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AULA 4

SEXUALIDADE HUMANA

Profª Evelyse Iwai dos Reis Teluski


TEMA 1 – DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL: PRINCÍPIO DO PRAZER E
REALIDADE

Desenvolver-se é um processo dinâmico que significa amadurecimento,


evolução e crescimento. Esse processo acontece com todo ser vivo. Quando
passamos pelo processo de crescimento, amadurecemos a anatomia, a
fisiologia e, também, as emoções. A sexualidade é um aspecto desse
desenvolvimento humano que vai da infância à terceira idade. Pinto (1997)
entende a compreensão da sexualidade na formação da identidade em todos os
estágios da vida: “em cada um desses estágios o ser humano está em busca de
responder ao irrespondível: ‘quem sou eu?’”.
O aspecto importante que os autores retratam sobre a sexualidade no
desenvolvimento é que ela não é o fim pela qual a existência se estabelece, mas
o meio para o contato com o outro ser humano. “A sexualidade é por Excelência,
função propiciadora do contato seja ele intra ou interpessoal” (Pinto, p. 62).
Freud concebeu o desenvolvimento da personalidade a partir do conceito
de libido, ou seja, os impulsos que vão buscando prazer em cada fase ou estágio
do desenvolvimento. Em cada fase, o indivíduo deve aprender a resolver certos
problemas específicos, originados do próprio crescimento físico e da interação
com o meio. No decorrer da fase, a pessoa expressa seus impulsos e suas
necessidades básicas dentro de moldes que visam à preservação da cultura.
Todo ser vivo busca junto desse processo o prazer e evita a dor, essa
direção é biológica. Lowen (1975) diz que a dor é vivida como ameaça à
integridade do organismo, contraímos e fugimos de situações dolorosas e
associadas à dor e passamos a sentir ansiedade. O prazer nos coloca em
expansão, e a ameaça nos coloca em contração, forçando o organismo a abafar
os impulsos, gerando a ansiedade. Cedo ou tarde, as defesas são estabelecidas
para abafar a ansiedade.

1.1 Zonas erógenas e desenvolvimento emocional

Freud trouxe o conceito que todo corpo tem potencial de ser erógeno. A
zona erógena se desloca de uma parte a outra no corpo, ou vai se espalhando
por todo o corpo. A vida sexual infantil é autoerótica, encontrando a satisfação
no próprio corpo. Freud identificou, ainda, quatro zonas erógenas principais e

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cada uma delas ligadas a um estágio do desenvolvimento emocional: olhos,
boca, ânus e genitais. Reich aprofundou essas zonas principais ligadas ao
organismo e no processo de encouraçamento muscular. Baker (1980) retrata os
estágios do desenvolvimento denominado ocular, oral, anal, fálico e genital, e
cada estágio executa suas funções temporárias, servindo a capacidade de sentir
prazer.
O desenvolvimento da personalidade é apoiado na estrutura física do
organismo, as primeiras motivações e ansiedades do ser humano estão ligadas
aos processos fisiológicos.
Com as frustrações e o enrijecimento muscular, o organismo vai formando
a couraça, que aprisiona a energia impedindo-a de chegar livre até o último
estágio do desenvolvimento emocional, que é o genital. Esses bloqueios vão
provocando sintomas nessas zonas erógenas e provocam fixações que
determinam a formação da personalidade.
As etapas para o desenvolvimento da personalidade e libido são: fase
ocular, oral, anal, genital, latência, adolescência, adulta e velhice.
Dandrea (1987) retrata que a maneira como a pessoa resolve os
problemas desses três primeiros estágios e os mecanismos de defesas e
adaptação utilizados são os responsáveis pela estrutura básica da
personalidade.

