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Tradução por: Filipe (ffilipekk)

PREFÁCIO DO SÉTIMO VOLUME

POR CRISTINA NADAL

A inveja, paixão do tipo 4, tem, desde sempre, uma péssima reputação e é também uma
emoção difícil para as outras pessoas reconhecerem. É o eneatipo que tem a pior
autoimagem. Na sua primeira infância, introjeta (incorpora dentro de si) uma mãe - ou a
principal figura de vinculação - que foi abandonando, como forma de se manter em
contato com ela. "Ao introjetar essa mãe que não acolheu emocionalmente o bebê (que
por diversas circunstâncias o rejeitou ou se separou dele), incorpora-se também o mau
olhar sobre si mesmo. Desta forma, serve-se a desvalorização constante", escrevi há
anos atrás como testemunho sobre o Quatro conservação no livro de Cláudio, “27
personagens em busca do ser”. O mecanismo automático pelo qual a inveja se mantém é
a comparação, na qual a pessoa sempre sai perdendo, pois olha o que falta em si (e
tende a olhar o que falta na outra pessoa e na situação), além de idealizar a vida da
pessoa invejada, alimentando assim a falta: aquela falta que era real na infância, mas
agora é falsa.
A satisfação é, portanto, uma experiência a ser conquistada ao longo de um
percurso de trabalho terapêutico que envolve também a aceitação e o tratamento da
própria ferida, bem como a desidealização do que uma pessoa teria de ser ou fazer para
ter valor e sentir-se bem; estes processos estão bem refletidos em cada livro deste
volume.
Cada subtipo lida com a tentativa de sair da situação de carência, a real e a falsa,
de formas diferentes: a pessoa E4 conservação, sofredora e abnegada, tem um superego
ou "top dog" muito auto exigente: acredita que quanto mais se esforçar, mais se afastará
dessa má imagem interna e, além disso, terá e manterá energia suficiente para trabalhar
e trabalhar. O difícil é ser capaz de reconhecer o que é valioso em si próprio e nos
resultados do seu esforço, uma vez que o seu olhar continua a ser desvalorizador. A
tenacidade é a sua paixão. No seu lema, "custe o que custar", vemos como ele valoriza o
esforço.
O subtipo E4 sexual, que é aquele que mais faz sofrer enquanto sofre, acredita
que tem de devolver o que perdeu; a sua paixão é o ódio. É o que tem a carga mais
agressiva, sendo ao mesmo tempo o mais divertido e impulsivo, embora a sua má
imagem e o seu sentimento de culpa não lhe permitam desfrutar de si próprio nem da
sua capacidade expressiva e cognitiva. É também o subtipo mais histriónico.
No E4 social encontramos o mais sofredor dos Quatros: a sua estratégia é
mostrar a sua falta para obter o que precisa. A sua paixão é a vergonha: encolhe-se e
retrai-se, embora a pessoa E4 social também tenha um grande desejo de ser vista. É o
subtipo mais melancólico. Tal como os outros, é muito difícil para ele reconhecer o seu
direito ao bem-estar.
INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS CONTRASTES ENTRE OS SUBTIPOS


DO E4: CONSERVAÇÃO, SEXUAL E SOCIAL

CONTRIBUIÇÕES DE EVA MOROTE,

CHIARA FUSTINI E ROSSANA PAVONI GALLO

Quando a ideia cristã de inveja é transcendida como um rancor contra a boa sorte do
próximo, vemos que ela vai além desse desejo insaciável que, como descreve Dante,
implica um "amor pelos próprios bens pervertido no desejo de privar os outros". Esses
bens são tangíveis ou intangíveis, ou seja, também incluem talentos ou privilégios. O
desejo pelo que o outro possui (ou supostamente possui) é acompanhado pelo
sentimento doloroso de que está faltando, o que a pessoa interpreta como uma injustiça,
ao qual deve ser adicionado o desejo de que o outro se saia bem ou mal, ou seja, punido,
o que, se acontecer, é satisfatório. Isso nos fala, desde o início, de uma natureza dupla
dessa paixão que é evidente em seus subtipos característicos, já que em alguns casos a
inveja é sentida acima de tudo como falta e tristeza pela própria condição, seja real ou
imaginária, e em outros ela se torna acima de tudo voracidade e desejo de prejudicar os
outros ou de se vingar deles.
Uma das diferenças mais óbvias entre o E4 conservação e os outros subtipos de
inveja é a falta de expressão dessa paixão: conservação é o subtipo em que a inveja
aparece mais negada, e é difícil reconhecê-la porque a pessoa não fica na falta e na
inveja do que não tem, mas, por meio do esforço, transforma de forma compensatória o
que lhe falta, defendendo-se assim do sentimento de inveja. “Eu visito a casa de uma
amiga e olho para ela, que casa linda... Em seguida, coloco cortinas novas na minha,
faço mudanças, compenso a ideia e a sensação de que minha casa é pior", diz um
depoimento desse subtipo.
No E4 sexual e social, não aparece nenhuma ação para compensar o que não se
tem. O E4 social, onde aparece uma consciência clara do sentimento de inveja, fica a
lamentar-se e a queixar-se do que não tem, e no E4 sexual, onde a inveja é sentida como
algo muito instintivo, difícil de conter, destrói o que se quer para não sentir inveja.
A falta compensada do E4 conservação é acompanhada por uma intolerância ao
sentimento de fraqueza e um grande esforço pessoal para não sentir necessidade, o que
contrasta com a falta de modéstia do E4 social em se mostrar fraco e necessitado.
Essa tenacidade no esforço constitui certa atitude narcisista no subtipo
conservação, que tende a pensar que pode lidar com tudo e que não se permite mostrar
sua carência, o que seria interpretado de certa forma como humilhante ou, em qualquer
caso, com uma sensação insuportável de vulnerabilidade. Estamos falando de um tipo
de pessoa que, na infância, teve que cuidar dos outros; em vez de ser cuidada, teve que
cuidar. Portanto, são pessoas trabalhadoras, independentes, sérias, seguras de si, dotadas
de integridade, honestidade e sobriedade. Não sentindo o cuidado, não o pede, e
projetam essa necessidade no outro, cuidando dele a partir de uma atitude de auto
sacrifício. Em contraste, um E4 sexual expressa a sua necessidade sem cerimônia,
transformando-a numa exigência para com o outro, enquanto o E4 Social é um caráter
essencialmente suplicante a partir da sua expressão de falta.
No tipo 4 há um "eu" deficiente: a pessoa sente que é sem valor, que não tem, há
uma imagem empobrecida de si mesma, e há também uma forte idealização do que
gostaria de ser. Esta imagem idealizada torna-se tremenda no subtipo conservação: há
um superego forte que exige constantemente que a pessoa atinja esse ideal de perfeição,
de onipotência, e que a pessoa nunca atinge porque é realmente uma ideia louca. O
esforço é, pois, colocado ao serviço da concretização desse ideal, como o demonstra o
testemunho seguinte:
"No meu trabalho, se sinto que estou a cometer um erro, inscrevo-me num curso para remediá-lo,
mas não fico satisfeito com o que fiz. Aprendo, mas depois vejo que tenho outro erro e já estou a
pensar em fazer um novo curso".

O auto boicote, a ação implacável, o sentimento de não merecimento, a secura de


carácter, misturam-se com uma certa tendência para a idealização de si próprio, bem
como para a idealização dos outros, a quem concede autoridade. A barra da auto
exigência é tão alta que não há permissão para a raiva legítima, e há também o medo do
conflito direto com os outros, uma vez que eles estão acima dele, o que causa
menosprezo e submissão aos outros. Ao mesmo tempo, "cortam cabeças" (são críticos
mordazes, com muito julgamento contra os outros), expressam as suas opiniões e não
precisam da aprovação constante que os E4 sociais procuram.
No E4 sexual e social, a imagem do outro é também muito idealizada e a barra
do seu próprio ideal é também muito elevada. A grande diferença em relação ao
conservação é que o sexual procura atingir o ideal sem fazer grandes esforços, e no
social há um "quero e não posso": sentem que não estão à altura da tarefa e que não
conseguem atingi-la.
No conservação, o esforço torna-se uma ferramenta para alcançar o amor e o
reconhecimento do outro, um anseio fundamental do Eneatipo 4, mas no conservação
torna-se uma exigência interna muito grande, acompanhada de um elevado grau de
autocontrole, como expresso no seguinte testemunho:
"A minha mãe era uma perseguidora, eu esforçava-me muito para ela não me pegar num erro, e
chegou a um ponto em que ela viu que eu me tinha esforçado muitíssimo e trabalhado tanto, que
me disse: "Pronto, agora está tudo bem, descansa", e assim eu recebia um olhar carinhoso da
minha mãe".

Nisto, o subtipo conservação distingue-se claramente do sexual, para o qual a


sua necessidade de amor se torna uma reivindicação agressiva para com o outro, e do
social, que tenta obter afeto lamentando, comovendo, seduzindo com o seu sofrimento.
O E4 conservação, através do esforço, quer dar mais do que qualquer outra
pessoa, quer ser a melhor mãe, a melhor irmã... "Na escola, nos diziam que
precisávamos nos sacrificar por um ideal cristão de santidade, eu colocava pedrinhas
nos meus sapatos, eu me sacrificava". Neste testemunho, compreende-se que o
sofrimento, a hostilidade para consigo próprio, não é uma procura direta desse
sofrimento, mas uma condição para atingir outra coisa, para poder atingir o ideal. No
que diz respeito às relações sociais, o E4 conservação é um caráter bloqueado na
relação. O grau de vigilância em relação ao olhar do outro e em relação ao seu próprio
desempenho é tão elevado, enorme inibição, que cria um bloqueio, estar numa relação
torna-se insuportável e a pessoa sente-se melhor na solidão, porque não é colocada em
risco toda esta dinâmica interna.
Relativamente às relações, alguns E4 conservação conseguem suportar situações
difíceis, com a ideia de que se insistirem, a relação pode correr melhor; por outro lado,
outros pensam que estão melhor sozinhos, não se esforçam tanto para conseguir uma
relação, porque há uma grande dificuldade, acreditam que é mais fácil ser e por isso não
dão prioridade a este aspecto na sua vida.
No fundo, evitam ter momentos ruins, porque não lidam bem com a questão da
dependência e da dedicação amorosa. Toda a estrutura interna foi criada com base na
autossuficiência, na satisfação das suas próprias necessidades, e a pessoa sente que, se
esta se rompe, fica sem nada.
A pessoa também dá prioridade a outros aspectos da sua vida, e neles se
empenha fundamentalmente no trabalho, porque nele aspira à perfeição, e também
porque há muitas introjeções familiares neste sentido (geralmente, falamos de famílias
onde o trabalho sacrificial foi muito valorizado, e onde o monstro da precariedade ou da
sobrevivência paira).

