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ÉTICA E DEONTOLOGIA

O MINISTÉRIO PÚBLICO

Artigo 132.º da Constituição


(Funções e estatuto)

1. O Ministério Publico representa o Estado, exerce a acção penal,


assegura a defesa dos menores, ausentes e incapazes, defende a
legalidade democrática e promove o cumprimento da lei.
2. O Ministério Publico constitui uma magistratura hierarquicamente
organizada, subordinada ao Procurador-Geral da Republica.
3. No exercício das suas funções, os magistrados do Ministério Publico
estão sujeitos a critérios de legalidade, objectividade, isenção e
obediência as directivas e ordens previstas na lei.
4. O Ministério Publico goza de estatuto próprio, não podendo os seus
agentes ser transferidos, suspensos, aposentados ou demitidos senão
nos casos previstos na lei.
5. A nomeação, colocação, transferência e promoção dos agentes do
Ministério Publico e o exercício da acção disciplinar competem a
Procuradoria-Geral da Republica.
O CONCEITO DE ÉTICA

► A palavra "ética" provém do grego "ethos", que significa modo de ser,


carácter.

► O objetivo da ética é tentar sistematizar, universalizar comportamentos,


ou seja, a moral. Assim, a ética seria um comportamento moral
espontâneo.

► A moral está relacionada com a ideia de costume, com a forma humana


de agir, ou seja, a aceitação de um acto humano. A ética diferencia-se da
moral, pois esta fundamenta-se na obediência a normas, tabus, costumes
ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos recebidos.

► A ética consiste no esforço do homem para estabelecer princípios que


iluminem a conduta das pessoas, grupos, comunidades, nações, segundo
o critério do Bem e da Justiça.
O CONCEITO DE DEONTOLOGIA

► A deontologia é o ramo da ética que estuda a ética das profissões.

► É um conjunto de princípios e estabelece regras de conduta ou deveres


de uma determinada profissão.

► Por deontologia profissional entende-se o conjunto de deveres, princípios e


normas que regulamentam o comportamento público e profissional do Procurador.

► As associações profissionais produzem códigos de deontologia que


pretendem traduzir o sentimento ético da profissão.

► A sociedade exige dos magistrados uma conduta exemplarmente ética.


Atitudes que podem ser compreendidas, perdoadas ou minimizadas,
quando praticadas pelo cidadão comum, essas mesmas atitudes são
absolutamente inaceitáveis quando praticadas por um magistrado.
CASO PRÁTICO I

O Dr. Carlos …… é Procurador da República no


Tribunal de ………
Sempre que os funcionários não cumprem bem um
despacho seu ou se enganavam, o Dr. Carlos vai à
secretaria e grita com eles, dizendo que são
«incompetentes», «não sabem nada», o que estão
aqui a fazer».

Quid Juris?
CASO PRÁTICO II

O Dr. Carlos …… é Procurador da República no


Tribunal de ………
Como tem dinheiro, costuma fazer empréstimos a
pessoas da família, cobrando juros de 10% ao mês.
O seu primo Manuel está atrasado no pagamento do
empréstimo, pelo que, o Dr. Carlos decidiu ir buscar a
mota dele. Como não tem garagem, guarda-a no
parque de estacionamento do Tribunal.

Quid Juris?
CÓDIGOS DEONTOLÓGICOS

► Código de ética para a função pública (Lei 5/2009, de 15/7).

- O respeito pelos direitos humanos.

- Ser modelo de integridade pessoal, autenticidade e honestidade.

- Servir o público com cortesia e dedicação.

- Servir o público sem qualquer forma de discriminação ou


intimidação.

- Rejeitar qualquer ameaça, intimidação ou conduta com a


intenção, directa ou indirecta, de interferir com a missão da
Administração Pública de Timor-Leste.

- Utilizar os bens do serviço apenas para funções oficiais.


O EXERCÍCIO ÉTICO DA PROFISSÃO

► Parece poder depreender-se que a actividade profissional será


impossível sem ética, porque é ela a base de todas as funções.

► Ética – Deontologia são conceitos dependentes uns dos outros, que se


fundamentam em valores. Os valores constituem normas ou critérios que
afectam esferas da nossa actividade e da nossa conduta humana.

