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Habeas corpus com pedido de liminar

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) DESEMBARGADOR(A)


PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DE ................ .

NULIDADE PROCESSUAL ABSOLUTA PELA OCORRÊNCIA DO


INSTITUTO DE LITISPENDÊNCIA ENSEJANDO BIS IN IDEM.

............... (nome completo), ............... (nacionalidade), ............... (estado civil),


advogado, regularmente inscrito nos quadros da Ordem dos Advogados do
Brasil – Secção de ..............., sob o n. ..............., com escritório profissional sito no
endereço na Av. ..............., n. ....., bairro ..............., CEP ..............., na Cidade e
Comarca de ..............., do Estado de ..............., vem, com o devido acatamento e
indefectível respeito, à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 5º,
inciso LXVIII, da Constituição Federal de 1988, c.c. artigos 647 e seguintes, do
Código de Processo Penal, impetrar o presente writ de

HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR

Em favor do Paciente

............... (nome completo), ............... (nacionalidade), ............... (estado civil), ...............


(profissão), portador da Cédula de Identidade RG n. ..............., nascido
em ...../...../.........., filho de ............... (nome completo) e de ............... (nome
completo), residente e domiciliado no endereço na Rua ..............., n. .....,
bairro ..............., CEP ..............., na Cidade e Comarca de ..............., do Estado
de ..............., diante do patente e manifesto CONSTRANGIMENTO ILEGAL
SEM JUSTA CAUSA EM RAZÃO DE CONSTATAÇÃO DE NULIDADE
PROCESSUAL ABSOLUTA PELA OCORRÊNCIA DO INSTITUTO DA
LITISPENDÊNCIA ENSEJANDO BIS IN IDEM, que está sofrendo por parte
da honrada e digna Autoridade Coatora, o MM. JUIZ DE DIREITO DA .....ª
VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ............... DO ESTADO DE ...............
(Processo n. ..............., Controle n. ...............), pelas razões de fato e de direito
adiante, articuladamente, expendidas:

DA NARRATIVA FÁTICA

Analisando minudentemente os autos do processo n. ..............., controle


n. ..............., em virtude da tramitação processual perante .....ª VARA
CRIMINAL DA COMARCA DE ..............., extrai-se que o Paciente insurgiu-se
em face da respeitável sentença penal condenatória que julgou procedente a
denúncia e o condenou à pena privativa de liberdade de 06 anos (seis) anos, 02
(dois) meses de reclusão e 20 dias multa, no valor mínimo unitário, por infração
ao art. 157, § 2º, incisos I, II e V, do Código Penal, em regime inicial fechado,
consoante se infere dos autos do recurso de apelação n. ............... em tramitação
perante a .....ª Câmara de Direito Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do
Estado de ............... .

Certo é que a .....ª Câmara de Direito Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do


Estado de ..............., ao apreciar o inconformismo autuado sob o n. ...............
negou-lhe provimento, por unanimidade de votos, restando o decisum assim
ementado:

“Roubo triplamente qualificado. Materialidade e autoria comprovadas.


Reconhecimento pessoal realizado pelas vítimas. Prova segura. Absolvição
impossível. Qualificadoras bem caracterizadas. Acréscimo mínimo. Maus
antecedentes que justificam o aumento das penas-base e a fixação do regime
prisional inicial fechado. Recurso improvido.”

Malgrado tenha o Paciente sido condenado por fatos apurados nos autos do
processo n. ..............., controle n. ..............., em curso perante a .....ª VARA
CRIMINAL DA COMARCA DE ..............., condenação esta ratificada em grau
de recurso, denota-se, a princípio, a ocorrência de litispendência ao longo da
tramitação processual, haja vista que o Paciente foi acusado e condenado por
fatos idênticos junto à .....ª Vara Criminal da Comarca de ............... (processo n.
..............., controle n. ...............), sendo certo que aquele Juízo prolatou sentença
penal condenatória ando o Paciente como incurso nas penas do art. 157, § 2º,
inciso I, II e V, do Código Penal e o compeliu ao desconto da pena privativa de
liberdade de 08 (oito) anos, 04 (quatro) meses e 20 (vinte) dias de reclusão e ao
pagamento de 18 (dezoito) dias-multa, em regime inicial fechado, cujo decisum
está pendente de análise em via recursal.

Conforme preconiza o artigo 95, inciso III, do Código de Processo Penal, é


cabível a arguição de exceção de litispendência, uma vez que ninguém pode
ser julgado duas vezes pelo mesmo fato, consoante se vê no presente caso,
devendo prevalecer o non bis in idem, a fim de que o Paciente não fique
suscetível a responsabilidade penal por dois processos idênticos.

