) no serviço público, do servidor público civil nomeado, em razão de
§ 21. (Revogado). (Redação dada pela Emenda Constitucional concurso público, para titularizar cargo de provimento efetivo, após
nº 103, de 2019) o transcurso de estágio probatório.
§ 22. Vedada a instituição de novos regimes próprios de previ- A estabilidade é assegurada ao servidor após três anos de efe-
dência social, lei complementar federal estabelecerá, para os que tivo exercício, em virtude de nomeação em concurso público. Esse
já existam, normas gerais de organização, de funcionamento e de é o estágio probatório citado pela lei.
responsabilidade em sua gestão, dispondo, entre outros aspectos, Passada a fase do estágio, sendo o servidor público efetivado,
sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) ele perderá o cargo somente nas hipóteses elencadas no Artigo 41,
I - requisitos para sua extinção e consequente migração para o § 1º da CF.
Regime Geral de Previdência Social; (Incluído pela Emenda Consti- Haja vista o tema ser muito cobrado nas provas dos mais varia-
tucional nº 103, de 2019) dos concursos públicos, segue a tabela explicativa:
II - modelo de arrecadação, de aplicação e de utilização dos re-
cursos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Estabilidade do Servidor
III - fiscalização pela União e controle externo e social; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Requisitos para aquisição de Cargo de provimento efetivo/
IV - definição de equilíbrio financeiro e atuarial; (Incluído pela Estabilidade ocupado em razão de concurso
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) público
V - condições para instituição do fundo com finalidade previ- 3 anos de efetivo exercício
denciária de que trata o art. 249 e para vinculação a ele dos recur- Avaliação de desempenho por
sos provenientes de contribuições e dos bens, direitos e ativos de comissão instituída para esta
qualquer natureza; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de finalidade
2019) Hipóteses em que o servidor Em virtude de sentença judicial
VI - mecanismos de equacionamento do déficit atuarial; (Inclu- estável pode perder o cargo transitada em julgado
ído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Mediante processo
VII - estruturação do órgão ou entidade gestora do regime, ob- administrativo em que lhe seja
servados os princípios relacionados com governança, controle inter- assegurada ampla defesa
no e transparência; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, Mediante procedimento
de 2019) de avaliação periódica de
VIII - condições e hipóteses para responsabilização daqueles desempenho, na forma de lei
que desempenhem atribuições relacionadas, direta ou indiretamen- complementar, assegurada
te, com a gestão do regime; (Incluído pela Emenda Constitucional ampla defesa
nº 103, de 2019) Em razão de excesso de
IX - condições para adesão a consórcio público; (Incluído pela despesa
Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
X - parâmetros para apuração da base de cálculo e definição Dos Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios
de alíquota de contribuições ordinárias e extraordinárias. (Incluído A CF/88 impôs aos Militares, regime especial e diferenciado do
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) servidor civil. Os direitos e deveres dos militares e dos civis não se
Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os ser- misturam a não ser por expressa determinação constitucional.
vidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de Não pode o legislador infraconstitucional cercear direitos ou
concurso público. impor deveres que a Constituição Federal não trouxe de forma taxa-
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo: tiva, tampouco não se pode inserir deveres dos servidores civis aos
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; militares de forma reflexa.
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegu- A Emenda Constitucional nº 101/19, promulgada pelo Congres-
rada ampla defesa; so Nacional, permite acúmulo de cargos públicos nas áreas de saú-
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desem- de e educação por militares. Através da referida Emenda, os Milita-
penho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa. res poderão exercer funções de professor ou profissional da saúde
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor desde que haja compatibilidade de horário. Ou seja, aplicou-se a
estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se es- tais profissionais o disposto no art. 37, inciso XVI, da CF/88.
tável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização, Desde a promulgação da CF/88, o exercício simultâneo de
aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade com remu- cargos era permitido apenas para servidores públicos civis e para
neração proporcional ao tempo de serviço. militares das Forças Armadas que atuam na área de saúde. A acu-
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o ser- mulação passou a ser possível, desde que haja compatibilidade de
vidor estável ficará em disponibilidade, com remuneração propor- horários.
cional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em Vejamos as disposições do Art. 42 da CF/88:
outro cargo.
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obriga-
tória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída
para essa finalidade.

276
DIREITO CONSTITUCIONAL
SEÇÃO III
DOS MILITARES DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS DA SEGURANÇA PÚBLICA.
TERRITÓRIOS
O Título V da Carta Constitucional consagra as normas per-
Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bom- tinentes à defesa do Estado e das instituições democráticas, pre-
beiros Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e vendo medidas excepcionais para manter ou restabelecer a ordem
disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Ter- constitucional em momentos de anormalidade da vida política do
ritórios. Estado, é o chamado sistema constitucional das crises, composto
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e pelo estado de defesa (Artigo 136, da CF) e pelo estado de sítio (Ar-
dos Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as disposições tigos 137 a 139, da CF).
do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo Ademais, prevê o Texto Maior o perfil constitucional das insti-
a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, tuições responsáveis pela defesa do Estado, quais sejam, as Forças
inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos Armadas (Artigos 142 e 143, da CF) e os órgãos de segurança públi-
governadores. ca (Artigo 144, da CF).
§ 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Distrito Fe- Com efeito, os estados de defesa e de sítio são momentos de
deral e dos Territórios aplica-se o que for fixado em lei específica do crise constitucional de legalidade extraordinária, em que são per-
respectivo ente estatal. mitidas a suspensão ou a diminuição do alcance de certos direitos
§ 3º Aplica-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e fundamentais, mitigando a proteção dos cidadãos em face da ação
dos Territórios o disposto no art. 37, inciso XVI, com prevalência opressora do Estado.
da atividade militar. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 101,
de 2019) Sistema Constitucional das Crises
Das Regiões Estado de Defesa Estado de Sítio
De acordo com a CF/88 as políticas da União podem se dar de
forma regionalizada e a disposição legal do Art. 43 visa reduzir as Estado de Defesa
desigualdades regionais. Este tema será regulado por Lei Comple- Consiste na instauração de uma legalidade extraordinária, por
mentar. tempo certo, em locais restritos e determinados, mediante decreto
Diz o Art. 43 da CF/88: do Presidente da República, ouvidos o Conselho da República e o
Conselho de Defesa Nacional, para preservar a ordem pública ou
SEÇÃO IV a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institu-
DAS REGIÕES cional ou atingidas por calamidades de grandes proporções da na-
tureza.
Art. 43. Para efeitos administrativos, a União poderá articular Vejamos o dispositivo constitucional que o representa:
sua ação em um mesmo complexo geoeconômico e social, visando a
seu desenvolvimento e à redução das desigualdades regionais. TÍTULO V
§ 1º - Lei complementar disporá sobre: DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
I - as condições para integração de regiões em desenvolvimen-
to; CAPÍTULO I
II - a composição dos organismos regionais que executarão, na DO ESTADO DE DEFESA E DO ESTADO DE SÍTIO
forma da lei, os planos regionais, integrantes dos planos nacionais
de desenvolvimento econômico e social, aprovados juntamente com SEÇÃO I
estes. DO ESTADO DE DEFESA
§ 2º - Os incentivos regionais compreenderão, além de outros,
na forma da lei: Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho
I - igualdade de tarifas, fretes, seguros e outros itens de custos da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de
e preços de responsabilidade do Poder Público; defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais res-
II - juros favorecidos para financiamento de atividades priori- tritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas
tárias; por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por ca-
III - isenções, reduções ou diferimento temporário de tributos lamidades de grandes proporções na natureza.
federais devidos por pessoas físicas ou jurídicas; § 1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará o
IV - prioridade para o aproveitamento econômico e social dos tempo de sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas e
rios e das massas de água represadas ou represáveis nas regiões de indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a vigo-
baixa renda, sujeitas a secas periódicas. rarem, dentre as seguintes:
§ 3º - Nas áreas a que se refere o § 2º, IV, a União incentivará a I - restrições aos direitos de:
recuperação de terras áridas e cooperará com os pequenos e mé- a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;
dios proprietários rurais para o estabelecimento, em suas glebas, de b) sigilo de correspondência;
fontes de água e de pequena irrigação. c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;
II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na
Referências Bibliográficas: hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos danos
BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Cons- e custos decorrentes.
titucional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU. § 2º O tempo de duração do estado de defesa não será superior
Salvador: Editora JusPODIVM. a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se
NADAL, Fábio; e SANTOS, Vauledir Ribeiro. Administrativo – Série persistirem as razões que justificaram a sua decretação.
Resumo. 3ª edição. São Paulo: Editora Método. § 3º Na vigência do estado de defesa:

277
DIREITO CONSTITUCIONAL
I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo exe- § 3º - O Congresso Nacional permanecerá em funcionamento
cutor da medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz até o término das medidas coercitivas.
competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso re- Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com funda-
querer exame de corpo de delito à autoridade policial; mento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as
II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela au- seguintes medidas:
toridade, do estado físico e mental do detido no momento de sua I - obrigação de permanência em localidade determinada;
autuação; II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condena-
III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser dos por crimes comuns;
superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário; III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao
IV - é vedada a incomunicabilidade do preso. sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade
§ 4º Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presi- de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei;
dente da República, dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato IV - suspensão da liberdade de reunião;
com a respectiva justificação ao Congresso Nacional, que decidirá V - busca e apreensão em domicílio;
por maioria absoluta. VI - intervenção nas empresas de serviços públicos;
§ 5º Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convoca- VII - requisição de bens.
do, extraordinariamente, no prazo de cinco dias. Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difu-
§ 6º O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez são de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Ca-
dias contados de seu recebimento, devendo continuar funcionando sas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa.
enquanto vigorar o estado de defesa.
§ 7º Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de de- SEÇÃO III
fesa. DISPOSIÇÕES GERAIS

Estado de Sítio Art. 140. A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes par-
Consiste na instauração de uma legalidade extraordinária, por tidários, designará Comissão composta de cinco de seus membros
tempo determinado (que poderá ser no território nacional inteiro), para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao
objetivando preservar ou restaurar a normalidade constitucional, estado de defesa e ao estado de sítio.
perturbada por motivo de comoção grave de repercussão nacional Art. 141. Cessado o estado de defesa ou o estado de sítio, ces-
ou por situação de beligerância com Estado estrangeiro (Artigo 49, sarão também seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade pelos
II c/c Artigo 84, XIX, da CF). ilícitos cometidos por seus executores ou agentes.
É mais grave que o estado de defesa, no sentido em que as me- Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ou o estado
didas tomadas contra os direitos individuais serão mais restritivas, de sítio, as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo
conforme faz ver o Artigo 139, da CF. Presidente da República, em mensagem ao Congresso Nacional,
Vejamos os dispositivos constitucionais correspondentes: com especificação e justificação das providências adotadas, com
relação nominal dos atingidos e indicação das restrições aplicadas.
SEÇÃO II
Forças Armadas e Segurança Pública
DO ESTADO DE SÍTIO
• Forças Armadas
Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho
Constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica,
da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congres-
são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas
so Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos
com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema
de:
do Presidente da República, e destinam-se à defesa da pátria, à ga-
I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de rantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer des-
fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o es- tes, da lei e da ordem.
tado de defesa;
II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão ar- • Segurança Pública
mada estrangeira. Dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exer-
Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autori- cida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
zação para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, relatará pessoas e do patrimônio.
os motivos determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacio- Os órgãos de segurança pública são: polícia federal, polícia ro-
nal decidir por maioria absoluta doviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias
Art. 138. O decreto do estado de sítio indicará sua duração, militares e corpos de bombeiros militares e polícias penais federal,
as normas necessárias a sua execução e as garantias constitucio- estaduais e distrital.
nais que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o Presidente da Segue abaixo os Artigos da CF, correspondentes aos referidos
República designará o executor das medidas específicas e as áreas temas:
abrangidas. CAPÍTULO II
§ 1º - O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não poderá ser DAS FORÇAS ARMADAS
decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez,
por prazo superior; no do inciso II, poderá ser decretado por todo Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo
o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira. Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes
§ 2º - Solicitada autorização para decretar o estado de sítio du- e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob
rante o recesso parlamentar, o Presidente do Senado Federal, de a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se
imediato, convocará extraordinariamente o Congresso Nacional à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por
para se reunir dentro de cinco dias, a fim de apreciar o ato. iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

278
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem CAPÍTULO III
adotadas na organização, no preparo e no emprego das Forças Ar- DA SEGURANÇA PÚBLICA
madas.
§ 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições discipli- Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e res-
nares militares. ponsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados milita- pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
res, aplicando-se lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes órgãos:
seguintes disposições: I - polícia federal;
I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas ine- II - polícia rodoviária federal;
rentes, são conferidas pelo Presidente da República e asseguradas III - polícia ferroviária federal;
em plenitude aos oficiais da ativa, da reserva ou reformados, sen- IV - polícias civis;
do-lhes privativos os títulos e postos militares e, juntamente com os V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
demais membros, o uso dos uniformes das Forças Armadas; VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. (Redação dada
II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou em- pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
prego público civil permanente, ressalvada a hipótese prevista no § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanen-
art. 37, inciso XVI, alínea “c”, será transferido para a reserva, nos te, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, des-
termos da lei; tina-se a:
III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou
cargo, emprego ou função pública civil temporária, não eletiva, ain- em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas
da que da administração indireta, ressalvada a hipótese prevista no entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras in-
art. 37, inciso XVI, alínea “c”, ficará agregado ao respectivo quadro frações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacio-
e somente poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser pro-
nal e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
movido por antiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço ape-
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
nas para aquela promoção e transferência para a reserva, sendo
afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazen-
depois de dois anos de afastamento, contínuos ou não, transferido
dária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de compe-
para a reserva, nos termos da lei;
IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve; tência;
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de
a partidos políticos; fronteiras;
VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado in- IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária
digno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal da União.
militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal es- § 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organiza-
pecial, em tempo de guerra; do e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na
VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
privativa de liberdade superior a dois anos, por sentença transitada § 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organi-
em julgado, será submetido ao julgamento previsto no inciso ante- zado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se,
rior; na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de car-
XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV, bem reira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções
como, na forma da lei e com prevalência da atividade militar, no art. de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as mi-
37, inciso XVI, alínea “c”; litares.
IX - (Revogado) § 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preser-
X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites vação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além
de idade, a estabilidade e outras condições de transferência do mi- das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades
litar para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as de defesa civil.
prerrogativas e outras situações especiais dos militares, considera- § 5º-A. Às polícias penais, vinculadas ao órgão administrador
das as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpri- do sistema penal da unidade federativa a que pertencem, cabe a se-
das por força de compromissos internacionais e de guerra. gurança dos estabelecimentos penais. (Redação dada pela Emenda
Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei. Constitucional nº 104, de 2019)
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir servi- § 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares,
ço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem
forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se, juntamente
imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de
com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos
crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximi-
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (Re-
rem de atividades de caráter essencialmente militar.
dação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
§ 2º As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço mili-
tar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros encargos § 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos ór-
que a lei lhes atribuir. gãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a
eficiência de suas atividades.
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais des-
tinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme
dispuser a lei.
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos
órgãos relacionados neste artigo será fixada na forma do § 4º do
art. 39.

279
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem I - criar distinções entre brasileiros ou preferência entre si, em
pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias razão de origem, raça, sexo, cor, idade, classe social, convicção po-
públicas: lítica e religiosa, deficiência física ou mental e quaisquer outras for-
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trân- mas de discriminação;
sito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao II - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los,
cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e embaraçar-lhes o funcionamento ou manter, com eles ou seus re-
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos presentantes, relações de dependência ou aliança, ressalvada, na
Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus forma da lei, a colaboração de interesse público;
agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei. III - recusar fé aos documentos públicos;
Referências Bibliográficas: IV - renunciar à receita e conceder isenções e anistias fiscais,
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e sem interesse público justificado e reconhecido por lei.
Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
TÍTULO II -
DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA BAHIA. DOS PRINCÍPIOS
FUNDAMENTAIS. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMEN- Art. 4º - Além dos direitos e garantias, previstos na Constituição
TAIS. DOS SERVIDORES PÚBLICOS MILITARES. DA SEGU- Federal ou decorrentes do regime e dos princípios que ela adota, é
RANÇA PÚBLICA. assegurado, pelas leis e pelos atos dos agentes públicos, o seguinte:
I - ninguém será prejudicado no exercício de direito, nem priva-
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA BAHIA DE 05 OUTUBRO DE do de serviço essencial à saúde e à educação;
1989 II - as autoridades são obrigadas a adotar providências imedia-
PREÂMBULO tas a pedido de quem sofra ameaça à vida, à liberdade e ao patri-
mônio, sob pena de responsabilidade;
Nós, Deputados Estaduais Constituintes, investidos no pleno III - as autoridades policiais garantirão a livre reunião e as ma-
exercício dos poderes conferidos pela Constituição da República Fe- nifestações pacíficas, individuais e coletivas, sem armas, somente
derativa do Brasil, sob a proteção de Deus e com o apoio do povo intervindo para manter a ordem ou coibir atentado a direito;
baiano, unidos indissoluvelmente pelos mais elevados propósitos IV - ninguém será prejudicado, discriminado ou sofrerá restri-
de preservar o Estado de Direito, o culto perene à liberdade e a ção ao exercício de atividade ou prática de ato legítimo, em razão de
igualdade de todos perante a lei, intransigentes no combate a toda litígio ou denúncia contra agentes do Poder Público;
forma de opressão, preconceito, exploração do homem pelo ho- V - a proteção e defesa do consumidor serão promovidas pelo
mem e velando pela Paz e Justiça sociais, promulgamos a Constitui- Estado, através da implantação de sistema específico, na forma da
ção do Estado da Bahia. lei;
VI - comprovada a absoluta incapacidade de pagamento, defi-
TÍTULO I - nida em lei, ninguém poderá ser privado dos serviços públicos de
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS água, esgoto e energia elétrica;
Alterado pela Emenda à Constituição Estadual nº 07 , de 18 de
Art. 1º - O Estado do Bahia, integrante da República Federativa janeiro de 1999.
do Brasil, rege-se por esta Constituição e pelas leis que adotar, nos Redação Original: “VI - comprovada a absoluta incapacidade de
limites da sua autonomia e do território sob sua jurisdição. pagamento, ninguém poderá ser privado dos serviços públicos de
§ 1º - Todo o poder emana do povo e será exercido por meio de água, esgoto e energia elétrica;”
representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Constituição VII - serão gratuitos para os comprovadamente pobres, na for-
Federal. ma da lei:
§ 2º - São Poderes do Estado o Legislativo, o Executivo e o Judi- a) os registros civis de nascimento, casamento e óbito e as res-
ciário, independentes e harmônicos entre si. pectivas certidões;
§ 3º - Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, é ve- b) a expedição de cédula de identidade;
dado a qualquer dos Poderes delegar atribuições e quem for inves- VIII - toda pessoa tem direito a advogado para defender-se em
tido na função de um deles não poderá exercer a de outro. processo judicial ou administrativo, cabendo ao Estado propiciar as-
Art. 2º - São princípios fundamentais a serem observados pelo sistência gratuita aos necessitados, na forma da lei;
Estado, dentre outros constantes expressa ou implicitamente na IX - constitui infração disciplinar, punível com a pena de de-
Constituição Federal, os seguintes: missão a bem do serviço público, a prática de violência, tortura ou
I - regime democrático e sistema representativo; coação contra os cidadãos, pelos agentes estaduais ou municipais;
II - forma republicana e federativa; X - aos detidos, presos e condenados, ficam preservados to-
III - direitos e garantias individuais; dos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei, devendo
IV - sufrágio universal, voto direto e secreto e eleições perió- ser alojados em estabelecimentos dotados de instalações salubres,
dicas; adequadas e que resguardem sua privacidade;
V - separação e livre exercício dos Poderes; XI - será preservada a integridade física e moral dos presos,
VI - autonomia municipal; facultando-se-lhes assistência médica, jurídica e espiritual, apren-
VII - probidade na administração; dizado profissionalizante, trabalho produtivo e remunerado, além
VIII - prestação de contas da administração pública, direta e in- de acesso a informações sobre os fatos ocorridos fora do ambiente
direta. carcerário, bem como aos dados relativos ao andamento dos pro-
Art. 3º - Além do que estabelece a Constituição Federal, é veda- cessos de seu interesse e à execução das respectivas penas;
do ao Estado e aos Municípios: XII - às presidiárias e detentas serão proporcionadas condições
para que possam permanecer com seus filhos durante o período de
amamentação;

280
DIREITO CONSTITUCIONAL
XIII - será responsabilizada a autoridade administrativa que im- § 4º - O servidor militar estadual da ativa que aceitar cargo,
peça a verificação imediata das condições de alojamento ou inte- emprego ou função pública temporária, não eletiva, ainda que da
gridade física do interno em instituições fechadas do Estado, por administração indireta, ficará agregado ao respectivo quadro e,
representantes credenciados de quaisquer dos Poderes ou institui- enquanto permanecer nessa situação, só poderá ser promovido
ções que tenham, por força da lei ou de suas funções, tais prerro- por antiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço apenas para
gativas; aquela promoção e transferência para a reserva, sendo, depois de
XIV - as delegacias, penitenciárias, estabelecimentos prisionais 02 (dois) anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para
e casas de recolhimento compulsório, de qualquer natureza, sob a inatividade.
pena de responsabilidade de seus dirigentes, manterão livro de re- Alterado pela Emenda à Constituição Estadual nº 20, de 30 de
gistro contendo integral relação das pessoas presas ou internadas; junho de 2014.
XV - a criança ou adolescente, quando detido, terá o direito de: Redação original: “§ 4º - O policial militar da ativa que aceitar
a) comunicar-se com a família ou pessoa que indicar; cargo, emprego ou função pública temporária, não eletiva, ainda
b) permanecer calado e ter assistência da família e de advo- que da administração indireta, ficará agregado ao respectivo qua-
gado; dro e, enquanto permanecer nessa situação, só poderá ser promo-
c) identificar os responsáveis pela sua condução; vido por antigüidade, contando-se-lhe o tempo de serviço apenas
XVI - ninguém será internado compulsoriamente em razão de para aquela promoção e transferência para a reserva, sendo, depois
doença mental, salvo em casos excepcionais definidos em parecer de dois anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para a
médico e pelo prazo máximo de quarenta e oito horas, findo o qual inatividade.”
só se dará a permanência mediante determinação judicial; § 5º - O servidor militar estadual condenado na Justiça comum
XVII - é livre o acesso de ministro de confissão religiosa para ou militar à pena privativa de liberdade superior a 02 (dois) anos,
prestação de assistência espiritual nas entidades civis e militares de por sentença transitada em julgado, será excluído da Corporação.
internação coletiva. Alterado pela Emenda à Constituição Estadual nº 20, de 30 de
XVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegu- junho de 2014.
rados a razoável duração do processo e os meios que garantam a Redação original: “§ 5º - O militar condenado na Justiça co-
celeridade de sua tramitação. mum ou militar à pena privativa de liberdade igual ou superior a
dois anos, por sentença transitada em julgado, será excluído da Cor-
TÍTULO III - poração.”
DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DOS MUNICÍPIOS § 6º - O oficial da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Mili-
SEÇÃO VII - tar só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficia-
DOS SERVIDORES PÚBLICOS MILITARES
lato ou com ele incompatível, nos termos da lei, mediante Conse-
lho de Justificação, cujo funcionamento será regulado em lei, e por
Art. 46 - São servidores militares estaduais os integrantes da
decisão da Justiça Militar, salvo na hipótese prevista no parágrafo
Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar, cuja disciplina será
anterior.
estabelecida em estatuto próprio.
§ 1º - As patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas Alterado pela Emenda à Constituição Estadual nº 20, de 30 de
inerentes, são asseguradas em plenitude aos oficiais da ativa, da junho de 2014.
reserva ou reformados, sendo-lhes privativos os títulos, postos e Redação anterior de acordo com a Emenda à Constituição Es-
uniformes militares. tadual nº 07, de 18 de janeiro de 1999: “§ 6º - O oficial da Polícia
§ 2º - Os postos e as patentes dos oficiais da Polícia Militar e do Militar só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do
Corpo de Bombeiros Militar são conferidos pelo Governador do Es- oficialato ou com ele incompatível, nos termos da lei, mediante
tado, e a graduação dos praças, pelo Comandante-Geral da Polícia Conselho de Justificação, cujo funcionamento será regulado em lei,
Militar e pelo Comandante-Geral do Corpo de Bombeiros Militar, e por decisão da Justiça Militar, salvo na hipótese prevista no pará-
respectivamente. grafo anterior.”
Alterado pela Emenda à Constituição Estadual nº 20, de 30 de Redação original: “§ 6º - O oficial da Polícia Militar só perderá
junho de 2014. o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou com ele
Redação original: “§ 2º - Os postos e as patentes dos oficiais da incompatível, mediante Conselho de Justificação, cujo funciona-
Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar são conferidos pelo mento será regulado em lei, e por decisão da Justiça Militar, salvo
Governador do Estado e a graduação dos praças, pelo Comandante na hipótese prevista no parágrafo anterior.”
da Polícia Militar.” § 7º - A lei estabelecerá as condições em que o praça perderá
§ 3º - O servidor militar estadual em atividade que tomar posse a graduação, respeitado o disposto na Constituição Federal e nesta
em cargo público civil permanente será transferido para a reserva, Constituição.
na forma da lei, salvo quando se tratar de um cargo de professor § 8º - Quando a sanção disciplinar, por transgressão de natu-
ou privativo de profissional de saúde com profissão regulamentada, reza militar, importar em cerceamento de liberdade, será cumprida
sendo assegurada a acumulação desde que haja compatibilidade de em área livre de quartel.
horários e não ultrapasse 20 (vinte) horas semanais. Art. 47 - Lei disporá sobre a isonomia entre as carreiras de po-
Alterado pela Emenda à Constituição Estadual nº 23 , de 16 de liciais civis e militares, fixando os vencimentos de forma escalonada
agosto de 2016. entre os níveis e classes, para os civis, e correspondentes postos e
Redação anterior de acordo com a Emenda à Constituição Es- graduações, para os militares.
tadual nº 20, de 30 de junho de 2014: “§ 3º - O servidor militar
§ 1º - O soldo nunca será inferior ao salário mínimo fixado em
estadual em atividade que aceitar cargo público civil permanente
lei.
será transferido para a reserva, na forma da lei.”
§ 2º - REVOGADO
Redação original: “§ 3º - O policial militar em atividade que
Revogado pela Emenda à Constituição Estadual nº 07 , de 18
aceitar cargo público civil permanente será transferido para a reser-
va, na forma da lei.” de janeiro de 1999.

281
DIREITO CONSTITUCIONAL
Redação original: “§ 2º - O limite mínimo de gratificação devida Alterado pela Emenda à Constituição Estadual nº 07 , de 18 de
aos praças pelo exercício da atividade policial-militar nunca será in- janeiro de 1999.
ferior a sessenta e cinco por cento do máximo fixado em lei.” Redação original: “Art. 146 - A segurança pública, dever do Es-
Art. 48 - Os direitos, deveres, garantias, subsídios e vantagens tado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para preser-
dos servidores militares, bem como as normas sobre admissão, vação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patri-
acesso na carreira, estabilidade, jornada de trabalho, remuneração mônio, através das Polícias Civil, Militar e do Corpo de Bombeiros
de trabalho noturno e extraordinário, readmissão, limites de idade Militar, cabendo à polícia técnica a realização de perícias criminalís-
e condições de transferência para a inatividade serão estabelecidos ticas e médico-legais e a identificação civil e criminal.”
em estatuto próprio, de iniciativa do Governador do Estado, obser- § 1º - Lei disciplinará a organização e funcionamento dos ór-
vada a legislação federal específica. gãos responsáveis pela segurança pública cujas atividades serão
Alterado pela Emenda à Constituição Estadual nº 20, de 30 de concentradas num único órgão de administração, a nível de Secre-
junho de 2014. taria de Estado, de modo a garantir sua eficiência.
Redação anterior de acordo com a Emenda à Constituição Esta- § 2º - Os Municípios poderão constituir guardas municipais
dual nº 07, de 18 de janeiro de 1999: “Art. 48 - Os direitos, deveres, destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, na for-
garantias, subsídios e vantagens dos policiais militares, bem como ma da lei.
as normas sobre admissão, acesso na carreira, estabilidade, jornada § 3º- Os órgãos de segurança pública, além dos cursos de for-
de trabalho, remuneração de trabalho noturno e extraordinário, re- mação, realizarão periódica reciclagem para aperfeiçoamento, ava-
admissão, limites de idade e condições de transferência para a ina- liação e progressão funcional dos seus servidores.
tividade serão estabelecidos em estatuto próprio, de iniciativa do § 4º - Os órgãos de segurança pública serão assessorados e
Governador do Estado, observada a legislação federal específica.” fiscalizados pelo Conselho de Segurança Pública, estruturado na
Redação original: “Art. 48 - Os direitos, deveres, garantias e van- forma da lei, guardando-se proporcionalidade relativa à respectiva
tagens dos policiais militares, bem como as normas sobre admissão, representação.
acesso na carreira, estabilidade, jornada de trabalho, remuneração § 5º - REVOGADO
de trabalho noturno e extraordinário, readmissão, limites de idade Revogado pela Emenda à Constituição Estadual nº 07 , de 18
e condições de transferência para a inatividade serão estabelecidos de janeiro de 1999.
em estatuto próprio, de iniciativa do Governador do Estado, obser- Redação original: “§ 5º - É assegurada autonomia técnica aos
vada a legislação federal específica.” serviços periciais, cuja estrutura, definida na forma da lei, estará
§ 1º - O servidor militar estadual é elegível, atendidas as se- diretamente subordinada à autoridade máxima do órgão único de
guintes condições: administração, que deverá concentrar as atividades de segurança
Alterado pela Emenda à Constituição Estadual nº 20, de 30 de pública, no âmbito estadual.”
junho de 2014. § 6º - A polícia técnica será dirigida por perito, cargo organizado
Redação original: “ § 1º - O policial militar é elegível, atendidas em carreira, cujo ingresso depende de concurso público de provas
as seguintes condições:” e títulos.
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se Art. 147 - À Polícia Civil, dirigida por Delegado de carreira, in-
da atividade; cumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado e, se judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.
eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a ina- Parágrafo único - O cargo de Delegado, privativo de bacharel
tividade, com os proventos proporcionais ao tempo de serviço. em direito, será estruturado em carreira, dependendo a investidura
§ 2º - REVOGADO de concurso de provas e títulos, com a participação do Ministério
Revogado pela Emenda à Constituição Estadual nº 07 , de 18 Público e da Ordem dos Advogados do Brasil.
de janeiro de 1999.
Art. 148 - À Polícia Militar, força pública estadual, instituição
Redação original: “§ 2º - O exercício de cargo de direção, asses-
permanente, organizada com base na hierarquia e disciplina milita-
soramento ou chefia, na área da Secretaria da Segurança Pública,
res, competem, entre outras, as seguintes atividades:
será considerado como atividade policial essencial, para efeito de
I - polícia ostensiva de segurança, de trânsito urbano e rodo-
aposentadoria especial voluntária, prevista na Constituição Fede-
viário, de florestas e mananciais e a relacionada com a prevenção
ral.”
criminal, preservação e restauração da ordem pública;
Art. 49 - REVOGADO
Alterado pela Emenda à Constituição Estadual nº 20, de 30 de
Revogado pela Emenda à Constituição Estadual nº 07 , de 18
junho de 2014.
de janeiro de 1999.
Redação original: “Art. 49 - O preenchimento de vaga de cape- Redação original: “I - polícia ostensiva de segurança, de trânsito
lão da Polícia Militar será efetuado por ministro de confissão religio- urbano e rodoviário, de florestas e mananciais e a relacionada com
sa, vedado qualquer critério discriminatório.” a prevenção criminal, preservação, restauração da ordem pública e
defesa civil;”
TÍTULO IV - II - REVOGADO
DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES Inciso II do art. 148 revogado pela Emenda à Constituição Esta-
CAPÍTULO IV - dual nº 20, de 30 de junho de 2014.
DAS FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA E DA SEGURANÇA PÚ- Redação original: “II - a prevenção e combate a incêndio, busca
BLICA e salvamento a cargo do Corpo de Bombeiros Militar;”
SEÇÃO IV - III - a instrução e orientação das guardas municipais, onde hou-
DA SEGURANÇA PÚBLICA ver;
IV - a polícia judiciária militar, a ser exercida em relação a seus
Art. 146 - A segurança pública, dever do Estado, direito e res- integrantes, na forma da lei federal;
ponsabilidade de todos, é exercida para preservação da ordem pú- Alterado pela Emenda à Constituição Estadual nº 20, de 30 de
blica e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. junho de 2014.

282
DIREITO CONSTITUCIONAL
Redação original: “IV - a polícia judiciária militar, na forma da 2. De acordo com a Constituição Federal de 1988, é certo di-
lei federal;” zer que quando a propriedade rural atende, simultaneamente, se-
V - a garantia ao exercício do poder de polícia dos órgãos pú- gundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos se-
blicos, especialmente os da área fazendária, sanitária, de proteção guintes requisitos: aproveitamento racional e adequado; utilização
ambiental, de uso e ocupação do solo e do patrimônio cultural. adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
Parágrafo único - A Polícia Militar, força auxiliar e reserva do ambiente; observância das disposições que regulam as relações de
Exército, será comandada por oficial da ativa da Corporação, do úl- trabalho; e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários
timo posto do Quadro de Oficiais Policiais Militares, nomeado pelo e dos trabalhadores, está cumprida a:
Governador. (A) Função econômica.
Art. 148-A - O Corpo de Bombeiros Militar da Bahia, força au- (B) Reforma agrária.
xiliar e reserva do Exército, organizado com base na hierarquia e (C) Desapropriação.
disciplina, é órgão integrante do sistema de segurança pública, ao (D) Função social.
qual compete as seguintes atividades:
I - defesa civil; 3. Assinale a única alternativa que não contemple um direito
II - prevenção e combate a incêndios e a situações de pânico; social previsto na Constituição Federal.
III - busca, resgate e salvamento de pessoas e bens a cargo do (A)direito ao lazer
Corpo de Bombeiros Militar; (B) . direito à previdência social
IV - instrução e orientação de bombeiros voluntários, onde (C) direito à alimentação
houver; (D)direito à ampla defesa
V - polícia judiciária militar, a ser exercida em relação a seus (E) direito à educação
integrantes, na forma da lei federal.
Parágrafo único - O Corpo de Bombeiros Militar da Bahia será 4. Segundo as disposições do Art. 12 da Constituição Federal, é
comandado por oficial da ativa da Corporação, do último posto do privativo de brasileiro nato o cargo de:
Quadro de Oficiais Bombeiros Militares, nomeado pelo Governador. (A)Ministro do Supremo Tribunal Federal.
Art. 148-A acrescido pela Emenda à Constituição Estadual nº (B)Ministro de Estado da Justiça e da Segurança Pública.
20, de 30 de junho de 2014. (C) Ministro do Superior Tribunal de Justiça.
(D) Deputado Federal.
(E) Senador da República.
QUESTÕES
5. Com base nas disposições constitucionais sobre os direitos e
1. [...] não se pode deduzir que todos os direitos fundamentais garantias fundamentais, analise as afirmativas a seguir:
possam ser aplicados e protegidos da mesma forma, embora todos I. Os cargos de Vice-Presidente da República e Senador são pri-
eles estejam sob a guarda de um regime jurídico reforçado, conferi- vativos de brasileiro nato.
do pelo legislador constituinte. (HACHEM, Daniel Wunder. Manda- II. São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.
do de Injunção e Direitos Fundamentais, 2012.) III. Os partidos políticos não estão subordinados a nenhum tipo
Sobre o tema, assinale a alternativa correta. de governo, mas podem receber recursos financeiros de entidades
(A)É compatível com a posição do autor inferir-se que, não obs- nacionais ou estrangeiras.
tante o reconhecimento do princípio da aplicabilidade imediata
das normas definidoras de direitos e garantias fundamentais, Assinale
há peculiaridades nas consequências jurídicas extraíveis de (A) se somente a afirmativa I estiver correta.
cada direito fundamental, haja vista existirem distintos níveis (B) se somente a afirmativa II estiver correta.
de proteção. (C) se somente a afirmativa III estiver correta
(B)É compatível com a posição do autor a recusa ao reconhe- (D) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
cimento do princípio da aplicabilidade imediata das normas (E) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
definidoras de direitos e garantias fundamentais no sistema
constitucional brasileiro. 6. Doutrinariamente, o conceito e a classificação das constitui-
(C) O autor se refere particularmente à distinção existente ções podem variar de acordo com o sentido e o critério adotados
entre direitos fundamentais políticos e direitos fundamentais para sua definição. A respeito dessa temática, leia as afirmativas
sociais, haja vista a mais ampla proteção constitucional aos pri- abaixo:
meiros, que não estão limitados ao mínimo existencial. I. Para o sociólogo Ferdinand Lassalle, “Constituição” seria a
(D) O autor se refere particularmente à distinção entre os di- somatória dos fatores reais de poder dentro de uma sociedade, en-
reitos fundamentais que consistem em cláusulas pétreas e os quanto reflexo do embate das forças econômicas, sociais, políticas e
direitos fundamentais que não estão protegidos por essa cláu- religiosas de um Estado. Nesse sentido, por ser uma norma jurídica,
sula, sendo que a maior proteção dada aos primeiros os torna ainda que não efetiva, uma Constituição legítima é aquela escrita
imunes à incidência da reserva do possível. em uma “folha de papel”.
(E) O autor se refere particularmente à distinção entre os di- II. O alemão Carl Schmitt define “Constituição” como sendo
reitos fundamentais que estão expressos na Constituição de uma decisão política fundamental, cuja finalidade precípua é orga-
1988 e aqueles que estão implícitos, decorrendo dos princípios nizar e estruturar os elementos essenciais do Estado. Trata-se do
por ela adotados, haja vista o expresso regime diferenciado de sentido político delineado na teoria decisionista ou voluntarista, em
proteção estabelecido em nível constitucional para esses dois que a Constituição é um produto da vontade do titular do Poder
grupos de direitos. Constituinte.

283
DIREITO CONSTITUCIONAL
III. Embasada em uma concepção jurídica, “Constituição” é (D) Incumbe ao Poder Público promover a educação ambiental
uma norma pura, a despeito de fundamentações oriundas de ou- em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
tras disciplinas. Através do sentido jurídico-positivo, Hans Kelsen preservação do meio ambiente.
define a Constituição como norma positiva suprema, dentro de um (E) Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensi-
sistema escalonado e hierarquizado de normas, em que aquela ser- no fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou
ve de fundamento de validade para todas as demais. responsáveis, pela frequência à escola.
IV. “Constituição-dirigente ou registro” é aquela que traça di-
retrizes objetivando nortear a ação estatal, mediante a previsão de 10. A Constituição Brasileira instituiu um modelo de proteção
normas programáticas. Marcante em nações socialistas, visa reger o social aos brasileiros que inclui a assistência social como um direi-
ordenamento jurídico de um Estado durante certo período de tem- to de seguridade social reclamável juridicamente e traduzível em
po nela estabelecido, cujo decurso implicará a elaboração de uma proteção social não contributiva devida ao cidadão (BRASIL, 2013).
nova Constituição ou adaptação de seu texto. Sobre a assistência social como direito à seguridade social é COR-
V. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é RETO afirmar que:
classificada, pela doutrina majoritária, como sendo de ordem de- (A) A confguração da assistência social como política pública
mocrática, nominativa, analítica, material e super-rígida. lhe atribui um campo específico de ação, no caso, a proteção
social não contributiva como direito de cidadania, aos que dela
Assinale a alternativa correta. necessitar, os pobres.
(A)Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas (B)A política de assistência social, como política de seguridade
(B) . Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas social, é responsável pela provisão de direitos sociais.
(C)Apenas as afirmativas II, III e V estão corretas (C) Na condição de prática, a política de assistência social pode
(D) Apenas as afirmativas II e III estão corretas ter múltiplas expressões, ser realizada em direções e abrangên-
cias diferentes, desenvolver experiências, fazer uma ou outra
7. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República,
atenção.
auxiliado pelos Ministros de Estado. No que se refere às disposi-
(D)A atenção prestada não se refere ao escopo de um indivíduo
ções constitucionais sobre o Poder Executivo, analise as afirmativas
ou uma família, mas deve ter presente que sua responsabilida-
abaixo:
de exige que se organize para que a ela tenham acesso todos
I. O Vice-Presidente da República, além de outras atribuições
aqueles que estão na mesma situação.
que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Presi-
(E) Atenções prestadas de modo focalizadas a grupos de pobres
dente, sempre que por ele convocado para missões especiais.
e miseráveis, de forma subalternizadora, constituindo um pro-
II. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presiden-
cesso de assistencialização das políticas sociais.
te, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente cha-
mados ao exercício da Presidência o Presidente do Supremo Tribu-
nal Federal, da Câmara dos Deputados e o do Senado Federal. 11. Acerca do Controle de Constitucionalidade, marque a op-
III. Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período ção CORRETA.
presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias (A)Os efeitos da decisão que afirma a inconstitucionalidade da
depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei. norma em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade, em
regra, são ex nunc.
Assinale a alternativa correta. (B)O controle de Constitucionalidade de qualquer decreto re-
(A)As afirmativas I, II e III estão corretas gulamentar deve ser realizado pela via difusa.
(B)Apenas as afirmativas I e II estão corretas (C) É impossível matéria de fato em sede de Ação Direta de
(C) Apenas as afirmativas II e III estão corretas Inconstitucionalidade.
(D) Apenas as afirmativas I e III estão corretas (D) Após a propositura da Ação Declaratória de Constitucionali-
dade é admissível a desistência.
8. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabili- (E) A mutação constitucional tem relação não com o aspecto
dade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da formal do texto constitucional, mas com a interpretação dada
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes à Constituição.
órgãos, EXCETO:
(A) Polícia Federal. 12. Sobre a aplicabilidade das normas constitucionais, examine
(B) Polícia Rodoviária Federal. as assertivas seguintes:
(C) Defesa Civil. I – Para Hans Kelsen, eficácia é a possibilidade de a norma jurí-
(D) Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares. dica, a um só tempo, ser aplicada e não obedecida, obedecida e não
aplicada. Para se considerar um preceito como eficaz deve existir a
9. De acordo com as disposições constitucionais acerca da Or- possibilidade de uma conduta em desarmonia com a norma. Uma
dem Social, assinale a afirmativa incorreta. norma que preceituasse um certo evento que de antemão se sabe
(A)A pesquisa científica básica e tecnológica receberá trata- que necessariamente se tem de verificar, sempre e em toda parte,
mento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o por força de uma lei natural, será tão absurda como uma norma que
progresso da ciência, tecnologia e inovação. preceituasse um certo fato que de antemão se sabe que de forma
(B)A educação básica pública terá como fonte adicional de fi- alguma se poderá verificar, igualmente por força de uma lei natural.
nanciamento a contribuição social do salário-educação, reco- II – O fenômeno relativo à desconstitucionalização, ou seja, a
lhida pelas empresas na forma da lei. retirada de temas do sistema constitucional e a sua inserção em
(C) A União, os Estados e o Distrito Federal estão obrigados a sede de legislação ordinária, pode ser observado no Brasil.
vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públi-
cas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica.

284
DIREITO CONSTITUCIONAL
III – A norma constitucional com eficácia relativa restringível 16. Com base nas disposições constitucionais sobre a Advoca-
tem aplicabilidade direta e imediata, podendo, todavia, ter a am- cia Pública e a Defensoria Pública, analise os itens abaixo:
plitude reduzida em razão de sobrevir texto legislativo ordinário ou I. Aos advogados públicos são assegurados a inamovibilidade,
mesmo sentença judicial que encurte o espectro normativo, como a independência funcional e a estabilidade após três anos de efeti-
é, por exemplo, o direito individual à inviolabilidade do domicílio, vo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os órgãos
desde que é possível, por determinação judicial, que se lhe promo- próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias.
va restrição. II. A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral
da União, de livre nomeação pelo Presidente da República dentre
Assinale a alternativa CORRETA: cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e
(A)Apenas as assertivas I e II estão corretas. reputação ilibada.
(B)Apenas as assertivas I e III estão corretas. III. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à
(C) Apenas as assertivas II e III estão corretas. função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, dentre outras atri-
(D) Todas as assertivas estão corretas. buições, a orientação jurídica aos necessitados.

13. Sobre o Poder Legislativo da União, assinale a alternativa Assinale:


INCORRETA. (A)se apenas a afirmativa I estiver correta.
(A)A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do (B) se apenas a afirmativa II estiver correta.
povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada estado, em (C) se apenas as afirmativas I e III estiverem corretas.
cada território e no Distrito Federal. (D) se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas.
(B) O Senado Federal compõe-se de representantes dos esta-
dos e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majori- 17. A respeito do controle de constitucionalidade preventivo
tário. no direito brasileiro, é correto afirmar que
(C) Cada estado, território e o Distrito Federal elegerão três se- (A)é exercido pelo Legislativo ao sustar os atos normativos do
nadores, com mandato de oito anos. Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos
(D) O número total de deputados, bem como a representação limites de delegação legislativa.
por estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei (B)é praticado, por exemplo, quando o Senado suspende a exe-
complementar, proporcionalmente à população, procedendo- cução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional
-se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal.
que nenhuma das unidades da Federação tenha menos de oito (C) não cabe ao Poder Judiciário exercer esse tipo de controle,
ou mais de setenta deputados. Poder este que tem competência apenas para exercer o con-
trole repressivo.
14. Referente ao Poder Judiciário, assinale a alternativa correta. (D) as comissões parlamentares têm competência para exer-
(A)O ato de remoção ou de disponibilidade do magistrado, por cer esse tipo de controle ao examinar os projetos de lei a elas
interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria submetidos.
do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, as- (E) o veto presidencial, que é uma forma de controle preven-
segurada ampla defesa. tivo de constitucionalidade, é sujeito à apreciação e anulação
(B)Nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgado- pelo Poder Judiciário.
res, poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de
onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o exercício 18. Acerca do Controle de Constitucionalidade, marque a op-
das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da ção CORRETA.
competência do tribunal pleno, provendo-se metade das va- (A)Os efeitos da decisão que afirma a inconstitucionalidade da
gas por antiguidade e a outra metade por eleição pelo tribunal norma em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade, em
pleno. regra, são ex nunc.
(C) Aos juízes é vedado exercer a advocacia no juízo ou tribunal (B)O controle de Constitucionalidade de qualquer decreto re-
do qual se afastou, antes de decorridos 02 (dois) anos do afas- gulamentar deve ser realizado pela via difusa.
tamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. (C) É impossível matéria de fato em sede de Ação Direta de
(D) As custas e emolumentos serão destinados, preferencial- Inconstitucionalidade.
mente, ao custeio dos serviços afetos às atividades específicas (D)Após a propositura da Ação Declaratória de Constitucionali-
da Justiça. dade é admissível a desistência.
(E)O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) (E) A mutação constitucional tem relação não com o aspecto
membros com mandato de 2 (dois) anos, vedada a recondução. formal do texto constitucional, mas com a interpretação dada
à Constituição.
15. O Ministério Público da União compreende:
(A)o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Traba- 19. A luz da Constituição Federal de 1988, é CORRETO afirmar
lho e o Ministério Público Militar. que é um princípio da República Federativa do Brasil, em que irá
(B) o Ministério Público Estadual, o Ministério Público do Traba- reger-se em suas relações internacionais.
lho e o Ministério Público Militar. (A) Soberania.
(C) o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Traba- (B)Garantir o desenvolvimento nacional.
lho e o Ministério Público do Distrito Federal. (C) A dignidade da pessoa humana.
(D)o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Traba- (D) Auto determinação dos povos.
lho e o Ministério Público Militar, do Distrito Federal e territó-
rios.
(E) o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Traba-
lho e o Ministério Público Militar e territórios.

285
DIREITO CONSTITUCIONAL
20. Leia as afirmativas a seguir:
I. De acordo com o artigo 20 da Constituição da República Fe- GABARITO
derativa do Brasil de 1988, são bens da União as terras devolutas
dispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções
militares, das vias internacionais de comunicação e à degradação 1 A
ambiental, definidas em lei.
II. A Constituição Federal estabelece, em seu artigo 7º, a idade 2 D
inicial e as condições em que é permitido trabalhar no Brasil. O dis- 3 D
positivo constitucional estabelece a proibição de trabalho noturno,
perigoso ou insalubre aos menores de dezesseis anos e de qual- 4 A
quer trabalho aos menores de quatorze anos, salvo na condição de 5 B
aprendiz, a partir de doze anos.
6 D
Marque a alternativa CORRETA: 7 D
(A) . As duas afirmativas são verdadeiras. 8 C
(B)A afirmativa I é verdadeira, e a II é falsa.
(C) A afirmativa II é verdadeira, e a I é falsa. 9 C
(D)As duas afirmativas são falsas. 10 D

21. De acordo com as disposições constitucionais acerca da Or- 11 E


dem Social, assinale a afirmativa incorreta. 12 B
(A)A pesquisa científica básica e tecnológica receberá trata-
13 C
mento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o
progresso da ciência, tecnologia e inovação. 14 B
(B) A educação básica pública terá como fonte adicional de fi- 15 D
nanciamento a contribuição social do salário-educação, reco-
lhida pelas empresas na forma da lei. 16 D
(C) A União, os Estados e o Distrito Federal estão obrigados a 17 D
vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públi-
cas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica. 18 E
(D) Incumbe ao Poder Público promover a educação ambiental 19 D
em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a 20 D
preservação do meio ambiente.
(E) Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensi- 21 C
no fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou 22 A
responsáveis, pela frequência à escola.

22. A Constituição Federal de 1988 traz uma nova concepção


para a Assistência Social brasileira. Incluída no âmbito da Segurida-
de Social e regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS), como política social pública, a assistência social inicia seu
trânsito para um campo novo: o campo dos direitos, da universali-
zação dos acessos e da responsabilidade estatal. Entre as diretrizes
traçadas para a Assistência Social encontra-se:
(A) participação da população, por meio de organizações repre-
sentativas, na formulação das políticas e no controle das ações
em todos os níveis.
(B) centralização político-administrativa, cabendo a coordena-
ção e as normas gerais à esfera municipal com a participação
de outras entidades.
(C)primazia da responsabilidade da sociedade civil na condu-
ção da Política de Assistência Social em cada esfera de governo.
(D) centralidade nas pessoas em situação de risco para con-
cepção e implementação dos benefícios, serviços, programas
e projetos.
(E) gestão dos recursos financeiros pela Câmara Municipal lo-
cal, a quem cabe definir as prioridades para a distribuição.

286
DIREITOS HUMANOS

1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as


A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qual-
HUMANOS/1948 quer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política
ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimen-
to, ou qualquer outra condição.
2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na con-
Declaração Universal dos Direitos Humanos dição política, jurídica ou internacional do país ou território a que
Adotada e proclamada pela Assembléia Geral das Nações Unidas pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente,
(resolução 217 A III) em 10 de dezembro 1948. sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limi-
tação de soberania.
Preâmbulo Artigo 3
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança
todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e pessoal.
inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no Artigo 4
mundo, Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravi-
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos hu- dão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.
manos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência Artigo 5
da humanidade e que o advento de um mundo em que mulheres e Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou casti-
homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de go cruel, desumano ou degradante.
viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a Artigo 6
mais alta aspiração do ser humano comum, Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares,
Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam pro- reconhecido como pessoa perante a lei.
tegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja compe- Artigo 7
lido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão, Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer dis-
Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de tinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção
relações amistosas entre as nações, contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, contra qualquer incitamento a tal discriminação.
na Carta, sua fé nos direitos fundamentais do ser humano, na dig- Artigo 8
nidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos do Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais
homem e da mulher e que decidiram promover o progresso social e competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos
melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla, fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela
Considerando que os Países-Membros se comprometeram a lei.
promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito uni- Artigo 9
versal aos direitos e liberdades fundamentais do ser humano e a Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
observância desses direitos e liberdades, Artigo 10
Considerando que uma compreensão comum desses direitos Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa
e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento e pública audiência por parte de um tribunal independente e im-
desse compromisso, parcial, para decidir seus direitos e deveres ou fundamento de qual-
Agora portanto a Assembleia Geral proclama a presente Decla- quer acusação criminal contra ele.
ração Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser Artigo 11
atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de 1.Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito
que cada indivíduo e cada órgão da sociedade tendo sempre em de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido
mente esta Declaração, esforce-se, por meio do ensino e da educa- provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe te-
ção, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela nham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacio- 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão
nal, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância uni- que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional
versais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Países-Mem- ou internacional. Também não será imposta pena mais forte de que
bros quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.
Artigo 1 Artigo 12
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua
direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em rela- família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataque à sua
ção uns aos outros com espírito de fraternidade. honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei
Artigo 2 contra tais interferências ou ataques.

287
DIREITOS HUMANOS
Artigo 13 2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual
1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e remuneração por igual trabalho.
residência dentro das fronteiras de cada Estado. 3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remune-
2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, in- ração justa e satisfatória que lhe assegure, assim como à sua famí-
clusive o próprio e a esse regressar. lia, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se
Artigo 14 acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.
1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de 4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles
procurar e de gozar asilo em outros países. ingressar para proteção de seus interesses.
2. Esse direito não pode ser invocado em caso de perseguição Artigo 24
legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a li-
contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas. mitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas pe-
Artigo 15 riódicas.
1. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade. Artigo 25
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, 1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de
nem do direito de mudar de nacionalidade. assegurar a si e à sua família saúde, bem-estar, inclusive alimen-
tação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais
Artigo 16 indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doen-
1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restri- ça invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de
ção de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair ma- subsistência em circunstâncias fora de seu controle.
trimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistên-
ao casamento, sua duração e sua dissolução. cia especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matri-
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno con- mônio, gozarão da mesma proteção social.
sentimento dos nubentes. Artigo 26
3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e 1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será
tem direito à proteção da sociedade e do Estado. gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A ins-
Artigo 17 trução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional
1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em socie- será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada
dade com outros. no mérito.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade. 2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvi-
Artigo 18 mento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito
Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, cons- pelos direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais. A
ciência e religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de reli- instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre
gião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença todas as nações e grupos raciais ou religiosos e coadjuvará as ativi-
pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular. dades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
Artigo 19 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de
Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expres- instrução que será ministrada a seus filhos.
são; esse direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opi- Artigo 27
niões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por 1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da
quaisquer meios e independentemente de fronteiras. vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do
Artigo 20 progresso científico e de seus benefícios.
1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e asso- 2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses mo-
ciação pacífica. rais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literá-
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. ria ou artística da qual seja autor.
Artigo 21 Artigo 28
1. Todo ser humano tem o direito de tomar parte no governo Todo ser humano tem direito a uma ordem social e interna-
de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livre- cional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente
mente escolhidos. Declaração possam ser plenamente realizados.
2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço pú- Artigo 29
blico do seu país. 1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na
3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é pos-
essa vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sível.
sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que 2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano
assegure a liberdade de voto. estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusiva-
Artigo 22 mente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito
Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigên-
segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela coopera- cias da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade
ção internacional e de acordo com a organização e recursos de cada democrática.
Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis 3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma,
à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade. ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações
Artigo 23 Unidas.
1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de
emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção
contra o desemprego.

288
DIREITOS HUMANOS
Artigo 30 Considerando que esses princípios foram consagrados na Carta
Nenhuma disposição da presente Declaração poder ser inter- da Organização dos Estados Americanos, na Declaração Americana
pretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pes- dos Direitos e Deveres do Homem e na Declaração Universal dos
soa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer Direitos do Homem e que foram reafirmados e desenvolvidos em
ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades outros instrumentos internacionais, tanto de âmbito mundial como
aqui estabelecidos. regional;
Reiterando que, de acordo com a Declaração Universal dos Di-
CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMA- reitos do Homem, só pode ser realizado o ideal do ser humano livre,
NOS/1969 (PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA) (ART. 1° isento do temor e da miséria, se forem criadas condições que per-
AO 32) mitam a cada pessoa gozar dos seus direitos econômicos, sociais e
culturais, bem como dos seus direitos civis e políticos; e
Considerando que a Terceira Conferência Interamericana Extra-
DECRETO N° 678, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1992 ordinária (Buenos Aires, 1967) aprovou a incorporação à próprias
sociais e educacionais e resolveu que uma convenção interamerica-
Promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto na sobre direitos humanos determinasse a estrutura, competência
de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. e processo dos órgãos encarregados dessa matéria,
Convieram no seguinte:
O VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no exercício do cargo de
PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso da atribuição que lhe confere PARTE I
o art. 84, inciso VIII, da Constituição, e Considerando que a Conven- Deveres dos Estados e Direitos Protegidos
ção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa CAPÍTULO I
Rica), adotada no âmbito da Organização dos Estados Americanos, Enumeração de Deveres
em São José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, entrou em ARTIGO 1
vigor internacional em 18 de julho de 1978, na forma do segundo Obrigação de Respeitar os Direitos
parágrafo de seu art. 74;
Considerando que o Governo brasileiro depositou a carta de 1. Os Estados-Partes nesta Convenção comprometem-se a res-
adesão a essa convenção em 25 de setembro de 1992; Conside- peitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu
rando que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua ju-
de São José da Costa Rica) entrou em vigor, para o Brasil, em 25 de risdição, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo,
setembro de 1992 , de conformidade com o disposto no segundo idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza,
parágrafo de seu art. 74; origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qual-
DECRETA: quer outra condição social.
2. Para os efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano.
Art. 1° A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto
de São José da Costa Rica), celebrada em São José da Costa Rica, em ARTIGO 2
22 de novembro de 1969, apensa por cópia ao presente decreto, Dever de Adotar Disposições de Direito Interno
deverá ser cumprida tão inteiramente como nela se contém.
Art. 2° Ao depositar a carta de adesão a esse ato internacional, Se o exercício dos direitos e liberdades mencionados no artigo
em 25 de setembro de 1992, o Governo brasileiro fez a seguinte de- no artigo 1 ainda não estiver garantido por disposições legislativas
claração interpretativa: “O Governo do Brasil entende que os arts. ou de outra natureza, os Estados-Partes comprometem-se a adotar,
43 e 48, alínea d , não incluem o direito automático de visitas e ins- de acordo com as suas normas constitucionais e com as disposições
peções in loco da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, as desta Convenção, as medidas legislativas ou de outras natureza que
quais dependerão da anuência expressa do Estado”. forem necessárias para tornar efetivos tais direitos e liberdades.
Art. 3° O presente decreto entra em vigor na data de sua pu-
blicação. CAPÍTULO II
Direitos Civis e Políticos
ANEXO AO DECRETO QUE PROMULGA A CONVENÇÃO AMERICA- ARTIGO 3
NA SOBRE DIREITOS HUMANOS (PACTO DE SÃO JOSE DA COSTA Direitos ao Reconhecimento da Personalidade Jurídica
RICA) - MRE
Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua personali-
CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS dade jurídica.
PREÂMBULO
ARTIGO 4
Os Estados americanos signatários da presente Convenção, Re- Direito à Vida
afirmando seu propósito de consolidar neste Continente, dentro do
quadro das instituições democráticas, um regime de liberdade pes- 1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse
soal e de justiça social, fundado no respeito dos direitos essenciais direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento
do homem; da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente.
Reconhecendo que os direitos essenciais do homem não de- 2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta
viam do fato de ser ele nacional de determinado Estado, mas sim só poderá ser imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento
do fato de ter como fundamento os atributos da pessoa humana, de sentença final de tribunal competente e em conformidade com
razão por que justificam uma proteção internacional, de natureza lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o delito sido
convencional, coadjuvante ou complementar da que oferece o di- cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos quais
reito interno dos Estados americanos; não se aplique atualmente.

289
DIREITOS HUMANOS
3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que ARTIGO 7
a hajam abolido. Direito à Liberdade Pessoal
4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada por de-
litos políticos, nem por delidos comuns conexos com delitos políti- 1. Toda pessoa tem direito à liberdade e á segurança pessoais.
cos. 2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pe-
5. Não se deve impor a pena de morte à pessoa que, no mo- las causas e nas condições previamente fixadas pelas constituições
mento da perpetração do delito, for menor de dezoito anos, ou políticas dos Estados-Partes ou pelas leis de acordo com elas pro-
maior de setenta, nem aplicá-la a mulher em estado de gravidez. mulgadas.
6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anis- 3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramen-
tia, indulto ou comutação da pena, os quais podem ser concedidos to arbitrários.
em todos os casos. Não se pode executar a pena de morte enquan- 4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões
to o pedido estiver pendente de decisão ante a autoridade compe- da sua detenção e notificada, sem demora, da acusação ou acusa-
tente. ções formuladas contra ela.
ARTIGO 5 5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem de-
Direito à Integridade Pessoal mora, á presença de um juiz ou outra autoridade autorizada pela
lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeito sua integridade um prazo razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que
física, psíquica e moral. prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condiciona a garantias
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou que assegurem o seu comparecimento em juízo.
tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da 6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um
liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade ine- juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida, sem demora,
rente ao ser humano. sobre ou tribunal competente, a fim de que este decida, sem demo-
3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente. ra, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e ordene sua soltu-
4. Os processados devem ficar separados dos condenados, sal- ra se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados-Partes cujas
vo em circunstâncias excepcionais, a ser submetidos a tratamento leis prevêem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada
adequado à sua condição de pessoal não condenadas. de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal compe-
5. Os menores, quando puderem ser processados, deve ser se- tente a fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça, tal
parados dos adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso pode ser
maior rapidez possível, para seu tratamento. interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa.
6. As penas privativas da liberdade devem ter por finalidade 7. Ninguém deve ser detido por dívida. Este princípio não limita
essencial a reforma e a readaptação social dos condenados. os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em
virtude de inadimplemento de obrigação alimentar.
ARTIGO 6
Proibição da Escravidão e da Servidão ARTIGO 8
Garantias Judiciais
1. Ninguém pode ser submetido à escravidão ou a servidão, e
tanto estas como o tráfico de escravos e o tráfico de mulheres são 1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garan-
proibidos em todas as formas. tias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal compe-
2. Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho forçado tente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por
ou obrigatório. Nos países em que se prescreve, para certos delitos, lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela,
pena privativa da liberdade acompanhada de trabalhos forçados, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza
esta disposição não pode ser interpretada no sentido de que proíbe civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.
o cumprimento da dita pena, importa por juiz ou tribunal compe- 2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma
tente. O trabalho forçado não deve afetar a dignidade nem a capa- sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Du-
cidade física e intelectual do recluso. rante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às
3. Não constituem trabalhos forçados ou obrigatórios para os seguintes garantias mínimas:
efeitos deste artigo: a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por tra-
a) os trabalhos ou serviços normalmente exigidos de pessoal dutor ou intérprete, se não compreender ou não falar o idioma do
reclusa em cumprimento de sentença ou resolução formal expedi- juízo ou tribunal;
da pela autoridade judiciária competente. Tais trabalhos ou servi- b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusa-
ços de devem ser executados sob a vigilância e controle das autori- ção formulada;
dades públicas, e os indivíduos que os executarem não devem ser c) concessão ao acusado do tempo e dos meios adequados
postos à disposição de particulares, companhias ou pessoas jurídi- para a preparação de sua defesa;
cas de caráter privado: d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser
b) o serviço militar e, nos países onde se admite a isenção por assistido por um defensor de sua escolha e de comunicar-se, livre-
motivos de consciências, o serviço nacional que a lei estabelecer mente e em particular, com seu defensor;
em lugar daquele; e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor pro-
c) o serviço imposto em casos de perigo ou calamidade que porcionado pelo Estado, remunerado ou não, segundo a legislação
ameace a existência ou o bem-estar da comunidade; e interna, se o acusado não se defender ele próprio nem nomear de-
d) o trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas fensor dentro do prazo estabelecido pela lei;
normais. f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presente no tri-
bunal e de obter o comparecimento, como testemunhas ou peritos,
de outras pessoas que possam lançar luz sobre os fatos.

290
DIREITOS HUMANOS
g) direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a ARTIGO 13
declarar-se culpada; e Liberdade de Pensamento e de Expressão
h) direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior.
3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de ex-
nenhuma natureza. pressão. Esse direito compreende a liberdade de buscar, receber e
4. O acusado absolvido por sentença passada em julgado não difundir informações e idéias de toda natureza, sem consideração
poderá se submetido a novo processo pelos mesmos fatos. de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou
5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessá- artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha.
rio para preservar os interesses da justiça. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode
estar sujeito à censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores,
ARTIGO 9 que devem ser expressamente fixadas pela lei a ser necessária para
Princípio da Legalidade e da Retroatividade assegurar:
a) o respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas;
Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no ou
momento em que forem cometidas, não sejam delituosas, de acor- b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da
do com o direito aplicável. Tampouco se pode impor pena mais gra- saúde ou da moral pública.
ve que a aplicável no momento da perpetração do delito. Se depois 3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias ou
da perpetração do delito a lei dispuser a imposição de pena mais meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou parti-
leve, o delinquente será por isso beneficiado. culares de papel de imprensa, de freqüências radioelétricas ou de
equipamentos e aparelhos usados na difusão de informação, nem
ARTIGO 10 por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicação e a
Direito a Indenização circulação de idéias e opiniões.
4. A lei pode submeter os espetáculos públicos à censura pré-
Toda pessoa tem direito de ser indenizada conforme a lei, no via, com o objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para prote-
caso de haver sido condenada em sentença passada em julgado, ção moral da infância e da adolescência, sem prejuízo do disposto
por erro judiciário. no inciso 2º.
5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem
ARTIGO 11 como toda apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que consti-
Proteção da Honra e da Dignidade tua incitação à discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência.

Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhe- ARTIGO 14


cimento de sua dignidade. Direito de Retificação ou Resposta
2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abu-
sivas em sua vida privada, na de sua família, em seu domicílio ou 1. Toda pessoa atingida por informações inexatas ou ofensivas
em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra ou re- emitidas em seus prejuízos por meios de difusão legalmente regula-
putação. mentados e que se dirijam ao público em geral, tem direito a fazer,
3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerên- pelo mesmo órgão de difusão, sua retificação ou resposta, nas con-
cias ou tais ofensas. dições que estabeleça a lei.
2. Em nenhum caso a retificação ou a resposta eximirá das ou-
ARTIGO 12 tras responsabilidades legais em que se houver incorrido.
Liberdade de Consciência e de Religião 3. Para a efetiva proteção da honra e da reputação, toda publi-
cação ou empresa jornalística, cinematográfica, de rádio ou televi-
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de re- são, deve ter uma pessoa responsável que não seja protegida por
ligião. Esse direito implica a liberdade de conservar sua religião ou imunidades nem goze de foro especial.
suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como a
liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças, indi- ARTIGO 15
vidual ou coletivamente, tanto em público como em privado. Direito de Reunião
2. Ninguém pode ser objeto de medidas restritivas que possam
limitar sua liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou É reconhecido o direito de reunião pacífica e sem armas. O
de mudar de religião ou de crenças. exercício de tal direito só pode estar sujeito às restrições previstas
3. A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias pela lei e que sejam necessárias, uma sociedade democrática, no
crenças está sujeita unicamente às limitações prescritas pelas leis e interesse da segurança nacional, da segurança ou da ordem públi-
que sejam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde cas, ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os direitos e
ou moral pública ou os direitos ou liberdades das demais pessoas. liberdades das demais pessoas.
4. Os pais, e quando for o caso os tutores, têm direito a que
seus filhos ou pupilos recebam a educação religiosa e moral que ARTIGO 16
esteja acorde com suas próprias convicções. Liberdade de Associação

1. Todas as pessoas têm o direito de associar-se livremente com


fins ideológicos, religiosos, políticos, econômicos, trabalhistas, so-
ciais, culturais, desportivos, ou de qualquer outra natureza.

291
DIREITOS HUMANOS
2. O exercício de tal direito só pode estar sujeito às restrições ARTIGO 22
previstas pela lei que sejam necessárias, numa sociedade democrá- Direito de Circulação e de Residência
tica, no interesse da segurança nacional, da segurança ou da ordem
públicas, ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os direi- 1. Toda pessoa que se ache legalmente no território de um Es-
tos e liberdades das demais pessoas. tado tem direito de circular nele e de nele residir conformidade com
3. O disposto neste artigo não impede a imposição de restri- as disposições legais.
ções legais, e mesmo a privação do exercício do direito de associa- 2. toda pessoa tem o direito de sair livremente de qualquer
ção, aos membros das forças armadas e da polícia. país, inclusive do próprio.
3. O exercício dos direitos acima mencionados não pode ser
ARTIGO 17 restringido senão em virtude de lei, na medida indispensável, numa
Proteção da Família sociedade democrática, para prevenir infrações penais ou para
proteger a segurança nacional, a segurança ou a ordem públicas, a
1. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e moral ou a saúde públicas, ou os direitos e liberdades das demais
deve ser protegida pela sociedade e pelo Estado. pessoas.
2. É reconhecido o direito do homem e da mulher de contra- 4. O exercício dos direitos reconhecidos no inciso 1 pode tam-
írem casamento e de fundarem uma família, se tiverem à idade e bém ser restringido pela lei, em zonas determinadas, por motivos
as condições para isso exigidas pelas leis internas, na medida em de interesse público.
que não afetem estas o princípio da não discriminação estabelecido 5. Ninguém pode ser expulso do território do Estado do qual
nesta Convenção. for nacional, nem ser privado do direito de nele entrar.
3. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno 6. O estrangeiro que se ache legalmente no território de uma
consentimento dos contraentes. Estado-Parte nesta Convenção só poderá dele ser expulso em cum-
4. Os Estados-Partes devem tomar medidas apropriadas no primento de decisão adotada de acordo com a lei.
sentido de assegurar a igualdade de direitos e a adequada equiva- 7. Toda pessoa tem o direito de buscar e receber asilo em ter-
lência de responsabilidades dos cônjuges quanto ao casamento, du- ritório estrangeiro, em caso de perseguição por delitos políticos ou
rante o casamento e em caso de dissolução do mesmo. Em caso de comuns conexos com delitos políticos e de acordo com a legislação
dissolução, serão adotadas disposições que assegurem a proteção de cada estado e com os convênios internacionais.
necessária aos filhos, com base unicamente no interesse e conveni- 8. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou entregue
ência dos mesmos. a outro país, seja ou não de origem, onde seu direito à vida ou liber-
5. A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos filhos nascidos dade pessoal esteja em risco de violação por causa da sua raça, na-
fora do casamento como aos nascidos dentro do casamento. cionalidade, religião, condição social ou de suas opiniões políticas.
9. É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros.
ARTIGO 18
Direito ao Nome ARTIGO 23
Direitos Políticos
Toda pessoa tem direito a um prenome e aos nomes de seus
pais ou ao de um destes. A lei deve regular a forma de assegurar 1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintes direitos e
a todos esses direito, mediante nomes fictícios, se for necessário. oportunidades:
ARTIGO 19 a) de participar da direção dos assuntos públicos, diretamente
Direitos da Criança ou por meio de representantes livremente eleitos;
b) de votar e se eleitos em eleições periódicas autênticas, rea-
Toda criança tem direito às medidas de proteção que a sua con- lizadas por sufrágio universal e igual e por voto secreto que garanta
dição de menor requer por parte da sua família, da sociedade e do a livre expressão da vontade dos eleitores; e
Estado. c) de ter acesso, em condições gerais de igualdade, às funções
públicas de seu país.
ARTIGO 20 2. A lei pode regular o exercício dos direitos e oportunidades e
Direito à Nacionalidade a que se refere o inciso anterior, exclusivamente por motivos de ida-
de, nacionalidade, residência, idioma, instrução, capacidade civil ou
1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. mental, ou condenação, por juiz competente, em processo penal.
2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo
território houver nascido, se não tiver direito à outra. ARTIGO 24
3. A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua nacionali- Igualdade Perante a Lei
dade nem do direito de mudá-la.
Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte, têm
ARTIGO 21 direito, sem discriminação, a igual proteção da lei.
Direito à Propriedade Privada
ARTIGO 25
1. Toda pessoa tem direito ao uso e gozo dos seus bens. A lei Proteção Judicial
pode subordinar esse uso e gozo ao interesse social.
2. Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens, salvo me- 1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a
diante o pagamento de indenização justa, por motivo de utilidade qualquer outro recurso efetivo, perante os juízos ou tribunais com-
pública ou de interesse social e nos casos e na forma estabelecidos petentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos funda-
pela lei. mentais reconhecidos pela constituição, pela lei ou pela presente
3. Tanto a usura como qualquer outra forma de exploração do Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas
homem pelo homem devem ser reprimidas pela lei. que estejam atuando no exercícios de suas funções oficiais.

292
DIREITOS HUMANOS
2. Os Estados-Partes comprometem-se: que as autoridades competentes das referidas entidades possam
a) a assegurar que a autoridade competente prevista pelo sis- adotar as disposições cabíveis para o cumprimento desta Conven-
tema legal do Estado decida sobre os direitos de toda pessoa que ção.
interpuser tal recurso; 3. Quando dois ou mais Estados-Partes decidiram constituir
b) a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; e entre eles uma federação ou outro tipo de associação, diligencia-
c) a assegurar o cumprimento, pelas autoridades competente, rão no sentido de que o pacto comunitário respectivo contenha as
de toda decisão em que se tenha considerado procedente o recur- disposições necessárias para que continuem sendo efetivas no novo
so. Estado assim organizado as normas da presente Convenção.

CAPÍTULO III ARTIGO 29


Direitos Econômicos, Sociais e Culturais Normas de Interpretação
ARTIGO 26
Desenvolvimento Progressivo Nenhuma disposição desta Convenção pode ser interpretada
no sentido de:
Os Estados-Partes comprometem-se a adotar providência, tan- a) permitir a qualquer dos Estados-Partes, grupo ou pessoa, su-
to no âmbito interno como mediante cooperação internacional, primir o gozo e exercício dos direitos e liberdades reconhecidos na
especialmente econômica e técnica, a fim de conseguir progressi- Convenção ou limitá-los em maior medida do que a nela prevista;
vamente a plena efetividade dos direitos que decorrem das normas b) limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade
econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes que possam ser reconhecidos de acordo com as leis de qualquer
da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo dos Estados-Partes ou de acordo com outra convenção em que seja
Protocolo de Buenos Aires, na medida dos recursos disponíveis, por parte um dos referidos Estados;
via legislativa ou por outros meios apropriados. c) excluir outros direitos e garantias que são inerentes ao ser
humano ou que decorrem da forma democrática representativa de
CAPÍTULO IV governo; e
Suspensão de Garantias, Interpretação e Aplicação d) excluir ou limitar o efeito que possam produzir a Declaração
ARTIGO 27 Americana dos Direitos e Deveres do Homem e outros atos interna-
Suspensão de Garantias cionais da mesma natureza.

1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emer- ARTIGO 30


gência que ameace a independência ou segurança do Estado-Par- Alcance das Restrições
te, este poderá adotar disposições que, na medida e pelo tempo
estritamente limitados às exigências da situação, suspendam as As restrições permitidas, de acordo com esta Convenção, ao
obrigações contraídas em virtude desta Convenção, desde que tais gozo e exercício dos direitos e liberdades nela reconhecidos, não
disposições não sejam incompatíveis com as demais obrigações que podem ser aplicadas senão de acordo com leis que forem promul-
lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem discriminação al- gadas por motivo de interesse geral e com o propósito para o qual
guma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião ou houverem sido estabelecidas.
origem social.
2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos di- ARTIGO 31
reitos determinados nos seguintes artigos: 3 (Direito ao Reconhe- Reconhecimento de Outros Direitos
cimento da Personalidade Jurídica), 4 (Direito à vida), 5 (Direito à
Integridade Pessoal), 6 (Proibição da Escravidão e Servidão), 9 (Prin- Poderão se incluídos no regime de proteção desta Convenção
cípio da Legalidade e da Retroatividade), 12 (Liberdade de Consci- outros direitos e liberdades que forem reconhecidos de acordo com
ência e de Religião), 17 (Proteção da Família), 18 (Direito ao Nome), os processos estabelecidos nos artigos 69 e 70.
18 (Direitos da Criança), 20 (Direito à Nacionalidade) e 23 (Direitos
Políticos), nem das garantias indispensáveis para a proteção de tais CAPÍTULO V
direitos. Deveres das Pessoas
3. Todo Estado-Parte que fizer uso do direito de suspensão de- ARTIGO 32
verá informar imediatamente os outros Estados-Partes na presente Correlação entre Deveres e Direitos
Convenção, por intermédio do Secretário-Geral da Organização dos
Estados Americanos, das disposições cuja aplicação haja suspendi- 1. Toda pessoa tem deveres para com a família, a comunidade
do, dos motivos determinantes da suspensão e da data em que haja e a humanidade.
dado por terminado tal suspensão. 2. Os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos dos
demais, pela segurança de todos e pelas justas exigências do bem
ARTIGO 28 comum, numa sociedade democrática.
Cláusula Federal

1. Quando se tratar de um Estado-Parte constituído como Es- PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS ECONÔMICOS,
tado federal, o governo nacional do aludido Estado-Parte cumprirá SOCIAIS E CULTURAIS (ART. 1° AO 15)
todas as disposições da presente Convenção, relacionadas com as
matérias sobre as quais exerce competência legislativa e judicial.
2. No tocante às disposições relativas às matérias que corres- DECRETO N° 591, DE 6 DE JULHO DE 1992.
pondem à competência das entidades componentes da federação,
o governo nacional deve tomar imediatamente as medidas perti- Atos Internacionais. Pacto Internacional sobre Direitos Econômi-
nentes, em conformidade com sua constituição e suas leis, a fim de cos, Sociais e Culturais. Promulgação.

293
DIREITOS HUMANOS
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe PARTE I
confere o art. 84, inciso VIII, da Constituição, e ARTIGO 1º

Considerando que o Pacto Internacional sobre Direitos Econô- 1. Todos os povos têm direito a autodeterminação. Em virtude
micos, Sociais e Culturais foi adotado pela XXI Sessão da Assem- desse direito, determinam livremente seu estatuto político e asse-
bléia-Geral das Nações Unidas, em 19 de dezembro de 1966; guram livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultu-
ral.
Considerando que o Congresso Nacional aprovou o texto do 2. Para a consecução de seus objetivos, todos os povos podem
referido diploma internacional por meio do Decreto Legislativo n° dispor livremente de suas riquezas e de seus recursos naturais, sem
226, de 12 de dezembro de 1991; prejuízo das obrigações decorrentes da cooperação econômica in-
ternacional, baseada no princípio do proveito mútuo, e do Direito
Considerando que a Carta de Adesão ao Pacto Internacional Internacional. Em caso algum, poderá um povo ser privado de seus
sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais foi depositada em 24 próprios meios de subsistência.
de janeiro de 1992; 3. Os Estados Partes do Presente Pacto, inclusive aqueles que
Considerando que o pacto ora promulgado entrou em vigor, tenham a responsabilidade de administrar territórios não-autôno-
para o Brasil, em 24 de abril de 1992, na forma de seu art. 27, pa- mos e territórios sob tutela, deverão promover o exercício do direi-
rágrafo 2°; to à autodeterminação e respeitar esse direito, em conformidade
com as disposições da Carta das Nações Unidas.
DECRETA:
PARTE II
Art. 1° O Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais ARTIGO 2º
e Culturais, apenso por cópia ao presente decreto, será executado e
cumprido tão inteiramente como nele se contém. 1. Cada Estado Parte do presente Pacto compromete-se a ado-
Art. 2° Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. tar medidas, tanto por esforço próprio como pela assistência e co-
operação internacionais, principalmente nos planos econômico e
Brasília, 06 de julho de 1992; 171º da Independência e 104° da técnico, até o máximo de seus recursos disponíveis, que visem a as-
República. segurar, progressivamente, por todos os meios apropriados, o ple-
no exercício dos direitos reconhecidos no presente Pacto, incluindo,
em particular, a adoção de medidas legislativas.
ANEXO AO DECRETO QUE PROMULGA O PACTO INTERNACIONAL
2. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a ga-
SOBRE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS/MRE
rantir que os direitos nele enunciados e exercerão em discrimina-
ção alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião
PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação
E CULTURAIS econômica, nascimento ou qualquer outra situação.
PREÂMBULO 3. Os países em desenvolvimento, levando devidamente em
consideração os direitos humanos e a situação econômica nacio-
Os Estados Partes do presente Pacto, nal, poderão determinar em que garantirão os direitos econômicos
Considerando que, em conformidade com os princípios procla- reconhecidos no presente Pacto àqueles que não sejam seus na-
mados na Carta das Nações Unidas, o relacionamento da dignidade cionais.
inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos
iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça ARTIGO 3º
e da paz no mundo,
Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a asse-
Reconhecendo que esses direitos decorrem da dignidade ine- gurar a homens e mulheres igualdade no gozo de todos os direitos
rente à pessoa humana, econômicos, sociais e culturais enumerados no presente Pacto.

Reconhecendo que, em conformidade com a Declaração Uni- ARTIGO 4º


versal dos Direitos do Homem. O ideal do ser humano livre, liber-
to do temor e da miséria. Não pode ser realizado a menos que se Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem que, no
criem condições que permitam a cada um gozar de seus direitos exercício dos direitos assegurados em conformidade com presente
econômicos, sociais e culturais, assim como de seus direitos civis Pacto pelo Estado, este poderá submeter tais direitos unicamente
e políticos, às limitações estabelecidas em lei, somente na medida compatível
com a natureza desses direitos e exclusivamente com o objetivo de
Considerando que a Carta das Nações Unidas impõe aos Esta- favorecer o bem-estar geral em uma sociedade democrática.
dos a obrigação de promover o respeito universal e efetivo dos di-
reitos e das liberdades do homem, ARTIGO 5º

1. Nenhuma das disposições do presente Pacto poderá ser in-


Compreendendo que o indivíduo, por ter deveres para com
terpretada no sentido de reconhecer a um Estado, grupo ou indi-
seus semelhantes e para com a coletividade a que pertence, tem a
víduo qualquer direito de dedicar-se a quaisquer atividades ou de
obrigação de lutar pela promoção e observância dos direitos reco-
praticar quaisquer atos que tenham por objetivo destruir os direitos
nhecidos no presente Pacto, ou liberdades reconhecidos no presente Pacto ou impor-lhe limita-
Acordam o seguinte: ções mais amplas do que aquelas nele previstas.

294
DIREITOS HUMANOS
2. Não se admitirá qualquer restrição ou suspensão dos direitos d) O direito de greve, exercido de conformidade com as leis de
humanos fundamentais reconhecidos ou vigentes em qualquer país cada país.
em virtude de leis, convenções, regulamentos ou costumes, sob 2. O presente artigo não impedirá que se submeta a restrições
pretexto de que o presente Pacto não os reconheça ou os reconhe- legais o exercício desses direitos pelos membros das forças arma-
ça em menor grau. das, da política ou da administração pública.
3. Nenhuma das disposições do presente artigo permitirá que
PARTE III os Estados Partes da Convenção de 1948 da Organização Internacio-
ARTIGO 6º nal do Trabalho, relativa à liberdade sindical e à proteção do direito
sindical, venham a adotar medidas legislativas que restrinjam - ou a
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito aplicar a lei de maneira a restringir as garantias previstas na referida
ao trabalho, que compreende o direito de toda pessoa de ter a pos- Convenção.
sibilidade de ganhar a vida mediante um trabalho livremente esco- ARTIGO 9º
lhido ou aceito, e tomarão medidas apropriadas para salvaguardar
esse direito. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de
2. As medidas que cada Estado Parte do presente Pacto tomará toda pessoa à previdência social, inclusive ao seguro social.
a fim de assegurar o pleno exercício desse direito deverão incluir
a orientação e a formação técnica e profissional, a elaboração de ARTIGO 10
programas, normas e técnicas apropriadas para assegurar um de-
senvolvimento econômico, social e cultural constante e o pleno em- Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem que:
prego produtivo em condições que salvaguardem aos indivíduos o 1. Deve-se conceder à família, que é o elemento natural e
gozo das liberdades políticas e econômicas fundamentais. fundamental da sociedade, as mais amplas proteção e assistência
possíveis, especialmente para a sua constituição e enquanto ele for
ARTIGO 7º responsável pela criação e educação dos filhos. O matrimonio deve
ser contraído com o livre consentimento dos futuros cônjuges.
Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de 2. Deve-se conceder proteção especial às mães por um período
toda pessoa de gozar de condições de trabalho justas e favoráveis, de tempo razoável antes e depois do parto. Durante esse período,
que assegurem especialmente: deve-se conceder às mães que trabalham licença remunerada ou
a) Uma remuneração que proporcione, no mínimo, a todos os licença acompanhada de benefícios previdenciários adequados.
trabalhadores: 3. Devem-se adotar medidas especiais de proteção e de assis-
i) Um salário eqüitativo e uma remuneração igual por um tra- tência em prol de todas as crianças e adolescentes, sem distinção
balho de igual valor, sem qualquer distinção; em particular, as mu- alguma por motivo de filiação ou qualquer outra condição. Devem-
lheres deverão ter a garantia de condições de trabalho não inferio- -se proteger as crianças e adolescentes contra a exploração econô-
res às dos homens e perceber a mesma remuneração que eles por mica e social. O emprego de crianças e adolescentes em trabalhos
trabalho igual; que lhes sejam nocivos à moral e à saúde ou que lhes façam correr
ii) Uma existência decente para eles e suas famílias, em confor- perigo de vida, ou ainda que lhes venham a prejudicar o desenvol-
midade com as disposições do presente Pacto; vimento norma, será punido por lei.
b) À segurança e a higiene no trabalho; Os Estados devem também estabelecer limites de idade sob
c) Igual oportunidade para todos de serem promovidos, em seu os quais fique proibido e punido por lei o emprego assalariado da
trabalho, à categoria superior que lhes corresponda, sem outras mão-de-obra infantil.
considerações que as de tempo de trabalho e capacidade;
d) O descanso, o lazer, a limitação razoável das horas de tra- ARTIGO 11
balho e férias periódicas remuneradas, assim como a remuneração
dos feridos. 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito
de toda pessoa a um nível de vida adequando para si próprio e sua
ARTIGO 8º família, inclusive à alimentação, vestimenta e moradia adequadas,
assim como a uma melhoria continua de suas condições de vida.
1. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a ga- Os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para assegurar a
rantir: consecução desse direito, reconhecendo, nesse sentido, a impor-
a) O direito de toda pessoa de fundar com outras, sindicatos e tância essencial da cooperação internacional fundada no livre con-
de filiar-se ao sindicato de escolha, sujeitando-se unicamente aos sentimento.
estatutos da organização interessada, com o objetivo de promover 2. Os Estados Partes do presente Pacto, reconhecendo o direi-
e de proteger seus interesses econômicos e sociais. O exercício des- to fundamental de toda pessoa de estar protegida contra a fome,
se direito só poderá ser objeto das restrições previstas em lei e que adotarão, individualmente e mediante cooperação internacional, as
sejam necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da medidas, inclusive programas concretos, que se façam necessárias
segurança nacional ou da ordem pública, ou para proteger os direi- para:
tos e as liberdades alheias; a) Melhorar os métodos de produção, conservação e distribui-
b) O direito dos sindicatos de formar federações ou confedera- ção de gêneros alimentícios pela plena utilização dos conhecimen-
ções nacionais e o direito destas de formar organizações sindicais tos técnicos e científicos, pela difusão de princípios de educação
internacionais ou de filiar-se às mesmas. nutricional e pelo aperfeiçoamento ou reforma dos regimes agrá-
c) O direito dos sindicatos de exercer livremente suas ativida- rios, de maneira que se assegurem a exploração e a utilização mais
des, sem quaisquer limitações além daquelas previstas em lei e que eficazes dos recursos naturais;
sejam necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da
segurança nacional ou da ordem pública, ou para proteger os direi-
tos e as liberdades das demais pessoas:

295
DIREITOS HUMANOS
b) Assegurar uma repartição eqüitativa dos recursos alimentí- 2.Nenhuma das disposições do presente artigo poderá ser in-
cios mundiais em relação às necessidades, levando-se em conta os terpretada no sentido de restringir a liberdade de indivíduos e de
problemas tanto dos países importadores quanto dos exportadores entidades de criar e dirigir instituições de ensino, desde que respei-
de gêneros alimentícios. tados os princípios enunciados no parágrafo 1 do presente artigo
e que essas instituições observem os padrões mínimos prescritos
ARTIGO 12 pelo Estado.

