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12.

º Ano Filosofia
Teorias da Personalidade

Teoria psicanalítica de Freud

A teoria psicanalítica fornece uma explicação do comportamento que assenta em factores energéticos
e internos à própria pessoa. A personalidade é orientada por forças pulsionais, marcadas pelo
inconsciente, por uma grande importância dada à infância e às relações de objecto.
Freud valorizou os primeiros anos de vida e constatou que o mundo inconsciente (das pulsões,
desejos, repressões) explica as perturbações neuróticas.
O psiquismo humano é encarado, por este psicólogo, como um icebergue, do qual apenas
uma pequena parte emerge da água; a parte submersa corresponde ao inconsciente que é constituído
por duas categorias de instintos:
• Eros - conjunto de instintos de vida que asseguram a satisfação de necessidades
básicas, como o alimento, a bebida e o sexo.
• Thanatos - instinto de morte que está presente em todos os comportamentos
agressivos e destrutivos.
Até à Interpretação dos Sonhos, obra que Freud publicou em 1900, o inconsciente não era
considerado pela psicologia. Freud descobriu que, além do consciente, existem o subconsciente e o
inconsciente. Então, o nosso psiquismo passou a ser visto como constituído por três partes. Uma, o
que temos presente, que é o consciente, como Freud lhe chamou na primeira versão da obra que
escreveu, ou ego, como lhe chamou na "Segunda Tópica"(segunda versão); outra que é o
subconsciente ou superego (conjunto de regras morais e sociais que interiorizamos); e a terceira
instância do nosso psiquismo, que é o inconsciente ou id. Esta última ocupa a maior parte do nosso
psiquismo; é a que tem, talvez, maior influência em nós. Trata-se de pulsões, desejos e tendência, de
carácter fundamentalmente afectivo e sexual.
Um outro aspecto revolucionário é a teoria do desenvolvimento psicossexual que se prende com a
nossa estrutura tripartida da personalidade, com o nosso aparelho psíquico. A personalidade é
fortemente determinada pelos impulsos sexuais e centrada no desenvolvimento psicossexual.
O id nasce com a criança e é responsável pelas tendências instintivas de natureza biológica que visam
a satisfação imediata na busca exclusiva do prazer.
Relativamente cedo, começa a surgir o ego, pois a criança vai experienciando privações e recusas aos
seus desejos no mundo exterior. Assim, o ego tem como função orientar as pulsões de acordo com as
exigências da realidade, para que seja possível a adaptação do indivíduo ao mundo externo. O ego
possui um conjunto de mecanismos de defesa que exercem um controlo inconsciente sobre as
pulsões, canalizando-as para formas indirectas da obtenção do prazer.

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Enquanto não se forma o superego, a criança, considerada em termos de id e de ego, é amoral. O


desenvolvimento da moralidade só é possível quando se forma o superego, cuja origem se deve à
relação da criança com os pais. Estes impõem exigências, sanções, interdições e ameaças, e este
controlo proveniente do exterior tende, pouco a pouco, a ser interiorizado.
Por volta dos 7 anos, a criança possui já o superego, norteando-se por princípios morais e valores
nucleares, como a honestidade, a responsabilidade...
Contudo, o superego não elimina o id, que origina a energia psicossexual ou libido.
Freud acreditava que o desejo ou busca do prazer psicossexual surge no indivíduo antes da
puberdade, logo a partir do nascimento, afirmando que a criança, ao longo do seu desenvolvimento,
atravessa uma série de fases ou estádios. Cada um destes estádios está associado a sensações de
prazer ligadas a uma zona erógena específica:
- estádio oral: do nascimento até aos 12/18 meses;
- estádio anal: dos 12/18 meses até aos 3 anos;
- estádio fálico: dos 3 até aos 5/6 anos;
- estádio de latência: dos 5/6 anos até aos 12/13 anos;
- estádio genital: depois da puberdade.

