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CRIMES CONTRA AS PESSOAS

DOS CRIMES
CONTRA A VIDA
Artigos 121 a 128
DA PERICLITAÇÃO
DAS LESÕES
DA VIDA E DA
CORPORAIS SAÚDE
Artigo 129 Artigos 130 a 136

DOS CRIMES DOS CRIMES


DA RIXA CONTRA A CONTRA A
Artigo 137 HONRA LIBERDADE
Artigos 138 a 145 INDIVIDUAL
(Pessoa) 1
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL
Constrangimento ilegal

Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave


ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a
capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer
o que ela não manda:

• Sujeitos do crime - Suj. ativo - crime comum Obs : Se o agente


for funcionário público no exercício de suas funções – abuso de
autoridade (Lei 4898/65)
Suj. passivo - qualquer pessoa capaz de
decidir sobre seus atos. Excluem os menores de pouca idade, os
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loucos, o ébrio total.
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL

Constrangimento ilegal

• Tipo objetivo – constranger, obrigar, coagir

• Fazer algo ou não fazer

• Violência, grave ameaça ou qualquer outro meio que reduza


a capacidade da vítima – hipnose, bebida, drogas

• Crime subsidiário - que se configura se não for verificado


crime mais grave. Ex.: arts. 158; 161, inc. II; 213 , todos do
Código Penal. 3
Aumento de pena

§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro,


quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três
pessoas, ou há emprego de armas.
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as
correspondentes à violência.
• pelo menos 04 pessoas
• arma própria ou imprópria
• arma de brinquedo – duas correntes – prevalece a não
aplicação do aumento face o cancelamento da súmula 174 do
STJ
O § 2.º do art. 146 traz uma hipótese de concurso material– se da
violência resultarem lesões corporais – em que o agente
responderá pelos dois crimes.
Na realidade, há concurso formal, mas a lei manda somar as
4
Constrangimento ilegal

§ 3º - Não se compreendem na disposição deste


artigo:

I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o


consentimento do paciente ou de seu
representante legal, se justificada por iminente
perigo de vida;
OBS: Presença do testamento vital – o médico deverá
observar a diretiva de vontade do paciente.
II - a coação exercida para impedir suicídio.
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• Observações
• Quem empregar violência ou grave ameaça para
obrigar a vítima a cometer um crime, responderá por
esse crime (praticado pela vítima) e pelo delito de
tortura – art. 1.º, inc. I, “b”.
• Código do Idoso – art. 107 pune com pena de
reclusão de 2 a 5 anos aquele que coage, de
qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou
outorgar procuração.

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• Lei de Segurança Nacional: atentar, por motivos
políticos, contra a liberdade de locomoção do
Presidente da República, do Senado, da Câmara dos
Deputados e do Supremo Tribunal Federal constitui
delito contra a segurança nacional (art. _28 da Lei 7
.170/83).
• Código Penal Militar: o art. 222 do Decreto-lei
1.001/69 pune o constrangimento ilegal praticado na
forma do art. 9° do mesmo diploma.

7
• Código de Defesa do Consumidor: é crime (punido com
detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa) previsto na Lei
8.078/90, utilizar alguém, na cobrança de dívidas, de
ameaça, coação, constrangimento físico ou moral,
afirmações falsas, incorretas ou enganosas ou de
qualquer outro procedimento que exponha o consumidor,
injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu
trabalho, descanso ou lazer (art. 71).
• AÇÃO PENAL – Crime de Ação Penal Pública
incondicionada
• Em razão da pena cominada, aplicam-se os benefícios 8da
Ameaça – é a manifestação idônea da intenção de causar a alguém
qualquer mal injusto e grave. Ataque a liberdade pessoal.

Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou


qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:

Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.


▪ Objetividade jurídica – liberdade, tranquilidade, sossego
• Sujeitos do crime - Suj. ativo - crime comum Obs : Se o agente for
funcionário público no exercício de suas funções outro pode ser o
crime abuso de autoridade ( art. 3º Lei 4898/65)
Suj. passivo – pessoas determinadas e capazes
de entender a ameaça. Excluem os menores de pouca idade, os
loucos, o ébrio total.
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Conduta - crime de execução livre – praticado por palavra, escrito ou
gesto, ou qualquer meio simbólico

• explícita: clara e induvidosa

• Implícita: de forma velada

• Direita: o mal atinge a própria vítima da ameaça

• Indireta: o mal prometido será causado a terceira pessoa

• Incondicional: não depende de fato futuro

• Condicionada: depende de acontecimento futuro

• O mal deve ser injusto e grave

• O mal deve ser possível, crível


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Voluntariedade: dolo
ímpeto de ira e a embriaguez – excluem o dolo?

Consumação – crime formal

Tentativa – na forma escrita – Nelson Hungria entende ser mero ato


preparatório.

Ação Penal – Ação Penal Pública condicionada a representação.


Em virtude da pena cominada, são aplicáveis os benefícios da
transação penal e da suspensão condicional do processo ( Lei
9099/95)

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• Código Penal Militar: o art. 223 do Decreto-lei 1.001/69 pune
a ameaça praticado na forma do art. 9° do mesmo diploma.

• Código de defesa do Consumidor: considerando o princ. Da


especialidade utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça,
coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas,
incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento
que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou
interfira com seu trabalho, descanso ou lazer (art. 71 Lei
8078/90).

