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Por sua vez, a depressão melancólica apresenta uma ampla gama clínica de
variações tanto quantitativas como qualitativas.
Martins (1969, p. 49), que, citando a Grinberg, assinala dois aspectos essenciais. O primeiro diz respeito
à noção de que, ao lado do luto pelo objeto, existe um luto pelo ego, e vice-versa. O segundo aspecto
refere-se às vivências de desagregação e empobrecimento do ego, resultantes das partes perdidas que
deixaram de pertencer-lhe e de integrá-lo por terem ficado retidas no objeto.
Embora o termo “perda” seja muito abrangente e genérico, e de alguma forma esteja sempre presente nos
demais itens de nosso esquema de classificação, justifica-se a sua especificação em razão de algumas
singularidades. Assim, essas perdas processam-se em três níveis:
a) Perda de objetos necessitados (e, ambivalentemente, amados e odiados). A essência dessa vertente
depressiva consiste no fato de que a perda, real ou fantasiada, do objeto bom, amado e protetor, deixa o
indivíduo entregue ao objeto mau que, de seu interior, o acusa, despreza, reduz a sua auto-estima a níveis
ínfimos e, sobretudo, deixa-o totalmente desamparado.
As manifestações clínicas são bem conhecidas, merecendo destaque as que se expressam pelas inter-
relações de natureza sadomasoquista. No curso do processo analítico, esse tipo de superego pode ser um
dos principais responsáveis pelo aparecimento da “reação terapêutica negativa”
A relativa escassez de escritos psicanalíticos acerca da abordagem específica da “depressão
narcisística” não faz jus à alta freqüência e relevância da mesma.
Conforme Bleichmar (1982) demonstra exaustivamente, um estado depressivo sobrevém toda vez
que houver uma decepção tanto da parte do seu ego ideal como do ideal do ego. Em outras
palavras, um indivíduo portador de uma forte organização narcisística da personalidade sente-
se em um permanente estado de sobressalto diante da possibilidade de não corresponder
plenamente às fortes exigências provindas de dentro ou de fora de si mesmo. Por essa razão,
ele vai necessitar de um constante aporte de elogios, aplausos ou de qualquer outra prova que lhe
reassegure a auto-estima.
A etimologia do verbo “identificar” mostra que esse fenômeno psíquico consiste em que, desde
sempre, a criança vai ficando igual (idem) ao adulto que a está modelando. Mais
particularmente em relação aos indivíduos depressivos, podemos destacar três tipos dessas
identificações que se organizam a partir das depreciativas auto representações em seu ego.
A primeira delas é a “identificação com o objeto deprimido”. A experiência de todo psicanalista comprova o
quanto foi quase impossível para o seu paciente, quando criança, ficar imune à modelagem de afetos
depressivos, queixumes e uma ideologia niilista provindas de uma mãe melancólica, por exemplo. Por outro
lado, a presença real de uma depressão constante da mãe, ou pai, reforça as fantasias da criança de que tenha
sido a sua maldade que provocou todas as desgraças.
A segunda situação é a “identificação com o objeto desvalorizado” e denegrido, isso resulta da reintrojeção da
figura parental que, previamente, foi alvo de identificações projetivas carregadas de desprezo por parte da
criança.