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Apostila

FEMAR - MARICÁ
Fundação Estatal de Saúde de Maricá
Rio de Janeiro

Enfermeiro

Conteúdo Língua Portuguesa


+ Legislação do SUS
Questões Conhecimentos Específicos

Apostila elaborada conforme


edital 01/2023 Personalizada
versão 01 - 06/11/2023 e Humanizada
Personalizada e Humanizada

tutor
tut oria_ead
or ia_ead
34 9897-5262

Apresentação

Fazer parte do serviço público é o objetivo de muitas pessoas.


Nesse sentido, esta apostila reúne os conteúdos cobrado no edital de abertura do concurso.
A Tutoria tem o cuidado de selecionar as informações do conteúdo programático das
disciplinas abordadas. Toda essa disposição de assuntos foi pensada para auxiliar em uma
melhor compreensão e fixação do conteúdo de forma clara e eficaz.
A apostila que você tem em mãos é resultado da experiência e da competência da Tutoria,
que conta com especialistas em cada uma das disciplinas.
Ressaltamos a importância de fazer uma preparação focada e organizada para obter o
desempenho desejado. A apostila da Tutoria será o diferencial para o seu sucesso e na
realização do seu sonho.

Importante
O conteúdo desta apostila tem por objetivo atender às exigências do edital. Assim, recomendamos ampliar seus
conhecimentos em livros, sites, jornais, revistas, entre outros meios, para sua melhor preparação.
Atualizações legislativas poderão ser encontradas nos sites governamentais.
A presente apostila não está vinculada à instituição pública e à empresa organizadora do concurso público a que
se destina, a sua aquisição não inclui a inscrição do candidato no concurso público e também não garante a sua
aprovação no concurso público.

Proteção de direitos
Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos pela Lei nº 9.610/98. É proibida a reprodução
de qualquer parte deste material didático, sem autorização prévia expressa por escrito pela Tutoria.
Como montar um cronograma
de estudos para concurso
Todo estudante sabe que o sucesso começa bem antes da prova e, sendo assim, é preciso ter um cronogra-
ma de estudos para ajudar a manter o foco, organização e rendimento. Confira as dicas.
Prestar um concurso exige muita dedicação, foco e tempo de estudos. Para conseguir ser bem-sucedido na caminha-
da, é preciso criar um cronograma de estudos para concurso eficaz que se encaixe na sua rotina e nos compromissos
que você tem.
Montar um plano vai te ajudar a se concentrar melhor nos seus afazeres e pode te deixar motivado para cumprir seu
objetivo de passar num concurso público.

Entender a rotina
O primeiro passo para montar um cronograma de estudos para concurso é compreender a sua rotina. É preciso
entender como você gasta as horas dos seus dias, quais atividades tomam mais tempo, quais são indispensáveis e
quando você realiza cada uma. Então, é hora do papel e caneta: anote!
Escreva detalhadamente o que você faz em cada dia da semana:
• Quando acorda;
• Horário de trabalho;
• Seus intervalos;
• Todas as refeições.

Definir horas de estudo


Agora que você já consegue ver sua rotina detalhada, calcule quantas horas você tem de sobra em cada dia.
Vale também calcular o tempo que pode ser retirado de atividades não tão importantes. Por exemplo, 15 minutos da
hora do almoço para estudar, mesmo que pareça pouco tempo, pode ser aproveitado com a técnica correta.
Outra dica é utilizar algum tempo à noite, talvez após o jantar para estudar mais. Mas faça isso apenas se você achar
que é possível! Dormir bem é imprescindível para manter o cérebro aguçado.
Existe uma técnica que consiste em focar 25 minutos seguidos em uma única atividade e tirar um intervalo de 5 a 15
minutos até a próxima tarefa. Se você conseguir deixar isso definido, seu cronograma de estudos para concurso ficará
ainda melhor. No entanto, é necessário lembrar que eventualmente acontecerão imprevistos e seus horários precisa-
rão ser reorganizados.

Definir o que estudar


Você já definiu os horários que terá para estudar, mas o que exatamente você pretende estudar? Para definir isso, é
preciso saber qual concurso você quer prestar. Coloque o nome da seleção como título da planilha.
Existem alguns fatores que precisam ser analisados na hora de priorizar disciplinas:
• Disciplinas que tem maior peso;
• Matérias que você tem mais dificuldade;
• Assuntos que você tem menos conhecimento;
• Recorrência dos temas.
Montar o cronograma de estudos para concurso
Com as disciplinas listadas por nível de prioridade e sabendo quanto tempo terá para estudar, você já pode montar
seu plano diário. Para isso, use um planner ou crie uma planilha no computador. Se o concurso já está marcado,
veja quanto tempo você tem até a data das provas. Novamente: você vai dividir cada disciplina, dessa vez com hora
marcada:
• Começo dos estudos;
• Intervalos;
• Hora de revisar;
• Fechar os cadernos.

Ter comprometimento e regularidade


Independentemente de como foi montado seu cronograma de estudos, é necessário ter comprometimento e regulari-
dade. Estudar todos os dias e intercalar as disciplinas sempre relembrando o que já foi estudado fazem parte de uma
metodologia eficaz. São pontos importantes:
• Não ficar muito tempo sem estudar determinada disciplina;
• Colocar mais tempo às disciplinas que tem mais dificuldade;
• Priorizar também as matérias de maior peso ou que se repetem nas provas;
• Revisar conteúdo de outro dia para não cair no esquecimento.

Conhecer técnicas de estudo


Existem algumas técnicas que você pode adotar no seu cronograma de estudo para aproveitar melhor o seu tempo,
como a criação de resumos e mapas mentais. Na primeira, você anota os pontos importantes que você compreendeu
sobre o assunto. A segunda técnica é quase como um resumo, mas ela é ainda mais simplificada: selecione a ideia
principal/geral e, a partir dela, puxe ramificações para assuntos mais específicos. Você pode também:
• Fazer marcações em textos: isso ajuda nos resumos e mapas mentais, bem como na revisão;
• Intercalar os estudos: num período de quatro horas, você estuda 45 minutos acerca de uma disciplina. Então, faz um
intervalo de 15 minutos e depois estuda mais 45 minutos de outra disciplina;
• Responder questões de provas anteriores e simulados: coloque seus conhecimentos em prática e veja o quanto você
consegue acertar.
Na questão de distribuição de tempo, uma técnica bacana é a de ciclo. Ela funciona da seguinte maneira: vamos
supor que você tenha 20 horas semanais disponíveis para estudar. Distribua este tempo de acordo com a prioridade
das disciplinas e siga seu cronograma normalmente. Caso algum imprevisto aconteça, como precisar ir ao médico, e
isso atrapalhar seu momento de estudo, na próxima oportunidade que tiver para estudar siga de onde você parou.
Não fique fixo ao sistema de escola: hoje é português, amanhã é matemática e toda sexta é Direito Administrativo.
Esse formato pode prejudicar seus estudos, porque se você simplesmente deixar de estudar uma disciplina na sema-
na, na próxima vez ficará atrasado. Já na técnica de ciclo, você pode se recuperar o conteúdo e flexibilizar o cronogra-
ma de estudos para concursos públicos.
Com o tempo, você vai ganhar confiança e internalizará os conteúdos mais rápido. Sendo assim, poderá acrescentar
outras disciplinas complementares ao seu calendário de estudos, bem como fazer outros ajustes possíveis e neces-
sários.

Cuidar com o físico e o psicológico


Estudar para concurso em pouco tempo pode ser um pouco complicado e talvez você até pense em usar seu tempo
de lazer para se focar. Bom, você pode até diminuir esse tempo e utilizar um pouco dele para estudar, mas não redu-
za seus momentos de prazer a zero. Seu corpo e seu cérebro precisam de descanso para conseguir assimilar tudo
que você estudou.
Você também pode assistir a um filme, ver uma série, ligar para um amigo, testar uma receita nova. Qualquer coisa
que te dê prazer e relaxe a mente.
Cronograma de estudos

Horário Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo


1. Noções de Lógica; Proposições lógicas simples e compostas; Conectivos Lógicos .................................................................... 45
2. Diagramas Lógicos: conjuntos e elementos .............................................................................................................................. 49
3. Lógica da argumentação ........................................................................................................................................................... 50
Contéudo
4. Tipos de Raciocínio .................................................................................................................................................................... 51
5. Elementos de teoria dos conjuntos, análise combinatória eSUMÁRIO
probabilidade .............................................................................. 51
6. Resolução de problemas com frações, conjuntos, porcentagens e sequências com números, figuras, palavras ...................... 56
Língua Portuguesa
1. Legislação - EBSERH
Compreensão e interpretação de textos. .................................................................................................................................. 7
2. Tipologia textual e gêneros textuais. ........................................................................................................................................ 10
1.
3. Lei Federaloficial.
Ortografia nº 12.550, de 15 de dezembro de 2011 ..................................................................................................................
...................................................................................................................................................................... 61
16
2.
4. Decreto nº 7.661,
Acentuação de....................................................................................................................................................................
gráfica. 28 de dezembro de 2011 ......................................................................................................................... 63
18
3.
5. Regimento Interno da
Classes de palavras. Ebserh (Aprovado na 155ª Reunião Extraordinária do Conselho de Administração, realizada no dia
................................................................................................................................................................... 19
28 de março de 2023) ................................................................................................................................................................ 67
6. Uso do sinal indicativo de crase. ............................................................................................................................................... 27
4. Código de Ética e Conduta da Ebserh - Princípios Éticos e Compromissos de Conduta – Segunda Edição (2020) ................... 88
7. Sintaxe da oração e do período. ................................................................................................................................................ 28
5. estatuto Social da Ebserh (Aprovado na Assembleia Geral Extraordinária realizada no dia 24 de maio de 2023) .................... 91
8. Pontuação. ................................................................................................................................................................................. 30
6. Regulamento de Pessoal da Ebserh ........................................................................................................................................... 104
9. Concordância nominal e verbal. ................................................................................................................................................ 32
7. Norma Operacional de Controle Disciplinar da Ebserh (atualizado em 17/01/2023, art. 1º ao art. 6º; art. 28 ao art. 45) ....... 111
10. Regência nominal e verbal. ........................................................................................................................................................ 34
8. Regulamento de Licitações e Contratos da Ebserh 2.0 .............................................................................................................. 114
11. Significação das palavras............................................................................................................................................................ 36
9. Lei 13.303/2016 (Estatuto jurídico da empresa pública) ........................................................................................................... 153

Raciocínio Lógico
Legislação - SUS
1. Noções de Lógica; Proposições lógicas simples e compostas; Conectivos Lógicos .................................................................... 45
1. Evolução histórica da organização do sistema de saúde no Brasil e a construção do Sistema Único de Saúde (SUS)– princípios,
2. Diagramas Lógicos: conjuntos e elementos .............................................................................................................................. 49
diretrizes e arcabouço legal ....................................................................................................................................................... 175
3. Lógica da argumentação ........................................................................................................................................................... 50
2. Controle social no SUS ...............................................................................................................................................................
SUMÁRIO 182
4. Tipos de Raciocínio .................................................................................................................................................................... 51
3. Resolução 453/2012 do Conselho Nacional da Saúde ............................................................................................................... 185
5. Elementos de teoria dos conjuntos, análise combinatória e probabilidade .............................................................................. 51
4. Constituição Federal 1988, Título VIII - artigos de 194 a 200..................................................................................................... 187
6. Lei
5. Resolução
Orgânicadeda
problemas
Saúde - Lei comn ºfrações,
8.080/1990 conjuntos, porcentagens e sequências com números, figuras, palavras ......................
............................................................................................................................... 56
190
6. Lei nº 8.142/1990 ...................................................................................................................................................................... 200
7. Decreto Presidencial nº 7.508, de 28 de junho de 2011............................................................................................................ 201
8.
Legislação - EBSERH
Determinantes sociais da saúde ................................................................................................................................................ 204
9.
1. Sistemas
Lei Federal denºinformação
12.550, deem 15 saúde ............................................................................................................................................
de dezembro de 2011 .................................................................................................................. 205
61
10. RDC nº 63, de 25 de novembro de 2011 que dispõe sobre os Requisitos de Boas Práticas de Funcionamento para os Servi-
2. Decreto nº 7.661, de 28 de dezembro de 2011 ......................................................................................................................... 63
ços de Saúde .............................................................................................................................................................................. 210
3. Regimento Interno da Ebserh (Aprovado na 155ª Reunião Extraordinária do Conselho de Administração, realizada no dia
11. Resolução CNS nº 553, de 9 de agosto de 2017, que dispõe sobre a carta dos direitos e deveres da pessoa usuária da saú-
28 de março de 2023) ................................................................................................................................................................ 67
de. .............................................................................................................................................................................................. 214
4. Código de Ética e Conduta da Ebserh - Princípios Éticos e Compromissos de Conduta – Segunda Edição (2020) ................... 88
12. RDC nº 36, de 25 de julho de 2013 que institui ações para a segurança do paciente em serviços de saúde e dá outras provi-
5. dências
estatuto.......................................................................................................................................................................................
Social da Ebserh (Aprovado na Assembleia Geral Extraordinária realizada no dia 24 de maio de 2023) .................... 91
218
6. Política
13. Regulamento de Pessoal
Nacional da Ebserh
de Atenção ...........................................................................................................................................
Hospitalar (PNHOSP) ................................................................................................................... 104
220
7. Norma Operacional de Controle Disciplinar da Ebserh (atualizado em 17/01/2023, art. 1º ao art. 6º; art. 28 ao art. 45) ....... 111
8. Regulamento de Licitações e Contratos da Ebserh 2.0 .............................................................................................................. 114
9. Conhecimentos Específicos Técnico em Enfermagem
Lei 13.303/2016 (Estatuto jurídico da empresa pública) ........................................................................................................... 153

1. Legislação - SUS
Código de Ética em Enfermagem. Conduta ética dos profissionais da área de saúde ............................................................... 227
2. Lei no 7.498, de 25 de junho de 1986........................................................................................................................................ 233
1. Evolução histórica da organização do sistema de saúde no Brasil e a construção do Sistema Único de Saúde (SUS)– princípios,
3. Decreto
diretrizesnoe 94.406,
arcabouço de legal
8 de junho de 1987 ............................................................................................................................... 175
....................................................................................................................................................... 234
4.
2. Enfermagem
Controle social nonocentro cirúrgico: recuperação da anestesia; central de material e esterilização; atuação nos períodos pré- 182
SUS ...............................................................................................................................................................
operatório, trans-operatório e pós-operatório; atuação durante os procedimentos cirúrgico-anestésicos. materiais e equipa-
3. mentos
Resolução 453/2012
básicos do Conselho
que compõem as Nacional da Saúde
salas de cirurgia e ...............................................................................................................
recuperação anestésica; rotinas de limpeza da sala de cirurgia; uso de 185
material estéril ........................................................................................................................................................................... 236
5. manuseio de equipamentos: autoclaves; seladora térmica e lavadora automática ultrassônica .............................................. 243
6. Noções de controle de infecção hospitalar ................................................................................................................................ 243
2 7. Procedimentos de enfermagem: verificação de sinais vitais ..................................................................................................... 248
8. oxigenoterapia, aerossolterapia ................................................................................................................................................ 250
9. curativos..................................................................................................................................................................................... 257
Língua Portuguesa
Contéudo

LÍNGUA PORTUGUESA

A imagem a seguir ilustra uma campanha pela inclusão social.


COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS.

Definição Geral
Embora correlacionados, esses conceitos se distinguem, pois
sempre que compreendemos adequadamente um texto e o objetivo
de sua mensagem, chegamos à interpretação, que nada mais é
do que as conclusões específicas. Exemplificando, sempre que
nos é exigida a compreensão de uma questão em uma avaliação,
a resposta será localizada no próprio no texto, posteriormente,
ocorre a interpretação, que é a leitura e a conclusão fundamentada
em nossos conhecimentos prévios.

Compreensão de Textos
Resumidamente, a compreensão textual consiste na análise do “A Constituição garante o direito à educação para todos e a
que está explícito no texto, ou seja, na identificação da mensagem. inclusão surge para garantir esse direito também aos alunos com
É assimilar (uma devida coisa) intelectualmente, fazendo uso deficiências de toda ordem, permanentes ou temporárias, mais ou
da capacidade de entender, atinar, perceber, compreender. menos severas.”
Compreender um texto é apreender de forma objetiva a mensagem
transmitida por ele. Portanto, a compreensão textual envolve a A partir do fragmento acima, assinale a afirmativa incorreta.
decodificação da mensagem que é feita pelo leitor. Por exemplo, (A) A inclusão social é garantida pela Constituição Federal de
ao ouvirmos uma notícia, automaticamente compreendemos 1988.
a mensagem transmitida por ela, assim como o seu propósito (B) As leis que garantem direitos podem ser mais ou menos
comunicativo, que é informar o ouvinte sobre um determinado severas.
evento. (C) O direito à educação abrange todas as pessoas, deficientes
ou não.
Interpretação de Textos (D) Os deficientes temporários ou permanentes devem ser
É o entendimento relacionado ao conteúdo, ou melhor, os incluídos socialmente.
resultados aos quais chegamos por meio da associação das ideias (E) “Educação para todos” inclui também os deficientes.
e, em razão disso, sobressai ao texto. Resumidamente, interpretar
é decodificar o sentido de um texto por indução. Comentário da questão:
A interpretação de textos compreende a habilidade de se Em “A” o texto é sobre direito à educação, incluindo as pessoas
chegar a conclusões específicas após a leitura de algum tipo de com deficiência, ou seja, inclusão de pessoas na sociedade. =
texto, seja ele escrito, oral ou visual. afirmativa correta.
Grande parte da bagagem interpretativa do leitor é resultado Em “B” o complemento “mais ou menos severas” se refere à
da leitura, integrando um conhecimento que foi sendo assimilado “deficiências de toda ordem”, não às leis. = afirmativa incorreta.
ao longo da vida. Dessa forma, a interpretação de texto é subjetiva, Em “C” o advérbio “também”, nesse caso, indica a inclusão/
podendo ser diferente entre leitores. adição das pessoas portadoras de deficiência ao direito à educação,
além das que não apresentam essas condições. = afirmativa correta.
Exemplo de compreensão e interpretação de textos Em “D” além de mencionar “deficiências de toda ordem”, o
Para compreender melhor a compreensão e interpretação de texto destaca que podem ser “permanentes ou temporárias”. =
textos, analise a questão abaixo, que aborda os dois conceitos em afirmativa correta.
um texto misto (verbal e visual): Em “E” este é o tema do texto, a inclusão dos deficientes. =
afirmativa correta.
FGV > SEDUC/PE > Agente de Apoio ao Desenvolvimento Escolar Espe-
cial > 2015 Resposta: Logo, a Letra B é a resposta Certa para essa questão,
Português > Compreensão e interpretação de textos visto que é a única que contém uma afirmativa incorreta sobre o
texto.

4
Contéudo

LÍNGUA PORTUGUESA

IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM


O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia TEXTOS VARIADOS
principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen- Ironia
tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja, Ironia é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que
você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou
significativo, que é o texto. com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem).
Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex-
texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um
título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre novo sentido, gerando um efeito de humor.
o assunto que será tratado no texto. Exemplo:
Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atraí-
do pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
estudos?
Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?

CACHORROS
Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma
espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-
zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
outro e a parceria deu certo.
Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo Na construção de um texto, ela pode aparecer em três mo-
do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso- dos: ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).
ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens. Ironia verbal
As informações que se relacionam com o tema chamamos de Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig-
subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram, nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a
ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida- intenção são diferentes.
de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível!
fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães. Ironia de situação
Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o
capaz de identificar o tema do texto! resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja.
Exemplo: Quando num texto literário uma personagem planeja
Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-se- uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No li-
cundarias/ vro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a
personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da
vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces-

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Contéudo

LÍNGUA PORTUGUESA

so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual-
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia
morte. principal. Compreender relações semânticas é uma competência
imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos.
Ironia dramática (ou satírica) Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-
A ironia dramática é um efeito de sentido que ocorre nos textos -se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento pro-
literários quando o leitor, a audiência, tem mais informações do que fissional, mas também o desenvolvimento pessoal.
tem um personagem sobre os eventos da narrativa e sobre inten-
ções de outros personagens. É um recurso usado para aprofundar Busca de sentidos
os significados ocultos em diálogos e ações e que, quando captado Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo
pelo leitor, gera um clima de suspense, tragédia ou mesmo comé- os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na
dia, visto que um personagem é posto em situações que geram con- apreensão do conteúdo exposto.
flitos e mal-entendidos porque ele mesmo não tem ciência do todo Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma
da narrativa. relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já
Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o citadas ou apresentando novos conceitos.
que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa- Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici-
recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem- tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder
plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao entrelinhas. Deve-se ater às ideias do autor, o que não quer dizer
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é fun-
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos. damental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas.

Humor Importância da interpretação


Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare- A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor. informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter-
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti- pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor- específicos, aprimora a escrita.
rer algo fora do esperado numa situação. Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa-
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti- tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre-
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico; sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi-
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto,
acessadas como forma de gerar o riso. pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges. sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais
presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apreen-
Exemplo: são do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não es-
tão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira aleató-
ria, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários,
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido,
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos.
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au-
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas.
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas.
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão,
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes.

Diferença entre compreensão e interpretação


A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta-
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O
ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊ- leitor tira conclusões subjetivas do texto.
NERO EM QUE SE INSCREVE
Compreender um texto trata da análise e decodificação do que
de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter-
pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao
conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha
com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.

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Contéudo

LÍNGUA PORTUGUESA

Gêneros Discursivos Exemplo de fato:


Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso- A mãe foi viajar.
nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou
totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma Interpretação
novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
romance nós temos uma história central e várias histórias secun- quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
dárias. sas, previmos suas consequências.
Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso- Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única ças sejam detectáveis.
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações
encaminham-se diretamente para um desfecho. Exemplos de interpretação:
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferencia- tro país.
do por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem a A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
história principal, mas também tem várias histórias secundárias. O do que com a filha.
tempo na novela é baseada no calendário. O tempo e local são de-
finidos pelas histórias dos personagens. A história (enredo) tem um Opinião
ritmo mais acelerado do que a do romance por ter um texto mais A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um
curto. juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação
que fazemos do fato.
Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações que Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên-
nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação
mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião
é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais.
como horas ou mesmo minutos.
Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações
Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lin- anteriores:
guagem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento, A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de tro país. Ela tomou uma decisão acertada.
imagens. A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
do que com a filha. Ela foi egoísta.
Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a
opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião.
que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con- Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên-
vencer o leitor a concordar com ele. cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões
positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta-
Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um mos expressando nosso julgamento.
entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações. É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião,
Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando
de destaque sobre algum assunto de interesse. analisamos um texto dissertativo.

Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali- Exemplo:


za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando
crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando com o sofrimento da filha.
os professores a identificar o nível de alfabetização delas.

Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo


TIPOLOGIA TEXTUAL E GÊNEROS TEXTUAIS.
de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
berdade para quem recebe a informação.
Definições e diferenciação: tipos textuais e gêneros textuais
DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO são dois conceitos distintos, cada qual com sua própria linguagem
e estrutura. Os tipos textuais gêneros se classificam em razão
Fato da estrutura linguística, enquanto os gêneros textuais têm sua
O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência classificação baseada na forma de comunicação. Assim, os gêneros
do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é são variedades existente no interior dos modelos pré-estabelecidos
uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma manei- dos tipos textuais. A definição de um gênero textual é feita a partir
ra, através de algum documento, números, vídeo ou registro. dos conteúdos temáticos que apresentam sua estrutura específica.
Logo, para cada tipo de texto, existem gêneros característicos.
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Contéudo

LÍNGUA PORTUGUESA

Como se classificam os tipos e os gêneros textuais tas a realização de uma crítica social). Para exemplo, destacamos
As classificações conforme o gênero podem sofrer mudanças os seguintes romancistas brasileiros: Machado de Assis, Guimarães
e são amplamente flexíveis. Os principais gêneros são: romance, Rosa, Eça de Queiroz, entre outros.
conto, fábula, lenda, notícia, carta, bula de medicamento, cardápio
de restaurante, lista de compras, receita de bolo, etc. Quanto aos Conto
tipos, as classificações são fixas, e definem e distinguem o texto É um texto narrativo breve, e de ficção, geralmente em prosa,
com base na estrutura e nos aspectos linguísticos. Os tipos textuais que conta situações rotineiras, anedotas e até folclores. Inicialmen-
são: narrativo, descritivo, dissertativo, expositivo e injuntivo. te, fazia parte da literatura oral. Boccacio foi o primeiro a reproduzi-
Resumindo, os gêneros textuais são a parte concreta, enquanto -lo de forma escrita com a publicação de Decamerão.
as tipologias integram o campo das formas, da teoria. Acompanhe Ele é um gênero da esfera literária e se caracteriza por ser uma
abaixo os principais gêneros textuais inseridos e como eles se narrativa densa e concisa, a qual se desenvolve em torno de uma
inserem em cada tipo textual: única ação. Geralmente, o leitor é colocado no interior de uma ação
Texto narrativo: esse tipo textual se estrutura em: apresentação, já em desenvolvimento. Não há muita especificação sobre o antes
desenvolvimento, clímax e desfecho. Esses textos se caracterizam e nem sobre o depois desse recorte que é narrado no conto. Há a
pela apresentação das ações de personagens em um tempo e construção de uma tensão ao longo de todo o conto.
espaço determinado. Os principais gêneros textuais que pertencem Diversos contos são desenvolvidos na tipologia textual narrati-
ao tipo textual narrativo são: romances, novelas, contos, crônicas va: conto de fadas, que envolve personagens do mundo da fantasia;
e fábulas. contos de aventura, que envolvem personagens em um contexto
Texto descritivo: esse tipo compreende textos que descrevem mais próximo da realidade; contos folclóricos (conto popular); con-
lugares ou seres ou relatam acontecimentos. Em geral, esse tipo de tos de terror ou assombração, que se desenrolam em um contexto
texto contém adjetivos que exprimem as emoções do narrador, e, sombrio e objetivam causar medo no expectador; contos de misté-
em termos de gêneros, abrange diários, classificados, cardápios de rio, que envolvem o suspense e a solução de um mistério.
restaurantes, folhetos turísticos, relatos de viagens, etc.
Texto expositivo: corresponde ao texto cuja função é transmitir Fábula
ideias utilizando recursos de definição, comparação, descrição, É um texto de caráter fantástico que busca ser inverossímil. As
conceituação e informação. Verbetes de dicionário, enciclopédias, personagens principais não são humanos e a finalidade é transmitir
jornais, resumos escolares, entre outros, fazem parte dos textos alguma lição de moral.
expositivos.
Texto argumentativo: os textos argumentativos têm o objetivo Novela
de apresentar um assunto recorrendo a argumentações, isto é, É um texto caracterizado por ser intermediário entre a longevi-
caracteriza-se por defender um ponto de vista. Sua estrutura é dade do romance e a brevidade do conto. Esse gênero é constituído
composta por introdução, desenvolvimento e conclusão. Os textos por uma grande quantidade de personagens organizadas em dife-
argumentativos compreendem os gêneros textuais manifesto e rentes núcleos, os quais nem sempre convivem ao longo do enredo.
abaixo-assinado. Como exemplos de novelas, podem ser citadas as obras O Alienista,
Texto injuntivo: esse tipo de texto tem como finalidade de de Machado de Assis, e A Metamorfose, de Kafka.
orientar o leitor, ou seja, expor instruções, de forma que o emissor
procure persuadir seu interlocutor. Em razão disso, o emprego de Crônica
verbos no modo imperativo é sua característica principal. Pertencem É uma narrativa informal, breve, ligada à vida cotidiana, com
a este tipo os gêneros bula de remédio, receitas culinárias, manuais linguagem coloquial. Pode ter um tom humorístico ou um toque de
de instruções, entre outros. crítica indireta, especialmente, quando aparece em seção ou arti-
Texto prescritivo: essa tipologia textual tem a função de instruir go de jornal, revistas e programas da TV. Há na literatura brasileira
o leitor em relação ao procedimento. Esses textos, de certa forma, vários cronistas renomados, dentre eles citamos para seu conhe-
impedem a liberdade de atuação do leitor, pois decretam que ele cimento: Luís Fernando Veríssimo, Rubem Braga, Fernando Sabido
siga o que diz o texto. Os gêneros que pertencem a esse tipo de entre outros.
texto são: leis, cláusulas contratuais, edital de concursos públicos.
Diário
Gêneros textuais predominantemente do tipo textual narra- É escrito em linguagem informal, sempre consta a data e não
tivo há um destinatário específico, geralmente, é para a própria pessoa
que está escrevendo, é um relato dos acontecimentos do dia. O
Romance objetivo desse tipo de texto é guardar as lembranças e em alguns
É um texto completo, com tempo, espaço e personagens bem momentos desabafar. Veja um exemplo:
definidosl. Pode ter partes em que o tipo narrativo dá lugar ao des-
critivo em função da caracterização de personagens e lugares. As “Domingo, 14 de junho de 1942
ações são mais extensas e complexas. Pode contar as façanhas de Vou começar a partir do momento em que ganhei você, quando
um herói em uma história de amor vivida por ele e uma mulher, o vi na mesa, no meio dos meus outros presentes de aniversário. (Eu
muitas vezes, “proibida” para ele. Entretanto, existem romances estava junto quando você foi comprado, e com isso eu não contava.)
com diferentes temáticas: romances históricos (tratam de fatos li-
gados a períodos históricos), romances psicológicos (envolvem as Na sexta-feira, 12 de junho, acordei às seis horas, o que não é
reflexões e conflitos internos de um personagem), romances sociais de espantar; afinal, era meu aniversário. Mas não me deixam le-
(retratam comportamentos de uma parcela da sociedade com vis- vantar a essa hora; por isso, tive de controlar minha curiosidade até
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LÍNGUA PORTUGUESA

quinze para as sete. Quando não dava mais para esperar, fui até a do artigo de opinião.
sala de jantar, onde Moortje (a gata) me deu as boas-vindas, esfre- Nos tipos textuais argumentativos, o autor geralmente tem
gando-se em minhas pernas.” a intenção de convencer seus interlocutores e, para isso, precisa
Trecho retirado do livro “Diário de Anne Frank”. apresentar bons argumentos, que consistem em verdades e opini-
ões.
Gêneros textuais predominantemente do tipo textual descri- O artigo de opinião é fundamentado em impressões pessoais
tivo do autor do texto e, por isso, são fáceis de contestar.

Currículo Discurso Político


É um gênero predominantemente do tipo textual descritivo. O discurso político2 é um texto argumentativo, fortemente per-
Nele são descritas as qualificações e as atividades profissionais de suasivo, em nome do bem comum, alicerçado por pontos de vista
uma determinada pessoa. do emissor ou de enunciadores que representa, e por informações
compartilhadas que traduzem valores sociais, políticos, religiosos
Laudo e outros. Frequentemente, apresenta-se como uma fala coletiva
É um gênero predominantemente do tipo textual descritivo. que procura sobrepor-se em nome de interesses da comunidade
Sua função é descrever o resultado de análises, exames e perícias, e constituir norma de futuro. Está inserido numa dinâmica social
tanto em questões médicas como em questões técnicas. que constantemente o altera e ajusta a novas circunstâncias. Em
períodos eleitorais, a sua maleabilidade permite sempre uma res-
Outros exemplos de gêneros textuais pertencentes aos textos posta que oscila entre a satisfação individual e os grandes objetivos
descritivos são: folhetos turísticos; cardápios de restaurantes; clas- sociais da resolução das necessidades elementares dos outros.
sificados; etc. Hannah Arendt (em The Human Condition) afirma que o dis-
curso político tem por finalidade a persuasão do outro, quer para
Gêneros textuais predominantemente do tipo textual expo- que a sua opinião se imponha, quer para que os outros o admirem.
sitivo Para isso, necessita da argumentação, que envolve o raciocínio, e
da eloquência da oratória, que procura seduzir recorrendo a afetos
Resumos e Resenhas e sentimentos.
O autor faz uma descrição breve sobre a obra (pode ser cine- O discurso político é, provavelmente, tão antigo quanto a vida
matográfica, musical, teatral ou literária) a fim de divulgar este tra- do ser humano em sociedade. Na Grécia antiga, o político era o
balho de forma resumida. cidadão da “pólis” (cidade, vida em sociedade), que, responsável
Na verdade resumo e/ou resenha é uma análise sobre a obra, pelos negócios públicos, decidia tudo em diálogo na “agora” (praça
com uma linguagem mais ou menos formal, geralmente os rese- onde se realizavam as assembleias dos cidadãos), mediante pala-
nhistas são pessoas da área devido o vocabulário específico, são vras persuasivas. Daí o aparecimento do discurso político, baseado
estudiosos do assunto, e podem influenciar a venda do produto de- na retórica e na oratória, orientado para convencer o povo.
vido a suas críticas ou elogios. O discurso político implica um espaço de visibilidade para o ci-
dadão, que procura impor as suas ideias, os seus valores e projetos,
Verbete de dicionário recorrendo à força persuasiva da palavra, instaurando um processo
Gênero predominantemente expositivo. O objetivo é expor de sedução, através de recursos estéticos como certas construções,
conceitos e significados de palavras de uma língua. metáforas, imagens e jogos linguísticos. Valendo-se da persuasão e
da eloquência, fundamenta-se em decisões sobre o futuro, prome-
Relatório Científico tendo o que pode ser feito.
Gênero predominantemente expositivo. Descreve etapas de
pesquisa, bem como caracteriza procedimentos realizados. Requerimento
Predominantemente dissertativo-argumentativo. O requeri-
Conferência mento tem a função de solicitar determinada coisa ou procedimen-
Predominantemente expositivo. Pode ser argumentativo tam- to. Ele é dissertativo-argumentativo pela presença de argumenta-
bém. Expõe conhecimentos e pontos de vistas sobre determinado ção com vistas ao convencimento
assunto. Gênero executado, muitas vezes, na modalidade oral.
Outros exemplos de gêneros textuais pertencentes aos textos
Outros exemplos de gêneros textuais pertencentes aos textos argumentativos são: abaixo-assinados; manifestos; sermões; etc.
expositivos são: enciclopédias; resumos escolares; etc.
Gêneros textuais predominantemente do tipo textual injun-
Gêneros textuais pertencentes aos textos argumentativos tivo

Artigo de Opinião Bulas de remédio


É comum1 encontrar circulando no rádio, na TV, nas revistas, A bula de remédio traz também o tipo textual descritivo. Nela
nos jornais, temas polêmicos que exigem uma posição por parte aparecem as descrições sobre a composição do remédio bem como
dos ouvintes, espectadores e leitores, por isso, o autor geralmen- instruções quanto ao seu uso.
te apresenta seu ponto de vista sobre o tema em questão através
1 http://www.odiarioonline.com.br/noticia/43077/VENDEDOR-BRASILEIRO-ESTA-MENOS-
-SIMPATICO 2 https://www.infopedia.pt/$discurso-politico

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LÍNGUA PORTUGUESA

Manual de instruções as opiniões da equipe e, por isso, não recebem a assinatura do au-
O manual de instruções tem como objetivo instruir sobre os tor. No geral, eles apresentam a opinião do meio de comunicação
procedimentos de uso ou montagem de um determinado equipa- (revista, jornal, rádio, etc.).
mento. Tanto nos jornais como nas revistas podemos encontrar os edi-
toriais intitulados como “Carta ao Leitor” ou “Carta do Editor”.
Exemplos de gêneros textuais pertencentes aos textos injunti- Em relação ao discurso apresentado, esse costuma se apoiar
vos são: receitas culinárias, instruções em geral. em fatos polêmicos ligados ao cotidiano social. E quando falamos
em discurso, logo nos atemos à questão da linguagem que, mesmo
Gêneros textuais predominantemente do tipo textual prescri- em se tratando de impressões pessoais, o predomínio do padrão
tivo formal, fazendo com que prevaleça o emprego da 3ª pessoa do sin-
gular, ocupa lugar de destaque.
Exemplos de gêneros textuais pertencentes aos textos prescri-
tivos são: leis; cláusulas contratuais; edital de concursos públicos; Reportagem
receitas médicas, etc. Reportagem é um texto jornalístico amplamente divulgado nos
meios de comunicação de massa. A reportagem informa, de modo
Outros Exemplos mais aprofundado, fatos de interesse público. Ela situa-se no ques-
tionamento de causa e efeito, na interpretação e no impacto, so-
Carta mando as diferentes versões de um mesmo acontecimento.
Esta, dependendo do destinatário pode ser informal, quando é A reportagem não possui uma estrutura rígida, mas geralmen-
destinada a algum amigo ou pessoa com quem se tem intimidade. E te costuma estabelecer conexões com o fato central, anunciado no
formal quando destinada a alguém mais culto ou que não se tenha que chamamos de lead. A partir daí, desenvolve-se a narrativa do
intimidade. fato principal, ampliada e composta por meio de citações, trechos
Dependendo do objetivo da carta a mesma terá diferentes es- de entrevistas, depoimentos, dados estatísticos, pequenos resu-
tilos de escrita, podendo ser dissertativa, narrativa ou descritiva. As mos, dentre outros recursos. É sempre iniciada por um título, como
cartas se iniciam com a data, em seguida vem a saudação, o corpo todo texto jornalístico.
da carta e para finalizar a despedida. O objetivo de uma reportagem é apresentar ao leitor várias
versões para um mesmo fato, informando-o, orientando-o e contri-
Propaganda buindo para formar sua opinião.
Este gênero aparece também na forma oral, diferente da maio- A linguagem utilizada nesse tipo de texto é objetiva, dinâmi-
ria dos outros gêneros. Suas principais características são a lingua- ca e clara, ajustada ao padrão linguístico divulgado nos meios de
gem argumentativa e expositiva, pois a intenção da propaganda é comunicação de massa, que se caracteriza como uma linguagem
fazer com que o destinatário se interesse pelo produto da propa- acessível a todos os públicos, mas pode variar de formal para mais
ganda. O texto pode conter algum tipo de descrição e sempre é informal dependendo do público a que se destina. Embora seja im-
claro e objetivo. pessoal, às vezes é possível perceber a opinião do repórter sobre os
fatos ou sua interpretação.3
Notícia
Este é um dos tipos de texto que é mais fácil de identificar. Sua Gêneros Textuais e Gêneros Literários
linguagem é narrativa e descritiva e o objetivo desse texto é infor-
mar algo que aconteceu. Conforme o próprio nome indica, os gêneros textuais se refe-
A notícia é um dos principais tipos de textos jornalísticos exis- rem a qualquer tipo de texto, enquanto os gêneros literários se re-
tentes e tem como intenção nos informar acerca de determinada ferem apenas aos textos literários.
ocorrência. Bastante recorrente nos meios de comunicação em ge- Os gêneros literários são divisões feitas segundo características
ral, seja na televisão, em sites pela internet ou impresso em jornais formais comuns em obras literárias, agrupando-as conforme crité-
ou revistas. rios estruturais, contextuais e semânticos, entre outros.
Caracteriza-se por apresentar uma linguagem simples, clara, - Gênero lírico;
objetiva e precisa, pautando-se no relato de fatos que interessam - Gênero épico ou narrativo;
ao público em geral. A linguagem é clara, precisa e objetiva, uma - Gênero dramático.
vez que se trata de uma informação.
Gênero Lírico
Editorial É certo tipo de texto no qual um eu lírico (a voz que fala no po-
O editorial é um tipo de texto jornalístico que geralmente apa- ema e que nem sempre corresponde à do autor) exprime suas emo-
rece no início das colunas. Diferente dos outros textos que com- ções, ideias e impressões em face do mundo exterior. Normalmente
põem um jornal, de caráter informativo, os editoriais são textos os pronomes e os verbos estão em 1ª pessoa e há o predomínio da
opinativos. função emotiva da linguagem.
Embora sejam textos de caráter subjetivo, podem apresentar
certa objetividade. Isso porque são os editoriais que apresentam Elegia
os assuntos que serão abordados em cada seção do jornal, ou seja, Um texto de exaltação à morte de alguém, sendo que a mor-
Política, Economia, Cultura, Esporte, Turismo, País, Cidade, Classifi- te é elevada como o ponto máximo do texto. O emissor expressa
cados, entre outros. 3 CEREJA, William Roberto & MAGALHÃES, Thereza Cochar. Texto e interação.
Os textos são organizados pelos editorialistas, que expressam São Paulo, Atual Editora, 2000

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tristeza, saudade, ciúme, decepção, desejo de morte. É um poema Vilancete


melancólico. Um bom exemplo é a peça Roan e Yufa, de William São as cantigas de autoria dos poetas vilões (cantigas de escár-
Shakespeare. nio e de maldizer); satíricas, portanto.

Epitalâmia Gênero Épico ou Narrativo


Um texto relativo às noites nupciais líricas, ou seja, noites ro- Na Antiguidade Clássica, os padrões literários reconhecidos
mânticas com poemas e cantigas. Um bom exemplo de epitalâmia é eram apenas o épico, o lírico e o dramático. Com o passar dos anos,
a peça Romeu e Julieta nas noites nupciais. o gênero épico passou a ser considerado apenas uma variante do
gênero literário narrativo, devido ao surgimento de concepções de
Ode (ou hino) prosa com características diferentes: o romance, a novela, o conto,
É o poema lírico em que o emissor faz uma homenagem à a crônica, a fábula.
pátria (e aos seus símbolos), às divindades, à mulher amada, ou a
alguém ou algo importante para ele. O hino é uma ode com acom- Épico (ou Epopeia)
panhamento musical. Os textos épicos são geralmente longos e narram histórias de
um povo ou de uma nação, envolvem aventuras, guerras, viagens,
Idílio (ou écloga) gestos heroicos, etc. Normalmente apresentam um tom de exalta-
Poema lírico em que o emissor expressa uma homenagem à ção, isto é, de valorização de seus heróis e seus feitos. Dois exem-
natureza, às belezas e às riquezas que ela dá ao homem. É o poema plos são Os Lusíadas, de Luís de Camões, e Odisseia, de Homero.
bucólico, ou seja, que expressa o desejo de desfrutar de tais belezas
e riquezas ao lado da amada (pastora), que enriquece ainda mais Ensaio
a paisagem, espaço ideal para a paixão. A écloga é um idílio com É um texto literário breve, situado entre o poético e o didático,
diálogos (muito rara). expondo ideias, críticas e reflexões morais e filosóficas a respeito de
certo tema. É menos formal e mais flexível que o tratado.
Sátira Consiste também na defesa de um ponto de vista pessoal e
É o poema lírico em que o emissor faz uma crítica a alguém subjetivo sobre um tema (humanístico, filosófico, político, social,
ou a algo, em tom sério ou irônico. Tem um forte sarcasmo, pode cultural, moral, comportamental, etc.), sem que se paute em for-
abordar críticas sociais, a costumes de determinada época, assun- malidades como documentos ou provas empíricas ou dedutivas de
tos políticos, ou pessoas de relevância social. caráter científico. Exemplo: Ensaio sobre a tolerância, de John Lo-
cke.
Acalanto
Canção de ninar. Gênero Dramático
Trata-se do texto escrito para ser encenado no teatro. Nesse
Acróstico tipo de texto, não há um narrador contando a história. Ela “aconte-
Composição lírica na qual as letras iniciais de cada verso for- ce” no palco, ou seja, é representada por atores, que assumem os
mam uma palavra ou frase. Ex.: papéis das personagens nas cenas.

Amigos são Tragédia


Muitas vezes os É a representação de um fato trágico, suscetível de provocar
Irmãos que escolhemos. compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a tragédia era “uma re-
Zelosos, eles nos presentação duma ação grave, de alguma extensão e completa, em
Ajudam e linguagem figurada, com atores agindo, não narrando, inspirando
Dedicam-se por nós, para que nossa relação seja verdadeira e dó e terror”. Ex.: Romeu e Julieta, de Shakespeare.
Eterna
https://www.todamateria.com.br/acrostico/ Farsa
A farsa consiste no exagero do cômico, graças ao emprego de
Balada processos como o absurdo, as incongruências, os equívocos, a ca-
Uma das mais primitivas manifestações poéticas, são cantigas ricatura, o humor primário, as situações ridículas e, em especial, o
de amigo (elegias) com ritmo característico e refrão vocal que se engano.
destinam à dança.
Comédia
Canção (ou Cantiga, Trova) É a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento
Poema oral com acompanhamento musical. comum, de riso fácil. Sua origem grega está ligada às festas popu-
lares.
Gazal (ou Gazel)
Poesia amorosa dos persas e árabes; odes do oriente médio. Tragicomédia
Modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômi-
Soneto cos. Originalmente, significava a mistura do real com o imaginário.
É um texto em poesia com 14 versos, dividido em dois quarte-
tos e dois tercetos.

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Poesia de cordel religioso é uma promessa, para os que não creem é uma ameaça.
Texto tipicamente brasileiro em que se retrata, com forte apelo
linguístico e cultural nordestinos, fatos diversos da sociedade e da Os discursos religiosos, como já vimos, se mostram com estru-
realidade vivida por este povo. turas rígidas quanto aos papéis dos interlocutores (a divindade e os
seres humanos). Os dogmas sagrados, por exemplos, fé e Deus, são
Discurso Religioso4 intocáveis. “Deus define-se (...) a si mesmo como sujeito por exce-
lência, aquele que é por si e para si (Sou aquele que É) e aquele que
A Análise Crítica do Discurso (ADC) tem como fulcro a aborda- interpela seu sujeito (...) eis quem tu és: é Pedro.”
gem das relações (internas e recíprocas) entre linguagem e socie- Outros traços do DR se configuram com o uso do imperativo e
dade. Os textos produzidos socialmente em eventos autênticos são do vocativo – características inerentes de discursos de doutrinação;
resultantes da estruturação social da linguagem que os consome uso de metáforas – explicitadas por paráfrases que indicam a leitura
e os faz circular. Por outro lado, esses mesmos textos são também apropriada para as metáforas utilizadas; uso de citações no original
potencialmente transformadores dessa estruturação social da lin- (grego, hebraico, latim) – traduzidas para a língua em uso através de
guagem, assim como os eventos sociais são tanto resultado quanto perífrases extensas e explicativas em que se busca aproveitar o má-
substrato dessas estruturas sociais. ximo o efeito de sentido advindo da língua original; o uso de perfor-
O discurso religioso é “aquele em que há uma relação espon- mativos – uso de verbos em que o ‘dizer’ representa o ‘fazer’; o uso
tânea com o sagrado” sendo, portanto, “mais informal”; enquanto de sintagmas cristalizados – usadas em orações e funções fáticas.
o teológico é o tipo de “discurso em que a mediação entre a alma Ainda em relação às unidades textuais, podemos acrescentar o
religiosa e o sagrado se faz por uma sistematização dogmática das uso de determinadas formas simbólicas do DR como as parábolas, a
verdades religiosas, e onde o teólogo (...) aparece como aquele que utilização de certos temas, como a efemeridade da vida humana, a
faz a relação entre os dois mundos: o mundo hebraico e o mundo vida eterna, o galardão, entre outros. Acrescenta-se também como
cristão”, sendo, assim, “mais formal”. Porém, podemos falar em DR marca a intertextualidade.
de maneira globalizante.
Assim, temos: Discurso Jurídico5
- Desnivelamento, assimetria na relação entre o locutor e o ou-
vinte – o locutor está no plano espiritual (Deus), e o ouvinte está no O discurso legal caracteriza-se como um discurso hierárquico
plano temporal (os adoradores). As duas ordens de mundo são to- e dominante, baseado numa estrutura de exclusão e discriminação
talmente diferentes para os sujeitos, e essa ordem é afetada por um de várias minorias sociais, como os pobres, os negros, os homos-
valor hierárquico, por uma desigualdade, por um desnivelamento. sexuais, as mulheres, etc. A especificidade da linguagem jurídica,
Deus, o locutor, é imortal, eterno, onipotente, onipresente, onis- e as restrições educacionais quanto a quem pode militar na Área
ciente, em resumo, o todo-poderoso. Os seres humanos, os ouvin- (advogados, promotores, juízes, etc.), são apenas algumas das es-
tes, são mortais, efêmeros e finitos. tratégias utilizadas pelo sistema jurídico para manter o discurso le-
- Modos de representação. A voz no discurso religioso (DR) se gal inacessível à maioria das pessoas, e desta forma protege-lo de
fala em seus representantes (Padre, pastor, profeta), essa é uma análises e críticas.
forma de relação simbólica. Essa apropriação ocorre sem explicitar Como em todo discurso dominante, as posições de poder cria-
os mecanismos de incorporação da voz, aspecto que caracteriza a das para os participantes de textos legais são particularmente assi-
mistificação. métricas, como é o caso num julgamento (e.g. entre o juiz e o réu;
- O ideal do DR é que o ‘representante’, o que se apropria do entre o juiz e as testemunhas; etc.). Os juízes, por exemplo, detêm
discurso de Deus’, não o modifique. Ele deve seguir regras restritas um poder especial devido ao seu status social e ao seu acesso privi-
reguladas pelo texto sagrado, pela Igreja, pelas liturgias. Deve-se legiado ao discurso legal (são eles que produzem a forma final dos
manter distância entre ‘o dito de Deus’ e ‘o dizer do homem’. textos legais). Portanto, é a visão de mundo do juiz que prevalece
- A interpretação da palavra de Deus é regulada. “Os sentidos nas sentenças, em detrimento de outras posições alternativas.
não podem ser quaisquer sentidos: o discurso religioso tende forte- Além de relações de poder, os textos legais também expressam
mente para a monossemia”. relações de gênero. A lei e a cultura masculina estão intimamen-
- Dualismos, as formas da ilusão da reversibilidade: plano hu- te ligadas; o sistema jurídico é quase que inteiramente dominado
mano e plano divino; ordem temporal e ordem espiritual; sujeitos e por homens (só recentemente as mulheres passaram a fazer parte
Sujeito; homem e Deus. A ilusão ocorre na passagem de um plano de instituições jurídicas) e, de forma geral, ele expressa uma visão
para outro e pode ter duas direções: de cima para baixo, ou seja, masculina do mundo. As mulheres que são parte em processos le-
de Deus para os homens, momento em que Ele compartilha suas gais (e.g. reclamantes, rés, testemunhas, etc.) estão expostas a um
propriedades (ministração de sacramentos, bênçãos); de baixo para duplo grau de discriminação e exclusão: primeiro, como leigas, elas
cima, quando o homem se alça a Deus, principalmente, através da ocupam uma posição desfavorecida se comparadas com militantes
visão, da profecia. Estas são formas de ‘ultrapassagem’. legais (advogados, juízes, promotores, etc.); segundo, elas são estig-
- Escopo do discurso religioso. A fé separa os fiéis dos não-fiéis, matizadas também por serem mulheres, e têm seu comportamento
“os convictos dos não-convictos. Logo, é o parâmetro pelo qual de- social e sexual avaliado e controlado pelo discurso jurídico.
limita a comunidade e constitui o escopo do discurso religioso em
suas duas formações características: para os que creem, o discurso
4 https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/soletras/article/downloa-
d/4694/3461#:~:text=O%20discurso%20religioso%20%C3%A9%20aquele,discur-
so%20(Orlandi%2C%201996).&text=locutor%20est%C3%A1%20no%20plano%20
espiritual,plano%20temporal%20(os%20adoradores). 5 https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/download/23353/21030/0

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Contéudo

LÍNGUA PORTUGUESA

Discurso Técnico6 discurso são unidades complementares.


A partir da compreensão de discurso, passa-se a refletir sobre
Para o desempenho de tal papel, eles contam com suas carac- o que vem ser discurso científico. Para Guimarães é aquele em que
terísticas intrínsecas, as quais são responsáveis pelo “rótulo” que “o autor pretende fazer o leitor saber.” Ou seja, a intenção do autor
cada tipo textual carrega. é fazer o leitor ou pesquisador saber como os resultados daquela
Tais características se evidenciam formal e funcionalmente e pesquisa foram alcançados, dando-lhe oportunidade de repetir os
são percebidas, de maneira mais ou menos clara pelo leitor/ouvin- procedimentos metodológicos em outras pesquisas similares.
te. Afinal, todos os tipos de texto têm um público fiel, ao qual se Para Carioca, “o discurso científico é a forma de apresentação
destinam. da linguagem que circula na comunidade científica em todo o mun-
Os autores que têm o texto técnico como objeto de estudo con- do. Sua formulação depende de uma pesquisa minuciosa e efetiva
cordam que ele apresenta as seguintes características: sobre um objeto, que é metodologicamente analisado à luz de uma
• Linguagem monossêmica; teoria.” Outra posição é que o discurso científico não se dá apenas
• Vocabulário específico ou léxico especializado; pela comprovação ou refutação do que foi escrito, dá-se também
• Objetividade; pela aceitabilidade dos pares que compõem a comunidade espe-
• Emprego de voz passiva; cífica.
• Preferência pelo emprego do tempo verbal presente. Desse modo, pode-se dizer que a estrutura global da comunica-
ção científica está respaldada em parâmetros normativos referen-
As características apontadas acima coadunam-se com o obje- tes à produção de gêneros e à produção da linguagem, ou seja, o
tivo principal de qualquer produção de cunho técnico: transmissão discurso acadêmico se estabeleceu dentro de convenções instituí-
de conhecimentos de forma clara e imparcial. Embora a objetivida- das pela comunidade científica, que, ao longo do tempo, se expres-
de e a neutralidade sejam fiéis parceiras do texto técnico, não se sa por características, como impessoalidade, objetividade, clareza,
pode afirmar que esse tipo textual seja isento das marcas de seu precisão, modéstia, simplicidade, fluência, dentre outros.
autor, enquanto produtor de ideias e veiculador de informações. É importante apresentar a posição de Charaudeau sobre a
Quando há a troca da 3ª pessoa do singular pela 1ª pessoa do plu- problemática entre o discurso informativo (DI) e discurso científico
ral, por exemplo, o autor tem a intenção de conquistar o seu in- (DC). Para o autor, o que eles têm em comum é a problemática da
terlocutor, tornando-o um parceiro “na assunção das informações prova. “[...] o primeiro se atém essencialmente a uma prova pela
dadas, numa forma de estratégia argumentativa.” designação e pela figuração (a ordem da constatação, do testemu-
Todo tipo textual possui a argumentatividade, porém essa apa- nho, do relato de reconstituição dos fatos), o segundo inscreve a
rece de modo mais intenso e explícito em alguns textos e de modo prova num programa de demonstração racional.”.
menos intenso e explícito em outros. Para complementar a afirma- Percebe-se que o interesse principal do discurso informativo é
ção dessas autoras, cita-se Benveniste para o qual, o sujeito está transmitir uma verdade através dos fatos. Já o discurso científico se
sempre presente no texto, não havendo, portanto, texto neutro ou impõe pela prova da racionalidade que reside na força da argumen-
imparcial. tatividade. E mais, este deve se comprometer com a logicidade das
Percebe-se, então, que o texto técnico possui características ideias para estas se tornem mais convincentes.
que o diferenciam dos demais tipos de textos. No entanto, não se Como se viu, o discurso acadêmico é produzido dentro de uma
deve afirmar que ele seja desprovido de marcas autorais. Tanto é esfera de comunicação relativamente definida chamada de comuni-
verdade, que alguns autores de textos técnicos não dispensam o dade científica. Em geral, no ensino superior, vão se encontrar mo-
uso de certos advérbios e conjunções, por exemplo, expedientes delos de discurso acadêmico que já se tornaram consagrados para
que têm a função de modalizar o discurso. essa comunidade. Na subseção que segue se mostrará especifica-
A modalização, nesse tipo de texto, pode aparecer de forma mente alguns deles.
implícita e/ou explícita. Sob essa última forma, verificam-se o apa- O primeiro modelo, monografia de análise teórica, evidencia
recimento de construções específicas, tais como as nominalizações, uma organização de ideias advindas de bibliografias selecionadas
a voz passiva, o emprego de determinadas conjunções e preposi- sobre um determinado assunto. Nesse tipo, pode-se fazer uma aná-
ções. lise crítica ou comparativa de uma teoria ou modelo já consagrado
pela comunidade científica. O modelo metodológico indicado pelos
Discurso Acadêmico/Científico7 autores é: escolha do assunto/ delimitação do tema; bibliografia
pertinente ao tema; levantamento de dados específicos da área sob
O texto como objeto abstrato se configura no campo da lin- estudo; fundamentação teórica; metodologia e modelos aplicáveis;
guística como teoria geral. Já discurso é uma realidade de intera- análise e interpretação das informações; conclusões e resultados.
ção-enunciação objeto de análises discursivas. Enquanto os textos, No segundo modelo, monografia de análise teórico-empírica,
como objetos concretos, são aqueles que se apresentam completos faz-se uma análise interpretativa de dados primários, com apoio de
constituídos de um ato de enunciação que visa à interação entre fontes secundárias, passando-se para o teste de hipóteses, mode-
produtor e interlocutor. Partindo dessas concepções, percebe- se los ou teorias. A partir dos dados primários e secundários, o autor
que texto e discurso se complementam, pois, para o autor, “a sepa- /pesquisador mostrará um trabalho inovador. Quanto ao modelo
ração do textual e do discursivo é essencialmente metodológica”, metodológico, tem-se: realidade observável; pergunta problema e
o que leva à distinção entre os dois a anular-se. Neste caso, texto e objetivo proposto; bibliografia e dados secundários; teoria perti-
6 https://revistas.ufg.br/lep/article/download/32601/17331/ nente ao tema (conceitos, técnicas, constructos) e dados secundá-
7 http://www.repositorio.jesuita.org.br/bitstream/handle/UNISINOS/4823/ rios; instrumentos de pesquisa (questionário); pesquisa empírica;
MARIA%20DE%20F%c3%81TIMA%20RIBEIRO%20DOS%20SANTOS_.pdf?se- análise; conclusões e resultados.
quence=1&isAllowed=y No terceiro modelo, monografia de estudo de caso, o autor/
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LÍNGUA PORTUGUESA

pesquisador faz uma análise específica da relação existente entre decorrentes dessas funções, entre outros.
um caso e hipóteses, modelos e teorias. O modelo metodológico Os acentos: esses sinais modificam o som da letra sobre
adotado obedece aos seguintes passos: escolha do assunto/delimi- a qual recaem, para que palavras com grafia similar possam
tação do tema; bibliografia pertinente ao tema (área específica sob ter leituras diferentes, e, por conseguinte, tenham significados
estudo); fundamentação teórica; levantamento de dados da organi- distintos. Resumidamente, os acentos são agudo (deixa o som da
zação sob estudo; caracterização da organização; análise e interpre- vogal mais aberto), circunflexo (deixa o som fechado), til (que faz
tação das informações; conclusões e resultados. com que o som fique nasalado) e acento grave (para indicar crase).
Observa-se que esses modelos possuem suas particularidades, O alfabeto: é a base de qualquer língua. Nele, estão
mas também aspectos que coincidem. Este é o caso da pesquisa estabelecidos os sinais gráficos e os sons representados por cada
bibliográfica, que é imprescindível em qualquer trabalho científico. um dos sinais; os sinais, por sua vez, são as vogais e as consoantes.
As letras K, Y e W: antes consideradas estrangeiras, essas letras
Discurso Literário8 foram integradas oficialmente ao alfabeto do idioma português
brasileiro em 2009, com a instauração do Novo Acordo Ortográfico.
O discurso literário pode não ser apenas ligado aos procedi- As possibilidades da vogal Y e das consoantes K e W são, basicamente,
mentos adotados pelo autor, mas também, e talvez mais direta- para nomes próprios e abreviaturas, como abaixo:
mente do que se pensa, ligado ao contexto sociocultural no qual – Para grafar símbolos internacionais e abreviações, como Km
está inserido, evidenciando-se, nem sempre claramente, uma influ- (quilômetro), W (watt) e Kg (quilograma).
ência das instituições que o cercam na escolha de determinados – Para transcrever nomes próprios estrangeiros ou seus
procedimentos de linguagem. derivados na língua portuguesa, como Britney, Washington, Nova
A ideia de que o discurso literário constrói-se a partir de ele- York.
mentos intrínsecos ao texto literário tomou corpo com os estudos
realizados no início do século XX. Foram os formalistas russos que Relação som X grafia: confira abaixo os casos mais complexos
demonstraram uma preocupação com a materialidade do texto lite- do emprego da ortografia correta das palavras e suas principais
rário, recusando, num primeiro momento, explicações de base ex- regras:
traliterária. Neste sentido, o que importava para os integrantes do
movimento era o procedimento, ou seja, o princípio da organização «ch” ou “x”?: deve-se empregar o X nos seguintes casos:
da obra como produto estético. Assim, a preocupação dos formalis- – Em palavras de origem africana ou indígena. Exemplo: oxum,
tas era investigar e explicar o que faz de uma determinada obra uma abacaxi.
obra literária, nas palavras de Jakobson: “a poesia é linguagem em – Após ditongos. Exemplo: abaixar, faixa.
sua função estética. Deste modo, o objeto do estudo literário não é – Após a sílaba inicial “en”. Exemplo: enxada, enxergar.
a literatura, mas a literariedade, isto é, aquilo que torna determina- – Após a sílaba inicial “me”. Exemplo: mexilhão, mexer,
da obra uma obra literária”. A questão da literariedade como pro- mexerica.
cesso ou procedimento de elaboração está centrado nas estruturas
que diferenciam o texto literário de outros textos. s” ou “x”?: utiliza-se o S nos seguintes casos:
A literariedade é conceituada não só pela linguagem diferen- – Nos sufixos “ese”, “isa”, “ose”. Exemplo: síntese, avisa,
ciada que gera o estranhamento, mas também histórica e cultural- verminose.
mente. Uma obra literária não pode ser apenas uma construção – Nos sufixos “ense”, “osa” e “oso”, quando formarem adjetivos.
bem elaborada, mas deve também retratar o homem de sua época Exemplo: amazonense, formosa, jocoso.
ou época anterior, com todas as suas angústias, desejos e forma de – Nos sufixos “ês” e “esa”, quando designarem origem, título ou
pensar. Tornando-se, assim, não apenas um material para ser estu- nacionalidade. Exemplo: marquês/marquesa, holandês/holandesa,
dado linguisticamente, mas também e, principalmente, uma obra burguês/burguesa.
viva em que toda vez que se relê encontre-se algo novo e represen- – Nas palavras derivadas de outras cujo radical já apresenta “s”.
tativo do ser humano. Exemplo: casa – casinha – casarão; análise – analisar.

Porque, Por que, Porquê ou Por quê?


– Porque (junto e sem acento): é conjunção explicativa, ou seja,
ORTOGRAFIA OFICIAL.
indica motivo/razão, podendo substituir o termo pois. Portanto,
toda vez que essa substituição for possível, não haverá dúvidas de
— Definições que o emprego do porque estará correto. Exemplo: Não choveu,
Com origem no idioma grego, no qual orto significa “direito”, porque/pois nada está molhado.
“exato”, e grafia quer dizer “ação de escrever”, ortografia é o nome – Por que (separado e sem acento): esse formato é empregado
dado ao sistema de regras definido pela gramática normativa que para introduzir uma pergunta ou no lugar de “o motivo pelo qual”,
indica a escrita correta das palavras. Já a Ortografia Oficial se refere para estabelecer uma relação com o termo anterior da oração.
às práticas ortográficas que são consideradas oficialmente como Exemplos: Por que ela está chorando? / Ele explicou por que do
adequadas no Brasil. Os principais tópicos abordados pela ortografia cancelamento do show.
são: o emprego de acentos gráficos que sinalizam vogais tônicas, – Porquê (junto e com acento): trata-se de um substantivo e,
abertas ou fechadas; os processos fonológicos (crase/acento grave); por isso, pode estar acompanhado por artigo, adjetivo, pronome
os sinais de pontuação elucidativos de funções sintáticas da língua e ou numeral. Exemplo: Não ficou claro o porquê do cancelamento
8 http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/Lin- do show.
guaPortuguesa/artigo12.pdf – Por quê (separado e com acento): deve ser empregado ao
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fim de frases interrogativas. Exemplo: Ela foi embora novamente. Não recebem acento gráfico:
Por quê? – As monossílabas tônicas: par, nus, vez, tu, noz, quis.
– As formas verbais monossilábicas terminadas em “-ê”, nas
Parônimos e homônimos quais a 3a pessoa do plural termina em “-eem”. Antes do novo
– Parônimos: são palavras que se assemelham na grafia e na acordo ortográfico, esses verbos era acentuados. Ex.: Ele lê → Eles
pronúncia, mas se divergem no significado. Exemplos: absolver lêem leem.
(perdoar) e absorver (aspirar); aprender (tomar conhecimento) e
apreender (capturar). Exceção! O mesmo não ocorre com os verbos monossilábicos
– Homônimos: são palavras com significados diferentes, mas terminados em “-em”, já que a terceira pessoa termina em “-êm”.
que divergem na pronúncia. Exemplos: “gosto” (substantivo) e Nesses caso, a acentuação permanece acentuada. Ex.: Ele tem →
“gosto” (verbo gostar) / “este” (ponto cardeal) e “este” (pronome Eles têm; Ele vem → Eles vêm.
demonstrativo).
Acentuação das palavras Oxítonas
As palavras cuja última sílaba é tônica devem ser acentuadas
as oxítonas com sílaba tônica terminada em vogal tônica -a, -e e
ACENTUAÇÃO GRÁFICA.
-o, sucedidas ou não por -s. Ex.: aliás, após, crachá, mocotó, pajé,
vocês. Logo, não se acentuam as oxítonas terminadas em “-i” e “-u”.
— Definição Ex.: caqui, urubu.
A acentuação gráfica consiste no emprego do acento nas
palavras grafadas com a finalidade de estabelecer, com base nas Acentuação das palavras Paroxítonas
regras da língua, a intensidade e/ou a sonoridade das palavras. São classificadas dessa forma as palavras cuja penúltima
Isso quer dizer que os acentos gráficos servem para indicar a sílaba sílaba é tônica. De acordo com a regra geral, não se acentuam as
tônica de uma palavra ou a pronúncia de uma vogal. De acordo com palavras paroxítonas, a não ser nos casos específicos relacionados
as regras gramaticais vigentes, são quatro os acentos existentes na abaixo. Observe as exceções:
língua portuguesa: – Terminadas em -ei e -eis. Ex.: amásseis, cantásseis, fizésseis,
– Acento agudo: Indica que a sílaba tônica da palavra tem som hóquei, jóquei, pônei, saudáveis.
aberto. Ex.: área, relógio, pássaro. – Terminadas em -r, -l, -n, -x e -ps. Ex.: bíceps, caráter, córtex,
– Acento circunflexo: Empregado acima das vogais “a” e” e esfíncter, fórceps, fóssil, líquen, lúmen, réptil, tórax.
“o”para indicar sílaba tônica em vogal fechada. Ex.: acadêmico, – Terminadas em -i e -is. Ex.: beribéri, bílis, biquíni, cáqui, cútis,
âncora, avô. grátis, júri, lápis, oásis, táxi.
– Acento grave/crase: Indica a junção da preposição “a” com – Terminadas em -us. Ex.: bônus, húmus, ônus, Vênus, vírus,
o artigo “a”. Ex: “Chegamos à casa”. Esse acento não indica sílaba tônus.
tônica! – Terminadas em -om e -ons. Ex.: elétrons, nêutrons, prótons.
– Til: Sobre as vogais “a” e “o”, indica que a vogal de – Terminadas em -um e -uns. Ex.: álbum, álbuns, fórum, fóruns,
determinada palavra tem som nasal, e nem sempre recai sobre a quórum, quóruns.
sílaba tônica. Exemplo: a palavra órfã tem um acento agudo, que – Terminadas em -ã e -ão. Ex.: bênção, bênçãos, ímã, ímãs,
indica que a sílaba forte é “o” (ou seja, é acento tônico), e um til órfã, órfãs, órgão, órgãos, sótão, sótãos.
(˜), que indica que a pronúncia da vogal “a” é nasal, não oral. Outro
exemplo semelhante é a palavra bênção. Acentuação das palavras Proparoxítonas
Classificam-se assim as palavras cuja antepenúltima sílaba é
— Monossílabas Tônicas e Átonas tônica, e todas recebem acento, sem exceções. Ex.: ácaro, árvore,
Mesmo as palavras com apenas uma sílaba podem sofrer bárbaro, cálida, exército, fétido, lâmpada, líquido, médico, pássaro,
alteração de intensidade de voz na sua pronúncia. Exemplo: observe tática, trânsito.
o substantivo masculino “dó” e a preposição “do” (contração
da preposição “de” + artigo “o”). Ao comparar esses termos, Ditongos e Hiatos
percebermos que o primeiro soa mais forte que o segundo, ou seja, Acentuam-se:
temos uma monossílaba tônica e uma átona, respectivamente. – Oxítonas com sílaba tônica terminada em abertos “_éu”,
Diante de palavras monossílabas, a dica para identificar se é tônica “_éi” ou “_ói”, sucedidos ou não por “_s”. Ex.: anéis, fiéis, herói,
(forte) ou fraca átona (fraca) é pronunciá-las em uma frase, como mausoléu, sóis, véus.
abaixo: – As letras “_i” e “_u” quando forem a segunda vogal tônica de
“Sinto grande dó ao vê-la sofrer.” um hiato e estejam isoladas ou sucedidas por “_s” na sílaba. Ex.: caí
“Finalmente encontrei a chave do carro.” (ca-í), país (pa-ís), baú (ba-ú).

Recebem acento gráfico: Não se acentuam:


– As monossílabas tônicas terminadas em: -a(s) → pá(s), má(s); – A letra “_i”, sempre que for sucedida por de “_nh”. Ex.:
-e(s) → pé(s), vê(s); -o(s) → só(s), pôs. moinho, rainha, bainha.
– As monossílabas tônicas formados por ditongos abertos -éis, – As letras “_i” e o “_u” sempre que aparecerem repetidas. Ex.:
-éu, -ói. Ex: réis, véu, dói. juuna, xiita. xiita.
– Hiatos compostos por “_ee” e “_oo”. Ex.: creem, deem, leem,
enjoo, magoo.
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O Novo Acordo Ortográfico


Confira as regras que levaram algumas palavras a perderem acentuação em razão do Acordo Ortográfico de 1990, que entrou em vigor
em 2009:

1 – Vogal tônica fechada -o de -oo em paroxítonas.


Exemplos: enjôo – enjoo; magôo – magoo; perdôo – perdoo; vôo – voo; zôo – zoo.

2 – Ditongos abertos -oi e -ei em palavras paroxítonas.


Exemplos: alcalóide – alcaloide; andróide – androide; alcalóide – alcaloide; assembléia – assembleia; asteróide – asteroide; européia
– europeia.

3 – Vogais -i e -u precedidas de ditongo em paroxítonas.


Exemplos: feiúra – feiura; maoísta – maoista; taoísmo – taoismo.

4 – Palavras paroxítonas cuja terminação é -em, e que possuem -e tônico em hiato.


Isso ocorre com a 3a pessoa do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo. Exemplos: deem; lêem – leem; relêem – releem;
revêem.

5 – Palavras com trema: somente para palavras da língua portuguesa. Exemplos: bilíngüe – bilíngue; enxágüe – enxágue; linguïça –
linguiça.

6 – Paroxítonas homógrafas: são palavras que têm a mesma grafia, mas apresentam significados diferentes. Exemplo: o verbo PARAR:
pára – para. Antes do Acordo Ortográfico, a flexão do verbo “parar” era acentuada para que fosse diferenciada da preposição “para”.
Atualmente, nenhuma delas recebe acentuação. Assim:
Antes: Ela sempre pára para ver a banda passar. [verbo / preposição]
Hoje: Ela sempre para para ver a banda passar. [verbo / preposição]

CLASSES DE PALAVRAS.

— Definição
Classes gramaticais são grupos de palavras que organizam o estudo da gramática. Isto é, cada palavra existente na língua portuguesa
condiz com uma classe gramatical, na qual ela é inserida em razão de sua função. Confira abaixo as diversas funcionalidades de cada classe
gramatical.

— Artigo
É a classe gramatical que, em geral, precede um substantivo, podendo flexionar em número e em gênero.

A classificação dos artigos


Artigos definidos: servem para especificar um substantivo ou para referirem-se a um ser específico por já ter sido mencionado ou por
ser conhecido mutuamente pelos interlocutores. Eles podem flexionar em número (singular e plural) e gênero (masculino e feminino).
Artigos indefinidos: indicam uma generalização ou a ocorrência inicial do representante de uma dada espécie, cujo conhecimento não
é compartilhado entre os interlocutores, por se tratar da primeira vez em que aparece no discurso. Podem variar em número e gênero.
Observe:

NÚMERO/GÊNERO MASCULINO FEMININO EXEMPLOS


Preciso de um pedreiro.
Singular Um Uma
Vi uma moça em frente à casa.
Localizei uns documentos antigos.
Plural Umas Umas
Joguei fora umas coisas velhas.

Outras funções do artigo


Substantivação: é o nome que se dá ao fenômeno de transformação de adjetivos e verbos em substantivos a partir do emprego do
artigo. Observe:
– Em “O caminhar dela é muito elegante.”, “caminhar”, que teria valor de verbo, passou a ser o substantivo do enunciado.

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Indicação de posse: antes de palavras que atribuem parentesco ou de partes do corpo, o artigo definido pode exprimir relação de
posse. Por exemplo:
“No momento em que ela chegou, o marido já a esperava.”
Na frase, o artigo definido “a” esclarece que se trata do marido do sujeito “ela”, omitindo o pronome possessivo dela.

Expressão de valor aproximado: devido à sua natureza de generalização, o artigo indefinido inserido antes de numeral indica valor
aproximado. Mais presente na linguagem coloquial, esse emprego dos artigos indefinidos representa expressões como “por volta de” e
“aproximadamente. Observe:
“Faz em média uns dez anos que a vi pela última vez.”
“Acrescente aproximadamente umas três ou quatro gotas de baunilha.”

Contração de artigos com preposições


Os artigos podem fazer junção a algumas preposições, criando uma única palavra contraída. A tabela abaixo ilustra como esse processo
ocorre:

PREPOSIÇÃO
de em a per/por
singular o do no ao pelo
masculino
plural os dos nos aos pelos
ARTIGOS
DEFINIDOS singular a da na à pela
feminino plural as das nas às pelas
singular um dum num
masculino plural uns duns nuns
ARTIGOS
INDEFINIDOS singular uma duma numa
feminino plural umas dumas numas

— Substantivo
Essa classe atribui nome aos seres em geral (pessoas, animais, qualidades, sentimentos, seres mitológicos e espirituais). Os substantivos
se subdividem em:
Próprios ou Comuns: são próprios os substantivos que nomeiam algo específico, como nomes de pessoas (Pedro, Paula) ou lugares
(São Paulo, Brasil). São comuns os que nomeiam algo na sua generalidade (garoto, caneta, cachorro).
Primitivos ou derivados: se não for formado por outra palavra, é substantivo primitivo (carro, planeta); se formado por outra palavra,
é substantivo derivado (carruagem, planetário).
Concretos ou abstratos: os substantivos que nomeiam seres reais ou imaginativos, são concretos (cavalo, unicórnio); os que nomeiam
sentimentos, qualidades, ações ou estados são abstratos.
Substantivos coletivos: são os que nomeiam os seres pertencentes ao mesmo grupo. Exemplos: manada (rebanho de gado),
constelação (aglomerado de estrelas), matilha (grupo de cães).

— Adjetivo
É a classe de palavras que se associa ao substantivo para alterar o seu significado, atribuindo-lhe caracterização conforme uma
qualidade, um estado e uma natureza, bem como uma quantidade ou extensão à palavra, locução, oração, pronome, enfim, ao que quer
que seja nomeado.

Os tipos de adjetivos
Simples e composto: com apenas um radical, é adjetivo simples (bonito, grande, esperto, miúdo, regular); apresenta mais de um
radical, é composto (surdo-mudo, afrodescendente, amarelo-limão).
Primitivo e derivado: o adjetivo que origina outros adjetivos é primitivo (belo, azul, triste, alegre); adjetivos originados de verbo,
substantivo ou outro adjetivo são classificados como derivados (ex.: substantivo morte → adjetivo mortal; adjetivo lamentar → adjetivo
lamentável).
Pátrio ou gentílico: é a palavra que indica a nacionalidade ou origem de uma pessoa (paulista, brasileiro, mineiro, latino).

O gênero dos adjetivos


Uniformes: possuem forma única para feminino e masculino, isto é, não flexionam seu termo. Exemplo: “Fred é um amigo leal.” / “Ana
é uma amiga leal.”

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Biformes: os adjetivos desse tipo possuem duas formas, que (pretérito, presente ou futuro). Perceba que a conjugação desse
variam conforme o gênero. Exemplo: “Menino travesso.” / “Menina no presente do indicativo: o radical não sofre quaisquer alterações,
travessa”. tampouco a desinência. Portanto, o verbo nutrir é regular: Eu nutro;
tu nutre; ele/ela nutre; nós nutrimos; vós nutris; eles/elas nutrem.
O número dos adjetivos – Verbos irregulares: os verbos irregulares, ao contrário dos
Por concordarem com o número do substantivo a que se regulares, têm seu radical modificado quando conjugados e /ou
referem, os adjetivos podem estar no singular ou no plural. Assim, têm desinência diferente da apresentada pelo verbo paradigma.
a sua composição acompanha os substantivos. Exemplos: pessoa Exemplo: analise o verbo dizer conjugado no pretérito perfeito
instruída → pessoas instruídas; campo formoso → campos do indicativo: Eu disse; tu dissestes; ele/ela disse; nós dissemos;
formosos. vós dissestes; eles/elas disseram. Nesse caso, o verbo da segunda
conjugação (-er) tem seu radical, diz, alterado, além de apresentar
O grau dos adjetivos duas desinências distintas do verbo paradigma”. Se o verbo dizer
Quanto ao grau, os adjetivos se classificam em comparativo fosse regular, sua conjugação no pretérito perfeito do indicativo
(compara qualidades) e superlativo (intensifica qualidades). seria: dizi, dizeste, dizeu, dizemos, dizestes, dizeram.

Comparativo de igualdade: “O novo emprego é tão bom — Pronome


quanto o anterior.” O pronome tem a função de indicar a pessoa do discurso (quem
Comparativo de superioridade: “Maria é mais prestativa do fala, com quem se fala e de quem se fala), a posse de um objeto
que Luciana.” e sua posição. Essa classe gramatical é variável, pois flexiona em
Comparativo de inferioridade: “O gerente está menos atento número e gênero. Os pronomes podem suplantar o substantivo
do que a equipe.” ou acompanhá-lo; no primeiro caso, são denominados “pronome
Superlativo absoluto: refere-se a apenas um substantivo, substantivo” e, no segundo, “pronome adjetivo”. Classificam-se em:
podendo ser: pessoais, possessivos, demonstrativos, interrogativos, indefinidos e
– Analítico - “A modelo é extremamente bonita.” relativos.
– Sintético - “Pedro é uma pessoa boníssima.”
Pronomes pessoais
Superlativo relativo: refere-se a um grupo, podendo ser de: Os pronomes pessoais apontam as pessoas do discurso
– Superioridade - “Ela é a professora mais querida da escola.” (pessoas gramaticais), e se subdividem em pronomes do caso reto
– Inferioridade - “Ele era o menos disposto do grupo.” (desempenham a função sintática de sujeito) e pronomes oblíquos
(atuam como complemento), sendo que, para cada caso reto, existe
Pronome adjetivo um correspondente oblíquo.
Recebem esse nome porque, assim como os adjetivos, esses
pronomes alteram os substantivos aos quais se referem. Assim, CASO RETO CASO OBLÍQUO
esse tipo de pronome flexiona em gênero e número para fazer
concordância com os substantivos. Exemplos: “Esta professora é Eu Me, mim, comigo.
a mais querida da escola.” (o pronome adjetivo esta determina o Tu Te, ti, contigo.
substantivo comum professora).
Ele Se, o, a , lhe, si, consigo.
Locução adjetiva Nós Nos, conosco.
Uma locução adjetiva é formada por duas ou mais palavras,
Vós Vos, convosco.
que, associadas, têm o valor de um único adjetivo. Basicamente,
consiste na união preposição + substantivo ou advérbio. Eles Se, os, as, lhes, si, consigo.
Exemplos:
– Criaturas da noite (criaturas noturnas). Observe os exemplos:
– Paixão sem freio (paixão desenfreada). – Na frase “Maria está feliz. Ela vai se casar.”, o pronome cabível
– Associação de comércios (associação comercial). é do caso reto. Quem vai se casar? Maria.
– Na frase “O forno? Desliguei-o agora há pouco. O pronome
— Verbo “o” completa o sentido do verbo. Fechei o que? O forno.
É a classe de palavras que indica ação, ocorrência, desejo,
fenômeno da natureza e estado. Os verbos se subdividem em: Lembrando que os pronomes oblíquos o, a, os, as, lo, la, los, las,
Verbos regulares: são os verbos que, ao serem conjugados, não no, na nos, e nas desempenham apenas a função de objeto direto.
têm seu radical modificado e preservam a mesma desinência do
verbo paradigma, isto é, terminado em “-ar” (primeira conjugação),
“-er” (segunda conjugação) ou “-ir” (terceira conjugação). Observe
o exemplo do verbo “nutrir”:
– Radical: nutr (a parte principal da palavra, onde reside seu
significado).
– Desinência: “-ir”, no caso, pois é a terminação da palavra e,
tratando-se dos verbos, indica pessoa (1a, 2a, 3a), número (singular
ou plural), modo (indicativo, subjuntivo ou imperativo) e tempo
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Pronomes possessivos
Esses pronomes indicam a relação de posse entre o objeto e a pessoa do discurso.

PESSOA DO DISCURSO PRONOME


1 pessoa – Eu
a
Meu, minha, meus, minhas
2 pessoa – Tu
a
Teu, tua, teus, tuas
3 pessoa–
a
Seu, sua, seus, suas

Exemplo: “Nossos filhos cresceram.” → o pronome indica que o objeto pertence à 1ª pessoa (nós).

Pronomes de tratamento
Tratam-se termos solenes que, em geral, são empregados em contextos formais — a única exceção é o pronome você. Eles têm a
função de promover uma referência direta do locutor para interlocutor (parceiros de comunicação). São divididos conforme o nível de
formalidade, logo, para cada situação, existe um pronome de tratamento específico. Apesar de expressarem interlocução (diálogo), à qual
seria adequado o emprego do pronome na segunda pessoa do discurso (“tu”), no caso dos pronomes de tratamento, os verbos devem ser
usados em 3a pessoa.
PRONOME USO ABREVIAÇÕES
Você situações informais V./VV
Senhor (es) e
pessoas mais velhas Sr. Sr.a (singular) e Srs. , Sra.s. (plural)
Senhora (s)
Vossa Senhoria em correspondências e outros textos redigidos V. S.a/V.Sas
altas autoridades, como Presidente da República, senadores,
Vossa Excelência V. Ex.a/ V. Ex.as
deputados, embaixadores
Vossa Magnificência reitores das Universidades V. Mag.a/V. Mag.as
Vossa Alteza príncipes, princesas, duques V.A (singular) e V.V.A.A. (plural)
Vossa Reverendíssima sacerdotes e religiosos em geral V. Rev. m.a/V. Rev. m. as
Vossa Eminência cardeais V. Ex.a/V. Em.as
Vossa Santidade Papa V.S.

Pronomes demonstrativos
Sua função é indicar a posição dos seres no que se refere ao tempo ao espaço e à pessoa do discurso – nesse último caso, o pronome
determina a proximidade entre um e outro. Esses pronomes flexionam-se em gênero e número.

PESSOA DO DISCURSO PRONOMES POSIÇÃO


1 pessoa
a
Este, esta, estes, estas, isto. Os seres ou objetos estão próximos da pessoa que fala.
Os seres ou objetos estão próximos da pessoa com quem se
2a pessoa Esse, essa, esses, essas, isso.
fala.
3a pessoa Aquele, aquela, aqueles, aquelas, aquilo. Com quem se fala.

Observe os exemplos:
“Esta caneta é sua?”
“Esse restaurante é bom e barato.”

Pronomes Indefinidos
Esses pronomes indicam indeterminação ou imprecisão, assim, estão sempre relacionados à 3ª pessoa do discurso. Os pronomes
indefinidos podem ser variáveis (flexionam conforme gênero e número) ou invariáveis (não flexionam). Analise os exemplos abaixo:
– Em “Alguém precisa limpar essa sujeira.”, o termo “alguém” quer dizer uma pessoa de identidade indefinida ou não especificada).
– Em “Nenhum convidado confirmou presença.”, o termo “nenhum” refere-se ao substantivo “convidado” de modo vago, pois não se
sabe de qual convidado se trata.
– Em “Cada criança vai ganhar um presente especial.”, o termo “cada” refere-se ao substantivo da frase “criança”, sem especificá-lo.
– Em “Outras lojas serão abertas no mesmo local.”, o termo “outras” refere-se ao substantivo “lojas” sem especificar de quais lojas se
trata.

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Confira abaixo a tabela com os pronomes indefinidos:

CLASSIFICAÇÃO PRONOMES INDEFINIDOS


VARIÁVEIS Muito, pouco, algum, nenhum, outro, qualquer, certo, um, tanto, quanto, bastante, vários, quantos, todo.
INVARIÁVEIS Nada, ninguém, cada, algo, alguém, quem, demais, outrem, tudo.

Pronomes relativos
Os pronomes relativos, como sugere o nome, se relacionam ao termo anterior e o substituem, sendo importante, portanto, para
prevenir a repetição indevida das palavras em um texto. Eles podem ser variáveis (o qual, cujo, quanto) ou invariáveis (que, quem, onde).
Observe os exemplos:
– Em “São pessoas cuja história nos emociona.”, o pronome “cuja” se apresenta entre dois substantivos (“pessoas” e “história”) e se
relaciona àquele que foi dito anteriormente (“pessoas”).
– Em “Os problemas sobre os quais conversamos já estão resolvidos.” , o pronome “os quais” retoma o substantivo dito anteriormente
(“problemas”).

CLASSIFICAÇÃO PRONOMES RELATIVOS


VARIÁVEIS O qual, a qual, os quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quantas.
INVARIÁVEIS Quem, que, onde.

Pronomes interrogativos
Os pronomes interrogativos são palavras variáveis e invariáveis cuja função é formular perguntas diretas e indiretas. Exemplos:
“Quanto vai custar a passagem?” (oração interrogativa direta)
“Gostaria de saber quanto custará a passagem.” (oração interrogativa indireta)

CLASSIFICAÇÃO PRONOMES INTERROGATIVOS


VARIÁVEIS Qual, quais, quanto, quantos, quanta, quantas.
INVARIÁVEIS Quem, que.

— Advérbio
É a classe de palavras invariável que atua junto aos verbos, aos adjetivos e mesmo aos advérbios, com o objetivo de modificar ou
intensificar seu sentido, ao adicionar-lhes uma nova circunstância. De modo geral, os advérbios exprimem circunstâncias de tempo, modo,
lugar, qualidade, causa, intensidade, oposição, aprovação, afirmação, negação, dúvida, entre outras noções. Confira na tabela:

CLASSIFICAÇÃO PRINCIPAIS TERMOS EXEMPLOS


Bem, mal, assim, melhor, pior, depressa,
devagar.
“Coloquei-o cuidadosamente no berço.”
ADVÉRBIO DE MODO Grande parte das palavras terminam em
“Andou depressa por causa da chuva”
“-mente”, como cuidadosamente, calmamente,
tristemente.
“O carro está fora.”
ADVERBIO DE LUGAR Perto, longe, dentro, fora, aqui, ali, lá e atrás. “Foi bem no teste?”
“Demorou, mas chegou longe!”
Antes, depois, hoje, ontem, amanhã sempre, “Sempre que precisar de algo, basta chamar-me.”
ADVÉRBIO DE TEMPO
nunca, cedo e tarde. “Cedo ou tarde, far-se-á justiça.”
“Eles formam um casal tão bonito!”
ADVÉRBIO DE INTENSIDADE Muito, pouco, bastante, tão, demais, tanto. “Elas conversam demais”
“Você saiu muito depressa”
Sim e decerto e palavras afirmativas com o
“Decerto passaram por aqui”
sufixo “-mente” (certamente, realmente).
ADVÉRBIO DE AFIRMAÇÃO “Claro que irei!”
Palavras como claro e positivo, podem ser
“Entendi, sim.”
advérbio, dependendo do contexto.

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Não e nem. Palavras como negativo, nenhum, “Jamais reatarei meu namoro com ele.”
ADVÉRBIO DE NEGAÇÃO nunca, jamais, entre outras, podem ser “Sequer pensou para falar.”
advérbio de negação, conforme o contexto. “Não pediu ajuda.”
Talvez, quiçá, porventura e palavras que “Quiçá seremos recebidas.”
ADVÉRBIO DE DÚVIDA expressem dúvida acrescidas do sufixo “Provavelmente sairei mais cedo.”
“-mente”, como possivelmente. “Talvez eu saia cedo.”
“Por que vendeu o livro?” (oração interrogativa
Quando, como, onde, aonde, donde, por que. direta, que indica causa)
ADVÉRBIO DE Esse advérbio pode indicar circunstâncias de “Quando posso sair?” (oração interrogativa direta,
INTERROGAÇÃO modo, tempo, lugar e causa. É usado somente que indica tempo)
em frases interrogativas diretas ou indiretas. “Explica como você fez isso.”
(oração interrogativa indireta, que indica modo).

— Conjunção
As conjunções integram a classe de palavras que tem a função de conectar os elementos de um enunciado ou oração e, com isso,
estabelecer uma relação de dependência ou de independência entre os termos ligados. Em função dessa relação entre os termos
conectados, as conjunções podem ser classificadas, respectivamente e de modo geral, como coordenativas ou subordinativas. Em outras
palavras, as conjunções são um vínculo entre os elementos de uma sentença, atribuindo ao enunciado uma maior mais clareza e precisão
ao enunciado.

Conjunções coordenativas: observe o exemplo:


“Eles ouviram os pedidos de ajuda. Eles chamaram o socorro.” – “Eles ouviram os pedidos de ajuda e chamaram o socorro.”

No exemplo, a conjunção “e” estabelece uma relação de adição ao enunciado, ao conectar duas orações em um mesmo período: além
de terem ouvido os pedidos de ajuda, chamaram o socorro. Perceba que não há relação de dependência entre ambas as sentenças, e que,
para fazerem sentido, elas não têm necessidade uma da outra. Assim, classificam-se como orações coordenadas, e a conjunção que as
relaciona, como coordenativa.

Conjunções subordinativas: analise este segundo caso:


“Não passei na prova, apesar de ter estudado muito.”

Neste caso, temos uma locução conjuntiva (duas palavras desempenham a função de conjunção). Além disso, notamos que o sentido
da segunda sentença é totalmente dependente da informação que é dada na primeira. Assim, a primeira oração recebe o nome de oração
principal, enquanto a segunda, de oração subordinada. Logo, a conjunção que as relaciona é subordinativa.

Classificação das conjunções


Além da classificação que se baseia no grau de dependência entre os termos conectados (coordenação e subordinação), as conjunções
possuem subdivisões.
Conjunções coordenativas: essas conjunções se reclassificam em razão do sentido que possuem cinco subclassificações, em função o
sentido que estabelecem entre os elementos que ligam. São cinco:

CLASSIFICAÇÃO FUNÇÃO EXEMPLOS


Estabelecer relação de adição (positiva
“No safári, vimos girafas, leões e zebras.” /
Conjunções coordenativas ou negativa). As principais conjunções
“Ela ainda não chegou, nem sabemos quando vai
aditivas coordenativas aditivas são “e”, “nem” e
chegar.”
“também”.
Estabelecer relação de oposição. As principais
“Havia flores no jardim, mas estavam murchando.” /
Conjunções coordenativas conjunções coordenativas adversativas
“Era inteligente e bom com palavras, entretanto,
adversativas são “mas”, “porém”, “contudo”, “todavia”,
estava nervoso na prova.”
“entretanto”.
Estabelecer relação de alternância. As principais “Pode ser que o resultado saia amanhã ou depois.” /
Conjunções coordenativas
conjunções coordenativas alternativas são “ou”, “Ora queria viver ali para sempre, ora queria mudar
alternativas
“ou... ou”, “ora... ora”, “talvez... talvez”.. de país.”

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Estabelecer relação de conclusão. As principais “Não era bem remunerada, então decidi trocar de
Conjunções coordenativas
conjunções coordenativas conclusivas são emprego.” /
conclusivas
“portanto”, “então”, “assim”, “logo”. “Penso, logo existo.”
Estabelecer relação de explicação. As principais “Quisemos viajar porque não conseguiríamos
Conjunções coordenativas
conjunções coordenativas explicativas são descansar aqui em casa.” /
explicativas
“porque”, “pois”, “porquanto”. “Não trouxe o pedido, pois não havia ouvido.”

Conjunções subordinativas: com base no sentido construído entre as duas orações relacionadas, a conjunção subordinativa pode ser
de dois subtipos:

1 – Conjunções integrantes: introduzem a oração que cumpre a função de sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo,
complemento nominal ou aposto de outra oração. Essas conjunções são que e se. Exemplos:
«É obrigatório que o senhor compareça na data agendada.”
“Gostaria de saber se o resultado sairá ainda hoje.”

2 – Conjunções adverbiais: introduzem sintagmas adverbiais (orações que indicam uma circunstância adverbial relacionada à oração
principal) e se subdividem conforme a tabela abaixo:

CLASSIFICAÇÃO FUNÇÃO EXEMPLOS


São empregadas para introduzir a oração que Que e se. Analise:
cumpre a função de sujeito, objeto direito, “É obrigatório que o senhor compareça na data
Conjunções Integrantes
objeto indireto, predicativo, complemento agendada.” e
nominal ou aposto de outra oração. “Gostaria de saber se o resultado sairá ainda hoje.”
Conjunções subornativas Introduzem uma oração subordinada que Porque, pois, por isso que, uma vez que, já que, visto
causais denota causa. que, que, porquanto.
Estabelecer relação de alternância. As principais
Conjunções subornativas
conjunções coordenativas alternativas são “ou”, Conforme, segundo, como, consoante.
conformativas
“ou... ou”, “ora... ora”, “talvez... talvez”..
Introduzem uma oração subordinada em que
Conjunções subornativas é indicada uma hipótese ou uma condição Se, caso, salvo se, desde que, contanto que, dado
condicionais necessária para que seja realizada ou não o fato que, a menos que, a não ser que.
principal.
Mais, menos, menor, maior, pior, melhor, seguidas
Conjunções subornativas Introduzem uma oração que expressa uma de que ou do que. Qual depois de tal. Quanto depois
comparativas comparação. de tanto. Como, assim como, como se, bem como,
que nem.
Indicam uma oração em que se admite um Por mais que, por menos que, apesar de que,
Conjunções subornativas
fato contrário à ação principal, mas incapaz de embora, conquanto, mesmo que, ainda que, se bem
concessivas
impedí-la. que.
Introduzem uma oração, cujos acontecimentos
Conjunções subornativas são simultâneos, concomitantes, ou seja, À proporção que, ao passo que, à medida que, à
proporcionais ocorrem no mesmo espaço temporal daqueles proporção que.
contidos na outra oração.
Depois que, até que, desde que, cada vez que, todas
Conjunções subornativas Introduzem uma oração subordinada indicadora
as vezes que, antes que, sempre que, logo que, mal,
temporais de circunstância de tempo.
quando.
Introduzem uma oração na qual é indicada a Tal, tão, tamanho, tanto (em uma oração, seguida
Conjunções subornativas
consequência do que foi declarado na oração pelo que em outra oração). De maneira que, de
consecutivas
anterior. forma que, de sorte que, de modo que.
Conjunções subornativas Introduzem uma oração indicando a finalidade
A fim de que, para que.
finais da oração principal.

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— Numeral Coletivos: correspondem aos substantivos que exprimem


É a classe de palavra variável que exprime um número quantidades precisas, como dezena (10 unidades) ou dúzia (12
determinado ou a colocação de alguma coisa dentro de uma unidades).
sequência. Os numerais podem ser: cardinais (um, dois, três), – Os numerais coletivos sofrem a flexão de número: unidade/
ordinais (primeiro, segundo, terceiro), fracionários (meio, terço, unidades, dúzia/dúzias, dezena/dezenas, centena/centenas.
quarto) e multiplicativos (dobro, triplo, quádruplo). Antes de nos
aprofundarmos em cada caso, vejamos o emprego dos numerais, — Preposição
que tem três principais finalidades: Essa classe de palavras cujo objetivo é marcar as relações
1 – Indicar leis e decretos: nesses casos, emprega-se o numeral gramaticais que outras classes (substantivos, adjetivos, verbos e
ordinal somente até o número nono; após, devem ser utilizados advérbios) exercem no discurso. Por apenas marcarem algumas
os numerais cardinais. Exemplos: Parágrafo 9° (parágrafo nono); relações entre as unidades linguísticas dentro do enunciado,
Parágrafo 10 (Parágrafo 10). as preposições não possuem significado próprio se isoladas no
2 – Indicar os dias do mês: nessas situações, empregam-se os discurso. Em razão disso, as preposições são consideradas classe
numerais cardinais, sendo que a única exceção é a indicação do gramatical dependente, ou seja, sua função gramatical (organização
primeiro dia do mês, para a qual deve-se utilizar o numeral ordinal. e estruturação) é principal, embora o desempenho semântico, que
Exemplos: dezesseis de outubro; primeiro de agosto. gera significado e sentido, esteja presente, possui um valor menor.
3 – Indicar capítulos, séculos, capítulos, reis e papas: após o
substantivo emprega-se o numeral ordinal até o décimo; após o Classificação das preposições
décimo utiliza-se o numeral cardinal. Exemplos: capítulo X (décimo); Preposições essenciais: são aquelas que só aparecem na língua
século IV (quarto); Henrique VIII (oitavo), Bento XVI (dezesseis). propriamente como preposições, sem outra função. São elas: a,
antes, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante,
Os tipos de numerais por (ou per, em dadas variantes geográficas ou históricas), sem,
Cardinais: são os números em sua forma fundamental e sob, sobre, trás.
exprimem quantidades. Exemplo 1 – ”Luís gosta de viajar.” e “Prefiro doce de coco.” Em
Exemplos: um dois, dezesseis, trinta, duzentos, mil. ambas as sentenças, a preposição de manteve-se sempre sendo
– Alguns deles flexionam em gênero (um/uma, dois/duas, preposição, apesar de ter estabelecido relação entre unidades
quinhentos/quinhentas). linguísticas diferentes, garantindo-lhes classificações distintas
– Alguns números cardinais variam em número, como é o caso: conforme o contexto.
milhão/milhões, bilhão/bilhões, trilhão/trilhões, e assim por diante.
– Apalavra ambos(as) é considerada um numeral cardinal, pois
significa os dois/as duas. Exemplo: Antônio e Pedro fizeram o teste, Exemplo 2 – “Estive com ele até o reboque chegar.” e “Finalizei
mas os dois/ambos foram reprovados. o quadro com textura.” Perceba que nas duas fases, a mesma
preposição tem significados distintos: na primeira, indica recurso/
Ordinais: indicam ordem de uma sequência (primeiro, segundo, instrumento; na segunda, exprime companhia. Por isso, afirma-se
décimo, centésimo, milésimo…), isto é, apresentam a ordem de que a preposição tem valor semântico, mesmo que secundário ao
sucessão e uma série, seja ela de seres, de coisas ou de objetos. valor estrutural (gramática).
– Os numerais ordinais variam em gênero (masculino e
feminino) e número (singular e plural). Exemplos: primeiro/ Classificação das preposições
primeira, primeiros/primeiras, décimo/décimos, décima/décimas, Preposições acidentais: são aquelas que, originalmente, não
trigésimo/trigésimos, trigésima/trigésimas. apresentam função de preposição, porém, a depender do contexto,
– Alguns numerais ordinais possuem o valor de adjetivo. podem assumir essa atribuição. São elas: afora, como, conforme,
Exemplo: A carne de segunda está na promoção. durante, exceto, feito, fora, mediante, salvo, segundo, visto, entre
outras.
Fracionários: servem para indicar a proporções numéricas Exemplo: ”Segundo o delegado, os depoimentos do
reduzidas, ou seja, para representar uma parte de um todo. suspeito apresentaram contradições.” A palavra “segundo”, que,
Exemplos: meio ou metade (½), um quarto (um quarto (¼), três normalmente seria um numeral (primeiro, segundo, terceiro), ao
quartos (¾), 1/12 avos. ser inserida nesse contexto, passou a ser uma preposição acidental,
– Os números fracionários flexionam-se em gênero (masculino por tem o sentido de “de acordo com”, “em conformidade com”.
e feminino) e número (singular e plural). Exemplos: meio copo de
leite, meia colher de açúcar; dois quartos do salário-mínimo. Locuções prepositivas
Recebe esse nome o conjunto de palavras com valor e
Multiplicativos: esses numerais estabelecem relação entre emprego de uma preposição. As principais locuções prepositivas
um grupo, seja de coisas ou objetos ou coisas, ao atribuir-lhes uma são constituídas por advérbio ou locução adverbial acrescido da
característica que determina o aumento por meio dos múltiplos. preposição de, a ou com. Confira algumas das principais locuções
Exemplos: dobro, triplo, undécuplo, doze vezes, cêntuplo. prepositivas.
– Em geral, os multiplicativos são invariáveis, exceto quando
atuam como adjetivo, pois, nesse caso, passam a flexionar número
e gênero (masculino e feminino). Exemplos: dose dupla de elogios,
duplos sentidos.

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abaixo de de acordo junto a


acerca de debaixo de junto de USO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE.
acima de de modo a não obstante
a fim de dentro de para com Definição: na gramática grega, o termo quer dizer “mistura “ou
“contração”, e ocorre entre duas vogais, uma final e outra inicial,
à frente de diante de por debaixo de em palavras unidas pelo sentido. Basicamente, desse modo: a
antes de embaixo de por cima de (preposição) + a (artigo feminino) = aa à; a (preposição) + aquela
(pronome demonstrativo feminino) = àquela; a (preposição) +
a respeito de em cima de por dentro de aquilo (pronome demonstrativo feminino) = àquilo. Por ser a junção
atrás de em frente de por detrás de das vogais, a crase, como regra geral, ocorre diante de palavras
femininas, sendo a única exceção os pronomes demonstrativos
através de em razão de quanto a
aquilo e aquele, que recebem a crase por terem “a” como sua vogal
com respeito a fora de sem embargo de inicial. Crase não é o nome do acento, mas indicação do fenômeno
de união representado pelo acento grave.
— Interjeição A crase pode ser a contração da preposição a com:
É a palavra invariável ou sintagma que compõem frases que – O artigo feminino definido a/as: “Foi à escola, mas não
manifestam por parte do emissor do enunciado uma surpresa, uma assistiu às aulas.”
hesitação, um susto, uma emoção, um apelo, uma ordem, etc., – O pronome demonstrativo a/as: “Vá à paróquia central.”
por parte do emissor do enunciado. São as chamadas unidades – Os pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo:
autônomas, que usufruem de independência em relação aos demais “Retorne àquele mesmo local.”
elementos do enunciado. As interjeições podem ser empregadas – O a dos pronomes relativos a qual e as quais: “São pessoas às
também para chamar exigir algo ou para chamar a atenção do quais devemos o maior respeito e consideração”.
interlocutor e são unidades cuja forma pode sofrer variações como:
– Locuções interjetivas: são formadas por grupos e palavras Perceba que a incidência da crase está sujeita à presença de
que, associadas, assumem o valor de interjeição. Exemplos: “Ai de duas vogais a (preposição + artigo ou preposição + pronome) na
mim!”, “Minha nossa!” Cruz credo!”. construção sintática.
– Palavras da língua: “Eita!” “Nossa!”
– Sons vocálicos: “Hum?!”, “Ué!”, “Ih…!» Técnicas para o emprego da crase
1 – Troque o termo feminino por um masculino, de classe
Os tipos de interjeição semelhante. Se a combinação ao aparecer, ocorrerá crase diante da
De acordo com as reações que expressam, as interjeições palavra feminina.
podem ser de: Exemplos:
“Não conseguimos chegar ao hospital / à clínica.”
ADMIRAÇÃO “Ah!”, “Oh!”, “Uau!” “Preferiu a fruta ao sorvete / à torta.”
“Comprei o carro / a moto.”
ALÍVIO “Ah!, “Ufa!” “Irei ao evento / à festa.”
ANIMAÇÃO “Coragem!”, “Força!”, “Vamos!”
2 – Troque verbos que expressem a noção de movimento (ir, vir,
APELO “Ei!”, “Oh!”, “Psiu!” chegar, voltar, etc.) pelo verbo voltar. Se aparecer a preposição da,
APLAUSO “Bravo!”, “Bis!” ocorrerá crase; caso apareça a preposição de, o acento grave não
deve ser empregado.
DESPEDIDA/SAUDAÇÃO “Alô!”, “Oi!”, “Salve!”, “Tchau!” Exemplos:
“Vou a São Paulo. / Voltei de São Paulo.”
DESEJO “Tomara!” “Vou à festa dos Silva. / Voltei da Silva.”
DOR “Ai!”, “Ui!” “Voltarei a Roma e à Itália. / Voltarei de Roma e da Itália.”
DÚVIDA “Hã?!”, “Hein?!”, “Hum?!” 3 – Troque o termo regente da preposição a por um que
ESPANTO “Eita!”, “Ué!” estabeleça a preposição por, em ou de. Caso essas preposições não
se façam contração com o artigo, isto é, não apareçam as formas
IMPACIÊNCIA
“Puxa!” pela(s), na(s) ou da(s), a crase não ocorrerá.
(FRUSTRAÇÃO)
Exemplos:
IMPOSIÇÃO “Psiu!”, “Silêncio!” “Começou a estudar (sem crase) – Optou por estudar / Gosta
SATISFAÇÃO “Eba!”, “Oba!” de estudar / Insiste em estudar.”
“Refiro-me à sua filha (com crase) – Apaixonei-me pela sua
SUSPENSÃO “Alto lá!”, “Basta!”, “Chega!” filha / Gosto da sua filha / Votarei na sua filha.”
“Refiro-me a você. (sem crase) – Apaixonei-me por você /
Gosto de você / Penso em você.”

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4 – Tratando-se de locuções, isto é, grupo de palavras que contém verbo.


expressam uma única ideia, a crase somente deve ser empregada 2 – “Eu quero silêncio.”: A presença do verbo classifica a frase
se a locução for iniciada por preposição e essa locução tiver como como oração.
núcleo uma palavra feminina, ocorrerá crase.
Exemplos: Unidade sintática (ou termo sintático): a sintaxe de uma
“Tudo às avessas.” oração é formada por cada um dos termos, que, por sua vez,
“Barcos à deriva.” estabelecem relação entre si para dar atribuir sentido à frase. No
exemplo supracitado, a palavra “quero” deve unir-se às palavras
5 – Outros casos envolvendo locuções e crase: “Eu” e “silêncio” para que o receptor compreenda a mensagem.
Na locução «à moda de”, pode estar implícita a expressão Dessa forma, cada palavra desta oração recebe o nome de termo
“moda de”, ficando somente o à explícito. ou unidade sintática, desempenhando, cada qual, uma função
Exemplos: sintática diferente.
“Arroz à (moda) grega.”
“Bife à (moda) parmegiana.”
Classificação das orações: as orações podem ser simples ou
Nas locuções relativas a horários, ocorra crase apenas no caso compostas. As orações simples apresentam apenas uma frase; as
de horas especificadas e definidas: Exemplos: compostas apresentam duas ou mais frases na mesma oração.
“À uma hora.” Analise os exemplos abaixo e perceba que a oração composta tem
“Às cinco e quinze”. duas frases, e cada uma tem seu próprio sentido.
– Oração simples: “Eu quero silêncio.”
– Oração composta: “Eu quero silêncio para poder ouvir o
noticiário”.
SINTAXE DA ORAÇÃO E DO PERÍODO.
Período
Definição: sintaxe é a área da Gramática que se dedica ao É a construção composta por uma ou mais orações, sempre com
estudo da ordenação das palavras em uma frase, das frases em um sentido completo. Assim como as orações, o período também pode
discurso e também da coerência (relação lógica) que estabelecem ser simples ou composto, que se diferenciam em razão do número
entre si. Sempre que uma frase é construída, é fundamental que de orações que apresenta: o período simples contém apenas uma
ela contenha algum sentido para que possa ser compreendida pelo oração, e o composto mais de uma. Lembrando que a oração é uma
receptor. Por fazer a mediação da combinação entre palavras e frase que contém um verbo. Assim, para não ter dúvidas quanto à
orações, a sintaxe é essencial para que essa compreensão se efetive. classificação, basta contar quantos verbos existentes na frase.
Para que se possa compreender a análise sintática, é importante – Período simples: “Resolvo esse problema até amanhã.” -
retomarmos alguns conceitos, como o de frase, oração e período. apresenta apenas um verbo.
Vejamos: – Período composto: Resolvo esse problema até amanhã ou
ficarei preocupada.” - contém dois verbos.
Frase
Trata-se de um enunciado que carrega um sentido completo — Análise Sintática
que possui sentido integral, podendo ser constituída por somente É o nome que se dá ao processo que serve para esmiuçar a
uma ou várias palavras podendo conter verbo (frase verbal) ou estrutura de um período e das orações que compõem um período.
não (frase nominal). Uma frase pode exprimir ideias, sentimentos, Termos da oração: é o nome dado às palavras que atribuem
apelos ou ordens. Exemplos: “Saia!”, “O presidente vai fazer seu sentido a uma frase verbal. A reunião desses elementos forma o
discurso.”, “Atenção!”, “Que horror!”. que chamamos de estrutura de um período. Os termos essenciais
se subdividem em: essenciais, integrantes e acessórios. Acompanhe
A ordem das palavras: associada à pontuação apropriada, a seguir as especificidades de cada tipo.
a disposição das palavras na frase também é fundamental para a
compreensão da informação escrita, e deve seguir os padrões da 1 – Termos Essenciais (ou fundamentais) da oração
Língua Portuguesa. Observe que a frase “A professora já vai falar.” Sujeito e Predicado: enquanto um é o ser sobre quem/o qual
Pode ser modificada para, por exemplo, “Já vai falar a professora.” , se declara algo, o outro é o que se declara sobre o sujeito e, por
sem que haja prejuízo de sentido. No entanto, a construção “Falar a isso, sempre apresenta um verbo ou uma locução verbal, como nos
já professora vai.” , apesar da combinação das palavras, não poderá respectivos exemplos a seguir:
ser compreendida pelo interlocutor. Exemplo: em “Fred fez um lindo discurso.”, o sujeito é “Fred”,
que “fez um lindo discurso” (é o restante da oração, a declaração
Oração sobre o sujeito).
É uma unidade sintática que se estrutura em redor de um Nem sempre o sujeito está no início da oração (sujeito direto),
verbo ou de uma locução verbal. Uma frase pode ser uma oração, podendo apresentar-se também no meio da fase ou mesmo após
desde que tenha um verbo e um predicado; quanto ao sujeito, nem o predicado (sujeito inverso). Veja um exemplo para cada um dos
sempre consta em uma oração, assim como o sentido completo. O respectivos casos:
importante é que seja compreensível pelo receptor da mensagem. “Fred fez um lindo discurso.”
Analise, abaixo, uma frase que é oração com uma que não é. “Um lindo discurso Fred fez.”
1 – Silêncio!”: É uma frase, mas não uma oração, pois não “Fez um lindo discurso, Fred.”
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LÍNGUA PORTUGUESA

– Sujeito determinado: é aquele identificável facilmente pela – Predicado Verbo-Nominal: esse tipo deve apresentar sempre
concordância verbal. um predicativo do sujeito associado a uma ação do sujeito acrescida
– Sujeito determinado simples: possui apenas um núcleo de uma qualidade sua. Exemplo: “As meninas saíram mais cedo da
ligado ao verbo. Ex.: “Júlia passou no teste”. aula. Por isso, estavam contentes.
– Sujeito determinado composto: possui dois ou mais núcleos. O sujeito “As meninas” possui como predicado o verbo “sair”
Ex.: “Júlia e Felipe passaram no teste.” e também o adjetivo “contentes”. Logo, “estavam contentes” é o
predicativo do sujeito e o verbo de ligação é “estar”.
– Sujeito determinado implícito: não aparece facilmente na
oração, mas a frase é dotada de entendimento. Ex.: “Passamos no 2 – Termos integrantes da oração
teste.” Aqui, o termo “nós” não está explícito na oração, mas a Basicamente, são os termos que completam os verbos de uma
concordância do verbo o destaca de forma indireta. oração, atribuindo sentindo a ela. Eles podem ser complementos
– Sujeito indeterminado: é o que não está visível na oração verbais, complementos nominais ou mesmo agentes da passiva.
e, diferente do caso anterior, não há concordância verbal para – Complementos Verbais: como sugere o nome, esses termos
determiná-lo. completam o sentido de verbos, e se classificam da seguinte forma:
– Objeto direto: completa verbos transitivos diretos, não
Esse sujeito pode aparecer com: exigindo preposição.
– Verbo na 3a pessoa do plural. Ex.: “Reformaram a casa velha”. – Objeto indireto: complementam verbos transitivos indiretos,
– Verbo na 3a pessoa do singular + pronome “se”: “Contrata-se isto é, aqueles que dependem de preposição para que seu sentido
padeiro.”». seja compreendido.
– Verbo no infinitivo impessoal: “Vai ser mais fácil se você
estiver lá.” Quanto ao objeto direto, podemos ter:
– Um pronome substantivo: “A equipe que corrigiu as provas.”
– Orações sem sujeito: são compostas somente por predicado, – Um pronome oblíquo direto: “Questionei-a sobre o
e sua mensagem está centralizada no verbo, que é impessoal. acontecido.”
Essas orações podem ter verbos que constituam fenômenos da – Um substantivo ou expressão substantivada: “Ele consertou
natureza, ou os verbos ser, estar, haver e fazer quando indicativos os aparelhos.»
de fenômeno meteorológico ou tempo. Observe os exemplos:
“Choveu muito ontem”. – Complementos Nominais: esses termos completam o sentido
“Era uma hora e quinze”. de uma palavra, mas não são verbos; são nomes (substantivos,
adjetivos ou advérbios), sempre seguidos por preposição. Observe
– Predicados Verbais: resultam da relação entre sujeito e os exemplos:
verbo, ou entre verbo e complementos. Os verbos, por sua vez, – “Maria estava satisfeita com seus resultados.” – observe que
também recebem sua classificação, conforme abaixo: “satisfeita” é adjetivo, e “com seus resultados” é complemento
– Verbo transitivo: é o verbo que transita, isto é, que vai adiante nominal.
para passar a informação adequada. Em outras palavras, é o verbo – “O entregador atravessou rapidamente pela viela. –
que exige complemento para ser entendido. Para produzir essa “rapidamente” é advérbio de modo.
compreensão, esse trânsito do verbo, o complemento pode ser – “Eu tenho medo do cachorro.” – Nesse caso, “medo” é um
direto ou indireto. No primeiro caso, a ligação direta entre verbo e substantivo.
complemento. Ex.: “Quero comprar roupas.”. No segundo, verbo e
complemento são unidos por preposição. Ex.: “Preciso de dinheiro.” – Agentes da Passiva: são os termos de uma oração que praticam
– Verbo intransitivo: não requer complemento, é provido de a ação expressa pelo verbo, quando este está na voz passiva. Assim,
sentido completo. São exemplos: morrer, acordar, nascer, nadar, estão normalmente acompanhados pelas preposições de e por.
cair, mergulhar, correr. Observe os exemplos do item anterior modificados para a voz
– Verbo de ligação: servem para expressar características de passiva:
estado ao sujeito, sendo eles: estado permanente (“Pedro é alto.”), – “Os resultados foram motivo de satisfação de Maria.”
estado de transição (“Pedro está acamado.”), estado de mutação – “O cachorro foi alvo do meu medo.”
(“Pedro esteve enfermo.”), estado de continuidade (“Pedro continua – “A viela foi atravessada rapidamente pelo entregador.”
esbelto.”) e estado aparente (“Pedro parece nervoso.”).
– Predicados nominais: são aqueles que têm um nome 3 – Termos acessórios da oração
(substantivo ou adjetivo) como cujo núcleo significativo da oração. Diversamente dos termos essenciais e integrantes, os termos
Ademais, ele se caracteriza pela indicação de estado ou qualidade, acessórios não são fundamentais o sentido da oração, mas servem
e é composto por um verbo de ligação mais o predicativo do sujeito. para complementar a informação, exprimindo circunstância,
– Predicativo do sujeito: é um termo que atribui características determinando o substantivo ou caracterizando o sujeito. Confira
ao sujeito por meio de um verbo. Exemplo: em “Marta é abaixo quais são eles:
inteligente.”, o adjetivo é o predicativo do sujeito “Marta”, ou seja, – Adjunto adverbial: são os termos que modificam o sentido
é sua característica de estado ou qualidade. Isso é comprovado pelo do verbo, do adjetivo ou do advérbio. Analise os exemplos:
“ser” (é), que é o verbo de ligação entre Marta e sua característica “Dormimos muito.”
atual. Esse elemento não precisa ser, obrigatoriamente, um adjetivo,
mas pode ser uma locução adjetiva, ou mesmo um substantivo ou O termo acessório “muito” classifica o verbo “dormir”.
palavra substantivada. “Ele ficou pouco animado com a notícia.”
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LÍNGUA PORTUGUESA

O termo acessório “pouco” classifica o adjetivo “animado” – Oração coordenada explicativa: “Marta passou no exame
“Maria escreve bastante bem.” porque estudou bastante.”

O termo acessório “bastante” modifica o advérbio “bem”. – Período composto por subordinação: são constituídos por
orações dependentes uma da outra. Como as orações subordinadas
Os adjuntos adverbiais podem ser: apresentam sentidos incompletos, não podem ser entendidas
– Advérbios: pouco, bastante, muito, ali, rapidamente longe, etc. de forma separada. As orações subordinadas são divididas em
– Locuções adverbiais: o tempo todo, às vezes, à beira-mar, etc. substantivas, adverbiais e adjetivas. Veja os exemplos:
– Orações: «Quando a mercadoria chegar, avise.” (advérbio de – Oração subordinada substantiva subjetiva: “Ficou provado
tempo). que o suspeito era realmente o culpado.”
– Oração subordinada substantiva objetiva direta: “Eu não
– Adjunto adnominal: é o termo que especifica o substantivo, queria que isso acontecesse.”
com função de adjetivo. Em razão disso, pode ser representado – Oração subordinada substantiva objetiva indireta: “É
por adjetivos, locuções adjetivas, artigos, numerais adjetivos ou obrigatório de que todos os estudantes sejam assíduos.”
pronomes adjetivos. Analise o exemplo: – Oração subordinada substantiva completiva nominal: “Tenho
“O jovem apaixonado presenteou um lindo buquê à sua colega expectativa de que os planos serão melhores em breve!”
de escola.” – Oração subordinada substantiva predicativa: “O que importa
– Sujeito: “jovem apaixonado” é que meus pais são saudáveis.”
– Núcleo do predicado verbal: “presenteou”
– Objeto direto do verbo entregar: “um lindo buquê” – Oração subordinada substantiva apositiva: “Apenas saiba
– Objeto indireto: “à amiga de classe” – Adjuntos adnominais: disto: que tudo esteja organizado quando eu voltar!”
no sujeito, temos o artigo “o” e “apaixonado”, pois caracterizam – Oração subordinada adverbial causal: “Não posso me
o “jovem”, núcleo do sujeito; o numeral “um” e o adjetivo “lindo” demorar porque tenho hora marcada na psicóloga.”
fazem referência a “buquê” (substantivo); o artigo “à” (contração – Oração subordinada adverbial consecutiva: “Ficamos tão
da preposição + artigo feminino) e a locução “de trabalho” são os felizes que pulamos de alegria.”
adjuntos adnominais de “colega”. – Oração subordinada adverbial final: “Eles ficaram vigiando
para que nós chegássemos a casa em segurança.”
– Aposto: é o termo que se relaciona com o sujeito para – Oração subordinada adverbial temporal: “Assim que eu
caracterizá-lo, contribuindo para a complementação uma cheguei, eles iniciaram o trabalho.”
informação já completa. Observe os exemplos: – Oração subordinada adverbial condicional: “Se você vier logo,
“Michael Jackson, o rei do pop, faleceu há uma década.” espero por você.»
“Brasília, capital do Brasil, foi construída na década de 1950.” – Oração subordinada adverbial concessiva: “Ainda que
estivesse cansado, concluiu a maratona.”
– Vocativo: esse termo não apresenta relação sintática nem – Oração subordinada adverbial comparativa: “Marta sentia
com sujeito nem com predicado, tendo sua função no chamamento como se ainda vivesse no interior.”
ou na interpelação de um ouvinte, e se relaciona com a 2a pessoa – Oração subordinada adverbial conformativa: “Conforme
do discurso. Os vocativos são o receptor da mensagem, ou seja, a combinamos anteriormente, entregarei o produto até amanhã.”
quem ela é dirigida. Podem ser acompanhados de interjeições de – Oração subordinada adverbial proporcional: “Quanto mais
apelo. Observe: me exercito, mais tenho disposição.”
“Ei, moça! Seu documento está pronto!” – Oração subordinada adjetiva explicativa: “Meu filho, que
“Senhor, tenha misericórdia de nós!” passou no concurso, mudou-se para o interior.”
“Vista o casaco, filha!” – Oração subordinada adjetiva restritiva: “A aluna que esteve
enferma conseguiu ser aprovada nas provas.”
— Estudo da relação entre as orações
Os períodos compostos são formados por várias orações.
As orações estabelecem entre si relações de coordenação ou de
PONTUAÇÃO.
subordinação.
– Período composto por coordenação: é formado por
orações independentes. Apesar de estarem unidas por conjunções — Visão Geral
ou vírgulas, as orações coordenadas podem ser entendidas O sistema de pontuação consiste em um grupo de sinais
individualmente porque apresentam sentidos completos. gráficos que, em um período sintático, têm a função primordial
Acompanhe a seguir a classificação das orações coordenadas: de indicar um nível maior ou menor de coesão entre estruturas
– Oração coordenada aditiva: “Assei os salgados e preparei os e, ocasionalmente, manifestar as propriedades da fala (prosódias)
doces.” em um discurso redigido. Na escrita, esses sinais substituem os
– Oração coordenada adversativa: “Assei os salgados, mas não gestos e as expressões faciais que, na linguagem falada, auxiliam a
preparei os doces.” compreensão da frase.
– Oração coordenada alternativa: “Ou asso os salgados ou O emprego da pontuação tem as seguintes finalidades:
preparo os doces.” – Garantir a clareza, a coerência e a coesão interna dos diversos
– Oração coordenada conclusiva: “Marta estudou bastante, tipos textuais;
logo, passou no exame.” – Garantir os efeitos de sentido dos enunciados;
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– Demarcar das unidades de um texto; 10 – Marcar a omissão de um termo:


– Sinalizar os limites das estruturas sintáticas. “Eu faço o recheio, e você, a cobertura.” (omissão do verbo
“fazer”).
— Sinais de pontuação que auxiliam na elaboração de um
enunciado • Entre as sentenças
1 – Para separar as orações subordinadas adjetivas explicativas
Vírgula “Meu aluno, que mora no exterior, fará aulas remotas.”
De modo geral, sua utilidade é marcar uma pausa do enunciado
para indicar que os termos por ela isolados, embora compartilhem 2 – Para separar as orações coordenadas sindéticas e
da mesma frase ou período, não compõem unidade sintática. Mas, assindéticas, com exceção das orações iniciadas pela conjunção “e”:
se, ao contrário, houver relação sintática entre os termos, estes “Liguei para ela, expliquei o acontecido e pedi para que nos
não devem ser isolados pela vírgula. Isto quer dizer que, ao mesmo ajudasse.”
tempo que existem situações em que a vírgula é obrigatória, em
outras, ela é vetada. Confira os casos em que a vírgula deve ser 3 – Para separar as orações substantivas que antecedem a
empregada: principal:
“Quando será publicado, ainda não foi divulgado.”
• No interior da sentença
1 – Para separar elementos de uma enumeração e repetição: 4 – Para separar orações subordinadas adverbiais desenvolvidas
ou reduzidas, especialmente as que antecedem a oração principal:
ENUMERAÇÃO
Adicione leite, farinha, açúcar, ovos, óleo e chocolate. Por ser sempre assim, ninguém dá
Reduzida
atenção!
Paguei as contas de água, luz, telefone e gás.
Porque é sempre assim, já ninguém dá
Desenvolvida
atenção!
REPETIÇÃO
Os arranjos estão lindos, lindos! 5 – Separar as sentenças intercaladas:
“Querida, disse o esposo, estarei todos os dias aos pés do seu
Sua atitude foi, muito, muito, muito indelicada. leito, até que você se recupere por completo.”

2 – Isolar o vocativo • Antes da conjunção “e”


“Crianças, venham almoçar!” 1 – Emprega-se a vírgula quando a conjunção “e” adquire
“Quando será a prova, professora?” valores que não expressam adição, como consequência ou
diversidade, por exemplo.
3 – Separar apostos “Argumentou muito, e não conseguiu convencer-me.”
“O ladrão, menor de idade, foi apreendido pela polícia.”
2 – Utiliza-se a vírgula em casos de polissíndeto, ou seja, sempre
que a conjunção “e” é reiterada com com a finalidade de destacar
4 – Isolar expressões explicativas: alguma ideia, por exemplo:
“As CPIs que terminaram em pizza, ou seja, ninguém foi “(…) e os desenrolamentos, e os incêndios, e a fome, e a sede;
responsabilizado.” e dez meses de combates, e cem dias de cancioneiro contínuo; e o
esmagamento das ruínas...” (Euclides da Cunha)
5 – Separar conjunções intercaladas
“Não foi explicado, porém, o porquê das falhas no sistema.” 3 – Emprega-se a vírgula sempre que orações coordenadas
apresentam sujeitos distintos, por exemplo:
6 – Isolar o adjunto adverbial anteposto ou intercalado: “A mulher ficou irritada, e o marido, constrangido.”
“Amanhã pela manhã, faremos o comunicado aos
funcionários do setor.” O uso da vírgula é vetado nos seguintes casos: separar sujeito
“Ele foi visto, muitas vezes, vagando desorientado pelas ruas.” e predicado, verbo e objeto, nome de adjunto adnominal, nome
e complemento nominal, objeto e predicativo do objeto, oração
7 – Separar o complemento pleonástico antecipado: substantiva e oração subordinada (desde que a substantivo não seja
“Estas alegações, não as considero legítimas.” apositiva nem se apresente inversamente).

8 – Separar termos coordenados assindéticos (não conectadas Ponto


por conjunções) 1 – Para indicar final de frase declarativa:
“Os seres vivos nascem, crescem, reproduzem-se, morrem.” “O almoço está pronto e será servido.”
9 – Isolar o nome de um local na indicação de datas: 2 – Abrevia palavras:
“São Paulo, 16 de outubro de 2022”. – “p.” (página)
– “V. Sra.” (Vossa Senhoria)

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– “Dr.” (Doutor) 2 – Algumas vezes, acompanha o ponto de exclamação para


destacar o enunciado:
3 – Para separar períodos: “Não brinca, é sério?!”
“O jogo não acabou. Vamos para os pênaltis.”
Ponto de Exclamação
Ponto e Vírgula 1 – Após interjeição:
1 – Para separar orações coordenadas muito extensas ou “Nossa Que legal!”
orações coordenadas nas quais já se tenha utilizado a vírgula:
“Gosto de assistir a novelas; meu primo, de jogos de RPG; 2 – Após palavras ou sentenças com carga emotiva
nossa amiga, de praticar esportes.” “Infelizmente!”

2 – Para separar os itens de uma sequência de itens: 3 – Após vocativo


“Os planetas que compõem o Sistema Solar são: “Ana, boa tarde!”
Mercúrio;
Vênus; 4 – Para fechar de frases imperativas:
Terra; “Entre já!”
Marte;
Júpiter; Parênteses
Saturno; a) Para isolar datas, palavras, referências em citações, frases
Urano; intercaladas de valor explicativo, podendo substituir o travessão ou
Netuno.” a vírgula:
“Mal me viu, perguntou (sem qualquer discrição, como
Dois Pontos sempre)
1 – Para introduzirem apostos ou orações apositivas, quem seria promovido.”
enumerações ou sequência de palavras que explicam e/ou resumem
ideias anteriores. Travessão
“Anote o endereço: Av. Brasil, 1100.” 1 – Para introduzir a fala de um personagem no discurso direto:
“Não me conformo com uma coisa: você ter perdoado aquela “O rapaz perguntou ao padre:
grande ofensa.” — Amar demais é pecado?”

2 – Para introduzirem citação direta: 2 – Para indicar mudança do interlocutor nos diálogos:
“Desse estudo, Lavoisier extraiu o seu princípio, atualmente “— Vou partir em breve.
muito conhecido: “Nada se cria, nada se perde, tudo se — Vá com Deus!”
transforma’.”
3 – Para iniciar fala de personagens: 3 – Para unir grupos de palavras que indicam itinerários:
“Ele gritava repetidamente: “Esse ônibus tem destino à cidade de São Paulo — SP.”
– Sou inocente!”
4 – Para substituir a vírgula em expressões ou frases explicativas:
Reticências “Michael Jackson — o retorno rei do pop — era imbatível.”
1 – Para indicar interrupção de uma frase incompleta
sintaticamente: Aspas
“Quem sabe um dia...” 1 – Para isolar palavras ou expressões que violam norma culta,
como termos populares, gírias, neologismos, estrangeirismos,
2 – Para indicar hesitação ou dúvida: arcaísmos, palavrões, e neologismos.
“Então... tenho algumas suspeitas... mas prefiro não revelar “Na juventude, ‘azarava’ todas as meninas bonitas.”
ainda.” “A reunião será feita ‘online’.”

3 – Para concluir uma frase gramaticalmente inacabada com o 2 – Para indicar uma citação direta:
objetivo de prolongar o raciocínio: “A índole natural da ciência é a longanimidade.” (Machado de
“Sua tez, alva e pura como um foco de algodão, tingia-se nas Assis)
faces duns longes cor-de-rosa...” (Cecília - José de Alencar).

4 – Suprimem palavras em uma transcrição:


CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL.
“Quando penso em você (...) menos a felicidade.” (Canteiros -
Raimundo Fagner).
Visão Geral: sumariamente, as concordâncias verbal e nominal
Ponto de Interrogação estudam a sintonia entre os componentes de uma oração.
1 – Para perguntas diretas: – Concordância verbal: refere-se ao verbo relacionado ao
“Quando você pode comparecer?” sujeito, sendo que o primeiro deve, obrigatoriamente, concordar
em número (flexão em singular e plural) e pessoa (flexão em 1a,
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2a, ou 3a pessoa) com o segundo. Isto é, ocorre quando o verbo é – “Foi ele que fez.» e “Fui eu que fiz.»
flexionado para concordar com o sujeito. – “Foram eles que fizeram.” e “Fomos nós que fizemos.»
– Concordância nominal: corresponde à harmonia em gênero
(flexão em masculino e feminino) e número entre os vários nomes Concordância verbal com a partícula de indeterminação do
da oração, ocorrendo com maior frequência sobre os substantivos sujeito se: nesse caso, o verbo cria concordância com a 3a pessoa do
e o adjetivo. Em outras palavras, refere-se ao substantivo e suas singular sempre que a oração for constituída por verbos intransitivos
formas relacionadas: adjetivo, numeral, pronome, artigo. Tal ou por verbos transitivos indiretos:
concordância ocorre em gênero e pessoa – «Precisa-se de cozinheiro.” e «Precisa-se de cozinheiros.”

Casos específicos de concordância verbal Concordância com o elemento apassivador se: aqui, verbo
Concordância verbal com o infinitivo pessoal: existem três concorda com o objeto direto, que desempenha a função de sujeito
situações em que o verbo no infinitivo é flexionado: paciente, podendo aparecer no singular ou no plural:
I – Quando houver um sujeito definido; – Aluga-se galpão.” e “Alugam-se galpões.”
II – Sempre que se quiser determinar o sujeito;
III – Sempre que os sujeitos da primeira e segunda oração Concordância verbal com as expressões a metade, a maioria,
forem distintos. a maior parte: preferencialmente, o verbo fará concordância com
a 3° pessoa do singular. Porém, a 3a pessoa do plural também pode
Observe os exemplos: ser empregada:
“Eu pedir para eles fazerem a solicitação.” – “A maioria dos alunos entrou” e “A maioria dos alunos
“Isto é para nós solicitarmos.” entraram.”
– “Grande parte das pessoas entendeu.” e “Grande parte das
Concordância verbal com o infinitivo impessoal: não há flexão pessoas entenderam.”
verbal quando o sujeito não for definido, ou sempre que o sujeito
da segunda oração for igual ao da primeira oração, ou mesmo Concordância nominal muitos substantivos: o adjetivo deve
em locuções verbais, com verbos preposicionados e com verbos concordar em gênero e número com o substantivo mais próximo,
imperativos. mas também concordar com a forma no masculino plural:
– “Casa e galpão alugado.” e “Galpão e casa alugada.”
Exemplos: – “Casa e galpão alugados.” e “Galpão e casa alugados.”
“Os membros conseguiram fazer a solicitação.”
“Foram proibidos de realizar o atendimento.” Concordância nominal com pronomes pessoais: o adjetivo
concorda em gênero e número com os pronomes pessoais:
Concordância verbal com verbos impessoais: nesses casos, – “Ele é prestativo.” e “Ela é prestativa.”
verbo ficará sempre em concordância com a 3a pessoa do singular, – “Eles são prestativos.” e “Elas são prestativas.”
tendo em vista que não existe um sujeito.
Observe os casos a seguir: Concordância nominal com adjetivos: sempre que existir dois
– Verbos que indicam fenômenos da natureza, como anoitecer, ou mais adjetivos no singular, o substantivo permanece no singular,
nevar, amanhecer. se houver um artigo entre os adjetivos. Se o artigo não aparecer, o
Exemplo: “Não chove muito nessa região” ou “Já entardeceu.» substantivo deve estar no plural:

– O verbo haver com sentido de existir. Exemplo: “Havia duas – “A blusa estampada e a colorida.” e “O casaco felpudo e o
professoras vigiando as crianças.” xadrez.”
– O verbo fazer indicando tempo decorrido. Exemplo: “Faz – “As blusas estampada e colorida.” e “Os casacos felpudo e
duas horas que estamos esperando.” xadrez.”

Concordância nominal com é proibido e é permitido: nessas


Concordância verbal com o verbo ser: diante dos pronomes expressões, o adjetivo flexiona em gênero e número, sempre que
tudo, nada, o, isto, isso e aquilo como sujeito, há concordância houver um artigo determinando o substantivo. Caso não exista
verbal com o predicativo do sujeito, podendo o verbo permanecer esse artigo, o adjetivo deve permanecer invariável, no masculino
no singular ou no plural: singular:
– “Tudo que eu desejo é/são férias à beira-mar.” – “É proibida a circulação de pessoas não identificadas.” e “É
– “Isto é um exemplo do que o ocorreria.” e “Isto são exemplos proibido circulação de pessoas não identificadas.”
do que ocorreria.” – “É permitida a entrada de crianças.” e “É permitido entrada
de crianças acompanhadas.”
Concordância verbal com pronome relativo quem: o verbo, Concordância nominal com menos: a palavra menos
ou faz concordância com o termo precedente ao pronome, ou permanece é invariável independente da sua atuação, seja ela
permanece na 3a pessoa do singular: advérbio ou adjetivo:
– “Fui eu quem solicitou.» e “Fomos nós quem solicitou.» – “Menos pessoas / menos pessoas”.
– “Menos problema /menos problemas.”
Concordância verbal com pronome relativo que: o verbo
concorda com o termo que antecede o pronome:
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Concordância nominal com muito, pouco, bastante, longe, barato, meio e caro: esses termos instauram concordância em gênero e
número com o substantivo quando exercem função de adjetivo:
– “Tomei bastante suco.” e “Comprei bastantes frutas.”
– “A jarra estava meia cheia.” e “O sapato está meio gasto”.
– “Fizemos muito barulho.” e “Compramos muitos presentes.

REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL.

Visão geral: na Gramática, regência é o nome dado à relação de subordinação entre dois termos. Quando, em um enunciado ou
oração, existe influência de um tempo sobre o outro, identificamos o que se denomina termo determinante, essa relação entre esses
termos denominamos regência.

— Regência Nominal
É a relação entre um nome o seu complemento por meio de uma preposição. Esse nome pode ser um substantivo, um adjetivo ou um
advérbio e será o termo determinante.
O complemento preenche o significado do nome, cujo sentido estaria impreciso ou ambíguo se não fosse pelo complemento.
Observe os exemplos:
“A nova entrada é acessível a cadeirantes.”
“Eu tenho o sonho de viajar para o nordeste.”
“Ele é perito em investigações como esta.”

Na primeira frase, adjetivo “acessível” exige a preposição a, do contrário, seu sentido ficaria incompleto. O mesmo ocorre com os
substantivos “sonho“ e “perito”, nas segunda e terceira frases, em que os nomes exigem as preposições de e em para completude de seus
sentidos. Veja nas tabelas abaixo quais são os nomes que regem. Veja nas tabelas abaixo quais são os nomes que regem uma preposição
para que seu sentido seja completo.

REGÊNCIA COM A PREPOSIÇÃO A


acessível a cego a fiel a nocivo a
agradável a cheiro a grato a oposto a
alheio a comum a horror a perpendicular a
análogo a contrário a idêntico a posterior a
anterior a desatento a inacessível a prestes a
apto a equivalente a indiferente a surdo a
atento a estranho a inerente a visível a
avesso a favorável a necessário a

REGÊNCIA COM A PREPOSIÇÃO POR


admiração por devoção por responsável por
ansioso por respeito por

REGÊNCIA COM A PREPOSIÇÃO DE


sedento
amante de cobiçoso de digno de inimigo de natural de
de
amigo de contemporâneo de dotado de livre de obrigação de seguro de
ávido de desejoso de fácil de longe de orgulhoso de sonho de
capaz de diferente de impossível de louco de passível de
cheio de difícil de incapaz de maior de possível de

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REGÊNCIA COM A PREPOSIÇÃO EM


doutor em hábil em interesse em negligente em primeiro em
exato em incessante em lento em parco em versado em
firme em indeciso em morador em perito em

REGÊNCIA COM A PREPOSIÇÃO PARA


apto para essencial para mau para
bastante para impróprio para pronto para
bom para inútil para próprio para

REGÊNCIA COM A PREPOSIÇÃO COM


amoroso com compatível com descontente com intolerante com
aparentado com cruel com furioso com liberal com
caritativo com cuidadoso com impaciente com solícito com

— Regência Verbal
Os verbos são os termos regentes, enquanto os objetos (direto e indireto) e adjuntos adverbiais são os termos regidos. Um verbo
possui a mesma regência do nome do qual deriva.

Observe as duas frases:


I – “Eles irão ao evento.” O verbo ir requer a preposição a (quem vai, vai a algum lugar), e isso o classifica como verbo transitivo direto;
“ao evento” são os termos regidos pelo verbo, isto é, constituem seu complemento.
II – “Ela mora em região pantanosa.” O verbo morar exige a preposição em (quem mora mora em algum lugar), portanto, é verbo
transitivo indireto.

No sentido de / pela REGE


VERBO EXEMPLO
transitividade PREPOSIÇÃO?
ajudar, dar assistência NÃO “Por favor, assista o time.”
Assistir ver SIM “Você assistiu ao jogo?”
pertencer SIM “Assiste aos cidadãos o direito de protestar.”
valor, preço NÃO “Esse imóvel custa caro.”
Custar
desafio, dano, peso moral SIM “Dizer a verdade custou a ela.”
fundamento / verbo
NÃO “Isso não procede.”
Proceder instransitivo
origem SIM “Essa conclusão procede de muito vivência.”
finalidade, objetivo SIM “Visando à garantia dos direitos.”
Visar
avistar, enxergar NÃO “O vigia logo visou o suspeito.”
desejo NÃO “Queremos sair cedo.”
Querer
estima SIM “Quero muito aos meus sogros.”
pretensão SIM “Aspiro a ascensão política.”
Aspirar
absorção ou respiração NÃO “Evite aspirar fumaça.”
consequência / verbo
NÃO “A sua solicitação implicará alteração do meu trajeto.”
Implicar transitivo direto
insistência, birra SIM “Ele implicou com o cachorro.”

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Contéudo

LÍNGUA PORTUGUESA

convocação NÃO “Chame todos!”


“Chamo a Talita de Tatá.”
Chamar Rege complemento, com “Chamo Talita de Tatá.”
apelido
e sem preposição “Chamo a Talita Tatá.”
“Chamo Talita Tatá.”
o que se paga NÃO “Paguei o aluguel.”
Pagar
a quem se paga SIM “Pague ao credor.”
quem chega, chega a algum
Chegar lugar / verbo transitivo SIM “Quando chegar ao local, espere.”
indireto
quem obedece a algo /
Obedecer SIM “Obedeçam às regras.”
alguém / transitivo indireto
Esquecer verbo transitivo direito NÃO “Esqueci as alianças.”
... exige um
verbo transitivo direito e
Informar complemento sem e “Informe o ocorrido ao gerente.”
indireto, portanto...
outro com preposição
quem vai vai a algum lugar /
Ir SIM “Vamos ao teatro.”
verbo transitivo indireto
Quem mora em algum lugar “Eles moram no interior.”
Morar SIM
(verbo transitivo indireto) (Preposição “em” + artigo “o”).
Namorar verbo transitivio direito NÃO “Júlio quer namorar Maria.”
verbo bi transitivo (direto e
Preferir SIM “Prefira assados a frituras.”
indireto)
quem simpatiza simpatiza
Simpatizar com algo/ alguém/ verbo SIM “Simpatizei-me com todos.”
transitivo indireto

SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS.

Visão Geral: o significado das palavras é objeto de estudo da semântica, a área da gramática que se dedica ao sentido das palavras e
também às relações de sentido estabelecidas entre elas.

Denotação e conotação
Denotação corresponde ao sentido literal e objetivo das palavras, enquanto a conotação diz respeito ao sentido figurado das palavras.
Exemplos:
“O gato é um animal doméstico.”
“Meu vizinho é um gato.”

No primeiro exemplo, a palavra gato foi usada no seu verdadeiro sentido, indicando uma espécie real de animal. Na segunda frase, a
palavra gato faz referência ao aspecto físico do vizinho, uma forma de dizer que ele é tão bonito quanto o bichano.

Hiperonímia e hiponímia
Dizem respeito à hierarquia de significado. Um hiperônimo, palavra superior com um sentido mais abrangente, engloba um hipônimo,
palavra inferior com sentido mais restrito.
Exemplos:
– Hiperônimo: mamífero: – hipônimos: cavalo, baleia.
– Hiperônimo: jogo – hipônimos: xadrez, baralho.

Polissemia e monossemia
A polissemia diz respeito ao potencial de uma palavra apresentar uma multiplicidade de significados, de acordo com o contexto em
que ocorre. A monossemia indica que determinadas palavras apresentam apenas um significado. Exemplos:
– “Língua”, é uma palavra polissêmica, pois pode por um idioma ou um órgão do corpo, dependendo do contexto em que é inserida.

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Contéudo

LÍNGUA PORTUGUESA

– A palavra “decalitro” significa medida de dez litros, e não ( 1 ) narrativa;


tem outro significado, por isso é uma palavra monossêmica. ( 2 ) dialogal;
( 3 ) argumentativa;
Sinonímia e antonímia ( 4 ) injuntiva;
A sinonímia diz respeito à capacidade das palavras serem ( 5 ) descritiva.
semelhantes em significado. Já antonímia se refere aos significados
opostos. Desse modo, por meio dessas duas relações, as palavras Está correta a alternativa:
expressam proximidade e contrariedade. (A) 1 - 2 - 3 - 4 - 5.
Exemplos de palavras sinônimas: morrer = falecer; rápido = (B) 1 - 3 - 2 - 4 - 5.
veloz. (C) 2 - 1 - 4 - 5 - 3.
Exemplos de palavras antônimas: morrer x nascer; pontual x (D) 4 - 3 - 2 - 5 - 1.
atrasado.
2. FCC - 2022 - TRT - 22ª Região (PI) - Analista Judiciário - Biblio-
Homonímia e paronímia teconomia- O rio de minha terra é um deus estranho.
A homonímia diz respeito à propriedade das palavras Ele tem braços, dentes, corpo, coração,
apresentarem: semelhanças sonoras e gráficas, mas distinção de muitas vezes homicida,
sentido (palavras homônimas), semelhanças homófonas, mas foi ele quem levou o meu irmão.
distinção gráfica e de sentido (palavras homófonas) semelhanças
gráficas, mas distinção sonora e de sentido (palavras homógrafas). É muito calmo o rio de minha terra.
A paronímia se refere a palavras que são escritas e pronunciadas de
forma parecida, mas que apresentam significados diferentes. Veja Suas águas são feitas de argila e de mistérios.
os exemplos: Nas solidões das noites enluaradas
– Palavras homônimas: caminho (itinerário) e caminho (verbo a maldição de Crispim desce
caminhar); morro (monte) e morro (verbo morrer). sobre as águas encrespadas.
– Palavras homófonas: apressar (tornar mais rápido) e apreçar
(definir o preço); arrochar (apertar com força) e arroxar (tornar O rio de minha terra é um deus estranho.
roxo).
– Palavras homógrafas: apoio (suporte) e apoio (verbo apoiar); Um dia ele deixou o monótono caminhar de corpo mole
boto (golfinho) e boto (verbo botar); choro (pranto) e choro (verbo para subir as poucas rampas do seu cais.
chorar) . Foi conhecendo o movimento da cidade,
– Palavras parônimas: apóstrofe (figura de linguagem) e a pobreza residente nas taperas marginais.
apóstrofo (sinal gráfico), comprimento (tamanho) e cumprimento
(saudação). Pois tão irado e tão potente fez-se o rio
que todo um povo se juntou para enfrentá-lo.
Mas ele prosseguiu indiferente,
carregando no seu dorso bois e gente,
QUESTÕES até roçados de arroz e de feijão.

Na sua obstinada e galopante caminhada,


1. PREFEITURA DE LUZIÂNIA-GO – PROFESSOR I – AROEIRA – destruiu paredes, casas, barricadas,
2021 deixando no percurso mágoa e dor.
Nos enunciados abaixo, pode-se observar a presença de
diferentes tipologias textuais como base dos gêneros materializados Depois subiu os degraus da igreja santa
nas sequências enunciativas. Numere os parênteses conforme o e postou-se horas sob os pés do Criador.
código de cada tipologia.
( ) 1 - --- Não; é casada. --- Com quem? --- Com um estancieiro E desceu devagarinho, até deitar-se
do Rio grande. --- Chama-se? --- Ele? Fonseca, ela, Maria Cora. --- O novamente no seu leito.
marido não veio com ela? --- Está no Rio Grande. (ASSIS, Machado
de Assis.Maria Cora.) Mas toda noite o seu olhar de rio
( ) 2 - Ao acertar os seis números na loteria, Paulo foi para casa, fica boiando sob as luzes da cidade.
entrou calado no quarto e dormiu. (Adaptado de: MORAES, Herculano. O rio da minha
( ) 3 - Incorpore em sua vida quatro sentimentos positivos: a terra. Disponível em: https://www.escritas.org)
compaixão, a generosidade, a alegria e o otimismo.
( ) 4 - No meu ponto de vista, a mulher ideal deve ter como No trecho até roçados de arroz e de feijão, o termo “até” clas-
características físicas o cabelo liso, pele macia, olhos claros, nariz sifica-se como
fino. Ser amiga, compreensiva e, acima de tudo, ser fiel. (ALVES, (A) pronome.
André, Escola. Estadual Pereira Barreto. Texto adaptado.) (B) preposição.
( ) 5 - As palavras mal empregadas podem ter efeitos mais (C) artigo.
negativos do que os traumas físicos. (D) advérbio.
(E) conjunção.
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LÍNGUA PORTUGUESA

3. INSTRUÇÃO: Leia, com atenção, o texto a seguir para responder à questão que a ele se refere.

Texto 01

Disponível em: https://brainly.com.br/tarefa/38102601. Acesso em: 18 set. 2022.

De acordo com o texto, “[...] sair de um acidente em alta velocidade pelo vidro da frente” indica uma

(A) solução.
(B) alternativa.
(C) prevenção.
(D) consequência.
(E) precaução.

4. FGV - 2022 - TJ-DFT - Oficial de Justiça Avaliador Federal- “Quando se julga por indução e sem o necessário conhecimento dos fatos,
às vezes chega-se a ser injusto até mesmo com os malfeitores.” O raciocínio abaixo que deve ser considerado como indutivo é:
(A) Os funcionários públicos folgam amanhã, por isso meu marido ficará em casa;
(B) Todos os juízes procuram julgar corretamente, por isso é o que ele também procura;
(C) Nos dias de semana os mercados abrem, por isso deixarei para comprar isso amanhã;
(D) No inverno, chove todos os dias, por isso vou comprar um guarda-chuva;
(E) Ontem nevou bastante, por isso as estradas devem estar intransitáveis.

5. FGV - 2022 - TJ-DFT - Analista Judiciário - Segurança da Informação- “Também leio livros, muitos livros: mas com eles aprendo menos
do que com a vida. Apenas um livro me ensinou muito: o dicionário. Oh, o dicionário, adoro-o. Mas também adoro a estrada, um dicionário
muito mais maravilhoso.”
Depreende-se desse pensamento que seu autor:

(A) nada aprende com os livros, com exceção do dicionário;


(B) deve tudo que conhece ao dicionário;
(C) adquire conhecimentos com as viagens que realiza;
(D) conhece o mundo por meio da experiência de vida;
(E)constatou que os dicionários registram o melhor da vida.

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LÍNGUA PORTUGUESA

6. COTEC - 2022 - Prefeitura de Paracatu - MG - Técnico Higiene Dental - INSTRUÇÃO: Leia, com atenção, o texto 01 a seguir para
responder à questão que a ele se refere.

Texto 01

Disponível em: http://bichinhosdejardim.com/triste-fim-relacoes-afetivas/. Acesso em: 18 set. 2022.

A vírgula, na fala do primeiro quadro, foi usada de acordo com a norma para separar um

(A) vocativo.
(B) aposto explicativo.
(C) expressão adverbial.
(D) oração coordenada.
(E) predicativo.

7. CESPE / CEBRASPE - 2022 - Prefeitura de Maringá - PR - Médico Texto CG1A1


Por muitos séculos, pessoas surdas ao redor do mundo eram consideradas incapazes de aprender simplesmente por possuírem
uma deficiência. No Brasil, infelizmente, isso não era diferente. Essa visão capacitista só começou a mudar a partir do século XVI, com
transformações que ocorreram, num primeiro momento, na Europa, quando educadores, por conta própria, começaram a se preocupar
com esse grupo.
Um dos educadores mais marcantes na luta pela educação dos surdos foi Ernest Huet, ou Eduard Huet, como também era conhe-
cido. Huet, acometido por uma doença, perdeu a audição ainda aos 12 anos; contudo, como era membro de uma família nobre da França,
teve, desde cedo, acesso à melhor educação possível de sua época e, assim, aprendeu a língua de sinais francesa no Instituto Nacional
de Surdos-Mudos de Paris. No Brasil, tomando-se como inspiração a iniciativa de Huet, fundouse, em 26 de setembro de 1856, o Impe-
rial Instituto de SurdosMudos, instituição de caráter privado. No seu percurso, o instituto recebeu diversos nomes, mas a mudança mais
significativa se deu em 1957, quando foi denominado Instituto Nacional de Educação dos Surdos – INES, que está em funcionamento até
hoje! Essa mudança refletia o princípio de modernização da década de 1950, pelo qual se guiava o instituto, com suas discussões sobre
educação de surdos.
Dessa forma, Huet e a língua de sinais francesa tiveram grande influência na língua brasileira de sinais, a Libras, que foi ganhando
espaço aos poucos e logo passou a ser utilizada pelos surdos brasileiros. Contudo, nesse mesmo período, muitos educadores ainda defen-
diam a ideia de que a melhor maneira de ensinar era pelo método oralizado, ou seja, pessoas surdas seriam educadas por meio de línguas
orais. Nesse caso, a comunicação acontecia nas modalidades de escrita, leitura, leitura labial e também oral. No Congresso de Milão, em
11 de setembro de 1880, muitos educadores votaram pela proibição da utilização da língua de sinais por não acreditarem na efetividade
desse método na educação das pessoas surdas.
Essa decisão prejudicou consideravelmente o ensino da Língua Brasileira de Sinais, mas, mesmo diante dessa proibição, a Libras
continuou sendo utilizada devido à persistência dos surdos. Posteriormente, buscou-se a legitimidade da Língua Brasileira de Sinais, e os
surdos continuaram lutando pelo seu reconhecimento e regulamentação por meio de um projeto de lei escrito em 1993. Porém, apenas
em 2002, foi aprovada a Lei 10.436/2002, que reconhece a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio legal de comunicação e expressão
no país.
Internet:: <www.ufmg.br>(com adaptações)

Assinale a opção correta a respeito do emprego das formas verbais e dos sinais de pontuação no texto CG1A1.
(A) A correção gramatical e a coerência do texto seriam preservadas, caso a vírgula empregada logo após o vocábulo “mas” (primeiro
período do quarto parágrafo) fosse eliminada.
(B) A forma verbal “tiveram” (primeiro período do terceiro parágrafo) poderia ser substituída por “obtiveram” sem prejuízo aos sen-
tidos e à correção gramatical do texto.

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LÍNGUA PORTUGUESA

(C) A forma verbal “continuou” (primeiro período do quarto 9. AGIRH - 2022 - Prefeitura de Roseira - SP - Enfermeiro 36
parágrafo) está flexionada no singular para concordar com o horas - Assinale o item que contém erro de ortografia.
artigo definido “a”, mas poderia ser substituída, sem prejuízo (A) Na cultura japonesa, fica desprestigiado para sempre quem
à correção gramatical, pela forma verbal “continuaram”, que inflinge as regras da lealdade.
estabeleceria concordância com o termo “Libras”. (B) Não conseguindo prever o resultado a que chegariam, sen-
(D) A forma verbal “acreditarem” (quarto período do terceiro tiu-se frustrado.
parágrafo) concorda com “educadores” e por isso está flexio- (C) Desgostos indescritíveis, porventura, seriam rememorados
nada no plural. durante a sessão de terapia.
(E) No primeiro período do terceiro parágrafo do texto, é facul- (D) Ao reverso de outros, trazia consigo autoconhecimento e
tativo o emprego da vírgula imediatamente após “Libras”. autoafirmação.

8. FCC - 2022 - TRT - 14ª Região (RO e AC) - Analista Judiciário - 10. Unoesc - 2022 - Prefeitura de Maravilha - SC - Agente Admi-
Área Judiciária- A chama é bela nistrativo - Edital nº 2- Considerando a acentuação tônica, assinale
as alternativas abaixo com (V) verdadeiro ou (F) falso.
Nos anos 1970 comprei uma casa no campo com uma ( ) As palavras “gramática” e “partir” são, respectivamente,
bela lareira, e para meus filhos, entre 10 e 12 anos, a experiência do proparoxítona e oxítona.
fogo, da brasa que arde, da chama, era um fenômeno absolutamen- ( ) “Nós” é uma palavra oxítona.
te novo. E percebi que quando a lareira estava acesa eles deixavam ( ) “César” não é proparoxítona, tampouco oxítona.
a televisão de lado. A chama era mais bela e variada do que qual- ( ) “Despretensiosamente” é uma palavra proparoxítona.
quer programa, contava histórias infinitas, não seguia esquemas ( ) “Café” é uma palavra paroxítona.
fixos como um programa televisivo. A sequência correta de cima para baixo é:
(A) F, V, V, F, V.
O fogo também se faz metáfora de muitas pulsões, do infla- (B) V, V, F, V, F.
mar-se de ódio ao fogo da paixão amorosa. E o fogo pode ser a luz (C) V, F, V, F, V.
ofuscante que os olhos não podem fixar, como não podem encarar (D) V, V, V, F, F.
o Sol (o calor do fogo remete ao calor do Sol), mas devidamente
amestrado, quando se transforma em luz de vela, permite jogos de 11. CESPE / CEBRASPE - 2022 - TCE-PB - Médico- Texto CB1A1-I
claro-escuro, vigílias noturnas nas quais uma chama solitária nos
obriga a imaginar coisas sem nome... A história da saúde não é a história da medicina, pois apenas
de 10% a 20% da saúde são determinados pela medicina, e essa
O fogo nasce da matéria para transformar-se em substância porcentagem era ainda menor nos séculos anteriores. Os outros
cada vez mais leve e aérea, da chama rubra ou azulada da raiz à cha- três determinantes da saúde são o comportamento, o ambiente e a
ma branca do ápice, até desmaiar em fumaça... Nesse sentido, a na- biologia – idade, sexo e genética. As histórias da medicina centradas
tureza do fogo é ascensional, remete a uma transcendência e, con- no atendimento à saúde não permitem uma compreensão global
tudo, talvez porque tenhamos aprendido que ele vive no coração da da melhoria da saúde humana. A história dessa melhoria é uma his-
Terra, é também símbolo de profundidades infernais. É vida, mas é tória de superação. Antes dos primeiros progressos, a saúde huma-
também experiência de seu apagar-se e de sua contínua fragilidade. na estava totalmente estagnada. Da Revolução Neolítica, há 12 mil
anos, até meados do século XVIII, a expectativa de vida dos seres
(Adaptado de: ECO, Umberto. Construir o inimigo. Rio de Janeiro: humanos ocidentais não evoluíra de modo significativo. Estava pa-
Record, 2021, p. 54-55) ralisada na faixa dos 25-30 anos. Foi somente a partir de 1750 que
o equilíbrio histórico se modificou positivamente. Vários elementos
Está plenamente adequada a pontuação da seguinte frase: alteraram esse contexto, provocando um aumento praticamente
(A) Os filhos do autor diante da lareira, não deixaram de se es- contínuo da longevidade. Há 200 anos, as suecas detinham o re-
pantar, com o espetáculo inédito daquelas chamas bruxulean- corde mundial com uma longevidade de 46 anos. Em 2019, eram as
tes. japonesas que ocupavam o primeiro lugar, com uma duração média
(B) Como metáfora, o fogo por conta de seus inúmeros atribu- de vida de 88 anos. Mesmo sem alcançar esse recorde, as popula-
tos, chega mesmo a propiciar expansões, simbólicas e metafó- ções dos países industrializados podem esperar viver atualmente
ricas. ao menos 80 anos. Desde 1750, cada geração vive um pouco mais
(C) Tanto como a do Sol, a luz do fogo, uma vez expandida, do que a anterior e prepara a seguinte para viver ainda mais tempo.
pode ofuscar os olhos de quem, imprudente, ouse enfrentá-la.
(D) O autor do texto em momentos descritivos, não deixa de Jean-David Zeitoun. História da saúde humana: vamos viver cada vez
insinuar sua atração, pela magia dos poderes e do espetáculo mais?
do fogo. Tradução Patrícia Reuillard. São Paulo: Contexto, 2022, p. 10-11 (com
(E) Disponíveis metáforas, parecem se desenvolver quando, adaptações).
por amor ou por ódio extremos somos tomados por paixões
incendiárias.

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LÍNGUA PORTUGUESA

No que se refere a aspectos linguísticos do texto CB1A1-I, jul- Quando escrevo histórias, sou como alguém que está em seu
gue o item seguinte. país, nas ruas que conhece desde a infância, entre as árvores e os
A inserção de uma vírgula imediatamente após o termo “au- muros que são seus. Este é o meu ofício, e o farei até a morte. Entre
mento” (nono período) prejudicaria a correção gramatical e o sen- os cinco e dez anos ainda tinha dúvidas e às vezes imaginava que
tido original do texto. podia pintar, ou conquistar países a cavalo, ou inventar uma nova
( )CERTO máquina. Mas a primeira coisa séria que fiz foi escrever um conto,
( )ERRADO um conto curto, de cinco ou seis páginas: saiu de mim como um mi-
lagre, numa noite, e quando finalmente fui dormir estava exausta,
12. FGV - 2022 - SEAD-AP - Cuidador Uma das marcas da textu- atônita, estupefata.
alidade é a coerência. Entre as frases abaixo, assinale aquela que se
mostra coerente. (Adaptado de: GINZBURG, Natalia. As pequenas virtudes. Trad. Maurí-
(A) Avise-me se você não receber esta carta. cio Santana Dias. São Paulo: Cosac Naify, 2015, p, 72-77, passim)
(B) Só uma coisa a vida ensina: a vida nada ensina. As normas de concordância verbal encontram-se plenamente
(C) Quantos sofrimentos nos custaram os males que nunca observadas em:
ocorreram.
(D) Todos os casos são únicos e iguais a outros. (A) As palavras que a alguém ocorrem deitar no papel acabam
(E) Como eu disse antes, eu nunca me repito. por identificar o estilo mesmo de quem as escreveu.
(B) Gaba-se a autora de que às palavras a que recorre nunca
13. OBJETIVA - 2022 - Prefeitura de Dezesseis de Novembro - falta a espontaneidade dos bons escritos.
RS - Controlador Interno- Considerando-se a concordância nominal, (C) Faltam às tarefas outras de que poderiam se incumbir a fa-
marcar C para as afirmativas Certas, E para as Erradas e, após, assi- cilidade que encontra ela em escrever seus textos.
nalar a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: (D) Os possíveis entraves para escrever um conto, revela a au-
( ) Agora que tudo passou, sinto que tenho menas tristezas na tora, logo se dissipou em sua primeira tentativa.
minha vida. (E) Não haveria de surgir impulsos mais fortes, para essa escri-
( ) Posso pedir teu bloco e tua caneta emprestada? tora, do que os que a levaram a imaginar histórias.
( ) É proibido a entrada de animais na praia.
15. SELECON - 2019 - Prefeitura de Cuiabá - MT - Técnico em
(A) C - E - C. Nutrição Escolar- Considerando a regência nominal e o emprego do
(B) C - E - E. acento grave, o trecho destacado em “inerentes a esta festa” está
(C) E - E - C. corretamente substituído em:
(D) E - C - E.
(A) inerentes à determinado momento
14. FCC - 2022 - TRT - 14ª Região (RO e AC) - Analista Judiciário (B) inerentes à regras de convivência
- Área Judiciária (C) inerentes à regulamentos anteriores
(D) inerentes à evidência de incorreções
O meu ofício
16. Assinale a frase com desvio de regência verbal.
O meu ofício é escrever, e sei bem disso há muito tempo.
Espero não ser mal-entendida: não sei nada sobre o valor daquilo (A) Informei-lhe o bloqueio do financiamento de pesquisas.
que posso escrever. Quando me ponho a escrever, sinto-me extra- (B) Avisaram-no a liberação de recursos para ciência e tecno-
ordinariamente à vontade e me movo num elemento que tenho logia.
a impressão de conhecer extraordinariamente bem: utilizo instru- (C) Os acadêmicos obedecem ao planejamento estratégico.
mentos que me são conhecidos e familiares e os sinto bem firmes (D) Todos os homens, por natureza, aspiram ao saber.
em minhas mãos. Se faço qualquer outra coisa, se estudo uma lín- (E) Assistimos ao filme que apresentou a obra daquele grande
gua estrangeira, se tento aprender história ou geografia, ou tricotar cientista.
uma malha, ou viajar, sofro e me pergunto como é que os outros
conseguem fazer essas coisas. E tenho a impressão de ser cega e 17. MPE-GO - 2022 - MPE-GO - Oficial de Promotoria - Edital
surda como uma náusea dentro de mim. nº 007- Sendo (C) para as assertivas corretas e (E) para as erradas,
assinale a alternativa com a sequência certa considerando a obser-
Já quando escrevo nunca penso que talvez haja um modo vância das normas da língua portuguesa:
mais correto, do qual os outros escritores se servem. Não me im- ( ) O futebol é um esporte de que o povo gosta.
porta nada o modo dos outros escritores. O fato é que só sei escre- ( ) Visitei a cidade onde você nasceu.
ver histórias. Se tento escrever um ensaio de crítica ou um artigo ( ) É perigoso o local a que você se dirige.
sob encomenda para um jornal, a coisa sai bem ruim. O que escrevo ( ) Tenho uma coleção de quadros pela qual já me ofereceram
nesses casos tenho de ir buscar fora de mim. E sempre tenho a sen- milhões.
sação de enganar o próximo com palavras tomadas de empréstimo
ou furtadas aqui e ali. (A) E – E – E – C
(B) C – C – C – E
(C) C – E – E – E
(D) C – C – C – C
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LÍNGUA PORTUGUESA

18. FADCT - 2022 - Prefeitura de Ibema - PR - Assistente Admi- centrais da pista, por onde os carros preferencialmente circulam
nistrativo- A frase “ O estudante foi convidado para assistir os deba- sob velocidade mais ou menos previsível. Assim que o último carro
tes políticos.” apresenta, de acordo com a norma padrão da Língua passou, ficou fácil pressupor que o centro da pista permaneceria
portuguesa, um desvio de: vazio por um intervalo de tempo seguro para a travessia. As late-
(A) Concordância nominal. rais da pista, locais em que motocicletas geralmente trafegam, não
(B) Concordância verbal. tiveram a atenção merecida, e a velocidade da moto não estava no
(C) Regência verbal. padrão esperado.
(D) Regência nominal O mundo aqui fora é um caos repleto de acontecimentos, e
nossos cérebros têm que coletar e reter alguns deles para que pos-
19. FUNCERN - 2019 - Prefeitura de Apodi - RN - Professor de samos compreendê-lo e, assim, agirmos em busca da nossa sobre-
Ensino Fundamental I ( 1º ao 5º ano)- vivência. Mas essas informações são salpicadas, incompletas e mu-
táveis. Traçar uma linha que contextualize todos esses dados não é
Os pontos cegos de nosso cérebro e o risco eterno de aciden- simples. Eventualmente, esse jogo mental de ligar pontinhos cria
tes armadilha para nós mesmos, pois por vezes um ponto que deveria
ser descartado é inserido em uma lógica apenas por ser chamativo.
Luciano Melo E outro, ao contrário, deveria ser considerado, mas é menospreza-
do, pois à primeira vista não atendeu a um pressuposto.
O motorista aguarda o momento seguro para conduzir seu Essas interpretações podem provocar outras tragédias além
carro e atravessar o cruzamento. Olha para os lados que atravessará de acidentes de carro.
e, estático, aguarda que outros veículos deixem livre o caminho pela
via transversal à sua frente. Enquanto espera, olha de um lado a ou- Disponível em:<https://www1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 20 abr.
tro a vigiar a pista quase livre. Finalmente não avista mais nenhum 2019. (texto adaptado)
veículo que poderá atrapalhar seu planejado movimento. É hora de
dirigir, mas, no meio da travessia, ele é surpreendido por uma grave No trecho “[...]poderemos assistir à queda de um deles.”, a
colisão. Uma motocicleta atinge a traseira de seu veículo. ocorrência do acento grave é justificada
(A) pela exigência de artigo do termo regente, que é um ver-
Eu tomo a defesa do motorista: ele não viu a moto se aproxi- bo, e pela exigência de preposição do termo regido, que é um
mar. Presumo que vários dos leitores já passaram por situação se- nome.
melhante, mas, caso você seja exceção e acredite que enxergaria (B) pela exigência de preposição do termo regente, que é um
a motocicleta, eu o convido a assistir a um vídeo que existe sobre nome, e pela exigência de artigo do termo regido, que é um
isso. O filme prova quão difícil é perceber objetos que de repente verbo.
somem ou aparecem em uma cena. (C) pela exigência de artigo do termo regente, que é um nome,
Nossa condição humana está casada com uma inabilidade de e pela exigência de artigo do termo regido, que é um verbo.
perceber certas mudanças. Claro que notamos muitas alterações à (D) pela exigência de preposição do termo regente, que é um
nossa volta, especialmente se olharmos para o ponto alvo da modi- verbo, e pela exigência de artigo do termo regido, que é um
ficação no momento em que ela ocorrerá. Assim, se olharmos fixa- nome.
mente para uma janela cheia de vasos de flores, poderemos assistir
à queda de um deles. Mas, se desviarmos brevemente nossos olhos 20. MPE-GO - 2022 - MPE-GO - Oficial de Promotoria - Edital
da janela, justamente no momento do tombo, é possível que nem nº 006
notemos a falta do enfeite. O fenômeno se chama cegueira para A importância dos debates
mudança: nossa incapacidade de visualizar variações do ambiente
entre uma olhada e outra. É promissor que os candidatos ao governo gaúcho venham
No mundo real, mudanças são geralmente antecedidas por dando ênfase nas conversas diretas a projetos de governo de inte-
uma série de movimentos. Se esses movimentos superam um limiar resse específico dos eleitores
atrativo, vão capturar nossa atenção que focará na alteração consi- O primeiro confronto direto entre os candidatos Eduardo Leite
derada dominante. Por sua vez, modificações que não ultrapassam (PSDB) e José Ivo Sartori (MDB), que disputam o governo do Estado
o limiar não provocarão divergência da atenção e serão ignoradas. em segundo turno, reafirmou a importância dessa alternativa de-
Quando abrimos nossos olhos, ficamos com a impressão de mocrática para ajudar os eleitores a fazer suas escolhas. Uma das
termos visão nítida, rica e bem detalhada do mundo que se estende vantagens do sistema de votação em dois turnos, instituído pela
por todo nosso campo visual. A consciência de nossa percepção não Constituição de 1988, é justamente a de propiciar um maior de-
é limitada, mas nossa atenção e nossa memória de curtíssimo prazo talhamento dos programas de governo dos dois candidatos mais
são. Não somos capazes de memorizar tudo instantaneamente à votados na primeira etapa.
nossa volta e nem podemos nos ater a tudo que nos cerca. Nossa in- Foi justamente o que ocorreu ontem entre os postulantes ao
trospecção da grandiosidade de nossa experiência visual confronta Palácio Piratini. Colocados frente a frente nos microfones da Rá-
com nossas limitações perceptivas práticas e cria uma vivência rica, dio Gaúcha, ambos tiveram a oportunidade de enfrentar questões
porém efêmera e sujeita a erros de interpretações. Dimensiona um importantes ligadas ao cotidiano dos eleitores. A viabilidade de as
gradiente entre o que é real e o que se presume, algo que favorece principais demandas dos gaúchos serem contempladas vai depen-
os acidentes de trânsito. der acima de tudo da estratégia de cada um para enfrentar a crise
Podemos interpretar que o acidente do exemplo do início do das finanças públicas.
texto se deu porque o motorista convergiu sua atenção às partes
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Contéudo

LÍNGUA PORTUGUESA

Diferentemente do que os eleitores estão habituados a assistir


no horário eleitoral obrigatório e a acompanhar por postagens dos
candidatos nas redes sociais, debates se prestam menos para pro-
paganda pessoal, estratégias de marketing e para a disseminação
de informações inconfiáveis e notícias falsas, neste ano usadas lar-
gamente em campanhas. Além disso, têm a vantagem de desafiar
os candidatos com questionamentos de jornalistas e do público. As
respostas, inclusive, podem ser conferidas por profissionais de im-
prensa, com divulgação posterior, o que facilita o discernimento por
parte de eleitores sobre o que corresponde ou não à verdade.
O Rio Grande do Sul enfrenta uma crise fiscal no setor público
que, se não contar com uma perspectiva de solução imediata, pra-
ticamente vai inviabilizar a implantação de qualquer plano de go-
verno. Por isso, é promissor que, enquanto em outros Estados pre-
dominam denúncias e acusações, os candidatos ao governo gaúcho
venham dando ênfase nas conversas diretas a projetos de governo
de interesse específico dos eleitores.
Democracia se faz com diálogo e transparência. Sem discus-
sões amplas, perdem os cidadãos, que ficam privados de informa-
ções essenciais para fazer suas escolhas com mais objetividade e
menos passionalismo.

(A IMPORTÂNCIA dos debates. GaúchaZH, 17 de outubro de 2018. Dis-


ponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br. Acesso em: 30 de agosto
de 2022)

No segundo parágrafo do texto, há a frase: “Colocados frente


a frente nos microfones da Rádio Gaúcha, ambos tiveram a oportu-
nidade de enfrentar questões importantes ligadas ao cotidiano dos
eleitores.” Conforme se observa, na expressão em destaque, não há
ocorrência da crase.

Assim, seguindo a regra gramatical acerca da crase, assinale a


alternativa em que há o emprego da crase indevidamente:
(A) cara a cara; às ocultas; à procura.
(B) face a face; às pressas; à deriva.
(C) à frente; à direita; às vezes.
(D) à tarde; à sombra de; a exceção de.

GABARITO

1 C 12 B
2 D 13 D
3 D 14 B
4 E 15 D
5 D 16 B
6 A 17 D
7 D 18 C
8 C 19 D
9 A 20 D
10 D
11 CERTO

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Legislação SUS
Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

Secretaria Estadual de Saúde (SES)


EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE Participa da formulação das políticas e ações de saúde, pres-
SAÚDE NO BRASIL E A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA ÚNICO ta apoio aos municípios em articulação com o conselho estadual e
DE SAÚDE (SUS)– PRINCÍPIOS, DIRETRIZES E ARCABOUÇO participa da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) para aprovar e
LEGAL implementar o plano estadual de saúde.

Secretaria Municipal de Saúde (SMS)


O que é o Sistema Único de Saúde (SUS)? Planeja, organiza, controla, avalia e executa as ações e serviços
O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores e mais com- de saúde em articulação com o conselho municipal e a esfera esta-
plexos sistemas de saúde pública do mundo, abrangendo desde o dual para aprovar e implantar o plano municipal de saúde.
simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio
da Atenção Primária, até o transplante de órgãos, garantindo aces- Conselhos de Saúde
so integral, universal e gratuito para toda a população do país. Com O Conselho de Saúde, no âmbito de atuação (Nacional, Esta-
a sua criação, o SUS proporcionou o acesso universal ao sistema dual ou Municipal), em caráter permanente e deliberativo, órgão
público de saúde, sem discriminação. A atenção integral à saúde, e colegiado composto por representantes do governo, prestadores
não somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um direito de de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação
todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco de estratégias e no controle da execução da política de saúde na
na saúde com qualidade de vida, visando a prevenção e a promoção instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e fi-
da saúde. nanceiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder
A gestão das ações e dos serviços de saúde deve ser solidária e legalmente constituído em cada esfera do governo.
participativa entre os três entes da Federação: a União, os Estados Cabe a cada Conselho de Saúde definir o número de membros,
e os municípios. A rede que compõe o SUS é ampla e abrange tan- que obedecerá a seguinte composição: 50% de entidades e movi-
to ações quanto os serviços de saúde. Engloba a atenção primária, mentos representativos de usuários; 25% de entidades representa-
média e alta complexidades, os serviços urgência e emergência, a tivas dos trabalhadores da área de saúde e 25% de representação
atenção hospitalar, as ações e serviços das vigilâncias epidemiológi- de governo e prestadores de serviços privados conveniados, ou sem
ca, sanitária e ambiental e assistência farmacêutica. fins lucrativos.

AVANÇO: Conforme a Constituição Federal de 1988 (CF-88), a Comissão Intergestores Tripartite (CIT)
“Saúde é direito de todos e dever do Estado”. No período anterior a Foro de negociação e pactuação entre gestores federal, estadu-
CF-88, o sistema público de saúde prestava assistência apenas aos al e municipal, quanto aos aspectos operacionais do SUS
trabalhadores vinculados à Previdência Social, aproximadamente
30 milhões de pessoas com acesso aos serviços hospitalares, caben- Comissão Intergestores Bipartite (CIB)
do o atendimento aos demais cidadãos às entidades filantrópicas. Foro de negociação e pactuação entre gestores estadual e mu-
nicipais, quanto aos aspectos operacionais do SUS
Estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS)
O Sistema Único de Saúde (SUS) é composto pelo Ministério da Conselho Nacional de Secretário da Saúde (Conass)
Saúde, Estados e Municípios, conforme determina a Constituição Entidade representativa dos entes estaduais e do Distrito Fede-
Federal. Cada ente tem suas co-responsabilidades. ral na CIT para tratar de matérias referentes à saúde

Ministério da Saúde Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Co-


Gestor nacional do SUS, formula, normatiza, fiscaliza, monitora nasems)
e avalia políticas e ações, em articulação com o Conselho Nacional Entidade representativa dos entes municipais na CIT para tratar
de Saúde. Atua no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) de matérias referentes à saúde
para pactuar o Plano Nacional de Saúde. Integram sua estrutura:
Fiocruz, Funasa, Anvisa, ANS, Hemobrás, Inca, Into e oito hospitais Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems)
federais. São reconhecidos como entidades que representam os entes
municipais, no âmbito estadual, para tratar de matérias referentes
à saúde, desde que vinculados institucionalmente ao Conasems, na
forma que dispuserem seus estatutos.

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Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

Responsabilidades dos entes que compõem o SUS viços voltada para a atenção primária à saúde, com hierarquização,
descentralização e universalização, iniciando-se já a partir do Pro-
União grama de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS),
A gestão federal da saúde é realizada por meio do Ministério da em 1976.
Saúde. O governo federal é o principal financiador da rede pública Em 1980, foi criado o Programa Nacional de Serviços Básicos
de saúde. Historicamente, o Ministério da Saúde aplica metade de de Saúde (PREV-SAÚDE) - que, na realidade, nunca saiu do papel -,
todos os recursos gastos no país em saúde pública em todo o Brasil, logo seguida pelo plano do Conselho Nacional de Administração da
e estados e municípios, em geral, contribuem com a outra meta- Saúde Previdenciária (CONASP), em 1982 a partir do qual foi imple-
de dos recursos. O Ministério da Saúde formula políticas nacionais mentada a política de Ações Integradas de Saúde (AIS), em 1983.
de saúde, mas não realiza as ações. Para a realização dos projetos, Essas constituíram uma estratégia de extrema importância para o
depende de seus parceiros (estados, municípios, ONGs, fundações, processo de descentralização da saúde.
empresas, etc.). Também tem a função de planejar, elabirar nor- A 8ª Conferência Nacional da Saúde, realizada em março de
mas, avaliar e utilizar instrumentos para o controle do SUS. 1986, considerada um marco histórico, consagra os princípios pre-
conizados pelo Movimento da Reforma Sanitária.
Estados e Distrito Federal Em 1987 é implementado o Sistema Unificado e Descentrali-
Os estados possuem secretarias específicas para a gestão de zado de Saúde (SUDS), como uma consolidação das Ações Integra-
saúde. O gestor estadual deve aplicar recursos próprios, inclusive das de Saúde (AIS), que adota como diretrizes a universalização e
nos municípios, e os repassados pela União. Além de ser um dos a equidade no acesso aos serviços, à integralidade dos cuidados,
parceiros para a aplicação de políticas nacionais de saúde, o estado a regionalização dos serviços de saúde e implementação de distri-
formula suas próprias políticas de saúde. Ele coordena e planeja o tos sanitários, a descentralização das ações de saúde, o desenvolvi-
SUS em nível estadual, respeitando a normatização federal. Os ges- mento de instituições colegiadas gestoras e o desenvolvimento de
tores estaduais são responsáveis pela organização do atendimento uma política de recursos humanos.
à saúde em seu território. O capítulo dedicado à saúde na nova Constituição Federal, pro-
mulgada em outubro de 1988, retrata o resultado de todo o proces-
Municípios so desenvolvido ao longo dessas duas décadas, criando o Sistema
São responsáveis pela execução das ações e serviços de saúde Único de Saúde (SUS) e determinando que “a saúde é direito de
no âmbito do seu território. O gestor municipal deve aplicar recur- todos e dever do Estado” (art. 196).
sos próprios e os repassados pela União e pelo estado. O município Entre outros, a Constituição prevê o acesso universal e igua-
formula suas próprias políticas de saúde e também é um dos par- litário às ações e serviços de saúde, com regionalização e hierar-
ceiros para a aplicação de políticas nacionais e estaduais de saú- quização, descentralização com direção única em cada esfera de
de. Ele coordena e planeja o SUS em nível municipal, respeitando a governo, participação da comunidade e atendimento integral, com
normatização federal. Pode estabelecer parcerias com outros mu- prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços
nicípios para garantir o atendimento pleno de sua população, para assistenciais.
procedimentos de complexidade que estejam acima daqueles que A Lei nº 8.080, promulgada em 1990, operacionaliza as disposi-
pode oferecer. ções constitucionais. São atribuições do SUS em seus três níveis de
governo, além de outras, “ordenar a formação de recursos huma-
História do sistema único de saúde (SUS) nos na área de saúde” (CF, art. 200, inciso III).
As duas últimas décadas foram marcadas por intensas transfor-
mações no sistema de saúde brasileiro, intimamente relacionadas Princípios do SUS
com as mudanças ocorridas no âmbito político-institucional. Simul- São conceitos que orientam o SUS, previstos no artigo 198 da
taneamente ao processo de redemocratização iniciado nos anos 80, Constituição Federal de 1988 e no artigo 7º do Capítulo II da Lei n.º
o país passou por grave crise na área econômico-financeira. 8.080/1990. Os principais são:
No início da década de 80, procurou-se consolidar o processo Universalidade: significa que o SUS deve atender a todos, sem
de expansão da cobertura assistencial iniciado na segunda metade distinções ou restrições, oferecendo toda a atenção necessária,
dos anos 70, em atendimento às proposições formuladas pela OMS sem qualquer custo;
na Conferência de Alma-Ata (1978), que preconizava “Saúde para Integralidade: o SUS deve oferecer a atenção necessária à saú-
Todos no Ano 2000”, principalmente por meio da Atenção Primária de da população, promovendo ações contínuas de prevenção e tra-
à Saúde. tamento aos indivíduos e às comunidades, em quaisquer níveis de
Nessa mesma época, começa o Movimento da Reforma Sa- complexidade;
nitária Brasileira, constituído inicialmente por uma parcela da in- Equidade: o SUS deve disponibilizar recursos e serviços com
telectualidade universitária e dos profissionais da área da saúde. justiça, de acordo com as necessidades de cada um, canalizando
Posteriormente, incorporaram-se ao movimento outros segmentos maior atenção aos que mais necessitam;
da sociedade, como centrais sindicais, movimentos populares de Participação social: é um direito e um dever da sociedade par-
saúde e alguns parlamentares. ticipar das gestões públicas em geral e da saúde pública em par-
As proposições desse movimento, iniciado em pleno regime ticular; é dever do Poder Público garantir as condições para essa
autoritário da ditadura militar, eram dirigidas basicamente à cons- participação, assegurando a gestão comunitária do SUS; e
trução de uma nova política de saúde efetivamente democrática, Descentralização: é o processo de transferência de responsabi-
considerando a descentralização, universalização e unificação como lidades de gestão para os municípios, atendendo às determinações
elementos essenciais para a reforma do setor. constitucionais e legais que embasam o SUS, definidor de atribui-
Várias foram às propostas de implantação de uma rede de ser- ções comuns e competências específicas à União, aos estados, ao
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Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

Distrito Federal e aos municípios. das no Plano Municipal de Saúde;


- planejamento, organização, coordenação, controle e avalia-
Principais leis ção das ações e dos serviços de saúde sob gestão municipal; e
Constituição Federal de 1988: Estabelece que “a saúde é direi- - participação no processo de integração ao SUS, em âmbito
to de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais regional e estadual, para assegurar a seus cidadãos o acesso a servi-
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros ços de maior complexidade, não disponíveis no município.
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços
para sua promoção, proteção e recuperação”. Determina ao Poder Responsabilização Microssanitária
Público sua “regulamentação, fiscalização e controle”, que as ações É determinante que cada serviço de saúde conheça o território
e os serviços da saúde “integram uma rede regionalizada e hierar- sob sua responsabilidade. Para isso, as unidades da rede básica de-
quizada e constituem um sistema único”; define suas diretrizes, vem estabelecer uma relação de compromisso com a população a
atribuições, fontes de financiamento e, ainda, como deve se dar a ela adstrita e cada equipe de referência deve ter sólidos vínculos te-
participação da iniciativa privada. rapêuticos com os pacientes e seus familiares, proporcionando-lhes
abordagem integral e mobilização dos recursos e apoios necessá-
Lei Orgânica da Saúde (LOS), Lei n.º 8.080/1990: Regulamen- rios à recuperação de cada pessoa. A alta só deve ocorrer quando
ta, em todo o território nacional, as ações do SUS, estabelece as da transferência do paciente a outra equipe (da rede básica ou de
diretrizes para seu gerenciamento e descentralização e detalha as outra área especializada) e o tempo de espera para essa transfe-
competências de cada esfera governamental. Enfatiza a descentra- rência não pode representar uma interrupção do atendimento: a
lização político-administrativa, por meio da municipalização dos equipe de referência deve prosseguir com o projeto terapêutico,
serviços e das ações de saúde, com redistribuição de poder, com- interferindo, inclusive, nos critérios de acesso.
petências e recursos, em direção aos municípios. Determina como
competência do SUS a definição de critérios, valores e qualidade Instâncias de Pactuação
dos serviços. Trata da gestão financeira; define o Plano Municipal São espaços intergovernamentais, políticos e técnicos onde
de Saúde como base das atividades e da programação de cada nível ocorrem o planejamento, a negociação e a implementação das po-
de direção do SUS e garante a gratuidade das ações e dos serviços líticas de saúde pública. As decisões se dão por consenso (e não
nos atendimentos públicos e privados contratados e conveniados. por votação), estimulando o debate e a negociação entre as partes.
Comissão Intergestores Tripartite (CIT): Atua na direção nacio-
Lei n.º 8.142/1990: Dispõe sobre o papel e a participação das nal do SUS, formada por composição paritária de 15 membros, sen-
comunidades na gestão do SUS, sobre as transferências de recursos do cinco indicados pelo Ministério da Saúde, cinco pelo Conselho
financeiros entre União, estados, Distrito Federal e municípios na Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass) e cinco pelo
área da saúde e dá outras providências. Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems).
Institui as instâncias colegiadas e os instrumentos de participa- A representação de estados e municípios nessa Comissão é, por-
ção social em cada esfera de governo. tanto regional: um representante para cada uma das cinco regiões
existentes no País.
Responsabilização Sanitária
Desenvolver responsabilização sanitária é estabelecer clara- Comissões Intergestores Bipartites (CIB): São constituídas pa-
mente as atribuições de cada uma das esferas de gestão da saú- ritariamente por representantes do governo estadual, indicados
de pública, assim como dos serviços e das equipes que compõem pelo Secretário de Estado da Saúde, e dos secretários municipais
o SUS, possibilitando melhor planejamento, acompanhamento e de saúde, indicados pelo órgão de representação do conjunto dos
complementaridade das ações e dos serviços. Os prefeitos, ao as- municípios do Estado, em geral denominado Conselho de Secretá-
sumir suas responsabilidades, devem estimular a responsabilização rios Municipais de Saúde (Cosems). Os secretários municipais de
junto aos gerentes e equipes, no âmbito municipal, e participar do Saúde costumam debater entre si os temas estratégicos antes de
processo de pactuação, no âmbito regional. apresentarem suas posições na CIB. Os Cosems são também ins-
tâncias de articulação política entre gestores municipais de saúde,
Responsabilização Macrossanitária sendo de extrema importância a participação dos gestores locais
O gestor municipal, para assegurar o direito à saúde de seus nesse espaço.
munícipes, deve assumir a responsabilidade pelos resultados, bus-
cando reduzir os riscos, a mortalidade e as doenças evitáveis, a Espaços regionais: A implementação de espaços regionais de
exemplo da mortalidade materna e infantil, da hanseníase e da tu- pactuação, envolvendo os gestores municipais e estaduais, é uma
berculose. Para isso, tem de se responsabilizar pela oferta de ações necessidade para o aperfeiçoamento do SUS. Os espaços regionais
e serviços que promovam e protejam a saúde das pessoas, previ- devem-se organizar a partir das necessidades e das afinidades espe-
nam as doenças e os agravos e recuperem os doentes. A atenção cíficas em saúde existentes nas regiões.
básica à saúde, por reunir esses três componentes, coloca-se como
responsabilidade primeira e intransferível a todos os gestores. O Descentralização
cumprimento dessas responsabilidades exige que assumam as atri- O princípio de descentralização que norteia o SUS se dá, espe-
buições de gestão, incluindo: cialmente, pela transferência de responsabilidades e recursos para
- execução dos serviços públicos de responsabilidade munici- a esfera municipal, estimulando novas competências e capacidades
pal; político-institucionais dos gestores locais, além de meios adequa-
- destinação de recursos do orçamento municipal e utilização dos à gestão de redes assistenciais de caráter regional e macror-
do conjunto de recursos da saúde, com base em prioridades defini- regional, permitindo o acesso, a integralidade da atenção e a ra-
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43
Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

cionalização de recursos. Os estados e a União devem contribuir base nacional, que podem ser acessados no site do Datasus. Nesse
para a descentralização do SUS, fornecendo cooperação técnica e processo, a implantação do Cartão Nacional de Saúde tem papel
financeira para o processo de municipalização. central. Cabe aos prefeitos conhecer e monitorar esse conjunto de
informações essenciais à gestão da saúde do seu município.
Regionalização: consensos e estratégias - As ações e os ser-
viços de saúde não podem ser estruturados apenas na escala dos Níveis de atenção à saúde: O SUS ordena o cuidado com a saú-
municípios. Existem no Brasil milhares de pequenas municipalida- de em níveis de atenção, que são de básica, média e alta complexi-
des que não possuem em seus territórios condições de oferecer dade. Essa estruturação visa à melhor programação e planejamento
serviços de alta e média complexidade; por outro lado, existem das ações e dos serviços do sistema de saúde. Não se deve, porém,
municípios que apresentam serviços de referência, tornando-se desconsiderar algum desses níveis de atenção, porque a atenção à
polos regionais que garantem o atendimento da sua população e saúde deve ser integral.
de municípios vizinhos. Em áreas de divisas interestaduais, são fre- A atenção básica em saúde constitui o primeiro nível de aten-
quentes os intercâmbios de serviços entre cidades próximas, mas ção à saúde adotada pelo SUS. É um conjunto de ações que engloba
de estados diferentes. Por isso mesmo, a construção de consensos promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. De-
e estratégias regionais é uma solução fundamental, que permitirá senvolve-se por meio de práticas gerenciais e sanitárias, democrá-
ao SUS superar as restrições de acesso, ampliando a capacidade de ticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipe, dirigidas
atendimento e o processo de descentralização. a populações de territórios delimitados, pelos quais assumem res-
ponsabilidade.
O Sistema Hierarquizado e Descentralizado: As ações e servi- Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade,
ços de saúde de menor grau de complexidade são colocadas à dis- objetivando solucionar os problemas de saúde de maior frequência
posição do usuário em unidades de saúde localizadas próximas de e relevância das populações. É o contato preferencial dos usuários
seu domicílio. As ações especializadas ou de maior grau de comple- com o sistema de saúde. Deve considerar o sujeito em sua singu-
xidade são alcançadas por meio de mecanismos de referência, or- laridade, complexidade, inteireza e inserção sociocultural, além de
ganizados pelos gestores nas três esferas de governo. Por exemplo: buscar a promoção de sua saúde, a prevenção e tratamento de do-
O usuário é atendido de forma descentralizada, no âmbito do mu- enças e a redução de danos ou de sofrimentos que possam compro-
nicípio ou bairro em que reside. Na hipótese de precisar ser atendi- meter suas possibilidades de viver de modo saudável.
do com um problema de saúde mais complexo, ele é referenciado, As Unidades Básicas são prioridades porque, quando as Unida-
isto é, encaminhado para o atendimento em uma instância do SUS des Básicas de Saúde funcionam adequadamente, a comunidade
mais elevada, especializada. Quando o problema é mais simples, o consegue resolver com qualidade a maioria dos seus problemas de
cidadão pode ser contrarreferenciado, isto é, conduzido para um saúde. É comum que a primeira preocupação de muitos prefeitos
atendimento em um nível mais primário. se volte para a reforma ou mesmo a construção de hospitais. Para o
SUS, todos os níveis de atenção são igualmente importantes, mas a
Plano de saúde fixa diretriz e metas à saúde municipal prática comprova que a atenção básica deve ser sempre prioritária,
É responsabilidade do gestor municipal desenvolver o processo porque possibilita melhor organização e funcionamento também
de planejamento, programação e avaliação da saúde local, de modo dos serviços de média e alta complexidade.
a atender as necessidades da população de seu município com efici-
ência e efetividade. O Plano Municipal de Saúde (PMS) deve orien- Estando bem estruturada, ela reduzirá as filas nos prontos so-
tar as ações na área, incluindo o orçamento para a sua execução. corros e hospitais, o consumo abusivo de medicamentos e o uso
Um instrumento fundamental para nortear a elaboração do PMS é indiscriminado de equipamentos de alta tecnologia. Isso porque
o Plano Nacional de Saúde. Cabe ao Conselho Municipal de Saúde os problemas de saúde mais comuns passam a ser resolvidos nas
estabelecer as diretrizes para a formulação do PMS, em função da Unidades Básicas de Saúde, deixando os ambulatórios de especiali-
análise da realidade e dos problemas de saúde locais, assim como dades e hospitais cumprirem seus verdadeiros papéis, o que resulta
dos recursos disponíveis. No PMS, devem ser descritos os princi- em maior satisfação dos usuários e utilização mais racional dos re-
pais problemas da saúde pública local, suas causas, consequências cursos existentes.
e pontos críticos. Além disso, devem ser definidos os objetivos e
metas a serem atingidos, as atividades a serem executadas, os cro- Saúde da Família: é a saúde mais perto do cidadão. É parte
nogramas, as sistemáticas de acompanhamento e de avaliação dos da estratégia de estruturação eleita pelo Ministério da Saúde para
resultados. reorganização da atenção básica no País, com recursos financeiros
específicos para o seu custeio. Cada equipe é composta por um con-
Sistemas de informações ajudam a planejar a saúde: O SUS junto de profissionais (médico, enfermeiro, auxiliares de enferma-
opera e/ou disponibiliza um conjunto de sistemas de informações gem e agentes comunitários de saúde, podendo agora contar com
estratégicas para que os gestores avaliem e fundamentem o pla- profissional de saúde bucal) que se responsabiliza pela situação de
nejamento e a tomada de decisões, abrangendo: indicadores de saúde de determinada área, cuja população deve ser de no mínimo
saúde; informações de assistência à saúde no SUS (internações 2.400 e no máximo 4.500 pessoas. Essa população deve ser cadas-
hospitalares, produção ambulatorial, imunização e atenção básica); trada e acompanhada, tornando-se responsabilidade das equipes
rede assistencial (hospitalar e ambulatorial); morbidade por local atendê-la, entendendo suas necessidades de saúde como resultado
de internação e residência dos atendidos pelo SUS; estatísticas também das condições sociais, ambientais e econômicas em que
vitais (mortalidade e nascidos vivos); recursos financeiros, infor- vive. Os profissionais é que devem ir até suas casas, porque o objeti-
mações demográficas, epidemiológicas e socioeconômicas. Cami- vo principal da Saúde da Família é justamente aproximar as equipes
nha-se rumo à integração dos diversos sistemas informatizados de das comunidades e estabelecer entre elas vínculos sólidos.
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Contéudo

A saúde municipal precisa ser integral. O município é respon- infantil e materna; execução das ações básicas de vigilância sanitá-
sável pela saúde de sua população integralmente, ou seja, deve ria; gestão e/ou gerência dos sistemas de informação epidemioló-
garantir que ela tenha acessos à atenção básica e aos serviços espe- gica, no âmbito municipal; coordenação, execução e divulgação das
cializados (de média e alta complexidade), mesmo quando localiza- atividades de informação, educação e comunicação de abrangência
dos fora de seu território, controlando, racionalizando e avaliando municipal; participação no financiamento das ações de vigilância
os resultados obtidos. em saúde e capacitação de recursos.
Só assim estará promovendo saúde integral, como determina
a legislação. É preciso que isso fique claro, porque muitas vezes o Desafios públicos, responsabilidades compartilhadas: A legis-
gestor municipal entende que sua responsabilidade acaba na aten- lação brasileira – Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e legislação
ção básica em saúde e que as ações e os serviços de maior comple- sanitária, incluindo as Leis n.º 8.080/1990 e 8.142/1990 – estabe-
xidade são responsabilidade do Estado ou da União – o que não é lece prerrogativas, deveres e obrigações a todos os governantes. A
verdade. Constituição Federal define os gastos mínimos em saúde, por es-
A promoção da saúde é uma estratégia por meio da qual os fera de governo, e a legislação sanitária, os critérios para as trans-
desafios colocados para a saúde e as ações sanitárias são pensa- ferências intergovernamentais e alocação de recursos financeiros.
dos em articulação com as demais políticas e práticas sanitárias e Essa vinculação das receitas objetiva preservar condições mínimas
com as políticas e práticas dos outros setores, ampliando as pos- e necessárias ao cumprimento das responsabilidades sanitárias e
sibilidades de comunicação e intervenção entre os atores sociais garantir transparência na utilização dos recursos disponíveis. A res-
envolvidos (sujeitos, instituições e movimentos sociais). A promo- ponsabilização fiscal e sanitária de cada gestor e servidor público
ção da saúde deve considerar as diferenças culturais e regionais, deve ser compartilhada por todos os entes e esferas governamen-
entendendo os sujeitos e as comunidades na singularidade de suas tais, resguardando suas características, atribuições e competências.
histórias, necessidades, desejos, formas de pertencer e se relacio- O desafio primordial dos governos, sobretudo na esfera municipal,
nar com o espaço em que vivem. Significa comprometer-se com os é avançar na transformação dos preceitos constitucionais e legais
sujeitos e as coletividades para que possuam, cada vez mais, auto- que constituem o SUS em serviços e ações que assegurem o direi-
nomia e capacidade para manejar os limites e riscos impostos pela to à saúde, como uma conquista que se realiza cotidianamente em
doença, pela constituição genética e por seu contexto social, polí- cada estabelecimento, equipe e prática sanitária. É preciso inovar
tico, econômico e cultural. A promoção da saúde coloca, ainda, o e buscar, coletiva e criativamente, soluções novas para os velhos
desafio da intersetorialidade, com a convocação de outros setores problemas do nosso sistema de saúde. A construção de espaços de
sociais e governamentais para que considerem parâmetros sanitá- gestão que permitam a discussão e a crítica, em ambiente demo-
rios, ao construir suas políticas públicas específicas, possibilitando a crático e plural, é condição essencial para que o SUS seja, cada vez
realização de ações conjuntas. mais, um projeto que defenda e promova a vida.
Muitos municípios operam suas ações e serviços de saúde em
Vigilância em saúde: expande seus objetivos. Em um país com condições desfavoráveis, dispondo de recursos financeiros e equi-
as dimensões do Brasil, com realidades regionais bastante diver- pes insuficientes para atender às demandas dos usuários, seja em
sificadas, a vigilância em saúde é um grande desafio. Apesar dos volume, seja em complexidade – resultado de uma conjuntura so-
avanços obtidos, como a erradicação da poliomielite, desde 1989, cial de extrema desigualdade. Nessas situações, a gestão pública
e com a interrupção da transmissão de sarampo, desde 2000, con- em saúde deve adotar condução técnica e administrativa compa-
vivemos com doenças transmissíveis que persistem ou apresentam tível com os recursos existentes e criativa em sua utilização. Deve
incremento na incidência, como a AIDS, as hepatites virais, as me- estabelecer critérios para a priorização dos gastos, orientados por
ningites, a malária na região amazônica, a dengue, a tuberculose análises sistemáticas das necessidades em saúde, verificadas junto
e a hanseníase. Observamos, ainda, aumento da mortalidade por à população. É um desafio que exige vontade política, propostas
causas externas, como acidentes de trânsito, conflitos, homicídios e inventivas e capacidade de governo.
suicídios, atingindo, principalmente, jovens e população em idade
produtiva. Nesse contexto, o Ministério da Saúde com o objetivo de A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios compar-
integração, fortalecimento da capacidade de gestão e redução da tilham as responsabilidades de promover a articulação e a interação
morbimortalidade, bem como dos fatores de risco associados à saú- dentro do Sistema Único de Saúde – SUS, assegurando o acesso uni-
de, expande o objeto da vigilância em saúde pública, abrangendo as versal e igualitário às ações e serviços de saúde.
áreas de vigilância das doenças transmissíveis, agravos e doenças O SUS é um sistema de saúde, regionalizado e hierarquizado,
não transmissíveis e seus fatores de riscos; a vigilância ambiental que integra o conjunto das ações de saúde da União, Estados, Distri-
em saúde e a análise de situação de saúde. to Federal e Municípios, onde cada parte cumpre funções e compe-
tências específicas, porém articuladas entre si, o que caracteriza os
Competências municipais na vigilância em saúde níveis de gestão do SUS nas três esferas governamentais.
Compete aos gestores municipais, entre outras atribuições, as Criado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pela
atividades de notificação e busca ativa de doenças compulsórias, Lei nº 8.080/90, conhecida como a Lei Orgânica da Saúde, e pela Lei
surtos e agravos inusitados; investigação de casos notificados em nº 8.142/90, que trata da participação da comunidade na gestão
seu território; busca ativa de declaração de óbitos e de nascidos vi- do Sistema e das transferências intergovernamentais de recursos
vos; garantia a exames laboratoriais para o diagnóstico de doenças financeiros, o SUS tem normas e regulamentos que disciplinam as
de notificação compulsória; monitoramento da qualidade da água políticas e ações em cada Subsistema.
para o consumo humano; coordenação e execução das ações de A Sociedade, nos termos da Legislação, participa do planeja-
vacinação de rotina e especiais (campanhas e vacinações de blo- mento e controle da execução das ações e serviços de saúde. Essa
queio); vigilância epidemiológica; monitoramento da mortalidade participação se dá por intermédio dos Conselhos de Saúde, presen-
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Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

tes na União, nos Estados e Municípios. Em 1990, foi editada a Lei n. 8.080/90 que, em seus arts. 5º e
6º, cuidou dos objetivos e das atribuições do SUS, tentando melhor
Níveis de Gestão do SUS explicitar o art. 200 da CF (ainda que, em alguns casos, tenha repe-
Esfera Federal - Gestor: Ministério da Saúde - Formulação de tido os incisos daquele artigo, tão somente).
políticas nacionais de saúde, planejamento, normalização, avalia- São objetivos do SUS:
ção e controle do SUS em nível nacional. Financiamento das ações a) a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e de-
e serviços de saúde por meio da aplicação/distribuição de recursos terminantes da saúde;
públicos arrecadados. b) a formulação de políticas de saúde destinadas a promover,
Esfera Estadual - Gestor: Secretaria Estadual de Saúde - Formu- nos campos econômico e social, a redução de riscos de doenças e
lação da política estadual de saúde, coordenação e planejamento outros agravos; e
do SUS em nível Estadual. Financiamento das ações e serviços de c) execução de ações de promoção, proteção e recuperação
saúde por meio da aplicação/distribuição de recursos públicos ar- da saúde, integrando as ações assistenciais com as preventivas, de
recadados. modo a garantir às pessoas a assistência integral à sua saúde.
Esfera Municipal - Gestor: Secretaria Municipal de Saúde - For-
mulação da política municipal de saúde e a provisão das ações e O art. 6º, estabelece como competência do Sistema a execução
serviços de saúde, financiados com recursos próprios ou transferi- de ações e serviços de saúde descritos em seus 11 incisos.
dos pelo gestor federal e/ou estadual do SUS. O SUS deve atuar em campo demarcado pela lei, em razão do
disposto no art. 200 da CF e porque o enunciado constitucional de
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE que saúde é direito de todos e dever do Estado, não tem o condão
Pela dicção dos arts. 196 e 198 da CF, podemos afirmar que de abranger as condicionantes econômico-sociais da saúde, tam-
somente da segunda parte do art. 196 se ocupa o Sistema Único de pouco compreender, de forma ampla e irrestrita, todas as possíveis
Saúde, de forma mais concreta e direta, sob pena de a saúde, como e imagináveis ações e serviços de saúde, até mesmo porque haverá
setor, como uma área da Administração Pública, se ver obrigada a sempre um limite orçamentário e um ilimitado avanço tecnológico
cuidar de tudo aquilo que possa ser considerado como fatores que a criar necessidades infindáveis e até mesmo questionáveis sob o
condicionam e interferem com a saúde individual e coletiva. Isso ponto de vista ético, clínico, familiar, terapêutico, psicológico.
seria um arrematado absurdo e deveríamos ter um super Ministério Será a lei que deverá impor as proporções, sem, contudo, é ob-
e super Secretarias da Saúde responsáveis por toda política social e vio, cercear o direito à promoção, proteção e recuperação da saú-
econômica protetivas da saúde. de. E aqui o elemento delimitador da lei deverá ser o da dignidade
Se a Constituição tratou a saúde sob grande amplitude, isso humana.
não significa dizer que tudo o que está ali inserido corresponde a Lembramos, por oportuno que, o Projeto de Lei Complementar
área de atuação do Sistema Único de Saúde. n. 01/2003 -- que se encontra no Congresso Nacional para regu-
Repassando, brevemente, aquela seção do capítulo da Seguri- lamentar os critérios de rateio de transferências dos recursos da
dade Social, temos que: -- o art. 196, de maneira ampla, cuida do União para Estados e Municípios – busca disciplinar, de forma mais
direito à saúde; -- o art. 197 trata da relevância pública das ações e clara e definitiva, o que são ações e serviços de saúde e estabelecer
serviços de saúde, públicos e privados, conferindo ao Estado o direi- o que pode e o que não pode ser financiado com recursos dos fun-
to e o dever de regulamentar, fiscalizar e controlar o setor (público dos de saúde. Esses parâmetros também servirão para circunscre-
e privado); -- o art. 198 dispõe sobre as ações e os serviços públicos ver o que deve ser colocado à disposição da população, no âmbito
de saúde que devem ser garantidos a todos cidadãos para a sua do SUS, ainda que o art. 200 da CF e o art. 6º da LOS tenham defini-
promoção, proteção e recuperação, ou seja, dispõe sobre o Sistema do o campo de atuação do SUS, fazendo pressupor o que são ações
Único de Saúde; -- o art. 199, trata da liberdade da iniciativa priva- e serviços públicos de saúde, conforme dissemos acima. (O Conse-
da, suas restrições (não pode explorar o sangue, por ser bem fora lho Nacional de Saúde e o Ministério da Saúde também disciplina-
do comércio; deve submeter-se à lei quanto à remoção de órgãos ram o que são ações e serviços de saúde em resoluções e portarias).
e tecidos e partes do corpo humano; não pode contar com a parti-
cipação do capital estrangeiro na saúde privada; não pode receber O QUE FINANCIAR COM OS RECURSOS DA SAÚDE?
auxílios e subvenções, se for entidade de fins econômicos etc.) e a De plano, excetuam-se da área da saúde, para efeito de finan-
possibilidade de o setor participar, complementarmente, do setor ciamento, (ainda que absolutamente relevantes como indicadores
público; -- e o art. 200, das atribuições dos órgãos e entidades que epidemiológicos da saúde) as condicionantes econômico-sociais.
compõem o sistema público de saúde. O SUS é mencionado somen- Os órgãos e entidades do SUS devem conhecer e informar à socie-
te nos arts. 198 e 200. dade e ao governo os fatos que interferem na saúde da população
A leitura do art. 198 deve sempre ser feita em consonância com com vistas à adoção de políticas públicas, sem, contudo, estarem
a segunda parte do art. 196 e com o art. 200. O art. 198 estatui que obrigados a utilizar recursos do fundo de saúde para intervir nessas
todas as ações e serviços públicos de saúde constituem um único causas.
sistema. Aqui temos o SUS. E esse sistema tem como atribuição ga- Quem tem o dever de adotar políticas sociais e econômicas que
rantir ao cidadão o acesso às ações e serviços públicos de saúde visem evitar o risco da doença é o Governo como um todo (políticas
(segunda parte do art. 196), conforme campo demarcado pelo art. de governo), e não a saúde, como setor (políticas setoriais). A ela,
200 e leis específicas. saúde, compete atuar nos campos demarcados pelos art. 200 da CF
O art. 200 define em que campo deve o SUS atuar. As atribui- e art. 6º da Lei n. 8.080/90 e em outras leis específicas.
ções ali relacionadas não são taxativas ou exaustivas. Outras pode- Como exemplo, podemos citar os servidores da saúde que de-
rão existir, na forma da lei. E as atribuições ali elencadas dependem, vem ser pagos com recursos da saúde, mas o seu inativo, não; não
também, de lei para a sua exequibilidade. porque os inativos devem ser pagos com recursos da Previdência
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Social. Idem quanto as ações da assistência social, como bolsa-a- fronteiras e de portos marítimos, fluviais e aéreos;
limentação, bolsa-família, vale-gás, renda mínima, fome zero, que g) vigilância em saúde, especialmente quanto às drogas, medi-
devem ser financiadas com recursos da assistência social, setor ao camentos e alimentos;
qual incumbe promover e prover as necessidades das pessoas ca- h) pesquisa científica e tecnológica na área da saúde.
rentes visando diminuir as desigualdades sociais e suprir suas ca-
rências básicas imediatas. Isso tudo interfere com a saúde, mas não Ao Ministério da Saúde compete a vigilância sobre alimentos
pode ser administrada nem financiada pelo setor saúde. (registro, fiscalização, controle de qualidade) e não a prestação de
O saneamento básico é outro bom exemplo. A Lei n. 8.080/90, serviços que visem fornecer alimentos às pessoas de baixa renda.
em seu art. 6º, II, dispõe que o SUS deve participar na formulação O fornecimento de cesta básica, merenda escolar, alimentação
da política e na execução de ações de saneamento básico. Por sua a crianças em idade escolar, idosos, trabalhadores rurais temporá-
vez, o §3º do art. 32, reza que as ações de saneamento básico que rios, portadores de moléstias graves, conforme previsto na Lei do
venham a ser executadas supletivamente pelo SUS serão financia- Estado do Rio de Janeiro, são situações de carência que necessitam
das por recursos tarifários específicos e outros da União, Estados, de apoio do Poder Público, sem sombra de dúvida, mas no âmbito
DF e Municípios e não com os recursos dos fundos de saúde. da assistência social ou de outro setor da Administração Pública e
Nesse ponto gostaríamos de abrir um parêntese para comentar com recursos que não os do fundo de saúde. Não podemos mais
o Parecer do Sr. Procurador Geral da República, na ADIn n. 3087- confundir assistência social com saúde. A alimentação interessa à
6/600-RJ, aqui mencionado. saúde, mas não está em seu âmbito de atuação.
O Governo do Estado do Rio de Janeiro, pela Lei n. 4.179/03, Tanto isso é fato que a Lei n. 8.080/90, em seu art. 12, estabe-
instituiu o Programa Estadual de Acesso à Alimentação – PEAA, leceu que “serão criadas comissões intersetoriais de âmbito nacio-
determinando que suas atividades correrão à conta do orçamento nal, subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde, integradas pelos
do Fundo Estadual da Saúde, vinculado à Secretaria de Estado da Ministérios e órgãos competentes e por entidades representativas
Saúde. O PSDB, entendendo ser a lei inconstitucional por utilizar da sociedade civil”, dispondo seu parágrafo único que “as comissões
recursos da saúde para uma ação que não é de responsabilidade intersetoriais terão a finalidade de articular políticas e programas
da área da saúde, moveu ação direta de inconstitucionalidade, com de interesse para a saúde, cuja execução envolva áreas não com-
pedido de cautelar. preendidas no âmbito do Sistema Único de Saúde”. Já o seu art. 13,
O Sr. Procurador da República (Parecer n. 5147/CF), opinou destaca, algumas dessas atividades, mencionando em seu inciso I a
pela improcedência da ação por entender que o acesso à alimenta- “alimentação e nutrição”.
ção é indissociável do acesso à saúde, assim como os medicamen- O parâmetro para o financiamento da saúde deve ser as atri-
tos o são e que as pessoas de baixa renda devem ter atendidas a buições que foram dadas ao SUS pela Constituição e por leis espe-
necessidade básica de alimentar-se. cíficas e não a 1º parte do art. 196 da CF, uma vez que os fatores
Infelizmente, mais uma vez confundiu-se “saúde” com “assis- que condicionam a saúde são os mais variados e estão inseridos
tência social”, áreas da Seguridade Social, mas distintas entre si. nas mais diversas áreas da Administração Pública, não podendo ser
A alimentação é um fator que condiciona a saúde tanto quanto o considerados como competência dos órgãos e entidades que com-
saneamento básico, o meio ambiente degradado, a falta de renda põe o Sistema Único de Saúde.
e lazer, a falta de moradia, dentre tantos outros fatores condicio-
nantes e determinantes, tal qual mencionado no art. 3º da Lei n. DA INTEGRALIDADE DA ASSISTÊNCIA
8.080/90. Vencida esta etapa, adentramos em outra, no interior do setor
A Lei n. 8.080/90 ao dispor sobre o campo de atuação do SUS saúde - SUS, que trata da integralidade da assistência à saúde. O
incluiu a vigilância nutricional e a orientação alimentar, atividades art. 198 da CF determina que o Sistema Único de Saúde deve ser
complexas que não tem a ver com o fornecimento, puro e simples, organizado de acordo com três diretrizes, dentre elas, o atendimen-
de bolsa-alimentação, vale-alimentação ou qualquer outra forma to integral que pressupõe a junção das atividades preventivas, que
de garantia de mínimos existenciais e sociais, de atribuição da assis- devem ser priorizadas, com as atividades assistenciais, que também
tência social ou de outras áreas da Administração Pública voltadas não podem ser prejudicadas.
para corrigir as desigualdades sociais. A vigilância nutricional deve A Lei n. 8.080/90, em seu art. 7º (que dispõe sobre os princípios
ser realizada pelo SUS em articulação com outros órgãos e setores e diretrizes do SUS), define a integralidade da assistência como “o
governamentais em razão de sua interface com a saúde. São ativi- conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e
dades que interessam a saúde, mas as quais, a saúde como setor, curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos
não as executa. Por isso a necessidade das comissões intersetoriais os níveis de complexidade do sistema”.
previstas na Lei n. 8.080/90.
A própria Lei n. 10.683/2003, que organiza a Presidência da Re- A integralidade da assistência exige que os serviços de saúde
pública, estatuiu em seu art. 27, XX ser atribuição do Ministério da sejam organizados de forma a garantir ao indivíduo e à coletividade
Saúde: a proteção, a promoção e a recuperação da saúde, de acordo com
a) política nacional de saúde; as necessidades de cada um em todos os níveis de complexidade
b) coordenação e fiscalização do Sistema Único de Saúde; do sistema.
c) saúde ambiental e ações de promoção, proteção e recupe- Vê-se, pois, que a assistência integral não se esgota nem se
ração da saúde individual e coletiva, inclusive a dos trabalhadores completa num único nível de complexidade técnica do sistema,
e dos índios; necessitando, em grande parte, da combinação ou conjugação de
d) informações em saúde; serviços diferenciados, que nem sempre estão à disposição do cida-
e) insumos críticos para a saúde; dão no seu município de origem. Por isso a lei sabiamente definiu
f) ação preventiva em geral, vigilância e controle sanitário de a integralidade da assistência como a satisfação de necessidades
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LEGISLAÇÃO - SUS

individuais e coletivas que devem ser realizadas nos mais diversos seu encargo no seu plano de saúde que, por sua vez, deve guardar
patamares de complexidade dos serviços de saúde, articulados pe- consonância com os pactos da regionalização, consubstanciados
los entes federativos, responsáveis pela saúde da população. em instrumentos jurídicos competentes .
Nesse ponto, temos ainda a considerar que, dentre as atribui-
A integralidade da assistência é interdependente; ela não se ções do SUS, uma das mais importantes -- objeto de reclamações e
completa nos serviços de saúde de um só ente da federação. Ela ações judiciais -- é a assistência terapêutica integral. Por sua indivi-
só finaliza, muitas vezes, depois de o cidadão percorrer o caminho dualização, imediatismo, apelo emocional e ético, urgência e emer-
traçado pela rede de serviços de saúde, em razão da complexidade gência, a assistência terapêutica destaca-se dentre todas as demais
da assistência atividades da saúde como a de maior reivindicação individual. Fale-
E para a delimitação das responsabilidades de cada ente da fe- mos dela no tópico seguinte.
deração quanto ao seu comprometimento com a integralidade da
assistência, foram criados instrumentos de gestão, como o plano de
saúde e as formas de gestão dos serviços de saúde. CONTROLE SOCIAL NO SUS
Desse modo, devemos centrar nossas atenções no plano de
saúde, por ser ele a base de todas as atividades e programações da
saúde, em cada nível de governo do Sistema Único de Saúde, o qual Participação e Controle Social no SUS
deverá ser elaborado de acordo com diretrizes legais estabelecidas Os movimentos sociais ocorridos durante a década de 80 na
na Lei n. 8.080/90: epidemiologia e organização de serviços (arts. 7º busca por um Estado democrático aos serviços de saúde impulsio-
VII e 37). O plano de saúde deve ser a referência para a demarcação naram a modificação do modelo vigente de controle social da época
de responsabilidades técnicas, administrativas e jurídicas dos entes que culminou com a criação do SUS a partir da Constituição Fede-
políticos. rativa de 1988.
Sem planos de saúde -- elaborados de acordo com as diretri- O objetivo deste texto é realizar uma análise deste modelo de
zes legais, associadas àquelas estabelecidas nas comissões intergo- participação popular e controle social no SUS, bem como favorecer
vernamentais trilaterais, principalmente no que se refere à divisão reflexões aos atores envolvidos neste cenário, através de uma pes-
de responsabilidades -- o sistema ficará ao sabor de ideologias e quisa narrativa baseada em publicações relevantes produzidas no
decisões unilaterais das autoridades dirigentes da saúde, quando Brasil nos últimos 11 anos.
a regra que perpassa todo o sistema é a da cooperação e da conju-
gação de recursos financeiros, tecnológicos, materiais, humanos da É insuficiente o controle social estar apenas na lei, é preciso
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em redes que este aconteça na prática. Entretanto, a sociedade civil, ainda
regionalizadas de serviços, nos termos dos incisos IX, b e XI do art. não ocupa de forma efetiva esses espaços de participação.
7º e art. 8º da Lei n. 8.080/90. O processo de criação do SUS teve início a partir das defini-
Por isso, o plano de saúde deve ser o instrumento de fixação ções legais estabelecidas pela nova Constituição Federal do Brasil
de responsabilidades técnicas, administrativas e jurídicas quanto de 1988, sendo consolidado e regulamentado com as Leis Orgânicas
à integralidade da assistência, uma vez que ela não se esgota, na da Saúde (LOA), n° 8080/90 e n° 8.142/90, sendo estabelecidas nes-
maioria das vezes, na instância de governo-sede do cidadão. Ressal- tas as diretrizes e normas que direcionam o novo sistema de saúde,
te-se, ainda, que o plano de saúde é a expressão viva dos interesses bem como aspectos relacionados a sua organização e funcionamen-
da população, uma vez que, elaborado pelos órgãos competentes to, critérios de repasses para os estados e municípios além de disci-
governamentais, deve ser submetido ao conselho de saúde, repre- plinar o controle social no SUS em conformidade com as represen-
sentante da comunidade no SUS, a quem compete, discutir, aprovar tações dos critérios estaduais e municipais de saúde (FINKELMAN,
e acompanhar a sua execução, em todos os seus aspectos. 2002; FARIA, 2003; SOUZA, 2003).
Lembramos, ainda, que o planejamento sendo ascendente, O SUS nos trouxe a ampliação da assistência à saúde para a
iniciando-se da base local até a federal, reforça o sentido de que coletividade, possibilitando, com isso, um novo olhar às ações, ser-
a integralidade da assistência só se completa com o conjunto arti- viços e práticas assistenciais. Sendo estas norteadas pelos princí-
culado de serviços, de responsabilidade dos diversos entes gover- pios e diretrizes: Universalidade de acesso aos serviços de saúde;
namentais. Integralidade da assistência; Equidade; Descentralização Político-
Resumindo, podemos afirmar que, nos termos do art. 198, II, -administrativa; Participação da comunidade; regionalização e hie-
da CF, c/c os arts. 7º, II e VII, 36 e 37, da Lei n. 8.080/90, a integra- rarquização (REIS, 2003). A participação popular e o controle social
lidade da assistência não é um direito a ser satisfeito de maneira em saúde, dentre os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS),
aleatória, conforme exigências individuais do cidadão ou de acordo destacam-se como de grande relevância social e política, pois se
com a vontade do dirigente da saúde, mas sim o resultado do plano constituem na garantia de que a população participará do processo
de saúde que, por sua vez, deve ser a consequência de um planeja- de formulação e controle das políticas públicas de saúde.
mento que leve em conta a epidemiologia e a organização de ser- No Brasil, o controle social se refere à participação da comu-
viços e conjugue as necessidades da saúde com as disponibilidades nidade no processo decisório sobre políticas públicas e ao contro-
de recursos , além da necessária observação do que ficou decidido le sobre a ação do Estado (ARANTES et al., 2007). Nesse contex-
nas comissões intergovernamentais trilaterais ou bilaterais, que to, enfatiza-se a institucionalização de espaços de participação da
não contrariem a lei. comunidade no cotidiano do serviço de saúde, através da garantia
Na realidade, cada ente político deve ser eticamente respon- da participação no planejamento do enfrentamento dos problemas
sável pela saúde integral da pessoa que está sob atenção em seus priorizados, execução e avaliação das ações, processo no qual a par-
serviços, cabendo-lhe responder civil, penal e administrativamente ticipação popular deve ser garantida e incentivada (BRASIL, 2006).
apenas pela omissão ou má execução dos serviços que estão sob
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Sendo o SUS a primeira política pública no Brasil a adotar cons- A participação popular na gestão da saúde é prevista pela Cons-
titucionalmente a participação popular como um de seus princí- tituição Federal de 1998, em seu artigo 198, que trata das diretrizes
pios, esta não somente reitera o exercício do controle social sob as do SUS: descentralização, integralidade e a participação da comuni-
práticas de saúde, mas também evidencia a possibilidade de seu dade. Essas diretrizes orientam a organização e o funcionamento do
exercício através de outros espaços institucionalizados em seu arca- sistema, com o intuito de torná-lo mais adequado a atender às ne-
bouço jurídico, além dos reconhecidos pela Lei Orgânica de saúde cessidades da população brasileira (BRASIL, 2006; WENDHAUSEN;
de n° 8.142/90, os conselhos e as conferências de saúde. Destaca, BARBOSA; BORBA, 2006; OLIVEIRA, 2003).
ainda, as audiências públicas e outros mecanismos de audiência da A discussão com ênfase dada ao controle social na nova Cons-
sociedade, de usuários e de trabalhadores sociais (CONASS, 2003; tituição se expressa em novas diretrizes para a efetivação deste por
BARBOSA, 2009; COSSETIN, 2010). meio de instrumentos normativos e da criação legal de espaços ins-
Ademais, a Lei Orgânica da Saúde n.º 8.080/1990 estabelece titucionais que garantem a participação da sociedade civil organiza-
em seu art. 12 a criação de comissões intersetoriais subordinadas da na fiscalização direta do executivo nas três esferas de governo.
ao Conselho Nacional de Saúde, com o objetivo de articular as Na atualidade, muitas expressões são utilizadas corriqueiramente
políticas públicas relevantes para a saúde. Entretanto, é a Lei n.° para caracterizar a participação popular na gestão pública de saú-
8.142/1990 que dispõe sobre a participação social no SUS, definin- de, a que consta em nossa Carta Magna e o termo ‘participação da
do que a participação popular estará incluída em todas as esferas comunidade na saúde’. Porém, iremos utilizar aqui o termo mais
de gestão do SUS. Legitimando assim os interesses da população no comum em nosso meio: ‘controle social’. Sendo o controle social
exercício do controle social (BRASIL, 2009). uma importante ferramenta de democratização das organizações,
Essa perspectiva é considerada uma das formas mais avança- busca-se adotar uma série de práticas que efetivem a participação
das de democracia, pois determina uma nova relação entre o Es- da sociedade na gestão (GUIZARDI et al ., 2004).
tado e a sociedade, de maneira que as decisões sobre as ações na
saúde deverão ser negociadas com os representantes da sociedade, Embora o termo controle social seja o mais utilizado, consi-
uma vez que eles conhecem a realidade da saúde das comunidades. deramos que se trata de um reducionismo, uma vez que este não
Amiúde, as condições necessárias para que se promova a de- traduz a amplitude do direito assegurado pela nova Constituição
mocratização da gestão pública em saúde se debruça com a discus- Federal de 1988, que permite não só o controle e a fiscalização
são em torno do controle social em saúde. permanente da aplicação de recursos públicos. Este também se
O presente estudo tem como objetivo realizar uma análise do manifesta através da ação, onde cidadãos e políticos têm um papel
modelo vigente de participação popular e controle social no SUS e social a desempenhar através da execução de suas funções, ou ain-
ainda elucidar questões que permitirão entender melhor a partici- da através da proposição, onde cidadãos participam da formulação
pação e o controle social, bem como favorecer algumas reflexões a de políticas, intervindo em decisões e orientando a Administração
todos os atores envolvidos no cenário do SUS. Pública quanto às melhores medidas a serem adotadas com objeti-
vo de atender aos legítimos interesses públicos (NOGUEIRA, 2004;
Participação e Controle Social BRASIL, 2011b; MENEZES, 2010).
Após um longo período no qual a população viveu sob um es-
tado ditatorial, com a centralização das decisões, o tecnicismo e Fonte: http://cebes.org.br/2013/05/participacao-popular-e-o-controle-
o autoritarismo, durante a década de 1980 ocorreu uma abertura -social-como-diretriz-do-sus-uma-revisao-narrativa/
democrática que reconhece a necessidade de revisão do modelo
de saúde vigente na época, com propostas discutidas em ampliar a Estratégias operacionais e metodológicas para o controle so-
participação popular nas decisões e descentralizar a gestão pública cial
em saúde, com vistas a aproximar as decisões do Estado ao cotidia- Recomenda-se que o processo de educação permanente para
no dos cidadãos brasileiros (DALLARI, 2000; SCHNEIDER et al., 2009; o controle social no SUS ocorra de forma descentralizada, respei-
VANDERLEI; ALMEIDA, 2007). tando as especifi cidades e condições locais a fim de que possa ter
Nessa perspectiva, a dimensão histórica adquire relevância es- maior efetividade.
sencial para a compreensão do controle social, o que pode provocar Considerando que os membros do Conselho de Saúde reno-
reações contraditórias. De fato, o controle social foi historicamente vam-se periodicamente e outros sujeitos sociais alternam-se em
exercido pelo Estado sobre a sociedade durante muitos anos, na suas representações, e o fato de estarem sempre surgindo novas
época da ditadura militar. demandas oriundas das mudanças conjunturais, torna-se necessá-
É oportuno destacar que a ênfase ao controle social que aqui rio que o processo de educação permanente para o controle social
será dada refere-se às ações que os cidadãos exercem para moni- esteja em constante construção e atualização.
torar, fiscalizar, avaliar, interferir na gestão estatal e não o inverso. A operacionalização do processo de educação permanente
Pois, como vimos, também denominam-se controle social as ações para o controle social no SUS deve considerar a seleção, preparação
do Estado para controlar a sociedade, que se dá por meio da legisla- do material e a identifi cação de sujeitos sociais que tenham condi-
ção, do aparato institucional ou mesmo por meio da força. ções de transmitir informações e possam atuar como facilitadores
A organização e mobilização popular realizada na década de 80, e incentivadores das discussões sobre os temas a serem tratados.
do século XX, em prol de um Estado democrático e garantidor do Para isso é importante:
acesso universal aos direitos a saúde, coloca em evidência a possibi- • identificar as parcerias a serem envolvidas, como: universida-
lidade de inversão do controle social. Surge, então, a perspectiva de des, núcleos de saúde, escolas de saúde pública, técnicos e especia-
um controle da sociedade civil sobre o Estado, sendo incorporada listas autônomos ou ligados a instituições, entidades dos segmentos
pela nova Constituição Federal de 1988 juntamente com a criação sociais representados nos Conselhos, Organização Pan-Americana
do SUS (CONASS, 2003). da Saúde (Opas), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Uni-
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Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

cef), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e tivas Medidas Provisórias;
a Cultura (Unesco), Instituto Brasileiro de Administração Municipal • Relatórios das Conferências Nacionais de Saúde;
(Ibam), Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva • Normas Operacionais do SUS;
(Abrasco) e outras organizações da sociedade que atuem na área • Princípios e Diretrizes para a Gestão do Trabalho (NOB/ RH
de saúde. Na identifi cação e articulações das parcerias, deve fi car – SUS), 2005 (BRASIL, 2005), Diretrizes e Competências da Comis-
clara a atribuição dos conselhos, conselheiros e parceiros; são Intergestora Tripartite (CIT), Comissões Intergestoras Bipartites
• realizar as atividades de educação permanente para os con- (CIBs) e das Condições de Gestão dos Estados e Municípios;
selheiros e os demais sujeitos sociais de acordo com a realidade • Constituição do Estado e Leis Orgânicas do Estado, do Distrito
local, garantindo uma carga horária que possibilite a participação e Federal e Município;
a ampla discussão dos temas, democratização das informações e a • Seleção de Deliberações do Conselho Estadual de Saúde
utilização de técnicas pedagógicas para o controle social que facili- (CES), Conselho Municipal de Saúde (CMS) e pactuações das Comis-
tem a construção dos conteúdos teóricos e, também, a interação do sões Intergestoras Tripartite e Bipartite;
grupo. Sugere-se que as atividades de educação permanente para • Resoluções e deliberações do Conselho de Saúde relaciona-
o controle social no SUS sejam enfocadas em dois níveis: um geral, das à Gestão em Saúde: Plano de Saúde, Financiamento, Normas,
garantindo a representação de todos os segmentos, e outro específi Direção e Execução, Planejamento – que compreende programa-
co, que poderá ser estruturado e oferecido de acordo com o inte- ção, orçamento, acompanhamento e avaliação;
resse ou a necessidade dos segmentos que compõem os Conselhos • Resolução do Conselho Nacional de Saúde n.º 333/2003
de Saúde e os demais órgãos da sociedade. (BRASIL, 2003c), Resolução n.º 322/2003 (BRASIL, 2003b), Resolu-
ção n.º 196/96 (BRASIL, 1996) e outras correspondentes com mes-
Para promover o alcance dos objetivos do processo de edu- mo mérito, e deliberações no campo do controle social – formula-
cação permanente para o controle social no SUS, recomenda-se a ção de estratégias e controle da execução pelos Conselhos de Saúde
utilização de metodologias que busquem a construção coletiva de e pela sociedade.
conhecimentos, baseada na experiência do grupo, levando-se em
consideração o conhecimento como prática concreta e real dos su- A definição dos conteúdos básicos de educação permanente
jeitos a partir de suas vivências e histórias. Metodologias essas que para o controle social no SUS deve ser objeto de deliberação pelos
ultrapassem as velhas formas autoritárias de lidar com a aprendiza- plenários dos Conselhos de Saúde nas suas respectivas esferas go-
gem e muitas vezes utilizadas como, por exemplo, a da comunica- vernamentais.
ção unilateral, que transforma o indivíduo num mero receptor de Recomenda-se que, para esse processo, seja prevista a criação
teorias e conteúdos. de instrumentos de acompanhamento e avaliação dos resultados
Recomenda-se, também, a utilização de dinâmicas que propi- das atividades
ciem um ambiente de troca de experiências, de refl exões pertinen-
tes à atuação dos Conselheiros de Saúde e dos sujeitos sociais e de Responsabilidades
técnicas que favoreçam a sua participação e integração, como, por
exemplo, reuniões de grupo, plenárias, estudos dirigidos, seminá- Esferas governamentais
rios, ofi cinas, todos envolvendo debates. Compete ao Estado, nas três esferas do governo:
A 12.ª Conferência Nacional de Saúde (CONFERÊNCIA..., 2005) a) Oferecer todas as condições necessárias para que o processo
recomendou a realização de ações para educação permanente e de educação permanente para o controle social ocorra, garantindo
propôs que as atividades do Conselheiro de Saúde fossem consi- o pleno funcionamento dos Conselhos de Saúde e a realização das
deradas de relevância pública. Essa proposição foi contemplada na ações para a educação permanente e controle social dos demais
Resolução n.º 333/2003 (BRASIL, 2003c), aprovada pelo Conselho sujeitos sociais.
Nacional de Saúde, que garante ao Conselheiro de Saúde a dis- b) Promover o apoio à produção de materiais didáticos desti-
pensa, sem prejuízo, do seu trabalho, para participar das reuniões, nados às atividades de educação permanente para o controle social
eventos, capacitações e ações específi cas do Conselho de Saúde. no SUS, ao desenvolvimento e utilização de métodos, técnicas e fo-
Assim, o processo proposto, especialmente, no que diz respei- mento à pesquisa que contribuam para esse processo.
to aos Conselhos de Saúde deve dar conta da intensa renovação de
Conselheiros de Saúde, que ocorre em razão do final dos manda- Ministério da Saúde
tos, ou por decisão da instituição ou entidade de substituir o seu a) Incentivar e apoiar, inclusive nos aspectos fi nanceiros e téc-
representante. Isto requer, no mínimo, a oferta de material básico nicos, as instâncias estaduais, municipais e do Distrito Federal para
informativo, uma capacitação inicial promovida pelo Conselho de o processo de elaboração e execução da política de educação per-
Saúde e a garantia de mecanismos que disponibilizem informações manente para o controle social no SUS;
aos novos Conselheiros. b) Manter disponível e atualizado o acervo de referências sobre
saúde e oferecer material informativo básico e audiovisual que pro-
Sugestões de material de apoio: picie a veiculação de temas de interesse geral em saúde, tais como:
• Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU); legislação, orçamento, direitos em saúde, modelo assistencial, mo-
• Declaração dos Direitos da Criança e Adolescente (Unicef); delo de gestão e outros.
• Declaração de Otawa, Declaração de Bogotá e outras;
• Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 2003) – Capítulo da
Ordem Social;
• Leis Federais: 8.080/90 (BRASIL, 1990a), 8.142/90 (BRASIL,
1990b), 8.689/93 (BRASIL, 1993), 9.656/98 (BRASIL, 1998) e respec-
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50
Contéudo