A nível global, a principal diferença entre o E4 sexual e os outros subtipos de inveja é a


expressão aberta da paixão e o seu investimento de energia na relação romântica. No E4
sexual nem sempre há consciência da inveja, mas de algo instintivo experienciado como
uma picada que a pessoa sente ao comparar-se e perceber-se abaixo do outro e como
resultado do desejo de ocupar um lugar significativo na relação com o outro. Embora a
comparação seja comum a todos os subtipos E4, no sexual ela se expressa de uma forma
muito diferente e visceral, como uma pulsão que não se pode conter. Esta expressão
pode ter diferente nuances, como a vingança e o confronto claro ou a negação
descarada, a desqualificação e a culpabilização do outro através de palavras, gestos de
desprezo, olhares de ódio, etc. A idealização do outro como fonte de satisfação
transforma-se em desdém pelos seus limites, a relação amorosa torna-se um campo de
batalha onde o E4 sexual compete até à destruição do outro e daquilo que mais ama. Em
geral, as pessoas com este caráter nem sempre têm plena consciência do alcance da sua
encenação, pois o ponto de partida é uma reação absoluta ao que as magoou ou
incomodou no outro.
Nos outros subtipos, esta gestão da inveja é totalmente oposta. No E4
conservação (tenaz), esta expressão reativa é completamente contida, chegando até a
exagerar a posição de controle contra o instinto e a visceralidade. No E4 social
(vergonha) não há audácia para expressar a raiva e o ódio, não porque não os sente, mas
porque a pessoa acredita que não vai conseguir expressar essas emoções e as retroflecte,
odiando a si mesmo e procurando outros canais de expressão, do secreto e do oculto.
Em todos os subtipos do E4 existe uma mistificação ou idealização do outro,
mas no E4 sexual essa idealização é exagerada e passional, querendo aproximar-se do
que é idealizado sem grande esforço, ao contrário do E4 conservação, disposto a fazer
um esforço. O E4 sexual tende a apresentar uma atitude mais cinematográfica,
desempenhando papéis mais dramáticos e teatrais: precisa ser a diva e ter toda a atenção
sobre si, algo que os outros subtipos não estão tão interessados ou não se atrevem a
fazer.
O E4 sexual não mostra facilmente as suas fraquezas ou a sua necessidade, mas
o subtipo conservação ou tenaz também não quer saber nada da sua inveja ou da sua
fraqueza. O ódio protege-os da fragilidade e eles tentam fazê-la desaparecer. A
diferença é a nitidez com que o sexual danifica o que inveja, em comparação com a
contenção da tenacidade. O sexual E4 não pede, exige, de forma mais ou menos velada
ou sedutora, algo que é quase impensável para os outros subtipos. O tenaz, pelo
contrário, exige a si mesmo, e o social ou "vergonha" se esconde.
O filme "What Ever Happened to Baby Jane?" relata a relação entre duas irmãs,
ambas E4, uma delas paralítica e a outra que cuida delas. Uma está constantemente na
queixa histriônica (subtipo sexual) e a outra no seu papel de vítima resignada que
suporta tudo (tenaz). Os espectadores do drama ficam do lado da vítima durante todo o
filme, até que, no final, esta se rebela mostrando todo o seu ódio contido, e a expressão
de ódio da outra é entendida como um problema de infância não resolvido. No subtipo
sexual, o papel de "mau" é escolhido por ser mais glamoroso do que o papel oculto do
E4 social-vergonha ou o papel contido do conservação-rígido.
O sentimento de reivindicar algo que merece por direito próprio e de ter que ser
ouvido por isso, ou seja, o sentimento de injustiça que deve ser combatido é um
sentimento básico no E4 sexual. Nos outros subtipos, este sentimento também existe,
mas o sentimento de invalidez é certamente mais forte no subtipo social, ou a
experiência de ter que suportar o sentimento de desamparo no subtipo conservação.
O subtipo sexual é mais irresponsável, sente-se especial e espera que o outro
resolva as coisas por ele; nisto se opõe ao E4 tenaz, que usa como valor neurótico não
pedir nada a ninguém, o "eu não preciso". O E4 social também espera que as coisas
sejam resolvidas, mas faz isso a partir de uma perspectiva mais desonesta, oculta e
manipuladora.
O tipo 4 social é aquele que tende a se comportar, metaforicamente falando, de
maneira infantil; pode-se dizer também que o E4 sexual tem uma certa tendência a se
comportar como um adolescente, fazendo da transgressão sua bandeira, e que o E4
conservação se comporta como um velho.
A extroversão e a exagerada alegria, a eloquência e a capacidade de se destacar
do subtipo sexual é talvez o ponto em que a diferença é mais notória em relação ao
subtipo social tímido e ao subtipo conservação abnegado, que pode ser irónico, mas não
costuma comportar-se de forma tão carismática nem ter tanto protagonismo. Além
disso, o subtipo conservação é emocionalmente mais estável do que os restantes dadas a
sua característica de contenção: não esclarece imediatamente o que o preocupa ou
incomoda, como a sexualidade, e mostra muito mais tolerância do que os outros
subtipos, podendo, de qualquer maneira, reservar-se para dizer, sem dramas, a última
palavra em uma conservação.
No entanto, nem o E4 conservação nem o E4 social costumam defender a sua
posição com unhas e dentes numa discussão, nem sentem a grande necessidade do
Quatro sexual de ter razão a todo o custo, de sair por cima ou de entrar numa
competição feroz.
Em termos de sensibilidade, é semelhante em todos os subtipos de E4: está
sempre presente, com mais enraizamento, resistência à dor e reserva no conservação,
que não é tão expressiva e é mais duradoura; no sexual, por outro lado, não há tanta
vitimização como no social, mas também não há resistência ou contenção como no
conservação: prefere performances dramáticas estelares e muitas vezes agressivas,
esperando que todos reparem na sua atuação.
O E4 social mostra mais a sua insegurança emocional e, com esse papel infantil,
tenta conseguir o que quer. O E4 sexual tenta não mostrar a sua insegurança, tal como o
E4 conservação, mas de uma forma polar: enquanto o conservador se apresenta como
moderado, a posição adotada pelo sexual é geralmente orgulhosa e arrogante, com
tendência a quebrar rapidamente e a passar do ódio ao choro e vice-versa, num processo
de ódio e desvalorização dos outros.
A insolência e a reivindicação agressiva são frequentes no sexual, e fazem com
que as suas relações se tornem muitas vezes insustentáveis. Nos outros subtipos, há
normalmente um desconforto velado, algo que se sente no ar, mas que é mais difícil de
identificar, e onde o confronto direto é normalmente evitado. Em vez disso, o sexual
adota formas dolorosas e culposas quando a realidade não como a idealizada. O
desprezo, a raiva, a ira é algo a que o E4 sexual se entrega normalmente com os que são
próximos, e frequentemente possuem um verdadeiro problema com limites, sempre
tendendo a ir longe demais e tentando impor-se aos outros.
O E4 social, pelo contrário, é muito dependente das relações, e é o que mais as
suporta; é tímido e envergonhado. O sexual é muito polar, mas não fóbico: torna a
relação insuportável e tem um verdadeiro problema com limites, porque tende a se
impor ao outro com sua agressividade.
O E4 conservação brinca a sua agressividade com a ironia, e o seu problema
com os limites consiste em não saber estabelecer limites saudáveis consigo mesmo em
relação ao seu esforço ou com o outro. Não há limite para o cuidado e a ajuda quando
precisam de um E4 conservação, e, mesmo assim, há uma falta de pessoas próximas, de
cuidado com os amigos em termos de desfrutar e compartilhar coisas boas, uma vez que
o prazer não está registrado no seu código de vida. A falta de experiências de prazer na
infância explica esta relutância: "Não me lembro de ir com os meus pais ao parque ou
de férias, lembro-me é que falavam muito de doenças e mágoas".
Em outra ordem de coisas, uma caraterística particular do eneatipo 4 social é a
sua maneira de respirar com o tórax para baixo, encolhendo os ombros de forma
protetora e com a barriga projetada para frente e para baixo, como um peso morto.
Neste padrão de respiração, há muito pouco tónus na parte inferior do corpo, nos
músculos e nos órgãos abdominais. O som da expiração é geralmente como um suspiro.
As pessoas que fazem esta respiração expirada suspiram e ofegam frequentemente numa
tentativa de obter mais ar. Ao contrário dos outros padrões respiratórios, para remover o
do E4 social é necessário um aumento do tónus corporal. Encontrar a força para se
manter firme, enraizando bem os pés no chão, e deixar o corpo esticado no canal
central, é um desafio para este caráter. A falta desta força condena este subtipo a sofrer
de um sentimento crônico de baixa disponibilidade de energia, acompanhado de uma
constante automutilação e autojulgamento que consome ainda mais a sua energia
enfraquecida.
O social é um subtipo introvertido - ao contrário do extrovertido E4 sexual e do
E4 conservação, que alterna entre introversão e extroversão, e é aparentemente mais
doce do que os outros subtipos de inveja. A palavra que o define, "vergonha", refere não
só a uma dificuldade em se aceitar como é ou em se mostrar espontaneamente devido a
um sentimento interno de ridicularização ou de autodesqualificação, por se achar
defeituoso e inamável, mas também aponta para um sentimento intrínseco de
inadequação e de perda de dignidade, que não lhe permite expressar o seu desejo
escondido de se mostrar ao mundo, de ser visível a nível social. Talvez por isso, quando
tem uma necessidade, não pede, pois não acredita que a mereça, mas manipula com
insinuações, lágrimas e drama para chamar a atenção e "dar pena". Quando admira e/ou
inveja, localiza-se imediatamente abaixo do outro. Face a esta situação, a sua atitude
para com os outros é tentar esconder a sua tristeza e o seu sentimento de inadequação
atrás de um sorriso muitas vezes não muito crível. Tem segredos, não ousa abrir a sua
verdade, que considera desprezível.
Com tais sentimentos, uma pessoa assim evitará se irritar para não ser rejeitada e
também sentirá que não tem o direito de fazê-lo, entrará facilmente em relações de
dependência e, em geral, se mostrará insegura, a ponto de frequentemente sair perdendo
em suas comparações habituais com os outros e normalmente precisa de aprovação para
tudo. Interiormente, o sentimento de depressão é comum, em comparação com a
integridade que mostra frequentemente o E4 conservação e a impulsividade do E4
sexual. A pessoa social se culpa por tudo, pelo que fez e pelo que não fez, enquanto a
pessoa conservação e a sexual têm, além da culpa internalizada, muito julgamento em
relação às outras pessoas.
APÊNDICE

