Você está na página 1de 4

DESENVOLVIMENTO SEGUNDO ERIKSON

DA INFÂNCIA A VIDA ADULTA

Profa. Dra Tania Beatriz Iwaszko Marques1,


Profa. Dra Luciane Magalhães Corte Real2,

Em diferentes épocas da vida, seres humanos apresentam características diferentes. As várias


etapas são marcadas por conflitos que lhe são próprios. Assim como a passagem da infância para a
vida adulta é marcada pelos conflitos da adolescência e a passagem da adolescência também se
caracteriza por novas tarefas a serem realizadas. A cada passagem, há perdas, mas há ganhos. Para
algumas pessoas predominam os sentimentos de perda e para outros predominam os sentimentos de
ganho em cada etapa. Porém, o certo é que a passagem por cada etapa significa expectativas
diferentes com relação à própria vida.
Segundo a lei, é adulta aquela pessoa a partir dos 18 anos de vida. A vida adulta, contudo,
não é uma única fase. Ela passa por várias etapas distintas. A vida adulta pode ser dividida em três
fases: até por volta dos 40 anos há o adulto jovem; dos 40 aos 60 anos há o adulto maduro e esse
período é conhecido por meia idade; dos 60 anos em diante inicia a velhice.
No mundo inteiro, as populações estão envelhecendo. No Brasil, não é diferente. Em 1949, a
expectativa de vida do brasileiro ao nascer era de 44 anos. Em 2002 passou para os 68 anos. Em
2005 era de 71,9 e em 2006 subiu para 72,3. Mas há diferenças entre homens e mulheres. Enquanto
a expectativa de vida das mulheres é de 76,1, a dos homens é de 68,5 anos. Dessa forma, está sendo
proposta uma nova divisão: idoso jovem dos 60 aos 79 e idoso velho a partir dos 80 anos.
Erik Erikson (1902 – 1990). Trabalhou, a partir de 1933, em Harvard, com as disciplinas de
Psiquiatria e Desenvolvimento Humano. Para Erikson:
 o desenvolvimento ocorre em oito etapas.
 em cada etapa é vivida de forma inconsciente uma dicotomia, com a sucessão de fases
críticas em que se deve optar entre um progresso ou uma regressão.
 a solução de uma etapa depende do comportamento nas etapas anteriores.
 tudo o que cresce tem um plano básico, um tempo de ascensão especial, até que se forme um
todo em funcionamento. A isso ele chama de princípio epigenético.

Os traços psicossociais de cada conflito são mais significativos que as etapas da sexualidade
segundo Freud3.

Pressupostos básicos do desenvolvimento humano segundo Erikson:


1) O desenvolvimento da personalidade ocorre de acordo com etapas pré-determinadas em que raio
social torna-se cada vez mais amplo;
2) A sociedade tende a satisfazer e a provocar a sucessão de potencialidades.

Etapas:

1ª CONFIANÇA x DESCONFIANÇA

O primeiro estágio do esquema erikssoniano corresponde ao estágio oral da teoria


psicanalítica clássica e, em geral, transcorre durante o primeiro ano de vida. No entender de
Erikson, a nova dimensão social que emerge, durante este período, é de confiança básica, num

1 Professora de Psicologia da Educação da Faculdade de Educação da UFRGS.


2 Professora de Psicologia da Educação da Faculdade de Educação da UFRGS.
extremo e a desconfiança, no outro.
O grau em que a criança vem a confiar no mundo, nas demais pessoas e em si própria,
depende em grande parte da qualidade dos cuidados que recebe. A criancinha cujas necessidades
são satisfeitas logo que aparecem, cujos desconfortos são prontamente atendidos, que é acariciada,
com a qual se brinca e conversa, desenvolve uma noção do mundo, como sendo um lugar seguro de
estar e, das pessoas, como prestativas e dignas de confiança. Quando, porém, os cuidados são
irregulares, insuficientes e com a marca da rejeição, promove, a desconfiança básica, uma atitude de
medo e suspeita, de parte da criancinha, quanto ao mundo, em geral e às pessoas, em particular, que
permanecerá durante os estágios posteriores de desenvolvimento.
O problema básico de confiança versus desconfiança não se resolve de uma vez e para
sempre durante o primeiro ano de vida, pois torna a reaparecer em cada um dos sucessivos estágios
do desenvolvimento, por exemplo, a criança que entra na escola com a ideia de desconfiança pode
vir a confiar em determinado professor que se dê ao trabalho de tornar-se merecedor dessa
confiança e, com esta segunda oportunidade, a criança supera a desconfiança inicial. De outro lado,
a criança que atravessa a infância com uma noção vital de confiança, ainda poderá ter seu senso de
desconfiança ativado em estágio posterior da vida, dependendo das experiências que terá.