DA INSTITUIÇÃO E REFORMULAÇÃO DOS CONSELHOS DE


RESOLUÇÃO 453/2012 DO CONSELHO NACIONAL DA SAÚDE SAÚDE

Segunda Diretriz: a instituição dos Conselhos de Saúde é esta-


RESOLUÇÃO Nº 453, DE 10 DE MAIO DE 2012 belecida por lei federal, estadual, do Distrito Federal e municipal,
obedecida a Lei no 8.142/90.
O Plenário do Conselho Nacional de Saúde, em sua Ducentési- Parágrafo único. Na instituição e reformulação dos Conselhos
ma Trigésima Terceira Reunião Ordinária, realizada nos dias 9 e 10 de Saúde o Poder Executivo, respeitando os princípios da demo-
de maio de 2012, no uso de suas competências regimentais e atri- cracia, deverá acolher as demandas da população aprovadas nas
buições conferidas pela Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, Conferências de Saúde, e em consonância com a legislação.
e pela Lei no 8.142, de 28 de dezembro de 1990, e pelo Decreto
no 5.839, de 11 de julho de 2006, e A ORGANIZAÇÃO DOS CONSELHOS DE SAÚDE
Considerando os debates ocorridos nos Conselhos de
Saúde, nas três esferas de Governo, na X Plenária Nacional de Terceira Diretriz: a participação da sociedade organizada, ga-
Conselhos de Saúde, nas Plenárias Regionais e Estaduais de rantida na legislação, torna os Conselhos de Saúde uma instância
Conselhos de Saúde, nas 9a, 10a e 11a Conferências Nacionais de privilegiada na proposição, discussão, acompanhamento, delibera-
Saúde, e nas Conferên-cias Estaduais, do Distrito Federal e ção, avaliação e fiscalização da implementação da Política de Saúde,
Municipais de Saúde; inclusive nos seus aspectos econômicos e financeiros. A legislação
Considerando a experiência acumulada do Controle Social da estabelece, ainda, a composição paritária de usuários em relação
Saúde à necessidade de aprimoramento do Controle Social da Saú- ao conjunto dos demais segmentos representados. O Conselho de
de no âmbito nacional e as reiteradas demandas dos Conselhos Es- Saúde será composto por representantes de entidades, instituições
taduais e Municipais referentes às propostas de composição, orga- e movimentos representativos de usuários, de entidades represen-
nização e funcionamento, conforme o §5o inciso II art. 1o da Lei no tativas de trabalhadores da área da saúde, do governo e de entida-
8.142, de 28 de dezembro de 1990; des representativas de prestadores de serviços de saúde, sendo o
Considerando a ampla discussão da Resolução do CNS no seu presidente eleito entre os membros do Conselho, em reunião
333/92 realizada nos espaços de Controle Social, entre os quais se plenária. Nos Municípios onde não existem entidades, instituições
destacam as Plenárias de Conselhos de Saúde; e movimentos organizados em número suficiente para compor o
Considerando os objetivos de consolidar, fortalecer, ampliar Conselho, a eleição da representação será realizada em plenária no
e acelerar o processo de Controle Social do SUS, por intermédio Município, promovida pelo Conselho Municipal de maneira ampla
dos Conselhos Nacional, Estaduais, Municipais, das Conferências de e democrática.
Saúde e Plenárias de Conselhos de Saúde; I - O número de conselheiros será definido pelos Conselhos de
Considerando que os Conselhos de Saúde, consagrados pela Saúde e constituído em lei.
efetiva participação da sociedade civil organizada, representam po- II - Mantendo o que propôs as Resoluções nos 33/92 e 333/03
los de qualificação de cidadãos para o Controle Social nas esferas do CNS e consoante com as Recomendações da 10a e 11a Confe-
da ação do Estado; e rências Nacionais de Saúde, as vagas deverão ser distribuídas da
Considerando o que disciplina a Lei Complementar no 141, de seguinte forma:
13 de janeiro de 2012, e o Decreto nº 7.508, de 28 de junho de a)50% de entidades e movimentos representativos de usuários;
2011, que regulamentam a Lei Orgânica da Saúde, resolve: b)25% de entidades representativas dos trabalhadores da área
de saúde;
Aprovar as seguintes diretrizes para instituição, reformulação, c)25% de representação de governo e prestadores de serviços
reestruturação e funcionamento dos Conselhos de Saúde: privados conveniados, ou sem fins lucrativos.
III - A participação de órgãos, entidades e movimentos sociais
DA DEFINIÇÃO DE CONSELHO DE SAÚDE PRIMEIRA DIRETRIZ: terá como critério a representatividade, a abrangência e a comple-
mentaridade do conjunto da sociedade, no âmbito de atuação do
o Conselho de Saúde é uma instância colegiada, deliberativa e Conselho de Saúde. De acordo com as especificidades locais, apli-
permanente do Sistema Único de Saúde (SUS) em cada esfera de cando o princípio da paridade, serão contempladas, dentre outras,
Governo, integrante da estrutura organizacional do Ministério da as seguintes representações:
Saúde, da Secretaria de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos a)associações de pessoas com patologias;
Municípios, com composição, organização e competência fixadas b)associações de pessoas com deficiências;
na Lei no 8.142/90. O processo bem-sucedido de descentralização c)entidades indígenas;
da saúde promoveu o surgimento de Conselhos Regionais, Conse- d)movimentos sociais e populares, organizados (movimento
lhos Locais, Conselhos Distritais de Saúde, incluindo os Conselhos negro, LGBT...);
dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas, sob a coordenação dos e)movimentos organizados de mulheres, em saúde;
Conselhos de Saúde da esfera correspondente. Assim, os Conselhos f)entidades de aposentados e pensionistas;
de Saúde são espaços instituídos de participação da comunidade g)entidades congregadas de sindicatos, centrais sindicais, con-
nas políticas públicas e na administração da saúde. federações e federações de trabalhadores urbanos e rurais;
Parágrafo único. Como Subsistema da Seguridade Social, o Con- h)entidades de defesa do consumidor;
selho de Saúde atua na formulação e proposição de estratégias e i)organizações de moradores;
no controle da execução das Políticas de Saúde, inclusive nos seus j)entidades ambientalistas;
aspectos econômicos e financeiros. k)organizações religiosas;
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51
Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

l)trabalhadores da área de saúde: associações, confederações, técnico e administrativo, subordinada ao Plenário do Conselho de
conselhos de profissões regulamentadas, federações e sindicatos, Saúde, que definirá sua estrutura e dimensão;
obedecendo as instâncias federativas; III - o Conselho de Saúde decide sobre o seu orçamento;
m)comunidade científica; IV - o Plenário do Conselho de Saúde se reunirá, no mínimo, a
n)entidades públicas, de hospitais universitários e hospitais cada mês e, extraordinariamente, quando necessário, e terá como
campo de estágio, de pesquisa e desenvolvimento; base o seu Regimento Interno. A pauta e o material de apoio às reu-
o)entidades patronais; niões devem ser encaminhados aos conselheiros com antecedência
p)entidades dos prestadores de serviço de saúde; e mínima de 10 (dez) dias;
q)governo. V - as reuniões plenárias dos Conselhos de Saúde são abertas
IV - As entidades, movimentos e instituições eleitas no Conse- ao público e deverão acontecer em espaços e horários que possibi-
lho de Saúde terão os conselheiros indicados, por escrito, conforme litem a participação da sociedade;
processos estabelecidos pelas respectivas entidades, movimentos e VI - o Conselho de Saúde exerce suas atribuições mediante o
instituições e de acordo com a sua organização, com a recomenda- funcionamento do Plenário, que, além das comissões intersetoriais,
ção de que ocorra renovação de seus representantes. estabelecidas na Lei no 8.080/90, instalará outras comissões inter-
V - Recomenda-se que, a cada eleição, os segmentos de repre- setoriais e grupos de trabalho de conselheiros para ações transitó-
sentações de usuários, trabalhadores e prestadores de serviços, ao rias.As comissões poderão contar com integrantes não conselhei-
seu critério, promovam a renovação de, no mínimo, 30% de suas ros;
entidades representativas. VII - o Conselho de Saúde constituirá uma Mesa Diretora eleita
VI - A representação nos segmentos deve ser distinta e autôno- em Plenário, respeitando a paridade expressa nesta Resolução;
ma em relação aos demais segmentos que compõem o Conselho, VIII - as decisões do Conselho de Saúde serão adotadas me-
por isso, um profissional com cargo de direção ou de confiança na diante quórum mínimo (metade mais um) dos seus integrantes, res-
gestão do SUS, ou como prestador de serviços de saúde não pode salvados os casos regimentais nos quais se exija quórum especial,
ser representante dos(as) Usuários(as) ou de Trabalhadores(as). ou maioria qualificada de votos;
VII - A ocupação de funções na área da saúde que interfiram a) entende-se por maioria simples o número inteiro imediata-
na autonomia representativa do Conselheiro(a) deve ser avaliada mente superior à metade dos membros presentes;
como possível impedimento da representação de Usuário(a) e Tra- b) entende-se por maioria absoluta o número inteiro imediata-
balhador( a), e, a juízo da entidade, indicativo de substituição do mente superior à metade de membros do Conselho;
Conselheiro( a). c) entende-se por maioria qualificada 2/3 (dois terços) do total
VIII - A participação dos membros eleitos do Poder Legislativo, de membros do Conselho;
representação do Poder Judiciário e do Ministério Público, como IX - qualquer alteração na organização dos Conselhos de Saúde
conselheiros, não é permitida nos Conselhos de Saúde. preservará o que está garantido em lei e deve ser proposta pelo
IX - Quando não houver Conselho de Saúde constituído ou em próprio Conselho e votada em reunião plenária, com quórum quali-
atividade no Município, caberá ao Conselho Estadual de Saúde as- ficado, para depois ser alterada em seu Regimento Interno e homo-
sumir, junto ao executivo municipal, a convocação e realização da logada pelo gestor da esfera correspondente;
Conferência Municipal de Saúde, que terá como um de seus objeti- X - a cada três meses, deverá constar dos itens da pauta o pro-
vos a estruturação e composição do Conselho Municipal. O mesmo nunciamento do gestor, das respectivas esferas de governo, para
será atribuído ao Conselho Nacional de Saúde, quando não houver que faça a prestação de contas, em relatório detalhado, sobre an-
Conselho damento do plano de saúde, agenda da saúde pactuada, relatório
Estadual de Saúde constituído ou em funcionamento. de gestão, dados sobre o montante e a forma de aplicação dos re-
X - As funções, como membro do Conselho de Saúde, não serão cursos, as auditorias iniciadas e concluídas no período, bem como
remuneradas, considerando-se o seu exercício de relevância públi- a produção e a oferta de serviços na rede assistencial própria, con-
ca e, portanto, garante a dispensa do trabalho sem prejuízo para o tratada ou conveniada, de acordo com o art. 12 da Lei no 8.689/93
conselheiro. Para fins de justificativa junto aos órgãos, entidades e com a Lei Complementar no 141/2012;
competentes e instituições, o Conselho de Saúde emitirá declara- XI - os Conselhos de Saúde, com a devida justificativa, buscarão
ção de participação de seus membros durante o período das reuni- auditorias externas e independentes sobre as contas e atividades
ões, representações, capacitações e outras atividades específicas. do Gestor do SUS; e
XI - O conselheiro, no exercício de sua função, responde pelos XII - o Pleno do Conselho de Saúde deverá manifestar-se por
seus atos conforme legislação vigente. meio de resoluções, recomendações, moções e outros atos delibe-
rativos.
ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DOS CONSELHOS DE SAÚDE As resoluções serão obrigatoriamente homologadas pelo chefe
do poder constituído em cada esfera de governo, em um prazo de
Quarta Diretriz: as três esferas de Governo garantirão auto- 30 (trinta) dias, dando-se-lhes publicidade oficial. Decorrido o prazo
nomia administrativa para o pleno funcionamento do Conselho de mencionado e não sendo homologada a resolução e nem enviada
Saúde, dotação orçamentária, autonomia financeira e organização justificativa pelo gestor ao Conselho de Saúde com proposta de al-
da secretaria-executiva com a necessária infraestrutura e apoio téc- teração ou rejeição a ser apreciada na reunião seguinte, as entida-
nico: des que integram o Conselho de Saúde podem buscar a validação
I - cabe ao Conselho de Saúde deliberar em relação à sua estru- das resoluções, recorrendo à justiça e ao Ministério Público, quan-
tura administrativa e o quadro de pessoal; do necessário. Quinta Diretriz: aos Conselhos de Saúde Nacional,
II - o Conselho de Saúde contará com uma secretaria-executiva Estaduais, Municipais e do Distrito Federal, que têm competências
coordenada por pessoa preparada para a função, para o suporte definidas nas leis federais, bem como em indicações advindas das
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52
Contéudo

Conferências de Saúde, compete: XIX - examinar propostas e denúncias de indícios de irregula-


I - fortalecer a participação e o Controle Social no SUS, mobi- ridades, responder no seu âmbito a consultas sobre assuntos per-
lizar e articular a sociedade de forma permanente na defesa dos tinentes às ações e aos serviços de saúde, bem como apreciar re-
princípios constitucionais que fundamentam o SUS; cursos a respeito de deliberações do Conselho nas suas respectivas
II - elaborar o Regimento Interno do Conselho e outras normas instâncias;
de funcionamento; XX - estabelecer a periodicidade de convocação e organizar
III - discutir, elaborar e aprovar propostas de operacionalização as Conferências de Saúde, propor sua convocação ordinária ou
das diretrizes aprovadas pelas Conferências de Saúde; extraordinária e estruturar a comissão organizadora, submeter o
IV - atuar na formulação e no controle da execução da política respectivo regimento e programa ao Pleno do Conselho de Saúde
de saúde, incluindo os seus aspectos econômicos e financeiros, e correspondente, convocar a sociedade para a participação nas pré-
propor estratégias para a sua aplicação aos setores público e pri- -conferências e conferências de saúde;
vado; XXI - estimular articulação e intercâmbio entre os Conselhos
V - definir diretrizes para elaboração dos planos de saúde e de- de Saúde, entidades, movimentos populares, instituições públicas e
liberar sobre o seu conteúdo, conforme as diversas situações epide- privadas para a promoção da Saúde;
miológicas e a capacidade organizacional dos serviços; XXII - estimular, apoiar e promover estudos e pesquisas sobre
VI - anualmente deliberar sobre a aprovação ou não do relató- assuntos e temas na área de saúde pertinente ao desenvolvimento
rio de gestão; do Sistema Único de Saúde (SUS);
VII - estabelecer estratégias e procedimentos de acompanha- XXIII - acompanhar o processo de desenvolvimento e incorpo-
mento da gestão do SUS, articulando-se com os demais colegiados, ração científica e tecnológica, observados os padrões éticos compa-
a exemplo dos de seguridade social, meio ambiente, justiça, educa- tíveis com o desenvolvimento sociocultural do País;
ção, trabalho, agricultura, idosos, criança e adolescente e outros; XXIV - estabelecer ações de informação, educação e comuni-
VIII - proceder à revisão periódica dos planos de saúde; cação em saúde, divulgar as funções e competências do Conselho
IX - deliberar sobre os programas de saúde e aprovar projetos de Saúde, seus trabalhos e decisões nos meios de comunicação, in-
a serem encaminhados ao Poder Legislativo, propor a adoção de cluindo informações sobre as agendas, datas e local das reuniões e
critérios definidores de qualidade e resolutividade, atualizando-os dos eventos;
face ao processo de incorporação dos avanços científicos e tecnoló- XXV - deliberar, elaborar, apoiar e promover a educação perma-
gicos na área da Saúde; nente para o controle social, de acordo com as Diretrizes e a Política
X - a cada quadrimestre deverá constar dos itens da pauta o Nacional de Educação Permanente para o Controle Social do SUS;
pronunciamento do gestor, das respectivas esferas de governo, XXVI - incrementar e aperfeiçoar o relacionamento sistemático
para que faça a prestação de contas, em relatório detalhado, sobre com os poderes constituídos, Ministério Público, Judiciário e Legis-
andamento do plano de saúde, agenda da saúde pactuada, rela- lativo, meios de comunicação, bem como setores relevantes não
tório de gestão, dados sobre o montante e a forma de aplicação representados nos conselhos;
dos recursos, as auditorias iniciadas e concluídas no período, bem XXVII - acompanhar a aplicação das normas sobre ética em pes-
como a produção e a oferta de serviços na rede assistencial própria, quisas aprovadas pelo CNS;
contratada ou conveniada, de acordo com a Lei Complementar no XXVIII - deliberar, encaminhar e avaliar a Política de Gestão do
141/2012. Trabalho e Educação para a Saúde no SUS;
XI - avaliar, explicitando os critérios utilizados, a organização e o XXIX - acompanhar a implementação das propostas constantes
funcionamento do Sistema Único de Saúde do SUS; do relatório das plenárias dos Conselhos de Saúde; e
XII - avaliar e deliberar sobre contratos, consórcios e convênios, XXX - atualizar periodicamente as informações sobre o Conse-
conforme as diretrizes dos Planos de Saúde Nacional, Estaduais, do lho de Saúde no Sistema de Acompanhamento dos Conselhos de
Distrito Federal e Municipais; Saúde (SIACS).
XIII - acompanhar e controlar a atuação do setor privado cre- Fica revogada a Resolução do CNS no 333, de 4 de novembro
denciado mediante contrato ou convênio na área de saúde; de 2003.
XIV - aprovar a proposta orçamentária anual da saúde, tendo
em vista as metas e prioridades estabelecidas na Lei de Diretrizes
Orçamentárias, observado o princípio do processo de planejamento CONSTITUIÇÃO FEDERAL 1988, TÍTULO VIII - ARTIGOS DE
e orçamento ascendentes, conforme legislação vigente; 194 A 200
XV - propor critérios para programação e execução financeira e
orçamentária dos Fundos de Saúde e acompanhar a movimentação
e destino dos recursos; O Título VIII da Constituição cuida da Ordem Social, elencada
XVI - fiscalizar e controlar gastos e deliberar sobre critérios de em seus artigos 193 a 232.
movimentação de recursos da Saúde, incluindo o Fundo de Saúde
e os recursos transferidos e próprios do Município, Estado, Distrito – Chamamos a atenção para o fato de que referente ao assunto
Federal e da União, com base no que a lei disciplina; supracitado, os concursos públicos cobram do candidato a literali-
XVII - analisar, discutir e aprovar o relatório de gestão, com a dade do texto legal, portanto, é importante conhecer bem todos os
prestação de contas e informações financeiras, repassadas em tem- artigos deste capítulo em sua integralidade!
po hábil aos conselheiros, e garantia do devido assessoramento;
XVIII - fiscalizar e acompanhar o desenvolvimento das ações
e dos serviços de saúde e encaminhar denúncias aos respectivos
órgãos de controle interno e externo, conforme legislação vigente;
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53
Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

TÍTULO VIII ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste ser-
DA ORDEM SOCIAL viço, mesmo sem vínculo empregatício;
b) a receita ou o faturamento;
CAPÍTULO I c) o lucro;
DISPOSIÇÃO GERAL II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência so-
cial, podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com o
Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, valor do salário de contribuição, não incidindo contribuição sobre
e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais. aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de Previdên-
Parágrafo único. O Estado exercerá a função de planejamen- cia Social; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de
to das políticas sociais, assegurada, na forma da lei, a participação 2019)
da sociedade nos processos de formulação, de monitoramento, III - sobre a receita de concursos de prognósticos.
de controle e de avaliação dessas políticas. (Incluído pela Emenda IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem
Constitucional nº 108, de 2020) a lei a ele equiparar.
§1º - As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
No tocante à Seguridade Social, segue um processo mnemô- pios destinadas à seguridade social constarão dos respectivos orça-
nico para ser utilizado como técnica de auxílio no processo de me- mentos, não integrando o orçamento da União.
morização: §2º A proposta de orçamento da seguridade social será ela-
borada de forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde,
Seguridade Social previdência social e assistência social, tendo em vista as metas e
prioridades estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias, asse-
P Previdência Social gurada a cada área a gestão de seus recursos.
A Assistência Social §3º A pessoa jurídica em débito com o sistema da segurida-
de social, como estabelecido em lei, não poderá contratar com o
S Saúde Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios.
CAPÍTULO II §4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a
DA SEGURIDADE SOCIAL manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o dispos-
to no art. 154, I.
SEÇÃO I §5º Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá
DISPOSIÇÕES GERAIS ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de
custeio total.
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto inte- §6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão
grado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da
destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o
à assistência social. disposto no art. 150, III, «b».
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, §7º São isentas de contribuição para a seguridade social as en-
organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: tidades beneficentes de assistência social que atendam às exigên-
I - universalidade da cobertura e do atendimento; cias estabelecidas em lei.
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às po- §8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e
pulações urbanas e rurais; o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exer-
III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios çam suas atividades em regime de economia familiar, sem empre-
e serviços; gados permanentes, contribuirão para a seguridade social median-
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; te a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização
V - equidade na forma de participação no custeio; da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei.
VI - diversidade da base de financiamento, identificando-se, em §9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste
rubricas contábeis específicas para cada área, as receitas e as des- artigo poderão ter alíquotas diferenciadas em razão da atividade
pesas vinculadas a ações de saúde, previdência e assistência social, econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da
preservado o caráter contributivo da previdência social; (Redação empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho, sen-
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) do também autorizada a adoção de bases de cálculo diferenciadas
VII - caráter democrático e descentralizado da administração, apenas no caso das alíneas «b» e «c» do inciso I do caput. (Redação
mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhado- dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
res, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos §10. A lei definirá os critérios de transferência de recursos para
colegiados. o sistema único de saúde e ações de assistência social da União para
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a socie- os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e dos Estados para os
dade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recur- Municípios, observada a respectiva contrapartida de recursos.
sos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito §11. São vedados a moratória e o parcelamento em prazo su-
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: perior a 60 (sessenta) meses e, na forma de lei complementar, a
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada remissão e a anistia das contribuições sociais de que tratam a alínea
na forma da lei, incidentes sobre: «a» do inciso I e o inciso II do caput. (Redação dada pela Emenda
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos Constitucional nº 103, de 2019)
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Contéudo

§12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os §1º O sistema único de saúde será financiado, nos termos
quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da
caput, serão não-cumulativas. União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de
§13. (Revogado pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) outras fontes.
§14. O segurado somente terá reconhecida como tempo de §2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
contribuição ao Regime Geral de Previdência Social a competência aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde
cuja contribuição seja igual ou superior à contribuição mínima men- recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados
sal exigida para sua categoria, assegurado o agrupamento de con- sobre:
tribuições. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) I - no caso da União, a receita corrente líquida do respectivo
exercício financeiro, não podendo ser inferior a 15% (quinze por
Saúde cento); (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 86, de 2015)
A saúde é direito de todos e dever do Estado. Segundo o artigo II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da ar-
197, da Constituição, as ações e os serviços de saúde devem ser recadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de
executados diretamente pelo poder público ou por meio de tercei- que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas
ros, tanto por pessoas físicas quanto jurídicas. as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios;
A responsabilidade em matéria de saúde é solidária entre os III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da
entes federados. arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos
de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e §3º.
– Diretrizes da Saúde §3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada
De acordo com o Art. 198, da CF, as ações e os serviços públicos cinco anos, estabelecerá:
de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e cons- I - os percentuais de que tratam os incisos II e III do §2º; (Reda-
tituem um sistema único – o SUS –, organizado de acordo com as ção dada pela Emenda Constitucional nº 86, de 2015)
seguintes diretrizes: II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à
I – descentralização, com direção única em cada esfera de go- saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios,
verno; e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivan-
II – atendimento integral, com prioridade para as atividades do a progressiva redução das disparidades regionais;
preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das despe-
III – participação da comunidade. sas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal;
IV - (revogado).
– A Saúde e a Iniciativa Privada §4º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão
Referente ao Artigo 199, da CF, a assistência à saúde é livre à admitir agentes comunitários de saúde e agentes de combate
iniciativa privada e instituições privadas poderão participar de for- às endemias por meio de processo seletivo público, de acordo
ma complementar do SUS, segundo diretrizes deste, mediante con- com a natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos
trato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades específicos para sua atuação.
filantrópicas e as sem fins lucrativos. §5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial
profissional nacional, as diretrizes para os Planos de Carreira e a
– Atribuições Constitucionais do SUS regulamentação das atividades de agente comunitário de saúde e
Por fim, o Artigo 200 da CF, elenca quais atribuições são de agente de combate às endemias, competindo à União, nos termos
competência do SUS. da lei, prestar assistência financeira complementar aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios, para o cumprimento do referido
SEÇÃO II piso salarial.
DA SAÚDE §6º Além das hipóteses previstas no §1º do art. 41 e no §4º
do art. 169 da Constituição Federal, o servidor que exerça funções
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garanti- equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de agente
do mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do de combate às endemias poderá perder o cargo em caso de
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitá- descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o
rio às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. seu exercício.
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saú- §7º O vencimento dos agentes comunitários de saúde e dos
de, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua agentes de combate às endemias fica sob responsabilidade da
regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser União, e cabe aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios
feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa estabelecer, além de outros consectários e vantagens, incentivos,
física ou jurídica de direito privado. auxílios, gratificações e indenizações, a fim de valorizar o trabalho
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma desses profissionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 120,
rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, de 2022)
organizado de acordo com as seguintes diretrizes: §8º Os recursos destinados ao pagamento do vencimento
I - descentralização, com direção única em cada esfera de go- dos agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate às
verno; endemias serão consignados no orçamento geral da União com
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades dotação própria e exclusiva. (Incluído pela Emenda Constitucional
preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; nº 120, de 2022)
III - participação da comunidade. §9º O vencimento dos agentes comunitários de saúde e dos
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55
Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

agentes de combate às endemias não será inferior a 2 (dois) salários de interesse para a saúde e participar da produção de medicamen-
mínimos, repassados pela União aos Municípios, aos Estados e ao tos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros in-
Distrito Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 120, de sumos;
2022) II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica,
§10. Os agentes comunitários de saúde e os agentes de bem como as de saúde do trabalhador;
combate às endemias terão também, em razão dos riscos inerentes III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;
às funções desempenhadas, aposentadoria especial e, somado IV - participar da formulação da política e da execução das
aos seus vencimentos, adicional de insalubridade. (Incluído pela ações de saneamento básico;
Emenda Constitucional nº 120, de 2022) V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento
§11. Os recursos financeiros repassados pela União aos científico e tecnológico e a inovação; (Redação dada pela Emenda
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para pagamento Constitucional nº 85, de 2015)
do vencimento ou de qualquer outra vantagem dos agentes VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle
comunitários de saúde e dos agentes de combate às endemias não de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo
serão objeto de inclusão no cálculo para fins do limite de despesa humano;
com pessoal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 120, de 2022) VII - participar do controle e fiscalização da produção, trans-
§12. Lei federal instituirá pisos salariais profissionais nacionais porte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos,
para o enfermeiro, o técnico de enfermagem, o auxiliar de tóxicos e radioativos;
enfermagem e a parteira, a serem observados por pessoas jurídicas VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreen-
de direito público e de direito privado. (Incluído pela Emenda dido o do trabalho.
Constitucional nº 124, de 2022)
§13. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
até o final do exercício financeiro em que for publicada a lei de que LEI ORGÂNICA DA SAÚDE - LEI N º 8.080/1990
trata o §12 deste artigo, adequarão a remuneração dos cargos ou
dos respectivos planos de carreiras, quando houver, de modo a
atender aos pisos estabelecidos para cada categoria profissional. LEI FEDERAL N° 8.080/1990
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 124, de 2022)
§14. Compete à União, nos termos da lei, prestar assistência Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recu-
financeira complementar aos Estados, ao Distrito Federal e aos peração da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
Municípios e às entidades filantrópicas, bem como aos prestadores correspondentes e dá outras providências.
de serviços contratualizados que atendam, no mínimo, 60%
(sessenta por cento) de seus pacientes pelo sistema único de O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Na-
saúde, para o cumprimento dos pisos salariais de que trata o §12 cional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
deste artigo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 127, de 2022)
§15. Os recursos federais destinados aos pagamentos da DISPOSIÇÃO PRELIMINAR
assistência financeira complementar aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios e às entidades filantrópicas, bem como aos Art. 1º Esta lei regula, em todo o território nacional, as ações
prestadores de serviços contratualizados que atendam, no mínimo, e serviços de saúde, executados isolada ou conjuntamente, em ca-
60% (sessenta por cento) de seus pacientes pelo sistema único de ráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de
saúde, para o cumprimento dos pisos salariais de que trata o §12 direito Público ou privado.
deste artigo serão consignados no orçamento geral da União com
dotação própria e exclusiva. (Incluído pela Emenda Constitucional TÍTULO I
nº 127, de 2022) DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.
§1º As instituições privadas poderão participar de forma Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, de-
complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes vendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno
deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo exercício.
preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. §1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formula-
§2º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou ção e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redu-
subvenções às instituições privadas com fins lucrativos. ção de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento
§3º - É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações
capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.
previstos em lei. §2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das
§4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que empresas e da sociedade.
facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para Art. 3º A saúde tem como fatores determinantes e condicio-
fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, nantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento bási-
processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo co, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte,
vedado todo tipo de comercialização. o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras da população expressam a organização social e econômica do País.
atribuições, nos termos da lei: Art. 3º Os níveis de saúde expressam a organização social e
I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias econômica do País, tendo a saúde como determinantes e condicio-
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Contéudo

nantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento bá- IX - a participação no controle e na fiscalização da produção,
sico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoati-
física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais. vos, tóxicos e radioativos;
(Redação dada pela Lei nº 12.864, de 2013) X - o incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento
Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, científico e tecnológico;
por força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às XI - a formulação e execução da política de sangue e seus de-
pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e rivados.
social. §1º Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações
capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir
TÍTULO II nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produ-
DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE ção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da
saúde, abrangendo:
DISPOSIÇÃO PRELIMINAR I - o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamen-
te, se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e
Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por processos, da produção ao consumo; e
órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da II - o controle da prestação de serviços que se relacionam direta
Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Po- ou indiretamente com a saúde.
der Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS). §2º Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de
§1º Estão incluídas no disposto neste artigo as instituições pú- ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção
blicas federais, estaduais e municipais de controle de qualidade, de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes
pesquisa e produção de insumos, medicamentos, inclusive de san- de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e
gue e hemoderivados, e de equipamentos para saúde. adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos.
§2º A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de §3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei,
Saúde (SUS), em caráter complementar. um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigi-
lância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção
CAPÍTULO I da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabi-
DOS OBJETIVOS E ATRIBUIÇÕES litação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos
advindos das condições de trabalho, abrangendo:
Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde SUS: I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho
I - a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e de- ou portador de doença profissional e do trabalho;
terminantes da saúde; II - participação, no âmbito de competência do Sistema Único
II - a formulação de política de saúde destinada a promover, de Saúde (SUS), em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos
nos campos econômico e social, a observância do disposto no §1º riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de tra-
do art. 2º desta lei; balho;
III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promo- III - participação, no âmbito de competência do Sistema Único
ção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada de Saúde (SUS), da normatização, fiscalização e controle das con-
das ações assistenciais e das atividades preventivas. dições de produção, extração, armazenamento, transporte, distri-
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema buição e manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas e de
Único de Saúde (SUS): equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador;
I - a execução de ações: IV - avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde;
a) de vigilância sanitária; V - informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindi-
b) de vigilância epidemiológica; cal e às empresas sobre os riscos de acidentes de trabalho, doença
c) de saúde do trabalhador; (Redação dada pela Lei nº 14.572, profissional e do trabalho, bem como os resultados de fiscalizações,
de 2023) avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos
d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica; e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional;
e) de saúde bucal; (Incluída pela Lei nº 14.572, de 2023) VI - participação na normatização, fiscalização e controle dos
II - a participação na formulação da política e na execução de serviços de saúde do trabalhador nas instituições e empresas pú-
ações de saneamento básico; blicas e privadas;
III - a ordenação da formação de recursos humanos na área de VII - revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas
saúde; no processo de trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração
IV - a vigilância nutricional e a orientação alimentar; das entidades sindicais; e
V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compre- VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao
endido o do trabalho; órgão competente a interdição de máquina, de setor de serviço ou
VI - a formulação da política de medicamentos, equipamentos, de todo ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco
imunobiológicos e outros insumos de interesse para a saúde e a iminente para a vida ou saúde dos trabalhadores.
participação na sua produção; §4º Entende-se por saúde bucal o conjunto articulado de ações,
VII - o controle e a fiscalização de serviços, produtos e substân- em todos os níveis de complexidade, que visem a garantir promo-
cias de interesse para a saúde; ção, prevenção, recuperação e reabilitação odontológica, individual
VIII - a fiscalização e a inspeção de alimentos, água e bebidas e coletiva, inseridas no contexto da integralidade da atenção à saú-
para consumo humano; de. (Incluído pela Lei nº 14.572, de 2023)
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Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

CAPÍTULO II Saúde ou órgão equivalente.


DOS PRINCÍPIOS E DIRETRIZES Art. 10. Os municípios poderão constituir consórcios para de-
senvolver em conjunto as ações e os serviços de saúde que lhes
Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços pri- correspondam.
vados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único §1º Aplica-se aos consórcios administrativos intermunicipais o
de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes pre- princípio da direção única, e os respectivos atos constitutivos dispo-
vistas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos rão sobre sua observância.
seguintes princípios: §2º No nível municipal, o Sistema Único de Saúde (SUS), po-
I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os derá organizar-se em distritos de forma a integrar e articular recur-
níveis de assistência; sos, técnicas e práticas voltadas para a cobertura total das ações de
II - integralidade de assistência, entendida como conjunto ar- saúde.
ticulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, Art. 11. (Vetado).
individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis Art. 12. Serão criadas comissões intersetoriais de âmbito nacio-
de complexidade do sistema; nal, subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde, integradas pelos
III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua Ministérios e órgãos competentes e por entidades representativas
integridade física e moral; da sociedade civil.
IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou pri- Parágrafo único. As comissões intersetoriais terão a finalidade
vilégios de qualquer espécie; de articular políticas e programas de interesse para a saúde, cuja
V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; execução envolva áreas não compreendidas no âmbito do Sistema
VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos servi- Único de Saúde (SUS).
ços de saúde e a sua utilização pelo usuário; Art. 13. A articulação das políticas e programas, a cargo das
VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de comissões intersetoriais, abrangerá, em especial, as seguintes ati-
prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; vidades:
VIII - participação da comunidade; I - alimentação e nutrição;
IX - descentralização político-administrativa, com direção única II - saneamento e meio ambiente;
em cada esfera de governo: III - vigilância sanitária e farmacoepidemiologia;
a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; IV - recursos humanos;
b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saú- V - ciência e tecnologia; e
de; VI - saúde do trabalhador.
X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio am- Art. 14. Deverão ser criadas Comissões Permanentes de inte-
biente e saneamento básico; gração entre os serviços de saúde e as instituições de ensino profis-
XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, mate- sional e superior.
riais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Parágrafo único. Cada uma dessas comissões terá por finali-
Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da po- dade propor prioridades, métodos e estratégias para a formação e
pulação; educação continuada dos recursos humanos do Sistema Único de
XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis Saúde (SUS), na esfera correspondente, assim como em relação à
de assistência; e pesquisa e à cooperação técnica entre essas instituições.
XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar dupli- Art. 14-A. As Comissões Intergestores Bipartite e Tripartite são
cidade de meios para fins idênticos. reconhecidas como foros de negociação e pactuação entre gesto-
XIV – organização de atendimento público específico e especia- res, quanto aos aspectos operacionais do Sistema Único de Saúde
lizado para mulheres e vítimas de violência doméstica em geral, que (SUS). (Incluído pela Lei nº 12.466, de 2011).
garanta, entre outros, atendimento, acompanhamento psicológico Parágrafo único. A atuação das Comissões Intergestores Bipar-
e cirurgias plásticas reparadoras, em conformidade com a Lei nº tite e Tripartite terá por objetivo: (Incluído pela Lei nº 12.466, de
12.845, de 1º de agosto de 2013. (Redação dada pela Lei nº 13.427, 2011).
de 2017) I - decidir sobre os aspectos operacionais, financeiros e admi-
nistrativos da gestão compartilhada do SUS, em conformidade com
CAPÍTULO III a definição da política consubstanciada em planos de saúde, apro-
DA ORGANIZAÇÃO, DA DIREÇÃO E DA GESTÃO vados pelos conselhos de saúde; (Incluído pela Lei nº 12.466, de
2011).
Art. 8º As ações e serviços de saúde, executados pelo Sistema II - definir diretrizes, de âmbito nacional, regional e intermu-
Único de Saúde (SUS), seja diretamente ou mediante participação nicipal, a respeito da organização das redes de ações e serviços de
complementar da iniciativa privada, serão organizados de forma re- saúde, principalmente no tocante à sua governança institucional e à
gionalizada e hierarquizada em níveis de complexidade crescente. integração das ações e serviços dos entes federados; (Incluído pela
Art. 9º A direção do Sistema Único de Saúde (SUS) é única, de Lei nº 12.466, de 2011).
acordo com o inciso I do art. 198 da Constituição Federal, sendo III - fixar diretrizes sobre as regiões de saúde, distrito sanitário,
exercida em cada esfera de governo pelos seguintes órgãos: integração de territórios, referência e contrarreferência e demais
I - no âmbito da União, pelo Ministério da Saúde; aspectos vinculados à integração das ações e serviços de saúde en-
II - no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, pela respectiva tre os entes federados. (Incluído pela Lei nº 12.466, de 2011).
Secretaria de Saúde ou órgão equivalente; e Art. 14-B. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Co-
III - no âmbito dos Municípios, pela respectiva Secretaria de nass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde
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Contéudo

(Conasems) são reconhecidos como entidades representativas dos ção e recuperação da saúde;
entes estaduais e municipais para tratar de matérias referentes XVII - promover articulação com os órgãos de fiscalização do
à saúde e declarados de utilidade pública e de relevante função exercício profissional e outras entidades representativas da socie-
social, na forma do regulamento. (Incluído pela Lei nº 12.466, de dade civil para a definição e controle dos padrões éticos para pes-
2011). quisa, ações e serviços de saúde;
§1º O Conass e o Conasems receberão recursos do orçamento XVIII - promover a articulação da política e dos planos de saúde;
geral da União por meio do Fundo Nacional de Saúde, para auxiliar XIX - realizar pesquisas e estudos na área de saúde;
no custeio de suas despesas institucionais, podendo ainda celebrar XX - definir as instâncias e mecanismos de controle e fiscaliza-
convênios com a União. (Incluído pela Lei nº 12.466, de 2011). ção inerentes ao poder de polícia sanitária;
§2º Os Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems) XXI - fomentar, coordenar e executar programas e projetos es-
são reconhecidos como entidades que representam os entes mu- tratégicos e de atendimento emergencial.
nicipais, no âmbito estadual, para tratar de matérias referentes à
saúde, desde que vinculados institucionalmente ao Conasems, na SEÇÃO II
forma que dispuserem seus estatutos. (Incluído pela Lei nº 12.466, DA COMPETÊNCIA
de 2011).
Art. 16. À direção nacional do SUS compete: (Redação dada
CAPÍTULO IV pela Lei nº 14.572, de 2023)
DA COMPETÊNCIA E DAS ATRIBUIÇÕES I - formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação e nutrição;
II - participar na formulação e na implementação das políticas:
SEÇÃO I a) de controle das agressões ao meio ambiente;
DAS ATRIBUIÇÕES COMUNS b) de saneamento básico; e
c) relativas às condições e aos ambientes de trabalho;
Art. 15. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios III - definir e coordenar os sistemas:
exercerão, em seu âmbito administrativo, as seguintes atribuições: a) de redes integradas de assistência de alta complexidade;
I - definição das instâncias e mecanismos de controle, avaliação b) de rede de laboratórios de saúde pública;
e de fiscalização das ações e serviços de saúde; c) de vigilância epidemiológica; e
II - administração dos recursos orçamentários e financeiros d) vigilância sanitária;
destinados, em cada ano, à saúde; IV - participar da definição de normas e mecanismos de con-
III - acompanhamento, avaliação e divulgação do nível de saúde trole, com órgão afins, de agravo sobre o meio ambiente ou dele
da população e das condições ambientais; decorrentes, que tenham repercussão na saúde humana;
IV - organização e coordenação do sistema de informação de V - participar da definição de normas, critérios e padrões para
saúde; o controle das condições e dos ambientes de trabalho e coordenar
V - elaboração de normas técnicas e estabelecimento de pa- a política de saúde do trabalhador;
drões de qualidade e parâmetros de custos que caracterizam a as- VI - coordenar e participar na execução das ações de vigilância
sistência à saúde; epidemiológica;
VI - elaboração de normas técnicas e estabelecimento de pa- VII - estabelecer normas e executar a vigilância sanitária de
drões de qualidade para promoção da saúde do trabalhador; portos, aeroportos e fronteiras, podendo a execução ser comple-
VII - participação de formulação da política e da execução das mentada pelos Estados, Distrito Federal e Municípios;
ações de saneamento básico e colaboração na proteção e recupera- VIII - estabelecer critérios, parâmetros e métodos para o con-
ção do meio ambiente; trole da qualidade sanitária de produtos, substâncias e serviços de
VIII - elaboração e atualização periódica do plano de saúde; consumo e uso humano;
IX - participação na formulação e na execução da política de IX - promover articulação com os órgãos educacionais e de fis-
formação e desenvolvimento de recursos humanos para a saúde; calização do exercício profissional, bem como com entidades repre-
X - elaboração da proposta orçamentária do Sistema Único de sentativas de formação de recursos humanos na área de saúde;
Saúde (SUS), de conformidade com o plano de saúde; X - formular, avaliar, elaborar normas e participar na execução
XI - elaboração de normas para regular as atividades de servi- da política nacional e produção de insumos e equipamentos para a
ços privados de saúde, tendo em vista a sua relevância pública; saúde, em articulação com os demais órgãos governamentais;
XII - realização de operações externas de natureza financeira de XI - identificar os serviços estaduais e municipais de referência
interesse da saúde, autorizadas pelo Senado Federal; nacional para o estabelecimento de padrões técnicos de assistência
XIII - para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e à saúde;
transitórias, decorrentes de situações de perigo iminente, de ca- XII - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substân-
lamidade pública ou de irrupção de epidemias, a autoridade com- cias de interesse para a saúde;
petente da esfera administrativa correspondente poderá requisitar XIII - prestar cooperação técnica e financeira aos Estados, ao
bens e serviços, tanto de pessoas naturais como de jurídicas, sendo- Distrito Federal e aos Municípios para o aperfeiçoamento da sua
-lhes assegurada justa indenização; (Vide ADIN 3454) atuação institucional;
XIV - implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componen- XIV - elaborar normas para regular as relações entre o Sistema
tes e Derivados; Único de Saúde (SUS) e os serviços privados contratados de assis-
XV - propor a celebração de convênios, acordos e protocolos tência à saúde;
internacionais relativos à saúde, saneamento e meio ambiente; XV - promover a descentralização para as Unidades Federadas
XVI - elaborar normas técnico-científicas de promoção, prote- e para os Municípios, dos serviços e ações de saúde, respectiva-
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Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

mente, de abrangência estadual e municipal; XI - estabelecer normas, em caráter suplementar, para o con-
XVI - normatizar e coordenar nacionalmente o Sistema Nacio- trole e avaliação das ações e serviços de saúde;
nal de Sangue, Componentes e Derivados; XII - formular normas e estabelecer padrões, em caráter suple-
XVII - acompanhar, controlar e avaliar as ações e os serviços de mentar, de procedimentos de controle de qualidade para produtos
saúde, respeitadas as competências estaduais e municipais; e substâncias de consumo humano;
XVIII - elaborar o Planejamento Estratégico Nacional no âmbito XIII - colaborar com a União na execução da vigilância sanitária
do SUS, em cooperação técnica com os Estados, Municípios e Dis- de portos, aeroportos e fronteiras;
trito Federal; XIV - o acompanhamento, a avaliação e divulgação dos indica-
XIX - estabelecer o Sistema Nacional de Auditoria e coordenar a dores de morbidade e mortalidade no âmbito da unidade federada.
avaliação técnica e financeira do SUS em todo o Território Nacional Art. 18. À direção municipal do SUS compete: (Redação dada
em cooperação técnica com os Estados, Municípios e Distrito Fede- pela Lei nº 14.572, de 2023)
ral. (Vide Decreto nº 1.651, de 1995) I - planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços
XX - definir as diretrizes e as normas para a estruturação física de saúde e gerir e executar os serviços públicos de saúde;
e organizacional dos serviços de saúde bucal. (Incluído pela Lei nº II - participar do planejamento, programação e organização
14.572, de 2023) da rede regionalizada e hierarquizada do Sistema Único de Saúde
§1º A União poderá executar ações de vigilância epidemioló- (SUS), em articulação com sua direção estadual;
gica e sanitária em circunstâncias especiais, como na ocorrência III - participar da execução, controle e avaliação das ações refe-
de agravos inusitados à saúde, que possam escapar do controle da rentes às condições e aos ambientes de trabalho;
direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) ou que repre- IV - executar serviços:
sentem risco de disseminação nacional. (Renumerado do parágrafo a) de vigilância epidemiológica;
único pela Lei nº 14.141, de 2021) b) vigilância sanitária;
§2º Em situações epidemiológicas que caracterizem emergên- c) de alimentação e nutrição;
cia em saúde pública, poderá ser adotado procedimento simplifica- d) de saneamento básico; (Redação dada pela Lei nº 14.572,
do para a remessa de patrimônio genético ao exterior, na forma do de 2023)
regulamento. (Incluído pela Lei nº 14.141, de 2021) e) de saúde do trabalhador;
§3º Os benefícios resultantes da exploração econômica de pro- f) de saúde bucal; (Incluída pela Lei nº 14.572, de 2023)
duto acabado ou material reprodutivo oriundo de acesso ao patri- V - dar execução, no âmbito municipal, à política de insumos e
mônio genético de que trata o §2º deste artigo serão repartidos nos equipamentos para a saúde;
termos da Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015. (Incluído pela Lei VI - colaborar na fiscalização das agressões ao meio ambiente
nº 14.141, de 2021) que tenham repercussão sobre a saúde humana e atuar, junto aos
Art. 17. À direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) órgãos municipais, estaduais e federais competentes, para contro-
compete: lá-las;
I - promover a descentralização para os Municípios dos serviços VII - formar consórcios administrativos intermunicipais;
e das ações de saúde;. VIII - gerir laboratórios públicos de saúde e hemocentros;
II - acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do IX - colaborar com a União e os Estados na execução da vigilân-
Sistema Único de Saúde (SUS); cia sanitária de portos, aeroportos e fronteiras;
III - prestar apoio técnico e financeiro aos Municípios e execu- X - observado o disposto no art. 26 desta Lei, celebrar contra-
tar supletivamente ações e serviços de saúde; tos e convênios com entidades prestadoras de serviços privados de
IV - coordenar e, em caráter complementar, executar ações e saúde, bem como controlar e avaliar sua execução;
serviços: XI - controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços priva-
a) de vigilância epidemiológica; dos de saúde;
b) de vigilância sanitária; XII - normatizar complementarmente as ações e serviços públi-
c) de alimentação e nutrição; (Redação dada pela Lei nº 14.572, cos de saúde no seu âmbito de atuação.
de 2023) Art. 19. Ao Distrito Federal competem as atribuições reserva-
d) de saúde do trabalhador; das aos Estados e aos Municípios.
e) de saúde bucal; (Incluída pela Lei nº 14.572, de 2023)
V - participar, junto com os órgãos afins, do controle dos agra- CAPÍTULO V
vos do meio ambiente que tenham repercussão na saúde humana; DO SUBSISTEMA DE ATENÇÃO À SAÚDE INDÍGENA
VI - participar da formulação da política e da execução de ações (Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999)
de saneamento básico;
VII - participar das ações de controle e avaliação das condições Art. 19-A. As ações e serviços de saúde voltados para o aten-
e dos ambientes de trabalho; dimento das populações indígenas, em todo o território nacional,
VIII - em caráter suplementar, formular, executar, acompanhar coletiva ou individualmente, obedecerão ao disposto nesta Lei. (In-
e avaliar a política de insumos e equipamentos para a saúde; cluído pela Lei nº 9.836, de 1999)
IX - identificar estabelecimentos hospitalares de referência e Art. 19-B. É instituído um Subsistema de Atenção à Saúde Indí-
gerir sistemas públicos de alta complexidade, de referência estadu- gena, componente do Sistema Único de Saúde – SUS, criado e defi-
al e regional; nido por esta Lei, e pela Lei no 8.142, de 28 de dezembro de 1990,
X - coordenar a rede estadual de laboratórios de saúde pública com o qual funcionará em perfeita integração. (Incluído pela Lei nº
e hemocentros, e gerir as unidades que permaneçam em sua orga- 9.836, de 1999)
nização administrativa; Art. 19-C. Caberá à União, com seus recursos próprios, finan-
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Contéudo

ciar o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. (Incluído pela Lei CAPÍTULO VI


nº 9.836, de 1999) DO SUBSISTEMA DE ATENDIMENTO E INTERNAÇÃO DOMICI-
Art. 19-D. O SUS promoverá a articulação do Subsistema insti- LIAR
tuído por esta Lei com os órgãos responsáveis pela Política Indígena (Incluído pela Lei nº 10.424, de 2002)
do País. (Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999)
Art. 19-E. Os Estados, Municípios, outras instituições governa- Art. 19-I. São estabelecidos, no âmbito do Sistema Único de
mentais e não-governamentais poderão atuar complementarmen- Saúde, o atendimento domiciliar e a internação domiciliar. (Incluído
te no custeio e execução das ações. (Incluído pela Lei nº 9.836, de pela Lei nº 10.424, de 2002)
1999) §1º Na modalidade de assistência de atendimento e internação
§1º A União instituirá mecanismo de financiamento específi- domiciliares incluem-se, principalmente, os procedimentos médi-
co para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, sempre que cos, de enfermagem, fisioterapêuticos, psicológicos e de assistência
houver necessidade de atenção secundária e terciária fora dos ter- social, entre outros necessários ao cuidado integral dos pacientes
ritórios indígenas. (Incluído pela Lei nº 14.021, de 2020) em seu domicílio. (Incluído pela Lei nº 10.424, de 2002)
§2º Em situações emergenciais e de calamidade pública: (Inclu- §2º O atendimento e a internação domiciliares serão realizados
ído pela Lei nº 14.021, de 2020) por equipes multidisciplinares que atuarão nos níveis da medicina
I - a União deverá assegurar aporte adicional de recursos não preventiva, terapêutica e reabilitadora. (Incluído pela Lei nº 10.424,
previstos nos planos de saúde dos Distritos Sanitários Especiais In- de 2002)
dígenas (Dseis) ao Subsistema de Atenção à Saúde Indígena; (Inclu- §3º O atendimento e a internação domiciliares só poderão ser
ído pela Lei nº 14.021, de 2020) realizados por indicação médica, com expressa concordância do pa-
II - deverá ser garantida a inclusão dos povos indígenas nos pla- ciente e de sua família. (Incluído pela Lei nº 10.424, de 2002)
nos emergenciais para atendimento dos pacientes graves das Secre-
tarias Municipais e Estaduais de Saúde, explicitados os fluxos e as CAPÍTULO VII
referências para o atendimento em tempo oportuno. (Incluído pela DO SUBSISTEMA DE ACOMPANHAMENTO DURANTE O TRA-
Lei nº 14.021, de 2020) BALHO DE PARTO, PARTO E PÓS-PARTO IMEDIATO
Art. 19-F. Dever-se-á obrigatoriamente levar em consideração a (Incluído pela Lei nº 11.108, de 2005)
realidade local e as especificidades da cultura dos povos indígenas
e o modelo a ser adotado para a atenção à saúde indígena, que Art. 19-J. Os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde -
se deve pautar por uma abordagem diferenciada e global, contem- SUS, da rede própria ou conveniada, ficam obrigados a permitir a
plando os aspectos de assistência à saúde, saneamento básico, nu- presença, junto à parturiente, de 1 (um) acompanhante durante
trição, habitação, meio ambiente, demarcação de terras, educação todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato.
sanitária e integração institucional. (Incluído pela Lei nº 9.836, de (Incluído pela Lei nº 11.108, de 2005)
1999) §1º O acompanhante de que trata o caput deste artigo será
Art. 19-G. O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena deverá indicado pela parturiente. (Incluído pela Lei nº 11.108, de 2005)
ser, como o SUS, descentralizado, hierarquizado e regionalizado. §2º As ações destinadas a viabilizar o pleno exercício dos di-
(Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999) reitos de que trata este artigo constarão do regulamento da lei, a
§1º O Subsistema de que trata o caput deste artigo terá como ser elaborado pelo órgão competente do Poder Executivo. (Incluído
base os Distritos Sanitários Especiais Indígenas. (Incluído pela Lei nº pela Lei nº 11.108, de 2005)
9.836, de 1999) §3º Ficam os hospitais de todo o País obrigados a manter, em
§1º-A. A rede do SUS deverá obrigatoriamente fazer o registro local visível de suas dependências, aviso informando sobre o direito
e a notificação da declaração de raça ou cor, garantindo a identi- estabelecido no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.895, de
ficação de todos os indígenas atendidos nos sistemas públicos de 2013)
saúde. (Incluído pela Lei nº 14.021, de 2020) Art. 19-L. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.108, de 2005)
§1º-B. A União deverá integrar os sistemas de informação da
rede do SUS com os dados do Subsistema de Atenção à Saúde Indí- CAPÍTULO VIII
gena. (Incluído pela Lei nº 14.021, de 2020) (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
§2º O SUS servirá de retaguarda e referência ao Subsistema de DA ASSISTÊNCIA TERAPÊUTICA E DA INCORPORAÇÃO DE
Atenção à Saúde Indígena, devendo, para isso, ocorrer adaptações TECNOLOGIA EM SAÚDE”
na estrutura e organização do SUS nas regiões onde residem as po-
pulações indígenas, para propiciar essa integração e o atendimento Art. 19-M. A assistência terapêutica integral a que se refere
necessário em todos os níveis, sem discriminações. (Incluído pela a alínea d do inciso I do art. 6o consiste em: (Incluído pela Lei nº
Lei nº 9.836, de 1999) 12.401, de 2011)
§3º As populações indígenas devem ter acesso garantido ao I - dispensação de medicamentos e produtos de interesse para
SUS, em âmbito local, regional e de centros especializados, de acor- a saúde, cuja prescrição esteja em conformidade com as diretrizes
do com suas necessidades, compreendendo a atenção primária, terapêuticas definidas em protocolo clínico para a doença ou o agra-
secundária e terciária à saúde. (Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999) vo à saúde a ser tratado ou, na falta do protocolo, em conformidade
Art. 19-H. As populações indígenas terão direito a participar com o disposto no art. 19-P; (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
dos organismos colegiados de formulação, acompanhamento e II - oferta de procedimentos terapêuticos, em regime domi-
avaliação das políticas de saúde, tais como o Conselho Nacional de ciliar, ambulatorial e hospitalar, constantes de tabelas elaboradas
Saúde e os Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde, quando for pelo gestor federal do Sistema Único de Saúde - SUS, realizados no
o caso. (Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999) território nacional por serviço próprio, conveniado ou contratado.
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61
Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

Art. 19-N. Para os efeitos do disposto no art. 19-M, são adota- objeto do processo, acatadas pelo órgão competente para o regis-
das as seguintes definições: (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011) tro ou a autorização de uso; (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
I - produtos de interesse para a saúde: órteses, próteses, bolsas II - a avaliação econômica comparativa dos benefícios e dos
coletoras e equipamentos médicos; (Incluído pela Lei nº 12.401, de custos em relação às tecnologias já incorporadas, inclusive no que
2011) se refere aos atendimentos domiciliar, ambulatorial ou hospitalar,
II - protocolo clínico e diretriz terapêutica: documento que quando cabível. (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
estabelece critérios para o diagnóstico da doença ou do agravo à §3º As metodologias empregadas na avaliação econômica a
saúde; o tratamento preconizado, com os medicamentos e demais que se refere o inciso II do §2º deste artigo serão dispostas em regu-
produtos apropriados, quando couber; as posologias recomenda- lamento e amplamente divulgadas, inclusive em relação aos indica-
das; os mecanismos de controle clínico; e o acompanhamento e dores e parâmetros de custo-efetividade utilizados em combinação
a verificação dos resultados terapêuticos, a serem seguidos pelos com outros critérios. (Incluído pela Lei nº 14.313, de 2022)
gestores do SUS. (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011) Art. 19-R. A incorporação, a exclusão e a alteração a que se re-
Art. 19-O. Os protocolos clínicos e as diretrizes terapêuticas de- fere o art. 19-Q serão efetuadas mediante a instauração de proces-
verão estabelecer os medicamentos ou produtos necessários nas so administrativo, a ser concluído em prazo não superior a 180 (cen-
diferentes fases evolutivas da doença ou do agravo à saúde de que to e oitenta) dias, contado da data em que foi protocolado o pedido,
tratam, bem como aqueles indicados em casos de perda de eficácia admitida a sua prorrogação por 90 (noventa) dias corridos, quando
e de surgimento de intolerância ou reação adversa relevante, pro- as circunstâncias exigirem. (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
vocadas pelo medicamento, produto ou procedimento de primeira §1º O processo de que trata o caput deste artigo observará, no
escolha. (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011) que couber, o disposto na Lei no 9.784, de 29 de janeiro de 1999, e
Parágrafo único. Em qualquer caso, os medicamentos ou pro- as seguintes determinações especiais: (Incluído pela Lei nº 12.401,
dutos de que trata o caput deste artigo serão aqueles avaliados de 2011)
quanto à sua eficácia, segurança, efetividade e custo-efetividade I - apresentação pelo interessado dos documentos e, se cabível,
para as diferentes fases evolutivas da doença ou do agravo à saúde das amostras de produtos, na forma do regulamento, com infor-
de que trata o protocolo. (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011) mações necessárias para o atendimento do disposto no §2º do art.
Art. 19-P. Na falta de protocolo clínico ou de diretriz terapêu- 19-Q; (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
tica, a dispensação será realizada: (Incluído pela Lei nº 12.401, de II - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
2011) III - realização de consulta pública que inclua a divulgação do
I - com base nas relações de medicamentos instituídas pelo parecer emitido pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecno-
gestor federal do SUS, observadas as competências estabelecidas logias no SUS; (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
nesta Lei, e a responsabilidade pelo fornecimento será pactuada na IV - realização de audiência pública, antes da tomada de deci-
Comissão Intergestores Tripartite; (Incluído pela Lei nº 12.401, de são, se a relevância da matéria justificar o evento. (Incluído pela Lei
2011) nº 12.401, de 2011)
II - no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de forma V - distribuição aleatória, respeitadas a especialização e a com-
suplementar, com base nas relações de medicamentos instituídas petência técnica requeridas para a análise da matéria; (Incluído
pelos gestores estaduais do SUS, e a responsabilidade pelo forneci- pela Lei nº 14.313, de 2022)
mento será pactuada na Comissão Intergestores Bipartite; (Incluído VI - publicidade dos atos processuais. (Incluído pela Lei nº
pela Lei nº 12.401, de 2011) 14.313, de 2022)
III - no âmbito de cada Município, de forma suplementar, com §2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
base nas relações de medicamentos instituídas pelos gestores mu- Art. 19-S. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
nicipais do SUS, e a responsabilidade pelo fornecimento será pactu- Art. 19-T. São vedados, em todas as esferas de gestão do SUS:
ada no Conselho Municipal de Saúde. (Incluído pela Lei nº 12.401, (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
de 2011) I - o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medica-
Art. 19-Q. A incorporação, a exclusão ou a alteração pelo SUS mento, produto e procedimento clínico ou cirúrgico experimental,
de novos medicamentos, produtos e procedimentos, bem como a ou de uso não autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sani-
constituição ou a alteração de protocolo clínico ou de diretriz tera- tária - ANVISA; (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
pêutica, são atribuições do Ministério da Saúde, assessorado pela II - a dispensação, o pagamento, o ressarcimento ou o reembol-
Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS. (Incluí- so de medicamento e produto, nacional ou importado, sem registro
do pela Lei nº 12.401, de 2011) na Anvisa. (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
§1º A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Parágrafo único. Excetuam-se do disposto neste artigo: (Incluí-
SUS, cuja composição e regimento são definidos em regulamento, do pela Lei nº 14.313, de 2022)
contará com a participação de 1 (um) representante indicado pelo I - medicamento e produto em que a indicação de uso seja dis-
Conselho Nacional de Saúde, de 1 (um) representante, especialista tinta daquela aprovada no registro na Anvisa, desde que seu uso
na área, indicado pelo Conselho Federal de Medicina e de 1 (um) re- tenha sido recomendado pela Comissão Nacional de Incorporação
presentante, especialista na área, indicado pela Associação Médica de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), demonstradas
Brasileira. (Redação dada pela Lei nº 14.655, de 2023) as evidências científicas sobre a eficácia, a acurácia, a efetividade e
§2º O relatório da Comissão Nacional de Incorporação de Tec- a segurança, e esteja padronizado em protocolo estabelecido pelo
nologias no SUS levará em consideração, necessariamente: (Incluí- Ministério da Saúde; (Incluído pela Lei nº 14.313, de 2022)
do pela Lei nº 12.401, de 2011) II - medicamento e produto recomendados pela Conitec e ad-
I - as evidências científicas sobre a eficácia, a acurácia, a efeti- quiridos por intermédio de organismos multilaterais internacionais,
vidade e a segurança do medicamento, produto ou procedimento para uso em programas de saúde pública do Ministério da Saúde e
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62
Contéudo

suas entidades vinculadas, nos termos do §5º do art. 8º da Lei nº direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), aprovados no
9.782, de 26 de janeiro de 1999. (Incluído pela Lei nº 14.313, de Conselho Nacional de Saúde.
2022) §1° Na fixação dos critérios, valores, formas de reajuste e de
Art. 19-U. A responsabilidade financeira pelo fornecimento de pagamento da remuneração aludida neste artigo, a direção nacio-
medicamentos, produtos de interesse para a saúde ou procedimen- nal do Sistema Único de Saúde (SUS) deverá fundamentar seu ato
tos de que trata este Capítulo será pactuada na Comissão Interges- em demonstrativo econômico-financeiro que garanta a efetiva qua-
tores Tripartite. (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011) lidade de execução dos serviços contratados.
§2° Os serviços contratados submeter-se-ão às normas técni-
TÍTULO III cas e administrativas e aos princípios e diretrizes do Sistema Único
DOS SERVIÇOS PRIVADOS DE ASSISTÊNCIA À SAÙDE de Saúde (SUS), mantido o equilíbrio econômico e financeiro do
contrato.
CAPÍTULO I §3° (Vetado).
DO FUNCIONAMENTO §4° Aos proprietários, administradores e dirigentes de entida-
des ou serviços contratados é vedado exercer cargo de chefia ou
Art. 20. Os serviços privados de assistência à saúde caracteri- função de confiança no Sistema Único de Saúde (SUS).
zam-se pela atuação, por iniciativa própria, de profissionais liberais,
legalmente habilitados, e de pessoas jurídicas de direito privado na TÍTULO III-A
promoção, proteção e recuperação da saúde. (Incluído pela Lei nº 14.510, de 2022)
Art. 21. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. DA TELESSAÚDE
Art. 22. Na prestação de serviços privados de assistência à saú-
de, serão observados os princípios éticos e as normas expedidas Art. 26-A. A telessaúde abrange a prestação remota de serviços
pelo órgão de direção do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto às relacionados a todas as profissões da área da saúde regulamenta-
condições para seu funcionamento. das pelos órgãos competentes do Poder Executivo federal e obede-
Art. 23. É permitida a participação direta ou indireta, inclusi- cerá aos seguintes princípios: (Incluído pela Lei nº 14.510, de 2022)
ve controle, de empresas ou de capital estrangeiro na assistência I - autonomia do profissional de saúde; (Incluído pela Lei nº
à saúde nos seguintes casos: (Redação dada pela Lei nº 13.097, de 14.510, de 2022)
2015) II - consentimento livre e informado do paciente;
I - doações de organismos internacionais vinculados à Orga- III - direito de recusa ao atendimento na modalidade telessaú-
nização das Nações Unidas, de entidades de cooperação técnica e de, com a garantia do atendimento presencial sempre que solicita-
de financiamento e empréstimos; (Incluído pela Lei nº 13.097, de do; (Incluído pela Lei nº 14.510, de 2022)
2015) IV - dignidade e valorização do profissional de saúde; (Incluído
II - pessoas jurídicas destinadas a instalar, operacionalizar ou pela Lei nº 14.510, de 2022)
explorar: (Incluído pela Lei nº 13.097, de 2015) V - assistência segura e com qualidade ao paciente; (Incluído
a) hospital geral, inclusive filantrópico, hospital especializado, pela Lei nº 14.510, de 2022)
policlínica, clínica geral e clínica especializada; e (Incluído pela Lei VI - confidencialidade dos dados; (Incluído pela Lei nº 14.510,
nº 13.097, de 2015) de 2022)
b) ações e pesquisas de planejamento familiar; (Incluído pela VII - promoção da universalização do acesso dos brasileiros às
Lei nº 13.097, de 2015) ações e aos serviços de saúde; (Incluído pela Lei nº 14.510, de 2022)
III - serviços de saúde mantidos, sem finalidade lucrativa, por VIII - estrita observância das atribuições legais de cada profis-
empresas, para atendimento de seus empregados e dependentes, são; (Incluído pela Lei nº 14.510, de 2022)
sem qualquer ônus para a seguridade social; e (Incluído pela Lei nº IX - responsabilidade digital. (Incluído pela Lei nº 14.510, de
13.097, de 2015) 2022)
IV - demais casos previstos em legislação específica. (Incluído Art. 26-B. Para fins desta Lei, considera-se telessaúde a moda-
pela Lei nº 13.097, de 2015) lidade de prestação de serviços de saúde a distância, por meio da
utilização das tecnologias da informação e da comunicação, que en-
CAPÍTULO II volve, entre outros, a transmissão segura de dados e informações
DA PARTICIPAÇÃO COMPLEMENTAR de saúde, por meio de textos, de sons, de imagens ou outras formas
adequadas. (Incluído pela Lei nº 14.510, de 2022)
Art. 24. Quando as suas disponibilidades forem insuficientes Parágrafo único. Os atos do profissional de saúde, quando pra-
para garantir a cobertura assistencial à população de uma deter- ticados na modalidade telessaúde, terão validade em todo o terri-
minada área, o Sistema Único de Saúde (SUS) poderá recorrer aos tório nacional. (Incluído pela Lei nº 14.510, de 2022)
serviços ofertados pela iniciativa privada. Art. 26-C. Ao profissional de saúde são asseguradas a liberdade
Parágrafo único. A participação complementar dos serviços e a completa independência de decidir sobre a utilização ou não da
privados será formalizada mediante contrato ou convênio, observa- telessaúde, inclusive com relação à primeira consulta, atendimento
das, a respeito, as normas de direito público. ou procedimento, e poderá indicar a utilização de atendimento pre-
Art. 25. Na hipótese do artigo anterior, as entidades filantró- sencial ou optar por ele, sempre que entender necessário. (Incluído
picas e as sem fins lucrativos terão preferência para participar do pela Lei nº 14.510, de 2022)
Sistema Único de Saúde (SUS). Art. 26-D. Compete aos conselhos federais de fiscalização do
Art. 26. Os critérios e valores para a remuneração de serviços exercício profissional a normatização ética relativa à prestação dos
e os parâmetros de cobertura assistencial serão estabelecidos pela serviços previstos neste Título, aplicando-se os padrões normati-
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63
Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

vos adotados para as modalidades de atendimento presencial, no entidades profissionais correspondentes.


que não colidirem com os preceitos desta Lei. (Incluído pela Lei nº
14.510, de 2022) TÍTULO V
Art. 26-E. Na prestação de serviços por telessaúde, serão ob- DO FINANCIAMENTO
servadas as normas expedidas pelo órgão de direção do Sistema
Único de Saúde (SUS) quanto às condições para seu funcionamento, CAPÍTULO I
observada a competência dos demais órgãos reguladores. (Incluído DOS RECURSOS
pela Lei nº 14.510, de 2022)
Art. 26-F. O ato normativo que pretenda restringir a prestação Art. 31. O orçamento da seguridade social destinará ao Sistema
de serviço de telessaúde deverá demonstrar a imprescindibilidade Único de Saúde (SUS) de acordo com a receita estimada, os recursos
da medida para que sejam evitados danos à saúde dos pacientes. necessários à realização de suas finalidades, previstos em proposta
(Incluído pela Lei nº 14.510, de 2022) elaborada pela sua direção nacional, com a participação dos órgãos
Art. 26-G. A prática da telessaúde deve seguir as seguintes de- da Previdência Social e da Assistência Social, tendo em vista as me-
terminações: (Incluído pela Lei nº 14.510, de 2022) tas e prioridades estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
I - ser realizada por consentimento livre e esclarecido do pa- Art. 32. São considerados de outras fontes os recursos prove-
ciente, ou de seu representante legal, e sob responsabilidade do nientes de:
profissional de saúde; (Incluído pela Lei nº 14.510, de 2022) I - (Vetado)
II - prestar obediência aos ditames das Leis nºs 12.965, de 23 II - Serviços que possam ser prestados sem prejuízo da assis-
de abril de 2014 (Marco Civil da Internet), 12.842, de 10 de julho tência à saúde;
de 2013 (Lei do Ato Médico), 13.709, de 14 de agosto de 2018 (Lei III - ajuda, contribuições, doações e donativos;
Geral de Proteção de Dados), 8.078, de 11 de setembro de 1990 IV - alienações patrimoniais e rendimentos de capital;
(Código de Defesa do Consumidor) e, nas hipóteses cabíveis, aos V - taxas, multas, emolumentos e preços públicos arrecadados
ditames da Lei nº 13.787, de 27 de dezembro de 2018 (Lei do Pron- no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS); e
tuário Eletrônico). (Incluído pela Lei nº 14.510, de 2022) VI - rendas eventuais, inclusive comerciais e industriais.
Art. 26-H. É dispensada a inscrição secundária ou complemen- §1° Ao Sistema Único de Saúde (SUS) caberá metade da receita
tar do profissional de saúde que exercer a profissão em outra juris- de que trata o inciso I deste artigo, apurada mensalmente, a qual
dição exclusivamente por meio da modalidade telessaúde. (Incluído será destinada à recuperação de viciados.
pela Lei nº 14.510, de 2022) §2° As receitas geradas no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS) serão creditadas diretamente em contas especiais, movimen-
TÍTULO IV tadas pela sua direção, na esfera de poder onde forem arrecadadas.
DOS RECURSOS HUMANOS §3º As ações de saneamento que venham a ser executadas su-
pletivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), serão financiadas
Art. 27. A política de recursos humanos na área da saúde será por recursos tarifários específicos e outros da União, Estados, Dis-
formalizada e executada, articuladamente, pelas diferentes esferas trito Federal, Municípios e, em particular, do Sistema Financeiro da
de governo, em cumprimento dos seguintes objetivos: Habitação (SFH).
I - organização de um sistema de formação de recursos huma- §4º (Vetado).
nos em todos os níveis de ensino, inclusive de pós-graduação, além §5º As atividades de pesquisa e desenvolvimento científico e
da elaboração de programas de permanente aperfeiçoamento de tecnológico em saúde serão co-financiadas pelo Sistema Único de
pessoal; Saúde (SUS), pelas universidades e pelo orçamento fiscal, além de
II - (Vetado) recursos de instituições de fomento e financiamento ou de origem
III - (Vetado) externa e receita própria das instituições executoras.
IV - valorização da dedicação exclusiva aos serviços do Sistema §6º (Vetado).
Único de Saúde (SUS).
Parágrafo único. Os serviços públicos que integram o Sistema CAPÍTULO II
Único de Saúde (SUS) constituem campo de prática para ensino e DA GESTÃO FINANCEIRA
pesquisa, mediante normas específicas, elaboradas conjuntamente
com o sistema educacional. Art. 33. Os recursos financeiros do Sistema Único de Saúde
Art. 28. Os cargos e funções de chefia, direção e assessora- (SUS) serão depositados em conta especial, em cada esfera de sua
mento, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), só poderão ser atuação, e movimentados sob fiscalização dos respectivos Conse-
exercidas em regime de tempo integral. lhos de Saúde.
§1° Os servidores que legalmente acumulam dois cargos ou §1º Na esfera federal, os recursos financeiros, originários do
empregos poderão exercer suas atividades em mais de um estabe- Orçamento da Seguridade Social, de outros Orçamentos da União,
lecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). além de outras fontes, serão administrados pelo Ministério da Saú-
§2° O disposto no parágrafo anterior aplica-se também aos ser- de, através do Fundo Nacional de Saúde.
vidores em regime de tempo integral, com exceção dos ocupantes §2º (Vetado).
de cargos ou função de chefia, direção ou assessoramento. §3º (Vetado).
Art. 29. (Vetado). §4º O Ministério da Saúde acompanhará, através de seu siste-
Art. 30. As especializações na forma de treinamento em serviço ma de auditoria, a conformidade à programação aprovada da apli-
sob supervisão serão regulamentadas por Comissão Nacional, insti- cação dos recursos repassados a Estados e Municípios. Constatada
tuída de acordo com o art. 12 desta Lei, garantida a participação das a malversação, desvio ou não aplicação dos recursos, caberá ao Mi-
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Contéudo

nistério da Saúde aplicar as medidas previstas em lei. Art. 38. Não será permitida a destinação de subvenções e auxí-
Art. 34. As autoridades responsáveis pela distribuição da re- lios a instituições prestadoras de serviços de saúde com finalidade
ceita efetivamente arrecadada transferirão automaticamente ao lucrativa.
Fundo Nacional de Saúde (FNS), observado o critério do parágrafo
único deste artigo, os recursos financeiros correspondentes às do- DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
tações consignadas no Orçamento da Seguridade Social, a projetos
e atividades a serem executados no âmbito do Sistema Único de Art. 39. (Vetado).
Saúde (SUS). §1º (Vetado).
Parágrafo único. Na distribuição dos recursos financeiros da §2º (Vetado).
Seguridade Social será observada a mesma proporção da despesa §3º (Vetado).
prevista de cada área, no Orçamento da Seguridade Social. §4º (Vetado).
Art. 35. Para o estabelecimento de valores a serem transferidos §5º A cessão de uso dos imóveis de propriedade do Inamps
a Estados, Distrito Federal e Municípios, será utilizada a combina- para órgãos integrantes do Sistema Único de Saúde (SUS) será feita
ção dos seguintes critérios, segundo análise técnica de programas de modo a preservá-los como patrimônio da Seguridade Social.
e projetos: §6º Os imóveis de que trata o parágrafo anterior serão inventa-
I - perfil demográfico da região; riados com todos os seus acessórios, equipamentos e outros bens
II - perfil epidemiológico da população a ser coberta; móveis e ficarão disponíveis para utilização pelo órgão de direção
III - características quantitativas e qualitativas da rede de saúde municipal do Sistema Único de Saúde - SUS ou, eventualmente,
na área; pelo estadual, em cuja circunscrição administrativa se encontrem,
IV - desempenho técnico, econômico e financeiro no período mediante simples termo de recebimento.
anterior; §7º (Vetado).
V - níveis de participação do setor saúde nos orçamentos esta- §8º O acesso aos serviços de informática e bases de dados,
duais e municipais; mantidos pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério do Trabalho
VI - previsão do plano qüinqüenal de investimentos da rede; e da Previdência Social, será assegurado às Secretarias Estaduais e
VII - ressarcimento do atendimento a serviços prestados para Municipais de Saúde ou órgãos congêneres, como suporte ao pro-
outras esferas de governo. cesso de gestão, de forma a permitir a gerencia informatizada das
§1º (Revogado pela Lei Complementar nº 141, de 2012) (Vide contas e a disseminação de estatísticas sanitárias e epidemiológicas
Lei nº 8.142, de 1990) médico-hospitalares.
§2º Nos casos de Estados e Municípios sujeitos a notório pro- Art. 40. (Vetado)
cesso de migração, os critérios demográficos mencionados nesta lei Art. 41. As ações desenvolvidas pela Fundação das Pioneiras
serão ponderados por outros indicadores de crescimento popula- Sociais e pelo Instituto Nacional do Câncer, supervisionadas pela
cional, em especial o número de eleitores registrados. direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), permanecerão
§3º (Vetado). como referencial de prestação de serviços, formação de recursos
§4º (Vetado). humanos e para transferência de tecnologia.
§5º (Vetado). Art. 42. (Vetado).
§6º O disposto no parágrafo anterior não prejudica a atuação Art. 43. A gratuidade das ações e serviços de saúde fica preser-
dos órgãos de controle interno e externo e nem a aplicação de pe- vada nos serviços públicos contratados, ressalvando-se as cláusulas
nalidades previstas em lei, em caso de irregularidades verificadas dos contratos ou convênios estabelecidos com as entidades priva-
na gestão dos recursos transferidos. das.
Art. 44. (Vetado).
CAPÍTULO III Art. 45. Os serviços de saúde dos hospitais universitários e de
DO PLANEJAMENTO E DO ORÇAMENTO ensino integram-se ao Sistema Único de Saúde (SUS), mediante
convênio, preservada a sua autonomia administrativa, em relação
Art. 36. O processo de planejamento e orçamento do Sistema ao patrimônio, aos recursos humanos e financeiros, ensino, pesqui-
Único de Saúde (SUS) será ascendente, do nível local até o federal, sa e extensão nos limites conferidos pelas instituições a que este-
ouvidos seus órgãos deliberativos, compatibilizando-se as necessi- jam vinculados.
dades da política de saúde com a disponibilidade de recursos em §1º Os serviços de saúde de sistemas estaduais e municipais
planos de saúde dos Municípios, dos Estados, do Distrito Federal e de previdência social deverão integrar-se à direção correspondente
da União. do Sistema Único de Saúde (SUS), conforme seu âmbito de atuação,
§1º Os planos de saúde serão a base das atividades e progra- bem como quaisquer outros órgãos e serviços de saúde.
mações de cada nível de direção do Sistema Único de Saúde (SUS), §2º Em tempo de paz e havendo interesse recíproco, os servi-
e seu financiamento será previsto na respectiva proposta orçamen- ços de saúde das Forças Armadas poderão integrar-se ao Sistema
tária. Único de Saúde (SUS), conforme se dispuser em convênio que, para
§2º É vedada a transferência de recursos para o financiamento esse fim, for firmado.
de ações não previstas nos planos de saúde, exceto em situações Art. 46. o Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecerá mecanis-
emergenciais ou de calamidade pública, na área de saúde. mos de incentivos à participação do setor privado no investimento
Art. 37. O Conselho Nacional de Saúde estabelecerá as dire- em ciência e tecnologia e estimulará a transferência de tecnologia
trizes a serem observadas na elaboração dos planos de saúde, em das universidades e institutos de pesquisa aos serviços de saúde
função das características epidemiológicas e da organização dos nos Estados, Distrito Federal e Municípios, e às empresas nacionais.
serviços em cada jurisdição administrativa. Art. 47. O Ministério da Saúde, em articulação com os níveis es-
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LEGISLAÇÃO - SUS

taduais e municipais do Sistema Único de Saúde (SUS), organizará, micos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe
no prazo de dois anos, um sistema nacional de informações em saú- do poder legalmente constituído em cada esfera do governo.
de, integrado em todo o território nacional, abrangendo questões §3° O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o
epidemiológicas e de prestação de serviços. Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems)
Art. 48. (Vetado). terão representação no Conselho Nacional de Saúde.
Art. 49. (Vetado). §4° A representação dos usuários nos Conselhos de Saúde e
Art. 50. Os convênios entre a União, os Estados e os Municípios, Conferências será paritária em relação ao conjunto dos demais seg-
celebrados para implantação dos Sistemas Unificados e Descentrali- mentos.
zados de Saúde, ficarão rescindidos à proporção que seu objeto for §5° As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde terão
sendo absorvido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). sua organização e normas de funcionamento definidas em regimen-
Art. 51. (Vetado). to próprio, aprovadas pelo respectivo conselho.
Art. 52. Sem prejuízo de outras sanções cabíveis, constitui cri- Art. 2° Os recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS) serão
me de emprego irregular de verbas ou rendas públicas (Código Pe- alocados como:
nal, art. 315) a utilização de recursos financeiros do Sistema Único I - despesas de custeio e de capital do Ministério da Saúde, seus
de Saúde (SUS) em finalidades diversas das previstas nesta lei. órgãos e entidades, da administração direta e indireta;
Art. 53. (Vetado). II - investimentos previstos em lei orçamentária, de iniciativa do
Art. 53-A. Na qualidade de ações e serviços de saúde, as ati- Poder Legislativo e aprovados pelo Congresso Nacional;
vidades de apoio à assistência à saúde são aquelas desenvolvidas III - investimentos previstos no Plano Qüinqüenal do Ministério
pelos laboratórios de genética humana, produção e fornecimento da Saúde;
de medicamentos e produtos para saúde, laboratórios de analises IV - cobertura das ações e serviços de saúde a serem imple-
clínicas, anatomia patológica e de diagnóstico por imagem e são mentados pelos Municípios, Estados e Distrito Federal.
livres à participação direta ou indireta de empresas ou de capitais Parágrafo único. Os recursos referidos no inciso IV deste arti-
estrangeiros. (Incluído pela Lei nº 13.097, de 2015) go destinar-se-ão a investimentos na rede de serviços, à cobertura
Art. 54. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. assistencial ambulatorial e hospitalar e às demais ações de saúde.
Art. 55. São revogadas a Lei nº. 2.312, de 3 de setembro de Art. 3° Os recursos referidos no inciso IV do art. 2° desta lei
1954, a Lei nº. 6.229, de 17 de julho de 1975, e demais disposições serão repassados de forma regular e automática para os Municí-
em contrário. pios, Estados e Distrito Federal, de acordo com os critérios previstos
Brasília, 19 de setembro de 1990; 169º da Independência e no art. 35 da Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990.
102º da República. §1° Enquanto não for regulamentada a aplicação dos critérios
previstos no art. 35 da Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990,
será utilizado, para o repasse de recursos, exclusivamente o critério
LEI Nº 8.142/1990 estabelecido no §1° do mesmo artigo. (Vide Lei nº 8.080, de 1990)
§2° Os recursos referidos neste artigo serão destinados, pelo
menos setenta por cento, aos Municípios, afetando-se o restante
LEI Nº 8.142, DE 28 DE DEZEMBRO DE 1990. aos Estados.
§3° Os Municípios poderão estabelecer consórcio para execu-
Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sis- ção de ações e serviços de saúde, remanejando, entre si, parcelas
tema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergoverna- de recursos previstos no inciso IV do art. 2° desta lei.
mentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras pro- Art. 4° Para receberem os recursos, de que trata o art. 3° desta
vidências. lei, os Municípios, os Estados e o Distrito Federal deverão contar
com:
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Na- I - Fundo de Saúde;
cional decreta e eu sanciono a seguinte lei: II - Conselho de Saúde, com composição paritária de acordo
com o Decreto n° 99.438, de 7 de agosto de 1990;
Art. 1° O Sistema Único de Saúde (SUS), de que trata a Lei n° III - plano de saúde;
8.080, de 19 de setembro de 1990, contará, em cada esfera de go- IV - relatórios de gestão que permitam o controle de que trata
verno, sem prejuízo das funções do Poder Legislativo, com as se- o §4° do art. 33 da Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990;
guintes instâncias colegiadas: V - contrapartida de recursos para a saúde no respectivo orça-
I - a Conferência de Saúde; e mento;
II - o Conselho de Saúde. VI - Comissão de elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Sa-
§1° A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com lários (PCCS), previsto o prazo de dois anos para sua implantação.
a representação dos vários segmentos sociais, para avaliar a situa- Parágrafo único. O não atendimento pelos Municípios, ou pelos
ção de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de Estados, ou pelo Distrito Federal, dos requisitos estabelecidos neste
saúde nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder Executivo artigo, implicará em que os recursos concernentes sejam adminis-
ou, extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de Saúde. trados, respectivamente, pelos Estados ou pela União.
§2° O Conselho de Saúde, em caráter permanente e delibe- Art. 5° É o Ministério da Saúde, mediante portaria do Ministro
rativo, órgão colegiado composto por representantes do governo, de Estado, autorizado a estabelecer condições para aplicação desta
prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na lei.
formulação de estratégias e no controle da execução da política de Art. 6° Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econô- Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário.
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Brasília, 28 de dezembro de 1990; 169° da Independência e produtos apropriados, quando couber; as posologias recomenda-
102° da República. das; os mecanismos de controle clínico; e o acompanhamento e
a verificação dos resultados terapêuticos, a serem seguidos pelos
gestores do SUS.
DECRETO PRESIDENCIAL Nº 7.508, DE 28 DE JUNHO DE 2011
CAPÍTULO II
DA ORGANIZAÇÃO DO SUS
DECRETO Nº 7.508, DE 28 DE JUNHO DE 2011.
Art. 3º O SUS é constituído pela conjugação das ações e ser-
Regulamenta a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, para viços de promoção, proteção e recuperação da saúde executados
dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o pla- pelos entes federativos, de forma direta ou indireta, mediante a
nejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfe- participação complementar da iniciativa privada, sendo organizado
derativa, e dá outras providências. de forma regionalizada e hierarquizada.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA , no uso da atribuição que lhe SEÇÃO I


confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o dis- DAS REGIÕES DE SAÚDE
posto na Lei nº 8.080, 19 de setembro de 1990,
DECRETA: Art. 4º As Regiões de Saúde serão instituídas pelo Estado, em
articulação com os Municípios, respeitadas as diretrizes gerais pac-
CAPÍTULO I tuadas na Comissão Intergestores Tripartite - CIT a que se refere o
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES inciso I do art. 30.
§1º Poderão ser instituídas Regiões de Saúde interestaduais,
Art. 1º Este Decreto regulamenta a Lei nº 8.080, de 19 de se- compostas por Municípios limítrofes, por ato conjunto dos respec-
tembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único tivos Estados em articulação com os Municípios.
de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a §2º A instituição de Regiões de Saúde situadas em áreas de
articulação interfederativa. fronteira com outros países deverá respeitar as normas que regem
Art. 2º Para efeito deste Decreto, considera-se: as relações internacionais.
I - Região de Saúde - espaço geográfico contínuo constituído Art. 5º Para ser instituída, a Região de Saúde deve conter, no
por agrupamentos de Municípios limítrofes, delimitado a partir de mínimo, ações e serviços de:
identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunica- I - atenção primária;
ção e infraestrutura de transportes compartilhados, com a finalida- II - urgência e emergência;
de de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações III - atenção psicossocial;
e serviços de saúde; IV - atenção ambulatorial especializada e hospitalar; e
II - Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde - acordo V - vigilância em saúde.
de colaboração firmado entre entes federativos com a finalidade Parágrafo único. A instituição das Regiões de Saúde observará
de organizar e integrar as ações e serviços de saúde na rede regio- cronograma pactuado nas Comissões Intergestores.
nalizada e hierarquizada, com definição de responsabilidades, indi- Art. 6º As Regiões de Saúde serão referência para as transferên-
cadores e metas de saúde, critérios de avaliação de desempenho, cias de recursos entre os entes federativos.
recursos financeiros que serão disponibilizados, forma de controle Art. 7º As Redes de Atenção à Saúde estarão compreendidas no
e fiscalização de sua execução e demais elementos necessários à âmbito de uma Região de Saúde, ou de várias delas, em consonân-
implementação integrada das ações e serviços de saúde; cia com diretrizes pactuadas nas Comissões Intergestores .
III - Portas de Entrada - serviços de atendimento inicial à saúde Parágrafo único. Os entes federativos definirão os seguintes
do usuário no SUS; elementos em relação às Regiões de Saúde:
IV - Comissões Intergestores - instâncias de pactuação consen- I - seus limites geográficos;
sual entre os entes federativos para definição das regras da gestão II - população usuária das ações e serviços;
compartilhada do SUS; III - rol de ações e serviços que serão ofertados; e
V - Mapa da Saúde - descrição geográfica da distribuição de IV - respectivas responsabilidades, critérios de acessibilidade e
recursos humanos e de ações e serviços de saúde ofertados pelo escala para conformação dos serviços.
SUS e pela iniciativa privada, considerando-se a capacidade instala-
da existente, os investimentos e o desempenho aferido a partir dos SEÇÃO II
indicadores de saúde do sistema; DA HIERARQUIZAÇÃO
VI - Rede de Atenção à Saúde - conjunto de ações e serviços
de saúde articulados em níveis de complexidade crescente, com a Art. 8º O acesso universal, igualitário e ordenado às ações e
finalidade de garantir a integralidade da assistência à saúde; serviços de saúde se inicia pelas Portas de Entrada do SUS e se com-
VII - Serviços Especiais de Acesso Aberto - serviços de saúde pleta na rede regionalizada e hierarquizada, de acordo com a com-
específicos para o atendimento da pessoa que, em razão de agravo plexidade do serviço.
ou de situação laboral, necessita de atendimento especial; e Art. 9º São Portas de Entrada às ações e aos serviços de saúde
VIII - Protocolo Clínico e Diretriz Terapêutica - documento que nas Redes de Atenção à Saúde os serviços:
estabelece: critérios para o diagnóstico da doença ou do agravo à I - de atenção primária;
saúde; o tratamento preconizado, com os medicamentos e demais II - de atenção de urgência e emergência;
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LEGISLAÇÃO - SUS

III - de atenção psicossocial; e nal, estadual e nacional.


IV - especiais de acesso aberto. Art. 17. O Mapa da Saúde será utilizado na identificação das
Parágrafo único. Mediante justificativa técnica e de acordo com necessidades de saúde e orientará o planejamento integrado dos
o pactuado nas Comissões Intergestores, os entes federativos po- entes federativos, contribuindo para o estabelecimento de metas
derão criar novas Portas de Entrada às ações e serviços de saúde, de saúde.
considerando as características da Região de Saúde. Art. 18. O planejamento da saúde em âmbito estadual deve ser
Art. 10. Os serviços de atenção hospitalar e os ambulatoriais realizado de maneira regionalizada, a partir das necessidades dos
especializados, entre outros de maior complexidade e densidade Municípios, considerando o estabelecimento de metas de saúde.
tecnológica, serão referenciados pelas Portas de Entrada de que Art. 19. Compete à Comissão Intergestores Bipartite - CIB de
trata o art. 9º . que trata o inciso II do art. 30 pactuar as etapas do processo e os
Art. 11. O acesso universal e igualitário às ações e aos serviços prazos do planejamento municipal em consonância com os planeja-
de saúde será ordenado pela atenção primária e deve ser fundado mentos estadual e nacional.
na avaliação da gravidade do risco individual e coletivo e no critério
cronológico, observadas as especificidades previstas para pessoas CAPÍTULO IV
com proteção especial, conforme legislação vigente. DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE
Parágrafo único. A população indígena contará com regramen-
tos diferenciados de acesso, compatíveis com suas especificidades Art. 20. A integralidade da assistência à saúde se inicia e se
e com a necessidade de assistência integral à sua saúde, de acordo completa na Rede de Atenção à Saúde, mediante referenciamento
com disposições do Ministério da Saúde. do usuário na rede regional e interestadual, conforme pactuado nas
Art. 12. Ao usuário será assegurada a continuidade do cuidado Comissões Intergestores.
em saúde, em todas as suas modalidades, nos serviços, hospitais e
em outras unidades integrantes da rede de atenção da respectiva SEÇÃO I
região. DA RELAÇÃO NACIONAL DE AÇÕES E SERVIÇOS DE SAÚDE -
Parágrafo único. As Comissões Intergestores pactuarão as re- RENASES
gras de continuidade do acesso às ações e aos serviços de saúde na
respectiva área de atuação. Art. 21. A Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde - RE-
Art. 13. Para assegurar ao usuário o acesso universal, igualitário NASES compreende todas as ações e serviços que o SUS oferece ao
e ordenado às ações e serviços de saúde do SUS, caberá aos entes usuário para atendimento da integralidade da assistência à saúde.
federativos, além de outras atribuições que venham a ser pactua- Art. 22. O Ministério da Saúde disporá sobre a RENASES em
das pelas Comissões Intergestores: âmbito nacional, observadas as diretrizes pactuadas pela CIT.
I - garantir a transparência, a integralidade e a equidade no Parágrafo único. A cada dois anos, o Ministério da Saúde conso-
acesso às ações e aos serviços de saúde; lidará e publicará as atualizações da RENASES.
II - orientar e ordenar os fluxos das ações e dos serviços de Art. 23. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
saúde; pactuarão nas respectivas Comissões Intergestores as suas respon-
III - monitorar o acesso às ações e aos serviços de saúde; e sabilidades em relação ao rol de ações e serviços constantes da RE-
IV - ofertar regionalmente as ações e os serviços de saúde. NASES.
Art. 14. O Ministério da Saúde disporá sobre critérios, diretri- Art. 24. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão
zes, procedimentos e demais medidas que auxiliem os entes federa- adotar relações específicas e complementares de ações e serviços
tivos no cumprimento das atribuições previstas no art. 13. de saúde, em consonância com a RENASES, respeitadas as respon-
sabilidades dos entes pelo seu financiamento, de acordo com o pac-
CAPÍTULO III tuado nas Comissões Intergestores.
DO PLANEJAMENTO DA SAÚDE
SEÇÃO II
Art. 15. O processo de planejamento da saúde será ascendente DA RELAÇÃO NACIONAL DE MEDICAMENTOS ESSENCIAIS -
e integrado, do nível local até o federal, ouvidos os respectivos Con- RENAME
selhos de Saúde, compatibilizando-se as necessidades das políticas
de saúde com a disponibilidade de recursos financeiros. Art. 25. A Relação Nacional de Medicamentos Essenciais - RE-
§1º O planejamento da saúde é obrigatório para os entes públi- NAME compreende a seleção e a padronização de medicamentos
cos e será indutor de políticas para a iniciativa privada. indicados para atendimento de doenças ou de agravos no âmbito
§2º A compatibilização de que trata o caput será efetuada no do SUS.
âmbito dos planos de saúde, os quais serão resultado do planeja- Parágrafo único. A RENAME será acompanhada do Formulário
mento integrado dos entes federativos, e deverão conter metas de Terapêutico Nacional - FTN que subsidiará a prescrição, a dispensa-
saúde. ção e o uso dos seus medicamentos.
§3º O Conselho Nacional de Saúde estabelecerá as diretrizes a Art. 26. O Ministério da Saúde é o órgão competente para dis-
serem observadas na elaboração dos planos de saúde, de acordo por sobre a RENAME e os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêu-
com as características epidemiológicas e da organização de serviços ticas em âmbito nacional, observadas as diretrizes pactuadas pela
nos entes federativos e nas Regiões de Saúde. CIT.
Art. 16. No planejamento devem ser considerados os serviços e Parágrafo único. O Ministério da Saúde consolidará e publicará
as ações prestados pela iniciativa privada, de forma complementar as atualizações: (Redação dada pelo Decreto nº 11.161, de 2022)
ou não ao SUS, os quais deverão compor os Mapas da Saúde regio- Vigência
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I - da RENAME, a cada dois anos, e disponibilizará, nesse prazo, cretarias Municipais de Saúde - COSEMS.
a lista de tecnologias incorporadas, excluídas e alteradas pela CONI- Art. 32. As Comissões Intergestores pactuarão:
TEC e com a responsabilidade de financiamento pactuada de forma I - aspectos operacionais, financeiros e administrativos da ges-
tripartite, até que haja a consolidação da referida lista; (Incluído tão compartilhada do SUS, de acordo com a definição da política de
pelo Decreto nº 11.161, de 2022) Vigência saúde dos entes federativos, consubstanciada nos seus planos de
II - do FTN, à medida que sejam identificadas novas evidências saúde, aprovados pelos respectivos conselhos de saúde;
sobre as tecnologias constantes na RENAME vigente; e (Incluído II - diretrizes gerais sobre Regiões de Saúde, integração de limi-
pelo Decreto nº 11.161, de 2022) Vigência tes geográficos, referência e contrarreferência e demais aspectos
III - de protocolos clínicos ou de diretrizes terapêuticas, quando vinculados à integração das ações e serviços de saúde entre os en-
da incorporação, alteração ou exclusão de tecnologias em saúde no tes federativos;
SUS e da existência de novos estudos e evidências científicas identi- III - diretrizes de âmbito nacional, estadual, regional e interes-
ficados a partir de revisões periódicas da literatura relacionada aos tadual, a respeito da organização das redes de atenção à saúde,
seus objetos. (Incluído pelo Decreto nº 11.161, de 2022) Vigência principalmente no tocante à gestão institucional e à integração das
Art. 27. O Estado, o Distrito Federal e o Município poderão ado- ações e serviços dos entes federativos;
tar relações específicas e complementares de medicamentos, em IV - responsabilidades dos entes federativos na Rede de Aten-
consonância com a RENAME, respeitadas as responsabilidades dos ção à Saúde, de acordo com o seu porte demográfico e seu desen-
entes pelo financiamento de medicamentos, de acordo com o pac- volvimento econômico-financeiro, estabelecendo as responsabili-
tuado nas Comissões Intergestores. dades individuais e as solidárias; e
Art. 28. O acesso universal e igualitário à assistência farmacêu- V - referências das regiões intraestaduais e interestaduais de
tica pressupõe, cumulativamente: atenção à saúde para o atendimento da integralidade da assistên-
I - estar o usuário assistido por ações e serviços de saúde do cia.
SUS; Parágrafo único. Serão de competência exclusiva da CIT a pac-
II - ter o medicamento sido prescrito por profissional de saúde, tuação:
no exercício regular de suas funções no SUS; I - das diretrizes gerais para a composição da RENASES;
III - estar a prescrição em conformidade com a RENAME e os II - dos critérios para o planejamento integrado das ações e ser-
Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas ou com a relação es- viços de saúde da Região de Saúde, em razão do compartilhamento
pecífica complementar estadual, distrital ou municipal de medica- da gestão; e
mentos; e III - das diretrizes nacionais, do financiamento e das questões
IV - ter a dispensação ocorrido em unidades indicadas pela di- operacionais das Regiões de Saúde situadas em fronteiras com ou-
reção do SUS. tros países, respeitadas, em todos os casos, as normas que regem
§1º Os entes federativos poderão ampliar o acesso do usuário as relações internacionais.
à assistência farmacêutica, desde que questões de saúde pública o
justifiquem. SEÇÃO II
§2º O Ministério da Saúde poderá estabelecer regras diferen- DO CONTRATO ORGANIZATIVO DA AÇÃO PÚBLICA DA SAÚDE
ciadas de acesso a medicamentos de caráter especializado.
Art. 29. A RENAME e a relação específica complementar es- Art. 33. O acordo de colaboração entre os entes federativos
tadual, distrital ou municipal de medicamentos somente poderão para a organização da rede interfederativa de atenção à saúde será
conter produtos com registro na Agência Nacional de Vigilância Sa- firmado por meio de Contrato Organizativo da Ação Pública da Saú-
nitária - ANVISA. de.
Art. 34. O objeto do Contrato Organizativo de Ação Pública da
CAPÍTULO V Saúde é a organização e a integração das ações e dos serviços de
DA ARTICULAÇÃO INTERFEDERATIVA saúde, sob a responsabilidade dos entes federativos em uma Região
de Saúde, com a finalidade de garantir a integralidade da assistên-
SEÇÃO I cia aos usuários.
DAS COMISSÕES INTERGESTORES Parágrafo único. O Contrato Organizativo de Ação Pública da
Saúde resultará da integração dos planos de saúde dos entes fede-
Art. 30. As Comissões Intergestores pactuarão a organização e rativos na Rede de Atenção à Saúde, tendo como fundamento as
o funcionamento das ações e serviços de saúde integrados em re- pactuações estabelecidas pela CIT.
des de atenção à saúde, sendo: Art. 35. O Contrato Organizativo de Ação Pública da Saúde de-
I - a CIT, no âmbito da União, vinculada ao Ministério da Saúde finirá as responsabilidades individuais e solidárias dos entes fede-
para efeitos administrativos e operacionais; rativos com relação às ações e serviços de saúde, os indicadores
II - a CIB, no âmbito do Estado, vinculada à Secretaria Estadual e as metas de saúde, os critérios de avaliação de desempenho, os
de Saúde para efeitos administrativos e operacionais; e recursos financeiros que serão disponibilizados, a forma de controle
III - a Comissão Intergestores Regional - CIR, no âmbito regio- e fiscalização da sua execução e demais elementos necessários à
nal, vinculada à Secretaria Estadual de Saúde para efeitos adminis- implementação integrada das ações e serviços de saúde.
trativos e operacionais, devendo observar as diretrizes da CIB. §1º O Ministério da Saúde definirá indicadores nacionais de ga-
Art. 31. Nas Comissões Intergestores, os gestores públicos de rantia de acesso às ações e aos serviços de saúde no âmbito do SUS,
saúde poderão ser representados pelo Conselho Nacional de Secre- a partir de diretrizes estabelecidas pelo Plano Nacional de Saúde.
tários de Saúde - CONASS, pelo Conselho Nacional de Secretarias §2º O desempenho aferido a partir dos indicadores nacionais
Municipais de Saúde - CONASEMS e pelo Conselho Estadual de Se- de garantia de acesso servirá como parâmetro para avaliação do
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69
Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

desempenho da prestação das ações e dos serviços definidos no Organizativo de Ação Pública de Saúde no sistema de informações
Contrato Organizativo de Ação Pública de Saúde em todas as Regi- em saúde organizado pelo Ministério da Saúde e os encaminhará ao
ões de Saúde, considerando-se as especificidades municipais, regio- respectivo Conselho de Saúde para monitoramento.
nais e estaduais.
Art. 36. O Contrato Organizativo da Ação Pública de Saúde con- CAPÍTULO VI
terá as seguintes disposições essenciais: DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
I - identificação das necessidades de saúde locais e regionais;
II - oferta de ações e serviços de vigilância em saúde, promo- Art. 42. Sem prejuízo das outras providências legais, o Minis-
ção, proteção e recuperação da saúde em âmbito regional e inter- tério da Saúde informará aos órgãos de controle interno e externo:
-regional; I - o descumprimento injustificado de responsabilidades na
III - responsabilidades assumidas pelos entes federativos pe- prestação de ações e serviços de saúde e de outras obrigações pre-
rante a população no processo de regionalização, as quais serão vistas neste Decreto;
estabelecidas de forma individualizada, de acordo com o perfil, a II - a não apresentação do Relatório de Gestão a que se refere o
organização e a capacidade de prestação das ações e dos serviços inciso IV do art. 4º da Lei no 8.142, de 1990 ;
de cada ente federativo da Região de Saúde; III - a não aplicação, malversação ou desvio de recursos finan-
IV - indicadores e metas de saúde; ceiros; e
V - estratégias para a melhoria das ações e serviços de saúde; IV - outros atos de natureza ilícita de que tiver conhecimento.
VI - critérios de avaliação dos resultados e forma de monitora- Art. 43. A primeira RENASES é a somatória de todas as ações
mento permanente; e serviços de saúde que na data da publicação deste Decreto são
VII - adequação das ações e dos serviços dos entes federativos ofertados pelo SUS à população, por meio dos entes federados, de
em relação às atualizações realizadas na RENASES; forma direta ou indireta.
VIII - investimentos na rede de serviços e as respectivas respon- Art. 44. O Conselho Nacional de Saúde estabelecerá as diretri-
sabilidades; e zes de que trata o §3º do art. 15 no prazo de cento e oitenta dias a
IX - recursos financeiros que serão disponibilizados por cada partir da publicação deste Decreto.
um dos partícipes para sua execução. Art. 45. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Parágrafo único. O Ministério da Saúde poderá instituir formas Brasília, 28 de junho de 2011; 190º da Independência e 123º
de incentivo ao cumprimento das metas de saúde e à melhoria das da República.
ações e serviços de saúde.
Art. 37. O Contrato Organizativo de Ação Pública de Saúde ob-
servará as seguintes diretrizes básicas para fins de garantia da ges- DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE
tão participativa:
I - estabelecimento de estratégias que incorporem a avaliação
do usuário das ações e dos serviços, como ferramenta de sua me- Os determinantes sociais em saúde são as condições sociais,
lhoria; econômicas, culturais, políticas e ambientais que influenciam a
II - apuração permanente das necessidades e interesses do usu- saúde e o bem-estar das pessoas e das populações. Eles são os
ário; e fatores que determinam as diferenças existentes na saúde entre
III - publicidade dos direitos e deveres do usuário na saúde em diferentes grupos populacionais, incluindo as desigualdades em
todas as unidades de saúde do SUS, inclusive nas unidades privadas morbidade, mortalidade e expectativa de vida.
que dele participem de forma complementar. Os determinantes sociais em saúde incluem a renda e a
Art. 38. A humanização do atendimento do usuário será fator distribuição de renda, a educação, o trabalho, o ambiente físico, o
determinante para o estabelecimento das metas de saúde previstas acesso aos serviços de saúde, a cultura, o gênero, a raça, a etnia
no Contrato Organizativo de Ação Pública de Saúde. e as políticas públicas, entre outros. Esses fatores interagem e
Art. 39. As normas de elaboração e fluxos do Contrato Organi- influenciam a saúde de forma complexa e multifatorial.
zativo de Ação Pública de Saúde serão pactuados pelo CIT, cabendo Assim, entender e atuar sobre os determinantes sociais em
à Secretaria de Saúde Estadual coordenar a sua implementação. saúde é fundamental para promover a saúde e a equidade, já que
Art. 40. O Sistema Nacional de Auditoria e Avaliação do SUS, eles afetam a saúde de forma mais profunda e duradoura do que
por meio de serviço especializado, fará o controle e a fiscalização do as intervenções baseadas somente no tratamento das doenças e
Contrato Organizativo de Ação Pública da Saúde. sintomas. Políticas e ações que visem a melhoria dos determinantes
§1º O Relatório de Gestão a que se refere o inciso IV do art. 4º sociais em saúde são importantes para reduzir as desigualdades na
da Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, conterá seção espe- saúde e garantir o acesso universal e equitativo aos serviços de
cífica relativa aos compromissos assumidos no âmbito do Contrato saúde e à qualidade de vida.
Organizativo de Ação Pública de Saúde. Os determinantes sociais em saúde têm um papel fundamental
§2º O disposto neste artigo será implementado em conformi- no desenvolvimento de políticas públicas, pois eles influenciam
dade com as demais formas de controle e fiscalização previstas em diretamente as condições de vida e de saúde das populações.
Lei. Entender os determinantes sociais em saúde é essencial para
Art. 41. Aos partícipes caberá monitorar e avaliar a execução identificar as causas das desigualdades em saúde e para orientar a
do Contrato Organizativo de Ação Pública de Saúde, em relação elaboração de políticas e intervenções que promovam a equidade
ao cumprimento das metas estabelecidas, ao seu desempenho e à em saúde.
aplicação dos recursos disponibilizados. Ao levar em conta os determinantes sociais em saúde, as
Parágrafo único. Os partícipes incluirão dados sobre o Contrato políticas públicas podem abordar as causas fundamentais das
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Contéudo

doenças e das desigualdades em saúde, em vez de apenas tratar outras ações frequentemente realizadas. Também influencia favo-
seus sintomas. Dessa forma, é possível promover a prevenção e ravelmente na área gerencial, disponibilizando em curto espaço de
a promoção da saúde em diversos níveis, desde a melhoria das tempo informações atualizadas de diversas naturezas que subsi-
condições de vida e de trabalho até a ampliação do acesso aos diam as ações administrativas, como recursos humanos existentes
serviços de saúde. e suas características, dados relacionados a recursos financeiros e
Além disso, as políticas públicas que consideram os orçamentários, recursos materiais (consumo, estoque, reposição,
determinantes sociais em saúde têm o potencial de reduzir as manutenção de equipamentos e fornecedores), produção (número
disparidades na saúde entre diferentes grupos populacionais, como de atendimentos e procedimentos realizados) e aqueles relativos à
as desigualdades entre ricos e pobres, entre homens e mulheres, taxa de nascimentos, óbitos, infecção hospitalar, média de perma-
entre diferentes raças e etnias, entre áreas urbanas e rurais, entre nência, etc.
outros. Essas políticas também podem melhorar a qualidade de As informações do paciente, geradas durante seu período de
vida e o bem-estar da população como um todo. internação, constituirão o documento denominado prontuário,
Portanto, é importante que as políticas públicas sejam o qual, segundo o Conselho Federal de Medicina (Resolução nº
baseadas em uma abordagem de determinantes sociais em saúde, 1.331/89), consiste em um conjunto de documentos padronizados
integrando diferentes setores e áreas de atuação para promover a e ordenados, proveniente de várias fontes, destinado ao registro
saúde e a equidade de forma mais ampla e sustentável. dos cuidados profissionais prestados ao paciente.
Os principais determinantes sociais em saúde são: O prontuário agrega um conjunto de impressos nos quais são
1 – Renda e distribuição de renda: a pobreza e a desigualdade registradas todas as informações relativas ao paciente, como histó-
socioeconômica são fatores que afetam negativamente a saúde, rico da doença, antecedentes pessoais e familiares, exame físico,
aumentando a exposição a riscos ambientais, a falta de acesso a diagnóstico, evolução clínica, descrição de cirurgia, ficha de anes-
serviços de saúde adequados e a uma alimentação saudável. tesia, prescrição médica e de enfermagem, exames complemen-
tares de diagnóstico, formulários e gráficos. É direito do paciente
2 – Educação: a falta de acesso à educação e a baixa ter suas informações adequadamente registradas, como também
escolaridade estão associados a piores indicadores de saúde, como acesso - seu ou de seu responsável legal - às mesmas, sempre que
maior incidência de doenças crônicas, menor expectativa de vida e necessário.
maior taxa de mortalidade. Legalmente, o prontuário é propriedade dos estabelecimentos
3 – Ambiente físico: a qualidade do ambiente em que as pessoas de saúde e após a alta do paciente fica sob os cuidados da institui-
vivem, incluindo a poluição do ar e da água, a falta de saneamento ção, arquivado em setor específico. Quanto à sua informatização,
básico e a exposição a desastres naturais, pode afetar a saúde de há iniciativas em andamento em diversos hospitais brasileiros, haja
forma significativa. vista que facilita a guarda e conservação dos dados, além de agilizar
4 – Acesso aos serviços de saúde: o acesso a serviços de saúde informações em prol do paciente. Devem, entretanto, garantir a pri-
de qualidade, incluindo a prevenção, diagnóstico e tratamento de vacidade e sigilo dos dados pessoais.
doenças, é fundamental para a promoção da saúde e prevenção de
doenças. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define Sistema de In-
5 – Gênero: fatores sociais e culturais relacionados ao formação em Saúde (SIS):
gênero podem afetar a saúde, incluindo a violência de gênero, a “ ….. é um conjunto de componentes que atuam de forma inte-
discriminação e a falta de acesso a serviços de saúde. grada por meio de mecanismos de coleta, processamento, análise e
6 – Raça e etnia: a discriminação racial e étnica pode levar a transmissão da informação necessária e oportuna para implemen-
piores indicadores de saúde, incluindo maior incidência de doenças tar processos de decisões no Sistema de Saúde. Seu propósito é
crônicas e menor expectativa de vida. selecionar dados pertinentes e transformá-los em informações para
7 – Condições de trabalho: o ambiente de trabalho pode afetar aqueles que planejam, financiam, proveem e avaliam os serviços de
a saúde, incluindo a exposição a substâncias tóxicas, o estresse e a saúde” (OMS, 1981:42).
falta de acesso a direitos trabalhistas e à proteção social. Informação Oportuna: disponível no local e hora necessários
para tomada de decisão
Informação de Qualidade: atualizada, pertinente e consistente.
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE
Funções:
- Respaldar a operação diária e a gestão da atenção à saúde;
Sistema de informação em saúde - Conhecer e monitorar o estado de saúde da população e as
Um sistema de informação representa a forma planejada de re- condições sócio-ambientais;
ceber e transmitir dados. Pressupõe que a existência de um número - Facilitar o planejamento, a supervisão e o controle e avaliação
cada vez maior de informações requer o uso de ferramentas (inter- de ações e serviços;
net, arquivos, formulários) apropriadas que possibilitem o acesso - Subsidiar os processos decisórios nos diversos níveis de deci-
e processamento de forma ágil, mesmo quando essas informações são e ação;
dependem de fontes localizadas em áreas geográficas distantes. - Apoiar a produção e utilização de serviços de saúde;
No hospital, a disponibilidade de uma rede integrada de infor- - Disponibilizar informações para as atividades de diagnóstico
mações através de um sistema informatizado é muito útil porque e tratamento;
agiliza o atendimento, tornando mais rápido o processo de ad- - Monitorar e avaliar as intervenções, resultados e impactos;
missão e alta de pacientes, a marcação de consultas e exames, o - Subsidiar educação e a promoção da saúde;
processamento da prescrição médica e de enfermagem e muitas - Apoiar as atividades de pesquisa e produção de conhecimentos
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Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

SIS (Sistema de Informação em Saúde)


- Coleta
- Processamento
- Análise
- Transmissão da Informação

Sistemas de Informação e Banco de Dados

Sistema de informação:
É o processo de produção de informação e sua comunicação a atores, possibilitando sua análise com vistas à geração de conhecimen-
tos.

Banco de dados:
É um dos principais componentes do sistema, sendo um agrupamento organizado de dados que pode ser utilizado por vários sistemas.

Sistemas de Informação em Saúde


Componentes que atuam de forma integrada e articulada para obter e selecionar dados e transformá-los em informação:

Principais Sistemas de Informação em Saúde

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SIAB
- O Sistema de Informação da Atenção Básica foi implantado para o acompanhamento das ações e dos resultados das atividades
realizadas pela Estratégia de Saúde da Família - ESF. O SIAB foi desenvolvido como instrumento gerencial dos Sistemas Locais de Saúde e
incorporou em sua formulação conceitos como território, problema e responsabilidade sanitária.

- Através dele obtêm-se informações sobre cadastros de famílias, condições de moradia e saneamento, situação de saúde, produção e
composição das equipes de saúde. Principal instrumento de monitoramento das ações do Programa Saúde da Família, tem sua gestão na
Coordenação de Acompanhamento e Avaliação do Departamento de Atenção Básica / SAS.

Benefícios:
Micro-espacialização de problemas de saúde e de avaliação de intervenções;
Utilização mais ágil e oportuna da informação;
Produção de indicadores capazes de cobrir todo o ciclo de organização das ações de saúde;
Consolidação progressiva da informação partindo de níveis menos agregados para mais agregados.

Funcionalidades
• Cadastros de famílias;
• Condições de moradia e saneamento;
• Situação de saúde;
• Produção e marcadores; Composição das Equipes de Saúde da Família e Agentes Comunitários de Saúde.1

E-SUS
O Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB) tem por finalidade fornecer de forma prática, ágil, atualizada, completa e de fácil
manipulação, instrumentos de controle e planejamento, além de possibilitar a socialização das informações de saúde.

O SIAB apresenta também como objetivo, avaliar a adequação dos serviços oferecidos e readequá-los, sempre que necessário e, por
fim, melhorar a qualidade dos serviços de saúde.

Isso também é válido para a análise das prioridades políticas a partir dos perfis epidemiológicos de determinada localidade e, princi-
palmente, para a fiscalização da aplicação dos recursos públicos destinados à área social, conformando-se numa estratégia para a opera-
cionalização do Sistema Único de Saúde.
O SIAB tem como lógica central de seu funcionamento a referência a uma determinada base populacional. O Ministério da Saúde (MS)
em 1998, por meio da Coordenadoria de Saúde da Comunidade, editou um manual que descreve os conceitos e procedimentos básicos
que compõem o SIAB, bem como as orientações gerais para seu preenchimento e operacionalização.
1 Fonte: https://www.enfconcursos.com/Fonte: http://www.saude.gov.br
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Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

O SIAB baseia-se nos conceitos de modelo de atenção, família, Quanto ao cadastramento das famílias, é um bom indicador
domicílio, área, micro área e território. O Ministério da Saúde orien- para acompanhamento do planejamento de implantação e imple-
ta que o SIAB seja informatizado. Caso o município não disponha do mentação da Equipe de Saúde da Família (ESF), pois permite deter-
programa, este deve procurar o DATASUS ou a Coordenação Esta- minar com garantia quanto de cobertura da população do municí-
dual do PSF para que estes instalem (gratuitamente) o programa. pio e de cobertura das famílias estimadas já foram realizadas.

O SIAB é um sistema idealizado para agregar e para processar Ainda são possíveis determinar a estrutura familiar, o núme-
as informações sobre a população visitada. Estas informações são ro de pessoas e a idade por família. Em relação ao saneamento,
recolhidas em fichas de cadastramento e de acompanhamento e o instrumento revela-se como suficiente e de fácil manuseio para
analisadas a partir dos relatórios de consolidação dos dados. avaliação das informações, além de proporcionar uma ferramenta
para divulgação, planejamento e possibilitar a indicação de serviços
O preenchimento das fichas é tarefa do agente comunitário, e ainda avaliar a prestação de serviço público e mecanismo de au-
a partir de suas visitas domiciliares. Elas devem ser atualizadas toproteção.2
sempre que necessário, ou seja, mediante ocorrência de eventos,
como: óbito, nascimento, inclusão de parente ou agregado ao gru- E-SUS AB
po familiar, etc. O e-SUS AB é uma estratégia do Departamento de Atenção Bá-
sica (DAB) para reestruturar as informações da Atenção Básica (AB)
Assim, registrar corretamente os dados com maior fidedigni- em nível nacional. Esta ação está alinhada com a proposta mais ge-
dade possível é responsabilidade do Agente comunitário. As fichas ral de reestruturação dos Sistemas de Informação em Saúde (SIS) do
são instrumentos de trabalho do PSF, pois permitem o planejamen- Ministério da Saúde (MS), entendendo que a qualificação da gestão
to das atividades da equipe, tendo como base o conhecimento do da informação é fundamental para ampliar a qualidade no atendi-
diagnóstico de necessidades da população a que assiste. mento à população.
A Estratégia e-SUS AB faz referência ao processo de informati-
São instrumentos de coleta de dados: zação qualificada do Sistema Único de Saúde (SUS) em busca de um
• Ficha A – cadastramento das famílias; SUS eletrônico (e-SUS) e tem como objetivo concretizar um novo
• Ficha B-GES – acompanhamento de gestantes; modelo de gestão de informação que apoie os municípios e os ser-
• Ficha B-HÁ – acompanhamento de hipertensos; viços de saúde na gestão efetiva da AB e na qualificação do cuidado
• Ficha B-DIA – acompanhamento de diabéticos; dos usuários. Esse modelo nacional de gestão da informação na AB
• Ficha B-TB – acompanhamento de pacientes com tubercu- é definido a partir de diretrizes e requisitos essenciais que orientam
lose; e organizam o processo de reestruturação do sistema de informa-
• Ficha B-HAN – acompanhamento de pacientes com hanse- ção, instituído o Sistema de Informação em Saúde para a Atenção
níase; Básica (SISAB), por meio da Portaria GM/MS Nº 1.412, de 10 de
• Ficha C (cartão da criança) – acompanhamento de crianças; julho de 2013, e a Estratégia e-SUS AB para sua operacionalização.
• Ficha D – registro de atividades, procedimentos e notifica- A Estratégia e-SUS AB preconiza:
ções. ● Individualizar o registro: registro individualizado das infor-
mações em saúde, para o acompanhamento dos atendimentos aos
São instrumentos de consolidação de dados: cidadãos;
• Relatórios A1, A2, A3 e A4 – relatório de consolidado anual ● Integrar a informação: integração dos diversos sistemas de
das famílias cadastradas; informação oficiais existentes na AB, a partir do modelo de infor-
• Relatórios SSA2 e SSA4 – relatório de situação de saúde e mação;
acompanhamento das famílias; ● Reduzir o retrabalho na coleta de dados: reduzir a necessida-
• Relatórios PMA2 e PMA4 – relatórios de produção e marca- de de registrar informações similares em mais de um instrumento
dores para avaliação. (fichas/sistemas) ao mesmo tempo;
● Informatizar as unidades: desenvolvimento de soluções tec-
O dado, após coletado, deve ser selecionado, processado, ana- nológicas que contemplem os processos de trabalho da AB, com
lisado e transformado em informação pela equipe de PSF. Este se recomendações de boas práticas e o estímulo à informatização dos
conforma como um produto das relações entre os vários atores en- serviços de saúde;
volvidos (médico, enfermeiro, auxiliar ou técnico de enfermagem, ● Gestão do cuidado: introdução de novas tecnologias para oti-
agentes comunitários, famílias, etc.). mizar o trabalho dos profissionais na perspectiva de fazer gestão
O SIAB gera relatórios de uma determinada base populacional, do cuidado
população coberta pelas equipes de saúde da família, a partir da ● Coordenação do cuidado: a qualificação do uso da informa-
ficha de cadastramento da família denominada Ficha A, cadastra- ção na gestão e no cuidado em saúde na perspectiva de integração
mento este realizado pelos agentes comunitários de saúde e que dos serviços de saúde.
produz informações relativas às condições demográficas, sanitárias
e sociais. Além de possibilitar traçar alguns aspectos da situação de A estratégia é composta por dois sistemas:
saúde referida da população. ● SISAB, sistema de informação nacional, que passa a ser o
Apesar de fornecer algumas informações essenciais para as sistema de informação vigente para fins de financiamento, moni-
equipes do Programa de Saúde da Família esse instrumento de co- toramento, acompanhamento do cuidado em saúde e de adesão
leta e o seu produto são passíveis de crítica. 2 Fonte: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/enfermagem/
sistema-de-informacao-de-atencao-basica-siab-o-que-e/37938

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Contéudo

aos programas e estratégias da Política Nacional de Atenção Básica humanos disponíveis para esse fim. Em especial, contemplando os
(PNAB), e diferentes cenários de implantação, como visto no Manual de Im-
● Sistema e-SUS AB, composto por dois softwares para cole- plantação da Estratégia e-SUS AB, o fluxo deve estar adequado a
ta dos dados: ○ Sistema com Coleta de Dados Simplificada (CDS), cada realidade.
sistema de transição/contingência, que apoia o processo de coleta
de dados por meio de fichas e sistema de digitação; ○ Sistema com O Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB) tem por fi-
Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC), sistema com prontuário nalidade fornecer de forma prática, ágil, atualizada, completa e de
eletrônico, que tem como principal objetivo apoiar o processo de fácil manipulação, instrumentos de controle e planejamento, além
informatização das UBS. de possibilitar a socialização das informações de saúde.

Durante o texto, os softwares do Sistema e-SUS AB também são O SIAB apresenta também como objetivo, avaliar a adequação
referidos como Sistema com CDS e Sistema com PEC ou simples- dos serviços oferecidos e readequá-los, sempre que necessário e,
mente, CDS e PEC. por fim, melhorar a qualidade dos serviços de saúde.

Fichas de Coleta de Dados Simplificada Isso também é válido para a análise das prioridades políticas a
O Sistema com CDS é um dos componentes da estratégia e-SUS partir dos perfis epidemiológicos de determinada localidade e, prin-
AB, adequada para UBS não informatizadas, ou quando o acesso a cipalmente, para a fiscalização da aplicação dos recursos públicos
informatização está temporariamente indisponível devido a falta de destinados à área social, conformando-se numa estratégia para a
energia elétrica, problemas com o computador, acesso a internet, operacionalização do Sistema Único de Saúde.
entre outros. O SIAB tem como lógica central de seu funcionamento a re-
O objetivo é ser uma estratégia de coleta de dados por meio ferência a uma determinada base populacional. O Ministério da
de instrumentos com questões estruturadas, na qual a maioria das Saúde (MS) em 1998, por meio da Coordenadoria de Saúde da Co-
perguntas são fechadas. munidade, editou um manual que descreve os conceitos e proce-
Os instrumentos são denominados “Fichas de Coleta de Dados dimentos básicos que compõem o SIAB, bem como as orientações
Simplificada” para a obtenção de dados de cadastros da população gerais para seu preenchimento e operacionalização.
do território adstrito às UBS, das visitas domiciliares, atendimentos O SIAB baseia-se nos conceitos de modelo de atenção, família,
e atividades desenvolvidas pelos profissionais das equipes de AB. domicílio, área, micro área e território. O Ministério da Saúde orien-
Esses dados devem ser digitados no CDS off-line ou PEC e, poste- ta que o SIAB seja informatizado. Caso o município não disponha do
riormente, enviados para o SISAB por meio do PEC com conectivi- programa, este deve procurar o DATASUS ou a Coordenação Esta-
dade à internet. dual do PSF para que estes instalem (gratuitamente) o programa.
A Coleta de Dados Simplificada utilizada pela equipe de Aten-
ção Básica é composta por dez fichas a seguir: O SIAB é um sistema idealizado para agregar e para processar
1. Cadastro Individual; as informações sobre a população visitada. Estas informações são
2. Cadastro Domiciliar; recolhidas em fichas de cadastramento e de acompanhamento e
3. Ficha de Atendimento Individual; analisadas a partir dos relatórios de consolidação dos dados.
4. Ficha de Procedimentos;
5. Ficha de Atendimento Odontológico Individual; O preenchimento das fichas é tarefa do agente comunitário,
6. Ficha de Atividade Coletiva; a partir de suas visitas domiciliares. Elas devem ser atualizadas
7. Ficha de Vacinação (nova); sempre que necessário, ou seja, mediante ocorrência de eventos,
8. Ficha de Visita Domiciliar; como: óbito, nascimento, inclusão de parente ou agregado ao gru-
9. Marcadores de Consumo Alimentar; po familiar, etc.
10. Ficha Complementar,
Assim, registrar corretamente os dados com maior fidedigni-
A Coleta de Dados Simplificada ainda conta com mais duas fichas dade possível é responsabilidade do Agente comunitário. As fichas
de uso exclusivo das equipes do Serviço de Atenção Domiciliar (SAD): são instrumentos de trabalho do PSF, pois permitem o planejamen-
1. Ficha de Avaliação de Elegibilidade, to das atividades da equipe, tendo como base o conhecimento do
2. Ficha de Atenção Domiciliar. diagnóstico de necessidades da população a que assiste.

A estratégia avança ao permitir a entrada dos dados orientada São instrumentos de coleta de dados:
pelo curso natural do atendimento e não ser focada na situação- • Ficha A – cadastramento das famílias;
-problema de saúde. A entrada de dados individualizados por cida- • Ficha B-GES – acompanhamento de gestantes;
dão abre caminho para a gestão do cuidado e aproximação desses • Ficha B-HÁ – acompanhamento de hipertensos;
dados ao processo de planejamento da equipe. • Ficha B-DIA – acompanhamento de diabéticos;
Dessa forma, este manual foi elaborado com a finalidade de • Ficha B-TB – acompanhamento de pacientes com tuberculose;
orientar os profissionais de saúde e gestores da Atenção Básica a • Ficha B-HAN – acompanhamento de pacientes com hanse-
operar o Sistema e-SUS AB com CDS, tendo em vista, o preenchi- níase;
mento adequado das fichas do CDS e a consequente digitação dos • Ficha C (cartão da criança) – acompanhamento de crianças;
dados no sistema. • Ficha D – registro de atividades, procedimentos e notifica-
O processo de digitação deve ser definido no âmbito da ges- ções.
tão municipal, considerando os aspectos logísticos e os recursos
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75
Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

São instrumentos de consolidação de dados: Diretora- Presidente Substituta, determino a sua publicação:
• Relatórios A1, A2, A3 e A4 – relatório de consolidado anual Art. 1º Fica aprovado o Regulamento Técnico que estabelece
das famílias cadastradas; os Requisitos de Boas Práticas para Funcionamento de Serviços de
• Relatórios SSA2 e SSA4 – relatório de situação de saúde e Saúde, nos termos desta Resolução.
acompanhamento das famílias;
• Relatórios PMA2 e PMA4 – relatórios de produção e marca- CAPÍTULO I
dores para avaliação. DAS DISPOSIÇÕES INICIAIS

O dado, após coletado, deve ser selecionado, processado, ana- SEÇÃO I


lisado e transformado em informação pela equipe de PSF. Este se OBJETIVO
conforma como um produto das relações entre os vários atores en-
volvidos (médico, enfermeiro, auxiliar ou técnico de enfermagem, Art. 2º Este Regulamento Técnico possui o objetivo de estabe-
agentes comunitários, famílias, etc.). lecer requisitos de Boas Práticas para funcionamento de serviços de
O SIAB gera relatórios de uma determinada base populacional, saúde, fundamentados na qualificação, na humanização da atenção
população coberta pelas equipes de saúde da família, a partir da e gestão, e na redução e controle de riscos aos usuários e meio am-
ficha de cadastramento da família denominada Ficha A, cadastra- biente.
mento este realizado pelos agentes comunitários de saúde e que
produz informações relativas às condições demográficas, sanitárias SEÇÃO II
e sociais. Além de possibilitar traçar alguns aspectos da situação de ABRANGÊNCIA
saúde referida da população.
Art. 3º Este Regulamento Técnico se aplica a todos os serviços
Apesar de fornecer algumas informações essenciais para as de saúde no país, sejam eles públicos, privados, filantrópicos, civis
equipes do Programa de Saúde da Família esse instrumento de co- ou militares, incluindo aqueles que exercem ações de ensino e pes-
leta e o seu produto são passíveis de crítica. quisa.
Quanto ao cadastramento das famílias, é um bom indicador
para acompanhamento do planejamento de implantação e imple- SEÇÃO III
mentação da Equipe de Saúde da Família (ESF), pois permite deter- DEFINIÇÕES
minar com garantia quanto de cobertura da população do municí-
pio e de cobertura das famílias estimadas já foram realizadas. Art. 4º Para efeito deste Regulamento Técnico são adotadas as
Ainda são possíveis determinar a estrutura familiar, o núme- seguintes definições:
ro de pessoas e a idade por família. Em relação ao saneamento, I - garantia da qualidade: totalidade das ações sistemáticas ne-
o instrumento revela-se como suficiente e de fácil manuseio para cessárias para garantir que os serviços prestados estejam dentro
avaliação das informações, além de proporcionar uma ferramenta dos padrões de qualidade exigidos, para os fins a que se propõem;
para divulgação, planejamento e possibilitar a indicação de serviços II - gerenciamento de tecnologias: procedimentos de gestão,
e ainda avaliar a prestação de serviço público e mecanismo de au- planejados e implementados a partir de bases científicas e técnicas,
toproteção. normativas e legais, com o objetivo de garantir a rastreabilidade,
qualidade, eficácia, efetividade, segurança e em alguns casos o de-
Fonte: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/ sempenho das tecnologias de saúde utilizadas na prestação de ser-
enfermagem/sistema-de-informacao-de-atencao-basica-siab-o-que- viços de saúde, abrangendo cada etapa do gerenciamento, desde
-e/37938 o planejamento e entrada das tecnologias no estabelecimento de
saúde até seu descarte, visando à proteção dos trabalhadores, a
preservação da saúde pública e do meio ambiente e a segurança
RDC Nº 63, DE 25 DE NOVEMBRO DE 2011 QUE DISPÕE do paciente;
SOBRE OS REQUISITOS DE BOAS PRÁTICAS DE FUNCIONA- III - humanização da atenção e gestão da saúde: valorização da
MENTO PARA OS SERVIÇOS DE SAÚDE dimensão subjetiva e social, em todas as práticas de atenção e de
gestão da saúde, fortalecendo o compromisso com os direitos do
cidadão, destacando-se o respeito às questões de gênero, etnia,
RESOLUÇÃO-RDC Nº 63, DE 25 DE NOVEMBRO DE 2011 raça, orientação sexual e às populações específicas, garantindo o
acesso dos usuários às informações sobre saúde, inclusive sobre
Dispõe sobre os Requisitos de Boas Práticas de Funcionamento os profissionais que cuidam de sua saúde, respeitando o direito a
para os Serviços de Saúde acompanhamento de pessoas de sua rede social (de livre escolha),
e a valorização do trabalho e dos trabalhadores;
A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitá- IV - licença atualizada: documento emitido pelo órgão sanitário
ria, no uso da atribuição que lhe confere o inciso IV do art. 11, do competente dos Estados, Distrito Federal ou dos Municípios, con-
Regulamento aprovado pelo Decreto no- . 3.029, de 16 de abril de tendo permissão para o funcionamento dos estabelecimentos que
1999, e tendo em vista o disposto no inciso II e nos § § 1o- e 3o- do exerçam atividades sob regime de vigilância sanitária;
art. 54 do Regimento Interno nos termos do Anexo I da Portaria V - Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde
no- . 354 da Anvisa, de 11 de agosto de 2006, republicada no DOU (PGRSS): documento que aponta e descreve as ações relativas
de 21 de agosto de 2006, em reunião realizada em 24 de novembro ao manejo dos resíduos sólidos, observadas suas características
de 2011, adota a seguinte Resolução da Diretoria Colegiada e eu, e riscos, no âmbito dos estabelecimentos de saúde, contemplando
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76
Contéudo

os aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamento, c) equipamentos, materiais e suporte logístico; e


coleta, armazenamento, transporte, tratamento e disposição final, d) procedimentos e instruções aprovados e vigentes.
bem como as ações de proteção à saúde pública e ao meio ambien- III - as reclamações sobre os serviços oferecidos devem ser exa-
te. minadas, registradas e as causas dos desvios da qualidade, investi-
VI - política de qualidade: refere-se às intenções e diretrizes gadas e documentadas, devendo ser tomadas medidas com relação
globais relativas à qualidade, formalmente expressa e autorizada aos serviços com desvio da qualidade e adotadas as providências no
pela direção do serviço de saúde. sentido de prevenir reincidências.
VII - profissional legalmente habilitado: profissional com forma-
ção superior ou técnica com suas competências atribuídas por lei; SEÇÃO II
VIII - prontuário do paciente: documento único, constituído de DA SEGURANÇA DO PACIENTE
um conjunto de informações, sinais e imagens registrados, gerados
a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do pa- Art. 8º O serviço de saúde deve estabelecer estratégias e ações
ciente e a assistência a ele prestada, de caráter legal, sigiloso e cien- voltadas para Segurança do Paciente, tais como:
tífico, que possibilita a comunicação entre membros da equipe mul- I. Mecanismos de identificação do paciente;
tiprofissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo; II. Orientações para a higienização das mãos;
IX - relatório de transferência: documento que deve acompa- III. Ações de prevenção e controle de eventos adversos relacio-
nhar o paciente em caso de remoção para outro serviço, contendo nadaà assistência à saúde;
minimamente dados de identificação, resumo clínico com da- IV. Mecanismos para garantir segurança cirúrgica;
dos que justifiquem a transferência e descrição ou cópia de laudos V. Orientações para administração segura de medicamentos,
de exames realizados, quando existentes; sangue e hemocomponentes;
X - responsável técnico - RT: profissional de nível superior legal- VI. Mecanismos para prevenção de quedas dos pacientes;
mente habilitado, que assume perante a vigilância sanitária a res- VII. Mecanismos para a prevenção de úlceras por pressão;
ponsabilidade técnica pelo serviço de saúde, conforme legislação VIII. Orientações para estimular a participação do paciente na
vigente; assistência prestada.
XI - segurança do Paciente: conjunto de ações voltadas à prote-
ção do paciente contra riscos, eventos adversos e danos desneces- SEÇÃO III
sários durante a atenção prestada nos serviços de saúde. DAS CONDIÇÕES ORGANIZACIONAIS
XII - serviço de saúde: estabelecimento de saúde destinado a
prestar assistência à população na prevenção de doenças, no trata- Art. 9º O serviço de saúde deve possuir regimento interno ou
mento, recuperação e na reabilitação de pacientes. documento equivalente, atualizado, contemplando a definição e a
descrição de todas as suas atividades técnicas, administrativas e as-
CAPÍTULO II sistenciais, responsabilidades e competências.
DAS BOAS PRÁTICAS DE FUNCIONAMENTO Art. 10. Os serviços objeto desta resolução devem possuir li-
cença atualizada de acordo com a legislação sanitária local, afixada
SEÇÃO I em local visível ao público.
DO GERENCIAMENTO DA QUALIDADE Parágrafo único. Os estabelecimentos integrantes da Adminis-
tração Pública ou por ela instituídos independem da licença para
Art. 5º O serviço de saúde deve desenvolver ações no senti- funcionamento, ficando sujeitos, porém, às exigências perti-
do de estabelecer uma política de qualidade envolvendo estrutura, nentes às instalações, aos equipamentos e à aparelhagem adequa-
processo e resultado na sua gestão dos serviços. da e à assistência e responsabilidade técnicas, aferidas por meio de
Parágrafo único. O serviço de saúde deve utilizar a Garantia da fiscalização realizada pelo órgão sanitário local.
Qualidade como ferramenta de gerenciamento. Art. 11. Os serviços e atividades terceirizadas pelos estabeleci-
Art. 6º As Boas Práticas de Funcionamento (BPF) são os com- mentos de saúde devem possuir contrato de prestação de serviços.
ponentes da Garantia da Qualidade que asseguram que os serviços § 1º Os serviços e atividades terceirizados devem estar regula-
são ofertados com padrões de qualidade adequados. rizados perante a autoridade sanitária competente, quando couber.
§ 1º As BPF são orientadas primeiramente à redução dos riscos § 2º A licença de funcionamento dos serviços e atividades
inerentes a prestação de serviços de saúde. terceirizados deve conter informação sobre a sua habilitação para
§ 2º Os conceitos de Garantia da Qualidade e Boas Práticas de atender serviços de saúde, quando couber.
Funcionamento (BPF) estão inter-relacionados estando descritos Art. 12. O atendimento dos padrões sanitários estabelecidos
nesta resolução de forma a enfatizar as suas relações e sua impor- por este regulamento técnico não isenta o serviço de saúde do cum-
tância para o funcionamento dos serviços de saúde. primento dos demais instrumentos normativos aplicáveis.
Art. 7º As BPF determinam que: Art. 13. O serviço de saúde deve estar inscrito e manter seus
I- o serviço de saúde deve ser capaz de ofertar serviços dentro dados atualizados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de
dos padrões de qualidade exigidos, atendendo aos requisitos das Saúde - CNES.
legislações e regulamentos vigentes. Art. 14. O serviço de saúde deve ter um responsável técnico
II - o serviço de saúde deve fornecer todos os recursos neces- (RT) e um substituto.
sários, incluindo: Parágrafo único. O órgão sanitário competente deve ser noti-
a) quadro de pessoal qualificado, devidamente treinado e iden- ficado sempre que houver alteração de responsável técnico ou de
tificado; seu substituto.
b) ambientes identificados; Art. 15. As unidades funcionais do serviço de saúde devem ter
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77
Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

um profissional responsável conforme definido em legislações e re- SEÇÃO IV


gulamentos específicos. DO PRONTUÁRIO DO PACIENTE
Art. 16. O serviço de saúde deve possuir profissional legalmen-
te habilitado que responda pelas questões operacionais durante o Art. 24. A responsabilidade pelo registro em prontuário cabe
seu período de funcionamento. aos profissionais de saúde que prestam o atendimento.
Parágrafo único. Este profissional pode ser o próprio RT ou téc- Art. 25. A guarda do prontuário é de responsabilidade do servi-
nico designado para tal fim. ço de saúde devendo obedecer às normas vigentes.
Art. 17. O serviço de saúde deve prover infraestrutura física, § 1º O serviço de saúde deve assegurar a guarda dos prontuá-
recursos humanos, equipamentos, insumos e materiais necessários rios no que se refere à confidencialidade e integridade.
à operacionalização do serviço de acordo com a demanda, modali- § 2º O serviço de saúde deve manter os prontuários em local
dade de assistência prestada e a legislação vigente. seguro, em boas condições de conservação e organização, permitin-
Art. 18. A direção e o responsável técnico do serviço de saúde do o seu acesso sempre que necessário.
têm a responsabilidade de planejar, implantar e garantir a qualida- Art. 26. O serviço de saúde deve garantir que o prontuário con-
de dos processos. tenha registros relativos à identificação e a todos os procedimentos
Art. 19. O serviço de saúde deve possuir mecanismos que ga- prestados ao paciente.
rantam a continuidade da atenção ao paciente quando houver ne- Art. 27. O serviço de saúde deve garantir que o prontuário seja
cessidade de remoção ou para realização de exames que não exis- preenchido de forma legível por todos os profissionais envolvidos
tam no próprio serviço. diretamente na assistência ao paciente, com aposição de assinatura
Parágrafo único. Todo paciente removido deve ser acompanha- e carimbo em caso de prontuário em meio físico.
do por relatório completo, legível, com identificação e assinatura do Art. 28. Os dados que compõem o prontuário pertencem ao
profissional assistente, que deve passar a integrar o prontuário no paciente e devem estar permanentemente disponíveis aos mesmos
destino, permanecendo cópia no prontuário de origem. ou aos seus representantes legais e à autoridade sanitária quando
Art. 20. O serviço de saúde deve possuir mecanismos que ga- necessário.
rantam o funcionamento de Comissões, Comitês e Programas esta-
belecidos em legislações e normatizações vigentes. SEÇÃO V
Art. 21. O serviço de saúde deve garantir mecanismos para o DA GESTÃO DE PESSOAL
controle de acesso dos trabalhadores, pacientes, acompanhantes
e visitantes. Art. 29. As exigências referentes aos recursos humanos do ser-
Art. 22. O serviço de saúde deve garantir mecanismos de iden- viço de saúde incluem profissionais de todos os níveis de escolari-
tificação dos trabalhadores, pacientes, acompanhantes e visitantes. dade, de quadro próprio ou terceirizado.
Art. 23. O serviço de saúde deve manter disponível, segundo o Art. 30. O serviço de saúde deve possuir equipe multiprofissio-
seu tipo de atividade, documentação e registro referente à: nal dimensionada de acordo com seu perfil de demanda.
I - Projeto Básico de Arquitetura (PBA) aprovado pela vigilância Art.31. O serviço de saúde deve manter disponíveis registros de
sanitária competente. formação e qualificação dos profissionais compatíveis com as fun-
II - controle de saúde ocupacional; ções desempenhadas.
III - educação permanente; Parágrafo único. O serviço de saúde deve possuir documenta-
IV - comissões, comitês e programas; ção referente ao registro dos profissionais em conselhos de classe,
V - contratos de serviços terceirizados; quando for o caso.
VI - controle de qualidade da água; Art. 32. O serviço de saúde deve promover a capacitação de
VII - manutenção preventiva e corretiva da edificação e insta- seus profissionais antes do início das atividades e de forma perma-
lações; nente em conformidade com as atividades desenvolvidas.
VIII - controle de vetores e pragas urbanas; Parágrafo único. As capacitações devem ser registradas conten-
IX - manutenção corretiva e preventiva dos equipamentos e do data, horário, carga horária, conteúdo ministrado, nome e a
instrumentos; formação ou capacitação profissional do instrutor e dos traba-
X - Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde; lhadores envolvidos.
XI - nascimentos; Art. 33. A capacitação de que trata o artigo anterior deve ser
XII - óbitos; adaptada à evolução do conhecimento e a identificação de novos
XIII - admissão e alta; riscos e deve incluir:
XIV - eventos adversos e queixas técnicas associadas a produ- I - os dados disponíveis sobre os riscos potenciais à saúde;
tos ou serviços; II - medidas de controle que minimizem a exposição aos agen-
XV - monitoramento e relatórios específicos de controle de in- tes;
fecção; III - normas e procedimentos de higiene;
XVI - doenças de Notificação Compulsória; IV - utilização de equipamentos de proteção coletiva, individual
XVII - indicadores previstos nas legislações vigentes; e vestimentas de trabalho;
XVIII - normas, rotinas e procedimentos; V - medidas para a prevenção de acidentes e incidentes;
XIX - demais documentos exigidos por legislações específicas VI - medidas a serem adotadas pelos trabalhadores no caso de
dos estados, Distrito Federal e municípios. ocorrência de acidentes e incidentes;
VII - temas específicos de acordo com a atividade desenvolvida
pelo profissional.

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Contéudo

SEÇÃO VI obstétricos, nas unidades de tratamento intensivo, nas unidades de


DA GESTÃO DE INFRAESTRUTURA isolamento e centrais de material esterilizado.
Art. 47. O serviço de saúde deve garantir mecanismos de pre-
Art. 34. O serviço de saúde deve ter seu projeto básico de ar- venção dos riscos de acidentes de trabalho, incluindo o forneci-
quitetura atualizado, em conformidade com as atividades desenvol- mento de Equipamentos de Proteção Individual - EPI, em número
vidas e aprovado pela vigilância sanitária e demais órgãos compe- suficiente e compatível com as atividades desenvolvidas pelos tra-
tentes. balhadores.
Art. 35. As instalações prediais de água, esgoto, energia elétri- Parágrafo único. Os trabalhadores não devem deixar o local de
ca, gases, climatização, proteção e combate a incêndio, comunica- trabalho com os equipamentos de proteção individual
ção e outras existentes, devem atender às exigências dos códigos de Art. 48. O serviço de saúde deve manter registro das comunica-
obras e posturas locais, assim como normas técnicas pertinentes a ções de acidentes de trabalho.
cada uma das instalações. Art. 49. Em serviços de saúde com mais de vinte trabalhado-
Art. 36. O serviço de saúde deve manter as instalações físicas resé obrigatória a instituição de Comissão Interna de Prevenção de
dos ambientes externos e internos em boas condições de conserva- Acidentes - CIPA.
ção, segurança, organização, conforto e limpeza. Art. 50. O Serviço de Saúde deve manter disponível a todos os
Art. 37. O serviço de saúde deve executar ações de gerencia- trabalhadores:
mento dos riscos de acidentes inerentes às atividades desenvolvi- I - Normas e condutas de segurança biológica, química, física,
das. ocupacional e ambiental;
Art. 38 O serviço de saúde deve ser dotado de iluminação e II - Instruções para uso dos Equipamentos de Proteção Indivi-
ventilação compatíveis com o desenvolvimento das suas atividades. dual - EPI;
Art. 39. O serviço de saúde deve garantir a qualidade da água III - Procedimentos em caso de incêndios e acidentes;
necessária ao funcionamento de suas unidades. IV - Orientação para manuseio e transporte de produtos para
§ 1º O serviço de saúde deve garantir a limpeza dos reservató- saúde contaminados.
rios de água a cada seis meses.
§ 2º O serviço de saúde deve manter registro da capacidade e SEÇÃO VIII
da limpeza periódica dos reservatórios de água. DA GESTÃO DE TECNOLOGIAS E PROCESSOS
Art. 40. O serviço de saúde deve garantir a continuidade do
fornecimento de água, mesmo em caso de interrupção do forneci- Art. 51. O serviço de saúde deve dispor de normas, procedi-
mento pela concessionária, nos locais em que a água é considerada mentos e rotinas técnicas escritas e atualizadas, de todos os seus
insumo crítico. processos de trabalho em local de fácil acesso a toda a equipe.
Art. 41. O serviço de saúde deve garantir a continuidade do Art. 52. O serviço de saúde deve manter os ambientes limpos,
fornecimento de energia elétrica, em situações de interrupção do livres de resíduos e odores incompatíveis com a atividade, devendo
fornecimento pela concessionária, por meio de sistemas de energia atender aos critérios de criticidade das áreas.
elétrica de emergência, nos locais em que a energia elétrica é con- Art. 53. O serviço de saúde deve garantir a disponibilidade dos
siderada insumo crítico. equipamentos, materiais, insumos e medicamentos de acordo com
Art. 42. O serviço de saúde deve realizar ações de manutenção a complexidade do serviço e necessários ao atendimento da de-
preventiva e corretiva das instalações prediais, de forma própria ou manda.
terceirizada. Art. 54. O serviço de saúde deve realizar o gerenciamento de
suas tecnologias de forma a atender as necessidades do serviço
SEÇÃO VII mantendo as condições de seleção, aquisição, armazenamento,
DA PROTEÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR instalação, funcionamento, distribuição, descarte e rastreabilidade.
Art. 55. O serviço de saúde deve garantir que os materiais e
Art. 43. O serviço de saúde deve garantir mecanismos de orien- equipamentos sejam utilizados exclusivamente para os fins a que
tação sobre imunização contra tétano, difteria, hepatite B e contra se destinam.
outros agentes biológicos a que os trabalhadores possam estar ex- Art. 56. O serviço de saúde deve garantir que os colchões, col-
postos. chonetes e demais mobiliários almofadados sejam revestidos de
Art. 44. O serviço de saúde deve garantir que os trabalhadores material lavável e impermeável, não apresentando furos, rasgos,
sejam avaliados periodicamente em relação à saúde ocupacional sulcos e reentrâncias.
mantendo registros desta avaliação. Art. 57. O serviço de saúde deve garantir a qualidade dos pro-
Art. 45. O serviço de saúde deve garantir que os trabalhadores cessos de desinfecção e esterilização de equipamentos e materiais.
com agravos agudos à saúde ou com lesões nos membros superio- Art. 58. O serviço de saúde deve garantir que todos os usuários
res só iniciem suas atividades após avaliação médica. recebam suporte imediato a vida quando necessário.
Art. 46. O serviço de saúde deve garantir que seus trabalha- Art. 59. O serviço de saúde deve disponibilizar os insumos, pro-
dores com possibilidade de exposição a agentes biológicos, físicos dutos e equipamentos necessários para as práticas de higienização
ou químicos utilizem vestimentas para o trabalho, incluindo de mãos dos trabalhadores, pacientes, acompanhantes e visitantes.
calçados, compatíveis com o risco e em condições de conforto. Art. 60. O serviço de saúde que preste assistência nutricional
§ 1º Estas vestimentas podem ser próprias do trabalhador ou ou forneça refeições deve garantir a qualidade nutricional e a segu-
fornecidas pelo serviço de saúde. rança dos alimentos.
§ 2º O serviço de saúde é responsável pelo fornecimento e pelo Art. 61. O serviço de saúde deve informar aos órgãos compe-
processamento das vestimentas utilizadas nos centros cirúrgicos e tentes sobre a suspeita de doença de notificação compulsória con-
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79
Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

forme o estabelecido em legislação e regulamentos vigentes. Considerando a Lei nº 9.836, de 23 de setembro de 1999, que
Art. 62. O serviço de saúde deve calcular e manter o registro acrescenta dispositivos à Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990,
referente aos Indicadores previstos nas legislações vigentes. que institui o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena;
Considerando a Lei nº 13.146, de 06 de julho de 2015, que ins-
SEÇÃO IX titui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto
DO CONTROLE INTEGRADO DE VETORES E PRAGAS URBANAS da Pessoa com Deficiência);
Considerando a Lei nº 12.527 (Lei de Acesso à Informação), de
Art. 63. O serviço de saúde deve garantir ações eficazes e con- 18 de novembro de 2011;
tínuas de controle de vetores e pragas urbanas, com o objetivo de Considerando a Lei nº 13.460, de 26 de junho de 2017, que
impedir a atração, o abrigo, o acesso e ou proliferação dos mes- dispõe sobre a participação, a proteção e a defesa dos direitos do
mos. usuário dos serviços públicos da administração pública;
Parágrafo único. O controle químico, quando for necessário, Considerando o Decreto nº 6.040, de 07 de fevereiro de 2007,
deve ser realizado por empresa habilitada e possuidora de licença que institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos
sanitária e ambiental e com produtos desinfestantes regularizados Povos e Comunidades Tradicionais;
pela Anvisa. Considerando a Portaria nº 992, de 13 de maio de 2009, que
Art. 64. Não é permitido comer ou guardar alimentos nos pos- institui a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra;
tos de trabalho destinados à execução de procedimentos de saúde. Considerando a Portaria nº 2.836, de 1º de dezembro de 2011,
que institui a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays,
CAPÍTULO III Bissexuais, Travestis e Transexuais;
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS Considerando a Portaria nº 2.866, de 02 de dezembro de 2011,
que institui a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do
Art. 65. Os estabelecimentos abrangidos por esta resolução te- Campo e da Floresta;
rão o prazo de 180 (cento e oitenta) dias contados a partir da data Considerando as Diretrizes estabelecidas na Política Nacional
de sua publicação para promover as adequações necessárias ao Re- de Humanização da Atenção e da Gestão do SUS, de 2003;
gulamento Técnico. Considerando a Política Nacional de Gestão Estratégica e Par-
Parágrafo único. A partir da publicação desta resolução, os no- ticipativa no SUS, Portaria nº 3.027, de 26 de novembro de 2007;
vos estabelecimentos e aqueles que pretendam reiniciar suas ativi- Considerando a Política Nacional de Educação Popular em Saú-
dades, devem atender na íntegra às exigências nela contidas. de no âmbito do SUS (PNEPS-SUS), Portaria nº 2.761, de 19 de no-
Art. 66. O descumprimento das disposições contidas nesta re- vembro de 2013;
solução e no regulamento por ela aprovado constitui infração sani- Considerando a Política Nacional de Educação Permanente
tária, nos termos da Lei no- . 6.437, de 20 de agosto de 1977, sem para o Controle Social no SUS, Resolução CNS nº 363, de 11 de agos-
prejuízo das responsabilidades civil, administrativa e penal cabíveis. to de 2006;
Art. 67. Esta resolução entra em vigor na data de sua publica- Considerando a Portaria nº 971/GM/MS, de 3 de maio de 2006,
ção. que aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Comple-
mentares no SUS (PNPIC);
Considerando as diretrizes estabelecidas nas Conferências de
RESOLUÇÃO CNS Nº 553, DE 9 DE AGOSTO DE 2017, QUE Saúde, nas esferas Municipal, Estadual e Nacional, e no Conselho
DISPÕE SOBRE A CARTA DOS DIREITOS E DEVERES DA PES- Nacional de Saúde, em defesa do SUS e dos seus princípios;
SOA USUÁRIA DA SAÚDE. Considerando as proposições do Grupo de Trabalho do Conse-
lho Nacional de Saúde, que elaborou propostas e sistematizou as
contribuições da Consulta à Sociedade, realizada de maio a junho
RESOLUÇÃO Nº 553, DE 09 DE AGOSTO DE 2017 de 2017, para atualização da Carta dos Direitos dos Usuários da
Saúde; e
O Plenário do Conselho Nacional de Saúde, em sua 61ª Reu- Considerando que compete ao Conselho Nacional de Saúde o
nião Extraordinária, realizada no dia 9 de agosto de 2017, no uso de fortalecimento da participação e do controle social no SUS (artigo
suas atribuições conferidas pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 10, IX da Resolução nº 407, de 12 de setembro de 2008).
1990, pela Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990 e pelo Decre- Resolve:
to nº 5.839, de 11 de julho de 2006, cumprindo as disposições da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, da legisla- Aprovar a atualização da Carta dos Direitos e Deveres da Pes-
ção brasileira correlata; e soa Usuária da Saúde, que dispõe sobre as diretrizes dos Direitos e
Considerando a necessidade de atualização da Carta dos Direi- Deveres da Pessoa Usuária da Saúde anexa a esta Resolução.
tos dos Usuários da Saúde, publicada por meio da Portaria nº 1.820,
de 13 de agosto de 2009, a partir da legislação e avanços do Sistema ANEXO DA RESOLUÇÃO Nº 553, DE 9 DE AGOSTO DE 2017
Único de Saúde (SUS);
Considerando a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que Primeira diretriz: toda pessoa tem direito, em tempo hábil, ao
dispõe sobre as condições para a promoção, a proteção e a recupe- acesso a bens e serviços ordenados e organizados para garantia da
ração da saúde a organização e funcionamento dos serviços corres- promoção, prevenção, proteção, tratamento e recuperação da saú-
pondentes; de.
Considerando a Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que I- Cada pessoa possui direito de ser acolhida no momento em
dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS; que chegar ao serviço e conforme sua necessidade de saúde e espe-
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Contéudo

cificidade, independentemente de senhas ou procedimentos buro- i)partes do corpo afetadas pelos procedimentos, instrumental
cráticos, respeitando as prioridades garantidas em Lei. a ser utilizado, efeitos colaterais, riscos ou consequências indese-
II- A promoção e a proteção da saúde devem estar relacionadas jáveis;
com as condições sociais, culturais e econômicas das pessoas, inclu- j)duração prevista dos procedimentos e tempo de recuperação;
ídos aspectos como: k)evolução provável do problema de saúde;
a)segurança alimentar e nutricional; l)informações sobre o custo das intervenções das quais a pes-
b)saneamento básico e ambiental; soa se beneficiou;
c)tratamento às doenças negligenciadas conforme cada região m)outras informações que forem necessárias;
do País; I- que toda pessoa tem o direito de decidir se seus familiares e
d)iniciativas de combate às endemias e doenças transmissíveis; acompanhantes deverão ser informados sobre seu estado de saú-
e)combate a todas as formas de violência e discriminação; de;
f)educação baseada nos princípios dos Direitos Humanos; II- o registro atualizado e legível no prontuário, das seguintes
g)trabalho digno; e informações:
h)acesso à moradia, transporte, lazer, segurança pública e pre- a)motivo do atendimento ou internação;
vidência social. b)dados de observação e da evolução clínica;
§1º O acesso se dará preferencialmente nos serviços de Aten- c)prescrição terapêutica;
ção Básica. d)avaliações dos profissionais da equipe;
§2º Nas situações de urgência e emergência, qualquer serviço e)procedimentos e cuidados de enfermagem;
de saúde deve receber e cuidar da pessoa bem como encaminhá-la f)quando for o caso, procedimentos cirúrgicos e anestésicos,
para outro serviço no caso de necessidade. odontológicos, resultados de exames complementares laboratoriais
§3º Em caso de risco de vida ou lesão grave, deverá ser assegu- e radiológicos;
rada a remoção do usuário, em tempo hábil e em condições seguras g)a quantidade de sangue recebida e dados que garantam a
para um serviço de saúde com capacidade para resolver seu tipo de qualidade do sangue, como origem, sorologias efetuadas e prazo
problema. de validade;
§4º O encaminhamento às especialidades e aos hospitais, h)identificação do responsável pelas anotações;
pela Atenção Básica, será estabelecido em função da necessidade i)data e local e identificação do profissional que realizou o aten-
de saúde e indicação clínica, levando-se em conta a gravidade do dimento;
problema a ser analisado pelas centrais de regulação, com trans- j)outras informações que se fizerem necessárias;
parência. I- o acesso à anestesia em todas as situações em que for indi-
§5º Quando houver alguma dificuldade temporária para aten- cada, bem como a medicações e procedimentos que possam aliviar
der as pessoas é da responsabilidade da direção e da equipe do a dor e o sofrimento;
serviço, acolher, dar informações claras e encaminhá-las sem discri- II- o recebimento das receitas e prescrições terapêuticas, de-
minação e privilégios. verão conter:
Segunda diretriz: toda pessoa tem direito ao atendimento inte- a)o nome genérico das substâncias prescritas;
gral, aos procedimentos adequados e em tempo hábil a resolver o b)clara indicação da dose e do modo de usar;
seu problema de saúde, de forma ética e humanizada. c)escrita impressa, datilografada ou digitada, ou em caligrafia
Parágrafo único. É direito da pessoa ter atendimento adequado, legível;
inclusivo e acessível, com qualidade, no tempo certo e com garantia d)textos sem códigos ou abreviaturas;
de continuidade do tratamento, e para isso deve ser assegurado: e)o nome legível do profissional e seu número de registro no
I- atendimento ágil, com estratégias para evitar o agravamento, conselho profissional; e
com tecnologia apropriada, por equipe multiprofissional capacitada f)a assinatura do profissional e a data;
e com condições adequadas de atendimento; I- o recebimento dos medicamentos, quando prescritos, que
II- disponibilidade contínua e acesso a bens e serviços de imu- compõem a farmácia básica e, nos casos de necessidade de me-
nização conforme calendário e especificidades regionais; dicamentos de alto custo, deve ser garantido o acesso conforme
II- espaços de diálogo entre usuários e profissionais da saúde, protocolos e normas do Ministério da Saúde;
gestores e defensoria pública sobre diferentes formas de tratamen- II- a garantia do acesso à continuidade da atenção no domicílio,
tos possíveis. quando pertinente, com estímulo e orientação ao autocuidado que
III- informações sobre o seu estado de saúde, de forma objeti- fortaleça sua autonomia e a garantia de acompanhamento em qual-
va, respeitosa, compreensível, e em linguagem adequada a atender quer serviço que for necessário, extensivo à rede de apoio;
a necessidade da usuária e do usuário, quanto a: III- o encaminhamento para outros serviços de saúde deve ser
a)possíveis diagnósticos; por meio de um documento que contenha:
b)diagnósticos confirmados; a)caligrafia legível ou datilografada ou digitada ou por meio
c)resultados dos exames realizados; eletrônico;
d)tipos de exames solicitados, as justificativas e riscos; b)resumo da história clínica, possíveis diagnósticos, tratamento
e)objetivos, riscos e benefícios de procedimentos diagnósticos, realizado, evolução e o motivo do encaminhamento;
cirúrgicos, preventivos ou de tratamento; c)linguagem clara evitando códigos ou abreviaturas;
f)duração prevista do tratamento proposto; d)nome legível do profissional e seu número de registro no
g)quanto a procedimentos diagnósticos e tratamentos invasi- conselho profissional, assinado e datado; e
vos ou cirúrgicos; e)identificação da unidade de saúde que recebeu a pessoa, as-
h)a necessidade ou não de anestesia e seu tipo e duração; sim como da Unidade a que está sendo encaminhada.
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81
Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

Terceira diretriz: toda pessoa tem direito ao atendimento inclu- consultas e exames;
sivo, humanizado e acolhedor, realizado por profissionais qualifica- III - o direito a acompanhante, nos casos de internação, nas si-
dos, em ambiente limpo, confortável e acessível. tuações previstas em lei, assim como naqueles em que a autonomia
§1º Nos serviços de saúde haverá igual visibilidade aos direi- da pessoa estiver comprometida, com oferta de orientação especí-
tos e deveres das pessoas usuárias e das pessoas que trabalham no fica e adequada para os acompanhantes;
serviço de saúde. IV - o direito a visita diária não inferior a duas horas, preferen-
§2º A Rede de Serviços do SUS utilizará as tecnologias disponí- cialmente, abertas em todas as unidades de internação, ressalvadas
veis para facilitar o agendamento de procedimentos nos serviços de as situações técnicas não indicadas;
saúde em todos os níveis de complexidade. V - a continuidade das atividades escolares, bem como o es-
§3º Os serviços de saúde serão organizados segundo a deman- tímulo à recreação, em casos de internação de criança ou adoles-
da da população, e não limitados por produção ou quantidades de cente;
atendimento pré-determinados. VI - a informação a respeito de diferentes possibilidades tera-
§4º A utilização de tecnologias e procedimentos nos serviços pêuticas de acordo com sua condição clínica, baseado em evidên-
deverá proporcionar celeridade na realização de exames e diagnós- cias e a relação custo-benefício da escolha de tratamentos, com
ticos e na disponibilização dos resultados. direito à recusa, atestado pelo usuário ou acompanhante;
§5º Haverá regulamentação do tempo de espera em filas de VII - a escolha do local de morte;
procedimentos. VIII - o direito à escolha de tratamento, quando houver, inclusi-
§6º A lista de espera de média e alta complexidade deve consi- ve as práticas integrativas e complementares de saúde, e à conside-
derar a agilidade e transparência. ração da recusa de tratamento proposto;
§7º As medidas para garantir o atendimento incluem o cum- IX - o recebimento de visita, quando internado, de outros pro-
primento da carga horária de trabalho dos profissionais de saúde. fissionais de saúde que não pertençam àquela unidade hospitalar
§8º Nas situações em que ocorrer a interrupção temporária da sendo facultado a esse profissional o acesso ao prontuário;
oferta de procedimentos como consultas e exames, os serviços de- X - a opção de marcação de atendimento pessoalmente, por
vem providenciar a remarcação destes procedimentos e comunicar telefone e outros meios tecnológicos disponíveis e acessíveis;
aos usuários. XI - o recebimento de visita de religiosos de qualquer credo,
§9º As redes de serviço do SUS deverão se organizar e pactuar sem que isso acarrete mudança da rotina de tratamento e do es-
no território a oferta de plantão de atendimento 24 horas, inclusive tabelecimento e ameaça à segurança ou perturbações a si ou aos
nos finais de semana. outros;
§10 Cada serviço deverá adotar medidas de manutenção per- XII - a não-limitação de acesso aos serviços de saúde por barrei-
manente dos equipamentos, bens e serviços para prevenir interrup- ras físicas, tecnológicas e de comunicação;
ções no atendimento. XIII - a espera por atendimento em lugares protegidos, limpos
§11 É direito da pessoa, na rede de serviços de saúde, ter aten- e ventilados, tendo a sua disposição água potável e sanitários, e
dimento humanizado, acolhedor, livre de qualquer discriminação, devendo os serviços de saúde se organizarem de tal forma que seja
restrição ou negação em virtude de idade, raça, cor, etnia, religião, evitada a demora nas filas;
orientação sexual, identidade de gênero, condições econômicas ou XIV - soluções para que não haja acomodação de usuários em
sociais, estado de saúde, de anomalia, patologia ou deficiência, ga- condições e locais inadequados.
rantindo-lhe: Quarta diretriz: toda pessoa deve ter seus valores, cultura e di-
I- identificação pelo nome e sobrenome civil, devendo existir reitos respeitados na relação com os serviços de saúde.
em todo documento do usuário e usuária um campo para se regis- Parágrafo único: os direitos do caput serão garantidos por meio
trar o nome social, independente do registro civil, sendo assegura- de:
do o uso do nome de preferência, não podendo ser identificado por I- escolha do tipo de plano de saúde que melhor lhe convier,
número, nome ou código da doença ou outras formas desrespeito- de acordo com as exigências mínimas constantes da legislação e a
sas ou preconceituosas; informação pela operadora sobre a cobertura, custos e condições
II- a identificação dos profissionais, por crachás visíveis, legíveis do plano que está adquirindo;
e por outras formas de identificação de fácil percepção; II- sigilo e a confidencialidade de todas as informações pesso-
III- nas consultas, nos procedimentos diagnósticos, preventi- ais, mesmo após a morte, salvo nos casos de risco à saúde pública;
vos, cirúrgicos, terapêuticos e internações, o seguinte: III- acesso da pessoa ao conteúdo do seu prontuário ou de pes-
a) integridade física; soa por ele autorizada e a garantia de envio e fornecimento de có-
b) a privacidade e ao conforto; pia, em caso de encaminhamento a outro serviço ou mudança de
c) a individualidade; domicílio;
d) aos seus valores éticos, culturais, religiosos e espirituais; IV- obtenção de laudo, relatório e atestado sempre que justifi-
e) a confidencialidade de toda e qualquer informação pessoal; cado por sua situação de saúde;
f) a segurança do procedimento; V- consentimento livre, voluntário e esclarecido, a quaisquer
g) o bem-estar psíquico e emocional; procedimentos diagnósticos, preventivos ou terapêuticos, salvo nos
h) a confirmação do usuário sobre a compreensão das ques- casos que acarretem risco à saúde pública, considerando que o con-
tões relacionadas com o seu atendimento e possíveis encaminha- sentimento anteriormente dado poderá ser revogado a qualquer
mentos. instante, por decisão livre e esclarecida, sem que sejam imputadas
I - o atendimento agendado nos serviços de saúde, preferen- à pessoa sanções morais, financeiras ou legais;
cialmente com hora marcada; VI- pleno conhecimento de todo e qualquer exame de saúde
II - o direito a acompanhante, pessoa de sua livre escolha, nas admissional, periódico, de retorno ao trabalho, de mudança de fun-
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Contéudo

ção, ou demissional realizado e seus resultados; sentá-los aos profissionais dos serviços de saúde;
VII- a indicação de sua livre escolha, a quem confiará a tomada IX- ter em mão seus documentos e, quando solicitados, os re-
de decisões para a eventualidade de tornar-se incapaz de exercer sultados de exames que estejam em seu poder;
sua autonomia; X- cumprir as normas dos serviços de saúde que devem res-
VIII- o recebimento ou a recusa à assistência religiosa, espiritu- guardar todos os princípios desta Resolução;
al, psicológica e social; XI- adotar medidas preventivas para situações de sua vida coti-
IX- a liberdade, em qualquer fase do tratamento, de procurar diana que coloquem em risco a sua saúde e da comunidade;
segunda opinião ou parecer de outro profissional ou serviço sobre XII- comunicar aos serviços de saúde, às ouvidorias ou à vigi-
seu estado de saúde ou sobre procedimentos recomendados; lância sanitária irregularidades relacionadas ao uso e à oferta de
X- a não-participação em pesquisa que envolva ou não trata- produtos e serviços que afetem a saúde em ambientes públicos e
mento experimental sem que tenha garantias claras da sua liber- privados;
dade de escolha e, no caso de recusa em participar ou continuar XIII- desenvolver hábitos, práticas e atividades que melhorem a
na pesquisa, não poderá sofrer constrangimentos, punições ou san- sua saúde e qualidade de vida;
ções pelos serviços de saúde, sendo necessário, para isso: XIV- comunicar à autoridade sanitária local a ocorrência de
a)que o dirigente do serviço cuide dos aspectos éticos da pes- caso de doença transmissível, quando a situação requerer o isola-
quisa e estabeleça mecanismos para garantir a decisão livre e escla- mento ou quarentena da pessoa ou quando a doença constar da
recida da pessoa; relação do Ministério da Saúde; e
b)que o pesquisador garanta, acompanhe e mantenha a inte- XV- não dificultar a aplicação de medidas sanitárias, bem como
gridade da saúde dos participantes de sua pesquisa, assegurando- as ações de fiscalização sanitária.
-lhes os benefícios dos resultados encontrados; e Sexta diretriz: toda pessoa tem direito à informação sobre os
c)que a pessoa assine o termo de consentimento livre e escla- serviços de saúde e aos diversos mecanismos de participação.
recido; §1º A educação permanente em saúde e a educação perma-
XI- o direito de se expressar e ser ouvido nas suas queixas, de- nente para o controle social devem estar incluídas em todas as ins-
núncias, necessidades, sugestões e outras manifestações por meio tâncias do SUS, e envolver a comunidade.
das ouvidorias, urnas e qualquer outro mecanismo existente, sendo §2º As unidades básicas de saúde devem constituir conselhos
sempre respeitado na privacidade, no sigilo e na confidencialidade; locais de saúde com participação da comunidade.
e §3º As ouvidorias, Ministério Público, audiências públicas e ou-
XII- a participação nos processos de indicação e eleição de seus tras formas institucionais de exercício da democracia garantidas em
representantes nas Conferências, nos Conselhos de Saúde e nos lei, são espaços de participação cidadã.
Conselhos Gestores da Rede SUS. §4º As instâncias de controle social e o poder público devem
Quinta diretriz: toda pessoa tem responsabilidade e direitos promover a comunicação dos aspectos positivos do SUS.
para que seu tratamento e recuperação sejam adequados e sem §5º Devem ser estabelecidos espaços para as pessoas usuárias
interrupção. manifestarem suas posições favoráveis ao SUS e promovidas estra-
Parágrafo único. Para que seja cumprido o disposto no caput tégias para defender o SUS como patrimônio do povo brasileiro.
deste artigo, as pessoas deverão: §6º O direito previsto no caput deste artigo, inclui a informa-
I- prestar informações apropriadas nos atendimentos, nas con- ção, com linguagem e meios de comunicação adequados sobre:
sultas e nas internações sobre: I- o direito à saúde, o funcionamento dos serviços de saúde e
a)queixas; o SUS;
b)enfermidades e hospitalizações anteriores; II- os mecanismos de participação da sociedade na formulação,
c)história de uso de medicamentos, drogas, reações alérgicas, acompanhamento e fiscalização das políticas e da gestão do SUS;
exames anteriores; III- as ações de vigilância à saúde coletiva compreendendo a
d)demais informações sobre seu estado de saúde. vigilância sanitária, epidemiológica e ambiental; e
II- expressar se compreendeu as informações e orientações re- IV- a interferência das relações e das condições sociais, econô-
cebidas e, caso ainda tenha dúvidas, solicitar esclarecimento sobre micas, culturais, e ambientais na situação da saúde das pessoas e
elas; da coletividade.
III- seguir o plano de tratamento proposto pelo profissional ou §7º Os órgãos de saúde deverão informar as pessoas sobre a
pela equipe de saúde responsável pelo seu cuidado, que deve ser rede SUS mediante os diversos meios de comunicação, bem como
compreendido e aceito pela pessoa que também é responsável pelo nos serviços de saúde que compõem essa rede de participação po-
seu tratamento; pular, em relação a:
IV- informar ao profissional de saúde ou à equipe responsável I- endereços;
sobre qualquer fato que ocorra em relação a sua condição de saúde; II- telefones;
V- assumir a responsabilidade formal pela recusa a procedi- III- horários de funcionamento; e
mentos, exames ou tratamentos recomendados e pelo descumpri- IV- ações e procedimentos disponíveis.
mento das orientações do profissional ou da equipe de saúde; §8º Em cada serviço de saúde deverá constar, em local visível e
VI- contribuir para o bem-estar de todas e todos nos serviços acessível à população:
de saúde, evitar ruídos, uso de fumo e derivados do tabaco e bebi- I- nome do responsável pelo serviço;
das alcoólicas, colaborar com a segurança e a limpeza do ambiente; II- nomes dos profissionais;
VII- adotar comportamento respeitoso e cordial com as demais III- horário de trabalho de cada membro da equipe, inclusive do
pessoas que usam ou que trabalham no estabelecimento de saúde; responsável pelo serviço e;
VIII- realizar exames solicitados, buscar os resultados e apre- IV- ações e procedimentos disponíveis.
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83
Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

§9º As informações prestadas à população devem ser claras,


para propiciar a compreensão por toda e qualquer pessoa. RDC Nº 36, DE 25 DE JULHO DE 2013 QUE INSTITUI AÇÕES
§10. Os Conselhos de Saúde deverão informar à população so- PARA A SEGURANÇA DO PACIENTE EM SERVIÇOS DE SAÚ-
bre: DE E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS
I- formas de participação;
II- composição do Conselho de Saúde;
III- regimento interno dos Conselhos; RESOLUÇÃO - RDC Nº 36, DE 25 DE JULHO DE 2013
IV- Conferências de Saúde;
V- data, local e pauta das reuniões; e Institui ações para a segurança do paciente em serviços de saú-
VI- deliberações e ações desencadeadas. de e dá outras providências.
§11. O direito previsto no caput desse artigo inclui a participa-
ção de Conselhos e Conferências de Saúde, o direito de representar A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sani-
e ser representado em todos os mecanismos de participação e de tária, no uso das atribuições que lhe conferem os incisos III e IV, do
controle social do SUS. art. 15 da Lei n.º 9.782, de 26 de janeiro de 1999, o inciso II, e §§
Sétima diretriz: toda pessoa tem direito a participar dos Conse- 1° e 3° do art. 54 do Regimento Interno aprovado nos termos do
lhos e Conferências de Saúde e de exigir que os gestores cumpram Anexo I da Portaria nº 354 da ANVISA, de 11 de agosto de 2006,
os princípios anteriores. republicada no DOU de 21 de agosto de 2006, e suas atualizações,
§1º As Conferências Municipais de Saúde são espaços de ampla tendo em vista o disposto nos incisos III, do art. 2º, III e IV, do art.
e aberta participação da comunidade, complementadas por Confe- 7º da Lei n.º 9.782, de 1999, e o Programa de Melhoria do Processo
rências Livres, distritais e locais, além das de plenárias de segmen- de Regulamentação da Agência, instituído por meio da Portaria nº
tos. 422, de 16 de abril de 2008, em reunião realizada em 23 de julho
§2º Respeitada a organização da democracia brasileira, toda de 2013, adota a seguinte Resolução da Diretoria Colegiada e eu,
pessoa tem direito a acompanhar dos espaços de controle social, Diretor-Presidente , determino a sua publicação:
como forma de participação cidadã, observando o Regimento Inter-
no de cada instância. CAPÍTULO I
§3º Os gestores do SUS, das três esferas de governo, para ob- DAS DISPOSIÇÕES INICIAIS
servância dessas diretrizes, comprometem-se a:
I- promover o respeito e o cumprimento desses direitos e de- SEÇÃO I
veres, com a adoção de medidas progressivas, para sua efetivação; OBJETIVO
II- adotar as providências necessárias para subsidiar a divulga-
ção desta Resolução, inserindo em suas ações as diretrizes relativas Art. 1º Esta Resolução tem por objetivo instituir ações para a
aos direitos e deveres das pessoas; promoção da segurança do paciente e a melhoria da qualidade nos
III- incentivar e implementar formas de participação dos traba- serviços de saúde.
lhadores e usuários nas instâncias e participação de controle social
do SUS; SEÇÃO II
IV- promover atualizações necessárias nos regimentos e estatu- ABRANGÊNCIA
tos dos serviços de saúde, adequando-os a esta Resolução;
V- adotar estratégias para o cumprimento efetivo da legislação Art. 2º Esta Resolução se aplica aos serviços de saúde, sejam
e das normatizações do SUS; eles públicos, privados, filantrópicos, civis ou militares, incluindo
VI- promover melhorias contínuas, na rede SUS, como a infor- aqueles que exercem ações de ensino e pesquisa.
matização para implantar o Cartão SUS e o Prontuário Eletrônico Parágrafo único. Excluem-se do escopo desta Resolução os con-
com os objetivos de: sultórios individualizados, laboratórios clínicos e os serviços móveis
a)otimizar o financiamento; e de atenção domiciliar.
b)qualificar o atendimento aos serviços de saúde;
c)melhorar as condições de trabalho; SEÇÃO III
d)reduzir filas; e DEFINIÇÕES
e)ampliar e facilitar o acesso nos diferentes serviços de saúde.
Oitava diretriz: Os direitos e deveres dispostos nesta Resolução Art. 3º Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes
constituem a Carta dos Direitos Usuária da Saúde. definições:
Parágrafo único. A Carta dos Direitos e Deveres da Pessoa Usu- I - boas práticas de funcionamento do serviço de saúde: com-
ária da Saúde será disponibilizada nos serviços do SUS e conselhos ponentes da garantia da qualidade que asseguram que os serviços
de saúde por meios acessíveis e na internet, em http://www.conse- são ofertados com padrões de qualidade adequados;
lho.saude.gov.br. II - cultura da segurança: conjunto de valores, atitudes, compe-
tências e comportamentos que determinam o comprometimento
Publicada no DOU em 15/01/2018 – Ed. 10, Seção 1, Pag. 41-44 com a gestão da saúde e da segurança, substituindo a culpa e a
punição pela oportunidade de aprender com as falhas e melhorar
a atenção à saúde;
III - dano: comprometimento da estrutura ou função do corpo
e/ou qualquer efeito dele oriundo, incluindo doenças, lesão, sofri-
mento, morte, incapacidade ou disfunção, podendo, assim, ser físi-

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Contéudo

co, social ou psicológico; risco;


IV - evento adverso: incidente que resulta em dano à saúde; IV - A garantia das boas práticas de funcionamento do serviço
V - garantia da qualidade: totalidade das ações sistemáticas ne- de saúde.
cessárias para garantir que os serviços prestados estejam dentro Art.7º Compete ao NSP:
dos padrões de qualidade exigidos para os fins a que se propõem; I - promover ações para a gestão de risco no serviço de saúde;
VI - gestão de risco: aplicação sistêmica e contínua de políticas, II - desenvolver ações para a integração e a articulação multi-
procedimentos, condutas e recursos na identificação, análise, ava- profissional no serviço de saúde;
liação, comunicação e controle de riscos e eventos adversos que III - promover mecanismos para identificar e avaliar a existência
afetam a segurança, a saúde humana, a integridade profissional, o de não conformidades nos processos e procedimentos realizados e
meio ambiente e a imagem institucional; na utilização de equipamentos, medicamentos e insumos propondo
VII - incidente: evento ou circunstância que poderia ter resulta- ações preventivas e corretivas;
do, ou resultou, em dano desnecessário à saúde; IV - elaborar, implantar, divulgar e manter atualizado o Plano de
VIII - núcleo de segurança do paciente (NSP): instância do ser- Segurança do Paciente em Serviços de Saúde;
viço de saúde criada para promover e apoiar a implementação de V - acompanhar as ações vinculadas ao Plano de Segurança do
ações voltadas à segurança do paciente; Paciente em Serviços de Saúde;
IX - plano de segurança do paciente em serviços de saúde: do- VI - implantar os Protocolos de Segurança do Paciente e realizar
cumento que aponta situações de risco e descreve as estratégias e o monitoramento dos seus indicadores;
ações definidas pelo serviço de saúde para a gestão de risco visando VII - estabelecer barreiras para a prevenção de incidentes nos
a prevenção e a mitigação dos incidentes, desde a admissão até a serviços de saúde;
transferência, a alta ou o óbito do paciente no serviço de saúde; VIII - desenvolver, implantar e acompanhar programas de ca-
X - segurança do paciente: redução, a um mínimo aceitável, do pacitação em segurança do paciente e qualidade em serviços de
risco de dano desnecessário associado à atenção à saúde; saúde;
XI - serviço de saúde: estabelecimento destinado ao desenvol- IX - analisar e avaliar os dados sobre incidentes e eventos ad-
vimento de ações relacionadas à promoção, proteção, manutenção versos decorrentes da prestação do serviço de saúde;
e recuperação da saúde, qualquer que seja o seu nível de complexi- X - compartilhar e divulgar à direção e aos profissionais do ser-
dade, em regime de internação ou não, incluindo a atenção realiza- viço de saúde os resultados da análise e avaliação dos dados sobre
da em consultórios, domicílios e unidades móveis; incidentes e eventos adversos decorrentes da prestação do serviço
XII - tecnologias em saúde: conjunto de equipamentos, medi- de saúde;
camentos, insumos e procedimentos utilizados na atenção à saúde, XI - notificar ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária os
bem como os processos de trabalho, a infraestrutura e a organiza- eventos adversos decorrentes da prestação do serviço de saúde;
ção do serviço de saúde. XII- manter sob sua guarda e disponibilizar à autoridade sanitá-
ria, quando requisitado, as notificações de eventos adversos;
CAPÍTULO II XIII - acompanhar os alertas sanitários e outras comunicações
DAS CONDIÇÕES ORGANIZACIONAIS de risco divulgadas pelas autoridades sanitárias.

SEÇÃO I SEÇÃO II
DA CRIAÇÃO DO NÚCLEO DE SEGURANÇA DO PACIENTE DO PLANO DE SEGURANÇA DO PACIENTE EM SERVIÇOS DE
SAÚDE
Art. 4º A direção do serviço de saúde deve constituir o Núcleo
de Segurança do Paciente (NSP) e nomear a sua composição, con- Art. 8º O Plano de Segurança do Paciente em Serviços de Saúde
ferindo aos membros autoridade, responsabilidade e poder para (PSP), elaborado pelo NSP, deve estabelecer estratégias e ações de
executar as ações do Plano de Segurança do Paciente em Serviços gestão de risco, conforme as atividades desenvolvidas pelo serviço
de Saúde. de saúde para:
§ 1º A direção do serviço de saúde pode utilizar a estrutura de I - identificação, análise, avaliação, monitoramento e comuni-
comitês, comissões, gerências, coordenações ou núcleos já existen- cação dos riscos no serviço de saúde, de forma sistemática;
tes para o desempenho das atribuições do NSP. II - integrar os diferentes processos de gestão de risco desen-
§ 2º No caso de serviços públicos ambulatoriais pode ser cons- volvidos nos serviços de saúde;
tituído um NSP para cada serviço de saúde ou um NSP para o con- III - implementação de protocolos estabelecidos pelo Ministé-
junto desses, conforme decisão do gestor local do SUS. rio da Saude;
Art. 5º Para o funcionamento sistemático e contínuo do NSP a IV - identificação do paciente;
direção do serviço de saúde deve disponibilizar: V - higiene das mãos;
I - recursos humanos, financeiros, equipamentos, insumos e VI - segurança cirúrgica;
materiais; VII - segurança na prescrição, uso e administração de medica-
II - um profissional responsável pelo NSP com participação nas mentos;
instâncias deliberativas do serviço de saúde. VIII - segurança na prescrição, uso e administração de sangue e
Art. 6º O NSP deve adotar os seguintes princípios e diretrizes: hemocomponentes;
I - A melhoria contínua dos processos de cuidado e do uso de IX - segurança no uso de equipamentos e materiais;
tecnologias da saúde; X - manter registro adequado do uso de órteses e próteses
II - A disseminação sistemática da cultura de segurança; quando este procedimento for realizado;
III - A articulação e a integração dos processos de gestão de XI - prevenção de quedas dos pacientes;
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Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

XII - prevenção de úlceras por pressão; De forma integrada aos demais pontos de atenção da Rede de
XIII - prevenção e controle de eventos adversos em serviços de Atenção à Saúde (RAS) e com outras políticas intersetoriais, a Assis-
saúde, incluindo as infecções relacionadas à assistência à saúde; tência tem como objetivo garantir resolutividade da atenção e con-
XIV- segurança nas terapias nutricionais enteral e parenteral; tinuidade do cuidado, assegurando a equidade e a transparência,
XV - comunicação efetiva entre profissionais do serviço de saú- sempre de forma pactuada com os Colegiados do SUS. A Política
de e entre serviços de saúde; Nacional de Atenção Hospitalar resultou da necessidade de reorga-
XVI - estimular a participação do paciente e dos familiares na nizar e qualificar a atenção hospitalar no âmbito do SUS.
assistência prestada. A Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP) no âm-
XVII - promoção do ambiente seguro bito do SUS está instituída na Portaria de Consolidação nº 2, de
28/07/2017, que instituiu a Consolidação das normas sobre as po-
CAPÍTULO III líticas nacionais de saúde do Sistema Único de Saúde, Capítulo II
DA VIGILÂNCIA, DO MONITORAMENTO E DA NOTIFICAÇÃO - Das Políticas de Organização da Atenção à Saúde, Seção I - Das
DE EVENTOS ADVERSOS Políticas Gerais de Organização da Atenção à Saúde, Art. 6º - inciso
IV, Anexo XXIV, estabelecendo as diretrizes para a organização do
Art. 9º O monitoramento dos incidentes e eventos adversos componente hospitalar da Rede de Atenção à Saúde (RAS).
será realizado pelo Núcleo de Segurança do Paciente - NSP. A PNHOSP, em seu art. 6º, inciso IV, define e recomenda a cria-
Art. 10 A notificação dos eventos adversos, para fins desta Re- ção do Núcleo Interno de Regulação (NIR) nos hospitais, de forma
solução, deve ser realizada mensalmente pelo NSP, até o 15º (déci- a realizar a interface com as Centrais de Regulação, delinear o perfil
mo quinto) dia útil do mês subsequente ao mês de vigilância, por de complexidade da assistência no âmbito do SUS, bem como per-
meio das ferramentas eletrônicas disponibilizadas pela Anvisa. mitir o acesso de forma organizada e por meio do estabelecimen-
Parágrafo único - Os eventos adversos que evoluírem para óbi- to de critérios de gravidade e disponibilizar o acesso ambulatorial,
to devem ser notificados em até 72 (setenta e duas) horas a partir hospitalar, de serviços de apoio diagnóstico e terapêutico, além de
do ocorrido. critérios pré-estabelecidos, como protocolos que deverão ser ins-
Art. 11 Compete à ANVISA, em articulação com o Sistema Na- tituídos em conjunto pelo NIR e a gestão da Regulação, além de
cional de Vigilância Sanitária: permitir a busca por vagas de internação e apoio diagnóstico/ te-
I - monitorar os dados sobre eventos adversos notificados pelos rapêutico fora do próprio estabelecimento para os pacientes que
serviços de saúde; requeiram serviços não disponíveis, sempre que necessário, confor-
II - divulgar relatório anual sobre eventos adversos com a análi- me pactuação na Rede de Atenção à Saúde (RAS).
se das notificações realizadas pelos serviços de saúde;
III - acompanhar, junto às vigilâncias sanitárias distrital, esta- NIR para regulação de leitos intra-hospitalares
dual e municipal as investigações sobre os eventos adversos que O NIR é uma unidade técnico-administrativa que realiza o mo-
evoluíram para óbito. nitoramento do paciente, a partir de seu ingresso no hospital, sua
movimentação interna e externa até a alta hospitalar. É uma estru-
CAPÍTULO IV tura ligada diretamente à direção geral do hospital e deve ser legiti-
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS mada, com papel e função definidos.
É oportuno apresentar um modelo que subsidie o gestor hospi-
Art. 12 Os serviços de saúde abrangidos por esta Resolução te- talar a implantar o (NIR) para apoio a realização da gestão de leitos
rão o prazo de 120 (cento e vinte) dias para a estruturação dos NSP e interface com a regulação de acesso por meio, da elaboração de
e elaboração do PSP e o prazo de 150 (cento e cinquenta) dias para diretrizes que norteiem os gestores na implantação e/ou imple-
iniciar a notificação mensal dos eventos adversos, contados a partir mentação do NIR e orientação para constituição da equipe do NIR.
da data da publicação desta Resolução. A implantação e/ou implementação do NIR deve ser entendida
Art. 13 O descumprimento das disposições contidas nesta Re- como projeto importante e permanente dentro do planejamento
solução constitui infração sanitária, nos termos da Lei n. 6.437, de estratégico das unidades hospitalares, tendo em vista que os hospi-
20 de agosto de 1977, sem prejuízo das responsabilidades civil, ad- tais são instituições complexas e com rotinas e culturas organizacio-
ministrativa e penal cabíveis. nais que necessitam ser aprimoradas para melhorar qualidade da
Art. 14 Esta Resolução entra em vigor na data de sua publica- assistência prestada aos usuários do SUS.
ção. O NIR possui as seguintes funções:
— Permite o conhecimento da necessidade de leitos, por espe-
cialidades e patologias;
POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO HOSPITALAR (PNHOSP) — Subsidia discussões tanto internas, como externas (na rede
de atenção à saúde), que permitam o planejamento da ampliação
e/ou readequação do perfil de leitos hospitalares ofertados;
Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP)3 — Otimiza a utilização dos leitos hospitalares, para redução
A assistência hospitalar no Sistema Único de Saúde (SUS) é or- da Taxa de Ocupação, Tempo Médio de Permanência, nos diversos
ganizada a partir das necessidades da população, a fim de garantir setores do hospital, além de ampliar o acesso aos leitos, tanto no
o atendimento aos usuários, com apoio de uma equipe multiprofis- âmbito intra-hospitalar, quanto para outros serviços disponibiliza-
sional, que atua no cuidado e na regulação do acesso, na qualidade dos pela RAS;
da assistência prestada e na segurança do paciente. — Promove o uso dinâmico dos leitos hospitalares, por meio
3 https://antigo.saude.gov.br/atencao-especializada-e-hospitalar/as- do aumento de rotatividade e monitoramento das atividades de
sistencia-hospitalar/politica-nacional-de-atencao-hospitalar-pnhosp gestão da clínica desempenhadas pelas equipes assistenciais;
220
220

86
Contéudo

— Permite e aprimora a interface entre a gestão interna hospi- profissionais da equipe de forma multiprofissional, a fim de pa-
talar e a regulação; dronizar a metodologia de investigação diagnóstica e das condutas
— Qualifica os fluxos de acesso aos serviços e as informações terapêuticas em todos os setores da unidade hospitalar, o que di-
no ambiente hospitalar; minui gastos desnecessários, evita a duplicação ou superposição de
— Otimiza os recursos existentes e aponta necessidades de in- exames, proporciona mais agilidade ao tratamento, previne a subs-
corporação de tecnologias no âmbito hospitalar; tituição precoce de drogas e diminui a ocorrência de complicações
— Promove a permanente articulação do conjunto das espe- evitáveis e iatrogenias nos pacientes.
cialidades clínicas e cirúrgicas, bem como das equipes multiprofis- Outro ponto crucial na diminuição da permanência refere-se
sionais garantindo a integralidade do cuidado, no âmbito intra-hos- à agilidade nas respostas aos exames subsidiários ao diagnóstico.
pitalar; Assim, pactuações com os serviços de apoio diagnóstico para a prio-
— Aprimora e apoia o processo integral do cuidado ao usuário rização e hierarquização dos exames da emergência, assim como da
dos serviços hospitalares visando o atendimento mais adequado às UTI, são fundamentais para esse processo.
suas necessidades; É muito importante a possibilidade de tornar os processos in-
— Apoia as equipes na definição de critérios para internação formatizados, por meio de prontuários eletrônicos e a disponibili-
e alta; zação, na rede interna, dos resultados de exames, o que garante
— Fornece subsídios às Coordenações Assistenciais para que agilidade e redução de custos.
façam o gerenciamento dos leitos, sinalizando contingências locais É necessário que a equipe do NIR assegure e tenha o papel de
que possam comprometer a assistência; intermediadora da boa comunicação, além de mediar conflitos e
— Estimula o Cuidado Horizontal dentro da instituição; diminuir riscos de ruídos entre os setores do hospital. A boa relação
— Subsidia a direção do hospital para a tomada de decisão in- entre os setores torna mais fácil e deixa mais clara a definição de
ternamente; critérios de acesso a estas áreas e diminui a disputa por recursos,
— Colabora tecnicamente, com dados de monitoramento na muitas vezes escassos.
proposição e atualização de protocolos de diretrizes clínicas e tera- No caso da gestão de leitos realizada pelo NIR em conjunto com
pêuticas e administrativos. as demais equipes da unidade hospitalar, a viabilização das ações
propostas para a diminuição das médias de permanência, aumen-
No geral, as estruturas hospitalares têm mantido, muito alto, o to da rotatividade e diminuição da superlotação, tanto no setor de
tempo médio de permanência em suas enfermarias, traduzindo-se Urgência e Emergência, quanto nos outros setores do hospital, pre-
em um excedente de usuários que fica represado nas emergências, cede da implementação de algumas “ferramentas tecnológicas”, do
causando também elevadas médias de permanência nesses locais, campo da gestão da clínica e que serão sugeridas no manual.
que por falta de estrutura ou mesmo por terem sua capacidade ins- Em face ao exposto, fica evidente que as atividades desenvol-
talada suplantada tem que ficar mal acomodados, ou em situações vidas pelo NIR favorecem a melhoria dos processos institucionais, a
de improviso e precariedade. racionalização dos recursos, de acordo com a capacidade instalada,
A melhora de indicadores, como a Média de Permanência, leva propicia o aumento da rotatividade dos leitos na unidade hospitalar
em conta a necessidade de adequação e/ou aprimoramento das com consequente ampliação do acesso, além de promover práticas
unidades de saúde em relação a todos os fatores apontados acima. assistenciais seguras, mediante a utilização de protocolos clínicos e
Mas como só está na governabilidade do hospital temas internos a instrumentos de boas práticas para elevar a qualidade do atendi-
instituição é necessário que seja feito uma reavaliação dos proces- mento prestado ao usuário.
sos da rede de atenção à saúde como um todo. Portanto, o NIR deve estar empoderado e legitimado de prefe-
Nessa perspectiva, é importante um olhar para dentro da rência como uma instância colegiada ligada diretamente à direção
instituição com vistas a diminuição das médias de permanência e do hospital.
adoção de processo de cuidado pautado na gestão da clínica e na
pactuação com as equipes do hospital e dos serviços de apoio, no
sentido de mobilizar e viabilizar os acordos internos. QUESTÕES
Um ponto muito relevante para a gestão de vagas é a necessi-
dade de compatibilização da demanda com os recursos disponíveis
no serviço, por meio da definição de perfil e identificação da cartei- 1. IBFC - 2022 - SES-DF - Médico - Clínica Médica
ra de serviços ofertada pela instituição.
Dentre as estratégias importantes estão a definição de um res- Relativamente ao tema da “Evolução histórica da organização
ponsável pela coordenação do Projeto Terapêutico tanto nos seto- do sistema de saúde no Brasil e a construção do Sistema Único de
res de emergência, como também em outros setores, uma vez que Saúde (SUS)”, assinale a alternativa incorreta.
uma unidade é reflexo da outra em sequência. (A) Até a criação do Sistema Único de Saúde – SUS, a atuação
Como já ocorre nas Unidades de Terapia Intensiva, onde a con- na área de assistência à saúde era prestada à parcela da popu-
dução do projeto terapêutico cabe ao intensivista, no ambiente da lação definida como “indigente” por alguns Municípios e Esta-
emergência também se propõe que seja dada, ao coordenador clí- dos e, principalmente, por instituições de caráter filantrópico
nico do setor, a função de coordenar esse processo, sendo o espe- (B) Com a crise de financiamento da Previdência a partir de
cialista incorporado à equipe terapêutica, mas sob a coordenação meados da década de 70, o INAMPS adota várias providên-
de um profissional emergencista ou clínico que trabalha em escala cias para racionalizar suas despesas e começa, na década de
horizontal acompanhando diariamente a situação dos usuários e 80, a “comprar” serviços do setor público (redes de unidades
apoiando as decisões de conduta de forma linear. das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde), inicialmente
Também é fundamental a pactuação de protocolos entre os através de convênios. A assistência à saúde prestada pela rede
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87
Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

pública, mesmo com o financiamento do INAMPS apenas para Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de
os seus beneficiários, preservava o seu caráter de universalida- cima para baixo.
de da clientela (A) F, V, V
(C) Até a criação do Sistema Único de Saúde - SUS, o Ministé- (B) V, F, V
rio da Saúde, apoiado por Estados e Municípios, desenvolveu (C) V, F, F
basicamente ações de promoção da saúde e de prevenção de (D) F, F, V
doenças, merecendo destaque as campanhas de vacinação e (E) V, V, V
controle de endemias
(D) Na década de 80, o INAMPS adota uma série de medidas 4. IBFC - 2022 - SES-DF - Médico - Clínica Médica
que o aproximam ainda mais de uma cobertura universal de
clientela, dentre as quais se destaca o início da exigência da Em conformidade com o disposto na Resolução n° 453 de 10 de
Carteira de Segurado do INAMPS para o atendimento nos hos- maio de 2012, a qual dispõe sobre os Conselhos de Saúde, assinale
pitais próprios e conveniados da rede pública a alternativa incorreta.
(E) A Constituição previu a competência concorrente dos entes (A) Na instituição e reformulação dos Conselhos de Saúde o Po-
federados para legislar sobre a “defesa da saúde” der Executivo, respeitando os princípios da democracia, deve
acolher as demandas da população aprovadas nas Conferên-
2. IBFC - 2020 - EBSERH - Técnico em Contabilidade cias de Saúde, e em consonância com a legislação
(B) Nos Municípios onde não existem entidades, instituições e
A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) representou um movimentos organizados em número suficiente para compor
marco importante para a saúde pública do Brasil, pois apresenta o Conselho, a eleição da representação deve ser realizada em
um arcabouço jurídico-institucional no campo das políticas públicas plenária no respectivo Estado, promovida pelo Conselho Esta-
de saúde. Sobre a evolução histórica do SUS, analise as afirmativas dual de maneira ampla e democrática
abaixo e dê valores Verdadeiro (V) ou Falso (F). (C) O processo bem-sucedido de descentralização da saúde
( ) O marco da reforma do sistema de saúde brasileiro foi a 8a promoveu o surgimento de Conselhos Regionais, Conselhos
Conferência Nacional de Saúde, que ocorreu em março de 1988 e Locais, Conselhos Distritais de Saúde, incluindo os Conselhos
teve como lema “Saúde, Direito de Todos, e Dever do Estado”. dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas, sob a coordenação
( ) Os princípios e diretrizes do SUS foram contemplados na Lei dos Conselhos de Saúde da esfera correspondente. Assim, os
Orgânica da Saúde, Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990. Conselhos de Saúde são espaços instituídos de participação da
( ) O SUS, portanto, não é composto somente por serviços comunidade nas políticas públicas e na administração da saúde
públicos; é integrado também por uma rede de serviços privados, (D) A participação da sociedade organizada, garantida na legis-
principalmente hospitais e unidades de diagnose e terapia, que são lação, torna os Conselhos de Saúde uma instância privilegiada
remunerados por meio dos recursos públicos destinados à saúde. na proposição, discussão, acompanhamento, deliberação, ava-
liação e fiscalização da implementação da Política de Saúde,
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de inclusive nos seus aspectos econômicos e financeiros
cima para baixo. (E) A representação nos segmentos deve ser distinta e autôno-
(A) F, V, V ma em relação aos demais segmentos que compõem o Con-
(B) V, F, V selho, por isso, um profissional com cargo de direção ou de
(C) V, F, F confiança na gestão do SUS, ou como prestador de serviços de
(D) F, F, V saúde não pode ser representante dos(as) Usuários(as) ou de
(E) V, V, V Trabalhadores(as)

3. IBFC - 2020 - EBSERH - Técnico em Contabilidade 5. IBFC - 2022 - SESACRE - Agente Administrativo

Após a publicação das Leis de n° 8.080/1990, e de n° Acerca das disposições da Resolução nº 453/2012 do Conselho
8.142/1990, a atuação da sociedade no sistema de saúde tomou Nacional de Saúde, analise as afirmativas abaixo e dê valores Verda-
outras dimensões, pois a partir daí, a participação social foi amplia- deiro (V) ou Falso (F).
da, democratizada e passou a ser qualificada pelo Controle Social. ( ) Como Subsistema da Seguridade Social, o Conselho de Saú-
Em relação ao Controle Social, analise as afirmativas abaixo e dê de atua na formulação e proposição de estratégias e no controle da
valores Verdadeiro (V) ou Falso (F). execução das Políticas de Saúde, inclusive nos seus aspectos econô-
( ) “A partir do controle social, a sociedade começou, efetiva- micos e financeiros.
mente, a participar da gestão do sistema de saúde.” ( ) Não há, nos Conselhos de Saúde, participação das entidades
( ) “A população, por meio dos Conselhos de Saúde, passou a representativas dos trabalhadores da área da saúde.
exercer o controle social.” ( ) As entidades, movimentos e instituições eleitas no Conse-
( ) “O controle social ocorre por meio da participação da popu- lho de Saúde terão os conselheiros indicados, por escrito, conforme
lação no planejamento das políticas públicas, fiscalizando as ações processos estabelecidos pelas respectivas entidades, movimentos e
do governo, verificando o cumprimento das leis relacionadas ao instituições e de acordo com a sua organização, com a recomenda-
SUS e analisando as aplicações financeiras realizadas pelo municí- ção de que ocorra renovação de seus representantes.
pio ou pelo estado no gerenciamento da saúde.”

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222

88
Contéudo

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de
cima para baixo. cima para baixo.
(A) V - V - V (A) V - V - V
(B) V - F - V (B) V - F - V
(C) F - F - V (C) F - F - V
(D) V - V - F (D) V - V - F

6. IBFC - 2022 - SESACRE - Agente Administrativo 9. IBFC - 2022 - DPE-MT - Analista - Assistente Social

As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regio- A Lei Federal nº 8.080/1990 regulamenta as ações e serviços
nalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, conforme de Saúde em todo o território nacional e em seu artigo 16º indica
dispõe a Constituição Federal de 1988. Acerca do assunto, assinale como competência da Direção Nacional do Sistema Único de Saúde:
a alternativa que não apresenta uma diretriz do sistema único. I. Colaborar com a União e os Estados na execução da vigilância
(A) Participação da comunidade sanitária de portos, aeroportos e fronteiras.
(B) Atendimento integral, com prioridade para as atividades II. Promover a descentralização para os Municípios dos serviços
preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais e das ações de saúde.
(C) Descentralização, com direção única em cada esfera de go- III. Participar da definição de normas, critérios e padrões para o
verno controle das condições e dos ambientes de trabalho e coordenar a
(D) Equidade na forma de participação no custeio política de saúde do trabalhador.
IV. Formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação e nutri-
7. IBFC - 2023 - Prefeitura de Cuiabá - MT - Psicólogo ção.

Sobre o atendimento e a internação domiciliar, assinale a al- Estão corretas as afirmativas:


ternativa incorreta em relação ao que é proposto pela Lei 8.080 de (A) I e III apenas
1990, no Sistema Único de Saúde brasileiro. (B) II e III apenas
(A) Na modalidade de assistência de atendimento domiciliar (C) III e IV apenas
incluem-se, principalmente, os procedimentos médicos, de en- (D) I e II apenas
fermagem, fisioterapêuticos, psicológicos e de assistência so-
cial, entre outros necessários ao cuidado integral dos pacientes 10. IBFC - 2019 - Prefeitura de Cabo de Santo Agostinho - PE -
em seu domicílio Enfermeiro Diarista e Plantonista
(B) A internação domiciliar deve ser realizada por equipes mul-
tidisciplinares que atuarão nos níveis da medicina tanto pre- De acordo com a Lei nº 8142/1990, o Sistema Único de Saúde
ventiva, quanto terapêutica e reabilitadora (SUS) de que trata a Lei nº 8080/1990, contará, em cada esfera de
(C) Tanto o atendimento quanto a internação domiciliar só po- governo, sem prejuízo das funções do Poder Legislativo, com as se-
derá ser realizada por indicação médica, com expressa concor- guintes instâncias colegiadas: _____ e _____.
dância do paciente e de sua família Assinale a alternativa que preencha correta e respectivamente
(D) A modalidade de assistência de atendimento domiciliar é as lacunas.
preconizada pelo Sistema Único de Saúde, e a modalidade de (A) Estado / Município
assistência de internação domiciliar não é preconizada por esse (B) Conferência de Saúde / Conselho de Saúde
Sistema de Saúde (C) Ouvidoria / Assistência Social
(D) Educação / Município
8. IBFC - 2023 - Prefeitura de Cuiabá - MT - Agente de Saúde /
Agente de Call Center 11. IBFC - 2020 - EBSERH - Assistente Administrativo

Acerca das disposições da Lei nº 8080/1990, conhecida como Os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) abordam, de forma
Lei Orgânica da Saúde, analise as afirmativas a seguir e dê valores geral, as condições de vida e condições de trabalho dos indivíduos
Verdadeiro (V) ou Falso (F). que de alguma forma condicionam sua saúde. Com base na Comis-
( ) A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo são Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), as-
o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. sinale a alternativa correta.
( ) O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formula- (A) Fatores psicológicos não fazem parte dos DSS
ção e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redu- (B) Fatores comportamentais não fazem parte dos DSS
ção de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento (C) Fatores étnico/raciais não fazem parte dos DSS
de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações (D) Fatores culturais e Sociais não fazem parte dos DSS
e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. (E) Fatores ambientais, como poluição do ar, da terra e dos ali-
( ) O dever do Estado exclui o das pessoas, da família, das em- mentos, não fazem parte dos DSS
presas e da sociedade.

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89
Contéudo

LEGISLAÇÃO - SUS

12. IBFC - 2019 - Prefeitura de Cabo de Santo Agostinho - PE - (C) A direção do serviço de saúde deve constituir o Núcleo de
Enfermeiro Diarista e Plantonista Segurança do Paciente (NSP) e nomear a sua composição, con-
ferindo aos membros autoridade, responsabilidade e poder
Os Sistemas de Informação em Saúde são sistemas que instru- para executar as ações do Plano de Segurança do Paciente em
mentalizam e apoiam a gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), Serviços de Saúde
em todas as esferas, nos processos de planejamento, programação, (D) Por segurança do paciente, deve-se compreender a maximi-
regulação, controle, avaliação e auditoria. Diante disto, analise as zação a um máximo aceitável, do risco de dano desnecessário
afirmativas abaixo e dê valores Verdadeiro (V) ou Falso (F). associado à atenção à saúde
( ) O sistema CNES significa Cadastro Nacional de Estabeleci-
mentos de Saúde. 15. IBFC - 2023 - Prefeitura de Cuiabá - MT - Desenvolvimento
( ) O sistema SIA significa Sistema de Informações Ambulato- de Recursos Humanos na Saúde
riais do SUS.
( ) O sistema SIGTAP é um sistema de tabulação apenas para a De acordo com Santos et al. (2020), os marcos históricos de-
tabela da Associação Médica Brasileira (AMB). terminantes para a política de atenção hospitalar foram o Plano da
( ) O sistema SISMAC é um sistema de controle financeiro de Reforma da Atenção Hospitalar Brasileira e a Política Nacional de
todas as complexidades de ações e serviços ambulatoriais. Atenção Hospitalar - PNHOSP, pois determinaram o período entre
2003 e 2013 como oportuno para a reestruturação deste nível de
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de atenção no Sistema Único de Saúde - SUS. Sobre as formas de ges-
cima para baixo. tão de saúde no SUS, conforme os autores, assinale a alternativa
(A) F, V, V, F incorreta.
(B) V, V, F, F (A) O SUS, no tocante à atenção hospitalar, tem como poten-
(C) V, F, F, V cialidade um modelo que foge dos padrões hospitalocêntricos
(D) F, F, V, V e tem tido avanços significativos na implementação da concep-
ção sistêmica e participativa em sua forma de gestão
13. IBFC - 2022 - SES-DF - Médico - Clínica Médica (B) Hoje, a forma de gestão SUS, aponta nova institucionalida-
de jurídica da atenção hospitalar no SUS e mostra o quanto é
Em atenção ao disposto na Resolução-RDC nº 63 de 2011, a centrada no gestor estadual, pactuada com os níveis federal e
qual dispõe sobre os Requisitos de Boas Práticas de Funcionamento municipal/regional e contratualizada com modelos alternativos
para os Serviços de Saúde, assinale a alternativa incorreta. de gestão indireta
(A) O serviço de saúde deve possuir mecanismos que garantam (C) O período iniciado em 2003, teve como principais desafios
a continuidade da atenção ao paciente quando houver neces- relacionados com a categoria Política de Saúde, a influência das
sidade de remoção ou para realização de exames que não exis- ideias ancoradas no projeto neoliberal e a regionalização
tam no próprio serviço (D) Para concretizar proposta de atenção hospitalar em confor-
(B) As Boas Práticas de Funcionamento (BPF) são os componen- midade com as Redes de Atenção à Saúde - RAS, dever-se-ia
tes da Garantia da Qualidade que asseguram que os serviços enfrentar os desafios da fragmentação sistêmica, complexa go-
são ofertados com padrões de qualidade adequados vernança regional, problemas de acesso aos serviços de média
(C) O serviço de saúde deve utilizar a Garantia da Qualidade complexidade e da necessidade de articulação política
como ferramenta de gerenciamento
(D) A licença de funcionamento dos serviços e atividades ter-
ceirizados deve conter informação sobre a sua habilitação para GABARITO
atender serviços de saúde, quando couber
(E) O serviço de saúde deve garantir mecanismos para o contro-
1 D 13 E
le de acesso dos trabalhadores e pacientes, vedado tal registro
para acompanhantes e visitantes 2 A 14 D
3 E 15 A
14. IBFC - 2022 - Prefeitura de Contagem - MG - Advogado
4 B
Em conformidade com as disposições da Resolução - RDC Nº
36, que institui ações para a segurança do paciente em serviços de 5 B
saúde, assinale a alternativa incorreta. 6 D
(A) Compete ao Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) acom-
7 D
panhar as ações vinculadas ao Plano de Segurança do Paciente
em Serviços de Saúde 8 D
(B) O Plano de Segurança do Paciente em Serviços de Saúde
9 C
(PSP), elaborado pelo NSP, deve estabelecer estratégias e ações
de gestão de risco, conforme as atividades desenvolvidas pelo 10 B
serviço de saúde
11 E
12 B

224
224

90
Conhecimentos
Específicos
Enfermeiro
Conhecimentos Específicos Enfermeiro

ÍNDICE
Sumário
Conhecimentos Específicos
1. Sistema Único de Saúde (SUS – Leis nº 8.080/1990 e nº 8.142/1990). princípios, diretrizes, estrutura e organização. Políticas de saúde.
Estrutura e funcionamento das instituições e suas relações com os serviços de saúde.Sistema de planejamento do SUS. Planejamento
estratégico e normativo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Níveis progressivos de assistência à saúde. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3. Direitos dos usuários do SUS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
4. Participação e controle social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
5. Ações e programas do SUS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
6. Legislação básica do SUS.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
7. Vigilância epidemiológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
8. Vigilância em saúde. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
9. Programas de prevenção e controle de doenças transmissíveis prevalentes no cenário epidemiológico brasileiro. . . . . . . . . . . . . . 39
10. Doenças e agravos não-transmissíveis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
11. Programa Nacional de Imunizações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
12. Teorias e processo de enfermagem. Taxonomias de diagnósticos de enfermagem.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
13. Procedimentos técnicos em enfermagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
14. Assistência de enfermagem perioperatória.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
15. Assistência de enfermagem a pacientes com alterações de funções. Cardiovascular e circulatória. Digestiva e gastrointestinal. Me-
tabólica e endócrina. Renal e do trato urinário. Reprodutiva. Tegumentar. Neurológica. Musculoesquelética. . . . . . . . . . . . . . . . . 72
16. Assistência de enfermagem aplicada à saúde sexual e reprodutiva da mulher com ênfase nas ações de baixa e média complexidade.
Assistência de enfermagem à gestante, parturiente e puérpera.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
17. Assistência de enfermagem ao recém-nascido. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
18. Assistência de enfermagem à mulher no climatério e menopausa e na prevenção e no tratamento de ginecopatias. . . . . . . . . . . 133
19. Assistência de enfermagem à criança sadia (crescimento, desenvolvimento, aleitamento materno, alimentação) e cuidado nas doenças
prevalentes na infância (diarreicas e respiratórias). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
20. Atendimento a pacientes em situações de urgência e emergência. Estrutura organizacional do serviço de emergência hospitalar e
pré-hospitalar. Suporte básico de vida em emergências. Suporte avançado de vida. Atendimento inicial ao politraumatizado. Atendi-
mento na parada cardiorrespiratória. Assistência de enfermagem ao paciente crítico com distúrbios hidroeletrolíticos, acidobásicos,
insuficiência respiratória e ventilação mecânica. Insuficiência renal e métodos dialíticos. Insuficiência hepática. Avaliação de consciên-
cia no paciente em coma. Doação, captação e transplante de órgãos. Enfermagem em urgências. Violência, abuso de drogas, intoxi-
cações, emergências ambientais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
21. Gerenciamento de enfermagem em serviços de saúde. Gerenciamento de recursos humanos. Dimensionamento, recrutamento e
seleção, educação em procedimentos e métodos diagnósticos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
22. Agravos à saúde relacionados ao trabalho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191
23. Gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 206
24. Pressupostos teóricos e metodológicos da pesquisa em saúde e enfermagem.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 207
25. Central de material e esterilização. Processamento de produtos para saúde. Processos de esterilização de produtos para saúde.Con-
trole de qualidade e validação dos processos de esterilização de produtos para saúde. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 207
26. Práticas de biossegurança aplicadas ao processo de cuidar. Risco biológico e medidas de precauções básicas para a segurança indi-
vidual e coletiva no serviço de assistência à saúde. Precaução padrão e precauções por forma de transmissão das doenças. Definição,
indicações de uso e recursos materiais. Medidas de proteção cabíveis nas situações de risco potencial de exposição. . . . . . . . . . 210
27. Controle de infecção hospitalar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 216
28. Código de ética dos profissionais de enfermagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 224
Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Conselhos de Saúde
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS – LEIS Nº 8.080/1990 E
Nº 8.142/1990).PRINCÍPIOS, DIRETRIZES, ESTRUTURA O Conselho de Saúde, no âmbito de atuação (Nacional, Esta-
E ORGANIZAÇÃO. POLÍTICAS DE SAÚDE. ESTRUTURA dual ou Municipal), em caráter permanente e deliberativo, órgão
E FUNCIONAMENTO DAS INSTITUIÇÕES E SUAS RELA- colegiado composto por representantes do governo, prestadores
ÇÕES COM OS SERVIÇOS DE SAÚDE. SISTEMA DE PLA- de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação
NEJAMENTO DO SUS. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E de estratégias e no controle da execução da política de saúde na
NORMATIVO instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e fi-
nanceiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder
O que é o Sistema Único de Saúde (SUS)? legalmente constituído em cada esfera do governo.
Cabe a cada Conselho de Saúde definir o número de membros,
O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores e mais com- que obedecerá a seguinte composição: 50% de entidades e movi-
plexos sistemas de saúde pública do mundo, abrangendo desde o mentos representativos de usuários; 25% de entidades representa-
simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio tivas dos trabalhadores da área de saúde e 25% de representação
da Atenção Primária, até o transplante de órgãos, garantindo aces- de governo e prestadores de serviços privados conveniados, ou sem
so integral, universal e gratuito para toda a população do país. Com fins lucrativos.
a sua criação, o SUS proporcionou o acesso universal ao sistema
público de saúde, sem discriminação. A atenção integral à saúde, e Comissão Intergestores Tripartite (CIT)
não somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um direito de
todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco Foro de negociação e pactuação entre gestores federal, estadu-
na saúde com qualidade de vida, visando a prevenção e a promoção al e municipal, quanto aos aspectos operacionais do SUS
da saúde.
A gestão das ações e dos serviços de saúde deve ser solidária e Comissão Intergestores Bipartite (CIB)
participativa entre os três entes da Federação: a União, os Estados
e os municípios. A rede que compõe o SUS é ampla e abrange tan- Foro de negociação e pactuação entre gestores estadual e mu-
to ações quanto os serviços de saúde. Engloba a atenção primária, nicipais, quanto aos aspectos operacionais do SUS
média e alta complexidades, os serviços urgência e emergência, a
atenção hospitalar, as ações e serviços das vigilâncias epidemiológi- Conselho Nacional de Secretário da Saúde (Conass)
ca, sanitária e ambiental e assistência farmacêutica.
Entidade representativa dos entes estaduais e do Distrito Fede-
AVANÇO: Conforme a Constituição Federal de 1988 (CF-88), a ral na CIT para tratar de matérias referentes à saúde
“Saúde é direito de todos e dever do Estado”. No período anterior a
CF-88, o sistema público de saúde prestava assistência apenas aos Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Cona-
trabalhadores vinculados à Previdência Social, aproximadamente sems)
30 milhões de pessoas com acesso aos serviços hospitalares, caben-
do o atendimento aos demais cidadãos às entidades filantrópicas. Entidade representativa dos entes municipais na CIT para tratar
de matérias referentes à saúde
Estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS)
Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems)
O Sistema Único de Saúde (SUS) é composto pelo Ministério da
Saúde, Estados e Municípios, conforme determina a Constituição São reconhecidos como entidades que representam os entes
Federal. Cada ente tem suas co-responsabilidades. municipais, no âmbito estadual, para tratar de matérias referentes
à saúde, desde que vinculados institucionalmente ao Conasems, na
Ministério da Saúde forma que dispuserem seus estatutos.

