Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
E
GARANTIA PATRIMONIAL
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
João Alves
Procurador-Formador
Maio de 2014
ÍNDICE
Fls
3- Formalismo ............................................................................................... 8
5- Caução ..................................................................................................... 12
2
INTRODUÇÃO
1
Ou em legislação avulsa:
- Lei da imigração e asilo (art. 70º, nº 1 da Lei 9/2003 de 8/10).
- Lei da violência doméstica (art. 37º da Lei 7/2010, de 7/7).
3
previsto no art. 181º do CPP, segundo o qual a liberdade das pessoas só pode
ser limitada, total ou parcialmente, em função de exigências processuais de
natureza cautelar, pelas medidas de coacção e de garantia patrimonial
previstas na Lei.
Cada medida é estabelecida em função dos fins do processo penal e da
garantia dos direitos dos arguidos. Assim sendo, uma medida de coacção não
pode ser “adaptada”, sob pena de se frustrarem os pressupostos e finalidades
da sua aplicação (tal “adaptação” seria, na verdade, uma verdadeira alteração
da medida).
Este princípio da legalidade ou da tipicidade das medidas de coacção
revela-se com particular acuidade em relação à mais gravosa de todas, a
prisão preventiva, aliás sempre subsidiária das demais.
Visam satisfazer exigências cautelares exclusivamente processuais de
garantia do bom andamento do processo e do efeito útil da decisão, e que
resultem da concreta verificação dos perigos previstos nas três alíneas do art.
183º do CPP, sendo de considerar ilegítima qualquer outra finalidade, de
natureza substantiva, retributiva, preventiva, ou mesmo de protecção do
arguido (por exemplo, contra reacções da população).
As medidas de garantia patrimonial distinguem-se das medidas de
coacção porque têm diversos, enquanto estas só se aplicam aos arguidos, as
medidas de garantia patrimonial podem aplicar-se a terceiros que não o
arguido.
2
Sobre a livre convicção do juiz diz o Prof. Figueiredo Dias que esta é «... uma convicção
pessoal - até porque nela desempenha um papel de relevo não só a actividade puramente
cognitiva mas também elementos racionalmente não explicáveis (v.g. a credibilidade que se
concede a um certo meio de prova) e mesmo puramente emocionais - , mas em todo o caso ,
também ela uma convicção objectivável e motivável, portanto capaz de impor-se aos outros»,
Direito Processual Penal, 1º Vol., Coimbra Ed., 1974, pág. 203 a 205.
3
As normas da experiência são «...definições ou juízos hipotéticos de conteúdo genérico,
independentes do caso concreto “sub judice”, assentes na experiência comum, e por isso
independentes dos casos individuais em cuja observação se alicerçam, mas para além dos
quais têm validade», Prof. Cavaleiro de Ferreira, Curso de Processo Penal, Vol. II, pág.300.
4
1. A escolha da medida concreta (art. 182º CPP).4
4
«A lei estabelece uma certa progressão da gravidade das diversas medidas cuja diversa
gravidade deve ser sempre tida em conta pelo juiz no momento da escolha da que julgue mais
idónea a salvaguardar as exigências cautelares de cada caso», Germano Marques da Silva,
Curso de Processo Penal, II, ed. Verbo, 1993, pág. 219.
5
As medidas têm de ser exigidas para alcançar as finalidades em vista.
6
Aos fins pretendidos.
7
Não poderão ser aplicadas medidas excessivas para alcançar os fins pretendidos, exigindo-se
sempre a ponderação entre as desvantagens dos meios em relação às vantagens do fim.
