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Tribunal de .........

AUTO DE INTERROGATÓRIO DE ARGUIDO


(1º interrogatório judicial de arguido detido – art. 62º, 63º CPP)

Data: 26/8/2013, pelas 14.00 horas.

Juiz: Dr. ...............


Procurador da República: Dr. ............
Defensor/Advogado: Dr. ................
Intérprete: .............
Funcionário: ............

Iniciado o presente acto, o Mº Juiz, ao abrigo do art. 68º, al. a) CPP


nomeou Defensor1 ao arguido o Dr......., que se encontra presente.

Uma vez que o arguido não compreende nenhuma das linguas oficiais, o
Mº Juiz nomeou intérprete ao arguido o Sr. .........., que prestou o compromisso
legal «comprometo-me por minha honra a desempenhar fielmente as funções
que me são confiadas» (art. 83º, nº 1 e 3 CPP).

De seguida, o Mº Juiz advertiu o arguido de que a falta de resposta às


perguntas que lhe vão ser feitas sobre a sua identidade e antecedentes
criminais ou a falsidade das mesmas o pode fazer incorrer em responsabilidade
penal (arts. 62º, nº 3 e 61º, al. a) CPP), tendo respondido:

Nome: Carlos da Silva.


Filiação: Paulo da Silva e Maria da Silva.
Natural de: Baucau
Data de nascimento: 1/12/1964.
Nacionalidade: Timorense.
Estado civil: casado.
Profissão: mecânico.
Documento de identificação: ........
Residência: bairro Pité, Díli.
Telefone: .............

Perguntado se já alguma vez esteve preso, quando e porquê, se já foi


alguma vez condenado e porque crimes, disse: nunca esteve preso nem nunca
foi condenado por qualquer crime.

Em seguida, nos termos do disposto no art. 62º, nº 3 CPP, o Mº Juiz


informou o arguido dos direitos e deveres referidos nos arts. 60º e 61º CPP,
explicando-lhe os mesmos.

1
Se o arguido tiver Advogado, tem que se pedir a procuração para juntar ao processo.

1
Informou-o ainda, nos termos do art. 62º, nº 4 CPP dos factos que lhe
são imputados e das provas que existem contra ele:

Indiciam os autos que, no dia 25/8/2013, pelas 22.00 horas, o arguido


introduziu-se no interior do CFJ, onde tirou, com intenção de o fazer coisa sua,
um pc portátil HP 2030, no valor de USD 750. Foi detido quando estava a sair
de uma janela do CFJ com o computador.
Elementos do inquérito que indiciam os factos imputados:
- Auto de detenção (fls ....).
- Auto de apreensão do pc (fls.....).
Assim, é imputado ao arguido a prática de um crime de furto agravado
previsto e punido nos arts. 251º e 252º, nº 1, al.) d), f) e g) do C. Penal.

Neste momento, o Defensor/Advogado disse que pretendia falar


livremente com o arguido, tendo o Mº Juiz proferido o seguinte despacho: ao
abrigo do art. 60º, al. f) CPP defiro o requerido.2

Após o regresso do arguido e seu Defensor, o Mº Juiz perguntou ao


arguido se pretende prestar declarações, advertido-o expressamente que, se
não prestar declarações o silêncio não o desfavorecerá (art. 60º, al. c) e 62º, nº
4, parte final, CPP).

Pelo arguido foi dito que desejava prestar declarações, o que fez da
seguinte forma:

No dia 25/8/2013, pelas 22.00 horas passou junto ao CFJ e viu uma
janela aberta. Como tinha perdido muito dinheiro no jogo dos galos pensou que
podia encontrar alguma coisa lá dentro que pudesse vender e fazer dinheiro.
Está muito arrependido do que fez, pois trabalha.

Na sequência de um pedido de esclarecimento feito pelo Procurador da


República, o arguido respondeu que a janela estava completamente aberta.
À pergunta do Defensor sobre a sua situação familiar respondeu que
tem mulher grávida e dois filhos menores para sustentar e recebe 125 USD
mês do seu trabalho.

E mais não disse. Lidas as declarações as achou conformes e assina 3.

..............(arguido)........................................................................................
...............(defensor).....................................................................................
...............(funcionário)............................................................................

De seguida foi dada a palavra ao Digno Magistrado do M. Público (art.