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• "Perseguição - stalking
• Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a
integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de
qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade.
• Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
• § 1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido:
• I - contra criança, adolescente ou idoso;
• II - contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art.
121 deste Código;
• III - mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de arma.
• § 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.
• § 3º Somente se procede mediante representação."
• Art. 3º Revoga-se o art. 65 do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das
Contravenções Penais).
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• A Lei 14.132/21 inseriu no Código Penal o art. 147-A, denominado “crime de
perseguição”. Sua finalidade é a tutela da liberdade individual, abalada por
condutas que constrangem alguém a ponto de invadir severamente sua
privacidade e de impedir sua livre determinação e o exercício de liberdades
básicas.
• Até a criação deste crime, a maior parte dos atos de perseguição se inseriam
no art. 65 do Decreto-lei 3.688/41, a contravenção foi revogada e a
perseguição passou a ser punida com reclusão de seis meses a dois anos.
• permite a aplicação de ambos os benefícios da Lei 9.099/95 (transação penal e
suspensão condicional do processo).
• Não se aplica o acordo de não persecução penal, nos exatos termos do art.
28-A, § 2º, inc. I, do CPP, a não ser que, incidente a causa de aumento do § 1º,
o crime não seja praticado no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou
contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, nem consista em
perseguição com ameaça direta à integridade da vítima. 14
• Sujeitos do crime
• O crime é comum, não se exigindo do sujeito
ativo qualquer característica especial.
Tampouco há restrições a respeito do sujeito
passivo.
• Se a vítima é criança, adolescente, idoso ou
mulher perseguida por razões da condição do
sexo feminino, a pena é aumentada de
metade (§ 1º).
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• CONDUTA
• O verbo perseguir não tem apenas a conotação de ir freneticamente no encalço de
alguém. Há também um sentido de importunar, transtornar, provocar incômodo e
tormento, inclusive com violência ou ameaça. É principalmente com essa
conotação que se tipifica a conduta de perseguir no art. 147-A.
• O crime é de ação livre em todas as suas formas. O tipo penal se refere à ameaça e
à restrição à capacidade de locomoção cometidas por qualquer meio, e ao
transtorno à esfera de liberdade e à privacidade imposto de qualquer forma. O
agente pode se valer de ligações telefônicas, de mensagens por meios variados
(SMS, WhatsApp, Telegram, Skype etc.), de e-mails, pode se dirigir e permanecer
nos arredores da residência da vítima ou de locais que ela frequenta. A conduta
pode consistir até mesmo no envio insistente de presentes ou de mensagens
aparentemente afetuosas como subterfúgio para na verdade intimidar o
destinatário e lhe provocar a sensação de que está sendo espreitado.
• crime habitual, tendo em vista que o tipo penal é expresso sobre a necessidade de
a perseguição ser praticada reiteradamente.
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• Voluntariedade
• O crime só pode ser cometido com dolo.
• Embora seja comum que os atos de perseguição tenham o propósito de alterar o
estado de ânimo da vítima, de lhe provocar medo e de limitar sua liberdade, o tipo
não pressupõe nenhuma finalidade específica.
• Consumação e tentativa
• Tratando-se de crime habitual, consuma-se com a reiteração dos atos de
perseguição.
• A tentativa é inadmissível em crimes dessa natureza (habitual).
• Majorantes (§ 1º)
• O § 1º aumenta a pena de metade se o crime é cometido:
• a) contra criança, adolescente ou idoso
• b) contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A
do art. 121: o § 2º-A do art. 121 CP
• c) mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de arma 17
• Ação penal
• Nos termos do § 3º do art. 147-A, a ação penal é pública condicionada a
representação do ofendido.
• A regra se aplica inclusive nos casos em que incidem as disposições da Lei Maria da
Penha, pois o legislador, embora tenha majorado a pena do crime cometido
segundo a definição do art. 5º daquela lei, não impôs nenhuma exceção à regra da
ação penal no § 3º.

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• Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique
e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar
ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e
decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação,
manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização,
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que
cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação:
(Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)
• Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a
conduta não constitui crime mais grave. (Incluído pela Lei nº
14.188, de 2021)

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• A chamada “Violência Psicológica” contra a mulher tem sua primeira regulação
legal com o advento da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), em seu artigo 7º., II.
• Efetivamente, o legislador criminalizou direta e especialmente o que era, até
então, uma descrição ou definição legal de “Violência Psicológica” contra a mulher,
podendo enquadrar-se, conforme o caso, em diversos tipos penais da le
• OBJETIVIDADE JURÍDICA
• O bem jurídico que se pretende tutelar com a norma incriminadora em estudo é a
integridade e a saúde psicológica da mulher, assim como sua liberdade individual e pessoal.
• SUJEITO ATIVO
• A legislação não faz nenhuma distinção, de modo que não se trata de crime próprio e sim de
crime comum, o qual pode ser cometido por qualquer pessoa, inclusive pessoas de ambos os
sexos.
• Também não há exigência de nenhuma relação de parentesco ou convivência de qualquer
espécie entre autor e vítima.
• SUJEITO PASSIVO
• é apenas a mulher.
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• Atualmente, porém, o STJ, por sua 6ª. Turma reconheceu essa aplicabilidade de legislações que protegem a
mulher às mulheres transexuais, de forma muito mais ampla, sem exigência de alteração do registro civil
ou mesmo mudança anatômica do sexo (STJ, Recurso Especial 1977124/SP (2021/0391811-0), 6ª. Turma,
Rel. Ministro Rogério Schietti Cruz, j. 05.04.2022). Ademais, nada mais fez o STJ do que dar o devido
alcance à manifestação do STF, sempre sob os influxos da “Ideologia de Gênero”, quanto aos requisitos
para mudança de registro civil de transexuais, conforme RE 670.422, onde restou estabelecido o seguinte:
• i)O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e de sua classificação de
gênero no registro civil, não se exigindo, para tanto, nada além da manifestação de vontade do indivíduo, o
qual poderá exercer tal faculdade tanto pela via judicial como diretamente pela via administrativa;
ii) Essa alteração deve ser averbada à margem do assento de nascimento, vedada a inclusão do termo
‘transgênero’;
• iii) Nas certidões do registro não constará nenhuma observação sobre a origem do ato, vedada a expedição
de certidão de inteiro teor, salvo a requerimento do próprio interessado ou por determinação judicial;
• iv) Efetuando-se o procedimento pela via judicial, caberá ao magistrado determinar de ofício ou a
requerimento do interessado a expedição de mandados específicos para a alteração dos demais registros
nos órgãos públicos ou privados pertinentes, os quais deverão preservar o sigilo sobre a origem dos atos.