1.2 O recém-nascido e a mãe

Desde os primeiros anos de vida, o comportamento materno exerce


influência na formação da personalidade.
As crianças, desde muito cedo, consideram os pais como fonte de prazer,
buscando-os com amor, e os pais acabam sendo provedores de amor, alimento
físico e emocional, de contato sensorial. As crianças se mantêm livres e
tranquilas enquanto não se deparam com frustrações, privações, mas, em geral,
o crescimento vem acompanhado de privações de contato, punições e ameaças.
Lowen (1975) retrata que esse processo de desenvolvimento e frustrações
acontece na seguinte sequência: busca pelo prazer → privação → frustração ou
punição → ansiedade e defesa. A defesa, em intensidade, ou em fases muito
primitivas vão se tornando crônicas, em Reich denomina de couraça. A formação
da personalidade passa pelas fases de desenvolvimento da criança, sendo uma
unidade funcional o aspecto psíquico com a estrutura corporal ou atitude

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muscular, em que podemos compreender a personalidade do indivíduo. Baker
(1980) diz que o bloqueio do funcionamento natura pode começar a ser realizado
antes mesmo de o bebê nascer, através de um útero contraído que iniba sua
movimentação e, logo a pós o nascimento, dependendo da forma como se
recebe o bebê, faz com que ele vá se contraindo, como forma de autoproteção.
Boadella (1985, p. 52) retrata que o bebê passa por uma transição
sensorial entre o amniótico e o terrestre, e a mudança de vida é muito grande.

Antes do nascimento, a criança está dentro de um envelope de água


que a protege antes da entrada final na esfera da atividade terrestre.
Como se estivesse dentro de uma esfera, ele molda sua forma ainda
líquida, que gradualmente, se torna mais condensada. Quando nasce
ele deixa o espaço esférico da água e entra em contato com as forças
direcionais da terra. Quanto mais ele se render a essas forças, mais
sólido se tornará seu corpo, o que é essencial para que ele fique em
pé e aprenda a andar.

Quando o bebê é colocado em contato com o ventre da mãe, ele se sente


mais tranquilo e seguro. O bebê recém-nascido chegou e complexas relações
sociais serão estabelecidas que determinarão a formação da sua personalidade,
retrata Boadella (1985).
Após o nascimento, autores da psicologia objetal enfatizam a importância
dos cuidados nos primeiros anos de vida, sendo que Winnicott denominou como
fases de amadurecimento do psiquismo no corpo.
Segundo Winnicott (1975), todo ser humano é dotado de uma tendência
inata ao amadurecimento. Esse processo se inicia após a concepção e continua
ao longo da vida do indivíduo. Essas etapas ou estágios são enumerados.
Durante esse processo de amadurecimento, Winnicott afirma a
importância da etapa mais primitiva da vida, a fase de dependência absoluta, na
qual o bebê pode adquirir bases para a constituição de sua personalidade e de
sua saúde psíquica. Esse momento, para ser bem-sucedido, necessita passar
por três tarefas fundamentais para a constituição de sua integridade: a
integração no tempo e no espaço; o alojamento gradual da psique no corpo; e o
início de relações objetais, o contato com a realidade. O conjunto dessas tarefas,
juntamente com a repetição, pode trazer o sentido da existência.
Nos estágios iniciais de dependência absoluta, o bebê necessita da
dependência absoluta da mãe, em que é afetado pelo cuidado que recebe.
Nesse momento, há a importância de a mãe conseguir atender as necessidades
do bebê e não as suas necessidades. Em virtude desse estado, ocorre uma

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regressão parcial da mãe com o objetivo de poder identificar-se com essas
necessidades do bebê.

Ela consegue esperar que o gesto espontâneo surja porque sabe


muitas coisas sutis, como por exemplo, que, para ser trasladado de um
lugar para outro, um bebê precisa ser preparado e o movimento total
requer tempo; ela sabe também que é mais importante respeitar a
recusa do bebê de mamar do que força-lo, por disciplina ou por temor
da desnutrição, porque em termos do amadurecimento, o não alimentar
constitui a base do alimentar. (Winnicott, 1968 p. 55)

Com o tempo, a mãe suficientemente boa torna a adaptação cada vez


menor, permitindo, gradativamente, que o bebê caminhe para a independência.

