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APLICADA AO
CUIDADO
Sabine Heumann
O ciclo da vida e as teorias
de desenvolvimento
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
O estudo do desenvolvimento humano está em constante evolução.
Descrever, explicar e prever o que é esperado em cada momento do de-
senvolvimento são alguns dos objetivos dessa área de estudo, que, desde
o início, vem sendo construída de maneira interdisciplinar (abrangendo
psicologia, biologia, medicina, antropologia, genética, etc.).
As explicações sobre como os processos de desenvolvimento humano
se dão estão sendo cada vez mais aprimoradas, e diversos autores já
elaboraram teorias para explicá-los. Entre eles, destacam-se, no escopo
deste capítulo, as contribuições de Freud, Erikson e Piaget.
Neste capítulo, você estudará sobre a compreensão do ciclo vital
à luz das teorias de desenvolvimento mais importantes. Além disso,
conhecerá as principais etapas do desenvolvimento psicossexual.
Por fim, estudará o desenvolvimento psicossocial ao longo de todo o ciclo
vital, a fim de mapear os desenvolvimentos motor e cognitivo desde a
infância até a velhice.
2 O ciclo da vida e as teorias de desenvolvimento
Para saber mais sobre a teoria freudiana da sexualidade, leia o artigo A teoria freudiana
da sexualidade 100 anos depois (1905-2005), disponível no link a seguir, que celebra o
centenário da publicação Três ensaios para uma teoria sexual por meio da discussão
dos principais conceitos e de como a teoria é vista hoje em relação a como era vista
ao longo do tempo (JORGE, 2007).
https://qrgo.page.link/MLGLL
Nessa fase, a mucosa dos lábios, que atuava como fonte de prazer, dá espaço à
mucosa do intestino. Essa fase pode ser observada por meio dos distúrbios intes-
tinas frequentes na primeira infância. Assim, o objeto que caracteriza essa fase
são as fezes, entendidas de maneira simbólica pela criança como um “presente”
para quem cuida dela. As fezes são como uma extensão da própria criança, por
isso a ideia de presentear a cuidadora com essa “produção” (COUTO, 2017).
Conforme Couto (2017), além das fases denominadas pré-genitais, existem
as fases fálica e genital, descritas a seguir.
Nessa fase, a criança passa a identificar o órgão genital masculino (falo). Con-
tudo, de acordo com a teoria, nesse momento, a criança ainda não diferencia as
polaridades masculino/feminino. Há apenas a identificação da masculinidade,
que é evidenciada através do falo (COUTO, 2017).
Assim, conforme Couto (2017), o conflito dessa fase diz respeito à antítese
entre ter um órgão genital (falo) ou ser castrado. Dessa forma, o menino conclui
que a menina tinha um pênis, mas o perdeu (castração), como uma forma de
punição. Já as meninas observam que os meninos têm um órgão maior e mais
representativo do que o delas, o que gera a inveja do pênis, de acordo com
o que propõe a teoria freudiana. Entretanto, vale destacar que essa inveja é
simbólica, ou seja, tem como objeto a potência que o órgão representa, por
isso, a nomenclatura que se utiliza é falo (não pênis, propriamente dito).
O ciclo da vida e as teorias de desenvolvimento 5
Entre as fases fálica e genital, ocorre o período de latência. De acordo com Couto
(2017), o período de latência não é considerado uma fase psicossexual, pois não há uma
nova zona erógena, e sim uma transição entre a sexualidade infantil e a adulta. Nesse
período, o desejo sexual se desloca para outras finalidades, como o desenvolvimento
social e intelectual, por exemplo.
Para estudar sobre as fases psicossexuais de uma maneira diferente, ouça o podcast
do canal Psicoativo, disponível no link a seguir, para acompanhar a discussão acerca
dos estágios do desenvolvimento psicossexual.
https://qrgo.page.link/1Uo1z
Embora as teorias de Freud e de Erikson tenham como base a psicanálise, elas diferem
bastante.
Na teoria psicossexual de Freud, o desenvolvimento é balizado por impulsos sexuais.
Já na teoria psicossocial de Erikson, o desenvolvimento é balizado pela interação com
a sociedade e é desenvolvido a partir da vivência de uma série de crises (PAPALIA;
FELDMAN; 2013).
Caracterizada pela crise entre iniciativa e culpa, nessa fase, a criança já tem
a confiança e a autonomia, resultantes das fases anteriores, e, por meio da
associação dessas duas virtudes, desenvolve a iniciativa. A culpa vem quando
a criança não consegue realizar as atividades para as quais teve iniciativa.
Nessa fase, a virtude desenvolvida é a orientação para resultados (PAPALIA;
FELDMAN, 2013; VERISSIMO, 2002).