Estádio oral
Segundo Freud, o ser humano já nasce com um conjunto de pulsões (inatas), ou seja, nasce com id. O
ego forma-se no primeiro ano de vida, de uma parte do id que começa a ter características próprias.
Estas formam-se pela consciência das percepções internas e externas que o bebé vai experienciando
(visuais auditivas e quinestésicas).
Neste estádio, as zonas erógenas são a boca e os lábios. O prazer está ligado ao chupar e mais tarde
ao morder. A alimentação (o mamar) é uma grande fonte de satisfação.
O bebé está intimamente ligado à mãe, que cuida dele e o alimenta, e o desmame irá corresponder a
uma frustração. A presença da mãe dá prazer e a sua ausência frustra. Por volta dos seis meses a um
ano inicia-se o processo de separação/individuação da criança.

Estádio anal
Neste estádio, a zona erógena corresponde ao ânus, à região anal e à mucosa intestinal. A
estimulação desta parte do corpo dá prazer à criança. O desenvolvimento psicomotor e a maturação
permitem o aparecimento da função de expulsar e de reter as fezes e a urina.
A criança é mais autónoma relativamente à mãe e procura afirmar-se e realizar as suas vontades,
hesitando entre cumprir ou não as regras de higiene que a mãe lhe impõe - regulação da defecação e
da micção.
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Estádio fálico
Nesta fase, a zona erógena é a região genital, o órgão sexual constitui a fonte de prazer. Surge a
curiosidade de saber como nascem os bebés e as crianças reparam já nas diferenças anatómicas
entre sexos, nas relações entre os pais e entre homens e mulheres. Brincam aos “médicos” e podem
ter algum comportamentos exibicionistas e “voyeuristas” (o espreitar).
É durante este período que vivem o complexo de Édipo, mas é também no final deste período que se
forma o superego. O superego é a terceira instância do aparelho psíquico que tem funções morais e é
constituída pelos pais introjectados (pais imaginários, idealizados na infância).

Estádio de latência
Neste período de latência, a criança vai esquecer os primeiros anos de sexualidade, nomeadamente o
complexo de Édipo, através de um processo de amnésia infantil. Há, nesta fase, uma diminuição da
actividade sexual, de forma completa ou parcial. Isto leva ao desenvolvimento de competências e à
aquisição de aprendizagens escolares, sociais e culturais. A criança aprende, por exemplo, qual o
papel da mulher e do homem na sociedade em que está inserida.
Como já existe o superego, já existem as preocupações morais que levam a sentimentos de vergonha,
nojo, pudor, que retêm a libido.

Estádio genital
A adolescência reactiva a sexualidade que esteve adormecida no estádio de latência. No estádio
genital reaparecem problemáticas do estádio fálico, nomeadamente o complexo de Édipo. A resolução
deste complexo está relacionada com o processo de autonomização dos adolescentes face aos pais
idealizados na infância. As escolhas sexuais fazem-se, agora, fora do mundo familiar.
As dificuldades deste período podem levar a um retrocesso a fases de desenvolvimento anteriores,
devido ao conflito entre o id e o ego. É normal que o adolescente recorra a mecanismos de defesa do
ego - ascetismo (nega o prazer e tenta controlar as suas pulsões através da disciplina e do isolamento)
e intelectualização (esconde os aspectos emocionais).

Teoria psicossocial de Erikson

Erikson introduziu o conceito de moratória psicossocial, que designa como “um compasso de espera
nos compromissos adultos”. A adolescência funciona como um período de pausa, em que existe uma

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maturação (amadurecimento) interna dos jovens: procuram-se alternativas, experimentam-se


