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Conceito
Trata-se de um conjunto de atividades cuja satisfação é assumida como tarefa fundamental
para toda a coletividade, através de serviços por esta organizados e mantidos. Cumpre
referir que toda a atividade dos tribunais pertence ao poder judicial E neste sentido
encontra-se fora da esfera da administração pública.
Podemos assim falar em administração pública em 2 sentidos. Primeiramente em sentido
orgânico que se traduz no facto de ela ser constituída num conjunto de órgãos e serviços e
agentes do estado e outras entidades públicas que asseguram em nome da coletividade a
satisfação regular e disciplinada das necessidades coletivas de segurança e bem-estar.
Podemos também falar então num outro sentido de administração pública que é o sentido
material ou funcional e aqui ela pode ser definida como a atividade típica dos serviços e
agentes administrativos num interesse geral da comunidade com vista a satisfação regular
das necessidades coletivas.
Sistemas Administrativos
Com a revolução francesa houve uma alteração deste paradigma, a Administração Pública
passou a estar vinculada a normas obrigatórias subordinadas ao direito. Foi uma
consequência da separação de poderes. Como resultado desta alteração toda a atividade
administrativa pública passou a revestir caracter juridico, estando assim submetida a
controlo judicial assumindo os cidadãos a titularidade de direitos face á administração.
Estas características do sistema administrativo tipo francês também se poderá designar por
sistema de administração executiva atendendo á autonomia reconhecida ao poder
executivo relativamente aos tribunais.
Ciências Auxiliares
A Ciência do Direito Administrativo, que tem por objeto as normas jurídicas administrativas,
e utiliza como método, o método próprio da ciência do Direito. Assim,
usa algumas disciplinas auxiliares como métodos diferentes do método jurídico. Existem
dois tipos de grupos de ciências auxiliares: primeiro o grupo das disciplinas não jurídicas: e
aí, temos a ciência da Administração, a Ciência Política, a Ciência das Finanças e a História
da Administração Pública.
Quanto às ciências auxiliares de natureza jurídica, temos o Direito Constitucional, o Direito
Financeiro, a História do Direito Administrativo, e o Direito Administrativo Comparado.
A ciência da Administração
A Ciência do Direito Administrativo, não se confunde com a ciência da administração, que
não é uma ciência jurídica, mas sim uma ciência social que tem por objeto o estudo dos
problemas específicos das organizações públicas que resultam da dependência destas tanto
quanto à sua existência, como quanto à sua capacidade de decisão.
O Poder Administrativo
A Administração Pública é um poder, fazendo parte daquilo a que se costuma chamar os
poderes públicos. A Administração Pública do Estado corresponde ao poder executivo, isto
é, o poder legislativo e o poder judicial não coincidem com a Administração Pública. Este
poder administrativo compreende por um lado o poder executivo do Estado e por outro
lado as entidades públicas administrativas não estaduais. Na verdade, a Administração
Pública é, efetivamente, uma autoridade, um poder público que corresponde ao Poder
Administrativo.
Observação
Com efeito, os critérios das decisões administrativas podem ser políticos, jurídicos, técnicos,
morais, financeiros, etc, isto é, nem todo o critério que não seja jurídico é necessariamente
um critério político, pelo que se conclui, que o campo da discricionariedade propriamente
dita, embora cada vez mais reduzido, nos dias de hoje, não se confina, todavia, aos casos em
que o critério da decisão administrativa seja um critério político, e muito menos àqueles em
que não seja um critério jurídico. Entende-se assim o essencial do poder discricionário da
Administração consiste na liberdade de escolha do poder entre as várias soluções possíveis
à face da lei.
Nota: as expressões pessoa coletiva ou pessoa coletiva de direito público são equivalentes,
cabe sublinhar a enorme importância das pessoas coletivas públicas e da sua análise em
direito administrativo. Ao fazer-se a distinção entre pessoas coletivas públicas e pessoas
coletivas privadas na relação juridico- administrativas, um dos sujeitos é em regra uma
pessoa coletiva, assim, não se pode dizer que as pessoas coletivas atuam sempre sob o
primado do Direito Público e as de Direito Privado atuam sobre o primado do direito
privado.
Regime Juridico
O regime jurídico das pessoas coletivas públicas não é um regime uniforme, ou seja, não é
igual para todas elas pois vai depender da legislação aplicável, isto é, no caso das autarquias
locais, todas as espécies deste género têm o mesmo regime, que se encontra definido
basicamente na Constituição, na Lei das Autarquias Locais e na Legislação própria. Mas já
quanto aos institutos públicos e associações públicas, o regime varia muitas de entidade
para entidade, conforme a respetiva lei orgânica.
Considerando assim diversos diplomas que regulam as pessoas coletivas públicas, podemos
concluir que os aspetos predominantes do seu regime são os seguintes:
A. Criação e extinção são criadas por ato do poder central, contudo, há casos de criação
por iniciativa pública local. Porém, elas não se podem extinguir a si próprias,
contrariamente ao que acontece com as pessoas coletivas privadas, uma pessoa
coletiva pública não pode ser extinta por iniciativa dos respetivos credores só por
uma decisão pública;
B. Capacidade jurídica de Direito Privado e património próprio, todas as pessoas
coletivas públicas possuem estas características, cuja a importância se salienta no
desenvolvimento de atividade de gestão privada.
C. Capacidade de Direito Público, as pessoas coletivas públicas são titulares de poderes
e deveres públicos sendo que alguns deles, assumem especial relevância os poderes
de autoridade, e aqueles que denotam supremacia das pessoas coletivas públicas
sobre os particulares, nomeadamente, isto traduz-se no direito que essas pessoas
têm de definir a sua própria conduta alheia em termos obrigatórios para terceiros,
independentemente da vontade destes, o que não acontece com as pessoas coletivas
privadas.
D. Autonomia administrativa e financeira, as pessoas coletivas públicas dispõem de
autonomia administrativa e financeira.
E. Isenções fiscais todas as pessoas coletivas públicas dispõem de isenções fiscais.
F. Direito de celebrar contratos administrativos em regra as pessoas coletivas de
direito privado não possuem, o direito de celebrar contratos administrativos com
particulares.
G. Bens do domínio público, as pessoas coletivas podem ser titulares do domínio
público na precursão do direito público e não apenas de bens domínio privado.
H. Funcionários públicos, os funcionários públicos estão submetidos em regra ao
regime da função pública, e não ao do contracto individual de trabalho. Por sua vez,
algumas empresas públicas constituem exceção a este princípio.
