Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Bolsista do
CNPq.Email: odacyrroberth@gmail.com.
2Professora Adjunta do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento da
Universidade Federal do Espírito Santo. Email:cristinasmithmenandro@gmail.com.
O seu sangue será sobre eles (Lv. 20:13)
1 INTRODUÇÃO
A prática sexual entre pessoas do mesmo sexo está presente no mundo desde os
primórdios da história da humanidade. Algumas culturas, contudo, vem historicamente
atribuindo valor negativo a esta prática, ora concebendo-a como doença, ora como pecado. O
indivíduo que se assume gay, algumas vezes não suporta a pressão normativa que o rodeia e
busca reorientar-se para a heterossexualidade. A religião, enquanto uma das principais
instituições normatizadoras de condutas sexuais, vem sendo apontada como a maior motivação
pela procura de terapias de reorientação sexual.
Neste trabalho pretendemos conhecer a ideologia dos movimentos cristãos ex-gays e
discutir o posicionamento da psicologia em relação à terapia de reparação sexual proposta por
estes movimentos. O artigo fundamenta-se na leitura e análise do discurso presente em sites
cristãos que oferecem auxílio para indivíduos que buscam abandonar a prática homossexual por
meio da intervenção religiosa. Em seguida, traz o posicionamento da Psicologia em relação à
questão do oferecimento de terapias de conversão sexual e da ética que o profissional deve ter ao
abordar as múltiplas formas do indivíduo ser e se expressar sexualmente. Procuramos
problematizar as intolerâncias e fundamentalismos religiosos percebidos na nossa cultura e
dialogar em busca da construção de possíveis estratégias para minimização dos efeitos de
crenças religiosas sobre a população homossexual masculina, tendo em vista que o papel da
psicologia, no que tange às múltiplas formas de se vivenciar a sexualidade, é rejeitar os mitos
baseados em fundamentalismos e acolher a realidade plural.
2 HISTÓRIA DA HOMOSSEXUALIDADE
Os primeiros registros que existem da prática sexual entre pessoas do mesmo sexo na
história da humanidade datam de cerca de 2500 anos a.C, na III Dinastia Egípcia (FOGEL;
LANE; LIEBERT, 1989). Entretanto, há quem diga que existem documentos ainda mais antigos
que relatam experiência homossexual entre Oros e Seti, que remetem a 4500 anos a. C., também
ocorrido na sociedade egípcia (GUIMARÃES, 2009).
Outros registros foram encontrados na Grécia Antiga, onde o sexo entre homens era
prática comum, desde que fosse vivenciada dentro dos limites culturalmente delimitados
(RICHARDS, 1995). Quando atingiam a adolescência, as famílias encaminhavam seus filhos a
um homem mais velho, que assumia o papel de mestre, tendo a função de educar, proteger e
preparar o jovem para a vida pública. Na relação sexual, o mais velho deveria desempenhar o
papel de ativo e o mais novo, passivo. No devido tempo, tanto o mais velho quanto o mais novo
deveriam se casar com mulheres e procriar. As relações sexuais entre homens da mesma idade
eram desaprovadas, consideradas antinaturais, visto que feria o princípio de masculinidade dos
padrões gregos da época. Para manter a masculinidade preservada era necessário que o homem
mantivesse papel ativo com alguém considerado socialmente inferior (mulher, escravo ou jovem)
(FOGEL; LANE; LIEBERT, 1989; RICHARDS, 1995; SPENCER, 1999).
Já no Império Romano, de acordo com Richards (1995), era socialmente aceitável que um
homem mantivesse relações sexuais com parceiros do mesmo sexo desde que os papéis e
características culturalmente definidas de masculinidade e feminilidade fossem mantidos, ou
seja, desde que os homens que resolvessem aderir à esta prática não se feminizassem. O autor
cita como exemplo a reprovação social em relação ao imperador Nero que se vestia como mulher
e assumia a passividade na relação sexual e a ausência de qualquer retaliação do tipo em relação
ao imperador Adriano que manteve um caso de amor com o jovem Antinoos.
Com o advento do cristianismo, uma nova leitura das práticas sexuais entre pessoas do
mesmo sexo passa a existir. Embora o Antigo e o Novo Testamento tragam poucas passagens
referentes à esta prática, elas têm sido usadas desde então como base para alguns segmentos
religiosos e sociais tomarem posição contra elas (RIBEIRO, 2005).