EQUIVALÊNCIAS DO E4 NO MUNDO ACADÊMICO:


SUBTIPOS CONSERVAÇÃO, SEXUAL E SOCIAL

POR ELENA CURIEL E YOLANDA MARTINEZ

Inveja

Na sua obra Inveja e Gratidão (1975), Melanie Klein define a inveja como "um
sentimento de raiva contra outra pessoa que possui ou desfruta de algo desejável, sendo
o impulso invejoso o de retirá-lo ou danificar; ademais, a inveja implica a relação do
sujeito com uma única pessoa e remonta a mais antiga e exclusiva relação com a mãe"
(p 186). Além disso, relaciona claramente a origem deste desejo de ter o que o outro tem
com um sentimento de falta e um sentimento de maldade interior, que leva a pessoa a
procurar ardentemente o bem no exterior para incorporá-lo em si. Infelizmente para o
invejoso, esse sentimento de ser ou estar cheio de algo mal contamina tudo o que
incorpora, por isso nunca consegue alimentar-se, aumentando assim a sua frustração e
desespero, sendo esta a base da sua insaciabilidade.

Relativamente à voracidade dos invejosos, pode se dizer que a própria pessoa invejosa é
insaciável. Nunca pode estar satisfeita, porque a sua inveja vem de dentro, e por isso encontra
sempre um objeto sobre o qual se concentrar (p. 187).

Klein explica um caso específico de uma paciente que “queria ser cuidada, mas,
ao mesmo tempo, repelia o próprio objeto que a devia gratificar”. Esta mulher
desconfiava do presente que desejava receber porque o objeto já estava danificado pela
inveja e pelo ódio, ao mesmo tempo em que havia um profundo ressentimento por cada
frustração.
Era característico desta paciente a sua atitude para com os outros e isto esclarecia as suas
relações anteriores com o peito- que ela desejava ser cuidada, mas ao mesmo tempo repelia o
próprio objeto que a devia gratificar. A desconfiança em relação à dádiva recebida, juntamente
com a sua necessidade imperiosa de ser cuidada - o que, em última análise, significa um desejo
de ser alimentada - expressam a sua atitude ambivalente em relação ao peito. Já me referi a bebês
cuja resposta à frustração é não aproveitar suficientemente a gratificação que a amamentação,
ainda que tardia, pode proporcionar. Posso supor que, mesmo que não desistam dos seus desejos
de um peito gratificante, não conseguem desfrutar dele e, portanto, o repelem. (p.210)
Klein identifica várias defesas contra a inveja que encontrou ao longo da sua
obra. A inveja é visivelmente odiosa no subtipo sexual, enquanto no subtipo social se
manifesta como admiração a partir de uma posição dolorosa de impotência, de renúncia
ao desejo, devido à inibição da agressividade. A inveja no E4 social toma a forma de
idealização do outro e de desvalorização de si próprio.
Algumas pessoas lidam com a sua incapacidade (derivada da inveja excessiva)
de possuir um bom objeto idealizando-o.

Numa seção anterior, sugeri que a idealização não serve apenas como uma defesa contra a
perseguição, mas também contra a inveja. (...) A grande exaltação do objeto e dos seus dons é
uma tentativa de reduzir a inveja. “No entanto, se a inveja for muito forte, é provável que, mais
cedo ou mais tarde, se volte contra o objeto primário idealizado e outras pessoas que, no decorrer
do desenvolvimento, passarão a representá-lo” (p. 221).

Típico do tipo 4 é a desvalorização do outro como forma de compensação: "A defesa


contra a inveja assume frequentemente a forma de desvalorização do objeto. Sugeri que
a ruína e a desvalorização estão no coração da inveja. O objeto que foi desvalorizado já
não precisa mais ser invejado. O mesmo se aplica ao objeto idealizado que é
desvalorizado e, portanto, deixa de ser ideal. A velocidade com que essa idealização é
destruída depende da força da inveja. Mas a desvalorização e a ingratidão são os
recursos utilizados como defesa contra a inveja em cada etapa do desenvolvimento.
No subtipo Quatro social, a autodesvalorização é muito relevante: "Uma defesa
particular de um tipo mais depressivo é a desvalorização da própria pessoa. (...) Ao
desvalorizarem os seus próprios dons, negam a inveja e, ao mesmo tempo, castigam-se
por ela. No entanto, verifica-se na análise que a desvalorização da própria pessoa
desperta de novo a inveja perante o analista, que se sente superior, tanto mais que o
paciente foi tão distorcido. (...) No entanto, descobri que uma das causas mais profundas
desta defesa é a culpa e a infelicidade por não ter conseguido preservar o objeto bom,
devido à inveja. Pessoas que estabeleceram o seu bom objeto de uma forma um tanto
precária sofrem com a ansiedade de que ele possa ser arruinado e perdido como
consequência da competição e da inveja; por isso evitam o sucesso e a competição" (p.
223).
No subtipo conservação, podemos ver como o sujeito nega a inveja e o ódio para
resolver a experiência de perda e o sentimento de inutilidade. A inveja não é tanto o
objeto em si, mas a identidade que o objeto dá à pessoa que é invejada. O sujeito exige a
si mesmo para reparar a culpa e o sentimento de inferioridade através da auto exigência,
idealizando um eu que pode ser adequado e perfeito, com o resultado de continuar a
perseguir a si próprio, e que retroflecte a agressividade para com o outro (originalmente
a mãe) contra si próprio.
Um caráter oral

O eneatipo 4 pode ser reconhecido como um "caráter oral". Essa personagem surge de
um desejo subitamente reprimido pela mãe. Permanece uma insatisfação insuperável
que gera uma ambivalência entre o desejo do outro e o medo de receber novamente
rejeição e delírio. A criança sai deprimida ou revoltada e ao longo de sua vida
continuará experimentando a ferida do abandono, mas não desistindo definitivamente de
suas necessidades, que são constantemente ativadas.
O outro é experimentado como uma fonte que pode saciar a sua sede de amor,
mas a sua necessidade de amor não corresponde à sua capacidade de amar e doar, pois
não desenvolve uma independência que lhes permita efetivamente ter uma relação
amorosa mútua e adulta.
Dentro da teoria psicanalítica sobre a estruturação da personalidade baseada no
desenvolvimento libidinal durante os primeiros anos de vida, e como Claudio Naranjo
aponta em “Caráter e neurose”, foi Karl Abraham quem primeiro chamou a atenção para
a síndrome do eneatipo 4. em sua descrição do "caráter oral agressivo". A citação onde
Goldman-Eisler descreve este caráter é reproduzida abaixo:
“Este tipo caracteriza-se por uma visão profundamente pessimista da vida, por vezes
acompanhada de estados de humor depressivo e atitudes de retraimento, atitude passivo-
receptiva, sentimento de insegurança, necessidade de ter uma subsistência garantida, uma
ambição que combina um intenso desejo de subir com um sentimento de incapacidade de fazê-lo,
um sentimento rancoroso de injustiça, uma suscetibilidade competitiva, um desgosto pela ideia
de competir e uma importunação cheia de impaciência.”

A partir da abordagem bioenergética criada por Wilhem Reich e desenvolvida por


Alexander Lowen, as fixações constitutivas desse tipo de personagem localizam-se na
fase oral. De acordo com as categorias Lowenianas, muscularmente falando, os
caracteres orais são frouxos e bastante propensos a estados depressivos. Eles têm
músculos flácidos e um tônus caído. No subtipo sexual vemos mais traços psicopáticos,
cujas fixações são mais fálicas do que nos outros subtipos invejosos.
Lowen explica que, do ponto de vista energético, a estrutura oral é um estado de
baixa carga e baixo grau de excitação sexual. Na descrição que faz desse caráter na
bioenergética, ele o define de forma mais próxima do E4 social:
Dizemos que uma personalidade tem uma estrutura de caráter oral quando contém muitos traços
típicos do período oral da vida, isto é, da infância. Esses traços são um fraco senso de
independência, uma tendência a se apegar aos outros, diminuição da agressividade e um
sentimento interior de necessidade de ser abraçado, atendido e cuidado. (...) A experiência
essencial do caráter oral é a privação (...).