2ª AUTONOMIA x DÚVIDA

O segundo estágio abrange o segundo e o terceiro anos de vida, o período que na teoria
freudiana é chamado de estágio anal. Neste período surge a autonomia, desenvolvimento esse que
se baseia nas novas habilidades motora e mental da criança. A criança não só pode andar mas,
também, trepar, abrir e fechar, cair, empurrar, puxar, segurar e soltar. A criança pequena orgulha-se
dessas novas realizações e quer fazer tudo sozinha, quer tirar o papel de uma bala, tirar a vitamina
do vidro ou dar descarga na privada, ajudar o pai ou a mãe na cozinha, quer varrer, ou seja, imitar o
adulto. Se os pais (ou cuidadores) reconhecem a necessidade de a criança fazer tudo aquilo de que
é capaz ela desenvolve o senso de que pode controlar seus músculos, seus impulsos, a si própria e, o
que não é de pouca importância, seu meio ambiente: é o sentido da autonomia.
Quando, porém, os que por ela zelam, mostram-se impacientes e fazem pela criança o que
ela é capaz de fazer sozinha, estarão reforçando o seu senso de dúvida. É certo que todos os pais
por vezes são ásperos com os filhos e as crianças são rijas o bastante para desculpar tais lapsos.
Somente quando os cuidados são seguidamente superprotetores e as reprimendas pelos “acidentes”
(sejam urinar, derramar ou quebrar coisas) são ríspidas e irrefletidas é que a criança cria um
exagerado senso de vergonha em relação a outras pessoas e um exagerado senso de dúvida em
relação a sua capacidade de controlar o mundo e a si própria. Um exemplo, a criança quer lavar a
louça e a mãe diz “Então lava os pratos de plástico, quando fores grande lavarás as facas”, é uma
maneira de mostrar que ela é capaz de fazer e quando crescer terá mais capacidade ainda.
Se a criança sai deste estágio com menos autonomia do que vergonha ou dúvida, isto
distorcerá negativamente suas tentativas posteriores de conquistar autonomia na adolescência e
maturidade. A criança que, ao contrário passa por essa fase como senso de autonomia superando
nitidamente os sentimentos de vergonha e de dúvida, estará bem preparada para ser autônoma em
etapas posteriores do ciclo da vida. Mais uma vez, porém, o equilíbrio entre autonomia e vergonha
e dúvida, estabelecido durante este período, pode ser alterado em direção positiva ou negativa, por
acontecimentos posteriores.

3ª INICIATIVA x CULPA

Nesse terceiro estágio (em geral nas idades de quatro a cinco anos), a criança em idade
pré-escolar é, praticamente, dona de seu corpo e é capaz de andar de velocípede, correr, cortar e
bater. Pode, pois, iniciar atividades motoras de vários tipos, por conta própria e não mais responde
apenas às ações de outras crianças ou, simplesmente, as imita. O mesmo prevalece quanto à
linguagem e atividades imaginárias. Assim sendo, Erikson afirma que a dimensão social que surge
neste estágio tem em um dos pólos a iniciativa e, no outro, a culpa.
O fato de se a criança vai sair deste estágio com senso de iniciativa superando, em muito, o
senso de culpa, depende em grande parte de como seus pais respondem a essas atividades de
iniciativa própria. Crianças que têm muita liberdade e oportunidade de iniciar brincadeiras motoras
como correr, andar de bicicleta, patinar, escorregar, disputar e lutar, têm reforçado o seu senso de
iniciativa. E a iniciativa é reforçada, ainda, quanto os pais respondem, às perguntas das crianças
(iniciativa intelectual) e não se esquivam nem inibem a atividade imaginária ou a brincadeira. De
outro lado, se os pais fazem a criança sentir que sua atividade motora é má, que suas perguntas
aborrecem e que suas brincadeiras são tolas e estúpidas, neste caso fomentam um senso de culpa
que ultrapassa as atividades da iniciativa própria, em geral, e que prevalecerá durante os estágios
posteriores da vida.