Neste passo, o artigo 219 do Código de Processo Civil, supletivamente,


preceitua que a CITAÇÃO VÁLIDA induz litispendência, sendo certo que o
Paciente foi validamente citado para responder aos termos da ação penal
pública incondicionada ajuizada em seu detrimento, seja em um ou no outro
processo.

Neste contexto, vislumbrou-se a presença de identidade de pedido, de parte e


de causa petendi (CPC, artigo 301, § 3º), sendo certo que a denúncia ofertada
perante a .....ª Vara Criminal da Comarca de ..............., ensejou a condenação do
Paciente por mesmo fato típico e antijurídico apurado junto à .....ª Vara
Criminal da Comarca de ..............., ratificando a configuração de bis in idem.
No mais, a arguição de litispendência deve ser realizada sempre junto ao Juízo
que preside o processo instaurado em segundo momento, não deixando de se
olvidar que sua invocação pode ser realizada em qualquer fase processual,
em se tratando de processo penal, inclusive em Segundo Grau de Jurisdição,
embora o defensor anteriormente constituído não tenha apresentado exceção de
litispendência, haja vista constituir exceção à regra inscrita no artigo 297 do
Código de Processo Civil.

Logo, por tratar-se de questão prejudicial de mérito, a litispendência pode ser


declarada a qualquer momento e ex offício, sendo certo que a decisão a ser
proferida tem força de sentença definitiva de natureza processual, ainda que
proferida em sede de habeas corpus.

Portanto, caracterizado está o instituto da LITISPENDÊNCIA, devendo o feito


processual pelo qual o Paciente foi condenado junto a .....ª Vara Criminal da
Comarca de ..............., ser extinto sem a resolução de mérito, com esteio no
artigo 267, inciso V, do Código de Processo Civil, por tratar-se de exceção
processual peremptória, independentemente, do julgamento proferido em
grau de apelação.

Reitera-se que em ambas as lides, as citações foram válidas, induzindo, assim, a


litispendência, de modo que, como bem lembra “Voltaire de Lima Moraes”,
para caracterização desse instituto no segundo processo, onde haveria a
repetição de ação que está em curso, é preciso que no anterior tenha sido feita a
citação, pois do contrário ela não terá ocorrido.

DAS RAZÕES DO DIREITO ENSEJADORAS DO PEDIDO

Assim, conclui-se, que estão presentes os dois elementos necessários à


ratificação da litispendência, a saber: a identidade de ações (identidade de
partes, pedido e causa de pedir) e a citação válida nas duas demandas.

O Código de Processo Civil em seu artigo 267, inciso V e § 3º abarca a


possibilidade de acolhimento da litispendência em qualquer grau de jurisdição,
verbis:

“Art. 267. Extingui-se o processo, sem resolução de mérito: (Redação dada pela
Lei n. 11.232, de 2005)
I – quando o Juiz indeferir a petição inicial;
II – quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes;
III – quando, por não promover os atos e diligências que lhe competir, o autor
abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;
IV – quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo;
V – quando o Juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de
coisa julgada;
VI - quando não ocorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade
jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual;
VII – pela convenção de arbitragem; (Redação dada pela Lei n. 9.307, de
23.09.1996)
VIII – quando o autor desistir da ação;
IX – quando a ação for considerada intransmissível por disposição legal;
X – quando ocorrer confusão entre autor e réu;
XI – nos demais casos prescritos neste Código.
§ 1º. O Juiz ordenará, nos casos dos ns. II e III, o arquivamento dos autos,
declarando a extinção do processo, se a parte, intimada pessoalmente, não
suprir a falta em 48 (quarenta e oito) horas.
§ 2º. No caso do parágrafo anterior, quanto ao II, as partes pagarão
proporcionalmente as custas e, quanto ao III, o autor será condenado ao
pagamento das despesas e honorários de advogado (art. 28).
§ 3º. O Juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição,
enquanto não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V
e VI; todavia, o réu que não alegar, na primeira oportunidade em que lhe caiba
falar nos autos, responderá pelas custas de retardamento.
§ 4º. Depois de decorrido o prazo para a resposta, o autor não poderá, sem o
consentimento do réu, desistir da ação.”

