Prof.
Saymer Souza
CÓDIGO PENAL - 9
CRIMES CONTRA A LIBERDADE
INDIVIDUAL
O legislador tutela a liberdade da pessoa em
seus vários aspectos, como a liberdade
pessoal, de domicílio, de correspondência e
dos segredos.
O que significa liberdade pessoal?
Em sentido amplo, a liberdade seria a
capacidade de fazer e não fazer tudo o que
seja licitamente permitido. Em outras
palavras, constitui o direito de toda pessoa
de organizar, de acordo com a lei, sua vida
individual e social conforme suas próprias
opções e convicções.
1. Constrangimento ilegal: 146 CP
Proteção do sujeito de se autodeterminar. A
CF prevê em seu artigo 5º inciso II que
"ninguém é obrigado a fazer ou deixar de
fazer senão em virtude de lei."
Tem como sujeito ativo/passivo qualquer
pessoa, trata-se de crime comum.
Ex: agente que através do uso de uma arma
obriga a vítima a dirigir até a determinado
local.
Pode ser praticado mediante violência, grave
ameaça, ou depois de reduzir a capacidade
da pessoa.
a) Causa especial de aumento: concurso
de pessoas ou emprego de armas.
b) Consumação: ocorre quando a vítima faz
ou deixa de fazer, sendo admitida a tentativa.
c) Trata-se de crime subsidiário (soldado de
reserva).
d) Princípio da especialidade: Outras leis
possuem previsão do crime de
constrangimento ilegal, tais como a lei de
crimes contra a segurança nacional
(lei 7.170/83), o CDC, o Estatuto do Idoso e
a Lei de Tortura (lei 9.455/97).
No crime de tortura se a coação for
irresistível para que o coagido cometa um
crime, o agente respoderá pela tortura, sem
prejuízo do crime praticado pelo coagido. Se
a coação for resistível, o coator responde
pelo art. 146 CP.
A lei de abuso de autoridade (lei 13.869/19)
também faz previsão de constrangimento
ilegal, nos arts. 13, 15 e 24.
e) Natureza jurídica: do art. 146§ 3º
do CP é divergente, para uma parte da
doutrina é causa de exclusão da ilicitude
(Sanches) para outra é causa de exclusão da
tipicidade (Greco).
f) Classificação do crime: comum (qualquer
pessoa), comissivo (ação), monossubjetivo,
doloso, instantâneo, material,
plurissubsistente, admite tentativa e é
infração de menor potencial ofensivo
(competência do Jecrim), de ação penal
pública incondicionada.
2. Ameaça: 147 CP.
Tutela a liberdade psíquica da pessoa.
Pode ser direta, indireta, explícita ou
implícita, como o envio de uma coroa de
flores.
Ameaça em momento de embriaguez ou de
cólera caracteriza o delito de ameaça. Não
se exclui a imputabilidade penal com a
embriaguez preordenada.
Ameaça de mal injusto e mal grave. Ameaçar
a pessoa de processá-la não é um injusto.
a) Sujeito ativo e passivo é qualquer pessoa.
Se concretiza independentemente de
qualquer conduta.
b) É um crime subsidiário (tácito).
Caracterizado crime maior o agente
responderá pelo crime maior.
c) Classificação: comum, doloso, formal,
instantâneo, não admite a tentativa (quando
verbal), ação penal pública condicionada a
representação. É infração penal de menor
potencial ofensivo (competência do jecrim).
3.Art. 147-A.
(STALKING) Perseguir alguém,
reiteradamente e por qualquer meio,
ameaçando-lhe a integridade física ou
psicológica, restringindo-lhe a capacidade de
locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou
perturbando sua esfera de liberdade ou
privacidade. (Incluído pela Lei nº 14.132, de
2021)
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois)
anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 14.132,
de 2021)
§ 1º A pena é aumentada de metade se o crime
é cometido: (Incluído pela Lei nº 14.132, de
2021)
 Prof. Saymer Souza

I – contra criança, adolescente ou Ambos estarão tipificado no art. 148 do CP.