8
Escrevem Gomes Canotilho e Vital Moreira (Constituição da República
Portuguesa Anotada, 4.ª Edição, Coimbra Editora, 2007, págs. 392-393), que «[o] princípio da
proporcionalidade (também chamado princípio da proibição do excesso) desdobra-se em três
subprincípios: (a) princípio da adequação (também designado por princípio da idoneidade), isto
é as medidas restritivas legalmente previstas devem revelar-se como meio adequado para a
prossecução dos fins visados pela lei (salvaguarda de outros direitos ou bens
constitucionalmente protegidos); (b) princípio da exigibilidade (também chamado princípio da
necessidade ou da indispensabilidade), ou seja, as medidas restritivas previstas na lei
devem revelar-se necessárias (tornaram-se exigíveis), porque os fins visados pela lei não
podiam ser obtidos por outros meios menos onerosos para os direitos, liberdades e garantias;
(c) princípio da proporcionalidade em sentido restrito, que significa que os meios
legais restritivos e os fins obtidos devem situar-se numa «justa medida», impedindo-se a
adopção de medidas legais restritivas, desproporcionadas, excessivas, em relação aos fins
obtidos».
9
Exemplo 1:
«A arguida é de nacionalidade indonésia e mantém contactos com a família, onde já residiu e
para onde poderá regressar. Esta circunstância indicia, em concreto, a possibilidade de perigo
de fuga, de forma a eximir-se à sua responsabilidade neste processo».
5
resposta, uma vez que a fuga do arguido será por si só motivo para aplicação
de uma medida de coacção.
A cautela quanto à verificação do perigo de fuga tem idêntica finalidade,
acautelar a presença do arguido no decurso do processo e execução da
decisão final.
Que tipo de situações práticas poderá configurar um caso de perigo
efectivo de fuga? Situações de cidadãos estrangeiros, sem vínculo ao território
nacional, arguidos sem documentos de identificação pessoal, com ocupação
indefinida e utilizando, cidadãos que também já tenham residido no estrangeiro
ou que tenham vínculos familiares ou de outra natureza em países
estrangeiros, ou, então, pertencentes a minorias étnicas que por tradição e
cultura levam, habitualmente, um modo de vida nómada, venda à pressa de
bens. No fundo, portanto, ausência de vínculos ao país, ligações ao
estrangeiro, falta de ocupação profissional estável, capacidade de grande
movimentação e ainda existência de meios para poder subsistir em paragens
mais ou menos longínquas.
Os conceitos de fuga e de perigo de fuga têm necessariamente um
sentido muito mais amplo, traduzindo desaparecimento, debandada,
desconhecimento de paradeiro, e devem, em nosso entender, estar associados
ao incumprimento das obrigações de disponibilidade e comparência impostas
pela lei processual penal (art. 61º, al. b) e 186º, nº 2, al. b) e c) CPP).
O essencial é averiguar-se, em face do circunstancialismo concreto do
caso, se a pessoa em causa tem ou não ao seu dispor, meios ou condições,
designadamente a nível económico e social, para se subtrair à acção da justiça
e às suas responsabilidades criminais ou se existe um sério perigo que tal
venha a suceder, independentemente da gravidade do crime indiciariamente
cometido.
6
Ocorre perigo para a aquisição, conservação ou veracidade da prova
quando o arguido influencia negativamente o decurso do processo, por
exemplo, criando factos falsos, ameaçar ou subornar testemunhas, ameaçar a
vítima, fazer desaparecer provas ou fabricando provas falsas etc.
10
Exemplo 1:
«Há perigo de perturbação da ordem e tranquilidade públicas, pois é um crime grave, que
abala fortemente o sentimento de segurança da comunidade local, e que impõem uma resposta
adequada por parte da autoridade, sob pena de não ser restabelecida a paz social. A colocação
do arguido em liberdade não permitirá o restabelecimento do sentimento de segurança das
populações».
11
Exemplo 1:
«A personalidade manifestada pelo arguido na prática dos actos é reveladora de uma tendência
para a violência, e faz prever que, em liberdade, continuará a praticar factos idênticos contra
vítimas indefesas, tanto mais que não trabalha».
