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AULA 6: Tema de discussão: Inveja e Gratidão.

Bibliografia:

KLEIN (1957) Capítulo 10: Inveja e Gratidão; KLEIN (1959) Obras


Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. (Inveja, Gratidão e
outros trabalhos, Vol. III).
KLEIN (19). Sobre a teoria da ansiedade e da culpa. In: KLEIN, M. Obras
Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. (Inveja, Gratidão e
outros trabalhos, Vol. III).

Inveja e Gratidão (1957)

A inveja está relacionada diretamente a um único objeto, EU  outro, não


envolve terceiro. Inveja-se o que outro possui, suas qualidades pessoais,
capacidades e conquistas. A inveja implica na espoliação do objeto, pela
hostilidade para com a pessoa invejada.
Segundo Melanie Klein “a inveja é um fator muito importante para o
solapamento das raízes dos sentimentos de amor e gratidão, pois ela afeta a
relação mais antiga de todas, a relação com a mãe”.
A autora considera a inveja uma expressão sádico-oral (consumir o seio) e
sádico anal (controle excessivo dos objetos) de impulsos destrutivos, em
atividade desde o começo da vida, e que tem base constitucional.
Considera que se deve “fazer distinção entre a inveja, ciúmes e voracidade. A
inveja é o sentimento raivoso de que outra pessoa possui e desfruta algo
desejável – sendo o impulso invejoso de tirar este algo ou de estragá-lo. Além
disso, a inveja pressupõe a relação do individuo com uma só pessoa e remonta
à mais arcaica e exclusiva relação com a mãe. O ciúme é baseado na inveja,
mas envolve a relação com, pelo menos, duas pessoas; diz respeito
principalmente ao amor que o individuo sente como lhe sendo devido e que foi
tirado, ou está a perigo de sê-lo, por seu rival. Na concepção corriqueira de
ciúme, um homem ou uma mulher se sente privado, por outrem, da pessoa
amada”. (pág. 212)
“A voracidade é uma ânsia impetuosa e insaciável, que excede aquilo que o
sujeito necessita e o que o objeto é capaz e está disposto a dar. A nível
inconsciente, a voracidade visa, primariamente, escavar completamente, sugar
até deixar seco e devorar o seio; ou seja, seu objetivo é a introjeção destrutiva,
ao passo que a inveja procura não apenas despojar dessa maneira, mas
também de depositar maldade, primordialmente excrementos maus e partes
más do self, dentro da mãe, acima de tudo dentro do seu seio, a fim de
estragá-la e destruí-la. No sentido mais profundo, isso significa destruir a
criatividade da mãe. Esse processo, que deriva de um impulso sádico uretrais e
sádicos anais, foi por mim definido em outro artigo como um aspecto da
identificação projetiva, começando desde o início da vida. Uma diferença
essencial entre voracidade e inveja, embora nenhuma linha divisória rígida
possa ser traçada visto estarem tão estreitamente associadas, seria, então,
que a voracidade está ligada principalmente à introjeção e a inveja à projeção”.
(pág. 213)
De acordo com Klein, o invejoso não tolera algo que o outro usufrui, pois não é
capaz de expressar gratidão. Uma pessoa muito invejosa tende a se tornar
insegura/desconfiada, pois a inveja impede de estabelecer relações objetais
boas e confiáveis. A pessoa invejosa também teme a inveja dos outros.
Quando uma pessoa invejosa tem boas experiências de prazer, lhe ocorre o
oportuno sentimento de que poderia ter mais do que tem ou que outra pessoa
tem mais que ela.
“Pode-se se dizer que a pessoa muito invejosa é insaciável, que nunca pode
ser satisfeita porque sua inveja brota de dentro e, portanto, sempre encontra
um objeto sobre o qual focalizar-se. Isso mostra também a intima conexão com
o ciúme, voracidade e inveja”.
Dentre as defesas mais empregadas contra a inveja, se destacam: a
idealização, o invejoso tende a idealizar a tal forma a pessoa que se inveja, que
a distância é tão grande que nenhuma comparação é possível; a
desvalorização de si, faz parecer não possuir algo a oferecer, aumentando a
distância de si mesmo e a pessoa invejada; provocar inveja em outrem ou
evitar situações que provoquem rivalidade e inveja; desprezo, depreciar aquilo
que inveja.
Todos nós temos que lidar com a inveja, contrabalançando, a inveja que
sentimos, com a nossa capacidade de sentir calor humano e gratidão. (Beth
Joseph)