Gestor nacional do SUS, formula, normatiza, fiscaliza, monitora Responsabilidades dos entes que compõem o SUS
e avalia políticas e ações, em articulação com o Conselho Nacional União
de Saúde. Atua no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite (CIT)
para pactuar o Plano Nacional de Saúde. Integram sua estrutura: A gestão federal da saúde é realizada por meio do Ministério da
Fiocruz, Funasa, Anvisa, ANS, Hemobrás, Inca, Into e oito hospitais Saúde. O governo federal é o principal financiador da rede pública
federais. de saúde. Historicamente, o Ministério da Saúde aplica metade de
todos os recursos gastos no país em saúde pública em todo o Brasil,
Secretaria Estadual de Saúde (SES) e estados e municípios, em geral, contribuem com a outra meta-
de dos recursos. O Ministério da Saúde formula políticas nacionais
Participa da formulação das políticas e ações de saúde, pres- de saúde, mas não realiza as ações. Para a realização dos projetos,
ta apoio aos municípios em articulação com o conselho estadual e depende de seus parceiros (estados, municípios, ONGs, fundações,
participa da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) para aprovar e empresas, etc.). Também tem a função de planejar, elabirar nor-
implementar o plano estadual de saúde. mas, avaliar e utilizar instrumentos para o controle do SUS.

Secretaria Municipal de Saúde (SMS)

Planeja, organiza, controla, avalia e executa as ações e serviços


de saúde em articulação com o conselho municipal e a esfera esta-
dual para aprovar e implantar o plano municipal de saúde.

1
Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Estados e Distrito Federal Em 1987 é implementado o Sistema Unificado e Descentrali-


zado de Saúde (SUDS), como uma consolidação das Ações Integra-
Os estados possuem secretarias específicas para a gestão de das de Saúde (AIS), que adota como diretrizes a universalização e
saúde. O gestor estadual deve aplicar recursos próprios, inclusive a equidade no acesso aos serviços, à integralidade dos cuidados,
nos municípios, e os repassados pela União. Além de ser um dos a regionalização dos serviços de saúde e implementação de distri-
parceiros para a aplicação de políticas nacionais de saúde, o estado tos sanitários, a descentralização das ações de saúde, o desenvolvi-
formula suas próprias políticas de saúde. Ele coordena e planeja o mento de instituições colegiadas gestoras e o desenvolvimento de
SUS em nível estadual, respeitando a normatização federal. Os ges- uma política de recursos humanos.
tores estaduais são responsáveis pela organização do atendimento O capítulo dedicado à saúde na nova Constituição Federal, pro-
à saúde em seu território. mulgada em outubro de 1988, retrata o resultado de todo o proces-
so desenvolvido ao longo dessas duas décadas, criando o Sistema
Municípios Único de Saúde (SUS) e determinando que “a saúde é direito de
todos e dever do Estado” (art. 196).
São responsáveis pela execução das ações e serviços de saúde Entre outros, a Constituição prevê o acesso universal e igua-
no âmbito do seu território. O gestor municipal deve aplicar recur- litário às ações e serviços de saúde, com regionalização e hierar-
sos próprios e os repassados pela União e pelo estado. O município quização, descentralização com direção única em cada esfera de
formula suas próprias políticas de saúde e também é um dos par- governo, participação da comunidade e atendimento integral, com
ceiros para a aplicação de políticas nacionais e estaduais de saú- prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços
de. Ele coordena e planeja o SUS em nível municipal, respeitando a assistenciais.
normatização federal. Pode estabelecer parcerias com outros mu- A Lei nº 8.080, promulgada em 1990, operacionaliza as disposi-
nicípios para garantir o atendimento pleno de sua população, para ções constitucionais. São atribuições do SUS em seus três níveis de
procedimentos de complexidade que estejam acima daqueles que governo, além de outras, “ordenar a formação de recursos huma-
pode oferecer. nos na área de saúde” (CF, art. 200, inciso III).

História do sistema único de saúde (SUS) Princípios do SUS

As duas últimas décadas foram marcadas por intensas transfor- São conceitos que orientam o SUS, previstos no artigo 198 da
mações no sistema de saúde brasileiro, intimamente relacionadas Constituição Federal de 1988 e no artigo 7º do Capítulo II da Lei n.º
com as mudanças ocorridas no âmbito político-institucional. Simul- 8.080/1990. Os principais são:
taneamente ao processo de redemocratização iniciado nos anos 80,
o país passou por grave crise na área econômico-financeira. Universalidade: significa que o SUS deve atender a todos, sem
No início da década de 80, procurou-se consolidar o processo distinções ou restrições, oferecendo toda a atenção necessária,
de expansão da cobertura assistencial iniciado na segunda metade sem qualquer custo;
dos anos 70, em atendimento às proposições formuladas pela OMS Integralidade: o SUS deve oferecer a atenção necessária à saú-
na Conferência de Alma-Ata (1978), que preconizava “Saúde para de da população, promovendo ações contínuas de prevenção e tra-
Todos no Ano 2000”, principalmente por meio da Atenção Primária tamento aos indivíduos e às comunidades, em quaisquer níveis de
à Saúde. complexidade;
Nessa mesma época, começa o Movimento da Reforma Sa- Equidade: o SUS deve disponibilizar recursos e serviços com
nitária Brasileira, constituído inicialmente por uma parcela da in- justiça, de acordo com as necessidades de cada um, canalizando
telectualidade universitária e dos profissionais da área da saúde. maior atenção aos que mais necessitam;
Posteriormente, incorporaram-se ao movimento outros segmentos Participação social: é um direito e um dever da sociedade par-
da sociedade, como centrais sindicais, movimentos populares de ticipar das gestões públicas em geral e da saúde pública em par-
saúde e alguns parlamentares. ticular; é dever do Poder Público garantir as condições para essa
As proposições desse movimento, iniciado em pleno regime participação, assegurando a gestão comunitária do SUS; e
autoritário da ditadura militar, eram dirigidas basicamente à cons- Descentralização: é o processo de transferência de responsabi-
trução de uma nova política de saúde efetivamente democrática, lidades de gestão para os municípios, atendendo às determinações
considerando a descentralização, universalização e unificação como constitucionais e legais que embasam o SUS, definidor de atribui-
elementos essenciais para a reforma do setor. ções comuns e competências específicas à União, aos estados, ao
Várias foram às propostas de implantação de uma rede de ser- Distrito Federal e aos municípios.
viços voltada para a atenção primária à saúde, com hierarquização,
descentralização e universalização, iniciando-se já a partir do Pro- Principais leis
grama de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS),
em 1976. Constituição Federal de 1988: Estabelece que “a saúde é direi-
Em 1980, foi criado o Programa Nacional de Serviços Básicos to de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
de Saúde (PREV-SAÚDE) - que, na realidade, nunca saiu do papel -, e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
logo seguida pelo plano do Conselho Nacional de Administração da agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços
Saúde Previdenciária (CONASP), em 1982 a partir do qual foi imple- para sua promoção, proteção e recuperação”. Determina ao Poder
mentada a política de Ações Integradas de Saúde (AIS), em 1983. Público sua “regulamentação, fiscalização e controle”, que as ações
Essas constituíram uma estratégia de extrema importância para o e os serviços da saúde “integram uma rede regionalizada e hierar-
processo de descentralização da saúde. quizada e constituem um sistema único”; define suas diretrizes,
A 8ª Conferência Nacional da Saúde, realizada em março de atribuições, fontes de financiamento e, ainda, como deve se dar a
1986, considerada um marco histórico, consagra os princípios pre- participação da iniciativa privada.
conizados pelo Movimento da Reforma Sanitária.

2
Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Lei Orgânica da Saúde (LOS), Lei n.º 8.080/1990: Regulamen- da transferência do paciente a outra equipe (da rede básica ou de
ta, em todo o território nacional, as ações do SUS, estabelece as outra área especializada) e o tempo de espera para essa transfe-
diretrizes para seu gerenciamento e descentralização e detalha as rência não pode representar uma interrupção do atendimento: a
competências de cada esfera governamental. Enfatiza a descentra- equipe de referência deve prosseguir com o projeto terapêutico,
lização político-administrativa, por meio da municipalização dos interferindo, inclusive, nos critérios de acesso.
serviços e das ações de saúde, com redistribuição de poder, com-
petências e recursos, em direção aos municípios. Determina como Instâncias de Pactuação
competência do SUS a definição de critérios, valores e qualidade
dos serviços. Trata da gestão financeira; define o Plano Municipal São espaços intergovernamentais, políticos e técnicos onde
de Saúde como base das atividades e da programação de cada nível ocorrem o planejamento, a negociação e a implementação das po-
de direção do SUS e garante a gratuidade das ações e dos serviços líticas de saúde pública. As decisões se dão por consenso (e não
nos atendimentos públicos e privados contratados e conveniados. por votação), estimulando o debate e a negociação entre as partes.
Lei n.º 8.142/1990: Dispõe sobre o papel e a participação das Comissão Intergestores Tripartite (CIT): Atua na direção nacio-
comunidades na gestão do SUS, sobre as transferências de recursos nal do SUS, formada por composição paritária de 15 membros, sen-
financeiros entre União, estados, Distrito Federal e municípios na do cinco indicados pelo Ministério da Saúde, cinco pelo Conselho
área da saúde e dá outras providências. Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass) e cinco pelo
Institui as instâncias colegiadas e os instrumentos de participa- Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems).
ção social em cada esfera de governo. A representação de estados e municípios nessa Comissão é, por-
tanto regional: um representante para cada uma das cinco regiões
Responsabilização Sanitária existentes no País.

Desenvolver responsabilização sanitária é estabelecer clara- Comissões Intergestores Bipartites (CIB): São constituídas pa-
mente as atribuições de cada uma das esferas de gestão da saú- ritariamente por representantes do governo estadual, indicados
de pública, assim como dos serviços e das equipes que compõem pelo Secretário de Estado da Saúde, e dos secretários municipais
o SUS, possibilitando melhor planejamento, acompanhamento e de saúde, indicados pelo órgão de representação do conjunto dos
complementaridade das ações e dos serviços. Os prefeitos, ao as- municípios do Estado, em geral denominado Conselho de Secretá-
sumir suas responsabilidades, devem estimular a responsabilização rios Municipais de Saúde (Cosems). Os secretários municipais de
Saúde costumam debater entre si os temas estratégicos antes de
junto aos gerentes e equipes, no âmbito municipal, e participar do
apresentarem suas posições na CIB. Os Cosems são também ins-
processo de pactuação, no âmbito regional.
tâncias de articulação política entre gestores municipais de saúde,
sendo de extrema importância a participação dos gestores locais
Responsabilização Macrossanitária
nesse espaço.
O gestor municipal, para assegurar o direito à saúde de seus
Espaços regionais: A implementação de espaços regionais de
munícipes, deve assumir a responsabilidade pelos resultados, bus-
pactuação, envolvendo os gestores municipais e estaduais, é uma
cando reduzir os riscos, a mortalidade e as doenças evitáveis, a
necessidade para o aperfeiçoamento do SUS. Os espaços regionais
exemplo da mortalidade materna e infantil, da hanseníase e da tu- devem-se organizar a partir das necessidades e das afinidades espe-
berculose. Para isso, tem de se responsabilizar pela oferta de ações cíficas em saúde existentes nas regiões.
e serviços que promovam e protejam a saúde das pessoas, previ-
nam as doenças e os agravos e recuperem os doentes. A atenção Descentralização
básica à saúde, por reunir esses três componentes, coloca-se como
responsabilidade primeira e intransferível a todos os gestores. O O princípio de descentralização que norteia o SUS se dá, espe-
cumprimento dessas responsabilidades exige que assumam as atri- cialmente, pela transferência de responsabilidades e recursos para
buições de gestão, incluindo: a esfera municipal, estimulando novas competências e capacidades
- execução dos serviços públicos de responsabilidade munici- político-institucionais dos gestores locais, além de meios adequa-
pal; dos à gestão de redes assistenciais de caráter regional e macror-
- destinação de recursos do orçamento municipal e utilização regional, permitindo o acesso, a integralidade da atenção e a ra-
do conjunto de recursos da saúde, com base em prioridades defini- cionalização de recursos. Os estados e a União devem contribuir
das no Plano Municipal de Saúde; para a descentralização do SUS, fornecendo cooperação técnica e
- planejamento, organização, coordenação, controle e avalia- financeira para o processo de municipalização.
ção das ações e dos serviços de saúde sob gestão municipal; e
- participação no processo de integração ao SUS, em âmbito Regionalização: consensos e estratégias - As ações e os ser-
regional e estadual, para assegurar a seus cidadãos o acesso a servi- viços de saúde não podem ser estruturados apenas na escala dos
ços de maior complexidade, não disponíveis no município. municípios. Existem no Brasil milhares de pequenas municipalida-
des que não possuem em seus territórios condições de oferecer
Responsabilização Microssanitária serviços de alta e média complexidade; por outro lado, existem
municípios que apresentam serviços de referência, tornando-se
É determinante que cada serviço de saúde conheça o território polos regionais que garantem o atendimento da sua população e
sob sua responsabilidade. Para isso, as unidades da rede básica de- de municípios vizinhos. Em áreas de divisas interestaduais, são fre-
vem estabelecer uma relação de compromisso com a população a quentes os intercâmbios de serviços entre cidades próximas, mas
ela adstrita e cada equipe de referência deve ter sólidos vínculos te- de estados diferentes. Por isso mesmo, a construção de consensos
rapêuticos com os pacientes e seus familiares, proporcionando-lhes e estratégias regionais é uma solução fundamental, que permitirá
abordagem integral e mobilização dos recursos e apoios necessá- ao SUS superar as restrições de acesso, ampliando a capacidade de
rios à recuperação de cada pessoa. A alta só deve ocorrer quando atendimento e o processo de descentralização.

3
Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O Sistema Hierarquizado e Descentralizado: As ações e servi- Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade,
ços de saúde de menor grau de complexidade são colocadas à dis- objetivando solucionar os problemas de saúde de maior frequência
posição do usuário em unidades de saúde localizadas próximas de e relevância das populações. É o contato preferencial dos usuários
seu domicílio. As ações especializadas ou de maior grau de comple- com o sistema de saúde. Deve considerar o sujeito em sua singu-
xidade são alcançadas por meio de mecanismos de referência, or- laridade, complexidade, inteireza e inserção sociocultural, além de
ganizados pelos gestores nas três esferas de governo. Por exemplo: buscar a promoção de sua saúde, a prevenção e tratamento de do-
O usuário é atendido de forma descentralizada, no âmbito do mu- enças e a redução de danos ou de sofrimentos que possam compro-
nicípio ou bairro em que reside. Na hipótese de precisar ser atendi- meter suas possibilidades de viver de modo saudável.
do com um problema de saúde mais complexo, ele é referenciado, As Unidades Básicas são prioridades porque, quando as Unida-
isto é, encaminhado para o atendimento em uma instância do SUS des Básicas de Saúde funcionam adequadamente, a comunidade
mais elevada, especializada. Quando o problema é mais simples, o consegue resolver com qualidade a maioria dos seus problemas de
cidadão pode ser contrarreferenciado, isto é, conduzido para um saúde. É comum que a primeira preocupação de muitos prefeitos
atendimento em um nível mais primário. se volte para a reforma ou mesmo a construção de hospitais. Para o
SUS, todos os níveis de atenção são igualmente importantes, mas a
Plano de saúde fixa diretriz e metas à saúde municipal prática comprova que a atenção básica deve ser sempre prioritária,
porque possibilita melhor organização e funcionamento também
É responsabilidade do gestor municipal desenvolver o processo dos serviços de média e alta complexidade.
de planejamento, programação e avaliação da saúde local, de modo Estando bem estruturada, ela reduzirá as filas nos prontos so-
a atender as necessidades da população de seu município com efici- corros e hospitais, o consumo abusivo de medicamentos e o uso
ência e efetividade. O Plano Municipal de Saúde (PMS) deve orien- indiscriminado de equipamentos de alta tecnologia. Isso porque
tar as ações na área, incluindo o orçamento para a sua execução. os problemas de saúde mais comuns passam a ser resolvidos nas
Unidades Básicas de Saúde, deixando os ambulatórios de especiali-
Um instrumento fundamental para nortear a elaboração do PMS é
dades e hospitais cumprirem seus verdadeiros papéis, o que resulta
o Plano Nacional de Saúde. Cabe ao Conselho Municipal de Saúde
em maior satisfação dos usuários e utilização mais racional dos re-
estabelecer as diretrizes para a formulação do PMS, em função da
cursos existentes.
análise da realidade e dos problemas de saúde locais, assim como
dos recursos disponíveis. No PMS, devem ser descritos os princi- Saúde da Família: é a saúde mais perto do cidadão. É parte
pais problemas da saúde pública local, suas causas, consequências da estratégia de estruturação eleita pelo Ministério da Saúde para
e pontos críticos. Além disso, devem ser definidos os objetivos e reorganização da atenção básica no País, com recursos financeiros
metas a serem atingidos, as atividades a serem executadas, os cro- específicos para o seu custeio. Cada equipe é composta por um con-
nogramas, as sistemáticas de acompanhamento e de avaliação dos junto de profissionais (médico, enfermeiro, auxiliares de enferma-
resultados. gem e agentes comunitários de saúde, podendo agora contar com
profissional de saúde bucal) que se responsabiliza pela situação de
Sistemas de informações ajudam a planejar a saúde: O SUS saúde de determinada área, cuja população deve ser de no mínimo
opera e/ou disponibiliza um conjunto de sistemas de informações 2.400 e no máximo 4.500 pessoas. Essa população deve ser cadas-
estratégicas para que os gestores avaliem e fundamentem o pla- trada e acompanhada, tornando-se responsabilidade das equipes
nejamento e a tomada de decisões, abrangendo: indicadores de atendê-la, entendendo suas necessidades de saúde como resultado
saúde; informações de assistência à saúde no SUS (internações também das condições sociais, ambientais e econômicas em que
hospitalares, produção ambulatorial, imunização e atenção básica); vive. Os profissionais é que devem ir até suas casas, porque o objeti-
rede assistencial (hospitalar e ambulatorial); morbidade por local vo principal da Saúde da Família é justamente aproximar as equipes
de internação e residência dos atendidos pelo SUS; estatísticas das comunidades e estabelecer entre elas vínculos sólidos.
vitais (mortalidade e nascidos vivos); recursos financeiros, infor-
mações demográficas, epidemiológicas e socioeconômicas. Cami- A saúde municipal precisa ser integral. O município é respon-
nha-se rumo à integração dos diversos sistemas informatizados de sável pela saúde de sua população integralmente, ou seja, deve
base nacional, que podem ser acessados no site do Datasus. Nesse garantir que ela tenha acessos à atenção básica e aos serviços espe-
processo, a implantação do Cartão Nacional de Saúde tem papel cializados (de média e alta complexidade), mesmo quando localiza-
central. Cabe aos prefeitos conhecer e monitorar esse conjunto de dos fora de seu território, controlando, racionalizando e avaliando
informações essenciais à gestão da saúde do seu município. os resultados obtidos.
Só assim estará promovendo saúde integral, como determina
Níveis de atenção à saúde: O SUS ordena o cuidado com a saú- a legislação. É preciso que isso fique claro, porque muitas vezes o
gestor municipal entende que sua responsabilidade acaba na aten-
de em níveis de atenção, que são de básica, média e alta complexi-
ção básica em saúde e que as ações e os serviços de maior comple-
dade. Essa estruturação visa à melhor programação e planejamento
xidade são responsabilidade do Estado ou da União – o que não é
das ações e dos serviços do sistema de saúde. Não se deve, porém,
verdade.
desconsiderar algum desses níveis de atenção, porque a atenção à
A promoção da saúde é uma estratégia por meio da qual os
saúde deve ser integral. desafios colocados para a saúde e as ações sanitárias são pensa-
A atenção básica em saúde constitui o primeiro nível de aten- dos em articulação com as demais políticas e práticas sanitárias e
ção à saúde adotada pelo SUS. É um conjunto de ações que engloba com as políticas e práticas dos outros setores, ampliando as pos-
promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. De- sibilidades de comunicação e intervenção entre os atores sociais
senvolve-se por meio de práticas gerenciais e sanitárias, democrá- envolvidos (sujeitos, instituições e movimentos sociais). A promo-
ticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipe, dirigidas ção da saúde deve considerar as diferenças culturais e regionais,
a populações de territórios delimitados, pelos quais assumem res- entendendo os sujeitos e as comunidades na singularidade de suas
ponsabilidade. histórias, necessidades, desejos, formas de pertencer e se relacio-
nar com o espaço em que vivem. Significa comprometer-se com os

4
Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sujeitos e as coletividades para que possuam, cada vez mais, auto- e buscar, coletiva e criativamente, soluções novas para os velhos
nomia e capacidade para manejar os limites e riscos impostos pela problemas do nosso sistema de saúde. A construção de espaços de
doença, pela constituição genética e por seu contexto social, polí- gestão que permitam a discussão e a crítica, em ambiente demo-
tico, econômico e cultural. A promoção da saúde coloca, ainda, o crático e plural, é condição essencial para que o SUS seja, cada vez
desafio da intersetorialidade, com a convocação de outros setores mais, um projeto que defenda e promova a vida.
sociais e governamentais para que considerem parâmetros sanitá-
rios, ao construir suas políticas públicas específicas, possibilitando a Muitos municípios operam suas ações e serviços de saúde em
realização de ações conjuntas. condições desfavoráveis, dispondo de recursos financeiros e equi-
pes insuficientes para atender às demandas dos usuários, seja em
Vigilância em saúde: expande seus objetivos. Em um país com volume, seja em complexidade – resultado de uma conjuntura so-
as dimensões do Brasil, com realidades regionais bastante diver- cial de extrema desigualdade. Nessas situações, a gestão pública
sificadas, a vigilância em saúde é um grande desafio. Apesar dos em saúde deve adotar condução técnica e administrativa compa-
avanços obtidos, como a erradicação da poliomielite, desde 1989, tível com os recursos existentes e criativa em sua utilização. Deve
e com a interrupção da transmissão de sarampo, desde 2000, con- estabelecer critérios para a priorização dos gastos, orientados por
vivemos com doenças transmissíveis que persistem ou apresentam análises sistemáticas das necessidades em saúde, verificadas junto
incremento na incidência, como a AIDS, as hepatites virais, as me- à população. É um desafio que exige vontade política, propostas
ningites, a malária na região amazônica, a dengue, a tuberculose inventivas e capacidade de governo.
e a hanseníase. Observamos, ainda, aumento da mortalidade por A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios compar-
causas externas, como acidentes de trânsito, conflitos, homicídios e tilham as responsabilidades de promover a articulação e a interação
suicídios, atingindo, principalmente, jovens e população em idade dentro do Sistema Único de Saúde – SUS, assegurando o acesso uni-
produtiva. Nesse contexto, o Ministério da Saúde com o objetivo de versal e igualitário às ações e serviços de saúde.
integração, fortalecimento da capacidade de gestão e redução da O SUS é um sistema de saúde, regionalizado e hierarquizado,
morbimortalidade, bem como dos fatores de risco associados à saú- que integra o conjunto das ações de saúde da União, Estados, Distri-
de, expande o objeto da vigilância em saúde pública, abrangendo as to Federal e Municípios, onde cada parte cumpre funções e compe-
áreas de vigilância das doenças transmissíveis, agravos e doenças tências específicas, porém articuladas entre si, o que caracteriza os
não transmissíveis e seus fatores de riscos; a vigilância ambiental níveis de gestão do SUS nas três esferas governamentais.
em saúde e a análise de situação de saúde. Criado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pela
Lei nº 8.080/90, conhecida como a Lei Orgânica da Saúde, e pela Lei
Competências municipais na vigilância em saúde nº 8.142/90, que trata da participação da comunidade na gestão
do Sistema e das transferências intergovernamentais de recursos
Compete aos gestores municipais, entre outras atribuições, as financeiros, o SUS tem normas e regulamentos que disciplinam as
atividades de notificação e busca ativa de doenças compulsórias, políticas e ações em cada Subsistema.
surtos e agravos inusitados; investigação de casos notificados em A Sociedade, nos termos da Legislação, participa do planeja-
seu território; busca ativa de declaração de óbitos e de nascidos vi- mento e controle da execução das ações e serviços de saúde. Essa
vos; garantia a exames laboratoriais para o diagnóstico de doenças participação se dá por intermédio dos Conselhos de Saúde, presen-
de notificação compulsória; monitoramento da qualidade da água tes na União, nos Estados e Municípios.
para o consumo humano; coordenação e execução das ações de
vacinação de rotina e especiais (campanhas e vacinações de blo- Níveis de Gestão do SUS
queio); vigilância epidemiológica; monitoramento da mortalidade
infantil e materna; execução das ações básicas de vigilância sanitá- Esfera Federal - Gestor: Ministério da Saúde - Formulação da
ria; gestão e/ou gerência dos sistemas de informação epidemioló- política estadual de saúde, coordenação e planejamento do SUS em
gica, no âmbito municipal; coordenação, execução e divulgação das nível Estadual. Financiamento das ações e serviços de saúde por
atividades de informação, educação e comunicação de abrangência meio da aplicação/distribuição de recursos públicos arrecadados.
municipal; participação no financiamento das ações de vigilância Esfera Estadual - Gestor: Secretaria Estadual de Saúde - Formu-
em saúde e capacitação de recursos. lação da política municipal de saúde e a provisão das ações e ser-
viços de saúde, financiados com recursos próprios ou transferidos
Desafios públicos, responsabilidades compartilhadas: A legis- pelo gestor federal e/ou estadual do SUS.
lação brasileira – Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e legislação Esfera Municipal - Gestor: Secretaria Municipal de Saúde - For-
sanitária, incluindo as Leis n.º 8.080/1990 e 8.142/1990 – estabe- mulação de políticas nacionais de saúde, planejamento, normaliza-
lece prerrogativas, deveres e obrigações a todos os governantes. A ção, avaliação e controle do SUS em nível nacional. Financiamento
Constituição Federal define os gastos mínimos em saúde, por es- das ações e serviços de saúde por meio da aplicação/distribuição de
fera de governo, e a legislação sanitária, os critérios para as trans- recursos públicos arrecadados.
ferências intergovernamentais e alocação de recursos financeiros.
Essa vinculação das receitas objetiva preservar condições mínimas SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
e necessárias ao cumprimento das responsabilidades sanitárias e
garantir transparência na utilização dos recursos disponíveis. A res- Pela dicção dos arts. 196 e 198 da CF, podemos afirmar que
ponsabilização fiscal e sanitária de cada gestor e servidor público somente da segunda parte do art. 196 se ocupa o Sistema Único de
deve ser compartilhada por todos os entes e esferas governamen- Saúde, de forma mais concreta e direta, sob pena de a saúde, como
tais, resguardando suas características, atribuições e competências. setor, como uma área da Administração Pública, se ver obrigada a
O desafio primordial dos governos, sobretudo na esfera municipal, cuidar de tudo aquilo que possa ser considerado como fatores que
é avançar na transformação dos preceitos constitucionais e legais condicionam e interferem com a saúde individual e coletiva. Isso
que constituem o SUS em serviços e ações que assegurem o direi- seria um arrematado absurdo e deveríamos ter um super Ministério
to à saúde, como uma conquista que se realiza cotidianamente em e super Secretarias da Saúde responsáveis por toda política social e
cada estabelecimento, equipe e prática sanitária. É preciso inovar econômica protetivas da saúde.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Se a Constituição tratou a saúde sob grande amplitude, isso o que pode e o que não pode ser financiado com recursos dos fun-
não significa dizer que tudo o que está ali inserido corresponde a dos de saúde. Esses parâmetros também servirão para circunscre-
área de atuação do Sistema Único de Saúde. ver o que deve ser colocado à disposição da população, no âmbito
Repassando, brevemente, aquela seção do capítulo da Seguri- do SUS, ainda que o art. 200 da CF e o art. 6º da LOS tenham defini-
dade Social, temos que: -- o art. 196, de maneira ampla, cuida do do o campo de atuação do SUS, fazendo pressupor o que são ações
direito à saúde; -- o art. 197 trata da relevância pública das ações e e serviços públicos de saúde, conforme dissemos acima. (O Conse-
serviços de saúde, públicos e privados, conferindo ao Estado o direi- lho Nacional de Saúde e o Ministério da Saúde também disciplina-
to e o dever de regulamentar, fiscalizar e controlar o setor (público ram o que são ações e serviços de saúde em resoluções e portarias).
e privado); -- o art. 198 dispõe sobre as ações e os serviços públicos
de saúde que devem ser garantidos a todos cidadãos para a sua O QUE FINANCIAR COM OS RECURSOS DA SAÚDE?
promoção, proteção e recuperação, ou seja, dispõe sobre o Sistema
Único de Saúde; -- o art. 199, trata da liberdade da iniciativa priva- De plano, excetuam-se da área da saúde, para efeito de finan-
da, suas restrições (não pode explorar o sangue, por ser bem fora ciamento, (ainda que absolutamente relevantes como indicadores
do comércio; deve submeter-se à lei quanto à remoção de órgãos epidemiológicos da saúde) as condicionantes econômico-sociais.
e tecidos e partes do corpo humano; não pode contar com a parti- Os órgãos e entidades do SUS devem conhecer e informar à socie-
cipação do capital estrangeiro na saúde privada; não pode receber dade e ao governo os fatos que interferem na saúde da população
auxílios e subvenções, se for entidade de fins econômicos etc.) e a com vistas à adoção de políticas públicas, sem, contudo, estarem
possibilidade de o setor participar, complementarmente, do setor obrigados a utilizar recursos do fundo de saúde para intervir nessas
público; -- e o art. 200, das atribuições dos órgãos e entidades que causas.
compõem o sistema público de saúde. O SUS é mencionado somen- Quem tem o dever de adotar políticas sociais e econômicas que
te nos arts. 198 e 200. visem evitar o risco da doença é o Governo como um todo (políticas
A leitura do art. 198 deve sempre ser feita em consonância com de governo), e não a saúde, como setor (políticas setoriais). A ela,
a segunda parte do art. 196 e com o art. 200. O art. 198 estatui que saúde, compete atuar nos campos demarcados pelos art. 200 da CF
todas as ações e serviços públicos de saúde constituem um único e art. 6º da Lei n. 8.080/90 e em outras leis específicas.
sistema. Aqui temos o SUS. E esse sistema tem como atribuição ga- Como exemplo, podemos citar os servidores da saúde que de-
rantir ao cidadão o acesso às ações e serviços públicos de saúde vem ser pagos com recursos da saúde, mas o seu inativo, não; não
(segunda parte do art. 196), conforme campo demarcado pelo art. porque os inativos devem ser pagos com recursos da Previdência
200 e leis específicas. Social. Idem quanto as ações da assistência social, como bolsa-a-
O art. 200 define em que campo deve o SUS atuar. As atribui- limentação, bolsa-família, vale-gás, renda mínima, fome zero, que
ções ali relacionadas não são taxativas ou exaustivas. Outras pode- devem ser financiadas com recursos da assistência social, setor ao
qual incumbe promover e prover as necessidades das pessoas ca-
rão existir, na forma da lei. E as atribuições ali elencadas dependem,
rentes visando diminuir as desigualdades sociais e suprir suas ca-
também, de lei para a sua exequibilidade.
rências básicas imediatas. Isso tudo interfere com a saúde, mas não
Em 1990, foi editada a Lei n. 8.080/90 que, em seus arts. 5º e
pode ser administrada nem financiada pelo setor saúde.
6º, cuidou dos objetivos e das atribuições do SUS, tentando melhor
O saneamento básico é outro bom exemplo. A Lei n. 8.080/90,
explicitar o art. 200 da CF (ainda que, em alguns casos, tenha repe-
em seu art. 6º, II, dispõe que o SUS deve participar na formulação
tido os incisos daquele artigo, tão somente).
da política e na execução de ações de saneamento básico. Por sua
São objetivos do SUS: a) a identificação e divulgação dos fato-
vez, o § 3º do art. 32, reza que as ações de saneamento básico que
res condicionantes e determinantes da saúde; b) a formulação de venham a ser executadas supletivamente pelo SUS serão financia-
políticas de saúde destinadas a promover, nos campos econômico das por recursos tarifários específicos e outros da União, Estados,
e social, a redução de riscos de doenças e outros agravos; e c) exe- DF e Municípios e não com os recursos dos fundos de saúde.
cução de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, Nesse ponto gostaríamos de abrir um parêntese para comentar
integrando as ações assistenciais com as preventivas, de modo a o Parecer do Sr. Procurador Geral da República, na ADIn n. 3087-
garantir às pessoas a assistência integral à sua saúde. 6/600-RJ, aqui mencionado.
O art. 6º, estabelece como competência do Sistema a execução O Governo do Estado do Rio de Janeiro, pela Lei n. 4.179/03,
de ações e serviços de saúde descritos em seus 11 incisos. instituiu o Programa Estadual de Acesso à Alimentação – PEAA, de-
O SUS deve atuar em campo demarcado pela lei, em razão do terminando que suas atividades correrão à conta do orçamento do
disposto no art. 200 da CF e porque o enunciado constitucional de Fundo Estadual da Saúde [13], vinculado à Secretaria de Estado da
que saúde é direito de todos e dever do Estado, não tem o condão Saúde. O PSDB, entendendo ser a lei inconstitucional por utilizar
de abranger as condicionantes econômico-sociais da saúde, tam- recursos da saúde para uma ação que não é de responsabilidade
pouco compreender, de forma ampla e irrestrita, todas as possíveis da área da saúde, moveu ação direta de inconstitucionalidade, com
e imagináveis ações e serviços de saúde, até mesmo porque haverá pedido de cautelar.
sempre um limite orçamentário e um ilimitado avanço tecnológico O Sr. Procurador da República (Parecer n. 5147/CF), opinou
a criar necessidades infindáveis e até mesmo questionáveis sob o pela improcedência da ação por entender que o acesso à alimenta-
ponto de vista ético, clínico, familiar, terapêutico, psicológico. ção é indissociável do acesso à saúde, assim como os medicamen-
Será a lei que deverá impor as proporções, sem, contudo, é ob- tos o são e que as pessoas de baixa renda devem ter atendidas a
vio, cercear o direito à promoção, proteção e recuperação da saú- necessidade básica de alimentar-se.
de. E aqui o elemento delimitador da lei deverá ser o da dignidade Infelizmente, mais uma vez confundiu-se “saúde” com “assis-
humana. tência social”, áreas da Seguridade Social, mas distintas entre si.
Lembramos, por oportuno que, o Projeto de Lei Complementar A alimentação é um fator que condiciona a saúde tanto quanto o
n. 01/2003 -- que se encontra no Congresso Nacional para regu- saneamento básico, o meio ambiente degradado, a falta de renda
lamentar os critérios de rateio de transferências dos recursos da e lazer, a falta de moradia, dentre tantos outros fatores condicio-
União para Estados e Municípios – busca disciplinar, de forma mais nantes e determinantes, tal qual mencionado no art. 3º da Lei n.
clara e definitiva, o que são ações e serviços de saúde e estabelecer 8.080/90 [14].

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A Lei n. 8.080/90 ao dispor sobre o campo de atuação do SUS to integral que pressupõe a junção das atividades preventivas, que
incluiu a vigilância nutricional e a orientação alimentar [15], ativi- devem ser priorizadas, com as atividades assistenciais, que também
dades complexas que não tem a ver com o fornecimento, puro e não podem ser prejudicadas.
simples, de bolsa-alimentação, vale-alimentação ou qualquer outra A Lei n. 8.080/90, em seu art. 7º (que dispõe sobre os princípios
forma de garantia de mínimos existenciais e sociais, de atribuição e diretrizes do SUS), define a integralidade da assistência como “o
da assistência social ou de outras áreas da Administração Pública conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e
voltadas para corrigir as desigualdades sociais. A vigilância nutricio- curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos
nal deve ser realizada pelo SUS em articulação com outros órgãos os níveis de complexidade do sistema”.
e setores governamentais em razão de sua interface com a saúde. A integralidade da assistência exige que os serviços de saúde
São atividades que interessam a saúde, mas as quais, a saúde como sejam organizados de forma a garantir ao indivíduo e à coletividade
setor, não as executa. Por isso a necessidade das comissões interse- a proteção, a promoção e a recuperação da saúde, de acordo com
toriais previstas na Lei n. 8.080/90. as necessidades de cada um em todos os níveis de complexidade
A própria Lei n. 10.683/2003, que organiza a Presidência da Re- do sistema.
pública, estatuiu em seu art. 27, XX ser atribuição do Ministério da Vê-se, pois, que a assistência integral não se esgota nem se
Saúde: completa num único nível de complexidade técnica do sistema,
a) política nacional de saúde; necessitando, em grande parte, da combinação ou conjugação de
b) coordenação e fiscalização do Sistema Único de Saúde; serviços diferenciados, que nem sempre estão à disposição do cida-
c) saúde ambiental e ações de promoção, proteção e recupe- dão no seu município de origem. Por isso a lei sabiamente definiu
ração da saúde individual e coletiva, inclusive a dos trabalhadores a integralidade da assistência como a satisfação de necessidades
e dos índios; individuais e coletivas que devem ser realizadas nos mais diversos
d) informações em saúde; patamares de complexidade dos serviços de saúde, articulados pe-
e) insumos críticos para a saúde; los entes federativos, responsáveis pela saúde da população.
f) ação preventiva em geral, vigilância e controle sanitário de A integralidade da assistência é interdependente; ela não se
fronteiras e de portos marítimos, fluviais e aéreos; completa nos serviços de saúde de um só ente da federação. Ela
g) vigilância em saúde, especialmente quanto às drogas, medi- só finaliza, muitas vezes, depois de o cidadão percorrer o caminho
camentos e alimentos; traçado pela rede de serviços de saúde, em razão da complexidade
h) pesquisa científica e tecnológica na área da saúde. Ao Mi- da assistência
nistério da Saúde compete a vigilância sobre alimentos (registro, E para a delimitação das responsabilidades de cada ente da fe-
fiscalização, controle de qualidade) e não a prestação de serviços deração quanto ao seu comprometimento com a integralidade da
que visem fornecer alimentos às pessoas de baixa renda. assistência, foram criados instrumentos de gestão, como o plano de
O fornecimento de cesta básica, merenda escolar, alimentação saúde e as formas de gestão dos serviços de saúde.
a crianças em idade escolar, idosos, trabalhadores rurais temporá- Desse modo, devemos centrar nossas atenções no plano de
rios, portadores de moléstias graves, conforme previsto na Lei do saúde, por ser ele a base de todas as atividades e programações da
Estado do Rio de Janeiro, são situações de carência que necessitam saúde, em cada nível de governo do Sistema Único de Saúde, o qual
de apoio do Poder Público, sem sombra de dúvida, mas no âmbito deverá ser elaborado de acordo com diretrizes legais estabelecidas
da assistência social [16] ou de outro setor da Administração Pú- na Lei n. 8.080/90: epidemiologia e organização de serviços (arts.
blica e com recursos que não os do fundo de saúde. Não podemos 7º VII e 37) [18]. O plano de saúde deve ser a referência para a de-
mais confundir assistência social com saúde. A alimentação interes- marcação de responsabilidades técnicas, administrativas e jurídicas
sa à saúde, mas não está em seu âmbito de atuação. dos entes políticos.
Tanto isso é fato que a Lei n. 8.080/90, em seu art. 12, estabe- Sem planos de saúde -- elaborados de acordo com as diretrizes
leceu que “serão criadas comissões intersetoriais de âmbito nacio- legais, associadas àquelas estabelecidas nas comissões intergover-
nal, subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde, integradas pelos namentais trilaterais [19], principalmente no que se refere à divisão
Ministérios e órgãos competentes e por entidades representativas de responsabilidades -- o sistema ficará ao sabor de ideologias e
da sociedade civil”, dispondo seu parágrafo único que “as comissões decisões unilaterais das autoridades dirigentes da saúde, quando
intersetoriais terão a finalidade de articular políticas e programas a regra que perpassa todo o sistema é a da cooperação e da conju-
de interesse para a saúde, cuja execução envolva áreas não com- gação de recursos financeiros, tecnológicos, materiais, humanos da
preendidas no âmbito do Sistema Único de Saúde”. Já o seu art. 13, União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em redes
destaca, algumas dessas atividades, mencionando em seu inciso I a regionalizadas de serviços, nos termos dos incisos IX, b e XI do art.
“alimentação e nutrição”. 7º e art. 8º da Lei n. 8.080/90.
O parâmetro para o financiamento da saúde deve ser as atri- Por isso, o plano de saúde deve ser o instrumento de fixação
buições que foram dadas ao SUS pela Constituição e por leis espe- de responsabilidades técnicas, administrativas e jurídicas quanto
cíficas e não a 1º parte do art. 196 da CF, uma vez que os fatores à integralidade da assistência, uma vez que ela não se esgota, na
que condicionam a saúde são os mais variados e estão inseridos maioria das vezes, na instância de governo-sede do cidadão. Ressal-
nas mais diversas áreas da Administração Pública, não podendo ser te-se, ainda, que o plano de saúde é a expressão viva dos interesses
considerados como competência dos órgãos e entidades que com- da população, uma vez que, elaborado pelos órgãos competentes
põe o Sistema Único de Saúde. governamentais, deve ser submetido ao conselho de saúde, repre-
sentante da comunidade no SUS, a quem compete, discutir, aprovar
DA INTEGRALIDADE DA ASSISTÊNCIA e acompanhar a sua execução, em todos os seus aspectos.
Lembramos, ainda, que o planejamento sendo ascendente,
Vencida esta etapa, adentramos em outra, no interior do setor iniciando-se da base local até a federal, reforça o sentido de que
saúde - SUS, que trata da integralidade da assistência à saúde. O a integralidade da assistência só se completa com o conjunto arti-
art. 198 da CF determina que o Sistema Único de Saúde deve ser culado de serviços, de responsabilidade dos diversos entes gover-
organizado de acordo com três diretrizes, dentre elas, o atendimen- namentais.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Resumindo, podemos afirmar que, nos termos do art. 198, II, TÍTULO II
da CF, c/c os arts. 7º, II e VII, 36 e 37, da Lei n. 8.080/90, a integra- DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
lidade da assistência não é um direito a ser satisfeito de maneira DISPOSIÇÃO PRELIMINAR
aleatória, conforme exigências individuais do cidadão ou de acordo
com a vontade do dirigente da saúde, mas sim o resultado do plano Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por
de saúde que, por sua vez, deve ser a consequência de um planeja- órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da
mento que leve em conta a epidemiologia e a organização de ser- Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Po-
viços e conjugue as necessidades da saúde com as disponibilidades der Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS).
de recursos [20], além da necessária observação do que ficou de- § 1º Estão incluídas no disposto neste artigo as instituições
cidido nas comissões intergovernamentais trilaterais ou bilaterais, públicas federais, estaduais e municipais de controle de qualidade,
que não contrariem a lei. pesquisa e produção de insumos, medicamentos, inclusive de san-
Na realidade, cada ente político deve ser eticamente respon- gue e hemoderivados, e de equipamentos para saúde.
sável pela saúde integral da pessoa que está sob atenção em seus § 2º A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de
serviços, cabendo-lhe responder civil, penal e administrativamente Saúde (SUS), em caráter complementar.
apenas pela omissão ou má execução dos serviços que estão sob
seu encargo no seu plano de saúde que, por sua vez, deve guardar CAPÍTULO I
consonância com os pactos da regionalização, consubstanciados DOS OBJETIVOS E ATRIBUIÇÕES
em instrumentos jurídicos competentes [21].
Nesse ponto, temos ainda a considerar que, dentre as atribui- Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde SUS:
ções do SUS, uma das mais importantes -- objeto de reclamações e I - a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e de-
ações judiciais -- é a assistência terapêutica integral. Por sua indivi- terminantes da saúde;
dualização, imediatismo, apelo emocional e ético, urgência e emer- II - a formulação de política de saúde destinada a promover,
gência, a assistência terapêutica destaca-se dentre todas as demais nos campos econômico e social, a observância do disposto no § 1º
atividades da saúde como a de maior reivindicação individual. Fale- do art. 2º desta lei;
mos dela no tópico seguinte. III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promo-
ção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada
LEI Nº 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990. das ações assistenciais e das atividades preventivas.
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema
Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recu- Único de Saúde (SUS):
peração da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
I - a execução de ações:
correspondentes e dá outras providências. O PRESIDENTE DA RE-
a) de vigilância sanitária;
PÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu san-
b) de vigilância epidemiológica;
ciono a seguinte lei:
c) de saúde do trabalhador; e
d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;
DISPOSIÇÃO PRELIMINAR
II - a participação na formulação da política e na execução de
ações de saneamento básico;
Art. 1º Esta lei regula, em todo o território nacional, as ações
III - a ordenação da formação de recursos humanos na área de
e serviços de saúde, executados isolada ou conjuntamente, em ca-
ráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de saúde;
direito Público ou privado. IV - a vigilância nutricional e a orientação alimentar;
V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compre-
TÍTULO I endido o do trabalho;
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS VI - a formulação da política de medicamentos, equipamentos,
imunobiológicos e outros insumos de interesse para a saúde e a
Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, de- participação na sua produção;
vendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno VII - o controle e a fiscalização de serviços, produtos e substân-
exercício. cias de interesse para a saúde;
§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formula- VIII - a fiscalização e a inspeção de alimentos, água e bebidas
ção e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redu- para consumo humano;
ção de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento IX - a participação no controle e na fiscalização da produção,
de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoati-
e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. vos, tóxicos e radioativos;
§ 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das X - o incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento
empresas e da sociedade. científico e tecnológico;
Art. 3o Os níveis de saúde expressam a organização social e eco- XI - a formulação e execução da política de sangue e seus de-
nômica do País, tendo a saúde como determinantes e condicionan- rivados.
tes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o § 1º Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações
meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir
o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais. (Re- nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produ-
dação dada pela Lei nº 12.864, de 2013) ção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da
Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, saúde, abrangendo:
por força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às I - o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamen-
pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e te, se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e
social. processos, da produção ao consumo; e

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

II - o controle da prestação de serviços que se relacionam direta VIII - participação da comunidade;


ou indiretamente com a saúde. IX - descentralização político-administrativa, com direção única
§ 2º Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de em cada esfera de governo:
ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios;
de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saú-
de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e de;
adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos. X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio am-
§ 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, biente e saneamento básico;
um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigi- XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, mate-
lância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção riais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabi- Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da po-
litação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos pulação;
advindos das condições de trabalho, abrangendo: XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis
I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho de assistência; e
ou portador de doença profissional e do trabalho; XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar dupli-
II - participação, no âmbito de competência do Sistema Único cidade de meios para fins idênticos.
de Saúde (SUS), em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos XIV – organização de atendimento público específico e especia-
riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de tra- lizado para mulheres e vítimas de violência doméstica em geral, que
balho; garanta, entre outros, atendimento, acompanhamento psicológico
III - participação, no âmbito de competência do Sistema Único e cirurgias plásticas reparadoras, em conformidade com a Lei nº
de Saúde (SUS), da normatização, fiscalização e controle das con- 12.845, de 1º de agosto de 2013. (Redação dada pela Lei nº 13.427,
dições de produção, extração, armazenamento, transporte, distri- de 2017)
buição e manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas e de
equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador; CAPÍTULO III
IV - avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde; DA ORGANIZAÇÃO, DA DIREÇÃO E DA GESTÃO
V - informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindi-
cal e às empresas sobre os riscos de acidentes de trabalho, doença Art. 8º As ações e serviços de saúde, executados pelo Sistema
profissional e do trabalho, bem como os resultados de fiscalizações, Único de Saúde (SUS), seja diretamente ou mediante participação
avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos complementar da iniciativa privada, serão organizados de forma re-
e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional; gionalizada e hierarquizada em níveis de complexidade crescente.
VI - participação na normatização, fiscalização e controle dos Art. 9º A direção do Sistema Único de Saúde (SUS) é única, de
serviços de saúde do trabalhador nas instituições e empresas pú- acordo com o inciso I do art. 198 da Constituição Federal, sendo
blicas e privadas; exercida em cada esfera de governo pelos seguintes órgãos:
VII - revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas I - no âmbito da União, pelo Ministério da Saúde;
no processo de trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração II - no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, pela respectiva
das entidades sindicais; e Secretaria de Saúde ou órgão equivalente; e
VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao III - no âmbito dos Municípios, pela respectiva Secretaria de
órgão competente a interdição de máquina, de setor de serviço ou Saúde ou órgão equivalente.
de todo ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco Art. 10. Os municípios poderão constituir consórcios para de-
iminente para a vida ou saúde dos trabalhadores. senvolver em conjunto as ações e os serviços de saúde que lhes
correspondam.
CAPÍTULO II § 1º Aplica-se aos consórcios administrativos intermunicipais o
DOS PRINCÍPIOS E DIRETRIZES princípio da direção única, e os respectivos atos constitutivos dispo-
rão sobre sua observância.
Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços pri- § 2º No nível municipal, o Sistema Único de Saúde (SUS), po-
vados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único derá organizar-se em distritos de forma a integrar e articular recur-
de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes pre- sos, técnicas e práticas voltadas para a cobertura total das ações de
vistas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos saúde.
seguintes princípios: Art. 11. (Vetado).
I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os Art. 12. Serão criadas comissões intersetoriais de âmbito nacio-
níveis de assistência; nal, subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde, integradas pelos
II - integralidade de assistência, entendida como conjunto ar- Ministérios e órgãos competentes e por entidades representativas
ticulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, da sociedade civil.
individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis Parágrafo único. As comissões intersetoriais terão a finalidade
de complexidade do sistema; de articular políticas e programas de interesse para a saúde, cuja
III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua execução envolva áreas não compreendidas no âmbito do Sistema
integridade física e moral; Único de Saúde (SUS).
IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou pri- Art. 13. A articulação das políticas e programas, a cargo das
vilégios de qualquer espécie; comissões intersetoriais, abrangerá, em especial, as seguintes ati-
V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; vidades:
VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos servi- I - alimentação e nutrição;
ços de saúde e a sua utilização pelo usuário; II - saneamento e meio ambiente;
VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de III - vigilância sanitária e farmacoepidemiologia;
prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; IV - recursos humanos;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

V - ciência e tecnologia; e V - elaboração de normas técnicas e estabelecimento de pa-


VI - saúde do trabalhador. drões de qualidade e parâmetros de custos que caracterizam a as-
Art. 14. Deverão ser criadas Comissões Permanentes de inte- sistência à saúde;
gração entre os serviços de saúde e as instituições de ensino profis- VI - elaboração de normas técnicas e estabelecimento de pa-
sional e superior. drões de qualidade para promoção da saúde do trabalhador;
Parágrafo único. Cada uma dessas comissões terá por finali- VII - participação de formulação da política e da execução das
dade propor prioridades, métodos e estratégias para a formação e ações de saneamento básico e colaboração na proteção e recupera-
educação continuada dos recursos humanos do Sistema Único de ção do meio ambiente;
Saúde (SUS), na esfera correspondente, assim como em relação à VIII - elaboração e atualização periódica do plano de saúde;
pesquisa e à cooperação técnica entre essas instituições. IX - participação na formulação e na execução da política de
Art. 14-A. As Comissões Intergestores Bipartite e Tripartite são formação e desenvolvimento de recursos humanos para a saúde;
reconhecidas como foros de negociação e pactuação entre gesto- X - elaboração da proposta orçamentária do Sistema Único de
res, quanto aos aspectos operacionais do Sistema Único de Saúde Saúde (SUS), de conformidade com o plano de saúde;
(SUS). (Incluído pela Lei nº 12.466, de 2011). XI - elaboração de normas para regular as atividades de servi-
Parágrafo único. A atuação das Comissões Intergestores Bipar- ços privados de saúde, tendo em vista a sua relevância pública;
tite e Tripartite terá por objetivo: (Incluído pela Lei nº 12.466, de XII - realização de operações externas de natureza financeira de
2011). interesse da saúde, autorizadas pelo Senado Federal;
I - decidir sobre os aspectos operacionais, financeiros e admi- XIII - para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e
nistrativos da gestão compartilhada do SUS, em conformidade com transitórias, decorrentes de situações de perigo iminente, de ca-
a definição da política consubstanciada em planos de saúde, apro- lamidade pública ou de irrupção de epidemias, a autoridade com-
vados pelos conselhos de saúde; (Incluído pela Lei nº 12.466, de petente da esfera administrativa correspondente poderá requisitar
2011). bens e serviços, tanto de pessoas naturais como de jurídicas, sendo-
II - definir diretrizes, de âmbito nacional, regional e intermu- -lhes assegurada justa indenização;
nicipal, a respeito da organização das redes de ações e serviços de XIV - implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componen-
saúde, principalmente no tocante à sua governança institucional e à tes e Derivados;
integração das ações e serviços dos entes federados; (Incluído pela XV - propor a celebração de convênios, acordos e protocolos
Lei nº 12.466, de 2011). internacionais relativos à saúde, saneamento e meio ambiente;
III - fixar diretrizes sobre as regiões de saúde, distrito sanitário, XVI - elaborar normas técnico-científicas de promoção, prote-
integração de territórios, referência e contrarreferência e demais ção e recuperação da saúde;
aspectos vinculados à integração das ações e serviços de saúde en- XVII - promover articulação com os órgãos de fiscalização do
tre os entes federados. (Incluído pela Lei nº 12.466, de 2011). exercício profissional e outras entidades representativas da socie-
Art. 14-B. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Co- dade civil para a definição e controle dos padrões éticos para pes-
nass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde quisa, ações e serviços de saúde;
(Conasems) são reconhecidos como entidades representativas dos XVIII - promover a articulação da política e dos planos de saúde;
entes estaduais e municipais para tratar de matérias referentes XIX - realizar pesquisas e estudos na área de saúde;
à saúde e declarados de utilidade pública e de relevante função XX - definir as instâncias e mecanismos de controle e fiscaliza-
social, na forma do regulamento. (Incluído pela Lei nº 12.466, de ção inerentes ao poder de polícia sanitária;
2011). XXI - fomentar, coordenar e executar programas e projetos es-
§ 1o O Conass e o Conasems receberão recursos do orçamento
tratégicos e de atendimento emergencial.
geral da União por meio do Fundo Nacional de Saúde, para auxiliar
no custeio de suas despesas institucionais, podendo ainda celebrar
SEÇÃO II
convênios com a União. (Incluído pela Lei nº 12.466, de 2011).
DA COMPETÊNCIA
§ 2o Os Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems)
são reconhecidos como entidades que representam os entes mu-
Art. 16. A direção nacional do Sistema Único da Saúde (SUS)
nicipais, no âmbito estadual, para tratar de matérias referentes à
compete:
saúde, desde que vinculados institucionalmente ao Conasems, na
I - formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação e nutrição;
forma que dispuserem seus estatutos. (Incluído pela Lei nº 12.466,
de 2011). II - participar na formulação e na implementação das políticas:
a) de controle das agressões ao meio ambiente;
CAPÍTULO IV b) de saneamento básico; e
DA COMPETÊNCIA E DAS ATRIBUIÇÕES c) relativas às condições e aos ambientes de trabalho;
SEÇÃO I III - definir e coordenar os sistemas:
DAS ATRIBUIÇÕES COMUNS a) de redes integradas de assistência de alta complexidade;
b) de rede de laboratórios de saúde pública;
Art. 15. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios c) de vigilância epidemiológica; e
exercerão, em seu âmbito administrativo, as seguintes atribuições: d) vigilância sanitária;
I - definição das instâncias e mecanismos de controle, avaliação IV - participar da definição de normas e mecanismos de con-
e de fiscalização das ações e serviços de saúde; trole, com órgão afins, de agravo sobre o meio ambiente ou dele
II - administração dos recursos orçamentários e financeiros decorrentes, que tenham repercussão na saúde humana;
destinados, em cada ano, à saúde; V - participar da definição de normas, critérios e padrões para
III - acompanhamento, avaliação e divulgação do nível de saúde o controle das condições e dos ambientes de trabalho e coordenar
da população e das condições ambientais; a política de saúde do trabalhador;
IV - organização e coordenação do sistema de informação de VI - coordenar e participar na execução das ações de vigilância
saúde; epidemiológica;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

VII - estabelecer normas e executar a vigilância sanitária de IX - identificar estabelecimentos hospitalares de referência e
portos, aeroportos e fronteiras, podendo a execução ser comple- gerir sistemas públicos de alta complexidade, de referência estadu-
mentada pelos Estados, Distrito Federal e Municípios; al e regional;
VIII - estabelecer critérios, parâmetros e métodos para o con- X - coordenar a rede estadual de laboratórios de saúde pública
trole da qualidade sanitária de produtos, substâncias e serviços de e hemocentros, e gerir as unidades que permaneçam em sua orga-
consumo e uso humano; nização administrativa;
IX - promover articulação com os órgãos educacionais e de fis- XI - estabelecer normas, em caráter suplementar, para o con-
calização do exercício profissional, bem como com entidades repre- trole e avaliação das ações e serviços de saúde;
sentativas de formação de recursos humanos na área de saúde; XII - formular normas e estabelecer padrões, em caráter suple-
X - formular, avaliar, elaborar normas e participar na execução mentar, de procedimentos de controle de qualidade para produtos
da política nacional e produção de insumos e equipamentos para a e substâncias de consumo humano;
saúde, em articulação com os demais órgãos governamentais; XIII - colaborar com a União na execução da vigilância sanitária
XI - identificar os serviços estaduais e municipais de referência de portos, aeroportos e fronteiras;
nacional para o estabelecimento de padrões técnicos de assistência XIV - o acompanhamento, a avaliação e divulgação dos indica-
à saúde; dores de morbidade e mortalidade no âmbito da unidade federada.
XII - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substân- Art. 18. À direção municipal do Sistema de Saúde (SUS) com-
cias de interesse para a saúde; pete:
XIII - prestar cooperação técnica e financeira aos Estados, ao I - planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços
Distrito Federal e aos Municípios para o aperfeiçoamento da sua de saúde e gerir e executar os serviços públicos de saúde;
atuação institucional; II - participar do planejamento, programação e organização
XIV - elaborar normas para regular as relações entre o Sistema da rede regionalizada e hierarquizada do Sistema Único de Saúde
Único de Saúde (SUS) e os serviços privados contratados de assis- (SUS), em articulação com sua direção estadual;
tência à saúde; III - participar da execução, controle e avaliação das ações refe-
XV - promover a descentralização para as Unidades Federadas
rentes às condições e aos ambientes de trabalho;
e para os Municípios, dos serviços e ações de saúde, respectiva-
IV - executar serviços:
mente, de abrangência estadual e municipal;
a) de vigilância epidemiológica;
XVI - normatizar e coordenar nacionalmente o Sistema Nacio-
b) vigilância sanitária;
nal de Sangue, Componentes e Derivados;
XVII - acompanhar, controlar e avaliar as ações e os serviços de c) de alimentação e nutrição;
saúde, respeitadas as competências estaduais e municipais; d) de saneamento básico; e
XVIII - elaborar o Planejamento Estratégico Nacional no âmbito e) de saúde do trabalhador;
do SUS, em cooperação técnica com os Estados, Municípios e Dis- V - dar execução, no âmbito municipal, à política de insumos e
trito Federal; equipamentos para a saúde;
XIX - estabelecer o Sistema Nacional de Auditoria e coordenar a VI - colaborar na fiscalização das agressões ao meio ambiente que
avaliação técnica e financeira do SUS em todo o Território Nacional tenham repercussão sobre a saúde humana e atuar, junto aos órgãos
em cooperação técnica com os Estados, Municípios e Distrito Fede- municipais, estaduais e federais competentes, para controlá-las;
ral. (Vide Decreto nº 1.651, de 1995) VII - formar consórcios administrativos intermunicipais;
Parágrafo único. A União poderá executar ações de vigilância VIII - gerir laboratórios públicos de saúde e hemocentros;
epidemiológica e sanitária em circunstâncias especiais, como na IX - colaborar com a União e os Estados na execução da vigilân-
ocorrência de agravos inusitados à saúde, que possam escapar do cia sanitária de portos, aeroportos e fronteiras;
controle da direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) ou X - observado o disposto no art. 26 desta Lei, celebrar contra-
que representem risco de disseminação nacional. tos e convênios com entidades prestadoras de serviços privados de
Art. 17. À direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) saúde, bem como controlar e avaliar sua execução;
compete: XI - controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços priva-
I - promover a descentralização para os Municípios dos serviços dos de saúde;
e das ações de saúde; XII - normatizar complementarmente as ações e serviços públi-
II - acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do cos de saúde no seu âmbito de atuação.
Sistema Único de Saúde (SUS); Art. 19. Ao Distrito Federal competem as atribuições reserva-
III - prestar apoio técnico e financeiro aos Municípios e execu- das aos Estados e aos Municípios.
tar supletivamente ações e serviços de saúde;
IV - coordenar e, em caráter complementar, executar ações e CAPÍTULO V
serviços: DO SUBSISTEMA DE ATENÇÃO À SAÚDE INDÍGENA
a) de vigilância epidemiológica;
(INCLUÍDO PELA LEI Nº 9.836, DE 1999)
b) de vigilância sanitária;
c) de alimentação e nutrição; e
Art. 19-A. As ações e serviços de saúde voltados para o aten-
d) de saúde do trabalhador;
dimento das populações indígenas, em todo o território nacional,
V - participar, junto com os órgãos afins, do controle dos agra-
vos do meio ambiente que tenham repercussão na saúde humana; coletiva ou individualmente, obedecerão ao disposto nesta Lei. (In-
VI - participar da formulação da política e da execução de ações cluído pela Lei nº 9.836, de 1999)
de saneamento básico; Art. 19-B. É instituído um Subsistema de Atenção à Saúde Indí-
VII - participar das ações de controle e avaliação das condições gena, componente do Sistema Único de Saúde – SUS, criado e defi-
e dos ambientes de trabalho; nido por esta Lei, e pela Lei no 8.142, de 28 de dezembro de 1990,
VIII - em caráter suplementar, formular, executar, acompanhar com o qual funcionará em perfeita integração. (Incluído pela Lei nº
e avaliar a política de insumos e equipamentos para a saúde; 9.836, de 1999)

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Art. 19-C. Caberá à União, com seus recursos próprios, finan- CAPÍTULO VII
ciar o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. (Incluído pela Lei DO SUBSISTEMA DE ACOMPANHAMENTO DURANTE O
nº 9.836, de 1999) TRABALHO DE PARTO, PARTO E PÓS-PARTO IMEDIATO
Art. 19-D. O SUS promoverá a articulação do Subsistema insti- (INCLUÍDO PELA LEI Nº 11.108, DE 2005)
tuído por esta Lei com os órgãos responsáveis pela Política Indígena
do País. (Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999) Art. 19-J. Os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde -
Art. 19-E. Os Estados, Municípios, outras instituições governa- SUS, da rede própria ou conveniada, ficam obrigados a permitir a
mentais e não-governamentais poderão atuar complementarmen- presença, junto à parturiente, de 1 (um) acompanhante durante
te no custeio e execução das ações. (Incluído pela Lei nº 9.836, de todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato.
1999) (Incluído pela Lei nº 11.108, de 2005)
Art. 19-F. Dever-se-á obrigatoriamente levar em consideração a § 1o O acompanhante de que trata o caput deste artigo será
realidade local e as especificidades da cultura dos povos indígenas indicado pela parturiente. (Incluído pela Lei nº 11.108, de 2005)
e o modelo a ser adotado para a atenção à saúde indígena, que § 2o As ações destinadas a viabilizar o pleno exercício dos di-
se deve pautar por uma abordagem diferenciada e global, contem- reitos de que trata este artigo constarão do regulamento da lei, a
plando os aspectos de assistência à saúde, saneamento básico, nu- ser elaborado pelo órgão competente do Poder Executivo. (Incluído
trição, habitação, meio ambiente, demarcação de terras, educação pela Lei nº 11.108, de 2005)
sanitária e integração institucional. (Incluído pela Lei nº 9.836, de § 3o Ficam os hospitais de todo o País obrigados a manter, em
1999) local visível de suas dependências, aviso informando sobre o direito
Art. 19-G. O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena deverá estabelecido no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.895, de
ser, como o SUS, descentralizado, hierarquizado e regionalizado. 2013)
(Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999)
Art. 19-L. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.108, de 2005)
§ 1o O Subsistema de que trata o caput deste artigo terá como
base os Distritos Sanitários Especiais Indígenas. (Incluído pela Lei nº
CAPÍTULO VIII
9.836, de 1999)
(INCLUÍDO PELA LEI Nº 12.401, DE 2011)
§ 2o O SUS servirá de retaguarda e referência ao Subsistema de
Atenção à Saúde Indígena, devendo, para isso, ocorrer adaptações DA ASSISTÊNCIA TERAPÊUTICA E DA
na estrutura e organização do SUS nas regiões onde residem as po- INCORPORAÇÃO DE TECNOLOGIA EM SAÚDE”
pulações indígenas, para propiciar essa integração e o atendimento
necessário em todos os níveis, sem discriminações. (Incluído pela Art. 19-M. A assistência terapêutica integral a que se refere
Lei nº 9.836, de 1999) a alínea d do inciso I do art. 6o consiste em: (Incluído pela Lei nº
§ 3o As populações indígenas devem ter acesso garantido ao 12.401, de 2011)
SUS, em âmbito local, regional e de centros especializados, de acor- I - dispensação de medicamentos e produtos de interesse para
do com suas necessidades, compreendendo a atenção primária, a saúde, cuja prescrição esteja em conformidade com as diretrizes
secundária e terciária à saúde. (Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999) terapêuticas definidas em protocolo clínico para a doença ou o agra-
Art. 19-H. As populações indígenas terão direito a participar vo à saúde a ser tratado ou, na falta do protocolo, em conformidade
dos organismos colegiados de formulação, acompanhamento e com o disposto no art. 19-P; (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
avaliação das políticas de saúde, tais como o Conselho Nacional de II - oferta de procedimentos terapêuticos, em regime domi-
Saúde e os Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde, quando for ciliar, ambulatorial e hospitalar, constantes de tabelas elaboradas
o caso. (Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999) pelo gestor federal do Sistema Único de Saúde - SUS, realizados no
território nacional por serviço próprio, conveniado ou contratado.
Art. 19-N. Para os efeitos do disposto no art. 19-M, são adota-
CAPÍTULO VI das as seguintes definições:
DO SUBSISTEMA DE ATENDIMENTO I - produtos de interesse para a saúde: órteses, próteses, bolsas
E INTERNAÇÃO DOMICILIAR coletoras e equipamentos médicos;
(INCLUÍDO PELA LEI Nº 10.424, DE 2002) II - protocolo clínico e diretriz terapêutica: documento que
estabelece critérios para o diagnóstico da doença ou do agravo à
Art. 19-I. São estabelecidos, no âmbito do Sistema Único de saúde; o tratamento preconizado, com os medicamentos e demais
Saúde, o atendimento domiciliar e a internação domiciliar. (Incluído produtos apropriados, quando couber; as posologias recomenda-
pela Lei nº 10.424, de 2002) das; os mecanismos de controle clínico; e o acompanhamento e
§ 1o Na modalidade de assistência de atendimento e internação
a verificação dos resultados terapêuticos, a serem seguidos pelos
domiciliares incluem-se, principalmente, os procedimentos médi-
gestores do SUS. (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
cos, de enfermagem, fisioterapêuticos, psicológicos e de assistência
Art. 19-O. Os protocolos clínicos e as diretrizes terapêuticas de-
social, entre outros necessários ao cuidado integral dos pacientes
verão estabelecer os medicamentos ou produtos necessários nas
em seu domicílio. (Incluído pela Lei nº 10.424, de 2002)
§ 2o O atendimento e a internação domiciliares serão realizados diferentes fases evolutivas da doença ou do agravo à saúde de que
por equipes multidisciplinares que atuarão nos níveis da medicina tratam, bem como aqueles indicados em casos de perda de eficácia
preventiva, terapêutica e reabilitadora. (Incluído pela Lei nº 10.424, e de surgimento de intolerância ou reação adversa relevante, pro-
de 2002) vocadas pelo medicamento, produto ou procedimento de primeira
§ 3o O atendimento e a internação domiciliares só poderão ser escolha. (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
realizados por indicação médica, com expressa concordância do pa- Parágrafo único. Em qualquer caso, os medicamentos ou pro-
ciente e de sua família. (Incluído pela Lei nº 10.424, de 2002) dutos de que trata o caput deste artigo serão aqueles avaliados
quanto à sua eficácia, segurança, efetividade e custo-efetividade
para as diferentes fases evolutivas da doença ou do agravo à saúde
de que trata o protocolo. (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Art. 19-P. Na falta de protocolo clínico ou de diretriz terapêu- Art. 19-T. São vedados, em todas as esferas de gestão do SUS:
tica, a dispensação será realizada: (Incluído pela Lei nº 12.401, de (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
2011) I - o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medica-
I - com base nas relações de medicamentos instituídas pelo mento, produto e procedimento clínico ou cirúrgico experimental,
gestor federal do SUS, observadas as competências estabelecidas ou de uso não autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sani-
nesta Lei, e a responsabilidade pelo fornecimento será pactuada na tária - ANVISA; (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
Comissão Intergestores Tripartite; (Incluído pela Lei nº 12.401, de II - a dispensação, o pagamento, o ressarcimento ou o reembol-
2011) so de medicamento e produto, nacional ou importado, sem registro
II - no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de forma na Anvisa.”
suplementar, com base nas relações de medicamentos instituídas Art. 19-U. A responsabilidade financeira pelo fornecimento de
pelos gestores estaduais do SUS, e a responsabilidade pelo forneci- medicamentos, produtos de interesse para a saúde ou procedimen-
mento será pactuada na Comissão Intergestores Bipartite; (Incluído tos de que trata este Capítulo será pactuada na Comissão Interges-
pela Lei nº 12.401, de 2011) tores Tripartite. (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
III - no âmbito de cada Município, de forma suplementar, com
base nas relações de medicamentos instituídas pelos gestores mu- TÍTULO III
nicipais do SUS, e a responsabilidade pelo fornecimento será pactu- DOS SERVIÇOS PRIVADOS DE ASSISTÊNCIA À SAÙDE
ada no Conselho Municipal de Saúde. (Incluído pela Lei nº 12.401, CAPÍTULO I
de 2011) DO FUNCIONAMENTO
Art. 19-Q. A incorporação, a exclusão ou a alteração pelo SUS
de novos medicamentos, produtos e procedimentos, bem como a Art. 20. Os serviços privados de assistência à saúde caracteri-
constituição ou a alteração de protocolo clínico ou de diretriz tera- zam-se pela atuação, por iniciativa própria, de profissionais liberais,
pêutica, são atribuições do Ministério da Saúde, assessorado pela legalmente habilitados, e de pessoas jurídicas de direito privado na
Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS. (Incluí- promoção, proteção e recuperação da saúde.
do pela Lei nº 12.401, de 2011) Art. 21. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.
§ 1o A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Art. 22. Na prestação de serviços privados de assistência à saú-
SUS, cuja composição e regimento são definidos em regulamento, de, serão observados os princípios éticos e as normas expedidas
contará com a participação de 1 (um) representante indicado pelo pelo órgão de direção do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto às
Conselho Nacional de Saúde e de 1 (um) representante, especialista condições para seu funcionamento.
na área, indicado pelo Conselho Federal de Medicina. (Incluído pela Art. 23. É permitida a participação direta ou indireta, inclusi-
Lei nº 12.401, de 2011) ve controle, de empresas ou de capital estrangeiro na assistência
§ 2o O relatório da Comissão Nacional de Incorporação de Tec- à saúde nos seguintes casos: (Redação dada pela Lei nº 13.097, de
nologias no SUS levará em consideração, necessariamente: (Incluí- 2015)
do pela Lei nº 12.401, de 2011) I - doações de organismos internacionais vinculados à Orga-
I - as evidências científicas sobre a eficácia, a acurácia, a efeti- nização das Nações Unidas, de entidades de cooperação técnica e
vidade e a segurança do medicamento, produto ou procedimento de financiamento e empréstimos; (Incluído pela Lei nº 13.097, de
objeto do processo, acatadas pelo órgão competente para o regis- 2015)
tro ou a autorização de uso; (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011) II - pessoas jurídicas destinadas a instalar, operacionalizar ou
II - a avaliação econômica comparativa dos benefícios e dos explorar: (Incluído pela Lei nº 13.097, de 2015)
custos em relação às tecnologias já incorporadas, inclusive no que a) hospital geral, inclusive filantrópico, hospital especializado,
se refere aos atendimentos domiciliar, ambulatorial ou hospitalar, policlínica, clínica geral e clínica especializada; e (Incluído pela Lei
quando cabível. (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011) nº 13.097, de 2015)
Art. 19-R. A incorporação, a exclusão e a alteração a que se re- b) ações e pesquisas de planejamento familiar; (Incluído pela
fere o art. 19-Q serão efetuadas mediante a instauração de proces- Lei nº 13.097, de 2015)
so administrativo, a ser concluído em prazo não superior a 180 (cen-
to e oitenta) dias, contado da data em que foi protocolado o pedido, III - serviços de saúde mantidos, sem finalidade lucrativa, por
admitida a sua prorrogação por 90 (noventa) dias corridos, quando empresas, para atendimento de seus empregados e dependentes,
as circunstâncias exigirem. (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011) sem qualquer ônus para a seguridade social; e (Incluído pela Lei nº
§ 1o O processo de que trata o caput deste artigo observará, no 13.097, de 2015)
que couber, o disposto na Lei no 9.784, de 29 de janeiro de 1999, e IV - demais casos previstos em legislação específica. (Incluído
as seguintes determinações especiais: (Incluído pela Lei nº 12.401, pela Lei nº 13.097, de 2015)
de 2011)
I - apresentação pelo interessado dos documentos e, se cabível, CAPÍTULO II
das amostras de produtos, na forma do regulamento, com informa- DA PARTICIPAÇÃO COMPLEMENTAR
ções necessárias para o atendimento do disposto no § 2o do art.
19-Q; (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011) Art. 24. Quando as suas disponibilidades forem insuficientes
II - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011) para garantir a cobertura assistencial à população de uma deter-
III - realização de consulta pública que inclua a divulgação do minada área, o Sistema Único de Saúde (SUS) poderá recorrer aos
parecer emitido pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecno- serviços ofertados pela iniciativa privada.
logias no SUS; (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011) Parágrafo único. A participação complementar dos serviços
IV - realização de audiência pública, antes da tomada de deci- privados será formalizada mediante contrato ou convênio, observa-
são, se a relevância da matéria justificar o evento. (Incluído pela Lei das, a respeito, as normas de direito público.
nº 12.401, de 2011) Art. 25. Na hipótese do artigo anterior, as entidades filantró-
§ 2o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011) picas e as sem fins lucrativos terão preferência para participar do
Art. 19-S. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011) Sistema Único de Saúde (SUS).

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Art. 26. Os critérios e valores para a remuneração de serviços I - (Vetado)


e os parâmetros de cobertura assistencial serão estabelecidos pela II - Serviços que possam ser prestados sem prejuízo da assis-
direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), aprovados no tência à saúde;
Conselho Nacional de Saúde. III - ajuda, contribuições, doações e donativos;
§ 1° Na fixação dos critérios, valores, formas de reajuste e de IV - alienações patrimoniais e rendimentos de capital;
pagamento da remuneração aludida neste artigo, a direção nacio- V - taxas, multas, emolumentos e preços públicos arrecadados
nal do Sistema Único de Saúde (SUS) deverá fundamentar seu ato no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS); e
em demonstrativo econômico-financeiro que garanta a efetiva qua- VI - rendas eventuais, inclusive comerciais e industriais.
lidade de execução dos serviços contratados. § 1° Ao Sistema Único de Saúde (SUS) caberá metade da receita
§ 2° Os serviços contratados submeter-se-ão às normas técni- de que trata o inciso I deste artigo, apurada mensalmente, a qual
cas e administrativas e aos princípios e diretrizes do Sistema Único será destinada à recuperação de viciados.
de Saúde (SUS), mantido o equilíbrio econômico e financeiro do § 2° As receitas geradas no âmbito do Sistema Único de Saúde
contrato. (SUS) serão creditadas diretamente em contas especiais, movimen-
§ 3° (Vetado). tadas pela sua direção, na esfera de poder onde forem arrecadadas.
§ 4° Aos proprietários, administradores e dirigentes de entida- § 3º As ações de saneamento que venham a ser executadas
des ou serviços contratados é vedado exercer cargo de chefia ou supletivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), serão financia-
função de confiança no Sistema Único de Saúde (SUS). das por recursos tarifários específicos e outros da União, Estados,
Distrito Federal, Municípios e, em particular, do Sistema Financeiro
TÍTULO IV da Habitação (SFH).
DOS RECURSOS HUMANOS § 4º (Vetado).
§ 5º As atividades de pesquisa e desenvolvimento científico e
Art. 27. A política de recursos humanos na área da saúde será tecnológico em saúde serão co-financiadas pelo Sistema Único de
formalizada e executada, articuladamente, pelas diferentes esferas Saúde (SUS), pelas universidades e pelo orçamento fiscal, além de
de governo, em cumprimento dos seguintes objetivos: recursos de instituições de fomento e financiamento ou de origem
I - organização de um sistema de formação de recursos huma- externa e receita própria das instituições executoras.
nos em todos os níveis de ensino, inclusive de pós-graduação, além § 6º (Vetado).
da elaboração de programas de permanente aperfeiçoamento de
pessoal; CAPÍTULO II
II - (Vetado) DA GESTÃO FINANCEIRA
III - (Vetado)
IV - valorização da dedicação exclusiva aos serviços do Sistema Art. 33. Os recursos financeiros do Sistema Único de Saúde
Único de Saúde (SUS). (SUS) serão depositados em conta especial, em cada esfera de sua
Parágrafo único. Os serviços públicos que integram o Sistema atuação, e movimentados sob fiscalização dos respectivos Conse-
Único de Saúde (SUS) constituem campo de prática para ensino e lhos de Saúde.
pesquisa, mediante normas específicas, elaboradas conjuntamente § 1º Na esfera federal, os recursos financeiros, originários do
com o sistema educacional.
Orçamento da Seguridade Social, de outros Orçamentos da União,
Art. 28. Os cargos e funções de chefia, direção e assessora-
além de outras fontes, serão administrados pelo Ministério da Saú-
mento, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), só poderão ser
de, através do Fundo Nacional de Saúde.
exercidas em regime de tempo integral.
§ 2º (Vetado).
§ 1° Os servidores que legalmente acumulam dois cargos ou
§ 3º (Vetado).
empregos poderão exercer suas atividades em mais de um estabe-
§ 4º O Ministério da Saúde acompanhará, através de seu siste-
lecimento do Sistema Único de Saúde (SUS).
ma de auditoria, a conformidade à programação aprovada da apli-
§ 2° O disposto no parágrafo anterior aplica-se também aos
servidores em regime de tempo integral, com exceção dos ocupan- cação dos recursos repassados a Estados e Municípios. Constatada
tes de cargos ou função de chefia, direção ou assessoramento. a malversação, desvio ou não aplicação dos recursos, caberá ao Mi-
Art. 29. (Vetado). nistério da Saúde aplicar as medidas previstas em lei.
Art. 30. As especializações na forma de treinamento em serviço Art. 34. As autoridades responsáveis pela distribuição da re-
sob supervisão serão regulamentadas por Comissão Nacional, insti- ceita efetivamente arrecadada transferirão automaticamente ao
tuída de acordo com o art. 12 desta Lei, garantida a participação das Fundo Nacional de Saúde (FNS), observado o critério do parágrafo
entidades profissionais correspondentes único deste artigo, os recursos financeiros correspondentes às do-
tações consignadas no Orçamento da Seguridade Social, a projetos
TÍTULO V e atividades a serem executados no âmbito do Sistema Único de
DO FINANCIAMENTO Saúde (SUS).
CAPÍTULO I Parágrafo único. Na distribuição dos recursos financeiros da
DOS RECURSOS Seguridade Social será observada a mesma proporção da despesa
prevista de cada área, no Orçamento da Seguridade Social.
Art. 31. O orçamento da seguridade social destinará ao Sistema Art. 35. Para o estabelecimento de valores a serem transferidos
Único de Saúde (SUS) de acordo com a receita estimada, os recursos a Estados, Distrito Federal e Municípios, será utilizada a combina-
necessários à realização de suas finalidades, previstos em proposta ção dos seguintes critérios, segundo análise técnica de programas
elaborada pela sua direção nacional, com a participação dos órgãos e projetos:
da Previdência Social e da Assistência Social, tendo em vista as me- I - perfil demográfico da região;
tas e prioridades estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias. II - perfil epidemiológico da população a ser coberta;
Art. 32. São considerados de outras fontes os recursos prove- III - características quantitativas e qualitativas da rede de saúde
nientes de: na área;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

IV - desempenho técnico, econômico e financeiro no período § 8º O acesso aos serviços de informática e bases de dados,
anterior; mantidos pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério do Trabalho
V - níveis de participação do setor saúde nos orçamentos esta- e da Previdência Social, será assegurado às Secretarias Estaduais e
duais e municipais; Municipais de Saúde ou órgãos congêneres, como suporte ao pro-
VI - previsão do plano quinquenal de investimentos da rede; cesso de gestão, de forma a permitir a gerencia informatizada das
VII - ressarcimento do atendimento a serviços prestados para contas e a disseminação de estatísticas sanitárias e epidemiológicas
outras esferas de governo. médico-hospitalares.
§ 2º Nos casos de Estados e Municípios sujeitos a notório pro- Art. 40. (Vetado)
cesso de migração, os critérios demográficos mencionados nesta lei Art. 41. As ações desenvolvidas pela Fundação das Pioneiras
serão ponderados por outros indicadores de crescimento popula- Sociais e pelo Instituto Nacional do Câncer, supervisionadas pela
cional, em especial o número de eleitores registrados. direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), permanecerão
§ 3º (Vetado). como referencial de prestação de serviços, formação de recursos
§ 4º (Vetado). humanos e para transferência de tecnologia.
§ 5º (Vetado). Art. 42. (Vetado).
§ 6º O disposto no parágrafo anterior não prejudica a atuação Art. 43. A gratuidade das ações e serviços de saúde fica preser-
dos órgãos de controle interno e externo e nem a aplicação de pe- vada nos serviços públicos contratados, ressalvando-se as cláusulas
nalidades previstas em lei, em caso de irregularidades verificadas dos contratos ou convênios estabelecidos com as entidades priva-
na gestão dos recursos transferidos. das.
Art. 44. (Vetado).
CAPÍTULO III Art. 45. Os serviços de saúde dos hospitais universitários e de
DO PLANEJAMENTO E DO ORÇAMENTO ensino integram-se ao Sistema Único de Saúde (SUS), mediante
convênio, preservada a sua autonomia administrativa, em relação
Art. 36. O processo de planejamento e orçamento do Sistema ao patrimônio, aos recursos humanos e financeiros, ensino, pesqui-
Único de Saúde (SUS) será ascendente, do nível local até o federal, sa e extensão nos limites conferidos pelas instituições a que este-
ouvidos seus órgãos deliberativos, compatibilizando-se as necessi- jam vinculados.
dades da política de saúde com a disponibilidade de recursos em § 1º Os serviços de saúde de sistemas estaduais e municipais
planos de saúde dos Municípios, dos Estados, do Distrito Federal e
de previdência social deverão integrar-se à direção correspondente
da União.
do Sistema Único de Saúde (SUS), conforme seu âmbito de atuação,
§ 1º Os planos de saúde serão a base das atividades e progra-
bem como quaisquer outros órgãos e serviços de saúde.
mações de cada nível de direção do Sistema Único de Saúde (SUS),
§ 2º Em tempo de paz e havendo interesse recíproco, os servi-
e seu financiamento será previsto na respectiva proposta orçamen-
ços de saúde das Forças Armadas poderão integrar-se ao Sistema
tária.
Único de Saúde (SUS), conforme se dispuser em convênio que, para
§ 2º É vedada a transferência de recursos para o financiamento
esse fim, for firmado.
de ações não previstas nos planos de saúde, exceto em situações
Art. 46. o Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecerá mecanis-
emergenciais ou de calamidade pública, na área de saúde.
Art. 37. O Conselho Nacional de Saúde estabelecerá as dire- mos de incentivos à participação do setor privado no investimento
trizes a serem observadas na elaboração dos planos de saúde, em em ciência e tecnologia e estimulará a transferência de tecnologia
função das características epidemiológicas e da organização dos das universidades e institutos de pesquisa aos serviços de saúde
serviços em cada jurisdição administrativa. nos Estados, Distrito Federal e Municípios, e às empresas nacionais.
Art. 38. Não será permitida a destinação de subvenções e auxí- Art. 47. O Ministério da Saúde, em articulação com os níveis es-
lios a instituições prestadoras de serviços de saúde com finalidade taduais e municipais do Sistema Único de Saúde (SUS), organizará,
lucrativa. no prazo de dois anos, um sistema nacional de informações em saú-
de, integrado em todo o território nacional, abrangendo questões
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS epidemiológicas e de prestação de serviços.
Art. 48. (Vetado).
Art. 39. (Vetado). Art. 49. (Vetado).
§ 1º (Vetado). Art. 50. Os convênios entre a União, os Estados e os Municípios,
§ 2º (Vetado). celebrados para implantação dos Sistemas Unificados e Descentrali-
§ 3º (Vetado). zados de Saúde, ficarão rescindidos à proporção que seu objeto for
§ 4º (Vetado). sendo absorvido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
§ 5º A cessão de uso dos imóveis de propriedade do Inamps Art. 51. (Vetado).
para órgãos integrantes do Sistema Único de Saúde (SUS) será feita Art. 52. Sem prejuízo de outras sanções cabíveis, constitui cri-
de modo a preservá-los como patrimônio da Seguridade Social. me de emprego irregular de verbas ou rendas públicas (Código Pe-
§ 6º Os imóveis de que trata o parágrafo anterior serão inven- nal, art. 315) a utilização de recursos financeiros do Sistema Único
tariados com todos os seus acessórios, equipamentos e outros bens de Saúde (SUS) em finalidades diversas das previstas nesta lei.
móveis e ficarão disponíveis para utilização pelo órgão de direção Art. 53. (Vetado).
municipal do Sistema Único de Saúde - SUS ou, eventualmente, Art. 53-A. Na qualidade de ações e serviços de saúde, as ati-
pelo estadual, em cuja circunscrição administrativa se encontrem, vidades de apoio à assistência à saúde são aquelas desenvolvidas
mediante simples termo de recebimento. pelos laboratórios de genética humana, produção e fornecimento
§ 7º (Vetado). de medicamentos e produtos para saúde, laboratórios de analises
clínicas, anatomia patológica e de diagnóstico por imagem e são
livres à participação direta ou indireta de empresas ou de capitais
estrangeiros. (Incluído pela Lei nº 13.097, de 2015)
Art. 54. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Art. 55. São revogadas a Lei nº. 2.312, de 3 de setembro de Envolve ainda a assistência em cirurgia reparadora (de muti-
1954, a Lei nº. 6.229, de 17 de julho de 1975, e demais disposições lações, traumas ou queimaduras graves), cirurgia bariátrica (para
em contrário. os casos de obesidade mórbida), cirurgia reprodutiva, reprodução
assistida, genética clínica, terapia nutricional, distrofia muscular
progressiva, osteogênese imperfeita (doença genética que provoca
NÍVEIS PROGRESSIVOS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE a fragilidade dos ossos) e fibrose cística (doença genética que aco-
mete vários órgãos do corpo causando deficiências progressivas).
Para ofertar uma atenção em saúde mais específica e adequa-
da à saúde foi descentralizada para melhor triar os casos e desafo- Entre os procedimentos ambulatoriais de alta complexidade
gar centros especializados de alta complexidade de casos de menor estão a quimioterapia, a radioterapia, a hemoterapia, a ressonância
urgência ou de fácil resolução. magnética e a medicina nuclear, além do fornecimento de medi-
Dessa forma, a oferta de saúde passou a ser a nível Primário, camentos excepcionais, tais como próteses ósseas, marca-passos,
Secundário e Terciário, com alguns hospitais já se enquadrando stendt cardíaco, etc.
como de nível Quaternário.
Classificam-se como de Nível Primário, as Unidades Básicas de
Saúde, ou Postos de Saúde, onde se configura a porta de entrada
do Sistema Único de Saúde. Nesse nível de atenção são marcados DIREITOS DOS USUÁRIOS DO SUS
exames e consultas além da realização de procedimentos básicos
como troca de curativos.
A carta que você tem nas mãos baseia-se em seis princípios
Como Nível Secundário, estão as Clínicas e Unidades de Pronto
básicos de cidadania. Juntos, eles asseguram ao cidadão o direito
Atendimento, bem como Hospitais Escolas. Nesses são realizados
básico ao ingresso digno nos sistemas de saúde, sejam eles públicos
procedimentos de intervenção bem como tratamentos a casos crô-
ou privados. A carta é também uma importante ferramenta para
nicos e agudos de doenças.
Nos níveis Terciários, como os Hospitais de Grande Porte, se- que você conheça seus direitos e possa ajudar o Brasil a ter um sis-
jam mantidos pelo estado seja pela rede privada, são realizadas tema de saúde com muito mais qualidade.
manobras mais invasivas e de maior risco à vida, bem como são
realizadas condutas de manutenção dos sinais vitais, como suporte PRINCÍPIOS DESTA CARTA*
básico à vida. Nesses hospitais, também podem funcionar serviços
Quaternários, de transplante de tecidos, como Pulmão, Cora- 1. Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado
ção, Fígado, Rins, dentre outros. aos sistemas de saúde.
Dessa maneira seccionada, pelo menos em tese, a garantia ao 2. Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo
acesso em consonância com a gravidade e urgência ficam garanti- para seu problema.
dos ao usuário. 3. Todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, aco-
lhedor e livre de qualquer discriminação.
O QUE É ATENÇÃO PRIMÁRIA, SECUNDÁRIA E TERCIÁRIA 4. Todo cidadão tem direito a atendimento que respeite a sua
pessoa, seus valores e seus direitos.
A Atenção Primária é constituída pelas Unidades Básicas de 5. Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu
Saúde (UBS), pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), pela tratamento aconteça da forma adequada.
Equipe de Saúde da Família (ESF) e pelo Núcleo de Apoio à Saúde 6. Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores
da Família (NASF) enquanto o nível intermediário de atenção fica a da saúde para que os princípios anteriores sejam cumpridos.
encargo do SAMU 192 (Serviço de Atendimento Móvel as Urgência),
das Unidades de Pronto Atendimento (UPA), e o atendimento de Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde
média e alta complexidade feito nos hospitais.
Considerando o art. 196 da Constituição Federal, que garante
A Atenção Secundária é formada pelos serviços especializados o acesso universal e igualitário a ações e serviços para promoção,
em nível ambulatorial e hospitalar, com densidade tecnológica in- proteção e recuperação da saúde.
termediária entre a atenção primária e a terciária, historicamente Considerando a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que
interpretada como procedimentos de média complexidade. Esse ní-
dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recupera-
vel compreende serviços médicos especializados, de apoio diagnós-
ção da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços cor-
tico e terapêutico e atendimento de urgência e emergência.
respondentes.
Considerando a Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que
A Atenção Terciária ou alta complexidade designa o conjunto
de terapias e procedimentos de elevada especialização. Organiza dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema
também procedimentos que envolvem alta tecnologia e/ou alto Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamen-
custo, como oncologia, cardiologia, oftalmologia, transplantes, par- tais de recursos financeiros na área da saúde.
to de alto risco, traumato-ortopedia, neurocirurgia, diálise (para pa- Considerando a necessidade de promover mudanças de atitu-
cientes com doença renal crônica), otologia (para o tratamento de de em todas as práticas de atenção e gestão que fortaleçam a auto-
doenças no aparelho auditivo). nomia e o direito do cidadão.
O Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Saúde e a Co-
missão Intergestora Tripartite apresentam a Carta dos Direitos dos
Usuários da Saúde e convidam todos os gestores, profissionais de
saúde, organizações civis, instituições e pessoas interessadas para
que promovam o respeito destes direitos e assegurem seu reconhe-
cimento efetivo e sua aplicação.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O PRIMEIRO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o acesso ordena- g) no caso de procedimentos diagnósticos e terapêuticos inva-
do e organizado aos sistemas de saúde, visando a um atendimento sivos ou cirúrgicos, a necessidade ou não de anestesia e seu tipo
mais justo e eficaz. e duração, partes do corpo afetadas pelos procedimentos, instru-
Todos os cidadãos têm direito ao acesso às ações e aos serviços mental a ser utilizado, efeitos colaterais, riscos ou consequências
de promoção, proteção e recuperação da saúde promovidos pelo indesejáveis, duração prevista dos procedimentos e tempo de re-
Sistema Único de Saúde: cuperação;
I. O acesso se dará prioritariamente pelos Serviços de Saúde da h) finalidade dos materiais coletados para exames;
Atenção Básica próximos ao local de moradia. i) evolução provável do problema de saúde;
II. Nas situações de urgência/emergência, o atendimento se j) informações sobre o custo das intervenções das quais se be-
dará de forma incondicional, em qualquer unidade do sistema. neficiou o usuário.
III. Em caso de risco de vida ou lesão grave, deverá ser assegu- III. Registro em seu prontuário, entre outras, das seguintes in-
rada a remoção do usuário em condições seguras, que não implique formações, de modo legível e atualizado:
maiores danos, para um estabelecimento de saúde com capacidade a) motivo do atendimento e/ou internação, dados de observa-
para recebê-lo. ção clínica, evolução clínica, prescrição terapêutica, avaliações da
IV. O encaminhamento à Atenção Especializada e Hospitalar equipe multiprofissional, procedimentos e cuidados de enferma-
será estabelecido em função da necessidade de saúde e indicação gem e, quando for o caso, procedimentos cirúrgicos e anestésicos,
clínica, levando-se em conta critérios de vulnerabilidade e risco com odontológicos, resultados de exames complementares laboratoriais
apoio de centrais de regulação ou outros mecanismos que facilitem e radiológicos;
o acesso a serviços de retaguarda. b) registro da quantidade de sangue recebida e dados que per-
V. Quando houver limitação circunstancial na capacidade de mitam identificar sua origem, sorologias efetuadas e prazo de vali-
atendimento do serviço de saúde, fica sob responsabilidade do ges- dade;
tor local a pronta resolução das condições para o acolhimento e c) identificação do responsável pelas anotações.
IV. O acesso à anestesia em todas as situações em que for indi-
devido encaminhamento do usuário do SUS, devendo ser prestadas
cada, bem como a medicações e procedimentos que possam aliviar
informações claras ao usuário sobre os critérios de priorização do
a dor e o sofrimento.
acesso na localidade por ora indisponível. A prioridade deve ser ba-
V. O recebimento das receitas e prescrições terapêuticas, que
seada em critérios de vulnerabilidade clínica e social, sem qualquer
devem conter:
tipo de discriminação ou privilégio. a) o nome genérico das substâncias prescritas;
VI. As informações sobre os serviços de saúde contendo crité- b) clara indicação da posologia e dosagem;
rios de acesso, endereços, telefones, horários de funcionamento, c) escrita impressa, datilografadas ou digitadas, ou em caligra-
nome e horário de trabalho dos profissionais das equipes assisten- fia legível;
ciais devem estar disponíveis aos cidadãos nos locais onde a assis- d) textos sem códigos ou abreviaturas;
tência é prestada e nos espaços de controle social. e) o nome legível do profissional e seu número de registro no
VII. O acesso de que trata o caput inclui as ações de proteção e órgão de controle e regulamentação da profissão;
prevenção relativas a riscos e agravos à saúde e ao meio ambiente, f) a assinatura do profissional e data.
as devidas informações relativas às ações de vigilância sanitária e VI. O acesso à continuidade da atenção com o apoio domiciliar,
epidemiológica e os determinantes da saúde individual e coletiva. quando pertinente, treinamento em autocuidado que maximize sua
VIII. A garantia à acessibilidade implica o fim das barreiras ar- autonomia ou acompanhamento em centros de reabilitação psicos-
quitetônicas e de comunicabilidade, oferecendo condições de aten- social ou em serviços de menor ou maior complexidade assistencial.
dimento adequadas, especialmente a pessoas que vivem com defi- VII. Encaminhamentos para outras unidades de saúde, obser-
ciências, idosos e gestantes. vando:
O SEGUNDO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o tratamento ade- a) caligrafia legível ou datilografados/digitados ou por meio
quado e efetivo para seu problema, visando à melhoria da qualida- eletrônico;
de dos serviços prestados. b) resumo da história clínica, hipóteses diagnósticas, tratamen-
É direito dos cidadãos ter atendimento resolutivo com qualida- to realizado, evolução e o motivo do encaminhamento;
de, em função da natureza do agravo, com garantia de continuidade c) a não utilização de códigos ou abreviaturas;
da atenção, sempre que necessário, tendo garantidos: d) nome legível do profissional e seu número de registro no ór-
I. Atendimento com presteza, tecnologia apropriada e condi- gão de controle e regulamentação da profissão, assinado e datado;
ções de trabalho adequadas para os profissionais da saúde. e) identificação da unidade de referência e da unidade refe-
II. Informações sobre o seu estado de saúde, extensivas aos renciada.
seus familiares e/ou acompanhantes, de maneira clara, objetiva, O TERCEIRO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o atendimento
acolhedor e livre de discriminação, visando à igualdade de trata-
respeitosa, compreensível e adaptada à condição cultural, respei-
mento e a uma relação mais pessoal e saudável.
tados os limites éticos por parte da equipe de saúde sobre, entre
É direito dos cidadãos atendimento acolhedor na rede de ser-
outras:
viços de saúde de forma humanizada, livre de qualquer discrimi-
a) hipóteses diagnósticas;
nação, restrição ou negação em função de idade, raça, cor, etnia,
b) diagnósticos confirmados; orientação sexual, identidade de gênero, características genéticas,
c) exames solicitados; condições econômicas ou sociais, estado de saúde, ser portador de
d) objetivos dos procedimentos diagnósticos, cirúrgicos, pre- patologia ou pessoa vivendo com deficiência, garantindo-lhes:
ventivos ou terapêuticos; I. A identificação pelo nome e sobrenome, devendo existir em
e) riscos, benefícios e inconvenientes das medidas diagnósticas todo documento de identificação do usuário um campo para se re-
e terapêuticas propostas; gistrar o nome pelo qual prefere ser chamado, independentemente
f) duração prevista do tratamento proposto; do registro civil, não podendo ser tratado por número, nome da do-
ença, códigos, de modo genérico, desrespeitoso ou preconceituoso.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

II. Profissionais que se responsabilizem por sua atenção, iden- VIII. Receber ou recusar assistência religiosa, psicológica e so-
tificados por meio de crachás visíveis, legíveis ou por outras formas cial.
de identificação de fácil percepção. IX. Ter liberdade de procurar segunda opinião ou parecer de
III. Nas consultas, procedimentos diagnósticos, preventivos, ci- outro profissional ou serviço sobre seu estado de saúde ou sobre
rúrgicos, terapêuticos e internações, o respeito a: procedimentos recomendados, em qualquer fase do tratamento.
a) integridade física; X. Ser prévia e expressamente informado quando o tratamento
b) privacidade e conforto; proposto for experimental ou fizer parte de pesquisa, decidindo de
c) individualidade; forma livre e esclarecida, sobre sua participação.
d) seus valores éticos, culturais e religiosos; XI. Saber o nome dos profissionais que trabalham nas unidades
e) confidencialidade de toda e qualquer informação pessoal de saúde, bem como dos gerentes e/ou diretores e gestor respon-
f) segurança do procedimento; sável pelo serviço.
g) bem-estar psíquico e emocional. XII. Ter acesso aos mecanismos de escuta para apresentar su-
IV. O direito ao acompanhamento por pessoa de sua livre esco- gestões, reclamações e denúncias aos gestores e às gerências das
lha nas consultas, exames e internações, no momento do pré-parto, unidades prestadoras de serviços de saúde e às ouvidorias, sendo
parto e pós-parto e em todas as situações previstas em lei (criança, respeitada a privacidade, o sigilo e a confidencialidade.
adolescente, pessoas vivendo com deficiências ou idoso). Nas de- XIII. Participar dos processos de indicação e/ou eleição de seus
mais situações, ter direito a acompanhante e/ou visita diária, não representantes nas conferências, nos conselhos nacional, estadual,
inferior a duas horas durante as internações, ressalvadas as situa- do Distrito Federal, municipal e regional ou distrital de saúde e con-
ções técnicas não indicadas. selhos gestores de serviços.
V. Se criança ou adolescente, em casos de internação, conti- O QUINTO PRINCÍPIO assegura as responsabilidades que o ci-
nuidade das atividades escolares, bem como desfrutar de alguma dadão também deve ter para que seu tratamento aconteça de for-
forma de recreação. ma adequada.
VI. A informação a respeito de diferentes possibilidades tera- Todo cidadão deve se comprometer a:
pêuticas de acordo com sua condição clínica, considerando as evi- I. Prestar informações apropriadas nos atendimentos, nas con-
sultas e nas internações sobre queixas, enfermidades e hospitali-
dências científicas e a relação custo-benefício das alternativas de
zações anteriores, história de uso de medicamentos e/ou drogas,
tratamento, com direito à recusa, atestado na presença de teste-
reações alérgicas e demais indicadores de sua situação de saúde.
munha.
II. Manifestar a compreensão sobre as informações e/ou orien-
VII. A opção pelo local de morte.
tações recebidas e, caso subsistam dúvidas, solicitar esclarecimen-
VIII. O recebimento, quando internado, de visita de médico de
tos sobre elas.
sua referência, que não pertença àquela unidade hospitalar, sendo
III. Seguir o plano de tratamento recomendado pelo profissio-
facultado a esse profissional o acesso ao prontuário.
nal e pela equipe de saúde responsável pelo seu cuidado, se com-
O QUARTO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o atendimento que
preendido e aceito, participando ativamente do projeto terapêuti-
respeite os valores e direitos do paciente, visando a preservar sua co.
cidadania durante o tratamento. IV. Informar ao profissional de saúde e/ou à equipe responsável
O respeito à cidadania no Sistema de Saúde deve ainda obser- sobre qualquer mudança inesperada de sua condição de saúde.
var os seguintes direitos: V. Assumir responsabilidades pela recusa a procedimentos ou
I. Escolher o tipo de plano de saúde que melhor lhe convier, de tratamentos recomendados e pela inobservância das orientações
acordo com as exigências mínimas constantes na legislação, e ter fornecidas pela equipe de saúde.
sido informado pela operadora da existência e disponibilidade do VI. Contribuir para o bem-estar de todos que circulam no am-
plano referência. biente de saúde, evitando principalmente ruídos, uso de fumo, de-
II. O sigilo e a confidencialidade de todas as informações pes- rivados do tabaco e bebidas alcoólicas, colaborando com a limpeza
soais, mesmo após a morte, salvo quando houver expressa autori- do ambiente.
zação do usuário ou em caso de imposição legal, como situações de VII. Adotar comportamento respeitoso e cordial com os demais
risco à saúde pública. usuários e trabalhadores da saúde.
III. Acesso a qualquer momento, do paciente ou terceiro por VIII. Ter sempre disponíveis para apresentação seus documen-
ele autorizado, a seu prontuário e aos dados nele registrados, bem tos e resultados de exames que permanecem em seu poder.
como ter garantido o encaminhamento de cópia a outra unidade de IX. Observar e cumprir o estatuto, o regimento geral ou outros
saúde, em caso de transferência. regulamentos do espaço de saúde, desde que estejam em conso-
IV. Recebimento de laudo médico, quando solicitar. nância com esta carta.
V. Consentimento ou recusa de forma livre, voluntária e es- X. Atentar para situações da sua vida cotidiana em que sua saú-
clarecida, depois de adequada informação, a quaisquer procedi- de esteja em risco e as possibilidades de redução da vulnerabilidade
mentos diagnósticos, preventivos ou terapêuticos, salvo se isso ao adoecimento.
acarretar risco à saúde pública. O consentimento ou a recusa da- XI. Comunicar aos serviços de saúde ou à vigilância sanitária ir-
dos anteriormente poderão ser revogados a qualquer instante, por regularidades relacionadas ao uso e à oferta de produtos e serviços
decisão livre e esclarecida, sem que lhe sejam imputadas sanções que afetem a saúde em ambientes públicos e privados.
morais, administrativas ou legais. XII. Participar de eventos de promoção de saúde e desenvolver
VI. Não ser submetido a nenhum exame, sem conhecimento hábitos e atitudes saudáveis que melhorem a qualidade de vida.
e consentimento, nos locais de trabalho (pré-admissionais ou pe- O SEXTO PRINCÍPIO assegura o comprometimento dos gestores
riódicos), nos estabelecimentos prisionais e de ensino, públicos ou para que os princípios anteriores sejam cumpridos.
privados. Os gestores do SUS, das três esferas de governo, para obser-
VII. A indicação de um representante legal de sua livre escolha, vância desses princípios, se comprometem a:
a quem confiará a tomada de decisões para a eventualidade de tor- I. Promover o respeito e o cumprimento desses direitos e de-
nar-se incapaz de exercer sua autonomia. veres com a adoção de medidas progressivas para sua efetivação.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

II. Adotar as providências necessárias para subsidiar a divulga- 2 – Controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substân-
ção desta carta, inserindo em suas ações as diretrizes relativas aos cias de interesse para a saúde.
direitos e deveres dos usuários, ora formalizada. 3 – Formular, avaliar e apoiar políticas nacionais no campo da
III. Incentivar e implementar formas de participação dos traba- saúde.
lhadores e usuários nas instâncias e nos órgãos de controle social 4 – Definir e coordenar os sistemas de redes integradas de alta
do SUS. complexidade de rede de laboratórios de saúde pública, de vigilân-
IV. Promover atualizações necessárias nos regimentos e estatu- cia sanitária e epidemiológica.
tos dos serviços de saúde, adequando-os a esta carta. 5 – Estabelecer normas e executar a vigilância sanitária de por-
V. Adotar formas para o cumprimento efetivo da legislação e tos, aeroportos e fronteiras em parceria com estados e municípios.
normatizações do sistema de saúde. 6 – Participar do financiamento da assistência farmacêutica bá-
sica e adquirir e distribuir para os estados os medicamentos de alto
Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde custo.
7 – Implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes
I – RESPONSABILIDADE PELA SAÚDE DO CIDADÃO e Derivados juntamente com estados e municípios.
Compete ao município “prestar, com a cooperação técnica e 8 – Participar na implementação das políticas de controle das
financeira da União e do estado, serviços de atendimento à saúde agressões ao meio ambiente, de saneamento básico e relativas às
da população” – Constituição da República Federativa do Brasil, art. condições e aos ambientes de trabalho.
30, item VII. 9 – Elaborar normas para regular as relações entre o SUS e os
II – RESPONSABILIDADES PELA GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE serviços privados contratados de assistência à saúde.
SAÚDE – LEI Nº 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990 10 – Auditar, acompanhar, controlar e avaliar as ações e os
serviços de saúde, respeitadas as competências estaduais e muni-
A. DOS GOVERNOS MUNICIPAIS E DO DISTRITO FEDERAL: cipais.

1 – Gerenciar e executar os serviços públicos de saúde. PORTARIA Nº 1.820, DE 13 DE AGOSTO DE 2009


2 – Celebrar contratos com entidades prestadoras de serviços
privados de saúde, bem como avaliar sua execução. Dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde.
3 – Participar do planejamento, programação e organização do
SUS em articulação com o gestor estadual. O Ministro de Estado da Saúde, no uso das atribuições prevista
4 – Executar serviços de vigilância epidemiológica, sanitária, no inciso II do parágrafo único do art. 87 da Constituição, e conside-
de alimentação e nutrição, de saneamento básico e de saúde do rando os arts. 6º e 196 da Constituição Federal;
trabalhador. Considerando a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que
5 – Gerir laboratórios públicos de saúde e hemocentros. dispõe sobre as condições para a promoção, a proteção e a recu-
6 – Celebrar contratos e convênios com entidades prestadoras peração da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
de serviços privados de saúde, assim como controlar e avaliar sua correspondentes;
execução. Considerando a Política Nacional de Humanização da Atenção e
7 – Participar do financiamento e garantir o fornecimento de da Gestão do SUS, de 2003, do Ministério da Saúde; e
medicamentos básicos. Considerando a Política Nacional de Gestão Estratégica e Parti-
cipativa no SUS, de 2007, do Ministério da Saúde, resolve:
B. DOS GOVERNOS ESTADUAIS E DO DISTRITO FEDERAL: Art. 1º Dispor sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde
nos termos da legislação vigente.
1 – Acompanhar, controlar e avaliar as redes assistenciais do Art. 2º Toda pessoa tem direito ao acesso a bens e serviços
SUS. ordenados e organizados para garantia da promoção, prevenção,
2 – Prestar apoio técnico e financeiro aos municípios. proteção, tratamento e recuperação da saúde.
3 – Executar diretamente ações e serviços de saúde na rede § 1º O acesso será preferencialmente nos serviços de Atenção
própria. Básica integrados por centros de saúde, postos de saúde, unidades
4 – Gerir sistemas públicos de alta complexidade de referência de saúde da família e unidades básicas de saúde ou similares mais
estadual e regional. próximos de sua casa
5 – Acompanhar, avaliar e divulgar os seus indicadores de mor- § 2º Nas situações de urgência/emergência, qualquer serviço
bidade e mortalidade. de saúde deve receber e cuidar da pessoa, bem como encaminhá-la
6 – Participar do financiamento da assistência farmacêutica bá- para outro serviço em caso de necessidade.
sica e adquirir e distribuir os medicamentos de alto custo em parce- § 3º Em caso de risco de vida ou lesão grave, deverá ser as-
ria com o governo federal. segurada a remoção do usuário, em tempo hábil e em condições
7 – Coordenar e, em caráter complementar, executar ações e seguras, para um serviço de saúde com capacidade para resolver
serviços de vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, alimenta- seu tipo de problema.
ção e nutrição e saúde do trabalhador. § 4º O encaminhamento às especialidades e aos hospitais, pela
8 – Implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes Atenção Básica, será estabelecido em função da necessidade de
e Derivados juntamente com a União e municípios. saúde e indicação clínica, levando-se em conta a gravidade do pro-
9 – Coordenar a rede estadual de laboratórios de saúde pública blema a ser analisado pelas centrais de regulação.
e hemocentros. § 5º Quando houver alguma dificuldade temporária para aten-
der às pessoas, é da responsabilidade da direção e da equipe do
C. DO GOVERNO FEDERAL: serviço acolher, dar informações claras e encaminhá-las sem discri-
minação e privilégios.
1 – Prestar cooperação técnica e financeira aos estados, muni- Art. 3º Toda pessoa tem direito ao tratamento adequado e no
cípios e Distrito Federal. tempo certo para resolver o seu problema de saúde.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Parágrafo único. É direito da pessoa ter atendimento adequa- VIII – o acesso à continuidade da atenção no domicílio, quando
do, com qualidade, no tempo certo e com garantia de continuidade pertinente, com estímulo e orientação ao autocuidado que fortale-
do tratamento, e para isso deve ser assegurado: ça sua autonomia, e a garantia de acompanhamento em qualquer
I – atendimento ágil, com tecnologia apropriada, por equipe serviço que for necessário;
multiprofissional capacitada e em condições adequadas de atendi- IX – o encaminhamento para outros serviços de saúde deve ser
mento; por meio de um documento que contenha:
II – informações sobre o seu estado de saúde, de maneira clara, a) caligrafia legível ou datilografada, ou digitada, ou por meio
objetiva, respeitosa e compreensível quanto a: eletrônico;
a) possíveis diagnósticos; b) resumo da história clínica, possíveis diagnósticos, tratamen-
b) diagnósticos confirmados; to realizado, evolução e o motivo do encaminhamento;
c) tipos, justificativas e riscos dos exames solicitados; c) linguagem clara, evitando-se códigos ou abreviaturas;
d) resultados dos exames realizados; d) nome legível do profissional e seu número de registro no
e) objetivos, riscos e benefícios de procedimentos diagnósti- conselho profissional, assinado e datado;
cos, cirúrgicos, preventivos ou de tratamento; e) identificação da unidade de saúde que recebeu a pessoa,
f) duração prevista do tratamento proposto; assim como da unidade para a qual está sendo encaminhada.
g) procedimentos diagnósticos e tratamentos invasivos ou ci- Art. 4º Toda pessoa tem direito ao atendimento humanizado
rúrgicos; e acolhedor, realizado por profissionais qualificados, em ambiente
h) necessidade ou não de anestesia e seu tipo e duração; limpo, confortável e acessível a todos.
i) partes do corpo afetadas pelos procedimentos, instrumental Parágrafo único. É direito da pessoa, na rede de serviços de
saúde, ter atendimento humanizado, acolhedor, livre de qualquer
a ser utilizado, efeitos colaterais, riscos ou consequências indese-
discriminação, restrição ou negação em virtude de idade, raça, cor,
jáveis;
etnia, religião, orientação sexual, identidade de gênero, condições
j) duração prevista dos procedimentos e tempo de recupera-
econômicas ou sociais, estado de saúde, de anomalia, patologia ou
ção;
deficiência, garantindo-lhe:
k) evolução provável do problema de saúde; I – identificação pelo nome e sobrenome civil, devendo existir,
l) informações sobre o custo das intervenções das quais a pes- em todo documento do usuário e usuária, um campo para se re-
soa se beneficiou; gistrar o nome social, independentemente do registro civil, sendo
m) outras informações que forem necessárias. assegurado o uso do nome de preferência, não podendo ser iden-
III – toda pessoa tem o direito de decidir se seus familiares e tificado por número, nome ou código da doença, ou outras formas
acompanhantes deverão ser informados sobre seu estado de saú- desrespeitosas, ou preconceituosas;
de; II – a identificação dos profissionais, por crachás visíveis, legí-
IV – registro atualizado e legível no prontuário das seguintes veis e/ou por outras formas de identificação de fácil percepção;
informações: III – nas consultas, nos procedimentos diagnósticos, preventi-
a) motivo do atendimento e/ou internação; vos, cirúrgicos, terapêuticos e internações, o seguinte:
b) dados de observação e da evolução clínica; a) à integridade física;
c) prescrição terapêutica; b) à privacidade e ao conforto;
d) avaliações dos profissionais da equipe; c) à individualidade;
e) procedimentos e cuidados de enfermagem; d) aos seus valores éticos, culturais e religiosos;
f) quando for o caso, procedimentos cirúrgicos e anestésicos, e) à confidencialidade de toda e qualquer informação pessoal;
odontológicos, resultados de exames complementares laboratoriais f) à segurança do procedimento;
e radiológicos; g) ao bem-estar psíquico e emocional.
g) a quantidade de sangue recebida e dados que garantam a IV – o atendimento agendado nos serviços de saúde, preferen-
qualidade do sangue, como origem, sorologias efetuadas e prazo cialmente com hora marcada;
de validade; V – o direito a acompanhante, pessoa de sua livre escolha, nas
h) identificação do responsável pelas anotações; consultas e exames;
i) outras informações que se fizerem necessárias. VI – o direito a acompanhante, nos casos de internação, nos
V – o acesso à anestesia em todas as situações em que for indi- casos previstos em lei, assim como naqueles em que a autonomia
cada, bem como a medicações e procedimentos que possam aliviar da pessoa estiver comprometida;
VII – o direito à visita diária, não inferior a duas horas, preferen-
a dor e o sofrimento;
cialmente aberta, em todas as unidades de internação, ressalvadas
VI – o recebimento das receitas e as prescrições terapêuticas
as situações técnicas não indicadas;
devem conter:
VIII – a continuidade das atividades escolares, bem como o es-
a) o nome genérico das substâncias prescritas;
tímulo à recreação, em casos de internação de criança ou adoles-
b) clara indicação da dose e do modo de usar; cente;
c) escrita impressa, datilografada ou digitada, ou em caligrafia IX – a informação a respeito de diferentes possibilidades tera-
legível; pêuticas, de acordo com sua condição clínica, baseado nas evidên-
d) textos sem códigos ou abreviaturas; cias científicas, e a relação custo-benefício das alternativas de trata-
e) o nome legível do profissional e seu número de registro no mento, com direito à recusa, atestado na presença de testemunha;
conselho profissional; X – a escolha do local de morte;
f) a assinatura do profissional e a data. XI – o direito à escolha de alternativa de tratamento, quando
VII – recebimento, quando prescritos, dos medicamentos que houver, e à consideração da recusa de tratamento proposto;
compõem a farmácia básica e, nos casos de necessidade de me- XII – o recebimento de visita, quando internado, de outros pro-
dicamentos de alto custo, deve ser garantido o acesso conforme fissionais de saúde que não pertençam àquela unidade hospitalar,
protocolos e normas do Ministério da Saúde; sendo facultado a esse profissional o acesso ao prontuário;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

XIII – a opção de marcação de atendimento por telefone para XII – a participação nos processos de indicação e/ou eleição de
pessoas com dificuldade de locomoção; seus representantes nas conferências, nos conselhos de saúde e
XIV – o recebimento de visita de religiosos de qualquer credo, nos conselhos gestores da rede SUS.
sem que isso acarrete mudança da rotina de tratamento e do es- Art. 6º Toda pessoa tem responsabilidade para que seu trata-
tabelecimento e ameaça à segurança ou perturbações a si ou aos mento e recuperação sejam adequados e sem interrupção.
outros; Parágrafo único. Para que seja cumprido o disposto no caput
XV – a não-limitação de acesso aos serviços de saúde por bar- deste artigo, as pessoas deverão:
reiras físicas, tecnológicas e de comunicação; I – prestar informações apropriadas nos atendimentos, nas
XVI – a espera por atendimento em lugares protegidos, limpos consultas e nas internações sobre:
e ventilados, tendo à sua disposição água potável e sanitários, e a) queixas;
devendo os serviços de saúde se organizar de tal forma que seja b) enfermidades e hospitalizações anteriores;
evitada a demora nas filas. c) história de uso de medicamentos, drogas, reações alérgicas;
Art. 5º Toda pessoa deve ter seus valores, cultura e direitos res- d) demais informações sobre seu estado de saúde.
peitados na relação com os serviços de saúde, garantindo-lhe: II – expressar se compreendeu as informações e orientações
I – a escolha do tipo de plano de saúde que melhor lhe convier, recebidas e, caso ainda tenha dúvidas, solicitar esclarecimento so-
de acordo com as exigências mínimas constantes na legislação, e a bre elas;
informação, pela operadora, sobre a cobertura, custos e condições III – seguir o plano de tratamento proposto pelo profissional ou
do plano que está adquirindo; pela equipe de saúde responsável pelo seu cuidado, que deve ser
II – o sigilo e a confidencialidade de todas as informações pes- compreendido e aceito pela pessoa que também é responsável pelo
soais, mesmo após a morte, salvo nos casos de risco à saúde públi- seu tratamento;
ca; IV – informar ao profissional de saúde ou à equipe responsável
III – o acesso da pessoa ao conteúdo do seu prontuário ou de sobre qualquer fato que ocorra em relação a sua condição de saúde;
pessoa por ele autorizada e a garantia de envio e fornecimento de V – assumir a responsabilidade pela recusa a procedimentos,
cópia, em caso de encaminhamento a outro serviço ou mudança exames ou tratamentos recomendados e pelo descumprimento das
de domicilio; orientações do profissional ou da equipe de saúde;
IV – a obtenção de laudo, relatório e atestado médico, sempre VI – contribuir para o bem-estar de todos nos serviços de saú-
que justificado por sua situação de saúde; de, evitando ruídos, uso de fumo e derivados do tabaco e bebidas
V – o consentimento livre, voluntário e esclarecido a quaisquer alcoólicas, colaborando com a segurança e a limpeza do ambiente;
procedimentos diagnósticos, preventivos ou terapêuticos, salvo nos VII – adotar comportamento respeitoso e cordial com as de-
casos que acarretem risco à saúde pública, considerando que o con- mais pessoas que usam ou que trabalham no estabelecimento de
sentimento anteriormente dado poderá ser revogado a qualquer saúde;
instante, por decisão livre e esclarecida, sem que sejam imputadas VIII – ter em mão seus documentos e, quando solicitados, os
à pessoa sanções morais, financeiras ou legais; resultados de exames que estejam em seu poder;
VI – a não-submissão a nenhum exame de saúde pré-admissio- IX – cumprir as normas dos serviços de saúde, que devem res-
guardar todos os princípios desta Portaria;
nal, periódico ou demissional, sem conhecimento e consentimento,
X – ficar atento às situações de sua vida cotidiana que colo-
exceto nos casos de risco coletivo;
quem em risco sua saúde e a da comunidade, e adotar medidas
VII – a indicação, de sua livre escolha, a quem confiará a toma-
preventivas;
da de decisões para a eventualidade de tornar-se incapaz de exer-
XI – comunicar aos serviços de saúde, às ouvidorias ou à Vigi-
cer sua autonomia;
lância Sanitária irregularidades relacionadas ao uso e à oferta de
VIII – o recebimento ou a recusa à assistência religiosa, psico-
produtos e serviços que afetem a saúde em ambientes públicos e
lógica e social;
privados;
IX – a liberdade, em qualquer fase do tratamento, de procurar XII – desenvolver hábitos, práticas e atividades que melhorem
uma segunda opinião, ou o parecer de outro profissional ou serviço sua saúde e a qualidade de vida;
sobre seu estado de saúde, ou sobre procedimentos recomenda- XIII – comunicar à autoridade sanitária local a ocorrência de
dos; caso de doença transmissível, quando a situação requerer isola-
X – a não-participação em pesquisa que envolva, ou não, tra- mento ou quarentena da pessoa ou quando a doença constar da
tamento experimental sem que tenha garantias claras da sua liber- relação do Ministério da Saúde;
dade de escolha e, no caso de recusa em participar ou continuar XIV – não dificultar a aplicação de medidas sanitárias, bem
na pesquisa, não poderá sofrer constrangimentos, punições ou san- como as ações de fiscalização sanitária.
ções pelos serviços de saúde, sendo necessário, para isso: Art. 7º Toda pessoa tem direito à informação sobre os serviços
a) que o dirigente do serviço cuide dos aspectos éticos da pes- de saúde e aos diversos mecanismos de participação.
quisa e estabeleça mecanismos para garantir a decisão livre e escla- § 1º O direito previsto no caput deste artigo, inclui a informa-
recida da pessoa; ção, com linguagem e meios de comunicação adequados, sobre:
b) que o pesquisador garanta, acompanhe e mantenha a inte- I – o direito à saúde, o funcionamento dos serviços de saúde
gridade da saúde dos participantes de sua pesquisa, assegurando- e o SUS;
-lhes os benefícios dos resultados encontrados; II – os mecanismos de participação da sociedade na formula-
c) que a pessoa assine o termo de consentimento livre e escla- ção, acompanhamento e fiscalização das políticas e da gestão do
recido. SUS;
XI – o direito de se expressar e de ser ouvido nas suas quei- III – as ações de vigilância à saúde coletiva, compreendendo a
xas, denúncias, necessidades, sugestões e outras manifestações por vigilância sanitária, epidemiológica e ambiental;
meio das ouvidorias, urnas e qualquer outro mecanismo existente, IV – a interferência das relações e das condições sociais, eco-
sendo sempre respeitado na privacidade, no sigilo e na confiden- nômicas, culturais, e ambientais na situação da saúde das pessoas
cialidade; e da coletividade.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

§ 2º Os órgãos de saúde deverão informar às pessoas sobre LEI Nº 8.142, DE 28 DE DEZEMBRO DE 1990.
a rede SUS pelos diversos meios de comunicação, bem como nos
serviços de saúde que compõem essa rede de participação popular Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do
em relação a: Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergover-
I – endereços; namentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras
II – telefones; providências.
III – horários de funcionamento;
IV – ações e procedimentos disponíveis. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Na-
§ 3º Em cada serviço de saúde deverá constar, em local visível cional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
à população:
I – o nome do responsável pelo serviço; Art. 1° O Sistema Único de Saúde (SUS), de que trata a Lei n°
II – os nomes dos profissionais; 8.080, de 19 de setembro de 1990, contará, em cada esfera de go-
III – o horário de trabalho de cada membro da equipe, inclusive verno, sem prejuízo das funções do Poder Legislativo, com as se-
do responsável pelo serviço; guintes instâncias colegiadas:
IV – as ações e procedimentos disponíveis. I - a Conferência de Saúde; e
§ 4º As informações prestadas à população devem ser claras II - o Conselho de Saúde.
para propiciar sua compreensão por toda e qualquer pessoa. § 1° A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos
§ 5º Os conselhos de saúde deverão informar à população so- com a representação dos vários segmentos sociais, para avaliar a si-
bre: tuação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política
I – formas de participação; de saúde nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder Execu-
II – composição do conselho de saúde; tivo ou, extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de Saúde.
III – regimento interno dos conselhos; § 2° O Conselho de Saúde, em caráter permanente e delibe-
IV – conferências de saúde; rativo, órgão colegiado composto por representantes do governo,
V – data, local e pauta das reuniões; prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na
VI – deliberações e ações desencadeadas. formulação de estratégias e no controle da execução da política de
§ 6º O direito previsto no caput desse artigo inclui a participa- saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econô-
ção de conselhos e conferências de saúde e o direito de representar micos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe
e ser representado em todos os mecanismos de participação e de do poder legalmente constituído em cada esfera do governo.
controle social do SUS.
§ 3° O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o
Art. 8º Toda pessoa tem direito a participar dos conselhos e
Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems)
conferências de saúde e de exigir que os gestores cumpram os prin-
terão representação no Conselho Nacional de Saúde.
cípios anteriores.
§ 4° A representação dos usuários nos Conselhos de Saúde e Con-
Parágrafo único. Os gestores do SUS, nas três esferas de gover-
ferências será paritária em relação ao conjunto dos demais segmentos.
no e para observância desses princípios, comprometem-se a:
§ 5° As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde terão
I – promover o respeito e o cumprimento desses direitos e de-
sua organização e normas de funcionamento definidas em regimen-
veres, com a adoção de medidas progressivas para sua efetivação;
II – adotar as providências necessárias para subsidiar a divul- to próprio, aprovadas pelo respectivo conselho.
gação desta Portaria, inserindo em suas ações as diretrizes relativas Art. 2° Os recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS) serão
aos direitos e deveres das pessoas; alocados como:
III – incentivar e implementar formas de participação dos tra- I - despesas de custeio e de capital do Ministério da Saúde, seus
balhadores e usuários nas instâncias, e participação de controle so- órgãos e entidades, da administração direta e indireta;
cial do SUS; II - investimentos previstos em lei orçamentária, de iniciativa do
IV – promover as atualizações necessárias nos regimentos e es- Poder Legislativo e aprovados pelo Congresso Nacional;
tatutos dos serviços de saúde, adequando-os a esta Portaria; III - investimentos previstos no Plano Qüinqüenal do Ministério
V – adotar estratégias para o cumprimento efetivo da legisla- da Saúde;
ção e das normatizações do SUS; IV - cobertura das ações e serviços de saúde a serem imple-
VI – promover melhorias contínuas na rede SUS, como a infor- mentados pelos Municípios, Estados e Distrito Federal.
matização, para implantar o Cartão SUS e o Prontuário eletrônico, Parágrafo único. Os recursos referidos no inciso IV deste arti-
com os objetivos de: go destinar-se-ão a investimentos na rede de serviços, à cobertura
a) otimizar o financiamento; assistencial ambulatorial e hospitalar e às demais ações de saúde.
b) qualificar o atendimento aos serviços de saúde; Art. 3° Os recursos referidos no inciso IV do art. 2° desta lei se-
c) melhorar as condições de trabalho; rão repassados de forma regular e automática para os Municípios,
d) reduzir filas; Estados e Distrito Federal, de acordo com os critérios previstos no
e) ampliar e facilitar o acesso nos diferentes serviços de saúde. art. 35 da Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990.
Art. 9º Os direitos e deveres dispostos nesta Portaria consti- § 1° Enquanto não for regulamentada a aplicação dos critérios
tuem a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde. previstos no art. 35 da Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990,
Parágrafo único. A Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde será utilizado, para o repasse de recursos, exclusivamente o critério
deverá ser disponibilizada a todas as pessoas, por meios físicos e na estabelecido no § 1° do mesmo artigo. (Vide Lei nº 8.080, de 1990)
internet, no seguinte endereço eletrônico: www.saude.gov.br. § 2° Os recursos referidos neste artigo serão destinados, pelo
Art. 10. Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação. menos setenta por cento, aos Municípios, afetando-se o restante
Art. 11. Fica revogada a Portaria nº 675, de 30 de março de aos Estados.
2006, publicada no Diário Oficial da União nº 63, de 31 de março de § 3° Os Municípios poderão estabelecer consórcio para execu-
2006, Seção 1, página 131.. ção de ações e serviços de saúde, remanejando, entre si, parcelas
de recursos previstos no inciso IV do art. 2° desta lei.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Art. 4° Para receberem os recursos, de que trata o art. 3° desta No Brasil, o controle social se refere à participação da comu-
lei, os Municípios, os Estados e o Distrito Federal deverão contar nidade no processo decisório sobre políticas públicas e ao contro-
com: le sobre a ação do Estado (ARANTES et al., 2007). Nesse contex-
I - Fundo de Saúde; to, enfatiza-se a institucionalização de espaços de participação da
II - Conselho de Saúde, com composição paritária de acordo comunidade no cotidiano do serviço de saúde, através da garantia
com o Decreto n° 99.438, de 7 de agosto de 1990; da participação no planejamento do enfrentamento dos problemas
III - plano de saúde; priorizados, execução e avaliação das ações, processo no qual a par-
IV - relatórios de gestão que permitam o controle de que trata o ticipação popular deve ser garantida e incentivada (BRASIL, 2006).
§ 4° do art. 33 da Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990; Sendo o SUS a primeira política pública no Brasil a adotar cons-
V - contrapartida de recursos para a saúde no respectivo orça- titucionalmente a participação popular como um de seus princí-
mento; pios, esta não somente reitera o exercício do controle social sob as
VI - Comissão de elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Sa- práticas de saúde, mas também evidencia a possibilidade de seu
lários (PCCS), previsto o prazo de dois anos para sua implantação. exercício através de outros espaços institucionalizados em seu arca-
Parágrafo único. O não atendimento pelos Municípios, ou pelos bouço jurídico, além dos reconhecidos pela Lei Orgânica de saúde
Estados, ou pelo Distrito Federal, dos requisitos estabelecidos neste de n° 8.142/90, os conselhos e as conferências de saúde. Destaca,
artigo, implicará em que os recursos concernentes sejam adminis- ainda, as audiências públicas e outros mecanismos de audiência da
trados, respectivamente, pelos Estados ou pela União. sociedade, de usuários e de trabalhadores sociais (CONASS, 2003;
Art. 5° É o Ministério da Saúde, mediante portaria do Ministro BARBOSA, 2009; COSSETIN, 2010).
de Estado, autorizado a estabelecer condições para aplicação desta Ademais, a Lei Orgânica da Saúde n.º 8.080/1990 estabelece
lei. em seu art. 12 a criação de comissões intersetoriais subordinadas
Art. 6° Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. ao Conselho Nacional de Saúde, com o objetivo de articular as
Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário. políticas públicas relevantes para a saúde. Entretanto, é a Lei n.°
8.142/1990 que dispõe sobre a participação social no SUS, definin-
do que a participação popular estará incluída em todas as esferas
PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL
de gestão do SUS. Legitimando assim os interesses da população no
exercício do controle social (BRASIL, 2009).
Participação e Controle Social no SUS Essa perspectiva é considerada uma das formas mais avança-
das de democracia, pois determina uma nova relação entre o Es-
Os movimentos sociais ocorridos durante a década de 80 na tado e a sociedade, de maneira que as decisões sobre as ações na
busca por um Estado democrático aos serviços de saúde impulsio- saúde deverão ser negociadas com os representantes da sociedade,
naram a modificação do modelo vigente de controle social da época uma vez que eles conhecem a realidade da saúde das comunidades.
que culminou com a criação do SUS a partir da Constituição Fede- Amiúde, as condições necessárias para que se promova a de-
rativa de 1988. mocratização da gestão pública em saúde se debruça com a discus-
O objetivo deste texto é realizar uma análise deste modelo de são em torno do controle social em saúde.
participação popular e controle social no SUS, bem como favorecer O presente estudo tem como objetivo realizar uma análise do
reflexões aos atores envolvidos neste cenário, através de uma pes- modelo vigente de participação popular e controle social no SUS e
quisa narrativa baseada em publicações relevantes produzidas no ainda elucidar questões que permitirão entender melhor a partici-
Brasil nos últimos 11 anos. pação e o controle social, bem como favorecer algumas reflexões a
É insuficiente o controle social estar apenas na lei, é preciso todos os atores envolvidos no cenário do SUS.
que este aconteça na prática. Entretanto, a sociedade civil, ainda Participação e Controle Social
não ocupa de forma efetiva esses espaços de participação. Após um longo período no qual a população viveu sob um es-
O processo de criação do SUS teve início a partir das defini- tado ditatorial, com a centralização das decisões, o tecnicismo e
ções legais estabelecidas pela nova Constituição Federal do Brasil o autoritarismo, durante a década de 1980 ocorreu uma abertura
de 1988, sendo consolidado e regulamentado com as Leis Orgânicas democrática que reconhece a necessidade de revisão do modelo
da Saúde (LOA), n° 8080/90 e n° 8.142/90, sendo estabelecidas nes- de saúde vigente na época, com propostas discutidas em ampliar a
tas as diretrizes e normas que direcionam o novo sistema de saúde, participação popular nas decisões e descentralizar a gestão pública
bem como aspectos relacionados a sua organização e funcionamen- em saúde, com vistas a aproximar as decisões do Estado ao cotidia-
to, critérios de repasses para os estados e municípios além de disci- no dos cidadãos brasileiros (DALLARI, 2000; SCHNEIDER et al., 2009;
plinar o controle social no SUS em conformidade com as represen- VANDERLEI; ALMEIDA, 2007).
tações dos critérios estaduais e municipais de saúde (FINKELMAN, Nessa perspectiva, a dimensão histórica adquire relevância es-
2002; FARIA, 2003; SOUZA, 2003). sencial para a compreensão do controle social, o que pode provocar
O SUS nos trouxe a ampliação da assistência à saúde para a reações contraditórias. De fato, o controle social foi historicamente
coletividade, possibilitando, com isso, um novo olhar às ações, ser- exercido pelo Estado sobre a sociedade durante muitos anos, na
viços e práticas assistenciais. Sendo estas norteadas pelos princí- época da ditadura militar.
pios e diretrizes: Universalidade de acesso aos serviços de saúde; É oportuno destacar que a ênfase ao controle social que aqui
Integralidade da assistência; Equidade; Descentralização Político- será dada refere-se às ações que os cidadãos exercem para moni-
-administrativa; Participação da comunidade; regionalização e hie- torar, fiscalizar, avaliar, interferir na gestão estatal e não o inverso.
rarquização (REIS, 2003). A participação popular e o controle social Pois, como vimos, também denominam-se controle social as ações
em saúde, dentre os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), do Estado para controlar a sociedade, que se dá por meio da legisla-
destacam-se como de grande relevância social e política, pois se ção, do aparato institucional ou mesmo por meio da força.
constituem na garantia de que a população participará do processo
de formulação e controle das políticas públicas de saúde.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A organização e mobilização popular realizada na década de 80, • identifi car as parcerias a serem envolvidas, como: universida-
do século XX, em prol de um Estado democrático e garantidor do des, núcleos de saúde, escolas de saúde pública, técnicos e especia-
acesso universal aos direitos a saúde, coloca em evidência a possibi- listas autônomos ou ligados a instituições, entidades dos segmentos
lidade de inversão do controle social. Surge, então, a perspectiva de sociais representados nos Conselhos, Organização Pan-Americana
um controle da sociedade civil sobre o Estado, sendo incorporada da Saúde (Opas), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Uni-
pela nova Constituição Federal de 1988 juntamente com a criação cef), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
do SUS (CONASS, 2003). a Cultura (Unesco), Instituto Brasileiro de Administração Municipal
A participação popular na gestão da saúde é prevista pela Cons- (Ibam), Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
tituição Federal de 1998, em seu artigo 198, que trata das diretrizes (Abrasco) e outras organizações da sociedade que atuem na área
do SUS: descentralização, integralidade e a participação da comuni- de saúde. Na identifi cação e articulações das parcerias, deve fi car
dade. Essas diretrizes orientam a organização e o funcionamento do clara a atribuição dos conselhos, conselheiros e parceiros;
sistema, com o intuito de torná-lo mais adequado a atender às ne- • realizar as atividades de educação permanente para os con-
cessidades da população brasileira (BRASIL, 2006; WENDHAUSEN; selheiros e os demais sujeitos sociais de acordo com a realidade
local, garantindo uma carga horária que possibilite a participação e
BARBOSA; BORBA, 2006; OLIVEIRA, 2003).
a ampla discussão dos temas, democratização das informações e a
A discussão com ênfase dada ao controle social na nova Cons-
utilização de técnicas pedagógicas para o controle social que facili-
tituição se expressa em novas diretrizes para a efetivação deste por
tem a construção dos conteúdos teóricos e, também, a interação do
meio de instrumentos normativos e da criação legal de espaços ins-
grupo. Sugere-se que as atividades de educação permanente para
titucionais que garantem a participação da sociedade civil organiza- o controle social no SUS sejam enfocadas em dois níveis: um geral,
da na fiscalização direta do executivo nas três esferas de governo. garantindo a representação de todos os segmentos, e outro específi
Na atualidade, muitas expressões são utilizadas corriqueiramente co, que poderá ser estruturado e oferecido de acordo com o inte-
para caracterizar a participação popular na gestão pública de saú- resse ou a necessidade dos segmentos que compõem os Conselhos
de, a que consta em nossa Carta Magna e o termo ‘participação da de Saúde e os demais órgãos da sociedade.
comunidade na saúde’. Porém, iremos utilizar aqui o termo mais Para promover o alcance dos objetivos do processo de edu-
comum em nosso meio: ‘controle social’. Sendo o controle social cação permanente para o controle social no SUS, recomenda-se a
uma importante ferramenta de democratização das organizações, utilização de metodologias que busquem a construção coletiva de
busca-se adotar uma série de práticas que efetivem a participação conhecimentos, baseada na experiência do grupo, levando-se em
da sociedade na gestão (GUIZARDI et al ., 2004). consideração o conhecimento como prática concreta e real dos su-
Embora o termo controle social seja o mais utilizado, consi- jeitos a partir de suas vivências e histórias. Metodologias essas que
deramos que se trata de um reducionismo, uma vez que este não ultrapassem as velhas formas autoritárias de lidar com a aprendiza-
traduz a amplitude do direito assegurado pela nova Constituição gem e muitas vezes utilizadas como, por exemplo, a da comunica-
Federal de 1988, que permite não só o controle e a fiscalização ção unilateral, que transforma o indivíduo num mero receptor de
permanente da aplicação de recursos públicos. Este também se teorias e conteúdos.
manifesta através da ação, onde cidadãos e políticos têm um papel Recomenda-se, também, a utilização de dinâmicas que propi-
social a desempenhar através da execução de suas funções, ou ain- ciem um ambiente de troca de experiências, de refl exões pertinen-
da através da proposição, onde cidadãos participam da formulação tes à atuação dos Conselheiros de Saúde e dos sujeitos sociais e de
de políticas, intervindo em decisões e orientando a Administração técnicas que favoreçam a sua participação e integração, como, por
Pública quanto às melhores medidas a serem adotadas com objeti- exemplo, reuniões de grupo, plenárias, estudos dirigidos, seminá-
vo de atender aos legítimos interesses públicos (NOGUEIRA, 2004; rios, ofi cinas, todos envolvendo debates.
BRASIL, 2011b; MENEZES, 2010). A 12.ª Conferência Nacional de Saúde (CONFERÊNCIA..., 2005)
Fonte: http://cebes.org.br/2013/05/participacao-popular-e-o- recomendou a realização de ações para educação permanente e
-controle-social-como-diretriz-do-sus-uma-revisao-narrativa/ propôs que as atividades do Conselheiro de Saúde fossem consi-
deradas de relevância pública. Essa proposição foi contemplada na
Resolução n.º 333/2003 (BRASIL, 2003c), aprovada pelo Conselho
Estratégias operacionais e metodológicas
Nacional de Saúde, que garante ao Conselheiro de Saúde a dis-
para o controle social
pensa, sem prejuízo, do seu trabalho, para participar das reuniões,
eventos, capacitações e ações específi cas do Conselho de Saúde.
Recomenda-se que o processo de educação permanente para Assim, o processo proposto, especialmente, no que diz respei-
o controle social no SUS ocorra de forma descentralizada, respei- to aos Conselhos de Saúde deve dar conta da intensa renovação de
tando as especifi cidades e condições locais a fim de que possa ter Conselheiros de Saúde, que ocorre em razão do final dos manda-
maior efetividade. tos, ou por decisão da instituição ou entidade de substituir o seu
Considerando que os membros do Conselho de Saúde reno- representante. Isto requer, no mínimo, a oferta de material básico
vam-se periodicamente e outros sujeitos sociais alternam-se em informativo, uma capacitação inicial promovida pelo Conselho de
suas representações, e o fato de estarem sempre surgindo novas Saúde e a garantia de mecanismos que disponibilizem informações
demandas oriundas das mudanças conjunturais, torna-se necessá- aos novos Conselheiros.
rio que o processo de educação permanente para o controle social Sugestões de material de apoio:
esteja em constante construção e atualização. • Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU);
A operacionalização do processo de educação permanente • Declaração dos Direitos da Criança e Adolescente (Unicef);
para o controle social no SUS deve considerar a seleção, preparação • Declaração de Otawa, Declaração de Bogotá e outras;
do material e a identifi cação de sujeitos sociais que tenham condi- • Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 2003) – Capítulo da
ções de transmitir informações e possam atuar como facilitadores Ordem Social;
e incentivadores das discussões sobre os temas a serem tratados. • Leis Federais: 8.080/90 (BRASIL, 1990a), 8.142/90 (BRASIL,
Para isso é importante: 1990b), 8.689/93 (BRASIL, 1993), 9.656/98 (BRASIL, 1998) e respec-
tivas Medidas Provisórias;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

• Relatórios das Conferências Nacionais de Saúde; c) Instituir mecanismos de divulgação e troca de experiências
• Normas Operacionais do SUS; sobre o processo de educação permanente para o controle social
• Princípios e Diretrizes para a Gestão do Trabalho (NOB/ RH no SUS de conselheiros, por meio de:
– SUS), 2005 (BRASIL, 2005), Diretrizes e Competências da Comis- • espaço na página do Conselho Nacional de Saúde na internet;
são Intergestora Tripartite (CIT), Comissões Intergestoras Bipartites • espaço no Jornal do Conselho Nacional de Saúde;
(CIBs) e das Condições de Gestão dos Estados e Municípios; • relatos de experiências apresentados em diversos eventos
• Constituição do Estado e Leis Orgânicas do Estado, do Distrito nacionais de saúde;
Federal e Município; • apoio à realização de Plenárias Nacionais de Conselhos de
• Seleção de Deliberações do Conselho Estadual de Saúde Saúde, Encontros Nacionais de Conselheiros de Saúde, bem como
(CES), Conselho Municipal de Saúde (CMS) e pactuações das Comis- impressão e distribuição dos seus documentos, relatórios ou anais;
sões Intergestoras Tripartite e Bipartite; • promoção de cursos, seminários e eventos relacionados ao
• Resoluções e deliberações do Conselho de Saúde relaciona- controle social e democracia participativa; e
das à Gestão em Saúde: Plano de Saúde, Financiamento, Normas, • divulgação de experiências exitosas sobre controle social.
Direção e Execução, Planejamento – que compreende programa- d) Aprovar os materiais didáticos destinados às atividades de
ção, orçamento, acompanhamento e avaliação; educação permanente para o controle social no SUS;
• Resolução do Conselho Nacional de Saúde n.º 333/2003 e) Propor, em conjunto com os Conselhos Estaduais e Munici-
(BRASIL, 2003c), Resolução n.º 322/2003 (BRASIL, 2003b), Resolu- pais de Saúde, e Conselho de Saúde do Distrito Federal, mecanis-
ção n.º 196/96 (BRASIL, 1996) e outras correspondentes com mes- mos de acompanhamento e avaliação que permitam a consolidação
mo mérito, e deliberações no campo do controle social – formula- de resultados e estudos comparativos de experiências de educação
ção de estratégias e controle da execução pelos Conselhos de Saúde permanente desenvolvidos nos estados, municípios e Distrito Fe-
e pela sociedade. deral;
A defi nição dos conteúdos básicos de educação permanente f) Acompanhar, monitorar e avaliar, com os Conselhos Estadu-
para o controle social no SUS deve ser objeto de deliberação pelos ais de Saúde, Conselho de Saúde do Distrito Federal e Conselhos
plenários dos Conselhos de Saúde nas suas respectivas esferas go- Municipais de Saúde, o processo de educação permanente desen-
vernamentais. volvidos no País.
Recomenda-se que, para esse processo, seja prevista a criação
de instrumentos de acompanhamento e avaliação dos resultados Secretarias de Saúde Estaduais, Municipais e do Distrito
das atividades Federal

Responsabilidades a) Viabilizar, no âmbito de sua esfera de governo, recursos fi


Esferas governamentais nanceiros, materiais e humanos para a execução das atividades re-
lacionadas com a educação permanente para o controle social no
Compete ao Estado, nas três esferas do governo: SUS;
a) Oferecer todas as condições necessárias para que o processo b) Apoiar fi nanceira e tecnicamente a realização e a participa-
de educação permanente para o controle social ocorra, garantindo ção de conselheiros de saúde em eventos sobre o controle social
o pleno funcionamento dos Conselhos de Saúde e a realização das no SUS.
ações para a educação permanente e controle social dos demais
sujeitos sociais. Conselhos de Saúde Estaduais, Municipais e do Distrito
b) Promover o apoio à produção de materiais didáticos desti- Federal
nados às atividades de educação permanente para o controle social
no SUS, ao desenvolvimento e utilização de métodos, técnicas e fo- a) Elaborar, em conjunto com a Secretaria de Saúde, a política e
mento à pesquisa que contribuam para esse processo. o plano de ação do processo de educação permanente para o con-
trole social no SUS, e deliberar sobre a respectiva política e plano de
Ministério da Saúde ação, em sintonia com política nacional, com defi nição de valores
orçamentários e sistemas de monitoramento e avaliação;
a) Incentivar e apoiar, inclusive nos aspectos fi nanceiros e téc- b) Desenvolver o processo de educação permanente para o
nicos, as instâncias estaduais, municipais e do Distrito Federal para controle social no SUS, considerando as especifi cidades locais;
o processo de elaboração e execução da política de educação per- c) Estabelecer, parcerias com instituições e entidades locais,
manente para o controle social no SUS; para a realização do processo de educação permanente para o con-
b) Manter disponível e atualizado o acervo de referências sobre trole social no SUS, em conformidade com estas diretrizes;
saúde e oferecer material informativo básico e audiovisual que pro- d) Promover, com instituições e entidades, processo
picie a veiculação de temas de interesse geral em saúde, tais como: de comunicação, informação e troca de experiências sobre
legislação, orçamento, direitos em saúde, modelo assistencial, mo- educação permanente para o controle social no SUS;
delo de gestão e outros. e) Viabilizar a realização de eventos sobre o controle social no
SUS; e
Conselho Nacional de Saúde f) garantir a participação de conselheiros de Saúde em eventos
do controle social.
a) Elaborar, em conjunto com o Ministério da Saúde, a política Destaca-se que os processos autônomos de educação perma-
nacional e o plano de ação sobre o processo de educação perma- nente para o controle social do SUS e a mobilização de represen-
nente para o controle social no SUS e deliberar sobre a respectiva tantes, por parte das entidades com participação no Conselho de
política e plano de ação, com defi nição de valores orçamentários e Saúde, devem ser reconhecidos e incentivados.
sistemas de monitoramento e avaliação;
b) Manter disponível e atualizado, na sua sede, o acervo de re-
ferências sobre o controle social;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Rede Cegonha
AÇÕES E PROGRAMAS DO SUS
Estratégia reúne um pacote de ações para garantir o atendi-
Cartão Nacional de Saúde (CNS) mento de qualidade, seguro e humanizado para mulheres, da gravi-
dez até os dois primeiros anos de vida da criança.
O Cartão Nacional de Saúde (CNS) é o documento de identifi-
cação do usuário do SUS. Este contém as informações como dados Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
pessoais, contatos, além de RG e CPF.
Modelo propõe um novo modelo de atenção em saúde mental,
DigiSUS - Estratégia de Saúde Digital para o Brasil a partir do acesso e a promoção de direitos das pessoas, baseado na
convivência dentro da sociedade.
Estratégia de incorporação da saúde digital (e-Saúde) no SUS,
visando à melhoria da qualidade dos serviços, dos processos e da SAMU 192 - Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
atenção à saúde, por meio da disponibilização e uso de informação
abrangente, precisa e segura. Serviço disponibiliza atendimento pré-hospitalar a vítimas em
situação de urgência ou emergência, que possam levar a sofrimen-
Estratégia Saúde da Família (ESF) to, a sequelas ou mesmo à morte.

O projeto propõe a reorganização da atenção básica no País, de UPA 24h - Unidade de Pronto Atendimento
acordo com os preceitos do SUS, a partir da expansão, qualificação
e consolidação do atendimento prestado. Serviço concentra atendimentos de saúde de complexidade in-
termediária, compondo uma rede organizada em conjunto com a
HumanizaSUS Atenção Básica e a Atenção Hospitalar.

A Política Nacional de Humanização (PNH) existe desde 2003 PROGRAMA SAÚDE NA ESCOLA
para efetivar os princípios do SUS nas práticas de atenção e gestão, O Programa Saúde na Escola (PSE) visa à integração e articula-
qualificando a saúde pública no Brasil. ção permanente da educação e da saúde, proporcionando melhoria
da qualidade de vida da população brasileira. Como consolidar essa
Melhor em Casa - Serviço de Atenção Domiciliar atitude dentro das escolas? Essa é a questão que nos guiou para
elaboração da metodologia das Agendas de Educação e Saúde, a
Serviço presta atenção à saúde na moradia do paciente, ofere- serem executadas como projetos didáticos nas Escolas.
cendo prevenção e tratamento de doenças e reabilitação, a fim de O PSE tem como objetivo contribuir para a formação integral
garantir a continuidade do cuidado pelo SUS. dos estudantes por meio de ações de promoção, prevenção e aten-
Política Nacional de Saúde Bucal (Brasil Sorridente) ção à saúde, com vistas ao enfrentamento das vulnerabilidades que
comprometem o pleno desenvolvimento de crianças e jovens da
Política reúne uma série de medidas para garantir ações de rede pública de ensino.
promoção, prevenção e recuperação da saúde bucal dos brasileiros. O público beneficiário do PSE são os estudantes da Educação
Básica, gestores e profissionais de educação e saúde, comunidade
Programa Farmácia Popular do Brasil
escolar e, de forma mais amplificada, estudantes da Rede Federal
de Educação Profissional e Tecnológica e da Educação de Jovens e
O Programa foi criado com o objetivo de oferecer o acesso da
Adultos (EJA).
população aos medicamentos considerados essenciais, como parte
As atividades de educação e saúde do PSE ocorrerão nos Terri-
da Política Nacional de Assistência Farmacêutica.
tórios definidos segundo a área de abrangência da Estratégia Saú-
de da Família (Ministério da Saúde), tornando possível o exercício
Programa Nacional de Controle do Tabagismo
de criação de núcleos e ligações entre os equipamentos públicos
O Programa tem como objetivo reduzir a prevalência de fu- da saúde e da educação (escolas, centros de saúde, áreas de lazer
mantes e a consequente morbimortalidade relacionada ao consu- como praças e ginásios esportivos, etc).
mo de derivados do tabaco. No PSE a criação dos Territórios locais é elaborada a partir das
estratégias firmadas entre a escola, a partir de seu projeto político-
Programa Mais Médicos -pedagógico e a unidade básica de saúde. O planejamento destas
ações do PSE considera: o contexto escolar e social, o diagnóstico
O projeto propõe a melhoria do atendimento aos usuários do local em saúde do escolar e a capacidade operativa em saúde do
SUS, levando médicos para regiões onde há escassez ou ausência escolar.
desses profissionais. A Escola é a área institucional privilegiada deste encontro da
educação e da saúde: espaço para a convivência social e para o es-
Programa Nacional de Segurança do Paciente tabelecimento de relações favoráveis à promoção da saúde pelo
viés de uma Educação Integral.
O PNSP objetiva contribuir para a qualificação do cuidado em Para o alcance dos objetivos e sucesso do PSE é de fundamental
saúde em todos os estabelecimentos de saúde do território nacio- importância compreender a Educação Integral como um conceito
nal. que compreende a proteção, a atenção e o pleno desenvolvimento
da comunidade escolar. Na esfera da saúde, as práticas das equipes
de Saúde da Família, incluem prevenção, promoção, recuperação e
manutenção da saúde dos indivíduos e coletivos humanos.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Para alcançar estes propósitos o PSE foi constituído por cinco Saúde e Doença
componentes:
a) Avaliação das Condições de Saúde das crianças, adolescen- Saúde e doença como um processo binário, ou seja, presença/
tes e jovens que estão na escola pública; ausência, é uma forma simplista para algo bem mais complexo. O
b) Promoção da Saúde e de atividades de Prevenção; que se encontra usualmente, na clínica diária, é um processo evo-
c) Educação Permanente e Capacitação dos Profissionais da lutivo entre saúde e doença que, dependendo de cada paciente,
Educação e da Saúde e de Jovens; poderá seguir cursos diversos, sendo que nem sempre os limites
d) Monitoramento e Avaliação da Saúde dos Estudantes; entre um e outro são precisos.
e) Monitoramento e Avaliação do Programa. 1. Evolução aguda e fatal . Exemplo: estima-se que cerca de
Mais do que uma estratégia de integração das políticas seto- 10% dos pacientes portadores de trombose venosa profunda aca-
riais, o PSE se propõe a ser um novo desenho da política de educa- bam apresentando pelo menos um episódio de tromboembolismo
ção e saúde já que: pulmonar, e que 10% desses vão ao óbito (Moser, 1990).
(1) trata a saúde e educação integrais como parte de uma for- 2. Evolução aguda, clinicamente evidente, com recuperação.
mação ampla para a cidadania e o usufruto pleno dos direitos hu- Exemplo: paciente jovem, hígido, vivendo na comunidade, com
manos; quadro viral de vias aéreas superiores e que, depois de uma sema-
(2) permite a progressiva ampliação das ações executadas pe- na, inicia com febre, tosse produtiva com expectoração purulenta,
los sistemas de saúde e educação com vistas à atenção integral à dor ventilatória dependente e consolidação na radiografia de tórax.
saúde de crianças e adolescentes; e Após o diagnóstico de pneumonia pneumocócica e tratamento com
(3) promove a articulação de saberes, a participação de estu- beta-lactâmicos, o paciente repete a radiografia e não se observa
dantes, pais, comunidade escolar e sociedade em geral na constru- sequela alguma do processo inflamatório-infeccioso (já que a de-
ção e controle social da política pública. finição de pneumonia implica recuperação do parênquima pulmo-
nar).
Nos quadros a seguir, estão expostos os tópicos principais do
3. Evolução subclínica. Exemplo: primo-infecção tuberculosa: a
Projeto Municipal, elaborado no processo de adesão ao PSE pelo
chegada do bacilo de Koch nos alvéolos é reconhecida pelos linfó-
Grupo de Trabalho Intersetorial (GTI) e, na seqüência, a proposta da
citos T, que identificam a cápsula do bacilo como um antígeno e
Agenda de Educação e Saúde, como estratégia de implementação
provocam uma reação específica com formação de granuloma; as-
nos territórios da escola.
sim acontece o chamado complexo primário (lesão do parênquima
pulmonar e adenopatia). Na maioria das pessoas, a primo-infecção
LEGISLAÇÃO BÁSICA DO SUS tuberculosa adquire uma forma subclínica sem que o doente se-
quer percebe sintomas de doença.
4. Evolução crônica progressiva com óbito em longo ou curto
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em
tópicos anteriores. prazo. Exemplo: fibrose pulmonar idiopática que geralmente tem
um curso inexorável, evoluindo para o óbito por insuficiência respi-
ratória e hipoxemia severa. As maiores séries da literatura (Turner-
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA -Warwick, 1980) relatam uma sobrevida média, após o surgimento
dos primeiros sintomas, inferior a cinco anos, sendo que alguns
A Epidemiologia é a ciência que estuda os padrões da ocor- pacientes evoluem para o óbito entre 6 e 12 meses (Stack, 1972).
rência de doenças em populações humanas e os fatores determi- Já a DPOC serve como exemplo de uma doença com evolução pro-
nantes destes padrões (Lilienfeld, 1980). Enquanto a clínica aborda gressiva e óbito em longo prazo, dependendo fundamentalmente
a doença em nível individual, a epidemiologia aborda o processo da continuidade ou não do vício do tabagismo.
saúde-doença em grupos de pessoas que podem variar de peque- 5. Evolução crônica com períodos assintomáticos e exacerba-
nos grupos até populações inteiras. O fato de a epidemiologia, por ções. Exemplo: a asma brônquica é um dos exemplos clássicos, com
muitas vezes, estudar morbidade, mortalidade ou agravos à saúde, períodos de exacerbação e períodos assintomáticos. Hoje, sabe-se
deve-se, simplesmente, às limitações metodológicas da definição que, apesar dessa evolução, a função pulmonar de alguns pacientes
de saúde. asmáticos pode não retornar aos níveis de normalidade (Pizzichini,
2001).
Usos da Epidemiologia Essa é a história natural das doenças, que, na ausência da inter-
ferência médica, pode ser subdividida em quatro fases:
Por algum tempo prevaleceu a ideia de que a epidemiologia a) Fase inicial ou de susceptibilidade.
restringia-se ao estudo de epidemias de doenças transmissíveis. b) Fase patológica pré-clínica.
Hoje, é reconhecido que a epidemiologia trata de qualquer evento c) Fase clínica.
relacionado à saúde (ou doença) da população. d) Fase de incapacidade residual.
Suas aplicações variam desde a descrição das condições de
saúde da população, da investigação dos fatores determinantes de Na fase inicial, ainda não há doença, mas, sim, condições que a
doenças, da avaliação do impacto das ações para alterar a situação favoreçam. Dependendo da existência de fatores de risco ou de pro-
de saúde até a avaliação da utilização dos serviços de saúde, incluin- teção, alguns indivíduos estarão mais ou menos propensos a deter-
do custos de assistência. minadas doenças do que outros. Exemplo: crianças que convivem
Dessa forma, a epidemiologia contribui para o melhor entendi- com mães fumantes estão em maior risco de hospitalizações por
mento da saúde da população - partindo do conhecimento dos fa- IRAS no primeiro ano de vida, do que filhos de mães não-fumantes
tores que a determinam e provendo, consequentemente, subsídios (Macedo, 2000).
para a prevenção das doenças.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Na fase patológica pré-clínica, a doença não é evidente, mas Por exemplo, fatores biológicos, hereditários e socioeconômicos
já há alterações patológicas, como acontece no movimento ciliar podem ser os determinantes distais da asma infantil são fatores a
da árvore brônquica reduzido pelo fumo e contribuindo, posterior- distância que, através de sua atuação em outros fatores, podem
mente, para o aparecimento da DPOC. A fase clínica corresponde contribuir para o aparecimento da doença. Por outro lado, alguns
ao período da doença com sintomas. Ainda no exemplo da DPOC, fatores chamados determinantes intermediários podem sofrer
a fase clínica varia desde os primeiros sinais da bronquite crônica tanto a influência dos determinantes distais como estar agindo em
como aumento de tosse e expectoração até o quadro de cor pulmo- fatores próximos à doença, como seria o caso dos fatores gesta-
nale crônico, na fase final da doença. cionais, ambientais, alérgicos e nutricionais na determinação da
Por último, se a doença não evoluiu para a morte nem foi cura- asma; os fatores que estão próximos à doença os determinantes
da, ocorrem as sequelas da mesma; ou seja, aquele paciente que proximais, por sua vez, também podem sofrer a influência daque-
iniciou fumando, posteriormente desenvolveu um quadro de DPOC, les fatores que estão em nível hierárquico superior (determinantes
evoluiu para a insuficiência respiratória devido à hipoxemia e pas- distais e intermediários) ou agirem diretamente na determinação
sará a apresentar severa limitação funcional fase de incapacidade da doença. No exemplo da asma, o determinante proximal pode ser
residual. um evento infeccioso prévio.
Conhecendo-se e atuando-se nas diversas fases da história na-
tural da doença, poder-se-á modificar o curso da mesma; isso en- Determinação de causalidade na asma brônquica.
volve desde as ações de prevenção consideradas primárias até as Critérios de causalidade de Hill
- Força da associação
terciárias, para combater a fase da incapacidade residual.
- Consistência
- Especificidade
Prevenção
- Sequência cronológica
- Efeito dose–resposta
As ações primárias dirigem-se à prevenção das doenças ou ma- - Plausibilidade biológica
nutenção da saúde. Exemplo: a interrupção do fumo na gravidez se- - Coerência
ria uma importante medida de ação primária, já que mães fuman- - Evidências experimentais
tes, no estudo de coorte de Pelotas de 1993, tiveram duas vezes - Analogia
maior risco para terem filhos com retardo de crescimento intraute- Somente os estudos experimentais estabelecem definitivamen-
rino e baixo peso ao nascer sendo esse um dos determinantes mais te a causalidade, porém a maioria das associações encontradas nos
importantes de mortalidade infantil (Horta, 1997). Após a instala- estudos epidemiológicos não é causal. O Quadro mostra os nove
ção do período clínico ou patológico das doenças, as ações secun- critérios para estabelecer causalidade segundo trabalho clássico de
dárias visam a fazê-lo regredir (cura), ou impedir a progressão para Sir Austin Bradford Hill.
o óbito, ou evitar o surgimento de sequelas. Exemplo: o tratamento Força da associação e magnitude. Quanto mais elevada a medi-
com RHZ para a tuberculose proporciona cerca de 100% de cura da de efeito, maior a plausibilidade de que a relação seja causal. Por
da doença e impede sequelas importantes como fibrose pulmonar, exemplo: estudo de Malcon sobre fumo em adolescentes mostrou
ou cronicidade da doença sem resposta ao tratamento de primeira que a força da associação entre o fumo do adolescente e a presença
linha e a transmissão da doença para o resto da população. A pre- do fumo no grupo de amigos foi da magnitude de 17 vezes; ou seja,
venção através das ações terciárias procura minimizar os danos já adolescentes com três ou mais amigos fumando têm 17 vezes maior
ocorridos com a doença. Exemplo: a bola fúngica que, usualmente risco para serem fumantes do que aqueles sem amigos fumantes
é um resíduo da tuberculose e pode provocar hemoptises severas, (Malcon, 2000).
tem na cirurgia seu tratamento definitivo (Hetzel, 2001). Consistência da associação. A associação também é observa-
da em estudos realizados em outras populações ou utilizando di-
Causalidade em Epidemiologia ferentes metodologias? É possível que, simplesmente por chance,
tenha sido encontrada determinada associação? Se as associações
A teoria da multicausalidade ou multifatorialidade tem hoje encontradas foram consequência do acaso, estudos posteriores não
seu papel definido na gênese das doenças, em substituição à teoria deverão detectar os mesmos resultados. Exemplo: a maioria, senão
da unicausalidade que vigorou por muitos anos. A grande maioria a totalidade dos estudos sobre câncer de pulmão, detectou o fumo
como um dos principais fatores associados a esta doença. Especi-
das doenças advém de uma combinação de fatores que interagem
ficidade. A exposição está especificamente associada a um tipo de
entre si e acabam desempenhando importante papel na determi-
doença, e não a vários tipos (esse é um critério que pode ser ques-
nação das mesmas. Como exemplo dessas múltiplas causas chama-
tionável). Exemplo: poeira da sílica e formação de múltiplos nódulos
das causas contribuintes citaremos o câncer de pulmão. Nem todo
fibrosos no pulmão (silicose).
fumante desenvolve câncer de pulmão, o que indica que há outras Sequência cronológica (ou temporalidade). A causa precede
causas contribuindo para o aparecimento dessa doença. Estudos o efeito? A exposição ao fator de risco antecede o aparecimento
mostraram que, descendentes de primeiro grau de fumantes com da doença e é compatível com o respectivo período de incubação?
câncer de pulmão tiveram 2 a 3 vezes maior chance de terem a do- Nem sempre é fácil estabelecer a seqüência cronológica, nos estu-
ença do que aqueles sem a doença na família; isso indica que há dos realizados quando o período de latência é longo entre a expo-
uma suscetibilidade familiar aumentada para o câncer de pulmão. sição e a doença.
Ativação dos oncogenes dominantes e inativação de oncogenes su-
pressores ou recessivos são lesões que têm sido encontradas no Critérios de causalidade de Hill
DNA de células do carcinoma brônquico e que reforçam o papel de - Força da associação
determinantes genéticos nesta doença (Srivastava, 1995). - Consistência
A determinação da causalidade passa por níveis hierárquicos - Especificidade
distintos, sendo que alguns desses fatores causais estão mais pró- - Sequência cronológica
ximos do que outros em relação ao desenvolvimento da doença. - Efeito dose–resposta

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Plausibilidade biológica Indicadores de Saúde


- Coerência
- Evidências experimentais Para que a saúde seja quantificada e para permitir comparações
- Analogia na população, utilizam-se os indicadores de saúde. Estes devem re-
fletir, com fidedignidade, o panorama da saúde populacional.
Exemplo: nos países desenvolvidos, a prevalência de fumo au- É interessante observar que, apesar desses indicadores serem
mentou significativamente durante a primeira metade do século, chamados “Indicadores de Saúde”, muitos deles medem doenças,
mas houve um lapso de vários anos até detectar-se o aumento do mortes, gravidade de doenças, o que denota ser mais fácil, às ve-
número de mortes por câncer de pulmão. Nos EUA, por exemplo, zes, medir doença do que medir saúde, como já foi mencionado
o consumo médio diário de cigarros, em adultos jovens, aumentou anteriormente. Esses indicadores podem ser expressos em ter-
de um, em 1910, para quatro, em 1930, e 10 em 1950, sendo que o mos de frequência absoluta ou como frequência relativa, onde se
aumento da mortalidade ocorreu após várias décadas. incluem os coeficientes e índices. Os valores absolutos são os da-
Padrão semelhante vem ocorrendo na China, particularmente dos mais prontamente disponíveis e, frequentemente, usados na
no sexo masculino, só que com um intervalo de tempo de 40 anos: monitoração da ocorrência de doenças infecciosas; especialmente
o consumo médio diário de cigarros, nos homens, era um em 1952, em situações de epidemia, quando as populações envolvidas estão
quatro em 1972, atingindo 10 em 1992. As estimativas, portanto, restritas ao tempo e a um determinado local, pode assumir-se que
são de que 100 milhões dos homens chineses, hoje com idade de a estrutura populacional é estável e, assim, usar valores absolutos.
0-29 anos, morrerão pelo tabaco, o que implicará a três milhões Entretanto, para comparar a frequência de uma doença entre dife-
de mortes, por ano, quando esses homens atingirem idades mais rentes grupos, deve-se ter em conta o tamanho das populações a
avançadas (Liu, 1998). serem comparadas com sua estrutura de idade e sexo, expressando
Efeito dose-resposta. O aumento da exposição causa um au- os dados em forma de taxas ou coeficientes.
mento do efeito? Sendo positiva essa relação, há mais um indício do
fator causal. Exemplo: os estudos prospectivos de Doll e Hill (Doll, Indicadores de saúde
1994) sobre a mortalidade por câncer de pulmão e fumo, nos mé- - Mortalidade/sobrevivência
dicos ingleses, tiveram um seguimento de 40 anos (1951-1991). As - Morbidade/gravidade/incapacidade funcional
primeiras publicações dos autores já mostravam o efeito dose-res- - Nutrição/crescimento e desenvolvimento
posta do fumo na mortalidade por câncer de pulmão; os resultados - Aspectos demográficos
finais desse acompanhamento revelavam que fumantes de 1 a 14 - Condições socioeconômicas
cigarros/dia, de 15 a 24 cigarros/dia e de 25 ou mais cigarros/dia - Saúde ambiental
morriam 7,5 para 8 vezes mais, 14,9 para 15 e 25,4 para 25 vezes
- Serviços de saúde
mais do que os não-fumantes, respectivamente.
Plausibilidade biológica. A associação é consistente com outros
Coeficientes (ou taxas ou rates). São as medidas básicas da
conhecimentos? É preciso alguma coerência entre o conhecimento
ocorrência das doenças em uma determinada população e período.
existente e os novos achados. A associação entre fumo passivo e
Para o cálculo dos coeficientes ou taxas, considera-se que o número
câncer de pulmão é um dos exemplos da plausibilidade biológica.
de casos está relacionado ao tamanho da população que lhes deu
Carcinógenos do tabaco têm sido encontrados no sangue e na urina
origem. O numerador refere-se ao número de casos detectados que
de não-fumantes expostos ao fumo passivo.
se quer estudar (por exemplo: mortes, doenças, fatores de risco
A associação entre o risco de câncer de pulmão em não-fuman-
etc.), e o denominador refere-se a toda população capaz de sofrer
tes e o número de cigarros fumados e anos de exposição do fuman-
te é diretamente proporcional (efeito dose-resposta) (Hirayama, aquele evento - é a chamada população em risco. O denominador,
1981). portanto, reflete o número de casos acrescido do número de pes-
Coerência. Os achados devem ser coerentes com as tendên- soas que poderiam tornar-se casos naquele período de tempo. Às
cias temporais, padrões geográficos, distribuição por sexo, estudos vezes, dependendo do evento estudado, é preciso excluir algumas
em animais etc. Evidências experimentais. Mudanças na exposição pessoas do denominador. Por exemplo, ao calcular-se o coeficien-
resultam em mudanças na incidência de doença. Exemplo: sabe-se te de mortalidade por câncer de próstata, as mulheres devem ser
que os alergênios inalatórios (como a poeira) podem ser promoto- excluídas do denominador, pois não estão expostas ao risco de ad-
res, indutores ou desencadeantes da asma; portanto o afastamento quirir câncer de próstata. Para uma melhor utilização desses coefi-
do paciente asmático desses alergênios é capaz de alterar a hiper- cientes, é preciso o esclarecimento de alguns pontos:
responsividade das vias aéreas (HRVA), a incidência da doença ou a - Escolha da constante (denominador).
precipitação da crise. - Intervalo de tempo.
Analogia. O observado é análogo ao que se sabe sobre outra - Estabilidade dos coeficientes.
doença ou exposição. Exemplo: é bem reconhecido o fato de que a - População em risco.
imunossupressão causa várias doenças; portanto explica-se a forte
associação entre AIDS e tuberculose, já que, em ambas, a imunida- Escolha da constante: a escolha de uma constante serve para
de está diminuída. evitar que o resultado seja expresso por um número decimal de difí-
Raramente é possível comprovar os nove critérios para uma cil leitura (por exemplo: 0,0003); portanto faz-se a multiplicação da
determinada associação. A pergunta-chave nessa questão da cau- fração por uma constante (100, 1.000, 10.000, 100.000). A decisão
salidade é a seguinte: os achados encontrados indicam causalidade sobre qual constante deve ser utilizada é arbitrária, pois depende
ou apenas associação? O critério de temporalidade, sem dúvida, é da grandeza dos números decimais; entretanto, para muitos dos in-
indispensável para a causalidade; se a causa não precede o efeito, a dicadores, essa constante já está uniformizada. Por exemplo: para
associação não é causal. Os demais critérios podem contribuir para os coeficientes de mortalidade infantil utiliza-se sempre a constante
a inferência da causalidade, mas não necessariamente determinam de 1.000 nascidos vivos.
a causalidade da associação.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Intervalo de tempo: é preciso especificar o tempo a que se re- Medida da incidência: a incidência mede o número de casos
ferem os coeficientes estudados. Nas estatísticas vitais, esse tempo novos de uma doença, episódios ou eventos na população dentro
é geralmente de um ano. Para a vigilância epidemiológica (verifica- de um período definido de tempo (dia, semana, mês, ano); é um dos
ção contínua dos fatores que determinam a ocorrência e a distri- melhores indicadores para avaliar se uma condição está diminuin-
buição da doença e condições de saúde), pode decidir-se por um do, aumentando ou permanecendo estável, pois indica o número
período bem mais curto, dependendo do objetivo do estudo. de pessoas da população que passou de um estado de não-doente
Estabilidade dos coeficientes: quando se calcula um coeficien- para doente. O coeficiente de incidência é a razão entre o número
te para tempos curtos ou para populações reduzidas, os coeficien- de casos novos de uma doença que ocorre em uma comunidade,
tes podem tornar-se imprecisos e não ser tão fidedignos. Gutierrez, em um intervalo de tempo determinado, e a população exposta ao
no capítulo da epidemiologia da tuberculose, exemplifica de que risco de adquirir essa doença no mesmo período. A multiplicação
forma o coeficiente de incidência para tuberculose pode variar, con- por uma constante tem a mesma finalidade descrita acima para o
forme o tamanho da população. Para contornar esse problema, é coeficiente de prevalência. A incidência é útil para medir a frequên-
possível aumentar o período de observação (por exemplo, ao invés cia de doenças com uma duração média curta, como, por exemplo,
de observar o evento por um ano, observá-lo por dois ou três anos), a pneumonia, ou doença de duração longa. A incidência pode ser
aumentar o tamanho da amostra (observar uma população maior) cumulativa (acumulada) ou densidade de incidência.
ou utilizar números absolutos no lugar de coeficientes.
Incidência Cumulativa (IC). Refere-se à população fixa, onde
População em risco: refere-se ao denominador da fração para não há entrada de novos casos naquele determinando período. Por
o cálculo do coeficiente. Nem sempre é fácil saber o número exato exemplo: em um grupo de trabalhadores expostos ao asbesto, al-
desse denominador e muitas vezes recorre-se a estimativas no lu- guns desenvolveram câncer de pulmão em um período de tempo
gar de números exatos. especificado. No denominador do cálculo da incidência cumulati-
va, estão incluídos aqueles que, no início do período, não tinham
a doença.
Morbidade
Exemplo: 50 pessoas adquiriram câncer de pulmão do grupo
A morbidade é um dos importantes indicadores de saúde, sen-
dos 150 trabalhadores expostos ao asbesto durante um ano. Inci-
do um dos mais citados coeficientes ao longo desse livro. Muitas
dência cumulativa = 50/150 = 0,3 = 30 casos novos por 100 habi-
doenças causam importante morbidade, mas baixa mortalidade, tantes em 1 ano.
como a asma. Morbidade é um termo genérico usado para designar A incidência cumulativa é uma proporção, podendo ser expres-
o conjunto de casos de uma dada afecção ou a soma de agravos à sa como percentual ou por 1.000, 10.000 etc. (o numerador está
saúde que atingem um grupo de indivíduos. Medir morbidade nem incluído no denominador). A IC é a melhor medida para fazer prog-
sempre é uma tarefa fácil, pois são muitas as limitações que contri- nósticos em nível individual, pois indica a probabilidade de desen-
buem para essa dificuldade. volver uma doença dentro de um determinado período.

Medidas da morbidade Densidade de Incidência (DI). A densidade de incidência é uma


medida de velocidade (ou densidade). Seu denominador é expresso
Para que se possa acompanhar a morbidade na população e em população-tempo em risco. O denominador diminui à medida
traçar paralelos entre a morbidade de um local em relação a outros, que as pessoas, inicialmente em risco, morrem ou adoecem (o que
é preciso que se tenha medidas-padrão de morbidade. As medidas não acontece com a incidência cumulativa).
de morbidade mais utilizadas são as que se seguem:
- Medida da prevalência: a prevalência (P) mede o número to- Relação entre incidência e prevalência
tal de casos, episódios ou eventos existentes em um determinado A prevalência de uma doença depende da incidência da mesma
ponto no tempo. O coeficiente de prevalência, portanto, é a relação (quanto maior for a ocorrência de casos novos, maior será o nú-
entre o número de casos existentes de uma determinada doença e mero de casos existentes), como também da duração da doença. A
o número de pessoas na população, em um determinado período. mudança da prevalência pode ser afetada tanto pela velocidade da
Esse coeficiente pode ser multiplicado por uma constante, pois, as- incidência como pela modificação da duração da doença. Esta, por
sim, torna-se um número inteiro fácil de interpretar (essa constante sua vez, depende do tempo de cura da doença ou da sobrevivência.
pode ser 100, 1.000 ou 10.000). O termo prevalência refere-se à A relação entre incidência e prevalência segue a seguinte fór-
prevalência pontual ou instantânea. Isso quer dizer que, naquele mula (Vaughan, 1992):
particular ponto do tempo (dia, semana, mês ou ano da coleta, por
exemplo), a frequência da doença medida foi de 10%, por exemplo. Prevalência = Incidência X Duração Média da Doença
Mortalidade
Na interpretação da medida da prevalência, deve ser lembrado que
O número de óbitos (assim como o número de nascimentos)
a mesma depende do número de pessoas que desenvolveram a do-
é uma importante fonte para avaliar as condições de saúde da po-
ença no passado e continuam doentes no presente. Assim, como
pulação.
já foi descrito no início do capítulo, o denominador é a população
em risco. Medidas de Mortalidade. Os coeficientes de mortalidade são
os mais tradicionais indicadores de saúde.
Por exemplo, em uma população estudada de 1.053 adultos Principais coeficientes de mortalidade:
da zona urbana de Pelotas, em 1991, detectaram-se 135 casos de - Coeficiente de mortalidade geral
bronquite crônica; portanto, a prevalência de bronquite crônica, se- - Coeficiente de mortalidade infantil
guindo a equação abaixo, foi de (Menezes, 1994): - Coeficiente de mortalidade neonatal precoce
- Coeficiente de mortalidade neonatal tardia
- Coeficiente de mortalidade perinatal
- Coeficiente de mortalidade materna

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Coeficiente de mortalidade específico por doença Método indireto: utiliza-se o método indireto quando os coe-
ficientes específicos por idade da população que se quer estudar
Coeficiente de mortalidade geral. Obtido pela divisão do nú- não são conhecidos, embora se saiba o número total de óbitos. Em-
mero total de óbitos por todas as causas em um ano pelo número pregando-se uma segunda população (padrão) - semelhante à po-
da população naquele ano, multiplicado por 1.000. Exemplo: no RS, pulação que se quer estudar - cujos coeficientes sejam conhecidos,
houve 63.961 óbitos e a população estimada era de 9.762.110; por- multiplica-se o coeficiente por idades da população padrão pelo
tanto o coeficiente de mortalidade geral para o estado, foi de 6,55 número de óbitos de cada categoria de idade, chegando, assim, ao
(Estatísticas de Saúde). número de mortes que seria esperado na população que está sendo
estudada. O número total de mortes esperado dessa população é
Coeficiente de mortalidade específico por doenças respirató- confrontado com o número de mortes efetivamente ocorridas nes-
rias. É possível obterem-se os coeficientes específicos por determi- sa população, resultando no que se convencionou chamar de razão
nada causa, como, por exemplo, o coeficiente por causas externas, padronizada de mortalidade (RPM).
por doenças infecciosas, por neoplasias, por AIDS, por tuberculose, Rpm = Óbitos Observados/Óbitos Esperados
dentre outros. Da mesma forma, pode-se calcular os coeficientes
conforme a idade e o sexo. Estes coeficientes podem fornecer im- A RPM maior ou menor do que um indica que ocorreram mais
portantes dados sobre a saúde de um país, e, ao mesmo, tempo ou menos mortes do que o esperado, respectivamente. Resumin-
fornecer subsídios para políticas de saúde. Exemplo: o coeficiente do, as taxas brutas são facilmente calculadas e rapidamente dispo-
de mortalidade por tuberculose no RS foi de 51,5 por 100.000 ha- níveis; entretanto são medidas difíceis de interpretar e de serem
bitantes. comparadas com outras populações, pois dependem das variações
O coeficiente de mortalidade infantil refere-se ao óbito de na composição da população. Taxas ajustadas minimizam essas li-
crianças menores de um ano e é um dos mais importantes indica- mitações, entretanto são fictícias e sua magnitude depende da po-
dores de saúde.O coeficiente de mortalidade perinatal compreende pulação selecionada.
os óbitos fetais (a partir de 28 semanas de gestação) mais os neo-
natais precoces (óbitos de crianças de até seis dias de vida). Outro Tipologia dos Estudos Epidemiológicos
importante indicador de saúde que vem sendo bastante utilizado,
nos últimos anos, é o coeficiente de mortalidade materna, que diz Os estudos epidemiológicos constituem um ótimo método
respeito aos óbitos por causas gestacionais (Estatísticas de Saúde). para colher informações adicionais não-disponíveis a partir dos
sistemas rotineiros de informação de saúde ou de vigilância. Os
Letalidade estudos descritivos são aqueles em que o observador descreve as
A letalidade refere-se à incidência de mortes entre portadores características de uma determinada amostra, não sendo de grande
de uma determinada doença, em um certo período de tempo, di- utilidade para estudar etiologia de doenças ou eficácia de um trata-
vidida pela população de doentes. É importante lembrar que, na mento, porque não há um grupo-controle para permitir inferências
letalidade, o denominador é o número de doentes. causais. Como exemplo podem ser citadas as séries de casos em
Padronização dos coeficientes que as características de um grupo de pacientes são descritas. En-
tretanto os estudos descritivos têm a vantagem de ser rápidos e de
Como, na maioria das vezes, a incidência ou prevalência de uma baixo custo, sendo muitas vezes o ponto de partida para um outro
doença varia com o sexo e o grupo etário, a comparação das taxas tipo de estudo epidemiológico. Sua grande limitação é o fato de não
brutas de duas ou mais populações só faz sentido se a distribuição haver um grupo-controle, o que impossibilita seus achados serem
por sexo e idade das mesmas for bastante próxima. Sendo essa uma comparados com os de uma outra população. É possível que alguns
situação absolutamente excepcional, o pesquisador frequentemen- desses achados aconteçam simplesmente por chance e, portanto,
te vê-se obrigado a recorrer a uma padronização (ou ajustamento), também aconteceriam no grupo-controle.
a fim de eliminar os efeitos da estrutura etária ou do sexo sobre as Já os estudos analíticos pressupõem a existência de um grupo
taxas a serem analisadas. de referência, o que permite estabelecer comparações. Estes, por
Para um melhor entendimento, examinemos, por exemplo, os sua vez, de acordo com o papel do pesquisador, podem ser:
índices de mortalidade da França e do México. Caso a análise li- - Experimentais (serão discutidos no capítulo epidemiologia
mite-se à comparação das taxas brutas - 368 e 95 por 100.000 ha- clínica).
bitantes/ano, respectivamente, pode parecer que há uma grande - Observacionais.
diferença entre os padrões de mortalidade dos dois países. Entre- Nos estudos observacionais, a alocação de uma determinada
tanto, ao considerar-se a grande diferença na distribuição etária exposição está fora do controle do pesquisador (por exemplo, ex-
dos mesmos, com o predomínio no México de grupos com menor posição à fumaça do cigarro ou ao asbesto). Eles compreendem:
idade, torna-se imprescindível a padronização. Uma vez efetuada - Estudo transversal.
a padronização por idade, o contraste entre os dois países desapa- - Estudo de coorte.
rece, resultando taxas de 164 e 163 por 100.000 habitantes/ano, - Estudo de caso-controle.
respectivamente. - Estudo ecológico.
Esses índices ajustados são na verdade fictícios, prestando-se
somente para fins de comparação. Há duas maneiras de realizar-se
a padronização.

Método direto: este método exige uma população padrão que


poderá ser a soma de duas populações a serem comparadas (A e
B) ou uma população padrão. É obtido multiplicando-se a distribui-
ção da população padrão conforme a idade pelos coeficientes de
mortalidade (por exemplo) de cada uma das populações a serem
estudadas (A e B).

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A seguir, cada um desses estudos serão abordados nos seus A essa nova forma de desenvolvimento, damos o nome de
principais pontos. desenvolvimento sustentável. Ele tem como conceito clássico ser
aquele que atende às necessidades do presente sem comprome-
Estudo Transversal (Cross-Sectional) ter a possibilidade das gerações futuras atenderem as suas próprias
necessidades.
É um tipo de estudo que examina as pessoas em um determi- Para que o desenvolvimento sustentável seja uma realidade é
nado momento, fornecendo dados de prevalência; aplica-se, parti- necessário o envolvimento de todas as pessoas e nações do planeta.
cularmente, a doenças comuns e de duração relativamente longa. As ações vão desde atitudes individuais até acordos internacionais.
Envolve um grupo de pessoas expostas e não expostas a determi- Meio Ambiente no Brasil
nados fatores de risco, sendo que algumas dessas apresentarão o No Brasil, a Política Nacional do Meio Ambiente, Lei nº 6.938,
desfecho a ser estudado e outras não. A ideia central do estudo de 31 de Agosto de 1981, define os instrumentos para proteção do
transversal é que a prevalência da doença deverá ser maior entre os meio ambiente. É considerada o marco inicial das ações para con-
expostos do que entre os não-expostos, se for verdade que aquele servação ambiental no Brasil.
fator de risco causa a doença. Através dela, o meio ambiente é definido como:
As vantagens do estudo transversal são a rapidez, o baixo custo, “o conjunto de condições, leis, influências e interações de or-
a identificação de casos e a detecção de grupos de risco. Entretanto dem física e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas
algumas limitações existem, como, por exemplo, a da causalidade as suas formas”.
reversa – exposição e desfecho são coletados simultaneamente e
frequentemente não se sabe qual deles precedeu o outro. Nesse A Política Nacional do Meio Ambiente tem como objetivo a pre-
tipo de estudo, episódios de doença com longa duração estão so- servação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia
bre-representados e doenças com duração curta estão sub-repre- à vida.
sentadas (o chamado viés de sobrevivência). Outra desvantagem é Também visa assegurar condições ao desenvolvimento socio-
que se a prevalência da doença a ser avaliada for muito baixa, o econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da
número de pessoas a ser estudado precisará ser grande. dignidade da vida humana.
A Constituição Federal Brasileira também possui um artigo que
O meio ambiente é o local onde se desenvolve a vida na terra,
trata exclusivamente do Meio Ambiente. O artigo 225 cita que:
ou seja, é a natureza com todos os seres vivos e não vivos que nela
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equili-
habitam e interagem.
brado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
Em resumo, o meio ambiente engloba todos os elementos vi-
de vida...”
vos e não-vivos que estão relacionados com a vida na Terra. É tudo
Outras leis ambientais importantes que protegem os recursos
aquilo que nos cerca, como a água, o solo, a vegetação, o clima, os
naturais brasileiros e promovem ações voltadas à conservação e
animais, os seres humanos, dentre outros.
melhoria da qualidade de vida são:
Planeta Terra
Preservação Ambiental
Política Nacional da Educação Ambiental - Lei nº 9.795 de 1999.
A preservação do meio ambiente faz parte dos temas transver- Lei de Crimes Ambientais - Lei n.º 9.605 de 1998.
sais presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s). Política Nacional de Recursos Hídricos - Lei nº 9.433 de 1997.
O seu objetivo é incitar nos estudantes a importância de pre- O órgão responsável pelas ações e políticas ambientais no Bra-
servar o meio ambiente e os problemas causados pela intervenção sil é o Ministério do Meio Ambiente (MMA).
humana na natureza.
Qual a diferença entre Preservação e Conservação Ambiental? Acordos Internacionais
Os termos preservação e conservação ambiental são constan- Dada a urgência e a preocupação mundial com os problemas
temente confundidos. Porém, cada um deles possui um significado ambientais e os impactos dele decorrentes, surgiram vários acordos
e objetivos diferentes. e tratados internacionais. Eles propõem novos modelos de desen-
Preservação Ambiental: É a proteção sem a intervenção huma- volvimento, redução da emissão de gases poluentes e conservação
na. Significa a natureza intocável, sem a presença do homem e sem ambiental.
considerar o valor utilitário e econômico que possa ter. A preocupação ambiental vem sendo tratada no âmbito inter-
Conservação Ambiental: É a proteção com uso racional da na- nacional desde a realização da Conferência de Estocolmo, em 1972.
tureza, através do manejo sustentável. Permite a presença do ho- Após isso, ganhou novamente destaque na Conferência das Nações
mem na natureza, porém, de maneira harmônica. Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO-92 ou ECO-
Um exemplo de áreas de conservação ambiental são as unida- 92), com a aprovação da Agenda 21.
des de conservação. Elas representam espaços instituídos por lei Outros importantes tratados e acordos internacionais voltados
que objetivam proteger a biodiversidade, restaurar ecossistemas, ao meio ambiente são:
resguardar espécies ameaçadas de extinção e promover o desen- Protocolo de Montreal: objetivo de reduzir a emissão de pro-
volvimento sustentável. dutos que causam danos à camada de ozônio
Meio Ambiente e Sustentabilidade Protocolo de Kyoto: objetivo de mitigar o impacto dos proble-
Atualmente, as questões ambientais envolvem a sustentabili- mas ambientais, por exemplo, das mudanças climáticas do planeta
dade. A sustentabilidade é um termo abrangente, que envolve tam- terra.
bém o planejamento da educação, economia e cultura para organi- Rio +10 - Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentá-
zação de uma sociedade forte, saudável e justa. vel: definição de ações voltadas para a preservação ambiental e as-
A sustentabilidade econômica, social e ambiental é um dos pectos sociais, especialmente de países mais pobres.
grandes desafios da humanidade. Rio +20 - Conferência da ONU sobre o Desenvolvimento Sus-
O termo sustentabilidade surge da necessidade de aliar o cres- tentável: reafirmação do desenvolvimento sustentável aliado à pre-
cimento econômico com a preservação ambiental. servação ambiental.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Acordo de Paris: objetivo de conter o aquecimento global e re- A falta de saneamento básico pode gerar inúmeros problemas
duzir as emissões de gases do efeito estufa. de saúde. Portanto, o conjunto de fatores que reúnem o saneamen-
Agenda 2030: objetiva orientar as nações do planeta rumo ao to levam a uma melhoria de vida na população na medida que con-
desenvolvimento sustentável, além de erradicar a pobreza extrema trola e previne doenças, combatendo muitos vetores.
e reforçar a paz mundial. Nesse caso, podemos pensar num dos maiores problemas en-
Educação Ambiental frentados pela população brasileira atualmente com a dissemina-
A educação ambiental corresponde aos processos por meio ção do mosquito da dengue os quais se proliferam mediante a água
dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, parada.
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas à Dessa forma, o saneamento básico promove hábitos higiênicos
conservação do meio ambiente. e controla a poluição ambiental, melhorando assim, a qualidade de
O seu objetivo é a compreensão de conceitos sobre o meio am- vida da população.
biente, sustentabilidade, preservação e conservação. Outras doenças que podem estar relacionadas com a falta de
Além da construção de novos valores sociais, aquisição de co- saneamento básico são:
nhecimentos, atitudes, competências e habilidades para a conquis- • disenteria
ta e a manutenção do direito ao meio ambiente equilibrado. • giardíase
Problemas Ambientais • amebíase
Nas últimas décadas, o meio ambiente vem sofrendo cada vez • gastroenterite
mais com a ação humana, uma delas é a prática da queimada. Como • leptospirose
essa intervenção nem sempre é harmônica e de forma sustentável, • peste bubônica
surgem os problemas ambientais. • cólera
Os principais problemas ambientais da atualidade são: • poliomielite
Mudanças Climáticas • hepatite infecciosa
Efeito Estufa • febre tifoide
Aquecimento Global • malária
Poluição da água • ebola
Poluição do ar • sarampo
Destruição da Camada de Ozônio Saneamento Ambiental
Extinção de espécies O saneamento ambiental é um conceito que está intimamente
Chuva Ácida associado à sustentabilidade, ou seja, à conservação e melhoria do
Desflorestação meio ambiente a partir do impacto ambiental gerado.
Desertificação Ele reúne um conjunto de procedimentos que visam a qualida-
Poluição de da população, sobretudo na infraestrutura das cidades, as quais
Conceitos Relacionados ao Meio Ambiente geram poluição do ar, da água e do solo.
Alguns conceitos importantes relacionados ao meio ambiente Uma importante medida adotada por programas de sanea-
são: mento ambiental é a conscientização e educação da população em
Ecossistema: Conjuntos de seres vivos (Bióticos) e não vivos geral com o intuito de alertar para a importância da conservação
(Abióticos). ambiental.
Seres Bióticos: Seres autótrofos (produtores) e heterótrofos
(consumidores), ou seja, as plantas, os animais e os microrganis-
mos. VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Seres Abióticos: São os fatores físico-químicos presentes num
ecossistema, como a água, os nutrientes, a umidade, o solo, os raios A Atenção Básica (AB), como primeiro nível de atenção do
solares, ar, gases, temperatura, etc. Sistema Único de Saúde (SUS), caracteriza-se por um conjunto de
Biomas: Conjunto de Ecossistemas. Vale lembrar que os bio-
ações no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e
mas que compõem o Brasil são: Biomas Amazônia, Bioma Caatinga,
proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tra-
Bioma Cerrado, Bioma Mata Atlântica, Bioma Pantanal e o Bioma
tamento, a reabilitação e visa à manutenção da saúde. Deve ser
dos Pampas.
desenvolvida por equipes multiprofissionais, de maneira a desen-
Fonte: https://www.todamateria.com.br/tudo-sobre-meio-
volver responsabilidade sanitária sobre as diferentes comunidades
-ambiente/
adscritas à territórios bem delimitados, deve considerar suas carac-
terísticas sócio-culturais e dinamicidade e, de maneira programada,
Saneamento básico é um conceito que está relacionado com
organizar atividades voltadas ao cuidado longitudinal das famílias
o controle e distribuição dos recursos básicos (abastecimento, tra-
da comunidade.
tamento e distribuição de água, esgoto sanitário, coleta e destino
adequado do lixo, limpeza pública) tendo em conta o bem-estar fí- A Saúde da Família é a estratégia para organização da Atenção
sico, mental ou social da população. Básica no SUS.
No Brasil, o saneamento básico é definido pela Lei nº. Propõe a reorganização das práticas de saúde que leve em con-
11.445/2007, sendo um direito assegurado pela Constituição a par- ta a necessidade de adequar as ações e serviços à realidade da po-
tir de investimentos públicos na área. Segundo a Organização Mun- pulação em cada unidade territorial, definida em função das carac-
dial de Saúde (OMS): terísticas sociais, epidemiológicas e sanitárias. Busca uma prática de
“Saneamento é o controle de todos os fatores ambientais que saúde que garanta a promoção à saúde, à continuidade do cuidado,
podem exercer efeitos nocivos sobre o bem-estar, físico, mental e a integralidade da atenção, a prevenção e, em especial, a respon-
social dos indivíduos”. sabilização pela saúde da população, com ações permanentes de
Saneamento Básico e Saúde vigilância em saúde.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Na Saúde da Família, os profissionais realizam o cadastramento Vigilância Epidemiológica é um “conjunto de ações que pro-
domiciliar, diagnóstico situacional e ações dirigidas à solução dos porciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer
problemas de saúde, de maneira pactuada com a comunidade, bus- mudança nos fatores determinantes e condicionantes da saúde in-
cando o cuidado dos indivíduos e das famílias. A atuação desses dividual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as
profissionais não está limitada à ação dentro da Unidade Básica de medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos”.
Saúde (UBS), ela ocorre também nos domicílios e nos demais espa- O propósito da Vigilância Epidemiológica é fornecer orientação
ços comunitários (escolas, associações, entre outros). técnica permanente para os que têm a responsabilidade de decidir
A Vigilância em Saúde, entendida como uma forma de pensar e sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos. Sua
agir, tem como objetivo a análise permanente da situação de saúde operacionalização compreende um ciclo completo de funções espe-
da população e a organização e execução de práticas de saúde ade- cíficas e articuladas, que devem ser desenvolvidas de modo contí-
quadas ao enfrentamento dos problemas existentes. nuo, permitindo conhecer, a cada momento, o comportamento epi-
É composta pelas ações de vigilância, promoção, prevenção e demiológico da doença ou agravo escolhido como alvo das ações,
controle de doenças e agravos à saúde, devendo constituir-se em para que as intervenções pertinentes possam ser desencadeadas
um espaço de articulação de conhecimentos e técnicas vindos da com oportunidade e efetividade.
epidemiologia, do planejamento e das ciências sociais, é, pois, refe- Tem como função coleta e processamento de dados; análise e
rencial para mudanças do modelo de atenção. Deve estar inserida interpretação dos dados processados; investigação epidemiológica
cotidianamente na prática das equipes de saúde de Atenção Básica. de casos e surtos; recomendação e promoção das medidas de con-
As equipes Saúde da Família, a partir das ferramentas da vigilância, trole adotadas, impacto obtido, formas de prevenção de doenças,
dentre outras. Corresponde à vigilância das doenças transmissíveis
desenvolvem habilidades de programação e planejamento, de ma-
(doença clinicamente manifesta, do homem ou dos animais, resul-
neira a organizar ações programadas e de atenção a demanda es-
tante de uma infecção) e das doenças e agravos não transmissíveis
pontânea, que garantam o acesso da população em diferentes ativi-
(não resultante de infecção). É na Atenção Básica / Saúde da Família
dades e ações de saúde e, desta maneira, gradativamente impacta
o local privilegiado para o desenvolvimento da vigilância epidemio-
sobre os principais indicadores de saúde, mudando a qualidade de lógica. A Vigilância da Situação de Saúde desenvolve ações de mo-
vida daquela comunidade. nitoramento contínuo do país/estado/região/município/equipes,
O conceito de Vigilância em Saúde inclui: a vigilância e contro- por meio de estudos e análises que revelem o comportamento dos
le das doenças transmissíveis; a vigilância das doenças e agravos principais indicadores de saúde, dando prioridade a questões rele-
não transmissíveis; a vigilância da situação de saúde, vigilância am- vantes e contribuindo para um planejamento de saúde mais abran-
biental em saúde, vigilância da saúde do trabalhador e a vigilância gente.
sanitária. As ações de Vigilância em Saúde Ambiental, estruturadas a par-
Este conceito procura simbolizar, na própria mudança de de- tir do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental, estão
nominação, uma nova abordagem, mais ampla do que a tradicio- centradas nos fatores não-biológicos do meio ambiente que pos-
nal prática de vigilância epidemiológica, tal como foi efetivamente sam promover riscos à saúde humana: água para consumo huma-
constituída no país, desde a década de 70. Em um grande número no, ar, solo, desastres naturais, substâncias químicas, acidentes com
de doenças transmissíveis, para as quais se dispõe de instrumentos produtos perigosos, fatores físicos e ambiente de trabalho. Nesta
eficazes de prevenção e controle, o Brasil tem colecionado êxitos estrutura destaca-se:
importantes. (1) A Vigilância em Saúde Ambiental Relacionada à Qualidade
Esse grupo de doenças encontra-se em franco declínio, com re- da Água para Consumo Humano (VIGIAGUA) consiste no conjunto
duções drásticas de incidência. Entretanto, algumas dessas doenças de ações adotadas continuamente pelas autoridades de saúde pú-
apresentam quadro de persistência, ou de redução, ainda recente, blica para garantir que a água consumida pela população atenda
configurando uma agenda inconclusa nessa área, sendo necessário ao padrão e às normas estabelecidas na legislação vigente e para
o fortalecimento das novas estratégias, recentemente adotadas, avaliar os riscos que a água consumida representa para a saúde hu-
que obrigatoriamente impõem uma maior integração entre as áre- mana. Suas atividades visam, em última instância, a promoção da
as de prevenção e controle e à rede assistencial. Um importante saúde e a prevenção das doenças de transmissão hídrica;
foco da ação de controle desses agravos está voltado para o diag- (2) À Vigilância em Saúde Ambiental de Populações Potencial-
nóstico e tratamento das pessoas doentes, visando à interrupção da mente Expostas a Solo Contaminado (VIGISOLO) compete recomen-
cadeia de transmissão, onde grande parte das ações encontra-se no dar e adotar medidas de promoção à saúde ambiental, prevenção
e controle dos fatores de risco relacionados às doenças e outros
âmbito da Atenção Básica/Saúde da Família. Além da necessidade
agravos à saúde decorrentes da contaminação por substâncias quí-
de promover ações de prevenção e controle das doenças transmis-
micas no solo;
síveis, que mantém importante magnitude e/ou transcendência em
(3) A Vigilância em Saúde Ambiental Relacionada à Qualidade
nosso país, é necessário ampliar a capacidade de atuação para no-
do Ar (VIGIAR) tem por objetivo promover a saúde da população ex-
vas situações que se colocam sob a forma de surtos ou devido ao posta aos fatores ambientais relacionados aos poluentes atmosfé-
surgimento de doenças inusitadas. Para o desenvolvimento da pre- ricos - provenientes de fontes fixas, de fontes móveis, de atividades
venção e do controle, em face dessa complexa situação epidemio- relativas à extração mineral, da queima de biomassa ou de incên-
lógica, têm sido fortalecidas estratégias específicas para detecção e dios florestais - contemplando estratégias de ações intersetoriais.
resposta às emergências epidemiológicas.
Outro ponto importante está relacionado às profundas mudan-
ças nos perfis epidemiológicos das populações ao longo das últimas
décadas, nos quais se observa declínio das taxas de mortalidade por
doenças infecciosas e parasitárias e crescente aumento das mortes
por causas externas e pelas doenças crônico-degenerativas, levan-
do a discussão da incorporação das doenças e agravos não-trans-
missíveis ao escopo das atividades da vigilância epidemiológica.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Outra área que se incorpora nas ações de vigilância em saúde O Caderno de Atenção Básica Vigilância em Saúde Volume1,
é a saúde do trabalhador que entende-se como sendo um conjunto visa contribuir para a compreensão da importância da integração
de atividades que se destina, através das ações de vigilância epide- entre as ações de Vigilância em Saúde e demais ações de saúde,
miológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde universo do processo de trabalho das equipes de Atenção Básica/
dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da Saúde da Família, visando a garantia da integralidade do cuidado.
saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos São enfocadas ações de vigilância em saúde na Atenção Básica, no
das condições de trabalho, abrangendo entre outros: (1) assistên- tocante aos agravos: dengue, esquistossomose, hanseníase, malá-
cia ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho ou portador de ria, tracoma e tuberculose.
doença profissional e do trabalho; (2) participação em estudos, pes-
quisas, avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à saúde 1.1 Processo De Trabalho Da Atenção Básica
existentes no processo de trabalho; (3) informação ao trabalhador e E Da Vigilância Em Saúde
à sua respectiva entidade sindical e às empresas sobre os riscos de
acidentes de trabalho, doença profissional e do trabalho, bem como Apesar dos inegáveis avanços na organização da Atenção Bá-
os resultados de fiscalizações, avaliações ambientais e exames de sica ocorrida no Brasil na última década e a descentralização das
saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitados os pre- ações de Vigilância em Saúde, sabe-se que ainda persistem vários
ceitos da ética profissional. problemas referentes à gestão e organização dos serviços de saúde
Outro aspecto fundamental da vigilância em saúde é o cuida- que dificultam a efetiva integração da Atenção Básica e a Vigilância
do integral à saúde das pessoas por meio da Promoção da Saúde. em Saúde, comprometendo a integralidade do cuidado.
A Promoção da Saúde é compreendida como estratégia de articu- Para qualificar a atenção à saúde a partir do princípio da inte-
lação transversal, à qual incorpora outros fatores que colocam a gralidade é fundamental que os processos de trabalho sejam orga-
saúde da população em risco trazendo à tona as diferenças entre nizados com vistas ao enfrentamento dos principais problemas de
necessidades, territórios e culturas presentes no país. Visa criar me- saúde-doença da comunidade, onde as ações de vigilância em saú-
canismos que reduzam as situações de vulnerabilidade, defendam a de devem estar incorporadas no cotidiano das equipes de Atenção
equidade e incorporem a participação e o controle social na gestão Básica/Saúde da Família.
das políticas públicas. Um dos sentidos atribuídos ao princípio da Integralidade na
Nesse sentido, a Política Nacional de Promoção da Saúde prevê construção do SUS refere ao cuidado de pessoas, grupos e coletivi-
que a organização da atenção e do cuidado deve envolver ações dades, percebendo-os como sujeitos históricos, sociais e políticos,
e serviços que operem sobre os determinantes do adoecer e que articulados aos seus contextos familiares, ao meio-ambiente e a so-
vão além dos muros das unidades de saúde e do próprio sistema ciedade no qual se inserem. (NIETSCHE EA, 2000)
de saúde. O objetivo dessa política é promover a qualidade de vida Para a qualidade da atenção, é fundamental que as equipes
e reduzir a vulnerabilidade e riscos à saúde relacionados aos seus busquem a integralidade nos seus vários sentidos e dimensões,
determinantes e condicionantes – modos de viver, condições de como: propiciar a integração de ações programáticas e demanda
trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura e acesso a espontânea; articular ações de promoção à saúde, prevenção de
bens e serviços essenciais. Tem como ações específicas: alimenta- agravos, vigilância à saúde, tratamento, reabilitação e manutenção
ção saudável, prática corporal/atividade física, prevenção e contro- da saúde; trabalhar de forma interdisciplinar e em equipe; coor-
le do tabagismo, redução da morbimortalidade em decorrência do denar o cuidado aos indivíduos-família-comunidade; integrar uma
uso de álcool e outras drogas, redução da morbimortalidade por rede de serviços de maior complexidade e, quando necessário, co-
acidentes de trânsito, prevenção da violência e estímulo à cultura ordenar o acesso a esta rede.
da paz, além da promoção do desenvolvimento sustentável. Para a integralidade do cuidado, fazem-se necessárias mudan-
Pensar em Vigilância em Saúde pressupõe a não dissociação ças na organização do processo de trabalho em saúde, passando a
com a Vigilância Sanitária. A Vigilância Sanitária é entendida como Atenção Básica/Saúde da Família a ser o lócus principal de desen-
um conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir ris- volvimento dessas ações.
cos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do
meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de 1.2 O Território
serviços de interesse da saúde. (BRASIL, 1990)
Os sistemas de saúde devem se organizar sobre uma base terri-
Abrange: torial, onde a distribuição dos serviços segue uma lógica de delimi-
(1) o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamen- tação de áreas de abrangência.
te, se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e O território em saúde não é apenas um espaço delimitado ge-
processos, da produção ao consumo; ograficamente, mas sim um espaço onde as pessoas vivem, esta-
(2) o controle da prestação de serviços que se relacionam dire- belecem suas relações sociais, trabalham e cultivam suas crenças e
ta ou indiretamente com a saúde. cultura. A territorialização é base do trabalho das Equipes de Saú-
Neste primeiro caderno, elegeu-se como prioridade o fortaleci- de da Família (ESF) para a prática da Vigilância em Saúde. O fun-
mento da prevenção e controle de algumas doenças de maior pre- damental propósito deste processo é permitir eleger prioridades
valência, assim como a concentração de esforços para a eliminação para o enfrentamento dos problemas identificados nos territórios
de outras, que embora de menor impacto epidemiológico, atinge de atuação, o que refletirá na definição das ações mais adequadas,
áreas e pessoas submetidas às desigualdades e exclusão. contribuindo para o planejamento e programação local. Para tal, é
necessário o reconhecimento e mapeamento do território: segun-
do a lógica das relações e entre condições de vida, saúde e acesso
às ações e serviços de saúde. Isso implica um processo de coleta
e sistematização de dados demográficos, socioeconômicos, políti-
co-culturais, epidemiológicos e sanitários que, posteriormente, de-
vem ser interpretados e atualizados periodicamente pela equipe de
saúde.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Integrar implica discutir ações a partir da realidade local; lamentado por meio da Portaria GM/MS nº. 1.882, de 18 de dezem-
aprender a olhar o território e identificar prioridades assumindo o bro de 1997, quando se tornou obrigatória a alimentação regular da
compromisso efetivo com a saúde da população. Para isso, o ponto base de dados nacional pelos municípios, estados e Distrito Federal,
de partida é o processo de planejamento e programação conjunto, e o Ministério da Saúde foi designado como gestor nacional do sis-
definindo prioridades, competências e atribuições a partir de uma tema.
situação atual reconhecida como inadequada tanto pelos técnicos O Sinan é atualmente alimentado, principalmente, pela noti-
quanto pela população, sob a ótica da qualidade de vida. ficação e investigação de casos de doenças e agravos que constam
da Lista Nacional de Doenças de Notificação Compulsória em todo
1.3 Planejamento E Programação Território Nacional - LDNC, conforme Portaria SVS/MS nº. 05, de
21/02/2006, podendo os estados e municípios incluir outros pro-
Planejar e programar em um território específico exige um blemas de saúde pública, que considerem importantes para a sua
conhecimento das formas de organização e de atuação dos órgãos região.
governamentais e não-governamentais para se ter clareza do que é
necessário e possível ser feito. É importante o diálogo permanente 1.5 Ficha De Notificação Individual
com os representantes desses órgãos, com os grupos sociais e mo-
radores, na busca do desenvolvimento de ações intersetoriais opor- É o documento básico de coleta de dados, que inclui dados
tunizando a participação de todos. Isso é adotar a intersetorialidade sobre a identificação e localização do estabelecimento notificante,
como estratégia fundamental na busca da integralidade da atenção. identificação, características socioeconômicas, local da residência
Faz-se necessário o fortalecimento das estruturas gerenciais do paciente e identificação do agravo notificado.
dos municípios e estados com vistas não só ao planejamento e pro- Essa ficha é utilizada para notificar um caso a partir da suspei-
gramação, mas também da supervisão, seja esta das equipes, dos ção do agravo, devendo ser encaminhada para digitação após o seu
municípios ou regionais. Instrumentos de gestão como processos preenchimento, independentemente da confirmação do diagnósti-
de acompanhamento, monitoramento e avaliação devem ser ins- co, por exemplo: notificar um caso de dengue a partir da suspeita
titucionalizados no cotidiano como reorientador das práticas de de um caso que atenda os critérios estabelecidos na definição de
saúde. caso.
Os Sistemas de Informações de Saúde desempenham papel re- A ficha de investigação contém, além dos dados da notificação,
levante para a organização dos serviços, pois os estados e os muni- dados referentes aos antecedentes epidemiológicos, dados clínicos
cípios de posse das informações em saúde têm condições de adotar e laboratoriais específicos de cada agravo e dados da conclusão da
de forma ágil, medidas de controle de doenças, bem como planejar investigação.
ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, subsidiando
A impressão, controle da pré-numeração e distribuição das
a tomada de decisões.
fichas de notificação e de investigação para os municípios são de
É fundamental o uso de protocolos assistenciais que prevejam
responsabilidade da Secretaria Estadual de Saúde, podendo ser de-
ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação, que são
legada à Secretaria Municipal de Saúde.
dirigidos aos problemas mais frequentes da população. Tais proto-
Os instrumentos de coleta padronizados pelo Ministério da
colos devem incluir a indicação da continuidade da atenção, sob a
Saúde são específicos para cada agravo de notificação compulsória,
lógica da regionalização, flexíveis em função dos contextos estadu-
e devem ser utilizados em todas as unidades federadas.
ais, municipais e locais. Alia-se a importância de adotar o processo
de Educação Permanente em Saúde na formação e qualificação das Para os agravos hanseníase e tuberculose são coletados ainda
equipes, cuja missão é ter capacidade para resolver os problemas dados de acompanhamento dos casos. As notificações de malária
que lhe são apresentados, ainda que a solução extrapole aquele ní- e esquistossomose registradas no Sinan correspondem àquelas
vel de atenção (da resolubilidade, da visão das redes de atenção) identificadas fora das respectivas regiões endêmicas. Esses agravos
e a necessidade de criar mecanismos de valorização do trabalho quando notificados em local onde são endêmicos devem ser regis-
na atenção básica seja pelos incentivos formais, seja pela co-gestão trados em sistemas específicos.
(participação no processo decisório). Dados dos Inquéritos de Tracoma, embora não seja doença de
Finalmente, como forma de democratizar a gestão e atender notificação compulsória no país devem ser registrados no Sinan -
as reais necessidades da população é essencial a constituição de versão NET, por ser considerada de interesse nacional.
canais e espaços que garantam a efetiva participação da população A população sob vigilância corresponde a todas as pessoas
e o controle social. residente no país. Cada município deve notificar casos detectados
em sua área de abrangência, sejam eles residentes ou não nesse
1.4 Sistema De Informação De Agravos De Notificação – município.
Sinan As unidades notificantes são, geralmente, aquelas que prestam
atendimento ao Sistema Único de Saúde, incluindo as Unidades
A informação é instrumento essencial para a tomada de deci- Básicas de Saúde/Unidades de Saúde da Família. Os profissionais
sões, ferramenta imprescindível à Vigilância em Saúde, por ser o de saúde no exercício da profissão, bem como os responsáveis por
fator desencadeador do processo “informação-decisão-ação”. organizações e estabelecimentos públicos e particulares de saúde
O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) foi e ensino, têm a obrigação de comunicar aos gestores do Sistema
desenvolvido no início da década de 90, com objetivo de padronizar Único de Saúde a ocorrência de casos suspeito/confirmados dos
a coleta e processamento dos dados sobre agravos de notificação agravos listados na LNDC.
obrigatória em todo o território nacional. Construído de maneira
hierarquizada, mantendo coerência com a organização do SUS, pre- O Sinan permite a coleta, processamento, armazenamento e
tende ser suficientemente ágil na viabilização de análises de situa- análise dos dados desde a unidade notificante, sendo adequado à
ções de saúde em curto espaço de tempo. O Sinan fornece dados descentralização de ações, serviços e gestão de sistemas de saúde.
para a análise do perfil da morbidade e contribui para a tomada de Se a Secretaria Municipal de Saúde for informatizada, todos os ca-
decisões nos níveis municipal, estadual e federal. Seu uso foi regu- sos notificados pelo município devem ser digitados, independente

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do local de residência. Contudo, caso as unidades de saúde não dis- Outras rotinas, como o fluxo de retorno, serão implementa-
ponham de microcomputadores, o sistema informatizado pode ser das, permitindo que o município de residência tenha na sua base
operacionalizado a partir das secretarias municipais, das regionais de dados todos os casos, independentemente do local onde foram
e da secretaria de estado de saúde. notificados. A base de dados foi preparada para georreferenciar os
As unidades notificantes enviam semanalmente as fichas de casos notificados naqueles municípios que desejem trabalhar com
notificação/ investigação ou, se for informatizada, o arquivo de geoprocessamento de dados.
transferência de dados por meio eletrônico para as secretarias mu- A utilização efetiva do Sinan possibilita a realização do diagnós-
nicipais de saúde, que enviam os arquivos de transferência de da- tico dinâmico da ocorrência de um evento na população; podendo
dos, pelo menos uma vez por semana, à regional de saúde ou Secre- fornecer subsídios para explicações causais dos agravos de notifica-
taria de Estado da Saúde. Os municípios que não têm implantado ção compulsória, além de vir a indicar riscos aos quais as pessoas
o processamento eletrônico de dados pelo Sinan encaminham as estão sujeitas, contribuindo assim, para a identificação da realidade
fichas de notificação/investigação e seguem o mesmo fluxo descrito epidemiológica de determinada área geográfica.
anteriormente. A SES envia os dados para o Ministério da Saúde, O desafio não só para o Sinan, mas para todos os demais sis-
por meio eletrônico, pelo menos uma vez por semana. temas de informação de saúde no Brasil, é criar uma interface de
Dentre as atribuições de cada nível do sistema cabe a todos comunicação entre si descaracterizando-os como um sistema car-
efetuar análise da qualidade dos dados, como verificar a duplicida- torial de registro, para se transformar em sistemas ágeis que per-
de de registros, completitude dos campos e consistência dos dados, mitam desencadear ações imediatas e realizar análises em tempo
análises epidemiológicas e divulgação das informações. No entanto, oportuno.
cabe somente ao primeiro nível informatizado a complementação O uso sistemático dos dados gerados pelo Sistema, de forma
de dados, correção de inconsistências e vinculação/exclusão de du- descentralizada, contribui para a democratização da informação,
plicidades e exclusão de registros. permitindo que todos os profissionais de saúde tenham acesso à
As bases de dados geradas pelo Sinan são armazenadas pelo informação e a disponibilize para a comunidade. É, portanto, um
gerenciador de banco de dados PostgreSQL ou Interbase. Para ana- instrumento relevante para auxiliar o planejamento da saúde, defi-
lisá-las utilizando programas informatizados tais como o SPSS, o nir prioridades de intervenção, além de possibilitar que sejam ava-
Tabwin e o Epi Info, é necessário exportá-las para o formato DBF. liados os impactos das intervenções.
Esse procedimento é efetuado em todos os níveis, utilizando rotina
própria do sistema. 1.7 O Trabalho Da Equipe Multiprofissional
Com o objetivo de divulgar dados, propiciar a análise da sua
qualidade e o cálculo de indicadores por todos os usuários do siste- Os diferentes profissionais das equipes de saúde da Atenção
ma e outros interessados, a Secretaria de Vigilância em Saúde – SVS Básica/Saúde da Família têm importante papel e contribuição nas
do Ministério da Saúde criou um site do Sinan que pode ser acessa- ações de Vigilância em Saúde. As atribuições específicas dos profis-
do pelo endereço www.saude.gov.br/svs - sistemas de informações sionais da Atenção Básica, já estão definidas na Política Nacional de
ou www.saude.gov.br/sinanweb. Nessa página estão disponíveis: Atenção Básica (PNAB).
• Relatórios gerenciais; Como atribuição comum a todos os profissionais das equipes,
• Relatórios epidemiológicos por agravo; descreve-se:
• Documentação do sistema (Dicionários de dados - descrição • Garantir atenção integral e humanizada à população adscrita;
dos campos das fichas e das características da variável correspon- • Realizar tratamento supervisionado, quando necessário;
dente nas bases de dados); • Orientar o usuário/família quanto à necessidade de concluir
• Fichas de notificação e de investigação de cada agravo; o tratamento;
• Instrucionais para preenchimento das Fichas; • Acompanhar os usuários em tratamento;
• Manuais de uso do sistema; • Prestar atenção contínua, articulada com os demais níveis de
• Cadernos de análise da qualidade das bases de dados e cálcu- atenção, visando o cuidado longitudinal (ao longo do tempo);
lo de indicadores epidemiológicos e operacionais; • Realizar o cuidado em saúde da população adscrita, no âm-
• Produção - acompanhamento do recebimento pelo Ministé- bito da unidade de saúde, no domicílio e nos demais espaços co-
rio da Saúde dos arquivos de transferência de cada UF; munitários (escolas, associações, entre outros), quando necessário;
• Base de dados - uso da ferramenta TabNet para tabulação de • Construir estratégias de atendimento e priorização de popu-
dados de casos confirmados notificados no Sinan a partir de 2001. lações mais vulneráveis, como exemplo: população de rua, ciganos,
quilombolas e outras;
1.6 Sinan NET • Realizar visita domiciliar a população adscrita, conforme pla-
nejamento assistencial;
Novo aplicativo desenvolvido pela SVS/MS em conjunto ao DA- • Realizar busca ativa de novos casos e convocação dos falto-
TASUS, objetiva modificar a lógica de produção de informação para sos;
a de análise em níveis cada vez mais descentralizados do sistema • Notificar casos suspeitos e confirmados, conforme fichas ane-
de saúde. Subsidia a construção de sistemas de vigilância epide- xas;
miológica de base territorial, que esteja atento ao que ocorre em • Preencher relatórios/livros/fichas específicos de registro e
toda sua área de atuação. Possibilita ao município que estiver inter- acompanhamento dos agravos/doenças, de acordo com a rotina da
ligado à internet, a transmissão dos dados das fichas de notificação UBS;
diariamente às demais esferas de governo, fazendo com que esses • Alimentar e analisar dados dos Sistemas de Informação em
dados estejam disponíveis em tempo oportuno, às três esferas de Saúde – Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), Sistema
governo. de Informação de Mortalidade (SIM), Sistema de Informação de
Já os dados das fichas de investigação somente serão transmiti- Nascidos Vivos (SINASC), Sistema de Informação de Agravos de No-
dos quando for encerrado o processo de investigação, conseguindo tificação (Sinan) e outros para planejar, programar e avaliar as ações
dessa forma, separar essas duas etapas. de vigilância em saúde;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

• Desenvolver ações educativas e de mobilização da comu- serviços de saúde, e definir suas bases territoriais, de acordo com
nidade relativas ao controle das doenças/agravos em sua área de sua realidade, perfil epidemiológico, aspectos geográficos, culturais
abrangência; e sociais, entre outros.
• Orientar a comunidade quanto ao uso de medidas de prote-
ção individual e familiar para a prevenção de doenças/agravos; 1.8 Atribuições Específicas Dos Profissionais Da Atenção Bási-
• Mobilizar a comunidade para desenvolver medidas simples ca/Saúde Da Família
de manejo ambiental para o controle de vetores;
• Articular e viabilizar as medidas de controle vetorial e outras 1.8.1 Agente Comunitário de Saúde – ACS
ações de proteção coletiva; - Identificar sinais e sintomas dos agravos/doenças e encami-
• Identificar possíveis problemas e surtos relacionados à qua- nhar os casos suspeitos para a Unidade de Saúde;
lidade da água, em nível local como a situação das fontes de abas- - Acompanhar os usuários em tratamento e orientá-lo quanto à
tecimento e de armazenamento da água e a variação na incidência necessidade de sua conclusão;
de determinadas doenças que podem estar associadas à qualidade - Desenvolver ações educativas e de mobilização da comuni-
da água; dade relativas ao controle das doenças/agravos, em sua área de
• Identificar a disposição inadequada de resíduos, industriais abrangência;
ou domiciliares, em áreas habitadas; a armazenagem inadequada - Orientar a comunidade quanto ao uso de medidas de prote-
de produtos químicos tóxicos (inclusive em postos de gasolina) e a ção individual e familiar para a prevenção de doença;
variação na incidência de doenças potencialmente relacionadas a - Mobilizar a comunidade para desenvolver medidas simples de
manejo ambiental para o controle de vetores;
intoxicação;
- Planejar/programar as ações de controle das doenças/agravos
• Identificar a poluição do ar derivada de indústrias, automó-
em conjunto ao ACE e equipe da Atenção Básica/Saúde da Família.
veis, queimadas, inclusive nas situações intra-domiciliares (fumaça
e poeira) e as variações na incidência de doenças, principalmente
1.8.2 Agente de Controle de Endemias – ACE
as morbidades respiratórias e cardiovasculares, que podem estar
associadas à poluição do ar. - Identificar sinais e sintomas dos agravos/doenças e encami-
Na organização da atenção, o Agente Comunitário de Saúde nhar os casos suspeitos para a Unidade de Saúde;
(ACS) e o Agente de Controle de Endemias (ACE) desempenham - Acompanhar os usuários em tratamento e orientá-los quanto
papéis fundamentais, pois se constituem como elos entre a comu- à necessidade de sua conclusão;
nidade e os serviços de saúde. Assim como os demais membros da - Desenvolver ações educativas e de mobilização da comuni-
equipe, tais agentes devem ter co-responsabilização com a saúde dade relativas ao controle das doenças/agravos, em sua área de
da população de sua área de abrangência. Por isso, devem desen- abrangência;
volver ações de promoção, prevenção e controle dos agravos, sejam - Orientar a comunidade quanto ao uso de medidas de prote-
nos domicílios ou nos demais espaços da comunidade, e embora ção individual e familiar para a prevenção de doenças;
realizem ações comuns, há um núcleo de atividades que é específi- - Mobilizar a comunidade para desenvolver medidas simples de
co a cada um deles. manejo ambiental para o controle de vetores;
No processo de trabalho, estes dois atores, ACS e ACE, devem - Realizar, quando indicado a aplicação de larvicidas/molusco-
ser coresponsáveis pelo controle das endemias, integrando suas ati- cidas químicos e biológicos; a borrifação intradomiciliar de efeito
vidades de maneira a potencializar o trabalho e evitar a duplicidade residual; e a aplicação espacial de inseticidas por meio de nebuliza-
das ações que, embora distintas, se complementam. ções térmicas e ultra-baixo-volume;
Os gestores e as equipes de saúde devem definir claramente os - Realizar atividades de identificação e mapeamento de cole-
papéis, competências e responsabilidades de cada um destes agen- ções hídricas de importância epidemiológica;
tes e, de acordo com a realidade local, definir os fluxos de trabalho. - Planejar/programar as ações de controle das doenças/agravos
Cada ACE deverá ficar como referência para as ações de vigilância em conjunto ao ACS e equipe da Atenção Básica/Saúde da Família.
de um número de ACS. Esta relação entre o número de ACE e de
ACS será variável, pois, se baseará no perfil epidemiológico e nas 1.8.3 Médico
demais características locais (como geografia, densidade demográ-
fica e outras). - Diagnosticar e tratar precocemente os agravos/doenças, con-
forme orientações, contidas neste caderno;
Na divisão do trabalho entre os diferentes agentes, o ACS, após
- Solicitar exames complementares, quando necessário;
as visitas domiciliares e identificação dos problemas que não pode-
- Realizar tratamento imediato e adequado, de acordo com es-
rão ser resolvidos por ele, deverá transmití-las ao ACE, seu parceiro,
quema terapêutico definido neste caderno;
que planejará conjuntamente as ações de saúde caso a caso como,
- Encaminhar, quando necessário, os casos graves para a uni-
por exemplo, quando o ACS identificar uma caixa d’água de difícil dade de referência, respeitando os fluxos locais e mantendo-se res-
acesso ou um criadouro que necessite da utilização de larvicida. ponsável pelo acompanhamento;
O ACE deve ser incorporado nas atividades das equipes da - Realizar assistência domiciliar, quando necessário;
Atenção Básica/Saúde da Família, tomando como ponto de partida - Orientar os Auxiliares e técnicos de enfermagem, ACS e ACE
sua participação no processo de planejamento e programação. É para o acompanhamento dos casos em tratamento e/ou tratamen-
importante que o ACE esteja vinculado a uma Unidade Básica de to supervisionado;
Saúde, pois a efetiva integração das ações de controle está no pro- - Contribuir e participar das atividades de educação permanen-
cesso de trabalho realizado cotidianamente. te dos membros da equipe quanto à prevenção, manejo do trata-
Um dos fatores fundamentais para o êxito do trabalho é a in- mento, ações de vigilância epidemiológica e controle das doenças;
tegração das bases territoriais de atuação dos Agentes Comunitá- - Enviar mensalmente ao setor competente as informações epi-
rios de Saúde (ACS) e Agentes de Controle de Endemias (ACE). O demiológicas referentes às doenças/agravo na área de atuação da
gestor municipal, junto às equipes de saúde, deve organizar seus UBS, analisar os dados para propor possíveis intervenções.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

1.8.4 Enfermeiro Com a atuação do SUS, o acesso universal e gratuito à vacina-


ção foi garantido, a cobertura da atenção primária à saúde foi am-
- Realizar consulta de enfermagem, solicitar exames comple- pliada, e as estratégias de vigilância e controle das doenças trans-
mentares e prescrever medicações, conforme protocolos ou outras missíveis foram reestruturadas. A morbimortalidade por doenças
normativas técnicas estabelecidas pelo gestor municipal, observa- transmissíveis apresentou redução importante. Entre 1930 e 2007,
das as disposições legais da profissão; a mortalidade proporcional por doenças transmissíveis declinou de
- Planejar, gerenciar, coordenar e avaliar as ações desenvolvi- 50% para 5%, contudo, estas ainda constituem importante proble-
das pelos ACS; ma de saúde pública no Brasil (Barreto et al., 2011).
- Realizar assistência domiciliar, quando necessário; No país, observa-se a persistência de diversas doenças trans-
- Enviar mensalmente ao setor competente as informações epi- missíveis, especialmente daquelas relacionadas à pobreza, também
demiológicas referentes às doenças/agravo na área de atuação da consideradas negligenciadas, por não apresentarem atrativos eco-
UBS e analisar os dados para possíveis intervenções; nômicos para o desenvolvimento de fármacos, quer seja por sua
- Orientar os auxiliares/técnicos de enfermagem, ACS e ACE baixa prevalência, ou por atingir populações socialmente desfa-
para o acompanhamento dos casos em tratamento e/ou tratamen- vorecidas (Anvisa, 2007). Estas doenças não apenas ocorrem com
to supervisionado; maior frequência em regiões empobrecidas, como também são
- Contribuir e participar das atividades de educação permanen- condições promotoras de pobreza (Hotez et al., 2006a).
te dos membros da equipe quanto à prevenção, manejo do trata- As doenças transmissíveis permanecem como agentes impor-
mento, ações de vigilância epidemiológica e controle das doenças. tantes da pobreza debilitante no mundo. A cada ano, essas doenças
matam quase nove milhões de pessoas, muitas delas crianças com
1.8.5 Auxiliar/Técnico de Enfermagem menos de cinco anos de idade, além de causar grande carga de in-
capacidade por toda a vida. Estas podem prejudicar o crescimento
- Participar das atividades de assistência básica, realizando pro- infantil e o desenvolvimento intelectual, bem como a produtividade
do trabalho. Esforços de pesquisa voltados para sua prevenção po-
cedimentos regulamentados para o exercício de sua profissão;
dem ter um impacto enorme na redução da pobreza (OMS, 2012).
- Realizar assistência domiciliar, quando necessária;
A pobreza cria condições que favorecem a disseminação de do-
- Realizar tratamento supervisionado, quando necessário, con-
enças transmissíveis e impede que as pessoas afetadas obtenham
forme orientação do enfermeiro e/ou médico.
acesso adequado à prevenção e à assistência. As doenças transmis-
síveis relacionadas à pobreza afetam desproporcionalmente pesso-
1.8.6 Cirurgião Dentista, Técnico em Higiene Dental – THD e as que vivem em comunidades pobres ou marginalizadas. Fatores
Auxiliar de Consultório Dentário – ACD econômicos, sociais e biológicos interagem para formar um ciclo vi-
cioso de pobreza e doença do qual, para muitas pessoas, não existe
- Identificar sinais e sintomas dos agravos/doenças e encami- escapatória (OMS, 2012).
nhar os casos suspeitos para consulta; Tendo em vista a relevância das doenças transmissíveis rela-
- Desenvolver ações educativas e de mobilização da comunida- cionadas à pobreza sobre a saúde no mundo e no Brasil, o controle
de relativas ao controle das doenças/agravos em sua área de abran- destas pode promover um impacto positivo não apenas sobre os
gência; indicadores relacionados diretamente à saúde, mas também sobre
- Participar da capacitação dos membros da equipe quanto à aqueles relacionados à pobreza e à educação (Hotez et al., 2006b).
prevenção, manejo do tratamento, ações de vigilância epidemioló- Nesse contexto, estudos sobre desigualdades em saúde são de
gica e controle das doenças; grande interesse, visando subsidiar políticas públicas necessárias
- Orientar a comunidade quanto ao uso de medidas de prote- para superar a distribuição desigual da saúde na sociedade (OMS,
ção individual e familiar para a prevenção de doenças 2011). O uso dos determinantes sociais como fatores analíticos
privilegiados permite a identificação de padrões de agregação geo-
gráfica e sobreposição espacial das doenças transmissíveis. A partir
desta perspectiva, podem ser vislumbradas estratégias alternativas
PROGRAMAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE DE DOEN- visando à prevenção e ao controle dessas doenças. Além disso,
ÇAS TRANSMISSÍVEIS PREVALENTES NO CENÁRIO EPI- quando as doenças estão agrupadas geograficamente, o custo-efe-
DEMIOLÓGICO BRASILEIRO tividade das ações pode ser melhorado (OMS, 2011).
O espaço, enquanto território usado, é, simultaneamente, pro-
Doenças transmissíveis mais prevalentes no Brasil duto e produtor de diferenciações sociais e ambientais, com refle-
xos importantes sobre a saúde dos grupos populacionais envolvi-
Melhorias nas condições de vida da população, aliadas a ini- dos. A análise da situação de saúde, como vertente da vigilância em
saúde, prioriza o estudo de grupos populacionais definidos segundo
ciativas de saúde pública, como a imunização e o tratamento com
suas condições de vida (Barcellos, 2002). Estudos que envolvem a
antibióticos, contribuíram para a redução da morbimortalidade por
análise da situação de saúde, incorporando elementos espaciais,
doenças transmissíveis no Brasil e no mundo (Silva Jr., 2009; Bar-
podem contribuir para a identificação, formulação, priorização e
reto et al., 2011). Entretanto, apesar da erradicação da varíola, e
explicação de problemas de saúde da população que vive em um
da eliminação ou controle de várias doenças transmissíveis, não se território usado.
concretizou a expectativa de que essas doenças perderiam sua im- Assim, análises que possibilitem a identificação das áreas de
portância na saúde pública (Silva Jr., 2009). concentração e sobreposição de doenças transmissíveis, possivel-
Na década de 1980, época da criação do Sistema Único de Saú- mente associadas a condições de vida precárias, constituem-se
de (SUS) do Brasil, constatava-se, além do surgimento da epidemia ferramentas fundamentais da vigilância em saúde, uma vez que
do HIV/aids, a persistência de algumas doenças transmissíveis, bem fornecem subsídios para o planejamento das ações e para a deter-
como a emergência ou reemergência de outras, como a dengue e a minação de prioridades de ação das ações de vigilância em saúde,
cólera (Luna, 2002; Tauil, 2006; Silva Jr., 2009). assistência em saúde, bem como de políticas sociais.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Raiva Tuberculose

As ações que o Brasil desenvolve para controle da raiva envol- No Brasil, ocorreu redução de 22,7% no número de casos novos
vem vacinação de animais de produção (ciclo rural), de animais do- de tuberculose notificados em 2016 (66.796 casos; 32,4 /100.000
mésticos (ciclo urbano), bem como tratamento antirrábico humano habitantes) quando comparado com 1981 (86.411; 71,3/100.000
pós-exposição. Estas intervenções vêm propiciando acentuada re- habitantes). Contudo, esta queda não foi linear, em parte devido
dução de casos humanos desta doença, cuja letalidade atinge 100%. ao recrudescimento desta doença no curso da epidemia de aids e
Assim, enquanto de 1981 a 1990 foram confirmados em média 76,4 das dificuldades para detecção e tratamento de todos os casos, de
casos por ano (máximo de 139 e mínimo de 39), na década seguinte modo que nos anos 1990 a incidência ainda se manteve elevada,
esta média foi de 36,4 (redução de 52,4%) e entre 2001 e 2010 foi variando de 58,4 a 49,3/100.000 habitantes (1995 e 1994, respecti-
de 14 casos (redução de 81,7%). Entre 2007 e 2010 o número máxi- vamente). No que se refere à mortalidade, enquanto em 1998 ocor-
mo de casos de raiva humana foi 3 e de 2011 a 2017 variou de 0 a 6. reram 6.029 óbitos (3,7/100.000 habitantes), em 2015 foram regis-
Observe-se que enquanto no início desta série a maioria dos casos trados 4.543 óbitos (2,2/100.000 habitantes), redução em torno de
ocorria em consequência de agressões de cães e gatos domésticos 40%4. Recentemente, o SUS adotou um esquema terapêutico para
ou errantes (ciclo urbano), nos últimos anos tem sido após agressão esta doença que inclui a formulação de quatro drogas em uma úni-
de morcegos, reservatório silvestre do vírus rábico (ciclo aéreo), di- ca cápsula que vem trazendo enormes avanços ao seu controle na
fíceis de serem evitadas por ação do setor saúde. medida em que aumentou a adesão dos pacientes ao tratamento,
e consequentemente o percentual de cura e a redução das fontes
Hanseníase de infecção.