diferentes papéis, antecipa-se o futuro...
Em suma, este é um período em que damos tempo, aguardamos pela passagem à vida adulta.
E, nesta fase, vamos experimentando!
“O indivíduo sente uma grande necessidade de se testar a si próprio, numa variedade de experiências,
no sentido de obter um conhecimento cada vez mais pormenorizado do seu eu” (Sprinthall e Collins).
Os compromissos são, provisoriamente, evitados. O período de moratória psicossocial constitui um
processo de procura activa, cujo objectivo é preparar o sujeito para estabelecer esses compromissos.
As moratórias caracterizam-se pelas necessidades pessoais, mas também por exigências
socioculturais e institucionais.
São as diversas sociedades e culturas que institucionalizam uma certa moratória para a maioria dos
jovens. Por exemplo, a idade em que se atingia a maioridade há alguns anos atrás era de 21 anos,
enquanto, hoje, é de 18 anos.
Concluímos, assim, que a moratória psicossocial é essencial para permitir que ocorra no jovem o seu
amadurecimento interior. Muitos adolescentes entram na vida adulta demasiado cedo, o que se irá
reflectir, negativamente, no seu processo de evolução futuro.
Erikson considera que o sentimento de identidade é o sentimento interior que nos diz que somos os
mesmos ao longo da vida, apesar de ocorrerem mudanças a nível pessoal e outras ocorrências
externas que nos afectam.
A identidade implica que nos sintamos como seres únicos, integrando um passado e perspectivando
um futuro. A identidade remete, assim, para um sentido consciente da singularidade individual, um
esforço consciente para manter a continuidade da experiência e uma solidariedade para com os ideais
de um grupo.
Vamos construindo a identidade de acordo com as representações que fazemos de nós, que se
confrontam, muitas vezes, com as representações que os outros fazem de nós.
Erikson afirma que cada um dos oito estádios psicossociais, que propõe, é marcado por uma crise
psicossocial, em que oscilamos entre uma vertente positiva e uma vertente negativa. Esta crise é
inerente ao processo de desenvolvimento e não é vista negativamente.
Erikson afirma que a forma como cada um de nós resolve cada crise, ao longo dos diferentes estádios,
irá condicionar a capacidade para resolver as situações de conflito que nos surgem ao longo da vida.
Superar uma crise “ajuda a determinar e a promover forças para ser bem-sucedido no estádio
seguinte” (Sprinthall, N. e Sprinthall, R.).
Utilizando as palavras de Erikson, a crise é encarada como um “ponto decisivo e necessário, um
momento crucial” em que temos de optar pela direcção a seguir, “escolher este ou aquele rumo”.

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As crises vivenciadas funcionam, então, como impulsionadoras do processo de desenvolvimento de


cada um de nós.
O desenvolvimento da personalidade é perspectivado psicossocialmente, sendo o conceito de
identidade fulcral para esta sua teoria.
A adolescência corresponde, segundo Erikson, à 5.ª idade- identidade versus difusão/confusão. É
nesta fase que o jovem faz importantes experimentações que contribuem para a construção da
identidade, mas é também neste período que ocorre uma certa confusão.
Não obstante, os contextos sociais podem estimular ou inibir a construção da personalidade - o meio
psicossocial, as inferências educativas vão interferir no processo de desenvolvimento. A identidade
constrói-se em interacção com o meio cultural e social em que nos vamos identificando com
determinados modelos. Na infância os pais coincidem com os modelos identificatórios, mas, na
adolescência, é o grupo de pares que assume esta função. Além do grupo de amigos, o adolescente
tem ainda necessidade de contacto com o mundo dos adultos, e a escola dá-lhe, simultaneamente, o
grupo de jovens e o grupo de adultos: professores, funcionários, personagens de livros, outros pais...
No final da adolescência, o jovem alcançará o que Erikson designa por “identidade realizada”.

Erikson salienta o papel das crises psicossociais para a contrução da identidade de cada um de nós.
De facto, Erikson afirma que cada um dos oito estádios psicossociais, que propõe, é marcado por uma
crise psicossocial, em que oscilamos entre uma vertente positiva e uma vertente negativa. Esta crise é
inerente ao processo de desenvolvimento e não é vista negativamente.
Erikson afirma que a forma como cada um de nós resolve cada crise, ao longo dos diferentes estádios,
irá condicionar a capacidade para resolver as situações de conflito que nos surgem ao longo da vida.
Superar uma crise “ajuda a determinar e a promover forças para ser bem-sucedido no estádio
seguinte” (Sprinthall, N. e Sprinthall, R.).
Utilizando as palavras de Erikson, a crise é encarada como um “ponto decisivo e necessário, um
momento crucial” em que temos que optar pela direcção a seguir, “escolher este ou aquele rumo”.
Os estádios propostos por Erikson são designados do seguinte modo:
• 1.ª idade - Confiança versus Desconfiança (0-18 meses)
• 2.ª idade - Autonomia versus Dúvida e Vergonha (18 meses-3 anos)
• 3.ª idade - Iniciativa versus Culpa (3-6 anos)
• 4.ª idade - Indústria/Mestria versus Inferioridade (6-12 anos)
• 5.ª idade - Identidade versus Difusão/Confusão (12-18/20 anos)
• 6.ª idade - Intimidade versus Isolamento (18/20- 30 e tal anos)
• 7.ª idade - Generatividade versus Estagnação (30 e tal- 60 e tal anos)