Ele tem uma necessidade exagerada de contato com outras pessoas, por seu calor e apoio. O tipo
oral sofre de um sentimento de vazio interno, e está constantemente à procura de alguém para
satisfazê-lo, mesmo que às vezes aja como se fosse ele quem fornece e oferece suporte. (...)
Devido ao seu baixo nível de energia, o tipo oral é propenso a mudanças de humor de depressão
e exaltação. A tendência à depressão é típica da personalidade oral. Outra característica peculiar
dele é a atitude de que lhe devem "algo".
Isso pode ser expresso na ideia de que o mundo tem que lhe dar vida. Isso decorre
diretamente de sua experiência inicial de privação.
A descrição física do tipo também é semelhante à aparência dos E4s sociais,
com “um corpo que tende a ser longo e magro, com musculatura pouco desenvolvida,
um corpo que mostra certa tendência ao colapso e, muitas vezes, sinais físicos de
imaturidade, com corpos de certa aparência infantil”.
Do que Lowen descreve sobre o caráter oral, ao qual pertencem todos os sujeitos
de E4, destacamos o seguinte parágrafo que aborda um pouco mais especificamente o
que é próprio do subtipo sexual:
Na natureza oral, a relação amorosa apresenta as mesmas alterações que a sua atividade
profissional. Tem interesses narcísicos, as suas exigências são consideráveis e a sua resposta é
limitada. Ele espera compreensão, simpatia e amor, e é excessivamente sensível a qualquer gesto
de frieza por parte do seu parceiro ou dos que o rodeiam. Incapaz de satisfazer as exigências
narcísicas da outra pessoa, o caráter oral experimenta sentimentos de rejeição, de ressentimento e
de hostilidade. Uma vez que o parceiro tem as suas próprias necessidades que o carácter oral não
consegue satisfazer, a situação é de conflito quase permanente. A dependência é considerável,
mas é muitas vezes escondida pela hostilidade.

O psiquiatra Juan José Albert Gutiérrez, no seu livro Ternura e agressividade, obra em
que relaciona, entre outros, os caráteres reichianos com o eneagrama, dedica um
capítulo ao oral em que explica que o fato deste caráter perceber as suas necessidades de
forma distorcida como fonte de tensão e angústia, somada à falta de energia agressiva,
predispõem-no a perpetuar a sua carência e sofrimento, o que "nos dá o perfil de um
importante componente masoquista neste carácter, a ponto de podermos afirmar que,
depois do carácter propriamente masoquista, é o mais masoquista".
Segundo Juan José Albert, o subtipo sexual é o que termina a fase oral com a
maior quantidade de energia unitária em função agressiva. É o subtipo invejoso que tem
mais energia para conseguir o que precisa. Embora, naturalmente, a percepção das suas
necessidades e capacidades seja distorcida de forma invejosa: aumentando as suas
carências e empobrecendo a sua autoimagem. Neste subtipo, as respostas presunçosas e
impetuosas servem para esconder ambas.
Reich menciona muitas características orais ao descrever a personagem que
considerou masoquista. Uma diferença de interesse entre o caráter oral e o caráter
masoquista é que, enquanto o primeiro se desenvolve sobre uma estrutura de
personalidade histérica, que o leva a extroverter os seus sentimentos de sofrimento, o
carácter masoquista faz isso a partir de uma estrutura obsessiva que tende à introversão
emocional, à racionalização e à resignação. Por esta razão, costumo dizer a propósito do
masoquismo nestes dois caracteres que, enquanto o carácter oral dramatiza o
sofrimento, o masoquista santifica-o através da resignação.
DESAMPARO E IMPOTÊNCIA NO E4 CONSERVAÇÃO

POR YOLANDA MARTINEZ

O sentimento de desamparo e impotência característico do subtipo do Quatro


conservação é descrito em diferentes classificações de depressão e masoquismo.
As interferências durante as primeiras fases da educação na relação mãe-filho
constituem a base da formação deste carácter. A depressão analítica descrita por Spitz
em 1945 permitiu reconhecer a importância da relação entre a criança e a mãe na
educação durante o primeiro ano de vida.
A síndrome de carácter masoquista-depressivo (Markson, 1993), descreve que "o
importante é a renúncia às necessidades pessoais e ao prazer e a idealização da dor e do
sacrifício pessoal". A origem deste mal-estar é "ter se sentido uma criança infeliz ou
uma fonte de desgosto e desapontamento para os pais e ter fracassado nas tentativas de
reparar os pais pelos danos pelos quais eles podem se sentir responsáveis". "A sequela
no seu desenvolvimento implica não só o empobrecimento e a culpabilização de si
mesmo, mas também a deterioração de uma variedade de capacidades psicológicas
essenciais: o sentimento de direito, a eficácia operacional e a iniciativa". Markson vê o
exercício destas capacidades como valiosos "instrumentos na produção da autoestima,
da iniciativa e da capacidade de esperança (o promissor)".
Um elemento notável dos três subtipos é o sentimento de culpa. A este respeito,
Markson comenta que este surge "por ter causado sofrimento aos pais e não ter sido
capaz de aliviá-lo". Considera que esta "culpa e a auto representação subestimada
resultam do sentimento de ter sido um fardo para os pais sofredores e depressivos, cujo
cansaço e sofrimento pessoal foram idealizados". Ele fala da hostilidade que surge em
relação a esses pais, que seria mais manifesta no E4 sexual, enquanto a raiva é contida e
até negada no E4 conservação. A identificação com os pais depressivos é uma condição
importante na organização do carácter depressivo (Bleichmar).
“Em todos os transtornos depressivos há um sentimento de impotência e
desesperança para a realização de um desejo ao qual se está intensamente fixado”,
explica Bleichmar, através do seu modelo modular-transformacional. A predisposição
para a depressão é dada pela "fixação em experiências de impotência/desamparo, que
deixa a sua marca na psique". Porque o que começou por ser um sentimento de
impotência acaba por impregnar toda a representação do sujeito, incluindo o seu
sentimento de poder para enfrentar a realidade e os seus perigos. "A representação do
sujeito como incapaz, inferior, fraco, cria as condições para que tudo seja ameaçador".
Verificámos como no E4 é muito comum encontrar experiências precoces deste tipo.
Existe outra condição que pode levar à depressão: a ansiedade persecutória. No
subtipo conservação, constituem um elemento essencial do caráter, quer provenham de
"personagens persecutórias reais que atacam o sujeito ou da identificação projetiva de
impulsos do próprio sujeito, ou da identificação na primeira infância com pais que
viviam, eles próprios, num mundo imaginário, sentido como cheio de perigos e
perseguições". As ansiedades persecutórias podem levar à depressão devido às
consequências que têm no funcionamento mental: "Perturbam o desenvolvimento do eu,
o desenvolvimento cognitivo, as capacidades expressivas emocionais e relacionais, as
capacidades instrumentais na relação com a realidade, o próprio sentido da realidade".
As defesas que são ativadas para diminuir os sentimentos persecutórios limitam
gravemente as capacidades do sujeito, o fazem sentir-se impotente, indefeso para
dominar a sua mente e para satisfazer os seus desejos. As defesas do subtipo
conservação são o controle obsessivo do pensamento e da ação, o retraimento
(evitamento fóbico), as fantasias e os comportamentos agressivos (não ditos). A
depressão acaba por aparecer quando estas condições ocorrem. Bleichmar reúne um
exemplo através de um circuito: "Ansiedades persecutórias / evitação fóbica / inibição /
fracasso nas realizações narcísicas / deterioração da representação do eu / depressão".
As ansiedades persecutórias podem gerar episódios depressivos mais
duradouros, denominados reações depressivas. Estas ocorrem quando uma pessoa
"assustada com uma tarefa a realizar, e temendo não satisfazer as figuras perante as
quais deve reportar-se, experimenta um sentimento de impotência, de esmagamento, de
desvitalização". Esta situação causa insatisfação na pessoa em relação à tarefa,
racionalização das questões que a questionam, inibição na ação, com a consequente
deterioração da autoestima. Está provado que, uma vez eliminada a tarefa assustadora, a
depressão desaparece automaticamente.
Bleichmar fala de depressão culposa quando é impossível alcançar o bem-estar
do objeto e o sentimento de valor moral do sujeito, e de depressão narcísica quando o
desejo de se identificar com o eu ideal não é satisfeito. Ambos os tipos de depressão são
observados no Quatro tenaz, onde ambas as possibilidades ocorrem. Os desejos
considerados irrealizáveis ocupam um lugar central no E4 conservação, e têm a ver com
os "desejos de reduzir o nível de tensão; desejos de apego; desejos narcísicos de
reconhecimento e de valor".
A agressividade não expressa é outro aspeto que desempenha um papel
importante na geração da depressão, porque ao desgastar internamente o objeto através
da crítica e da desvalorização, este se perde como objeto de valor. E se o objeto é o
suporte da autoestima do sujeito, a sua desvalorização cairá sobre o próprio sujeito. Este
mecanismo produz impotência na pessoa porque conduz a um mundo vazio de objetos
valiosos e estimulantes, um mundo que é comparado pelo sujeito com um mundo
imaginário povoado de objetos idealizados que são sentidos, consequentemente, como
inatingíveis".
Bleichmar comenta ainda a agressividade dirigida contra o próprio sujeito, sob a
forma de autocrítica. "Ela não só deteriora a própria representação (o eu), como também
exerce um impacto negativo sobre o seu funcionamento. O sujeito, odiando a si próprio,
consome as suas energias numa guerra interna, ataca e inibe o seu ego, produz déficits
de ego, restringindo qualquer movimento no sentido da realização dos seus desejos. A
consequência é um sujeito empobrecido, incapaz de sustentar sua autoestima".
Bleichmar também fala sobre como a culpa pode levar à depressão. Neste
subtipo ocorre de duas formas:
a) "culpa por identificação com os pais culpados, incorporando todos os atributos
do objeto, incluindo o sentimento de culpa", e

b) "culpa por introjeção do ataque do objeto: a auto reprovação, a


autoincriminação, é o resultado da introjeção da agressão originalmente dirigida
contra o objeto, na auto reprovação consciente, no inconsciente o objeto é
reprovado", a mãe.
No que diz respeito às desordens narcísicas, a depressão pode ser atingida de duas
maneiras:
a) "diretamente, porque a má representação do sujeito o faz sentir-se impotente,
incapaz de atingir o objeto de desejo, ao qual se dá por perdido", e

b) "indiretamente, devido às consequências derivadas das defesas postas em jogo...


por exemplo, para não se expor a situações que produzem medo ou vergonha, a
pessoa inibe-se, renuncia contatos interpessoais e experiências de aprendizagem,
com o consequente empobrecimento no desenvolvimento das funções e recursos
do ego".

