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INTRODUÇÃO

O Boderline é um transtorno de personalidade caracterizado pelo DSM-IV,


Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, e está no grupo B desses
transtornos (juntamente ao transtorno de personalidade antissocial, narcisista e
histriônica), os quais são caracterizados pela manipulação e impulsividade. Ademais, o
Boderline é caracterizado como um padrão global de instabilidade dos relacionamentos
interpessoais, da autoimagem e dos afetos; tem início, predominantemente na
adolescência e na idade adulta. Contudo, neste trabalho, além de ser apresentado o
reconhecimento do boderline, será mencionado um pouco da história do TPB, sua
definição, o transtorno sob a ótica psicanalítica e tratamento.

DESENVOLVIMENTO

O transtorno Boderline surge como categoria diagnóstica utilizada na clínica


psiquiátrica e psicanalítica no princípio da década de 50. A “noção de Boderline”
constitui-se inicialmente como vaga e imprecisa, que compreende sintomas que se
estendem desde o espectro “neurótico”, passando pelos “distúrbios de personalidade”,
até o espectro “psicótico”. De tal maneira, o quadro tem sido frequentemente
diagnosticado em adolescentes e adultos jovens com comportamento impulsivo e/ou
autodestrutivo, uso de drogas e com problemas sérios de identidade; notando-se um
predomínio no gênero feminino. Ao decorrer das últimas duas décadas o conceito vem
ganhando popularidade e também uma maior precisão. O conceito atual de borderline
foi aquele formulado inicialmente para a classificação norte-americana das doenças
mentais de 1980, o DMS-III2; neste sistema diagnóstico, a síndrome borderline deixa de
ser uma acepção relativamente vaga de estados intermediários neurose-psicose, para ser
um distúrbio específico de personalidade, no qual comportamentos impulsivos, auto
lesivos, sentimento de vazio interno e defesas egóicas seriam predominantes.
Quanto a definição, do inglês, “borderline” se refere ao que é limítrofe; ou seja,
que está na fronteira ou que é incerto. Esse termo ajuda a definir esse transtorno, o qual
também é conhecido como transtorno de personalidade limítrofe. Além disso, A
Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID-10), descreve o “Transtorno de
Personalidade Emocionalmente Instável” (F 60.3), divido em dois tipos: o tipo
impulsivo (F. 60.30) e o tipo boderline (F 60.31), este último se sobrepõe a definição
apresentada no DSM-IV.

Para reconhecer o TPB, deve-se ter em vista algumas características centrais do


transtorno, como: a impulsividade, instabilidade de humor, sensação crônica de vazio,
relações interpessoais tempestuosas e instáveis, além de tentativas de suicídio. Além
disso, existem alguns outros fatores para se reconhecer o Transtorno Boderline, por
exemplo: a angustia de separação, clivagem, identidade e narcisismo.

De tal maneira, pode-se dizer que o sujeito borderline teme a separação do


objeto, a chamada angustia de separação; sendo necessário demandar muito esforço
constantemente para evitar o suposto “abandono” (real ou imaginário). Frente a essa
angústia, e até mesmo frente à possibilidade de não ter apoio, ele já não mais consegue
enxergar o outro e suas reais necessidades, pois também não consegue ver a si mesmo.
Então ele fica perdido, centrado em si próprio, e, de acordo com a situação, se identifica
apenas com o aspecto bom ou mau do objeto, podendo vivenciar uma clivagem do self.
Mais especificamente, a clivagem refere-se a um mecanismo de defesa, no qual existe
uma tendência para formar representações cognitivas do self e dos outros que se
caracterizam por serem completamente boas ou completamente más.

Sobre a questão de identidade nos pacientes com transtorno de personalidade


borderline, Winnicott explica que quando o bebê olha para a sua mãe devolvendo o que
ela vê, ele tenta mostrar para mãe que ela é um espelho, capaz de refletir o que ela
própria enxerga. No entanto, a mãe não somente vê o bebê, mas o enxerga de acordo
com suas necessidades e fragilidades, sendo empática e o ajudando, aos poucos, a
nomear os seus sentimentos acerca do mundo. Uma vez que a mãe não enxergue
verdadeiramente seu bebê, se instaura um “abismo” nesse elo, um vazio, fazendo a
identidade de self não conseguir ser estabelecida e a imagem corporal fica afetada pela
percepção. Frente a essa angústia, o bebê se desenvolve sem internalizar o objeto
materno, e ao crescer, continua buscando esse olhar que lhe faltou para que possa
construir a sua própria representação e a sua identidade. Contudo, essas pessoas sempre
vão necessitar de alguém que as ajude no caminho de constituição de seu self, uma vez
que este não foi constituído na infância, devido ao ambiente (mãe) não ter suprido todas
as suas necessidades.

Vale dizer também, que o narcisismo pode ser encontrado em indivíduos


Boderline, uma vez que esses não conseguem identificar o outro com clareza e só
enxergam suas próprias dificuldades e necessidades.

