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Bibliografia:
“Não é preciso dizer que os nossos pacientes nos criticam por uma variedade
de razões, às vezes justificadamente. Mas a necessidade que tem um paciente
de desvalorizar o trabalho analítico que experimentou como proveitoso é
expressão de inveja”. (pág. 215)
A gratidão é o sentimento que o indivíduo tem por receber algo vindo do outro.
A etimologia da palavra gratidão vem de uma expressão latina gratus, que é
traduzida como estar agradecido ou ser grato. Além disso, gratidão deriva
também de gratia, que em latim quer dizer graça.
Klein relaciona a capacidade de amar com o sentimento de gratidão. “O bebê
só pode sentir satisfação completa se a capacidade de amar é suficientemente
desenvolvida; e é a satisfação que forma a base da gratidão”. Freud descreveu
o êxtase do bebê na amamentação como protótipo da gratificação sexual. Ao
entendimento de Klein essas experiências não constituem apenas a base da
gratificação sexual, mas também de toda felicidade subsequente. “Em
condições favoráveis, tal compreensão não necessita de palavras para
expressá-la, o que demonstra sua derivação da intimidade mais inicial com a
mãe, no estágio pré-verbal. A capacidade de fruir plenamente a primeira
relação com o seio forma a base para sentir prazer proveniente de diversas
fontes”.
“Se há experiência frequente de ser alimentado sem que a satisfação seja
perturbada, a introjeção do seio bom se dá com relativa segurança. Uma
gratificação plena ao seio significa que o bebê sente ter recebido do objeto
amado uma dadiva especial que ele deseja guardar... o individuo sente estar
controlando, exaurindo e, portanto, danificando o objeto, ao passo que, numa
boa relação com o objeto interno e externo, predomina o desejo de preservá-lo
e poupá-lo”. (a criança investe no mundo externo, desse modo ele ama e
protege, dando base a confiança em sua própria bondade)
Quanto mais se experiencia a gratificação proporcionada pelo seio, são
sentidas satisfações e a gratidão, por conseguinte, o desejo de retribuir o
prazer forma a capacidade de reparação.
“A gratidão está intimamente ligada à generosidade. A riqueza interna deriva de
ter o objeto bom assimilado de maneira que o individuo se torna capaz de
compartilhar com outros os dons do objeto. Isso torna possível introjetar um
mundo externo mais amistoso, a que se segue um sentimento de maior
riqueza. Mesmo o fato de a generosidade ser frequentemente pouco
reconhecida não solapa necessariamente a capacidade de dar. Em contraste,
nas pessoas em que esse sentimento de riqueza e forças internas não se acha
suficientemente estabelecido, acessos de generosidade são muitas vezes
seguidos por uma necessidade exagerada de reconhecimento e gratidão e,
consequentemente, por ansiedades persecutórias de haverem sido
empobrecidas e roubadas”.
“Frequentemente encontramos expressões de gratidão que se revelam
movidas muito mais por sentimentos de culpa do que pela capacidade de amar.
Acho que importante a distinção entre tais sentimentos de culpa e gratidão em
nível mais profundo. Isso não quer dizer que um certo elemento de culpa não
entre nós mais genuínos sentimentos de gratidão”.
“As atividades construtivas e criadoras, os sentimentos sociais e cooperativos
são então sentidos como moralmente bons, e são, portanto, o meio mais
importante de manter a distância ou para superar a sensação de culpa.
Quando os vários aspectos do superego tornam-se unificados (que é o que
acontece com pessoas maduras e equilibradas), o sentimento de culpa não
desaparece, mas integra-se na personalidade, juntamente com meio de
contrabalançá-lo.”
SOBRE A TEORIA DA ANSIEDADE E DA CULPA (1948)
Com respeito a culpa, Freud sustenta sua origem no complexo de Édipo e que
surge em decorrência dele. Há passagens entretanto, nas quais Freud
claramente fez referência a conflito de culpa que surge num estágio de vida
muito anterior. Freud escreveu” ...o sentimento de culpa é uma expressão do
conflito devido à ambivalência, da eterna luta entre Eros e a pulsão de
destruição ou de morte”. Melanie Klein acrescenta que a eterna luta entre as
tendências de amor e de morte, há....um aumento do sentimento de culpa”.
“Klein propôs a seguinte hipótese sobre a ansiedade. “A ansiedade é
despertada pelo perigo proveniente da pulsão de morte que ameaça o
organismo; e sugeri que essa é a causa primordial da ansiedade. A descrição
de Freud da luta entre as pulsões de vida e de morte (luta que leva à deflexão,
para fora, de uma parcela de pulsão de morte, e à fusão das duas pulsões)
apontaria para a conclusão de que a ansiedade tem origem no medo da morte”
“Em seu artigo sobre o masoquismo, Freud tirou algumas conclusões
fundamentais acerca das conexões entre o masoquismo e a pulsão de morte, e
considerou sob a luz as várias ansiedades resultantes da atividade da pulsão
de morte voltada para dentro. Dentre essas ansiedades não mencionou, no
entanto, o medo da morte”.
“Seguindo essa concepção, desde o início o medo da morte se imiscui no
medo ao superego, e não é, como Freud afirmava, uma “transformação final”
do “medo do superego”.
“Um dos resultados do novo trabalho sobre a agressividade foi o
reconhecimento da importante função da tendência reparatória, que é uma
expressão da pulsão de vida em luta contra a pulsão de morte. Não só se teve
melhor perspectiva dos impulsos destrutivos, como também se lançou mais luz
sobre a interação entre as pulsões de vida e de morte, e, por conseguinte,
também sobre o papel da libido em todos os processos mentais e emocionais”.
“No decorrer deste trabalho deixei claro o ponto que sustento de que a pulsão
de morte (impulsos destrutivos) é o fator primário na gênese da ansiedade.
Ficou, no entanto, também implícito, na minha exposição dos processos que
conduzem à ansiedade e à culpa, que o objeto primário contra o qual se
dirigem os impulsos destrutivos é o objeto da libido (objeto de amor/mãe), e
que o que causa a ansiedade e culpa é, portanto, a interação entre a
agressividade e a libido(amor)- em última análise, a fusão, assim como a
polaridade, das duas pulsões. Outro aspecto dessa interação é a mitigação
(aliviamento, alívio) dos impulsos destrutivos pela libido(amor). Um nível ótimo
na interação entre libido e agressividade implica que a ansiedade proveniente
da perene (perpetuo) atividade da pulsão de morte, embora jamais eliminada, é
contrabalançada e mantida à distância pela força da pulsão de vida”.
Referências:
KLEIN (1957) Capítulo 10: Inveja e Gratidão; KLEIN (1959) Obras
Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. (Inveja, Gratidão e
outros trabalhos, Vol. III).
KLEIN (19). Sobre a teoria da ansiedade e da culpa. In: KLEIN, M. Obras
Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. (Inveja, Gratidão e
outros trabalhos, Vol. III).