A desesperança e o desamparo são uma realidade externa traumática. Quanto à


dependência afetiva do Quatro tenaz com o outro, verificamos que Blatt a designa por
depressão anaclítica: acontece em pessoas "dependentes do objeto externo, que vivem
as vicissitudes das provas de amor que este pode oferecer ou privar; quando sentem "a
perda do objeto de amor", reagirão com enorme sensibilidade", numa depressão
introjetiva.
Schneider, no seu livro “Psychopathic Personalities”, de 1962, propõe uma
classificação psicopática da personalidade. No tipo depressivo psicopático, fala de uma
pessoa com uma visão pessimista, cética e negativa da vida. Esta percepção é
alimentada "por uma espécie de amor não correspondido" e por um olhar preocupado ao
levar tudo "muito a sério". Transferido para o subtipo Quatro conservação, a pessoa
experimenta um sentimento de incerteza e de inquietação interna que lhe dificulta uma
atitude vital de calma e repouso. Schneider fala também de uma intensidade exagerada
de "experiências tristes". e cada repouso traz consigo o perigo de que os fantasmas que
foram afugentados voltem a aparecer". Esta personalidade coincide com o E4
conservação, porque em relação ao E4 sexual e ao E4 social é o mais ativo, sendo o
mais empenhado na tomada de responsabilidades.
Millon e Davis, no seu livro “Personality Disorders of Modern Life”, referem-se
à personalidade depressiva descrevendo características extremamente negativas em
relação ao E4 conservação; destas podemos destacar algumas como o medo do
abandono e a exigência de afeto. Aponta o mecanismo do ascetismo, da abnegação, em
que acredita que deve fazer penitência e privar-se dos prazeres da vida; não só rejeita o
prazer, como faz julgamentos muito duros sobre si mesmo. Tende a culpar-se quando as
coisas correm mal.
Dos tipos de depressão incluídos no Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM IV), inclui-se o transtorno distímico, intimamente
relacionado com as características descritas no E4 conservação, tais como: "Humor
triste ou desencorajado - encorajado... baixa autoestima, dificuldades de concentração
ou de tomada de decisões e sentimentos de desesperança... perda de interesse e aumento
da autocrítica, vendo-se frequentemente como desinteressante ou inútil". O DSM IV
salienta como estes sintomas "fazem parte da experiência cotidiana", não estando
presentes na consciência da pessoa que eles fazem parte da sua própria identidade.
MELANCOLIA NO E4 SOCIAL

POR ELENA CURIEL

A Real Academia Española define a melancolia como "uma tristeza vaga, profunda,
calma e permanente, nascida de causas físicas ou morais, que faz com que quem a sofre
não encontre prazer nem diversão em nada". Só de ler esta definição, já nos vem à
cabeça que, dos três subtipos E4, o social é, sem dúvida, o melancólico por excelência:
lânguido, nostálgico, afundado na tristeza, egocêntrico e queixoso.
A melancolia faz parte da condição humana e foram muitos os que, ao longo da
história da civilização, dedicaram o seu gênio e os seus esforços para definir e
compreender esta condição a partir de tantas outras disciplinas. Para especificar uma
origem, diremos que o termo melancolia vem do grego, melanos cholés, que significa
bílis negra, e que foi Hipócrates quem nomeou um dos quatro humores fundamentais
que, na época, se pensava animar o corpo, cujo desequilíbrio causava doenças, incluindo
a melancolia, que se devia a um excesso desse “humor negro”.
Galeno de Pérgamo (131-201) dedica um capítulo da sua obra sobre as partes
afetadas pela melancolia, no qual defende a existência de um grupo de doenças causadas
pela bílis negra e conhecidas como melancolia, descrevendo os seus sintomas desta
forma:
Embora cada paciente melancólico atue de forma bastante diferente uns dos outros, todos eles
mostram medo ou desespero. Acreditam que a vida é má e odeiam os outros, embora nem todos
queiram morrer. Para alguns, o medo da morte é a principal preocupação durante a melancolia.
Outros, por estranho que pareça, tanto temem a morte como a desejam. (Galeno, Das partes
afetadas, Livro III).

Abraham e Freud foram os primeiros psicanalistas a abordar a melancolia, dando ambos


importância à agressividade introjetada. Na sua carta a Wilhelm Fliess, conhecida como
"Manuscrito G", Freud reflete sobre a melancolia e as suas possíveis causas,
relacionando-a com a perda da libido.
O afeto correspondente à melancolia é o de luto ou de pesar, ou seja, a saudade
de algo perdido. Por conseguinte, na melancolia, trata-se provavelmente de uma perda:
uma perda da vida instintiva (por vezes traduzida por "pulsão") do próprio sujeito. Por
isso, não seria descabido partir da seguinte ideia: “A melancolia consistiria no luto pela
perda da libido”.
Em "Luto e Melancolia" (1917), Freud também levanta as diferenças entre os
dois conceitos. O luto seria um processo normal, enquanto a melancolia seria
patológica. Ambos surgem como consequência da perda de um objeto ou situação
amada, ou de uma abstração que toma o seu lugar. Em ambos há um estado de dor e um
estado de espírito empobrecido, mas na melancolia há também uma componente
diferenciadora: perda de autoestima, uma redução extraordinária do sentimento de si,
um enorme empobrecimento do eu, auto repreensão, crítica e autodepreciarão.
Na resolução do duelo, o sujeito compreende e assume que o objeto perdido já
não existe, e é capaz de colocar a sua necessidade amorosa em outro ou outros objetos;
a melancolia é a impossibilidade do luto, porque é um luto sem fim. Ao contrário do
enlutado que sabe o que perdeu, o melancólico ignora ou, pelo menos, não sabe o que
perdeu com essa perda. Depois, e ao contrário do luto, por vezes um processo
melancólico começa sem perda manifesta; isto significa para Freud que a perda é
inconsciente.
Freud propõe um circuito de quatro etapas para a melancolia. Começa com uma
primeira escolha narcísica de objeto, o objeto inicial é a mãe. Isto dá lugar à perda do
objeto, ao abandono, ao desapontamento, sendo uma perda manifesta ou inconsciente.
Há uma terceira etapa em que ocorre uma identificação do ego com o objeto perdido:
"A sombra do objeto caiu sobre o ego", observa Freud. E, finalmente, a partir dessa
identificação, o eu será, pela instância crítica - o superego -, como se fosse o objeto. A
ideia freudiana é que o melancólico, ao maltratar a si mesmo, está maltratando o objeto,
mas como o objeto foi identificado com o ego, ele prejudica a si mesmo.
Há um objeto no mundo que segurava o eu do sujeito e, quando esse objeto se
perde, desencadeia uma reação melancólica massiva. O que diferencia os subtipos de E4
é a forma como são danificados, através da perseguição contra nós mesmos ou contra o
objeto "perdido". A melancolia, então, pode ser concebida como agressividade, como
uma tendência à destruição que, emergindo explicitamente ou não emergindo para fora,
destrói o próprio sujeito, pondo em jogo um mecanismo muito primário que é o retorno
contra o próprio sujeito.
Claudio Naranjo, na sua teoria dos três amores aplicada aos carácteres, explica
que em cada subtipo existe um desequilíbrio, que consiste no desenvolvimento
excessivo e neurótico de um dos amores (erótico, admirativo ou compassivo) em
detrimento dos outros, especialmente de um deles. O E4 tem um amor materno
excessivamente desenvolvido, apesar da crueldade do subtipo sexual, enquanto o amor
subdesenvolvido difere em cada subtipo: para o conservação e o social, é o amor
erótico, ou seja, a parte instintiva da nossa natureza essencial que inclui o prazer, o
agressivo, o sexual, que está inibido nestes subtipos. A saúde viria, portanto, da
recuperação dessa parte e, com ela, da espontaneidade e da liberdade da criança interior.
É importante aqui diferenciar o subtipo sexual, que carece de amor compassivo,
coerente com a sua dinâmica de sair da melancolia atacando o objeto desejado e
perdido, não conseguindo desenvolver empatia para com o objeto de amor, que aparece
ao seu olhar, defeituoso ou culpado pela sua falta.
W. Reich considera também que esta repressão do instinto está na origem das
tendências depressivas e submissas.
O oposto do caráter impulsivo é o caráter dos instintos inibidos. O primeiro
mostra na sua história o impacto de um instinto plenamente desenvolvido e de uma
frustração súbita; o segundo, a frustração constante, do princípio ao fim, do
desenvolvimento instintivo. Correspondentemente, a armadura de carácter tende a ser
rígida, diminui muito a mobilidade psíquica do indivíduo, constitui a base de reações
depressivas e sintomas compulsivos que correspondem a uma agressividade inibida; por
outro lado - e este é o seu significado sociológico - torna as pessoas submissas e as priva
da capacidade crítica (Reich, Character Analysis, p. 136).
O E4 sexual é agressivo, o E4 social é triste, neste último, tendo inibido a sua
agressividade, o seu recurso é transformá-la em sofrimento. Gabbard explica no seu
capítulo dedicado às disfunções afetivas:
(...) o paciente melancólico sente uma profunda perda de autoestima, acompanhada de auto
reprovação e culpa, enquanto o enlutado mantém um senso de autoestima razoavelmente estável.
Freud explicou o acentuado autodesprezo comum nos pacientes depressivos como o resultado de
uma raiva voltada para dentro. Mais especificamente, a raiva é dirigida para dentro porque o
paciente se identificou com o objeto perdido. Em 1923 (“...), em “O Eu e o Id”, postulou que os
pacientes melancólicos têm um superego severo, que ele relacionou com a culpa de ter
demonstrado agressividade para com os entes queridos.”.