“Não é preciso dizer que os nossos pacientes nos criticam por uma variedade
de razões, às vezes justificadamente. Mas a necessidade que tem um paciente
de desvalorizar o trabalho analítico que experimentou como proveitoso é
expressão de inveja”. (pág. 215)
A gratidão é o sentimento que o indivíduo tem por receber algo vindo do outro.
A etimologia da palavra gratidão vem de uma expressão latina gratus, que é
traduzida como estar agradecido ou ser grato. Além disso, gratidão deriva
também de gratia, que em latim quer dizer graça.
Klein relaciona a capacidade de amar com o sentimento de gratidão. “O bebê
só pode sentir satisfação completa se a capacidade de amar é suficientemente
desenvolvida; e é a satisfação que forma a base da gratidão”. Freud descreveu
o êxtase do bebê na amamentação como protótipo da gratificação sexual. Ao
entendimento de Klein essas experiências não constituem apenas a base da
gratificação sexual, mas também de toda felicidade subsequente. “Em
condições favoráveis, tal compreensão não necessita de palavras para
expressá-la, o que demonstra sua derivação da intimidade mais inicial com a
mãe, no estágio pré-verbal. A capacidade de fruir plenamente a primeira
relação com o seio forma a base para sentir prazer proveniente de diversas
fontes”.
“Se há experiência frequente de ser alimentado sem que a satisfação seja
perturbada, a introjeção do seio bom se dá com relativa segurança. Uma
gratificação plena ao seio significa que o bebê sente ter recebido do objeto
amado uma dadiva especial que ele deseja guardar... o individuo sente estar
controlando, exaurindo e, portanto, danificando o objeto, ao passo que, numa
boa relação com o objeto interno e externo, predomina o desejo de preservá-lo
e poupá-lo”. (a criança investe no mundo externo, desse modo ele ama e
protege, dando base a confiança em sua própria bondade)
Quanto mais se experiencia a gratificação proporcionada pelo seio, são
sentidas satisfações e a gratidão, por conseguinte, o desejo de retribuir o
prazer forma a capacidade de reparação.
“A gratidão está intimamente ligada à generosidade. A riqueza interna deriva de
ter o objeto bom assimilado de maneira que o individuo se torna capaz de
compartilhar com outros os dons do objeto. Isso torna possível introjetar um
mundo externo mais amistoso, a que se segue um sentimento de maior
riqueza. Mesmo o fato de a generosidade ser frequentemente pouco
reconhecida não solapa necessariamente a capacidade de dar. Em contraste,
nas pessoas em que esse sentimento de riqueza e forças internas não se acha
suficientemente estabelecido, acessos de generosidade são muitas vezes
seguidos por uma necessidade exagerada de reconhecimento e gratidão e,
consequentemente, por ansiedades persecutórias de haverem sido
empobrecidas e roubadas”.
“Frequentemente encontramos expressões de gratidão que se revelam
movidas muito mais por sentimentos de culpa do que pela capacidade de amar.
Acho que importante a distinção entre tais sentimentos de culpa e gratidão em
nível mais profundo. Isso não quer dizer que um certo elemento de culpa não
entre nós mais genuínos sentimentos de gratidão”.
“As atividades construtivas e criadoras, os sentimentos sociais e cooperativos
são então sentidos como moralmente bons, e são, portanto, o meio mais
importante de manter a distância ou para superar a sensação de culpa.
Quando os vários aspectos do superego tornam-se unificados (que é o que
acontece com pessoas maduras e equilibradas), o sentimento de culpa não
desaparece, mas integra-se na personalidade, juntamente com meio de
contrabalançá-lo.”
SOBRE A TEORIA DA ANSIEDADE E DA CULPA (1948)
Com respeito a culpa, Freud sustenta sua origem no complexo de Édipo e que
surge em decorrência dele. Há passagens entretanto, nas quais Freud
claramente fez referência a conflito de culpa que surge num estágio de vida
muito anterior. Freud escreveu” ...o sentimento de culpa é uma expressão do
conflito devido à ambivalência, da eterna luta entre Eros e a pulsão de
destruição ou de morte”. Melanie Klein acrescenta que a eterna luta entre as
tendências de amor e de morte, há....um aumento do sentimento de culpa”.
“Klein propôs a seguinte hipótese sobre a ansiedade. “A ansiedade é
despertada pelo perigo proveniente da pulsão de morte que ameaça o
organismo; e sugeri que essa é a causa primordial da ansiedade. A descrição
de Freud da luta entre as pulsões de vida e de morte (luta que leva à deflexão,
para fora, de uma parcela de pulsão de morte, e à fusão das duas pulsões)
apontaria para a conclusão de que a ansiedade tem origem no medo da morte”
“Em seu artigo sobre o masoquismo, Freud tirou algumas conclusões
fundamentais acerca das conexões entre o masoquismo e a pulsão de morte, e
considerou sob a luz as várias ansiedades resultantes da atividade da pulsão
de morte voltada para dentro. Dentre essas ansiedades não mencionou, no
entanto, o medo da morte”.
“Seguindo essa concepção, desde o início o medo da morte se imiscui no
medo ao superego, e não é, como Freud afirmava, uma “transformação final”
do “medo do superego”.
“Um dos resultados do novo trabalho sobre a agressividade foi o
reconhecimento da importante função da tendência reparatória, que é uma
expressão da pulsão de vida em luta contra a pulsão de morte. Não só se teve
melhor perspectiva dos impulsos destrutivos, como também se lançou mais luz
sobre a interação entre as pulsões de vida e de morte, e, por conseguinte,
também sobre o papel da libido em todos os processos mentais e emocionais”.
“No decorrer deste trabalho deixei claro o ponto que sustento de que a pulsão
de morte (impulsos destrutivos) é o fator primário na gênese da ansiedade.
Ficou, no entanto, também implícito, na minha exposição dos processos que
conduzem à ansiedade e à culpa, que o objeto primário contra o qual se
dirigem os impulsos destrutivos é o objeto da libido (objeto de amor/mãe), e
que o que causa a ansiedade e culpa é, portanto, a interação entre a
agressividade e a libido(amor)- em última análise, a fusão, assim como a
polaridade, das duas pulsões. Outro aspecto dessa interação é a mitigação
(aliviamento, alívio) dos impulsos destrutivos pela libido(amor). Um nível ótimo
na interação entre libido e agressividade implica que a ansiedade proveniente
da perene (perpetuo) atividade da pulsão de morte, embora jamais eliminada, é
contrabalançada e mantida à distância pela força da pulsão de vida”.

Referências:
KLEIN (1957) Capítulo 10: Inveja e Gratidão; KLEIN (1959) Obras
Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. (Inveja, Gratidão e
outros trabalhos, Vol. III).
KLEIN (19). Sobre a teoria da ansiedade e da culpa. In: KLEIN, M. Obras
Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. (Inveja, Gratidão e
outros trabalhos, Vol. III).

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