O Colendo Superior Tribunal de Justiça assim se pronunciou acerca do instituto


da litispendência:

“PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. ART. 171, § 2º, III,


DO CP E ART. 20, DA LEI N. 7.492/86. CONCURSO FORMAL.
LITISPENDÊNCIA. EXTINÇÃO DO PROCESSO.
I – Recurso não conhecido quanto à alegação de inépcia da denúncia em razão
da falta de prequestionamento, tendo em vista que a matéria suscitada não foi
ventilada no v. acórdão.
II – No caso vertente, malgrado tenham os contratos referentes às cédulas rurais
pignoratícias e de crédito industriais sido firmados com vencimentos distintos,
o fato é que a garantia das mesmas referiam-se ao mesmo empréstimo, sendo,
portanto, uma só a fraude, i.e., em um só contexto fático o recorrente praticou
dois crimes, sendo pouco relevante, no caso em tela, que o Parquet tenha se
olvidado (talvez por erro material) a fazer menção, na exordial acusatória, da
cédula rural pignoratícia n. 94/16788-5. Ademais, no outro processo, que deu
margem à litispendência, foi reconhecido o concurso formal e não a
continuidade delitiva, sendo que desta decisão não houve recurso por parte do
Ministério Público. Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, provido, a
fim de determinar o trancamento da ação penal referente à cédula rural
pignoratícia n. 94/16788-5. (STJ – RESP 613797/PR, Rel. Min. Felix Fischer,
Quinta Turma, Data do Julgamento 08/06/2004, p. 547).”

Portanto, restou corroborado que o Paciente foi denunciado duas vezes pelos
mesmos fatos, do qual restou condenado injustamente pelo Juízo “a quo”, razão
pela qual a presente ação penal é nula ab initio e não deve prosseguir.
O caso em apreço está abarcado pelo princípio ne bis in idem ou bis de eadem re
ne sit actio, hipótese que impede a existência de duas ações penais incidentes
sobre os mesmos fatos, ensejando a nulidade absoluta do feito processual.

Depreende-se que a notícia que se tem é de que o Juízo da .....ª Vara Criminal da
Comarca de ..............., condenou o Paciente por fatos apurados em outro
processo, não havendo qualquer decisão de natureza terminativa ou
interlocutória apta a ensejar a coisa julgada em relação ao feito aforado
perante o Juízo da .....ª Vara Criminal da Comarca de ..............., ante a
pendência de recurso de apelação em face da decisão nos autos do processo n.
..............., controle n. ..............., porém, há certeza de que uma segunda lide foi
instaurada por fatos idênticos, hipótese que enseja a corroboração de
litispendência.

Concessa Vênia, é inaceitável que tenha havido a condenação do Paciente,


quanto a solução mais consentânea era a extinção do processo aforado junto
à .....ª Vara Criminal da Comarca ..............., sem a resolução do mérito, em
virtude da caracterização da litispendência e, por consequência, a revogação da
prisão neste feito.

A ordem jurídica impõe procedimentos para a realização dos atos processuais,


os quais devem ser observados fielmente nos casos em que o réu aguarda
julgamento na prisão. Além do mais, cabe salientar que em prol de qualquer
acusado milita a presunção de inocência e não a de culpa, ex vi do disposto no
inciso LVII, do artigo 5º, da Constituição Federal.

Não havia outra saída ao Paciente, senão imperar a presente ordem, visando à
expedição do competente alvará em seu favor, a fim de que haja o
reconhecimento da litispendência, sendo, por conseguinte, extinto o processo,
sem a resolução do mérito.

Ensina PLÁCIDO E SILVA que o habeas corpus tem sua origem remota no
direito romano, pelo qual todo cidadão podia reclamar a exibição do homem
livre, detido ilegalmente por meio de uma ação privilegiada, que se chamava
INTERDICTUM DE LIBERO HOMINE EXHIBENDO.

É remédio jurídico-constitucional que tem por objeto evitar ou fazer cessar a


violência ou a coação à liberdade de locomoção decorrente de ilegalidade ou
abuso de poder.

No mais, não abandonando o indeclinável conhecimento de que existe corrente


jurisprudencial diversa do entendimento ora exposto, não podemos deixar de
lembrar os princípios constitucionais que amparam o réu, bem como o
consagrado princípio da razoabilidade em benefício da aplicação da justiça.

Por derradeiro, longe de adentrar ao campo probatório, tem-se que no mês


de ..............., ano .........., ............... (nome completo), irmão gêmeo do ora Paciente,
foi intimado a comparecer junto ao DEIC para prestar esclarecimentos acerca de
um cheque depositado em sua conta corrente, chegando lá a pretensa
vítima ............... (nome completo), proprietário do caminhão, estava lá.