1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito ARTIGO 14


de toda pessoa de desfrutar o mais elevado nível possível de saúde
física e mental. Todo Estado Parte do presente pacto que, no momento em que
2. As medidas que os Estados Partes do presente Pacto deverão se tornar Parte, ainda não tenha garantido em seu próprio território
adotar com o fim de assegurar o pleno exercício desse direito inclui- ou territórios sob sua jurisdição a obrigatoriedade e a gratuidade da
rão as medidas que se façam necessárias para assegurar: educação primária, se compromete a elaborar e a adotar, dentro de
a) A diminuição da mortinatalidade e da mortalidade infantil, um prazo de dois anos, um plano de ação detalhado destinado à im-
bem como o desenvolvimento é das crianças; plementação progressiva, dentro de um número razoável de anos
b) A melhoria de todos os aspectos de higiene do trabalho e do estabelecidos no próprio plano, do princípio da educação primária
meio ambiente; obrigatória e gratuita para todos.
c) A prevenção e o tratamento das doenças epidêmicas, endê-
micas, profissionais e outras, bem como a luta contra essas doen- ARTIGO 15
ças;
d) A criação de condições que assegurem a todos assistência 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem a cada in-
médica e serviços médicos em caso de enfermidade. divíduo o direito de:
a) Participar da vida cultural;
ARTIGO 13 b) Desfrutar o processo cientifico e suas aplicações;
c) Beneficiar-se da proteção dos interesses morais e materiais
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito decorrentes de toda a produção cientifica, literária ou artística de
de toda pessoa à educação. Concordam em que a educação deve- que seja autor.
rá visar ao pleno desenvolvimento da personalidade humana e do 2. As Medidas que os Estados Partes do Presente Pacto deverão
sentido de sua dignidade e fortalecer o respeito pelos direitos hu- adotar com a finalidade de assegurar o pleno exercício desse direito
manos e liberdades fundamentais. Concordam ainda em que a edu- incluirão aquelas necessárias à convenção, ao desenvolvimento e à
cação deverá capacitar todas as pessoas a participar efetivamente difusão da ciência e da cultura.
de uma sociedade livre, favorecer a compreensão, a tolerância e a 3.Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a res-
amizade entre todas as nações e entre todos os grupos raciais, ét- peitar a liberdade indispensável à pesquisa cientifica e à atividade
nicos ou religiosos e promover as atividades das Nações Unidas em criadora.
prol da manutenção da paz. 4. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem os benefí-
2. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem que, com o cios que derivam do fomento e do desenvolvimento da cooperação
objetivo de assegurar o pleno exercício desse direito: e das relações internacionais no domínio da ciência e da cultura.
a) A educação primaria deverá ser obrigatória e acessível gra-
tuitamente a todos;
b) A educação secundária em suas diferentes formas, inclusive DECLARAÇÃO DE PEQUIM ADOTADA PELA QUARTA CON-
a educação secundária técnica e profissional, deverá ser generali- FERÊNCIA MUNDIAL SOBRE AS MULHERES: AÇÃO PARA
zada e torna-se acessível a todos, por todos os meios apropriados IGUALDADE, DESENVOLVIMENTO E PAZ
e, principalmente, pela implementação progressiva do ensino gra-
tuito;
c) A educação de nível superior deverá igualmente torna-se Nós, os Governos, participante da Quarta Conferência Mundial
acessível a todos, com base na capacidade de cada um, por todos sobre as Mulheres,
os meios apropriados e, principalmente, pela implementação pro-
gressiva do ensino gratuito; Reunidos aqui em Pequim, em setembro de 1995, no ano do
d) Dever-se-á fomentar e intensificar, na medida do possível, 50º aniversário de fundação das Nações Unidas,
a educação de base para aquelas pessoas que não receberam edu-
cação primaria ou não concluíram o ciclo completo de educação Determinados a promover os objetivos da igualdade, desen-
primária; volvimento e paz para todas as mulheres, em todos os lugares do
e) Será preciso prosseguir ativamente o desenvolvimento de mundo, no interesse de toda a humanidade,
uma rede escolar em todos os níveis de ensino, implementar-se um
sistema adequado de bolsas de estudo e melhorar continuamente Reconhecendo as aspirações de todas as mulheres do mundo
as condições materiais do corpo docente. inteiro e levando em consideração a diversidade das mulheres, suas
1. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a res- funções e circunstâncias, honrando as mulheres que têm aberto e
peitar a liberdade dos pais e, quando for o caso, dos tutores legais construído um caminho e inspirados pela esperança presente na
de escolher para seus filhos escolas distintas daquelas criadas pelas juventude do mundo,
autoridades públicas, sempre que atendam aos padrões mínimos Reconhecemos que o status das mulheres tem avançado em
de ensino prescritos ou aprovados pelo Estado, e de fazer com que alguns aspectos importantes desde a década passada; no entanto,
seus filhos venham a receber educação religiosa ou moral que este- este progresso tem sido heterogêneo, desigualdades entre homens
ja de acordo com suas próprias convicções. e mulheres têm persistido e sérios obstáculos também, com conse-
quências prejudiciais para o bem-estar de todos os povos,

296
DIREITOS HUMANOS
Reconhecemos ainda que esta situação é agravada pelo cresci- a igualdade de oportunidades e a plena e equânime participação de
mento da pobreza que afeta a vida da maioria da população mun- mulheres e homens como agentes beneficiários de um desenvolvi-
dial, em particular das mulheres e crianças, tendo origem tanto na mento sustentado, centrado na pessoa;
esfera nacional, como na esfera internacional,
O reconhecimento explícito e a reafirmação do direito de to-
Comprometemo-nos, sem qualquer reserva, a combater estas das as mulheres de controlar todos os aspectos de sua saúde, em
limitações e obstáculos e a promover o avanço e o fortalecimento particular sua própria fertilidade, é básico para seu fortalecimento;
das mulheres em todo o mundo e concordamos que isto requer me-
didas e ações urgentes, com espírito de determinação, esperança, A paz local, nacional, regional e global é alcançável e está ne-
cooperação e solidariedade, agora e ao longo do próximo século. cessariamente relacionada com os avanços das mulheres, que cons-
tituem uma força fundamental para a liderança, a solução de confli-
Nós reafirmamos o nosso compromisso relativo: tos e a promoção de uma paz duradoura em todos os níveis;

À igualdade de direitos e à dignidade humana inerente a mu- É indispensável formular, implementar e monitorar, com a ple-
lheres e homens e aos demais propósitos e princípios consagrados na participação das mulheres, políticas e programas efetivos, efi-
na Carta das Nações Unidas, na Declaração Universal dos Direitos cientes e reforçadores do enfoque de gênero, incluindo políticas de
Humanos e em outros instrumentos internacionais de direitos hu- desenvolvimento e programas que em todos os níveis busquem o
manos, em particular na Convenção sobre a Eliminação de todas fortalecimento e o avanço das mulheres;
as Formas de Discriminação contra as Mulheres e na Convenção
sobre os Direitos da Criança, como também na Declaração sobre a A participação e contribuição de todos os atores da socieda-
Eliminação da Violência contra as Mulheres e na Declaração sobre o de civil, particularmente de grupos e redes de mulheres e demais
Direito ao Desenvolvimento; organizações não-governamentais e organizações comunitárias de
base, com o pleno respeito de sua autonomia, em cooperação com
Assegurar a plena implementação dos direitos humanos das os Governos, é fundamental para a efetiva implementação e moni-
mulheres e das meninas como parte inalienável, integral e indivisí- toramento da Plataforma de Ação;
vel de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais;
A implementação da Plataforma de Ação exige o compromisso
Impulsionar o consenso e o progresso alcançados nas anterio- dos Governos e da comunidade internacional. Ao assumir compro-
res Conferências das Nações Unidas: sobre as Mulheres, em Nairóbi missos de ação, no plano nacional e internacional, incluídos os com-
em 1985, sobre as Crianças, em New York em 1990, sobre o Meio promissos firmados na Conferência, os Governos e a comunidade
Ambiente e o Desenvolvimento, no Rio de Janeiro em 1992, sobre internacional reconhecem a necessidade de priorizar a ação para o
Direitos Humanos, em Viena em 1993, sobre População e Desen- alcance do fortalecimento e do avanço das mulheres.
volvimento, no Cairo em 1994 e sobre Desenvolvimento Social, em
Copenhagem em 1995, com os objetivos de atingir a igualdade, o Nós estamos determinados a:
desenvolvimento e a paz;
Intensificar esforços e ações para alcançar, até o final deste sé-
Alcançar a plena e efetiva implementação das Estratégias de culo, os objetivos e estratégias de Nairóbi, orientados para os avan-
Nairóbi para o fortalecimento das Mulheres; ços das mulheres;
O fortalecimento e o avanço das mulheres, incluindo o direito
à liberdade de pensamento, consciência, religião e crença, o que Garantir o pleno exercício de todos os direitos humanos e li-
contribui para a satisfação das necessidades morais, éticas, espiri- berdades fundamentais às mulheres e meninas e adotar medidas
tuais e intelectuais de mulheres e homens, individualmente ou em efetivas contra a violação destes direitos e liberdades;
comunidade, de forma a garantir-lhes a possibilidade de realizar seu
pleno potencial na sociedade e organizar suas vidas de acordo com Adotar todas as medidas necessárias para eliminar todas as for-
as suas próprias aspirações. mas de discriminação contra mulheres e meninas e remover todos
os obstáculos à igualdade de gênero e aos avanços e fortalecimento
Nós estamos convencidos de que: das mulheres;

O fortalecimento das mulheres e sua plena participação, em Encorajar os homens a participar plenamente de todas as ações
condições de igualdade, em todas as esferas sociais, incluindo a orientadas à busca da igualdade;
participação nos processos de decisão e acesso ao poder, são fun-
damentais para o alcance da igualdade, desenvolvimento e paz; Promover a independência econômica das mulheres, incluindo
o emprego, e erradicar a persistente e crescente pobreza que recai
Os direitos das mulheres são direitos humanos; sobre as mulheres, combatendo as causas estruturais da pobreza
através de transformações nas estruturas econômicas, asseguran-
A igualdade de direitos, oportunidades e acesso aos recursos, do acesso igualitário a todas as mulheres, incluindo as mulheres da
a distribuição equitativa das responsabilidades familiares entre ho- área rural, como agentes vitais do desenvolvimento, dos recursos
mens e mulheres e a harmônica associação entre eles são funda- produtivos, oportunidade e dos serviços públicos;
mentais para seu próprio bem-estar e de suas famílias, como tam-
bém para a consolidação da democracia; A erradicação da pobreza Promover um desenvolvimento sustentado centrado na pes-
baseada no crescimento econômico sustentado, no desenvolvimen- soa, incluindo o crescimento econômico sustentado através da
to social, na proteção do meio ambiente e na justiça social, requer a educação básica, educação durante toda a vida, alfabetização e ca-
participação das mulheres no desenvolvimento econômico e social, pacitação e atenção primária à saúde das meninas e das mulheres;

297
DIREITOS HUMANOS
Adotar as medidas positivas para assegurar a paz para os O sucesso da Plataforma de Ação ainda exigirá uma adequa-
avanços das mulheres e, reconhecendo o papel de liderança que da mobilização de recursos nos âmbitos nacional e internacional,
as mulheres têm apresentado no movimento pela paz, trabalhar como também novos e adicionais recursos para os países em de-
ativamente para o desarmamento geral e completo, sob o estrito senvolvimento, provenientes de todos os mecanismos de finan-
e efetivo controle internacional, e apoiar as negociações para a ciamento disponíveis, incluídas as fontes multilaterais, bilaterais e
conclusão, sem demora, de tratado universal e multilateral de proi- privadas, a fim de que se promova o fortalecimento das mulheres;
bição de testes nucleares, que efetivamente contribua para o de- recursos financeiros para aumentar a capacidade de instituições
sarmamento nuclear e para a prevenção da proliferação de armas nacionais, sub-regionais, regionais e internacionais; o compromisso
nucleares em todos os seus aspectos; de garantir a igualdade de direitos, a igualdade de responsabilida-
des, a igualdade de oportunidades e a igualdade de participação de
Prevenir e eliminar todas as formas de violência contra mulhe- mulheres e homens em todos os órgãos e processos de formulação
res e meninas; de políticas públicas no âmbito nacional, regional e internacional; o
estabelecimento ou o fortalecimento de mecanismos em todos os
Assegurar a igualdade de acesso e a igualdade de tratamento níveis para prestar contas às mulheres de todo mundo;
de mulheres e homens na educação e saúde e promover a saúde
sexual e reprodutiva das mulheres e sua educação; Garantir também o êxito da Plataforma de Ação em, países
cujas economias estejam em transição, o que requer contínua coo-
Promover e proteger todos os direitos humanos das mulheres peração e assistência internacional;
e das meninas;
Pela presente nos comprometemos, na qualidade de Governos,
Intensificar os esforços para garantir o exercício, em igualdade a implementar a seguinte Plataforma de Ação, de modo a garantir
de condições, de todos os direitos humanos e liberdades funda- que uma perspectiva do gênero esteja presente em todas as nossas
mentais para todas as mulheres e meninas que enfrentam múltiplas políticas e programas. Nós insistimos para que o sistema das Na-
barreiras para seu fortalecimento e avanços, em virtude de fatores ções Unidas, as instituições financeiras regionais e internacionais,
como raça, idade, língua, origem étnica, cultura, religião, incapaci- as demais relevantes instituições regionais e internacionais, todas
dade/deficiência, ou por integrar comunidades indígenas; as mulheres e homens, como também as organizações não-gover-
namentais, com pleno respeito à sua autonomia, e todos os setores
Assegurar o respeito ao Direito Internacional, incluído o Direito da sociedade civil, em cooperação com os Governos, se comprome-
Humanitário, no sentido de proteger as mulheres e as meninas em tam plenamente e contribuam para a implementação desta Plata-
particular; forma de Ação.

Desenvolver o pleno potencial de meninas e mulheres de todas * Adotada pela Quarta Conferência Mundial sobre as Mulhe-
as idades, garantir sua plena participação, em condições de igualda- res, em 15 de setembro de 1995.
de, na construção de um mundo melhor para todos e promover seu
papel no processo de desenvolvimento.
QUESTÕES
Nós estamos determinados a:

Assegurar às mulheres a igualdade de acesso aos recursos eco- 1.(FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público)
nômicos, incluindo a terra, o crédito, a ciência, a tecnologia, a ca- O incidente de deslocamento de competência voltado à fede-
pacitação profissional, a informação, a comunicação e os mercados, ralização de crimes contra direitos humanos pode se iniciar a partir
como meio de promover o avanço e o fortalecimento das mulheres de ação direcionada ao Superior Tribunal de Justiça subscrita pelo
e meninas, inclusive através da promoção de sua capacidade de (A) Defensor Público-Geral Federal.
exercer os benefícios do acesso igualitário a estes recursos, para o (B) Governador do Estado.
que se recorre, dentre outras coisas, à cooperação internacional; (C) Procurador-Geral da República.
(D) Assembleia Legislativa do Estado.
Assegurar o sucesso da Plataforma de Ação que exigirá o sólido (E) Procurador-Geral de Justiça.
compromisso dos Governos, organizações e instituições internacio-
nais de todos os níveis. Nós estamos firmemente convencidos de 2.(FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público)
que o desenvolvimento econômico, o desenvolvimento social e a A definição de saúde prevista pela Organização Mundial de
proteção do meio ambiente são interdependentes e componentes Saúde, no preâmbulo de sua carta de constituição, envolve a busca
mutuamente enfatizadores do desenvolvimento sustentável, que é do mais elevado nível de saúde física e mental, a qual também está
o marco de nossos esforços para o alcance de uma melhor qualida- inserida com o mesmo conceito no seguinte documento:
de de vida para todos os povos. Um desenvolvimento social equi- (A) Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Cul-
tativo que reconheça a importância do fortalecimento dos pobres, turais.
particularmente das mulheres que vivem na pobreza, na utilização (B) Convenção Internacional sobre os Direitos das Crianças.
dos recursos ambientais sustentáveis, é uma base necessária ao de- (C) Declaração Universal dos Direitos Humanos.
senvolvimento sustentável, é necessário para estimular o desenvol- (D) Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com
vimento social e a justiça social. Deficiência.
(E) Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as For-
mas de Discriminação contra a Mulher.

298
DIREITOS HUMANOS
3.(FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público) 8.(FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público)
A legislação brasileira que permite a internação não voluntária Considerando a condenação do Estado Brasileiro pela Corte
de pessoas com transtorno mental contraria entendimento estabe- Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) no caso Damião
lecido pelo(a) Ximenes vs Brasil, encontra-se ainda pendente de cumprimento a
(A) Comitê de Direitos Humanos. seguinte obrigação, segundo a própria Corte IDH:
(B) Comissão Interamericana de Direitos Humanos. (A) estabelecer programa de formação e capacitação para pes-
(C) Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. soal vinculado à atenção em saúde mental, em particular acer-
(D) Corte Interamericana de Direitos Humanos. ca dos princípios que devem reger o cuidado com as pessoas
(E) Comitê de Direitos das Pessoas com Deficiência. com transtornos mentais, de acordo com os parâmetros inter-
nacionais para a matéria.
4.(FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público) (B) publicar em prazo de seis meses, no diário oficial e em outro
Trata-se de órgão ou mecanismo não previsto expressamente jornal de ampla circulação nacional, o capítulo relativo aos fa-
na Carta das Nações Unidas ou em tratados e convenções interna- tos provados da sentença e aqueles relativos à parte dispositiva
cionais do sistema onusiano de proteção dos direitos humanos: da sentença, nos termos do parágrafo 249 da mesma.
(A) Subcomitê de Prevenção da Tortura. (C) pagar à irmã e à mãe indenização por dano moral e por dano
(B) Conselho de Direitos Humanos. imaterial nos termos e na quantidade fixada na sentença, assim
(C ) Comitê de Direitos Humanos. como os custos e gastos gerados no âmbito interno e no processo
(D) Relatorias Especiais de Direitos Humanos. internacional perante o sistema interamericano de proteção de
(E) Conselho Econômico-Social. direitos humanos.
(D) garantir, em um prazo razoável, que os processos internos
5.(FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público) criminal e civil tendentes a investigar e sancionar os responsá-
A definição e o conceito do crime contra a humanidade estão veis pelos fatos criminosos do caso surtam os devidos efeitos,
detalhadamente previstos nos termos da sentença.
(A) na Convenção contra a Tortura e outros tratamentos ou pe- (E) estabelecer uma legislação nacional protetora do direito
nas cruéis, desumanos ou degradantes. das pessoas com transtorno mental, que preveja a fiscalização
(B) na Convenção para a Prevenção e Punição ao Crime de Ge- e reforma da atenção psiquiátrica oferecida a todas as pessoas
nocídio. com transtorno mental no Estado-Parte.
(C) na Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados.
(D) no Estatuto de Roma sobre Tribunal Penal Internacional. 9.(FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público)
(E) na Convenção Internacional para a Prevenção dos Crimes O “racismo estrutural”, consoante Silvio Luiz de Almeida,
contra a Humanidade. (A) é produto de uma patologia social e de um desarranjo ins-
titucional, sendo um fenômeno incontornável, revelando-se
6.(FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público) inúteis as ações e políticas institucionais antirracistas.
O Primeiro e Segundo Protocolos Facultativos ao Pacto Interna- (B) é resultante da produção de padrões de comportamento e
cional de Direitos Civis e Políticos tratam, respectivamente, conduta de instituições hegemonizadas por determinados gru-
(A) da criação do Comitê de Direitos Humanos e do enfrenta- pos raciais que impõem seus interesses políticos e econômicos
mento e combate à tortura. ao restante da sociedade.
(B) de comunicações individuais ao Comitê de Direitos Huma- (C) decorre unicamente de indivíduos e grupos estruturalmen-
nos e da abolição da pena de morte. te racistas.
(C) do enfrentamento e combate à tortura e da abolição da (D) é uma decorrência da forma com que se constituem as re-
pena de morte. lações sociais, de modo que o direito faz parte da mesma es-
(D) da criação do Comitê de Direitos Humanos e de comunica- trutura social que o reproduz enquanto prática política e como
ções individuais ao Comitê de Direitos Humanos. ideologia.
(E) da abolição da pena de morte e da criação do Comitê de (E) é uma manifestação irracional do Estado moderno, que fun-
Direitos Humanos. ciona norteado pela impessoalidade e pela técnica, de maneira
que o direito é o melhor instrumento para combatê-lo, seja pu-
7.(FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público) nindo criminal e civilmente os racistas, seja estruturando políti-
A teoria do Choque de Civilizações ganhou grande repercussão cas públicas de promoção de igualdade.
após os atentados do 11 de Setembro de 2001. O principal autor e
defensor dessa teoria foi 10.(FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público)
(A) Herrera Flores. Por meio da Resolução nº 2.656/2011, a Assembleia Geral da
(B) Amartya Sen. Organização dos Estados Americanos aprovou uma série de orien-
(C) Samuel Huntington. tações sobre a efetivação do acesso à justiça,
(D) Francis Fukuyama. (A) criando a figura do “Defensor Público Interamericano”, com
(E) Thomas Moore. o papel de atuação suplementar nos Estados-membros que
não contem com a existência da Defensoria Pública.
(B) recomendando aos Estados-membros que já disponham
do serviço de assistência jurídica gratuita que adotem medi-
das que garantam que os Defensores Públicos oficiais gozem de
foro privilegiado e independência funcional.
(C) incentivando os Estados-membros que ainda não disponham
da instituição da Defensoria Pública que considerem a possibili-
dade de criá-la em seus ordenamentos jurídicos, em conformi-
dade ao modelo judicare.

299
DIREITOS HUMANOS
(D) afirmando a importância fundamental do serviço de assis- IV. A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Po-
tência jurídica gratuita para a promoção e a proteção do direito vos Indígenas permite o desenvolvimento de atividades militares
ao acesso à justiça de todas as pessoas, em especial daquelas nas terras ou territórios dos povos indígenas, justificadas por um
que se encontram em situação especial de vulnerabilidade. interesse público pertinente, caso em que se dispensa a consulta
(E) incentivando os Estados e os órgãos do Sistema Interameri- por procedimentos específicos ou por instituições representativas.
cano a que promovam a celebração de convênios de prestação V. A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos
de assistência jurídica suplementar. Indígenas estabelece o direito das crianças indígenas a todas as for-
mas de educação do Estado até o ensino fundamental, garantida a
11.(FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público) educação em sua própria cultura e em seu próprio idioma.
De acordo com as Regras de Bangkok, as sanções disciplinares
de mulheres presas Está correto o que se afirma APENAS em
(A) são vedadas em todas as suas modalidades em caso de ges- (A) II e V.
tante. (B) I e II.
(B) devem durar a metade do tempo correspondente à sanção (C) III e IV.
masculina em caso de isolamento. (D) I e III.
(C) são vedadas se a unidade prisional não dispuser de toda a (E) III, IV e V.
infraestrutura adaptada ao gênero.
(D) só são válidas em caso de falta disciplinar de natureza gra- 14. (FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público)
ve, vedadas as de natureza média e leve. A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discri-
(E) não devem incluir proibição de contato com a família, espe- minação Racial estabelece que os Estados-partes condenem toda
cialmente com crianças. propaganda e todas as organizações que se inspirem em ideias ou
teorias baseadas na superioridade de uma raça ou de um grupo de
12.(FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público) pessoas de uma certa cor ou de uma certa origem ética ou que pre-
Se determinado direito for violado por ação imputável direta- tendem justificar ou encorajar qualquer forma de ódio e de discri-
mente a um Estado-Parte do Protocolo de San Salvador, essa situa- minação raciais, prevendo expressamente a adoção das seguintes
ção pode dar lugar à aplicação do sistema de petições individuais da medidas positivas expressamente destinadas a eliminar qualquer
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, mediante partici- incitação à discriminação:
pação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e, quando (A) estabelecer proteção e recursos efetivos perante os tribu-
cabível, da Corte Interamericana de Direitos Humanos, conforme nais nacionais e outros órgãos do Estado competentes, contra
previsão expressa do Protocolo adicional à Convenção Americana quaisquer atos de discriminação racial.
sobre Direitos Humanos em matéria de direitos econômicos, sociais (B) declarar delitos puníveis por lei qualquer difusão de ideias
e culturais. Trata-se do Direito à baseadas na superioridade ou ódio raciais e qualquer incita-
(A) alimentação. mento à discriminação racial.
(B) educação. (C) condenar a segregação racial e o apartheid e comprome-
(C) previdência social. ter-se a proibir e a eliminar, nos territórios sob sua jurisdição,
(D) saúde. todas as práticas dessa natureza.
(E) greve. (D) assegurar medidas especiais como convier ao desenvolvi-
mento ou à proteção de certos grupos raciais ou de indivíduos
13.(FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público) pertencentes a esses grupos contra quaisquer atos de discrimi-
Acerca da Convenção Interamericana sobre a Eliminação de To- nação racial.
das as Formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de De- (E) assegurar progresso adequado de certos grupos raciais ou
ficiência e da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos étnicos ou de indivíduos que necessitem da proteção que pos-
Povos Indígenas, considere: sa ser necessária contra quaisquer atos de segregação racial.
I. Para alcançar os objetivos da Convenção Interamericana so-
bre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Pes- 15.(FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público)
soas Portadoras de Deficiência, os Estados Partes comprometem-se A Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as For-
a trabalhar prioritariamente na prevenção de todas as formas de mas de Discriminação contra a Mulher, de 1979, estabelece expres-
deficiência preveníveis. samente que os Estados-Partes
II. A Convenção Interamericana sobre a Eliminação de Todas as (A) tomarão todas as medidas apropriadas para garantir, à mu-
Formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência lher, em igualdade de condições com o homem e sem discrimi-
estabelece que os Estados reconhecem que mulheres e meninas nação alguma, a oportunidade de representar seu governo no
com deficiência estão sujeitas a múltiplas formas de discriminação plano internacional e de participar no trabalho das organiza-
e, assim, tomarão medidas para assegurar-lhes o pleno e igual exer- ções internacionais.
cício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais. (B) assegurarão condições de educação para as mulheres, ga-
III. A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Po- rantindo acesso aos currículos adaptados e pessoal docente de
vos Indígenas garante o direito de os povos indígenas manterem e nível adequado, bem como instalações, material escolar, bolsas
desenvolverem seus sistemas ou instituições políticas, econômicas de estudos e subvenções estudantis, adaptados ao nível e à di-
e sociais, e que lhes seja assegurado o desfrute de seus próprios ferença de conhecimento existentes.
meios de subsistência e desenvolvimento e de dedicar-se livremen- (C) tomarão as medidas adequadas para fomentar o debate
te a todas as suas atividades econômicas, tradicionais e de outro sobre o conceito dos papéis masculino e feminino em todos
tipo. os níveis de ensino mediante o estímulo à educação que con-
tribua para alcançar esse objetivo e, em particular, mediante a
modificação dos livros e programas escolares e adaptação dos
métodos de ensino.

300
DIREITOS HUMANOS
(D) assegurarão condições de participação diferenciada para (B) preveem o estabelecimento de medidas especiais de cará-
mulheres nas atividades de educação física e em esportes, me- ter permanente destinadas a acelerar a igualdade de fato entre
diante reserva de vagas especialmente destinadas para compe- o homem e a mulher.
tições de âmbito internacional, efetivando o direito a participar (C) consagram, pioneiramente, os variados direitos sexuais e
em atividades de recreação, esportes e em todos os aspectos reprodutivos da mulher e, de forma embrionária, o combate à
da vida cultural. violência obstétrica.
(E) levarão em consideração os problemas específicos enfren- (D) vinculam os estados signatários na oferta de proteção eficaz
tados pela mulher migrante e o importante papel que desem- e diferenciada de toda mulher contra violência sofrida nos am-
penha na subsistência econômica de sua família, incluído seu bientes doméstico e laboral.
trabalho em setores não monetários da economia, e tomarão (E) superam a noção de discriminação centrada na diferença
todas as medidas apropriadas para assegurar a aplicação dos sexual, de cunho biológico, por aquela fundada na ideia de gê-
dispositivos desta Convenção. nero, de natureza social.

16.(FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público) 20.(FCC - 2021 - DPE-RR - Defensor Público)
A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar Joaquín Herrera Flores concebe os direitos humanos como uma
a Violência contra a Mulher, de 1994, estabelece que toda mulher convenção cultural que utilizamos para introduzir uma tensão entre
tem direito ao reconhecimento, desfrute, exercício e proteção de os direitos reconhecidos e as práticas sociais que buscam tanto seu
todos os direitos humanos e liberdades consagrados em todos os reconhecimento positivado, como outra forma de reconhecimento
instrumentos regionais e internacionais relativos aos direitos huma- ou procedimento que garanta algo que é, ao mesmo tempo, exte-
nos, prevendo expressamente o direito rior e interior a tais normas. O conceito apresentado e seu autor
(A) a recesso pelo tempo que julgar necessário perante tribunal estão relacionados a uma das vertentes da
competente que a proteja contra atos que violem seus direitos. (A) hermenêutica diatópica dos direitos humanos.
(B) a não ser submetida a tortura e a não ser submetida a pena (B) corrente evolutivo-histórica dos direitos humanos.
de morte. (C) fundamentação juspositivista dos direitos humanos.
(C) a que se respeite sua integridade física, mental e moral e à (D) teoria crítica dos direitos humanos.
interrupção da gravidez. (E) concepção juscontratualista moderna dos direitos hu-
(D) à liberdade de professar a própria religião e à liberdade se- manos.
xual, de acordo com a lei.
(E) à liberdade e à segurança pessoais e a não ser submetida
a tortura. GABARITO

17.(FCC - 2021 - DPE-RR - Defensor Público)


O Tribunal Penal Internacional
(A) não sancionará estados ou empresas, limitando sua juris- 1 C
dição a indivíduos e grupos por eles organizados para prática 2 A
sistemática de crimes.
3 E
(B) contará com instalações próprias destinadas ao cumpri-
mento das penas privativas de liberdade que aplicar. 4 D
(C) foi criado pela Convenção de Haia e tem atuação suplemen- 5 D
tar em relação às jurisdições penais nacionais.
(D) não integra o sistema da Organização das Nações Unidas e 6 B
tem como competência julgar crimes de guerra. 7 C
(E) poderá autorizar, em casos excepcionais, a intervenção em
conflitos armados para cessar a prática de genocídio. 8 A
9 D
18.(FCC - 2021 - DPE-RR - Defensor Público)
10 D
A Corte Interamericana de Direitos Humanos dispôs que o
Estado brasileiro deve adotar, em um prazo razoável, as medidas 11 E
necessárias para tipificar o delito de desaparecimento forçado de 12 B
pessoas em conformidade com os parâmetros interamericanos. Tal
determinação se deu ao julgar o caso 13 D
(A) Ximenes Lopes. 14 B
(B) Nogueira de Carvalho e outros.
(C) Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde. 15 A
(D) Cosme Rosa Genoveva e outros. 16 E
(E) Gomes Lund e outros.
17 D
19.(FCC - 2021 - DPE-RR - Defensor Público) 18 E
A Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discri- 19 A
minação contra a Mulher estabelece normas gerais de proteção dos
direitos das mulheres, sendo, dentre outras, normas que 20 D
(A) reconhecem o direito da mulher de escolher livremente o
cônjuge e a obrigação dos estados signatários de estabelecer
uma idade mínima para o casamento.

301
DIREITOS HUMANOS

ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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302
DIREITO ADMINISTRATIVO

Administração pública
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA É a forma como o Estado governa, ou seja, como executa as
suas atividades voltadas para o atendimento para o bem estar de
CONCEITOS seu povo.
Pode ser conceituado em dois sentidos:
Estado a) sentido formal, orgânico ou subjetivo: o conjunto de ór-
O Estado soberano, traz como regra, um governo, indispensá- gãos/entidades administrativas e agentes estatais, que estejam no
vel por ser o elemento condutor política do Estado, o povo que irá exercício da função administrativa, independentemente do poder a
representar o componente humano e o território que é o espaço que pertençam, tais como Poder Executivo, Judiciário ou Legislativo
físico que ele ocupa. ou a qualquer outro organismo estatal.
Em outras palavras, a expressão Administração Pública confun-
São Características do Estado: de-se com os sujeitos que integram a estrutura administrativa do
- Soberania:.No âmbito interno refere-se à capacidade de auto- Estado, ou seja, com quem desempenha a função administrativa.
determinação e, no âmbito externo, é o privilégio de receber trata- Assim, num sentido subjetivo, Administração Pública representa o
mento igualitário perante os outros países. conjunto de órgãos, agentes e entidades que desempenham a fun-
- Sociedade: é o conjunto de pessoas que compartilham pro- ção administrativa.
pósitos, preocupações e costumes, e que interagem entre si consti-
tuindo uma comunidade. b) sentido material ou objetivo: conjunto das atividades ad-
- Território é a base espacial do poder jurisdicional do Estado ministrativas realizadas pelo Estado, que vai em direção à defesa
onde este exerce o poder coercitivo estatal sobre os indivíduos hu- concreta do interesse público.
manos, sendo materialmente composto pela terra firme, incluindo Em outras palavras, a Administração Pública confunde-se com
o subsolo e as águas internas (rios, lagos e mares internos), pelo a própria função (atividade) administrativa desempenhada pelo Es-
mar territorial, pela plataforma continental e pelo espaço aéreo. tado. O conceito de Administração Pública está relacionado com o
- Povo é a população do Estado, considerada pelo aspecto pu- objeto da Administração. Não se preocupa aqui com quem exerce
ramente jurídico. É o conjunto de indivíduos sujeitos às mesmas a Administração, mas sim com o que faz a Administração Pública.
leis. São os cidadãos de um mesmo Estado, detentores de direitos
e deveres. A doutrina moderna considera quatro tarefas precípuas da Ad-
- Nação é um grupo de indivíduos que se sentem unidos pela ministração Pública, que são:
origem comum, pelos interesses comuns, e principalmente, por 1 - a prestação de serviços públicos,
ideais e princípios comuns. 2 - o exercício do poder de polícia,
3 - a regulação das atividades de interesse público e
Governo 4 - o controle da atuação do Estado.
A palavra governo tem dois sentidos, coletivo e singular.
- Coletivo: conjunto de órgãos que orientam a vida política do Em linhas gerais, podemos entender a atividade administrativa
Estado. como sendo aquela voltada para o bem toda a coletividade, desen-
- Singular: como poder executivo, órgão que exerce a função volvida pelo Estado com a finalidade de privilegiar e administrar a
mais ativa na direção dos negócios públicos. É um conjunto par- coisa pública e as necessidades da coletividade.
ticular de pessoas que, em qualquer tempo, ocupam posições de Por sua vez, a função administrativa é considerada um múnus
autoridade dentro de um Estado, que tem o objetivo de estabelecer público, que configura uma obrigação ou dever para o administra-
as regras de uma sociedade política e exercer autoridade. dor público que não será livre para atuar, já que deve obediência ao
Importante destacar o conceito de governo dado por Alexandre direito posto, para buscar o interesse coletivo.
Mazza: “... é a cúpula diretiva do Estado, responsável pela condução
dos altos interesses estatais e pelo poder político, e cuja composição Separação dos Poderes
pode ser modificada mediante eleições.” O Estado brasileiro adotou a tripartição de poderes, assim são
O governo é a instância máxima de administração executiva, seus poderes o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, conforme se
geralmente reconhecida como a liderança de um Estado ou uma infere da leitura do art. 2º da Constituição Federal: “São Poderes da
nação. É formado por dirigentes executivos do Estado e ministros. União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Execu-
Os conceitos de Estado e Governo não podem ser confundidos, tivo e o Judiciário.”.
já que o Estado é um povo situado em determinado território, com-
posto pelos elementos: povo, território e governo.
O governo, por sua vez, é o elemento gestor do Estado. Pode-se
dizer que o governo é a cúpula diretiva do Estado que se organiza
sob uma ordem jurídica por ele posta, a qual consiste no complexo
de regras de direito baseadas e fundadas na Constituição Federal.

303
DIREITO ADMINISTRATIVO
a) Poder Executivo: No exercício de suas funções típicas, pratica Princípios Expressos
atos de chefia do Estado, de Governo e atos de administração, ou São os princípios expressos da Administração Pública os que
seja, administra e executa o ordenamento jurídico vigente. É uma estão inseridos no artigo 37 “caput” da Constituição Federal: legali-
administração direita, pois não precisa ser provocada. Excepcional- dade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
mente, no exercício de função atípica, tem o poder de legislar, por - Legalidade: O princípio da legalidade representa uma garantia
exemplo, via medida provisória. para os administrados, pois qualquer ato da Administração Pública
b) Poder legislativo: No exercício de suas funções típicas, é de somente terá validade se respaldado em lei. Representa um limite
sua competência legislar de forma geral e abstrata, ou seja, legislar para a atuação do Estado, visando à proteção do administrado em
para todos. Tem o poder de inovar o ordenamento jurídico. Em fun- relação ao abuso de poder.
ção atípica, pode administrar internamente seus problemas. O princípio apresenta um perfil diverso no campo do Direito
c) Poder judiciário: No exercício de suas funções típicas, tem o Público e no campo do Direito Privado. No Direito Privado, tendo
poder jurisdicional, ou seja, poder de julgar as lides, no caso concre- em vista o interesse privado, as partes poderão fazer tudo o que a
to. Sua atuação depende de provocação, pois é inerte. lei não proíbe; no Direito Público, diferentemente, existe uma rela-
ção de subordinação perante a lei, ou seja, só se pode fazer o que a
Como vimos, o governo é o órgão responsável por conduzir os lei expressamente autorizar.
interesses de uma sociedade. Em outras palavras, é o poder diretivo
do Estado. - Impessoalidade: a Administração Pública não poderá atuar
discriminando pessoas de forma gratuita, a Administração Pública
FONTES deve permanecer numa posição de neutralidade em relação às pes-
A Administração Pública adota substancialmente as mesmas soas privadas. A atividade administrativa deve ser destinada a todos
fontes adotadas no ramo jurídico do Direito Administrativo: Lei, os administrados, sem discriminação nem favoritismo, constituindo
Doutrina, Jurisprudência e Costumes. assim um desdobramento do princípio geral da igualdade, art. 5.º,
Além das fontes mencionadas, adotadas em comum com o caput, CF.
Direito Administrativo, a Administração Pública ainda utiliza-se das - Moralidade: A atividade da Administração Pública deve obe-
seguintes fontes para o exercício das atividades administrativas: decer não só à lei, mas também à moral. Como a moral reside no
- Regulamentos São atos normativos posteriores aos decretos, campo do subjetivismo, a Administração Pública possui mecanis-
mos que determinam a moral administrativa, ou seja, prescreve
que visam especificar as disposições de lei, assim como seus man-
condutas que são moralmente aceitas na esfera do Poder Público.
damentos legais. As leis que não forem executáveis, dependem de
- Publicidade: É o dever atribuído à Administração, de dar total
regulamentos, que não contrariem a lei originária. Já as leis auto-
transparência a todos os atos que praticar, ou seja, como regra ge-
-executáveis independem de regulamentos para produzir efeitos.
ral, nenhum ato administrativo pode ser sigiloso.
- Instruções normativas Possuem previsão expressa na Consti-
tuição Federal, em seu artigo 87, inciso II. São atos administrativos A regra do princípio que veda o sigilo comporta algumas ex-
privativos dos Ministros de Estado. É a forma em que os superiores ceções, como quando os atos e atividades estiverem relacionados
expedem normas de caráter geral, interno, prescrevendo o meio de com a segurança nacional ou quando o conteúdo da informação for
atuação de seus subordinados com relação a determinado serviço, resguardado por sigilo (art. 37, § 3.º, II, da CF/88).
assemelhando-se às circulares e às ordens de serviço.
- Regimentos São atos administrativos internos que emanam - Eficiência: A Emenda Constitucional nº 19 trouxe para o tex-
do poder hierárquico do Executivo ou da capacidade de auto-orga- to constitucional o princípio da eficiência, que obrigou a Adminis-
nização interna das corporações legislativas e judiciárias. Desta ma- tração Pública a aperfeiçoar os serviços e as atividades que presta,
neira, se destinam à disciplina dos sujeitos do órgão que o expediu. buscando otimização de resultados e visando atender o interesse
- Estatutos É o conjunto de normas jurídicas, através de acordo público com maior eficiência.
entre os sócios e os fundadores, regulamentando o funcionamento
de uma pessoa jurídica. Inclui os órgãos de classe, em especial os Princípios Implícitos
colegiados. Os demais são os denominados princípios reconhecidos (ou
implícitos), estes variam de acordo com cada jurista/doutrinador.
PRINCÍPIOS Destaca-se os seguintes princípios elaborados pela doutrina
Os princípios jurídicos orientam a interpretação e a aplicação administrativa, dentre outros:
de outras normas. São as diretrizes do ordenamento jurídico, guias - Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Parti-
de interpretação, às quais a administração pública fica subordinada. cular: Sempre que houver necessidade de satisfazer um interesse
Possuem um alto grau de generalidade e abstração, bem como um público, em detrimento de um interesse particular, prevalece o
profundo conteúdo axiológico e valorativo. interesse público. São as prerrogativas conferidas à Administração
Os princípios da Administração Pública são regras que surgem Pública, porque esta atua por conta dos interesses públicos.
como parâmetros e diretrizes norteadoras para a interpretação das No entanto, sempre que esses direitos forem utilizados para
demais normas jurídicas. finalidade diversa do interesse público, o administrador será res-
ponsabilizado e surgirá o abuso de poder.
Com função principal de garantir oferecer coerência e harmo-
- Indisponibilidade do Interesse Público: Os bens e interesses
nia para o ordenamento jurídico e determinam a conduta dos agen-
públicos são indisponíveis, ou seja, não pertencem à Administra-
tes públicos no exercício de suas atribuições.
ção ou a seus agentes, cabendo aos mesmos somente sua gestão
Encontram-se de maneira explícita/expressas no texto consti-
em prol da coletividade. Veda ao administrador quaisquer atos que
tucional ou implícitas na ordem jurídica. Os primeiros são, por una- impliquem renúncia de direitos da Administração ou que, injustifi-
nimidade, os chamados princípios expressos (ou explícitos), estão cadamente, onerem a sociedade.
previstos no art. 37, caput, da Constituição Federal. - Autotutela: é o princípio que autoriza que a Administração
Pública revise os seus atos e conserte os seus erros.

304
DIREITO ADMINISTRATIVO
- Segurança Jurídica: O ordenamento jurídico vigente garante FONTES
que a Administração deve interpretar a norma administrativa da Pode-se entender fonte como a origem de algo, nesse caso a
forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que se origem das normas de Direito Administrativo.
dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.
- Razoabilidade e da Proporcionalidade: São tidos como prin- a) Lei - De acordo com o princípio da legalidade, previsto no
cípios gerais de Direito, aplicáveis a praticamente todos os ramos texto constitucional do Artigo 37 caput, somente a lei pode impor
da ciência jurídica. No âmbito do Direito Administrativo encontram obrigações, ou seja, somente a lei pode obrigar o sujeito a fazer ou
aplicação especialmente no que concerne à prática de atos adminis- deixar de fazer algo.
trativos que impliquem restrição ou condicionamento a direitos dos Conforme o entendimento da Prof.ª Maria Helena Diniz, em
administrados ou imposição de sanções administrativas. sentido jurídico, a Lei é um texto oficial que engloba um conjunto
- Probidade Administrativa: A conduta do administrador públi- de normas, ditadas pelo Poder Legislativo e que integra a organiza-
co deve ser honesta, pautada na boa conduta e na boa-fé. ção do Estado.
- Continuidade do Serviço Público: Via de regra os serviços pú- Pode-se afirmar que a lei, em sentido jurídico ou formal, é um
blicos por serem prestados no interesse da coletividade devem ser ato primário, pois encontra seu fundamento na Constituição Fede-
adequados e seu funcionamento não deve sofrer interrupções. ral, bem como possui por características a generalidade (a lei é vá-
lida para todos) e a abstração (a lei não regula situação concreta).
Ressaltamos que não há hierarquia entre os princípios (expres- Existem diversas espécies normativas: lei ordinária, lei comple-
sos ou não), visto que tais diretrizes devem ser aplicadas de forma mentar, lei delegada, medida provisória, decretos legislativos, re-
harmoniosa. Assim, a aplicação de um princípio não exclui a aplica- soluções, etc. Por serem leis constituem fonte primária do Direito
ção de outro e nem um princípio se sobrepõe ao outros. Administrativo.
Nos termos do que estabelece o artigo 37 da Constituição Fe-
deral, os princípios da Administração abrangem a Administração NOTA: Não se deve esquecer das normas constitucionais que
Pública direta e indireta de quaisquer dos Poderes da União, dos estão no ápice do ordenamento jurídico brasileiro.
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, vinculando todos os
órgãos, entidades e agentes públicos de todas as esferas estatais ao b) Doutrina é o resultado do trabalho dos estudiosos e pesqui-
cumprimento das premissas principiológicas. sadores do Direito, ou seja, é a interpretação que os doutrinadores
dão à lei. Vê-se que a doutrina não cria normas, mas tão somente
interpreta-as de forma que determinam o sentido e alcance dessa e
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA norteiam o caminho do seu aplicador.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA c) Jurisprudência é o resultado do trabalho dos aplicadores da
lei ao caso concreto, especificamente, são decisões reiteradas dos
CONCEITO Tribunais. Também não cria normas, ao contrário, assemelhar-se à
O Direito Administrativo é um dos ramos do Direito Público, já doutrina porque se trata de uma interpretação da legislação.
que rege a organização e o exercício de atividades do Estado, visan- d) Costumes, de modo geral, são conceituados como os com-
do os interesses da coletividade. portamentos reiterados que tem aceitação social. Ex: fila. Não há
Hely Lopes Meirelles, por sua vez, destaca o elemento finalís- nenhuma regra jurídica que obrigue alguém a respeitar a fila, po-
tico na conceituação: os órgãos, agentes e atividades administra- rém as pessoas respeitam porque esse é um costume, ou seja, um
tivas como instrumentos para realização dos fins desejados pelo comportamento que está intrínseco no seio social.
Estado. Vejamos: “o conceito de Direito Administrativo Brasileiro,
para nós, sintetiza-se no conjunto harmônico de princípios jurídicos Princípios
que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes Alexandre Mazza (2017) define princípios como sendo regras
a realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo condensadoras dos valores fundamentais de um sistema, cuja fun-
Estado”. ção é informar e enformar o ordenamento jurídico e o modo de
O jurista Celso Antônio Bandeira de Mello enfatiza a ideia de atuação dos aplicadores e intérpretes do direito. De acordo com o
função administrativa: “o direito administrativo é o ramo do direito administrativista, a função de informar deve-se ao fato de que os
público que disciplina a função administrativa, bem como pessoas e princípios possuem um núcleo valorativo essencial da ordem jurídi-
órgãos que a exercem” ca, ao passo que a função de enformar é caracterizada pelos contor-
Portanto, direito administrativo é o conjunto dos princípios nos que conferem a determinada seara jurídica.
jurídicos que tratam da Administração Pública, suas entidades, ór- Mazza (2017) atribui dupla funcionalidade aos princípios, quais
gãos, agentes públicos, enfim, tudo o que diz respeito à maneira sejam, a função hermenêutica e a função integrativa. No que toca
de se atingir as finalidades do Estado. Assim, tudo que se refere à a função hermenêutica, os princípios são responsáveis por esclare-
Administração Pública e a relação entre ela e os administrados e cer o conteúdo dos demais dispositivos legais, quando os mesmos
seus servidores, é regrado e estudado pelo Direito Administrativo. se mostrarem obscuros no ato de tutela dos casos concretos. Por
meio da função integrativa, por sua vez, os princípios cumprem a
OBJETO tarefa de suprir eventuais lacunas legais observadas em matérias
O Direito Administrativo é um ramo que estuda as normas que específicas e/ou diante das particularidades que permeiam a apli-
disciplinam o exercício da função administrativa, que regulam a atu- cação das normas aos casos concretos.
ação estatal diante da administração da “coisa pública”.
O objeto imediato do Direito Administrativo são os princípios e Os princípios possuem papel importantíssimo para o Direito
normas que regulam a função administrativa. Administrativo. Uma vez que trata-se de ramo jurídico não codifica-
Por sua vez, as normas e os princípios administrativos têm por do, os princípios, além de exercerem função hermenêutica e inte-
objeto a disciplina das atividades, agentes, pessoas e órgãos da Ad- grativa, cumprem o papel de alinhavar os dispositivos legais espar-
ministração Pública, constituindo o objeto mediato do Direito Ad- sos que compõe a seara do Direito Administrativo, conferindo-lhe
ministrativo. coerência e unicidade.

305
DIREITO ADMINISTRATIVO
Os princípios do Direito Administrativo podem ser expressos, atuar no momento e da maneira que a lei permite. Nesse sentido,
ou seja, positivados, escritos na lei, ou implícitos, não positivados, havendo omissão legislativa (lacuna legal, ausência de previsão le-
não expressamente escritos na lei. Importa esclarecer que não gal) em determinada matéria, o administrador não poderá atuar,
existe hierarquia (grau de importância ou superioridade) entre os estará diante de uma vedação.
princípios expressos e implícitos, de forma que os últimos não são
inferiores aos primeiros. Prova de tal afirmação, é o fato de que os Importante! O princípio da legalidade considera a lei em senti-
dois princípios (ou supraprincípios) que dão forma o Regime Jurídi- do amplo, assim, compreende-se como lei qualquer espécie norma-
co Administrativo, são implícitos. tiva prevista pelo art. 59 da Constituição Federal.

• Regime Jurídico Administrativo: O Regime Jurídico Admi- Impessoalidade: O princípio da impessoalidade deve ser anali-
nistrativo é formado por todos os princípios e demais dispositivos sado sob duas óticas, são elas:
legais que compõe o Direito Administrativo. Entretanto, é correta
a afirmação de que as bases desse regime são lançadas por dois a) Impessoalidade sob a ótica da atuação da Administração
princípios centrais, ou supraprincípios, são eles: Supremacia do In- Pública em relação aos administrados: O administrado deve pautar
teresse Público e Indisponibilidade do Interesse Público. sua atuação na não discriminação e na não concessão de privilé-
gios aos indivíduos que o ato atingirá, o que significa que sua atua-
→ Supremacia do Interesse Público: Também denominado ção deverá estar calcada na neutralidade e na objetividade, não na
supremacia do interesse público sobre o privado, o supraprincípio subjetividade.
invoca a necessidade da sobreposição dos interesses da coletivida- Sobre o assunto, Matheus Carvalho (2017) cita o exemplo do
de sobre os individuais. A defesa do interesse público confere ao concurso público para provimento de cargos públicos. Ao nomear
Estado uma série de prerrogativas (‘‘vantagens’’ atribuídas pelo indivíduos para ocupação dos cargos em questão, o administrador
Direito Público) que permite uma atuação desigual em relação ao estará vinculado a lista de aprovados no certame, não podendo se-
particular. lecionar qualquer outro sujeito.
São exemplos de prerrogativas da Administração Pública: A
imprescritibilidade dos bens públicos, ou seja, a impossibilidade b) Impessoalidade do administrador em relação a sua própria
de aquisição de bens da Administração Pública mediante ação de atuação: A compreensão desse tópico exige a leitura do parágrafo
usucapião; a possibilidade que a Administração Pública possui de primeiro do art. 37 da CF/88. Vejamos: ‘‘A publicidade dos atos, pro-
rescindir os contratos administrativos de forma unilateral, ou seja, gramas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá
independente da expressão de vontade do particular contratado; a ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não
possibilidade de requisitar os bens dos particulares mediante situa- podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem
ção de iminente perigo para população, entre outros. promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.’’
Do dispositivo legal supratranscrito é possível inferir que o uso
→ Indisponibilidade do Interesse Público: O supraprincípio da da máquina pública para fins de promoção pessoal de autoridades
indisponibilidade do interesse público tem como principal função e agentes públicos constitui violação ao princípio da impessoalida-
orientar a atuação dos agentes públicos, que, no exercício da fun- de. Quando o agente público atua, no exercício da função adminis-
ção administrativa, devem atuar em nome e em prol dos interesses trativa, o faz em nome da Administração Pública, e não em nome
da Administração Pública. Indisponibilidade significa que os agentes próprio.
públicos não poderão renunciar poderes (que são também deveres) Assim, se o Prefeito João do município J, durante a inauguração
e competências a eles atribuídos em prol da consecução do interes- de uma praça com espaço recreativo voltado para crianças, contrata
se público. um carro de som para transmitir a mensagem: ‘‘ A nova praça é um
Ademais, uma vez que o agente público goza das prerrogativas presente do Prefeito João para a criançada do município J’’, estará
de atuação conferidas pela supremacia do interesse público, a indis- violando o princípio da impessoalidade.
ponibilidade do interesse público, a fim de impedir que tais prerro-
gativas sejam desvirtuadas e utilizadas para a consecução de inte- Moralidade: Bom trato com a máquina pública. Atuação admi-
resses privados, impõe limitações à atuação dos agentes públicos. nistrativa pautada nos princípios da ética, honestidade, probidade
São exemplos de limitações impostas aos agentes públicos: A e boa fé. A moralidade na Administração Pública está intimamente
necessidade de aprovação em concurso público para o provimen- ligada a não corrupção, não se confundindo com o conceito de mo-
to dos cargos públicos e a necessidade do procedimento licitatório ralidade na vida privada.
para contratação de serviços e aquisição de bens para Administra-
ção Pública. Publicidade: A publicidade é um mecanismo de controle dos
atos administrativos por parte da sociedade, está associada à pres-
• Princípios Administrativos Clássicos: tação de informação da atuação pública aos administrados. A regra
O art. 37, caput da Constituição Federal disciplina que a Ad- é que a atuação administrativa seja pública, viabilizando, assim, o
ministração Pública direta e indireta, tanto no que diz respeito ao controle da sociedade. Entretanto, o princípio em questão não é
desempenho do serviço público, quanto no que concerne ao exer- absoluto, admitindo exceções previstas em lei. Dessa forma, em
cício da função econômica, deverá obedecer aos princípios da Le- situações em que devam ser preservadas a segurança nacional,
galidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência, os relevante interesse coletivo e intimidade, honra e vida privada, o
famigerados princípios do LIMPE. princípio da publicidade será afastado.
Legalidade: O princípio da legalidade, no Direito Administrati- Ademais, cumpre advertir que a publicidade é requisito de efi-
vo, ramo do Direito Público, possui um significado diferente do que cácia dos atos administrativos que se voltam para a sociedade, de
apresenta no Direito Privado. Para o Direito Privado, considera-se forma que os mesmos não poderão produzir efeitos enquanto não
legal toda e qualquer conduta do indivíduo que não esteja defesa publicados. Ex: Proibição de levar animais e andar de bicicleta em
em lei, que não contrarie a lei. Para o Direito Administrativo, legali- praça (bem público) recentemente inaugurada só será eficaz me-
dade significa subordinação à lei, assim, o administrador só poderá diante placa com o aviso.

306
DIREITO ADMINISTRATIVO
Eficiência (Inserido pela Emenda Constitucional 19/98): De O parágrafo primeiro do artigo cinquenta, de acordo com Ma-
acordo com esse princípio, a Administração Pública deve atingir theus Carvalho (2017) diz respeito à motivação aliunde, que como
os melhores resultados possíveis com o mínimo de gastos, ou seja, o próprio dispositivo legal denuncia, ocorre quando o administra-
produzir mais utilizando menos. Com a eficiência, deseja-se rapi- dor recorre a motivação de atos anteriormente praticados para jus-
dez, qualidade, presteza e menos desperdício de recursos possível. tificar o ato que expedirá.
O princípio da eficiência inspirou, por exemplo, a avaliação pe-
riódica de desempenho do servidor público. Continuidade (Lei 8987/95): De acordo com o princípio da con-
tinuidade, a atividade administrativa deve ser contínua e não pode
• Demais princípios que desempenham papel fundamental sofrer interrupções. A respeito deste princípio, Matheus Carvalho
no Direito Administrativo ( CARVALHO, 2017) (2017) traz alguns questionamentos, vejamos:
Ampla Defesa e Contraditório (art. 5, LV da CF/88): São os
princípios responsáveis por enunciar o direito do particular adquirir → Se a atividade administrativa deve ser contínua e ininterrup-
conhecimento sobre o que se passa em processos nos quais com- ta, o servidor público não possui direito de greve?
ponha um dos polos (autor ou réu), bem como, de se manifestar Depende. Servidores militares não possuem direito de greve,
acerca dos fatos que lhe são imputados. Contraditório e Ampla tampouco de sindicalização. Em se tratando dos servidores civis, o
Defesa, portanto, são princípios que se complementam, devendo direito de greve existe e deve ser exercido nos termos e condições
ser observados tanto em processos judiciais, quanto em processos da lei específica cabível. Tal lei específica, entretanto, nunca foi edi-
administrativos. tada, de forma que STF decidiu que, diante da omissão, os servido-
Em âmbito administrativo, a ampla defesa, conforme assevera res públicos civis poderão fazer greve nos moldes da Lei Geral de
Matheus Carvalho (2017), compreende tanto o direito à defesa pré- Greve.
via, direito de o particular se manifestar antes da decisão adminis-
trativa, a fim de formar o convencimento do administrador, quanto → É possível que o particular contratado pela Administração
à defesa técnica, faculdade (possibilidade) que o particular possui Pública se valha da exceção de contrato não cumprido?
de constituir procurador (advogado). Primeiramente, se faz necessário esclarecer que exceção de
contrato não cumprido é o direito que a parte possui de não cum-
Importante! O processo administrativo admite o duplo grau prir com suas obrigações contratuais caso a outra parte também
de jurisdição, ou seja, a possibilidade de interpor recursos em face não tenha cumprido com as dela.
sentença desfavorável. Dessa forma, suponhamos que a Administração Pública deixa
de fazer os pagamentos ao particular contratado, este poderá dei-
Inafastabilidade do Poder Judiciário (art. 5, inciso XXXV da xar de prestar o serviço pactuado?
CF/88): Insatisfeito com decisão proferida em âmbito administrati- Sim, entretanto só poderá fazê-lo após 90 dias de inadimplên-
vo, o particular poderá recorrer ao judiciário. Diz-se que a decisão cia, trata-se de garantia conferida pelo princípio da continuidade
administrativa não forma Coisa Julgada Material, ou seja, não afasta disciplinada pelo art. 78, XV da Lei 8.666/93.
a apreciação da matéria pelo judiciário, pois, caso o fizesse, consisti-
ria em violação ao princípio da Inafastabilidade do Poder Judiciário. →A interrupção de um serviço público em razão do inadimple-
Ocorre que, de acordo com o princípio ora em análise, qual- mento do usuário fere o princípio da continuidade?
quer indivíduo que sofra lesão ou ameaça a direito, poderá, sem De acordo com o art. 6, § 3º da Lei 8987/95, a interrupção de
ressalva, recorrer ao Poder Judiciário. serviço público em virtude do inadimplemento do usuário não fere
o princípio da continuidade desde que haja prévio aviso ou seja
Autotutela: De acordo com a súmula 473 do STF, por meio da configurada situação de emergência, contanto, ainda, que seja pre-
autotutela, a Administração Pública pode rever os atos que pratica. servado o interesse coletivo.
A autotutela pode ser provocada pelo particular interessado, por Razoabilidade e Proporcionalidade: A atividade da Administra-
meio do direito de petição, mas também pode ser exercida de ofí- ção Pública deve obedecer a padrões plausíveis, aceitáveis para a
cio, ou seja, é possível que a Administração Pública reveja os atos sociedade. Diz-se então, que a atuação administrativa deve ser ra-
que pratica sem que seja necessária qualquer provocação. zoável. No que diz respeito à proporcionalidade, deve-se pensar em
adequação entre a finalidade pretendida e os meios utilizados para
Motivação: É dever da Administração Pública justificar, motivar o alcance dessa finalidade, por exemplo, não é razoável e propor-
os atos que pratica. Isso ocorre devido ao fato de que a sociedade cional que um servidor público que se ausenta de suas atividades
é a real titular do interesse público e, nessa qualidade, tem o direi- por apenas um dia seja punido com a sanção de exoneração.
to de conhecer as questões que levaram a Administração Pública a
praticar determinado ato em determinado momento. Existem ex- Isonomia: O princípio da isonomia consiste no tratamento
ceções ao dever de motivar, exemplo, a nomeação e exoneração de igual aos indivíduos que se encontram na mesma situação e no tra-
servidores que ocupam cargos em comissão, conforme disciplina o tamento diferenciado aos indivíduos que se encontram em situação
art. 40,§13 da CF/88. de desigualdade. Exemplo: Tratamento diferenciado (‘‘vantagens’’)
O princípio da motivação é tratado pelos seguintes dispositivos conferido às microempresas e empresas de pequeno porte no pro-
legais: cedimento de licitação, a fim de que possam competir de forma
Art. 50 da lei 9.784/99 ‘‘ Os atos administrativos deverão ser mais justa junto às empresas detentoras de maior poder econômi-
motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos.’’ co.
50, §1° da lei 9.784/99‘‘A motivação deve ser explícita, clara e
congruente, podendo consistir em declaração de concordância com
fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou
propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato.’’

307
DIREITO ADMINISTRATIVO
Segurança Jurídica: Disciplinado pelo art. 2º, parágrafo único, A relação hierárquica é acessória da organização administrati-
XIII da Lei 9784/99 ‘‘ Nos processos administrativos será observada va, permitindo a distribuição de competências dentro da organiza-
a interpretação da norma administrativa da forma que melhor ga- ção administrativa para melhor funcionamento das atividades exe-
ranta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplica- cutadas pela Administração Pública.
ção retroativa de nova interpretação.’’. Do dispositivo legal é possí-
vel extrair o fato de que não é possível aplicação retroativa de nova PODER DISCIPLINAR
interpretação da norma em âmbito administrativo, visto que tal me- O Poder Disciplinar decorre do poder punitivo do Estado de-
dida, ao ferir legítimas expectativas de direito dos administrados, corrente de infração administrativa cometida por seus agentes ou
constituiria lesão ao princípio da Segurança Jurídica. por terceiros que mantenham vínculo com a Administração Pública.
Não se pode confundir o Poder Disciplinar com o Poder Hierár-
quico, sendo que um decorre do outro. Para que a Administração
PODERES E DEVERES DOS ADMINISTRADORES PÚBLI- possa se organizar e manter relação de hierarquia e subordinação é
COS: USO E ABUSO DO PODER, PODERES VINCULA- necessário que haja a possibilidade de aplicar sanções aos agentes
DO, DISCRICIONÁRIO, HIERÁRQUICO, DISCIPLINAR E que agem de forma ilegal.
REGULAMENTAR, PODER DE POLÍCIA, DEVERES DOS A aplicação de sanções para o agente que infringiu norma de
ADMINISTRADORES PÚBLICOS caráter funcional é exercício do poder disciplinar. Não se trata aqui
de sanções penais e sim de penalidades administrativas como ad-
vertência, suspensão, demissão, entre outras.
O poder administrativo representa uma prerrogativa especial Estão sujeitos às penalidades os agentes públicos quando pra-
de direito público (conjunto de normas que disciplina a atividade ticarem infração funcional, que é aquela que se relaciona com a
estatal) outorgada aos agentes do Estado, no qual o administrador atividade desenvolvida pelo agente.
público para exercer suas funções necessita ser dotado de alguns É necessário que a decisão de aplicar ou não a sanção seja
poderes. motivada e precedida de processo administrativo competente que
Esses poderes podem ser definidos como instrumentos que garanta a ampla defesa e o contraditório ao acusado, evitando me-
possibilitam à Administração cumprir com sua finalidade, contudo, didas arbitrárias e sumárias da Administração Pública na aplicação
devem ser utilizados dentro das normas e princípios legais que o da pena.
regem.
Vale ressaltar que o administrador tem obrigação de zelar pelo PODER REGULAMENTAR
dever de agir, de probidade, de prestar contas e o dever de pautar É o poder que tem os chefes do Poder Executivo de criar e edi-
seus serviços com eficiência. tar regulamentos, de dar ordens e de editar decretos, com a finali-
dade de garantir a fiel execução à lei, sendo, portanto, privativa dos
PODER HIERÁRQUICO Chefes do Executivo e, em princípio, indelegável.
A Administração Pública é dotada de prerrogativa especial de Podemos dizer então que esse poder resulta em normas inter-
organizar e escalonar seus órgãos e agentes de forma hierarquiza-
nas da Administração. Como exemplo temos a seguinte disposição
da, ou seja, existe um escalonamento de poderes entre as pessoas
constitucional (art. 84, IV, CF/88):
e órgãos internamente na estrutura estatal
É pelo poder hierárquico que, por exemplo, um servidor está
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
obrigado a cumprir ordem emanada de seu superior desde que não
[...]
sejam manifestamente ilegais. É também esse poder que autoriza a
IV – sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como
delegação, a avocação, etc.
expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução.
A lei é quem define as atribuições dos órgãos administrativos,
bem como cargos e funções, de forma que haja harmonia e unidade
de direção. Percebam que o poder hierárquico vincula o superior e A função do poder regulamentar é estabelecer detalhes e os
o subordinado dentro do quadro da Administração Pública. procedimentos a serem adotados quanto ao modo de aplicação de
Compete ainda a Administração Pública: dispositivos legais expedidos pelo Poder Legislativo, dando maior
a) editar atos normativos (resoluções, portarias, instruções), clareza aos comandos gerais de caráter abstratos presentes na lei.
que tenham como objetivo ordenar a atuação dos órgãos subordi- - Os atos gerais são os atos como o próprio nome diz, geram
nados, pois refere-se a atos normativos que geram efeitos internos efeitos para todos (erga omnes); e
e não devem ser confundidas com os regulamentos, por serem de- - O caráter abstrato é aquele onde há uma relação entre a cir-
correntes de relação hierarquizada, não se estendendo a pessoas cunstância ou atividade que poderá ocorrer e a norma regulamen-
estranhas; tadora que disciplina eventual atividade.
b) dar ordens aos subordinados, com o dever de obediência, Cabe destacar que as agências reguladoras são legalmente
salvo para os manifestamente ilegais; dotadas de competência para estabelecer regras disciplinando os
respectivos setores de atuação. É o denominado poder normativo
c) controlar a atividade dos órgãos inferiores, com o objetivo de das agências.
verificar a legalidade de seus atos e o cumprimento de suas obriga- Tal poder normativo tem sua legitimidade condicionada ao
ções, permitindo anular os atos ilegais ou revogar os inconvenien- cumprimento do princípio da legalidade na medida em que os atos
tes, seja ex. officio (realiza algo em razão do cargo sem nenhuma normativos expedidos pelas agências ocupam posição de inferiori-
provocação) ou por provocação dos interessados, através dos re- dade em relação à lei dentro da estrutura do ordenamento jurídico.
cursos hierárquicos;
d) avocar atribuições, caso não sejam de competência exclusiva PODER DE POLÍCIA
do órgão subordinado; É certo que o cidadão possui garantias e liberdades individuais
e) delegação de atribuições que não lhe sejam privativas. e coletivas com previsão constitucional, no entanto, sua utilização
deve respeitar a ordem coletiva e o bem estar social.

308
DIREITO ADMINISTRATIVO
Neste contexto, o poder de polícia é uma prerrogativa confe- Somente será permitida a autoexecutoriedade quando esta for
rida à Administração Pública para condicionar, restringir e limitar prevista em lei, além de seu uso para situações emergenciais, em
o exercício de direitos e atividades dos particulares em nome dos que será necessária a atuação da Administração Pública.
interesses da coletividade. Vale lembrar que a administração pública pode executar, por
Possui base legal prevista no Código Tributário Nacional, o qual seus próprios meios, suas decisões, não precisando de autorização
conceitua o Poder de Polícia: judicial.

Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administra- - Coercibilidade: Limita-se ao princípio da proporcionalidade,
ção pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou li- na medida que for necessária será permitido o uso da força par
berdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de cumprimento dos atos. A coercibilidade é um atributo que torna
interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos obrigatório o ato praticado no exercício do poder de polícia, inde-
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de pendentemente da vontade do administrado.
atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização
do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à proprie- Uso e Abuso De Poder
dade e aos direitos individuais ou coletivos. Sempre que a Administração extrapolar os limites dos pode-
Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de res aqui expostos, estará cometendo uma ilegalidade. A ilegalidade
polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites traduz o abuso de poder que, por sua vez, pode ser punido judicial-
da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se mente.
de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou des- O abuso de poder pode gerar prejuízos a terceiros, caso em que
vio de poder. a Administração será responsabilizada. Todos os Poderes Públicos
estão obrigados a respeitar os princípios e as normas constitucio-
Os meios de atuação da Administração no exercício do poder nais, qualquer lesão ou ameaça, outorga ao lesado a possibilidade
de polícia compreendem os atos normativos que estabelecem limi- do ingresso ao Poder Judiciário.
tações ao exercício de direitos e atividades individuais e os atos ad- A responsabilidade do Estado se traduz numa obrigação, atri-
ministrativos consubstanciados em medidas preventivas e repressi- buída ao Poder Público, de compor os danos patrimoniais causados
vas, dotados de coercibilidade. a terceiros por seus agentes públicos tanto no exercício das suas
A competência surge como limite para o exercício do poder de atribuições quanto agindo nessa qualidade.
polícia. Quando o órgão não for competente, o ato não será consi-
derado válido. Desvio de Poder
O limite do poder de atuação do poder de polícia não poderá O desvio significa o afastamento, a mudança de direção da que
divorciar-se das leis e fins em que são previstos, ou seja, deve-se fora anteriormente determinada. Este tipo de ato é praticado por
condicionar o exercício de direitos individuais em nome da coleti- autoridade competente, que no momento em que pratica tal ato,
vidade. distinto do que é visado pela norma legal de agir, acaba insurgindo
no desvio de poder.
Limites
Mesmo que o ato de polícia seja discricionário, a lei impõe al- Segundo Cretella Júnior:
guns limites quanto à competência, à forma, aos fins ou ao objeto. “o fim de todo ato administrativo, discricionário ou não, é o
Em relação aos fins, o poder de polícia só deve ser exercido interesse público. O fim do ato administrativo é assegurar a ordem
para atender ao interesse público. A autoridade que fugir a esta re- da Administração, que restaria anarquizada e comprometida se o
gra incidirá em desvio de poder e acarretará a nulidade do ato com fim fosse privado ou particular”.
todas as consequências nas esferas civil, penal e administrativa.
Dessa forma, o fundamento do poder de polícia é a predomi- Não ser refere as situações que estejam eivadas de má-fé, mas
nância do interesse público sobre o particular, logo, torna-se escuso sim quando a intenção do agente encontra-se viciada, podendo
qualquer benefício em detrimento do interesse público. existir desvio de poder, sem que exista má-fé. É a junção da vontade
de satisfação pessoal com inadequada finalidade do ato que pode-
Atributos do poder de polícia ria ser praticado.
Os atributos do poder de polícia, busca-se garantir a sua execu-
ção e a prioridade do interesse público. São eles: discricionarieda- Essa mudança de finalidade, de acordo com a doutrina, pode
de, autoexecutoriedade e coercibilidade. ocorrer nas seguintes modalidades:
- Discricionariedade: a Administração Pública goza de liberdade a. quando o agente busca uma finalidade alheia ao interesse
para estabelecer, de acordo com sua conveniência e oportunidade, público;
quais serão os limites impostos ao exercício dos direitos individuais b. quando o agente público visa uma finalidade que, no entan-
e as sanções aplicáveis nesses casos. Também confere a liberdade to, não é o fim pré-determinado pela lei que enseja validade ao
de fixar as condições para o exercício de determinado direito. ato administrativo e, por conseguinte, quando o agente busca uma
finalidade, seja alheia ao interesse público ou à categoria deste que
No entanto, a partir do momento em que são fixados esses li- o ato se revestiu, por meio de omissão.
mites, com suas posteriores sanções, a Administração será obrigada
a cumpri-las, ficando dessa maneira obrigada a praticar seus atos
vinculados.

- Autoexecutoriedade: Não é necessário que o Poder Judiciário


intervenha na atuação da Administração Pública. No entanto, essa
liberdade não é absoluta, pois compete ao Poder Judiciário o con-
trole desse ato.

309
DIREITO ADMINISTRATIVO
Também chamados de servidores estatais engloba todos aque-
SERVIDORES PÚBLICOS: CARGO, EMPREGO E FUNÇÃO les que mantêm com o Estado relação de trabalho de natureza pro-
PÚBLICOS fissional, de caráter não eventual e sob o vínculo de dependência.
Servidores públicos podem ser:
CONCEITO - estatutários: são os ocupantes de CARGOS PÚBLICOS e estão
Em seu conceito mais amplo Agente Público é a pessoa física sob o regime estatutário. Quando nomeados, ingressam numa situ-
que presta serviços às Pessoas Jurídicas da Administração Pública ação jurídica previamente definida, à qual se submetem com o ato
Direta ou Indireta, também são aqueles que exercem função públi- da posse. Assim, não tem como modificar as normas vigentes por
ca, seja qual for a modalidade (mesário, jurado, servidor público, meio de contrato entre o servidor e a Administração, mesmo que
etc.). com a concordância de ambos, por se tratar de normas de ordem
A Lei de Improbidade Administrativa (8.429/92) conceitua pública. Não há contrato de trabalho entre os estatutários e a Ad-
Agente Público: ministração, tendo em vista sua natureza não contratual mas sim
“Artigo 2° - Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, regida por um estatuto jurídico condicionada ao termo de posse.
todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remu- - empregados públicos: são ocupantes de empregos públicos
neração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qual- contratados sob o regime da CLT, com vínculo contratual, precisam
quer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, empre- de aprovação em concurso público ou processo seletivo e sua de-
go ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior”. missão precisa ser motivada;
- temporários ou em regime especial: são os contratados por
Para o jurista administrativo Celso Antonio Bandeira de Mello tempo determinado, com base no artigo 37, IX, CF. Não ocupam
“...esta expressão – agentes públicos – é a mais ampla que se pode cargos ou empregos públicos e não exige aprovação em concurso
conceber para designar genérica e indistintamente os sujeitos que público, mas a Administração Pública deve respeitar os princípios
servem ao Poder Público como instrumentos expressivos de sua von- constitucionais da impessoalidade e da moralidade, realizando um
processo seletivo simplificado.
tade ou ação, ainda quando o façam apenas ocasional ou episodica-
mente. Quem quer que desempenhe funções estatais, enquanto as
Para que tenha a contratação de temporários, se faz necessária
exercita, é um agente público.”
a existência de lei regulamentadora, com a previsão dos casos de
contratação, o prazo da contratação, a necessidade temporária e a
A denominação “agente público” é tratada como gênero das motivação do interesse público.
diversas espécies que vinculam o indivíduo ao estado a partir da - cargos comissionados: são os de livre nomeação e exonera-
sua natureza jurídica. As espécies do agente público podem ser di- ção, tem caráter provisório e se destina às atribuições de direção,
vididas como do qual são espécies os agentes políticos, servidores chefia e assessoramento. Os efetivos também podem ser comissio-
públicos (servidores estatais, empregado público, temporários e co- nados. Ao servidor ocupante exclusivamente de cargo em comissão
missionados), particulares em colaboração, agentes militares e os aplica-se o regime geral de previdência social previsto na Constitui-
agentes de fato. ção Federal, artigo 40, § 13.

ESPÉCIES (CLASSIFICAÇÃO) c) Agentes militares: são as pessoas físicas que prestam ser-
Agentes públicos abrangem todas as demais categorias, sendo viços à Forças Armadas (Marinha, Aeronáutica, Exército - art. 142,
que alguns deles fazem parte da estrutura administrativa do Estado, caput, e § 3º, CF, Polícias Militares, Corpo de Bombeiros - art. 42,
seja em sua estrutura direta ou então na organização indireta. CF).
Outros, no entanto, não compõe os quadros internos da admi- Aqueles que compõem os quadros permanentes das forças
nistração Pública, isto é, são alheios ao aparelho estatal, permane- militares possuem vinculação estatutária, e não contratual, mas o
cendo externamente. regime jurídico é disciplinado por legislação específica diversa da
aplicável aos servidores civis.
Vamos analisar cada uma dessas categorias: Possui vínculo estatutário sujeito a regime jurídico próprio, me-
a) Agentes políticos: agentes políticos exercem uma função diante remuneração paga pelos cofres públicos.
pública de alta direção do Estado. São os que ocupam lugar de co-
mando e chefia de cada um dos Poderes (Executivo, Legislativo e d) Particulares em colaboração / honoríficos: são prestadores
Judiciário). São titulares dos cargos estruturais à organização polí- de serviços ao Estado sem vinculação permanente de emprego e
tica do País. sem remuneração. Essa categoria de agentes públicos pode ser
Ingressam em regra, por meio de eleições, desempenhando prestada de diversas formas, segundo entendimento de Celso An-
mandatos fixos e quando termina o mandato a relação com o Esta- tônio Bandeira de Mello, se dá por:
- requisitados de serviço: como mesários e convocados para o
do também termina automaticamente.
serviço militar (conscritos);
A vinculação dos agentes políticos com o aparelho governa-
- gestores de negócios públicos: são particulares que assumem
mental não é profissional, mas institucional e estatutária.
espontaneamente uma tarefa pública, em situações emergenciais,
Os agentes políticos serão remunerados exclusivamente por
quando o Estado não está presente para proteger o interesse pú-
subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer blico.
gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou - contratados por locação civil de serviços: é o caso, por exem-
outra espécie remuneratória. plo, de jurista famoso contratado para emitir um parecer;
- concessionários e permissionários: exercem função pública
b) Servidores Públicos: são as pessoas que executam serviços por delegação estatal;
ao Estado e também às entidades da Administração Pública direta e - delegados de função ou ofício público: é o caso dos titulares
indireta (sentido amplo). Os servidores têm vínculo empregatício e de cartórios.
sua remuneração é paga pelos cofres públicos.

310
DIREITO ADMINISTRATIVO
e) Agentes de fato: é o particular que sem vínculo formal e le- Provimento
gítimo com o Estado exerce função pública, acreditando estar de Segundo Hely Lopes Meirelles, é o ato pelo qual se efetua o
boa-fé e com o objetivo de atender o interesse público. Neste caso, preenchimento do cargo público, com a designação de seu titular.
não há investidura prévia nos cargos, empregos e funções públicas. Configura-se no ato de designação de um sujeito para titularizar
Agente de fato putativo: é aquele que desempenha atividade cargo público Podendo ser:
pública com a presunção de que tem legitimidade, mas há alguma a) originário ou inicial: quando o agente não possui vinculação
ILEGALIDADE em sua INVESTIDURA. É aquele servidor que toma anterior com a Administração Pública;
posse sem cumprir algum requisito do cargo. b) derivado: pressupõe a existência de um vínculo com a Ad-
Agentes de fato necessário: são os que atuam em situações de ministração.
calamidade pública ou emergência.
Posse: é o ato pelo qual uma pessoa assume, de maneira efe-
CARGO, EMPREGO E FUNÇÃO PÚBLICA tiva, o exercício das funções para que foi nomeada, designada ou
Cargo, emprego e função pública são tipos de vínculos de tra- eleita, ou seja, é sua investidura no cargo público. O ato da posse
balho na Administração Pública ocupadas por servidores públicos. determina a concordância e a vontade do sujeito em entrar no exer-
A Constituição Federal, em vários dispositivos, emprega os vocábu- cício, além de cumprir a exigência regulamentar.
los cargo, emprego e função para designar realidades diversas, po-
rém que existem paralelamente na Administração. Exercício: é o momento em que o servidor dá início ao desem-
penho de suas atribuições de trabalho. A data do efetivo exercício
Cargo público: unidade de atribuições e competências funcio- é considerada como o marco inicial para a produção de todos os
nais. É o lugar dentro da organização funcional da Administração efeitos jurídicos da vida funcional do servidor público e ainda para
Direta de suas autarquias e fundações públicas que, ocupado por o início do período do estágio probatório, da contagem do tempo
servidor público, submetidos ao regime estatuário. de contribuição para aposentadoria, período aquisitivo para a per-
Possui funções específicas e remuneração fixada em lei ou di- cepção de férias e outras vantagens remuneratórias.
ploma a ela equivalente. Todo cargo tem uma função, porém, nem São formas de provimento: nomeação, promoção, readapta-
toda função pressupõe a existência de um cargo. ção, reversão, aproveitamento, reintegração e recondução.
Para Celso Antônio Bandeira de Mello são as mais simples e a) Nomeação: é o único caso de provimento originário, já que o
indivisíveis unidades de competência a serem titularizadas por um servidor dependerá da aprovação prévia em concurso público e não
agente. São criados por lei, previstos em número certo e com de- possuirá relação anterior com o Estado;
nominação própria. b) Promoção: é forma de provimento derivado (neste caso o
Com efeito, as várias competências previstas na Constituição agente público já se encontra ocupando o cargo) onde o servidor
passará a exercer um cargo mais elevado dentro da carreira exer-
para a União, Estados e Municípios são distribuídas entre seus res-
cida.
pectivos órgãos, cada qual dispondo de determinado número de
c) Readaptação: espécie de transferência efetuada com a finali-
cargos criados por lei, que lhes confere denominação própria, defi-
dade de prover o servidor em outro cargo compatível com eventual
ne suas atribuições e fixa o padrão de vencimento ou remuneração.
limitação de capacidade física ou mental, condicionada a inspeção
médica.
Empregos públicos: são núcleos de encargos de trabalho per-
d) Reversão: trata-se do reingresso de servidor aposentado de
manentes a serem preenchidos por pessoas contratadas para de-
seu ofício por não subsistirem mais as razões que lhe determinarão
sempenhá-los, sob relação jurídica trabalhista (CLT) de natureza
a aposentadoria por invalidez.
contratual e somente podem ser criados por lei. e) Aproveitamento: relaciona-se com a retomada do servidor
posto em disponibilidade (ato pelo qual se transfere o servidor à
Função pública: é a atividade em si mesma, é a atribuição, as inatividade remunerada de servidor estável em razão de extinção
tarefas desenvolvidas pelos servidores. São espécies: do cargo ocupado ou destinado a reintegração de servidor), seja
a) Funções de confiança, exercidas exclusivamente por servi- no mesmo cargo anteriormente ocupado ou em cargo equivalente
dores ocupantes de cargo efetivo, e destinadas ás atribuições de quanto as atribuições e vencimentos.
chefia, direção e assessoramento; f) Reintegração: retorno de servidor ilegalmente desligado de
b) Funções exercidas por contratados por tempo determinado seu cargo. O reconhecimento do direito a reintegração pode decor-
para atender a necessidade temporária de excepcional interesse rer de decisão proferida na esfera administrativa ou judicial.
público, nos termos da lei autorizadora, que deve advir de cada g) Recondução: retorno de servidor estável ao cargo que an-
ente federado. teriormente ocupava, seja por não ter sido habilitado no estágio
probatório relativo a outro cardo para o qual tenha sido nomeado
REGIME JURÍDICO ou por ter sido desalojado do cargo em razão de reintegração do
Regime jurídico dos servidores públicos é o conjunto de nor- servidor que ocupava o cargo anteriormente.
mas e princípios referentes a direitos, deveres e demais regras ju-
rídicas normas que regem a vida funcional do servidor. A lei que Vacância
reúne estas regras é denominada de Estatuto e o regime jurídico A vacância é a situação jurídica atribuída a um cargo que está
passa a ser chamado de regime jurídico Estatutário. sem ocupante. Vários fatos levam à vacância, entre os quais:
- o servidor pediu o desligamento (exoneração a pedido);
No âmbito de cada pessoa política - União, Estados, Distrito Fe- - o servidor foi desligado do cargo em comissão ou não iniciou
deral e Municípios - há um Estatuto. A Lei nº 8.112 de 11/12/1990 exercício (exoneração ex officio);
(por exemplo) estabeleceu que o regime jurídico Estatutário é o - o servidor foi punido com a perda do cargo (demissão);
aplicável aos Servidores Públicos Civis da União, das autarquias e - o servidor passou a exercer outro cargo ante limitações em
fundações públicas federais, ocupantes de cargos públicos. sua capacidade física ou mental (readaptação);
- aposentadoria ou falecimento do servidor;

311
DIREITO ADMINISTRATIVO
- acesso ou promoção. O servidor aprovado em concurso público de cargo regido pela
lei 8112/90 e consequentemente nomeado passará por um período
Para Di Pietro1, vacância é o ato administrativo pelo qual o ser- de avaliação, terá o novo servidor que comprovar no estágio proba-
vidor é destituído do cargo, emprego ou função. tório que tem aptidão para exercer as atividades daquele cargo para
Decorre de exoneração, demissão, aposentadoria, promoção e o qual foi nomeado em tais fatores:
falecimento. O artigo 33 da Lei 8.112/90 prevê ainda a readaptação a) Assiduidade;
e a posse em outro cargo inacumulável. Mas a ascensão e a trans- b) Disciplina;
formação deixaram de existir por força da Lei 9.527/97. c) Capacidade de iniciativa;
A exoneração não é penalidade; ela se dá a pedido ou ex offi- d) Produtividade;
cio, neste caso quando se tratar de cargo em comissão ou função e) Responsabilidade.
de confiança; no caso de cargo efetivo, quando não satisfeitas as
exigências do estágio probatório ou quando, tendo tomado posse, Atualmente o prazo mencionado de 3 anos de efetivo exercício
o servidor não entrar em exercício no prazo estabelecido. para o servidor público (de forma geral), adquirir estabilidade é o
Já a demissão constitui penalidade decorrente da prática de ilí- que está previsto na Constituição, que foi alterado após a Emenda
cito administrativo; tem por efeito desligar o servidor dos quadros nº 19/98.
do funcionalismo. Muito embora, a Lei nº 8.112/90, no artigo 20 cite o prazo de 2
A promoção é, ao mesmo tempo, ato de provimento no cargo anos, para que o servidor adquira estabilidade devemos considerar
superior e vacância no cargo inferior. que o correto é o texto inserido na Constituição Federal, repita-se 3
A readaptação, segundo artigo 24 da 8.112/90, “é a investidura anos de efetivo exercício.
do servidor em cargo de atribuições e responsabilidades compatí- Como não houve uma revogação expressa de tais normas elas
veis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou permanecem nos textos legais, mesmo que na prática não são apli-
mental verificada em inspeção médica”. cadas, pois ferem a CF (existe uma revogação tácita dessas normas).