7
Este art. 183º CPP é uma norma fundamental pois, se não se verificar,
pelo menos, um dos requisitos, não pode ser imposta ao arguido qualquer
outra medida que não seja o mencionado termo de identidade e residência.
3. Formalismo.
O arguido será ouvido antes da aplicação, sempre que tal seja possível
e conveniente (art. 184º, nº 3 e 194º, nº 3 CPP). Trata-se do exercício do
contraditório, concedendo ao arguido a oportunidade de defesa,
nomeadamente com vista, a querendo, apresentar a sua versão sobre os
factos em que se baseia o pedido formulado pelo MP, refutar a necessidade de
aplicação de outra medida mais grave e até usar argumentos sobre a
inadequação ou desproporcionalidade da medida preconizada.
É precedida, sempre que possível, da audição do arguido e tanto pode
ser presencial (no caso de primeiro interrogatório do arguido), como pode ser
8
cumprida por mera notificação ao arguido para sobre tal se pronunciar nos
autos (nos outros casos em que o MP propõe a aplicação de medida de
coacção mais gravosa). Em qualquer destas situações se mostra plenamente
respeitado o princípio do contraditório, permitindo que o arguido exponha
previamente as suas razões relativamente à decisão judicial.
Se o juiz entender que deve ouvir o arguido, em declarações, tendo em
vista a aplicação de uma medida de coacção requerida pelo MP, nada o
impede de o poder fazer. A propósito da exposição dos factos imputados ao
arguido, consignou-se em acórdão do Tribunal Constitucional português, que o
critério orientador, nesta matéria, deve ser o seguinte: «a comunicação dos
factos deve ser feita com a concretização necessária a que um inocente possa
ficar ciente dos comportamentos materiais que lhe são imputados e da sua
relevância jurídico-criminal, por forma a que lhe seja dada oportunidade de
defesa».
Em caso de ilegalidade do acto de detenção por essa ter tido lugar fora
de flagrante delito por ordem da policial sem ocorrerem os requisitos do art.
220º do CPP, o juiz, não obstante, pode manter a privação da liberdade do
detido impondo-lhe a sujeição a prisão preventiva se estiver verificado o
respectivo condicionalismo.
9
4. Termo de identidade e residência (art. 186º CPP).
12
Através de despacho, por exemplo, «Aplico ao arguido a medida de coacção de termo de
identidade e residência (art. 186º CPP)».
É costume usar formulários para a sua aplicação (cfr., o formulário usado pela PNTL, que se
junta).
10
Exemplo de TIR:
E por ele, arguido, foi dito que pretende ser notificado na seguinte morada/Husi ni maksalak
deban tiha ona katak sei fó-hatene ba nia hela ftin tuir mai: acima mencionadas
(a) Fornecer, e com verdade, a sua identificação completa e a morada da sua residência, do local de
trabalho e de local onde possa ser notificado do decurso no processo / Tenke fó nia identifikasaun
tomak no loos no mós ninia heha-fati ka servisu- fatin néebé bele haruka lia-menon ka surat hodi fó
hatene buat hotu-hotu kona-ba prosesu la’o oinsá;
(b) Ser advertido da obrigação de comparecer perante a autoridade competente ou de se manter à
disposição dela sempre que a lei o obrigar ou para tal for notificado / Tenke aprezenta an iha
autoridade kompetente nia oin, no mosu bainhira de’it Lei dehan nia tenke mosu hodi simu
notifikasaun;
11
(c) Ser advertido da obrigação de comunicar a sua nova residência ou o lugar onde possa ser encontrado,
sempre que mudar de residência ou dela se ausentar por mais de quinze dias / Tenke fó-hatene nia
hela-fatin foun ka fatin ida-ne’ebé maka bele haree-hetan nia kedas bainhira nia ba dook liu loron
sanulu-resin-lima;
(d) Ser advertido de que o incumprimento do disposto nas alíneas b) e c) legitima a sua representação
por defensor em todos os actos processuais nos quais tenha o direito ou o dever de estar presente, a
notificação edital da data designada para a audiência de julgamento prevista no artigo 257º e a
realização da audiência na sua ausência ainda que tenha justificado falta anterior à audiência / La
haktuir karik buat hirak ne’ebé hakerek tiha iha alínea b) no c), maske nia iha direitu atu mosu iha
raronak nia laran raronak sei hala’o ho ninia advogadu de’it, lahó nia, hanesan hakerek tiha iha art
257º. Raronak la’o nafatin maske nia heteten tiha katak nia labele mosu iha loron ne’ebé temi tiha
iha surat-notifikasaun.