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• TIPO OBJETIVO - O verbo do tipo é “causar”. Causar o quê? “Dano emocional à
mulher”. Qualquer dano? Não, aquele que “prejudique e perturbe seu pleno
desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões”.
• VOLUNTARIEDADE – crime doloso
• CONSUMAÇÃO E TENTATIVA - O delito se consuma com o efetivo dano psicológico
ou emocional causado à mulher.
• Ação Penal pública incondicionada

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Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante
sequestro ou cárcere privado:

• Objetividade jurídica – liberdade de ir e vir

• Sequestro – privada da liberdade em local aberto


• Cárcere – local fechado, clausura – (quarto)

• Suj do Crime – qualquer pessoa


Obs.: paragrafo 1º, inc. I e IV
• Conduta: privação da liberdade

• Voluntariedade - dolo

• Crime permanente 23
§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do
agente ou maior de 60 (sessenta) anos;
Inicialmente vale dizer que a Lei 11.106/2005 revogou o antigo crime de rapto
(arts. 219 a 222) e fez as alterações no art. 148 do CP. Não importa seja o
parentesco legítimo ou ilegítimo. Crime praticado contra cônjuge,
companheiro ou companheira também faz incidir o agravamento em estudo.
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou
hospital;
Trata-se de verdadeira internação simulada (ou fraudulenta), pretexto para privar
a vítima da sua liberdade de locomoção. Só aplica essa qualificadora quando
presente a FRAUDE do agente.
Há no nosso ordenamento jurídico uma lei que regulamenta a internação de
determinadas pessoas que é a Lei 10.216, de 6 de abril de 2001, que dispõe
sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais
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e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.
bem como o eventual desespero dos familiares, merecendo
severa reprovação no momento da fixação da pena. O prazo de
quinze dias deve ser contado desde o momento da privação até a
libertação da vítima.
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito)
anos;
A prática do crime contra criança ou adolescente é claramente mais
reprovável, vez que pessoa ainda em formação (física e mental), o
que certamente acarretará à vítima sequelas emocionais muitas
vexes perpétuas.
V – se o crime é praticado com fins libidinosos.
O inciso V também foi acrescentado ao § 1º do art. 148 por
intermédio da Lei nº 11.106, de 28 de março de 2005, que, além
de alterar a redação de alguns tipos penais constantes do Código
25
No que dizia respeito especificamente ao delito de rapto, o revogado tipo penal
do art. 219 exigia, para efeitos de sua configuração, que o sujeito passivo fosse
mulher honesta, bem como que a finalidade especial fosse dirigida à prática de
atos libidinosos. Hoje, com a nova redação constante do inciso V do § 1º do art.
148 do Código Penal, qualquer pessoa poderá figurar como sujeito passivo se o
agente dirigir seu comportamento com o fim de praticar atos libidinosos com a
vítima. Assim, poderá uma mulher, por exemplo, privar um homem de sua
liberdade, com o fim de praticar qualquer ato de natureza libidinosa (conjunção
carnal, relação anal, sexo oral etc.). Não importará, ainda, para efeitos de
aplicação da qualificadora, que estejamos diante de uma relação hetero ou
homossexual, pois ambas se amoldam ao delito em estudo.
Assim, o que importará, na verdade, será a finalidade especial com que atua o
agente. O delito será qualificado pelo inciso V ainda que o agente não pratique
qualquer ato de natureza libidinosa com a vítima. No entanto, se vier a
praticá-lo, haverá o chamado concurso de crimes, respondendo o agente pelo
sequestro qualificado em concurso material com o delito sexual, a exemplo do
estupro.
§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da
natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
A qualificadora é composta por vários elementos de natureza
normativa que estão a exigir valoração.
A expressão natureza da detenção refere-se ao modo e condições
objetivas da detenção em si mesma (meter a vítima a ferros ou
no tronco, insalubridade do local, forçada promiscuidade da
vítima com gente de classe muito inferior à sua, exposição da
vítima a males ou perigos que excedem aos da forma simples do
crime)
27
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de
escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a
jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições
degradantes de trabalho, quer restringindo, por
qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida
contraída com o empregador ou preposto:

• Após alteração dada pela Lei nº 10.803/2003 – forma


vinculada

• Crime de ação múltipla – tipo misto alternativo – crime


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§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:

I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por


parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de
trabalho;