Efetividade, estabilidade e vitaliciedade - Requisitos para adquirir estabilidade:


Efetividade: cargos efetivos são aqueles que se revestem de ca- a) estágio probatório de três anos;
ráter de permanência, constituindo a maioria absoluta dos cargos b) nomeação em caráter efetivo;
integrantes dos diversos quadros funcionais. c) aprovação em avaliação especial de desempenho.
Com efeito, se o cargo não é vitalício ou em comissão, terá que
ser necessariamente efetivo. Embora em menor escala que nos Vitaliciedade: Cargos vitalícios são aqueles que oferecem a
cargos vitalícios, os cargos efetivos também proporcionam segu- maior garantia de permanência a seus ocupantes. Somente através
rança a seus titulares; a perda do cargo, segundo art. 41, §1º da de processo judicial, como regra, podem os titulares perder seus
Constituição Federal, só poderá ocorrer, quando estáveis, se houver cargos (art. 95, I, CF). Desse modo, torna-se inviável a extinção do
sentença judicial ou processo administrativo em que se lhes faculte vínculo por exclusivo processo administrativo (salvo no período ini-
ampla defesa, e agora também em virtude de avaliação negativa de cial de dois anos até a aquisição da prerrogativa). A vitaliciedade
desempenho durante o período de estágio probatório. configura-se como verdadeira prerrogativa para os titulares dos
cargos dessa natureza e se justifica pela circunstância de que é ne-
Estabilidade: confere ao servidor público a efetiva permanên- cessária para tornar independente a atuação desses agentes, sem
cia no serviço após três anos de estágio probatório, após os quais que sejam sujeitos a pressões eventuais impostas por determina-
só perderá o cargo se caracterizada uma das hipóteses previstas no dos grupos de pessoas.
artigo 41, § 1º, ou artigo 169, ambos da CF. Existem três cargos públicos vitalícios no Brasil:
Hipóteses: - Magistrados (Art. 95, I, CF);
a) em razão de sentença judicial com trânsito em julgado (art. - Membros do Ministério Público (Art. 128, § 5º, I, “a”, CF);
41, §1º, I, da CF); - Membros dos Tribunais de Contas (Art. 73, §3º).
b) por meio de processo administrativo em que lhe seja assegu-
rada a ampla defesa (art. 41, § 1º, II, da CF); Por se tratar de prerrogativa constitucional, em função da qual
c) mediante procedimento de avaliação periódica de desempe- cabe ao Constituinte aferir a natureza do cargo e da função para
nho, na forma da lei complementar, assegurada ampla defesa (art. atribuí-la, não podem Constituições Estaduais e Leis Orgânicas mu-
41, § 1º, III, da CF); nicipais, nem mesmo lei de qualquer esfera, criar outros cargos com
d) em virtude de excesso de despesas com o pessoal ativo e a garantia da vitaliciedade. Consequentemente, apenas Emenda à
inativo, desde que as medidas previstas no art. 169, § 3º, da CF, não Constituição Federal poderá fazê-lo.
surtam os efeitos esperados (art. 169, § 4º, da CF).
Criação, transformação e extinção de cargos, empregos e fun-
A estabilidade é a prerrogativa atribuída ao servidor que pre- ções públicas
encher os requisitos estabelecidos na Constituição Federal que lhe Com efeito, as várias competências previstas na Constituição
garante a permanência no serviço. para a União, Estados e Municípios são distribuídas entre seus res-
O servidor estável, que tiver seu cargo extinto, não estará fora pectivos órgãos, cada qual dispondo de determinado número de
da Administração Pública, porque a norma constitucional lhe garan- cargos criados por lei, que lhes confere denominação própria, defi-
te estabilidade no serviço e não no cargo. Nesta hipótese o servidor ne suas atribuições e fixa o padrão de vencimento ou remuneração.
é colocado em disponibilidade remunerada, seguindo o disposto no Criar um cargo é oficializá-lo, atribuindo a ele denominação
art. 41, § 3.º, da Constituição sendo sua remuneração calculada de própria, número certo, funções determinadas, etc. Somente se cria
forma proporcional ao tempo de serviço. um cargo por meio de lei, logo cada Poder, no âmbito de suas com-
petências podem criar um cargo por meio da lei. No caso dos cargos
públicos da União, o vencimento é pago pelos cofres públicos, para
provimento em caráter efetivo ou em comissão.
1 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, Direito Administrativo, 31ª edição, 2018

312
DIREITO ADMINISTRATIVO
A transformação ocorre quando há modificação ou alteração Ajuda de custo: A ajuda de custo destina-se a compensar as
na natureza do cargo de forma que, ao mesmo tempo em que o despesas de instalação do servidor que, no atendimento do inte-
cargo é extinto, outro é criado. Somente se dá por meio de lei e há resse do serviço, passar a ter exercício em nova sede, desde que
o aproveitamento de todos os servidores quando o novo cargo tiver acarrete mudança de domicílio em caráter permanente.
o mesmo nível e atribuições compatíveis com o anterior. Constitui vedação legal o duplo pagamento de indenização, a
A extinção corresponde ao fim do cargo e também deve ser qualquer tempo, no caso de o cônjuge ou companheiro que dete-
efetuada por meio de lei. nha também a condição de servidor, vier a ter exercício na mesma
No entanto, o art. 84, VI, “b” da Constituição Federal revela sede.
exceção a norma geral ao atribuir competência para o Presidente Diárias: essa prerrogativa está regulamentada no art. 58 da Lei
da República para dispor, mediante decreto, sobre a extinção de nº 8.112/90. É devida ao servidor que se afastar da sede em caráter
funções ou cargos públicos quando vagos. eventual ou transitório para outro ponto do território nacional ou
para o exterior. São destinadas a indenizar as parcelas de despesas
Desvio de função extraordinárias com pousada, alimentação e locomoção urbana.
O servidor público deve exercer suas atividades funcionais res-
peitando as competências e atribuições previstas para o cargo que Gratificações e Adicionais: são tratados no art. 61 da Lei nº
ocupa. Cumpre ressaltar que a lei que cria o cargo estabelece quais 8.112/90 que as discrimina, a saber:
são os limites das atribuições e competências do cargo. - retribuição pelo exercício de função de direção, chefia e as-
No entanto, não raro identificar o servidor exercendo atribui- sessoramento,
çoes diversas daquelas previstas em lei para o cargo atualmente - gratificação natalina,
ocupado. - adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas ou
Por definição, o desvio de função do servidor público ocorre penosas,
quando este desempenha função diversa daquela correspondente - adicional pela prestação de serviço extraordinário,
ao cargo por ele legalmente investido mediante aprovação em con- - adicional noturno,
curso público. - adicional de férias,
Quando constatada a ocorrência de desvio de função, o servi- - outros (relativos ao local ou à natureza do trabalho),
dor que teve suas atribuições desviadas faz jus a indenização relati- - gratificação por encargo de curso ou concurso.
vas as diferenças salarias decorrentes do desvio.
Este é o entendimento já consolidado pelo Superior Tribunal de Férias: é um direito que o servidor alcança após cumprir o pe-
Justiça que editou Sumula a respeito. ríodo aquisitivo (12 meses). Consiste em um período de 30 dias de
Súmula nº 378 STJ descanso que podem ser cumuladas até o máximo de dois perío-
“Reconhecido o desvio de função, o servidor faz jus às diferen- dos, bem como podem ser parceladas em até três etapas.
ças salariais decorrentes”.
Licenças: de acordo com o art. 81 da referida lei a licença é con-
Importante esclarecer que em caso de desvio de função, o ser-
cedida por motivo de doença em pessoa da família, de afastamento
vidor público que teve as atribuições do cargo para o qual foi inves-
do cônjuge ou companheiro, para o serviço militar, para a atividade
tido desviadas não tem direito ao reenquadramento funcional. Isso
política, para capacitação, para tratar de interesses particulares e
porque inafastável o princípio da imprescindibilidade de concurso
para desempenho de mandato classista.
público para o preenchimento de cargos pela administração públi-
ca, No entanto, tem direito a receber os vencimentos correspon-
Concessões: existem quando é permitido ao servidor se ausen-
dentes à função desempenhada.
tar sem ter que arcar com quaisquer prejuízos.
O art. 97 da Lei nº 8.112/90 elenca as hipóteses de concessão,
REMUNERAÇÃO
Vencimento: é a retribuição pecuniária pelo exercício de cargo vejamos:
público, com valor fixado em lei. - por um dia para doação de sangue,
- pelo período comprovadamente necessário para alistamen-
Remuneração: é o vencimento do cargo efetivo, acrescido das to ou recadastramento eleitoral, limitado, em qualquer caso a dois
vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei. O acrés- dias,
cimo de vantagens permanentes ao vencimento do cargo efetivo é - por oito dias consecutivos em razão de casamento, falecimen-
irredutível. to de cônjuge, companheiro, pais, madrasta ou padrasto, filhos, en-
Constitui vedação legal o pagamento de remuneração inferior teados, menor sob guarda ou tutela ou irmãos.
ao salário mínimo
Direito de Petição: o direito de petição existe para a defesa do
IMPORTANTE: tanto o vencimento com a remuneração e o pro- direito ou interesse legítimo. É instrumento utilizado pelo servidor
vento não serão objeto de arresto, seqüestro ou penhora, exceto e dirigido à autoridade competente que deve decidir.
nos casos de prestação de alimentos resultante de decisão judicial.
RESPONSABILIDADE
DIREITOS E DEVERES Ao exercer funções públicas, os servidores públicos não estão
Os direitos e vantagens dos servidores públicos, quais sejam: desobrigados de se responsabilizar por seus atos, tanto atos públi-
vencimento, indenizações, gratificações, diárias, adicionais, férias, cos quanto atos administrativos, além dos atos políticos, dependen-
licenças, concessões e direito de petição. do de sua função, cargo ou emprego.
Indenizações: de acordo com o art. 51 da Lei nº 8.112/90 as in- Esta responsabilidade é algo indispensável na atividade admi-
denizações são constituídas pela ajuda de custo, diárias, transporte nistrativa, ou seja, enquanto houver exercício irregular de direito ou
e auxílio moradia. de poder a responsabilidade deve estar presente.

313
DIREITO ADMINISTRATIVO
Quanto o Estado repara o dano, em homenagem à responsa- Importante ressaltar que a decisão penal, apurada por causa
bilidade objetiva do Estado, fica com direito de regresso contra o da responsabilidade penal do servidor, só terá reflexo na responsa-
responsável que efetivamente causou o dano, isto é, com o direito bilidade civil do servidor se o ilícito penal tiver ocasionado prejuízo
de recuperar o valor da indenização junto ao agente que causador patrimonial (ilícito civil).
do dano.
Efetivamente, o direito de regresso, em sede de responsabilida- Nos termos do que estabelece o artigo 125 da Lei 8.112/90, as
de estatal, configura-se na pretensão do Estado em buscar do seu sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se, sendo
agente, responsável pelo dano, a recomposição do erário, uma vez independentes entre si.
desfalcado do montante destinado ao pagamento da indenização A responsabilidade administrativa do servidor será afastada
à vítima. se, no processo criminal, o servidor for absolvido por ter sido de-
Nesse aspecto, o direito de regresso é o direito assegurado ao clarada a inexistência do fato ou, quando o fato realmente existiu,
Estado no sentido de dirigir sua pretensão indenizatória contra o não tenha sido imputada sua autoria ao servidor. Notem que, se o
agente responsável pelo dano, quando tenha este agido com culpa servidor for absolvido por falta ou insuficiência de provas, a respon-
ou dolo. sabilidade administrativa não será afastada.
Neste contexto, o agente público poderá ser responsabilizado
nos âmbitos civil, penal e administrativo. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR
O Regime Disciplinar é o conjunto de deveres, proibições, que
a) Responsabilidade Civil: A responsabilidade civil decorre de geram responsabilidades aos agentes públicos. Descumprido este
ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em pre- rol, se apura os ilícitos administrativos, onde gera as sanções dis-
ciplinares.
juízo ao erário ou a terceiros.
Com o intuito de responsabilizar quem comete faltas adminis-
Neste caso, responsabilidade civil se refere à responsabilidade
trativas, atribui-se à Administração o Poder Disciplinar do Estado,
patrimonial, que faz referência aos Atos Ilícitos e que traz consigo a
que assegura a responsabilização dos agentes públicos quando co-
regra geral da responsabilidade civil, que é de reparar o dano cau-
mentem ações que contrariam seus deveres e proibições relacio-
sado a outrem. nados às atribuições do cargo, função ou emprego de que estão
A Administração Pública, confirmada a responsabilidade de investidos. Por consequência dos descumprimentos legais, há a
seus agentes, como preceitua a no art.37, §6, parte final do Texto aplicação de sanções disciplinares, conforme dispõe a legislação.
Maior, é “assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa”, descontará nos vencimentos do servidor Dos Deveres
público, respeitando os limites mensais, a quantia exata para o res- Via de regra, os estatutos listam condutas e proibições a serem
sarcimento do dano. observadas pelos servidores, configurando, umas e outras, os seus
deveres como dois lados da mesma moeda. Por exemplo: a proibi-
b) Responsabilidade Administrativa: A responsabilidade admi- ção de proceder de forma desidiosa equivale ao dever de exercer
nistrativa é apurada em processo administrativo, assegurando-se com zelo as atribuições do cargo. Por isso, podem ser englobados
ao servidor o contraditório e a ampla defesa. sob a rubrica “deveres” os que os estatutos assim intitulam e os que
Uma vez constatada a prática do ilícito administrativo, ficará os estatutos arrolam como proibições.
o servidor sujeito à sanção administrativa adequada ao caso, que - Dever de Agir: Devem os administradores agirem em benefí-
poderá ser advertência, suspensão, demissão, cassação de aposen- cio da coletividade.
tadoria ou disponibilidade, destituição de cargo em comissão ou - Dever de Probidade: O agente público deve agir de forma
destituição de função comissionada. honesta e em conformidade com os princípios da legalidade e da
A penalidade deve sempre ser motivada pela autoridade com- moralidade.
petente para sua aplicação, sob pena de nulidade. - Dever de Prestar Contas: Todo administrador deve prestar
Se durante a apuração da responsabilidade administrativa a contas do dinheiro público.
autoridade competente verificar que o ilícito administrativo tam- - Dever de Eficiência: Deve elaborar suas funções perfeição e
bém está capitulado como ilícito penal, deve encaminhar cópia do rendimento funcional.
processo administrativo ao Ministério Público, que irá mover ação - Dever de Urbanidade: Deve o servidor ser cordial com os de-
penal contra o servidor mais colegas de trabalho e com o público em geral.
- Dever de Assiduidade: O servidor deve comparecer em seu
serviço, a fim de cumprir seu horário conforme determinado.
c) Responsabilidade Penal: A responsabilidade penal do servi-
dor é a que resulta de uma conduta tipificada por lei como infração
Das Proibições
penal. A responsabilidade penal abrange crimes e contravenções
De acordo com o estatuto federal, aplicável aos Servidores Pú-
imputadas ao servidor, nessa qualidade.
blicos Civis da União, das autarquias e fundações públicas federais,
Os crimes funcionais estão definidos no Código Penal, artigos ocupantes de cargos público, seu artigo 117 traz um rol de proibi-
312 a 326, como o peculato, a concussão, a corrupção passiva, a ções sendo elas:
prevaricação etc. Outros estão previstos em leis especiais federais. - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia au-
torização do chefe imediato;
A responsabilidade penal do servidor é apurada em Juízo Cri- - retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, qual-
minal. Se o servidor for responsabilizado penalmente, sofrerá uma quer documento ou objeto da repartição;
sanção penal, que pode ser privativa de liberdade (reclusão ou de- - recusar fé a documentos públicos;
tenção), restritiva de direitos (prestação pecuniária, perda de bens - opor resistência injustificada ao andamento de documento e
e valores, prestação de serviço à comunidade ou a entidades públi- processo ou execução de serviço;
cas, interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana) - promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto
ou multa (Código Penal, art. 32). da repartição;

314
DIREITO ADMINISTRATIVO
- cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos previs- CAPÍTULO VII
tos em lei, o desempenho de atribuição que seja de sua responsabi- DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
lidade ou de seu subordinado;
- coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a as- SEÇÃO I
sociação profissional ou sindical, ou a partido político; DISPOSIÇÕES GERAIS
- manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de con-
fiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau civil; Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer
- valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
em detrimento da dignidade da função pública; pios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, mora-
- participar de gerência ou administração de sociedade privada, lidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos
qualidade de acionista, cotista ou comanditário; brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim
A essa vedação existe duas exceções, já que o servidor poderá: como aos estrangeiros, na forma da lei;
I - participação nos conselhos de administração e fiscal de em- II - a investidura em cargo ou emprego público depende de apro-
presas ou entidades em que a União detenha, direta ou indireta- vação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos,
mente, participação no capital social ou em sociedade cooperativa de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego,
constituída para prestar serviços a seus membros;
na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em
II - gozo de licença para o trato de interesses particulares, na
comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;
forma do art. 91 (8.112), observada a legislação sobre conflito de
III - o prazo de validade do concurso público será de até dois
interesses.
anos, prorrogável uma vez, por igual período;
- atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições
públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários ou IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convo-
assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou com- cação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de pro-
panheiro; vas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursa-
- receber propina, comissão, presente ou vantagem de qual- dos para assumir cargo ou emprego, na carreira;
quer espécie, em razão de suas atribuições; V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servi-
- aceitar comissão, emprego ou pensão de estado estrangeiro; dores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem
- praticar usura sob qualquer de suas formas; preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e per-
- proceder de forma desidiosa; centuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribui-
- utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em servi- ções de direção, chefia e assessoramento;
ços ou atividades particulares; VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre asso-
- cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo que ciação sindical;
ocupa, exceto em situações de emergência e transitórias; VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites
- exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o definidos em lei específica;
exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho; VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos
- recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solicita- para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de
do. sua admissão;
IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo de-
Infrações e Sanções Administrativas/Penalidades terminado para atender a necessidade temporária de excepcional
Os servidores públicos de cada âmbito - União, Estados, Distrito interesse público;
Federal e Municípios - têm um Estatuto próprio. Quanto aos agen- X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que
tes públicos Federais rege a Lei nº 8.112/1990, já o regimento dos trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por
demais depende de cada Estado/Município. lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, asse-
Devido ao princípio da Legalidade, todos os agentes devem fa- gurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção
zer aquilo que está restrito em lei, e caso algum deles descumpram de índices;
a legislação, ocorre uma infração administrativa, pelo poder discipli-
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, fun-
nar, os agentes infratores estão sujeitos a penalidades, que podem
ções e empregos públicos da administração direta, autárquica e
ser: advertência, suspensão, demissão, cassação de aposentadoria
fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos
ou disponibilidade, destituição de cargo em comissão e destituição
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de
de função comissionada.
Para uma aplicação de penalidade justa deve ser considerada mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pen-
a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela sões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente
provierem para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra na-
atenuantes e os antecedentes funcionais. tureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos
É necessário que cada penalidade imposta mencione o funda- Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite,
mento legal e a causa da sanção disciplinar. nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito
Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Exe-
DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS cutivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do
A Constituição Federal, em capítulo específico determina as Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de
diretrizes a serem adotadas pela Administração Pública no trata- Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por
mento de normas específicas aos ocupantes de cargos e empregos cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo
públicos da Administração Direta ou Indireta. Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite
Vejamos os dispositivos constitucionais relativos ao tema. aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defen-
sores Públicos;

315
DIREITO ADMINISTRATIVO
XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder III - a disciplina da representação contra o exercício negligente
Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Execu- ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública.
tivo; § 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a sus-
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer es- pensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indispo-
pécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do nibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e grada-
serviço público; ção previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público § 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos pra-
não serão computados nem acumulados para fins de concessão de ticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos
acréscimos ulteriores; ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.
XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e em- § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito priva-
pregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos incisos XI do prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que
e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em § 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocu-
qualquer caso o disposto no inciso XI: pante de cargo ou emprego da administração direta e indireta que
a) a de dois cargos de professor; possibilite o acesso a informações privilegiadas.
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico; § 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser
saúde, com profissões regulamentadas; ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administra-
XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e funções dores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de
e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre:
economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta I - o prazo de duração do contrato;
ou indiretamente, pelo poder público; II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direi-
XVIII - a administração fazendária e seus servidores fiscais te- tos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes;
rão, dentro de suas áreas de competência e jurisdição, precedência III - a remuneração do pessoal.
sobre os demais setores administrativos, na forma da lei; § 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas e às
XIX - somente por lei específica poderá ser criada autarquia e sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem
autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de econo- recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Muni-
mia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último cípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em
caso, definir as áreas de sua atuação; geral.
XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a cria- § 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de apo-
ção de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, sentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a re-
assim como a participação de qualquer delas em empresa privada; muneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos
serviços, compras e alienações serão contratados mediante pro- e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e
cesso de licitação pública que assegure igualdade de condições a exoneração.
todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações § 11. Não serão computadas, para efeito dos limites remunera-
de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos ter- tórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, as parcelas de
mos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação caráter indenizatório previstas em lei.
técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das § 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo,
obrigações. fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu âmbito,
XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgânica, como
Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funciona- limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do respectivo
mento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas, Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco cen-
terão recursos prioritários para a realização de suas atividades e tésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros do Supremo
atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento de Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo aos
cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio. subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores.
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e cam- § 13. O servidor público titular de cargo efetivo poderá ser rea-
panhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informa- daptado para exercício de cargo cujas atribuições e responsabilida-
tivo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, des sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua
símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de auto- capacidade física ou mental, enquanto permanecer nesta condição,
ridades ou servidores públicos. desde que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos
§ 2º A não observância do disposto nos incisos II e III implicará a para o cargo de destino, mantida a remuneração do cargo de ori-
nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos gem.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
da lei. § 14. A aposentadoria concedida com a utilização de tempo
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na de contribuição decorrente de cargo, emprego ou função pública,
administração pública direta e indireta, regulando especialmente: inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o rom-
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos pimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição.
em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade § 15. É vedada a complementação de aposentadorias de ser-
dos serviços; vidores públicos e de pensões por morte a seus dependentes que
II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a infor- não seja decorrente do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40 ou que
mações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X não seja prevista em lei que extinga regime próprio de previdência
e XXXIII; social. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)

316
DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundação, para aplicação no desenvolvimento de programas de
e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as se- qualidade e produtividade, treinamento e desenvolvimento, mo-
guintes disposições: dernização, reaparelhamento e racionalização do serviço público,
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade.
ficará afastado de seu cargo, emprego ou função; § 8º A remuneração dos servidores públicos organizados em
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º.
emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remunera- § 9º É vedada a incorporação de vantagens de caráter tempo-
ção; rário ou vinculadas ao exercício de função de confiança ou de cargo
III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibili- em comissão à remuneração do cargo efetivo. (Incluído pela Emen-
dade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego da Constitucional nº 103, de 2019)
ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores
havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior; titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidário,
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores
de mandato eletivo, seu tempo de serviço será contado para todos ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que
os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento; preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (Redação dada pela
V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previ- Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
dência social, permanecerá filiado a esse regime, no ente federativo § 1º O servidor abrangido por regime próprio de previdência
de origem. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de social será aposentado: (Redação dada pela Emenda Constitucional
2019) nº 103, de 2019)
I - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em
SEÇÃO II que estiver investido, quando insuscetível de readaptação, hipótese
DOS SERVIDORES PÚBLICOS em que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para
verificação da continuidade das condições que ensejaram a conces-
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios são da aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federativo;
instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
e planos de carreira para os servidores da administração pública II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo
direta, das autarquias e das fundações públicas. (Vide ADIN nº de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta
2.135-4) e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar;
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos de idade,
instituirão conselho de política de administração e remuneração de se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem,
pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Po- e, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na
deres. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) idade mínima estabelecida mediante emenda às respectivas Cons-
(Vide ADIN nº 2.135-4) tituições e Leis Orgânicas, observados o tempo de contribuição e os
§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais compo- demais requisitos estabelecidos em lei complementar do respectivo
nentes do sistema remuneratório observará: ente federativo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103,
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos de 2019)
cargos componentes de cada carreira; § 2º Os proventos de aposentadoria não poderão ser inferiores
II - os requisitos para a investidura; ao valor mínimo a que se refere o § 2º do art. 201 ou superiores
III - as peculiaridades dos cargos. ao limite máximo estabelecido para o Regime Geral de Previdência
§ 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas Social, obser vado o disposto nos §§ 14 a 16. (Redação dada pela
de governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos requisi- § 3º As regras para cálculo de proventos de aposentadoria se-
tos para a promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração rão disciplinadas em lei do respectivo ente federativo. (Redação
de convênios ou contratos entre os entes federados. dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o dis- § 4º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados
posto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, para concessão de benefícios em regime próprio de previdência so-
XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de cial, ressalvado o disposto nos §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º. (Redação
admissão quando a natureza do cargo o exigir. dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os § 4º-A. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do res-
Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão pectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferencia-
remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela úni- dos para aposentadoria de servidores com deficiência, previamente
ca, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por equipe multi-
prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, profissional e interdisciplinar. (Incluído pela Emenda Constitucional
obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. nº 103, de 2019)
§ 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni- § 4º-B. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do res-
cípios poderá estabelecer a relação entre a maior e a menor remu- pectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferencia-
neração dos servidores públicos, obedecido, em qualquer caso, o dos para aposentadoria de ocupantes do cargo de agente peniten-
disposto no art. 37, XI. ciário, de agente socioeducativo ou de policial dos órgãos de que
§ 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário publicarão tratam o inciso IV do caput do art. 51, o inciso XIII do caput do art.
anualmente os valores do subsídio e da remuneração dos cargos e 52 e os incisos I a IV do caput do art. 144. (Incluído pela Emenda
empregos públicos. Constitucional nº 103, de 2019)
§ 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni- § 4º-C. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do
cípios disciplinará a aplicação de recursos orçamentários provenien- respectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferen-
tes da economia com despesas correntes em cada órgão, autarquia ciados para aposentadoria de servidores cujas atividades sejam

317
DIREITO ADMINISTRATIVO
exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e bio- intermédio de entidade fechada de previdência complementar ou
lógicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada de entidade aberta de previdência complementar. (Redação dada
a caracterização por categoria profissional ou ocupação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 16 - Somente mediante sua prévia e expressa opção, o dis-
§ 5º Os ocupantes do cargo de professor terão idade mínima posto nos § § 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver in-
reduzida em 5 (cinco) anos em relação às idades decorrentes da gressado no serviço público até a data da publicação do ato de ins-
aplicação do disposto no inciso III do § 1º, desde que comprovem tituição do correspondente regime de previdência complementar.
tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação § 17. Todos os valores de remuneração considerados para o cál-
infantil e no ensino fundamental e médio fixado em lei comple- culo do benefício previsto no § 3° serão devidamente atualizados,
mentar do respectivo ente federativo. (Redação dada pela Emenda na forma da lei.
Constitucional nº 103, de 2019) § 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentado-
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos rias e pensões concedidas pelo regime de que trata este artigo que
acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada a percepção de superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime
mais de uma aposentadoria à conta de regime próprio de previdên- geral de previdência social de que trata o art. 201, com percentual
cia social, aplicando-se outras vedações, regras e condições para a igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos.
acumulação de benefícios previdenciários estabelecidas no Regime § 19. Observados critérios a serem estabelecidos em lei do
Geral de Previdência Social. (Redação dada pela Emenda Constitu- respectivo ente federativo, o servidor titular de cargo efetivo que
cional nº 103, de 2019) tenha completado as exigências para a aposentadoria voluntária e
§ 7º Observado o disposto no § 2º do art. 201, quando se tratar que opte por permanecer em atividade poderá fazer jus a um abo-
da única fonte de renda formal auferida pelo dependente, o be- no de permanência equivalente, no máximo, ao valor da sua con-
nefício de pensão por morte será concedido nos termos de lei do tribuição previdenciária, até completar a idade para aposentadoria
respectivo ente federativo, a qual tratará de forma diferenciada a compulsória. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de
hipótese de morte dos servidores de que trata o § 4º-B decorrente 2019)
de agressão sofrida no exercício ou em razão da função. (Redação § 20. É vedada a existência de mais de um regime próprio de
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) previdência social e de mais de um órgão ou entidade gestora des-
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preser- se regime em cada ente federativo, abrangidos todos os poderes,
var-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios órgãos e entidades autárquicas e fundacionais, que serão responsá-
estabelecidos em lei. veis pelo seu financiamento, observados os critérios, os parâmetros
§ 9º O tempo de contribuição federal, estadual, distrital ou e a natureza jurídica definidos na lei complementar de que trata o
municipal será contado para fins de aposentadoria, observado o § 22. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
disposto nos §§ 9º e 9º-A do art. 201, e o tempo de serviço corres- § 21. A contribuição prevista no § 18 deste artigo incidirá ape-
pondente será contado para fins de disponibilidade. (Redação dada nas sobre as parcelas de proventos de aposentadoria e de pensão
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) que superem o dobro do limite máximo estabelecido para os bene-
§ 10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de conta- fícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201
gem de tempo de contribuição fictício. desta Constituição, quando o beneficiário, na forma da lei, for por-
§ 11 - Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma total dos tador de doença incapacitante (Incluído pela Emenda Constitucio-
proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes da acumu- nal nº 47, de 2005) (Revogado pela Emenda Constitucional nº 103,
lação de cargos ou empregos públicos, bem como de outras ativi- de 2019) (Vigência) (Vide Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
dades sujeitas a contribuição para o regime geral de previdência § 22. Vedada a instituição de novos regimes próprios de previ-
social, e ao montante resultante da adição de proventos de inativi- dência social, lei complementar federal estabelecerá, para os que
dade com remuneração de cargo acumulável na forma desta Cons- já existam, normas gerais de organização, de funcionamento e de
tituição, cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e responsabilidade em sua gestão, dispondo, entre outros aspectos,
exoneração, e de cargo eletivo. sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 12. Além do disposto neste artigo, serão observados, em re- I - requisitos para sua extinção e consequente migração para o
gime próprio de previdência social, no que couber, os requisitos e Regime Geral de Previdência Social; (Incluído pela Emenda Consti-
critérios fixados para o Regime Geral de Previdência Social. (Reda- tucional nº 103, de 2019)
ção dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) II - modelo de arrecadação, de aplicação e de utilização dos re-
§ 13. Aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, de cursos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exonera- III - fiscalização pela União e controle externo e social; (Incluído
ção, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, ou de pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
emprego público, o Regime Geral de Previdência Social. (Redação IV - definição de equilíbrio financeiro e atuarial; (Incluído pela
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios ins- V - condições para instituição do fundo com finalidade previ-
tituirão, por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, regime denciária de que trata o art. 249 e para vinculação a ele dos recur-
de previdência complementar para servidores públicos ocupantes sos provenientes de contribuições e dos bens, direitos e ativos de
de cargo efetivo, observado o limite máximo dos benefícios do Re- qualquer natureza; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de
gime Geral de Previdência Social para o valor das aposentadorias e 2019)
das pensões em regime próprio de previdência social, ressalvado VI - mecanismos de equacionamento do deficit atuarial; (Inclu-
o disposto no § 16. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº ído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
103, de 2019) VII - estruturação do órgão ou entidade gestora do regime, ob-
§ 15. O regime de previdência complementar de que trata o § servados os princípios relacionados com governança, controle inter-
14 oferecerá plano de benefícios somente na modalidade contribui- no e transparência; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103,
ção definida, observará o disposto no art. 202 e será efetivado por de 2019)

318
DIREITO ADMINISTRATIVO
VIII - condições e hipóteses para responsabilização daqueles pécies. Está-se diante de atividade na qual o poder de fiscalização,
que desempenhem atribuições relacionadas, direta ou indiretamen- o poder de polícia fazem- se com envergadura ímpar, exigindo, por
te, com a gestão do regime; (Incluído pela Emenda Constitucional isso mesmo, que aquele que a desempenhe sinta-se seguro, atue
nº 103, de 2019) sem receios outros, e isso pressupõe a ocupação de cargo público
IX - condições para adesão a consórcio público; (Incluído pela (…). Em suma, não se coaduna com os objetivos precípuos das agên-
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) cias reguladoras, verdadeiras autarquias, embora de caráter espe-
X - parâmetros para apuração da base de cálculo e definição cial, a flexibilidade inerente aos empregos públicos, impondo-se a
de alíquota de contribuições ordinárias e extraordinárias. (Incluído adoção da regra que é revelada pelo regime de cargo público, tal
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) como ocorre em relação a outras atividades fiscalizadoras — fiscais
Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os ser- do trabalho, de renda, servidores do Banco Central, dos Tribunais
vidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de de Contas etc.”
concurso público.
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo: Portanto, muito embora não tenha previsão legal, o entendi-
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado mento construído pela doutrina e jurisprudência entende que o
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegu- emprego público, de natureza contratual (CLT) é incompatível com
rada ampla defesa; a atividade a ser desenvolvida quando se exige a incidência de ato
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desem- com poder de polícia. O cargo público, sim, é cercado de garantias
penho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa. institucionais, destinadas a dar proteção e independência ao servi-
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor dor para prestar a manifestação do Estado quando no exercício do
estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se es- Poder de Polícia.
tável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização,
aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade com re- REGIME CONSTITUCIONAL DOS SERVIDORES PÚBLICOS
muneração proporcional ao tempo de serviço.
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o ser- Concurso público
vidor estável ficará em disponibilidade, com remuneração propor- Via de regra, para que ocorra a legal investidura em cargou ou
cional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em emprego público é necessária prévia aprovação em concurso de
outro cargo. prova ou de provas e títulos, levando em consideração a natureza e
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obriga- a complexidade do cargo ou emprego.Quanto as normas constitu-
tória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída cionais acerca da obrigatoriedade de concurso para o preenchimen-
para essa finalidade. to de cargos públicos
A jurisprudência é pacífica quanto a necessidade de aprovação
EXERCÍCIO DO PODER DE POLÍCIA POR SERVIDORES CELETISTA previa em concurso público para ocupar cargo na estrutura admi-
A Polícia Administrativa é manifestada por meio de atos norma- nistrativa.
tivos e de alcance geral, bem como de atos concretos e específicos. Súmula Vinculante 43 É inconstitucional toda modalidade de
Além disso, outra característica marcante dos atos expedidos provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia apro-
por força da Polícia Administrativa são os atos revestidos de contro- vação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo
le e fiscalização. que não integra a carreira na qual anteriormente investido.
A atividade administrativa que envolve atos fiscalizadores e de
controle , os quais a Administração Pública pretende a prevenção Exceção: As nomeação efetuadas pela Administração Pública
de atos lesivos ao bem estar social ou saúde pública não podem ser para preenchimento de cargo em comissão declarado em lei de li-
proferidos por servidores com regime contratual – CLT. vre nomeação e exoneração dispensa a realização e aprovação em
Esta é a grande polêmica envolvendo a prática de atos admi- concurso público.
nistrativos revestidos de Poder de Polícia quando praticados por O concurso público terá prazo de validade de até dois anos,
servidores celetistas. podendo ser prorrogável uma única vez por igual período. Em ho-
Conforme ressaltado pela melhor doutrina, Celso António Ban- menagem ao princípio constitucional da impessoalidade, durante o
deira de Mello afirma que “o regime normal dos servidores públicos prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele que
teria mesmo de ser o estatutário, pois este (ao contrário do regime for aprovado será convocado com prioridade sobre novos concursa-
trabalhista) é o concebido para atender a peculiaridades de um vín- dos para assumir cargo ou emprego.
culo no qual não estão em causa tão-só interesses empregatícios,
mas onde avultam interesses públicos são os próprios instrumentos Direito de acesso aos cargos, empregos e funções públicas
de atuacão do Estado”. A Constituição Federal estabelece o Princípio da Ampla Aces-
A jurisprudência já se manifestou neste sentido no julgamento sibilidade aos cargos, funções e empregos públicos aos brasileiros
da cautelar da ADin no 2.310, o Supremo examinou a lei que trata que preencham os requisitos estabelecidos em lei específica, bem
dos agentes públicos de agências reguladoras (Lei no 9.985/2000), como aos estrangeiros, na forma da lei.
e ali se posicionou contrário à contratação de servidores em regime Tal princípio que garante a ampla acessibilidade tem por objeti-
celetista para a execução de atos revestidos com o Poder de Polícia vo proporcionar iguais oportunidades de disputar, por meio de con-
no ato de fiscalização. De acordo com o ministro Marco Aurélio, re- curso público, o preenchimento em cargos ou empregos públicos
lator: na Administração Direta ou Indireta.
“...prescindir, no caso, da ocupação de cargos públicos, com os
direitos e garantias a eles inerentes, é adotar flexibilidade incompa- Requisito de inscrição e requisitos de cargos
tível com a natureza dos serviços a serem prestados, igualizando os Nas regras gerais constantes nos editais de concursos públicos
servidores das agências a prestadores de serviços subalternos, dos é vedada a inclusão de cláusulas discriminatórias entre brasileiros
quais não se exige, até mesmo, escolaridade maior, como são ser- natos e naturalizados, salvo para preenchimento de cargos específi-
ventes, artífices, mecanógrafos, entre outros. Atente-se para as es- cos mencionados no artigo 12, § 3º da Constituição Federal.

319
DIREITO ADMINISTRATIVO
Artigo 12. Art. 5º
[...] [...]
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
I - de Presidente e Vice-Presidente da República; ou ameaça a direito;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal; Esta, inclusive, se configura em função típica do Poder Judici-
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; ário, exercer o controle legal dos atos editados pela ente estatal,
V - da carreira diplomática; como forma de controle externo da Administração Pública.
VI - de oficial das Forças Armadas. Neste contexto, ainda é complexa a discussão sobre a legiti-
VII - de Ministro de Estado da Defesa. midade do Poder Judiciário exercer revisão judicial de questões e
resultados em provas de concurso público.
Ademais, em decorrência do mandamento constitucional do É crescente a demanda de candidatos que buscam na tutela do
artigo 7º, XXX, em princípio não seria admissível restrições de con- Poder Judiciário a revisão de resultados de concursos públicos, atri-
crrencia em concurso público por motivos de idade ou sexo para buindo as bancas organizadoras, entre outros argumentos, a carên-
a regular admissão em cargos e empregos públicos, no entanto, o cia de razoabilidade, proporcionalidade, isonomia e transparência
mencionado artigo constitucional prevê a possibilidade de se insti- durante a realização do certame.
tuírem requisitos específicos e diferenciados de admissão quando A jurisprudência dos nossos Tribunais tem-se orientado no sen-
a natureza do cargo assim exigir. Exemplo: Teste de Aptidão Física tido de que só são passíveis de reexame judicial as questões cuja
– TAF - permite exigência sequência de exercícios fisicos diferencia- impugnação se funda na ilegalidade da avaliação ou dos graus con-
dos entre homens e mulheres. feridos pelos examinadores ou ainda a ausência de impessoalidade
Quanto aos requisitos específicos para investidura em cargos dedicada nas provas com privilégios exorbitantes a determinados
públicos, a Lei 8.112/90, em seu artigo 5º assim determina: candidatos, com a exclusão arbitrária de outros.
Nos Estados de Direito, em que vige o princípio da legalidade,
Art. 5o São requisitos básicos para investidura em cargo público: não há espaço para arbitrariedades estatais, ao impor a Ordem Jurí-
I - a nacionalidade brasileira; dica, não ficando de toda sorte excluída da apreciação judicial toda
II - o gozo dos direitos políticos; lesão ou ameaça a direito, inclusive quanto ao possível reexame
III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais; judicial de atos praticados durante os concursos públicos ou pro-
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo; cessos de seleção.
V - a idade mínima de dezoito anos;
VI - aptidão física e mental. Da investidura do servidor público
A investidura em cargo público, mesmo nos casos em que o
Ainda em homenagem ao Princípio da Acessibilidade aos car- cargo não é vitalício ou em comissão, terá que ser necessariamente
gos e empregos públicos, o texto constitucional determina que a lei efetivo.
deverá reservar percentual do total das vagas a serem preenchidas Embora em menor escala que nos cargos vitalícios, os cargos
por concurso público de cargos e empregos públicos para as pesso- efetivos também proporcionam segurança a seus titulares; a perda
as portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão. do cargo, segundo art. 41, §1º da Constituição Federal, só poderá
ocorrer, quando estáveis, se houver sentença judicial ou processo
Invalidação do concurso administrativo em que se lhes faculte ampla defesa, e agora tam-
Conforme mencionado, os concursos públicos devem ser rea- bém em virtude de avaliação negativa de desempenho durante o
lizados previamente para o preenchimento de cargos e empregos período de estágio probatório.
públicos, devendo para tanto dispensar tratamento impessoal e Isso lhe garante que, uma vez legalmente investido em cargo
igualitário entre os interessados, sendo certo que a ausência desse público passa a ser representante do Estado nas manifestações
tratamento causaria fraude a ordem constitucional de realização de proferidas durante o exercício do cargo, e assim, passa a gozar de
concurso público. prerrogativas especiais (típicas de direito público) com o objetivo de
Neste contexto, são inválidas as disposições constantes em edi- satisfazer as demandas coletivas.
tais ou normas de admissão em cargos e empregos públicos que
desvirtuam as finalidades da realização do concurso público. Estágio experimental, estágio probatório e Estabilidade
Caso se identifique qualquer norma ou cláusula constante em O instituto da Estabilidade corresponde à proteção ao ocupan-
edital que inviabilize ou dificulte a ampla participação daqueles que te do cargo, garantindo, não de forma absoluta, a permanência no
preencham os requisitos mínimos ou então que direcione, de qual- Serviço Público, o que permite a execução regular de suas ativida-
quer forma, com o objetivo de beneficiar ou prejudicar alguém em des, visando exclusivamente o alcance do interesse coletivo.
concurso público poderá acarretar na invalidação de todo o certa-
me. No entanto, para se conquistar a estabilidade prevista constitu-
O direito à revisão judicial de provas e exames seletivos à luz cionalmente é necessário superar a etapa de estágio experimental
dos tribunais pátrios ou também chamada de estágio probatório, que pressupõe a reali-
zação de avaliação de desempenho e transpor o período de 3 (três)
O controle judicial dos atos administrativos é preceito básico anos de efetivo desempenho da função.
do Estado de Direito com status de garantia constitucional, nos ter- A Avaliação de Desempenho é uma importante ferramenta de
mos do que estabelece o artigo 5º, XXXV da Constituição Federal Gestão de Pessoas que corresponde a uma análise sistemática do
de 1988. desempenho do profissional em função das atividades que realiza,
das metas estabelecidas, dos resultados alcançados e do seu poten-
cial de desenvolvimento.

320
DIREITO ADMINISTRATIVO
VI - aptidão física e mental, comprovada mediante exames mé-
REGIME JURÍDICO DO MILITAR ESTADUAL: ESTATUTO dicos, testes físicos e exames psicológicos, na forma prevista em
DOS POLICIAIS MILITARES DO ESTADO DA BAHIA (LEI edital;
ESTADUAL Nº 7.990, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2001 - VII - possuir estatura mínima de 1,60 m para candidatos do
ARTS 1º AO 59) sexo masculino e 1,55 m para as candidatas do sexo feminino;
VIII - possuir a escolaridade ou formação profissional exigida
ao acompanhamento do curso de formação a que se candidata, na
LEI Nº 7.990 DE 27 DE DEZEMBRO DE 2001 forma prevista em edital.
IX -possuir Carteira Nacional de Habilitação válida, categoria B.
Dispõe sobre o Estatuto dos Policiais Militares do Estado da Inciso IX acrescido pelo art. 6º da Lei nº 11.356, de 06 de janei-
Bahia e dá outras providências. ro de 2009.
Art. 6º - O ingresso na Polícia Militar é assegurado aos aprova-
O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, faço saber que a As- dos em concurso público de provas ou de provas e títulos, median-
sembleia Legislativa decreta e eu sanciono a seguinte Lei: te matrícula em curso profissionalizante, observadas as condições
prescritas nesta Lei, nos Regulamentos e nos respectivos editais de
TÍTULO I concurso da Instituição.
GENERALIDADES
SEÇÃO II
CAPÍTULO I DO COMPROMISSO POLICIAL MILITAR
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 7º - Todo cidadão, após ingressar na Polícia Militar, presta-
Art. 1º - Este Estatuto regula o ingresso, as situações institucio- rá compromisso de honra, no qual afirmará a sua aceitação cons-
nais, as obrigações, os deveres, direitos, garantias e prerrogativas ciente das obrigações e dos deveres policiais militares e manifestará
dos integrantes da Polícia Militar do Estado da Bahia. a sua firme disposição de bem cumpri-los.
Art. 2º - Os integrantes da Polícia Militar do Estado da Bahia Art. 8º - O compromisso a que se refere o artigo anterior terá
constituem a categoria especial de servidores públicos militares es- caráter solene e será prestado pelo policial militar na presença da
taduais denominados policiais militares, cuja carreira é integrada tropa, no ato de sua investidura, conforme os seguintes dizeres: “Ao
por cargos técnicos estruturados hierarquicamente. ingressar na Polícia Militar do Estado da Bahia, prometo regular a
Art. 3º - A hierarquia e a disciplina são a base institucional da minha conduta pelos preceitos da moral, cumprir rigorosamente
Polícia Militar. as ordens legais das autoridades a que estiver subordinado e de-
§ 1º - A hierarquia policial militar é a organização em carreira dicar-me inteiramente ao serviço policial militar, à manutenção da
da autoridade em níveis diferentes, dentro da estrutura da Polícia ordem pública e à segurança da sociedade mesmo com o risco da
Militar, consubstanciada no espírito de acatamento à sequência de própria vida”.
autoridade. Parágrafo único - Ao ser promovido ou nomeado ao primeiro
§ 2º - Disciplina é a rigorosa observância e o acatamento inte- posto, o Oficial prestará compromisso, em solenidade especial, nos
gral das leis, regulamentos, normas e disposições que fundamen- seguintes termos: “Perante as Bandeiras do Brasil e da Bahia, pela
tam o organismo policial militar e coordenam seu funcionamento minha honra, prometo cumprir os deveres de Oficial da Polícia Mi-
regular e harmônico, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do litar do Estado da Bahia e dedicar-me inteiramente ao seu serviço”.
dever por parte de todos e de cada um dos componentes desse
organismo. CAPÍTULO III
§ 3º - A disciplina e o respeito à hierarquia devem ser observa- DA HIERARQUIA POLICIAL MILITAR
dos e mantidos em todas as circunstâncias da vida, entre os policiais
militares. SEÇÃO I
Art. 4º - A situação jurídica dos policiais militares é definida pe- DA ESCALA HIERÁRQUICA
los dispositivos constitucionais que lhe forem aplicáveis, por este
Estatuto e por legislação específica e peculiar que lhes outorguem Art. 9º - Os postos e graduações da escala hierárquica são os
direitos e prerrogativas e lhes imponham deveres e obrigações. seguintes:
I - Oficiais:
CAPÍTULO II a) Coronel PM;
DO INGRESSO NA POLÍCIA MILITAR b) Tenente Coronel PM;
c) Major PM;
SEÇÃO I d) Capitão PM;
DOS REQUISITOS E CONDIÇÕES PARA O INGRESSO e) 1º Tenente PM.
II - Praças Especiais:
Art. 5º - São requisitos e condições para o ingresso na Polícia a) Aspirante-a-Oficial PM;
Militar: b) Aluno-a-Oficial PM;
I - ser brasileiro nato ou naturalizado; c) Aluno do Curso de Formação de Sargentos PM;
II - ter o mínimo de dezoito e o máximo de trinta anos de idade; d) Aluno do Curso de Formação de Cabos PM;
III - estar em dia com o Serviço Militar Obrigatório; e) Aluno do Curso de Formação de Soldados PM.
IV - ser eleitor e achar-se em gozo dos seus direitos políticos; Redação de acordo com o art. 6º da Lei nº 11.356, de janeiro
V - possuir idoneidade moral, comprovada por meio de folha de 2009.
corrida policial militar e judicial, na forma prevista em edital;

321
DIREITO ADMINISTRATIVO
Redação original: “II - Praças Especiais:a) Aspirante a Oficial a) o Aspirante Oficial é hierarquicamente superior aos praças;
PM;b) Aluno a Oficial PM;c) Aluno do Curso de Formação de Sar- b) o Aluno Oficial é hierarquicamente superior aos Subtenen-
gentos PM;d) Aluno do Curso de Formação de Soldados PM.” tes;
III - Praças: c) o Aluno do Curso de Formação de Sargentos é hierarquica-
a) Subtenente PM; mente superior ao Cabo.
b) 1º Sargento PM;
c) Cabo PM; TÍTULO II
d) Soldado 1ª Classe PM.
Redação de acordo com o art. 6º da Lei nº 11.356, de janeiro CAPÍTULO I
de 2009. DAS FORMAS DE PROVIMENTO
Redação original: “III - Praças:a) Sargento PM;b) Soldado PM
1ª Classe.” Art. 12 - São formas de provimento do cargo de policial militar:
Art. 10 - Posto é o grau hierárquico do Oficial, conferido por ato I - nomeação;
do Governador do Estado e registrado em Carta Patente; Graduação II - reversão;
é o grau hierárquico do Praça conferido pelo Comandante Geral da III - reintegração.
Polícia Militar. Art. 13 - A nomeação far-se-á em caráter permanente, quando
§ 1º - A todos os postos e graduações de que trata este artigo se tratar de provimento em cargo da carreira ou em caráter tempo-
será acrescida a designação “PM”. rário, para cargos de livre nomeação e exoneração.
§ 2º - Quando se tratar de policial militar dos Quadros Com- § 1º - A investidura nos cargos dar-se-á com a posse e o efetivo
plementar e Auxiliar, o posto será seguido da designação policial exercício com o desempenho das atribuições inerentes aos cargos.
militar e da abreviatura da especialidade. § 2º - São competentes para dar posse o Governador do Estado
§ 3º - Sempre que o policial militar da reserva remunerada ou e o Comandante Geral da Polícia Militar.
reformado fizer uso do posto ou graduação, deverá fazê-lo com as Art. 14 - A reversão é o ato pelo qual o Policial Militar retorna
abreviaturas indicadoras de sua situação. ao serviço ativo e ocorrerá nas seguintes hipóteses:
I - quando cessar o motivo que determinou a sua agregação,
SEÇÃO II devendo retornar à escala hierárquica, ocupando o lugar que lhe
DA PRECEDÊNCIA competir na respectiva escala numérica, na primeira vaga que ocor-
rer;
Art. 11 - A precedência entre policiais militares da ativa, do II - quando cessar o período de exercício de mandato eletivo,
mesmo grau hierárquico, é assegurada pela antiguidade no posto devendo retornar ao mesmo grau hierárquico ocupado e mesmo
ou graduação e pelo Quadro, salvo nos casos de precedência fun- lugar que lhe competir na escala numérica no momento de sua
cional estabelecida em Lei. transferência para a reserva remunerada.
§ 1º - A antiguidade em cada posto ou graduação é contada § 1º - O Policial Militar revertido nos termos do inciso II, deste
a partir da data da assinatura do ato da respectiva promoção ou
artigo, que for promovido, passará a ocupar o mesmo lugar na es-
nomeação, salvo quando for fixada outra data.
cala numérica, observado o novo grau hierárquico, sendo tal pre-
§ 2º - No caso do parágrafo anterior, havendo igualdade, a an-
visão aplicada, tão somente, à primeira promoção ocorrida após a
tiguidade será estabelecida:
reversão.
a) entre policiais militares do mesmo Quadro, pela posição, nas
§ 2º - A competência para a reversão será:
respectivas escalas numéricas ou registros existentes na Instituição;
I - da mesma autoridade que efetuou a agregação, nos termos
b) nos demais casos, pela antiguidade no posto ou graduação
do art. 26, desta Lei;
anterior se, ainda assim, subsistir a igualdade, recorrer-se-á, suces-
II - da autoridade competente para efetuar a transferência do
sivamente, aos graus hierárquicos anteriores, à data de praça e à
Policial Militar para a reserva remunerada, nos termos da legislação
data de nascimento para definir a precedência, sendo considerados
mais antigos, respectivamente, os de data de praça mais antiga e vigente.
de maior idade; § 3º - Na hipótese do inciso II do caput deste artigo, o retorno
c) entre os alunos de um mesmo órgão de formação de policiais ao serviço ativo deverá ocorrer no primeiro dia útil imediatamente
militares, de acordo com o regulamento do respectivo órgão, se não subsequente ao término do mandato eletivo.
estiverem especificamente enquadrados nas alíneas “a” e “b” deste § 4º - Não poderá haver interrupção entre o momento da trans-
parágrafo. ferência do Policial Militar para a inatividade, em razão do exercício
§ 3º - Nos casos de nomeação coletiva por conclusão de curso e de mandato eletivo, e o seu posterior retorno à Corporação, em
promoção ao primeiro posto ou graduação, prevalecerá, para efeito face do disposto no inciso II deste artigo.
de antiguidade, a ordem de classificação obtida no curso. § 5º - O disposto no parágrafo anterior não se aplica aos Poli-
§ 4º - Em igualdade de posto ou graduação, os policiais milita- ciais Militares que tenham exercido ou que se encontrem no exer-
res da ativa têm precedência sobre os da inatividade. cício de mandato eletivo estadual no momento da edição desta Lei,
§ 5º - Em igualdade de posto ou graduação, a precedência en- vedado o pagamento, em caráter retroativo, de diferenças remu-
tre os policiais militares de carreira na ativa e os convocados é de- neratórias de qualquer natureza em decorrência da aplicação do
finida pelo tempo de efetivo serviço no posto ou graduação destes. disposto neste parágrafo.
§ 6º - Em igualdade de posto, os Oficiais do Quadro de Seguran- § 6º - Para fins de reversão, prevista no inciso II deste artigo, é
ça terão precedência sobre os Oficiais do Quadro de Oficiais Auxilia- obrigatório que o Policial Militar não tenha atingido a idade limite
res da Polícia Militar e estes terão precedência sobre os Oficiais do de 60 (sessenta) anos.
Quadro Complementar de Oficiais Policiais Militares. Redação de acordo com o art. 3º da Lei nº 11.920, de 29 de
§ 7º - A precedência entre os Praças Especiais e aos demais é junho de 2010.
assim regulada:

322
DIREITO ADMINISTRATIVO
Redação original: “Art. 14 - A reversão é o ato pelo qual o poli- § 5º - A convocação de que trata este artigo possui caráter ex-
cial militar agregado retorna à escala hierárquica, tão logo cesse o cepcional e terá a duração de até 24 (vinte e quatro) meses, admi-
motivo que determinou a sua agregação, ocupando lugar que lhe tida 01 (uma) única prorrogação por igual período, vedado o exercí-
competir na respectiva escala numérica, na primeira vaga que ocor- cio de cargo ou função de comando, direção e chefia.
rer. § 6º - Não implicará em convocação, a nomeação para cargo
Parágrafo único - A competência para a reversão é da mesma em comissão.
autoridade que efetuou a agregação, nos termos do art. 26 desta § 7º - O policial militar convocado deverá atender aos seguintes
Lei.” requisitos:
Art. 15 - A reintegração é o retorno do policial militar demitido I -ter sido transferido para a reserva remunerada nos termos
ao cargo anteriormente ocupado ou o resultante de sua transfor- da lei;
mação, quando invalidado o ato de afastamento pela via judicial, II - ter aptidão física e mental para o exercício da atividade,
por sentença transitada em julgado, ou pela via administrativa, nos comprovada por inspeção de saúde, renovada anualmente;
termos do art. 91 desta Lei. III - não se encontrar em exercício de cargo, de função ou de
emprego público no âmbito do Estado da Bahia, da União, de outros
CAPÍTULO II Estados e de Municípios;
DAS SITUAÇÕES INSTITUCIONAIS DA POLÍCIA MILITAR IV - não estar respondendo a inquérito policial, processo disci-
plinar ou processo criminal.
Art. 16 - O policiais militares encontram-se organizados em car- § 8º - Sempre que a demanda exceder a oferta de vagas para
reira, em uma das seguintes situações institucionais: a convocação, o policial militar será selecionado atendendo aos se-
I - na ativa: guintes critérios, por ordem de preferência:
a) os de carreira; I -menor tempo de inatividade;
b) os convocados; II - menor idade;
c) os praças especiais. III - residência na área territorial de responsabilidade do órgão
d) os agregados; ou da entidade onde exercerá suas atividades;
e) os excedentes; IV - melhor comportamento quando da passagem para a ina-
f) os ausentes e desertores; tividade.
§ 9º - A dispensa antes do término do prazo fixado para a con-
g) os desaparecidos e extraviados.
vocação poderá ocorrer nas seguintes hipóteses:
II - na inatividade:
I - por requerimento do policial militar convocado;
a) os da reserva remunerada;
II - pelo não atendimento dos requisitos previstos no § 7º deste
b) os reformados.
artigo;
III - os da reserva não remunerada.
III - por ato do Governador, mediante solicitação fundamenta-
Art. 17 - O policial militar de carreira é aquele que se encontra
da do Comandante Geral, para garantia da hierarquia e disciplina;
no desempenho do serviço policial militar a partir da conclusão com
IV - pelo alcance da idade limite prevista para a reforma ex of-
aproveitamento, do respectivo curso de formação.
ficio;
Art. 18 - O policial militar da reserva remunerada, por conveni- V - quando cessada a necessidade do serviço.
ência da Administração, em caráter transitório e mediante aceita- § 10 - O policial militar convocado, além da indenização previs-
ção voluntária, poderá ser convocado para o serviço ativo, por ato ta no § 1º deste artigo, também fará jus:
do Governador do Estado. I - ao uso do uniforme e equipamentos;
§ 1º - O Policial Militar convocado nos termos deste artigo terá II - a diárias de viagem e transporte, nos termos da legislação
os direitos e deveres dos da ativa de igual situação hierárquica, ex- vigente;
ceto quanto à promoção, a qual não concorrerá, fazendo jus ao res- III - ao auxílio transporte e auxílio alimentação, nos termos da
pectivo acréscimo no seu tempo de serviço e a uma indenização no legislação vigente;
valor de 50% (cinquenta por cento) dos seus proventos, enquanto IV - a 30 (trinta) dias de descanso após 12 (doze) meses de exer-
perdurar a convocação. cício, não sendo devido o pagamento da indenização a que se refere
Redação de acordo com o art. 2º da Lei nº 10.957, de 02 de o § 1º deste artigo no período.
janeiro de 2008. § 11 - Durante o período da convocação, ficam os policiais mi-
Redação original: “§ 1º - O policial militar convocado nos ter- litares sujeitos às normas administrativas e de serviço em vigor nos
mos deste artigo terá os direitos e deveres dos da ativa de igual órgãos em que atuarem, e às normas de hierarquia e disciplina da
situação hierárquica, exceto quanto à promoção, a que não concor- Corporação.
rerá, fazendo jus ao respectivo acréscimo no seu tempo de serviço § 12 - O número de convocados nos termos deste artigo não
e a uma indenização no valor de 30% (trinta por cento) dos seus poderá ultrapassar o equivalente a 25% (vinte e cinco por cento) do
proventos, enquanto perdurar a convocação.” efetivo da Corporação.
§ 2º - A convocação de que trata este artigo terá a duração ne- § 13 - O policial militar convocado poderá ser designado para
cessária ao cumprimento da atividade ou missão que lhe deu ori- atuar nos Poderes Judiciário e Legislativo, no Ministério Público, na
gem e deverá ser precedida de inspeção de saúde, vedado o exercí- Defensoria Pública do Estado, no Tribunal de Contas do Estado e no
cio de cargo ou função de comando, direção e chefia. Tribunal de Contas dos Municípios, bem como nos Órgãos Federais
§ 3º - Não implicará em convocação a nomeação para cargo e de outros Estados e Municípios, mediante celebração de convênio
em comissão. do qual não resulte ônus para o Poder Executivo.
§ 4º - A indenização de que trata o § 1º deste artigo tem ca- Art. 19 - Os Praças Especiais são os Aspirantes a Oficial, Alunos
ráter transitório, devida apenas durante o período de convocação, dos diversos cursos de formação.
não constitui base de cálculo para qualquer vantagem, inclusive as Art. 20 - Integram a categoria dos Praças Especiais:
decorrentes de tempo de serviço e não é passível de incorporação I - os Aspirantes a Oficial;
aos proventos.

323
DIREITO ADMINISTRATIVO
II - os Alunos do Curso de Formação de Oficiais do Quadro de IX - se ver processar administrativamente ou através de proces-
Oficiais Policiais Militares; so judicial, após ficar exclusivamente à disposição da Justiça;
III - os Alunos do Curso de Formação de Oficiais do Quadro X - ter sido condenado a pena restritiva de liberdade superior
Complementar; a seis meses, por sentença transitada em julgado, enquanto durar
IV - os Alunos do Curso de Formação Oficiais Auxiliares; a execução, incluído o período de sua suspensão condicional, se
V - os Alunos do Curso de Formação de Sargentos; concedida esta, ou até ser declarado indigno de pertencer à Polícia
VI - os Alunos do Curso de Formação de Soldados. Militar ou com ela incompatível;
§ 1º - Equiparam-se aos Alunos do Curso de Formação de Ofi- XI - ter sido condenado à pena de suspensão do exercício do
ciais do Quadro de Oficiais Policiais Militares, os Alunos do Curso posto, graduação, cargo ou função prevista no Código Penal Militar
de Formação de Oficiais do Quadro de Oficiais Bombeiros Militares ou em outros diplomas legais, penais ou extra-penais;
realizados na Polícia Militar da Bahia ou em outras Instituições mi- XII - ter passado à disposição de órgão ou entidade da União,
litares. de outros Estados, do Estado ou do Município, para exercer cargo
§ 2º - Durante o período de realização do curso profissionali- ou função de natureza civil;
zante, os alunos oficiais receberão, a título de bolsa de estudo, o XIII - ter sido nomeado para qualquer cargo, emprego ou fun-
equivalente a 30% (trinta por cento) os do 1º ano, 35% (trinta e ção público civil temporário, não eletivo, inclusive da administração
cinco por cento) os do 2º ano e 40% (quarenta por cento) os do 3º indireta;
ano, da remuneração do posto de 1º Tenente. XIV - ter se candidatado a cargo eletivo, desde que conte dez ou
Redação de acordo com o art. 3º da Lei nº 11.920, de 29 de mais anos de serviço;
junho de 2010. XV - permanecer desaparecido por mais de trinta dias, na for-
Redação original: “§ 2º - Durante o período de realização do ma do art. 30 desta Lei.
curso profissionalizante, o Aluno Oficial receberá, a título de bolsa Parágrafo único - A agregação do policial militar é contada da
de estudo, o equivalente a 30% (trinta por cento) da remuneração seguinte forma:
do posto de Tenente e o Aluno a Soldado o equivalente a um salário a) nos casos dos incisos I, II e IV, a partir do primeiro dia após os
mínimo.” respectivos prazos e enquanto durar o evento;
§ 3º - Na hipótese de ser policial militar de carreira, o Aluno b) nos casos dos incisos III, V, VI VII, VIII, IX, X, XI e XV, a partir da
poderá optar pela percepção da bolsa de estudo de que trata o pa- data indicada no ato que tornar público o respectivo evento;
rágrafo anterior ou pela remuneração do seu posto ou graduação,
c) nos casos dos incisos XII e XIII, a partir da data da posse no
acrescida das vantagens pessoais.
cargo até o regresso à Polícia Militar ou transferência “ex officio”
Art. 21 - A agregação é a situação na qual o policial militar da
para a reserva;
ativa deixa de ocupar vaga na escala hierárquica de seu Quadro,
d) no caso do inciso XIV, a partir da data do registro como can-
nela permanecendo sem número.
Art. 22 - O policial militar será agregado e considerado, para didato até sua diplomação ou seu regresso à Polícia Militar, se não
todos os efeitos legais, como em serviço ativo, quando: houver sido eleito.
I - nomeado para cargo policial militar ou considerado de natu- Art. 24 - O policial militar agregado fica sujeito às obrigações
reza policial militar, estabelecido em Lei, não previsto no Quadro de disciplinares concernentes às suas relações com outros policiais mi-
Organização da Polícia Militar; litares e autoridades civis, salvo quando titular de cargo que lhe dê
II - estiver aguardando sua transferência, a pedido ou “ex offi- precedência funcional sobre outros policiais militares ou militares
cio”, para a reserva remunerada, por ter sido enquadrado em quais- mais graduados ou antigos.
quer dos requisitos que a motivarem. Art. 25 - O policial militar agregado ficará adido, para efeito de
§ 1º - A agregação do policial militar, no caso do inciso I, é con- alterações e remuneração, ao órgão de pessoal da Instituição, con-
tada a partir da data de posse no novo cargo até o regresso à Polícia tinuando a figurar no respectivo registro, sem número, no lugar que
Militar ou à transferência “ex officio” para a reserva remunerada. até então ocupava.
§ 2º - A agregação do policial militar, no caso do inciso II deste Parágrafo único - O policial militar agregado, quando no de-
artigo, é contada a partir da data indicada no ato que a torna pú- sempenho de cargo policial militar, ou considerado de natureza
blica. policial militar, concorrerá à promoção, por qualquer dos critérios,
Art. 23 - O policial militar será agregado quando for afastado, sem prejuízo do número de concorrentes regularmente estipulado.
temporariamente, do serviço ativo por motivo de: Art. 26 - A agregação se faz:
I - ter sido julgado incapacitado, temporariamente, para o ser- I - por ato do Governador do Estado ou da autoridade por ele
viço policial militar e submetido a gozo de licença para tratamento delegada, quanto aos Oficiais;
de saúde própria, a pedido ou ex officio, ou por motivo de acidente; II - por ato do Comandante Geral ou da autoridade por ele de-
II - ter ultrapassado doze meses em licença para tratamento de legada, quanto aos praças.
saúde própria; Art. 27 - Excedente é a situação transitória a que, automatica-
III - ter entrado em gozo de licença para tratar de interesse par- mente, passa o policial militar que:
ticular ou para acompanhar cônjuge ou companheiro; I - tendo cessado o motivo que determinou sua agregação, seja
IV - ter ultrapassado seis meses contínuos em gozo de licença revertido ao respectivo Quadro, estando o mesmo com seu efetivo
para tratar de saúde de pessoa da família;
completo;
V - ter sido julgado incapaz definitivamente, enquanto tramita
II - seja promovido por bravura, sem haver vaga;
o processo de reforma;
III - sendo o mais moderno da respectiva escala hierárquica, ul-
VI - ter sido considerado oficialmente extraviado;
trapasse o efetivo de seu Quadro, em virtude da promoção de outro
VII - ter-se esgotado o prazo que caracteriza o crime de deser-
ção previsto no Código Penal Militar, se oficial ou praça com estabi- policial militar em ressarcimento de preterição;
lidade assegurada; IV - tendo cessado o motivo que determinou sua reforma por
VIII - ter, como desertor, se apresentado voluntariamente, ou incapacidade, retorne ao respectivo Quadro, estando este com seu
ter sido capturado e reincluído a fim de se ver processar; efetivo completo.

324
DIREITO ADMINISTRATIVO
§ 1º - O policial militar, cuja situação é de excedente, ocupará CAPÍTULO III
a mesma posição relativa, em antiguidade, que lhe cabe na escala DA ESTABILIDADE
hierárquica e receberá o número que lhe competir, em consequên-
cia da primeira vaga que se verificar. Art. 35 - O policial militar, habilitado em concurso público e no-
§ 2º - O policial militar, na situação de excedente, é considerado meado para cargo de sua carreira, adquirirá estabilidade ao com-
para todos os efeitos como em efetivo serviço e a ele se aplicam, pletar três anos de efetivo exercício, desde que seja aprovado no es-
respeitados os requisitos legais, em igualdade de condições e sem tágio probatório, por ato homologado pela autoridade competente.
nenhuma restrição, as normas para indicação para cargo policial mi- Art. 36 - O estágio probatório compreende um período de trin-
litar, curso ou promoção. ta e seis meses, durante o qual serão observadas a aptidão e capa-
§ 3º - O policial militar, excedente por haver sido promovido cidade para o desempenho do cargo, observados, entre outros, os
por bravura sem haver vaga, ocupará a primeira vaga aberta, des- seguintes fatores:
locando o critério de promoção a ser seguido para a vaga seguinte. I - assiduidade;
Art. 28 - É considerado ausente o policial militar que, por mais II - disciplina;
de vinte e quatro horas consecutivas: III - observância das normas hierárquicas e ética militar;
I - deixar de comparecer à sua organização policial militar sem IV - responsabilidade;
comunicar motivo de impedimento; V - capacidade de adequação para cumprimento dos deveres
II - ausentar-se, sem licença, da organização policial militar militares;
onde serve ou do local onde deva permanecer; VI - eficiência.
III - deixar de se apresentar no lugar designado, findo o prazo § 1º - A autoridade competente terá o prazo improrrogável de
de trânsito ou férias; trinta dias para a homologação do resultado do estágio probatório.
IV - deixar de se apresentar à autoridade competente após a § 2º - O período em que o praça especial encontrar-se no curso
cassação ou término de licença ou agregação ou ainda no momento de formação será computado para o estágio probatório de que trata
em que é efetivada mobilização, declarado o estado de defesa, de este artigo.
sítio ou de guerra;
V - deixar de se apresentar a autoridade competente, após o TÍTULO III
término de cumprimento de pena. DA DEONTOLOGIA POLICIAL MILITAR
§ 1º - É também considerado ausente o policial militar que dei-
xar de se apresentar no momento da partida de comboio que deva CAPÍTULO I
integrar, por ocasião de deslocamento da unidade em que serve. DAS OBRIGAÇÕES POLICIAIS MILITARES
§ 2º - Decorrido o prazo mencionado neste artigo, serão adota-
das as providências cabíveis para a averiguação da ausência, obser- SEÇÃO I
vando-se os procedimentos disciplinares previstos neste Estatuto -DOS VALORES POLICIAIS MILITARES
e/ou criminais.
Art. 29 - O policial militar é considerado desertor nos casos pre- Art. 37 - São valores institucionais:
vistos na legislação penal militar. I - da organização:
Art. 30 - É considerado desaparecido o policial militar na ativa, a) a dignidade do homem;
assim declarado por ato do Comandante Geral, quando no desem- b) a disciplina;
penho de qualquer serviço, em viagem, em operação policial mili- c) a hierarquia;
tar ou em caso de calamidade pública, tiver paradeiro ignorado por d) a credibilidade;
mais de oito dias.
e) a ética;
Parágrafo único - A situação de desaparecimento só será consi-
f) a efetividade;
derada quando não houver indício de deserção.
g) a solidariedade;
h) a capacitação profissional;
Art. 31 - O policial militar que, na forma do artigo anterior, per-
i) a doutrina;
manecer desaparecido por mais de trinta dias, será oficialmente
j) a tradição.
considerado extraviado e agregado na forma do art. 23, inciso XV.
II - do profissional:
Art. 32 - O policial militar da reserva remunerada é aquele afas-
a) a eficiência e a eficácia;
tado do serviço que, nessa situação, perceba remuneração do Esta-
do, ficando sujeito à ação disciplinar da Instituição e à prestação de b) o espírito profissional;
serviços na ativa, nos termos do art. 18 deste Estatuto. c) a aparência pessoal;
Art. 33 - O policial militar reformado é o que está dispensado d) a auto-estima;
definitivamente da prestação do serviço ativo, percebendo remune- e) o profissionalismo;
ração pelo Estado e permanecendo sujeito ao controle disciplinar f) a bravura;
da Instituição. g) a solidariedade;
Art. 34 - O oficial militar da reserva não remunerada é aquele h) a dedicação.
ex-integrante do serviço ativo exonerado na forma do art. 186. Art. 38 - São manifestações essenciais dos valores policiais mi-
Parágrafo único - O oficial da reserva não remunerada não está litares:
sujeito à ação disciplinar da Instituição nem a convocação. I - o sentimento de servir à sociedade, traduzido pela vontade
de cumprir o dever policial militar e pelo integral devotamento à
preservação da ordem pública e à garantia dos direitos fundamen-
tais da pessoa humana;
II - o civismo e o respeito às tradições históricas;
III - a fé na elevada missão da Polícia Militar;
IV - o orgulho do policial militar pela Instituição;

325
DIREITO ADMINISTRATIVO
V - o amor à profissão policial militar e o entusiasmo com que TÍTULO IV
é exercida; DO REGIME DISCIPLINAR
VI - o aprimoramento técnico-profissional.
CAPÍTULO I
SEÇÃO II DOS DEVERES POLICIAIS MILITARES
DA ÉTICA POLICIAL MILITAR
SEÇÃO I
Art. 39 - O sentimento do dever, a dignidade policial militar e CONCEITUAÇÃO
o decoro da classe impõem a cada um dos integrantes da Polícia
Militar conduta moral e profissional irrepreensíveis, tanto durante o Art. 41 - Os deveres policiais militares emanam de um conjunto
serviço quanto fora dele, com observância dos seguintes preceitos de vínculos morais e racionais, que ligam o policial militar à pátria, à
da ética policial militar: Instituição e à segurança da sociedade e do ser humano, e compre-
I - amar a verdade e a responsabilidade como fundamento da endem, essencialmente:
dignidade pessoal; I - a dedicação integral ao serviço policial militar e a fidelidade
à Instituição a que pertence;
II - exercer com autoridade, eficiência, eficácia, efetividade e II - o respeito aos Símbolos Nacionais;
probidade as funções que lhe couberem em decorrência do cargo; III - a submissão aos princípios da legalidade, da probidade, da
III - respeitar a dignidade da pessoa humana; moralidade e da lealdade em todas as circunstâncias;
IV - cumprir e fazer cumprir as Leis, os regulamentos, as ins- IV - a disciplina e o respeito à hierarquia;
truções e as ordens das autoridades competentes, à exceção das V - o cumprimento das obrigações e ordens recebidas, salvo as
manifestamente ilegais; manifestamente ilegais;
V - ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na apreciação VI - o trato condigno e com urbanidade a todos;
do mérito dos subordinados; VII - o compromisso de atender com presteza ao público em
geral, prestando com solicitude as informações requeridas, ressal-
VI - zelar pelo preparo moral, intelectual e físico próprio e dos
vadas as protegidas por sigilo;
subordinados, tendo em vista o cumprimento da missão comum;
VIII - a assiduidade e pontualidade ao serviço, inclusive quando
VII - praticar a solidariedade e desenvolver permanentemente
convocado para cumprimento de atividades em horário extraordi-
o espírito de cooperação;
nário.
VIII - ser discreto em suas atitudes e maneiras e polido em sua
linguagem falada e escrita; SEÇÃO II
IX - abster-se de tratar de matéria sigilosa, de qualquer nature- DO COMANDO E DA SUBORDINAÇÃO
za, fora do âmbito apropriado;
X - cumprir seus deveres de cidadão; Art. 42 - Comando é a soma de autoridade, deveres e respon-
XI - manter conduta compatível com a moralidade administra- sabilidades de que o policial militar é investido legalmente, quando
tiva; conduz seres humanos ou dirige uma organização policial militar,
XII - comportar-se educadamente em todas as situações; sendo vinculado ao grau hierárquico e constitui uma prerrogativa
XIII - conduzir-se de modo que não sejam prejudicados os prin- impessoal, em cujo exercício o policial militar se define e se carac-
cípios da disciplina, do respeito e do decoro policial militar; teriza como chefe.
XIV - abster-se de fazer uso do posto ou da graduação para ob- Parágrafo único - Aplica-se aos Comandantes de Operações
ter facilidades pessoais de qualquer natureza ou para encaminhar Policiais Militares e de Bombeiros Militares, Comandantes de Poli-
negócios particulares ou de terceiros; ciamento Regional e Comandante de Policiamento Especializado, à
XV - abster-se, na inatividade, do uso das designações hierár- Direção, à Coordenação, à Chefia de Organização Policial Militar, no
quicas quando: que couber o estabelecido para o comando.
a) em atividade político-partidária; Redação de acordo com o art. 6º da Lei nº 11.356, de janeiro
b) em atividade comercial ou industrial; de 2009.
c) para discutir ou provocar discussões pela imprensa a respei- Redação original: “Parágrafo único - Aplica-se à direção, à coor-
to de assuntos políticos ou policiais militares, excetuando-se os de denação e à chefia de organização policial militar, no que couber, o
natureza exclusivamente técnica, se devidamente autorizado; estabelecido para o comando.”
d) no exercício de funções de natureza não policiais militares, Art. 43 - A subordinação é o respeito ao princípio da hierarquia,
mesmo oficiais. em face do qual as ordens dos superiores, salvo as manifestamente
XVI - zelar pelo bom conceito da Polícia Militar; ilegais, devem ser plena e prontamente acatadas.
XVII - zelar pela economia do material e a conservação do pa- Parágrafo único - A subordinação não afeta, de modo algum, a
dignidade pessoal do policial militar e decorre, exclusivamente, da
trimônio público.
estrutura hierarquizada da Polícia Militar.
Art. 40 - Ao policial militar da ativa é vedado comerciar ou to-
Art. 44 - As funções de comando, de chefia, de coordenação
mar parte na administração ou gerência de sociedade ou dela ser
e de direção de organização policial militar são privativas dos inte-
sócio ou participar, exceto como acionista ou quotista, em socieda-
grantes do Quadro de Oficiais Policiais Militares.
de anônima ou por quotas de responsabilidade limitada. § 1º - Compete aos Oficiais Auxiliares do Quadro de Oficiais
Parágrafo único - No intuito de aperfeiçoar a prática profissio- Auxiliares da Polícia Militar - QOAPM e do Quadro de Oficiais Auxi-
nal é permitido aos oficiais do Quadro Complementar de Oficiais liares Bombeiros Militares - QOABM o exercício de atividades ope-
Policiais Militares o exercício de sua atividade técnico-profissional racionais e administrativas, excetuando-se o comando de Unidades
no meio civil, desde que compatível com as atribuições do seu cargo e Subunidades e o subcomando de Unidades.
e com o horário de trabalho, respeitadas as limitações constitucio- Redação de acordo com o art. 3º da Lei nº 11.920, de 29 de
nais. junho de 2010.