Os policiais civis pressionaram ............... (nome completo), e arguiram que seria


ele o autor do roubo do caminhão pertencente a ............... (nome completo) e que
possuíam fotografias dele e que havia depositado o cheque e que a vítima o
teria reconhecido fotograficamente.

Ato contínuo, ............... (nome completo), negou veementemente a autoria do fato


alegando que na data do roubo do aludido caminhão ele estava trabalhando e
tinha como provar. Em seguida mostrou crachá de identificação do
Hospital ............... com sua fotografia nela estampada. Como ............... (nome
completo) não tinha nenhum antecedente criminal, os policiais disseram que
iriam submetê-lo à averiguação.

Todavia, a vítima ............... (nome completo) já havia reconhecido o Paciente junto


às dependências do DEIC, antes de proceder ao reconhecimento de ...............
(nome completo). O Paciente, ............... (nome completo), havia obtido a cártula por
intermédio de um cliente da oficina mecânica onde laborava, ocasião em que
solicitou a ............... (nome completo) que efetuasse o depósito em sua conta
corrente, pois ............... (nome completo) sempre depositou em sua conta os
cheques da oficina.

Assim, no cotejo das arguições sobreditas com o depoimento prestado pelo


Paciente na Delegacia e em juízo, verificamos a plausibilidade da alegação de
que não poderia ser ele o autor do fato, haja vista que a situação narrada
converge com o que aqui foi declinado na presente impetração.

DA CONCESSÃO DA MEDIDA LIMINAR

Consoante se verifica, o Paciente está sofrendo CONSTRANGIMENTO


ILEGAL SEM JUSTA CAUSA EM RAZÃO DE CONSTATAÇÃO DE
NULIDADE PROCESSUAL ABSOLUTA PELA OCORRÊNCIA DO
INSTITUTO DA LITISPENDÊNCIA ENSEJANDO BIS IN IDEM por parte da
Autoridade Coatora, estando presentes o FUMUS BONI IURIS e o
PERICULUM IN MORA, não havendo JUSTA CAUSA, para que fique sob a
custódia do Estado por um processo maculado pela litispendência.

A medida liminar é necessária e urgente, porquanto preenchidos os requisitos


autorizadores de sua concessão.

Presentes os requisitos ensejadores da concessão da medida liminar,tendo em


vista que o Paciente se compromete a comparecer em Juízo espontaneamente,
se assim for necessário, requer o seu deferimento, a fim de ratificar
definitivamente os efeitos do presente mandamus.
Importante salientar que para os fins do artigo 660, § 2º, do Código de Processo
Penal, se encontram acostadas ao presente pedido, as principais peças alusivas
a ambos os feitos processuais aqui apontados, possibilitando a apreciação
imediata do writ, cessando-se o constrangimento ilegal.

DO PEDIDO

Diante do exposto, na certeza de ter justificado quantum satis a viabilidade e


procedência das arguições sustentadas e, ainda, contando com a escorreita e
ilibada cognição jurídica de Vossa Excelência, Preclaro Magistrado deste
Egrégio Tribunal, aguarda o Paciente com serenidade, a CONCESSÃO DO
HABEAS CORPUS LIMINARMENTE porque presentes os requisitos do
fumus boni iuris e do periculum in mora, a efeito de declarar a nulidade
absoluta ab initio, do processo n. ..............., controle n. ..............., em curso
perante o Juízo da .....ª Vara Criminal da Comarca de ...............,
independentemente, do julgamento do apelo n. ..............., sendo certo que o
feito processual está maculado pela litispendência, impondo a extinção do
processo, sem a resolução de mérito, com fulcro no artigo 267, inciso V e § 3º,
do Código de Processo Civil, sendo medida de justiça e revogação da prisão
determinando-se a imediata expedição do competente Alvará de Soltura em
favor do Paciente, confirmando-se a ordem ao final, após as informações da
Autoridade Impetrada.

Diante da inegável coação havida pelo Juízo a quo que colide de maneira
diametral com entendimento consolidado por este Egrégio Tribunal de Justiça e
esposado pelos Colendos Tribunais Superiores, impõe-se o provimento do
presente writ, por ser legítima a aclamação da mais lídima JUSTIÇA!

Termos em que,
Pede deferimento.

..............., ..... de ............... de .......... .

.............................................
Advogado(a)
OAB/..... - n. ...............

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