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• 8.ª idade - Integridade versus Desespero (depois dos 65 anos)

1.ª idade - Confiança versus Desconfiança (0-18 meses)

A 1.ª idade relaciona-se com a interacção do bebé com a mãe, aprendendo, aquele, a ter ou não
confiança, a partir da relação com a mãe. Se a criança não se sentir segura, porque a mãe não
corresponde às suas necessidades, pode desenvolver medos e sentimentos de desconfiança. Estes
sentimentos irão perturbar as suas relações futuras com os outros. Se a relação mãe/bebé é de
segurança, então desenvolve-se o sentimento de confiança que marcará as relações futuras da
criança, permitindo-lhe adaptar-se às situações, às pessoas e às tarefas sociais que terá de
desempenhar.

2.ª idade - Autonomia versus Dúvida e Vergonha (18 meses-3 anos)

Neste estádio psicossocial existe uma contradição entre a autonomia e a dúvida e vergonha. Se, por
um lado, a criança quer exercer a sua vontade própria e controlar o meio, por outro lado, tem receio de
se expor demasiado, visto que ainda é muito dependente. A criança precisa de experimentar para que
o seu processo de autonomização se desenvolva e para que construa a sua individualidade.

3.ª idade - Iniciativa versus Culpa (3-6 anos)

Nesta idade continua a existir a problemática da idade anterior, mas de uma forma mais amadurecida,
determinada e directiva. A criança já tem à-vontade, quer física quer verbalmente, para se exprimir e
afirmar a sua identidade. Esta é a idade de tomar iniciativas, mas sem sentimentos de culpa.

4.ª idade - Indústria/Mestria versus Inferioridade (6-12 anos)

É nesta fase que a criança começa a desenvolver aprendizagens escolares, a testar limites, a
estabelecer os seus objectivos e a fazer aprendizagens sociais. Num pólo positivo, se a criança obtém
sucesso, começa a ter prazer no trabalho, curiosidade por aprender, produtividade e competência
(sentido do termo indústria). Num pólo negativo, se se sente menos capaz do que os colegas pode
desenvolver sentimentos de inferioridade, não tendo segurança nas suas capacidades nem no seu
papel dentro do grupo social, perdendo interesse pelas tarefas.

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5.ª idade - Identidade versus Difusão/Confusão (12-18/20 anos)

No período da adolescência, o indivíduo experimenta várias alternativas, confrontando-se com novas


vivências que contribuem para a construção da sua identidade. Positivamente, o adolescente assume
uma identidade, sabendo muito bem quem é e o que quer da sua vida. Negativamente, vive a
confusão de identidade e de papéis, não sabendo quem é nem o que realmente quer da vida.

6.ª idade - Intimidade versus Isolamento (18/20- 30 e tal anos)


Esta é a fase em que o jovem adulto procura o envolvimento em relações de intimidade com outra
pessoa. Num pólo positivo, consegue, de facto, estabelecer essas relações de intimidade, de afecto e
de partilha com os outros, sendo que, idealmente, tem um relacionamento sexual com alguém que
ama. Num pólo negativo, não consegue estabelecer relações de intimidade, verificando-se o
isolamento, o distanciamento e a incapacidade para assumir compromissos.

7.ª idade - Generatividade versus Estagnação (30 e tal - 60 e tal anos)

Neste período, as pessoas procuram definir objectivos e motivações para o que querem produzir nas
suas vidas. De uma forma positiva, as pessoas têm motivação para tentarem fazer do mundo um lugar
melhor, contribuindo para um melhor futuro e para o bem comum; desenvolvem as suas
potencialidades no mundo do trabalho e nas suas relações com os outros, no sentido de criar uma
nova geração que possa transmitir algo de bom a outras gerações. De uma forma negativa, as
pessoas têm interesses limitados ou pura e simplesmente não os têm, não procurando desenvolver as
suas capacidades de trabalho e de relacionamento interpessoal; tornam-se inactivas e fechadas sobre
si próprias.