Na Idade Média o sexo entre homens era visto como um hábito adquirido e quem o
praticava era nomeado de sodomita. Além das relações anais masculinas, a sodomia também
poderia se referir a qualquer atividade sexual que não tivesse como finalidade a reprodução da
espécie, tais como a masturbação e a bestialidade. Embora o próprio Jesus, fundador do
cristianismo, não tenha se ocupado em delinear um código abrangente de ética sexual, os
primeiros padres da igreja se encarregaram desta função, estabelecendo que todo sexo não-
procriativo era uma violação da natureza. Quando Roma adotou o cristianismo como religião
oficial, estas opiniões se transformaram em leis. O código de leis morais criado pelo imperador
Justiniano (527-565 d. C) era tão rígido que decretava pena de morte aos homossexuais
(RICHARDS, 1995).
No século XV os valores sexuais cultivados na Grécia Antiga voltaram à tona através de
filósofos que possuíam uma visão mais humanista e defendiam o amor masculino. Contudo, o
preconceito contra dois homens da mesma idade que se relacionavam sexualmente continuou a
crescer. A partir do século XVII, com o advento e expansão do capitalismo, houve um aumento
da competitividade entre os homens, o que diminuiu a possibilidade de haver contato íntimo
entre eles. Já no século XIX, a homossexualidade perde um pouco do seu vigor enquanto pecado
e passa a ser vista como uma patologia, uma doença a ser tratada (VECCHIATTI, 2008
apudDIETER, 2012).
Ao final do século XIX, as sexualidades consideradas periféricas, incluindo-se aí a
homossexualidade, sofreram severo controle e passaram a ser monitoradas por meio de aparelhos
de vigilância baseados em mecanismos disciplinares. Esta nova forma de poder exercido sobre
estas sexualidades que fugiam da normalidade ocasiona a incorporação das perversões e a nova
especificação dos sujeitos, criando estigmas e reforçando preconceitos (FOUCAULT, 2015).
O movimento homossexual começou a se fortalecer e ganhar forma ainda na segunda
metade do século XX. O movimento colocava em cheque vários pressupostos científicos que
davam status de doença à homossexualidade, embora fosse complacente à ideia da existência de
uma identidade homossexual. Este modo de ser homossexual, partilhado pelo grupo, alcançou
importância tanto subjetiva quanto política (SAGGESE, 2009).
O uso do termo “gay” ficou por muito tempo restrito aos guetos americanos, sendo
gradativamente disseminado no meio homossexual (GREEN, 2000). Guimarães (2009) afirma
que a expressão se difundiu depois do episódio de Stonewall, em junho de 1969 na cidade de
Nova York, assentado nos movimentos de liberação homossexual, surgindo como forma de
dissipar o cunho psiquiátrico que carregava o termo “homossexual”. O termo “gay” ocupa, desta
forma, uma função de militância e de desestigmatização do indivíduo homossexual.
Apesar (e por causa) do avanço dos movimentos sociais e das conquistas da comunidade
LGBT surge, em meio a inúmeras contradições, dialéticas e heterogeneidades que permeiam o
contexto das homossexualidades,a ideologia cristã fundamentalista,oferecendo possibilidade
dealteração da orientação sexual àqueles indivíduos que foram levados a acreditar que é
pecaminoso ou patológico ser homossexual. Neste movimento, ao mesmo tempo em que os
integrantes destes grupos cristãos são movidos por uma ideologia eivada de preconceito e
discriminação, eles também a retroalimentam à medida em que ressignificam as práticas
homofóbicas persistentes ao longo dos séculos utilizando interpretações unilaterais da Bíblia
como justificativa.
3
Informações do site Exodus Brasil. Disponível em <http://www.exodus.org.br/preciso-de-ajuda/ministerios-
filiados/>. Acesso em 30 de junho de 2016.
transformada são possíveisatravés do poder de Jesus Cristo para as pessoas que experimentam a
atração pelo mesmo sexo e pessoas envolvidas na homossexualidade; (2) equipar os cristãos e
igrejas para defender o ponto de vista bíblico da sexualidade e responder com compaixão e graça
às pessoas afetadas pela homossexualidade; (3) servir as pessoas afetadas pela homossexualidade
através da comunhão cristã, discipulado, aconselhamento, grupos de apoio, conferências e outras
formas de ajuda em Cristo.