idoso; (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)
II – contra mulher por razões da condição de
sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121
deste Código; (Incluído pela Lei nº 14.132,
de 2021)
III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais
pessoas ou com o emprego de
arma. (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem
prejuízo das correspondentes à
violência. (Incluído pela Lei nº 14.132, de
2021)
§ 3º Somente se procede mediante
representação. (Incluído pela Lei nº 14.132,
de 2021)
Violência psicológica contra a mulher (Incluído
pela Lei nº 14.188, de 2021)
Stalkers obsessivos: são aqueles que se
apaixonam por uma pessoa e não conseguem
lidar com o fato de que essa pessoa não os
ama. Eles podem ser pessoas conhecidas ou
estranhos; Stalkers perigosos: são aqueles
que perseguem uma pessoa com o intuito de
lhe causar dano físico ou psicológico.
4. Violência psicológica contra a para a incidência da qualificadora, ainda que
mulher: 147-B
Se aplica apenas à mulher. O artigo
descreve como conduta ilícita o uso de
ameaças, constrangimentos, humilhação,
manipulação, isolamento, chantagem,
ridicularizarão, limitação do direito de ir e vir
ou outros, para controlar ações,
comportamentos, crenças e decisões da
mulher, causando dano emocional ou
prejuízo à saúde psicológica.
O conceito de violência psicológica contra a
mulher já está expresso no artigo 7º ,
inciso II, da Lei Maria da
Penha (Lei 11.340/2006), e sua inclusão
também no CP vem reforçar a criminalização
de atos dessa natureza.
5. Sequestro ou cárcere privado: 148 CP.
O legislador tutela o direito de ir e vir, a
liberdade de locomoção protegido pelo
artigo 5º da CF. Nesse caso, não há
finalidade patrimonial, o bem jurídico tutelado
é a liberdade.
Os crimes de extorsão mediante sequestro,
sequestro relâmpago, etc estão previstos nos
crimes contra o patrimônio.
a) O legislador não estabeleceu na lei a
distinção entre sequestro e cárcere privado.
Essa distinção é importante para o juiz no
momento da dosimetria da pena
(art. 59 do CP). Impedir a pessoa de sair de
um imóvel como um sítio, trata-se de
sequestro, porque há mais mobilidade da
vítima. Se o agente impede a vítima de sair
de um banheiro, há um confinamento, desta
forma, trata-se de cárcere privado. O crime
de cárcere é mais grave que o de sequestro.
b) Qual o tempo para caracterização do
crime? A doutrina entende que tem que ser
um tempo juridicamente relevante. E se
durar mais de 15 dias, caracteriza o tipo
qualificado.
c) Sujeito ativo e passivo pode ser qualquer
pessoa, crime comum.
d) Crime permanente porque ação e
resultado se prolongam no tempo.
e) Suspensão condicional do processo: é
cabível;
f) forma qualificada: contra ascedentente,
descendente, cônjuge, companheiro ou
maior de 60 anos, mediante internação da
vítima, praticado contra menor de 18 anos,
se praticado com fins libidinosos (basta o fim
não alcance o seu objetivo), se resulta na
vítima grave sofrimento físico ou moral.
g) É tipo penal também previsto na lei de
segurança nacional (princípio da
especialidade).
g) Classificação: comum, monossubjetivo,
comissivo, doloso, não admite a modalidade
culposa, permanente, se consuma com a
privação da liberdade, plurissubsistente
admite a tentativa, ação penal pública
incondicionada.
6. Redução à condição análoga de
escravo: art. 149 do CP.
Submeter a vítima a trabalhos forçados ou a
jornada exaustiva sujeitando a condições
degradantes de trabalho; cerceia o uso de
meio de transporte ou mantém vigilância
ostensiva.
a) Causa especial de aumento de pena:
contra criança ou adolescente, ou em razão
de raça, cor, etnia, religição, origem.
b) A condição de escravo não é reconhecida
pelo ordenamento jurídico, por esta razão o
legislador usou a expressão "análoga de
escravo".
c) Sujeito ativo e passivo: o empregador e o
empregado, crime próprio. Para Sanches é
crime comum.
 Prof. Saymer Souza

d) Elemento subjetivo, o dolo.

e) Trata-se de crime de natureza vinculada,
só pode ser praticado nas formas descritas
no tipo penal.
f) competência para julgamento: da justiça
federal se relacionado a relação de trabalho,
art 109, inciso V, CF. (STF).
.
Classificação: crime próprio, comissivo,
doloso, monossubjetivo (conduta praticada
por uma única pessoa)

7. Tráfico de pessoas: art. 149-A CP

Revogou os artigos 231 e 231-A do CP. O
Brasil se comprometeu a reprimir o tráfico de
pessoas, embora não esteja classificado
como crime hediondo, a L. 13.344/2016 dá
tratamento especial para este crime.
Tutela a liberdade, a dignidade, a dignidade
sexual, há uma ampliação do objeto.
Sujeitos: crime comum;
Elemento subjetivo: dolo;
Tipo misto-alternativo, a prática de uma ou
mais condutas vai incidir a responsabilidade
por um só crime;
Elementos: ameaça, violência, coação,
fraude ou abuso. Sem tais elementos o fato é
atípico.
O consentimento livre do ofendido poderá
excluir o crime, salvo se obtido mediante
pagamento ou benefício.