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AULA 2

SEXUALIDADE HUMANA

Prof.ª Evelyse Iwai dos Reis Teluski


INTRODUÇÃO

São inúmeros os caminhos já percorridos na história da humanidade, em


relação à sexualidade, mas poucos tratam sobre sexo efetivamente.
Em muitos textos religiosos da tradição judaica cristã ou da mitologia, o
tema sexualidade aparece de forma associada a punição, e não como forma do
desenvolvimento humano que influencia comportamentos e desejos e tem
importante papel de suas relações.
Conhecer a evolução da história da sexualidade nos permite ver
transformações das sociedades humanas, abrindo perspectivas para perceber
como ainda a análise cultura contemporânea encontra-se influenciada, bem como
podemos traçar perspectivas para o futuro. Verificamos a normatização da
sexualidade bem como preconceitos oriundos da história de muitas culturas.

TEMA 1 – SEXUALIDADE E RELIGIÃO

A história da sexualidade é marcada por muitas faces, mas principalmente


pelo controle e influência da religião.
A Igreja ditava as normas de conduta e também as punições e sacrifício
de acordo com o pecado cometido.
Esse controle, que não era apenas sexual, mas econômico, social e moral
imposto pela Igreja, refletia-se no modo de vida da religião do passado, e a cultura
da mídia, do poder econômico da presente população. No mundo contemporâneo,
a vivência é diferente da dos nossos ancestrais, mas continuamos impregnados
da cultura religiosa que nos formou e informou (Barp, 2010).
De acordo com Nietzsche (2017, p. 74), “O desprezo da vida sexual e
inculcá-lo com o conceito de impureza é um verdadeiro delito contra a vida”.
As observações de Nietzsche (2017) nos permitem afirmar que as
interpretações bíblicas trazem ensinamentos que vão contra a natureza humana.
Devemos levar em conta que a Bíblia pode ter sido alterada com o que regia em
cada época, a cada nova edição e a cada nova tradução.
Freud (1997) refere-se à religião como fator preponderante a constituir o
psiquismo de uma civilização, Segundo ele, o surgimento da religião ocorreu em
função da necessidade de controlar e também atender a gerações cristãs, o que
impedia muitas discussões e práticas acerca da sexualidade. O sentimento de
pecado e punição estava muito presente, em que uma ameaça era suficiente para

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que ninguém ousasse fazer o que a Igreja não permitisse. Segundo a psicanálise,
a base de toda religião está na necessidade do homem de humanizar a natureza
e vê-lo como um pai. De acordo com essa ótica, toda religião traz o reflexo de uma
relação de pai e filho, estabelecendo-se dessa forma o poder da religião. Muitos
séculos foram necessários para esclarecer nossa incapacidade de questionar e o
grande poder que a Igreja exerceu e ainda exerce sobre nós.
De acordo com Barp (2010), aceitamos até hoje explicações culturais que,
mesmo não sendo autênticas, são passadas de gerações em gerações.
Freud (1997) retrata que muitos dos nossos antepassados nutriam as
mesmas dúvidas que nós, mas a pressão a eles impostas foi forte demais para
que se atrevessem a expressá-las.
O ponto a se verificar é a diferença que existe entre a cultura dos que foram
educados dentro de preceitos religiosos repressivos e a cultura dos que foram
criados de forma menos repressiva e mais liberal em sua vivência da sexualidade.
Para muitos, sexo é motivo de vergonha e traz o sentimento de pecado; para
outros, sexo é possibilidade de prazer e vivência corporal
Dentro dessas expressões e explicações sobre o controle sexual a que
estamos submetidos até hoje, não apenas a Igreja, mas toda mitologia refletiam
as primeiras interferências da religião sobre a sexualidade.

TEMA 2 – SEXUALIDADE PRIMITIVA MÍTICA

Desde o homem primitivo, havia o conflito da sua relação com sua


natureza, e seu corpo estava presente juntamente com o mundo em que se
encontrava inserido. Tentando integrar essa vivência, foram produzidos mitos e
símbolos para dar sentido à existência. A mitologia, de acordo com estudos
contemporâneos, é considerada uma verdadeira ciência, pois apresenta-se como
metodologia própria. Constitui-se com função social expressando, por meio de
narrativas místicas, a importância que exercia na vida de comunidades, traduzindo
de forma figurada o que não pode ser expresso de modo direto.
Podemos nos valer de atributos para trazer à tona alguns elementos que
retratavam a sexualidade e compreender impactos do controle da sexualidade
pela religião.
Era uma etapa em que sexo, sagrado e magia estavam juntas ao fenômeno
da vida:

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Entre os seres humanos, em nenhum lugar o sexo permaneceu
meramente um ato físico para aliviar certas tensões corpóreas. Ele
transformou-se dentro de todas as sociedades humanas, para tornar-se
uma área básica para moralidade e a organização da sociedade. Numa
distância ainda maior da biologia, ele gerou temas que passam através
da religião e da arte, assim participa de sistemas simbólicos
exclusivamente complexos. (Gregersen, 1983, p. 17)

Sociedades semidivinizadas do Oriente Médio tinham como característica


o culto à deusa mãe ou Terra-mãe, que representava a fertilidade. A
representação simbólica dos cultos se dava pela veneração das partes sexuais
femininas, mais especificamente a vagina, representada por um triângulo. Nunes
(1997) revela que a exaltação e divinização do sexo feminino podem ser
explicadas pela falta de uma relação adequada, na mente do homem primitivo,
entre a causa e efeito da fecundação, ou seja, por desconhecimento
A deidade feminina está intensamente presente na cultura de povos da
Antiguidade.
Na cultura judaico-babilônica, está ligada à paternidade e à relação entre o
ato sexual e a gravidez de noção de tempo apropriada. A religião ligada à magia
se caracterizava como representação desses povos. O sexo tinha uma ligação
com o sagrado. Também nesse período observa-se a presença do matriarcado.
Esse poder sagrado que as mulheres possuíam corresponde a uma
representação simbólica que expressa religião, sexo, crenças e lendas.
Algumas sociedades atuais na África e Oceania e Ásia vivem semelhantes
estágios. Nunes (1997) afirma ainda que na Pré-história, especialmente no
Período Paleolítico, aparecem as primeiras manifestações artístico-culturais do
homem, que, além de retratar em suas pinturas rupestres a magia, a caça, outro
tema aparecia: a mulher e a fertilidade. O autor ainda acentua que no Período
Neolítico, por volta de 9000 a. C., ocorreram grandes transformações climáticas,
e o aumento generalizado da população trouxe a escassez da caça e da pesca,
obrigando a uma maior sedentarização e à substituição pela caça pelo pastoreio.
A agricultura, a fiação e a facelagem eram funções das mulheres, mas as
transformações sociais provocadas pela sedentarização, pela produção de
excedentes, pela perda da identidade de caçador por parte do homem levaram ao
surgimento de um novo grupo social, com as primeiras formas de religião
dominadas pelo homem e pela função de chefe, surgindo também as primeiras
formas de manifestações patriarcais. Essa passagem ocorre em muitas
sociedades, em que havia a submissão da mulher e sua semiescravização
cultural: “As funções da mulher são usurpadas pelos homens e, em decorrência,
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surgem as representações simbólicas do poder masculino, os deuses são
machos, as leis, funções e organização militar e religiosa são privilégios
exclusivos dos homens” (Nunes, 1997, p. 60).

TEMA 3 – MODELO PATRIARCAL

O mundo patriarcal tem origem no Oriente Médio por volta do oitavo milênio
a.C. A Bíblia relata, desde as primeiras narrações, algumas representações que
podem ter sido distorcidas e interpretadas de forma a acentuar o patriarcado.
Entre os hebreus, a mulher era um ser inferior ao homem, não podendo participar
ativamente da religião a não ser pela obediência e autorização do marido. A
adúltera era apedrejada, e a menstruação tida como impureza. A mulher era
discriminada e semiescravizada pelo marido, pai, ou senhor.
Passando o período mítico, surge o advento das civilizações urbanas no
mundo antigo. O sexo gradualmente perde seu caráter mítico e passa a ser
racionalizado e controlado. Nunes (1997) refere-se a essa etapa em que se
distingue se sexo de reprodução e da fecundidade e é introduzida a noção de
prazer. Essa distinção coloca a mulher na dupla condição de reprodutora mãe e
uma mulher instruída nas artes do amor. Fica acentuada a divisão do trabalho,
fazendo com que os homens tomem o controle da produção e reprodução da vida.