Segundo Nascimento (2009), os grupos evangélicos que atuam no Brasil (Moses –
Movimento pela sexualidade sadia; CPPC – Corpo de Psicólogos e Psiquiatras cristãos e
ABRACEH – AssociaçãoBrasileira de Apoio a Pessoas que Voluntariamente Desejam Deixar a
Homossexualidade) partem do pressuposto que a homossexualidade é um comportamento
aprendido. Seguindo esta lógica, seria possível, então,reformular o comportamento do indivíduo
de modo com que ele reaprendesse a ser heterossexual.
O site brasileiro Ex-gay nova identidade4 também oferece ajuda para quem quer se livrar
do “vício homossexual”.Dentro da visão cosmológica e doutrinária que guia as religiões cristãs,
o autor do site define homossexualidade como
(...) a busca de amor, que não foi preenchida na infância. Pela feminilidade da mãe ou
masculinidade do Pai.Não é um problema sexual. É um problema emocional. Ou seja,
se faltou amor de Pai, você procura esse amor em outros rapazes, se faltou amor de mãe,
em outras mulheres. Faltou um Pai ou Mãe que amasse, abraçasse e dissesse que amava.
Como isso não acontece, ficamos procurando nos outros rapazes e moças o pai/mãe que
nunca tivemos, o amor masculino ou feminino que nunca tivemos. Em nossa sociedade,
tudo é levado pro lado do sexo, erotizando assim os relacionamentos.
(...) HOMOSSEXUALIDADE É A BUSCA DESESPERADA POR AFETO. E esse
afeto você só encontra em Jesus!!Praticar o homossexualismo, é AMAR UM HOMEM
MUITO MAIS QUE JESUS!! (Grifo do autor) (TEHILAH, 2012).
4
http://exgaynovaidentidade.blogspot.com.br/
deste tipo de informação e, acreditando no poder de predição destes fatores, procuram encontrar
o ponto inicial onde sua sexualidade “desviou-se dos caminhos da normalidade” para, a partir
daí, realizar um exercício de regressão e tentar começar de novo. O blog Um futuro ex-gay5, que
se propõe a acompanhar a evolução da transformação sexual de um indivíduo, traz o relato de
um rapaz, assim como tantos outros, que atribuem suas vivências e desejos sexuais atuais a um
abuso sexual sofrido na infância:
Aos quatro anos eu fui molestado por um amigo bem próximo a qual a gente se tratava
como primo ele vivia na minha casa a gente fazia quase tudo juntos. Mas um dia a gente
saiu pro mato pra pegar passarinho e ele que já devia ter uns 8 anos me ensinou coisas
que antes era desconhecidas, pegou no meu pênis me mandou fazer sexo oral nele e nos
encostamos mas sem penetração eu não sabia oque tava fazendo mas ele sim, ele tinha
entendimento. Dali por diante começamos a fazer aquilo sempre eu comecei a gostar,
fazíamos tudo sempre, foi dai que eu comecei a gostar de sexo, virei um viciado fazia
com todo mundo que vinhesse mas com ele era especial eu já era dele e ele meu sempre
faziamos aquilo em qualquer lugar escondido ele me mostrou esse mundo horrível.
Sou casado tenho 21anos, sou evangélico pentecostal, e fui abusado na minha infância.
Em virtude disso comecei a sentir desejos homossexuais que se afloraram na minha
adolescência (Paulinho de Jesus).
Quando eu estava sendo gerado no ventre da minha mãe o diabo usou a boca da minha
vó e disse: olha o filho que esta sendo gerado no seu ventre vai ser um travesti muito
conhecido e ai então eu nasci (Luis Mauro Fonseca).
Tudo começou quando eu tinha cinco anos de idade. Um parente bem próximo me
abusou. (...) Esse parente convivia na mesma residência que eu. Durante certo tempo fui
um "brinquedo" usado para sexo oral. Sinceramente, eu não sabia o que estava fazendo.
(...) E para piorar essa situação a minha mãe disse que quando estava grávida de mim,
queria muito uma menina, para, então, ter dois casais de filhos (Anônimo).
