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DIREITO PENAL (LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE)

Legislação Extravagante – Tortura


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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - TORTURA

Lei n. 9.455/1997 – define os crimes de tortura.


Art. 5º, XLIII, CF: delito equiparado a hediondo. Inafiançável e insuscetível de graça,
indulto ou anistia.
São equiparados aos crimes hediondos o tráfico de drogas, o terrorismo e a tortura.
Desse modo, a legislação ordinária não pode tirar a hediondez dos crimes de tortura.
Bem jurídico tutelado: dignidade da pessoa humana, integridade física e psíquica.
Conceito: qualquer método de submissão de uma pessoa a sofrimento atroz, físico ou
mental, contínuo e ilícito, para obtenção de qualquer coisa* ou para servir de castigo por
qualquer razão (Nucci). *Obtenção de uma informação ou confissão.
Competência: Justiça Estadual ou Federal, a depender do local em que cometida e da
incidência em uma das hipóteses do art. 109 da CF.
É equívoco achar que o crime de tortura é sempre competência da Justiça Federal, visto
que depende do local onde ele é cometido, se os motivos atraem a competência da Justiça
Federal (art. 109 da CF), se é praticada por um servidor público federal. Assim, é possível
que haja o julgamento de crime de tortura pela Justiça Estadual.
Militar responde na Justiça Militar, se a tortura for praticada em serviço ou em
razão do serviço (antes respondia na Justiça Comum). Lei n. 13.491/2017, que ampliou
consideravelmente a competência da Justiça Militar.]

Figuras típicas
Art. 1º. Constitui crime de tortura:
I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento
físico ou mental:
a. com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;

5m Essa modalidade é chamada de tortura probatória, tortura persecutória ou, ainda, tortura
inquisitorial ou institucional. É a tortura praticada em delegacia de polícia para o fim de obter
a confissão do investigado.
Para a caracterização desse crime, não é necessário que a informação ou a confissão
tenha sido obtida. O torturador já comete o crime no momento em que ele aplica o choque,
coloca um saco na cabeça, desfere golpes com toalha molhada.
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Tortura probatória/ persecutória/ inquisitorial ou institucional


b. para provocar ação ou omissão de natureza criminosa.

Tortura crime
Ex.: Dois indivíduos planejam roubar o veículo de um motorista de aplicativo e desejam
praticar outros crimes usando esse veículo. Para isso, eles chamam o motorista pelo aplica-
tivo e, ao entrarem no carro, um deles se posiciona exatamente atrás do banco do motorista,
apontando-lhe a arma de fogo pelo vão entre o apoio e o banco, ordenando-lhe que ele dirija
até tal endereço.
O motorista, amedrontado e sob ameaça, dirige até o endereço e, quando lá chega, des-
cobre que se trata de uma boca de fumo, e que os indivíduos que pediram a corrida preten-
dem buscar drogas para serem comercializadas no veículo dele.
Ao pegarem as drogas, o motorista é obrigado a levar os indivíduos aos locais solicitados
para o comércio das drogas, configurando crime de tráfico de drogas. O motorista de aplica-
tivo, ao transportar os traficantes e as drogas, em tese, estaria cometendo um crime, mas,
como estava sob coação moral irresistível, tem sua culpabilidade afastada.
Os indivíduos que solicitaram a viagem, para além dos crimes de tráfico de drogas e do
roubo do carro, estão cometendo também a modalidade de tortura crime, visto que estão
obrigando o motorista do aplicativo a praticar o crime de tráfico. Desse modo, eles deverão
ser condenados pelos crimes de tráfico de drogas, roubo e tortura crime.
10m

c. em razão de discriminação racial ou religiosa;

Tortura discriminatória/preconceituosa/racismo
Não há o elemento da orientação sexual nem da nacionalidade, sendo inviável a interpre-
tação extensiva desse tipo penal.
II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave
ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida
de caráter preventivo.
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Tortura castigo/ punitiva


Não se deve esquecer, para fins de tipificação de conduta, que devem estar caracteriza-
dos a guarda, o poder ou a autoridade sobre a pessoa. Esse castigo, essa medida de caráter
preventivo serão aplicados quando houver esses vínculos. Ex.: babá e professor(a).
Pena – reclusão, de dois a oito anos.
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a
sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante
de medida legal.

Então, o agente penitenciário, policial penal, agente de custódia ou policial que tenha
alguém preso sob sua custódia, seja prisão definitiva, cautelar ou sujeita à medida de segu-
rança e submete esse indivíduo à pratica de um ato não previsto em lei, por exemplo, fazendo
o passar por um intenso sofrimento físico ou mental, estará cometendo crime de tortura.

Crime comum: não exige condição especial (não precisa ser agente público).
Ex.: Se um(a) cuidador(a) de idosos faz o seu cliente passar reiteradamente por sofri-
mentos físico, mental, psicológico, violência ou ameaça, será crime comum e o praticante
será enquadrado no crime de tortura. Se for agente público, incide causa de aumento de
1/6 a 1/3 (art. 1º, §4º).

Crime formal: o resultado pretendido não precisa ser necessariamente atingido. .


15m
Há expressa previsão de crime omissivo no §2º do art. 1º: aquele que se omite em face
dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de deten-
ção de um a quatro anos. Crime omissivo próprio; delito autônomo privilegiado.
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a
dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.

Existência de formas qualificadas pelo resultado obtido a título culposo.