Reconhecendo que o Brasil é o segundo país mais endêmico do HIV/Aids


mundo em hanseníase, grandes investimentos foram feitos no seu
controle desde a instalação do SUS. Em 1987, havia cerca de 450 mil A emergência da aids no mundo, em 1981, foi um fato que mar-
doentes no registro ativo do país, com tendência temporal de en- cou a história da saúde globalmente, devido à sua elevada letali-
demia em ascensão. Cerca de 166 mil profissionais de saúde foram dade, rápida disseminação, produção de epidemias de magnitude
capacitados e uma campanha de divulgação sobre sinais e sintomas crescente. No Brasil, os primeiros casos foram detectados logo após
precoces da doença foi realizada em veículos de comunicação de a identificação desta doença e até 1990 já haviam sido diagnostica-
massa. Essas ações foram efetivas para evidenciar a endemia ocul- dos 24.514 casos, a grande maioria em indivíduos residentes nos
ta, de modo que a detecção aumentou de 15 mil para 45 mil casos grandes centros urbanos. Nos anos seguintes, a prevalência conti-
novos, em apenas um ano, possibilitando tratar os doentes que an- nuou aumentando e a aids se expandiu para o interior do país, de
tes não tinham diagnóstico e/ou acesso aos serviços de saúde. modo que, entre 1991 e 2000, foram registrados 226.456 casos no-
O Brasil, entre 1990 e 2016, reduziu em 94,3% a prevalên- vos. Embora o número de casos na década seguinte tenha aumen-
cia desta doença, passando de 19,5/10 mil habitantes para 1,1 tado, observou-se que a epidemia se estabilizou, sendo confirma-
casos/10.000 habitantes. Isso correspondeu a uma redução de dos em média 34.807 casos novos a cada ano. Entre 2007 e 2016,
281.605 em tratamento para 22.631 casos. Nesse mesmo perío- houve pouca variação no número de casos, em torno de 32.321,
do, a taxa de detecção geral decresceu 38,7% (de 19,96, em 1990 de modo que a taxa de detecção de Aids tem sido em média de
para 12,23 p/100.000 habitantes, em 2016). Em relação à taxa de 20,7/100.000 habitantes.
detecção em menores de 15 anos observa-se uma diminuição de O acesso universal e gratuito aos medicamentos antirretro-
36,7%, no período de 1994 a 2016, o que corresponde a uma taxa virais (TARV) passou a ser garantido pelo SUS em 1996, uma das
de detecção de 5,74 para 3,63/100.000 habitantes. Certamente, a iniciativas que impactou sobremaneira o comportamento da epi-
descentralização das ações de vigilância, controle e tratamento da demia de HIV/Aids, principalmente, no que se refere ao aumento
hanseníase para a rede de atenção básica contribuiu para o deli- de sobrevida; redução da transmissão vertical, letalidade e taxa de
neamento deste novo cenário. Em 2016, 71,1% dos casos novos mortalidade por esta grave doença. Só entre 1997 e 2003, foram
(17.935) foram notificados pelos serviços de atenção básica, a aten- evitadas cerca de 6.000 casos de transmissão vertical. Em 2003, já
ção secundária 19,9% (5.018) dos casos novos e a terciária 9,0% haviam 150 mil pacientes em tratamento e o Programa Brasileiro de
(2.265). DST/Aids é reconhecido como um dos melhores do mundo sendo
A introdução, em 1990, do esquema de associação de medi- premiado pela Fundação Bill & Melinda Gates. O MS estimou que
camentos (multidrogaterapia/MDT), com redução progressiva no em 2015 haviam aproximadamente 827 mil pessoas vivendo com
tempo de tratamento, foi fator determinante na queda da preva- HIV no país, destes 82% tinham realizado pelo menos um teste de
lência. Mas, a MDT, em que pese trazer a cura da hanseníase, não carga viral ou contagem de linfócitos T CD4 ou tinham pelo menos
interrompeu a transmissão da doença, e, consequentemente, não uma receita de antirretroviral dispensada e 55% do total (454.850)
houve impacto na taxa de detecção de casos novos. Em parte, isso estão utilizando a terapia antirretroviral. Além do tratamento, este
se deve a quebra do paradigma de que paciente de hanseníase não programa está estruturado para desenvolver ações de vigilância e
se reinfectava, pois a decodificação do genoma completo do M. le- controle que englobam notificação universal dos casos de aids, de
prae isolados de doentes com recrudescimento da doença revelou gestantes soropositivas e de crianças expostas ao HIV; vigilância so-
que, um mesmo doente se infecta em momentos distintos, com rológica em populações-sentinela (clínicas de DST e parturientes);
cepas distintas deste bacilo. Seguindo o racional do tratamento da inquéritos sorológicos e comportamentais em populações específi-
tuberculose, um novo esquema terapêutico único (MDT-U) para cas; mantém uma rede de centros de testagem e aconselhamento
hanseníase será adotado em 2018, que inclui três medicamentos, (CTA), dentre outras.
para todos os pacientes independente da classificação clínica, por
um período de apenas seis meses.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Esquistossomose mansônica Malária

Nas últimas três décadas tem havido importante redução nos No Brasil, a malária é causada pelo Plasmodium vivax, o Plas-
indicadores de prevalência de infecção, morbidade e mortalidade modium falciparum e o Plasmodium malariae, sendo os dois pri-
por esquistossomose mansônica, no que pese ainda se encontrar meiros de importância epidemiológica. Esta protozoose é endêmica
municípios endêmicos situados nos bolsões de pobreza do Nordes- na região da Amazônia, abrangendo 808 municípios, onde são de-
te e Sudeste. Mesmo considerando as diferenças metodológicas tectados aproximadamente 95% dos casos do país.
dos inquéritos coproscópicos realizados no Brasil, não se pode igno- Os dados disponíveis sobre esta doença, até o final dos anos de
rar que no final dos anos de 1940 a prevalência de exames positivos 1990, referiam-se ao número de lâminas positivas para plasmódio,
para esquistossomose foi de 9,9%, na segunda metade da década não correspondendo portanto a casos novos, conforme passaram
de 1970 era 6,6% enquanto em 2011-2015 encontrou-se positivi- a ser registrados a partir do ano 2000. Assim sendo, não é possível
dade de 0,99% (população de 7 a 14 anos). O recente inquérito na- estabelecer comparações entre estes períodos. Entre 2005 e 2012,
cional permitiu ainda uma estimativa mais precisa do número de o número de casos detectados de malária reduziu de 606.069 para
portadores da infecção em todo o país (2 milhões), muito inferior às 241.806 (queda de 60,1%). Este decréscimo ocorreu em maior in-
estimativas anteriores (superior a 7 milhões, em 2006). O declínio tensidade para a malária pelo P. falciparum (77,2%), responsável
desta prevalência vem resultando em redução da morbidade hospi- pelas formas mais graves da doença, com consequente diminuição
talar, de 2,5/100.000 para 0,08/100.000 habitantes, respectivamen- no número de internações (74,6%) e nos óbitos (54,4%) por esta
te, em 1988 e 2013, especialmente pelas formas digestivas graves. doença21. Este impacto vem sendo obtido por meio da detecção e
Da mesma forma, a mortalidade passou de 0,5/100.000 habitantes tratamento precoce dos portadores, além de medidas que visam à
em 1987 para 0,2 por 100.000 habitantes em 2012 redução da transmissão pelos vetores (borrifação, uso de telas im-
Uma redução mais sustentável na transmissão da esquistosso- pregnadas por inseticidas, educação comunitária, etc). Assim, uma
mose depende da melhoria das condições de saneamento das po- melhor efetividade das ações de prevenção e controle da malária
pulações expostas ao risco de ser infectado, além das intervenções vem sendo alcançada nos municípios que possuem boa cobertura
estritas ao setor saúde. No âmbito da saúde, vem sendo desenvolvi- na atenção primária, de forma integrada entre as ESF e os agentes
da pela Fiocruz uma vacina contra a esquistossomose que se encon- de controle de endemias, permitindo uma detecção e tratamento
tra em fase II de estudos clínicos. O SUS, por meio das Secretarias mais oportuno, fundamental para interromper a transmissão. O
Municipais de Saúde, desenvolve ações de educação comunitária e SUS ainda precisa enfrentar alguns desafios para alcançar a elimina-
detecção de casos mediante realização de inquéritos coproscópicos ção da malária, conforme estabelecido nas metas para os Objetivos
e tratamento dos portadores visando controlar esta doença. A des- do Desenvolvimento Sustentável.
centralização dessas atividades de controle, que até 1999 eram re-
alizadas pela Fundação Nacional de Saúde, ampliou a abrangência Arboviroses emergentes e reemergentes
deste programa que passou a contar com a participação dos agen-
tes de endemias, agentes comunitários de saúde e profissionais da Dentre as doenças emergentes e reemergentes, as arboviro-
Estratégia Saúde da Família (ESF), permitindo sua sustentabilidade ses transmitidas por mosquitos do gênero Aedes (principalmente
e alcance do impacto que vem apresentando sobre os indicadores Aedes aegypti) têm se caracterizado por persistirem como impor-
de morbimortalidade. tantes problemas de saúde pública, devido à produção de repetidas
Doença de Chagas epidemias de grande magnitude, em várias regiões do mundo. Den-
gue, é um dos exemplos mais emblemáticos neste grupo de viroses,
O programa de eliminação da transmissão vetorial da Doença pois modificou a tendência de decréscimo da morbidade por DT.
de Chagas do Brasil obteve, em 2006, o certificado de eliminação Estima-se que a cada ano o vírus do dengue (DENV) produz cerca
do T. Infestans, principal vetor intradomiciliar desta protozoose, de 390 milhões de infecções em 128 países e aproximadamente 96
que resultou em drástica redução de novas infecções pelo T. cruzi milhões de indivíduos apresentam manifestações clínicas, de maior
em humanos. De fato, inquérito sorológico nacional realizado en- ou menor gravidade.
tre 1975 e 1980, revelou que 4,2% dos brasileiros residentes nas No Brasil, o DENV1 reemergiu na década de 1980 e, desde en-
áreas rurais consideradas de transmissão natural do T. cruzi encon- tão, tem sido responsável por sucessivas epidemias produzidas pe-
travam-se infectados por este protozoário. Um segundo inquérito los seus 4 sorotipos. Atualmente, 90% dos municípios brasileiros es-
nacional, conduzido de 2001 a 2008, evidenciou soroprevalência tão infestados pelo Ae. aegypti favorecendo a intensa circulação do
de 0,03% em crianças menores de cinco anos, também residentes DENV, e a emergência dos vírus chikungunya (CHIKV) e Zika (ZIKV).
em área rural, sendo que 0,02% delas eram filhos de mães tam- Apesar dos esforços empreendidos para o controle deste vetor, não
bém positivas, indicando que a maioria das infecções havia sido se tem alcançado êxito, tanto no Brasil como em outros países das
por transmissão congênita. A mortalidade pela forma crônica desta Américas e de outras regiões do mundo. Uma vacina tetravalente
protozoose vem declinando ao longo das duas últimas décadas. No foi licenciada, contudo ao ser utilizada em populações observou-
Brasil, o T. infestans não é o único vetor do T. cruzi, e assim em -se aumento do risco de hospitalizações por dengue, nos indivíduos
algumas áreas, principalmente na Amazônia Legal, ainda ocorrem que nunca haviam sido infectados previamente pelo DENV selva-
casos de transmissão natural por triatomíneos extradomiciliares. A gem, razão pela qual a OMS contraindicou o uso desta vacina para
transmissão por transfusão sanguínea também está interrompida, os indivíduos naives. Assim, até o momento, não se dispõe de dro-
no entanto atualmente tem ocorrido surtos esporádicos de doença gas antivirais nem vacinas, seguras e eficazes, para nenhuma destas
de Chagas aguda, em consequência da transmissão por alimentos viroses. A vigilância e o controle têm efetividade muito limitada,
contaminados, tais como caldo de cana e açaí. na medida em que se restringe ao controle vetorial, centrado em
produtos químicos e eliminação de potenciais criadouros larvários.
Embora promissoras, as novas tecnologias que vêm sendo testadas,
reduzem os níveis de infestação do A. aegypti, contudo, ainda não
há comprovação de que sejam eficazes e efetivas para impedir a
emergência e/ou o risco de transmissão dos arbovírus de interesse.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A dengue, a chikungunya e a Zika vêm influenciando o perfil do conjunto das três arboviroses foi de 1016,4/100.000 habitantes,
de morbidade das DT no Brasil, modificando a trajetória de declí- representando 24 vezes o valor deste indicador para o conjunto das
nio que este grupo de doenças vinha apresentando desde 1987. A demais 12 DT analisadas. Ou seja, fica evidente que a baixa efe-
introdução do DENV1, em 1986, no Rio de Janeiro e a seguir sua tividade ou inexistência de instrumentos de prevenção para estas
disseminação para outras áreas metropolitanas do país, produziu arboviroses, impede a manutenção das DT sob controle.
47.370 casos (35,3/100.000 habitantes) desta doença, contribuin-
do com 15,1% das notificações de um conjunto de 12 importantes Febre amarela
DT de notificação compulsória e, no ano seguinte, esta proporção
alcançou 46,7% (65,4/100.000 habitantes). Os anos de 1990 des- Poucos casos de febre amarela silvestre (FAS)vinham sendo
pontaram com a emergência do DENV2 e, a partir de 1994, a circu- confirmados no Brasil desde a década de 1980. Há cada ciclo de
lação deste sorotipo e do DENV1 foi produzindo epidemias de gran- cinco a sete anos se observava epidemias com transmissão na área
de magnitude em inúmeros centros urbanos brasileiros, de modo epizoótica, inclusive em 1999/2000 (76 e 85 casos, respectivamen-
que ao final daquela década quase 1,5 milhões de casos de dengue te) e 2008/2009 (46 e 47 casos, respectivamente) casos humanos
foram registrados. Só em 1998, ano da maior epidemia desse perí- foram confirmados em espaços urbanos, muito embora o ciclo de
odo, o número de casos de dengue foi mais de três vezes superior transmissão tenha sido silvestre. Contudo, em 2017, ocorreu uma
(352,4/100.000 habitantes) à do conjunto de 12 DT (105,0/100.000 epidemia de grande magnitude, quando foram confirmados 776
habitantes). Esta situação foi se agravando no decorrer do século casos humanos e observou-se grande expansão da área de trans-
XXI, pois além das epidemias, passou a ocorrer centenas de casos missão desta virose, com ocorrências em várias áreas urbanas. Em
da Febre Hemorrágica do Dengue/FHD de elevada letalidade, logo 2018, vem sendo confirmados casos de FAS nas mesmas áreas. As
após a introdução do DENV3. Por exemplo, em 2002 a incidência de razões para esta expansão ainda são desconhecidas, porém este
dengue alcançou 401,6/100.000 habitantes e foram diagnosticados evento vem impondo a realização de campanhas em massa de va-
2608 casos de FHD e 121 óbitos. Em 2010, o DENV4 também passou cinação contra a febre amarela das populações de grandes centros
a circular intensamente, e assim se estabeleceu a cocirculação dos urbanos a exemplo de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, com
quatro sorotipos, e a incidência vem se mantendo em patamares utilização, pela primeira vez no país, de dose fracionada da vacina.
elevados, destacando-se que não tem havido períodos com decrés-
cimo de incidência conforme era observado nas décadas anteriores DST/AIDS

Com a emergência de mais dois arbovírus transmitidos pelo Ae. Aids (sigla para acquired immunodeficiency syndrome - síndro-
aegypti, o CHIKV em 2014 e o ZIKV, identificado laboratorialmen- me da imunodeficiência adquirida, em português) é uma doença
te em 2015 (embora haja evidências de que já estava circulando crônica causada pelo vírus HIV, que danifica o sistema imunológico
anteriormente), houve agravamento do quadro epidemiológico do e interfere na habilidade do organismo lutar contra outras infecções
país. A Zika era considerada uma doença branda, autolimitada, sem (tuberculose, pneumocistose, neurotoxoplasmose, entre outras). A
complicações associadas. Contudo, após circulação intensa do ZIKV Aids também facilita a ocorrência de alguns tipos de câncer, como
em cidades do Nordeste brasileiro, uma epidemia inesperada de sarcoma de Kaposi e linfoma, além de provocar perda de peso e
microcefalia, posteriormente identificada como uma síndrome cau- diarreia. Apesar de ainda não existir cura para a doença, atualmen-
sada pela transmissão vertical deste agente, vitimou milhares de te há tratamentos retrovirais capazes de aumentar a expectativa de
crianças. Esta Emergência de Saúde Pública de Interesse Nacional e vida dos soropositivos.
Internacional foi seguida de investigação e resposta oportuna, que
mobilizou profissionais e dirigentes das três esferas de gestão do
SUS. No que pese as medidas vigilância e controle do vetor terem DOENÇAS E AGRAVOS NÃO TRANSMISSÍVEIS
sido prontamente desenvolvidas, mais de 3000 casos de Síndrome
Congênita do Zika já foram confirmados desde então. Protocolos e As transformações sociais e econômicas ocorridas no Brasil
serviços de atenção especial à saúde das crianças acometidas foram durante o século passado provocaram mudanças importantes no
implementadas pelo SUS, desde o início da detecção desta epide- perfil de ocorrência das doenças de nossa população.
mia. Os primeiros casos de chikungunya foram detectados simulta- Na primeira metade do século 20, as Doenças Infecciosas
neamente na Bahia e Amapá, e desde então, houve expansão desta Transmissíveis eram as mais frequentes causas de mortes. A partir
doença para muitos municípios do país, especialmente da região dos anos 60, as Doenças e Agravos Não Transmissíveis - as DANT -
Nordeste. Embora apresente, nas formas leves, sintomas semelhan- tomaram esse papel. Entre os fatores que contribuíram para essa
tes ao da dengue, a maior relevância desta doença se dá pelas mani- transição epidemiológica estão: o processo de transição demográ-
festações clínicas persistentes na fase crônica (que pode acometer fica, com queda nas taxas de fecundidade e natalidade e um pro-
até metade dos pacientes), principalmente com comprometimento gressivo aumento na proporção de idosos, favorecendo o aumen-
das articulações que interfere negativamente na qualidade de vida to das Doenças Crônico-degenerativas (Doenças Cardiovasculares,
dos pacientes. Ademais ocorrem formas atípicas e graves com com- Câncer, Diabetes, Doenças Respiratórias); e a transição nutricional,
prometimento do sistema nervoso. As manifestações atípicas e a com diminuição expressiva da desnutrição e aumento do número
presença de doenças concorrentes, especialmente em idosos, tem de pessoas com excesso de peso (Sobrepeso e Obesidade). Somam-
sido relacionada a uma maior letalidade da Chikungunya no Brasil. -se a isso o aumento dos traumas decorrentes das Causas Externas
A partir de 2014, os dados epidemiológicos destas três arbo- (Violências, Acidentes e Envenenamentos, etc.).
viroses registrados no Brasil, são de difícil interpretação dado que Projeções para as próximas décadas apontam para um cresci-
incialmente chikungunya e Zika não foram incluídas no sistema de mento epidêmico das DANT na maioria dos países em desenvolvi-
notificação universal e, como as mesmas apresentam caracterís- mento, em particular das Doenças Cardiovasculares, Neoplasias e
ticas clínicas na fase aguda muito semelhantes ao dengue, parte Diabetes tipo 2. As Doenças e Agravos Não Transmissíveis respon-
dos casos foram notificados como esta enfermidade. Em vista disso, dem pelas maiores taxas de Morbimortalidade e por cerca de mais
no Gráfico 2 a incidência foi calculada para o conjunto das notifica- 70% dos gastos assistenciais com a saúde no Brasil, com tendência
ções destas três doenças. Observe-se, que em 2016, a incidência crescente.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Essa transição do quadro epidemiológico tem impactado a área Estas mudanças configuram novos desafios para a saúde públi-
de saúde pública no Brasil e o desenvolvimento de estratégias para ca de encontrar mecanismos para o enfrentamento das DANT mar-
o controle das DANT se tornou uma prioridade para o Sistema Úni- cadas pela complexa relação entre a saúde e seus determinantes,
co de Saúde (SUS). A vigilância epidemiológica das DANT e dos seus considerando que essas doenças têm um forte impacto na qualida-
Fatores de Risco é de fundamental importância para a implemen- de de vida dos indivíduos afetados, causa morte prematura e geram
tação de políticas públicas voltadas para a prevenção, o controle grandes e subestimados efeitos econômicos adversos para as famí-
dessas doenças e a promoção geral da saúde. lias, comunidades e sociedade em geral.
A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), por meio da Coorde- Portanto, a prevenção e controle das DANT e seus fatores de
naçãoGeral de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis - risco são fundamentais para evitar o crescimento epidêmico dessas
CGDANT -, tem trabalhado para coordenar, fomentar e desenvolver doenças e suas consequências nefastas para a qualidade de vida e a
estudos e pesquisas para identificação e monitoramento de fatores sistema de saúde no país.
de risco, análise e avaliação das ações de promoção da saúde, pre- Diante desse cenário epidemiológico o Ministério da Saúde
venção e controle das DANT. Fazem parte das suas atribuições: tem desenvolvido ações que visam reduzir o impacto dessas do-
- Cooperar com programas e ações nas áreas de promoção enças, por meio do monitoramento da morbimortalidade e seus
da saúde, prevenção dos fatores de risco e redução de danos das fatores de risco, analise de acesso e utilização de serviços de saúde,
DANT; indução e apoio a ações de promoção à saúde, prevenção e contro-
- Coordenar, normatizar e supervisionar o Sistema Nacional de le, avaliação das ações, programas e políticas.
Vigilância de DANT; Contudo, consolidar o sistema de vigilância em doenças e agra-
- Supervisionar a execução das ações relacionadas à vigilância
vos não transmissíveis (DANT) em todas as esferas do Sistema Único
de DANT;
de Saúde, em todas as unidades da Federação é de grande relevân-
- Prestar assessoria técnica a Estados, municípios e ao Distrito
cia nacional, considerando que suas ações possibilitaram conhecer
Federal na área de vigilância de DANT;
a distribuição, magnitude e tendência dessas doenças e de seus
- Fomentar a capacitação de recursos humanos para atuar na
vigilância de DANT; fatores de risco na população, identificando seus condicionantes
- Subsidiar estudos, pesquisas, análises e outras atividades téc- sociais, econômicos e ambientais, com o objetivo de subsidiar o
nico-científicas relacionadas às DANT. planejamento, execução e avaliação da prevenção e controle das
A CGDANT, para desenvolver suas atribuições, está estruturada mesmas.
com as seguintes áreas:
» Doenças e Agravos Não Transmissíveis
PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÕES
» Violências e Acidentes
» Promoção da Saúde
As doenças e agravos não transmissíveis - DANT (doenças car- Conceito e Tipo de Imunidade
diovasculares, neoplasias, doenças respiratórias crônicas, diabetes Programa de Imunização
e doenças musculoesqueléticas, entre outras) são doenças multifa-
toriais e têm em comum fatores comportamentais de risco modifi- Programa de imunização e rede de frios, conservação de
cáveis e não modificáveis. Dentre os fatores comportamentais de vacinas
risco modificáveis destacam-se o tabagismo, o consumo excessivo
de bebidas alcoólicas, a obesidade, as dislipidemias (determinadas PNI: essas três letras inspiram respeito internacional entre es-
principalmente pelo consumo excessivo de gorduras saturadas de pecialistas de saúde pública, pois sabem que se trata do Programa
origem animal), a ingestão insuficiente de frutas e hortaliças e a Nacional de Imunizações, do Brasil, um dos países mais populosos
inatividade física. e de território mais extenso no mundo e onde nos últimos 30 anos
Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam foram eliminadas ou são mantidas sob controle as doenças prevení-
que as DANTs já são responsáveis por 58,5% de todas as mortes veis por meio da vacinação.
ocorridas no mundo e por45,9% da carga global de doença, consti- Na Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da Or-
tuindo um sério problema de saúde pública, tanto nos países ricos ganização Mundial de Saúde (OMS), o PNI brasileiro é citado como
quanto nos de média e baixa renda. referência mundial. Por sua excelência comprovada, o nosso PNI or-
O Brasil seguindo essa tendência mundial tem passado pelos ganizou duas campanhas de vacinação no Timor Leste, ajudou nos
processos de transição demográfica, epidemiológica e nutricional
programas de imunizações na Palestina, na Cisjordânia e na Faixa
desde a década de 60. Destacamos a queda da mortalidade e da
de Gaza. Nós, os brasileiros do PNI, fomos solicitados a dar cursos
fecundidade aumento do número de idosos, particularmente, o
no Suriname, recebemos técnicos de Angola para serem capacita-
grupo com mais de 80 anos. De 1980 a 2000, a população de idosos
dos aqui. Estabelecemos cooperação técnica com Estados Unidos,
cresceu 107%, enquanto a população até 14 anos cresceu apenas
14%. Nos próximos 20 anos, projeções apontam para a duplicação México, Guiana Francesa, Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela,
da população idosa no Brasil, de 8 para 15%. O envelhecimento está Bolívia, Colômbia, Peru, Israel, Angola, Filipinas. Fizemos doações
associado ao aumento da incidência e prevalência de DANT. As do- para Uruguai, Paraguai, República Dominicana, Bolívia e Argentina.
enças cardiovasculares, neoplasias, doenças respiratórias crônicas, A razão desse destaque internacional é o Programa Nacional
diabetes e doenças musculoesqueléticas, entre outras respondem de Imunizações, nascido em 18 de setembro de 1973, chega aos 30
pela maior parcela dos óbitos no país e de despesas com assistência anos em condições de mostrar resultados e avanços notáveis. O que
hospitalar no SUS, totalizando cerca de 75% dos gastos com aten- foi alcançado pelo Brasil, em imunizações, está muito além do que
ção à saúde. foi conseguido por qualquer outro país de dimensões continentais
e de tão grande diversidade socioeconômica.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

No campo das imunizações, somos vistos com respeito e admi- - fim da Campanha da Erradicação da Varíola (CEV) no Brasil,
ração até por países dotados de condições mais propícias para esse com a certificação de desaparecimento da doença por comissão da
trabalho, por terem população menor e ou disporem de espectro OMS;
social e econômico diferenciado. Desde as primeiras vacinações, - a atuação da Ceme, criada em 1971, voltada para a organiza-
em 1804, o Brasil acumulou quase 200 anos de imunizações, sendo ção de um sistema de produção nacional e suprimentos de medica-
que nos últimos 30 anos, com a criação do PNI, desenvolveu ações mentos essenciais à rede de serviços públicos de saúde;
planejadas e sistematizadas. Estratégias diversas, campanhas, var- - recomendações do Plano Decenal de Saúde para as Améri-
reduras, rotina e bloqueios erradicaram a febre amarela urbana em cas, aprovado na III Reunião de Ministros da Saúde (Chile, 1972),
1942, a varíola em 1973 e a poliomielite em 1989, controlaram o com ênfase na necessidade de coordenar esforços para controlar,
sarampo, o tétano neonatal, as formas graves da tuberculose, a dif- no continente, as doenças evitáveis por imunização.
teria, o tétano acidental, a coqueluche. Mais recentemente, imple- Torna-se cada vez mais evidente, no Brasil, que a vacina é o
mentaram medidas para o controle das infecções pelo Haemophilus único meio para interromper a cadeia de transmissão de algumas
influenzae tipo b, da rubéola e da síndrome da rubéola congênita, doenças imuno preveníveis. O controle das doenças só será obti-
da hepatite B, da influenza e suas complicações nos idosos, também do se as coberturas alcançarem índices homogêneos para todos os
das infecções pneumocócicas. subgrupos da população e em níveis considerados suficientes para
Hoje, os quase 180 milhões de cidadãos brasileiros convivem reduzir a morbimortalidade por essas doenças. Essa é a síntese do
num panorama de saúde pública de reduzida ocorrência de óbitos Programa Nacional de Imunizações, que na realidade não pertence
por doenças imuno preveníveis. O País investiu recursos vultosos na a nenhum governo, federal, estadual ou municipal. É da sociedade
adequação de sua Rede de Frio, na vigilância de eventos adversos brasileira. Novos desafios foram sucessivamente lançados nestes 30
pós-vacinais, na universalidade de atendimento, nos seus sistemas anos, o maior deles sendo a difícil tarefa de manejar um programa
de informação, descentralizou as ações e garantiu capacitação e que trabalha articulado com os 26 estados, o Distrito Federal e os
atualização técnico-gerencial para seus gestores em todos os âm- 5.560 municípios, numa vasta extensão territorial, cobrindo uma
bitos. As campanhas nacionais de vacinação, voltadas em cada oca- população de 174 milhões de habitantes, entre crianças, adolescen-
sião para diferentes faixas etárias, proporcionaram o crescimento tes, mulheres, adultos, idosos, indígenas e populações especiais.
da conscientização social a respeito da cultura em saúde. Enquanto diversidades culturais, demográficas, sociais e am-
Antes, no Brasil, as ações de imunização se voltavam ao contro- bientais são suplantadas para a realização de atividades de vacina-
le de doenças específicas. Com o PNI, passou a existir uma atuação ção de campanha e rotina, novas iniciativas e desafios vão sendo
abrangente e de rotina: todo dia é dia de estar atento à erradicação lançados. Desses, vale a pena citar alguns: Programas regionais do
e ao controle de doenças que sejam possíveis de controlar e erra- continente americano – Os programas de erradicação da poliomie-
dicar por meio de vacina, e nas campanhas nacionais de vacinação lite, eliminação do sarampo, controle da rubéola e prevenção da
essa mentalidade é intensificada e dirigida à doença em foco. O síndrome da rubéola congênita e a prevenção do tétano neonatal
objetivo prioritário do PNI, ao nascer, era promover o controle da são programas regionais que requerem esforços conjuntos dos pa-
poliomielite, do sarampo, da tuberculose, da difteria, do tétano, da íses da região, com definição de metas, estratégias e indicadores,
coqueluche e manter erradicada a varíola. envolvendo troca contínua e oportuna de informações e realização
Hoje, o PNI tem objetivo mais abrangente. Para os próximos periódica de avaliações das atividades em âmbito regional.
cinco anos, estão fixadas as seguintes metas: O PNI tem desempenhado papel de destaque, sendo pioneiro
- ampliação da auto-suficiência nacional dos produtos adquiri- na implementação de estratégias como a vacinação de mulheres
dos e utilizados pela população brasileira; em idade fértil contra a rubéola e o novo plano de controle do téta-
- produção da vacina contra Haemophilus influenzae b, da va- no neonatal. Além disso, em 2003 foi iniciada a estratégia de multi-
cina combinada tetravalente (DTP + Hib), da dupla viral (contra sa- vacinação conjunta por todos os países da América do Sul, durante
rampo e rubéola) e tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxum- a Semana Sul-Americana de Vacinação. Atividades de busca ativa de
ba), da vacina contra pneumococos e da vacina contra influenza e casos, vigilância epidemiológica e vacinação nas fronteiras de todo
da vacina antirrábica em cultivo celular. o Brasil foram executadas com sucesso. Essa iniciativa se repetirá
nos próximos anos, contando já com a participação de um núme-
As competências do Programa, estabelecidas no Decreto nº ro ainda maior de países da América Central, América do Norte e
78.231, de 12 de agosto de 1976 (o mesmo que o institucionalizou), Espanha.
são ainda válidas até hoje:
- implantar e implementar as ações relacionadas com as vaci- Quantidades de imuno biológicos: A cada ano são incorpora-
nações de caráter obrigatório; dos novos imuno biológicos ao calendário do PNI, que são ofere-
- estabelecer critérios e prestar apoio técnico a elaboração, im- cidos gratuitamente à população, durante campanhas ou na rotina
plantação e implementação dos programas de vacinação a cargo do programa, prezando pelos princípios do SUS de universalidade,
das secretarias de saúde das unidades federadas; equidade e integralidade.
- estabelecer normas básicas para a execução das vacinações; Campanhas de vacinação: São extremamente complexas a co-
- supervisionar, controlar e avaliar a execução das vacinações ordenação e a logística das campanhas de vacinação. As campanhas
no território nacional, principalmente o desempenho dos órgãos anuais contra a poliomielite conseguem o feito de vacinar 15 mi-
das secretarias de saúde, encarregados dos programas de vacina- lhões de crianças em um único dia. A campanha de vacinação de
ção; mulheres em idade fértil conseguiu vacinar mais de 29 milhões de
- centralizar, analisar e divulgar as informações referentes ao mulheres em idade fértil em todo o País, objetivando o controle da
PNI. rubéola e a prevenção da síndrome da rubéola congênita.
Rede de Frio: A rede de frio do Brasil interliga os municípios
A institucionalização do Programa se deu sob influência de vá- brasileiros em uma complexa rede de armazenamento, distribuição
rios fatores nacionais e internacionais, entre os quais se destacam e manutenção de vacinas em temperaturas adequadas nos níveis
os seguintes: nacional, estadual e municipal e local.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Autossuficiência na produção de imuno biológicos: O PNI pro- e do gelo, os recursos eram a salmoura e o ato de curar os alimen-
duz grande parte das vacinas utilizadas no País e ainda fornece va- tos. Também havia as loucas de barro que mantinham a frescura
cinas com qualidade reconhecida e certificada internacionalmente dos alimentos e da água, fato este já observado pelos egípcios antes
pela Organização Mundial da Saúde, com grande potencial de ex- de Cristo. Mas as dificuldades para obtenção de gelo na natureza
portação de um número maior de vacinas produzidas no País. O criava a necessidade do desenvolvimento de técnicas capazes de
Brasil tem a meta ousada de ter auto-suficiência na produção de produzi-lo artificialmente.
imuno biológicos para uso na população brasileira. Apenas em 1824, o físico e químico Michael Faraday descobriu
Cooperação internacional: O PNI provê assistência técnica com a indução eletromagnética – o princípio da refrigeração. Esse prin-
envio de profissionais para apoiar atividades de imunizações e vi- cípio seria utilizado dez anos depois, nos Estados Unidos, para fabri-
gilância epidemiológica em outros países das Américas. Ainda, por car gelo artificialmente e, na Alemanha em 1855.
meio da OPAS, são inúmeros os termos de cooperação entre países Mesmo com o sucesso desses modelos experimentais, a pos-
do qual o Brasil participa, firmados com o intuito de transferir expe- sibilidade de produção do gelo para uso doméstico ainda era um
riências e conhecimentos entre os países. sonho distante.
Sendo assim, um dos programas de imunizações mais ativos na Enquanto isso não ocorria, a única possibilidade de utilização
região das Américas, o PNI brasileiro tem exportado iniciativas, his- do frio era tentando ampliar ao máximo a durabilidade do gelo na-
tórias de sucesso e experiência para diversos países do mundo. É, tural. No início do século XIX, surgiram, assim, as primeiras “geladei-
portanto, um exemplo a ser seguido, de ousadia, de determinação ras” – apenas um recipiente isolado por meio de placas de cortiça,
onde eram colocadas pedras de gelo. Essa geladeira ganhou ares
e de sucesso.”
domésticos em 1913.
Em 1918, após a invenção da eletricidade, a Kelvinator Co. in-
Rede de Frio
troduziu no mercado o primeiro refrigerador elétrico com o nome
de Frigidaire. Esses primeiros produtos foram vendidos como apa-
A Rede de Frio ou Cadeia de Frio é o processo de recebimento, relhos para serem colocados dentro das “caixas de gelo”.
armazenamento, conservação, manipulação, distribuição e trans- Uma das vantagens era não precisar tirar o gelo derretido. O
porte dos imuno biológicos do Programa Nacional de Imunizações e slogan do refrigerador era “mais frio que o gelo”. Na conservação
devem ser mantidos em condições adequadas de refrigeração, des- dos alimentos, a utilização da refrigeração destina-se a impedir a
de o laboratório produtor até o momento de sua utilização. multiplicação de microrganismos e sua atividade metabólica, redu-
O objetivo da Rede de Frio é assegurar que todos os imuno zindo, consequentemente, à taxa de produção de toxinas e enzimas
biológicos mantenham suas características iniciais, para conferir que poderiam deteriorar os alimentos, mantendo, assim, à qualida-
imunidade. de dos mesmos.
Imuno biológicos são produtos termolábeis, isto é, se deterio- Com a criação do Programa Nacional de Imunizações no Brasil
ram depois de determinado tempo quando expostos a temperatu- surge a necessidade de equipamento de refrigeração para a con-
ras inadequadas (inativação dos componentes imunogênicos). O servação dos imuno biológicos e inicia-se o uso do refrigerador
manuseio inadequado, equipamentos com defeito ou falta de ener- doméstico para este fim, adotando-se algumas adaptações e/ou
gia elétrica podem interromper o processo de refrigeração, com- modificações que serão demonstradas no capítulo referente aos
prometendo a potência e eficácia dos imuno biológicos. equipamentos da rede de frio.
São componentes da Rede de Frio: equipe qualificada e equi- Para os imuno biológicos, a refrigeração destina-se exclusiva-
pamentos adequados. mente à conservação do seu poder imunogênico, pois são produtos
Sistema de Refrigeração: é composto por um conjunto de com- termolábeis, isto é, que se deterioram sob a influência do calor.
ponentes unidos entre si, cuja finalidade é transferir calor de um
espaço, ou corpo, para outro. Esse espaço pode ser o interior de Princípios Básicos de Refrigeração
uma câmara frigorífica de um refrigerador, ou qualquer outro espa-
ço fechado onde haja a necessidade de se manter uma temperatura Calor: é uma forma de energia que pode ser transmitida de
mais baixa que a do ambiente que o cerca. um corpo a outro em virtude da diferença de temperatura existente
O primeiro povo a utilizar a refrigeração foi o chinês, muitos entre eles. A transmissão da energia se dá a partir do corpo com
anos antes de Cristo. Os chineses colhiam o gelo nos rios e lagos maior temperatura para o de menor temperatura. Um corpo, ao
receber ou ceder calor, pode sofrer dois efeitos diferentes: variação
durante a estação fria e o conservavam em poços cobertos de palha
de temperatura ou mudança de estado físico (fase). A quantidade
durante as estações quentes.
de calor recebida ou cedida por um corpo que sofre uma variação
Este primitivo sistema de refrigeração foi também utilizado de
de temperatura é denominada calor sensível. E, se ocorrer uma mu-
forma semelhante por outros povos da antiguidade. Servia basica-
dança de fase, o calor é chamado latente (palavra derivada do latim
mente para deixar as bebidas mais saborosas. Até pelo menos o fim que significa escondido).
do século XVII, esta seria a única aplicação do gelo para a humani- Diz-se que um corpo é mais frio que o outro quando possui
dade. menor quantidade de energia térmica ou, temperatura inferior ao
Em 1683, Anton Van Leeuwenhoek, um comerciante de tecidos outro. Com base nesses princípios são, a seguir, apresentadas algu-
e cientista de Delft, nos Países Baixos, que muito contribuiu para o mas experiências onde os mesmos são aplicados à conservação de
melhoramento do microscópio e para o progresso da biologia ce- imuno biológicos.
lular, detectou microrganismos em cristais de gelo e a partir dessa
observação constatou-se que, em temperaturas abaixo de +10ºC, Transferência de Calor: É a denominação dada à passagem da
estes microrganismos não se multiplicavam, ou o faziam mais vaga- energia térmica (que durante a transferência recebe o nome de ca-
rosamente, ocorrendo o contrário acima dessa temperatura. lor) de um corpo com temperatura mais alta para outro ou de uma
A observação de Leeuwenhoek continuou sendo alvo de pes- parte para outra de um mesmo corpo com temperatura mais baixa.
quisa no meio científico e no século 18, descobertas científicas rela- Essa transmissão pode se processar de três maneiras diferentes:
cionaram o frio à inibição do processo dos alimentos. Além da neve condução, convecção e radiação.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Condução: É o processo de transmissão de calor em que a Convecção Natural – Densidade: Uma mesma substância, em
energia térmica passa de um local para outro através das partículas diferentes temperaturas, pode ficar mais ou menos densa. O ar
do meio que os separa. Na condução a passagem da energia de uma quente é menos denso que o ar frio. Assim, num espaço determi-
local para outro se faz da seguinte maneira: no local mais quente, as nado e limitado, ocorre sempre uma elevação do ar quente e uma
partículas têm mais energia, vibrando com mais intensidade; com queda (precipitação) do ar frio. Sob tal princípio, uma caixa térmica
esta vibração cada partícula transmite energia para a partícula vizi- horizontal aberta, contendo bobinas de gelo reutilizável ou outro
nha, que passa a vibrar mais intensamente; esta transmite energia produto em baixa temperatura, só estará recebendo calor do am-
para a seguinte e assim sucessivamente. biente através da radiação e não pela saída do ar frio existente, uma
vez que este, sendo mais denso, permanece no fundo da caixa.
Convecção: Consideremos uma sala na qual se liga um aque- Ao se abrir a porta de uma geladeira vertical ocorrerá a saída
cedor elétrico em sua parte inferior. O ar em torno do aquecedor é de parte do volume de ar frio contido dentro da mesma, com sua
aquecido, tornando-se menos denso. Com isso, o ar aquecido sobe consequente substituição por parte do ar quente situado no am-
e o ar frio que ocupa a parte superior da sala, e portanto, mais dis- biente mais próximo do refrigerador. O ar frio, por ser mais denso,
tante do aquecedor, desce. A esse movimento de massas de fluido sai por baixo, permitindo a penetração do ar ambiente (com calor
chamamos convecção e as correntes de ar formadas são correntes e umidade). Os equipamentos utilizados para a conservação de
de convecção. Portanto, convecção é um movimento de massas de sorvetes e similares são predominantemente freezers horizontais,
fluido, trocando de posição entre si. Notemos que não tem signifi- com várias aberturas pequenas na parte superior, visando a maior
cado falar em convecção no vácuo ou em um sólido, isto é, convec- eficiência na conservação de baixas temperaturas. Um exemplo do
ção só ocorre nos fluidos. Exemplos ilustrativos: princípio da densidade é observado quando os evaporadores ou
- Os aparelhos condicionadores de ar devem sempre ser insta- congeladores dos refrigeradores, os aparelhos de ar-condicionado
lados na parte superior do recinto a ser resfriado, para que o ar frio e centrais de refrigeração são instalados na parte superior do local
refrigerado, sendo mais denso, desça e force o ar quente, menos a ser refrigerado Assim o ar frio desce e refrigera todo o ambiente
denso, para cima, tornando o ar de todo o ambiente mais frio e mais rapidamente. Já os aquecedores devem ser instalados na par-
mais uniforme. te inferior. Desta forma, o ar quente sobe e aquece o local de forma
- Os aparelhos condicionadores de ar modernos possuem refri- mais rápida. Agindo destas formas, garantimos o desempenho cor-
geração e aquecimento, mas também devem ser instalados na par- reto dos aparelhos e economizamos energia através da utilização da
te superior da sala, pois o período de tempo de maior uso será no convecção natural
modo ‘refrigeração’, ou seja, no período de verão. Contudo, quando
o equipamento for utilizado no modo ‘aquecimento’, durante o in- Temperatura: O calor é uma forma de energia que não pode ser
verno, as aletas do equipamento deverão estar direcionadas para medida diretamente. Porém, por meio de termômetro, é possível
baixo, forçando o ar quente em direção ao solo. medir sua intensidade. A temperatura de uma substância ou de um
- Os aquecedores de ar, por sua vez, deverão ser sempre insta- corpo é a medida de intensidade do calor ou grau de calor existente
lados na parte inferior do recinto a ser aquecido, pois o ar quente, em sua massa. Existem diversos tipos e marcas de indicadores de
por ser menos denso, subirá e o ar que está mais frio na parte supe- temperatura. Para seu funcionamento, aproveita-se a proprieda-
rior desce e sofre aquecimento por convecção. de que alguns corpos têm para dilatar-se ou contrair-se conforme
ocorra aumento ou diminuição da temperatura. Para esse funcio-
Radiação: É o processo de transmissão de calor através de on-
namento utilizam-se, também, as variações de pressão que alguns
das eletromagnéticas ondas de calor). A energia emitida por um
fluidos apresentam quando submetidos a variações de temperatu-
corpo (energia radiante) se propaga até o outro, através do espaço
ra. Os líquidos mais comumente utilizados são o álcool e o mercú-
que os separa. Raios infravermelhos; Sol; Terra; O Sol aquece a Terra
rio, principalmente por não se congelarem a baixas temperaturas.
através dos raios infravermelhos. Sendo uma transmissão de calor
Existem várias escalas para medição de temperatura, sendo
através de ondas eletromagnéticas, a radiação não exige a presença
que as mais comuns são a Fahrenheit (ºF), em uso nos países de
do meio material para ocorrer, isto é, a radiação ocorre no vácuo e
língua inglesa, e a Celsius (ºC), utilizada no Brasil.
também em meios materiais.
Nos termômetros em escala Celsius (ºC) ou Centígrados, o pon-
Nem todos os materiais permitem a propagação das ondas de
calor através dele com a mesma velocidade. A caixa térmica, por to de congelamento da água é 0ºC e o seu ponto de ebulição é de
exemplo, por ser feita de material isolante, dificulta a entrada do 100ºC, ambos medidos ao nível do mar e à pressão atmosférica.
calor e o frio em seu interior, originário das bobinas de gelo reutili- Fatores que interferem na manutenção da temperatura no in-
zável, é conservado por mais tempo. Toda energia radiante, trans- terior das caixas térmicas:
portada por onda de rádio, infravermelha, ultravioleta, luz visível, - Temperatura ambiente: Quanto maior for a temperatura am-
raios X, raio gama, etc, pode converter-se em energia térmica por biente, mais rapidamente a temperatura do interior da caixa tér-
absorção. Porém, só as radiações infravermelhas são chamadas de mica se elevará, em virtude da entrada de ar quente pelas paredes
ondas de calor. Um corpo bom absorvente de calor é um mal refle- da caixa.
tor. Um corpo bom refletor de calor é um mal absorvente. Exemplo: - Material isolante: O tipo, a qualidade e a espessura do mate-
Corpos de cor negra são bons absorventes e corpos de cores claras rial isolante utilizado na fabricação da caixa térmica interferem na
são bons refletores de calor. penetração do calor. Com paredes mais grossas, o calor terá maior
Relação entre temperatura e movimento molecular: Inde- dificuldade para atravessá-las. Com paredes mais finas, o calor pas-
pendentemente do seu estado, as moléculas de um corpo encon- sará mais facilmente. Com material de baixa condutividade térmica
tram-se em movimento contínuo. Na figura a seguir, verifica-se o (exemplo: poliuretano ao invés de poliestireno expandido), o calor
comportamento das moléculas da água nos estados sólido, líquido não penetrará na caixa com facilidade.
e gasoso. À medida que sofrem incremento de temperatura, essas - Bobinas de Gelo Reutilizável – Quantidade e Temperatura: A
moléculas movimentam-se com maior intensidade. A liberdade quantidade de bobinas de gelo reutilizável colocada no interior da
para se movimentarem aumenta conforme se passa do estado sóli- caixa é importante para a correta conservação. A transferência do
do para o líquido; e deste, para o gasoso calor recebido dos imuno biológicos, do ar dentro da caixa e atra-

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

vés das paredes fará com que o gelo derreta (temperatura próxima Compressor: É um conjunto mecânico constituído de um motor
de 0ºC, no caso de as bobinas de gelo serem constituídas de água elétrico e pistão no interior de um cilindro. Sua função é fazer o flui-
pura). Otimizar o espaço interno da caixa para a acomodação de do refrigerante circular dentro do sistema de refrigeração.. Durante
maior quantidade de bobinas de gelo fará com que a temperatura o processo de compressão, a pressão e a temperatura do fluido re-
interna do sistema permaneça baixa por mais tempo. Dispor as bo- frigerante se elevam rapidamente
binas de gelo reutilizável nos espaços vazios no interior da caixa, de
modo que circundem os imuno biológicos serve ao propósito men- Condensador: É o elemento do sistema de refrigeração que se
cionado acima. Ao dispor de certa quantidade de bobinas de gelo encontra instalado e conectado imediatamente após o ponto de
reutilizável nas paredes laterais da caixa térmica, formamos uma descarga do compressor. Sua função é transformar o fluido refri-
barreira para diminuir a velocidade de entrada de calor, por um pe- gerante em líquido. Devido à redução de sua temperatura, ocorre
ríodo de tempo. O calor vai continuar atravessando as paredes, e mudança de estado físico, passando de vapor superaquecido para
isso ocorre porque não existe material perfeitamente isolante. Con- líquido saturado. São constituídos por tubos metálicos (cobre, alu-
tudo, o calor que adentra a caixa atinge primeiro as bobinas de gelo mínio ou ferro) dispostos sobre chapas ou fixos por aletas (arame
reutilizável, aumentando inicialmente sua temperatura, e, somente de aço ou lâminas de alumínio), tomando a forma de serpentina.
depois, altera a temperatura do interior da caixa. A circulação do ar através do condensador pode se dar de duas
A temperatura das bobinas de gelo reutilizável também deve maneiras: a) Por circulação natural (sistemas domésticos) b) Por cir-
ser rigorosamente observada. Caso sejam utilizadas bobinas de culação forçada (sistemas comerciais de grande capacidade). Como
gelo reutilizável, em temperaturas muito baixas (-20ºC) e em gran- o condensador está exposto ao ambiente, cuja temperatura é infe-
de quantidade, há o risco de, em determinado momento, que a rior à temperatura do refrigerante em circulação, o calor vai sendo
temperatura dos imuno biológicos esteja próxima à dessas bobinas. dissipado para esse mesmo ambiente. Assim, na medida em que o
Por consequência, os imuno biológicos serão congelados, o que fluido refrigerante perde calor ao circular pelo condensador, ele se
para alguns tipos, pode comprometer a qualidade, por exemplo: a converte em líquido.
vacina contra DTP. Nos refrigeradores tipo doméstico e freezers utilizados pelo
Além desses fatores, as experiências citadas permitem lembrar PNI, são predominantemente utilizados os condensadores estáti-
alguns pontos importantes: cos, nos quais o ar e a temperatura ambiente são os únicos fatores
- o calor, decorrido algum tempo, passará através das paredes de interferência. As placas, ranhuras e pequenos tubos incorpora-
da caixa com maior ou menor facilidade, em função das caracterís- dos aos condensadores, visam exclusivamente facilitar a dissipação
ticas do material utilizado e da espessura das mesmas; do calor, aumentando a superfície de resfriamento.
- a temperatura no interior da caixa nem sempre é uniforme. Olhando-se lateralmente um refrigerador tipo doméstico verifi-
Num determinado momento podemos encontrar temperaturas di- ca-se que o condensador está localizado na parte posterior, afasta-
ferentes em vários pontos (a, b e c). O procedimento de envolver do do corpo do refrigerador. O calor é dissipado para o ar circulante
os imuno biológicos com bobinas de gelo reutilizável é entendido que sobe em corrente, dos lados do evaporador. Para que este ciclo
como uma proteção ao avanço do calor, que parte sempre do mais seja completado com maior facilidade e sem interferências desfavo-
quente para o mais frio, mas que afeta a temperatura dos corpos ráveis, o equipamento com sistema de refrigeração por compressão
pelos quais se propaga; (geladeira, freezers, etc.) deve ficar afastado da parede, instalado
- no acondicionamento de imuno biológicos em caixas térmicas em lugar ventilado, na sombra e longe de qualquer fonte de calor,
é possível manter ou reduzir a temperatura das mesmas durante para que o condensador possa ter um rendimento elevado. Não co-
um tempo determinado utilizando-se, para tal, bobinas de gelo reu- locar objetos sobre o condensador. Periodicamente, limpar o mes-
tilizável em diferentes temperaturas e quantidade. mo para evitar acúmulo de pó ou outro produto que funcione como
isolante.
Tipos de Sistema Alguns equipamentos (geladeiras comerciais, câmaras frigorífi-
cas, etc.) utilizam o conjunto de motor, compressor e condensador,
Compressão: São sistemas que utilizam a compressão e a ex- instalado externamente.
pansão de uma substância, denominada fluido refrigerante, como
meio para a retirada de energia térmica de um corpo ou ambiente. Filtro desidratador: Está localizado logo após o condensador.
Esses sistemas são normalmente alimentados por energia elétrica Consiste em um filtro dotado de uma substância desidratadora que
proveniente de centrais hidrelétricas ou térmicas. Alternativamen- retém as impurezas ou substâncias estranhas e absorve a umidade
te, em regiões remotas, tem-se usado o sistema fotovoltaico como residual que possa existir no sistema.
fonte geradora de energia elétrica.
Controle de expansão do fluido refrigerante: A seguir está lo-
Componentes e elementos do sistema de refrigeração por calizado o controlador de expansão do fluido refrigerante. Sua fina-
compressão: Componentes: compressor, condensador e controle lidade é controlar a passagem e promover a expansão (redução da
do líquido refrigerante. Elementos: evaporador, filtro desidratador, pressão e temperatura) do fluido refrigerante para o evaporador.
gás refrigerante e termostato. Os componentes acima descritos es- Este dispositivo, em geral, pode ser um tubo capilar usado em pe-
tão unidos entre si por meio de tubulações, dentro das quais cir- quenos sistemas de refrigeração ou uma válvula de expansão, usual
cula um fluido refrigerante ecológico (R-134a - tetrafluoretano, é o em sistemas comerciais e industriais.
mais comum). A compressão e a expansão desse fluido refrigerante,
dentro de um circuito fechado, o torna capaz de retirar calor de Evaporador: É a parte do sistema de refrigeração no qual o
um ambiente. Esse circuito deve estar hermeticamente selado, não fluido refrigerante, após expandir-se no tubo capilar ou na válvula
permitindo a fuga do refrigerante. Nos refrigeradores e freezers, de expansão, evapora-se a baixa pressão e temperatura, absorven-
o compressor e o motor estão hermeticamente fechados em uma do calor do meio. Em um sistema de refrigeração, a finalidade do
mesma carcaça evaporador é absorver calor do ar, da água ou de qualquer outra

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

substância que se deseje baixar a temperatura. Essa retirada de Funcionamento do sistema por absorção: A água tem a pro-
calor ou esfriamento ocorre em virtude de o líquido refrigerante, priedade de absorver amônia (NH3) com muita facilidade e através
a baixa pressão, se evaporar, absorvendo calor do conteúdo e do desta, é possível reduzir e manter baixa a temperatura nos sistemas
ambiente interno do refrigerador. À medida que o líquido vai se de absorção. A aplicação de calor ao sistema faz com que a solubi-
evaporando, deslocando-se pelas tubulações, este se converte em lidade da amônia na água, libere o gás da solução. Assim, a amônia
vapor, que será aspirado pelo compressor através da linha de baixa purificada, em forma gasosa, se desloca do separador até o con-
pressão (sucção). Posteriormente, será comprimido e enviado pelo densador, que é uma serpentina de tubulações com um dispositivo
compressor ao condensador fechando o ciclo. de aletas situado na parte superior do circuito. Nesse elemento, a
amônia se condensa e, em forma líquida, desce por gravidade até
Alimentação elétrica dos sistemas de refrigeração por com- o evaporador, localizado abaixo do condensador e dentro do gabi-
pressão: Pode ser convencional, quando é proveniente de centrais nete.
hidrelétricas ou térmicas, ou fotovoltaica, quando utiliza a energia O esfriamento interno do equipamento ocorre pela perda de
solar. A alimentação elétrica convencional dispensa maiores co- calor para a amônia, que sofre uma mudança de fase da amônia,
mentários, pois é de uso muito comum e conhecida por todos. passando do estado líquido para o gasoso.
Atualmente, muitos países em desenvolvimento estão usando A presença do hidrogênio mantém uma pressão elevada e uni-
o sistema fotovoltaico na rede de frio para conservação de imuno- forme no sistema. A mistura amônia-hidrogênio varia de densidade
biológicos. É, algumas vezes, a única alternativa em áreas onde não ao passar de uma parte do sistema para outra, o que resulta em
existe disponibilidade de energia elétrica convencional confiável. um desequilíbrio que provoca a movimentação da amônia até o
A geração de energia elétrica provém de células fotoelétricas ou componente absorvente (água). Ao sair do evaporador, a mistura
fotovoltaicas, instaladas em painéis que recebem luz solar direta, amônia-hidrogênio passa ao absorvedor, onde somente a amônia é
armazenando-a em baterias próprias através do controlador de car- retida. Nesse ponto, o calor aplicado permitirá novamente a libera-
ção da amônia até o condensador, fechando o ciclo continuamente.
ga para a manutenção do funcionamento do sistema, inclusive no
Os sistemas de absorção apresentam algumas desvantagens:
período sem sol.
- os equipamentos que utilizam combustível líquido na alimen-
tação apresentam irregularidade da chama e acúmulo de carvão ou
O sistema utilizado em refrigeradores para conservação de
fuligem, necessitando regulagem sistemática e limpeza periódica
imuno biológicos é dimensionado para operação contínua do equi- dos queimadores;
pamento (carregado e incluindo as bobinas de gelo reutilizável) - a manutenção do equipamento em operação satisfatória
durante os períodos de menor insolação no ano. Se outras cargas, apresenta maior grau de complexidade em relação aos sistemas de
como iluminação, forem incluídas no sistema, elas devem operar compressão;
através de um banco de baterias separado, independente do que - a qualidade e o abastecimento constante dos combustíveis
fornece energia ao refrigerador. O projeto do sistema deve permitir dificulta o uso de tal equipamento.
uma autonomia de, no mínimo, sete dias de operação contínua.
Controle de temperatura conforme o tipo de sistema, proce-
Em ambientes com temperaturas médias entre +32ºC e +43ºC, der das seguintes maneiras: a) aqueles que funcionam com com-
a temperatura interna do refrigerador, devidamente carregado, bustíveis líquidos. O controle é efetuado através da diminuição ou
quando estabilizada, não deve exceder a faixa de +2ºC a +8ºC. A aumento da chama utilizada no aquecimento do sistema, por meio
carga recomendada de bobinas de gelo reutilizável contendo água a de um controle que movimenta o pavio do queimador; b) aqueles
temperatura ambiente deve ser aquela que o equipamento é capaz que funcionam com combustíveis gasosos. Nestes sistemas, o con-
congelar em um período de 24 horas. trole é feito por um elemento termostático que permite aumentar
Em virtude de seu alto custo e necessidade de treinamento ou diminuir a vazão do gás que alimentará a chama do queimador,
especializado dos responsáveis pela manutenção, alguns critérios provocando as alterações de temperatura desejadas; c) aqueles
são observados para a escolha das localidades para instalação desse que funcionam com eletricidade. O controle é feito através de um
tipo de equipamento: termostato para refrigeração simples, que conecta ou desconecta
- remotas e de difícil acesso, isoladas com inexistência de fonte a alimentação da resistência elétrica, do mesmo tipo utilizado nos
de energia convencional; refrigeradores à compressão.
- que por razões logísticas se necessite dispor de um refrigera-
dor para armazenamento; Temperatura: controle e monitoramento
- que, segundo o Ministério de Minas e Energia, não serão al-
cançadas pela rede elétrica convencional em, pelo menos, 5 anos; O controle diário de temperatura dos equipamentos da Rede
de Frio é imprescindível em todas as instâncias de armazenamento
para assegurar a qualidade dos imuno biológicos. Para isso, utili-
Absorção: Funciona alimentado por uma fonte de calor que
zam-se termômetros digitais ou analógicos, de cabo extensor ou
pode ser uma resistência elétrica, gás ou querosene. Em opera-
não. Quando for utilizado o termômetro analógico de momento,
ção com gás ou eletricidade, a temperatura interna é controlada
máxima e mínima, a leitura deve ser rápida, a fim de evitar variação
automaticamente por um termostato. Nos equipamentos a gás, o de temperatura no equipamento. O termômetro de cabo extensor
termostato dispõe de um dispositivo de segurança que fecha a pas- é de fácil leitura e não contribui para essa alteração porque o visor
sagem deste quando a chama se apaga; com querosene, a tempe- permanece fora do equipamento.
ratura é controlada manualmente através do ajuste da chama do
querosene. O sistema por absorção não é tão eficiente e difere da Termômetro digital de momento, máxima e mínima: É um equi-
configuração do sistema por compressão. Seu funcionamento de- pamento eletrônico de precisão constituído de um visor de cristal
pende de uma mistura de água e amoníaco, em presença de um líquido, com cabo extensor, que mensura as temperaturas (do mo-
gás inerte (hidrogênio). Requer atenção constante para garantir o mento, a máxima e a mínima), através de seu bulbo instalado no
desempenho adequado. interior do equipamento, em um período de tempo. Também existe

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

disponível um modelo deste equipamento que permite a leitura das No quadro de distribuição de energia elétrica da Instituição,
temperaturas de momento, máxima, mínima e do ambiente exter- é importante identificar a chave especifica do circuito da Rede de
no, com dispositivo de alarme que é acionado quando a variação Frio e/ou sala de vacinação e colocar um aviso em destaque - “Não
de temperatura ultrapassa os limites configurados, ou seja, +2º e Desligar”. Estabelecer uma parceria com a empresa local de energia
+ 8º C (set point) ou sem alarme. Constituído por dois visores de elétrica, a fim de ter informação prévia sobre interrupções progra-
cristal líquido, um para temperatura do equipamento e outro para a madas no fornecimento. Nas situações de emergência é necessário
temperatura do ambiente que a unidade comunique a ocorrência à instância superior imedia-
Termômetro analógico de momento, máxima e mínima (Ca- ta para as devidas providências.
pela): Este termômetro apresenta duas colunas verticais de mer- Observação: Recomenda-se a orientação dos agentes respon-
cúrio com escalas inversas e é utilizado para verificar as variações sáveis pela vigilância e segurança das centrais de rede de frio na
de temperatura ocorridas em determinado ambiente, num período identificação de problemas que possam comprometer a qualidade
de tempo, fornecendo três tipos de informação: a mais fria; a mais dos imuno biológicos, comunicando imediatamente o técnico res-
quente e a do momento. ponsável, principalmente durante finais de semana e feriados.
Termômetro linear: Esse tipo de termômetro só nos dá a tem-
peratura do momento, por isso seu uso deve ser restrito às caixas Equipamentos da Rede de Frio
térmicas de uso diário.
Colocá-lo no centro da caixa, próximo às vacinas e tampá-la; O PNI utiliza equipamentos que garantem a qualidade dos imu-
no biológicos: câmara frigorífica, freezers ou congeladores, refri-
aguardar meia hora para fazer a leitura da temperatura, verificando
geradores tipo doméstico ou comercial, caminhão frigorífico entre
a extremidade superior da coluna.
outros. Considerando as atividades executadas no âmbito da cadeia
- Na caixa térmica da sala de vacina ou para o trabalho extra-
de frio de imuno biológicos, algumas delas podem apresentar um
muro, a temperatura deverá ser controlada com frequência, subs-
potencial de risco à saúde do trabalhador. Neste sentido, a legisla-
tituindo-se as bobinas de gelo reutilizável quando a temperatura ção trabalhista vigente determina o uso de Equipamentos de Pro-
atingir +8ºC. tecão Individual (EPI), conforme estabelece a Portaria do Ministério
- O PNI não recomenda a compra deste modelo de termôme- do Trabalho e Emprego n. 3.214, de 08/06/1978 que aprovou, den-
tro, porém onde tre outras normas, a Norma Regulamentadora nº 06 - Equipamento
- O PNI espera cada vez mais que todas as instâncias invistam de Proteção Individual - EPI. Segundo esta norma, considera-se EPI,
na aquisição de termômetros mais precisos e de melhor qualidade “todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo tra-
(digital de momento, máxima e mínima). balhador, destinado á proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a
segurança e a saúde no trabalho”.
Termômetro analógico de cabo extensor: Este tipo de termô-
metro é utilizado para verificar a temperatura do momento, no Câmaras Frigoríficas: Também denominadas câmaras frias. São
transporte, no uso diário da sala de vacina ou no trabalho extra- ambientes especialmente construídos para armazenar produtos em
muro. baixas temperaturas, tanto positivas quanto negativas e em gran-
des volumes. Para conservação dos imuno biológicos essas câmaras
Termômetro a laser: É um equipamento de alta tecnologia, uti- funcionam em temperaturas entre +2ºC e +8ºC e -20°C, de acordo
lizado principalmente para a verificação de temperatura dos imuno com a especificação dos produtos. Na elaboração de projetos para
biológicos nos volumes (caixas térmicas), recebidos ou expedidos construção, ampliação ou reforma, é necessário solicitar assessoria
em grandes quantidades. Tem a forma de uma pistola, com um ga- do PNI considerando a complexidade, especificidade e custo deste
tilho que ao ser pressionado aciona um feixe de raio laser que ao equipamento.
atingir a superfície das bobinas de gelo, registra no visor digital do O seu funcionamento de uma maneira geral obedece aos prin-
aparelho a temperatura real do momento. Para que seja obtido um cípios básicos de refrigeração, além de princípios específicos, tais
registro de temperatura confiável é necessário que sejam observa- como:
dos os procedimentos descritos pelo fabricante quanto à distância - paredes, piso e teto montados com painéis em poliuretano
e ao tempo de pressão no gatilho do termômetro injetado de alta densidade revestido nas duas faces em aço inox/
alumínio;
- sistema de ventilação no interior da câmara, para facilitar a
Situações de Emergência
distribuição do ar frio pelo evaporador;
- compressor e condensador dispostos na área externa à câma-
Os equipamentos de refrigeração podem deixar de funcionar
ra, com boa circulação de ar;
por vários motivos. Assim, para evitar a perda dos imuno biológicos,
- antecâmara (para câmaras negativas), com temperatura de
precisamos adotar algumas providencias. Quando ocorrer interrup- +4°C, objetivando auxiliar o isolamento do ambiente e prevenir a
ção no fornecimento de energia elétrica, manter o equipamento ocorrência de choque térmico aos imuno biológicos;
fechado e monitorar, rigorosamente, a temperatura interna com - alarmes audiovisual de baixa e alta temperaturas para aler-
termômetro de cabo extensor. Se não houver o restabelecimento tar da ocorrência de oscilação na corrente elétrica ou de defeito no
da energia, no prazo máximo de 2 horas ou quando a temperatura equipamento de refrigeração;
estiver próxima a + 8 C proceder imediatamente a transferência dos - alarme audiovisual indicador de abertura de porta;
imuno biológicos para outro equipamento com temperatura reco- - dois sistemas independentes de refrigeração instalados: um
mendada (refrigerador ou caixa térmica). em uso e outro em reserva, para eventual defeito do outro;
O mesmo procedimento deve ser adotado em situação de falha - sistema eletrônico de registro de temperatura (data loggers);
no equipamento. - Lâmpada de cor amarela externamente à câmara, com acio-
O serviço de saúde deverá dispor de bobinas de gelo reutilizá- namento interligado à iluminação interna, para alerta da presença
vel congeladas para serem usadas no acondicionamento dos imuno de pessoal no seu interior e evitar que as luzes internas sejam dei-
biológicos em caixas térmicas. xadas acesas desnecessariamente.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Algumas câmaras, devido ao seu nível de complexidade e di- Freezers ou Congeladores: São equipamentos destinados, pre-
mensões utilizam sistema de automação para controle de tempera- ferencialmente, a estocagem de imuno biológicos em temperaturas
tura, umidade e funcionamento. negativas (aproximadamente a -20ºC), mais eficientes e confiáveis,
Organização Interna: As câmaras são dotadas de prateleiras va- principalmente aquele dotado de tampas na parte superior. Estes
zadas, preferencialmente metálicas, em aço inox, nas quais os imu- equipamentos devem ser do tipo horizontal, com isolamento de
no biológicos são acondicionados de forma a permitir a circulação suas paredes em poliuretano, evaporadores nas paredes (contato
de ar entre as mesma e organizados de acordo com a especificação interno) e condensador/compressor em áreas projetadas no corpo,
do produto laboratório produtor, número do lote, prazo de validade abaixo do gabinete. São também utilizados para congelar as bobi-
e apresentação. nas de gelo reutilizável e nesse caso, a sua capacidade de armaze-
As prateleiras metálicas podem ser substituídas por estrados namento é de até 80%.
de plástico resistente (paletes), em função do volume a ser armaze- Não utilizar o mesmo equipamento para o armazenamento
nado. Os lotes com menor prazo de validade devem ter prioridade concomitante de imuno biológicos e bobinas de gelo reutilizável.
na distribuição, Cuidados básicos para evitar perda de imuno bio- Instalar em local bem arejado, sem incidência da luz solar direta
lógicos: e distante, no mínimo, 40cm de outros equipamentos e 20cm de
- na ausência de controle automatizado de temperatura, reco- paredes, uma vez que o condensador necessita dissipar calor para o
menda-se fazer a leitura diariamente, no início da jornada de traba- ambiente. Colocar o equipamento sobre suporte com rodinhas para
evitar a oxidação das chapas da caixa em contato direto com o piso
lho, no início da tarde e no final do dia, com equipamento disponí-
úmido e facilitar sua limpeza e movimentação.
vel e anotar em formulário próprio;
- testar os alarmes antes de sair, ao final da jornada de traba-
Programa Nacional de Imunização
lho;
Vacinação e atenção básica
- usar equipamento de proteção individual;
- não deixar a porta aberta por mais de um minuto ao colocar A Política Nacional de Atenção Básica, estabelecida em 2006,
ou retirar imuno biológico e somente abrir a câmara depois de fe- caracteriza a atenção básica como “um conjunto de ações de saúde,
chada a antecâmara; no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a prote-
- somente entrar na câmara positiva se a temperatura interna ção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento,
registrada no visor externo estiver ≤+5ºC. Essa conduta impede que a reabilitação e a manutenção da saúde”. A Estratégia de Saúde da
a temperatura interna da câmara ultrapasse +8ºC com a entrada de Família (ESF), implementada a partir de 1994, é a estratégia adota-
ar quente durante a abertura da porta; da na perspectiva de organizar e fortalecer esse primeiro nível de
- verificar, uma vez ao mês, se a vedação da porta da câmara atenção, organizando os serviços e orientando a prática profissional
está em boas condições, isto é, se a borracha (gaxeta) não apresen- de atenção à família. No contexto da vacinação, a equipe da ESF re-
ta ressecamento, não tem qualquer reentrância, abaulamento em aliza a verificação da caderneta e a situação vacinal e encaminha a
suas bordas e se a trava de segurança está em perfeito funciona- população à unidade de saúde para iniciar ou completar o esquema
mento. O formulário para registro da revisão mensal encontra-se vacinal, conforme os calendários de vacinação. É fundamental que
em manual específico de manutenção de equipamentos; haja integração entre a equipe da sala de vacinação e as demais
- observar para que a luz interna da câmara não permaneça equipes de saúde, no sentido de evitar as oportunidades perdidas
acesa quando não houver pessoas trabalhando em seu interior. A de vacinação, que se caracterizam pelo fato de o indivíduo ser aten-
luz é grande fonte de calor; dido em outros setores da unidade de saúde sem que seja verificada
- ao final do dia de trabalho, certificar-se de que a luz interna sua situação vacinal ou haja encaminhamento à sala de vacinação.
foi apagada; de que todas as pessoas saíram e de que a porta da
câmara foi fechada corretamente; Calendário Nacional de Vacinação
- a limpeza interna das câmaras e prateleiras é feita sempre
com pano úmido, e se necessário, utilizar sabão. Adotar o mesmo As vacinas ofertadas na rotina dos serviços de saúde são defi-
procedimento nas paredes e teto e finalmente secá-los. Remover nidas nos calendários de vacinação, nos quais estão estabelecidos:
as estruturas desmontáveis do piso para fora da câmara, lavar com • os tipos de vacina;
• o número de doses do esquema básico e dos reforços;
água e sabão, enxaguar, secar e recolocar. Limpar o piso com pano
• a idade para a administração de cada dose; e
úmido (pano exclusivo) e sabão, se necessário e secar. Limpar as
• o intervalo entre uma dose e outra no caso do imunobioló-
luminárias com pano seco e usando luvas de borracha para preven-
gico cuja proteção exija mais de uma dose. Considerando o risco, a
ção de choques elétricos. Recomenda-se a limpeza antes da repo-
vulnerabilidade e as especificidades sociais, o PNI define calendá-
sição de estoque. rios de vacinação com orientações específicas para crianças, adoles-
- recomenda-se, a cada 6 (seis) meses, proceder a desinfecção centes, adultos, gestantes, idosos e indígenas. As vacinas recomen-
geral das paredes e teto das câmaras frias; dadas para as crianças têm por objetivo proteger esse grupo o mais
- semanalmente a Coordenação Estadual receberá do respon- precocemente possível, garantindo o esquema básico completo no
sável pela Rede de Frio o gráfico de temperatura das câmaras e dará primeiro ano de vida e os reforços e as demais vacinações nos anos
o visto, após análise dos mesmos. posteriores.
A manutenção preventiva e corretiva é indispensável para
a garantia do bom funcionamento da câmara. Manter o contrato Os calendários de vacinação estão regulamentados pela Por-
atualizado e renovar com antecedência prevenindo períodos sem taria ministerial nº 1.498, de 19 de julho de 2013, no âmbito do
cobertura. As orientações técnicas e formulários estão descritos no Programa Nacional de Imunizações (PNI), em todo o território na-
manual específico de manutenção de equipamentos. cional, sendo atualizados sistematicamente por meio de informes e
notas técnicas pela CGPNI. Nas unidades de saúde, os calendários e
os esquemas vacinais para cada grupo-alvo devem estar disponíveis
para consulta e afixados em local visível.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Fatores que influenciam a resposta imune • Equipamentos de refrigeração utilizados exclusivamente para
Fatores relacionados ao vacinado conservação de vacinas, soros e imunoglobulinas, conforme as nor-
mas do PNI nas três esferas de gestão.
-Idade • Equipamentos de refrigeração protegidos da incidência de
-Gestação luz solar direta.
-Amamentação • Sala de vacinação mantida em condições de higiene e lim-
-Reação Anafilática peza.
-Paciente Imunodeprimido
-Uso de Antitérmico Profilático. Administração dos imunobiológicos
Equipe de vacinação e funções básicas
Na administração dos imunobiológicos, adote os seguintes pro-
As atividades da sala de vacinação são desenvolvidas pela equi- cedimentos:
pe de enfermagem treinada e capacitada para os procedimentos de • Verifique qual imunobiológico deve ser administrado, confor-
manuseio, conservação, preparo e administração, registro e descar- me indicado no documento pessoal de registro da vacinação (cartão
te dos resíduos resultantes das ações de vacinação. ou caderneta) ou conforme indicação médica.
A equipe de vacinação é formada pelo enfermeiro e pelo téc- • Higienize as mãos antes e após o procedimento
nico ou auxiliar de enfermagem, sendo ideal a presença de dois
vacinadores para cada turno de trabalho. O tamanho da equipe Examine o produto, observando a aparência da solução, o esta-
depende do porte do serviço de saúde, bem como do tamanho da do da embalagem, o número do lote e o prazo de validade.
população do território sob sua responsabilidade.
Tal dimensionamento também pode ser definido com base na Cuidados com os resíduos da sala de vacinação
previsão de que um vacinador pode administrar com segurança cer-
ca de 30 doses de vacinas injetáveis ou 90 doses de vacinas adminis- O resíduo infectante deve receber cuidados especiais nas fases
tradas pela via oral por hora de trabalho. de segregação, acondicionamento, coleta, tratamento e destino fi-
A equipe de vacinação participa ainda da compreensão da si- nal. Para este tipo de resíduo, o trabalhador da sala de vacinação
tuação epidemiológica da área de abrangência na qual o serviço de deve:
vacinação está inserido, para o estabelecimento de prioridades, a • Acondicionar em caixas coletoras de material perfurocortan-
te os frascos vazios de imunobiológicos, assim como aqueles que
alocação de recursos e a orientação programática, quando neces-
devem ser descartados por perda física e/ou técnica, além dos ou-
sário.
tros resíduos perfurantes e infectantes (seringas e agulhas usadas).
O enfermeiro é responsável pela supervisão ou pelo monito-
O trabalhador deve observar a capacidade de armazenamento da
ramento do trabalho desenvolvido na sala de vacinação e pelo pro-
caixa coletora, definida pelo fabricante, independentemente do nú-
cesso de educação permanente da equipe.
mero de dias trabalhados.
• Acondicionar as caixas coletoras em saco branco leitoso.
Organização e funcionamento da sala de vacinação
• Encaminhar o saco com as caixas coletoras para a Central de
Material e Esterilização (CME) na própria unidade de saúde ou em
Especificidades da sala de vacinação outro serviço de referência, conforme estabelece a Resolução nº
358/2005 do Conama, a fim de que os resíduos sejam inativados
A sala de vacinação é classificada como área semicrítica. Deve • A Rede de Frio refere-se à estrutura técnico-administrativa
ser destinada exclusivamente à administração dos imunobiológicos, (normatização, planejamento, avaliação e financiamento) direcio-
devendo-se considerar os diversos calendários de vacinação exis- nada para a manutenção adequada da Cadeia de Frio. Esta, por sua
tentes. Na sala de vacinação, é importante que todos os procedi- vez, representa o processo logístico (recebimento, armazenamento,
mentos desenvolvidos promovam a máxima segurança, reduzindo distribuição e transporte) da Rede de Frio. A sala de vacinação é a
o risco de contaminação para os indivíduos vacinados e também instância final da Rede de Frio, onde os procedimentos de vacina-
para a equipe de vacinação. Para tanto, é necessário cumprir as se- ção propriamente ditos são executados mediante ações de rotina,
guintes especificidades e condições em relação ao ambiente e às campanhas e outras estratégias. • Na sala de vacinação, todas as va-
instalações: cinas devem ser armazenadas entre +2ºC e +8ºC, sendo ideal +5ºC.
• Sala com área mínima de 6 m2 . Contudo, recomenda-se uma
área média a partir de 9 m2 para a adequada disposição dos equi- Organização dos imunobiológicos na câmara refrigerada
pamentos e dos mobiliários e o fluxo de movimentação em condi-
ções ideais para a realização das atividades. O estoque de imunobiológicos no serviço de saúde não deve
• Piso e paredes lisos, contínuos (sem frestas) e laváveis. ser maior do que a quantidade prevista para o consumo de um mês,
• Portas e janelas pintadas com tinta lavável. a fim de reduzir os riscos de exposição dos produtos a situações que
• Portas de entrada e saída independentes, quando possível. possam comprometer sua qualidade. Os imunobiológicos devem
• Teto com acabamento resistente à lavagem. ser organizados em bandejas sem que haja a necessidade de dife-
• Bancada feita de material não poroso para o preparo dos in- renciá-los por tipo ou compartimento, uma vez que a temperatura
sumos durante os procedimentos. se distribui uniformemente no interior do equipamento. Entretan-
• Pia para a lavagem dos materiais. to, os produtos com prazo de validade mais curto devem ser dispos-
• Pia específica para uso dos profissionais na higienização das tos na frente dos demais frascos, facilitando o acesso e a otimização
mãos antes e depois do atendimento ao usuário. da sua utilização. Orientações complementares sobre a organização
• Nível de iluminação (natural e artificial), temperatura, umida- dos imunobiológicos na câmara refrigerada constam no Manual de
de e ventilação natural em condições adequadas para o desempe- Rede de Frio (2013). Abra o equipamento de refrigeração com a
nho das atividades. menor frequência possível.
• Tomada exclusiva para cada equipamento elétrico

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Procedimentos segundo as vias de administração dos imuno- Via intramuscular (IM) Na utilização da via intramuscular, o
biológicos imunobiológico é introduzido no tecido muscular, sendo apropria-
do para a administração o volume máximo até 5 mL. São exemplos
Os imunobiológicos são produtos seguros, eficazes e bastante de vacinas administradas por essa via: vacina adsorvida difteria,
custo-efetivos em saúde pública. Sua eficácia e segurança, entretan- tétano, pertussis, Haemophilus influenzae b (conjugada) e hepa-
to, estão fortemente relacionadas ao seu manuseio e à sua adminis- tite B (recombinante); vacina adsorvida difteria e tétano adulto;
tração. Portanto, cada imunobiológico demanda uma via específica vacina hepatite B (recombinante); vacina raiva (inativada); vacina
para a sua administração, a fim de se manter a sua eficácia plena. pneumocócica 10 valente (conjugada) e vacina poliomielite 1, 2 e
Via oral A via oral é utilizada para a administração de substân- 3 (inativada). As regiões anatômicas selecionadas para a injeção in-
cias que são absorvidas no trato gastrintestinal com mais facilidade tramuscular devem estar distantes dos grandes nervos e de vasos
e são apresentadas, geralmente, em forma líquida ou como dráge- sanguíneos, sendo que o músculo vasto lateral da coxa e o músculo
as, cápsulas e comprimidos. O volume e a dose dessas substâncias deltoide são as áreas mais utilizadas.
são introduzidos pela boca. São exemplos de vacinas administradas Notas: • A região glútea é uma opção para a administração de
por tal via: vacina poliomielite 1, 2 e 3 (atenuada) e vacina rotavírus determinados tipos de soros (antirrábico, por exemplo) e imunoglo-
humano G1P1[8] (atenuada). bulinas (anti-hepatite B e varicela, como exemplos). • A área ven-
troglútea é uma região anatômica alternativa para a administração
Via parenteral A maior parte dos imunobiológicos ofertados de imunobiológicos por via intramuscular, devendo ser utilizada por
pelo PNI é administrada por via parenteral. As vias de administração profissionais capacitados.
parenterais diferem em relação ao tipo de tecido em que o imuno-
biológico será administrado. Tais vias são as seguintes: intradérmi- Calendários de Vacinação
ca, subcutânea, intramuscular e endovenosa.
Esta última é exclusiva para a administração de determinados O Calendário de vacinação brasileiro é aquele definido pelo
tipos de soros. Para a administração de vacinas, não é recomendada Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde (PNI/
a assepsia da pele do usuário. Somente quando houver sujidade MS) e corresponde ao conjunto de vacinas consideradas de interes-
perceptível, a pele deve ser limpa utilizando-se água e sabão ou se prioritário à saúde pública do país. Atualmente é constituído por
12 produtos recomendados à população, desde o nascimento até a
álcool a 70%, no caso de vacinação extramuros e em ambiente hos-
terceira idade e distribuídos gratuitamente nos postos de vacinação
pitalar
da rede pública.
Nota: • Quando usar o álcool a 70% para limpeza da pele, fric-
cione o algodão embebido por 30 segundos e, em seguida, espere
Lembramos que estes calendários de vacina são do Ministério
mais 30 segundos para permitir a secagem da pele, deixando-a sem da Saúde e corresponde a todo o Território Nacional. Mas determi-
vestígios do produto, de modo a evitar qualquer interferência do nados Estados do Brasil, acrescentam outras vacinas e outras doses,
álcool no procedimento. devido a necessidade local.
A administração de vacinas por via parenteral não requer para-
mentação especial para a sua execução. A exceção se dá quando o Calendário Nacional de Vacinação
vacinador apresenta lesões abertas com soluções de continuidade
nas mãos. Excepcionalmente nesta situação, orienta-se a utilização Criança
de luvas, a fim de se evitar contaminação tanto do imunobiológico
quanto do usuário.

Nota:
• A administração de soros por via endovenosa requer o uso
de luvas, assim como a assepsia da pele do usuário.

Via intradérmica (ID) Na utilização da via intradérmica, a vacina


é introduzida na derme, que é a camada superficial da pele. Esta
via proporciona uma lenta absorção das vacinas administradas. O
volume máximo a ser administrado por esta via é 0,5 mL. A vacina Para vacinar, basta levar a criança a um posto ou Unidade Bási-
BCG e a vacina raiva humana em esquema de pré-exposição, por ca de Saúde (UBS) com o cartão/caderneta da criança. O ideal é que
exemplo, são administradas pela via intradérmica. Para facilitar a cada dose seja administrada na idade recomendada. Entretanto, se
identificação da cicatriz vacinal, recomenda-se no Brasil que a vaci- perdeu o prazo para alguma dose é importante voltar à unidade de
na BCG seja administrada na inserção inferior do músculo deltoide saúde para atualizar as vacinas. A maioria das vacinas disponíveis
direito. Na impossibilidade de se utilizar o deltoide direito para tal no Calendário Nacional de Vacinação é destinada a crianças. São 15
procedimento, a referida vacina pode ser administrada no deltoide vacinas, aplicadas antes dos 10 anos de idade.
Ao nascer
esquerdo.
Via subcutânea (SC) Na utilização da via subcutânea, a vacina é
BCG (Bacilo Calmette-Guerin) – (previne as formas graves de
introduzida na hipoderme, ou seja, na camada subcutânea da pele.
tuberculose, principalmente miliar e meníngea) - dose única - dose
O volume máximo a ser administrado por esta via é 1,5 mL. São
única
exemplos de vacinas administradas por essa via: vacina sarampo, Hepatite B–(previne a hepatite B) - dose ao nascer
caxumba e rubéola e vacina febre amarela (atenuada). Alguns locais 2 meses
são mais utilizados para a vacinação por via subcutânea: a região do
deltoide no terço proximal; ▶ a face superior externa do braço; ▶ a
face anterior e externa da coxa; e ▶ a face anterior do antebraço.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Penta (previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infec- Atenção: Crianças de 6 meses a 5 anos (5 anos 11 meses e 29
ções causadas pelo Haemophilus influenzae B) – 1ª dose dias) de idade deverão tomar uma ou duas doses da vacina influen-
Vacina Poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) - (VIP) (previne a polio- za durante a Campanha Anual de Vacinação da Gripe.
mielite) – 1ª dose
Pneumocócica 10 Valente (conjugada) (previne a pneumonia, Adolescente
otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1ª
dose
Rotavírus humano (previne diarreia por rotavírus) – 1ª dose
3 meses

Meningocócica C (conjugada) - (previne Doença invasiva causa-


da pela Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – 1ª dose
4 meses

Penta (previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infec- A caderneta de vacinação deve ser frequentemente atualiza-
ções causadas pelo Haemophilus influenzae B) – 2ª dose da. Algumas vacinas só são administradas na adolescência. Outras
Vacina Poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) - (VIP) (previne a polio- precisam de reforço nessa faixa etária. Além disso, doses atrasadas
mielite) – 2ª dose também podem ser colocadas em dia. Veja as vacinas recomenda-
Pneumocócica 10 Valente (conjugada) (previne pneumonia, das a adolescentes:
otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 2ª
dose Meninas 9 a 14 anos
Rotavírus humano (previne diarreia por rotavírus) – 2ª dose
HPV (previne o papiloma, vírus humano que causa cânceres e
5 meses verrugas genitais) - 2 doses (seis meses de intervalo entre as doses)

Meningocócica C (conjugada) (previne doença invasiva causada Meninos 11 a 14 anos


pela Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – 2ª dose
HPV (previne o papiloma, vírus humano que causa cânceres e
6 meses verrugas genitais) - 2 doses (seis meses de intervalo entre as doses)

Penta (previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infec- 11 a 14 anos


ções causadas pelo Haemophilus influenzae B) – 3ª dose
Vacina Poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) - (VIP) - (previne polio- Meningocócica C (conjugada) (previne doença invasiva causada
mielite) – 3ª dose por Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – Dose única ou reforço
(a depender da situação vacinal anterior)
9 meses
10 a 19 anos
Febre Amarela – uma dose (previne a febre amarela)
Hepatite B - 3 doses (a depender da situação vacinal anterior)
12 meses Febre Amarela – 1 dose (a depender da situação vacinal ante-
rior)
Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – 1ª dose Dupla Adulto (dT) (previne difteria e tétano) – Reforço a cada
Pneumocócica 10 Valente (conjugada) - (previne pneumonia, 10 anos
otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) - 2 doses
Reforço (de acordo com a situação vacinal anterior)
Meningocócica C (conjugada) (previne doença invasiva causada Pneumocócica 23 Valente (previne pneumonia, otite, menin-
pela Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – Reforço gite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1 dose (a de-
pender da situação vacinal anterior) - (está indicada para população
15 meses indígena e grupos-alvo específicos)

DTP (previne a difteria, tétano e coqueluche) – 1º reforço Adulto


Vacina Poliomielite 1 e 3 (atenuada) (VOP) - (previne poliomie-
lite) – 1º reforço
Hepatite A – uma dose
Tetra viral – (previne sarampo, rubéola, caxumba e varicela/ca-
tapora) - Uma dose

4 anos

DTP (Previne a difteria, tétano e coqueluche) – 2º reforço


Vacina Poliomielite 1 e 3 (atenuada) (VOP) – (previne poliomie-
lite) - 2º reforço
Varicela atenuada (previne varicela/catapora) – uma dose

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

É muito importante que os adultos mantenham suas vacinas Hepatite B - 3 doses (a depender da situação vacinal anterior)
em dia. Além de se proteger, a vacina também evita a transmissão Dupla Adulto (dT) (previne difteria e tétano) – 3 doses (a de-
para outras pessoas que não podem ser vacinadas. Imunizados, fa- pender da situação vacinal anterior)
miliares podem oferecer proteção indireta a bebês que ainda não dTpa (Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto) – (previne dif-
estão na idade indicada para receber algumas vacinas, além de ou- teria, tétano e coqueluche) – Uma dose a cada gestação a partir da
tras pessoas que não estão protegidas. Veja lista de vacinas disponi- 20ª semana de gestação ou no puerpério (até 45 dias após o parto).
bilizadas a adultos de 20 a 59 anos: Influenza – Uma dose (anual)
20 a 59 anos
Calendário Nacional de Vacinação dos Povos Indígenas
Hepatite B - 3 doses (a depender da situação vacinal anterior)
Febre Amarela – dose única (a depender da situação vacinal Criança
anterior)
Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – Verificar
a situação vacinal anterior, se nunca vacinado: receber 2 doses (20
a 29 anos) e 1 dose (30 a 49 anos);
Dupla adulto (dT) (previne difteria e tétano) – Reforço a cada
10 anos
Pneumocócica 23 Valente (previne pneumonia, otite, menin-
gite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1 dose (Está
indicada para população indígena e grupos-alvo específicos)

Idoso
Ao nascer

BCG – dose única - (previne as formas graves de tuberculose,


principalmente miliar e meníngea)
Hepatite B – dose única

2 meses

Pentavalente (Previne Difteria, Tétano, Coqueluche, Hepatite B


e Meningite e infecções por HiB) – 1ª dose
São quatro as vacinas disponíveis para pessoas com 60 anos ou Vacina Inativada Poliomielite (VIP) (poliomielite ou paralisia in-
mais, além da vacina anual contra a gripe: fantil) – 1ª dose
Pneumocócica 10 Valente (previne pneumonia, otite, meningi-
60 anos ou mais te e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1ª dose
Rotavírus (previne diarreia por rotavírus) – 1ª dose
Hepatite B - 3 doses (verificar situação vacinal anterior)
Febre Amarela – dose única (verificar situação vacinal anterior) 3 meses
Dupla Adulto (dT) - (previne difteria e tétano) – Reforço a cada
10 anos Meningocócica C (previne a doença meningocócica C) – 1ª dose
Pneumocócica 23 Valente (previne pneumonia, otite, menin-
gite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – reforço (a de- 4 meses
pender da situação vacinal anterior) - A vacina está indicada para
população indígena e grupos-alvo específicos, como pessoas com Pentavalente (previne difteria, Tétano, Coqueluche, Hepatite B
60 anos e mais não vacinados que vivem acamados e/ou em insti- e Meningite e infecções por Haemóphilus influenzae tipo B) – 2ª
tuições fechadas. dose
Influenza – Uma dose (anual) Vacina Inativada Poliomielite (VIP) (Poliomielite ou paralisia in-
fantil) – 2ª dose
Gestante Pneumocócica 10 Valente (previne pneumonia, otite, meningi-
te e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 2ª dose
Rotavírus (previne diarreia por rotavírus) – 2ª dose

5 meses

Meningocócica C (previne doença meningocócica C) – 2ª dose


6 meses

Pentavalente (previne Difteria, Tétano, Coqueluche, Hepatite B


e meningite e infecções por HiB) – 3ª dose
A vacina para mulheres grávidas é essencial para prevenir do- Vacina Inativada Poliomielite (VIP) (Poliomielite ou paralisia in-
enças para si e para o bebê. Veja as vacinas indicadas para gestan- fantil) – 3ª dose
tes.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

9 meses Pneumocócica 23 valente (previne pneumonia, otite, meningi-


te e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1 dose a depen-
Febre Amarela – dose única (previne a febre amarela) der da situação vacinal
Dupla Adulto (previne difteria e tétano) – Reforço a cada 10
12 meses anos
Hepatite B – (previne hepatite B) - 3 doses, de acordo com a
Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – 1ª dose situação vacinal
Pneumocócica 10 valente (previne pneumonia, otite, meningi-
te e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – Reforço Adulto
Meningocócica C (previne doença meningocócica C) – reforço
20 a 59 anos
15 meses
Hepatite B (previne hepatite B) - 3 doses, de acordo com a si-
DTP (Difteria, tétano e coqueluche) – 1º reforço tuação vacinal
Vacina Oral Poliomielite (VOP) - (poliomielite ou paralisia infan- Febre Amarela (previne febre amarela) – dose única, verificar
til) – 1º reforço situação vacinal
Hepatite A – dose única Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – se nunca
Tetra viral ou tríplice viral + varicela – (previne sarampo, rubéo- vacinado: 2 doses (20 a 29 anos) e 1 dose (30 a 49 anos);
la, caxumba e varicela/catapora) - Uma dose Pneumocócica 23 valente (previne pneumonia, otite, meningi-
te e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1 dose a depen-
4 anos der da situação vacinal
Dupla adulto (DT) (previne difteria e tétano) – Reforço a cada
DTP (previne difteria, tétano e coqueluche) – 2º reforço 10 anos
Vacina Oral Poliomielite (VOP) – (poliomielite ou paralisia in-
fantil) - 2º reforço Idoso
Varicela atenuada (varicela/catapora) – uma dose

5 anos

Pneumocócica 23 v – uma dose – A vacina está indicada para


grupos-alvo específicos, como a população indígena a partir dos 5
(cinco) anos de idade

9 anos
60 anos ou mais
HPV (Papiloma vírus humano que causa cânceres e verrugas
genitais) – 2 doses (meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 Hepatite B (previne hepatite B) - 3 doses, de acordo com a si-
anos) tuação vacinal
Febre Amarela (previne febre amarela) – dose única, verificar
Adolescente situação vacinal
Pneumocócica 23 valente (previne pneumonia, otite, meningi-
te e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – reforço a depen-
der da situação vacinal - A vacina está indicada para grupos-alvo
específicos, como pessoas com 60 anos e mais não vacinados que
vivem acamados e/ou em instituições fechadas.
Dupla Adulto (previne difteria e tétano) – Reforço a cada 10
anos

Gestante

10 e 19 anos

Meningocócica C (doença invasiva causada por Neisseria me-


ningitidis do sorogrupo C) – 1 reforço ou dose única de 12 a 13 anos
- verificar a situação vacinal
Febre Amarela – dose única (verificar a situação vacinal)
Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) - 2 doses, a
depender da situação vacinal anterior Hepatite B (previne hepatite B) - 3 doses, de acordo com a si-
HPV (Papiloma vírus humano que causa cânceres e verrugas tuação vacinal
genitais) – 2 doses (meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 Dupla Adulto (DT) (previne difteria e tétano) – 3 doses, de acor-
anos) do com a situação vacinal
dTpa (previne difteria, tétano e coqueluche) – Uma dose a cada
gestação a partir da 20ª semana

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

3. Planejamento de Enfermagem
TEORIAS E PROCESSO DE ENFERMAGEM. TAXONO- De acordo com a SAE, que organiza o trabalho profissional
MIAS DE DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM quanto ao método, pessoal e instrumentos, a ideia é que os enfer-
meiros possam atuar para prevenir, controlar ou resolver os proble-
Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) mas de saúde.
A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é uma No planejamento de enfermagem, são determinados os resul-
metodologia que organiza toda a operacionalização do Processo de tados esperados e quais ações serão necessárias. Isso será realizado
Enfermagem. A SAE planeja o trabalho da equipe e os instrumen- a partir dos dados coletados e diagnósticos de enfermagem com
tos que serão utilizados, de acordo com o procedimento que será base dos momentos de saúde do paciente e suas intervenções. São
realizado. informações que, igualmente, devem ser registradas no prontuá-
O objetivo da metodologia é garantir a precisão e a coesão no rio do paciente, incluindo as prescrições checadas e o registro das
cumprimento do processo de enfermagem e de atendimento aos ações que foram executadas, por exemplo.
pacientes. Neste artigo, vamos mostrar como o processo funciona e
como é aplicado dentro das instituições de saúde. 4. Implementação
O que é a sistematização da assistência de enfermagem? Em seguida, a partir das informações obtidas e focadas na
A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é uma abordagem da SAE, a equipe realizará as ações ou intervenções de-
metodologia desenvolvida a partir da prática do enfermeiro para terminadas na etapa do Planejamento de Enfermagem.
sustentar a gestão e o cuidado no processo de enfermagem. O mé- São atividades que podem ir desde uma administração de me-
todo é organizado em cinco etapas, que ajudam a fortalecer o jul- dicação até auxiliar ou realizar cuidados específicos, como os de
gamento e a tomada de decisão clínica assistencial do profissional higiene pessoal do paciente, ou mensurar sinais vitais específicos e
de enfermagem. acrescentá-los no prontuário, por exemplo.
Dessa forma, o profissional consegue agir de acordo com a Outro aspecto relevante é o uso de dispositivos que otimizam
priorização, a delegação, gestão do tempo e contextualização do o registro destas informações para dentro no Prontuário Eletrônico
ambiente cultural do cuidado prestado. do Paciente (PEP), tal como o uso do aplicativo Beira-Leito.
Com a utilização dessa metodologia, é possível analisar as in- O aplicativo permite que os dados sejam registrados assim que
formações obtidas, definir padrões e resultados decorrentes das mensurados ou executados ainda à beira leito do paciente. Dessa
condutas definidas. Lembrando que, todos esses dados deverão ser forma, o recurso ajuda na coleta de dados, aferir dados vitais do
devidamente registrados no prontuário do paciente. paciente, checar prescrições e medicações etc. Isso tudo e outras
O processo é organizado em cinco etapas relacionadas, inter- atividades, via smartphones e tablets.
dependentes e recorrentes. Para entender melhor, vamos explicar
a seguir como funciona a metodologia. 5. Avaliação de Enfermagem (Evolução)
Por fim, a equipe de enfermagem irá registrar os dados no
1. Coleta de dados de Enfermagem ou Histórico de Enferma- Prontuário Eletrônico do Paciente de forma deliberada, sistemática
gem e contínua. Nele, deverá ser registrado a evolução do paciente para
O primeiro passo para o atendimento de um paciente é a bus- determinar se as ações ou intervenções de enfermagem alcança-
ca por informações básicas que irão definir os cuidados da equipe ram o resultado esperado.
de enfermagem. A etapa faz parte de um processo deliberado, sis- Com essas informações, a enfermeira terá como verificar a ne-
temático e contínuo, na qual haverá a coleta de dados. As infor- cessidade de mudanças ou adaptações nas etapas do Processo de
mações podem ser passadas pelo próprio paciente, pela família ou Enfermagem. Além de proporcionar informações que irão auxiliar
então, por outras pessoas envolvidas. as demais equipes multidisciplinares na tomada de decisão de con-
Assim, as informações proporcionarão maior precisão de dados dutas, como no próprio processo de alta.
ao Processo de Enfermagem dentro da abordagem da SAE. Nesse O uso da tecnologia na Sistematização da Assistência de Enfer-
momento, são abordadas as informações sobre alergias, histórico magem
de doenças e até mesmo questões psicossociais, como, por exem- Não há como falar em sistematização da assistência de enfer-
plo, a religião, que pode alterar de forma contundente os cuidados magem sem citar a tecnologia. Isso porque, os recursos tecnoló-
prestados ao paciente. gicos prestam suporte para que a metodologia seja realizada com
O processo pode ser otimizado com a utilização de Prontuário efetividade. A integração dos dados e a possibilidade de estar a par
Eletrônico do Paciente (PEP), com formulários específicos que di- de todo atendimento ao paciente de forma remota, auxiliam o pro-
recionam o questionamento da enfermeira e o registro online dos cesso, aumentam a segurança e o cuidado com o paciente.
dados, que podem ser acessados por todos da instituição, inclusive
de forma remota. Dessa forma, é possível realizar as intervenções Confira, a seguir dois sistemas essenciais para garantir a segu-
necessárias para prestação dos cuidados ao paciente, com maior rança e eficiência da SAE:
segurança e agilidade. Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP)
2. Diagnóstico de Enfermagem O uso de recursos totalmente manuais e por meio de docu-
O diagnóstico de enfermagem é o processo de interpretação e mentos físicos, como papéis, fragilizam a comunicação e o compar-
agrupamento dos dados coletados. Essa etapa conduz a tomada de tilhamento de informações do paciente.
decisão sobre os diagnósticos de enfermagem, que irão representar Segundo a resolução do Conselho Federal de Medicina CFM
as ações e intervenções, para alcançar os resultados esperados. 1638/2002, prontuário é o “documento único constituído de um
Para isso, utilizam-se bibliografias específicas que possuem a conjunto de informações, sinais e imagens registradas, geradas a
taxonomia adequada, definições e causas prováveis dos problemas partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do pacien-
levantados no histórico de enfermagem. Dessa forma, se faz a ela- te e a assistência a ele prestada, de caráter legal, sigiloso e científi-
boração de um plano assistencial adequado e único para cada pes- co, que possibilita a comunicação entre membros da equipe multi-
soa. Portanto, tudo que for definido deve ser registrado no pron- profissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo”.
tuário do paciente, revisitado e atualizado sempre que necessário.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O prontuário do paciente pode ser em papel ou digital. Con- Cada profissão na área da saúde tem uma maneira de descre-
tudo, a metodologia em papel não garante uniformidade nas in- ver “o que” conhece e “como” age em relação ao que conhece.
formações e permite possíveis quebras de condutas, além de ser Este material concentra-se, basicamente, em “o que” a profissão
oneroso na questão do seu armazenamento, bem como na questão conhece. Uma profissão pode ter uma linguagem comum empre-
da sustentabilidade. A atenção com a segurança do paciente é uma gada para descrever e codificar seus conhecimentos. Os médicos
necessidade crescente nas instituições. Por isso, o Prontuário Ele- tratam doenças e usam a taxonomia da Classificação Internacional
trônico do Paciente (PEP) é visto como uma solução que auxilia a: de Doenças (CID) para a representação e a codificação dos proble-
- Ampliar o acesso às informações legíveis dos pacientes de for- mas médicos de que tratam. Psicólogos, psiquiatras e outros pro-
ma ágil e atualizada; fissionais de saúde mental tratam os transtornos mentais e usam o
- Criar alertas sobre interações medicamentosas, alergia e in- Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). Os
consistências; enfermeiros tratam as respostas humanas a problemas de saúde e/
- Estabelecer padrões para conclusões diagnósticas e planos ou processos da vida e usam a Taxonomia de diagnósticos de enfer-
terapêuticos; magem da NANDA International, Inc. (NANDA-I). A Taxonomia dos
- Realizar análises gerenciais de resultados, indicadores de ges- diagnósticos de enfermagem e o processo de como utilizá-la serão
tão e assistenciais. descritos com mais detalhes.
A Taxonomia da NANDA-I oferece uma maneira de classificar
Diagnóstico de Enfermagem com base na Taxonomia da e categorizar áreas de preocupação de um enfermeiro (i.e., os fo-
“Associação Norte-Americana de Diagnóstico em Enfermagem” cos dos diagnósticos). Ela possui 244 diagnósticos de enfermagem,
(NANDA), Classificação de Intervenções de Enfermagem (NIC) e agrupados em 13 domínios e 47 classes.
Avaliação da Assistência de Enfermagem (NOC), documentação e De acordo com o Cambridge Dictionary On-Line (2017), um
registro. domínio é “uma área de interesse”; exemplos de domínios na Ta-
xonomia da NANDA-I incluem Atividade/repouso, Enfrentamento/
Associação Norte-Americana de Diagnóstico em Enfermagem tolerância ao estresse, Eliminação e troca e Nutrição. Os domínios
- NANDA dividem-se em classes, que são agrupamentos com atributos co-
Os cuidados de saúde são realizados por vários tipos de profis- muns.
sionais da área, incluindo enfermeiros, médicos e fisioterapeutas, Os enfermeiros lidam com respostas a problemas de saúde/
entre outros. Isso se dá em hospitais e outros locais na cadeia de processos da vida entre indivíduos, famílias, grupos e comunidades.
cuidados (p. ex., clínicas, atendimento domiciliar, instituições de Essas respostas são a preocupação central dos cuidados de enfer-
atendimento de longo prazo, igrejas, prisões). Cada disciplina de magem e ocupam o círculo atribuído à profissão na Figura 1. Um
cuidados de saúde traz um conjunto de conhecimentos único para diagnóstico de enfermagem pode ser focado em um problema, um
o atendimento ao paciente. Na verdade, um conjunto de conheci- estado de promoção da saúde ou um risco potencial.
mentos único é uma característica fundamental para uma profissão.
.Ocorre cooperação e, algumas vezes, sobreposição, entre os Diagnóstico com foco no problema – um julgamento clínico a
profissionais de atendimento de saúde. Por exemplo, o médico de respeito de uma resposta humana indesejável a uma condição de
um hospital pode instruir o paciente a caminhar duas vezes ao dia. saúde/processo da vida que existe em um indivíduo, família, grupo
O fisioterapeuta concentra-se nos músculos e movimentos princi- ou comunidade.
pais necessários para caminhar. Pode haver envolvimento de um
terapeuta respiratório se for usada oxigenoterapia para tratamento Diagnóstico de risco – um julgamento clínico a respeito da sus-
de uma condição respiratória. O enfermeiro tem uma visão holística cetibilidade de um indivíduo, família, grupo ou comunidade para o
do paciente, incluindo equilíbrio e força muscular associados ao ca- desenvolvimento de uma resposta humana indesejável a uma con-
minhar, bem como confiança e motivação. O assistente social pode dição de saúde/processo da vida.
se envolver com o plano de saúde para ajudar com a cobertura de
algum equipamento necessário. Diagnóstico de promoção da saúde – um julgamento clínico a
respeito da motivação e do desejo de aumentar o bem-estar e al-
cançar o potencial humano de saúde. Essas respostas são expressas
por uma disposição para melhorar comportamentos de saúde es-
pecíficos, podendo ser usadas em qualquer estado de saúde. Em
pessoas incapazes de expressar sua própria disposição para me-
lhorar comportamentos de saúde, o enfermeiro pode determinar
a existência de uma condição para promoção da saúde e agir em
benefício do indivíduo. As respostas de promoção da saúde podem
manifestar-se em um indivíduo, família, grupo ou comunidade.
Embora em número limitado na Taxonomia da NANDA-I, uma
síndrome pode estar presente. Uma síndrome é um julgamento
clínico relativo a um determinado agrupamento de diagnósticos
de enfermagem que ocorrem juntos, sendo mais bem tratado por
meio de intervenções similares. Um exemplo disso é a síndrome da
dor crônica (00255). A dor crônica é uma dor recorrente ou persis-
tente, que dura no mínimo três meses e afeta significativamente o
funcionamento ou bem-estar diário. Essa síndrome se distingue da
dor crônica pelo fato de causar também um impacto importante
em outras respostas humanas, incluindo, assim, outros diagnós-
Figura 1: Exemplo de uma equipe de atendimento de saúde co- ticos, como distúrbio no padrão de sono (00198), fadiga (00093),
operativa. mobilidade física prejudicada (00085) ou isolamento social (00053).

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Diagnóstico de enfermagem
Um diagnóstico de enfermagem é um julgamento clínico sobre uma resposta humana a condições de saúde/processos da vida, ou
uma vulnerabilidade a tal resposta, de um indivíduo, uma família, um grupo ou uma comunidade (NANDA-I, 2013). O diagnóstico de enfer-
magem costuma ter duas partes: (1) descritor ou modificador e (2) foco do diagnóstico ou conceito-chave do diagnóstico (Tab. 1). Existem
algumas exceções em que um diagnóstico de enfermagem é tão somente uma palavra, como em ansiedade (00146), constipação (00011),
fadiga (00093) e náusea (00134). Nesses diagnósticos, modificador e foco são inerentes a um só termo.

Tabela 1: Partes do título de um diagnóstico de enfermagem

Os enfermeiros diagnosticam problemas de saúde, estados de risco e disposição para a promoção da saúde. Diagnósticos com foco
no problema não devem ser entendidos como mais importantes que os de risco. Por vezes, um diagnóstico de risco pode ser o de maior
prioridade para um paciente. Um exemplo pode ser um paciente com diagnósticos de enfermagem de intolerância à atividade (00092),
memória prejudicada (00131), disposição para controle da saúde melhorado (00162) e risco de quedas (00155), além do fato de ter sido
recentemente admitido em uma instituição de cuidados especiais. Embora intolerância à atividade e memória prejudicada sejam os diag-
nósticos com foco no problema, risco de quedas pode ser, para o paciente, o diagnóstico prioritário, em especial quando a pessoa precisa
se adaptar a um novo ambiente. Tal situação pode ser especialmente verdadeira quando identificados fatores de risco na avaliação (p. ex.,
visão prejudicada, dificuldades na marcha, história de quedas e aumento da ansiedade com a mudança de ambiente).
Cada diagnóstico de enfermagem tem um título e uma definição clara. É importante informar que apenas o título ou uma lista de
títulos é insuficiente. O fundamental é que os enfermeiros conheçam as definições dos diagnósticos normalmente utilizados. Além disso,
devem conhecer os “indicadores diagnósticos” – informações usadas para diagnosticar e distinguir um diagnóstico do outro. Esses indica-
dores diagnósticos incluem características definidoras e fatores relacionados ou de risco (Tab. 2).
As características definidoras são indicadores/inferências observáveis que se agrupam como manifestações de um diagnóstico (p. ex.,
sinais ou sintomas). Uma avaliação que identifique a presença de uma quantidade de características definidoras dá suporte à precisão do
diagnóstico de enfermagem. Os fatores relacionados são um componente que integra todos os diagnósticos de enfermagem com foco
no problema. Incluem etiologias, circunstâncias, fatos ou influências que têm certo tipo de relação com o diagnóstico de enfermagem (p.
ex., causa, fator contribuinte). Uma análise da história do paciente costuma ser útil à identificação de fatores relacionados. Sempre que
possível, as intervenções de enfermagem devem voltar-se a esses fatores etiológicos para a remoção da causa subjacente do diagnóstico
de enfermagem. Os fatores de risco são influências que aumentam a vulnerabilidade de indivíduos, famílias, grupos ou comunidades a um
evento não saudável (p. ex., ambiental, psicológico, genético).
Nesta nova edição do Diagnósticos de enfermagem da NANDA-I, as categorias “populações em risco” e “condições associadas” são
novidades nos diagnósticos de enfermagem onde tais categorias se aplicam (Tab. 2). As populações em risco são grupos de pessoas que
compartilham características que levam cada uma delas a ser suscetível a determinada resposta humana. Por exemplo, pessoas com extre-
mos de idade pertencem a uma população em risco que compartilha maior suscetibilidade a volume de líquidos deficiente. As condições
associadas são diagnósticos médicos, lesões, procedimentos, dispositivos médicos ou agentes farmacêuticos. São condições não passíveis
de alteração independente por um enfermeiro. Exemplos de condições associadas incluem infarto do miocárdio, agentes farmacêuticos
ou procedimento cirúrgico. Os dados das categorias populações em risco e condições associadas são importantes, sendo geralmente co-
letados durante a avaliação, e podem auxiliar o enfermeiro a analisar e confirmar diagnósticos potenciais. Porém, elas não têm o mesmo
objetivo que as características definidoras ou os fatores relacionados, uma vez que os enfermeiros não podem alterar ou impactar essas
categorias de forma independente.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Tabela 2: Resumo de termos-chave

Um diagnóstico de enfermagem não precisa conter todos os tipos de indicadores diagnósticos (i.e., características definidoras, fatores
relacionados e/ou fatores de risco). Diagnósticos com foco no problema contêm características definidoras e fatores relacionados. Os diag-
nósticos de promoção da saúde costumam ter apenas as características definidoras, ainda que possam ser usados fatores relacionados, se
eles facilitarem a compreensão do diagnóstico. Fatores de risco existem apenas em diagnósticos de risco.
Um formato comumente usado quando se aprende o diagnóstico de enfermagem inclui__________ [diagnóstico de enfermagem] re-
lacionado a ___________ [causa/fatores relacionados] evidenciado por ___________ [sintomas/características definidoras]. Por exemplo,
tensão do papel de cuidador relacionado a responsabilidades de cuidados 24 horas por dia, complexidade das atividades de cuidado e
condição de saúde instável do receptor de cuidados evidenciado por dificuldade para realizar as atividades necessárias, preocupação com
a rotina de cuidados, fadiga e alteração no padrão de sono. Dependendo do prontuário eletrônico de determinada instituição de saúde,
os componentes “relacionado a” e “evidenciado por” podem não estar incluídos. Essas informações, todavia, devem ser reconhecidas nos
dados coletados e registradas no prontuário do paciente para que seja oferecido apoio ao diagnóstico de enfermagem. Sem esses dados,
é impossível confirmar a precisão do diagnóstico, o que coloca em dúvida a qualidade do atendimento de enfermagem.

Uso de um diagnóstico de enfermagem


Esta descrição dos fundamentos do diagnóstico de enfermagem, ainda que voltada a alunos de enfermagem e enfermeiros no início
da carreira que estão aprendendo a usar um diagnóstico, pode beneficiar a todos os profissionais, pois destaca etapas críticas do uso do
diagnóstico e oferece exemplos de áreas em que pode ocorrer um diagnóstico impreciso. Uma das áreas que precisa ser continuamente
enfatizada, por exemplo, inclui o processo de vincular conhecimentos dos conceitos subjacentes da enfermagem à avaliação e, então, ao
diagnóstico de enfermagem. O quanto o enfermeiro entende dos conceitos-chave (ou focos dos diagnósticos) direciona o processo de
avaliação do paciente e a interpretação dos dados obtidos.
Da mesma forma, enfermeiros diagnosticam problemas, estados de risco e disposição para a promoção da saúde. Qualquer um desses
tipos de diagnósticos pode ser o prioritário, e o enfermeiro faz esse julgamento clínico.
Representando os conhecimentos da ciência da enfermagem, a Taxonomia oferece a estrutura para uma linguagem padronizada de
comunicação dos diagnósticos de enfermagem. Usando a terminologia da NANDA-I (i.e., os próprios diagnósticos), os enfermeiros conse-
guem se comunicar uns com os outros e com profissionais de outras disciplinas de atendimento de saúde sobre “o que” torna a enferma-
gem singular. O uso de diagnósticos de enfermagem em nossas interações com o paciente ou com a família pode ajudá-los a compreender
os assuntos que são o foco da enfermagem e envolver os indivíduos nos próprios cuidados. A terminologia proporciona uma linguagem
compartilhada para os enfermeiros abordarem os problemas de saúde, os estados de risco e a disposição para a promoção da saúde.
Os diagnósticos de enfermagem da NANDA-I são usados internacionalmente, com tradução em cerca de 20 idiomas. Em um mundo
cada vez mais globalizado e eletrônico, a NANDA-I também possibilita aos enfermeiros envolvidos com pesquisa acadêmica que se comu-
niquem sobre fenômenos que preocupam a área, em textos e conferências, de modo padronizado, levando a ciência da enfermagem a
evoluir. Os diagnósticos de enfermagem são revisados por pares e enviados para aceitação/revisão à NANDA-I por enfermeiros da prática
clínica, enfermeiros educadores e pesquisadores do mundo inteiro. A submissão de novos diagnósticos e/ou de revisões de diagnósticos
existentes continuou a crescer em quantidade ao longo de mais de 40 anos da terminologia dos diagnósticos de enfermagem da NANDA-I.
A manutenção do processo de submissão (e de revisão) à NANDA-I fortalecerá ainda mais o alcance, a amplitude e as evidências de apoio
à terminologia.

Classificação de Intervenções de Enfermagem - NIC


Existe um consenso dentro da profissão de enfermagem sobre a necessidade das classificações dos diagnósticos, intervenções, e
resultados de enfermagem para que os vários elementos da prática de enfermagem sejam documentados e estudados (McCLOSKEY; BU-
LECHEK, 1996).

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Com a expansão dos diagnósticos de enfermagem e o desen- Para BULECHEK; McCLOSKEY (1985) intervenção de enferma-
volvimento de sistemas de classificação, surgiu a necessidade de gem trata-se de uma ação autônoma da enfermeira, baseada em
resgatar as informações sobre as respostas humanas tratáveis pela regras cientificas, que são executadas para beneficiar o cliente, se-
enfermagem, isto é, classificar as intervenções de enfermagem. Esta guindo o caminho predito pelo diagnóstico de enfermagem com
necessidade decorre da exigência moderna da prática, de comuni- o estabelecimento de metas a serem alcançadas. Para as autoras,
car informações de enfermagem para outros elementos da equipe intervenções constituem-se em tratamentos para os diagnósticos
de saúde ou da equipe de enfermagem. Soma-se a isso, “vontade de enfermagem.
da profissão em acompanhar parepassu os avanços da área tecno- Em 1996, a NIC define intervenção de enfermagem como qual-
lógica sob a pena de ficar a margem da história e sem as benesses quer tratamento, que tenha por base o julgamento clínico e o co-
da informática” (SILVA; NÓBREGA, 1992). nhecimento, que a enfermeira execute para melhorar os resultados
Na opinião de McCLOSKEY; BULECHEK (1996), a padronização do paciente. As intervenções de enfermagem incluem cuidado dire-
da linguagem dos problemas e tratamentos de enfermagem tem to e indireto; os tratamentos podem ser iniciados pela enfermeira,
sido desenvolvida para esclarecer e comunicar regras. Apesar deste médico, ou outro agente provedor. A Intervenção de cuidado direto
esforço, ainda existem muitos problemas e tratamentos de enfer- incluem ambas as ações de enfermagem fisiológicas e psicológicas.
magem não padronizados, limitando a habilidade das enfermeiras A Intervenção de cuidado indireto inclui tratamento realizado lon-
para examinar as tendências de sua prática e avaliar a qualidade de ge do paciente, mas favorecendo-o ou ao grupo de pacientes. In-
cuidados prestados aos pacientes. cluem ações dirigidas ao gerenciamento do ambiente de cuidado
Haja visto a quantidade de termos que têm sido citados na li- do paciente e colaboração multidisciplinar. O tratamento iniciado
teratura de enfermagem para os tratamentos dos diagnósticos de pela enfermeira consiste em uma intervenção em resposta ao diag-
enfermagem como: ações, atividades, intervenções, terapêuticas, nóstico de enfermagem; uma ação autônoma baseada no raciocínio
ordens, prescrições, condutas, (BARROS, 1998; BULECHEK; Mc- científico (McCLOSKEY; BULECHEK, 1996).
CLOSKEY, 1985, 1992; MARIA, 1989; CASTILHO, 1991; CAMPBELL,
1978; FARO, 1995; IYER; TAPTICH; BERNOCCHI-LOSEY, 1993; PEREI- Razões para o Desenvolvimento de uma Classificação Padroni-
RA, 1997). zada das Intervenções de Enfermagem
SILVA; NÓBREGA, (1992); BARROS, (1998) relatam que uma ta- As classificações sempre existiram e podemos relembrar al-
xonomia para as intervenções traria benefícios a todos os níveis da gumas delas como as escalas musicais, os símbolos dos elemen-
prática da enfermeira, ou seja assistência, ensino e pesquisa. Além tos químicos, categorias biológicas. Estas auxiliam no avanço dos
disso, facilitaria a comunicação, ao proporcionar uma terminologia conhecimentos e descoberta dos princípios que governam aquilo
comum para a troca de informações de todas as áreas da enferma- que é conhecido; também identificam as lacunas do conhecimen-
gem. to abordado nas pesquisas, e facilitam a sua compreensão (Mc-
Por sua vez TITLER et al. (1991) afirmam que um sistema de CLOSKEY; BULECHEK, 1996).
classificação das intervenções de enfermagem é essencial em vir- A NIC lista 8 razões para o desenvolvimento de uma classifica-
tude de: 1) delinear o corpo de conhecimento único para a enfer- ção padronizada para intervenções de enfermagem (McCLOSKEY;
magem, 2) determinar o conjunto de serviços de enfermagem, 3) BULECHEK, 1996).
desenvolver um sistema de informação, 4) refinar o sistema de
classificação do paciente, 5) ser um elo entre os diagnósticos de Padronização da Nomenclatura dos Tratamentos de Enferma-
enfermagem e os resultados esperados, 6) alocar recursos para os gem
planos de enfermagem, e 7) articular outros profissionais na função O fenômeno de interesse das intervenções de enfermagem é
específica da enfermagem. a conduta de enfermagem ou atividade de enfermagem. Este fenô-
Existem nove sistemas de classificação de intervenções de en- meno difere do diagnóstico de enfermagem ou resultados do pa-
fermagem realizados por enfermeiros de vários países a saber: AM- ciente. A classificação das intervenções de enfermagem padroniza
BULATORY CARE, AUSTRALIAN, BELGIAN, NURSING LEXICONS TAXO- a linguagem usada pelas enfermeiras na descrição suas condutas
NOMY, NURSING MINIMUM DATA SET, OMAHA; SABA; SWEDISH; específicas, quando prestam o cuidado. As intervenções devem ser
IOWA (ICN 1993). Além da Classificação Internacional para a Prática conceitualizadas num nível que inclua um agrupamento ou con-
de Enfermagem (CIPE) que está sendo desenvolvida pelo ICN Inter- junto de condutas ou atividades separadas. Algumas instituições
national Council of Nursing que contém diagnóstico intervenções e ilustram a necessidade de determinar a efetividade da prática de
resultados (NÓBREGA; GUTIERREZ, [org.] 1993). enfermagem e assim sendo a natureza das intervenções devem ser
A Nursing Interventions Classification (NIC) é um projeto que também determinadas. Esta tarefa é prejudicada por 4 fatores: 1)
foi iniciado em 1987 por um grupo de pesquisadoras da College of múltiplos termos usados para a intervenção; 2) confusão na inter-
Nursing University of Iowa, e desde então, vem sendo desenvolvi- venção; 3) falta de conceitualização; 4) pouca documentação sobre
dos inúmeros estudos relativos às intervenções de enfermagem, no a história das decisões tomadas pelas enfermeiras na seleção das
sentido de construir uma linguagem padronizada para descrever as intervenções. No estudo realizado pela NIC, os termos “interven-
atividades que as enfermeiras executam quando prestam tratamen- ções e tratamentos” são usados inter-relacionadamente. Vários
tos de enfermagem. exemplos mostram que as intervenções foram consideradas como
O termo Classificação das Intervenções de Enfermagem com- ações separadas, porém os rótulos de intervenções da NIC são con-
preende “o ordenamento ou arranjo das atividades de enfermagem ceitos implementados por meio de um conjunto de atividades de
dentro de um grupo ou dispostas numa base de relações e a deter- enfermagem (ações) direcionadas à resolução dos problemas re-
minação dos níveis de intervenções para estes grupos”, enquanto a ais ou potenciais da saúde do paciente. A enfermeira prescreve o
Taxonomia das Intervenções de Enfermagem significa “a organiza- cuidado a qualquer paciente usando apenas alguns rótulos. Como
ção sistemática dos níveis de intervenção baseada em semelhan- profissão, a Enfermagem não estabeleceu prioridades entre as in-
ças dentro da qual pode ser considerada uma estrutura conceitual” formações; as enfermeiras aprendem e acreditam que “devem fa-
(McCLOSKEY; BULECHEK, 1996). zer tudo”. As enfermeiras decidem a prioridade, mas suas decisões

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

não foram ainda sistematicamente descritas. A falta de pesquisas Para se atingir a excelência da qualidade assistencial nos servi-
nesta área contribui para o problema de não saber qual o melhor ços de saúde, um dos grandes desafios que o profissional da área
tipo de intervenção para determinado diagnóstico ou determinado enfrenta é a avaliação dos resultados dos serviços oferecidos à co-
contexto do paciente. munidade, sendo que os resultados são indicadores da qualidade
da assistência prestada.
Expansão do Conhecimento de Enfermagem sobre os vínculos O emprego de resultados para avaliar a assistência teve início
entre Diagnósticos, Tratamentos e Resultados em meados da década 60. A partir de então, a literatura tem con-
Muitos profissionais e serviços usam a lista de diagnósticos da tribuído com medidas de resultados validadas para avaliar a qua-
NANDA para descrever os fenômenos das condições de saúde que lidade dos cuidados de enfermagem, bem como os efeitos das in-
as enfermeiras diagnosticam e tratam. O uso difundido da lingua- tervenções, evidenciando a importância de seu emprego na prática
gem dos diagnósticos de enfermagem aumentou a necessidade de de enfermagem. Assim, a ideia de uma classificação que pudesse
classificações padronizadas nas áreas de intervenções e resultados. expressar o conhecimento da prática de enfermagem surgiu como
Diretrizes foram desenvolvidas para determinar as intervenções que um desafio para o Conselho Internacional de Enfermagem que a
seriam mais eficazes para pacientes com determinado diagnóstico partir de 1989 desencadeou um projeto com esta finalidade, que
ou um conjunto de diagnósticos. A medicina tem usado bancos de resultou no desenvolvimento da Classificação Internacional das Prá-
dados para rotineiramente coletar grandes quantidades de dados ticas de Enfermagem (CIPE), que engloba fenômenos, intervenções
clínicos informatizados, e a partir destes dados, começou a explorar ou ações e resultados de enfermagem.
os resultados como função das intervenções médicas. Em contras- Foram propostas outras classificações de resultados, dentre
te, o conhecimento da enfermeira sobre a efetividade do cuidado elas e mais recentemente a Classificação dos Resultados de Enfer-
de enfermagem é limitado. A enfermeira deve usar terminologias magem (NOC), que enfatiza o uso de uma linguagem clara e útil, ca-
padronizadas nas áreas dos diagnósticos, intervenções e resulta- paz de avaliar os cuidados por meio do emprego dos resultados de
dos, para assim construir grandes bancos de dados que auxiliarão enfermagem. A NOC foi desenvolvida com o propósito de conceitu-
na determinação das vinculações entre estas variáveis. Quando as alizar, rotular, definir e classificar os resultados e indicadores sensí-
enfermeiras usarem uma linguagem padronizada comum para do- veis aos cuidados de enfermagem. Esta classificação é resultante de
cumentar sistematicamente os diagnósticos dos seus pacientes, os um extenso trabalho de pesquisa que teve seu início em 1991 sob
• tratamentos realizados e a evolução do paciente, poderemos, en- a condução de uma equipe da Escola de Enfermagem da Universi-
tão, determinar quais as intervenções de enfermagem que melhor dade de Iowa, nos Estados Unidos. Uma das motivações para seu
funcionam para determinado diagnóstico ou população. desenvolvimento foi a existência da classificação de diagnósticos
de enfermagem da North American Nursing Diagnosis Association
Desenvolvimento da Enfermagem e Sistemas Informatizados (NANDA), que resultou na ideia da criação de outras duas classifica-
no Cuidado à Saúde ções, uma de intervenções e outra de resultados de enfermagem,
A documentação do cuidado de enfermagem está cada vez que poderiam ser utilizadas de forma interligada.
mais sendo informatizada. Somente após o desenvolvimento da NIC A NOC contém resultados para indivíduos, cuidadores familia-
o sistema avançou. Serviços individuais desenvolveram seus pró- res, família e comunidade que podem ser usados em diferentes lo-
prios conjuntos de prescrições de enfermagem ou ações, usando cais e especialidades clínicas. Esse sistema de classificação tem sido
listas de prescrições que haviam sido geradas a partir dos planos de desenvolvido em fases que visam o seu aperfeiçoamento e incluem
cuidados usados na instituição. Como as intervenções de enferma- o trabalho piloto e teste da metodologia, construção dos resulta-
gem foram tradicionalmente consideradas como sendo uma série dos, da taxonomia e testes clínicos, avaliação das escalas de me-
de ações separadas, uma lista computadorizada sem os resultados dida, e refinamento e uso clínico da taxonomia. Atualmente, está
da NIC em milhares de itens, o plano de cuidados de enfermagem em sua terceira edição traduzida para o português e consta de uma
do paciente poderia ter até 75 “intervenções”. Em 1983, concluiu- lista com 330 resultados com definições, indicadores e escalas de
-se que embora as enfermeiras “gastem muito tempo documen- medida. Os resultados estão organizados em sete domínios e trinta
tando, esta documentação não é sistematicamente organizada, a e duas classes. Esta classificação está na quarta edição, disponível,
ponto de aumentar o conhecimento de enfermagem, desenvolver a no momento, apenas em inglês. Sua atualização é possível graças à
prática de enfermagem, ou melhorar o cuidado ao paciente”. Ziels- estrutura estável que permite a inserção de resultados, ao longo do
torff citado por McCloskey; Bulechek em 1996 afirmaram que “o tempo, conforme forem desenvolvidos.
maior impedimento ao desenvolvimento de sistemas informatiza- Os enfermeiros vêm documentando os resultados de suas in-
dos de enfermagem é a base deficiente do conhecimento de enfer- tervenções há décadas, mas a falta de uma linguagem comum e
magem”. A NIC, em conjunto com as classificações dos diagnósticos de medidas associadas para os resultados impede a agregação dos
e resultados dos pacientes, desenvolveu um registro automatizado dados, a análise e a síntese de informações sobre os efeitos das
do paciente para assim prover a enfermeira com os dados dos ele- intervenções e da prática de enfermagem.
mentos clínicos. Neste contexto, tendo em vista a importância da utilização de
uma linguagem padronizada e da incorporação de medidas de re-
Avaliação da Assistência de Enfermagem - NOC sultados referentes ao cuidado de enfermagem como uma maneira
A enfermagem é uma profissão que tem ao longo do tempo de avaliar a assistência de enfermagem prestada, julgamos perti-
buscado sua consolidação enquanto ciência. Para o alcance deste nente conhecer como vem ocorrendo a difusão do conhecimento
objetivo um caminho árduo tem sido percorrido na procura de es- trazido pela NOC e o que tem sido produzido a respeito desta clas-
tratégias que visam alicerçar esta prática e, dentre elas, encontra-se sificação.
a necessidade de estabelecer uma linguagem comum que seja utili-
zada universalmente pelos profissionais, adaptada às mais variadas Utilização da taxonomia na prática assistencial
culturas e contextos. O crescente interesse na utilização da NOC na prática clínica de-
Uma linguagem comum auxilia a captar o valor econômico dos ve-se à necessidade de avaliar a qualidade do cuidado prestado aos
serviços prestados e favorece a comunicação entre os profissionais, clientes, além de ser uma exigência do sistema de saúde em decor-
clientes e equipe. rência dos custos cada vez mais elevados envolvidos nos cuidados.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Observou-se que alguns trabalhos (40%) contemplaram a utili- Tradução e validação da taxonomia
zação da NOC na assistência. O primeiro estudo teve como objetivo Esta categoria trata da tradução e validação da NOC em dife-
desenvolver um mapeamento para documentar a prática de enfer- rentes línguas e contextos. A NOC foi desenvolvida nos Estados Uni-
magem em saúde pública baseada em uma linguagem padroniza- dos por enfermeiras que falam a língua inglesa, portanto, traduções
da. Intervenções de enfermagem foram aplicadas a um grupo de precisam ser realizadas antes da implementação em outras línguas
famílias incluídas em um programa de saúde pública levando-se e culturas.
em consideração 65 diagnósticos da NANDA, edição de 1996, con- Uma vez que a NOC vem sendo muito difundida como meio de
siderados apropriados para a área de saúde pública. Um ano após, avaliação da qualidade do cuidado de enfermagem e a importância
os resultados foram incluídos e a equipe passou a realizar estudos de seu uso tem sido cada vez mais crescente, grupos de pesqui-
sobre os componentes das escalas de medidas, buscando um con- sadores têm se empenhado na tradução desta taxonomia para a
senso quanto ao seu uso, para posterior treinamento e utilização do língua de seus países de origem a fim de viabilizar a realização de
modelo na prática. estudos e sua utilização na prática clínica.
Trabalho desenvolvido por pesquisadores coreanos identificou Nesta categoria, foi incluído um estudo. Na Islândia, um gru-
os diagnósticos, intervenções e resultados de enfermagem utili- po de pesquisadores realizou a tradução dos rótulos e definições
zados em pacientes submetidos a cirurgia abdominal visando ao da segunda edição da NOC do inglês para o islandês. A validação
desenvolvimento de um sistema computadorizado para integração foi realizada especificamente para cuidados agudos, sendo uma re-
das taxonomias. Foram identificados 48 diagnósticos diferentes na comendação dos autores que seja realizada a validação em locais
revisão de prontuários de 60 pacientes. Para cada diagnóstico, foi que ofertam cuidados básicos de enfermagem, uma vez que esta foi
elaborada uma listagem com as intervenções instituídas e resulta- realizada somente em hospitais. Os testes demonstraram confiabili-
dos esperados. A maioria das ligações NANDA-NIC (Nursing Inter- dade e consistência interna aceitáveis.
ventions Classification) e NANDA-NOC sugeridas foi encontrada,
mas alguns resultados e intervenções ainda devem ser considera- Emprego da NOC em sistemas informatizados
dos para inclusão. As classificações de diagnósticos de enfermagem da NANDA,
Outro trabalho avaliou a ocorrência do resultado de Comporta- de intervenções e de resultados atualmente são interligadas e es-
mento de busca de saúde em cinco clínicas dirigidas por enfermei- truturadas de forma a favorecer seu emprego por enfermeiras, em
ros. Uma escala de medida foi aplicada e os escores variaram des- diferentes campos do cuidado e especialidades. Estas estruturas
de o mínimo até o máximo possível, sendo que alguns indicadores possibilitam construção de instrumentos de coleta de dados, pla-
apareceram com maior frequência. As avaliações mostraram que nejamento e implementação da assistência e estabelecimento dos
este resultado parece estar sendo realizado de maneira moderada resultados de enfermagem obtidos. Facilitam o julgamento clínico
em todas as clínicas.Um dos estudos descreveu a sistematização da pelas enfermeiras conduzindo-as à escolha de diagnósticos, inter-
assistência a um portador de cirrose hepática utilizando a NANDA, venções e resultados num processo contínuo de retroalimentação
NIC e NOC. Foram implementadas intervenções propostas pela NIC destas fases, favorecendo a eficácia do cuidado.
para 13 diagnósticos identificados, e os resultados avaliados utili- Estudos têm sido realizados visando estabelecer estratégias
zando-se a NOC. Concluiu-se que a assistência sistematizada e in- para o desenvolvimento de sistemas informatizados. Nesta catego-
dividualizada permitiu melhor organização do trabalho e dos cui- ria, foram incluídos dois (13,3%) estudos. O primeiro relata a impor-
dados dispensados, proporcionando a avaliação dos resultados e, tância do uso de sistemas informatizados e fala sobre a introdução
quando necessária, a modificação ou finalização das intervenções. de um sistema de dados sobre o cuidado do paciente. Dentre esses
Foram analisados ainda dois trabalhos com pacientes diabéti- dados estão os resultados do paciente, definidos como resultado do
cos. No primeiro, foram identificados os diagnósticos de enferma- tratamento médico.
gem em um paciente diabético e selecionados os resultados es- Os autores consideram que esta categoria deve ser revisada a
perados e intervenções. Os resultados foram avaliados quanto às fim de englobar os resultados do trabalho de outros provedores de
mudanças sem a utilização de escalas de medida. saúde. Outro trabalho, desenvolvido na Noruega teve como propos-
Embora não seja realizada discussão mais aprofundada quanto ta construir uma estrutura abrangente composta pelas taxonomias
aos resultados identificados, os autores concluem que a utilização NANDA, NIC e NOC a fim de disponibilizar uma fonte de conheci-
da Teoria de Autocuidado de Orem e de linguagens padronizadas mentos e aumentar a eficiência do uso conjunto destas taxonomias
realça a comunicação entre enfermeiros e melhora a habilidade em um registro eletrônico de dados do paciente. Após análise te-
dos pacientes com doenças crônicas em relação ao autocuidado. O órica das terminologias, foi construída uma estrutura preliminar
segundo trabalho avaliou o comportamento de promoção da saú- integrando-as e realizada validação clínica. O produto final foi o
de de 84 portadores de diabetes de acordo com os indicadores da desenvolvimento de um sistema eletrônico para registro de dados
NOC, sendo incluídos resultados relativos ao autocuidado dos pa- do paciente abrangendo as três taxonomias organizadas em oito
cientes citados anteriormente. domínios e 29 classes.
Observa-se que esforços têm sido feitos na tentativa de imple- Terminologias organizadas em sistemas de classificação podem
mentar resultados na prática clínica, porém esta utilização ainda é aumentar a qualidade da documentação de enfermagem e realçar a
bastante incipiente. Os estudos são desenvolvidos com resultados garantia da qualidade e de decisões apoiadas nestes sistemas. Uma
específicos, em populações diversas e com amostras pequenas. Os linguagem padronizada armazenada em um programa de computa-
dados apresentados, embora importantes, ainda não são suficien- dor facilita a análise dos dados em qualidade e efetividade.1
tes para serem utilizados como modelo, e os próprios autores con-
sideram que mais estudos necessitam ser desenvolvidos.

1Fonte: www.pixeon.com/www.nascecme.com.br/www.
ee.usp.br/www.seer.ufrgs.br

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Segundo o Ministério da Saúde, hospital é definido como esta-


PROCEDIMENTOS TÉCNICOS EM ENFERMAGEM belecimento de saúde destinado a prestar assistência sanitária em
regime de internação a uma determinada clientela, ou de não-inter-
Fundamentos de Enfermagem nação, no caso de ambulatório ou outros serviços.
Para se avaliar a necessidade de serviços e leitos hospitala-
A assistência da Enfermagem baseia-se em conhecimentos res numa dada região faz-se necessário considerar fatores como
científicos e métodos que definem sua implementação. Assim, a a estrutura e nível de organização de saúde existente, número de
sistematização da assistência de enfermagem (SAE) é uma forma habitantes e frequência e distribuição de doenças, além de outros
planejada de prestar cuidados aos pacientes que, gradativamente, eventos relacionados à saúde. Por exemplo, é possível que numa
vem sendo implantada em diversos serviços de saúde. Os compo- região com grande população de jovens haja carência de leitos de
nentes ou etapas dessa sistematização variam de acordo com o maternidade onde ocorre maior número de nascimentos. Em outra,
método adotado, sendo basicamente composta por levantamento onde haja maior incidência de doenças crônico-degenerativas, a ne-
de dados ou histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem, cessidade talvez seja a de expandir leitos de clínica médica.
plano assistencial e avaliação. De acordo com a especialidade existente, o hospital pode ser
Interligadas, essas ações permitem identificar as necessidades classificado como geral, destinado a prestar assistência nas quatro
de assistência de saúde do paciente e propor as intervenções que especialidades médicas básicas, ou especializado, destinado a pres-
melhor as atendam - ressalte-se que compete ao enfermeiro a res- tar assistência em uma especialidade, como, por exemplo, materni-
ponsabilidade legal pela sistematização; contudo, para a obtenção dade, ortopedia, entre outras.
de resultados satisfatórios, toda a equipe de enfermagem deve en- Um outro critério utilizado para a classificação de hospitais é
volver-se no processo. o seu número de leitos ou capacidade instalada: são considerados
Na fase inicial, é realizado o levantamento de dados, mediante como de pequeno porte aqueles com até 50 leitos; de médio porte,
entrevista e exame físico do paciente. Como resultado, são obtidas de 51 a 150 leitos; de grande porte, de 151 a 500 leitos; e de porte
importantes informações para a elaboração de um plano assisten- especial, acima de 500 leitos.
cial e prescrição de enfermagem, a ser implementada por toda a Conforme as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), os
equipe. serviços de saúde em uma dada região geográfica - desde as unida-
A entrevista, um dos procedimentos iniciais do atendimento, é des básicas até os hospitais de maior complexidade - devem estar
o recurso utilizado para a obtenção dos dados necessários ao tra- integrados, constituindo um sistema hierarquizado e organizado de
tamento, tais como o motivo que levou o paciente a buscar aju- acordo com os níveis de atenção à saúde. Um sistema assim cons-
da, seus hábitos e práticas de saúde, a história da doença atual, de tituído disponibiliza atendimento integral à população, mediante
doenças anteriores, hereditárias, etc. Nesta etapa, as informações ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saú-
consideradas relevantes para a elaboração do plano assistencial de de.
enfermagem e tratamento devem ser registradas no prontuário, As unidades básicas de saúde (integradas ou não ao Progra-
tomando-se, evidentemente, os cuidados necessários com as con- ma Saúde da Família) devem funcionar como porta de entrada para
sideradas como sigilosas, visando garantir ao paciente o direito da o sistema, reservando-se o atendimento hospitalar para os casos
privacidade. mais complexos - que, de fato, necessitam de tratamento em regi-
O exame físico inicial é realizado nos primeiros contatos com o me de internação.
paciente, sendo reavaliado diariamente e, em algumas situações, De maneira geral, o hospital secundário oferece alto grau de
até várias vezes ao dia. resolubilidade para grande parte dos casos, sendo poucos os que
Como sua parte integrante, há a avaliação minuciosa de todas acabam necessitando de encaminhamento para um hospital terci-
as partes do corpo e a verificação de sinais vitais e outras medidas, ário. O sistema de saúde vigente no Brasil agrega todos os serviços
como peso e altura, utilizando-se técnicas específicas. públicos das esferas federal, estadual e municipal e os serviços pri-
Na etapa seguinte, faz-se a análise e interpretação dos dados vados, credenciados por contrato ou convênio. Na área hospitalar,
coletados e se determinam os problemas de saúde do paciente, 80% dos estabelecimentos que prestam serviços ao SUS são priva-
formulados como diagnóstico de enfermagem. Através do mesmo dos e recebem reembolso pelas ações realizadas, ao contrário da
são identificadas as necessidades de assistência de enfermagem e a atenção ambulatorial, onde 75% da assistência provém de hospitais
elaboração do plano assistencial de enfermagem. públicos.
O plano descreve os cuidados que devem ser dados ao pacien- Na reorganização do sistema de saúde proposto pelo SUS o
te (prescrição de enfermagem) e implementados pela equipe de hospital deixa de ser a porta de entrada do atendimento para se
enfermagem, com a participação de outros profissionais de saúde, constituir em unidade de referência dos ambulatórios e unidades
sempre que necessário. básicas de saúde. O hospital privado pode ter caráter beneficente,
Na etapa de avaliação verifica-se a resposta do paciente aos filantrópico, com ou sem fins lucrativos. No beneficente, os recur-
cuidados de enfermagem a ele prestados e as necessidades de mo- sos são originários de contribuições e doações particulares para a
dificar ou não o plano inicialmente proposto. prestação de serviços a seus associados - integralmente aplicados
O hospital, a assistência de enfermagem e a prevenção da in- na manutenção e desenvolvimento de seus objetivos sociais. O hos-
fecção pital filantrópico reserva serviços gratuitos para a população caren-
O termo hospital origina-se do latim hospitium, que quer dizer te, respeitando a legislação em vigor. Em ambos, os membros da
local onde se hospedam pessoas, em referência a estabelecimentos diretoria não recebem remuneração.
fundados pelo clero, a partir do século IV dC, cuja finalidade era Para que o paciente receba todos os cuidados de que necessi-
prover cuidados a doentes e oferecer abrigo a viajantes e peregri- ta durante sua internação hospitalar, faz-se necessário que tenha à
nos. sua disposição uma equipe de profissionais competentes e diversos
serviços integrados - Corpo Clínico, equipe de enfermagem, Serviço
de Nutrição e Dietética, Serviço Social, etc., caracterizando uma ex-
tensa divisão técnica de trabalho.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Para alcançar os objetivos da instituição, o trabalho das equi- Embora lenta e gradual, a própria conscientização do paciente
pes, de todas as áreas, necessita estar em sintonia, haja vista que a respeito de seus direitos tem contribuído para tal intento. Fortes
uma das características do processo de produção hospitalar é a in- aponta a responsabilidade institucional como um aspecto impor-
terdependência. Uma outra característica é a quantidade e diversi- tante, ao afirmar que existe um componente de responsabilidade
dade de procedimentos diariamente realizados para prover assis- dos administradores de saúde na implementação de políticas e
tência ao paciente, cuja maioria segue normas rígidas no sentido ações administrativas que resguardem os direitos dos pacientes.
de proporcionar segurança máxima contra a entrada de agentes Assim, questões como sigilo, privacidade, informação, aspectos que
biológicos nocivos ao mesmo. o profissional de saúde tem o dever de acatar por determinação
O ambiente hospitalar é considerado um local de trabalho in- do seu código de ética, tornam-se mais abrangentes e eficazes na
salubre, onde os profissionais e os próprios pacientes internados medida em que também passam a ser princípios norteadores da
estão expostos a agressões de diversas naturezas, seja por agentes organização de saúde.
físicos, como radiações originárias de equipamentos radiológicos e Tudo isso reflete as mudanças em curso nas relações que se
elementos radioativos, seja por agentes químicos, como medica- estabelecem entre o receptor do cuidado, o paciente, e o profis-
mentos e soluções, ou ainda por agentes biológicos, representados sional que o assiste, tendo influenciado, inclusive, a nomenclatura
por microrganismos. tradicionalmente utilizada no meio hospitalar.
No hospital concentram-se os hospedeiros mais susceptíveis, O termo paciente, por exemplo, deriva do verbo latino patisce-
os doentes e os microrganismos mais resistentes. O volume e a re, que significa padecer, e expressa uma conotação de dependên-
diversidade de antibióticos utilizados provocam alterações impor-
cia, motivo pelo qual cada vez mais se busca outra denominação
tantes nos microrganismos, dando origem a cepas multirresisten-
para o receptor do cuidado. Há crescente tendência em utilizar o
tes, normalmente inexistentes na comunidade. A contaminação de
termo cliente, que melhor reflete a forma como vêm sendo estabe-
pacientes durante a realização de um procedimento ou por inter-
lecidos os contatos entre o receptor do cuidado e o profissional, ou
médio de artigos hospitalares pode provocar infecções graves e de
difícil tratamento. Procedimentos diagnósticos e terapêuticos inva- seja, na base de uma relação de interdependência e aliança. Outros
sivos, como diálise peritonial, hemodiálise, inserção de cateteres e têm manifestado preferência pelo termo usuário, considerando que
drenos, uso de drogas imunossupressoras, são fatores que contri- o receptor do cuidado usa os nossos serviços. Entretanto, será man-
buem para a ocorrência de infecção. tida a denominação tradicional, porque ainda é dessa forma que a
Ao dar entrada no hospital, o paciente já pode estar com uma maioria se reporta ao receptor do cuidado.
infecção, ou pode vir a adquiri-la durante seu período de interna- Ao receber o paciente na unidade de internação, o profissional
ção. Seguindo-se a classificação descrita na Portaria no 2.616/98, de enfermagem deve providenciar e realizar a assistência neces-
do Ministério da Saúde, podemos afirmar que o primeiro caso re- sária, atentando para certos cuidados que podem auxiliá-lo nessa
presenta uma infecção comunitária; o segundo, uma infecção hos- fase. O primeiro contato entre o paciente, seus familiares e a equipe
pitalar que pode ter como fontes a equipe de saúde, o próprio pa- é muito importante para a adaptação na unidade. O tratamento re-
ciente, os artigos hospitalares e o ambiente. alizado com gentileza, cordialidade e compreensão ajuda a desper-
Visando evitar a ocorrência de infecção hospitalar, a equipe tar a confiança e a segurança tão necessárias. Assim, cabe auxiliá-lo
deve realizar os devidos cuidados no tocante à sua prevenção e a se familiarizar com o ambiente, apresentando-o à equipe presen-
controle, principalmente relacionada à lavagem das mãos, pois os te e a outros pacientes internados, em caso de enfermaria, acom-
microrganismos são facilmente levados de um paciente a outro ou panhando-o em visita às dependências da unidade, orientando-o
do profissional para o paciente, podendo causar a infecção cruzada. sobre o regulamento, normas e rotinas da instituição. É também
importante solicitar aos familiares que providenciem objetos de uso
Atendendo o paciente no hospital pessoal, quando necessário, bem como arrolar roupas e valores nos
casos em que o paciente esteja desacompanhado e seu estado indi-
O paciente procura o hospital por sua própria vontade (neces- que a necessidade de tal procedimento.
sidade) ou da família, e a internação ocorre por indicação médica É importante lembrar que, mesmo na condição de doente, a
ou, nos casos de doença mental ou infectocontagiosa, por processo pessoa continua de posse de seus direitos: ao respeito de ser cha-
legal instaurado. mado pelo nome, de decidir, junto aos profissionais, sobre seus cui-
A internação é a admissão do paciente para ocupar um leito dados, de ser informado sobre os procedimentos e tratamento que
hospitalar, por período igual ou maior que 24 horas. Para ele, isto
lhe serão dispensados, e a que seja mantida sua privacidade física e
significa a interrupção do curso normal de vida e a convivência tem-
o segredo sobre as informações confidenciais que digam respeito à
porária com pessoas estranhas e em ambiente não-familiar. Para a
sua vida e estado de saúde.
maioria das pessoas, este fato representa desequilíbrio financeiro,
O tempo de permanência do paciente no hospital dependerá
isolamento social, perda de privacidade e individualidade, sensação
de insegurança, medo e abandono. A adaptação do paciente a essa de vários fatores: tipo de doença, estado geral, resposta orgânica
nova situação é marcada por dificuldades pois, aos fatores acima, ao tratamento realizado e complicações existentes. Atualmente, há
soma-se a necessidade de seguir regras e normas institucionais uma tendência para se abreviar ao máximo o tempo de internação,
quase sempre bastante rígidas e inflexíveis, de entrosar-se com a em vista de fatores como altos custos hospitalares, insuficiência de
equipe de saúde, de submeter-se a inúmeros procedimentos e de leitos e riscos de infecção hospitalar. Em contrapartida, difundem-
mudar de hábitos. -se os serviços de saúde externos, como a internação domiciliar, a
O movimento de humanização do atendimento em saúde pro- qual estende os cuidados da equipe para o domicílio do doente,
cura minimizar o sofrimento do paciente e seus familiares, buscan- medida comum em situações de alta precoce e de acompanhamen-
do formas de tornar menos agressiva a condição do doente institu- to de casos crônicos - é importante que, mesmo neste âmbito, se-
cionalizado. jam também observados os cuidados e técnicas utilizadas para a
prevenção e controle da infecção hospitalar e descarte adequado
de material perfurocortante.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O período de internação do paciente finaliza-se com a alta hos- As informações do paciente, geradas durante seu período de
pitalar, decorrente de melhora em seu estado de saúde, ou por mo- internação, constituirão o documento denominado prontuário,
tivo de óbito. Entretanto, a alta também pode ser dada por motivos o qual, segundo o Conselho Federal de Medicina (Resolução nº
tais como: a pedido do paciente ou de seu responsável; nos casos 1.331/89), consiste em um conjunto de documentos padronizados
de necessidade de transferência para outra instituição de saúde; e ordenados, proveniente de várias fontes, destinado ao registro
na ocorrência de o paciente ou seu responsável recusar(em)-se a dos cuidados profissionais prestados ao paciente.
seguir o tratamento, mesmo após ter(em) sido orientado(s) quan- O prontuário agrega um conjunto de impressos nos quais são
to aos riscos, direitos e deveres frente à terapêutica proporcionada registradas todas as informações relativas ao paciente, como histó-
pela equipe. rico da doença, antecedentes pessoais e familiares, exame físico,
Na ocasião da alta, o paciente e seus familiares podem necessi- diagnóstico, evolução clínica, descrição de cirurgia, ficha de anes-
tar de orientações sobre alimentação, tratamento medicamentoso, tesia, prescrição médica e de enfermagem, exames complemen-
atividades físicas e laborais, curativos e outros cuidados específicos, tares de diagnóstico, formulários e gráficos. É direito do paciente
momento em que a participação da equipe multiprofissional é im- ter suas informações adequadamente registradas, como também
portante para esclarecer quaisquer dúvidas apresentadas. acesso - seu ou de seu responsável legal - às mesmas, sempre que
Após a saída do paciente, há necessidade de se realizar a limpe- necessário.
za da cama e mobiliário; se o mesmo se encontrava em isolamento, Legalmente, o prontuário é propriedade dos estabelecimentos
deve-se também fazer a limpeza de todo o ambiente (limpeza ter- de saúde e após a alta do paciente fica sob os cuidados da institui-
minal): teto, paredes, piso e banheiro. ção, arquivado em setor específico. Quanto à sua informatização,
As rotinas administrativas relacionadas ao preenchimento e há iniciativas em andamento em diversos hospitais brasileiros, haja
encaminhamento do aviso de alta ao registro, bem como às per- vista que facilita a guarda e conservação dos dados, além de agilizar
tinentes à contabilidade e apontamento em censo hospitalar, de-
informações em prol do paciente. Devem, entretanto, garantir a pri-
veriam ser realizadas por agentes administrativos. Na maioria das
vacidade e sigilo dos dados pessoais.
instituições hospitalares, porém, estas ações ainda ficam sob o en-
cargo dos profissionais de enfermagem.
Sistema de informação em enfermagem
O paciente poderá sair do hospital só ou acompanhado por fa-
miliares, amigos ou por um funcionário (assistente social, auxiliar,
técnico de enfermagem ou qualquer outro profissional de saúde Uma das tarefas do profissional de enfermagem é o registro, no
que a instituição disponibilize); dependendo do seu estado geral, prontuário do paciente, de todas as observações e assistência pres-
em transporte coletivo, particular ou ambulância. Cabe à enfer- tada ao mesmo, ato conhecido como anotação de enfermagem. A
magem registrar no prontuário a hora de saída, condições gerais, importância do registro reside no fato de que a equipe de enferma-
orientações prestadas, como e com quem deixou o hospital. gem é a única que permanece continuamente e sem interrupções
Um aspecto particular da alta diz respeito à transferência para ao lado do paciente, podendo informar com detalhes todas as ocor-
outro setor do mesmo estabelecimento, ou para outra instituição. rências clínicas. Para maior clareza, recomenda-se que o registro
Deve-se considerar que a pessoa necessitará adaptar-se ao novo das informações seja organizado de modo a reproduzir a ordem
ambiente, motivo pelo qual a orientação da enfermagem é impor- cronológica dos fatos, isto permitirá que, na passagem de plantão,
tante. Quando do transporte a outro setor ou à ambulância, o pa- a equipe possa acompanhar a evolução do paciente.
ciente deve ser transportado em maca ou cadeira de rodas, junto Um registro completo de enfermagem contempla as seguintes
com seus pertences, prontuário e os devidos registros de enferma- informações:
gem. No caso de encaminhamento para outro estabelecimento, en- - Observação do estado geral do paciente, indicando manifesta-
viar os relatórios médico e de enfermagem. ções emocionais como angústia, calma, interesse, depressão, eufo-
ria, apatia ou agressividade; condições físicas, indicando alterações
Sistema de informação em saúde relacionadas ao estado nutricional, hidratação, integridade cutâ-
neo-mucosa, oxigenação, postura, sono e repouso, eliminações,
Um sistema de informação representa a forma planejada de re- padrão da fala, movimentação; existência e condições de sondas,
ceber e transmitir dados. Pressupõe que a existência de um número drenos, curativos, imobilizações, cateteres, equipamentos em uso;
cada vez maior de informações requer o uso de ferramentas (inter- - A ação de medicamentos e tratamentos específicos, para
net, arquivos, formulários) apropriadas que possibilitem o acesso verificação da resposta orgânica manifesta após a aplicação de de-
e processamento de forma ágil, mesmo quando essas informações terminado medicamento ou tratamento, tais como, por exemplo:
dependem de fontes localizadas em áreas geográficas distantes. alergia após a administração de medicamentos, diminuição da tem-
No hospital, a disponibilidade de uma rede integrada de infor-
peratura corporal após banho morno, melhora da dispneia após a
mações através de um sistema informatizado é muito útil porque
instalação de cateter de oxigênio;
agiliza o atendimento, tornando mais rápido o processo de ad-
- A realização das prescrições médicas e de enfermagem, o que
missão e alta de pacientes, a marcação de consultas e exames, o
permite avaliar a atuação da equipe e o efeito, na evolução do pa-
processamento da prescrição médica e de enfermagem e muitas
outras ações frequentemente realizadas. Também influencia favo- ciente, da terapêutica medicamentosa e não-medicamentosa. Caso
ravelmente na área gerencial, disponibilizando em curto espaço de o tratamento não seja realizado, é necessário explicitar o motivo,
tempo informações atualizadas de diversas naturezas que subsi- por exemplo, se o paciente recusa a inalação prescrita, deve-se re-
diam as ações administrativas, como recursos humanos existentes gistrar esse fato e o motivo da negação. Procedimentos rotineiros
e suas características, dados relacionados a recursos financeiros e também devem ser registrados, como a instalação de solução ve-
orçamentários, recursos materiais (consumo, estoque, reposição, nosa, curativos realizados, colheita de material para exames, enca-
manutenção de equipamentos e fornecedores), produção (número minhamentos e realização de exames externos, bem como outras
de atendimentos e procedimentos realizados) e aqueles relativos à ocorrências atípicas na rotina do paciente;
taxa de nascimentos, óbitos, infecção hospitalar, média de perma-
nência, etc.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- A assistência de enfermagem prestada e as intercorrências - organizar a anotação de maneira a reproduzir a ordem em


observadas. Incluem-se neste item, entre outros, os dados referen- que os fatos se sucedem. Utilizar a expressão, entrada tardia. Ou
tes aos cuidados higiênicos, administração de dietas, mudanças de em tempo, para acrescentar informações que porventura tenham
decúbito, restrição ao leito, aspiração de sondas e orientações pres- sido anteriormente omitidas;
tadas ao paciente e familiares; - utilizar a terminologia técnica adequada, evitando abreviatu-
- As ações terapêuticas aplicadas pelos demais profissionais da ras, exceto as padronizadas institucionalmente. Por exemplo: Apre-
equipe multiprofissional, quando identificada a necessidade de o senta dor de cabeça cont..... por, Apresenta cefaléia contínua ....;
paciente ser atendido por outro componente da equipe de saúde. - evitar anotações e uso de termos gerais como, segue em ob-
Nessa circunstância, o profissional é notificado e, após efetivar sua servação de enfermagem, ou, sem queixas, que não fornecem ne-
visita, a enfermagem faz o registro correspondente. Para o registro nhuma informação relevante e não são indicativos de assistência
das informações no prontuário, a enfermagem geralmente utiliza prestada;
um roteiro básico que facilita sua elaboração. Por ser um impor- - realizar os registros com frequência, pois se decorridas várias
tante instrumento de comunicação para a equipe, as informações horas nenhuma anotação foi feita pode-se supor que o paciente fi-
devem ser objetivas e precisas de modo a não darem margem a cou abandonado e que nenhuma assistência lhe foi prestada;
interpretações errôneas. Considerando-se sua legalidade, faz-se - registrar todas as medidas de segurança adotadas para prote-
necessário ressaltar que servem de proteção tanto para o paciente ger o paciente, bem como aquelas relativas à prevenção de compli-
como para os profissionais de saúde, a instituição e, mesmo, a so- cações, por exemplo: Contido por apresentar agitação psicomotora;
ciedade. - assinar a anotação e apor o número de inscrição do Conselho
Regional de Enfermagem (em cumprimento ao art. 76, Cap. VI do
A seguir, destacamos algumas significativas recomendações Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem).
para maior precisão ao registro das informações:
- os dados devem ser sempre registrados a caneta, em letra le- Assistência de enfermagem aos pacientes graves e agonizan-
gível e sem rasuras, utilizando a cor de tinta padronizada no estabe- tes e preparo do corpo pós morte
lecimento. Em geral, a cor azul é indicada para o plantão diurno; a
vermelha, para o noturno. Não é aconselhável deixar espaços entre O paciente pode passar por cinco estágios psicológicos em pre-
um registro e outro, o que evita que alguém possa, intencionalmen- paração para morte. Apesar de serem percebidos de forma diferen-
te, adicionar informações. Portanto, recomenda-se evitar pular li- te em cada paciente, e não necessariamente na ordem mostrada
nha(s) entre um registro e outro, deixar parágrafo ao iniciar a frase, o entendimento de tais sentimentos pode ajudar a satisfação dos
manter espaço em branco entre o ponto final e a assinatura; pacientes. As etapas do ato de morrer são:
- verificar o tipo de impresso utilizado na instituição e a rotina Negação: quando o paciente toma conhecimento pela primeira
que orienta o seu preenchimento; identificar sempre a folha, preen- vez de sua doença terminal, pode ocorrer uma recusa em aceitar o
chendo ou completando o cabeçalho, se necessário; diagnóstico.
- indicar o horário de cada anotação realizada;
- ler a anotação anterior, antes de realizar novo registro;
Ira: uma vez que o paciente parando de negar a morte, é possí-
- como não se deve confiar na memória para registrar as infor-
vel que apresente um profundo ressentimento em relação aos que
mações, considerando-se que é muito comum o esquecimento de
continuarão vivos após a morte, ao pessoal do hospital, a sua pró-
detalhes e fatos importantes durante um intensivo dia de trabalho,
pria família etc.
o registro deve ser realizado em seguida à prestação do cuidado,
Barganha: apesar de haver uma aceitação da morte por parte
observação de intercorrências, recebimento de informação ou to-
do paciente, pode haver uma tentativa de negociação de mais tem-
mada de conduta, identificando a hora exata do evento;
po de vida junto a Deus ou com o seu destino.
- quando do registro, evitar palavras desnecessárias como, pa-
Depressão: é possível que o paciente se afaste dos amigos, da
ciente, por exemplo, pois a folha de anotação é individualizada e,
família, dos profissionais de saúde. È possível que venha sofrer de
portanto, indicativa do referente;
- jamais deve-se rasurar a anotação; caso se cometa um en- inapetência, aumento da fadiga e falta de cuidados pessoais.
gano ao escrever, não usar corretor de texto, não apagar nem ra- Aceitação: Nessa fase, o paciente aceita a inevitabilidade e
surar, pois as rasuras ou alterações de dados despertam suspeitas a iminência de sua morte. È possível que deseje simplesmente o
de que alguém tentou deliberadamente encobrir informações; em acompanhamento de um membro da família ou um amigo
casos de erro, utilizar a palavra, digo, entre vírgulas, e continuar a
informação correta para concluir a frase, ou riscar o registro com Semiologia e Semiotécnica aplicadas em Enfermagem
uma única linha e escrever a palavra, erro; a seguir, fazer o registro
correto - exemplo: Refere dor intensa na região lombar, administra- A Semiologia da enfermagem pode ser chamada também de
da uma ampola de Voltaren IM no glúteo direito, digo, esquerdo.. propedêutica, que é o estudo dos sinais e sintomas das doenças
Ou: .... no glúteo esquerdo; em caso de troca de papeleta, riscar um humanas. A palavra vem do grego semeion = sinal + lógos = tratado,
traço em diagonal e escrever, Erro, papeleta trocada; estudo). A semiologia é muito importante para o diagnóstico e pos-
- distinguir na anotação a pessoa que transmite a informação; teriormente a prescrição de patologias.
assim, quando é o paciente que informa, utiliza-se o verbo na ter- A semiologia, base da prática clínica requer não apenas habili-
ceira pessoa do singular: Informa que ...., Refere que ...., Queixa-se dades, mas também ações rápidas e precisas. A preparação para o
de ....; já quando a informação é fornecida por um acompanhante exame físico, a seleção de instrumentos apropriados, a realização
ou membro da equipe, registrar, por exemplo: A mãe refere que a das avaliações, o registro de achados e a tomada de decisões tem
criança .... ou Segundo a nutricionista ....; papel fundamental em todo o processo de assistência ao cliente.
- atentar para a utilização da sequência céfalo-caudal quando A equipe de enfermagem deve utilizar todas as informações dis-
houver descrições dos aspectos físicos do paciente. Por exemplo: o poníveis para identificar as necessidades especiais em um conjunto
paciente apresenta mancha avermelhada na face, MMSS e MMII; variado de clientes portadores de diversas patologias.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A semiologia geral da enfermagem busca é ensinar aos alunos É aqui que se determinam os resultados esperados e quais ações
as técnicas (semiotécnicas) gerais que compõem o exame físico. serão necessárias. Isso será realizado a partir nos dados coletados
O exame físico, por sua vez, compõe-se de partes que incluem a e diagnósticos de enfermagem com base dos momentos de saúde
anamnese ou entrevista clínica, o exame físico geral e o exame físico do paciente e suas intervenções. São informações que, igualmente,
especializado. devem ser registradas no PEP, incluindo as prescrições checadas e o
O exame físico é a parte mais importante na obtenção do diag- registro das ações que foram executadas.
nóstico. Alguns autores estimaram que 70 a 80 % do diagnóstico se
baseiam no exame clínico bem realizado. 4. Implementação
Cumprir todas essas etapas com resolutividade, mantendo o A partir das informações obtidas e focadas na abordagem da
foco nas necessidades do cliente é realmente um desafio. Esses Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), a equipe re-
fatores, a complexidade que cerca a semiologia e muitas decisões alizará as ações ou intervenções determinadas na etapa do Plane-
que precisam ser tomadas torna necessário que o enfermeiro tenha jamento de Enfermagem. São atividades que podem ir desde uma
domínio de diversas informações. administração de medicação até auxiliar ou realizar cuidados espe-
Semiotécnica é um campo de estudo onde estão inseridas as cíficos, como os de higiene pessoal do paciente, ou mensurar sinais
mais diversas técnicas realizadas pelo enfermeiro, técnico de enfer- vitais específicos e acrescentá-los no Prontuário Eletrônico do Pa-
magem e auxiliar de enfermagem. ciente (PEP).
Procedimentos como: realização de curativos, sondagens ve-
sical e gástrica, preparo dos mais diversos tipos de cama, aspira- 5. Avaliação de Enfermagem (Evolução)
ção entre outras. A fundamentação científica na aplicação de cada Por fim, a equipe de enfermagem irá registrar os dados no Pron-
técnica é muito importante, inclusive para noções de controle de tuário Eletrônico do Paciente de forma deliberada, sistemática e
infecções. contínua. Nele, deverá ser registrado a evolução do paciente para
determinar se as ações ou intervenções de enfermagem alcança-
As cinco etapas do processo de Enfermagem dentro da Siste- ram o resultado esperado. Com essas informações, a Enfermeira
matização da Assistência de Enfermagem: terá como verificar a necessidade de mudanças ou adaptações nas
etapas do Processo de Enfermagem. Além de proporcionar infor-
1. Coleta de dados de Enfermagem ou Histórico de Enferma- mações que irão auxiliar as demais equipes multidisciplinares na
gem tomada de decisão de condutas, como no próprio processo de alta.
O primeiro passo para o atendimento de um paciente é a busca
por informações básicas que irão definir os cuidados da equipe de Sistema de informação em enfermagem (Registro em Enfer-
enfermagem. É uma etapa de um processo deliberado, sistemático magem)
e contínuo na qual haverá a coleta de dados que serão passados pe-
los próprio paciente ou pela família ou outras pessoas envolvidas. Uma das tarefas do profissional de enfermagem é o registro,
Essas informações trarão maior precisão de dados ao Processo de no prontuário do paciente, de todas as observações e assistência
Enfermagem dentro da abordagem da Sistematização da Assistên- prestada ao mesmo - ato conhecido como anotação de enferma-
cia de Enfermagem (SAE). gem. A importância do registro reside no fato de que a equipe de
Por isso, serão abordadas: alergias, histórico de doenças e até enfermagem é a única que permanece continuamente e sem inter-
mesmo questões psicossociais, como, por exemplo, a religião, que rupções ao lado do paciente, podendo informar com detalhes todas
pode alterar de forma contundente os cuidados prestados ao pa- as ocorrências clínicas.
ciente. Este processo pode ser otimizado com a utilização de PEP,
com formulários específicos que direcionam o questionamento da Para maior clareza, recomenda-se que o registro das informa-
enfermeira e o registro online dos dados, que podem ser acessa- ções seja organizado de modo a reproduzir a ordem cronológica dos
dos por todos da Instituição, até mesmo de forma remota. Assim, fatos isto permitirá que, na passagem de plantão, a equipe possa
é possível realizar as intervenções necessárias para prestação dos acompanhar a evolução do paciente. Um registro completo de en-
cuidados ao paciente, com maior segurança e agilidade. fermagem contempla as seguintes informações:
Observação do estado geral do paciente, indicando manifes-
2.Diagnóstico de Enfermagem tações emocionais como angústia, calma, interesse, depressão,
Nesta etapa, se dá o processo de interpretação e agrupamen- euforia, apatia ou agressividade; condições físicas, indicando alte-
to dos dados coletados, conduzindo a tomada de decisão sobre os rações relacionadas ao estado nutricional, hidratação, integridade
diagnósticos de enfermagem que mais irão representar as ações e cutâneo-mucosa, oxigenação, postura
intervenções com as quais se objetiva alcançar os resultados espe- Ordem cronológica – seqüência em que os fatos acontecem,
rados. Para isso, utilizam-se bibliografias específicas que possuem a correlacionados com o tempo, sono e repouso, eliminações, padrão
taxonomia adequada, definições e causas prováveis dos problemas da fala, movimentação; existência e condições de sondas, drenos,
levantados no histórico de enfermagem. Com isso, se faz a elabora- curativos, imobilizações, cateteres, equipamentos em uso;
ção de um plano assistencial adequado e único para cada pessoa. A ação de medicamentos e tratamentos específicos, para veri-
Tudo que for definido deve ser registrado no Prontuário Eletrônico ficação da resposta orgânica manifesta após a aplicação de determi-
do Paciente (PEP), revisitado e atualizado sempre que necessário. nado medicamento ou tratamento, tais como, por exemplo: alergia
após a administração de medicamentos, diminuição da temperatu-
3. Planejamento de Enfermagem ra corporal após banho morno, melhora da dispnéia após a instala-
De acordo com a Sistematização da Assistência de Enferma- ção de cateter de oxigênio;
gem (SAE), que organiza o trabalho profissional quanto ao método,
pessoal e instrumentos, a ideia é que os enfermeiros possam atuar
para prevenir, controlar ou resolver os problemas de saúde.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A realização das prescrições médicas e de enfermagem, o que Fatores Patológicos:


permite avaliar a atuação da equipe e o efeito, na evolução do pa- Febre - doenças agudas (aceleram)
ciente, da terapêutica medicamentosa e não-medicamentosa. Caso Choque - colapso (diminuem)
o tratamento não seja realizado, é necessário explicitar o motivo,
por exemplo, se o paciente recusa a inalação prescrita, deve-se re- Regularidade:
gistrar esse fato e o motivo da negação. Rítmico - bate com regularidade
Procedimentos rotineiros também devem ser registrados, Arrítmico - bate sem regularidade
como a instalação de solução venosa, curativos realizados, colheita O intervalo de tempo entre os batimentos em condições nor-
de material para exames, encaminhamentos e realização de exames mais é igual e o ritmo nestas condições é denominado normal ou
externos, bem como outras ocorrências atípicas na rotina do pa- sinusal. O pulso irregular é chamado arrítmico.
ciente; n A assistência de enfermagem prestada e as intercorrências
observadas. Incluem-se neste item, entre outros, os dados referen- Tipos de Pulso:
tes aos cuidados higiênicos, administração de dietas, mudanças de Bradisfigmico – lento
decúbito, restrição ao leito, aspiração de sondas e orientações pres- Taquisfígmico – acelerado
tadas ao paciente e familiares; Dicrótico - dá a impressão de dois batimentos
As ações terapêuticas aplicadas pelos demais profissionais da
equipe multiprofissional, quando identificada a necessidade de o Volume: cheio ou filiforme.
paciente ser atendido por outro componente da equipe de saúde.
Nessa circunstância, o profissional é notificado e, após efetivar sua Observação: o volume de cada batimento cardíaco é igual em
visita, a enfermagem faz o registro correspondente. condições normais. Quando se exerce uma pressão moderada so-
Para o registro das informações no prontuário, a enfermagem bre a artéria e há certa dificuldade de obliterar a artéria, o pulso
geralmente utiliza um roteiro básico que facilita sua elaboração. Por é denominado de cheio. Porém se o volume é pequeno e a artéria
ser um importante instrumento de comunicação para a equipe, as fácil de ser obliterada tem-se o pulso fino ou filiforme.
informações devem ser objetivas e precisas de modo a não darem
margem a interpretações errôneas. Tensão ou compressibilidade das artérias
Considerando-se sua legalidade, faz-se necessário ressaltar Macio – fraco
que servem de proteção tanto para o paciente como para os profis- Duro – forte
sionais de saúde, a instituição e, mesmo, a sociedade.
Terminologia:
Sinais Vitais - Nomocardia: frequência normal
- Bradicardia: frequência abaixo do normal
Pulso - Bradisfigmia: pulso fino e bradicárdico
- Taquicardia: frequência acima do normal
São sinais de vida: Normalmente, a temperatura, pulso e respi- - Taquisfigmia: pulso fino e taquicárdico
ração permanecem mais ou menos constantes. São chamados “Si-
nais Vitais”, porque suas variações podem indicar enfermidade. De- Material para verificação do pulso:
vido à importância dos mesmos a enfermagem deve ser bem exata - Relógio com ponteiro de segundos.
na sua verificação e anotação.
Procedimento:
Pulso: É o nome que se dá à dilatação pequena e sensível das - Lavar as mãos;
artérias, produzida pela corrente circulatória. Toda vez que o san- - Explicar o procedimento ao paciente;
gue é lançado do ventrículo esquerdo para a aorta, a pressão e o - Colocá-lo em posição confortável, de preferência deitado ou
volume provocam oscilações ritmadas em toda a extensão da pa- sentado com o braço apoiado e a palma da mão voltada pra baixo.
rede arterial, evidenciadas quando se comprime moderadamente a - Colocar as polpas dos três dedos médios sobre o local escolhi-
artéria contra uma estrutura dura. do pra a verificação;
Locais onde pode ser verificado: Normalmente, faz-se a veri- - Pressionar suavemente até localizar os batimentos;
ficação do pulso sobre a artéria radial. Quando o pulso radial se - Procurar sentir bem o pulso, pressionar suavemente a artéria
apresenta muito filiforme, artérias mais calibrosas como a carótida e iniciar a contagem dos batimentos;
e femoral poderão facilitar o controle. Outras artérias, como a bra- - Contar as pulsações durante um minuto (avaliar frequência,
quial, poplítea e a do dorso do pé (artéria pediosa) podem também tensão, volume e ritmo);
ser utilizadas para a verificação. - Lavar as mãos;
- Registrar, anotar as anormalidades e assinar.
Frequência Fisiológica:
Homem 60 a 70 Pulso apical: Verifica-se o pulso apical no ápice do coração à
Mulher 65 a 80 altura do quinto espaço intercostal.
Crianças 120 a 125
Lactentes 125 a 130 Observações importantes:
Observação: Existem fatores que alteram a frequência normal - Evitar verificar o pulso em membros afetados de paciente com
do pulso: lesões neurológicas ou vasculares;
- Não verificar o pulso em membro com fístula arteriovenosa;
Fatores Fisiológicos: - Nunca usar o dedo polegar na verificação, pois pode confun-
Emoções - digestão - banho frio - exercícios físicos (aceleram) dir a sua pulsação com a do paciente;
Certas drogas como a digitalina (diminuem) - Nunca verificar o pulso com as mãos frias;
- Em caso de dúvida, repetir a contagem;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Não fazer pressão forte sobre a artéria, pois isso pode impedir Respiração
de sentir o batimento do pulso.
Por meio da respiração é que se efetua a troca de gases dos
Temperatura alvéolos, transformando o sangue venoso rico em dióxido de carbo-
no e o sangue arterial rico em oxigênio. O tronco cerebral é a sede
A temperatura corporal é proveniente do calor produzido pela do controle da respiração automática, porém recebe influencias
atividade metabólica. Vários processos físicos e químicos promo- do córtex cerebral, possibilitando também, em parte, um controle
vem a produção ou perda de calor, mantendo o nosso organismo voluntário. Certos fatores, como exercícios físicos, emoções, choro,
com temperatura mais ou menos constante, independente das va- variações climáticas, drogas podem provocar alterações respirató-
riações do meio externo. O equilíbrio entre a produção e a perda rias.
de calor é controlado pelo hipotálamo: quando há necessidade de
perda de calor, impulsos nervosos provocam vasodilatação perifé- Valores Normais
rica com aumento do fluxo sanguíneo na superfície corporal e esti- Recém nascido: 30 a 40 por minuto
mulação das glândulas sudoriporas, promovendo a saída de calor. Adulto: 14 a 20 por minuto
Quando há necessidade de retenção de calor, estímulos nervosos
provocam vaso constrição periférica com diminuição do sangue cir- Terminologia
culante local e, portanto, menor quantidade de calor é transporta- - bradpneia: frequência respiratória abaixo do normal;
da e perdida na superfície corpórea. - taquipneia: frequência respiratória acima do normal;
- dispneia: dificuldade respiratória;
Alterações Fisiológicas da Temperatura - ortopneia: respiração facilitada em posição vertical;
- apneia: parada respiratória;
Fatores que reduzem ou aumentam a taxa metabólica levam
- respiração de Cheyne Stokes: caracteriza-se por aumento gra-
respectivamente a uma diminuição ou aumento da temperatura
dual na profundidade, seguido por decréscimo gradual na profundi-
corporal:
dade das respirações e, após, segue-se um período de apneia.
- sono e repouso
- idade - respiração estertorosa: respiração ruidosa.
- exercícios físicos
- emoções Pressão Arterial
- fator hormonal
- em jovens, observam-se níveis aumentados de hormônios. A pressão arterial reflete a tensão que o sangue exerce nas
- desnutrição paredes das artérias. A medida da pressão arterial compreende a
- banhos a temperaturas muito quentes ou frias podem provo- verificação da pressão máxima ou sistólica e a pressão mínima ou
car alterações transitórias da temperatura diastólica.
- agasalhos A pressão sistólica é a maior força exercida pelo batimento car-
- fator alimentar díaco; e a diastólica, a menor.