E Melanie Klein contribui: "As experiências de depressão e de culpa implicam o desejo


de evitar danos ao objeto amado e de restringir a inveja" (Klein, Inveja e gratidão, p.
225).
Segundo Gabbard, para Klein, "os pacientes depressivos estão desesperadamente
preocupados com o fato de terem destruído os bons objetos amados dentro deles como
resultado de sua própria ganância e destrutividade. (...) Por outras palavras, os pacientes
podem se sentir desvalorizados porque percebem que transformaram os seus bons pais
internos em perseguidores, como resultado das suas fantasias e impulsos destrutivos".
Vinte anos depois de ter escrito o seu já referido "Manuscrito G", Freud publicou
o seu artigo "Luto e Melancolia", no qual sustenta que a melancolia "se distingue no
psíquico por um desânimo profundamente magoado, uma anulação do interesse pelo
mundo exterior, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda a produtividade e
uma redução do sentimento de si mesmo que é externalizado em auto reprovação e
autodesvalorização e extremo no sentido de uma expectativa delirante de punição".
Mais adiante, completa o seu retrato do melancólico em I que podemos ver claramente o
nosso E4 social com o seu sofrimento, tristeza e autodesprezo.
(...) a inibição melancólica nos impressiona como algo enigmático porque não conseguimos ver
o que absorve o paciente tão completamente. O melancólico ainda nos mostra algo que falta no
luto: uma extraordinária redução no sentimento do seu ego, um enorme empobrecimento do ego.
No luto, o mundo tornou-se pobre e vazio; na melancolia, isso acontece comigo mesmo. O
paciente descreve-se como indigno, estéril e moralmente desprezível; recrimina-se, rebaixa-se e
espera repulsa e castigo. Ele se humilha diante de todos e se lamenta com cada um de seus
parentes por ter laços com uma pessoa tão indigna. Não julga que tenha ocorrido uma mudança,
mas estende a sua autocrítica ao passado; afirma que nunca foi melhor. O quadro desta desilusão
de insignificância - predominantemente moral - se completa com insônia, rejeição de alimentos e
um colapso, psicologicamente assombroso ao extremo, do impulso que obriga todos os seres a se
agarrarem à vida.

E ainda Gabbard nos lembra de que Blatt (1998) sugere dois tipos diferentes de
depressão: a anaclítica e a introjetiva. A depressão anaclítica seria "caracterizada por
sentimentos de desamparo, solidão e fraqueza relacionados com medos crônicos de ser
abandonado e desprotegido. Os indivíduos com este tipo de depressão anseiam serem
acolhidos, protegidos e amados. Também se caracteriza pela vulnerabilidade a rupturas
nas relações interpessoais, e a depressão se manifesta inicialmente como sentimentos
disfóricos de abandono, perda e solidão".
Não encontramos entre os tipos psicológicos de Jung equivalências com os
Quatro sociais; Apesar do nome de um deles sugerir, o introvertido sentimental,
concordamos com Claudio Naranjo que os traços que Jung descreve como típicos deste
tipo, como a frieza, a indiferença e a rejeição, correspondem mais ao eneatipo Cinco,
desapegado e retraído.
Se o encontramos, pelo contrário, entre as personalidades psicopáticas de
Schneider, na descrição dos melancólicos depressivos como "suave, amável, delicado,
cheio de compreensão com os sofrimentos e fraquezas dos outros. E tímido e
desencorajado face a acontecimentos e tarefas inusitadas".
Em geral, características do E4 social aparecem em todos os quadros depressivos
típicos, mas especialmente no transtorno de personalidade depressiva que o DSM IV
propunha em seu apêndice B para sua possível inclusão em revisões posteriores e que
acabou sendo eliminado no atual DSM V. De acordo com Gabbard (2003), os critérios
para o transtorno depressivo especificam uma constelação de traços de personalidade
que incluem "um humor dominado pelo descontentamento, pesar e tristeza; um
autoconceito centrado na desvalorização e baixa autoestima; uma tendência a culpar e
criticar a si mesmo; uma propensão a sentir culpa ou remorso; uma atitude pessimista;
uma atitude negativa e crítica em relação aos outros; uma tendência a remoer e se
preocupar".

Critérios de investigação para o transtorno de personalidade depressiva

A. Padrão permanente de comportamentos e funções cognitivas depressivas que


começa no início da idade adulta e se reflete numa grande variedade de
contextos e que se caracteriza por cinco (ou mais) dos seguintes sintomas:

1. O estado de espírito habitual é dominado por sentimentos de desânimo, tristeza,


desencorajamento, desapontamento e infelicidade.

2. O conceito que o sujeito tem de si próprio está centrado principalmente em


sentimentos de impotência, inutilidade e baixa autoestima.

3. Critica-se, acusa ou desqualifica-se.

4. Murmura e tende a se preocupar com tudo.

5. Critica, julga e contradiz os outros.

6. É pessimista.

7. Tende a se sentir culpado ou com remorso.

B. Os sintomas não ocorrem exclusivamente no decorrer dos Episódios Depressivos


Maiores e não são melhor explicados pelo Transtorno Distímico.
O sofrimento

Outra caraterística significativa do E4 social, que pode parecer paradoxal dada a sua
timidez e o seu sentimento de vergonha, é a expressão dramática do sofrimento. Nas
palavras de Freud, é “significativo que o melancólico não se comporte inteiramente
como alguém que constrói o arrependimento e a auto reprovação. Falta-lhe (ou pelo
menos não se nota nele) a vergonha na presença dos outros, que seria a principal
caraterística deste último estado. No melancólico pode quase sobressair o traço oposto,
o de uma franqueza urgente que tem prazer em se revelar".
Se o amor pelo objeto - esse amor que não se pode resignar, pois o próprio objeto se resigna - se
refugia na identificação narcísica, o ódio é impiedoso com esse objeto substituto, insultando-o,
denegrindo-o, fazendo-o sofrer e o vencendo. esse sofrimento uma satisfação sádica. Este auto
martírio da melancolia, inquestionavelmente alegre, envolve, num todo como o fenômeno
paralelo da neurose obsessiva, a satisfação de tendências sádicas e de tendências ao ódio que
recaem sobre um objeto e que, pelo caminho indicado, experimentaram uma inversão em direção
à própria pessoa. Em ambos os afetos, os pacientes geralmente conseguem, através do desvio da
autopunição, se vingar dos objetos originais e atormentar seus entes queridos através de sua
condição de pacientes, depois de terem se rendido à doença para não ter que mostrar hostilidade
diretamente a ela.

(Freud)

Esta externalização do sofrimento, como explica Karen Horney e discutiremos a


seguir, preencheria várias funções, entre elas a de comover o outro e atrair o seu amor,
mas também uma função vingativa.
Na sua teoria da neurose, Horney agrupa as tendências neuróticas em três tipos
de personalidade neurótica, dependendo das estratégias inconscientes que a pessoa
utiliza compulsiva e indiscriminadamente na sua busca de segurança e num esforço para
reduzir os seus sentimentos de angústia e se relacionar com o mundo e com os outros.

Estas categorias são as seguintes:

 Submissão (modéstia): Estas pessoas tendem a submeter-se e a tentar agradar e


satisfazer os outros (aproximar-se dos outros).

 Agressão: consideram a vida uma luta, procuram o controle e o domínio,


mostram hostilidade ou agressividade para com os outros (vão contra os
outros).

 Resignação: a sua "necessidade de colocar uma distância emocional entre si e


os outros" leva-os a um afastamento neurótico (afastar-se dos outros).
(Horney, 1959, p.73).
A solução da modéstia é se aproximar dos outros com um estilo de sofrimento e
martírio pessoal, no qual podemos sem dúvida incluir o E4 social com as suas intensas
necessidades de afeto e aprovação. Embora isto seja algo que também se aplique ao E4
conservação, e, como Claudio Naranjo explica no livro "Ensaios de Psicologia dos
Eneatipos”, é mais realista falar do E4 social em relação à resignação (estranhamento).
Em resumo, este tipo tem necessidade de ser querido, desejado, amado, de se sentir aceito,
acolhido, aprovado ou apreciado; de ser necessário, de ser importante para os outros,
especialmente para uma determinada pessoa; de ser ajudado, protegido, cuidado, guiado
(Horney, 1945, p. 51).

Por trás da procura compulsiva do submisso de estar em harmonia com os outros,


evitando qualquer atrito, existe um desejo de superação, uma grande competição e
sentimentos não reconhecidos de raiva e hostilidade. Ele idealizou as qualidades do
sofrimento, do desamparo e do martírio e só é capaz de sustentar a hostilidade que não
se permite expressar caso se veja como uma pessoa inocente e inofensiva.
As necessidades de amor, afeto, compreensão, simpatia ou ajuda tornam-se "direito ao amor, ao
afeto, à compreensão, à simpatia. Tenho o direito de que façam as coisas por mim. Tenho o
direito não de procurar a felicidade, mas de que a felicidade venha ao meu colo". É preciso dizer
que essas reivindicações permanecem mais inconscientes do que no tipo expansivo (p. 232).

O submisso é exigente, porque se sente “no direito” devido à sua grande necessidade e
ao seu sofrimento. O sofrimento é bom para aquele que se julga muito santo, e será
ainda melhor se ele puder estendê-lo aos outros.
O sofrimento é inconscientemente colocado ao serviço da afirmação de reivindicações, o que não
só atrasa o incentivo para ultrapassá-lo, como também contribui para um exagero involuntário.
(...) Ele deve sentir que o seu sofrimento é tão excepcional e tão excessivo que lhe dá o direito de
ser ajudado. Por outras palavras, este processo faz com que a pessoa sinta de fato os seus
sofrimentos mais intensamente do que sentiria sem ter adquirido um valor estratégico
inconsciente (p. 233).

No capítulo "A solução da modéstia: O Apelo Amoroso", Horney descreve como este
tipo usa o sofrimento, o desamparo, a impotência e o martírio, o que nos parece uma
boa descrição do E4 social, com traços típicos como a desvalorização e a auto
depreciação, a inibição da hostilidade e da agressividade, a ênfase no emocional ou um
juiz interno muito forte. Alguns exemplos são os seguintes:

 A ênfase no emocional, que gera a ilusão de estar intensamente vivo e de uma


profundidade que de alguma forma compensa o sentimento de vazio interior.

 A ênfase nos sentimentos: sentimentos de alegria ou de dor, sentimentos não só


individuais, mas de humildade, de arte, de natureza, de valores de todo o gênero.
Ter profundidade de sentimentos faz parte da sua imagem. (p.225)
 A desvalorização constante: Assim, inicia-se o processo de encolhimento,
deixando-o desamparado. Seria impossível para ele se identificar com o seu eu
glorioso e orgulhoso. Só pode ser vivenciado como seu eu subjugado e vitimado.
Ele não só se sente pequeno e desamparado, mas também culpado, rejeitado,
inamável, estúpido e incompetente. É o caído que se identifica com todos os
caídos (p. 226).