TEMA 2 – ESTÁGIO OCULAR

Além dos sentimentos e sensações generalizadas do corpo, a zona ocular


é o primeiro estágio do bebê com o mundo. Um olhar acolhedor promove a
sensação de aceitação e bem-estar, trazendo a sensação de confirmação de sua
existência. A extrema falta de contato produz a contração dos olhos, do corpo e
esquivamento do olhar do recém-nascido, podendo acarretar problemas
psiquiátricos graves. Os olhos são a primeira área a ser traumatizada, às vezes,
pelos procedimentos físicos no momento do nascimento e também pelo contato
ameaçador ou indiferente. Segundo Baker (1980, p. 45), “as expressões hostis
implicam a negação de qualquer oportunidade para um contato cálido e
compreensivo”.
Um olhar acolhedor promove a sensação de aceitação e bem-estar,
trazendo a sensação de confirmação da sua existência. O ambiente se torna
uma extensão do indivíduo através da percepção dos olhos.
Segundo Baker (1980), olhos saudáveis desenvolvem a visão binocular,
que é a visão tridimensional, a qual localiza todas as percepções com exatidão
permitindo uma atitude emocional objetiva. Entra, também, nesse grupo, a
audição e as percepções de odores com uma plena clareza.
Quando acontece o enrijecimento dos olhos, seja por medo do contato,
ou de procedimentos invasivos pós-nascimento, a visão se torna prejudicada
perdendo a pulsação e ficando desvitalizada. Alguns sinais de encouraçamento
e do estágio ocular são a autopercepção e a percepção rebaixada ou distorcida.
Esse estágio é de extrema importância; no contato com a mãe, o bebê tem
condições de tomar consciência completa do seu corpo, trazendo uma sensação

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de vivacidade e de prazer, estando assim em contato com o seu centro saudável
e com os seus impulsos primários. Na sensação de ausência de contato, o
impulso interno é semelhante à contração que vem de fora, ou seja, são
equivalentes as forças repressoras e as reprimidas, decorrendo o bloqueio do
movimento de energia.

2.1 O contato entre mãe e bebê

O ser humano nasce com total dependência desde os primeiros anos de


vida, e o comportamento materno exerce influência na formação da
personalidade da criança, mesmo sem o uso da comunicação verbal.
O estabelecimento da relação entre mãe e filho não depende somente das
características da mãe, e o bebê também tem a sua parte, diz Dandrea (1987).
E nesse contato, a mãe tem a possibilidade de se conectar com o seu bebê
estabelecendo um ritmo fusional.
Winnicott traz uma imensa contribuição sobre essa relação, usando o
termo mãe suficientemente boa. A mãe suficientemente boa nesse contexto é
aquela que, durante esse período, desenvolve uma devoção total ao lactente,
que de forma muito identificada com as sensações e necessidades da criança,
consegue proporcionar uma adaptação suficientemente boa nesta fase.
Ainda para Winnicot (1960), “um Self verdadeiro começa a ter vida,
através da força dada ao fraco ego do lactante pela complementação, pela mãe
das expressões da onipotência do bebê”. O contato satisfatório da mãe com o
bebê pede algumas características, que são: presença e contato; não impõe seu
ritmo; cuida sem invadir; e mantém o ambiente previsível. A mãe vai adaptando
o ritmo a cada fase de amadurecimento do lactante. Conforme Winnicott (p. 55),
“quando mamãe e bebê chegam a um acordo na situação de alimentação, estão
lançadas as bases de um relacionamento humano. A partir daí que se estabelece
o padrão de capacidade da criança de relacionar-se com os objetos e com o
mundo”.
Com esse vínculo, o autor coloca que existem tarefas que a mãe cumpre,
que favorece o desenvolvimento e o amadurecimento do recém-nascido. As
tarefas a serem cumpridas para o amadurecimento incluem:

• Integração: no espaço e no tempo corresponde o segurar, o sustentar, a


mãe estar presente.

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• Personalização: o alojamento da psiquê no corpo é facilitado pelo manejo,
que é um aspecto mais específico relativo ao cuidado físico.
• Contato com a realidade: é propiciado pela apresentação gradual do
contato com o mundo ao bebê.