Para Constar lavrou-se o presente auto em duplicado, tendo um exemplar sido entregue ao
arguido / Nuneédehan kafak halo tiha ona duplikadu autu ida-neé e nian, no entrega azemplar
ida ba maksalak.
O Arguido / Maksalak:
_______________________________________________________________
O Investigador: __________________
Pode ser cumulada com outra, com excepção da prisão preventiva (art.
185º, nº 1 e 2 CPP).
A caução pode ser prestada das seguintes formas (art. 187º, nº 3 CPP):
12
- Depósito bancário.13
- Penhor.14
- Hipoteca.15
- Fiança (bancária ou pessoal).16
13
Um depósito bancário corresponde a uma entrega de fundos a uma instituição de crédito,
ficando esta obrigada à restituição do montante depositado, de acordo com as condições que
tenham sido contratadas e, na maior parte dos casos, ao pagamento de uma remuneração. No
caso, é o depósito de uma determinada quantia em dinheiro no banco, à ordem do processo
crime.
14
O penhor confere ao credor o direito à satisfação do seu crédito, bem como dos juros, se os
houver, com preferência sobre os demais credores, pelo valor de certa coisa móvel, ou pelo
valor de créditos ou outros direitos não susceptíveis de hipoteca, pertencentes ao devedor ou a
terceiro (art. 600º C. Civil).
O Código Civil trata diferenciadamente o penhor de coisas (art.603º) e penhor de direitos
(art.613º).
15
A hipoteca confere ao credor o direito de ser pago pelo valor de certas coisas imóveis, ou
equiparadas, pertencentes ao devedor ou a terceiro com preferência sobre os demais credores
que não gozem de privilégio especial ou de prioridade de registo (art.620º, nº 1, C. Civil).
16
O fiador garante a satisfação do direito de crédito, ficando pessoalmente obrigado perante o
credor (art. 561, nº 1, C. Civil). O fiador pode ser um banco ou uma pessoa singular.
13
EXEMPLO:
Pode ser cumulada com outra, com excepção da prisão preventiva (art.
185, nº 1 e 2 CPP).
A apresentação acontece em dias e horas preestabelecidas, levando em
conta as exigências profissionais do arguido e o local onde vive (art. 191º, nº 1
CPP).
14
Também pode ser aplicada a quem penetrar ou permanecer
irregularmente em Timor-Leste ou contra quem correr processo de extradição
ou expulsão (art. 194º, nº 2 CPP – cfr., Lei 9/2003 de 8/10).17
EXEMPLO:
Pode ser cumulada com outra, com excepção da prisão preventiva (art.
185º, nº 1 e 2 CPP).
15
Esta medida de coacção extingue-se quando, desde o início da sua
execução decorrerem os seguintes prazos (art. 195º, nº 4 CPP):
a) 2 anos, até à dedução de acusação.
b) 4 anos, até à condenação em 1ª instância.
c) 6 anos, até à condenação com trânsito em julgado, excepto se existir
recurso sobre questões de constitucionalidade, caso em que o prazo
são 6 anos e meio.
EXEMPLO:
Pode ser cumulada com outra, com excepção da prisão preventiva (art.
185º, nº 1 e 2 CPP).