326
DIREITO ADMINISTRATIVO
Redação original: “§ 1º - Os integrantes do Quadro de Oficiais CAPÍTULO II
Auxiliares da Polícia Militar exercerão funções auxiliares e comple- DA VIOLAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES E DOS DEVERES POLI-
mentares de Comando, de Chefia, de Coordenação e de direção de CIAIS MILITARES
organização policial militar.”
§ 2º - Aos integrantes do Quadro Complementar de Oficiais Po- SEÇÃO I
liciais Militares cabe, ao longo da carreira, o exercício das funções DA ATRIBUIÇÃO DE RESPONSABILIDADES.
técnicas de suas respectivas especialidades.
Art. 44-A - O Quadro de Oficiais Auxiliares da Polícia Militar - Art. 48 - O policial militar em função de comando responde
QOAPM e o Quadro de Oficiais Auxiliares Bombeiros Militares - QO- integralmente pelas decisões que tomar, pelas ordens que emitir,
ABM serão integrados por policiais militares oriundos do círculo de pelos atos que praticar, bem como pelas consequências que deles
praças, cujo acesso ocorrerá por promoção, preenchidos os requisi- advierem.
tos previstos neste Estatuto e em regulamento de conclusão e apro- § 1º - Cabe ao policial militar subordinado, ao receber uma or-
vação no respectivo Curso de Formação previsto em regulamento. dem, solicitar os esclarecimentos necessários ao seu total entendi-
§ 1º - O maior grau hierárquico do Quadro de Oficiais Auxiliares mento e compreensão.
da Polícia Militar - QOAPM e do Quadro de Oficiais Auxiliares Bom- § 2º - Cabe ao executante que exorbitar no cumprimento de or-
beiros Militares - QOABM é o Posto de Major. dem recebida, a responsabilidade pessoal e integral pelos excessos
e abusos que cometer.
§ 2º - Somente poderão concorrer à promoção ao posto de Ma- Art. 49 - A violação das obrigações ou dos deveres policiais mi-
jor do QOAPM e do QOABM os Capitães que possuam graduação litares poderá constituir crime ou transgressão disciplinar, segundo
em curso de nível superior reconhecido pelo Ministério da Educa-
disposto na legislação específica.
ção, preenchidos os demais requisitos legais, inclusive conclusão
Art. 50 - O policial militar responde civil, penal e administrativa-
com aproveitamento do Curso de Especialização no Serviço Público
mente pelo exercício irregular de suas atribuições.
- CESP promovido pela Polícia Militar.
§ 1º - A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou co-
Art. 44-A acrescido pelo art. 4º da Lei nº 11.920, de 29 de junho
de 2010. missivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo do erário ou de
Art. 45 - Os graduados auxiliam e complementam as atividades terceiros, na seguinte forma:
dos Oficiais no emprego de meios, na instrução e na administração a) a indenização de prejuízos causados ao erário será feita por
da Unidade, devendo ser empregados na supervisão da execução intermédio de imposição legal ou mandado judicial, sendo descon-
das atividades inerentes à missão institucional da Polícia Militar. tada em parcelas mensais não excedentes à terça parte da remune-
Parágrafo único - No exercício das suas atividades profissionais ração ou dos proventos do policial militar;
e no comando de subordinados, os Subtenentes, 1º Sargentos e Ver também:
Cabos deverão impor-se pela capacidade técnico-profissional, pelo Decreto nº 9.201, de 25 de outubro de 2004 - Disciplina o pro-
exemplo e pela lealdade, incumbindo-lhes assegurar a observância cedimento sobre as consignações em folha de pagamento dos ser-
minuciosa e ininterrupta das ordens, das regras de serviço e das vidores públicos dos órgãos da administração direta, das autarquias
normas operativas, pelos Praças que lhes estiverem diretamente e fundações do Poder Executivo Estadual de que tratam os arts. 57
subordinados, bem como a manutenção da coesão e do moral da e 58, da Lei nº 6.677, de 26 de setembro de 1994, art. 4º, da Lei nº
tropa, em todas as circunstâncias. 6.935, de 24 de janeiro de 1996, art. 50, § 1º, “a”, da Lei nº 7.990,
Redação de acordo com o art. 6º da Lei nº 11.356, de janeiro de 27 de dezembro de 2000, e dá outras providências.
de 2009. b) tratando-se de dano causado a terceiros, responderá o poli-
Redação original: “Parágrafo único - No exercício das suas ati- cial militar perante a Fazenda Pública, em ação regressiva, de inicia-
vidades profissionais e no comando de subordinados, os Sargentos tiva da Procuradoria Geral do Estado.
deverão impor-se pela capacidade técnico-profissional, pelo exem- § 2º - A responsabilidade penal abrange os crimes militares,
plo e pela lealdade, incumbindo-lhes assegurar a observância minu- bem como os crimes de competência da Justiça comum e as contra-
ciosa e ininterrupta das ordens, das regras de serviço e das normas venções imputados ao policial militar nessa qualidade.
operativas, pelos praças que lhes estiverem diretamente subordina- § 3º - A responsabilidade administrativa resulta de ato omissivo
das, bem como a manutenção da coesão e do moral da tropa, em ou comissivo, praticado no desempenho de cargo ou função capaz
todas as circunstâncias.” de configurar, à luz da legislação própria, transgressão disciplinar.
Art. 46 - Os soldados poderão, excepcional e temporariamente, § 4º - As responsabilidades civil, penal e administrativa pode-
exercer o comando de fração de tropa em locais e situações que
rão cumular-se, sendo independentes entre si.
assim o exijam.
§ 5º - A responsabilidade administrativa do policial militar po-
Art. 47 - Aos praças especiais, em curso de formação, cabe a
licial militar sujeita-se aos efeitos da elisão e da prescrição na se-
rigorosa observância das prescrições dos regulamentos que lhes
guinte forma:
são pertinentes, exigindo-se lhes inteira dedicação ao estudo e ao
aprendizado técnico-profissional, ficando vedado o emprego em a) será elidida no caso de absolvição criminal que negue a exis-
atividade operacional ou administrativa, salvo em caráter de ins- tência do fato ou de sua autoria;
trução. b) prescreverá:
1.em cinco anos, quanto às infrações puníveis com demissão;
2.em três anos, quanto às infrações puníveis com sanções de
detenção;
3.em cento e oitenta dias, quanto às demais infrações.
c) o prazo de prescrição começa a correr da data em que o fato
se tornou conhecido;
d) sendo a falta tipificada penalmente, prescreverá juntamente
com o crime;

327
DIREITO ADMINISTRATIVO
e) a abertura de sindicância ou a instauração de processo dis- I - advertência;
ciplinar interrompe a prescrição até a decisão final por autoridade II - detenção;
competente. III - demissão;
IV-cassação de proventos de inatividade.
SEÇÃO II Inciso IV acrescido pelo art. 6º da Lei nº 11.356, de janeiro de
DAS TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES 2009.
Parágrafo único - Decorrerão da aplicação das sanções discipli-
Art. 51 - São transgressões do policial militar: nares, a que forem submetidos os policiais militares, submissão a
I - não levar ao conhecimento da autoridade competente, no programa de reeducação, suspensão de férias ou licenças em gozo
mais curto prazo, falta ou irregularidade que presenciar ou de que ou desligamento de curso, conforme decisão da autoridade compe-
tiver ciência e couber reprimir; tente, constante do ato de julgamento.
II - deixar de punir o transgressor da disciplina; Art. 53 - Na aplicação das penalidades, serão consideradas a
III - retardar a execução de qualquer ordem, sem justificativa; natureza e a gravidade da infração cometida, os antecedentes fun-
IV - não cumprir ordem legal recebida; cionais, os danos que dela provierem para o serviço público e as
V - simular doença para esquivar-se ao cumprimento de qual- circunstâncias agravantes e atenuantes.
quer dever, serviço ou instrução; Art. 54 - A advertência será aplicada, por escrito, nos casos de
VI - deixar, imotivadamente, de participar a tempo à autoridade violação de proibição e de inobservância de dever funcional pre-
imediatamente superior, impossibilidade de comparecer ä OPM ou vistos em Lei, regulamento ou norma interna, que não justifiquem
a qualquer ato de serviço; imposição de penalidade mais grave.
VII - faltar ou chegar atrasado injustificadamente qualquer ato Art. 55 - A detenção será aplicada em caso de reincidência em
de serviço em que deva tomar parte ou assistir; faltas punidas com advertência e de violação das demais proibições
VIII - permutar serviço sem permissão da autoridade compe- que não tipifiquem infração sujeita a demissão, não podendo exce-
tente; der de trinta dias, devendo ser cumprida em área livre do quartel.
IX - abandonar serviço para o qual tenha sido designado; Art. 56 - A penalidade de advertência e a de detenção terão
X - afastar-se de qualquer lugar em que deva estar por força de seus registros cancelados, após o decurso de dois anos, quanto à
disposição legal ou ordem; primeira, e quatro anos, quanto a segunda, de efetivo exercício, se
o policial militar não houver, nesse período, praticado nova infração
XI - deixar de apresentar-se à OPM para a qual tenha sido trans- disciplinar.
ferido ou classificado e às autoridades competentes nos casos de Parágrafo único - O cancelamento da penalidade não produzirá
comissão ou serviços extraordinários para os quais tenha sido de- efeitos retroativos.
signado; Art. 57 - A pena de demissão, observada as disposições do art.
53 desta Lei, será aplicada nos seguintes casos:
XII - não se apresentar, findo qualquer afastamento do serviço
I - a prática de violência física ou moral, tortura ou coação con-
ou ainda, logo que souber que o mesmo foi interrompido;
tra os cidadãos, pelos policiais militares, ainda que cometida fora
XIII - deixar de providenciar a tempo, na esfera de suas atribui-
do serviço;
ções, por negligência ou incúria, medidas contra qualquer irregula-
II - a consumação ou tentativa como autor, co-autor ou partíci-
ridade de que venha a tomar conhecimento;
pe em crimes que o incompatibilizem com o serviço policial militar,
XIV - portar arma sem registro;
especialmente os tipificados como:
XV - sobrepor ao uniforme insígnia ou medalha não regulamen-
a) de homicídio (art. 121 do Código Penal Brasileiro);
tar, bem como, indevidamente, distintivo ou condecoração;
1.quando praticado em atividade típica de grupo de extermí-
XVI - sair ou tentar sair da OPM com tropa ou fração de tropa, nio, ainda que cometido por um só agente;
sem ordem expressa da autoridade competente; 2.qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV e V do Código Penal Bra-
XVII - abrir ou tentar abrir qualquer dependência da OPM fora sileiro).
das horas de expediente, desde que não seja o respectivo chefe ou b) de latrocínio (art. 157, § 3º do Código Penal Brasileiro, in
sem sua ordem escrita com a expressa declaração de motivo, salvo fine);
em situações de emergência; c) de extorsão:
XVIII - deixar de portar o seu documento de identidade ou de 1.qualificado pela morte (art. 158, § 2º do Código Penal Brasi-
exibi-lo quando solicitado. leiro);
XIX - deixar deliberadamente de corresponder a cumprimento 2.mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput e
de subordinado ou deixar o subordinado, quer uniformizado, quer §§ 1º, 2º e 3º do Código Penal Brasileiro).
em traje civil, de cumprimentar superior, uniformizado ou não, nes- d) de estupro (art. 213 e sua combinação com o art. 223, caput
te caso desde que o conheça ou prestar-lhe as homenagens e sinais e parágrafo único, ambos do Código Penal Brasileiro);
regulamentares de consideração e respeito; e) de atentado violento ao pudor (art. 214 e sua combinação
XX - dar, por escrito ou verbalmente, ordem ilegal ou claramen- com art. 223, caput e parágrafo único do Código Penal Brasileiro);
te inexeqüível, que possa acarretar ao subordinado responsabilida- f) de epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º do Código
de ainda que não chegue a ser cumprida; Penal Brasileiro);
XXI - prestar informação a superior hierárquico induzindo-o a g) contra a fé pública, puníveis com pena de reclusão;
erro, deliberadamente. h) contra a administração pública;
i) de deserção.
SEÇÃO III III - tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins;
DAS PENALIDADES IV - prática de terrorismo;
V - integração ou formação de quadrilha;
Art. 52 - São sanções disciplinares a que estão sujeitos os poli- VI - revelação de segredo apropriado em razão do cargo ou fun-
ciais militares: ção;

328
DIREITO ADMINISTRATIVO
VII - a insubordinação ou desrespeito grave contra superior hie-
rárquico (art. 163 a 166 do CPM);
QUESTÕES
VIII - improbidade administrativa;
IX - deixar de punir o transgressor da disciplina nos casos pre- 1.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 18ª REGIÃO)/ADMINIS-
vistos neste artigo; TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2013
X - utilizar pessoal ou recurso material da repartição ou sob a A Administração pública tem como finalidade
guarda desta em serviço ou em atividades particulares; (A) a prestação de serviços aos cidadãos.
XI - fazer uso do posto ou da graduação para obter facilidades (B) a conservação e aprimoramento de bens públicos.
pessoais de qualquer natureza ou para encaminhar negócios parti- (C) a limitação dos princípios jurídicos que regem os órgãos, os
culares ou de terceiros; agentes e as atividades públicas.
XII - participar o policial militar da ativa de firma comercial, de (D) a ampliação da estrutura constitucional do Estado.
emprego industrial de qualquer natureza, ou nelas exercer função (E) o estabelecimento de alicerces da formalidade e da mate-
ou emprego remunerado, exceto como acionista ou quotista em so- rialidade.
ciedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada;
XIII - dar, por escrito ou verbalmente, ordem ilegal ou clara- 2.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 24ª REGIÃO)/ADMINIS-
mente inexequível, que possa acarretar ao subordinado responsa- TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2017)
bilidade, ainda que não chegue a ser cumprida; Em importante julgamento proferido pelo Supremo Tribunal
XIV - permanecer no mau comportamento por período supe- Federal, foi considerada inconstitucional lei que destinava verbas
rior a dezoito meses, caracterizado este pela reincidência de atitu- públicas para o custeio de evento cultural tipicamente privado, sem
des que importem nas transgressões previstas nos incisos I a XX, do amparo jurídico- administrativo. Assim, entendeu a Corte Suprema
art. 51, desta Lei. tratar-se de favorecimento a seguimento social determinado, in-
Parágrafo único - Aos policiais militares da reserva remunerada compatível com o interesse público e com princípios que norteiam
e reformados incursos em infrações disciplinares para qual esteja a atuação administrativa, especificamente, o princípio da
prevista a pena de demissão nos termos deste artigo e do artigo (A) presunção de legitimidade restrita.
53 será aplicada a penalidade de cassação de proventos de inativi- (B) motivação.
dade, respeitado, no caso dos Oficiais, o disposto no art. 189 deste (C) impessoalidade.
Estatuto. (D) continuidade dos serviços públicos.
Parágrafo único acrescido pelo art. 6º da Lei nº 11.356, de ja- (E) publicidade.
neiro de 2009.
CAPÍTULO III 3.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 24ª REGIÃO)/ADMINIS-
DA APURAÇÃO DISCIPLINAR TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2017)
Em importante julgamento proferido pelo Superior Tribunal de
Art. 58 - A autoridade que tiver ciência de irregularidade no Justiça, reconheceu a Corte Superior a impossibilidade de acumu-
serviço é obrigada a promover a sua imediata apuração mediante lação de cargos públicos de profissionais da área da saúde quando
sindicância ou processo disciplinar. a jornada de trabalho superar sessenta horas semanais. Assim, foi
Parágrafo único - Quando o fato narrado não configurar eviden- considerada a legalidade da limitação da jornada de trabalho do
te infração disciplinar ou ilícito penal, a denúncia será arquivada por profissional de saúde para sessenta horas semanais, na medida em
falta de objeto. que o profissional da área da saúde precisa estar em boas condições
Art. 59 - Como medida cautelar, e a fim de que o policial mi- físicas e mentais para bem exercer as suas atribuições, o que certa-
litar acusado do cometimento de falta disciplinar não interfira na mente depende de adequado descanso no intervalo entre o final
apuração da irregularidade, a autoridade instauradora do processo de uma jornada de trabalho e o início da outra, o que é impossível
disciplinar poderá, fundamentadamente, de ofício ou por provo- em condições de sobrecarga de trabalho. Tal entendimento está em
cação de encarregado de feito investigatório, requerer ao escalão consonância com um dos princípios básicos que regem a atuação
competente o seu afastamento do exercício do cargo ou da função, administrativa, qual seja, o princípio da
pelo prazo de trinta dias, sem prejuízo da remuneração, devendo (A) publicidade.
permanecer à disposição da Instituição para efeito da instrução da (B) motivação.
apuração da falta. (C) eficiência.
Parágrafo único - O afastamento deverá determinar a proibição (D) moralidade.
temporária do uso de uniforme e arma e ser prorrogado por igual (E) impessoalidade.
prazo, findo o qual cessarão os seus efeitos, ainda que não concluí-
do o processo de apuração regular da falta. 4.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 21ª REGIÃO)/ADMINIS-
TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2017)
É princípio orientador das atividades desenvolvidas pela Admi-
nistração pública, seja por intermédio da Administração direta, seja
pela Administração indireta, sob pena de irresignação judicial, a
(A) impessoalidade, tanto na admissão de pessoal, sujeita à
exigência de prévio concurso público de provas ou de provas
e títulos para preenchimento de cargos, empregos públicos,
quanto na prestação dos serviços em geral pela Administração
pública, vedado qualquer direcionamento.
(B) legalidade, que impede que a Administração pública se sub-
meta a atos normativos infralegais.
(C) moralidade, desde que associada a outros princípios e re-
gras previstos em nosso ordenamento jurídico.

329
DIREITO ADMINISTRATIVO
(D) eficiência, que impede a contratação direta de serviços pela (A) publicidade.
Administração pública, garantindo a plena competição entre os (B) proporcionalidade restrita.
interessados e sempre o menor preço para o erário público. (C) supremacia do interesse privado.
(E) publicidade, que exige a publicação em Diário Oficial da ín- (D) presunção de legitimidade.
tegra dos atos e contratos firmados pela Administração, além (E) motivação.
da motivação de todos os atos administrativos unilaterais.
9.(FCC - JUIZ DO TRABALHO (TRT 6ª REGIÃO)/2015)
5.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 23ª REGIÃO)/ADMINIS- Acerca dos princípios informativos da Administração pública,
TRATIVA/2016) considere:
O Supremo Tribunal Federal, em importante julgamento, con-
siderou legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido I. O princípio da publicidade aplica-se também às entidades
pela Administração pública, dos nomes dos seus servidores e do integrantes da Administração indireta, exceto àquelas submetidas
valor dos correspondentes vencimentos e vantagens pecuniárias, ao regime jurídico de direito privado e que atuam em regime de
não havendo qualquer ofensa à Constituição Federal, bem como à competição no mercado.
privacidade, intimidade e segurança dos servidores. Pelo contrário, II. O princípio da moralidade é considerado um princípio pre-
trata-se de observância a um dos princípios básicos que regem a valente e a ele se subordinam os demais princípios reitores da Ad-
atuação administrativa, qual seja, o princípio específico da ministração.
(A) proporcionalidade. III. O princípio da eficiência, que passou a ser explicitamen-
(B) eficiência. te citado pela Carta Magna a partir da Emenda Constitucional nº
(C) presunção de legitimidade. 19/1998, aplica-se a todas as entidades integrantes da Administra-
(D) discricionariedade. ção direta e indireta.
(E) publicidade. Está correto o que consta APENAS em
(A) III.
6.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 23ª REGIÃO)/ADMINIS- (B) I e II.
TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2016) (C) II e III.
Manoela foi irregularmente investida no cargo público de Ana- (D) I.
lista do Tribunal Regional do Trabalho da 23a Região, tendo, nessa (E) II.
qualidade, praticado inúmeros atos administrativos. O Tribunal, ao 10.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 3ª REGIÃO)/ADMINIS-
constatar o ocorrido, reconheceu a validade dos atos praticados, TRATIVA/2015)
sob o fundamento de que os atos pertencem ao órgão e não ao O Supremo Tribunal Federal, em importante julgamento, ocor-
agente público. Trata-se de aplicação específica do princípio da rido no ano de 2001, entendeu não caber ao Banco “X” negar, ao
Ministério Público, informações sobre nomes de beneficiários de
empréstimos concedidos pela instituição, com recursos subsidiados
(A) impessoalidade.
pelo erário federal, sob invocação do sigilo bancário, em se tratando
(B) eficiência.
de requisição de informações e documentos para instruir procedi-
(C) motivação.
mento administrativo instaurado em defesa do patrimônio público.
(D) publicidade.
Trata-se de observância ao princípio da
(E) presunção de veracidade.
(A) impessoalidade.
(B) proporcionalidade.
7.(FCC - JUIZ DO TRABALHO (TRT 1ª REGIÃO)/2016)
(C) publicidade.
São princípios previstos na Constituição Federal e que devem (D) motivação.
ser obedecidos pela Administração Pública Direta e Indireta de (E) supremacia do interesse privado.
qualquer dos poderes da União, Estados, Distrito Federal e Muni-
cípios: 11.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 4ª REGIÃO)/JUDICIÁ-
RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2015)
I. Pessoalidade A atuação da Administração pública é informada por princípios,
II. Legalidade alguns inclusive com previsão constitucional expressa, que se alter-
III. Formalidade nam em graus de relevância de acordo com o caso concreto em
IV. Eficiência análise. Do mesmo modo, a aplicação dos princípios na casuística
pode se expressar de diversas formas e em variados momentos, ou
Está correto o que consta em seja, não há necessariamente idêntica manifestação da influência
(A) II e IV, apenas. dos mesmos nas diferentes situações e atividades administrativas.
(B) I, II, III e IV. Dessa forma,
(C) I e IV, apenas. (A) à exceção do princípio da publicidade, que se expressa pela
(D) II e III, apenas. divulgação dos atos finais praticados, os demais princípios de-
(E) I e III, apenas. pendem de análise do caso concreto, para que se possa verifi-
car se foram adequadamente observados.
8.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 20ª REGIÃO)/ADMINIS- (B) o princípio da supremacia do interesse público pode ser
TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2016) considerado materialmente superior aos demais, pois para
Em importante julgamento proferido pelo Supremo Tribunal esses é parâmetro de aplicação, na medida em que a solução
Federal, considerou a Suprema Corte, em síntese, que no julgamen- mais adequada é sempre aquela que o privilegia.
to de impeachment do Presidente da República, todas as votações (C) enquanto o princípio da eficiência se aplica no curso dos
devem ser abertas, de modo a permitir maior transparência, con- processos e atividades desenvolvidos pela Administração, os
trole dos representantes e legitimação do processo. Trata-se, espe- demais princípios destinam-se ao resultado e aos destinatários
cificamente, de observância ao princípio da finais, não tendo aplicabilidade antes disso.

330
DIREITO ADMINISTRATIVO
(D) o princípio da publicidade não incide apenas para orientar a 14.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 9ª REGIÃO)/APOIO ES-
divulgação e a transparência dos atos finais, mas também per- PECIALIZADO/TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO/2015)
mite aos administrados conhecer documentos e ter informa- O artigo 37 do § 1º da CF expressamente proíbe que conste
ções ao longo do processo de tomada de decisão. nome, símbolo ou imagens que caracterizem promoção pessoal de
(E) o princípio da eficiência é aplicado em conjunto com o prin- autoridades ou servidores públicos em publicidade de atos, progra-
cípio da supremacia do interesse público, podendo excepcionar mas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos. A referida
o princípio da indisponibilidade do interesse público sempre proibição decorre da aplicação do princípio da
que represente solução mais benéfica para a gestão adminis- (A) impessoalidade, que está expressamente previsto no art.
trativa e o atingimento de resultados em favor dos administra- 37 da CF e deve ser observado, como no exemplo, em relação
dos. à própria Administração e também em relação aos administra-
12.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 9ª REGIÃO)/ADMINIS- dos.
TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2015) (B) especialidade, que a despeito de não estar expressamente
Os princípios balizadores das atividades da Administração pú- previsto no art. 37 da CF, deve ser observado, como no exem-
blica ganharam importância e destaque nas diversas esferas de atu- plo, tanto em relação à própria Administração como em rela-
ação, tal como o princípio da eficiência, que ção aos administrados.
(A) permite que um ente federado execute competência cons- (C) impessoalidade, que está expressamente previsto no art.
titucional de outro ente federado quando este se omitir e essa 37 da CF e deve ser observado, como no exemplo, em relação à
omissão estiver causando prejuízos aos destinatários da atua- própria Administração, mas não em relação aos administrados,
ção. que estão sujeitos ao princípio da supremacia do interesse pú-
(B) autoriza que a Administração pública interprete o ordena- blico sobre o privado.
mento jurídico de modo a não cumprir disposição legal expres- (D) especialidade, que decorre do princípio da legalidade e da
sa, sempre que ficar demonstrado que essa não é a melhor indisponibilidade do interesse público sobre o privado e, por
solução para o caso concreto. essa razão, aplica-se à atividade publicitária da Administração,
(C) deve estar presente na atuação da Administração pública tida por especial em relação às demais atividades públicas.
para atingimento dos melhores resultados, cuidando para que (E) publicidade, que está expressamente previsto no artigo 37
seja com os menores custos, mas sem descuidar do princípio da CF e configura-se no princípio legitimador da função admi-
da legalidade, que não pode ser descumprido. nistrativa, informada pelo princípio democrático.
(D) substituiu o princípio da supremacia do interesse público
que antes balizava toda a atuação da Administração pública, 15.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 19ª REGIÃO)/ADMINIS-
passando a determinar que seja adotada a opção que signifi- TRATIVA/2014)
que o atingimento do melhor resultado para o interesse pú- Roberto, empresário, ingressou com representação dirigida ao
blico. órgão competente da Administração pública, requerendo a apura-
(E) não possui aplicação prática, mas apenas interpretativa, ção e posterior adoção de providências cabíveis, tendo em vista ili-
tendo em vista que a Administração pública está primeiramen- citudes praticadas por determinado servidor público, causadoras de
te adstrita ao princípio da supremacia do interesse público e graves danos não só ao erário como ao próprio autor da represen-
depois ao princípio da legalidade. tação. A Administração pública recebeu a representação, instaurou
o respectivo processo administrativo, porém, impediu que Rober-
13.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 9ª REGIÃO)/APOIO ES- to tivesse acesso aos autos, privando-o de ter ciência das medidas
PECIALIZADO/TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO/2015) adotadas, sendo que o caso não se enquadra em nenhuma das
A Administração pública está sujeita a princípios que confor- hipóteses de sigilo previstas em lei. O princípio da Administração
mam sua atuação. Para esse fim, é dizer, da sujeição aos princípios pública afrontado é a
elencados pela Constituição Federal, o termo Administração abran- (A) publicidade.
ge a Administração (B) eficiência.
(A) direta, não estando sujeita aos mesmos princípios a Ad- (C) isonomia.
ministração pública indireta e o Poder Judiciário, em razão do (D) razoabilidade.
princípio da separação dos poderes. (E) improbidade.
(B) pública direta e indireta, não abarcando o Poder Judiciário e
Legislativo, mesmo no exercício atípico da função administrati- 16.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 19ª REGIÃO)/JUDICIÁ-
va, em razão do princípio da estrita legalidade. RIA/OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR FEDERAL/2014)
(C) pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, Determinada empresa do ramo farmacêutico, responsável pela
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. importação de importante fármaco necessário ao tratamento de
(D) pública direta e indireta dos Poderes Executivo e Judiciário, grave doença, formulou pedido de retificação de sua declaração de
excluído o Poder Legislativo, em razão da submissão ao Tribu- importação, não obtendo resposta da Administração pública. Em
nal de Contas. razão disso, ingressou com ação na Justiça, obtendo ganho de cau-
(E) pública direta de qualquer dos Poderes da União, dos Es- sa. Em síntese, considerou o Judiciário que a Administração pública
tados, do Distrito Federal e dos Municípios, excluindo a admi- não pode se esquivar de dar um pronto retorno ao particular, sob
nistração pública indireta, por estar sujeita a regime de direito pena inclusive de danos irreversíveis à própria população. O caso
privado. narrado evidencia violação ao princípio da
(A) publicidade.
(B) eficiência.
(C) impessoalidade.
(D) motivação.
(E) proporcionalidade.

331
DIREITO ADMINISTRATIVO
17.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 16ª REGIÃO)/ADMINIS- 20.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 12ª REGIÃO)/ADMI-
TRATIVA/2014) NISTRATIVA/CONTABILIDADE/2013)
Em julgamento proferido pelo Supremo Tribunal Federal, a Cor- Matheus, Prefeito de determinado Município de Santa Cata-
te Suprema firmou entendimento no sentido de que assessor de rina, contratou advogado para atuar em sua defesa em ação de
Juiz ou de Desembargador tem incompatibilidade para o exercício improbidade administrativa em que figura como réu. A contrata-
da advocacia. Ao fundamentar sua decisão, a Corte explanou que ção objetivou a defesa pessoal do Chefe do Poder Executivo, às ex-
tal incompatibilidade assenta-se, sobretudo, em um dos princípios pensas do erário, isto é, visou a tutela de interesses pessoais do
básicos que regem a atuação administrativa. Trata-se do princípio administrador público. O caso em questão evidencia a violação ao
da princípio da Administração Pública denominado
(A) supremacia do interesse privado. (A) Moralidade.
(B) publicidade. (B)Publicidade.
(C) proporcionalidade. (C) Eficiência.
(D) moralidade. (D) Razoabilidade.
(E) presunção de veracidade. (E) Presunção de Veracidade.

18.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 16ª REGIÃO)/JUDICIÁ- 21.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 18ª REGIÃO)/ADMINIS-
RIA/OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR FEDERAL/2014) TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2013)
O Diretor Jurídico de uma autarquia estadual nomeou sua com- A Administração pública sujeita-se a princípios previstos na
panheira, Cláudia, para o exercício de cargo em comissão na mesma
Constituição Federal de 1988. Dentre eles, o princípio da
entidade. O Presidente da autarquia, ao descobrir o episódio, de-
(A) legalidade, que exige a prática de atos expressamente pre-
terminou a imediata demissão de Cláudia, sob pena de caracterizar
vistos em lei, não se aplicando quando se trata de atos discri-
grave violação a um dos princípios básicos da Administração públi-
cionários.
ca. Trata-se do princípio da
(A) presunção de legitimidade. (B) moralidade, que se sobrepõe aos demais princípios, inclusi-
(B) publicidade. ve ao da legalidade.
(C) motivação. (C) impessoalidade, que impede a identificação do nome dos
(D) supremacia do interesse privado sobre o público. servidores nos atos praticados pela administração.
(E) impessoalidade. (D) publicidade, que exige, inclusive por meio da publicação em
impressos e periódicos, seja dado conhecimento da atuação da
19.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 5ª REGIÃO)/APOIO ES- Administração aos interessados e aos administrados em geral.
PECIALIZADO/CONTABILIDADE/2013) (E) isonomia, que impede a edição de decisões distintas a res-
Determinado ente federado encaminhou anteprojeto de lei ao peito de determinado pedido, independentemente da situação
poder legislativo para edição de lei autorizativa da alienação one- individual de cada requerente.
rosa de bens imóveis, da qual constava, além do valor mínimo, o
destino do produto do negócio jurídico a ser celebrado mediante 22.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 6ª REGIÃO)/ADMINIS-
prévia licitação pública. A conduta da Administração pública é ex- TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2012)
pressão do princípio da Pode-se, sem pretender esgotar o conceito, definir o princípio
da eficiência como princípio
(A) moralidade, na medida em que bens imóveis inservíveis (A) constitucional que rege a Administração Pública, do qual
devem ser, obrigatoriamente, alienados onerosamente pela se retira especificamente a presunção absoluta de legalidade
Administração, mediante dispensa de licitação. de seus atos.
(B) legalidade, na medida em que bens imóveis inservíveis de- (B) infralegal dirigido à Administração Pública para que ela seja
vem ser, obrigatoriamente, alienados onerosamente pela Ad- gerida de modo impessoal e transparente, dando publicidade
ministração, mediante dispensa de licitação. a todos os seus atos.
(C) eficiência, sendo juízo discricionário a alienação gratuita ou (C) infralegal que positivou a supremacia do interesse público,
onerosa dos bens, podendo ser dispensado o procedimento de permitindo que a decisão da Administração sempre se sobre-
licitação caso se certifique que o valor ofertado no certame se- ponha ao interesse do particular.
ria inferior.
(D) constitucional que se presta a exigir a atuação da Adminis-
(D) eficiência, estando a Administração autorizada a derrogar
tração Pública condizente com a moralidade, na medida em
as demais disposições legais em vigor, caso se comprove que o
que esta não encontra guarida expressa no texto constitucio-
resultado alcançado seria mais vantajoso.
nal.
(E) legalidade, estando a Administração autorizada a agir nos
limites da autorização legal, compatibilizando referidas dispo- (E) constitucional dirigido à Administração Pública para que
sições com a legislação em vigor, inclusive com as normas que seja organizada e dirigida de modo a alcançar os melhores re-
dispõem sobre procedimento de dispensa de licitação. sultados no desempenho de suas funções.

23.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 6ª REGIÃO)/ADMINIS-


TRATIVA/SEGURANÇA/2012)
A aplicação do princípio da impessoalidade à Administração
Pública traduz-se, dentre outras situações, na
(A) proibição de identificação de autoria em qualquer reque-
rimento dirigido à Administração, restringindo-se a indicação
numérica para, ao fim do processo, notificar o interessado.

332
DIREITO ADMINISTRATIVO
(B) atuação feita em nome da Instituição, ente ou órgão que a 27.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 23ª REGIÃO)/ADMINIS-
pratica, sempre norteada ao interesse público, não sendo im- TRATIVA/2011 (E MAIS 3 CONCURSOS)
putável ao funcionário que a pratica, ressalvada a responsabili- No cumprimento estrito do princípio da legalidade, o agente
dade funcional específica. público só pode agir
(C) conduta da Administração não visar a prejudicar ou benefi- (A) quando não houver custo elevado para a administração pú-
ciar pessoas, salvo se, por consequência indireta, atingir finali- blica.
dade de interesse público. (B) se tiver certeza de não ferir interesses privados.
(D) conduta da Administração ser geral e indeterminada, de (C) de acordo com a consciência do cumprimento do dever.
modo que qualquer benefício concedido a um funcionário, ain- (D) depois de consultados seus superiores hierárquicos.
da que por força de ordem judicial, deve ser obrigatoriamente (E) nos termos estabelecidos explicitamente pela lei.
estendido a todos os demais na mesma situação.
(E) atuação da Administração não reconhecer direito individual 28.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 23ª REGIÃO)/ADMINIS-
de servidor, somente podendo processar requerimentos coleti- TRATIVA/2011)
vos para a obtenção de benefícios. O Jurista Celso Antônio Bandeira de Mello apresenta o seguinte
conceito para um dos princípios básicos da Administração Pública:
24.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 11ª REGIÃO)/ADMI- De acordo com ele, a Administração e seus agentes têm de atuar na
NISTRATIVA/2012) conformidade de princípios éticos. (...) Compreendem-se em seu
A ideia de que a Administração tem que tratar todos os admi- âmbito, como é evidente, os chamados princípios da lealdade e bo-
nistrados sem discriminações, traduz o princípio da a-fé. Trata-se do princípio da
(A) legalidade.
(B) indisponibilidade. (A) motivação.
(C) impessoalidade. (B) eficiência.
(D) publicidade. (C) legalidade.
(E) unicidade. (D) razoabilidade.
(E) moralidade.
25.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 11ª REGIÃO)/ADMINIS-
TRATIVA/2012) 29.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 12ª REGIÃO)/ADMINIS-
De acordo com o princípio da legalidade o administrador pú- TRATIVA/2010)
blico pode fazer O reconhecimento da validade de ato praticado por funcioná-
(A) tudo o que a lei não proibir expressamente. rio irregularmente investido no cargo ou função, sob o fundamento
(B) tudo aquilo que julgar compatível com o interesse público. de que o ato pertence ao órgão e não ao agente público, decorre
(C) apenas aquilo que as normas sociais considerarem moral- do princípio
mente adequado. (A)da especialidade.
(D) apenas aquilo que as leis expressamente autorizarem ou (B) da moralidade.
determinarem. (C) do controle ou tutela.
(E) aquilo que o bom senso e a ética aprovarem. (D) da impessoalidade.
(E) da hierarquia.
26.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 1ª REGIÃO)/ADMINIS-
TRATIVA/SEGURANÇA/2011) 30.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 9ª REGIÃO)/ADMINIS-
Analise as seguintes proposições, extraídas dos ensinamentos TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2010)
dos respectivos Juristas José dos Santos Carvalho Filho e Celso An- A administração pública brasileira, conforme o artigo 37 da
tônio Bandeira de Mello: Constituição Federal, obedece aos princípios da
(A) legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi-
I. O núcleo desse princípio é a procura de produtividade e eco- ciência.
nomicidade e, o que é mais importante, a exigência de reduzir os (B) legalidade, impessoalidade, continuidade, indisponibilida-
desperdícios de dinheiro público, o que impõe a execução dos servi- de e finalidade.
ços públicos com presteza, perfeição e rendimento funcional. (C) subsidiariedade, flexibilidade, participação cidadã, publici-
II. No texto constitucional há algumas referências a aplicações dade e eficiência.
concretas deste princípio, como por exemplo, no art. 37, II, ao exigir (D) moralidade, flexibilidade, participação cidadã, legalidade e
que o ingresso no cargo, função ou emprego público depende de impessoalidade.
concurso, exatamente para que todos possam disputar-lhes o aces- (E) transparência administrativa, moralidade, participação ci-
so em plena igualdade. dadã, eficiência e impessoalidade.

As assertivas I e II tratam, respectivamente, dos seguintes prin- 31.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 22ª REGIÃO)/JUDICIÁ-
cípios da Administração Pública: RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2010)
(A) moralidade e legalidade. Sobre os princípios básicos da Administração Pública, é INCOR-
(B) eficiência e impessoalidade. RETO afirmar:
(C) legalidade e publicidade. (A) O princípio da eficiência alcança apenas os serviços públicos
(D) eficiência e legalidade. prestados diretamente à coletividade e impõe que a execução
(E) legalidade e moralidade. de tais serviços seja realizada com presteza, perfeição e rendi-
mento funcional.

333
DIREITO ADMINISTRATIVO
(B) Em observância ao princípio da impessoalidade, a Admi- I. O princípio da publicidade é absoluto, no sentido de que todo
nistração não pode atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar ato administrativo, sem exceção, deve ser publicado.
pessoas determinadas, vez que é sempre o interesse público II. O princípio da impessoalidade tem dois sentidos: um rela-
que tem que nortear o seu comportamento. cionado à finalidade, no sentido de que ao administrador se impõe
(C) Embora não se identifique com a legalidade, pois a lei pode que só pratique o ato para o seu fim legal; outro, no sentido de
ser imoral e a moral pode ultrapassar o âmbito da lei, a imorali- excluir a promoção pessoal das autoridades ou servidores públicos
dade administrativa produz efeitos jurídicos porque acarreta a sobre suas realizações administrativas.
invalidade do ato que pode ser decretada pela própria Adminis- III. Por força do princípio da segurança jurídica não é possível
tração ou pelo Judiciário. retroagir interpretação de lei a casos já decididos com base em en-
(D) O princípio da segurança jurídica veda a aplicação retroativa tendimento anterior.
de nova interpretação de lei no âmbito da Administração Públi- IV. A necessidade de institutos como a suplência, a delegação e
ca, preservando assim, situações já reconhecidas e consolida- a substituição para preencher as funções públicas temporariamen-
das na vigência de orientação anterior. te vagas, é consequência do princípio da eficiência.
(E) Em decorrência do princípio da legalidade, a Administração
Pública não pode, por simples ato administrativo, conceder di- É correto o que se afirma APENAS em
reitos de qualquer espécie, criar obrigações ou impor vedações (A) I e IV.
aos administrados; para tanto, ela depende de lei. (B) I e III.
(C) I e II.
32.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 22ª REGIÃO)/ADMINIS- (D) II e III.
TRATIVA/2010) (E) III e IV.
O princípio da administração pública que tem por fundamento
que qualquer atividade de gestão pública deve ser dirigida a todos 36.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 15ª REGIÃO)/JUDICIÁ-
os cidadãos, sem a determinação de pessoa ou discriminação de RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2009)
qualquer natureza, denomina-se Sobre os princípios da Administração Pública, considere:
(A) Eficiência.
(B) Moralidade. I. O princípio da publicidade, previsto na Constituição Federal,
(C) Legalidade. exige a ampla divulgação, sem exceção, de todos os atos praticados
(D) Finalidade. pela Administração Pública.
(E) Impessoalidade. II. A regra estabelecida na Lei no 9.784/99 de que o processo
administrativo deve observar, dentre outros critérios, o atendimen-
33.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 3ª REGIÃO)/ADMINIS- to a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de po-
TRATIVA/CONTABILIDADE/2009 (E MAIS 1 CONCURSO) deres ou competências, salvo autorização em lei, traduz o princípio
A aplicação do princípio da legalidade, expresso no artigo 37, da supremacia da prevalência do interesse público.
caput, da Constituição Federal, traz como consequência a III. Os princípios da eficiência e da impessoalidade, de ampla
(A) obrigatoriedade de edição de lei para disciplinar a organiza- aplicação no Direito Administrativo, não estão expressamente pre-
ção e o funcionamento da Administração Direta. vistos na Constituição Federal.
IV. O princípio da fundamentação exige que a Administração
(B) exigência de que todos os atos praticados pelo Poder Execu-
Pública indique os fundamentos de fato e de direito de seus atos e
tivo contem com prévia autorização legislativa específica.
decisões.
(C) não-obrigatoriedade de lei para a criação de órgão público,
quando implicar ou não aumento de despesa.
Está correto o que se afirma SOMENTE em
(D) obrigatoriedade de lei para fixação e aumento de remune-
(A) I, II e III.
ração dos servidores públicos, inclusive aqueles submetidos ao
(B) II e IV.
regime da Consolidação das Leis do Trabalho.
(C) II e III.
(E) obrigatoriedade de lei para criação de cargos, mas não para
(D) III.
a sua extinção, que, quando vagos, pode ser feita por decreto. (E) IV.
34.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 3ª REGIÃO)/ADMINIS- 37.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 2ª REGIÃO)/JUDICIÁ-
TRATIVA/CONTABILIDADE/2009) RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2008 )
Quando uma auditoria é realizada com o objetivo de verificar Sobre os princípios básicos da Administração, considere:
se os normativos, legais ou regimentais, foram respeitados pelos
atos praticados por um gestor público, o que se procura avaliar é o I. Exigência de que a atividade administrativa seja exercida com
aspecto da presteza, perfeição e rendimento funcional.
(A) publicidade. II. A atuação da Administração Pública deve sempre ser dirigida
(B) legitimidade. a todos os administrados em geral, sem discriminação de qualquer
(C) legalidade. natureza.
(D) impessoalidade.
(E) economicidade. Essas afirmações referem-se, respectivamente, aos princípios
da
35.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 7ª REGIÃO)/ADMINIS- (A) eficiência e impessoalidade.
TRATIVA/2009) (B) legalidade e impessoalidade.
Sobre os princípios básicos da Administração Pública, conside- (C) eficiência e legalidade.
re: (D) moralidade e eficiência.
(E) impessoalidade e legalidade.

334
DIREITO ADMINISTRATIVO
38.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 20ª REGIÃO)/JUDICIÁ- 42.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 9ª REGIÃO)/JUDICIÁ-
RIA/EXECUÇÃO DE MANDADOS/2006 ) RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2004)
Em relação aos princípios básicos da Administração Pública, é João, objetivando adquirir determinado imóvel no bairro X, fica
correto afirmar que sabendo, por meio de amigos, que, nessa região, será construída
(A) o instituto da legalidade pode ser chamado de princípio da uma nova linha do metrô e, conseqüentemente, diversos imóveis
proibição do excesso, e pode ser descumprido pela vontade serão desapropriados. Tendo em vista referido fato, pede informa-
das partes. ções à Companhia do Metrô, que se recusa a fornecê-las. Com tal
(B) na administração pública é lícito fazer tudo o que a lei não atitude, restou preterido o princípio da Administração Pública de-
proíbe. nominado
(C) a moralidade administrativa se confunde com a moralidade (A) publicidade.
comum e a ilegalidade. (B) imperatividade.
(D) o princípio constitucional da impessoalidade nada mais é (C) supremacia do interesse público.
do que o clássico princípio da finalidade. (D) impessoalidade.
(E) a razoabilidade, por ser um princípio abstrato, deve ser afe- (E) eficiência.
rido segundo os valores de um homem com notável cultura ju-
rídica e social. 43.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 9ª REGIÃO)/JUDICIÁ-
RIA/EXECUÇÃO DE MANDADOS/2004)
39.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 11ª REGIÃO)/ADMINIS- Após tomar ciência de irregularidades praticadas pela Assem-
TRATIVA/2005) bléia Legislativa de seu Estado, o cidadão José da Silva diligenciou
Demóstenes, servidor público federal, no desempenho de suas junto ao referido órgão, oportunidade em que lhe foi negado o di-
funções, somente poderá fazer o que estiver expressamente auto- reito de obter certidões que esclarecessem tal fato. Com essa recu-
rizado em lei e demais espécies normativas em virtude do princípio sa, foi desrespeitado o princípio da
da (A) eficiência.
(A) moralidade. (B) impessoalidade.
(B) impessoalidade. (C) tipicidade.
(C) legalidade. (D) motivação.
(D) publicidade. (E) publicidade.
(E) eficiência.
40.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 2ª REGIÃO)/ADMINIS- 44.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 5ª REGIÃO)/ADMINIS-
TRATIVA/2004) TRATIVA/2003)
“A atividade administrativa não deve fazer acepção de pessoas, A publicidade de atos, programas, obras e serviços dos órgãos
deve tratar a todos os administrados igualmente, visto que não aju- públicos deverá
da nem prejudica terceiros. Essa atividade é imputada não ao servi- (A) ter caráter educativo, informativo ou de orientação social.
dor que age, mas ao órgão ou entidade administrativa em nome do (B) promover pessoalmente autoridades ou servidores públi-
qual ele age”. O texto refere-se ao princípio da cos.
(A) legalidade. (C) conter nomes, símbolos e imagens que identifiquem as au-
(B) moralidade. toridades responsáveis.
(C) eficiência. (D) ser divulgada apenas por veículo oficial de rádio ou televi-
(D) publicidade. são.
(E) impessoalidade. (E) seguir o programa político-partidário da autoridade respon-
sável.
41.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 9ª REGIÃO)/ADMINIS-
TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2004) 45.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 5ª REGIÃO)/JUDICIÁ-
Após constatar a morosidade no serviço de atendimento ao RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2003 (E MAIS 1 CONCURSO)
público em diversos órgãos do executivo municipal, o Prefeito da É expressão do princípio da legalidade, relativamente à atuação
cidade de Campo Largo informatizou referidos órgãos e contratou a da Administração Pública, a
empresa DataSoftware Municipal Ltda, por meio de regular proces- (A) obrigação de o Administrador praticar apenas os atos que a
so licitatório, para ensinar aos servidores noções de informática. Em lei expressamente determinar.
virtude da iniciativa acima descrita, restou patente a melhoria no (B) vinculação do Administrador aos textos normativos infrale-
atendimento aos munícipes. O princípio da Administração Pública gais, oriundos de autoridades superiores.
observado no caso em tela denomina-se: (C) possibilidade de o Administrador praticar quaisquer atos
(A) imperatividade. que não sejam expressamente vedados pela lei.
(B) publicidade. (D) necessidade de os atos administrativos com força de lei
(C) tipicidade. estarem em conformidade com as disposições constitucionais.
(D) eficiência. (E) permissão para a prática de atos administrativos que sejam
(E) motivação. expressamente autorizados pela lei, ainda que mediante sim-
ples atribuição de competência.

335
DIREITO ADMINISTRATIVO
46.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 5ª REGIÃO)/JUDICIÁ- (E) não diz respeito à moral comum, mas à moral jurídica e tem
RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2003 (E MAIS 1 CONCURSO) primazia sobre os outros princípios constitucionalmente for-
Como possível corolário do princípio da impessoalidade, pode- mulados.
-se afirmar que
(A) é vedado à autoridade administrativa identificar-se pessoal- 50.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 3ª REGIÃO)/APOIO ES-
mente na prática de qualquer ato. PECIALIZADO/CONTABILIDADE/2015)
(B) a nomeação e o provimento em cargo em comissão não A Administração pública deve nortear sua conduta baseada em
poderão levar em consideração as características pessoais do certos princípios. Assim, entre os princípios expressamente infor-
nomeado. mados na Constituição Federal, NÃO se incluem os princípios da
(C) deverá a Administração Pública evitar tratar desigualmente (A) moralidade e eficiência.
os administrados, na medida do possível, em razão de circuns- (B) legalidade e publicidade.
tâncias pessoais de cada um deles. (C) entidade e indisponibilidade.
(D) a Administração Pública não poderá identificar-se como tal (D) impessoalidade e publicidade.
na divulgação de obras e serviços públicos. (E) legalidade e moralidade.
(E) fica vedada a publicidade dos atos praticados pela Adminis-
tração Pública. 51.(FCC - JUIZ DO TRABALHO (TRT 15ª REGIÃO)/2015/XVIII)
Sobre os princípios informativos da atuação administrativa e a
47.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 21ª REGIÃO)/JUDICIÁ- aplicação deles como ferramentas para controle interno e externo,
RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2003) considere:
Considere o que segue:
I. A imposição ao administrador público de uma ação planejada I. os princípios possuem força normativa e informativa aferível
e transparente, com o fito de prevenir riscos e corrigir desvios sus- sempre em conjunto com as demais normas do ordenamento, não
cetíveis de afetar o equilíbrio das contas públicas. se lhes emprestando poder autônomo para servir de parâmetro de
II. Os atos praticados pela Administração Pública devem ser controle dos atos praticados pela Administração.
abstratamente genéricos e isonômicos, sem consagrar privilégios II. os princípios que regem a atuação da Administração pública
ou situações restritivas injustificadas. podem ser informativos ou interpretativos, mas em algumas hipó-
III. A autolimitação do Estado em face dos direitos subjetivos e teses também se pode retirar força autônoma para, quando viola-
a vinculação de toda atividade administrativa à lei, como medida de dos, servirem como fundamento direto para exercício de medidas
exercício do poder. de controle externo.
III. os princípios implícitos não gozam da mesma força norma-
Tais disposições dizem respeito, respectivamente, aos princí- tiva dos princípios expressos, tendo em vista que estes podem ser
pios da invocados como fundamentos para controle dos atos da Adminis-
(A) publicidade, legalidade e moralidade. tração, uma vez que possuem conteúdo definido e descrito na le-
(B) eficiência, impessoalidade e legalidade. gislação vigente.
(C) impessoalidade, publicidade e legalidade. Está correto o que consta em
(D) legalidade, eficiência e impessoalidade. (A) I, II, e III.
(E) moralidade, impessoalidade e eficiência. (B) I e II, apenas.
(C) II e III, apenas.
48.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 21ª REGIÃO)/JUDICIÁ- (D) I e III, apenas.
RIA/EXECUÇÃO DE MANDADOS/2003) (E) II, apenas.
No que tange ao princípio da legalidade, a Administração Pú-
blica 52.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 2ª REGIÃO)/JUDICIÁ-
(A) é limitada em face dos direitos subjetivos, vinculando- se à RIA/OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR FEDERAL/2014)
lei como medida de exercício do poder. O princípio da supremacia do interesse público informa a atua-
(B) deverá, desde que presente o interesse coletivo, atuar pra- ção da Administração pública
eter legem. (A) subsidiariamente, se não houver lei disciplinando a matéria
(C) poderá, desde que presente o interesse público, atuar con- em questão, pois não se presta a orientar atividade interpreta-
tra legem. tiva das normas jurídicas.
(D) fica restrita à fiscalização e ao controle jurisdicional de sua (B) alternativamente, tendo em vista que somente tem lugar
atuação. quando não acudirem outros princípios expressos.
(E) deverá revogar os atos ilegais que praticar, desde que o par- (C) de forma prevalente, posto que tem hierarquia superior aos
ticular seja indenizado. demais princípios.
49.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 21ª REGIÃO)/ADMI- (D) de forma ampla e abrangente, na medida em que também
NISTRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2003) orienta o legislador na elaboração da lei, devendo ser observa-
É INCORRETO afirmar que o princípio da moralidade adminis- do no momento da aplicação dos atos normativos.
trativa (E) de forma absoluta diante das lacunas legislativas, tendo em
(A) considera, também, o conteúdo ético do trabalho adminis- vista que o interesse público sempre pretere o interesse priva-
trativo, com base na indisponibilidade do interesse maior da do, prescindindo da análise de outros princípios.
sociedade.
(B) é denunciado pela coerente adequação de meios e fins.
(C) significa, também, não se desviar da finalidade constante da
lei (interesse público).
(D) determina que o ato administrativo deve ser atribuído à en-
tidade ou ao órgão que o titula, não ao agente que o pratica.

336
DIREITO ADMINISTRATIVO
53.(FCC - JUIZ DO TRABALHO (TRT 18ª REGIÃO)/2014/XIV) (D) supremacia do interesse público e o princípio da legalidade
Acerca dos princípios da Administração pública, é correto afir- podem ser excludentes, devendo, em eventual conflito, preva-
mar: lecer o primeiro, por sobrepor-se a todos os demais.
(A) O princípio da boa-fé não vigora no Direito Administrativo, (E) publicidade está implícito na atuação da administração,
eis que é atinente ao relacionamento entre sujeitos movidos uma vez que não consta da constituição federal, mas deve ser
pela autonomia da vontade e a ele se contrapõe o princípio respeitado nas mesmas condições que os demais.
da impessoalidade, que impera nas relações jurídico-adminis-
trativas. 56.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 12ª REGIÃO)/APOIO
(B) Os princípios do Direito Administrativo são mandamentos ESPECIALIZADO/PSICOLOGIA/2013)
de otimização; portanto, sua aplicação só é possível quando A respeito dos princípios básicos aplicáveis à Administração pú-
deles decorrerem consequências favoráveis ao administrado. blica, considere:
(C) No tocante ao princípio da motivação, admite-se, excep-
cionalmente, a convalidação do ato imotivado, por meio da I. Uma das representações do princípio da eficiência pode ser
explicação a posteriori dos motivos que levaram à sua prática, identificada com a edição da Emenda Constitucional n o 45/2004,
desde que tal vício não acarrete lesão ao interesse público nem que introduziu, entre os direitos e garantias fundamentais, a razo-
prejuízo a terceiros. ável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de
(D) Por força do princípio da legalidade, atos praticados de for- sua tramitação.
ma inválida devem ser anulados, independentemente das con- II. O princípio da supremacia do interesse público se sobrepõe
sequências decorrentes da anulação. ao princípio da legalidade, autorizando a Administração a impor
(E) Sendo a lei um mandamento moral e visto que, no âmbito restrições a direito individuais sempre que o interesse coletivo as-
da Administração pública, só é permitido aos agentes públicos sim justificar.
atuarem nos estritos limites da lei, para atender à moralidade III. O princípio da segurança jurídica impede que a Administra-
administrativa basta que o agente observe fielmente os man- ção reveja, por critério de conveniência e oportunidade, os atos por
damentos legais. ela praticados, obrigando a submissão ao Poder Judiciário.

54.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 1ª REGIÃO)/APOIO ES- Está correto o que consta em
PECIALIZADO/TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO/2014 (E MAIS 1 (A) I, apenas.
CONCURSO) (B) I, II e III.
A Administração pública está sujeita a observância de normas (C) I e III, apenas.
e princípios, alguns expressos, outros implícitos. A instauração, ins- (D) II e III, apenas.
trução e decisão dos processos administrativos está sujeita a inci- (E) I e III, apenas.
dência de princípios, tendo a Lei no 9784/99 elencado, de forma
expressa, mais princípios do que a Constituição Federal, no que 57.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 9ª REGIÃO)/ADMINIS-
concerne à atividade administrativa. Sobre a aplicação dos princí- TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2013)
pios mencionados nesses Diplomas, tem-se que Diante de uma situação de irregularidade, decorrente da prá-
(A) os princípios do contraditório e da ampla defesa aplicam-se tica de ato pela própria Administração pública brasileira, é possível
somente aos processos administrativos que tratem de apura- a esta restaurar a legalidade, quando for o caso, lançando mão de
ção de infrações disciplinares, vez que punidas com sanções seu poder
mais severas. (A) de tutela, expressão de limitação de seu poder discricioná-
(B) o princípio da segurança jurídica impede o exercício da com- rio e corolário do princípio da legalidade.
(B) de autotutela, que permite a revisão, de ofício, de seus atos
petência discricionária pela Administração pública.
para, sanar ilegalidade.
(C) os princípios do interesse público e da eficiência admitem
(C) de autotutela, expressão do princípio da supremacia do in-
a derrogação de leis, quando houver meio jurídico mais ágil ao
teresse público, que possibilita a alteração de atos por razões
atendimento da finalidade pública.
de conveniência e oportunidade, sempre que o interesse públi-
(D) o princípio da motivação não se aplica aos processos admi-
co assim recomendar.
nistrativos quando tratarem de atos de im probidade.
(D) disciplinar, que se expressa, nesse caso, por meio de medi-
(E) os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade po-
das corretivas de atuação inadequada do servidor público que
dem incidir no exercício, pela Administração pública, de com-
emitiu o ato.
petência discricionária. (E) de tutela disciplinar, em razão da atuação ilegal do servi-
dor público, que faz surgir o dever da Administração de corrigir
55.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 1ª REGIÃO)/JUDICIÁ- seus próprios atos.
RIA/EXECUÇÃO DE MANDADOS/2013)
A propósito dos princípios que informam a atuação da Adminis- 58.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 15ª REGIÃO)/ADMINIS-
tração pública tem-se que o princípio da TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2013)
(A) eficiência e o princípio da legalidade podem ser excluden- Os princípios que regem a Administração pública podem ser
tes, razão pela qual cabe ao administrador a opção de escolha expressos ou implícitos. A propósito deles é possível afirmar que
dentre eles, de acordo com o caso concreto. (A) os princípios da moralidade, legalidade, supremacia do
(B) tutela permite que a administração pública exerça, em al- interesse público e indisponibilidade do interesse público são
gum grau e medida, controle sobre as autarquias que instituir, expressos e, como tal, hierarquicamente superiores aos implí-
para garantia da observância de suas finalidades institucionais. citos.
(C) autotutela permite o controle dos atos praticados pelos en- (B) eficiência, moralidade, legalidade, impessoalidade e indis-
tes que integram a administração indireta, inclusive consórcios ponibilidade do interesse público são princípios expressos e,
públicos. como tal, hierarquicamente superiores aos implícitos.

337
DIREITO ADMINISTRATIVO
(C) impessoalidade, eficiência, indisponibilidade do interesse (D) a relação de coordenação e subordinação entre uns órgãos
público e supremacia do interesse público são princípios implí- da Administração Pública e outros, cada qual com atribuições
citos, mas de igual hierarquia aos princípios expressos. definidas em lei.
(D) moralidade, legalidade, publicidade e impessoalidade são (E) a identificação com o princípio da supremacia do interesse
princípios expressos, assim como a eficiência, hierarquicamen- privado, inerente à atuação estatal.
te superior aos demais.
(E) supremacia do interesse público não consta como princípio 62.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 8ª REGIÃO)/ADMINIS-
expresso, mas informa a atuação da Administração pública as- TRATIVA/2010)
sim como os demais princípios, tais como eficiência, legalidade Agente público que, sendo competente e adotando regular
e moralidade. processo disciplinar com direito ao contraditório e ampla defesa,
aplica sanção administrativa de demissão a servidor que se ausen-
59.(FCC - JUIZ DO TRABALHO (TRT 1ª REGIÃO)/2013) tou do serviço durante o expediente, sem autorização do chefe ime-
Na atuação da Administração Pública Federal, a segurança jurí- diato, infringe, dentre outros, o princípio da
dica é princípio que (A) razoabilidade.
(A) justifica a mantença de atos administrativos inválidos, des- (B) supremacia do interesse público.
de que ampliativos de direitos, independentemente da boa-fé (C) motivação.
dos beneficiários. (D) impessoalidade.
(B) não impede a anulação a qualquer tempo dos atos admi- (E) eficiência.
nistrativos inválidos, visto que não há prazos prescricionais ou
decadenciais para o exercício de autotutela em caso de ilega- 63.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 7ª REGIÃO)/JUDICIÁ-
lidade. RIA/EXECUÇÃO DE MANDADOS/2009
(C) justifica o usucapião de imóveis públicos urbanos de até du- Sobre os princípios básicos da Administração Pública, é correto
zentos e cinquenta metros quadrados, em favor daquele que, afirmar que
não sendo proprietário de outro imóvel urbano ou rural, exerça (A) a aplicação retroativa de nova interpretação desfavorável
a posse sobre tal imóvel por cinco anos, ininterruptamente e aos interesses do particular encontra respaldo no princípio da
segurança jurídica.
sem oposição, utilizando-o para sua moradia ou de sua família.
(B) o princípio da supremacia do interesse público não precisa
(D) impede que haja aplicação retroativa de nova interpretação
estar presente no momento da elaboração da lei, mas apenas
jurídica, em desfavor dos administrados.
quando da sua aplicação em concreto.
(E) impede que a Administração anule ou revogue atos que
(C) os princípios da ampla defesa e do contraditório devem
geraram situações favoráveis para o particular, pois tal desfazi-
ser observados tanto nos processos administrativos punitivos
mento afetaria direito s adquiridos.
como nos não punitivos.
(D) o princípio da motivação é exigível apenas nos atos discri-
60.(FCC - JUIZ DO TRABALHO (TRT 1ª REGIÃO)/2011)
cionários.
A respeito dos princípios que regem a Administração Pública,
(E) o princípio da eficiência sobrepõe-se a todos os demais
é correto afirmar: princípios da Administração.
(A) O principio da indisponibilidade do interesse público con-
templa o poder-dever da Administração, que veda a renúncia 64.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 15ª REGIÃO)/JUDICIÁ-
de poderes ou competências estabelecidas em lei. RIA/EXECUÇÃO DE MANDADOS/2009)
(B) O princípio da eficiência caracteriza-se como um mitigador Sobre os princípios da Administração Pública, é correto afirmar:
do princípio da legalidade, notadamente para as entidades da (A) O art. 37 da Constituição Federal não é taxativo, pois, outros
Administração indireta que atuam no domínio econômico. princípios existem, previstos em leis esparsas, ou, mesmo, não
(C) Os princípios da razoabilidade e proporcionalidade impõem expressamente contemplados no direito objetivo, aos quais se
à Administração a adequação entre meios e fins, vedando a sujeita a Administração Pública.
aplicação de restrições e sanções de caráter individual. (B) Segundo o princípio da legalidade, a Administração pode
(D) O princípio da legalidade determina que todos os atos prati- fazer tudo o que a lei não proíbe.
cados pela Administração devem contar com autorização legal (C) O princípio da especialidade é concernente à ideia da cen-
específica. tralização administrativa.
(E) O princípio da moralidade é subsidiário ao princípio da lega- (D) O princípio da autotutela significa o controle que a Admi-
lidade, de forma que uma vez atendido este último considera- nistração exerce sobre outra pessoa jurídica por ela mesma
-se atendido também o primeiro. instituída.
(E) O princípio da continuidade do serviço público é a possibili-
61.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 20ª REGIÃO)/JUDICIÁ- dade de reeleição dos chefes do poder executivo.
RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2011)
No que concerne à Administração Pública, o princípio da espe- 65.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 15ª REGIÃO)/ADMI-
cialidade tem por característica NISTRATIVA/2009)
(A) a descentralização administrativa através da criação de en- O princípio da autotutela significa que a Administração Pública
tidades que integram a Administração Indireta. (A) exerce o controle sobre seus próprios atos, com a possibi-
(B) a fiscalização das atividades dos entes da Administração In- lidade de anular os ilegais e revogar os inconvenientes ou ino-
direta. portunos, independentemente de recurso ao Poder Judiciário.
(C) o controle de seus próprios atos, com possibilidade de uti- (B) sujeita-se ao controle do Poder Judiciário, que pode anular
lizar-se dos institutos da anulação e revogação dos atos admi- ou revogar os atos administrativos que forem inconvenientes
nistrativos. ou inoportunos.

338
DIREITO ADMINISTRATIVO
(C) Direta fiscaliza as atividades das entidades da Administra- 69.(FCC - JUIZ DO TRABALHO (TRT 11ª REGIÃO)/2005)
ção Indireta a ela vinculadas. A Súmula nº 473 do Supremo Tribunal Federal – “a administra-
(D) Indireta fica sujeita a controle dos órgãos de fiscalização do ção pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que
Ministério do Planejamento mesmo que tenham sido criadas os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-
por outro Ministério. -los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os
(E) tem liberdade de atuação em matérias que lhes são atribu- direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação
ídas por lei. judicial” – reflete a aplicação do princípio da
(A) inércia da Administração Pública.
66.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 4ª REGIÃO)/ADMINIS- (B) autotutela administrativa.
TRATIVA/”SEM ESPECIALIDADE”/2006) (C) auto-executoriedade dos atos administrativos.
Entre os princípios básicos da Administração Pública, encontra- (D) presunção de legalidade dos atos administrativos.
-se o da segurança jurídica, que consiste, tecnicamente, na (E) presunção de veracidade dos atos administrativos.
(A) prerrogativa que detém a Administração Pública de exercer
o controle interno sobre os próprios atos, com a possibilidade 70.(FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO (TRT 2ª REGIÃO)/ADMINIS-
de anular os ilegais e revogar os inconvenientes ou inoportu- TRATIVA/2004)
nos. Tendo em vista o entrelaçamento dos princípios básicos da
(B) interpretação da norma administrativa da forma que me- Administração Pública, observa-se que dos princípios da legalidade
lhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, ve- e da supremacia do interesse público e da indisponibilidade desse
dada aplicação retroativa de nova interpretação. interesse, decorre, dentre outros, aquele concernente à idéia de
(C) presunção de que todo ato praticado pela Administração descentralização administrativa, a exemplo da criação de pessoa
Pública encontra-se em conformidade com o ordenamento ju- jurídica administrativa. Esta situação, diz respeito ao princípio da
rídico, até prova em contrário. (A) razoabilidade.
(D) adequação entre os meios e fins, vedada a imposição de (B) continuidade do serviço público.
obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas (C) especialidade.
estritamente necessárias ao atendimento do interesse público. (D) finalidade pública.
(E) obrigação imposta a todo agente público de realizar suas (E) proporcionalidade.
atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional.

67.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 4ª REGIÃO)/JUDICIÁ- GABARITO


RIA/”SEM ESPECIALIDADE”/2006)
Com relação aos princípios da Administração Pública, conside-
re: 1 A
2 C
I. Os órgãos da Administração Pública são estruturados de for-
ma a proporcionar uma relação de coordenação e subordinação en- 3 C
tre uns e outros, cada qual com atribuições definidas na lei. 4 A
II. A Administração Pública direta fiscaliza as atividades dos re-
5 E
feridos entes, com o fim de assegurar a observância de suas finali-
dades institucionais. 6 A
7 A
As proposições acima mencionadas correspondem, respectiva-
mente, aos princípios da 8 A
(A) impessoalidade e autotutela. 9 A
(B) especialidade e moralidade. 10 C
(C) hierarquia e tutela.
(D) legalidade e segurança jurídica. 11 D
(E) eficiência e razoabilidade. 12 C
13 C
68.(FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO (TRT 11ª REGIÃO)/ADMI-
NISTRATIVA/2005) 14 A
O princípio básico que objetiva aferir a compatibilidade entre 15 A
os meios e os fins, de modo a evitar restrições desnecessárias ou
abusivas por parte da Administração Pública, com lesões aos direi- 16 B
tos fundamentais, denomina-se 17 D
(A) motivação. 18 E
(B) razoabilidade.
(C) impessoalidade. 19 E
(D) coercibilidade. 20 A
(E) imperatividade.
21 D
22 E
23 B
24 C

339
DIREITO ADMINISTRATIVO

25 D ANOTAÇÕES
26 B
27 E ______________________________________________________
28 E
______________________________________________________
29 D
______________________________________________________
30 A
31 A ______________________________________________________
32 E
______________________________________________________
33 E
______________________________________________________
34 C
35 D ______________________________________________________
36 B ______________________________________________________
37 A
______________________________________________________
38 D
39 C ______________________________________________________
40 E ______________________________________________________
41 D
______________________________________________________
42 A
43 E ______________________________________________________
44 A ______________________________________________________
45 E
______________________________________________________
46 C
47 B ______________________________________________________
48 A ______________________________________________________
49 D
______________________________________________________
50 C
51 E ______________________________________________________
52 D ______________________________________________________
53 C
______________________________________________________
54 E
55 B ______________________________________________________
56 A ______________________________________________________
57 B
_____________________________________________________
58 E
59 D _____________________________________________________
60 A ______________________________________________________
61 A
______________________________________________________
62 A
63 C ______________________________________________________

64 A ______________________________________________________
65 A
______________________________________________________
66 B
67 C ______________________________________________________

68 B ______________________________________________________
69 B
______________________________________________________
70 C

340
DIREITO PENAL

Perceba a diferença:
DO CRIME. ELEMENTOS. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA. • Crime comissivo = relação de causalidade física ou natural
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFI- que enseja resultado naturalístico, ex. eu mato alguém.
CAZ. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. CRIME IMPOSSÍ- • Crime comissivo por omissão (omissivo impróprio) = relação
VEL. CAUSAS DE EXCLUSÃO DE ILICITUDE E CULPABILI- de causalidade normativa, o descumprimento de um dever leva ao
DADE.CONTRAVENÇÃO resultado naturalístico, ex. uma babá fica no Instagram e não vê a
criança engolir produtos de limpeza – se tivesse agido teria evitado
Conceito o resultado.
O crime, para a teoria tripartida, é fato típico, ilícito e culpável.
Alguns, entendem que a culpabilidade não é elemento do crime
O dever de agir incumbe a quem?
(teoria bipartida).
A quem tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou
Classificações vigilância, ex. os pais.
• Crime comum: qualquer pessoa pode cometê-lo. A quem tenha assumido a responsabilidade de impedir o
• Crime próprio: exige determinadas qualidades do sujeito. resultado, ex. por contrato.
• Crime de mão própria: só pode ser praticado pela pessoa.
Não cabe coautoria. A quem com o seu comportamento anterior, criou o risco
• Crime material: se consuma com o resultado. da ocorrência do resultado (norma de ingerência), ex. trote de
• Crime formal: se consuma independente da ocorrência do faculdade.
resultado.
• Crime de mera conduta: não há previsão de resultado natu- Quanto ao resultado naturalístico, é considerado como mudança
ralístico. do mundo real provocado pela conduta do agente. Nos crimes mate-
riais exige-se um resultado naturalístico para a consumação, ex. o ho-
Fato Típico e Teoria do Tipo micídio tem como resultado naturalístico um corpo sem vida.
O fato típico divide-se em elementos: Nos crimes formais, o resultado naturalístico pode ocorrer, mas
• Conduta humana; a sua ocorrência é irrelevante para o Direito Penal, ex. auferir de
• Resultado naturalístico; fato vantagem no crime de corrupção passiva é mero exaurimento.
• Nexo de causalidade; Já os crimes de mera conduta são crimes em que não há um
• Tipicidade. resultado naturalístico, ex. invasão de domicílio – nada muda no
mundo exterior.
▪ Teorias que explicam a conduta Mas não confunda! O resultado normativo/jurídico ocorre em
todo e qualquer crime, isto é, lesão ao bem jurídico tutelado pela
norma penal.
Teoria Causal- Teoria Finalista O nexo de causalidade consiste no vínculo que une a conduta
Teoria Social
Naturalística (Hans Welzel) do agente ao resultado naturalístico ocorrido no mundo exterior.
Conduta é ação No Brasil adotamos a Teoria da Equivalência dos Antecedentes
Conduta como Ação humana (conditio sine qua non), que considera causa do crime toda conduta
voluntária (dolosa ou
movimento voluntária com sem a qual o resultado não teria ocorrido.
culposa) destinada a
corporal. relevância social. Por algum tempo a teoria da equivalência dos antecedentes foi
uma finalidade.
criticada, no sentido de até onde vai a sua extensão?! Em resposta
A teoria finalista da conduta foi adotada pelo Código Penal, a isso, ficou definido que como filtro o dolo. Ou seja, só será consi-
pois como veremos adiante o erro constitutivo do tipo penal exclui derada causa a conduta que é indispensável ao resultado e que foi
o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. querida pelo agente. Assim, toda conduta que leva ao resultado do
Isso demonstra que o dolo e a culpa se inserem na conduta. crime deve ser punida, desde que haja dolo ou culpa.
A conduta humana pode ser uma ação ou omissão. Há também Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime,
o crime omissivo impróprio, no qual a ele é imputado o resulta- somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a
do, em razão do descumprimento do dever de vigilância, de acordo ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
com a TEORIA NATURALÍSTICO-NORMATIVA. Em contraposição a essa teoria, existe a Teoria da Causalidade
Adequada, adotada parcialmente pelo sistema brasileiro. Trata-se
de hipótese de concausa superveniente relativamente independen-
te que, por si só, produz o resultado.
Mas pera... O que é uma concausa? Circunstância que atua pa-
ralelamente à conduta do agente em relação ao resultado. As con-
causas absolutamente independentes são aquelas que não se jun-
tam à conduta do agente para produzir o resultado, e podem ser:

341
DIREITO PENAL
• Preexistentes: Já tinham colocado veneno no chá do meu de-
Vontade de praticar a conduta
safeto quando eu vou matá-lo.
Dolo genérico descrita no tipo penal sem
• Concomitantes: Atiro no meu desafeto, mas o teto cai e mata
nenhuma outra finalidade
ele.
• Supervenientes: Dou veneno ao meu desafeto, mas antes de Dolo específico O agente pratica a conduta típica
fazer efeito alguém o mata. (especial fim de agir) por alguma razão especial.
Dolo direto de primeiro A vontade é direcionada para a
Consequência em todas as hipóteses de concausa absoluta-
grau produção do resultado.
mente independente: O AGENTE SÓ RESPONDE POR TENTATIVA,
PORQUE O RESULTADO SE DEU POR CAUSA ABSOLUTAMENTE IN- O agente possui uma vontade,
DEPENDENTE. SE SUBTRAIR A CONDUTA DO AGENTE, O RESULTADO mas sabe que para atingir
TERIA OCORRIDO DE QUALQUER JEITO (TEORIA DA EQUIVALÊNCIA sua finalidade existem
DOS ANTECEDENTES). efeitos colaterais que irão
Dolo direto de
Até aí fácil né? Mas agora vem o pulo do gato! Existem as con- necessariamente lesar outros bens
causas relativamente independentes, que se unem a outras cir-
segundo grau (dolo
jurídicos.
cunstâncias para produzir o resultado. de consequências
Ex. dolo direto de primeiro grau é
• Preexistente: O agente provoca hemofilia no seu desafeto, necessárias)
atingir o Presidente, dolo direto de
já sabendo de sua doença, que vem a óbito por perda excessiva de segundo grau é atingir o motorista
sangue. Sem sua conduta o resultado não teria ocorrido e ele teve do Presidente, ao colocar uma
dolo, logo, o agente responde pelo resultado (homicídio consuma- bomba no carro.
do), conforme a teoria da equivalência dos antecedentes.
• Concomitante: Doses de veneno se unem e levam a óbito Ocorre quando o agente,
a vítima. Sem sua conduta o resultado não teria ocorrido e existe acreditando ter alcançado seu
dolo, logo, o agente responde pelo resultado (homicídio consuma- objetivo, pratica nova conduta,
Dolo geral, por erro
do), conforme a teoria da equivalência dos antecedentes. com finalidade diversa, mas depois
sucessivo, aberratio
• Superveniente: Aqui tudo muda, pois é utilizada a teoria da se constata que esta última foi
causae (erro de relação
causalidade adequada. Se a concausa não é um desdobramento na- a que efetivamente causou o
de causalidade)
tural da conduta, o agente só responde por tentativa, ex. eu dou um resultado. Ex. enforco e depois
tiro no agente, mas ele morre em um acidente fatal dentro da am- atiro no lago, e a vítima morre de
bulância. Todavia, se a concausa é um desdobramento da conduta afogamento.
do agente, ele responde pelo resultado, ex. infecção generalizada O dolo antecedente é o que se
gerada pelo ferimento do tiro (homicídio consumado). dá antes do início da execução. O
dolo atual é o que está presente
Agora vem a cereja do bolo, com a Teoria da Imputação Ob- durante a execução. O dolo
jetiva (Roxin). Em linhas gerais, nessa visão, só ocorre imputação Dolo antecedente,
subsequente ocorre quando
ao agente que criou ou aumentou um risco proibido pelo Direito, atual e subsequente
o agente inicia a conduta com
desde que esse risco tenha ligação com o resultado. Ex. Eu causo finalidade lícita, mas altera o seu
um incêndio na casa do meu desafeto, serei imputada pelo incên- ânimo e passa a agir de forma
dio, não pela morte de alguém que entrou na casa para salvar bens. ilícita.
Explicando melhor, para a teoria da imputação objetiva, a im-
putação só pode ocorrer quando o agente tiver dado causa ao fato
Crime Culposo
(causalidade física), mas, ao mesmo tempo, haja uma relação de
No crime culposo, a conduta do agente viola um dever de cui-
causalidade normativa, isto é, criação de um risco não permitido
dado:
para o bem jurídico que se pretende tutelar.
• Negligência: o agente deixa de fazer algo que deveria.
Criar ou aumentar um risco + O risco deve ser proibido pelo • Imprudência: o agente se excede no que faz.
Direito + O risco deve ser criado no resultado • Imperícia: O agente desconhece uma regra técnica profissio-
nal, ex. o médico dá um diagnóstico errado ao paciente que vem a
Por fim, a tipicidade consiste na subsunção – adequação da receber alta e falecer.
conduta do agente a uma previsão típica. Algumas vezes é necessá-
rio usar mais de um tipo penal para fazer a subsunção (conjugação • Requisitos do crime culposo
de artigos). a) Conduta Voluntária: o fim da conduta pode ser lícito ou ilíci-
Ainda dentro do fato típico, vamos analisar dolo e culpa. Com o to, mas quando ilícito não é o mesmo que se produziu (a finalidade
finalismo (Hans Welzel), o dolo e a culpa, que são elementos subje- não é do resultado).
tivos, foram transportados da culpabilidade para o fato típico (con- b) Violação de um dever objetivo de cuidado: negligência, im-
duta). Assim, a conduta passou a ser definida como ação humana prudência, imperícia.
dirigida a um fim. c) Resultado naturalístico involuntário (não querido).
Crime Doloso d) Nexo causal.
• Dolo direto = vontade livre e consciente de praticar o crime. e) Tipicidade: o fato deve estar previsto como crime culposo
• Dolo eventual = assunção do risco produzido pela conduta. expressamente.
f) Previsibilidade objetiva: o homem médio seria capaz de pre-
Perceba que no dolo eventual existe consciência de que a con- ver o resultado.
duta pode gerar um resultado criminoso, e mesmo diante da proba-
bilidade de dar algo errado, o agente assume esse risco.

342
DIREITO PENAL

Culpa Consciente Culpa Inconsciente ▪ Erro de tipo acidental


Aqui o erro ocorre na execução ou há um desvio no nexo causal
O agente prevê o resultado O agente não prevê que o da conduta com o resultado.
como possível, mas acredita resultado possa ocorrer. Só tem a • Erro sobre a pessoa: O agente pratica o ato contra pessoa
sinceramente que este não previsibilidade objetiva, mas não diversa da pessoa visada, por confundi-la com o seu alvo, que nem
irá ocorrer. subjetiva. está no local dos fatos. Consequência: o agente responde como se
tivesse praticado o crime contra a pessoa visada (teoria da equiva-
Culpa Própria Culpa Imprópria lência).
O agente quer o resultado, mas • Erro sobre o nexo causal: o resultado é alcançado mediante
acha que está amparado por um nexo causal diferente daquele que planejou.
O agente não quer o uma excludente de ilicitude ou a) Erro sobre o nexo causal em sentido estrito: com um ato o
resultado criminoso. culpabilidade. agente produz o resultado, apesar do nexo causal ser diferente, ex.
Consequência: exclui o dolo, mas eu disparo contra o meu desafeto, mas ele morre afogado ao cair na
imputa culpa. piscina. Consequência: o agente responde pelo o que efetivamente
ocorreu (morte por afogamento).
Não existe no Direito Penal brasileiro compensação de culpas, de b) Dolo geral/aberratio causae/dolo geral ou sucessivo: O agen-
maneira que cada um deve responder pelo o que fez. Outro ponto inte- te acredita que já ocorreu o resultado pretendido, então, pratica
outro ato (+ de 1 ato). Ao final verifica-se que o último ato foi o que
ressante é que o crime preterdoloso é uma espécie de crime qualificado
provocou o resultado. Consequência: o agente responde pelo nexo
pelo resultado. No delito preterdoloso, o resultado que qualifica o crime
causal efetivamente ocorrido, não pelo pretendido.
é culposo: Dolo na conduta inicial e culpa no resultado que ocorreu.
O crime material consumado exige conduta + resultado natura-
• Erro na execução (aberratio ictus): é o famoso erro de pon-
lístico + nexo de causalidade + tipicidade. Nos crimes tentados, por
taria, no qual a pessoa visada e a de fato acertada estão no mesmo
não haver consumação (resultado naturalístico), não estarão pre-
local.
sentes resultado e nexo de causalidade. Eventualmente, a tentativa
a) Erro sobre a execução com unidade simples (aberratio ictus
pode provocar resultado naturalístico e nexo causal, mas diverso do
de resultado único): O agente somente atinge a pessoa diversa da
pretendido pelo agente no momento da prática criminosa.
pretendida. Consequência: responde como se tivesse atingido a
Na adequação típica mediata, o agente não pratica exatamen-
pessoa visada.
te a conduta descrita no tipo penal, mas em razão de uma outra
b) Erro sobre a execução com unidade complexa (aberratio
norma que estende subjetiva ou objetivamente o alcance do tipo
ictus de resultado duplo): O agente atinge a vítima pretendida, e,
penal, ele deve responder pelo crime. Ex. O agente inicia a execução
também, a vítima não pretendida. Consequência: responde pelos
penal, mas em razão a circunstâncias alheias à vontade do agente o
dois crimes em concurso formal.
resultado pretendido (consumação) não ocorre – o agente é punido
pelo crime, mas de forma tentada.
• Erro sobre o crime ou resultado diverso do pretendido (aber-
ratio delicti ou aberratio criminis): o agente pretendia cometer um
Crime Preterdoloso
crime, mas por acidente ou erro na execução acaba cometendo ou-
O crime preterdoloso é uma espécie de crime qualificado pelo
tro (relação pessoa x coisa ou coisa x pessoa).
resultado. No delito preterdoloso, o resultado que qualifica o crime
a) Com unidade simples: O agente atinge apenas o resultado
é culposo: Dolo na conduta inicial e culpa no resultado que ocorreu.
não pretendido. Ex. uma pessoa é visada, mas uma coisa é atin-
Como consequência, o crime preterdoloso não admite tentativa, já
que o resultado é involuntário. gida – responde pelo dolo em relação a pessoa, na forma tentada
(tentativa de homicídio, tentativa de lesão corporal). Ex. Uma coisa
Erro de Tipo é visada, mas a pessoa é atingida – responde apenas pelo resultado
ocorrido em relação à pessoa, de forma culposa (homicídio culposo,
▪ Erro de tipo essencial lesão corporal culposa).
O agente desconhece algum dos elementos do tipo penal. Ou b) Com unidade complexa: O agente atinge tanto a pessoa
seja, há uma representação errônea da realidade, na qual o agente quanto a coisa. Consequência: responde pelos dois crimes em con-
acredita não se verificar a presença de um dos elementos essenciais curso formal.
que compõe o tipo penal. Quem nunca pegou a coisa de alguém
pensando que era sua?! Cometeu furto? Não, pois faltou você saber • Erro sobre o objeto (Error in objecto): imagine que o agente
que a coisa era alheia. O erro de tipo exclui o dolo e a culpa (se foi deseja furtar uma valiosa obra de arte, mas acaba subtraindo um
um erro perdoável/escusável) ou exclui o dolo e o agente só respon- quadro de pequeno valor, por confundir-se. Consequência: o agen-
de por culpa, se prevista (no caso de erro inescusável). te responde pelo o que efetivamente fez.
Outros exemplos: não sabe que o agente é funcionário público,
em desacato; não sabe que é garantidor em crime comissivo por ▪ Erro determinado por terceiro
omissão; erro sobre o elemento normativo, ex. justa causa. O agente erra porque alguém o induz a isso, de maneira que o
Não restam mais dúvidas, certo? Erro de tipo é erro sobre a autor mediato (quem provocou o erro) será punido. O autor ime-
existência fática de um dos elementos que compõe o tipo penal. diato (quem realiza) é mero instrumento, e só responderá caso ficar
demonstrada alguma forma de culpa.

Iter Criminis
Iter Criminis significa caminho percorrido pelo crime. A cogita-
ção (fase interna) não é punida – ninguém pode ser punido pelos
seus pensamentos. Os atos preparatórios, em regra, também, não
são punidos.

343
DIREITO PENAL
A partir do início da execução do crime, o agente sofre punição. 1. Crime praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa,
Caso complete o que é dito pelo tipo penal, o crime estará consu- ou culposo;
mado; caso não se consume por circunstâncias alheias à vontade do 2. O juiz ainda não recebeu a denúncia ou queixa;
agente, pune-se a tentativa. 3. O agente reparou o dano ou restituiu a coisa voluntariamente.
— A diminuição é de 1/3 a 2/3, a depender da celeridade e
Tentativa voluntariedade do ato.
O crime material consumado exige conduta + resultado natura- — O arrependimento posterior se comunica aos demais agentes.
lístico + nexo de causalidade + tipicidade. Nos crimes tentados, por — Se a vítima se recusar a receber a reparação mesmo assim o
não haver consumação (resultado naturalístico), não estarão pre- agente terá a diminuição de pena.
sentes resultado e nexo de causalidade. Eventualmente, a tentativa
pode provocar resultado naturalístico e nexo causal, mas diverso do Crime Impossível (tentativa inidônea)
pretendido pelo agente no momento da prática criminosa. Embora o agente inicie a execução do delito, jamais o crime se
Na adequação típica mediata, o agente não pratica exatamen- consumará.
te a conduta descrita no tipo penal, mas em razão de uma outra Por quê? O meio utilizado é completamente ineficaz ou o obje-
norma que estende subjetiva ou objetivamente o alcance do tipo to material do crime é impróprio para aquele crime.
penal, ele deve responder pelo crime. Ex. O agente inicia a execução Ex. Ineficácia absoluta do meio = arma que não dispara.
penal, mas em razão a circunstâncias alheias à vontade do agente o Ex. Absoluta impropriedade do objeto = atirar em corpo sem
resultado pretendido (consumação) não ocorre – o agente é punido vida.
pelo crime, mas de forma tentada. O CP adotou a teoria objetiva da punibilidade do crime impos-
O CP adotou a teoria dualística/realista/objetiva da punibi- sível, ou seja, não é punido (atipicidade).
lidade da tentativa. Assim, a pena do crime tentado é a pena do Câmeras e dispositivos de segurança em estabelecimentos
crime consumado com diminuição de 1/3 a 2/3 (varia de acordo o comerciais não tornam o crime impossível.
quanto chegou perto do resultado). Isso ocorre porque o desvalor
do resultado para a sociedade é menor. Ilicitude
— Tentativa branca ou incruenta = o agente não atinge o bem Estado de Necessidade, Legítima Defesa, Estrito Cumprimento
que pretendia lesar; de Dever Legal, Exercício Regular de Direito.
— Tentativa vermelha ou cruenta = o agente atinge o bem que
pretendia lesar; A ilicitude, também conhecida como antijuridicidade, nos traz
— Tentativa perfeita = o agente completa os atos de execução; a ideia de que a conduta está em desacordo com o Direito.
— Tentativa imperfeita = o agente não esgota os meios de exe- Presente o fato típico, presume-se que o fato é ilícito. Assim, o
cução. ônus da prova passa a ser do acusado, ou seja, o acusado é quem
vai precisar comprovar a existência de uma excludente de ilicitude.
▪ Crimes que não admitem tentativa As excludentes da ilicitude podem ser genéricas (incidem em
• Culposo (é involuntário); todos os crimes) ou específicas (próprias de alguns crimes).
• Preterdoloso (o resultado é involuntário); Causas genéricas = estado de necessidade; legítima defesa;
• Unissubsistente (um ato só); exercício regular de direito; estrito cumprimento do dever legal.
• Omissivo puro (não dá para tentar se omitir); Causa supralegal de exclusão da ilicitude = consentimento do
• Perigo abstrato (só de gerar o perigo o crime se consuma); ofendido nos crimes contra bens disponíveis.
• Contravenção (a lei quis assim);
• De atentado/empreendimento (a tentativa já gera consuma- a) Estado de Necessidade:
ção); Art. 24 – Considera-se em estado de necessidade quem pratica
• Habitual (atos isolados são indiferentes penais). o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vonta-
de, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo
Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.         
Ambas afastam a tipicidade do dolo inicial e o agente só res- § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o
ponde pelo o que fez (danos que efetivamente causou). dever legal de enfrentar o perigo.         
• Na desistência voluntária, o agente voluntariamente desiste § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito
de dar sequência aos atos executórios iniciados, mesmo podendo ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.    
fazê-lo (fórmula de Frank). O resultado não se consuma por desis-
tência do agente. De acordo com a TEORIA UNITÁRIA, o bem jurídico protegido
• No arrependimento eficaz, o agente pratica todos os atos de deve ser de valor igual ou superior ao sacrificado. Ex. vida x vida. Se
execução, mas após isto se arrepende e adota medidas que impe- compromete um bem de maior valor para salvar um bem de menor
dem a consumação. valor incide uma causa de diminuição de pena (-1/3 a 2/3).
Requisitos:
Atenção: se o resultado, ainda assim, vier a ocorrer, o agente — Perigo a um bem jurídico próprio ou de terceiro;
responde pelo crime com uma atenuante genérica. — Conduta do agente na qual ele sacrifica o bem alheio para
Atenção: se o crime for cometido em concurso de pessoas e salvar o próprio ou do terceiro;
somente um deles realiza a conduta de desistência voluntária ou — A situação de perigo não pode ter sido criada voluntaria-
arrependimento eficaz, esta circunstância se comunica aos demais. mente pelo agente;
Motivo: Trata-se de exclusão da tipicidade, o crime não foi cometi- — O perigo tem que estar ocorrendo (atual);
do, respondendo todos apenas pelos atos praticados até então.
— O agente não pode ter o dever jurídico de impedir o resulta-
do, ex. bombeiro;
Arrependimento Posterior
— A conduta do agente precisa ser inevitável (o bem jurídico só
É uma causa de diminuição de pena para o crime já consuma-
pode ser salvo se ele agir);
do, desde que:

344
DIREITO PENAL
— A conduta do agente precisa ser proporcional (salvar bem de • O estrito cumprimento do dever legal se comunica aos de-
valor igual ou maior). mais agentes.
• Particular também pode estar amparado pelo estrito cumpri-
Estado de Estado de Estado de Estado de mento do dever legal.
necessidade necessidade necessidade necessidade
agressivo defensivo real putativo d) Exercício Regular de Direito:
O agente age no legítimo exercício de um direito seu (previsto
Quando a em lei). Ex. lutas desportivas.
situação de
perigo não existe EXCESSO PÚNIVEL: EM TODAS AS EXCLUDENTES DE ILICUTDE,
O agente de fato, apenas EVENTUAL EXCESSO SERÁ PUNIDO, SEJA ELE DOLOSO OU CULPO-
prejudica o na imaginação SO!
O agente
bem jurídico do agente.
sacrifica o
de terceiro Consequência: Culpabilidade: Imputabilidade Penal, Potencial Consciência
bem jurídico
que não O perigo se o erro é da Ilicitude, Exigibilidade de Conduta Diversa
de quem
produziu o existe. escusável, O último elemento da análise analítica do crime é a culpabili-
provocou o
perigo. exclui dolo e dade. Lembre-se, para a teoria tripartida o crime é fato típico, anti-
perigo.
Obs. o agente culpa; se o erro jurídico e culpável. Para a teoria bipartida a culpabilidade é pressu-
precisa é inescusável, posto para a aplicação da pena.
indenizar. exclui o dolo, A culpabilidade é o juízo de reprovabilidade, e divide-se nas
mas responde seguintes teorias:
por culpa, se • Teoria Psicológica: Os causalistas acreditavam que o agente
prevista. era culpável se imputável no momento do crime e se havia agido
com dolo ou culpa.
• Estado de necessidade recíproco é possível, se nenhum deles • Teoria normativa (psicológico-normativa): Além de imputá-
provocou o perigo. vel e com dolo ou culpa o agente tinha que estar consciente da ilici-
• O estado de necessidade se comunica a todos os agentes. tude e ser exigível conduta diversa.
• Teoria extremada da culpabilidade (normativa pura): Se coa-
b) Legítima Defesa: duna com a teoria finalista, pois dolo e culpa transportaram-se para
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando mode- a tipicidade (dolo subjetivo). Para essa teoria, os elementos da cul-
radamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou pabilidade são: imputabilidade + potencial consciência da ilicitude
iminente, a direito seu ou de outrem.         (dolo normativo) + exigibilidade de conduta diversa.
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos • Teoria limitada da culpabilidade: A teoria normativa pura se
no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o divide em teoria extremada e teoria limitada. O que as diferencia é
agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agres- o tratamento dado ao erro sobre as causas de justificação (exclusão
são a vítima mantida refém durante a prática de crimes.    da ilicitude), isto é, descriminantes putativas. A teoria extremada
defende que todo erro que recaia sobre uma causa de justificação
O agente pratica um fato para repelir uma agressão injusta, seja equiparado ao ERRO DE PROIBIÇÃO. A teoria limitada divide
atual ou iminente (prestes a ocorrer), contra direito próprio ou o erro sobre pressuposto fático da causa de justificação e o erro
alheio. Ex. o dono de um animal bravo utiliza o animal como instru- sobre a existência ou limites jurídicos de uma causa de justificação.
mento de agressão contra outrem – o agente poderá se defender. No primeiro caso (erro de fato) aplicam-se as regras do erro de tipo,
• Cabe LD contra agressão de inimputável; que aqui passa a se chamar erro de tipo permissivo. No segundo
• Ainda que possa fugir, o agente pode escolher ficar e repelir a caso (erro sobre a ilicitude da conduta) aplicam-se as regras do erro
agressão (no estado de necessidade não); de proibição.
• Os meios utilizados devem ser suficientes e necessários para
repelir a injusta agressão (proporcionalidade); Obs.: O CP adota a teoria normativa pura limitada, ou seja, se-
• Na LD putativa, o agente pensa que está sendo agredido. para o erro de tipo do erro de proibição.
Consequência: se o erro é escusável, exclui dolo e culpa; se o erro
é inescusável, exclui o dolo, mas responde por culpa, se prevista. ▪ Elementos da culpabilidade:
• É possível que ocorra LD sucessiva, ex. A agride B, B repele a 1. Imputabilidade Penal: Capacidade de entender o caráter ilí-
agressão de forma excessiva, A passa ter o direito de agir em LD em cito da conduta e autodeterminar-se conforme o Direito. Na ausên-
razão do excesso (agressão injusta). cia de qualquer desses elementos será inimputável, de acordo com
• Se o bem é indisponível, a vontade do dono (consentimento) o critério biopsicológico.
é indiferente para a atuação da LD de terceiro. O CP também adota o critério biológico, pois os menores de 18
• Não cabe LD real em face de LD real, porque falta injusta anos são inimputáveis.
agressão. Por outro lado, pode ter LD putativa (agressão injusta) Lembre-se que a imputabilidade penal deve ser aferida no mo-
sucedida por LD real (repelir agressão injusta). mento que ocorreu o fato criminoso.
Lembre-se, também, que em crime permanente só cessa a con-
c) Estrito Cumprimento do Dever Legal: duta quando a vítima é liberada (ex. sequestro), logo, a idade do
O agente comete um fato típico, em razão de um dever legal. agente vai ser analisada até que realmente cesse a conduta, com a
Mas não confunda! Quando um policial numa troca de tiros mata libertação da vítima/apreensão do agente.
um bandido não age em estrito cumprimento de dever legal, mas
em LD, pois não existe o dever legal de matar, mas sim injusta agres-
são.

