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Narcisismo (por Drª.

Maria Cláudia Tardin Pinheiro)

É o amor a uma imagem idealizada de si, não é amor próprio. É uma marca
estruturante que já foi desenhada, por seus pais, muito antes do sujeito existir. Os
pais fantasiam como será seu filho, o que esperam dele, seu futuro, escolhem seu
nome que possui um significado nessa história familiar e isso tudo vai interferir na
imagem que a criança terá de si mesma. A imagem que uma pessoa tem de si
mesma é marcada pelo outro, ou seja, pelo conjunto de identificações que ela
passou por sua vida e lhe ajudaram a significar sua imagem. O filho é herdeiro de
um patrimônio de ideais e pela projeção dos desejos dos pais, inclusive de o que
os pais criticam neles que formam suas feridas narcísicas. A marca narcísica é
organizada pelos ideais parentais e pelos projetos dos pais aos filhos (projetos
acadêmicos, profissionais, amorosos etc.). O narcisismo é um legado ou uma
determinação do desejo parental e ao mesmo tempo, é a base da constituição do
sujeito. (Ver a animação Alike short film). O narcisismo é um conjunto de imagens
que uma pessoa tem de si, seja com aspectos positivos e negativos, que foram
percebidos e definidos por outros nela.
Conceitos de narcisismo:
1- Narcisismo primário (Freud) ou de morte (André Green)
Inicialmente, o bebê impõe horários e os adultos têm que se organizar para viver
em função das necessidades do bebê. Nesse momento, o bebê passa a ser objeto
do desejo dos pais. O ego do bebê não se percebe conscientemente enquanto
unidade, enquanto imagem e significado de quem ele é. A primeira unidade do
ego se dá no narcisismo primário. É o momento em que a criança se sente como
objeto do desejo do outro e que desenvolve a instância psíquica ideal chamada
ego ideal. O ego ideal é a imagem maravilhosa e, ou desqualificante
(desvalorizada) que os pais têm da criança e passam para ela como imagem de
quem ela é. A criança tem a vivência de ser perfeita e nada lhe faltar, ou, tem a
certeza de ser imperfeita. O registro do bom e do mau é o registro do ego ideal.
“Eu sou uma pessoa fantástica” ou “Eu sou uma porcaria, não dou para nada”. A
identificação da criança com o desejo parental é o registro do ego ideal.
2- Narcisismo secundário (Freud) e de vida (André Green)
Aos poucos, a criança vai convivendo com outras pessoas que vão lhe dizer que
ela não é isso tudo que os pais dizem que ela é. Nesse momento a criança não
pode mais ser objeto desse desejo, isto é, o “ideal do outro” e começa a “nascer”
como sujeito, isto é, ela assume a vivência da falta (nem tudo o que ela sente e
percebe em si se encaixa com o que ela ouve os outros falarem sobre si mesma)
e sente a frustração e estranheza em sua vida, além de começar a desejar ser
desejada por outras pessoas.

Ela pode viver a falta em dois níveis. Um, o mais comum, é viver a falta na
posição subjetiva de ser desejável, em que se coloca como o “objeto de desejo”
do outro, o que a levará a buscar em seus relacionamentos, a confirmação que é
um ser desejável. Esta posição psíquica gera contínua e muita ansiedade. Essa é
a vivência do narcisismo primário para Freud, que posteriormente, André Green o
chamou de narcisismo de morte. O indivíduo apresenta um discurso de certeza
sobre si, sobre o outro e tudo o mais que falar a respeito, pois está pensando
na perspectiva da performance, da exigência incessante sobre si e aos demais, da
eficácia e da “qualidade total” e do “zero defeito”.

A outra posição subjetiva em que pode viver a falta é no nível do seu ser. Ela
assume a falta em seu ser, o que produz angústia, e aceita pagar um preço pelo
seu narcisismo, isto é, aceita se ver como imperfeita e busca o “objeto de desejo”
que possa restaurar, momentaneamente, uma certa vivência de completude.
Nesta vivência, a pessoa sai da posição subjetiva de ser desejável para ser
desejante e pode ter muito prazer em buscar realizar seus anseios.
Ela abandona a posição de “ser o objeto de desejo” do outro rompendo o ego
ideal. Surge outra instância psíquica ideal: o ideal do ego que irá restaurar o
narcisismo perdido e constituir o narcisismo secundário (conceito freudiano).
André Green o chamou de narcisismo de vida, em que o sujeito suporta sentir e
confrontar a sua dor, seu sofrimento e a sua alegria, interroga-se ao viver na
turbulência do pensar e tem a capacidade de sublimar.
A identificação da criança com o seu ego ideal (o desejo parental) vai ceder lugar
para o “outro”, representante do simbólico, da cultura que lhe dará novos
significados à medida que vai se identificando com essas pessoas, imagens e
mensagens. Enquanto se vê com seu ego ideal, a criança se vê inteira naquela
imagem dotada de significados constituídos pelos pais. Essa imagem pode
retornar a qualquer momento quando o outro, ou o mundo dispara na pessoa
essas marcas arcaicas. No momento em que se vê pelo ideal do ego, a criança
não se vê mais inteira, mas muito pelo contrário, dotada de uma falta em que ela
busca suprir através de suas relações de amor. Mas nenhuma relação com o outro
vai preencher a sua falta, o seu limite e a sua insuficiência. A cada vez que uma
pessoa tenta se prolongar no outro buscando escapar imaginariamente do
sentimento em limite, em defeito ou em insuficiência, algo lhe diz que ela não
consegue.
Segundo o psicanalista Laurent Lapierre, em todo ser humano há uma
predisposição narcisista, ou seja, um desejo de ser admirado, elogiado para
escapar a sua insegurança e solidão.

Ver a animação: Cupido – Love is blind 3D animation short film HD

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