4º INDÚSTRIA x INFERIORIDADE

O quarto estágio é o período etário dos seis aos onze anos. São anos da escola primária
(descritos na psicanálise clássica como fase de latência). É o tempo em que o amor da criança pelo
pai ou pela mãe (do sexo oposto ao seu) e a rivalidade com o do mesmo sexo, ficam em repouso. É,
também, o período em que a criança aprende as regras da cultura em que está inserida. Gosta de
jogar jogos de regras como por exemplo, com bola, banco imobiliário, jogo de cartas, truco, UNO
ou jogo de computador. Erikson, afirma que, a dimensão psicossocial que emerge durante este
período, tem, num extremo, o bom senso de indústria e, no outro, o senso de inferioridade.
A palavra indústria refere-se a criança querer saber como as coisas são feitas, como
funcionam e para que servem. Quando as crianças são estimuladas em seus esforços por fazer,
realizar ou, ainda, construir coisas práticas (seja construir cabanas no alto de árvores ou modelos de
aviões ou, ainda, cozinhar, fazer doces etc.), quando têm permissão para terminar seus produtos e
são elogiadas e recompensadas pelos resultados, então o senso de indústria é promovido. Ao
contrário, os pais que consideram os esforços dos filhos, no sentido de fazer e realizar, como
simples “travessuras” ou como causa de “bagunça”, ajudam a estimular o senso de inferioridade, na
criança.
Durante os anos da escola primária, contudo, o mundo da criança abrange mais do que o lar.
Nesta altura, instituições sociais outras, além da família, vêm a desempenhar um papel importante
na crise de desenvolvimento do indivíduo. Acriança que tenha tido o seu senso de indústria
desestimulado no lar, poderá tê-lo revitalizado na escola, por obra de um professor sensível e
interessado. Por conseguinte, se a criança irá formar um senso de indústria ou inferioridade, já não
depende unicamente dos cuidados zelosos dos pais, mas das ações e iniciativas, também, dos outros
adultos que interagem com ela.

5º PUBERDADE E ADOLESCÊNCIA: IDENTIDADE X CONFUSÃO DE PAPEIS

- Transformações fisiológicas importantes: reajustamento entre o ser e o parecer.


- Conquista da identidade: tarefa para toda a vida, mas na adolescência se discutem todas as
uniformidades e continuidades que marcam a personalidade.
- Surgimento dos ídolos: modelos de identificação que se alternam. Perigo da confusão ou difusão
e grupal = restabelecimento da identidade do Ego.
Intolerância: defesa necessária contra os perigos da confusão do sentimento de identidade.
- Amor: tentativa de chegar a uma definição de identidade, protegendo-se da confusão a partir da
projeção da própria imagem em outra pessoa.
- Período entre a moral aprendida na infância e a ética desenvolvida pelo adulto. Amadurecimento
sexual e cognitivo – liberdade para experimentar papéis sociais e sexuais, mas sem poder assumi-
los com responsabilidade.
6º IDADE ADULTA JOVEM: INTIMIDADE X ISOLAMENTO

- Depois da definição da identidade: condições de estabelecer intimidade com o outro e fundir sua
identidade na identidade do companheiro. Quando isso não ocorre O sentimento de isolamento e
privação.
- Intimidade não se restringe ao comportamento sexual, mas poder fazer ligações (pessoais e
profissionais). Poder “amar e trabalhar”.
- Dificuldades: medo de perder o próprio eu; excesso de competitividade.

7º GENERATIVIDADE X ESTAGNAÇÃO

- Preocupação com cuidado dos filhos e educação: transmitir a eles o legado da cultura.
- Generatividade: preocupação relativa a firmar e guiar a nova geração. Abrange também a idéia
de produtividade e criatividade (não ter filhos, mas realizar a capacidade de gerar através de sua
criatividade na produção artística, literária ou científica).
- Quando falha essa capacidade: sentimento de estagnação e de infecundidade pessoal.
- Período mais longo da vida.

8º VELHICE: INTEGRIDADE DO EGO X DESESPERO

- Integridade = fruto das sete etapas anteriores, indivíduo revê experiências anteriores. Balanço
da vida e aceitação. Consegue ver as pessoas como são, com seus defeitos e virtudes (amor maduro,
sem as fantasias da juventude). Sentimento de responsabilidade pelos próprios atos. Sabedoria.
- Dificuldades na integração: instala-se a desesperança frente ao curto espaço de tempo para
recomeçar. Desprezo pelos outros (desdém por si mesmo). Medo da morte (como o medo da vida
em outras etapas).
- Integridade do idoso e confiança infantil: próximos (“as crianças sadias não temerão a vida se
seus antepassados tiveram integridade bastante para não temer a morte”).

8B VELHICE AVANÇADA: UMA NOVA VISÃO

- Etapa pensada a partir do avanço da longevidade humana.


- Peso maior do elemento distônico do conflito: desespero. Vida do ancião reduzida ao cotidiano,
uma vez que suas capacidades sensoriais estão reduzidas.
- Se os anciãos chegarem a um acordo com os elementos distônicos da vida, chegarão a
gerotranscendência: passagem de uma perspectiva racional e materialista da vida para uma mais

Você também pode gostar