16
Consiste na obrigação do arguido não se ausentar, ou de não o fazer
sem autorização, da habitação em que reside.18
Se as circunstâncias são de modo a concluir que o arguido se escapa ao
cumprimento da obrigação de permanência na habitação comete o crime de
evasão previsto e punido pelo art. 246º do C. Penal.
EXEMPLO:
18
Atento o princípio da tipicidade,a medida de obrigação de permanência na habitação, sujeita
ou não a meios técnicos de controlo, não pode ser adaptada (por exemplo, permitindo que o
arguido saia para ir trabalhar), sob pena de se frustrarem os pressupostos e finalidades da sua
aplicação. Quando se decide que um arguido fica obrigado a permanecer na habitação, é isso
mesmo que se quer dizer, não se podendo maleabilizar/adaptar essa medida para situações
concretas que a desvirtuariam.
17
9. Prisão preventiva (Art. 194º CPP).
Para além dos requisitos do art. 183º CPP, só pode ser aplicada quando
se verifiquem todas as seguintes exigências:
1º- Fortes indícios da prática de crime doloso punível com pena de
prisão superior a 3 anos (art. 194º, nº 1, al. a) CPP).
2º- Inadequação ou insuficiência de qualquer outra medida de coação
(art. 194º, nº 1, al. b) CPP).
19
A detenção e a prisão preventiva distinguem-se quanto à sua natureza, finalidade, duração,
competências para as aplicar e à qualidade processual das pessoas a que podem ser
impostas.
20
O art. 70º da Lei 9/2003 prevê duas outras medidas de coacção:
a) Apresentação periódica no Departamento de Migração da PNTL;
b) Colocação do expulsando em prisão preventiva, em regime de separação dos restantes
presos.
18
Como regra especial, a duração da prisão preventiva está sujeita aos
seguintes prazos (art. 195º, nº 2 CPP), nos casos de excepcional
complexidade, através de despacho fundamentado do Juiz:
a) 1 ano e 6 meses, até à dedução de acusação.
b) 2 anos e 6 meses, até à condenação em 1ª instância.
c) 3 anos e 6 meses, até à condenação com trânsito em julgado,
excepto se existir recurso sobre questões de constitucionalidade,
caso em que o prazo é 4 anos.
Exemplo:
Existem fortíssimos indícios nos autos, da prática pelo arguido .......... de um
crime de tráfico de droga, previsto e punido no art. .... da Lei indonésia .........., com
pena de prisão de 4 a 12 anos.
Atenta a nefasta consequência social que acarreta, o ilícito indiciado reveste-se
de enorme gravidade, a qual se reflecte na moldura abstracta da pena que lhe
corresponde.
Uma vez que o arguido é cidadão filipino, sem vínculos relevantes ao território
nacional, é forte o perigo de fuga, e que se traduz na possibilidade de se ausentar para
parte incerta é furtar-se, desse modo, à acção da justiça e às suas responsabilidades
criminais.
Acresce que, pelos motivos apresentados, não é de excluir que se deixe voltar a
seduzir pelos relevantes e fáceis proveitos económicos, que se obtêm através do tráfico
de estupefacientes, existindo, por isso, real perigo de continuação da actividade
criminosa.
A sua sujeição a prisão preventiva é, assim, proporcional à gravidade dos factos
praticados e à pena em que venha a ser condenado, mostrando-se insuficientes as
restantes medidas de coacção.
Os referenciados perigos de fuga e de continuação da actividade criminosa só
serão eficazmente acautelados com a sua sujeição a prisão preventiva. Além disso, é
forte o alarme social gerado pelo tráfico de droga.
Pelo exposto, requer-se que o arguido preste termo de identidade e residência e
seja sujeito à medida de coação prisão preventiva (art. 182º, 183º, al. a) e c), 185º, nº 2,
186º e 194º CPP).
A execução da prisão preventiva pode ser suspensa (art. 198º CPP) pelo
período que o Juiz considere necessário:
- Devido a doença grave.