O site Ex-gays [um direito]7possui uma área chamada Confessionário onde os gays que
estão buscando mudar sua orientação sexual relatam suas experiências, sejam elas de vitória ou
5
http://futuroexgay.blogspot.com.br/
6
http://exgaysfalam.blogspot.com.br/
7
http://www.oexgay.com/
de derrota. Alguns relatos foram extraídos para ilustrar o estado emocional de recusa da própria
sexualidadeem que se encontram estes indivíduos:
Tenho 17 anos e desde pequeno sinto atração por homens, já me masturbei diversas
vezes pensando em homens e sempre me sinto culpado, pois desejo uma vida normal,
casado com mulher e filhos. Quando eu era pequeno, meu pai não me dava muita
atenção e eu passava mais tempo com a minha mãe e a minha irmã (...). Na rua sempre
me chamavam de viadinho (...) O único abuso que sofri, foi quando tinha 10 anos. Pra
falar a verdade não sei se foi mesmo um abuso, pois foi com minha irmã, ela ficava me
beijando na boca e me agarrando, nada mais que isso. Ultimamente tenho me
masturbado bastante pensando em homens, geralmente prefiro homens mais velhos do
que novos (...). Também sinto inveja dos rapazes que são independentes e másculos (...).
Às vezes entro em sites de bate-papo gay e fico me mostrando na webcam. Sempre que
faço isso me sinto péssimo. (...) Peço somente que me ajude, quero ter uma família com
uma esposa e dois filhos se Deus quiser, quero ser feliz ao lado de uma mulher, não
consigo me ver feliz com outro homem. (...) Estou tentando pedir a Deus todos os dias
que tire isso de mim, quero muito ter uma namorada e ser feliz, mas com esse desejo
que tenho em mim, nada disso vai ser possível. Quero muito ser feliz, como todo
homem é, por favor, me ajude, irei orar muito para alcançar esta felicidade (Anônimo,
27 de novembro de 2014).
Tenho 17 anos e me repugno por ter pensamentos homossexuais. (...)Quero deixar de ter
esses pensamentos na base do cientificismo e de profundas leituras concretas na base da
ciência. (...) Não me levem a mal (...) porém o cristianismo não me desce.
(...)Felizmente nunca tive qualquer relacionamento com um indivíduo do mesmo sexo
(tudo o que tenho são desejos ruins que quero abandonar), por isso considero-me
privilegiado por ser mais fácil. Nunca namorei mulheres, mas já “fiquei” com uma s
garotas e gostei da experiência (por isso me considero mais propenso à cura) mas foi há
muito tempo, eu tinha uns doze anos. Mas no fundo sempre tive essa obsessão pelo
mesmo sexo que me deixa inquieto. Sinto tesão em homens e isso é muito doloroso. Me
masturbo e quando gozo sinto raiva de mim mesmo. Quero acabar com esta miséria!
Estou muito infeliz com essa minha vida... (...). Quero ser felizsendo hétero pois admiro
o estilo de vida masculino e quero ser desse jeito. Por favor, me ajudem, estou perdido e
desesperado. Serei eternamente gratoa vocês quando me curar (Anônimo, 24 de
dezembro de 2014).
Tenho 25 anos e creio estar passando pela fase mais difícil da minha vida. Aos 22 anos
fui diagnosticado com depressão, e depois de muito tempo pude perceber que a causa
dessa depressão toda era unicamente a confusão quanto minha sexualidade, porém
nunca quis aceitar isso (...). Caí na besteira de ficar atraído por um homem que conheci
num chat (...) porém chegou uma hora que dei um basta na relação ainda que virtual
(...). Hoje ainda sofro porém pouco com a ausência de não falar mais com ele, mas sei
que isso passa. O maior problema é se realmente eu irei consegui me doar 100% a uma
vida heterossexual, sem aquela preocupação de recaída. Esse é o sonho de minha vida,
não precisar pensar mais nessa situação e simplesmente viver uma vida onde consiga
construir uma vida plena na qual eu sempre sonhei, casar, ter filhos... Ou ainda que eu
não case, mas que possa viver sem essa maldição (...), preciso saber um meio, um tipo
tratamento passo a passo pois creio na completa reestruturação da mente. (...) Nunca me
imaginei nessa vida e me recuso a ser. Espero que realmente possamos sair dessa ou
então restará aceitar isso, porém não praticar e vigiar. Acho que dói menos (Anônimo,
23 de janeiro de 2015).