I. Sujeição a um regime administrativo de responsabilidade civil, isto é, pelos
prejuízos que podem causar a outrem, pelo que as pessoas coletivas públicas
respondem nos termos da legislação própria do Direito Administrativo, e não nos
termos da responsabilidade regulada pelo Código Civil.
J. Sujeição à fiscalização do Tribunal de Contas, as contas das pessoas coletivas
públicas estão sempre sujeitas à fiscalização do Tribunal de Contas.
K. Foro administrativo, todas as questões do litigio que surjam da atividade destas
pessoas coletivas pertencem aos Tribunais administrativo, e não aos Judiciais.
Classificação dos órgãos
Órgãos singulares e colegiais: são órgãos singulares aqueles que tem apenas um
titular e são órgãos colegiais os órgãos compostos de dois ou mais titulares.
Atualmente, qualquer órgão colegial deve ser composto no mínimo por três titulares
e deve em regra ser composto por número impar de membros.
Órgãos centrais e locais: são órgãos “centrais” aqueles que têm competência sobre
todo o território nacional, assim são órgãos “locais” os que têm a sua competência
limitada a uma parcela do território nacional.
Órgãos primários, secundários e vicários: órgãos “primários” são aqueles que
dispõem de uma competência própria para dizer as matérias que lhes estão
confiadas; órgãos “secundários” são os que apenas dispõem de uma competência
delegada e órgãos “vicários” são aqueles que só exercem competência por
substituição de outros órgãos.
Órgãos representativos e não representativos: órgãos representativos são aqueles
cujos titulares são livremente designados por eleição. Os restantes são órgãos não
representativos.
Órgãos ativos, consultivos e de controle: órgãos “ativos” são aqueles a quem
compete tomar decisões ou executá-las. Órgãos “consultivos” são aquela cuja função
é esclarecer os órgãos ativos antes de estes tomarem uma decisão, nomeadamente
através da emissão de pareceres. Órgãos “de controle” são aqueles que têm por
missão fiscalizar a regularidade do funcionamento de outros órgãos.
Órgãos decisórios e executivo: os órgãos ativos, podem ainda subdividir-se em
órgãos decisórios e executivos. São órgãos “decisórios” aqueles a quem compete
tomar decisões. Os órgãos “executivos” são aqueles a quem compete por natureza
tomar essas decisões, isto é, pô-las em prática. Dentro dos órgãos decisórios,
costuma-se dar a designação de órgãos “deliberativos” aos que tenham carácter
geral.
Órgãos permanentes e temporários: são órgãos “permanentes” aqueles que segundo
a lei têm duração indefinida e são órgãos “temporários” os que são criados apenas
para atuar um certo período.
Órgãos simples e órgãos complexos: os órgãos “simples” são aqueles cuja a estrutura
é unitária, os órgãos singulares e os órgãos colegiais estão aqui incluídos sempre
que os seus titulares atuem nessa competência. Os órgãos “complexos” são aquela
cuja estrutura é diferenciada, isto é, são constituídos por titulares que exercem
também competências próprias a título individual e são em regra auxiliados por
adjuntos, delegados e substitutos.
As atribuições e competências
Os fins das pessoas coletivas públicas designam-se por “atribuições”. As atribuições são
assim, os fins e os interesses que a lei incumbe a essas pessoas coletivas públicas.
“Competências” são um conjunto de poderes funcionais que a lei confere para a prossecução
das atribuições das pessoas coletivas públicas. Qualquer órgão da Administração, ao agir,
deparasse com uma dupla limitação: por um lado, está limitado pela sua própria
competência não podendo, nomeadamente, invadir a esfera de competência dos outros
órgãos da mesma pessoa coletiva e, por outro lado, está limitado pelas atribuições da pessoa
coletiva em cujo o nome atua não podendo, designadamente, praticar quaisquer atos sobre
matérias estranhas às atribuições da pessoa coletiva a que pertence.
Todos os atos praticados fora das atribuições são atos nulos, praticados apenas fora da
competência do órgão que os pratica são atos anuláveis.
Da competência em especial
O primeiro princípio que cumpre sublinhar desde já é o de que a competência só pode ser
conferida, delimitada ou retirada pela lei, isto é, é sempre a lei que fixa a competência dos
órgãos da Administração Pública. É também o princípio da legalidade da competência,
expresso, pela ideia de que a competência é de ordem pública (artigo 36 e 37 do CPA).
Neste princípio decorrem alguns elementos relevantes:
A competência não se presume na medida em que só há competência quando a lei a
confere a um determinado órgão.
A competência é imodificável, ou seja, nem a Administração nem os particulares
podem alterar o conteúdo ou a repartição das competências estabelecidas por lei.
A competência é irrenunciável e inalienável: os órgãos administrativos não podem
em caso algum praticar atos pelos quais renunciem os seus poderes ou os
transmitam para outros órgãos da Administração ou para entidades privadas. Esta
regra impede que possa haver hipóteses de transferência do exercício das
competências designadamente, situações de delegação de poderes.
Espécies de competência
Quanto ao modo de atribuição da competência: segundo este critério a competência
pode ser explicita ou implícita. Diz-se que a competência é explicita quando a lei a
confere de forma clara e inequívoca, diz se que a competência é implícita quando é
deduzida apenas de outras determinações legais ou de certos principios gerais de
direito;
Quanto as formas de exercício da competência: a competência pode ser
condicionada ou livre conforme o seu exercício esteja ou não dependente de
limitações especificas impostas por lei ou ao abrigo de alguma norma legal;
Quanto aos termos de exercício da competência e assim fala-se de competência
dispositiva e em competência revogatória. A competência dispositiva é o poder de
emanar um determinado ato administrativo sobre uma determinada matéria.
Enquanto que a competência revogatória consiste no poder de revogar esse
primeiro ato com ou sem possibilidade de o substituir por outro ato.
Quanto à titularidade dos poderes exercidos: se os poderes exercidos por um órgão
da administração são poderes cujo a titularidade pertence a esse mesmo órgão
estaremos face a uma competência própria, se por outro lado esse órgão exerce nos
termos da lei parte da competência de outro órgão cujo exercício lhe foi transmitido
por delegação de poderes, podemos dizer que estamos face a uma competência
delegada ou consequência conseguida;
Quanto ao número de órgãos a que a competência pertence e assim se a competência
pertencer a um único órgão estaremos face a uma competência singular, por sua vez
a competência conjunta é aquela que é exercida por dois ou mais órgãos distintos;
Quanto à inserção da competência nas relações inter-orgânicas: a competência pode
ser dependente ou independente e isto em conformidade se o órgão titular estiver
ou não integrado numa hierarquia e por consequência se acha ou não sujeito a um
poder de direção de outro órgão e ao correspondente dever de obediência. Ainda
dentro da competência dependente podemos dividi-la nos casos em que existe
competência comum e competência própria e assim existirá competência comum
quando tanto o superior hierárquico como o subalterne podem tomar decisões
sobre um mesmo assunto. Diz se que há competência própria quando um poder de
praticar um certo ato administrativo é atribuído diretamente por lei ao órgão
subalterne, portanto vai adquirir uma competência própria.