 O sentimento de impotência e desamparo: (...) a necessidade é tão grande que


qualquer desejo de ajuda parece razoável (...) na realidade representa a esperança
de que tudo será feito por ele. Os outros têm que tomar a iniciativa, fazer o seu
trabalho, assumir a responsabilidade, dar sentido à sua vida, ou tomar conta da
sua vida para que ele possa viver através deles.

De um modo geral, o E4 tem uma tolerância muito baixa à frustração, mas cada subtipo
oferece uma resposta diferente: o apelo agressivo no E4 sexual, o redobrar esforços no
E4 conservação, e a resposta de se retrair e sofrer no E4 social.
Neste último subtipo, a sua resposta típica à frustração das suas reivindicações é,
mais do que uma indignação justa, um sentimento de comiseração para consigo próprio
por se sentir injustiçado.
(...) ele pode fazer desabafos devastadores sobre as suas mágoas, suscitar compaixão e o desejo
de ser tratado melhor, mas em pouco tempo ele se encontra na mesma situação.

Horney expõe extensivamente as funções que o sofrimento tem neste tipo neurótico, que
se correlacionam perfeitamente com os traços masoquistas do nosso E4 social, como a
função de dar vazão à agressividade reprimida ou servir de pretexto para justificar a
impotência e a inibição da ação:
A exteriorização passiva do ódio a si próprio pode ir além do simples sentir-se
maltratado. Pode provocar os outros para que o maltratem e, assim, deslocar a cena
interior para o exterior. Assim, ele se torna a vítima nobre que sofre sob um mundo
cruel e ignóbil.
Sentir-se maltratado também tem uma função importante. Essa função é permitir a saída das
tendências expansivas reprimidas (...) e ao mesmo tempo mantê-las escondidas. Isto permite-lhe
que se sinta secretamente superior aos outros (a coroa do martírio); permite-lhe dar uma base
legítima aos seus sentimentos hostis e agressivos contra os outros; e, finalmente, permite-lhe
disfarçar a sua agressividade hostil porque (...) a maior parte da hostilidade está reprimida e é
expressa através do sofrimento (p. 235).

O seu meio mais característico de expressão do ressentimento vingativo é o sofrimento. A raiva


pode ser absorvida pelo aumento do sofrimento de quaisquer sintomas psicossomáticos que se
tenha, ou por se sentir prostrado ou deprimido. (...) Assim, o sofrimento adquire uma outra
função: a de absorver a raiva e de fazer com que os outros se sintam culpados, que é o único
meio eficaz de se vingar deles (p. 238).

O seu sofrimento acusa os outros e desculpabiliza-o (...) Dá-lhe um corte total, por não ter
tornado a sua vida mais brilhante e não ter atingido objetivos ambiciosos. Embora, como vimos,
ele evite avidamente a ambição e o sucesso, a necessidade de sucesso continua a atuar. E o seu
sofrimento permite-lhe salvar a face, mantendo na sua mente - consciente ou inconscientemente -
a possibilidade de proezas supremas, se não fosse afetado por doenças misteriosas (p.239).
No capítulo "Dependência Mórbida", Horney desenvolve o tema da ânsia de amor neste
tipo e explica como o amor romântico "é e parece ser o passaporte para o paraíso, onde
todos os males terminam; sem mais solidão; sem mais sentimento de perda, culpa e
indignidade; sem mais auto responsabilidade; sem mais luta com um mundo severo para
o qual não se sente equipado. Em vez disso, o amor parece prometer proteção, apoio,
afeto, encorajamento, simpatia, compreensão. Dará um sentido de valor. Dará sentido à
sua vida. Será a salvação e a redenção. Por isso, não é de estranhar que, para ele, as
pessoas estejam frequentemente divididas entre os que têm e os que não têm, não em
termos de dinheiro ou posição social, mas em termos de serem (ou não serem) casados
ou de terem uma relação equivalente.
E encontramos também em Horney o intenso anseio por um lugar de
pertencimento característico deste subtipo social, um lugar que ele deseja intensamente
e nunca ousa ocupar, esta busca repetida resulta numa dolorosa frustração que o leva a
retirar-se, perturbado por profundos sentimentos de vergonha, inadequação e
desamparo. Um movimento pendular que o esgota e o enche de desespero.
(...) procura os outros para reforçar a sua posição interior, dando-lhe um sentimento de ser aceito,
aprovado, necessário, desejado, amado, apreciado. A sua salvação são os outros. Por isso, a sua
necessidade de pessoas não só é muito reforçada, como frequentemente atinge um caráter
frenético. Começamos a compreender o que significa o amor para este homem. (pp. 228 e 229)
(...) têm que se sentir aceito pelos outros. Precisam de tal aceitação que a recebem sob qualquer
forma que esteja disponível: atenção, aprovação, gratidão, afeto, simpatia, amor, sexo. (...) Ele
vale o quanto quiserem, precisam dele como homem (p. 230).

(...) Estar sozinho significa para ele a prova de não ser amado, e por isso é uma desonra que deve
ser mantida em segredo. É uma vergonha ir sozinho ao cinema ou às férias, e é uma vergonha
passar o fim de semana sozinho, quando os outros estão em sociedade (p. 230).

Anorexia

A sua oralidade, o sentimento de privação dolorosa e a voracidade, tornam o E4


propenso a distúrbios alimentares, e tanto a bulimia como a anorexia nervosa se
manifestam neste tipo, sendo a bulimia mais característico do E4 sexual e a anorexia do
E4 social. Freud, no seu já citado "Manuscrito G", relaciona desta forma a anorexia e a
melancolia, atribuindo-a a perda da libido, ou, se usarmos as palavras de Claudio
Naranjo, do instinto erótico saudável:
A neurose alimentar paralela à melancolia é a anorexia. A conhecida anorexia nervosa das
adolescentes me parece representar, após cuidadosa observação, uma melancolia em presença de
uma sexualidade rudimentar. A paciente afirma que não comeu simplesmente porque não tinha
apetite, e nada mais. A perda de apetite é equivalente, em termos sexuais, à perda de libido.

Gabbard, no seu Dynamic Psychiatry in Clinical Practice, no capítulo dedicado aos


distúrbios relacionados com substâncias e comportamento alimentar, faz uma exposição
da psicodinâmica subjacente a esta doença em que encontramos correspondências com
o E4 social.
A maioria dos pacientes com anorexia nervosa tem uma convicção exaustiva de que são
totalmente ineficazes e impotentes. A doença caracteriza-se geralmente por “boas garotas que
passaram a vida tentando agradar os pais, para de repente se tornarem adolescentes teimosas e
negativistas”. O corpo é quase sempre vivido como algo separado do eu, como se pertencesse
aos pais.

Para Bruch, a origem da anorexia nervosa remonta a uma falha na relação entre o bebê e
a mãe. Concretamente, a mãe educa a criança de acordo com as suas próprias
necessidades e não com as da criança.
Embora também exista uma propensão para a anorexia no eneatipo Três, esta
teria mais a ver com uma motivação para "melhorar", aumentar a sua atratividade e ser
o melhor, e embora não possamos esquecer que o E4 também se localiza no eneagrama
do lado da imagem, podemos entender a anorexia no invejoso como uma manifestação
da dificuldade deste eneatipo em integrar o que o alimenta, ficando assim carente e
necessitado da sua voracidade, além de ser uma outra forma de sofrer e castigar os que o
rodeiam. Gabbard reúne de Palazzoli e Boris o que, nos parece, explicar perfeitamente
como a motivação deficiente de E4 sustenta a dinâmica desta doença:
Selvini Palazzoli (1978) observou que os pacientes com anorexia nervosa foram incapazes de se
separar psicologicamente das suas mães, resultando numa incapacidade de alcançar qualquer
sentido estável dos seus próprios corpos. O corpo é então muitas vezes visto como sendo
habitado por uma mãe má introjetada, e a fome pode ser uma tentativa de parar o crescimento
deste objeto interno intrusivo e hostil.

Boris (1984b) observou que a ganância intensa constitui o coração da anorexia nervosa. (...)
Através da identificação projetiva, a representação do eu, guloso e exigente, é transferida para os
pais.

Numa formulação influenciada pelo pensamento kleiniano, Boris conceituou a anorexia


nervosa como uma incapacidade de receber coisas boas dos outros devido a um desejo
desordenado de posse. Qualquer ato de receber comida ou amor confronta honestamente
estes pacientes com o fato de que eles não podem ter o que querem. A sua solução é não
receber nada de ninguém. A inveja e a avareza estão muitas vezes intimamente ligadas
no inconsciente. O paciente tem inveja das boas posses da mãe - amor, compaixão,
carinho - mas receber essas coisas aumenta a sua inveja. Desistir delas implica na
fantasia inconsciente de prejudicar o que é invejado, como faz a raposa na fábula de
Esopo, que argumenta que as uvas que não consegue alcançar estão azedas.
O paciente transmite a seguinte mensagem: "Como não há nada de bom
disponível para eu possuir, então eu simplesmente desisto de todos os meus desejos".
Esta renúncia faz do paciente anoréxico o objeto do desejo dos outros e, na sua fantasia,
o objeto da inveja e da admiração deles, porque estão "impressionados" com o seu
autocontrole. A comida simboliza as qualidades positivas dos outros que ela deseja em
si própria; é melhor ser escravizada pela fome do que desejar possuir a figura materna.
E, como explica Juan José Albert, se o E4 social também tiver como segundo
subtipo o de conservação vai juntar-se a ele uma tenacidade extrema que vai complicar
muito a remissão do quadro anoréxico.
Bruch entendeu então o comportamento do paciente anoréxico como um esforço
frenético para obter admiração e validação. como uma pessoa única e especial com
atributos extraordinários.
HISTRIONISMO E TRANSTORNO BORDERLINE NO E4 SEXUAL

Os sexuais, devido ao seu elevado grau de histrionismo, potencializado pelo maior uso
do mecanismo de defesa da projeção, são os mais extrovertidos; dos três subtipos são os
mais histriônicos. Este subtipo apresenta problemas, algumas vezes importantes, com
limites. São invasivos na relação com os outros e tendem a estabelecer uma forma de
ligação anaclítica típica da organização limítrofe ou borderline. Os indivíduos do
subtipo social, os envergonhados, também tendem a estabelecer este tipo de relação,
mas o seu estilo é mais submisso, enquanto o dos sexuais é exigente e manipulador. Nas
palavras de Jean Bergeret: "Como a etimologia indica, o termo grego anaclitos significa
estar deitado de costas, deitado sobre as costas de alguém, de uma maneira
essencialmente passiva". "Os significados derivados do termo anaclitos explicam os
movimentos de "retirar-se para dentro", "inclinar-se para", "inclinar-se contra". E isto é
precisamente a característica da organização borderline. É necessário encostar-se ao
interlocutor, seja em espera passiva e implorando por uma satisfação positiva, seja em
manipulações muito mais agressivas, óbvias ou não, desse parceiro indispensável".
O TRANSTORNO BORDERLINE E OS E4s: SEXUAL E SOCIAL.