Para Lake (2006, p. 6), “normalmente, quando há um bom contato com a


mãe, os olhos do bebê permanecem abertos, francos e curiosos, profundos, mas
confiantes”.
Lake (2006) descreve que a falta de contato promove a violação do direito
de existir da criança:

O direito de existir, que é estar no mundo como um organismo


individual. Esse direito é geralmente estabelecido durante os primeiros
meses de existência. Este direito está associado à oportunidade de
estabelecer vínculo e está diretamente relacionado ao livre fluxo e de
energia e à primeira fase do ciclo de maturação. É a experiência de ser
e ver.

O contato é vital para o desenvolvimento do ser humano e para sua


sobrevivência.

TEMA 3 – ESTÁGIO ORAL

Nessa fase, o prazer, derivado da boca e da sensação nos lábios, está


muito presente. Continua a importância de contato com a mãe, pois além da
alimentação física, ocorre juntamente com a alimentação emocional. Sendo o
bebê completamente dependente, uma fase de simbiose entre o corpo da mãe
e do lactante. Baker (1980, p. 47) descreve: “os dois organismos excitam-se
mutuamente, dando um ao outro a faísca e intensidade, indispensáveis ao
desenvolvimento e ao crescimento. Esta excitação atinge o ponto mais alto no
ato da amamentação”.
Nesse estágio, o chuchar é motivado pela busca do prazer, e Freud diz
que é a repetição rítmica de um contato de sucção com a boca, através dos
lábios, sem qualquer propósito de nutrição. Volpi (2009) retrata essa fase como
etapa de incorporação, na qual a boca é a região de incorporação do alimento
tanto físico quanto emocional. O organismo não é capaz de digerir alimentos
sólidos, tornando-o completamente dependente do ambiente para garantir a sua
sobrevivência. Nessa época, a mãe é a fonte única de satisfação das exigências
do recém-nascido, e a partir das atitudes maternas, esta criará sua configuração
do mundo em termos orais, utilizando os mecanismos de introjeção e projeção.

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Na mente da criança, o seio, a mamadeira e a chupeta na boca podem ser
percebidos como a retenção da própria mãe ou a sua proteção.
No bebê, a boca está altamente carregada de energia. Para o recém-
nascido, alimentar-se exprime a necessidade de ser amado, garantido e de
poder abandonar-se em repouso, depois de saciado. A alimentação se confunde,
para ele, com a relação de amor e assume um significado afetivo, em que se
busca a segurança. “O colo é o primeiro chão da criança, e juntamente com o
ato da amamentação e contato ocular, são a base para proporcionar a segurança
básica para o bebê”.
Lake (2006) diz que, na fase da vinculação, a ênfase está na função de
"conter" que a mãe exerce com seus braços e com o contato visual, o que reforça
a sensação do abraço do útero. Ao ser nutrido, o bebê passa a ser o contentor
(recipiente) e a mãe o conteúdo, uma vez que ele a bebe, ou bebe o que ela lhe
oferece ou introduz em seu corpo. Os problemas dessa relação estão ligados ao
sabor que o mundo tem, à sensação interna de bem-estar (p. 17). A tensão que
surge pode ser muita intensa para uma criança na situação vulnerável da
amamentação. Leite insuficiente, bico frio ou leite muito quente e ausência de
contato. Tanto no caso de ser privado do alimento correto quanto no caso de ser
completamente invadido por alimentos inadequados, a alimentação pode, em
vez de ser uma fonte de sustentação, transformar-se em sofrimento.
O bebê é capaz de regular seu próprio ritmo, segundo suas necessidades,
porém, muitas vezes o ambiente interrompe o ritmo e a conexão que a mãe tem
com o seu bebê, e ela acaba impondo regras sociais, como horários rígidos com
a amamentação. Essa fase é marcada pelos aspectos de dependência e
independência, que vão definir os aspectos nas relações na vida adulta. O
indivíduo poderá buscar sua independência na vida adulta quando a
amamentação e o desmame acontecem de forma saudável, com respeito ao
ritmo do lactante. Quando isso não acontece, deixará registros de repressão e
insatisfação. Volpi (2009) diz que a sensação das pessoas fixadas nesta fase é
de vazio, carência, faltando força para ação e para concretizar suas
necessidades. O indivíduo tentará para o resto da vida buscar o direito de estar
seguro, que deriva da função de suporte e de alimentação por parte da mãe
durante os primeiros anos de vida.
Nessa etapa ou estágio estão em questão o direito de ter a sensação de
ser preenchido e o período de sustentação. É a experiência de ter, saborear e

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satisfazer suas necessidades, que foram privadas nesse estágio (Lake, 2006, p.
7).