Temperatura Corporal Normal: Em média, considera-se a tem- A Pressão Arterial depende de:
peratura oral como a normal 37ºC, sendo a temperatura axilar - Débito cardíaco: representa a quantidade de sangue ejetado
0,6ºC mais baixa e a temperatura retal 0,6ºC mais alta. do ventrículo esquerdo para o leito vascular em um minuto.
- Resistência vascular periférica: determinada pelo lúmen (cali-
Terminologia: bre), pela elasticidade dos vasos e pela viscosidade sanguínea.
Hipotermia: temperatura abaixo do valor normal. Caracteriza- - Viscosidade do sangue: decorre das proteínas e elementos
-se por pele e extremidades frias, cianoses e tremores; figurados do sangue.
A pressão sanguínea varia ao longo do ciclo vital, assim como
ocorre com a respiração, temperatura e pulso.
Hipertermia: aumento da temperatura corporal. É uma condi-
ção em que se verifica: pele quente e seca, sede, secura na boca, Valores Normais
calafrios, dores musculares generalizadas, sensação de fraqueza, Em indivíduo adulto, são considerados normais os seguintes
taquicardia, taquipneia, cefaleia, delírios e até convulsões. parâmetros:
Avaliação da Temperatura Corporal: O termômetro deve ser
- pressão sistólica: de 90 a 140 mmhg
colocado em local onde existam rede vascular intensa ou grandes
- pressão diastólica: de 60 a 90 mmhg
vasos sanguíneos, e mantido por tempo suficiente para a correta
Terminologia
leitura da temperatura. Os locais habitualmente utilizados para a
- hipertensão arterial: significa pressão arterial elevada;
verificação são: cavidade oral, retal e a região axilar.
Tempo de Manutenção do Termômetro no Paciente - hipotensão arterial: pressão arterial abaixo do normal
- oral: 3 minutos
- axilar: 03 a 05 minutos Locais para verificação da Pressão Arterial
- retal: 3 minutos - nos membros superiores, através da artéria braquial;
- nos membros inferiores, através da artéria poplítea.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Mensuração da Altura e do Peso Algor mortis (frigor mortis, frio da morte): é o resfriamento
do corpo em função da parada dos processos metabólicos e perda
A altura e o peso normalmente são verificados quando existe progressiva das fontes energéticas.
solicitação médica, não sendo incluídos como medidas de rotina na Livor Mortis (livores ou manchas cadavéricas): é o apareci-
maioria das unidades de internação. A verificação da altura e do mento de manchas inicialmente rosadas ou violetas pálidas, tor-
peso é muito importante, em pediatria, endocrinologia, nefrologia. nando-se progressivamente arroxeadas.
Em certas condições patológicas, como no edema, o controle de Putrefação: Estado de grande proliferação bacteriana (putrefa-
peso é fundamental para subsidiar a conduta terapêutica. ção). Há liberação de enzimas proteolíticas produzidas pelas bacté-
rias. Os órgãos irão apresentar como uma massa semissólida, odor
Terminologia muito forte e mudanças de coloração.
Redução esquelética: nela há a completa destruição da pele e
Obesidade: aumento de tecido adiposo devido ao excessivo ar- musculatura, ficando somente ossos.
mazenamento de gordura;
- caquexia: estado de extrema magreza, desnutrição. Assistência de enfermagem a pacientes graves e agonizantes:
Observações A assistência de enfermagem são as mesmas medidas do paciente
- pesar, de preferência sempre no mesmo horário; em estado de coma.
- pesar com mínimo de roupa;
- pesar, se possível, antes do desjejum.
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM PERIOPERATÓRIA
Sinais Iminentes de Falecimentos:
- Sistema Circulatório: hipotensão, extremidades frias, pulso ir- Assistência de Enfermagem perioperatória
regular, pele fria e úmida, hipotermia, cianose, sudorese, sudorese
abundante; O termo Peri operatório é empregado para descrever todo o
- Sistema Respiratório: dificuldade para respirar, a respiração período da cirurgia, incluindo antes e após a cirurgia em si. As três
torna-se ruidosa (estertor da morte), causada pelo acúmulo de se- fases dos cuidados Peri operatórios são: Pré-operatório, Transope-
creção; ratório e Pós-operatório.
- Sistema Digestório: diminuição das atividades fisiológicas e Pré-Operatório: esse período tem início desde o momento em
do reflexo de deglutição para o perigo de regurgitação e aspiração, que o paciente recebe a indicação da operação e se estende até
incontinência fecal e constipação. a sua entrada no centro cirúrgico. Esse período se divide em duas
- Sistema Locomotor: ausência total da coordenação dos mo- fases: pré-operatório mediato e pré-operatório imediato.
vimentos; Pré-operatório Mediato: começa no momento da indicação da
- Sistema Urinário: retenção ou incontinência urinária; operação e termina 24 horas antes do seu início. Geralmente, nesse
- Sistema Neurológico: diminuição dos reflexos até o desapare- período o paciente ainda não se encontra internado.
cimento total, sendo que a audição é o último a desaparecer. Neste período mediato, sempre que possível, o cirurgião faz
- Face: pálida ou cianótica, olhos e olhar fixo, presença de lágri- uma avaliação do estado geral do paciente através de exame clínico
ma, que significa perda do tônus muscular. detalhado e dos resultados de exames de sangue, urina, raios X,
eletrocardiograma, entre outros. Essa avaliação tem o objetivo de
Sinais Evidentes: identificar e corrigir distúrbios que possam aumentar o risco cirúr-
Talvez seja mais sensato caracterizar a morte pelo somatório de gico.
uma série de fenômenos: Tratando-se de cirurgias eletivas, onde há previsão de trans-
- Perda da consciência; fusão sanguínea, muitas vezes é solicitado ao paciente para provi-
- Ausência total de movimentos; denciar doadores saudáveis e compatíveis com seu tipo sanguíneo.
- Parada Cardíaca e respiratória sem possibilidades de ressus- Com essa medida pretende-se melhorar a qualidade do sangue dis-
citação; ponível e aumentar a quantidade de estoque existente nos hemo-
- Perda da ação reflexiva a estímulos; centros, evitando sua comercialização.
- Parada das funções cerebrais; Os cuidados de enfermagem aqui neste período compreendem
- Pupilas dilatadas (midríase) não reagindo à presença da luz. os preparos psicoespiritual e o preparo físico.
Consentimento cirúrgico: Antes da cirurgia, o paciente deve
Como esses fatos podem ocorrer isoladamente é fundamental assinar um formulário de consentimento cirúrgico ou permissão
a coincidência deles para se confirmar à morte. Como após a morte, para realização da cirurgia. Quando assinado, esse formulário indica
alguns tecidos podem manter a vitalidade e mesmo servirem para que o paciente permite a realização do procedimento e compreen-
transplantes, exige-se hoje, como prova clínica definitiva da morte, de seus riscos e benefícios, explicados pelo cirurgião. Se o paciente
a parada definitiva das funções cerebrais, documentada clinicamen- não compreender as explicações, o enfermeiro notifica ao cirurgião
te e por eletroencefalograma. antes que o paciente assine o formulário de consentimento.
Os pacientes devem assinar um formulário de consentimento
A tanatologia é o ramo da patologia que estuda a morte. para qualquer procedimento invasivo que exija anestesia e compor-
Morte Aparente: O termo morte aparente é a denominação te risco de complicações.
aplicada ao corpo, o qual parece morto, mas tem condições de ser Quando um paciente adulto está confuso, inconsciente ou não
reanimado. é mentalmente competente, um familiar ou um tutor deve assinar
Alterações cadavéricas: São alterações que ocorrem após a o formulário de consentimento. Quando o paciente tem menos de
constatação da sua morte clínica. Após a morte existe uma série 18 anos de idade, um dos pais ou um tutor legal deve assinar o
de alterações sequenciais previstas que podem ser modificadas nas formulário.
dependências das condições fisiológicas pré-morte, das condições
ambientais e do tipo morte, se intencional, natural ou acidental.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Pessoas com menos de 18 anos de idade, que vivem longe de - Providenciar e/ou preparar o paciente para exames labora-
casa e sustentam-se por conta própria, são considerados menores toriais e outros exames auxiliares no diagnóstico; − Iniciar o jejum
emancipados e assinam o formulário de consentimento. Numa após o jantar ou ceia;
emergência, o cirurgião pode ter que operar sem consentimento. - Verificar sinais vitais, notificar ao médico responsável se ocorre-
No entanto, a equipe de saúde deve se esforçar ao máximo para ram sinais ou sintomas de anormalidade ou alteração dos sinais vitais;
obter o consentimento por telefone, telegrama ou fax. Todo enfer- - Encaminhar ao banho para promover higiene, trocar de rou-
meiro deve estar familiarizado com as normas da instituição e com pa, cortar as unhas e mantê-las limpas e fazer a barba;
as leis estatais relacionadas aos formulários de consentimento ci- − Administrar medicação pré-anestésica, se prescrita; − Reali-
rúrgico. zar a tricotomia do membro a ser operado, lavar com água e sabão,
Os pacientes devem assinar o formulário de consentimento an- passar anti-séptico local e enfaixar (se necessário) com bandagens
tes que lhes seja administrado qualquer sedativo pré-operatório. estéreis;
Quando o paciente ou a pessoa designada tiver assinado a permis- - Remover próteses, jóias, lentes de contato ou óculos, prende-
são, uma testemunha adulta também assina para confirmar que o dores de cabelo e roupas íntimas;
paciente ou o indivíduo designado assinou voluntariamente. Em - Promover esvaziamento vesical, colocar roupa cirúrgica apro-
geral, a testemunha é um membro da equipe de saúde ou um em-
priada (camisola, toucas),transportá-lo na maca até o centro cirúrgi-
pregado do setor de admissão. É responsabilidade do enfermeiro
co com prontuário e exames realizados (inclusive Raios-X).
assegurar que todas as assinaturas necessárias figurem no formu-
lário de consentimento, e que este se encontre no prontuário do
Assistência pré-cirúrgica específica de mão, membro superior
paciente antes que ele seja encaminhado ao centro cirúrgico (CC).
e pé:
Assistência de enfermagem em centro cirúrgico e centro de − Exame físico minucioso, atentando para a qualidade e integri-
material esterilizado dade da pele (deverá estar hidratada e lubrificada);
− Observar sinais de infecção, inflamação, alergias ou reações
Os cuidados de enfermagem ao paciente cirúrgico variam de hansênicas;
acordo com o tipo de cirurgia e de paciente para paciente, aten- − Se houver lesões abertas, promover limpeza com solução fi-
dendo suas necessidades básicas e suas reações psíquicas e físicas siológica ou água e sabão e ocluir com gaze e atadura de crepe.
manifestadas durante este período. Neste capítulo iremos abordar − Observar perfusão periférica do membro a ser operado;
os cuidados gerais indispensáveis a todos os tipos de cirurgia e os - No caso de cirurgia com enxerto, a pele da região doadora
cuidados específicos voltados para cirurgias de mão e membro su- deverá estar hidratada e lubrificada. Este procedimento inicia-se
perior e de pé e membro inferior. alguns dias antes, sendo que, horas antes da cirurgia, realizar a
A assistência pré-operatória tem como objetivo proporcionar tricotomia e limpeza da pele. Durante o período trans-cirúrgico, o
uma recuperação pós-operatória mais rápida, reduzir complica- quarto do paciente deverá estar pronto para recebê-lo, equipado
ções, diminuir o custo hospitalar e o período de hospitalização que com materiais suficientes como: suporte de soro e bomba de infu-
se inicia na admissão e termina momentos antes da cirurgia, devol- são, travesseiros para elevação do membro operado, cobertores,
vendo o paciente o mais rápido possível ao meio familiar. comadre ou papagaio, esfigmo e manômetro, termômetro, e de-
mais equipamentos necessários.
1- Assistência de enfermagem pré-cirúrgica geral: abrange o
preparo sócio-psíquico-espiritual e o preparo físico. 2 - Assistência pós-cirúrgica geral:
Inicia-se no momento em que o paciente sai do centro cirúrgico
Preparo sócio-psíquico-espiritual: e retorna à enfermaria. Esta assistência tem como objetivo detectar
− Providenciar a assinatura do termo de responsabilidade, au- e prevenir a instalação de complicações pós-operatória e conse-
torizando o hospital a realizar o procedimento quentemente obter urna rápida recuperação
− Explicar aos familiares sobre a cirurgia proposta, como o pa- . A assistência pós-cirúrgica consiste em:
ciente retornará da sala operatória e a importância em apoiá-lo
− Transferir o paciente da maca para a cama, posicioná-lo de
nesse período;
acordo com o tipo de cirurgia a que foi submetido e com o membro
− Explicar ao paciente sobre a cirurgia, o tipo de anestesia, e os
operado elevado;
exames que porventura forem necessários, salientar a importância
− Aquecê-lo, se necessário;
de sua colaboração durante os procedimentos;
− Tranqüilizá-lo em caso de ansiedade, medo do desconhecido − Manter a função respiratória;
e de destruição da auto-imagem, ouvir atentamente seu discurso, − Observar nível de consciência, estado geral, quadro de agita-
dar importância às queixas e seus relatos; ção e outros comprometimentos neurológicos;
- Explicar as condições que irá retornar do centro cirúrgico (se − Verificar anormalidades no curativo, como: secreção e pre-
acordado, com ou sem gesso, etc.) e assegurar que terá sempre um sença de sangramento;
profissional da enfermagem para atendê-lo; − Observar o funcionamento de sondas, drenos, cateteres e co-
- Promover o entrosamento do paciente com o ambiente hos- nectá-los às extensões;
pitalar, esclarecer sobre normas e rotinas do local, e proporcionar − Controlar e anotar sinais vitais, bem como gotejamento de
um ambiente calmo e tranqüilo e soro, sangue ou derivados; - Verificar anotações do centro cirúrgico)
- Providenciar ou dar assistência religiosa, caso seja solicitada. e executar a prescrição médica;
− Promover conforto e segurança através de meio ambiente
Preparo físico: adequado, uso de grades na cansa, imobilização de mãos (se agi-
− Realizar a consulta de enfermagem, atentando para as con- tado);
dições que podem atuar negativamente na cirurgia e reforçando as − Observar funcionamento e controlar, quando necessário, os
positivas; líquidos eliminados por sondas, drenos, etc; - Realizar mudança de
decúbito de acordo com a evolução clínica;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

− Forçar ingesta líquida e sólida assim que a dieta for liberada; Assistência Pós-cirúrgica especifica em amputação de membro
− Promover movimentação ativa, passiva e deambulação precoces inferior:
se forem permitidas e houver condições físicas; - Promover o alívio da dor se houver;
- Trocar curativos; − Os amputados experimentam com freqüência dor fantasma
- Orientar paciente e a família para a alta, quanto à importância ou sensação fantasma. Tais sensações são reais e devem ser aceitas
do retomo médico para controle e cuidados a serem dispensados pelo paciente e pelas pessoas que lhe prestam assistência.
no domicílio como gesso, repouso, limpeza adequada; − Apesar da amputação ser uni procedimento de reconstrução,
- Proporcionar recreação, por exemplo, revistas e TV a mesma altera a imagem corporal do paciente. O enfermeiro deve-
rá estabelecer uma relação de confiança, com a qual encorajará o
Assistência Pós-cirúrgica específica para o membro superior: paciente a olhar, sentir e a cuidar do membro residual, tornando-o
- Posicionar o membro operado em elevação, entre 60 e 90 apto e participante ativo no autocuidado;
graus, apoiados em travesseiros, quando estiver em decúbito hori- − Observar sinais de secreções hemáticas em incisão cirúrgicas,
zontal e, ao deambular, mantê-lo corar tipóia e mão elevada acima coloração, temperatura e aspecto da cicatrização;
do tórax; − Evitar o edema enfaixando-o sem compressão exagerada e
− Observar edema, palidez, cianose ou alteração da temperatu- não deixar o membro residual pendurado. A pressão excessiva so-
ra em extremidades das mãos; bre o membro residual deve ser evitada, pois pode comprometer a
− Realizar limpeza dos artelhos, secando bem os espaços inter- cicatrização da incisão cirúrgica;
digitais − O membro residual não deverá ser apoiado sobre o traves-
- Realizar curativos a cada dois dias em incisão cirúrgica: lim- seiro, o que pode resultarem contratura e flexão do quadril. Uma
peza com solução fisiológica a 0,9%, aplicação tópica de rifocina contratura da próxima articulação acima da amputação constitui
spray e oclusão com gaze e atadura. No caso de cirurgia de enxerto complicação freqüente. De acordo com a preferência do cirurgião, o
cutâneo, a frequência da troca do curativo da área doadora será es- membro residual poderá ser posicionado em extensão ou elevação
tabelecida conforme a necessidade, isto é, quando houver extrava- por curto período de tempo após a cirurgia. Deve-se desestimular a
samento de secreção, que varia em torno de dois a cinco dias. O da posição sentada por períodos prolongados para evitar as contratu-
área receptora será realizado pelo médico responsável, geralmente ras em flexão de quadril e de joelho;
após cinco dias, conforme seu critério, utilizando-se algum produto − Estimular e ajudar nos exercícios precoces de amplitude. O
não aderente; paciente pode utilizar um trapézio acima da cabeça ou um lençol
− Estando com tala gessada ou somente enfaixado, retirar a tala amarrado na cabeceira do leito para ajudar a mudá-lo de posição
ou faixa para curativos, tomando o cuidado de manter o mesmo e fortalecer o bíceps. Solicitar orientação ao serviço de fisioterapia
alinhamento do membro superior e mão durante o procedimento e sobre a adequação dos exercícios ao paciente.
recolocar a tala ou a bandagem, obedecendo-se a ordem de início
da região distal para a proximal;
− Movimentar passivamente e delicadamente as articulações ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A PACIENTES COM
não gessadas; ALTERAÇÕES DE FUNÇÕES.CARDIOVASCULAR E CIRCU-
− Caso esteja com aparelho gessado, mantê-lo limpo; não mo- LATÓRIA. DIGESTIVA E GASTROINTESTINAL. METABÓ-
lhá-lo (durante o banho, protegê-lo coin material plástico, um sani- LICA E ENDÓCRINA. RENAL E DO TRATO URINÁRIO. 6.5
to, por exemplo, e orientá-lo a não deixar entrar água pelo bordo REPRODUTIVA. TEGUMENTAR. NEUROLÓGICA. MUS-
superior); observar sinais de garroteamento como edema e palidez CULOESQUELÉTICA
ou gesso apertado; ausência ou diminuição da sensibilidade ou mo-
tricidade, sinais de hemorragia como presença de sangramento no
aparelho gessado e odor desagradável; Pacientes com Problemas Neurológicos
− Orientar o paciente a não introduzir objetos em caso de pru-
rido e não retirar algodão do gesso As doenças neurológicas podem ter diferentes origens: here-
ditária/genética ou congênita, ou seja, dependente de um distúr-
Assistência Pós-cirúrgica específica para os membros inferiores: bio do desenvolvimento embrionário ou fetal do sistema Nervoso
− Realizar cuidados acima citados Central ou Periférico; adquirida ao longo dos diferentes períodos da
− Manter repouso absoluto do membro inferior e posiciona- vida, desde a fase neonatal até à velhice.
mento elevado, geralmente acima do nível do corpo. Ao encami- Segundo O’Sullivan e Schmitz, (2004 apud ANDRADE et al.,
nhá-lo ao banho ou para deambulação, andar com apoio ou cadei- 2010, p. 156), o “paciente com sequelas neurológicas apresenta
ras adequadas; uma série de alterações orgânicas e psíquicas em decorrência da
− Se o membro estiver gessado e com salto, aguardar a seca- não aceitação da doença e, consequente, não aceitação do seu cor-
gem adequada e a liberação para a deambulação, conforme orien- po, visualizado como representante desta condição”.
tação médica, alternando a deambulação e o repouso com elevação Os distúrbios neurológicos comumente causam lesões tempo-
do membro inferior gessado. Caso o aparelho gessado não conte- rárias ou permanentes que prejudicam o individuo em suas funções
nha salto, isso é indicativo de que a deambulação é proibida; tornando-o um dependente parcial ou total de outras pessoas. Eles
− Não fletir o membro durante a secagem do gesso; podem limitar de modo significativo o desempenho funcional do
− Proceder a retirada de pontos cirúrgicos entre sete a dez dias indivíduo, com consequências negativas nas relações pessoais, fa-
ou depois da retirada do aparelho gessado. miliares, sociais e, sobretudo na qualidade de vida.
Para Oliveira (2004 apud RESENDE et al., 2007 p. 165), as inca-
pacidades funcionais podem “desestruturar as bases do indivíduo,
interferir no desempenho de regras e papéis sociais, na indepen-
dência e habilidade para realizar tarefas essenciais à sua vida, na ca-
pacidade afetiva e capacidade de realizar atividades profissionais”.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Leva-se em consideração que a neurocirurgia também é um As intervenções de Enfermagem para tratar a PIC elevada in-
dos fatores que colaboram para o agravamento dessas incapacida- cluem a manutenção do alinhamento corporal, evitar mudar a posi-
des. Fitzsimmon et al. (2007, p. 809) afirmam que “durante o curso ção lateral da cabeça de forma brusca e a flexão ostensiva do qua-
da doença, muitos pacientes com afecções neurológicas exigem tra- dril, para evitar o aumento da pressão intra-abdominal. A rotação
tamento em ambiente de cuidados críticos”. Estes procedimentos lateral da cabeça também pode causar compressão da veia jugular
neurocirúrgicos envolvem uma internação de duração curta na Uni- diminuindo ou cessando a drenagem do sangue venoso.
dade de terapia Intensiva (UTI). O enfermeiro ao cuidar do paciente neurológico deve estar
A cirurgia neurológica é indicada para diversos distúrbios neu- sempre atento, pois o seu quadro pode alterar rapidamente e ele
rológicos. Ela é parte integrante do tratamento de pacientes neuro- deve saber lidar com as intercorrências, não pode estar só atento
lógicos, dentre eles: tumores cerebrais, malformações arterioveno- ao monitor. O enfermeiro deve ter o cuidado com a elevação da
sas e aneurismas. cabeceira do paciente, com o período de troca dos cateteres, com as
Para uma assistência de qualidade na Unidade de Terapia In- anotações dos parâmetros registrados (PAM, PIC, Relação P / F, entre
tensiva, o enfermeiro se faz necessário, já que segundo o Conselho outros) pelos equipamentos, assim como os horários e aprazamentos
Federal de Enfermagem (COFEN, 2004), existe a “obrigatoriedade dos medicamentos administrados ao paciente, sem esquecer-se das
de haver Enfermeiros em todas as unidades de serviços nos quais coletas de sangue para gasometria e principalmente oferecer uma as-
são desenvolvidas ações de Enfermagem que envolvam procedi- sistência humanizada, sem medos e receios de complicações, mas com
mentos de alta complexidade, comuns na assistência a pacientes confiança e conhecimento para enfrenta-las.
críticos/potencialmente críticos”. Os pacientes com lesões neurológicas podem apresentar os
O enfermeiro que possui conhecimento técnico-científico distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico por diversos motivos,
possui autonomia para lidar com o paciente neurológico e através como administração de diuréticos osmóticos, aumento da perda hí-
desta pode tomar decisões, realizar intervenções e diagnósticos de drica insensível e disfunção pituitária, gerando distúrbios de sódio.
enfermagem. Ele se vê diante de situações que requerem o mínimo A enfermeira de cuidados críticos deve levar em consideração todas
de raciocínio clínico para solucionar problemáticas. Por assim dizer, as variáveis quando examina o paciente. Ela deve observar e avaliar
o enfermeiro necessita sempre buscar aprofundar e ampliar, seus constante os níveis de oxigenação para que o paciente aumente os
conhecimentos na sua área de atuação, sem esquecer o enfoque níveis de oxigenação sanguínea e cerebral, a perfusão para perce-
interdisciplinar e/ou multidimensional. ber se há isquemia miocárdica, a PIC, a PAM e a PPC para prevenir
Fitzsimmon et al., (2007, p. 798) dizem que “como parte da lesões cerebrais, monitorar os níveis de eletrólitos séricos e regis-
equipe multidisciplinar, a enfermeira desempenha um papel central trar rigorosamente a ingesta e o débito do paciente com intuito de
no cuidado ao paciente durante a doença. Ela participa no diagnós- mantê-los dentro do nível de estabilidade pré-estabelicido (ZINK,
tico, tratamento e cuidado de acompanhamento do paciente”. 2007, p. 865).
A prevenção do aumento da PIC, ou hipertensão intracrania-
Pacientes com Problemas Respiratórios
na, é uma função de primordial importância para a enfermagem ao
cuidar de um paciente com lesão neurológica. Em primeiro lugar, é
Seja qual for a patologia que leve o paciente à Unidade de Te-
essencial que a enfermeira realize uma avaliação neurológica basal
rapia Intensiva, ele estará sujeito à insuficiência no sistema respi-
no paciente, sobre a qual possa ser analisado se houver uma pio-
ratório. Isto se comprova pelo alto índice, nas Unidades de Terapia
ra adicional. Em termos gerais, o aumento da PIC manifesta-se por
Intensiva, de pacientes com insuficiência respiratória como causa
comprometimento geral de todos os aspectos da função neurológi-
primária da internação, ou secundária em pacientes já internados
ca (HILTON, 2007, p. 775). devido a outras afecções.
O nível de consciência diminui à medida que a PIC se eleva. Insuficiência Respiratória existe quando um paciente não é
Inicialmente, o paciente pode evidenciar inquietação, confusão e capaz de manter as tensões de seus gases sanguíneos dentro dos
combatividade. Isso descompensa, então, os níveis inferiores de limites normais.
consciência, variando da letargia até a obnubilação e ao coma. As O tipo de insuficiência respiratória encontrada em UTI tem
reações pupilares começam a diminuir, com pupilas lentamente evolução relativamente rápida, ao contrário da deterioração gradu-
reativas até chegarem a pupilas fixas e dilatadas. O exame pupilar al das doenças respiratórias crônicas. Ela resulta da incapacidade
deve ser realizado e deve incluir o tamanho e simetria (comparação progressiva do sistema respiratório remover dióxido de carbono do
do lado Direito e Esquerdo), fotorreação e simetria. A agitação, as sangue venoso e de adicionar oxigênio a ele, por um período que
contraturas musculares, os tremores e relacionar a presença de ce- varia desde alguns momentos até alguns dias.
faleia com variações de PA. Alguns fatores podem ser considerados como predisponentes à
A função motora também declina e o paciente começará a insuficiência respiratória: obesidade, idade avançada e exacerbação
mostrar atividade motora anormal, presença de flexão ou exten- da doença pulmonar crônica (enfisema, bronquite crônica). Estas
são anormal. Os achados tardios são alterações nos sinais vitais. As causas primárias são agravadas pelo uso de drogas anestésicas, por
variações nos padrões respiratórios são evidenciadas, mais tarde lesão da caixa torácica ou distensão abdominal, levando a altera-
como apneia total. A tríade de Cushing “descreve os três sinais tar- ções ventilatórias. Além disso, a dor e a imobilização contribuem
dios da herniação: aumento da Pressão Arterial Sistólica, redução muito para a instalação do processo de atelectasia.
da frequência cardíaca e um padrão respiratório irregular. O alar- A Abordagem de vias aéreas pela Cânula orofaríngea É um mé-
gamento da pressão de pulso também está associado à herniação” todo rápido e prático de se manter a via aérea aberta, podendo ser
(ZINK, 2007, p. 856). utilizado temporariamente em conjunto com ventilação com más-
cara, enquanto se aguarda um método definitivo, como por exem-
Outro item a ser avaliado é a presença de convulsões, pois es- plo a intubação endotraqueal.
tas indicam inicio das alterações agudas no SNC. Elas devem ser ob-
servadas e acompanhadas quanto à hora de início e término, onde
começaram os movimentos ou rigidez, tipo de movimento da parte
comprometida.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A cânula de Guedel tem forma semicircular, geralmente é de além de treinamentos para que o paciente aprenda a cuidar de si
material plástico e descartável e, quando apropriadamente colo- mesmo em sua residência. O paciente e seus familiares precisam
cada, desloca a língua da parede posterior da faringe, mantendo de suporte, de apoio para a prevenção ou administração eficaz dos
a via respiratória aberta. Pode também ser utilizada no paciente eventos crônicos4
com tubo traqueal, evitando que o reflexo de morder cause dano Diante do exposto, optou-se por investigar como os enfermei-
ao tubo. ros conduzem a prática de cuidar ao portador de doença crônica
O paciente nunca deve ser deixado sozinho e deve estar loca- cardíaca, a partir da composição de seu método de cuidar. Para
lizado de forma a ser visualizado continuamente, pois alterações atender esse questionamento, os objetivos da pesquisa foram:
súbitas podem ocorrer, levando à necessidade de ser reavaliada a identificar os elementos do processo de cuidar realizado pelo en-
modalidade respiratória à qual o mesmo está sendo submetido. fermeiro ao portador de doença crônica cardíaca e descrever os
O paciente entubado perde suas barreiras naturais de defesa elementos evidenciados no processo de cuidar em enfermagem ao
das vias aéreas superiores. Além disso, a equipe de saúde, através portador de doença crônica cardíaca.
das suas mãos e do equipamento respiratório, constitui a maior fon-
te de contaminação exógena. Pacientes com Problemas Digestórios

Pacientes com Problemas Cardiovasculares O trato gastrointestinal é o trajeto (7,5 a 8,5 m de comprimento
total) que se estende da boca através do esôfago, estômago, intes-
O cuidado faz parte da vida do ser humano desde os primór- tino e ânus.
dios da humanidade, como resposta ao atendimento às suas ne- • Anexos: glândulas salivares (amilase), pâncreas (suco pancre-
cessidades. Para realizar o cuidado, o enfermeiro, como membro ático) e fígado (bile);
integrante da equipe multidisciplinar, utiliza um conjunto de conhe- • Esôfago 25 cm de comprimento;
cimentos que possibilita a busca de resolutividade às respostas dos • Estômago capacidade aproximadamente 1.500 ml (cárdia,
fenômenos de saúde, definidos pelo Internacional Council of Nur- fundo, corpo, piloro) - esfíncter esofagiano inferior ou esfíncter car-
ses1 como aspectos de saúde relevantes à prática de Enfermagem. díaco (entrada) e esfíncter pilórico (saída);
O instrumento para a realização do cuidado é o processo de • Intestino delgado maior segmento 2/3 do total do compri-
cuidar2, mediante uma ação interativa entre o enfermeiro e o pa- mento do trato GI;
ciente. Nele, as atividades do profissional são desenvolvidas “para” • Duodeno parte superior (esvaziamento da bile e secreções
e “com” o paciente, ancoradas no conhecimento científico, habili- pancreáticas através do canal biliar comum na ampola de Vater);
dade, intuição, pensamento crítico e criatividade e acompanhadas • Jejuno: parte mediana;
• Íleo: parte inferior;
de comportamentos e atitudes de cuidar/cuidado no sentido de
• Ceco junção entre o intest. delgado e grosso (porção inferior
promover, manter e/ou recuperar a totalidade e a dignidade hu-
direita do abd), onde se encontra a válvula íleocecal q/ funciona no
mana.
controle da passagem dos conteúdos intestinais no intest. grosso e
O desenvolvimento do cuidado ocorre nas suas mais diferentes
previne o refluxo de bactérias p/ o intest. delgado. É nesta área q/ o
especialidades e, neste estudo, abordará o processo de cuidar ao
apêndice vermiforme está localizado;
paciente crônico cardíaco.
• Intestino Grosso Ascendente / Transverso / Descendente /
O paciente adulto crônico cardíaco apresenta comprometi-
cólon sigmóide / reto;
mento de seu todo harmônico, seu estado de saúde está alterado,
• Ânus esfíncter anal interno e externo.
pois começa a sentir que a força física e a força do coração estão
diminuídas. Surge a aterosclerose nos vasos sanguíneos, ocorre a O trato GI recebe o suprimento sanguíneo de muitas artérias
perda do tecido ósseo, e há carência na autoestima3. Nessa fase, o que se originam ao longo de toda a extensão da aorta torácica e ab-
doente pode apresentar limitações emocionais, financeiras, perdas dominal. As principais são a artéria gástrica (estômago) e as artérias
pessoais e sociais e precisará aprender a administrar o seu trata- mesentéricas superior e inferior (intestino).
mento efetivo. Nessas circunstâncias, quando ele se encontra fra- O sangue é drenado desses órgãos pelas veias que se fundem
gilizado, é que o enfermeiro assume um papel importante e muito com outras no abdômen para formar um grande vaso, chamado
expressivo para com ele, no sentido de ajudá-lo não só a enfrentar veia porta. É um sangue rico em nutrientes que é levado ao fígado.
as dificuldades em torno da doença, mas também de cuidá-lo nas O fluxo sanguíneo para todo o trato GI é cerca de 20% de todo o
suas necessidades de segurança, carinho e autoconfiança. Desse débito cardíaco e aumenta significativamente após a alimentação.
modo, é importante que o enfermeiro compreenda que os pacien- O TGI é inervado pelo SNA simpático e parassimpático.
tes portadores de doença crônica requerem, do profissional, um SNA parassimpático - libera acetilcolina que: aumenta ativida-
raciocínio clínico e crítico constante, pois uma simples preocupação de do TGI, aumenta movimentos peristálticos, aumenta tônus.
que apresentem pode colocar em risco suas vidas. SNA simpático - libera noradrenalina que: diminui atividade do
O enfermeiro tem uma função fundamental na equipe de saú- TGI, diminui movimentos peristálticos, diminui tônus.
de, já que, por meio da avaliação clínica diária do paciente, poderá
realizar o levantamento dos vários fenômenos, seja na aparência O processo digestivo
externa ou na subjetividade da multidimensionalidade do ser hu-
mano. Igualmente poderá providenciar para que o paciente seja Todas as células do organismo requerem nutrientes. Esses nu-
atendido nos mais diferentes segmentos da equipe de saúde e/ou trientes derivam da ingesta alimentar contendo: proteína, gordura,
de enfermagem. carboidratos, vitaminas e minerais, assim como fibras de celulose e
A Organização Mundial de Saúde, em seu documento “Cuida- outras matérias vegetais sem valor nutricional.
dos inovadores para as condições crônicas”, enfatiza que o paciente As principais funções digestivas do trato GI são especificamen-
portador de doença crônica carece de cuidados planejados, capazes te para fornecer estas necessidades do corpo:
de prever suas necessidades básicas e proporcionar atenção inte- • Reduzir as partículas alimentares à forma molecular para a
grada. Essa atenção envolve tempo, cenário da saúde e cuidadores, digestão;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

• Absorver na corrente sanguínea as pequenas moléculas; Substâncias químicas formadas pelas bactérias intestinais são
• Eliminar restos alimentares não digeridos e não absorvidos e responsáveis, em grande parte, pelo odor fecal. Os gases formados
outros produtos tóxicos nocivos ao corpo. contém metano, sulfeto de hidrogênio e amônia, entre outros. O
trato GI normalmente contém cerca de 150 ml desses gases, q/ são
Ação gástrica - O estômago secreta um líquido ácido em res- ou absorvidos na circulação porta e detoxificados pelo fígado, ou
posta à presença de alimento ou à sua ingesta antecipada. Este expelidos pelo reto (flatos). Pacientes c/ dça hepática frequente-
líquido deriva sua acidez do ácido hidroclorídrico secretado pelas mente são tratados c/ antibióticos p/ reduzir o nº de bactérias colô-
glândulas do estômago. Esta secreção tem dupla função: reduzir o nicas e, desta forma, inibir a produção de gases tóxicos.
alimento a componentes mais absorvíveis e ajudar na destruição de
bactérias ingeridas. O estômago pode produzir cerca de 2,4 litros/ Respostas fisiológicas às disfunções gastrintestinais
dia dessas secreções gástricas. 1.Halitose: mau hálito, pode indicar um processo periodôntico
As secreções gástricas também contêm a enzima pepsina, im- ou infecção oral;
portante para iniciar a digestão de proteínas.
2. Disfagia: dificuldade de engolir, pode resultar de um proble-
Hormônios, neurorreguladores e reguladores locais encontra-
ma mecânico (neoplasia, cirurgia) ou ocorrer secundariamente a
dos nas secreções gástricas controlam a taxa das secreções gástri-
um dano neurológico (AVC);
cas e influenciam a motilidade gástrica.
3. Odinofagia: deglutição dolorosa (infecção ou doença);
O fator intrínseco também é secretado pela mucosa gástrica.
Este componente combina-se com a vitamina B12 da dieta de for- 4. Pirose: sensação de queimação na área médio esternal, cau-
ma que essa vitamina possa ser absorvida no íleo (na ausência do sada pelo refluxo dos conteúdos gástricos para o esôfago;
fator intrínseco a vitamina B12 não pode ser absorvida, resultando 5. Dispepsia: sensação de desconforto durante o processo di-
na anemia perniciosa). O alimento permanece no estômago por um gestivo; dys = mal pepsia = digestão
tempo variado, de meia hora até muitas horas, dependendo do ta- 6. Anorexia: perda de apetite;
manho das partículas alimentares, composição da refeição e outros 7. Náuseas: sensação de desconforto gástrico caracterizada por
fatores. vontade de vomitar;
Ação do intestino delgado - O processo digestivo continua no 8. Vômitos: expulsão dos conteúdos gástricos, em geral após
duodeno. As secreções duodenais procedem: uma sensação de náuseas;
• Do pâncreas (suco pancreático 1 litro/dia): enzimas digesti- 9. Câimbras abdominais: contração muscular espasmódica in-
vas, incluindo a tripsina q/ ajuda na digestão de proteínas, a amilase voluntária que causa desconforto e dor:
q/ ajuda na digestão do amido e a lipase q/ ajuda na digestão das 10. Distensão abdominal: expansão do abdome notada por ob-
gorduras. A secreção pancreática tem um pH alcalino devido à sua servação, percussão ou palpação (aumento da quantidade de ar ou
alta concentração de bicarbonato; líquidos ou presença de massa abdominal);
• Do fígado (500 ml/dia de bile): a bile secretada pelo fígado e 11. Má absorção: incapacidade de absorver nutrientes secun-
armazenada na vesícula biliar ajuda na emulsificação das gorduras dária a um distúrbio GI;
ingeridas, facilitando a sua digestão e absorção; 12. Dor: sensação de desconforto que varia em gravidade;
• Das glândulas intestinais (3 litros/ dia secreção das glândulas 13. Diarreia: expulsão excessiva de fezes aquosas em grande
intestinais): as secreções consistem em muco, que recobre as cs e vol. ou c/ frequência maior.
protege a mucosa do ataque do ácido hidroclorídrico, hormônios, 14. Constipação: frequência diminuída de evacuação fecal, le-
eletrólitos e enzimas. Os hormônios, neurorreguladores e regula- vando à impactação intestinal; a consistência das fezes é mais co-
dores locais encontrados nessas secreções intestinais controlam a mumente seca e dura, entretanto ela pode ser mole e formada se
taxa de secreção intestinal e também influenciam a motilidade GI. estiverem presentes distúrbios de motilidade;
15. Sons intestinais alterados: os sons intestinais ouvidos na
Ação colônica - Cerca de 4 hs após a alimentação, o material
ausculta indicam a passagem de ar e líquidos no trato GI, a faixa
residual passa pelo íleo terminal e, lentamente, pela porção termi-
de frequência normal é de aproximadamente 5 a 25 por minuto;
nal do cólon, através da válvula íleocecal. A cada onda peristáltica
os sons intestinais podem estar diminuídos ou ausentes após uma
do intestino delgado, a válvula se abre rapidamente permitindo q/
cirurgia abdm., ou ser hiperativos ou de som agudo (borborigmos)
um pouco do conteúdo passe para o cólon. A população bacteria-
na é o principal componente do conteúdo do intestino grosso. As como resultado de hipermotilidade do trato GI;
bactérias ajudam no término da degradação do material residual e 16. Melena: fezes escuras indicando a presença de sangue (san-
sais biliares. gramento ou hemorragia);
Uma atividade peristáltica fraca impulsiona o conteúdo colô- 17. Perda de peso: sintoma comum geral// indicando ingestão
nico lentamente ao longo do trato. Este lento transporte permite inadequada ou má absorção.
uma eficiente absorção de água e eletrólitos. O material residual de
uma refeição eventualmente atinge e distende o reto, geralmente Pacientes com Problemas Renal
em cerca de 12 horas. Cerca de 1/4 do material residual de uma
refeição pode permanecer no reto três dias após a refeição ter sido A insuficiência renal aguda é uma síndrome caracterizada pela
ingerida. redução aguda da função renal, em horas ou dias, com conseqüente
As fezes se compõem de resíduos alimentares não digeridos, retenção sérica de produtos nitrogenados, tendo caráter reversível.
materiais inorgânicos, água e bactérias. A matéria fecal tem cerca Refere-se principalmente, à diminuição do ritmo de filtração glo-
de 75% de líquido e 25% de material sólido. A cor marrom das fezes merular e/ou do volume urinário, mas, ocorrem também distúrbios
é devida à degradação da bile pela bactéria intestinal. no controle do equilíbrio hidro-eletrolítico e ácido-básico.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia(5), na litera-
tura existem mais de 30 definições de IRA. A utilização de diferen-
tes definições dificulta a comparação de estudos. Recentemente, o
grupo internacional e multidisciplinar Acute Kidney Injury Network

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

(AKIN) propôs uma nova definição e classificação da IRA, a fim de Abdome


uniformizar este conceito para efeitos de estudos clínicos e, princi-
palmente, prevenir e facilitar o diagnóstico desta síndrome. A AKIN Abaulamento visível do abdome superior é um achado extre-
propõe o diagnóstico e a classificação da insuficiência renal aguda mamente raro e inespecífico de hidronefrose ou massa renal ou ab-
baseada na dosagem sérica da creatinina e no volume urinário em dominal. Som maciço à percussão no abdome inferior indica disten-
um período de 48 horas. são vesical; normalmente, mesmo uma bexiga cheia não pode ser
percutida acima da sínfise púbica. A palpação da bexiga, algumas
A IRA induzida por contraste, na maioria das vezes, é assinto- vezes, é utilizada para confirmar distensão e retenção urinária.
mática, não oligúrica e os níveis séricos usualmente aumentam em Reto
24 a 72 horas após a exposição, alcançando seu valor máximo em
3 a 5 dias. Durante o toque retal, pode-se detectar prostatite através do
A insuficiência renal aguda, apesar de sua característica reversí- encontro de uma próstata dolorosa e edemaciada. Nódulos focais e
vel, ainda apresenta um prognóstico com índice de mortalidade de áreas pouco endurecidas devem ser distinguidas de câncer da prós-
aproximadamente 50%. Este prognóstico na IRA tem sido associado tata. A próstata pode estar simetricamente aumentada, fibroelásti-
a alguns fatores como oligúria persistente (refratária a volume), fa- ca e não dolorosa na hipertrofia benigna da próstata.
lência de múltiplos órgãos e septicemia. Esta alta mortalidade re-
força ainda mais a necessidade da sua prevenção e a importância Região inguinal e genitais
da atuação do enfermeiro na identificação dos fatores de risco e na
detecção precoce da IRA. O exame inguinal e genital deve ser realizado com o paciente
O contraste iodado é substância radiopaca empregada em exa- em pé. A presença de hérnia inguinal ou adenopatia pode explicar
mes radiológicos, como o cateterismo cardíaco, amplamente utili- dor escrotal ou inguinal. Assimetria grosseira, edema, eritema ou
zado para fins diagnósticos e terapêuticos. Tal substância, apesar de
pigmentação dos testículos podem indicar infecção, torção, tumor
melhorar a visualização das artérias e de outras estruturas anatômi-
ou outras massas. A horizontalização do testículo pode indicar ris-
cas durante o exame, pode provocar reações adversas indesejáveis
co de torção testicular. A elevação de um testículo (normalmente o
que se devem, principalmente, à alta osmolaridade do contraste
esquerdo é mais baixo) pode ser sinal de torção testicular. O pênis
em relação ao sangue.
é examinado com e sem retração do prepúcio. A inspeção do pênis
pode detectar
Pacientes com Problemas urológico
• Hipospádias ou epispádias em meninos ou adultos jovens
• Doença de Peyronie em homens
Dor originada nos rins ou ureteres; em geral, é vagamente lo-
• Priapismo, úlceras e corrimento em todos os grupos
calizada nos flancos ou na região lombar baixa e pode irradiar-se
para fossa ilíaca ipsolateral, coxa superior, testículos ou grandes lá-
bios. Tipicamente, a dor causada por cálculos é em cólica e pode A palpação pode revelar hérnia inguinal. O reflexo cremastérico
ser muito significativa; é mais constante se causada por infecção. A pode estar ausente na torção testicular. A localização das massas
retenção urinária aguda distal à bexiga causa dor suprapúbica ago- em relação aos testículos e o grau e a localização do dolorimento
nizante; a retenção urinária crônica causa menos dor e pode ser podem auxiliar a diferenciar massas testiculares (p. ex., esperma-
assintomática. Disúria é um sintoma de irritação vesical ou uretral. toceles, epididimite, hidroceles, tumores). Em caso de edema, a
A dor prostática manifesta-se como desconforto vago ou sensação área deve ser transiluminada para auxiliar a detectar se o aumento
de peso nas regiões perineal, retal ou suprapúbica. é cístico ou sólido. Placas fibrosas na haste do pênis são sinais de
Os sintomas de obstrução vesical em homens incluem hesita- doença de Peyronie.
ção, força para urinar, diminuição da força e do calibre do jato uri-
nário e gotejamento terminal. Incontinência tem várias formas. A Exames
enurese após os 3 ou 4 anos de idade pode ser um sintoma de este-
nose uretral em meninas, válvulas de uretra posterior em meninos, Exame de urina é fundamental para a avaliação de doenças uro-
alteração psicológica ou, se de início súbito, infecção. lógicas. Os exames de imagem (p. ex., ultrassonografia, tomografia
A pneumatúria (passagem de ar na urina) sugere fístula vesico- computadorizada, ressonância nuclear magnética) são solicitados
vaginal, vesicoentérica ou ureteroentérica; as duas últimas podem com frequência. Para análise do sêmen, Alterações espermáticas.
ser causadas por diverticulite, doença de Crohn, abscesso ou câncer O teste de antígeno do tumor de bexiga para carcinoma de cé-
de cólon. A pneumatúria também pode ser causada por pielonefrite lulas transicionais do trato urinário é mais sensível que a citologia
enfisematosa. urinária para detectar cânceres de baixo grau; não é sensível o sufi-
ciente para substituir o exame endoscópico. A citologia urinária é o
Exame físico melhor exame para detectar câncer de alto grau.
O antígeno prostático específico (PSA, prostate-specific anti-
O exame físico é dirigido aos ângulos costovertebrais, abdome, gen) é uma glicoproteína de função desconhecida produzida pelas
reto, região inguinal e genitais. Em mulheres com sintomas uriná- células epiteliais prostáticas. Os níveis podem estar elevados em
rios, geralmente é feito exame pélvico. câncer de próstata e em algumas doenças comuns não neoplásicas
(p. ex., hipertrofia benigna da próstata, infecção, trauma). Mede-se
Ângulo costovertebral o PSA para detectar recidiva de câncer após tratamento; seu uso
generalizado para a triagem de câncer é controverso.
A dor surgida após percussão com o punho na região lombar,
flancos e no ângulo formado pelo 12º arco costal e espinha lombar
(dolorimento costovertebral) pode indicar pielonefrite, cálculos ou
obstrução do trato urinário.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Pacientes com Problemas ginecológico • Acromegalia


• Baixa estatura em crianças
O câncer de colo uterino representa um grande problema de • Diabetes
saúde pública no Brasil. Pesquisa recente em um hospital escola do • Distúrbios da puberdade e da função reprodutiva
Triângulo Mineiro identificou que os cânceres ginecológicos em 321
casos, foram 15 casos (15,63%) dos cânceres de colo de útero (SOA- Os médicos costumam medir os níveis de hormônios no sangue
RES; SILVA, 2010).Segundo dados do instituto nacional de câncer, o para dizer como a glândula endócrina está funcionando. Às vezes,
câncer de colo do útero é o terceiro tumor mais frequente na popu- os níveis sanguíneos sozinhos não fornecem informações suficien-
lação feminina e a quarta causa de morte de mulheres por câncer tes sobre a função da glândula endócrina; por isso, os médicos me-
no Brasil (INCA,2014 ).O câncer do colo do útero é caracterizado dem os níveis hormonais depois de dar um estímulo (tal como uma
pela replicação desordenada do epitélio de revestimento do órgão, bebida contendo açúcar, um medicamento ou um hormônio que
comprometendo o tecido subjacente (estroma) e podendo invadir possa desencadear a liberação hormonal) ou depois de o paciente
estruturas e órgãos vizinhos ou à distância. (BRASIL, 2013). Conside- ter exercido uma ação (tal como jejum).
ra-se que a infecção pelo Papiloma Vírus Humano (HPV) representa
o principal fator de risco para o câncer de colo do útero. Outros fa- As doenças endócrinas costumam ser tratadas ao repor o hor-
tores foram identificados como de risco, como os socioeconômicos mônio, cujo nível é insuficiente. Contudo, às vezes, a causa da do-
e ambientais e os hábitos de vida (FRIGATO; HOG, 2003). ença é tratada. Por exemplo, se houver um tumor em uma glândula
Segundo o Ministério da Saúde além da importância de reali- endócrina, é possível que ele seja removido.
zar o exame periodicamente, torna-se relevante evidenciar que, ao
longo da vida, a mulher pode estar exposta a fatores de risco para Pacientes com Problemas musculoesquelético e
o câncer de colo uterino, como: idade precoce da primeira relação dermatológico
sexual, multiplicidade de parceiros sexuais, lesão genital por HPV,
tabagismo, multiparidade, entre outros (BRASIL,2013). As ações Pacientes com Problemas musculoesquelético
de prevenção da saúde são estratégias fundamentais, não só para
aumentar a frequência e adesão das mulheres aos exames, como O sistema osteomuscular compreende principalmente a dois
para reforçar sinais e sintomas de alerta, que devem ser observados sistemas da fisiologia humana: o sistema ósseo e o sistema mus-
pelas usuárias. É fundamental que os processos educativos ocor- cular. A função do sistema ósseo é de proteger, sustentar, armaze-
ram em todos os contatos da usuária com o serviço, estimulando- nar e liberar os íons de cálcio e potássio, permitir o deslocamento
-a a realizar os exames de acordo com a indicação (BRASIL, 2013). do corpo servindo como alavanca e de produzir certas células do
Considerando tais dados verifica-se a importância de uma atenção sangue. Os ossos trabalham em conjunto com os músculos que são
voltada para saúde da mulher, oferecendo além dos procedimen- responsáveis pelo movimento.
tos básicos, cuidados especiais que possam prevenir complicações No sistema muscular existe a divisão dos músculos que são
físicas e emocionais. Entende-se que a consulta de enfermagem é lisos e estriados. O músculo liso não faz parte do aparelho loco-
extremamente importante, pois propicia o trabalho do enfermeiro motor, pois eles são responsáveis pela formação de órgãos como o
no desenvolvimento de atividades voltadas à saúde da mulher, bem estomago, intestinos, artérias, etc. O músculo estriado pode ser do
como a atenção ginecológica. tipo músculo esquelético e músculo cardíaco. Os músculos estria-
dos esquelético fazem parte do aparelho locomotor sendo um tipo
Pacientes com Problemas endócrino, hematológico de músculo voluntário.
Os músculos esqueléticos ficam ligados aos ossos pelos ten-
O sistema endócrino é composto por um grupo de glândulas e dões que são formados por tecido conjuntivo altamente denso rico
órgãos que regulam e controlam várias funções do corpo por meio em colágeno no qual se liga de um lado ao periósteo, camada de
da produção e secreção de hormônios. Os hormônios são substân- tecido conjuntivo presente nos ossos e do outro as camadas de te-
cias químicas que afetam a atividade de outra parte do corpo. Em cidos conjuntivos que revestem o ventre muscular ou músculo pro-
essência, os hormônios atuam como mensageiros que controlam e priamente dito, os fascículos e as fibras. E a ligação de um osso a
coordenam as atividades em todo o corpo. outro ou outros é chamado de juntas ou articulações.
As doenças endócrinas dizem respeito a Os ossos se classificam como longo, plano, curto, irregular,
• Uma secreção hormonal excessiva ou pneumático e sesanoides.
• Uma secreção hormonal insuficiente O sistema muscular é composto pelo conjunto de músculos do
corpo humano, são encontrados cerca de 600 músculos no corpo
As doenças podem ser o resultado de um problema na própria humano e eles representam cerca de 40 a 50% do peso total de
glândula ou porque o eixo hipotálamo-hipófise (a interação dos si- uma pessoa. Os músculos têm a capacidade de contrair ou relaxar e
nais hormonais entre o hipotálamo e a hipófise) está fornecendo proporcionam movimentos que permitem que a pessoa ande, cor-
estímulo excessivo ou insuficiente. Dependendo do tipo de célula ra, salte, etc.
da qual são originados, os tumores podem produzir hormônios em
excesso ou destruir o tecido glandular normal, diminuindo a produ- Ortopedia
ção hormonal. Às vezes, o sistema imunológico do organismo ataca
uma glândula endócrina (uma doença autoimune), o que diminui a A ortopedia é a especialidade médica que cuida das doenças e
produção hormonal. deformidades relacionadas aos elementos do aparelho locomotor,
Exemplos de doenças endócrinas incluem como ossos, músculos, ligamentos e articulações. A traumatologia
• Hipertireoidismo é a especialidade médica que lida com o trauma do aparelho mús-
• Hipotireoidismo culo-esquelético.
• Doença de Cushing No Brasil as especialidades são unificadas, recebendo o nome
• Doença de Addison de “Ortopedia e Traumatologia”.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Dentro dos órgãos/ossos do corpo humanos tratados pela or- sas habilitações desempenha na atenção à saúde e na qualificação
topedia temos: Coluna, Joelho, Quadril, Ombro e Cotovelo, Mão, Pé técnica exigida para o atendimento dos usuários, e ainda, orienta o
e Tornozelo. gestor quanto aos requisitos mínimos, para se habilitar um estabe-
As causas das principais lesões ortopédicas são: Artralgia, Ar- lecimento em alta complexidade em Ortopedia.
trose. Artrose Joelho, Lesão do Ligamento Cruzado Anterior (LCA), Tanto os Centros de Referência de Alta Complexidade em Trau-
Lesão do Ligamento Cruzado Posterior (LCP), Lesão do Ligamento matologia e Ortopedia quanto às Unidades de Assistência em Alta
Colateral, Lesão Meniscal, Mialgia, Lesões Musculares, Lombalgia, Complexidade em Ortopedia estão aptos a realizar qualquer pro-
Síndrome do Manguito Rotador; Tendinites, Síndrome Patelo Femo- cedimento traumato-ortopédico, independentemente da comple-
ral e Cervicalgia. xidade em que este procedimento se insere. A diferença básica en-
A traumatologia dedica-se ao estudo e ao tratamento das dife- tre as duas habilitações está no papel de formar e qualificar novos
rentes lesões que se podem produzir nas extremidades e na coluna. profissionais na área desempenhada pelos Centros. (Relatório de
Na sua órbita de ação entram as fraturas ósseas, as luxações e dife- Gestão SAS 2016)
rentes classes de contusões.
Os tratamentos da traumatologia podem ser diversos. Alguns Pacientes com problemas dermatológicos
são conservadores, como a implementação de ligaduras ou a colo-
cação de um gesso. Outros tratamentos são mais invasivos, como A pele constitui o maior órgão do corpo humano, envolven-
as intervenções cirúrgicas que são utilizadas para instalar parafusos, do-o e protegendo-o por completo. Montagu (1988, p.30) fala da
placas e outros elementos no interior do corpo. A escolha de um pele como o espelho do funcionamento do organismo: sua cor,
ou outro tratamento é realizada pelo profissional de acordo com o textura, umidade, secura, e cada um de seus demais aspectos re-
tipo de lesão. fletem nosso estado de ser, psicológico e também fisiológico ..., é
Embora a traumatologia ortopédica pareça ser o estudo de espelho de nossas paixões e emoções, sendo como uma roupagem
todo tipo de trauma, ela lida apenas com as lesões ósseas e mus- contínua e flexível, além de ter a mesma origem embrionária que
culares tendinosas dos membros superiores, inferiores, bacia e co- o sistema nervoso. Reveste e limita o organismo, protegendo-o de
luna. O trauma abdominal é avaliado pelo cirurgião geral; o trauma agentes externos, e é importante na manutenção do equilíbrio do
craniano pelo neurocirurgião; o trauma de tórax é avaliado pelo meio interno (Souza et al., 2005). Por configurar o órgão de limi-
cirurgião do trauma ou cirurgião torácico. Erro muito comum é o te entre mundo interno e externo, a pele, quando lesionada, pode
encaminhamento de vítimas de trauma torácico e facial para o orto- trazer constrangimento ao indivíduo. Nesse sentido, Strauss (1989,
pedista, o qual trata do esqueleto axial (coluna) e membros. p.1221) refere que “ao mesmo tempo em que nos protege, é a fa-
chada que nos expõe”.
Sobre as Afecções Osteomusculares/Músculo Esquelético Alguns autores sugerem dificuldades quando da exposição das
lesões de pele, como Fonseca e Campos (2003), ao mencionar que
lesões visíveis causam constrangimento nos pacientes, e Azulay R.
As afecções músculo-esqueléticas representam uns dos princi-
D. e Azulay D. R. (1992), que postulam que “convém lembrar que o
pais agravos à saúde no Brasil. Trata-se de distúrbios de importância
indivíduo com a pele comprometida, sobretudo em áreas desco-
crescente em vários países do mundo, com dimensões epidêmicas
bertas, dificilmente deixa de ficar envergonhado, ansioso e triste”.
em diversas categorias profissionais, principalmente na Traumato-
Nadelson (1978) complementa esta idéia, referindo que a doença
-Ortopedia. Na traumatologia, o crescente problema da violência,
de pele, na mente popular, pode muitas vezes estar ligada à idéia
das doenças ocupacionais, dos acidentes de trânsito e causas ex-
de sujo, feio e contagioso, devendo permanecer afastado. Nesse
ternas, que perfazem mais de 90% dos atos médicos destinados ao
sentido, está implicada a relação entre doenças de pele e aspectos
tratamento das afecções do sistema músculo-esqueléticos, é de ex-
emocionais, mais especificamente o stress, neste estudo. Frente a
trema preocupação, tanto do ponto de vista epidemiológico quan- dados como esses, percebe-se a importância de pesquisas nesta
to da gestão, pelo elevado número de procedimentos realizados e área, explorando as repercussões dos problemas dermatológicos e
pelo alto valor de recursos financeiros envolvidos. buscando sensibilizar a população em geral, assim como os profis-
sionais que trabalham com esses pacientes, para que o atendimen-
SUS e as Afecções Osteomusculares/Músculo Esquelético to abarque as diferentes dimensões do ser humano.
Embora a existência de uma relação entre as alterações psico-
O Sistema Único de Saúde − SUS oferta diversos tratamentos lógicas e as doenças dermatológicas não seja um tema novo, ainda
clínicos, cirúrgicos e de reabilitação na área de ortopedia. Os pro- não é possível definir com clareza que alterações psicológicas são
cedimentos relacionados a essas especialidades estão incluídos em capazes de causar alterações dermatológicas, ou se as enfermida-
várias ações e políticas do Ministério da Saúde. Todos os procedi- des cutâneas crônicas carregam, necessariamente, como qualquer
mentos podem ser consultados no Sistema de Gerenciamento da outro transtorno com essas características, alterações psicopatoló-
Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do Sistema Único gicas significativas (Grimalt, Peri & Torres, 2002). Talvez essa seja
de Saúde (SIGTAP/SUS). uma das razões pelas quais muitas vezes o atendimento ao paciente
Especificamente sobre a atenção especializada no SUS, a área aconteça de forma dissociada, ou seja, o dermatologista se respon-
de ortopedia recebeu atenção especial, principalmente no que dis- sabiliza somente pela dimensão orgânica, a pele, e o psicólogo, pe-
pensa a utilização de alta tecnologia/alta complexidade, com a pu- los aspectos emocionais, de forma isolada.
blicação da Portaria GM/MS nº 221, de 15 de fevereiro de 2005, que Segundo Mingorance, Loureiro, Okino e Foss (2001), muitos es-
instituí a Política de Alta Complexidade em Traumatologia e Ortope- tudos têm sido realizados associando o funcionamento mental do
dia Instituída no SUS. Tal política é regimentada pela Portaria SAS/ paciente com psoríase a correlatos psíquicos: o impacto emocional
MS nº 90, publicada em 27 de março de 2009. Esta Portaria concei- da doença, o aumento de preocupações e a ansiedade estão asso-
tua Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Traumatolo- ciados à piora das lesões, o alto nível de depressão, à presença de
gia e Ortopedia e Centro de Referência de Alta Complexidade em distúrbios no ambiente familiar e outros. Os temas das pesquisas
Traumatologia e Ortopedia, orientando o papel que cada uma des- revelam que a dermatose não está relacionada somente à pele, às

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

questões orgânicas, mas que influencia e é influenciada por outros Além disso, Azambuja (2000) refere a insustentabilidade da
aspectos da vida do indivíduo, tanto questões emocionais quanto o concepção cartesiana de mente e corpo, falando do campo da psi-
próprio contexto em que vive. coneuroimunologia, que “cria um novo contexto em que não exis-
De acordo com Sampaio e Rivitti (2001), é indiscutível que os tem partes separadas, e tudo influencia tudo, tornando-se absurdo
fatores emocionais influenciam inúmeras dermatoses que, de ou- enfocar a patologia e o tratamento unicamente do corpo e, pior
tro lado, atuam no estado mental. A partir da idéia de que toda ainda, de uma de suas partes sem considerar o funcionamento ge-
doença humana é psicossomática, pois incide em um ser provido ral” (p.407).
de soma e psique, inseparáveis anatômica e funcionalmente (Mello No que tange à localização das lesões de pele, a maior parte
Filho, 2002), o adoecimento (neste caso, da pele), pode repercutir dos estudos avalia qualidade de vida. Schmid, Jaeger e Lampre-
em diversos âmbitos da vida do indivíduo. cht (1996) mencionam que os pacientes com lesões na região do
Quando se pensa na inseparabilidade da psique e do corpo, ou baixo ventre e genital relatam sentimentos de estigmatização com
das emoções e da pele, o stress é uma variável importante. Des- maior intensidade do que pacientes acometidos em outras áreas do
de os estudos de Selye, em 1936, o stress é um fator que está re- corpo. Quando se discute local da lesão, está implicada a questão
lacionado ao surgimento e desenvolvimento de doenças. Vivas e da aparência física. No estudo de Mingnorance, Loureiro e Okino
Serritiello (2002) referem que extensos estudos indicam que o (2002), os pacientes que relataram insatisfação quanto à aparência
stressemocional pode exacerbar alguns eventos, como na psoría- física, quando comparados ao grupo com percepção satisfatória da
se, por exemplo. Steiner e Perfeito (2003) corroboram esta idéia, aparência, apresentaram prejuízo significativamente maior nas ati-
mencionando que “o stress físico ou emocional tem repercussões vidades rotineiras (p<0,05) e na qualidade de vida geral (p<0,01).
em inúmeras dermatoses e estas, indiscutivelmente, também são No estudo de Ludwig e Oliveira (2007), que avaliou qualidade
geradoras de stress” (p.113). de vida e localização da lesão dermatológica, não foram encontra-
A literatura, de modo geral, enfoca a influência do stress no das diferenças significativas na comparação entre dois grupos (ros-
desenvolvimento das dermatoses (Asadi & Usman, 2001; Picardi, to e/ou mãos; outras partes do corpo), sendo o número de associa-
Porcelli, Pasquini & Fassoni, 2006; Taborda, Weber & Freitas, 2005), ções entre os instrumentos de qualidade de vida SF-36 (qualidade
e poucos são os estudos que avaliam o contrário, ou seja, o quanto de vida geral) e DLQI-BRA (qualidade de vida específica) muito su-
a lesão de pele interfere no grau de stress do indivíduo. Lipp (1996) perior no grupo com lesões em rosto e/ou mãos. Quando se fez a
refere as doenças relacionadas ao stress e cita a psoríase entre as divisão mais detalhada da localização da lesão, em cinco grupos,
mais estudadas, sugerindo que «doenças relacionadas ao stress se- houve diferenças significativas, sendo o grupo com a maior media-
jam classificadas como psicofisiológicas, termo este que enfatiza a na aquele com lesões generalizadas (rosto e mãos e outras). As au-
correlação entre aspectos físicos e psicológicos que se manifestam toras inferem que, independentemente da localização da lesão no
de modo quase que inseparável durante a resposta ao stress”. corpo, o sentimento de exposição e os prejuízos a que fica subme-
Hoffmann, Zogbi, Fleck e Müller (2005) mencionam que o viti- tido o paciente dermatológico são semelhantes, seja a lesão mais
ligo está associado a fatores psicológicos, visto que, no estudo de exposta ou menos exposta ao olhar do outro.
Müller (2005), o aparecimento da doença se deu após situação de Kadyk, McCarter e Achen (2003) estudaram qualidade de vida
stress emocional. O’leary, Creamer, Higgins e Weinman (2004) estu-
em pacientes com dermatite de contato, encontrando um escore
daram as causas atribuídas pelos pacientes psoriáticos à sua doen-
significativamente pior no item relacionado à aparência da pele,
ça, e encontraram uma grande proporção dos pacientes referindo o
em comparação aos que não têm a face acometida. Além disso, pa-
stress como a causa da sua doença. Esta crença está associada a um
cientes com a face afetada sentem um maior grau de prejuízo, que
baixo bem-estar psicológico e à percepção de que a psoríase tem
tende a ser significativo, e apresentam escores melhores do que
um impacto emocional muito grande. Apesar da prevalência desta
aqueles sem acometimento da face em duas questões: medo de ser
crença, os níveis de stress, mesmo fortemente associados ao humor
despedido e dificuldade de usar as mãos no trabalho.
e à qualidade de vida, não foram associados com a severidade da
psoríase. Não houve diferenças significativas, nas escalas de sintomas ou
O stress psicológico e a ansiedade têm sido reconhecidos clini- emoções, entre ter ou não as mãos afetadas, no mesmo estudo. Os
camente pelos dermatologistas como fatores relacionados à piora autores da pesquisa referem diversos relatos de que a dermatite de
das lesões de pele (Fortune, Main, O’Sullivan & Griffiths, 1997). No contato nas mãos afeta negativamente as habilidades para traba-
estudo de Amorim-Gaudêncio, Roustan e Sirgo (2004), que avaliou lhar e continuar as atividades diárias normais.
dois grupos, um com e outro sem dermatoses, foram encontradas Também M.A. Gupta e A.K. Gupta (2003) e Hautman e Panco-
associações entre altos níveis de ansiedade e stress em pessoas que nesi (1997) apontam a importância de considerações sobre o tema
sofrem de dermatoses inflamatórias crônicas. da localização da lesão, referindo que até mesmo uma doença be-
Panconesi e Hautmann (1996), em um artigo sobre a psicofisio- nigna em partes do corpo “carregadas de emoção” (por exemplo, o
logia do stress na dermatologia, referem que os fatores genéticos e rosto, a cabeça e o pescoço) pode debilitar particularmente o pa-
de percepção podem influenciá-lo, sendo a percepção do indivíduo ciente.
sobre o desafio que o estímulo específico implica o fator mais im-
portante. Assistência de Enfermagem em UTI.
Em relação aos problemas dermatológicos, Azambuja (2000)
menciona que existem íntimas ligações entre o sistema nervoso e UTI’s podem ser classificadas em Adulto, Pediátrica, Pediátrica
a pele, o que a torna extremamente sensível a emoções, de forma Mista (Pediátrica e Neonatal), Neonatal e as UTI’s Especializadas,
que qualquer problema de pele, independentemente de sua causa, dentre elas destacamse: Cardiológica ou Coronariana, Cirúrgica,
tem impacto emocional. O autor discorre ainda que o stress, seja Neurológica, Transplante, dentre outras.
físico, psicológico ou ambiental, provoca no indivíduo reações como Este é o local no hospital destinado à oferta do SAV – Supor-
taquicardia, diminuição da temperatura do corpo, entre outras, e te Avançado de Vida ao paciente agudamente enfermo que tenha
que atualmente um número crescente de cientistas tem aceitado o chances de sobreviver; e essa definição nos traz algumas reflexões e
stress como fator precipitante de qualquer doença, não apenas das questionamentos, principalmente na falta de critérios para internar
psicossomáticas. pacientes em UTI.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Não muito raro, observamos em nosso cotidiano profissional Observa-se ainda, que, em sua grande maioria, o trabalho nas
e acadêmico, diversos pacientes fora destes critérios que eu citei UTIs está voltado para a assistência norteada pelo modelo biomé-
acima hospitalizados nesta área: pacientes crônicos e sem qualquer dico, ou seja, para o corpo do paciente e para as patologias, muitas
prognóstico, sem mais condições terapêuticas, sem nenhum esfor- vezes, esquecendo-se de outros aspectos que também compõem e
ço ou tecnologia disponível que possa reverter o quadro terminal interferem na evolução de uma doença.
de saúde, causando apenas um prolongamento do estado de termi- Para se atingir a assistência humanizada é preciso criar a pos-
nalidade desses indivíduos em especial. sibilidade da existência desses outros fatores que fazem parte da
Esse é um exemplo, mas ainda vale destacar uma ocorrência vida do ser humano, sua história, seus sentimentos, sua cultura,
também muito comum, que é a internação de pacientes submetidos seu modo de viver. Dessa forma, considera-se importante que toda
a algum procedimento cirúrgico, que poderiam ser monitorados no equipe de saúde que trabalha em UTI reflita sobre os princípios
próprio Centro Cirúrgico, nas salas de Recuperação PósAnestésica e, direcionadores da assistência. Nesse sentido, é relevante compre-
logo que devidamente despertos e estáveis, seriam encaminhados ender os próprios sentimentos enquanto profissionais da área da
para as Unidades de Internação (quartos/enfermarias), mas infeliz- saúde nessa unidade, para conseguir acolher os sentimentos dos
mente, em muitos casos, ainda são direcionados às UTI, fato este pacientes e de seus familiares.
que além de aumentar o tempo de internação desses pacientes, Observa-se que muitos sentimentos dos profissionais de saúde
ainda os colocam em maior risco de infecções, pois a unidade de são negados ou velados, ignorando-se a complexidade do ambiente
terapia intensiva é um ambiente de alta complexidade. estressante em que atuam.
Outro fato que vale ressaltar é a ocupação de um leito de UTI Diante do exposto interroga-se: como é trabalhar em uma
com pacientes não elegíveis para tal, isto acontece muitas vezes UTI? Como será que o trabalhador técnico de enfermagem se sente
por falta de disponibilidade de leitos comuns. Isso pode gerar um
nessa unidade, convivendo com a iminência da morte? Que senti-
problema para pacientes dentro dos critérios (ou seja, pacientes
mentos surgem ao trabalhar nessa unidade? Como lidam com esses
agudamente enfermos que tenham chances de sobreviver), que
sentimentos?
acabam às vezes agravando sua situação de saúde ou até levandoos
a óbito por falta de leito de UTI.
Diante dessas interrogações, o presente estudo teve como ob-
jetivo identificar os significados atribuídos pelos técnicos de enfer-
Fonte: https://www.iespe.com.br/blog/oqueeunidadedete-
magem ao vivenciarem o processo de trabalho na UTI.
rapiaintensiva/
Acredita-se que é um desafio aprofundar esse tema, mas é de
importância ímpar, pois pode contribuir para revelar os sentimen-
ENFERMAGEM EM UTI ADULTO
tos vivenciados pelos técnicos de enfermagem de UTI, contribuindo
Nas instituições de saúde e, principalmente, nos hospitais, o para que os enfermeiros, gerentes do processo de trabalho nesse
serviço de enfermagem representa papel fundamental no processo local, conheçam as reais necessidades desse profissional. Assim, o
assistencial em qualquer unidade. Em se tratando de pacientes em enfermeiro pode planejar medidas visando adequar as condições
estado crítico em unidades de terapia intensiva (UTIs) essa assistên- laborais de acordo com os recursos disponíveis, aumentando a
cia é tida como complexa e especial. atenção à saúde do trabalhador, bem como propiciar melhora efeti-
No Brasil, as primeiras UTIs foram implantadas na década de va na assistência ao paciente, familiares e comunidade.
1970 e se tornaram unidades especializadas e consideradas como Da análise das unidades de significados interpretadas de cada
de alta complexidade. Foi necessário a aquisição de equipamentos um dos discursos foram obtidas cinco categorias que, conjuntamen-
cada vez mais sofisticados para se manter ou prolongar a vida das te, revelaram o fenômeno: o que significa trabalhar na UTI para os
pessoas. Houve, também, necessidade de aperfeiçoamento dos re- técnicos de enfermagem.
cursos humanos que ali desempenham suas atividades continua- A primeira categoria foi denominada: o cuidado ao ser humano
mente. como finalidade do trabalho dos técnicos de enfermagem. Foi evi-
As UTIs configuram-se como locais que têm por finalidade o denciada nos depoimentos a seguir.
tratamento dos doentes considerados graves e de alto risco, deven- (.....) onde você tem a oportunidade de estar cuidando do ser
do dispor de recursos materiais e humanos que possibilitem vigilân- humano, do seu próximo, é diferente de mexer com exames de la-
cia constante, atendimento rápido e eficaz, baseados no objetivo boratórios, com pipetas, é outro tipo de sentimento. A gente aqui
comum que é a recuperação dos indivíduos(1). mexe com o ser humano.
A importância do trabalho em equipe de enfermagem e de A gente administra as drogas necessárias, aspira, conversa (....)
saúde na UTI é imprescindível para a efetiva qualidade da assis- busca atender a pessoa na íntegra, a enfermagem é continuidade, é
tência ao paciente e seus familiares. Os trabalhadores enfrentam nossa responsabilidade cuidar dos pacientes (E1).
cotidianamente as diversas dificuldades relacionadas à complexida- Aqui você trabalha com tudo, tudo que é tipo de doença, de
de técnica da assistência a ser prestada, às exigências e cobranças paciente. A experiência é boa, você sabe que a pessoa depende de
dos pacientes, familiares, muitas vezes dos médicos, da instituição, você. (....) você sabe que praticamente todos os pacientes depen-
dentre outros. dem dos cuidados que você faz, é assim eles dependem exclusiva-
Na maioria das instituições de saúde, o enfermeiro freqüen- mente dos cuidados da gente é cuidar do paciente como um todo.
temente assume as atividades de gerenciamento e supervisão das (....) então se você não fizer é lógico que vai prejudicar, a medicação
atividades e a grande parcela dos cuidados diretos ao paciente é tem que ser na hora certa, virar o paciente, aspirar e todos os ou-
realizado por técnicos de enfermagem. São esses técnicos que exe- tros cuidados, é você cuidar da pessoa como um todo é você que
cutam as atividades consideradas mais pesadas, cansativas e indis- tem a responsabilidade do doente (E3).
pensáveis à assistência dos pacientes como higiene, alimentação, As falas demonstram que o significado de cuidado ao paciente
terapêutica medicamentosa, realização de curativos, entre outras é importante para os técnicos de enfermagem, devendo buscar a
atividades consideradas essencialmente manuais. assistência contínua e individualizada. A finalidade de cuidar é vista
como integral, assumindo isso como uma responsabilidade.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O cuidado é uma constituição ontológica sempre subjacente a A terceira categoria que emergiu foi designada: vivenciado o
tudo que o ser humano empreende, projeta e faz. É reconhecido trabalho em equipe. Esse fato foi apontado nos discursos dos en-
como o modo de existir essencial ao ser humano. Considerando o trevistados, os quais entendem que o trabalho na UTI é realizado
cuidado enquanto essência do homem, ele diz respeito à própria através da união da equipe, tendo por características o companhei-
formação do indivíduo; o que une o espírito é o cuidado. A pessoa, rismo, a colaboração, a humanização, a compreensão e também as
através do cuidado, expressa o que sente, pensa e acredita. É pelo relações de hierarquia entre seus integrantes. Os depoimentos a
cuidado que ele constrói o mundo e sua história. seguir mostram essa realidade.
A enfermagem tem sido descrita como a ciência do cuidado e (.....) é a união, a gente tem que trabalhar com o paciente da
os cuidados são realizados, na grande maioria das vezes, por auxi- gente como também auxiliar o companheiro tem que ser uma equi-
liares e técnicos de enfermagem preparados para essa função(7-8). pe(E1).
É possível cuidar do paciente de forma integral, como um indi- Você tem respaldo da chefia em tudo é um trabalho hierarqui-
víduo em toda sua complexidade, com determinantes biológicos, zado e em equipe (E2).
sociais, psicológicos, familiares, culturais e ambientais, pois o cerne O trabalho aqui é em equipe, mas o que diferenciou para mim
do trabalho de enfermagem não deve ser apenas o corpo biológico, de outros locais foi a humanização das pessoas, principalmente dos
mas, sim, o ser humano em todos os seus aspectos(7-8). funcionários, o companheirismo, a solidariedade, muito compa-
O trabalhador de enfermagem almeja ser responsável em suas nheiro mesmo, o colega pergunta o que você tem hoje? Ele compre-
ações de cuidado, uma vez que os pacientes estão sob sua respon- ende que você não está bem, não te cobra, procura entende (E4).
sabilidade e necessitam de assistência para a recuperação da saúde Trabalhar em equipe é fundamental na dinâmica das inter-re-
É fundamental para o trabalhador de enfermagem estar preo- lações e no vínculo entre os componentes. Trabalhar em grupo po-
cupado com o cuidado ao paciente, pois quem presta o cuidado ex-
tencializa a realização do trabalho e, como conseqüência, há aten-
pressa ou não a solidariedade, o compromisso, a dedicação, dentre
dimento com maior qualidade aos pacientes.
outros atributos necessários para os pacientes e familiares.
A forma mais democrática, produtiva e humanizada de se efe-
A segunda categoria foi nomeada: vivenciando o desgaste no
tuar o trabalho em saúde tem sido a organização baseada na for-
cotidiano do processo de trabalho dos técnicos de enfermagem. Os
trabalhadores entrevistados expuseram a sobrecarga de trabalho mação de equipes. O labor transcorre com mais tranqüilidade e as
e o ambiente pesado da UTI que gera cansaço, estresse, desgaste relações em grupo passam da formalidade para a informalidade por
físico e mental, conforme foi percebido nos depoimentos que se alguns momentos, no sentido de os membros dessa equipe terem
seguem. liberdade de expor seus problemas relacionados ao ambiente de
(...) É também um ambiente pesado, cansativo, torna-se can- trabalho, bem como os pessoais.
sativo porque você tem dois ou três pacientes para você às vezes Quando há espaço que favorece a interação e a integração en-
tocar, porque o número de funcionários às vezes não é grande e a tre os membros da equipe de enfermagem e, também, o trabalho
demanda dos paciente é sempre grande (....) É estressante porque a ser desenvolvido é planejado e realizado dentro da competência
você trabalha com paciente entubado, totalmente inconsciente, de cada um ocorre o envolvimento de todos, favorecendo o com-
totalmente dependente da enfermagem, você tem que fazer tudo prometimento e a implementação das atividades conjuntamente.
por ele, e as vezes você fica estressado, fica cansado no físico e no Nos depoimentos dos entrevistados, eles reconhecem que há
mental (E1). uma hierarquia estruturada, mas pautada na flexibilidade, na ajuda,
(....) mas, às vezes, dependendo do período é bem desgastante, no estar sempre presente nos momentos em que necessitam de
quando falta um funcionário mesmo você tem que assumir o lugar auxílio.
do outro colega que não veio, você assume mais de dois pacientes, A postura autoritária dos supervisores, coordenadores e/ou
eu acho muito corrido, cansativo, e acaba estressando a gente, é chefes de enfermagem não contribui para o bom desempenho dos
também um cansaço porque você percebe que o paciente veio aqui membros da equipe, ao contrário, provoca distanciamento entre
para morrer e um desgaste mental (E2). todos, inclusive dos pacientes. Quando há proximidade entre os
O trabalho de enfermagem na UTI desenvolve-se em um ce- indivíduos da equipe, ocorre facilidade no trabalho e até mesmo
nário do qual fazem parte pacientes em estado crítico de saúde, troca de conhecimentos.
dependentes da assistência, transformando esse ambiente em um Os discursos dos técnicos de enfermagem desvelam que os en-
lugar estressante, cansativo e com sobrecarga de trabalho. fermeiros estão adotando postura norteada pela gerência participa-
O labor em UTI, por ser uma unidade complexa e com muitas tiva, flexível, preservando o compromisso com todos os integrantes
atividades no cotidiano dos trabalhadores, pode levá-los a desenca- da equipe e com a assistência aos pacientes, tornando o ambiente
dear o estresse ocupacional.
de trabalho harmonioso e com características de equipe em que
Trabalhar em unidades críticas é deparar-se com a morte imi-
todos se ajudam mutuamente.
nente constantemente, com o sofrimento de quem está sendo cui-
A quarta categoria foi nominada: vivenciando o trabalho como
dado e também dos familiares desse cliente, sendo que tais fatores
uma experiência que traz sentimentos ambíguos. No cotidiano do
podem levar ao estresse.
O conhecimento do sofrimento mental na saúde é antigo, po- trabalho na UTI, foi identificado que os técnicos de enfermagem
rém, constitui-se em desafios para os profissionais que desenvol- vivenciam muitos sentimentos paradoxais. Nos discursos verificou-
vem atividades específicas de saúde mental para os indivíduos em -se que caminham juntos: alegria e tristeza, sofrimento e prazer,
qualquer ambiente. estresse e gratificação, realização pessoal e impotência, conforme
É de importância ímpar criar espaço para ouvir e ser ouvido, demonstram os relatos a seguir.
compartilhar os sentimentos vivenciados, contribuindo para am- Então existem os dois lados, o estressante e o gratificante. Tem
pliar a consciência de todos sobre o que está acontecendo com um sentimento de perda também, quando você se aproxima muito
cada um dos trabalhadores em seus diversos aspectos(13). É neces- das pessoas, ganha carinho da pessoa e retribui quando o paciente
sário, no entanto, o acompanhamento de profissionais especialistas está consciente e de repente ele falece [ ] então você sente aquela
para que se desenvolva um trabalho específico, a fim de ser evitado perda também (E1).
ou diminuído o estresse e o sofrimento vivenciados.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

(...) Às vezes me pergunto será que eu podia ter feito mais algu- A construção da identidade profissional mobiliza um processo
ma coisa, a gente se sente meio impotente com esse tipo de situa- de retribuição simbólica de reconhecimento do trabalhador em sua
ção, mas por outro lado, há momentos de prazer quando o paciente singularidade pelo outro, por meio das suas contribuições à orga-
recupera, quando tem alta, quando você vai insistindo e vê que va- nização do trabalho. A identidade é mediada, então, pela atividade
leu a pena investir no paciente (E2). do trabalho que envolve o julgamento dos pares. O coletivo surge
(....) Também a gente fica estressada e triste porque o pacien- como uma ligação de fundamental importância e é o ponto sensível
te fica muito tempo com a gente, você trabalha em cima dele e da dinâmica intersubjetiva da identidade no trabalho.
vê que não adiantou, ele faleceu (....) o sentimento de impotência, A identidade representa a abertura que cada um, em um deter-
será que fiz tudo que foi necessário? Mas tem o lado da gratificação minado momento, consegue ter diante do mundo no qual está. Em
quando você investe e vê que o paciente dia-a-dia vai se recuperan- toda parte, onde quer que se mantenha qualquer tipo de relação,
do até ter alta, é muito prazeroso a gente se realiza como pessoa e com qualquer tipo de ser no mundo, há a interpelação pela iden-
profissional (E3). tidade. Em cada identidade reside uma relação, uma ligação, uma
Os achados do presente estudo são semelhantes aos encon- união. Dessa forma, a identidade surge na história com o caráter da
trados em pesquisa realizada com equipe multiprofissional de uma unidade.
UTI, na qual os resultados revelaram que, para os membros da equi- Em um estudo com professores passando por transformações
pe, a morte representa o sofrimento, a perda e o sentimento de curriculares intensas, observou-se inicialmente a perda da identida-
impotência desses profissionais. de profissional e, somente com a vivência do processo, o confronto
A morte é capaz de provocar para o trabalhador de enferma- com as dificuldades e após o ganho da familiaridade da nova ação é
gem e saúde a vivência de sentimentos de sofrimento, questionan- que a identidade profissional foi ressignificada.
do sobre o que poderia e que deixou de ser feito para manter ou A experiência de ser trabalhador técnico de enfermagem na
recuperar a vida do paciente sob seus cuidados. UTI leva-o a ampliar suas percepções sobre si mesmos, contribuin-
Em síntese, a morte de um paciente na UTI é sempre uma do com o seu aprendizado para o aprimoramento profissional e a
possibilidade de situação geradora de sofrimento para os trabalha- vivência de forma mais autêntica, participando dessa realidade e
dores de enfermagem e de saúde, pois vivenciam sentimentos de crescendo com ela.
impotência, fracasso profissional e os vínculos que foram estabele- Este estudo não teve a pretensão de esgotar essa temática,
cidos são rompidos, às vezes, abruptamente. principalmente considerando as limitações quando se estuda um
tema que envolve a subjetividade dos indivíduos. Porém, pode-se
Por outro lado, há o sentimento de gratificação, de prazer, de dizer que esses resultados mostram a realidade vivenciada em uma
realização pessoal e profissional quando o paciente recebe alta. É o UTI.
sentimento de se ter cumprido com a sua missão que é o cuidar, ou
seja, o salvar vidas, sentir-se útil. Descrição sumária
Quando o paciente se recupera, o trabalhador de enfermagem
sente-se vitorioso e desfruta de sentimentos de prazer. Consegue Orientar e executar o trabalho técnico de enfermagem, partici-
perceber que os resultados de seus esforços valeram à pena. Vi- pando da elaboração do plano de assistência de enfermagem, em
vencia a sensação de que colaborou para que o paciente grave se
conformidade com as normas e procedimentos de biossegurança.
recuperasse e sente que conquistou uma nova vida.
A quinta categoria foi identificada como:criando uma identida-
Descrição detalhada
de com a UTI. É demonstrada nas expressões dos sujeitos que, mes-
1. Executar ações assistenciais de enfermagem, sob supervisão,
mo reconhecendo o processo de trabalho na UTI como desgastante,
observando e registrando sinais e sintomas apresentados pelo do-
estressante e que pode levá-los a viver momentos de tristeza, os en-
ente, fazendo curativos, ministrando medicamentos e outros.
trevistados aprenderam a lidar com essas situações, acostumando-
2. Executar controles relacionados à patologia de cada pacien-
-se com a rotina da unidade e criando laços fortes de identificação
te.
com a mesma, como é constatado nos discursos a seguir.
Mas a gente acaba se acostumando com a rotina, com o tempo. 3. Coletar material para exames laboratoriais.
Você vai ficando mais embrutecida. Você acostuma com os cole- 4. Auxiliar no controle de estoque de materiais, equipamentos
gas, com a rotina, com tudo (....) e aí quero é ficar aqui mesmo. Eu e medicamentos.
aprendi muita coisa é claro que aqui (E2). 5. Operar aparelhos de eletrodiagnóstico.
(...) a gente aprende a lidar com as coisas aqui dentro, porque 6. Cooperar com a equipe de saúde no desenvolvimento das
acontece constantemente e vemos que somos úteis, não quero ir tarefas assistenciais, de ensino, pesquisa e de educação sanitária.
para outra unidade aprendi muito aqui e continuo a aprender (E3). 7. Fazer preparo pré e pós operatório e pré e pós parto.
Quando eu estava querendo desistir dessa área, porque sem- 8. Auxiliar nos atendimentos de urgência e emergência.
pre trabalhei no comércio eu vim para cá, e agradeço a Deus por ter 9. Circular salas cirúrgicas e obstétricas, preparando a sala e o
passado no concurso, no começo fiquei chocada, mas vi que existia instrumental cirúrgico, e instrumentalizando nas cirurgias quando
outro lado. Eu não saio daqui para outro setor de maneira nenhu- necessário.
ma, aqui eu aprendi muito e tenho aprendido todos os dias (E4). 10. Realizar procedimentos referentes à admissão, alta, trans-
Os depoimentos indicam que os trabalhadores, ao se familiari- ferência e óbitos.
zarem com o cotidiano da UTI, se fortalecem para o enfrentamento 11. Manter a unidade de trabalho organizada, zelando pela sua
dos sofrimentos e conseguem, com maior freqüência, utilizar estra- conservação comunicando ao Enfermeiro eventuais problemas.
tégias defensivas conscientes ou não. A partir disso, criam identi- 12. Auxiliar em serviços de rotina da Enfermagem.
ficação com o seu local de trabalho e não querem ser transferidos 13. Colaborar no desenvolvimento de programas educativos,
para outras unidades. atuando no ensino de pessoal auxiliar de atividades de enfermagem
e na educação de grupos da comunidade.
14. Verificar e controlar equipamentos e instalações da unida-
de, comunicando ao responsável.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

15. Auxiliar o Enfermeiro na prevenção e controle das doenças Um centro criado em 1947 na Universidade do Colorado , além
transmissíveis em geral, em programas de vigilância epidemiológica dos cuidados prestados aos prematuros, possuía leitos para mães
e no controle sistemático da infecção hospitalar. com gravidez de risco para parto prematuro e programas de treina-
16. Auxiliar o Enfermeiro na prevenção e controle sistemático mento para serem ministrados em todo o Colorado.
de danos físicos que possam ser causados a pacientes durante a Arvo Ylppo, pediatra finlandês, publicou monografia sobre
assistência de saúde. patologia, fisiologia, clínica, crescimento e prognóstico de recém-
17. Desempenhar tarefas relacionadas a intervenções cirúr- -nascidos, relatos que serviram como ponto inicial para pediatras
gicas médico-odontológicas, passando-o ao cirurgião e realizando clínicos, professores e investigadores . Em 1924, o pediatra Albert
outros trabalhos de apoio. Peiper, interessou-se pela maturação neurológica de prematuros.
18. Conferir qualitativa e quantitativamente os instrumentos Silverman foi pioneiro em estabelecer o uso de processos cuidado-
cirúrgicos, após o término das cirurgias. samente controlados em berçário de prematuros. O interesse da
19. Orientar a lavagem, secagem e esterilização do material ci- Dra. Dunhan sobre problemas clínicos dos recém-nascidos levou-
rúrgico. -a enfatizar a importância do controle contínuo dos dados federais
20. Zelar, permanentemente, pelo estado funcional dos apa- sobre a mortalidade de recém-nascidos. Isto serviu de base para
relhos que compõe as salas de cirurgia, propondo a aquisição de a política federal, aumento do interesse nos serviços de cuidados
novos, para reposição daqueles que estão sem condições de uso. materno-infantis assim como nas pesquisa peri e neonatais.
21. Preparar pacientes para exames, orientando-os sobre as Ainda segundo AVERY (1984), o termo Neonatologia foi estabe-
condições de realização dos mesmos. lecido por Alexander Schaffer cujo livro sobre o assunto, “Diaseases
22. Registrar os eletrocardiogramas efetuados, fazendo as ano- of the Newborn”, foi publicado primeira vez em 1960 , esse livro
tações pertinentes a fim de liberá-los para os requisitantes e possi- junto com o “Physiology of the Newborn Infant”, de Clement Smint,
bilitar a elaboração de boletins estatísticos. constituem a base do novo campo.
23. Auxiliar nas atividades de radiologia, quando necessário. O trabalho da enfermagem é muito importante na Neonato-
24. Executar tarefas pertinentes à área de atuação, utilizando- logia, pois a enfermeira pode acompanhar o desenvolvimento da
-se de equipamentos e programas de informática. criança antes, durante e depois do nascimento, prestando assistên-
25. Executar outras tarefas para o desenvolvimento das ativida- cia à gestante, à parturiente, à puérpera e ao recém-nascido.
des do setor, inerentes à sua função. O nascimento de uma criança hígida e sadia, a sua sobrevivên-
cia e desenvolvimento normal constituem o objetivo da Enferma-
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi- gem Perinatal (FONTES et al., 1984). O trabalho da enfermagem é
d=S1806-69762008000200007 muito importante na Neonatologia, pois a enfermeira pode acom-
http://www.drh.uem.br/Proposta/Cargos/suporte/descricao- panhar o desenvolvimento da criança antes, durante e depois do
sup/tecnico_de_enfermagem.htm nascimento, prestando assistência à gestante, à parturiente, à puér-
pera e ao recém-nascido.
A Enfermeira Neonatal trabalha em dois setores de fundamen-
ENFERMAGEM EM UTI NEONATAL, MATERNO INFANTIL E
tal importância: alojamento conjunto e unidade de cuidados inten-
PEDIATRA
sivos neonatais.
O alojamento conjunto, conceituado por Pizzato (apud FONTES
A Neonatologia é um campo vasto em desenvolvimento e re-
et al., 1984), é um sistema especial de instalações em maternidade
presenta hoje um grande campo de pesquisa e assistência. É um
, no qual a mãe e o filho podem conviver na mesma área, favore-
campo jovem, uma sub-especialidade da pediatria que se ocupa do
cendo, através desta aproximação e do contato físico, atendimento
recém-nascido, ou seja, do ser humano nas primeiras quatro sema-
às necessidades afetivas, sociais e biológicas da criança e de sua
nas de vida (VIEGAS et al.,1991). Tem por finalidade a assistência ao mãe. A enfermeira é responsável pela elaboração e manutenção de
recém-nascido, bem como a pesquisa clínica, sendo sua principal um plano educacional, organização, administração da assistência de
meta a redução da mortalidade e morbilidade perinatais e a pro- enfermagem ao recém-nascido e a mãe, coordenação dessa assis-
cura da sobrevivência do recém-nascido nas melhores condições tência, desenvolvimento de atividades no campo multidisciplinar,
funcionais possíveis (MARCONDES et al., 1991). orientação, ensino e supervisão dos cuidados de enfermagem pres-
tados, entre outras (VIEGAS,1986).
HISTÓRICO Na unidade de cuidados intensivos neonatais são internados os
recém-nascidos prematuros, que correm risco de vida e necessitam
A história do surgimento da Neonatologia é relatada por AVERY de cuidados 24h por dia. Além das responsabilidade já citadas, a
(1984) em seu livro “Neonatologia, Fisiologia e Tratamento do Re- enfermeira deve promover adaptação do recém-nascido ao meio
cém-Nascido”. Segundo esse autor, a Neonatologia, como especia- externo (manutenção do equilíbrio térmico adequado, quantidade
lidade, surgiu na França. Um obstetra, Dr Pierre Budin, resolveu ideal de umidade, luz, som e estimulo cutâneo), observar o qua-
estender suas preocupações além da sala de parto e criou o Ambu- dro clínico (monitorização de sinais vitais e emprego de procedi-
latório de Puericultura no Hospital Charité de Paris, em 1882. Pos- mentos de assistência especiais), fornecer alimentação adequada
teriormente, chefiou um Departamento Especial para Debilitados para suprir as necessidades metabólicas dos sistemas orgânicos em
estabelecido na Maternidade por Madame Hery , antiga parteira desenvolvimento (se possível, através de aleitamento materno),
chefe . Em 1914, foi criado por um pediatra, Dr Julius Hess, o primei- realizar controle de infecções, estimular o recém-nascido, educar
ro centro de recém-nascidos prematuros no Hospital Michel Reese, os pais, estimular visitas dos familiares, dentre outras atividades
em Chicago. Depois disso, foram criados vários outros centros, que (FONTES,1984).
seguiram os princípios de um obstetra, Dr Budin e de um pediatra
,Dr Hess, para a segregação dos recém-nascidos prematuros com a Fonte: http://www.hospvirt.org.br/enfermagem/port/neo.htm
finalidade de lhes assegurar enfermeiras treinadas com dispositivos
próprios, incluindo incubadoras e procedimentos rigorosos para a
prevenção de infeções.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O enfermeiro ao longo dos anos vem buscando um saber em- - O enfermeiro deve promover um ambiente saudável à criança
basado técnica e cientificamente para a realização de um cuidado e de interação buscando a cooperação da criança;
eficaz e consequentemente uma melhor qualidade de vida ao pa- - Para o enfermeiro é necessário conhecer o Estatuto da Crian-
ciente e ao próprio profissional de saúde, a partir da satisfação pro- ça e do Adolescente e agir sempre na intenção de cumpri-lo;
fissional. - O enfermeiro tem responsabilidade de promover a segurança
Com o objetivo principal de manter o bem-estar da criança e no atendimento à criança em todas as suas fases, por meio de pro-
sua reabilitação, a enfermagem vem desenvolvendo uma nova con- cedimentos técnicos isentos de riscos e manutenção da criança em
cepção de assistência integral, com inserção de novas responsabi- ambiente seguro quando nos momentos de consulta de enferma-
lidades ao pessoal de enfermagem, aperfeiçoando os métodos de gem e internação hospitalar;
trabalho, técnicas, normas e rotinas (CAMPESTRINI, 1991). - Cabe ao enfermeiro manter sua equipe de atendimento ca-
Com o decorrer dos anos, a preocupação com a saúde das pacitada para a prestação da assistência de enfermagem infantil,
crianças vem aumentando em todas as potências mundiais, mesmo construindo em conjunto com os demais profissionais da especia-
em países subdesenvolvidos, onde as taxas de morbimortalidade lidade pediátrica protocolos de atendimento, maneiras de relacio-
infantil destacam-se. namento entre a equipe, criança e pais; capacitação e atualização
Criou-se o Estatuto da Criança e do Adolescente, houve a re- técnica diante de todos os procedimentos realizados em seu local
pressão do trabalho infantil, acelerou-se a fiscalização sobre a vio- de trabalho, entre outros;
lência e abuso sexual na infância, destaca-se em várias campanhas - O enfermeiro em sua atuação no atendimento infantil deverá
educativas a prevenção de acidentes na infância, estimula-se a contribuir para a adaptação da criança ao meio, na consulta ou na
criança a frequentar a escola, as políticas de saúde na atenção à internação hospitalar.
criança baseiam-se na prevenção educativa entre pais e filhos, en-
fim, várias ações são implementadas no cotidiano das crianças para Fonte: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/
que se tornem adultos mais saudáveis física e psicologicamente. enfermagem/atribuicoes-do-enfermeiro-em-pediatria/11742
A Lei nº 8.069 de 1990 institui o Estatuto da Criança e do Ado-
lescente (ECA), regulamentando os direitos das crianças e adoles-
centes a partir das diretrizes contidas na Constituição Federal de
1988, e na inter-relação de algumas normativas internacionais ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM APLICADA À SAÚDE
como: Declaração dos Direitos da Criança (Resolução 1.386 da ONU SEXUAL E REPRODUTIVA DA MULHER COM ÊNFASE
– 20 de novembro de 1959), Regras Mínimas das Nações Unidas NAS AÇÕES DE BAIXA E MÉDIA COMPLEXIDADE.ASSIS-
para a administração da Justiça da Infância e da Juventude (Regras TÊNCIA DE ENFERMAGEM À GESTANTE, PARTURIENTE
de Beijing Resolução 40/33 da ONU – 29 de novembro de 1985) E PUÉRPERA
e Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência
Juvenil (Diretriz de Riad – ONU 1º de março de 1988). SAÚDE DA MULHER
Mesmo diante de todas as ações e organizações que estimulam
direta ou indiretamente o cuidado, ainda é espantoso algumas esta- Diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da
tísticas apresentadas relacionadas com: morbimortalidade infantil; Mulher
pedofilia; trabalho infantil; violência física e sexual; uso de drogas
na infância; abandono da criança pelos pais; acidentes de trânsito – O Sistema Único de Saúde deve estar orientado e capacitado
que envolvem crianças; entre tantos outros. para a atenção integral à saúde da mulher, numa perspectiva que
Desta forma, é imprescindível a atenção continuada sobre a contemple a promoção da saúde, as necessidades de saúde da po-
situação das crianças, no intuito de buscar diariamente uma me- pulação feminina, o controle de patologias mais prevalentes nesse
lhor qualidade de vida a elas por meio da prevenção de doenças grupo e a garantia do direito à saúde.
e agravos. O enfermeiro enquanto agente de promoção e preven- – A Política de Atenção à Saúde da Mulher deverá atingir as mu-
ção da saúde da criança é ligado diretamente a todas as situações lheres em todos os ciclos de vida, resguardadas as especificidades
cotidianas da vida da criança, talvez este seja um dos motivos tão das diferentes faixas etárias e dos distintos grupos populacionais
peculiares de trabalhar com este público. (mulheres negras, indígenas, residentes em áreas urbanas e rurais,
O trabalho de enfermagem com crianças vai além de uma mera residentes em locais de difícil acesso, em situação de risco, presidi-
observação e avaliação física, já que quaisquer situações sociais e/ árias, de orientação homossexual, com deficiência, dentre outras).
ou ambientais que a criança estiver exposta terão reflexo na evolu- – A elaboração, a execução e a avaliação das políticas de saúde
ção do crescimento e desenvolvimento, tendo o enfermeiro a res- da mulher deverão nortear-se pela perspectiva de gênero, de raça e
ponsabilidade investigativa das causas dos déficits detectados. de etnia, e pela ampliação do enfoque, rompendo-se as
Diante disso, podem-se descrever como principais habilidades fronteiras da saúde sexual e da saúde reprodutiva, para alcan-
e atribuições do enfermeiro em pediatria as seguintes: çar todos os aspectos da saúde da mulher.
- O enfermeiro deve conhecer todo o processo de Crescimento e – A gestão da Política de Atenção à Saúde deverá estabelecer
Desenvolvimento da Criança, para realização de uma avaliação eficiente; uma dinâmica inclusiva, para atender às demandas emergentes ou
- O enfermeiro deve interagir sempre com a criança e a família, uma vez demandas antigas, em todos os níveis assistenciais.
que todos os processos ambientais e sociais que interferem no desenvolvi- – As políticas de saúde da mulher deverão ser compreendidas
mento normal de uma criança podem estar ligados ao convívio familiar ou em sua dimensão mais ampla, objetivando a criação e ampliação
social;- O enfermeiro necessita ser conhecedor de todas as políticas de saúde das condições necessárias ao exercício dos direitos da mulher, seja
de atenção à criança e a operacionalização das mesmas, para que consiga no âmbito do SUS, seja na atuação em parceria do setor Saúde com
sempre em sua atuação realizar os encaminhamentos necessários; outros setores governamentais, com destaquepara a segurança, a
- O enfermeiro precisa buscar ferramentas na comunicação justiça, trabalho, previdência social e educação.
com a criança, interação, tornando assim a informação um processo
presente e a relação com a equipe de enfermagem satisfatória para
busca de bons resultados;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

– A atenção integral à saúde da mulher refere-se ao conjunto Objetivos Gerais da Política Nacional de Atenção Integral à
de ações de promoção, proteção, assistência e recuperação da saú- Saúde da Mulher
de, executadas nos diferentes níveis de atenção à saúde (da básica
à alta complexidade). – Promover a melhoria das condições de vida e saúde das mu-
– O SUS deverá garantir o acesso das mulheres a todos os níveis lheres brasileiras, mediante a garantia de direitos legalmente cons-
de atenção à saúde, no contexto da descentralização, hierarquiza- tituídos e ampliação do acesso aos meios e serviços de promoção,
ção e integração das ações e serviços. Sendo responsabilidade dos prevenção, assistência e recuperação da saúde em todo território
três níveis gestores, de acordo com as competências de cada um, brasileiro.
garantir as condições para a execução da Política de Atenção à Saú- – Contribuir para a redução da morbidade e mortalidade femi-
de da Mulher. nina no Brasil, especialmente por causas evitáveis, em todos os ci-
– A atenção integral à saúde da mulher compreende o atendi- clos de vida e nos diversos grupos populacionais, sem discriminação
mento à mulher a partir de uma percepção ampliada de seu contex- de qualquer espécie.
to de vida, do momento em que apresenta determinada demanda, – Ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à saúde da
assim como de sua singularidade e de suas condições enquanto su- mulher no Sistema Único de Saúde.
jeito capaz e responsável por suas escolhas.
– A atenção integral à saúde da mulher implica, para os pres- Objetivos Específicos e Estratégias da Política
tadores de serviço, no estabelecimento de relações com pessoas Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher
singulares, seja por razões econômicas, culturais, religiosas, raciais,
de diferentes orientações sexuais, etc. O atendimento deverá nor- Ampliar e qualificar a atenção clínico-ginecológica, inclusive
tear-se pelo respeito a todas as diferenças, sem discriminação de para as portadoras da infecção pelo HIV e outras DST:
qualquer espécie e sem imposição de valores e crenças pessoais. – fortalecer a atenção básica no cuidado com a mulher;
Esse enfoque deverá ser incorporado aos processos de sensibiliza- – ampliar o acesso e qualificar a atenção clínico- ginecológica
ção e capacitação para humanização das práticas em saúde. na rede SUS. Estimular a implantação e implementação da assistên-
– As práticas em saúde deverão nortear-se pelo princípio da cia em planejamento familiar, para homens e mulheres, adultos e
humanização, aqui compreendido como atitudes e comportamen- adolescentes, no âmbito da atenção integral à saúde:
tos do profissional de saúde que contribuam para reforçar o caráter – ampliar e qualificar a atenção ao planejamento familiar, in-
da atenção à saúde como direito, que melhorem o grau de informa- cluindo a assistência à infertilidade;
ção das mulheres em relação ao seu corpo e suas condições de saú- – garantir a oferta de métodos anticoncepcionais para a popu-
de, ampliando sua capacidade de fazer escolhas adequadas ao seu lação em idade reprodutiva;
contexto e momento de vida; que promovam o acolhimento das de- – ampliar o acesso das mulheres às informações sobre as op-
mandas conhecidas ou não pelas equipes de saúde; que busquem ções de métodos anticoncepcionais;
o uso de tecnologia apropriada a cada caso e que demonstrem o – estimular a participação e inclusão de homens e adolescen-
interesse em resolver problemas e diminuir o sofrimento associado tes nas ações de planejamento familiar. Promover a atenção obsté-
ao processo de adoecimento e morte da clientela e seus familiares. trica e neonatal, qualificada e humanizada, incluindo a assistência
– No processo de elaboração, execução e avaliação das Política ao abortamento em condições inseguras, para mulheres e adoles-
de Atenção à Saúde da Mulher deverá ser estimulada e apoiada a centes:
participação da sociedade civil organizada, em particular do movi- – construir, em parceria com outros atores, um Pacto Nacional
mento de mulheres, pelo reconhecimento de sua contribuição téc- pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal; – qualificar a
nica e política no campo dos direitos e da saúde da mulher. assistência obstétrica e neonatal nos estados e municípios;
– Compreende-se que a participação da sociedade civil na im- -organizar rede de serviços de atenção obstétrica e neonatal,
plementação das ações de saúde da mulher, no âmbito federal, es- garantindo atendimento à gestante de alto risco e em situações de
tadual e municipal requer urgência/emergência, incluindo mecanismos de referência e con-
– cabendo, portanto, às instânciasgestoras – melhorar e quali- tra-referência; – fortalecer o sistema de formação/capacitação de
ficar os mecanismos de repasse de informações sobre as políticas pessoal na área de assistência obstétrica e neonatal; – elaborar e/
de saúde da mulher e sobre os instrumentos de gestão e regulação ou revisar, imprimir e distribuir material técnico e educativo
do SUS. – qualificar e humanizar a atenção à mulher em situação de
abortamento;
– No âmbito do setor Saúde, a execução de ações será pactua- – apoiar a expansão da rede laboratorial; – garantir a oferta de
da entre todos os níveis hierárquicos, visando a uma atuação mais ácido fólico e sulfato ferroso para todas as gestantes;
abrangente e horizontal, além de permitir o ajuste às diferentes re- – melhorar a informação sobre a magnitude e tendência da
alidades regionais. mortalidade materna
– As ações voltadas à melhoria das condições de vida e saúde -Promover a atenção às mulheres e adolescentes em situação
das mulheres deverão ser executadas de forma articulada com se- de violência doméstica e sexual:
tores governamentais e não-governamentais; condição básica para – organizar redes integradas de atenção às mulheres em situa-
a configuração de redes integradas de atenção à saúde e para a ob- ção de violência sexual e doméstica;
tenção dos resultados esperados. – articular a atenção à mulher em situação de violência com
ações de prevenção de DST/aids
– promover ações preventivas em relação à violência domés-
tica e sexual.

Promover, conjuntamente com o PN-DST/AIDS, a prevenção e o


controle das doenças sexualmente transmissíveis e da infecção pelo
HIV/aids na população feminina:
– prevenir as DST e a infecção pelo HIV/aids entre mulheres;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

– ampliar e qualificar a atenção à saúde das mulheres vivendo Durante muitos anos, a amamentação representou uma alter-
com HIV e aids. Reduzir a morbimortalidade por câncer na popula- nativa exclusiva e eficaz de espaçar as gestações, pois as mulheres
ção feminina: apresentam sua fertilidade diminuída neste período, considerando
– organizar em municípios pólos de microrregiões redes de re- que, quanto mais frequentes são as mamadas, mais altos são os ní-
ferência e contra-referência para o diagnóstico e o tratamento de veis de prolactina e consequentemente menores as possibilidades
câncer de colo uterino e de mama; de ovulação.
– garantir o cumprimento da Lei Federal que prevê a cirurgia de Os fatores que determinam o retorno da ovulação não são pre-
reconstrução mamária nas mulheres que realizaram mastectomia; cisamente conhecidos, de modo que, mesmo diante dos casos de
– oferecer o teste anti-HIV e de sífilis para as mulheres incluídas aleitamento exclusivo, a partir do 3º mês é recomendada a utiliza-
no Programa Viva Mulher, especialmente aquelas com diagnóstico ção de um outro método. Até o 3º mês, se o aleitamento é exclusivo
de DST, HPV e/ou lesões intra-epiteliais de alto grau/ câncer invasor. e ainda não ocorreu menstruação, as possibilidades de gravidez são
Implantar um modelo de atenção à saúde mental das mulheres sob mínimas.
o enfoque de gênero: Atualmente, com a descoberta e divulgação de novas tecnolo-
– melhorar a informação sobre as mulheres portadoras de gias contraceptivas e a mudança nos modos de viver das mulheres
transtornos mentais no SUS; em relação a sua capacidade de trabalho, o seu desejo de materni-
– qualificar a atenção à saúde mental das mulheres; – incluir o dade, a forma como percebe seu corpo como fonte de prazer e não
enfoque de gênero e de raça na atenção às mulheres portadoras de apenas de reprodução foram fatores que incentivaram o abandono
transtornos mentais e promover a integração com setores não-go- e o descrédito do aleitamento como método capaz de controlar a
fertilidade.
vernamentais, fomentando sua participação nas definições da polí-
Outro método é o coito interrompido, sendo também uma
tica de atenção às mulheres portadoras de transtornos mentais. Im-
maneira muito antiga de evitar a gravidez. Consiste na retirada do
plantar e implementar a atenção à saúde da mulher no climatério:
pênis da vagina e de suas proximidades, no momento em que o ho-
– ampliar o acesso e qualificar a atenção às mulheres no cli-
mem percebe que vai ejacular. Desta forma, evitando o contato do
matério na rede SUS. Promover a atenção à saúde da mulher na sêmen com o colo do útero é que se impede a gravidez.
terceira idade: Seu uso está contraindicado para os homens que têm ejacu-
– incluir a abordagem às especificidades da atenção a saúde da lação precoce ou não conseguem ter controle sobre a ejaculação.
mulher na Política de Atenção à Saúde do Idoso no SUS; – incentivar a
incorporação do enfoque de gênero na Atenção à Saúde do Idoso no Os métodos naturais ou de abstinência periódica são aqueles
SUS. Promover a atenção à saúde da mulher negra: que utilizam técnicas para evitar a gravidez e se baseiam na auto-
– melhorar o registro e produção de dados; – capacitar pro- -observação de sinais ou sintomas que ocorrem fisiologicamente no
fissionais de saúde; – implantar o Programa de Anemia Falciforme organismo feminino, ao longo do ciclo menstrual, e que, portanto,
(PAF/MS), dando ênfase às especificidades das mulheres em idade ajudam a identificar o período fértil.
fértil e no ciclo gravídico-puerperal; – incluir e consolidar o recorte Quem quer ter filhos, deve ter relações sexuais nos dias férteis,
racial/étnico nas ações de saúde ; e quem não os quer, deve abster-se das relações sexuais ou nestes
-estimular e fortalecer a interlocução das áreas de saúde da dias fazer uso de outro método – os de barreira, por exemplo.
mulher das SES e SMS com os movimentos e entidades relaciona- A determinação do período fértil baseia-se em três princípios
dos à saúde da população negra. científicos, a saber:
A ovulação costuma acontecer 14 dias antes da próxima menstru-
Promover a atenção à saúde das trabalhadoras do campo e da cidade: ação (pode haver uma variação de 2 dias, para mais ou para menos);
– implementar ações de vigilância e atenção à saúde da traba- O óvulo, após a ovulação, tem uma vida média de 24 horas;
lhadora da cidade e do campo, do setor formal e informal; O espermatozoide, após sua deposição no canal vaginal, tem
– introduzir nas políticas de saúde e nos movimentos sociais a capacidade para fecundar um óvulo até o período de 48-72 horas.
noção de direitos das mulheres trabalhadoras relacionados à saúde. Os métodos naturais, de acordo com o Ministério da Saúde,
Promover a atenção à saúde da mulher indígena: são:
– ampliar e qualificar a atenção integral à saúde da mulher in-
dígena. Promover a atenção à saúde das mulheres em situação de a) Método de Ogino-Knaus
prisão, incluindo a promoção das ações de prevenção e controle Esse método é também conhecido como tabela, que ajuda a
mulher a descobrir o seu período fértil através do controle dos dias
de doenças sexualmente transmissíveis e da infecção pelo HIV/aids
do seu ciclo menstrual. Logo, cada mulher deverá elaborar a sua
nessa população:
própria tabela.
– ampliar o acesso e qualificar a atenção à saúde das presidi-
Sabemos que a tabela foi vulgarizada, produzindo a formulação
árias. Fortalecer a participação e o controle social na definição e
de tabelas únicas que supostamente poderiam ser utilizadas por
implementação das políticas de atenção integral à saúde das mu- qualquer mulher. Isto levou a um grande número de falhas e con-
lheres: sequente descrédito no método, o que persiste até os dias de hoje.
– promover a integração com o movimento de mulheres femi- Para fazer a tabela deve-se utilizar o calendário do ano, anotan-
nistas no aperfeiçoamento da política de atenção integral à saúde do em todos os meses o 1º dia da menstruação. O ciclo menstrual
da mulher, no âmbito do SUS; começa no 1º dia da menstruação e termina na véspera da mens-
truação seguinte, quando se inicia um novo ciclo.
Assistência aos Casais Férteis A primeira coisa a fazer é certificar-se de que a mulher tem os
ciclos regulares. Para tal é preciso que se tenha anotado, pelo me-
É o acompanhamento dos casais que não apresentam dificul- nos, os seis últimos ciclos.
dades para engravidar, mas que não o desejam. Desta forma, estu-
daremos os métodos contraceptivos mais conhecidos e os ofereci-
dos pelas instituições.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Como identificar se os ciclos são regulares ou não? A temperatura deve ser verificada sempre no mesmo local: na
Depois de anotados os seis últimos ciclos, deve-se contá-los, boca, no reto ou na vagina. A temperatura oral deve ser verificada
anotando quantos dias durou cada um. Selecionar o maior e o me- em um tempo mínimo de 5 minutos e as temperaturas retal e vagi-
nor dos ciclos. nal, no mínimo 3 minutos, observando-se sempre o mesmo horário
Se a diferença entre o ciclo mais longo e o mais curto for igual para que não haja alteração do gráfico de temperatura.
ou superior a 10 dias, os ciclos desta mulher serão considerados Caso a mulher esqueça-se de verificar a temperatura um dia,
irregulares e, portanto, ela não deverá utilizar este método. Além deve recomeçar no próximo ciclo.
do que, devem procurar um serviço de saúde, pois a irregularidade Registrar a temperatura a cada dia do ciclo em um papel qua-
menstrual indica um problema ginecológico que precisa ser inves- driculado comum, em que as linhas horizontais referem-se às tem-
tigado e tratado. peraturas, e as verticais, aos dias do ciclo. Após a marcação, ligar os
Se a diferença entre eles for inferior a 10 dias, os ciclos são pontos referentes a cada dia, formando uma linha que vai do1º ao
considerados regulares e esta mulher poderá fazer uso da tabela. 2º, do 2º ao 3º, do 3º ao 4ºdia e daí por diante.
Em seguida, verificar a ocorrência de um aumento persistente
Como fazer o cálculo para identificar o período fértil? da temperatura basal por 3 dias seguidos, no período esperado da
Subtrai-se 18 dias do ciclo mais curto e obtém-se o dia do início ovulação.
do período fértil. O aumento da temperatura varia entre 0,2ºC a 0,6ºC. A diferen-
Subtrai-se 11 dias do ciclo mais longo e obtém-se o último dia ça de no mínimo 0,2ºC entre a última temperatura baixa e as três
do período fértil. temperaturas altas indica que a ovulação ocorreu e a temperatura
Após a determinação do período fértil, a mulher e seu compa- se manterá alta até a época da próxima menstruação.
nheiro que não desejam obter gravidez, devem abster-se de rela- O período fértil termina na manhã do 3º dia em que for obser-
vada a temperatura elevada. Portanto, para evitar gravidez, o casal
ções sexuais com penetração, neste período, ou fazer uso de outro
deve abster-se de relações sexuais, com penetração, durante toda
método. Caso contrário, devem-se intensificar as relações sexuais
a primeira fase do ciclo até a manhã do 3º dia de temperatura ele-
neste período.
vada.
Após 3 meses de realização do gráfico da temperatura, pode-se
Recomendações Importantes: predizer a data da ovulação e, a partir daí, a abstinência sexual po-
O parceiro deve sempre ser estimulado a participar, ajudando derá ficar limitada ao período de 4 a 5 dias antes da data prevista da
com os cálculos e anotações. ovulação até a manhã do 3º dia de temperatura alta. Os casais que
Após a definição do período fértil, a mulher deverá continuar quiserem engravidar devem manter relações sexuais neste período.
anotando os seus ciclos, pois poderão surgir alterações relativas ao ta- Durante estes 3 meses, enquanto estiver aprendendo a usar a
manho do maior e menor ciclo, mudando então o período fértil, bem tabela da temperatura, deverá utilizar outro método contraceptivo,
como poderá inclusive surgir, inesperadamente, uma irregularidade com exceção do contraceptivo hormonal.
menstrual que contraindique a continuidade do uso do método. A ocorrência de qualquer fator que pode vir a alterar a tempe-
Não se pode esquecer que o dia do ciclo menstrual não é igual ratura deve ser anotada no gráfico. Como exemplo, tem-se: mudan-
ao dia do mês. ça no horário de verificação da temperatura; perturbações do sono
Cada mulher deve fazer sua própria tabela e a tabela de uma e/ou emocionais; algumas doenças que podem elevar a temperatu-
mulher não serve para outra. ra; mudanças de ambiente e uso de bebidas alcoólicas.
No período de 6 meses em que a mulher estiver fazendo as Esse método é contraindicado em casos de irregularidades
anotações dos ciclos, ela deverá utilizar outro método, com exceção menstruais, amenorreia, estresse, mulheres com períodos de sono
da pílula, pois esta interfere na regularização dos ciclos. irregular ou interrompido (por exemplo, trabalho noturno).
Os ciclos irregulares e a lactação são contraindicações no uso Assim como no método do calendário, para a construção do
desse método. gráfico ou tabela de temperatura, a mulher e/ou casal deverá con-
Os profissionais de saúde deverão construir a tabela junto com tar com a orientação de profissionais de saúde e neste caso em
a mulher e refazer os cálculos todas as vezes que forem necessárias, especial, no decorrer dos três primeiros meses de uso, quando, a
até que a mulher se sinta segura para tal, devendo retornar à unida- partir daí, já se poderá predizer o período da ovulação. O retorno
de dentro de 1 mês e, depois, de 6 em 6 meses. da cliente deverá se dar, pelo menos, em seis meses após o início do
uso do método. Em seguida, os retornos podem ser anuais.
b) Método da Temperatura Basal Corporal
É o método que permite identificar o período fértil por meio c) Método da ovulação ou do muco cervical ou Billings
É o método que indica o período fértil por meio das caracterís-
das oscilações de temperatura que ocorrem durante o ciclo mens-
ticas do muco cervical e da sensação de umidade por ele provocada
trual, com o corpo em repouso.
na vulva.
Antes da ovulação, a temperatura do corpo da mulher perma-
O muco cervical é produzido pelo colo do útero, tendo como
nece em nível mais baixo. Após a ovulação, com a formação do cor-
função umidificar e lubrificar o canal vaginal. A quantidade de muco
po lúteo e o consequente aumento da produção de progesterona, produzida pode oscilar ao longo dos ciclos
que tem efeito hipertérmico, a temperatura do corpo se eleva ligei- Para evitar a gravidez, é preciso conhecer as características do
ramente e permanece assim até a próxima menstruação. muco. Isto pode ser feito observando-se diariamente a presença ou
ausência do muco através da sensação de umidade ou secura no
Como construir a Tabela ou Gráfico de Temperatura? canal vaginal ou através da limpeza da vulva com papel higiênico,
A partir do 1º dia do ciclo menstrual, deve-se verificar e anotar antes e após urinar. Esta observação pode ser feita visualizando-se a
a temperatura todos os dias, antes de se levantar da cama, depois presença de muco na calcinha ou através do dedo no canal vaginal.
de um período de repouso de 3 a 5 horas, usando-se sempre o mes- Logo após o término da menstruação, tem-se, em geral, uma
mo termômetro. fase seca (fase pré-ovulatória). Quando aparece muco nesta fase,
geralmente é opaco e pegajoso.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Na fase ovulatória, o muco, que inicialmente era esbranqui- e) Condom Masculino


çado, turvo e pegajoso, vai-se tornando a cada dia mais elástico e Também conhecido como camisinha, camisa de vênus ou pre-
lubrificante, semelhante à clara de ovo, podendo-se puxá-lo em fio. servativo, é uma capa de látex bem fino, porém resistente, descar-
Isto ocorre porque neste período os níveis de estrogênio estão ele- tável, que recobre o pênis completamente durante o ato sexual.
vados e é nesta fase que o casal deve abster-se de relações sexuais, Evita a gravidez, impedindo que os espermatozoides penetrem
com penetração, pois há risco de gravidez. no canal vaginal, pois retém o sêmen ejaculado. O condom protege
O casal que pretende engravidar deve aproveitar este período contra as doenças sexualmente transmissíveis e por isso seu uso
para ter relações sexuais. deve ser estimulado em todas as relações sexuais.
O último dia de muco lubrificante, escorregadio e com elastici- Deve ser colocado antes de qualquer contato do pênis com os
dade máxima, chama-se dia ápice, ou seja, o muco com a máxima genitais femininos, porque alguns espermatozoides podem escapar
capacidade de facilitar a espermomigração. Portanto, o dia ápice só antes da ejaculação.
pode ser identificado a posteriori e significa que em mais ou menos Deve ser colocado com o pênis ereto, deixando um espaço de
48 horas a ovulação já ocorreu, está ocorrendo ou vai ocorrer. aproximadamente 2 cm na ponta, sem ar, para que o sêmen seja
Na fase pós-ovulatória, já com o predomínio da progesterona, depositado sem que haja rompimento da camisinha.
o muco forma uma verdadeira rolha no colo uterino, impedindo As camisinhas devem ser guardadas em lugar fresco, seco e de
que os espermatozoides penetrem no canal cervical. É um muco fácil acesso ao casal. Não deve ser esticada ou inflada, para efeito
pegajoso, branco ou amarelado, grumoso, que dá sensação de se- de teste. Antes de utilizá-la, certifique-se do prazo de validade. Mes-
cura no canal vaginal. mo que esteja no prazo, não utilizá-la quando perceber alterações
No 4º dia após o dia ápice, a mulher entra no período de infer- como mudanças na cor, na textura, furo, cheiro diferente, mofo ou
tilidade. outras. A camisinha pode ou não já vir lubrificada de fábrica.
As relações sexuais devem ser evitadas desde o dia em que A colocação pode ser feita pelo homem ou pela mulher. Sua
aparece o muco grosso até quatro dias depois do aparecimento do manipulação deve ser cuidadosa, evitando-se unhas longas que po-
muco elástico. dem danificá-la. Deve-se observar se o canal vaginal está suficien-
No início, é bom examinar o muco mais de uma vez ao dia, fa- temente úmido para permitir uma penetração que provoque pouca
zendo o registro à noite, preferencialmente, no mesmo horário. É fricção, evitando- se assim que o condom se rompa.
importante anotar as características do muco e os dias de relações Lubrificantes oleosos como a vaselina não podem ser utiliza-
sexuais. dos. Caso necessário, utilizar lubrificantes a base de água. Cremes,
Quando notar, no mesmo dia, mucos com características dife- geleias ou óvulos vaginais espermicidas podem ser utilizados em
rentes, à noite, na hora de registrar, deve considerar o mais indica- associação com a camisinha. Após a ejaculação, o pênis deve ser re-
tivo de fertilidade (mais elástico e translúcido). tirado ainda ereto. As bordas da camisinha devem ser pressionadas
No período de aprendizagem do método, para identificar os com os dedos, ao ser retirado, para evitar que o sêmen extravase
dias em que pode ou não ter relações sexuais, o casal deve observar ou que o condom se desprenda e fique na vagina. Caso isto ocorra,
as seguintes recomendações: é só puxar com os dedos e colocar espermaticida na vagina, com
Só deve manter relações sexuais na fase seca posterior à mens- um aplicador. Caso não consiga retirar a camisinha, coloque esper-
truação e, no máximo, dia sim, dia não, para que o sêmen não in- micida e depois procure um posto de saúde para que a mesma seja
terfira na avaliação. retirada. Nestes casos, não faça lavagem vaginal pois ela empurra
Evitar relações sexuais nos dias de muco, até três dias após o ainda mais o espermatozoide em direção ao útero. Após o uso, de-
dia ápice. ve-se dar um nó na extremidade do condom para evitar o extrava-
É importante ressaltar que o muco não deve ser examinado no samento de sêmen e jogá-lo no lixo e nunca no vaso sanitário. O uso
dia em que a mulher teve relações sexuais, devido à presença de do condom é contraindicado em casos de anomalias do pênis e de
esperma; depois de utilizar produtos vaginais ou duchas e lavagens alergia ao látex.
vaginais; durante a excitação sexual; ou na presença de leucorreias.
É recomendável que durante o 1º ciclo, o casal se abstenha f) Condom feminino ou camisinha feminina
de relações sexuais. Os profissionais de saúde devem acompa- Feita de poliuretano, a camisinha feminina tem forma de saco,
nhar semanalmente o casal no 1º ciclo e os retornos se darão, de aproximadamente 25 cm de comprimento, com dois anéis flexí-
no mínimo, uma vez ao mês do 2º ao 6º ciclo e semestral a partir veis, um em cada extremidade. O anel menor fica na parte fechada
daí. do saco e é este que, sendo introduzido no canal vaginal, irá se en-
caixar no colo do útero. O anel maior fica aderido às bordas do lado
d) Método sinto-térmico aberto do saco e ficará do lado de fora, na vulva. Deste modo, a ca-
Baseia-se na combinação de múltiplos indicadores de ovula- misinha feminina se adapta e recobre internamente toda a vagina.
ção, conforme os anteriormente citados, com a finalidade de deter- Assim, impede o contato com o sêmen e consequentemente
minar o período fértil com maior precisão e confiabilidade. tem ação preventiva contra as DST.
Associa a observação dos sinais e sintomas relativos à tempera- Já está sendo disponibilizada em nosso meio. Sua divulgação
tura basal corporal e ao muco cervical, levando em conta parâme- tem sido maior em algumas regiões do país, sendo ainda pouco co-
tros subjetivos (físicos ou psicológicos) que possam indicar ovula- nhecida em outras.
ção, tais como sensação de peso ou dor nas mamas, dor abdominal,
variações de humor e da libido, náuseas, acne, aumento de apetite, g) Espermaticida ou Espermicida
ganho de peso, pequeno sangramento intermenstrual, dentre ou- São produtos colocados no canal vaginal, antes da relação
tros. sexual. O espermicida atua formando uma película que recobre o
Os métodos de barreira são aqueles que não permitem à entra- canal vaginal e o colo do útero, impedindo a penetração dos esper-
da de espermatozoides no canal cervical. matozoides no canal cervical e, bioquimicamente, imobilizando ou
destruindo os espermatozoides, impedindo desta forma a gravidez.
Podem se apresentar sob a forma de cremes, geleias, óvulos e
espumas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Cada tipo vem com suas instruções para uso, as quais devem O diafragma só deverá ser retirado de 6 a 8 horas após a última
ser seguidas. Em nosso meio, a geleia espermicida é a mais conheci- relação sexual, evitando-se o uso de duchas vaginais neste período.
da. A geleia espermicida deve ser colocada na vagina com o auxílio O período máximo que o diafragma pode permanecer dentro do ca-
de um aplicador. A mulher deve estar deitada e após a colocação nal vaginal é de 24 horas. Mais que isto, poderá favorecer infecções.
do medicamento, não deve levantar-se mais, para evitar que esta Após o uso, deve-se lavá-lo com água fria e sabão neutro, enxá-
escorra. O aplicador, contendo o espermaticida, deve ser inserido guar bem, secar com um pano macio e polvilhar com amido ou talco
o mais profundamente possível no canal vaginal. Da mesma forma, neutro. Não usar água quente. Guardá-lo em sua caixinha, longe do
quando os espermaticidas se apresentarem sob a forma de óvulos, calor e da luz.
estes devem ser colocados com o dedo ou com aplicador próprio no Será necessário reavaliar o tamanho do diafragma depois de
fundo do canal vaginal. É recomendável que a aplicação da geleia gravidez, aborto, ganho ou perda de peso (superior a 10 kg) e cirur-
seja feita até, no máximo, 1 hora antes de cada relação sexual, sen- gias de períneo. Deverá ser trocado rotineiramente a cada 2 anos.
do ideal o tempo de 30 minutos para que o agente espermaticida As contraindicações para o uso desse método ocorrem no
se espalhe adequadamente na vagina e no colo do útero. Deve-se caso de mulheres que nunca tiveram relação sexual, configuração
seguir a recomendação do fabricante, já que pode haver recomen- anormal do canal vaginal, prolapso uterino, cistocele e/ou retocele
dação de tempos diferentes de um produto para o outro. Os es- acentuada, anteversão ou retroversão uterina acentuada, fístulas
permicidas devem ser colocados de novo, se houver mais de uma vaginais, tônus muscular vaginal deficiente, cervicites e outras pato-
ejaculação na mesma relação sexual. Se a ejaculação não ocorrer
logias do colo do útero, leucorreias abundantes, alterações psíqui-
dentro do período de segurança garantido pelo espermicida, deve
cas graves, que impeçam o uso correto do método.
ser feita outra aplicação. Deve-se evitar o uso de duchas ou lava-
gens vaginais pelo menos 8 horas após o coito. Caso se observe
i) Os contraceptivos hormonais orais
algum tipo de leucorréia, prurido e ardência vaginal ou peniana,
interromper o uso do espermaticida. Este é contraindicado para Constituem um outro método muito utilizado pela mulher bra-
mulheres que apresentem alto risco gestacional sileira; são hormônios esteroides sintéticos, similares àqueles pro-
duzidos pelos ovários da mulher.
h) Diafragma Quando a mulher faz opção pela pílula anticoncepcional, ela
É uma capa de borracha que tem uma parte côncava e uma deve ser submetida a uma criteriosa avaliação clínico-ginecológica,
convexa, com uma borda de metal flexível ou de borracha mais durante a qual devem ser realizados e solicitados diversos exames,
espessa que pode ser encontrada em diversos tamanhos, sendo para avaliação da existência de possíveis contraindicações.
necessária avaliação pelo médico e/ou enfermeiro, identificando a O contraceptivo hormonal oral só impedirá a gravidez se toma-
medida adequada a cada mulher do adequadamente. Cada tipo de pílula tem uma orientação espe-
A própria mulher o coloca no canal vaginal, antes da relação cífica a considerar.
sexual, cobrindo assim o colo do útero, pois suas bordas ficam situ-
adas entre o fundo de saco posterior da vagina e o púbis. j) DIU (Dispositivo Intrauterino)
Para ampliar a eficácia do diafragma, recomenda-se o uso as- É um artefato feito de polietileno, com ou sem adição de subs-
sociado de um espermaticida que deve ser colocado no diafragma tâncias metálicas ou hormonais, que tem ação contraceptiva quan-
em quantidade correspondente a uma colherinha de café no fundo do posto dentro da cavidade uterina.
do mesmo, espalhando-se com os dedos. Depois, colocar mais um Também podem ser utilizados para fins de tratamento, como é
pouco por fora, sobre o anel. o caso dos DIUs medicados com hormônios.
O diafragma impedirá, então, a gravidez por meio da barreira Podem ser classificados em DIUs não medicados aqueles que
mecânica e, ainda assim, caso algum espermatozoide consiga esca- não contêm substâncias ativas e, portanto, são constituídos apenas
par, se deparará com a barreira química, o espermaticida. de polietileno; DIUs medicados que além da matriz de polietileno
Para colocar e retirar o diafragma, deve-se escolher uma posição possuem substâncias que podem ser metais, como o cobre, ou hor-
confortável (deitada, de cócoras ou com um pé apoiado sobre uma su- mônios.
perfície qualquer), colocar o espermaticida, pegar o diafragma pelas bor- Os DIUs mais utilizados são os T de cobre (TCu), ou seja, os DIUs
das e apertá-lo no meio de modo que ele assuma o formato de um 8. que têm o formato da letra T e são medicados com o metal cobre.
Com a outra mão, abrir os lábios da vulva e introduzi-lo profun-
O aparelho vem enrolado em um fio de cobre bem fino.
damente na vagina. Após, fazer um toque vaginal para verificar se
A presença do DIU na cavidade uterina provoca uma reação in-
está bem colocado, ou seja, certificar-se de que está cobrindo todo
flamatória crônica no endométrio, como nas reações a corpo estra-
o colo do útero.
nho. Esta reação provavelmente determina modificações bioquími-
Se estiver fora do lugar, deverá ser retirado e recolocado até
acertar. Para retirá-lo, é só encaixar o dedo na borda do diafragma e cas no endométrio, o que impossibilita a implantação do ovo. Outra
puxá-lo para fora e para baixo. ação do DIU é o aumento da contratilidade uterina, dificultando o
É importante observar os seguintes cuidados, visando o melhor encontro do espermatozoide com o óvulo. O cobre presente no dis-
aproveitamento do método: urinar e lavar as mãos antes de colocar positivo tem ação espermicida.
o diafragma (a bexiga cheia poderá dificultar a colocação); antes do A colocação do DIU é simples e rápida. Não é necessário anes-
uso, observá-lo com cuidado, inclusive contra a luz, para identificar tesia. É realizada em consultório e para a inserção é utilizado técni-
possíveis furos ou outros defeitos; se a borracha do diafragma ficar ca rigorosamente asséptica.
enrugada, ele deverá ser trocado imediatamente. A mulher deve estar menstruada. A menstruação, além de ser
O espermaticida só é atuante para uma ejaculação. Caso acon- uma garantia de que não está grávida, facilita a inserção, pois neste
teça mais de uma, deve-se fazer uma nova aplicação do espermati- período o canal cervical está mais permeável. Após a inserção, a
cida, por meio do aplicador vaginal, sem retirar o diafragma. mulher é orientada a verificar a presença dos fios do DIU no canal
vaginal.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Na primeira semana de uso do método, a mulher não deve ter A infertilidade é a dificuldade de o casal chegar ao final da gra-
relações sexuais. O Ministério da Saúde recomenda que após a in- videz com filhos vivos, ou seja, conseguem engravidar, porém as
serção do DIU a mulher deva retornar ao serviço para revisões com gestações terminam em abortamentos espontâneos ou em nati-
a seguinte periodicidade: 1 semana, 1 mês, 3 meses, 6 meses e 12 mortos.
meses. A partir daí, se tudo estiver bem, o acompanhamento será A infertilidade também pode ser classificada em primária ou
anual, com a realização do preventivo. secundária. A infertilidade primária é quando o casal não conseguiu
O DIU deverá ser retirado quando a mulher quiser, quando ti- gerar nenhum filho vivo. A secundária é quando as dificuldades em
ver com a validade vencida ou quando estiver provocando algum gerar filhos vivos acontecem com casais com filhos gerados ante-
problema. riormente.
A validade do DIU varia de acordo com o tipo. A validade do DIU De acordo com o Ministério da Saúde, para esta classificação
Tcu, disponibilizado pelo Ministério da Saúde, varia de 3 a 7 anos. não são consideradas as gestações ou os filhos vivos que qualquer
Os problemas que indicam a retirada do DIU são dor severa, dos membros do casal possa ter tido com outro(a) parceiro(a).
sangramento intenso, doença pélvica inflamatória, expulsão par- A esterilidade/infertilidade, com frequência, impõe um estres-
cial, gravidez (até a 12ª semana de gravidez, se os fios estiverem se e tensão no inter-relacionamento. Os clientes costumam admitir
visíveis ao exame especular, pois indica que o saco gestacional está sentimentos de culpa, ressentimentos, suspeita, frustração e ou-
acima do DIU, e se a retirada não apresentar resistência). tros. Pode haver uma distorção da autoimagem, pois a mulher pode
considerar-se improdutiva e o homem desmasculinizado.
Assistência aos Casais Portadores Portanto, na rede básica caberá aos profissionais de saúde dar
de Esterilidade eInfertilidade orientações ao casal e encaminhamento para consulta no decorrer
da qual se iniciará a investigação diagnóstica com posterior encami-
nhamento para os serviços especializados, sempre que necessário.
A esterilização cirúrgica foi maciçamente realizada nas mulhe-
res brasileiras, a partir das décadas de 60 e 70, por entidades que
Assistência de Enfermagem á Gestante
sob o rótulo de “planejamento familiar” desenvolviam programas
de controle da natalidade em nosso país. O reconhecimento da im-
Diagnosticando á Gravidez
portância e complexidade que envolve as questões relativas à este-
rilização cirúrgica tem se refletido no âmbito legal. A Lei do Planeja- Quanto mais cedo for realizado o diagnóstico de gravidez, mais
mento Familiar de 1996 e as Portarias 144/97 e 48/99 do Ministério fácil será o acompanhamento do desenvolvimento do embrião/feto e
da Saúde normatizam os procedimentos, permitindo que o Sistema das alterações que ocorrem no organismo e na vida da mulher, possi-
Único de Saúde (SUS)os realize, em acesso universal. Os critérios bilitando prevenir, identificar e tratar eventuais situações de anorma-
legais para a realização da esterilização cirúrgica pelo SUS são: ter lidades que possam comprometer a saúde da grávida e de sua criança
capacidade civil plena; ter no mínimo 2 filhos vivos ou ter mais de (embrião ou feto), desde o período gestacional até o puerpério.
25 anos de idade, independente do número de filhos; manifestar, Este diagnóstico também pode ser feito tomando-se como
por escrito, a vontade de realizar a esterilização, no mínimo 60 dias ponto de partida informações trazidas pela mulher. Para tanto, fa-
antes da realização da cirurgia; ter tido acesso a serviço multidis- z-se importante sabermos se ela tem vida sexual ativa e se há refe-
ciplinar de aconselhamento sobre anticoncepção e prevenção de rência de amenorreia (ausência de menstruação). A partir desses
DST/AIDS, assim como a todos os métodos anticoncepcionais rever- dados e de um exame clínico são identificados os sinais e sintomas
síveis; ter consentimento do cônjuge, no caso da vigência de união físicos e psicológicos característicos, que também podem ser iden-
conjugal. tificados por exames laboratoriais que comprovem a presença do
No caso do homem, a cirurgia é a vasectomia, que interrompe hormônio gonadotrofina coriônica e/ou exames radiográficos espe-
a passagem, pelos canais deferentes, dos espermatozoides produ- cíficos, como a ecografia gestacional ou ultrassonografia.
zidos nos testículos, impedindo que estes saiam no sêmen. Na mu- Os sinais e sintomas da gestação dividem-se em três catego-
lher, é a ligadura de trompas ou laqueadura tubária que impede o rias que, quando positivas, confirmam o diagnóstico. É importante
encontro do óvulo com o espermatozoide. lembrar que muitos sinais e sintomas presentes na gestação podem
O serviço que realizar o procedimento deverá oferecer todas também aparecer em outras circunstâncias. Visando seu maior co-
as alternativas contraceptivas visando desencorajar a esterilização nhecimento, identificaremos a seguir os sinais e sintomas gestacio-
precoce. nais mais comuns e que auxiliam o diagnóstico.
Deverá, ainda, orientar a cliente quanto aos riscos da cirurgia,
efeitos colaterais e dificuldades de reversão. A lei impõe restrições Sinais de presunção – são os que sugerem gestação, decorren-
tes, principalmente, do aumento da progesterona:
quanto à realização da laqueadura tubária por ocasião do parto ce-
a) Amenorreia - frequentemente é o primeiro sinal que alerta
sáreo, visando coibir o abuso de partos cirúrgicos realizados exclu-
para uma possível gestação. É uma indicação valiosa para a mulher
sivamente com a finalidade de realizar a esterilização.
que possui menstruação regular; entretanto, também pode ser re-
A abordagem desta problemática deve ser sempre conjugal.
sultado de condições como, por exemplo, estresse emocional, mu-
Tanto o homem quanto a mulher podem possuir fatores que contri- danças ambientais, doenças crônicas, menopausa, uso de métodos
buam para este problema, ambos devem ser investigados. contraceptivos e outros;
A esterilidade é a incapacidade do casal obter gravidez após b) Náusea com ou sem vômitos - como sua ocorrência é mais
pelo menos um ano de relações sexuais frequentes, com ejaculação frequente pela manhã, é denominada “enjoo matinal”, mas pode
intravaginal, sem uso de nenhum método contraceptivo. Pode ser clas- ocorrer durante o restante do dia. Surge no início da gestação e,
sificada em primária ou secundária. A esterilidade primária é quando normalmente, não persiste após 16 semanas;
nunca houve gravidez. Já a secundária, é quando o casal já conseguiu c) Alterações mamárias – caracterizam-se pelo aumento da
obter, pelo menos, uma gravidez e a partir daí passou a ter dificuldades sensibilidade, sensação de peso, latejamento e aumento da pig-
para conseguir uma nova gestação. mentação dos mamilos e aréola; a partir do segundo mês, as ma-
mas começam a aumentar de tamanho;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

d) Polaciúria – é o aumento da frequência urinária. Na gravi- Algumas gestantes apresentam essas alterações de forma mais
dez, especialmente no primeiro e terceiro trimestre, dá-se o preen- intensa; outras, de forma mais leve - o que pode estar associado às
chimento e o consequente crescimento do útero que, por sua vez, particularidades psicossocioculturais. Dentre estes casos, podemos
pressiona a bexiga diminuindo o espaço necessário para realizar a observar as perversões alimentares decorrentes de carência de mi-
função de reservatório. A esta alteração anatômica soma-se a alte- nerais no organismo (ferro, vitaminas), tais como o desejo de ingerir
ração fisiológica causada pela ação da progesterona, que provoca barro, gelo ou comidas extravagantes.
um relaxamento da musculatura lisa da bexiga, diminuindo sua ca- Para minimizar tais ocorrências, faz-se necessário acompanhar
pacidade de armazenamento; a evolução da gestação por meio do pré-natal, identificando e anali-
e) Vibração ou tremor abdominal – são termos usados para sando a sintomatologia apresentada, ouvindo a mulher e lhe repas-
descrever o reconhecimento dos primeiros movimentos do feto, sando informações que podem indicar mudanças próprias da gravi-
pela mãe, os quais geralmente surgem por volta da 20ª semana. dez. Nos casos em que esta sintomatologia se intensificar, indica-se
Por serem delicados e quase imperceptíveis, podem ser confundi- a referência a algumas medidas terapêuticas.
dos com gases intestinais.
Sinais de probabilidade – são os que indicam que existe uma Assistência Pré-Natal
provável gestação:
a) Aumento uterino – devido ao crescimento do feto, do útero
A assistência pré-natal é o primeiro passo para a vivência da
e da placenta;
gestação, parto e nascimento saudável e humanizado. Todas as
b) Mudança da coloração da região vulvar – tanto a vulva
mulheres têm o direito constitucional de ter acesso ao pré-natal e
como o canal vaginal torna-se bastante vascularizados, o que altera
informações sobre o que está ocorrendo com o seu corpo, como mi-
sua coloração de rosa avermelhado para azul escuro ou vinhosa;
c) Colo amolecido – devido ao aumento do aporte sanguíneo nimizar os desconfortos provenientes das alterações gravídicas, co-
na região pélvica, o colo uterino torna-se mais amolecido e embe- nhecer os sinais de risco e aprender a lidar com os mesmos, quando
bido, assim como as paredes vaginais tornam-se mais espessas, en- a eles estiver exposta.
rugadas, amolecidas e embebidas. O conceito de humanização da assistência ao parto pressupõe
d) Testes de gravidez - inicialmente, o hormônio gonadotrofina a relação de respeito que os profissionais de saúde estabelecem
coriônica é produzido durante a implantação do ovo no endomé- com as mulheres durante todo o processo gestacional, de parturi-
trio; posteriormente, passa a ser produzido pela placenta. Esse hor- ção e puerpério, mediante um conjunto de condutas, procedimen-
mônio aparece na urina ou no sangue 10 a 12 dias após a fecunda- tos e atitudes que permitem à mulher expressar livremente seus
ção, podendo ser identificado mediante exame específico; sentimentos.
e) Sinal de rebote – é o movimento do feto contra os dedos do Essa atuação, condutas e atitudes visam tanto promover um
examinador, após ser empurrado para cima, quando da realização parto e nascimento saudáveis como prevenir qualquer intercorrên-
de exame ginecológico (toque) ou abdominal; cia clínico-obstétrica que possa levar à morbimortalidade materna
f) Contrações de Braxton-Hicks – são contrações uterinas in- e perinatal.
dolores, que começam no início da gestação, tornando-se mais no- A equipe de saúde desenvolve ações com o objetivo de pro-
táveis à medida que esta avança, sentidas pela mulher como um mover a saúde no período reprodutivo; prevenir a ocorrência de
aperto no abdome. Ao final da gestação, tornam-se mais fortes, fatores de risco; resolver e/ou minimizar os problemas apresenta-
podendo ser confundidas com as contrações do parto. dos pela mulher, garantindo-lhe a aderência ao acompanhamento.
Assim, quando de seu contato inicial para um primeiro atendimento
Sinais de certeza – são aqueles que efetivamente confirmam no serviço de saúde, precisa ter suas necessidades identificadas e
a gestação: resolvidas, tais como, dentre outras: a certeza de que está grávi-
a) Batimento cardíaco fetal (BCF) - utilizando-se o estetoscó- da o que pode ser comprovado por exame clínico e laboratorial;
pio de Pinard, pode ser ouvido, frequentemente, por volta da 18a inscrição/registro no pré-natal; marcação de nova consulta com a
semana de gestação; caso seja utilizado um aparelho amplificador inscrição no pré-natal e encaminhamento ao serviço de nutrição,
denominado sonar Doppler, a partir da 12ª semana. A frequência odontologia e a outros como psicologia e assistência social, quando
cardíaca fetal é rápida e oscila de 120 a 160 batimentos por minuto;
necessários.
b) Contornos fetais – ao examinar a região abdominal, fre-
Durante todo esse período, o auxiliar de enfermagem pode mini-
quentemente após a 20ª semana de gestação, identificamos algu-
mizar-lhe a ansiedade e/ou temores fazendo com que a mulher, seu
mas partes fetais (polo cefálico, pélvico, dorso fetal);
companheiro e/ou família participem ativamente do processo, em to-
c) Movimentos fetais ativos – durante o exame, a atividade
fetal pode ser percebida a partir da 18ª/20ª semana de gestação. dos os momentos, desde o pré-natal até o pós-nascimento. Visando
A utilização da ultrassonografia facilita a detectar mais precoce promover a compreensão do processo de gestação, informações sobre
desses movimentos; as diferentes vivências devem ser trocadas entre as mulheres e os pro-
d) Visualização do embrião ou feto pela ultrassonografia – fissionais de saúde. Ressalte-se, entretanto, que as ações educativas
pode mostrar o produto da concepção (embrião) com quatro se- devem ser prioridades da equipe de saúde.
manas de gestação, além de mostrar a pulsação cardíaca fetal nessa
mesma época. Após a 12ª semana de gestação, a ultrassonografia Durante o pré-natal, os conteúdos educativos importantes
apresenta grande precisão diagnóstica. Durante a evolução da ges- para serem abordados, desde que adequados às necessidades das
tação normal, verificamos grande número de sinais e sintomas que gestantes, são:
indicam alterações fisiológicas e anatômicas da gravidez. Além dos - Pré-natal e Cartão da Gestante – apresentar a importância,
já descritos, frequentemente encontrados no primeiro trimestre objetivos e etapas, ouvindo as dúvidas e ansiedades das mulheres;
gestacional, existem outros como o aumento da salivação (sialor-
reia) e sangramentos gengivais, decorrentes do edema da mucosa
gengival, em vista do aumento da vascularização.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Desenvolvimento da gravidez – apresentar as alterações emo- Quando a data da Última Menstruação é Desconhecida pela
cionais, orgânicas e da autoimagem; hábitos saudáveis como ali- Gestante
mentação e nutrição, higiene corporal e dentária, atividades físicas, Nesse caso, uma das formas clínicas para o cálculo da idade
sono e repouso; vacinação antitetânica; relacionamento afetivo e gestacional é a verificação da altura uterina, ou a realização de ul-
sexual; direitos da mulher grávida/direitos reprodutivos – no Siste- trassonografia.
ma de Saúde, no trabalho e na comunidade; identificação de mitos Geralmente, essa medida equivale ao número de semanas ges-
e preconceitos relacionados à gestação, parto e maternidade – es- tacionais, mas só deve ser considerada a partir de um exame obs-
clarecimentos respeitosos; vícios e hábitos que devem ser evitados tétrico detalhado.
durante a gravidez; preparo para a amamentação; Outro dado a ser registrado no cartão é a situação vacinal da
Tipos de parto – aspectos facilitadores do preparo da mulher; gestante. Sua imunização com vacina antitetânica é rotineiramente
exercícios para fortalecer o corpo na gestação e para o parto; pre- feita no pré-natal, considerando-se que os anticorpos produzidos
paro psíquico e físico para o parto e maternidade; início do trabalho ultrapassam a barreira placentária, vindo a proteger o concepto
de parto, etapas e cuidados; contra o tétano neonatal - pois a infecção do bebê pelo Clostridium
-Participação do pai durante a gestação, parto e maternidade/ tetani pode ocorrer no momento do parto e/ou durante o período
paternidade – importância para o desenvolvimento saudável da de cicatrização do coto umbilical, se não forem observados os ade-
criança; quados cuidados de assepsia.
-Cuidados com a criança recém-nascida, acompanhamento do Ressalte-se que este procedimento também previne o tétano
crescimento e desenvolvimento e medidas preventivas e aleita- na mãe, já que a mesma pode vir a infectar-se por ocasião da epi-
mento materno; siotomia ou cesariana.
-Anormalidades durante a gestação, trabalho de parto, parto e A proteção da gestante e do feto é realizada com a vacina dupla
na amamentação – novas condutas e encaminhamentos. tipo adulto (dT) ou, em sua falta, com o toxóide tetânico (TT).
Gestante Vacinada
O processo gravídico-puerperal é dividido em três grandes fa-
ses: a gestação, o parto e o puerpério. Cada uma das quais possui Esquema básico: na gestante que já recebeu uma ou duas doses da
vacina contra o tétano (DPT, TT, dT, ou DT), deverão ser aplicadas mais
peculiaridades em relação às alterações anátomo-fisiológicas e psi-
uma ou duas doses da vacina dupla tipo adulto (dT) ou, na falta desta, o
cológicas da mulher.
toxoide tetânico (TT), para se completar o esquema básico de três doses.
Reforços: de dez em dez anos. A dose de reforço deve ser an-
O Primeiro Trimestre da Gravidez
tecipada se, após a aplicação da última dose, ocorrer nova gravidez
em cinco anos ou mais.
No início, algumas gestantes apresentam dúvidas, medos e an-
O auxiliar de enfermagem deve atentar e orientar para o sur-
seios em relação às condições sociais. Será que conseguirei criar
gimento das reações adversas mais comuns, como dor, calor, rubor
este filho?
e endurecimento local e febre. Nos casos de persistência e/ou rea-
Como esta gestação será vista no meu trabalho? Conseguirei ções adversas significativas, encaminhar para consulta médica.
conciliar o trabalho com um futuro filho?) e emocionais (Será que A única contraindicação é o relato, muito raro, de reação ana-
esta gravidez será aceita por meu companheiro e/ou minha famí- filática à aplicação de dose anterior da vacina. Tal fato mostra a im-
lia?) que decorrem desta situação. Outras, apresentam modificação portância de se valorizar qualquer intercorrência anterior verbaliza-
no comportamento sexual, com diminuição ou aumento da libido, da pela cliente.
ou alteração da autoestima, frente ao corpo modificado. Na gestação, a mulher tem garantida a realização de exames
Essas reações são comuns, mas em alguns casos necessitam laboratoriais de rotina, dos quais os mais comuns são:
de acompanhamento específico (psicólogo, psiquiatra, assistente Segundo o Ministério da Saúde, os exames laboratoriais abai-
social). xo devem ser solicitados de rotina no pré-natal de baixo risco para
Confirmado o diagnóstico, inicia-se o acompanhamento da ges- todas as gestantes, não fazendo distinção em suas recomendações
tante através da inscrição no pré-natal, com o preenchimento do entre a gestante atendida no setor público ou privado (1):
cartão, onde são registrados seus dados de identificação e socio- - Tipagem sanguínea: Solicitar na primeira consulta. Quando o pai é
econômicos, motivo da consulta, medidas antropométricas (peso, Rh positivo e a mãe é Rh-negativo, deve-se solicitar Coombs indireto na
altura), sinais vitais e dados da gestação atual. primeira consulta e mensalmente a partir de 24 semanas. A positivação
Visando calcular a idade gestacional e data provável do parto(- do teste de Coombs requer manejo em serviço de referência.
DPP), pergunta-se à gestante qual foi à data de sua última menstru- - Hemoglobina e hematócrito (Hb/Ht): na primeira consulta.
ação.(DUM), registrando-se sua certeza ou dúvida. - VDRL: na primeira consulta (repetir no terceiro trimestre).
Existem diversas maneiras para se calcular a idade gestacional, - Glicemia de jejum: solicitar na primeira consulta de pré-natal
considerando-se ou não o conhecimento da data da última mens- (se normal, repetir na 20ª semana).
truação. - EQU e urocultura: solicitar na primeira consulta (repetir na
30ª semana).
Quando a data da Última Menstruação é Conhecida pela Ges- -Anti-HIV: deve ser oferecido na primeira consulta pré-natal
tante. (realizar aconselhamento pré e pós-teste). Quando o resultado é
a) Utiliza-se o calendário, contando o número de semanas a negativo e a paciente se enquadra em uma situação de risco (por-
partir do 1º dia da última menstruação até a data da consulta. A tadora de alguma DST, prática de sexo inseguro, usuária ou parceira
data provável do parto corresponderá ao final da 40ª semana, con- de usuário de drogas injetáveis), o exame deve ser repetido no in-
tada a partir do 1º dia da última menstruação; tervalo de três meses.
b) Uma outra forma de cálculo é somar sete dias ao primeiro - HBsAg: deve ser realizado na primeira consulta para possibi-
dia da última menstruação e adicionar nove meses ao mês em que litar a identificação das gestantes soropositivas cujos bebês, logo
ela ocorreu. após o nascimento, podem se beneficiar do emprego profilático de
imunoglobulina e vacina específica.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Sorologia para toxoplasmose: na primeira consulta, IgM para d) Corrimento vaginal - geralmente, a gestante apresenta-se
todas as gestantes e IgG, quando houver disponibilidade para rea- mais úmida em virtude do aumento da vascularização. Na ocorrên-
lização. cia de fluxo de cor amarelada, esverdeada ou com odor fétido, com
- Citopatológico de colo uterino: deve ser colhido, quando não prurido ou não, agendar consulta médica ou de enfermagem. Nessa
foi realizado durante o ano precedente. circunstância, consultar condutas no Manual de Tratamento e Con-
trole de Doenças Sexualmente Transmissíveis/DST – AIDS/MS;
Estes exames, que devem ser realizados no 1° e 3° trimestre e) Polaciúria – explicar porque ocorre, reforçando a importân-
de gravidez, objetivam avaliar as condições de saúde da gestante, cia da higiene íntima; agendar consulta médica ou de enfermagem
ajudando a detecção, prevenindo sequelas, complicações e a trans- caso exista disúria (dor ao urinar) ou hematúria (sangue na urina),
missão de doenças ao RN, possibilitando, assim, que a gestante seja acompanhada ou não de febre;
precocemente tratada de qualquer anormalidade que possa vir a f) Sangramento nas gengivas - recomendar o uso de escova de
apresentar. dente macia e realizar massagem na gengiva. Agendar atendimento
A enfermagem deve informar acerca da importância de uma odontológico, sempre que possível.
alimentação balanceada e rica em proteínas, vitaminas e sais mi-
nerais, presentes em frutas, verduras, legumes, tubérculos, grãos, Os principais microrganismos que, ao infectarem a gestante,
castanhas, peixes, carnes e leite - elementos importantes no supri- podem transpor a barreira placentária e infectar o concepto são:
mento do organismo da gestante e na formação do novo ser. -vírus: principalmente nos três primeiros meses da gravidez, o
A higiene corporal e oral deve ser incentivada, pois existe o risco vírus da rubéola pode comprometer o embrião, causando má for-
de infecção urinária, gengivite e dermatite. Se a gestante apresen- mação, hemorragias, hepatoesplenomegalia, pneumonias, hepati-
tar reações a odores de pasta de dente, sabonete ou desodorante, te, encefalite e outras. Outros vírus que também podem prejudicar
entre outros, deve ser orientada a utilizar produtos neutros ou mes- o feto são os da varicela, da varíola, do herpes, da hepatite, do sa-
mo água e bucha, conforme permitam suas condições financeiras. rampo e da AIDS;
É importante, já no primeiro trimestre, iniciar o preparo das -bactérias: as da sífilis e tuberculose congênita. Caso a infecção
mamas para o aleitamento materno, banho de sol nas mamas é ocorra a partir do quinto mês de gestação, há o risco de óbito fetal,
uma orientação eficaz. aborto e parto prematuro;
Outras orientações referem-se a algumas das sintomatologias mais -protozoários:causadores da toxoplasmose congênita. A dife-
comuns, a seguir relacionadas, que a gestante pode apresentar no pri- rença da toxoplasmose para a rubéola e sífilis é que, independente-
meiro trimestre e as condutas terapêuticas que podem ser realizadas. mente da idade gestacional em que ocorra a infecção do concepto,
Essas orientações são válidas para os casos em que os sintomas os danos podem ser irreparáveis.
são manifestações ocasionais e transitórias, não refletindo doenças Considerando-se esses problemas, ressalta-se a importância
clínicas mais complexas. Entretanto, a maioria das queixas diminui dos exames sorológicos pré-nupcial e pré-natal, que permitem o
ou desaparece sem o uso de medicamentos, que devem ser utiliza- diagnóstico precoce da(s) doença(s) e a consequente assistência
dos apenas com prescrição. imediata.

a) Náuseas e vômitos - explicar que esses sintomas são muito O segundo trimestre da gravidez
comuns no início da gestação. Para diminuí-los, orientar que a dieta
seja fracionada (seis refeições leves ao dia) e que se evite o uso de No segundo trimestre, ou seja, a partir da 14ª até a 27ª semana
frituras, gorduras e alimentos com odores fortes ou desagradáveis, de gestação, a grande maioria dos problemas de aceitação da gra-
bem como a ingestão de líquidos durante as refeições (os quais de- videz foi amenizada ou sanada e a mulher e/ou casal e/ou família
vem, preferencialmente, ser ingeridos nos intervalos). Comer bola- entram na fase de “curtir o bebê que está por vir”. Começa então a
chas secas antes de se levantar ou tomar um copo de água gelada preparação do enxoval.
com algumas gotas de limão, ou ainda chupar laranja, ameniza os Nesse período, o organismo ultrapassou a fase de estresse e
enjoos. encontra- se com mais harmonia e equilíbrio. Os questionamen-
Nos casos de vômitos frequentes, agendar consulta médica ou tos estão mais voltados para a identificação do sexo (“Menino ou
de enfermagem para avaliar a necessidade de usar medicamentos; menina?”) e condições de saúde da futura criança (“Meu filho será
b) Sialorreia – é a salivação excessiva, comum no início da ges- perfeito?”).
tação. A mulher refere percepção dos movimentos fetais, que já po-
Orientar que a dieta deve ser semelhante à indicada para náu- dem ser confirmados no exame obstétrico realizado pelo enfermei-
seas e vômitos; que é importante tomar líquidos (água, sucos) em ro ou médico.
abundância (especialmente em épocas de calor) e que a saliva deve Com o auxílio do sonar Doppler ou estetoscópio de Pinnard,
ser deglutida, pois possui enzimas que auxiliarão na digestão dos pode-se auscultar os batimentos fetais (BCF). Nesse momento, o
alimentos; auxiliar de enfermagem deve colaborar, garantindo a presença do
c) Fraqueza, vertigens e desmaios - verificar a ingesta e fre- futuro papai ou acompanhante. A emoção que ambos sentem ao
quência alimentar; orientar quanto à dieta fracionada e o uso de escutar pela primeira vez o coração do bebê é sempre muito gran-
chá ou café com açúcar como estimulante, desde que não estejam de, pois confirma-se a geração de uma nova vida.
contraindicados; evitar ambientes mal ventilados, mudanças brus- A placenta encontra-se formada, os órgãos e tecidos estão di-
cas de posição e inatividade. Explicar que sentar- se com a cabeça ferenciados e o feto começa o amadurecimento de seus sistemas.
abaixada ou deitar-se em decúbito lateral, respirando profunda e Reagem ativamente aos estímulos externos, como vibrações, luz
pausadamente, minimiza o surgimento dessas sensações; forte, som e outros.
Tendo em vista as alterações externas no corpo da gestante –
aumento das mamas, produção de colostro e aumento do abdome
- a mulher pode fazer questionamentos tais como: “Meu corpo vai
voltar ao que era antes? Meu companheiro vai perder o interesse
sexual por mim?

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Como posso viver um bom relacionamento sexual? A penetra- Verificar a pressão arterial, agendando consulta médica ou de
ção do pênis machucará a criança?”. Nessas circunstâncias, a equi- enfermagem no sentido de afastar suspeita de hipertensão arterial
pe deve proporcionar- lhe o apoio devido, orientando-a, esclare- e pré-eclâmpsia (principalmente se mais de 24 semanas de gesta-
cendo-a e, principalmente, ajudando-a a manter a autoestima. ção);
A partir dessas modificações e alterações anátomo-fisiológicas, h) Varizes - recomendar que a gestante não permaneça muito
a gestante pode ter seu equilíbrio emocional e físico comprometi- tempo em pé ou sentada e que repouse por 20 minutos, várias ve-
dos, o que lhe gera certo desconforto. Além das sintomatologias zes ao dia, com as pernas elevadas, e não use roupas muito justas e
mencionadas no primeiro trimestre, podemos ainda encontrar nem ligas nas pernas - se possível, deve utilizar meia-calça elástica
queixas frequentes no segundo (abaixo listadas) e até mesmo no especial para gestante;
terceiro trimestre. Assim sendo, o fornecimento das corretas orien- i) Câimbras – recomendar, à gestante, que realize massagens
tações e condutas terapêuticas são de grande importância no senti- no músculo contraído e dolorido, mediante aplicação de calor local,
do de minimizar essas dificuldades. e evite excesso de exercícios;
a) Pirose (azia) - orientar para fazer dieta fracionada, evitando j) Hiperpigmentação da pele - explicar que tal fato é muito co-
frituras, café, qualquer tipo de chá, refrigerantes, doces, álcool e mum na gestação mas costuma diminuir ou desaparecer, em tempo
fumo. Em alguns casos, a critério médico, a gestante pode fazer uso variável, após o parto. Pode apresentar como manchas escuras no
de medicamentos; rosto (cloasma gravídico), mamilos escurecidos ou, ainda, escureci-
b) Flatulência, constipação intestinal, dor abdominal e cóli- mento da linha alva (linha nigra). Para minimizar o cloasma gravídi-
cas – nos casos de flatulências (gases) e/ou constipação intestinal, co, recomenda-se à gestante, quando for expor-se ao sol, o uso de
orientar dieta rica em fibras, evitando alimentos de alta fermenta- protetor solar e chapéu;
ção, e recomendar aumento da ingestão de líquidos (água, sucos). l) Estrias - explicar que são resultado da distensão dos tecidos
Adicionalmente, estimular a gestante a fazer caminhadas, movi- e que não existe método eficaz de prevenção, sendo comum no ab-
mentar-se e regularizar o hábito intestinal, adequando, para ir ao dome, mamas, flancos, região lombar e sacra. As estrias, que no
banheiro, um horário que considere ideal para sua rotina. Agendar início apresentam cor arroxeada, tendem, com o tempo, a ficar de
consulta com nutricionista; se a gestante apresentar flacidez da pa- cor semelhante à da pele;
rede abdominal, sugerir o uso de cinta (com exceção da elástica); m) Edemas – explicar que são resultado do peso extra (placen-
em alguns casos, a critério médico, a gestante pode fazer uso de ta, líquido amniótico e feto) e da pressão que o útero aumentado
medicamentos para gases, constipação intestinal e cólicas. Nas si- exerce sobre os vasos sanguíneos, sendo sua ocorrência bastante
comum nos membros inferiores. Podem ser detectados quando,
tuações em que a dor abdominal ou cólica for persistentes e o ab-
com a gestante em decúbito dorsal ou sentada, sem meias, se pres-
dome gravídico apresentar-se endurecido e dolorido, encaminhar
siona a pele na altura do tornozelo (região perimaleolar) e na perna,
para consulta com o enfermeiro ou médico, o mais breve possível;
no nível do seu terço médio, na face anterior (região prétibial).
c) Hemorroidas – orientar a gestante para fazer dieta rica em
O edema fica evidenciado mediante presença de uma depres-
fibras, visando evitar a constipação intestinal, não usar papel higi- são duradoura (cacifo) no local pressionado. Nesses casos, reco-
ênico colorido e/ou muito áspero, pois podem causar irritações, e mendar que a gestante mantenha as pernas elevadas pelo menos
realizar após defecar, higiene perianal com água e sabão neutro. 20 minutos por 3 a 4 vezes ao dia, quando possível, e que use meia
Agendar consulta médica caso haja dor ou sangramento anal per- elástica apropriada.
sistente; se necessário, agendar consulta de pré-natal e/ou com o
nutricionista; O terceiro trimestre da gravidez
d) Alteração do padrão respiratório - muito frequente na
gestação, em decorrência do aumento do útero que impede a ex- Muitas mulheres deixam de amamentar seus filhos precoce-
pansão diafragmática, intensificada por postura inadequada e/ou mente devido a vários fatores (social, econômico, biológico, psicoló-
ansiedade da gestante. Nesses casos, recomendar repouso em de- gico), nos quais se destacam estilos de vida (urbano ou rural), tipos
cúbito lateral esquerdo ou direito e o uso de travesseiros altos que de ocupação (horário e distância do trabalho), estrutura de apoio
possibilitem elevação do tórax, melhorando a expansão pulmonar. ao aleitamento (creches, tempo de licença-aleitamento) e mitos ou
Ouvir a gestante e conversar sobre suas angústias, agendando con- ausência de informação.
sulta com o psicólogo, quando necessário. Estar atento para asso- Por isso, é importante o preparo dessa futura nutriz ainda no
ciação com outros sintomas (ansiedade, cianose de extremidades, pré-natal, que pode ser desenvolvido individualmente ou em gru-
cianose de mucosas) ou agravamento da dificuldade em respirar, po. As orientações devem abranger as vantagens do aleitamento
pois, embora não frequente, pode tratar-se de doença cardíaca ou para a mãe (prático, econômico e não exige preparo), relacionadas
respiratória; nessa circunstância, agendar consulta médica ou de à involução uterina (retorno e realinhamento das fibras musculares
enfermagem imediata; da parede do útero) e ao desenvolvimento da inter-relação afeti-
e) Desconforto mamário - recomendar o uso constante de su- va entre mãe-filho. Para o bebê, as vantagens relacionam-se com
tiã, com boa sustentação; persistindo a dor, encaminhar para con- a composição do leite, que atende a todas as suas necessidades
sulta médica ou de enfermagem; nutricionais nos primeiros 6 meses de vida, é adequada à digestão e
f) Lombalgia - recomendar a correção de postura ao sentar-se propicia a passagem de mecanismos de defesa (anticorpos) da mãe;
e ao andar, bem como o uso de sapatos com saltos baixos e confor- além disso, o ato de sugar auxilia a formação da arcada dentária, o
que facilitará, posteriormente, a fala.
táveis.
No tocante ao ato de amamentar, a mãe deve receber várias
A aplicação de calor local, por compressas ou banhos mornos, é
orientações: este deve ocorrer sempre que a criança tiver fome e
recomendável. Em alguns casos, a critério médico, a gestante pode
durante o tempo que quiser (livre demanda). Para sua realização,
fazer uso de medicamentos;
a mãe deve procurar um local confortável e tranquilo, posicionar a
g) Cefaleia - conversar com a gestante sobre suas tensões, con- criança da forma mais cômoda - de forma que lhe permita a aboca-
flitos e temores, agendando consulta com o psicólogo, se necessá- nhar o mamilo e toda ou parte da aréola, afastando o peito do nariz
rio. da criança com o auxílio dos dedos – e oferecer-lhe os dois seios

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

em cada mamada, começando sempre pelo que foi oferecido por Para tanto, algumas orientações importantes devem ser ofere-
último (o que permitirá melhor esvaziamento das mamas e maior cidas, como:
produção de leite, bem como o fornecimento de quantidade cons- -a bolsa d’água que envolve o feto ainda intra-útero (bolsa de
tante de gordura em todas as mamadas). líquido amniótico) pode ou não romper-se;
Ao retirar o bebê do mamilo, nunca puxá-lo, pois isto pode cau- -a barriga pode apresentar contrações, ou seja, uma dor tipo
sar rachadura ou fissura. Como prevenção, deve-se orientar a mãe cólica que a fará endurecer e que será intermitente, iniciando com
a introduzir o dedo mínimo na boca do bebê e, quando ele suga-lo, intervalos maiores e diminuindo com a evolução do trabalho de
soltar o mamilo. parto;
Em virtude da proximidade do término da gestação, as expec- -no final do terceiro trimestre, às vezes uma semana antes do
tativas estão mais voltadas para os momentos do parto (“Será que parto, ocorre a saída de um muco branco (parecendo “catarro”) o
vou sentir e/ou aguentar a dor?”) e de ver o bebê (“Será que é per- chamado tampão mucoso, o qual pode ter sinais de sangue no mo-
feito?”). mento do trabalho de parto;
Geralmente, este é um dos períodos de maior tensão da ges- -a respiração deve ser feita de forma tranquila (inspiração pro-
tante. funda e expiração soprando o ar).
No terceiro trimestre, o útero volumoso e a sobrecarga dos sis-
temas cardiovascular, respiratório e locomotor desencadeiam alte- A gestante e seu acompanhante devem ser orientados a pro-
rações orgânicas e desconforto, pois o organismo apresenta menor curar um serviço de saúde imediatamente ao perceberem qualquer
capacidade de adaptação. Há aumento de estresse, cansaço, e sur- intercorrência durante o período gestacional, como, por exemplo,
gem as dificuldades para movimentar-se e dormir. perda transvaginal (líquido, sangue, corrimento, outros); presença
Frequentemente, a gestante refere plenitude gástrica e consti- de dores abdominais, principalmente tipo cólicas, ou dores locali-
pação intestinal, decorrentes tanto da diminuição da área gástrica zadas; contração do abdome, abdome duro (hipertônico); parada
quanto da diminuição da peristalse devido à pressão uterina sobre da movimentação fetal; edema acentuado de membros inferiores e
os intestinos, levando ao aumento da absorção de água no intesti- superiores (mãos); ganho de peso exagerado; visão turva e presen-
no, o que colabora para o surgimento de hemorroidas. É comum ça de fortes dores de cabeça (cefaleia) ou na nuca.
observarmos queixas em relação à digestão de alimentos mais pe- Enfatizamos que no final do processo gestacional a mulher
sados. Portanto, é importante orientar dieta fracionada, rica em pode apresentar um quadro denominado “falso trabalho de parto”,
verduras e legumes, alimentos mais leves e que favoreçam a diges- caracterizando por atividade uterina aumentada (contrações), per-
tão e evitem constipações. O mais importante é a qualidade dos manecendo, entretanto, um padrão descoordenado de contrações.
alimentos, e não sua quantidade. Algumas vezes, estas contrações são bem perceptíveis. Contu-
do, cessam em seguida, e a cérvice uterina não apresenta alterações
(amolecimento, apagamento e dilatação). Tal situação promove alto
Observamos que a frequência urinária aumenta no final da
grau de ansiedade e expectativa da premência do nascimento, sen-
gestação, em virtude do encaixamento da cabeça do feto na cavi-
do um dos principais motivos que levam as gestantes a procurar o
dade pélvica; em contrapartida, a dificuldade respiratória se ame-
hospital. O auxiliar de enfermagem deve orientar a clientela e estar
niza. Entretanto, enquanto tal fenômeno de descida da cabeça não
atento para tais acontecimentos, visando evitar uma admissão pre-
acontece, o desconforto respiratório do final da gravidez pode ser
coce, intervenções desnecessárias e estresse familiar, ocasionando
amenizado adotando a posição de semi fowler durante o descanso.
uma experiência negativa de trabalho de parto, parto e nascimento.
Ao final do terceiro trimestre, é comum surgirem mais varizes
e edema de membros inferiores, tanto pela compressão do útero Para amenizar o estresse no momento do parto, devemos
sobre as veias ilíacas, dificultando o retorno venoso, quanto por orientar a parturiente para que realize exercícios respiratórios, de
efeitos climáticos, principalmente climas quentes. É importante ob- relaxamento e caminhadas, que diminuirão sua tensão muscular e
servar a evolução do edema, pesando a gestante e, procurando evi- facilitarão maior oxigenação da musculatura uterina. Tais exercícios
tar complicações vasculares, orientando seu repouso em decúbito proporcionam melhor rendimento no trabalho de parto, pois pro-
lateral esquerdo, conforme as condutas terapêuticas anteriormente piciam uma economia de energia - sendo aconselháveis entre as
mencionadas. metrossístoles.
Destacamos que no final desse período o feto diminui seus mo- Os exercícios respiratórios consistem em realizar uma inspira-
vimentos pois possui pouco espaço para mexer-se. Assim, a mãe ção abdominal lenta e profunda, e uma expiração como se a ges-
deve ser orientada para tal fenômeno, mas deve supervisionar dia- tante estivesse soprando o vento (apagando a vela), principalmente
riamente os movimentos fetais – o feto deve mexer pelo menos durante as metrossístoles. Na primeira fase do trabalho de parto,
uma vez ao dia. Caso o feto não se movimente durante o período são muito úteis para evitar os espasmos dolorosos da musculatura
de 24 horas, deve ser orientada a procurar um serviço hospitalar abdominal.
com urgência.
Como saber quando será o trabalho de parto? Quais os sinais Assistência de Enfermagem
de trabalho de parto? O que fazer? Essas são algumas das pergun- em Situações Obstétricas de Risco
tas que a mulher/casal e família fazem constantemente, quando
aproxima-se a data provável do parto. Na América Latina, o Brasil é o quinto país com maior índice de
A gestante e/ou casal devem ser orientados para os sinais de mortalidade materna, estimada em 134 óbitos para 100.000 nasci-
início do trabalho de parto. O preparo abrange um conjunto de cui- dos vivos.
dados e medidas de promoção à saúde que devem garantir que a No Brasil, as causas de mortalidade materna se caracterizam
mulher vivencie a experiência do parto e nascimento como um pro- por elevadas taxas de toxemias, outras causas diretas, hemorragias
cesso fisiológico e natural. (durante a gravidez, descolamento prematuro de placenta), compli-
A gestante, juntamente com seu acompanhante, deve ser cações puerperais e abortos. Essas causas encontram-se presentes
orientada para identificar os sinais que indicam o início do trabalho em todas as regiões, com predominância de incidência em diferen-
de parto. tes estados.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A consulta de pré-natal é o espaço adequado para a prevenção Pode ser subdivido em aborto completo (quando o feto e todos
e controle dessas intercorrências, como a hipertensão arterial asso- os tecidos a ele relacionados são eliminados) e aborto incompleto
ciada à gravidez (toxemias), que se caracteriza por ser fator de risco (quando algum tecido permanece retido no interior do útero);
para eclampsia e outras complicações. -Habitual: quando a mulher apresenta abortamentos repetidos
Denomina-se fator de risco aquela característica ou circunstân- (três ou mais) de causa desconhecida;
cia que se associa à probabilidade maior do indivíduo sofrer dano -Terapêutico: é a intervenção médica aprovada pelo Código Pe-
à saúde. Os fatores de risco são de natureza diversa, a saber: bioló- nal Brasileiro (art. 128), praticado com o consentimento da gestante
gicos (idade – adolescente ou idosa; estatura - baixa estatura; peso ou de seu representante legal e realizado nos casos em que há risco
– obesidade ou desnutrição), clínicos (hipertensão, diabetes), am- de vida ou gravidez decorrente de estupro;
bientais (abastecimento deficiente de água, falta de rede de esgo- -Infectado: quando ocorre infecção intra-útero por ocasião do
tos), relacionados à assistência (má qualidade da assistência, cober- abortamento. Acontece, na maioria das vezes, durante as manobras
tura insuficiente ao pré-natal), socioculturais (nível de formação) e para interromper uma gravidez. A mulher apresenta febre em grau
econômicos (baixa renda). variável, dores discretas e contínuas, hemorragia com odor fétido
Esses fatores, associados a fatores obstétricos como primeira e secreção cujo aspecto depende do microrganismo, taquicardia,
gravidez, multiparidade, gestação em idade reprodutiva precoce ou desidratação, diminuição dos movimentos intestinais, anemia, peri-
tardia, abortamentos anteriores e desnutrição, aumentam a proba- tonite, septicemia e choque séptico.
bilidade de morbimortalidade perinatal. Podem ocorrer endocardite, miocardite, tromboflebite e em-
Devemos considerar que a maioria destas mortes maternas e bolia pulmonar;
fetais poderiam ter sido prevenidas com uma assistência adequada
ao pré-natal, parto e puerpério - “98% destas mortes seriam evi- Provocado - é a interrupção ilegal da gravidez, com a morte do
tadas se as mulheres tivessem condições dignas de vida e atenção produto da concepção, haja ou não a expulsão, qualquer que seja o
à saúde, especialmente pré-natal realizado com qualidade, assim seu estado evolutivo. São praticados na clandestinidade, em clínicas
como bom serviço de parto e pós-parto”. privadas ou residências, utilizando-se métodos anti-higiênicos, ma-
Entretanto, há uma pequena parcela de gestantes que, por teriais perfurantes, medicamentos e substâncias tóxicas. Pode levar
terem algumas características ou sofrerem de alguma patologia, à morte da mulher ou evoluir para um aborto infectado;
apresentam maiores probabilidades de evolução desfavorável, tan- Retido – é quando o feto morre e não é expulso, ocorrendo
to para elas como para o feto. Essa parcela é a que constitui o grupo a maceração. Não há sinais de abortamento, porém pode ocorrer
chamado de gestantes de risco. mal-estar geral, cefaleia e anorexia.
Dentre as diversas situações obstétricas de risco gestacional, O processo de abortamento é complexo e delicado para uma
destacam-se as de maior incidência e maior risco, como aborta- mulher, principalmente por não ter podido manter uma gravidez,
mento, doença hipertensiva específica da gravidez (DHEG) e sofri- sendo muitas vezes julgada e culpabilizada, o que lhe acarreta um
mento fetal. estigma social, afetando-lhe tanto do ponto de vista biológico como
Abortamento psicoemocional.

Conceitua-se como abortamento a morte ovular ocorrida an- Independente do tipo de aborto, cada profissional tem papel
tes da 22ª semana de gestação, e o processo de eliminação deste importante na orientação, diálogo e auxílio a essa mulher, diante
produto da concepção é chamado de aborto. O abortamento é dito de suas necessidades. Assim, não deve fazer qualquer tipo de jul-
precoce quando ocorre até a 13ª semana; e tardio, quando entre a gamento e a assistência deve ser prestada de forma humanizada e
13ª e 22ª semanas. com qualidade - caracterizando a essência do trabalho da enferma-
Algumas condições favorecem o aborto, entre elas: fatores gem, que é o cuidar e o acolher, independente dos critérios pesso-
ovulares (óvulos ou espermatozoides defeituosos); diminuição do ais e julgamentos acerca do caso clínico.
hormônio progesterona, resultando em sensibilidade uterina e con- Devemos estar atentos para os cuidados imediatos e media-
trações que podem levar ao aborto; infecções como sífilis, rubéola, tos, tais como: controlar os sinais vitais, verificando sinais de cho-
toxoplasmose; traumas de diferentes causas; incompetência istmo que hipovolêmico, mediante avaliação da coloração de mucosas,
cervical; mioma uterino; “útero infantil”; intoxicações (fumo, álco- hipotensão, pulso fraco e rápido, pele fria e pegajosa, agitação e
ol, chumbo e outros); hipotireoidismo; diabetes mellitus; doenças apatia; verificar sangramento e presença de partes da placenta ou
hipertensivas e fatores emocionais. embrião nos coágulos durante a troca dos traçados ou absorventes
Os tipos de aborto são inúmeros e suas manifestações clínicas colocados na região vulvar (avaliar a quantidade do sangramento
estão voltadas para a gravidade de cada caso e dependência de pelo volume do sangue e número de vezes de troca do absorvente);
uma assistência adequada à mulher. Os tipos de aborto são11: controlar o gotejamento da hidratação venosa para reposição de
-Ameaça de aborto: situação em que há a probabilidade do líquido ou sangue; administrar medicação (antibioticoterapia, soro
aborto ocorrer. Geralmente, caracteriza-se por sangramento mo- antitetânico, analgésicos ou antiespasmódicos, ocitócicos) confor-
derado, cólicas discretas e colo uterino com pequena ou nenhuma me prescrição médica; preparar a paciente para qualquer procedi-
dilatação; mento (curetagem, microcesariana, e outros); prestar os cuidados
-Espontâneo: pode ocorrer por um ovo defeituoso e o subse- após os procedimentos pós-operatórios; procurar tranquilizar a
quente desenvolvimento de defeitos no feto e placenta. Dependen- mulher; comunicar qualquer anormalidade imediatamente à equi-
do da natureza do processo, é considerado: pe de saúde.
a) Evitável: o colo do útero não se dilata, sendo evitado através Nosso papel é orientar a mulher sobre os desdobramentos do
de repouso e tratamento conservador; pós-aborto, como reposição hídrica e nutricional, sono e repouso,
b) Inevitável: quando o aborto não pode ser prevenido, acon- expressão dos seus conflitos emocionais e, psicologicamente, faze-
tecendo a qualquer momento. Apresenta-se com um sangramento -la acreditar na capacidade de o seu corpo viver outra experiência
intenso, dilatação do colo uterino e contrações uterinas regulares. reprodutiva com saúde, equilíbrio e bem-estar.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

É fundamental a observação do sangramento vaginal, atentan- A DHEG aparece após a 20a semana de gestação, como um
do para os aspectos de quantidade, cor, odor e se está acompanha- quadro de hipertensão arterial, acompanhada ou não de edema
do ou não de dor e alterações de temperatura corporal. As mamas e proteinúria (pré-eclâmpsia), podendo evoluir para convulsão e
precisarão de cuidados como: aplicar compressas frias e enfaixá-las, coma (DHEG grave ou eclampsia).
a fim de prevenir ingurgitamento mamário; não realizar a ordenha Durante uma gestação sem intercorrências, a pressão perma-
nem massagens; administrar medicação para inibir a lactação de nece normal e não há proteinúria. É comum a maioria das gestantes
acordo com a prescrição médica. apresentarem edema nos membros inferiores, devido à pressão do
No momento da alta, a cliente deve ser encaminhada para útero grávido na veia cava inferior e ao relaxamento da musculatura
acompanhamento ginecológico com o objetivo de fazer a revisão lisa dos vasos sanguíneos, não sendo este um sinal diferencial.
pós-aborto; identificar a dificuldade de se manter a gestação se for Já o edema de face e de mãos é um sinal de alerta diferencial,
o caso; e receber orientações acerca da necessidade de um período pois não é normal, podendo estar associado à elevação da pressão
de abstinência sexual e, antes de iniciar sua atividade sexual, esco- arterial. Um ganho de peso de mais de 500 g por semana deve ser
lher o método contraceptivo que mais se adeque à sua realidade. observado e analisado como um sinal a ser investigado.
O exame de urina, cujo resultado demonstre presença de pro-
Placenta Prévia (PP) teína, significa diminuição da função urinária. A elevação da pres-
são sistólica em mais de 30 mmhg, ou da diastólica em mais de 15
É uma intercorrência obstétrica de risco caracterizada pela im- mmhg, representa outro sinal que deve ser observado com aten-
plantação da placenta na parte inferior do útero. Com o desenvol- ção. A gestante o companheiro e a família devem estar convenien-
vimento da gravidez, a placenta evolui para o orifício do canal de temente orientados quanto aos sinais e sintomas da DHEG.
parto. Todos esses sinais são motivos de preocupação, devendo ser
pesquisados e avaliados através de marcação de consultas com
Pode ser parcial (marginal), quando a placenta cobre parte do
maior frequência, para evitar exacerbação dessa complicação em
orifício, ou total (oclusiva), quando cobre totalmente o orifício. Am-
uma gravidez de baixo risco, tornando-a de alto risco – o que fará
bas as situações provocam risco de vida materna e fetal, em vista da
necessário o encaminhamento e acompanhamento pelo pré-natal
hemorragia – a qual apresenta sangramento de cor vermelho vivo,
de alto risco.
indolor, constante, sem causa aparente, aparecendo a partir da 22a A pré-eclâmpsia leve é caracterizada por edema e/ou proteinú-
semana de gravidez. ria, e mais hipertensão. À medida que a doença evolui e o vaso es-
Após o diagnóstico de PP, na fase crítica, a internação é a con- pasmo aumenta, surgem outros sinais e sintomas. O sistema ner-
duta imediata com a intenção de promover uma gravidez a termo voso central (SNC) sofre irritabilidade crescente, surgindo cefaleia
ou o mais próximo disso. A supervisão deve ser constante, sendo a occipital, tonteiras, distúrbios visuais (moscas volantes). As mani-
gestante orientada a fazer repouso no leito com os membros discre- festações digestivas - dor epigástrica, náuseas e vômitos - são sinto-
tamente elevados, evitar esforços físicos e observar os movimentos mas que revelam comprometimento de outros órgãos.
fetais e características do sangramento (quantidade e frequência). Com a evolução da doença pode ocorrer a convulsão ou coma,
A conduta na evolução do trabalho de parto dependerá do quadro caracterizando a DHEG grave ou eclampsia, uma das complicações
clínico de cada gestante, avaliando o bem-estar materno e fetal. obstétricas mais graves. Nesta, a proteinúria indica alterações re-
nais, podendo ser acompanhada por oligúria ou mesmo anúria.
Com o vaso espasmo generalizado, o miométrio torna-se hi-
Prenhez Ectópica ou Extrauterina pertônico, afetando diretamente a placenta que, dependendo da
intensidade, pode desencadear seu deslocamento prematuro. Tam-
Consiste numa intercorrência obstétrica de risco, caracterizada bém a hipertensão materna prolongada afeta a circulação placen-
pela implantação do ovo fecundado fora do útero, como, por exem- tária, ocorrendo o rompimento de vasos e acúmulo de sangue na
plo, nas trompas uterinas, ovários e outros. parede do útero, representando outra causa do deslocamento da
Como sinais e sintomas, tal intercorrência apresenta forte dor placenta.
no baixo ventre, podendo estar seguida de sangramento em grande Um sinal expressivo do descolamento da placenta é a dor ab-
quantidade. dominal súbita e intensa, seguida por sangramento vaginal de co-
O diagnóstico geralmente ocorre no primeiro trimestre gesta- loração vermelha-escuro, levando a uma movimentação fetal au-
cional, através de ultrassonografia. A equipe de enfermagem de- mentada, o que indica sofrimento fetal por diminuição de oxigênio
verá estar atenta aos possíveis sinais de choque hipovolêmico e de (anoxia) e aumento excessivo das contrações uterinas que surgem
infecção. como uma defesa do útero em cessar o sangramento, agravando o
estado do feto. Nesses casos, indica-se a intervenção cirúrgica de
A conduta obstétrica é cirúrgica.
emergência – cesariana -, para maior chance de sobrevivência ma-
terna e fetal.
Doenças Hipertensivas Específicas da Gestação (DHEG)
Os fatores de risco que dificultam a oxigenação dos tecidos e,
principalmente, o tecido uterino, relacionam-se à: superdistensão
A hipertensão na gravidez é uma complicação comum e poten- uterina (gemelar, polidrâmnia, fetos grandes); aumento da tensão
cialmente perigosa para a gestante, o feto e o próprio recém-nasci- sobre a parede abdominal, frequentemente observado na primeira
do, sendo uma das causas de maior incidência de morte materna, gravidez; doenças vasculares já existentes, como hipertensão crô-
fetal e neonatal, de baixo peso ao nascer e prematuridade. Pode nica, neuropatia; estresse emocional, levando à tensão muscular;
apresentar-se de forma leve, moderada ou grave. alimentação inadequada.
Existem vários fatores de risco associados com o aumento da A assistência pré-natal tem como um dos objetivos detectar
DHEG, tais como: adolescência/idade acima de 35 anos, conflitos precocemente os sinais da doença hipertensiva, antes que evolua.
psíquicos e afetivos, desnutrição, primeira gestação, história fa- A verificação do peso e pressão arterial a cada consulta servirá para
miliar de hipertensão, diabetes mellitus, gestação múltipla e poli- a avaliação sistemática da gestante, devendo o registro ser feito no
drâmnia. Cartão de Pré-Natal, para acompanhamento durante a gestação e

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parto. O exame de urina deve ser feito no primeiro e terceiro tri- balanço hídrico; manutenção de acesso venoso para hidratação e
mestre, ou sempre que houver queixas urinárias ou alterações dos administração de terapia medicamentosa (anti-hipertensivo, anti-
níveis da pressão arterial. convulsivos, antibióticos, sedativos) e de urgência; colheita de exa-
A equipe de enfermagem deve orientar a gestante sobre a im- mes laboratoriais de urgência; instalação de oxigeno terapia confor-
portância de diminuir a ingesta calórica (alimentos ricos em gordu- me prescrição médica, caso a gestante apresente cianose.
ra, massa, refrigerantes e açúcar) e não abusar de comidas salgadas, Com a estabilização do quadro e as convulsões controladas,
bem como sobre os perigos do tabagismo, que provoca vasoconstri- deve-se preparar a gestante para a interrupção da gravidez (cesá-
ção, diminuindo a irrigação sanguínea para o feto, e do alcoolismo, rea), pois a conduta mais eficaz para a cura da DHEG é o término
que provoca o nascimento de fetos de baixo peso e abortamento da gestação, o que merece apreciação de todo o quadro clínico e
espontâneo. condição fetal, considerando-se a participação da mulher e família
O acompanhamento pré-natal deve atentar para o apareci- nesta decisão.
mento de edema de face e dos dedos, cefaleia frontal e occipital e É importante que a puérpera tenha uma avaliação contínua
outras alterações como irritabilidade, escotomas, hipersensibilida- nas 48 horas após o parto, pois ainda pode apresentar risco de
de a estímulos auditivos e luminosos. A mulher, o companheiro e a vida.
família devem ser orientados quanto aos sinais e sintomas da DHEG
e suas implicações, observando, inclusive, a dinâmica da movimen- Sofrimento Fetal Agudo (SFA)
tação fetal.
A gestante deve ser orientada quanto ao repouso no leito em O sofrimento fetal agudo (SFA) indica que a saúde e a vida do
decúbito lateral esquerdo, para facilitar a circulação, tanto renal feto estão sob-risco, devido à asfixia causada pela diminuição da
quanto placentária, reduzindo também o edema e a tensão arterial, chegada do oxigênio ao mesmo, e à eliminação do gás carbônico.
bem como ser encorajada a exteriorizar suas dúvidas e medos, vi- As trocas metabólicas existentes entre o sangue materno e o
sando minimizar o estresse. fetal, realizadas pela circulação placentária, são indispensáveis para
As condições socioeconômicas desfavoráveis, dificuldade de manter o bem-estar do feto. Qualquer fator que, por um período
acesso aos serviços de saúde, hábitos alimentares inadequados, provisório ou permanente de carência de oxigênio, interfira nessas
entre outros, são fatores que podem vir a interferir no acompanha- trocas será causa de SFA.
mento ambulatorial. Sendo específicos à cada gestante, fazem com O sofrimento fetal pode ser diagnosticado através de alguns
que a eclampsia leve evolua, tornando a internação hospitalar o tra- sinais, como frequência cardíaca fetal acima de 160 batimentos ou
tamento mais indicado. abaixo de 120 por minuto, e movimentos fetais inicialmente au-
mentados e posteriormente diminuídos.
Durante a internação hospitalar a equipe de enfermagem deve Durante essa fase, o auxiliar de enfermagem deve estar atento
estar atenta aos agravos dos sinais e sintomas da DHEG. Portanto, aos níveis pressóricos da gestante, bem como aos movimentos fe-
deve procurar promover o bem-estar materno e fetal, bem como tais. Nas condutas medicamentosas, deve atuar juntamente com a
proporcionar à gestante um ambiente calmo e tranquilo, manter a equipe de saúde.
supervisão constante e atentar para o seu nível de consciência, já Nos casos em que se identifique sofrimento fetal e a gestante
que os estímulos sonoros e luminosos podem desencadear as con- esteja recebendo infusão venosa contendo ocitocina, tal fato deve
vulsões, pela irritabilidade do SNC. Faz-se necessário, também, con- ser imediatamente comunicado à equipe e a solução imediatamen-
trolar a pressão arterial e os batimentos cardiofetais (a frequência te suspensa e substituída por solução glicosada ou fisiológica pura.
será estabelecida pelas condições da gestante), bem como pesar a A equipe responsável pela assistência deve tranquilizar a ges-
gestante diariamente, manter-lhe os membros inferiores discreta- tante, ouvindo-a e explicando - a ela e à família - as característi-
mente elevados, providenciar a colheita dos exames laboratoriais cas do seu quadro e a conduta terapêutica a ser adotada, o que
solicitados (sangue, urina), observar e registrar as eliminações fisio- a ajudará a manter o controle e, consequentemente, cooperar. A
lógicas, as queixas álgicas, as perdas vaginais e administrar medica- transmissão de calma e a correta orientação amenizarão o medo e
ções prescritas, observando sua resposta. a ansiedade pela situação.
Além disso, deve-se estar atento para possíveis episódios de A gestante deve ser mantida em decúbito lateral esquerdo,
crises convulsivas, empregando medidas de segurança tais como com o objetivo de reduzir a pressão que o feto realiza sobre a veia
cava inferior ou cordão umbilical, e melhorar a circulação mater-
manter as grades laterais do leito elevadas (se possível, acolcho-
no-fetal. Segundo prescrição, administrar oxigênio (O2 úmido) para
adas), colocar a cabeceira elevada a 30° e a gestante em decúbi-
melhorar a oxigenação da gestante e do feto e preparar a parturien-
to lateral esquerdo (ou lateralizar sua cabeça, para eliminação das
te para intervenção cirúrgica, de acordo com a conduta indicada
secreções); manter próximo à gestante uma cânula de borracha
pela equipe responsável pela assistência.
(Guedel), para colocar entre os dentes, protegendo- lhe a língua de
um eventual traumatismo. Ressalte-se que os equipamentos e me-
Parto e Nascimento Humanizado
dicações de emergência devem estar prontos para uso imediato, na
proximidade da unidade de alto risco.
Até o século XVIII, as mulheres tinham seus filhos em casa; o
Gestantes que apresentam DHEG moderada ou grave devem
parto era um acontecimento domiciliar e familiar. A partir do mo-
ser acompanhadas em serviços de obstetrícia, por profissional mé- mento em que o parto tornou-se institucionalizado (hospitalar) a
dico, durante todo o período de internação. Os cuidados básicos in- mulher passou a perder autonomia sobre seu próprio corpo, dei-
cluem: observação de sinais de petequeias, equimoses e/ou sangra- xando de ser ativa no processo de seu parto.
mentos espontâneos, que indicam complicação séria causada por Segundo a Organização Mundial da Saúde, estima-se que ape-
rompimento de vasos sanguíneos; verificação horária de pressão nas 10% a 20% dos partos têm indicação cirúrgica. Isto significa que
arterial, ou em intervalo menor, e temperatura, pulso e respiração deveriam ser indicados apenas para as mulheres que apresentam
de duas em duas horas; instalação de cateterismo vesical, visando problemas de saúde, ou naqueles casos em que o parto normal tra-
o controle do volume urinário (diurese horária); monitoramento de ria riscos ao recém-nascido ou a mãe. Entretanto, o que verificamos

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

é a existência de um sistema de saúde voltado para a atenção ao ao estado geral da cliente e sua reserva orgânica para atender ao
parto e nascimento pautado em rotinas de intervenções, que favo- esforço do trabalho de parto; e à situação e apresentação fetais
rece e conduz ao aumento de cesáreas e de possíveis iatrogenias (transversa, acromial, pélvica e de face).
que, no pós-parto, geram complicações desnecessárias.
Nós, profissionais de saúde, devemos entender que o parto Admitindo a Parturiente
não é simplesmente “abrir uma barriga”, “tirar um recém-nascido
de dentro”, afastá-lo da “mãe”para colocá-lo num berço solitário, O atendimento da parturiente na sala de admissão de uma ma-
enquanto a mãe dorme sob o efeito da anestesia. ternidade deve ter como preocupação principal uma recepção aco-
A enfermagem possui importante papel como integrante da lhedora à mulher e sua família, informando-os da dinâmica da assis-
equipe, no sentido de proporcionar uma assistência humanizada e tência na maternidade e os cuidados pertinentes a esse momento:
qualificada quando do parto, favorecendo e estimulando a partici- acompanhá-la na admissão e encaminhá-la ao pré-parto; colher os
pação efetiva dos principais atores desse fenômeno – a gestante, exames laboratoriais solicitados (hemograma, VDRL e outros exa-
seu acompanhante e seu filho recém-nascido. mes, caso não os tenha realizado durante o pré-natal); promover
Precisamos valorizar esse momento pois, se vivenciado har- um ambiente tranquilo e com privacidade; monitorar a evolução do
moniosamente, favorece um contato precoce mãe-recém-nasci- trabalho de parto, fornecendo explicações e orientações.
do, estimula o aleitamento materno e promove a interação com o
acompanhante e a família, permitindo à mulher um momento de
Assistência Durante o Trabalho de Parto Natural
conforto e segurança, com pessoas de seu referencial pessoal.
Os profissionais devem respeitar os sentimentos, emoções, ne-
O trajeto do parto ou canal de parto é a passagem que o feto
cessidades e valores culturais, ajudando-a a diminuir a ansiedade e
percorre ao nascer, desde o útero à abertura vulvar. É formado pelo
insegurança, o medo do parto, da solidão do ambiente hospitalar e
dos possíveis problemas do bebê. conjunto dos ossos ilíaco, sacro e cóccix - que compõem a peque-
A promoção e manutenção do bem-estar físico e emocional ao na bacia pélvica, também denominada de trajeto duro - e pelos te-
longo do processo de parto e nascimento ocorre mediante informa- cidos moles (parte inferior do útero, colo uterino, canal vaginal e
ções e orientações permanentes à parturiente sobre a evolução do períneo) que revestem essa parte óssea, também denominada de
trabalho de parto, reconhecendo-lhe o papel principal nesse pro- trajeto mole.
cesso e até mesmo aceitando sua recusa a condutas que lhe cau- No trajeto mole, ocorrem as seguintes alterações: aumento do
sem constrangimento ou dor; além disso, deve-se oferecer espaço útero; amolecimento do colo para a dilatação e apagamento; hiper-
e apoio para a presença do(a) acompanhante que a parturiente vascularização e aumento do tecido elástico da vagina, facilitando
deseja. sua distensão; aumento das glândulas cervicais para lubrificar o tra-
Qualquer indivíduo, diante do desconhecido e sozinho, tende jeto do parto.
a assumir uma postura de defesa, gerando ansiedade e medos. A No trajeto duro, a principal alteração é o aumento da mobilida-
gestante não preparada desconhece seu corpo e as mudanças que de nas articulações (sacroilíaca, sacrococcígea, lombo-sacral, sínfise
o mesmo sofre. púbica), auxiliado pelo hormônio relaxina.
O trabalho de parto é um momento no qual a mulher se sente O feto tem importante participação na evolução do trabalho
desprotegida e frágil, necessitando apoio constante. de parto: realiza os mecanismos de flexão, extensão e rotação, per-
O trabalho de parto e o nascimento costumam desencadear mitindo sua entrada e passagem pelo canal de parto - fenômeno
excitação e apreensão nas parturientes, independente do fato de a facilitado pelo cavalgamento dos ossos do crânio, ocasionando a
gestante ser primípara ou multípara. É um momento de grande ex- redução do diâmetro da cabeça e facilitando a passagem pela pelve
pectativa para todos, gestante, acompanhante e equipe de saúde. materna.
O início do trabalho de parto é desencadeado por fatores ma-
ternos, fetais e placentários, que se interagem. O Primeiro Período do Trabalho de Parto: a Dilatação
Os sinais do desencadeamento de trabalho de parto são:
- eliminações vaginais, discreto sangramento, perda de tampão Nesse período, após o colo atingir 5 cm de dilatação, as con-
mucoso, eliminação de líquido amniótico, presente quando ocorre trações uterinas progridem e aos poucos aumentam a intensidade,
a ruptura da bolsa amniótica - em condições normais, apresenta- se
o intervalo e a duração, provocando a dilatação do colo uterino.
claro, translúcido e com pequenos grumos semelhantes a pedaços
Como resultado, a cabeça do feto vai gradualmente descendo no
de leite coalhado (vérnix);
canal pélvico e, nesse processo, rodando lentamente. Essa descida,
- contrações uterinas inicialmente regulares, de pequena inten-
auxiliada pela pressão da bolsa amniótica, determina uma pressão
sidade, com duração variável de 20 a 40 segundos, podendo chegar
a duas ou mais em dez minutos; maior da cabeça sobre o colo uterino, que vai se apagando. Para
- desconforto lombar; possibilitar a passagem do crânio do feto - que mede por volta de
- alterações da cérvice, amolecimento, apagamento e dilatação 9,5 cm - faz-se necessária uma dilatação total de 10 cm. Este é o pe-
progressiva; ríodo em que a parturiente experimenta desconfortos e sensações
- diminuição da movimentação fetal. dolorosas e pode apresentar reações diferenciadas como exaustão,
impaciência, irritação ou apatia, entre outras.
A duração de cada trabalho de parto está associada à parida- Além das adaptações no corpo materno, visando o desenrolar
de (o número de partos da mulher), pois as primíparas demandam do trabalho de parto, o feto também se adapta a esse processo: sua
maior tempo de trabalho de parto do que as multíparas; à flexibili- cabeça tem a capacidade de flexionar, estender e girar, permitindo
dade do canal de parto, pois as mulheres que exercitam a muscula- entrar dentro do canal do parto e passar pela pelve óssea materna
tura pélvica apresentam maior flexibilidade do que as sedentárias; com mais mobilidade.
às contrações uterinas, que devem ter intensidade e frequência Durante o trabalho de parto, os ossos do crânio se aproximam
apropriadas; à boa condição psicológica da parturiente durante o uns dos outros e podem acavalar, reduzindo o tamanho do crânio e,
trabalho de parto, caso contrário dificultará o nascimento do bebê; assim, facilitar a passagem pela pelve materna.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Nesse período, é importante auxiliar a parturiente com alternati- Para que ocorra a expulsão do feto, geralmente são necessárias
vas que possam amenizar-lhe o desconforto. O cuidar envolve presen- cinco contrações num período de 10 minutos e com intensidade
ça, confiança e atenção, que atenuam a ansiedade da cliente, estimu- de 60 segundos cada. O auxiliar de enfermagem deve orientar que
lando- a adotar posições alternativas como ficar de cócoras, de joelho a parturiente faça respiração torácica (costal) juntamente com as
sobre a cama ou deambular. Essas posições, desde que escolhidas pela contrações, repousando nos intervalos para conservar as energias.
mulher, favorecem o fluxo de sangue para o útero, tornam as contra- Após o coroamento e exteriorização da cabeça, é importante
ções mais eficazes, ampliam o canal do parto e facilitam a descida do assistir ao desprendimento fetal espontâneo. Caso esse desprendi-
feto pela ação da gravidade. mento não ocorra naturalmente, a cabeça deve ser tracionada para
A mulher deve ser encorajada e encaminhada ao banho de baixo, visando favorecer a passagem do ombro. Com a saída da ca-
chuveiro, bem como estimulada a fazer uma respiração profunda, beça e ombros, o corpo desliza facilmente, acompanhado de um
realizar massagens na região lombar – o que reduz sua ansiedade e jato de líquido amniótico. Sugere-se acomodar o recém-nascido,
tensão muscular - e urinar, pois a bexiga cheia dificulta a descida do com boa vitalidade, sobre o colo materno, ou permitir que a mãe o
feto na bacia materna. faça, se a posição do parto favorecer esta prática. Neste momento,
Durante a evolução do trabalho de parto, será realizada, pelo o auxiliar de enfermagem deve estar atento para evitar a queda do
enfermeiro ou médico, a ausculta dos batimentos cardiofetais, sem- recém-nascido.
pre que houver avaliação da dinâmica uterina (DU) antes, durante O cordão umbilical só deve ser pinçado e laqueado quando o
e após a contração uterina. O controle dos sinais vitais maternos é recém-nascido estiver respirando. A laqueadura é feita com mate-
contínuo e importante para a detecção precoce de qualquer altera- rial adequado e estéril, a uns três centímetros da pele. É importan-
ção. A verificação dos sinais vitais pode ser realizada de quatro em te manter o recém-nascido aquecido, cobrindo-o com um lençol/
quatro horas, e a tensão arterial de hora em hora ou mais frequen- campo – o que previne a ocorrência de hipotermia. A mulher deve
temente, se indicado. ser incentivada a iniciar a amamentação nas primeiras horas após
O toque vaginal deve ser realizado pelo obstetra ou enfermeira, o parto, o que facilita a saída da placenta e estimula a involução do
e tem a finalidade de verificar a dilatação e o apagamento do colo útero, diminuindo o sangramento pós-parto.
uterino, visando avaliar a progressão do trabalho de parto. Para a
realização do procedimento, o auxiliar de enfermagem deve prepa- O Terceiro Período do Trabalho de Parto: a Dequitação
rar o material necessário para o exame, que inclui luvas, gazes com
solução anti séptica e comadre. Inicia-se após a expulsão do feto e termina com a saída da pla-
A prévia antissepsia das mãos é condição indispensável para o centa e membranas (amniótica e coriônica). Recebe o nome de de-
exame. livramento ou dequitação e deve ser espontâneo, sem compressão
Caso a parturiente esteja desanimada, frustrada ou necessite uterina. Pode durar de alguns minutos a 30 minutos. Nessa fase é
permanecer no leito durante o trabalho de parto, devido às compli- importante atentar para as perdas sanguíneas, que não devem ser
cações obstétricas ou fetais, deve ser aconselhada a ficar na posição superiores a 500 ml.
de decúbito lateral esquerdo, tanto quanto possível. As contrações para a expulsão da placenta ocorrem em menor
quantidade e intensidade. A placenta deve ser examinada com re-
O Segundo Período do Trabalho de Parto: a Expulsão lação à sua integridade, tipo de vascularização e local de inserção
do cordão, bem como verificação do número de vasos sanguíneos
O período de expulsão inicia-se com a completa dilatação do deste (1 artérias e 2 veias), presença de nós e tumorações. Exami-
colo uterino e termina com o nascimento do bebê. na-se ainda o canal vaginal, o colo uterino e a região perineal, com
Ao final do primeiro período do trabalho de parto, o sangra- vistas à identificação de rupturas e lacerações; caso tenha sido re-
alizada episiotomia, proceder à sutura do corte (episiorrafia) e/ou
mento aumenta com a laceração dos capilares no colo uterino. Náu-
das lacerações.
seas e vômitos podem estar presentes, por ação reflexa. A partu-
riente refere pressão no reto e urgência urinária. Ocorre distensão
A dequitação determina o início do puerpério imediato, onde
dos músculos perineais e abaulamento do períneo (solicitação do
ocorrerão contrações que permitirão reduzir o volume uterino,
períneo), e o ânus dilata-se acentuadamente.
mantendo-o contraído e promovendo a hemostasia nos vasos que
Esses sinais iminentes do parto devem ser observados pelo au-
irrigavam a placenta.
xiliar de enfermagem e comunicados à enfermeira obstétrica e ao
Logo após o delivramento, o auxiliar de enfermagem deve veri-
obstetra. ficar a tensão arterial da puérpera, identificando alterações ou não
O exame do toque deve ser realizado e, constatada a dilatação dos valores que serão avaliados pelo médico ou enfermeiro.
total, o auxiliar de enfermagem deve encaminhar a parturiente à Antes de transferir a puérpera para a cadeira ou maca, deve-se,
sala de parto, em cadeira de rodas ou deambulando. utilizando luvas estéreis, realizar-lhe antissepsia da área pubiana,
Enquanto estiver sendo conduzida à sala de parto, a parturien- massagear-lhe as panturrilhas, trocar-lhe a roupa e colocar-lhe um
te deve ser orientada para respirar tranquilamente e não fazer for- absorvente sob a região perianal e pubiana. Caso o médico ou en-
ça. É importante auxiliá-la a se posicionar na mesa de parto com se- fermeiro avalie que a puérpera esteja em boas condições clínicas,
gurança e conforto, respeitando a posição de sua escolha: vertical, será encaminhada, juntamente com o recém-nascido, para o aloja-
semiverticalizada ou horizontal. Qualquer procedimento realizado mento conjunto - acompanhados de seus prontuários, prescrições
deve ser explicado à parturiente e seu acompanhante. e pertences pessoais.
O profissional (médico e/ou enfermeira obstetra) responsável
pela condução do parto deve fazer a escovação das mãos e se pa-
ramentar (capote, gorro, máscara e luvas). A seguir, realizar a antis-
sepsia vulvoperineal e da raiz das coxas e colocar os campos esterili-
zados sobre a parturiente. Na necessidade de episiotomia, indica-se
a necessidade de anestesia local. Em todo esse processo, o auxiliar
de enfermagem deve prestar ajuda ao(s) profissional(is).

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O Quarto Período do Trabalho de Parto: Greenberg segurança da parturiente e, juntamente com o anestesista, ajudá-
-la a se posicionar para o processo cirúrgico, controlando também
Corresponde às primeiras duas horas após o parto, fase em que a tensão arterial. No parto, o auxiliar de enfermagem desenvolve
ocorre a loquiação e se avalia a involução uterina e recuperação ações de circulante ou instrumentador. Após o nascimento, presta
da genitália materna. É considerado um período perigoso, devido os primeiros cuidados ao bebê e encaminha-o ao berçário.
ao risco de hemorragia; por isso, a puérpera deve permanecer no A seguir, o auxiliar de enfermagem deve providenciar a transfe-
centro obstétrico, para criterioso acompanhamento. rência da puérpera para a sala de recuperação pós-anestésica, pres-
tando- lhe os cuidados relativos ao processo cirúrgico e ao parto.
Assistência de Enfermagem Durante o Parto Cesáreo
Puerpério e suas Complicações
O parto cesáreo ou cesariana é um procedimento cirúrgico, in-
vasivo, que requer anestesia. Nele, realiza-se uma incisão no abdo- Durante toda a gravidez, o organismo materno sofre alterações
me e no útero, com exposição de vísceras e perda de sangue, por gradativas - as mais marcantes envolvem o órgão reprodutor. O
onde o feto é retirado. Ressalte-se que esse procedimento expõe puerpério inicia-se logo após a dequitação e termina quando a fi-
o organismo às infecções, tanto pela queda de imunidade em vista siologia materna volta ao estado pré-gravídico. Esse intervalo pode
das perdas sanguíneas como pelo acesso de microrganismos atra- perdurar por 6 semanas ou ter duração variável, principalmente nas
vés da incisão cirúrgica (porta de entrada), além de implicar maior mulheres que estiverem amamentando.
tempo de recuperação. O período puerperal é uma fase de grande estresse fisiológico
A realização do parto cesáreo deve ser baseada nas condições e psicológico.
clínicas - da gestante e do feto - que contraindiquem o parto normal, A fadiga e perda de sangue pelo trabalho de parto e outras
tais como desproporção cefalopélvica, discinesias, apresentação condições desencadeadas pelo nascimento podem causar compli-
anômala, descolamento prematuro da placenta, pós-maturidade, cações – sua prevenção é o objetivo principal da assistência a ser
diabete materno, sofrimento fetal agudo ou crônico, placenta pré- prestada.
via total ou parcial, toxemia gravídica, prolapso do cordão umbilical. Nos primeiros dias do pós-parto, a puérpera vive um período
Caso ocorra alguma intercorrência obstétrica (alteração do de transição, ficando vulnerável às pressões emocionais. Problemas
BCF; a dinâmica uterina, dos sinais vitais maternos; perda trans- que normalmente enfrentaria com facilidade podem deixá-la ansio-
vaginal de líquido com presença de mecônio; período de dilatação sa em vista das responsabilidades com o novo membro da famí-
cervical prolongado) que indique necessidade de parto cesáreo, a lia (“Será que vou conseguir amamentá-lo? Por que o bebê chora
equipe responsável pela assistência deve comunicar o fato à mu- tanto?”), a casa (“Como vou conciliar os cuidados da casa com o
lher/ família, e esclarecer- lhes sobre o procedimento. bebê?”), o companheiro (“Será que ele vai me ajudar? Como dividir
Nesta intervenção cirúrgica, as anestesias mais utilizadas são a a atenção entre ele e o bebê?”) e a família (“Como dividir a atenção
raquidiana e a peridural, ambas aplicadas na coluna vertebral. com os outros filhos? O que fazer, se cada um diz uma coisa?”).
A anestesia raquidiana tem efeito imediato à aplicação, levan- Nesse período, em vista de uma grande labilidade emocional,
do à perda temporária de sensibilidade e movimentos dos mem- somada à exaustão física, pode surgir um quadro de profunda tris-
bros inferiores, que retornam após passado seu efeito. Entretanto, teza, sentimento de incapacidade e recusa em cuidar do bebê e
tem o inconveniente de apresentar como efeito colateral cefaleia de si mesma - que pode caracterizar a depressão puerperal. Essas
intensa no período pós-anestésico - como prevenção, deve-se man- manifestações podem acontecer sem causa aparente, com dura-
ter a puérpera deitada por algumas horas (com a cabeceira a zero ção temporária ou persistente por algum tempo. Esse transtorno
grau e sem travesseiro), orientando- a para que não eleve a cabeça requer a intervenção de profissionais capazes de sua detecção e
e estimulando-a à ingestão hídrica. tratamento precoce, avaliando o comportamento da puérpera e
A anestesia peridural é mais empregada, porém demora mais proporcionando-lhe um ambiente tranquilo, bem como prestando
tempo para fazer efeito e não leva à perda total da sensibilidade orientações à família acerca da importância de seu apoio na supe-
dolorosa, diminuindo apenas o movimento das pernas – como van- ração deste quadro.
tagem, não produz o incômodo da dor de cabeça. De acordo com as alterações físicas, o puerpério pode ser clas-
Na recuperação do pós-parto normal, a criança pode, nas pri- sificado em quatro fases distintas: imediato (primeiras 2 horas pós-
meiras horas, permanecer com a mãe na sala de parto e/ou alo- -parto); mediato (da 2ª hora até o 10º dia pós-parto); tardio (do 11º
jamento conjunto- dependendo da recuperação, a mulher pode dia até o 42º dia pós-parto) e remoto (do 42º dia em diante).
deambular, tomar banho e até amamentar. Tal situação não aconte- O puerpério imediato, também conhecido como quarto perío-
cerá nas puérperas que realizaram cesarianas, pois estarão com hi- do do parto, inicia-se com a involução uterina após a expulsão da
dratação venosa, cateter vesical, curativo abdominal, anestesiadas, placenta e é considerado crítico, devido ao risco de hemorragia e
sonolentas e com dor – mais uma razão que justifica a realização do infecção.
parto cesáreo apenas quando da impossibilidade do parto normal. A infecção puerperal está entre as principais e mais constantes
A equipe deve esclarecer as dúvidas da parturiente com relação complicações.
aos procedimentos pré-operatórios, tais como retirada de próteses O trabalho de parto e o nascimento do bebê reduzem a resis-
e de objetos (cordões, anéis, roupa íntima), realização de tricoto- tência à infecção causada por microrganismos encontrados no cor-
mia em região pubiana, manutenção de acesso venoso permeável, po.
realização de cateterismo vesical e colheita de sangue para exames Inúmeros são os fatores de risco para o aparecimento de in-
laboratoriais (solicitados e de rotina). fecções: o trabalho de parto prolongado com a bolsa amniótica
Após verificação dos sinais vitais, a parturiente deve ser enca- rompida precocemente, vários toques vaginais, condições socioe-
minhada à sala de cirurgia, onde será confortavelmente posicio- conômicas desfavoráveis, anemia, falta de assistência pré-natal e
nada na mesa cirúrgica, para administração da anestesia. Durante história de doenças sexualmente transmissível não tratada. O parto
toda a técnica o auxiliar de enfermagem deve estar atento para a cesáreo tem maior incidência de infecção do que o parto vaginal,

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pois durante seu procedimento os tecidos uterinos, vasos sanguí- Complementando esta avaliação, também há verificação dos
neos, linfáticos e peritônio estão expostos às bactérias existentes sinais vitais, considerando-se que a frequência cardíaca diminui
na cavidade abdominal e ambiente externo. A perda de sangue e para 50 a 70 bpm (bradicardia) nos primeiros dias após o parto,
consequente diminuição da resistência favorecem o surgimento de em vista da redução no volume sanguíneo. Uma taquicardia pode
infecções. indicar perda sanguínea exagerada, infecção, dor e até ansiedade.
Os sinais e sintomas vão depender da localização e do grau da A pressão sanguínea permanece estável, mas sua diminuição pode
infecção, porém a hipertermia é frequente - em torno de 38º C ou estar relacionada à perda de sangue excessivo e seu aumento é su-
mais. Acompanhando a febre, podem surgir dor, não involução ute- gestivo de hipertensão. É também importante observar o nível de
rina e alteração das características dos lóquios, com eliminação de consciência da puérpera e a coloração das mucosas.
secreção purulenta e fétida, e diarreia. Outros cuidados adicionais são: observar o períneo, avalian-
O exame vaginal, realizado por enfermeiro ou médico, objetiva do a integridade, o edema e a episiorrafia; aplicar compressas de
identificar restos ovulares; nos casos necessários, deve-se proceder gelo nesta região, pois isto propicia a vasoconstrição, diminuindo
à curetagem. o edema e hematoma e evitando o desconforto e a dor; avaliar os
Cabe ao auxiliar de enfermagem monitorar os sinais vitais da membros inferiores (edema e varizes) e oferecer líquidos e alimen-
puérpera, bem como orientá-la sobre a técnica correta de lavagem tos sólidos à puérpera, caso esteja passando bem.
das mãos e outras que ajudem a evitar a propagação das infecções. Nos casos de cesárea, atentar para todos os cuidados de um
Além disso, visando evitar a contaminação da vagina pelas bactérias parto normal e mais os cuidados de um pós-operatório, observando
presentes no reto, a puérpera deve ser orientada a lavar as regiões as características do curativo operatório. Se houver sangramento e/
da vulva e do períneo após cada eliminação fisiológica, no sentido ou queixas de dor, comunicar tal fato à equipe.
da vulva para o ânus. No puerpério mediato, a puérpera permanecerá no alojamento
Para facilitar a cicatrização da episiorrafia, deve-se ensinar a conjunto até a alta hospitalar. Neste setor, inicia os cuidados com o
puérpera a limpar a região com antisséptico, bem como estimular- bebê, sob supervisão e orientação da equipe de enfermagem – o
-lhe a ingesta hídrica e administrar-lhe medicação, conforme pres- que lhe possibilita uma assistência e orientação integral.
crição, visando diminuir seu mal-estar e queixas álgicas. Nos casos No alojamento conjunto, a assistência prestada pelo auxiliar de
de curetagem, preparar a sala para o procedimento. enfermagem baseia-se em observar e registrar o estado geral da
A involução uterina promove a vasoconstrição, controlando a puérpera, dando continuidade aos cuidados iniciados no puerpério
perda sanguínea. Nesse período, é comum a mulher referir cólicas. imediato, em intervalos mais espaçados. Deve também estimular
O útero deve estar mais ou menos 15 cm acima do púbis, duro a deambulação precoce e exercícios ativos no leito, bem como ob-
e globoide pela contração, formando o globo de segurança de Pi- servar o estado das mamas e mamilos, a sucção do recém-nascido
nard em resposta à contratilidade e retração de sua musculatura. (incentivando o aleitamento materno), a aceitação da dieta e as ca-
A total involução uterina demora de 5 a 6 semanas, sendo mais rá- racterísticas das funções fisiológicas, em vista da possibilidade de
pida na mulher sadia que teve parto normal e está em processo de retenção urinária e constipação, orientando sobre a realização da
amamentação.
higiene íntima após cada eliminação e enfatizando a importância
Os lóquios devem ser avaliados quanto ao volume (grande ou
da lavagem das mãos antes de cuidar do bebê, o que previne in-
pequeno), aspecto (coloração, presença de coágulos, restos placen-
fecções.
tários) e odor (fétido ou não). Para remoção efetiva dos coágulos,
O alojamento conjunto é um espaço oportuno para o auxiliar
deve-se massagear levemente o útero e incentivar a amamentação
de enfermagem desenvolver ações educativas, buscando valorizar
e deambulação precoces.
as experiências e vivências das mães e, com as mesmas, realizando
De acordo com sua coloração, os lóquios são classificados
atividades em grupo de forma a esclarecer dúvidas e medos. Essa
como sanguinolentos (vermelho vivo ou escuro – até quatro dias);
serosanguinolentos (acastanhado – de 5 a 7 dias) e serosos (seme- metodologia propicia a detecção de problemas diversos (emocio-
lhantes à “salmoura” – uma a três semanas). nais, sociais, etc.), possibilitando o encaminhamento da puérpera
A hemorragia puerperal é uma complicação de alta incidência e/ou família para uma tentativa de solução.
de mortalidade materna, tendo como causas a atonia uterina, la- O profissional deve abordar assuntos com relação ao relaciona-
cerações do canal vaginal e retenção de restos placentários. É im- mento mãe-filho-família; estímulo à amamentação, colocando em
portante procurar identificar os sinais de hemorragia – de quinze prática a técnica de amamentação; higiene corporal da mãe e do
em quinze minutos – e avaliar rotineiramente a involução uterina bebê; curativo da episiorrafia e cicatriz cirúrgica; repouso, alimen-
através da palpação, identificando a consistência. Os sinais dessa tação e hidratação adequada para a nutriz; uso de medicamentos
complicação são útero macio (maleável, grande, acima do umbigo), nocivos no período da amamentação, bem como álcool e fumo; im-
lóquios em quantidades excessivas (contendo coágulos e escorren- portância da deambulação para a involução uterina e eliminação de
do num fio constante) e aumento das frequências respiratória e car- flatos (gases); e cuidados com recém-nascido.
díaca, com hipotensão. A mama é o único órgão que após o parto não involui, enchen-
do- se de colostro até trinta horas após o parto. A apojadura, que
Caso haja suspeita de hemorragia, o auxiliar de enfermagem consiste na descida do leite, ocorre entre o 3º ou 4º dia pós-parto.
deve avisar imediatamente a equipe, auxiliando na assistência para A manutenção da lactação depende do estímulo da sucção dos
reverter o quadro instalado, atentando, sempre, para a possibilida- mamilos pelo bebê.
de de choque hipovolêmico. Deve, ainda, providenciar um acesso As mamas também podem apresentar complicações:
venoso permeável para a administração de infusão e medicações; -ingurgitamento mamário - em torno do 3º ao 7º dia pós-parto,
bem como aplicar bolsa de gelo sobre o fundo do útero, massa- a produção láctea está no auge, ocasionando o ingurgitamento ma-
geando-o suavemente para estimular as contrações, colher sangue mário. O auxiliar de enfermagem deve estar atento para as seguin-
para exames laboratoriais e prova cruzada, certificar-se de que no tes condutas: orientar sobre a pega correta da aréola e a posição
banco de sangue existe sangue compatível (tipo e fator Rh) com o adequada do recém-nascido durante a mamada; o uso do sutiã fir-
da mulher - em caso de reposição - e preparar a puérpera para a me e bem ajustado; e a realização de massagens e ordenha sempre
intervenção cirúrgica, caso isto se faça necessário. que as mamas estiverem cheias;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

-rachaduras e/ou fissuras - podem aparecer nos primeiros dias Classificação de Acordo com a IG
de amamentação, levando a nutriz a parar de amamentar.
Considera-se como IG ao nascer, o tempo provável de gestação
Procurando evitar sua ocorrência, o auxiliar de enfermagem até o nascimento, medido pelo número de semanas entre o primei-
deve orientar a mãe a manter a amamentação; incentivá-la a não ro dia da última menstruação e a data do parto.
usar sabão ou álcool para limpar os mamilos; a expor as mamas O tempo de uma gestação desde a data da última menstruação
ao sol por cerca de 20 minutos (antes das 10 horas ou após às 15 até seu término é de 40 semanas. Sendo assim, considera-se:
horas); e a alternar as mamas em cada mamada, retirando cuidado- a) RN prematuro - toda criança nascida antes de 37 semanas
samente o bebê. Nesse caso, devem ser aplicadas as mesmas con- de gestação;
dutas adotadas para o ingurgitamento mamário. b) RN a termo - toda criança nascida entre 37 e 42 semanas de
-mastite - é um processo inflamatório que costuma se desen- gestação;
volver após a alta e no qual os microrganismos penetram pelas c) RN pós-termo - toda criança nascida após 42 semanas de
rachaduras dos mamilos ou canais lactíferos. Sua sintomatologia é gestação.
dor, hiperemia e calor localizados, podendo ocorrer hipertermia. A
puérpera deve ser orientada a realizar os mesmos cuidados adota- Quanto menor a IG ao nascer, maior o risco de complicações e
dos nos casos de ingurgitamento mamário, rachaduras e fissuras. a necessidade de cuidados neonatais adequados.
Se o nascimento antes do tempo acarreta riscos para a saúde
Por ocasião da alta hospitalar, especial atenção deve ser dada dos bebês, o nascimento pós-termo também. Após o período de
às orientações sobre o retorno à atividade sexual, planejamento gestação considerado como fisiológico, pode ocorrer diminuição da
familiar, licença-maternidade de 120 dias (caso a mulher possua
oferta de oxigênio e de nutrientes e os bebês nascidos após 42 se-
vínculo empregatício) e importância da consulta de revisão de pós-
manas de gestação podem apresentar complicações respiratórias e
-natal e puericultura.
nutricionais importantes no período neonatal.
A consulta de revisão do puerpério deve ocorrer, preferencial-
mente, junto com a primeira avaliação da criança na unidade de
saúde ou, de preferência, na mesma unidade em que efetuou a as- Classificação de Acordo com a Relação Peso/IG
sistência pré-natal, entre o 7º e o 10º dia pós-parto.
Até o momento, foi abordado o atendimento à gestante e ao Essa classificação possibilita a avaliação do crescimento intrau-
feto com base nos conhecimentos acumulados nos campos da obs- terino, uma vez que de acordo com a relação entre o peso e a IG os
tetrícia e da perinatologia. Com o nascimento do bebê são necessá- bebês são classificados como:
rios os conhecimentos de um outro ramo do saber – a neonatologia. a) adequados para a idade gestacional (AIG) – são os neonatos
Surgida a partir da pediatria, a neonatologia é comumente cujas linhas referentes a peso e a IG se encontram entre as duas
definida como um ramo da medicina especializado no diagnóstico curvas do gráfico. Em nosso meio, 90 a 95% do total de nascimentos
e tratamento dos recém-nascidos (RNs). No entanto, ela abrange são de bebês adequados para a IG;
mais do que isso — engloba também o conhecimento da fisiologia b) pequenos para a idade gestacional (PIG) - são os neonatos
dos neonatos e de suas características. cujas linhas referentes a peso e a IG se encontram abaixo da primei-
ra curva do gráfico. Esses bebês sofreram desnutrição intrauterina
Classificação dos Recém-Nascidos (RNS) importante, em geral como consequência de doenças ou desnutri-
ção maternas.
Os RNs podem ser classificados de acordo com o peso, a idade c) grandes para a idade gestacional (GIG) - são os neonatos
gestacional (IG) ao nascer e com a relação entre um e outro. cujas linhas referentes ao peso e a IG se encontram acima da se-
gunda curva do gráfico. Frequentemente os bebês grandes para a
A classificação dos RNs é de fundamental importância pois ao IG são filhos de mães diabéticas ou de mães Rh negativo sensibili-
permitir a antecipação de problemas relacionados ao peso e/ou à zadas.
IG quando do nascimento, possibilita o planejamento dos cuidados
e tratamentos específicos, o que contribui para a qualidade da as- Características Anatomofisiológicas dos RNS
sistência.
Os RNs possuem características anatômicas e funcionais pró-
Classificação de Acordo com o Peso prias.
O conhecimento dessas características possibilita que a assis-
A Organização Mundial de Saúde define como RN de baixo-pe-
tência aos neonatos seja planejada, executada e avaliada de for-
so todo bebê nascido com peso igual ou inferior a 2.500 gramas.
ma a garantir o atendimento de suas reais necessidades. Também
Como nessa classificação não se considera a IG, estão incluídos tan-
permite a orientação aos pais a fim de capacitá-los para o cuidado
to os bebês prematuros quanto os nascidos a termo.
após a alta.
Em nosso país, o número elevado de bebês nascidos com peso O peso dos bebês é influenciado por diversas condições asso-
igual ou inferior a 2.500 gramas - baixo peso ao nascimento - cons- ciadas à gestação, tais como fumo, uso de drogas, paridade e ali-
titui- se em importante problema de saúde. Nesse grupo há um ele- mentação materna.
vado percentual de morbimortalidade neonatal, devido à não dis-
ponibilidade de assistência adequada durante o pré-natal, o parto e Os RNs apresentam durante os cinco primeiros dias de vida
o puerpério e/ou pela baixa condição socioeconômica e cultural da uma diminuição de 5 a 10% do seu peso ao nascimento, chamada
família, o que pode acarretar graves consequências sociais. de perda ponderal fisiológica, decorrente da grande eliminação de
líquidos e reduzida ingesta.. Entre o 8º (RN a termo) e o 15º dia (RNs
prematuros) de vida pós-natal, os bebês devem recuperar o peso de
nascimento.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Estudos realizados para avaliação do peso e estatura dos RNs e) Cianose - quando localizada nas extremidades (mãos e pés)
brasileiros, indicam as seguintes médias no caso dos neonatos a ter- e/ ou na região perioral e presente nas primeiras horas de vida, é
mo: 3.500g/ 50cm para os bebês do sexo masculino e 3.280g/49,- considerada como um achado normal, em função da circulação pe-
6cm para os do sexo feminino. Tais estudos mostraram também que riférica, mais lenta nesse período. Pode também ser causada por
a média do perímetro cefálico dos RNs a termo é de 34-35 cm. Já hipotermia, principalmente em bebês prematuros. Quando genera-
o perímetro torácico deve ser sempre 2- 3cm menor que o cefálico lizada é uma ocorrência grave, que está em geral associada a distúr-
(Navantino, 1995). bios respiratórios e/ou cardíacos.
Os sinais vitais refletem as condições de homeostase dos be- f) Icterícia - coloração amarelada da pele, que aparece e evo-
bês, ou seja, o bom funcionamento dos seus sistemas respiratório, lui no sentido craniocaudal, que pode ter significado fisiológico ou
cardiocirculatório e metabólico; se os valores encontrados estive- patológico de acordo com o tempo de aparecimento e as condições
rem dentro dos parâmetros de normalidade, temos a indicação de associadas. As icterícias ocorridas antes de 36 horas de vida são em
que a criança se encontra em boas condições no que se refere a geral patológicas e as surgidas após esse período são chamadas de
esses sistemas. fisiológicas ou próprias do RN.
Os RNs são extremamente termolábeis, ou seja, têm dificulda- g) Edema - o de membros inferiores, principalmente, é encon-
de de manter estável a temperatura corporal, perdendo rapidamente trado com frequência em bebês prematuros, devido as suas limi-
calor para o ambiente externo quando exposto ao frio, molhado ou tações renais e cardíacas decorrentes da imaturidade dos órgãos.
em contato com superfícies frias. Além disso, a superfície corporal dos
O edema generalizado (anasarca) ocorre associado à insuficiência
bebês é relativamente grande em relação ao seu peso e eles têm uma
cardíaca, insuficiência renal e distúrbios metabólicos.
capacidade limitada para produzir calor.
A atitude e a postura dos RNs, nos primeiros dias de vida, re-
Os cabelos do RN a termo são em geral abundantes e sedosos;
fletem a posição em que se encontravam no útero materno. Por
exemplo, os bebês que estavam em apresentação cefálica tendem a já nos prematuros são muitas vezes escassos, finos e algodoados.
manter-se na posição fetal tradicional - cabeça fletida sobre o tron- A implantação baixa dos cabelos na testa e na nuca pode estar
co, mãos fechadas, braços flexionados, pernas fletidas sobre as co- associada à presença de malformações cromossômicas.
xas e coxas, sobre o abdômen. Alguns bebês podem também apresentar lanugem, mais fre-
A avaliação da pele do RN fornece importantes informações quentemente observada em bebês prematuros.
acerca do seu grau de maturidade, nutrição, hidratação e sobre a As unhas geralmente ultrapassam as pontas dos dedos ou são
presença de condições patológicas. incompletas e até ausentes nos prematuros.
A pele do RN a termo, AIG e que se encontra em bom estado de Ao nascimento os ossos da cabeça não estão ainda completa-
hidratação e nutrição, tem aspecto sedoso, coloração rosada (nos mente soldados e são separados por estruturas membranosas de-
RNs de raça branca) e/ou avermelhada (nos RNs de raça negra), tur- nominadas suturas. Assim, temos a sagital (situada entre os ossos
gor normal e é recoberta por vernix caseoso. parietais), a coronariana (separa os ossos parietais do frontal) e a
Nos bebês prematuros, a pele é fina e gelatinosa e nos bebês lambdoide (separa os parietais do occipital).
nascidos pós-termo, grossa e apergaminhada, com presença de Entre as suturas coronariana e sagital está localizada a grande
descamação — principalmente nas palmas das mãos, plantas dos fontanela ou fontanela bregmática, que tem tamanho variável e só
pés — e sulcos profundos. Têm também turgor diminuído. se fecha por volta do 18º mês de vida. Existe também outra fonta-
Das inúmeras características observadas na pele dos RNs desta- nela, a lambdoide ou pequena fontanela, situada entre as suturas
camos as que se apresentam com maior frequência e sua condição lambdoide e sagital. É uma fontanela de pequeno diâmetro, que em
ou não de normalidade. geral se apresenta fechada no primeiro ou segundo mês de vida.
a) Eritema tóxico - consiste em pequenas lesões avermelhadas, A presença dessas estruturas permite a moldagem da cabeça
emelhantes a picadas de insetos, que aparecem em geral após o 2º do feto durante sua passagem no canal do parto. Esta moldagem
dia de vida. São decorrentes de reação alérgica aos medicamentos tem caráter transitório e é também fisiológica. Além dessas, outras
usados durante o trabalho de parto ou às roupas e produtos utiliza- alterações podem aparecer na cabeça dos bebês como consequên-
dos para a higienização dos bebês. cia de sua passagem pelo canal de parto. Dentre elas temos:
b) Millium - são glândulas sebáceas obstruídas que podem es- a) Cefalematoma - derrame sanguíneo que ocorre em função do
tar presentes na face, nariz, testa e queixo sob a forma de pequenos
Rompimento de vasos pela pressão dos ossos cranianos contra
pontos brancos.
a
c) Manchas mongólicas - manchas azuladas extensas, que apa-
Estrutura da bacia materna. Tem consistência cística (amoleci-
recem nas regiões glútea e lombossacra. De origem racial – apare-
da com a sensação de presença de líquidos), volume variável e não
cem em crianças negras, amarelas e índias - costumam desaparecer
com o decorrer dos anos. atravessa as linhas das suturas, ficando restrito ao osso atingido.
d) Petequeias - pequenas manchas arroxeadas, decorrentes de Aparece com mais frequência na região dos parietais, são dolorosos
fragilidade capilar e rompimento de pequenos vasos. Podem apare- à palpação e podem levar semanas para ser reabsorvidos.
cer como consequência do parto, pelo atrito da pele contra o canal
do parto, ou de circulares de cordão — quando presentes na re- b) Bossa serossanguínea - consiste em um edema do couro ca-
gião do pescoço. Estão também associadas a condições patológicas, beludo, com sinal de cacifo positivo cujos limites são indefinidos,
como septicemia e doenças hemolíticas graves. não respeitando as linhas das suturas ósseas. Desaparece nos pri-
meiros dias de vida.
Os olhos dos RN podem apresentar alterações sem maior signi-
ficado, tais como hemorragias conjuntivais e assimetrias pupilares.
As orelhas devem ser observadas quanto à sua implantação
que deve ser na linha dos olhos. Implantação baixa de orelhas é um
achado sugestivo de malformações cromossômicas.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

No nariz, a principal preocupação é quanto à presença de Em relação ao ânus, a principal observação a ser feita diz res-
atresia de coanas, que acarreta insuficiência respiratória grave. A peito à permeabilidade do orifício. Essa avaliação pode ser realizada
passagem da sonda na sala de parto, sem dificuldade, afasta essa pela visualização direta do orifício anal e pela eliminação de me-
possibilidade. cônio nas primeiras horas após o nascimento. Outro ponto impor-
A boca deve ser observada buscando-se avaliar a presença de tante refere-se às eliminações vesicais e intestinais. O RN elimina
dentes precoces, fissura labial e/ou fenda palatina. urina várias vezes ao dia. A primeira diurese deve ocorrer antes de
O pescoço dos RNs é em geral curto, grosso e tem boa mobi- completadas as primeiras 24 horas de vida, apresentando, como
lidade. características, grande volume e coloração amarelo-clara. As pri-
Diminuição da mobilidade e presença de massas indicam pato- meiras fezes eliminadas pelos RNs consistem no mecônio, forma-
logia, o que requer uma avaliação mais detalhada. do intrauterinamente, que apresenta consistência espessa e colo-
O tórax, de forma cilíndrica, tem como características principais ração verde-escura. Sua eliminação deve ocorrer até às primeiras
um apêndice xifoide muito proeminente e a pequena espessura de 48 horas de vida. Quando a criança não elimina mecônio nesse
sua parede. período é preciso uma avaliação mais rigorosa pois a ausência de
Muitos RNs, de ambos os sexos, podem apresentar hipertrofia eliminação de mecônio nos dois primeiros dias de vida pode es-
das glândulas mamárias, como consequência da estimulação hor- tar associada a condições anormais (presença de rolha meconial,
monal materna recebida pela placenta. Essa hipertrofia é bilateral. obstrução do reto).
Quando aparece em apenas uma das glândulas mamárias, em Com o início da alimentação, as fezes dos RNs vão assumindo
geral é consequência de uma infecção por estafilococos. as características do que se costuma denominar fezes lácteas ou
fezes do leite.
O abdômen também apresenta forma cilíndrica e seu diâmetro
As fezes lácteas têm consistência pastosa e coloração que
é 2-3 cm menor que o perímetro cefálico. Em geral, é globoso e suas
pode variar do verde, para o amarelo esverdeado, até a coloração
paredes finas possibilitam a observação fácil da presença de hérnias
amarelada. Evacuam várias vezes ao dia, em geral após a alimen-
umbilicais e inguinais, principalmente quando os bebês estão cho-
rando e nos períodos após a alimentação. tação.
A distensão abdominal é um achado anormal e quando ob-
servada deve ser prontamente comunicada, pois está comumente Referência:Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão
associada a condições graves como septicemia e obstruções intes- do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da
tinais. Educação na Saúde. Projeto de profissionalização dos Trabalha-
O coto umbilical, aproximadamente até o 4º dia de vida, apre- dores da Área de Enfermagem. Profissionalização de auxiliares de
senta- se com as mesmas características do nascimento - coloração enfermagem: cadernos do aluno: saúde da mulher, da criança e do
branca- azulada e aspecto gelatinoso. Após esse período, inicia-se adolescente / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão do Traba-
o processo de mumificação, durante o qual o coto resseca e passa lho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão da Educa-
a apresentar uma coloração escurecida. A queda do coto umbilical ção na Saúde, Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da
ocorre entre o 6° e o 15º dia de vida. Área de Enfermagem. - 2. Ed., 1.a reimpr. - Brasília: Ministério da
A observação do abdômen do bebê permite também a avalia- Saúde; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.
ção do seu padrão respiratório, uma vez que a respiração do RN é
do tipo abdominal. Cadernos de Atenção Básica
A cada incursão respiratória pode-se ver a elevação e descida Controle dos Cânceres do Colo do Útero e da Mama
da parede abdominal, com breves períodos em que há ausência de
movimentos. CONTROLE DO CÂNCER DO COLO DO ÚTERO
Esses períodos são chamados de pausas e constituem um acha-
do normal, pois a respiração dos neonatos tem um ritmo irregular. Anatomia e Fisiologia do Útero
Essa irregularidade é observada principalmente nos prematuros.
A genitália masculina pode apresentar alterações devido à pas- O útero é um órgão do aparelho reprodutor feminino que está
sagem de hormônios maternos pela placenta que ocasionam, com situado no abdome inferior, por trás da bexiga e na frente do reto
frequência, edema da bolsa escrotal, que assim pode manter-se até e é dividido em corpo e colo. Essa última parte é a porção inferior
vários meses após o nascimento, sem necessidade de qualquer tipo do útero e se localiza dentro do canal vaginal.
de tratamento.
O colo do útero apresenta uma parte interna, que constitui o
A palpação da bolsa escrotal permite verificar a presença dos
chamado canal cervical ou endocérvice, que é revestido por uma
testículos, pois podem se encontrar nos canais inguinais. A glande
camada única de células cilíndricas produtoras de muco - epité-
está sempre coberta pelo prepúcio, sendo então a fimose uma con-
lio colunar simples. A parte externa, que mantém contato com a
dição normal. Deve-se observar a presença de um bom jato urinário
no momento da micção. vagina, é chamada de ectocérvice e é revestida por um tecido de
A transferência de hormônios maternos durante a gestação várias camadas de células planas – epitélio escamoso e estratifica-
também é responsável por várias alterações na genitália feminina. do. Entre esses dois epitélios, encontra-se a junção escamocolu-
A que mais chama a atenção é a genitália em couve-flor. Pela esti- nar – JEC -, que é uma linha que pode estar tanto na ecto como na
mulação hormonal o hímen e os pequenos lábios apresentam-se endocérvice, dependendo da situação hormonal da mulher.
hipertrofiados ao nascimento não sendo recobertos pelos grandes Na infância e no período pós-menopausa, geralmente, a JEC
lábios. Esse aspecto está presente de forma acentuada nos prema- situa-se dentro do canal cervical.
turos. No período da menacme, fase reprodutiva da mulher, geral-
É observada com frequência a presença de secreção vaginal, de mente, a JEC situa-se no nível do orifício externo ou para fora des-
aspecto mucoide e leitoso. Em algumas crianças pode ocorrer tam- se – ectopia ou eversão.
bém sangramento via vaginal, denominado de menarca neonatal Vale ressaltar que a ectopia é uma situação fisiológica e por
ou pseudomenstruação. isso a denominação de “ferida no colo do útero” é inapropriada.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Nessa situação, o epitélio colunar fica em contato com um ambiente vaginal ácido, hostil à essas células. Assim, células subcilíndri-
cas, de reserva, bipotenciais, por meio de metaplasia, se transformam em células mais adaptadas – escamosas –, dando origem a um
novo epitélio, situado entre os epitélios originais, chamado de terceira mucosa ou zona de transformação. Nessa região, pode ocorrer
obstrução dos ductos excretores das glândulas endocervicais subjacentes, dando origem a estruturas císticas sem significado patológico,
chamadas de Cistos de Naboth. É nessa zona em que se localizam mais de 90% das lesões cancerosas do colo do útero.

História Natural da Doença

O câncer do colo do útero é uma afecção progressiva iniciada com transformações intra-epiteliais progressivas que podem evoluir para
um processo invasor num período que varia de 10 a 20 anos.
O colo do útero é revestido por várias camadas de células epiteliais pavimentosas, arranjadas de forma bastante ordenada. Essa de-
sordenação das camadas é acompanhada por alterações nas células que vão desde núcleos mais corados até figuras atípicas de divisão
celular. Quando a desordenação ocorre nas camadas mais basais do epitélio estratificado, estamos diante de uma Neoplasia Intraepitelial
Cervical Grau I - NIC I – Baixo Grau (anormalidades do epitélio no 1/3 proximal da membrana).
Se a desordenação avança 2/3 proximais da membrana estamos diante de uma Neoplasia Intra-epitelial Cervical Grau II - NIC II – Alto
Grau. Na Neoplasia Intra-epitelial Cervical Grau III - NIC III – Alto Grau, o desarranjo é observado em todas as camadas, sem romper a
membrana basal.
A coilocitose, alteração que sugere a infecção pelo HPV, pode estar presente ou não. Quando as alterações celulares se tornam mais
intensas e o grau de desarranjo é tal que as células invadem o tecido conjuntivo do colo do útero abaixo do epitélio, temos o carcinoma
invasor. Para chegar a câncer invasor, a lesão não tem, obrigatoriamente, que passar por todas essas etapas.

Fatores de Risco Associados ao Câncer do Colo do Útero

Os fatores de risco mais importantes para o desenvolvimento do câncer do colo do útero são:
• Infecção pelo Papiloma Vírus Humano – HPV - sendo esse o principal fator de risco;
• Início precoce da atividade sexual;
• Multiplicidade de parceiros sexuais;
• Tabagismo, diretamente relacionados à quantidade de cigarros fumados;
• Baixa condição sócio-econômica;
• Imunossupressão;
• Uso prolongado de contraceptivos orais;
• Higiene íntima inadequada

Manifestações Clínicas
• O câncer do colo do útero é uma doença de crescimento lento e silencioso;
• Existe uma fase pré-clínica, sem sintomas, com transformações intra-epiteliais progressivas importantes, em que a detecção de
possíveis lesões precursoras são por meio da realização periódica do exame preventivo do colo do útero.
• Progride lentamente, por anos, antes de atingir o estágio invasor da doença, quando a cura se torna mais difícil, se não impossível.
Nessa fase os principais sintomas são sangramento vaginal, corrimento e dor.

Linha de Cuidado

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Promoção Em decorrência de todas essas mudanças, a mulher tornou-se


um dos alvos prediletos da publicidade da indústria do tabaco, que
Incentivo à mulher a adotar hábitos saudáveis de vida, ou seja, passou a divulgar o cigarro como símbolo de emancipação e indepen-
estímulo à exposição aos fatores de proteção. Dicas que podem aju- dência. Isso fez e continua fazendo com que o número de fumantes,
dar na prevenção de várias doenças, inclusive do câncer: principalmente entre o sexo feminino, aumente na América Latina.
• Uma alimentação saudável pode reduzir as chances de câncer A mulher fumante tem um risco maior de infertilidade, câncer
em pelo menos 40%. Comer mais frutas, legumes, verduras, cere- de colo de útero, menopausa precoce, em média dois anos antes,
ais e menos alimentos gordurosos, salgados e enlatados. A dieta dismenorréia e irregularidades menstruais.
deveria conter diariamente, pelo menos, cinco porções de frutas,
verduras e legumes. Dar preferência às gorduras de origem vegetal O que acontece?
como o azeite extra virgem, óleo de soja e de girassol, entre outros, Estatísticas revelam que os fumantes comparados aos não fu-
lembrando sempre que não devem ser expostas a altas temperatu- mantes apresentam um risco de:
ras. Evitar gorduras de origem animal – leite e derivados, carne de • 10 vezes maior de adoecer de câncer de pulmão;
porco, carne vermelha, pele de frango, entre outros – e algumas • 5 vezes maior de sofrer infarto;
gorduras vegetais como margarinas e gordura vegetal hidrogenada. • 5 vezes maior de sofrer de bronquite crônica e enfisema pulmonar;
• Atividade física regular, qualquer atividade que movimente • 2 vezes maior de sofrer derrame cerebral.
seu corpo;
• Evitar ou limitar a ingestão de bebidas alcoólicas; Além desses riscos as mulheres fumantes devem saber que:
• Parar de fumar! O uso de anticoncepcionais associado ao cigarro aumenta em
10 vezes o risco de sofrer derrame cerebral e infarto.
Tabagismo e a mulher
Grávidas fumantes aumentam o risco de:
Uma das principais causas de mortes prematuras e incapacida- • Ter aborto espontâneo em 70%;
des, o tabagismo representa um problema de saúde pública, não • Perder o bebê próximo ou depois ao parto em 30%;
somente nos países desenvolvidos como também em países em de- • O bebê nascer prematuro em 40%;
senvolvimento, como o Brasil. • Ter um bebê com baixo peso em 200%.
O tabaco, em todas as suas formas, aumenta o risco de mortes
prematuras e limitações físicas por doença coronariana, hiperten- Mais informações sobre Tabagismo está disponível na página
são arterial, acidente vascular encefálico, bronquite, enfisema e eletrônica do Instituto Nacional de Câncer - INCA (www.inca.gov.
câncer. br/tabagismo).
Entre os tipos de câncer relacionados ao uso do tabaco in-
cluem-se os de pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, estômago, Detecção Precoce/Rastreamento
fígado, pâncreas, bexiga, rim e colo de útero.
Nascimento No Brasil, a principal estratégia utilizada para detecção preco-
Promoção ce/rastreamento do câncer do colo do útero é a realização da coleta
Rastreamento, de material para exames citopatológicos cervico-vaginal e microflo-
Diagnóstico e ra, conhecido popularmente como exame preventivo do colo do
Tratamento útero; exame de Papanicolaou; citologia oncótica; PapTest.
Precoces A efetividade da detecção precoce associado ao tratamento
Diagnóstico em seus estádios iniciais tem resultado em uma redução das taxas
Tratamento e de incidência de câncer invasor que pode chegar a 90%. De acor-
Reabilitação do com a OMS, quando o rastreamento apresenta boa cobertura
Cuidados Paliativos – 80% – e é realizado dentro dos padrões de qualidade, modifica
Exposição efetivamente as taxas de incidência e mortalidade por esse câncer.
Amiental Apesar das ações de prevenção e detecção precoce desenvolvi-
Fase das no Brasil, dentre elas o Programa Viva Mulher-Programa Nacio-
Pré-clínica nal de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama, as taxas de
Fase incidência e mortalidade têm-se mantido praticamente inalteradas
Clínica ao longo dos anos. Parte da manutenção das taxas podem estar as-
DESFECHO sociadas ao aumento e a melhoria do diagnóstico que melhora a
Cura qualidade da informação e dos atestados de óbitos. Por sua vez,
Sequela dentre as causas, o diagnóstico tardio pode estar relacionado com:
Morte 1. A dificuldade de acesso da população feminina aos serviços
de saúde;
Informação e comunicação 2. A baixa capacitação de recursos humanos envolvidos na
atenção oncológica, principalmente em municípios de pequeno e
Com a participação cada vez maior da mulher no mercado de médio porte;
trabalho seu papel social também foi se alterando rapidamente. A 3. A capacidade do sistema público em absorver a demanda
mulher passou a ter mais poder, tanto aquisitivo, quanto de deci- que chega as unidades de saúde;
são, dentro da própria sociedade, onde já exercia um papel funda- 4. A dificuldade dos gestores municipais e estaduais em definir
mental de modelo de comportamento para seus filhos. e estabelecer uma linha de cuidados que perpasse todos os níveis
de atenção - atenção básica, média complexidade e alta complexi-
dade – e de atendimento - promoção, prevenção, diagnóstico, tra-
tamento, reabilitação e cuidados paliativos.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Faixa Etária e Periodicidade para Realização do Exame Preventivo do Colo do Útero

A periodicidade de realização do exame preventivo do colo do útero, estabelecida pelo Ministério da Saúde do Brasil, em 1988, per-
manece atual e está em acordo com as recomendações dos principais programas internacionais.
O exame citopatológico deve ser realizado em mulheres de 25 a 60 anos de idade, uma vez por ano e, após dois exames anuais con-
secutivos negativos, a cada três anos.
Essa recomendação apóia-se na observação da história natural do câncer do colo do útero, que permite a detecção precoce de lesões
pré-malignas ou malignas e o seu tratamento oportuno, graças à lenta progressão que apresenta para doença mais grave.