3.1 Tabu da virgindade

O tabu que envolve a virgindade nos permite compreender como aspectos


históricos do patriarcado continuam presentes como regras de comportamento
sexual. O tabu da virgindade, segundo Nunes (1997), foi uma das grandes formas
de dominação da mulher, pois reduz seu valor, seu ser, suas potencialidades a
um selo virginal.
A história retrata que, por conta da cultura patriarcal, o pai mantinha a filha
virgem para trocá-la por uma aliança comercial. A sociedade já exerceu um
controle muito grande sobre a mulher com o tema virgindade.
Atualmente parece ser mais difícil manter o controle e a imposição dessa
exigência social, pois muitos movimentos trazem críticas severas a essa forma de
percepção. Outra reflexão atribuída ao tema é a supervalorização da genitalidade,
reduzindo o amplo aspecto que envolve a sexualidade. Nunes (1997) retrata que

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o tema virgindade pede a dignidade que se confere a ela, que é a possibilidade
de escolha, em uma doação, em uma integridade.
A estrutura familiar patriarcal reforça o machismo desde a infância e educa
o menino para exibir seu sexo e ostentá-lo orgulhosamente. Acabamos repetindo
as mesmas estruturas machistas e repressoras, repetindo a matriz que se dá num
nível de macroestruturação social, em que prevalece o poder, a dominação e a
expropriação (Nunes, 1997).

TEMA 4 – SEXUALIDADE NA IDADE MÉDIA

Por volta do século V, surge a chamada civilização cristã, e ocorre nesse


período a queda do império Romano e a emergência da Igreja como instituição,
emergindo o predomínio dos valores espirituais, estimulados pelo medo das
condenações eternas. A sexualidade, segundo Nunes (1997, p. 55), passa
novamente ao controle religioso: “O corpo é o lugar da maldade demoníaca
‘cárcere da alma’. Dominar o corpo e reprimir o sexo constitui o ideal da vida
cristã”.
Nesse período, o celibato era o ideal de perfeição, e a expressão da
sexualidade só era permitida com o sério propósito da procriação, perdendo-se
novamente a dimensão do prazer. De acordo com essa mentalidade, o sexo
estava preso à ideia de pecado.
Vale ressaltar que esse período teve muitas influências da cultura judaica,
tendo como característica o posicionamento contra o sexo, sendo marcada pelo
conceito de que as mulheres eram impuras, surgindo a implantação de rituais que
“purificavam” as mulheres durante e após as menstruações, terminando no
período ovulatório. Nessa sociedade, o prazer sexual era um privilégio atribuído
somente aos homens.

4.1 Teologia de Santo Agostinho

A teoria de Santo Agostinho foi a que teve grande impacto nas percepções
sobre a sexualidade. Agostinho foi teólogo cristão, e suas teorias se embasavam
na ideia de que o pecado era transmitido por meio do ato sexual pelas gerações.
Esse teólogo trazia o Cristianismo como proposta para toda doença relacionada
ao corpo e ao desejo.

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A relação sexual era possível dentro do matrimônio, contudo havia a
presença do uso do cinto de castidade na tentativa de impedir relações sexuais
fora do casamento.

TEMA 5 – SEXUALIDADE E RENASCENÇA

Esse período histórico chamado Renascimento (séculos XV e XVI) foi


marcado por grandes transformações sociais, econômicas, culturais, políticas e
religiosas.
No final da Idade Média e início da Renascença, o corpo e a beleza física
ganharam destaque histórico. O pensamento renascentista influenciou pintores,
escultores e artistas em geral, e a arte renascentista celebrou abertamente o corpo
nu.
Por volta do século XVIII, período marcado pelo racionalismo, a
sexualidade foi associada à procriação em detrimento ao prazer.
Albertini (2003) pontua que, com o fim do monopólio da Igreja, surge a
ciência moderna, o produto mais nobre da razão, com suas regras fundamentadas
na observação e na experimentação. Nesse período, o controle da sexualidade
deixa de ser influenciada pela religião e passa a ser controlada pela ciência.
A nova sociedade precisava de muita energia sexual, e a repressão da
sexualidade era muito intensa. O ápice desse modelo ocorreu com a
compreensão repressora da sexualidade na época da Rainha Vitória, a era
vitoriana. O puritanismo era pregado com maior ênfase e a tentativa era pregar o
autocontrole para modificar o comportamento desregrado vindo da Idade Média.
O sexo era controlado e submetido a regras e normas, sendo justificado pelo
respaldo científico.
Marçal (1997) comenta que, nesse período, essas transformações
resultaram num novo modo de produção e também da consolidação da ciência da
tecnologia e da razão.

5.1 Características da influência da ciência na sexualidade

• Vigilância médica: a medicina passa a estabelecer o que deveria ser


praticado;
• Interterdição maior para as mulheres, que deveriam ser mais recatadas e
com ausência de desejo sexual;

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• Relações sexuais com mulheres na menopausa era um abuso à saúde
pública;
• O sexo era responsável por transmissão de muitas doenças sexuais,
inclusive demências;
• Condenação da masturbação como recomendação médica, pois a prática
poderia desenvolver tumores, podendo levar à morte.