POR ELENA CURIEL

No atual DSM V, encontramos correspondências com o E4 social e com o E4 sexual no


quadro de transtorno de personalidade, incluído no Grupo B, denominado Transtorno de
Personalidade Borderline. A diferença é que o E4 sexual é mais expressivo e impulsivo
na ação, queixando-se agressivamente, enquanto o social, mais inibido, tende a viver os
altos e baixos emocionais na intimidade, queixando-se com lágrimas e uma expressão
dolorosa do seu sofrimento, embora igualmente intensa.

Critérios de diagnóstico.

Padrão dominante de instabilidade nas relações interpessoais, na autoimagem e nos


afetos, e impulsividade intensa, começando no início da idade adulta e presente em
vários contextos, manifestando-se em cinco ou mais casos os seguintes fatores:

1. Esforços desesperados para evitar o abandono (real ou imaginado)

2. Relacionamentos intensos e instáveis que se alternam entre idealização


desvalorização da outra pessoa

3. Autoimagem ou senso do eu instável

4. Impulsividade em ≥ 2 áreas que pode prejudicá-los (p. ex., sexo inseguro,


compulsão alimentar, dirigir de forma imprudente)

5. Comportamentos, gestos e/ou ameaças repetidos de suicídio ou automutilação

6. Mudanças rápidas no humor, normalmente durando apenas algumas horas e


raramente mais do que alguns dias

7. Sentimentos persistentes de vazio

8. Raiva inadequadamente intensa ou problemas para controlar a raiva

9. Pensamentos paranoicos temporários ou sintomas dissociativos graves


desencadeados por estresse
As pessoas com transtorno de personalidade borderline fazem esforços
frenéticos para evitar o abandono real ou imaginário (Critério 1). A percepção de
separação ou rejeição iminente ou a perda de estrutura externa pode levar a alterações
profundas na autoimagem, nos afetos, na cognição e no comportamento. Estes
indivíduos são muito sensíveis às circunstâncias ambientais, experimentam um medo
intenso de abandono e uma raiva inapropriada mesmo quando confrontados com uma
separação real e limitada no tempo ou quando ocorrem mudanças inevitáveis nos
planos. (...) Podem acreditar que este "abandono" implica que são "maus". Estes medos
de abandono estão relacionados com uma intolerância à solidão e com a necessidade de
ter outras pessoas consigo.
As pessoas com este transtorno têm um padrão de relacionamentos instáveis e
intensos (Critério 2). Podem idealizar os cuidadores ou potenciais pretendentes no
primeiro ou segundo encontro, exigir passar muito tempo juntos e compartilhar os
detalhes mais íntimos de uma relação cedo demais. No entanto, podem passar
rapidamente da idealização para a desvalorização das pessoas e sentir que a outra pessoa
não se preocupa muito, não lhes dá o suficiente ou "não tem tempo suficiente para elas".
Estas pessoas podem compreender e preocupar-se com os outros, mas apenas
com a expectativa de que essa pessoa "estará lá" para as suas próprias necessidades
quando lhe for pedido. Estes indivíduos são propensos a mudanças súbitas e dramáticas
na sua visão dos outros que, alternativamente, podem ser vistos como o seu melhor
suporte ou punidor cruel. Estas mudanças refletem frequentemente o desapontamento
com um responsável cujas qualidades parentais foram idealizadas ou cuja rejeição ou
abandono é esperado.
Pode haver um distúrbio de identidade caracterizado por uma autoimagem ou
sentido do eu marcadamente e persistentemente instável (Critério 3). Há mudanças
súbitas e dramáticas na autoimagem, caracterizadas pela alteração de objetivos, valores
e aspirações profissionais. Podem ocorrer mudanças súbitas nas opiniões e projetos
sobre a profissão, identidade sexual, valores e tipos de amigos. Estes indivíduos podem
passar subitamente do papel de uma pessoa carente que pede ajuda para o de uma
pessoa vingativa, disposta a reparar os maus tratos sofridos. Embora normalmente
tenham uma autoimagem má ou prejudicial, as pessoas com este transtorno às vezes têm
a sensação de que sequer existem. Estas experiências ocorrem frequentemente em
situações em que o indivíduo sente falta de uma relação significativa, de cuidados e de
apoio. Têm tendência a ter um pior desempenho em situações não estruturadas no
trabalho ou na escola.
Os indivíduos com transtorno de personalidade borderline apresentam
impulsividade, além da sexualidade explícita, em pelo menos duas áreas que são
potencialmente prejudiciais para si próprios (Critério 4). Podem jogar de forma
patológica, gastar dinheiro de forma irresponsável, comer em excesso, abusar de
substâncias, ter sexo sem proteção ou dirigir de forma imprudente.
As pessoas com transtorno de personalidade borderline demonstram
instabilidade afetiva que se deve a uma reatividade acentuada do humor (por exemplo,
episódios de disforia intensa, irritabilidade ou ansiedade que normalmente duram
algumas horas, raramente mais do que alguns dias) (Critério 6). O humor disfórico
habitual das pessoas com o transtorno é frequentemente interrompido por períodos de
raiva, pânico ou desespero e raramente é aliviado por momentos de bem-estar ou
contentamento. Estes episódios podem refletir a reatividade extrema do indivíduo a
fatores de estresse interpessoal.
As pessoas com transtorno de personalidade borderline queixam-se
frequentemente de sentimentos crônicos de vazio (Critério 7). Também se aborrecem
facilmente e podem estar constantemente à procura de algo para fazer.
Além disso, expressam raiva de forma inadequada e intensa e têm grande
dificuldade em controlá-la (Critério 8). Tendem a manifestar-se de forma muito
sarcástica, com ressentimentos duradouros e explosões verbais. A raiva é muitas vezes
desencadeada quando percebem que um cuidador ou amante é negligente, distante,
indiferente ou pretende abandoná-los. Essas expressões de raiva levam a sentimentos de
vergonha e culpa que por sua vez ajudam a reforçar a ideia de que são maus.
Durante períodos de estresse extremo, podem ocorrer ideações paranóides
transitórias ou sintomas dissociativos (por exemplo, despersonalização) (Critério 9).
Referindo-se ao suicídio, tentativas de suicídio ou automutilação típicos do
transtorno, afirma-se que: “Estes comportamentos autodestrutivos podem ser
precipitados por medo de separação ou rejeição, ou pela expectativa de ter que assumir
maiores responsabilidades”. A automutilação pode ocorrer durante experiências
dissociativas e muitas vezes proporciona alívio reafirmando a sua capacidade de sentir
ou expiando um sentimento mau.

Continuando com o resto dos critérios expostos, que coincidem com as características
do subtipo sexual, encontramos que: "Os indivíduos com transtorno de personalidade
borderline podem apresentar instabilidade afetiva que se deve a uma notável reatividade
do humor". E prossegue dizendo que: “(...) podem ser atormentados por sentimentos
crônicos de vazio”. Aborrecem-se facilmente e estão sempre à procura de algo para
fazer. Os indivíduos com transtorno de personalidade borderline expressam
frequentemente uma raiva inadequada e intensa ou têm problemas em controlar a raiva.
Podem apresentar sarcasmo extremo, amargura persistente ou explosões verbais. A
raiva é frequentemente desencadeada quando consideram que um cuidador ou parceiro
os está a negligenciar, a suprimir, a não cuidar deles ou a abandoná-los. Estas
expressões de raiva são frequentemente seguidas de vergonha e culpa e contribuem para
o seu sentimento de ser mau.
Como esperado e como veremos mais tarde, aspectos da sua infância até
coincidem. "(...) nas histórias de infância de sujeitos com transtorno de personalidade
borderline" onde “são frequentes os abusos físicos e sexuais, a negligência nos seus
cuidados, os conflitos hostis e a perda precoce ou a separação dos pais”.

Aspectos associados que apoiam o diagnóstico

As pessoas com transtorno de personalidade borderline podem apresentar um padrão de


auto boicote quando estão prestes a atingir um objetivo (por exemplo, abandonam a
faculdade pouco antes da formatura, pioram gravemente depois de terem tratado os
progressos na terapia, rompem uma boa relação quando é evidente que a relação pode
durar). Alguns indivíduos desenvolvem sintomas do tipo psicótico (por exemplo,
alucinações, distorções da imagem corporal, ideias de referência, fenômenos
hipnagógicos) durante períodos de estresse. Os indivíduos com este transtorno podem
sentir-se mais seguros com objetos transitórios (i.e., um animal de estimação ou uma
posse inanimada) do que com relações interpessoais. Pode ocorrer morte prematura por
suicídio, especialmente nas pessoas com depressão ou distúrbios relacionados com o
consumo de substâncias. Pode haver incapacidade física em resultado de
comportamentos abusivos auto infligidos ou de tentativas de suicídio falhadas. A perda
recorrente de emprego, a interrupção dos estudos e a separação ou divórcio também são
comuns. O abuso físico e sexual, a negligência, o conflito hostil e a perda prematura dos
pais são comuns na história de infância das pessoas com transtorno de personalidade
borderline. Os transtornos coexistentes mais comuns são os transtornos depressivos e
bipolares, os transtornos relacionados com o uso de substâncias, os transtornos
alimentares (especialmente a bulimia nervosa), o transtorno de estresse pós-traumático e
o transtorno de déficit de atenção.

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