II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho


ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
§ 2º causa de aumento de pena – até a metade
I – contra criança ou adolescente
II por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião
29
• A doutrina dá ao crime de redução a condição análoga à de
escravo o nome de "plágio", que significa a sujeição de uma
pessoa ao poder (domínio) de outra.
• A Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 10 de
dezembro de 1948, assim dispõe no seu art. 4°: "Ninguém
será mantido em escravidão ou em servidão; a escravidão e
o trato dos escravos serão proibidos em rodas as suas
formas". A escravidão é uma situação de direito em virtude
da qual o homem perde a própria perde sua personalidade,
tornando-se simplesmente coisa. Sem amparo legal em
nosso País, pune-se, aqui, a redução do homem a condição
análoga à de um escravo, estado de fato proibido por lei. 30
SUJEITOS DO CRIME - Sujeito ativo do deliro
pode ser qualquer pessoa, independentemente
de qualidades e condições especiais (crime
comum). O mesmo se deve dizer quanto ao
sujeito passivo. O § 2° traz causas de aumento
para os casos em que o crime é cometido contra
criança ou adolescente ou por motivo de
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
origem.
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• ELEMENTO OBJETIVO O que o tipo pune é a escravização, de fato, da
criatura humana, tornando-a submissa, reduzindo-a a condição de
servo ou desfrutá-la como tal. Trata-se de sujeição de uma pessoa ao
domínio da outra, como se fosse um escravo. Com o advento da Lei
10.803/2003, foram enumerados taxativamente quais
comportamentos caracterizam o delito, tornando-o de forma
vinculada, só podendo ser praticado por meio das seguintes condutas
detalhadas:
• 1) submeter a vítima a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva
(caput);
• 2) sujeitá-la a condições degradantes de trabalho (caput);
• 3) restringir, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida
contraída com o empregador ou preposto (caput);
• 4) cercear o uso de qualquer meio de transporte por parte do 32
• Assim, o indivíduo que, em uma fazenda, é tratado como os antigos
escravos (estando impedido de deixá-la, não recebendo salários
etc.), acha-se em situação análoga a destes.
• Caso o meio lançado para a submissão do sujeito passivo seja o
sequestro, ficará este crime (art. 148) absorvido pelo -149 do CP.
Para a configuração do delito não se faz necessária a prática de
maus-tratos ou sofrimentos ao sujeito passivo.
• ELEMENTO SUBJETIVO O crime é exclusivamente doloso,
consistente na vontade consciente de realizar a figura delituosa, é
dizer, de reduzir alguém ao estado previsto na lei, suprimindo a
vontade de fato da vítima.
• O § 1°, I e Il, traz a expressão "com o fim de retê-lo no local de
trabalho", que configura um elemento subjetivo do tipo.
• O § 2°, em seu inciso II, traz outro elemento subjetivo, quando33
• CONSUMAÇÃO E TENTATIVA - Consuma-se o delito
quando o indivíduo é reduzido a condição análoga à
de escravo, por meio da prática de alguma das
condutas previstas, dispensando-se, como já dito, o
sofrimento da vítima. Trata-se de crime permanente
(a consumação protrai-se no tempo), perdurando o
deliro enquanto houver a prática cerceadora da
liberdade. A tentativa é possível em qualquer das
figuras descritas no tipo. Pode configurar-se quando
o agente, embora tenha empregado os meios
necessários à subjugação da vítima a seus poderes,34
• CAUSAS DE AUMENTO DE PENA - O § 2°
aumenta a pena de metade se o crime é
cometido: I- contra criança ou adolescente,
isto é, pessoa até os dezoito anos
incompletos; II- por motivo de preconceito de
raça, cor, etnia, religião ou origem.
• AÇÃO PENAL - Trata-se de crime de ação
penal pública incondicionada, não
dependendo de qualquer pedido-autorização
35
ART. 149–A – TRÁFICO DE PESSOAS
Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016 - (Vigência) Art. 149-A.
Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar
ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação,
fraude ou abuso, com a finalidade de:
•I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
OBS: é a Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que regula a
remoção de órgãos, tecidos ou partes do corpo humano para fins
de transplante e tratamento. Essa remoção pode ocorrer
estando o doador vivo, ou mesmo após a sua morte
•II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
OBS: o art. 149 do Código Penal, com a nova redação que lhe foi36
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
OBS: o legislador inovou o ordenamento jurídico-penal
ao inserir a servidão como uma das finalidades do
tráfico de pessoas, haja vista que tal situação não era
prevista em termos penais.
Assim, para efeitos de reconhecimento da servidão,
deverá ser aplicada a Convenção Suplementar sobre a
Abolição da Escravatura, do Tráfico de Escravos e das
Instituições e Práticas Análogas à Escravatura, adotada
em Genebra, em 7 de setembro de 1956, promulgada
pelo Decreto nº 58.563, de 1º de junho de 1966, cujo
IV - adoção ilegal; ou
OBS: O inc. IV do art. 149-A do Código Penal, faz menção
somente à expressão adoção ilegal, podendo haver o tráfico,
com essa finalidade, dentro e fora do território nacional,
podendo o adotado ter sido levado para o exterior, ou mesmo
adotado no território nacional, vítima do tráfico de pessoas. A
adoção vem prevista no ECA – Lei nº 8.069/1990, na Subseção
IV, dos arts. 39 a 52-D, sendo disciplinada, inclusive, a adoção
internacional. Ilegal é a adoção, portanto, que não atende às
exigências legais para sua efetivação.
O ECA criminaliza alguns comportamentos que, supostamente,
facilitariam uma adoção ilegal, a saber:
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem
• Segundo Eva Faleiros, a exploração sexual, pode ser definida como uma
dominação e abuso do corpo de crianças, adolescentes e adultos (oferta),
por exploradores sexuais (mercadores), organizados, muitas vezes, em
rede de comercialização local e global (mercado), ou por pais ou
responsáveis, e por consumidores de serviços sexuais pagos (demanda),
admitindo quatro modalidades:
• 1) prostituição- atividade na qual atos sexuais são negociados em troca de
pagamento, não apenas monetário;
• 2) turismo sexual- é o comércio sexual, bem articulado, em cidades
turísticas, envolvendo turistas nacionais e estrangeiros e principalmente
mulheres jovens, de setores excluídos de Países de Terceiro Mundo;
• 3) pornografia- produção, exibição, distribuição, venda, compra, posse e
utilização de material pornográfico, presente também na literatura,
cinema, propaganda etc. 317 ; e
• 4) tráfico para fins sexuais- movimento clandestino e ilícito de pessoas39
§ 1º A pena é aumentada de um terço até a metade se:
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de
suas funções ou a pretexto de exercê-las;
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa
idosa ou com deficiência;
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco,
domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência
econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica
inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território
nacional.
§2º A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for40
• Diferentemente de outras leis, e buscando evitar a discussão
se o benefício está ou não na órbita discricionária do juiz, a Lei
13.344/16 não usou o termo "pode", mas sim que a pena "é"
reduzida se presentes os requisitos cumulativos do §2°.
• A discricionariedade (motivada} do magistrado sentenciante
fica limitada à fração minorante, que varia de um a dois
terços. Lamentamos, contudo, o legislador não ter dado um
norte para orientar essa redução.
• Sendo o agente primário e não integrando organização
criminosa, pergunta-se: qual critério outro, objetivo e/ou
subjetivo, o magistrado deve considerar para decidir entre
uma redução no mínimo (1/3) e no máximo (2/3)?
OBSERVAÇÕES
No que diz respeito aos meios, todos esses comportamentos
devem ser praticados mediante: grave ameaça, violência,
coação, fraude ou abuso.
1 - Grave ameaça é a chamada vis compulsiva, em que o agente
promete à vítima o cumprimento de um mal injusto, futuro e
grave, caso esta não leve a efeito aquilo que lhe é solicitado. Esse
mal pode recair sobre a própria vítima do tráfico, ou sobre
alguém que lhe seja próximo, com quem tenha alguma relação
de afinidade, fazendo com que se abale psicologicamente caso
isso venha a acontecer. Não é incomum que traficantes
ameacem a vítima, dizendo que matará seus familiares caso não
cumpra exatamente as ordens que lhe são determinadas,42
3 - Coação é uma forma de intimidação, que pode ser praticada através da
violência (vis corporalis) ou da grave ameaça (vis compulsiva).
4 - Fraude, aqui, é todo ardil, engano, simulação no sentido de fazer com
que a vítima se iluda com as promessas levadas a efeito pelo agente,
acreditando serem verdadeiras quando, na realidade, estará caindo em
uma armadilha. Talvez esse seja um dos meios mais utilizados para a
prática do tráfico de pessoas, principalmente quando diz respeito às
finalidades de submissão ao trabalho em condições análogas à de escravo
ou exploração sexual. Isso porque, normalmente, a vítima, nesses casos,
se encontra numa situação de vulnerabilidade, a exemplo daquela pessoa
que vive em situação de miséria, está desempregada há muito tempo, vive
em um meio promíscuo, vem de um lar destruído, tem baixa instrução,
vive na marginalidade etc. As falsas promessas de trabalho, por exemplo,
em um país de primeiro mundo, soam como um bálsamo na vítima, que
se deixa levar por falsas ilusões. Quando chegam em seu local de destino,43
5 - Abuso diz respeito ao uso excessivo, ao desmando de alguém
que tem algum poder sobre a vítima, a exemplo do que ocorre
com os pais, tutores, curadores etc.
Se houver o consentimento da pessoa que está sendo traficada,
o fato deverá ser considerado como um indiferente penal,
atendendo-se, pois, ao que consta no art. 3º, b, do Protocolo
Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e
Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças,
que diz, verbis: b) O consentimento dado pela vítima de tráfico
de pessoas tendo em vista qualquer tipo de exploração descrito
na alínea a) do presente artigo será considerado irrelevante se
tiver sido utilizado qualquer um dos meios referidos na alínea a)44
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou
astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita
de quem de direito, em casa alheia ou em suas
dependências:

• OBJETIVIDADE JURÍDICA - Inviolabilidade da casa:


• tranquilidade do indivíduo

• “casa é asilo inviolável do indivíduo” – CF (art. 5º, XI)

DIA e NOITE
Flagrante delito (sem ordem), desastre ou para prestar socorro
(inclusive sem consentimento)
45
DIA Mandado judicial
• Elemento Objetivo - Condutas: Entrar -Ingressar, invadir por
completo
Permanecer - Não sair em
casa alheia ou em suas dependências
clandestina ou astuciosamente

contra a vontade expressa ou


tácita quem de direito (locador, proprietário)

• OBJETO MATERIAL - CASA ALHEIA ou SUAS DEPENDÊNCIAS


(quarto, quintal, jardim murado, garagem)
46
Violação de domicílio

§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar


ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou
por duas ou mais pessoas:

§ 2º - Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é


cometido por funcionário público, fora dos casos
legais, ou com inobservância das formalidades
estabelecidas em lei, ou com abuso do poder.

* Tangencia o crime de abuso de autoridade - especial


47
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa
alheia ou em suas dependências:

I - durante o dia, com observância das formalidades legais,


para efetuar prisão ou outra diligência;
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime
está sendo ali praticado ou na iminência de o ser.

48
§ 4º - A expressão "casa" compreende:

I - qualquer compartimento habitado;

(barraca de campo, favela, iate, trailers)

II - aposento ocupado de habitação coletiva;

(cortiço, pensionato, hotel)

III - compartimento não aberto ao público, onde


alguém exerce profissão ou atividade.
49
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":

I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação


coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do
parágrafo anterior;

II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.