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DIREITO PENAL
O ordenamento jurídico prevê a completa inimputabilidade, Concurso de Pessoas
que exclui a culpabilidade e impõe medida de segurança (sentença O concurso de pessoas consiste na colaboração de dois ou mais
absolutória imprópria); bem como, prevê a semi-imputabilidade, agentes para a prática de um delito ou contravenção penal. De acor-
que enseja medida de segurança (sentença absolutória imprópria) do com a teoria monista (unitária), todos respondem pelo mesmo
ou sentença condenatória com causa de diminuição de pena (-1/3 crime, na medida de sua culpabilidade. Ex. 3 amigos furtam uma
a 2/3). casa, todos respondem pelo crime de furto, mas o juiz vai valorar a
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou conduta de cada um de acordo com a individualidade dos agentes.
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo
da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter
Concurso de pessoas
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimen- Concurso de pessoas necessário
eventual
to.
Redução de pena O tipo penal não exige a O tipo penal exige que a
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, presença de mais de uma conduta seja praticada por mais
se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por de- pessoa. de uma pessoa.
senvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramen-
te capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de ▪ Requisitos do concurso de pessoas:
acordo com esse entendimento. — Pluralidade de agentes: Se um imputável determina que um
inimputável realize um crime não existe concurso de pessoas, mas
Atenção sim autoria mediata (o mandante é o autor do crime e o inimputá-
— Os índios podem ser imputáveis (integrados à sociedade), vel instrumento).
semi-imputáveis (parcialmente integrados à sociedade) ou inimpu- Nos crimes plurissubjetivos (concurso de pessoas necessário), se
táveis (não integrados). um dos colaboradores não é culpável, mesmo assim haverá crime.
— A conduta do sonâmbulo é atípica, pois falta conduta (dolo/ Nos crimes eventualmente plurissubjetivos (concurso de pes-
culpa). soas eventual) não é necessário que todos os agentes sejam cul-
— A embriaguez acidental gera inimputabilidade (isenção de páveis, basta um deles para qualificar o crime, ex. o concurso de
pena), desde que decorrente de caso fortuito ou força maior + com- pessoas qualifica o furto, logo, se um é imputável, não importa se os
pleta + retirar totalmente a capacidade de discernimento do agen- demais são inimputáveis, pois o furto estará qualificado.
te. Obs. se for parcial (retirar parcialmente a capacidade de discer- Nesses casos que tem inimputáveis, mas eu considero o con-
nimento do agente) a pena será reduzida. curso para tipificar ou qualificar o crime a doutrina os denomina de
• Nos casos de embriaguez não se aplica medida de segurança, concurso impróprio/aparente.
pois o agente não é doente mental. — Relevância da colaboração: A participação do agente deve
• A embriaguez voluntária e culposa não exclui a imputabili- ser relevante para a produção do resultado. Ou seja, a colabora-
dade! ção que em nada contribui para o resultado é um indiferente penal.
• A lei de drogas exclui a imputabilidade do inebriado patoló- Além disso, a colaboração deve ser prévia ou concomitante à exe-
gico. cução. A colaboração posterior à execução enseja crime autônomo,
— A embriaguez preordenada (se embriaga para cometer cri- salvo o ajuste tenha ocorrido previamente.
me) não retira a imputabilidade do agente, pelo contrário, trata-se — Vínculo subjetivo (concurso de vontades): Ajuste ou adesão
de circunstância agravante da pena. de um à conduta do outro. Caso não haja vínculo subjetivo entre os
agentes haverá autoria colateral, e não coautoria.
2. Potencial consciência da ilicitude: neste elemento da impu- — Unidade de crime (identidade de infração): todos respon-
tabilidade, é verificado se a pessoa tinha a possibilidade de conhe- dem pelo mesmo crime.
cer o caráter ilícito do fato, de acordo com as suas características — Existência de fato punível: a colaboração só é punível se o
(não como parâmetro o homem médio). crime for, pelo menos, tentado (princípio da exterioridade – exige o
Quando o agente age acreditando que sua conduta não é pe- início da execução).
nalmente ilícita comete erro de proibição. • Na autoria mediata por inimputabilidade do agente não basta
que o executor seja inimputável, ele deve ser um instrumento do
3. Exigibilidade de conduta diversa: É verificado se o agente mandante (não ter o mínimo discernimento).
podia agir de outro modo. Caso comprovado que não dava para • Na autoria mediata por erro do executor, quem pratica a con-
agir de outra maneira, no caso concreto, a culpabilidade é excluída duta é induzido a erro pelo mandante (erro de tipo ou erro de proi-
(isenção de pena). Ex. coação moral irresistível – uma pessoa coage bição), ex. médico determina que enfermeira aplique uma injeção
outra a praticar determinado crime, sob ameaça de lhe fazer algum tóxica no paciente alegando que é um medicamento normal.
mal grave. Obs. se a coação é física exclui a tipicidade pela falta de • Na autoria mediata por coação do executor existe coação mo-
conduta. Obs. se podia resistir a coação, recebe apenas uma ate- ral irresistível, a culpabilidade é apenas do coator, não do coagido
nuante genérica. Ex. obediência hierárquica – funcionário público (inexigibilidade de conduta diversa).
cumpre ordem não manifestamente ilegal emanada pelo seu su- • Para ter autoria mediata em crime próprio, o autor mediato
perior (isenção de pena). Obs. se a ordem é manifestamente ilegal (mandante) precisa reunir as condições especiais exigidas pelo tipo
comete crime. penal. Se o mandante não reúne as condições do crime próprio há
autoria por determinação, punindo quem exerce sobre a conduta
domínio equiparado à figura da autoria (autor da determinação da
conduta/responsável pela sua ocorrência).
• Nos crimes de mão própria não se admite autoria mediata,
porque o crime não pode ser realizado por interposta pessoa. To-
davia, pode ter a figura do autor por determinação (pune quem de-
terminou o crime).

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DIREITO PENAL
Autor é quem pratica a conduta descrita no núcleo do tipo pe- Vejamos:
nal, todos os demais que de alguma forma prestarem colaboração
serão partícipes. Essa teoria foi adotada pelo Código Penal e é de- Teoria da aces- Teoria da
nominada de teoria objetivo-formal. Teoria da Teoria da
soriedade limi- acesso-
No entanto, atente-se para a teoria do domínio do fato (nos acessoriedade hiperacesso-
tada riedade
crimes dolosos), criada por Hans Welzel e desenvolvida por Claus mínima riedade
(adotada) máxima
Roxin: o autor é todo aquele que possui domínio da conduta cri-
minosa, seja ele executor ou não. O importante, para essa teoria, Exige que O
é que tenha o poder de decidir sobre o rumo da prática delituosa, a conduta partícipe Exige que o
A conduta
o cabeça do crime. O partícipe, por sua vez, é quem contribui, mas principal seja só é fato principal
principal só
sem poder de direção. Ou seja, o controle da situação (quem pode típica e ilícita. punido seja típico,
precisa ser
intervir a qualquer momento para fazer cessar a conduta) é o crité- Recorda que se o fato ilícito,
típica para a
rio utilizado para definir o autor. as excludentes principal culpável e
punição do
A coautoria é espécie de concurso de pessoas na qual duas ou de ilicitude se for típico, o autor seja
partícipe.
mais pessoas praticam a conduta descrita no núcleo do tipo penal. comunicam?! ilícito e punido.
Na coautoria funcional, os agentes realizam condutas diversas que Ahá! culpável.
se somam para produzir o resultado. Na coautoria material (direta)
todos realizam a mesma conduta. — A lei admite a redução da pena de 1/6 a 1/3 se a participação
• Cabe coautoria em crimes próprios (todos reúnem as condi- é de menor importância.
ções ou pelo menos tem ciência que um deles as possui), mas não — A doutrina admite participação nos crimes comissivos por
cabe coautoria em crime de mão própria (só participação). omissão, quando o partícipe devia e podia evitar o resultado.
• Nos crimes omissivos não cabe coautoria, só participação.
• Nos crimes culposos cabe coautoria, mas não participação. — Participação inócua não se pune, ex. eu emprestei a arma
• Na autoria mediata não há concurso entre autor mediato e para o agente, mas ele matou com o uso de veneno.
autor imediato, respondendo apenas o autor mediato, que se valeu — Participação em cadeia é possível, ex. eu empresto a arma
de alguém sem culpabilidade para a execução do delito. Entretan- para A, para este emprestar para B e matar a vítima. Eu e A somos
to, é possível coautoria e participação na autoria mediata (vários partícipes de B.
mandantes).
• Na coação física irresistível, o coator é autor direto. Comunicam-se: Não se comunicam:
• Existe autoria mediata de crime próprio, mas não de crime
de mão própria. Elementares do crime Circunstâncias subjetivas
(caracteriza o crime) e (influencia a pena de acordo
Participação é modalidade de concurso de pessoas, na qual o circunstâncias objetivas com a pessoa do agente) e
agente colabora para a prática delituosa, mas não pratica a conduta (influencia a pena de acordo condições de caráter pessoal
descrita no núcleo do tipo penal. com o fato). (relativas à pessoa do agente).

Preste atenção, circunstâncias e condições de caráter pessoal


Participação Moral Participação Material não se comunicam. Por outro lado, as circunstâncias de caráter real
Instiga (reafirma a ideia) ou Presta auxílio fornecendo ou objetivas (se referem ao fato), se comunicam, sob uma condi-
induz (cria a ideia) em outrem. objeto ou condições para a ção: é necessário que a circunstância tenha entrado na esfera de
fuga (cumplicidade). conhecimento dos demais agentes. Ex. A informa o seu partícipe
que usará emboscada para matar, ambos respondem por essa qua-
Pela teoria da adequação típica mediata, o partícipe mesmo lificadora.
sem praticar a conduta descrita no núcleo do tipo pode ser punido, Outro ponto interessante é que elementares sempre se comu-
uma vez que, as normas de extensão da adequação típica possibili- nicam, sejam objetivas ou subjetivas, desde que tenham entrado na
tam o raio de aplicação do tipo penal. Ou seja, soma o art. do crime esfera de conhecimento do partícipe.
+ o art. 29 do CP = o resultado é conseguir punir o partícipe. Para fechar com chave de ouro vale abordar a autoria colateral.
Conforme a teoria da acessoriedade, o partícipe é punido mes- O que é isso? Não se confunde com o concurso de pessoas, pois não
mo que sua conduta seja considerada acessória em relação ao au- existe acordo de vontades. Imagine que 2 pessoas atiram na mesma
tor. vítima, mas os peritos não conseguem identificar quem efetuou o
disparo fatal. O resultado desta autoria incerta é que ambos res-
pondem de forma tentada.
Outra figura curiosa é a cooperação dolosamente distinta, que
consiste em participação em crime menos grave (desvio subjetivo
de conduta). Ambos os agentes decidem praticar determinado cri-
me, mas durante a execução um deles decide praticar outro crime,
mais grave. Aquele que escolheu praticar somente o crime inicial
só responderá por este, salvo ficar comprovado que podia prever a
ocorrência do crime mais grave. Neste último caso, a pena do crime
inicial é aumentada até a metade.

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DIREITO PENAL
Obs.: No concurso de multidão criminosa, quem lidera o crime É interessante que recentemente o STJ entendeu que o sim-
terá pena agravada e quem adere a conduta tem a pena atenuada. ples fato do condutor do automóvel estar embriagado não gera a
Há concurso de pessoas, pois existe vínculo subjetivo, no sentido presunção de que tenha havido dolo eventual, no caso de acidente
de que um adere a conduta do outro, mesmo que de forma tácita. de trânsito com o resultado morte. O STF, no mesmo sentido, con-
siderou que não havia homicídio doloso na conduta de um homem
que entregou o seu carro a uma mulher embriagada para que esta
dirigisse o veículo, mesmo tendo havido acidente por causa da em-
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA (HOMICÍDIO, LESÃO
briaguez, resultando a morte da mulher condutora.
CORPORAL, RIXA E INJÚRIA). DOS CRIMES CONTRA A
Por outro lado, já foi reconhecido o dolo eventual por estar diri-
LIBERDADE PESSOAL (CONSTRANGIMENTO ILEGAL,
gindo na contramão embriagado, uma vez que, o condutor assumiu
AMEAÇA, SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO)
o risco de causar lesões/morte de outrem. Inclusive, a tentativa é
compatível com o dolo eventual.
Quanto a qualificadora do motivo fútil, o STJ não a enquadra
Os crimes contra a pessoa protegem os bens jurídicos vida e nos casos de racha. Todavia, aplica-se a qualificadora do meio cruel
integridade física da pessoa, encontram-se entre os artigos 121 ao no caso de reiteração de golpes na vítima. Ademais, a qualificadora
154 do Código Penal. A jurisprudência é vasta sobre tais tipos pe- do motivo fútil é compatível com o homicídio praticado com dolo
nais e muitas vezes repleta de polêmicas, como, por exemplo, no eventual. Mas a qualificadora da traição/emboscada/dissimulação
caso do aborto. não é compatível com dolo eventual, pois exige-se um planejamen-
to do crime que o dolo eventual não proporciona.
Homicídio A qualificadora do feminicídio é compatível com o motivo tor-
• O homicídio simples consiste em matar alguém. pe, pois está solidificado nos tribunais superiores o entendimento
• O homicídio privilegiado recebe causa de diminuição de pena que o feminicídio é uma qualificadora objetiva que combina com
de 1/6 a 1/3, desde que o motivo seja de relevante valor moral ou as qualificadoras subjetivas (motivo do crime), bem como com o
social (ex. matou o estuprador da filha); sob domínio de violenta homicídio privilegiado.
emoção logo após injusta provocação da vítima (ex. matou o aman-
te da esposa ao pegá-los no flagra). Por fim, lembre-se que a jurisprudência considera que algumas
• O homicídio é qualificado e recebe pena-base maior nos ca- situações merecem a extinção da punibilidade pelo perdão judicial,
sos de paga ou promessa de recompensa ou outro motivo torpe quando o homicídio é culposo e o agente já sofreu suficientemente
(ex. matar por dinheiro); emprego de veneno, fogo, explosivo, as- as consequências do crime. Exemplo: pai atropela o filho.
fixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel (ex. queimar a pes- Ainda sobre o homicídio culposo, a causa de aumento não é
soa viva), ou de que possa resultar perigo comum (ex. incendiar um afastada se o agente deixa de prestar socorro em caso de morte
prédio para matar seu desafeto); traição, emboscada, dissimulação instantânea da vítima, salvo se o óbito realmente for evidente.
ou outro recurso que dificulte a defesa do ofendido (ex. mata-lo em
rua sem saída); para assegurar a execução, ocultação, impunidade ▪ Homicídio simples
ou vantagem de outro crime (ex. matar a testemunha de um crime). Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Obs.: O feminicídio é uma espécie de homicídio qualificado, no • Caso de diminuição de pena
qual o agente mata a mulher por razões da condição de sexo fe- § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de rele-
minino, isto é, no contexto de violência doméstica ou familiar, ou, vante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção,
menosprezo/discriminação à condição de mulher. logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir
a pena de um sexto a um terço.
Causas de aumento Causas de
Causas de aumento ▪ Homicídio qualificado
do homicídio aumento do
do feminicídio § 2° Se o homicídio é cometido:
culposo homicídio doloso
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro
Ocorrer durante a
motivo torpe;
gestação ou nos 3
II - por motivo fútil;
meses posteriores Vítima menor de
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura
ao parto; contra 14 anos ou maior
ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo
menor de 14 anos de 60 anos; crime
comum;
ou maior de 60 Se ocorrer a praticado por
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou ou-
anos ou pessoa inobservância milícia privada,
tro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
portadora de de regra técnica sob o pretexto
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
deficiência/doença profissional; deixar de prestação
vantagem de outro crime:
degenerativa; de prestar socorro. de serviço
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
na presença de de segurança
ascendente ou ou grupo de
▪ Feminicídio
descendente; extermínio.
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
descumprindo
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144
medida protetiva.
da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da For-
ça Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
Obs.: O homicídio contra autoridade da Segurança Pública, no decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:
companheiro ou parente até 3º grau qualifica o homicídio. VIII - (VETADO):

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DIREITO PENAL
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. § 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta le-
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino são corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º
quando o crime envolve: e 2º do art. 129 deste Código: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
I - violência doméstica e familiar; Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Incluído pela Lei nº
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 13.968, de 2019)
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta
▪ Homicídio culposo morte: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
§ 3º Se o homicídio é culposo: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Incluído pela Lei nº
Pena - detenção, de um a três anos. 13.968, de 2019)
§ 3º A pena é duplicada: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
▪ Aumento de pena I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil;
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um ter- (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
ço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profis- II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa,
são, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro a capacidade de resistência. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge § 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada
para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa em tempo real. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. § 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coor-
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de denador de grupo ou de rede virtual. (Incluído pela Lei nº 13.968,
aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio de 2019)
agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desneces- § 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em le-
sária. são corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência
crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência,
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste
metade se o crime for praticado: Código. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao par- § 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido
to; contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o ne-
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (ses- cessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer
senta) anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerati- outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo
vas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste Código.
ou mental;
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascen- O crime consiste em colocar a ideia ou incentivar a ideia do
dente da vítima; suicídio ou automutilação, bem como prestar auxílio material (ex.
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência emprestar a faca). As penas são diferentes, a depender do resultado
previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de do crime.
7 de agosto de 2006. • Lesão corporal de natureza grave ou gravíssima: Reclusão de
1 a 3 anos;
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automuti- • Resultado morte: Reclusão de 2 a 6 anos.
lação
Este crime sofreu alteração com o Pacote Anticrime, em razão Ademais, as penas são duplicadas se o crime é praticado por
do episódio da “Baleia Azul”, jogo desenvolvido entre jovens, no motivo egoístico, torpe ou fútil (motivo banal), bem como se a ví-
qual incitava-se a automutilação e o suicídio. tima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade
de resistência. No mesmo sentido, a pena é aumentada até o do-
▪ Antes do Pacote Anticrime bro se a conduta é realizada por meio da internet (ex. jogo baleia
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe azul). Ademais, aumenta-se a pena em metade se o agente é o líder
auxílio para que o faça: (quem manda).
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou Se o resultado é lesão corporal de natureza gravíssima e é co-
reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão metido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por
corporal de natureza grave. enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discerni-
Parágrafo único - A pena é duplicada: mento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não
pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de Lesão
Aumento de pena Corporal qualificada como gravíssima.
I - se o crime é praticado por motivo egoístico; Se o resultado é a morte e o crime é cometido contra menor
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário discer-
a capacidade de resistência. nimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa,
não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de
Após o Pacote Anticrime homicídio.
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar
Infanticídio
automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça: (Re-
Consiste em matar o filho sob influência dos hormônios (esta-
dação dada pela Lei nº 13.968, de 2019)
do puerperal), durante o parto ou logo após.
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (Redação
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio
dada pela Lei nº 13.968, de 2019)
filho, durante o parto ou logo após:

349
DIREITO PENAL
Pena - detenção, de dois a seis anos. Lesão Corporal
Consiste em ofender a integridade corporal ou saúde de ou-
Aborto trem. A pena é aumentada em caso de violência doméstica, como
O Código Penal divide o aborto em: forma de prestígio à Lei Maria da Penha. Ademais, qualifica o crime
▪ Aborto provocado pela gestante ou com o seu consentimento: a depender do resultado das lesões:
Consiste em provocar o aborto em si mesma, ex. mediante chás. Ou,
consentir que alguém o provoque, ex. ir em uma clínica abortiva.
Qualificadora de natureza Qualificadora de natureza
▪ Aborto provocado por terceiro: No aborto provocado por
grave gravíssima
terceiro, pode existir ou não o consentimento da gestante. No pri-
meiro caso perceba que cada um vai responder por um crime, a Incapacidade para as
Incapacidade permanente para
gestante por consentir, o terceiro por abortar. ocupações habituais por mais
o trabalho, ex. não consegue
de 30 dias, ex. passar roupa.
mais trabalhar.
É considerado aborto sem o consentimento da gestante se ela Perigo de vida, ex. correu risco
Enfermidade incurável, ex.
é menor de 14 anos, sofre de problemas mentais, se o consenti- na cirurgia.
adquire deficiência mental.
mento é obtido mediante fraude/grave ameaça/violência. Debilidade permanente de
Deformidade permanente, ex.
Tanto no aborto com ou sem o consentimento da gestante exis- membro, sentido ou função,
rosto queimado.
te causa de aumento de pena se ela morre ou sofre lesão corporal ex. não consegue escrever
Aborto.
grave. como antes.
Perda de membro, sentido ou
▪ Aborto necessário: Não se pune o aborto praticado por médi- Aceleração do parto, ex. nasce
função, ex. fica cego.
co caso não haja outro meio se salvar a vida da gestante. prematuro.
▪ Aborto no caso de gravidez resultante de estupro: Não se
pune o aborto praticado por médico se a gravidez resulta de estu- No caso de lesão corporal seguida de morte, a morte é culposa
pro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou seu e a lesão corporal dolosa. A morte qualifica a lesão corporal. Ex.
representante legal, no caso de incapacidade. João tem a intenção de espancar seu desafeto, que acaba falecen-
A grande polêmica do aborto circunda na questão da inter- do.
rupção da gravidez no primeiro trimestre. O STF já decidiu que não
há crime se existe o consentimento da gestante ou trata-se de au- A lesão corporal é privilegiada se o agente comete o crime im-
toaborto. A Suprema Corte fundamentou que a criminalização, nes- pelido por motivo de relevante valor moral ou social (ex. espanca
sa hipótese, viola os direitos fundamentais da mulher e o princípio o estuprador de sua filha); sob o domínio de violenta emoção logo
da proporcionalidade. após injusta provocação da vítima (ex. espanca o amante da esposa
ao pegá-los no flagra). Resultado: O juiz pode diminuir a pena, ou,
▪ Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento não sendo grave a lesão, o juiz pode substituir a pena de detenção
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que ou- por multa. No mesmo sentido, se a lesão não é grave e as lesões
trem lho provoque: são recíprocas, o juiz pode substituir a pena de detenção por multa.
Pena - detenção, de um a três anos. São causas de aumento:
• Na lesão corporal culposa – inobservância de regra técnica
▪ Aborto provocado por terceiro profissional, deixar de prestar socorro.
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: • Na lesão corporal dolosa – vítima menor de 14 anos ou maior
Pena - reclusão, de três a dez anos. de 60 anos, praticado por milícia privada ou grupo de extermínio.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos. Obs.: Causar lesão contra autoridade de segurança pública no
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a ges- exercício de função ou em decorrência dela, bem como contra pa-
tante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, rente até 3º grau dessas pessoas enseja causa de aumento.
ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou
violência Bem como no homicídio culposo, a lesão corporal culposa pos-
sibilita a aplicação do perdão judicial e a isenção da pena. Ex. ma-
▪ Forma qualificada chucou o filho sem querer.
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são A lesão corporal praticada contra o cônjuge, ascendente, des-
aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos cendente e irmão, com quem conviva ou tenha convivido, ou, pre-
meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal valecendo-se das relações domésticas enseja aumento na pena do
de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas cau- crime qualificado por lesão grave ou gravíssima. Ademais, aumenta
sas, lhe sobrevém a morte. a pena o crime de lesão corporal em âmbito doméstico se a vítima
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: é portadora de deficiência.
A jurisprudência caminha no sentido que a qualificadora da
▪ Aborto necessário deformidade permanente não é afastada em razão de posterior ci-
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; rurgia plástica reparadora. Ademais, perda de dois dentes configura
lesão grave, uma vez que, ocasiona debilidade permanente (dificul-
▪ Aborto no caso de gravidez resultante de estupro dade para mastigar).
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu represen- Lesão corporal
tante legal. Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

350
DIREITO PENAL
Lesão corporal de natureza grave Periclitação da vida e da saúde
§ 1º Se resulta: • Perigo de contágio venéreo: Consiste em expor outrem por
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trin- meio de relações sexuais a contágio de moléstia venérea, quando
ta dias; sabe ou deve saber que está contaminado. Ex. João sabe que tem
II - perigo de vida; AIDS, mas insiste em ter relações sexuais com a sua esposa de ma-
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; neira desprotegida.
IV - aceleração de parto: Se a intenção do agente é transmitir a moléstia venérea o crime
Pena - reclusão, de um a cinco anos. qualifica-se, isto é, possui uma pena mais severa.
§ 2° Se resulta: Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qual-
I - Incapacidade permanente para o trabalho; quer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou
II - enfermidade incurável; deve saber que está contaminado:
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
IV - deformidade permanente; § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
V - aborto: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Pena - reclusão, de dois a oito anos. § 2º - Somente se procede mediante representação.

Lesão corporal seguida de morte • Perigo de contágio de moléstia grave: consiste em praticar
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o ato capaz de produzir contágio, tendo o dolo se transmitir a outrem
agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: a moléstia (doença) de que está contaminado. Ex. sabendo que es-
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. tou com coronavírus espirro na face do meu desafeto.
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia
Diminuição de pena grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de rele- Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
vante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção,
• Perigo para a vida ou saúde de outrem: consiste em expor
logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir
a vida ou saúde de outrem a perigo direto e iminente. A pena é
a pena de um sexto a um terço.
aumentada se o perigo ocorre em transporte de pessoas. Ex. trans-
portar crianças de uma creche sem que o automóvel respeite as
Substituição da pena
normas de segurança.
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e
pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos
iminente:
de réis:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não consti-
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; tui crime mais grave.
II - se as lesões são recíprocas. Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço
Lesão corporal culposa se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do
§ 6° Se a lesão é culposa: transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabeleci-
Pena - detenção, de dois meses a um ano. mentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.
Aumento de pena • Abandono de incapaz: Abandonar a pessoa que está sob o
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer seu cuidado/guarda/vigilância/autoridade incapaz de se defender
das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. dos riscos do abandono. Ex. deixo meu sobrinho menor de idade
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121. em uma viela perigosa. Eventual lesão corporal ou morte qualificam
o crime. Aumenta a pena se o abandono ocorrer em local ermo,
Violência Doméstica entre parentes próximos/tutor/curador, se a vítima é maior de 60
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descenden- anos.
te, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda,
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domés- vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defen-
ticas, de coabitação ou de hospitalidade: der-se dos riscos resultantes do abandono:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. Pena - detenção, de seis meses a três anos.
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as cir- § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
cunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a Pena - reclusão, de um a cinco anos.
pena em 1/3 (um terço). § 2º - Se resulta a morte:
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de
deficiência. Aumento de pena
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes terço:
do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão,
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão tutor ou curador da vítima.
dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos

351
DIREITO PENAL
• Exposição de abandono de recém nascido: consiste em ex- ▪ Rixa: Consiste em participar da rixa, salvo se a intenção do
por/abandonar o recém nascido para ocultar desonra própria. Ex. agente é separar a briga. Qualifica o crime eventual lesão corporal
tenho um filho fora do casamento e o abandono para o meu esposo grave ou morte.
não saber. Eventual lesão corporal ou morte do recém-nascido qua-
lificam o crime. Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar de- Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
sonra própria: Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natu-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. reza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: detenção, de seis meses a dois anos.
Pena - detenção, de um a três anos.
§ 2º - Se resulta a morte: ▪ Crimes contra a honra
Pena - detenção, de dois a seis anos. • Calúnia: Atribuir a outrem um fato criminoso que o sabe fal-
so. Ex. Eu digo que Juquinha subtraiu o relógio de Joana enquanto
• Omissão de socorro: crime omissivo, no sentido de deixar de ela dormia, mesmo sabendo que isso não é verdade.
prestar assistência quando possível fazê-lo a criança abandonado, pes- Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato de-
soa inválida ou ferida, ao desamparo, em grave ou iminente perigo. finido como crime:
Se não for possível o socorro direto, o agente deve, pelo menos, pedir Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
socorro à autoridade pública, para não cometer o crime de omissão de § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputa-
socorro. A lesão corporal grave e a morte aumentam a pena. ção, a propala ou divulga.
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo § 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa Para se livrar do crime de calúnia o agente pode provar que
inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou realmente está certo no fato criminal que contou. Esse é o instituto
não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: da exceção da verdade, mas que não pode ser usado em alguns
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. casos:
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omis- I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o
são resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;
a morte. II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no
nº I do art. 141 (contra o Presidente da República, ou contra chefe
• Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emer- de governo estrangeiro);
gencial: exigir garantia, bem como preenchimento de formulários III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido
administrativos, como condição para o atendimento médico hos- foi absolvido por sentença irrecorrível.
pitalar emergencial. Ex. chego no PS infartando e me mandam dar
uma garantia financeira para que ocorra o meu atendimento. Au- • Difamação: Atribuir a outrem um fato desabonador. Ex. Eu
mentam a pena eventual morte ou lesão corporal grave. digo que Joana se prostitui nas horas vagas.
Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qual- Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua
quer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários reputação:
administrativos, como condição para o atendimento médico-hospi- Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
talar emergencial: Exceção da verdade
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da nega- o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício
tiva de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até de suas funções.
o triplo se resulta a morte. Motivo: é do interesse da Administração Pública saber sobre a
conduta dos seus funcionários.
• Maus tratos: Expor a perigo de vida/saúde uma pessoa que
está sob sua autoridade/guarda/vigilância, tendo como finalidade • Injúria: É o famoso xingar outrem. Ex. palavrões.
educação, ensino, tratamento, custódia, privando-a de alimentação Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o de-
ou cuidados indispensáveis, sujeitando-a a trabalho excessivo ou coro:
inadequado, abusando dos meios de correção e disciplina. Ex. pai Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
espanca o filho com a intenção de educá-lo. Caso ocorra lesão cor- Não cabe exceção da verdade. Mas o juiz pode deixar de aplicar
poral grave ou morte da vítima a pena é aumentada, bem como se a pena se o ofendido provocou a injúria ou no caso de retorsão ime-
ela possui menos de 14 anos de idade. diata que consista em outra injúria (um injuria o outro).
Obs.: A injúria possui duas qualificadoras: 1) se há violência/
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua vias de fato, ex. puxão de orelha para dizer que Juquinha é burro;
autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tra- 2) Injúria racial, ex. dizer que Juquinha é um macaco em razão da
tamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados sua cor.
indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequa-
do, quer abusando de meios de correção ou disciplina: Em qualquer dos 3 crimes a pena é aumentada quando prati-
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. cado contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: estrangeiro; contra funcionário público, em razão de suas funções;
Pena - reclusão, de um a quatro anos. na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação
§ 2º - Se resulta a morte: da calúnia, da difamação ou da injúria; contra pessoa maior de 60
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injú-
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado ria (neste caso qualifica). Se o crime é cometido mediante paga ou
contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro.

352
DIREITO PENAL
Existe a exclusão do crime de injúria ou difamação se: • Ameaça: Ameaçar alguém de lhe causar mal injusto e grave.
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte Ex. vou te matar.
ou por seu procurador (ex. discussões nas sessões de julgamento); Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou cientí- qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
fica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar (ex. Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
crítica de um especialista no assunto); Parágrafo único - Somente se procede mediante representa-
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, ção.
em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever
do ofício (ex. avaliação de funcionário). • Sequestro e cárcere privado: Consiste em privar alguém da
sua liberdade. Ex. Juquinha prende Maria no quarto por dias. Qua-
Todavia, nos casos dos nº I e III, responde pela injúria ou pela lifica o crime se a vítima é maior de 60 anos ou menor de 18 anos,
difamação quem lhe dá publicidade. parente, o modus operandi é a internação da vítima, se dura mais
Por fim, cabe retratação, isto é, o agente antes da sentença se de 15 dias, se há fins libidinosos, resulta grave sofrimento físico ou
retrata cabalmente da calúnia ou difamação. A consequência é que moral.
ficará isento de pena. Outra opção para evitar a responsabilização Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro
criminal é se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, di- ou cárcere privado:
famação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações Pena - reclusão, de um a três anos.
em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
dá satisfatórias, responde pela ofensa. I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou compa-
Quanto ao entendimento dos tribunais, algumas decisões me- nheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos;
recem destaque: II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em
• Em uma única carta pode estar configurado o crime de calú- casa de saúde ou hospital;
nia, difamação e injúria. III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias.
• Configura difamação edição e publicação de vídeo que faz IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos;
V – se o crime é praticado com fins libidinosos.
parecer que a vítima está falando mal de negros e pobres.
§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natu-
• A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra
reza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
com outro homem.
• Deputado que em entrevista afirma que determinada depu-
• Redução à condição análoga a de escravo: consiste em sub-
tada não merece ser estuprada pratica, em tese, crime de injúria.
meter alguém a trabalhos forçados ou jornada exaustiva, condições
degradantes de trabalho, restringindo a sua locomoção em razão de
• Não deve ser punido deputado federal que profere palavras dívida contraída. Responde pela mesma pena quem cerceia o meio
injuriosas contra adversário político que também o ofendeu ime- de transporte para reter a vítima no local de trabalho, mantém vi-
diatamente antes. gilância ou se apodera de documentos da vítima com o fim retê-la.
• O advogado não comete calúnia se não ficar provada a sua Aumenta a pena se existe motivo de preconceito ou se é contra
intenção de ofender a honra, ainda que contra magistrado. criança/adolescente.
Crimes contra a liberdade pessoal Obs.: Não é requisito para a configuração do crime a restrição
• Constrangimento ilegal: Consiste em constranger alguém da liberdade de locomoção dos trabalhadores.
mediante violência ou grave ameaça, ou depois de reduzir a sua
capacidade de resistência, para não fazer o que a lei permite ou Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer
a fazer o que ela não mandar. Além da pena do constrangimento, submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer
é aplicada a pena da violência. Exceções: intervenção médica ou sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringin-
cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou seu representante do, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída
legal, se justificada por iminente perigo de vida, e no caso de impe- com o empregador ou preposto:
dimento de suicídio. Aumento de pena: reunião de mais de 3 pes- Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena
soas ou emprego de arma. correspondente à violência.
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave § 1o Nas mesmas penas incorre quem:
ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do
a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;
fazer o que ela não manda: II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apo-
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. dera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim
Aumento de pena de retê-lo no local de trabalho.
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quan- § 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:
do, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou I – contra criança ou adolescente;
há emprego de armas. II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as corresponden- origem.
tes à violência.
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do
paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente
perigo de vida;
II - a coação exercida para impedir suicídio.

353
DIREITO PENAL
•Tráfico de Pessoas: Consiste em agenciar/ aliciar/recrutar/ • Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou tele-
transportar/transferir/comprar/alojar/acolher, mediante violência, fônica: Quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza
grave ameaça, coação, fraude ou abuso uma pessoa tendo a finali- abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a
dade de remover partes do corpo, submetê-la a trabalho em con- terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas;
dições análogas a de escravo, submetê-la a servidão, adoção ilegal
ou exploração sexual. Aumenta a pena se o crime é cometido por Quem impede a comunicação ou a conversação referidas no
funcionário público; contra criança/adolescente/idoso/deficiente; número anterior;
se há retirada do território nacional; se prevalece da relação que Quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico.
tem com a vítima. A pena é diminuída caso o agente seja primário e • Correspondência comercial: Abusar da condição de sócio ou
não integre organização criminosa. empregado de estabelecimento comercial ou industrial para, no
todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspon-
Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, dência, ou revelar a estranho seu conteúdo.
comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violên-
cia, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de: Obs.: As penas aumentam-se de metade, se há dano para ou-
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; trem. Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo; postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico o crime qualifica-se.
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
IV - adoção ilegal; ou Crimes contra a inviolabilidade dos segredos
V - exploração sexual.
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Violação do segredo
§ 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se: Divulgação de segredo
profissional
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de
suas funções ou a pretexto de exercê-las; Divulgar alguém, sem justa causa,
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa conteúdo de documento particular
idosa ou com deficiência; ou de correspondência confidencial, Revelar alguém, sem
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domés- de que é destinatário ou detentor, e justa causa, segredo,
ticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, cuja divulgação possa produzir dano de que tem ciência
de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício a outrem. em razão de função,
de emprego, cargo ou função; ou Qualifica divulgar, sem justa causa, ministério, ofício
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território na- informações sigilosas ou reservadas, ou profissão, e cuja
cional. assim definidas em lei, contidas ou revelação possa produzir
§ 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for pri- não nos sistemas de informações ou dano a outrem.
mário e não integrar organização criminosa. banco de dados da Administração
Pública.
Crimes contra a inviolabilidade do domicílio - Violação de do-
micílio Por fim, configura o crime de invasão de dispositivo informá-
Entrar ou permanecer em casa alheia, de maneira clandestina/ tico o indivíduo que invade dispositivo informático alheio, conecta-
astuciosa, contra a vontade de quem de direito (ex. proprietário). do ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de
Qualifica quando o crime é cometido no período da noite, lugar mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou des-
ermo, mediante violência ou arma, 2 ou mais pessoas. Aumenta truir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do
se o agente é funcionário público. Não configura o crime se é caso titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vanta-
de prisão em flagrante ou efetuar prisão/diligências durante o dia. gem ilícita. Ex. Hacker.
Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende
ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito
É casa Não é casa
de permitir a prática da conduta. Aumenta-se a pena de um sexto
I - qualquer compartimento a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico. Qualifica o
habitado; I - hospedaria, estalagem ou crime se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunica-
II - aposento ocupado de qualquer outra habitação ções eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, infor-
habitação coletiva; coletiva, enquanto aberta; mações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não
III - compartimento não aberto II - taverna, casa de jogo e autorizado do dispositivo invadido. Nesse último caso, aumenta-se
ao público, onde alguém outras do mesmo gênero. a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização
exerce profissão ou atividade. ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informa-
ções obtidas.
Em recente decisão, o STJ entendeu que configura o crime de Obs.: Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for
violação de domicílio o ingresso e permanência, sem autorização, praticado contra: Presidente da República, governadores e prefei-
em gabinete de delegado de polícia, embora faça parte de um pré- tos; Presidente do Supremo Tribunal Federal; Presidente da Câmara
dio/repartição pública. dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de
Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Mu-
Crimes contra a inviolabilidade de correspondências nicipal; ou dirigente máximo da administração direta e indireta fe-
• Violação de correspondência: Devassar indevidamente o deral, estadual, municipal ou do Distrito Federal.
conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem.
• Sonegação ou destruição de correspondência: Se apossa in-
devidamente de correspondência alheia, embora não fechada e, no
todo ou em parte, a sonega ou destrói.

354
DIREITO PENAL
▪ Furto privilegiado
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO (FURTO, ROU- Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada,
BO, EXTORSÃO, APROPRIAÇÃO INDÉBITA, ESTELIONA- o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-
TO E OUTRAS FRAUDES E RECEPTAÇÃO) -la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. Obs.
outros crimes patrimoniais sem violência/grave ameaça, também,
recebem o benefício.
Em primeiro lugar, é importante conhecer as alterações que o
Pacote Anticrime fez nos crimes contra o patrimônio: ▪ Furto de Coisa Comum
• No crime de roubo, a pena passou a ser aumentada de 1/3 Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si
até 1/2 se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum:
ARMA BRANCA. Ademais, a pena aumenta-se de 2/3 se a violência ou Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
ameaça é exercida com emprego de ARMA DE FOGO. Por fim, aplica-se § 1º - Somente se procede mediante representação.
a pena em DOBRO se a violência ou grave ameaça é exercida com em- § 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo
prego de ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO OU PROIBIDO. valor não excede a quota a que tem direito o agente.
• O crime de estelionato passou a ter como regra de Ação Penal
Pública Condicionada a Representação. Exceção: Será de Ação pe- Roubo
nal pública INCONDICIONADA quando a vítima for: É a subtração de bens alheios violenta, com grave ameaça ou
I - a Administração Pública, direta ou indireta; reduzindo a possibilidade de resistência da vítima (ex. boa noite
II - criança ou adolescente; cinderela).
III - pessoa com deficiência mental; ou
IV - maior de 70 anos de idade ou incapaz. Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem,
mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-
• A pena do crime de concussão também mudou: De Reclusão, -la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
de 2 a 8 anos, e multa, passou para Reclusão, de 2 a 12 anos, e mul- Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída
ta. Essa é uma novatio legis in pejus, logo, não retroage.
a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim
de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si
Furto
ou para terceiro.
Consiste na subtração de bem alheio, sem violência nem grave
ameaça.
— Causa de aumento
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o
— Causa de aumento agente conhece tal circunstância.
A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado duran- IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser
te o repouso noturno. Ex. enquanto os moradores da casa esta- transportado para outro Estado ou para o exterior;
vam dormindo o agente furta o lar. V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo
sua liberdade.
— Qualificadoras VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de aces-
A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é sórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação,
cometido: montagem ou emprego.
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego
da coisa; de arma branca;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
destreza; I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma
III - com emprego de chave falsa; de fogo;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o em-
prego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa,
se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause — Qualificadora
perigo comum. § 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego
A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a
veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado pena prevista no caput deste artigo.
ou para o exterior. § 3º Se da violência resulta:
A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18
for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou (dezoito) anos, e multa;
dividido em partes no local da subtração. II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos,
A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, e multa.
se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que,
conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem Extorsão e Extorsão mediante sequestro
ou emprego. Os dois tipos penais não se confundem. Na extorsão, constran-
ge-se alguém, de forma violenta ou com grave ameaça, para obter
vantagem econômica. Na extorsão, mediante sequestro, seques-
tra-se a pessoa para obter qualquer vantagem, como condição ou
preço do resgate.

355
DIREITO PENAL
▪ Extorsão • por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a víti-
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ma (somente se procede mediante queixa).
ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida
vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer No mesmo capítulo, o Código Penal traz mais algumas figuras
alguma coisa: típicas:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia
emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade. (somente se procede mediante queixa)
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o dis- Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia,
posto no § 3º do artigo anterior. sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da prejuízo:
vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa.
econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além
da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico
penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela
autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico
▪ Extorsão mediante sequestro
ou histórico:
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se Alteração de local especialmente protegido
o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o
anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha. aspecto de local especialmente protegido por lei:
Pena - reclusão, de doze a vinte anos. Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. Apropriação indébita
§ 3º - Se resulta a morte: O agente apropria-se de coisa alheia, valendo-se da posse ou
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. detenção que tem dela. Ex. o motoboy que ia levar a sua pizza por
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que delivery, aproveita para apropriar-se dela. A pena é aumentada de
o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, um terço, quando o agente recebeu a coisa: em depósito neces-
terá sua pena reduzida de um a dois terços. sário; na qualidade de tutor, curador, síndico (atual administrador
judicial), liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário
▪ Extorsão indireta judicial; em razão de ofício, emprego ou profissão.
Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando Atenção: O STF, já decidiu que ressarcimento em acordo homo-
da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedi- logado no juízo cível é fundamento válido para trancar a ação penal.
mento criminal contra a vítima ou contra terceiro: Obs. a apropriação indébita previdenciária (forma qualificada)
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. caracteriza-se por deixar de repassar à previdência social as con-
tribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou
Usurpação convencional, independente de dolo específico.
Dentro do capítulo usurpação estão inseridos os seguintes crimes:
• Alteração de limites: suprimir ou deslocar tapume, marco, ou § 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância
no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia. destinada à previdência social que tenha sido descontada de paga-
• Usurpação de águas: desviar ou represar, em proveito próprio mento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
ou de outrem, águas alheias. II – recolher contribuições devidas à previdência social que te-
• Esbulho possessório: invadir, com violência a pessoa ou grave nham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de
ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno produtos ou à prestação de serviços;
ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório. Obs. Se a pro- III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas
priedade é particular, e não há emprego de violência, somente se cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela pre-
procede mediante queixa. vidência social.
• Supressão ou alteração de marca em animais: Suprimir ou § 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, decla-
alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal ra, confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou
indicativo de propriedade. valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma
definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
Dano § 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar so-
No crime de dano, os verbos núcleos do tipo são 3 - Destruir,
mente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes,
inutilizar ou deteriorar (coisa alheia). Ademais, em 4 situações o cri-
desde que:
me é qualificado:
I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de
• com violência à pessoa ou grave ameaça;
oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social previden-
• com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato
ciária, inclusive acessórios; ou
não constitui crime mais grave;
• contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja
de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, admi-
sociedade de economia mista ou empresa concessionária de servi- nistrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
ços públicos; execuções fiscais.

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DIREITO PENAL
§ 4o A faculdade prevista no § 3o deste artigo não se aplica aos Induzimento à especulação
casos de parcelamento de contribuições cujo valor, inclusive dos Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiên-
acessórios, seja superior àquele estabelecido, administrativamente, cia ou da simplicidade ou inferioridade mental de outrem, induzin-
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. do-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou
mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa:
Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
da natureza
Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu po- Fraude no comércio
der por erro, caso fortuito ou força da natureza. Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o ad-
quirente ou consumidor:
Apropriação de tesouro I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsifi-
I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo cada ou deteriorada;
ou em parte, da quota a que tem direito o proprietário do prédio. II - entregando uma mercadoria por outra:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Apropriação de coisa achada § 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou
II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou par- o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por
cialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadei-
entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias. ra; vender, como precioso, metal de ou outra qualidade:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Estelionato e outras fraudes § 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
O estelionato caracteriza-se por obter, para si ou para outrem, van-
tagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em Outras fraudes
erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento. Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel
Após o Pacote Anticrime a ação passou a ser pública condicio-
ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para
nada à representação, salvo: se a vítima for a Administração Públi-
efetuar o pagamento:
ca, criança ou adolescente, pessoa com deficiência mental, maior
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
de 70 anos de idade ou incapaz.
O Código Penal determina que deve incorrer na mesma pena Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e
do estelionato quem comete: o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
• Disposição de coisa alheia como própria;
• Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria; Fraudes e abusos na fundação ou administração de socieda-
• Defraudação do penhor; de por ações
• Fraude na entrega de coisa; Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações, fazen-
• Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro; do, em prospecto ou em comunicação ao público ou à assembleia,
• Fraude no pagamento por meio de cheque. afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando
fraudulentamente fato a ela relativo:
Estelionato contra idoso Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não
§ 4º Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra constitui crime contra a economia popular.
idoso. § 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui crime
§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a contra a economia popular: (Vide Lei nº 1.521, de 1951)
vítima for: I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações, que,
I - a Administração Pública, direta ou indireta; em prospecto, relatório, parecer, balanço ou comunicação ao pú-
II - criança ou adolescente; blico ou à assembleia, faz afirmação falsa sobre as condições eco-
III - pessoa com deficiência mental; ou nômicas da sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou em
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. parte, fato a elas relativo;
O Código Penal, inclusive, se preocupa em tipificar algumas ou- II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por qualquer
tras fraudes, menos incidentes em prova: artifício, falsa cotação das ações ou de outros títulos da sociedade;
III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à sociedade
Duplicata simulada ou usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos bens ou haveres so-
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não cor- ciais, sem prévia autorização da assembleia geral;
responda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por conta
serviço prestado. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) da sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando a lei o permite;
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Reda- V - o diretor ou o gerente que, como garantia de crédito social,
ção dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) aceita em penhor ou em caução ações da própria sociedade;
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquêle que falsi- VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em desa-
ficar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas. cordo com este, ou mediante balanço falso, distribui lucros ou divi-
(Incluído pela Lei nº 5.474. de 1968) dendos fictícios;
VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pessoa,
Abuso de incapazes
ou conluiado com acionista, consegue a aprovação de conta ou pa-
Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessida-
recer;
de, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII;
mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato susce-
IX - o representante da sociedade anônima estrangeira, autori-
tível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro:
zada a funcionar no País, que pratica os atos mencionados nos ns. I
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
e II, ou dá falsa informação ao Governo.

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DIREITO PENAL
§ 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos, Nos crimes patrimoniais existem causas de isenção de pena,
e multa, o acionista que, a fim de obter vantagem para si ou para e causas que a ação deixa de ser pública incondicionada, para ser
outrem, negocia o voto nas deliberações de assembleia geral. tratada como ação penal pública condicionada à representação:
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes
Emissão irregular de conhecimento de depósito ou «warrant» previstos neste título, em prejuízo:
Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em de- I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
sacordo com disposição legal: II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. ou ilegítimo, seja civil ou natural.
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o
Fraude à execução crime previsto neste título é cometido em prejuízo:
Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
ou danificando bens, ou simulando dívidas: II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
Parágrafo único - Somente se procede mediante queixa. Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
Alguns pontos merecem atenção: I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando
• Adulterar o sistema de medição de energia elétrica para pagar haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa;
menos que o devido é estelionato (e não furto mediante fraude); II - ao estranho que participa do crime.
• Uso de processo judicial para obter lucro é figura atípica; III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou
• É justificável a exasperação da pena-base em caso de confian- superior a 60 (sessenta) anos.
ça da vítima no autor do crime de estelionato;
• O delito de estelionato não é absorvido pelo roubo de talão
de cheque. DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL (ESTU-
PRO, IMPORTUNAÇÃO SEXUAL, ASSÉDIO SEXUAL)
Receptação
Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito
próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir
Todos os crimes contra a dignidade sexual passaram a ser de
para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. Perceba
Ação Penal Pública Incondicionada, ou seja, a denúncia é feita pelo
que no crime de receptação, o agente tem contato com um bem
Ministério Público, independente de interesse da vítima.
obtido por meio de crime anterior, ex. objeto furtado.
• Estupro: Constranger alguém, mediante violência ou gra-
ve ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com
▪ Receptação Qualificada ele se pratique outro ato libidinoso.
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em Violação sexual mediante fraude: Ter conjunção carnal

depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou
de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exer- outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade
cício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser da vítima.
produto de crime: • Importunação sexual: Praticar contra alguém e sem a sua
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascí-
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do pará- via ou a de terceiro.
grafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clandesti- • Assédio sexual: Constranger alguém com o intuito de ob-
no, inclusive o exercício em residência. ter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes
desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a ao exercício de emprego, cargo ou função.
oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: • Registro não autorizado da intimidade sexual: Produzir,
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com
penas. cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e priva-
§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento do sem autorização dos participantes.
de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o Merece atenção os crimes sexuais praticados contra os vulne-
juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a ráveis:
pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155. ▪ Estupro de vulnerável
§ 6o Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso
Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, com menor de 14 (catorze) anos:
empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa conces- Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
sionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena prevista no § 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no
caput deste artigo. Ex. receptação de bens do correio. caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não
tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por
▪ Receptação de Animal qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter § 2o (VETADO)
em depósito ou vender, com a finalidade de produção ou de comer- § 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
cialização, semovente domesticável de produção, ainda que abatido Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime: § 4o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

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DIREITO PENAL
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste ar- II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madras-
tigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou ta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou
do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime. empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade
sobre ela;
▪ Corrupção de menores III - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfa- IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado:
zer a lascívia de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. Estupro coletivo
a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes;
▪ Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou ado-
lescente Estupro corretivo
Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (ca- b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.
torze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato O Lenocínio, o tráfico de pessoas para fim de prostituição e
libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem: outras formas de exploração sexual englobam os seguintes crimes:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. • Mediação para servir a lascívia de outrem;
• Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração
▪ Favorecimento da prostituição ou de outra forma de explo- sexual;
ração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável. • Casa de prostituição;
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra for- • Rufianismo;
ma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por • Promoção de migração ilegal
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: É importante conhecer o que vem entendendo a jurisprudência:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. • Passar as mãos no corpo da vítima configura estupro de vul-
§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econô- nerável consumado;
mica, aplica-se também multa. • Beijar criança na boca configura estupro de vulnerável (beijo
§ 2o Incorre nas mesmas penas: lascivo);
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com • Contemplar lascivamente menor de 14 anos nua configura
alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situa- estupro de vulnerável;
ção descrita no caput deste artigo; • Cabe absolvição do crime de estupro de vulnerável se prova-
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que do o desconhecimento da idade da vítima (erro de tipo);
• Beijo roubado em contexto de violência física pode configurar
se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo.
estupro.
§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório
da condenação a cassação da licença de localização e de funciona-
Por fim, há um capítulo de ultraje público, que engloba 2 crimes:
mento do estabelecimento.
Ato obsceno
▪ Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de
Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou
vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia
exposto ao público:
Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio
- inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de infor- Escrito ou objeto obsceno
mática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovi- Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua
sual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pública,
que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno:
da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não cons- Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem:
titui crime mais grave. I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer
dos objetos referidos neste artigo;
Aumento de pena II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, represen-
§ 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) tação teatral, ou exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou
se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter;
relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo
humilhação. rádio, audição ou recitação de caráter obsceno.
Exclusão de ilicitude A pena é aumentada:
§ 2º Não há crime quando o agente pratica as condutas des- • de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resulta gravidez;
critas no caput deste artigo em publicação de natureza jornalística, • de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente transmite
científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que im- à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria
possibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autoriza- saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com deficiên-
ção, caso seja maior de 18 (dezoito) anos. cia.
Quanto às causas de aumento de pena é importante conhecer
a literalidade da letra da lei:
Art. 226. A pena é aumentada:
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2
(duas) ou mais pessoas;

359
DIREITO PENAL
É importante saber que, O STJ, em recente julgado, conside- Neste caso, o funcionário público tem a posse, ou seja, o bem
rou que o crime de estupro de vulnerável NÃO pressupõe o sexo específico encontra-se em suas mãos, de modo que, dolosamente,
vaginal, anal ou oral para a sua configuração. Ademais, “O crime ele transforma tal posse em domínio, para si mesmo ou para ou-
de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou trem, dando assim, ao objeto material, destinação diversa da que
prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo IRRELEVAN- lhe foi confiada.
TE eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua ex-
periência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso Sujeito ativo
com o agente” (Súmula 593, STJ). Como em todos os demais crimes, dispostos no referido capí-
tulo do Código Penal, trata-se do funcionário público, sendo cabível
apenas a participação de pessoas que não o sejam.
CORRUPÇÃO ATIVA. CORRUPÇÃO PASSIVA
Sujeito passivo
Como em todos os demais crimes, dispostos no referido capítu-
Dos crimes contra a administração pública lo do Código Penal, trata-se do Estado e do particular prejudicado.

Dos crimes praticados por funcionário público contra a admi- Peculato Impróprio ou Peculato Furto (Art. 312, § 1º, CP)
nistração em geral A diferença entre este caso e o Peculato Próprio, é que aqui,
apesar do funcionário público valer-se de seu cargo para subtrair
Peculato – Art. 312 ou concorrer para que o bem se subtraia, ele não retém a posse
desse bem.
O Título XI, Capítulo I do Código Penal refere-se aos crimes pró-
prios de funcionários públicos contra a Administração em geral. Peculato Culposo (Art. 312, § 2º, CP)
No caso, particulares podem participar dos mesmos apenas Ocorre quando, de forma culposa (por negligência, imprudên-
como coautores, caso concorram de qualquer modo para realização cia ou imperícia), apesar de não possuir vontade para que se ocorra
de um desses crimes. a subtração ou apropriação do bem, o funcionário público cria uma
Tais crimes são denominados de crimes funcionais, já que são oportunidade para que um outro funcionário público ou um tercei-
praticados por pessoas que se dedicam à realização das funções ou ro pratique o crime.
atividades estatais, exigindo a qualidade do sujeito ativo, como fun-
cionário público e a intenção de dolo. Também são denominados Peculato mediante erro de outrem - Art. 313
como crimes de responsabilidade.
Lembrando que o conceito de funcionário público para efeitos Este crime também é chamado de Peculato Estelionato, onde o
penais encontra-se disposto no Art. 327 do CP. funcionário público, no exercício de seu cargo, se apropria de bens
ou valores que recebeu de outrem, mediante erro.
Crimes Funcionais
Dividem-se em: Inserção de dados falsos em sistema de informações - Art.
313-A e Modificação ou alteração não autorizada de sistema de
→ Crime Funcional Próprio: para a caracterização do crime é informações - Art. 313-B
indispensável que o mesmo seja realizado por funcionário público
(função de cargo público). Exemplo: Crime de Prevaricação, previsto É a principal diferença entre esses dois crimes, conhecidos
no Art. 319 do CP, se este crime não for praticado por funcionário como Peculato via informática, o fato do funcionário público, no
público, será inexistente, pois o fato torna-se irrelevante. caso do Art. 313-A, ser autorizado para o exercício daquela função,
onde aproveita-se para cometer o crime.
→ Crime Funcional Impróprio: o sujeito ativo destes crimes é Exemplo: o funcionário público autorizado a preencher o painel
funcionário público, assim, eles recebem uma denominação espe- eletrônico do Congresso Nacional, viola o mesmo e altera o cômpu-
cífica pelo exercício da função. Porém, se tais crimes forem cometi- to dos votos dos parlamentares.
dos por particulares, sem investimento de cargo público, receberão Já no caso do Art. 313-B, o funcionário público não possui au-
outra denominação. torização ou solicitação de autoridade competente para realização
Exemplo: Crime de Peculato (Art. 312 do CP), quando não pra- da atividade onde cometeu o crime.
ticado por funcionário público no exercício de sua função, recebe a
denominação de Apropriação Indébita (Art. 168 do CP). Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento -
No caso exemplificado acima, ambos crimes se caracterizam Art. 314
pela apropriação de coisa alheia, sendo a Apropriação Indébita, cri-
me comum, praticado por qualquer pessoa, enquanto o Peculato, A ação física deste crime divide-se em três hipóteses:
trata-se de crime próprio, praticado apenas por funcionário público. → Extraviar, ou seja, mudar o destino ou o fim, para onde o
livro ou documento público deveria ser encaminhado;
Peculato Próprio (Art. 312 CP) → Sonegar, ou seja, não apresentar o livro ou documento pú-
Cometerá o crime de Peculato, o funcionário público que, apro- blico no local devido, cometendo sua ocultação intelectual ou frau-
priar-se (para ele mesmo, ou desviar para outra pessoa), dinheiro dulenta;
ou qualquer outro bem, que recebeu em razão de seu cargo públi- → Inutilizar, ou seja, tornar o livro ou documento público im-
co. prestável, estraga-lo, arruína-lo, seja no todo ou parcialmente.

360
DIREITO PENAL
Emprego irregular de verbas ou rendas públicas - Art. 315 Prevaricação – Art. 319

Neste crime, ao invés de ocorrer a destinação das verbas ou Este crime consiste em praticar, ou deixar de praticar, indevi-
rendas públicas, aos entes públicos determinados, ocorre um des- damente, ato de ofício, ou praticar o mesmo contra disposição ex-
vio daquelas, dentro da própria administração, de modo que as pressa em lei, para a satisfação de interesse ou sentimento pessoal.
mesmas se destinam para local diverso do previsto. O crime de Prevaricação é um crime demasiadamente come-
tido no funcionalismo público, verificando-se quando o funcioná-
Concussão – Art. 316 rio público, por qualquer sentimento pessoal (inveja, ciúmes, ódio,
amor, pena, etc.), ou para satisfazer seu interesse pessoal (promo-
Este crime também é conhecido como extorsão praticada por ção, recebimento de comissão legal, vantagem funcional na carrei-
funcionário público no exercício de sua função, ou a pretexto da ra, proteção de um direito seu, seja na vida particular, familiar ou de
mesma. amizade, etc.), indevidamente pratica, retarda ou deixa de praticar,
Ele ocorre quando o funcionário público exige, seja para si algum ato de seu ofício, contrariamente a uma expressa disposição
mesmo ou para outrem, uma vantagem indevida de alguém, apro- de lei.
veitando-se do cargo ou função que exerça para formular esta exi- É importante observarmos que se o funcionário público agir ce-
gência. dendo a pedido de outrem e impelido por promessa de vantagem
Neste caso, mesmo que o funcionário público não esteja pre- indevida, ele cometerá o crime de Corrupção Passiva.
sente naquele momento no exercício de sua função, ou até mesmo
ainda não a tenha assumido, caso a exigência de vantagem indevida Condescendência criminosa - Art. 320
tenha sido em razão desta função, já se configura o crime de con-
cussão. Condescendência refere-se à aceitação, conivência, indulgên-
A diferença entre os crimes de Concussão e Extorsão, é que cia, ou seja, consiste no superior hierárquico, prover-se de senti-
apesar de ambos serem caracterizados pela exigência da vantagem mento de pena, e a partir deste sentimento, omitir determinado
indevida, a Concussão trata-se de crime próprio, apenas podendo ato, que configurou um delito de seu subordinado, com a finalidade
ser praticada por funcionário público. de se evitar a punição do mesmo. Seria o vulgo “coleguismo” ou
“apadrinhamento”.
Corrupção Passiva – Art. 317
É importante se atentar ao fato de que o crime de Condescen-
Da mesma forma que o crime de Concussão seria a Extorsão dência é muito parecido com o crime de Prevaricação. Na verdade,
praticada por funcionário público no exercício da sua função, a Cor- este seria uma forma especial do outro, pois aqui também há uma
rupção seria o Rufianismo (Art. 230 CP) praticado pelo mesmo. omissão (deixar de praticar) algo, com o objetivo de atender a um
Para a caracterização do crime de Corrupção Passiva não é sentimento pessoal (indulgência, piedade, condescendência, etc.).
necessário que o funcionário público receba a vantagem indevida,
bastando apenas solicitar a mesma. Advocacia administrativa – Art. 321
Aqui também não faz diferença se aquilo solicitado ou recebido
seja uma vantagem indevida, mas já é suficiente a simples aceitação A partir da análise doutrinária, pode-se verificar que a conduta
da promessa de vantagem pelo servidor para a caracterização do praticada pelo agente, apta a configurar o crime de advocacia admi-
crime. nistrativa, não consiste em uma atividade de “advogado”, tal como
Há uma sutil diferença entre os crimes de Concussão e Corrup- o termo “advocacia administrativa” em um primeiro momento su-
ção Passiva. Se há exigência, há Concussão, porém, se há simples gere, mas sim em um ato de funcionário público que “advoga”, ou
solicitação, há Corrupção Passiva. seja, patrocina, pleiteia em favor de outrem, valendo-se de sua con-
dição, de funcionário público, em interesse de terceiro particular.
Diferença entre Corrupção Passiva e Corrupção Ativa A conduta típica vem expressa pelo verbo “patrocinar”, que sig-
A Corrupção Passiva é um crime praticado por funcionário pú- nifica advogar, proteger, beneficiar, favorecer, defender. O agente
blico, onde o mesmo solicita ou recebe vantagem indevida de al- deve valer-se das facilidades que a qualidade de funcionário público
guém; lhe proporciona.
Já a Corrupção Ativa (Art. 333 CP), é um crime praticado por O patrocínio pode ser direto, quando o funcionário público
particular contra a administração, consistindo na oferta ou promes- pessoalmente advoga os interesses privados perante a Administra-
sa de vantagem indevida deste particular ao servidor público, para ção Pública, ou indireto, quando o funcionário se vale de interposta
determina-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício. pessoa para a defesa dos interesses privados perante a Administra-
Em outras palavras, seria o suborno do funcionário público. ção Pública.
“Interesse privado” é qualquer vantagem a ser obtida pelo par-
Facilitação de contrabando ou descaminho - Art. 318 ticular, legítima ou ilegítima, perante a Administração. Se o interes-
se for ilegítimo, a pena será maior.
Trata-se de crime próprio de funcionário público, que em sua Entretanto, prevalece na doutrina e na jurisprudência o en-
função, facilita a prática de contrabando ou descaminho. tendimento de que somente caracteriza o delito o patrocínio, pelo
funcionário público, de interesse “alheio” perante a administração.
→ Contrabando refere-se a entrada ou saída de produtos no Caso o interesse seja “próprio” do funcionário, não estará configu-
País, cuja comercialização dos mesmos não é permitida, ou seja, rado o delito, podendo ocorrer mera infração funcional.
refere-se à importação ou exportação de mercadorias ilegais e proi-
bidas.
→ Descaminho refere-se a comercialização permitida de pro-
dutos, no entanto, estes adentram o País de forma ilegal, com a
finalidade do não pagamento dos impostos devidos.

361
DIREITO PENAL
Violência arbitrária – Art. 322 Violação do sigilo de proposta de concorrência – Art. 326

O tipo penal que compõe o crime de violência arbitrária tutela Quanto ao crime de Violação do sigilo de proposta de concor-
o bem jurídico Administração Pública, sobretudo no que diz respei- rência, devemos nos atentar ao fato de que, com o advento da Lei
to à moralidade do serviço, bem como o bem jurídico, integridade n° 8.666/93 (Lei de Licitações), o mesmo foi tacitamente revogado
física. por seu art. 94:
O objeto material do delito será o administrado, submetido ao Art. 94. Devassar o sigilo de proposta apresentada em procedi-
poder estatal, contra o qual é praticada a violência ilegal perpetrada mento licitatório, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo:
pelo funcionário público. Pena - detenção, de 2 (dois) a 3 (três) anos, e multa.
Como núcleo do crime, temos o verbo praticar que é sinônimo
de exercer ou cometer. A violência, por sua vez, deve ser entendida Por revogação tácita designa-se a eliminação da vigência de
somente como a vis corporalis, abrangendo vias de fato, lesão cor- uma norma por apresentar-se incompatível com outra norma pos-
poral ou homicídio. terior, em um determinado caso concreto. Assim, a revogação tácita
O emprego da violência deve ser arbitrário, não se englobando ocorre quando o aplicador constata que disposições contraditórias
situações, como por exemplo, de legitima defesa ou estrito cumpri- foram publicadas em momentos diferentes.
mento do dever legal. Desse modo, esta revogação tem lugar quando normas suces-
sivas no tempo apresentam contradição uma em relação à outra.
Abandono de função – Art. 323 Para resolver o conflito, emprega-se o chamado critério cronológico
(critério da lex posterior).
O crime de Abandono de função trata-se de crime contra a Ad- Conforme dispõe a LINDB, art. 2º, deve-se entender que a nor-
ministração Pública que se configura quando o funcionário público ma anterior foi revogada pela posterior, ainda que não expressa
se afasta do seu cargo por tempo juridicamente relevante, colocan- (descrita no tipo literal) esta revogação.
do em risco a regularidade dos serviços prestados.
Funcionário público – Art. 327
Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado –
Art. 324 São considerados funcionários públicos, para fins penais, quem
exerce cargo, emprego ou função pública.
Este crime pode ser tipificado por dois verbos: entrar ou con-
tinuar. Cargos públicos: são as mais simples e indivisíveis unidades de
O verbo entrar no exercício, significa iniciar o desempenho de competência a serem expressadas por um agente, previstas em um
determinada atividade pública antes mesmo de satisfeitas as exi- número certo, com denominação própria, retribuídas por pessoas
gências legais, ou seja, antes da investidura (nomeação, posse) legal jurídicas de direito público e criadas por lei;
do cargo de funcionário público.
Já o verbo continuar a exercê-la, significa prosseguir no desem- Empregos públicos: são núcleos de encargos de trabalho a se-
penho de determinada atividade, sem autorização, depois do fun- rem preenchidos por agentes contratados para desempenhá-los,
cionário público ser oficialmente notificado de que foi exonerado, sob relação trabalhista. O regime jurídico é o trabalhista (contra-
removido, substituído ou suspenso daquele cargo. tual), embora pontualmente derrogado por normas de direito pú-
blico, sobretudo as que diretamente constam do texto constitu-
Violação de sigilo funcional – Art. 325 cional. É a forma de contratação própria das pessoas jurídicas de
direito privado;
O crime de Violação de sigilo funcional ocorre quando um fun-
cionário público revela fato de que tem ciência em razão do cargo e Funções públicas: são as funções de confiança e as exercidas
que deva permanecer em segredo, ou facilita a sua revelação. pelos agentes públicos contratados por tempo determinado para
A conduta caracteriza-se quando o funcionário público revela atender à necessidade temporária de excepcional interesse público.
o sigilo funcional de forma intencional (este crime não admite a Importante ressaltar que, ainda que a função pública seja exer-
forma culposa), dando ciência de seu teor a terceiro, por escrito, cida transitoriamente e sem remuneração, poderá o agente ser con-
verbalmente, mostrando documentos, etc. siderado funcionário público para fins penais. Por isso, jurados e
A conduta de facilitar a divulgação do segredo, também deno- mesários eleitorais não estão afastados do conceito.
minada divulgação indireta, dá-se quando o funcionário público,
querendo que o fato chegue a conhecimento de terceiro, adota de- Segue abaixo os dispositivos legais do Código Penal referentes
terminado procedimento que torna a descoberta acessível a outras ao presente tópico:
pessoas.
A Lei nº 9.983/2000 criou no § 1º do artigo 325 algumas in- TÍTULO XI
frações penais equiparadas, punindo com as mesmas penas do DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
“caput” quem: CAPÍTULO I
I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e DOS CRIMES PRATICADOS
empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pes- POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
soas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
da Administração Pública;
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. Peculato
O § 2º estabelece uma qualificadora, prevendo pena de reclu- Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, va-
são, de dois a seis anos, e multa, se da ação ou omissão resultar lor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem
dano à Administração ou a terceiro. a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou
alheio:

362
DIREITO PENAL
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora
não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre Corrupção passiva
para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta
de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la,
mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
Peculato culposo vantagem:
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
outrem: § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da
Pena - detenção, de três meses a um ano. vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato
posterior, reduz de metade a pena imposta. de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou in-
fluência de outrem:
Peculato mediante erro de outrem Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que,
no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: Facilitação de contrabando ou descaminho
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática
de contrabando ou descaminho (art. 334):
Inserção de dados falsos em sistema de informações Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inser-
ção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corre- Prevaricação
tos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administra- Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de
ção Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfa-
outrem ou para causar dano: zer interesse ou sentimento pessoal:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente públi-
Modificação ou alteração não autorizada de sistema de infor- co, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho tele-
mações fônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros
Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de infor- presos ou com o ambiente externo:
mações ou programa de informática sem autorização ou solicitação Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
de autoridade competente:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. Condescendência criminosa
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsa-
metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Admi- bilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou,
nistração Pública ou para o administrado. quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da
autoridade competente:
Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que
tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou
Advocacia administrativa
parcialmente:
Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui
perante a administração pública, valendo-se da qualidade de fun-
crime mais grave.
cionário:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
Emprego irregular de verbas ou rendas públicas
Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
estabelecida em lei: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
Violência arbitrária
Concussão Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou a pretex-
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamen- to de exercê-la:
te, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da pena cor-
dela, vantagem indevida: respondente à violência.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019) Abandono de função
Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos
Excesso de exação em lei:
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na co- § 1º - Se do fato resulta prejuízo público:
brança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. § 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fron-
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de ou- teira:
trem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públi- Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
cos:

363
DIREITO PENAL
Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade,
Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de sa- com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento
tisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autori- físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida
zação, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, de caráter preventivo.
substituído ou suspenso: Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou
sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por
Violação de sigilo funcional intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante
Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e de medida legal.
que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação: § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção
não constitui crime mais grave. de um a quatro anos.
§ 1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima,
I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e em- a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a re-
préstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas clusão é de oito a dezesseis anos.
não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
Administração Pública;
I - se o crime é cometido por agente público;
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pú-
deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; ‘(Redação
blica ou a outrem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
III - se o crime é cometido mediante sequestro.
Violação do sigilo de proposta de concorrência § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou em-
Art. 326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrência públi- prego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo
ca, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo: da pena aplicada.
Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa. § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça
ou anistia.
Funcionário público § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos pe- do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.
nais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não
cargo, emprego ou função pública. tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasilei-
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, em- ra ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.
prego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de
execução de atividade típica da Administração Pública. 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores
dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em
comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia mista, empresa públi- QUESTÕES
ca ou fundação instituída pelo poder público.

1. (AV MOREIRA - 2020 - PREFEITURA DE NOSSA SENHORA DE


LEI N° 9.455, DE 07 DE ABRIL DE 1997 (CRIMES DE NAZARÉ - PI - PROCURADOR MUNICIPAL) Marque a alternativa em
TORTURA) que o princípio constitucional do direito penal NÃO corresponde ao
seu conceito.
(A) Princípio da Individualização da Pena: Qualquer que seja
LEI Nº 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1997. a pena aplicada, ela estará restrita à liberdade, ao patrimônio
e à pessoa do condenado. A exceção é o uso do patrimônio
Define os crimes de tortura e dá outras providências. transferido em herança para quitar obrigação de decretação de
perdimento de bens e de reparação de dano.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
(B) Princípio da Irretroatividade: Enquanto as leis em geral go-
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
zam de retroatividade mínima – alcançam obrigações vencidas
não pagas e por vencer –, a lei definidora de crime não retroage
Art. 1º Constitui crime de tortura:
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave senão para beneficiar o réu.
ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: (C) Princípio da Legalidade: A norma basilar do Direito Penal é
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da a não existência de crime sem lei anterior que o defina. Isto é,
vítima ou de terceira pessoa; para que uma conduta seja considerada um delito, é preciso
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; que seu dispositivo e sua hipótese de incidência estejam pre-
c) em razão de discriminação racial ou religiosa; vistos em um documento escrito que superou todas as etapas
do processo legislativo.
(D) Princípio da Presunção da Inocência: Ninguém será consi-
derado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória.

364
DIREITO PENAL
(E) Princípio da Responsabilidade Pessoal: Qualquer que seja (D) Crime praticado em embarcação de propriedade de gover-
a pena aplicada, ela estará restrita à liberdade, ao patrimônio no estrangeiro, quando se encontrar em mar territorial brasilei-
e à pessoa do condenado. A exceção é o uso do patrimônio ro, ficará sujeito à lei penal brasileira.
transferido em herança para quitar obrigação de decretação de (E) Crime praticado em aeronave brasileira de propriedade pri-
perdimento de bens e de reparação de dano. vada em território estrangeiro não se sujeita à lei penal brasi-
leira, mesmo que não seja julgado no exterior.
2. (FGV - 2019 - MPE-RJ - ANALISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO –
PROCESSUAL) Renato, Bruno e Diego praticaram diferentes crimes 5. (CONSULPLAN - 2019 - TJ-MG - TITULAR DE SERVIÇOS DE NO-
de roubo com emprego de armas brancas. Renato, no ano de 2017, TAS E DE REGISTROS – REMOÇÃO) A norma penal incriminadora é
foi condenado definitivamente pelo crime de roubo majorado pelo formada basicamente por dois preceitos: o preceito primário (ou
emprego de arma, pois, em 2015, teria, com grave ameaça exercida preceptum juris), em que se prevê a conduta abstrata que a socie-
com emprego de faca, subtraído um celular. Bruno foi condenado, dade pretende punir, o preceito secundário (ou sanctio juris), em
em primeira instância, em março de 2018, também pelo crime de que se fixa a sanção penal correspondente. As normas que necessi-
roubo majorado pelo emprego de arma, já que teria utilizado um tam de complementação no preceito secundário, por não trazerem
canivete para ameaçar a vítima e subtrair sua bolsa. A decisão ain- a cominação da pena correspondente à prática da conduta típica
da está pendente de confirmação diante de recurso do Ministério são chamadas de normas penais:
Público, apenas. Diego, por sua vez, responde à ação penal pela su- (A) Explicativas.
posta prática de crime de roubo majorado pelo emprego de arma, (B) Em branco homogêneas.
que seria um martelo, por fatos que teriam ocorrido em fevereiro (C) Em branco heterogêneas.
de 2018, estando o processo ainda em fase de instrução probatória. (D) Imperfeitas (ou incompletas strictu sensu).
Ocorre que, em abril de 2018, entrou em vigor lei alterando o art.
157 do CP, sendo revogado o inciso I do parágrafo 2º, e passando 6. (FGV - 2012 - PC-MA - DELEGADO DE POLÍCIA) Ocorrido um
a prever que apenas o crime de roubo com emprego de arma de fato criminoso, às vezes duas ou mais normas se apresentam para
fogo funcionaria como causa de aumento de pena. Considerando regulá-lo, surgindo o chamado conflito aparente de normas. A res-
apenas as informações expostas e que a inovação legislativa não peito de tal questão, assinale a afirmativa incorreta.
teria inconstitucionalidades, as novas previsões: (A) A pluralidade de fatos e a pluralidade de normas são pressu-
(A) seriam aplicáveis a Diego, que ainda não possui sentença postos do conflito, que aparentemente com eles se identificam.
condenatória em seu desfavor, com base no princípio da re- (B) O princípio da subsidiariedade atua como “soldado de re-
troatividade da lei penal benéfica, mas não seriam aplicáveis a serva”, aplicando a norma subsidiária menos grave quando im-
Renato e Bruno; possível a aplicação da norma principal mais grave.
(B) não seriam aplicáveis a Renato, que já possui condenação com (C) A questão da progressão criminosa e do crime progressivo é
trânsito em julgado, aplicando-se o princípio da irretroatividade resolvida pelo princípio da absorção ou consunção.
da lei penal, mas deveriam ser aplicadas a Bruno e Diego; (D) Na progressão criminosa, o agente inicialmente pretender
(C) não seriam aplicáveis a Renato, Bruno nem a Diego, já que praticar um crime menos grave, e, depois, resolve progredir
os fatos imputados teriam ocorrido antes de sua entrada em para o mais grave.
vigor, aplicando-se o princípio da irretroatividade da lei penal; (E) No crime progressivo, o sujeito, para alcançar o crime queri-
(D) seriam aplicáveis a Renato, Bruno e Diego, em razão do do, passa necessariamente por outro menos grave que aquele
princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica; desejado.
(E) seriam aplicáveis apenas a Bruno e Diego, mas não a Rena-
to, diante do princípio do tempus regit actum. 7. (MPE-GO - 2019 - MPE-GO - PROMOTOR DE JUSTIÇA – REA-
PLICAÇÃO) A clássica frase a seguir inaugurou uma nova fase na
3. (VUNESP - 2018 - PC-SP - INVESTIGADOR DE POLÍCIA) Segun- dogmática jurídico-penal: « O caminho correto só pode ser deixar
do o disposto na Declaração Universal dos Direitos Humanos, “Se as decisões valorativas político-criminais introduzirem-se no siste-
depois da perpetração do delito a lei dispuser a imposição de pena ma de direito penal” . Assinale a alternativa em que consta o autor
mais leve, o delinquente será por isso beneficiado.” Essa norma de da referida afirmação, bem como o sistema jurídico-penal a que se
direito penal é representada pelo Princípio refere:
(A) da Individualização da Pena. (A) Edmund Mezger - neokantismo penal
(B) da Legalidade. (B) Claus Roxin - funcionalismo teleológico racional
(C) da Norma Penal em Branco. (C) Günther Jakobs - funcionalismo sistêmico radical
(D) da Presunção da Inocência. (D) Hans Welzel - finalismo penal
(E) da Retroatividade.
8 (INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - PERITO OFICIAL CRIMINAL -
4. (CESPE - 2019 - TJ-DFT - TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E DE ÁREA 8) O agente que pratica o fato para salvar de perigo atual, que
REGISTROS – REMOÇÃO) Acerca das regras de territorialidade e de não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direi-
extraterritorialidade da lei penal, assinale a opção correta. to próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável
(A) Crime de genocídio praticado fora do território brasileiro exigir-se, age amparado por qual causa excludente de ilicitude?
poderá ser julgado no Brasil quando cometido contra povo alie- (A) Legítima defesa.
nígena por estrangeiro domiciliado no Brasil. (B) Estado de necessidade.
(B) O brasileiro que praticar crime em território estrangeiro po- (C) Estrito cumprimento de dever legal.
derá ser punido, devendo ser aplicada ao fato a lei penal brasi- (D) Exercício regular de direito.
leira, ainda que o agente não mais ingresse no Brasil. (E) Consentimento do ofendido.
(C) Crime contra a administração pública nacional praticado no
exterior ficará sujeito à lei brasileira quando o agente criminoso
que estava a serviço da administração regressar ao Brasil.