► A essência da profissão é constituída pelo exercício de um tipo de


trabalho específico, que integra fundamentalmente um posto de trabalho e
uma função

► A prática da ética na profissão insere-se no rol dos deveres relativos à


responsabilidade que cada um tem no seu trabalho.

► A prática profissional em todos os tipos e desenvolvimentos da profissão


exige quotidianamente tomadas de decisão éticas e morais. A conduta
humana e moral nas organizações é questão de ética profissional e passa
pela honestidade dos seus elementos.
O EXERCÍCIO ÉTICO DA PROFISSÃO

► As exigências da ética na profissão, assentam sobre atitudes e valores


que resultam da responsabilidade, honestidade, autenticidade e do sentido
de justiça.

► Antes de ser Procurador, já o formando deve ser uma pessoa


eticamente irrepreensível, isto é, honesta, observadora dos deveres de
justiça, da verdade e da moral, honrada, recta, leal, cortês e sincera.
CONSEQUÊNCIAS DA VIOLAÇÃO DA ÉTICA

► Criminais.

► Disciplinares.

► Cíveis.

► A reputação e a carreira podem arruinar-se.

► Perda de confiança.

► Perda do bom nome.

► Ineficiência do trabalho em equipa.


BASE LEGAL

► Consta de várias Leis, desde a Constituição, Estatuto do M.


Público e Códigos.

Art. 132º, nº 3 da Constituição

«No exercício das suas funções, os magistrados do


Ministério Publico estão sujeitos a critérios de
legalidade, objectividade, isenção e obediência as
directivas e ordens previstas na lei».
BASE LEGAL
► Legalidade: a actuação do MP só pode ter lugar de acordo com a lei.

► Objectividade: significa que o Ministério Público não pode cultivar uma


perspectiva unilateral dos factos e do direito, tendo antes que adoptar
posições representativas da realidade que podem ir ao ponto, no crime, de
dever obrigatoriamente investigar, promover e alegar em benefício da
defesa e de ter de tomar sempre em conta as provas que a esta podem
interessar.

► Isenção: ideia que traduz o dever em que os respectivos magistrados se


encontram constituídos de promover e decidir segundo uma ética de
procedimento enformada pela lei e pelas normas profissionais que dela
decorrem.

A vinculação a critérios de legalidade e objectividade reforça a isenção e


autoridade e, consequentemente, assegura uma justiça independente,
constituindo uma garantia para os cidadãos essencial no Estado de Direito.
ESTATUTO M. PÚBLICO (Lei 14/2005)

Artigo 35º
Incompatibilidades

1. É incompatível com o desempenho do cargo de magistrado do Ministério


Público o exercício de qualquer outra função pública ou privada de índole
profissional, salvo funções docentes ou de investigação científica de
natureza jurídica ou funções directivas em organizações representativas da
magistratura do Ministério Público.

2. O exercício de funções docentes ou de investigação científica de natureza


jurídica pode ser autorizado, desde que não remunerado e sem prejuízo para
o serviço.

3. São consideradas funções de Ministério Público as de magistrado vogal a


tempo inteiro do Conselho Superior do Ministério Público, de magistrado
membro do gabinete do Procurador-Geral da República, de direcção ou
docência no Centro de Formação Jurídica e de responsável, no âmbito do
Ministério da Justiça, pela preparação e revisão de diplomas legais.
ESTATUTO M. PÚBLICO (Lei 14/2005)

Artigo 36º
Actividades político-partidárias

1. É vedado aos magistrados do Ministério Público em efectividade de


serviço o exercício de actividades político-partidárias de carácter público.

2. Os magistrados do Ministério Público que pretendam ocupar cargos


políticos, com excepção dos de Presidente da República e membro do
Governo, devem requerer previamente a licença prevista no artigo 55º do
Estatuto da Função Pública, aprovado pela Lei nº 8/2004, de 16 de Junho.