Erikson atribui especial importância a essa fase, sendo uma das mais explo-
radas nos seus estudos. De acordo com sua teoria, é nessa fase que ocorre
a crise da identidade versus confusão de identidade. Nesse momento, o
adolescente busca identificar seu senso de identidade, e a virtude associada
como resultado dessa fase é a fidelidade. O adolescente se diferencia de seus
pais, a partir dos questionamentos que se faz quanto à sua própria identidade,
e busca se encaixar em algum papel social. É nessa fase que costuma ocorrer a
escolha profissional, do parceiro, entre outras (PAPALIA; FELDMAN, 2013;
RABELLO; PASSOS, 2008; VERISSIMO, 2002).
O ciclo da vida e as teorias de desenvolvimento 9
Nessa fase, o sujeito já tem sua identidade desenvolvida e irá, a partir dela,
unir-se a outras pessoas. Nesse momento, o conflito se dá na relação entre
intimidade e isolamento. Quando a identidade está bem firmada, abre-se a
possibilidade de intimidade, ao passo que, quando o ego não está suficien-
temente seguro, há a busca pelo isolamento. Como resultado favorável, há o
surgimento da virtude do amor (PAPALIA; FELDMAN, 2013; RABELLO;
PASSOS, 2008; VERISSIMO, 2002).
A última das fases descritas por Erikson representa a fase em que o ser humano
refletirá sobre a vida e suas realizações. O conflito desse momento está entre
a integridade e o desespero. Quando a pessoa tem o sentimento de dever
cumprido e sente satisfação com a sua história, ocorre a integridade, já quando
a pessoa sente que o tempo está acabando e que há coisas a serem realizadas,
vem o sentimento de desespero. Se bem-sucedida, essa fase resulta na virtude
da sabedoria (PAPALIA; FELDMAN, 2013; RABELLO; PASSOS, 2008;
VERISSIMO, 2002).
Ao analisar as diferentes fases propostas por Erikson, pode-se identificar
o especial foco nas crises ou conflitos ao longo de todo o ciclo vital. Essas
crises vão surgindo a partir de um cronograma de maturação do indivíduo
(seguindo uma ordem cronológica relativamente estável) e devem ser resolvidas
de maneira satisfatória para que delas emerjam as virtudes necessárias para
o desenvolvimento de uma personalidade saudável (PAPALIA; FELDMAN,
2013).
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Organização
O processo de organização permite criar categorias mentais (também chamadas
de esquemas) para agrupar informações semelhantes. À medida que a criança
cresce, seus esquemas vão se tornando cada vez mais sofisticados.
Quando a criança conhece alguns animais, ela vai agrupando essas informações
(que têm semelhança) na categoria “animais” — esse é o processo de organização.
À medida que ela se desenvolve, essas categorias vão ficando mais complexas, e ela
passa a identificar, por exemplo, animais mamíferos, aves, entre outras categorias. Ou
seja, a criança passa a criar esquemas mais específicos, mais sofisticados.
Adaptação
A adaptação diz respeito ao processo de absorção de novas informações a
partir da relação com as informações já conhecidas. Ela contempla o processo
de assimilação (absorção e incorporação de novos conhecimentos) e acomo-
dação (mudanças na estrutura, ou esquemas, para que as novas informações
sejam incluídas).
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Equilibração
Esse processo diz respeito a um esforço constante da criança para manter o
equilíbrio ou homeostasia. À medida que a criança conhece novas coisas, os
seus esquemas vão se desiquilibrando, e, para voltar ao equilíbrio, ela precisa
reconfigurá-los (para que acomodem aquelas novas informações).
De acordo com Piaget, esse estágio representa o nível mais alto do desenvolvi-
mento cognitivo. A partir de então, o adolescente consegue pensar em níveis
abstratos (ultrapassando o concreto, a necessidade de pensar o aqui e agora, do
estágio anterior). Esse desenvolvimento cognitivo permite que o adolescente
compreenda lições de álgebra, metáforas, imagine possibilidades e pense em
hipóteses, por exemplo. Portanto, o estágio operatório-formal constitui-se
no nível mais sofisticado do desenvolvimento, possibilitando o raciocínio
hipotético-dedutivo, que consiste na capacidade de desenvolver, considerar e
testar hipóteses abstratas (ABREU et al., 2010; PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Vale destacar que, de acordo com a teoria piagetiana, o desenvolvimento
cognitivo ocorre a partir da combinação entre a maturação cerebral e as
oportunidades ambientais. Ou seja, esse desenvolvimento envolve aspectos
neurológicos e estimulação apropriada, incluindo escolarização, cultura, entre
outros (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Como visto, o desenvolvimento humano pode ser compreendido e anali-
sado sob diferentes óticas. É importante que você conheça essas diferentes
contribuições, para que entenda o desenvolvimento das teorias e o ciclo da
vida de uma maneira mais ampliada. Lembre-se de que esse campo de estudo
está em constante evolução, de modo que novas perspectivas podem surgir,
fazendo as antigas serem revisadas.
Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
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