Você está na página 1de 34

A PSICOLOGIA DAS MASSAS

E SEU LÍDER
A hipótese freudiana
O que une? Uma analogia
química

◦No conjunto que constitui uma multidão, não há


soma ou média de seus componentes. Mas sim
uma combinação, seguida pela criação de novas
características, como , na química, alguns
elementos, ao serem postos em contato
combinam-se na formação de um novo corpo, com
propriedades muito diferentes das dos elementos
que serviram para formá-lo.”

◦ Gustave Le Bon, A psicologia das Massas –


1895.
◦ Sejam quem forem os indivíduos que
compõem a multidão, e por mais
parecidos ou diferentes os seus estilos
de vida, suas ocupações, seu caráter
ou sua inteligência, o fato de eles se
haverem transformado numa multidão
os torna donos de uma espécie de
mente coletiva, que os faz sentir,
pensar e agir de maneira muito
diferente daquela que cada indivíduo
sentiria, pensaria e agiria se estivesse
isolado.
◦ Le bon A psicologia das massas -
1895
Há ideias e
sentimentos que só
passam a existir, ou
só se transformam
em atos, quando os
indivíduos formam
uma multidão.”Le
bon A psicologia
das massas - 1895
Hipóteses de Le bon:
◦ Sentimento de invencibilidade da multidão, contágio e sugestionabilidade.

◦ “Portanto, desaparecimento da personalidade consciente, predomínio da personalidade


inconsciente, orientação por meio da sugestão e contágio dos sentimentos e das ideias em um
mesmo sentido, tendência a transformar imediatamente em atos as ideias sugeridas são as
principais características do indivíduo na multidão. Ele já não é ele mesmo, é um autômato cuja
vontade tornou-se impotente.” LE BON, Gustave
OS FENÔMENOS DE MASSA EXIGEM NÃO
APENAS UMA EXPLICAÇÃO DA NATUREZA
DAS MULTIDÕES, MAS TAMBÉM UM
MODELO DE SUJEITO QUE OS JUSTIFIQUE.
Dois modelos opostos de subjetividade: com e
sem inclusão da alteridade.
O sujeito é essencialmente uma mônada, em sua estrutura não
◦ O sujeito inclui a alteridade em sua
está incluída a alteridade:
◦ Idêntico consigo mesmo
estrutura
◦ Desejo e liberdade individuais estão necessariamente em ◦ O sujeito é essencialmente contraditório
relação de exclusão mútua com os desejos e a liberdade dos
outros consigo mesmo
◦ Ex. “sujeito como cálculo de custo-benefício entre
◦ Seu desejo e liberdade são indissociáveis
possibilidades incompatíveis” Gary Becker
◦ (Como no cálculo de gozo do sujeito obsessivo que está
dos do outro
sempre em dúvida: me movo ou não me movo em direção ao
outro? O que eu ganho ao me colocar em uma situação
desconfortável? Não é mais fácil eu me fechar e não ter que
lidar com as demandas dos outros? Etc. O sujeito se crê
◦ Ex. “ O desejo é o desejo do Outro” (J.
separado do Outro e sequer consegue entender o porque tem Lacan)
dúvidas.)
DUNKER, C. I. L.; SILVA JUNIOR, N. SAFATLE, V. (Org.). Neoliberalismo como
gestão do sofrimento psíquico. Belo Horizonte : Autêntica, 2020.
A HIPÓTESE FREUDIANA SOBRE A
PSICOLOGIA DAS MASSAS E SEUS
LÍDERES
◦ As hipóteses do contágio e da sugestionabilidade de Le Bon parecem insuficientes para Freud.
Elas descreveriam o funcionamento das massas, mas não a explicariam. A pergunta inicial de
Freud é então sobre o que uniria os sujeitos em uma massa. É assim que o psicanalista parte
para uma análise metapsicológicas sobre a pulsão e o narcisismo.
◦ Nada funcionaria se não fosse o amor – essa é a primeira hipótese proposta por Freud. Amor a
um líder, amor recíproco entre os outros sujeitos. Quem traz um traço distintivo da massa
merece amor. Quanto aos outros, ódio.
◦ Curiosamente, a ambivalência afetiva desaparece entre os membros de uma massa. É como
se o narcisismo fosse refreado pelo amor. Trata-se do amor entendido como desviado de sua
meta (não se trata do amor erótico).
◦ É pensando no amor como parte das pulsões desviadas de sua meta que Freud parte para
uma análise do fenômeno da identificação.
Pensamento por associações de imagens, não por
raciocínios lógicos