3. Os magistrados do Ministério Público que suspendam as suas funções


para exercer actividades excepcionadas no número anterior não podem ser
prejudicados na sua carreira, contando todo o tempo como se o fosse em
efectividade de serviço.
ESTATUTO M. PÚBLICO (Lei 14/2005)

Artigo 37º
Impedimentos

1. Os magistrados do Ministério Público não podem servir em tribunal ou


juízo em que exerçam funções magistrados judiciais ou do Ministério Público
ou funcionários de justiça a que estejam ligados por casamento ou união de
facto, parentesco ou afinidade em qualquer grau da linha recta ou até ao 2º
grau da linha colateral.

2. Os magistrados do Ministério Público não podem actuar em processos em


que tenham de alguma forma intervindo como advogados.

3. O Procurador-Geral da República e os outros magistrados do Ministério


Público que integrem o respectivo Conselho Superior não podem participar
nas decisões deste órgão sempre que estas lhes possam dizer directamente
respeito.
ESTATUTO M. PÚBLICO (Lei 14/2005)

Artigo 38º
Dever de reserva

1. Os magistrados do Ministério Público não podem fazer declarações ou


comentários sobre processos, salvo, quando superiormente autorizados,
para defesa da honra ou para a realização de outro interesse legítimo.

2. Não são abrangidas pelo dever de reserva as informações que, em


matéria não coberta pelo segredo de justiça ou pelo sigilo profissional, visem
a realização de direitos ou interesses legítimos, nomeadamente o do acesso
à informação.
ESTATUTO M. PÚBLICO (Lei 14/2005)

Artigo 65º
Responsabilidade e infracção disciplinar

Constituem infracção disciplinar os factos, ainda que


meramente culposos, praticados pelos magistrados do
Ministério Público com violação dos deveres profissionais e os
actos ou omissões da sua vida pública ou que nela se
repercutam incompatíveis com o decoro e a dignidade
indispensáveis ao exercício das suas funções.

.
ESTATUTO M. PÚBLICO (Lei 14/2005)

Artigo 75º
Aposentação compulsiva e demissão

3. As penas de aposentação compulsiva e demissão são


aplicáveis quando o magistrado:

(…)

b) Revele falta de honestidade ou grave insubordinação ou


tenha conduta imoral ou desonrosa;
DEVERES PROFISSIONAIS (arts. 40º e 41º - Lei 5/2009)

O dever de lealdade, que consiste em desempenhar as funções subordinando


a sua actuação aos objectivos institucionais do serviço e na perspectiva da
prossecução do interesse público.

O dever de zelo, que consiste em conhecer as normas legais regulamentares


e as instruções dos superiores hierárquicos, de forma a exercer as suas
funções com eficiência e correcção.

O dever de assiduidade, que consiste em comparecer regular e


continuamente ao serviço.

O dever de pontualidade, que consiste em comparecer ao serviço dentro das


horas legalmente estipuladas.
DEVERES DA VIDA PRIVADA NÃO PROFISSIONAIS

Vida privada: o sector da vida que se desenvolve entre as paredes


domésticas e no âmbito da família.

Por exemplo:

- Violência doméstica ou outros crimes.

- Cumprir obrigações familiares (alimentos, saúde e educação filhos).

► A violação de deveres de conduta privada assume relevância disciplinar


quando afecte a dignidade e o prestígio da função.
DEVERES DA VIDA PÙBLICA NÃO PROFISSIONAIS

Vida pública é a que pode ser conhecida por todos.

São deveres que têm a ver com a dignidade, honra e decoro.

Por exemplo:

- Não mendigar.
- Não frequentar lugares em que haja criminosos ou prostitutas.
- Não jogar (jogos ilegais).
- Não se embebedar nem drogar.
- Não participar em lutas.
IMPEDIMENTO ≠ SUSPEIÇÃO

O impedimento tem caráter objetivo, há presunção absoluta


de parcialidade do Procurador em determinado processo por
ele analisado.

A suspeição tem relação com o subjectivismo do Procurador,


há apenas presunção relativa de parcialidade.