Por fim, existe também nos órgãos da administração publica a competência objetiva
e subjetiva e assim ela consiste num conjunto de poderes funcionais para decidir
sobre certas matérias e quando se fala em competência subjetiva queremos dizer
que é sempre dada a indicação de um determinado órgão sobre a forma como irá
exercer essa competência (artigo 112/8 da CRP).
Serviços Públicos
Os serviços públicos constituem as células que compõe internamente as pessoas coletivas
públicas. A pessoa coletiva pública é um sujeito de Direito que estabelece relações juridicas
com outros sujeitos de direito. Por fim, podemos definir o serviço público como uma
organização que se encontra situada no interior da pessoa coletiva pública e dirigida pelos
respetivos órgãos, desenvolve atividades de que ela carece para prosseguir os seus fins.
Conceitos
São organizações humanas no seio de cada pessoa coletiva pública cujo fim é desempenhar
as atribuições destas.
Os serviços públicos são estruturas administrativas acionadas por indivíduos que
trabalham ao serviço de uma certa entidade pública;
Os serviços públicos existem no seio de cada pessoa coletiva pública, portanto não
estão fora dela, mas são as células que as integram;
Os serviços públicos são criados para desempenhar as funções de uma determinada
pessoa coletiva, por sua vez os serviços públicos estão sob a direção dos órgãos das
pessoas coletivas.
Os serviços públicos desenvolvem no seu âmbito de atuação quer numa fase
preparatório quer na fase que segue à manifestação da vontade, cumprem e fazem
cumprir aquilo que tiver sido determinado pelo que os serviços públicos são
organizações que levam a cabo as tarefas de preparação e execução dos órgãos das
pessoas coletivas e isto a par do desempenho das tarefas por inerência que lhes são
próprias, com vista à prossecução das atividades das atribuições das pessoas
coletivas a que lhes pertencem.
Regime Juridico
Existem alguns principios fundamentais que caracterizam o regime juridico dos serviços
públicos:
a) O serviço releva sempre de uma pessoa coletiva pública. Qualquer serviço publico
está sempre na dependência de um órgão da Administração, que sobre ele exerce o
poder de direção e a cujas ordens e instruções o serviço público deve obediência.
b) O serviço público está sempre vinculado à prossecução do interesse público.
c) Compete à lei criar ou extinguir serviços públicos: qualquer serviço público, seja
ministério, direção geral ou outro, só por lei pode ser criado ou extinto;
d) A organização interna dos serviços públicos tem de obedecer sempre a uma matéria
regulamentar;
e) O regime de organização e funcionamento de qualquer serviço público é
modificável;
f) A continuidade dos serviços públicos deve ser mantida, pelo que deve ser
assegurado o funcionamento dos serviços públicos ainda que para tanto seja
necessário empregar outros meios civis;
g) Os servos públicos devem tratar e servir todos os particulares em pé de igualdade;
h) A utilização dos serviços públicos pelos particulares em principio pelo direito
administrativo onerosa. Os utentes deverão pagar uma caixa como contrapartida do
serviço que têm, contudo existem serviços que a lei declara gratuito, na medida que
os serviços públicos não devem ter fins lucrativos;
i) Os serviços públicos podem gozar de exclusividade ou atuar em concorrência tudo
depende do que resultar da lei (artigo 87/3 da CRP);
j) Os serviços públicos podem atuar de acordo com o Direito Público ou com o Direito
Privado. A regra geral, em Portuga, é que os serviços públicos atuam
predominantemente segundo o direito público, exceto quando se encontrem
integrados em empresas públicas em que poderão agir simultaneamente em acordo
com o direito privado;
k) Os utentes dos serviços públicos ficam sujeitos a regras que os colocam numa
situação juridica especial. Os utentes dos serviços públicos encontram se
submetidos a uma forma particular de subordinação aos órgãos e agentes
administrativos que tem em vista criar e manter as melhores condições de
organização e funcionamento dos serviços e que se traduz no dever de obediência
relativamente a vários poderes de autoridade.
Espécies de hierarquias
A principal distinção de modalidades da hierarquia é a que distingue entre a hierarquia
interna da hierarquia externa.
A hierarquia interna corresponde a um modelo de organização que tem por âmbito natural
o serviço público. Esta hierarquia consiste num modelo em que se considera a estrutura
vertical como diretriz, de forma a estabelecer a organização das atividades em que cujo o
serviço se traduz. A hierarquia interna corresponde por norma a uma hierarquia de agentes,
ou seja, não está em causa necessariamente o exercício da competência de uma pessoa
coletiva pública, mas antes o desempenho regular das tarefas de um serviço público na
prossecução de atividades e não tanto na pratica de atos jurídicos. A hierarquia interna é
um modelo vertical da organização que assenta na diferenciação entre superiores
hierárquicos e subalternos.
Por sua vez, a hierarquia externa vem estabelecer o ordenamento dos poderes jurídicos em
que a competência consiste, trata-se de uma hierarquia de órgãos pelo que os vínculos de
superioridade e subordinação se estabelecem entre os órgãos da administração o que se
encontra em causa é a repartição das competências entre aqueles a quem está confiado o
poder de tomar a decisão e que age em nome da pessoa coletiva.
O dever de obediência
O dever de obediência consiste na obrigação de o subalterno cumprir as ordens e instruções
dos seus legítimos superiores hierárquicos, dadas em razão do serviço e sob a forma legal.
Resultam alguns requisitos deste dever:
a) Que a ordem ou as instruções provenham de legítimo superior hierárquico do subalterno
em causa;
b) Que essas ordens ou as instruções sejam dadas em matéria de serviços;
c) Que ordem ou as instruções revistam a forma legalmente prescrita.
Não existe dever de obediência quando, por qualquer comando seja dado por quem não seja
por quem não legítimo superior hierárquico do subalterno hierárquico por não ser órgão
da Administração, ou por não pertencer à cadeia hierárquica em que o subalterno está
inserido. Sempre que uma ordem diga respeito a um assunto da vida particular do superior
ou do subalterno ou quando por sua vez tenha sido dado verbalmente sendo que a lei previa
a forma escrita. Para a linha hierárquica, e existe sempre o dever de obediência, não
assistindo ao subalterno o dever de questionar ou por em casa essa ordem ou instrução.