8.ª idade - Integridade versus Desespero (depois dos 65 anos)

É nesta fase que as pessoas fazem um balanço do seu percurso de vida. Pelo lado positivo, sentem-
se satisfeitas com o que conseguiram concretizar ao longo da sua vida, aceitando de forma mais
serena a morte e deixando de se preocupar ansiosamente com a vida. Pelo lado negativo, não
encontram muito significado no que fizeram da sua vida, considerando que a desperdiçaram; surge,
assim, o sentimento de desgosto face à vida e de desespero face à aproximação da morte.

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Teoria da aprendizagem social de Bandura

Albert Bandura dedicou-se ao estudo da aprendizagem social, debruçando-se, fundamentalmente


sobre a aprendizagem por observação, ou seja, a aprendizagem que resulta da interacção e da
imitação social.
É observando e imitando que as crianças aprendem a brincar “às casinhas”, aos “polícias e ladrões”,
aos “detectives”...
Bandura distingue a aprendizagem directa e a indirecta, afirmando que aprendemos tão bem directa
como indirectamente. A aprendizagem directa resulta do reforço ou castigo directo em que as
consequências, positivas ou negativas, dos actos recaem sobre quem os pratica. A aprendizagem
indirecta resulta do reforço ou castigo indirecto ou vicariante em que observamos as consequências,
positivas ou negativas, que recaem sobre os outros.
Grande parte dos comportamentos, atitudes e sentimentos sociais são produto daquilo que
aprendemos com o que acontece aos outros. Por exemplo, aprendemos a conduzir moderadamente
observando as terríveis consequências que, por vezes, recaem sobre quem assim não procede.
Aprendemos através da observação e imitação de um modelo (modelação ou modelagem); o processo
de socialização envolve a observação, imitação e identificação com certos modelos sociais: pais,
professores, amigos...
Têm sido realizados diversos estudos para identificar as características que fazem de certas pessoas
modelos a imitar pelos outros. Assim, o sucesso, a classe, o estatuto social, a competência ou o poder
levam-nos a admirar e a imitar determinadas pessoas. Também aprendemos com aqueles que têm
interesses semelhantes aos nossos - a mesma idade, classe social... Pais, amigos, pares, professores,
artistas de cinema, políticos, desportistas e outros mais, tendem a constituir-se como modelos,
consoante a etapa da vida em que nos encontramos. Os meios de comunicação social também
transmitem e impõem modelos de actuação que imitamos.
Contudo, não imitamos apenas os comportamentos sociais positivos, mas copiamos também os
negativos, como fumar, por exemplo.