TEMA 4 – ESTÁGIO ANAL

Esse estágio ocorre entre dois e três anos de idade, período em que o
esfíncter anal passa a ser um órgão funcional e o prazer é derivado da retenção
e expulsão das fezes e do controle muscular. A criança vivencia a sensação de
orgulho e satisfação quando produz um movimento intestinal, ou seja, sente-se
no controle. Esse momento ela está aprendendo a se separar da mãe e formar
sua identidade e independência, e começa a perceber com maior intensidade o
seu corpo. Volpi (2009) retrata esse estágio como a etapa de produção, a criança
nessa fase já pode andar se sua atenção está focada nas atividades excretoras,
e fezes e urinas são vistas pela criança como produto do seu corpo. Quando a
criança é respeitada, pode lidar com a autonomia e produtividade de forma
espontânea na vida adulta. Quando o contrário ocorre e a criança precisa chegar
nessa fase e esse senso de realização sofre interferências, pode ser distorcida
de forma fundamental a sua personalidade. Baker (1980) diz que, quando a
criança precisa aprender o controle esfincteriano antes de estar madura, pode
retesar sua musculatura das coxas, nádegas e soalho pélvico. Lowen (1982)
também retratou os prejuízos da criança ser forçada a usar os músculos das
nádegas e das coxas para obter o controle anal leva a uma imobilização das
pernas e a distúrbios no andar e na sustentação sobre os próprios pés.
Essas tensões diminuem a espontaneidade deixando a criança submissa
e dependente das instruções externas, e cria uma profunda teimosia (retenção).
As informações que chegam para a criança são segurar sua função natural e
abandonar o prazer. Lowen (1982, p. 143) traduz que como a repressão atua
movida por ocorrências na fase anal:

Isso vem de uma mãe que é super protetora, super solícita ou super
'cuidadora'. O interesse material no bem-estar da criança é um
substituto do carinho e afeto que devem acompanhar a crescente
independência do novo indivíduo. Isso se chama 'sufocamento' ao
contrário de maternagem. Essa atitude pode tomar a forma de
alimentação forçada, ansiedade e interesse no funcionamento
intestinal, um zelo excessivo para que a criança não se machuque em
alguma atividade física. Isto é feito em nome do amor, mas significa
reprimir o crescimento do ego da criança. Resistência e rebeldia são
logo erradicadas, auto-afirmação e auto-regulação não são permitidas.
Sob a crença de que a mãe sabe mais o espírito da criança é
literalmente esmagado, oprimido.

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Nessa fase, a criança corre o risco de perder sua espontaneidade. E ser
violado o direito e ser livre, que é o direito de não ser submetido às necessidades
do outro (Lake, p. 8). Nessa frase, o autor retrata ainda que, na formação da
personalidade, podem acontecer duas situações: a criança pode se submeter
aos pais e externamente aceitar seu controle e repressão; ou ela pode resistir e
afirmar seu próprio controle de forma a obter poder sobre os pais.

TEMA 5 – ESTÁGIO GENITAL

Nesse estágio, conhecido como fase edipiana, a criança por meio de


percepções dos adultos e de outras crianças reconhece as diferenças entre
meninos e meninas. A passagem saudável por essa fase garante a busca na
vida adulta por relações de entrega e prazer, inclusive sexual. Volpi (2009)
retrata que o comprometimento nessa fase ocorre quando a criança se encontra
na descoberta de sua sexualidade, porém, sente-se rejeitada pelo genitor do
sexo oposto. Sentindo-se traída e rejeitada, a criança bloqueia partes do corpo
capazes de expressar emoções. Como a atividade motora ainda continua forte,
e fonte de satisfação, participa ativamente do processo de auto-regulação
emociona, sexual, energética do organismo. Ocorre um sentimento de orgulho
transitório pela descoberta dos genitais, em que a reação natural da criança é o
exibicionismo e as comparações. Isso porque nessa época a criança procura,
genitalmente, identificar-se na relação com pessoas mais significativas. O
conflito interno entre sentir e entregar-se às emoções. Os problemas que
ocorrem nessa fase vêm das proibições e das ameaças, provocando culpa, que
na vida adulta impossibilitam a plena entrega e satisfação.