Os estudos têm demonstrado que, na ausência de tratamento, o tempo mediano entre a detecção de HPV, NIC I e o desenvolvimento
de carcinoma in situ é de 58 meses, enquanto para NIC II esse tempo é de 38 meses e, para NIC III, de 12 meses. Em geral, estima-se que
a maior parte das lesões de baixo grau regredirá espontaneamente, enquanto cerca de 40% das lesões de alto grau não tratadas evolui-
rão para câncer invasor em um período médio de 10 anos. Por outro lado, o Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos calcula que
somente 10% dos casos de carcinoma in situ evoluirão para câncer invasor no primeiro ano, enquanto que 30% a 70% terão evoluído
decorridos 10 a 12 anos, caso não seja oferecido tratamento.
Segundo a OMS, estudos quantitativos têm demonstrado que, nas mulheres entre 35 a 64 anos, depois de um exame citopatológico
do colo do útero negativo, um exame subseqüente pode ser realizado a cada três anos, com a mesma eficácia da realização anual. Con-
forme apresentado abaixo, a expectativa de redução percentual no risco cumulativo de desenvolver câncer, após um resultado negativo,
é praticamente a mesma, quando o exame é realizado anualmente – redução de 93% do risco – ou quando ele é realizado a cada 3 anos
– redução de 91% do risco.
Efeito protetor do rastreamento para câncer do colo do útero de acordo com o intervalo entre os exames, em mulheres de 35 a 64
anos.

No Brasil observa-se que, a maior parte do exame preventivo do colo do útero, é realizada em mulheres com menos de 35 anos, pro-
vavelmente naquelas que comparecem aos serviços de saúde para cuidados relativos à natalidade. Isso leva a subaproveitar a rede, uma
vez que não estão sendo atingidas as mulheres na faixa etária de maior risco.
A identificação das mulheres na faixa etária de maior risco, especialmente aquelas que nunca realizaram exame na vida, é o objetivo
da captação ativa. As estratégias devem respeitar as peculiaridades regionais envolvendo lideranças comunitárias, profissionais de saúde,
movimentos de mulheres, meios de comunicação entre outros.
Em relação às mulheres acima da faixa etária recomendada, torna–se imperativo que sejam levados em consideração: (1) os fatores
de risco, (2) a freqüência de realização dos exames, (3) os resultados dos exames anteriores. A freqüência do rastreamento deverá ser para
cada caso individualizado. É fundamental que a equipe de saúde incorpore na atenção às mulheres no climatério, orientação sobre o que
é e qual a importância do exame preventivo do colo do útero, pois a sua realização periódica permite reduzir a mortalidade por câncer do
colo do útero na população de risco.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Idade média da incidência máxima das lesões

Situações Especiais

Mulher grávida: não se deve perder a oportunidade para a realização do rastreamaento. Pode ser feito em qualquer período da ges-
tação, preferencialmente até o 7º mês. Não está contra-indicada a realização do exame em mulheres grávidas, a coleta deve ser feita com
a espátula de Ayre e não usar escova de coleta endocervical. Mulheres virgens: a coleta em virgens não deve ser realizada na rotina. A
ocorrência de condilomatose genitália externa, principalmente vulvar e anal, é um indicativo da necessidade de realização do exame do
colo, devendo-se ter o devido cuidado e respeitando a vontade da mulher.

Mulheres submetidas a histerectomia:


• Histerectomia total recomenda–se a coleta de esfregaço de fundo de saco vaginal.
• Histerectomia subtotal: rotina normal

Mulheres com DST: devem ser submetidas à citopatologia mais frequentemente pelo seu maior risco de serem portadoras do câncer
do colo do útero ou de seus precursores. Já as mulheres com condilomas em genitália externa não necessitam de coletas mais freqüentes
do que as demais, salvo em mulheres imunossuprimidas.
Nas ocasiões em que haja mais de 12 meses do exame citopatológico:
• A coleta deverá ser realizada assim que a DST for tratada;
• A coleta também deve ser feita quando a mulher não souber informar sobre o resultado do exame anterior, seja por desinformação
ou por não ter buscado seu resultado. Se possível, fornecer cópia ou transcrição do resultado desse exame à própria mulher. Nos casos
dos serviços que dispuserem de documentos específicos como a Agenda da Mulher, os resultados devem ser registrados nos espaços
indicados.

É necessário ressaltar que a presença de colpites, corrimentos ou colpocervicites pode comprometer a interpretação da citopatologia.
Nesses casos, a mulher deve ser tratada e retornar para coleta do exame preventivo do câncer do colo do útero (conforme exposto na
abordagem sobres as DST).
Se for improvável o seu retorno, a oportunidade da coleta não deve ser desperdiçada. Nesse caso, há duas situações:
1. Quando é possível a investigação para DST, por meio do diagnóstico bacteriológico, por exemplo bacterioscopia, essa deve ser feita
inicialmente. A coleta para exame citopatológico deve ser feita por último.

2. Nas situações em que não for possível a investigação, o excesso de secreção deve ser retirado com algodão ou gaze, embebidos em
soro fisiológico e só então deve ser procedida a coleta para o exame citopatológico.

A presença do processo inflamatório intenso prejudica a qualidade da amostra. O tratamento dos processos inflamatórios/DST dimi-
nuem o risco de insatisfatoriedade da lâmina.

Coleta do Material para o Exame Preventivo do Colo


do Útero

É uma técnica de coleta de material citológico do colo do útero, sendo coletada uma amostra da parte externa, ectocérvice, e outra
da parte interna, endocérvice. Para a coleta do material, é introduzido um espéculo vaginal e procede-se à escamação ou esfoliação da
superfície externa e interna do colo por meio de uma espátula de madeira e de uma escovinha endocervical.
Uma adequada coleta de material é de suma importância para o êxito do diagnóstico. O profissional de saúde deve assegurar–se de
que está preparado para realizá-lo e de que tem o material necessário para isso. A garantia da presença de material em quantidades sufi-
cientes é fundamental para o sucesso da ação.

Recomendações prévias a mulher para a realização da coleta do exame preventivo do colo de útero

Para realização do exame preventivo do colo do útero e a fim de garantir a qualidade dos resultados recomenda-se:
• Não utilizar duchas ou medicamentos vaginais ou exames intravaginais, como por exemplo a ultrassonografia, durante 48 horas
antes da coleta;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

• Evitar relações sexuais durante 48 horas antes da coleta; • Lápis grafite ou preto nº2;
• Anticoncepcionais locais, espermicidas, nas 48 horas anterio- • Avental/ camisola para a mulher. Os aventais devem ser, pre-
res ao exame. ferencialmente, descartáveis. Nesse caso, após o uso, deverão ser
• O exame não deve ser feito no período menstrual, pois a pre- desprezadas em local apropriado. Caso seja reutilizável, devem ser
sença de sangue pode prejudicar o diagnóstico citológico. Aguar- encaminhados à rouparia para lavagem, segundo rotina da Unidade
da o 5° dia após o término da menstruação. Em algumas situações Básica de Saúde;
particulares, como em um sangramento anormal, a coleta pode ser • Lençóis: Os lençóis devem ser preferencialmente descar-
realizada. táveis. Nesse caso, após o uso, deverão ser desprezados em local
apropriado. Caso seja reutilizável, devem ser encaminhados à rou-
paria para lavagem e esterilização;
Por vezes, em decorrência do déficit estrogênico, a visibiliza-
ção da junção escamo-colunar e da endocérvix pode encontrar-se b) Preenchimento dos dados nos formulários para requisição de
prejudicada, assim como pode haver dificuldades no diagnóstico ci- exame citopatológico – colo do útero
topatológico devido à atrofia do epitélio. Uma opção seria o uso de É de fundamental importância o correto preenchimento do for-
cremes de estrogênio intravaginal, de preferência o estriol, devido mulário de requisição do exame citopatológico – colo do útero, pois
à baixa ocorrência de efeitos colaterais, por 07 dias antes do exame, a falta ou os dados incompletos poderá comprometer por completo
aguardando um período de 3 a 7 dias entre a suspensão do creme e a coleta do material, o acompanhamento, o tratamento e outras
a realização do preventivo. ações de controle do câncer do colo do útero, conforme anexo 4.
Na impossibilidade do uso do creme, a estrogenização pode ser
por meio da administração oral de estrogênios conjugados por 07 a c) Preparação da Lâmina
14 dias - 0,3 mg /dia -, a depender da idade, inexistência de contra- A lâmina e o frasco que serão utilizados para colocar o material
-indicações e grau de atrofia da mucosa. a ser examinado devem ser preparados previamente:
• O uso de lâmina com bordas lapidadas e extremidade fosca
Fases que antecedem a coleta é obrigatório;
a) Organização do material, ambiente e capacitação da equipe • Identificar a lâmina escrevendo as iniciais do nome da mulher
de saúde: e o seu número de registro daUnidade, com lápis preto nº2 ou gra-
fite, na extremidade fosca, previamente a coleta;
Equipe de Saúde capacitada • Identificar a caixa do porta-lâmina.
• Não usar caneta hidrográfica, esferográfica, etc., pois leva à
Além da preocupação inicial com o acolhimento, é fundamen- perda da identificação do material. Essas tintas se dissolvem duran-
tal a capacitação da equipe de saúde para a realização da coleta e te o processo de coloração das lâminas no laboratório
no fornecimento das informações pertinentes às ações do controle
do câncer do colo do útero. Manter os frascos de acondicionamentos, fechados permanen-
Consultório equipado para a realização do exame ginecológico: temente a não ser na hora de inserir as lâminas. No preparo da
• Mesa ginecológica; lâmina ver se ela está limpa sem a presença de artefatos, caso ne-
• Escada de dois degraus; cessário limpar com gaze.
• Mesa auxiliar;
• Foco de luz com cabo flexível; CONTROLE DO CÂNCER DA MAMA
• Biombo ou local reservado para troca de roupa;
• Cesto de lixo; As mamas são constituídas de gordura, tecido conectivo e te-
• Espaço físico adequado. cido glandular que contém lóbulos e ductos. Os lóbulos são as es-
truturas anatômicas onde o leite é produzido. Uma rede de ductos
Material necessário para coleta conecta os lóbulos ao mamilo.

Espéculo de tamanhos variados - pequeno, médio, grande e


para virgem - devem ser preferencialmente descartáveis - instru-
mental metálico deve ser esterilizado de acordo com as normas
vigentes;
• Balde com solução desincrostante em caso de instrumental
não descartável;
• Lâminas de vidro com extremidade fosca;
• Espátula de Ayre
• Escova endocervical
• Par de luvas para procedimento;
• Pinça de Cherron;
• Solução fixadora, álcool a 96% ou Polietilenoglicol líquido ou
Spray de Polietilenoglicol;
• Gaze;
• Recipiente para acondicionamento das lâminas, mais ade-
quado para o tipo de solução fixadora adotada pela Unidade, tais
como: frasco porta-lâmina, tipo tubete, ou caixa de madeira ou Raramente uma mama é do mesmo tamanho da outra, po-
plástica para transporte de lâminas; dendo apresentar-se de forma diferente de acordo com o período
• Formulários de requisição do exame citopatológico; menstrual. O tecido mamário se estende (sob a pele) até a região
• Fita adesiva de papel para a identificação dos frascos; da axila.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Um sistema de linfonodos é responsável pela drenagem lin- São definidos como grupos populacionais com risco elevado
fática da mama, principalmente os linfonodos axilares e da cadeia para o desenvolvimento do câncer de mama:
mamária interna. • Mulheres com história familiar de, pelo menos, um parente
de primeiro grau (mãe, irmã ou filha) com diagnóstico de câncer de
Câncer da Mama mama, abaixo dos 50 anos de idade;
• Mulheres com história familiar de pelo menos um parente
O câncer de mama é provavelmente o mais temido pelas mu- de primeiro grau (mãe, irmã ou filha) com diagnóstico de câncer de
lheres, devido à sua alta frequência e, sobretudo pelos seus efeitos mama bilateral ou câncer de ovário, em qualquer faixa etária;
psicológicos, que afetam a percepção da sexualidade e a própria • Mulheres com história familiar de câncer de mama mascu-
imagem pessoal. lino;
• Mulheres com diagnóstico histopatológico de lesão mamária
Esse tipo de câncer representa nos países ocidentais, uma das proliferativa com atipia ou neoplasia lobular in situ.
principais causas de morte em mulheres. As estatísticas indicam o
aumento de sua frequência tantos nos países desenvolvidos quanto Sintomas
nos países em desenvolvimento. Segundo a Organização Mundial
da Saúde (OMS), nas décadas de 60 e 70 registrou-se um aumen- Os sintomas do câncer de mama palpável são o nódulo ou tu-
to de 10 vezes nas taxas de incidência ajustadas por idade nos Re- mor no seio, acompanhado ou não de dor mamária. Podem surgir
gistros de Câncer de Base Populacional de diversos continentes. O alterações na pele que recobre a mama, como abaulamentos ou re-
câncer de mama permanece como o segundo tipo de câncer mais trações ou um aspecto semelhante à casca de uma laranja. Podem
frequente no mundo e o primeiro entre as mulheres. também surgir nódulos palpáveis na axila.
Apesar de ser considerado um câncer de relativamente bom
prognóstico, se diagnosticado e tratado oportunamente, as taxas Prevenção Primária
de mortalidade por câncer de mama continuam elevadas no Brasil,
muito provavelmente porque a doença ainda seja diagnosticada em Embora tenham sido identificados alguns fatores ambientais
estágios avançados. Na população mundial, a sobrevida média após ou comportamentais associados a um risco aumentado de desen-
cinco anos é de 61%. volver o câncer de mama, estudos epidemiológicos não fornecem
evidências conclusivas que justifiquem a recomendação de estraté-
. História Natural gias específicas de prevenção. É recomendável que alguns fatores
de risco, especialmente a obesidade e o tabagismo, sejam alvo de
Desde o início da formação do câncer até a fase em que ele ações visando à promoção à saúde e a prevenção das doenças crô-
pode ser descoberto pelo exame físico (tumor subclínico) isto é, a nicas não transmissíveis, em geral.
partir de 1 cm de diâmetro, passam-se, em média,10 anos. Não há consenso de que a quimioprofilaxia deva ser recomen-
Estima-se que o tumor de mama duplique de tamanho a cada dada às mulheres assintomáticas, independente de pertencerem
período de 3-4 meses. No início da fase subclínica (impalpável), a grupos com risco elevado para o desenvolvimento do câncer de
tem-se a impressão de crescimento lento, porque as dimensões das mama.
células são mínimas. Porém, depois que o tumor se torna palpável,
a duplicação é facilmente perceptível. Se não for tratado, o tumor Detecção Precoce
desenvolve metástases (focos de tumor em outros órgãos), mais
comumente para os ossos, pulmões e fígado. Em 3-4 anos do des- Quanto mais cedo for feito o diagnóstico de câncer maior a
cobrimento do tumor pela palpação, ocorre o óbito. probabilidade de cura. Rastreamento significa detectar a doen-
ça em sua fase pré-clínica enquanto diagnóstico precoce significa
Fatores de Risco identificar câncer da mama em sua fase clínica precoce. As ações
• História familiar é um importante fator de risco para o câncer de diagnóstico precoce consistem no exame clínico da mama por
de mama, especialmente se um ou mais parentes de primeiro grau um profissional de saúde treinado. As ações de rastreamento im-
(mãe ou irmã) foram acometidas antes dos 50 anos de idade; plementadas no País preconizam a mamografia bilateral em deter-
Entretanto, o câncer de mama de caráter familiar corresponde minados grupos de mulheres.
a aproximadamente 10% do total de casos de cânceres de mama;
• A idade constitui um outro importante fator de risco, haven- Recomendações para Detecção Precoce
do um aumento rápido da incidência com o aumento da idade;
• A menarca precoce (idade da primeira menstruação); Recomendações para o rastreamento de mulheres assintomá-
• A menopausa tardia (instalada após os 50 anos de idade); ticas
• A ocorrência da primeira gravidez após os 30 anos; • Exame Clínico das Mamas: para todas as mulheres a partir
• A nuliparidade; dos 40 anos de idade, com periodicidade anual.
• Ainda é controvertida a associação do uso de contraceptivos Esse procedimento é ainda compreendido como parte do aten-
orais com o aumento do risco para o câncer de mama, apontando dimento integral à saúde da mulher, devendo ser realizado em to-
para certos subgrupos de mulheres como as que usaram contracep- das as consultas clínicas, independente da faixa etária.
tivos orais de dosagens elevadas de estrogênio, as que fizeram uso • Mamografia: para mulheres com idade entre 50 a 69 anos de
da medicação por longo período e as que usaram anticoncepcional idade, com intervalo máximo de 2 anos entre os exames.
em idade precoce, antes da primeira gravidez. • Exame Clínico das Mamas e Mamografia Anual: para mulhe-
res a partir de 35 anos de idade, pertencentes a grupos populacio-
nais com risco elevado de desenvolver câncer de mama.
• Garantia de acesso ao diagnóstico, tratamento e seguimento
para todas as mulheres com alterações nos exames realizados.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Exame Clínico das Mamas (ECM) De uma forma geral, os resultados do ECM podem ser interpre-
tados de duas formas: normal ou negativo, caso nenhuma anorma-
Exame Clínico das Mamas (ECM) é um procedimento realizado lidade seja identificada pela inspeção visual e palpação, e anormal,
por um médico ou enfermeiro treinado para esta ação. No exame caso achados assimétricos necessitem de avaliação posterior e pos-
podem ser identificadas alterações na mama e, se for indicado, se- sível encaminhamento para especialista (referência). A descrição
rão realizados exames complementares. O ECM é realizado com a do ECM deve seguir o mesmo roteiro do exame propriamente dito:
finalidade de detectar anormalidades na mama ou avaliar sintomas inspeção, palpação dos linfonodos e palpação das mamas.
referidos por pacientes e assim encontrar cânceres da mama pal-
páveis num estágio precoce de evolução. Alguns estudos científicos Mamografia
mostram que 5% dos cânceres da mama são detectados por ECM
em pacientes com mamografia negativa, benigna ou provavelmente A mamografia é a radiografia da mama que permite a detecção
benigna. O ECM também é uma boa oportunidade para o profissio- precoce do câncer, por ser capaz de mostrar lesões em fase inicial,
nal de saúde educar a população feminina sobre o câncer da mama, muito pequenas (de milímetros). É realizada em um aparelho de
seus sintomas, fatores de risco, detecção precoce e sobre a compo- raio X apropriado, chamado mamógrafo. Nele, a mama é compri-
sição e variabilidade da mama normal. mida de forma a fornecer melhores imagens, e, portanto, melhor
As técnicas (como realizar) de ECM variam bastante em seus capacidade de diagnóstico. O desconforto provocado é discreto e
detalhes, entretanto, todas elas preconizam a inspeção visual, a pal- suportável.
pação das mamas e dos linfonodos (axilares e supraclaviculares). Estudos sobre a efetividade da mamografia sempre utilizam o
Ao contrário das recomendações de como realizar um ECM, poucos exame clínico como exame adicional, o que torna difícil distinguir a
estudos analisam como reportar os achados dos exames. sensibilidade do método como estratégia isolada de rastreamento.
A inspeção visual pretende identificar sinais de câncer da A sensibilidade varia de 46% a 88% e depende de fatores tais como:
mama. Sinais precoces do câncer da mama são achatamentos dos tamanho e localização da lesão, densidade do tecido mamário (mu-
contornos da mama, abaulamentos ou espessamentos da pele das lheres mais jovens apresentam mamas mais densas), qualidade dos
mamas. recursos técnicos e habilidade de interpretação do radiologista. A
É importante o examinador comparar as mamas para identificar especificidade varia entre 82%, e 99% e é igualmente dependente
grandes assimetrias e diferenças na cor da pele, textura, tempera- da qualidade do exame.
tura e padrão de circulação venosa. O acrônimo BREAST (em inglês) Os resultados de ensaios clínicos randomizados que comparam
significando B – massa na mama (breast mass), R – retração (re- a mortalidade em mulheres convidadas para rastreamento mamo-
traction), E-edema (edema), A-linfonodos axilares (axillary nodes), gráfico com mulheres não submetidas a nenhuma intervenção são
S-ferida no mamilo (scaly nipple) e T-sensibilidade na mama (tender favoráveis ao uso da mamografia como método de detecção preco-
breast) podem ajudar na memorização das etapas na inspeção visu- ce capaz de reduzir a mortalidade por câncer de mama.
al. A mulher pode se manter sentada com os braços pendentes ao As conclusões de estudos de meta-análise demonstram que os
lado do corpo, com os braços levantados sobre a cabeça ou com as benefícios do uso da mamografia se referem, principalmente, a cer-
palmas das mãos comprimidas umas contra as outras (inspeção di- ca de 30% de diminuição da mortalidade em mulheres acima dos
nâmica). Alguns autores recomendam que se faça a inspeção visual 50 anos, depois de sete a nove anos de implementação de ações
ao mesmo tempo em que se realiza a palpação das mamas. organizadas de rastreamento.
A palpação consiste em utilizar os dedos para examinar todas
as áreas do tecido mamário e linfonodos. Padronização dos laudos mamograficos - BI-RADS
Para palpar os linfonodos axilares e supraclaviculares a pacien-
te deverá estar sentada. Para palpar as mamas é necessário que a O objetivo do BI-RADS consiste na padronização dos laudos
paciente esteja deitada (decúbito dorsal). Na posição deitada a mão mamográficos levando em consideração a evolução diagnóstica e
correspondente a mama a ser examinada deve ser colocada sobre a ca- a recomendação da conduta, não devendo se esquecer da história
beça de forma a realçar o tecido mamário sobre o tórax. Toda a mama clínica e do exame físico da mulher.
deve ser palpada utilizando-se de um padrão vertical de palpação. No Congresso Americano de Radiologia, em dezembro de 2003
A palpação deve ser iniciada na axila. No caso de uma mulher (RSNA), em Chicago, foi divulgado a 4ª edição do BI-RADS (Breast
mastectomizada a palpação deve ser feita na parede do tórax, pele Imaging and Reporting Data System Mammography). O BI-RADS
e incisão cirúrgica é um trabalho entre membros de vários Departamentos do Insti-
Cada área de tecido deve ser examinada e três níveis de pres- tuto Nacional do Câncer, de Centros de Controle e Prevenção da
são devem ser aplicados em sequência: leve, média e profunda, cor- Patologia Mamária, da Administração de Alimentos e Drogas, da
respondendo ao tecido subcutâneo, ao nível intermediário e mais Associação Medica Americana, do Colégio Americano de Radiolo-
profundamente à parede torácica. Devem-se realizar movimentos gia, do Colégio Americano de Cirurgiões e do Colégio Americano de
circulares com as polpas digitais do 2º, 3º e 4º dedos da mão como Patologistas, por conseguinte todas essas Instituições ajudaram na
se tivesse contornando as extremidades de uma moeda. A região elaboração do BI-RADS.
da aréola e da papila (mamilo) deve ser palpada e não comprimida.
Somente descarga papilar espontânea merece ser investigada. Níveis de Atendimento
Duas características fundamentais do ECM são a interpretação
e a descrição dos achados encontrados. Assim como a realização do Unidade Básica de Saúde
ECM, não existe um padrão para interpretar e descrever os acha-
dos do ECM. Esta não uniformização da interpretação e descrição A Unidade Básica de Saúde deve estar organizada para receber
dos achados limitam o seu potencial em direcionar para novas ava- e realizar o exame clínico das mamas das mulheres, solicitar exames
liações e proporcionar o tratamento precoce do câncer da mama. mamográficos nas mulheres com situação de risco, receber resul-
Como aconteceu com a mamografia, a padronização da interpre- tados e encaminhar aquelas cujo resultado mamográfico ou cujo
tação e descrição dos achados pode resultar em efeitos positivos exame clínico indiquem necessidade de maior investigação.
para o ECM.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

As atividades abaixo descritas devem ser também realizadas nesse nível de atendimento pela equipe de saúde:
• Reuniões educativas sobre câncer, visando à mobilização e conscientização para o cuidado com a própria saúde; à importância da
prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama; à quebra dos preconceitos; à diminuição do medo da doença e à importância de
todas as etapas do processo de detecção precoce; não deixar de enfatizar o retorno para busca do resultado e tratamentos necessários;
• Busca ativa na população alvo, das mulheres que nunca realizaram o ECM;
• Busca ativa na população alvo, de mulheres para a realização de mamografia;
• Encaminhamento a Unidade de Referência dos casos suspeitos de câncer de mama;
• Encaminhamento das mulheres com exame clínico das mamas alterado, para Unidade de Referência;
• Busca ativa das mulheres que foram encaminhadas a Unidade de Referência e não compareceram para o tratamento;
• Busca ativa das mulheres que apresentaram laudo mamográfico suspeito para malignidade e não retornaram para buscar o resul-
tado;
• Orientação das mulheres com exame clínico das mamas normal e de baixo risco para o acompanhamento de rotina.

Unidade de Referência de Média Complexidade

É a unidade de média complexidade no SUS e funciona como referência para o encaminhamento das mulheres com resultados al-
terados. Este nível exige a presença de profissionais treinados para realizarem a investigação diagnóstica dos casos suspeitos de câncer
de mama, tais como, mamografia, biópsia por agulha grossa, punção por agulha fina. Assim como para o tratamento de lesões benignas
mamárias.

Unidade de Alta Complexidade - UNACON ou CACON

É a unidade de alta complexidade no SUS que realiza exames e tratamentos especializados. Neste nível é realizado o tratamento das
mulheres diagnosticadas com câncer de mama, assim como o tratamento do câncer em estágios que envolvam procedimentos cirúrgicos,
radioterápicos e quimioterápicos.
Com base nas Portarias MS/GM nº 2439 de 08 de dezembro de 2005 que institui a Política Nacional de Atenção Oncológica e a Por-
taria MS/SAS nº 741 de 19 de dezembro de 2005 que defini as Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON),
os Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACON) e os Centros de Referência de Alta Complexidade em Oncologia e
suas aptidões e qualidades.
Considerações Sobre:

Auto-Exame das Mamas (AEM)

O Auto-exame das Mamas (AEM) não vem se mostrando efetivo em diminuir a mortalidade nos programas de detecção precoce quan-
do utilizado isoladamente. Este exame, entretanto, ajuda a mulher a conhecer melhor o seu próprio corpo. Uma vez observada alguma
alteração, a mulher deverá procurar o serviço de saúde mais próximo de sua residência para ser avaliada por um profissional de saúde.
O AEM sistemático das mamas tem sido recomendado desde a década de 30 e foi incorporado nas políticas da saúde pública norte
– americanas desde os anos 50. Considerando-se que até 90% dos casos de câncer de mama são detectados pelas próprias mulheres,
pode-se deduzir que a promoção do AEM seja uma estratégia eficaz para sua detecção.
Embora já tenham sido realizados mais de 30 estudos não randomizados sobre o uso do AEM para o rastreamento do câncer de
mama, não há evidências científicas incontestáveis de que sua prática promova a redução da mortalidade por este câncer. Diversos estudos
de tipo caso-controle apontaram para uma leve redução na mortalidade em pacientes submetidas ao AEM, enquanto estudos de coorte e
ensaios clínicos não suportaram esses achados.
Em um ensaio clínico não randomizado, iniciado em 1973 na Inglaterra pelo “UK Early Detection of Breast Câncer Study Group”, não
foi constatada redução nas taxas de mortalidade por este câncer. Há apenas dois ensaios clínicos randomizados que avaliariam o impacto
do AEM sobre a mortalidade por câncer de mama. O primeiro foi iniciado em 1985, em Moscou e São Petersburgo, enquanto o segundo
teve início em 1989, em Xangai.
Ambos envolveram um grande número de mulheres que foram meticulosamente treinadas e receberam reforços para garantir o
aprendizado da técnica. Após um seguimento de 5 a 10 anos, ambos apontaram para a ineficácia do AEM em reduzir a mortalidade pelo
câncer de mama. Em outubro de 2002, a publicação dos resultados finais deste último ensaio clínico confirmou as observações anteriores,
concluindo-se pela incapacidade do AEM em alterar as taxas de mortalidade pelo câncer de mama.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Uma síntese destes estudos é apresentada na tabela.

Síntese dos estudos experimentais sobre a eficácia do AEM na redução da mortalidade por câncer de mama:

Embora a sensibilidade do AEM nunca tenha sido formalmente avaliada, estimativas indicam que cada 100 casos de câncer de mama,
o AEM detecta 26, o ECM (Exame Clínico das Mamas) detecta 45 e a MMG (Mamografia) 71.
Apesar de não haver evidência direta de que o AEM efetivamente reduza a mortalidade por câncer de mama, é importante que as
mulheres mantenham-se atentas às alterações em suas mamas e reportem qualquer alteração ao profissional de saúde. Recomenda-se,
desta forma, a efetividade potencial do estímulo à sua prática como estratégia complementar.
Embora as mulheres, individualmente, possam ver a realização do AEM como parte de seu autocuidado, as recomendações para
profissionais de saúde devem enfatizar que não há evidências científicas de que o AEM reduza a mortalidade por câncer de mama e que
do ponto de vista ético deve-se otimizar a utilização dos recursos públicos em ações coletivas de eficácia comprovada”- (Revista Brasileira
de Cancerologia, 2003, 49 (4): 227-238).

Linfedema

O linfedema é a principal complicação decorrente do tratamento cirúrgico para o câncer de mama, acarretando importantes altera-
ções físicas, psicológicas e sociais, que comprometem a qualidade de vida das mulheres. Pode ser definido como todo e qualquer acúmulo
de líquido, altamente protéico, nos espaços interticiais, seja ele devido à falhas de transporte, por alterações da carga linfática, por defici-
ência de transporte ou por falha da proteólise extralinfática (Mayall,2000).
Local do Estudo
Ano do Início Faixa Etária Número de
Mulheres % de Participação
Tempo de Seguimento
RR de morte por Câncer de mama (IC 95%)
INGLATERRA 1979 45-64 anos 253.219 30-53% 9 a 9,8 anos 1,07 (0,93-1,22)
XANGAI 1989 31-64 anos 266.064 98% 5 anos 1,04 (0,82-1,33)
RÚSSIA 1985 40-64 anos 120.310 76,4% 10 anos 0,95 (0,76 – 1,19)
Prevenção

A prevenção do linfedema pode ser conseguida por meio de uma série de cuidados, que se iniciam a partir do diagnóstico de câncer
de mama. As cirurgias devem ser o mais conservadoras possíveis, e o linfonodo sentinela pode representar um importante aliado na di-
minuição do linfedema. A radioterapia axilar deve ser restrita a casos em que há um extenso comprometimento ganglionar, sendo a dose
limitada a 45 – 50 Gy. As pacientes obesas devem ser incentivadas a restringir o peso corporal.
Após o tratamento cirúrgico, as pacientes devem ser orientadas sobre os cuidados com a pele e o membro superior homolateral ao
câncer de mama, a fim de evitar possíveis traumas e ferimentos. Os cuidados, entretanto, devem ser repassados de forma bastante tran-
qüila para que não haja um sentimento de incapacidade e impotência física. As orientações com relação à vida doméstica, a profissional
e de lazer devem ser direcionadas às rotinas das pacientes e condutas alternativas devem ser ensinadas quando forem realmente neces-
sárias.
As mulheres devem ter conhecimento sobre os sinais e sintomas iniciais dos processos infecciosos e do linfedema, para que comuni-
quem o profissional assistente e uma correta conduta terapêutica seja implantada. A equipe de saúde deve estar preparada para diagnos-
ticar e intervir precocemente.

Orientações após linfadenectomia axilar

As mulheres devem ser informadas em relação aos cuidados com o membro superior homolateral à cirurgia, visando prevenir qua-
dros infecciosos e linfedema. Entretanto, deve-se tomar o cuidado para não provocar sensação de incapacidade e impotência funcional.
Elas devem ser encorajadas a retornarem as atividades de vida diária e devem ser informadas sobre as opções para os cuidados pessoais.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Recursos fisioterapêuticos que produzam calor, tais como in- SAÚDE DO HOMEM
fravermelho, ultra-som, ondas curtas, microondas, forno de Bier,
compressas quentes, turbilhão, parafina entre outros, devem ser Diferentemente das mulheres, os homens não costumam pro-
evitados nas áreas de drenagem para a axila homolateral, devido ao curar os serviços de saúde. A baixa procura tem o fator cultural
aumento do risco de desenvolvimento de linfedema. Nas regiões como uma das explicações: o homem é criado para ser provedor,
distantes, desde que não haja neoplasia em atividade, os recursos ser forte, não chorar, não adoecer. Para muitos, doença é sinal de
podem ser realizados seguindo as devidas precauções. fragilidade, de fraqueza. Isso faz com que não busquem antecipada-
mente ajuda nos serviços de saúde, levando-os à morte por doen-
Procedimentos após linfadenectomia axilar ças que, se diagnosticadas mais cedo, poderiam ser evitadas.
É importante reverter o preconceito e sensibilizar os homens
EVITAR para a mudança dessa forma de pensar e agir.
• Micoses nas unhas e no braço; Os homens estão mais expostos aos riscos de adoecerem por
• Traumatismos cutâneos (cortes, arranhões, picadas de inseto, problemas relacionados à falta de exercícios físicos, alimentação
queimaduras, retirar cutícula e depilação da axila); com excesso de gordura, aumento de peso e à violência por cau-
• Banheiras e compressas quentes, saunas e exposição solar; sas externas (brigas, acidentes no trânsito, assassinatos, homicídios
• Apertar o braço do lado operado (blusas com elástico; reló- etc.).
gios, anéis e pulseiras apertadas; aferir a pressão arterial); É preciso que você os oriente a procurar a UBS para prevenir e
• Receber medicações por via subcutânea, intramuscular e en- tratar doenças como pressão alta, alteração do colesterol, diabetes,
dovenosa e coleta de sangue; doenças sexualmente transmissíveis e Aids, infarto, derrame, pro-
• Movimentos bruscos, repetidos e de longa duração; blemas respiratórios, câncer, uso de álcool, tabaco e outras drogas,
• Carregar objetos pesados no lado da cirurgia. entre outras.
• Deitar sobre o lado operado Orientar sobre a sexualidade saudável, sem riscos de adquirir
doenças sexualmente transmissíveis.
FAZER Orientar sobre a paternidade responsável, estimulando para
• Manter a pele hidratada e limpa; que ele participe do pré-natal, do parto, do pós-parto e nas visitas
• Usar luvas de proteção ao fazer as atividades do lar (cozinhar, ao pediatra e na criação dos filhos.
jardinagem, lavar louça e contato com produtos químicos); O ACS, juntamente com a equipe de saúde, deve realizar ações
• Durante a execução de atividades, promova intervalos para (por exemplo: semana de promoção da saúde do homem, campa-
descanso; nhas voltadas para esse público, distribuição de cartilhas informa-
• Ao fazer a unha do lado operado, utilize removedor de cutí- tivas, reuniões com os homens, entre outras estratégias) que esti-
culas; mulem o homem a se cuidar e a buscar uma vida mais saudável,
• Para retirada de pelo da axila do lado operado, utilize cremes enfrentando principalmente o alcoolismo, o tabagismo, a hiperten-
depilatórios, tesoura ou máquina de cortar cabelo; são e a obesidade.
• Ficar atenta aos sinais de infecção no braço (vermelhidão, in- Devem também ser buscadas estratégias para um melhor aco-
chaço, calor local); lhimento aos homens nas UBS.
• Durante viagens aéreas, usar malha compressiva. A visita domiciliar às famílias onde há homens deve contemplar
principalmente orientações sobre:
Diagnóstico 1. Os hábitos alimentares;
2. Atividade física;
Na maioria das vezes, a presença do linfedema é verificada por 3. Vacinas preconizadas para a sua faixa etária
intermédio do diagnóstico clínico. 4. O consumo de bebidas alcoólicas, tabaco e outras drogas;
Os exames complementares como tonometria, ressonância 5. Os problemas de saúde (manchas de pele, tosse, pressão
magnética, ultra-sonografia e linfocintigrafia, são utilizados quando alta, diabetes);
se objetiva verificar a eficácia de tratamentos ou para analisar pa- 6. Rotina: procurar a UBS para avaliação médica e odontológi-
tologias associadas. ca;
7. Alguma doença crônica, se necessário.
Tratamento fisioterapêutico
Problemas de saúde específicos da saúde do homem
O tratamento do linfedema está baseado em técnicas já bem
aceitas e descritas na literatura mundial. Disfunção erétil:
Este tratamento consiste de várias técnicas que atuam con- Também popularmente conhecida como impotência sexual, a
juntamente, dependendo da fase em que se encontra o linfedema, disfunção erétil pode ser de grande importância, pois pode reper-
incluindo: cuidados com a pele, drenagem linfática manual (DLM), cutir na vida familiar e no convívio social do indivíduo, muitas vezes
contenção na forma de enfaixamento ou por luvas/braçadeiras e sendo causa de sofrimento psíquico para ele.
cinesioterapia específica. Outros tratamentos têm sido descritos A disfunção erétil afeta principalmente homens de faixa etária
na literatura, porém, seus resultados não são satisfatórios quando mais elevada, mas pode também estar presente em indivíduos mais
comparados ao tratamento supra citado: jovens.
Estudos apontam que mais de 10% dos homens com idade su-
perior a 40 anos apresentam alguma forma de disfunção erétil, mas
poucos deles procuram auxílio nos serviços de saúde.
A disfunção erétil pode estar relacionada a causas orgânicas e
psicológicas, dentro destas destacamos:
- Psicológicas: ansiedade, depressão, culpa.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Orgânicas: hipertensão, diabetes, alterações hormonais, uso No Brasil, o tumor representa 2% de todos os casos de câncer
de drogas (fumo, álcool, antidepressivos, maconha, heroína, coca- no homem, sendo mais frequente nas Regiões Norte e Nordeste do
ína e outros). que nas Regiões Sul e Sudeste. Nas regiões de maior incidência, o
Hoje em dia existem boas opções de tratamento para esse pro- câncer de pênis supera os casos de câncer de próstat a e de bexiga.
blema, o seu papel como ACS é orientar o paciente sobre quando é
possível evitar ou controlar os fatores anteriormente citados e pro- Seu papel como ACS:
curar a UBS de referência para avaliação. Promover reuniões para discutir o tema, desmistificando a re-
alização do exame de toque, que será necessário em alguns casos.
Detecção precoce do câncer de próstata Discutir também o tema com as mulheres para que possam
conversar com seus parceiros, companheiros, irmãos.
O que é próstata? Orientar para que os homens com mais de 50 anos fiquem
A próstata é uma glândula que se localiza na parte baixa do atentos a sintomas urinários.
abdômen, no homem. Ela é um órgão muito pequeno, tem a forma Orientar para que os homens com mais de 50 anos com históri-
de maçã e se situa logo abaixo da bexiga e adiante do reto. co familiar de câncer de próstata procurem a UBS.
Conscientizar os homens de que diante de algum problema uri-
A próstata produz parte do sêmen, um líquido espesso que nário seja procurada a unidade.
contém os espermatozoides produzidos pelos testículos e que é eli-
minado durante o ato sexual.

Como surge o câncer de próstata? ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO RECÉM-NASCIDO


O câncer da próstata surge quando, por razões ainda não co-
nhecidas pela ciência, as células da próstata passam a se dividir e Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança
se multiplicar de forma desordenada, levando à formação de um
tumor. Alguns desses tumores podem crescer de forma rápida, es- A PNAISC está estruturada em princípios, diretrizes e eixos
palhando-se para outros órgãos do corpo e podendo levar à morte. estratégicos. Tem como objetivo promover e proteger a saúde da
Uma grande maioria, porém, cresce de forma tão lenta que criança e o aleitamento materno, mediante atenção e cuidados in-
não chega a dar sintomas durante a vida e nem a ameaçar a saúde tegrais e integrados, da gestação aos nove anos de vida, com espe-
do homem. cial atenção à primeira infância e às populações de maior vulnera-
bilidade, visando à redução da morbimortalidade e um ambiente
Como prevenir o câncer de próstata? facilitador à vida com condições dignas de existência e pleno de-
Até o presente momento, não são conhecidas formas específi- senvolvimento.
cas de prevenção do câncer da próstata. No entanto, sabe-se que a Os princípios que orientam esta política afirmam a garantia do
adoção de hábitos saudáveis de vida é capaz de evitar o desenvolvi- direito à vida e à saúde, o acesso universal de todas as crianças à
mento de certas doenças, entre elas o câncer. saúde, a equidade, a integralidade do cuidado, a humanização da
atenção e a gestão participativa. Propõe diretrizes norteadoras para
Quem apresenta mais risco de contrair câncer de próstata? a elaboração de planos e projetos de saúde voltados às crianças,
Os dois únicos fatores confirmadamente associados a um au- como a gestão interfederativa, a organização de ações e os servi-
mento do risco de desenvolvimento do câncer de próstata são a ida- ços de saúde ofertados pelos diversos níveis e redes temáticas de
de e história familiar. A maioria dos casos ocorre em homens com atenção à saúde; promoção da saúde, qualificação de gestores e
idade superior a 50 anos e naqueles com história de pai ou irmão trabalhadores; fomento à autonomia do cuidado e corresponsabili-
com câncer de próstata antes do 60 anos. Alguns outros fatores, zação de trabalhadores e familiares; intersetorialidade; pesquisa e
como a dieta, estão sendo estudados, mas ainda não há confirma- produção de conhecimento e monitoramento e avaliação das ações
ção científica. Não é necessária a realização de exames de labora- implementadas. Os sete eixos estratégicos que compõem a políti-
tório ou o toque retal em pessoas que não têm nenhum sintoma ca têm a finalidade de orientar gestores e trabalhadores sobre as
urinário ou histórico familiar. Portanto, somente diante de sintomas ações e serviços de saúde da criança no território, a partir dos de-
como dificuldade ou dor ao urinar, ou urinar muitas vezes, inclusive terminantes sociais e condicionantes para garantir o direito à vida e
à noite, perda espontânea de urina e urgência para urinar é que se à saúde, visando à efetivação de medidas que permitam a integrali-
deve recomendar procurar a UBS para realização de avaliação. Tam- dade da atenção e o pleno desenvolvimento da criança e a redução
bém é recomendada a avaliação para aqueles quem têm ou tiveram de vulnerabilidades e riscos. Suas ações se organizam a partir das
familiares com problemas na próstata. Redes de Atenção à Saúde (RAS), com ênfase para as redes temá-
ticas, em especial à Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil
Câncer de pênis e tendo a Atenção Básica (AB) como ordenadora e coordenadora
das ações e do cuidado no território, e servirão de fio condutor do
O pênis é o órgão sexual masculino. Em sua extremidade existe cuidado, transversalizando a Rede de Atenção à Saúde, com ações e
uma região mais volumosa chamada glande (“cabeça” do pênis), estratégias voltadas à criança, na busca da integralidade, por meio
que é coberta por uma pele fina e elástica, denominada prepúcio. de linhas de cuidado e metodologias de intervenção, o que pode
O câncer que atinge o pênis está muito ligado às condições de hi- se constituir em um grande diferencial a favor da saúde da criança.
giene íntima do indivíduo, sendo o estreitamento do prepúcio (fi- A normativa busca integrar diversas ações já existentes para
mose) um fator predisponente. O câncer de pênis é um tumor raro, atendimento a essa população. O objetivo é promover o aleitamen-
com maior incidência em indivíduos a partir dos 50 anos de idade, to materno e a saúde da criança, a partir da gestação aos nove anos
muito embora tumores malignos do pênis possam ser encontrados de vida, com especial atenção à primeira infância (zero a cinco anos)
em indivíduos jovens. Está relacionado às baixas condições socioe- e às populações de maior vulnerabilidade, como crianças com defi-
conômicas e de instrução, à má higiene íntima e a indivíduos não ciência, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, e em situação de rua.
circuncidados.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Eixos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da pesquisadores e lideranças de movimentos sociais (BRASIL, 2005a;
Criança BRASIL; CONSELHO NACIONAL DOS SECRETÁRIOS MUNICIPAIS DE
SAÚDE, 2009).
Os sete eixos estratégicos da Política são: atenção humanizada 6) Ambiente facilitador à vida – Princípio que se refere ao es-
e qualificada à gestação, parto, nascimento e recém-nascido; aleita- tabelecimento e à qualidade do vínculo entre criança e sua mãe/
mento materno e alimentação complementar saudável; promoção família/cuidadores e também destes com os profissionais que atu-
e acompanhamento do crescimento e desenvolvimento integral; am em diferentes espaços que a criança percorre em seus territó-
atenção a crianças com agravos prevalentes na infância e com do- rios vivenciais para a conquista do desenvolvimento integral (PE-
enças crônicas; atenção à criança em situação de violências, pre- NELLO, 2013). Esse ambiente se constitui a partir da compreensão
venção de acidentes e promoção da cultura de paz; atenção à saúde da relação entre indivíduo e sociedade, interagindo por um desen-
de crianças com deficiência ou em situações específicas e de vulne- volvimento permeado pelo cuidado essencial, abrangendo toda
rabilidade; vigilância e prevenção do óbito infantil, fetal e materno. a comunidade em que vive. Este princípio é a nova mentalidade
A Política considera como criança a pessoa na faixa etária de que aporta, sustenta e dá suporte à ação de todos os implicados na
zero a nove anos e a primeira infância, de zero a cinco anos. Para Atenção Integral à Saúde da Criança.
atendimento em serviços de pediatria no Sistema Único de Saúde 7) Humanização da atenção – Princípio que busca qualificar as
(SUS), são contempladas crianças e adolescentes menores de 16 práticas do cuidado, mediante soluções concretas para os proble-
anos, sendo que este limite etário pode ser alterado conforme as mas reais vividos no processo de produção de saúde, de forma cria-
normas e rotinas do estabelecimento de saúde responsável pelo tiva e inclusiva, com acolhimento, gestão participativa e cogestão,
atendimento. clínica ampliada, valorização do trabalhador, defesa dos direitos dos
usuários e ambiência, estabelecimento de vínculos solidários entre
Dos princípios: humanos, valorização dos diferentes sujeitos implicados, desde eta-
1) Direito à vida e à saúde – Princípio fundamental garantido pas iniciais da vida, buscando a corresponsabilidade entre usuários,
mediante o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços trabalhadores e gestores neste processo, a construção de redes de
para a promoção, proteção integral e recuperação da saúde, por cooperação e a participação coletiva, fomentando a transversalida-
meio da efetivação de políticas públicas que permitam o nascimen- de e a grupalidade, assumindo a relação indissociável entre atenção
to, crescimento e desenvolvimento sadios e harmoniosos, em con- e gestão no cuidado em saúde (BRASIL, 2006a).
dições dignas de existência, livre de qualquer forma de violência 8) Gestão participativa e controle social – Preceito constitucio-
(BRASIL, 1988; 1990b). nal e um princípio do SUS, com o papel de fomentar a democracia
2) Prioridade absoluta da criança – Princípio constitucional que representativa e criar as condições para o desenvolvimento da cida-
compreende a primazia da criança de receber proteção e cuidado dania ativa. São canais institucionais, de diálogo social, as audiên-
em quaisquer circunstâncias, ter precedência de atendimento nos cias públicas, as conferências e os conselhos de saúde em todas as
serviços de saúde e preferência nas políticas sociais e em toda a esferas de governo que conferem à gestão do SUS realismo, trans-
rede de cuidado e de proteção social existente no território, assim parência, comprometimento coletivo e efetividade dos resultados.
como a destinação privilegiada de recursos em todas as políticas No caso da saúde da criança, o Brasil possui um extenso leque de
públicas (BRASIL, 1988; 1990b). entidades da sociedade civil que militam pela causa da infância e do
3) Acesso universal à saúde – Direito de toda criança receber aleitamento materno e que podem potencializar a implementação
atenção e cuidado necessários e dever da política de saúde, por deste princípio (BRASIL; CONSELHO NACIONAL DOS SECRETÁRIOS
meio dos equipamentos de saúde, de atender às demandas da MUNICIPAIS DE SAÚDE, 2009; MARTINS, 2010).
comunidade, propiciando o acolhimento, a escuta qualificada dos
problemas e a avaliação com classificação de risco e vulnerabilida- Das Diretrizes:
des sociais, propondo o cuidado singularizado e o encaminhamento 1) Gestão interfederativa das ações de saúde da criança – Fo-
responsável, quando necessário, para a rede de atenção (BRASIL, mento à gestão para implementação da Pnaisc, por meio da viabili-
2005a). zação de parcerias e articulação interfederativa, com instrumentos
4) Integralidade do cuidado – Princípio do SUS que trata da necessários para fortalecer a convergência dela com os planos de
atenção global da criança, contemplando todas as ações de promo- saúde e os planos intersetoriais e específicos que dizem respeito à
ção, de prevenção, de tratamento, de reabilitação e de cuidado, de criança.
modo a prover resposta satisfatória na produção do cuidado, não 2) Organização das ações e dos serviços em Redes de Atenção
se restringindo apenas às demandas apresentadas. Compreende, à Saúde – Fomento e apoio à organização de ações e aos serviços
ainda, a garantia de acesso a todos os níveis de atenção, mediante da Rede de Atenção à Saúde, com a articulação de profissionais e
a integração dos serviços, da Rede de Atenção à Saúde, coordenada serviços de saúde, mediante estratégias como o estabelecimento
pela Atenção Básica, com o acompanhamento de toda a trajetória de linhas de cuidado, a troca de informações e saberes, a tomada
da criança em uma rede de cuidados e proteção social, por meio de horizontal de decisões, baseada na solidariedade e na colaboração,
estratégias como linhas de cuidado e outras, envolvendo a família e garantindo a continuidade do cuidado com a criança e a completa
as políticas sociais básicas no território (BRASIL, 2005a). resolução dos problemas colocados, de forma a contribuir para a
5) Equidade em saúde – Igualdade da atenção à saúde, sem integralidade da atenção e a proteção da criança.
privilégios ou preconceitos, mediante a definição de prioridades
de ações e serviços de acordo com as demandas de cada um, com 3) Promoção da Saúde – Reconhecimento da Promoção da
maior alocação dos recursos onde e para aqueles com maior neces- Saúde como conjunto de estratégias e forma de produzir saúde na
sidade. Dá-se por meio de mecanismo de indução de políticas ou busca da equidade, da melhoria da qualidade de vida e saúde, com
programas para populações vulneráveis, em condição de iniquida- ações intrassetoriais e intersetoriais, voltadas para o desenvolvi-
des em saúde, por meio do diálogo entre governo e sociedade ci- mento da pessoa humana, do ambiente e hábitos de vida saudáveis
vil, envolvendo integrantes dos diversos órgãos e setores da Saúde, e o enfrentamento da morbimortalidade por doenças crônicas não

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

transmissíveis, envolvendo o trabalho em rede em todos os espaços ― o desenvolvimento psicossocial – e, de fato a integração
de produção de saberes e práticas do cuidado nas dimensões indivi- do aspecto humano – o ser aprende a interagir e mover, respeitar
duais, coletivas e sociais (BRASIL, 2014h). as regras da sociedade, a rotina diária –praticamente, a criança vai
4) Fomento à autonomia e corresponsabilidade da família – seguir os passos que vão ter como finalidade a convivência com a
Fomento à autonomia e corresponsabilidade da família, princípio sociedade cuja pertence.
constitucional, que deve ser estimulado e apoiado pelo poder pú-
blico, com informações qualificadas sobre os principais problemas O recém-nascido e a criança hospitalizada
de saúde e orientações sobre o processo de educação dos filhos,
o estabelecimento de limites educacionais sem violência e os cui- As crianças tendem a responder à hospitalização com um dis-
dados com a criança, com especial foco nas etapas iniciais da vida, túrbio emocional, estas respostas geralmente manifestam-se atra-
para a efetivação de seus direitos. vés de comportamentos agressivos, como choro, retraimento, chu-
5) Qualificação da força de trabalho – Qualificação da força de te, mordida, tapas, resistência física aos procedimentos, ou ignora
trabalho para a prática de cuidado, da cogestão e da participação as solicitações. As internações são consideradas ameaças ao desen-
nos espaços de controle social, do trabalho em equipe e da arti- volvimento da criança e a união familiar.
culação dos diversos saberes e intervenções dos profissionais, efe-
tivando-se o trabalho solidário e compartilhado para produção de Vários são os sinais dos transtornos que a criança possa apre-
resposta qualificada às necessidades em saúde da família. sentar dentre eles destacam-se: Ansiedade de Separação; Perda de
6) Planejamento no desenvolvimento de ações – Aperfeiçoa- controle e Medos.
mento das estratégias de planejamento na execução das ações da A unidade de internação é um ambiente ocupado e barulhento,
Pnaisc, a partir das evidências epidemiológicas, definição de indi- cheio de eventos imprevistos e geralmente sem prazer para crianças
cadores e metas, com articulação necessária entre as diversas po- e seus pais. É responsabilidade de todos os membros da equipe de
líticas sociais, iniciativas de setores e da comunidade, de forma a saúde estar atenta e sensível a esses problemas em geral. O profis-
tornar mais efetivas as intervenções no território, que extrapolem sional bem treinado pode fazer avaliações e elaborar intervenções
as questões específicas de saúde. durante a experiência da internação. O uso do brincar terapêutico,
atividades de recreação, atividades escolares, visitas hospitalares
7) Incentivo à pesquisa e à produção de conhecimento – Incenti-
e grupos de apoio podem fornecer medidas criativas para guiar a
vo à pesquisa e à produção de conhecimento para o desenvolvimen-
criança e a família para longe da experiência negativa e em direção
to de conhecimento com apoio à pesquisa, à inovação e à tecnologia
à experiência benéfica. (BOWDEN; GREENBERG, 2005)
no campo da Atenção Integral à Saúde da Criança, possibilitando a
geração de evidências e instrumentos necessários para a implemen-
Cuidados com as medicações
tação da Pnaisc, sempre respeitando a diversidade étnico-cultural,
aplicada ao processo de formulação de políticas públicas.
Medicamento é toda a substância que, introduzida no organis-
8) Monitoramento e avaliação – Fortalecimento do monitora-
mo, previne e trata doenças, alivia e auxilia no diagnóstico. As ações
mento e avaliação das ações e das estratégias da Pnaisc, com apri- de enfermagem relativas aos medicamentos dizem respeito ao pre-
moramento permanente dos sistemas de informação e instrumentos paro, à administração e a observação das reações da criança que se
de gestão, que garantam a verificação a qualquer tempo, em que submeteu a este procedimento.
medida os objetivos estão sendo alcançados, a que custo, quais os Considerar os seis certos tradicionais da administração de me-
processos ou efeitos (previstos ou não, desejáveis ou não), indicando dicamentos (registro certo, dose certa, via certa, droga certa, hora
novos rumos, mais efetividade e satisfação. certa e paciente certo) e de checar o procedimento realizado, em
9) Intersetorialidade – Promoção de ações intersetoriais para a su- pediatria a equipe de enfermagem tem de levar em consideração
peração da fragmentação das políticas sociais no território, mediante certas peculiaridades durante o procedimento, tais como, a criança
a articulação entre agentes, setores e instituições para ampliar a inte- sentir-se insegura durante a hospitalização e ter medo do que lhe
ração, favorecendo espaços compartilhados de decisões, que gerem vai acontecer, não aceitando, muitas vezes, as medicações, princi-
efeitos positivos na produção de saúde e de cidadania. palmente as injetáveis. (COLLET; OLIVEIRA, 2002)
Observam-se os seguintes cuidados para administração do me-
Marcos do crescimento e do desenvolvimento dicamento em pediatria segundo Collet e Oliveira 2002:
- ler cuidadosamente os rótulos dos medicamentos;
O desenvolvimento da criança é o aumento da capacidade do -questionar a administração de vários comprimidos ou frascos
indivíduo na realização de funções cada vez mais complexas. Para para uma única dose;
uma definição mais completa e necessário diferenciar as noções re- -estar alerta para medicamentos similares;
ferentes ao crescimento e desenvolvimento: -verificar a vírgula decimal;
― crescimento e o aumento do corpo, de ponto de vista fí- -questionar aumento abrupto e excessivo nas doses;
sico. Ele pode ser aumento de estatura ou de peso. A unidade de -quando um medicamento novo for prescrito, buscar informa-
medida dele vai ser o cm ou a grama. Os processos básicos dele: ções sobre ele;
aumento de tamanho celular (chamado de hipertrofia) ou aumento -não administrar medicamentos prescritos por meio de apeli-
do numero das células (hiperplasia); dos ou símbolos;
― maturação e uma noção bem diferente – nesse caso, tra- -não tentar decifrar letras ilegíveis;
ta-se de organização progressiva das estruturas morfológicas. Aqui -procurar conhecer crianças que tem o mesmo nome ou so-
entra: crescimento e diferenciação celular, mielinização, especiali- brenome.
zação dos aparelhos e sistemas;
― desenvolvimento: e um ponto de visto holístico, integran- Cuidados prévios para a administração de medicamentos:
te dos processos do crescimento e maturação, mas que junta a isto - orientar a criança e a mãe/acompanhante por meio do brin-
o impacto e o aprendizagem sobre cada evento, e, também, a inte- quedo terapêutico;
gração psíquicos e sociais; -lavar as mãos;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

-reunir o material; - A albumina fetal no período imediato após o parto tem a ca-
-lero rótulo da medicação (observar validade, cor, aspecto, do- pacidade de ligação a drogas limitada.
sagem) - Uma barreira hemato-encefálica imatura durante o período
-preparar o medicamento na dose certa; logo após o parto pode levar a altas concentrações de medicamen-
-identificar a medicação a ser ministrada – nome da criança, tos no cérebro do que em outras idades.
nº do leito, nome da medicação, a via de administração, a dose e o
horário e a assinatura de quem prepararam; Fatores que Afetam o Metabolismo
-não deixar ao alcance das crianças os medicamentos; - O sistema microssomal enzimático do recém-nascido é menos
-explicar a criança que entende a relação do medicamento com eficaz.
a doença; - A maturação varia entre as pessoas; cada enzima hepática tor-
-restringir a criança quando necessário, para garantir a admi- na-se funcional a uma frequência diferente.
nistração correta e segura.
Fatores que Afetam a Eliminação
FARMACOCINETICA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL - A filtração glomerular e a secreção tubular estão reduzidas no
nascimento.
Fatores que Afetam a Absorção dos Medicamentos - Existe um aumento gradual na função renal, com os valores
de adultos sendo alcançados nos(s) primeiro(s) 1-2 anos de vida.
- Gastrintestinal
O pH gástrico é alto em neonatos, atingindo os valores de adul- Vias de Administração de Medicação Infantil
to por volta da idade de 2 anos. Os medicamentos ácidos são mais
biodisponíveis; os medicamentos-base apresentam menor biodis- Via Oral: Formas Farmacêuticas: cápsulas, comprimidos, xaro-
ponibilidade. pes e drágeas.
A motilidade gástrica e intestinal (tempo de transito) esta dimi- A administração de medicamentos por via oral consiste no pre-
nuída nos neonatos e lactentes menores, mas aumenta nos lacten- paro ideal, escolher o material de administração de acordo com a
tes maiores e crianças. idade da criança (colher ou copo de medidas, conta-gotas, seringa,
A quantidade de ácido biliar e o funcionamento estão diminu- copo descartável, fita crepe ou etiqueta de identificação); orien-
ídos nos recém-nascidos e atingem a sua capacidade máxima ao tar a criança e o acompanhamento se preciso por intermédio do
longo dos primeiros meses de vida. brinquedo terapêutico, sentar a criança semi-sentada no colo do
acompanhante ou decúbito dorsal elevado no leito; administra-se
- Retal o medicamento certificando-se de que a criança engoliu; oferecer
Somente alguns medicamentos são adequados para adminis- líquidos após o medicamento, registrar aceitação e se houver rea-
tração retal. Além disso, o tamanho da exposição na mucosa retal ção comunicar.
afeta a absorção.
Vantagens:
- Intramuscular ― Autoadministração, econômica e fácil;
Variável no grupo pediátrico secundário a (a) fluxo sanguíneo e ― Confortável, indolor;
instabilidades vasomotoras, (b) contração e tônus muscular insufi- ― Forma Farmacêutica de fácil conservação
cientes e (c) oxigenação muscular diminuída. ― Possibilidade de remover o medicamento

- Percutâneo Desvantagens:
Diminuído com espessura aumentada do estrato córneo e dire- ― Absorção variável;
tamente relacionado à hidratação da pele. ― Período de latência médio a longo;
Os neonatos e os lactentes tem a permeabilidade da pele au- ― Ação dos sucos digestivos;
mentada, permitindo maior penetração da medicação e uma rela- ― Interação com alimentos;
ção maior de área de superfície – peso corporal com potencial para ― Pacientes não colaboradores (inconscientes), com náuse-
toxicidade. as e vômitos o incapazes de engolir;
- Intraocular ― pH do trato gastrintestinal
As mucosas de neonatos e lactentes são particularmente finas;
os medicamentos oftalmológicos podem causar efeitos sistêmicos Via Retal: A administração consiste na administração de medi-
nos recém-nascidos e nas crianças jovens. camentos do tipo supositório ou enema no reto. O volume de líqui-
do a ser administrado varia conforme a idade da criança: em lacten-
Fatores que Afetam a Distribuição tes, de 150 a 250 ml; em pré-escolar, de 250 a 350ml; em escolar, de
- Os neonatos têm uma maior proporção de água corporal total 350 a 500ml e em adolescentes, de 500 a 750ml.
que rapidamente de reduz durante o primeiro ano de vida. Valores
de adultos são gradualmente alcançados por volta de 12 anos de Vantagens:
idade. Este fator é uma consideração importante relacionado à so- ― Fármacos não são destruídos ou desativados no Trato
lubilidade do medicamento na água. Gastro Intestinal-TGI;
- As crianças têm uma proporção mais baixa de gordura corpo- ― Preferível quando a VIA ORAL está comprometida
ral que os adultos. ― Pacientes que não cooperam, inconscientes ou incapazes
- A capacidade de ligação das proteínas depende da idade. de aceitar medicação por via oral .
A concentração de proteína total ao nascimento corresponde Desvantagens:
a somente 80% dos valores de um adulto, o que leva a uma maior ― Lesão da mucosa ;
fração livre ou ativa da droga na circulação com um maior potencial ― Incômodo
para toxicidade. ― Expulsão

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

― Absorção irregular e incompleta Preparo do medicamento em ampola:


― Adesão ― Abrir a embalagem da seringa;
― Adaptar a agulha ao bico da seringa, zelando para não
Via oftalmológica: A administração de medicamentos nos contaminar as duas partes;
olhos se dá na presença de infecções oculares ou para realizações ― Certificar-se do funcionamento da seringa, verificando se
de exames de pequenas cirurgias. Deixar a criança em decúbito dor- a agulha está firmemente adaptada;
sal elevado; realizar higiene ocular com gaze estéril e soro fisiológi- ― Manter a seringa com os dedos polegar e indicador e se-
co; separar as pálpebras para expor o saco conjuntival e instilar as gurar a ampola entre os dedos médio e indicador da outra mão;
gotas prescritas neste local, mantendo-se o conta-gotas a 3 cm de ― Introduzir a agulha na ampola e proceder a aspiração do
distância e soltar as pálpebras, secando-se a medicação excedente conteúdo, invertendo lentamente a agulha, sem encostá-la na bor-
no sentido do canto interno para o externo e de cima para baixo. da da ampola;
― Virar a seringa com a agulha para cima, em posição verti-
ATENÇÃO: Ao utilizar mais de um tipo de colírio no mesmo olho cal e expelir o ar que tenha penetrado;
é necessário aguardar pelo menos 10 minutos entre as aplicações. ― Desprezar a agulha usada para aspirar o medicamento;
― Escolher, para a aplicação, uma agulha de calibre apropria-
Via Inalatória: Este método utiliza o trato respiratório para do à solubilidade da droga e à espessura do tecido subcutâneo do
transportar o medicamento através da inalação ou da administra- indivíduo;
ção direta para dentro da árvore respiratória através do tubo endo- ― Manter a agulha protegida com protetor próprio.
traqueal. O medicamento, depois de inalado ou infundido, se move
para dentro dos brônquios e, em seguida, atinge os alvéolos do Via Intradérmica: Consiste na aplicação de solução na der-
paciente, sendo difundidos para os capilares pulmonares. Os me- me(área localizada entre a epiderme e o tecido subcutâneo) Via uti-
dicamentos fornecidos através da via respiratória podem produzir lizada para realizar testes de sensibilização e vacina BCG é de fácil
efeitos locais ou sistêmicos. acesso, restrita a pequenos volumes
Os efeitos adversos da injeção intradérmica são decorrentes
Vantagens de: falha na administração como aplicação profunda subcutânea;
― Rápido contato com o fármaco. da dosagem incorreta com maior volume que o necessárioe con-
― Utilizada principalmente por pacientes com distúrbios taminação.
respiratórios
― Pode ser administrada em pacientes inconscientes. Via subcutânea: Consiste na aplicação de solução na tela sub-
― A principal vantagem é administrar pequenas doses para cutânea, na hipoderme (tecido adiposo abaixo da pele), Via utili-
ação rápida e minimizar os efeitos adversos sistêmicos zada principalmente para drogas que necessitam ser lentamente
absorvidas, vacinas como a antirrábica, a insulina têm indicação es-
Via Tópica: É a via através da qual os medicamentos são admi- pecífica para esta via. Os locais recomendados para aplicação são:
nistrados e absorvidos através da pele ou mucosas. parede abdominal (hipocôndrio, face anterior e externa da coxa,
face anterior e externa do braço, a região glútea, e a região dorsal,
Vantagens: abaixo da cintura)
― É uma via prática; Via intramuscular: Consiste na aplicação de solução no tecido
― Não é dolorosa; muscular. Procedimento muito comum 46% dos casos atendidos no
― É a única via que pode garantir o efeito apenas no local da PS e no ambulatório resultam em administração de medicamentos
aplicação (evita efeito sistêmico). Ex.: Uso de pomada ou gel. por esta via. A escolha do local deve respeitar os seguintes critérios:
- Quantidade e característica da droga
- Condição da massa muscular
Desvantagens:
- Quantidade de injeções prescritas
― Pode causar irritação na pele ou mucosas;
- Locais livres de grandes vasos e nervos em camadas superfi-
― Estímulo a automedicação;
ciais
― Ocorre perda do medicamento para o meio ambiente
- Acesso ao local e risco de contaminação
-Inserção, tamanho da agulha e ângulo apropriado para apli-
Via Parenteral (injetáveis): Este tipo de procedimento é consi-
cação.
derado pela criança como um ato agressivo contra si, pois na maio- Locais de aplicação ,os mesmos do adulto : Vasto lateral; Ven-
ria das vezes é acompanhado de dor ou medo, o que se traduz no troglútea; Dorsoglútea; Deltoide.
choro e na ansiedade. Existem quatro meios comuns para adminis- O risco da aplicação intramusculares em Pediatria: Trauma ou
trar medicamentos por esta via: via endovenosa; via subcutânea; a compressão aacidental de nervos; Injeção acidental em veia ou
intradérmica e a intramuscular. artéria; Injeção em músculo contraído; Lesão do músculo por so-
luções irritantes; Pode provocar dano celular, abscessos e alergias.
Vantagens:
― Efeito farmacológico imediato; Via endovenosa: Via de ação rápida, pois o medicamento é mi-
― Evitar a inativação por ação enzimática; nistrado diretamente no plasma,com ação imediata.
― Administração a pacientes inconscientes Tipo de medicamento injetado na veia: Solução solúvel no san-
gue; Não oleosos;Não devem conter cristais visíveis.
Desvantagens:
― Toxicidade local ou sistêmica (alergias, erros) A administração da medicação ocorre por meio de um dispo-
― Resistência do paciente (Psicológico) sitivo intravenoso instalado por punção,podendo ser um procedi-
― Pureza e esterilidade dos medicamentos (Custo) mento repetitivo,no qual a criança revive as angústias geradas por
essa experiência,que pode resultar em traumas.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A equipe deve preparar adequadamente a criança para esse - Selecionar o dispositivo para punção;
procedimento para minimizar as consequências e os traumas gera- - Preparar todo material (soro, equipo ou bureta, cateter de
das pela hospitalização. dupla via) e retirar o ar do equipo;
- Utilizar foco de 30cm de distância do local da punção para
Locais mais utilizados: Dorso da mão (veias metacarpianas facilitar a visualização epromover a vasodilatação;
dorsais, arco venoso dorsal) Antebraço (cefálica acessória, cefálica
e basílica), Braço (mediana cubital, mediana antebraqueal, basíli- Não golpear o local da punção, pode causar dor e medo
ca e cefálica),Dorso do pé: último recurso devido às complicações - Garrotear o local;
tromboembólicas (arco venoso dorsal, mediana marginal),tornoze- - Fazer antissepsia do local com álcool 70%,seguindo a direção
lo (safena interna), Pescoço (jugular externa e interna). da corrente sanguínea;
As Indicações para administração endovenosas: - Solicitar ajuda para restrição dos movimentos;
- Manter e repor eletrólitos, vitaminas e líquidos; - Fazer tricotomia;
- Restabelecer o equilíbrio ácido-básico; - Preparar material para fixação (micropore,esparadrapo e
- Restabelecer o volume sanguíneo; tala);
- Ministrar medicamentos;
- Induzir e manter sedações e bloqueios neuromusculares; Distender a pele com uma das mãos e com a outra introduzir
- Manter estabilidade hemodinâmica por infusões contínuas de a agulha com o bisel voltado pra cima e paralelo à veia; Verificar
drogas vasoativas refluxo de sangue
- Retirar o garrote
As soluções utilizadas: - Conectar equipo de soro, verificar o fluxo do gotejamento
- Isotônicas-concentração semelhante ao plasma(S.G.5% e - Fixar e imobilizar a extremidade com tal;
S.F.0,9%) fornecem água e calorias utilizadas para repor perdas - Controlar gotejamento
anormais e corrigir desidratação; -Identificar na fixação a data da punção, o horário e o nome do
- Hipertônicas-concentração maior que a do plasma (S.G.10 % responsável;
,25% e 50%) indicado para hipoglicemia, combate ao edema e ao - Encaminhar a criança para o leito, organizar o ambiente;
aumento da pressão intracraniana; - Observar e anotar a normalidade da infusão e o local, estar
- Hipotônicas-concentração menor que a do plasma(ringer lac- atento aos sinais flogísticos, obstrução e presença de ar no equipo;
tato) indicado para tratamento de desidratação, alcalose branda,hi- - Trocar o equipo de acordo com as normas da instituição 24
pocloremia,correção de desidratação; a 72h;
- Fluidos derivados do sangue: sangue total,plasma,papa de he- - Fazer anotações sobre o procedimento, o local e as ocorrên-
mácias,expansoresplasmáticos; cias.
- Nutrição parenteral.
Contenção para procedimentos: É necessária para garantir
As complicações causadas pela administração de medicamen- segurança à criança e facilitar o procedimento, podendo ser feita
tos por via endovenosa: Infiltrações locais; Reações pirogênicas; manualmente ou com dispositivos físicos. Os pais e a criança devem
trombose venosa e flebite (ações irritantes dos medicamentos ou ser orientados sobre a sua finalidade e objetivo. Pode ser manual,
formação de coágulos); Hematomas e necrose. executada com o auxílio de outra pessoa ou com a ajuda de lençóis
e faixas de contenção.
Fatores Contribuintes para extravasamento ou infiltração En-
dovenosa: Sinais Vitais
― Má perfusão periférica-propicia o extravasamento da so-
lução; Sinais Vitais: Avaliação da Dor
― Visualização inadequada do local da inserção do cateter;
― Não observação de sinais flogísticos precoce e frequente- Diretrizes Clínicas
mente - Avaliar o nível de dor na primeira hora após a internação na
unidade de cuidados agudos ou durante a consulta ambulatorial,
Sinais de Extravasamento ou Infiltração: para obter dados de referencia sobre o conforto da criança.
― Edema local que pode se estender por toda extremidade - No caso de uma criança com dor crônica, a frequência de ava-
afetada; liações da dor baseia-se na condição da criança, mas é realizado ao
― Perfusão local diminuída menos uma vez por mês.
― Extremidades afetadas frias - Avaliar o nível da dor a cada 8 a 12 horas em uma criança com
― Coloração da pele alterada(escura sugere necrose) doença aguda e com maior frequência, segundo a indicação clinica.
― Bolhas no local. A avaliação da dor é um processo continuo; cada cuidador realiza
uma avaliação ampla da dor ao assumir os cuidados com a criança.
Cuidados importantes: Antes da infusão, verificar a permea- Após a avaliação inicial, se a condição da criança mudar, se a crian-
bilidade do acesso; Não infundir medicação associada a hemode- ça apresentar sinais de dor ou for submetida a um procedimento
rivados; Fazer controle de gotejamento, respeitando o tempo e o provavelmente doloroso, ou se houver modificação da velocidade
volume prescritos. de infusão de medicamentos sedativos, analgésicos ou anestésicos,
realizar outra avaliação ampla da dor. Se a criança estiver confortá-
vel, não é necessário realizar uma avaliação ampla da dor com cada
Técnica e procedimento de cateterização venosa periférica: grupo de sinais vitais; entretanto, procure conhecer a legislação do
- Realizar a seleção da veia; seu estado, porque alguns exigem que a avaliação da dor seja regis-
- Escolher uma veia visível e que permita a mobilidade da crian- trada toda vez que são registrados os sinais vitais.
ça

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Avaliar o nível de dor dentro de 1 hora antes e após as inter- - Após implementação de intervenções para alivio da dor, com
venções para seu alivio em criança com doença aguda (o intervalo modificação da velocidade de infusão de medicamentos sedativos,
depende da intervenção especifica) para avaliar a resposta aos es- analgésicos ou anestésicos; a avaliação deve ser realizada em 1 hora
quemas de tratamento. após a intervenção, mas pode ser realizada mais cedo dependendo
- Os profissionais são responsáveis pela avaliação da dor. da intervenção (p. ex., 5 a 20 minutos após injeção em bolo intra-
- O médico, a enfermaria, a técnica ou auxiliar de enfermagem venosa).
podem obter relatos subjetivos de dor. Quando a determinação é - Lavar as mãos.
realizada por técnico ou auxiliar, qualquer variação em relação aos
valores de referencia deve ser comunicada ao profissional. Dicas para verificação dos Sinais Vitais na Pediatria

Procedimento Ordem para Verificação dos Sinais Vitais:

Passos Frequência Respiratória – FR: Uma maneira prática para se ve-


- Rever a história da dor inicial da criança e o nível anterior de rificar a frequência respiratória é colocando-se a mão levemente
dor, quando possível. sobre o tórax da criança e contando quantas vezes a mão sobe du-
- Observar o diagnóstico médico e a história de eventos consi- rante um minuto.
derados dolorosos ou causadores de traumatismo tecidual. Frequência cardíaca – FC: Procure verificar a FC , quando a
- Determinar se a criança esta tomando quaisquer medicamen- criança estiver dormindo ou em repouso. Quando o paciente for
tos que possam afetar a percepção da dor ou a capacidade de co- lactente, dê preferência ao pulso apical. A frequência apical é ve-
municar que esta com dor. rificada colocando-se o estetoscópio próximo ao mamilo esquerdo
- Lavar as mãos. por um minuto.
- Avaliar a presença de indicadores de dor, considerando a ida- Temperatura – T – considera-se febre: acima de 37,8ºC
de da criança e o estado de sono: Pressão arterial – PA – a PA deverá estar solicitada na prescri-
ção médica e verificada quando necessário.
Dor Aguda Variação Normal dos Sinais Vitais em Crianças
- Subjetiva: declaração de dor; se for incapaz de relatar, per-
guntar aos pais. Frequência da Pulsação, Respiração
- Fisiológica: aumento da frequência respiratória ou frequência
cardíaca, respirações superficiais, diminuição da saturação de oxi- Idade Pulso Respiração
gênio, diaforese, dilatação da pupila.
- Comportamental: choro, gemido, inquietação, ansiedade, Recém-natos 70 -170 30 – 50
raiva, diminuição do nível de atividade, alteração do sono, posição 11 meses 80 -160 26 – 40
assumida pela criança (p. ex., deitada imóvel, posição fetal, mem- 2 anos 80 -130 20 – 30
bro fletido ou rígido) careta facial, posição antálgica, tocar a área
dolorosa. 4 anos 80 -120 20 – 30
6 anos 75 -115 20 – 26
Dor Crônica 8 anos 70 -110 18 – 24
- Sinais vitais estáveis.
- Interrupção do sono. 10 anos 70 -110 18 – 24
- Regressão do desenvolvimento. Adolescentes 60 -120 12 – 20
- Alteração dos padrões alimentares.
- Problemas de comportamento ou escolares. Pressão Arterial
- Afastamento de atividades em grupo.
- Depressão. Idade Pressão Pressão
- Agressão. Sistólica Diastólica
No caso de uma criança submetida a bloqueio neuromuscu- 6m - 1 ano 90 61
lar: 2 - 3 anos 95 61
- Avaliar parâmetros fisiológicos.
4 - 5 anos 99 65
- Avaliar o tamanho da pupila.
- Interromper agentes paralisantes por um curto período para 6 anos 100 65
avaliar os comportamentos da dor. 8 anos 105 57
- Avaliar o nível de dor utilizando um instrumento de avaliação
valido, apropriado para o desenvolvimento; usar sempre o mesmo 10 anos 109 58
instrumento para comparar a adequação do controle da dor (p. ex., 12 anos 113 59
o mesmo instrumento ensinado previamente à criança e à família).
- Realizar o exame físico da área dolorosa. Temperatura (T)
- Determinar o nível de dor da criança e as intervenções apro- Oral 35,8º - 37,2º C
priadas; considerar a situação especifica (idade, estilo de adapta- Retal 36,2º C – 38º C
ção, ambiente) e o tipo e a intensidade da dor. Implementar inter- Axilar 35,9º C – 36.7º C
venções de controle da dor.
- Realizar ampla reavaliação do nível da dor:
- Se houver indicadores clínicos de dor.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Sinais Vitais: Frequência Cardíaca - Se o pulso da criança for regular, contar por 30 segundos e
multiplicar por 2. Se for irregular, contar durante 1 minuto comple-
Diretrizes clínicas to.
- A frequência cardíaca é determinada para avaliar o estado ge- - Lavar as mãos.
ral de cada paciente na primeira hora após a internação na unidade - Registrar a frequência cardíaca, a região usada e o nível de
de cuidados agudos. atividade da criança (p. ex., adormecida, calma, chorando, inquieta)
- Monitorar a frequência cardíaca a cada 4 a 8 horas durante no prontuário.
a fase aguda da doença se o paciente estiver na unidade de inter-
nação clínica e a cada 1 a 2 horas na unidade de terapia intensiva. Sinais Vitais: Frequência Respiratória
- A frequência cardíaca é reavaliada para monitorar a resposta
aos esquemas de tratamento e conforme indicado pela avaliação de Diretrizes clínicas
enfermagem ou médica. - Os movimentos respiratórios são medidos inicialmente para
- O técnico ou auxiliar de enfermagem e/ou a enfermeira po- se obter os dados de referência para avaliar o estado geral de cada
dem verificar a frequência cardíaca. Quando a frequência cardíaca
paciente dentro da primeira hora da admissão em um ambiente de
é verificada pelo auxiliar, qualquer variação em relação a medidas
cuidado agudo.
anteriores deve ser comunicada à enfermeira.
- As respirações são medidas antes e imediatamente após as
intervenções respiratórias para avaliar a resposta aos esquemas te-
Determinação da Frequência Cardíaca
rapêuticos.
Passos - A mensuração das respirações é feita a cada 4 ou 8 horas em
- Rever no prontuário do paciente os dados de referencia sobre uma criança agudamente doente e mais frequentemente conforme
a frequência de pulso conhecer a variação para a idade. indicado clinicamente.
- Determinar o pulso: - Uma auxiliar ou técnica de enfermagem ou enfermeira podem
- Nas crianças com menos de 2 anos de idade, é mais fácil rea- verificar a frequência respiratória. Quando a mensuração é encami-
lizar a ausculta apical. nhada à enfermeira ou ao médico.
- Em crianças maiores, pode ser realizada ausculta apical ou
palpado o pulso periférico. Verificação da Frequência Respiratória
- Acalmar a criança, se necessário. Sempre que possível, fazer a
medida quando a criança estiver tranquila. Passos
- Lavar as mãos. - Rever a frequência respiratória anterior da criança, quando
possível.
Determinação da Frequência Cardíaca - Observar o diagnostico médico da criança e a historia de pro-
por Ausculta do Pulso Apical blemas e dificuldades respiratórias.
- Determinar se a criança esta tomando alguma medicação que
Passos possa afetar a frequência e a profundidade respiratória.
- Limpar o diafragma e as olivas do estetoscópio com um lenço - Lavar as mãos.
embebido em álcool antes e depois do exame. - Contar as respirações:
- Introduzir os olivas nos ouvidos com as extremidades curvas - Observar o movimento abdominal quando for lactentes e
para a frente em direção à face. crianças pequena.
- Identificar o pulso. Palpar a parede torácica para determinar o - Observar os movimentos torácicos nas crianças mais velhas.
ponto de impulso máximo (PIM): - Se as respirações forem regulares, contar o numero de res-
- Em crianças menores de 7 anos – imediatamente à esquerda pirações em 30 segundos e multiplicar por dois. Se as respirações
da linha hemiclavicular no quarto espaço intercostal.
forem irregulares, contar o numero de respirações em um minuto
- Em crianças maiores de 7 anos – linha hemiclavicular esquer-
inteiro. Contar as respirações nos lactentes durante 1 minuto.
da no quinto espaço intercostal.
- Observar a profundidade e o padrão das respirações, ocor-
- Colocar o diafragma do estetoscópio sobre o PIM e contar a
rência de ansiedade, irritabilidade e posição de conforto. Observar
FC:
- Se o pulso da criança for regular, contar por 30 segundos e a coloração da criança, incluindo extremidades.
multiplicar por 2. - Lavar as mãos.
- Se o pulso for irregular, contar por 1 minuto completo. - Registrar os resultados; a frequência respiratória é registrada
- Lavar as mãos. por respirações por minuto.
- Registrar a frequência cardíaca, o pulso usado e o nível de
atividade da criança (p. ex., adormecida, calma, chorando, inquieta) Sinais Vitais: Pressão Arterial
no prontuário.
Diretrizes clínicas
Determinação da Frequência Cardíaca por Palpação de Pul- - A pressão arterial é verificada inicialmente para se obter um
sos Periféricos dado de referencia para avaliar o estado hemodinâmico geral de
cada paciente dentro da primeira hora de admissão em um ambien-
Passos te de cuidado agudo.
- Identificar o local; os pulsos radial e branquial são usados com - A pressão arterial é verificada para avaliar a resposta aos es-
maior frequência. quemas terapêuticos.
- Localizar o pulso da criança e palpar com seus dois ou três - Durante a doença aguda, verifique a pressão arterial a cada
primeiros dedos; não usar pressão excessiva. Observar o ritmo. 4 ou 8 horas, ou mais frequentemente se houver indicação clínica.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Nos neonatos, verifique a pressão arterial se houver suspeita - Abafamento do som, se aplicado.
de doença renal ou coarctação da aorta ou se estiverem presentes - Desaparecimento do som.
sinais clínicos de hipotensão. Não é recomendada uma triagem uni- - Não inflar novamente o manguito durante a desinsuflação.
versal dos neonatos. Dar alguns minutos entre as verificações da PA.
- Para a manutenção da saúde, a pressão arterial deveria ser - Desinflar o manguito completamente e removê-lo do braço.
verificada: - Lavar as mãos.
- Uma vez ao ano nas crianças com idade superior a 3 anos. - Registrar os achados no prontuário do paciente. Registrar
- Em criança de qualquer idade com sintomas de hipertensão, também a posição da criança, extremidade e local utilizado, tama-
hipotensão, ou doença renal ou cardíaca. nho do manguito, nível de atividade (p. ex., 90/50 mmHg, supina,
- Um técnico ou auxiliar de enfermagem ou uma enfermeira braço direito, branquial, manguito infantil, calma). Se a PA estiver
podem verificar a pressão arterial. Quando a pressão arterial for ve- muito alta ou baixa, verificar também a frequência cardíaca.
rificada por um auxiliar ou técnico de enfermagem, qualquer varia-
ção das medidas anteriores é informada ao enfermeiro ou médico. Método com Equipamento Automático
- Use o braço direito sempre que possível para haver consistên-
cia das aferições e comparação com as normas padronizadas. Passos
- A ausculta é o método de escolha para a verificação da pressão - Seguir os 6 primeiros itens no procedimento anterior (Método de
arterial nas crianças, porque é necessária uma frequente calibração Ausculta) para localização da artéria, seleção do manguito e colocação.
dos equipamentos automáticos e existe uma falta de padrões de - Seguir as instruções do fabricante para o uso da maquina.
referencia estabelecidos para as crianças. Os equipamentos auto- - Estabilizar a extremidade durante a verificação.
máticos são aceitos quando a ausculta for difícil (p.ex., em crianças - Lavar as mãos.
pequenas) ou quando forem necessárias verificações frequentes. - Registrar os achados no prontuário do paciente. Registrar
também a posição da criança, extremidade e local utilizado, tama-
Método de Ausculta nho do manguito, nível de atividade.

Passos Método da Palpação


- Rever as leituras da pressão arterial prévias da criança, se dis-
poníveis. Passos
- Analisar o diagnostico da criança e as medições atuais que - Seguir os 7 primeiros itens no procedimento anterior (Método de
provocam efeito sobre a pressão arterial. Ausculta) para localização da artéria, seleção do manguito e colocação.
- Lavar as mãos. Limpar o diafragma do estetoscópio. - Palpar a artéria à medida que infla o manguito.
- Selecionar o local: - Inflar o manguito 30mmHg acima do ponto em que você per-
- Usar o braço direito quando possível. cebeu o pulso da ultima vez.
- Verificar no mesmo local e posição das verificações anterio- - Lentamente desinflar o manguito e perceber o ponto em que
res, quando possível.
o pulso volta a ser sentido.
- Não usar a extremidade que tiver uma lesão ou equipamen-
- Desinflar completamente o manguito e removê-lo da extre-
tos estranhos (p. ex., punção venosa, fistula de diálise arterioveno-
midade.
sa ou renal).
- Lavar as mãos.
- Não usar a extremidade com circulação alterada (p. ex., deri-
- Registrar os achados no prontuário do paciente como leitura
vação de Blalock-Taussig, coarctação).
da sistólica por palpação (p. ex., 100/p). Registrar também a posi-
- Selecionar manguito de tamanho apropriado:
ção da criança, extremidade e local utilizado, tamanho do mangui-
- A largura da câmara deve ser cerca de 40% da circunferência do braço
to, nível de atividade.
e estar a meio caminho entre o olecrânio (cotovelo) e o acrômio (ombro).
- geralmente isto corresponde a um manguito que cobre cerca
de 80% a 100% da circunferência do braço. Sinais Vitais: Temperatura
- Usar a linha do manguito do fabricante como um guia para a
seleção do manguito. Diretrizes clínicas
- Se não for possível obter o manguito do tamanho apropriado, - A temperatura é verificada para avaliar o estado de referencia
escolha um que seja maior, em vez de um muito pequeno. de cada paciente dentro da primeira hora após a admissão e para
- Centralizar a câmara do manguito na extremidade proximal detectar a mudança no estado do paciente (p. ex., hipotermia, pre-
do pulso (p, ex., na área branquial, posição cerca de 2,5 a 5 cm aci- sença de infecção, ou outras mudanças na condição do paciente).
ma da fossa antecubial), e prender o manguito de forma bem justa. - A temperatura é avaliada de novo 30 minutos a 1 hora após a
Não posicionar o manguito sobre a roupa. intervenção para medir a resposta ao esquema terapêutico.
- Verificar a PA após 3 a 5 minutos de repouso, quando possí- - A temperatura deve ser verificada a cada 4 ou 8 horas, ou
vel. Posicionar o braço (extremidade) da criança ao nível do coração mais frequentemente quando instável ou quando a criança estiver
durante o repouso. agudamente doente ou com problemas de termorregulação.
- Localizar a posição exata do pulso. Coloque o diafragma do - Quando utilizar um equipamento para regular a temperatura (p.
estetoscópio onde o pulso é sentido, abaixo da borda do manguito. ex., incubadora, cobertor para hipotermia, luz de aquecimento suspen-
- Fechar a válvula do diafragma e inflar o manguito a uma pres- so), a temperatura da criança deve ser verificada a cada 1 a 3 horas.
são de 30mmHg acima do ponto em que a pulsação da artéria é - Os termômetros de mercúrio não devem ser usados (Gold-
obstruída. Estabilizar a extremidade durante a verificação. man, Shannon & o Committe on Environmental Health, 2001).
- Desinflar o manguito a uma velocidade de 2 a 3 mmHg por - A via oral deve ser usada em crianças com idade superior a 5
segundo. anos a não ser que seja contraindicado pelas condições médicas ou
- Observe os sons de Korotkoff: de desenvolvimento (convulsões, atraso no desenvolvimento, nível
- Inicio do som de pancada. de consciência alterado).

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- A mensuração timpânica (infravermelha) não é recomendada - Lavar as mãos.


para ser usada em crianças com idade inferior a 3 meses. Os estu-
dos mostram que as mensurações timpânicas não são tão exatas Verificação da Temperatura Retal com Termômetro
quanto outras formas de mensuração de temperatura e mostram Eletrônico
uma grande variedade.
- Os termômetros descartáveis (p. ex., Tempa – DOT) são mais Passos
exatos para as crianças com idade inferior a 5 anos. - Lavar as mãos, colocaras luvas de procedimento.
- verificar a temperatura retal dos lactentes após o parto ime- - Remover o cabo do local onde fica guardado e observar no
diato. Após essa verificação de temperatura retal, usar a via axilar mostrador se o termômetro está carregado.
nos lactentes e nas crianças pequenas. A temperatura retal está - Selecionar o cabo apropriado: vermelho-retal.
contraindicada nas crianças que se submeteram a cirurgia retal e - Colocar o protetor do cabo no cabo.
intestinal, com neutropenia, ou trompocitopenia. - Lubrificar a ponta com gel hidrossolúvel.
- O auxiliar ou técnico de enfermagem ou a enfermeira podem - Gentilmente abra as pregas interglúteas da criança e introdu-
verificar a temperatura. Quando a temperatura for verificada pelo za o cabo 1,7 cm no lactente e 2,5 cm na criança maior.
auxiliar ou técnico de enfermagem, qualquer variação do referen- - Manter as pregas interglúteas fechadas com uma das mãos e
cial, ou desvio da mensuração anterior, deve ser relatada ao médico manter o cabo no lugar com a outra.
ou enfermeira. - Monitorar a mudança de temperatura no mostrador até que a
unidade emita um som. Observar a temperatura no mostrador e se
Verificação da Temperatura Corporal a mensuração é em Celsius ou Fahrenheit.
- Jogue fora o protetor do cabo apertando o botão de liberar.
Passos - Retornar a unidade para carregar na base.
- Rever o prontuário da criança quanto a: - Lavar as mãos.
- Sinais vitais das ultimas 24 horas.
- Avaliação dos problemas médicos atuais. Verificação da Temperatura Axilar com Termômetro
- Parâmetros de temperatura desejados Eletrônico

Verificação da Temperatura Oral de uma Criança com Idade Passos


Superior a 5 Anos com Termômetro Eletrônico - Lavar as mãos.
- Remover o cabo do local onde fica guardado e observar no
Passos mostrador se o termômetro esta carregado.
- Lavar as mãos - Selecionar o cabo apropriado: azul-oral.
- Remover o cabo do local onde fica guardado e observar no - Colocar o protetor do cabo no cabo.
mostrador se o termômetro esta carregado. - Colocar o cabo protegido na axila da criança e segurar o braço
- Selecionar o cabo apropriado: azul-oral. dela firmemente na lateral.
- Colocar o protetor do cabo no cabo. - Observar a temperatura quando o mostrador digital estabili-
- Gentilmente inserir o cabo com o protetor no saco sublingual zou e a unidade emitiu um som; observar se a mensuração foi em
posterior da criança até que a unidade emita um sinal. Celsius ou Fahrenheit.
- Remover o cabo da boca e observar a temperatura do mostra- - Retornar a unidade para carregar na base.
dor; observar se é em Celsius ou Fahrenheit. - Lavar as mãos.
- Jogue fora o protetor do cabo.
- Retornar a unidade para carregar na base. Verificação da Temperatura com Termômetro Descartável
- Lavar as mãos.
Passos
Verificação da Temperatura Timpânica em Criança com Idade - Lavar as mãos.
Superior a 3 meses - Remover uma única unidade do pacote.
- Retirar a fita protetora do termômetro descartável.
Passos - Colocar a fita de temperatura segundo as instruções de uso
- Lavar as mãos. do fabricante:
- Remover o cabo do local onde fica guardado e observar no - Pressionar a fita firmemente na testa ou axila da criança.
mostrador se a unidade está carregada. - Colocar no saco sublingual.
- Garantir que o mostrador indica modo timpânico (as unidades - Usar a fita para monitorar a temperatura assim que a cor para
podem avaliar temperatura de superfície, retal, central e timpâni- de mudar.
ca). - Ler a temperatura de acordo com as instruções do fabricante,
- Colocar o protetor descartável na ponta do cabo. por exemplo:
- Puxar a orelha – retrair a pina posteriormente (empurrar para - Ler o bloco indicado pela mudança de cor; verde indica tem-
cima e para trás). peratura registrada. Se o verde não aparecer, a temperatura está a
- Inserir o cabo no conduto auditivo enquanto pressiona o bo- meio caminho entre o indicado pelo marrom e o azul.
tão do scan; cheque para garantir que o conduto auditivo esteja - O numero de pontos que mudaram de cor.
fechado. - Se for registrada uma temperatura acima de 37°C, confirmar
- Liberar o botão do scan. com a temperatura oral ou retal.
- Remover o cabo quando o termômetro emitir sinal. Observar - Lavar as mãos.
o mostrador de leitura se a leitura é em Celsius ou Fahrenheit.
- Jogar fora o protetor do cabo pressionando o botão de liberar.
- Retornar a unidade para carregar na base.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Medidas Antropométricas COLLET, N.; OLIVEIRA, B.R.G. Manual de Enfermagem em Pedia-


tria.Goiania:AB Editora, 2002.
A antropometria é importante ferramenta para avaliação do
crescimento infantil e aceita universalmente. Vantagens como baixo Higiene
custo, facilidade de execução e relativa sensibilidade e especificida-
de levam à elaboração de índices de crescimento fáceis de serem A higiene da criança hospitalizada é um cuidado de necessi-
avaliados. Esse método pode ser aplicado em todas as fases do ciclo dade básica, objetiva-se prevenir doenças, proporcionar conforto
de vida e permite a classificação de indivíduos e grupos segundo e bem estar a criança e ainda provocar a recuperação de sua en-
seu estado nutricional. fermidade.
As medidas antropométricas consistem nos dados sobre peso, Possibilita a avaliação do exame físico e promove a educação
altura, perímetros cefálico e torácico. Sua verificação objetiva o em saúde aos acompanhantes.
acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança, Entre os procedimentos de higiene os mais utilizados são: ba-
vem como a base para a prescrição médica e de enfermagem. nho; higiene das unhas; troca de fraldas; higiene oral e nasal e hi-
É importante que o enfermeiro ao participar do processo de giene perineal.
avaliação do crescimento da criança tenha o conhecimento de que
os principais aspectos que englobam uma avaliação eficiente e efi- Banho: È um procedimento de rotina no momento da admis-
caz ao paciente são: são, diariamente e sempre que necessário. O banho diário é indis-
-Medição dos valores antropométricos de maneira padroniza- pensável a saúde, proporciona bem-estar, estimula a circulação san-
da; guínea e protege a pele contra diversas doenças.
-Relação dos valores encontrados conforme o sexo e a idade, O momento do banho deve ser aproveitado para estimular a
comparando-os com os valores da população de referência; criança com (ou através de) estímulos psicoemocionais (acariciar),
-Verificação da normalidade dos valores encontrados. auditivos (conversar e cantar) e psicomotores (inclusive movimen-
tos ativos com os membros).
1 – Peso/Idade: as relações entre o peso da criança e sua idade - Banho: neste momento pode-se estimular o sistema senso-
são de vital importância para uma identificação precoce de casos rial, afetivo da criança. Nele deve-se conversar, dar-lhe brinquedos,
de desnutrição ou obesidade, ou riscos para ambos. Esta relação estimular o tato e sempre incentivando o acompanhante a acompa-
também poderá alertar o enfermeiro quanto a outros problemas nhar este momento. Existem vários tipos de banhos: o de chuveiro,
relacionados que estejam ocasionando tais perdas ou ganhos anor- de leito e de banheira.
mais de peso.
2 – Estatura/Idade: a mensuração da estatura da criança é de Tipos de Banho:
suma importância para o acompanhamento do crescimento consi-
derado dentro dos padrões da normalidade; como foi visto anterior- Banho de chuveiro: Normalmente é indicado para crianças na
mente nos fatores que influenciam o crescimento é possível verificar faixa etária pré-escolar, escolar e adolescente, que consigam deam-
que o déficit de crescimento pode estar associado a problemas como bular, sem exceder sua capacidade em situação de dor. Sempre que
a desnutrição e/ou socioeconômicos, entretanto quando estes défi- possível incentivar a criança a banhar-se sozinha, sob supervisão,
cits tornarem-se muito elevados é importante a investigação de um em caso de adolescentes permitir que tomem banho sozinhos.
especialista para detectar a real causa.
3 – Peso/Estatura: a relação entre o peso e a estatura da crian- Incentivar a criança a banhar-se sob supervisão ou, em caso de
ça é utilizada e recomendada pela Organização Mundial da Saúde adolescente, que queiram privacidade, permitir que tome banho
para detectar sobrepeso; também deve ser utilizado para detectar sozinho.
precocemente perdas de peso que indiquem a desnutrição aguda, - Quando for possível, ao término, verificar a limpeza da região
ou o risco desta. atrás do pavilhão auditivo, mãos, pés e genitais.
O enfermeiro enquanto integrante da equipe de saúde par-
ticipa do processo de avaliação do crescimento da criança, sendo Higiene do Coto Umbilical
importante salientar que todas as funções do processo avaliativo
são delegadas a diferentes profissionais, conforme a especialidade Tem como objetivo prevenir infecções e hemorragias, além de
de cada um. acelerar o processo de cicatrização.
Desta forma, quando se fala em desnutrição e/ou obesidade e -Manter o coto posicionado para cima, evitando contato com
obtenção de valores fidedignos é sempre de grande valia a inserção fezes e urina; efetuar higiene na inserção e em toda extensão do
do nutricionista, já que o mesmo possui a responsabilidade de ins- coto umbilical, evitando que o excesso de álcool escorra pelo ab-
truir sobre a alimentação da criança e realizar demais testes antro- dômen.
pométricos necessários para uma análise mais detalhada. -Fazer curativo com álcool a 70% até a queda do coto umbilical
ou de acordo coma rotina da unidade.
Referências: -Observar e registrar as condições do coto (presença de secre-
ORLANDI, O. V.; SABRÁ, A. O Recém-Nascido a Termo. In: FILHO, ção ou sangramento) e região peri umbilical (hiperemia e calor .).
J. R. Obstetrícia. 10º ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,2005
FERNANDES, K.; KIMURA, A. F. Práticas assistenciais em reani- Higiene Nasal
mação do recém-nascido no contexto de um centro de parto nor-
mal. Rev. Esc. Enferm. USP, São É a remoção de excesso de secreção (cerúmen) do conduto au-
Paulo, v.39.n.º 4, p.383-390, 2005. ditivo externo e a remoção da sujeira do pavilhão auricular.
WONG, D. L. Enfermagem Pediátrica elementos essências à in- Fazer higiene com cotonete embebido em SF 0,9% ou água des-
tervenção efetiva. 5ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999 tilada, observar e registrar o aspecto da secreção retirada.
BOWDEN, V. R.; GREENBERG, C. S. Procedimentos de enferma-
gem pediátrica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Higiene Ocular É importante que a mãe seja orientada sobre:


O leite materno contém a quantidade de água suficiente para
É a retirada de secreções localizadas na face interna do globo as necessidades do bebê, mesmo em climas muito quentes.
ocular. A oferta de água, chás ou qualquer outro alimento sólido ou
-Fazer higiene ocular com SF 0,9 % ou água destilada, observar líquido, aumenta a chance do bebê adoecer, além de substituir o
e registrar o aspecto da secreção retirada. volume de leite materno a ser ingerido, que é mais nutritivo.
-Proceder à limpeza do ângulo interno do olho ao externo, uti- O tempo para esvaziamento da mama depende de cada bebê;
lizando o lado do cotonete somente uma vez. há aquele que consegue fazê-lo em poucos minutos e aquele que o
faz em trinta minutos ou mais.
Aleitamento Materno Ao amamentar:
a) a mãe deve escolher uma posição confortável, podendo
Para que o aleitamento materno exclusivo seja bem sucedi- apoiar as costas em uma cadeira confortável, rede ou sofá e o bebê
do é importante que a mãe esteja motivada e, além disso, que o deve estar com o corpo bem próximo ao da mãe, todo voltado para
profissional de saúde saiba orientá-la e apresentar propostas para ela. O uso de almofadas ou travesseiros pode ser útil;
resolver os problemas mais comuns enfrentados por ela durante a b) ela não deve sentir dor, se isso estiver ocorrendo, significa
amamentação. que a pega está errada.
Por que as mães oferecem chás, água ou outro alimento? Por-
que acham que a criança está com sede, para diminuir as cólicas, A mãe que amamenta precisa ser orientada a beber no mínimo
para acalmá-la a fim de que durma mais, ou porque pensam que um litro de água filtrada e fervida, além da sua ingestão habitual
seu leite é fraco ou pouco e não está sustentando adequadamen- diária, considerando que são necessários aproximadamente 900 ml
te a criança. Nesse caso, é necessário admitir que as mães não es- de água para a produção do leite. É importante também estimular
tão tranquilas quanto a sua capacidade para amamentar. É preciso o bebê a sugar corretamente e com mais frequência (inclusive du-
orientá-las: rante a noite)
-Que o leite dos primeiros dias pós-parto, chamado de colostro,
é produzido em pequena quantidade e é o leite ideal nos primeiros Sinais indicativos de que a criança está mamando de forma
dias de vida, inclusive para bebês prematuros, pelo seu alto teor de adequada
proteínas.
- Que o leite materno contém tudo o que o bebê necessita até o Boa posição:
6º mês de vida, inclusive água. Assim, a oferta de chás, sucos e água - O pescoço do bebê está ereto ou um pouco curvado para trás,
é desnecessária e pode prejudicar a sucção do bebê, fazendo com semestar distendido
que ele mame menos leite materno, pois o volume desses líquidos - A boca está bem aberta
irá substituí-lo. Água, chá e suco representam um meio de contami- - O corpo da criança está voltado para o corpo da mãe
nação que pode aumentar o risco de doenças. A oferta desses líqui- - A barriga do bebê está encostada na barriga da mãe
dos em chuquinhas ou mamadeiras faz com que o bebê engula mais - Todo o corpo do bebê recebe sustentação
ar (aerofagia) propiciando desconforto abdominal pela formação de - O bebê e a mãe devem estar confortáveis
gases, e consequentemente, cólicas no bebê. Além disso, pode-se
instalar a confusão de bicos, dificultando a pega correta da mama Boa pega:
e aumentar os riscos de problemas ortodônticos e fonoaudiólogos. - O queixo toca a mama
-A pega errada vai prejudicar o esvaziamento total da mama, - O lábio inferior está virado para fora
impedindo que o bebê mame o leite posterior (leite do final da ma- - Há mais aréola visível acima da boca do que abaixo
mada) que é rico em gordura, interferindo na saciedade e encurtan- - Ao amamentar, a mãe não sente dor no mamilo
do os intervalos entre as mamadas. Assim, a mãe pode pensar que
seu leite é insuficiente e fraco. Produção versus ejeção do leite materno
-Se as mamas não são esvaziadas de modo adequado ficam in-
gurgitadas, o que pode diminuir a produção de leite. Isso ocorre A produção adequada de leite vai depender, predominante-
devido ao aumento da concentração de substâncias inibidoras da mente, da sucção do bebê (pega correta, frequência de mamadas),
produção de leite. que estimula os níveis de prolactina (hormônio responsável pela
-Em média a produção de leite é de um litro por dia, assim é produção do leite).
necessário que a mãe reponha em seu organismo a água utilizada Entretanto, a produção de ocitocina, hormônio responsável
no processo de lactação. É importante que a mãe tome mais água pela ejeção do leite, é facilmente influenciada pela condição emo-
(filtrada e fervida) e evite a ingestão de líquidos com calorias como cional da mãe (autoconfiança). A mãe pode referir que está com
refrigerantes e refrescos. pouco leite. Nesses casos, geralmente, o bebê ganha menos de 20 g
-As mulheres que precisam se ausentar por determinados perí- e molha menos de seis fraldas por dia. O profissional de saúde pode
odos, por exemplo, para o trabalho ou lazer, devem ser incentivadas contribuir para reverter essa situação orientando a mãe a colocar
a realizar a ordenha do leite materno e armazená-lo em frasco de a criança mais vezes no peito para amamentar inclusive durante a
vidro, com tampa plástica de rosca, lavado e fervido. Na geladeira, noite, observando se a pega do bebê está correta.
pode ser estocado por 12 horas e no congelador ou freezer por no
máximo 15 dias. O leite materno deve ser descongelado e aquecido
em banho Maria e pode ser oferecido ao bebê em copo ou xícara,
pequenos. O leite materno não pode ser descongelado em micro-
-ondas e não deve ser fervido.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Puericultura Rubéola

Puericultura é a arte de promover e proteger a saúde das crian- Via de Transmissão: por via respiratória, através de gotículas
ças, através de uma atenção integral, compreendendo a criança contaminadas
como um ser em desenvolvimento com suas particularidades. É Período de Incubação: 14 a 21 dias
uma especialidade médica contida na Pediatria que leva em conta Manifestações Prodrômicas: em crianças não existem pródro-
a criança, sua família e o entorno, analisando o conjunto bio-psico- mos da doença, mas em adolescentes e adultos, o exantema pode
-sócio-cultural. ser precedido por 1 ou 2 dias de mal-estar, febre baixa, dor de gar-
Nas consultas periódicas, o pediatra observa a criança, inda- ganta e coriza discreta.
ga aos pais sobre as atividades do filho, reações frente a estímulos Manifestações Clínicas: 7 dias antes da erupção cutânea, perce-
e realiza o exame clínico. Quanto mais nova a criança, mais frágil be-se um aumento dos gânglios cervicais, retroauriculares e occip-
e vulnerável, daí a necessidade de consultas mais frequentes. Em tais. As lesões cutâneas são máculo-papulosas, de coloração rósea
cada consulta o pediatra vai pedir informações de como a criança se e às vezes confluentes. Iniciam na face, pescoço, tronco, membros
alimenta, se as vacinas estão em dia, como ela brinca, condições de superiores e inferiores em menos de 24 horas. Na maioria dos ca-
higiene, seu cotidiano. O acompanhamento do crescimento, atra- sos, a erupção permanece por 3 dias. Existem muitos indivíduos
vés da aferição periódica do peso, da altura e do perímetro cefálico que apresentam a infecção inaparente.
e sua análise em gráficos, são indicadores das condições de saúde Período de Transmissibilidade: começa 1 semana antes do apa-
das crianças. Sempre, a cada consulta, bebês, pré-escolares, esco- recimento de exantema até 5 dias após o início da erupção cutânea.
lares e jovens devem ter seu crescimento e seu desenvolvimento Importante: por ser uma doença teratogênica, recomenda-se
avaliado. Crescimento é o ganho de peso e altura, um fenômeno que os indivíduos acometidos fiquem em casa evitando o contágio
quantitativo, que termina ao final da adolescência. Por outro lado, de mulheres grávidas.
o desenvolvimento é qualitativo, significa aprender a fazer coisas,
evoluir, tornar-se independente e geralmente é um processo con- Catapora (varicela)
tínuo.
Via de Transmissão: por contato direto, por meio de gotículas
infectadas, mas em curtas distâncias. Também pode ser transmitido
DOENÇAS INFECTO CONTAGIOSAS NA INFÂNCIA (ATEN- por via indireta, através de mãos e roupas.
ÇÃO INTEGRADA ÀS DOENÇAS PREVALENTES NA INFÂNCIA Período de Incubação: 14 a 17 dias
- AIDPI) Manifestações Prodrômicas: curto (24 horas), constituído de
febre baixa e discreto mal-estar.
Doenças de etiologia viral que costumam deixar imunidade Manifestações Clínicas: exantema é a primeira manifestação da
permanente, sendo a maior incidência na primavera e inverno. Não doença. As lesões evoluem em menos de 8 horas: máculas > pápu-
existe tratamento específico, apenas a administração de medica- las > vesículas > formação de crosta. As crostas costumam cair em 7
ções para aliviar sintomas, como a febre. porém é importante ficar dias até 3 semanas, se houver contaminação. Neste caso ou se hou-
atento à criança. Se ela apresentar: sonolência incomum, recusar ver remoção prematura da crosta deixa cicatriz residual. As lesões
beber líquidos, dor de ouvido, taquipnéia, respiração ruidosa ou ce- acometem predominantemente tronco, pescoço, face, segmentos
faléia intensa faz-se necessário procurar um médico, pois estes são proximais dos membros, poupando palma das mãos e planta dos
alguns sinais de alerta para possíveis complicações dessas doenças. pés. Aparecem em surtos de 3 a 5 dias, por isso pode-se visualizar
em uma mesma área a presença de todos os estágios de lesão. A
Sarampo intensidade varia de poucas lesões, surgidas de um único surto, a
inúmeras lesões que cubram todo corpo, surgidas em 5 ou 6 surtos,
Via de Transmissão: aérea, pela mucosa respiratória ou conjun- no decurso de 1 semana. A febre costuma ser baixa e sua intensida-
tival de acompanha a intensidade da erupção cutânea.
Período de Incubação: 8 a 12 dias Período de Transmissibilidade: desde 1 dia antes do apareci-
Manifestações Prodrômicas: febre (geralmente elevada, alcan- mento de exantema até 5 dias após o aparecimento da última ve-
çando o máximo no aparecimento do exantema), manifestações sícula.
sistêmicas, coriza, conjuntivite, tosse, exantema característico, po- Importante: evite que a criança coce as lesões, evitando a con-
dendo apresentar também: cefaléia, dores abdominais, vômitos, taminação local e cicatrizes residuais. Se a coceira for muita, procu-
diarréia, artralgias e mialgia, associados a prostração e sonolência, re um médico que indicará métodos para aliviar o prurido.
quadro que pode dar a impressão de doença grave. Um sinal pa-
tognomônico da doença é o aparecimento das manchas de Koplick Caxumba (Parotidite Epidêmica)
- pontos azulados na mucosa bucal que tendem a desaparecer.
Manifestações Clínicas: as lesões cutâneas, aparecem no 14º Via de Transmissão: por via respiratória, através de gotículas
dia de contágio, são máculo-papulosas avermelhadas, isoladas uma contaminadas e contato oral com utensílios contaminados
das outras e circundadas por pele não comprometida, podendo Período de Incubação: 14 a 21 dias
confluir. Começam no início da orelha, após 24 horas são encontra- Manifestações Prodrômicas: passa desapercebido, só se notan-
das em: face, pescoço, tronco e braços ,e após 2 ou 3 dias: membros do a doença quando aparecem dor e edema da glândula.
inferiores e desaparecendo no 6º dia. As lesões evoluem para man- Manifestações Clínicas: aumento das parótidas, que é uma
chas pardas residuais com descamação leve. A temperatura tende a glândula situada no ramo ascendente da mandíbula. Pode afetar
se normalizar no quarto dia de exantema. um ou ambos os lados do rosto. Irá se apresentar mole, dolorosa
Período de Transmissibilidade: começa 2 a 4 dias antes do pe- a palpação, sem sinais inflamatórios e sem limites nítidos. Com o
ríodo prodrômico e vai até o 6º dia do aparecimento do exantema. edema da parótida há uma elevação da febre e dor de gargganta.
Período de Transmissibilidade: 3 dias antes do edema da paró-
tida, até 7 dias depois do inchaço ter diminuído.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Importante: recomenda-se o repouso, sendo obrigatório para O que causa as doenças diarreicas agudas?
adolescentes e adultos, principalmente do sexo masculino. As doenças diarreicas agudas (DDA) podem ser causadas por
Doença infecciosa endêmica e epidêmica, de origem bacteria- diferentes microrganismos infecciosos (bactérias, vírus e outros
na, sendo uma importante causa de morbi-mortalidade em crianças parasitas, como os protozoários) que geram a gastroenterite – in-
de baixa idade, principalmente em crianças não-imunizadas. Sua flamação do trato gastrointestinal – que afeta o estômago e o in-
imunidade, também, parece ser permanente após a doença e não testino. A infecção é causada por consumo de água e alimentos
há influência sazonal evidente nos picos de incidência. contaminados, contato com objetos contaminados e também pode
ocorrer pelo contato com outras pessoas, por meio de mãos conta-
Coqueluche minadas, e contato de pessoas com animais.

Via de Transmissão: contato direto através da via respiratória. Quais são os fatores de risco para doenças diarreicas agudas?
Período de Incubação: varia entre 6 e 20 dias Qualquer pessoa, de qualquer faixa etária e gênero, pode ma-
Manifestações Clínicas: dura de 6 a 8 semanas, sendo que o nifestar sinais e sintomas das doenças diarreicas agudas após a con-
quadro clínico depende da idade e grau de imunização do indivíduo. taminação. No entanto, alguns comportamentos podem colocar as
É dividida em estadios: pessoas em risco e facilitar a contaminação como:
(1) Estádio catarral - dura de 1 a 2 semanas e é o período de - Ingestão de água sem tratamento adequado;
maior contagiosidade. Caracterizado por secreção nasal, lacrimeja- - Consumo de alimentos sem conhecimento da procedência,
mento, tosse discreta, congestão conjutival e febre baixa. do preparo e armazenamento;
(2) Estádio paroxístico - dura de 1 a 4 semanas (ou mais). Há - Consumo de leite in natura (sem ferver ou pasteurizar) e de-
uma intensificação da tosse manifestada em crises, frequentemen- rivados;
te mais numerosas durante a noite. - Consumo de produtos cárneos e pescados e mariscos crus ou
(3) Estádio de convalescença - acessos são menos intensos e malcozidos;
menos frequentes. - Consumo de frutas e hortaliças sem higienização adequada;
- Viagem a locais em que as condições de saneamento e de
Importante: por ser uma patologia bacteriana faz-se necessário higiene sejam precárias;
a introdução de antibioticoterapia e isolamento respiratório por 5 - Falta de higiene pessoal.
dias após o início da administração medicamentosa, ou por 3 sema-
nas após o começo do estádio paroxístico, se a antibioticoterapia ATENÇÃO ESPECIAL: Crianças e idosos com DDA correm risco
for contra-indicada. de desidratação grave. Nestes casos, a procura ao serviço de saúde
Faz-se necessário a hospitalização de lactentes com problemas deve ser realizada em caráter de urgência.
importantes na alimentação, crises de apnéia e cianose, e pacientes
com complicações graves. Quais são os sinais e sintomas das doenças diarreicas agudas?
Procurar evitar fatores desencadeantes de crises como temor, Ocorrência de no mínimo três episódios de diarreia aguda no
decúbito baixo, permanência em recintos fechados e exercícios físi- período de 24hrs (diminuição da consistência das fezes – fezes líqui-
cos. Procurar manter nutrição e hidratação adequada. das ou amolecidas – e aumento do número de evacuações) poden-
do ser acompanhados de:
DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS (DDA) - Cólicas abdominais.
- Dor abdominal.
O que é são doenças diarreicas agudas? - Febre.
As doenças diarreicas agudas (DDA) correspondem a um gru- - Sangue ou muco nas fezes.
po de doenças infecciosas gastrointestinais. São caracterizadas por - Náusea.
uma síndrome em que há ocorrência de no mínimo três episódios - Vômitos.
de diarreia aguda em 24 horas, ou seja, diminuição da consistência
das fezes e aumento do número de evacuações, quadro que pode Como diagnosticar as doenças diarreicas agudas (diarreia)?
ser acompanhado de náusea, vômito, febre e dor abdominal. Em O diagnóstico das causas etiológicas, ou seja, dos microrganis-
geral, são doenças autolimitadas com duração de até 14 dias. Em al- mos causadores da DDA é realizado apenas por exame laboratorial
guns casos, há presença de muco e sangue, quadro conhecido como por meio de exames parasitológicos de fezes, cultura de bactérias
disenteria. A depender do agente causador da doença e de caracte- (coprocultura) e pesquisa de vírus. O diagnóstico laboratorial é im-
rísticas individuais dos pacientes, as DDA podem evoluir clinicamen- portante para determinar o perfil de agentes etiológicos circulantes
te para quadros de desidratação que variam de leve a grave. em determinado local e, na vigência de surtos, para orientar as me-
A diarreia pode ser de origem não infecciosa podendo ser cau- didas de controle. Em casos de surto, solicitar orientação da equipe
sada por medicamentos, como antibióticos, laxantes e quimiote- de vigilância epidemiológica do município para coleta de amostras.
rápicos utilizados para tratamento de câncer, ingestão de grandes IMPORTANTE: As fezes devem ser coletadas antes da adminis-
quantidades de adoçantes, gorduras não absorvidas, e até uso de tração de antibióticos e outros medicamentos ao paciente. Reco-
bebidas alcoólicas, por exemplo. Além disso, algumas doenças não menda-se a coleta de 2 a 3 amostras de fezes por paciente.
infecciosas também podem desencadear diarreia, como a doen- O diagnóstico etiológico das Doenças Diarreicas Agudas nem
ça de Chron, as colites ulcerosas, a doença celíaca, a síndrome do sempre é possível, uma vez que há uma grande dificuldade para a
intestino irritável e intolerâncias alimentares como à lactose e ao realização das coletas de fezes, o que se deve, entre outras ques-
glúten. tões, à baixa solicitação de coleta de amostras pelos profissionais
de saúde e à reduzida aceitação e coleta pelos pacientes.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Desse modo, é importante que o indivíduo doente seja bem Ingestão de solução de SRO, inicialmente em pequenos volu-
esclarecido quanto à relevância da coleta de fezes, especialmente mes e aumento da oferta e da frequência aos poucos. A quantidade
na ocorrência de surtos, casos com desidratação grave, casos que a ser ingerida dependerá da sede do paciente, mas deve ser admi-
apresentam fezes com sangue e casos suspeitos de cólera a fim de nistrada continuamente até que desapareçam os sinais da desidra-
possibilitar a identificação do microrganismo que causou diarreia. tação;
Essa informação será útil para prevenir a transmissão da doença Reavaliação do paciente constantemente, pois o Plano B ter-
para outras pessoas. mina quando desaparecem os sinais de desidratação, a partir de
A coleta de fezes para análise laboratorial é de grande impor- quando se deve adotar ou retornar ao Plano A;
tância para a identificação de agentes circulantes e, especialmente Orientação do paciente/responsável/acompanhante para re-
em caso de surtos, para se identificar o agente causador do surto, conhecer os sinais de desidratação; preparar adequadamente e
bem como a fonte da contaminação. administrar a solução de SRO e praticar ações de higiene pessoal
e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água e
Como tratar as doenças diarreicas agudas? higienização dos alimentos);
O tratamento das doenças diarreicas agudas se fundamenta na
prevenção e na rápida correção da desidratação por meio da inges- Plano C
tão de líquidos e solução de sais de reidratação oral (SRO) ou fluidos
endovenosos, dependendo do estado de hidratação e da gravidade O Plano C consiste em duas fases de reidratação endovenosa
do caso. Por isso, apenas após a avaliação clínica do paciente, o tra- destinada ao paciente COM DESIDRATAÇÃO GRAVE. Nessa situação
tamento adequado deve ser estabelecido, conforme os planos A, B o paciente deverá ser transferido o mais rapidamente possível. Os
e C descritos abaixo. primeiros cuidados na unidade de saúde são importantíssimos e já
Para indicar o tratamento é imprescindível a avaliação clínica devem ser efetuados à medida que o paciente seja encaminhado ao
do paciente e do seu estado de hidratação. A abordagem clínica serviço hospitalar de saúde.
constitui a coleta de dados importantes na anamnese, como: início Realizar reidratação endovenosa no serviço saúde (fases rápida
dos sinais e sintomas, número de evacuações, presença de muco e de manutenção);
ou sangue nas fezes, febre, náuseas e vômitos; presença de doen- O paciente deve ser reavaliado após duas horas, se persistirem
ças crônicas; verificação se há parentes ou conhecidos que também os sinais de choque, repetir a prescrição; caso contrário, iniciar ba-
adoeceram com os mesmos sinais/sintomas. lanço hídrico com as mesmas soluções preconizadas;
O exame físico, com enfoque na avaliação do estado de hidra- Administrar por via oral a solução de SRO em doses pequenas e
tação, é importante para avaliar a presença de desidratação e a ins- frequentes, tão logo o paciente aceite. Isso acelera a sua recupera-
tituição do tratamento adequado, além disso, o paciente deve ser ção e reduz drasticamente o risco de complicações.
pesado, sempre que possível. Suspender a hidratação endovenosa quando o paciente estiver
Se não houver dificuldade de deglutição e o paciente estiver hidratado, com boa tolerância à solução de SRO e sem vômitos.
consciente, a alimentação habitual deve ser mantida e deve-se au- Para tratamento detalhado acesse aqui o Manejo do Paciente
mentar a ingestão de líquidos, especialmente de água. com Diarreia.
OBSERVAÇÃO: O Tratamento com antibiótico deve ser reserva-
do apenas para os casos de DDA com sangue ou muco nas fezes (di-
Plano A
senteria) e comprometimento do estado geral ou em caso de cólera
com desidratação grave, sempre com acompanhamento médico.
O plano A consiste em cinco etapas direcionadas ao paciente
HIDRATADO para realizar no domicílio:
Quais são as possíveis complicações das doenças diarreicas
Aumento da ingestão de água e outros líquidos incluindo so-
agudas?
lução de SRO principalmente após cada episódio de diarreia, pois
A principal complicação é a desidratação, que se não for corri-
dessa forma evita-se a desidratação;
gida rápida e adequadamente, em grande parte dos casos, especial-
Manutenção da alimentação habitual; continuidade do aleita-
mente em crianças e idosos, pode causar complicações mais graves.
mento materno;
O paciente com diarreia deve estar atento e voltar imediata-
Retorno do paciente ao serviço, caso não melhore em 2 dias ou mente ao serviço de saúde se não melhorar ou se apresentar qual-
apresente piora da diarreia, vômitos repetidos, muita sede, recusa quer um dos sinais e sintomas:
de alimentos, sangue nas fezes ou diminuição da diurese; - Piora da diarreia.
Orientação do paciente/responsável/acompanhante para re- - Vômitos repetidos.
conhecer os sinais de desidratação; preparar adequadamente e - Muita sede.
administrar a solução de SRO e praticar ações de higiene pessoal - Recusa de alimentos.
e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água e - Sangue nas fezes.
higienização dos alimentos); - Diminuição da urina.
Administração de Zinco uma vez ao dia, durante 10 a 14 dias.
Como ocorre a transmissão das doenças diarreicas agudas?
Plano B A transmissão das doenças diarreicas agudas pode ocorrer pe-
las vias oral ou fecal-oral.
O Plano B consiste em três etapas direcionadas ao paciente Transmissão indireta -Pelo consumo de água e alimentos con-
COM DESIDRATAÇÃO, porém sem gravidade, com capacidade de in- taminados e contato com objetos contaminados, como por exem-
gerir líquidos, que deve ser tratado com SRO na Unidade de Saúde, plo, utensílios de cozinha, acessórios de banheiros, equipamentos
onde deve permanecer até a reidratação completa. hospitalares.
Transmissão direta -Pelo contato com outras pessoas, por meio
de mãos contaminadas e contato de pessoas com animais.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os manipuladores de alimentos e os insetos podem contami- são as principais causas de morbimortalidade infantil (em crianças
nar, principalmente, os alimentos, utensílios e objetos capazes de menores de um ano) e se constituem um dos mais graves proble-
absorver, reter e transportar organismos contagiantes e infecciosos. mas de saúde pública global, com aproximadamente 1,7 bilhão de
Locais de uso coletivo, como escolas, creches, hospitais e penitenci- casos e 525 mil óbitos na infância (em crianças menores de 5 anos)
árias apresentam maior risco de transmissão das doenças diarreicas por ano. Além disso, as DDA estão entre as principais causas de des-
agudas. nutrição em crianças menores de cinco anos.
O período de incubação, ou seja, tempo para que os sintomas Uma proporção significativa das doenças diarreicas é transmi-
comecem a aparecer a partir do momento da contaminação/infec- tida pela água e pode ser prevenida através do consumo de água
ção, e o período de transmissibilidade das DDA são específicos para potável, condições adequadas de saneamento e hábitos de higiene.
cada agente etiológico. No Brasil, segundo estatísticas do IBGE, em 2016, 87,3% dos do-
micílios ligados à rede geral tinham disponibilidade diária de água,
Como prevenir as doenças diarreicas agudas? percentual que era de 66,6% no Nordeste, onde em 16,3% dos do-
As intervenções para prevenir a diarreia incluem ações institu- micílios o abastecimento ocorria de uma a três vezes por semana
cionais de saneamento e de saúde, além de ações individuais que e em 11,2% dos lares, de quatro a seis vezes. A região Norte apre-
devem ser adotadas pela população: sentava o menor percentual de domicílios em que a principal forma
Lave sempre as mãos com sabão e água limpa principalmente de abastecimento de água era a rede geral de distribuição (59,8%).
antes de preparar ou ingerir alimentos, após ir ao banheiro, após Por outro lado, a região se destacava quando se tratava de abaste-
utilizar transporte público ou tocar superfícies que possam estar cimento através de poço profundo ou artesiano (20,3%); poço raso,
sujas, após tocar em animais, sempre que voltar da rua, antes e freático ou cacimba (12,7%); e fonte ou nascente (3,1%).
depois de amamentar e trocar fraldas. Outra preocupação é a ocorrência de inundações e secas indu-
Lave e desinfete as superfícies, os utensílios e equipamentos zidas por mudanças climáticas, que podem afetar as condições de
usados na preparação de alimentos. acesso de muitas famílias aos serviços de abastecimento de água
Proteja os alimentos e as áreas da cozinha contra insetos, ani- e saneamento, expondo populações a riscos relacionados à saúde.
mais de estimação e outros animais (guarde os alimentos em reci- Além disso, as inundações podem dispersar diversos contaminan-
pientes fechados). tes fecais, aumentando os riscos de surtos de doenças transmitidas
Trate a água para consumo (após filtrar, ferver ou colocar duas pela água. No caso da escassez de água devido à seca, a utilização
gotas de solução de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de de fontes alternativas de água sem tratamento adequado, incluindo
água, aguardar por 30 minutos antes de usar). água de caminhão pipa, também aumenta os riscos de adoecimen-
Guarde a água tratada em vasilhas limpas e com tampa, sendo to por doenças diarreicas.
a “boca” estreita para evitar a recontaminação; A seca e a estiagem são, entre os tipos de desastre, os que mais
Não utilize água de riachos, rios, cacimbas ou poços contami- afetam a população brasileira (50,34%), por serem mais recorren-
nados para banhar ou beber. tes, atingindo mais fortemente as regiões Nordeste, Sul e parte do
Evite o consumo de alimentos crus ou malcozidos (principal- Sudeste. As inundações são a segunda tipologia de desastres de
mente carnes, pescados e mariscos) e alimentos cujas condições maior recorrência no Brasil e atingem todas as regiões do país, cau-
sando impactos significativos sobre a saúde das pessoas e a infra-
higiênicas, de preparo e acondicionamento, sejam precárias.
estrutura de saúde.
Ensaque e mantenha a tampa do lixo sempre fechada; quando
Nesse cenário diversificado das regiões do país, relacionado ao
não houver coleta de lixo, este deve ser enterrado em local apro-
desenvolvimento socioeconômico, às condições de saneamento, ao
priado.
clima e às situações adversas, como os desastres, ocorrem anual-
Use sempre o vaso sanitário, mas se isso não for possível, en-
mente, mais de 4 milhões de casos e mais de 4 mil óbitos por DDA,
terre as fezes sempre longe dos cursos de água;
registrados por meio da vigilância epidemiológica em unidades sen-
Evite o desmame precoce. Manter o aleitamento materno au-
tinelas e pelo Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).
menta a resistência das crianças contra as diarreias.
Situação epidemiológica das doenças diarreicas agudas (diar-
DOENÇAS RESPIRATÓRIA NA INFÂNCIA.
reia aguda)
Os casos individuais de DDA são de notificação compulsória em São as doenças mais frequentes durante a infância, acometen-
unidades sentinelas para monitorização das DDA (MDDA). O prin- do um número elevado de crianças, de todos os níveis sócio-econô-
cipal objetivo da Vigilância Epidemiológica das Doenças Diarreicas micos e por diversas vezes. Nas classes sociais mais pobres, as in-
Agudas (VE-DDA) é monitorar o perfil epidemiológico dos casos, fecções respiratórias agudas ainda se constituem como importante
visando detectar precocemente surtos, especialmente os relacio- causa de morte de crianças pequenas, principalmente menores de
nados a: acometimento entre menores de cinco anos; agentes etio- 1 ano de idade. Os fatores de risco para morbidade e mortalidade
lógicos virulentos e epidêmicos, como é o caso da cólera; situações são baixa idade, precárias condições sócio-econômicas, desnutri-
de vulnerabilidade social; seca, inundações e desastres. Os casos ção, déficit no nível de escolaridade dos pais, poluição ambiental e
de DDA são notificados no Sistema de Informação de Vigilância assistência de saúde de má qualidade (SIGAUD, 1996).
Epidemiológica das DDA (SIVEP_DDA) e o monitoramento é reali- A enfermagem precisa estar atenta e orientar a família da
zado pelo acompanhamento contínuo dos níveis endêmicos para criança sobre alguns fatores:
verificar alteração do padrão da doença em localidades e períodos - preparar os alimentos sob a forma pastosa ou líquida, ofere-
de tempo determinados. Diante da identificação de alterações no cendo em menores quantidades e em intervalos mais curtos, res-
comportamento da doença, deve ser realizada investigação e ava- peitando a falta de apetite e não forçando a alimentação;
liação de risco para subsidiar as ações necessárias. - aumentar a oferta de líquidos: água, chás e suco de frutas,
Segundo a Organização Mundial de Saúde, as doenças diar- levando em consideração a preferência da criança;
reicas constituem a segunda principal causa de morte em crianças - manter a criança em ambiente ventilado, tranquilo e agasa-
menores de cinco anos, embora sejam evitáveis e tratáveis. As DDA lhada se estiver frio;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- fluidificar e remover secreções e muco das vias aéreas supe- - limpeza inadequada, com cotonetes, grampos e outros, pre-
riores frequentemente; judicando a saída permanente da cera pela formação de rolhas obs-
- evitar contato com outras crianças; trutivas, ou retirando a proteção e facilitando a evolução de otites
- havendo febre: até 38,4ºC dar banho, de preferência de imer- micóticas ou bacterianas, além de poder provocar acidentes.
são, morno (por 15 minutos); aplicar compressa com água morna
e álcool nas regiões inguinal e axilar; retirar excessos de roupa. Se Orientar sobre a limpeza que deve ser feita apenas com água,
ultrapassar este valor oferecer antitérmico recomendado pelo pe- sabonete, toalha e dedo.
diatra.
SINUSITE
RESFRIADO
“Desencadeada pela obstrução dos óstios de drenagem dos
Inflamação catarral da mucosa rinofaríngea e formações linfói- seios da face, favorecendo a retenção de secreção e a infecção bac-
des anexas. Possui como causas predisponentes: convívio ou contágio teriana secundária” (LEÃO, 1989). Caracteriza-se por tosse noturna,
ocasional com pessoas infectadas, desnutrição, clima frio ou úmido, secreção nasal e com presença ou não de febre, sendo que rara-
condições da habitação e dormitório da criança, quedas bruscas e mente há cefaléia na infância (SAMPAIO, 1994). Casos recidivantes
acentuadas da temperatura atmosférica, susceptibilidade individual, são geralmente causados por alergia respiratória. Possui como fato-
relacionada à capacidade imunológica (ALCÂNTARA, 1994). res predisponentes:
Principais sinais e sintomas: febre de intensidade variável, cor- - episódios muito frequentes de resfriado;
rimento nasal mucoso e fluido (coriza), obstrução parcial da respi- - crianças que vivem em ambiente úmido ou flhas de pais fu-
ração nasal tornando-se ruidosa (trazendo irritação, principalmente mantes;
ao lactente que tem sua alimentação dificultada), tosse (não obri- - diminuição da umidade relativa do ar.
gatória), falta de apetite, alteração das fezes e vômitos (quando a
criança é forçada a comer). RINITE
Não existindo contra-indicações recomenda-se a realização de
exercícios rrespiratórios, tapotagem e dembulação. Se o estado for Apresenta como manifestações clínicas a obstrução nasal ou
muito grave, sugerindo risco de vida para a criança se ela continuar coriza, prurido e espirros em salva; a face apresenta “olheiras”; du-
em seu domicílio, recomenda-se a hospitalização. pla prega infra-orbitária; e sulco transversal no nariz, sugerindo pru-
PNEUMONIA rido intenso. Pode ser causada por alergia respiratória, neste caso
faz-se necessário afastar as substâncias que possam causar alergia.
Inflamação das paredes da árvore respiratória causando au-
BRONQUITE
mento das secreções mucosas, respiração rápida ou difícil, dificul-
dade em ingerir alimentos sólidos ou líquidos; piora do estado ge-
Inflamação nos brônquios, caracterizada por tosse e aumento
ral, tosse, aumento da frequência respiratória (maior ou igual a 60
da secreção mucosa dos brônquios, acompanhada ou não de febre,
batimentos por minuto); tiragem (retração subcostal persistente),
predominando em idades menores. Quando apresentam grande
estridor, sibilância, gemido, períodos de apnéia ou guinchos (tosse
quntidade de secreção pode-se perceber ruído respiratório (“chia-
da coqueluche), cianose, batimentos de asa de nariz, distensão ab-
do” ou “ronqueira”) (RIBEIRO, 1994).
dominal, e febre ou hipotermia (podendo indicar infecção).
Propicia que as crianças portadoras tenham infecções com
maior frequência do que outras. Pode se tornar crônica, levando
AMIGDALITES a anorexia a uma perda da progressão de peso e estatura (RIBEI-
RO, 1994). Recomenda-se afastar substâncias que possam causar
Muito frequente na infância, principalmente na faixa etária de alergias.
3 a 6 anos (ALCÂNTARA, 1994). Seu quadro clínico assemelha-se a
um resfriado comum. Principais sinais e sintomas: febre, mal estar, ASMA
prostração ou agitação, anorexia em função da dificuldade de de-
glutição, presença de gânglios palpáveis, mau hálito, presença ou Doença crônica do trato respiratório, sendo uma infecção mui-
não de tosse seca, dor e presença de pus na amigdala. to frequente na infância. A crise é causada por uma obstrução, de-
Às orientações de enfermagem acrescentaria-se estimular a fa- vido a contração da musculatura lisa, edema da parede brônquica e
mília a ofertar à criança uma alimentação mais semi-líquida, a base infiltração de leucócitos polimorfonucleares, eosinófilos e linfócitos
de sopas, papas ... (GRUMACH, 1994).
Manifesta-se através de crises de broncoespasmo, com
OTITE dispnéia, acessos de tosse e sibilos presentes à ausculta pulmonar.
São episódios auto-limitados podendo ser controlados por medica-
Caracterizada por dor, febre, choro frequente, dificuldade para mentos com retorno normal das funções na maioria das crianças.
sugar e alimentar-se e irritabilidade, sendo o diagnóstico confirmado Em metade dos casos, os primeiros sintomas da doença sur-
pelo otoscópio. Possui como fatores predisponentes: gem até o terceiro ano de vida e, em muitos pacientes, desapare-
- alimentação em posição horizontal, pois propicia refluxo ali- cem com a puberdade. Porém a persistência na idade adulta leva a
mentar pela tuba, que é mais curta e horizontal na criança, levando um agravo da doença.
à otite média; Fatores desencadeantes: alérgenos (irritantes alimentares),
- crianças que vivem em ambiente úmido ou filhas de pais fu- infecções, agentes irritantes, poluentes atmosféricos e mudanças
mantes; climáticas, fatores emocionais, exercícios e algumas drogas (ácido
- diminuição da umidade relativa do ar; acetil salicílico e similares).

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

É importante que haja: A emergência é uma situação gravíssima que deve ser tratada
- estabelecimento de vínculo entre paciente/ família e equipe imediatamente, caso contrário, o paciente vai morrer ou apresenta-
de saúde; rá uma sequela irreversível.
- controle ambiental, procurando afastar elementos alergêni- Neste contexto, a enfermagem participa de todos os processos,
cos; tanto na urgência quanto na emergência. São diversos locais onde
- higiene alimentar; os profissionais de enfermagem podem atuar como, por exemplo:
- suspensão de alimentos só deverá ocorrer quando existir uma • Unidades de atendimento pré-hospitalar;
nítida relação com a sintomatologia apresentada; • Unidades de saúde 24 horas;
- fisioterapia respiratória a fim de melhorar a dinâmica respira- • Pronto socorro;
tória, corrigir deformidades torácicas e vícios posturais, aumentan- • Unidades de terapia intensiva;
do a resistência física. • Unidades de dor torácica;
• Unidade de terapia intensiva neo natal
Durante uma crise o paciente precisa de um respaldo medica- • E até mesmo em unidades de internação.
mentoso para interferir na sintomatologia e de uma pessoa segura
e tranquila ao seu lado. Para tanto a família precisa ser muito bem Os profissionais de enfermagem devem estar atentos e prepa-
esclarecida e em alguns casos faz-se necessário encaminhamento rados para atuarem em situações de urgência e emergência, pois a
psicológico. capacitação profissional, a dedicação e o conhecimento teórico e
prático, irão fazer a diferença no momento crucial do atendimento
ao paciente.
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À MULHER NO CLIMA- Muitas vezes estas habilidades não são treinadas e quando
TÉRIO E MENOPAUSA E NA PREVENÇÃO E NO TRATA- ocorre a situação de emergência, o que vemos são profissionais
MENTO DE GINECOPATIAS correndo de uma lado para outro sem objetividade, com dificulda-
des para atender o paciente e ainda com medo de aproximar-se da
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em situação.
tópicos anteriores. Por outro lado, quando temos uma equipe treinada, capacitada
e motivada, o atendimento é realizado muito mais rapidez e eficiên-
cia, podendo na maioria das vezes, salvar muitas vidas.
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À CRIANÇA SADIA A enfermagem trabalha diariamente com pacientes em risco
(CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO, ALEITAMENTO de morte e que dependem deste cuidado para que mantenham
MATERNO, ALIMENTAÇÃO) E CUIDADO NAS DOENÇAS suas vidas. As ações da equipe de enfermagem visam sempre à as-
PREVALENTES NA INFÂNCIA (DIARREICAS E RESPIRA- sistência ao paciente da melhor forma possível, expressando assim,
TÓRIAS) a qualidade e a importância da nossa profissão.
Estudar, capacitar, praticar são ações essenciais para o desen-
volvimento profissional de enfermeiros, técnicos e auxiliares de en-
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em fermagem, portanto estar preocupado com as ações desenvolvidas
tópicos anteriores. no dia a dia de trabalho é fundamental.
Os serviços de Urgência e Emergência podem ser fixos a exem-
plo da Unidades de Pronto Atendimento e as emergências de hospi-
ATENDIMENTO A PACIENTES EM SITUAÇÕES DE tais ou móveis como o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
URGÊNCIA E EMERGÊNCIA. ESTRUTURA ORGANIZA- (SAMU). Ainda, podem ter diferentes complexidades para atendi-
CIONAL DO SERVIÇO DE EMERGÊNCIA HOSPITALAR mento de demandas urgentes e emergentes clínicas e cirúrgicas
E PRÉ-HOSPITALAR. SUPORTE BÁSICO DE VIDA EM em geral ou específicas como unidades cardiológicas, pediátricas e
EMERGÊNCIAS. SUPORTE AVANÇADO DE VIDA. ATEN- traumatológicas.
DIMENTO INICIAL AO POLITRAUMATIZADO. ATENDI- O importante é que, independente da complexidade ou da
MENTO NA PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA. ASSIS- classificação do serviço, existem 5 coisas imprescindíveis que todo
TÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE CRÍTICO COM Enfermeiro de Urgência e Emergência deve saber.
DISTÚRBIOS HIDROELETROLÍTICOS, ACIDOBÁSICOS,
INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂ- 1. Acolhimento e Classificação de Risco
NICA. INSUFICIÊNCIA RENAL E MÉTODOS DIALÍTICOS.
INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA. AVALIAÇÃO DE CONSCIÊN- O acolhimento do paciente e família na prática das ações de
CIA NO PACIENTE EM COMA. DOAÇÃO, CAPTAÇÃO E atenção e gestão nas unidades de saúde tem sido importante para
TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS. ENFERMAGEM EM UR- uma atenção humanizada e resolutiva.
GÊNCIAS. VIOLÊNCIA, ABUSO DE DROGAS, INTOXICA- A classificação de risco vem sendo utilizada em diversos países,
ÇÕES, EMERGÊNCIAS AMBIENTAIS inclusive no Brasil. Para essa classificação foram desenvolvidos di-
versos protocolos, que objetivam, em primeiro lugar, não demorar
Enfermagem em emergência e cuidados intensivos: em prestar atendimento àqueles que necessitam de uma conduta
imediata. Por isso, todos eles são baseados na avaliação primária do
a. Assistência de enfermagem em situações de urgência e paciente, já bem desenvolvida para o atendimento às situações de
emergência: catástrofes e adaptada para os serviços de urgência¹. O Enfermeiro
deve estar além de acolher o paciente e família, estar habilitado a
A urgência é caracterizada como um evento grave, que deve ser atendê-los utilizando os protocolos de classificação de risco.
resolvido urgentemente, mas que não possui um caráter imedia-
tista, ou seja, deve haver um empenho para ser tratada e pode ser
planejada para que este paciente não corra risco de morte.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

2. Suporte Básico (SBV) e Avançado de Vida (SAV) Triagem

A parada cardiorrespiratória é um dos eventos que requerem É utilizado para classificar a gravidade dos problemas. Existe
atenção imediata por parte da equipe de saúde e o Enfermeiro tan- um método de cores para definir:
to dos serviços móveis quanto dos fixos de urgência e emergência -VERMELHO
devem estar aptos. - LARANJA
O protocolo American Heart Association (AHA) é a referência - AMARELO
de SBV e SAV utilizado no Brasil. A AHA enfatiza nessa nova diretriz - VERDE
sobre a RCP de alta qualidade e os cuidados Pós-PCR². O SBV é uma - AZUL
sequência de etapas de atendimento ao paciente em risco iminen-
te de morte sem realização de manobras invasivas e o SAV requer * Indica-se sempre do paciente/cliente mais grave para o me-
procedimentos invasivos e de suporte ventilatório e circulatório³. nos grave.

3. Atendimento à Vítima de Trauma No caso com ônus de muitos acidentados e pouca equipe/pro-
fissional; dar-se a preferência aos graves com maior chance de vida,
Os acidentes automobilísticos e a violência são as maiores cau- dentre estes o que menos utilizará material, tempo, equipamento
sas de morte de indivíduos entre 15 e 49 anos na população das e pessoal.
regiões metropolitanas, superando as doenças cardiovasculares e
neoplasias4. Avaliação Primária
Por isso, o enfermeiro vai se deparar com vítimas de trauma
nas urgências e emergências e deverá estar habilitado a agir de Tem por finalidade verificar o estado da vitima e suas condições
acordo com os protocolos de Atendimento Pré-Hospitalar e Hospi- físicas /emocionais/ neurológicas.
talar ao Trauma. Verifica-se:
- Obstrução das vias aéreas
4. Assistência ao Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e ao Aci- - Insuficiência Respiratória
dente Vascular Encefálico (AVE) - Alterações Hemodinâmicas
- Déficit Neurológico
As doenças cardiovasculares representam uma das maiores
causas de mortalidade em todo o mundo e O IAM é uma das princi- Usam-se os métodos das seguintes formas: A, B, C, D e E (casos
pais manifestações clínicas da doença arterial coronária5. sem comprometimento circulatório).
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das maiores causas C, A, B, D e E (casos com comprometimentos circulatórios).
de morte e incapacidade adquirida em todo o mundo. Estatísticas
brasileiras indicam que o AVC é a causa mais frequente de óbito na Significados:
população adulta (10% dos óbitos) e consiste no diagnóstico de 10% A- Vias aéreas e proteção da coluna cervical
das internações hospitalares públicas. O Brasil apresenta a quarta B- Respiração e ventilação
taxa de mortalidade por AVC entre os países da América Latina e C- Circulação
Caribe6. D- Incapacidade neurológica
Então, o Enfermeiro precisa estar apto a realização da avaliação E- Exposição e controle da temperatura
clínica para identificação e atendimento precoce do IAM e AVE ou
AVC e prevenção de complicações. Letra A: Deve-se aproximar da vitima e verificar se há alguma
obstrução das vias aéreas, “a melhor forma é verbalmente, quando
5. Assistência às Emergências Obstétricas você conversa e a vitima consegui te responder”. Em caso contrário
deve fazer da seguinte maneira:
As principais causas de morte materna no Brasil são por he- 1- Elevação do queixo
morragias e hipertensão7. O Enfermeiro precisa saber como identi- 2- Elevação da mandíbula
ficar precocemente a pré-eclâmpsia e eclampsia, bem como as he- 3- Elevação da testa (somente em casos sem trauma)
morragias gestacionais e uterinas, pois é uma demanda constante
dos serviços de urgência e emergência e até mesmo os que não são Existe uma forma mais segura e eficaz, que consiste em realizar
referência em atendimento gestacional. a inspeção com cânulas (Guedell) (nasofaringe ou orofaringe).
Deve se atentar quanto o risco de lesão na coluna cervical, faça
1) suporte de vida em situações de traumatismos em geral; a devida imobilização.

Tem por objetivo identificar graves lesões e instituir medidas Letra B: Manter a oxigenação adequada. Pode ser necessário
terapêuticas e emergenciais que controlem e restabeleçam a vida. de apoio:
Consiste em: 1- Máscara facial ou tubo endotraqueal e insuflador manual.
- Preparação 2 - Ventilação Mecânica
- Triagem Em caso de dificuldade considerar:
- Avaliação primária . Obstrução de via aérea – considerar cricotireoidotomia se ou-
- Reanimação tras opções falharem.
- Avaliação secundária . Pneumotórax: drenar rapidamente em caso de compromisso
- Monitorização e reavaliação contínua respiratório.
- Tratamento definitivo . Hemotórax (ver protocolo: trauma torácico)
. Retalho costal: imobilizar rapidamente (ver protocolo: trauma
torácico)

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

. Lesão diafragmática com herniação.

Letra C: Avaliar:
- Pulso: valorizar taquicardia como sinal precoce de hipovolemia
- Temperatura e coloração da pele: hipotermia, sudorese e palidez.
- Preenchimento capilar: leito ungueal
- Pressão arterial: inicialmente estará normotenso
- Estado da consciência: agitação como sinal de hipovolémia
Considerar relação entre % de hemorragia e sinais clínicos:

Atuação:
1- RCP, se necessário.
2- Controle de hemorragia com compressão externa.
3- Reposição de volume, sendo necessários adequados acessos venosos, O traumatizado deve ter 2 acessos e com catéteres G14,
«nunca» com menos do que G16. Eventualmente, poderá ser colocado um catéter numa jugular externa ou utilizada a via intra-¬óssea (a
considerar também no adulto).
4- Em caso de trauma torácico ou abdominal grave: um acesso acima e outro abaixo do diafragma.
5- A escolha entre cristalóides e colóides não deve basear-se necessariamente no grau de choque, não estando provada qualquer
diferença de prognóstico na utilização de um ou outro. O volume a infundir relaciona-se com as perdas e a resposta clínica. Uma relação
de 1:3 e 1:1 no caso de perdas/cristalóides a administrar e perdas/colóides a administrar, respectivamente.
6- Atenção aos TCE, TVM e grávida Politraumatizada sendo à partida, ainda que discutível, de privilegiar colóides.
7- Regra geral, não utilizar soros glicosados no traumatizado, existindo apenas interesse destes no diabético ou na hipoglicemia. Por
norma, os soros administrados na fase pré-hospitalar num adulto politraumatizado não são suficientes para originar um edema pulmonar,
mesmo em doentes cardíacos. Não se deve insistir tanto na recomendação de cuidado com a possibilidade de sobrecarga numa situação
de hipovolémia, mas sim tratar esta última agressivamente.
8- Vigiar estado da consciência e perfusão cutânea, avaliando parâmetros vitais de forma seriada.

Letra D: Normalmente corrido em trauma direto no crânio ou estado de choque.

Avaliar:
- GCS (Escala Coma Glasgow) de uma forma seriada
- Tamanho simetria/assimetria pupilar e reatividade à luz
- Função motora (estímulo à dor)

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Atuação: As lesões provocadas por transferência de alta energia, por


1- Administrar Oxigênio 10 -12 l/min e atuação de acordo com exemplo, arma de fogo, não se resumem apenas na trajetória do
protocolo específico. PAF (projétil de arma de fogo), mas também nas estruturas adjacen-
2-Imobilização da coluna vertebral com colar cervical, imobiliza- tes que sofreram um deslocamento temporário.
dores laterais da cabeça, com plano duro ou maca de vácuo.
VERIFICAR ANTES DE TRANSPORTAR
Letra E: • Via aérea com imobilização cervical
1- Despir e avaliar possíveis lesões que possam ter passado • Ventilação (com tubo orotraqueal se GCS <8) e oxigenação
despercebidas, mantendo cuidados de imobilização da coluna ver- • Acessos venosos e fluidoterapia EV (soro não glicosado)
tebral. Utilizar técnicas de rolamento. • Avaliação seriada da GCS
2- Evitar a hipotermia. Utilizar manta isotérmica. • Equipamentos necessários na ambulância.

Manter: Tratamento Definitivo


1- Vigilância parâmetros vitais e imobilização.
2- Analgesia de acordo com as necessidades. Caracterizado pela estabilização do paciente/ cliente/ vitima,
Reanimação = ações para restabelecer as condições vitais do será procedido se necessário tratamento após diagnóstico médico
paciente. e controle de todos os sinais vitais.

Avaliação secundária 2) suporte de vida em situações de queimaduras;


O queimado necessita boa assistência de enfermagem para
Exploração detalhada da cabeça aos pés, antecedentes pesso- que tenha uma recuperação física, funcional e psico-social, precoce
ais se possível. Esta deverá ser completada no hospital com reava- A equipe de enfermagem trabalhando paralelamente à equipe
liação e exames radiológicos pertinentes. médica, deve ter conhecimentos especializados sobre cuidados a
Muito importante: Pesquisar e presumir lesão associada em serem prestados aos queimados.
função do mecanismo da lesão, ex. queda sobre calcâneo com fra- Esses cuidados iniciam-se com atitude correta ao receber os
tura da coluna vertebral. pacientes que chegam agitados devido à dor ou ao trauma psíquico,
devendo continuar no decorrer de todo o tratamento até a ocasião
Tipos de trauma da alta, quando os doentes e familiares são orientados quanto aos
cuidados a serem seguidos.
O trauma pode ser classificado de acordo com seu mecanis-
mo, este pode ser contuso ou penetrante, mas a transferência de Assistência Imediata
energia e a lesão produzida são semelhantes em ambos os tipos de
trauma. A única diferença é a perfuração da pele. A assistência inicial deve ser prestada em ambiente que pro-
Alguns exemplos: porcione condições perfeitas de assepsia, tal como uma sala cirúr-
. Trauma crânio encefálico (TCE) . Trauma Abdominal gica, tendo sempre presente a importância do problema do contro-
. Trauma Raquimedular (medula) . Pneumotórax le da infecção, desde o início e no decorrer do tratamento. Para o
. Trauma Facial primeiro atendimento, um mínimo de material e equipamento se
. Trauma Torácico (pneumotórax) fazem necessários na sala:

Trauma contuso (fechado) EQUIPAMENTO E MATERIAL PERMANENTE:


- Torpedo de oxigênio, se não contar com o sistema canalizado.
O trauma contuso ocorre quando há transferência de energia - Aspirador de secreção.
em uma superfície corporal extensa, não penetrando a pele. Exis- - Mesa estofada ou com coxim para receber o paciente.
tem dois tipos de forças envolvidas no trauma contuso: cisalhamen- - Mesa auxiliar para colocar material de curativo (tipo Mayo).
to e compressão. - Suporte de soro.
- Caixa com material de pequena cirurgia.
O cisalhamento acontece quando há uma mudança brusca de - Caixa com material de traqueostomia.
velocidade, deslocando uma estrutura ou parte dela, provocando - Caixa com material de dissecção de veia.
sua laceração. É mais encontrado na desaceleração brusca do que - Material para intubação endotraqueal.
na aceleração brusca. - Aparelho ressuscitador “Air-viva”.
A compressão é quando o impacto comprime uma estrutura - Pacotes de curativo (com tesoura, pinça anatômica, pinça
ou parte dela sobre outra região provocando a lesão. É freqüente- dente de rato e pinça de Kocher).
mente associada a mecanismos que formam cavidade temporária.
MATERIAL DE CONSUMO
Trauma penetrante (aberto) - Compressa de gaze de 7,5 cm x 7,5 cm.
- Atadura de gaze de 90 x 120 cm com 8 dobras longitudinais.
O trauma penetrante tem como característica a transferência - Ataduras de rayon e morim.
de energia em uma área concentrada, com isso há pouca dispersão - Atadura de gaze de malha fina impregnada em vaselina.
de energia provocando laceração da pele. - Algodão hidrófilo.
Podemos encontrar objetos fixados no trauma penetrante, as - Ataduras de crepe.
lesões não incluem apenas os tecidos na trajetória do objeto, deve- - Luvas.
-se suspeitar de movimentos circulares do objeto penetrante.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Pacotes de campos cirúrgicos e aventais. - Alimentação: não havendo contra-indicação, oferecer ao pa-
- Fita adesiva e esparadrapo. ciente uma dieta fracionada, iniciando com líquido em pequena
- Máscara e gorro. quantidade. Se o paciente não apresentar vômitos, aumentar gra-
- Medicamentos de emergência. dativamente a quantidade. Os líquidos podem ser oferecidos em
- Antissépticos. forma de suco, caldo de carne e dieta especial de soja (leite, ovos,
- Seringas de vários tamanhos. caseinato de cálcio e farinha de soja). Desde que haja tolerância por
- Agulhas e catéteres de vários calibres. parte do paciente, passar a oferecer progressivamente dietas mais
- Tubos para tipagem de sangue e outras análises laboratoriais. consistentes até chegar à dieta geral.
- Frascos de soro fisiológico. - Higiene: proceder a limpeza diária das áreas não lesadas, com
água e sabão neutro. Manter o couro cabeludo limpo e cortar os
PROCEDIMENTO DA ENFERMAGEM cabelos, principalmente em caso de queimadura na cabeça.Aparar
as unhas e mantê-las limpas.A tricotomia pubiana e axilar deve ser
Na Sala de Cirurgia feita semanalmente, como medida de higiene.

Aplicar imediatamente sedativo sob prescrição médica, com a Cuidados Especiais Dependentes da Localização
finalidade de diminuir a dor, de preferência por via intra-venosa. da Queimadura
Ao aplicar o medicamento por esta via, deve-se aproveitar para
colher amostra de sangue para tipagem, assim como procurar man- CABEÇA:
ter a veia com perfusão de soro fisiológico para posterior transfusão - Crânio: proceder a tricotomia total do couro cabeludo.
de sangue ou outros líquidos. - Face: proceder a tricotomia do couro cabeludo, nas áreas pró-
Retirar a roupa do paciente e colocá-lo na mesa sobre campos ximas às lesões. Manter decúbito elevado, para auxiliar a regressão
esterilizados e cobrir as lesões também com campos esterilizados. do edema.
Preparar material para dissecção de veia ou cateterismo trans- - Olhos: limpar com “cotonetes” umedecidos em água boricada
cutâneo “intra-cat”, e auxiliar o médico nestas operações. a 3% e após proceder a instilação de colírio antibiótico.
Auxiliar ou executar com supervisão médica, tratamento local - Ouvidos: limpar conduto auditivo externo com “cotonetes” e
de remoção de tecidos desvitalizados, limpeza sumária das áreas soro fisiológico.
queimadas, oclusão das lesões, ou ainda, preparo das mesmas para - Orelhas: utilizar travesseiro baixo e não muito macio para não
mantê-las expostas (método de exposição). comprimir as cartilagens a fim de prevenir deformidades.
- Narinas: limpar com “cotonetes” e soro fisiológico.
Unidade de Internação - Boca: limpar com espátula montada com algodão ou gaze em-
bebida em água bicarbonatada a 2%.
- Colocar o paciente no leito preparado com campos e arcos de - Lábios: passar vaselina para remoção de crostas.
proteção esterilizados, e também sobre coxim preparado com vá-
rias camadas de ataduras de gaze e revestido com rayon, conforme - PESCOÇO:
a localização das queimaduras. Isto quando o método de tratamen- Manter em extensão, com auxílio de coxim no dorso. A presen-
to é o de exposição. ça de necrose seca ou lesões profundas, poderá provocar compres-
Controle de diurese e outras perdas de líquidos: executar cate- são e garroteamento, com perturbações respiratórias. Nestes casos
terismo vesical com sonda de demora (sonda de Foley), anotando o o médico executará a escarotomia.
volume urinário. Esta sonda é mantida ocluída, sendo aberta a cada - MEMBROS SUPERIORES:
hora para verificar o aspecto, volume e densidade de urina. Além Os curativos oclusivos dos membros superiores, têm a finali-
da diurese, controlar as demais perdas líquidas, tais como: vômito, dade de proporcionar conforto ao paciente e facilitar atuação de
sudorese, exsudatos e evacuações, observando em cada caso o as- enfermagem. Os membros devem ser mantidos em abdução parcial
pecto, a freqüência e o volume. e em ligeira elevação.
Esses dados devem ser anotados em folha especial do prontu-
ário do paciente (Anexo I). - TRONCO:
- Controle de Sinais Vitais: a temperatura, o pulso, a respiração, Visando evitar os fatores mecânicos, que possam reduzir a
devem ser controlados e anotados cada 4 horas ou mais freqüente- expansibilidade do tórax, o método mais indicado é a posição de
mente se o caso exigir. Fowler e semi-Fowler. Entretanto a escolha de decúbito será feita
Num grande queimado, dificilmente conseguimos adaptar o também de acordo com a área menos atingida. Se a lesão for prin-
manguito do aparelho de pressão, mas esta, deve ser determinada, cipalmente face posterior, o decúbito será ventral, sobre um coxim,
sempre que possível. que será trocado todas as vezes que se fizer necessário.
Além desses sinais vitais, a pressão venosa central, deve ser
controlada através do cateter venoso. - PERÍNEO:
- Controle de Administração Parenteral de Líquidos: deve ser Para as lesões desta região, o tratamento por exposição é uti-
exercida vigilância constante da permeabilidade da veia, do goteja- lizado sistematicamente, devendo as coxas serem mantidas em ab-
mento e da quantidade dos líquidos em perfusão. dução parcial. A higiene íntima deve ser feita com água morna e
O paciente deve receber exatamente as soluções prescritas sabão neutro, ou com solução oleosa. Em nosso serviço utilizamos
dentro dos horários estabelecidos. Este controle, é facilitado pelo a seguinte fórmula de solução oleosa:
uso do esquema adotado pelo Serviço de Queimados do H. C. da -Cloroxilenol 0.1%.
F.M.U.S.P. (Anexo II). -Essência de alfazema 1%.
-Óleo de amendoim q.s.p. 100 ml.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- MEMBROS INFERIORES: 3) suporte de vida em situações de dores torácica-abdomi-


Manter os membros em posição anatômica, evitar a rotação nais;
das pernas, e prevenir o pé eqüino.
Também nos membros inferiores o curativo oclusivo é freqüen- Desde os anos 60 que as unidades coronarianas tornaram-se o
temente utilizado, visando facilitar a movimentação do paciente e local ideal para investigar e tratar os pacientes com IAM. Os exce-
atuação da enfermagem. lentes resultados observados nestas unidades, em especial através
Um dos cuidados fundamentais de enfermagem é a mobiliza- do reconhecimento precoce e do tratamento eficaz das arritmias e
ção do doente no leito, mudança repetida de decúbito, qualquer da parada cardíaca, fizeram com que os médicos começassem a in-
que seja a localização das lesões. ternar também os pacientes com suspeita clínica de isquemia mio-
cárdica aguda. O resultado desta atitude mais liberal foi que mais da
Cuidado Relacionado ao Ambiente metade dos pacientes internados nas unidades coronarianas não ti-
nham, na verdade, síndrome coronariana aguda. Consequentemen-
- UNIDADE DO PACIENTE E MATERIAIS DE USO PRIVATIVO: te, esses leitos de alta complexidade e alto custo passaram a ser
Limpar diariamente a unidade do paciente (cama, colchão, ocupados também por pacientes de baixa probabilidade de doença
criado mudo e cadeira) com água, sabão, solução de-sinfetante e baixo risco, resultando não somente em aumento da demanda
(hipoclorito de sódio a 3%) e solução aromatizante (álcool, essên- desses leitos, com consequente saturação das unidades coronaria-
cia de pinho 1%, essência de alfazema a 1% e essência de lavanda nas, mas também numa utilização sub-ótima dos recursos.
1%). Esterilizar semanalmente todos os materiais de uso pessoal do As Unidades de Dor Torácica foram criadas em 1982, e desde en-
paciente, tais como: comadre, bacia, cuba rim, copos, garrafas, e tão vêm sendo reconhecidas como um aprimoramento da assistência
outros. emergencial. Essas unidades visam a:
1) prover acesso fácil e prioritário ao paciente com dor torácica
- PISO: que procura a sala de emergência; e
O único tipo de limpeza permitido é a limpeza úmida. Esta é 2) fornecer uma estratégia diagnóstica e terapêutica organizada
facilitada quando o piso é de material lavável. Se o piso for de ma- na sala de emergência, objetivando rapidez, alta qualidade de cuida-
deira, deve ser feita a lavagem semanal, após a qual deve-se proce- dos, eficiência e contenção de custos.
der a aplicação de vaselina, para a fixação das partículas de poeira
no chão. As Unidades de Dor Torácica podem estar localizadas dentro ou
adjacente à Sala de Emergência, com uma verdadeira área física e
- JANELAS: leitos demarcados, ou somente como uma estratégia operacional
As janelas devem ser amplas para possibilitar iluminação e ae- padronizada, utilizando protocolos assistenciais específicos, algo-
ração natural, protegidas com telas para prevenir penetração de in- ritmos sistematizados ou árvores de decisão clínica por parte da
setos. Devem ser lavadas semanalmente com água, sabão e solução equipe dos médicos emergencistas. Entretanto, é necessário que a
desinfetante. equipe de médicos e enfermeiros esteja treinada e habituada com
o manejo das urgências e emergências cardiovasculares.
- RESÍDUOS E ROUPAS SUJAS:
Devem ser embalados em sacos e transportados em carros fe- Diagnóstico
chados.
Causas de dor torácica e diagnóstico diferencial
Medidas Gerais para o Controle de Infecção:
- Pesquisa de germens do ambiente, e uso de desinfetantes es- A variedade e possível gravidade das condições clínicas que se
pecíficos. manifestam com dor torácica faz com que seja primordial um diag-
- Controle de focos de infecção do pessoal da unidade (médi- nóstico rápido e preciso das suas causas. Esta diferenciação entre
cos, enfermeiros e outros). as doenças que oferecem risco de vida (dor torácica com potencial
- Rigoroso controle de circulação do pessoal (parentes e visi- de fatalidade), ou não, é um ponto crítico na tomada de decisão do
tantes). médico emergencista para definir sobre a liberação ou admissão do
- Utilização de aventais como meio de proteção ao paciente e paciente ao hospital e de iniciar o tratamento, imediatamente.
visitantes. Como a síndrome coronariana aguda (infarto agudo do mio-
- Supervisão e controle do uso da técnica asséptica. cárdico e angina instável) representa quase 1/5 das causas de dor
torácica nas salas de emergência, e por possuir uma significativa
Portanto, o atendimento imediato do paciente queimado, visa morbi-mortalidade, a abordagem inicial desses pacientes é sempre
primeiramente, salvar a sua vida, e concomitantemente, deve-se feita no sentido de confirmar ou afastar este diagnóstico.
trabalhar com o objetivo de evitar infecções, deformidades e mi- Vários estudos têm sido realizados para determinar a acurácia
norar os traumas psíquicos. Estes objetivos devem estar sempre diagnóstica e a utilidade da história clínica e do ECG em pacientes
presentes em todos os momentos. O primeiro consegue-se com admitidos na sala de emergência com dor torácica para o diagnós-
a presença de espírito, presteza, controle e eficiência. O segundo, tico de infarto agudo do. A característica anginosa da dor torácica
trabalhando sempre com técnica asséptica. O terceiro, pensando tem sido identificada como o dado com maior poder preditivo de
na recuperação dos movimentos normais do paciente, os quais ele doença coronariana aguda.
necessitará para a sua futura reintegração à sociedade. E o último, O exame físico no contexto da doença coronariana aguda não é
dando-lhe ânimo, carinho e apoio expressivo. Entretanto, alguns achados podem aumentar a sua pro-
babilidade, como a presença de uma 4ª bulha, um sopro de artérias
carótidas, uma diminuição de pulsos em membros inferiores, um
aneurisma abdominal e os achados de seqüela de acidente vascular
encefálico.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Da mesma forma, doenças não-coronarianas causadoras de dor torácica podem ter o seu diagnóstico suspeitado pelo exame físico,
como é o caso do prolapso da válvula mitral, da pericardite, da embolia pulmonar, etc.

A figura 1 descreve as principais causas de dor torácica e que devem ser consideradas no seu diagnóstico diferencial, na dependência
das informações da história clínica, do exame físico e dos dados laboratoriais.

A descrição clássica da dor torácica na síndrome coronariana aguda é a de uma dor ou desconforto ou queimação ou sensação opres-
siva localizada na região precordial ou retroesternal, que pode ter irradiação para o ombro e/ou braço esquerdo, braço direito, pescoço
ou mandíbula, acompanhada frequentemente de diaforese, náuseas, vômitos, ou dispnéia. A dor pode durar alguns minutos (geralmente
entre 10 e 20) e ceder, como nos casos de angina instável, ou mais de 30min, como nos casos de infarto agudo do miocárdio. O paciente
pode também apresentar uma queixa atípica como mal estar, indigestão, fraqueza ou apenas sudorese, sem dor. Pacientes idosos e mu-
lheres frequentemente manifestam dispnéia como queixa principal no infarto agudo do miocárdio, podendo não ter dor ou mesmo não
valorizá-la o suficiente.
A dissecção aguda da aorta ocorre mais frequentemente em hipertensos, em portadores de síndrome de Marfan ou naqueles que
sofreram um traumatismo torácico recente. Estes pacientes se apresentam com dor súbita, descrita como “rasgada”, geralmente inician-
do-se no tórax anterior e com irradiação para dorso, pescoço ou mandíbula. No exame físico podemos encontrar um sopro de regurgitação
aórtica. Pode haver um significativo gradiente de amplitude de pulso ou de pressão arterial entre os braços.
A embolia pulmonar apresenta manifestações clínicas muito variáveis e por isso nem sempre típicas da doença. O sintoma mais co-
mumente encontrado é a dispnéia, vista em 73% dos pacientes, sendo a dor torácica (geralmente súbita) encontrada em 66% dos casos.
Ao exame clínico, o paciente pode apresentar dispnéia, taquipnéia e cianose.
A dor torácica no pneumotórax espontâneo geralmente é localizada no dorso ou ombros e acompanhada de dispnéia. Grande pneu-
motórax pode produzir sinais e sintomas de insuficiência respiratória e/ ou colapso cardiovascular (pneumotórax hipertensivo). Ao exame
físico podemos encontrar dispnéia, taquipnéia e ausência de ruídos ventilatórios na ausculta do pulmão afetado.
O sintoma clínico mais comum da pericardite é a dor torácica, geralmente de natureza pleurítica, de localização retroesternal ou no
hemitórax esquerdo, mas que, diferentemente da isquemia miocárdica, piora quando o paciente respira, deita ou deglute, e melhora na
posição sentada e inclinada para frente. No exame físico podemos encontrar febre e um atrito pericárdico (que é um dado patognomôni-
co).

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O prolapso da válvula mitral é uma das causas de dor torácica O papel do eletrocardiograma e do monitor de tendência do
frequentemente encontrada no consultório médico e, também, na segmento ST
sala de emergência. A dor tem localização variável, ocorrendo geral-
mente em repouso, sem guardar relação nítida com os esforços, e O eletrocardiograma - O eletrocardiograma (ECG) exerce papel
descrita como pontadas, não apresentando irradiações. O diagnós- fundamental na avaliação de pacientes com dor torácica, tanto pelo
tico é feito através da ausculta cardíaca típica, na qual encontramos seu baixo custo e ampla disponibilidade como pela relativa simplici-
um clique meso ou telessistólico seguido de um sopro regurgitante dade de interpretação.
mitral e/ou tricúspide. Um ECG absolutamente normal é encontrado na maioria dos
pacientes que se apresenta com dor torácica na sala de emergência.
A estenose aórtica também produz dor torácica cujas caracte- A incidência de síndrome coronariana aguda nesses pacientes é de
rísticas se assemelham à da doença coronariana. A presença de um cerca de 5%..
sopro ejetivo aórtico e hipertrofia ventricular esquerda no ECG indi- Diversos estudos têm demonstrado que a sensibilidade do ECG
ca a presença da estenose aórtica mas não afasta a possibilidade de de admissão para infarto agudo do miocárdio varia de 45% a 60%
síndrome coronariana aguda. quando se utiliza o supradesnível do segmento ST como critério
Na miocardiopatia hipertrófica a dor torácica ocorre em 75% diagnóstico, indicando que perto da metade dos pacientes com
dos pacientes sintomáticos, e pode ter características anginosas. No infarto agudo do miocárdio não são diagnosticados com um único
exame físico podemos encontrar uma 4 bulha e um sopro sistólico ECG realizado à admissão. Esta sensibilidade poderá ser aumentada
ejetivo aórtico. O diagnóstico é feito pelo ecocardiograma transto- para 70%-90% se utilizarmos as alterações de infradesnível de ST
rácico. O ECG geralmente mostra hipertrofia ventricular esquerda, e/ou alterações isquêmicas de onda T, e para até 95% quando se
com ou sem alterações de ST-T. realizam ECGs seriados com intervalos de 3-4h nas primeiras 12h
As doenças do esôfago podem mimetizar a doença coronariana pós-chegada ao hospital.
crônica e aguda. Pacientes com refluxo esofagiano podem apresen- A especificidade do ECG de admissão para ausência de IAM va-
tar desconforto torácico, geralmente em queimação (pirose), mas ria de 80 a 95% 15,31,47-49. Seu valor preditivo positivo para IAM
que às vezes é definido como uma sensação opressiva, localizada está ao redor de 75-85% quando se utiliza o supradesnível do seg-
na região retroesternal ou subesternal, podendo se irradiar para mento de ST como critério diagnóstico, e o valor preditivo negativo
o pescoço, braços ou dorso, às vezes associada à regurgitação ali- é de cerca de 85-95%. Embora a probabilidade de infarto agudo do
mentar, e que pode melhorar com a posição ereta ou com o uso de miocárdio em pacientes com ECG normal seja pequena (5%), o diag-
antiácidos, mas também com nitratos, bloqueadores dos canais de nóstico de angina instável é um fato possível (e estes pacientes têm
cálcio ou repouso. uma taxa de 5 a 20% de evolução para infarto agudo do miocárdio
A dor da úlcera péptica geralmente se localiza na região epigás- ou morte cardíaca ao final de 1 ano).
trica ou no andar superior do abdômen mas às vezes pode ser refe- Se o método não tem acurácia diagnóstica suficiente para IAM
rida na região subesternal ou retroesternal. Estas dores geralmente ou angina instável, ele por si só é capaz de discriminar os pacien-
ocorrem após uma refeição, melhorando com o uso de antiácidos. tes de alto risco daqueles de não-alto risco de complicações car-
Na palpação abdominal geralmente encontramos dor na região epi- díacas, inclusive em pacientes com síndrome coronariana aguda
gástrica. sem supradesnível de ST. Mesmo em pacientes com supradesnível
A ruptura do esôfago é uma doença grave e rara na sala de do segmento ST na admissão, subgrupos de maior risco podem ser
emergência. Pode ser causada por vômitos incoersíveis, como na identificados pelo ECG.
síndrome de Mallory-Weiss. Encontramos dor excruciante em 83% Monitorização da tendência do segmento ST - Em virtude da
dos casos, de localização retroesternal ou no andar superior do ab- natureza dinâmica do processo trombótico coronariano, a obten-
dômen, geralmente acompanhada de um componente pleurítico à ção de um único ECG geralmente não é suficiente para avaliar um
esquerda. Apresenta alta morbi-mortalidade e é de evolução fatal paciente no qual haja forte suspeita clínica de isquemia aguda do
se não tratada. O diagnóstico é firmado quando encontramos à ra- miocárdio. O recente desenvolvimento e adoção da monitorização
diografia de tórax um pneumomediastino, ou um derrame pleural à contínua da tendência do segmento ST têm sido demonstrados
esquerda de aparecimento súbito. Enfisema subcutâneo é visto em como de valiosa importância na identificação precoce de isquemia
27% dos casos. de repouso.
Em avaliação prospectiva em pacientes com dor torácica não Em pacientes com dor torácica, sua sensibilidade para detectar
relacionada a trauma, febre ou malignidade, 30% tiveram o seu pacientes com IAM foi significativamente maior do que a do ECG
diagnóstico firmado como decorrente de costo-condrites. Geral- de admissão (68% vs 55%, p<0,0001), com uma elevadíssima es-
mente esta dor tem características pleuríticas por ser desencadeada pecificidade (95%), o mesmo se observando para o diagnóstico de
ou exacerbada pelos movimentos dos músculos e/ou articulações síndrome coronariana aguda (sensibilidade = 34%, especificidade
produzidos pela respiração. Palpação cuidadosa das articulações ou = 99,5%).
músculos envolvidos quase sempre reproduz ou desencadeia a dor. A acurácia diagnóstica do monitor de ST também tem se mos-
A dor psicogênica não tem substrato orgânico, sendo gerada trado muito boa para detectar reoclusão coronariana pós-terapia
por mecanismos psíquicos, tendendo a ser difusa e imprecisa . Ge- de reperfusão, com sensibilidade de 90% e especificidade de 92%.
ralmente os sinais de ansiedade são detectáveis e com freqüência Além disso, a demonstração de estabilidade do segmento ST mos-
se observa utilização abusiva e inadequada de medicações analgé- trou 100% de sensibilidade e especificidade para detecção de obs-
sicas. trução coronariana subtotal em relação à obstrução total.
O monitor de ST também tem-se mostrado como método de
grande utilidade para estratificação de risco em pacientes com angi-
na instável ou mesmo com dor torácica de baixo risco e de etiologia
a ser esclarecida, constituindo-se num preditor independente e al-
tamente significativo de morte, infarto agudo do miocárdio não-fa-
tal ou isquemia recorrente.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Assim é recomendado: A sensibilidade de uma única CK-MB obtida imediatamente na


1) Todo paciente com dor torácica visto na sala de emergência chegada ao hospital em pacientes com dor torácica para o diagnós-
deve ser submetido imediatamente a um ECG, o qual deverá ser tico de IAM é baixa (30-50%). Já a sua utilização dentro das primei-
prontamente interpretado (Grau de Recomendação I, Nível de Evi- ras 3h de admissão aumenta esta sensibilidade para cerca de 80 a
dência B e D); 85%, alcançando 100% quando utilizada de forma seriada, a cada
2) Um novo ECG deve ser obtido no máximo 3h após o 1º em 3-4h, desde a admissão até a 9ª hora (ou 12h após o início da oclu-
pacientes com suspeita clínica de síndrome coronariana aguda ou são coronariana) 17,63-66.
qualquer outra doença cardiovascular aguda, mesmo que o ECG ini- Da mesma forma, o valor preditivo negativo da CK-MB obtida
cial tenha sido normal, ou a qualquer momento em caso de recor- até a 3ª hora pós-admissão ainda é sub-ótimo (95%), apesar de
rência da dor torácica ou surgimento de instabilidade clínica (Grau subgrupos de pacientes com baixa probabilidade de IAM já terem
de Recomendação I, Nível de Evidência B e D); este valor preditivo ³ 97% neste momento 16,17,66. Pacientes com
3) Devido à sua baixa sensibilidade para o diagnóstico de sín- média e alta probabilidade só alcançam 100% de valor preditivo
drome coronariana aguda, o ECG nunca deve ser o único exame negativo ao redor da 9 à 12ª hora. Estes dados apontam para a ne-
complementar utilizado para confirmar ou afastar o diagnóstico cessidade de uma avaliação por pelo menos 9h para confirmar ou
da doença, necessitando de outros testes simultâneos, como mar- afastar o diagnóstico de IAM nestes pacientes. A especificidade da
cadores de necrose miocárdica, monitor do segmento ST, ecocar- CK-MB de 95% decorre de alguns resultados falso-positivos encon-
diograma e testes de estresse (Grau de Recomendação I, Nível de trados principalmente quando a metodologia é a da atividade da
Evidência B e D); CK-MB e não da massa.
4) Se disponível, o monitor de tendência do segmento ST deve
ser utilizado, simultaneamente, ao ECG em pacientes com dor torá- Troponina - As troponinas cardíacas são proteínas do comple-
cica e suspeita clínica de síndrome coronariana aguda sem supra- xo miofibrilar encontradas somente no músculo cardíaco. Devido
à sua alta sensibilidade, discretas elevações são compatíveis com
desnível do segmento ST para fins diagnóstico e prognóstico (Grau
pequenos (micro) infartos, mesmo em ausência de elevação da
de Recomendação I , Nível de Evidência B);
CK-MB. Por este motivo tem-se recomendado que as troponinas
5) Para pacientes com IAM com supradesnível do segmento ST
sejam atualmente consideradas como o marcador padrão-ouro
que tenham recebido terapia de reperfusão coronariana o monitor
para o diagnóstico de IAM. Entretanto, é preciso frisar que a tro-
do segmento ST poderá ser utilizado para detectar precocemente a ponina miocárdica pode ser também liberada em situações clínicas
ocorrência de recanalização ou o fenômeno de reoclusão coronaria- não-isquêmicas, que causam necrose do músculo cardíaco, como
na (Grau de Recomendação IIb, Nível de Evidência miocardites, cardioversão elétrica e trauma cardíaco. Além disso, as
troponinas podem se elevar em doenças não-cardíacas, tais como
Papel diagnóstico e prognóstico dos marcadores de necrose as miosites, a embolia pulmonar e a insuficiência renal.
miocárdica A técnica mais apropriada para a dosagem quantitativa das tro-
poninas cardíacas é o imunoensaio enzimático (método ELISA) mas
Os marcadores de necrose miocárdica têm um papel importan- técnicas qualitativas rápidas usadas à beira do leito também têm
te não só no diagnóstico como também no prognóstico da síndrome sido utilizadas com boa acurácia diagnóstica.
coronariana aguda. A sensibilidade global das troponinas para o diagnóstico de
Mioglobina - Esta é uma proteína encontrada tanto no múscu- IAM depende do tipo de paciente estudado e da sua probabilidade
lo cardíaco como no esquelético, que se eleva precocemente após pré-teste de doença, da duração do episódio doloroso e do ponto
necrose miocárdica, podendo ser detectada no sangue de vários de corte de anormalidade do nível sérico estipulado, variando de
pacientes, já na primeira hora pós-oclusão coronariana. 85 a 99%.
A mioglobina tem uma sensibilidade diagnóstica para o IAM Como as troponinas são os marcadores de necrose miocárdica
significativamente maior, que a da creatinofosfoquinase-MB (CK- mais lentos para se elevarem após a oclusão coronariana, sua sen-
-MB) nos pacientes que procuram a sala de emergência com me- sibilidade na admissão é muito baixa (20-40%), aumentando lenta e
nos de 4h de início dos sintomas. Estudos têm demonstrado uma progressivamente nas próximas 12h. Sua especificidade global varia
sensibilidade para a mioglobina de 60-80% imediatamente após a de 85 a 95%, e o seu valor preditivo positivo de 75 a 95%. Os resul-
chegada do paciente ao hospital 60-62. Sua relativamente baixa es- tados falso-positivos encontrados nesses estudos decorrem da não
pecificidade (80%), resultante da alta taxa de resultados falso-posi- classificação de angina instável de alto risco, como IAM, de níveis
tivos, encontrados em pacientes com trauma muscular, convulsões, de corte inapropriadamente baixos e de outras doenças que afe-
cardioversão elétrica ou insuficiência renal crônica, limitam o seu tam sua liberação e/ou metabolismo. Devido à baixa sensibilidade
uso isoladamente. Entretanto, um resultado positivo obtido 3-4h das troponinas nas primeiras horas do infarto, o seu valor preditivo
negativo na chegada ao hospital também é baixo (50-80%), não per-
após a chegada ao hospital sugere fortemente o diagnóstico de IAM
mitindo que se afaste o diagnóstico na admissão.
(valor preditivo positivo ³ 95%). Da mesma forma, um resultado ne-
Além da sua importância diagnóstica, as troponinas tem sido
gativo obtido 3-4h após a chegada torna improvável o diagnóstico
identificadas como um forte marcador de prognóstico imediato e
de infarto (valor preditivo negativo ³ 90%), principalmente em pa-
tardio em pacientes com síndrome coronariana aguda sem supra-
ciente com baixa probabilidade pré-teste de doença (valor preditivo desnível do segmento ST. Esta estratificação de risco tem importân-
negativo ³ 95%). cia também para definir estratégias terapêuticas médicas e/ou in-
tervencionistas mais agressivas a serem utilizadas nestes pacientes.
Creatinofosfoquinase-MB (CK-MB) - A creatinofosfoquinase é A baixa sensibilidade diagnóstica da troponina obtida nas primeiras
uma enzima que catalisa a formação de moléculas de alta energia horas também não permite a avaliação do risco destes pacientes na
e, por isso, encontrada em tecidos que as consomem (músculos car- admissão hospitalar, além do que resultados negativos não excluem
díaco e esquelético e tecido nervoso). a ocorrência de eventos imediatos.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Assim sendo, esta diretriz recomenda: o seu uso já na primeira hora após a chegada ao hospital em pa-
1) Marcadores bioquímicos de necrose miocárdica devem ser cientes com baixa probabilidade de doença coronariana, até mes-
mensurados em todos os pacientes com suspeita clínica de síndro- mo sem a avaliação prévia de marcadores bioquímicos de necrose
me coronariana aguda, obtidos na admissão à sala de emergência miocárdica 86. Para estes pacientes a sensibilidade do teste para
ou à Unidade de Dor Torácica e repetidos, pelo menos, uma vez nas diagnóstico de doença é pequena (baixa probabilidade pré-teste)
próximas 6 a 9h (Grau de Recomendação Classe I e Nível de Evidên- mas o valor preditivo negativo é elevadíssimo (³ 98%).
cia B e D). Pacientes com dor torácica e baixa probabilidade de do- Além da sua importância na exclusão de doença coronariana,
ença podem ter o seu período de investigação dos marcadores séri- o principal papel do teste ergométrico é estabelecer o prognóstico
cos reduzido a 3h (Grau de Recomendação IIa, Nível de Evidência B); dos pacientes onde diagnósticos de IAM e angina instável de alto
2) CK-MB massa e/ou troponinas são os marcadores bioquími- risco já foram afastados durante a investigação na Unidade de Dor
cos de escolha para o diagnóstico definitivo de necrose miocárdica Torácica. A sensibilidade e a especificidade do teste positivo ou in-
nesses pacientes (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência B e conclusivo para eventos cardíacos está em torno de 75%, sendo que
D); estes resultados identificam um subgrupo de pacientes com maior
3) Embora a elevação de apenas um dos marcadores de ne- risco de IAM, necessidade de revascularização miocárdica e de re-
crose citado seja suficiente para o diagnóstico de IAM, pelo menos admissão hospitalar 5,50,88,89. O valor preditivo negativo do teste
dois marcadores devem ser utilizados no processo investigativo: um para eventos também é elevadíssimo (³ 98%).
marcador precoce (com melhor sensibilidade nas primeiras 6h após
o início da dor torácica, como é o caso da mioglobina ou da CK-MB) Embora o uso do teste ergométrico possa abreviar o tempo de
e um marcador definitivo tardio (com alta sensibilidade e especifici- hospitalização de pacientes com dor torácica ao identificar aqueles
dade global, a ser medido após 6h _ como é o caso da CK-MB ou das de baixo risco (ausência de isquemia miocárdica) a relativamente
troponinas) (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência B e D); alta taxa de resultados falso-positivos nesta população pode levar à
4) Idealmente, a CK-MB deve ser determinada pelo método realização de outros exames para confirmar a positividade, encare-
que mede sua massa (e não a atividade) enquanto a troponina deve cendo o processo diagnóstico.
ser pelo método quantitativo imunoenzimático (e não qualitativo)
(Grau de Recomendação IIa, Nível de Evidência B e D); Cintilografia miocárdica de repouso - A cintilografia de perfu-
5) As amostras de sangue devem ser referenciadas em relação são miocárdica de repouso, realizada imediatamente após a chega-
ao momento da chegada do paciente ao hospital e, idealmente, ao da à sala de emergência, também tem se mostrado uma ferramenta
momento do início da dor torácica (Grau de Recomendação I, Nível importante na avaliação dos pacientes com dor torácica e ECG não-
de Evidência D); -diagnóstico, com sensibilidade variando entre 90 e 100% e espe-
6) O resultado de cada dosagem dos marcadores de necrose cificidade entre 65 e 80% para IAM. Uma cintilografia de repouso
miocárdica deve estar disponível e ser comunicado ao médico do negativa praticamente exclui este diagnóstico nestes pacientes com
paciente poucas horas após a colheita do sangue para que sejam baixa probabilidade de doença (valor preditivo negativo ³ 98%).
tomadas as medidas clínicas cabíveis (Grau de Recomendação I, Ní- Além da excelente acurácia diagnóstica a cintilografia fornece
vel de Evidência B e D); importantes informações prognósticas. Aqueles pacientes com per-
7) Em pacientes com dor torácica e supradesnivelamento do fusão miocárdica normal apresentam baixíssima probabilidade de
segmento ST na admissão a coleta de marcadores de necrose mio- desenvolvimento de eventos cardíacos sérios nos próximos meses
cárdica é desnecessária para fins de tomada de decisão terapêutica 45,91.
(p. ex., quando se vai utilizar fibrinolítico ou não) (Grau de Reco- A larga utilização da cintilografia miocárdica imediata de re-
mendação I, Nível de Evidência B). pouso é limitada pela indisponibilidade do método nas salas de
emergência, pela demora na sua realização após um episódio de
O papel de outros métodos diagnósticos e prognósticos dor torácica e pelos seus custos. Entretanto, alguns grupos têm
preconizado a realização do exame para pacientes com média ou
Os métodos diagnósticos acessórios, disponíveis nas salas de baixa probabilidade de IAM, já que um exame negativo praticamen-
emergência para a avaliação de pacientes com dor torácica, são o te afasta este diagnóstico 45,93, permitindo a liberação imediata
teste ergométrico, a cintilografia miocárdica e o ecocardiograma. destes pacientes com conseqüente redução dos custos hospitalares
Estes testes são usados com finalidade diagnóstica - para identifi- 94,95.
car os pacientes que ainda não têm seu diagnóstico estabelecido
na admissão ou que tiveram investigação negativa para necrose e Ecocardiograma - O papel do ecocardiograma de repouso na
isquemia miocárdica de repouso, mas que podem ter isquemia sob avaliação de pacientes na sala de emergência com dor torácica se
estresse - e também prognóstica. alicerça em poucos estudos publicados. Para o diagnóstico de IAM
Os protocolos ou algoritmos que recomendam o uso de mé- a sensibilidade varia de 70 a 95%, mas a grande taxa de resultados
todos de estresse precocemente, antes da alta hospitalar, o fazem falso-positivos torna o valor preditivo positivo baixo. Já o valor pre-
para um subgrupo de pacientes com dor torácica considerados de ditivo negativo varia de 85 a 95%.
baixo a moderado risco. A seleção destes pacientes baseia-se na Quando se busca também o diagnóstico de angina instável
inexistência de dor recorrente, na ausência de alterações eletrocar- (além de infarto) em pacientes com dor torácica e ECG inconclusi-
diográficas e de elevação de marcadores de necrose miocárdica à vo, a sensibilidade do ecocardiograma passa a variar de 40 a 90%,
admissão e durante o período de observação. sendo que o valor preditivo negativo fica entre 50 e 99%. Nesses
Teste ergométrico - No modelo das Unidades de Dor Torácica o pacientes, um ecocardiograma normal não parece agregar informa-
teste ergométrico tem sido o mais recomendado e utilizado devido ções diagnósticas significativas, além daquelas já fornecidas pela
a seu baixo custo e sua ampla disponibilidade nos hospitais, quando história e ECG.
comparado aos outros métodos. Além disso, a segurança do exame Estudos sobre a utilização do ecocardiograma de estresse com
é muito boa quando realizado em uma população de pacientes cli- dobutamina na avaliação de uma população heterogênea com dor
nicamente estáveis e de baixo a moderado risco, apresentando bai- torácica ainda são pequenos e escassos. Sua sensibilidade para o
xíssima taxa de complicações. Um grupo tem inclusive preconizado diagnóstico de doença coronariana ou isquemia miocárdica detec-

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tada por outros métodos é de 90%, com especificidade variando de sensibilidade nesta situação é de 80% para pacientes com trombo
80 a 90% e valor preditivo negativo de 98%. Para fins prognósticos, localizado em tronco da artéria pulmonar e/ou seu ramo direito,
a sensibilidade do teste para a ocorrência de eventos cardíacos tar- com especificidade de 100% 105. É considerado o método de es-
dios em pacientes com dor torácica varia de 40 a 90%, mas o valor colha para a avaliação inicial dos pacientes hemodinamicamente
preditivo negativo é excelente (97%) 101,102, conferindo segurança instáveis.
ao médico emergencista em dispensar a realização de outros testes A cintilografia pulmonar de ventilação e perfusão é o método
e liberar imediatamente o paciente para casa. não-invasivo, classicamente utilizado para a estratificação da proba-
bilidade de embolia pulmonar ao analisar o número de segmentos
Deste modo, recomenda-se: pulmonares acometidos, permitindo classificar a probabilidade de
1) Nos pacientes com dor torácica inicialmente suspeita de doença em ausente (normal), baixa, média ou alta 106. Pacientes
etiologia isquêmica, que foram avaliados na sala de emergência e com alta probabilidade à cintilografia e alta suspeita clínica devem
nos quais já se excluem as possibilidades de necrose e de isquemia ser tratados como tendo embolia pulmonar, pois essa associação
miocárdica de repouso, um teste diagnóstico pré-alta deverá ser re- apresenta uma sensibilidade de 96%. A cintilografia normal prati-
alizado para afastar ou confirmar a existência de isquemia miocár- camente afasta o diagnóstico de embolia pulmonar em face de seu
dica esforço-induzida (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência valor preditivo negativo ser muito alto (pouquíssimos casos falso-
B e D); -negativos). O grupo de pacientes com baixa e intermediária proba-
bilidade necessita da realização de outro método de imagem para
2) Por ser um exame de ampla disponibilidade, fácil execução definição do diagnóstico.
seguro e de baixo custo, o teste ergométrico é o método de estres- A angiotomografia computadorizada do tórax tem mostrado
se de escolha para fins diagnóstico e/ou prognóstico em pacientes boa acurácia diagnóstica para a embolia pulmonar, com sensibilida-
com dor torácica e com baixa/média probabilidade de doença coro- de de 90% e especificidade de 80% 107. Entretanto, o método não
nária (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência B e D); apresenta boa acurácia diagnóstica, quando a embolia acomete
3) O ecocardiograma de estresse ou a cintilografia de estresse somente vasos pulmonares de menor diâmetro (subsegmentares).
poderá ser realizado em pacientes nos quais o teste ergométrico foi Apesar dos recentes avanços no diagnóstico da embolia pul-
inconclusivo ou quando não se pôde realizá-lo (incapacidade moto- monar, a arteriografia pulmonar permanece como método padrão-
ra, distúrbios da condução no ECG, etc) (Grau de Recomendação I, -ouro; entretanto, sua indicação deve ser reservada para pacientes
Nível de Evidência B e D);
cujos testes diagnósticos não-invasivos foram inconclusivos 106. O
4) A cintilografia miocárdica imediata de repouso poderá ser
exame permite uma adequada visualização das artérias pulmonares
realizada em pacientes com dor torácica com baixa probabilidade
e seus ramos, apresentando baixa taxa de morbimortalidade, e é
de doença coronariana com o objetivo de identificar ou afastar IAM,
custo-eficiente quando outras estratégias diagnósticas não conse-
sendo que aqueles com teste negativo poderão ser liberados para
guem definir a suspeita clínica.
casa sem necessidade de dosagem seriada de marcadores bioquí-
Desta forma, recomendações para a realização de métodos de
micos de necrose miocárdica (Grau de Recomendação IIa, Nível de
imagem para o diagnóstico da embolia pulmonar são:
Evidência B).
1) A radiografia de tórax deve ser solicitada a todos os pacien-
O papel dos métodos de imagem na dor torácica de origem tes com suspeita clínica de embolia pulmonar.
não-coronariana 2) O ecocardiograma transtorácico deve ser solicitado a todos
os pacientes com suspeita clínica com os objetivos de avaliação da
Esta Diretriz somente contemplará a embolia pulmonar e a dis- função do ventrículo direito e para a possível visualização do trom-
secção aguda da aorta no diagnóstico da dor torácica de origem bo.
não-coronariana devido às suas elevadas mortalidades, apesar da 3) Os pacientes clinicamente estáveis podem ser submetidos à
baixíssima incidência em pacientes com dor torácica na sala de cintilografia pulmonar de ventilação/perfusão, tomografia compu-
emergência. tadorizada ou ressonância magnética para definição diagnóstica, na
3.5.1 Embolia pulmonar - Em virtude das múltiplas formas de dependência da sua disponibilidade na instituição.
apresentação clínica da embolia pulmonar, da variabilidade da acu- 4) Nos pacientes clinicamente instáveis, particularmente na-
rácia diagnóstica dos vários métodos de imagem (de acordo com a queles em suporte ventilatório mecânico, o ecocardiograma tran-
forma de apresentação) e da complexidade de realização da arte- sesofágico deve ser realizado em face de sua alta acurácia diagnós-
riografia pulmonar (método padrão-ouro), esta diretriz não classifi- tica, principalmente naqueles cuja possibilidade de trombo central
cará os graus de recomendação e seus respectivos níveis de evidên- é elevada.
cia para a realização destes métodos. 5) A tomografia computadorizada e a ressonância magnética
As alterações radiológicas mais frequentemente encontradas são utilizados preferencialmente em pacientes estáveis, havendo
na embolia pulmonar são as áreas de atelectasia, a elevação da he- limitação diagnóstica para trombos localizados nos ramos subseg-
micúpula diafragmática, o derrame pleural e a dilatação do tronco mentares.
e dos ramos da artéria pulmonar. Áreas de hipofluxo pulmonar seg- 6) A indicação de arteriografia pulmonar fica reservada para
mentar (sinal de Westmark) e infiltrado pulmonar de forma trian- pacientes com alta suspeita clínica onde os métodos diagnósticos
gular com a base voltada para a pleura (sinal de Hampton) são os não-invasivos foram inconclusivos.
achados mais específicos da embolia pulmonar mas, infelizmente,
são pouco sensíveis. Estas estratégias, excetuando-se a radiografia de tórax, visam
A ecocardiografia pode contribuir com importantes informa- exclusivamente à confirmação da existência de trombo na circula-
ções na suspeita de embolia pulmonar 105. O ecocardiograma ção pulmonar, não se contemplando nesta diretriz os métodos in-
transtorácico informa o tamanho das cavidades cardíacas, a função diretos, como o Doppler venoso de membros inferiores, a dosagem
ventricular direita e esquerda, e a presença de hipertensão pulmo- do D-dímero e a gasometria arterial. Uma abordagem diagnóstica
nar. O ecocardiograma transesofágico, ao permitir visualizar o trom- mais abrangente de embolia pulmonar poderá ser encontrada na
bo na artéria pulmonar, é capaz de estabelecer o diagnóstico. Sua diretriz da SBC sobre este tema.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Dissecção aguda da aorta - Quando há suspeita clínica de dis- Árvores neurais e fluxogramas diagnósticos
secção aguda da aorta a confirmação diagnóstica deve ser rápida e
precisa já que a doença tem elevada mortalidade imediata e o trata- Algoritmos diagnósticos computadorizados, modelos matemá-
mento definitivo é, geralmente, cirúrgico. A decisão de utilização de ticos probabilísticos usando regressão logística, árvores de decisão
um determinado método de imagem na dissecção aguda da aorta clínica e redes neurais são metodologias atualmente disponíveis
deve ser baseada não só na sua acurácia diagnóstica mas também aos médicos e que têm aumentado a sensibilidade e a especifici-
na sua disponibilidade imediata e na experiência dos emergencistas dade diagnóstica na avaliação de pacientes que se apresentam na
e ecocardiografistas/radiologistas com este(s) método(s). sala de emergência com dor torácica. Alguns desses instrumentos
O alargamento do mediastino superior é o achado mais fre- têm sido validados prospectivamente, mostrando uma redução nas
qüentemente encontrado na radiografia de tórax (60 a 90% dos internações nas unidades coronarianas de até 30%. Por outro lado,
casos). No entanto é importante frisar que a normalidade deste trabalhos indicam que programas computadorizados validados
exame não exclui o diagnóstico de dissecção aórtica (valor preditivo retrospectivamente se comparam, quando aplicados prospectiva-
negativo de 88%). mente, à alta sensibilidade e especificidade dos médicos 122.
A aortografia já foi considerada como método padrão-ouro Além disso, sistematizações das condutas médicas (protocolos
para confirmação do diagnóstico da dissecção aguda da aorta. Com assistenciais), sejam elas diagnósticas ou terapêuticas, quando apli-
o aparecimento dos métodos de imagem não-invasivos, como a cadas de maneira lógica e coerente, em casos previamente defini-
ecocardiografia transtorácica e transesofágica, a angiotomografia e dos, resultam num poderoso e eficiente instrumento de otimização
a angiorressonância de tórax, a estratégia diagnóstica desta doença da qualidade e da relação custo-benefício.
vem mudando. Com eles procuramos confirmar o diagnóstico, clas- Esta diretriz apresenta os principais modelos diagnósticos pre-
sificar o tipo da dissecção, diferenciar a verdadeira e a falsa luz aór- conizados para pacientes com dor torácica na sala de emergência e
tica, localizar os sítios de entrada e reentrada, distinguir dissecção que podem ser utilizados de acordo com a sua adequação às carac-
comunicante e não-comunicante, avaliar o envolvimento dos ramos terísticas assistenciais de cada instituição.
aórticos, detectar e graduar a regurgitação valvar aórtica, e avaliar O modelo Heart ER do Centro Médico da Universidade de Cin-
a existência de extravasamento sanguíneo para pericárdio, pleura, cinnati é utilizado para pacientes com dor torácica considerados de
mediastino e estruturas peri-aórticas. baixa a média probabilidade de síndrome coronariana aguda (dor
A utilização do ecocardiograma transtorácico para o diagnósti- suspeita e ECG não-diagnóstico). A avaliação diagnóstica consiste
co da dissecção aguda da aorta está limitada pela sua baixa sensibili- na realização de cintilografia miocárdica imediata de repouso com
dade (60%) e especificidade (70%). Devido à alta taxa de resultados SESTAMIBI naqueles pacientes em que a dor ainda esteja presente
falso-positivos e falso-negativos, este método não é utilizado para e haja condição de se administrar o fármaco radionúcleo imediata-
estabelecer o diagnóstico final, apesar de informar acuradamente a mente na sala de emergência. Se o mapeamento no laboratório de
presença de insuficiência aórtica e a função sistólica do ventrículo medicina nuclear for negativo para isquemia miocárdica, o pacien-
esquerdo. O ecocardiograma transesofágico mostra sensibilidade te é liberado para casa sem mesmo realizar dosagens seriadas dos
de 99%, especificidade de 90%, valor preditivo positivo de 90% e marcadores de necrose miocárdica. Se o resultado for positivo, o
negativo de 99%, entretanto seu uso é limitado pela dificuldade de paciente é hospitalizado e tratado apropriadamente. Se o exame
visualização de pequenos segmentos de dissecção na parte distal da cintilográfico não puder ser realizado, o paciente é investigado na
aorta ascendente e na porção anterior do arco aórtico. Unidade de Dor Torácica através da determinação de níveis plas-
A angiotomografia computadorizada helicoidal possui sensibi- máticos de CK-MB e de troponina I obtidos na chegada, na 3ª e 6ª
lidade > 90% e especificidade > 85%. Determina a extensão, locali- horas seguintes, enquanto o paciente é mantido sob monitorização
zação e envolvimento dos ramos arteriais na dissecção aórtica. Tem eletrocardiográfica contínua da tendência do segmento ST. Teste
como limitações a impossibilidade de detectar o envolvimento das ergométrico ou cintilografia miocárdica de esforço com SESTAMIBI
artérias coronárias pela dissecção, além de não poder ser utilizada são realizados naqueles sem evidência de necrose ou isquemia mio-
em pacientes com intolerância ao contraste iodado. cárdica persistente (fig. 2).
A angiorressonância tem alta acurácia diagnóstica para detec-
ção de todas as formas de dissecção aórtica, com sensibilidade e
especificidade em torno de 100%. Seu uso é limitado pela presença
de instabilidade hemodinâmica e agitação psicomotora devido ao
tempo prolongado para aquisição de imagens.
A aortografia, apesar de ter sido considerada classicamente
como o método padrão-ouro para diagnosticar dissecção aórtica,
com especificidade > 95%, tem sido menos utilizada nos últimos
anos em virtude dos novos métodos não-invasivos apresentarem
maior sensibilidade para o diagnóstico definitivo. Atualmente, com
a tendência de utilização das endopróteses vasculares na fase agu-
da da dissecção, sua importância diagnóstica está sendo reavaliada.
Assim, recomenda-se para pacientes com suspeita clínica de
dissecção aguda da aorta e que estejam estáveis o uso da angio-
tomografia computadorizada helicoidal ou da angiorressonância
magnética como o exame padrão-ouro (Grau de Recomendação I,
Nível de Evidência C e D). Para pacientes instáveis recomenda-se o
uso do ecocardiograma transesofágico (Grau de Recomendação I,
Nível de Evidência C e D).

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O modelo sistematizado de atendimento de pacientes com dor torácica da Clínica Mayo 124 classifica inicialmente os pacientes em
subgrupos de probabilidade baixa, moderada e alta para doença coronariana aguda, de acordo com as diretrizes da Agency of Health Care
Policy Research (AHC PR) 125. Os pacientes de risco moderado são avaliados através de dosagens de CK-MB na chegada, 2 e 4h depois,
enquanto são submetidos à monitorização contínua do segmento ST e ficam em observação durante 6h na Unidade de Dor Torácica. Se a
avaliação resultar negativa, é realizado teste ergométrico, cintilografia de estresse ou ecocardiograma de estresse. Pacientes com resulta-
do positivo ou inconclusivo são internados, enquanto os que têm avaliação negativa são liberados para a residência com acompanhamento
em 72h (fig. 3).

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O modelo diagnóstico da Faculdade de Medicina da Virgínia estratifica inicialmente os pacientes com dor torácica na sala de emer-
gência em cinco níveis distintos de risco. Os pacientes do nível 1 apresentam elevadíssima probabilidade de IAM pelo critério do ECG, ao
passo que os do nível 5 têm desconforto no peito de origem nitidamente não-cardíaca. Os pacientes dos níveis 2, 3 e 4 correspondem
aos de probabilidade pré-teste de doença alto, médio e baixo, respectivamente. Pacientes com alta probabilidade de angina instável ou
baixa probabilidade de IAM (nível 3) passam por dosagens seriadas de biomarcadores de necrose miocárdica ou são submetidos a uma
cintilografia miocárdica imediata de repouso com SESTAMIBI. Pacientes com média ou baixa probabilidade de angina instável (nível 4) são
submetidos somente à cintilografia imediata de repouso que, se negativa, determina a alta do paciente para casa (fig. 4).

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O modelo diagnóstico do Hospital Pró-Cardíaco usado em sua Unidade de Dor Torácica estratifica a probabilidade pré-teste de síndro-
me coronariana aguda de acordo com o tipo de dor torácica e o ECG de admissão. A dor é classificada em 4 tipos: definitivamente e prova-
velmente anginosa, e provavelmente e definitivamente não-anginosa. Além disso, para pacientes com bloqueio de ramo esquerdo no ECG,
procura-se avaliar se a dor tem ou não características de IAM. A classificação do tipo de dor teve uma sensibilidade e um valor preditivo ne-
gativo para IAM de 94% e 97%, respectivamente, valores estes significativamente melhores que os do ECG (49% e 86%, respectivamente). A
associação do tipo de dor torácica e do ECG de admissão permite a estratificação da probabilidade pré-teste de síndrome coronariana agu-
da e a alocação dos pacientes em diferentes rotas diagnósticas (fig. 5). Enquanto os da rota 1 têm elevadíssima probabilidade de IAM (75%)
os da rota 5 têm dor não-cardíaca e são liberados. Os pacientes das rotas 2 e 3 têm probabilidade de síndrome coronariana aguda de 60%
e 10%, respectivamente 15 e são avaliados com dosagens de CK-MB seriadas e de troponina I: na rota 2, por 9h; na rota 3, por 3h. O teste
ergométrico é o método de estresse utilizado para avaliação de pacientes sem evidência de necrose miocárdica ou isquemia de repouso.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A árvore neural de Goldman é um algoritmo diagnóstico criado para identificar pacientes com IAM utilizando características da dor
torácica e do ECG, que estratifica os pacientes em probabilidades de doença (variando de 1% a 77%) e apresenta sensibilidade e especifi-
cidade de 90% e 50-95%, respectivamente, com um valor preditivo negativo > 98%, quando se aplica um ponto de corte de 7% na proba-
bilidade do paciente ter ou não IAM. Entretanto, o modelo não faz recomendações quanto às estratégias diagnósticas a serem utilizadas
nos diversos subgrupos probabilísticos de doença.
Todos estes protocolos ou modelos diagnósticos e de sistematização estratégica trazem um grande benefício para a prática médica
emergencial no manejo de pacientes com dor torácica, devendo por isso serem implantados em todas as salas de emergência, com ou sem
Unidades de Dor Torácica (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência
B). A escolha do modelo a ser utilizado dependerá das características funcionais de cada instituição.

Tratamento

Tratamento inicial da síndrome coronariana aguda

A abordagem do paciente com suspeita de síndrome coronariana aguda (SCA) na sala de emergência inicia-se pela rápida avaliação
das características da dor torácica e de outros sintomas concomitantes, pelo exame físico e pela imediata realização do ECG (em 5-10min
após a chegada ao hospital).
Se o paciente estiver em vigência de dor e o ECG evidenciar supradesnível do segmento ST deve-se iniciar imediatamente um dos
processos de recanalização coronariana: trombolítico ou angioplastia primária. Se o ECG não evidenciar supradesnível do segmento ST mas
apresentar alguma alteração compatível com isquemia miocárdica iniciamos o tratamento anti-isquêmico usual e estratificamos o risco de
complicações, que orientará o tratamento adequado a seguir.
Se o ECG for normal ou inespecífico, mas a dor torácica for sugestiva ou suspeita de isquemia miocárdica, o tratamento anti-isquêmico
pode ser iniciado ou então protelado (principalmente se a dor não mais estiver presente na admissão), mas o uso de aspirina está indicado.
O tratamento inicial tem como objetivo agir sobre os processos fisiopatológicos que ocorrem na SCA e suas conseqüências, e com-
preende:
1) contenção ou controle da isquemia miocárdica;
2) recanalização coronariana e controle do processo aterotrombótico.

Esta diretriz somente abordará os primeiros passos terapêuticos a serem tomados na sala de emergência. Para condutas seguintes,
realizadas geralmente na unidade coronariana, o leitor deve se dirigir à diretriz de IAM ou de síndrome coronariana aguda da SBC.

Contenção ou controle da isquemia miocárdica

Oxigenioterapia - Pacientes com SCA em vigência de dor ou sintomas e sinais de insuficiência respiratória devem receber oxigênio
suplementar, principalmente se medidas objetivas da saturação de O2(oximetria de pulso ou gasometria arterial) forem < 90% 129-133.
(Grau de Recomendação I, Nível de Evidência C e D).