(bares, restaurante)

50
• Crime de mera conduta

• Não exige fim ou propósito especial

• Não cabe desistência voluntária (para este crime)

• Proprietário pode ser sujeito ativo

• violência – quanto a pessoa ou coisa (qualificadora)

• casa habitada
51
• Dos crimes contra à inviolabilidade de
correspondência
Mais uma seção do capítulo VI que trata dos Crimes contra a
Liberdade Individual. Nessa seção o CP busca proteger a
liberdade de manifestação de pensamento e de comunicação.
Estabelece o art. 5º, inciso XII, da CF que: “é inviolável o sigilo da
correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e
das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
de investigação criminal ou instrução processual penal.”
Diante dessa proteção constitucional a quebra do sigilo de
comunicação poderá configurar um dos crimes contra a
• VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA Art. 151 –Devassar
indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem:
• Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
OBJ. JURÍDICA – o CP protege a liberdade individual do sigilo de
correspondência. (uma liberdade individual)
SUJEITO ATIVO – é um crime comum, ou seja, qualquer pessoa
pode ser SA. Exclui-se o remetente e o destinatário, a não ser
que, como bem ensina Mirabette, quanto a este último, ocorra
o crime previsto no art. 153 do CP.(divulgação de segredo)
SUJEITO PASSIVO – crime de dupla subjetividade passiva. SP são o
remetente e o destinatário. Estabelece o art. 11 da Lei n.
6538/78 que: “Os objetos postais pertencem ao remetente até
a sua entrega a quem de direito. Quando a entrega não tenha
ELEMENTO OBJETIVO: A conduta consiste no verbo DEVASSAR =
invadir, olhar, tomar conhecimento do conteúdo da
correspondência.
O objeto material do crime é CORRESPONDÊNCIA FECHADA (por
cola, lacre, costura etc) (e dirigida a outrem). Estabelece o art. 47
da Lei 6538/78 que correspondência é: “toda comunicação de
pessoa a pessoa por meio de carta, através da via postal, ou por
telegrama.”
Para a configuração do crime não importa o conteúdo da
correspondência.
O tipo penal possui um elemento normativo = a devassa da
correspondência alheia seja INDEVIDA, que significa que o AS
não tinha autorização para invadir, olhar ou tomar conhecimento
• Para a consumação do crime não é necessário que o SA divulgue ou utilize
o conteúdo da correspondência – nesse caso, poderá configurar o art. 153
do CP.
OBS: questão interessante é a da mulher que lê a correspondência do
marido, sem autorização ou a do marido que lê a correspondência da
mulher.
Pode configurar o crime em estudo? Posições doutrinárias:
1ª – não constitui crime, pois a comunhão de vida que decorre do casamento
(art. 1566, II do CC) não permite que se considere alheia a um dos
cônjuges a correspondência do outro (Nelson Hungria, Damásio e E.
Magalhães Noronha);
2ª – configura o crime do art. 151 ( Celso Delmanto e Heleno Cláudio
Fragoso) e
3ª – Mirabette afirma o seguinte: “Aníbal Bruno parece-nos ter a opinião
mais aceitável, ao afirmar que em condições normais de convivência, é de
• ELEMENTO SUBJETIVO: o crime só é punível a título
de DOLO = vontade livre e consciente de devassar
indevidamente a correspondência alheia.  Erro de
tipo afasta o dolo. Exemplo: o agente abre
correspondência supondo ser ele o destinatário.
• Não há forma culposa.
• CONSUMAÇÃO – a consumação ocorre no momento
que o agente toma conhecimento, ainda que
parcialmente, do conteúdo da correspondência
fechada.
• TENTATIVA – possível quando o agente é
SONEGAÇÃO OU DESTRUIÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA § 1º - Na mesma pena
incorre:
I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não
fechada e, no todo ou em patê, sonega ou destroi
É o crime de sonegação ou destruição de
correspondência. Esse dispositivo também foi revogado
pelo art. 40, § 1º da Lei 6538/78 que estabelece: “
Incorre nas mesmas penas quem se apossa
indevidamente de correspondência alheia, embora não
fechada para sonegá-la ou destruí-la, no todo ou em
parte.
É um crime formal.
ELEMENTO OBJETIVO: A conduta consiste no verbo APOSSAR =
reter, apoderar-se da correspondência alheia.
Crime de ação livre.
Não se pune o conhecimento indevido do conteúdo da
correspondência por terceiros (como no caput). Pune-se o
apoderamento indevido da correspondência para o fim de
sonegá-la ou destruí-la, independentemente do SA ter
conseguido ler seu conteúdo.
Objeto material do crime = pode ser correspondência aberta ou
fechada. Caso a correspondência tenha valor econômico a sua
sonegação caracterizará o crime de furto e sua destruição o
crime de dano (Nelson Hungria)
Elemento normativo do tipo = apossamento indevido. Esse
SONEGAR = ocultar, impedir que a correspondência chegue a seu
destinatário, desviar uma coisa de seu destino. DESTRUIR = rasgar,
danificar, inutilizar, tornar a correspondência imprestável.
OBS: Fernando Capez explica que: se o agente se apossa de
correspondência fechada, devassa seu conteúdo e a sonega ou
destrói posteriormente, há o crime único de sonegação ou
destruição de correspondência, e não concurso material com o
crime de violação de correspondência.
ELEMENTO SUBJETIVO – dolo = vontade livre e consciente de
apossar indevidamente da correspondência alheia + um fim
específico = sonegar ou destruir a correspondência alheia.
Não há forma culposa.
CONSUMAÇÃO – sendo um crime formal, consuma-se no59
VIOLAÇÃO DE COMUNICAÇÃO TELEGRÁFICA, RADIOELÉTRICA OU TELEFÔNICA
II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente
comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação
telefônica entre outras pessoas ;
OBJ. JURÍDICA – liberdade individual do sigilo de comunicação de
pessoa a pessoa.
SUJEITO ATIVO e PASSIVO – comentário do caput.
ELEMENTO OBJETIVO: conduta consiste nos verbos: 1 –
DIVULGAR comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a
terceiro = levar ao conhecimento público o conteúdo da
comunicação; 2 – TRANSMITIR = atividade de comunicar, dar
ciência, notificar o conteúdo da mensagem, ainda que
reservadamente, a uma ou mais pessoas determinadas e 3 –
UTILIZAR = usar a comunicação obtida para qualquer fim. Sendo o
Elemento normativo do tipo : a) quem INDEVIDAMENTE
divulga, transmite a outrem o conteúdo da comunicação =
quem divulga ou transmite sem autorização legal ou sem
autorização do SP; b) quem utiliza ABUSIVAMENTE do
conteúdo da comunicação = pratica atos abusivos.
ELEMENTO SUBJETIVO – dolo = vontade livre e consciente
de praticar uma das condutas + elemento normativo do
tipo.
Não há forma culposa
CONSUMAÇÃO – é um crime material. A consumação
ocorre no momento em que ocorre a divulgação,
transmissão da comunicação a outrem ou do momento da61
III - quem impede a comunicação ou a conversação referidas no número
anterior ;
Conduta – IMPEDIR = colocar obstáculo, interromper.
Pune-se tanto a ação daquele que impede o início da
comunicação ou conversação quanto a daquele que
interrompe a comunicação ou conversação já iniciada.