- Puerpério (período que compreende a fase pós-parto).
- Gravidez.
Neste caso, a prisão preventiva é substituída por outra medida de
coacção, compatível com o caso (art. 198º, nº 2 CPP).
19
Quando terminar a circunstância que determinou a suspensão, regressa
ao regime de prisão preventiva.
Os pressupostos de que depende a manutenção da prisão preventiva
são reexaminados todos os 6 meses (art. 196º CPP).
Para o efeito, o M. Público apresenta o processo ao Juiz 10 dias antes
do fim do prazo de 6 meses (art. 196º, nº 2 CPP).21
Tratando-se de despacho que procede ao reexame dos pressupostos da
aplicação de medida de coacção previamente decretada, o dever de
fundamentação reporta-se, naturalmente, ao objecto da decisão: a
superveniência de circunstâncias que possam levar à alteração da anterior
decisão, transitada em julgado, cujos pressupostos se reapreciam.22
21
O M. Público tem que ter o cuidado de controlar o prazo de reexame e de duração da prisão
preventiva. Uma das formas de o fazer é colocar na capa do inquérito as datas e assinalar na
agenda do magistrado.
22
Permanecendo inalterados os pressupostos da medida de coacção e as exigências
cautelares que as determinaram, ela não pode ser alterada. Se, quando do reexame dos
pressupostos da prisão preventiva, não se verificarem circunstâncias supervenientes que
modifiquem as exigências cautelares ou alterem os pressupostos da medida de coacção, basta
a referência à persistência do condicionalismo que justificou a medida para fundamentar a
decisão da sua manutenção.
20
No que concerne à medida de prisão preventiva, dada a gravidade de que se
reveste, em termos de limitação da liberdade dos cidadãos, são especialmente relevantes
os princípios da precariedade e da subsidiariedade, já que esta medida de coacção
apenas deverá ser aplicada como último recurso e somente enquanto se mantiverem as
condições que ditaram a sua aplicação.
Por conseguinte, como impõe o art. 196º do CPP, periodicamente há que
proceder a uma análise das condições fácticas que envolvem os arguidos a quem foi
aplicada tal medida, de modo a verificar se existe ou não qualquer alteração das
circunstâncias que estiveram na base da decisão de aplicação dessa medida de coacção,
visando decidir se se justifica a sua manutenção ou se, pelo contrário, deve ser decretada
a sua substituição ou cessação.
Compulsados os autos, e ouvido o Ministério Público e o arguido, verifica-se
que os pressupostos de facto e de direito que determinaram a aplicação da medida de
prisão preventiva ao arguido continuam a prevalecer, designadamente no que respeita ao
perigo de fuga e perigo, em razão da natureza e das circunstâncias do crime e da
personalidade do arguido, de continuação da actividade criminosa.
Saliente-se, no que a este particular concerne, o facto de ao arguido continuar
sem emprego, sendo-lhe desconhecidas outras fontes de rendimento. Este facto, aliado à
preocupação e alarme social inerentes a este tipo legal de crime, faz com que exista
igualmente um perigo de perturbação da tranquilidade pública que urge acautelar.
Aqui chegado importa referir que não se ignora o alegado pelo arguido,
nomeadamente no que concerne ao facto de a prova estar já coligida e às suas
necessidades de arranjar emprego, mas o alegado como fundamento da eventual
alteração da medida de coacção aplicada, não justifica a aplicação da medida proposta,
uma vez que não ficariam devidamente acautelados os perigos supra referidos,
mantendo-se totalmente inalterados os fundamentos que determinaram a aplicação da
prisão preventiva.