No contexto psicanalítico, são vários os autores que contribuíram de alguma


forma nos estudos do TPB. Kernberg, por sua vez, cita um dos mecanismos de defesas
que os indivíduos boderline possuem, a Clivagem, a qual já foi mencionada acima.
Simplificando, a clivagem funciona como a separação entre extremos, aspectos bons e
maus do eu e dos objetos; proporcionando uma defesa à contradição e à ambivalência
emocional, que gera um conflito intrapsíquico intolerável.

Outrossim, André Green também contribui com estudos sobre o TPB, foi ele que
introduziu os conceitos de angustia de separação e intrusão; contudo, afirma que
existem a angústia separação e a angústia de invasão ou engolfamento pelo objeto.
“Ambas, abandono e perda, ou engolfamento, seriam ‘doenças das fronteiras do ser’ e
implicariam possibilidades aterrorizadoras de morte e dissolução”. Essa problemática
corresponde à fragilidade da estrutura psíquica onde os limites internos e externos são
pouco definidos. Ambas as angústias são constantes, independentemente da
proximidade de um objeto “externo”, podendo ser vivenciada forte angústia de
separação, mesmo estando próximo do outro; e angústia de intrusão, mesmo que o
objeto esteja distante. Elas são correlatas à angustia de castração e de penetração, nas
quais sucedem fantasias de perda de uma parte, ou perda do todo; e ameaça à
identidade, por uma fantasia de intrusão de uma parte ou do todo. Não só isso, Green
cita outro aspecto característico da estrutura de personalidade borderline: a dificuldade
que esses sujeitos apresentam em dar significado às situações traumáticas, de excesso,
nas quais o psiquismo, diante desses obstáculos, acaba por se desorganizar. Diante da
impossibilidade de assimilação, o sujeito adentra à repetição, mecanismo que tenta
estabelecer uma ligação, um sentido, mas que persiste em um interminável fracasso.
Freud, entretanto, estava interessado nas neuroses, na compreensão da histeria e
da castração e não se aprofundou na questão do borderline. Apesar disso, seus estudos
de narcisismo, desorganização do ego e tendência da repetição foram conceitos que
contribuiram para o entendimento dos Boderlines, posteriormente.

Outra questão eminente do TPB é seu tratamento; dentro dos numerosos estudos
publicados existem muitas terapias que se aplicam ao transtorno, como a Terapia
Comportamental Dialética e a Terapia Comportamental Cognitiva, entre outras.
Considerando o que já foi exposto, é na terapia que o paciente pode receber ataque ao
seu self não constituído, e por esse motivo, o analista ajudará o paciente na constituição
de seu self; com isso, a análise se dá ao longo de vários anos, respeitando o tempo
singular do paciente no processo dessa constituição. Contudo, o trabalho
psicoterapêutico ocupa um lugar fundamental na vida desses pacientes à medida que
eles constroem vínculos por meio da relação de confiança. No trabalho psicoterapêutico,
o terapeuta funciona como um espelho para que eles consigam se enxergar. Outrossim,
no espaço terapêutico é criado um ambiente no qual o paciente pode tornar
representável o irrepresentável, transformar em palavras o que possivelmente é atuado.
Por meio do relacionamento terapêutico, é possível reformular as representações
distorcidas, tornando-as mais integradas, além de transformar a capacidade reflexiva, as
habilidades de conexão afetiva e as relações interpessoais.

CONCLUSÃO

Portanto, TPB pode ser considerado um transtorno psiquiátrico complexo, de


diagnostico difícil, por apresentar comorbidades com outros transtornos de
personalidade. De tal forma, diagnosticar um paciente tendo um transtorno de
personalidade boderline pode levar tempo, pois tende a demorar para que seu padrão de
comportamentos se torne patente devido uma série de alterações que são consideradas
normais ou típicas de determinadas fases do desenvolvimento psicobiológico do
indivíduo; entretanto, faz-se necessário que o transtorno seja acompanhado por
especialistas, afim de que os Boderlines possam viver de forma harmoniosa em
sociedade.

Vale ressaltar que os transtornos de personalidade têm importância para a saúde


pública em virtude de sua associação com doença mental, hábitos alimentares, ingestão
de álcool, acidentes e comportamento sexual. Pacientes acometidos de transtorno de
personalidade, especialmente os grupos boderline e antissocial, apresentam altas taxas
de suicido e mortes acidentais do que a população em geral.

Além disso, o fato do terapeuta manter uma relação empática com o paciente,
faz possível que ele expresse verdadeiramente a sua identidade e diminua assim o seu
sofrimento. Entende-se para este fim, que é imprescindível aprofundar a compreensão
do transtorno de personalidade borderline; não apenas se atendo aos sintomas, mas
tendo como objetivo analisar e compreender o funcionamento do aparelho psíquico, o
modo como esses indivíduos se vinculam, além da técnica mais eficaz para tratá-los.
Com isso, certamente, os boderlines poderão viver melhor em seu contexto social.

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