Contudo, cabe ressalvar que parte da doutrina defende que não existe dever de obediência
relativamente a ordens consideradas ilegais.
Casos em que não há dever de obediência:
Assim sendo, não há dever de obediência senão em relação as ordens ou instruções
emanadas do legitimo superior hierárquico em relação dos serviços que sejam dadas sob a
forma legal (artigo 271/2 da CRP).
Por outro lado, não há dever de obediência sempre que o cumprimento de ordens ou
instruções impliquem pratica de qualquer crime como resulta o artigo 271/3 da CRP, ou
ainda quando sejam provenientes de um ato nulo.
Casos em que há dever de obediência:
Todas as restantes ordens ou instruções, isto é, dadas por um superior hierárquico legitimo
que não impliquem a pratica de um crime ou proceda de um ato nulo, devem ser cumpridas
pelo subalterno.
Contudo, se forem dadas ordens ou instruções ilegais, o funcionário ou agente que lhes der
cumprimento só ficará excluído da responsabilidade pelas consequências da execução dessa
ordem ou instrução previamente delas tiver reclamado ou tiver exigido a confirmação delas
por escrito, devendo fazer expressa menção de que considera ilegais ou ilegítimas, por sua
vez a execução da ordem pode ser demorada sem prejuízo do interesse público, neste caso
o funcionário ou agente pode legitimamente retardar a execução até receber a resposta do
superior sem que por esse motivo incorra em desobediência. Por outro lado, a demora na
execução da ordem pode causar prejuízo ao interesse público e neste caso ou funcionário
ou agente subalterno deve comunicar logo por escrito ao seu imediato superior hierárquico
os termos exatos da ordem recebida e do pedido formulado, bem como a não satisfação
deste, e logo a seguir poderá executar a ordem, sem que por esse motivo possa ser
responsabilizado.
As leis ordinárias que imponham o dever de obediência a ordens ilegais só serão legitimas
se, e na medida em que, puderem ser consideradas conformes à Constituição (266/2 da
CRP) em que se exige a exigência da subordinação dos órgãos e agentes administrativos à
lei – principio da legalidade existindo um preceito constitucional que expressamente
legitima o dever de obediência a ordens ilegais desde que não impliquem a pratica de um
crime (272/3 CRP). O dever de obediência a ordens ou instruções ilegais é de facto uma
exceção ao principio da legalidade sendo uma exceção que é legitimada pela própria
constituição, o que não significa, que exista uma especial legalidade interna na medida em
que uma ordem ilegal é sempre uma ordem ilegal que poderá responsabilizar o seu autor e
eventualmente também a própria administração.
Delegação de poderes
Por vezes sucede, que a lei atribuindo a um órgão a competência normal para a prática de
determinados atos, permite, no entanto, que esse órgão delegue noutro parte dessa
competência (artigo 44 do CPA). A delegação de poderes é um instrumento de difusão do
poder de decisão de uma organização pública que repousa na iniciativa dos órgãos
superiores desta. Do ponto de vista do direito administrativo a delegação de poderes é o ato
pelo qual um órgão da administração normalmente competente para decidir determinada
matéria permite de acordo com a lei que outro órgão ou agente pratiquem sobre atos
administrativos sobre a mesma matéria. São três os requisitos para que exista delegação de
poderes:
É necessário que uma lei preveja expressamente a faculdade de um órgão delegar
poderes noutro, é chamada lei de habilitação, isto porque, a competência é
irrenunciável e inalienável, o que só pode haver delegação de poderes com base na
lei (artigo 111/2 da CRP);
É necessário a existência de dois órgãos, ou de um órgão e um agente, da mesma
pessoa coletiva pública, ou ainda de dois órgãos normalmente competentes, o
delegante e o delegado;
É necessária a prática do ato de delegação propriamente dito, isto é, o ato pelo qual
o delegante concretiza a delegação dos seus poderes no delegado, permitindo-lhe a
pratica de certos atos na matéria sobre a qual é normalmente competente.
Natureza juridica da delegação de poderes (artigos 36, 37, 39, 40, 42, 43 do CPA)
Existem várias teses referentes à natureza da delegação:
Tese da alienação: considera-se a tese mais antiga sendo que de acordo com esta
tese a delegação de poderes é um ato de transmissão ou alienação de competências
do delegante para o delegado e assim a titularidade de poderes que pertencia ao
delegante antes da delegação passa por força desta e com fundamento na lei da
habitação para a esfera da competência do delegado. A razão pela qual podemos
considerar que esta tese não é satisfatória reside na sua incapacidade de explicar
adequadamente o regime juridico estabelecido na lei para a delegação de poderes.
Na verdade, se esta tese correspondesse a uma autentica alienação significaria que
os poderes delegados deixariam de pertencer ao delegante sendo que a titularidade
de tais poderes passaria na integra para o delegado e o delegante ficaria
inteiramente desligado de toda e qualquer responsabilidade quanto aos poderes
delegados o que não poderá recorrer ao abrigo do artigo 45 do CPA;
A tese da autorização em que a competência do delegante não é alienada nem
transmitida total ou parcialmente para o delegado o que acontece é que a lei da
habilitação confere desde logo uma competência condicional ao delegado sobre as
matérias em que permite a delegação. Assim, o ato de delegação visa facultar ao
delegado o exercício de uma permissão do delegante. A doutrina entende que
também não é de aceitar esta tese, na medida em que ela parece contraria à letra da
lei. Assim, as leis que permitem a delegação de poderes exprimem-se nos termos
seguintes “o órgão A pode delegar os poderes tais ao órgão B”. Ao referir-se aos seus
poderes a lei inequivocamente esta a referir-se à competência do delegante. Cabe
ressalvar que se fosse verdadeira a tese de autorização o delegado uma vez recebida
essa mesma delegação praticaria os atos administrativos compreendidos no objeto
da delegação ou exercício de uma competência própria. A tese da autorização
tambem não é compatível com o poder de revogar a delegação e tambem não é
compatível com outra solução que é o poder que o delegante tem de revogar os atos
práticos pelo delegado no exercício da revogação.
Uma terceira, e ultima tese, a transferência de exercício. A delegação de poderes não
é uma alienação na medida em que o delegante não fica alheio à competência que
decide delegar, nem é em si uma autorização na medida em que nem é uma
autorização porque antes do delegante praticar o ato de delegação o delegado não é
competente e por sua vez a competência advém do ato de delegação e não de
habilitação. Por sua vez, a competência exercida pelo delgado com base na delegação
de poderes não é uma competência própria, mas podemos dizer que é mais uma
competência alheia, logo a delegação de poderes constitui uma transferência do
delegante para o delegado, não é em si uma transferência da titularidade de poderes,
mas uma transferência do exercício dos poderes. Resulta daqui que a tese que
melhor explana a delegação de poderes é de facto esta, na medida que vê na
delegação de poderes um ato que transfere para o delegado o exercício de uma
competência própria do delegante, ou seja, a competência do delegado só existe por
força do ato de delegação sendo que o exercício por força dos poderes delegados é
em si o exercício de uma competência alheia e não própria. O delegado quando
exerce os poderes em si delegados está na verdade em exercer uma competência do
delegante e não a exercer uma competência própria.
Em resume, nesta tese a titularidade dos poderes permanece nos delegantes e o seu
exercício é confiado ao delegado. O delegante contrariamente do que se poderia
entender à primeira vista não transfere para o advogado o exercício de toda a sua
competência mesmo nas matérias que delegou, ele conserva poderes de exercício e
adquire do próprio mecanismo da delegação poderes que antes não tinha e isto quer
dizer que nem o delegado passa a deter todo o exercício de competência do
delegante nem este fica reduzido a uma mera titularidade nua ou de raiz, pois
adquire em contrapartida um complexo de poderes de superintendência e controle
que poderá exercer enquanto durar a delegação. A delegação de poderes é um ato
que transfere com limitações e condicionamentos uma parte do exercício da
competência do delegante é tambem uma transferência de exercício. Esta conceção
tem consequências praticas que convém referir:
- O potencial delegado não pode requerer ao delegante a sua competência, isto é,
não tem legitimidade para fundamentar a pretensão de requerer uma delegação de
poderes em seu favor, tem de aguardar que o delegante lhe confira ou não conforme
melhor entender;
- Por outro lado, se o potencial delegado praticar atos a descoberto, compreendidos
na matéria delegável, mas que ainda não foram objeto de uma delegação, tais atos
estarão viciados de incompetência e não de simples vicio de forma.
-No caso do potencial delegado não ser um órgão da administração, mas um simples
agente se ele praticar um ato compreendido no âmbito da matéria delegável, mas
sem que tenha ocorrido delegação podemos dizer que estamos perante um caso de
inexistência juridica considerando que todos os atos administrativos terão de ser
provenientes sempre de órgãos da administração.
Vantagens e inconvenientes
A centralização apresenta teoricamente algumas vantagens na medida que assegura a unidade
do estado. Garante ainda a homogeneidade da ação politica e administrativa do país e permite
uma melhor coordenação do exercício da função administrativa. Porem, apresenta alguns
inconvenientes, gera aquilo que se designa por gigantismo do poder central podendo ser fonte
de ineficácia da ação administrativa na medida em que confiar tudo ao estado é naturalmente
causa de elevados custos financeiros no que se refere ao exercício da ação administrativa. Por
outro lado, pode abafar a vida local iluminando ou reduzindo a muito pouco a própria atividade
das comunidades tradicionais, não respeita as liberdades locais e faz depender todo o sistema
administrativo da possível insensibilidade do poder central ou dos seus delegados. No que se
refere as desvantagens da descentralização, esta garante as liberdades locais servindo de base
a um sistema pluralista da administração pública que é por sua vez uma forma de limitação ao
poder politico. Em segundo lugar, a descentralização proporciona a participação dos cidadãos
na tomada das decisões publicas em matérias que se relacionem com os seus próprios
interesses. E esta participação é um dos grandes objetivos do estado moderno (artigo 2 da CRP).
A descentralização permite ainda aproveitar para a realização do bem comum a sensibilidade
das populações locais relativamente aos seus problemas e facilita a mobilização das iniciativas
e das energias locais para as tarefas da administração publica. A descentralização tem ainda a
vantagem de proporcionar em principio soluções mais vantajosas do que a centralização em
termos de custo-eficácia. Contudo, a descentralização apresenta tambem alguns
inconvenientes: o primeiro é o de poder gerar alguma descoordenação no exercício da função
administrativa, e o segundo é o de poder ocasionar um mau uso dos poderes discricionários da
administração por parte de pessoas que nem sempre estão preparadas para o exercer.
No nosso ordenamento juridico o artigo 6 da CRP, estabelece que o estado é unitário e que
respeita na sua organização os principios da autonomia das autarquias locais e da
descentralização democrática da administração publica. No mesmo sentido refere-se o artigo
267 da constituição. Pelo que constitucionalmente o sistema administrativo português tem de
ser um sistema descentralizado, a questão que se coloca é de saber qual o grau maior ou menos
da descentralização que se deve adotar.
Espécies de descentralização
Aqui cabe distinguir as formas e os graus de descentralização. Quanto ás formas a
descentralização pode ser territorial, institucional e associativa.
A descentralização territorial é a que dá origem á existência de autarquias locais. A institucional
dá origem aos institutos públicos e a associativa dá origem as associações publicas. No que se
refere aos graus existem diversos graus:
a. Simples atribuições de personalidade juridica de direito privado;
b. Atribuição de personalidade juridica de direito publico;
c. Atribuição de autonomia administrativa;
d. Atribuição de autonomia financeira;
e. Atribuição de faculdades regulamentares;
f. Atribuição de poderes legislativos próprios.
Limites da descentralização
Existem limites à descentralização. Podem ser limites a todos os poderes da administração e,
portanto, tambem ao poder das entidades descentralizadas. Poderão ser limites à quantidade
de poderes transferidos para as entidades descentralizadas e poderão ser limites ao exercício
dos poderes que são transferidos (artigo 267/2 da CRP).
A Tutela Administrativa
A tutela administrativa consiste num conjunto dos poderes de intervenção de uma pessoa
coletiva publica na gestão de outra pessoa coletiva, a fim de assegurar a legalidade ou o mérito
da sua atuação. Resultam as seguintes características:
A tutela administrativa pressupõe sempre a existência de duas pessoas coletivas
distintas, sito é a pessoa coletiva tutelas e a pessoa coletiva tutelada
Destas duas pessoas coletivas uma é necessariamente uma pessoa coletiva pública, a
segunda, por sua vez a entidade tutelada será igualmente na maior parte dos casos, uma
pessoa coletiva pública.
Os poderes da tutela administrativa são poderes de intervenção na gestão de uma
pessoa coletiva.
O fim da tutela administrativa é o de assegurar em nome da entidade tutelar que a
entidade tutelada cumpra as leis em vigor e garantir que sejam adotadas soluções
oportunas para a prossecução do interesse público
Figuras afins
Em primeiro lugar a tutela não se poderá confundir com a hierarquia na medida que este é um
modo de organização situado no interior de cada pessoa coletiva publica ao passe da tutela
administrativa assenta numa relação juridica entre duas pessoas distintas.
Em segundo lugar, não se pode confundir a tutela administrativa com os poderes dos órgãos de
controlo jurisdicional da administração publica. Na medida em que a tutela administrativa é
exercida por órgãos da administração e, portanto, não por tribunais. Sendo que o seu
desempenho traduz uma forma de exercício da função administrativa e não da função
jurisdicional.
Em terceiro lugar, não se confunde a tutela administrativa com certos controlos internos da
administração, tais como a sujeição a autorização ou a aprovação por órgãos da mesma pessoa
coletiva publica.
Espécies
Poe um lado ade que saber distinguir a tutela quanto ao fim e ao seu conteúdo. Quanto ao fim
a tutela poderá ser de legalidade oi de mérito e assim a tutela de legalidade é a que visa controlar
a legalidade das decisões da entidade tutelada. A tutela de mérito é aquela que visa controlar o
mérito das decisões administrativas da entidade tutelada. Quando averiguamos a legalidade de
uma decisão estamos efetivamente a apurar se essa decisão esta em conformidade com a lei.
Por sua vez quando averiguamos do mérito de uma decisão estamos a indagar se essa decisão
independentemente de ser legal ou não, é uma decisão conveniente ou inconveniente.
Modalidades de tutela:
a. Tutela integrativa: sendo aquela que consiste no poder de autorizar ou aprovar os atos
da entidade tutelada. Corresponde assim aquela espécie que consiste em autorizar a
pratica de atos à posteriori, isto é, consiste em aprovar os atos praticados pela entidade
tutelada. Tanto a aprovação como a autorização tutelar podem ser expressas ou tácitas
e ainda totais ou parciais e podem ser condicionais ou a termo, o que nunca podem é
modificar o ato sujeito à apreciação pela entidade tutelar. Pelo que qualquer titular
lesado por uma eventual ilegalidade de uma qualquer decisão que o afete deverá
impugnar o ato da entidade tutelada e não a autorização ou aprovação tutelar, salvo se
estas padecerem de quaisquer vícios que possam fundamentar a sua impugnação
autónoma.
b. Tutela inspetiva: consiste no poder de fiscalização dos órgãos, serviços, documentos e
contas da entidade tutelada ou resumidamente consiste na fiscalização da organização
e funcionamento da entidade tutelada.
c. Tutela sancionatória: consiste na faculdade de aplicar sanções por irregularidades que
tenham sido detetadas na entidade tutelada.
d. Tutela revogatória: consiste na faculdade de revogar os atos administrativos praticados
pela entidade tutelada.
e. Tutela substitutiva: consiste no poder da entidade tutelar suprir as omissões da
entidade tutelada, pelo que ira praticar em substituição daquela os atos que forem
legalmente previstos.
A tutela administrativa não se presume, pelo que só existe quando a lei expressamente a prevê.
A tutela administrativa sobre as autarquias locais é hoje uma tutela de legalidade na medida em
que não há tutela de mérito em relação as autarquias locais (artigo 242/1 da CRP).
Vantagens e Inconvenientes
A principal vantagem de poderes é a de permitir maior comodidade e eficiência na gestão, de
modo a que a administração publica no seu todo funcione de forma mais eficiente, na medida
em que descongestionou a gestão da pessoa coletiva principal. Poderá aqui haver alguns
inconvenientes que consistem na proliferação de centros de decisão autónomos de patrimónios
separados que poderão escapar ao controle global do Estado. A devolução de poderes ocorre
sempre por lei, os poderes transferidos são exercidos em nome próprio pela pessoa coletiva
publica criada para o efeito. Contudo, deverão ser exercidos no interesse da pessoa coletiva que
o transferiu e sob orientação dos respetivos órgãos. Pelo que, as pessoas coletivas publicas que
recebem a devolução de poderes são entidades auxiliares ou instrumentais ao serviço da pessoa
coletiva que os criou.
Limites
Nos termos dos artigos 267/2 da CRP, a descentralização e a desconcentração devem ser sempre
entendidas sem prejuízo da necessária eficácia e unidade de ação e dos poderes de direção e
superintendência do governo. Quer dizer que ninguém poderá invocar os principios
constitucionais da descentralização e desconcentração contra quaisquer diplomas legais que
adotem soluções que visem garantir, por um lado, a eficácia e a unidade da ação administrativa
e, por outro, organizar ou disciplinar os poderes de direção e superintendência do governo.
Garantias dos Particulares
Conceito
Com efeito atribui se aos particulares determinados poderes jurídicos que visam funcionar como
proteção contra os abusos e ilegalidades da Administração, pelo que se designa Garantia dos
Particulares.
As Garantias são assim, os meios criados pela ordem juridica com a finalidade de evitar ou
sancionar quer as violações do direito objetivo quer as ofensas dos direitos subjetivos e bem
como dos interesses legítimos dos particulares pela Administração pública. As garantias são
preventivas ou repressivas, conforme se destinem a evitar violações por parte da Administração
Pública ou a sanciona las, isto é, a aplicar sanções em consequência das violações cometidas.
Por sua vez, as garantias são garantias de legalidade ou dos particulares, consoante tenham por
objetivo principal defender a legalidade objetiva contra atos ilegais da administração, ou
defender os direitos legítimos dos particulares contra as atuações da Administração Pública que
as violem. A lei organiza a garantia dos particulares através de uma garantia de legalidade. O
recurso contencioso contra os atos ilegais funcionando na pratica como a mais importante
garantia e interesses legítimos dos particulares. Por sua vez, estas garantias dos particulares
desdobram se em garantias politicas, graciosas e contenciosas.
No que se refere as garantias politicas, podemos ressalvar ou destacar o direito de petição
(artigo 52 da CRP) quando é exercido perante qualquer órgão de soberania, e o chamado direito
de resistência (artigo 21 da CRP).
Garantias Graciosas
Conceito
São garantias graciosas as que se efetivam através da própria atuação dos órgãos da
administração ativa. A ideia principal é esta, existindo certos controles para a defesa da
legalidade e da boa administração, colocam-se esses controles em simultâneo ao serviço do
respeito pelos direitos e entregues dos particulares. As garantias graciosas são na verdade
importantes e eficazes do ponto de vista da proteção juridica dos particulares mais até que as
garantias politicas. Contudo, estas garantias graciosas não são em si inteiramente satisfatórias:
por um lado porque por vezes os órgãos da administração publica também se movem por
preocupações politicas e por outro lado, porque por vezes os órgãos da administração publica
movem se mais por critérios de eficiência por prossecução do interesse publico do que pelo
desejo rigoroso de respeitar a legalidade e os direitos subjetivos e interesses legítimos dos
particulares.
Espécies
Existem varias espécies de garantias graciosas, temos então as garantias petitórias, que não
envolvem nenhum ato administrativo.
As Garantias Petitórias
O direito de petição consiste aqui na faculdade de dirigir pedidos á administração publica para
que tome determinadas decisões ou providencias que fazem falta. Pressupõe se que falta uma
determinada decisão que é necessária, mas que ainda não foi tomada, pelo que o direito de
petição visa justamente obter da administração publica a decisão cuja falha se faz sentir.
Existe igualmente o direito de representação em que se pressupõe a existência de uma decisão
anterior e nessa medida se distingue do direito de petição. Pelo que, no direito de representação
os funcionários podem exercer perante ordens ilegítimas dos seus superiores hierárquicos com
vista a obter uma confirmação por escrito a qual se for obtida ou confirmada exclui a
responsabilidade do subalterne que vai executar uma determinada ordem.
O direito de queixa que consiste na faculdade de providenciar a abertura de um processo que
culminara na aplicação de uma sanção a um agente administrativo, isto é, uma particular queixa
se do comportamento de um funcionário ou agente, não se queixa do ato que ele praticou, na
medida em que não há queixa de atos administrativos, há queixa de pessoas. Com vista à
aplicação dessas pessoas de sanções adequadas.
O direito de denuncia, é o ato pelo qual o particular leva ao conhecimento de certa autoridade
a ocorrência de um determinado facto ou a existência determinada situação sobre a qual essa
autoridade tenha, obrigação de investir.
A oposição administrativa, em que se pode considerar que em certos processos administrativos
graciosos os contra-interessados têm o direito de apresentar para combater quer os pedidos
formulados à administração quer os projetos divulgados pela própria administração.
Em todos estes casos equivalem a garantias petitórias que assentam num pedido dirigido à
administração publica para que considere as razões dos particulares em causa.
As Garantias Impugnatórias
São as que perante um ato administrativo já praticado, os particulares podem impugnar por lei
esse ato. As garantias impugnatórias, podem se definir como meios de impugnação de atos
administrativos perante autoridades da própria administração pública. As principais espécies de
garantias impugnatórias são:
A reclamação, se a impugnação for feita perante o autor do ato impugnado, temos a
reclamação;
Se a reclamação for dirigida ao superior hierárquico do autor do ato impugnado temos
o recurso hierárquico;
Recurso Hierárquico impróprio, se a impugnação for feita perante autoridades que não
são superiores hierárquicos do autor do ato impugnado, mas que são órgãos da mesma
pessoa coletiva e que exercem sobre o autor do ato impugnado poderes de supervisão,
é nisto que se traduz o recurso hierárquico;
Se a impugnação for feita perante uma entidade tutelar, isto é, perante um órgão de
outra pessoa colética diferente daquela cujo o órgão praticou o ato impugnado e que
exerce sobre esta poderes titulares, então estaremos perante um recuso tutelar.
A reclamação
Trata se de um meio de impugnação de um ato administrativo perante o seu próprio autor e
apresenta um carater facultativo. Fundamenta-se esta garantia na circunstancia de os atos
administrativos poderem em geral, ser revogados pelos órgãos que o tenham praticado. Assim,
sendo parte se do principio de quem praticou um ato administrativo não se recusará
obstinadamente a revogar ou substituir um ato por si anteriormente praticado. O seu
fundamento é a ilegalidade ou o demérito (artigo 184 do CPA). Quanto aos efeitos a reclamação
somente suspende os prazos de recurso hierárquico se este for necessário ou recorrer. Por outro
lado, a eventual suspensão depende essencialmente de não haver lugar a recurso contencioso
do ato do qual se reclama (artigo 191 do CPA). A garantia de natureza facultativa não impede
que os particulares não venham a recorrer contenciosamente dos atos que considerem ilegais.
O Recurso Hierárquico
É um meio de impugnação de um ato administrativo praticado por um órgão subalterne, perante
o respetivo superior hierárquico, a fim de obter a revogação ou a substituição do ato recorrido.
O recurso hierárquico tem sempre uma estrutura definida e assim encontra se previsto no artigo
193 do CPA:
O recorrente, que é o particular que interpõe o recurso;
O recorrido, que é o órgão subalterno de cuja decisão se recorre;
A autoridade de recurso que é o órgão superior para quem se recorre.
São pressupostos para que exista recurso hierárquico para que exista uma hierarquia que tenha
sido praticado por um ato administrativo por um subalterno e que esse subalterno não goze por
lei de competência exclusiva. Fora destes pressupostos não há lugar a recurso hierárquico.
(leitura do artigo 194, 195, 196, 197 e 198 do CPA)
Recurso Tutelar
É assim o recurso administrativo mediante o qual se impugna um ato da pessoa coletiva
autónoma, perante um órgão de outra pessoa coletiva publica que sobre ela exerça poderes
tutelares ou ainda de superintendência. É o que ocorre quando o governo decorrendo da lei
sujeita a recurso certas deliberações das camaras municipais ou por outras palavras quando a
lei determina que seja o governo de facto a decidir o recurso de certas camaras municipais.
Podemos afirmar que é um recurso com natureza facultativa e apresenta também uma natureza
excecional, o que significa que só existe quando a lei expressamente o previr. A sua aplicação é
subsidiária relativamente as regras relativas ao recurso hierárquico.
Os meios contenciosos
A estas duas modalidades de contencioso administrativo, isto é, o contencioso por natureza e
contencioso por atribuição correspondem dois meios contenciosos típicos: o recurso e a ação.
Ao contencioso administrativo por natureza corresponde a figura do recurso, ao contencioso
administrativo por atribuição corresponde a figura da ação.
O recurso contencioso em si é o meio de garantia que consiste na impugnação, feita perante o
tribunal administrativo competente de um ato ou regulamento administrativo ilegal, a fim de
obter a respetiva anulação, isto é, visa resolver o litigio sobre o qual a administração já tomou
posição e fê-lo através de um ato de autoridade pelo que a AP atuando como poder definiu
unilateralmente o direito. Por sua vez, o particular não se conformando vai impugnar, isto é, vai
contestar a definição que foi feita pela AP. Por sua vez, a ação, é o meio de garantia que consiste
no pedido feito ao tribunal administrativo competente de uma primeira definição do direito
aplicável a um litigio entre o particular e a AP. Isto é, visa resolver um litigio sobre o qual a
administração publica não se pronunciou mediante um ato administrativo definitivo. E não se
pronunciou, ou porque não pode legalmente fazer naquele tipo de assunto, ou porque se
pronunciou através de um simples ato opinativo, o qual não é um ato definitivo e executório,
não constituindo um ato de autoridade.
Pressupostos Processuais
Os pressupostos processuais são as condições de interposição do recurso, isto é, as exigências
que a lei faz para que o recurso possa ser admitido. Importa não confundir condições de
interposição, ou pressupostos processuais com condições de provimento: as condições de
interposição, traduzem-se nos requisitos que se tem de verificar para que o tribunal possa
conhecer do mérito da causa. Por sua vez, as condições de provimento são aquelas que se tem
de verificar para que o tribunal conhecendo do objeto do litigio, possa dar razão ao recorrente.
Competência do tribunal
O principal fator da competência dos tribunais administrativos no âmbito dos recursos
contenciosos é a categoria do ator do ato recorrido. A natureza da questão objeto do litigio
passou a constituir fundamento, passando a existir um tribunal centrar administrativo que no
âmbito do recurso contencioso, possui competências especializada em função da matéria em
todas as questões que se refiram ao funcionalismo público na sua generalidade.
No que se refere à determinação da competência territorial o tribunal administrativo de círculo
territorialmente competente é sempre o da residência habitual ou aa sede do recorrente.
Por sua vez, e relativamente à incompetência do tribunal cabe referir, a circunstância do pedido
em causa ser dirigido a um tribunal administrativo incompetente, na medida em que se a
incompetência, for apenas em razão do território, o processo é oficiosamente remetido ao
tribunal competente.
Recorribilidade do ato
Relativamente á possibilidade de recorrer podemos referir que para o tribunal possa receber o
recurso contencioso de anulação é necessário que o ato impugnado seja um ato recorrível. E
para que um ato seja recorrível é indispensável, que se trate de um ato administrativo externo,
definitivo e executório.
Atos irrecorríveis
Existem porem atos irrecorríveis, segundo o ETAF, estão excluídos da jurisdição administrativa
e fiscal todos os recursos e ações que tenham por objeto:
Atos praticados no exercício da função politica bem como a responsabilidade pelos
danos decorrentes desse exercício;
Normas legislativas e responsabilidade pelos danos recorrentes do exercício da função
legislativa;
Atos em matéria administrativa que devem ser julgados apenas pelos tribunais judiciais;
Atos referentes ao inquérito de instrução criminal bem como o exercício da ação penal;
Qualificação de bens como pertencentes ao domínio público e atos de delimitação
destes como bens de outra natureza;
Questões de direito privado;
Atos cuja a apreciação pertença por lei à competência de outros tribunais.
Existe aqui um princípio basilar, há recurso contencioso de todos os atos administrativos, e não
há recurso contencioso de atos que não sejam administrativos a menos que a lei assim o preveja.
A Ação Pública
Além dos interessados, isto é, de todos que sejam titulares do interesse direto, pessoal e
legitimo, podem tambem interpor recurso contencioso o MP.
Ao direito que ao MP assiste de recorrer de um ato administrativo chama-se Ação Popular,
motivo pelo qual, o MP, é titular do direito de ação popular. Um dos critérios para que o MP
pode exercer como e quando entender, quer tenha conhecimento dos seus próprios meios da
existência de um ato administrativo invalido, por si mesmo ou nos casos em que esse
conhecimento lhe tenha sido trazido por qualquer outra pessoa. Para além desta possibilidade
de que goza o MP, assiste ainda a faculdade de prosseguir com o recurso contencioso se este
tendo sido interposto por um particular interessado, tiver ameaçado de extinção pelo facto de
o recorrente particular desistir do recurso e ai o MP assume a posição de recorrente.
A Ação Popular
O recurso contencioso de anulação pode ser interposto pelos titulares do direito de ação
popular. A nossa constituição também a ela se refere no artigo 52/3. A ação popular significa a
possibilidade de qualquer cidadão, residente numa certa circunscrição administrativa impugnar
contenciosamente atos administrativos definititos e executórios das autarquias locais ou de
outras entidades. Há, no entanto, uma prevenção a fazer, não se devera confundir uma ação
popular corretiva que visa corrigir os efeitos de um ato ilegal da administração com a chamada
ação popular supletiva.
Na ação popular corretiva, um órgão da administração pratica um ato administrativo invalido, e
o particular vai recorrer contenciosamente desse ato administrativo com a finalidade de obter,
através do recurso a reintegração da ordem juridica violada.
Distintamente na ação popular supletiva e a titulo de exemplo uma autarquia local, é titular de
certos direitos civis, designadamente direitos de propriedade ou poses sobre bens, e por
exemplo um terceiro vem violar esses direitos apoderando se dos bens que são património
autárquico, isto é, há um cidadão residente no território que alerta os órgãos autárquicos para
essa situação, mas porque estes nada fazem o particular assumindo a posição de defensor dos
interesses da autarquia vem propor uma ação civil fazendo valer os direitos dela contra o
terceiro que os violou.
Neste caso, estamos fora do contencioso administrativo, só a primeira figura da ação popular,
isto é, a ação popular corretiva, é uma figura própria do contencioso administrativo.
Prazos
Trata se de um pressuposto processual exclusivo dos atos anuláveis, na medida que os atos nulos
podem ser impugnados a qualquer tempo. A regra geral no nosso direito administrativo é a de
que o recurso contencioso de anulação tem de ser interposto num certo prazo, se esse não for
cumprido o recurso será rejeito por extemporâneo ou inoportuno.
A titulo excecional, existem casos em que o recurso contencioso pode ser interposto a todo o
tempo, isto é, sem competência de prazo. Esses casos são aqueles em que o recurso tenha por
objeto atos administrativos nulos ou inexistentes, precisamente porque a nulidade e a
inexistência podem ser declaradas a todo o tempo.
Efeitos substantivos
Relativamente aos efeitos substantivos, variam conforme o tipo de sentença que for dada. Se a
sentença negar provimento ao recurso, o seu efeito é o de confirmar a validade do ato
administrativo recorrido. É o que se chama o efeito confirmativo.
Se a sentença conceder provimento ao recurso pode ocorrer uma das seguintes situações:
Ou declara a nulidade do ato e estamos perante o efeito declarativo;
Ou anula o ato e produz o chamado efeito anulatório;
Juntamento com o efeito declarativo ou anulatório poderá produzir se um efeito de
maior importância, que é o efeito executório da sentença e que nos termos da lei resulta
o dever de extrair todas as consequências juridicas da anulação ou declaração de
nulidade ou inexistência decretada pelo tribunal ou, por outras palavras, o dever juridico
de executar a sentença no tribunal administrativo.