Nestes termos, tendo em conta que nos presentes autos há fortes indícios da
prática de crime doloso punível com pena de prisão de máximo superior a 3 anos de
prisão, que se consideram inadequadas ou insuficientes as outras medidas de coacção
previstas no CPP, e que existe em concreto perigo de continuação da actividade
criminosa e perigo de perturbação da ordem e tranquilidade públicas, verifica-se que os
pressupostos previstos nos arts 181º, 182º, 183º e 194º do Código de Processo Penal que
determinaram a sujeição do arguido à medida de coacção de prisão preventiva se
mantém totalmente válidos e actuais, não havendo alteração dos mesmos.
Pelo exposto, determina-se que o arguido ....… continue a aguardar os ulteriores
termos processuais na situação de prisão preventiva.
Notifique.
23
Um exemplo:
Inquérito. nº ......./2013
2º
Tal decisão teve fundamento na existência de fortes indícios da prática de um crime de
tráfico de droga.
3º
Porém, o arguido tem uma família que depende exclusivamente do dinheiro que ganha.
4º
O arguido tem dois filhos menores, um de 12 anos e outro de 8, ambos na escola.
5º
A mulher do arguido encontra-se desempregada.
6º
Acresce que a medida de prisão preventiva deverá ser decretada quando todas as
outras se mostrem inadequadas e insuficientes para prevenir o perigo de fuga ou de
cometimento de novos crimes.
7º
O que manifestamente não é o caso.
8º
O arguido está na disposição de ir para casa do seu primo Manuel, na ilha de Atauro,
de forma a afastar-se de Díli,
9º
Assim, não existirá qualquer perigo de fuga por parte do Arguido, nem de continuação
da actividade criminosa.
10º
A família do arguido garante ao Mº Juiz que o arguido não sai de Atauro,
11º
Mostra-se perfeitamente adequada e suficiente a aplicação de uma medida de coacção
não privativa da liberdade.
O Defensor Público/Advogado
22
exigências cautelares qua determinaram a sua aplicação, ouvido o M. Público24
e o arguido (art. 199º, nº 2 CPP).
A prisão preventiva pode ser revogada pelo Juiz, a requerimento ou
oficiosamente, quando (art. 197º CPP):
- Foi aplicada fora dos casos e condições previstas na Lei.
- Tiverem deixado de subsistir as circunstâncias que a determinaram.
24
Exemplo de despacho do M. Público:
Está fortemente indiciado que o arguido cometeu um crime de abuso sexual de criança
p..e p. no art ,,,,,,,, C. Penal, punível com pena de prisão de ,,,,,,,,,,,a .,,,,,,,,,, anos.
EXEMPLO:
Proc. nº ......./2013
24
O Ministério público vem, ao abrigo dos arts. 182º, 184º, 185º, nº 1 e 208º do
CPP, requerer que seja fixada ao arguido ..........................., uma caução económica, com
os seguintes fundamentos:
1º
Indiciam suficientemente os autos a prática pelo arguido de um crime de dano
previsto e punido no art,,,,,,,,,,,,,,,,,, do C. Penal.
2º
O total dos danos causados no carro da PNTL é de 20.000 USD.
3º
Desde que foi acusado pelo M. Público em 1/9/2013, acusação onde consta um
pedido de indemnização civil, o arguido vendeu em 20/9/2013 o seu carro a uma amiga
por 10.000 USD,
4º
E, em 10/10/2013, doou a Carlos ........ (seu primo), a mota matrícula ........., com
o valor de USD 2500.
5º
Estes factos fazem temer que o arguido não venha a dispor de património
suficiente para assegurar o pagamento pedido e custas do processo
6º
Por isso, é necessário, proporcional e adequado que lhe seja imposta a prestação
de uma caução económica de valor não inferior a 20.000 USD – o que se requer.
O Procurador da República
...........................
Apenas aplicável quando não for cumprida a caução imposta nos termos
do art. 208º CPP.
25
As razões de eficácia subjacentes ao decretamento da providência
impõem que o visado, ainda que tenha no processo penal a posição de
arguido, só deva ser notificado após a decisão do arresto.