§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
I – se o crime é cometido por agente público;
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior
de 60 (sessenta) anos;
III – se o crime é cometido mediante sequestro.
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Tortura qualificada pelo resultado morte X homicídio qualificado pela tortura

• Homicídio qualificado pela tortura: art. 121, § 2º, inc. III, CP: dolo de matar (direto
ou eventual). A tortura é meio empregado, que provoca intenso ou desnecessário sofri-
mento físico ou mental. Competência do Tribunal do Júri.
• Tortura com resultado morte: art. 1º, § 3º, da Lei n. 9.455/1997. É crime culposo. Por
exemplo, a intenção do torturador é somente obter a confissão de uma pessoa presa,
mas, por algum descuido, a vítima acaba morrendo. Nesse caso, a morte derivou de
culpa, visto que o objetivo era causar o sofrimento, mas não matar.

Crime preterdoloso (dolo no antecedente; culpa no consequente).


Competência do juízo singular.
• Conclusão: a diferença reside na análise do elemento subjetivo (dolo)

Tortura x maus tratos: dolo do agente. Gravidade objetiva da conduta.


20m
Maus tratos: No crime de maus tratos, previsto no CP, o propósito do agente é a simples
correção ou a disciplina. Excesso dos meios de correção. Lesões leves.
Tortura: castigo pessoal ou medida de caráter preventivo, que impõe intenso sofrimento
à vítima, físico ou mental.
O grau de reprovabilidade é diferente entre a tortura e aquele causado por maus tratos
realizados no ambiente doméstico.

Efeitos da condenação pelo crime de tortura


Art. 1º
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição
para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.

A perda será automática e imediata. No tocante à interdição, se a pena tiver sido aplicada
em 4 anos, o indivíduo ficará impedido de concorrer e assumir outro cargo público por 8 anos,
a partir do cumprimento da pena desse crime inicial.
A determinação da perda de cargo público decorrente de condenação em crime de tortura
independe de fundamentação expressa. Tratamento diverso do art. 92 do CP, no qual, para
a perda do cargo público, o magistrado deve fundamentar a sentença.
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Confira-se julgado do STJ acerca do tema:


“(...) O tratamento jurídico-penal será diverso quando se tratar de crimes previstos
no art. 1º da Lei 9.455/1997 (Lei de Tortura). Isso porque, conforme dispõe o § 5º do art.
1º deste diploma legal, a perda do cargo, função ou emprego público é efeito automá-
tico da condenação, sendo dispensável fundamentação concreta.” REsp 1.044.866-
MG, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, julgado em 2/10/2014.
STF: não é obrigatório que o condenado por crime de tortura inicie o cumprimento
da pena no regime prisional fechado.
Isso porque, como já visto, foi declarada a inconstitucionalidade do regime inicial obriga-
tório fechado.

DIRETO DO CONCURSO
:
1. (FGV/XXX EXAME DE ORDEM) Zélia, professora de determinada escola particular, no
dia 12 de setembro de 2019, presencia, em via pública, o momento em que Luiz, nas-
cido em 20 de dezembro de 2012, adota comportamento extremamente mal-educado e
pega brinquedos de outras crianças que estavam no local. Insatisfeita com a omissão
da mãe da criança, sentindo-se na obrigação de intervir por ser professora, mesmo sem
conhecer Luiz anteriormente, Zélia passa a, mediante grave ameaça, desferir golpes
com um pedaço de madeira na mão de Luiz, como forma de lhe aplicar castigo pessoal,
causando-lhe intenso sofrimento físico e mental. Descobertos os fatos, foi instaurado
inquérito policial. Nele, Zélia foi indiciada pelo crime de tortura com a causa de aumento
em razão da idade da vítima. Após a instrução, confirmada a integralidade dos fatos, a
ré foi condenada nos termos da denúncia, reconhecendo o magistrado, ainda, a pre-
sença da agravante em razão da idade de Luiz. Considerando apenas as informações
expostas, a defesa técnica de Zélia, no momento da apresentação da apelação, pode-
rá, sob o ponto de vista técnico, requerer

a. a absolvição de Zélia do crime imputado, pelo fato de sua conduta não se adequar à
figura típica do crime de tortura.
b. a absolvição de Zélia do delito de tortura, com fundamento na causa de exclusão
da ilicitude do exercício regular do direito, em que pese a conduta seja formalmente
típica em relação ao crime imputado.
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c. o afastamento da causa de aumento de pena em razão da idade da vítima, restando


apenas a agravante com o mesmo fundamento, apesar de não ser possível pugnar
pela absolvição em relação ao crime de tortura.
d. o afastamento da agravante em razão da idade da vítima, sob pena de configurar bis
in idem, já que não é possível requerer a absolvição do crime de tortura majorada.

COMENTÁRIO
25m
A modalidade tortura castigo requer que haja uma relação de guarda e autoridade, isto é,
seria necessário que existisse um vínculo entre Zélia e Luiz para a configuração da prática
da tortura. Nota-se que o examinador, no enunciado da questão, deixa muito claro que ela
estava em via pública e que não tinha nenhuma relação com Luiz.
Nesse contexto, o advogado de Zélia vai dizer que, na modalidade de tortura castigo, já
que ela aplicou os golpes com o objetivo de castigar Luiz pelo seu comportamento em
relação às demais crianças, não caracterizou o crime de tortura. Ele deverá buscar a atipi-
cidade da conduta e sua absolvição.

GABARITO
1. a.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pela professora Michelle Tonon.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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