Fantasias são mais fortes que a realidade

FENÔMENOS DA Inexistência de dúvidas, apenas certezas (Não


MASSA COMPARADOS obedece ao Princípio de Não Contradição)
AO FUNCIONAMENTO
DO INDIVÍDUO: Exaltação de sentimentos, passagens rápidas de um
INTENSIFICAÇÃO DO extremo ao outro
AFETO E INIBIÇÃO DO
PENSAMENTO Influenciabilidade e Credulidade nas autoridades, nas
palavras mágicas, nas máximas

Disponiblidade à obediência e ao sacrifício

Presença de um líder carismático


A HIPÓTESE
FREUDIANA
SOBRE O
PSIQUISMO.
RETOMANDO
ALGUMAS
PREMISSAS
◦ O psiquismo não é uma tabula rasa, ele se
constrói com a história individual a partir das
relações com seus próximos. Donde a
importância das experiências infantis. Cada

O modelo etapa dessa construção, com seus conflitos,


continua presente ao longo da vida.
psicanalítico do ◦ O psiquismo é um sistema não homogêneo, em
psiquismo é uma constante conflito consigo mesmo e portanto é
ambivalente em seus desejos: desejos não
construção que compatíveis com a vida social são rejeitados da
consciência, mas continuam existindo e buscam
não se confunde sua satisfação por vias indiretas e disfarçadas,
com a realidade. ignoradas pelo próprio sujeito.
◦ Os atos falhos, sonhos e sintomas neuróticos são
satisfações de desejos inconscientes. Na medida
em que revelam aquilo que o sujeito tentou
esconder de si mesmo, estes elementos têm um
valor verdade e são potencialmente
oportunidades de amadurecimento para o sujeito
Dois tipos de
inconsciente.
◦A divisão do Aparelho Psíquico em
consciente e inconsciente é uma
premissa fundamental da Psicanálise.
Mas há uma diferença fundamental entre
dois tipos de inconsciente: aquele
resultante da não presença na
consciencia com a possibilidade de estar,
e aquele que é fruto do recalcamento e
que não retorna à consciência por
“proibição”. Além disso, outras
subdivisões essenciais para compreender
o modelo freudiano, a saber: Ego,
Superego e Id
Ponto de partida da reflexão freudiana para a psicologia
das massas: os diferentes tipos de presença dos outros
no sujeito
◦ Influência de outros significativos (poucos a ◦ Influência das Massas (muitos de uma só vez):
cada vez): ◦ Em situação de massa o sujeito sofre
“Na vida psíquica, o Outro é via de regra transformações :
considerado enquanto modelo, objeto, ◦ Sentimento de aumento de poder
auxiliador e adversário...”(Freud, Psicologia de ◦ Perda de características individuais
Massas e Análise do Eu, introdução)
◦ Rebaixamento da crítica e da capacidade de
Modelo: Pais, Mestres, CEO’s... reflexão lógica
Objeto: sexual, monetário ◦ Liberação de impulsos normalmente reprimidos
Auxiliador: amigos... ◦ Presença de um líder
Adversário: concorrentes,
◦ Identificação
◦ Libido
◦ Investimento
◦ Narcisismo
Capítulo VII- ◦ Objeto
Conceitos ◦ Regressão

novos: ◦ Complexo de Édipo


◦ Ideal de Eu (Super-eu)
◦ 1. Identificação : primeira forma de
ligação a um objeto.

Identificação ◦ 2. Identificação como regressão: o


investimento objetal é substituído por
3 tipos um investimento narcísico
◦ 3. Identificação parcial, realizada a
partir de um traço comum
◦ 1. Identificação com o Pai ou com os Pais , na
medida em que estes surgem como figuras
perfeitas, onipotentes, oniscientes, e
onipresentes (investimento = identificação; ter =
1º Tipo: ser)

Primeiras ◦ 2. Identificação por apoio, com a pessoa que


cuida da criança, antigamente, em geral era

formas da apenas a mãe. Atualmente, mãe, pai,


eventualmente, avós, tias, babás etc...

Identificação: 0
a mais ou ◦ Características estruturais: ambivalência e
equação de equivalência

menos 3 anos ◦ Nessa forma ou fase da Identificação, a saber, a


Fase Oral, ela tem uma lógica essencialmente
ambivalente, cujo paradigma é o canibalismo:
identifica-se com o objeto que é devorado. (ou Eu
existo, ou o objeto existe)
2º Tipo: ◦ 1. Equivalência entre ter e ser: Nesse caso,
Identificação ter o pai ou ser o pai, isto é, se perco o pai como
objeto de amor, realizo uma compensação que o
como equação conserva na forma de uma identificação.
Exemplos :
de equivalência. ◦ - vestir roupas, fazer tatuagens com a imagem de
Regressão do ou guardar consigo coisas de pessoas perdidas.

investimento no ◦ - adquirir características ou começar a se


interessar por coisas, imitar gestos ou construir
objeto ao sintomas à imagem e semelhança de quem
perdemos (tosse da paciente de Freud...)
investimento em ◦ Eventualmente, a melancolia, quando o objeto
si (narcisismo). perdido era idealizado. (Cisão no Eu: o Eu sofre
as censuras e críticas dirigidas ao objeto)
◦ A segunda forma de identificação se subdivide em dois tipos:

- Identificação a partir de um traço com aquele (a) que deteria o objeto amado:
“Você quis ser a mãe; e agora o é pelo menos no sofrimento”

- O segundo caso de identificação pela dor é quando se trata de um traço de dor do objeto
amado. “A identificação tomou o lugar da escolha de objeto, e a escolha de objeto regrediu à
identificação.” Não se trata como no caso anterior de se identificar com a mãe para de maneira
inconsciente realizar o desejo de ter o pai; mas de se identificar com um traço do objeto amado.

- Einzinger Zug - termo usado por Freud para falar do traço único, parcial, da segunda forma de
identificação. Esse termo é muito importante e apenas como exemplo é do onde Lacan retira o
conceito de traço unário.
◦ O abandono forçado dos pais como objetos de
amor erótico é substituído por identificações
importantes com traços, imagens, e valores
2º Tipo, destes. Estas identificações maciças constituem
continuação... o núcleo do Super-eu , ou do Ideal do Eu, que
são como as duas faces de uma moeda.
Participação desta ◦ 1. Super-eu. A consequência da interiorização
forma de da autoridade : a eficácia do Panoptico e do “-
identificação na Sorria, você está sendo filmado!” depende da
construção dessa estrutura no interior do
estruturação do psiquismo.
psiquismo: O Super-
Eu e o Ideal de Eu ◦ 2. Ideal de Eu. Constituição de uma parte
separada no Eu, dotada de uma valorização
ideal, que é o exemplo de, e que exige a
perfeição
1. Identifica-se com aquele (que me é indiferente, mas )
que goza de uma situação na qual desejo estar. Se
constrói sobre um silogismo equivocado e invertido
“se...então....”.: baseia as conclusões sobre o

3º Tipo: conteúdo narrativo, não sobre a forma lógica. Três


ocorrências:

Identificação ◦ A. Muito presente nos sintomas da neurose histérica: “-


Minha colega foi traída pelo noivo e teve uma crise. Se

como tenho também uma crise, terei também tido um noivo


que me traiu...”

realização ◦ B. Extensivamente utilizada na gramática da


publicidade: “- O galã X aparece com a mercadoria Y

indireta de um
rodeado de valores intangíveis e genéricos (amor,
beleza, dinheiro, poder). Se tenho a mercadoria Y, terei
também o valor que desejo em particular (amor, beleza,

desejo dinheiro, poder).


◦ C. Mecanismo que explicará as influências laterais
entre os membros da massa: “Fulano acredita em B e
tem certezas, poder, autoconfiança, proteção....
Acreditando em B, terei certezas, poder, autoconfiança,
proteção....”
“Um Eu percebeu no outro uma analogia significativa em certo ponto – em nosso exemplo, na mesma disposição afetiva -,
constrói-se uma identificação nesse ponto, e sob a influência da situação patogênica essa identificação se desloca para o
sintoma que o Eu produziu. A identificação através do sintoma vem a ser, desse modo, o indício de um local de coincidência
dos dois Eus, que deve permanecer reprimido.” FREUD. Psicologia das massas

◦ Além do interesse que esse trecho tem no que tange às ligações afetivas na massa, indica um local no próprio sujeito
onde haveria “duas espécies” de Eus, quais sejam: o Eu costumeiramente entendido e o Ideal do Eu.

◦ Formação da consciência de culpa e do super Eu.

◦ Toda consciência é, em alguma medida, melancólica – depressiva, como diria Klein – porque se pauta na substituição do
objeto por um traço no Eu. É daqui que provem a formação do ideal de Eu.

◦ O ideal do Eu se forma a partir de um traço de um objeto perdido ou renunciado, introjetado no Eu como forma de
substituí-lo. O sujeito identifica-se com esse objeto perdido e o introduz no Eu – engendrando a instância de vigília
chamada Ideal do Eu.

◦ Portanto, é a partir do segundo tipo de identificação que se formaria o ideal do Eu. O interesse disso em relação à massa
se dá pelo fenômeno do enamoramento, na medida em que o líder se encontrará para o sujeito no lugar do seu ideal do
Eu. E, também, por ser através da identificação a partir de algo em comum (terceiro tipo) que os sujeitos se ligarão entre
si numa massa.
CAPÍTULO VIII: HIPNOSE E
ENAMORAMENTO
Pontos de apoio para o modelo da relação da massa com o líder
◦“- We will always have Paris…”

Enamoramento ◦Casablanca, Michael Curtis, 1942.


Para a Psicanálise dois
diferentes tipos de amor
estão em relação de
continuidade
• 1. Com desejo erótico
• 2. Sem desejo erótico (Ternura,
ideais), o qual aparece:
• Nos intervalos, entre uma
relação sexual e outra
• Dos pais pelos filhos, e vice-
versa, depois do Complexo de
Édipo
• Amizades (?)
• Platônicos (objeto idealizado)...
A fenomenologia da
idealização no amor
do enamoramento:
◦ Supervalorização: o objeto é perfeito em
tudo.
◦ Isenção das críticas: seus defeitos são
sempre menores.
◦ O objeto pelo qual se está apaixonado não
tem igual: é incomparável, insubstituível.
◦ O objeto vale mais que o sujeito, ele é
amado pelas perfeições que o sujeito
desejou para si: “o objeto se colocou no
lugar do Ideal do Eu” (Freud, P. de
Massas, p. 73)
A HIPNOSE

O PROFESSOR CHARCOT
DEMONSTRA QUE A
HIPNOSE PODE FABRICAR
ARTIFICALMENTE A
HISTERIA …
O que a Hipnose
demonstra para
Freud, para além do
espetáculo?