5.1 Brincadeiras genitais

Para que a comunicação sexual não tenha interferência no adulto, é muito


importante o apoio emocional dado à criança durante o amadurecimento genital.
"Pensamos que o apoio emocional proporcionado à criança pelo ambiente e,
acima de tudo, as oportunidades que ela tem de interagir social e fisicamente
corporalmente com crianças da mesma idade e nível são de grande importância
para este processo de aprendizado”.
Boadella (1985, p. 34) cita reações às frustrações genitais em crianças:

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• As forças negativas dos pais podem ter levado a tal culpa e medo de que
as sensações de prazer genital estão todas bloqueadas e uma grande
ansiedade se desenvolve em seu lugar.
• A brincadeira genital e seu prazer são sentidos, culpa e medo são
produzidos e, assim, serão guardados para momentos e locais secretos.
• A criança está consciente de que as brincadeiras genitais deixam os pais
incomodados, apesar de verbalmente o permitirem. A criança usa esse
fato para provocar irritação quando se sente agressiva.
• A rejeição dos pais pode tomar várias formas: pode consistir em punição
direta, ou carinho sedutor e estímulo corporal seguido de rejeição abrupta
às reações impulsivas da criança. Os efeitos são produzir uma ruptura
massiva da necessidade de contato e fusão e um corte tanto dos
sentimentos amorosos quanto dos movimentos pélvicos espontâneos.

5.2 Cisão: amor e sexo

Socialmente, sofremos a repressão sexual e isso revela o medo presente


de integrar amor e sexualidade. Na maioria das pessoas, essa cisão se faz
presente entre sentimentos amorosos e conexão com a genitalidade.
Boadella (1985) coloca que a cisão das reações sexuais naturais se deve
à negação da sexualidade infantil e adolescente e toma diversas formas. Carinho
está separado de sensualidade, de forma que sentimentos amorosos dificilmente
podem ser integrados com o vigor animal dos movimentos sexuais.

O direito de desejar e de mover-se na direção da satisfação destes


desejos de forma aberta e direta. Este direito tem um grande
componente do ego e é o último dos direitos naturais a ser
estabelecido. Eu relacionaria seu surgimento e desenvolvimento ao
período entre os 3 e 6 anos de idade, aproximadamente. Ele está
fortemente ligado às primeiras sensações sexuais da criança.

Esse direito está claramente associado à liberdade de a criança


comunicar seus sentimentos de forma direta, fase da comunicação. Envolve a
experiência de dar e receber.
Pierrakos (1990) fala desse encontro como uma fusão em que ocorre o
dar e receber. Na relação adulta não existe o que dá e o que recebe, mas um
dar e receber mútuos. Os dois participantes devem ativamente buscar,
dispensar, sustentar, alimentar, cuidar, receber, tomar e dar (p. 249).

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Conclui-se que, quanto mais tranquila for a passagem por essas fases,
maior fortalecimento se tem para a construção de uma personalidade saudável.

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REFERÊNCIAS

BAKER F. E. O labirinto humano. São Paulo: Editora Summus,1980.

BOADELLA, D. Correntes da vida. São Paulo: Editora Summus, 1985.

DANDREA, F. F. Desenvolvimento da personalidade. Rio de Janeiro: Editora


Bertrand Brasil S.A, 1987.

LOWEN, A. Bioenergética. São Paulo: Editora Summus, 1975.

_____. O corpo em terapia. São Paulo: Editora Summus, 1977.

PIERRAKOS, J. Energética da essência. São Paulo: Editora Cultrix, 1990.

VOLPI, S H.. Da psicanálise à análise do caráter. Apostila Centro Reichiano,


2003.

WINNICOTT, D. W. Da pediatria à psicanálise - obras escolhidas. Imago Ed,


2000.

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