184º, nº 2 CPP) para se pronunciar sobre a medida de coacção a aplicar:

Indiciam suficientemente os autos a prática pelo arguido de um crime


previsto e punido nos arts. 251º e 252º, nº 1, al. d) f) e g) do C. Penal, com
pena de prisão de 2 a 8 anos de prisão.
2
Arguido e Defensor/Advogado podem falar num local reservado, sem a assistência de terceiros.
3
Assinaturas (art. 88º CPP).

2
Como o arguido tem o vício de jogar, existe perigo de praticar novos
furtos para arranjar dinheiro para jogar. No entanto, o arguido trabalha, tem
familia e não tem antecedentes criminais. Assim, por existir perigo de
continuação da actividade criminosa, promovo que o arguido preste termo de
identidade e residência e seja sujeito à obrigação de se apresentar duas vezes
por semana na polícia (art. 181º, 182º, 183º, al. c), 184º, nº 2, 186º, nº 1 e 191º
CPP).

Dada a palavra ao ilustre Defensor do arguido, no seu uso disse:


Atenta a promoção do M. Público, requer-se apenas que as duas
apresentações na polícia sejam feitas ao Sábado e Domingo, uma vez que o
arguido trabalha durante a semana. Esta é a solução que menos prejudica o
direito ao trabalho do arguido e a mais adequada e proporcional (art. 182º, al.
a) b) e c) CPP).

De imediato pelo Mº Juiz foi proferido o seguinte despacho:

A detenção do arguido foi legal porque efectuada em flagrante delito por


crime punível com pena de prisão (art. 218º, nº 1, 219º CPP) e o arguido foi
apresentado em tribunal no prazo legal de 72 horas (art. 217º, nº 1, al. a) CPP).
Assim, valido a detenção do arguido (art. 63º, nº 2 CPP).

A apreensão do computador HP 2030 constitui o produto do crime


praticado, e é susceptivel de servir de prova. Assim, valido a apreensão (art.
56º, nº 1, al. a) e nº 2 e art. 172º CPP).

Indiciam suficientemente os autos que o arguido no dia 25/8/2013, pelas


22.00 horas, entrou no interior do CFJ e apropriou-se de um computador HP
2030, no valor de USD 750. Quando saia por uma janela foi surpreendido pela
polícia. O arguido trabalha, recebe 125 USD mês e tem a mulher grávida e dois
filhos menores. Não tem antecedentes criminais.
Para a formação da convicção destes indícios foram relevantes o auto
de detenção (fls ...), o auto de apreensão e as declarações prestadas pelo
arguido, as quais confirmaram os factos acima descritos.
Pelo exposto, existem fortes indícios da prática pelo arguido de um crime
de furto previsto e punido nos arts. 251º e 252º, nº 1, al. d) f) e g) do C. Penal,
com pena de prisão de 2 a 8 anos de prisão.

Cumpre, agora, apreciar e decidir quanto às medidas de coacção a


aplicar ao arguido:
As medidas de coacção visam dar resposta a exigências processuais de
natureza cautelar (princípio da necessidade – arts. 181º, nº 2 e 182º, al. a)
CPP). De facto, a aplicação de uma medida de coacção depende da
verificação de algum dos requisitos previstos no art. 183º CPP.
A escolha da concreta medida de coacção a aplicar ao arguido deve
pautar-se pelos princípios da tipicidade (art. 181º, nº 2 CPP), necessidade,
adequação, proporcionalidade (art. 182º, al. a) b) c) CPP) e subsidiariedade da
prisão preventiva (art. 194º, nº 1 CPP).

3
Pela análise dos elementos do processo, podemos concluir pela
existência de perigo de continuação da actividade criminosa (art. 183º, al. c)
CPP), como forma de obter dinheiro para o vício de jogar do arguido.
Pelo exposto, aplico ao arguido o termo de identidade e residência e a
obrigação de se apresentar duas vezes por semana na polícia da área da sua
residência – ao Sábado e Domingo (art. 181º, 182º, 183º, al. c), 184º, nº 2,
186º, nº 1 e 191º CPP).

Liberte de imediato o arguido.

Comunique à polícia da área da sua residência do arguido a obrigação


de este se apresentar ao Sábado e Domingo.

Remeta o processo ao Ministério Público para prosseguir o inquérito.

De imediato, foram os presentes notificados do presente despacho.

Finalmente, o Mº Juiz deu por encerrado o 1º interrogatório.

(assinaturas)
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