Segundo Fernando Capez: a ação pode dar-se de
diversas formas: cortando os fios do telefone,
produzindo ruídos no aparelho, interferindo na
frequência das ondas etc.
Inciso não foi revogado pela Lei n. 9296/96, já que essa62
IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico, sem
observância de disposição legal.
Crime de instalação ou utilização de estação ou aparelho radioelétrico, sem
observância de disposição legal.
O inciso IV foi revogado pelo art. 70 da Lei n. 4.117/62 que institui o Código
Brasileiro de Telecomunicações, com a redação que lhe deu o Decreto-lei n.
236/67. O art. 70 prevê: “Constitui crime punível com a pena de detenção de
1 (um) a 2 (dois) anos, aumentada da metade se houver dano a terceiro, a
instalação ou utilização de telecomunicações, sem observância do disposto
nesta Lei e nos regulamentos. Parágrafo único. Precedendo ao processo
penal, para os efeitos referidos neste artigo, será liminarmente procedida a
busca e apreensão da estação ou aparelho ilegal.”
As condutas são: INSTALAR (montar uma estação ou aparelho radioelétrico
sem autorização legal) qualquer meio de telecomunicação ou UTILIZAR (fazer
uso da estação ou aparelho radioelétrico já instalados sem autorização legal)
63
um já existente, sem que o SA esteja devidamente autorizado para essa
É um crime formal e estará consumado independemente da
ocorrência de dano a terceiro, caso o dano esteja caracterizado,
a lei determina que a pena seja aumentada da metade. A lei
prevê a busca e apreensão do aparelho ilegal.
§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano para outrem.
É uma causa de aumento de pena que só é aplicável aos crimes
ainda regulados pelo CP.
§ 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço postal,
telegráfico, radioelétrico ou telefônico: Pena - detenção, de um a três anos.
É uma qualificadora. Continua em vigor.
§ 4º - Somente se procede mediante representação, salvo nos casos do § 1º,
IV, e do § 3º
A ação penal é pública condicionada a representação do64
CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL
Art. 152 - Abusar da condição de sócio ou empregado de estabelecimento
comercial ou industrial para, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair
ou suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu conteúdo:
Pena - detenção, de três meses a dois anos. Parágrafo único - Somente se
procede mediante representação.
OBJ. JURÍDICA – protege-se a liberdade de correspondência comercial.
SUJEITO ATIVO – é um delito próprio. Só pode ser praticado pelo sócio ou
empregado do estabelecimento comercial ou industrial remetente ou
destinatário.
SUJEITO PASSIVO – o estabelecimento comercial ou industrial remetente ou
destinatário.
ELEMENTO OBJETIVO:
Crime de ação múltipla. A conduta consiste nos verbos: a) DESVIAR = dar à
correspondência destino diverso; b) SONEGAR = ocultar, omitir ou deixar de65
É necessário que haja, para a existência do crime, pelo menos,
possibilidade de dano patrimonial ou moral na conduta do SA.
(posição de Nelson Hungria).
Objeto material do crime = correspondência comercial = carta,
faz, balancetes, faturas.
ELEMENTO SUBJETIVO – dolo = vontade de violar o sigilo da
correspondência comercial por meio de qualquer condutas já
estudadas.
Não há forma culposa
CONSUMAÇÃO – ocorre com a prática de uma das condutas
TENTATIVA – possível
AÇÃO PENAL – conforme prevê o parágrafo único a ação é66
SEÇÃO IV DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS
SEGREDOS - Divulgação de segredo Art. 153 - Divulgar alguém, sem justa
causa, conteúdo de documento particular ou de correspondência confidencial,
de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzir dano a
outrem:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º Somente se procede mediante representação. (Parágrafo único
renumerado pela Lei nº 9.983, de 2000)
OBJ. JURÍDICA - protege-se a liberdade individual de manter segredos
que podem produzir dano a outra pessoa. Segundo Mirabette é
assegurado ao indivíduo o sigilo da vida íntima contra a indiscrição de
terceiros.
SUJEITO ATIVO – é a pessoa destinatária do documento particular ou da
correspondência confidencial. Também é SA o detentor da
ELEMENTO OBJETIVO: A conduta consiste no verbo: DIVULGAR = contar para
outra pessoa, narrar o fato sigiloso.
Divulgação = pode ser praticada por qualquer meio.
É necessário que o segredo seja divulgado para mais de uma pessoa.
Objeto material do crime é: a) conteúdo de documento particular e b)
correspondência confidencial.
Elemento normativo do tipo = SEM JUSTA CAUSA = contrária ao ordenamento
jurídico.
O assunto da correspondência deve ser confidencial = secreto, privado.
ELEMENTO SUBJETIVO – dolo = vontade livre e consciente de divulgar o
segredo sem justa causa. O SA deve saber que está agindo ilegalmente e que
o conteúdo é confidencial, podendo produzir dano a uma pessoa.
CONSUMAÇÃO – crime formal. A consumação ocorre com a divulgação do
segredo a um número indeterminado de pessoas. Independe da produção de
dano. 68
DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES SIGILOSAS OU RESERVADAS
§ 1o -A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas,
assim definidas em lei, contidas ou não nos sistemas de informações ou
banco de dados da Administração Pública: (Incluído pela Lei nº 9.983, de
2000)
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº
9.983, de 2000)
§ 2o Quando resultar prejuízo para a Administração Pública, a ação penal
será incondicionada. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
É um crime comum.
O SP é o Estado. Informações sigilosas ou reservadas assim definidas em lei =
art. 23 da Lei n. 8159/91, regulamentada pelo Decreto n. 4553/02.
Havendo justa causa para a divulgação de informações sigilosas ou
reservadas = o fato deixa de ser típico.
69
OBJ. JURÍDICA – protege-se a liberdade individual de manter segredos cuja
SUJEITO PASSIVO – é a pessoa que possa sofrer dano com a
divulgação do segredo profissional.
ELEMENTO OBJETIVO: A conduta consiste no verbo: REVELAR =
mostrar, declarar, fazer conhecer, trasmitir a outrem segredo de
que tem ciência em razão da atividade que exerce e que possa
produzir dano a outrem.
O SA pode conhecer o segredo por meio de diversas formas.
Para configurar o crime = o segredo seja revelado a uma única
pessoa  Objeto material do crime = segredo
O CP não exige a efetiva produção do dano (moral ou material) ,
mas tão somente a possibilidade de sua ocorrência.
Elemento normativo do tipo = sem justa causa
70
ELEMENTO SUBJETIVO – dolo = vontade livre e consciente de
revelar o segredo sem justa causa. O SA tem que saber que o
fato é secreto.
CONSUMAÇÃO – crime formal. A consumação ocorre com a
revelação do segredo a uma única pessoa. Não se leva em
consideração a produção de dano.
TENTATIVA – só é possível na forma de revelação escrita do
segredo.
AÇÃO PENAL – conforme o parágrafo único, é um crime de ação
penal pública condicionada à representação