Na suspeição apenas interessa averiguar se ocorre alguma


situação que, por fragilizar a independência e/ou a
imparcialidade do Procurador, possa justificadamente minar a
confiança pública na administração da justiça.
CÓDIGO PROCESSO CIVIL

IMPEDIMENTOS (art. 87º e 90º, nº 1 CPC)

Nenhum Procurador pode exercer funções:

- Quando seja parte na causa, por si ou como representante de outra pessoa, ou


quando nela tenha um interesse que lhe permitisse ser parte principal;

- Quando seja parte da causa, por si ou como representante de outra pessoa, o seu
cônjuge ou algum seu parente ou afim, ou em linha recta ou no segundo grau da
linha colateral, ou quando alguma destas pessoas tenha na causa um interesse
que lhe permita figurar nela como parte principal;

- Quando seja parte na causa pessoa que contra ele propôs acção civil para
indemnização de danos, ou que contra ele deduziu acusação penal, em
consequência de factos praticados no exercício das suas funções ou por causa
delas, ou quando seja parte o cônjuge dessa pessoa ou um parente dela ou afim,
em linha recta ou no segundo grau da linha colateral, desde que a acção ou a
acusação já tenha sido admitida;
CÓDIGO PROCESSO CIVIL

IMPEDIMENTOS (art. 87º e 90º, nº 1 CPC)

Nenhum Procurador pode exercer funções:

- Quando esteja em situação prevista nas alíneas anteriores pessoa que


com o Procurador viva em economia comum.

- Quando tenha intervindo na causa como mandatário ou perito,


constituídos ou designados pela parte contrária àquela que teriam de
representar ou a quem teriam de prestar assistência.

► O incidente de escusa e suspeição é decido pelo Juiz, sem recurso (art.


101º, al. c) CPC).
CÓDIGO PROCESSO CIVIL

► São aplicáveis as regras da litigância de má-fé (art. 662º CPC):

2.Diz-se litigante de má fé quem, com dolo ou negligência grave:

a)Tiver deduzido pretensão ou oposição cuja falta de fundamento não devia


ignorar.
b)Tiver alterado a verdade dos factos ou omitido factos relevantes para a
decisão da causa;
c)Tiver praticado omissão grave do dever de cooperação;
d)Tiver feito do processo ou dos meios processuais um uso manifestamente
reprovável, com o fim de conseguir um objectivo ilegal, impedir a
descoberta da verdade, entorpecer a acção da justiça ou protelar, sem
fundamento sério, o trânsito em julgado da decisão.

► O incidente de escusa e suspeição é decido pelo Juiz, sem recurso (art.


101º, al. c) CPC).
CÓDIGO PROCESSO PENAL

IMPEDIMENTOS (art. 39º e 51º, nº 1 CPP)

São motivos de impedimento:

a) Ser, ou ter sido, cônjuge, representante legal, parente ou afim até ao


terceiro grau, do lesado ou do agente do crime, ou viver ou ter vivido com
qualquer destes em condições análogas às dos cônjuges;

b) Ter intervindo no processo como agente do Ministério Público, agente


policial, mandatário judicial, defensor público ou perito;

c) Participar no processo, a qualquer título, o cônjuge, parente ou afim até


ao terceiro grau, ou pessoa com quem viva ou tenha vivido em condição
análoga à dos cônjuges;

d) Ser, ou dever ser, testemunha no processo.


CÓDIGO PROCESSO PENAL

SUSPEIÇÃO (art. 40º e 51º, nº 1 CPP)

O Procurador é suspeito quando existirem fortes motivos que possam


abalar a confiança na sua imparcialidade, nomeadamente ter expressado
opiniões reveladoras de um pré-juízo em relação ao objecto do processo.
CÓDIGO PROCESSO PENAL

MÁ - FÉ (art. 45º CPP)

A) Dedução do incidente de impedimento ou suspeição pelo MP, lesado


ou arguido, mais de 8 dias após o conhecimento dos factos que os
fundamentam.

B) Dedução do incidente de impedimento ou suspeição manifestamente


infundado.

Condenação em multa
PERSPECTIVA INTERNACIONAL
PERSPECTIVA INTERNACIONAL
PERSPECTIVA INTERNACIONAL
PERSPECTIVA INTERNACIONAL

João Alves – Procurador Formador


Dezembro de 2013

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