No século XVIII fica mais evidente a compreensão da teoria científica


relacionada ao sexo. A sexualidade no aspecto da medicina só era validada no
aspecto biológico, e a parte do comportamento sexual não tinha importância.
A medicina, ao relacionar a sexualidade à reprodução, intensificou o
distanciamento entre sexualidade e subjetividade.
De acordo com Aquino (1997), “A sexualidade mostrava-se alheia ao
interesse do indivíduo, já que foi proposta pela medicina com interesse, e era
entendida como fenômeno ligado ao funcionamento orgânico do aparelho
reprodutor, a sexualidade deve se submeter as leis do corpo”
Observamos que essa visão fragmentada da sexualidade teve sua origem
nesse período e atualmente ainda permanece na percepção de grande parte da
população.

5.2 Ars Erótica e Scentia Sexualis

Michael Foucault (2019) traz uma reflexão contemporânea sobre a história


da sexualidade, retratando que ao longo do tempo a sociedade fez uso abusivo
do poder, por meio das instituições como as escolas, trazendo uma dominação
sobre a sexualidade. No primeiro volume do livro História da sexualidade, Foucault
(2019) relata a sexualidade ao longo dos séculos, fazendo um paralelo com a
sociedade atual, refletindo poucas mudanças no que diz respeito ao controle da
sexualidade.
Foucault (2019) Propõe a existência de duas formas básicas de
apropriação do saber sexual: Ars Erotica Scientia Sexualis.

5.2.1 Ars Erotica

Conjunto de técnicas, um saber prático ao mesmo tempo espiritual e físico,


que frequentemente teve uma forma literária poética, dirigindo o prazer sexual
associado ao reconhecimento de suas diversas intensidades, confunde-se com o

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sagrado, envolve a busca de maior prazer associada as experiências místicas.
(Aquino, 1997).
Há muitos exemplos históricos de culturas e religiões que a praticaram, tais
como o hinduísmo védico, o taoísmo chinês, a Grécia e Roma clássicas. Com
opiniões divergentes, alguns historiadores relatam que Ars Erotica não teria
desaparecido do Ocidente cristão, mas alguns autores apontam que algumas
formas de arte possuíam essa vertente: como Ovídio, o amor cortês e a poesia
trovadoresca.
Foucault (2019, p. 79) reforça o pensamento:

Existiu a confissão cristã, e sobretudo na direção espiritual e no exame


de consciência, na procura da união espiritual e do amor de Deus, toda
uma série de procedimentos que se aparentam com uma arte erótica:
Orientação, pelo mestre, ao longo de uma via de iniciação, intensificação
das experiências através do discurso que os acompanha

5.2.2 Scientia Sexualis

Segundo Foucault (2019), uma forma de saber desenvolvida a partir do


século XVII, ponto-chave da apropriação da sexualidade pelo discurso científico,
a medicina, ao buscar a causa científica da biologia, deslocou o plano de análise
da sexualidade humana, logo a sexualidade passou a ser vinculada à função
reprodutora, forçando o distanciamento entre a sexualidade e a subjetividade. Ao
afirmar a positividade do sexo que visava a reprodução, a biologia e a medicina
criaram automaticamente um campo em que a sexualidade teria por objetivo a
reprodução e seria normal sua manifestação enquanto o aparelho reprodutivo
estivesse funcionando. Logo ela deveria se manifestar apenas na puberdade e
durar até o término da atividade reprodutiva, sendo anormais a manifestação da
sexualidade na infância e na velhice.
Foucault (2019) diz que sexo se tornou assunto do Estado, preocupado
com o controle demográfico e as suas implicações econômicas. Relata que, em
nome de uma urgência biológica e histórica, eram justificado os racismos oficiais
e fundamentados como verdade. Havia ainda uma comparação da sexualidade
humana com a fisiologia da reprodução animal ou vegetal, com argumentos de
fraco teor, não somente de cientificidade mas de racionalidade, muito confusos na
percepção de Foucault (2019, p. 61):

Parece o sexo se inscrever-se em dois registros de saber bem distintos:


Uma biologia da reprodução desenvolvida continuamente segundo uma
normatividade científica geral e uma medicina do sexo obediente a regas

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de origem inteiramente diversas. Entre uma e outra nenhum intercâmbio
real, nenhuma estruturação; a primeira desempenhou apenas, em
relação a outra, o papel de uma garantia longínqua e, ainda assim, bem
fictícia: de uma caução global sob cujo disfarce os obstáculos morais, as
opções econômicas ou políticas, os medos tradicionais, podiam
reescrever num vocabulário de consonância científica.