8
https://missaoga.wordpress.com/
psicodrama e retiros de fim de semana que abordem de forma aprofundada a identidade
de gênero também podem ajudar.
9
http://site.cfp.org.br/nota-de-esclarecimento/
homossexualidade não é uma doença, distúrbio, nem perversão e que o Conselho não retira do
psicólogo o direito de tratar homossexuais, contanto que este não lide com o assunto como se
tratasse de uma doença (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013).
De fato, desde 1975 a homossexualidade já não é mais considerada doença pela APA.
Outras organizações também já despatologizaram a homossexualidade há decadas, tais como a
Associação Americana de Psiquiatria em 1973, o Manual Diagnóstico e Estatístico dos
Distúrbios Mentais, em 1987 e a Organização Mundial de Saúde, através do CID-10, em 1993.
Apesar disto, “esta celebrada despatologização da homossexualidade, não foi capaz de resolver
todas as questões que longos anos de pertença a códigos punitivos, listagens de aberrações e
perversões e finalmente a um repertório nosológico ‘cientificamente’ estipulado, tinham
instalado” (LEAL, 2004).
Assim, conforme aponta Matias (2007), o papel da psicologia no que tange às múltiplas
formas de se vivenciar a sexualidade é rejeitar os mitos baseados em fundamentalismos e acolher
a realidade plural. O autor ainda reafirma a urgência de se discutir temas sobre esta pluralidade,
não raramente deixadas em segundo plano ou tratadas de forma radical.
Temos em vista que nenhuma orientação sexual – seja homossexual, assexual, bissexual
ou heterossexual – requer, por si só, tratamento, já que não se trata de uma patologia. O que pode
motivar necessidade de cuidados com a saúde emocional deste público são as condições adversas
presentes no ambiente em que eles estão inseridos, ambiente este eivado pelo estigma e a
discriminação (MONTOYA, 2006).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre o preto e o branco existe uma miríade de tons de cinza. Nesta diversidade,
encontramos gays, ex-gays e ex-ex-gays, e em todos estes grupos encontramos pessoas que
afirmam estar felizes em sua atual condição. Não foi pretensão deste ensaio deslegitimar a
vivência de indivíduos que se declaram ex-gays, tampouco provar cientificamente a
possibilidade ou não da mudança intencional da orientação sexual. Não temos o poder de definir
que o sujeito não está sentindo o que ele diz sentir.
A crítica central se refere à forma violenta como algumas instituições (em especial
aquelas guiadas pelo fundamentalismo protestante) utilizam a Bíblia para justificar seus atos de
homofobia em pele de amor.Questiona-se a imposição de uma verdade sacralizada que perpetua
violência e estigmatização.Os argumentos trazidos no texto refletem as diretrizes para a atuação
do profissional da psicologia em relação àqueles que buscam terapias psicológicas para
reorientar-se sexualmente, tendo sempre em vista a luta contra o preconceito por orientação
sexual e a intolerância ao diálogo. Espera-se que este trabalho contribua para o adensamento das
discussões que problematizam a ideologia contida nos discursos religiosos que versam
intolerantemente sobre os seres sexuados.
REFERÊNCIAS
American Psychological Association. (2009). Report of the APA Task Force on Appropriate
Therapeutic Responses to Sexual Orientation. Recuperado de
http://www.apa.org/pi/lgbt/resources/therapeutic-response.pdf
Conselho Federal de Psicologia. (2013) Nota sobre o projeto da “cura gay”. Recuperado
dehttp://site.cfp.org.br/nota-sobre-projeto-da-cura-gay/
Craig, W. L. (2010). Apologética para questões difíceis da vida. Edições Vida Nova.
Fogel, G. I., Lane, F. M. & Liebert R. S. (1989). Psicologia Masculina – novas perspectivas
psicanalíticas. Porto Alegre: Artes Médicas.
Foucault, M. (2015). História da sexualidade 1 (2 ed). São Paulo: Paz e Terra. (Originalmente
publicado em 1976)
Green, J. N. (2000). Além do carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX.
São Paulo: UNESP.
Natividade, M. & Oliveira, L. (2013). Novas guerras sexuais: diferença, poder religioso e
identidades LGBT no Brasil. Rio de Janeiro: Garamond.
Richards, J. (1995) Sexo, desvio e danação: as minorias na Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar.