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1.

Separação de poderes enquanto doutrina política


A separação de poderes é uma doutrina política que defende a divisão dos poderes do Estado em três ramos
independentes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Essa divisão tem como objetivo garantir a proteção dos
direitos e liberdades individuais dos cidadãos, evitando abusos de poder por parte de uma única autoridade.

O poder Executivo é responsável pela administração do Estado e pela implementação das leis; o Legislativo é
responsável pela criação de leis; e o Judiciário é responsável pela interpretação e aplicação das leis. Cada um
desses poderes tem suas próprias funções e responsabilidades, e nenhum deles deve ter o controle absoluto sobre os
outros.

Essa doutrina foi amplamente difundida pelo filósofo político francês Montesquieu no século XVIII, e foi
incorporada em muitas constituições ao redor do mundo, incluindo a Constituição dos Estados Unidos da América.
A separação de poderes é considerada uma das principais bases da democracia moderna e é essencial para garantir
o equilíbrio e a justiça no sistema político de um país.

2. Separação de poderes como princípio constitucional


Em Portugal, a separação de poderes é reconhecida como um princípio constitucional, estabelecido no artigo 111º
da Constituição da República Portuguesa. Segundo esse artigo, os poderes do Estado são independentes e devem
colaborar entre si, respeitando a Constituição e a lei, com vista à realização do interesse público.

A Constituição portuguesa estabelece que o poder legislativo é exercido pela Assembleia da República, o poder
executivo pelo Governo, e o poder judicial pelos tribunais. Cada um desses poderes tem suas próprias funções e
responsabilidades, e nenhum deles deve ter o controle absoluto sobre os outros.

Além disso, a Constituição portuguesa prevê mecanismos de controle recíproco entre os poderes, como o processo
de fiscalização política, que permite à Assembleia da República fiscalizar a atividade do Governo, e o processo de
fiscalização da constitucionalidade, que permite ao Tribunal Constitucional verificar a conformidade das leis com a
Constituição.

Assim, a separação de poderes é um princípio fundamental do sistema político e jurídico português, que busca
garantir a proteção dos direitos e liberdades dos cidadãos, a estabilidade institucional, e a promoção do interesse
público.
Não há estado constitucional sem verdadeira separação de poderes.
1. Separação dos órgãos administrativos dos órgãos judiciais: a separação dos órgãos administrativos dos órgãos
judiciais é um princípio essencial do Estado de Direito, que visa garantir a proteção dos direitos e liberdades
dos cidadãos, a imparcialidade e a independência do sistema judicial, e a prevenção da corrupção e do abuso
de poder.
2. Incompatibilidade das magistraturas: a incompatibilidade das magistraturas é estabelecida na Lei nº 2/2008, de
14 de janeiro, que regula o Estatuto dos Magistrados Judiciais. Segundo essa lei, os magistrados judiciais
(juízes e procuradores) não podem exercer outras funções públicas ou privadas, com exceção das atividades
docentes, científicas ou culturais, desde que autorizadas pelo Conselho Superior da Magistratura.

Essa incompatibilidade é fundamental para garantir a independência e a imparcialidade do sistema judicial,


evitando conflitos de interesse ou de subordinação com outras entidades ou pessoas. Além disso, a proibição de
acumulação de funções também visa garantir que os magistrados possam se dedicar exclusivamente à sua função
pública, sem comprometer a qualidade e a eficiência da justiça.
A lei estabelece ainda que a violação das normas de incompatibilidade pode levar à perda do cargo e à aplicação de
sanções disciplinares, de acordo com o estatuto dos magistrados.
Portanto, a incompatibilidade das magistraturas é uma medida importante para garantir a independência e a
imparcialidade do sistema judicial em Portugal, assegurando que os magistrados possam exercer suas funções com
total dedicação e comprometimento com a justiça.

3. Independências recíproca da administração e da justiça: A independência recíproca da administração e da justiça é


um princípio fundamental do Estado de Direito em Portugal, consagrado na Constituição da República Portuguesa.
De acordo com a legislação portuguesa, a administração e a justiça devem funcionar de forma autónoma e
independente uma da outra, sem interferências indevidas. Isso significa que cada uma das áreas tem as suas
próprias competências e responsabilidades, sem que uma possa impor a sua vontade à outra.
A administração pública é responsável pela gestão e execução das políticas públicas, bem como pelo cumprimento
das leis e regulamentos. Já a justiça é responsável pela aplicação da lei e pela resolução de conflitos entre as partes.
Essa independência recíproca é fundamental para garantir a proteção dos direitos e interesses dos cidadãos, a
transparência e a imparcialidade das decisões, e a salvaguarda do Estado de Direito.

4. Independência da justiça perante a administração: Em Portugal, a independência da justiça em relação à


administração é assegurada pela Constituição da República Portuguesa. O artigo 203º da Constituição estabelece
que "os tribunais são independentes e apenas estão sujeitos à lei". Isso significa que os tribunais não podem ser
controlados ou influenciados pela administração ou por qualquer outra entidade externa.
Entre os principais princípios da independência da justiça perante a administração na legislação portuguesa,
destacam-se:
Separação dos poderes: A Constituição portuguesa consagra a separação dos poderes como um dos princípios
fundamentais do Estado de Direito, o que implica a independência da justiça em relação ao poder executivo e
legislativo.
Inamovibilidade dos juízes: Os juízes são inamovíveis, o que significa que não podem ser transferidos, removidos
ou aposentados compulsoriamente, exceto em casos previstos em lei e mediante processo disciplinar.
Autonomia do Ministério Público: O Ministério Público é um órgão independente do poder executivo e dos
tribunais, tendo como função principal a defesa da legalidade e dos interesses públicos.
Garantias de imparcialidade: Os juízes devem julgar com imparcialidade e sem quaisquer pressões externas, sendo
garantido o direito ao contraditório e à defesa.
Fiscalização da atividade judicial: A atividade dos tribunais é fiscalizada pelo Conselho Superior da Magistratura e
pelo Tribunal Constitucional, assegurando a sua independência e a qualidade do exercício da função judicial.
A sua observância é fundamental para garantir a proteção dos direitos e liberdades dos cidadãos e a justiça em um
Estado de Direito.

3. Poder administrativo
O poder administrativo é um conjunto de prerrogativas conferidas pela legislação portuguesa aos órgãos da
administração pública, que lhes permite atuar no interesse público e na defesa do bem comum.
Entre as prerrogativas do poder administrativo estão: a capacidade de regulamentar a atividade econômica e social;
a possibilidade de impor restrições e sanções em caso de infrações às normas regulamentares; o direito de
desapropriar bens particulares em benefício do interesse público; e a capacidade de criar e gerir serviços públicos.
Para garantir a legalidade e a legitimidade do exercício do poder administrativo, a legislação portuguesa estabelece
limites e controles, como a obrigatoriedade de observar o princípio da proporcionalidade e a possibilidade de
recurso administrativo e judicial em caso de decisões ilegais ou abusivas.

O poder administrativo em sentido material é o poder que a Administração Pública tem de realizar atividades que
visam atender ao interesse público. Esse poder inclui a capacidade de organizar serviços públicos, fiscalizar
atividades econômicas, impor multas e sanções, entre outras.
O poder administrativo em sentido orgânico diz respeito à estruturação interna da Administração Pública, incluindo
a criação de órgãos, a distribuição de competências e a definição de hierarquias.
O poder administrativo em sentido formal é aquele que decorre da lei e das normas regulamentares, que a
Administração Pública deve observar na realização de suas atividades. Esse poder inclui, por exemplo, o poder de
regulamentar e editar normas, bem como o poder de decidir sobre processos administrativos.
Esses três tipos de poder administrativo estão previstos na legislação portuguesa, em diversos diplomas legais,
como a Lei n.º 27/96, de 1 de agosto (Lei de Bases da Administração Pública), o Código do Procedimento
Administrativo, entre outros.
Em Portugal, o poder administrativo é regido pelo princípio da legalidade, ou seja, a Administração Pública só
pode agir nos termos da lei e dentro dos limites da sua competência.
As principais manifestações do poder administrativo na legislação portuguesa são:
Poder Regulamentar: A Administração Pública tem o poder de criar regulamentos que complementem a lei e
estabeleçam normas para a sua aplicação.
Poder de decisão unilateral: está previsto na Lei n.º 49/99, de 22 de junho, que estabelece o regime jurídico do
procedimento administrativo.
De acordo com essa lei, a administração pública tem o poder de praticar atos unilaterais que produzem efeitos
jurídicos, como a edição de regulamentos, a emissão de ordens ou instruções e a celebração de contratos
administrativos. Esses atos devem ser fundamentados e respeitar os princípios da legalidade, da proporcionalidade,
da justiça e da imparcialidade.
No entanto, a administração pública não pode legislar, ou seja, criar normas jurídicas gerais e abstratas. Esse poder
é exclusivo do Parlamento, que é responsável por aprovar as leis que regem a sociedade.
Assim, embora a administração pública tenha poder de decisão unilateral em algumas áreas, ela está sujeita aos
limites estabelecidos pela legislação e pelo controle do poder judiciário.
Poder de execução coerciva: a administração pública tem o poder de utilizar meios coercivos para garantir o
cumprimento das suas decisões e dos seus atos. Isso significa que, em situações em que uma pessoa ou entidade
não cumpre uma decisão ou um ato da administração pública, esta última pode tomar medidas coercivas para fazer
valer a sua posição.
Essas medidas podem incluir a aplicação de multas, a suspensão de atividades, a realização de obras ou
intervenções forçadas, a apreensão de bens, entre outras. No entanto, o uso de meios coercivos deve ser sempre
proporcional e adequado ao caso em questão, respeitando os direitos fundamentais das pessoas e entidades
envolvidas.
Além disso, é importante destacar que a administração pública não pode agir arbitrariamente no uso da sua
autoridade coerciva. As decisões e atos administrativos devem ser fundamentados e respeitar os princípios da
legalidade, da proporcionalidade, da justiça e da imparcialidade. Em caso de abuso de poder, os interessados podem
recorrer ao poder judiciário para a defesa dos seus direitos.
Conjunto de poderes especiais do contraente publico: os contratos administrativos (artigo 200º e ss do CPA) são
acordos jurídicos estabelecidos entre a administração pública e particulares, com o objetivo de atender aos
interesses coletivos. Nesse sentido, o contratante público possui um conjunto de poderes especiais que lhe
conferem prerrogativas para gerir o contrato de forma mais eficiente e assegurar o cumprimento das obrigações
pactuadas.
Entre os poderes especiais conferidos ao contratante público nos contratos administrativos, destacam-se:
Poder de fiscalização: O contratante público tem o direito de fiscalizar a execução do contrato, podendo determinar
a realização de vistorias e inspeções para verificar o cumprimento das obrigações contratuais.
Poder de rescisão: Em caso de descumprimento do contrato pelo contratado, o contratante público pode rescindir
unilateralmente o acordo, sem a necessidade de recorrer ao Poder Judiciário.
Poder de alteração unilateral: O contratante público pode, em algumas circunstâncias, alterar unilateralmente as
cláusulas do contrato, desde que isso não prejudique os direitos do contratado.
Poder de retenção de pagamento: O contratante público pode reter o pagamento devido ao contratado em caso de
descumprimento das obrigações pactuadas, como forma de garantir o cumprimento do contrato.
Poder de aplicação de sanções: O contratante público pode aplicar sanções ao contratado em caso de
descumprimento das obrigações, tais como multas, suspensão temporária do direito de licitar e impedimento de
contratar com a administração pública.
É importante ressaltar que o exercício desses poderes deve ser realizado com responsabilidade e observância dos
princípios da legalidade, moralidade, eficiência, impessoalidade e publicidade, de modo a assegurar a proteção dos
direitos do contratado e a promoção do interesse público.

Conjunto dos poderes especiais das autoridades de polícia: incluem regulamentos, atos administrativos, sanções
administrativas, poderes de vigilância geral e especial e de modo particular poderes de ação direta: uso da força
publica para prevenir ou fazer cessar a prática de um crime ou para deter os suspeitos de conduta criminosa. A
atuação da força pública consiste sobretudo em operações matérias embora guiadas por normas e princípios
jurídicos.
Poder Hierárquico: A Administração Pública tem a autoridade para supervisionar e controlar as atividades dos seus
subordinados, garantindo que as suas ações estejam de acordo com a lei e com as políticas estabelecidas.
Poder de Expropriação: A Administração Pública pode expropriar bens privados para fins de interesse público,
desde que sejam respeitados os princípios da justa indemnização e da proporcionalidade.
Poder de Contratação Pública: A Administração Pública tem o poder de contratar serviços e bens para a execução
das suas atividades, seguindo os princípios da legalidade, da transparência e da concorrência.
4. Princípios constitucionais sobre o poder administrativo
Em Portugal, os princípios constitucionais que regem o poder administrativo estão estabelecidos na Constituição da
República Portuguesa (CRP). Alguns dos principais princípios são:
Princípio da legalidade: a administração pública deve atuar em estrita observância da lei, respeitando as normas e
os princípios constitucionais e legais que regem a sua atuação.
Princípio da imparcialidade: a administração pública deve agir de forma neutra e objetiva, sem discriminar ou
favorecer qualquer pessoa ou grupo.
Princípio da proporcionalidade: a administração pública deve atuar de forma adequada, necessária e proporcional
aos fins que visa alcançar, evitando excessos ou abusos.
Princípio da eficiência: a administração pública deve agir de forma ágil e eficiente, garantindo a prestação de
serviços públicos de qualidade e com o menor custo possível.
Princípio da transparência: a administração pública deve garantir o acesso à informação e a prestação de contas,
permitindo que os cidadãos possam fiscalizar a sua atuação.
Esses princípios são aplicáveis a todos os órgãos e entidades da administração pública, incluindo os poderes
executivo, legislativo e judiciário. Eles garantem a legalidade e a eficácia da atuação da administração pública, bem
como a proteção dos direitos e interesses dos cidadãos.

Em Portugal, os princípios constitucionais sobre a organização administrativa estão previstos na Constituição da


República Portuguesa (CRP). Alguns dos principais princípios são:

1. Princípio da desburocratização: tem como objetivo simplificar os procedimentos administrativos, reduzindo a


burocracia e tornando o processo mais eficiente e ágil.
A desburocratização da organização administrativa é uma medida importante para garantir a eficiência e a
eficácia da administração pública, uma vez que a burocracia excessiva pode gerar atrasos e dificuldades no
atendimento das demandas da sociedade. Além disso, a simplificação dos procedimentos pode contribuir para
a redução de custos e para o aumento da transparência e da participação social.
Para implementar o princípio da desburocratização da organização administrativa, é necessário realizar uma
revisão dos processos e dos regulamentos administrativos, com o objetivo de eliminar as exigências
desnecessárias e simplificar os procedimentos. Também é importante investir em tecnologia e capacitação dos
servidores públicos, visando tornar os processos mais eficientes e modernos.
2. Princípio da aproximação dos serviços às populações: tem como objetivo garantir que os serviços públicos
sejam prestados de forma mais eficiente e eficaz, atendendo às necessidades e demandas das comunidades de
forma mais próxima e acessível.
Esse princípio tem como objetivo aproximar o Estado das pessoas, por meio da descentralização dos serviços
públicos, levando em consideração as particularidades regionais e locais. Isso implica na criação de unidades
administrativas em diferentes áreas geográficas, de modo a tornar o acesso aos serviços públicos mais fácil e
rápido para a população.
A aproximação dos serviços públicos também tem como finalidade aumentar a eficiência e a eficácia do
Estado, na medida em que a proximidade com as comunidades permite uma melhor identificação das
necessidades locais e a adoção de medidas mais efetivas para atendê-las.
Em resumo, o princípio da aproximação dos serviços às populações é fundamental para a promoção da
cidadania e para o fortalecimento da democracia, na medida em que busca garantir que o Estado esteja mais
próximo e acessível às necessidades das pessoas.

3. Princípio da participação dos interessados na gestão da administração pública: de acordo com o artigo 267º da
CRP, "os cidadãos têm o direito de tomar parte na vida política e na direção dos assuntos públicos do país,
diretamente ou por intermédio de representantes livremente eleitos". Isso significa que os cidadãos têm o
direito de participar na tomada de decisões da administração pública e de influenciar as políticas públicas que
afetam suas vidas.
Além disso, a Lei n.º 26/2016, de 22 de agosto, que regula o regime jurídico da participação procedimental e
da audiência dos interessados na elaboração de normas, prevê que os interessados têm o direito de serem
informados sobre os processos de elaboração de normas e de apresentarem sugestões, observações e propostas.
A legislação portuguesa também prevê a criação de órgãos consultivos para a participação dos interessados na
gestão da administração pública, como os conselhos consultivos e os conselhos de acompanhamento.
Em resumo, o princípio da participação dos interessados na gestão da administração pública é um direito
constitucionalmente garantido em Portugal e é regulado por diversas leis e regulamentos que visam garantir a
efetiva participação dos cidadãos na tomada de decisões públicas.
4. Princípio da descentralização: a administração pública deve ser organizada de forma descentralizada, com a
criação de autarquias locais e regionais, de modo a promover a participação democrática dos cidadãos na
gestão dos assuntos públicos.
5. Princípio da desconcentração: a administração pública deve ser organizada de forma desconcentrada, com a
delegação de competências e a criação de serviços desconcentrados, para permitir uma maior proximidade e
eficácia na prestação dos serviços públicos.
6. Princípio da unidade: a administração pública deve ser organizada de forma unitária, com a coordenação dos
vários serviços e entidades que a compõem, de modo a assegurar a eficácia e a eficiência na sua atuação.
7. Princípio da colaboração: a administração pública deve colaborar com outras entidades públicas e privadas, de
modo a promover uma maior eficácia na realização dos objetivos públicos.
8. Princípio da participação: a administração pública deve assegurar a participação dos cidadãos e das suas
associações na definição das políticas públicas e na tomada de decisões que afetem os seus direitos e
interesses.
Esses princípios têm como objetivo garantir a eficácia, a eficiência e a transparência da organização
administrativa em Portugal, promovendo a participação dos cidadãos na gestão dos assuntos públicos e
garantindo a proteção dos seus direitos e interesses.

As normas constitucionais administrativas para além da sua natureza formal e materialmente constitucional,
integram o direito administrativo material

Princípios constitucionais sobre o poder administrativo como base para o estudo da teoria geral do direito
administrativo português

 Princípio da prossecução do interesse público: O princípio da prossecução do interesse público (artigo 266º
CRP) é uma das bases do Direito Administrativo. Esse princípio estabelece que a Administração Pública deve atuar
sempre visando o interesse público, ou seja, o bem-estar da sociedade como um todo.
Isso significa que a Administração Pública deve buscar o melhor resultado para a coletividade, agindo com
transparência, eficiência e ética. Além disso, a prossecução do interesse público deve prevalecer sobre os interesses
individuais ou de grupos particulares.
Esse princípio é fundamental para a garantia de uma gestão pública responsável e eficiente, que atenda às
necessidades da sociedade e promova o bem comum.
O interesse público primário é aquele relacionado às necessidades e direitos essenciais da sociedade, como a saúde,
segurança, educação e meio ambiente. Ele é considerado prioritário e deve ser sempre buscado pela Administração
Pública.
O interesse público secundário é aquele que se refere a interesses particulares ou coletivos que não são essenciais à
sociedade, como a concessão de uma licença para um empreendimento comercial. Ele pode ser levado em
consideração pela Administração Pública, desde que não prejudique o interesse público primário.
Em resumo, o interesse público primário é aquele que deve ser buscado prioritariamente pela Administração
Pública, enquanto o interesse público secundário pode ser considerado, desde que não prejudique o interesse
público primário.

 Corolários do princípio da prossecução do interesse Público

Primazia do interesse público sobre o interesse privado: O interesse público é sempre priorizado em detrimento do
interesse privado.
Autotutela administrativa: A Administração Pública tem o poder de rever seus próprios atos, podendo anulá-los ou
revogá-los, caso estejam em desacordo com o interesse público.
Discricionariedade administrativa: A Administração Pública tem margem de liberdade para escolher a melhor
decisão em casos em que a lei lhe concede essa autonomia.
Dever de eficiência: A Administração Pública deve agir com eficiência na busca da realização do interesse público,
utilizando os meios disponíveis de forma racional e econômica.
Dever de transparência: A Administração Pública deve agir com transparência em todas as suas atividades,
permitindo o acesso à informação por parte dos cidadãos.
Dever de motivação: A Administração Pública deve justificar suas decisões, explicando os motivos que a levaram a
escolher determinada opção em detrimento de outras possíveis.
Dever de publicidade: A Administração Pública deve divulgar amplamente suas decisões e atos, de forma a garantir
a transparência e a publicidade dos atos administrativos.
Dever de continuidade dos serviços públicos: A Administração Pública deve garantir a continuidade dos serviços
públicos, de forma a atender às necessidades da população de forma ininterrupta.
Dever de proporcionalidade: A Administração Pública deve agir de forma proporcional, escolhendo a medida mais
adequada e equilibrada para a realização do interesse público, sem impor ônus excessivos ou desnecessários aos
particulares.
Dever de boa administração: está previsto na CRP no artigo 81, alínea c) e artigo 5º do CPA, e é uma obrigação que
incumbe a todos os órgãos e entidades da Administração Pública. Esse dever implica o cumprimento de uma série
de princípios e regras que visam garantir a transparência, eficiência, eficácia e legalidade na atuação da
Administração Pública.
Entre os princípios que regem a boa administração estão a prossecução do interesse público, a igualdade, a
imparcialidade, a transparência, a responsabilidade, a proporcionalidade e a justiça. A administração pública
portuguesa deve agir de forma ética e com respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos.
Para garantir a efetivação desses princípios, a administração pública deve seguir um conjunto de normas e
procedimentos, como o cumprimento das leis e regulamentos aplicáveis, a adoção de processos de decisão claros e
fundamentados, a garantia do acesso à informação e a prestação de contas.
Em resumo, a boa administração no poder administrativo português significa a gestão responsável e eficiente dos
recursos públicos, respeitando os princípios éticos e legais, e garantindo a prestação de serviços públicos de
qualidade aos cidadãos.
Os tribunais apenas se pronunciam sobre a legalidade e não sobre o mérito das decisões administrativas

O dever de boa administração no poder administrativo português é um dever jurídico porque?


Sim, o dever de boa administração no poder administrativo português é um dever jurídico. Isso significa que é uma
obrigação legal imposta aos órgãos e entidades da Administração Pública, prevista na Constituição da República
Portuguesa e em outras normas legais.
A Constituição estabelece, no seu artigo 266º, que a Administração Pública deve obedecer ao princípio da
legalidade, o que significa que as suas ações devem estar sempre de acordo com a lei. Além disso, a própria
Constituição determina que a Administração Pública deve pautar-se pelos princípios da prossecução do interesse
público, da igualdade, da imparcialidade, da transparência, da responsabilidade, da proporcionalidade e da justiça.
Outras normas legais, como o Código do Procedimento Administrativo e outras leis setoriais, também estabelecem
procedimentos e regras que a Administração Pública deve cumprir na sua atuação.
Dessa forma, o dever de boa administração é um dever jurídico porque decorre da lei e é passível de ser exigido
perante os tribunais, pelos cidadãos ou outras entidades que se sintam lesadas ou prejudicadas pela atuação da
Administração Pública.

o Existem impugnações administrativas, artigo 185º, nº 3 do CPA (reclamações e recursos) que são garantias dos
particulares, as quais podem ter como fundamento vícios de mérito do ato administrativo.
o A violação por qualquer funcionário Público dos chamados deveres de zelo e aplicação constitui infração
disciplinar e leva à imposição de sanções disciplinares ao funcionário responsável. Quando a ordem implica a
prática de um crime é a única exceção ao dever de obediência. K
o No caso de um órgão ou agente administrativo praticar um ato ilícito e culposo de que resultam prejuízos para
terceiros, o grau de diligência e zelo por parte do órgão ou agente contribuem para a medida da sua culpa ou da AP
e, consequentemente, dos termos e limites da responsabilidade.

 Princípio da legalidade: O princípio da legalidade é um dos princípios fundamentais, e está previsto na CRP no
artigo 266º, nº2. De acordo com esse princípio, toda a atividade da administração pública deve estar subordinada à
lei, ou seja, os órgãos administrativos só podem agir nos limites das competências que lhes são atribuídas pela lei e
de acordo com as formalidades e procedimentos previstos.
Além disso, o princípio da legalidade exige que a administração pública respeite os direitos e interesses legítimos
dos cidadãos e demais entidades e que as suas decisões e atos estejam fundamentados na lei e nos princípios gerais
do direito. Esse princípio é um dos pilares do Estado de Direito e é fundamental para garantir a segurança jurídica e
a proteção dos direitos fundamentais.
Assim, qualquer ato administrativo que não esteja de acordo com a lei ou que viole os direitos dos cidadãos pode
ser impugnado judicialmente pelos interessados, como forma de proteger a legalidade e a justiça. Em resumo, o
princípio da legalidade é uma importante garantia do Estado de Direito em Portugal, assegurando que a
administração pública atue sempre dentro dos limites da lei e em respeito aos direitos fundamentais dos cidadãos.

 Princípio do respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos particulares


O princípio do respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos particulares é um dos princípios
fundamentais do Direito Administrativo artigo 266º, nº1 CRP e artigo 4º CPA). Esse princípio estabelece que a
administração pública deve atuar de forma a respeitar os direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos e
outras entidades, inclusive as empresas e organizações.
Isso significa que a administração pública deve respeitar os direitos fundamentais previstos na Constituição, bem
como os direitos e interesses protegidos por outras leis, como, por exemplo, as leis que regulam as relações entre
particulares e a administração pública, o direito do consumidor, o direito ambiental, entre outras.
Dessa forma, a administração pública deve atuar com cautela e prudência, garantindo que as suas decisões e atos
respeitem os direitos e interesses legalmente protegidos dos particulares. Além disso, caso haja alguma dúvida ou
conflito sobre a interpretação das leis e normas aplicáveis, a administração pública deve buscar orientação junto aos
órgãos responsáveis pela interpretação e aplicação das normas em questão.
Em resumo, o princípio do respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos particulares é fundamental
para garantir a proteção dos direitos fundamentais e a justiça nas relações entre particulares e a administração
pública.

 Poder discricionário da AP e figuras afins (as margens da decisão administrativa): é a margem de liberdade de
decisão que a administração possui para escolher, dentro dos limites legais, a melhor solução para um caso
concreto. Em outras palavras, é a margem de decisão que a administração tem para escolher a melhor forma de
atuar, sem estar rigidamente vinculada por uma norma específica.
Esse poder discricionário é necessário para que a administração possa atuar de forma mais flexível e adaptada às
circunstâncias concretas de cada caso, garantindo a efetividade e a adequação das suas ações. No entanto, o poder
discricionário deve ser exercido com cautela e respeitando os princípios da legalidade, da finalidade, da
proporcionalidade, da razoabilidade, da motivação e da transparência.
Além do poder discricionário, a administração pública pode utilizar outras figuras afins, como a margem de
apreciação e a teoria da deferência administrativa. A margem de apreciação é a margem de liberdade que a
administração possui para avaliar e interpretar fatos ou elementos jurídicos relevantes em um caso concreto. Já a
teoria da deferência administrativa estabelece que os tribunais devem ser cautelosos ao revisar as decisões da
administração pública, respeitando a margem de liberdade de decisão que a administração possui para escolher a
melhor solução.
Em resumo, o poder discricionário da administração pública é uma margem de liberdade de decisão que a
administração possui para escolher a melhor solução para um caso concreto, dentro dos limites legais. Além disso,
a administração pública pode utilizar outras figuras afins, como a margem de apreciação e a teoria da deferência
administrativa, para garantir a efetividade e a adequação das suas ações.

 Princípio da justiça (sentido amplo): pode ser entendido de maneira ampla como um conjunto de princípios e
regras que orientam a atuação da Administração Pública no exercício de suas funções. Alguns dos aspetos mais
relevantes desse princípio incluem:
Legalidade: a Administração Pública deve agir sempre em conformidade com a lei, seguindo procedimentos
estabelecidos e respeitando os direitos e garantias dos cidadãos.
Imparcialidade: a Administração Pública deve tratar todos os cidadãos de forma igual, sem qualquer tipo de
discriminação, privilegiando apenas critérios objetivos e relevantes.
Transparência: a Administração Pública deve garantir o acesso dos cidadãos às informações relativas às suas
decisões e atividades, possibilitando o controle social e a fiscalização.
Eficiência: a Administração Pública deve buscar a otimização dos recursos disponíveis, visando a alcançar seus
objetivos de forma eficaz e econômica.
Proporcionalidade: a Administração Pública deve agir de forma equilibrada e razoável, adequando suas decisões e
medidas às circunstâncias concretas de cada caso.
Em resumo, o princípio da justiça no poder administrativo em Portugal busca assegurar que a Administração
Pública atue de forma ética, responsável e eficiente, respeitando os direitos e interesses dos cidadãos e promovendo
o bem comum.

 Princípio da igualdade: é um princípio fundamental que se relaciona diretamente com a proteção dos direitos dos
cidadãos e a promoção do bem comum. Esse princípio pode ser entendido como a obrigação da Administração
Pública de tratar todos os cidadãos de forma igual, sem qualquer tipo de discriminação ou preferência.
Entre os aspectos mais relevantes do princípio da igualdade no poder administrativo em Portugal, destacam-se os
seguintes:
Proibição de discriminação: a Administração Pública não pode discriminar os cidadãos em razão de sua origem,
raça, sexo, orientação sexual, idade, religião, entre outros fatores.
Igualdade de oportunidades: a Administração Pública deve garantir a igualdade de oportunidades a todos os
cidadãos, assegurando-lhes acesso às mesmas condições de trabalho, educação, saúde, entre outros direitos.
Tratamento equitativo: a Administração Pública deve tratar todos os cidadãos de forma equitativa, levando em
conta as suas necessidades e particularidades.
Respeito aos direitos fundamentais: a Administração Pública deve respeitar os direitos fundamentais dos cidadãos,
como a liberdade, a igualdade, a dignidade da pessoa humana, entre outros.
Em resumo, o princípio da igualdade no poder administrativo em Portugal é fundamental para garantir a proteção
dos direitos dos cidadãos e promover a justiça social. A Administração Pública deve agir de forma imparcial e
equitativa, assegurando que todos os cidadãos tenham acesso aos mesmos direitos e oportunidades,
independentemente de suas características pessoais.

 Princípio da proporcionalidade Princípio da justiça (sentido amplo): é um dos aspectos mais relevantes do princípio
da justiça no poder administrativo em Portugal. Esse princípio estabelece que as decisões e medidas adotadas pela
Administração Pública devem ser proporcionais aos fins que se pretende alcançar, ou seja, devem ser adequadas,
necessárias e razoáveis.
Para aplicar o princípio da proporcionalidade, a Administração Pública deve seguir alguns critérios, como:
Adequação: a medida adotada deve ser apropriada para alcançar o objetivo pretendido, ou seja, deve ser capaz de
produzir os resultados desejados.
Necessidade: a medida adotada deve ser necessária para alcançar o objetivo pretendido, ou seja, não deve haver
outra medida menos restritiva que possa ser adotada.
Proporcionalidade em sentido estrito: a medida adotada deve ser proporcional ao grau de lesão ou risco de lesão
aos bens jurídicos protegidos, ou seja, não pode haver um sacrifício excessivo dos direitos dos cidadãos em relação
ao benefício que se pretende alcançar.
O princípio da proporcionalidade é especialmente importante em situações em que a Administração Pública precisa
tomar medidas restritivas ou limitar direitos dos cidadãos, como no caso de restrições à liberdade de expressão, de
reunião ou de circulação. Nesses casos, é fundamental que a medida adotada seja necessária e adequada, e que não
haja um sacrifício excessivo dos direitos dos cidadãos.
Em resumo, o princípio da proporcionalidade é um importante aspecto do princípio da justiça no poder
administrativo em Portugal, que busca assegurar que as decisões e medidas adotadas pela Administração Pública
sejam adequadas, necessárias e razoáveis, respeitando os direitos e garantias dos cidadãos e promovendo o bem
comum.

 princípio da boa-fé: O princípio da boa-fé é um princípio geral do direito que se aplica também ao poder
administrativo em Portugal. De acordo com este princípio, a administração pública deve agir de boa-fé, de forma
leal, honesta e transparente, tanto no que diz respeito às suas relações com os cidadãos como nas suas relações com
outras entidades públicas.
O princípio da boa-fé implica que a administração pública deve atuar com diligência e eficiência, procurando
sempre o interesse público e respeitando os direitos e interesses legítimos dos cidadãos. Este princípio é também
um elemento importante no estabelecimento de uma relação de confiança entre a administração pública e os
cidadãos, sendo essencial para garantir a legitimidade e a eficácia da ação administrativa.
Assim, o princípio da boa-fé é um princípio fundamental do poder administrativo em Portugal, que deve ser
respeitado em todas as suas atividades e decisões.
 Princípio da justiça (sentido restrito): este princípio implica que a administração pública deve agir de acordo com
os princípios da equidade, da imparcialidade e da igualdade, garantindo que todas as pessoas são tratadas de forma
justa e que os seus direitos são respeitados.
No âmbito do poder administrativo, o princípio da justiça implica que a administração pública deve agir com
imparcialidade e evitar qualquer tipo de discriminação ou favorecimento indevido. Além disso, a administração
pública deve garantir que as decisões tomadas sejam baseadas em critérios objetivos e razoáveis, de forma a
assegurar que os interesses das pessoas são protegidos.
Por exemplo, no caso de um processo administrativo que envolve a concessão de uma licença, o princípio da
justiça implica que a administração pública deve avaliar os pedidos de forma objetiva e imparcial, sem favorecer ou
discriminar nenhum dos requerentes. A decisão final deve ser tomada com base em critérios claros e razoáveis,
garantindo que a decisão é justa para todas as partes envolvidas.
Em resumo, o princípio da justiça, no sentido restrito, é essencial para garantir que a administração pública em
Portugal age de forma justa, equitativa e imparcial, respeitando os direitos e interesses legítimos dos cidadãos.

 Princípio da imparcialidade: é um dos princípios fundamentais do poder administrativo em Portugal. Este princípio
implica que a administração pública deve tomar decisões de forma objetiva e sem influência de interesses
particulares ou políticos, garantindo assim que os interesses públicos são protegidos e que os cidadãos são tratados
de forma justa e equitativa.
A imparcialidade é um elemento essencial da administração pública, pois permite que a administração tome
decisões de forma justa e sem qualquer tipo de discriminação ou favorecimento indevido. Além disso, a
imparcialidade é também um elemento importante para a legitimidade da administração pública e para a confiança
que os cidadãos depositam nela.
Assim, o princípio da imparcialidade implica que a administração pública deve agir de forma neutra e objetiva, sem
tomar partido em questões controversas ou ser influenciada por interesses externos. Isto significa que a
administração pública deve avaliar todos os factos relevantes, considerar todos os pontos de vista e tomar decisões
baseadas em critérios objetivos e razoáveis.
Por exemplo, no caso de uma decisão administrativa que envolve a concessão de uma licença ou a atribuição de um
contrato público, a administração pública deve avaliar todos os pedidos de forma objetiva, sem favorecer ou
discriminar nenhum dos candidatos. A decisão final deve ser tomada com base em critérios claros e razoáveis,
garantindo que a decisão é justa para todas as partes envolvidas.
Em resumo, o princípio da imparcialidade é essencial para garantir que a administração pública em Portugal age de
forma justa, neutra e sem qualquer tipo de influência indevida, protegendo assim os interesses públicos e
respeitando os direitos e interesses legítimos dos cidadãos.

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