Fica evidente que essa distância entre biologia e cultura encontra-se


presente nos discursos atualmente, contraste que, além de ainda estar presente
na medicina, também aparece no discurso de educadores.
A medicina do século XVIII, querendo buscar a cientificidade biológica, para
fundamentar seu discurso normativo sobre sexualidade, fez um deslocamento
para o discurso pedagógico.
No livro História da sexualidade, v. 1, Foucault (2019) retrata quatro
grandes conjuntos estratégicos como forma de poder do discurso científico:

• Histerização do corpo da mulher: corpo sexualizado foi associado ao


efeito de uma patologia. Posto em função de corpo social, cuja fecundidade
regulada, deveria assegurar a reprodução;
• Controle da sexualidade das crianças: ser necessário o controle da
sexualidade da criança, de modo que pais, educadores e médicos se
encarregavam dessa repressão;
• Socialização das Condutas de procriação: medidas sociais repressoras
a fecundidade dos casais;
• Psiquiatrização do prazer: o instinto sexual foi isolado por meio de uma
análise clínica de todas as formas de anomalia e estabelecida uma
normalização e patologização de toda conduta.

Até a chegada de Freud com a psicanálise, essas normas se mantêm nos


tratados da sexologia do século XIX, que apontavam os perigos das práticas
anticoncepcionais, males da masturbação, fazendo da sexualidade uma norma
difícil de ser discernida na vida cotidiana, e da escola um campo de batalha contra
a sexualidade da mulher, da criança e do adolescente, o casal malthusiano.
O sexo vem sendo proibido, mascarado desde a época clássica. As
práticas sexuais até o final do século XVII por regras, leis normas, linha divisória
entre o lícito e o ilícito mostra (Batista, 2008).

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5.3 Período da descompressão sexual

Freud foi um dos principais revolucionários a desmistificar as concepções


clássicas a respeito do instinto sexual, redefinindo o conceito de sua origem na
infância e elucidando que a sexualidade nasce paralelamente a uma atividade
vital.
A partir da metade do século XIX, ocorre a descompressão sexual, fato
ligado à possível perda da hegemonia europeia sobre o mundo. Foi o século de
rupturas com toda repressão sexual vivida nos séculos XVI, XVII e XVIII.
O reflexo atual no mundo contemporâneo é sobre a mecanização do sexo
com a qual a atual geração convive: o prazer perde lugar a para o desempenho e
a performance sexual. Temos o sexo, a pornografia, produtos diversos ligando o
sexo ao consumo, a figura da mulher estigmatizada e as relações com menos
intimidade. Nunes (1997, p. 43) retrata que o sistema atual permite a manifestação
quantitativa da sexualidade, mas não a humanização e o afeto, que são aspectos
qualitativos: “Quando vivemos novas relações humanas solidárias e prazerosas,
sem a matriz da dominação e exploração, é que podemos estruturar novas formas
de relações sexuais”.
Mesmo com maior liberdade e espaço conquistados, continuamos a
reflexão sobre os tabus que ainda permeiam o tema sexualidade.

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REFERÊNCIAS

ALBERTINI, P. Reich e a possibilidade do bem-estar na cultura. Psicologia USP,


v. 14, n. 2, São Paulo, 2003.

AQUINO, J. G. Sexualidade na escola: alternativas teóricas e práticas. 6. ed.


São Paulo: Summus, 1997.

BARP, M. R. T. Sexualidade humana e evolução sexual. Porto Alegre:


Alternativa, 2010.

BATISTA, C. A. Educação e sexualidade: Um diálogo com educadores. São


Paulo: Ícone, 2008.

FOUCAULT, M. História da sexualidade – A vontade de saber. São Paulo: Paz


& Terra, 2019.

FREUD, S. Mal-estar na civilização. São Paulo: Imago 1997.

GREGERSEN, E. Práticas sexuais – a história da sexualidade humana. São


Paulo: Livraria Roca, 1983.

NIETZSCHE, F. Grandes obras de Nietzsche: Assim falava Zaratustra; Ecce


Home; O Anticristo. Tradução de José Mendes de Souza. 2. ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2017.

NUNES, C. A. Desvendando a sexualidade. 2. ed. CAMPINAS, SP: PAPIRUS,


1997.

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