1. O fenômeno psicológico da
submissão na hipnose não é
artificialmente fabricado, mas
sim despertado. Submissão
não erótica.
2. Ou seja, a submissão ao
hipnotizador depende da pré-
existência de um desejo de
submissão a um outro
poderoso e protetor (Pai): “O
hipnotizador se colocou no
lugar do Ideal do Eu” (Freud)
O Líder entre o
Hipnotizador e o Objeto
do enamoramento:
◦ Amor não erótico
◦ Supervalorização:o líder é perfeito em
tudo.
◦ Isenção das críticas: seus defeitos são
sempre menores.
◦ O líder é incomparável, insubstituível, (até a
página 2…).
◦ O líder vale mais que o sujeito, ele é amado
pelas perfeições que o sujeito desejou para
si: “o objeto se colocou no lugar do Ideal
do Eu” (Freud, P. de Massas, p. 73)
A tessitura da Massa
segundo Freud: as camadas
da lasanha e suas relações....

◦ Ideal de Eu : Cada um (cada camada da lasanha) estrutura


seu Ideal de Eu a partir do fim do complexo de édipo,
identificação que substitui o investimento nos pais.
Identificação 1º e 2º tipo
◦ Linha pontilhada entre os diferentes Egos: identificações
laterais, como satisfação indireta de seu desejo de proteção
Identificação 3º tipo
◦ Objeto: cada um percebe o seu a partir do seu próprio ideal
de ego. Enamoramento por uma pessoa singular,
insubstituível
◦ Objeto Externo: personagem real que deve ser o mais
genérico possível, com o mínimo de características
singulares. (O pequeno grande homem)
Diferenças entre enamoramento e identificação
No enamoramento, grosso modo, o objeto é conservado e se coloca no lugar do ideal
do Eu; na identificação, o Eu se enriquece com os atributos do objeto, introjeta-o, a
partir da sua falta. No enamoramento, o objeto conservado e colocado no lugar do
ideal do Eu é sobre investido à custa do próprio Eu, o que o empobrece.
O líder será esse único objeto no lugar do ideal do Eu. Como na relação hipnótica,
essa substituição empobrecerá o Eu de cada indivíduo na massa, permitindo que o
líder aja como a instância de regulamentação moral.
O todo e a exceção: Messias sem milagre, um
herói sem nenhum caráter.
- O líder no lugar do ideal do Eu e a identificação
entre os indivíduos de uma massa.
- - O Eu que é esmagado pela “grandeza” do líder
encontrará na identificação com aqueles que
padecem do mesmo fascínio uma forma de
fortalecimento de si mesmo; trata-se das
identificações mútuas entre os indivíduos da
massa. Sentem-se fortes, grandes, um mar de
gente guiado pelas palavras “verdadeiras” do líder
– mesmo se forem Fake News.
- O amor impera entre os iguais, entre aqueles
comandados pela mesma figura. Aos outros,
àqueles que não compartilham desse traço, resta
o ódio e a intolerância.
Continuando:

• O líder no lugar do ideal do Eu teria a ver com a hipótese do pai da horda primeva. A instauração das
regras a partir de um lugar de exceção. A lei submeteria todos os homens porque ao menos um estaria fora
do seu domínio, no lugar daquele que goza fora dos limites e que exerce a violência e a coerção sobre os
outros.
• Para Freud, a massa seria uma espécie de revivescência da horda primeva. Os indivíduos componentes
da massa seriam como os filhos, ligados entre si por laços de amor (identificação) e o líder seria como o
pai, “livre” e narcísico. De onde ele dirá que o pai primevo é o ideal da massa (faz funcionar a fantasia da
massa), dominando o Eu no lugar do ideal do Eu.
◦ O pai da horda primeva é o agente da castração – discussão que faremos na próxima aula a partir do tema
dos 4 discursos em Lacan

Você também pode gostar