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Analgesia e sedação - Para o controle da dor (se a mesma já Diversos estudos já demonstraram que quanto mais preco-
não foi aliviada com o uso de nitrato sublingual ou endovenoso) cemente a terapêutica fibrinolítica é iniciada em relação ao início
e sedação utiliza-se o sulfato de morfina EV na dose de 1 a 5mg, da dor (e, conseqüentemente, do fenômeno oclusivo coronariano)
podendo-se repetir 5-30min após se não houver alívio (Grau de Re- maiores são os benefícios em relação à taxa de recanalização, de
comendação I, Nível de Evidência C e D). preservação do miocárdio agudamente isquêmico, de redução de
Nitratos - O uso dos nitratos baseia-se não só no seu mecanis- mortalidade hospitalar e tardia, e de complicações intra-hospitala-
mo de ação e experiência clínica mas também numa meta-análise res. Pacientes tratados dentro da 1ª hora obtêm uma redução da
de 22 estudos (incluindo o ISIS-4 e o GISSI-3) que demonstrou uma mortalidade hospitalar ao redor de 50%.
redução significativa de 5,5% na mortalidade hospitalar. Existem Na sala de emergência os pacientes devem ser rapidamente
poucos e pequenos estudos clínicos comprovando seu benefício no avaliados quanto aos critérios de inclusão e exclusão para o uso
alívio dos sintomas. (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência de fibrinolíticos, principalmente os relacionados às complicações
A e D). hemorrágicas atribuídas às drogas. Pacientes com mais de 12h de
A dose é de 5mg do dinitrato de isossorbida por via SL, poden- início da dor ininterrupta geralmente não se beneficiam do uso de
do ser repetido 5-10min após se não houver alívio da dor, até o fibrinolíticos. O tratamento deve ser iniciado na própria sala de
máximo de 15mg. Para a nitroglicerina, pode-se utilizar o spray na- emergência (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência A e D).
sal, ou a via parenteral na dose de 10 a até 200 microgramas/min A droga de escolha (pela maior rapidez de ação e mais eleva-
em infusão contínua EV, ajustando-se a mesma a cada 5-10min de da taxa de recanalização) é o rt-PA, usada na dose de 15mg EV em
acordo com a pressão arterial. Para o mononitrato de isossorbida a bolus seguida de infusão inicial de 0,75mg/kg (máximo de 50mg)
dose é de 2,5 mg/kg/dia em infusão contínua. durante 30min, e de outra infusão de 0,50mg/kg (máximo de 35mg)
durante 60min. Heparinização plena concomitante é necessário por
Betabloqueadores - Existem alguns grandes ensaios clínicos 48h. A outra droga disponível é a estreptoquinase, administrada na
randomizados que demonstraram o benefício da utilização imedia- dose de 1,5 milhão de unidades em infusão EV durante 30 a 60min,
ta dos betabloqueadores no IAM com supradesnível do segmento não requerendo uso concomitante de heparina.
ST (redução de mortalidade imediata e tardia, de reinfarto e de is- Angioplastia coronariana percutânea primária - Com o aperfei-
quemia recorrente) 138-140. São utilizados na SCA sem suprades- çoamento da técnica e dos stents coronarianos, não parece haver
nível do segmento ST baseados em pequenos estudos e numa me- maiores dúvidas de que a angioplastia coronariana percutânea é o
ta-análise. (Grau de Recomendação IIa, Nível de Evidência A e D). método de eleição para a recanalização coronariana em pacientes
Os betabloqueadores não podem ser utilizados em pacientes com IAM com supradesnível do segmento ST, desde que o procedi-
com sinais e/ou sintomas de insuficiência ventricular esquerda mento possa ser realizado dentro dos primeiros 60 a 90min após
(mesmo incipiente), com bloqueio AV, com broncoespasmo ou his- a chegada do paciente à sala de emergência e por uma equipe ex-
tória de asma brônquica. periente 129,155. Fator tempo que deve ser cuidadosamente con-
Metoprolol é dado na dose de 5mg EV em 1 a 2min e repetido, siderado pelo médico emergencista na tomada de decisão quanto
se necessário, a cada 5min até completar 15mg (objetivando alcan- ao uso de uma estratégia alternativa de recanalização coronariana
çar uma frequência cardíaca 60), passando-se a seguir para a dose (fibrinolíticos) na eventualidade da indisponibilidade ou inexistên-
oral de 25 a 50mg de 12/12h. O atenolol é administrado na dose cia do laboratório de cateterismo cardíaco em seu hospital (Grau de
de 5mg EV e repetido em 5min (completando 10mg), seguido da Recomendação I e Nível de Evidência A e D).
dose oral de 50-100mg/dia. Quando administrado por via EV é im- Para pacientes com SCA sem supradesnível de ST uma condu-
prescindível uma cuidadosa monitorização da freqüência cardíaca, ta invasiva imediata (cinecoronariografia seguida de recanalização
pressão arterial, ausculta pulmonar e ECG. ou desobstrução) ainda permanece como uma questão em aberto
devido aos resultados divergentes dos 4 ensaios clínicos e um regis-
Antagonistas dos canais de cálcio - Os benzotiazepínicos (dil- tro disponíveis 83,157-160 mas parece haver um certo consenso de
tiazem) parecem ter um efeito benéfico no IAM com e sem supra- que pacientes classificados como de alto risco de eventos 161,162
desnível do segmento ST e sem insuficiência cardíaca (redução de devem ser submetidos à estratégia invasiva imediata enquanto que
mortalidade e reinfarto) e na angina instável, o mesmo se obser- os de baixo risco devem ser submetidos à estratégia conservadora
vando com as fenilalquilaminas (verapamil) 145,147,151,152. Já os (tratamento farmacológico seguido de avaliação funcional de exis-
dihidropiridínicos (nifedipina, amlodipina) só podem ser utilizados tência de isquemia miocárdica residual) 130,131,163 (Grau de Re-
concomitantemente com os betabloqueadores, pois isoladamente comendação IIa e Nível de Evidência A e D).
aumentam o consumo de O2 miocárdico e causam roubo corona- Aspirina - Não havendo contra-indicação (alergia, intolerância
riano. (Grau de recomendação IIb, Nível de Evidência A). Podem ser gástrica, sangramento ativo, hemofilia ou úlcera péptica ativa) a as-
uma alternativa quando houver contra-indicação ao uso de beta- pirina deve ser sempre utilizada em pacientes com suspeita de SCA
bloqueador ou nitrato (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência imediatamente após a chegada na sala de emergência. Tem com-
B e D). provação de seu benefício na redução da mortalidade imediata e
As doses a serem utilizadas são de 60mg via oral 3 a 4 vezes/ tardia, infarto e reinfarto na SCA através de vários estudos clínicos
dia para o diltiazem e 80mg via oral 3 vezes/dia para o verapamil. randomizados. (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência A e D).
A dose inicial é de 200-300mg por via oral mastigada, seguida
Recanalização coronária e controle do processo aterotrom- de uma dose de manutenção de 100 a 200mg/dia.
bótico
Tienopiridínicos (clopidogrel, ticlopidina) - Até recentemente
Fibrinolíticos - Pacientes com dor torácica prolongada sugestiva a ticlopidina era o antiplaquetário recomendado em caso de con-
de isquemia miocárdica aguda e que apresentam supradesnível do tra-indicação para o uso da aspirina ou na intervenção coronária
segmento ST no ECG (ou um padrão de bloqueio de ramo esquer- percutânea 168.
do) são candidatos à terapia de recanalização coronariana visto que
mais de 75% desses pacientes têm IAM e mais de 85% têm oclusão
de uma artéria coronária.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Atualmente, o clopidogrel é a droga de primeira escolha na Tratamento inicial da embolia pulmonar


substituição ou no uso concomitante com a aspirina em pacientes
com SCA sem supradesnível do segmento ST que irão ou não à in- Uma vez diagnosticada a embolia pulmonar ou havendo evi-
tervenção coronariana percutânea, devendo ser iniciada logo após dências consistentes de sua provável existência, o tratamento deve
a chegada ao hospital ou quando o diagnóstico de SCA for estabele- ser iniciado imediatamente devido à sua elevada mortalidade hos-
cido. (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência A). pitalar - cerca de 1/3 para os não tratados e de 10% para os trata-
Para o clopidogrel, a dose inicial é de 300-600mg VO, seguida dos.
da dose de manutenção de 75mg/dia. Para a ticlopidina, a dose ini- A terapêutica inicial visa a estabilidade clínica oferecendo, se
cial é de 500mg VO, seguida de dose de manutenção de 250mg de necessário, suporte hemodinâmico e ventilatório. O tratamento es-
12/12h. sencial da embolia pulmonar é feito com o uso do anticoagulante
Anticoagulantes (heparina não-fracionada, heparina de baixo venoso, heparina. Tem como objetivo prevenir a formação de no-
peso molecular). vos trombos e diminuir a ação de substâncias vasoativas, como a
Vários ensaios clínicos e metanálises demonstram o indiscutí- serotonina e o tromboxane-A2, liberadas pelas plaquetas ativadas
vel benefício do uso das heparinas na SCA. encontradas no trombo original. A dose de ataque da heparina
A heparina não-fracionada requer monitorização laboratorial não-fracionada é de 80 U/kg em bolus EV seguida por uma infusão
constante do tempo de tromboplastina parcial ativado (PTTa), de- contínua de 18 U/kg/h por 5 a 7 dias, incluindo o período de uso
vendo ser utilizados regimes terapêuticos ajustados ao peso do pa- combinado com o anticoagulante oral (Grau de Recomendação I,
ciente. Já as heparinas de baixo peso molecular não necessitam de Nível de Evidência C e D)
controle do PTTa. A utilização das heparinas de baixo peso molecular na embo-
A heparina não-fracionada é administrada como bolus EV de lia pulmonar vem se ampliando nos últimos anos, possuindo uma
60-70 U/kg (máximo de 5.000 U) seguido de infusão de 12-15 U/ maior ação sobre o fator de coagulação Xa do que sobre o fator IIa
kg/h (máximo de 1.000 U/h), mantendo-se o PTTa entre 1,5-2 vezes quando comparada com a heparina não-fracionada e possibilitando
o controle. maior atividade antitrombótica com menor risco de sangramentos.
As heparinas de baixo peso molecular não equivalem entre si A enoxaparina deve ser usada por via subcutânea na dose de 1 mg/
em relação às doses. Assim, a enoxaparina é administrada na dose kg a cada 12h ou 1,5 mg/kg, uma vez ao dia; a nadroparina na dose
de 1mg/kg SC de 12/12h ou 1,5mg/kg uma vez ao dia; a dalteparina de 85 U/kg a cada 12h ou 170 U/kg, uma vez ao dia; e a daltepari-
na dose de 200 U/kg/dia SC; e a nadroparina na dose de 85U/kg SC na na dose de 200 U/kg/dia. (Grau de Recomendação IIa, Nível de
de 12/12 h ou 170 U/kg uma vez ao dia. Evidência C). Nos pacientes clinicamente instáveis, nos quais a pro-
Tanto a heparina não-fracionada como as heparinas de baixo babilidade de embolia pulmonar maciça é grande, deve-se utilizar
peso molecular têm Grau de Recomendação I e Nível de Evidência as drogas trombolíticas que permitam lise mais rápida do trombo,
A e D para uso na SCA. promovendo uma melhora clínica mais efetiva. Utiliza-se a estrep-
toquinase por via EV na dose de 250.000 U em bolus seguida de
Bloqueadores dos receptores da glicoproteína IIb/IIIa (abcixi- uma infusão de 100.000 U/h durante 24 a 72h, ou o rt-PA na dose
mab, tirofiban) - Diversos ensaios clínicos têm demonstrado efei- de 100 U EV em infusão durante 2h (Grau de Recomendação I, Nível
tos benéficos com o uso dos bloqueadores da glicoproteína IIb-II- de Evidência C). A trombólise na embolia pulmonar, como em qual-
Ia em pacientes com SCA em relação à redução de IAM, reinfarto, quer outra situação clínica, apresenta uma série de contra-indica-
isquemia miocárdica recorrente e necessidade de revascularização ções que devem ser respeitadas. Além dos pacientes clinicamente
miocárdica, não se observando, entretanto, redução da mortalida- instáveis, um subgrupo de pacientes com estabilidade hemodinâ-
de 182-188. Firma-se a indicação do tirofiban quando não há uma mica e ventilatória, porém com disfunção do ventrículo direito ao
atitude invasiva planejada em pacientes com alto ou médio risco, ecocardiograma, pode também se beneficiar do uso de trombolíti-
ou seja, com persistência da isquemia, troponina elevada outras cos. (Grau de Recomendação IIa, Nível de Evidência C).
variáveis de risco (Grau de Recomendação IIa, Nível de Evidência
A). Já o abciximab parece ser melhor indicado quando houver uma Tratamento inicial da dissecção aguda da aorta
atitude invasiva imediata planejada, independentemente do risco
(Grau de Recomendação I, Nível de Evidência A). Os pacientes que No caso de suspeita clínica de dissecção aguda da aorta a te-
inicialmente utilizarem o tirofiban e na evolução optar pela conduta rapêutica farmacológica deve ser instituída o mais rápido possível
invasiva, deverão continuar seu uso durante e após o cateterismo com objetivo de estabilizar a dissecção e evitar complicações ca-
ou intervenção (Grau de Recomendação IIa, Nível de Evidência A). tastróficas, como a ruptura da aorta. Para isso o tratamento padrão
Os benefícios obtidos com o uso destas drogas devem ser sempre é feito através do uso de vasodilatadores, como o nitroprussiato
analisados diante de seu alto custo. de sódio, em associação com betabloqueadores (propranolol, me-
Os inibidores da glicoproteína IIb/IIIa podem ser usados, con- toprolol, esmolol ou atenolol) (preferencialmente venoso), visando
comitantemente, com a aspirina, o clopidogrel e a heparina. a redução do cronotropismo e do inotropismo, ou utilizar o labeta-
O tirofiban é administrado na dose de 0,4 microgramas/kg/min lol que possui ambos os efeitos (Grau de Recomendação I e Nível
EV por 30min, seguida de 0,1 microgramas/kg/min por 48 a 96h. O de Evidência C e D). Nos pacientes com contra-indicação ao uso de
abciximab é administrado em bolus EV na dose de 0,25mg/kg, se- betabloqueadores podemos utilizar o enalaprilato venoso. O controle
guida de 0,125 microgramas/kg/min (máximo de 10 microgramas/ da dor deve ser feito com sulfato de morfina, que também auxilia na
min) por 12 a 24h. redução da pressão arterial e estabilização da dissecção. Os pacientes
deverão ser submetidos à monitorização oxi-dinâmica, do débito uriná-
rio e da pressão arterial, e encaminhados à unidade de terapia intensiva
e/ou ao centro cirúrgico tão logo indicado e possível. Aqueles com insta-
bilidade hemodinâmica deverão ser colocados em suporte ventilatório e
submetidos a monitorização invasiva da pressão arterial e das pressões
do coração direito para melhor controle das pressões de enchimento e
do débito cardíaco, além das variáveis de oxigenação tissular.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O tratamento cirúrgico imediato é reservado para as dissecções EDEMA AGUDO DE PULMÃO


agudas que envolvam a aorta ascendente ou o arco aórtico (tipo
A de DeBakey) e para dissecções distais complicadas (oclusão de O edema pulmonar uma condição definida pelo acúmulo anor-
um ramo aórtico importante, extensão da dissecção e evidências mal de líquido no tecido pulmonar, no espaço alveolar ou em am-
de ruptura aórtica) ou não estabilizadas com o tratamento clínico. bos, se apresentando como uma condição grave. Ocorre, na maioria
(Grau de Recomendação I e Nível de Evidência C e D). Em pacien- dos casos, em consequência do aumento da pressão microvascular
tes com dissecção não complicada que poupem a aorta ascendente proveniente da função ventricular esquerda inadequada, o que leva
(tipo B) e com dissecção crônica da aorta o tratamento clínico é o ao refluxo de sangue para dentro da vasculatura pulmonar (BRUN-
passo inicial. (Grau de Recomendação I e Nível de Evidência C e D). NER &SUDDARTH, 2009).
4) suporte de vida em situações de edema agudo de pulmão;
PRINCIPAIS SINTOMAS
O edema agudo de pulmão (EAP) é um evento que acontece e
forma clínica, e que é caracterizado por um acúmulo súbito e anor- As principais manifestações clínicas do edema agudo de pul-
mal de líquido nos espaços extra vasculares do pulmão, que repre- mão são: dispnéia intensa, ortopnéia, tosse, escarro cor de rosa e
senta uma das mais dolorosas e dramáticas síndromes cardiorres- espumoso. Em geral o paciente apresenta-se ansioso, agitado,sen-
piratórias, e que ocorre de maneira muito frequente nas unidades tado com membros inferiores pendentes e utilizando intensamente
de emergência e de terapia intensiva. Na maioria das vezes é con- a musculatura respiratória acessória. Há dilatação das asas do nariz,
sequência da insuficiência cardíaca esquerda, onde a elevação da retração intercostal e da fossa supraclavicular. A pele e as mucosas
pressão no átrio esquerdo e capilar pulmonar é o principal fator tornam-se frias, acinzentadas, às vezes pálidas e cianóticas, com
responsável pela transpiração de líquido para o interstício e interior sudorese fria sistêmica. Pode haver referência de dor subesternal
dos alvéolos, com interferência nas trocas gasosas pulmonares e irradiada para o pescoço, mandíbula ou face medial do braço es-
redução da pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (TARAN- querdo em casos de isquemia miocárdica ou IAM. No exame físico,
TINO, 2007). pode-se constatar taquicardia, ritmo de galope, B2hiperfonética,
O fluxo aumentado de líquidos, que são provenientes dos capi- pressão arterial elevada ou baixa (IAM, choque cardiogênico), es-
lares pulmonares para o espaço intersticial e alvéolos, que se acu- tertores subcreptantes inicialmente nas bases, tornando-se difusos
mulam nessas regiões ao ultrapassarem a capacidade de drenagem com a evolução do quadro. Roncos e sibilos difusos indicam qua-
dos vasos linfáticos, promovendo uma troca alvéolo-capilar de for- se sempre broncoespasmo secundário. O quadro clínico agrava-se
ma inadequada (FARIA ET AL, 2010). progressivamente, culminando com insuficiência respiratória, hipo-
Com base nestes contextos, analisar a participação da equipe ventilação, confusão mental e morte por hipoxemia (PORTO, 2005).
de enfermagem no sentido de reabilitação do paciente no decorrer Deve-se basear no achado das seguintes alterações: pacien-
deste acontecimento que ocorre de forma frequente, embora seja te com queixa de dispnéia, geralmente de início súbito, associada
ele um evento que requer cuidados minuciosos é imprescindível. à tosse e a sinais de liberação adrenérgica (taquicardia, palidez
Segundo Marsella (2012), as principais patologias que determinam cutânea, sudorese fria, hipertensão e ansiedade). Sinais de esfor-
o EAP são: Isquemia miocárdica aguda (com ou sem infarto prévio), ço da musculatura inspiratória, com uso dos músculos acessórios
hipertensão arterial sistêmica, doença valvar, doença miocárdica da respiração, tiragem intercostal e batimento de asas de nariz.
primária, cardiopatias congênitas e arritmias cardíacas, principal- Taquipnéia e expiração forçada, inclusive com presença de respira-
mente as de frequência muito elevada. ção abdominal. Ausculta pulmonar variada, podendo-se encontrar,
Sallum (2013) salienta que a causa mais comum do EAP é in- mais comumente, estertores inspiratórios e expiratórios de médias
suficiência ventricular esquerda, onde há uma incapacidade desta e grossas bolhas. Também é comum o encontro de murmúrio vesi-
cavidade em bombear o sangue para fora do coração. Esta pode cular mais rude, com roncos e sibilos. Outros achados que podem
ocorrer por diversos motivos, entre eles estão à hipertensão arte- ajudar a definir etiologia do EAP são: presença de dor torácica com-
rial, doenças das válvulas cardíacas, doenças do músculo cardíaco, patível com insuficiência coronariana, galope cardíaco (B3 e/ou B4),
arritmias cardíacas e distúrbios da condução elétrica do coração, sopros cardíacos e deslocamento da posição do ictus cardíaco (sinal
entre outras doenças cardíacas. Sendo que em algumas situações, a de aumento da área cardíaca) (MASELLA, 2012).
infusão excessiva de líquidos, pode acarretar um quadro de edema
agudo de pulmão. ACHADOS DIAGNÓSTICOS
A formação de edema nos pulmões ocorre do mesmo modo
que em outras partes do corpo. Qualquer fator que faça com que a Através da ausculta pulmonar revela-se presença de estertores
pressão do líquido intersticial pulmonar passe de negativa para po- nas bases pulmonares, que progridem para os ápices dos pulmões,
sitiva, provoca uma súbita inundação dos espaços intersticiais e dos sendo estes causados pela movimentação de ar através do líqui-
alvéolos, com grande quantidade de líquido livre, tendo como cau- do alveolar. Pode ocorrer de o paciente apresentar taquicardia, e
sas mais comuns a insuficiência cardíaca esquerda ou doença valvu- queda nos valores da oximetria de pulso, e quando analisada a ga-
lar mitral com consequente aumento na pressão capilar pulmonar e sometria verifica-se o agravamento da hipoxemia (BRUNNER &SU-
inundação dos espaços intersticiais e alveolares. Também a lesão da DDARTH, 2009).
membrana dos capilares pulmonares, causada por infecções como
pneumonias ou pela inalação de substâncias nocivas como os gases TRATAMENTO
cloro ou dióxido de enxofre, acarreta a rápida saída de líquido e
de proteínas plasmáticas de dentro dos capilares. (GUYTON, 2006). Consiste de medidas medicamentosas como a oxigenioterapia
para melhora da saturação de oxigênio, de diuréticos (como a furo-
semida) que é fundamental na redução da pré-carga, opióides (sen-
do o mais utilizado a morfina) sendo de extrema eficácia na redução
do retorno venoso e na diminuição no consumo de oxigênio pelo
miocárdio, vasodilatador coronariano (dobutamina normalmente é
a droga de escolha) pelo efeito inotrópico positivo, vasodilatador

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

venoso e arterial (como o nitroprussiato de sódio) oferece rápida Uma vez iniciado o processo lesivo vascular, surge um ciclo vi-
e segura redução da pressão arterial, e medidas mecânicas como a cioso com secreção de substâncias vasoconstritoras e vasotóxicas,
ventilação mecânica invasiva e não invasiva e a intubação (SALLUM como o TNFa, que perpetuam o processo.
E PARANHOS, 2013).
Porém Carvalho (2008), demonstra que o tratamento de EAP Sintomas e sinais de alerta na crise hipertensiva
busca diminuir a pressão de preenchimento ventricular e melhorar
o fornecimento de oxigênio, baseando-se na administração de ni- Neurológicos: Relaxamento da Consciência, Sinais Focais (loca-
tratos, diuréticos e oxigênio. lizatórios), Cefaleia Súbita Intensa, Presença de Sinais Meníngeos e
Alterações agudas no fundo do olho;
CUIDADOS DE ENFERMAGEM Cardiológicos: Dor Torácica Isquêmica, Dor Torácica Intensa,
Congestão Pulmonar e Presença de 3ª Bulha;
Conforme Sallum e Paranhos (2013) as ações de enfermagem Renais: Presença de edema recente, diminuição do volume uri-
incluem organização e provimento de recursos materiais e huma- nário, hematúria, proteinúria e elevação dos níveis de creatinina;
nos, mas também descrevem outros cuidados como: Na abordagem do paciente hipertenso grave na emergência
médica é necessária uma história e um exame físico direcionados,
Posicionar o paciente sentado, elevando a cabeceira a 60° ou porém acurados na busca da presença de lesão de órgão-alvo, par-
90° deixando os membros inferiores pendentes, assim reduzindo ticularmente na busca de sintomas e sinais de alerta, são cruciais
retorno venoso e propiciando máxima expansão pulmonar; para a segurança do paciente e para a boa prática clínica; a história
Posicionar em Fowler alto. deve investigar as características dos sintomas do paciente. Muitos
Instalar máscara facial de oxigênio com reservatório, selecio- pacientes apresentam-se na emergência apenas após a constata-
nando um fluxo de 10 L/min; ção da elevação dos níveis pressóricos em uma medida rotineira de
pressão arterial.
Aspirar às secreções se necessário para manter as vias aéreas
O exame físico deve incluir a pesquisa da presença de sinais
permeáveis;
de irritação meníngea, fundo de olho para buscar edema de papi-
la, hemorragias e exsudatos; o exame neurológico deve procurar a
5) suporte de vida em situações de crise hipertensiva;
presença de rebaixamento de nível de consciência, confusão men-
tal ou agitação psicomotora, presença de sinais neurológicos focais,
Crise Hipertensiva é uma condição clínica caracterizada por particularmente os sinais deficitários; a ausculta cardíaca deve bus-
elevação aguda ou crônica da PA (Níveis de Pressão Diastólica su- car a presença de 3ª ou 4ª bulha e sopro de insuficiência aórtica; a
perior a 130 mmHg) em associação ou não com manifestações de ausculta pulmonar deve procurar a presença de sinais de congestão
comprometimento de órgãos-alvo (cardiovasculares, neurológicas pulmonar; o exame físico deve incluir, ainda, a palpação da aorta
e renais). As manifestações clínicas das crises hipertensivas depen- abdominal e a pesquisa de pulsos periféricos, incluindo o pulso ca-
dem do grau de disfunção dos órgãos-alvo. Os níveis pressóricos rotídeo.
absolutos podem não ter importância, mas sim a velocidade de ele- É importante avaliar a presença de deterioração da função re-
vação que esta ocorreu. nal, buscando a presença de edema, diminuição de volume urinário
Pacientes com hipertensão de longa data podem tolerar pres- e hematúria; em pacientes com pressão arterial diastólica superior
sões sistólicas de 200 mm Hg e diastólicas superiores a 150 mm a 130 mmHg, impõe-se a dosagem de creatinina sérica e a análise
Hg, entretanto crianças ou gestantes podem desenvolver encefa- urinária para pesquisar a presença de hematúria e proteinúria; a
lopatia com pressões diastólicas de 100 mm Hg. Cerca de 10 a 20% estratificação de risco desses pacientes está na confirmação ou na
da população adulta em nosso país apresenta Hipertensão Arterial exclusão de existência de lesão aguda (em curso) de um órgão-alvo.
Sistêmica; estudos mostram que emergências hipertensivas ocor- Caso não seja possível excluir a existência de lesão, deve-se assumir
rem em menos de 1% dos pacientes hipertensos, esses pacientes a presença de lesão aguda e tratar conforme o órgão lesado.
desenvolverão um ou mais episódio de emergência hipertensiva.
O mecanismo responsável pela elevação da PA não é clara- A Crise Hipertensiva é dividida em urgência hipertensiva e
mente conhecido, no entanto, elevações dos níveis de renina, adre- emergência hipertensiva:
nomodulina e peptídeo atrial natriurético foram encontrados em • Urgência Hipertensiva: não existe o comprometimento ins-
alguns pacientes com emergências hipertensivas. Uma elevação talado dos órgãos-alvo (coração, artérias, cérebro e rins). Após a
súbita da PA secundária a um aumento da resistência vascular peri- avaliação médica o paciente geralmente recebe medicações por via
férica parece estar envolvida nos momentos iniciais; o fumo, possi- oral ou sublingual e é tratado ambulatorialmente e em domicílio; o
velmente mediando lesão endotelial, é um antigo suspeito de estar controle da Pressão Arterial é feito em até 24 horas;
• Emergência Hipertensiva: existe o comprometimento insta-
envolvido na gênese das emergências hipertensivas (fumantes têm
lado e iminente dos órgãos-alvo (coração, artérias, cérebro e rins);
5x mais chances de desenvolver hipertensão maligna); fatores ge-
após a avaliação médica é indicado tratamento hospitalar em CTI’s
néticos e imunológicos também podem ter papel importante.
e administração de vasodilatadores endovenosos. Essa crise é
Os pacientes portadores de feocromocitoma ou hipertensão
acompanhada por sinais que indicam as lesões nos órgãos-alvo, tais
renovascular apresentam uma incidência de elevações abruptas de como: encefalopatia hipertensiva, edema agudo de pulmão, aci-
pressão arterial mais alta do que o esperado para outras causas de dente vascular encefálico, infarto agudo do miocárdio ou dissecção
hipertensão arterial. Alguns autores acreditam que a ativação do aguda da aorta, nestes casos há o risco iminente de morte;
sistema renina-angiotensina esteja envolvida no desenvolvimento
das emergências hipertensivas, assim a redução do volume circu- Segundo Uenishi (1994), os principais cuidados de enferma-
lante causada, entre outros motivos, pela ação de diuréticos de alça gem no tratamento das crises hipertensivas são:
– como a furosemida – pode estar associada a elevações abruptas • Manter o paciente em ambiente calmo e tranquilo;
de pressão arterial e à lesão endotelial dos quadros de emergência • Puncionar veia periférica;
hipertensiva. • Monitorizar adequadamente (PA, ECG e Débito Urinário);

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

• Instalar medicação prescrita anti-hipertensiva em bombas de 6) suporte de vida em situações de infarto agudo do miocár-
infusão; dio;
• Para pacientes com infusão intravenosa de vasodilatadores,
obter parâmetros de sinais vitais a cada cinco minutos até a redu- As doenças cardiovasculares (DCV) atualmente estão entre as
ção desejada da pressão arterial. principais causas de morbidade, incapacidade e morte no Brasil e
no mundo, sendo responsáveis por 39% das mortes registradas em
Um dos principais medicamentos vasodilatadores utilizados 2008. Os gastos com estes pacientes totalizaram 1,2 milhões em
nas emergências hipertensivas é o nitroprussiato de sódio, que é 2009 e, com envelhecimento da população e mudança dos hábitos
um potente vasodilatador. Sua ação é semelhante ao nitrito, que de vida, a prevalência desta doença tende a aumentar ainda mais
atua diretamente sobre o músculo liso dos vasos sanguíneos, pro- futuramente (BRASIL, 2008). A Organização Pan-americana de Saú-
vavelmente por causa da porção nitrosa. O metabolismo inicial do de (OPAS) reconhece a necessidade de uma ação integrada contra
nitroprussiato envolve a liberação não enzimática de cianogênio, o as Doenças cardíacas e irá propor aos países membros que estabe-
qual é rapidamente convertido em tiocinato, por meio de uma ação leçam a meta global de reduzir a taxa de mortalidade por esta em
catalisadora por enzima hepática. 20% na década de 2011-2020 em relação à década precedente. En-
Embora essa reação seja irreversível, o tiocinato pode ser de tre as causas de morte e hospitalização, destacam-se as síndromes
forma lenta convertido em cianeto pela ação de uma tiocinato oxi- coronarianas agudas (SCA), incluindo o infarto agudo do miocárdio
dase presente nos eritrócitos. (GUERRA et al.,1988). Muitos dos (IAM) e a angina instável (AI) (ESCOSTEGUY et al., 2005). Em situa-
efeitos tóxicos que se observam durante o uso do nitroprussiato são ções de emergências, ao admitir um paciente grave, o enfermeiro
notados em envenenamento por cianeto e tem sido sugerido que é o profissional que realizará a triagem em serviço de emergência,
esse último composto seria responsável pelos efeitos tóxicos pelo cabe a ele avaliar o paciente, determinar as necessidades de prio-
uso prolongado da droga em pacientes. O início da ação do nitro- ridade e encaminhá-lo para a área de tratamento. Sendo assim, o
prussiato de sódio é imediato e persiste enquanto perdura a infusão enfermeiro é o profissional da equipe de emergência a ter o primei-
da droga, atua tanto nos vasos de capacitância como nos vasos de ro contato com o paciente, cabendo-lhe o papel de orientador nos
resistência. Produz redução muito rápida nas pressões arterial e ve- procedimentos que serão prestados.
nosa central e um aumento moderado na frequência cardíaca.
Também é potente vasodilatador cerebral, causando aumento Importância dos atendimentos de emergência
da pressão intracraniana responsável pela cefaleia pulsátil experi-
mentada por alguns pacientes. Os vasos da retina podem relaxar-se A emergência é uma propriedade que uma dada situação as-
e aumentar a pressão intraocular, o que favorece a crise aguda do sume quando um conjunto de circunstâncias a modifica. A assis-
glaucoma. O nitroprussiato de sódio é indicado nas crises hiperten- tência em situações de emergência e urgência se caracteriza pela
sivas e também é útil para produzir hipotensão em alguns procedi- necessidade de um paciente ser atendido em um curtíssimo espa-
mentos cirúrgicos, assim como para diminuir a resistência periférica ço de tempo. A emergência é caracterizada como sendo a situação
em pacientes com infarto do miocárdio, ocasionando melhora no onde não pode haver uma protelação no atendimento, o mesmo
desempenho cardíaco, que é acompanhado pelo aumento do volu- deve ser imediato (CINTRA, 2003). Ressalta este autor, que neces-
me urinário e excreção de sódio. sidade da formação do enfermeiro em atuação nas unidades emer-
A toxidade aguda do Nitroprussiato é secundária à vasodila- genciais apresenta a importância dos procedimentos teóricos que
tação excessiva e à hipotensão. Podem ocorrer náuseas, vômitos, aprendemos como enfermeiros que o socorro nos momentos após
sudorese, agitação, cefaleia, palpitação, apressão subesternal e sín- um acidente, principalmente as duas primeiras horas são os mais
cope, devido ao deslocamento da massa sanguínea para as áreas importantes para se garantir a recuperação ou a sobrevivência das
esplênicas e periféricas, com possível hipóxia cerebral. pessoas feridas.
Os casos de urgência se caracterizam pela necessidade de tra-
.Os principais cuidados de enfermagem na administração desta tamento especifico, o paciente será encaminhado para a especiali-
medicação são: dade necessária, ortopedia, cirurgia geral, neurologia e clínica mé-
• Preparo e diluição da medicação conforme padronização e/ dica. Neste caso o risco de vida é pouco provável. Quanto à atenção
ou prescrição médica (geralmente é diluído em 250 ml de solução hospitalar às vítimas de acidentes e violências reúne-se de forma
fisiológica ou glicose 5%); complexa a estrutura física, a disponibilidade de insumos, o aporte
• Controle rigoroso de gotejamento, instalar preferencialmente tecnológico e os recursos humanos especializados para intervir nas
em bomba de infusão e verificar continuamente a infusão correta situações de emergência decorrentes dos acidentes e violências.
do medicamento; As emergências são as principais portas de entrada desses pacien-
• Controle da pressão arterial do paciente (algumas bibliogra- tes no hospital; considerando a gravidade das lesões, a assistência
fias indicam controle a cada cinco minutos, outras a cada 15 a 30 demandará ações de diferentes serviços e poderá exigir um tempo
minutos. É importante seguir as orientações do enfermeiro na ob- considerável de internação, acarretando um custo elevado.
servação e aferição da pressão arterial, uma vez que nas primeiras Os autores Tacsi e Vendruscolo (2004) consideram que o en-
horas de infusão da medicação será necessária a verificação em in- fermeiro no setor de emergência deve adotar estilos de liderança
tervalos menores e/ou conforme a apresentação de sinais e sinto- participativa e compartilhar e/ou delegar funções. São as principais
mas no paciente); o mais indicado é que o paciente esteja monito- habilidades, para o gerenciamento da assistência: a comunicação, o
rizado com monitor multiparâmetros, que verifica constantemente ao paciente, em casos de emergência, seja direcionado, planejado
o pulso, pressão arterial e oximetria; e livre de quaisquer danos.
Observação: todos os sinais e resultados obtidos devem obri- O Infarto do Miocárdio Segundo Lima (2007), o termo infarto
gatoriamente ser anotados no prontuário do paciente, bem como designa a necrose do miocárdio que se instala secundariamente à
os horários de instalação da medicação e possíveis mudanças em interrupção aguda do fornecimento de sangue através das coroná-
gotejamentos, conforme a orientação médica. rias. A destruição do músculo do coração é motivada, geralmente,
por depósitos de placas de ateroma nas artérias coronárias.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Desse modo, essas placas nada mais são do que o amontoado a realização de suas ações sistemática na sequência que devem ser
de células no interior dos vasos sanguíneos. Lesões dos próprios executado. O enfermeiro, por meio de seus cuidados, é um profis-
vasos, assim como depósitos de gordura que vão desenvolvendo-se sional essencial na assistência e recuperação da saúde da vítima de
com o tempo, constituem-se verdadeiras “rolhas” no interior das IAM (BRANDÃO, 2003).
artérias do coração. O infarto do miocárdio está mais repetidamen- O atendimento de emergência nas Unidades Hospitalares tem
te unido a uma causa mecânica, ou seja, suspensão do fluxo sanguí- importante papel na recuperação e manutenção da saúde do indi-
neo para uma área específica por causa da obstrução total parcial víduo. Recuperar a saúde e mantê-la se estabelece com uma assis-
da artéria coronária responsável por sua irrigação. A dimensão da tência à saúde de qualidade e equipe multidisciplinar voltada para
necrose depende de muitos fatores que possam ter ocorrido tais o indivíduo como um todo na sua integralidade, atentando para as-
como o tamanho da artéria lesada, tempo de desenvolvimento da pectos que envolvem a atuação eficaz, eficiente, rápida e com bom
obstrução e desenvolvimento da circulação colateral (CHIAVENATO, conhecimento clínico e científico. A atuação do enfermeiro encaixa-
2010). -se naquela equipe supracitada e é primordial para os serviços de
O infarto significa a morte de uma parte do músculo cardía- saúde no tocante à promoção à saúde dos clientes/pacientes que
co (miocárdio), por falta de oxigênio e irrigação sanguínea. A oxi- são assistidos em serviços de Urgência e Emergência.
genação necessária ao funcionamento do coração sucede por um
conjunto de vasos sanguíneos, as chamadas artérias coronárias. 7. suporte de vida em situações de acidente vascular encefá-
Quando uma dessas artérias que irrigam o coração impede o abas- lico;
tecimento de sangue e oxigênio ao músculo, redundando em um
processo de destruição irreversível, podem ocasionar parada car- As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) constituem a
díaca (morte súbita), morte tardia ou insuficiência cardíaca com sé- primeira causa de mortalidade na população mundial (CRUZ, 2015).
rias limitações de atividades físicas (TEIXEIRA, 2010). São responsáveis por um elevado número de mortes prematuras,
Os pacientes que passam por um infarto, são comumente do diminuição da qualidade de vida e impactos socioe¬conômicos, en-
sexo masculino, pois são mais facilmente vulneráveis que as mulhe- volvendo a taxa de mortalidade, os custos do tratamento, déficit
res. Isso porque, acredita-se que as mulheres possuam uma eficácia motor e redução cognitiva dos pacientes (STONE, 2013; MALTA et
protetora que é a produção de hormônios (estrógeno), tanto que al., 2015).
após a menopausa, pela falta de produção desse hormônio, a cir- As DCNT incluem neoplasias, doenças respiratórias crônicas,
cunstância de infarto na mulher cresce de sobremaneira (SILVEIRA, diabetes mellitus e doenças do aparelho circulatório. O Acidente
2006). Vascular Encefálico (AVE) é classificado nesta última, sendo um dis-
O infarto do miocárdio pode também ocorrer em pessoas que túrbio neurológico no qual ocorre perda da função ence¬fálica em
têm as artérias coronárias normais. Isso acontece quando as co- decorrência da ruptura do aporte sanguíneo para uma região do
ronárias apresentam um espasmo, contraindose violentamente e encéfalo com instalação súbita de causa vascular (CARNEIRO et al.,
também produzindo um déficit parcial ou total de oferecimento de 2015; OLIVEIRA et al., 2016).
sangue ao músculo cardíaco irrigado pelo vaso contraído (MALVES- O AVE é mais frequente após os 60 anos, sendo responsável por
TIO, 2002). 847.694 interna¬ções hospitalares no Brasil nos últimos cinco anos,
por 27,6% (234.326) na região Nordeste do país e 0,46% (3.969) em
Segundo o autor acima os sinais e sintomas do IAM: Sergipe (BRASIL, 2016). Nos anos de 2012, 2013 e 2014 corres¬pon-
• Dor intensa e prolongada no peito; deu a 249.470 óbitos no Brasil, 28,5% (71.279) na região Nordeste e
• Dor que se irradia do peito para os ombros, pescoço ou bra- 1,02% (2.565) em Sergipe (BRASIL, 2016). Dos sobreviventes, cerca
ços; de 50% necessitam de cuidados espe¬ciais e auxílios para desenvol-
• Dor prolongada na “boca do estômago”; vimento de suas atividades em longo prazo (CRUZ, 2015).
• Desconforto no tórax e sensação de enfraquecimento;
• Respiração curta mesmo no estado de repouso; O Ministério da Saúde (MS), baseado na linha do cuidado do
• Sentir tonteira; AVC, instituída pela Portaria MS/GM nº 665 de 12 de abril de 2012,
• Náusea, vômito e intensa sudorese; instituiu o Manual de rotinas de atenção ao AVE, o qual tem como
• Ataques de dor no peito que não são causados por exercício objetivo apresentar protocolos, escalas e orientações aos profissio-
físico. nais de saúde no manejo clínico ao paciente acometido pela do-
ença, garan¬tindo assistência de qualidade nos serviços de saúde
Contudo, há de ser levado em consideração que existem em nacionais (BRASIL, 2013).
muitos indivíduos um componente genético importante na susce- A utilização de protocolos institucionais pré-definidos de aten-
tibilidade individual para o desenvolvimento da arteriosclerose, dimento a pa¬cientes com AVE requer a participação de uma equipe
embora sua natureza até o momento não seja entendida, essa sus- multidisciplinar. Nesta, o en¬fermeiro está inserido como respon-
cetibilidade genética pode interferir nas características bioquímicas sável direto na assistência prestada, permitindo o reconhecimento
e fisiológicas, acelerando o processo da doença. Esse componente precoce de sinais e sintomas sugestivos da doença e uma conduta
genético é definido como herança genética ou características não diagnóstica ou terapêutica de forma segura (MONTEIRO, 2015).
modificáveis.
A assistência da equipe de enfermagem no atendimento à ví- Em estudo realizado por Donnellan, Sweetman e Shelley
tima de infarto agudo do miocárdio O enfermeiro tem um papel (2013a), no qual foi avaliada a implementação de diretrizes nacio-
importante na assistência, tem sido discutido políticas e estratégias nais de AVE, foi observado que o instru¬mento consiste em um
de saúde em relação a doenças cardiovasculares, para que a en- conjunto de orientações específicas à conduta terapêutica, con-
fermagem atue na promoção e recuperação da saúde através de templando o que, quem, quando, onde e como a assistência deve
intervenções as quais objetiva alcançar os resultados esperados, es- ser realizada, porém ressalta que deverá ser adaptado ao uso no
tabelecendo protocolos que consiste em passos a serem dados para ambiente clínico.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os resultados encontrados por Oostema e outros autores A escassez de neurologistas prontamente disponíveis em servi-
(2014) dão suporte às afirmativas da literatura. Os autores obser- ços hospitalares dos Estados Unidos favoreceu o desenvolvimento
varam que a eficiência dos cuidados hos¬pitalares aos pacientes de práticas avançadas de enferma¬ gem. Estas práticas evidencia-
esteve relacionada à utilização das recomendações das dire¬trizes das pelo autor contemplam a atuação dos enfermeiros na identifi-
nacionais, visto que proporcionou chegada em cena precoce, ava- cação, tomada de decisão de tratamento e gestão contínua de pa-
liação mais rápida, utilização aumentada da terapia trombolítica e cientes com AVE (BRETHOUR, 2012).
a tempos de porta-agulha re¬duzidos para a administração trom- Em estudo de Blomberg e colaboradores (2014) foi avaliado o
bolítica. nível de con¬cordância entre enfermeiros e médicos na condução
Ao ser admitido no serviço de emergência, o paciente deve ser clínica do AVE, evidenciando similaridade entre os profissionais de
avaliado com base em protocolos que definem as principais ma- 78% na decisão de monitorização e intervenção precoce e 74% na
nifestações clínicas da doença e indicam o melhor tratamento no realização da Tomografia Computadorizada (TC) de crânio, porém
melhor tempo resposta, reduzindo as complicações provenientes os enfermeiros apresentaram nível de precisão em 84%.
do AVE e melhorando o prognóstico do paciente (SANDER, 2013). Bergman e outros autores (2012) defendem que os enfermei-
Blomberg e outros autores (2014) constataram que a utiliza- ros devem ser ca¬pacitados para reconhecer as manifestações clíni-
ção de algoritmo específico no atendimento pré-hospitalar (APH) cas de um AVE, visto que esses pro¬fissionais, na maioria das vezes,
permitiu uma alta precisão no diag¬nóstico do AVE e eficácia na são responsáveis pelo acolhimento e avaliação pri¬mária desses
corrente de sobrevivência. Destacaram a utilização de intervenções pacientes no serviço de urgência. O reconhecimento precoce e es-
específicas, incluindo suporte de oxigênio, inserção de cateteres ve- colha da terapêutica adequada são fatores positivos para o prog-
no¬sos periféricos, exame neurológico e reação pupilar, transporte nóstico do paciente.
imediato com elevada prioridade médica e comunicação precoce à Yang e outros autores (2015), ao questionarem 331 enfermei-
instituição que receberá o paciente. ros e médicos sobre a capacidade de reconhecimento de um AVE,
As diretrizes da Associação Americana de AVE recomendam 48% referiram aptidão para reconhecer e gerenciar a situação. Em
que a avaliação e o diagnóstico rápidos dos pacientes devem pro- seu estudo, Adelman e colaboradores (2014), ao entrevis¬tarem
porcionar um tempo de porta-agulha não superior a 60 minutos 875 enfermeiros sobre os sinais de alerta para o AVE, evidenciaram
(BRETHOUR, 2012). Associado a isto, o autor evidenciou que a ad- que 87% dos entrevistados reconheceram dois ou mais sinais da
ministração do t-PA dentro das primeiras 3 horas do início do qua- doença.
dro em uma dose de 0,9 mg/kg proporciona melhora na perfusão Conforme afirmam Barcelos e outros autores (2016), as limi-
cerebral e reduz significati¬vamente a incapacidade sem aumento tações físicas e cog¬nitivas impostas pelo AVE são agravantes que
no risco de morte do paciente. podem interferir durante a realização dos cuidados pelo enfermeiro
As princiais dificuldades para implementação de protocolos aos pacientes. Por este motivo, o profissional deve ser capacitado
são: falta de adesão pela equipe multiprofissional, conhecimento para atuar diante das dificuldades que podem surgir durante a as-
deficiente, ausência de estrutura física no ambiente de assistência sistência, utilizando estratégias de cuidado que visem proporcionar
e falta de investimento em equipamentos e tecnologia avançada uma comunicação tera-pêutica efetiva.
(FRANGIONE-EDFORT, 2014). Souza e outros autores (2014) evidenciaram em estudo a im-
Moura e Casulari (2015) defendem que o uso de protocolos no portância da comu¬nicação verbal e não verbal entre o enfermeiro
atendimento ao paciente com AVE melhora o atendimento signi- e o paciente afásico, a fim de manter uma relação de confiança. No
ficativamente. Corroborando com a afirmativa, Donnellan, Sweet- estudo, os enfermeiros relataram usar os gestos (100%), comunica-
man e Shelley (2013b) afirmam que a adesão aos proto¬colos é as- ção verbal (33,3%), comunicação escrita (29,6%) e toque (18,5%).
sociada a desfechos favoráveis no tratamento ao AVE, aumentando Nesta pers¬pectiva, é essencial que o enfermeiro esteja preparado
a sobre¬vida e reduzindo os custos hospitalares. para realizar uma comunicação terapêutica efetiva, com o objetivo
de prestar assistência adequada e de qualidade.
Atuação do enfermeiro no manejo do AVE
8) suporte de vida em situações de estados de choque;
Durante o período de permanência em internação hospitalar,
o paciente acometido por AVE recebe a assistência de uma equipe
multidisciplinar que desenvolve ações com o objetivo de melhorar
o estado de saúde e consequente alta hospitalar. O enfermeiro,
du¬rante o seu turno de trabalho, é o profissional que possui maior
contato com o paciente, sendo responsável pela maior parte dos
cuidados e procedimentos (SOUZA et al., 2014).
No processo de cuidado ao paciente com AVE, o enfermeiro
deve atuar com o objetivo de minimizar as sequelas provenientes
da doença, além de desenvolver uma assistência com foco no esta-
do físico, espiritual e mental. Para isso, esse profissional deve iden-
tificar as principais necessidades do paciente, elaborar um plano de
cuida¬dos individualizado e garantir que o mesmo seja implemen-
tado de maneira eficaz (BARCELOS et al., 2016).
Hinkle (2014) destaca que estes profissionais devem realizar e
registrar um exame físico eficiente pactuado na escala de AVE dos
Institutos Nacionais de Saúde (NIHSS). Afirma ainda que este ins-
trumento deva ser empregado continuamente na fase aguda do
AVEi, em pacientes pós-AVEh ou com suspeita de Ataque Isquêmico
Transitório (AIT) a fim de identificar o estado neurológico, avaliar
eficácia do trata¬mento e prever um desfecho para conduta clínica.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Tipos de choque 9) suporte de vida em situações de parada cardiorrespiratória;


- Hipovolêmico – depleção do volume intravascular efetivo. Parada cardiorrespiratória (PCR) consiste na cessação de ativi-
- Cardiogênico – falha primária da função cardíaca. dades do coração, da circulação e da respiração, reconhecida pela
- Distributivo – alterações do tônus/permeabilidade vascular. ausência de pulso ou sinais de circulação, estando o paciente in-
- Obstrutivo – obstrução mecânica ao enchimento do coração. consciente (SILVA; ARAÚJO E ALMEIDA, 2017). Para Nasser e Barbie-
ri (2015), a parada cardiopulmonar ou parada cardiorrespiratória
O paciente em estado de choque exige atenção total da equi- (PCR) é definida como a ausência de atividade mecânica cardíaca,
pe médica, devido ao risco iminente de morte. Em casos assim, a que é confirmada por ausência de pulso detectável, ausência de
intervenção deve ser imediata. Isso porque o tempo de ação e de responsividade e apneia ou respiração agônica, ofegante.
resposta exerce influência direta na recuperação do paciente. Já para Zanini, Nascimento e Barra (2006), a PCR é definida
O procedimento vai na contramão da premissa básica da enfer- como o súbito cessar da atividade miocárdica ventricular útil, asso-
magem, que preza sempre a prevenção primária. No atendimento ciada à ausência de respiração. Como podemos observar diferentes
ao estado de choque, entretanto, o profissional é impelido a agir autores se comunicam com a mesma definição para PCR, utilizam
rapidamente, a fim de evitar danos estruturais ao enfermo. palavras diferentes com mesmos significados. De acordo com Silva
Caracterizado por uma síndrome que ocasiona a redução da (2004) arada cardiorrespiratória (PCR) é a cessação súbita e inespe-
perfusão tecidual sistêmica, o choque leva o corpo a uma disfunção rada das funções cardíaca e respiratória. Também pode ser descrita
orgânica. Os órgãos deixam de receber suporte, podendo entrar em como a inadequação do débito cardíaco que resulta em um volume
falência. sistólico insuficiente para a perfusão tecidual decorrente da inter-
Nesse cenário, a atuação da enfermagem tem papel funda- rupção súbita da atividade mecânica ventricular .
mental, sendo importante desde a assistência emergencial até a Para Guimarães (2005) a RCP é o conjunto de procedimentos
execução do plano de cuidados. destinados a manter a circulação de sangue oxigenado ao cérebro
e a outros órgãos vitais, permitindo a manutenção transitória das
A abordagem do enfermeiro inclui, pelo menos, sete procedi-
funções sistêmicas até que o retorno da circulação espontânea pos-
mentos:
sibilite o restabelecimento da homeostase. A PCR ocorre com maior
- Controlar a glicemia capilar
frequência em UTI, uma vez que essas unidades assistem pacien-
- Verificar o monitor multiparamêtrico
- Coletar exames laboratoriais tes gravemente enfermos. Os profissionais de Enfermagem devem
- Realizar oxigenoterapia estar aptos para reconhecer quando um paciente está em PCR ou
- Verificar a dor e realizar o controle prestes a desenvolver uma.
- Determinar o decúbito, sempre de acordo com o tipo de cho- A avaliação do paciente não deve levar mais de 10 segundos
que (hipovolêmico, cardiogênico e circulatório) (ZANINI; NASCIMENTO E BARRA, 2006). Vários estudos têm de-
- Realizar acesso venoso calibroso monstrado que quanto menor o tempo entre a parada cardiorres-
piratória e o atendimento, maior a chance de sobrevida da vítima
No choque hipovolêmico, que é o tipo mais frequente, há uma (GOMES et al., 2005 apud MADEIRA E GUEDES, 2010).
diminuição no volume intravascular. O problema pode ser ocasio-
nado pela perda de líquido externa ou, ainda, por deslocamento de Para que o Suporte Básico de Vida (SBV) seja concretizado com
líquidos internos. Aqui, os objetivos da enfermagem no tratamento eficiência é necessário o reconhecimento rápido e a realização das mano-
concentram-se em três etapas: bras de Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP), utilizando de compressões
- Restaurar o volume intravascular torácicas de boa qualidade (SILVA; ARAÚJO E ALMEIDA, 2017).
- Redistribuir o volume de líquidos corporais Com o objetivo de reverter este colapso foi desenvolvido o mé-
- Reparar a causa originária da perda de líquido ao lado da equi- todo de Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) que refere-se à ten-
pe médica tão logo for possível. tativas de recuperar a circulação espontânea, sendo sua aplicação
universal (o que independe da causa base da PCR), com atualiza-
Para restaurar a saúde do paciente, a atuação da enfermagem ções protocolares sistemáticas (SILVA; ARAÚJO E ALMEIDA, 2017).
consiste em avaliação sistemática do paciente, seja monitorando os A reanimação cardiopulmonar (RCP) é definida como o conjun-
índices glicêmicos ou realizando exames periodicamente. O enfer- to de manobras realizadas após uma PCR com o objetivo de manter
meiro é, ainda, o profissional que executa o tratamento prescrito, artificialmente o fluxo arterial ao cérebro e a outros órgãos vitais,
monitora o paciente e o protege de eventuais complicações. até que ocorra o retorno da circulação espontânea (RCE) (NASSER
Ao longo da rotina, o profissional deve conservar a atuação E BARBIERI, 2015). Para Madeira e Guedes (2010), a reanimação
humanizada, que considera a questão emocional como parte inte- cardiorrespiratória cerebral é definida pelo conjunto de medidas
grante do processo de cuidar. Vale ressaltar que a assistência da
diagnósticas e terapêuticas que tem o objetivo de reverter a parada
enfermagem não se resume à saúde física.
cardiorrespiratória. A RCP tem por finalidade fazer com que o cora-
A atuação do enfermeiro no estado de choque deve ser capaz
ção e o pulmão voltem a funcionar de acordo com seu padrão de
de promover o bem-estar integral do paciente. Além disso, a apro-
normalidade, e por ser entendida como um conjunto de manobras
ximação com o enfermo potencializa o próprio tratamento, propi-
ciando controle e monitorização constantes. destinadas a garantir a oxigenação para todos os órgãos e tecidos,
principalmente ao coração e cérebro.
O enfermeiro é vital nos esforços para reanimar um paciente,
sendo ele, frequentemente, quem avalia primeiro o paciente e ini-
cia as manobras de RCP e aciona a equipe (ARAÚJO et al., 2012).
Cabe ao enfermeiro e sua equipe assistir esses pacientes, oferecen-
do circulação e ventilação até a chegada da assistência médica, para
tanto esses profissionais devem adquirir habilidades para prestar
adequadamente a assistência necessária.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A enfermagem tem papel extremamente importante no atendimento à PCR, evento em que são imprescindíveis a organização, o
equilíbrio emocional, o conhecimento teóricoprático da equipe, bem como a correta distribuição das funções por parte destes profissio-
nais, que representam, muitas vezes, a maior parte da equipe nos atendimentos de RCP (SILVA, 2006). Silva (2006) relata que na maioria
das vezes, o enfermeiro é o membro da equipe de saúde que primeiro se depara com o paciente/cliente em situação de PCR, devendo,
portanto estar preparado para concentrar esforços e atuar nos acontecimentos que precedem o evento da PCR, e consequentemente, na
sua identificação precoce, no seu atendimento e nos cuidados pós-reanimação.
Para Silva (2017), se a manobra não for realizada corretamente, poderá haver uma necrose nos tecidos musculares do coração, a dimi-
nuição ou ausência de oxigenação no cérebro, levando assim o paciente a óbito ou até lesões irreversíveis cerebrais.

Segundo a American Heart Association 2015, o atendimento à PCR em Suporte Básico de Vida (SBV), compreende:
Um conjunto de técnicas sequenciais caracterizadas por compressões torácicas, abertura das vias aéreas, respiração artificial e des-
fibrilação ao considerar a PCR como uma emergência clínica, na qual o objetivo do tratamento consiste em preservar a vida, restabelecer
a saúde, aliviar o sofrimento e diminuir incapacidades, o atendimento deve ser realizado por equipe competente, qualificada e apta para
realizar tal tarefa. Neste contexto destaca-se a figura do enfermeiro, profissional muitas vezes responsável por reconhecer a PCR, iniciar
o SBV.
De acordo com as novas recomendações da American Heart Association o correto é que os socorristas aplique uma frequência mínima
de 100 a 120 compressões torácicas por minutos (AHA, 2015). Sendo este um fator determinante do retorno da circulação espontânea.
Desta forma, a pesquisa tem o intuito de identificar a frequência com que os profissionais se atualizam quanto as novas recomendações
da AHA em relação a PCR e aos métodos de RCP, contribuindo para a formulação de estratégias eficazes de incentivos a capacitação em
saúde aos profissionais enfermeiros.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

10) suporte de vida em situações de intoxicações exógenas;

Intoxicação é o prejuízo causado em sistemas orgânicos (nervoso, respiratório, cardiovascular, etc.) devido à absorção de alguma subs-
tância nociva. “Todas as coisas são venenosas, é a dose que transforma algo em veneno”. (Paracelso, século XVI)
• A maior parte das intoxicações ocorre na faixa-etária de 1 – 4 anos.
• Adultos – medicamentos e drogas lícitas/ilícitas.

Conduta:

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

• Estado geral
• ABCDE
• Sinais Vitais
• Anamnese – 5 Ws (Quem, o que, onde, quando, por que?)
• Antídoto
• Diluição?
• Êmese
• Lavagem Gástrica

Diluição:

Imediatamente
- Álcalis
- Ácidos fracos
- Hidrocarbonetos

Nunca
- Ácidos concentrados
- Substâncias cáusticas
- Inconsciência
- Reflexo da deglutição diminuído
- Depressão respiratória
- Dor abdominal

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Lavagem Gástrica:
• Recém-Nascido: 500 ml
• Lactentes: 2 a 3 litros
• Pré-Escolares: 4 a 5 litros
• Escolares: 5 a 6 litros
• Adultos: 6 a 10 litros.

Solução utilizada: Soro Fisiológico a 0,9%.


• Volume por Vez
Crianças: 5ml/Kg •Adultos: 250ml.

Carvão ativado
• Crianças < 12 anos = 1g/kg
• Adultos até 1g/kg
• Dose de ataque = 50 a 60g em 250ml SF
• Manutenção = 0,5g/kg – 4 a 6h

Monóxido de Carbono
• Gás inodoro
• Incolor.
• Tem de 200 a 300 vezes mais afinidade pela hemoglobina que o oxigênio.
• Satura a hemoglobina, impede a chegada de oxigênio em nível celular.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Conduta: Atendimento Pré Hospitalar


• Retirar do ambiente nocivo
• O2 em alta concentração O intervalo de tempo entre o acidente e o atendimento é
- O2 a 100% diminui a meia vida da COHb em cerca de 4 vezes descrito como estar relacionado diretamente com a gravidade e
em pressão atmosférica normal - Câmara hiperbárica a 3 atm dimi- prognóstico do acidente . O acidente ofídico apresenta maior pre-
nui a meia vida da COHb em cerca de 13 vezes. valência de complicações entre os tipos de acidentes peçonhentos,
dependendo do quadro do paciente, pode evoluir com complica-
Meia vida da COHb = 5 horas ções como, necrose tecidual, síndrome compartimental, insuficiên-
cia renal aguda, choque. Estudo realizado por Ribeiro et al. (1998).
11) suporte de vida em situações de acidente ofídico. Ao analisar os óbitos evidenciou que foram pacientes atendidos
mais tardiamente. A soroterapia é o único tratamento indicado para
Acidente por animais por animais peçonhentos é considerado neutralizar a ação dos venenos dos animais peçonhentos, o soro
um problema de saúde pública em países tropicais. O aumento do contém anticorpos específicos para cada tipo de acidente. Quando
número de notificações tem sido registrado pelo Sistema de Infor- aplicados corretamente e em tempo hábil pode evitar e até reverter
mação de Agravos de Notificação (SINAN). Animais peçonhentos a maioria dos efeitos dos envenenamentos por esses animais. No
são descritos pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farma- atendimento dessa urgência clínica tem que ser realizada a manu-
cológicos (SINTOX) como o segundo maior agente de intoxicação tenção dos dados vitais e manobras de suporte básico. Os cuidados
humana no Brasil, suplantado apenas por medicamentos1 . Animais
gerais do local da ferida são recomendados. Sendo a reposição hi-
peçonhentos são caracterizados como aqueles que possuem glân-
droeletrolítica, monitorização e observação da função neurológica
dulas produtoras de veneno ou substância tóxica e um aparelho
imprescindível em casos graves. A antibioticoterapia não é usual,
especializado utilizado na inoculação do veneno. Dessa forma, no
mas pode ser utilizada em acidentes botrópico ou laquético com
mundo existem cerca de 100.000 espécies peçonhentas. Sendo que
no Brasil os animais peçonhentos mais comuns são escorpiões, ara- presença de necrose extensa, podendo por optar por penicilina G
nhas, abelhas, arraias, serpentes e vespas. O atendimento médico ou Oxacilina. O atendimento deve incluir a avaliação cardiorrespi-
pré-hospitalar foi criado devido ao aumento exacerbado de enfer- ratória e identificação de fatores de risco, reconhecendo precoce-
midades relacionados a situações de urgência e emergência, com o mente a gravidade e agir de forma rápida para garantir a sobrevida.
objetivo de uma intervenção precoce Concluímos que o intervalo de tempo entre o acidente por ani-
mal peçonhento e o atendimento de um acidente é um fator re-
lacionado a gravidade e prognóstico. Dessa forma, medidas como
A atenção primária às urgências e emergências era considera- a soroterapia devem ser instituídas o mais precoce possível. No
da um problema para o SUS, devido a isso, em 2000 foi instituída a atendimento pré-hospitalar pode ser realizado a monitorização dos
Política Nacional de Atendimento às Urgências (PNAU), tendo como dados vitais, classificação da gravidade, medidas gerais da ferida,
componente o Serviço Móvel de Urgência (SAMU) que foi instituído identificação do tipo de acidente e principalmente a administração
pela portaria n. 1.863/03 sendo posteriormente fonte da portaria precoce da soroterapia para uma melhor sobrevida. Os acidentes
1.864/0. Os pilares da PNAU foram fundamentados na promoção da por animais ofídicos apresentam maiores taxas de casos com o in-
qualidade de vida, operação de centrais de regulação, capacitação tervalo mais longo entre o acidente e o atendimento, esse tipo de
e educação continuada, humanização da atenção e organização em acidente também foi o que mais apresentou classificação de gravi-
rede. As intoxicações representam grande volume dos atendimen- dade com taxa moderada e grave. Dessa forma, com o tratamento
tos da emergência tanto de adultos quanto pediátricos. instituído no atendimento préhospitalar móvel pode proporcionar
Os acidentes por animais peçonhentos também são descritos menor taxa do intervalo entre o acidente e o atendimento e, con-
como acidentes domésticos em que crianças constituem a parce- sequentemente, menores índice de notificações de classificação de
la da população mais acometida de acordo com Mota e Andrade gravidade moderada e grave. Maiores estudos são necessários para
(2014). Pacientes que sofreram acidentes por animais peçonhentos avaliar a significância dessa relação e se zonas rurais e urbanas in-
devem ser atendidos por unidade especializada em urgência clínica fluenciam no tempo entre o acidente e o atendimento.
devido à necessidade de rapidez para neutralização das toxinas ino-
culadas durante o acidente e introdução de medidas de sustentação Atuação do Enfermeiro no atendimento pré-hospitalar.
das condições. O tempo decorrido entre o acidente e o atendimen-
to médico é condicionante para a recuperação das vítimas e deter-
O atendimento pré-hospitalar (APH) é destinado às vítimas de
mina a evolução para um quadro mais leve ou mais grave.. Ainda
trauma, violência urbana, mal súbito e distúrbios psiquiátricos. Visa
há um déficit em relação à presença de um perfil nacional confiável
estabilizar o paciente de forma eficaz, rápida e com equipe prepa-
devido ao grande número de subnotificações. Dessa forma, a admi-
nistração da soroterapia é necessária ser realizada o mais precoce rada para atuar em qualquer ambiente e remover o paciente para
possível. Para que isso ocorra é imprescindível o conhecimento da uma unidade hospitalar.
forma de identificação do animal peçonhento principalmente pelos Em 2002, tendo em vista o crescimento da demanda por ser-
profissionais de atendimento préhospitalar móvel, que tem o con- viços de urgência e emergência e ao real aumento do número de
tato mais precoce com esse paciente. acidentes e da violência urbana, o Ministério da Saúde aprovou
a regulamentação técnica dos sistemas estaduais de Urgência e
Emergência, por meio da Portaria 2048, ratificando que esta área
constitui-se em um importante componente da assistência à saúde.
No ano seguinte, a Portaria1864/GM deu início à implantação do
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU-192) nas mo-
dalidades suporte básico e avançado de vida, atuação desenvolvi-
da em todo o território brasileiro pelos Estados em parceria com o
Ministério da Saúde e as Secretarias Municipais de Saúde. A Enfer-

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

magem ainda conta com a Resolução Cofen 375/2011, que dispõe Como acontece o chamado do APH?
sobre a presença do enfermeiro no Atendimento Pré-Hospitalar e O fluxo basicamente parte do solicitante, que liga para uma
Inter-Hospitalar, em situações de risco conhecido ou desconhecido. central (192 ou 193) contando o motivo e descrevendo a localização
No Brasil, o APH envolve o Corpo de Bombeiros, o SAMU (Ser- do atendimento a ser prestado. No momento do contato com a cen-
viço de Atendimento Móvel de Urgência) e também as empresas tral segue-se um questionário de perguntas necessárias para enviar
particulares. A enfermagem participa em todas essas vertentes e o recurso mais indicado. Simultaneamente, um médico poderá ini-
como em qualquer outra área do cuidar, deve estar alicerçada em ciar uma conversar com o solicitante, em paralelo ao serviço indica-
conhecimento, capacitação técnica e humanização. do estar a caminho do atendimento. A primeira equipe a chegar ao
A enfermeira Adriana Mandelli Garcia tem em seu currículo a local posiciona a central sobre a atual realidade e as necessidades
experiência em atendimento a vítimas de urgências clínicas e trau- para o bom andamento (seja para a suspensão de luz no local, por
máticas. Em mais de uma década de atuação no APH, é ela quem exemplo, ou uma solicitação de policiamento ou mesmo de trânsi-
nos relata nessa entrevista a atividade prestada pela enfermagem, to). A partir daí, inicia-se o atendimento da vítima determinando à
a importância da equipe nas ruas e os avanços neste serviço. Hoje, central qual o recurso necessário, se hospital primário ou terciário,
Adriana Mandelli é enfermeira do Corpo de Bombeiros do Estado de acordo com a condição e necessidade da mesma.
de São Paulo e também é gerente de Enfermagem da BEM Emer-
gências Médicas, estando diariamente no serviço público e privado “A primeira equipe a chegar ao local posiciona a central sobre a
do APH. atual realidade e as necessidades para o bom andamento”

No que consiste o serviço de atendimento pré-hospitalar Como é dividido o atendimento?


(APH)? Básico e avançado. O atendimento básico envolve as mano-
O nome pré-hospitalar caracteriza-se pelo atendimento à víti- bras/técnicas iniciais de atendimento necessárias e fundamentais
ma antes da mesma chegar ao hospital, podendo ser em locais ha- até que se determine a necessidade ou não de acessar o paciente
bitados normalmente (ruas, residências, comércios etc.), locais de com maior “invasão”, seja ela intubação, acesso venoso, adminis-
difícil acesso como buracos, galerias fluviais, escombros e outros, tração de drogas e outras que se fazem necessárias para um bom
além do atendimento aquático; logicamente, para isso, a equipe prognóstico. Todos os estados brasileiros deveriam proporcionar à
requer treinamento. Nestes locais iniciamos a prestação do serviço população as duas opções, porém a realidade atual não é esta. Qual
de saúde básico ou avançado. Após estabilização, a vítima é encami-
serviço será enviado ao local de atendimento é determinado no
nhada para o hospital por meio do melhor recurso disponível, entre
momento da triagem, diante da gravidade da situação e o número
eles ambulância, helicóptero ou lancha.
de vítimas envolvidas. Assim, feita a triagem, determina-se o me-
lhor recurso a ser enviado, se o básico ou o avançado.
Quais as principais atribuições do enfermeiro que atua nesta
área?
Existe um protocolo nacional de atendimento?
A atribuição do enfermeiro dependerá da unidade em que ele
O Brasil segue é o modelo americano, criado em 1990 por re-
estiver atuando, porém, para que os internautas do Portal tenham
presentantes da American Heart Association (AHA), da European
uma ideia do que o enfermeiro desenvolve na área de APH, apre-
Resuscitation Council (ERC), da Heart and Stroke Foundation of Ca-
sento algumas atribuições da minha vivência.
- Supervisionar e avaliar as ações de enfermagem da equipe no nada (HSFC) e da Australian Resuscitation Council (ARC). Ele nasceu
atendimento Pré-Hospitalar Móvel; da necessidade de se criar nomenclatura na ressuscitação e pela
- Prestar cuidados de enfermagem de qualquer complexidade falta de padronização de linguagem nos relatórios relativos à pa-
técnica a pacientes com ou sem risco de vida, que exijam conhe- rada cardíaca em adultos em ambiente extra-hospitalar. Em 1992,
cimentos científicos adequados e capacidade de tomar decisões durante a conferência internacional “Resuscitation 92”, Brighton, na
imediatas; Inglaterra, propôs-se uma cooperação internacional contínua por
- Ministrar treinamento e/ou participar dos programas de trei- meio de um comitê de ligação permanente, multidisciplinar, para
namento e aprimoramento de pessoal de saúde em urgências e diretrizes na área. Assim, ficou determinado que o “LS” life support
emergências; seria a maneira de disseminar e padronizar os atendimentos no
- Fazer controle de qualidade do serviço nos aspectos direcio- APH. Nos dias atuais são esses protocolos que vigoram pelas Amé-
nados a pessoas e equipamentos inerentes à profissão, estabele- ricas e Europa, claro que cada local com suas peculiaridades. No
cendo e controlando indicadores. Brasil, em 1976, o médico Ari Timerman despertou interesse sobre
ressuscitação e teve acesso aos protocolos da AHA. Logo depois,
Dentro da área de APH, quais os segmentos possíveis de atua- John Cook Lane trouxe ao Brasil os primeiros cursos de ressuscita-
ção do profissional de enfermagem? ção e publicou os primeiros livros na língua portuguesa. Em segui-
O mercado de trabalho está cada vez mais diversificado e ele da, os cursos começaram a ser ministrados no Brasil em parceria
pode atuar em transporte aéreo, terrestre - que são os mais co- com o Hospital Albert Einstein. Os protocolos estão disponíveis para
muns - além de estádio esportivo, shopping center, academia, re- acesso no site da AHA - www.heart.org .
sort, parque de diversões, grupo de turismo de aventura com raf-
ting, arvorismo, escaladas, além de comunidades desenvolvendo Como é realizado o registro de Enfermagem dos atendimen-
o treinamento da pessoa leiga que gostaria de ser treinada para tos prestados?
iniciar o atendimento de uma vítima, até mesmo em companhias Ao final do atendimento o registro deve ser feito por todos os
aéreas para desenvolvimento da equipes de voo. Ressalto ainda a profissionais envolvidos no caso. Durante a entrega do paciente,
importância da presença do APH em eventos futebolísticos. A Lei orienta-se colher assinatura do profissional que dará continuidade
10671/03, conhecida como Estatuto do Torcedor, determina a pre- ao atendimento à vítima. Este prontuário deve ser preenchido em
sença de dois enfermeiros e um médico presentes no local de jogo duas vias, no mínimo, permitindo que uma fique para a instituição
a cada dez mil torcedores. de APH e a segunda via siga para o destino do paciente.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Com relação aos pertences do paciente, vale acrescentar que Eles são desenvolvidos em vários sítios de treinamento e na
documentos, dinheiro, joias etc. deverão ser relacionados e trans- sua maioria em grandes hospitais como o Albert Einstein, Sírio Li-
feridos a um familiar ou à enfermagem que irá receber o paciente. banês, HCor, em São Paulo, por exemplo, e em universidades como
No momento do socorro o enfermeiro é o responsável em cuidar Anhembi Morumbi e outras instituições que se vincularam a AHA,
dos pertences do paciente e esse “rol de valores” deve ser feito por pois é ela quem controla a qualidade dos cursos. O Funcor, por
duas pessoas, o profissional da enfermagem e uma testemunha. exemplo, que é credenciado na AHA, oferece esses cursos.

Como deve ser composta uma unidade de APH? Quais são as dificuldades vivenciadas pelo serviço?
O mínimo que a unidade deve ter é o que está previsto na Elas se iniciam, em algumas vezes, no próprio endereço da ví-
Portaria 2048/2002 do Ministério da Saúde, e serve para todas as tima, devido ao crescimento descontrolado, prejudicando o plane-
modalidades, o que difere é a tipo de ambulância que determina o jamento viário e, consequentemente, retardando a chegada do so-
que a mesma deve conter, sendo Ambulância de Transporte (Tipo corro no endereço. Outra dificuldade é o acesso à vítima em locais
A), Ambulância de Suporte Básico (Tipo B), Ambulância de Resgate inóspitos, onde lançamos mão de equipamentos para salvamento
(Tipo C), Ambulância de Suporte Avançado (Tipo D), Aeronave de em altura ou água, ou mesmo necessitamos ter um condicionamen-
Transporte Médico (Tipo E), Embarcação de Transporte (Tipo F). to físico para transpor as barreiras encontradas. No destino final do
Porém, existem peculiaridades tanto no perfil de pacientes que paciente, encontramos dificuldades no treinamento das equipes,
atendemos como em inovações da indústria farmacológica, de ma- disponibilidades de leitos e recebimento adequado do paciente.
teriais em saúde e tecnologias que facilitam as técnicas aplicadas
e garantem maior segurança para ambos os lados, agregando na O que de novidade e inovação está surgindo direcionado ao
atendimento de emergência?
eficácia e no sucesso do atendimento.
As máscaras laríngeas são dispositivos que agregam no aten-
dimento, o DEA (desfibrilador externo automático) está cada vez
Como você iniciou a sua atividade profissional e por que par-
mais sedimentado no mercado, e as drogas, como a vasopressina,
tiu para esta especialização?
que têm um efeito espetacular na parada cardiorrespiratória, além
A formação de enfermeira foi praticamente uma escolha dos de materiais hemostáticos e dispositivos tecnológicos que facilitam
meus pais. Realizei teste de aptidão e também segui a opinião de- a comunicação.
les. Finalizei a graduação ainda muito nova e iniciei na área hospi-
talar. Certa vez, fui com minha mãe em uma consulta médica e no Como é a relação e a atuação da equipe de atendimento pré-
meio da consulta, o médico deixou de nos atender e iniciou o so- -hospitalar e intra-hospitalar?
corro a uma paciente de parada cardiorrespiratória. Como a equipe Infelizmente, não é muito boa. Os motivos são diversos, e de
estava um tanto atrapalhada, eu me ofereci para ajudar. Coinciden- ambos os lados. Creio que o maior ‘tendão de Aquiles’ seja a lota-
temente, a paciente voltou a viver. Eu me senti extremamente satis- ção dos hospitais públicos e falta de mão-de-obra para atender toda
feita e surpresa, pois eu ainda não havia passado por esta situação. a demanda. Acredito que melhor remuneração, redução da jornada
Decidi, aí, que queria atuar em pronto-socorro. Fui em busca do e melhores condições de trabalho no serviço público são fatores
meu desejo. Após alguns anos nesta atividade, percebi que eu que- que podem, e muito, contribuir para um atendimento público de
ria mais do que esperar, eu queria chegar na pior situação em que maior qualidade e melhor entrosamento entre os serviços.
um indivíduo possa estar. Conclui mestrado na USP voltado para
parada cardiorrespiratória e busquei, incansavelmente, o concurso Os riscos ocupacionais estão muito presentes no cotidiano in-
do GRAU (vinculado ao Corpo de Bombeiros), cujo trabalho faço tra e extra-hospitalar. Como evitar possíveis riscos no APH?
há oito anos. Além disso, também atuo junto à BEM Emergências Quanto aos riscos, realmente são muitos. As instituições de-
Médicas há 13 anos. senvolvem treinamentos relacionados e orientações formais, além,
“percebi que eu queria mais do que esperar, eu queria chegar é claro, da entrega do equipamento quando o mesmo é individual.
na pior situação em que um indivíduo possa estar” As medidas de segurança na saúde estão contempladas na NR-32,
e em situações específicas, como salvamento na água, devemos
Como está a especialização em Emergência atualmente no contar com equipamentos próprios de segurança, como apito, boia,
Brasil? Você considera esta uma área promissora? corda etc. Outro exemplo, para salvamento em altura, é necessário
As universidades estão evoluindo e este tema atualmente é de- contar com mosquetões, cordas, fita, baudrier(cadeirinha), descen-
senvolvido em sua maioria. Existem já muitos cursos lato sensu de sor etc.
especialização na área. Inclusive os enfermeiros já se mobilizaram e
Após um resgate, é necessário reposição do material, limpeza
criaram uma associação específica que se chama COBEEM – Colégio
e higienização do veículo. Como se dá este processo?
Brasileiro de Enfermagem em Emergência, da qual fui presidente.
Esse processo geralmente tem início no hospital de destino
Noto que aumentou a procura pelo campo de estágio nesta área e
do paciente. Ele é executado pela equipe da ambulância. A repo-
há muitos profissionais que se identificam com a atuação no APH. O sição é necessária e fundamental para que o veículo esteja no QRV
Brasil tem se adaptado rotineiramente aos protocolos americanos, (linguagem de rádio que caracteriza que a equipe está pronta para
temos legislação aplicável, relativamente atualizada, e órgãos de próximo atendimento). A limpeza geralmente é realizada pela en-
fiscalizações atuantes neste mercado. fermagem, porém o motorista e o médico muitas vezes colaboram.
A técnica utilizada é a mesma praticada em hospitais e os produtos
Quais são os principais cursos que enfermeiros e técnicos em também são os mesmos. Nós seguimos o procedimento conforme
Enfermagem devem ter em seus currículos? Portaria 2048 do Ministério da Saúde, que diz:
Os cursos para enfermeiros mais recomendados para APH e
conhecidos pela sua qualidade são os LS (life support): BLS (basic
life support), ACLS (Advanced life support), PHTLS (pré-hospital life
support) e PALS (pediatric advanced life support).

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Limpeza e desinfecção da Ambulância CAPÍTULO I


DAS DISPOSIÇÕES INICIAIS
Limpeza
a) Remover todos os materiais utilizados no atendimento ao Seção I
paciente; Objetivo
b) Desprezar gazes, ataduras úmidas e contaminadas com san-
gue e/ou outros fluídos corporais em sacos plásticos branco, des- Art. 2º Esta Resolução possui o objetivo de estabelecer padrões
cartando o mesmo no lixo hospitalar; mínimos para o funcionamento das Unidades de Terapia Intensiva,
c) Materiais perfurocortante eventualmente utilizados devem visando à redução de riscos aos pacientes, visitantes, profissionais
ser desprezados em recipiente adequado; e meio ambiente.
d) Sangue e demais fluídos devem ser cobertos com uma ca-
mada de organoclorado em pó, removendo-se, após 10 minutos de Seção II
contato, com papel toalha; Abrangência
e) Lavar as superfícies internas com água e sabão neutro ini-
ciando sempre pelo teto, indo para as paredes, mobílias e piso, da Art. 3º Esta Resolução se aplica a todas as Unidades de Terapia
frente do compartimento de transporte de pacientes em direção à Intensiva gerais do país, sejam públicas, privadas ou filantrópicas;
porta traseira. civis ou militares.
Parágrafo único. Na ausência de Resolução específica, as UTI
Desinfecção especializadas devem atender os requisitos mínimos dispostos nes-
a) Friccionar, por três vezes, álcool etílico 70% nas superfícies te Regulamento, acrescentando recursos humanos e materiais que
não sujeitas à corrosão, exceto superfícies acrílicas ou envernizadas, se fizerem necessários para atender, com segurança, os pacientes
ou utilizar outro produto disponível para a completa desinfecção; que necessitam de cuidados especializados.
b) Periodicamente a cada sete dias realizar uma limpeza e des-
contaminação mais ampla; Seção III
c) Quando efetuar o transporte de pacientes com doenças in- Definições
fectocontagiosas (Aids, hepatite, Tuberculose, Meningites etc) re-
alizar, obrigatoriamente, a completa desinfecção da ambulância, Art. 4º Para efeito desta Resolução, são adotadas as seguintes
materiais e equipamentos utilizados. definições:
I – Alvará de Licenciamento Sanitário: documento expedido
Quais competências devem ter os profissionais que estão co- pelo órgão sanitário competente Estadual, do Distrito Federal ou
meçando a atuar em APH? Municipal, que libera o funcionamento dos estabelecimentos que exer-
Eles devem ter competências de aspecto cognitivo, técnico, so- çam atividades sob regime de Vigilância Sanitária.
cial e afetivo necessários para a execução desta atividade, além de II – Área crítica: área na qual existe risco aumentado para desen-
equilíbrio emocional e autocontrole para atuar frente aos desafios. volvimento de infecções relacionadas à assistência à saúde, seja pela
O enfermeiro, principalmente, para liderar uma equipe em APH, execução de processos envolvendo artigos críticos ou material bioló-
em minha opinião, deve ser participativo, presente e flexível, mas gico, pela realização de procedimentos invasivos ou pela presença de
não perder o foco dos resultados qualitativos e quantitativos, bem pacientes com susceptibilidade aumentada aos agentes infecciosos ou
como utilizar criatividade para inovar e se atualizar. portadores de microrganismos de importância epidemiológica.
III – Centro de Terapia Intensiva (CTI): o agrupamento, numa
c. Assistência de Enfermagem em Unidades de Terapia Inten- mesma área física, de mais de uma Unidade de Terapia Intensiva.
siva. IV – Comissão de Controle de Infecção Hospitalar – CCIH: de
acordo com o definido pela Portaria GM/MS nº 2616, de 12 de maio
RESOLUÇÃO ANVISA Nº 7, DE 24 DE FEVEREIRO DE 2010 de 1998.
DOU 25.02.2010 V – Educação continuada em estabelecimento de saúde: pro-
cesso de permanente aquisição de informações pelo trabalhador,
Dispõe sobre os requisitos mínimos para funcionamento de de todo e qualquer conhecimento obtido formalmente, no âmbito
Unidades de Terapia Intensiva e dá outras providências. institucional ou fora dele.
A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitá- VI – Evento adverso: qualquer ocorrência inesperada e indese-
ria, no uso da atribuição que lhe confere o inciso IV do Art.11 do Re- jável, associado ao uso de produtos submetidos ao controle e fisca-
gulamento aprovado pelo Decreto nº 3.029, de 16 de abril de 1999, lização sanitária, sem necessariamente possuir uma relação causal
e tendo em vista o disposto no inciso II e nos §§ 1º e 3º do Art. 54 com a intervenção.
do Regimento Interno aprovado nos termos do Anexo I da Portaria VII – Gerenciamento de risco: é a tomada de decisões relativas
nº 354 da ANVISA, de 11 de agosto de 2006, republicada no D.O.U., aos riscos ou a ação para a redução das conseqüências ou probabi-
de 21 de agosto de 2006, em reunião realizada em 22 de fevereiro lidade de ocorrência.
de 2010; adota a seguinte Resolução da Diretoria Colegiada e eu, VIII – Hospital: estabelecimento de saúde dotado de interna-
Diretor-Presidente, determino sua publicação: ção, meios diagnósticos e terapêuticos, com o objetivo de prestar
assistência médica curativa e de reabilitação, podendo dispor de
Art. 1º Ficam aprovados os requisitos mínimos para funciona- atividades de prevenção, assistência ambulatorial, atendimento de
mento de Unidades de Terapia Intensiva, nos termos desta Resolu- urgência/emergência e de ensino/pesquisa.
ção.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

IX – Humanização da atenção à saúde: valorização da dimen- XXV – Teste Laboratorial Remoto (TRL): Teste realizado por
são subjetiva e social, em todas as práticas de atenção e de gestão meio de um equipamento laboratorial situado fisicamente fora da
da saúde, fortalecendo o compromisso com os direitos do cidadão, área de um laboratório clínico. Também chamado Teste Laboratorial
destacando-se o respeito às questões de gênero, etnia, raça, reli- Portátil – TLP, do inglês Point-of-care testing – POCT. São exemplos
gião, cultura, orientação sexual e às populações específicas. de TLR: glicemia capilar, hemogasometria, eletrólitos sanguíneos,
X – Índice de gravidade ou Índice prognóstico: valor que reflete marcadores de injúria miocárdia, testes de coagulação automatiza-
o grau de disfunção orgânica de um paciente. dos, e outros de natureza similar.
XI – Médico diarista/rotineiro: profissional médico, legalmente XXVI – Unidade de Terapia Intensiva (UTI): área crítica destina-
habilitado, responsável pela garantia da continuidade do plano as- da à internação de pacientes graves, que requerem atenção pro-
sistencial e pelo acompanhamento diário de cada paciente. fissional especializada de forma contínua, materiais específicos e
XII – Médico plantonista: profissional médico, legalmente habi- tecnologias necessárias ao diagnóstico, monitorização e terapia.
litado, com atuação em regime de plantões. XXVII – Unidade de Terapia Intensiva – Adulto (UTI-A): UTI des-
XIII – Microrganismos multirresistentes: microrganismos, pre- tinada à assistência de pacientes com idade igual ou superior a 18
dominantemente bactérias, que são resistentes a uma ou mais anos, podendo admitir pacientes de 15 a 17 anos, se definido nas
classes de agentes amtimicrobianos. Apesar das denominações de normas da instituição.
alguns microrganismos descreverem resistência a apenas algum XXVIII – Unidade de Terapia Intensiva Especializada: UTI des-
agente (exemplo MRSA – Staphylococcus aureus resistente à Oxaci- tinada à assistência a pacientes selecionados por tipo de doença
lina; VRE – Enterococo Resistente à Vancomicina), esses patógenos ou intervenção, como cardiopatas, neurológicos, cirúrgicos, entre
frequentemente são resistentes à maioria dos agentes antimicro- outras.
bianos disponíveis. XXIX – Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI-N): UTI des-
XIV – Microrganismos de importância clínico-epidemiológica: tinada à assistência a pacientes admitidos com idade entre 0 e 28
outros microrganismos definidos pelas CCIH como prioritários para dias.
monitoramento, prevenção e controle, com base no perfil da mi- XXX – Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTI-P): UTI des-
crobiota nosocomial e na morbi-mortalidade associada a tais mi- tinada à assistência a pacientes com idade de 29 dias a 14 ou 18
crorganismos. Esta definição independe do seu perfil de resistência anos, sendo este limite definido de acordo com as rotinas da ins-
aos antimicrobianos. tituição.
XV – Norma: preceito, regra; aquilo que se estabelece como XXXI – Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica Mista (UTIPm):
base a ser seguida. UTI destinada à assistência a pacientes recém-nascidos e pediátri-
XVI – Paciente grave: paciente com comprometimento de um cos numa mesma sala, porém havendo separação física entre os
ou mais dos principais sistemas fisiológicos, com perda de sua auto- ambientes de UTI Pediátrica e UTI Neonatal.
regulação, necessitando de assistência contínua.
XVII – Produtos e estabelecimentos submetidos ao controle e CAPÍTULO II
fiscalização sanitária: bens, produtos e estabelecimentos que envol- DAS DISPOSIÇÕES COMUNS A TODAS
vam risco à saúde pública, descritos no Art.8º da Lei nº. 9782, de 26 AS UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA
de janeiro de 1999.
XVIII – Produtos para saúde: são aqueles enquadrados como Seção I
produto médico ou produto para diagnóstico de uso “in vitro”. Organização
XIX – Queixa técnica: qualquer notificação de suspeita de al-
Art. 5º A Unidade de Terapia Intensiva deve estar localizada em
teração ou irregularidade de um produto ou empresa relacionada
um hospital regularizado junto ao órgão de vigilância sanitária mu-
a aspectos técnicos ou legais, e que poderá ou não causar dano à
nicipal ou estadual.
saúde individual e coletiva.
Parágrafo único. A regularização perante o órgão de vigilância
XX – Regularização junto ao órgão sanitário competente: com-
sanitária local se dá mediante a emissão e renovação de alvará de
provação que determinado produto ou serviço submetido ao con-
licenciamento sanitário, salvo exceções previstas em lei, e é condi-
trole e fiscalização sanitária obedece à legislação sanitária vigente.
cionada ao cumprimento das disposições especificadas nesta Reso-
XXI – Risco: combinação da probabilidade de ocorrência de um lução e outras normas sanitárias vigentes.
dano e a gravidade de tal dano. Art. 6º O hospital no qual a Unidade de Terapia Intensiva está
XXII – Rotina: compreende a descrição dos passos dados para localizada deve estar cadastrado e manter atualizadas as informa-
a realização de uma atividade ou operação, envolvendo, geralmen- ções referentes a esta Unidade no Cadastro Nacional de Estabeleci-
te, mais de um agente. Favorece o planejamento e racionalização mentos de Saúde (CNES).
da atividade, evitam improvisações, na medida em que definem Art. 7º A direção do hospital onde a UTI está inserida deve ga-
com antecedência os agentes que serão envolvidos, propiciando- rantir:
-lhes treinar suas ações, desta forma eliminando ou minimizando I – o provimento dos recursos humanos e materiais necessá-
os erros. Permite a continuidade das ações desenvolvidas, além de rios ao funcionamento da unidade e à continuidade da atenção, em
fornecer subsídios para a avaliação de cada uma em particular. As conformidade com as disposições desta RDC;
rotinas são peculiares a cada local. II – a segurança e a proteção de pacientes, profissionais e visi-
XXIII – Sistema de Classificação de Necessidades de Cuidados tantes, inclusive fornecendo equipamentos de proteção individual
de Enfermagem: índice de carga de trabalho que auxilia a avaliação e coletiva.
quantitativa e qualitativa dos recursos humanos de enfermagem Art. 8º A unidade deve dispor de registro das normas institucio-
necessários para o cuidado. nais e das rotinas dos procedimentos assistenciais e administrativos
XXIV – Sistema de Classificação de Severidade da Doença: sis- realizados na unidade, as quais devem ser:
tema que permite auxiliar na identificação de pacientes graves por I – elaboradas em conjunto com os setores envolvidos na assis-
meio de indicadores e índices de gravidade calculados a partir de tência ao paciente grave, no que for pertinente, em especial com a
dados colhidos dos pacientes. Comissão de Controle de Infecção Hospitalar.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

II – aprovadas e assinadas pelo Responsável Técnico e pelos co- III - Enfermeiros assistenciais: no mínimo 01 (um) para cada 10
ordenadores de enfermagem e de fisioterapia; (dez) leitos ou fração, em cada turno; (Redação dada pela Resolu-
III – revisadas anualmente ou sempre que houver a incorpora- ção - RDC nº 26, de 11 de maio de 2012)
ção de novas tecnologias; IV – Fisioterapeutas: no mínimo 01 (um) para cada 10 (dez) lei-
IV – disponibilizadas para todos os profissionais da unidade. tos ou fração, nos turnos matutino, vespertino e noturno, perfazen-
Art. 9º A unidade deve dispor de registro das normas institucio- do um total de 18 horas diárias de atuação;
nais e das rotinas relacionadas a biossegurança, contemplando, no V - Técnicos de enfermagem: no mínimo 01 (um) para cada 02
mínimo, os seguintes itens: (dois) leitos em cada turno; (Redação dada pela Resolução - RDC nº
I – condutas de segurança biológica, química, física, ocupacio- 26, de 11 de maio de 2012)
nal e ambiental; VI – Auxiliares administrativos: no mínimo 01 (um) exclusivo
II – instruções de uso para os equipamentos de proteção indivi- da unidade;
dual (EPI) e de proteção coletiva (EPC); VII – Funcionários exclusivos para serviço de limpeza da unida-
III – procedimentos em caso de acidentes; de, em cada turno.
IV – manuseio e transporte de material e amostra biológica. Art. 15 Médicos plantonistas, enfermeiros assistenciais, fisio-
terapeutas e técnicos de enfermagem devem estar disponíveis em
Seção II tempo integral para assistência aos pacientes internados na UTI,
Infraestrutura Física durante o horário em que estão escalados para atuação na UTI.
Art. 16 Todos os profissionais da UTI devem estar imunizados
Art. 10 Devem ser seguidos os requisitos estabelecidos na RDC/ contra tétano, difteria, hepatite B e outros imunobiológicos, de
Anvisa n. 50, de 21 de fevereiro de 2002. acordo com a NR 32. Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços
Parágrafo único. A infraestrutura deve contribuir para manu- de Saúde estabelecida pela Portaria MTE/GM n.º 485, de 11 de no-
tenção da privacidade do paciente, sem, contudo, interferir na sua vembro de 2005.
monitorização. Art. 17 A equipe da UTI deve participar de um programa de
Art. 11 As Unidades de Terapia Intensiva Adulto, Pediátricas e educação continuada, contemplando, no mínimo:
Neonatais devem ocupar salas distintas e exclusivas. I – normas e rotinas técnicas desenvolvidas na unidade;
§ 1º Caso essas unidades sejam contíguas, os ambientes de II – incorporação de novas tecnologias;
apoio podem ser compartilhados entre si. III – gerenciamento dos riscos inerentes às atividades desenvol-
§ 2º Nas UTI Pediátricas Mistas deve haver uma separação físi- vidas na unidade e segurança de pacientes e profissionais.
ca entre os ambientes de UTI Pediátrica e UTI Neonatal.
IV – prevenção e controle de infecções relacionadas à assistên-
cia à saúde.
Seção III
§ 1º As atividades de educação continuada devem estar regis-
Recursos Humanos
tradas, com data, carga horária e lista de participantes.
§ 2º Ao serem admitidos à UTI, os profissionais devem receber
Art. 12 As atribuições e as responsabilidades de todos os pro-
capacitação para atuar na unidade.
fissionais que atuam na unidade devem estar formalmente desig-
nadas, descritas e divulgadas aos profissionais que atuam na UTI.
Art. 13 Deve ser formalmente designado um Responsável Téc- Seção IV
nico médico, um enfermeiro coordenador da equipe de enferma- Acesso a Recursos Assistenciais
gem e um fisioterapeuta coordenador da equipe de fisioterapia,
assim como seus respectivos substitutos. Art. 18 Devem ser garantidos, por meios próprios ou terceiriza-
§ 1º O Responsável Técnico médico, os coordenadores de en- dos, os seguintes serviços à beira do leito:
fermagem e de fisioterapia devem ter título de especialista, con- I – assistência nutricional;
forme estabelecido pelos respectivos conselhos de classe e asso- II – terapia nutricional (enteral e parenteral);
ciações reconhecidas por estes para este fim. (Redação dada pela III – assistência farmacêutica;
Resolução – RDC nº 137, de 8 de fevereiro de 2017) IV – assistência fonoaudiológica;
§ 2º (Revogado pela Resolução – RDC nº 137, de 8 de fevereiro V – assistência psicológica;
de 2017) VI – assistência odontológica;
§ 3º É permitido assumir responsabilidade técnica ou coorde- VII – assistência social;
nação em, no máximo, 02 (duas) UTI. VIII – assistência clínica vascular;
IX – assistência de terapia ocupacional para UTI Adulto e Pedi-
Art. 14 Além do disposto no Artigo 13 desta RDC, deve ser de- átrica
signada uma equipe multiprofissional, legalmente habilitada, a qual X – assistência clínica cardiovascular, com especialidade pediá-
deve ser dimensionada, quantitativa e qualitativamente, de acordo trica nas UTI Pediátricas e Neonatais;
com o perfil assistencial, a demanda da unidade e legislação vigen- XI – assistência clínica neurológica;
te, contendo, para atuação exclusiva na unidade, no mínimo, os se- XII – assistência clínica ortopédica;
guintes profissionais: XIII – assistência clínica urológica;
I – Médico diarista/rotineiro: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos XIV – assistência clínica gastroenterológica;
ou fração, nos turnos matutino e vespertino, com título de especia- XV – assistência clínica nefrológica, incluindo hemodiálise;
lista em Medicina Intensiva para atuação em UTI Adulto; habilitação XVI – assistência clínica hematológica;
em Medicina Intensiva Pediátrica para atuação em UTI Pediátrica; XVII – assistência hemoterápica;
título de especialista em Pediatria com área de atuação em Neona- XVIII – assistência oftalmológica;
tologia para atuação em UTI Neonatal; XIX – assistência de otorrinolaringológica;
II – Médicos plantonistas: no mínimo 01 (um) para cada 10 XX – assistência clínica de infectologia;
(dez) leitos ou fração, em cada turno. XXI – assistência clínica ginecológica;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

XXII – assistência cirúrgica geral em caso de UTI Adulto e cirur- Art. 26 O paciente consciente deve ser informado quanto aos
gia pediátrica, em caso de UTI Neonatal ou UTI Pediátrica; procedimentos a que será submetido e sobre os cuidados requeri-
XXIII – serviço de laboratório clínico, incluindo microbiologia e dos para execução dos mesmos.
hemogasometria; Parágrafo único. O responsável legal pelo paciente deve ser in-
XXIV – serviço de radiografia móvel; formado sobre as condutas clínicas e procedimentos a que o mes-
XXV – serviço de ultrassonografia portátil; mo será submetido.
XXVI – serviço de endoscopia digestiva alta e baixa; Art. 27 Os critérios para admissão e alta de pacientes na UTI
XXVII – serviço de fibrobroncoscopia; devem ser registrados, assinados pelo Responsável Técnico e divul-
XXVIII – serviço de diagnóstico clínico e notificação compulsória gados para toda a instituição, além de seguir legislação e normas
de morte encefálica. institucionais vigentes.
Art. 19 O hospital em que a UTI está inserida deve dispor, na Art. 28 A realização de testes laboratoriais remotos (TLR) nas
própria estrutura hospitalar, dos seguintes serviços diagnósticos e dependências da UTI está condicionada ao cumprimento das dispo-
terapêuticos: sições da Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa – RDC nº 302,
I – centro cirúrgico; de 13 de outubro de 2005.
II – serviço radiológico convencional;
III – serviço de ecodopplercardiografia. Seção VI
Art. 20 Deve ser garantido acesso aos seguintes serviços diag- Transporte de Pacientes
nósticos e terapêuticos, no hospital onde a UTI está inserida ou em
outro estabelecimento, por meio de acesso formalizado: Art. 29 Todo paciente grave deve ser transportado com o acom-
I- cirurgia cardiovascular, panhamento contínuo, no mínimo, de um médico e de um enfer-
II – cirurgia vascular; meiro, ambos com habilidade comprovada para o atendimento de
III – cirurgia neurológica; urgência e emergência.
IV – cirurgia ortopédica; Art. 30 Em caso de transporte intra-hospitalar para realização
V – cirurgia urológica; de algum procedimento diagnóstico ou terapêutico, os dados do
VI – cirurgia buco-maxilo-facial; prontuário devem estar disponíveis para consulta dos profissionais
VII – radiologia intervencionista; do setor de destino.
VIII – ressonância magnética; Art. 31 Em caso de transporte inter-hospitalar de paciente gra-
IX – tomografia computadorizada; ve, devem ser seguidos os requisitos constantes na Portaria GM/MS
X – anatomia patológica; n. 2048, de 05 de novembro de 2002.
XI – exame comprobatório de fluxo sanguíneo encefálico. Art. 32 Em caso de transferência inter-hospitalar por alta da
UTI, o paciente deverá ser acompanhado de um relatório de trans-
Seção V ferência, o qual será entregue no local de destino do paciente;
Processos de Trabalho Parágrafo único. O relatório de transferência deve conter, no
mínimo:
Art. 21 Todo paciente internado em UTI deve receber assistên- I – dados referentes ao motivo de internação na UTI e diagnós-
cia integral e interdisciplinar. ticos de base;
Art. 22 A evolução do estado clínico, as intercorrências e os cui- II – dados referentes ao período de internação na UTI, incluindo
dados prestados devem ser registrados pelas equipes médica, de realização de procedimentos invasivos, intercorrências, infecções,
enfermagem e de fisioterapia no prontuário do paciente, em cada transfusões de sangue e hemoderivados, tempo de permanência
turno, e atendendo as regulamentações dos respectivos conselhos em assistência ventilatória mecânica invasiva e não-invasiva, reali-
de classe profissional e normas institucionais. zação de diálise e exames diagnósticos;
Art. 23 As assistências farmacêutica, psicológica, fonoaudioló- III – dados referentes à alta e ao preparatório para a transferên-
gica, social, odontológica, nutricional, de terapia nutricional enteral cia, incluindo prescrições médica e de enfermagem do dia, especi-
e parenteral e de terapia ocupacional devem estar integradas às ficando aprazamento de horários e cuidados administrados antes
demais atividades assistenciais prestadas ao paciente, sendo discu- da transferência; perfil de monitorização hemodinâmica, equilíbrio
tidas conjuntamente pela equipe multiprofissional. ácido-básico, balanço hídrico e sinais vitais das últimas 24 horas.
Parágrafo único. A assistência prestada por estes profissionais
deve ser registrada, assinada e datada no prontuário do paciente, Seção VII
de forma legível e contendo o número de registro no respectivo Gerenciamento de Riscos e Notificação de Eventos Adversos
conselho de classe profissional.
Art. 24 Devem ser assegurados, por todos os profissionais que Art. 33 Deve ser realizado gerenciamento dos riscos inerentes
atuam na UTI, os seguintes itens: às atividades realizadas na unidade, bem como aos produtos sub-
I – preservação da identidade e da privacidade do paciente, as- metidos ao controle e fiscalização sanitária.
segurando um ambiente de respeito e dignidade; Art. 34 O estabelecimento de saúde deve buscar a redução e
II – fornecimento de orientações aos familiares e aos pacientes, minimização da ocorrência dos eventos adversos relacionados a:
quando couber, em linguagem clara, sobre o estado de saúde e a I – procedimentos de prevenção, diagnóstico, tratamento ou
assistência a ser prestada desde a admissão até a alta; reabilitação do paciente;
III – ações de humanização da atenção à saúde; II – medicamentos e insumos farmacêuticos;
IV – promoção de ambiência acolhedora; III – produtos para saúde, incluindo equipamentos;
V – incentivo à participação da família na atenção ao paciente, IV – uso de sangue e hemocomponentes;
quando pertinente. V – saneantes;
Art. 25 A presença de acompanhantes em UTI deve ser norma- VI – outros produtos submetidos ao controle e fiscalização sa-
tizada pela instituição, com base na legislação vigente. nitária utilizados na unidade.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Art. 35 Na monitorização e no gerenciamento de risco, a equipe Seção IX


da UTI deve: Avaliação
I – definir e monitorar indicadores de avaliação da prevenção
ou redução dos eventos adversos pertinentes à unidade; Art. 48 Devem ser monitorados e mantidos registros de avalia-
II – coletar, analisar, estabelecer ações corretivas e notificar ções do desempenho e do padrão de funcionamento global da UTI,
eventos adversos e queixas técnicas, conforme determinado pelo assim como de eventos que possam indicar necessidade de melho-
órgão sanitário competente. ria da qualidade da assistência, com o objetivo de estabelecer me-
Art. 36 Os eventos adversos relacionados aos itens dispostos didas de controle ou redução dos mesmos.
no § 1º Deve ser calculado o Índice de Gravidade / Índice Prognós-
Art. 35 desta RDC devem ser notificados à gerência de risco tico dos pacientes internados na UTI por meio de um Sistema de
ou outro setor definido pela instituição, de acordo com as normas Classificação de Severidade de Doença recomendado por literatura
institucionais. científica especializada.
§ 2º O Responsável Técnico da UTI deve correlacionar a morta-
Seção VIII lidade geral de sua unidade com a mortalidade geral esperada, de
Prevenção e Controle de Infecções acordo com o Índice de gravidade utilizado.
Relacionadas à Assistência à Saúde § 3º Devem ser monitorados os indicadores mencionados na
Instrução Normativa nº 4, de 24 de fevereiro de 2010, da ANVISA
Art. 37 Devem ser cumpridas as medidas de prevenção e con- §4º Estes dados devem estar em local de fácil acesso e ser dis-
trole de infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) defini- ponibilizados à Vigilância Sanitária durante a inspeção sanitária ou
das pelo Programa de Controle de Infecção do hospital. quando solicitado.
Art. 38 As equipes da UTI e da Comissão de Controle de Infec- Art. 49 Os pacientes internados na UTI devem ser avaliados por
ção Hospitalar – CCIH – são responsáveis pelas ações de prevenção meio de um Sistema de Classificação de Necessidades de Cuidados
e controle de IRAS. de Enfermagem recomendado por literatura científica especializa-
Art. 39 A CCIH deve estruturar uma metodologia de busca ativa da.
das infecções relacionadas a dispositivos invasivos, dos microrga- §1º O enfermeiro coordenador da UTI deve correlacionar as
nismos multirresistentes e outros microrganismos de importância necessidades de cuidados de enfermagem com o quantitativo de
clínico-epidemiológica, além de identificação precoce de surtos. pessoal disponível, de acordo com um instrumento de medida uti-
Art. 40 A equipe da UTI deve colaborar com a CCIH na vigilância lizado.
epidemiológica das IRAS e com o monitoramento de microrganis- §2º Os registros desses dados devem estar disponíveis mensal-
mos multirresistentes na unidade. mente, em local de fácil acesso.
Art. 41 A CCIH deve divulgar os resultados da vigilância das in-
fecções e perfil de sensibilidade dos microrganismos à equipe mul- Seção X
tiprofissional da UTI, visando a avaliação periódica das medidas de Recursos Materiais
prevenção e controle das IRAS.
Art. 42 As ações de prevenção e controle de IRAS devem ser Art. 50 A UTI deve dispor de materiais e equipamentos de acor-
baseadas na avaliação dos indicadores da unidade. do com a complexidade do serviço e necessários ao atendimento
Art. 43 A equipe da UTI deve aderir às medidas de precaução de sua demanda.
padrão, às medidas de precaução baseadas na transmissão (conta- Art. 51 Os materiais e equipamentos utilizados, nacionais ou
to, gotículas e aerossóis) e colaborar no estímulo ao efetivo cumpri- importados, devem estar regularizados junto à ANVISA, de acordo
mento das mesmas. com a legislação vigente.
Art. 44 A equipe da UTI deve orientar visitantes e acompanhan- Art. 52 Devem ser mantidas na unidade instruções escritas
tes quanto às ações que visam a prevenção e o controle de infec- referentes à utilização dos equipamentos e materiais, que podem
ções, baseadas nas recomendações da CCIH. ser substituídas ou complementadas por manuais do fabricante em
Art. 45 A equipe da UTI deve proceder ao uso racional de anti- língua portuguesa.
microbianos, estabelecendo normas e rotinas de forma interdisci- Art. 53 Quando houver terceirização de fornecimento de equi-
plinar e em conjunto com a CCIH, Farmácia Hospitalar e Laboratório pamentos médico-hospitalares, deve ser estabelecido contrato for-
de Microbiologia. mal entre o hospital e a empresa contratante.
Art. 46 Devem ser disponibilizados os insumos, produtos, equi- Art. 54 Os materiais e equipamentos devem estar íntegros, lim-
pamentos e instalações necessários para as práticas de higienização pos e prontos para uso.
de mãos de profissionais de saúde e visitantes. Art. 55 Devem ser realizadas manutenções preventivas e corre-
§ 1º Os lavatórios para higienização das mãos devem estar dis- tivas nos equipamentos em uso e em reserva operacional, de acor-
ponibilizados na entrada da unidade, no posto de enfermagem e do com periodicidade estabelecida pelo fabricante ou pelo serviço
em outros locais estratégicos definidos pela CCIH e possuir dispen- de engenharia clínica da instituição.
sador com sabonete líquido e papel toalha. Parágrafo único. Devem ser mantidas na unidade cópias do ca-
§ 2º As preparações alcoólicas para higienização das mãos de- lendário de manutenções preventivas e o registro das manutenções
vem estar disponibilizadas na entrada da unidade, entre os leitos e realizadas.
em outros locais estratégicos definidos pela CCIH.
Art. 47 O Responsável Técnico e os coordenadores de enfer-
magem e de fisioterapia devem estimular a adesão às práticas de
higienização das mãos pelos profissionais e visitantes.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

CAPÍTULO III XXI – materiais e equipamento para monitorização de pressão


DOS REQUISITOS ESPECÍFICOS PARA arterial invasiva: 01 (um) equipamento para cada 05 (cinco) leitos,
UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA ADULTO com reserva operacional de 01 (um) equipamento para cada 10
(dez) leitos;
Seção I XXII – materiais para punção pericárdica;
Recursos Materiais XXIII – monitor de débito cardíaco;
XXIV – eletrocardiógrafo portátil: 01 (um) equipamento para
Art. 56 Devem estar disponíveis, para uso exclusivo da UTI cada 10 (dez) leitos;
Adulto, materiais e equipamentos de acordo com a faixa etária XXV – kit (“carrinho”) contendo medicamentos e materiais para
e biotipo do paciente. atendimento às emergências: 01 (um) para cada 05 (cinco) leitos
Art. 57 Cada leito de UTI Adulto deve possuir, no mínimo, os ou fração;
seguintes equipamentos e materiais: XXVI – equipamento desfibrilador e cardioversor, com bateria:
I – cama hospitalar com ajuste de posição, grades laterais e rodízios; 01 (um) para cada 05 (cinco) leitos;
II – equipamento para ressuscitação manual do tipo balão au- XXVII – marcapasso cardíaco temporário, eletrodos e gerador:
to-inflável, com reservatório e máscara facial: 01(um) por leito, com 01 (um) equipamento para cada 10 (dez) leitos;
reserva operacional de 01 (um) para cada 02 (dois) leitos; XXVIII – equipamento para aferição de glicemia capilar, especí-
fico para uso hospitalar: 01 (um) para cada 05 (cinco) leitos;
III – estetoscópio;
XXIX – materiais para curativos;
IV – conjunto para nebulização;
XXX – materiais para cateterismo vesical de demora em sistema
V – quatro (04) equipamentos para infusão contínua e contro-
fechado;
lada de fluidos (“bomba de infusão”), com reserva operacional de
XXXI – dispositivo para elevar, transpor e pesar o paciente;
01 (um) equipamento para cada 03 (três) leitos: XXXII – poltrona com revestimento impermeável, destinada à
VI – fita métrica; assistência aos pacientes: 01 (uma) para cada 05 leitos ou fração.
VII – equipamentos e materiais que permitam monitorização XXXIII – maca para transporte, com grades laterais, suporte
contínua de: para soluções parenterais e suporte para cilindro de oxigênio: 1
a) freqüência respiratória; (uma) para cada 10 (dez) leitos ou fração;
b) oximetria de pulso; XXXIV – equipamento(s) para monitorização contínua de múlti-
c) freqüência cardíaca; plos parâmetros (oximetria de pulso, pressão arterial não-invasiva;
d) cardioscopia; cardioscopia; freqüência respiratória) específico(s) para transporte,
e) temperatura; com bateria: 1 (um) para cada 10 (dez) leitos ou fração;
f) pressão arterial não-invasiva. XXXV – ventilador mecânico específico para transporte, com
Art. 58 Cada UTI Adulto deve dispor, no mínimo, de: bateria: 1(um) para cada 10 (dez) leitos ou fração;
I – materiais para punção lombar; XXXVI – kit (“maleta”) para acompanhar o transporte de pa-
II – materiais para drenagem liquórica em sistema fechado; cientes graves, contendo medicamentos e materiais para atendi-
III – oftalmoscópio; mento às emergências: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos ou fração;
IV – otoscópio; XXXVII – cilindro transportável de oxigênio;
V – negatoscópio; XXXVIII – relógios e calendários posicionados de forma a permi-
VI – máscara facial que permite diferentes concentrações de tir visualização em todos os leitos.
Oxigênio: 01 (uma) para cada 02 (dois) leitos; XXXIX – refrigerador, com temperatura interna de 2 a 8°C, de
VII – materiais para aspiração traqueal em sistemas aberto e uso exclusivo para guarda de medicamentos, com monitorização e
fechado; registro de temperatura.
VIII – aspirador a vácuo portátil; Art. 59 Outros equipamentos ou materiais podem substituir os
IX – equipamento para mensurar pressão de balonete de tubo/ listados neste regulamento técnico, desde que tenham comprovada
cânula endotraqueal (“cuffômetro”); sua eficácia propedêutica e terapêutica e sejam regularizados pela
X – ventilômetro portátil; Anvisa.
Art. 60 Os kits para atendimento às emergências, referidos nos
XI – capnógrafo: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos;
incisos XXV e XXXVI do Art 58, devem conter, no mínimo: ressusci-
XII – ventilador pulmonar mecânico microprocessado: 01 (um)
tador manual com reservatório, cabos e lâminas de laringoscópio,
para cada 02 (dois) leitos, com reserva operacional de 01 (um) equi-
tubos/cânulas endotraqueais, fixadores de tubo endotraqueal, câ-
pamento para cada 05 (cinco) leitos, devendo dispor, cada equipa-
nulas de Guedel e fio guia estéril.
mento de, no mínimo, 02 (dois) circuitos completos, §1º Demais materiais e medicamentos a compor estes kits
XIII – equipamento para ventilação pulmonar mecânica não devem seguir protocolos assistenciais para este fim, padronizados
invasiva: 01(um) para cada 10 (dez) leitos, quando o ventilador pul- pela unidade e baseados em evidências científicas.
monar mecânico microprocessado não possuir recursos para reali- §2º A quantidade dos materiais e medicamentos destes kits
zar a modalidade de ventilação não invasiva; deve ser padronizada pela unidade, de acordo com sua demanda.
XIV – materiais de interface facial para ventilação pulmonar §3º Os materiais utilizados devem estar de acordo com a faixa
não invasiva 01 (um) conjunto para cada 05 (cinco) leitos; etária e biotipo do paciente (lâminas de laringoscópio, tubos endo-
XV – materiais para drenagem torácica em sistema fechado; traqueais de tamanhos adequados, por exemplo);
XVI – materiais para traqueostomia; §4º A unidade deve fazer uma lista com todos os materiais e
XVII – foco cirúrgico portátil; medicamentos a compor estes kits e garantir que estejam sempre
XVIII – materiais para acesso venoso profundo; prontos para uso.
XIX – materiais para flebotomia;
XX – materiais para monitorização de pressão venosa central;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

CAPÍTULO IV XX – foco cirúrgico portátil;


DOS REQUISITOS ESPECÍFICOS PARA UNIDADES XXI – materiais para acesso venoso profundo, incluindo catete-
DE TERAPIA INTENSIVA PEDIÁTRICAS rização venosa central de inserção periférica (PICC);
XXII – material para flebotomia;
Seção I XXIII – materiais para monitorização de pressão venosa central;
Recursos Materiais XXIV – materiais e equipamento para monitorização de pressão
arterial invasiva: 01 (um) equipamento para cada 05 (cinco) leitos,
Art. 61 Devem estar disponíveis, para uso exclusivo da UTI Pe- com reserva operacional de 01 (um) equipamento para cada 10
diátrica, materiais e equipamentos de acordo com a faixa etária e (dez) leitos;
biotipo do paciente. XXV – materiais para punção pericárdica;
Art. 62 Cada leito de UTI Pediátrica deve possuir, no mínimo, os XXVI – eletrocardiógrafo portátil;
seguintes equipamentos e materiais: XXVII – kit (“carrinho”) contendo medicamentos e materiais
I – berço hospitalar com ajuste de posição, grades laterais e para atendimento às emergências: 01 (um) para cada 05 (cinco) lei-
rodízios; tos ou fração;
II – equipamento para ressuscitação manual do tipo balão au- XXVIII – equipamento desfibrilador e cardioversor, com bateria,
to-inflável, com reservatório e máscara facial: 01(um) por leito, com na unidade;
reserva operacional de 01 (um) para cada 02 (dois) leitos; XXIX – marcapasso cardíaco temporário, eletrodos e gerador:
III – estetoscópio; 01 (um) equipamento para a unidade;
IV – conjunto para nebulização; XXX – equipamento para aferição de glicemia capilar, específico
V – Quatro (04) equipamentos para infusão contínua e contro- para uso hospitalar: 01 (um) para cada 05 (cinco) leitos ou fração;
lada de fluidos (“bomba de infusão”), com reserva operacional de XXXI – materiais para curativos;
01 (um) para cada 03 (três) leitos; XXXII – materiais para cateterismo vesical de demora em siste-
VI – fita métrica; ma fechado;
VII – poltrona removível, com revestimento impermeável, des- XXXIII – maca para transporte, com grades laterais, com suporte
tinada ao acompanhante: 01 (uma) por leito; para equipamento de infusão controlada de fluidos e suporte para
VIII – equipamentos e materiais que permitam monitorização cilindro de oxigênio: 01 (uma) para cada 10 (dez) leitos ou fração;
contínua de: XXXIV – equipamento(s) para monitorização contínua de múlti-
a) freqüência respiratória; plos parâmetros (oximetria de pulso, pressão arterial não-invasiva;
b) oximetria de pulso; cardioscopia; freqüência respiratória) específico para transporte,
c) freqüência cardíaca; com bateria: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos ou fração;
d) cardioscopia; XXXV – ventilador pulmonar específico para transporte, com
e) temperatura; bateria: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos ou fração;
f) pressão arterial não-invasiva. XXXVI – kit (“maleta”) para acompanhar o transporte de pa-
Art. 63 Cada UTI Pediátrica deve dispor, no mínimo, de: cientes graves, contendo medicamentos e materiais para atendi-
I – berço aquecido de terapia intensiva: 1(um) para cada 5 (cin- mento às emergências: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos ou fração;
co) leitos; XXXVII – cilindro transportável de oxigênio;
II – estadiômetro; XXXVIII – relógio e calendário de parede;
III – balança eletrônica portátil; XXXIX – refrigerador, com temperatura interna de 2 a 8°C, de
IV – oftalmoscópio; uso exclusivo para guarda de medicamentos, com monitorização e
V – otoscópio; registro de temperatura.
VI – materiais para punção lombar; Art. 64 Outros equipamentos ou materiais podem substituir os
VII – materiais para drenagem liquórica em sistema fechado; listados neste regulamento técnico, desde que tenham comprovada
VIII – negatoscópio; sua eficácia propedêutica e terapêutica e sejam regularizados pela
IX – capacetes ou tendas para oxigenoterapia; Anvisa.
X – máscara facial que permite diferentes concentrações de Art. 65 Os kits para atendimento às emergências, referidos nos
Oxigênio: 01 (um) para cada 02 (dois) leitos; incisos XXVII e XXXVI do Art 63, devem conter, no mínimo: ressusci-
XI – materiais para aspiração traqueal em sistemas aberto e tador manual com reservatório, cabos e lâminas de laringoscópio,
fechado; tubos/cânulas endotraqueais, fixadores de tubo endotraqueal, câ-
XII – aspirador a vácuo portátil; nulas de Guedel e fio guia estéril.
XIII – equipamento para mensurar pressão de balonete de §1º Demais materiais e medicamentos a compor estes kits
tubo/cânula endotraqueal (“cuffômetro”); devem seguir protocolos assistenciais para este fim, padronizados
XIV – capnógrafo: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos; pela unidade e baseados em evidências científicas.
XV – ventilador pulmonar mecânico microprocessado: 01 (um) §2º A quantidade dos materiais e medicamentos destes kits
para cada 02 (dois) leitos, com reserva operacional de 01 (um) equi- deve ser padronizada pela unidade, de acordo com sua demanda.
pamento para cada 05 (cinco) leitos, devendo dispor cada equipa- §3º Os materiais utilizados devem estar de acordo com a faixa
mento de, no mínimo, 02 (dois) circuitos completos. etária e biotipo do paciente (lâminas de laringoscópio, tubos endo-
XVI – equipamento para ventilação pulmonar não-invasiva: traqueais de tamanhos adequados, por exemplo);
01(um) para cada 10 (dez) leitos, quando o ventilador pulmonar mi- §4º A unidade deve fazer uma lista com todos os materiais e
croprocessado não possuir recursos para realizar a modalidade de medicamentos a compor estes kits e garantir que estejam sempre
ventilação não invasiva; prontos para uso.
XVII – materiais de interface facial para ventilação pulmonar
não-invasiva: 01 (um) conjunto para cada 05 (cinco) leitos;
XVIII – materiais para drenagem torácica em sistema fechado;
XIX – materiais para traqueostomia;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Seção II XV – equipamento para ventilação pulmonar não-invasiva:


UTI Pediátrica Mista 01(um) para cada 05 (cinco) leitos, quando o ventilador pulmonar
microprocessado não possuir recursos para realizar a modalidade
Art. 66 As UTI Pediátricas Mistas, além dos requisitos comuns de ventilação não invasiva;
a todas as UTI, também devem atender aos requisitos relacionados XVI – materiais de interface facial para ventilação pulmonar
aos recursos humanos, assistenciais e materiais estabelecidos para não invasiva (máscara ou pronga): 1 (um) por leito.
UTI pediátrica e neonatal concomitantemente. XVII – materiais para drenagem torácica em sistema fechado;
Parágrafo único. A equipe médica deve conter especialistas em XVIII – material para traqueostomia;
Terapia Intensiva Pediátrica e especialistas em Neonatologia. XIX – foco cirúrgico portátil;
XX – materiais para acesso venoso profundo, incluindo catete-
CAPÍTULO V rização venosa central de inserção periférica (PICC);
DOS REQUISITOS ESPECÍFICOS PARA XXI – material para flebotomia;
UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAIS XXII – materiais para monitorização de pressão venosa central;
XXIII – materiais e equipamento para monitorização de pressão
Seção I arterial invasiva;
Recursos Materiais XXIV – materiais para cateterismo umbilical e exsanguíneo
transfusão;
Art. 67 Devem estar disponíveis, para uso exclusivo da UTI Ne- XXV – materiais para punção pericárdica;
onatal, materiais e equipamentos de acordo com a faixa etária e XXVI – eletrocardiógrafo portátil disponível no hospital;
biotipo do paciente. XXVII – kit (“carrinho”) contendo medicamentos e materiais
Art. 68 Cada leito de UTI Neonatal deve possuir, no mínimo, os para atendimento às emergências: 01 (um) para cada 05 (cinco) lei-
seguintes equipamentos e materiais: tos ou fração;
I – incubadora com parede dupla; XXVIII – equipamento desfibrilador e cardioversor, com bateria,
II – equipamento para ressuscitação manual do tipo balão au- na unidade;
to-inflável com reservatório e máscara facial: 01(um) por leito, com XXIX – equipamento para aferição de glicemia capilar, específi-
reserva operacional de 01 (um) para cada 02 (dois) leitos; co para uso hospitalar: 01 (um) para cada 05 (cinco) leitos ou fração,
III – estetoscópio; sendo que as tiras de teste devem ser específicas para neonatos;
IV – conjunto para nebulização; XXX – materiais para curativos;
V – Dois (02) equipamentos tipo seringa para infusão contínua XXXI – materiais para cateterismo vesical de demora em siste-
e controlada de fluidos (“bomba de infusão”), com reserva opera- ma fechado;
cional de 01 (um) para cada 03 (três) leitos; XXXII – incubadora para transporte, com suporte para equipa-
VI – fita métrica; mento de infusão controlada de fluidos e suporte para cilindro de
VII – equipamentos e materiais que permitam monitorização oxigênio: 01 (uma) para cada 10 (dez) leitos ou fração;
contínua de: XXXIII – equipamento(s) para monitorização contínua de múlti-
a) freqüência respiratória; plos parâmetros (oximetria de pulso, cardioscopia) específico para
b) oximetria de pulso; transporte, com bateria: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos ou fração;
c) freqüência cardíaca; XXXIV – ventilador pulmonar específico para transporte, com
d) cardioscopia; bateria: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos ou fração;
e) temperatura; XXXV – kit (“maleta”) para acompanhar o transporte de pacien-
f) pressão arterial não-invasiva. tes graves, contendo medicamentos e materiais para atendimento
Art. 69 Cada UTI Neonatal deve dispor, no mínimo, de: às emergências: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos ou fração.
I – berços aquecidos de terapia intensiva para 10% dos leitos; XXXVI – cilindro transportável de oxigênio;
II – equipamento para fototerapia: 01 (um) para cada 03 (três) XXXVII – relógio e calendário de parede;
leitos; XXXVIII – poltronas removíveis, com revestimento impermeá-
III – estadiômetro; vel, para acompanhante: 01 (uma) para cada 05 leitos ou fração;
IV – balança eletrônica portátil: 01 (uma) para cada 10 (dez) XXXIX – refrigerador, com temperatura interna de 2 a 8°C, de
leitos; uso exclusivo para guarda de medicamentos: 01 (um) por unidade,
V – oftalmoscópio; com conferência e registro de temperatura a intervalos máximos
VI – otoscópio; de 24 horas.
VII – material para punção lombar; Art. 70 Outros equipamentos ou materiais podem substituir os
VIII – material para drenagem liquórica em sistema fechado; listados neste regulamento técnico, desde que tenham comprovada
IX – negatoscópio; sua eficácia propedêutica e terapêutica e sejam regularizados pela
X – capacetes e tendas para oxigenoterapia: 1 (um) equipa- ANVISA.
mento para cada 03 (três) leitos, com reserva operacional de 1 (um) Art. 71 Os kits para atendimento às emergências referidos nos
para cada 5 (cinco) leitos; incisos XXVII e XXXV do Art 69 devem conter, no mínimo: ressusci-
XI – materiais para aspiração traqueal em sistemas aberto e tador manual com reservatório, cabos e lâminas de laringoscópio,
fechado; tubos/cânulas endotraqueais, fixadores de tubo endotraqueal, câ-
XII – aspirador a vácuo portátil; nulas de Guedel e fio guia estéril.
XIII – capnógrafo: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos; §1º Demais materiais e medicamentos a compor estes kits
XIV – ventilador pulmonar mecânico microprocessado: 01 (um) devem seguir protocolos assistenciais para este fim, padronizados
para cada 02 (dois) leitos, com reserva operacional de 01 (um) equi- pela unidade e baseados em evidências científicas.
pamento para cada 05 (cinco) leitos devendo dispor cada equipa- §2º A quantidade dos materiais e medicamentos destes kits
mento de, no mínimo, 02 (dois) circuitos completos. deve ser padronizada pela unidade, de acordo com sua demanda.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

§3º Os materiais utilizados devem estar de acordo com a faixa Ora, se toda vida está ligada ao metabolismo da célula viva,
etária e biotipo do paciente (lâminas de laringoscópio, tubos endo- a morte da célulaou o aniquilamento de sua vida significa, indubi-
traqueais de tamanhos adequados, por exemplo); tavelmente, a cessação do metabolismo da célula. Um cadáver é
§4º A unidade deve fazer uma lista com todos os materiais e portanto, uma célula que deixou de revelar o metabolismo caracte-
medicamentos a compor estes kits e garantir que estejam sempre rístico. (LIPSCHUTZ 1933).
prontos para uso. Para caracterizar o cadáver, é oportuno falar de algumas expe-
riências que nos permitem um olhar mais fundo em tudo quanto se
CAPÍTULO VI relaciona com a morte e o cadáver.
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS Tiramos de um aquário uma gota de água com alguns Infusó-
rios, minúsculos microscópios seres de uma única célula. Coloca-
Art. 72 Os estabelecimentos abrangidos por esta Resolução mos essa gota numa placa de cristal dentro de uma câmara decristal
têm o prazo de 180 (cento e oitenta) dias contados a partir da data por sob o microscópio. Em seguida, fazemos passar sobre a gota
de sua publicação para promover as adequações necessárias do vapores de álcool. Os animálculos unicelulares, que até então se
serviço para cumprimento da mesma. agitavam em vivíssimo movimento, correndo para todos os lados
§1º Para cumprimento dos artigos 13, 14 e 15 da Seção III - Re- como flechas, ao cabo de poucos minutos detêm-se. Logo se imo-
cursos Humanos, assim como da Seção I - Recursos Materiais dos
bilizam, estão paralisados, entretanto, não se acham mortos; basta
Capítulos III, IV e V, estabelece-se o prazo de 03 anos, ressalvados os
que se deixe penetrar ar fresco na câmara, para que de novo voltem
incisos III e V do art. 14, que terão efeitos imediatos. (Redação dada
os Infusórios á atividade anterior.
pela Resolução - RDC nº 26, de 11 de maio de 2012)
Acontece, pois que envenenamos ou narcotizamos os bichi-
§ 2º A partir da publicação desta Resolução, os novos estabele-
cimentos e aqueles que pretendem reiniciar suas atividades devem nhos com álcool. Devemos supor que a intoxicação consiste num
atender na íntegra às exigências nela contidas, previamente ao iní- transtorno do metabolismo. O sintoma exterior dessa perturbação
cio de seu funcionamento. do metabolismo é a paralisação da célula, porém se, como vimos,
Art. 73 O descumprimento das disposições contidas nesta Re- essa paralisação tem em certas condições experimentais, um efeito
solução constitui infração sanitária, nos termos da Lei n. 6.437, de apenas transitório, é de supor que o metabolismo sob a influência
20 de agosto de 1977, sem prejuízo das responsabilidades civil, ad- do álcool não se extinguiria; apenas sofrerá uma alteração, talvez
ministrativa e penal cabíveis. um desvio do seu curso normal. Assim justamente é que podemos
Art. 74 Esta Resolução entra em vigor na data de sua publica- distinguir a narcose de que acabamos de falar, da morte: o primeiro
ção. caso pode-se reparar o mal, ao passo que no segundo já não há
remédio.
d. Condutas de enfermagem para o paciente grave e em fase De maneira ainda mais clara se nos revelam as coisas em outro
terminal. exemplo, Lipschutz e Veshnjakoff fizeram estudos sobre o metabo-
lismo do ovário dos mamíferos fora do organismo, a várias tempe-
Mesmo sabendo que a morte é algo que faz parte do ciclo na- raturas.
tural de vida, os mesmo ainda não conseguem lidar com isso no Ao examinar o consumo de oxigênio do tecido ovariano do por-
dia-a-dia. Os profissionais de saúde sentem-se responsáveis pela quinho das índias á temperatura de 38,5 graus, que é a temperatura
manutenção da vida de seus pacientes, e acabam por encarar a normal nessa espécie, é a 1 grau e até abaixo disso, verificaram que
morte como resultado acidental diante do objetivo da profissão, o tecido continuava a consumir oxigênio no frio, porém, a tão baixa
sendo esta considerada como insucesso de tratamentos, fracasso temperatura, o tecido ovariano consome vinte mesmo quarenta ve-
da equipe, causando angústia àqueles que a presenciam.A sensa- zes menos oxigênio do que a 38,5 graus. A temperaturabaixa, pois o
ção de fracasso diante da morte não é atribuída apenas ao insuces- metabolismo é diminuído de um modo assombroso. Não obstante,
so dos cuidados empreendidos, mas a uma derrota diante da morte essa diminuição do metabolismo é responsável. Basta trasladar o
e da missão implícita das profissões de saúde: salvar o indivíduo, mesmo tecido para uma câmara com a temperatura do corpo, para
diminuir sua dor e sofrimento, manter-lhe a vida. constatar-se imediatamente que o seu consumo de oxigênio cres-
Não podemos falar da morte, da formação de um cadáver, sem
ce de novo. Mas, setraslada o tecido por alguns minutos para uma
antes entendermos claramente sobre o que seja a vida.
câmara com temperatura de alguns graus abaixo de zero para ser
O conhecimento de vida pressupõe processos químicos com-
examinado depois á temperatura do corpo, então já não se resta-
plicados, processos que se desenrolam nos limites de uma cela,
belece mais, nunca mais, o metabolismo primitivo, o tecido morreu
perfeitamente organizada. No centro desses processos acham-se
as substâncias protéicas; a seguir vêm os elementos graxos e os por refrigeração. A uma temperatura de alguns décimos de grau
hidratos de carbonos. Toda vida tem por condição indispensável acima de zero, o metabolismo alterou-se de maneira reparável;
que na célula se desenvolvam determinadas alterações químicas, a uma temperatura abaixo de zero, o metabolismo alterou-se de
os verdadeiros fenômenos bioquímicos; essas alterações, por usa maneira irreparável.Muito interessante é o fato de que, em certos
vez se combinam com o consumo de oxigênio, pois que há dentro animais, se observa uma vida latente em que permanecem anos
da célula um “combustão”. Contudo, a célula não morre no decorrer e anos, como nos tardígrados e outras espécies estudadas já por
desse processo, porque de fora se recebem continuamente novas Leuwenhook e Spallanzani no século XVIII.
substâncias que se transformam em substância celular no pequeno Não podemos falar da morte sem antes tentar conceituá-la.
laboratório da própria célula. Desta maneira, há no interior da cé- Para Vieira (2006, p.21) “a pergunta ‘o que é morte’ tem múltiplas
lula um perene metabolismo: as substâncias vivas da célula desin- respostas e nenhuma delas conclusiva, pois a questão transcende
tegram-se por combustão e eliminam-se os produtos metabólicos; os aspectos naturais ou materialistas e, até biologicamente, é difícil
do exterior, recebe a célula, novas substâncias que servem de subs- uma resposta unânime”.
tituto. Toda vida, movimento, alimentação, propagação, o sentir e
o pensar, se ligam intimamente ao metabolismo; assim. A biologia
deve desvendar o problema do metabolismo das células.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Morrer, cientificamente, é deixar de existir; quando o corpo A depressão – após a fase da barganha, o doente percebe sua
acometido por uma patologia ou acidente qualquer tem a falência doença como incurável e ciente da impossibilidade ou dificuldade
de seus órgãos vitais, tendo uma parada progressiva de toda ati- de cura, deprime-se, sente-se vazio e deixa de intervir no tratamen-
vidade do organismo, podendo ser de uma forma súbita (doenças to, relaciona-se pouco com outras pessoas.
agudas, acidentes) ou lenta (doenças crônico-degenerativas), segui- A 4° fase é a depressão – após a fase da barganha, o doente
da de uma degeneração dos tecidos.MOREIRA (2006), percebe sua doença como incurável e ciente da impossibilidade ou
“A situação de óbito hospitalar, ocorrência na qual se dá a ma- dificuldade de cura, deprime-se, sente-se vazio e deixa de intervir
terialização do processo de morrer e da morte, é, certamente, uma no tratamento, relaciona-se pouco com outras pessoas.
experiência impregnada de significações cientificas, mas também A 5° fase é a aceitação – o paciente entende e aceita sua situa-
de significações sociais, culturais e principalmente subjetivas.” (DO- ção e tenta dar um sentido para sua vida.
MINGUES DO NASCIMENTO, 2006) Segundo Bosco (2008), esses são estágios que sucedem, porém
Reforça-se ainda que a morte não é somente um fato biológico, podem não aparecer necessariamente nessa ordem ou alguns indi-
mas um processo construído socialmente, que não se distingue das víduos não passam por todos eles. Podem inclusive voltar a qual-
outras dimensões do universo das relações sociais. Assim, a morte quer fase mais de uma vez. É um processo particular, onde muitos
está presente em nosso cotidiano e, independente de suas causas sentimentos estão envolvidos e que dependem de vários fatores,
ou formas, seu grande palco continua sendo os hospitais e institui- como religiosidade, estrutura familiar, cultura, por exemplo. As ati-
ções de saúde. BRETAS (2006) tudes face à morte diferem de cultura para cultura, de país para
A morte propriamente dita é a cessação dos fenômenos vitais, país, de região para região e, até, de pessoa para pessoa. Tal facto,
por parada das funções cerebral, respiratória e circulatórias, com permite concluir que a forma como reagimos à morte está depen-
surgimento dos fenômenos abióticos, lentos e progressivos, que dente de uma multiplicidade de factores que se relacionam princi-
palmente com aspectos pessoais, educacionais, sócio-económicos
causam lesões irreversíveis nos órgãos e tecidos.
e espacio-temporais.
É um tema controverso que suscita nos enfermeiros sentimen-
Os profissionais da saúde, nomeadamente os enfermeiros,
tos e atitudes diversas. Embora faça parte do ciclo natural da vida,
enfrentam todos os dias a morte e, independentemente da ex-
a morte é, ainda, nos dias de hoje, um assunto polémico, por vezes
periência profissional e de vida, quase todos a encaram com um
evitado e por muitos não compreendido, gerando medo e ansieda-
certo sentimento de incerteza, desespero e angústia. Incerteza por-
de. Uma vez que a enfermagem tem nos seus ideais o compromisso
que não sabe se está a prestar todos os cuidados possíveis para o
com a vida, lidar com a morte pode torna-se um acontecimento difí-
bem-estar do doente, para lhe prolongar a vida e para lhe evitar a
cil e penoso, gerando uma multiplicidade de atitudes por parte dos
morte; desespero porque se sente impotente para fazer algo que o
profissionais de enfermagem. Neste contexto, devido à necessidade conserve vivo; angústia porque não sabe como comunicar efectiva-
de melhor compreender este fenómeno com que os enfermeiros mente com o doente e seus familiares. Todos estes factores oneram
se confrontam no quotidiano, realizou-se um estudo de investiga- severamente o enfermeiro que procura cuidar aqueles cuja morte
ção relacionado com as atitudes do enfermeiro perante a morte e está eminente.
circunstâncias determinantes, com vista a uma reflexão acerca do “O enfermeiro reage a estes sentimentos desligando-se do
tema e consequentemente a uma melhor prática profissional. doente e da própria morte e, consciente ou inconscientemente,
Para melhor entendimento dos vários fatores que interferem concentra a sua atenção no seu trabalho, no material, no processo
no enfrentamento da morte/morrer, tanto pelos profissionais quan- da doença, talvez até em conversas superficiais, com o intuito de
to pacientes e familiares, é preciso que antes saibamos um pouco afastar expressões de temor e de morte”. Outras vezes, o enfermei-
mais sobre as fases da morte e suas possíveis reações causadas pelo ro perante o processo de morte decide evitar todo e qualquer con-
impacto da notícia. tacto com o doente. Nesta perspectiva, o mesmo autor afirma que
Kübler-Ross (1994), em seu livro Sobre a Morte e o Morrer, re- “afastando-se do doente através de subterfúgios, o que o enfermei-
alizou um trabalho com pacientes terminais onde analisou os senti- ro faz é escudar-se contra sentimentos que lhe lembrem a morte e
mentos do paciente e da família no processo e morrer. Ele esclarece que lhe causem mal-estar”. Rees (1983),
que passamos por vários estágios quando nos deparamos com a Deste modo, sendo a morte inevitável e frequente nos serviços
morte, sendo que a negação é o primeiro estágio. de saúde, nem todos os enfermeiros a compreendem, a acolhem e
A 1° faseé a negação – é caracterizada como defesa temporária, reagem a ela da mesma maneira.Confrontados com a doença grave
onde a maioria das vezes o discurso pronunciado é “isso não está e com a morte, os enfermeiros tentam proteger-se da angústia que
acontecendo comigo” ou “não pode ser verdade”. Outro compor- estas situações geram, adoptando estratégias de adaptação, cons-
tamento comum nessa fase é o agir como se nada estivesse acon- cientes ou inconscientes designadas: mecanismos de defesa.
tecendo. De acordo com Rosado (1991), do confronto com a morte sur-
“Evidentemente, se negamos a morte, se nos recusarmos a en- gem frequentemente mais problemas psicológicos do que físicos.
trar em contato com nossos sentimentos, o luto será mal elaborado Entre os últimos, fadiga, enxaqueca, dificuldades respiratórias,
e teremos uma chance maior de adoecermos e cairmos em me- insónias e anorexia são alguns dos reconhecidos. No entanto, os
lancolia ou em outros processos substitutivos.” (CASSAROLA 1991). mais citados são: pensamentos involuntários dedicados ao doente,
Outros mecanismos de defesa que utilizamos inconsciente- sentimentos de impotência, choro e sensação de abatimento, senti-
mente ainda citando Kübler-Ross (1994), são: mento de choque e de incredibilidade perante a perda, dificuldades
A 2° fase, a ira – nesta fase prevalece a revolta, o ressentimen- de concentração, cólera, ansiedade e irritabilidade. Decorrentes
to, e o doente passa a atacar a equipe de saúde e as pessoas mais destas atitudes, registam-se: absentismo, desejo de mudança de
próximas a ele. Questionam procedimentos e tratamentos e a per- serviço, isolamento, entre outras práticas e atitudes reveladoras da
gunta mais comum é “porque eu?” .Podem ainda nesta fase, surgir situação e de insegurança.Para que o fenômeno da Morte seja en-
períodos de total descrença. carado com serenidade pelo enfermeiro, este deve prevê-la como
A 3° fase é a barganha – o doente faz acordos em troca de mais inevitável.
um tempo de vida. Nessa fase são comuns as promessas, Deus se torna
presente em sua vida, faz promessas de mudança se for curado.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Assim deve ter como atitudes, como: comunicar a situação terminal do doente, conforme a vontade e capacidade de aceitação do
doente, ter respeito pela diferença, cada doente têm o seu modo de estar na vida, o doente raramente esta isolado, os familiares podem
ajudar ou perturbar, compartilhar, deixar a pessoa expressar os seus temores e desejos, diminuir a dor, o sofrimento e a angustia, auxiliar
corretamente o doente a assumir a morte como experiência que só ele pode viver, toda a equipa deve ter um comportamento idêntico,
linguagem, em relação à informação dada ao doente para não existir contradições, promover a vivência da fase final de vida no domicilio
sempre que possível.
O apoio da família também é muito importante Apoio da família, já que a família sempre está presente. A definição de família tem
evoluído ao longo dos tempos, de acordo com vários paradigmas, no entanto aqui adaptar-se-á a definição de“ Família refere-se a dois ou
mais indivíduos que dependem um do outro para dar apoio emocional, físico e econômico. Os membros da família são auto-definidos.”
(Hanson, 2005). A família é, ou devia de ser, a unidade primária dos cuidados de saúde.
Além de proporcionar o acompanhamento adequado ao doente em fase terminal, deve se insere a família neste processode apoio para
que assim o doente possa usufruir de uma melhor qualidade de vida, do ponto emocional e afetivo, assim como na diminuição da dor e angústia.
O familiar do paciente crítico ao ter consciência da situação concreta e da possibilidade de morte do seu enfermo que está na UTI, expressa o vazio
existencial através de sentimentos como: tristeza, frustração, pessimismo, desorientação, angústia e falta de sentido para viver.
Para entender a tríade, é necessário definir cada familiar do paciente crítico como uma pessoa constituída de unidade e totalidade em
três dimensões: corpo, alma e espírito. (LIMA 2008).
Alguns sentimentos como empatia e afeto são necessário para que ao entrar em contato comopaciente e sua família, seja possível
abordá-lo e compreendê-lo com a sua doença em toda sua peculiaridade. Também consideramos ser de fundamental que na interdisci-
plinaridade haja o psicólogo para estruturar o trabalho de psicoterapia breve, enfatizando-se o momento, na busca de proporcionar um
espaço de reflexão e expressão dos sentimentos, angústias, medos, fantasias, a fim de minimizar o impacto emocional e o estresse viven-
ciado pelos familiares, pacientes e outros profissionais nesse momento da internação. Aprendemos que, o momento de hospitalização
significa uma crise para a família, o que causa uma ruptura daquilo que é esperado na dinâmica familiar. Tanto a família quanto o paciente
que entra no hospital para qualquer tipo de intervenção, não serão mais os mesmo após a sua alta. Eles tomam contato com seu limite,
com sua fragilidade, com sua impotência, mas também é um momento que poderá emergir a sua força e capacidade.Não podemos negar
que aprendemos muito sobre a vida, doença e morte com nossos pacientes, pois a cada momento vamos aos leito ao encontro de pessoas
diferentes, o que acaba por exigir criatividade em nossa prática diária. Cada casa é um casa e vem revestido de particularidades e, é este o nosso
lugar, nosso espaço e nossa função na equipe que requer um exercício de criatividade contínua e, especialmente, de escuta. Em cada leito com
cada doente, com as diferentes doenças e com as diversas famílias, podemos dizer que crescemos.
A diferença do outro, de cada indivíduo, relança uma nova postura de percepção do mundo, pela qual o nosso convívio e aprendizado
mútuo são capazes de reconstruir nossas próprias percepções e, consequentemente nossas representações. (VALENTE 2008)

e. Atendimento de urgência e emergência em desastres naturais e catástrofes.

Vários eventos que ocorreram no Brasil e no mundo, como o ataque com armas químicas na Síria, o tornado no interior do estado de
São Paulo e o incêndio numa fábrica de fertilizantes em Santa Catarina, que produziu uma volumosa fumaça tóxica, surgem questionamen-
tos sobre a atuação dos profissionais de saúde nestes casos emergenciais e diferenciados, por sua natureza e repercussão.
Acidentes em massa podem ter variadas causas, por fenômenos naturais como, inundações, tornados, terremotos, avalanches, erup-
ções vulcânicas, entre outros; por ação humana em forças naturais ou materiais como, acidentes rodoviários, ferroviários, aeroviários e
marítimos, por radiação nuclear, desabamentos, incêndios e explosões, eletrocussão, entre demais exemplos; e outras origens como, causas
combinadas e pânico generalizado com pisoteamento.
A preocupação com tais situações torna-se emergente, mediante os fatos ocorridos recentemente e os grandes eventos que estão
programados para os próximos meses no Brasil.
Os profissionais e instituições de saúde brasileiros estão prontos para agir com eficácia e rapidez em casos com estas naturezas e
magnitudes?
O papel dos Enfermeiros é indispensável e crucial nestes casos, considerando as especificidades que competem a sua profissão.
Nestas situações de desastre, com envolvimento de muitas vítimas, um plano de emergência diferenciado precisa ser implementado.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O ideal é que as instituições de saúde construam e treinem seus funcionários, para que nestes casos cada profissional saiba como
atuar e gerenciar.
Em situações de desastre com múltiplas vítimas, o cliente com alta prioridade no atendimento é diferente do cliente prioritário de
situações emergenciais. Em acidentes catastróficos os insumos e recursos podem ter disponibilidade limitada, fazendo com que a triagem
e classificação das prioridades mudem. As decisões baseiam-se na probabilidade da sobrevida e no consumo dos recursos disponíveis. O
princípio fundamental que direciona o uso dos recursos é o bem máximo para o máximo de pessoas.
A triagem deve ser rapidamente realizada na cena do desastre, sendo imediatamente identificadas as vítimas prioritárias e iniciadas
as intervenções necessárias, com posterior encaminhamento para as unidades de emergência.

Nos Estados Unidos é utilizado um sistema de triagem com cores para classificação da prioridade de atendimento das pessoas aci-
dentadas (Tabela 1). Conforme a classificação, as pessoas recebem uma pulseira colorida que identifica seu nível de atenção e facilita a
implementação das medidas de preservação da vida.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O Enfermeiro pode desempenhar diferentes funções em even- MISSÕES DO ACOLHIMENTO COM CLASSIFICAÇÃO DE RISCO
tos catastróficos, sendo seu papel definido mediante as necessida- 1 - Ser instrumento capaz de acolher o cidadão e garantir um
des específicas que a instituição de saúde e equipes de trabalho melhor acesso aos serviços de urgência/emergência;
apresentam, bem como as particularidades que o desastre gerou. 2 - Humanizar o atendimento;
Por exemplo, o Enfermeiro pode atuar na triagem principal das ví- 3 - Garantir um atendimento rápido e efetivo.
timas, realizar procedimentos avançados, caso possua capacitação
para tal e respaldo da instituição, dar assistência no luto as famílias OBJETIVOS
com a identificação dos entes queridos, gerenciar e/ou fornecer as •Escuta qualificada do cidadão que procura os serviços de ur-
atividades de cuidado em hospitais de campanha (provisórios) ou gência/emergência;
mesmo coordenar a distribuição dos recursos materiais e humanos • Classificar, mediante protocolo, as queixas dos usuários que
entre as equipes de atendimento. demandam os serviços de urgência/emergência, visando identificar
Estes são apenas alguns exemplos das atividades que podem os que necessitam de atendimento médico mediato ou imediato;
ser realizadas, mas não contemplam todas as atividades desempe- • Construir os fluxos de atendimento na urgência/emergência
nhadas nestes eventos. Há ainda as ações voltadas para o controle considerando todos os serviços da rede de assistência à saúde;
e divulgação de informações à mídia e às famílias, o gerenciamento • Funcionar como um instrumento de ordenação e orientação
de possíveis conflitos internos, como o uso dos recursos disponí- da assistência, sendo um sistema de regulação da demanda dos ser-
veis; de origem étnica/cultural, referente aos hábitos e costumes viços de urgência/emergência
particulares dos acidentados e familiares; e de cunho religioso, re-
lacionado às crenças e costumes específicos das vítimas envolvidas, EQUIPE
principalmente nos casos de óbito.
Estes exemplos ilustram algumas situações possíveis em casos Equipe multiprofissional: enfermeiro, auxiliar de enfermagem,
de acidentes em massa, devendo ser considerados pelos profissio- serviço social, equipe médica, profissionais da portaria/recepção e
nais de saúde das equipes de atendimento. São casos que podem estagiários.
acontecer em eventos que envolvam um grande número de turis-
tas, sendo do próprio país ou estrangeiros. PROCESSO DE CLASSIFICAÇÃO
Concluindo esta primeira parte do artigo, os Enfermeiros de-
vem estar preparados para atuar em novos ambientes e em papéis É a identificação dos pacientes que necessitam de intervenção
atípicos em casos de desastre. O princípio que deve nortear suas médica e de cuidados de enfermagem, de acordo com o potencial
ações é o de fazer o bem ao maior número de pessoas que for pos- de risco, agravos à saúde ou grau de sofrimento, usando um pro-
sível. cesso de escuta qualificada e tomada de decisão baseada em pro-
tocolo e aliada à capacidade de julgamento crítico e experiência do
f. Acolhimento com avaliação e classificação de risco enfermeiro. A - Usuário procura o serviço de urgência. B - É acolhido
pelos funcionários da portaria/recepção ou estagiários e encami-
A Portaria 2048 do Ministério da Saúde propõe a implanta- nhado para confecção da ficha de atendimento. C - Logo após é en-
ção nas unidades de atendimento de urgências o acolhimento e a caminhado ao setor de Classificação de Risco, onde é acolhido pelo
“triagem classificatória de risco”. De acordo com esta Portaria, este auxiliar de enfermagem e enfermeiro que, utilizando informações
processo “deve ser realizado por profissional de saúde, de nível su- da escuta qualificada e da tomada de dados vitais, se baseia no pro-
perior, mediante treinamento específico e utilização de protocolos tocolo e classifica o usuário.
pré-estabelecidos e tem por objetivo avaliar o grau de urgência das
queixas dos pacientes, colocando-os em ordem de prioridade para CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO
o atendimento” (BRASIL, 2002). 1 - Apresentação usual da doença;
O Acolhimento com Classificação de Risco – ACCR - se mostra 2 - Sinais de alerta (choque, palidez cutânea, febre alta, des-
como um instrumento reorganizador dos processos de trabalho na maio ou perda da consciência, desorientação, tipo de dor, etc.);
tentativa de melhorar e consolidar o Sistema Único de Saúde. Vai 3 - Situação – queixa principal;
estabelecer mudanças na forma e no resultado do atendimento do 4 - Pontos importantes na avaliação inicial: sinais vitais – Sat. de
usuário do SUS. Será um instrumento de humanização. A estratégia O2 – escala de dor - escala de Glasgow – doenças preexistentes –
de implantação da sistemática do Acolhimento com Classificação idade – dificuldade de comunicação (droga, álcool, retardo mental,
de Risco possibilita abrir processos de reflexão e aprendizado ins- etc.);
titucional de modo a reestruturar as práticas assistenciais e cons- 5 - Reavaliar constantemente poderá mudar a classificação.
truir novos sentidos e valores, avançando em ações humanizadas
e compartilhadas, pois necessariamente é um trabalho coletivo e AVALIAÇÃO DO PACIENTE (Dados coletados em ficha de aten-
cooperativo. Possibilita a ampliação da resolutividade ao incorporar dimento)
critérios de avaliação de riscos, que levam em conta toda a comple- • Queixa principal
xidade dos fenômenos saúde/ doença, o grau de sofrimento dos • Início – evolução – tempo de doença
usuários e seus familiares, a priorização da atenção no tempo, di- • Estado físico do paciente
minuindo o número de mortes evitáveis, sequelas e internações. A • Escala de dor e de Glasgow
Classificação de Risco deve ser um instrumento para melhor orga- • Classificação de gravidade
nizar o fluxo de pacientes que procuram as portas de entrada de • Medicações em uso, doenças preexistentes, alergias e vícios
urgência/emergência, gerando um atendimento resolutivo e huma- • Dados vitais: pressão arterial, temperatura, saturação de O2
nizado.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

g. Captação, Doação e Transplante de Órgãos e Tecidos

O que é doação de órgãos?

Doação de órgãos é um ato nobre que pode salvar vidas. Muitas vezes, o transplante de órgãos pode ser única esperança de vida ou
a oportunidade de um recomeço para pessoas que precisam de doação. É preciso que a população se conscientize da importância do ato
de doar um órgão. Hoje é com um desconhecido, mas amanhã pode ser com algum amigo, parente próximo ou até mesmo você. Doar
órgãos é doar vida.
O transplante de órgãos é um procedimento cirúrgico que consiste na reposição de um órgão (coração, fígado, pâncreas, pulmão, rim)
ou tecido (medula óssea, ossos, córneas) de uma pessoa doente (receptor) por outro órgão ou tecido normal de um doador, vivo ou morto.

O que é morte encefálica?


A morte encefálica é a perda completa e irreversível das funções encefálicas (cerebrais), definida pela cessação das funções corticais
e de tronco cerebral, portanto, é a morte de uma pessoa.
Após a parada cardiorrespiratória, pode ser realizada a doação de tecidos (córnea, pele, musculoesquelético, por exemplo). A Lei
9.434 estabelece que doação de órgãos pós morte só pode ser feita quando for constatada a morte encefálica.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Como é feito o diagnóstico de morte encefálica? Estatísticas


O diagnóstico de morte encefálica é regulamentado pelo Con-
selho Federal de Medicina. Em 2017, o CFM retirou a exigência do mé- As estatísticas do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) são a
dico especialista em neurologia para diagnóstico de morte encefálica, consolidação dos dados sobre transplantes, com informações cole-
assunto amplamente debatido e acordado com as entidades médicas. tadas das diversas partes que compõem o SNT. O fornecimento dos
Deste modo, a constatação da morte encefálica deverá ser feita dados é de responsabilidade das secretarias de saúde dos estados e
por médicos com capacitação específica, observando o protocolo do Distrito Federal. Os dados estatísticos são essenciais para que o
estabelecido. Para o diagnóstico de morte encefálica, são utilizados Ministério da Saúde possa tomar conhecimento, registrar e divulgar
critérios precisos, padronizados e passiveis de serem realizados em a produção das cirurgias realizadas, bem como sistematizar índices
todo o território nacional. que demonstrem o desempenho do setor nas unidades federativas,
regiões e no país como um todo.
Quero ser doador de órgãos. O que fazer?
Se você quer ser doador de órgãos, primeiramente avise a sua QUAIS SÃO OS PRIMEIROS SOCORROS EM CASO DE AFO-
família. Os principais passos para doar órgãos são: GAMENTO?
Em caso de afogamento, a primeira coisa a fazer é tirar a vítima
Para ser um doador, basta conversar com sua família sobre o da água.
seu desejo de ser doador e deixar claro que eles, seus familiares, O ideal é socorrer a pessoa que está se afogando sem entrar na
devem autorizar a doação de órgãos. água, utilizando uma boia, tábua, colete salva-vidas, corda, galho
No Brasil, a doação de órgãos só será feita após a autorização ou qualquer outro objeto que a faça flutuar ou lhe permita agarrar
familiar. para não afundar.
Pela legislação brasileira, não há como garantir efetivamente a A seguir, providencie um cabo para rebocar a vítima no objeto
vontade do doador, no entanto, observa-se que, na grande maioria flutuante. O cabo deve ter um laço para que a pessoa possa prendê-
dos casos, quando a família tem conhecimento do desejo de doar -lo ao corpo, já que a correnteza pode impedi-la de segurar no cabo.
do parente falecido, esse desejo é respeitado. Por isso a informação Após retirá-la da água, mantenha-a aquecida e peça ajuda li-
e o diálogo são absolutamente fundamentais, essenciais e necessá- gando para o número 193. Se a vítima estiver consciente, deixe-a
rios. Essa é a modalidade de consentimento que mais se adapta à sentada enquanto aguarda pela chegada da ambulância. Se estiver
realidade brasileira. A previsão legal concede maior segurança aos inconsciente, siga os seguintes primeiros socorros:
envolvidos, tanto para o doador quanto para o receptor e para os 1) Deite a vítima de lado e mantenha-a aquecida;
serviços de transplantes. 2) Observe se ela está respirando;
A vontade do doador, expressamente registrada, também pode 3) Ligue e siga as instruções dadas pelo atendente do 193 (leve
ser aceita, caso haja decisão judicial nesse sentido. Em razão disso a vítima ao hospital ou espere pela chegada do socorro).
tudo, orienta-se que a pessoa que deseja ser doador de órgãos e
tecidos comunique sua vontade aos seus familiares. Se a pessoa não estiver respirando, é necessário fazer a reani-
Os órgãos doados vão para pacientes que necessitam de um mação cardiopulmonar:
transplante e estão aguardando em lista única, definida pela Central 1) Posicione a vítima deitada de barriga para cima sobre uma
de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada estado e controlada superfície plana e firme (a cabeça não deve estar mais alta que os
pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT). pés para não prejudicar o fluxo sanguíneo cerebral);
2) Ajoelhe-se ao lado da vítima, de maneira que os seus ombros
Existem dois tipos de doador. fiquem diretamente sobre o meio do tórax dela;
1 - O primeiro é o doador vivo. Pode ser qualquer pessoa que 3) Com os braços esticados, coloque as mãos bem no meio do
concorde com a doação, desde que não prejudique a sua própria tórax da pessoa (entre os dois mamilos), apoiando uma mão sobre
saúde. O doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, par- a outra;
te da medula óssea ou parte do pulmão. Pela lei, parentes até o 4) Inicie as compressões torácicas, que devem ser fortes, ritma-
quarto grau e cônjuges podem ser doadores. Não parentes, só com das e não podem ser interrompidas;
autorização judicial. 5) Evite a respiração boca a boca se estiver sozinho, não inter-
2 - O segundo tipo é o doador falecido. São pacientes com mor- rompa as compressões cardíacas;
te encefálica, geralmente vítimas de catástrofes cerebrais, como 6) O melhor é revezar nas compressões com outra pessoa, mas
traumatismo craniano ou AVC (derrame cerebral). a troca não deve demorar mais de 1 segundo;
7) A reanimação cardiorrespiratória só deve ser interrompida
Qual tempo de isquemia de cada órgão? com a chegada do socorro especializado ou com a reanimação da
O tempo de isquemia é o tempo de retirada de um órgão e vítima.
transplante deste em outra pessoa. A tabela abaixo demonstra o
tempo de isquemia aceitável para cada órgão a ser considerado
para transplante:

Órgão Tempo de isquemia


Coração 04 horas
Pulmão 04 a 06 horas
Rim 48 horas
Fígado 12 horas
Pâncreas 12 horas

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Não tente fazer a ressuscitação dentro da água. Sempre que possível, retire a vítima da água na posição horizontal.
Nunca tente salvar uma vítima de afogamento se não tiver condições para o fazer, mesmo que saiba nadar. É preciso ser um bom
nadador e estar preparado para salvar indivíduos em pânico.

Principais causas de afogamentos

Os afogamentos são comuns durante o verão, época em que as pessoas mais frequentam áreas de rios e mares. Desconhecimento das
condições do local e falta de habilidade do nadador estão entre as principais causas de afogamento.
Além disso, podemos citar como causas de afogamento o mergulho em áreas rasas, que pode levar a traumatismo seguido da aspira-
ção de água, ingestão de bebidas alcoólicas, crises convulsivas, doenças cardiorrespiratórias e câimbras. Em afogamentos em residências,
destacam-se os de crianças que se afogam em banheiras e outros recipientes com água por ficarem sem a supervisão de um adulto.
Denominamos de afogamento primário aquele em que não se observa nenhum fator que levou ao afogamento. Este ocorre natural-
mente em virtude da falta de habilidade da vítima, por exemplo. Já o secundário está relacionado com alguma patologia que dificulte que
a vítima mantenha-se na superfície.

Como ocorre o afogamento?


Quando uma pessoa entra em contato com a água e percebe que sofrerá o afogamento, ela geralmente se desespera e inicia uma luta
para manter-se na superfície. Quando ocorre a submersão, instantaneamente a pessoa prende a respiração. Essa parada da respiração
depende da capacidade física de cada indivíduo.
Quando a pessoa não consegue mais segurar a respiração, uma aspiração de líquido pode ocorrer. Em algumas pessoas, isso é um
estímulo para que haja um reflexo natural que contrai as vias respiratórias e impede que mais água entre no organismo. Essa contração
pode levar à morte por asfixia, um caso que chamamos de afogamento do tipo seco.
Na maioria das pessoas, no entanto, não ocorre esse reflexo e o que acontece é uma grande aspiração de água por causa de movimen-
tos respiratórios involuntários. Isso faz com que a água chegue aos pulmões, levando à perda da substância que promove a abertura dos
alvéolos (surfactante), mudanças na permeabilidade dos capilares e surgimento de edema pulmonar. Com o tempo, o pulmão enche-se
completamente de água, o indivíduo perde a consciência, sofre parada respiratória e morre.

Primeiros socorros em caso de afogamento

Em casos de afogamento, é importante ser muito cauteloso ao tentar salvar a vítima. Quando uma pessoa está se afogando, sua ten-
dência é desesperar-se e segurar na pessoa que está tentando salvá-la, podendo ocasionar outro afogamento. Nesses casos, portanto, é
fundamental jogar algo para que ela se segure, como boias e pneus.
Nesses casos, é fundamental também chamar bombeiros ou uma ambulância, pois a vítima terá atendimento especializado. Em pes-
soas desacordadas e sem sinais de respiração, recomenda-se a respiração boca a boca e, quando estiver sem pulso, a massagem cardíaca.
Quando acordada, é importante manter a vítima deitada de lado e aquecida.

O que fazer em caso de choque elétrico?


Em caso de choque elétrico, os primeiros socorros devem ser prestados rapidamente, pois os primeiros 3 minutos após o choque são
vitais para socorrer e salvar a vítima.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A primeira coisa a fazer é interromper o contato da pessoa com Assim, estudos revelam que os usuários dos serviços de saú-
a fonte de eletricidade sem encostar diretamente nela. O ideal é de buscam profissionais qualificados, comprometidos, preparados
desligar a chave geral de força. Se não for possível, afaste a vítima para escutá-los e realizar uma comunicação acolhedora, com a va-
utilizando algum material que não conduza corrente elétrica, como lorização dos discursos e que tenha resolutividade para as suas ne-
objetos de borracha ou madeira. cessidades (Oliveira et al., 2008; Hoyos, Cardona e Correa, 2008).
Outro tema que teve destaque no processo de comunicação foi
A seguir, chame o resgate através do número 192 e verifique a adesão ao tratamento. Pesquisas revelam que tanto a interrup-
se a pessoa está respirando, se consegue se mexer ou emitir algum ção do tratamento como a não adesão estão relacionadas na maior
som. Caso não verifique nenhum desses sinais, é provável que a parte das vezes à não compreensão das informações sobre o uso
vítima tenha sofrido uma parada cardíaca ou cadiorrespiratória. adequado dos medicamentos (Assunção e Ursine, 2008; Ganzella e
Zago, 2008). Em um estudo sobre a não adesão, os autores ressal-
Nesse caso, inicie imediatamente a reanimação cardíaca, en- tam a necessidade de uma abordagem holística, ou seja, é preciso
quanto espera pela ambulância: que os profissionais da saúde trabalhem de maneira conjunta e vi-
sualizem os pacientes de forma integral, identificando as condições
Reanimação cardíaca sociais, econômicas e culturais dos indivíduos, para auxiliar no pro-
cesso de adesão ao tratamento (Moreira e Araújo, 2002).
Deite a vítima em local seguro, com a barriga para cima; Uma dissertação de mestrado constatou que existe uma con-
Com uma mão sobre a outra, faça 30 compressões fortes e rit- tradição na comunicação interpessoal aprendida durante a fase de
madas no meio do tórax da vítima. Em cada compressão, o peito da graduação e depois, ao exercer a profissão (Lima, 1993). Foi pos-
vítima deve afundar cerca de 5 cm. Para isso, recomenda-se usar o sível confirmar isso com o fazer técnico biologicista priorizado no
peso do próprio corpo para fazer a compressão; cotidiano de trabalho, em lugar de uma assistência prestada e cen-
Tentando manter um ritmo de aproximadamente 100 a 120 trada no sujeito.
compressões por minuto Quando a comunicação tem como sujeito-salvo os profissionais
Após as 30 compressões observe se a pessoa está respondendo de saúde, apresenta algumas falhas e enfrenta dificuldades. Estu-
ou se encontra algum pulso, no punho ou pescoço da vítima; se não do revela que um local adequado dentro do ambiente de trabalho,
volte às compressões; para que os profissionais possam se encontrar a fim de discutir e
Se houver mais alguém, o mais adequado é revezar a massa- refletir sobre o cotidiano e compartilhar as angústias e satisfações
gem a cada 2 minutos, para manter uma compressão eficaz e me- é um fator importante para a humanização (Yokaichiya et al., 2006).
lhor resultado; Além disso, o pouco tempo disponível para as reuniões é um fator
Mantenha as compressões até a pessoa retomar a consciência que dificulta os profissionais de estabelecerem o diálogo com cole-
ou até à chegada do socorro. gas de trabalho, familiares e pacientes (Lima, 1993).
Quanto mais rápido for o atendimento à vítima de uma parada Dentre os estudos analisados, três populações encontraram-se
cardiorrespiratória, por choque elétrico, menores são os danos cau- vulneráveis às práticas de saúde fragmentadas: os jovens, as mu-
sados ao organismo. lheres que sofrem com violência e os homens que compartilham
experiências com aborto. O processo de comunicação com os ado-
Estudos recentes comprovam que a realização de massagem lescentes tem como eixo principal os assuntos relacionados com a
cardíaca nos primeiros socorros, possibilita a manutenção do fluxo iniciação sexual e a sexualidade de modo geral (Nascimento e Go-
sanguíneo e, portanto, oxigenação dos tecidos, inclusive pulmonar mes, 2009). Em trabalho realizado com o público feminino, emergiu
e cerebral, mesmo sem mais a indicação de respiração boca-a-boca, a dificuldade de proporcionar acolhimento e detectar os casos de
salvado muitas vidas. violência contra as mulheres (Borsoi, Brandão e Cavalcanti, 2009).
Já com os homens, a pesquisa deu-se em torno daqueles que acom-
Se o choque elétrico provocar queimaduras, lave a área afetada panharam mulheres em situação de aborto (Rodrigues e Hoga,
com água corrente à temperatura ambiente, até esfriar o local. Se 2006). Os estudos citados evidenciaram a necessidade de profis-
puder mergulhar a queimadura na água, melhor. sionais com personalidade voltada para o acolhimento, que fossem
sensíveis, demonstrassem envolvimento e comprometimento com
os sujeitos, requerendo profissionais com especificidades de assis-
GERENCIAMENTO DE ENFERMAGEM EM SERVIÇOS DE tência e comunicação para cada um deles.
SAÚDE. GERENCIAMENTO DE RECURSOS HUMANOS. Uma boa comunicação auxilia também na organização dos ser-
DIMENSIONAMENTO, RECRUTAMENTO E SELEÇÃO, viços de saúde. Pesquisas revelam que se a população recebesse
EDUCAÇÃO EM PROCEDIMENTOS E MÉTODOS DIAG- informações adequadas acerca da situação em que procurar os ser-
NÓSTICOS viços de urgência e emergência, menor seria o tempo de espera nos
serviços, e com isso os casos que realmente necessitam do aten-
Gestão do trabalho de enfermagem e Gestão do SUS dimento teriam uma disponibilidade melhor da equipe de saúde
(Carret, Fassa e Domingues, 2009; Coelho e Jorge, 2009; Oliveira,
A comunicação é abordada no sentido de possibilitar a integra- Costa e Soares, 2007).
lidade da atenção à saúde, pois, numa comunicação em que os su- A comunicação com os familiares e acompanhantes também
jeitos sejam escutados de maneira qualificada e satisfatória, podem foi citada entre os trabalhos selecionados. É preciso uma intera-
interagir e compartilhar suas vivências. Ela possibilita ainda que as ção pacientes-profissionais-familiares, em que sejam fornecidas
condutas sejam pautadas e programadas de acordo com o conhe- informações referentes aos cuidados específicos, pois assim será
cimento dos aspectos socioeconômicos e culturais (Oliveira, 2002). possível fortalecer os cuidadores para a alta hospitalar. Além disso,
os familiares devem ser informados quanto às transferências que
acontecem dentro do hospital. Dessa forma, é possível diminuir a
angústia, a ansiedade e as preocupações entre os familiares (Lima
e Busin, 2008).

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Uma pesquisa realizada no Reino Unido faz referência aos dois Outro exemplo dessa temática foi um projeto com mães de
tipos de comunicação, a verbal e a não verbal, realizada durante crianças hospitalizadas que se realizou em São Paulo na década de
atendimentos de fisioterapeutas. Dos sujeitos, 52% conseguiram 1980, o qual garantia a permanência das mães ou outro cuidador
compreender e participaram do processo de comunicação verbal. durante as 24 horas do dia, estimulando-os a participarem das prá-
No entanto, dentre os sujeitos que não compreenderam a comu- ticas assistenciais e fortalecendo o desenvolvimento e a recupera-
nicação verbal, 84% apenas tiveram respostas por olhares e 54% ção das crianças (Mora et al., 1991).
responderam a estímulos de toque terapêutico (Roberts e Bucksey, No Chile, estudo comprova que, com a permanência das mães
2007). na pediatria, há um decréscimo de 20% no tempo de internação
Como fragilidades encontradas nos estudos selecionados, a (Barrera et al., 1993). Além disso, quando as mães acompanham
maior parte deles afirma que muitos profissionais utilizam um lin- seus filhos, é possível que auxiliem os profissionais nos procedi-
guajar baseado em termos técnicos e científicos; algumas das in- mentos de menor complexidade (Escobar, 1998). No entanto, para
formações deveriam ser por escrito, o que nem sempre acontece que isso ocorra, é fundamental que a equipe de saúde esteja dis-
(Araújo, Rodrigues e Rodrigues, 2008; Queiroz et al., 2007; Victor et ponível a também sofrer mudanças, em especial no que diz respei-
al., 2003). Além disso, um estudo ressalta que existe negligência nas to ao acolher e auxiliar a família nesse período de modificações e
informações e também que algumas destas nem sempre são iguais adaptações no ambiente hospitalar (Silveira e Carvalho, 2002).
entre os profissionais, o que acarreta uma variedade de informa-
ções e com desencontros entre elas (Queiroz et al., 2007). No âmbito da saúde mental, mesmo a partir da reforma psiqui-
Uma pesquisa sugere que, no processo de comunicação, os átrica, observam-se reflexos do período manicomial. Pesquisa reve-
profissionais façam referência aos pacientes pelo nome de cada la que a inserção social é um grande desafio para os profissionais,
um, que durante o diálogo haja uma relação de ‘olho no olho’, e que tornando-se necessário romper os paradigmas impostos pela socie-
os profissionais estejam dispostos a se comunicar com termos de dade, para promover a atenção integral a esses sujeitos (Moraes,
fácil entendimento e possibilitem uma escuta sensível e qualificada 2008). Nesse contexto, um estudo salienta que é preciso promover
(Gomes e Vianna, 2008). o acolhimento com estratégia clínica, para superar os percalços en-
É preciso ouvir mais e falar menos, pois assim será possível dar frentados pela pessoa com transtorno psíquico, e substituir o mo-
ênfase ao processo de diálogo e reduzir a tendência que os profis- delo hospitalar vigente pela continuidade da assistência em redes
sionais de saúde têm, em especial os médicos, de realizar monólo- de cuidado em saúde, a qual englobe a comunidade e os ambulató-
gos (Roter et al., 2008). rios (França, 2005).
A criação de grupos é um fator destacado dos estudos como
Modo de organização das práticas em saúde uma alternativa válida a ser adotada pelos serviços de saúde. Dis-
sertações que tiveram gestantes como sujeitos de pesquisa revelam
A criação do Programa de Saúde da Família (PSF) em 1994 e, que, ao participarem de grupos, elas sentem-se acolhidas e seguras
em 2003, a implantação da Política Nacional de Humanização (PNH) e conseguem partilhar anseios e inquietações, além de trocar expe-
desencadearam modificações no modo de organização dos serviços riências (Kesselring, 2001; Pereira, 2006).
e da atuação dos profissionais. O processo de capacitação profissional também é citado como
Diante dessa realidade, estudos revelam que a implementação modelo de organização. A capacitação é vista como fundamental
do PSF aumentou a demanda dos serviços e acarretou mudanças para superar as dificuldades encontradas no cotidiano de trabalho,
no modelo de atenção. Isso ocasionou a necessidade de se buscar em razão das insuficiências da estrutura dos serviços no que cor-
auxílio em outras áreas do conhecimento, gerando a integração dos responde ao processo de escuta qualificada, triagem e referencia-
saberes nas práticas assistenciais e formando equipes multiprofis- mento (Leite, Maia e Sena, 1999). Além disso, auxilia na superação
sionais (Nery et al., 2009; Delfini, Sato e Antoneli, 2009). do modelo cartesiano, o que permite direcionar o comportamento
O processo de trabalho dos profissionais da enfermagem preci- profissional para uma assistência mais humanizada, possibilitando
sou ser direcionado para um novo posicionamento, ou seja, neces- que o período de internação ou enfrentamento de uma patologia
sitou ser baseado no processo de humanização, integralidade e na se torne menos sofrido (Silva, Sanches e Carvalho, 2007; Cordeiro,
melhora da qualidade de vida dos sujeitos (Bicca e Tavares, 2006). 2008).
A referida transformação do posicionamento é condizente com a Nos serviços especializados, a capacitação também é refe-
PNH, pois esta tem como princípio a atenção integral, por intermé- renciada. No atendimento às gestantes, ajuda nas formulações
dio do acolhimento e do acesso aos usuários (Nascimento, Tesser e de orientações e estratégias de cuidado, obtém maior eficácia na
Poli Neto, 2008). assistência e reduz a morbimortalidade materno-infantil (Versiani
Dentre os achados da pesquisa nesse núcleo de sentido, há et al., 2008). Em estudo realizado em Taiwan, o apoio social nos
um grande índice de estudos selecionados que fazem referência à atendimentos foi diagnosticado como relevante para a organização
Saúde da Criança. Eles revelam que uma das principais mudanças dos serviços, fazendo com que tanto os gestores como os pacientes
no processo de organização é a presença da família ou de cuidado- demonstrassem maior responsabilização. A autonomia dos sujeitos
res com vínculo durante o momento de hospitalização. Esse acom- também ficou em maior evidência (Hsu et al., 2006).
panhamento é enfatizado com uma atenção especial da equipe Para a atenção humanizada de qualidade, é necessária a inte-
de enfermagem, pois ela pode apoderar-se desse momento para gração dos saberes em todos os níveis de gestão dos serviços de
transmitir e trocar saberes e experiências entre profissionais e fami- saúde, ou seja, é preciso que as ações sejam alicerçadas em vários
liares - com isso reduzindo o número de intervenções e diminuindo núcleos de profissões, a fim de planejar uma assistência comparti-
a frequência de infecções hospitalares - e também para minimizar lhada (Versiani et al. 2008; Backes, Koerich e Erdmann, 2007).
os traumas ocorridos durante os dias de internação (Andrade, 1993; O acolhimento é outro fator destacado. Um estudo caracteriza
Barrera et al., 1993). o acolhimento como uma tecnologia operacional, a qual está em
processo de construção, sofre alterações nos diferentes cenários do
SUS e não existe nas UBS, em razão dos níveis de concepções e das
maneiras de se reorganizar o cotidiano de serviço (Souza, Elizabe-
the et al., 2008).

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Um estudo revela que o acolhimento é uma estratégia essen- A Administração indica que o processo de tomada de decisões
cial para a reorganização dos serviços de saúde, porque ocorre uma pode ser desenvolvido pelos gestores com maior qualidade, se es-
alteração do foco da assistência somente voltado para o biomédi- tes seguirem um método. “A análise de problemas constitui-se de
co; ele possibilita o trabalho multiprofissional, o acesso igualitário uma série de processos, que podem ser aprendidos para serem
e maior resolutividade das necessidades de saúde, além de se con- utilizados como instrumentos do processo de trabalho gerencial e
ciliar com as práticas humanizadas (Silva e Alves, 2008). Além dis- que ajudam a qualificar as decisões dos profissionais de saúde e
so, há evidências de que nas unidades de ESF que desenvolvem o seus gestores, de modo participativo, ouvindo todos os envolvidos
acolhimento existe uma adesão maior ao tratamento em razão da na situação e escolhendo ações que obtenham o máximo sucesso
criação de vínculo (Sá et al., 2007). na resolução do problema, com o menor custo e com o mínimo de
As tecnologias das relações, do mesmo modo, são conside- desvantagens ou riscos para todos os envolvidos” (CIAMPONE &
radas como alternativas para modificar a organização no serviço MELLEIRO, 2005).
(Schimith, 2002; Martins e Nascimento, 2005; Gama et al., 2009). Para alcançar a competência de tomar decisões, algumas etapas
Na maior parte dos achados, esse tipo de tecnologia é mais utiliza- precisam ser cumpridas. Conhecer a instituição e sua missão, avaliar
do pela equipe de enfermagem (Rossi e Lima, 2005). as reais necessidades dos usuários e realizar o trabalho pautado em
um planejamento que contemple o detalhamento de informações
Uma pesquisa realizada nos EUA identificou um considerável tais como: ideias e formas de operacionalizá-las; recursos viáveis; de-
grau de satisfação dos pacientes quando, durante o atendimento, finição dos envolvidos e dos passos a serem seguidos; criação de cro-
apareciam nos profissionais da saúde os sentimentos de compreen- nogramas de trabalho e envolvimento dos diversos níveis hierárquico
são, honestidade e confiança (Stock Keister et al., 2004). (MARX & MORITA, 2000).
Cabe ainda destacar um estudo que revela a diferenciação do O planejamento e a consequente tomada de decisão como fun-
modo de organização dos serviços nas instituições públicas e nas ção específica do enfermeiro que desenvolve o gerenciamento do
privadas. Essas variações englobam a diferença da assistência e o serviço foram reduzidos à dimensão técnica, pois compõem apenas
processo de relações entre os profissionais e usuários, a conduta um conjunto de ações que buscam colocar outra ação em prática,
em relação à dor durante o trabalho de parto, as condições de con- já que as questões ideológicas e de poder intrínsecas ao planejar
tinuidade das consultas de pré-natal e as relações de confiança en- não são consideradas pelos enfermeiros (CIAMPONE & MELLEIRO,
tre os médicos e os pacientes (Gama et al., 2009). 2005).

Gestão do trabalho de enfermagem Liderança

Atenção à saúde A liderança é tida como uma das principais competências a se-
rem adquiridas pelo profissional de saúde. No trabalho em equipe
Conforme descrito no Ministério da Educação (2001), os profis- multiprofissional, os profissionais de saúde deverão estar aptos a
sionais de saúde, dentro de seu âmbito, devem estar aptos a desen- assumir posições de liderança, sempre tendo em vista o bem-estar
volver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da da comunidade. A liderança envolve compromisso, responsabilida-
saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. Cada profissional de, empatia, habilidade para tomada de decisões, comunicação e
gerenciamento de forma efetiva e eficaz (FLEURY & FLEURY, 2001).
deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e
Liderança é o processo pelo qual um grupo é induzido a dedi-
contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo ca-
car-se aos objetivos defendidos pelo líder ou partilhado pelo líder
paz de pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade
e seus seguidores. Liderança e administração se sobrepõem, já que
e de procurar soluções para eles. Os profissionais devem realizar
alguns aspectos da liderança poderiam ser descritos como geren-
seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e princí-
ciamento.
pios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da
É preciso lembrar que gênero, poder e liderança estão interli-
atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas, sim, com a
gados. Pesquisas mostram que as mulheres vêem o poder diferen-
resolução do problema de saúde. temente do homem, como forma de dominação em uma relação
A atenção à saúde não se constitui diretamente como objeto em que elas são freqüentemente as subordinadas, o que acarreta
de trabalho desenvolvido pela gerência, mas pode ser entendida muitas dificuldades para perceberem que também possuem poder.
como finalidade indireta do trabalho gerencial em saúde. Para que Esses aspectos culturais da liderança influenciam também as rela-
a atenção à saúde seja alcançada, o profissional que exerce a gerên- ções de trabalho de uma categoria predominantemente feminina
cia faz uso de instrumentos do trabalho administrativo como o pla- (MARQUIZ & HUSTON, 1999). Entre os conhecimentos gerenciais
nejamento, a organização, a coordenação e o controle. A qualidade que subsidiam o desenvolvimento da liderança são destacados:
da assistência à saúde demanda a existência de recursos humanos planejamento, estratégias gerenciais, estrutura organizacional, ge-
qualificados e recursos materiais compatíveis / adequados com a rência de pessoas, processo decisório, administração do tempo, ge-
oferta de cuidados orientada pelas necessidades de saúde (SILVA, renciamento de conflito, negociação, poder e comunicação (MARX
2003). & MORITA, 2000).

Tomada de decisão Educação permanente

O trabalho dos profissionais de saúde deve estar fundamen- A educação permanente é uma das modalidades de educação
tado na capacidade de tomar decisões, visando o uso apropriado, no trabalho que se caracteriza por possuir um público-alvo multi-
eficácia e custo-efetividade, da força de trabalho, de medicamen- profissional; ser voltada para uma prática institucionalizada; enfo-
tos, de equipamentos, de procedimentos e de práticas. Para este car os problemas de saúde e ter como objetivo a transformação das
fim, eles devem possuir competências e habilidades para avaliar, práticas técnicas e sociais; ser de periodicidade contínua; utilizar
sistematizar e decidir as condutas mais adequadas, baseadas em metodologia centrada na resolução de problemas e buscar como
evidências científicas (FLEURY & FLEURY, 2001). resultado a mudança (MANCIA et al, 2004).

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O envolvimento do enfermeiro no processo de educação per- to da enfermagem como ciência. (FORMIGA & GERMANO, 2005).
manente acontece com a aquisição contínua de habilidades e com- Estudo sobre a prática gerencial e o mundo do trabalho na Enfer-
petências que estejam de acordo com o contexto epidemiológico e magem tem mostrado que as competências constituem um tema
com as necessidades dos cenários de saúde, para que resultem em de discussão imediata a fim de se dar respostas às necessidades
atitudes que gerem mudanças qualitativas no processo de trabalho desta prática. Autores têm abordado individualmente competên-
da enfermagem. cias como a interpessoal, a liderança, a motivação da equipe, a
Dentre os conhecimentos da área de Administração que per- comunicação, entre outras, também importantes, num claro sinal
mitem identificar e acessar informações para desenvolver a com- que discuti–las tem sido uma necessidade percebida e manifestada
petência de educação permanente, destacam-se os seguintes: (WITT & ALMEIDA, 2005).
planejamento, políticas de desenvolvimento de recursos humanos, A constituição do saber de administração na enfermagem deu-
organizações de aprendizagem pautadas em métodos ativos, co- -se a partir da necessidade de organizar os hospitais. Em sua di-
nhecimento do processo de trabalho, cultura organizacional, ne- mensão prática, o saber administrativo institucionalizou-se com a
gociação, trabalho em equipe, comunicação, qualidade de vida no formação das primeiras alunas da Escola Nightingale, que buscava
trabalho, saúde do trabalhador, leis trabalhistas, gerenciamento de suprir a demanda de enfermeiras diplomadas para fundarem novas
pessoas e educação continuada (MARX & MORITA, 2000). escolas, ao serem treinadas para o cargo de superintendente. A for-
mação diferenciada as disciplinava para ocuparem a chefia de en-
Comunicação fermarias e a superintendência de hospitais (GOMES, et al, 1997).
Chama a atenção que na área da enfermagem o gerenciamento
Comunicação é a troca de informações, fatos, idéias e significa- foi historicamente incorporado como função do enfermeiro. Por-
dos. Entre os componentes de uma comunicação estão a mensagem, tanto, sempre houve no processo de formação desses profissionais
o comunicador, o receptor, e o meio. Nos processos de codificação, um preparo “mínimo” para assumir esse papel. Embora não seja
decodificação e feed-back são sentidas as influências de seus compo- objeto do presente estudo, empiricamente sabe-se que são poucas
nentes como: a urgência da mensagem, a experiência e a habilidade as carreiras da área de saúde que incluem disciplinas voltadas ao
do emissor, e a imagem que este tem do receptor. Mas, a maior inter- gerenciamento de serviços de saúde na graduação. Mesmo dentre
ferência na comunicação ocorre por conta dos ruídos de interpreta- os atuais gerentes de serviços de saúde, um pequeno percentual se
ção, capazes de distorcer a mensagem durante o processo comunica- especializam em gestão.
tivo (QUINN et al, 2003). Para o desenvolvimento da competência administração e ge-
Os tipos de comunicação mais conhecidos e estudados são renciamento são considerados indispensáveis o conjunto de co-
a comunicação verbal e a comunicação não-verbal. No entanto, nhecimentos identificados para planejar, tomar decisões, interagir,
outra forma de comunicação surge e domina cada vez mais o gestão de pessoal. Assim, com ênfase nas funções administrativas,
ambiente de trabalho é a comunicação virtual. O processo de destacam-se o planejamento, organização, coordenação, direção
comunicação das informações, organizado em sistemas infor- e controle dos serviços de saúde, além dos conhecimentos espe-
matizados e com funções diversas, garante que as pessoas re- cíficos da área social/ econômica que permitem ao gestor acionar
cebam informações com facilidades para quem as envia, já que dados e informações do contexto macro e micro organizacional, e
o princípio utilizado é o da inclusão de nomes em listas. Essas analisá-los de modo a subsidiar a gestão de recursos humanos, re-
inclusões transformam as listas em verdadeiras redes sociais de cursos materiais, físicos e financeiros (MARX & MORITA, 2000).
informação.
O enfermeiro gestor
A competência comunicativa é fundamental para que o enfer-
meiro conquiste relações profissionais e pessoais mais significati-
Durante toda a existência da enfermagem, a prática profissio-
vas, maior autoconsciência e aceitação das diferenças, ampliação
nal pode ser explicada através de diversos enfoques. Por ser con-
dos caminhos de ensino e da pesquisa e conquista de um bem-estar
siderada ciência e arte, ela está sempre ligados aos mais diversos
(BRAGA, 2004).
ramos do conhecimento como a ciência da administração, que con-
Em gestão, a comunicação se trona essencial, pois para que
tribui com uma parcela que se concretiza, principalmente, na admi-
haja organização, é indispensável comunicar-se, a fim de estabele- nistração do pessoal de enfermagem.
cer metas, canalizar energias e identificar e solucionar problemas Contudo, com a evolução técnico-científica, percebeu-se a in-
aprender a comunicar-se com eficácia é crucial para incrementar a serção do enfermeiro no campo da administração de recursos ma-
eficiência de cada unidade de trabalho e da organização como um teriais, visando não tornar-se um ser burocrata, mas buscar atender
todo. ao seu produto final - o paciente - com um atendimento de quali-
Os conhecimentos identificados como essenciais para o de- dade (VITARI, 2006).
senvolvimento da competência da comunicação incluem: conheci- O trabalho gerencial na área de saúde apresenta especificida-
mento do próprio estilo de interação, administração de conflitos, des próprias e para isso necessita de um campo de conhecimentos
negociação, escuta ativa, normas e padrões de comunicação Orga- também próprios. Nesse sentido, tem buscado discutir questões
nizacional, sistemas de informação, trabalho em equipe, metodo- teóricas relativas à gestão de serviços de saúde que mais se enqua-
logia da assistência, poder e cultura organizacional (QUINN et al, drem a essa modalidade organizacional.
2003). O trabalho em saúde é um trabalho que se baseia em relações,
seja profissional/cliente ou profissional/ profissional; que essas re-
Administração e gestão lações são os produtos do trabalho em saúde e, ainda, este produto
é consumido no exato momento em que é produzido, constituin-
O enfermeiro, como o gestor da assistência de enfermagem do-se, assim, em um tipo de trabalho portador de potencialidades
prestada ao paciente, requer o conhecimento, as habilidades e as auto-analíticas e auto-gestivas (MERHY & ONOCKO, 1997).
atitudes que possibilitarão com que exerça seu trabalho objetivan- O líder busca e recebe continuamente informações que subsi-
do resultados com eficiência. Este papel gerencial, amplamente diam a compreensão do que ocorre na sua organização. Com base
discutido desde anos passados, passa pelo próprio desenvolvimen- nas informações recebidas, de sua organização e de seu ambiente

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

externo, ele identificará problemas, detectará mudanças que pos- Ao graduar-se o enfermeiro assume intrinsecamente o papel
sam estar acontecendo – ou a necessidade de mudanças a serem de líder. Esse atributo lhe é imposto pela exigência da lei do exercí-
implementadas – e tomará decisões (TREVIZAN et al; 1998). cio profissional e do código de ética em enfermagem. Espera-se que
Líder é aquele que possui seguidores, nem sempre sendo por ao se inserir no mercado de trabalho, essa competência esteja ple-
eles amado e admirado, mas sempre sendo seguido por pessoas namente passível de ser praticada por esse profissional de saúde.
que fazem coisas certas. Na análise da liderança importa os resulta- No entanto, nem sempre ele se encontra preparado. Os cursos de
dos e não a popularidade, pois liderança associa-se com responsa- graduação e pós-graduação e até mesmo a imaturidade profissional
bilidade (CUNHA, 2008). apresentam-se como empecilhos. (BALSANELLI et al, 2008).
A liderança voltada para a enfermagem pontua visa descobrir Certamente, algum avanço aconteceu, seja através da inclusão
e eliminar as causas de falhas; incentivar o trabalho da equipe e desse tema nos currículos e programas educacionais de treinamen-
a participação efetiva das pessoas; ajudar na realização pessoal e to em serviços, como assunto de palestras, conferência ou outros
profissional; preparar novas lideranças; fortalecer os processos de eventos científicos, porém, todas estas tentativas ainda são insufi-
tomada de decisão; facilitar a descentralização do comando; gerar cientes frente à necessidade de uma liderança que realmente cause
comprometimento com as soluções escolhidas e resolver proble- impacto em todos os campos da prática profissional.
mas que não podem ser resolvidos individualmente. O trabalho de enfermagem como instrumento do processo de
A isso, forma-se um conjunto de princípios e diretrizes que ba- trabalho em saúde, subdivide-se ainda em vários processos de tra-
lizam decisões e comportamentos do serviço e das pessoas em sua
balho como cuidar/assistir, administrar/gerenciar, pesquisar e ensi-
relação com a organização. Sendo, portanto, um conjunto de proce-
nar. Dentre esses, o cuidar e o gerenciar são os processos mais evi-
dimentos, métodos e técnicas diversas utilizadas para a implemen-
denciados no trabalho do enfermeiro (PERES & CIAMPONE, 2006).
tação de decisões e para nortear as ações no âmbito da organização
Essas funções gerenciais apontadas como responsabilidade do
em sua relação com o ambiente externo (DUTRA, 2002).
Aos enfermeiros cabem entre outras, tarefas diretamente re- enfermeiro, permitem vislumbrar caminhos para compreender com
lacionadas à sua atuação com o cliente, bem como a liderança da maior clareza que o “gerenciar” é uma ferramenta do processo de
equipe de enfermagem e o gerenciamento dos recursos: físicos, trabalho do “cuidar”. Para isso, o autor exemplifica que o enfermei-
materiais, humanos, financeiros, políticos e de informação – para ro pode fazer uso dos objetos de trabalho, “organização” e “recur-
a prestação da assistência de enfermagem. É exigido conhecimento sos humanos” no processo gerencial que, por sua vez, insere-se no
(que conheça o que faz), habilidades (que faça corretamente) e que processo de trabalho “cuidar” que possui como finalidade geral a
tenha atitudes adequadas para desempenhar seu papel objetivan- atenção à saúde evidenciada na forma de assistência (promoção,
do resultados positivos. É, portanto, exigido que ele seja compe- prevenção, proteção e reabilitação) (FELLI & PEDUZZI, 2005).
tente naquilo que faz, bem como garanta que os membros da sua O enfermeiro, quanto à gestão com as pessoas, buscará traba-
equipe tenham competência para executarem as tarefas que lhes lhar estratégias para conhecer quais são as necessidades que de-
são destinadas (CUNHA & XIMENEZ, 2006). vem ser atendidas no cliente, que procura seu serviço, o qual deve
Na enfermagem nos dias de hoje, gestão de unidade consiste ter suas expectativas superadas para retornar em outras ocasiões
na previsão, provisão, manutenção, controle de recursos materiais e até mesmo ajudar no marketing da empresa (BALSANELLI et al;
e humanos para o funcionamento do serviço e, gestão do cuida- 2008).
do, consiste no diagnóstico, planejamento, execução e avaliação da A enfermagem como disciplina profissional visa à construção
assistência, passando pela delegação das atividades, supervisão e do conhecimento entendido como gestão em enfermagem, que
orientação da equipe (GRECO, 2004). pode ser expresso pelo processo de trabalho, ou seja, um conjunto
Assim, os enfermeiros compreendem que administrar é cuidar de atitudes do enfermeiro para manter a coerência entre o discurso
e quando planejam, organizam, avaliam e coordenam, eles também e ação (THOFEHRN & LEOPARDI, 2006)
estão cuidando (VAGHETTI et al, 2004). O conhecimento organizacional necessita de uma gestão e de
É necessária uma lapidação no sentido do gerenciamento, pois uma enfermagem que se situa na interseção dos fluxos de informa-
os órgãos formadores ainda não proporcionam capacitação aos ção, contribuindo com a melhoria das práticas de saúde através de
enfermeiros para torná-los aptos para desempenharem a função uma cultura de compartilhamento do conhecimento (SHINYASHIK
de gestores de saúde. O enfermeiro deverá também ser capaz de et al, 2003).
caracterizar a gestão como oportunidade de estabelecer outras re-
Em síntese, podemos dizer que a atuação do enfermeiro como
lações com os demais profissionais na área de saúde, focando suas
gestor depende, primeiramente, do conhecimento que este tem do
competências à capacidade de acessar, analisar, estruturar e sinte-
processo de gestão em saúde, dos caminhos e da possibilidade de
tizar informações de gestão em saúde e em gerir indiretamente re-
abertura ou desencadeamento de processos sociais e intersubjeti-
cursos e avaliar serviços de saúde e melhoria da qualidade de vida,
permitindo assim maior integração com a equipe e maior efetivi- vos de criação e recriação constante de acordos, pactos e projetos
dade nas relações entre todos os atores envolvidos no processo de coletivos, como também de criar planos diretores com aplicação co-
gestão (BALSANELLI et al; 2008). ordenada de recursos e atividades capazes de integrar ações sobre
Trabalhar, aprender e educar estará cada vez mais associado o meio ambiente, sobre a coletividade, sobre serviços assistenciais
e integrado na vida coorporativa e a prática exemplar da liderança (público e privado), os conselhos municipais de saúde, os sistemas
educadora será o alicerce da construção do ideal organizacional al- de informação de interesse em saúde, sua análise, interpretação e
mejada (ÉBOLI, 2002). avaliação de resultados (SÁ, 1999).
Os objetos de trabalho do enfermeiro no processo de trabalho
gerencial são a organização do trabalho e os recursos humanos de Gestão do SUS
enfermagem. Os meios/instrumentos são: recursos físicos, financei-
ros, materiais e os saberes administrativos que utilizam ferramentas A saúde tem sido objeto de atenção e discussão de profissio-
específicas para serem operacionalizados. Esses instrumentos/ fer- nais, comunidades e governos, tanto no que diz respeito à condição
ramentas específicas compreendem o planejamento, a coordena- de vida das pessoas quanto no que se refere a um setor da eco-
ção, a direção e o controle (FELLI & PEDUZZI, 2005). nomia no qual se produzem bens e serviços. Nesse sentido, cada

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sociedade organiza o seu sistema de saúde, segundo sua própria sobre os serviços de saúde e, portanto, sobre o cuidado, em dife-
cultura, leis vigentes, panorama político, condição econômica, sob rentes esferas do sistema de saúde. Contudo, ainda hoje, parece
a influência de determinantes sociais. ser incipiente o protagonismo do enfermeiro em espaços decisórios
No que diz respeito ao setor da economia, responsável pela com potência para direcionar e consolidar políticas de saúde.
produção de serviços a uma dada população, pode-se dizer que O papel reservado ao enfermeiro é predominantemente cen-
as discussões concentram-se em dois grandes temas: a gestão e trado em aspectos técnicos assistenciais e gerenciais, reforçan-
o financiamento. Quanto à gestão, debate-se sobre aspectos tais do uma ação coadjuvante, embora seja um profissional presente
como rede e cobertura assistencial; condições de acesso; prestação e atuante nos diferentes serviços de saúde. Uma possibilidade de
direta de assistência à saúde; qualidade da atenção; participação superar esse quadro é o investimento ou desenvolvimento de com-
social; recursos humanos; implicações da transição demográfica e petências na área da gestão, sob ótica na qual as atividades tenham
epidemiológica para o sistema de saúde; instrumentos de gestão caráter articulador e integrativo, sendo determinada e determinan-
tais como o planejamento, o controle, a regulação, a avaliação, te do processo de organização de serviços e efetivação de políticas
dentre outros. Quanto ao financiamento, o debate concentra-se na de saúde.
determinação de fontes e na (in)suficiência de recursos financei- Não se trata de discutir, questionar ou colocar em segundo
ros; racionalização de gastos; crescente incorporação tecnológica; plano a centralidade do cuidado no processo de trabalho do enfer-
participação do setor público versus setor privado. Enfim, temas meiro, ao contrário, exatamente por valorizar e priorizar o cuidado
distintos, com interface bastante clara e campo de tensões entre as faz-se necessária atuação política, na esfera da gestão, na dimensão
diferentes esferas administrativas governamentais. dos sistemas de saúde, perpassando pelos diferentes serviços de
Os gestores de sistemas de saúde atuam em dois âmbitos bas- saúde com o objetivo de favorecer as melhores práticas de cuidado.
tante imbricados, o político e o técnico. O político está relaciona- Cabe, ainda, destacar a importância e a opção pelas práticas
do ao exercício da gestão voltada para o interesse público e para a multidisciplinares, sem, contudo, desconsiderar a identidade que
concretização da saúde como direito de cidadania. A atuação téc- caracteriza cada profissão. Nesse sentido, o enfermeiro pode se
nica fundamenta-se na formulação de políticas e planejamento de apropriar de ferramentas gerenciais com o intuito de instrumentali-
zar sua participação no processo de planejamento e gestão, ou seja,
ações; financiamento do sistema; coordenação, regulação, contro-
à tomada de decisão. Trata-se de proposta ampla, entretanto, neste
le, avaliação de serviços e prestação direta de serviços de saúde.
artigo, o que se pretende é focar a avaliação, enquanto campo de
A gestão dos sistemas de saúde é transversalizada por proces-
aplicação de conhecimentos, que propicia múltiplas dimensões de
sos permanentes de decisão e de avaliação. Desse modo, é possível
participação. Por possibilitar mudanças é que a avaliação se apre-
inferir que os processos decisórios deveriam ocorrer fortemente
senta como uma atividade essencial nos programas e políticas de
articulados àqueles de planejamento e avaliação, sustentados em
saúde.
sistemas de informação apropriados. Por exemplo, avaliar mecanis-
Considerando o exposto e a experiência profissional, na área
mos de articulação da atenção básica com os outros níveis do siste-
de avaliação, na academia e em sistemas de saúde municipal e esta-
ma de saúde permite identificar fragilidades e potencialidades das
dual, apresenta-se este artigo com o objetivo de refletir criticamen-
estratégias de integração adotadas, favorecendo a estruturação de te acerca da avaliação enquanto ferramenta gerencial que favorece
mecanismos inovadores que contribuam para o fortalecimento da a inserção do enfermeiro no processo de gestão de sistemas de saú-
gestão do sistema de saúde. de. O artigo está estruturado em quatro partes: contextualização do
Cabe destacar que, a rigor, os termos gestão e gerência são si- tema, o enfermeiro e a gestão em saúde, avaliação na gestão em
nônimos, tanto no aspecto vernacular quanto conceitual, referem- saúde e considerações finais.
-se à ideia de dirigir e de decidir. Entretanto, no setor saúde, no
Brasil, a partir da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), o O enfermeiro e a gestão em saúde
termo gestão tem sido empregado para designar as atividades de
comando de macroesferas de ação ou decisão no âmbito do siste- O contexto socioeconômico, político e cultural do mundo con-
ma de saúde municipal, estadual ou nacional, e o termo gerência à temporâneo requer constante reflexão acerca do trabalho do enfer-
internalidade das ações em unidades e serviços de saúde. Neste ar- meiro, que é influenciado e pode influenciar o cenário que a ele se
tigo utiliza-se a palavra gestão como referência ao espaço de articu- apresenta. O desenvolvimento de processos de trabalho singulares
lação, interação, participação e decisão nas secretarias municipais com foco na assistência e atribuições gerenciais caracterizam o tra-
e estaduais da saúde, bem como em nível de ministério da saúde, balho do enfermeiro, requerendo conhecimentos e competências
que desencadeiam ações gerenciais e assistenciais em unidades e que o habilitem a assumir papel relevante em instituições de saúde.
serviços de saúde. Ou seja, aqui, refere-se à gestão no âmbito de O processo de trabalho na enfermagem organiza-se em subpro-
sistemas de saúde. cessos que podem ser denominados cuidar ou assistir, administrar
Na contemporaneidade, o enfoque multidisciplinar da área da ou gerenciar, pesquisar e ensinar, sendo que cada um desses possui
saúde e da gestão ganha reforço, pressupõe uma forma de organi- seus próprios objetos, meios/instrumentos e atividades, coexistin-
zar a dinâmica de trabalho e das relações em bases coletivas sem, do ou não em um mesmo momento e instituição.
contudo, perder a singularidade de espaços, saberes e profissões. O exercício da dimensão gerencial do trabalho do enfermeiro
Particularizando o profissional enfermeiro, entende-se que se trata varia segundo o contexto socioeconômico de cada época, o modelo
de um desafio pensar sob perspectiva ampliada de atuação desse clínico de atenção à saúde predominante, as demandas de saúde da
profissional, para além dos aspectos técnicos assistenciais e geren- população, o quantitativo e a qualificação dos recursos humanos de
ciais da prática profissional, mas, na lógica de inserção na estrutura enfermagem disponível, da política de saúde, da própria inserção
organizacional dos sistemas de saúde, no campo da gestão, em uma do enfermeiro no cenário de saúde e do sistema de saúde vigente.
proposta de participação ativa e articulada em processos decisó- O enfermeiro é o profissional legalmente responsável por assumir a
rios. Envidar esforços para inserção nos diferentes espaços da ges- atividade gerencial, a quem compete a coordenação da equipe de
tão permite ao enfermeiro consolidar sua atuação na formulação, enfermagem bem como a viabilização do processo cuidativo com as
pactuação, monitoramento e avaliação de políticas que incidem peculiaridades inerentes a cada serviço de saúde.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Nos sistemas de saúde, a gestão assume caráter dinâmico, po- da avaliação. No senso comum, a avaliação constitui–se numa ati-
lêmico e complexo que estimula a reflexão sobre a inserção dos en- vidade bastante antiga, processo essencialmente humano e reali-
fermeiros nesse processo. zado cotidianamente. Em sentido bastante amplo, avaliar consiste
Os últimos 30 anos representaram um salto para a enferma- em julgar, estimar, medir, classificar, analisar criticamente, enfim,
gem que começou a se estabelecer como protagonista, criando atribuir valor a algo ou a alguém.
condições políticas, éticas, técnicas e humanas para o desenvolvi- Avaliação é a determinação do valor ou mérito de um objeto de
mento da saúde, com destaque para o cuidado humano. Entretan- avaliação ou, ainda, a identificação, o esclarecimento e a aplicação
to, entende-se, aqui, que muito ainda há para ser feito. de critérios defensáveis para determinar valor ou mérito, a qualida-
A atuação do enfermeiro precisa superar posições hierárquicas, de, a utilidade, a eficácia ou a importância do objeto avaliado em
a rigidez de organogramas e as disputas em torno da competência relação a estes critérios.
disciplinar de cada área profissional, com vistas a estabelecer a re- É um processo técnico-administrativo destinado à tomada de
lação de interação e construção de competências técnicas, clínicas, decisão, envolve momentos de medir, comparar e emitir juízo de
políticas e relacionais que preservem a singularidade profissional, valor, significa expor valor assumido a partir do julgamento realiza-
mas favoreça a atuação coletiva no âmbito dos sistemas de saúde. do com base em critérios previamente definidos.
Contudo, não é possível desconsiderar que esse processo articulado Avaliar consiste fundamentalmente em fazer um julgamento
à gestão, cenário de participação política do enfermeiro, envolve de valor a respeito de uma intervenção ou sobre qualquer um de
competição e disputa de poder. seus componentes, com o objetivo de ajudar na tomada de deci-
As limitações do enfermeiro para identificar aspectos políticos sões. Esse julgamento pode ser resultado da aplicação de critérios e
em sua atuação refletem uma profissão que, historicamente, enfa- normas (avaliação normativa) ou se elaborar a partir de um proce-
dimento científico (pesquisa avaliativa).
tizou a prática de cuidados e a gerência predominantemente cen-
Nessa definição, percebe-se que a avaliação tem o objetivo de
tradas em conhecimentos biológicos e técnicos, em detrimento dos
ajudar na tomada de decisões.
aspectos políticos.
Na gestão em saúde, a avaliação torna-se fundamental uma vez
Face à formação acadêmica que contempla além dos conheci-
que estabelece um olhar crítico sobre o que está sendo feito e o
mentos técnico-científicos, relativos à assistência à saúde, aqueles
compara com o que deveria estar ocorrendo, favorecendo a busca
atinentes ao gerenciamento de serviços, o profissional enfermeiro
por resultados desejáveis. Pode assumir caráter de suporte ao pro-
tem potencial para a participação diferenciada no âmbito dos sis-
cesso decisório na prestação de serviços de saúde, além de auxiliar
temas de saúde. Nesse sentido, a reformulação e a implantação de
a identificação de pontos frágeis nos serviços instalados, mensurar
sistemas de saúde, associada à incorporação cada vez mais acentu-
a eficiência e a efetividade das ações assistenciais e verificar o im-
ada e rápida de novas tecnologias vêm requerendo do enfermeiro pacto advindos das ações de saúde na condição sanitária da po-
um conjunto de conhecimentos políticos, teóricos, técnicos e ope- pulação. Nesse sentindo, a avaliação pode ter papel de destaque,
racionais relativos às políticas de saúde, à legislação, à economia tornando-se ferramenta de grande importância no processo de pla-
em saúde e aos processos de gestão propriamente ditos, que lhe nejamento e gestão dos sistemas e serviços de saúde.
permitirão ampliar e consolidar novos espaços de atuação por meio Cabe destacar que, no âmbito do SUS, embora a avaliação em
da prática profissional crítica e competente. saúde seja um pressuposto da condição de gestão do sistema local
A atuação dos enfermeiros em ações não assistenciais repre- de saúde, previsto desde a Norma Operacional Básica 93 até o Pac-
senta desafio crescente às políticas de formação e inserção no to pela Saúde, no nível local, essa ferramenta gerencial ainda não é
mundo do trabalho e destacam-se, particularmente, questões rela- utilizada em toda sua potencialidade, sendo pouco incorporada ao
tivas à gestão e avaliação de políticas que incidem sobre o sistema processo de trabalho cotidiano.
de saúde e, portanto, sobre o cuidado individual e coletivo. Nesse A avaliação expandiu-se no final do século XX, tanto em produ-
sentido, entende-se que é pertinente discutir a especificidade do ção científica quanto em sua institucionalização. A avaliação pode
campo da avaliação em saúde, com a perspectiva do trabalho do produzir informação para melhoria das intervenções em saúde e
enfermeiro no âmbito da gestão. também para o julgamento acerca da sua cobertura, acesso, equi-
dade, qualidade técnica, efetividade, eficiência, percepção dos usu-
Avaliação na gestão em saúde ários. Porém, tanto entre os gestores quanto entre profissionais de
saúde ainda há importante lacuna relativa à incorporação do co-
A crescente disputa entre as demandas da população, a incor- nhecimento produzido pelas avaliações.
poração de novos conhecimentos e técnicas, bem como a necessi- Embora existam diferentes definições e atribuições para a ava-
dade de controlar os gastos públicos evidenciam a fragilidade dos liação, entende-se que ela deve contribuir para a tomada de decisão,
sistemas de saúde e levam ao questionamento da viabilidade des- tendo como compromisso a melhoria das intervenções em saúde e,
ses sistemas. Em face dessa crise mundial dos sistemas de saúde, a em última análise, a saúde dos usuários. Nessa perspectiva, propiciar
necessidade da concepção e implantação de verdadeira cultura de a participação de diferentes atores sociais envolvidos na avaliação
avaliação parece ainda mais importante que há dez anos. favorece o desenvolvimento de processo crítico e reflexivo sobre as
A avaliação não é uma ciência ou área da ciência, mas, sim, práticas desenvolvidas no âmbito dos sistemas de saúde, a fim de
campo de aplicação de conhecimentos de várias áreas, utilizando tornar a avaliação contínua e sistemática, mediada por relações de
múltiplos conceitos e enfoques metodológicos que favorecem visão poder, constituindo função importante da gestão. Acredita-se ser
mais abrangente do objeto avaliado. pertinente o enfermeiro investir esforços nessa área, uma vez que a en-
Trata-se de tarefa complexa conceituar avaliação, termo que fermagem tem demonstrado potencial para implantação, manutenção
possui grande riqueza semântica e aplicável a diferentes áreas do e desenvolvimento das políticas de saúde que tenham como objetivo
saber. A palavra avaliar, em sua raiz latina significa medir, a partir qualificar a assistência. Ou seja, o enfermeiro tem assumido papel de
de padrões quantificáveis e em grego, seu radical axiós diz respeito executor de políticas de saúde, porém, entende-se que o profissional
à produção de juízos de valor, ligada a medidas qualitativas, etimo- tem condições de assumir posições decisórias e de proposições políticas
logia que evidencia a contribuição de várias ciências para o campo de saúde, ampliando sua participação nos sistemas de saúde.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Dimensionamento de pessoal Como podemos definir Recrutamento e Seleção de Pessoal?