71
ALTERAÇÃO LEGISLATIVA - Lei 14.155 de 27 de maio
de 2021
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes
alterações:
•“Art. 154-A. Invadir dispositivo informático de uso alheio,
conectado ou não à rede de computadores, com o fim de
obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem
autorização expressa ou tácita do usuário do dispositivo ou72
• ....................................................................................................
• § 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços)
se da invasão resulta prejuízo econômico.
• § 3º ..........................................................................................
• Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

• INVASÃO DE DISPOSITIVO INFORMÁTICO com a nova


redação teve sua pena aumentada de
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
73
Lei 12.737/2012, a conhecida “Lei Carolina Dieckman”.
Dos Elementos Objetivos do Tipo - Invadir implica em violar, em
apodera-se de um dispositivo informático alheio.
Para a caracterização do tipo não importa se o dispositivo
informático, objeto material sobre o qual recai a ação criminosa,
está conectado ou desconectado na internet. Ou seja, a invasão
tanto pode ser através da rede mundial de computadores,
quanto de forma direta, por meio de uma ação física sobre o
dispositivo informático. Mais ainda, esta violação há de ser
indevida com burla do sistema de segurança da informação do
dispositivo que põe a salvo os dados ali armazenados de
propriedade do dono do dispositivo.
74
Do Elemento Subjetivo – dolo O tipo penal exige, ainda, um
elemento subjetivo específico, caracterizado pelo fim de obter,
adulterar ou destruir dados ou informações, ou instalar
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita.
CONSUMAÇÃO- ocorre com a invasão do dispositivo
informático, independentemente da efetiva obtenção,
adulteração ou destruição dos dados ou informações, ou da
efetiva instalação de vulnerabilidades para obter vantagem
ilícita. Trata-se de crime formal.
A tentativa é admitida.

75
O § 1º do art. 154-A pune com a mesma pena, reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro)
anos, e multa, quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou
programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no
“caput”.
Neste caso, sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, e não somente o comerciante,
industrial ou técnico na área de informática ou de produção de “softwares”,
“malwares”, vírus em geral etc.
§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se da invasão resulta
prejuízo econômico

§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas


privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas
em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§4º Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver
76
divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados
• § 5º Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for
praticado contra:
• I - Presidente da República, governadores e prefeitos;
• II - Presidente do Supremo Tribunal Federal;
• III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal,
de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do
Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou
• IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal,
estadual, municipal ou do Distrito Federal.

• Art. 154 B- Ação Penal - em regra, é pública condicionada à


representação do ofendido. Entretanto, será pública77

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