Rogers e a teoria fenomenológica da personalidade

Rogers é geralmente classificado como um teórico do self. De facto, embora Rogers encare o self
como o foco da experiência, ele está mais interessado na percepção, na tomada de consciência e na
experiência do que num constructo hipotético, o self. Um outro aspecto fundamental em Rogers é a
descrição da pessoa de funcionamento integral: a pessoa que está mais plenamente consciente de
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seu Self contínuo. A noção de funcionamento óptimo é sinónima das noções de adaptação psicológica
perfeita, de maturidade óptima, de acordo interno completo, de abertura total à experiência. Como
estas noções têm a desvantagem de sugerir algum estado mais ou menos estático, final ou acabado,
devemos ressaltar que todas as características que acabamos de enumerar, a propósito do indivíduo
hipotético, não têm o carácter de estagnação, mas de um processo dinâmico. A personalidade que
funciona plenamente é uma personalidade em contínuo estado de fluxo, uma personalidade
constantemente mutável.
A pessoa de funcionamento integral tem diversas características distintas, a primeira das quais é uma
abertura à experiência. Há pouco ou nenhum uso das "subcepções", estes primeiros sinais de alerta
que restringem a percepção consciente. A pessoa está continuamente a afastar-se das suas defesas
na direcção da experiência directa. A pessoa está mais aberta aos seus sentimentos de receio, de
desânimo e de desgosto. Fica igualmente mais aberta aos seus sentimentos de coragem, de ternura e
de fervor. Torna-se mais capaz de viver completamente a experiência do seu organismo, em vez de a
impedir de atingir a consciência.
Uma segunda característica é viver no presente, realizar-se completamente cada momento. Este
engajamento contínuo e directo com a realidade permite dizer que o eu (self) e a personalidade
emergem da experiência, em vez de dizer que a experiência foi traduzida ou deformada para se
ajustar a uma estrutura preconcebida do eu. Uma pessoa é capaz de reestruturar as suas respostas à
medida que a experiência permite ou sugere novas possibilidades.
Uma característica final é a confiança nas exigências internas e no julgamento intuitivo, uma confiança
sempre crescente na capacidade de tomar decisões. Quando uma pessoa está melhor capacitada
para recolher e utilizar dados, é mais provável que ela valorize a sua capacidade de resumir esses
dados e de responder. Esta não é uma actividade apenas intelectual, mas uma função da pessoa
inteira. Rogers sugere que na pessoa de funcionamento integral os erros efectuados serão devidos à
informação incorrecta e não ao processamento incorrecto.
Isto assemelha-se ao comportamento de um gato que é jogado ao chão de uma determinada altura. O
gato não considera a velocidade do vento, o momento angular ou o tamanho da queda. Ainda assim,
tudo isto está a ser levado em conta na sua resposta total.
O gato não reflecte sobre quem poderia tê-lo empurrado, quais teriam sido seus motivos ou o que
pode acontecer no futuro. O gato lida com a situação imediata, o problema mais gritante. Roda em
meio ao ar e aterra em pé, ajustando na mesma hora a sua postura pua enfrentar o próximo evento.
A pessoa de funcionamento integral é livre para responder e experienciar as suas respostas às
situações. Esta é a essência do que Rogers chama de viver uma vida plena. Tal pessoa estará
comprometida num contínuo processo de actualização.

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Maslow e a teoria da auto-realização

Maslow concebeu uma teoria da motivação que está intimamente relacionada com a hierarquia das
necessidades que propõe. A Pirâmide de Maslow demonstra que nem todas as necessidades têm
a mesma importância. Na base da pirâmide estão as necessidades fisiológicas e no cume as
necessidades de auto-realização, mais elevadas. Consoante o ser humano vai satisfazendo as
necessidades básicas, vai ascendendo na pirâmide para necessidades mais elevadas e
complexas. Se a vida não apresentasse obstáculos, o ser humano progrediria até ao topo.
Mas vamos ver exactamente quais são as necessidades apontadas por Maslow, da base para o
topo:
A fome, a sede, o instinto de evitar a dor, o desejo sexual são considerados necessidades
fisiológicas. As necessidades de segurança só aparecem quando as fisiológicas são satisfeitas.
Qualquer ser humano é capaz de pôr em risco a sua própria vida para saciar a fome ou a sede.
As necessidades de segurança consistem na procura de protecção relativamente ao meio (abrigo
ou vestuário) ou de um ambiente estável e ordenado. Quando o indivíduo está perante uma
situação de perigo físico sente insegurança, ansiedade e medo, o que pode levar a que ele
prescinda da sua relação com os outros.
As necessidades de afecto e de pertença revelam o desejo de associação, participação e
aceitação por parte dos outros. Inserindo-se em grupos, o indivíduo procura afecto e aprovação.
As necessidades de estima assumem duas vertentes - desejo de realização e de competência e o
estatuto e desejo de reconhecimento. O indivíduo procura a aceitação por parte dos outros através
da sua actuação. Todos desejamos ser competentes e ter reconhecimento por isso. Todos
procuramos o sucesso e o prestígio. Quando esta necessidade é satisfeita desenvolvem-se
sentimentos de auto-confiança ou, pelo contrário, sentimentos de inferioridade.
As necessidades de auto-realização referem-se à realização do potencial de cada um, em que
conseguimos concretizar as nossas capacidades pessoais. A forma de concretização é que varia
de pessoa para pessoa: ser um atleta de alta competição, ser um bom professor... As pessoas que
procuram a auto-realização são, de uma forma geral, independentes, criadoras, resistem ao
conformismo, aceitam-se a si próprias e aos outros. Contudo, existem muitas pessoas que não
concretizam a necessidade de auto-realização devido a diversas circunstâncias, daí a apatia e a
alienação.

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