EXEMPLO:
Proc. nº ......./2013
O Ministério público vem, ao abrigo do art. 209º, nº 1 do CPP, requerer que seja
decretado o arresto preventivo dos bens adiante indicados do arguido Carlos .........., nos
termos e com os seguintes fundamentos:
1º
Por despacho proferido neste processo em .../.../2013, a fls ....., foi determinado
que o arguido tinha que prestar caução económica de USD ......, no prazo de 5 dias,
através de depósito bancário.
2º
Porém, já passaram 20 dias e o arguido não fez qualquer depósito.
1º- .............................................................................................................
2º-..............................................................................................................
O Procurador da República
...........................
26
12. A cumulação de medidas.
25
A decisão condenatória, ainda não transitada em julgado, só por si mesma, desacompanhada
de qualquer outro facto novo não pode servir de fundamento para agravar a medida de
coacção vigente à data da decisão condenatória.
A decisão condenatória não pode abstractamente, por si só, portanto desacompanhada de
qualquer outro facto novo relevante, servir de fundamento para alterar medida de coacção
vigente até ao momento dessa decisão, continuando o arguido a presumir-se, até ao trânsito
em julgado de tal decisão, tão inocente como no início do procedimento criminal, pois que,
constitucionalmente, a inocência não admite graduação.
Todavia, a agravação da medida de coacção já é permitida se se verificar incumprimento pelo
arguido das obrigações resultantes da sujeição a essa medida ou o incumprimento dos deveres
processuais que a aplicação de tal medida visa acautelar ou, no mínimo, o perigo e/ou
eminência da sua violação - ou alteração das circunstâncias,
27
e) Em consequência do reexame dos pressupostos da prisão preventiva
(art. 196º CPP).26
A) Através de recurso.
26
Permanecendo inalterados os pressupostos da medida de coacção e as exigências
cautelares que as determinaram, ela não pode ser alterada. Se, quando do reexame dos
pressupostos da prisão preventiva, não se verificarem circunstâncias supervenientes que
modifiquem as exigências cautelares ou alterem os pressupostos da medida de coacção, basta
a referência à persistência do condicionalismo que justificou a medida para fundamentar a
decisão da sua manutenção
27
Atenta a redacção do artigo e uma vez que as medidas de garantia patrimonial se encontram
no capítulo seguinte, também é admissível recurso da sua aplicação ou não, mas nos termos
gerais do art. 287º CPP.
28
A providência de habeas corpus tem natureza excepcional para proteger
a liberdade individual, revestindo carácter extraordinário e urgente, com a
finalidade de rapidamente pôr termo a situações de ilegal privação de
liberdade, decorrentes de ilegalidade de detenção ou de prisão, taxativamente
enunciadas na lei.
O legislador terá aceite uma possibilidade de opção por parte do
requerente: se o motivo alegado for uma ilegalidade clara, poderá formular uma
petição de habeas corpus (os seus fundamentos têm de ser os expressamente
admitidos no art. 205º CPP), nos outros casos, o recurso (a inexistência de
uma necessidade cautelar que torne indispensável a aplicação da medida de
coacção, a não adequação da medida à necessidade cautelar, a
desproporcionalidade da medida face ao perigo que se visa evitar), será a via
de impugnação adequada. E, terá admitido uma eventual coexistência de
ambos em algumas situações.
A providência de habeas corpus assume uma natureza excepcional, a
ser utilizada quando falham as demais garantias defensivas do direito de
liberdade. Por isso, a medida não pode ser utilizada para impugnar
irregularidades processuais ou para conhecer da bondade de decisões
judiciais, que têm o recurso como sede própria para a sua reapreciação.
29
A tramitação consta do art. 206º e 207º CPP:
a) Com o arquivamento dos autos por não ser deduzida acusação (art.
203º, nº 1, al. a) e 235º CPP).
30
c) Com a sentença absolutória, mesmo que dela tenha sido interposto
recurso (art. 203º, nº 1, al. c) CPP).
31