365
DIREITO PENAL
9. (VUNESP - 2019 - TJ-AL - NOTÁRIO E REGISTRADOR – REMO- (B) A pena pode ser reduzida em um sexto, se o agente, em vir-
ÇÃO) No tocante ao concurso do pessoas, é correto afirmar que tude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento
(A) se entende por participe aquele que pratica a conduta des- mental incompleto ou retardado, não era inteiramente capaz
crita no verbo núcleo do tipo penal. de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
(B) quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas acordo com esse entendimento.
penas para este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (C) No concurso de pessoas, se a participação for de menor im-
(C) a participação de menor Importância conduz à exclusão da portância, a pena pode ser diminuída de um a dois terços.
culpabilidade. (D) São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando
(D) se algum dos agentes quis participar de crime menos grave, o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um)
responderá por este ainda que fosse previsível o resultado mais anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.
grave. (E) A prescrição da pena de multa ocorrerá em um ano, quando
a multa for a única cominada ou aplicada.
10. (GUALIMP - 2020 - PREFEITURA DE CONCEIÇÃO DE MA-
CABU - RJ – PROCURADOR) O Código Penal Brasileiro define que 14. (FUNDEP (GESTÃO DE CONCURSOS) - 2019 - MPE-MG -
as penas privativas de liberdade deverão ser executadas de forma PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO) Analise as assertivas sobre a
progressiva, segundo o mérito do condenado, observados determi- prescrição e marque a alternativa correta:
nados critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime I. Os prazos fornecidos pelos incisos do artigo 109 do Código
mais rigoroso, poderá, desde o início, cumprir sua pena em regime Penal servirão não só para o cálculo da prescrição, considerando-se
semiaberto, o condenado: a pena máxima em abstrato, como também para aqueles relativos à
(A) Não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) pena já concretizada na sentença condenatória.
anos. II. A prescrição superveniente ou intercorrente ocorre depois
(B) A pena superior a 8 (oito) anos. do trânsito em julgado para a acusação, ou quando improvido seu
(C) Não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 2 (dois) recurso, tomando-se por base a pena fixada na sentença penal con-
anos. denatória, e permite a confecção do título executivo judicial.
(D) Não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e III. O parâmetro para o limite da suspensão do curso do prazo
não exceda a 8 (oito) anos. prescricional, em caso de suspensão do processo nos termos do ar-
tigo 366 do Código de Processo Penal, é aquele determinado pelos
11. (CESPE - 2019 - TJ-BA - JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO) O be- incisos do artigo 109 do Código Penal, adotando-se o máximo da
nefício da suspensão condicional da pena — sursis penal — pena abstratamente cominada ao delito.
(A) pode ser concedido a condenado a pena privativa de liber- IV. Em relação às hipóteses previstas no artigo 117 do Código
dade, desde que esta não seja superior a quatro anos e que Penal, a interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a
aquele não seja reincidente em crime doloso. todos os autores do crime, exceto nos casos de reincidência e pro-
(B) é cabível nos casos de crimes praticados com violência ou núncia.
grave ameaça, desde que a pena privativa de liberdade aplica- V. As causas de aumento e de diminuição de pena influenciam
da não seja superior a dois anos. no cálculo da prescrição, que deverá ser feito considerando o per-
(C) pode estender-se às penas restritivas de direitos e à de mul- centual de maior elevação, nas hipóteses de causas de aumento de
ta, casos em que se suspenderá, também, a execução dessas pena de quantidade variável, e o de menor redução, nas hipóteses
penas. de causas de diminuição de pena de quantidade variável.
(D) deverá ser, obrigatoriamente, revogado no caso da super-
veniência de sentença condenatória irrecorrível por crime do- (A) As assertivas I, III e IV estão corretas.
loso, culposo ou contravenção contra o beneficiário. (B) As assertivas II, III, IV e V estão corretas.
(E) impõe que, após o cumprimento das condições impostas ao (C) As assertivas I, III e V estão corretas.
beneficiário, seja proferida sentença para declarar a extinção (D) As assertivas I, II e V estão corretas.
da punibilidade do agente.
15. (CESPE - 2019 - TJ-AM - ANALISTA JUDICIÁRIO - OFICIAL
12. (FCC - 2019 - DPE-AM - ANALISTA JURÍDICO DE DEFENSORIA DE JUSTIÇA AVALIADOR) Pedro, com vinte e dois anos de idade, e
- CIÊNCIAS JURÍDICAS) O concurso formal de crimes ocorre quando Paulo, com vinte anos de idade, foram denunciados pela prática de
(A) o agente pratica dois ou mais crimes mediante uma só ação furto contra Ana. A defesa de Pedro alegou inimputabilidade. Paulo
ou omissão. confessou o crime, tendo afirmado que escolhera a vítima porque,
(B) as circunstâncias pessoais do crime se comunicam aos co- além de idosa, ela era sua tia. Com relação a essa situação hipoté-
autores. tica, julgue o item subsecutivo, a respeito de imputabilidade penal,
(C) a sentença aplica pena privativa de liberdade e pena de crimes contra o patrimônio, punibilidade e causas de extinção e
multa para o mesmo crime. aplicação de pena: Em relação a Paulo, o prazo prescricional será
(D) praticam-se dois ou mais crimes, mediante mais de uma reduzido à metade.
ação ou omissão. ( ) CERTO
(E) um crime é praticado por duas ou mais pessoas previamen- ( ) ERRADO
te ajustadas para tanto.
16. (CESPE - 2020 - MPE-CE - PROMOTOR DE JUSTIÇA DE EN-
13. (INSTITUTO AOCP - 2020 - PREFEITURA DE BETIM - MG - TRÂNCIA INICIAL) Acerca do delito de homicídio doloso, assinale a
ANALISTA JURÍDICO) Segundo o Código Penal, assinale a alternativa opção correta.
correta. (A) Constitui forma privilegiada desse crime o seu cometimen-
(A) A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, to por agente impelido por motivo de relevante valor social ou
aplica-se aos fatos anteriores, salvo se decididos por sentença moral, ou sob influência de violenta emoção provocada por ato
condenatória transitada em julgado. injusto da vítima.

366
DIREITO PENAL
(B) A qualificadora do feminicídio, caso envolva violência do- 20. (FAFIPA - 2019 - CREA-PR - AGENTE PROFISSIONAL – ADVO-
méstica, menosprezo ou discriminação à condição de mulher, GADO) Considerando o seguinte fato: Tício finge ser cliente da loja
não é incompatível com a presença da qualificadora da moti- X e ali efetua a compra de um par de meias no valor de R$ 10,90.
vação torpe. No momento do pagamento, faz confusão dentro da loja, finge que
(C) A prática desse crime contra autoridade ou agente das for- paga pelo produto e induz o funcionário a lhe devolver troco. Esse
ças de segurança pública é causa de aumento de pena. fato típico enquadra-se como o delito de:
(D) É possível a aplicação do privilégio ao homicídio qualificado (A) Furto.
independentemente de as circunstâncias qualificadoras serem (B) Furto mediante fraude.
de ordem subjetiva ou objetiva. (C) Apropriação indébita.
(E) Constitui forma qualificada desse crime o seu cometimento (D) Estelionato.
por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de (E) Roubo.
segurança, ou por grupo de extermínio.
21. (INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES – INVESTIGADOR) Em rela-
17. (IBFC - 2020 - EBSERH – ADVOGADO) O atual Código de Di- ção aos crimes contra o patrimônio, assinale a alternativa correta.
reito Penal, recepcionado pela Constituição de 1988, inicia a Parte (A) É isento de pena o agente que pratica o crime de roubo con-
Especial tratando dos crimes contra a pessoa. Sobre eles, assinale a tra seu cônjuge, na constância da sociedade conjugal.
alternativa incorreta. (B) É isento de pena o agente que pratica o crime de furto em
(A) Também é crime se a lesão corporal for praticada contra prejuízo de seu cônjuge, que possui 50 anos de idade, na cons-
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou tância da sociedade conjugal.
com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecen- (C) A pena do delito de receptação é reduzida de um a dois
do-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de terços se o crime for praticado contra descendente, seja o pa-
hospitalidade rentesco legítimo ou ilegítimo.
(B) Trata-se de homicídio qualificado aquele cometido contra a (D) A pena do delito de furto é aumentada de um terço se o
mulher por razões da condição do sexo feminino crime for praticado em prejuízo do cônjuge, na constância da
(C) É crime o aborto de feto com anencefalia sociedade conjugal.
(D) É crime contra a pessoa praticar, com o fim de transmitir a (E) É isento de pena quem pratica o crime de extorsão em pre-
outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de juízo do cônjuge judicialmente separado.
produzir contágio
(E) É crime abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guar- 22. (CESPE - 2018 - PC-MA - DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL) Assi-
da, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de nale a opção correta no que se refere aos crimes contra a proprie-
defender-se dos riscos resultantes do abandono dade imaterial.
(A) A violação de direito autoral qualificada se configura com o
18. (CESPE / CEBRASPE - 2019 - TJ-BA - JUIZ LEIGO) Márcio e dolo genérico.
Pedro eram amigos havia anos. Tendo descoberto que Pedro estava (B) O plágio de obras literárias, científicas ou artísticas é regido
saindo com a sua ex-esposa, Márcio planejou matar Pedro durante por lei própria, não sendo abrangido pelo tipo de violação de
uma pescaria que fariam juntos. Durante uma tempestade, em al- direito autoral nas suas formas simples ou qualificadas.
to-mar, Márcio aproveitou-se de um deslize de Pedro para de fato (C) A materialidade do crime de violação de direito autoral
matá-lo. Logo após a conduta, Márcio percebeu que na canoa onde pode ser provada mediante perícia por amostragem sobre os
estavam só havia um colete salva-vidas e que, em razão disso, a aspectos externos do material apreendido.
eliminação de Pedro foi sua única chance de sobreviver. A canoa (D) A absolvição do réu no crime de violação de direito autoral
afundou e Márcio sobreviveu ao naufrágio. Nessa situação hipoté- é possível com base na teoria da adequação social e no princí-
tica, Márcio pio da insignificância.
(A) cometeu crime de homicídio qualificado. (E) A violação de direitos autorais é crime processado mediante
(B) não cometeu crime, porque agiu em legítima defesa da ação pública condicionada à representação, quando cometida
honra. na forma simples.
(C) cometeu crime, mas sua conduta será justificada pelo esta-
do de necessidade putativo. 23. (MPE-SP - 2017 - MPE-SP - PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBS-
(D) não cometeu crime, porque agiu em estado de necessida- TITUTO) A simples exposição à venda de cópias não autorizadas de
de. filmes sob a forma de DVD constitui
(E) cometeu crime, mas sua pena será diminuída porque agiu (A) apenas um ilícito civil.
em estado de necessidade. (B) mero ato preparatório.
(C) fato atípico.
19. (VUNESP - 2020 - EBSERH – Advogado) O crime de roubo (D) crime contra a propriedade imaterial.
tem pena aumentada (CP, art. 157, § 2° e 2° A) se (E) contravenção relativa à violação de objeto.
(A) o bem subtraído é de propriedade de ente público Munici-
pal, Estadual ou Federal.
(B) a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente
conhece tal circunstância.
(C) praticado em transporte público ou coletivo.
(D) cometido por quem, embora transitoriamente ou sem re-
muneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
(E) cometido por quem for ocupante de cargos em comissão ou
de função de direção ou assessoramento de órgão de empresa
pública.

367
DIREITO PENAL
24. (CESPE - 2015 - DPE-RN - DEFENSOR PÚBLICO SUBSTITUTO) Va- (B) Para a configuração típica do crime de aliciamento de tra-
nessa foi presa em flagrante enquanto vendia e expunha à venda cerca balhadores de um local para outro do território nacional, é ne-
de duzentos DVDs piratas, falsificados, de filmes e séries de televisão. cessária a ação de recrutar seduzindo, mais de um trabalhador,
Realizada a devida perícia, foi confirmada a falsidade dos objetos. In- com o fim de levá-los para qualquer lugarejo, mas desde que
capaz de apresentar autorização para a comercialização dos produtos, afastado daquele em que ocorreu o aliciamento.
Vanessa alegou em sua defesa que desconhecia a ilicitude de sua con- (C) Para a configuração típica do crime de redução a condição
duta. Com relação a essa situação hipotética, assinale a opção correta análoga a de escravo, o consentimento da vítima é elemento
à luz da jurisprudência dominante dos tribunais superiores. essencial a ser aferido, haja vista que não incide a punição em
(A) Vanessa é isenta de culpabilidade, pois incidiu em erro de hipótese alguma, quando tal consentimento tenha sido dado,
proibição. expressa ou tacitamente, pelo ofendido.
(B) O MP deve comprovar que os detentores dos direitos au- (D) Para a configuração típica do crime de redução a condição
torais das obras falsificadas sofreram real prejuízo para que a análoga a de escravo basta que a vítima tenha sido submetida,
conduta de Vanessa seja criminosa. eventualmente, a apenas uma jornada exaustiva de trabalho,
(C) A conduta de Vanessa ofende o direito constitucional que ou a um episódio degradante de trabalho, casos em que há evi-
protege a autoria de obras intelectuais e configura crime de dente violação da dignidade humana.
violação de direito autoral. (E) Para a configuração típica do crime de atentado contra a
(D) A conduta de vender e expor à venda DVDs falsificados é liberdade de trabalho, a grave ameaça capaz de constranger
atípica em razão da incidência do princípio da adequação so- alguém a trabalhar durante certo período de tempo ou em
cial. determinados dias, pode se consubstanciar na promessa, pelo
(E) A conduta de vender e expor à venda DVDs falsificados é empregador, de rescisão do contrato de trabalho.
atípica em razão da incidência do princípio da insignificância.
28. (CESPE - 2017 - DPE-AL - DEFENSOR PÚBLICO) No que tange
25. (ADVISE - 2019 - PREFEITURA DE JUAREZ TÁVORA - PB - EN- aos crimes contra o sentimento religioso, assinale a opção correta.
FERMEIRO PSF) O crime de “Invasão do estabelecimento industrial, (A) Para que configure crime, a prática do escárnio deve expres-
comercial ou agrícola. Sabotagem” é caracterizado pela conduta sar o fim específico de ofender o sentimento religioso de um
típica de: indivíduo, como elemento subjetivo do injusto.
(A) Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, (B) A caracterização desse tipo de crime exige que a prática de
praticando violência contra pessoa ou contra coisa escárnio seja efetuada na presença do sujeito passivo.
(B) Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, (C) Em caso de escárnio por motivo religioso acompanhado de
a participar ou deixar de participar de determinado sindicato ofensa a honra individual, o agente responderá em concurso
ou associação profissional. formal de crimes.
(C) Invadir ou ocupar estabelecimento industrial, comercial ou (D) Em se tratando de escárnio por motivo religioso, a pena será
agrícola, com o intuito de impedir ou embaraçar o curso nor- acrescida de um terço caso se verifique o exercício de violência,
mal do trabalho, ou com o mesmo fim danificar o estabeleci- desde que voltada contra objetos e esculturas sagradas.
(E) Constitui infração penal o ato de escarnecer, em público, um
mento ou as coisas nele existentes ou delas dispor.
grupo religioso.
(D) Frustrar, mediante fraude ou violência, obrigação legal rela-
tiva à nacionalização do trabalho.
29. (CESPE - 2015 - TJ-PB - JUIZ SUBSTITUTO) Acerca da disci-
(E) Exercer atividade, de que está impedido por decisão admi-
plina legal dos crimes previstos na parte especial do CP, assinale a
nistrativa.
opção correta.
(A) A conduta de subtrair cadáver de sua sepultura configura
26. (ADVISE - 2019 - PREFEITURA DE JUAREZ TÁVORA - PB - EN-
crime de furto qualificado.
FERMEIRO PSF) O professor de Direito Penal, Juliano, deu aula so-
(B) O ato de escarnecer de alguém publicamente em razão de
bre “Os crimes contra a organização do trabalho” e passou uma ati- sua crença ou de sua função religiosa configura crime de injúria
vidade para os alunos responderem em casa. A atividade consistia qualificada.
em uma pergunta que buscava a resposta sobre qual seria o crime (C) Nas figuras qualificadas do crime de direito autoral, é des-
praticado pela conduta típica de “Aliciar trabalhadores, com o fim necessário que haja o intuito de obter lucro para que seja con-
de levá-los de uma para outra localidade do território nacional”. De figurado o referido crime.
acordo com o Código Penal, trata-se do crime de: (D) No crime de impedimento ou perturbação de enterro ou
(A) Aliciamento para o fim de emigração. cerimônia funerária, constitui causa de aumento de pena o fato
(B) Aliciamento sexual. de o agente praticar o referido crime mediante violência.
(C) Aliciamento para o fim de imigração. (E) A ação penal para os crimes contra a propriedade intelectu-
(D) Aliciamento de trabalhadores para o fim de exploração de al é de iniciativa privada e deverá ser ajuizada mediante queixa
mão de obra. do ofendido.
(E) Aliciamento de trabalhadores de um local para outro do ter-
ritório nacional. 30. (CESPE - 2014 - TJ-CE - ANALISTA JUDICIÁRIO - EXECUÇÃO
DE MANDADOS) Com relação ao excesso punível, aos crimes contra
27. (TRF - 2ª REGIÃO - 2018 - TRF - 2ª REGIÃO - JUIZ FEDERAL a dignidade sexual, aos crimes contra o sentimento religioso e o
SUBSTITUTO) Assinale a resposta certa: respeito aos mortos, aos crimes contra a família e aos crimes contra
(A) Para a configuração típica do crime de frustração de direi- a administração pública, assinale a opção correta.
to assegurado por lei trabalhista, a lei penal prevê apenas a (A) No estupro de vulnerável, a presunção de violência é ab-
ação delituosa de ilusão mediante fraude, destinada a impedir soluta, segundo a jurisprudência do STJ, sendo irrelevante a
o exercício de direitos trabalhistas, ou o desligamento do servi- aquiescência do menor ou mesmo o fato de já ter mantido re-
ço através da simulação de dívidas contraídas pelo empregado. lações sexuais anteriormente.

368
DIREITO PENAL
(B) As cinzas humanas não podem ser objeto material do crime (D) estupro simples (art. 213 do CP), diante da violência real
de vilipêndio a cadáver. empregada, funcionando a idade da vítima como agravante da
(C) No crime de bigamia, a data do fato constitui o termo inicial pena, não havendo previsão de causa de aumento de pena,
do prazo prescricional. que somente seria aplicável se o autor fosse pai da ofendida;
(D) Comete o crime de concussão o empregado de empresa (E) estupro qualificado pela idade da vítima (art. 213, §1º do
pública que, utilizando-se de grave ameaça, exige para si van- CP), sem causa de aumento por ser o autor padrasto da ofen-
tagem econômica. dida, diante da violência real empregada, podendo a idade da
(E) Ao contrário do que ocorria com a Parte Geral do Código vítima funcionar também como agravante da pena.
Penal de 1940, o Código Penal atual não prevê, expressamente,
a aplicabilidade das regras de excesso punível às quatro causas 33.(Prova: Instituto Acesso - 2019 - PC-ES - Delegado de Polícia)
de exclusão de ilicitude. A profissional do sexo Gumercinda atende a seus clientes no local
onde reside juntamente com seu filho Joaquim de dez anos. O local
31.(VUNESP - 2019 - TJ-RO - Juiz de Direito Substituto) Tícia, é bastante exíguo, tendo pouco mais de quinze metros quadrados,
de 16 anos, há dois anos namora Caio, de 19 anos. Tícia é virgem e onde existem apenas um quarto e um banheiro, ficando a cama
está decidida a apenas manter relação sexual após o casamento, já onde Joaquim dorme ao lado da cama da mãe. Em uma determi-
marcado para ocorrer no dia em que ela completará 18 anos. Quan- nada madrugada, Gumercinda acerta um “programa sexual” com
do estavam sozinhos, na sala, assistindo TV, Caio, aproveitando-se Caio e o leva até sua casa. Durante o ato sexual, Joaquim acorda
que Tícia cochilava, masturbou-se e ejaculou no corpo da namorada e presencia tudo, sem que Gumercinda ou Caio percebam que ele
que, imediatamente, acordou. Sentindo-se profundamente violada está assistindo à cena. No dia seguinte, Joaquim vai para a escola e
e agredida, Tícia grita e acorda os pais, que dormiam no quarto da conta o fato a um amigo, o qual, por sua vez, relata a história para
casa. Os pais, vendo a filha suja e em pânico, impedem Caio de fugir Joana, sua mãe. Esta, abismada com a história, procura a delegacia
e decidem chamar a polícia. Acionada a polícia, Caio é preso, em do bairro e narra os fatos acima descritos. Diante desta situação
flagrante delito e, encerradas as investigações, denunciado pelo cri- hipotética, assinale a alternativa correta do ponto de vista legal.
me sexual praticado. Diante da situação hipotética, Caio poderá ser (A) Gumercinda e Caio responderão pelo delito de satisfação de
processado pelo crime de lascívia mediante a presença de criança ou adolescente.
(A) corrupção de menores, tratando-se de ação penal pública (B) Gumercinda e Caio não cometeram nenhum crime.
incondicionada. (C) Gumercinda e Caio praticaram exploração sexual de criança
(B) violação sexual mediante fraude, haja vista que Tícia estava ou adolescente.
dormindo, sem possibilidade de resistir, tratando-se de crime (D) Gumercinda e Caio praticaram crime previsto no Estatuto
de ação penal pública condicionada. da Criança e do Adolescente.
(C) importunação sexual, tratando-se de ação penal pública in- (E) Apenas Gumercinda responderá pelo delito de satisfação de
condicionada. lascívia mediante a presença de criança ou adolescente.
(D) estupro de vulnerável, haja vista que Tícia é menor, tratan-
do-se de crime de ação penal pública incondicionada. 34.(FUNDATEC - 2021 - Prefeitura de Porto Alegre - RS - Médico
(E) estupro, incidindo causa de aumento em virtude de a vítima Especialista - Emergencista) À luz do disposto no Código Penal Bra-
ser menor de 18, tratando-se de ação penal pública condicio- sileiro – Decreto-Lei nº 2.848/1940, assinale a alternativa INCOR-
nada. RETA.
(A) Comete crime de inserção de dados falsos em sistema de
32.(FGV - 2019 - MPE-RJ - Analista do Ministério Público – Pro- informações o funcionário que modificar ou alterar sistema de
cessual) Tício, padrasto de Lourdes, criança de 11 anos de idade, informações ou programa de informática sem autorização ou
praticou, mediante violência consistente em diversos socos no ros- solicitação de autoridade competente.
to, atos libidinosos diversos da conjunção carnal com sua enteada. (B) No crime de epidemia, se da propagação de germes patogê-
A vítima contou o ocorrido à sua mãe, apresentando lesões no ros- nicos resultar morte, aplica-se a pena em dobro.
to, de modo que a genitora de Lourdes, de imediato, compareceu (C) A infração de medida sanitária preventiva, determinada
com a filha em sede policial e narrou o ocorrido. Recebidos os autos pelo poder público, destinada a impedir introdução ou propa-
do inquérito policial, o promotor de justiça com atribuição deverá gação de doença contagiosa, quando praticada por agente que
oferecer denúncia imputando a Tício o crime de: exerce a profissão de médico, tem a pena aumentada de um
(A) estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), podendo o em- terço.
prego de violência real ser considerado na pena base para fins (D) Comete crime quem fornece substância medicinal em desa-
de aplicação da sanção penal, bem como cabendo reconheci- cordo com receita médica.
mento da causa de aumento de pena pelo fato de o autor ser (E) A corrupção passiva compreende o ato de solicitar ou re-
padrasto da ofendida; ceber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
(B) estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), não podendo o que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
emprego de violência real ser considerado na pena base por já vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem.
funcionar como elementar do delito, mas cabendo reconheci-
mento da causa de aumento de pena pelo fato de o autor ser 35.(Quadrix - 2020 - CRO-DF - Fiscal I) À luz do Código Penal
padrasto da ofendida; brasileiro, julgue o item: Curandeirismo é o ato de exercer, ainda
(C) estupro qualificado pela idade da vítima (art. 213, §1º do que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêuti-
CP), diante da violência real empregada, de modo que a ida- co sem autorização legal ou excedendo‐lhe os limites.
de da vítima não poderá funcionar como agravante, apesar de ( ) CERTO
presente a causa de aumento pelo fato de o autor ser padrasto ( ) ERRADO
da ofendida;

369
DIREITO PENAL
36.(Quadrix - 2020 - CRO-DF - Fiscal I) À luz do Código Penal (A) Em crime de corrupção passiva, uma vez que, ainda que
brasileiro, julgue o item: Entende‐se por charlatanismo o ato de in- João Paulo não estivesse no exercício da função, aceitou vanta-
culcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível. gem em razão dela, condição suficiente para a configuração do
( ) CERTO crime de corrupção passiva.
( ) ERRADO (B) Em crime de falsidade de atestado médico, considerando
que a mera promessa do atestado falso já configura a efetiva-
37.(CESPE / CEBRASPE - 2020 - PRF - Policial Rodoviário Fede- ção da infração penal.
ral - Curso de Formação - 3ª Turma - 2ª Prova) Quanto a conceitos
e definições legais relativos ao tráfico ilícito de drogas e afins e a (C) Em tentativa de falsidade de atestado médico, porque não
fatores que o impulsionam no contexto brasileiro, julgue o item a houve a concretização do ato ilícito, mas ainda sim João Paulo
seguir: No direito penal, o termo associação criminosa é sinônimo está sujeito a uma punição mais branda.
de organização criminosa e, por isso, ambos os termos referem-se (D) Em nenhuma infração penal, haja vista que João Paulo ain-
ao mesmo tipo penal. da não havia assumido a função de médico na Universidade, e
( ) CERTO a mera conversa entre ele e o Diretor não configura ato ilícito.
( ) ERRADO
41.(CESPE / CEBRASPE - 2021 - TCE-RJ - Analista de Controle
38.(Prova: MetroCapital Soluções - 2019 - Prefeitura de Nova Externo - Especialidade: Direito) Com relação aos crimes contra a
Odessa - SP - Procurador Jurídico) Incitar, publicamente, a prática administração pública, julgue o item subsequente: A oposição ma-
de crime constitui o crime previsto no artigo 286 do Código Penal, nifestada pelo indivíduo, mediante resistência passiva, sem o uso
isto é: da violência, contra ordem emanada por autoridades policiais que
(A) Incitação ao crime. pretendessem levá-lo à delegacia, sem que houvesse flagrante, é
(B) Apologia ao crime. suficiente para caracterizar o delito de resistência.
(C) Instigação criminosa. ( ) CERTO
(D) Condescendência criminosa. ( ) ERRADO
(E) Associação criminosa.
42.(CESPE / CEBRASPE - 2021 - TCE-RJ - Analista de Controle
39.(IESES - 2019 - TJ-SC - Titular de Serviços de Notas e de Re- Externo - Especialidade: Direito) Com relação aos crimes contra a
gistros – Provimento) Acerca do delito de associação criminosa, do administração pública, julgue o item subsequente: Servidor público
art. 288 do Código Penal, é correto afirmar: que, violando dever funcional, facilite a prática de contrabando res-
(A) Sua configuração exige a associação de mais de três pessoas ponderá como partícipe pela prática desse crime.
para o fim específico de cometer crimes, consumando-se inde- ( ) CERTO
pendentemente de prévia condenação de quaisquer de seus ( ) ERRADO
membros pela prática de quaisquer dos crimes para os quais a
associação foi estabelecida. 43.(CESPE / CEBRASPE - 2021 - TCE-RJ - Analista de Controle
(B) Sua configuração exige a associação de mais de três pessoas Externo - Especialidade: Direito) No que se refere aos crimes em
para o fim específico de cometer crimes e a condenação de ao espécie, julgue o item que se segue: Chefe do Ministério Público
menos um de seus membros por, no mínimo, um desses crimes estadual que ordenar aumento de despesa total com pessoal nos
para os quais a associação foi estabelecida, ainda que não se últimos sessenta dias do seu mandato poderá responder como su-
comprove a reiteração criminosa. jeito ativo do crime de aumento de despesa total com pessoal.
(C) Sua configuração exige a associação de três ou mais pessoas ( ) CERTO
para o fim específico de cometer crimes e a condenação de ao ( ) ERRADO
menos um de seus membros por, no mínimo, um desses crimes
para os quais a associação foi estabelecida, ainda que não se 44.(ABCP - 2020 - Prefeitura de Bom Jesus dos Perdões - SP
comprove a reiteração criminosa. – Advogado) O professor de Direito Penal, Abílio Moreira, estava
(D) Sua configuração exige a associação de três ou mais pesso- disposto a propor um desafio aos seus alunos do 5º semestre da
as para o fim específico de cometer crimes, consumando-se in- Universidade Kappa Beta. A pergunta era em relação ao Código Pe-
nal, e os alunos deveriam assinalar a alternativa que corresponde
dependentemente de prévia condenação de quaisquer de seus
ao crime de “Inscrição de despesas não empenhadas em restos a
membros pela prática de quaisquer dos crimes para os quais a
pagar”. Sendo um dos alunos do professor Abílio, assinale a alter-
associação foi estabelecida.
nativa correta:
(A) Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos dois úl-
40.(UNIFAL-MG - 2021 - UNIFAL-MG - Médico – Pediatria) João
timos quadrimestres do último ano do mandato ou legislatura,
Paulo, devidamente aprovado dentro do número de vagas ofertadas
cuja despesa não possa ser paga no mesmo exercício financeiro
no Edital do concurso para o cargo de médico, técnico-administra-
ou, caso reste parcela a ser paga no exercício seguinte, que não
tivo em educação, realizado pela Universidade Federal de Alfenas,
tenha contrapartida suficiente de disponibilidade de caixa
já convocado para a posse a ser realizada em 10 (dez) dias, recebe
(B) Ordenar despesa não autorizada por lei.
do Diretor do campus responsável pelo espaço físico da Universida- (C) Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a pagar, de des-
de, uma oferta da melhor sala disponível dentre as existentes para pesa que não tenha sido previamente empenhada ou que ex-
os médicos, desde que ele emita atestados médicos em favor do ceda limite estabelecido em lei.
Diretor, quando esse precisar faltar ao trabalho sem justificativa. (D) Ordenar, autorizar ou executar ato que acarrete aumento
João Paulo, que ainda não entrou em exercício na função de médi- de despesa total com pessoal, nos cento e oitenta dias anterio-
co, aceita a promessa do Diretor do campus. Nesse caso, João Paulo res ao final do mandato ou da legislatura.
incorreu naquele momento:

370
DIREITO PENAL
45.(GUALIMP - 2020 - Prefeitura de Conceição de Macabu - RJ
35 ERRADO
– Procurador) De acordo com o Código Penal, assinale a alternativa
que traz o crime que prevê a conduta típica de “Deixar de ordenar, 36 CERTO
de autorizar ou de promover o cancelamento do montante de res- 37 ERRADO
tos a pagar inscrito em valor superior ao permitido em lei”:
(A) Ordenação de despesa não autorizada. 38 A
(B) Prestação de garantia graciosa. 39 D
(C) Oferta pública ou colocação de títulos no mercado.
40 A
(D) Não cancelamento de restos a pagar.
41 ERRADO
42 ERRADO
GABARITO 43 CERTO
44 C
45 D
1 A
2 D
3 E ANOTAÇÕES
4 A
5 D ______________________________________________________
6 A
______________________________________________________
7 B
______________________________________________________
8 B
9 B ______________________________________________________
10 D ______________________________________________________
11 B
______________________________________________________
12 A
13 D ______________________________________________________

14 C ______________________________________________________
15 CERTO ______________________________________________________
16 B
______________________________________________________
17 C
18 A ______________________________________________________
19 B ______________________________________________________
20 D
______________________________________________________
21 B
22 C ______________________________________________________

23 D ______________________________________________________
24 C ______________________________________________________
25 C
______________________________________________________
26 E
27 B ______________________________________________________
28 A ______________________________________________________
29 D
______________________________________________________
30 A
______________________________________________________
31 C
32 A ______________________________________________________
33 B ______________________________________________________
34 A
_____________________________________________________

371
DIREITO PENAL
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372
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRA- LEI N° 12.288, DE 20 DE JULHO DE 2010 (ESTATUTO DA


SIL (ART. 1°, 3°, 4° E 5°) IGUALDADE RACIAL)

Prezado candidato, o tema supracitado foi abordado na maté- LEI Nº 12.288, DE 20 DE JULHO DE 2010
ria de “Direito Constitucional”.
Não deixe de conferir! Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis nos 7.716,
Bons estudos! de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347, de 24
de julho de 1985, e 10.778, de 24 de novembro de 2003.
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA BAHIA, (CAP. XXIII O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
“DO NEGRO”) cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA BAHIA DE 05 OUTUBRO DE DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
1989
Art. 1o Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, desti-
PREÂMBULO nado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de
Nós, Deputados Estaduais Constituintes, investidos no pleno oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos
exercício dos poderes conferidos pela Constituição da República Fe- e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de into-
derativa do Brasil, sob a proteção de Deus e com o apoio do povo lerância étnica.
baiano, unidos indissoluvelmente pelos mais elevados propósitos Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se:
de preservar o Estado de Direito, o culto perene à liberdade e a I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclu-
igualdade de todos perante a lei, intransigentes no combate a toda são, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou
forma de opressão, preconceito, exploração do homem pelo ho- origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir
mem e velando pela Paz e Justiça sociais, promulgamos a Constitui- o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições,
ção do Estado da Bahia. de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos políti-
co, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida
TÍTULO VI pública ou privada;
DA ORDEM ECONÔMICA E SOCIAL II - desigualdade racial: toda situação injustificada de diferen-
CAPÍTULO XXIII ciação de acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas
DO NEGRO esferas pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou
origem nacional ou étnica;
Art. 286 - A sociedade baiana é cultural e historicamente mar- III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no
cada pela presença da comunidade afro-brasileira, constituindo âmbito da sociedade que acentua a distância social entre mulheres
a prática do racismo crime inafiançável e imprescritível, sujeito a negras e os demais segmentos sociais;
pena de reclusão, nos termos da Constituição Federal. IV - população negra: o conjunto de pessoas que se autode-
Art. 287 - Com países que mantiverem política oficial de discri- claram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela
minação racial, o Estado não poderá: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou
I - admitir participação, ainda que indireta, através de empre- que adotam autodefinição análoga;
sas neles sediadas, em qualquer processo licitatório da Administra- V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adota-
ção Pública direta ou indireta; dos pelo Estado no cumprimento de suas atribuições institucionais;
II - manter intercâmbio cultural ou desportivo, através de dele- VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais ado-
gações oficiais. tados pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das de-
Art. 288 - A rede estadual de ensino e os cursos de formação sigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportuni-
e aperfeiçoamento do servidor público civil e militar incluirão em dades.
seus programas disciplina que valorize a participação do negro na
formação histórica da sociedade brasileira.
Art. 289 - Sempre que for veiculada publicidade estadual com
mais de duas pessoas, será assegurada a inclusão de uma da raça
negra.

Art. 290 - O dia 20 de novembro será considerado, no calendá-


rio oficial, como Dia da Consciência Negra.

373
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Art. 2o É dever do Estado e da sociedade garantir a igualdade Art. 7o O conjunto de ações de saúde voltadas à população
de oportunidades, reconhecendo a todo cidadão brasileiro, inde- negra constitui a Política Nacional de Saúde Integral da População
pendentemente da etnia ou da cor da pele, o direito à participação Negra, organizada de acordo com as diretrizes abaixo especificadas:
na comunidade, especialmente nas atividades políticas, econômi- I - ampliação e fortalecimento da participação de lideranças
cas, empresariais, educacionais, culturais e esportivas, defendendo dos movimentos sociais em defesa da saúde da população negra
sua dignidade e seus valores religiosos e culturais. nas instâncias de participação e controle social do SUS;
Art. 3o Além das normas constitucionais relativas aos prin- II - produção de conhecimento científico e tecnológico em saú-
cípios fundamentais, aos direitos e garantias fundamentais e aos de da população negra;
direitos sociais, econômicos e culturais, o Estatuto da Igualdade III - desenvolvimento de processos de informação, comunica-
Racial adota como diretriz político-jurídica a inclusão das vítimas ção e educação para contribuir com a redução das vulnerabilidades
de desigualdade étnico-racial, a valorização da igualdade étnica e o da população negra.
fortalecimento da identidade nacional brasileira. Art. 8o Constituem objetivos da Política Nacional de Saúde In-
Art. 4o A participação da população negra, em condição de tegral da População Negra:
igualdade de oportunidade, na vida econômica, social, política e I - a promoção da saúde integral da população negra, priorizan-
cultural do País será promovida, prioritariamente, por meio de: do a redução das desigualdades étnicas e o combate à discrimina-
I - inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento econô- ção nas instituições e serviços do SUS;
mico e social; II - a melhoria da qualidade dos sistemas de informação do SUS
II - adoção de medidas, programas e políticas de ação afirma- no que tange à coleta, ao processamento e à análise dos dados de-
tiva; sagregados por cor, etnia e gênero;
III - modificação das estruturas institucionais do Estado para o III - o fomento à realização de estudos e pesquisas sobre racis-
adequado enfrentamento e a superação das desigualdades étnicas mo e saúde da população negra;
decorrentes do preconceito e da discriminação étnica; IV - a inclusão do conteúdo da saúde da população negra nos
IV - promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar o com- processos de formação e educação permanente dos trabalhadores
bate à discriminação étnica e às desigualdades étnicas em todas as da saúde;
suas manifestações individuais, institucionais e estruturais; V - a inclusão da temática saúde da população negra nos pro-
V - eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais e insti- cessos de formação política das lideranças de movimentos sociais
tucionais que impedem a representação da diversidade étnica nas para o exercício da participação e controle social no SUS.
esferas pública e privada; Parágrafo único. Os moradores das comunidades de remanes-
VI - estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas oriundas da centes de quilombos serão beneficiários de incentivos específicos
sociedade civil direcionadas à promoção da igualdade de oportuni- para a garantia do direito à saúde, incluindo melhorias nas condi-
ções ambientais, no saneamento básico, na segurança alimentar e
dades e ao combate às desigualdades étnicas, inclusive mediante
nutricional e na atenção integral à saúde.
a implementação de incentivos e critérios de condicionamento e
prioridade no acesso aos recursos públicos;
CAPÍTULO II
VII - implementação de programas de ação afirmativa destina-
DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA,
dos ao enfrentamento das desigualdades étnicas no tocante à edu-
AO ESPORTE E AO LAZER
cação, cultura, esporte e lazer, saúde, segurança, trabalho, moradia,
SEÇÃO I
meios de comunicação de massa, financiamentos públicos, acesso à
DISPOSIÇÕES GERAIS
terra, à Justiça, e outros.
Parágrafo único. Os programas de ação afirmativa constituir-se- Art. 9o A população negra tem direito a participar de atividades
-ão em políticas públicas destinadas a reparar as distorções e desi- educacionais, culturais, esportivas e de lazer adequadas a seus inte-
gualdades sociais e demais práticas discriminatórias adotadas, nas resses e condições, de modo a contribuir para o patrimônio cultural
esferas pública e privada, durante o processo de formação social de sua comunidade e da sociedade brasileira.
do País. Art. 10. Para o cumprimento do disposto no art. 9o, os gover-
Art. 5o Para a consecução dos objetivos desta Lei, é instituído nos federal, estaduais, distrital e municipais adotarão as seguintes
o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir), con- providências:
forme estabelecido no Título III. I - promoção de ações para viabilizar e ampliar o acesso da po-
pulação negra ao ensino gratuito e às atividades esportivas e de
TÍTULO II lazer;
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS II - apoio à iniciativa de entidades que mantenham espaço para
CAPÍTULO I promoção social e cultural da população negra;
DO DIREITO À SAÚDE III - desenvolvimento de campanhas educativas, inclusive nas
escolas, para que a solidariedade aos membros da população negra
Art. 6o O direito à saúde da população negra será garantido faça parte da cultura de toda a sociedade;
pelo poder público mediante políticas universais, sociais e econômi- IV - implementação de políticas públicas para o fortalecimento
cas destinadas à redução do risco de doenças e de outros agravos. da juventude negra brasileira.
§ 1o O acesso universal e igualitário ao Sistema Único de Saúde
(SUS) para promoção, proteção e recuperação da saúde da popu- SEÇÃO II
lação negra será de responsabilidade dos órgãos e instituições pú- DA EDUCAÇÃO
blicas federais, estaduais, distritais e municipais, da administração
direta e indireta. Art. 11. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de en-
§ 2o O poder público garantirá que o segmento da população sino médio, públicos e privados, é obrigatório o estudo da história
negra vinculado aos seguros privados de saúde seja tratado sem geral da África e da história da população negra no Brasil, observa-
discriminação. do o disposto na Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

374
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
§ 1o Os conteúdos referentes à história da população negra no Art. 19. O poder público incentivará a celebração das perso-
Brasil serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, res- nalidades e das datas comemorativas relacionadas à trajetória do
gatando sua contribuição decisiva para o desenvolvimento social, samba e de outras manifestações culturais de matriz africana, bem
econômico, político e cultural do País. como sua comemoração nas instituições de ensino públicas e pri-
§ 2o O órgão competente do Poder Executivo fomentará a for- vadas.
mação inicial e continuada de professores e a elaboração de mate- Art. 20. O poder público garantirá o registro e a proteção da
rial didático específico para o cumprimento do disposto no caput capoeira, em todas as suas modalidades, como bem de natureza
deste artigo. imaterial e de formação da identidade cultural brasileira, nos ter-
§ 3o Nas datas comemorativas de caráter cívico, os órgãos res- mos do art. 216 da Constituição Federal.
ponsáveis pela educação incentivarão a participação de intelectuais Parágrafo único. O poder público buscará garantir, por meio
e representantes do movimento negro para debater com os estu- dos atos normativos necessários, a preservação dos elementos for-
dantes suas vivências relativas ao tema em comemoração. madores tradicionais da capoeira nas suas relações internacionais.
Art. 12. Os órgãos federais, distritais e estaduais de fomento à
pesquisa e à pós-graduação poderão criar incentivos a pesquisas e a SEÇÃO IV
programas de estudo voltados para temas referentes às relações ét- DO ESPORTE E LAZER
nicas, aos quilombos e às questões pertinentes à população negra.
Art. 13. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos com- Art. 21. O poder público fomentará o pleno acesso da popula-
petentes, incentivará as instituições de ensino superior públicas e ção negra às práticas desportivas, consolidando o esporte e o lazer
privadas, sem prejuízo da legislação em vigor, a: como direitos sociais.
I - resguardar os princípios da ética em pesquisa e apoiar gru- Art. 22. A capoeira é reconhecida como desporto de criação
pos, núcleos e centros de pesquisa, nos diversos programas de pós- nacional, nos termos do art. 217 da Constituição Federal.
-graduação que desenvolvam temáticas de interesse da população § 1o A atividade de capoeirista será reconhecida em todas as
negra; modalidades em que a capoeira se manifesta, seja como esporte,
II - incorporar nas matrizes curriculares dos cursos de formação luta, dança ou música, sendo livre o exercício em todo o território
de professores temas que incluam valores concernentes à pluralida- nacional.
de étnica e cultural da sociedade brasileira; § 2o É facultado o ensino da capoeira nas instituições públicas
III - desenvolver programas de extensão universitária destina- e privadas pelos capoeiristas e mestres tradicionais, pública e for-
dos a aproximar jovens negros de tecnologias avançadas, assegu- malmente reconhecidos.
rado o princípio da proporcionalidade de gênero entre os benefi-
ciários; CAPÍTULO III
IV - estabelecer programas de cooperação técnica, nos esta- DO DIREITO À LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE CRENÇA E
belecimentos de ensino públicos, privados e comunitários, com as AO LIVRE EXERCÍCIO DOS CULTOS RELIGIOSOS
escolas de educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e
ensino técnico, para a formação docente baseada em princípios de Art. 23. É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sen-
do assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na
equidade, de tolerância e de respeito às diferenças étnicas.
forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.
Art. 14. O poder público estimulará e apoiará ações socioedu-
Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de crença e ao
cacionais realizadas por entidades do movimento negro que desen-
livre exercício dos cultos religiosos de matriz africana compreende:
volvam atividades voltadas para a inclusão social, mediante coope-
I - a prática de cultos, a celebração de reuniões relacionadas à
ração técnica, intercâmbios, convênios e incentivos, entre outros
religiosidade e a fundação e manutenção, por iniciativa privada, de
mecanismos.
lugares reservados para tais fins;
Art. 15. O poder público adotará programas de ação afirmativa.
II - a celebração de festividades e cerimônias de acordo com
Art. 16. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos res-
preceitos das respectivas religiões;
ponsáveis pelas políticas de promoção da igualdade e de educação,
III - a fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de ins-
acompanhará e avaliará os programas de que trata esta Seção. tituições beneficentes ligadas às respectivas convicções religiosas;
IV - a produção, a comercialização, a aquisição e o uso de ar-
SEÇÃO III tigos e materiais religiosos adequados aos costumes e às práticas
DA CULTURA fundadas na respectiva religiosidade, ressalvadas as condutas veda-
das por legislação específica;
Art. 17. O poder público garantirá o reconhecimento das so- V - a produção e a divulgação de publicações relacionadas ao
ciedades negras, clubes e outras formas de manifestação coletiva exercício e à difusão das religiões de matriz africana;
da população negra, com trajetória histórica comprovada, como VI - a coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais
patrimônio histórico e cultural, nos termos dos arts. 215 e 216 da e jurídicas de natureza privada para a manutenção das atividades
Constituição Federal. religiosas e sociais das respectivas religiões;
Art. 18. É assegurado aos remanescentes das comunidades dos VII - o acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para di-
quilombos o direito à preservação de seus usos, costumes, tradi- vulgação das respectivas religiões;
ções e manifestos religiosos, sob a proteção do Estado. VIII - a comunicação ao Ministério Público para abertura de
Parágrafo único. A preservação dos documentos e dos sítios ação penal em face de atitudes e práticas de intolerância religiosa
detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos, nos meios de comunicação e em quaisquer outros locais.
tombados nos termos do § 5o do art. 216 da Constituição Federal, Art. 25. É assegurada a assistência religiosa aos praticantes de
receberá especial atenção do poder público. religiões de matrizes africanas internados em hospitais ou em ou-
tras instituições de internação coletiva, inclusive àqueles submeti-
dos a pena privativa de liberdade.

375
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Art. 26. O poder público adotará as medidas necessárias para Parágrafo único. O direito à moradia adequada, para os efeitos
o combate à intolerância com as religiões de matrizes africanas e desta Lei, inclui não apenas o provimento habitacional, mas tam-
à discriminação de seus seguidores, especialmente com o objetivo bém a garantia da infraestrutura urbana e dos equipamentos comu-
de: nitários associados à função habitacional, bem como a assistência
I - coibir a utilização dos meios de comunicação social para a técnica e jurídica para a construção, a reforma ou a regularização
difusão de proposições, imagens ou abordagens que exponham fundiária da habitação em área urbana.
pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo por motivos fundados na Art. 36. Os programas, projetos e outras ações governamentais
religiosidade de matrizes africanas; realizadas no âmbito do Sistema Nacional de Habitação de Interes-
II - inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras e se Social (SNHIS), regulado pela Lei no 11.124, de 16 de junho de
outros bens de valor artístico e cultural, os monumentos, manan- 2005, devem considerar as peculiaridades sociais, econômicas e
ciais, flora e sítios arqueológicos vinculados às religiões de matrizes culturais da população negra.
africanas; Parágrafo único. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
III - assegurar a participação proporcional de representantes estimularão e facilitarão a participação de organizações e movimen-
das religiões de matrizes africanas, ao lado da representação das tos representativos da população negra na composição dos conse-
demais religiões, em comissões, conselhos, órgãos e outras instân- lhos constituídos para fins de aplicação do Fundo Nacional de Habi-
cias de deliberação vinculadas ao poder público. tação de Interesse Social (FNHIS).
Art. 37. Os agentes financeiros, públicos ou privados, promove-
CAPÍTULO IV rão ações para viabilizar o acesso da população negra aos financia-
DO ACESSO À TERRA E À MORADIA ADEQUADA mentos habitacionais.
SEÇÃO I
DO ACESSO À TERRA CAPÍTULO V
DO TRABALHO
Art. 27. O poder público elaborará e implementará políticas pú-
blicas capazes de promover o acesso da população negra à terra e Art. 38. A implementação de políticas voltadas para a inclusão
às atividades produtivas no campo. da população negra no mercado de trabalho será de responsabili-
Art. 28. Para incentivar o desenvolvimento das atividades pro- dade do poder público, observando-se:
dutivas da população negra no campo, o poder público promoverá I - o instituído neste Estatuto;
ações para viabilizar e ampliar o seu acesso ao financiamento agrí- II - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a Con-
cola. venção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Dis-
Art. 29. Serão assegurados à população negra a assistência téc- criminação Racial, de 1965;
nica rural, a simplificação do acesso ao crédito agrícola e o forta- III - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a Con-
lecimento da infraestrutura de logística para a comercialização da venção no 111, de 1958, da Organização Internacional do Trabalho
produção. (OIT), que trata da discriminação no emprego e na profissão;
Art. 30. O poder público promoverá a educação e a orientação IV - os demais compromissos formalmente assumidos pelo Bra-
profissional agrícola para os trabalhadores negros e as comunida- sil perante a comunidade internacional.
des negras rurais. Art. 39. O poder público promoverá ações que assegurem a
Art. 31. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos igualdade de oportunidades no mercado de trabalho para a popu-
que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade de- lação negra, inclusive mediante a implementação de medidas visan-
finitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos. do à promoção da igualdade nas contratações do setor público e o
Art. 32. O Poder Executivo federal elaborará e desenvolverá po- incentivo à adoção de medidas similares nas empresas e organiza-
líticas públicas especiais voltadas para o desenvolvimento sustentá- ções privadas.
vel dos remanescentes das comunidades dos quilombos, respeitan- § 1o A igualdade de oportunidades será lograda mediante a
do as tradições de proteção ambiental das comunidades. adoção de políticas e programas de formação profissional, de em-
Art. 33. Para fins de política agrícola, os remanescentes das co- prego e de geração de renda voltados para a população negra.
munidades dos quilombos receberão dos órgãos competentes tra- § 2o As ações visando a promover a igualdade de oportunida-
tamento especial diferenciado, assistência técnica e linhas especiais des na esfera da administração pública far-se-ão por meio de nor-
de financiamento público, destinados à realização de suas ativida- mas estabelecidas ou a serem estabelecidas em legislação específi-
des produtivas e de infraestrutura. ca e em seus regulamentos.
Art. 34. Os remanescentes das comunidades dos quilombos se § 3o O poder público estimulará, por meio de incentivos, a ado-
beneficiarão de todas as iniciativas previstas nesta e em outras leis ção de iguais medidas pelo setor privado.
para a promoção da igualdade étnica. § 4o As ações de que trata o caput deste artigo assegurarão
o princípio da proporcionalidade de gênero entre os beneficiários.
SEÇÃO II § 5o Será assegurado o acesso ao crédito para a pequena pro-
DA MORADIA dução, nos meios rural e urbano, com ações afirmativas para mu-
lheres negras.
Art. 35. O poder público garantirá a implementação de políticas § 6o O poder público promoverá campanhas de sensibilização
públicas para assegurar o direito à moradia adequada da população contra a marginalização da mulher negra no trabalho artístico e cul-
negra que vive em favelas, cortiços, áreas urbanas subutilizadas, tural.
degradadas ou em processo de degradação, a fim de reintegrá-las à § 7o O poder público promoverá ações com o objetivo de ele-
dinâmica urbana e promover melhorias no ambiente e na qualidade var a escolaridade e a qualificação profissional nos setores da eco-
de vida. nomia que contem com alto índice de ocupação por trabalhadores
negros de baixa escolarização.

376
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Art. 40. O Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Traba- TÍTULO III
lhador (Codefat) formulará políticas, programas e projetos voltados DO SISTEMA NACIONAL DE PROMOÇÃO
para a inclusão da população negra no mercado de trabalho e orien- DA IGUALDADE RACIAL (SINAPIR)
tará a destinação de recursos para seu financiamento. CAPÍTULO I
Art. 41. As ações de emprego e renda, promovidas por meio de DISPOSIÇÃO PRELIMINAR
financiamento para constituição e ampliação de pequenas e médias
empresas e de programas de geração de renda, contemplarão o es- Art. 47. É instituído o Sistema Nacional de Promoção da Igual-
tímulo à promoção de empresários negros. dade Racial (Sinapir) como forma de organização e de articulação
Parágrafo único. O poder público estimulará as atividades vol- voltadas à implementação do conjunto de políticas e serviços desti-
tadas ao turismo étnico com enfoque nos locais, monumentos e ci- nados a superar as desigualdades étnicas existentes no País, presta-
dades que retratem a cultura, os usos e os costumes da população dos pelo poder público federal.
negra. § 1o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão
Art. 42. O Poder Executivo federal poderá implementar crité- participar do Sinapir mediante adesão.
rios para provimento de cargos em comissão e funções de confiança § 2o O poder público federal incentivará a sociedade e a inicia-
destinados a ampliar a participação de negros, buscando reproduzir tiva privada a participar do Sinapir.
a estrutura da distribuição étnica nacional ou, quando for o caso,
estadual, observados os dados demográficos oficiais. CAPÍTULO II
DOS OBJETIVOS
CAPÍTULO VI
DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Art. 48. São objetivos do Sinapir:
I - promover a igualdade étnica e o combate às desigualdades
Art. 43. A produção veiculada pelos órgãos de comunicação va- sociais resultantes do racismo, inclusive mediante adoção de ações
lorizará a herança cultural e a participação da população negra na afirmativas;
história do País. II - formular políticas destinadas a combater os fatores de mar-
Art. 44. Na produção de filmes e programas destinados à vei- ginalização e a promover a integração social da população negra;
culação pelas emissoras de televisão e em salas cinematográficas, III - descentralizar a implementação de ações afirmativas pelos
deverá ser adotada a prática de conferir oportunidades de empre- governos estaduais, distrital e municipais;
go para atores, figurantes e técnicos negros, sendo vedada toda e IV - articular planos, ações e mecanismos voltados à promoção
qualquer discriminação de natureza política, ideológica, étnica ou da igualdade étnica;
artística. V - garantir a eficácia dos meios e dos instrumentos criados
Parágrafo único. A exigência disposta no caput não se aplica para a implementação das ações afirmativas e o cumprimento das
aos filmes e programas que abordem especificidades de grupos ét- metas a serem estabelecidas.
nicos determinados.
Art. 45. Aplica-se à produção de peças publicitárias destinadas CAPÍTULO III
à veiculação pelas emissoras de televisão e em salas cinematográfi- DA ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA
cas o disposto no art. 44.
Art. 46. Os órgãos e entidades da administração pública federal Art. 49. O Poder Executivo federal elaborará plano nacional de
direta, autárquica ou fundacional, as empresas públicas e as socie- promoção da igualdade racial contendo as metas, princípios e dire-
dades de economia mista federais deverão incluir cláusulas de par- trizes para a implementação da Política Nacional de Promoção da
ticipação de artistas negros nos contratos de realização de filmes, Igualdade Racial (PNPIR).
programas ou quaisquer outras peças de caráter publicitário. § 1o A elaboração, implementação, coordenação, avaliação e
§ 1o Os órgãos e entidades de que trata este artigo incluirão, acompanhamento da PNPIR, bem como a organização, articulação
nas especificações para contratação de serviços de consultoria, e coordenação do Sinapir, serão efetivados pelo órgão responsável
conceituação, produção e realização de filmes, programas ou peças pela política de promoção da igualdade étnica em âmbito nacional.
publicitárias, a obrigatoriedade da prática de iguais oportunidades § 2o É o Poder Executivo federal autorizado a instituir fórum
de emprego para as pessoas relacionadas com o projeto ou serviço intergovernamental de promoção da igualdade étnica, a ser co-
contratado. ordenado pelo órgão responsável pelas políticas de promoção da
§ 2o Entende-se por prática de iguais oportunidades de empre- igualdade étnica, com o objetivo de implementar estratégias que vi-
go o conjunto de medidas sistemáticas executadas com a finalidade sem à incorporação da política nacional de promoção da igualdade
de garantir a diversidade étnica, de sexo e de idade na equipe vin- étnica nas ações governamentais de Estados e Municípios.
culada ao projeto ou serviço contratado. § 3o As diretrizes das políticas nacional e regional de promoção
§ 3o A autoridade contratante poderá, se considerar necessário da igualdade étnica serão elaboradas por órgão colegiado que asse-
para garantir a prática de iguais oportunidades de emprego, reque- gure a participação da sociedade civil.
rer auditoria por órgão do poder público federal. Art. 50. Os Poderes Executivos estaduais, distrital e municipais,
§ 4o A exigência disposta no caput não se aplica às produções no âmbito das respectivas esferas de competência, poderão insti-
publicitárias quando abordarem especificidades de grupos étnicos tuir conselhos de promoção da igualdade étnica, de caráter perma-
determinados. nente e consultivo, compostos por igual número de representantes
de órgãos e entidades públicas e de organizações da sociedade civil
representativas da população negra.
Parágrafo único. O Poder Executivo priorizará o repasse dos re-
cursos referentes aos programas e atividades previstos nesta Lei aos
Estados, Distrito Federal e Municípios que tenham criado conselhos
de promoção da igualdade étnica.

377
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
CAPÍTULO IV recursos orçamentários destinados aos programas de promoção da
DAS OUVIDORIAS PERMANENTES E DO ACESSO À JUSTIÇA E igualdade, especialmente nas áreas de educação, saúde, emprego
À SEGURANÇA e renda, desenvolvimento agrário, habitação popular, desenvolvi-
mento regional, cultura, esporte e lazer.
Art. 51. O poder público federal instituirá, na forma da lei e § 2o Durante os 5 (cinco) primeiros anos, a contar do exercí-
no âmbito dos Poderes Legislativo e Executivo, Ouvidorias Perma- cio subsequente à publicação deste Estatuto, os órgãos do Poder
nentes em Defesa da Igualdade Racial, para receber e encaminhar Executivo federal que desenvolvem políticas e programas nas áreas
denúncias de preconceito e discriminação com base em etnia ou referidas no § 1o deste artigo discriminarão em seus orçamentos
cor e acompanhar a implementação de medidas para a promoção anuais a participação nos programas de ação afirmativa referidos
da igualdade. no inciso VII do art. 4o desta Lei.
Art. 52. É assegurado às vítimas de discriminação étnica o aces- § 3o O Poder Executivo é autorizado a adotar as medidas ne-
so aos órgãos de Ouvidoria Permanente, à Defensoria Pública, ao cessárias para a adequada implementação do disposto neste artigo,
Ministério Público e ao Poder Judiciário, em todas as suas instân- podendo estabelecer patamares de participação crescente dos pro-
cias, para a garantia do cumprimento de seus direitos. gramas de ação afirmativa nos orçamentos anuais a que se refere o
Parágrafo único. O Estado assegurará atenção às mulheres ne- § 2o deste artigo.
gras em situação de violência, garantida a assistência física, psíqui- § 4o O órgão colegiado do Poder Executivo federal responsável
ca, social e jurídica. pela promoção da igualdade racial acompanhará e avaliará a pro-
Art. 53. O Estado adotará medidas especiais para coibir a vio- gramação das ações referidas neste artigo nas propostas orçamen-
lência policial incidente sobre a população negra. tárias da União.
Parágrafo único. O Estado implementará ações de ressocializa- Art. 57. Sem prejuízo da destinação de recursos ordinários, po-
ção e proteção da juventude negra em conflito com a lei e exposta derão ser consignados nos orçamentos fiscal e da seguridade social
a experiências de exclusão social. para financiamento das ações de que trata o art. 56:
Art. 54. O Estado adotará medidas para coibir atos de discrimi- I - transferências voluntárias dos Estados, do Distrito Federal e
nação e preconceito praticados por servidores públicos em detri- dos Municípios;
mento da população negra, observado, no que couber, o disposto II - doações voluntárias de particulares;
na Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989. III - doações de empresas privadas e organizações não governa-
Art. 55. Para a apreciação judicial das lesões e das ameaças de mentais, nacionais ou internacionais;
lesão aos interesses da população negra decorrentes de situações IV - doações voluntárias de fundos nacionais ou internacionais;
de desigualdade étnica, recorrer-se-á, entre outros instrumentos, V - doações de Estados estrangeiros, por meio de convênios,
à ação civil pública, disciplinada na Lei no 7.347, de 24 de julho de tratados e acordos internacionais.
1985.
TÍTULO IV
CAPÍTULO V DISPOSIÇÕES FINAIS
DO FINANCIAMENTO DAS INICIATIVAS DE PROMOÇÃO DA
IGUALDADE RACIAL Art. 58. As medidas instituídas nesta Lei não excluem outras
em prol da população negra que tenham sido ou venham a ser ado-
Art. 56. Na implementação dos programas e das ações constan- tadas no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos
tes dos planos plurianuais e dos orçamentos anuais da União, deve- Municípios.
rão ser observadas as políticas de ação afirmativa a que se refere o Art. 59. O Poder Executivo federal criará instrumentos para
inciso VII do art. 4o desta Lei e outras políticas públicas que tenham aferir a eficácia social das medidas previstas nesta Lei e efetuará
como objetivo promover a igualdade de oportunidades e a inclusão seu monitoramento constante, com a emissão e a divulgação de
social da população negra, especialmente no que tange a: relatórios periódicos, inclusive pela rede mundial de computadores.
I - promoção da igualdade de oportunidades em educação, em- Art. 60. Os arts. 3o e 4o da Lei nº 7.716, de 1989, passam a
prego e moradia; vigorar com a seguinte redação:
II - financiamento de pesquisas, nas áreas de educação, saúde “Art. 3o ........................................................................
e emprego, voltadas para a melhoria da qualidade de vida da popu- Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de
lação negra; discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional,
III - incentivo à criação de programas e veículos de comunica- obstar a promoção funcional.” (NR)
ção destinados à divulgação de matérias relacionadas aos interes- “Art. 4o ........................................................................
ses da população negra; § 1º Incorre na mesma pena quem, por motivo de discrimina-
IV - incentivo à criação e à manutenção de microempresas ad- ção de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de des-
ministradas por pessoas autodeclaradas negras; cendência ou origem nacional ou étnica:
V - iniciativas que incrementem o acesso e a permanência das I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empre-
pessoas negras na educação fundamental, média, técnica e supe- gado em igualdade de condições com os demais trabalhadores;
rior; II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra
VI - apoio a programas e projetos dos governos estaduais, dis- forma de benefício profissional;
trital e municipais e de entidades da sociedade civil voltados para a III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no
promoção da igualdade de oportunidades para a população negra; ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário.
VII - apoio a iniciativas em defesa da cultura, da memória e das § 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços
tradições africanas e brasileiras. à comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade ra-
§ 1o O Poder Executivo federal é autorizado a adotar medidas cial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento
que garantam, em cada exercício, a transparência na alocação e na de trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou
execução dos recursos necessários ao financiamento das ações pre- etnia para emprego cujas atividades não justifiquem essas exigên-
vistas neste Estatuto, explicitando, entre outros, a proporção dos cias.” (NR)

378
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Art. 61. Os arts. 3o e 4o da Lei nº 9.029, de 13 de abril de 1995, Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente ha-
passam a vigorar com a seguinte redação: bilitado, a qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta, bem
“Art. 3o Sem prejuízo do prescrito no art. 2o e nos dispositivos como das concessionárias de serviços públicos.
legais que tipificam os crimes resultantes de preconceito de etnia, Pena: reclusão de dois a cinco anos.
raça ou cor, as infrações do disposto nesta Lei são passíveis das se- Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de
guintes cominações: discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional,
...................................................................................” (NR) obstar a promoção funcional. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010)
“Art. 4o O rompimento da relação de trabalho por ato discri- (Vigência)
minatório, nos moldes desta Lei, além do direito à reparação pelo Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.
dano moral, faculta ao empregado optar entre: Pena: reclusão de dois a cinco anos.
...................................................................................” (NR) § 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de discrimi-
Art. 62. O art. 13 da Lei no 7.347, de 1985, passa a vigorar nação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de
acrescido do seguinte § 2o, renumerando-se o atual parágrafo úni- descendência ou origem nacional ou étnica: (Incluído pela Lei nº
co como § 1o: 12.288, de 2010) (Vigência)
“Art. 13. ........................................................................ I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empre-
§ 1o ............................................................................... gado em igualdade de condições com os demais trabalhadores; (In-
§ 2º Havendo acordo ou condenação com fundamento em cluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)
dano causado por ato de discriminação étnica nos termos do dis- II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar ou-
posto no art. 1o desta Lei, a prestação em dinheiro reverterá dire- tra forma de benefício profissional; (Incluído pela Lei nº 12.288, de
tamente ao fundo de que trata o caput e será utilizada para ações 2010) (Vigência)
de promoção da igualdade étnica, conforme definição do Conselho III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no
Nacional de Promoção da Igualdade Racial, na hipótese de extensão ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário. (Incluído
nacional, ou dos Conselhos de Promoção de Igualdade Racial esta- pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)
duais ou locais, nas hipóteses de danos com extensão regional ou § 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços
local, respectivamente.” (NR) à comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade ra-
Art. 63. O § 1o do art. 1o da Lei nº 10.778, de 24 de novembro cial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento
de 2003, passa a vigorar com a seguinte redação: de trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou
“Art. 1o ....................................................................... etnia para emprego cujas atividades não justifiquem essas exigên-
§ 1º Para os efeitos desta Lei, entende-se por violência contra cias. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)
a mulher qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, inclusi- Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comer-
ve decorrente de discriminação ou desigualdade étnica, que cause cial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador.
morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, Pena: reclusão de um a três anos.
tanto no âmbito público quanto no privado. Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de
...................................................................................” (NR) aluno em estabelecimento de ensino público ou privado de qual-
Art. 64. O § 3o do art. 20 da Lei nº 7.716, de 1989, passa a vigo- quer grau.
rar acrescido do seguinte inciso III: Pena: reclusão de três a cinco anos.
“Art. 20. ...................................................................... Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de de-
............................................................................................. zoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço).
§ 3o ............................................................................... Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel,
............................................................................................. pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar.
III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de infor- Pena: reclusão de três a cinco anos.
mação na rede mundial de computadores. Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restauran-
...................................................................................” (NR) tes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público.
Art. 65. Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias após a data Pena: reclusão de um a três anos.
de sua publicação. Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabele-
cimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos
ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.
LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989 (DEFINE OS Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de
CRIMES RESULTANTES DE PRECONCEITO DE RAÇA OU cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de massagem ou estabe-
DE COR) lecimento com as mesmas finalidades.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públi-
LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989 cos ou residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos:
Pena: reclusão de um a três anos.
Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como
aviões, navios barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer ou-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Na- tro meio de transporte concedido.
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em
Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes qualquer ramo das Forças Armadas.
de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou pro- Pena: reclusão de dois a quatro anos.
cedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casa-
Art. 2º (Vetado). mento ou convivência familiar e social.

379
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Pena: reclusão de dois a quatro anos. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
Art. 15. (Vetado). cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou
função pública, para o servidor público, e a suspensão do funcio- Art. 1º Os arts. 1º e 20 da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989,
namento do estabelecimento particular por prazo não superior a passam a vigorar com a seguinte redação:
três meses. “Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultan-
Art. 17. (Vetado). tes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não procedência nacional.”
são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sen- “Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou precon-
tença. ceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Art. 19. (Vetado). Pena: reclusão de um a três anos e multa.
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou precon- § 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, em-
ceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação blemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz
dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.
Pena: reclusão de um a três anos e multa.(Redação dada pela Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
Lei nº 9.459, de 15/05/97) § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, em- intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qual-
blemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz quer natureza:
suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. (Redação Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) § 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar,
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela Lei ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do in-
nº 9.459, de 15/05/97) quérito policial, sob pena de desobediência:
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exem-
intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qual- plares do material respectivo;
quer natureza: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas ou te-
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela Lei levisivas.
nº 9.459, de 15/05/97) § 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreen-
ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do in- dido.”
quérito policial, sob pena de desobediência: (Redação dada pela Lei Art. 2º O art. 140 do Código Penal fica acrescido do seguinte
nº 9.459, de 15/05/97) parágrafo:
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos “Art. 140. ...................................................................
exemplares do material respectivo;(Incluído pela Lei nº 9.459, de ...................................................................................
15/05/97) § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes
II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, tele- a raça, cor, etnia, religião ou origem:
visivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio; (Redação Pena: reclusão de um a três anos e multa.”
dada pela Lei nº 12.735, de 2012) (Vigência) Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de in- Art. 4º Revogam-se as disposições em contrário, especialmente
formação na rede mundial de computadores. (Incluído pela Lei nº o art. 1º da Lei nº 8.081, de 21 de setembro de 1990, e a Lei nº
12.288, de 2010) (Vigência) 8.882, de 3 de junho de 1994.
§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após
o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreen-
dido. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. (Re- DECRETO N° 65.810, DE 08 DE DEZEMBRO DE 1969
numerado pela Lei nº 8.081, de 21.9.1990) (CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO
Art. 22. Revogam-se as disposições em contrário. (Renumerado DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL)
pela Lei nº 8.081, de 21.9.1990)

DECRETO Nº 65.810, DE 8 DE DEZEMBRO DE 1969


LEI N° 9.459, DE 13 DE MAIO DE 1997 (TIPIFICAÇÃO Promulga a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas
DOS CRIMES RESULTANTES DE PRECONCEITO DE as Formas de Discriminação Racial.
RAÇA OU DE COR)
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, HAVENDO o Congresso Nacional
aprovado pelo Decreto Legislativo nº 23, de 21 de junho de 1967,
LEI Nº 9.459, DE 13 DE MAIO DE 1997 a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas
de Discriminação Racial, que foi aberta à assinatura em Nova York e
Altera os arts. 1º e 20 da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, assinada pelo Brasil a 07 de março de 1966;
que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, E HAVENDO sido depositado o Instrumento brasileiro de Ratifi-
e acrescenta parágrafo ao art. 140 do Decreto-lei nº 2.848, de 7 de cação, junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas, a 27 de março
dezembro de 1940. de 1968;
E TENDO a referida Convenção entrada em vigor, de conformi-
dade com o disposto em seu artigo 19, parágrafo 1º, a 04 de janeiro
de 1969;

380
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
DECRETA que a mesma, apensa por cópia ao presente Decreto, Levando em conta a Convenção sobre Discriminação nos Em-
seja executada e cumprida tão inteiramente como ela nele contém. prego e Ocupação adotada pela Organização internacional do Tra-
Brasília, 08 de dezembro de 1969; 148º da Independência e 81º balho em 1958, e a Convenção contra discriminação no Ensino ado-
da República. tada pela Organização das Nações Unidas para Educação a Ciência
em 1960,
A CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE Desejosos de completar os princípios estabelecidos na Decla-
TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL. ração das Nações unidas sobre a Eliminação de todas as formas de
Os Estados Partes na presente Convenção, discriminação racial e assegurar o mais cedo possível a adoção de
Considerando que a Carta das Nações Unidas baseia-se em medidas práticas para esse fim,
princípios de dignidade e igualdade inerentes a todos os seres hu- Acordaram no seguinte:
manos, e que todos os Estados Membros comprometeram-se a to-
mar medidas separadas e conjuntas, em cooperação com a Organi- PARTE I
zação, para a consecução de um dos propósitos das Nações Unidas Artigo I
que é promover e encorajar o respeito universal e observância dos 1. Nesta Convenção, a expressão “discriminação racial” signi-
direitos humanos e liberdades fundamentais para todos, sem discri- ficará qualquer distinção, exclusão restrição ou preferência base-
minação de raça, sexo, idioma ou religião. adas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que
Considerando que a Declaração Universal dos Direitos do Ho- tem por objetivo ou efeito anular ou restringir o reconhecimento,
mem proclama que todos os homens nascem livres e iguais em gozo ou exercício num mesmo plano,( em igualdade de condição),
dignidade e direitos e que todo homem tem todos os direitos esta- de direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político
belecidos na mesma, sem distinção de qualquer espécie e principal- econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio de vida
mente de raça, cor ou origem nacional, pública.
Considerando todos os homens são iguais perante a lei e têm 2. Esta Convenção não se aplicará ás distinções, exclusões, res-
o direito à igual proteção contra qualquer discriminação e contra trições e preferências feitas por um Estado Parte nesta Convenção
qualquer incitamento à discriminação, entre cidadãos e não cidadãos.
Considerando que as Nações Unidas têm condenado o colo- 3. Nada nesta Convenção poderá ser interpretado como afe-
nialismo e todas as práticas de segregação e discriminação a ele tando as disposições legais dos Estados Partes, relativas a naciona-
associados, em qualquer forma e onde quer que existam, e que a lidade, cidadania e naturalização, desde que tais disposições não
Declaração sobre a Conceção de Independência, a Partes e Povos discriminem contra qualquer nacionalidade particular.
Coloniais, de 14 de dezembro de 1960 (Resolução 1.514 (XV), da 4. Não serão consideradas discriminação racial as medidas
Assembleia Geral afirmou e proclamou solenemente a necessidade especiais tomadas com o único objetivo de assegurar progresso
de levá-las a um fim rápido e incondicional, adequado de certos grupos raciais ou étnicos ou de indivíduos que
Considerando que a Declaração das Nações Unidas sobre elimi- necessitem da proteção que possa ser necessária para proporcionar
nação de todas as formas de Discriminação Racial, de 20 de novem- a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de direitos hu-
bro de 1963, (Resolução 1.904 ( XVIII) da Assembleia-Geral), afirma manos e liberdades fundamentais, contando que, tais medidas não
solemente a necessidade de eliminar rapidamente a discriminação conduzam, em consequência, à manutenção de direitos separados
racial através do mundo em todas as suas formas e manifestações para diferentes grupos raciais e não prossigam após terem sidos al-
e de assegurar a compreensão e o respeito à dignidade da pessoa cançados os seus objetivos.
humana,
Convencidos de que qualquer doutrina de superioridade ba- Artigo II
seada em diferenças raciais é cientificamente falsa, moralmente 1. Os Estados Partes condenam a discriminação racial e com-
condenável, socialmente injusta e perigosa, em que, não existe jus- prometem-se a adotar, por todos os meios apropriados e sem tar-
tificação para a discriminação racial, em teoria ou na prática, em dar uma política de eliminação da discriminação racial em todas as
lugar algum, suas formas e de promoção de entendimento entre todas as raças
Reafirmando que a discriminação entre os homens por motivos e para esse fim:
de raça, cor ou origem étnica é um obstáculo a relações amistosas e a) Cada Estado parte compromete-se a efetuar nenhum ato ou
pacíficas entre as nações e é capaz de disturbar a paz e a segurança prática de discriminação racial contra pessoas, grupos de pessoas
entre povos e a harmonia de pessoas vivendo lado a lado até dentro ou instituições e fazer com que todas as autoridades públicas nacio-
de um mesmo Estado, nais ou locais, se conformem com esta obrigação;
Convencidos que a existência de barreiras raciais repugna os b) Cada Estado Parte compromete-se a não encorajar, defender
ideais de qualquer sociedade humana, ou apoiar a discriminação racial praticada por uma pessoa ou uma
Alarmados por manifestações de discriminação racial ainda em organização qualquer;
evidência em algumas áreas do mundo e por políticas governamen- c) Cada Estado Parte deverá tomar as medidas eficazes, a fim
tais baseadas em superioridade racial ou ódio, como as políticas de de rever as politicas governamentais nacionais e locais e para mo-
apartheid, segreção ou separação, dificar, ab-rogar ou anular qualquer disposição regulamentar que
Resolvidos a adotar todas as medidas necessárias para elimi- tenha como objetivo criar a discriminação ou perpetrá-la onde já
nar rapidamente a discriminação racial em, todas as suas formas existir;
e manifestações, e a prevenir e combater doutrinas e práticas ra- d) Cada Estado Parte deverá, por todos os meios apropriados,
ciais com o objetivo de promover o entendimento entre as raças e inclusive se as circunstâncias o exigerem, as medidas legislativas,
construir uma comunidade internacional livre de todas as formas proibir e por fim, a discriminação racial praticadas por pessoa, por
de separação racial e discriminação racial, grupo ou das organizações;
e) Cada Estado Parte compromete-se a favorecer, quando for
o caso as organizações e movimentos multirraciais e outros meios
próprios a eliminar as barreiras entre as raças e a desencorajar o
que tende a fortalecer a divisão racial.

381
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
2) Os Estados Partes tomarão, se as circunstâncias o exigirem, ii) direito de deixar qualquer pais, inclusive o seu, e de voltar
nos campos social, econômico, cultural e outros, as medidas espe- a seu país;
ciais e concretas para assegurar como convier o desenvolvimento iii) direito de uma nacionalidade;
ou a proteção de certos grupos raciais ou de indivíduos pertencen- iv) direito de casar-se e escolher o cônjuge;
tes a estes grupos com o objetivo de garantir-lhes, em condições de v) direito de qualquer pessoa, tanto individualmente como em
igualdade, o pleno exercício dos direitos do homem e das liberda- conjunto, à propriedade;
des fundamentais. vi) direito de herda;
Essas medidas não deverão, em caso algum, ter a finalidade de vii) direito à liberdade de pensamento, de consciência e de re-
manter direitos grupos raciais, depois de alcançados os objetivos ligião;
em razão dos quais foram tomadas. viii) direito à liberdade de opinião e de expressão;
ix) direito à liberdade de reunião e de associação pacífica;
Artigo III e) direitos econômicos, sociais culturais, principalmente:
Os Estados Partes especialmente condenam a segregação racial i) direitos ao trabalho, a livre escolha de seu trabalho, a con-
e o apartheid e comprometem-se a proibir e a eliminar nos territó- dições equitativas e satisfatórias de trabalho à proteção contra o
rios sob sua jurisdição todas as práticas dessa natureza. desemprego, a um salário igual para um trabalho igual, a uma re-
muneração equitativa e satisfatória;
Artigo IV ii) direito de fundar sindicatos e a eles se filiar;
Os Estados partes conenam toda propaganda e todas as organi- iii) direito à habitação;
zações que se inspirem em ideias ou teorias baseadas na superiori- iv) direito à saúde pública, a tratamento médico, à previdência
dade de uma raça ou de um grupo de pessoas de uma certa cor ou social e aos serviços sociais;
de uma certa origem ética ou que pretendem justificar ou encorajar v) direito a educação e à formação profissional;
qualquer forma de ódio e de discriminação raciais e comprometem- vi) direito a igual participação das atividades culturais;
-se a adotar imediatamente medidas positivas destinadas a eliminar f) direito de acesso a todos os lugares e serviços destinados ao
qualquer incitação a uma tal discriminação, ou quaisquer atos de uso do publico, tais como, meios de transporte hotéis, restaurantes,
discriminação com este objetivo tendo em vista os princípios for- cafés, espetáculos e parques.
mulados na Declaração universal dos direitos do homem e os direi-
tos expressamente enunciados no artigo 5 da presente convenção, Artigo VI
eles se comprometem principalmente: Os Estados Partes assegurarão a qualquer pessoa que estiver
a) a declarar delitos puníveis por lei, qualquer difusão de ideias sob sua jurisdição, proteção e recursos efetivos perante os tribunais
baseadas na superioridade ou ódio raciais, qualquer incitamento nacionais e outros órgãos do Estado competentes, contra quaisquer
à discriminação racial, assim como quaisquer atos de violência ou atos de discriminação racial que, contrariamente à presente Con-
provocação a tais atos, dirigidos contra qualquer raça ou qualquer venção, violarem seus direitos individuais e suas liberdades funda-
grupo de pessoas de outra cor ou de outra origem técnica, como mentais, assim como o direito de pedir a esses tribunais uma satis-
também qualquer assistência prestada a atividades racistas, inclusi- fação ou repartição justa e adequada por qualquer dano de que foi
ve seu financiamento; vitima em decorrência de tal discriminação.
b) a declarar ilegais e a proibir as organizações assim como
as atividades de propaganda organizada e qualquer outro tipo de Artigo VII
atividade de propaganda que incitar a discriminação racial e que Os Estados Partes, comprometem-se a tomar as medidas ime-
a encorajar e a declara delito punível por lei a participação nestas diatas e eficazes, principalmente no campo de ensino, educação,
organizações ou nestas atividades. da cultura e da informação, para lutar contra os preconceitos que
c) a não permitir as autoridades públicas nem ás instituições levem à discriminação racial e para promover o entendimento, a
públicas nacionais ou locais, o incitamento ou encorajamento à dis- tolerância e a amizade entre nações e grupos raciais e éticos assim
criminação racial. como para propagar ao objetivo e princípios da Carta das Nações
Unidas da Declaração Universal dos Direitos do Homem, da Decla-
Artigo V ração das Nações Unidas sobre a eliminação de todas as formas de
De conformidade com as obrigações fundamentais enunciadas discriminação racial e da presente Convenção.
no artigo 2, Os Estados Partes comprometem-se a proibir e a eli-
minar a discriminação racial em todas suas formas e a garantir o PARTE II
direito de cada uma à igualdade perante a lei sem distinção de raça Artigo VIII
, de cor ou de origem nacional ou étnica, principalmente no gozo 1. Será estabelecido um Comitê para a eliminação da discrimi-
dos seguintes direitos: nação racial (doravante denominado “o Comitê) composto de 18
a) direito a um tratamento igual perante os tribunais ou qual- peritos conhecidos para sua alta moralidade e conhecida imparcia-
quer outro órgão que administre justiça; lidade, que serão eleitos pelos Estados Membros dentre seus na-
b) direito a segurança da pessoa ou à proteção do Estado con- cionais e que atuarão a título individual, levando-se em conta uma
tra violência oulesão corporal cometida que por funcionários de repartição geográfica equitativa e a representação das formas di-
Governo, quer por qualquer individuo, grupo ou instituição. versas de civilização assim como dos principais sistemas jurídicos.
c) direitos políticos principalmente direito de participar às 2. Os Membros do Comitê serão eleitos em escrutínio secreto
eleições - de votar e ser votado - conforme o sistema de sufrágio de uma lista de candidatos designados pelos Estados Partes, Cada
universal e igual direito de tomar parte no Governo, assim como Estado Parte poderá designar um candidato escolhido dentre seus
na direção dos assuntos públicos, em qualquer grau e o direito de nacionais.
acesso em igualdade de condições, às funções públicas. 3. A primeira eleição será realizada seis meses após a data da
d) Outros direitos civis, principalmente, entrada em vigor da presente Convenção. Três meses pelo menos
i) direito de circular livremente e de escolher residência dentro antes de cada eleição, o Secretário Geral das Nações Unidas enviará
das fronteiras do Estado; uma Carta aos Estados Partes para convidá-los a apresentar suas

382
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
candidaturas no prazo de dois meses. O Secretário Geral elaborará sua disposição, tanto um como o outro terão o direito de submetê-
uma lista por ordem alfabética, de todos os candidatos assim no- -la novamente ao Comitê, endereçando uma notificação ao Comitê
meados com indicação dos Estados partes que os nomearam, e a assim como ao outro Estado interessado.
comunicará aos Estados Partes. 3. O Comitê só poderá tomar conhecimento de uma questão,
4. Os membros do Comitê serão eleitos durante uma reunião de acordo com o parágrafo 2 do presente artigo, após ter consta-
dos Estados Partes convocada pelo Secretário Geral das Nações tado que todos os recursos internos disponíveis foram interpostos
Unidas. Nessa reunião, em que o quórum será alcançado com dois ou esgotados, de conformidade com os princípios do direito inter-
terços dos Estados Partes, serão eleitos membros do Comitê, os nacional geralmente reconhecidos. Esta regra não se aplicará se os
candidatos que obtiverem o maior número de votos e a maioria procedimentos de recurso excederem prazos razoáveis.
absoluta de votos dos representantes dos Estados Partes presentes 4. Em qualquer questão que lhe for submetida, Comitê poderá
e votantes. solicitar aos Estados-Partes presentes que lhe forneçam quaisquer
5. a) Os membros do Comitê serão eleitos por um período de informações complementares pertinentes.
quatro anos. Entretanto, o mandato de nove dos membros eleitos 5. Quando o Comitê examinar uma questão conforme o pre-
na primeira eleição, expirará ao fim de dois anos; logo após a pri- sente Artigo os Estados Partes interessados terão o direito de no-
meira eleição os nomes desses nove membros serão escolhidos, mear um representante que participará sem direito de voto dos
por sorteio, pelo Presidente do Comitê. trabalhos no Comitê durante todos os debates.
b) Para preencher as vagas fortuitas, o Estado Parte, cujo perito
deixou de exercer suas funções de membro do Comitê, nomeará Artigo XII
outro perito dentre seus nacionais, sob reserva da aprovação do 1. a) Depois que o Comitê obtiver e consultar as informações
Comitê. que julgar necessárias, o Presidente nomeará uma Comissão de
6. Os Estados Partes serão responsáveis pelas despesas dos Conciliação ad hoc (doravante denominada “ A Comissão”, compos-
membros do Comitê para o período em que estes desempenharem ta de 5 pessoas que poderão ser ou não membros do Comitê. Os
funções no Comitê. membros serão nomeados com o consentimento pleno e unânime
das partes na controvérsia e a Comissão fará seus bons ofícios a
Artigo IX
disposição dos Estados presentes, com o objetivo de chegar a uma
1. Os Estados Partes comprometem-se a apresentar ao Secretá-
solução amigável da questão, baseada no respeito à presente Con-
rio Geral para exame do Comitê, um relatório sobre as medidas le-
venção.
gislativas, judiciárias, administrativas ou outras que tomarem para
b) Se os Estados Partes na controvérsia não chegarem a um en-
tornarem efetivas as disposições da presente Convenção:
tendimento em relação a toda ou parte da composição da Comissão
a) dentro do prazo de um ano a partir da entrada em vigor da
num prazo de três meses os membros da Comissão que não tiverem
Convenção, para cada Estado interessado no que lhe diz respeito,
o assentimento do Estados Partes, na controvérsia serão eleitos por
e posteriormente, cada dois anos, e toda vez que o Comitê o soli-
escrutinio secreto entre os membros de dois terços dos membros
citar. O Comitê poderá solicitar informações complementares aos
do Comitê.
Estados Partes.
2. O Comitê submeterá anualmente à Assembleia Geral, um 2. Os membros da Comissão atuarão a título individual. Não de-
relatório sobre suas atividades e poderá fazer sugestões e reco- verão ser nacionais de um dos Estados Partes na controvérsia nem
mendações de ordem geral baseadas no exame dos relatórios e das de um Estado que não seja parte da presente Convenção.
informações recebidas dos Estados Partes. Levará estas sugestões 3. A Comissão elegerá seu Presidente e adotará seu regimento
e recomendações de ordem geral ao conhecimento da Assembleia interno.
Geral, e se as houver juntamente com as observações dos Estados 4. A Comissão reunir-se-á normalmente na sede nas Nações
Partes. Unidas em qualquer outro lugar apropriado que a Comissão deter-
minar.
Artigo X 5. O Secretariado previsto no parágrafo 3 do artigo 10 prestará
1. O Comitê adotará seu regulamento interno. igualmente seus serviços à Comissão cada ver que uma controvér-
2. O Comitê elegerá sua mesa por um período de dois anos. sia entre os Estados Partes provocar sua formação.
3. O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas foi ne- 6. Todas as despesas dos membros da Comissão serão divididos
cessários serviços de Secretaria ao Comitê. igualmente entre os Estados Partes na controvérsia baseadas num
4. O Comitê reunir-se-á normalmente na Sede das Nações Uni- cálculo estimativo feito pelo Secretário-Geral.
das. 7. O Secretário Geral ficará autorizado a pagar, se for necessá-
rio, as despesas dos membros da Comissão, antes que o reembolso
Artigo XI seja efetuado pelos Estados Partes na controvérsia, de conformida-
1. Se um Estado Parte Julgar que outro Estado igualmente Parte de com o parágrafo 6 do presente artigo.
não aplica as disposições da presente Convenção poderá chamar a 8. As informações obtidas e confrontadas pelo Comitê serão
atenção do Comitê sobre a questão. O Comitê transmitirá, então, a postas à disposição da Comissão, e a Comissão poderá solicitar aos
comunicação ao Estado Parte interessado. Num prazo de três me- Estados interessados sde lhe fornecer qualquer informação com-
ses, o Estado destinatário submeterá ao Comitê as explicações ou plementar pertinente.
declarações por escrito, a fim de esclarecer a questão e indicar as
medidas corretivas que por acaso tenham sido tomadas pelo refe- Artigo XIII
rido Estado. 1. Após haver estudado a questão sob todos os seus aspectos,
2. Se, dentro de um prazo de seis meses a partir da data do a Comissão preparará e submeterá ao Presidente do Comitê um
recebimento da comunicação original pelo Estado destinatário a relatório com as conclusões sobre todas ass questões de fato rela-
questão não foi resolvida a contento dos dois Estados, por meio de tivas à controvérsia entre as partes e as recomendações que julgar
negociações bilaterais ou por qualquer outro processo que estiver a oportunas a fim de chegar a uma solução amistosa da controvérsia.