Embora possa receber outros nomes como captação de talentos,
Foi desenvolvido um Manual Prático de Dimensionamento de gerenciamento de pessoal, e o que mais a nomenclatura mais mo-
Pessoal pelo COFEN que tem como objetivo colaborar na aplicação derna exigir, se você quiser contratar alguém para trabalhar em sua
dos métodos de Dimensionamento, estabelecidos na Resolução empresa, vai precisar recrutar e selecionar.
Cofen nº 543/2017, que atualiza e estabelece parâmetros para o É interessante porque sempre falamos recrutamento e seleção
Dimensionamento do Quadro de Profissionais de Enfermagem nos como se fosse um nome composto. Na verdade não o é. E por sinal
serviços/locais em que são realizadas atividades de enfermagem. são situações bem distintas dentro do processo. Recrutar significa
Os Parâmetros representam normas técnicas mínimas, consti- identificar - no universo de possibilidades que você tem - as pessoas
tuindo-se em referências para orientar os gestores e gerentes das que possuem os requisitos básicos para ocupar a vaga em aberto. Se-
instituições de saúde: lecionar é definir entre os candidatos recrutados aquele ou aqueles
- No planejamento das ações de saúde; mais adequados aos cargos existentes, visando manter ou aumentar
- Na programação das ações de saúde; a eficiência da organização e conduzi-la à excelência e ao sucesso.
- Na priorização das ações de saúde a serem desenvolvidas
Como é operacionalizado e quais os principais meios de recru-
Para estabelecer o dimensionamento do quadro de profissio- tamento de pessoal?
nais de enfermagem o Enfermeiro deve basear-se nas característi- O que inicia um processo de contratação é o recebimento de
cas descritas abaixo: uma solicitação de pessoal encaminhada pela área requisitante à
I – Ao serviço de saúde: missão, visão, porte, política de pesso- Gestão de Pessoas. A partir daí, a área de Gestão de Pessoas deve
al, recursos materiais e financeiros; estrutura organizacional e física; ter muito claro todos os requisitos do cargo - competências exigidas -
tipos de serviços e/ou programas; tecnologia e complexidade dos para que possa, com clareza, iniciar o processo.
serviços e/ou programas; atribuições e competências, específicas e Caso a empresa tenha como política a valorização e retenção de
colaborativas, dos integrantes dos diferentes serviços e programas seus talentos, primeiramente verificará dentro da própria empresa
e requisitos mínimos estabelecidos pelo Ministério da Saúde; os colaboradores que se encaixam no perfil requerido – esta ação é
II – Ao serviço de enfermagem: aspectos técnico - científicos denominada de recrutamento interno.
e administrativos: dinâmica de funcionamento das unidades nos Uma vez identificadas as pessoas, o próximo passo é a seleção.
diferentes turnos; modelo gerencial; modelo assistencial (Processo Vale ressaltar que caso tenha um colaborador com as competências
de Enfermagem - SAE); métodos de trabalho; jornada de trabalho; comportamentais para o cargo, porém necessite de uma capacitação
carga horária semanal; padrões de desempenho dos profissionais; técnica, posso instrumentalizá-lo e prepará-lo para o cargo e depois
índice de segurança técnica (IST); proporção de profissionais de en- efetuar a promoção. Esta opção dependerá da política da empresa e
fermagem de nível superior e de nível médio e indicadores de qua- do tempo que o departamento disponibiliza para a vaga ser ocupada.
lidade gerencial e assistencial;
III – Ao paciente: grau de dependência em relação a equipe de Caso perceba que dentro da empresa não existe o profissional
enfermagem (sistema de classificação de pacientes - SCP) e realida- com os requisitos, deve-se optar por recrutamento externo.
de sociocultural. Optando-se por recrutamento externo lançamos mão de anún-
cios em jornais, sites especializados, quadro de aviso interno, site da
Para as Unidades Assistenciais Ininterruptas/Internação (UAI) empresa, consultorias, networking entre empresas e redes sociais
o Enfermeiro deverá utilizar um sistema de classificação (SCP) que como Orkut, Facebook e Twitter, dentre outros. Lembramos que uma
estabeleça as categorias do cuidado conforme segue: prática comum é o incentivo de indicação de amigos de colaborado-
- Paciente de cuidados mínimos (PCM): paciente estável sob o res para trabalhar na instituição. Algumas empresas têm como práti-
ponto de vista clínico e de enfermagem e autossuficiente quanto ao ca oferecer bônus para colaboradores que indicarem pessoas e estas
atendimento das necessidades humanas básicas; passarem na experiência, outras efetuam sorteio de viagens e outros
- Paciente de cuidados intermediários (PCI): paciente estável brindes.
sob o ponto de vista clínico e de enfermagem, com parcial depen-
dência dos profissionais de enfermagem para o atendimento das Quando valorizamos nossos talentos, efetuamos o recrutamento
necessidades humanas básicas internamente e temos as seguintes vantagens:
- Paciente de cuidados de alta dependência (PCAD): paciente - É mais econômico, evita despesas com anúncios, honorários
crônico, incluindo o de cuidado paliativo, estável sob o ponto de vis- de empresas de recrutamento, custos de atendimento a candidatos,
ta clinico, porém com total dependência das ações de enfermagem custos de admissão, integração etc.
para o atendimento das necessidades humanas básicas; - É mais rápido, dependendo da possibilidade do colaborador ser
- Paciente de cuidados semi-intensivos (PCSI): paciente passível transferido ou promovido de imediato, e evita as demoras frequentes
de instabilidade das funções vitais, recuperável, sem risco iminente do recrutamento externo.
de morte, requerendo assistência de enfermagem e médica perma- - Apresenta maior índice de validade e segurança, pois o can-
nente e especializada; didato já é conhecido, avaliado durante certo período de tempo e
- Paciente de cuidados intensivos (PCIt): paciente grave e re- submetido à apreciação dos chefes envolvidos
cuperável, com risco iminente de morte, sujeito à instabilidade das Por outro lado, recrutar pessoas externas também tem suas van-
funções vitais, requerendo assistência de enfermagem e médica tagens:
permanente e especializada. - Traz experiências novas e pessoas motivadas para a orga-
O Manual completo está disponível em: nização.
http://edimensionamento.cofen.gov.br/anexos/MANUAL_ - Renova e enriquece os recursos humanos da organização.
PRATICO.pdf;jsessionid=69D83800EA469BE04657F9DC392E37FB?- - Aproveita os investimentos em preparação e desenvolvimento
cid=12675 de pessoal efetuados por outras empresas ou pelos próprios candi-
datos.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Percebemos que o banco de dados é a alma do processo de re- utilizados para a escolha e deixar isto claro para as pessoas que estão
crutamento e seleção. O que a senhora destaca para o controle, a participando do processo, para que não tenham dúvidas. Não esque-
atualização e a conservação do banco? cer, lógico de dar o feedback ao término do processo.
O banco de dados deve seguir uma construção que facilite a área O entrevistador deve deixar à disposição todo o material a ser
de Gestão de Pessoas para buscar seus potenciais candidatos quando utilizado, inclusive lendo antecipadamente atentamente todo o lau-
necessário. Deve ter um filtro onde os profissionais da área possam do de gestão de pessoas. Deve-se planejar o tempo suficiente e ser
separar por cargo, escolaridade e especialização. Podemos fazer um pontual, procurando deixar o entrevistado à vontade. A entrevista
banco tanto para profissionais internos como também externos. É in- deve ser conduzida com naturalidade e não como interrogatório, in-
teressante que ele seja renovado entre seis meses a um ano e que as centivando o entrevistado a falar, criando um clima favorável e de
pessoas cadastradas atualizem seus dados sempre ao término de al- receptividade. Deixe-o discorrer sobre suas atividades profissionais,
gum curso, assim os dados ficam sempre atualizados. Lembramos que só fazendo interrupções, se necessário, visando o entendimento de
a maioria das instituições possui em seu endereço eletrônico na web o suas falas. Em caso de dúvidas, aborde com detalhes. Saiba ouvir,
link ‘trabalhe conosco’. sem interromper ou cortar o raciocínio. Permita o silêncio, mas evite
pausas prolongadas.
Quais os instrumentos utilizados na seleção de pessoal? Existe Evitar pré-conceitos e ser imparcial é fundamental para evitar in-
algum grau de importância? fluenciar-se por estereotipo. Seja empático, respeite o entrevistado.
Devemos ter em mente que selecionar é uma atividade de extre- Finalmente, evite transformar a entrevista em uma situação de
ma importância e responsabilidade e que deve ser pautada sempre orientação ou discussão. Nunca inverta os papéis e não acabe sendo
por instrumentos com comprovação científica. E sempre que utiliza- o entrevistado.
do testes psicológicos, que sejam os validados pelo Conselho Regio-
nal de Psicologia (CRP) e feito por profissionais com a devida técnica A prova teórica?
e capacitação para tal. É muito comum ouvirmos as pessoas dizerem Ela é muito importante, pois medimos o conhecimento da pes-
que selecionar é fácil e que “todos sabem fazer”. Estamos lidando soa com relação à atuação na vaga em aberto. Mas temos que lem-
com seres humanos em um momento de muita vulnerabilidade, por- brar que o processo seletivo é um conjunto de ferramentas. Temos
tanto o profissional deve ser consciente e responsável de seu papel. que compor este dado nas demais fases do processo de seleção para
Dentre os instrumentos e técnicas utilizados podemos citar: que possamos ter a avaliação total.
Nos hospitais em que trabalhei, todos aplicavam prova teórica e,
- Entrevista – Dirigida (com roteiro) ou não dirigida (livre);
claro, tínhamos uma linha de corte bem significativa e muito cuida-
- Provas de conhecimentos – Gerais ou específicas;
dosa, de modo que as pessoas reprovadas realmente não sabiam o
- Prova Prática;
básico necessário.
- Testes de Personalidade – Expressivos projetivos e inventários;
É importante que tenhamos vários tipos de provas para um mes-
- Técnicas de simulações – Psicodrama ou análise situacional, di-
mo cargo, pois sempre algum conhece alguém que já passou pelo
nâmica de grupo;
processo seletivo e acaba dando as “dicas do que cai na prova”. Caso
- Estudo de Caso;
prefira, elenque umas 100 questões e sorteie 10 a cada prova, assim
- Entrevista com a chefia imediata.
você terá muitas possibilidades de provas diferentes.
É importante que as provas sejam específicas para a vaga em
Hoje, as técnicas mais utilizadas são dinâmica de grupo, entrevis- questão, por exemplo, se a vaga é para a CME, tenho que ter ques-
ta e conhecimento específico. tões específicas para a área para que realmente eu possa medir o
Geralmente, encaminha-se para entrevista com o requisitante conhecimento do candidato. Dê preferência também por provas com
três candidatos por vaga solicitada, ampliando as possibilidades de perguntas abertas, pois assim você já observa a coerência do discurso
escolha. escrito, raciocínio, caligrafia dentre outros.
“selecionar é uma atividade de extrema importância e respon-
sabilidade” A prova prática?
A entrevista é muito importante para definir o profissional para a Importante, principalmente na área da saúde. Na área de En-
vaga. Qual recomendação à senhora sugere aos nossos internautas? fermagem a prova era acompanhada pela enfermeira da Educação
No papel de entrevistado: mostre o melhor de você. Não minta, Permanente. Pela Consolidação das Leis Trabalhista (CLT) podemos
não diga o que não é, não fale o que não sabe, enfim... Seja você! Seja aplicar a prova prática com até três horas de duração. Durante este
sincero e autêntico. tempo verificamos como o profissional atua e como ele aplica os
Claro que sempre vemos sugestões de como se comportar na princípios científicos. A prova deve ser individual evitando, assim, a
entrevista com relação à roupa, postura, o que dizer e uma série de exposição do profissional. Lembramos que as especificidades de pro-
“dicas”, porém fica muito nítido para nós. selecionadores, quando cessos de cada instituição devem ser explicadas aos candidatos ou
isto é artificial. O natural flui... o artificial amarra... não computadas na avaliação.
Também é importante que para a entrevista o profissional se intere
sobre a empresa, entre em seu site, veja sua proposta de gestão de pes- Em quais situações a dinâmica de grupo pode ser utilizada?
soas, conheça sua história, sua cultura, missão, visão e valores. Afinal, a A dinâmica de grupo pode ser aplicada no processo seletivo de
seleção é um processo de mão dupla e é importante que o candidato qualquer cargo, desde que sejam observadas as competências perti-
também saiba sobre a empresa para poder fazer sua escolha. nentes à vaga. O número ideal de participantes é de, no máximo, 25
No papel de entrevistador: o entrevistador deve ser respeitoso, e no mínimo 15.
realmente se focar na vaga, fazer perguntas que tenham conexão
com o cargo que a pessoa vai atuar, sem ser invasivo. Deve entender, Sobre o acolhimento das pessoas que participam do processo
agir e acolher as pessoas enxergando tanto o lado humano como o de seleção, o que a senhora poderia nos falar?
físico, isto é, ter instalações adequadas para receber o candidato que Temos que tratar a todos com muito respeito, atenção e cuida-
garanta na hora do processo o sigilo e o respeito à privacidade. Deve, do. Ser empático, atencioso e preparar o ambiente para receber as
acima de tudo ser justo, tendo clareza dos critérios que estão sendo pessoas. Ser pontual, não deixar o candidato esperando, deixar claro

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

todos os passos do processo e efetuar todos os passos no mesmo Sei que o que falarei não é a concepção de todos, mas neste
dia, na medida do possível, evitando que a pessoa retorne muitas processo falta a avaliação do potencial comportamental das pessoas.
vezes para o processo. É importante que todo o processo seja claro Todo bom profissional é composto pela técnica, pelo comportamento
ao candidato, devemos explicar todas as fases e quais as condições e por suas possibilidades de desenvolvimento. Se observarmos so-
destas fases, isto é, se elas são classificatórias ou eliminatórias. Este mente um aspecto, a avaliação fica parcial e prejudicada.
esclarecimento faz com que o candidato tenha a visão real do proces- Ressalto a importância da área requisitante em todo o processo
so, eliminando a possibilidade de gerar falsas expectativas. seletivo e no caso específico da enfermagem, o papel do enfermeiro,
definindo em conjunto com gestão de pessoas o perfil dos colabo-
Solicitar referências do candidato é uma boa pratica? radores, as atividades a serem desenvolvidas nos diferentes depar-
A solicitação ou não de carta de referência aos candidatos deve tamentos e unidades para que a escolha do candidato adequado a
ser uma decisão do gestor porque requer uma avaliação bem criterio- vaga.
sa sobre o motivo que leva a esta solicitação. Durante o processo de “Todo bom profissional é composto pela técnica, pelo comporta-
seleção, na parte que tange a gestão de pessoas, utilizamos, como já mento e por suas possibilidades de desenvolvimento”
falamos anteriormente, de uma séria de ferramentas que nos permi- Quais as referências bibliográficas que a senhora indica aos in-
te avaliar e analisar os candidatos. ternautas que estão iniciando na área ou desejam aprimorar seus
conhecimentos?
Caso alguma questão referente à atuação deste candidato em
outra instituição gere dúvida ou controversa, lançamos mão deste
Hoje, temos muitos periódicos e endereços eletrônicos que dis-
recurso. Porém, se durante o processo seletivo o candidato não nos
cutem a temática, mas, cito algumas obras que utilizo como referên-
deixa dúvidas, este recurso não é utilizado, pois se faz desnecessário.
cia nos meus cursos:
Devemos ressaltar que uma avaliação de carta de referência fora de - Captação e seleção de talentos (Almeida, Editora Atlas)
um contexto pode levar a julgamento errôneo. Reafirmo que o pro- - Seleção: princípios e métodos (Carvalho, Editora Pioneira)
cesso de seleção é um conjunto de recursos/ferramentas utilizadas - Planejamento, recrutamento e seleção de pessoal: como agre-
para análise e avaliação do candidato, portanto nada isoladamente gar talentos à empresa, (Chiavenato, Editora Atlas)
faz sentido. - Desempenho humano nas empresas (Editora Manole)
- Ética na gestão de pessoas: uma visão prática (Farah, EI-Edições
Qual a sua sugestão para contato dos reprovados no processo? Inteligentes)
Toda pessoa deve receber um feedback do processo que pode - Seleção por Competência (Rabaglio)
ser feito por carta ou por telefone. Vale lembrar que se a pessoa pedir
uma devolutiva do processo temos que fazê-lo, pois todas as infor- Finalizando nossa entrevista, a senhora gostaria de enfatizar
mações levantadas pertence à pessoa e ela tem o direito de saber. algo para os profissionais da área?
Sugiro que os candidatos reprovados sejam mantidos em arquivo por Sim, agradeço a oportunidade e reforço:
seis meses. Pontos importantes para processo de recrutamento e seleção:
Como podemos definir perfil, competências e requisitos do - Ter a descrição detalhada do cargo da vaga em aberto;
cargo? - Conhecer os pré-requisitos, competências e perfil comporta-
Percebemos que a Gestão por competência a cada dia vem tor- mental esperado/desejado da vaga em aberto;
nando-se uma prática.Uma vez ela instalada permeará por todos os - Conhecer os principais desafios esperados pela área solicitante;
processos de gestão de pessoas. Desta forma, teremos as competên- - Conhecer a cultura, os valores e os princípios, não só da empre-
cias comportamentais e técnicas exigidas para cada cargo que soma- sa, mas da área, bem como da equipe da vaga em aberto;
da às competências organizacionais definem o perfil do cargo. Com - Conhecer (e entender) a missão, a visão, os objetivos estraté-
relação a requisitos, podemos usá-lo para expressar, por exemplo, gicos, os princípios da empresa para não contratar “um estranho no
a escolaridade necessária, especializações, enfim, como parte para ninho”;
compor o perfil do cargo. - Buscar sempre a participação do solicitante da vaga. Sem esta
participação o processo seletivo ficará comprometido.
Quais os principais indicadores do processo de recrutamento e
Devemos compreender que:
seleção de pessoal?
- A tarefa de recrutar e selecionar profissionais é estratégica;
Temos que nos atentar ao cenário ao qual estamos inseridos,
- Esta atividade deve ser de responsabilidade da área de Ges-
como ele está se comportando e quais as tendências. Para esta vi-
tão de Pessoas, pois ela está preparada para identificar os potenciais,
são, os números sempre nos ajudam. Cruzar números de candidatos visto que recrutar e selecionar pessoas no mercado é uma atividade
convocados para uma determinada vaga X número de pessoas que com metodologia própria e não pode ser encarada como um evento
compareceram X número de aprovados X número de aprovação após pontual, subjetivo e sem importância;
experiência é um bom dado para trabalharmos custos e o resulta- - Uma seleção bem feita minimiza os processos de treinamento,
do do departamento de Gestão de Pessoas. O índice de rotatividade pois não existe treinamento que dê conta de uma seleção mal feita.
também merece uma avaliação e análise.
Gostaria de encerrar com uma reflexão aos líderes:
Nas instituições públicas o processo ocorre por concurso público, O papel do processo seletivo é de assessorar as lideranças ofe-
cujo início se dá pelo edital. Qual a sua orientação para a elaboração recendo um instrumental para que o requisitante possa melhor
de um bom edital? decidir. Selecionar, não é atividade restrita a um profissional nor-
O bom edital é aquele que expressa claramente a necessidade malmente alocado na área de Gestão de Pessoas. É uma responsa-
da empresa. Deve ser objetivo e realmente conter todos os requisi- bilidade eminentemente gerencial. Isto é, cabe a cada líder, a cada
tos para a vaga em aberto ou para vaga reserva. Certificar-se que a gerente ter a competência para escolher com quem vai trabalhar.
prova de conhecimento realmente retrará a realidade vivenciada no
cotidiano.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Trabalho em Equipe
AGRAVOS À SAÚDE RELACIONADOS AO TRABALHO
O trabalho em equipe caracteriza-se pela relação recíproca
entre trabalho e interação, visto que a comunicação entre profis- Saúde do Trabalhador
sionais faz parte do exercício cotidiano de trabalho e lhes permite
articular as inúmeras ações executadas na equipe, no serviço e na Conjunto de atividades que se destina, através das ações de
rede de atenção. vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e pro-
O conceito de equipe que procura integrar o funcionamento teção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação
com o vínculo emocional é um conjunto de pessoas com um sen- e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos
so de identidade, manifesto em comportamentos desenvolvidos e e agravos advindos das condições de trabalho. Atualmente, vem
mantidos para o bem comum, em busca de resultados de interesse crescendo a preocupação com os agravos à saúde dos trabalhado-
comum a todos os seus integrantes, decorrentes da necessidade res. Pelo lado das empresas, o fato de esses eventos significarem
mútua para atingir objetivos e metas específicas. custos tanto em relação aos tributos, pois no caso de afastamento
Na área da saúde, o trabalho em equipe (TE) é considerado um em decorrência de acidente ou doença do trabalho, quando emiti-
instrumento indispensável de atuação dos profissionais. Conside- da a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), a empresa deve
rando os pressupostos do Sistema Único de Saúde (SUS) em relação manter a contribuição do Fundo de Garantia Por Tempo de Serviço
às ações de gestão da saúde, devem ser priorizadas ações que vi- (FGTS) e garantir a estabilidade do trabalhador por um ano, após o
sem motivar os membros. seu retorno ao trabalho, e de acordo com o numero de acidentes, a
O trabalho em equipe surge assim como uma estratégia para empresa corre o risco de ter aumentada a sua alíquota de contribui-
redesenhar o trabalho e promover a qualidade dos serviços. Nesse ção ao Seguro Acidente de Trabalho (SAT), pois com a implantação
contexto, trabalhar em equipe requer, de cada um, sentir-se, real- do Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP), em 2007, a
mente, como membro de uma equipe. Sem este sentimento, difi- contribuição empresarial passa a se vincular ao numero de afasta-
cilmente um conjunto de pessoas se tornará uma equipe. Portanto, dos por problemas de saúde decorridos do trabalho; tanto com o
se faz primordial um processo permanente de autoconhecimento, treinamento de novo funcionário para substituir o que se acidentou
autodesenvolvimento, enfatizando a contribuição ao desenvolvi- e se afastou.
mento do outro. Além disso, ainda há a preocupação com as certificações in-
Trabalhar em equipe é o meio mais adequado para que se pos- ternacionais que impõem determinadas exigências às empresas
sa obter melhores resultados. A assistência em saúde aponta fa- quanto a qualidade dos produtos e, em certa medida, ao processo
tores que podem interferir nesse processo como a comunicação, de produção, o que reverbera em atitudes que podem melhorar o
relações interpessoais, relações de poder, planejamento e processo ambiente laboral. Porém, a discussão da prevenção, quase sempre,
decisório, cultura e filosofia organizacional. Apontam ainda que o imputa aos trabalhadores o peso das medidas que, não exclusiva-
trabalho em equipe não pode ser considerado como uma ativida- mente, mas de maneira acentuada, resvala sobre o uso de Equi-
de automática, mas sim uma habilidade que deve ser desenvolvida pamentos de Proteção Individual (EPI), que embora crie barreiras
com efetividade. para a exposição do corpo a algum agente causador de acidente ou
Dois aspectos caracterizam a equipe e integração: a articula- doença, pesa sobre o individuo, que muitas vezes, já trabalha em
ção das inúmeras ações executadas pelos distintos profissionais, e lugar quente ou frio, realiza movimentos repetitivos e, entre outros,
a comunicação entre seus componentes, orientada para o entendi- ainda, tem que usar EPI, que certamente protege, mas também é
mento. Entretanto, há que se considerar que as intervenções não se causa de incômodos e representa o reconhecimento de que aque-
desvinculam dos sujeitos que as executam nem da situação de traba- la atividade oferece riscos à saúde do trabalhador. Além disso, a
lho coletivo onde se encontram. empresa também opta pela substituição da força de trabalho des-
Diante disso, considera-se que uma equipe, quando valoriza a gastada ou adoecida, há uma visível preferência pelos mais jovens
comunicação no trabalho e atua de forma cooperativa e integrada, e sadios.
tem maiores possibilidades de diminuir o distanciamento existente
entre as categorias profissionais, na medida em que é considerada a O CAMPO DA SAÚDE DO TRABALHADOR
importância do trabalho de cada integrante da equipe para o desen-
volvimento das ações em saúde. A comunicação é considerada como A Saúde do Trabalhador constitui uma área da Saúde Pública
a principal ferramenta para que os conflitos sejam convertidos em que tem como objeto de estudo e intervenção as relações entre o
crescimento para a equipe, um aprende com o outro e esse aprendi- trabalho e a saúde. Tem como objetivos a promoção e a proteção
zado é que promove crescimento. da saúde do trabalhador, por meio do desenvolvimento de ações de
É importante destacar que a configuração dos diferentes tipos e vigilância dos riscos presentes nos ambientes e condições de traba-
finalidades, modos de organização e operação do trabalho em equipe lho, dos agravos à saúde do trabalhador e a organização e prestação
em saúde vem se tornando objeto de estudo e discussão para mui- da assistência aos trabalhadores, compreendendo procedimentos
tos autores, assumindo maior destaque os problemas relacionados à de diagnóstico, tratamento e reabilitação de forma integrada, no
efetiva articulação entre as ações e à interação entre os profissionais SUS. Nessa concepção, trabalhadores são todos os homens e mu-
de saúde no seu cotidiano do trabalho. lheres que exercem atividades para sustento próprio e/ou de seus
dependentes, qualquer que seja sua forma de inserção no mercado
de trabalho, nos setores formais ou informais da economia. Estão
incluídos nesse grupo os indivíduos que trabalharam ou trabalham
como empregados assalariados, trabalhadores domésticos, traba-
lhadores avulsos, trabalhadores agrícolas, autônomos, servidores
públicos, trabalhadores cooperativados e empregadores particular-
mente, os proprietários de micro e pequenas unidades de produ-
ção.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

São também considerados trabalhadores aqueles que exercem Um dos princípios doutrinários do SUS é a descentralização,
atividades não remuneradas – habitualmente, em ajuda a mem- que é entendida como uma redistribuição de poder e responsabi-
bro da unidade domiciliar que tem uma atividade econômica, os lidades quanto às ações e serviços de saúde entre os vários níveis
aprendizes e estagiários e aqueles temporária ou definitivamente de governo, a partir da ideia de que quanto mais perto do fato a
afastados do mercado de trabalho por doença, aposentadoria ou decisão for tomada, maior a possibilidade do acerto.
desemprego. Assim, ao município cabe a execução da maioria das ações na
Entre os determinantes da saúde do trabalhador estão com- promoção das ações de saúde diretamente voltadas aos seus cida-
preendidos os condicionantes sociais, econômicos, tecnológicos e dãos, principalmente a responsabilidade política pela sua saúde.
organizacionais responsáveis pelas condições de vida e os fatores Isso significa dotar o município de condições gerenciais, técnicas,
de risco ocupacionais – físicos, químicos, biológicos, mecânicos e administrativas e financeiras para exercer esta função.
aqueles decorrentes da organização laboral – presentes nos proces- O que abrange um estado ou uma região estadual deve estar
sos de trabalho. Assim, as ações de saúde do trabalhador têm como sob responsabilidade estadual e o que for de abrangência nacional
foco as mudanças nos processos de trabalho que contemplem as será de responsabilidade federal. A essa profunda redefinição das
relações saúde-trabalho em toda a sua complexidade, por meio de atribuições dos vários níveis de governo com um nítido reforço do
uma atuação multiprofissional, interdisciplinar e Inter setorial. poder municipal sobre a saúde é o que se chama municipalização
Os trabalhadores, individual e coletivamente nas organizações, da saúde. Para fazer valer o princípio da descentralização, existe a
são considerados sujeitos e partícipes das ações de saúde, que in- concepção constitucional do mando único. Cada esfera de governo
cluem: o estudo das condições de trabalho, a identificação de me- é autônoma e soberana em suas decisões e atividades, respeitando
canismos de intervenção técnica para sua melhoria e adequação e os princípios gerais e a participação da sociedade.
o controle dos serviços de saúde prestados. Na condição de prática A saúde do trabalhador no âmbito do SUS é um conjunto de
social, as ações de saúde do trabalhador apresentam dimensões so- atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemio-
ciais, políticas e técnicas indissociáveis. Como consequência, esse lógica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos
campo de atuação tem interfaces com o sistema produtivo e a gera- trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saú-
ção da riqueza nacional, a formação e preparo da força de trabalho, de dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das
as questões ambientais e a seguridade social. De modo particular, condições de trabalho.
as ações de saúde do trabalhador devem estar integradas com as Dados do Ministério da Previdência Social apontam que há
de saúde ambiental, uma vez que os riscos gerados nos processos tendência de diminuição das ocorrências de acidentes de trabalho.
produtivos podem afetar, também, o meio ambiente e a população Entre 2008 e 2010, os casos reduziram 7,3% – o que corresponde a
em geral. cerca de 54 mil casos a menos nesse período. Em 2008, foram 755,9
Segundo o parágrafo 3.º do artigo 6.º da LOS, a saúde do traba- mil acidentes de trabalho e em 2010, 701,4 mil. Nesta sexta-feira
lhador é definida como “um conjunto de atividades que se destina, (27), comemora-se o Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de
por meio das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitá- Trabalho. De acordo com o Boletim Estatístico da Previdência Social
ria, à promoção e proteção da saúde do trabalhador, assim como (Beps), em junho de 2012, foram mais de R$ 1 milhão pagos em be-
visa à recuperação e à reabilitação dos trabalhadores submetidos nefícios relacionados a acidentes de trabalho, tanto aposentadoria
aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho”. Esse con- quanto auxílio-acidente, a mais de 1,2 mil pessoas – uma média de
junto de atividades está detalhado nos incisos de I a VIII do referido R$ 845 por trabalhador. Segundo informações do Tribunal Superior
parágrafo, abrangendo: do Trabalho (TST), os setores que mais registraram acidentes de
trabalho em 2010, quando foi feito o último levantamento, foram
- a assistência ao trabalhador vítima de acidente de trabalho ou
a indústria e a construção civil, com mais de 59,9 mil e 54,6 mil
portador de doença profissional e do trabalho;
casos, respectivamente. Em seguida estão os setores de comércio,
- a participação em estudos, pesquisas, avaliação e controle
veículos automotores, saúde, serviços sociais, transporte e armaze-
dos riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de
nagem. Texto retirado do endereço eletrônico: http://www.brasil.
trabalho;
gov.br/cidadania-e-justica/2012/07/acidentes-de-trabalho-dimi-
- a participação na normatização, fiscalização e controle das
nuem-no-pais
condições de produção, extração, armazenamento, transporte, dis-
tribuição e manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas e
Principais patologias enfrentada pelos trabalhadores
de equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador;
- a avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde; Ansiedade é uma característica biológica do ser humano, que
- a informação ao trabalhador, à sua respectiva entidade sindi- antecede momentos de medo, perigo ou de tensão, marcada por
cal e às empresas sobre os riscos de acidente de trabalho, doença sensações corporais desagradáveis, tais como uma sensação de va-
profissional e do trabalho, bem como os resultados de fiscalizações, zio no estômago, coração batendo rápido, nervosismo, aperto no
avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos Tórax, transpiração, etc. Todas as pessoas podem sentir ansieda-
e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional; de, principalmente com a vida atribulada atual. A ansiedade acaba
- a participação na normatização, fiscalização e controle dos tornando-se constante na vida de muitas pessoas. Dependendo do
serviços de saúde do trabalhador nas instituições e empresas pú- grau ou frequência pode se tornar patológica e acarretar em muitos
blicas e privadas; problemas posteriores, como o transtorno da ansiedade.
- a revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas Ter ansiedade ou sofrer desse mal faz com que a pessoa perca
no processo de trabalho; uma boa parte da sua autoestima, ou seja, ela deixa de fazer cer-
tas coisas porque se julga ser incapaz de realizá-las. No entanto, o
- a garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao ór- termo ansiedade está de certa forma interligado com o a palavra
gão competente a interdição de máquina, do setor, do serviço ou medo, sendo assim a pessoa passa a ter o medo de errar quando
de todo o ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco da realização de diferentes tarefas, sem mesmo chegar a tentar.
iminente para a vida ou saúde do trabalhador. Os estudos sobre o controle no trabalho (“job control”) ganharam
enorme fôlego nas últimas duas décadas e ligaram-se, de forma

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

estreita, às redefinições dos processos de trabalho no contexto de A violência moral no trabalho constitui um fenômeno interna-
reestruturação da economia mundial. Por outro lado, tais redefini- cional segundo levantamento recente da Organização Internacional
ções podem ser também atribuídas, em alguma medida, aos acha- do Trabalho (OIT) com diversos países desenvolvidos. A pesquisa
dos produzidos pelas pesquisas sobre controle, saúde e bem-estar. aponta para distúrbios da saúde mental relacionado com as condi-
ções de trabalho em países como Finlândia, Alemanha, Reino Uni-
Motivação em psicologia, é a força propulsora (desejo) por do, Polônia e Estados Unidos. As perspectivas são sombrias para as
trás de todas as ações de um organismo duas próximas décadas, pois segundo a OIT e Organização Mundial
da Saúde, estas serão as décadas do ‘mal estar na globalização”,
Motivação é o processo responsável pela intensidade, direção, onde predominará depressões, angustias e outros danos psíquicos,
e persistência dos esforços de uma pessoa para o alcance de uma relacionados com as novas políticas de gestão na organização de
determinada meta. A motivação é baseada em emoções, especifi- trabalho e que estão vinculadas as políticas neoliberais.São com ou-
camente, pela busca por experiências emocionais positivas e por tros olhos que, advogamos, devemos ver o local de trabalho: olhos
evitar as negativas, onde positivo e negativo são definidos pelo es- que concebam a existência de pessoas e, como tal, buscam dar sen-
tado individual do cérebro, e não por normas sociais: uma pessoa tido ao seu cotidiano, construindo-o de modo conflituoso e coope-
pode ser direcionada até à auto-mutilação ou à violência caso o rativo; pessoas que interagem a vida fora do local de trabalho com
seu cérebro esteja condicionado a criar uma reação positiva a essas a vida no trabalho, lidam com as exigências postas pelas condições
ações. e pela organização do trabalho, enfim, conduzem processos sociais,
constroem sua história.
Parece claro que nas pessoas motivadas há toda uma série de Apesar de termos muitas vezes toda uma categoria profissio-
sentimentos e fatores emocionais que reforçam o seu entusiasmo nal submetida a exigências comuns em termos de organização do
e a sua persistência perante os contratempos normais da vida. O processo de trabalho, quando nos aproximamos dos locais onde
sentimento da própria eficácia, o acreditar de uma pessoa nas suas trabalham vemos que cada local é um mundo singular, com seus
próprias capacidades tem um surpreendente efeito multiplicador problemas particulares, com mecanismos que fazem com que uma
sobre essas mesmas capacidades. Aqueles que se sentem eficazes mesma tecnologia influa diferentemente, são pessoas diferentes,
recuperam mais depressa dos fracassos, não se perturbam dema- relações interpessoais construídas, são diferentes regras que vigo-
siado pelo fato de que as coisas possam correr mal; pelo contrário, ram.
fazem-nas o melhor que podem e procuram a maneira de as fazer
ainda melhor na vez seguinte. O sentimento da própria eficácia tem BORGES, L. H., 1997. Trabalho e doença mental: Reconheci-
um grande valor estimulante, e vai acompanhado por um sentimen- mento social do nexo trabalho e saúde mental. In: A Danação do
to de segurança que alenta e conduz à ação. Trabalho - Organização do Trabalho e Sofrimento Psíquico (J. F. Silva
São, as organizações, processos de interação social onde pesso- Filho & S. Jardim, org.), pp. 193-202, Belo Horizonte: Te Corá Edi-
as, também investidas de papéis de trabalho, procuram fazer valer tora.
seus interesses, seus valores e crenças; onde, para decifrá-la, de- BROWN, J. A. C., 1979. Psicologia Social da Indústria. São Paulo:
vemos ter, a certeza de que no local de trabalho, apesar do capital Atlas.
buscar “recursos humanos”, as pessoas continuam sendo pessoas.
Ainda que não tenhamos uma história do trabalho no Brasil, em que O trabalho, compreendido como toda transformação da natu-
a interlocução direta entre trabalhadores e patrões seja o modo de reza para benefício do homem, além de necessário para a manuten-
se relacionar, barganhar interesses e conquistar direitos, o reconhe- ção da vida humana, é importante fator na definição das condições
cimento deste processo conduz-nos a olhar as condições de possi- de saúde de cada indivíduo.
bilidade para desenvolver-se negociações a partir de outros olhos. O emprego de novas tecnologias, novas práticas gerenciais e a
incorporação de novas matérias primas aos processos de trabalho
O assédio moral no trabalho tem repercussão direta sobre a morbi-mortalidade dos trabalhado-
res.
É a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações A Saúde do Trabalhador, conjunto de ações de vigilância e as-
humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante sistência, visando a promoção, a proteção, a recuperação e a reabi-
a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais litação da saúde dos trabalhadores submetidos a riscos e agravos
comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em advindos dos processos de trabalho, passou a fazer parte das ações
que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas desenvolvidas pelo Sistema Único de Saúde - SUS a partir da Consti-
de longaduração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais su- tuição Federal de 1988, que, em seu artigo 200, inciso II, define que
bordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente compete ao SUS executar ações de Saúde do Trabalhador.
de trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego. Ca- A Vigilância em Saúde do Trabalhador compreende uma atua-
racteriza-se pela degradação deliberada das condições de trabalho ção contínua e sistemática, ao longo do tempo, no sentido de de-
em que prevalecem atitudes e condutas negativas dos chefes em tectar, conhecer, pesquisar e analisar os fatores determinantes e
relação a seus subordinados, constituindo uma experiência subjeti- condicionantes dos agravos à saúde relacionados aos processos e
va que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador ambientes de trabalho, em seus aspectos tecnológico, social, orga-
e a organização. A vítima escolhida é isolada do grupo sem explica- nizacional e epidemiológico, com a finalidade de planejar, executar
ções, passando a ser hostilizada, ridicularizada, inferiorizada, cul- e avaliar intervenções sobre esses aspectos, de forma a eliminá-los
pabilizada e desacreditada diante dos pares. Estes, por medo do ou controlá-los.
desemprego e a vergonha de serem também humilhados associado
ao estímulo constante à competitividade, rompem os laços afeti-
vos com a vítima e, frequentemente, reproduzem ações e atos do
agressor no ambiente de trabalho, instaurando o ‘pacto da tolerân-
cia e do silêncio’ no coletivo, enquanto a vitima vai gradativamente
se desestabilizando e fragilizando, ‘perdendo’ sua autoestima.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

História, documentos e fatos sobre a saúde do trabalhador Projeto que foi elaborado com a participação de vários técnicos
do CEST, Hospital do Trabalhador, Secretaria Municipal de Saúde de
A saúde do trabalhador passou aos poucos a ser incorporada Curitiba, SINAN Estadual e 2ª Regional de Saúde e a contribuição
nas ações do SUS em 1990, por meio da Lei Orgânica da Saúde (LOS, do CEREST de Londrina. As atribuições estabelecidas na portaria
nº 8080, artigo 6º) é conferido a direção nacional do SUS a respon- 2437de 07 de dezembro de 2005 que dispõe sobre a ampliação e
sabilidade de coordenar a política de saúde do trabalhador. A LOS o fortalecimento da RENAST (Rede Nacional de Atenção Integral à
orienta a execução das ações voltadas para a saúde do trabalhador, Saúde do trabalhador no SUS dispõe sobre as atribuições no nível
o parágrafo 3º do artigo 6 a define como: local, municipal, regional, estadual e nacional. Dando continuida-
“Um conjunto de atividades que se destina, por meio das ações de ao cronograma definido no Projeto Estadual de Implantação da
de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e a Vigilância epidemiológica em Saúde do trabalhador apresentamos
proteção da saúde do trabalhador, assim como visa a recuperação este projeto de capacitação de técnicos para a notificação de agra-
e a reabilitação dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos vos da saúde do trabalhador.
advindos das condições de trabalho”
A portaria 3908/GM, de 30 de outubro de 1998, ficou conhe- A Vigilância em Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (VISA-
cida como a Norma Operacional de Saúde do Trabalhador-NOST/ TT) é um conjunto de ações feitas sempre com a participação dos
SUS, definiu as atribuições e responsabilidades para orientar e ins- trabalhadores e articuladas intra e intersetorialmente, de forma
trumentalizar as ações de saúde do trabalhador rural e urbano, con- contínua e sistemática, com o objetivo de detectar, conhecer, pes-
sideradas as diferenças entre homens e mulheres, a serem desen- quisar e analisar os fatores determinantes e condicionantes da saú-
volvidas pelas secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal de relacionados ao trabalho, cada vez mais complexo e dinâmico.
e dos municípios. A Rede de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST)
A publicação de uma lista de doenças relacionadas ao trabalho, é uma rede nacional de informação e práticas de saúde, organizada
por meio da Portaria/MS nº 1339/1999, se deu em cumprimento com o propósito de pôr em prática as ações de vigilância, assistên-
da determinação do artigo 6º inciso VII, da LOS. A publicação des- cia e promoção da saúde, nas linhas de cuidado da atenção básica,
ta lista só foi possível pelo empenho histórico de trabalhadores e da média e alta complexidade, ambulatorial, pré-hospitalar e hos-
técnicos em conseguir reconhecimento de determinadas doenças pitalar, sob a égide do controle social, nos três níveis de gestão do
como resultantes das condições de organização do trabalho. A mes- SUS.
ma lista regulamenta o conceito de doença profissional e doença A VISATT Estadual se divide em três eixos complementares:
Vigilância Epidemiológica: coordenação dos procedimentos
adquirida pelas condições em que o trabalho é realizado, norma-
técnicos para sistematização da informação e a notificação compul-
tizando e classificando tais infortúnios, sendo que esta também foi
sória das doenças e agravos relacionados ao trabalho.Por meio do
adotada pelo Ministério da Previdência e Assistência social, no esta-
acompanhamento periódico de indicadores de saúde e sistemas,
belecimento de nexos e de pagamentos de benefícios sociais.
como o de informação de agravos de notificação (SINAN-NET), bus-
A partir do Sistema Único de saúde (SUS) os serviços de saúde
ca-se conhecer o perfil de morbimortalidade dos trabalhadores e
pública tem primado sua ações por meio do desenvolvimento de
trabalhadoras, bem como o cruzamento com variáveis, tais como as
sistemas de informações como é o caso de patologias como diabe-
atividade econômica e ocupação.
tes, hipertensão arterial sistêmica, HIV etc... Na área de saúde do
Atenção à Saúde: Objetiva a consolidação da Política Nacional
trabalhador as informações são escassas com estimativas a partir de Saúde do Trabalhador e Trabalhadora por meio do fortalecimento
de dados da Previdência Social, por meio da comunicação de aci- das ações dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CE-
dente de trabalho (CAT) sendo pouco abrangente e não consegue REST). Esses centros, comumente de abrangência estadual ou regio-
apreender dados precisos da questão, pois tem o caráter de segu- nal, deixam de ser porta de entrada prioritária e assumem o lugar
ridade especialmente para trabalhadores formalmente vinculados de suporte e retaguarda técnica no seu território de abrangência.
ao mercado de trabalho. Mesmo nestes há subnotificação, princi- Atuam como polo irradiador da cultura da centralidade do trabalho
palmente em doenças relacionadas ao trabalho que acabam não e produção social no processo saúde-doença. Além disso, a Atenção
sendo diagnosticadas como tal. Outro agravante de subnotificação à Saúde almeja a ampliação e estímulo às ações do controle social,
é o trabalho informal que oculta os acidentes, morte e invalidez. exercido, por exemplo, através das Comissões Intersetorias de Saúde
Considerando a necessidade da disponibilidade de informação do Trabalhador e da Trabalhadora (CISTT) vinculadas aos respectivos
consistente e ágil sobre a situação da produção, perfil dos traba- Conselhos de Saúde.
lhadores e ocorrência de agravos relacionados ao trabalho para Vigilância dos Ambientes e Processos de Trabalho: Compreen-
orientar as ações de saúde, a intervenção nos ambientes e condi- dida como um conjunto de ações interventivas; planejadas, execu-
ções de trabalho, subsidiando o controle social, e pela constatação tadas e avaliadas a partir da análise dos agravos/doenças e de seus
de que essas informações estão dispersas, fragmentadas e pouco determinantes relacionados aos processos e ambientes de trabalho;
acessíveis, no âmbito do SUS é que foi publicada a portaria nº 777/ que visam atenuar ou controlar os fatores e as situações geradoras
GM de 28 de abril de 2004, que dispõe sobre os procedimentos de risco para a saúde dos trabalhadores. É a essência da ação de VI-
técnicos para a notificação compulsória de 11 agravos da saúde do SATT e é desenvolvida por análises de documentos, entrevistas com
trabalhador em rede de serviços sentinela específica no SUS. Em trabalhadores e observação direta do processo de trabalho (forma
atendimento a esta portaria a coordenação nacional de saúde do de trabalhar, relação do trabalhador com os meios e processos de
trabalhador (COSAT) a partir de abril de 2006 reuniu para a capa- produção e da relação dos meios de produção com o ambiente).
citação sobre SINAN NET saúde do trabalhador um representante
de cada Estado e assim dar início ao processo de construção para a A ATENÇÃO À SAÚDE DOS TRABALHADORES
implantação da vigilância epidemiológica em saúde do trabalhador.
Em 20 de julho de 2006 uma técnica do SINAN Nacional e um do Por princípio, a atenção à saúde do trabalhador não pode ser
DATASUS nacional estiveram no Estado do Paraná implantando o desvinculada daquela prestada à população em geral. Tradicional-
SINAN NET para oficializar a digitação e envio de dados da Saúde mente, a assistência ao trabalhador tem sido desenvolvida em di-
do trabalhador através das unidades sentinela definidas no projeto. ferentes espaços institucionais, com objetivos e práticas distintas:

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

• pelas empresas, por meio dos Serviços Especializados em Se- • falta de tradição, familiaridade e conhecimento dos profissio-
gurança e Medicina do Trabalho (SESMT) e outras formas de organi- nais do sistema com a temática da saúdedoença relacionada ao tra-
zação de serviços de saúde; balho, o que leva à crônica incapacidade técnica para o diagnóstico
• pelas organizações de trabalhadores; e o estabelecimento da relação das doenças com o trabalho;
• pelo Estado, ao implementar as políticas sociais públicas, em • deficiência de recursos materiais para as ações de diagnós-
particular a de saúde, na rede pública de serviços de saúde; ticos, equipamentos para avaliações ambientais, bibliografia espe-
• pelos planos de saúde, seguros suplementares e outras for- cializada;
mas de prestação de serviços, custeados pelos próprios trabalha- • não-reconhecimento das atribuições do SUS no tocante às
dores; ações de vigilância dos ambientes de trabalho, tanto no âmbito do
• pelos serviços especializados organizados no âmbito dos hos- SUS quanto entre outros setores de governo e entre os emprega-
pitais universitários. dores;
• falta de informações adequadas sobre os agravos à saúde
Contrariando o propósito formal para o qual foram constituí- relacionados ao trabalho nos sistemas de informação em saúde e
dos, os SESMT operam sob a ótica do empregador, com pouco ou sobre sua ocorrência na população trabalhadora no setor informal;
nenhum envolvimento dos trabalhadores na sua gestão. Nos seto- • pouca participação dos trabalhadores. Muitos sindicatos li-
res produtivos mais desenvolvidos, do ponto de vista tecnológico, a mitam-se, na sua relação com o SUS, à geração de demandas pon-
competição no mercado internacional tem estimulado a adoção de tuais, que acabam por preencher a agenda de muitos CRST. Falta,
políticas de saúde mais avançadas por exigências de programas de entretanto, uma integração construtiva na qual trabalhadores e téc-
qualidade e certificação. nicos da saúde busquem compreender a complexidade da situação
No âmbito das organizações de trabalhadores, a luta sindical da saúde do trabalhador em conjunturas e espaços específicos e, a
por melhores condições de vida e trabalho conseguiu alguns avan- partir daí, traçar estratégias comuns para superar as dificuldades;
ços significativos nos anos 80, sob inspiração do novo sindicalismo, • indefinição de mecanismos claros e duradouros para o finan-
ainda que de modo desigual no conjunto da classe trabalhadora. ciamento de ações em saúde do trabalhador;
Entretanto, a atuação sindical neste campo tem sofrido um reflu- • atribuições concorrentes ou mal definidas entre os diferentes
xo na atual conjuntura, em decorrência das políticas econômicas órgãos que atuam na área.
e sociais em curso no País que deslocam o eixo das lutas para a
manutenção do emprego e a redução dos impactos sobre o poder Podem, ainda, ser apontadas dificuldades para a incorporação/
de compra dos trabalhadores. Como conseqüência, na atualidade, articulação das ações de Saúde do Trabalhador no âmbito do siste-
podem ser observadas práticas diversificadas, desde atividades as- ma de saúde, em nível nacional, regional e local, como, por exem-
sistenciais tradicionais até ações inovadoras e criativas, que enfo- plo: com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), o Centro Nacional
cam a saúde de modo integral. de Epidemiologia (Cenepi), a Agência Nacional de Vigilância Sani-
tária (Anvisa), a Secretaria de Assistência à Saúde (SAS), o Depar-
AS AÇÕES DE SAÚDE DO TRABALHADOR NA REDE PÚBLICA tamento de Informática do SUS (Datasus) e o Instituto Nacional de
DE SERVIÇOS DE SAÚDE Câncer (INCA), comprometendo a universalidade e a integralidade
da atenção.
Apesar da rede pública de serviços de saúde sempre ter aten- A experiência acumulada pelos Programas de Saúde do Traba-
dido trabalhadores, um modelo alternativo de atenção à saúde do lhador na rede de serviços de saúde sustenta a proposta de reorien-
trabalhador começou a ser instituído, em meados da década de 80, tação do modelo assistencial, que privilegia as ações de saúde do
sob a denominação de Programa de Saúde do Trabalhador, como trabalhador na atenção primária de saúde, com a retaguarda téc-
parte do movimento da Saúde do Trabalhador. nica dos CRST e de instâncias mais complexas do sistema de saúde.
As iniciativas buscavam construir uma atenção diferenciada Esses devem garantir uma rede eficiente de referência e contra-re-
para os trabalhadores e um sistema de vigilância em saúde, com a ferência, articulada com as ações das vigilâncias epidemiológica e
participação dos trabalhadores. Atualmente existem no país cerca sanitária, e os programas de atenção a grupos específicos, como
de 150 programas, centros de referência, serviços, núcleos ou co- mulher, adolescentes, idosos ou organizados por problemas. Tam-
ordenações de ações de Saúde do Trabalhador, em estados e mu- bém deverão estar contemplados:
nicípios, com graus variados de organização, competências, atribui- • a capacitação técnica das equipes;
ções, recursos e práticas de atuação, voltados, principalmente, para • a disponibilidade de instrumentos para o diagnóstico e es-
a atenção aos trabalhadores urbanos. tabelecimento de nexo com o trabalho pelos meios propedêuticos
Apesar de pontuais e díspares, esses programas e serviços tive- necessários;
ram o mérito de construir uma experiência significativa de atenção • recursos materiais para as ações de vigilância em saúde, tais
especializada à saúde do trabalhador, desenvolver uma metodolo- como suporte laboratorial e outros meios diagnósticos, equipamen-
gia de vigilância, preparar recursos humanos, estabelecer parcerias tos para avaliações ambientais;
com os movimentos social e sindical e, também, com outras instân- • disponibilidade de bibliografia especializada;
cias responsáveis pelas ações de saúde do trabalhador nos Minis- • mecanismos que corrijam a indefinição e duplicidade de atri-
térios do Trabalho e Emprego (MTE), da Previdência e Assistência buições, tanto no âmbito do SUS, quanto entre outros setores do
Social (MPAS) e com os Ministérios Públicos (MP). Contribuíram, governo;
também, para a configuração do atual quadro jurídico-institucional, • coleta e análise das informações sobre os agravos à saúde
inscrito na Constituição Federal, na LOS e na legislação complemen- relacionados ao trabalho nos sistemas de informação em saúde e
tar. sobre sua ocorrência na população trabalhadora no setor informal,
Entre as maiores dificuldades apresentadas pela estratégia de não segurada pela Previdência Social;
implantação de Centros de Referência em Saúde do Trabalhador • definição de mecanismos claros e duradouros para o financia-
(CRST) estão a cobertura do conjunto dos trabalhadores e a peque- mento das ações em saúde do trabalhador
na inserção na rede do SUS, em uma perspectiva de atenção hierar-
quizada e integral. Além dessas podem ser apontadas:

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A INVESTIGAÇÃO DAS RELAÇÕES SAÚDE-TRABALHO, O ESTABELECIMENTO DO NEXO CAUSAL DA DOENÇA COM O TRABALHO E AS
AÇÕES DECORRENTES

O reconhecimento do papel do trabalho na determinação e evolução do processo saúde-doença dos trabalhadores tem implicações
éticas, técnicas e legais, que se refletem sobre a organização e o provimento de ações de saúde para esse segmento da população, na rede
de serviços de saúde.
Nessa perspectiva, o estabelecimento da relação causal ou do nexo entre um determinado evento de saúde – dano ou doença – indivi-
dual ou coletivo, potencial ou instalado, e uma dada condição de trabalho constitui a condição básica para a implementação das ações de
Saúde do Trabalhador nos serviços de saúde. De modo esquemático, esse processo pode se iniciar pela identificação e controle dos fatores
de risco para a saúde presentes nos ambientes e condições de trabalho e/ou a partir do diagnóstico, tratamento e prevenção dos danos,
lesões ou doenças provocados pelo trabalho, no indivíduo e no coletivo de trabalhadores.
Apesar de fugir aos objetivos deste texto, que trata dos aspectos patogênicos do trabalho, potencialmente produtor de sofrimento,
adoecimento e morte, é importante assinalar que, na atualidade, cresce em importância a valorização dos aspectos positivos e promotores
de saúde, também presentes no trabalho, que devem estar contemplados nas práticas de saúde.
Neste capítulo serão apresentados, resumidamente, aspectos conceituais sobre as formas de adoecimento dos trabalhadores e de
sua relação com o trabalho, alguns dos recursos e instrumentos disponíveis para a investigação das relações saúde-trabalho-doença e para
o estabelecimento do nexo do dano/doença com o trabalho e as ações decorrentes que devem ser implementadas. Ao final encontra-se
relacionada uma bibliografia sugerida para o aprofundamento do tema.

O ADOECIMENTO DOS TRABALHADORES E SUA RELAÇÃO COM O TRABALHO

Os trabalhadores compartilham os perfis de adoecimento e morte da população em geral, em função de sua idade, gênero, grupo
social ou inserção em um grupo específico de risco. Além disso, os trabalhadores podem adoecer ou morrer por causas relacionadas ao
trabalho, como consequência da profissão que exercem ou exerceram, ou pelas condições adversas em que seu trabalho é ou foi realiza-
do. Assim, o perfil de adoecimento e morte dos trabalhadores resultará da amalgamação desses fatores, que podem ser sintetizados em
quatro grupos de causas (Mendes & Dias, 1999):
• doenças comuns, aparentemente sem qualquer relação com o trabalho;
• doenças comuns (crônico-degenerativas, infecciosas, neoplásicas, traumáticas, etc.) eventualmente modificadas no aumento da
freqüência de sua ocorrência ou na precocidade de seu surgimento em trabalhadores, sob determinadas condições de trabalho. A hiper-
tensão arterial em motoristas de ônibus urbanos, nas grandes cidades, exemplifica esta possibilidade;
• doenças comuns que têm o espectro de sua etiologia ampliado ou tornado mais complexo pelo trabalho.

A asma brônquica, a dermatite de contato alérgica, a perda auditiva induzida pelo ruído (ocupacional), doenças músculo-esqueléticas
e alguns transtornos mentais exemplificam esta possibilidade, na qual, em decorrência do trabalho, somam-se (efeito aditivo) ou multipli-
cam-se (efeito sinérgico) as condições provocadoras ou desencadeadoras destes quadros nosológicos;

• agravos à saúde específicos, tipificados pelos acidentes do trabalho e pelas doenças profissionais. A silicose e a asbestose exempli-
ficam este grupo de agravos específicos.

Os três últimos grupos constituem a família das doenças relacionadas ao trabalho. A natureza dessa relação é sutilmente distinta em
cada grupo. O Quadro II resume e exemplifica os grupos das doenças relacionadas de acordo com a classificação proposta por Schilling
(1984).
GRUPO I: doenças em que o trabalho é causa necessária, tipificadas pelas doenças profissionais, stricto sensu, e pelas intoxicações
agudas de origem ocupacional.
GRUPO II: doenças em que o trabalho pode ser um fator de risco, contributivo, mas não necessário, exemplificadas pelas doenças
comuns, mais freqüentes ou mais precoces em determinados grupos ocupacionais e para as quais o nexo causal é de natureza eminente-
mente epidemiológica. A hipertensão arterial e as neoplasias malignas (cânceres), em determinados grupos ocupacionais ou profissões,
constituem exemplo típico.
GRUPO III: doenças em que o trabalho é provocador de um distúrbio latente, ou agravador de doença já estabelecida ou preexistente,
ou seja, concausa, tipificadas pelas doenças alérgicas de pele e respiratórias e pelos distúrbios mentais, em determinados grupos ocupa-
cionais ou profissões

Entre os agravos específicos estão incluídas as doenças profissionais, para as quais se considera que o trabalho ou as condições em que
ele é realizado constituem causa direta. A relação causal ou nexo causal é direta e imediata. A eliminação do agente causal, por medidas
de controle ou substituição, pode assegurar a prevenção, ou seja, sua eliminação ou erradicação. Esse grupo de agravos, Schilling I, tem,
também, uma conceituação legal no âmbito do SAT da Previdência Social e sua ocorrência deve ser notificada segundo regulamentação na
esfera da Saúde, da Previdência Social e do Trabalho.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os outros dois grupos, Schilling II e III, são formados por doenças consideradas de etiologia múltipla, ou causadas por múltiplos fatores
de risco. Nessas doenças comuns, o trabalho poderia ser entendido como um fator de risco, ou seja, um atributo ou uma exposição que
estão associados com uma probabilidade aumentada de ocorrência de uma doença, não necessariamente um fator causal (Last, 1995).
Portanto, a caracterização etiológica ou nexo causal será essencialmente de natureza epidemiológica, seja pela observação de um excesso
de freqüência em determinados grupos ocupacionais ou profissões, seja pela ampliação quantitativa ou qualitativa do espectro de deter-
minantes causais, que podem ser melhor conhecidos a partir do estudo dos ambientes e das condições de trabalho.
A eliminação desses fatores de risco reduz a incidência ou modifica o curso evolutivo da doença ou agravo à saúde.
Classicamente, os fatores de risco para a saúde e segurança dos trabalhadores, presentes ou relacionados ao trabalho, podem ser
classificados em cinco grandes grupos:
FÍSICOS: ruído, vibração, radiação ionizante e não-ionizante, temperaturas extremas (frio e calor), pressão atmosférica anormal, entre
outros;
QUÍMICOS: agentes e substâncias químicas, sob a forma líquida, gasosa ou de partículas e poeiras minerais e vegetais, comuns nos
processos de trabalho (ver a coluna de agentes etiológicos ou fatores de risco na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho);
BIOLÓGICOS: vírus, bactérias, parasitas, geralmente associados ao trabalho em hospitais, laboratórios e na agricultura e pecuária (ver
a coluna de agentes etiológicos ou fatores de risco na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho);
ERGONÔMICOS E PSICOSSOCIAIS: decorrem da organização e gestão do trabalho, como, por exemplo: da utilização de equipamen-
tos, máquinas e mobiliário inadequados, levando a posturas e posições incorretas; locais adaptados com más condições de iluminação,
ventilação e de conforto para os trabalhadores; trabalho em turnos e noturno; monotonia ou ritmo de trabalho excessivo, exigências de
produtividade, relações de trabalho autoritárias, falhas no treinamento e supervisão dos trabalhadores, entre outros;
MECÂNICOS E DE ACIDENTES: ligados à proteção das máquinas, arranjo físico, ordem e limpeza do ambiente de trabalho, sinalização,
rotulagem de produtos e outros que podem levar a acidentes do trabalho.

AÇÕES DECORRENTES DO DIAGNÓSTICO DE UMA DOENÇA OU DANO RELACIONADO AO TRABALHO

Uma vez estabelecida a relação causal ou nexo entre a doença e o trabalho desempenhado pelo trabalhador, o profissional ou a equi-
pe responsável pelo atendimento deverá assegurar:
• a orientação ao trabalhador e a seus familiares, quanto ao seu problema de saúde e os encaminhamentos necessários para a recu-
peração da saúde e melhoria da qualidade de vida;
• afastamento do trabalho ou da exposição ocupacional, caso a permanência do trabalhador represente um fator de agravamento do
quadro ou retarde sua melhora, ou naqueles nos quais as limitações funcionais impeçam o trabalho;
• o estabelecimento da terapêutica adequada, incluindo os procedimentos de reabilitação;
• solicitação à empresa da emissão da CAT para o INSS, responsabilizando-se pelo preenchimento do Laudo de Exame Médico (LEM).
Essa providência se aplica apenas aos trabalhadores empregados e segurados pelo SAT/INSS. No caso de funcionários públicos, por exem-
plo, devem ser obedecidas as normas específicas (ver capítulo 5);
• notificação à autoridade sanitária, por meio dos instrumentos específicos, de acordo com a legislação da saúde, estadual e munici-
pal, viabilizando os procedimentos da vigilância em saúde. Também deve ser comunicado à DRT/MTE e ao sindicato da categoria a que o
trabalhador pertence.

A decisão quanto ao afastamento do trabalho é difícil, exigindo que inúmeras variáveis de caráter médico e social sejam consideradas:
• os casos com incapacidade total e/ou temporária devem ser afastados do trabalho até melhora clínica, ou mudança da função e
afastamento da situação de risco;
• no caso do trabalhador ser mantido em atividade, devem ser identificadas as alternativas compatíveis com as limitações do paciente
e consideradas sem risco de interferência na evolução de seu quadro de saúde;
• quando o dano apresentado é pequeno, ou existem atividades compatíveis com as limitações do paciente e consideradas sem risco
de agravamento de seu quadro de saúde, ele pode ser remanejado para outra atividade, em tempo parcial ou total, de acordo com seu
estado de saúde;
• quando houver necessidade de afastar o paciente do trabalho e/ou de sua atividade habitual, o médico deve emitir relatório justifi-
cando as razões do afastamento, encaminhando-o ao médico da empresa, ou ao responsável pelo PCMSO. Se houver indícios de exposição
de outros trabalhadores, o fato deverá ser comunicado à empresa e solicitadas providências corretivas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Atenção especial deve ser dada à decisão quanto ao retorno ao O conceito de risco aqui utilizado deriva da palavra inglesa ha-
trabalho. É importante avaliar se a empresa ou a instituição oferece zard, que vem sendo traduzida para o português como perigo ou
programa de retorno ao trabalho, com oferta de atividades com- fator de risco ou situação de risco. Segundo Trivelato (1998), o con-
patíveis com a formação e a função do trabalhador, que respeite ceito de risco é bidimensional, representando a possibilidade de um
suas eventuais limitações em relação ao estágio pré-lesão e pre- efeito adverso ou dano e a incerteza da ocorrência, distribuição no
pare colegas e chefias para apoiar o trabalhador na nova situação, tempo ou magnitude do resultado adverso. Assim, de acordo com essa
alargando a concepção de capacidade para o trabalho adotada na definição, situação ou fator de risco é “uma condição ou conjunto de
empresa, de modo a evitar a exclusão do trabalhador no seu local circunstâncias que tem o potencial de causar um efeito adverso, que
de trabalho. pode ser: morte, lesões, doenças ou danos à saúde, à propriedade ou
Considerando o caráter de construção da Área de Saúde do Tra- ao meio ambiente”. Ainda segundo Trivelato (1998), os fatores de risco
balhador, é importante que os profissionais dos serviços de saúde podem ser classificados, segundo sua natureza, em:
estejam imbuídos da responsabilidade de produção e divulgação do
conhecimento acumulado AMBIENTAL:
- físico: alguma forma de energia: radiação, ruído, vibração,
BASES TÉCNICAS PARA O CONTROLE DOS FATORES DE RISCO etc.;
E PARA A MELHORIA DOS AMBIENTES E DAS CONDIÇÕES DE - químico: substâncias químicas, poeiras, etc.;
TRABALHO - biológico: bactérias, vírus, fungos, etc.;

A eliminação ou a redução da exposição às condições de risco e SITUACIONAL: instalações, ferramentas, equipamentos, mate-
a melhoria dos ambientes de trabalho para promoção e proteção da riais, operações, etc.;
saúde do trabalhador constituem um desafio que ultrapassa o âm- HUMANO OU COMPORTAMENTAL: decorrentes da ação ou
bito de atuação dos serviços de saúde, exigindo soluções técnicas, omissão humana.
às vezes complexas e de elevado custo. Em certos casos, medidas
simples e pouco onerosas podem ser implementadas, com impac- O reconhecimento das condições de risco no trabalho envolve
tos positivos e protetores para a saúde do trabalhador e o meio um conjunto de procedimentos que visam a definir se existe ou não
ambiente. um problema para a saúde do trabalhador e, no caso afirmativo, a
O controle das condições de risco para a saúde e melhoria dos estabelecer sua provável magnitude, a identificar os agentes poten-
ambientes de trabalho envolve as seguintes etapas: ciais de risco e as possibilidades de exposição. É uma etapa funda-
• identificação das condições de risco para a saúde presentes mental do processo que, apesar de sujeita às limitações dos recur-
no trabalho; sos disponíveis e a erros, servirá de base para a decisão quanto às
• caracterização da exposição e quantificação das condições de ações a serem adotadas e para o estabelecimento de prioridades.
risco; Reconhecer o risco significa identificar, no ambiente de trabalho,
• discussão e definição das alternativas de eliminação ou con- fatores ou situações com potencial de dano, isto é, se existe a possi-
trole das condições de risco; bilidade de dano. Avaliar o risco significa estimar a probabilidade e
• implementação e avaliação das medidas adotadas. a gravidade de que o dano ocorra.
Para reconhecer as condições de risco é necessário investigar
É muito importante que os trabalhadores participem de to- as possibilidades de geração e dispersão de agentes ou fatores noci-
das as fases desse processo, pois, como foi assinalado no capítulo vos associados aos diferentes processos de trabalho, às operações,
anterior, em muitos casos, a despeito de toda sofisticação técnica, às máquinas e a outros equipamentos, bem como às diferentes
apenas os trabalhadores são capazes de informar sutis diferenças matérias-primas, aos produtos químicos utilizados, aos eventuais
existentes entre o trabalho prescrito e o trabalho real, que explicam subprodutos e aos resíduos. Os possíveis efeitos dos agentes poten-
o adoecimento e o que deve ser modificado para que se obtenha os cialmente presentes sobre a saúde devem ser estudados.
resultados desejados. Assim, o conhecimento disponível sobre os riscos potenciais
Na atualidade, a preocupação com o meio ambiente e a saú- que ocorrem em determinada situação de trabalho deve ser acom-
de das populações residentes na área de influência das unidades panhado de uma observação cuidadosa in loco das condições reais
produtivas vem fortalecendo o movimento que busca a mudança de exposição dos trabalhadores.
de processos de trabalho potencialmente lesivos para a saúde das
populações e o ambiente, o que pode ser um aliado importante
para a saúde do trabalhador.
São apresentadas, a seguir, algumas considerações sobre o
conceito de risco e fator ou condições de risco para a saúde; as
metodologias disponíveis para o reconhecimento dos riscos; algu-
mas das alternativas para a eliminação ou a redução da exposição
às condições de risco para a saúde e a melhoria dos ambientes de
trabalho visando à proteção da saúde do trabalhador. Mais infor-
mações e o aprofundamento dessas questões podem ser obtidos
na bibliografia relacionada ao final do capítulo. Identificação e Ava-
liação das Condições de Risco

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Deve ser lembrado que existe uma diferença entre a capacidade que tem um agente para causar dano e a possibilidade de que este
agente cause dano. O potencial intrínseco de um agente tóxico para lesar a saúde só se concretiza se houver condições para que este
agente alcance o(s) órgão(s) crítico(s) que ele pode danificar. Por exemplo: a sílica livre cristalina é o agente etiológico da silicose, portanto
um bloco de granito “encerra” o risco de silicose. Entretanto, esse bloco só oferecerá risco real de doença se for submetido a algum pro-
cesso de subdivisão que produza partículas suficientemente pequenas para serem inaladas e depositadas nos alvéolos pulmonares. Se o
bloco de granito fizer parte de um monumento, não haverá risco de silicose, porém se este mesmo bloco de granito estiver em um canto
no local de trabalho é importante investigar para que será utilizado. O fato de, no momento, não estar oferecendo risco não significa que
assim será no futuro.
Alguns exemplos, não exaustivos, de agentes químicos, físicos e biológicos que podem oferecer risco para a saúde, bem como de locais
onde podem ocorrer, são apresentados no Quadro VI.
A presença de contaminantes atmosféricos pode passar desapercebida, configurando os riscos escondidos.
A falta de propriedades características ou a presença simultânea de uma multiplicidade de fatores no ambiente de trabalho pode mas-
carar riscos, como, por exemplo, o odor. Quando o risco provém de substâncias ou produtos utilizados é simples associar sua presença com
determinadas operações, como no caso de vapores de solventes em fornos de secagem ou limpeza a seco de vestuário; neblinas de ácido
crômico na cromagem de peças; ou poeira de sílica em operações de jateamento de areia. O mesmo não acontece quando os agentes
químicos ocorrem como subprodutos, ou resíduos, ou são produzidos acidentalmente como resultado de reações químicas de combustão
ou pirólise, decomposição de certos materiais, ou aparecem como impurezas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O problema das impurezas deve ser cuidadosamente examinado, visto que certos produtos químicos podem conter contaminantes
muito mais tóxicos do que eles próprios, oferecendo riscos para a saúde. Por exemplo, o benzeno, altamente tóxico e cancerígeno, pode
ser encontrado como impureza na gasolina e em outros solventes menos tóxicos, como o tolueno e o xileno. Certos talcos podem conter
asbesto como impureza. A arsina e a fosfina, gases muito tóxicos, podem ser encontrados como impurezas no acetileno, que é muito me-
nos tóxico.
Produtos vendidos sob nomes comerciais, sem informação detalhada quanto à composição química, geralmente criam problemas
para o reconhecimento de riscos. Tais informações devem ser exigidas dos fabricantes e fornecedores, uma vez que análises de amostras
de tais produtos são trabalhosas e caras. Na atualidade, estão disponíveis bases de dados com informações sobre produtos a partir dos
nomes comerciais, incluindo informações toxicológicas. Algumas dessas fontes de informação estão referenciadas na bibliografia, ao final
deste capítulo.
Outro aspecto importante da toxicidade das substâncias químicas refere-se às suas propriedades físicas.
A proporção dos componentes de um vapor pode diferir muito de sua proporção na mistura líquida que lhe deu origem.
Por exemplo, uma mistura contendo 10% de benzeno e 90% de xileno na fase líquida, conterá 65% de benzeno e 35% de xileno na fase
de vapor, portanto, uma proporção muito maior do componente mais tóxico. Líquidos contendo pequenas proporções de impurezas muito
tóxicas porém, com alta pressão de vapor, podem dar origem a vapores perigosos, se inalados.
Quanto às poeiras, sua composição pode diferir muito da composição da rocha que lhe deu origem, devido às diferenças na friabili-
dade dos componentes. Também seu aspecto visual pode enganar. Nuvens de poeira visíveis podem ser menos prejudiciais que nuvens
praticamente invisíveis, pois a fração respirável de algumas poeiras, a mais nociva, pode não ser vista a olho nu. Devido ao seu pequeno
tamanho e pouco peso, podem ficar em suspensão no ar durante muito tempo e atingir grandes distâncias, afetando trabalhadores que
parecem não estar expostos.
Outro risco, às vezes esquecido, decorre da falta de oxigênio, que pode levar rapidamente à morte. Pode ocorrer quando certos conta-
minantes atmosféricos, não necessariamente tóxicos em si, deslocam o oxigênio, como no caso de recintos fechados onde há fermentação
e o CO2desloca o oxigênio.
Com exceção das radiações ionizantes, os riscos de natureza física são geralmente fáceis de reconhecer, pois atuam diretamente sobre
os sentidos. No Quadro VIII estão relacionados alguns exemplos de agentes físicos e respectivas situações de exposição.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A exposição aos agentes biológicos está geralmente associada ao trabalho em hospitais, laboratórios de análises clínicas e atividades
agropecuárias, porém pode ocorrer, também, em outros locais. O fato de que frequentemente ocorrem em situações não-ocupacionais complica
o estabelecimento do nexo causal. Os agentes biológicos incluem vírus, bactérias, riquétsias*, protozoários e fungos e seus esporos. No Quadro
IX, apresentado a seguir, estão relacionados alguns exemplos desses agentes e as respectivas situações ocupacionais de exposição.
Os fatores de adoecimento relacionados à organização do trabalho, em geral considerados nos riscos ergonômicos, podem ser iden-
tificados em diversas atividades, desde a agricultura tradicional até processos de trabalho modernos que incorporam alta tecnologia e
sofisticadas estratégias de gestão. Os processos de reestruturação produtiva e globalização da economia de mercado, em curso, têm
acarretado mudanças significativas na organização e gestão do trabalho com repercussões importantes sobre a saúde do trabalhador.
Entre suas consequências destacam-se os problemas osteomusculares e o adoecimento mental relacionados ao trabalho, que crescem
em importância em todo o mundo. A exigência de maior produtividade, associada à redução contínua do contingente de trabalhadores, à
pressão do tempo e ao aumento da complexidade das tarefas, além de expectativas irrealizáveis e as relações de trabalho tensas e precá-
rias, constituem fatores psicossociais responsáveis por situações de estresse relacionado ao trabalho.
Um enfoque mais detalhado dessas questões pode ser encontrado nos capítulos 10 e 18 deste Manual de Procedimentos.
O reconhecimento das condições de risco presentes no trabalho pode ser realizado com o auxílio de metodologias variadas, porém
todas elas incluem três etapas fundamentais:
a) o estudo inicial da situação;
b) inspeção do local de trabalho para observações detalhadas;
c) análise dos dados obtidos.

O estudo inicial da situação é indispensável para que fatores ou condições de risco não sejam negligenciados durante a inspeção do
local de trabalho, requerendo conhecimento técnico, experiência e acesso a fontes especializadas e atualizadas de informação. O estudo
preliminar do(s) processo(s) de trabalho, que precede a inspeção, pode ser feito utilizando as fontes de informação disponíveis (literatura
especializada, bancos de dados eletrônicos, relatórios técnicos de levantamentos prévios realizados no mesmo local ou em locais seme-
lhantes) e por meio de perguntas antecipadas à própria empresa que vai ser estudada, como, por exemplo, a lista de produtos compra-
dos com a respectiva taxa de consumo (semanal ou mensal), como e onde são utilizados. Assim é possível determinar a priori quais as
principais possibilidades de risco, o que será de grande utilidade e otimizará o tempo durante a inspeção propriamente dita. Concluída a
investigação dos agentes de risco potenciais, que podem ocorrer no local de trabalho, é necessário verificar quais são seus possíveis efeitos
para a saúde. Além disso, também devem ser consultadas as tabelas contendo os Limites de Exposição Ocupacional (LEO) ou Limites de
Tolerância (LT), pois os valores de exposição permitidos para os diferentes agentes dão uma idéia do grau de dano que podem causar e são
úteis para se fazer comparações e estabelecer prioridades.
Por exemplo, um agente químico cujo LT é 0,5 mg/m3será muito mais perigoso que um agente cujo LT é 200 mg/m3.
As informações relativas ao estado de saúde do trabalhador, incluindo as queixas, sintomas observados ou outros efeitos sobre a saú-
de e alterações precoces nos parâmetros de saúde ou nos resultados de monitorização biológica, também podem auxiliar na identificação
de condições de risco existentes no ambiente de trabalho. Uma colaboração estreita entre os responsáveis pelo estudo do ambiente e
das condições de trabalho (higienistas, engenheiros de segurança, ergonomistas) e os responsáveis pela saúde do trabalhador (médicos,
psicólogos, enfermeiros do trabalho, toxicologistas) é indispensável para uma avaliação correta das exposições ocupacionais. O enfoque
multidisciplinar e o trabalho em equipe permitem desvendar relações causais que de outra forma podem passar despercebidas.
O potencial de causar dano de um determinado agente encontrado no ambiente de trabalho é importante para o estabelecimento de
prioridades, mesmo para as observações iniciais, alertando para a presença de condições graves, que requerem ação imediata, como no
caso da exposição a substâncias muito tóxicas, cancerígenas ou teratogênicas. O modo de ação de um agente sobre o organismo (rápido,
lento) e a possibilidade de penetrar através da pele intacta são dados importantes para orientar as observações in loco e o estabelecimen-
to da estratégia de amostragem, se necessária.
Relatórios e resultados de investigações prévias devem ser analisados, considerando a possibilidade de que tenham ocorrido mudan-
ças nas condições de trabalho.
Na inspeção do local de trabalho é importante definir um ponto focal que, necessariamente, deve ser uma pessoa que conheça bem
todo o processo de trabalho, assegurando o acesso às pessoas que possam dar informações pertinentes, principalmente os trabalhadores.
Todas as informações colhidas devem ser anotadas com clareza, dentro de um formato preparado com antecedência, incluindo check-lists
relativos aos possíveis fatores de risco em cada operação. É indispensável obter ou preparar um fluxograma do processo.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Se não for possível antes, quando no momento da inspeção do O grau de atividade física também tem grande influência, au-
local de trabalho deve ser obtida uma lista dos materiais e diferen- mentando sensivelmente o depósito de poeira em todas as regiões
tes produtos comprados e utilizados. Informações quanto a taxas do aparelho respiratório. Algumas substâncias podem ser absor-
de consumo (semanal, mensal) e de como e onde são utilizados po- vidas através da pele intacta e passar à corrente sangüínea, con-
dem auxiliar no estabelecimento da ordem de grandeza do provável tribuindo, significativamente, para a absorção total de um agente
risco e na localização das fontes que poderiam escapar à observa- tóxico. Características das substâncias químicas que influenciam a
ção, particularmente se estiverem escondidas. Nem sempre a utili- absorção através da pele incluem a solubilidade (maior solubilidade
zação de produtos químicos é aparente. Áreas de recebimento de em lipídios, maior absorção) e o peso molecular (quanto maior, me-
materiais e de armazenamento não podem ser esquecidas. Entre as nor a absorção). Outros fatores que influenciam a absorção incluem
perguntas a serem respondidas estão: que substâncias são usadas? o tipo de pele, que varia de pessoa para pessoa e também de uma
Em que quantidades? Como e onde? No caso de agentes químicos e parte do corpo para outra; a condição da pele, como a existência de
poeiras, qual a capacidade de evaporação ou de dispersão? doenças de pele, tipo eczemas e fissuras; a exposição prévia aos sol-
Outros aspectos que devem ser observados são: tecnologia de ventes e o trabalho físico pesado, que estimula a circulação perifé-
produção e processos, equipamentos e máquinas, fontes potenciais rica de sangue. É importante investigar, entre os agentes potenciais
de contaminantes, inclusive condições que possam levar à forma- de exposição, quais têm a propriedade de ser absorvidos através da
ção acidental, como, por exemplo, o armazenamento inadequado pele. Mesmo produtos químicos em forma de grânulos ou escamas
de substâncias reativas e circunstâncias que podem influenciar na podem oferecer tal risco, se houver contato direto com a pele e se
sua dispersão no ambiente de trabalho, bem como a direção pro- forem solúveis no suor, como, por exemplo, o pentaclorofenol. Essa
vável de propagação desses contaminantes a partir da fonte. Possi- situação é agravada em locais de trabalho quentes. A possibilidade
bilidades de vazamentos e emissões fugitivas em processos fecha- de absorção através da pele modifica os procedimentos referentes
dos ou isolados devem ser cuidadosamente investigadas. Entre as à avaliação quantitativa da exposição por simples amostragem/aná-
perguntas a serem respondidas estão: quais as fontes de emissão? lise do ar, que não será suficiente para avaliar a exposição total.
Trata-se de processo necessário? Pode a tarefa ser executada com Também o controle, por meio da proteção respiratória, não
menor risco? O que pensa o trabalhador? No caso de processo fe- será suficiente para proteger o trabalhador, que deverá incorporar
chado, há possibilidade de emissões fugitivas? práticas de trabalho adequadas, evitando contato com a pele e res-
É importante perguntar sobre processos esporádicos que po- pingos nas roupas e instituir rigorosa higiene pessoal.
dem não estar sendo executados na ocasião da inspeção. Todos os Apesar de a via digestiva ser a menos importante porta de
ciclos do processo devem ser investigados e, de preferência, ob- entrada, em situações ocupacionais essa possibilidade deve ser in-
servados. Os trabalhadores podem dar informações valiosas a esse vestigada e eliminada por meio do estabelecimento de práticas de
respeito. trabalho e de higiene adequadas.
As características gerais do local de trabalho e a possível in- O nível de atividade física exigido tem importância fundamen-
fluência de ambientes contíguos também devem ser observadas. tal, também, nos casos de sobrecarga térmica pois, quanto mais
Exemplo: podem ocorrer intoxicações por gases de exaustão de intensa, maior será a produção de calor metabólico que deve ser
veículos deixados com o motor ligado numa plataforma de carga/ dissipado.
descarga adjacente a janelas abertas de um local de trabalho onde A avaliação da dose realmente recebida pelo trabalhador, seja
não há contaminantes atmosféricos prejudiciais. Situações ainda de um agente químico ou de um agente físico presentes na situa-
mais graves podem ocorrer, e têm ocorrido, quando contaminantes ção de trabalho, depende da concentração, quando se trata de um
tóxicos são conduzidos, pelo vento ou por um escape, para pontos contaminante atmosférico, ou da intensidade, quando se refere a
de entrada de ar de sistemas de ventilação. um agente físico, e do tempo de exposição. Exemplos: segundo as
O layout do ambiente deve ser anotado, os postos de trabalho normas vigentes, a exposição ao ruído não deve ultrapassar 85 dBA
e as tarefas devem ser observados e analisados. para uma exposição ocupacional de 8 horas diárias, porém pode ir
Além de estudar a possível ocorrência de condições de risco no a 88 dBA para 4 horas diárias ou a 91 dBA para 2 horas diárias. A
local de trabalho e os efeitos nocivos que podem causar, é necessá- exposição ao calor em um ambiente com Índice de Bulbo Úmido -
rio observar as condições de exposição, que incluem aspectos como Termômetro de Globo (IBUTG) igual a 29,5o C, para trabalho mode-
as vias de entrada no organismo, nível de atividade física e o tempo rado, não é aceitável para trabalho contínuo, porém o seria para um
de exposição. A investigação das condições de exposição também esquema de 50% de trabalho e 50% de descanso em local fresco,
é necessária para a definição da estratégia de amostragem, para por hora, ou seja, 30 minutos de trabalho, 30 minutos de descanso.
uma avaliação quantitativa correta e o planejamento da prevenção Para os agentes químicos, a influência do tempo de exposição
e do controle. Sobre as vias de entrada no organismo de agentes varia para agentes de ação rápida no organismo ou aqueles de ação
químicos e poeiras é importante considerar que, nos ambientes crônica. Quando a ação for rápida, mesmo exposições curtas devem
de trabalho, a via respiratória é a mais importante. É influenciada ser evitadas. A exposição a agentes cancerígenos e teratogênicos
pelo modo de respirar do trabalhador, se pelo nariz ou pela boca e deve ser eliminada e estar sob controle rigoroso.
pelo tipo de atividade, uma vez que o trabalho mais pesado requer Sobre as flutuações nas condições de exposição às substân-
maior ventilação pulmonar. cias químicas, na maioria dos casos, a liberação de contaminantes
Em repouso, uma pessoa respira, em média de 5 a 6 litros por atmosféricos varia com o lugar e o tempo. Possibilidades de flutu-
minuto e ao realizar trabalho muito pesado passará a respirar de 30 ações apreciáveis e de ocorrência de picos de concentração dos
a 50 litros por minuto. No caso das poeiras, o mecanismo de filtros contaminantes atmosféricos devem ser observadas nos processos
existente no nariz é importante, podendo ocorrer uma diferença variáveis e nas operações esporádicas, como na abertura de fornos
apreciável entre a quantidade de poeira inalada e depositada em de secagem ou de reatores de polimerização. Essas informações são
diferentes regiões do aparelho respiratório, dependendo do tipo de importância fundamental para a elaboração de estratégias de
de respiração, se nasal ou oral. A respiração pela boca aumenta o amostragem, na avaliação quantitativa e para o planejamento de
depósito de poeira respirável na região alveolar, em relação à res- medidas de prevenção e controle que, em certos casos, devem visar
piração pelo nariz. a uma fase específica do processo de trabalho, como, por exemplo,
a proteção respiratória na abertura de um forno de secagem.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O número de trabalhadores expostos que devem ser protegi- A análise das informações obtidas deverá orientar o estabeleci-
dos influi na escolha dos métodos e nas considerações econômicas. mento das prioridades e a definição das ações posteriores, que são,
Quando poucos trabalhadores estão expostos, poderá ser aceitável em princípio, as seguintes:
controlar a exposição por meio do uso de Equipamentos de Pro- • se a condição de risco é evidente e seu potencial de causar
teção Individual (EPI), com limitação de exposição e sob estrita vi- dano para a saúde é grave, este reconhecimento deve bastar para
gilância médica. Porém, não se pode esquecer que o ambiente é que se recomendem medidas preventivas imediatas, sem esperar
um todo e mesmo se poucos trabalhadores estão expostos, agentes pelo processo de avaliação quantitativa da exposição, geralmente
nocivos podem sair do ambiente de trabalho para o exterior e cau- demorado e dispendioso. Esse é o caso de operações reconhecida-
sar danos às comunidades vizinhas e ao meio ambiente em geral, mente perigosas, como, por exemplo, o uso de jato de areia, trans-
exigindo que sejam controlados na fonte. ferência de pós muito tóxicos, solda elétrica em locais confinados,
Os sistemas de controle existentes, como, por exemplo, equi- spray de pesticidas, transferência de metais em fusão, que são rea-
pamentos de ventilação local exaustora e outros sistemas eventu- lizadas sem o controle necessário;
almente existentes, devem ser cuidadosamente examinados para • se ficar evidenciado que não há risco, não há necessidade
evitar falsa segurança. de avaliação quantitativa da exposição, porém, devem ser anotadas
Processos fechados devem ser testados para vazamentos e quaisquer mudanças futuras que possam alterar a situação de risco;
emissões fugitivas. A existência de um sistema de ventilação exaus- • se a situação de risco não é clara, é necessária uma avaliação
tora não significa que haja controle efetivo, pois o sistema pode quantitativa para confirmar a presença e determinar a magnitude
não estar funcionando adequadamente. Devem ser solicitados aos das condições de risco.
responsáveis os planos e os esquemas de verificação e manuten-
ção periódica do sistema, pois se isto não for feito rotineira e cor- As avaliações qualitativas para tomada de decisão quanto à
retamente, mesmo sistemas inicialmente excelentes, com o tempo, prevenção e controle têm recebido atenção cada vez maior, devido
perderão sua eficiência. ao fato de que é impossível fazer avaliações quantitativas corretas
Deve também ser observado se os contaminantes não estão em todas as situações, além de serem muito mais caras e demo-
sendo jogados do ambiente de trabalho para o ambiente exterior. A radas. Entretanto, as avaliações qualitativas devem seguir uma
disponibilidade de EPI para os trabalhadores não significa que eles metodologia adequada, como, por exemplo, o Banding Approach,
estejam protegidos, pois os equipamentos podem não ser eficien- desenvolvido na Inglaterra, que é um guia para decisões quanto a
tes. No caso de máscaras para proteção respiratória, por exemplo, medidas de controle para contaminantes atmosféricos, sem utilizar
estas podem não estar ajustadas, podem ter vazamentos, os filtros avaliações quantitativas e comparação com Limites de
podem estar vencidos ou ser inadequados. Filtros para partículas Exposição Ocupacional (HSE, 1999). A idéia é estimar o grau de
não servem na presença de vapores. Nenhum filtro serve, se houver risco a partir de informações toxicológicas, quantidades utilizadas
falta de oxigênio. das substâncias, possibilidade de dispersão ou evaporação e con-
Em determinadas situações podem ser utilizados instrumen- dições de uso e exposição. As informações obtidas são comparadas
tos para o reconhecimento de condições de risco, de leitura direta, com tabelas previamente elaboradas que indicam os controles ne-
úteis para uma triagem inicial e verificação da presença de um de- cessários. Em situações mais graves e complexas, recomenda-se a
terminado agente na atmosfera. consulta a especialistas em prevenção e controle de riscos.
Ainda que os resultados não sejam muito exatos e precisos, po- A abordagem proposta pela Ergonomia para a análise do tra-
derão servir para elucidar suspeita de riscos escondidos. balho difere da metodologia utilizada pela Higiene Ocupacional. Os
Avaliações qualitativas ou semiquantitativas podem ser sufi- fundamentos de sua prática baseiam-se no estudo do trabalho, par-
cientes nessa etapa preliminar. ticularmente na identificação das diferenças entre o trabalho pres-
Um cuidado particular deve ser tomado quanto à possibilidade crito e o trabalho real, que muitas vezes explicam o adoecimento
de falsos negativos, particularmente quando se tratar de exposição dos trabalhadores.
potencial a agentes muito perigosos, altamente tóxicos, canceríge- A complexidade crescente dos novos processos de trabalho,
nos ou teratogênicos, para os quais mesmo concentrações muito organizados a partir da incorporação das inovações tecnológicas e
baixas são significativas. Nesses casos, o limite mínimo de detec- de novos métodos gerenciais, tem gerado formas diferenciadas de
ção é crítico. Instrumentos pouco sensíveis poderão não registrar sofrimento e adoecimento dos trabalhadores, particularmente na
concentrações muito baixas, levando a uma suposição errônea de esfera mental. Em muitas dessas situações, as prescrições clássicas
exposição zero ao invés de detecção zero, o que pode ter graves da Higiene do
conseqüências para os trabalhadores. Além disso, deve-se ter cui- Trabalho foram atendidas, porém permanecem presentes ou
dado com outras interferências que podem mascarar os resultados. são acrescentadas outras condições de risco ergonômico e psicos-
Não se deve negligenciar a proteção das pessoas que fazem os sociais decorrentes da organização do trabalho, responsáveis pela
levantamentos, pois poderão estar expostas a riscos sérios, como, produção do adoecimento.
por exemplo, a falta de oxigênio, altas concentrações de H2 S ao
entrar em local confinado ou cancerígenos. Devem ter à sua dispo- IDENTIFICAÇÃO E CONTROLE DOS FATORES DE RISCO NA
sição EPI adequados e instrumentos de leitura direta para testar, PERSPECTIVA DA HIGIENE DO TRABALHO E DA ERGONOMIA
antes de entrar, atmosferas potencialmente perigosas. Esses pro-
cedimentos podem ser pedagógicos para as empresas e para os Os princípios básicos da tecnologia de controle, propostos pela
trabalhadores. Higiene do Trabalho, podem ser enunciados como:
Concluída a inspeção do local de trabalho, é essencial redigir a) evitar que um agente potencialmente perigoso ou tóxico
o relatório. Esse deve ser objetivo e exato, indicando claramente para a saúde seja utilizado, formado ou liberado;
as características do local de trabalho, o nome e as coordenadas b) se isso não for possível, contê-lo de tal forma que não se
do ponto focal na empresa, todas as condições de risco observadas propague para o ambiente;
e demais fatores relevantes. Deve ser elaborado de tal forma que c) se isso não for possível ou suficiente, isolá-lo ou diluí-lo no
outras pessoas possam ter uma ideia clara da situação. ambiente de trabalho; e, em último caso,

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

d) bloquear as vias de entrada no organismo: respiratória, pele, RECONHECIMENTO E AVALIAÇÃO DOS AGENTES E FATORES
boca e ouvidos, para impedir que um agente nocivo atinja um órgão QUE PODEM OFERECER RISCO PARA A SAÚDE E PARA O MEIO AM-
crítico, causando lesão. BIENTE, INCLUINDO A DEFINIÇÃO DE SEU IMPACTO: devem ser de-
terminadas e localizadas as fontes de risco; as trajetórias possíveis
A cadeia de transmissão do risco deve ser quebrada o mais pre- de propagação dos agentes nos ambientes de trabalho; os pontos
cocemente possível. Assim, a hierarquia dos controles deve buscar, de ação ou de entrada no organismo; o número de trabalhadores
sequencialmente, o controle do risco na fonte; o controle na traje- expostos e a existência de problemas de saúde entre os trabalhado-
tória (entre a fonte e o receptor) e, no caso de falharem os anterio- res expostos ao agente. A interpretação dos resultados vai possibi-
res, o controle da exposição ao risco no trabalhador. Quando isso litar conhecer o risco real para saúde e a definição de prioridades
não é possível, o que frequentemente ocorre na prática, o objetivo para a ação;
passa a ser a redução máxima do agente agressor, de modo a mini- TOMADA DE DECISÃO: resulta do reconhecimento de que há
mizar o risco e seus efeitos sobre a saúde. necessidade de prevenção, com base nas informações obtidas na
A informação e o treinamento dos trabalhadores são compo- etapa anterior. A seleção das opções de controle deve ser adequada
nentes importantes das medidas preventivas relativas aos ambien- e realista, levando em consideração a viabilidade técnica e econô-
tes de trabalho, particularmente se o modo de executar as tarefas mica de sua implementação, operação e manutenção, bem como a
propicia a formação ou dispersão de agentes nocivos para a saúde disponibilidade de recursos humanos e financeiros e a infraestrutu-
ou influencia as condições de exposição, como, por exemplo, a posi- ra existente;
ção em relação à tarefa/máquina, a possibilidade de absorção atra- PLANEJAMENTO: uma vez identificado o problema, tomada a
vés da pele ou ingestão, o maior dispêndio de energia, entre outras. decisão de controlá-lo, estabelecidas as prioridades de ação e dis-
Em situações especiais, podem ser adotadas medidas que limi- ponibilizados os recursos, deve ser elaborado um projeto detalhado
tem a exposição do trabalhador por meio da redução do tempo de quanto às medidas e procedimentos preventivos a serem adotados;
exposição, treinamento específico e utilização de EPI.
As estratégias para o controle dos riscos devem visar, princi- AVALIAÇÃO.
palmente, à prevenção, por meio de medidas de engenharia de
processo que introduzam alterações permanentes nos ambientes e Sobre as medidas organizacionais e gerenciais a serem ado-
nas condições de trabalho, incluindo máquinas e equipamentos au- tadas visando à melhoria das condições de trabalho e qualidade
tomatizados que dispensem a presença do trabalhador ou de qual- de vida dos trabalhadores, particularmente para a prevenção dos
quer outra pessoa potencialmente exposta. Dessa forma, a eficácia transtornos mentais e do sofrimento mental relacionado ao traba-
das medidas não dependerá do grau de cooperação das pessoas, lho e de LER/DORT, sugere-se que sejam consultados o capítulo 10
como no caso da utilização de EPI. (Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados ao Traba-
O objetivo principal da tecnologia de controle deve ser a modi- lho) e o capítulo 18 (Doenças do Sistema Osteomuscular e do Tecido
ficação das situações de risco, por meio de projetos adequados e de Conjuntivo Relacionadas ao Trabalho). No que se refere às condi-
técnicas de engenharia que: ções de trabalho nocivas para a saúde, que decorrem
• eliminem ou reduzam a utilização ou a formação de agentes da organização e gestão do trabalho, as medidas recomend das
prejudiciais para a saúde, como, por exemplo, a substituição de ma- podem ser resumidas em:
teriais ou equipamentos e a modificação de processos e de formas • aumento do controle real das tarefas e do trabalho por parte
de gestão do trabalho; daqueles que as realizam;
• previnam a liberação de tais agentes nos ambientes de tra- • aumento da participação real dos trabalhadores nos proces-
balho, como, por exemplo, os sistemas fechados, enclausuramento, sos decisórios na empresa e facilidades para sua organização;
ventilação local exaustora, ventilação geral diluidora, armazena- • enriquecimento das tarefas, eliminando as atividades monó-
mento adequado de produtos químicos, entre outras; tonas e repetitivas e as horas extras;
• reduzam a concentração desses agentes no ar ambiente, • estímulo a situações que permitam ao trabalhador o senti-
como, por exemplo, a ventilação local diluidora e limpeza dos locais mento de que pertencem e/ou de que fazem parte de um grupo;
de trabalho. • desenvolvimento de uma relação de confiança entre traba-
lhadores e demais integrantes do grupo, inclusive superiores hie-
Todas as possibilidades de controle das condições de risco rárquicos;
presentes nos ambientes de trabalho por meio de Equipamentos • estímulo às condições que ensejem a substituição da compe-
de Proteção Coletiva (EPC) devem ser esgotadas antes de se reco- tição pela cooperação.
mendar o uso de EPI, particularmente no que se refere à proteção
respiratória e auditiva. As estratégias de controle devem incluir os
procedimentos de vigilância ambiental e da saúde do trabalhador.
A vigilância em saúde deve contribuir para a identificação de tra-
balhadores hipersensíveis e para a detecção de falhas nos sistemas
de prevenção. A informação e o treinamento dos trabalhadores
são componentes essenciais das medidas preventivas relativas aos
ambientes de trabalho, particularmente se o modo de executar as
tarefas propicia a formação ou dispersão de agentes nocivos para a
saúde ou influencia as condições de exposição.
Sumariando, as etapas para definição de uma estratégia de
controle incluem:

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE

A RDC 222/2018 é a nova regulamentação da Anvisa para Boas Práticas de Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde. A pre-
sente revisão se fez necessária em virtude da introdução da Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS),
dos muitos questionamentos apresentados e da necessidade de introdução de novidades legais e tecnológicas surgidas desde a publicação
da RDC 306/2004. Aproveite esse artigo para se atualizar e conhecer as normas para gerenciar corretamente os resíduos produzidos em
estabelecimentos de saúde. Acesse também o texto: a importância do gerenciamento de risco na área da saúde.
Quais instituições se enquadram como geradoras de Resíduos de Serviços de Saúde?
A RDC 222/2018 é destinada às instituições públicas ou privadas, filantrópicas, civis ou militares e que exercem ações de ensino e
pesquisa, relacionadas com a atenção à saúde humana e animal, geradoras de Resíduos de Serviços de Saúde – RSS, tais como necrotérios,
distribuidores de produtos farmacêuticos, laboratórios analíticos de produtos para saúde, IMLs, drogarias, farmácias de manipulação,
serviços de acupuntura, piercing e tatuagem, entre outros.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde


O Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde CENTRAL DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO. PROCESSA-
deve conter todas as etapas de planejamento dos recursos físicos, MENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE. PROCESSOS DE
materiais e humanos relacionados no serviço. Dessa forma, o gera- ESTERILIZAÇÃO DE PRODUTOS PARA SAÚDE. CONTRO-
dor deve: LE DE QUALIDADE E VALIDAÇÃO DOS PROCESSOS DE
- Estimar a quantidade dos Resíduos de Serviços de Saúde ge- ESTERILIZAÇÃO DE PRODUTOS PARA SAÚDE
rados;
- Estabelecer procedimentos quanto à geração, à segregação, A CME é uma unidade de apoio técnico dentro do estabele-
ao acondicionamento, à identificação, à coleta, ao armazenamento, cimento de saúde destinada a receber material considerado sujo
ao transporte, ao tratamento e à disposição final ambientalmente e contaminado, descontaminá-los, prepará-los e esterilizá-los, bem
adequada dos Resíduos de Serviços de Saúde; como, preparar e esterilizar as roupas limpas oriundas da lavande-
- Estar em conformidade com as ações de proteção à saúde pú- ria e armazenar esses artigos para futura distribuição. No quadro
blica, do trabalhador, do meio ambiente, regulamentação sanitária atual, a CME não atende às normas necessárias para um funciona-
e ambiental, com as normas de coleta e transporte dos serviços lo- mento eficaz.
cais de limpeza urbana, com as rotinas e processos de higienização Na busca por racionalizar os gastos e otimizar os recursos dos
e limpeza; serviços decorrentes do custo x benefício de equipamentos, pessoal
- Estabelecer ações a serem adotadas em situações de emer- e investimento na estrutura física, a CME do HRFS se transformará
gência e acidentes decorrentes do gerenciamento dos RSS; numa Central de Materiais de esterilização da Microrregião aten-
- Descrever as medidas preventivas e corretivas de controle in- dendo a um total de 173 leitos, prestando apoio técnico ao centro
tegrado de vetores e pragas urbanas, incluindo a tecnologia utiliza- cirúrgico, obstétrico, ambulatório, semi-intensivo e ao atendimento
da e a periodicidade de sua implantação; de ência deste estabelecimento de saúde, além dos serviços solici-
- Descrever os programas de capacitação desenvolvidos e im- tados pelo SAMU-192, que na proposta, terá uma base descentra-
plantados pelo serviço gerador abrangendo todas as unidades gera- lizada.
doras de RSS e o setor de limpeza e conservação; A partir do processo de estruturação do HRFS, propõe-se um
- Apresentar documento comprobatório da capacitação e trei- novo espaço para a CME, contendo os fluxos necessários para um
namento dos funcionários envolvidos na prestação de serviço de bom funcionamento do setor e, após sua concretização, a amplia-
limpeza e conservação; ção do atendimento a outros serviços de saúde. Para tanto, foram
- Apresentar cópia do contrato de prestação de serviços e da pesquisados livros e manuais, sites, bem como, foram realizadas
licença ambiental das empresas prestadoras de serviços para a des- visitas e entrevistas ao hospital em questão e ao setor da CME de
tinação dos RSS; outros hospitais.
- Apresentar documento comprobatório de operação de venda
ou de doação dos RSS destinados à recuperação, à reciclagem, à CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR
compostagem e à logística reversa;
Segundo QUELHAS, “existem regiões onde os serviços de saú-
Objetivos para estudarmos Gerenciamento de Resíduos de são limitados ou inexistentes, onde as infecções são, por muitas
- Desenvolver e estimular o profissional a competência técni- vezes, não tratadas. As taxas de morte e a incidência de doenças
ca na aplicação da legislação vigente pertinente ao setor aliando infecciosas estão crescendo. Em países mais pobres, 50% de todas
as Boas Práticas de Fabricação para atender as necessidades das as mortes são derivadas das infecções.” É importante ressaltar:
empresas. • A padronização de normas e rotinas técnicas e na validação
- Alertar sobre o nível de responsabilidade do Farmacêutico e dos processamentos dos materiais e superfícies é essencial no con-
os resíduos gerados em sua unidade produtiva. trole de infecção.
- Avaliar a relação Custo X Benefício das diversas formas de tra- • É de extrema importância a atuação dos órgãos de fiscaliza-
tamento e destinação final para os resíduos gerados. ções para o controle e avaliação das normas e processos de traba-
- Estimular uma visão prática para a busca constante da redu- lho.
ção na geração, otimização das correntes existentes e uma atitude • A capacitação profissional.
de vigilância permanente e crítica quanto ao assunto.2
De acordo com a RDC nº. 50 (ANVISA, 2004, pág. 112), as con-
dições ambientais necessárias ao auxilio do controle da infecção de
serviços de saúde dependem de pré-requisitos de diferentes am-
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DA bientes do EAS, quanto ao risco de transmissão da mesma. Nesse
PESQUISA EM SAÚDE E ENFERMAGEM sentido, eles podem ser classificados:
• Áreas críticas: são os ambientes onde existem riscos aumen-
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em tados de transmissão de infecção, onde se realizam procedimentos
tópicos anteriores. de risco, com ou sem paciente ou onde se encontram pacientes
imunodeprimidos
A CME é uma área crítica e o seu planejamento de fluxo dos
materiais e roupas é: recebimento de roupa limpa/material - des-
contaminação de material Æ separação e lavagem de material pre-
paro de roupas e material Æ esterilização Æ guarda e distribuição, a
barreira física que delimita a área suja e contaminada da área limpa
minimizando a entrada de microorganismos externos.

2 Fonte: www.blog.ipog.edu.br

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

RECURSOS HUMANOS Preparo: As embalagens utilizadas para o acondicionamento


dos materiais determinam sua vida útil, mantêm o conteúdo estéril
A equipe de enfermagem que trabalha nesta unidade presta após o reprocessamento, garante a integridade do material Esteri-
uma assistência indireta ao paciente, tão importante quanto à as- lização:
sistência direta, que é realizada pela equipe de enfermagem que É o processo de destruição de todos os microorganismos, a
atende ao paciente. O quadro de pessoal de uma CME deve ser tal ponto que não seja mais possível detectá-los através de testes
composto por enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de microbiológicos padrão. Um artigo é considerado estéril quando a
enfermagem e auxiliares administrativos, cujas funções estão des- probabilidade de sobrevivência dos microorganismos que o conta-
critas nas práticas recomendadas da SOBECC, cujas funções estão minavam é menor do que 1:1.000.000.
descritas abaixo: Nos estabelecimentos de saúde, os métodos de esterilização
disponíveis para processamento de artigos no seu dia a dia são o
Enfermeiro Supervisor calor, sob a forma úmida e seca, e os agentes químicos sob a forma
• Atua na coordenação do setor; líquida, gasosa e plasma
• Prever os materiais necessários para prover as unidades con-
sumidoras; Processos físicos
• Elaborar relatórios mensais estatísticos, tanto de custo quan-
to de produtividade; Calor Seco: Este processo realizado pelo calor seco é realizado
• Planejar e fazer anualmente o orçamento do CME com ante- em estufas elétricas. De acordo com Moura (1990), “a estufa, da
forma como é utilizada nas instituições brasileiras, não se mostra
cedência de 04 a 6 meses
confiável, uma vez que, em seu interior, encontram–se temperatu-
• Elaborar e manter atualizado o manual de normas, rotinas e
ras diferentes das registradas no termômetro. O centro da câmara
procedimentos do CME, que deve estar disponível para a consulta
apresenta “pontos frios”, nos quais a autora constatou, por meio de
dos colaboradores.
testes biológicos, a presença de formas esporuladas.
• Desenvolver pesquisas e trabalhos científicos que contribu- Dessa maneira, é necessário manter espaço suficiente entre
am para o crescimento e as boas práticas de Enfermagem, partici- os artigos e, no caso do processamento de instrumental cirúrgico,
pando de tais projetos e colaborando com seu andamento. no máximo, em torno de 30 peças. Contudo, a SOBECC recomenda
• Manter-se atualizado acerca das tendências técnicas e cien- abolir o uso da esterilização por calor seco.” (Práticas Recomenda-
tíficas relacionadas com o controle de infecção hospitalar e com o das- SOBECCSociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgi-
uso de tecnologias avançadas nos procedimentos que englobem co, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização. 4ª
artigos processados pelo CME. edição – 2007, pág. 78). Vapor saturado sob pressão: Este proces-
• Participar de comissões institucionais que interfiram na dinâ- so está relacionado com o mecanismo de calor latente e o contato
mica de trabalho do CME. direto com o vapor, promovendo a coagulação das proteínas. Re-
alizando uma troca de calor entre o meio e o objeto a ser esterili-
PROCESSOS DESENVOLVIDOS zado. Existe uma constante busca por modelos de autoclaves que
permitam a máxima remoção do ar, com câmaras de auto-vácuo,
Limpeza: A limpeza consiste na remoção da sujidade visível – totalmente automatizadas. Entretanto, esses equipamentos sofis-
orgânica e inorgânica – mediante o uso da água, sabão e detergente ticados necessitam de profissionais qualificados, pois estes são, e
neutro ou detergente enzimático em artigos e superfícies. Se um ar- continuarão sendo, o fator de maior importância na segurança do
tigo não for adequadamente limpo, isto dificultará os processos de processo de esterilização.
desinfecção e de esterilização. As limpezas automatizadas, realiza- Autoclave Pré-Vácuo: Por meio da bomba de vácuo contida no
das através das “lavadoras termodesifectadoras” que utilizam jatos equipamento, podendo ter um, três ou cinco ciclos pulsáteis, o ar
de água quente e fria, realizando enxágüe e drenagem automatiza- é removido dos pacotes e da câmara interna, permitindo uma dis-
da, a maioria, com o auxilio dos detergentes enzimáticos, possui a persão e penetração uniforme e mais rápida do vapor em todos os
vantagem de garantir um padrão de limpeza e enxágüe dos artigos pacotes que contém a respectiva carga. Após a esterilização, a bom-
processados em série, diminuem a exposição dos profissionais aos ba a vácuo faz a sucção do vapor e da umidade interna da carga, tor-
riscos ocupacionais de origem biológica, que podem ser decorren- nando a secagem mais rápida e completando o ciclo. Os materiais
tes dos acidentes com materiais perfuro- cortantes. As lavadoras submetidos à esterilização a vapor são liberados após checklist feito
pelo auxiliar de enfermagem da área.
ultra-sônicas, que removem as sujidades das superfícies dos artigos
Processos Químicos e Físicos- Químicos: Esterilizantes químicos
pelo processo de cavitação, são outro tipo de lavadora para comple-
cujos princípios ativos são autorizados pela Portaria nº. 930/92 do
mentar a limpeza dos artigos com lumens.
Ministério da Saúde são: aldeídos, ácido peracético e outros, desde
Descontaminação: É o processo de eliminação total ou parcial
que atendam a legislação especifica.
da carga microbiana de artigos e superfícies.
Desinfecção: A desinfecção é o processo de eliminação e des- O Peróxido de hidrogênio (na forma gásplasma) e o óxido de
truição de microorganismos, patogênicos ou não em sua forma ve- etileno são processos físicoquímicos gasosos automatizados em
getativa, que estejam presentes nos artigos e objetos inanimados, baixa temperatura Validação dos processos de esterilização de ar-
mediante a aplicação de agentes físicos ou químicos, chamados de tigos:
desinfetantes ou germicidas, capazes de destruir esses agentes em A validação é o procedimento documentado para a obtenção
um intervalo de tempo operacional de 10 a 30 min3 . Alguns prin- de registro e interpretação de resultados desejados para o estabe-
cípios químicos ativos desinfetantes têm ação esporicida, porém o lecimento de um processo, que deve consistentemente fornecer
tempo de contato preconizado para a desinfecção não garante a produtos, cumprindo especificações predeterminadas. A validação
eliminação de todo o s esporos. São usados os seguintes princípios da esterilização precisa confirmar que a letalidade do ciclo seja su-
ativos permitidos como desinfetantes pelo Ministério da Saúde: al- ficiente para garantir uma probabilidade de sobrevida microbiana
deídos, compostos fenólicos, ácido paracético. não superior a 10º.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Controles do processo de esterilização

Testes Químicos: Os testes químicos podem indicar uma falha em potencial no processo de esterilização por meio da mudança de sua
coloração.
Teste Bowie e Dick são realizados diariamente no primeiro ciclo de esterilização em autoclave fria, auto-vácuo, com câmara fria e vazia.
Testes Biológicos: Os testes biológicos são os únicos que consideram todos os parâmetros de esterilização. A esterilização monitorada
por indicadores biológicos utilizam monitores e parâmetros críticos, tais como temperatura, pressão e tempo de exposição e, cuja leitura
é realizada em incubadora com método de fluorescência, obtendo resultado para liberação dos testes em três horas, trazendo maior segu-
rança na liberação dos materiais. Os produtos são liberados quando os indicadores revelarem resultados negativos.

Limpeza, desinfecção e esterilização

Limpeza: remoção de sujidade de um artigo. É de suma importância na redução da carga microbiana de um artigo, favorecendo a
eficácia do processo. É a remoção de sujidade visível aderida nas superfícies, nas fendas, nas serrilhas, nas articulações e lúmens de ins-
trumentos, dispositivos e equipamentos, por meio de um processo manual, realizando fricção com escovas apropriadas e por meio de
enxágue utilizando água sob pressão. Ou de forma mecânica utilizando detergente e água em lavadoras com ou sem ultrassom. Em ambos
são utilizados detergentes ou produtos enzimáticos.
Alguns fatores interferem na efetividade da limpeza, como a qualidade da água, tipo e qualidade dos agentes e acessórios de limpeza,
manuseio e preparação dos materiais para a limpeza, método manual ou mecânico usado. Além do tempo-temperatura dos equipamentos
de limpeza mecânica, posicionamento do material e a configuração da carga das máquinas.
No final de qualquer processo é recomendado uma observação criteriosa do processo de limpeza para garantir que o protocolo foi
seguido completamente; realizar validação; e aplicar metodologias de verificação que garantam a limpeza.
Importante lembrar: os resíduos orgânicos tais como sangue, soro, lípides, fragmentos de tecido e sais inorgânicos, se não forem reti-
rados adequadamente durante o processo de limpeza, podem impedir a desinfecção e a esterilização, uma vez que limitarão a difusão dos
agentes esterilizantes ou inativarão a ação dos desinfetantes.

Desinfecção: é o processo aplicado a um artigo ou superfície que visa a eliminação de microrganismos, exceto esporos, das superfícies
fixas de equipamentos e mobílias utilizadas em assistência à saúde. A desinfecção é indicada para artigos semicríticos que entram em con-
tato com membranas mucosas ou pele não íntegra. Sendo os mais comuns: acessórios para assistência respiratória, diversos endoscópios,
espéculos, lâminas para laringoscopia, entre outros.
Os métodos de desinfecção podem ser físicos, por ação térmica, ou químicos, pelo uso de desinfetantes. Os físicos são os equipa-
mentos de pasteurização como desinfetadoras e lavadoras de descarga. Os desinfetantes mais utilizados são a base de aldeídos, ácido
peracético, soluções cloradas e álcool. Podem, também, ser utilizados produtos à base de quaternário de amônia e peróxido de hidrogênio.

Esterilização: é o processo que utiliza agentes químicos ou físicos para destruir todas as formas de vida microbiana, sendo aplicada
especificamente a objetos inanimados. O processo de esterilização de artigos hospitalares que oferece maior segurança é o vapor saturado
sob pressão, realizado em autoclave. Este processo tem como parâmetros: o vapor, a pressão, a temperatura e o tempo.
Há, porém, no mercado, uma gama de artigos utilizados no cuidado à saúde que são produzidos com materiais complexos e que não
suportam a termo desinfecção ou a umidade do vapor, exigindo uma esterilização com métodos de baixa temperatura como: óxido de
etileno (ETO), plasma, ozônio, radiação gama entre outros. A seguir, o fluxo de processamento de artigos médicos cirúrgicos:

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Lembramos que os métodos de esterilização à baixa tempera- A partir daí a questão da exposição ocupacional e o conceito
tura normalmente não estão disponíveis nos serviços de saúde. En- de biossegurança foram sendo desenvolvidos e introduzidos pela
tre os agentes químicos esterilizantes, ressaltamos o glutaraldeído comunidade científica, com foco, inicialmente, nos trabalhadores
e o ácido peracético: dos laboratórios de análise de material biológico, considerando-se
a incidência, nestes profissionais, de doenças como a tuberculose
Glutaraldeído: é um dialdeído saturado que reúne muitas van- e hepatite B.
tagens como desinfetante de alto nível e esterilizante, devido ao Sabe-se que, em grande parte dos cenários de prestação de
seu amplo espectro de ação, bem como a estabilidade e a compati- cuidados de enfermagem, negligenciam-se normas de biosseguran-
bilidade com as mais diversas matérias primas dos materiais e equi- ça; os equipamentos de proteção individual (EPI) são mais utilizados
pamentos médico-hospitalares, pois não é corrosivo a metal e não na assistência ao paciente cujo diagnóstico é conhecido, subesti-
danifica equipamentos ópticos, borracha ou plástico. Utiliza-se o mando-se a vulnerabilidade do organismo humano a infecções.
glutaraldeído a 2% como agente químico desinfetante de alto nível O recomendável é que o trabalhador proteja-se sempre que tiver
ou esterilizante. contato com material biológico e, também, durante a assistência
Sua utilização foi condenada por força de lei pela Resolução da cotidiana aos pacientes, independente de conhecer o diagnóstico
Diretoria Colegiada da ANVISA nº 8 de 2009. Sua toxicidade tam- ou não, utilizando-se, portanto, das precauções universais padrão.
bém foi questionada em 2004 pela Associação Americana de Enfer- Estudos demonstram que as maiores causas de acidentes punctó-
meiros de Centro Cirúrgico –AORN, que recomendou três enxágues rios, entre os trabalhadores da enfermagem, estão nas práticas de
assépticos com revezamento, para cada material por ele processa- risco como o reencape de agulhas, o descarte inadequado de obje-
do. A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo publicou a resolu- tos perfurocortantes e a falta de adesão aos EPI.
ção SS nº 27 em 2007 referente as medidas de controle sobre o uso Além disso, em grande parte dos casos de exposição a material
do glutaraldeído, com foco na segurança ocupacional. biológico, o status do paciente fonte não é conhecido, o que poten-
cializa o risco de adquirir doenças como o HIV, hepatite B e hepatite
Ácido peracético: tem uma rápida ação microbicida e age pela C. A exposição ocupacional é uma importante fonte de infecção por
desnaturação das proteínas, ruptura da parede celular e oxidação esses vírus. Um estudo demonstrou que a cobertura vacinal contra
de proteínas, enzimas e outros metabólicos. É essencial que o usu- hepatite B dos trabalhadores da saúde envolvidos com os acidentes
ário conheça as vantagens e as desvantagens de cada formulação estava em torno de aproximadamente 73%, evidenciando o risco
para, junto com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar - de infecção pelo HBV em aproximadamente 27% dos trabalhadores
CCIH, façam a melhor escolha baseada no custo-efetividade, uma que não haviam completado o esquema vacinal.
vez que há no mercado diferentes formulações. Como se pode perceber, algumas evidências científicas de-
Independentemente do método a ser utilizado, o monitora- monstram que o risco para acidentes com material biológico é uma
mento e validação de cada processo é imprescindível para um me- realidade configurada em muitos cenários. Considerando-se essas
lhor controle e segurança. informações e o fato de que os trabalhadores da área da saúde en-
Outra preocupação que deve haver nos estabelecimentos de contram-se em permanente contato com agentes biológicos (vírus,
saúde é sobre a reutilização de artigos de uso único que, embora bactérias, parasitas, geralmente associados ao trabalho em hospi-
venham de fábrica contendo a identificação de “uso único”, ainda tais e laboratórios e, até mesmo na agricultura e pecuária), é fun-
são reutilizados. O reuso destes artigos envolve questões legais, damental, portanto, a observância dos princípios de biossegurança
médicas, éticas e econômicas, sendo amplamente discutido. As na assistência aos pacientes e no tratamento de seus fluidos, bem
normas brasileiras que regulam o reuso de artigos são a Resolu- como no manuseio de materiais e objetos contaminados em todas
ção da Diretoria Colegiada nº 156, a Resolução 2605 e a Resolução as situações de cuidado e não apenas quando o paciente-fonte é
2606, publicadas em 2006, que obrigam a instituição de saúde a sabidamente portador de alguma doença transmissível.
realizar, por meio de um instrumento normativo interno do esta- É válido salientar que em muitos locais de atuação da enfer-
belecimento, todo e qualquer processo de reuso dos artigos a ser magem, são insatisfatórias as condições de trabalho, evidenciadas
realizado e dispõe sobre as diretrizes para elaboração, validação e por problemas de organização, deficiência de recursos humanos e
implantação de protocolos de reprocessamento de produtos médi- materiais e área física inadequada do ponto de vista ergonômico.
cos e dá outras providências. Acredita-se que esta conformação é fator preditivo para a exposi-
ção a riscos ocupacionais.
Neste panorama, é instituída a Norma Regulamentadora nú-
mero 32 (NR 32), do Ministério do Trabalho e Emprego (BR) que
PRÁTICAS DE BIOSSEGURANÇA APLICADAS AO PRO- trata da Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde, com
CESSO DE CUIDAR. RISCO BIOLÓGICO E MEDIDAS DE o objetivo de agrupar o que já existe no país em termos de legisla-
PRECAUÇÕES BÁSICAS PARA A SEGURANÇA INDIVIDU- ção e favorecer os trabalhadores da saúde em geral, estabelecendo
AL E COLETIVA NO SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE. diretrizes para implementação de medidas de proteção à saúde e
PRECAUÇÃO PADRÃO E PRECAUÇÕES POR FORMA DE segurança dos mesmos. Esta norma trata dos riscos biológicos; dos
TRANSMISSÃO DAS DOENÇAS. DEFINIÇÃO, INDICA- riscos químicos; das radiações ionizantes; dos resíduos; das con-
ÇÕES DE USO E RECURSOS MATERIAIS. MEDIDAS DE dições de conforto por ocasião das refeições; das lavanderias; da
PROTEÇÃO CABÍVEIS NAS SITUAÇÕES DE RISCO PO- limpeza e conservação; e da manutenção de máquinas e equipa-
TENCIAL DE EXPOSIÇÃO mentos em serviços que prestam assistência à saúde.
A infecção hospitalar é uma síndrome infecciosa (infecção)
Por volta dos anos 1970, iniciaram-se as discussões envolvendo que o indivíduo adquire após sua hospitalização ou realização de
a proteção e segurança dos trabalhadores, principalmente aqueles procedimento ambulatorial. Entre os exemplos de procedimentos
envolvidos com pesquisa em organismos geneticamente modifica- ambulatoriais mais comuns estão: cateterismo cardíaco, exames ra-
dos. diológicos com utilização de contraste, retirada de pequenas lesões
de pele e retirada de nódulos de mama, etc.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Para ser considerada infecção hospitalar, o paciente precisa es- Prevenção de infecção respiratória
tar internado apelo menos 72 horas. - Educação do corpo clínico e vigilância das infecções.
A manifestação da infecção hospitalar pode ocorrer após a alta, - Esterilização, desinfecção e manutenção de equipamentos e
desde que esteja relacionada com algum procedimento realizado artigos.
durante a internação. - Interrupção da transmissão pessoa para pessoa – precauções
Fatores predisponentes de barreira.
- Pacientes imunodeprimidos; - Lavagem das mãos.
- Lavagem incorreta das mãos, dos profissionais, acompanhan- - Vacinação de pacientes de alto risco para complicações de in-
tes e visitantes. fecções pneumocócicas.
- Esterilização deficiente de instrumental cirúrgico.
- Técnicas incorretas e procedimentos invasivos. Prevenção de infecção urinária em pacientes cateterizados
- Limpeza deficiente de ambientes, materiais e roupas. - Evitar o uso de cateterismo vesical quando desnecessário.
- Alimentos trazidos de fora do hospital. - Lavar as mãos antes e depois de manipular o sistema. Empre-
- Flores e objetos trazidos de fora do hospital. gar técnica asséptica e equipamento estéril.
Baseando-se nesses fatores devem ser elaboradas ações pre- - Utilizar cateter de calibre adequado. Fixar a sonda para evitar
ventivas, tais como: uso racional de antimicrobiano, controle de es- movimentação.
terilização, desinfecção e limpeza, e bloqueio de transmissão pelos - Usar exclusivamente COLETOR FECHADO.
profissionais de saúde. - Evitar desconexão do sistema fechado. Manter a bolsa coleto-
Principais medidas de prevenção e controle ra de urina em nível inferior à bexiga.
Lavagem das mãos - Esvaziar a bolsa coletora a intervalos de oito horas, no máxi-
- Lavagem das mãos é a fricção manual vigorosa de toda a su- mo, ou quando preenchidos 2/3 da sua capacidade.
perfície das mãos e punhos, utilizando-se sabão/detergente, segui- - Higienizar a região perineal, com água e sabão, três vezes ao
da de enxágue abundante em água corrente. dia, ou quando necessário.
- A lavagem das mãos é, isoladamente, a ação mais importante
para a prevenção e controle das infecções hospitalares. Prevenção de infecção da corrente sanguínea
- O uso de luvas não dispensa a lavagem das mãos antes e após Cuidados relacionados aos cateteres periféricos
contatos que envolvam mucosas, sangue ou fluidos corpóreos, se- - Lavagem e antissepsia das mãos antes de colocar as luvas es-
creções ou excreções. téreis.
- A lavagem das mãos deve ser realizada tantas vezes quanto - Preferir veias de membros superiores.
necessária, durante a assistência a um único paciente, sempre que - Usar técnica asséptica para fazer a punção.
houver contato com diversos sítios corporais, e frente cada uma das - Fazer antissepsia do local a ser puncionado.
atividades. - Realizar troca de cateteres e mudar o sítio de inserção a cada
- A lavagem e antissepsia cirúrgica das mãos é realizada sempre 72 horas, ou intervalo menor se indicado.
antes dos procedimentos cirúrgicos.
- A decisão para a lavagem das mãos com uso de antisséptico Cuidados relacionados aos cateteres centrais
deve considerar o tipo de contato, o grau de contaminação, as con- - Selecionar o Cateter.
dições do paciente e o procedimento a ser realizado. - Usar de preferência a subclávia.
- A lavagem das mãos com antisséptico é recomendada em: - Usar técnica asséptica, incluindo avental, luvas e campos es-
realização de procedimentos invasivos, prestação de cuidados a pa- téreis e máscara.
cientes críticos, contato direto com feridas e/ou dispositivos invasi- - Utilizar equipamentos com local próprio para infusão de me-
vos, tais como cateteres e drenos. dicamentos.
- Devem ser empregadas medidas e recursos com o objetivo - Manter o sistema fechado durante a infusão.
de incorporar a prática da lavagem das mãos em todos os níveis da - Usar o cateter para nutrição parenteral apenas para este fim.
assistência hospitalar. - Trocar os curativos quando estiverem úmidos, sujos ou fora
- A distribuição e a localização de unidades ou pias para lava- do local.
gem das mãos, de forma a atender à necessidade nas diversas áreas - Trocar o cateter apenas se houver suspeita de infecção rela-
hospitalares, além da presença dos produtos, é fundamental para a cionada ao cateter.
obrigatoriedade da prática. - Trocar todo o sistema em caso de flebite ou bacteremia.

Prevenção de infecção de sítio cirúrgico (ISC) E outras medidas gerais como


- Tempo de internação abreviado. - Avaliar bem os pacientes internados;
- Banho completo antes da cirurgia. - Treinar a equipe do hospital, orientando sobre os fatores de
- Tricotomia restrita ao local de incisão, quando necessário, risco que podem levar à uma infecção;
imediatamente antes da cirurgia - Usar antibióticos, quando necessário;
- Fluxo adequado do Bloco Cirúrgico, com circulação mínima. - Comprar material de boa qualidade para a assistência médica;
- Equipe cirúrgica restrita. - Esterilizar corretamente todos os materiais;
- Montagem correta das salas de cirurgia. - Ter uma boa limpeza em todo hospital;
- Paramentação completa (avental, gorro, luvas, máscara e pro- - Uso de equipamento de proteção individual (luvas, óculos
pés) protetor de óculos, protetor de face, avental e outros.) nos proce-
- Lavagem e antissepsia das mãos e ante braços da equipe ci- dimentos.
rurgica. - Uso de profilaxia antimicrobiana antes da cirurgia.
- Secagem das mãos com toalhas estéreis.
- Antissepsia do campo operatório.
- Instrumental cirúrgico esterilizado.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Prevenção de infecções em profissionais da área da saúde Manutenção de registro, controle de dados e sigilo: A manu-
O profissional da área da saúde (PAS) pode adquirir ou trans- tenção de registros de avaliações médicas, exames, imunizações e
mitir infecções para os pacientes, para outros profissionais no am- profilaxias é obrigatória e permite a monitorização do estado de
biente de trabalho e para comunicantes domiciliares e da comuni- saúde do PAS. Devem ser mantidos registros individuais, em condi-
dade. Deste modo, os programas de controle de infecção hospitalar ções que garantam a confidencialidade das informações, que não
devem também contemplar ações de controle de infecção entre os podem ser abertas ou divulgadas, exceto se requerido por lei.
PAS.
Aa ações do serviço de saúde ocupacional, no que diz respeito Infecção cruzada
ao controle de infecção, têm como objetivos: É a infecção ocasionada pela transmissão de um microrganis-
1. Educar o PAS acerca dos princípios do controle de infecção, mo de um paciente para outro, geralmente pelo pessoal, ambiente
ressaltando a importância da participação individual neste controle; ou um instrumento contaminado.
2. Colaborar com a CCIH na monitorização e investigação de Infecção endógena
exposições a agentes infecciosos e surtos;
3. Dar assistência ao PAS em caso de exposições ou doenças É um processo infeccioso decorrente da ação de microrganis-
relacionadas ao trabalho; mos já existentes, naquela região ou tecido, de um paciente. Medi-
4. Identificar riscos e instituir medidas de prevenção; das terapêuticas que reduzem a resistência do indivíduo facilitam a
5. Reduzir custos, através da prevenção de doenças infecciosas multiplicação de bactéria em seu interior, por isso é muito impor-
que resultem em faltas ao trabalho e incapacidade. tante, a anti-sepsia pré-cirúrgica.

Ações do serviço de saúde ocupacional Infecção exógena


Para atingir os objetivos descritos anteriormente é necessário É aquela causada por microrganismos estranhos a paciente.
que o serviço de saúde ocupacional atue nas seguintes áreas: Para impedir essa infecção, que pode ser gravíssima, os instrumen-
Integração com outros serviços: tos e demais elementos que são colocados na boca do paciente,
- As ações do serviço de saúde ocupacional devem ser coorde- devem estar estéreis. È importante, que barreiras sejam colocadas
nadas com o serviço de infecção hospitalar e outros departamentos para impedir que instrumentos estéreis sejam contaminados, pois
que se façam necessários. não basta um determinado instrumento ter sido esterilizado, é im-
Avaliações médicas: portante que em seu manuseio até o uso ele não se contamine. A
- Admissional, com histórico de saúde, estado vacinal, condi- infecção exógena significa um rompimento da cadeia asséptica, o
ções que possam predispor o profissional a adquirir ou transmitir que é muito grave, pois, dependendo da natureza dos microrganis-
infecções no ambiente de trabalho; mos envolvidos, a infecção exógena pode ser fatal, como é o caso
- Exames periódicos para avaliação de problemas relacionados da AIDS, Hepatite B e C.
ao trabalho ou seguimento de exposição de risco (p. ex. triagem - Procedimento crítico: É todo procedimento em que existe a
para tuberculose, exposição a fluidos biológicos). presença de sangue, pus ou matéria contaminada pela perda de
- Atividades educativas: A adesão a um programa de contro- continuidade.
le de infecção é facilitada pelo entendimento de suas bases. Todo - Procedimento semicrítico: Todo procedimento em que existe
pessoal precisa ser treinado acerca da política e procedimentos de a presença de secreção orgânica (saliva) sem perda de continuidade
controle de infecção da instituição. do tecido.
A elaboração de manuais para procedimentos garante unifor- - Procedimento não-crítico: Todo procedimento onde não há
midade e eficiência. O material deve ser direcionado em linguagem presença de sangue, pus ou outra secreção orgânica (saliva). Em
e conteúdo para o nível educacional de cada categoria de profissio- Odontologia não existe este tipo de procedimento.
nal. Grande parte dos esforços deve estar dirigida para a conscien-
tização sobre o uso do equipamento de proteção individual (EPI). Equipamentos de proteção individual (EPIs)
Programas de vacinação: Garantir que o PAS esteja protegido Equipamento de proteção individual é todo dispositivo de uso
contra as doenças preveníveis por vacinas é parte essencial do pro- individual, destinado a proteger a saúde e a integridade física do
grama de saúde ocupacional. Os programas de vacinação devem trabalhador. A seguir, uma relação de alguns dos equipamentos de
incluir tanto os recém-contratados quanto os funcionários antigos. proteção individual, mais usados em estabelecimentos de saúde,
Os programas de vacinação obrigatória são mais efetivos que os vo- como por exemplo:
luntários. 1. Proteção à cabeça:
Manejo de doenças e exposições relacionadas ao trabalho: For- - Protetores faciais destinados à proteção dos olhos e da face
necer profilaxia pós exposição apropriada nos casos aplicáveis (p. contra lesões ocasionadas por partículas, respingos, vapores de
ex.: exposição ocupacional ao HIV), além de providenciar o diag- produtos químicos e radiações luminosas intensas;
nóstico e o tratamento adequados das doenças relacionadas ao tra- - Óculos de segurança para trabalhos que possam causar feri-
balho. Estabelecer medidas para evitar a ocorrência da transmissão mentos nos olhos, provenientes de impacto de partículas;
de infecção para outros profissionais, através do afastamento do - Óculos de segurança, contra respingos, para trabalhos que
profissional doente (p. ex.: pacientes com tuberculose bacilífera ou possam causar irritação nos olhos e outras lesões decorrentes da
varicela). ação de líquidos agressivos;
Aconselhamento em saúde: Fornecer informação individua- - Óculos de segurança para trabalhos que possam causar irrita-
lizada com relação a risco e prevenção de doenças adquiridas no ção nos olhos, provenientes de poeiras e
ambiente hospitalar; riscos e benefícios de esquemas de profilaxia - Óculos de segurança para trabalhos que possam causar irri-
pós-exposição e consequências de doenças e exposições para o tação nos olhos e outras lesões decorrentes da ação de radiações
profissional, seus familiares e membros da comunidade. perigosas.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

2. Proteção para os membros superiores: Os principais mecanismos de transmissão são:


- Luvas e/ou mangas de proteção e/ou cremes protetores de- - Transmissão aérea por gotículas: Ocorre pela disseminação
vem ser usados em trabalhos em que haja perigo de lesão provo- por gotículas maiores do que 5um. Podem ser geradas durante tos-
cada por: se, espirro, conversação ou realização de diversos procedimentos
- Materiais ou objetos escoriantes, abrasivos, cortantes ou per- (broncoscopia, inalação, etc.). Por serem partículas pesadas e não
furantes; permanecerem suspensas no ar, não são necessários sistemas es-
- Produtos químicos corrosivos, cáusticos, tóxicos, alergênicos, peciais de circulação e purificação do ar. As precauções devem ser
oleosos, graxos, solventes orgânicos e derivados de petróleo; tomadas por aqueles que se aproximam a menos de 1 metro da
- Materiais ou objetos aquecidos; fonte.
- Choque elétrico; - Transmissão aérea por aerossol: Quando ocorre pela dissemi-
- Radiações perigosas; nação de partículas, cujo tamanho é de 5um ou menos. Tais partí-
- Frio; culas permanecem suspensas no ar por longos períodos e podem
- Agentes biológicos. ser dispersas a longas distâncias. Medidas especiais para se impedir
3. Proteção para os membros inferiores: a recirculação do ar contaminado e para se alcançar a sua descon-
- Calçados impermeáveis para trabalhos realizados em lugares taminação são desejáveis. Consistem em exemplos os agentes de
úmidos, lamacentos ou encharcados; varicela, sarampo e tuberculose.
- Calçados impermeáveis e resistentes a agentes químicos - Transmissão por contato: É o modo mais comum de trans-
agressivos; missão de infecções hospitalares. Envolve o contato direto (pessoa-
- Calçados de proteção contra agentes biológicos agressivos e -pessoa) ou indireto (objetos contaminados, superfícies ambientais,
- Calçados de proteção contra riscos de origem elétrica. itens de uso do paciente, roupas, etc.) promovendo a transferência
4. Proteção do tronco: física de microrganismos epidemiologicamente importantes para
- Aventais, capas e outras vestimentas especiais de proteção um hospedeiro susceptível.
para trabalhos em haja perigo de lesões provocadas por: Hospedeiro: Pacientes expostos a um mesmo agente patogêni-
- Riscos de origem radioativa; co podem desenvolver doença clínica ou simplesmente estabelecer
- Riscos de origem biológica e uma relação comensal com o microrganismo, tornando-se pacien-
tes colonizados.
- Riscos de origem química.
Fatores como idade, doença de base, uso de corticosteróides,
5. Proteção da pele:
antimicrobianos ou drogas imunossupressoras e procedimentos ci-
- Cremes protetores – só poderão ser postos à venda ou utiliza-
rúrgicos ou invasivos podem tornar os pacientes mais susceptíveis
dos como EPI, mediante o Certificado de Aprovação (CA) do Minis-
às infecções.
tério do Trabalho e Emprego.
6. Proteção respiratória:
Precaução padrão as precauções padrão
Para exposição a agentes ambientais em concentrações preju-
São um conjunto de medidas utilizadas para diminuir os riscos
diciais à saúde do trabalhador, de acordo com os limites estabele-
de transmissão de microrganismos nos hospitais e constituem-se
cidos na NR15:
basicamente em:
- Respiradores contra poeiras, para trabalhos que impliquem
produção de poeiras; Lavagem das mãos:
- Respiradores e máscaras de filtro químico para exposição a 1. Após realização de procedimentos que envolvem presença
agentes químicos prejudiciais à saúde; de sangue, fluidos corpóreos, secreções, excreções e itens conta-
- Aparelhos de isolamento (autônomo ou de adução de ar), minados.
para locais de trabalho onde o teor de oxigênio seja inferior a 18% 2. Após a retirada das luvas.
em volume. 3. Antes e após contato com paciente e entre um e outro pro-
cedimento ou em ocasiões onde existe risco de transferência de pa-
Precaução padrão tógenos para pacientes ou ambiente.
A partir da epidemia de HIV/AIDS, do aparecimento de cepas 4. Entre procedimentos no mesmo paciente quando houver ris-
de bactérias multirresistentes (como o Staphylococcus aureus re- co de infecção cruzada de diferentes sítios anatômicos.
sistente à meticilina, bacilos Gramnegativos não fermentadores, OBS: O uso de sabão comum líquido é suficiente para lavagem
Enterococcus sp. resistente à vancomicina), do ressurgimento da de rotina das mãos, exceto em situações especiais definidas pelas
tuberculose na população mundial e do risco aumentado para a Comissões de Controle de Infecção Hospitalar - CCIH (como nos sur-
aquisição de microrganismos de transmissão sanguínea (hepatite tos ou em infecções hiperendêmicas).
viral B e C, por exemplo) entre os profissionais de saúde, as normas
de biossegurança e isolamento ganharam atenção especial. Luvas
Para entender os mecanismos de disseminação de um micror- - Usar luvas limpas, não estéreis, quando existir possibilidade
ganismo dentro deum hospital, é necessário que se conheça pelo de contato com sangue, fluidos corpóreos, secreções e excreções,
menos três elementos: a fonte, o mecanismo de transmissão e o membranas mucosas, pele não íntegra e qualquer item contami-
hospedeiro susceptível. nado.
Fonte: As fontes ou reservatórios de microrganismos, geral- - Mudar de luvas entre duas tarefas e entre procedimentos no
mente, são os profissionais de saúde, pacientes, ocasionalmente mesmo paciente.
visitantes, ou materiais e equipamentos infectados ou colonizados - Retirar e descartar as luvas depois do uso, entre um pacien-
por microrganismos patogênicos. te e outro e antes de tocar itens não contaminados e superfícies
Transmissão: A transmissão de microrganismos em hospitais ambientais. A lavagem das mãos após a retirada das luvas é obri-
pode se dar por diferentes vias. gatória.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Máscara, protetor de olhos, protetor de face Artigos críticos


- É necessário em situações nas quais possam ocorrer respin- Os artigos destinados aos procedimentos invasivos em pele e
gos e espirros de sangue ou secreções nos funcionários. mucosas adjacentes, nos tecidos subepiteliais e no sistema vascu-
lar, bem como todos os que estejam diretamente conectados com
Avental este sistema, são classificados em artigos críticos. Estes requerem
- Usar avental limpo, não estéril, para proteger roupas e super- esterilização. Ex. agulhas, cateteres intravenosos, materiais de im-
fícies corporais sempre que houver possibilidade de ocorrer conta- plante, etc.
minação por líquidos corporais e sangue.
- Escolher o avental apropriado para atividade e a quantidade Artigos semicríticos
de fluido ou sangue encontrado. Os artigos que entram em contato com a pele não íntegra, po-
- A retirada do avental deve ser feita o mais breve possível com rém, restrito às camadas da pele ou com mucosas íntegras são cha-
posterior lavagem das mãos. mados de artigos semicríticos e requerem desinfecção de médio ou
de alto nível ou esterilização. Ex. cânula endotraqueal, equipamen-
Equipamentos de cuidados ao paciente to respiratório, espéculo vaginal, todos os tipos de sondas: sonda
- Devem ser manuseados com proteção se sujos de sangue ou naso e orogástrica, vesicais, nasoenterica etc.
fluidos corpóreos, secreções e excreções e sua reutilização em ou-
tros pacientes deve ser precedida de limpeza e ou desinfecção. Artigos não críticos
- Assegurar-se que os itens de uso único sejam descartados em Os artigos destinados ao contato com a pele íntegra e também
local apropriado. os que não entram em contato direto com o paciente são chamados
Controle ambiental artigos não-críticos e requerem limpeza ou desinfecção de baixo ou
Estabelecer e garantir procedimentos de rotina adequados para médio nível, dependendo do uso a que se destinam ou do último
a limpeza e desinfecção das superfícies ambientais, camas, equipa- uso realizado. Ex. termômetro, materiais usados em banho de leito
mentos de cabeceira e outras superfícies tocadas frequentemente. como bacias, cuba rim, estetoscópio, roupas de cama do paciente,
etc.
Roupas
- Manipular, transportar e processar as roupas usadas, sujas de Limpeza
sangue, fluidos corpóreos, secreções e excreções de forma a pre- É o procedimento de remoção de sujidade e detritos para man-
ter em estado de asseio os artigos, reduzindo a população microbia-
venir a exposição da pele e mucosa, e a contaminação de roupas
na. Constitui o núcleo de todas as ações referentes aos cuidados de
pessoais, evitando a transferência de microrganismos para outros
higiene com os artigos hospitalares.
pacientes e para o ambiente.
A limpeza deve preceder os procedimentos de desinfecção ou
de esterilização, pois reduz a carga microbiana através remoção da
Saúde ocupacional e patógenos veiculados por sangue sujidade e da matéria orgânica presentes nos materiais. O excesso
- Atenção com o uso, manipulação, limpeza e descarte de de matéria orgânica aumenta não só a duração do processo de es-
agulhas, bisturis e outros materiais pérfuro-cortantes. Não retirar terilização, como altera os parâmetros para este processo. Assim,
agulhas usadas das seringas descartáveis, não dobrá-las e não re- é correto afirmar que a limpeza rigorosa é condição básica para
encapá-las. O descarte desses materiais deve ser feito em caixas qualquer processo de desinfecção ou esterilização. “É possível lim-
apropriadas e de paredes resistentes. par sem esterilizar, mas não é possível garantir a esterilização sem
- Usar dispositivos bucais, conjunto de ressuscitação e outros limpar”
dispositivos de ventilação quando houver necessidade de ressus-
citação. Esterilização
A esterilização de materiais é a total eliminação da vida micro-
Local de internação do paciente bianadestes materiais. Caracteriza-se por um processo de destrui-
A alocação do paciente é um componente importante da pre- ção por meio de agentes físicos ou químicos de todas as formas de
caução de isolamento. Quando possível, pacientes com microrga- vidas microscópica. Um objeto esterilizado, no sentido microbioló-
nismos altamente transmissíveis e/ou epidemiologicamente impor- gico, está, completamente livre de microrganismos viáveis.
tantes devem ser colocados em quartos privativos com banheiro e 1. A flambagem: É a colocação de material sobre o fogo até que
pia próprios. o metal fique vermelho
* OBS: Quando um quarto privativo não estiver disponível, pa- Vantagem: fácil execução
cientes infectados devem ser alocados com companheiros de quar- Desvantagem: Não é seguro, pode não esterilizar alguns tipos
to infectados com o mesmo microrganismo e com possibilidade de bactérias pelo baixo tempo de exposição. Estraga o material.
mínima de infecção. 2. Calor seco: Penetra nas substancias de uma forma mais len-
ta que o calor úmido e por isso exige temperaturas mais elevadas
Processamento de artigos hospitalares e tempos mais longos, para que haja uma eficaz esterilização. São
Artigos utilizadas as estufas. Conforme o calor gerado recomenda-se um
A variedade de materiais utilizados nos estabelecimentos de certo tempo: a 170 graus Celsius, são necessários 60 minutos. A 120
Graus são necessárias 12 horas.
saúde pode ser classificada segundo riscos potenciais de transmis-
Vantagens: Não forma ferrugem, não danifica materiais.
são de infecções para os pacientes, em três categorias: críticos, se-
micríticos e não críticos.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Desvantagens: O material deve ser resistente a variação da 3. Difusão: O peróxido na forma gasosa se espalha por todo o
temperatura. Na esteriliza líquidos. material, é importante que todos os materiais estejam totalmente
3. Calor úmido expostos para que o peróxido entre em contato com toda a super-
Autoclave: É a exposição do material a vapor de água sob pres- fície.
são, a 121ºC durante 15 min. É o processo mais usado e os mate- 4. Plasma: esterilização propriamente dita.
riais devem ser embalados de forma a permitirem o contato total 5. Ventilação: Dura 1 minuto, o ar é filtrado p/ dentro da câ-
do material com o vapor para permitir que a temperatura não seja mara do equipamento, igualando a pressão interna com a externa,
inferior à desejada, permitir a penetração do vapor nos poros dos possibilitando a abertura da porta. E os materiais estão prontos!
corpos porosos e impedir a formação de uma camada inferior mais Controle de qualidade
fria. Podem ser usados autoclaves de parede simples ou de parede - Indicador paramétrico: Relatório emitido ao término de cada
dupla, que permitem melhor extração do ar e melhor secagem. ciclo onde são apresentados parâmetros de controle de esteriliza-
É muito usado para o vidro seco e materiais que não oxidem ção.
com a água (os materiais termolábeis não podem ser esterilizado - Indicador biológico: Bacillus stearothermophilus (forma espo-
por esta técnica). É utilizada ainda para esterilizar tecidos. ruladas mais resistente aos esterilizantes físicos químicos.)
- Indicadores químicos: Mudam de cor consoante a tempera- - Indicador químico: Marcador de concentração ótima do peró-
tura. xido no interior da câmara.
- Indicadores biológicos: Tubo com suspensão de esporos de - Fita indicadora: Utilizada no interior das embalagens com
manta de polipropileno.
bactérias resistentes que morrem quando exposto por 12 min. Ou
- Fita teste: Utilizada no fechamento das embalagens.
mais a uma temperatura de121ºC. Após um repouso de 14h, faz-se
uma sementeira dos esporos, que deve dar negativa.
Desinfecção, antissepsia e assepsia
Vantagens: Fácil uso, custo acessível para grandes hospitais
- Desinfecção: Processo que consiste na destruição, remoção
Desvantagens: Não serve para esterilizar pós e líquidos. ou redução dos microrganismos presentes num material inanimado
através do uso de agentes químicos.
Químico A desinfecção não implica na eliminação de todos os microrga-
- Gás óxido de etileno: O gás óxido de etileno é um produto nismos viáveis, porém elimina a potencialidade infecciosa do obje-
altamente tóxico usado para esterilizar materiais to, superfície ou local tratado.
Vantagens: Não danifica o material O agente empregado na desinfecção é denominado de desin-
Desvantagens: Danos ao meio ambiente quando manipulado fetante.
erroneamente, alto custo, tóxico para o manipulador, requer aera- - Antissepsia: Consiste no mesmo termo usado à desinfecção,
ção de 48 horas. Demorado. só que está relacionada com substâncias aplicadas ao organismo
- Glutaraldeído: Fornecido na forma de líquido a 25 ou 50%, são humano, é a redução do número de microrganismos viáveis na pele
pouco voláteis a frio e utilizados para a desinfecção de instrumen- pelo uso de uma substancia denominada de antisséptico.
tos médicos. Irritante das mucosas e tóxico, necessita de cuidados - Assepsia: Conjunto de meios usados para impedir a penetra-
especiais ção de microrganismo, em local que não os tenha.
Vantagens: Facilidade de uso
Desvantagens: Esterilização é tempo dependente. Alérgeno, tó- Saúde e segurança do trabalhador
xico e irritante, Mycobactérias podem ser resistentes As doenças ocupacionais são decorrentes da exposição do tra-
balhador aos riscos da atividade que desenvolve. Podem causar
Esterilização por plasma de peróxido de hidrogênio afastamentos temporários, repetitivos e até definitivos. A maior
O plasma é o quarto estado da matéria. É definido como uma incidência destas doenças ocorre na faixa dos 30 aos 40 anos, pre-
nuvem de elétrons, partículas neutras, produzidas a partir da inte- judicando a produtividade do trabalhador e podendo interromper
ração do peróxido de hidrogênio e um campo magnético. A esterili- sua carreira e desestabilizar a sua vida. As doenças ocupacionais
zação com gás plasma combina peróxido de hidrogênio p/gerar uma são causadas ou agravadas por determinadas atividades. A preven-
onda eletromagnética. O plasma de peróxido não oxida o material, ção pode evitar que tanto os trabalhadores como os empresários
não degrada o corte, pontas, sulcos de instrumentais cirúrgicos. Seu se prejudiquem com as consequências das doenças ocupacionais. A
recuperação pode ser demorada e cara.
produto final não é tóxico, não polui o meio ambiente e nem apre-
senta toxicidade para o profissional e nem para o paciente.
As possíveis causas do problema
- Agente esterilizante: Ampolas contendo: 1,8ml de H2O2 (água
- Agentes físicos: ruído, temperatura, vibrações e radiações
oxigenada) na forma líquida numa concentração de 58%. Que du-
- Agentes químicos: utilizados nas indústrias, podem causar da-
rante a fase da injeção passará da forma líquida para gasosa. nos à saúde.
Sterrad - Agentes biológicos: microrganismos como bactérias, vírus e
Esterilização a baixa temperatura 45ºC, é uma alternativa de fungos.
esterilização para materiais termo sensíveis.
Vantagens: rapidez, ciclo de 50’, ausência de resíduos tóxicos, Como diagnosticar o problema
fácil instalação, segurança. Exame físico, ocupacional e complementares, conforme crité-
Desvantagens: alto custo dos insumos, câmara pequena, 100 rios médicos.
litros.
Fases do processo
1. Vácuo: Nesta fase através da bomba de vácuo, é removido o
ar de dentro da câmara de esterilização.
2. Injeção: Neste momento as agulhas perfuram as ampolas,
fazendo com que passem de liquido p/ gás.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

As doenças ocupacionais mais comuns 7. Perda dos movimentos da mão


1. Doenças das vias aéreas: Alguns exemplos são as pneumoco- Cuide de sua qualidade de vida, procurando manter um melhor
nioses causadas pela poeira da sílica (silicose) e do asbesto (as bes- equilíbrio entre corpo e mente. Faça exercícios físicos pelo menos
tose), além da asma ocupacional. Substâncias agressivas inaladas quatro vezes por semana, tenha uma dieta balanceada e saudável
no ambiente de trabalho se depositam nos pulmões, provocando e procure formas de lazer alternativas, que amenizem o estresse do
falta de ar, tosse, chiadeira no peito, espirros e lacrimejamento. dia-a-dia.
2. Perda auditiva relacionada ao trabalho (PAIR) Como prevenir as doenças ocupacionais
Diminuição gradual da audição decorrente da exposição con- -Conforto é essencial para a prevenção.
tínua a níveis elevados de ruídos. Além da perda auditiva, outra - As operações de trabalho devem estar ao alcance das mãos.
alterações importantes podem prejudicar a qualidade de vida do - As máquinas devem se posicionar de forma que a pessoa não
trabalhador. tenha que se curvar ou torcer o tronco para pegar ou utilizar ferra-
3. Intoxicações exógenas podem ser causadas por: mentas com frequência.
- Agrotóxicos: Os pesticidas (defensivos agrícolas) provocam - A mesa deve estar posicionada de acordo com a altura de
grandes danos à saúde e ao meio ambiente. cada pessoa e ter espaço para a movimentação das pernas.
- Chumbo (saturnismo): A exposição contínua ao chumbo, pre- - As cadeiras devem ter altura para que haja apoio dos pés,
sente em fundições e refinarias, provoca, a longo prazo, um tipo de formato anatômico para o quadril e encosto ajustável.
intoxicação que varia de intensidade de acordo com as condições - Pausas durante a realização das tarefas permite um alívio para
do ambiente (umidade e ventilação), tempo de exposição e fatores os músculos mais ativos.
individuais (idade e condições físicas). - Durante estas pausas, se levante e caminhe um pouco.3
- Mercúrio (hidragirismo): O contato com a substância se dá
por meio da inalação, absorção cutânea ou via oral da substância;
ocorre com trabalhadores que lidam com extração do mineral ou
fabricação de tintas. CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR
- Solventes orgânicos (benzenismo): Por serem tóxicos e agres-
sivos, podem contaminar trabalhadores de refinarias de petróleo e Ações de enfermagem na prevenção, controle e combate à
indústrias de transformação. infecção hospitalar.
4. Ler e Dort – Lesão por esforço repetitivo/distúrbio osteo-
muscular relacionado ao trabalho: Conjunto de doenças que atin- Infecção Hospitalar é aquela adquirida no hospital, mesmo
gem principalmente os músculos, tendões e nervos. O problema é quando manifestada após a alta do paciente. Alguns autores são
decorrente do trabalho com movimentos repetitivos, esforço exces- mais exigentes, incluindo também aquela que não tenha sido diag-
sivo, má postura e estresse, entre outros. nosticada na admissão do paciente, por motivos vários, como pro-
5. Dermatoses ocupacionais: Também conhecidas como der- longado período de incubação ou ainda por dificuldade diagnostica.
matites de contato, são alterações da pele e das mucosas causadas, O Serviço de Enfermagem representa um papel relevante no
mantidas ou agravadas, direta ou indiretamente, por determinadas controle de infecções por ser o que mais contatos mantém com
atividades profissionais. São provocadas por agentes químicos e po- os pacientes e por representar mais de 50% do pessoal hospitalar.
dem ocasionar irritação ou até mesmo alergia. Colaboram também com destaque, na redução de infecções hos-
6. Stresse: O estresse e o excesso de trabalho podem variar pitalares, os Serviços Médicos, de Limpeza, Nutrição e Dietética,
desde mudanças no humor, ansiedade, irritabilidade e descontrole Lavandaria e de Auxiliares de Diagnóstico e Tratamento. O apoio
emocional até doenças psíquicas. da Administração Superior do Hospital e a colaboração dos demais
Geralmente, o estresse é causado por sobrecarga de tarefas servidores, em toda a escala hierárquica, desde o Administrador até
e ausência de pausas para descanso e exercícios físicos. Ativar os o Servente, fazem-se indispensáveis.
músculos com exercícios diários, mesmo os de relaxamento, é um Afora o esforço permanente e sistematizado de todo o pessoal
bom começo para se livrar do estresse. hospitalar, muito do bom êxito na execução de medidas de preven-
Durante os exercícios, inspire o ar pelo nariz e solte pela boca, ção e controle de infecções vai depender da planta física, equipa-
sentindo o oxigênio descer e o gás carbônico subir. mentos, instalações e da capacidade do pessoal.

A ajuda da ergonomia Incidência de Infecções


Ciência que estuda as relações entre o homem, seu trabalho,
equipamentos e meio ambiente, a Ergonomia previne o surgimento Independente do bom atendimento dos pacientes, a adoção de
de doenças ocupacionais durante o processo de produção de ativi- medidas preventivas contra as infecções é dificultada pelas defici-
dades. O objetivo é a adaptação do posto de trabalho, instrumen- ências encontradas na planta física de nossos hospitais, tais como
tos, máquinas, horários e meio ambiente às exigências da função. a localização dos ambulatórios, o controle do acesso de pacientes
Ela facilita o desenvolvimento e o rendimento das atividades de externos ao Centro Obstétrico, Centro Cirúrgico, Berçário, Lactário,
trabalho. Todos devem aprender a identificar os sinais do próprio Unidade de Queimados, etc. O número deficiente de elevadores
corpo para perceber o início de qualquer desconforto, procurando, obriga a permissão do transporte promíscuo de pacientes, de car-
assim, adaptar as técnicas da ergonomia ao seu local de trabalho. ros térmicos de alimentação, de roupa limpa e suja, de visitantes e
Sintomas mais comuns, e que requerem a procura por um mé- de pessoal hospitalar. Dependências físicas com áreas deficientes
dico dificultam a execução de técnicas médicas e de enfermagem, assim
1. Cansaço excessivo como as grandes enfermarias onde a superlotação concorre para
2. Desconforto após a jornada de trabalho o aumento de infecções cruzadas. A falta de quartos individuais,
3. Inchaço com sanitários próprios em cada unidade de internação, não facilita
4. Formigamento dos pés e das mãos a montagem de isolamento para pacientes portadores de doenças
5. Sensação de choque nas mãos infecto-contagiosas e para os suspeitos. A simples, enfatizada e
6. Dor nas mãos
3Fonte: www.scielo.br/www. pt.slideshare.net

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

indispensável lavagem constante das mãos do pessoal hospitalar, exames clínicos, laboratoriais, imunizações, segundo uma escala de
na prevenção de infecções, afigura-se, às vezes, de difícil adoção pelo prioridade e de acordo com as atividades exercidas pelo pessoal,
número reduzido de lavatórios e pelo seu tipo inadequado. A localiza- nos mais diferentes setores do hospital. Assim, para o pessoal que
ção inconveniente de certos setores que devem ser próximos entre si, trabalha em áreas críticas como Berçário, Lactário, Centro Cirúrgi-
como o Centro Obstétrico e Berçário à Unidade de Internação Obsté- co, Centro Obstétrico, Unidade de Tratamento Intensivo, Unidade
trica, as Salas de Operações à Unidade de Recuperação Pós-Anestési- de Recuperação Pós-Anestésica, Pediatria, Lavandaria, Serviço de
ca e esta à Unidade de Tratamento Intensivo, como as construções de Nutrição e Dietética e Radiologia, os exames devem ser mais minu-
material de má qualidade, permitindo a infiltração de água e a falta ciosos e os prazos menores.
de incineradores de lixo, são critérios muitas vezes não observados Houve unanimidade nos 16 hospitais quanto à exigência do
pelos responsáveis pelas construções de nossos hospitais. exame clínico, abreugrafia e imunizações anti-variólica e anti-tífica,
Outros fatores contribuem para um maior índice de infecção, para a admissão de pessoal hospitalar.
seja pela maior exposição dos pacientes aos germes, seja pela alte- Cada hospital deve estabelecer as prioridades e a frequência
ração de suas resistências naturais: longa permanência no hospital, dos exames que julgar necessários ao controle sanitário do seu
grandes cirurgias, anestesia prolongada, deambulação precoce, o pessoal hospitalar, levando em consideração também as fontes de
emprego mais frequente de transfusões de sangue, o emprego de infecção identificadas e as possibilidades dos recursos materiais e
medicamentos que afetam a resposta imunológica, tratamentos re- humanos do Serviço de Análises Clínicas. Essa medida visa à prote-
laxantes musculares e hipotérmicos. ção do pessoal e dos pacientes pelo afastamento do trabalho dos
portadores de infecções, aparentes ou não. O controle sanitário de
Qual é o índice de infecção de nossos hospitais?
todo o pessoal hospitalar, após a admissão, está por receber de nos-
Pouquíssimos hospitais estão em condições de informar seu
sos hospitais a atenção que merece. Apenas 18,75% dos hospitais
índice de infecção já que não existe obrigatoriedade, por parte dos
se mostram interessados em manter uma vigilância epidemiológica
médicos ou de outros profissionais da equipe de saúde, de notifica-
de seu pessoal, o que é de se lamentar.
ção, a um órgão central, das infecções diagnosticadas na admissão
e durante a permanência dos pacientes no hospital. No nosso caso Pacientes, familiares e visitantes
93,75 dos hospitais não informaram seu índice de infecção.
O grupo responsável pelo controle de infecções do hospital A prevenção de propagação de infecções decorrentes dos pa-
deve elaborar os critérios pelos quais os membros da equipe de cientes, familiares e visitantes repousa na educação sanitária destes.
saúde concluirão pela necessidade de isolamento do paciente, já A supressão do simples aperto de mãos entre pacientes, familiares
que é um assunto controvertido. A elaboração do relatório diário e visitantes, o sentar na cama dos pacientes, o trânsito por outras
do índice de infecção o que pode ficar sob a responsabilidade do áreas do hospital, as visitas entre os pacientes e a redução do número
médico ou da enfermeira do paciente. O registro das infecções hos- e a proibição de visitas de crianças menores de 12 anos e de pesso-
pitalares é importantíssimo para o estudo das fontes de infecção. as convalescentes, são algumas das recomendações que, por certo,
Compreende-se que a infecção hospitalar seja indesejável por concorrerão para a prevenção de infecções no ambiente hospitalar.
todos os responsáveis por um bom padrão de atendimento aos pa- Os pacientes devem ser também orientados quanto às medidas de
cientes internados; o que não se compreende é que os casos de higiene e proteção que devem tomar, em relação ao contágio da do-
infecção hospitalar sejam ignorados ou mesmo negados por te- ença de que é portador.
mor que estes fatos, dados a conhecer, desprestigiem o hospital.
Tais atitudes impedem que se executem medidas de isolamento, Atos cirúrgicos
de limpeza concorrente e desinfecção terminal, de modo a evitar a
propagação de infecção, mesmo dispondo de instalações adequa- É comum atribuírem o aparecimento de infecção pós-operató-
das, material necessário e de pessoal capacitado para o combate ria a falhas na esterilização do material cirúrgico que, embora seja
à infecção. um fator crítico, não é o único responsável pelas infecções em cirur-
gias. Há necessidades de se investigar em qual tempo operatório a
Uso inadequado de antibióticos infecção se originou, isto é, no trans-operatório, por falhas no Cen-
tro Cirúrgico ou no pré e pós-operatório, por falhas nas medidas de
Na literatura consultada encontra-se como uma das causas de diagnóstico, de tratamento médico e nos cuidados de enfermagem
aumento de incidência de infecção o uso indiscriminado de antibió- executados nas unidades de internação.
ticos que fizeram surgir raças resistentes a esses agentes antimicro-
As infecções no trans-operatório podem decorrer de vários fa-
bianos entre os germes sensíveis.
tores: falhas nas técnicas de esterilização de instrumental cirúrgico,
roupas, outros materiais e utensílios em geral; mau funcionamento
Manipulação diagnostica
dos aparelhos de esterilização; a manipulação incorreta do material
A atuação do pessoal de enfermagem nas medidas diagnosti- estéril; a antissepsia deficiente das mãos e antebraços da equipe
cas tais como cateterismo cardíaco, arteriografias, biópsias por pun- cirúrgica; o desconhecimento ou a displicência na conduta e na in-
ção, aspiração de líquidos (cerebral, pleural, peritonial, sinovial), etc dumentária preconizada a toda a equipe envolvida no ato cirúrgico;
quando deixa de atender os princípios de esterilização, pode ofere- dependências do Centro Cirúrgico fora dos padrões recomendáveis
cer risco de contaminação e posterior infecção. e a não observância de outras normas que impeçam a contamina-
ção dos pacientes e do ambiente.
Pessoal A avaliação bacteriológica do instrumental cirúrgico, de outros
materiais e do ambiente hospitalar deve merecer mais interesse
Sabe-se que o elemento humano é a principal fonte de infecção por parte do pessoal de enfermagem que, com a colaboração do
no hospital e um “check-up” da saúde individual do pessoal hospita- Serviço de Análises Clínicas ou da Comissão de Infecção, deve fazer-
lar, na sua admissão, é uma medida adotada pelos nossos hospitais, -se representar para o estabelecimento dos métodos de controle
embora ainda não tenham estabelecido a frequência e os tipos de bacteriológico e sua frequência.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Não é demasiado insistir na necessidade de um maior interesse contaminações. A água de beber deve ser fervida e examinada uma
científico na avaliação bacteriológica frequente dos veículos e fômi- vez por semana, assim como a água dos umidificadores de oxigênio
tes no meio hospitalar. e a das incubadoras.
Em estudo comparativo realizado por M. I. Teixeira sobre as
Tratamento condições bacteriológicas do Berçário, Centro Cirúrgico e Sala de
Parto, durante três meses, num hospital do Rio de Janeiro e cons-
Constituem poderosas armas no combate às infecções decor- tatou 490 colônias no Berçário, 233 no Centro Cirúrgico e 191 na
rentes de falhas nas unidades de internação e demais áreas do hos- Sala de Parto. No que se relaciona com os germes isolados em cada
pital, o ensino e a supervisão do pessoal que trabalha no hospital, dependência, a situação foi desfavorável ao Berçário onde foram
para adoção de medidas preventivas para execução de técnicas de identificadas 26 amostras de Estafilococos patogênicos (coagulase
combate à infecção hospitalar. positiva), enquanto no Centro Cirúrgico foram encontradas 8 e na
Através da leitura da anamnese completa, por ocasião da ad- Sala de Parto 4.
missão e da interpretação dos resultados dos exames complemen- Dentre os setores do hospital sobressai-se o Berçário em face
tares e baseados nos critérios de infecção estabelecidos, o pessoal da alta mortalidade do recém-nascido, por causa de sua suscetibi-
de enfermagem pode constatar pacientes infectados, a fim de se lidade.
tomarem as medidas de isolamento, estas medidas, aliadas à hi- É insistentemente destacada na literatura a importância da
gienização completa dos pacientes na admissão, durante sua hos- lavagem frequente das mãos com antissépticos adequados e a
pitalização e principalmente antes de serem levados à cirurgia e a necessidade de comprovação científica da eficiência das rotinas e
limpeza de sua unidade, se constituem em importantes medidas na procedimentos médicos e de enfermagem sob as nossas condições
redução de infecções decorrentes dos pacientes, nas unidades de ambientais, humanas e materiais.
internação. Os Serviços de Limpeza e Lavandaria são responsáveis por ati-
O isolamento do paciente infectado embora não deva ser negli- vidades importantes na redução de infecções pela remoção do pó
genciado o que se vê na maioria das vezes, em relação ao isolamen- e a correta desinfecção das roupas, atividades que devem ser co-
to de pacientes em unidades de internação comuns, são medidas ordenadas por pessoas com suficiente preparo básico. Não se es-
que se resumem na transferência do paciente para um quarto in- taria exigindo demasiado se o Coordenador do Serviço de Limpeza
dividual e na colocação do avental sobre a roupa daqueles que vão possuísse instrução equivalente ao 1.º grau completo; conhecimen-
entrar em contato com o paciente. tos científicos relacionados à higiene, à limpeza e à desinfecção;
A orientação do pessoal hospitalar, no desempenho de técnicas interesse em progredir na sua área de trabalho e habilidade para
de limpeza, de desinfecção e de assepsia deve ser contínua, formal treinar e supervisionar o seu pessoal. As exigências para o cargo de
e informal. Coordenador do Serviço de Lavandaria devem ser também maiores,
Precisa ser intensificado o desenvolvimento de programas de pela importância de suas atividades na segurança e bem-estar dos
atualização no que concerne à prevenção, combate e controle de pacientes.
infecções hospitalares extensivos a todo o pessoal hospitalar, prin-
cipalmente àqueles que mantêm contatos com os pacientes e os Comissão de Infecção
seus fomites. O Serviço de Enfermagem se preocupa em 33,33%
com a atualização dos conhecimentos de seu pessoal no desempe- Apenas 37,50% de nossos hospitais possuem uma Comissão de
nho de suas atribuições, porém, necessita dar continuidade e realce Infecção ou um pessoa com atribuições definidas para o controle de
aos conteúdos programáticos relacionados com a prevenção de in- infecções que, além de outras responsabilidade tão bem enumera-
fecções e atenção de enfermagem aos pacientes infectados. das por C. G. Melo, é o órgão responsável pela indicação dos diversos
A maioria das infecções hospitalares é transmitida pelo con- produtos químicos utilizados no hospital. Muitos de nossos hospitais
tágio direto, através de mãos contaminadas. A lavagem das mãos (68,75%) deixam a critério do Serviço de Enfermagem a indicação dos
antes e depois de cuidar de cada paciente e às vezes no decurso de antissépticos e desinfetantes e, para esta responsabilidade complexa,
diversos tratamentos prestados ao mesmo paciente com emulsão deve preparar-se para estar em condições de estabelecer os critérios
detergente bacteriostática e enxutas com ar quente ou com toalhas técnicos para a escolha dos mesmos, realizar ou colaborar nos testes
de papel se constitui em método eficiente para evitar a propagação bacteriológicos e na avaliação dos produtos químicos que indica para
de germes. As bactérias transientes das mãos são facilmente elimi- os diversos fins no hospital.
nadas com o uso de antissépticos adequados o que não acontece Segundo U. Zanond os critérios técnicos para a escolha de ger-
com o uso do sabão comum que exige uma lavagem de 5 a 10 minu- micidas hospitalares são: o registro no Serviço Nacional de Fiscaliza-
tos para eliminar os microorganismos presentes. ção de Medicina e Farmácia, o estudo da composição química e sua
Y. Hara, realizou uma pesquisa no hospital de Clínicas da FMUSP adequação às finalidades do produto e a comprovação bacterioló-
para comprovar a contaminação das mãos e a presença de germes gica da atividade germicida.
patogênicos antes e após a arrumação de camas de pacientes am- O pessoal de enfermagem deve usar os desinfetantes e antis-
bulantes e acamados; além de germes saprófitas constatou a pre- sépticos baseado em resultados de sua própria experiência, tendo
sença de Estafilococo Dourado mesmo na arrumação de camas de em vista os germes responsáveis pelas infecções no hospital onde
pacientes ambulantes, onde a contaminação foi menor do que na trabalha.
cama de pacientes acamados. A criação de Comissão de Infecção é justificada e recomenda-
Por desempenhar um papel importante na disseminação de da, e deve constituir-se em órgão coordenador de atividades de in-
doenças, U. Zanon) aconselha que «as mãos do pessoal de unida- vestigação, prevenção e controle de infecções.
des de internação sejam testadas uma vez por mês e as mãos dos A constituição de uma Comissão de Infecção pode variar se-
responsáveis pelo preparo das mamadeiras uma vez por semana. gundo o tamanho do hospital, não deixando, porém, de ter um re-
No Lactário, as mamadeiras e os bicos devem ser testados presentante do Serviço de Enfermagem, em tempo integral, para
diariamente, inclusive o conteúdo da mamadeira logo após o seu atuar como um dos membros executivos das normas baixadas pela
preparo e 24 horas após a estocagem, a fim de detectar possíveis Comissão.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Reduzir infecções no hospital é um trabalho gigantesco que exi- Processamento de artigos médico-hospitalares
ge a colaboração contínua e eficiente de todo o pessoal hospitalar
A utilização correta e mais econômica dos processos de limpe-
Recomendações za, desinfecção e esterilização dos materiais é norteada pela classi-
ficação dos materiais, segundo o riscopotencial de infecção para o
Considerando a importância que tem a redução de infecções paciente.
nos hospitais para a diminuição do risco de morbidade e mortali- Para definir qual o melhor processo a ser utilizado, esses mate-
dade, do custo do tratamento e da média de permanência dos pa- riais, quer sejam, instrumentais cirúrgicos, peças de equipamentos,
cientes nos hospitais que resulta numa maior utilização de leitos etc., são classificados em:
hospitalares, recomenda-se que os:
Artigos não críticos: Artigos que entram em contato apenas
I - Administradores de Hospital: com a pele íntegra do paciente. Estes artigos devem ser submetidos
- Possibilitem aos Serviços do Hospital condições materiais e a desinfecção de baixo nível ou apenas limpeza mecânica com água
humanas para a montagem de isolamento de pacientes infectados e sabão para remoção da matéria orgânica. Ex. estetoscópio, termô-
e suspeitos e para a adoção das demais medidas preventivas e de metro, esfigmomanômetro,etc.
controle de infecções; • Artigos semi-críticos: Artigos que entram em contato com
- se assessorarem de pessoal capacitado nas construções e re- a pele íntegra ou com mucosas íntegras. Estes artigos devem ser
formas de hospitais a fim de que a planta física não venha a dificul- submetidos a desinfecção de alto nível. Ex. Equipamentos de anes-
tar a adoção das medidas de redução de infecções; tesia gasosa, terapia respiratória, inaloterapia, instrumentos de fi-
- tornem compulsória, por parte dos profissionais da equipe da bra óptica, etc.
saúde, a notificação a um órgão central das infecções hospitalares • Artigos críticos: Artigos que penetram a pele e mucosa,
e não hospitalares;
atingindo os tecidos subepiteliais e o sistema vascular, bem como
- mantenham um serviço de vigilância sanitária para o pessoal
todos os que estejam diretamente conectados com este sistema.
hospitalar;
Estes artigos devem ser esterilizados. Ex. instrumental cirúrgico, ca-
- ofereçam ao grupo ou à pessoa responsável pelo controle de
teteres cardíacos, laparoscópios, implantes, agulhas, etc.
infecções os Serviços de Análises Clínicas para a identificação dos
agentes etiológicos;
Limpeza:
- incentivem a realização de cursos de atualização de conheci-
É o processo de remoção de sujidade e/ou matéria orgânica
mentos no que concerne a prevenção e controle de infecções para
presente nos artigos e superfícies.
todo o pessoal que mantenha contatos diretos e indiretos com os
Preconiza-se a limpeza com água e sabão, promovendo a remo-
pacientes;
- estimulem os serviços Médicos, de Enfermagem, Nutrição e ção da sujeira e do mau odor, reduzindo assim a carga microbiana.
Dietética, Lavandaria, Limpeza e Auxiliares de Diagnóstico e Trata- A limpeza deve sempre preceder os processos de desinfecção ou
mento a elaborarem normas para o seu pessoal referentes à pre- esterilização, pois a maioria dos germicidas sofre inativação na pre-
venção e controle de infecções; sença de matéria orgânica.
- estabeleçam critérios mais exigentes para a indicação dos res-
ponsáveis pelos Serviços de Limpeza e de Lavandaria de modo a se Métodos de limpeza:
ter pessoal mais qualificado para o desempenho de atividades que . Limpeza Manual: Executada através de fricção, com escovas e
muito concorrem para a redução de infecções; uso de detergente e água.
- criem a Comissão de Infecção ou designem uma pessoa com . Limpeza Mecânica: É realizada através de lavadoras por meio
atribuições definidas para reduzir ao mínimo as infecções hospita- de uma ação física e química (lavadoras ultrassônicas e termodesin-
lares; fectadoras).
- permitam a compra de antissépticos e desinfectantes utiliza-
dos para os diversos fins no hospital quando justificada por critérios Secagem:
técnicos. Parte importante do processamento de artigos hospitalares.
Recomenda-se comumente a secagem com ar comprimido, pois
II - Serviços de Enfermagem: elimina o ambiente úmido que favorece a proliferação bacteriana.
- Valorizem e realizem, sistematicamente, avaliação bacterioló-
gicas da desinfecção e esterilização do material hospitalar assesso- Estocagem:
rados por técnicos no assunto; Deve-se evitar a estocagem de artigos já processados em áreas
- supervisionem o seu pessoal na desinfecção e esterilização de próximas a pias, água ou tubo de drenagem.
material e do ambiente, no tratamento e no processo de atenção de
enfermagem ao paciente infectado; Descontaminação:
- desenvolvam cursos para o seu pessoal dando realce aos con- É o processo de eliminação parcial da carga microbiana de arti-
teúdos relacionados com a atenção de enfermagem a pacientes in- gos e superfícies, tornando-os aptos para o manuseio. Após a des-
fectados e à prevenção de infecções; contaminação, deve-se seguir o processamento adequado.
- se façam representar na Comissão de Infecção designando
uma enfermeira, em tempo integral, como coordenadora da execu- Desinfecção:
ção de sua parte no programa de controle de infecções no hospital; É processo de destruição dos microrganismos em forma vege-
- procurem ampliar seus conhecimentos sobre antissépticos e tativa, mediante aplicação de agentes físicos ou químicos.
desinfetantes muito especialmente quando se responsabilizar pela - Agente físico:radiação ultra-violeta
indicação dos mesmos para os diversos fins no hospital. - Agente físico líquido: água em ebulição e sistemas de lavagem
automáticas que associam calor, ação mecânica e detergência

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Agente químico líquido: aldeídos (p/ artigos termo-sensíveis), Fenol sintético:


álcoois (p/ artigos e superfícies), fenol sintético (p/ artigos e super- - Desinfecção de nível intermediário e baixo. Usado para des-
fícies) e hipoclorito de sódio (p/ artigos e superfícies) contaminação ambiental incluindo bancadas de laboratórios e arti-
gos não críticos. Tempo de exposição para superfícies e artigos é de
Níveis de Desinfecção: 10 minutos.
. Alto Nível: Destrói todas as bactérias vegetativas(porem não
todos os esporos bacterianos), as microbactérias, os fungos e os Recomendações:
vírus.É indicada para artigos como lâminas de larigoscópio, equipa- - Contra-indicado para artigos que entram em contato com o
mento de terapia respiratória, anestesia e endoscópio. trato respiratório, alimentos, objetos de látex, acrílico e borrachas
. Médio Nível: destruição de todas as formas bacterianas não - Friccionar a superfície ou o objeto imerso, com escova, espon-
esporuladas e vírus, inclusive o bacilo da tuberculose. Ex: Cloro, ál- ja, etc., antes de iniciar o tempo de exposição;
coois, fenólicos - Enxagüe copioso com água potável;
. Baixo Nível: Destruição de bactérias na forma vegetativa mais - Necessita do uso de EPI – luva de borracha de cano longo,
não são capazes de destruir esporos e nem micro-bactérias e vírus. máscara de carvão, avental impermeável e óculos de proteção.
Ex: Quaternário de Amônia
Hipoclorito de sódio:
Métodos de Desinfecção - Desinfetante dos três níveis – alto, intermediário e baixo -,
conforme a concentração e tempo de exposição.
Desinfecção por meio físico líquido: Recomendações:
Água em ebulição: indicada na desinfecção de baixo nível ou - Usar em recipientes opacos – o produto é fotossensível. De-
descontaminação de artigos termo resistentes. Tempo de exposição vem ser mantidos em vasilhames tampados devido a volatização
30 minutos do cloro.
Lavadoras automáticas térmicas: indicada para desinfecção de - Assegurar-se da qualidade do produto;
alto nível de artigos termo resistentes ou para limpeza de artigos - Descontaminação de superfícies na concentração de 0,1%
críticos antes de sofrerem o processo de esterilização. Podem ser (10.000 ppm) por 10 minutos;
associadas ao uso de detergentes enzimáticos ou desinfetantes. Ex. - Desinfecção de artigos:
artigos de inaloterapia, acessórios de respiradores, material de en- - Alto nível: na concentração de 0,1% (1000 ppm) de20 a 60
tubação, etc. minutos
- Médio nível: na concentração de 0,1% (1000 ppm) por 10 mi-
Desinfecção por meio químico líquido nutos
- Baixo nível: na concentração de 0,01% (100 ppm) por 10 mi-
Glutaraldeído: nutos
Desinfecção de alto nível de artigos na concentração de 2%, - Necessita enxague no caso de desinfecção de alto nível. Quan-
por20 a30 minutos; do não for possível o enxague com água estéril, deve-se utilizar
Esterilização de artigos na concentração de 2%, de8 a10 horas; água corrente e rinsagem com álcool a 70% após secagem;
Usar em artigos termo sensíveis (instrumental, látex e etc.); • Necessita do uso de EPI – avental, luvas de borracha e
Recomendações: máscara.
- Ativar o produto e verificar o prazo de validade;
- Usar recipiente de vidro ou plástico fosco - produto fotossen- Esterilização
sível;
-Manter em recipientes tampados; É o processo de destruição de todas as formas de vida micro-
- Necessita de enxague copioso; biana (bactérias nas formas vegetativas e esporuladas, fungos e ví-
- necessita do uso de EPI -luva de borracha de cano longo, más- rus), mediante aplicação de agentes físicos e/ou químicos.
cara de carvão e óculos de proteção.
Testes de Validação
Álcoois:
Desinfecção de nível intermediário de artigos não críticos, al- Todo processo de esterilização precisa ser validado, empregan-
guns artigos semi-críticos e superfícies, na concentração a 70%. do-se testes físicos, químicos e biológicos, além de monitorização
Tempo de exposição de 10 minutos com três aplicações, agu ardan- regular durante as operações de rotina. Estes testes são realizados
do a secagem espontânea. para certificar o desempenho ideal do ciclo de esterilização, e para
Recomendações: determinar se as condições pré-estabelecidas foram atingidas den-
- Assegurar-se da qualidade do produto; tro da câmara, e nos pontos mais críticos da carga.
- Friccionar a superfície ou o artigo, deixar secar em ar ambien-
te, repetir três vezes até completar o tempo de ação; Indicadores Químicos:
- Pode ser usado na desinfecção concorrente de superfícies en- Utilizados para detecção imediata de potenciais falhas no pro-
tre cirurgias, exames, após uso do colchão, etc.; cesso de esterilização.
- Contra-indicado em acrílico, borracha, tubos plásticos. Danifi- • Externos: Têm objetivo único de distinguir os pacotes que
ca o cimento das lentes dos equipamentos; passaram pelo ciclo de esterilização, daqueles que não passaram.
- Não necessita de enxagüe; Apresentação na forma de tiras de papel ou fitas adesivas com lis-
- Não necessita usar EPI. tras em diagonal, para uso em autoclaves a vapor ou a gás.
• Internos: são colocados dentro dos pacotes que são po-
sicionados em pontos críticos da câmara, onde o acesso do vapor
é mais difícil. Devem ser usados em conjunto com termostatos e
indicadores biológicos:

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

• Integradores: indicadores multiparamétricos – provêm uma reação integrada de temperatura, tempo de exposição e a presença do
vapor. Disponíveis para processos a vapor ou a óxido de etileno.

Indicadores Biológicos:
Utilizados para monitorar as condições de esterilidade dentro dos pacotes-teste.

Métodos de Esterilização

Agentes Físicos:
Vapor saturado sob pressão: para artigos que não sejam sensíveis ao calor e ao vapor. É o processo de maior segurança (autoclave).
Artigos que não sejam sensíveis ao calor e vapor;
- Acomodação dos artigos em cestos aramados;- Usar só 80% da capacidade;
- Embalagens: Grau cirúrgico (de forma vertical, filme com filme, papel com papel), papel não tecido(SMS) e campos de algodão;
- Validade de acordo com a embalagem e acondicionamento;
- Manipular o artigo após o resfriamento.

Tipos:
. Gravitacional: O ar é removido por gravidade;
- Processo lento e favorece a permanência de ar residual;
- Pouco utilizada.
. Pré- Vácuo:
- O ar é removido pela bomba de vácuo;
- O vácuo pode ser obtido por meio de vácuo único e pulsatil, o mais eficiente, devido a dificuldade de se obter vários níveis de vácuo
em um só pulso.
Monitorização:
. ControleBiológico: Bacillus Stearotermophillus;
. Bowie Dick: Avaliação da bomba de vácuo;
. Indicador Químico:classe 1, classe, classe 3, classe 4
. Integrador Químico: classe 5 e 6

Segundo recomendação da AORN (2002)

Tipo de Equipamemto Temperatura Tempo de Exposição


132 a135°C 10 a25 min
Gravitacional
121 a123°C 15 a30 min
Pré-Vacuo 132 a135°C 03 a04 min

Calor seco: para artigos que não sejam sensíveis ao calor, mas que sejam sensíveis à umidade (estufa).
- Utilizados para esterilizar, pós, óleos e instrumentais;
- Validade: 07 dias.

Monitorização:
. Teste Biológico: Bacillus Subtillis;
. Indicadores Químicos: Fitas termossensiveis.

Flambagem: para uso em laboratório de microbiologia, durante a manipulação de material biológico ou transferência de massa bac-
teriana, através da alça bacteriológica.

Agentes Químicos- gasosos:


Para uso em materiais sensíveis ao calor e umidade.

Aldeídos: glutaraldeído;
- Produto de alto teor desinfetante;
- Utilizado em condições adequadas são esterilizantes(12hs a 18hs);
- Limpar e secar o artigo antes de imergir na solução, para evitar a diluição do produto;
- Preencher o interior das tubulações com seringa;
- Colocar data de ativação do produto;- Respeitar o prazo de validade;
- Desprezar o produto caso se observe algum tipo de matéria orgânica;
- Enxaguar bem o artigo(cancerigêneo);

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Monitorização:
. Fitas reagentes ou kit liquido para acompanhar o ph da solução.
Óxido de etileno: portaria interministerial MS/MT nº 4; D.º 31/07/1991 DF, regulamenta este método de esterilização, estabelecendo
regras de instalação e manuseio com segurança devido à toxicidade do gás.
Outros princípios ativos: desde que atendam à legislação específica. Todos os artigos;
- Respeitar as normas vigentes do ministério da saúde(áreas e instalações próprias devido a alta toxicicidade);
- Somente embalagens de grau cirúrgico;
- Observar rigorosamente os tempos de areação;
- Validade de 02 anos;

Monitorização:
. Controle Biológico: Bacillus Subtilis hoje mais conhecido como Bacillus Atrophaeus
.Fitas Indicadoras.

Esterilização por plasma de peróxido de hidrogênio – Sterrad.


O processo promove uma nuvem de reações entre íons, elétrons e partículas atômicas neutras (plasma). O plasma é bactericida, tu-
berculicida, esporicida, fungicida e viruscida.
O processo inclui 5 fases: vácuo, injeção, difusão plasma e ventilação. Cada fase é controlada e registrada pelo equipamento (automo-
nitorado), e em casos de qualquer desvio do esperado, ocorre automática interrupção do ciclo e emissão de um relatório impresso sobre
as causas e as ações a serem tomadas.

Vantagens:
-Não é tóxico ao meio ambiente. Tem como resíduos finais, a água e o oxigênio;
-Ciclo total rápido (75 minutos). Não necessita de período de aeração;
-Simples de instalar e operar;
-Compatível com plásticos, borrachas, metais, vidros e acrílicos;
-Promove a esterilização em baixa temperatura – aproximadamente 50º C;
- Possui indicadores químicos próprios.
Desvantagens:
-Alto custo inicial;
-Necessita de embalagem específica, livre de celulose;
-Não processa materiais que absorvam líquidos – por exemplo, musselina, nailon, poliester e materiais que contenham fibras vegetais
– por exemplo, algodão e papéis.
-É limitado quanto a artigos que possuam lúmen (relação entre o diâmetro e o comprimento);
-Não processa artigos com lúmen de fundo cego; aceita artigos metálicos e plásticos com lúmen de diâmetro interno acima de0,3 cm.
Artigos com diâmetro interno de 0,1 a 0,3cm necessitam de adaptador próprio. O comprimento máximo aceito para itens metálicos é de50
cm, e para itens plásticos de130 cm.
- É necessário utilizar EPI – luvas de látex – ao manusear os recipientes com peróxido de hidrogênio concentrado. Se houver contado
com a pele lavar copiosamente.

Dispensação - Regras para um Armazenamento Ideal:


. Limite de tráfegos de pessoas;
.Temperatura entre18 a 22° e a umidade de35 a 50%
. Prateleiras abertas;
. O local deve ser longe de água; janelas, portas e tubulações expostas;
. O material deve ser manipulado o mínimo possível;
. Efetuar inspeção periódica dos artigos, verificando qualquer anormalidade;
. Os pacotes devem atingir a temperatura ambiente antes de serem transferidos para as prateleiras;
. Estabelecer limpeza diária e periódica;
. Dispor os itens de forma que facilite a localização;
. Liberar os lotes mais antigos antes dos mais novos;
. Efetuar conferências periódicas dos artigos estocados.

Prevenção e Controle de Infecção

O QUE É?
A infecção relacionada à assistência à saúde (IRAS) é aquela adquirida em função dos procedimentos necessários à monitorização e ao
tratamento de pacientes em hospitais, ambulatórios, centros diagnósticos ou mesmo em assistência domiciliar (home care).
O diagnóstico das IRAS é feito com base em critérios definidos por agências de saúde nacionais e estrangeiras, como o Centro de Vigi-
lância Epidemiológica (CVE) da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e os Centers
for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos.
Mesmo quando se adotam todas as medidas conhecidas para prevenção e controle de IRAS, certos grupos apresentam maior risco
de desenvolver uma infecção. Entre esses casos estão os pacientes em extremos de idade, pessoas com diabetes, câncer, em tratamento ou com
doenças imunossupressoras, com lesões extensas de pele, submetidas a cirurgias de grande porte ou transplantes, obesas e fumantes.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O monitoramento das IRAS permite que os processos assistenciais sejam aprimorados e que o risco dessas infecções possa ser reduzido.
Nesse sentido, a higienização das mãos é um procedimento essencial. O nosso processo é baseado nas recomendações da OMS, que
considera a necessidade de higienização das mãos, por todos os profissionais de saúde, em cinco momentos diferentes, incluindo antes e
depois de qualquer contato com o paciente, conforme mostra a figura abaixo.

Entre as infecções sistematicamente monitoradas pela instituição estão as de corrente sanguínea (ICS) associada ao cateter venoso
central (CVC) e as que acontecem após cirurgias.

Infecção da corrente sanguínea associada ao cateter venoso central (CVC)

O que é?
A infecção de corrente sanguínea (ICS) associada ao cateter venoso central (CVC) ocorre quando bactérias ou fungos entram no san-
gue por meio do cateter e se manifesta normalmente com febre e calafrios.
Procedimentos padronizados baseados em conhecimentos científicos, treinamento dos profissionais e uso de produtos de boa quali-
dade são estratégias que nós utilizamos no processo de prevenção dessa infecção.

O que medimos?
No indicador, consideramos o número de episódios de infecções associadas ao uso de cateter venoso central em pacientes internados
em unidades críticas.

Infecção de sítio cirúrgico (ISC) em cirurgias limpas

O que é?
Esse tipo de infecção ocorre após a cirurgia, na parte do corpo onde foi realizado o procedimento. Estudos estimam de um a dois casos
de infecção a cada 100 cirurgias realizadas. Os sintomas mais comuns envolvem vermelhidão e dor ao redor da área operada, drenagem
de líquido turvo no local e febre. A maioria dessas infecções pode ser tratada com antibióticos, selecionados pelo médico de acordo com
o agente causador da infecção. Eventualmente, outra cirurgia pode ser necessária para o tratamento da infecção.
Procedimentos padronizados e baseados em boas práticas internacionais, treinamento e atualização dos profissionais e uso de produ-
tos de boa qualidade são estratégias que nós utilizamos para prevenção dessas infecções.

O que medimos?
No indicador, consideramos o número de episódios de infecção no local cirúrgico após cirurgias limpas, conforme mostra o gráfico
abaixo. A meta estabelecida de 0,89% é baseada em dados de série histórica institucional e os dados deste indicador referem-se ao 3º
trimestre de 2018, visto que as infecções de sítio cirúrgico podem ocorrer até 90 dias após o procedimento cirúrgico.

Fonte: https://www.hospitalsiriolibanes.org.br/qualidade-seguranca/Paginas/prevencao-controle-infeccao.aspx

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

CONSIDERANDO a deliberação do Plenário do Conselho Fede-


CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS ral de Enfermagem em sua 491ª Reunião Ordinária,
DE ENFERMAGEM
RESOLVE:
Código de Ética profissional em Enfermagem Art. 1º Aprovar o novo Código de Ética dos Profissionais de En-
fermagem, conforme o anexo desta Resolução, para observância e
RESOLUÇÃO COFEN Nº 564/2017 respeito dos profissionais de Enfermagem, que poderá ser consulta-
do através do sítio de internet do Cofen (www.cofen.gov.br).
Aprova o novo Código de Ética dos Profissionais de Enferma- Art. 2º Este Código aplica-se aos Enfermeiros, Técnicos de En-
gem fermagem, Auxiliares de Enfermagem, Obstetrizes e Parteiras, bem
O Conselho Federal de Enfermagem – Cofen, no uso das atri- como aos atendentes de Enfermagem.
buições que lhe são conferidas pela Lei nº 5.905, de 12 de julho Art. 3º Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Fede-
de 1973, e pelo Regimento da Autarquia, aprovado pela Resolução ral de Enfermagem.
Cofen nº 421, de 15 de fevereiro de 2012, e Art. 4º Este Código poderá ser alterado pelo Conselho Federal
CONSIDERANDO que nos termos do inciso III do artigo 8º da Lei de Enfermagem, por proposta de 2/3 dos Conselheiros Efetivos do
5.905, de 12 de julho de 1973, compete ao Cofen elaborar o Código Conselho Federal ou mediante proposta de 2/3 dos Conselhos Re-
de Deontologia de Enfermagem e alterá-lo, quando necessário, ou- gionais.
vidos os Conselhos Regionais; Parágrafo Único. A alteração referida deve ser precedida de
CONSIDERANDO que o Código de Deontologia de Enfermagem ampla discussão com a categoria, coordenada pelos Conselhos Re-
deve submeter-se aos dispositivos constitucionais vigentes; gionais, sob a coordenação geral do Conselho Federal de Enferma-
CONSIDERANDO a Declaração Universal dos Direitos Humanos, gem, em formato de Conferência Nacional, precedida de Conferên-
promulgada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (1948) e ado- cias Regionais.
tada pela Convenção de Genebra (1949), cujos postulados estão Art. 5º A presente Resolução entrará em vigor 120 (cento e vin-
contidos no Código de Ética do Conselho Internacional de Enfer- te) dias a partir da data de sua publicação no Diário Oficial da União,
meiras (1953, revisado em 2012); revogando-se as disposições em contrário, em especial a Resolução
CONSIDERANDO a Declaração Universal sobre Bioética e Direi- Cofen nº 311/2007, de 08 de fevereiro de 2007.
tos Humanos (2005);
CONSIDERANDO o Código de Deontologia de Enfermagem do Brasília, 6 de novembro de 2017.
Conselho Federal de Enfermagem (1976), o Código de Ética dos Pro-
fissionais de Enfermagem (1993, reformulado em 2000 e 2007), as ANEXO DA RESOLUÇÃO COFEN Nº 564/2017
normas nacionais de pesquisa (Resolução do Conselho Nacional de
Saúde – CNS nº 196/1996), revisadas pela Resolução nº 466/2012, PREÂMBULO
e as normas internacionais sobre pesquisa envolvendo seres huma-
nos; O Conselho Federal de Enfermagem, ao revisar o Código de
CONSIDERANDO a proposta de Reformulação do Código de Éti- Ética dos Profissionais de Enfermagem – CEPE, norteou-se por prin-
ca dos Profissionais de Enfermagem, consolidada na 1ª Conferência cípios fundamentais, que representam imperativos para a conduta
Nacional de Ética na Enfermagem – 1ª CONEENF, ocorrida no perí- profissional e consideram que a Enfermagem é uma ciência, arte e
odo de 07 a 09 de junho de 2017, em Brasília – DF, realizada pelo uma prática social, indispensável à organização e ao funcionamento
Conselho Federal de Enfermagem e Coordenada pela Comissão dos serviços de saúde; tem como responsabilidades a promoção e a
Nacional de Reformulação do Código de Ética dos Profissionais de restauração da saúde, a prevenção de agravos e doenças e o alívio
Enfermagem, instituída pela Portaria Cofen nº 1.351/2016; do sofrimento; proporciona cuidados à pessoa, à família e à cole-
CONSIDERANDO a Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006 (Lei tividade; organiza suas ações e intervenções de modo autônomo,
Maria da Penha) que cria mecanismos para coibir a violência do- ou em colaboração com outros profissionais da área; tem direito a
méstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 remuneração justa e a condições adequadas de trabalho, que possi-
da Constituição Federal e a Lei nº 10.778, de 24 de novembro de bilitem um cuidado profissional seguro e livre de danos.
2003, que estabelece a notificação compulsória, no território na- Sobretudo, esses princípios fundamentais reafirmam que o
cional, nos casos de violência contra a mulher que for atendida em respeito aos direitos humanos é inerente ao exercício da profissão,
serviços de saúde públicos e privados; o que inclui os direitos da pessoa à vida, à saúde, à liberdade, à
CONSIDERANDO a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que igualdade, à segurança pessoal, à livre escolha, à dignidade e a ser
dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente; tratada sem distinção de classe social, geração, etnia, cor, crença
CONSIDERANDO a Lei nº. 10.741, de 01 de outubro de 2003, religiosa, cultura, incapacidade, deficiência, doença, identidade de
que dispõe sobre o Estatuto do Idoso; gênero, orientação sexual, nacionalidade, convicção política, raça
CONSIDERANDO a Lei nº. 10.216, de 06 de abril de 2001, que ou condição social.
dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de Inspirado nesse conjunto de princípios é que o Conselho Federal
transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde de Enfermagem, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo
mental; Art. 8º, inciso III, da Lei nº 5.905, de 12 de julho de 1973, aprova e
CONSIDERANDO a Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, que edita esta nova revisão do CEPE, exortando os profissionais de Enfer-
dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recupera- magem à sua fiel observância e cumprimento.
ção da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços cor-
respondentes;
CONSIDERANDO as sugestões apresentadas na Assembleia Ex-
traordinária de Presidentes dos Conselhos Regionais de Enferma-
gem, ocorrida na sede do Cofen, em Brasília, Distrito Federal, no dia
18 de julho de 2017, e

224

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS Art. 13 Suspender as atividades, individuais ou coletivas, quan-


do o local de trabalho não oferecer condições seguras para o exer-
A Enfermagem é comprometida com a produção e gestão do cício profissional e/ou desrespeitar a legislação vigente, ressalvadas
cuidado prestado nos diferentes contextos socioambientais e cultu- as situações de urgência e emergência, devendo formalizar imedia-
rais em resposta às necessidades da pessoa, família e coletividade. tamente sua decisão por escrito e/ou por meio de correio eletrôni-
O profissional de Enfermagem atua com autonomia e em co à instituição e ao Conselho Regional de Enfermagem.
consonância com os preceitos éticos e legais, técnico-científico e Art. 14 Aplicar o processo de Enfermagem como instrumento
teórico-filosófico; exerce suas atividades com competência para metodológico para planejar, implementar, avaliar e documentar o
promoção do ser humano na sua integralidade, de acordo com os cuidado à pessoa, família e coletividade.
Princípios da Ética e da Bioética, e participa como integrante da Art. 15 Exercer cargos de direção, gestão e coordenação, no
equipe de Enfermagem e de saúde na defesa das Políticas Públicas, âmbito da saúde ou de qualquer área direta ou indiretamente rela-
com ênfase nas políticas de saúde que garantam a universalidade cionada ao exercício profissional da Enfermagem.
de acesso, integralidade da assistência, resolutividade, preservação Art. 16 Conhecer as atividades de ensino, pesquisa e extensão
da autonomia das pessoas, participação da comunidade, hierar- que envolvam pessoas e/ou local de trabalho sob sua responsabili-
quização e descentralização político-administrativa dos serviços de dade profissional.
saúde. Art. 17 Realizar e participar de atividades de ensino, pesquisa e
O cuidado da Enfermagem se fundamenta no conhecimento extensão, respeitando a legislação vigente.
próprio da profissão e nas ciências humanas, sociais e aplicadas e é Art. 18 Ter reconhecida sua autoria ou participação em pesqui-
executado pelos profissionais na prática social e cotidiana de assis- sa, extensão e produção técnico-científica.
tir, gerenciar, ensinar, educar e pesquisar. Art. 19 Utilizar-se de veículos de comunicação, mídias sociais
e meios eletrônicos para conceder entrevistas, ministrar cursos,
CAPÍTULO I palestras, conferências, sobre assuntos de sua competência e/ou
DOS DIREITOS divulgar eventos com finalidade educativa e de interesse social.
Art. 20 Anunciar a prestação de serviços para os quais detenha
Art. 1º Exercer a Enfermagem com liberdade, segurança téc- habilidades e competências técnico-científicas e legais.
nica, científica e ambiental, autonomia, e ser tratado sem discrimi- Art. 21 Negar-se a ser filmado, fotografado e exposto em mí-
nação de qualquer natureza, segundo os princípios e pressupostos dias sociais durante o desempenho de suas atividades profissionais.
legais, éticos e dos direitos humanos. Art. 22 Recusar-se a executar atividades que não sejam de sua
Art. 2º Exercer atividades em locais de trabalho livre de riscos competência técnica, científica, ética e legal ou que não ofereçam
e danos e violências física e psicológica à saúde do trabalhador, em segurança ao profissional, à pessoa, à família e à coletividade.
respeito à dignidade humana e à proteção dos direitos dos profis- Art. 23 Requerer junto ao gestor a quebra de vínculo da relação
sionais de enfermagem. profissional/usuários quando houver risco à sua integridade física
Art. 3º Apoiar e/ou participar de movimentos de defesa da dig- e moral, comunicando ao Coren e assegurando a continuidade da
nidade profissional, do exercício da cidadania e das reivindicações assistência de Enfermagem.
por melhores condições de assistência, trabalho e remuneração,
observados os parâmetros e limites da legislação vigente. CAPÍTULO II
Art. 4º Participar da prática multiprofissional, interdisciplinar e DOS DEVERES
transdisciplinar com responsabilidade, autonomia e liberdade, ob-
servando os preceitos éticos e legais da profissão. Art. 24 Exercer a profissão com justiça, compromisso, equida-
Art. 5º Associar-se, exercer cargos e participar de Organiza- de, resolutividade, dignidade, competência, responsabilidade, ho-
ções da Categoria e Órgãos de Fiscalização do Exercício Profissional, nestidade e lealdade.
atendidos os requisitos legais. Art. 25 Fundamentar suas relações no direito, na prudência,
Art. 6º Aprimorar seus conhecimentos técnico-científicos, éti- no respeito, na solidariedade e na diversidade de opinião e posição
co-políticos, socioeducativos, históricos e culturais que dão susten- ideológica.
tação à prática profissional. Art. 26 Conhecer, cumprir e fazer cumprir o Código de Ética dos
Art. 7º Ter acesso às informações relacionadas à pessoa, famí- Profissionais de Enfermagem e demais normativos do Sistema Co-
lia e coletividade, necessárias ao exercício profissional. fen/Conselhos Regionais de Enfermagem.
Art. 8º Requerer ao Conselho Regional de Enfermagem, de for- Art. 27 Incentivar e apoiar a participação dos profissionais de En-
ma fundamentada, medidas cabíveis para obtenção de desagravo fermagem no desempenho de atividades em organizações da categoria.
público em decorrência de ofensa sofrida no exercício profissional Art. 28 Comunicar formalmente ao Conselho Regional de En-
ou que atinja a profissão. fermagem e aos órgãos competentes fatos que infrinjam dispositi-
Art. 9º Recorrer ao Conselho Regional de Enfermagem, de for- vos éticos-legais e que possam prejudicar o exercício profissional e
ma fundamentada, quando impedido de cumprir o presente Códi- a segurança à saúde da pessoa, família e coletividade.
go, a Legislação do Exercício Profissional e as Resoluções, Decisões Art. 29 Comunicar formalmente, ao Conselho Regional de En-
e Pareceres Normativos emanados pelo Sistema Cofen/Conselhos fermagem, fatos que envolvam recusa e/ou demissão de cargo,
Regionais de Enfermagem. função ou emprego, motivado pela necessidade do profissional em
Art. 10 Ter acesso, pelos meios de informação disponíveis, cumprir o presente Código e a legislação do exercício profissional.
às diretrizes políticas, normativas e protocolos institucionais, bem Art. 30 Cumprir, no prazo estabelecido, determinações, notifi-
como participar de sua elaboração. cações, citações, convocações e intimações do Sistema Cofen/Con-
Art. 11 Formar e participar da Comissão de Ética de Enferma- selhos Regionais de Enfermagem.
gem, bem como de comissões interdisciplinares da instituição em Art. 31 Colaborar com o processo de fiscalização do exercício
que trabalha. profissional e prestar informações fidedignas, permitindo o acesso
Art. 12 Abster-se de revelar informações confidenciais de que a documentos e a área física institucional.
tenha conhecimento em razão de seu exercício profissional.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Art. 32 Manter inscrição no Conselho Regional de Enfermagem, Art. 47 Posicionar-se contra, e denunciar aos órgãos competen-
com jurisdição na área onde ocorrer o exercício profissional. tes, ações e procedimentos de membros da equipe de saúde, quan-
Art. 33 Manter os dados cadastrais atualizados junto ao Conse- do houver risco de danos decorrentes de imperícia, negligência e
lho Regional de Enfermagem de sua jurisdição. imprudência ao paciente, visando a proteção da pessoa, família e
Art. 34 Manter regularizadas as obrigações financeiras junto ao coletividade.
Conselho Regional de Enfermagem de sua jurisdição. Art. 48 Prestar assistência de Enfermagem promovendo a qua-
Art. 35 Apor nome completo e/ou nome social, ambos legíveis, lidade de vida à pessoa e família no processo do nascer, viver, mor-
número e categoria de inscrição no Conselho Regional de Enferma- rer e luto.
gem, assinatura ou rubrica nos documentos, quando no exercício Parágrafo único. Nos casos de doenças graves incuráveis e ter-
profissional. minais com risco iminente de morte, em consonância com a equipe
§ 1º É facultado o uso do carimbo, com nome completo, núme- multiprofissional, oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis
ro e categoria de inscrição no Coren, devendo constar a assinatura para assegurar o conforto físico, psíquico, social e espiritual, respei-
ou rubrica do profissional. tada a vontade da pessoa ou de seu representante legal.
§ 2º Quando se tratar de prontuário eletrônico, a assinatura Art. 49 Disponibilizar assistência de Enfermagem à coletividade
deverá ser certificada, conforme legislação vigente. em casos de emergência, epidemia, catástrofe e desastre, sem plei-
Art. 36 Registrar no prontuário e em outros documentos as tear vantagens pessoais, quando convocado.
informações inerentes e indispensáveis ao processo de cuidar de Art. 50 Assegurar a prática profissional mediante consentimen-
forma clara, objetiva, cronológica, legível, completa e sem rasuras. to prévio do paciente, representante ou responsável legal, ou deci-
Art. 37 Documentar formalmente as etapas do processo de En- são judicial.
fermagem, em consonância com sua competência legal. Parágrafo único. Ficam resguardados os casos em que não haja
Art. 38 Prestar informações escritas e/ou verbais, completas e capacidade de decisão por parte da pessoa, ou na ausência do re-
fidedignas, necessárias à continuidade da assistência e segurança presentante ou responsável legal.
do paciente. Art. 51 Responsabilizar-se por falta cometida em suas ativida-
Art. 39 Esclarecer à pessoa, família e coletividade, a respeito des profissionais, independentemente de ter sido praticada indi-
dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca da assistên- vidual ou em equipe, por imperícia, imprudência ou negligência,
cia de Enfermagem. desde que tenha participação e/ou conhecimento prévio do fato.
Art. 40 Orientar à pessoa e família sobre preparo, benefícios, Parágrafo único. Quando a falta for praticada em equipe, a res-
riscos e consequências decorrentes de exames e de outros proce- ponsabilidade será atribuída na medida do(s) ato(s) praticado(s)
dimentos, respeitando o direito de recusa da pessoa ou de seu re- individualmente.
presentante legal. Art. 52 Manter sigilo sobre fato de que tenha conhecimento em
Art. 41 Prestar assistência de Enfermagem sem discriminação razão da atividade profissional, exceto nos casos previstos na legis-
de qualquer natureza. lação ou por determinação judicial, ou com o consentimento escrito
Art. 42 Respeitar o direito do exercício da autonomia da pessoa da pessoa envolvida ou de seu representante ou responsável legal.
ou de seu representante legal na tomada de decisão, livre e esclare- § 1º Permanece o dever mesmo quando o fato seja de conheci-
cida, sobre sua saúde, segurança, tratamento, conforto, bem-estar, mento público e em caso de falecimento da pessoa envolvida.
realizando ações necessárias, de acordo com os princípios éticos e § 2º O fato sigiloso deverá ser revelado em situações de amea-
legais. ça à vida e à dignidade, na defesa própria ou em atividade multipro-
fissional, quando necessário à prestação da assistência.
Parágrafo único. Respeitar as diretivas antecipadas da pessoa
§ 3º O profissional de Enfermagem intimado como testemunha
no que concerne às decisões sobre cuidados e tratamentos que de-
deverá comparecer perante a autoridade e, se for o caso, declarar
seja ou não receber no momento em que estiver incapacitado de
suas razões éticas para manutenção do sigilo profissional.
expressar, livre e autonomamente, suas vontades.
§ 4º É obrigatória a comunicação externa, para os órgãos de
Art. 43 Respeitar o pudor, a privacidade e a intimidade da pes-
responsabilização criminal, independentemente de autorização, de
soa, em todo seu ciclo vital e nas situações de morte e pós-morte.
casos de violência contra: crianças e adolescentes; idosos; e pesso-
Art. 44 Prestar assistência de Enfermagem em condições que
as incapacitadas ou sem condições de firmar consentimento.
ofereçam segurança, mesmo em caso de suspensão das atividades § 5º A comunicação externa para os órgãos de responsabili-
profissionais decorrentes de movimentos reivindicatórios da cate- zação criminal em casos de violência doméstica e familiar contra
goria. mulher adulta e capaz será devida, independentemente de autori-
Parágrafo único. Será respeitado o direito de greve e, nos casos zação, em caso de risco à comunidade ou à vítima, a juízo do profis-
de movimentos reivindicatórios da categoria, deverão ser prestados sional e com conhecimento prévio da vítima ou do seu responsável.
os cuidados mínimos que garantam uma assistência segura, confor- Art. 53 Resguardar os preceitos éticos e legais da profissão
me a complexidade do paciente. quanto ao conteúdo e imagem veiculados nos diferentes meios de
Art. 45 Prestar assistência de Enfermagem livre de danos de- comunicação e publicidade.
correntes de imperícia, negligência ou imprudência. Art. 54 Estimular e apoiar a qualificação e o aperfeiçoamento
Art. 46 Recusar-se a executar prescrição de Enfermagem e Mé- técnico-científico, ético-político, socioeducativo e cultural dos pro-
dica na qual não constem assinatura e número de registro do pro- fissionais de Enfermagem sob sua supervisão e coordenação.
fissional prescritor, exceto em situação de urgência e emergência. Art. 55 Aprimorar os conhecimentos técnico-científicos, ético-
§ 1º O profissional de Enfermagem deverá recusar-se a execu- -políticos, socioeducativos e culturais, em benefício da pessoa, fa-
tar prescrição de Enfermagem e Médica em caso de identificação de mília e coletividade e do desenvolvimento da profissão.
erro e/ou ilegibilidade da mesma, devendo esclarecer com o pres- Art. 56 Estimular, apoiar, colaborar e promover o desenvolvi-
critor ou outro profissional, registrando no prontuário. mento de atividades de ensino, pesquisa e extensão, devidamente
§ 2º É vedado ao profissional de Enfermagem o cumprimento aprovados nas instâncias deliberativas.
de prescrição à distância, exceto em casos de urgência e emergên- Art. 57 Cumprir a legislação vigente para a pesquisa envolven-
cia e regulação, conforme Resolução vigente. do seres humanos.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Art. 58 Respeitar os princípios éticos e os direitos autorais no Art. 75 Praticar ato cirúrgico, exceto nas situações de emergên-
processo de pesquisa, em todas as etapas. cia ou naquelas expressamente autorizadas na legislação, desde
Art. 59 Somente aceitar encargos ou atribuições quando se jul- que possua competência técnica-científica necessária.
gar técnica, científica e legalmente apto para o desempenho seguro Art. 76 Negar assistência de enfermagem em situações de ur-
para si e para outrem. gência, emergência, epidemia, desastre e catástrofe, desde que não
Art. 60 Respeitar, no exercício da profissão, a legislação vigente ofereça risco a integridade física do profissional.
relativa à preservação do meio ambiente no gerenciamento de resí- Art. 77 Executar procedimentos ou participar da assistência à
duos de serviços de saúde. saúde sem o consentimento formal da pessoa ou de seu represen-
tante ou responsável legal, exceto em iminente risco de morte.
CAPÍTULO III Art. 78 Administrar medicamentos sem conhecer indicação,
DAS PROIBIÇÕES ação da droga, via de administração e potenciais riscos, respeitados
os graus de formação do profissional.
Art. 61 Executar e/ou determinar atos contrários ao Código de Art. 79 Prescrever medicamentos que não estejam estabeleci-
Ética e à legislação que disciplina o exercício da Enfermagem. dos em programas de saúde pública e/ou em rotina aprovada em
Art. 62 Executar atividades que não sejam de sua competência instituição de saúde, exceto em situações de emergência.
técnica, científica, ética e legal ou que não ofereçam segurança ao Art. 80 Executar prescrições e procedimentos de qualquer na-
profissional, à pessoa, à família e à coletividade. tureza que comprometam a segurança da pessoa.
Art. 63 Colaborar ou acumpliciar-se com pessoas físicas ou ju- Art. 81 Prestar serviços que, por sua natureza, competem a ou-
rídicas que desrespeitem a legislação e princípios que disciplinam o tro profissional, exceto em caso de emergência, ou que estiverem
exercício profissional de Enfermagem. expressamente autorizados na legislação vigente.
Art. 64 Provocar, cooperar, ser conivente ou omisso diante de Art. 82 Colaborar, direta ou indiretamente, com outros profis-
qualquer forma ou tipo de violência contra a pessoa, família e cole- sionais de saúde ou áreas vinculadas, no descumprimento da le-
tividade, quando no exercício da profissão. gislação referente aos transplantes de órgãos, tecidos, esterilização
Art. 65 Aceitar cargo, função ou emprego vago em decorrência humana, reprodução assistida ou manipulação genética.
de fatos que envolvam recusa ou demissão motivada pela necessi- Art. 83 Praticar, individual ou coletivamente, quando no exer-
dade do profissional em cumprir o presente código e a legislação do cício profissional, assédio moral, sexual ou de qualquer natureza,
exercício profissional; bem como pleitear cargo, função ou emprego contra pessoa, família, coletividade ou qualquer membro da equi-
ocupado por colega, utilizando-se de concorrência desleal. pe de saúde, seja por meio de atos ou expressões que tenham por
Art. 66 Permitir que seu nome conste no quadro de pessoal consequência atingir a dignidade ou criar condições humilhantes e
de qualquer instituição ou estabelecimento congênere, quando, constrangedoras.
nestas, não exercer funções de enfermagem estabelecidas na le- Art. 84 Anunciar formação profissional, qualificação e título
gislação. que não possa comprovar.
Art. 67 Receber vantagens de instituição, empresa, pessoa, Art. 85 Realizar ou facilitar ações que causem prejuízo ao patri-
família e coletividade, além do que lhe é devido, como forma de mônio das organizações da categoria.
garantir assistência de Enfermagem diferenciada ou benefícios de Art. 86 Produzir, inserir ou divulgar informação inverídica ou de
qualquer natureza para si ou para outrem. conteúdo duvidoso sobre assunto de sua área profissional.
Art. 68 Valer-se, quando no exercício da profissão, de mecanis- Parágrafo único. Fazer referência a casos, situações ou fatos, e
mos de coação, omissão ou suborno, com pessoas físicas ou jurídi- inserir imagens que possam identificar pessoas ou instituições sem
cas, para conseguir qualquer tipo de vantagem. prévia autorização, em qualquer meio de comunicação.
Art. 69 Utilizar o poder que lhe confere a posição ou cargo, para
impor ou induzir ordens, opiniões, ideologias políticas ou qualquer Art. 87 Registrar informações incompletas, imprecisas ou inve-
tipo de conceito ou preconceito que atentem contra a dignidade da rídicas sobre a assistência de Enfermagem prestada à pessoa, famí-
pessoa humana, bem como dificultar o exercício profissional. lia ou coletividade.
Art. 70 Utilizar dos conhecimentos de enfermagem para pra- Art. 88 Registrar e assinar as ações de Enfermagem que não
ticar atos tipificados como crime ou contravenção penal, tanto em executou, bem como permitir que suas ações sejam assinadas por
ambientes onde exerça a profissão, quanto naqueles em que não a outro profissional.
exerça, ou qualquer ato que infrinja os postulados éticos e legais. Art. 89 Disponibilizar o acesso a informações e documentos a
Art. 71 Promover ou ser conivente com injúria, calúnia e difa- terceiros que não estão diretamente envolvidos na prestação da
mação de pessoa e família, membros das equipes de Enfermagem assistência de saúde ao paciente, exceto quando autorizado pelo
e de saúde, organizações da Enfermagem, trabalhadores de outras paciente, representante legal ou responsável legal, por determina-
áreas e instituições em que exerce sua atividade profissional. ção judicial.
Art. 72 Praticar ou ser conivente com crime, contravenção pe- Art. 90 Negar, omitir informações ou emitir falsas declarações
nal ou qualquer outro ato que infrinja postulados éticos e legais, no sobre o exercício profissional quando solicitado pelo Conselho Re-
exercício profissional. gional de Enfermagem e/ou Comissão de Ética de Enfermagem.
Art. 73 Provocar aborto, ou cooperar em prática destinada a Art. 91 Delegar atividades privativas do(a) Enfermeiro(a) a outro
interromper a gestação, exceto nos casos permitidos pela legislação membro da equipe de Enfermagem, exceto nos casos de emergência.
vigente. Parágrafo único. Fica proibido delegar atividades privativas a
Parágrafo único. Nos casos permitidos pela legislação, o pro- outros membros da equipe de saúde.
fissional deverá decidir de acordo com a sua consciência sobre sua Art. 92 Delegar atribuições dos(as) profissionais de enferma-
participação, desde que seja garantida a continuidade da assistên- gem, previstas na legislação, para acompanhantes e/ou responsá-
cia. veis pelo paciente.
Art. 74 Promover ou participar de prática destinada a antecipar Parágrafo único. O dispositivo no caput não se aplica nos casos
a morte da pessoa. da atenção domiciliar para o autocuidado apoiado.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Art. 93 Eximir-se da responsabilidade legal da assistência pres- § 2º A multa consiste na obrigatoriedade de pagamento de 01
tada aos pacientes sob seus cuidados realizados por alunos e/ou (um) a 10 (dez) vezes o valor da anuidade da categoria profissional
estagiários sob sua supervisão e/ou orientação. à qual pertence o infrator, em vigor no ato do pagamento.
Art. 94 Apropriar-se de dinheiro, valor, bem móvel ou imóvel, § 3º A censura consiste em repreensão que será divulgada nas
público ou particular, que esteja sob sua responsabilidade em razão publicações oficiais do Sistema Cofen/Conselhos Regionais de En-
do cargo ou do exercício profissional, bem como desviá-lo em pro- fermagem e em jornais de grande circulação.
veito próprio ou de outrem. § 4º A suspensão consiste na proibição do exercício profissio-
Art. 95 Realizar ou participar de atividades de ensino, pesqui- nal da Enfermagem por um período de até 90 (noventa) dias e será
sa e extensão, em que os direitos inalienáveis da pessoa, família e divulgada nas publicações oficiais do Sistema Cofen/Conselhos Re-
coletividade sejam desrespeitados ou ofereçam quaisquer tipos de gionais de Enfermagem, jornais de grande circulação e comunicada
riscos ou danos previsíveis aos envolvidos. aos órgãos empregadores.
Art. 96 Sobrepor o interesse da ciência ao interesse e seguran- § 5º A cassação consiste na perda do direito ao exercício da
ça da pessoa, família e coletividade. Enfermagem por um período de até 30 anos e será divulgada nas
Art. 97 Falsificar ou manipular resultados de pesquisa, bem publicações do Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem
como usá-los para fins diferentes dos objetivos previamente esta- e em jornais de grande circulação.
belecidos. § 6º As penalidades aplicadas deverão ser registradas no pron-
Art. 98 Publicar resultados de pesquisas que identifiquem o tuário do infrator.
participante do estudo e/ou instituição envolvida, sem a autoriza- § 7º Nas penalidades de suspensão e cassação, o profissional
ção prévia. terá sua carteira retida no ato da notificação, em todas as categorias
Art. 99 Divulgar ou publicar, em seu nome, produção técnico- em que for inscrito, sendo devolvida após o cumprimento da pena
-científica ou instrumento de organização formal do qual não tenha e, no caso da cassação, após o processo de reabilitação.
participado ou omitir nomes de coautores e colaboradores. Art. 109 As penalidades, referentes à advertência verbal, mul-
Art. 100 Utilizar dados, informações, ou opiniões ainda não pu- ta, censura e suspensão do exercício profissional, são da responsa-
blicadas, sem referência do autor ou sem a sua autorização. bilidade do Conselho Regional de Enfermagem, serão registradas
Art. 101 Apropriar-se ou utilizar produções técnico-científicas, no prontuário do profissional de Enfermagem; a pena de cassação
do direito ao exercício profissional é de competência do Conselho
das quais tenha ou não participado como autor, sem concordância
Federal de Enfermagem, conforme o disposto no art. 18, parágrafo
ou concessão dos demais partícipes.
primeiro, da Lei n° 5.905/73.
Art. 102 Aproveitar-se de posição hierárquica para fazer cons-
Parágrafo único. Na situação em que o processo tiver origem
tar seu nome como autor ou coautor em obra técnico-científica.
no Conselho Federal de Enfermagem e nos casos de cassação do
exercício profissional, terá como instância superior a Assembleia de
CAPÍTULO IV Presidentes dos Conselhos de Enfermagem.
DAS INFRAÇÕES E PENALIDADES Art. 110 Para a graduação da penalidade e respectiva imposi-
ção consideram-se:
Art. 103 A caracterização das infrações éticas e disciplinares, I – A gravidade da infração;
bem como a aplicação das respectivas penalidades regem-se por II – As circunstâncias agravantes e atenuantes da infração;
este Código, sem prejuízo das sanções previstas em outros dispo- III – O dano causado e o resultado;
sitivos legais. IV – Os antecedentes do infrator.
Art. 104 Considera-se infração ética e disciplinar a ação, omis- Art. 111 As infrações serão consideradas leves, moderadas, gra-
são ou conivência que implique em desobediência e/ou inobser- ves ou gravíssimas, segundo a natureza do ato e a circunstância de
vância às disposições do Código de Ética dos Profissionais de Enfer- cada caso.
magem, bem como a inobservância das normas do Sistema Cofen/ § 1º São consideradas infrações leves as que ofendam a inte-
Conselhos Regionais de Enfermagem. gridade física, mental ou moral de qualquer pessoa, sem causar
Art. 105 O(a) Profissional de Enfermagem responde pela infra- debilidade ou aquelas que venham a difamar organizações da ca-
ção ética e/ou disciplinar, que cometer ou contribuir para sua prá- tegoria ou instituições ou ainda que causem danos patrimoniais ou
tica, e, quando cometida(s) por outrem, dela(s) obtiver benefício. financeiros.
Art. 106 A gravidade da infração é caracterizada por meio da § 2º São consideradas infrações moderadas as que provoquem
análise do(s) fato(s), do(s) ato(s) praticado(s) ou ato(s) omissivo(s), debilidade temporária de membro, sentido ou função na pessoa ou
e do(s) resultado(s). ainda as que causem danos mentais, morais, patrimoniais ou finan-
Art. 107 A infração é apurada em processo instaurado e con- ceiros.
duzido nos termos do Código de Processo Ético-Disciplinar vigente, § 3º São consideradas infrações graves as que provoquem pe-
aprovado pelo Conselho Federal de Enfermagem. rigo de morte, debilidade permanente de membro, sentido ou fun-
Art. 108 As penalidades a serem impostas pelo Sistema Cofen/ ção, dano moral irremediável na pessoa ou ainda as que causem
Conselhos Regionais de Enfermagem, conforme o que determina o danos mentais, morais, patrimoniais ou financeiros.
§ 4º São consideradas infrações gravíssimas as que provoquem
art. 18, da Lei n° 5.905, de 12 de julho de 1973, são as seguintes:
a morte, debilidade permanente de membro, sentido ou função,
I – Advertência verbal;
dano moral irremediável na pessoa.
II – Multa;
Art. 112 São consideradas circunstâncias atenuantes:
III – Censura;
I – Ter o infrator procurado, logo após a infração, por sua es-
IV – Suspensão do Exercício Profissional; pontânea vontade e com eficiência, evitar ou minorar as consequ-
V – Cassação do direito ao Exercício Profissional. ências do seu ato;
§ 1º A advertência verbal consiste na admoestação ao infrator, II – Ter bons antecedentes profissionais;
de forma reservada, que será registrada no prontuário do mesmo, III – Realizar atos sob coação e/ou intimidação ou grave ame-
na presença de duas testemunhas. aça;

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

IV – Realizar atos sob emprego real de força física;


V – Ter confessado espontaneamente a autoria da infração; EXERCÍCIOS
VI – Ter colaborado espontaneamente com a elucidação dos
fatos. 01 - (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA – MG- ENFERMEIRO-AO-
Art. 113 São consideradas circunstâncias agravantes: CP-2018) O que é vigilância?
I – Ser reincidente; a) Um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou preve-
II – Causar danos irreparáveis; nir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes
III – Cometer infração dolosamente; do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação
IV – Cometer a infração por motivo fútil ou torpe; de serviços de interesse da saúde.
V – Facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunida- b) Um conjunto de atividades que se destina à promoção e pro-
de ou a vantagem de outra infração; teção da saúde, assim como visa à recuperação e reabilitação da
VI – Aproveitar-se da fragilidade da vítima; saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos
VII – Cometer a infração com abuso de autoridade ou violação das condições de trabalho.
do dever inerente ao cargo ou função ou exercício profissional; c) Um conjunto de ações que proporciona a detecção ou pre-
VIII – Ter maus antecedentes profissionais; venção de qualquer mudança da saúde individual ou coletiva, com
IX – Alterar ou falsificar prova, ou concorrer para a desconstru- a finalidade de avaliar o impacto que as tecnologias provocam à
ção de fato que se relacione com o apurado na denúncia durante a saúde.
condução do processo ético. d) Um conjunto de atividades que se destina ao controle de
bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com
CAPÍTULO V a saúde.
DA APLICAÇÃO DAS PENALIDADES e) Um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a
detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determi-
Art. 114 As penalidades previstas neste Código somente pode- nantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a fina-
rão ser aplicadas, cumulativamente, quando houver infração a mais lidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle
de um artigo. das doenças ou agravo
Art. 115 A pena de Advertência verbal é aplicável nos casos de
infrações ao que está estabelecido nos artigos:, 26, 28, 29, 30, 31, 02- (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI-
32, 33, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 46, 48, 47, 49, 50, 51, 52, RO-2018) O controle e o rastreamento das ISTs são de grande
53, 54, 55, 56, 57,58, 59, 60, 61, 62, 65, 66, 67, 69, 76, 77, 78, 79, importância. No caso das gestantes, todas devem ser rastreadas
81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 98, 99, 100, para:
101 e 102. a) HIV, Hepatite A e difiteria.
Art. 116 A pena de Multa é aplicável nos casos de infrações ao b) HIV, Sífilis e Hepatite B.
que está estabelecido nos artigos: 28, 29, 30, 31, 32, 35, 36, 38, 39, c) Hepatite B, Gonorreia e Hepatite A.
41, 42, 43, 44, 45, 50, 51, 52, 57, 58, 59, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, d) HIV, Hepatite A e Tularemia.
68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, e) Hepatite A, tricomoníase e HIV.
86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101 e 102.
Art. 117 A pena de Censura é aplicável nos casos de infrações 03 - (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI-
ao que está estabelecido nos artigos: 31, 41, 42, 43, 44, 45, 50, 51, RO-2018) Programa Nacional de Imunizações (PNI) organiza toda a
52, 57, 58, 59, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67,68, 69, 70, 71, 73, 74, 75, política nacional de vacinação da população brasileira e tem como
76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 88, 90, 91, 92, 93, 94, 95, missão
97, 99, 100, 101 e 102. a) vacinar todas as crianças de todo território Nacional até
Art. 118 A pena de Suspensão do Exercício Profissional é apli- 2020.
cável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: b) o controle, a erradicação e a eliminação de doenças imu-
32, 41, 42, 43, 44, 45, 50, 51, 52, 59, 61, 62, 63, 64, 68, 69, 70, 71, nopreveníveis.
72, 73, 74, 75, 76, 77, 78,79, 80, 81, 82, 83, 85, 87, 89, 90, 91, 92, c) vacinar crianças e adultos vulneráveis.
93, 94 e 95. d) o controle de doenças imunossupressoras.
Art. 119 A pena de Cassação do Direito ao Exercício Profissional e) vacinar crianças e idosos combatendo as doenças de risco
é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos arti- controlável.
gos: 45, 64, 70, 72, 73, 74, 80, 82, 83, 94, 96 e 97.
04- -(PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI-
RO-2018) Segundo o Programa Nacional de Imunizações, na sala
de vacinação, é importante que todos os procedimentos desenvol-
vidos promovam a máxima segurança. Com relação a esse local, é
correto afirmar que
a) deve ser destinado à administração dos imunobiológicos e
demais medicações intramusculares.
b) é importante que todos os procedimentos desenvolvidos
promovam a segurança, propiciando o risco de contaminação.
c) a sala deve ter área mínima de 3 metros quadrados, para o
adequado fluxo de movimentação em condições ideais para a rea-
lização das atividades.
d) a sala de vacinação é classificada como área semicrítica.
e) deve ter piso e paredes lisos, com frestas e laváveis

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

05 - (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI- 09 - (CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL- TÉCNICO
RO-2018) São vias de administração de imunobiológicos, EXCETO EM ENFERMAGEM- FCC-2018) Dentre as medidas de controle de
a via infecção de corrente sanguínea relacionadas a cateteres intravas-
a) oral. culares encontra-se
b) subcutânea. a) o uso de cateteres periféricos para infusão contínua de pro-
c) intraóssea. dutos vesicantes.
d) endovenosa. b) a higienização das mãos com preparação alcoólica (70 a
e)intramuscular 90%), quando as mesmas estiverem visivelmente sujas.
c) o uso de novo cateter periférico a cada tentativa de punção
06 – (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI- no mesmo paciente.
RO-2018) Segundo o código de ética da enfermagem, o enfermeiro, d) a utilização de agulha de aço acoplada ou não a um coletor,
nas relações com o ser humano, tem para coleta de amostra sanguínea e administração de medicamento
a) o dever de salvaguardar os direitos da pessoa idosa, promo- em dose contínua.
vendo a sua dependência física e psíquica e com o objetivo de me- e) o uso de luvas de procedimentos para tocar o sítio de inser-
lhorar a sua qualidade de vida. ção do cateter intravascular após a aplicação do antisséptico.
b) o dever de respeitar as opções políticas, culturais, morais e
religiosas da pessoa, sem criar condições para que ela possa exer- 10 - (CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL- TÉCNICO
cer, nessas áreas, os seus direitos. EM ENFERMAGEM- FCC-2018) A equipe de saúde, ao realizar o aco-
c) o direito de abster-se de juízos de valor sobre o comporta- lhimento com escuta qualificada a uma mulher apresentando quei-
mento da pessoa assistida e lhe impor os seus próprios critérios e xas de perda urinária, deve atentar-se para, dentre outros sinais de
valores no âmbito da consciência. alerta:
d) o dever de cuidar da pessoa com discriminação econômica, a) amenorreia.
social, política, étnica, ideológica ou religiosa. b) dismenorreia.
e) o direito de recusar-se a executar atividades que não sejam c) mastalgia.
de sua competência técnica, cientifica, ética e legal ou que não ofe- d) prolapso uterino sintomático.
reçam segurança ao profissional, à pessoa, à família e à coletivida- e) ataxia.
de.
11 - (PREF DE MACAPÁ- TÉCNICO DE ENFERMAGEM- FCC-
07- (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI- 2018) As técnicas de higienização das mãos, para profissionais que
RO-2018) O auxiliar de enfermagem executa as atividades auxilia- atuam em serviços de saúde, podem variar dependendo do obje-
res, de nível médio, atribuídas à equipe de enfermagem, cabendo- tivo ao qual se destinam. Na técnica de higienização simples das
-lhe mãos, recomenda-se
a) prescrição da assistência de enfermagem. a) limpar sob as unhas de uma das mãos, friccionando o local
b) cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com ris- com auxílio das unhas da mão oposta, evitando-se limpá-las com as
co de vida. cerdas da escova.
c) participação em bancas examinadoras, em matérias especí- b) respeitar o tempo de duração do procedimento que varia de
ficas de enfermagem, nos concursos para provimento de cargo ou 20 a 35 segundos.
contratação de pessoal técnico e auxiliar de Enfermagem. c) executar o procedimento com antisséptico degermante du-
d) consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre matéria rante 30 segundos.
de Enfermagem. d) utilizar papel toalha para secar as mãos, após a fricção antis-
e) prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente e zelar séptica das mãos com preparações alcoólicas.
por sua segurança. e) higienizar também os punhos utilizando movimento circular,
ao esfregá-los com a palma da mão oposta.
08 - CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL - TÉCNICO
EM ENFERMAGEM- FCC-2018) Ao orientar um paciente adulto so- 12 - (PREF DE MACAPÁ- TÉCNICO DE ENFERMAGEM- FCC-
bre os cuidados com a dieta a ser administrada pela sonda nasoen- 2018) Processo físico ou químico que destrói microrganismos pa-
teral no domicílio, o profissional de saúde deve orientar que togênicos na forma vegetativa, micobactérias, a maioria dos vírus e
a) antes de administrar a dieta, deverá aquecê-la em banho- dos fungos, de objetos inanimados e superfícies. Essa é a definição
-maria ou em micro-ondas. de
b) após o preparo da dieta caseira, deverá guardá-la na geladei- a) desinfecção pós limpeza de alto nível.
ra e, 40 minutos antes do horário estabelecido para a administra- b) desinfecção de alto nível.
ção, retirar somente a quantidade que for utilizar. c) esterilização de baixo nível.
c) no caso de ter pulado um horário de administração da dieta, d) barreira técnica.
o volume do próximo horário deve ser aumentado em, pelo menos, e) desinfecção de nível intermediário.
50%.
d) a dieta enteral industrializada deve ser guardada fora da ge-
ladeira e, após aberta, tem validade de 72 horas.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

13 - (PREFEITURA DE MACAPÁ- TÉCNICO EM ENFERMAGEM- 18 - (TRT Região São Paulo- Técnico em enfermagem- FCC-
FCC- 2018) Foi prescrito pelo médico uma solução glicosada a 10%. 2018) Após o término de um pequeno procedimento cirúrgico, o
Na solução glicosada, disponível na instituição, a concentração é de técnico de enfermagem recolhe os materiais utilizados e separa
5%. Ao iniciar o cálculo para a transformação do soro, o técnico de aqueles que podem ser reprocessados daqueles que devem ser
enfermagem deve saber que, em 500 mL de Soro Glicosado a 5%, o descartados, observando os princípios de biossegurança. A fim de
total de glicose, em gramas, é de destinar corretamente cada um dos referidos materiais, o técnico
a) 5. de enfermagem deve considerar como materiais a serem reproces-
b) 2,5. sados aqueles destinados à
c) 50. a) diérese, como tesoura de aço inox; e descarta na caixa de
d) 25. perfurocortante, materiais como agulhas com fio de sutura.
e) 500 b) hemostasia, como pinça de campo tipo Backaus; e descarta
no saco de lixo branco, materiais com sangue, como compressas
14 - (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM- de gaze.
FCC-2018) Com relação à Sistematização da Assistência de Enferma- d) diérese como porta-agulhas; e descarta no lixo comum parte
gem, considerando as atribuições de cada categoria profissional de dos fios cirúrgicos absorvíveis utilizados, como o categute simples.
enfermagem, compete ao técnico de enfermagem, realizar d) síntese, como lâminas de bisturi; e descarta as agulhas na
a) a prescrição de enfermagem, na ausência do enfermeiro. caixa de perfurocortante, após terem sido devidamente desconec-
b) o exame físico. tadas das seringas.
c) a anotação de enfermagem. e) diérese, como cânula de uso único; e descarta no saco de lixo
d) a consulta de enfermagem. branco luvas de látex utilizadas.
e) a evolução de enfermagem dos pacientes de menor com-
plexidade. 19 - (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM-
FCC-2018) Na desinfecção da superfície de uma mesa de aço inox,
15- (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM- onde será colocado uma bandeja com um pacote de curativo esté-
FCC-2018) O profissional de enfermagem, para executar correta- ril, o técnico de enfermagem, de acordo com as recomendações da
mente a técnica de administração de medicamento por via intra- Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) pode optar pela
dérmica, deve, dentre outros cuidados, estar atento ao volume a utilização dos seguintes produtos:
ser injetado. O volume máximo indicado a ser introduzido por esta a) álcool a 70% aplicado sem fricção, por ser esporicida, desde
via é, em mL, de que aguardado o tempo de evaporação recomendado, porém tem
a) 1,0. a desvantagem de ser inflamável.
b) 5,0. b) ácido peracético a 0,2% por não ser corrosivo para metais,
c) 0,1. tendo como desvantagem não ser efetivo na presença de matéria
d ) 1,5. orgânica.
e) 0,5. c) hipoclorito de sódio a 1,0% por ser de amplo espectro, ter
baixo custo e ação lenta, apresentando a desvantagem de não ter
16 - (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM- efeito tuberculocida.
FCC-2018) Em um ambulatório, o técnico de enfermagem que auxi- d) álcool a 70% por ser, dentre outros, fungicida e tuberculoci-
lia o enfermeiro na gestão de materiais realizou a provisão de mate- da, porém apresenta a desvantagem de não ser esporicida, além de
riais de consumo, que corresponde a ser poluente ambiental.
a) estabelecer a estimativa de material necessário para o fun- e) hipoclorito de sódio a 0,02% por não ser corrosivo para me-
cionamento da unidade. tais nesta concentração, ser fungicida de primeira escolha, tendo a
b) realizar o levantamento das necessidades de recursos, iden- desvantagem da instabilidade do produto na presença de luz solar.
tificando a quantidade e a especificação.
c) repor os materiais necessários para a realização das ativida- 20 - (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM-
des da unidade. FCC-2018) NO pós-operatório imediato de uma colaboradora que
d) atualizar a cota de material previsto para as necessidades foi submetida a uma intervenção de colecistectomia, e já se encon-
diárias da unidade. tra com respiração espontânea e sem sonda vesical, a assistência
e) sistematizar o mapeamento de consumo de material. prestada pelo técnico de enfermagem inclui verificar e comunicar
ao enfermeiro sinais e sintomas associados a seguinte alteração:
17 - (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM- a) complicações do sistema digestório: náuseas e vômitos de-
FCC-2018) Na pessoa idosa com depressão, um dos sintomas/sinais corrente da administração de antieméticos.
indicativo do chamado suicídio passivo é b) hipertermia: coloração da pele, sudorese, elevação da tem-
a) o distúrbio cognitivo intermitente. peratura, bradipneia e bradicardia.
b) a recusa alimentar. c) retenção urinária: dificuldade do paciente para urinar, abau-
c) o aparecimento de discinesia tardia. lamento em região suprapúbica e diurese profusa.
d) a adesão a tratamentos alternativos. d) complicações respiratórias: acúmulo de secreções, ocasiona-
e) a súbita hiperatividade. do pela maior expansibilidade pulmonar devido à dor, exacerbação
da tosse e eliminação de secreções.
e) hipotermia: confusão, apatia, coordenação prejudicada, mu-
dança na coloração da pele e tremores.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

21 - (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM- 25 - (PREF. PAULISTA/PE- ASSISTENTE DE SAÚDE - TÉCNICO DE
FCC-2018) Um adulto de porte médio apresenta uma parada car- ENFERMAGEM- UPENET/UPE-2018) O paciente cirúrgico recebe as-
diorrespiratória (PCR) durante o período de trabalho em um Tri- sistência de enfermagem nos períodos pré, trans e pós-operatório.
bunal, onde recebe o suporte básico de vida (SBV), conforme as Sobre o período pré-operatório e pós-operatório, analise as afirma-
recomendações da American Heart Association (AHA), 2015. Nessa tivas abaixo:
situação, ao proceder à ressuscitação cardiopulmonar (RCP) manu- I. O preparo pré-operatório, mediante utilização dos instru-
al, recomenda-se aplicar compressões torácicas até uma profundi- mentos de observação e avaliação das necessidades individuais,
dade de objetiva identificar alterações físicas e emocionais do paciente, pois
a) 4,5 cm, no máximo, sendo esse limite de profundidade da estas podem interferir nas condições para o ato cirúrgico, compro-
compressão necessário, devido à recomendação de que se deve metendo o bom êxito da cirurgia ou, até mesmo, provocar sua sus-
comprimir com força para que a mesma seja eficaz. pensão.
b) 5 cm, no mínimo, atentando para evitar apoiar-se sobre o II. São fatores físicos que podem diminuir o risco operatório
tórax da vítima entre as compressões, a fim de permitir o retorno tabagismo, desnutrição, obesidade, faixa etária elevada, hiperten-
total da parede do tórax a cada compressão. são arterial.
c) 6,5 cm, no mínimo, a fim de estabelecer um fluxo sanguíneo III. No pós-operatório, os objetivos do atendimento ao paciente
adequado, sem provocar aumento da pressão intratorácica. são identificar, prevenir e tratar os problemas comuns aos procedi-
d) 4 cm, no mínimo, objetivando que haja fluxo sanguíneo sufi- mentos anestésicos e cirúrgicos, tais como dor, náuseas, vômitos,
ciente para fornecer oxigênio para o coração e cérebro. retenção urinária, com a finalidade de restabelecer o seu equilíbrio.
e) 5 cm, ou menos, porque uma profundidade maior lesa a es- IV. No pós-operatório, aos pacientes submetidos à anestesia
trutura torácica e cardíaca. geral recomenda-se o decúbito ventral horizontal sem travesseiro,
com a cabeça lateralizada para evitar aspiração de vômito.
22 - (PREFEITURA DE JUIZA DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI- Estão CORRETAS
RO-2018) Paciente chega à Unidade Básica de Saúde (UBS) com his- A) I e II, apenas.
tória de lesões na pele, com alteração da sensibilidade térmica e B) I e III, apenas
dolorosa. É provável que esse paciente tenha qual doença? C) II e III, apenas
a) Síndrome de Mono like. D) I, II, III e IV.
b) Tuberculose. E) I e IV, apenas
c) Hepatite A.
d) Hanseníase. 26 - (PREF. PAULISTA-PE- ASSISTENTE DE SAÚDE - TÉCNICO DE
e) Varicela. ENFERMAGEM- UPENET/UPE-2018) Prescrever e administrar um
medicamento não são um ato simples, pois exigem responsabilida-
23 - (PREFEITURA DE JUIZA DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI- de, conhecimentos em geral e, principalmente, os cuidados ineren-
RO-2018) Paciente chega à UBS e, após a coleta de exames e anam- tes à enfermagem. Sobre isso, analise as afirmações abaixo:
nese, observa-se uma cervicite mucopurulenta e o agente etioló- I. Na administração por via sublingual, é importante oferecer
gico encontrado no exame foi a Chlamydia trachomatis. O possível água ao paciente, para facilitar a absorção do medicamento.
diagnóstico médico para essa paciente é II. A vantagem da via parenteral consiste na absorção e ação
a) gonorreia. rápida do medicamento, e o medicamento não sofre ação do suco
b) sífilis. gástrico.
c) lúpus. III. A via intradérmica é considerada uma via diagnóstica, pois
d) difteria. se presta aos testes diagnósticos e testes alérgicos.
e) tularemia. IV. Hipodermóclise é uma infusão de fluidos no tecido subcutâ-
neo para a correção de distúrbio hidroeletrolítico.
24 - (PREF. PAULISTA-PE- ASSISTENTE DE SAÚDE - TÉCNICO DE Somente está CORRETO o que se afirma em
ENFERMAGEM- UPENET/UPE-2018) Sobre as doenças cardiovascu- A) I e II.
lares, analise as afirmativas abaixo: B) I, II e III
I. A Aterosclerose é uma doença arterial complexa, na qual de- C) II, III e IV
posição de colesterol, inflamação e formação de trombo desempe- D) I e IV..
nham papéis importantes. E) I e III
II. A Angina é a expressão clínica mais frequente da isquemia
miocárdica; é desencadeada pela atividade física e aliviada pelo re- 27 - PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO BERNARDO-MA- TÉCNI-
pouso. CO EM ENFERMAGEM- INST. MACHADO DE ASSIS- 2018). Assinale
III. O Infarto Agudo do Miocárdio é avaliado, apenas, por méto- a alternativa que apresenta apenas artigos médic
dos clínicos e eletrocardiográficos. o hospitalares classificados como não-críticos:
Está(ão) CORRETA(S) A) Espéculo nasal e bisturi.
A) I e II, apenas. B) Termômetro e cubas.
B) I e III, apenas. C) Ambu e mamadeiras.
C) II e III, apenas. D) Inaladores e tecido para procedimento cirúrgico.
D) I, II e III.
E) III, apenas 28 - São vias parenterais utilizada para a administração de me-
dicamentos e imunobiológicos, EXCETO:
A) Sublingual.
B) Intramuscular.
C) Intradérmica.
D) Subcutânea.

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Conhecimentos Específicos Enfermeiro

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

29 - (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO BERNARDO-MA- TÉCNI- 23 A


CO EM ENFERMAGEM- INST. MACHADO DE ASSIS- 2018). Analise
as afirmativas abaixo sobre o Aleitamento materno 24 A
I. O aleitamento materno deve ser exclusivo até os seis meses 25 B
de vida. Isso significa que, até completar essa idade, o bebê deve
26 C
receber somente o leite materno, não deve ser oferecida qualquer
outro tipo de comida ou bebida, nem mesmo água ou chá. 27 B
II. O leite materno contém todos os nutrientes essenciais para 28 A
o crescimento e o desenvolvimento ótimos da criança pequena,
além de ser mais bem digerido, quando comparado com leites de 29 B
outras espécies. 30 A
III. O leite do início da mamada é mais rico em energia (calorias)
e sacia melhor a criança.
O número de afirmativas INCORRETAS corresponde a: ANOTAÇÕES
A) Zero.
B) Uma.
C) Duas. ______________________________________________________
D) Três.
______________________________________________________
30 - (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO BERNARDO-MA- TÉCNI-
______________________________________________________
CO EM ENFERMAGEM- INST. MACHADO DE ASSIS- 2018) No Brasil,
o Programa Nacional de Imunização (PNI) se destaca por ser um dos ______________________________________________________
melhores programas de imunização do mundo, atuando na preven-
ção e na erradicação de várias doenças. São doenças que podem ser ______________________________________________________
prevenidas através da vacinação, EXCETO:
A) Hanseníase. ______________________________________________________
B) Rubéola.
C) Tuberculose. ______________________________________________________
D) Coqueluche.
______________________________________________________

GABARITO ______________________________________________________

______________________________________________________
1 E
______________________________________________________
2 B
3 B ______________________________________________________
4 D ______________________________________________________
5 C
______________________________________________________
6 E
7 E ______________________________________________________
8 B ______________________________________________________
9 C
______________________________________________________
10 D
11 E ______________________________________________________

12 E ______________________________________________________
13 D
______________________________________________________
14 E
______________________________________________________
15 E
16 C ______________________________________________________
17 B
______________________________________________________
18 A
_____________________________________________________
19 D
20 E _____________________________________________________
21 B ______________________________________________________
22 C
______________________________________________________

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