383
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
2. O Presidente do Comitê transmitirá o relatório da Comissão 8. O Comitê incluirá em seu relatório anual um resumo destas
a cada um dos Estados Partes na controvérsia. Os referidos Estados comunicações, se for necessário, um resumo das explicações e de-
comunicarão ao Presidente do Comitê num prazo de três meses se clarações dos Estados Partes interessados assim como suas próprias
aceitam ou não, as recomendações contidas no relatório da Comis- sugestões e recomendações.
são. 9. O Comitê somente terá competência para exercer as funções
3. Expirado o prazo previsto no paragrafo 2º do presente arti- previstas neste artigo se pelo menos dez Estados Partes nesta Con-
go, o Presidente do Comitê comunicará o Relatório da Comissão e venção estiverem obrigados por declarações feitas de conformida-
as declarações dos Estados Partes interessadas aos outros Estados de com o parágrafo deste artigo.
Parte na Comissão.
Artigo XV
Artigo XIV 1. Enquanto não forem atingidos os objetivos da resolução
1. Todo o Estado parte poderá declarar e qualquer momento 1.514 (XV) da Assembleia Geral de 14 de dezembro de 1960, re-
que reconhece a competência do Comitê para receber e examinar lativa à Declaração sobro a concessão da independência dos paí-
comunicações de indivíduos sob sua jurisdição que se consideram ses e povos coloniais, as disposições da presente convenção não
vítimas de uma violação pelo referido Estado Parte de qualquer um restringirão de maneira alguma o direito de petição concedida aos
dos direitos enunciados na presente Convenção. O Comitê não re- povos por outros instrumentos internacionais ou pela Organização
ceberá qualquer comunicação de um Estado Parte que não houver das Nações Unidas e suas agências especializadas.
feito tal declaração. 2. a) O Comitê constituído de conformidade com o parágrafo 1
2. Qualquer Estado parte que fizer uma declaração de confor- do artigo 8 desta Convenção receberá cópia das petições provenien-
midade com o parágrafo do presente artigo, poderá criar ou de- tes dos órgãos das Nações Unidas que se encarregarem de questões
signar um órgão dentro de sua ordem jurídica nacional, que terá diretamente relacionadas com os princípios e objetivos da presente
competência para receber e examinar as petições de pessoas ou Convenção e expressará sua opinião e formulará recomendações
grupos de pessoas sob sua jurisdição que alegarem ser vitimas de sobre petições recebidas quando examinar as petições recebidas
uma violação de qualquer um dos direitos enunciados na presente dos habitantes dos territórios sob tutela ou não autônomo ou de
Convenção e que esgotaram os outros recursos locais disponíveis. qualquer outro território a que se aplicar a resolução 1514 (XV) da
3. A declaração feita de conformidade com o parágrafo 1 do Assembleia Geral, relacionadas a questões tratadas pela presente
presente artigo e o nome de qualquer órgão criado ou designado Convenção e que forem submetidas a esses órgãos.
pelo Estado Parte interessado consoante o parágrafo 2 do presente b) O Comitê receberá dos órgãos competentes da Organização
artigo será depositado pelo Estado Parte interessado junto ao Se- das Nações Unidas cópia dos relatórios sobre medidas de ordem le-
cretário Geral das Nações Unidas que remeterá cópias aos outros gislativa judiciária, administrativa ou outra diretamente relacionada
Estados Partes. A declaração poderá ser retirada a qualquer mo- com os princípios e objetivos da presente Convenção que as Potên-
mento mediante notificação ao Secretário Geral mas esta retirada cias Administradoras tiverem aplicado nos territórios mencionados
não prejudicará as comunicações que já estiverem sendo estudadas na alínea “a” do presente parágrafo e expressará sua opinião e fará
pelo Comitê. recomendações a esses órgãos.
4. O órgão criado ou designado de conformidade com o pará- 3. O Comitê incluirá em seu relatório à Assembleia um resumo
grafo 2 do presente artigo, deverá manter um registro de petições das petições e relatórios que houver recebido de órgãos das Nações
Unidas e as opiniões e recomendações que houver proferido sobre
e cópias autenticada do registro serão depositadas anualmente por
tais petições e relatórios.
canais apropriados junto ao Secretário Geral das Nações Unidas, no
4. O Comitê solicitará ao Secretário Geral das Nações Unidas
entendimento que o conteúdo dessas cópias não será divulgado ao
qualquer informação relacionada com os objetivos da presente
público.
Convenção que este dispuser sobre os territórios mencionados no
5. Se não obtiver repartição satisfatória do órgão criado ou de-
parágrafo 2 (a) do presente artigo.
signado de conformidade com o parágrafo 2 do presente artigo, o
peticionário terá o direito de levar a questão ao Comitê dentro de
Artigo XVI
seis meses.
As disposições desta Convenção relativas a solução das contro-
6. a) O Comitê levará, a título confidencial, qualquer comuni- vérsias ou queixas serão aplicadas sem prejuízo de outros processos
cação que lhe tenha sido endereçada, ao conhecimento do Estado para solução de controvérsias e queixas no campo da discriminação
Parte que, pretensamente houver violado qualquer das disposições previstos nos instrumentos constitutivos das Nações Unidas e suas
desta Convenção, mas a identidade da pessoa ou dos grupos de agências especializadas, e não excluirá a possibilidade dos Estados
pessoas não poderá ser revelada sem o consentimento expresso partes recomendarem aos outros, processos para a solução de uma
da referida pessoa ou grupos de pessoas. O Comitê não receberá controvérsia de conformidade com os acordos internacionais ou es-
comunicações anônimas. peciais que os ligarem.
b) Nos três meses seguintes, o referido Estado submeterá, por
escrito ao Comitê, as explicações ou recomendações que esclare- Terceira Parte
cem a questão e indicará as medidas corretivas que por acaso hou- Artigo XVII
ver adotado. 1. A presente Convenção ficará aberta à assinatura de todo Es-
7. a) O Comitê examinará as comunicações, à luz de todas as tado Membro da Organização das Nações Unidas ou membro de
informações que forem submetidas pelo Estado parte interessado qualquer uma de suas agências especializadas, de qualquer Estado
e pelo peticionário. O Comitê só examinará uma comunicação de parte no Estatuto da Côrtes Internacional de Justiça, assim como de
peticionário após ter-se assegurado que este esgotou todos os re- qualquer outro Estado convidado pela Assembleia-Geral da Organi-
cursos internos disponíveis. Entretanto, esta regra não se aplicará zação das Nações Unidas a torna-se parte na presente Convenção.
se os processos de recurso excederem prazos razoáveis. 2. A presente Convenção ficará sujeita à ratificação e os instru-
b) O Comitê remeterá suas sugestões e recomendações even- mentos de ratificação serão depositados junto ao Secretário Geral
tuais, ao Estado Parte interessado e ao peticionário. das Nações Unidas.

384
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Artigo XVIII Artigo XXIV
1. A presente Convenção ficará aberta a adesão de qualquer O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas comuni-
Estado mencionado no parágrafo 1º do artigo 17. cará a todos os Estados mencionados no parágrafo 1º do artigo 17
2. A adesão será efetuada pelo depósito de instrumento de desta Convenção.
adesão junto ao Secretário Geral das Nações Unidas. a) as assinaturas e os depósitos de instrumentos de ratificação
e de adesão de conformidade com os artigos 17 e 18;
Artigo XIX b) a data em que a presente Convenção entrar em vigor, de
1. Esta convenção entrará em vigor no trigésimo dia após a data conformidade com o artigo 19;
do deposito junto ao Secretário Geral das Nações Unidas do vigési- c) as comunicações e declarações recebidas de conformidade
mo sétimo instrumento de ratificação ou adesão. com os artigos 14, 20 e 23.
2. Para cada Estado que ratificar a presente Convenção ou a ele d) as denúncias feitas de conformidade com o artigo 21.
aderir após o depósito do vigésimo sétimo instrumento de ratifica-
ção ou adesão esta Convenção entrará em vigor no trigésimo dia Artigo XXV
após o depósito de seu instrumento de ratificação ou adesão. 1. Esta Convecção, cujos textos em chinês, espanhol, inglês e
russo são igualmente autênticos será depositada nos arquivos das
Artigo XX Nações Unidas.
1. O Secretário Geral das Nações Unidas receberá e enviará, a 2. O Secretário Geral das Nações Unidas enviará cópias autenti-
todos os Estados que forem ou vierem a torna-se partes desta Con- cadas desta Convenção a todos os Estados pertencentes a qualquer
venção, as reservas feitas pelos Estados no momento da ratificação uma das categorias mencionadas no parágrafo 1º do artigo 17.
ou adesão. Qualquer Estado que objetar a essas reservas, deverá Em fé do que os abaixo assinados devidamente autorizados por
notificar ao Secretário Geral dentro de noventa dias da data da re- seus Governos assinaram a presente Convecção que foi aberta a
ferida comunicação, que não aceita. assinatura em Nova York a 7 de março de 1966.
2. Não será permitida uma reserva incompatível com o objeto
e o escopo desta Convenção nem uma reserva cujo efeito seria a de
impedir o funcionamento de qualquer dos órgãos previstos nesta
Convenção. Uma reserva será considerada incompatível ou impe- DECRETO N° 4.377, DE 13 DE SETEMBRO DE 2002
ditiva se a ela objetarem ao menos dois terços dos Estados partes (CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS
nesta Convenção. FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER)
3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento por
uma notificação endereçada com esse objetivo ao Secretário Geral.
Tal notificação surgirá efeito na data de seu recebimento.
DECRETO Nº 4.377, DE 13 DE SETEMBRO DE 2002
Artigo XXI
Qualquer Estado parte poderá denunciar esta Convenção me- Promulga a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
diante notificação escrita endereçada ao Secretário Geral da Orga- Discriminação contra a Mulher, de 1979, e revoga o Decreto no
nização das Nações Unidas. A denúncia surtirá efeito um ano após 89.460, de 20 de março de 1984.
data do recebimento da notificação pelo Secretário Geral.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe
Artigo XXI confere o art. 84, inciso VIII, da Constituição, e
Qualquer Controvérsia entre dois ou mais Estados Parte relati- Considerando que o Congresso Nacional aprovou, pelo Decreto
va a interpretação ou aplicação desta Convenção que não for resol- Legislativo no 93, de 14 de novembro de 1983, a Convenção sobre a
vida por negociações ou pelos processos previstos expressamente Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher,
nesta Convenção, será o pedido de qualquer das Partes na contro- assinada pela República Federativa do Brasil, em Nova York, no dia
vérsia. Submetida à decisão da Côrte Internacional de Justiça a não 31 de março de 1981, com reservas aos seus artigos 15, parágrafo
ser que os litigantes concordem em outro meio de solução. 4o, e 16, parágrafo 1o, alíneas (a), (c), (g) e (h);
Considerando que, pelo Decreto Legislativo no 26, de 22 de ju-
Artigo XXII nho de 1994, o Congresso Nacional revogou o citado Decreto Legis-
Qualquer Controvérsia entre dois ou mais Estados Partes relati- lativo no 93, aprovando a Convenção sobre a Eliminação de Todas
va à interpretação ou aplicação desta Convenção, que não for resol- as Formas de Discriminação contra a Mulher, inclusive os citados
vida por negociações ou pelos processos previstos expressamente artigos 15, parágrafo 4o, e 16, parágrafo 1o , alíneas (a), (c), (g) e (h);
nesta Convenção será, pedido de qualquer das Partes na controvér- Considerando que o Brasil retirou as mencionadas reservas em
sia, submetida à decisão da Côrte Internacional de Justiça a não ser 20 de dezembro de 1994;
que os litigantes concordem em outro meio de solução. Considerando que a Convenção entrou em vigor, para o Brasil,
em 2 de março de 1984, com a reserva facultada em seu art. 29,
Artigo XXIII parágrafo 2;
1. Qualquer Estado Parte poderá formular a qualquer momen-
to um pedido de revisão da presente Convenção, mediante notifi- DECRETA:
cação escrita endereçada ao Secretário Geral das Nações Unidas. Art. 1o A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
2. A Assembleia-Geral decidirá a respeito das medidas a serem Discriminação contra a Mulher, de 18 de dezembro de 1979, apensa
tomadas, caso for necessário, sobre o pedido. por cópia ao presente Decreto, com reserva facultada em seu art.
29, parágrafo 2, será executada e cumprida tão inteiramente como
nela se contém.

385
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Art. 2o São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quais- ocupação estrangeira, à autodeterminação e independência, bem
quer atos que possam resultar em revisão da referida Convenção, como o respeito da soberania nacional e da integridade territorial,
assim como quaisquer ajustes complementares que, nos termos do promoverão o progresso e o desenvolvimento sociais, e, em conse-
art. 49, inciso I, da Constituição, acarretem encargos ou compromis- quência, contribuirão para a realização da plena igualdade entre o
sos gravosos ao patrimônio nacional. homem e a mulher,
Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. CONVENCIDOS de que a participação máxima da mulher, em
Art. 4o Fica revogado o Decreto no 89.460, de 20 de março de igualdade de condições com o homem, em todos os campos, é in-
1984. dispensável para o desenvolvimento pleno e completo de um país,
o bem-estar do mundo e a causa da paz,
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discri- TENDO presente a grande contribuição da mulher ao bem-es-
minação contra a Mulher tar da família e ao desenvolvimento da sociedade, até agora não
Os Estados Partes na presente convenção, plenamente reconhecida, a importância social da maternidade e a
CONSIDERANDO que a Carta das Nações Unidas reafirma a fé função dos pais na família e na educação dos filhos, e conscientes
nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da de que o papel da mulher na procriação não deve ser causa de dis-
pessoa humana e na igualdade de direitos do homem e da mulher, criminação mas sim que a educação dos filhos exige a responsabili-
CONSIDERANDO que a Declaração Universal dos Direitos Hu- dade compartilhada entre homens e mulheres e a sociedade como
manos reafirma o princípio da não-discriminação e proclama que um conjunto,
todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e di- RECONHECENDO que para alcançar a plena igualdade entre o
reitos e que toda pessoa pode invocar todos os direitos e liberdades homem e a mulher é necessário modificar o papel tradicional tanto
proclamados nessa Declaração, sem distinção alguma, inclusive de do homem como da mulher na sociedade e na família,
sexo, RESOLVIDOS a aplicar os princípios enunciados na Declaração
CONSIDERANDO que os Estados Partes nas Convenções Inter- sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher e, para isto, a
nacionais sobre Direitos Humanos tem a obrigação de garantir ao adotar as medidas necessárias a fim de suprimir essa discriminação
homem e à mulher a igualdade de gozo de todos os direitos econô- em todas as suas formas e manifestações,
micos, sociais, culturais, civis e políticos, CONCORDARAM no seguinte:
OBSEVANDO as convenções internacionais concluídas sob os
PARTE I
auspícios das Nações Unidas e dos organismos especializados em
Artigo 1°
favor da igualdade de direitos entre o homem e a mulher,
Para os fins da presente Convenção, a expressão «discrimina-
OBSERVANDO, ainda, as resoluções, declarações e recomen-
ção contra a mulher» significará toda a distinção, exclusão ou res-
dações aprovadas pelas Nações Unidas e pelas Agências Especia-
trição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado preju-
lizadas para favorecer a igualdade de direitos entre o homem e a
dicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher,
mulher,
independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do
PREOCUPADOS, contudo, com o fato de que, apesar destes di-
homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamen-
versos instrumentos, a mulher continue sendo objeto de grandes tais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em
discriminações, qualquer outro campo.
RELEMBRANDO que a discriminação contra a mulher viola os
princípios da igualdade de direitos e do respeito da dignidade hu- Artigo 2°
mana, dificulta a participação da mulher, nas mesmas condições Os Estados Partes condenam a discriminação contra a mulher
que o homem, na vida política, social, econômica e cultural de seu em todas as suas formas, concordam em seguir, por todos os meios
país, constitui um obstáculo ao aumento do bem-estar da socieda- apropriados e sem dilações, uma política destinada a eliminar a dis-
de e da família e dificulta o pleno desenvolvimento das potenciali- criminação contra a mulher, e com tal objetivo se comprometem a:
dades da mulher para prestar serviço a seu país e à humanidade, a) Consagrar, se ainda não o tiverem feito, em suas constitui-
PREOCUPADOS com o fato de que, em situações de pobreza, a ções nacionais ou em outra legislação apropriada o princípio da
mulher tem um acesso mínimo à alimentação, à saúde, à educação, igualdade do homem e da mulher e assegurar por lei outros meios
à capacitação e às oportunidades de emprego, assim como à satis- apropriados a realização prática desse princípio;
fação de outras necessidades, b) Adotar medidas adequadas, legislativas e de outro caráter,
CONVENCIDOS de que o estabelecimento da Nova Ordem Eco- com as sanções cabíveis e que proíbam toda discriminação contra
nômica Internacional baseada na equidade e na justiça contribuirá a mulher;
significativamente para a promoção da igualdade entre o homem c) Estabelecer a proteção jurídica dos direitos da mulher numa
e a mulher, base de igualdade com os do homem e garantir, por meio dos tri-
SALIENTANDO que a eliminação do apartheid, de todas as for- bunais nacionais competentes e de outras instituições públicas, a
mas de racismo, discriminação racial, colonialismo, neocolonialis- proteção efetiva da mulher contra todo ato de discriminação;
mo, agressão, ocupação estrangeira e dominação e interferência d) Abster-se de incorrer em todo ato ou prática de discrimina-
nos assuntos internos dos Estados é essencial para o pleno exercício ção contra a mulher e zelar para que as autoridades e instituições
dos direitos do homem e da mulher, públicas atuem em conformidade com esta obrigação;
AFIRMANDO que o fortalecimento da paz e da segurança in- e) Tomar as medidas apropriadas para eliminar a discrimina-
ternacionais, o alívio da tensão internacional, a cooperação mútua ção contra a mulher praticada por qualquer pessoa, organização ou
entre todos os Estados, independentemente de seus sistemas eco- empresa;
nômicos e sociais, o desarmamento geral e completo, e em par- f) Adotar todas as medidas adequadas, inclusive de caráter le-
ticular o desarmamento nuclear sob um estrito e efetivo controle gislativo, para modificar ou derrogar leis, regulamentos, usos e prá-
internacional, a afirmação dos princípios de justiça, igualdade e ticas que constituam discriminação contra a mulher;
proveito mútuo nas relações entre países e a realização do direi- g) Derrogar todas as disposições penais nacionais que constitu-
to dos povos submetidos a dominação colonial e estrangeira e a am discriminação contra a mulher.

386
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Artigo 3° Artigo 9°
Os Estados Partes tomarão, em todas as esferas e, em particu- 1. Os Estados-Partes outorgarão às mulheres direitos iguais aos
lar, nas esferas política, social, econômica e cultural, todas as me- dos homens para adquirir, mudar ou conservar sua nacionalidade.
didas apropriadas, inclusive de caráter legislativo, para assegurar o Garantirão, em particular, que nem o casamento com um estran-
pleno desenvolvimento e progresso da mulher, com o objetivo de geiro, nem a mudança de nacionalidade do marido durante o casa-
garantir-lhe o exercício e gozo dos direitos humanos e liberdades mento, modifiquem automaticamente a nacionalidade da esposa,
fundamentais em igualdade de condições com o homem. convertam-na em apátrida ou a obriguem a adotar a nacionalidade
do cônjuge.
Artigo 4° 2. Os Estados-Partes outorgarão à mulher os mesmos direitos
1. A adoção pelos Estados-Partes de medidas especiais de ca- que ao homem no que diz respeito à nacionalidade dos filhos.
ráter temporário destinadas a acelerar a igualdade de fato entre o
homem e a mulher não se considerará discriminação na forma de- PARTE III
finida nesta Convenção, mas de nenhuma maneira implicará, como Artigo 10
consequência, a manutenção de normas desiguais ou separadas; Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas para
essas medidas cessarão quando os objetivos de igualdade de opor- eliminar a discriminação contra a mulher, a fim de assegurar-lhe a
tunidade e tratamento houverem sido alcançados. igualdade de direitos com o homem na esfera da educação e em
2. A adoção pelos Estados-Partes de medidas especiais, inclu- particular para assegurarem condições de igualdade entre homens
sive as contidas na presente Convenção, destinadas a proteger a e mulheres:
maternidade, não se considerará discriminatória. a) As mesmas condições de orientação em matéria de carrei-
ras e capacitação profissional, acesso aos estudos e obtenção de
Artigo 5° diplomas nas instituições de ensino de todas as categorias, tanto
Os Estados-Partes tornarão todas as medidas apropriadas para: em zonas rurais como urbanas; essa igualdade deverá ser assegu-
a) Modificar os padrões socioculturais de conduta de homens rada na educação pré-escolar, geral, técnica e profissional, incluída
e mulheres, com vistas a alcançar a eliminação dos preconceitos e a educação técnica superior, assim como todos os tipos de capaci-
práticas consuetudinárias e de qualquer outra índole que estejam tação profissional;
baseados na ideia da inferioridade ou superioridade de qualquer b) Acesso aos mesmos currículos e mesmos exames, pessoal
dos sexos ou em funções estereotipadas de homens e mulheres. docente do mesmo nível profissional, instalações e material escolar
b) Garantir que a educação familiar inclua uma compreensão da mesma qualidade;
adequada da maternidade como função social e o reconhecimento c) A eliminação de todo conceito estereotipado dos papéis
da responsabilidade comum de homens e mulheres no que diz res- masculino e feminino em todos os níveis e em todas as formas de
peito à educação e ao desenvolvimento de seus filhos, entendendo- ensino mediante o estímulo à educação mista e a outros tipos de
-se que o interesse dos filhos constituirá a consideração primordial educação que contribuam para alcançar este objetivo e, em par-
em todos os casos. ticular, mediante a modificação dos livros e programas escolares e
adaptação dos métodos de ensino;
Artigo 6° d) As mesmas oportunidades para obtenção de bolsas-de-estu-
Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas, in- do e outras subvenções para estudos;
clusive de caráter legislativo, para suprimir todas as formas de tráfi- e) As mesmas oportunidades de acesso aos programas de edu-
co de mulheres e exploração da prostituição da mulher. cação supletiva, incluídos os programas de alfabetização funcional e
de adultos, com vistas a reduzir, com a maior brevidade possível, a
PARTE II diferença de conhecimentos existentes entre o homem e a mulher;
Artigo 7° f) A redução da taxa de abandono feminino dos estudos e a
Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas para organização de programas para aquelas jovens e mulheres que te-
eliminar a discriminação contra a mulher na vida política e pública nham deixado os estudos prematuramente;
do país e, em particular, garantirão, em igualdade de condições com g) As mesmas oportunidades para participar ativamente nos
os homens, o direito a: esportes e na educação física;
a) Votar em todas as eleições e referenda públicos e ser elegí- h) Acesso a material informativo específico que contribua para
vel para todos os órgãos cujos membros sejam objeto de eleições assegurar a saúde e o bem-estar da família, incluída a informação e
públicas; o assessoramento sobre planejamento da família.
b) Participar na formulação de políticas governamentais e na
execução destas, e ocupar cargos públicos e exercer todas as fun- Artigo 11
ções públicas em todos os planos governamentais; 1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas
c) Participar em organizações e associações não-governamen- para eliminar a discriminação contra a mulher na esfera do empre-
tais que se ocupem da vida pública e política do país. go a fim de assegurar, em condições de igualdade entre homens e
mulheres, os mesmos direitos, em particular:
Artigo 8° a) O direito ao trabalho como direito inalienável de todo ser
Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas para humano;
garantir, à mulher, em igualdade de condições com o homem e sem b) O direito às mesmas oportunidades de emprego, inclusive
discriminação alguma, a oportunidade de representar seu governo a aplicação dos mesmos critérios de seleção em questões de em-
no plano internacional e de participar no trabalho das organizações prego;
internacionais. c) O direito de escolher livremente profissão e emprego, o di-
reito à promoção e à estabilidade no emprego e a todos os benefí-
cios e outras condições de serviço, e o direito ao acesso à formação
e à atualização profissionais, incluindo aprendizagem, formação
profissional superior e treinamento periódico;

387
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
d) O direito a igual remuneração, inclusive benefícios, e igual- 2. Os Estados-Partes adotarão todas as medias apropriadas
dade de tratamento relativa a um trabalho de igual valor, assim para eliminar a discriminação contra a mulher nas zonas rurais a fim
como igualdade de tratamento com respeito à avaliação da quali- de assegurar, em condições de igualdade entre homens e mulheres,
dade do trabalho; que elas participem no desenvolvimento rural e dele se beneficiem,
e) O direito à seguridade social, em particular em casos de apo- e em particular as segurar-lhes-ão o direito a:
sentadoria, desemprego, doença, invalidez, velhice ou outra inca- a) Participar da elaboração e execução dos planos de desenvol-
pacidade para trabalhar, bem como o direito de férias pagas; vimento em todos os níveis;
f) O direito à proteção da saúde e à segurança nas condições de b) Ter acesso a serviços médicos adequados, inclusive infor-
trabalho, inclusive a salvaguarda da função de reprodução. mação, aconselhamento e serviços em matéria de planejamento
2. A fim de impedir a discriminação contra a mulher por razões familiar;
de casamento ou maternidade e assegurar a efetividade de seu di- c) Beneficiar-se diretamente dos programas de seguridade so-
reito a trabalhar, os Estados-Partes tomarão as medidas adequadas cial;
para: d) Obter todos os tipos de educação e de formação, acadêmica
a) Proibir, sob sanções, a demissão por motivo de gravidez ou e não acadêmica, inclusive os relacionados à alfabetização funcio-
licença de maternidade e a discriminação nas demissões motivadas nal, bem como, entre outros, os benefícios de todos os serviços co-
pelo estado civil; munitário e de extensão a fim de aumentar sua capacidade técnica;
b) Implantar a licença de maternidade, com salário pago ou be- e) Organizar grupos de autoajuda e cooperativas a fim de obter
nefícios sociais comparáveis, sem perda do emprego anterior, anti- igualdade de acesso às oportunidades econômicas mediante em-
guidade ou benefícios sociais; prego ou trabalho por conta própria;
c) Estimular o fornecimento de serviços sociais de apoio ne- f) Participar de todas as atividades comunitárias;
cessários para permitir que os pais combinem as obrigações para g) Ter acesso aos créditos e empréstimos agrícolas, aos servi-
ços de comercialização e às tecnologias apropriadas, e receber um
com a família com as responsabilidades do trabalho e a participa-
tratamento igual nos projetos de reforma agrária e de reestabele-
ção na vida pública, especialmente mediante fomento da criação e
cimentos;
desenvolvimento de uma rede de serviços destinados ao cuidado
h) gozar de condições de vida adequadas, particularmente nas
das crianças;
esferas da habitação, dos serviços sanitários, da eletricidade e do
d) Dar proteção especial às mulheres durante a gravidez nos abastecimento de água, do transporte e das comunicações.
tipos de trabalho comprovadamente prejudiciais para elas.
3. A legislação protetora relacionada com as questões compre- PARTE IV
endidas neste artigo será examinada periodicamente à luz dos co- Artigo 15
nhecimentos científicos e tecnológicos e será revista, derrogada ou 1. Os Estados-Partes reconhecerão à mulher a igualdade com o
ampliada conforme as necessidades. homem perante a lei.
2. Os Estados-Partes reconhecerão à mulher, em matérias civis,
Artigo 12 uma capacidade jurídica idêntica do homem e as mesmas oportu-
1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas nidades para o exercício dessa capacidade. Em particular, reconhe-
para eliminar a discriminação contra a mulher na esfera dos cuida- cerão à mulher iguais direitos para firmar contratos e administrar
dos médicos a fim de assegurar, em condições de igualdade entre bens e dispensar-lhe-ão um tratamento igual em todas as etapas do
homens e mulheres, o acesso a serviços médicos, inclusive os refe- processo nas cortes de justiça e nos tribunais.
rentes ao planejamento familiar. 3. Os Estados-Partes convém em que todo contrato ou outro
2. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 1o, os Estados-Partes instrumento privado de efeito jurídico que tenda a restringir a ca-
garantirão à mulher assistência apropriadas em relação à gravidez, pacidade jurídica da mulher será considerado nulo.
ao parto e ao período posterior ao parto, proporcionando assistên- 4. Os Estados-Partes concederão ao homem e à mulher os
cia gratuita quando assim for necessário, e lhe assegurarão uma nu- mesmos direitos no que respeita à legislação relativa ao direito das
trição adequada durante a gravidez e a lactância. pessoas à liberdade de movimento e à liberdade de escolha de re-
sidência e domicílio.
Artigo 13
Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas para Artigo 16
eliminar a discriminação contra a mulher em outras esferas da vida 1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas adequadas
econômica e social a fim de assegurar, em condições de igualdade para eliminar a discriminação contra a mulher em todos os assun-
entre homens e mulheres, os mesmos direitos, em particular: tos relativos ao casamento e às ralações familiares e, em particular,
com base na igualdade entre homens e mulheres, assegurarão:
a) O direito a benefícios familiares;
a) O mesmo direito de contrair matrimônio;
b) O direito a obter empréstimos bancários, hipotecas e outras
b) O mesmo direito de escolher livremente o cônjuge e de con-
formas de crédito financeiro;
trair matrimônio somente com livre e pleno consentimento;
c) O direito a participar em atividades de recreação, esportes e
c) Os mesmos direitos e responsabilidades durante o casamen-
em todos os aspectos da vida cultural. to e por ocasião de sua dissolução;
d) Os mesmos direitos e responsabilidades como pais, qual-
Artigo 14 quer que seja seu estado civil, em matérias pertinentes aos filhos.
1. Os Estados-Partes levarão em consideração os problemas es- Em todos os casos, os interesses dos filhos serão a consideração
pecíficos enfrentados pela mulher rural e o importante papel que primordial;
desempenha na subsistência econômica de sua família, incluído seu e) Os mesmos direitos de decidir livre a responsavelmente so-
trabalho em setores não-monetários da economia, e tomarão todas bre o número de seus filhos e sobre o intervalo entre os nascimen-
as medidas apropriadas para assegurar a aplicação dos dispositivos tos e a ter acesso à informação, à educação e aos meios que lhes
desta Convenção à mulher das zonas rurais. permitam exercer esses direitos;

388
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
f) Os mesmos direitos e responsabilidades com respeito à tu- 8. Os membros do Comitê, mediante aprovação da Assembleia
tela, curatela, guarda e adoção dos filhos, ou institutos análogos, Geral, receberão remuneração dos recursos das Nações Unidas, na
quando esses conceitos existirem na legislação nacional. Em todos forma e condições que a Assembleia Geral decidir, tendo em vista a
os casos os interesses dos filhos serão a consideração primordial; importância das funções do Comitê;
g) Os mesmos direitos pessoais como marido e mulher, inclusi- 9. O Secretário-Geral das Nações Unidas proporcionará o pes-
ve o direito de escolher sobrenome, profissão e ocupação; soal e os serviços necessários para o desempenho eficaz das fun-
h) Os mesmos direitos a ambos os cônjuges em matéria de pro- ções do Comitê em conformidade com esta Convenção.
priedade, aquisição, gestão, administração, gozo e disposição dos
bens, tanto a título gratuito quanto à título oneroso. Artigo 18
2. Os esponsais e o casamento de uma criança não terão efeito 1. Os Estados-Partes comprometem-se a submeter ao Secretá-
legal e todas as medidas necessárias, inclusive as de caráter legis- rio-Geral das Nações Unidas, para exame do Comitê, um relatório
lativo, serão adotadas para estabelecer uma idade mínima para o sobre as medidas legislativas, judiciárias, administrativas ou outras
casamento e para tornar obrigatória a inscrição de casamentos em que adotarem para tornarem efetivas as disposições desta Conven-
registro oficial. ção e sobre os progressos alcançados a esse respeito:
a) No prazo de um ano a partir da entrada em vigor da Conven-
PARTE V ção para o Estado interessado; e
Artigo 17 b) Posteriormente, pelo menos cada quatro anos e toda vez
1. Com o fim de examinar os progressos alcançados na aplica- que o Comitê a solicitar.
ção desta Convenção, será estabelecido um Comitê sobre a Elimi- 2. Os relatórios poderão indicar fatores e dificuldades que in-
nação da Discriminação contra a Mulher (doravante denominado fluam no grau de cumprimento das obrigações estabelecidos por
o Comitê) composto, no momento da entrada em vigor da Conven- esta Convenção.
ção, de dezoito e, após sua ratificação ou adesão pelo trigésimo-
-quinto Estado-Parte, de vinte e três peritos de grande prestígio Artigo 19
moral e competência na área abarcada pela Convenção. Os peritos 1. O Comitê adotará seu próprio regulamento.
serão eleitos pelos Estados-Partes entre seus nacionais e exercerão 2. O Comitê elegerá sua Mesa por um período de dois anos.
suas funções a título pessoal; será levada em conta uma repartição
geográfica equitativa e a representação das formas diversas de civi- Artigo 20
lização assim como dos principais sistemas jurídicos; 1. O Comitê se reunirá normalmente todos os anos por um
2. Os membros do Comitê serão eleitos em escrutínio secreto período não superior a duas semanas para examinar os relatórios
de uma lista de pessoas indicadas pelos Estados-Partes. Cada um que lhe sejam submetidos em conformidade com o Artigo 18 desta
dos Estados-Partes poderá indicar uma pessoa entre seus próprios Convenção.
nacionais; 2. As reuniões do Comitê realizar-se-ão normalmente na sede
3. A eleição inicial realizar-se-á seis meses após a data de entra- das Nações Unidas ou em qualquer outro lugar que o Comitê de-
da em vigor desta Convenção. Pelo menos três meses antes da data termine.
de cada eleição, o Secretário-Geral das Nações Unidas dirigirá uma
carta aos Estados-Partes convidando-os a apresentar suas candida- Artigo 21
turas, no prazo de dois meses. O Secretário-Geral preparará uma 1. O Comitê, através do Conselho Econômico e Social das Na-
lista, por ordem alfabética de todos os candidatos assim apresenta- ções Unidas, informará anualmente a Assembleia Geral das Nações
dos, com indicação dos Estados-Partes que os tenham apresentado Unidas de suas atividades e poderá apresentar sugestões e reco-
e comunicá-la-á aos Estados Partes; mendações de caráter geral baseadas no exame dos relatórios e em
4. Os membros do Comitê serão eleitos durante uma reunião informações recebidas dos Estados-Partes. Essas sugestões e reco-
dos Estados-Partes convocado pelo Secretário-Geral na sede das mendações de caráter geral serão incluídas no relatório do Comi-
Nações Unidas. Nessa reunião, em que o quórum será alcançado tê juntamente com as observações que os Estados-Partes tenham
com dois terços dos Estados-Partes, serão eleitos membros do Co- porventura formulado.
mitê os candidatos que obtiverem o maior número de votos e a 2. O Secretário-Geral transmitirá, para informação, os relató-
maioria absoluta de votos dos representantes dos Estados-Partes rios do Comitê à Comissão sobre a Condição da Mulher.
presentes e votantes; As Agências Especializadas terão direito a estar representadas
5. Os membros do Comitê serão eleitos para um mandato de no exame da aplicação das disposições desta Convenção que cor-
quatro anos. Entretanto, o mandato de nove dos membros eleitos respondam à esfera de suas atividades. O Comitê poderá convidar
na primeira eleição expirará ao fim de dois anos; imediatamente as Agências Especializadas a apresentar relatórios sobre a aplicação
após a primeira eleição os nomes desses nove membros serão es- da Convenção nas áreas que correspondam à esfera de suas ativi-
colhidos, por sorteio, pelo Presidente do Comitê; dades.
6. A eleição dos cinco membros adicionais do Comitê realizar-
-se-á em conformidade com o disposto nos parágrafos 2, 3 e 4 deste PARTE VI
Artigo, após o depósito do trigésimo-quinto instrumento de ratifica- Artigo 23
ção ou adesão. O mandato de dois dos membros adicionais eleitos Nada do disposto nesta Convenção prejudicará qualquer dispo-
nessa ocasião, cujos nomes serão escolhidos, por sorteio, pelo Pre- sição que seja mais propícia à obtenção da igualdade entre homens
sidente do Comitê, expirará ao fim de dois anos; e mulheres e que seja contida:
7. Para preencher as vagas fortuitas, o Estado-Parte cujo perito a) Na legislação de um Estado-Parte ou
tenha deixado de exercer suas funções de membro do Comitê no- b) Em qualquer outra convenção, tratado ou acordo internacio-
meará outro perito entre seus nacionais, sob reserva da aprovação nal vigente nesse Estado.
do Comitê;

389
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Artigo 24 Artigo 30
Os Estados-Partes comprometem-se a adotar todas as medidas Esta convenção, cujos textos em árabe, chinês, espanhol, fran-
necessárias em âmbito nacional para alcançar a plena realização cês, inglês e russo são igualmente autênticos será depositada junto
dos direitos reconhecidos nesta Convenção. ao Secretário-Geral das Nações Unidas.
Em testemunho do que, os abaixo-assinados devidamente au-
Artigo 25 torizados, assinaram esta Convenção.
1. Esta Convenção estará aberta à assinatura de todos os Es-
tados.
2. O Secretário-Geral das Nações Unidas fica designado deposi-
LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006 (LEI MARIA
tário desta Convenção. DA PENHA)
3. Esta Convenção está sujeita a ratificação. Os instrumentos de
ratificação serão depositados junto ao Secretário-Geral das Nações
Unidas.
4. Esta Convenção estará aberta à adesão de todos os Estados. LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006
A adesão efetuar-se-á através do depósito de um instrumento de
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar
adesão junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.
contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição
Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Artigo 26
Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana
1. Qualquer Estado-Parte poderá, em qualquer momento, for-
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dis-
mular pedido de revisão desta revisão desta Convenção, mediante põe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
notificação escrita dirigida ao Secretário-Geral das Nações Unidas. contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Pe-
2. A Assembleia Geral das Nações Unidas decidirá sobre as me- nal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências.
didas a serem tomadas, se for o caso, com respeito a esse pedido.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
Artigo 27 cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
1. Esta Convenção entrará em vigor no trigésimo dia a partir da
data do depósito do vigésimo instrumento de ratificação ou adesão TÍTULO I
junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas. DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
2. Para cada Estado que ratificar a presente Convenção ou a
ela aderir após o depósito do vigésimo instrumento de ratificação Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a vio-
ou adesão, a Convenção entrará em vigor no trigésimo dia após o lência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do
depósito de seu instrumento de ratificação ou adesão. art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção
Artigo 28 Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
1. O Secretário-Geral das Nações Unidas receberá e enviará a a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela Re-
todos os Estados o texto das reservas feitas pelos Estados no mo- pública Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de
mento da ratificação ou adesão. Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medi-
2. Não será permitida uma reserva incompatível com o objeto das de assistência e proteção às mulheres em situação de violência
e o propósito desta Convenção. doméstica e familiar.
3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento por Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia,
uma notificação endereçada com esse objetivo ao Secretário-Geral orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e reli-
das Nações Unidas, que informará a todos os Estados a respeito. A gião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,
notificação surtirá efeito na data de seu recebimento. sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver
sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoa-
mento moral, intelectual e social.
Artigo 29
Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condições para o
1. Qualquer controvérsia entre dois ou mais Estados-Partes re-
exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimen-
lativa à interpretação ou aplicação desta Convenção e que não for tação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao es-
resolvida por negociações será, a pedido de qualquer das Partes na porte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade,
controvérsia, submetida a arbitragem. Se no prazo de seis meses ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
a partir da data do pedido de arbitragem as Partes não acordarem § 1º O poder público desenvolverá políticas que visem garantir
sobre a forma da arbitragem, qualquer das Partes poderá submeter os direitos humanos das mulheres no âmbito das relações domésti-
a controvérsia à Corte Internacional de Justiça mediante pedido em cas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negli-
conformidade com o Estatuto da Corte. gência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
2. Qualquer Estado-Parte, no momento da assinatura ou rati- § 2º Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as con-
ficação desta Convenção ou de adesão a ela, poderá declarar que dições necessárias para o efetivo exercício dos direitos enunciados
não se considera obrigado pelo parágrafo anterior. Os demais Esta- no caput.
dos-Partes não estarão obrigados pelo parágrafo anterior perante Art. 4º Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins
nenhum Estado-Parte que tenha formulado essa reserva. sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições pecu-
3. Qualquer Estado-Parte que tenha formulado a reserva pre- liares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
vista no parágrafo anterior poderá retirá-la em qualquer momento
por meio de notificação ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

390
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
TÍTULO II TÍTULO III
DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
CAPÍTULO I DOMÉSTICA E FAMILIAR
DISPOSIÇÕES GERAIS CAPÍTULO I
DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica
e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica
gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psi- e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto arti-
cológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº culado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
150, de 2015) Municípios e de ações não-governamentais, tendo por diretrizes:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério
espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública,
familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras
formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, informações relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou
unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; etnia, concernentes às causas, às consequências e à frequência da
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor violência doméstica e familiar contra a mulher, para a sistematiza-
conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente ção de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação pe-
de coabitação. riódica dos resultados das medidas adotadas;
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores
independem de orientação sexual. éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a coibir os papéis
Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a mulher consti- estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência doméstica
tui uma das formas de violação dos direitos humanos. e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III do art. 1º , no
inciso IV do art. 3º e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal
CAPÍTULO II IV - a implementação de atendimento policial especializado
DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CON- para as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à
TRA A MULHER Mulher;
V - a promoção e a realização de campanhas educativas de pre-
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a venção da violência doméstica e familiar contra a mulher, voltadas
mulher, entre outras: ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres;
ofenda sua integridade ou saúde corporal; VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou
II - a violência psicológica, entendida como qualquer condu- outros instrumentos de promoção de parceria entre órgãos gover-
ta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou namentais ou entre estes e entidades não-governamentais, tendo
que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que por objetivo a implementação de programas de erradicação da vio-
vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças lência doméstica e familiar contra a mulher;
e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, ma- VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da
nipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos profissionais per-
insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, ex- tencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às
ploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio questões de gênero e de raça ou etnia;
que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem
(Redação dada pela Lei nº 13.772, de 2018) valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia;
a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexu- IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de
al não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da ensino, para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à equida-
força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, de de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência domés-
a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contra- tica e familiar contra a mulher.
ceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipula- CAPÍTULO II
ção; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
reprodutivos; DOMÉSTICA E FAMILIAR
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer condu-
ta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total Art. 9º A assistência à mulher em situação de violência domés-
de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, tica e familiar será prestada de forma articulada e conforme os prin-
bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os desti- cípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social,
nados a satisfazer suas necessidades; no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública,
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emergen-
configure calúnia, difamação ou injúria. cialmente quando for o caso.
§ 1º O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher
em situação de violência doméstica e familiar no cadastro de pro-
gramas assistenciais do governo federal, estadual e municipal.
§ 2º O juiz assegurará à mulher em situação de violência do-
méstica e familiar, para preservar sua integridade física e psicoló-
gica:

391
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, inte- § 1º A inquirição de mulher em situação de violência domésti-
grante da administração direta ou indireta; ca e familiar ou de testemunha de violência doméstica, quando se
II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o tratar de crime contra a mulher, obedecerá às seguintes diretrizes:
afastamento do local de trabalho, por até seis meses. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
III - encaminhamento à assistência judiciária, quando for o I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional da
caso, inclusive para eventual ajuizamento da ação de separação depoente, considerada a sua condição peculiar de pessoa em situ-
judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução ação de violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.505,
de união estável perante o juízo competente.(Incluído pela Lei nº de 2017)
13.894, de 2019) II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em si-
§ 3º A assistência à mulher em situação de violência domésti- tuação de violência doméstica e familiar, familiares e testemunhas
ca e familiar compreenderá o acesso aos benefícios decorrentes do terão contato direto com investigados ou suspeitos e pessoas a eles
desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de relacionadas; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
contracepção de emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas inquiri-
Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ções sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e administrati-
(AIDS) e outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos vo, bem como questionamentos sobre a vida privada. (Incluído pela
casos de violência sexual. Lei nº 13.505, de 2017)
§ 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência § 2º Na inquirição de mulher em situação de violência domés-
física, sexual ou psicológica e dano moral ou patrimonial a mulher tica e familiar ou de testemunha de delitos de que trata esta Lei,
fica obrigado a ressarcir todos os danos causados, inclusive ressarcir adotar-se-á, preferencialmente, o seguinte procedimento: (Incluído
ao Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com a tabela SUS, os pela Lei nº 13.505, de 2017)
custos relativos aos serviços de saúde prestados para o total trata- I - a inquirição será feita em recinto especialmente projetado
mento das vítimas em situação de violência doméstica e familiar, para esse fim, o qual conterá os equipamentos próprios e adequa-
recolhidos os recursos assim arrecadados ao Fundo de Saúde do dos à idade da mulher em situação de violência doméstica e familiar
ente federado responsável pelas unidades de saúde que prestarem ou testemunha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida; (Incluí-
os serviços.(Vide Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência) do pela Lei nº 13.505, de 2017)
§ 5º Os dispositivos de segurança destinados ao uso em caso II - quando for o caso, a inquirição será intermediada por pro-
de perigo iminente e disponibilizados para o monitoramento das fissional especializado em violência doméstica e familiar designado
vítimas de violência doméstica ou familiar amparadas por medidas pela autoridade judiciária ou policial; (Incluído pela Lei nº 13.505,
protetivas terão seus custos ressarcidos pelo agressor.(Vide Lei nº de 2017)
13.871, de 2019) (Vigência) III - o depoimento será registrado em meio eletrônico ou mag-
§ 6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º deste arti- nético, devendo a degravação e a mídia integrar o inquérito. (Inclu-
go não poderá importar ônus de qualquer natureza ao patrimônio ído pela Lei nº 13.505, de 2017)
da mulher e dos seus dependentes, nem configurar atenuante ou Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência do-
ensejar possibilidade de substituição da pena aplicada.(Vide Lei nº méstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre outras provi-
13.871, de 2019) (Vigência) dências:
§ 7º A mulher em situação de violência doméstica e familiar I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando
tem prioridade para matricular seus dependentes em instituição de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário;
de educação básica mais próxima de seu domicílio, ou transferi-los II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao
para essa instituição, mediante a apresentação dos documentos Instituto Médico Legal;
comprobatórios do registro da ocorrência policial ou do processo III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes
de violência doméstica e familiar em curso.(Incluído pela Lei nº para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida;
13.882,de 2019) IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a
§ 8º Serão sigilosos os dados da ofendida e de seus dependen- retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio
tes matriculados ou transferidos conforme o disposto no § 7º deste familiar;
artigo, e o acesso às informações será reservado ao juiz, ao Minis- V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e
tério Público e aos órgãos competentes do poder público.(Incluído os serviços disponíveis, inclusive os de assistência judiciária para o
pela Lei nº 13.882,de 2019) eventual ajuizamento perante o juízo competente da ação de sepa-
ração judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de disso-
lução de união estável.(Redação dada pela Lei nº 13.894, de 2019)
CAPÍTULO III
Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar
DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL
contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade
policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem pre-
Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência do-
juízo daqueles previstos no Código de Processo Penal:
méstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial que tomar
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a
conhecimento da ocorrência adotará, de imediato, as providências
representação a termo, se apresentada;
legais cabíveis.
II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao
do fato e de suas circunstâncias;
descumprimento de medida protetiva de urgência deferida. III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente
Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência do- apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de
méstica e familiar o atendimento policial e pericial especializado, medidas protetivas de urgência;
ininterrupto e prestado por servidores - preferencialmente do sexo IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da
feminino - previamente capacitados. (Incluído pela Lei nº 13.505, ofendida e requisitar outros exames periciais necessários;
de 2017) V - ouvir o agressor e as testemunhas;

392
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos TÍTULO IV
sua folha de antecedentes criminais, indicando a existência de man- DOS PROCEDIMENTOS
dado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra CAPÍTULO I
ele; DISPOSIÇÕES GERAIS
VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou pos-
se de arma de fogo e, na hipótese de existência, juntar aos autos Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas
essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição res- cíveis e criminais decorrentes da prática de violência doméstica e
ponsável pela concessão do registro ou da emissão do porte, nos familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas dos Códigos de
termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Processo Penal e Processo Civil e da legislação específica relativa
Desarmamento);(Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019) à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem com o
VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao estabelecido nesta Lei.
juiz e ao Ministério Público. Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
§ 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autorida- Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e crimi-
de policial e deverá conter: nal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Terri-
I - qualificação da ofendida e do agressor; tórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução
II - nome e idade dos dependentes; das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar
III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicita- contra a mulher.
das pela ofendida. Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em
IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com horário noturno, conforme dispuserem as normas de organização
deficiência e se da violência sofrida resultou deficiência ou agrava- judiciária.
mento de deficiência preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.836, de Art. 14-A. A ofendida tem a opção de propor ação de divórcio
2019) ou de dissolução de união estável no Juizado de Violência Domésti-
§ 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referi- ca e Familiar contra a Mulher. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)
do no § 1º o boletim de ocorrência e cópia de todos os documentos § 1º Exclui-se da competência dos Juizados de Violência Do-
disponíveis em posse da ofendida. méstica e Familiar contra a Mulher a pretensão relacionada à parti-
§ 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos ou pron- lha de bens. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)
tuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde. § 2º Iniciada a situação de violência doméstica e familiar após o
Art. 12-A. Os Estados e o Distrito Federal, na formulação de ajuizamento da ação de divórcio ou de dissolução de união estável,
suas políticas e planos de atendimento à mulher em situação de a ação terá preferência no juízo onde estiver. (Incluído pela Lei nº
violência doméstica e familiar, darão prioridade, no âmbito da Po- 13.894, de 2019)
lícia Civil, à criação de Delegacias Especializadas de Atendimento Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os proces-
à Mulher (Deams), de Núcleos Investigativos de Feminicídio e de sos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado:
equipes especializadas para o atendimento e a investigação das vio- I - do seu domicílio ou de sua residência;
lências graves contra a mulher. II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;
Art. 12-B. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) III - do domicílio do agressor.
§ 1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representa-
§ 2º (VETADO. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) ção da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à
§ 3º A autoridade policial poderá requisitar os serviços públicos representação perante o juiz, em audiência especialmente designa-
necessários à defesa da mulher em situação de violência doméstica da com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido
o Ministério Público.
e familiar e de seus dependentes. (Incluído pela Lei nº 13.505, de
Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica
2017)
e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de
Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida
prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que impli-
ou à integridade física ou psicológica da mulher em situação de
que o pagamento isolado de multa.
violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor
será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convi-
CAPÍTULO II
vência com a ofendida: (Redação dada pela Lei nº 14.188, de 2021)
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
I - pela autoridade judicial; (Incluído pela Lei nº 13.827, de
SEÇÃO I
2019)
DISPOSIÇÕES GERAIS
II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede
de comarca; ou (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, ca-
III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca berá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas:
e não houver delegado disponível no momento da denúncia. (Inclu- I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as me-
ído pela Lei nº 13.827, de 2019) didas protetivas de urgência;
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de as-
juiz será comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas sistência judiciária, quando for o caso, inclusive para o ajuizamento
e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamen-
medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público conco- to ou de dissolução de união estável perante o juízo competente;
mitantemente. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) (Redação dada pela Lei nº 13.894, de 2019)
§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à III - comunicar ao Ministério Público para que adote as provi-
efetividade da medida protetiva de urgência, não será concedida dências cabíveis.
liberdade provisória ao preso. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a
posse do agressor. (Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019)

393
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser conce- § 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o
didas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido agressor nas condições mencionadas no caput e incisos do art. 6º
da ofendida. da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará
§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedi- ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas proteti-
das de imediato, independentemente de audiência das partes e de vas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de
manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo
comunicado. cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos
§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.
ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo § 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de ur-
por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos gência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da
nesta Lei forem ameaçados ou violados. força policial.
§ 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a § 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que cou-
pedido da ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgên- ber, o disposto no caput e nos §§ 5º e 6º do art. 461 da Lei no 5.869,
cia ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à prote- de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).
ção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o
Ministério Público. SEÇÃO III
Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA À OFENDIDA
criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo
juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de ou-
representação da autoridade policial. tras medidas:
Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa ofi-
no curso do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, cial ou comunitário de proteção ou de atendimento;
bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifi- II - determinar a recondução da ofendida e a de seus depen-
quem. dentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor;
Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo
relativos ao agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e à dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;
saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado constituído IV - determinar a separação de corpos.
ou do defensor público. V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em
Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar intimação ou
instituição de educação básica mais próxima do seu domicílio, ou
notificação ao agressor .
a transferência deles para essa instituição, independentemente da
existência de vaga. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019)
SEÇÃO II
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA QUE OBRIGAM O
AGRESSOR conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz
poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre ou-
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar tras:
contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de ime- I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor
diato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes à ofendida;
medidas protetivas de urgência, entre outras: II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo ex-
comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, pressa autorização judicial;
de 22 de dezembro de 2003 ; III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com agressor;
a ofendida; IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial,
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemu- doméstica e familiar contra a ofendida.
nhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo.
qualquer meio de comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a SEÇÃO IV
integridade física e psicológica da ofendida; (INCLUÍDO PELA LEI Nº 13.641, DE 2018)
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes meno- DO CRIME DE DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS PROTETIVAS
res, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço si- DE URGÊNCIA
milar; DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas pro-
e reeducação; e(Incluído pela Lei nº 13.984, de 2020) tetivas de urgência previstas nesta Lei: (Incluído pela Lei nº 13.641,
VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de
de 2018)
atendimento individual e/ou em grupo de apoio.(Incluído pela Lei
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. (Incluído
nº 13.984, de 2020)
pela Lei nº 13.641, de 2018)
§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplica-
§ 1º A configuração do crime independe da competência ci-
ção de outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segu-
rança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a provi- vil ou criminal do juiz que deferiu as medidas. (Incluído pela Lei nº
dência ser comunicada ao Ministério Público. 13.641, de 2018)

394
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
§ 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autorida- TÍTULO VI
de judicial poderá conceder fiança. (Incluído pela Lei nº 13.641, de DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
2018)
§ 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência
sanções cabíveis. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumula-
rão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as cau-
CAPÍTULO III sas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra
DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada
pela legislação processual pertinente.
Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não for parte, Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas va-
nas causas cíveis e criminais decorrentes da violência doméstica e ras criminais, para o processo e o julgamento das causas referidas
familiar contra a mulher. no caput.
Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de outras
atribuições, nos casos de violência doméstica e familiar contra a TÍTULO VII
mulher, quando necessário: DISPOSIÇÕES FINAIS
I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, de edu-
cação, de assistência social e de segurança, entre outros; Art. 34. A instituição dos Juizados de Violência Doméstica e Fa-
II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de
miliar contra a Mulher poderá ser acompanhada pela implantação
atendimento à mulher em situação de violência doméstica e fami-
das curadorias necessárias e do serviço de assistência judiciária.
liar, e adotar, de imediato, as medidas administrativas ou judiciais
Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios
cabíveis no tocante a quaisquer irregularidades constatadas;
poderão criar e promover, no limite das respectivas competências:
III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar contra
a mulher. (Vide Lei nº 14.316, de 2022)
I - centros de atendimento integral e multidisciplinar para mu-
CAPÍTULO IV lheres e respectivos dependentes em situação de violência domés-
DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA tica e familiar;
II - casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes me-
Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mu- nores em situação de violência doméstica e familiar;
lher em situação de violência doméstica e familiar deverá estar III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de saú-
acompanhada de advogado, ressalvado o previsto no art. 19 desta de e centros de perícia médico-legal especializados no atendimento
Lei. à mulher em situação de violência doméstica e familiar;
Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência do- IV - programas e campanhas de enfrentamento da violência do-
méstica e familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de méstica e familiar;
Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e V - centros de educação e de reabilitação para os agressores.
judicial, mediante atendimento específico e humanizado. Art. 36. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
promoverão a adaptação de seus órgãos e de seus programas às
TÍTULO V diretrizes e aos princípios desta Lei.
DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR Art. 37. A defesa dos interesses e direitos transindividuais pre-
vistos nesta Lei poderá ser exercida, concorrentemente, pelo Mi-
Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a nistério Público e por associação de atuação na área, regularmente
Mulher que vierem a ser criados poderão contar com uma equipe constituída há pelo menos um ano, nos termos da legislação civil.
de atendimento multidisciplinar, a ser integrada por profissionais Parágrafo único. O requisito da pré-constituição poderá ser
especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde. dispensado pelo juiz quando entender que não há outra entidade
Art. 30. Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, com representatividade adequada para o ajuizamento da demanda
entre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação coletiva.
local, fornecer subsídios por escrito ao juiz, ao Ministério Público Art. 38. As estatísticas sobre a violência doméstica e familiar
e à Defensoria Pública, mediante laudos ou verbalmente em audi-
contra a mulher serão incluídas nas bases de dados dos órgãos ofi-
ência, e desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento,
ciais do Sistema de Justiça e Segurança a fim de subsidiar o sistema
prevenção e outras medidas, voltados para a ofendida, o agressor e
nacional de dados e informações relativo às mulheres.
os familiares, com especial atenção às crianças e aos adolescentes.
Parágrafo único. As Secretarias de Segurança Pública dos Esta-
Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir avaliação mais
aprofundada, o juiz poderá determinar a manifestação de profissio- dos e do Distrito Federal poderão remeter suas informações crimi-
nal especializado, mediante a indicação da equipe de atendimento nais para a base de dados do Ministério da Justiça.
multidisciplinar. Art. 38-A. O juiz competente providenciará o registro da me-
Art. 32. O Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta or- dida protetiva de urgência. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
çamentária, poderá prever recursos para a criação e manutenção Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão, após
da equipe de atendimento multidisciplinar, nos termos da Lei de sua concessão, imediatamente registradas em banco de dados man-
Diretrizes Orçamentárias. tido e regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, garantido
o acesso instantâneo do Ministério Público, da Defensoria Pública e
dos órgãos de segurança pública e de assistência social, com vistas
à fiscalização e à efetividade das medidas protetivas. (Redação dada
Lei nº 14.310, de 2022) Vigência

395
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
no limite de suas competências e nos termos das respectivas leis de CÓDIGO PENAL BRASILEIRO (ART. 140)
diretrizes orçamentárias, poderão estabelecer dotações orçamen-
tárias específicas, em cada exercício financeiro, para a implementa- PARTE ESPECIAL
ção das medidas estabelecidas nesta Lei. (VIDE LEI Nº 7.209, DE 1984)
Art. 40. As obrigações previstas nesta Lei não excluem outras TÍTULO I
decorrentes dos princípios por ela adotados. DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e fami- CAPÍTULO V
liar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se DOS CRIMES CONTRA A HONRA
aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Art. 42. O art. 313 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro Injúria
de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar acrescido do Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o de-
seguinte inciso IV: coro:
“Art. 313. ................................................. Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
................................................................ § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou direta-
mulher, nos termos da lei específica, para garantir a execução das mente a injúria;
medidas protetivas de urgência.” (NR) II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
Art. 43. A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-Lei nº 2.848, § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com a sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
seguinte redação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da
“Art. 61. .................................................. pena correspondente à violência.
................................................................. § 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes
II - ............................................................ a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa
................................................................. ou portadora de deficiência:(Redação dada pela Lei nº 10.741, de
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações 2003)
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência Pena - reclusão de um a três anos e multa.(Incluído pela Lei nº
contra a mulher na forma da lei específica; 9.459, de 1997)
........................................................... ” (NR)
Art. 44. O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro Os crimes contra a honra subdividem-se entre Calúnia, Difama-
de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes alterações: ção e Injúria. Em um primeiro momento, eles nos assustam, pois
“Art. 129. .................................................. são crimes simples mas com muita bagagem que certamente, irá
.................................................................. ser muito usado para quem pretende seguir o ramo do Direito Penal
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, futuramente.
irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha Partiremos para a Injúria, um crime corriqueiro nos dias de
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domés- hoje. Podemos dizer que, a injúria é o menos-grave do rol dos cri-
ticas, de coabitação ou de hospitalidade: mes contra a honra existentes no Código Penal, porém, pode se tor-
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. nar uma infração grave, se atingida a raça, a etnia, a religião etc. No
.................................................................. artigo 140 do Código Penal dispõe que: Injuriar alguém, ofendendo
§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada lhe a dignidade ou decoro. Por exemplo: Chamar uma pessoa de
de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de burra e incapaz nas atividades profissionais.
deficiência.” (NR) A Injúria é basicamente um “xingamento”, que se consuma
Art. 45. O art. 152 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei quando a própria vítima toma o conhecimento e é somente de hon-
de Execução Penal), passa a vigorar com a seguinte redação: ra subjetiva. Entretanto, este crime possui situações em que o juiz
“Art. 152. ................................................... pode deixar de aplicar a pena, quando por exemplo, houve uma
Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica contra a provocação, ou no caso de retorsão imediata. Caberá tentativa de-
mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento obrigatório do pendendo dos meios de execução e não cabe exceção da verdade.
agressor a programas de recuperação e reeducação.” (NR)
Art. 46. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias após
LEI N° 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1997
sua publicação.
(CRIME DE TORTURA)

LEI Nº 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1997

Define os crimes de tortura e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-


cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Constitui crime de tortura:


I - constranger alguém com emprego de violência ou grave
ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da
vítima ou de terceira pessoa;

396
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; Art. 4º. Recusar a venda de mercadoria em lojas de qualquer
c) em razão de discriminação racial ou religiosa; gênero ou o atendimento de clientes em restaurantes, bares, con-
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, feitarias ou locais semelhantes, abertos ao público, por preconceito
com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida Pena - Prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e
de caráter preventivo. multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência (MVR).
Pena - reclusão, de dois a oito anos. Art. 5º. Recusar a entrada de alguém em estabelecimento pú-
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou blico, de diversões ou de esporte, por preconceito de raça, de cor,
sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por de sexo ou de estado civil.
intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante Pena - Prisão simples, de 15 (quinze dias a 3 (três) meses, e
de medida legal. multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência (MVR).
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando
tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção Art. 6º. Recusar a entrada de alguém em qualquer tipo de esta-
de um a quatro anos. belecimento comercial ou de prestação de serviço, por preconceito
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclu- Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias e 3 (três) meses, e
são é de oito a dezesseis anos. multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência (MVR).
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: Art. 7º. Recusar a inscrição de aluno em estabelecimento de
I - se o crime é cometido por agente público; ensino de qualquer curso ou grau, por preconceito de raça, de cor,
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de de sexo ou de estado civil.
deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; ‘(Redação Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa
dada pela Lei nº 10.741, de 2003) de 1(uma) a três) vezes o maior valor de referência (MVR).
III - se o crime é cometido mediante sequestro. Parágrafo único. Se se tratar de estabelecimento oficial de ensi-
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou em- no, a pena será a perda do cargo para o agente, desde que apurada
prego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo em inquérito regular.
da pena aplicada. Art. 8º. Obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público
§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça civil ou militar, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado
ou anistia. civil.
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese Pena - perda do cargo, depois de apurada a responsabilidade
do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. em inquérito regular, para o funcionário dirigente da repartição de
Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não que dependa a inscrição no concurso de habilitação dos candidatos.
tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasi- Art. 9º. Negar emprego ou trabalho a alguém em autarquia,
leira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira. sociedade de economia mista, empresa concessionária de serviço
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. público ou empresa privada, por preconceito de raça, de cor, de
Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de sexo ou de estado civil.
1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente. Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa
de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência (MVR), no
caso de empresa privada; perda do cargo para o responsável pela
LEI Nº 7.437, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1985 (LEI CAÓ) recusa, no caso de autarquia, sociedade de economia mista e em-
presa concessionária de serviço público.
Art. 10. Nos casos de reincidência havidos em estabelecimen-
LEI Nº 7.437, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1985 tos particulares, poderá o juiz determinar a pena adicional de sus-
pensão do funcionamento, por prazo não superior a 3 (três) meses.
Art. 11. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Inclui, entre as contravenções penais a prática de atos resultantes
Art. 12. Revogam-se as disposições em contrário.
de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil, dando
nova redação à Lei nº 1.390, de 3 de julho de 1951 - Lei Afonso
Arinos. LEI ESTADUAL N° 10.549, DE 28 DE DEZEMBRO DE 2006
(SECRETARIA DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL)
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Na-
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
LEI Nº 10.549 DE 28 DE DEZEMBRO DE 2006
Art. 1º. Constitui contravenção, punida nos termos desta lei, a
prática de atos resultantes de preconceito de raça, de cor, de sexo
Modifica a estrutura organizacional da Administração Pública do
ou de estado civil. Poder Executivo Estadual e dá outras providências.
Art. 2º. Será considerado agente de contravenção o diretor,
gerente ou empregado do estabelecimento que incidir na prática O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, faço saber que a As-
referida no artigo 1º. desta lei. sembléia Legislativa decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Das Contravenções Art. 1º - A Administração Pública Estadual fica modificada na
Art. 3º. Recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem ou forma da presente Lei.
estabelecimento de mesma finalidade, por preconceito de raça, de Art. 2º - Ficam alteradas as denominações das seguintes Secre-
cor, de sexo ou de estado civil. tarias de Estado:
Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa I - Secretaria do Trabalho, Assistência Social e Esporte - SETRAS,
de 3 (três) a 10 (dez) vezes o maior valor de referência (MVR). para Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte - SETRE;

397
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
II - Secretaria de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais a) os Conselhos Regionais de Desenvolvimento;
- SECOMP, para Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à b) a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional CAR.
Pobreza - SEDES; Art. 5º - As estruturas básicas da Secretaria de Relações Institu-
III - Secretaria de Governo - SEGOV para Casa Civil; cionais - SERIN, da Secretaria de Promoção da Igualdade - SEPROMI
IV - Secretaria de Cultura e Turismo - SCT, para e da Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional - SEDIR,
V - Secretaria da Justiça e Direitos Humanos - SJDH, para Secre- não conterão a Diretoria Geral prevista no art. 2º da Lei 7.435/98.
taria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos - SJCDH. Parágrafo único - Fica criada a Diretoria de Administração e
Art. 3º - Ficam criadas as seguintes Secretarias: Finanças em cada uma das Secretarias referidas neste artigo e no
I - Secretaria de Relações Institucionais - SERIN; Gabinete do Governador, tendo por finalidade o planejamento e co-
II - Secretaria de Promoção da Igualdade - SEPROMI; ordenação das atividades de programação, orçamentação, acompa-
III - Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional SE- nhamento, avaliação, estudos e análises, administração financeira
DIR; e de contabilidade, material, patrimônio, serviços, recursos huma-
IV - Secretaria de Turismo - SETUR. nos, modernização administrativa e informática.
Art. 4º - Ficam transferidas as seguintes atividades, funções, Art. 6º - A Secretaria de Relações Institucionais - SERIN tem por
fundos, órgãos e entidades: finalidade a coordenação política do Poder Executivo e de suas rela-
I - da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte - SE-
ções com os demais Poderes das diversas esferas de Governo, com
TRE, para a Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Po-
a sociedade civil e suas instituições.
breza - SEDES:
§ 1º - A Secretaria de Relações Institucionais - SERIN tem a se-
a) a Superintendência de Assistência Social;
guinte estrutura básica:
b) o Fundo Estadual de Assistência Social, de que trata a Lei
6.930/95; a) Gabinete do Secretário;
c) o Fundo Estadual de Atendimento à Criança e ao Adolescen- b) Diretoria de Administração e Finanças;
te, de que trata a Lei 6975/96; c) Coordenação de Assuntos Legislativos;
d) a Fundação da Criança e do Adolescente - FUNDAC; d) Coordenação de Assuntos Federativos;
e) o Conselho Estadual de Assistência Social - CEAS; e) Coordenação de Articulação Social.
f) o Conselho Estadual da Criança e do Adolescente - CECA; Parágrafo único - As Coordenações têm por objetivo o planeja-
g) a Comissão Interinstitucional de Defesa Civil - CIDEC; mento, a execução e o controle das atividades a cargo da Secretaria
h) a Coordenação de Defesa Civil - CORDEC; de Relações Institucionais SERIN, conforme dispuser o Regulamen-
II - da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Po- to.
breza - SEDES, para a Casa Civil, o Fundo Estadual de Combate Art. 7º - A Secretaria de Promoção da Igualdade - SEPROMI tem
e Erradicação da Pobreza - FUNCEP, instituído pelo art. 4º da Lei por finalidade planejar e executar políticas de promoção da igual-
7.988/2001; dade racial e proteção dos direitos de indivíduos e grupos étnicos
III - da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Po- atingidos pela discriminação e demais formas de intolerância, bem
breza - SEDES, para a Casa Civil: assim, planejar e executar as políticas públicas de caráter transver-
a) a Diretoria Executiva do Fundo Estadual de Combate e Erra- sal para as mulheres.
dicação da Pobreza FUNCEP, criada pelo art. 2º, inciso II, alínea c, da § 1º - A Secretaria de Promoção à Igualdade - SEPROMI tem a
Lei nº 7.988, de 21 de dezembro de 2001, com as alterações intro- seguinte estrutura básica:
duzidas pela Lei nº 9.509, de 20 de maio de 2005, exceto a Diretoria I - Órgãos Colegiados:
de Orçamento Público e a Diretoria de Finanças; a) Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra;
Redação de acordo com o art. 46 da Lei nº 10.955, de 12 de b) Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher;
dezembro de 2007. II - Órgãos da Administração Direta:
Redação original: “a) a Diretoria Executiva do FUNCEP criada a) Gabinete do Secretário;
pelo art. 2º, II, c e § 8º da Lei 7.988/2001, com as alterações intro- b) Diretoria de Administração e Finanças;
duzidas pela Lei 9.509/2005, exceto a Coordenação de Orçamento c) Superintendência de Políticas para as Mulheres;
e Finanças;”
d) Superintendência de Promoção da Igualdade Racial.
b) o Conselho de Políticas de Inclusão Social;
§ 2º - A Superintendência de Políticas para as Mulheres tem
c) a Câmara Técnica de Gestão de Programas;
por finalidade orientar, apoiar, coordenar, acompanhar, controlar
IV - da Casa Civil:
e executar programas e atividades voltadas à implementação de
a) para a Secretaria de Relações Institucionais SERIN: as fun-
ções de coordenação de assuntos legislativos; políticas para as mulheres, implementar ações afirmativas e definir
b) para o Gabinete do Governador, órgão vinculado diretamen- ações públicas de promoção da igualdade entre homens e mulheres
te ao Governador: a Ouvidoria Geral do Estado, a Secretaria Parti- e de combate à discriminação.
cular do Governador, o Escritório de Representação do Governo, o § 3º - A Superintendência de Promoção da Igualdade Racial
Cerimonial e a Assessoria Especial do Governador; tem por finalidade orientar, apoiar, coordenar, acompanhar, contro-
V - da Secretaria de Cultura para a Secretaria de Turismo - SE- lar e executar programas e atividades voltadas à implementação de
TUR: políticas e diretrizes para a promoção da igualdadee da proteção
a) a Superintendência de Investimentos em Pólos Turísticos; dos direitos de indivíduos e grupos raciais e étnicos, afetados por
b) a Empresa de Turismo da Bahia S/A BAHIATURSA; discriminação racial e demais formas de intolerância.
VI - da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos - SJ- § 4º - Fica acrescida à composição do Conselho de Desenvol-
CDH, para a Secretaria de Promoção da Igualdade - SEPROMI: vimento da Comunidade Negra e do Conselho Estadual de Defesa
a) o Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra; dos Diretos da Mulher, de que tratam as alíneas a e b do art. 17
b) o Conselho de Defesa dos Direitos da Mulher; da Lei nº 4.697/87, a representação da Secretaria de Promoção da
VII - da Secretaria do Planejamento - SEPLAN para a Secretaria Igualdade - SEPROMI.
de Desenvolvimento e Integração Regional - SEDIR:

398
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Art. 8º - A Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regio- Art. 11 - A Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à
nal - SEDIR tem por finalidade planejar e coordenar a execução da Pobreza - SEDES tem por finalidade planejar, coordenar, executar e
política estadual de desenvolvimento regional integrado; formular, fiscalizar as políticas de desenvolvimento social, segurança alimen-
em parceria com o Conselho Estadual de Desenvolvimento Econô- tar e nutricional e de assistência social.
mico e Social, os planos e programas regionais de desenvolvimen- § 1º - A Superintendência de Apoio à Inclusão Social, passa a
to; estabelecer estratégias de integração das economias regionais; ser denominada Superintendência de Inclusão e Assistência Ali-
acompanhar e avaliar os programas integrados de desenvolvimento mentar, com a finalidade de promover as ações de inclusão social e
regional. de assistência alimentar, conforme dispuser o regulamento.
§ 1º - A Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional - § 2º - Fica extinta a Superintendência de Articulação e Progra-
SEDIR tem a seguinte estrutura básica: mas Especiais.
I - Órgãos Colegiados: Art. 12 - A Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à
a) Conselhos Regionais de Desenvolvimento. Pobreza - SEDES tem a seguinte estrutura básica:
II - Órgãos da Administração Direta: I - Órgãos Colegiados:
a) Gabinete do Secretário; a) Comissão Interinstitucional de Defesa Civil - CIDEC;
b) Diretoria de Administração e Finanças; b) Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente
c) Coordenação de Políticas do Desenvolvimento Regional; - CECA;
d) Coordenação de Programas Regionais; c) Conselho Estadual de Assistência Social - CEAS;
III - Entidade da Administração Indireta: d) Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do Estado da
a) Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional - CAR. Bahia - CONSEA BA;
§ 2º - As coordenações têm por objetivo o planejamento, a II - Órgãos da Administração Direta:
execução e o controle das atividades a cargo da Secretaria de De- a) Gabinete do Secretário;
senvolvimento e Integração Regional - SEDIR, conforme dispuser o b) Diretoria Geral;
regulamento. c) Superintendência de Assistência Social;
Art. 9º - O Gabinete do Governador, órgão de assistência direta d) Superintendência de Inclusão e Assistência Alimentar;
e imediata ao Governador, tem a seguinte estrutura básica: III - Órgão em Regime Especial de Administração Direta:
a) Chefia do Gabinete; a) Coordenação de Defesa Civil - CORDEC.
b) Secretaria Particular do Governador; IV - Entidade da Administração Indireta:
c) Cerimonial; a) Fundação da Criança e do Adolescente - FUNDAC.
d) Assessoria Especial do Governador; Parágrafo único - O Secretário do Desenvolvimento Social e
e) Assessoria Internacional;
Combate à Pobreza - SEDES passa a integrar na condição de presi-
f) Escritório de Representação do Governo.
dente, o Conselho Estadual de Assistência Social - CEAS, o Conselho
Parágrafo único - Fica criado o cargo de Chefe do Gabinete do
Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente - CECA e a Comis-
Governador, ao qual são atribuídas as atividades de supervisão e
são Interinstitucional de Defesa Civil - CIDEC.
coordenação dos órgãos integrantes da estrutura do Gabinete do
Art. 13 - A Secretaria de Turismo - SETUR tem por finalidade
Governador, bem como a elaboração da agenda e o exercício de
planejar, coordenar e executar políticas de promoção e fomento ao
outras atribuições designadas pelo Governador.
turismo.
Redação de acordo como o art. 39 da Lei nº 13.204, de 11 de
§ 1º - A Secretaria de Turismo - SETUR tem a seguinte estrutura
dezembro de 2014.
básica:
Redação original: “Art. 9º - O Gabinete do Governador, órgão
de assistência direta e imediata ao Governador, tem a seguinte es- I - Órgãos da Administração Direta:
trutura básica: a) Gabinete do Secretário;
a) Chefia do Gabinete; b) Diretoria Geral;
b) Ouvidoria Geral do Estado; c) Superintendência de Investimentos em Pólos Turísticos;
c) Secretaria Particular do Governador; d) Superintendência de Serviços Turísticos.
d) Cerimonial; II - Entidade da Administração Indireta:
e) Assessoria Especial do Governador; a) Empresa de Turismo da Bahia S/A - BAHIATURSA.
f) Assessoria Internacional; § 2º - A Superintendência de Serviços Turísticos tem por fina-
g) Escritório de Representação do Governo; lidade planejar e executar programas e projetos de qualificação de
h) Diretoria de Administração e Finanças. serviços e mão-de-obra, capacitação empresarial, certificação de
Parágrafo único - Fica criado o cargo de Chefe de Gabinete do qualidade, regulação e fiscalização de atividades turísticas.
Governador, ao qual são asseguradas as prerrogativas, represen- Art. 14 - Ficam criadas:
tação, remuneração e impedimentos de Secretário de Estado, ca- I - na Secretaria da Agricultura - SEAGRI: a Superintendência de
bendo-lhe a supervisão e a coordenação dos órgãos integrantes da Agricultura Familiar, com a finalidade de orientar, apoiar, coordenar,
estrutura do Gabinete do Governador, a elaboração da agenda e o acompanhar, controlar e executar programas e atividades voltados
exercício de outras atribuições designadas pelo Governador.” ao fortalecimento da agricultura familiar.
Art. 10 - A Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte II - na Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos - SJ-
- SETRE tem por finalidade planejar e executar as políticas de em- CDH:
prego e renda e de apoio à formação do trabalhador, de economia a) a Coordenação Executiva de Defesa dos Direitos da Pessoa
solidária e de fomento ao esporte. com Deficiência, com a finalidade de promover e fortalecer o de-
Parágrafo único - Fica criada na Secretaria do Trabalho, Empre- senvolvimento dos programas e ações voltados para a defesa dos
go, Renda e Esporte - SETRE a Superintendência de Economia Soli- direitos da pessoa portadora de deficiência;
dária, com a finalidade de planejar, coordenar, executar e acompa- b) a Coordenação de Políticas para os Povos Indígenas, vincu-
nhar as ações e programas de fomento à economia solidária. lada à Superintendência de Apoio e Defesa aos Direitos Humanos.

399
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Art. 15 - Para atender à implantação dos novos órgãos criados Art. 4º-A. Fica transformado o cargo de Secretário Especial de
por esta Lei e às adequações na estrutura da Administração Pública Políticas de Promoção da Igualdade Racial no cargo de Ministro de
Estadual, ficam criados 04 (quatro) cargos de Secretário de Estado e Estado Chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
os cargos em comissão constantes do Anexo Único desta Lei. Igualdade Racial. (Incluído pela Lei nº 11.693, de 2008)
Art. 16 - Ficam extintos os cargos em comissão constantes do Art. 5° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Anexo Único desta Lei.
Art. 17 - Fica o Chefe do Poder Executivo autorizado a promo-
ver, no prazo de 120 (cento e vinte) dias: QUESTÕES
I - a revisão e a elaboração dos regimentos, estatutos e outros
instrumentos regulamentadores para adequação das alterações or- 1. (FCC - Analista em Acessibilidade (Pref Recife)/Audiodescri-
ganizacionais decorrentes desta Lei; tor/2022) O Estatuto da Igualdade Racial considera desigualdade de
II - as modificações orçamentárias necessárias ao cumprimento gênero e raça
desta Lei, respeitados os valores globais constantes do orçamento (A) toda situação injustificada de diferenciação de acesso e frui-
do exercício de 2007. ção de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e
Parágrafo único - As modificações de que trata o inciso II deste privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem na-
artigo incluem a abertura de créditos especiais destinados, exclusi- cional ou étnica.
vamente, à criação de categorias de programação indispensáveis ao (B) toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada
funcionamento de órgãos criados ou decorrentes desta Lei, respei- em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que
tenha por objeto anular o exercício, em igualdade de condi-
tado o Art. 7º da Lei Orçamentária de 2007.
ções, de direitos humanos.
Art. 18 - Fica o Poder Executivo autorizado a praticar os atos ne-
(C) a assimetria existente no âmbito da sociedade que acentua
cessários à continuidade dos serviços, até a definitiva estruturação
a distância social entre mulheres negras e os demais segmen-
dos órgãos criados ou reorganizados por esta Lei.
tos sociais.
Art. 19 - Esta Lei entrará em vigor em 1º de janeiro de 2007. (D) o processo resultante de mecanismos históricos de discri-
Art. 20 - Revogam-se as disposições em contrário. minação dirigidos à população negra que produz exclusão so-
cial na vida pública e privada.
(E) a diferença entre o nível médio de renda e acesso a bens
LEI Nº 10.678, DE 23 DE MAIO DE 2003 (SECRETARIA culturais pela população negra quando comparado com os de-
DE POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL mais segmentos populacionais.
DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA)
2. (FCC - Promotor de Justiça (MPE PE)/2022) O Estatuto da
Igualdade Racial (Lei nº 12.288/2010) traz vários conceitos a serem
LEI N° 10.678, DE 23 DE MAIO DE 2003 considerados para efeitos de aplicação de seus dispositivos legais, e
dentre eles, considera como desigualdade racial
Cria a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualda- (A) toda ação que viola os direitos fundamentais da população
de Racial, da Presidência da República, e dá outras providências. negra.
(B) a assimetria existente no âmbito da sociedade que aumenta
Faço saber que o Presidente da República adotou a Medida a distância social entre mulheres negras e os demais segmen-
Provisória nº 111, de 2003, que o Congresso Nacional aprovou, e tos sociais.
eu, Eduardo Siqueira Campos, Segundo Vice-Presidente, no exercí- (C) toda exclusão ou restrição baseada em raça, cor, origem ou
cio da Presidência da Mesa do Congresso Nacional, para os efeitos etnia, nos campos político, econômico, social e cultural.
do disposto no art. 62 da Constituição Federal, com a redação dada (D) toda violação às políticas de correção das desigualdades ra-
pela Emenda constitucional nº 32, combinado com o art. 12 da Re- ciais e promoção da igualdade de oportunidades.
solução nº 1, de 2002-CN, promulgo a seguinte Lei: (E) toda situação injustificada de diferenciação de acesso e frui-
Art. 1° Fica criada, como órgão de assessoramento imediato ao ção de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e
Presidente da República, a Secretaria Especial de Políticas de Pro- privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem na-
moção da Igualdade Racial. cional ou étnica.
ART. 2° (REVOGADO PELA LEI Nº 12.314, DE 2010)
3. (FCC - Assistente Social (TJ SC)/2021) Desde 2010, o Estatuto
Art. 3° O CNPIR será presidido pelo titular da Secretaria Espe-
da Igualdade Racial estabelece um conjunto de regras e princípios
cial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da
jurídicos para coibir a discriminação racial e também para a defini-
República, e terá a sua composição, competências e funcionamento
ção de políticas que visam a diminuição da desigualdade social pre-
estabelecidos em ato do Poder Executivo, a ser editado até 31 de
sente entre os segmentos raciais. O Estatuto tem como diretriz polí-
agosto de 2003. tica e jurídica o embasamento nas normas constitucionais relativas:
Parágrafo único.A Secretaria Especial de Políticas de Promo- I. Aos princípios fundamentais.
ção da Igualdade Racial, da Presidência da República, constituirá, II. À organização político-administrativa.
no prazo de noventa dias, contado da publicação desta Lei, grupo III. Aos direitos culturais.
de trabalho integrado por representantes da Secretaria Especial e IV. À Família, à Criança, ao Adolescente, ao Jovem e ao Idoso.
da sociedade civil, para elaborar proposta de regulamentação do V. Às garantias fundamentais.
CNPIR, a ser submetida ao Presidente da República.
Art. 4º Fica criado, na Secretaria Especial de Políticas de Promo-
ção da Igualdade Racial da Presidência da República, 1(um) cargo
de Secretário-Adjunto, código DAS 101.6. (Redação dada pela Lei nº
11.693, de 2008)

400
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
São normas constitucionais previstas do Estatuto da Igualdade 6. (FCC - Defensor Público do Estado do Amazonas/2018/”Pro-
Racial o que se afirma APENAS em va Anulada”) O Estatuto da Igualdade Racial prevê
(A) I e III. (A) o reconhecimento da capoeira como manifestação cultural
(B) I, III e V. regional.
(C) II e IV. (B) a inclusão de quilombolas nos usos e costumes, tradições e
(D) II, IV e V. manifestos próprios do local onde desejam se instalar, fora de
(E) III, IV e V. suas comunidades, de modo a diminuir as diferenças culturais.
(C) que a desigualdade de gênero e raça é a assimetria existen-
4. (FCC - Analista Legislativo (ALAP)/Atividade Administrativa/ te no âmbito da sociedade que acentua a distância social entre
Assistente Social/2020) Ao analisar um programa estadual na área mulheres negras e os demais segmentos sociais.
habitacional, no que se refere ao acesso à moradia da população (D) como ações afirmativas os programas e medidas especiais
negra, conforme as prerrogativas do Estatuto da Igualdade Racial, adotados pelo Estado para a correção das desigualdades ra-
será observado que ciais, excluindo desse conceito legal as ações da iniciativa pri-
(A) deve ocorrer a implementação de políticas públicas para vada.
assegurar o direito à moradia adequada da população negra (E) a participação da população negra, em condição de igual-
que vive em favelas, cortiços, áreas urbanas subutilizadas, de- dade de oportunidades, na vida econômica, social, política e
gradadas ou em processo de degradação, a fim de reintegrá-las cultural do País, por meio de estímulo de iniciativas de promo-
à dinâmica urbana e promover melhorias no ambiente e na ção, preservando-se a igualdade no acesso a recursos públicos.
qualidade de vida.
(B) o direito à moradia deve se restringir ao provimento habita- 7. (FCC - Defensor Público do Estado do Rio Grande do
cional, considerando que a legislação em tela é omissa quanto Sul/2018) No Brasil, a partir do século XXI, percebe-se um incre-
à viabilização da infraestrutura urbana. mento de ações e políticas públicas que estimulam a redução da
(C) a viabilização da assistência técnica e jurídica para a cons- desigualdade racial.
trução, fica a critério da Secretaria Estadual de Habitação, con- Sobre o tema da discriminação racial é INCORRETO afirmar que:
dicionada à disponibilidade orçamentária, considerando que (A) a presença de pessoas negras em cargos públicos exerce um
não há essa previsão na referida legislação. papel simbólico na sociedade.
(D) é vedada a participação de organizações e movimentos (B) a diversidade étnico-racial é importante para a formação
representativos da população negra na composição dos con- dos estudantes universitários.
selhos constituídos para essa finalidade, para que não haja (C) a redução da desigualdade racial exige a superação de uma
privilégio, em se tratando de recursos provenientes do Fundo perspectiva meramente formal do princípio da isonomia.
Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS). (D) é assegurada a assistência religiosa aos praticantes de re-
(E) a viabilização de equipamentos comunitários associados à ligiões de matrizes africanas nos estabelecimentos prisionais.
função habitacional é uma responsabilidade que deve recair (E) o estudo da história geral da África é facultativo nos estabe-
sobre a comunidade e não sobre o Poder Público. lecimentos privados de ensino médio.

5. (FCC - Analista Judiciário (TJ MA)/Assistente Social/2019) 8. (FCC - Defensor Público do Estado da Paraíba/2022) O Supre-
No cotidiano profissional, o Assistente Social enfrentará o racismo mo Tribunal Federal, ao decidir pela criminalização da homofobia e
e suas diversas expressões na vida social. O Estatuto da Igualdade da transfobia, considerou que
Racial prevê a adoção e implementação de ações afirmativas. O de- (A) a extensão da tipificação da Lei no 7.716/1989 (Lei que de-
senvolvimento dessas ações destina-se a fine os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor)
(A) reparar danos e dívidas historicamente produzidas e herda- aplica-se com efeitos retroativos à discriminação homofóbica
das de uma estrutura socioeconômica que produz determina- e transfóbica até que o Congresso Nacional venha a legislar a
ções contraditórias. respeito.
(B) reforçar o que estabelece a Constituição Federal de 1988, (B) se dessume da leitura do texto constitucional um mandado
em que a igualdade é um direito formal abstrato existente na constitucional de criminalização relativo à discriminação por
realidade, independentemente das mediações existentes na orientação sexual ou identidade de gênero, à luz dos tratados
realidade concreta dos indivíduos sociais. internacionais de que o Estado brasileiro é parte.
(C) fornecer os elementos concretos que possam superar o (C) o dever de legislar sobre o tema decorre de compromissos
racismo e a discriminação racial, eliminando-os da sociedade internacionais assumidos pelo Estado brasileiro no combate à
brasileira. discriminação homofóbica e transfóbica, apesar da ausência de
(D) oferecer, aos grupos historicamente discriminados, um mora incons)titucional do Congresso Nacional.
tratamento igualitário (negros e não negros) para compensar/ (D a tipificação dos delitos contra a discriminação por orien-
reparar as desvantagens perante as práticas de racismo e de tação sexual ou identidade de gênero prescinde de nova lei,
outras formas de discriminação. diante da aplicabilidade da Lei no 7.716/1989 (Lei que define
(E) eliminar as desigualdades étnico-raciais resultantes na so- os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor) aos
ciabilidade burguesa. casos análogos.
(E) o texto constitucional carece de mandado de criminalização
contra a discriminação homofóbica e transfóbica, razão pela
qual se deu uma interpretação extensiva à Lei no 7.716/1989
(Lei que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou
de cor) para abarcar os crimes resultantes de homofobia e da
transfobia.

401
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
9. (FCC - Assistente Legislativo (ALAP)/Atividade Administrativa 12. (FCC - Assistente Social (TJ SC)/2021) A violência doméstica
e Operacional/Assistente de Segurança/2020) A Assistente de Se- e familiar contra a mulher configura-se por qualquer ação ou omis-
gurança “X” fora preterida à promoção. Embora preenchesse todos são baseada no gênero que cause morte, lesão, sofrimento físico,
os requisitos e qualificações e possuísse maior tempo de serviço sexual, psicológico e dano moral ou patrimonial. Considere:
em relação aos demais (de seu cargo), o Assistente “Y” é quem foi I. Destruição parcial de bens.
contemplado com a ascensão funcional. Ao questionar o Chefe dos II. Chantagem.
Assistentes, o mesmo utilizou as seguintes palavras: “ Embora ca- III. Subtração de instrumentos de trabalho.
pacitada, sua etnia a prejudicou”. A Assistente “X” era negra. De IV. Controle de ações.
acordo com a Lei nº 7.716/1989, o Chefe dos Assistentes poderá V. Retenção de direitos.
incorrer em São expressões da violência patrimonial o que se afirma APE-
(A) infração administrativa e sua conduta deve ser apurada me- NAS em
diante Sindicância. (A) I e II.
(B) infração administrativa e sua conduta deve ser apurada me- (B) II e III.
diante Investigação Preliminar. (C) II e IV.
(C) crime, com pena de reclusão de 2 a 5 anos. (D) I, III e V.
(D) crime, com pena de detenção de 6 meses a 1 ano. (E) IV e V.
(E) crime de menor potencial ofensivo, cuja pena pode ser
substituída por prestação de serviços comunitários e/ou cesta 13. (FCC - Defensor Público do Estado de Goiás/2021) O crime
básica. de tortura
(A) possui eficácia preventiva escassa, por restringir a autoria a
10. (FCC - Auditor Fiscal (SEFAZ BA)/Administração, Finanças e agente público, e faz com que o Brasil descumpra suas obriga-
Controle Interno/2019) Considere: ções internacionalmente acordadas.
I. Jadson, empregado de determinada empresa privada, por (B) enseja o reconhecimento do concurso material de crimes,
motivo de discriminação de raça, teve impedida sua ascensão fun- se cometido mediante sequestro.
cional por seu chefe Flávio. (C) é inafiançável e insuscetível de aplicação de penas restriti-
II. Alisson exigiu, em anúncio de recrutamento de trabalhado- vas de direitos em substituição à pena privativa de liberdade.
res, aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego (D) é praticado pela autoridade competente que decretar a
cujas atividades não justifiquem essas exigências. condução coercitiva de investigado manifestamente descabida
De acordo com a Lei Federal nº 7.716/1989, que define os cri- ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo.
mes resultantes de preconceito de raça ou de cor, Flávio (E) pode ser praticado por omissão daquele que tem o dever de
(A) ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços apurar a conduta de quem submete pessoa presa a sofrimento
à comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto
racial, enquanto que Alisson incorrerá na pena de reclusão. em lei, e não o faz.
(B) incorrerá na pena de reclusão, enquanto que Alisson ficará
sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comu- 14. (FCC - Analista de Procuradoria (PGE BA)/Calculista/2013)
nidade, incluindo atividades de promoção da igualdade racial. Nas contravenções penais resultantes de preconceito de raça,
(C) incorrerá na pena de detenção, enquanto que Alisson ficará de cor, de sexo ou de estado civil, previstas na Lei Federal nº
sujeito às penas de multa ou de prestação de serviços à comu- 7.437/1985, são penas prevalentes:
nidade, incluindo atividades de promoção da igualdade racial. (A) Multa e prestação de serviços comunitários.
(D) incorrerá na pena de reclusão, enquanto que Alisson ficará (B) Prisão especial e simples.
sujeito à pena de detenção, não se sujeitando à prestação de (C) Prisão simples e multa.
serviços à comunidade. (D) Cesta básica e indenização à vítima.
(E) e Alisson incorrerão na pena de reclusão, ficando, ainda, (E) Fiança e prisão domiciliar.
sujeitos às penas de multa ou de prestação de serviços à comu-
nidade, incluindo atividades de promoção da igualdade racial. 15. (FCC - Defensor Público do Estado de Roraima/2021) A Con-
venção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação
11. (FCC - Analista Jurídico de Defensoria (DPE AM)/Ciências contra a Mulher estabelece normas gerais de proteção dos direitos
Jurídicas/2022) São formas de violência doméstica e familiar contra das mulheres, sendo, dentre outras, normas que
a mulher, segundo a Lei Maria da Penha, a violência (A) consagram, pioneiramente, os variados direitos sexuais e
(A) moral, entendida como qualquer conduta que ofenda sua reprodutivos da mulher e, de forma embrionária, o combate à
integridade ou saúde corporal. violência obstétrica.
(B) patrimonial, entendida como qualquer conduta que a cons- (B) vinculam os estados signatários na oferta de proteção eficaz
tranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual e diferenciada de toda mulher contra violência sofrida nos am-
não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso bientes doméstico e laboral.
da força. (C) superam a noção de discriminação centrada na diferença
(C) física, entendida como qualquer conduta que configure ca- sexual, de cunho biológico, por aquela fundada na ideia de gê-
lúnia, difamação ou injúria. nero, de natureza social.
(D) sexual, entendida como qualquer conduta que vise degra- (D) reconhecem o direito da mulher de escolher livremente o
dar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e deci- cônjuge e a obrigação dos estados signatários de estabelecer
sões, mediante qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à uma idade mínima para o casamento.
saúde psicológica e à autodeterminação. (E) preveem o estabelecimento de medidas especiais de cará-
(E) psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cau- ter permanente destinadas a acelerar a igualdade de fato entre
se dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe pre- o homem e a mulher.
judique e perturbe o pleno desenvolvimento.

402
IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
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GABARITO
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1 C ______________________________________________________
2 E
______________________________________________________
3 B
______________________________________________________
4 A
5 A ______________________________________________________
6 C ______________________________________________________
7 E
______________________________________________________
8 B
9 C ______________________________________________________
10 B ______________________________________________________
11 E
______________________________________________________
12 D
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13 E
14 C ______________________________________________________
15 D ______________________________________________________

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ANOTAÇÕES
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IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
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404
DIREITO PENAL MILITAR

A conduta inicial prevista pela lei é a de reunirem-se os milita-


DOS CRIMES CONTRA A AUTORIDADE OU DISCIPLINA res. Veja que, dada a generalidade da norma, até mesmo apenas
MILITAR: MOTIM, REVOLTA, CONSPIRAÇÃO, ALICIA- dois militares podem dar ensejo ao crime de motim, delito que é
ÇÃO PARA MOTIM OU REVOLTA. DA VIOLÊNCIA CON- categorizado, portanto, como plurisubjetivo (concurso necessário
TRA SUPERIOR OU MILITAR DE SERVIÇO. DESRESPEI- de agentes).
TO A SUPERIOR. RECUSA DE OBEDIÊNCIA. REUNIÃO Todavia, não é suficiente a simples reunião dos militares, é pre-
ILÍCITA. PUBLICAÇÃO OU CRÍTICA INDEVIDA. RESIS- ciso que o façam e:
TÊNCIA MEDIANTE AMEAÇA OU VIOLÊNCIA 1º) ajam contra ordem recebida de superior ou neguem-se a
seu cumprimento.
Motim e Revolta Há sutil diferença entre os dois comportamentos: no primeiro,
Motim e revolta estão são crimes previstos no mesmo artigo, os agentes operam em desfavor da ordem, ou seja, fazem o oposto
distinguindo-se basicamente pela elementar objetiva do uso de do que lhes foi devidamente ordenado ou criam obstáculos reais à
armas. sua execução, enquanto que no segundo caso eles optam por deixar
Motim e revolta são manifestações da revolta de militares con- de cumprir a tarefa que lhes foi atribuída pelo superior hierárquico.
tra autoridade hierarquicamente superior, caracterizando-se por 2º) recusem obediência a superior, quando estejam agindo
demonstrações inequívocas de desobediência e ocupação indevida sem ordem ou praticando violência.
de instalações e equipamentos militares. Os agentes estão praticando violência e recebem uma ordem
As sublevações não são comportamentos atribuídos exclusi- do superior (para cessarem o comportamento livre, p. ex.), refu-
vamente a militares, apenas o crime militar de motim exige esta tando-a.
pré-condição do agente, haja vista que é um crime militar próprio. 3º) assintam em recusa conjunta de obediência, ou em resis-
tência ou violência, em comum, contra superior.
Objetividade Jurídica. Da reunião de militares se tem como resultante a concordân-
É a autoridade e a disciplina militares. cia de recusa conjunta ou resistência ou, ainda, violência contra o
A disciplina militar é, conforme dispõe o art. 14, § 2º do Esta- superior. Portanto, se antes se punia a insurreição espontânea, nes-
tuto dos Militares , “a rigorosa observância e o acatamento integral ta oportunidade a lei prevê a conduta do compromisso mútuo, do
das leis, regulamentos, normas e disposições que fundamentam o acordo de vontades patrocinador da múltipla desobediência, inde-
organismo militar e coordenam seu funcionamento regular e har- pendente de ordem antecedente à conduta.
mônico, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por Importante ilustrar que se houver a utilização de arma, o crime
parte de todos e de cada um dos componentes deste organismo”. passa a ser o descrito no parágrafo único (revolta).
Já a autoridade militar indica o conjunto de prerrogativas, po- 4º) ocupem quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou estabeleci-
deres, deveres e direitos – dentre os quais o de ser respeitado e mento militar, ou dependência de qualquer deles, hangar, aeródro-
obedecido por seus subordinados - que a um militar é atribuído mo ou aeronave, navio ou viatura militar, ou utilizem qualquer des-
pela lei em face de sua posição hierárquica e do cargo que ocupa tes locais ou meios de transporte, para ação militar, ou prática de
dentro da organização da Força. A autoridade militar é ordenada violência, em desobediência a ordem superior ou em detrimento da
em diferentes níveis, ao que se dá o nome de hierarquia. ordem ou da disciplina militares.
Lembre-se: hierarquia e disciplina são os pilares constitucionais Finalmente, é previsto como crime a reunião de militares com
das Forças Armadas. a ocupação de organizações ou equipamentos militares ou com a
utilização destes meios para ação militar ou prática de violência.
Sujeitos. A conduta, todavia deve opor-se a ordens superiores ou ofender a
O sujeito ativo é o militar, sendo, portanto, crime militar pró- organização e a disciplina militar, sem o que não constituiria crime
prio. contra a autoridade ou a disciplina.
Note que a norma refere-se aos assemelhados, categoria de É preciso lembrar que os atos de violência praticados durante
servidores considerada próxima aos militares. Na atualidade, a o motim estão sujeitos a sanções autônomas, isto é, as penas pre-
Marinha, o Exército e a Aeronáutica possuem em seus quadros um vistas no art. 149 são aplicadas sem prejuízo das correspondentes
sem-número de servidores civis da União, todos submetidos aos di- à violência (art. 153).
tames da Lei 8.112/90, sem qualquer interferência dos estatutos e
regulamentos militares, que regem, disciplinam e ordenam exclusi- O elemento subjetivo é o dolo genérico de reunirem-se dois
vamente os contingentes armados, não havendo mais assemelha- ou mais militares para praticarem as condutas descritas nos incisos
dos. I a IV.
Sujeito passivo é a Força Armada a que pertence os amotina- Os agentes reunidos agem em oposição à ordem, recusam-se a
dos. obedecer, praticam violência etc.
Não há modalidade culposa no presente crime de motim.

Consumação e tentativa.

405
DIREITO PENAL MILITAR
A consumação ocorre quando os agentes, reunidos, praticam pertence, e que muitas vezes ingressou de forma voluntária, tendo
as condutas descritas nos incisos I a VI do art. 149. conhecimento que a vida militar possui regras que são diferentes
daquelas observadas na sociedade em geral.
Sanção penal. Aurélio Buarque de Holanda define violência como sendo, “a
A pena é de reclusão de 4 a 8 anos, devendo receber um acrés- qualidade de violento, o ato violento, o ato de violentar; no âmbito
cimo de 1/3 para aqueles que dirigem, provocam, instigam ou exci- jurídico, o constrangimento físico ou moral; o uso da força; coação.
tam a ação (art. 53, § 4º do CPM). O elemento subjetivo é o dolo, ou seja, a vontade livre e cons-
ciente de praticar a conduta que se encontra devidamente descrita
Revolta. no tipo penal sob comento.
A revolta é uma forma qualificada de motim, que recebeu do O tipo penal não admite a prática do ilícito de forma culposa,
legislador atenção especial. Distingue-se do crime previsto no caput ou seja, por meio de atos de imprudência, negligência ou mesmo
unicamente pelo fato dos militares amotinados utilizarem arma- imperícia.
mento. Não é preciso sequer a efetiva utilização das armas, basta A ação penal cabível na espécie é uma ação penal pública in-
que as tenham ao seu dispor. condicionada que ficará a cargo do Ministério Público Militar, quan-
Motim e revolta são crimes de ação pública incondicionada. do se tratar de interesse da União, Forças Armadas, e do Ministério
Estadual ou do Distrito Federal quando o agente for um militar per-
Conspiração. tencente a Polícia Militar ou ao Corpo de Bombeiros Militar. A pena
A conspiração ocorre quando os militares concertam entre si a prevista para o ilícito é a pena de detenção, de três meses a dois
realização de um motim. A pena para a conspiração é de até 5 anos. anos. Apesar da pena prevista ser uma pena que poderia ser consi-
Ilustre-se que na conspiração eles não precisam sequer chegar a se derada de menor potencial ofensivo, não é possível a aplicação dos
amotinarem: basta terem planejado fazer isso. Os crimes militares benefícios previstos na Lei Federal nº 9099/95. O crime de violên-
- como o motim, a revolta e a conspiração são julgados pela Justiça cia contra superior é um crime propriamente militar que ofende os
Militar. princípios de hierarquia e disciplina, e por isso não se recomenda a
aplicação dos benefícios que forma estabelecidas pela Lei dos Juiza-
Aliciação para motim ou revolta. dos Especiais Civis e Criminais.
Aliciação para motim ou revolta encontra-se disposto no artigo
154 do Código Penal Militar que dita que, aliciar militar ou asseme- Formas qualificadas
lhado para a prática de qualquer dos crimes previstos no capítulo § 1º Se o superior é comandante da unidade a que pertence o
anterior gera pena de reclusão, de dois a quatro anos. agente, ou oficial general:
Pena - reclusão, de três a nove anos.
Da violência contra superior ou militar de serviço
Violência contra superior O artigo conforme foi mencionado no caput protege a autori-
Art. 157. Praticar violência contra superior: dade militar, e em determinados casos a lei penal militar entendeu
Pena - detenção, de três meses a dois anos. que deveria agravar a pena do agente, estabelece uma sanção mais
severa para o infrator.
As Corporações Militares, Estaduais ou Federais, são regidas
por dois princípios fundamentais, a hierarquia e a disciplina, que § 2º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada
estão estabelecidos expressamente no art. 142, da Constituição de um terço.
Federal de 1988. A hierarquia se faz presente não apenas nas Ins-
tituições Militares brasileiras, mas também nas Instituições Milita- No caso da violência ser praticada pelo agente com o emprego
res existentes em outros países. Não existe Força Militar que não de arma, a pena também será agravada. Segundo estabelece o re-
seja regida pelos princípios de hierarquia e disciplina. Até mesmo ferido parágrafo, a pena do infrator será aumentada em um terço.
os chamados grupos paramilitares, que foram vedados pelo Esta- Se o crime tiver sido praticado contra oficial general, e o infra-
do democrático de Direito previsto no vigente texto constitucional tor for condenado a uma pena mínima, por exemplo, três anos de
são regidos por princípios de hierarquia e disciplina. Portanto, todo reclusão, o Juiz deverá aumentar a pena em um terço, o que levará
aquele que ingressa em uma força militarizada sabe que estará su- a um aumento de um ano, totalizando uma pena definitiva em qua-
jeito a obrigações, as quais muitas vezes são rígidas, mas necessá- tro anos de reclusão. O aumento determinado neste parágrafo não
rias para o cumprimento da missão que é destinada aos militares. é facultativo, mas obrigatório, e caso este não seja observado pelo
O sujeito ativo deste crime, que é um crime propriamente mi- Conselho de Justiça, Permanente ou Especial, o Ministério Público
litar, é o militar que possui grau hierárquico inferior em relação à deverá interpor recurso para que a norma penal seja respeitada.
vítima. O crime pode ser praticado tanto pelo militar federal como
pelo militar estadual. § 3º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da
O sujeito passivo do crime em comento é a Administração Mi- pena da violência, a do crime contra a pessoa.
litar, Estadual ou Federal, uma vez que sua autoridade acaba sendo
questionada pelo ato praticado pelo infrator. O sujeito passivo me- Se da violência praticada pelo agente resultar na vítima uma
diato é a pessoa que sofre a violência, no caso o militar que possui lesão corporal, o infrator responderá por um concurso de crimes,
grau hierárquico superior ao infrator. Em razão disto, a vítima deste ou seja, além da pena prevista para a violência, ficará sujeito ainda
crime poderá ser tanto uma praça como um oficial. a pena prevista para o crime de lesão corporal, art. 209, do Código
O elemento objetivo do tipo penal encontra-se representado Penal Militar.
pelo verbo praticar violência, ou seja, praticar um ato ilegal con-
tra o superior hierárquico, o que evidencia muitas vezes a falta de § 4º Se da violência resulta morte:
comprometido do infrator para com a Corporação Militar a qual Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

406
DIREITO PENAL MILITAR
Este parágrafo agrava a pena do agente em razão do resultado. Leciona Crysólito de Gusmão, que a insubordinação se define
Se em razão da violência resultar na morte da vítima, o infrator fica- como “ato pelo qual o militar quebra os laços de sujeição e obe-
rá sujeito a uma de reclusão de no mínimo doze e no máximo trinta diência hierárquica e disciplinar, [...] não obedecendo as ordens
anos de reclusão. A pena é bem mais severa em razão do bem tute- emanadas, por qualquer meio, de seus superiores” (Direito Penal
lado pela norma penal que é a autoridade do superior hierárquico. Militar, p. 64. apud, LOBÃO, 2006, p. 235.)
A lei não admite o que o superior sofra qualquer tipo de violência,
tampouco admite o evento morte. O objeto da tutela penal é o interesse relativo à subordinação,
ao respeito devido pelo inferior ao seu superior.
§ 5º A pena é aumentada da sexta parte, se o crime ocorre em Havendo excessos há excesso nos atos ou na forma de execu-
serviço. ção ou atos manifestamente criminosos, poderá o subordinado dei-
xar de cumprir a ordem destinada à prática de ato, caso contrário
Este parágrafo estabelece um outro aumento de pena no quan- responde penalmente juntamente como autor da ordem.
tum de um sexto quando a violência contra o superior é praticada
em serviço. O legislador entendeu que a conduta praticada em ser- Esta figura delitiva assume especial importância na discussão
viço não merece receber o mesmo tratamento que foi estabelecido sobre a obrigatoriedade de obediência do militar diante de uma or-
no caput do artigo. A disposição é correta e poderia ser até mais dem do superior hierárquico.
severa, pois a prática deste crime, por exemplo, na presença de Conquanto a matéria mereça detida análise, foge aos objetivos
outras pessoas demonstra não apenas um desrespeito para com o deste trabalho, sendo destacada, apenas, a necessidade da obedi-
superior, mas também o desrespeito para com as pessoas que são ência da ordem que não se configura em crime manifesto.
as destinatárias dos serviços prestados pelas forças militares, que
terão uma visão negativa daqueles que tem o compromisso de pro- Tal posição corrobora a maior responsabilidade daquele que
teger a nação e também a integridade e o patrimônio daqueles que emite a ordem, a qual deve ser obedecida, ainda que ilegal, respon-
vivem no território dos Estados da Federação e do Distrito Federal. dendo apenas o superior, caso a ordem não seja manifestamente
ilegal e o subordinado a cumpra nos limites da determinação.
Violência contra militar de serviço
Art. 158. Praticar violência contra oficial de dia, de serviço, ou Oposição à ordem de sentinela.
de quarto, ou contra sentinela, vigia ou plantão: Art.164 - Opor-se às ordens da sentinela:
Pena - reclusão, de três a oito anos. Pena - detenção, de seis meses a um ano, se o fato não consti-
Formas qualificadas tui crime mais grave.
§ 1º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa; Somente é aplicado
de um terço. se não puder ser aplicado o crime mais grave.
§ 2º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da
pena da violência, a do crime contra a pessoa. Reunião ilícita.
§ 3º Se da violência resulta morte: Dita a Lei: “promover a reunião de militares, ou nela tomar par-
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. te”.
Se há uma reunião de militares, somente militares podem dela
No presente crime, o sujeito ativo deste crime poderá ser mili- participar, e como o legislador igualou a conduta de promover com
tar ou civil. Trata-se de crime impropriamente militar. Frise-se que a de tomar parte, o delito somente pode ser atribuído a um militar.
neste crime há a ausência de dolo no resultado.
O sujeito passivo é a Força Armada.
Desrespeito a superior O objetivo final do comportamento é a reunião de militares
A legislação confere proteção à figura do superior hierárquico, para discutir ato de superior ou assunto atinente à disciplina militar.
especialmente no tocante ao respeito que deve ser dispensado à Portanto, nos moldes da lei, comete o crime quem patrocina, quem
sua figura. Note-se que não é à pessoa que se confere a proteção, fomenta, quem propõe ou mesmo quem participa do enlace. São
mas à figura que este representa dentro da organização militar. exemplos de conduta o envio de e-mails ou a realização de ligações
O objeto da tutela penal é a disciplina. A conduta incriminada telefônicas conclamando os colegas para reunirem-se, a oferta de
consiste em desrespeitar, o que significa faltar com consideração, local adequado etc.
com respeito, com acatamento, incompatíveis com a posição hie- Deve ser considerado elemento normativo do tipo que a dis-
rárquica de subordinado e superior, estabelecida pela estrutura cussão levada a efeito na reunião tenha por escopo desabonar ou
organizacional das Forças Armadas, da Polícia Militar e do Corpo firmar oposição à autoridade do superior e/ou à disciplina militar.
de Bombeiros Militares. Trata-se de conduta que, no meio social,
é considerada como falta de educação e no serviço público civil, Elemento subjetivo.
enseja punição disciplinar. É o dolo genérico de promover ou participar da reunião de mi-
litares, com o fim particular (dolo específico) de discutir ato de su-
No presente artigo ressalta-se a proteção à disciplina e à hierar- perior ou assunto atinente à disciplina militar, de forma a contrariar
quia, mormente pelo fato que a figura delitiva exigir, para sua con- os princípios da autoridade e disciplina.
figuração, que terceiro militar esteja presente, configurada, neste
momento, a ofensa à ordem da instituição militar. Consumação e tentativa.
Considerando que são duas as condutas previstas em lei, é pre-
Recusa de obediência ciso reconhecer momentos de consumação diversos.
O presente delito também é denominado como delito de insu- Na primeira hipótese o agente apenas promove a reunião
bordinação. de militares, portanto o crime aperfeiçoa-se no instante em que
o agente fomenta, dá impulso ao encontro, independente de sua
posterior participação.

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DIREITO PENAL MILITAR
Já na segunda conduta, a consumação ocorre quando o sujeito impedimento de obter emprego público, de abrir conta bancária,
efetivamente participa do enlace. de obter ou regularizar o CPF ou título de eleitor, impedimento de
Caso o agente, além de promover, também participe da reu- matricular-se em curso de nível superior entre outras penalidades.
nião, não há problema algum: este fato (de participar da reunião) Assim, aquele que comete a deserção por estar cumprindo o
pode ser considerado exaurimento de sua conduta. serviço militar inicial já se encontra à margem desse ritmo de vida
globalizado, deixando, portanto, de ser um cidadão em sua pleni-
Sanção penal. tude.
O preceito sanção estipula penas diferentes para o agente que
promove face os outros que participam da reunião Abandono de Posto
A pena é de detenção de 6 meses a 1 ano para o agente que Conforme dispõe o artigo 195 do Código Penal Militar, pratica
promove a reunião e de 2 a 6 meses para os que dela participam. crime o militar que “abandonar, sem ordem superior, o posto ou
Ação penal é pública incondicionada. lugar de serviço que lhe tenha sido designado, ou o serviço que lhe
cumpria, antes de terminá-lo: Pena – detenção, de três meses a um
Publicação ou crítica indevida. ano.”
Dispõe o Art. 166 que publicar o militar ou assemelhado, sem Dessa forma, aquele que não cumpre a ordem recebida e re-
licença, ato ou documento oficial, ou criticar publicamente ato de solve por conta própria abandonar o local para onde se encontra
seu superior ou assunto atinente à disciplina militar, ou a qualquer regularmente escalado ficará sujeito às consequências legais que
resolução do Governo: a pena é de detenção, de dois meses a um foram estabelecidas pelo legislador.
ano, se o fato não constitui crime mais grave. O crime em comento é crime próprio e seu sujeito ativo desse
Não há nenhuma dúvida de que o delito de publicação ou crí- crime, somente pode ser praticado por aquele que possui a condi-
tica indevida, contido no art. 166 do CPM, carece de constituciona- ção jurídica de militar federal, estadual ou mesmo do Distrito Fede-
lidade, sendo flagrantemente ilícita negar a liberdade de expressão ral, sendo apenas os militares das Forças Armadas ou os militares
e de informação a qualquer militar. Pior do que reprimir essa liber- das Forças Auxiliares. O sujeito passivo desse ilícito penal é o Estado
dade é reprimi-la com a ameaça da perda da própria liberdade de brasileiro, em especial, a Administração Pública das Forças Armadas
ir e vir. Não se quer apenas calar, mas também impedir o direito de e das Forças Auxiliares.
ir e vir daquele profissional que se sentiu prejudicado por ato de O elemento objetivo do tipo penal encontra-se representado
superior ou de governo. pelo verbo abandonar, sem ordem superior, o posto ou lugar de
serviço que lhe tenha sido designado, ou o serviço que lhe cumpria,
Resistência mediante ameaça ou violência. antes de terminá-lo.
A resistência mediante ameaça ou violência significa opor-se à
execução de ato legal, mediante ameaça ou violência ao executor, O elemento subjetivo é o dolo.
ou a quem esteja prestando auxílio: A ação penal cabível na espécie é uma ação penal pública in-
A pena do referido crime é concernente a detenção, de seis condicionada que ficará a cargo do Ministério Público Militar da
meses a dois anos. União, quando se tratar de integrantes das Forças Armadas e do Mi-
Forma qualificada - Se o ato não se executa em razão da resis- nistério Público dos Estados e do Distrito Federal quando se tratar
tência, aumentando assim a pena para reclusão de dois a quatro de integrantes da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar.
anos. A pena prevista para o presente crime é a de detenção de três
meses a um ano, o que permite a aplicação dos benefícios estabele-
DOS CRIMES CONTRA O SERVIÇO MILITAR E O DEVER MI- cidos na Lei Federal n. 9.099/95.
LITAR: DESERÇÃO, ABANDONO DE POSTO, DESCUMPRI-
MENTO DE MISSÃO, EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO, DORMIR Descumprimento de missão
EM SERVIÇO O cumprimento de ordens e das missões não é uma faculdade,
mas uma obrigação decorrente do dever militar e dos regulamentos
disciplinares.
Deserção A ausência injustificada nos dias em que o militar tenha sido
A deserção significa abandonar, ausentar-se, afastar-se de for- designado para a função específica de comando de patrulhas confi-
ma injusta da Unidade em que serve ou lugar em que deve perma- gura o crime de descumprimento de missão. De acordo com o art.
necer. 196 do CPM, é típica a conduta de “deixar o militar de desempenhar
O crime de deserção, previsto no art. 187 do Código Penal Mi- a missão que lhe foi confiada”.
litar, consuma-se pela ausência injustificada do militar, da unidade O presente crime encontra-se previsto no capítulo de crimes
onde serve, ou do lugar onde deveria permanecer, sendo-lhe comi- em serviço, e a missão, aqui, deve ser entendida como incumbên-
nada uma pena que varia de 6 meses a 2 anos de detenção. cia, tarefa designada ao militar.
A prática revela que existe uma diferença substancial nos moti- A missão confiada não deixa de ser serviço e, conforme enten-
vos que determinam a deserção dos policiais e bombeiros militares dimento doutrinário, trata-se de incumbência de maior relevância,
se comparados com aqueles predominantes nas Forças Armadas. de caráter intuitu personae e na qual o sujeito ativo deveria repre-
Nas Forças Armadas, a incidência maciça de desertores é origi- sentar seu superior hierárquico. Essa interpretação é condizente
nária daqueles que estão prestando o serviço militar inicial, que é com a ordem jurídica militar, norteada pela hierarquia e disciplina,
obrigatório a todos os brasileiros, nos termos do art. 143 da Consti- e que objetiva a proteção especial dos interesses do Estado e das
tuição Federal, sendo ínfima a quantidade de desertores que sejam instituições militares.
militares de carreira (voluntários), sejam oficiais ou praças.
A deserção tem efeitos civis danosos para aquele que a come- Embriaguez em serviço.
te, decorrente exatamente da ausência de documento compro- A embriaguez é o estado de quem se embriagou;
batório da regularidade da situação militar do brasileiro, ou seja,

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DIREITO PENAL MILITAR
Leciona o lustre doutrinador penalista Mirabete, que embria- II - deixa de se apresentar a autoridade competente, dentro do
guez é a intoxicação aguda e transitória causada pelo álcool ou prazo de oito dias, contados daquele em que termina ou é cassada
substância de efeitos análogos, que priva o sujeito da capacidade a licença ou agregação ou em que é declarado o estado de sítio ou
normal de entendimento. de guerra;
A embriaguez apresenta três fases: a) a da excitação; b) a da III - tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar, dentro do
depressão e c) a do sono. A embriaguez incompleta corresponde à prazo de oito dias;
primeira fase; a completa, às duas últimas. IV - consegue exclusão do serviço ativo ou situação de inativi-
Por outro lado, temos a conduta do “estar em serviço”, ou seja, dade, criando ou simulando incapacidade.
não há caracterização da conduta do crime de embriaguez se o mi- Art. 189. Nos crimes dos arts. 187 e 188, ns. I, II e III:
litar não está de serviço ou não se apresenta assim para iniciá-lo. Atenuante especial
Para a configuração de que o policial militar esteja em serviço, I - se o agente se apresenta voluntariamente dentro em oito
devem-se verificar aspectos como o seu regime de trabalho, as suas dias após a consumação do crime, a pena é diminuída de metade; e
escalas, os seus locais de atuação. de um terço, se de mais de oito dias e até sessenta;
Resta ainda a conduta da apresentação do militar para o ser-
viço, ou seja, é a situação em que o militar, sabedor de que en- Agravante especial
trará em serviço, venha a embriagar-se e, ao chegar no local em II - se a deserção ocorre em unidade estacionada em fronteira
que deve assumir as suas atividades, encontra-se embriagado. Para ou país estrangeiro, a pena é agravada de um terço.
tanto, como já ressaltado, destaca-se a necessidade do militar ter
plena consciência que entrará em serviço, seja ele ordinário ou ex- CAPÍTULO III
traordinário. DO ABANDONO DE POSTO E DE OUTROS
CRIMES EM SERVIÇO
Dormir em serviço.
“Constitui-se o dormir em serviço crime propriamente militar Abandono de posto
previsto no artigo 203 do Código Penal Militar (CPM) e com supedâ-
neo na classificação do artigo 9º, inciso I, daquele Código, estando Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o posto ou lugar de
mormente previsto também como transgressão disciplinar no Re- serviço que lhe tenha sido designado, ou o serviço que lhe cumpria,
gulamento Disciplinar da instituição militar. antes de terminá-lo:
Através de um estudo sistemático buscou-se demonstrar que o Pena - detenção, de três meses a um ano.
delito do sono somente se procede na modalidade dolosa, exigindo
do acusado uma vontade consciente de dormir durante o serviço de Descumprimento de missão
sentinela, vigia, ou qualquer serviço de natureza semelhante como
rádio-patrulhamento, colocando em situação de vulnerabilidade as Art. 196. Deixar o militar de desempenhar a missão que lhe foi
instalações e instituições militares. Outro ponto abordado foi a des- confiada:
classificação para infração disciplinar caso não seja reconhecido o Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não cons-
dolo na conduta do agente, haja vista a norma penal não prever a titui crime mais grave.
modalidade culposa. § 1º Se é oficial o agente, a pena é aumentada de um terço.
Dita a doutrina e a jurisprudência, que a ação incriminada é a § 2º Se o agente exercia função de comando, a pena é aumen-
de dormir em serviço, não importando se houve ou não resultado tada de metade.
naturalistico. O bem jurídico tutelado é a segurança das instituições Modalidade culposa
que possuem a nobre missão de garantir a ordem pública perante a § 3º Se a abstenção é culposa:
Constituição da República. Pena - detenção, de três meses a um ano.
Cumpre ilustrar que se o acusado praticar a conduta descrita
no tipo sob efeito de alguma patologia orgânica ou ser vencido pelo Embriaguez em serviço
sono sob efeito de algum medicamento, sendo devidamente com-
provado, deve ser totalmente isento de pena ou quaisquer punição Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou apre-
em âmbito disciplinar, por ausência do elemento subjetivo. sentar-se embriagado para prestá-lo:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Código Penal Militar:
Dormir em serviço
CAPÍTULO II
DA DESERÇÃO Art. 203. Dormir o militar, quando em serviço, como oficial de
quarto ou de ronda, ou em situação equivalente, ou, não sendo ofi-
Deserção cial, em serviço de sentinela, vigia, plantão às máquinas, ao leme,
de ronda ou em qualquer serviço de natureza semelhante:
Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que Pena - detenção, de três meses a um ano.
serve, ou do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena
é agravada.

Casos assimilados
Art. 188. Na mesma pena incorre o militar que:
I - não se apresenta no lugar designado, dentro de oito dias,
findo o prazo de trânsito ou férias;

409
DIREITO PENAL MILITAR
A prática do desacato é um ato que demonstra uma flagran-
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR: DESACA- te violação aos preceitos que regem a vida militar, e o legislador
TO A SUPERIOR, DESACATO A MILITAR, DESOBEDIÊNCIA, ciente da importância da preservação dos pilares das Instituições
PECULATO, PECULATO-FURTO, CONCUSSÃO. Militares, a hierarquia e a disciplina, entendeu que deveria punir
de forma mais severa do que aquela estabelecida no caput o militar
O Código Penal Militar a princípio não busca proteger a pessoa estadual, ou mesmo o militar federal, que venha a praticar o ato
do militar, mas sim a própria Administração Militar, as Instituições de desacato em desfavor de um oficial general ou comandante de
Militares, e também o patrimônio físico das instalações militares. unidade.
O conteúdo tratado no presente Capítulo diz respeito aos cri-
mes que são praticados contra a Administração Militar, devendo ser Desacato a superior.
entendido como sendo a Administração Pública Militar da União, O desacato a superior consiste na ofensa lançada contra a dig-
dos Estados Federados e do Distrito Federal, que se encontra repre- nidade, o decoro ou a autoridade do superior hierárquico.
sentada por seus agentes, em especial, por aqueles que exercem Trata-se de delito subsidiário, isto é, o agente só responderá
função de comando, ou se encontram no comando de uma fração, por ele quando sua conduta não se subsumir em tipo penal de
de um grupamento, de um destacamento, de um batalhão, região, maior gravidade.
ou qualquer outra unidade militar, órgãos operacionais, órgãos de Na sistemática atual, o legislador distinguiu o desacato prati-
apoio, ou mesmo os órgãos de saúde. cado contra superior daquele irrogado em desfavor de outros mi-
O crime de desacato a superior encontra-se elencado no artigo litares que não possuam tal qualidade em relação ao sujeito ativo
298 do Código Penal Militar. (art. 299).
É importante ilustrar que, este crime é um crime propriamente Existe uma tênue diferença entre dignidade e decoro. A dig-
militar, existindo unicamente no Código Penal Militar. nidade é empregada como indicativa das qualidades morais (ho-
Deste modo, o sujeito ativo deste crime é apenas e tão somen- nestidade, bravura, correção etc.). O decoro, por sua vez, refere-se
te o militar que se encontre subordinado a outro militar, que deverá ao valor social de um indivíduo (vigor físico, capacidade laborativa
ser superior em relação ao infrator com base nos critérios que re- etc.).
gem a hierarquia militar. A autoridade conferida ao militar decorre da lei e é, por conse-
Já o sujeito passivo deste ilícito imediata é a Administração guinte, irrenunciável e indisponível, sendo especialmente tutelada
Militar, União, Estados e Distrito Federal, e de forma mediata o su- pelo ordenamento jurídico, a começar pela Constituição Federal,
perior que foi desacatado por força do ato praticado pelo infrator. que em seu artigo 142 dispõe: “As Forças Armadas, constituídas
O elemento objetivo, ou seja, a ação necessária para a prática pela Marinha, Exército e Aeronáutica, são instituições permanentes
deste ilícito está representado pelo verbo desacatar, cuja significa- e regulares, organizadas com base na hierarquia e disciplina, sob a
do é, diminuir, desconsiderar, menosprezar, o superior hierárquico autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à
ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, que deve ser entendido defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por ini-
como sendo a moral do militar, ou ainda procurando deprimir-lhe ciativa de qualquer deles, da lei e da ordem”.
a autoridade, conforme dita o artigo 298 do Código Penal Militar. O
elemento subjetivo é o dolo, e não se admite a prática deste ilícito Objetividade jurídica.
penal na modalidade culposa. Para o fiel cumprimento de suas missões constitucionais as
A pena prevista se inicia com um ano de reclusão podendo che- Forças Armadas não podem relegar a segundo plano os princípios
gar até quatro anos de reclusão, desde que o fato praticado não basilares da hierarquia e da disciplina.
constitua crime mais grave, ou seja, uma tentativa de homicídio, ou Ademais, o militar, na qualidade de agente dos interesses pú-
mesmo um crime de lesão corporal de natureza grave. blicos, é um instrumento da soberana vontade de atuação do Esta-
No âmbito dos Estados e do Distrito Federal, a autoridade judi- do, o que faz com que a norma jurídica lhe resguarde, além da inco-
ciária competente para processar e julgar este ilícito continua sen- lumidade pessoal, o desempenho normal, a dignidade e o prestígio
do o Conselho de Justiça, Especial ou Permanente. No âmbito da das funções exercidas na Administração.
União, a autoridade competente também é o Conselho de Justiça, O bem jurídico tutelado pela norma em exame, portanto, é
Especial ou Permanente. Devido a sua natureza e por ser um crime a regular atividade administrativa militar, violada em face de uma
propriamente militar este tipo de ilícito é incompatível com a Lei conduta deprimente da hierarquia, que se faz representar pela or-
Federal 9099/95 e também com a Suspensão Condicional da Pena, denação da autoridade militar em níveis diferenciados, dentro da
Sursis, devido a flagrante quebra de hierarquia e disciplina. O militar estrutura das Forças Armadas.
condenado por este crime faz jus desde que a pena seja inferior a O sujeito ativo é o militar de condição hierárquica inferior
quatro anos ao regime aberto de cumprimento de pena. No âmbito àquele contra quem são lançadas as ofensas depressivas da função
da Segunda Auditoria Judiciária Militar do Estado de Minas Gerais, militar superior.
o militar condenado ao regime aberto deve dormir todos os dias no Sujeito passivo do delito é a Administração Militar, não admi-
Quartel responsável pelo cumprimento de sua execução, sob pena tindo a lei que os fundamentos institucionais das Forças Armadas
de revogação deste benefício, com a fixação do regime semiaberto sejam violados por meio de ofensas irrogadas por um militar contra
em atendimento as disposições estabelecidas na Lei de Execução seu superior.
Penal. O superior ofendido é sujeito passivo secundário do delito.
No âmbito da União não se aplica os preceitos estabelecidos na Ilustre-se que superior é o militar que ocupa posto ou graduação
Lei Federal 7.210/84, mas os dispositivos existentes no CPM, par- em nível mais elevado ou aquele que, em virtude da função, exerce
te geral, que cuidam da execução penal. Além disso, no âmbito da autoridade sobre outro de igual posto ou graduação.
União o Superior Tribunal Militar editou súmula impedindo a aplica- Conduta: Desacatar, que significa ofender, desprestigiar, causar
ção da Lei dos Juizados no âmbito da Justiça Militar da União, bus- vexame ou humilhação à dignidade, ao decoro ou à autoridade do
cando desta forma vincular a primeira instância quanto a matéria. superior hierárquico.

410
DIREITO PENAL MILITAR
Ensina Hungria que o desacato é “a grosseira falta de acata- O bem jurídico protegido pela norma é a normalidade da ges-
mento, podendo consistir em palavras injuriosas, difamatórias ou tão pública, a tranquilidade, o bom andamento, a incolumidade, a
caluniosas, vias de fato, agressão física, ameaças, gestos obscenos, probidade e o prestígio da Administração Militar.
etc.”. No direito penal comum controversa é a questão concernente
Não é preciso, contudo, que o superior sinta-se ofendido, bas- ao sujeito ativo do delito de desacato, até porque, no código penal
tando que insultuosa seja a conduta do subordinado. Por outro brasileiro a infração está prevista no capítulo “Dos crimes pratica-
lado, não constituirá delito quando os atos praticados não forem dos por particular contra a administração em geral”.
potencialmente atentatórios à Administração Militar. Não pode ser sujeito ativo do crime o militar subalterno àquele
Verifica-se o crime não só quando o superior se encontra no contra quem foram lançadas as ofensas, tendo em vista a figura es-
exercício de suas funções (in officio), senão também quando não o pecífica de desacato a superior.
está, sendo o desacato praticado propter officium. Não é necessário O sujeito ativo do crime de desacato a militar poderá ser um
que o delito seja praticado dentro do quartel ou em área sujeita à civil, funcionário público ou não, ou um militar, salvo quando este
Administração Castrense, pois, de acordo com o Estatuto dos Mili- for hierarquicamente subordinado ao militar ofendido.
tares, a disciplina e a hierarquia devem ser mantidas em todas as Há, todavia, possibilidade de que mesmo o militar subalterno
circunstâncias da vida, entre militares da ativa, da reserva ou re- seja sujeito ativo do crime. Trata-se da hipótese em que o agen-
formados. te desconhece a qualidade de superior do ultrajado ou quando a
Indispensável, porém, à caracterização do desacato é a presen- ofensa é praticada em repulsa a agressão, oportunidades em que o
ça do superior por ocasião da ofensa, circunstância que é pressu- superior despe-se, por mandamento expresso da lei, desta qualida-
posto do fato e condição necessária ao aperfeiçoamento do crime. de, operando-se a desclassificação do crime de desacato a superior
Portanto, não há desacato na ofensa realizada pela imprensa, por para desacato a militar.
petição, por meio de documento, por via telefônica, por parte ou Sujeito passivo do delito é a Administração Militar. Secundaria-
ofício etc. mente, também como sujeito passivo, aparece o militar ultrajado
Igualmente não existirá crime nas críticas generalizadas contra em sua honra profissional.
a Instituição Militar, pois para a consumação do delito é preciso que Importante ilustrar que entende-se por militar “qualquer pes-
a ofensa seja dirigida ao superior hierárquico. soa que, em tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às Forças
A publicidade do ultraje não constitui o tipo penal, que se in- Armadas, para nelas servir de posto, graduação, ou sujeição à dis-
tegraliza mesmo quando a ofensa seja irrogada sem a presença de ciplina militar”.
outras pessoas, além do superior atacado em sua dignidade, decoro Desacatar significa ofender, desprestigiar, menoscabar, causar
ou autoridade. vexame ou humilhação, desta feita, atingindo a dignidade, a res-
Consuma-se o delito no momento e local onde foram proferi- peitabilidade, o decoro, a decência, a honra e o pudor do militar no
das as palavras ultrajantes ou praticados os atos ofensivos, pouco exercício de suas funções ou em razão dela.
importando, como visto, que o superior sinta-se ofendido, pois o Também aqui não se faz necessário que o militar sinta-se real-
que está recebendo a especial tutela da lei penal é o prestígio do mente ofendido com o ultraje recebido, sendo mister, contudo, que
cargo militar. a conduta seja praticada em sua presença.
A tentativa é possível, salvo quando se tratar de crime unissub- Não constituem o delito a censura ponderada ou a crítica since-
sistente. ra. De acordo com o texto legal, a conduta pode ser realizada contra
O elemento subjetivo do desacato é o propósito de ofender a o militar no exercício da função de natureza militar ou em razão
dignidade e o decoro ou depreciar a autoridade do superior hierár- dela.
quico.
É importante que o agente saiba que está se dirigindo a um Consumação e tentativa.
superior, condição elementar do tipo. A ignorância ou o erro so- Delito formal, o desacato a militar consuma-se no momento e
bre essa circunstância exclui, na sistemática do Código Penal Militar no local em que foi praticado o ultraje.
(art. 36), a culpabilidade. A tentativa é admissível quando a conduta for cindível ou re-
É necessário que fiquem demonstradas a consciência e a von- parável. Podemos citar como exemplo, a hipótese do agente pre-
tade de desacatar. tender, durante uma formatura ou solenidade, atingir o decoro
do militar presente, com faixas portadoras de dizeres ultrajantes
Desacato a militar relacionados com o exercício da função militar, e é impedido pela
Dando continuidade à tutela da Administração Militar, resguar- segurança.
dando seu corpo funcional, prevê a lei o delito de desacato, que O elemento subjetivo do delito é a intenção consciente de
muito se aproxima dos crimes previstos nos artigos 298 e 300 (de- ofender, subestimar, depreciar o militar, sendo o ultraje destinado
sacato a superior e desacato a funcionário), tendo como caracterís- a desprestigiar a função de natureza militar, isto porque quando a
tica própria o fato de que o ultraje seja irrogado contra militar no ofensa reveste-se de cunho estritamente pessoal, não haverá, ob-
exercício de sua função ou em razão dela. viamente, crime contra a Administração Militar.
Trata-se de delito subsidiário, respondendo o agente pelo tipo Enalteça-se que não subsiste o desacato se não estiver presen-
em exame, a não ser que a conduta constitua crime mais grave. te a intenção de ofender ou desprestigiar a própria Administração
Regra geral, as observações aduzidas no item anterior são per- Militar.
tinentes ao presente estudo, enfatizando-se que no delito de desa- Portanto, é necessário que o agente saiba que está se dirigindo
cato a superior a condição de prevalência hierárquica é elementar a um militar, condição elementar do tipo. A ignorância ou o erro so-
do tipo, aspecto que o distingue do crime de desacato a militar, ilí- bre essa circunstância exclui, na sistemática do Código Penal Militar
cito sob enfoque. (art. 36), a culpabilidade.
De qualquer sorte, como firmado alhures, a autoridade confe-
rida ao militar decorre da lei, em essência irrenunciável e indisponí-
vel, sendo certo que qualquer conduta que a viole atinge, em verda-
de, o interesse social no regular funcionamento da Administração.

411
DIREITO PENAL MILITAR
Desobediência Não exige a lei a presença da autoridade militar que expediu a
A desobediência é a recusa consciente e pacífica de acatamen- ordem, bastando que reste comprovada a ciência do agente e sua
to à ordem emanada de autoridade militar. O agente limita-se a não desobediência.
agir de acordo com a determinação recebida, ferindo, destarte, a Se a recalcitrância à ordem se revestir de violência ou ameaça,
normalidade da gestão administrativa. o delito é o de resistência, consoante dispõe o artigo 177.
Diferencia-se da resistência e da recusa de obediência (insu- Consuma-se o delito no instante e no local da ação ou absten-
bordinação), uma vez que, na primeira há o emprego de ameaça ção indevidas. Nesta última hipótese, via de regra, a consumação do
ou violência ao executor da ordem e na segunda, insubordinação, crime é naturalmente condicionada ao decurso do prazo estipulado
a tutela da lei penal é diversa: a autoridade e a disciplina militares. pela autoridade para o cumprimento da ordem. Não havendo prazo
A objetividade jurídica do delito de desobediência é o prestígio marcado, considera-se um lapso temporal que seja juridicamente
e a dignidade da Administração Militar, cujas ordens emanadas por relevante, capaz de indicar com segurança a ocorrência da infração.
intermédio de seus agentes devem ser acatadas e cumpridas. Em sendo a conduta omissiva (delito omissivo próprio), não se
De se destacar que os atos da Administração gozam das pre- admite, de forma alguma, a tentativa: ou o agente praticou o ato no
sunções de legitimidade e veracidade, além do que são imperativos prazo, nada havendo a punir, ou, escoado aquele, estará consuma-
e auto-executórios. do o delito.
Sujeito ativo do crime é aquele que desobedece a ordem, po- O elemento subjetivo é o dolo (consciência e vontade) genérico
dendo ser um civil ou mesmo um militar. É possível a configuração de não atender a ordem legal, sabendo-a emanada da autoridade
da coautoria na desobediência. militar.
Podemos dizer portanto que desobediência é crime de relação Desta forma, não constitui crime de desobediência a conduta
de função, isto é, pressupõe uma subordinação hierárquica funcio- de marinheiro estrangeiro, desconhecedor da língua portuguesa,
nal entre o sujeito ativo e o passivo. Ora, como visto, qualquer indi- que, por falta de entendimento, desobedece a determinação verbal
víduo pode ser agente do delito, prescindido-se, por consequência, de integrante de patrulha naval.
de qualquer vínculo funcional com referência à autoridade expedi- O erro plenamente justificado quanto à qualidade do militar
dora da ordem. que dá a ordem, exclui a culpabilidade (art. 36). Porém, a simples
Sujeito passivo da incriminação é, em primeiro lugar, a Admi- dúvida a respeito, caracteriza o dolo eventual.
nistração Militar, titular da normalidade e regularidade da gestão Do mesmo modo, é necessário é que o agente tenha consciên-
pública e, em especial, do princípio da autoridade. cia de sua obrigação em cumprir a ordem dada. Se, eventualmente,
Em segundo lugar, aparece como ofendido a autoridade militar por erro escusável, o agente supõe lícito o fato, em face de errada
que expediu a ordem desprestigiada pelo agente. Autoridade militar compreensão da lei, a pena pode ser atenuada ou substituída por
são os integrantes das Forças Armadas no exercício de suas funções outra menos grave (art. 35).
próprias. Assim, desde o soldado e a sentinela até o General, todos
devem exercer, com autoridade, eficiência e probidade, as funções Peculato
que lhes couberem em decorrência dos cargos que ocupam. Deve-se ao direito romano o surgimento do crime de peculato.
A conduta diz respeito ao verbo desobedecer, que significa a É crime que consiste na subtração ou desvio, por abuso de confian-
desatender, não acatar, descumprir a ordem dada. ça, de dinheiro público ou de coisa móvel apreciável, para provei-
O delito pode ser praticado por ação ou por omissão, a depen- to próprio ou alheio, por funcionário público que os administra ou
der do conteúdo da determinação. guarda; abuso de confiança pública.
Assim, por exemplo, se a ordem impõe uma conduta positiva, Não obstante, em que pesem as semelhanças entre o peculato
como por exemplo, a apresentação de carteira de identificação mili- e a apropriação indébita, diferenças estruturais os distinguem, a sa-
tar, o crime se verifica com a abstenção do mandamento. ber: 1) qualidade do sujeito ativo; 2) título de posse; 3) pluralidade
Ao contrário, se a ordem é no sentido de que o agente deixe de condutas previstas no peculato3.
de agir, caracteriza o ilícito a conduta positiva ao revés da ordem. É certo, contudo, que constitui peculato a conduta do militar
Não há crime, porém, quando a ordem desobedecida não for ou funcionário civil que se apropria ou desvia, em proveito próprio
revestida de legalidade, quer do ponto de vista formal (falta de ou de terceiro, de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,
competência funcional da autoridade), quer do ponto de vista ma- público ou particular, de que tem a posse ou detenção em razão de
terial, como se dá, por exemplo, com a situação em que o motorista seu cargo ou comissão.
se recusa a cumprir a exigência da autoridade militar de que lhe
peça desculpas por ter violado uma regra de tráfego. Objetividade jurídica.
Não se deve, confundir ilegalidade do ato de ofício com a pos- No peculato convergem a violação do dever funcional e o dano
sível injustiça da ordem. Estando o ato regular em sua forma e en- patrimonial, que.
contrando respaldo em preceito legal, aperfeiçoam-se os requisitos Não obstante, inegável que a objetividade jurídica de maior re-
de sua idoneidade, concretizando as presunções características dos levo não é tanto a defesa do patrimônio público, senão o interesse
atos administrativos. da Administração Militar, genericamente considerado, no sentido
Por outro lado, o descumprimento deve recair sobre uma or- de zelar pela probidade e fidelidade do agente administrativo.
dem, inexistindo infração quando não é acatado um simples pedido O dano, mais do que material, é moral e político.
da autoridade militar. O peculato é crime próprio, sendo indispensável que o agente
É indispensável, para a configuração do crime, que a ordem detenha a condição de militar ou de funcionário civil da Administra-
seja transmitida diretamente ao desobediente, todavia, se a ordem ção Militar, tendo em vista que a apropriação ou desvio ocorre em
não for claramente repassada ao agente ou se este dela não tiver razão do cargo ou da comissão.
conhecimento perfeito, o delito não se aperfeiçoará. Não obstante, é admissível a imputação, em concurso de pes-
Importante, também, que a ordem seja individualizada e dirigi- soas, contra indivíduo estranho à Administração Militar, isto por-
da a pessoa que tenha o dever jurídico de obedecê-la. que, de acordo com a regra estabelecida pelo art. 53, § 1º, do CPM,

412
DIREITO PENAL MILITAR
as condições ou circunstâncias de caráter pessoal, quando elemen- Peculato-furto.
tares do crime, são comunicáveis. Porém, faz-se mister que o parti- Trata a lei no § 2º do artigo 303 do peculato-furto ou impróprio.
cular tenha ciência da condição do agente. Ao contrário do caput, o militar ou funcionário não detém a
Deve-se atentar para o fato de que o crime de peculato é contra posse do dinheiro, valor ou bem móvel, público ou particular, sendo
a Administração Militar e não contra o patrimônio. que a conduta criminosa, ao invés de consistir em uma apropriação
Portanto, mesmo quando o bem apropriado ou desviado per- ou desvio, consubstancia-se na subtração da coisa.
tencer a particular, o sujeito passivo principal é a Administração. Não obstante, é mister que o agente valha-se de sua condição
Todavia o particular também pode figurar como sujeito passivo do de militar ou funcionário para a configuração do delito. Se tal não
delito, ainda que secundariamente. ocorrer, como, por exemplo, na situação em que o militar, median-
No peculato próprio, isto é, na modalidade prevista no caput te escalada e arrombamento, invade a tesouraria da unidade em
do artigo 303, as condutas típicas constituem-se em apropriação que serve e subtrai grande quantidade de vales-transportes, estará
ou desvio. praticando o crime de furto qualificado e não o de peculato-furto.
Na primeira hipótese, o agente inverte o título de posse, pas- São duas as modalidades de conduta previstas na norma. Na
sando a dispor do dinheiro, valor ou bem, retendo, alienando, con- primeira, o funcionário pratica diretamente a subtração; na segun-
sumindo etc, agindo como se dono fosse do objeto material, aco- da espécie, o militar ou funcionário, com consciência e vontade,
modando-o aos seus desideratos, portando-se tal e qual o legítimo concorre para que outrem, subtraia o dinheiro, valor ou bem.
proprietário. Consuma-se o delito com a inversão de posse do objeto mate-
Merece destaque que a posse referida pela lei deve resultar do rial, sendo possível a tentativa.
cargo ou da comissão e compreende a possibilidade de dispor da Elemento subjetivo é o dolo de subtrair ou concorrer na sub-
coisa, fora da esfera de vigilância de outrem, em consequência da tração da coisa, aliado à intenção de proveito próprio ou alheio,
função jurídica desempenhada pelo agente no âmbito da Adminis- abrangendo, destarte, a consciência da facilidade que a condição
tração Militar. de funcionário ou militar proporciona ao agente.
Se a entrega da coisa ao agente tiver se dado de forma viciada,
fraudulenta ou através de erro ou violência, a posse será ilícita e, Concussão
portanto, não se aperfeiçoará o peculato próprio. A concussão é crime militar impróprio, no qual o sujeito ativo
A segunda modalidade de conduta consiste no desvio da coi- é funcionário público civil ou militar e sua essência reside no abu-
sa. Desviar é desencaminhar, alterar o destino ou a aplicação. “Ao so da função exercida. O sujeito passivo é a administração militar,
invés do destino certo e determinado do bem de que tem a posse, ofendida pela ação do agente, que exerce uma função pública, des-
o agente lhe dá outro, no interesse próprio ou de terceiro”8, como sa forma, existe uma preocupação com a moralidade das atividades
na hipótese do desvio de mercadorias do aprovisionamento da Uni- desempenhadas pelos policiais militares. Ação incriminada consiste
dade, praticado por militar auxiliar-de-rancho, em proveito de civis em exigir vantagem indevida, direta ou indiretamente, em razão da
comerciantes9. função pública. Exigir é reclamar, intimar, impor como obrigação,
O proveito próprio ou alheio de que trata a lei pode ser de assim, a ação do agente deve obrigatoriamente relacionar-se com o
ordem material ou moral, servindo até mesmo o desvio praticado exercício da função pública.
para fins de obtenção de prestígio pessoal ou político. O crime de concussão é uma espécie de extorsão praticada por
Objeto material do peculato é o dinheiro, valor ou qualquer ou- funcionário público, com abuso de autoridade contra o particular. É
tro bem móvel, público ou particular. um delito formal, pois consuma-se com a exigência da vantagem in-
Consuma-se o delito, na modalidade peculato-apropriação, devida, pouco importando se esta vem a ser devolvida ao particular
quando o militar ou funcionário inverte a titulação de posse, agindo posteriormente, portanto, não existe tentativa nesse crime.
como dono, sobre o dinheiro, valor ou bem que lhe foi entregue em
razão do cargo. Corrupção Ativa
No caso de peculato-desvio, verifica-se o crime quando o agen- A corrupção ativa ocorre quando alguém oferece alguma coi-
te dá às coisas destino ou aplicação diversa da destinação ou apli- sa (normalmente, mas não necessariamente, dinheiro ou um bem)
cação certa e determinada, não sendo necessário que haja efetivo para que um agente público faça ou deixe de fazer algo que não
proveito próprio ou alheio. deveria.
A tentativa é admissível. Podemos citar como exemplo, o motorista que, parado por
Elemento subjetivo: no peculato-apropriação, o elemento sub- excesso de velocidade, oferece uma “ajuda” ao policial. Atente-se
jetivo é o dolo genérico de apropriação do dinheiro, valor ou bem que, no presente caso, o criminoso é quem oferece a propina e não
móvel, com intenção de definitiva de não restituir a coisa (animus o agente público, que provavelmente irá prender o criminoso. Para
rem sibi habendi). que o crime esteja configurado, não importa que o agente aceite a
Tratando-se de peculato-desvio, além do dolo genérico de em- propina: o crime se consuma no momento em que o motorista ten-
pregar a coisa em fim diverso àquele a que era destinado, é exigível ta corromper o policial, ou seja, no momento em que ele ofereceu
a presença do dolo específico (elemento subjetivo do tipo) consis- a propina.
tente na intenção de auferimento de proveito próprio ou de tercei-
ro, excluído o animus rem sibi habendi. Corrução Passiva
O peculato pode concorrer com outros delitos, como ocorre A corrupção passiva ocorre quando o agente público pede uma
quando, por exemplo, o encarregado do paiol falsifica os mapas de propina ou qualquer outra coisa para fazer ou deixar de fazer algo.
controle de munição, lançando como consumido material que foi Por exemplo, o juiz que pede algo para julgar um processo mais
desviado em proveito de terceiro; na hipótese o peculato concorre rapidamente ou o senador que pede uma ajuda para a campanha
com a falsidade. em troca de seu voto. Independe se a outra parte dê o que é pedido
Peculato agravado. pelo corrupto: o corrupto comete o crime a partir do momento que
De acordo com o § 1º, a pena de peculato aumenta-se de um pede a coisa ou vantagem.
terço quando o objeto material sobre o qual recaiu a ação é de valor
superior a vinte vezes o salário mínimo.

413
DIREITO PENAL MILITAR
Falsificação de documento. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não cons-
Dispõe o artigo que “falsificar, no todo ou em parte, documen- titui crime mais grave.
to público ou particular, ou alterar documento verdadeiro, desde
que o fato atente contra a administração ou o serviço militar:” CAPÍTULO II
Pena - sendo documento público, reclusão, de dois a seis anos; DO PECULATO
sendo documento particular, reclusão, até cinco anos.
Agravação da pena Peculato
§ 1º A pena é agravada se o agente é oficial ou exerce função Art. 303. Apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer outro
em repartição militar. bem móvel, público ou particular, de que tem a posse ou detenção,
em razão do cargo ou comissão, ou desviá-lo em proveito próprio
Falsidade ideológica. ou alheio:
Dita o artigo 312 que omitir, em documento público ou parti- Pena - reclusão, de três a quinze anos.
cular, declaração que dele devia constar, ou mele inserir ou fazer § 1º A pena aumenta-se de um terço, se o objeto da apropria-
inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o ção ou desvio é de valor superior a vinte vezes o salário mínimo.
fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre
fato juridicamente relevante, desde que o fato atente contra a ad- Peculato-furto
ministração ou o serviço militar: § 2º Aplica-se a mesma pena a quem, embora não tendo a pos-
Pena - reclusão, até cinco anos, se o documento é público; re- se ou detenção do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou contribui
clusão, até três anos, se o documento é particular. para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se
da facilidade que lhe proporciona a qualidade de militar ou de fun-
Uso de documento falso cionário.
O artigo 315 dispõe que fazer uso de qualquer dos documentos
falsificados ou alterados por outrem, a que se referem os artigos Peculato culposo
anteriores: (...)
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
CAPÍTULO III
TÍTULO VII DA CONCUSSÃO, EXCESSO DE EXAÇÃO E DESVIO
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR
CAPÍTULO I Concussão
DO DESACATO E DA DESOBEDIÊNCIA Art. 305. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamen-
te, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão
Desacato a superior dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Art. 298. Desacatar superior, ofendendo-lhe a dignidade ou o
decoro, ou procurando deprimir-lhe a autoridade: Excesso de exação
Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui crime Art. 306. Exigir imposto, taxa ou emolumento que sabe inde-
mais grave. vido, ou, quando devido, empregar na cobrança meio vexatório ou
gravoso, que a lei não autoriza:
Agravação de pena Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. A pena é agravada, se o superior é oficial ge-
neral ou comandante da unidade a que pertence o agente. Desvio
Art. 307. Desviar, em proveito próprio ou de outrem, o que re-
Desacato a militar cebeu indevidamente, em razão do cargo ou função, para recolher
Art. 299. Desacatar militar no exercício de função de natureza aos cofres públicos:
militar ou em razão dela: Pena - reclusão, de dois a doze anos.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não cons-
titui outro crime. CAPÍTULO IV
DA CORRUPÇÃO
Desacato a assemelhado ou funcionário
Art. 300. Desacatar assemelhado ou funcionário civil no exer- Corrupção passiva
cício de função ou em razão dela, em lugar sujeito à administração Art. 308. Receber, para si ou para outrem, direta ou indireta-
militar: mente, ainda que fora da função, ou antes de assumi-la, mas em ra-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não cons- zão dela vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
titui outro crime. Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Desobediência Aumento de pena


Art. 301. Desobedecer a ordem legal de autoridade militar: § 1º A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da
Pena - detenção, até seis meses. vantagem ou promessa, o agente retarda ou deixa de praticar qual-
Ingresso clandestino quer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
Art. 302. Penetrar em fortaleza, quartel, estabelecimento mili-
tar, navio, aeronave, hangar ou em outro lugar sujeito à administra- Diminuição de pena
ção militar, por onde seja defeso ou não haja passagem regular, ou § 2º Se o agente pratica, deixa de praticar ou retarda o ato de
iludindo a vigilância da sentinela ou de vigia: ofício com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influ-
ência de outrem:

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DIREITO PENAL MILITAR
Pena - detenção, de três meses a um ano. Entendeu o legislador que não se deve admitir que um militar
Corrupção ativa no exercício de suas funções constitucionais e legais deixe de prati-
Art. 309. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou vantagem in- car um ato de ofício, ou seja, ou ato que se encontra estabelecido
devida para a prática, omissão ou retardamento de ato funcional: expressamente em lei.
Pena - reclusão, até oito anos. O sujeito ativo deste crime é o militar, federal ou estadual.
Aumento de pena O sujeito passivo deste ilícito penal é a Administração Pública
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, se, em ra- Militar.
zão da vantagem, dádiva ou promessa, é retardado ou omitido o O elemento objetivo do tipo penal encontra-se representado
ato, ou praticado com infração de dever funcional. pelos verbos retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de
(...) ofício, ou praticá-lo contra expressa disposição de lei, para satisfa-
CAPÍTULO V zer interesse ou sentimento pessoal.
DA FALSIDADE O elemento subjetivo é o dolo, não se admitindo a prática do
ilícito penal na modalidade culposa. A ação penal cabível na espé-
Falsificação de documento cie é uma ação penal pública incondicionada que ficará a cargo do
Art. 311. Falsificar, no todo ou em parte, documento público Ministério Público. A pena prevista para o ilícito penal em comento
ou particular, ou alterar documento verdadeiro, desde que o fato é uma pena de detenção de seis meses a dois anos, o que significa
atente contra a administração ou o serviço militar: que o militar condenado por este crime militar impróprio poderá
Pena - sendo documento público, reclusão, de dois a seis anos; ser beneficiado com o regime aberto, nos casos em que se admite
sendo documento particular, reclusão, até cinco anos. a aplicação da Lei de Execução Penal, o direito de recorrer em liber-
dade, e ainda a suspensão condicional do processo.
Agravação da pena
§ 1º A pena é agravada se o agente é oficial ou exerce função (...)
em repartição militar. CAPÍTULO VI
DOS CRIMES CONTRA O DEVER FUNCIONAL
Documento por equiparação
§ 2º Equipara-se a documento, para os efeitos penais, o disco Prevaricação
fonográfico ou a fita ou fio de aparelho eletromagnético a que se
incorpore declaração destinada à prova de fato juridicamente re- Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de
levante. ofício, ou praticá-lo contra expressa disposição de lei, para satisfa-
zer interesse ou sentimento pessoal:
Falsidade ideológica Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Art. 312. Omitir, em documento público ou particular, decla-
ração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir de- QUESTÕES
claração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato
juridicamente relevante, desde que o fato atente contra a adminis- 1.(FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público)
tração ou o serviço militar: O incidente de deslocamento de competência voltado à fede-
Pena - reclusão, até cinco anos, se o documento é público; re- ralização de crimes contra direitos humanos pode se iniciar a partir
clusão, até três anos, se o documento é particular. de ação direcionada ao Superior Tribunal de Justiça subscrita pelo
(A) Defensor Público-Geral Federal.
(...) (B) Governador do Estado.
(C) Procurador-Geral da República.
Uso de documento falso (D) Assembleia Legislativa do Estado.
(E) Procurador-Geral de Justiça.
Art. 315. Fazer uso de qualquer dos documentos falsificados
ou alterados por outrem, a que se referem os artigos anteriores: 2.(FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público)
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração. A definição de saúde prevista pela Organização Mundial de
Saúde, no preâmbulo de sua carta de constituição, envolve a busca
DOS CRIMES CONTRA O DEVER FUNCIONAL: PREVARICA- do mais elevado nível de saúde física e mental, a qual também está
ÇÃ inserida com o mesmo conceito no seguinte documento:
(A) Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Cul-
turais.
Prevaricação é um crime funcional, praticado por funcionário (B) Convenção Internacional sobre os Direitos das Crianças.
público contra a Administração Pública. A prevaricação é o ato de (C) Declaração Universal dos Direitos Humanos.
retardar, deixar de praticar ou praticar indevidamente ato de ofício, (D) Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com
ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer inte- Deficiência.
resse ou sentimento pessoal. (E) Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as For-
O crime de prevaricação, é o único ilícito previsto no Código mas de Discriminação contra a Mulher.
Penal Militar que tem numeração semelhante no Código Penal Bra-
sileiro. Deve-se observar ainda, que por força da lei federal ao artigo
319 foi acrescido o art. 319-A, que cuida dos atos praticados pelo
Diretor de Penitenciária ou por agentes públicos quanto a vedação
do uso de aparelho celular por detentos, e que tem a previsão de
uma pena de detenção de três meses a um ano.

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DIREITO PENAL MILITAR
3.(FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público) 8.(FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público)
A legislação brasileira que permite a internação não voluntária Considerando a condenação do Estado Brasileiro pela Corte
de pessoas com transtorno mental contraria entendimento estabe- Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) no caso Damião
lecido pelo(a) Ximenes vs Brasil, encontra-se ainda pendente de cumprimento a
(A) Comitê de Direitos Humanos. seguinte obrigação, segundo a própria Corte IDH:
(B) Comissão Interamericana de Direitos Humanos. (A) estabelecer programa de formação e capacitação para pes-
(C) Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. soal vinculado à atenção em saúde mental, em particular acer-
(D) Corte Interamericana de Direitos Humanos. ca dos princípios que devem reger o cuidado com as pessoas
(E) Comitê de Direitos das Pessoas com Deficiência. com transtornos mentais, de acordo com os parâmetros inter-
nacionais para a matéria.
4.(FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público) (B) publicar em prazo de seis meses, no diário oficial e em outro
Trata-se de órgão ou mecanismo não previsto expressamente jornal de ampla circulação nacional, o capítulo relativo aos fa-
na Carta das Nações Unidas ou em tratados e convenções interna- tos provados da sentença e aqueles relativos à parte dispositiva
cionais do sistema onusiano de proteção dos direitos humanos: da sentença, nos termos do parágrafo 249 da mesma.
(A) Subcomitê de Prevenção da Tortura. (C) pagar à irmã e à mãe indenização por dano moral e por
(B) Conselho de Direitos Humanos. dano imaterial nos termos e na quantidade fixada na sentença,
(C ) Comitê de Direitos Humanos. assim como os custos e gastos gerados no âmbito interno e no
(D) Relatorias Especiais de Direitos Humanos. processo internacional perante o sistema interamericano de
(E) Conselho Econômico-Social. proteção de direitos humanos.
(D) garantir, em um prazo razoável, que os processos internos
5.(FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público) criminal e civil tendentes a investigar e sancionar os responsá-
A definição e o conceito do crime contra a humanidade estão veis pelos fatos criminosos do caso surtam os devidos efeitos,
detalhadamente previstos nos termos da sentença.
(A) na Convenção contra a Tortura e outros tratamentos ou pe- (E) estabelecer uma legislação nacional protetora do direito
nas cruéis, desumanos ou degradantes. das pessoas com transtorno mental, que preveja a fiscalização
(B) na Convenção para a Prevenção e Punição ao Crime de Ge- e reforma da atenção psiquiátrica oferecida a todas as pessoas
nocídio. com transtorno mental no Estado-Parte.
(C) na Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados.
(D) no Estatuto de Roma sobre Tribunal Penal Internacional. 9.(FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público)
(E) na Convenção Internacional para a Prevenção dos Crimes O “racismo estrutural”, consoante Silvio Luiz de Almeida,
contra a Humanidade. (A) é produto de uma patologia social e de um desarranjo ins-
titucional, sendo um fenômeno incontornável, revelando-se
6.(FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público) inúteis as ações e políticas institucionais antirracistas.
O Primeiro e Segundo Protocolos Facultativos ao Pacto Interna- (B) é resultante da produção de padrões de comportamento e
cional de Direitos Civis e Políticos tratam, respectivamente, conduta de instituições hegemonizadas por determinados gru-
(A) da criação do Comitê de Direitos Humanos e do enfrenta- pos raciais que impõem seus interesses políticos e econômicos
mento e combate à tortura. ao restante da sociedade.
(B) de comunicações individuais ao Comitê de Direitos Huma- (C) decorre unicamente de indivíduos e grupos estruturalmen-
nos e da abolição da pena de morte. te racistas.
(C) do enfrentamento e combate à tortura e da abolição da (D) é uma decorrência da forma com que se constituem as re-
pena de morte. lações sociais, de modo que o direito faz parte da mesma es-
(D) da criação do Comitê de Direitos Humanos e de comunica- trutura social que o reproduz enquanto prática política e como
ções individuais ao Comitê de Direitos Humanos. ideologia.
(E) da abolição da pena de morte e da criação do Comitê de (E) é uma manifestação irracional do Estado moderno, que fun-
Direitos Humanos. ciona norteado pela impessoalidade e pela técnica, de maneira
que o direito é o melhor instrumento para combatê-lo, seja pu-
7.(FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público) nindo criminal e civilmente os racistas, seja estruturando políti-
A teoria do Choque de Civilizações ganhou grande repercussão cas públicas de promoção de igualdade.
após os atentados do 11 de Setembro de 2001. O principal autor e
defensor dessa teoria foi 10.(FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público)
(A) Herrera Flores. Por meio da Resolução nº 2.656/2011, a Assembleia Geral da
(B) Amartya Sen. Organização dos Estados Americanos aprovou uma série de orien-
(C) Samuel Huntington. tações sobre a efetivação do acesso à justiça,
(D) Francis Fukuyama. (A) criando a figura do “Defensor Público Interamericano”, com
(E) Thomas Moore. o papel de atuação suplementar nos Estados-membros que
não contem com a existência da Defensoria Pública.
(B) recomendando aos Estados-membros que já disponham
do serviço de assistência jurídica gratuita que adotem medi-
das que garantam que os Defensores Públicos oficiais gozem de
foro privilegiado e independência funcional.
(C) incentivando os Estados-membros que ainda não dispo-
nham da instituição da Defensoria Pública que considerem a
possibilidade de criá-la em seus ordenamentos jurídicos, em
conformidade ao modelo judicare.

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DIREITO PENAL MILITAR
(D) afirmando a importância fundamental do serviço de assis- IV. A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Po-
tência jurídica gratuita para a promoção e a proteção do direito vos Indígenas permite o desenvolvimento de atividades militares
ao acesso à justiça de todas as pessoas, em especial daquelas nas terras ou territórios dos povos indígenas, justificadas por um
que se encontram em situação especial de vulnerabilidade. interesse público pertinente, caso em que se dispensa a consulta
(E) incentivando os Estados e os órgãos do Sistema Interameri- por procedimentos específicos ou por instituições representativas.
cano a que promovam a celebração de convênios de prestação V. A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos
de assistência jurídica suplementar. Indígenas estabelece o direito das crianças indígenas a todas as for-
mas de educação do Estado até o ensino fundamental, garantida a
11.(FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público) educação em sua própria cultura e em seu próprio idioma.
De acordo com as Regras de Bangkok, as sanções disciplinares
de mulheres presas Está correto o que se afirma APENAS em
(A) são vedadas em todas as suas modalidades em caso de ges- (A) II e V.
tante. (B) I e II.
(B) devem durar a metade do tempo correspondente à sanção (C) III e IV.
masculina em caso de isolamento. (D) I e III.
(C) são vedadas se a unidade prisional não dispuser de toda a (E) III, IV e V.
infraestrutura adaptada ao gênero.
(D) só são válidas em caso de falta disciplinar de natureza gra- 14. (FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público)
ve, vedadas as de natureza média e leve. A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discri-
(E) não devem incluir proibição de contato com a família, espe- minação Racial estabelece que os Estados-partes condenem toda
cialmente com crianças. propaganda e todas as organizações que se inspirem em ideias ou
teorias baseadas na superioridade de uma raça ou de um grupo de
12.(FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público) pessoas de uma certa cor ou de uma certa origem ética ou que pre-
Se determinado direito for violado por ação imputável direta- tendem justificar ou encorajar qualquer forma de ódio e de discri-
mente a um Estado-Parte do Protocolo de San Salvador, essa situa- minação raciais, prevendo expressamente a adoção das seguintes
ção pode dar lugar à aplicação do sistema de petições individuais da medidas positivas expressamente destinadas a eliminar qualquer
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, mediante partici- incitação à discriminação:
pação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e, quando (A) estabelecer proteção e recursos efetivos perante os tribu-
cabível, da Corte Interamericana de Direitos Humanos, conforme nais nacionais e outros órgãos do Estado competentes, contra
previsão expressa do Protocolo adicional à Convenção Americana quaisquer atos de discriminação racial.
sobre Direitos Humanos em matéria de direitos econômicos, sociais (B) declarar delitos puníveis por lei qualquer difusão de ideias
e culturais. Trata-se do Direito à baseadas na superioridade ou ódio raciais e qualquer incita-
(A) alimentação. mento à discriminação racial.
(B) educação. (C) condenar a segregação racial e o apartheid e comprome-
(C) previdência social. ter-se a proibir e a eliminar, nos territórios sob sua jurisdição,
(D) saúde. todas as práticas dessa natureza.
(E) greve. (D) assegurar medidas especiais como convier ao desenvolvi-
mento ou à proteção de certos grupos raciais ou de indivíduos
13.(FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público) pertencentes a esses grupos contra quaisquer atos de discrimi-
Acerca da Convenção Interamericana sobre a Eliminação de To- nação racial.
das as Formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de De- (E) assegurar progresso adequado de certos grupos raciais ou
ficiência e da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos étnicos ou de indivíduos que necessitem da proteção que pos-
Povos Indígenas, considere: sa ser necessária contra quaisquer atos de segregação racial.
I. Para alcançar os objetivos da Convenção Interamericana so-
bre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Pes- 15.(FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público)
soas Portadoras de Deficiência, os Estados Partes comprometem-se A Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as For-
a trabalhar prioritariamente na prevenção de todas as formas de mas de Discriminação contra a Mulher, de 1979, estabelece expres-
deficiência preveníveis. samente que os Estados-Partes
II. A Convenção Interamericana sobre a Eliminação de Todas as (A) tomarão todas as medidas apropriadas para garantir, à mu-
Formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência lher, em igualdade de condições com o homem e sem discrimi-
estabelece que os Estados reconhecem que mulheres e meninas nação alguma, a oportunidade de representar seu governo no
com deficiência estão sujeitas a múltiplas formas de discriminação plano internacional e de participar no trabalho das organiza-
e, assim, tomarão medidas para assegurar-lhes o pleno e igual exer- ções internacionais.
cício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais. (B) assegurarão condições de educação para as mulheres, ga-
III. A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Po- rantindo acesso aos currículos adaptados e pessoal docente de
vos Indígenas garante o direito de os povos indígenas manterem e nível adequado, bem como instalações, material escolar, bolsas
desenvolverem seus sistemas ou instituições políticas, econômicas de estudos e subvenções estudantis, adaptados ao nível e à di-
e sociais, e que lhes seja assegurado o desfrute de seus próprios ferença de conhecimento existentes.
meios de subsistência e desenvolvimento e de dedicar-se livremen- (C) tomarão as medidas adequadas para fomentar o debate
te a todas as suas atividades econômicas, tradicionais e de outro sobre o conceito dos papéis masculino e feminino em todos
tipo. os níveis de ensino mediante o estímulo à educação que con-
tribua para alcançar esse objetivo e, em particular, mediante a
modificação dos livros e programas escolares e adaptação dos
métodos de ensino.

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DIREITO PENAL MILITAR
(D) assegurarão condições de participação diferenciada para (B) preveem o estabelecimento de medidas especiais de cará-
mulheres nas atividades de educação física e em esportes, me- ter permanente destinadas a acelerar a igualdade de fato entre
diante reserva de vagas especialmente destinadas para compe- o homem e a mulher.
tições de âmbito internacional, efetivando o direito a participar (C) consagram, pioneiramente, os variados direitos sexuais e
em atividades de recreação, esportes e em todos os aspectos reprodutivos da mulher e, de forma embrionária, o combate à
da vida cultural. violência obstétrica.
(E) levarão em consideração os problemas específicos enfren- (D) vinculam os estados signatários na oferta de proteção eficaz
tados pela mulher migrante e o importante papel que desem- e diferenciada de toda mulher contra violência sofrida nos am-
penha na subsistência econômica de sua família, incluído seu bientes doméstico e laboral.
trabalho em setores não monetários da economia, e tomarão (E) superam a noção de discriminação centrada na diferença
todas as medidas apropriadas para assegurar a aplicação dos sexual, de cunho biológico, por aquela fundada na ideia de gê-
dispositivos desta Convenção. nero, de natureza social.

16.(FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público) 20.(FCC - 2021 - DPE-RR - Defensor Público)
A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar Joaquín Herrera Flores concebe os direitos humanos como uma
a Violência contra a Mulher, de 1994, estabelece que toda mulher convenção cultural que utilizamos para introduzir uma tensão entre
tem direito ao reconhecimento, desfrute, exercício e proteção de os direitos reconhecidos e as práticas sociais que buscam tanto seu
todos os direitos humanos e liberdades consagrados em todos os reconhecimento positivado, como outra forma de reconhecimento
instrumentos regionais e internacionais relativos aos direitos huma- ou procedimento que garanta algo que é, ao mesmo tempo, exte-
nos, prevendo expressamente o direito rior e interior a tais normas. O conceito apresentado e seu autor
(A) a recesso pelo tempo que julgar necessário perante tribunal estão relacionados a uma das vertentes da
competente que a proteja contra atos que violem seus direitos. (A) hermenêutica diatópica dos direitos humanos.
(B) a não ser submetida a tortura e a não ser submetida a pena (B) corrente evolutivo-histórica dos direitos humanos.
de morte. (C) fundamentação juspositivista dos direitos humanos.
(C) a que se respeite sua integridade física, mental e moral e à (D) teoria crítica dos direitos humanos.
interrupção da gravidez. (E) concepção juscontratualista moderna dos direitos huma-
(D) à liberdade de professar a própria religião e à liberdade se- nos.
xual, de acordo com a lei.
(E) à liberdade e à segurança pessoais e a não ser submetida GABARITO
a tortura.

17.(FCC - 2021 - DPE-RR - Defensor Público)


O Tribunal Penal Internacional 1 C
(A) não sancionará estados ou empresas, limitando sua juris- 2 A
dição a indivíduos e grupos por eles organizados para prática
3 E
sistemática de crimes.
(B) contará com instalações próprias destinadas ao cumpri- 4 D
mento das penas privativas de liberdade que aplicar. 5 D
(C) foi criado pela Convenção de Haia e tem atuação suplemen-
tar em relação às jurisdições penais nacionais. 6 B
(D) não integra o sistema da Organização das Nações Unidas e 7 C
tem como competência julgar crimes de guerra.
8 A
(E) poderá autorizar, em casos excepcionais, a intervenção em
conflitos armados para cessar a prática de genocídio. 9 D
10 D
18.(FCC - 2021 - DPE-RR - Defensor Público)
A Corte Interamericana de Direitos Humanos dispôs que o 11 E
Estado brasileiro deve adotar, em um prazo razoável, as medidas 12 B
necessárias para tipificar o delito de desaparecimento forçado de
pessoas em conformidade com os parâmetros interamericanos. Tal 13 D
determinação se deu ao julgar o caso 14 B
(A) Ximenes Lopes.
15 A
(B) Nogueira de Carvalho e outros.
(C) Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde. 16 E
(D) Cosme Rosa Genoveva e outros. 17 D
(E) Gomes Lund e outros.
18 E
19.(FCC - 2021 - DPE-RR - Defensor Público) 19 A
A Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discri-
minação contra a Mulher estabelece normas gerais de proteção dos 20 D
direitos das mulheres, sendo, dentre outras, normas que
(A) reconhecem o direito da mulher de escolher livremente o
cônjuge e a obrigação dos estados signatários de estabelecer
uma idade mínima para o casamento.

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